The Eyes of the Skin

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Seminário apresentado pelos alunos Raquel Leite e Renan Marinho na disciplina de Projeto Arquitetônico 4

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the eyes of the skin

Juhani Pallasmaa

Raquel Leite e Renan Marinho Projeto Arquitetônico 4 | UFC

Apresentação

a importância do sentido do tato para a compreensão do mundo, muitas vezes diminuída pela a importância que se dá à visão

todos os sentidos são extensões e especializações do tato arquitetura não se limita a produzir objetos visualmente sedutores, mas de proporcionar e direcionar experiências e reflexões

uma crítica à utilização do computador no processo projetual

As imagens no computador tendem a achatar em uma só camada a nossa magnífica, multissensorial, simultânea e sincrônica capacidade de

imaginação, transformando o processo de projeto em uma manipulação passiva, um caminho da retina. O computador insere uma

distância entre o criador e o objeto.

The eyes of the skin p.12

é importante, porém, lembrar que

as experiências de imersão e realidade aumentada tem contribuído para englobar visão periférica no projeto, melhorando também a inserção do cliente nesse processo

a visão periférica inconsciente transforma a gestalt absorvida pela retina em uma experiência espacial e corpórea

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a CAVE [Cave Automatic Virtual Environment] é um cubo em que todas as seis superfícies podem ser usadas como telas de projeção, circundando o(s) visitante(s) com um ambiente de imagens. Usando óculos obturadores de cristal líquido, os shutterglasses, óculos estereoscópicos leves, os usuários veem as imagens 3D [Cruz-Neira et al apud Grau, 2003]

historicamente, na cultura ocidental, a visão tem sido aclamada como o mais nobre dos sentidos

para os gregos, a certeza baseava-se no que podia ser visto

Os olhos são testemunhas mais precisas que os ouvidos

Heráclito

Visão e conhecimento

“ ”

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a êntase na colunata é apenas um dos efeitos visuais realizados pelos gregos, no intuito de diminuir a sensação de estreitamento do conjunto de pilares

no renascimento, os sentidos passaram a ser compreendidos de forma hierárquica. com invenção da representação em perspectiva, o olho tornou-se o ponto central de percepção do mundo o paradigma do pensamento ocularcêntrico

a era tecnológica privilegia a visão e audição como sentidos sociais (relevantes para o convívio coletivo) os outros sentidos são vistos como reminiscências sensoriais arcaicas, de função particular/individual

o aumento da dominância da visão na era tecnológica “a infinita tempestade de imagens”

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visão para interpretar o conhecimento, a verdade e a realidade ver para crer a dominância do olho tem nos levado a um distanciamento e isolamento

O fato da linguagem modernista não ter caído no gosto popular é aparentemente devido ao seu viés unicamente intelectual e sua ênfase visual. O projeto modernista [international style] abrigou o intelecto e a

visão, mas deixou o corpo e os outros sentidos, assim como as memórias, imaginação e sonhos, desabrigados.

The eyes of the skin p.19

o planejamento urbano como produto da visão desde os planos urbanísticos da renascença as cidades são planejadas através de uma vista de cima e os princípios de zoneamento e planejamento buscam uma “higiene óptica”

Google Earth http://www.gamesmuseum.uwaterloo.ca/VirtualExhibits/Brueghel/children.jpg

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o olhar narcisista vê a arquitetura meramente como expressão do seu ego, do ser, como um jogo artístico que o distancia das conexões com a sociedade

muitos dos projetos de arquitetura celebrados nos últimos 20 anos expressam ambos narcisismo e niilismo

O olhar narcisista e niilístico

o objeto se torna meramente de contemplação visual e vazio de significado

estamos em constante interação e diálogo com o ambiente numa obra de arte, o autor sempre transmite parte de sua personalidade no seu gesto, dotamos a obra de emoções

segundo Melanie Klein, todas as interações humanas implicam na projeção de fragmentos de sua personalidade para o ambiente

o domínio inicial da audição gradualmente substituído pela visão

“A mudança do discurso oral para o escrito foi essencialmente uma mudança do espaço auditivo para o visual”

Espaço Oral vs Espaço Visual

a dominância da visão se faz presente na arquitetura modernista, como nas afirmações de Le Corbusier, Gropius e Alvar Aalto

Arquitetura da retina

Le Corbusier e Richard Meier arquitetura ligada ao visual – excessiva preocupação estética e visual

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Frank Lloyd e Alvar Aalto preocupações com todos os sentidos, com o corpo como um todo criam diferentes texturas - estimulam o tato proporcionam ambientes mais aconchegantes e íntimos pelo “calor” de seus materiais

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preocupação de Alvar Aalto na criação da mobília um objeto de contato íntimo com o ser humano, como uma cadeira, deve ter materiais apropriados que conduzam seu calor, não reflitam luz de forma excessiva e funcionem bem em termos de absorção do som

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Os edifícios desta era tecnológica buscam deliberadamente uma perfeição atemporal e eterna, deixando de incorporar a dimensão do tempo, ou o

inevitável e estimulante processo de envelhecimento.

The eyes of the skin p.32

Materialidade e tempo

” “

os edifícios perdem sua ligação com o conhecimento do corpo e dos demais sentidos. com a perda da senso tátil, das medidas e dos detalhes criados para o corpo humano e pelo o corpo humano,

a arquitetura passa a ser inconsistente, imaterial e irreal.

o uso crescente do vidro espelhado ilustra essa natureza imaterial e irreal da arquitetura. para o autor, o uso de espelhos torna a arquitetura enigmática e assustadora, tornando impossível de se ver ou imaginar a vida por trás das paredes.

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para o autor, materiais naturais, como a pedra, a madeira e o tijolo, permitem que nossa visão penetre através de suas superfícies, nos convencendo de sua veracidade. expressam sua idade e história, suas origens e as origens de sua utilização pelo homem.

toda experiência de sentir a arquitetura é multissensorial. Questões como espaço, matéria e escala são igualmente medidos pelos olhos, ouvidos, nariz, pele língua, esqueleto e músculos: os sentidos são polifônicos

Experiência multissensorial

os olhos tocam. a mirada implica em toque inconsciente, mímese corporal e identificação.

segundo Hegel:

o único sentido capaz de nos dar a sensação de profundidade espacial é o tato, pois através dele podemos sentir o peso, a resistência e a forma em três dimensões de corpos materiais.

os olhos revelam o que o toque já sabe.

http://apple.com

visão: distância e separação

tato: proximidade, intimidade e afeição

a sombra e a escuridão são essenciais, pois diminuem a acuidade visual, tornam profundidade e distância ambíguas, convidam o inconsciente da

visão periférica e a fantasia tátil.

The eye of the skin, p. 46

A importância da sombra

” “

grandes panos de vidro das esquadrias na arquitetura contemporânea são usados indiscriminadamente e acabam por violar a intimidade das pessoas, que são obrigadas a se expor em público todo o tempo.

às vezes, essa exposição é intencional.

foto: raquel [maio de 2012]

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"At first I was shy about looking out," said Katya Valevich of HL23.

a visão isola, o som incorpora; a visão é direcional, o som é múltiplo. a sensação de luz implica exterioridade; o som cria uma experiência de interioridade. nós olhamos para um objeto, o som chega até nós;

o olhar alcança, o ouvido recebe.

Intimidade acústica

[vídeo: sensações sonoras]

todo prédio ou espaço tem o seu som de acolhimento ou monumentalidade, convite ou rejeição, hospitalidade ou hostilidade. por exemplo, o som de uma casa inabitada e sem mobília é áspero enquanto o de uma casa habitada é mais suavizado por todos os objetos que estão contidos nela.

um espaço é compreendido tanto pelo seu eco quanto pela sua forma visual, mas geralmente a percepção acústica permanece como um fundo no inconsciente.

arquitetura é silêncio responsivo e memorável

a memória mais persistente de qualquer espaço é o cheiro. toda habitação tem um cheiro específico de lar.

toda cidade tem seu próprio cheiro. é inegável o cheiro das cidades que tem a pesca como importante atividade econômica:

o cheiro do mar encontrando-se com a terra é inconfundível.

Espaços de perfumes

a pele lê a textura, peso, densidade, e temperatura da matéria. a pele capta com precisão a temperatura dos espaços; a sombra revigorante sob uma árvore e o acariciar de uma esfera de calor sob o sol tornam-se experiências de espaço e lugar

A forma do toque

existe uma forte identidade entre a pele nua e o sentimento de lar. a experiência de se sentir em casa está intimamente ligada ao

aquecimento/calor.

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existe uma transferência sutil entre experiências táteis e de paladar. a visão também se transfere para o paladar: algumas cores, texturas e detalhes podem evocar sensações orais.

a experiência arquitetônica mais arcaica teve origem na boca.

O sabor da pedra

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a arquitetura não é simplesmente uma série de imagens na retina a experiência de casa é estruturada por atividades distintas: cozinhar, comer, se socializar, ler, armazenar, dormir – não por elementos visuais

Imagens de Ação

Experimentar a arquitetura de forma autêntica consiste em se aproximar e confrontar o edifício, muito mais do que a apreensão formal da sua fachada;

consiste no ato de entrar no edifício e não simplesmente admirar a sua porta; consiste em olhar para dentro e para fora pela sua janela, muito mais

do que simplesmente contemplar sua janela como objeto material. [...] O espaço arquitetônico é mais vivo que físico, e o espaço vivo sempre

transcende a geometria e a mensuração.