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1169-2008-1-SM

Date post: 05-Sep-2015
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Entrevista Emmanuel Carneiro Leão – www.pos.eco.ufrj.br – ISSN 2175-8689 – v. 16, n. 1, p. 90-103, jan./abr. 2013 90 “O HOMEM É MAIS DO QUE A DEFINIÇÃO QUE ELE É CAPAZ DE PRODUZIR” Entrevista com o filósofo, escritor e professor Emmanuel Carneiro Leão "THE MAN IS MORE THAN THE DEFINITION THAT HE IS CAPABLE TO PRODUCE" Interview with philosopher, author and professor Emmanuel Carneiro Leão Por Zilda Martins 1 Do período em que estudou fora do Brasil, o pensador Emmanuel Carneiro Leão recorda-se do envolvimento acadêmico, da liberdade do aluno em escolher a disciplina que quisesse, participar dos seminários que quisesse e do rigor do exame, que podia durar um mês. Ao estudante era cobrado conhecer a matéria. Assistir ou não a aula não constituía um problema, desde que ele soubesse desenvolver as questões. Lembra que na pequena cidade de Friburgo, Alemanha, onde havia pouca diversão, os alunos aproveitavam o próprio ambiente de estudo para se divertir, mas também para estudar, debater com os colegas as leituras, as dúvidas, trocar ideias. Carneiro Leão graduou-se pelo Pontifício Atheneo Antoniano (1959), fez mestrado pela Albert-Ludwigs-Universität Freiburg (1962) e doutorado em De Universa Philosiphia – Albert- Ludwigs-Universität Freigurg (1963). Foi aluno de Heidegger, trabalhou o pensamento do autor, tanto no mestrado como no doutorado e tornou-se um dos principais teóricos e divulgadores do filósofo alemão no Brasil. Aprendeu desde cedo a pensar o próprio pensamento, ou a ausência de pensamento, que consiste, como ele diz, “na pedagogia de pensar.” Todo estímulo, afirma Carneiro Leão, “supõe a aceitação de se deixar estimular. Esta aceitação não se forma por repetição, mas já nos é sempre dada com nossa condição humana. Pertence ao vigor originário de existir.” De volta ao país, em meados da década de 1960, Carneiro Leão vem dedicando-se ao magistério e a pesquisa, com ênfase nos temas filosofia, ética, verdade, história e pensamento. É professor titular emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professor titular da Universidade Gama Filho. É autor de mais de 16 livros, dentre eles, Aprendendo a Pensar, volumes I e II, além de diversos artigos e trabalhos científicos publicados. Na UFRJ, foi 1 Doutoranda em Comunicação e Cultura do PPGCOM da ECO/UFRJ. Contato: [email protected]
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  • Entrevista Emmanuel Carneiro Leo www.pos.eco.ufrj.br ISSN 2175-8689 v. 16, n. 1, p. 90-103, jan./abr. 2013

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    O HOMEM MAIS DO QUE A DEFINIO QUE ELE CAPAZ DE PRODUZIR

    Entrevista com o filsofo, escritor e professor Emmanuel Carneiro Leo "THE MAN IS MORE THAN THE DEFINITION THAT HE IS CAPABLE TO

    PRODUCE" Interview with philosopher, author and professor Emmanuel Carneiro Leo

    Por Zilda Martins1

    Do perodo em que estudou fora do Brasil, o pensador Emmanuel Carneiro Leo recorda-se do

    envolvimento acadmico, da liberdade do aluno em escolher a disciplina que quisesse,

    participar dos seminrios que quisesse e do rigor do exame, que podia durar um ms. Ao

    estudante era cobrado conhecer a matria. Assistir ou no a aula no constitua um problema,

    desde que ele soubesse desenvolver as questes. Lembra que na pequena cidade de Friburgo,

    Alemanha, onde havia pouca diverso, os alunos aproveitavam o prprio ambiente de estudo

    para se divertir, mas tambm para estudar, debater com os colegas as leituras, as dvidas,

    trocar ideias.

    Carneiro Leo graduou-se pelo Pontifcio Atheneo Antoniano (1959), fez mestrado pela

    Albert-Ludwigs-Universitt Freiburg (1962) e doutorado em De Universa Philosiphia Albert-

    Ludwigs-Universitt Freigurg (1963). Foi aluno de Heidegger, trabalhou o pensamento do

    autor, tanto no mestrado como no doutorado e tornou-se um dos principais tericos e

    divulgadores do filsofo alemo no Brasil. Aprendeu desde cedo a pensar o prprio

    pensamento, ou a ausncia de pensamento, que consiste, como ele diz, na pedagogia de

    pensar. Todo estmulo, afirma Carneiro Leo, supe a aceitao de se deixar estimular. Esta

    aceitao no se forma por repetio, mas j nos sempre dada com nossa condio humana.

    Pertence ao vigor originrio de existir.

    De volta ao pas, em meados da dcada de 1960, Carneiro Leo vem dedicando-se ao

    magistrio e a pesquisa, com nfase nos temas filosofia, tica, verdade, histria e pensamento.

    professor titular emrito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professor titular

    da Universidade Gama Filho. autor de mais de 16 livros, dentre eles, Aprendendo a Pensar,

    volumes I e II, alm de diversos artigos e trabalhos cientficos publicados. Na UFRJ, foi

    1 Doutoranda em Comunicao e Cultura do PPGCOM da ECO/UFRJ. Contato: [email protected]

    mailto:[email protected]
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    fundador e coordenador do Programa de Ps-graduao em Comunicao da Escola de

    Comunicao ECO, nos anos de 1968, 1978, 1988 e 1999.

    Questionado sobre a nossa era, de globalizao e centralidade miditica, Carneiro Leo

    afirma que vivemos uma fase de transio, uma crise de pensamento, que resulta em grande

    vazio criativo. No entanto, observa que a tcnica reduz, mas ao mesmo tempo estimula. Antes e

    durante a entrevista, o filsofo fez questo de afirmar o quanto acredita no vigor do

    pensamento, que leva autonomia e libertao do ser humano. O pensamento livre tem a

    fora e o poder de transformao, ressalta. E diz que o campo da comunicao traz em si o

    potencial de oferecer a base criativa do pensamento. Carneiro Leo se lembra dos tempos em

    que conduzia o PPGCOM da ECO/UFRJ, e oferecia aulas dialgicas.

    ZM Como nasceu o PPGCOM - Programa de Ps-graduao em Comunicao da

    ECO/UFRJ. O senhor poderia falar da experincia de ter sido fundador?

    ECL Nos anos 60, do sculo passado, a Escola de Comunicao da UFRJ nasceu do

    desmembramento da Faculdade Nacional de Filosofia e Cincias Humanas. Aps alguns anos,

    foi escolhido, para Diretor, o professor Jos Simeo Leal, que convidou um grupo de

    professores, Mrio Camarinha da Silva, Eduardo Portella, Paulo Amlio, Chaim Samuel Katz e

    outros, para organizarem um Programa de Ps-graduao em comunicao social. Ficou ento

    estabelecido que o fenmeno da comunicao na Ps-graduao no se restringiria aos

    multimeios que veiculam notcias. Comunicao no se reduz a informao. Comunicar

    relacionar; e o ensino da comunicao visa a fazer circular relaes sociais dentro de um vis

    crtico e reflexivo.

    ZM Quando o senhor fundou o PPGCOM, a escola estava ancorada em que teoria?

    ECL No tinha teoria nenhuma. Fizemos a seguinte experincia: em vez de transmitir uma

    teoria prpria, uma explicao dada, do tipo isso uma teoria, h outra contrria a essa,

    oferecendo aos alunos um cabedal de vrias teorias, vamos fazer diferente: a aula vai consistir

    em produzir a teoria. Significa trabalhar uma temtica e o que cada um sabe dessa temtica.

    Como que ele capaz de explicar, de alguma maneira fundamentar esse tema. No comeo era

    difcil, ento em vez de ser um professor expositivo das teorias, colocamos quatro perspectivas

    diferentes para qualquer teoria, qualquer proposta que viesse a surgir durante a aula. Ento

    colocamos o Fbio Lacombe, da psicanlise; Maria Helena, da psicologia; Muniz Sodr, da

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    comunicao; e eu. A turma, diante da novidade, dizia que era o Rock in Rio. Havia vrios

    professores e todo mundo queria se inscrever no curso, da fizemos uma seleo. A gente

    distribua as teorias pelos alunos e qualquer que fosse o entendimento que eles tivessem

    capacidade de produzir eles traziam aquele entendimento para sala de aula e ns amos

    discutir nas vrias perspectivas. Era uma aula dialgica, nada expositiva.

    ZM Qual a sua melhor experincia enquanto esteve frente do Curso de Ps-graduao

    da ECO?

    ECL O que mais estimulante e mais agradvel quando voc acompanha alguns

    representantes de uma turma e v como eles evoluem, como eles comearam numa

    determinada atitude de promoo, de j saber tudo, e aos poucos comeam a mudar. Isso

    prazeroso para o professor, quando est vendo como aquilo vai amadurecendo. como se

    fosse uma semente lanada que vai crescendo, que vai se desenvolvendo. Na verdade, a

    individualidade de cada um. O perigo no respeitar a individualidade por meio de poder,

    como fulano de tal no passa. No dou a nota, no passa, mas isso um perigo que h sempre.

    ZM E com relao a plgio, uma questo dos dias atuais, facilitada pela internet. Havia

    algo parecido naquela poca?

    ECL Naquela poca no havia esse sistema tcnico, mas havia pessoas que escreviam pelos

    alunos. No entanto, era fcil descobrir por causa do estilo, porque essas pessoas eram aquelas

    que escreviam em jornal, davam entrevistas, ento, ao ler o trabalho era fcil identificar o

    autor. Ou seja, se procurssemos, encontraramos, s que eu nunca me interessei por isso,

    apenas no dava 10. Eu dava 8, 7. Se me perguntassem eu justificaria: Ora, voc veio me

    perguntar, mas voc sabe porque eu no lhe dei 10.

    ZM Quem saiu da formao da poca de fundao do PPGCOM da ECO? Destaque?

    ECL Vrios pesquisadores saram da ECO. O incio do curso j era Mestrado e Doutorado e eu

    dava aula de Filosofia e de Comunicao. Na Filosofia, os alunos que fizeram esses cursos de

    debates passaram em concursos para diversas universidades do Brasil. So mais de 500 alunos

    meus, que esto em universidades da Bahia, do Cear, de Braslia, Pernambuco, Paran, Rio

    Grande do Sul. Eles foram entusiasmados de tal maneira, que conseguiram grandes avanos.

    Mais importante do que o contedo o entusiasmo para buscar o contedo. Isso o que forma.

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    o que educa. Cada um tem a sua possibilidade, ningum igual, mas para aproveitar a sua

    especfica e diferente possibilidade depende do entusiasmo e do que se consegue transmitir.

    ZM Poderia falar da sua experincia enquanto aluno de Heidegger, divulgador e

    tradutor de sua obra? Quais as principais influncias do pensamento do filsofo na sua

    vida?

    ECL A filosofia no influencia ningum. No se aprende filosofia como se aprende uma

    atividade. O esforo de pensar, no como, mas com os pensamentos dos pensadores, depende

    apenas da criatividade de cada um. Hoelderlin diz que no foram os homens que lhe ensinaram

    a pensar.

    ZM Quais as rupturas de Heidegger e as principais contribuies para o campo da

    filosofia?

    ECL Como qualquer outro pensador, Heidegger retira sua possibilidade de pensar da prpria

    condio humana. E por isso que todo homem pode encontrar-se com seu pensamento.

    Nenhum pensador d contribuio para nada. Deixa apenas aparecer o nada em tudo.

    ZM No PPGCOM da ECO, alm de fundador, o senhor foi professor de Filosofia e

    Comunicao. Como definiria o Campo da Comunicao?

    ECL Em contraste com a cincia, a filosofia no uma doutrina, nem um conhecimento, uma

    ideologia ou viso de mundo, nem uma concepo de vida. A filosofia uma atividade, a

    atividade de aprender e ensinar a pensar os conhecimentos em suas condies de

    possibilidade. Se o conhecimento leva o desconhecido para o mbito claro da razo e do

    discurso, a filosofia faz o contrrio, leva para o desconhecido e no sabido todo e qualquer

    conhecimento. No mbito da filosofia a comunicao no um campo delimitado de

    conhecimentos e prticas, mas o conjunto de relacionamentos e trocas de experincias entre os

    homens.

    ZM Podemos falar de uma epistemologia da Comunicao?

    ECL Comunicao como se fosse uma planta que nasce num solo e esse solo a existncia

    humana. As possibilidades que essas condies de vida oferecem de relacionamento

    fundamentalmente comunicao. Se voc coloca na idade da tcnica a cincia, d um

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    revestimento, um discurso, uma discursividade, seja psicolgica, antropolgica, sociolgica,

    artstica, filosfica, seja qual for, no o principal. O principal chegar a esse nvel de

    correlaes, de inter-relaes, construdas na base de possibilidades humanas de convivncia.

    Por qu? Porque o princpio fundamental que em qualquer nvel de existncia, a diferena de

    cada um vive a expensas das relaes que se tem com os outros, diferentes dele, e alimenta a

    prpria identidade e a individualidade. Significa que a diferena do outro no uma ameaa

    para a minha identidade, pelo contrrio, um alimento para a minha identidade. Por isso se

    baseia toda e qualquer modalidade. No importa o instrumento usado, o cdigo, qualquer

    repertrio de comunicao, mas a inter-relao. Existem possibilidades diferentes de

    indivduos numa determinada poca. Cincia da Comunicao e Comunicao no so a mesma

    coisa.

    ZM O que Cincia da Comunicao, ento?

    ECL Cincia o qu? produo de conhecimento ou habilitao de relacionamento? Isto ,

    atitudes, prtica? Ento se a cincia entendida como teoria, doutrina, conhecimento, ela tem

    que restringir-se a determinados padres e princpios de articulao e de objetivao. Ento o

    que significa? Que vrios nveis da comunicao se perdem. De fato, no se perdem porque a

    cincia no muda o real. O homem tem possibilidades, a cincia pode no utilizar aquelas

    possibilidades, tem determinadas possibilidades que a cincia incapaz de usar, mas

    desempenham, do uma atividade decisiva e determinante. Por isso, a epistemologia refere-se

    apenas a um vis do relacionamento comunicativo. aquele vis capaz de ser objetivado, de

    ser, de alguma maneira, controlado e cujos recursos, cujos intervenientes, no so escolhidos

    por essas possibilidades. Aqueles nveis que no podem ser objetivados so deixados de fora,

    no entram na epistemologia da comunicao. Toda definio uma delimitao. E para a

    cincia tem de haver delimitaes, definies. Claro que isso tambm uma constante da vida

    humana. O homem no tudo, tem de ser delimitado, por isso ele precisa de definio, s que o

    homem mais do que a definio que ele capaz de produzir. E esse ser mais que d

    vitalidade e criatividade no relacionamento. uma abertura para qualquer outra possibilidade

    humana. No perodo clssico latino, tem uma famosa frase do Sneca que diz o seguinte: Nada

    de humano me estranho. Ou seja, a comunicao no mais nada do que trocas de relaes

    humanas. Essa frase de Sneca aplicada comunicao, por isso a dificuldade da

    epistemologia de delimitar e, quando delimita, empobrece, diante da riqueza das

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    possibilidades humanas. Os meios de comunicao, chamados multimeios, ficam somente

    restritos quele vis, aquele nvel e aquelas possibilidades suscetveis de serem controladas,

    processadas, veiculadas. Supem-se, no entanto, quer queiram ou no, uma abertura e uma

    libertao maior dos homens, dos seres humanos. Claro que grande parte do comportamento

    humano moldado por esse limite, pela presso dos meios, mas apesar disso, fica sempre

    presente uma dimenso de possibilidade que se esquiva a esse processador, e isso o que d

    criatividade.

    ZM O senhor observa, em Aprendendo a Pensar, que j no vivemos o tempo

    individual do eu, vivemos o tempo social dos eus, ressaltando a comunidade e o

    comunitrio como evidncias. Essa pluralidade de sujeitos est relacionada a um novo

    modo de vida, ancorado na solidariedade, ou seria uma espcie de contrato social para

    a sobrevivncia?

    ECL Toda pluralidade entre homens vive da fora de diferenciao das diferenas de cada um.

    Toda existncia j em si mesma um destino comum em que a diferena de cada indivduo

    indispensvel para a identidade de todos.

    ZM Vivemos numa sociedade partida, em que de um lado esto os que tudo podem e do

    outro esto os Outros, aqueles a quem so negados voz e lugar, como os indgenas, os

    negros, os homossexuais, os portadores de deficincia, as minorias. E quando essas

    minorias aparecem causam estranhamento, rejeio, racismo. Qual o desafio de pensar

    hoje uma sociedade mais equnime, menos desigual?

    ECL A filosofia no um setor ou campo de estudo. A filosofia desafio de realizao e no

    realizao em todo e qualquer campo ou setor do desempenho humano. o que nos lembra um

    pequeno poema de um mstico de sculo XVII: A rosa sem porqu. Floresce ao florescer. No

    olha para si mesma, nem pergunta se algum a v.

    ZM Pensando no campo da Comunicao, em comparao Filosofia, ambos

    relacionados s cincias sociais, portanto, atrelados s relaes humanas, mas tambm

    s normas e teorias. H espao criativo, apesar do enquadramento?

    ECL Qualquer que seja a teoria, qualquer que seja o endereamento metodolgico,

    epistemolgico, filosfico, sempre uma limitao, um empobrecimento, comparado com a

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    riqueza criativa do comportamento humano. Isto , nenhuma teoria, nenhuma doutrina ou

    instrumentao capaz de exaurir o cabedal das condies de troca, de emisso e de recepo

    constitutivas do viver humano. Por isso, sempre no manuseio, no conhecimento e na

    aprendizagem dessas teorias deve-se ter conscincia de que se vai defrontar com delimitaes.

    ZM Como fugir das normas e padres impostos por agncias de fomento pesquisa,

    que exigem altas produes, enquadradas num modelo de fazer cincia?

    ECL No h possibilidade de fuga, porque o CNPq adota uma ttica de distribuio de

    conhecimento, de pesquisa ou de curso dentro desse padro delimitador. Ento se o indivduo

    apresenta um projeto que questiona essas delimitaes, o CNPq no aceita, no financia. O

    financiamento o meio de controle, de exerccio de poder da cultura humana. Por que o CNPq

    tem essa poltica, ou esse padro? Porque a instituio est ligada a interesses de produo da

    sociedade, est sintonizada nisso, seno, em ltima instncia, no ser reconhecida, nem

    receber recursos. Isso o grande desafio, mas tambm a grande limitao da nossa poca.

    Cada vez mais se desenvolveram instrumentos, recursos, meios de elaborar, uniformemente,

    um padro de cultura, de conhecimento; tudo que sair fora desse padro recusado como no

    cientfico, intil, dotado por uma caracterstica de ideologia, como se a cincia no fosse a

    grande ideologia. O que a ideologia? No mbito da cincia dos fenmenos naturais, dos

    fenmenos fsicos h uma tecnologia, que um procedimento de processadores desses

    fenmenos fsicos. A ideologia a mesma coisa, s que com fenmenos humanos e sociais.

    Significa que a tecnologia dos fenmenos sociais a ideologia. o que faz o mesmo

    processador com outros recursos, com outros nveis, com outros meios.

    ZM O que garante a cientificidade de um trabalho, considerando as amarras tcnicas e

    mesmo a fluidez do campo da Comunicao?

    ECL Nada garante. Os critrios e os parmetros cientficos esto fora do fenmeno

    comunicao. Vm de fora, querendo se impor, ento lanam mo dos meios eletrnicos, da

    iluso do poder, mas nada disso garante, numa perspectiva histrica, ter o sucesso que

    prometem. O que se produz nem sempre coincide com aquilo que se quer que se produza.

    Porque cada produto ele mais o diferente dele. Exemplo, um produto qualquer, um creme de

    beleza, no o creme. O creme est existindo nele, mas no vai controlar a beleza. Uma vez,

    diante de uma tese na Bahia, um candidato de doutorado falava que os meios eletrnicos de

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    comunicao abriam possibilidades que a experincia humana no conhecia. E deu o seguinte

    exemplo: eletronicamente, voc pode criar uma mulher to perfeita que todo mundo ficar

    encantado por ela. Ele tem razo, possvel criar, mas o indivduo no vai para a cama com ela,

    vai com a outra, a real. No com essa que a veiculao estabeleceu com todos os seus recursos,

    querendo desenvolver os valores do feminino, do atraente. Ento o seguinte: se, na sociedade,

    o crime no compensa, na comunicao, o crime compensa, porque vai render determinados

    poderes, sejam de lucro, de influncia, de manipulao. O crime sempre compensa.

    ZM Juremir Machado diz que o campo da comunicao est endurecendo contra a

    produo de ensaio, alegando no ser cincia. Ele questiona que os grandes trabalhos

    cientficos tm como base ensaios produzidos por pesquisadores estrangeiros. Como o

    senhor v essa crtica?

    ECL mesmo uma contradio. O que Cincia? Cincia no mais nada do que um ensaio

    que se mostrou dotado de uma capacidade de abertura, de abrir novas possibilidades, de abrir

    dimenses, e sem ensaio no h isso. A cincia depende do ensaio.

    ZM Com relao histria das teorias da comunicao, considerando as diversas

    escolas, como o senhor avalia a comunicao hoje? As correntes tericas ainda do conta

    da contemporaneidade ou preciso repensar novas teorias, novas escolas?

    ECL Houve um tempo em que se buscava fazer o seguinte controle. Psicologicamente, se

    estabeleceu o seguinte: o que uma imagem do cinema? Fisicamente a repetio de unidade

    que compe a figura, compe o perfil da pessoa, ou da situao, do ambiente o que for. Ento

    aquela tomada repete por quinze segundos cem vezes, o que resulta em movimento. Mas d

    movimento porque a percepo do indivduo no consegue separar esse ritmo to acelerado de

    multiplicao, dando a impresso de que a pessoa est se movendo. Isso acontece em todos os

    nveis. Ento fizeram a seguinte tentativa: em cada 14 repeties de desenho animado,

    arranjaram somente treze e colocaram, no lugar da que foi retirada, uma propaganda - Coma

    amendoim. S que a pessoa no v. Passa o filme e ningum v a mensagem repetida a cada

    doze segundos, mas o crebro registra. Fizeram testes e depois de duas horas do filme, era um

    filme de poca que no tinha nada a ver com comida, todo o amendoim que estava sendo

    vendido acabou rapidamente. A influncia inconsciente, abaixo do limiar de percepo, foi

    determinante. Ento, eles disseram: temos em mos um instrumento de controle das vontades.

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    Isso aconteceu nesse caso, nos Estados Unidos, mas comearam a multiplicar a experincia e j

    no dava mais resultado, porque furou a informao, saiu a notcia de que havia esse teste,

    ento as pessoas j no seguiam mais. A conscincia prevalece sobre as repeties abaixo do

    limiar. Com o tempo que vai- se dar conta, mas as informaes abaixo do limiar esto sujeitas

    a uma recusa, uma transformao, uma rejeio, uma das possibilidades humanas da liberdade,

    porque liberdade no escolher s entre as alternativas, mas libertar-se. O indivduo s

    escolhe a alternativa depois que se libertou.

    ZM Muniz Sodr diz que os estudos da comunicao se fecharam no jargo acadmico,

    perdendo de vista a compreenso histrica. O senhor concorda?

    ECL Concordo. A histria tambm tem as suas alavancas de possibilidades. como se fosse

    uma planta que estivesse germinando. S que a histria, mais do que a planta, vai alm dos

    padres vegetais e animais de vitalidade. A histria a dinmica mais criadora e profunda que

    a realidade criou. Claro que ela tambm tem os seus limites. No se pode reduzir tudo

    histria, porque esta tambm depende da biologia humana, das condies fsicas do meio.

    Ningum pode viver no sol. Isso no possvel. Portanto, h delimitaes para a dinmica de

    viver dentro da estrela errante da terra. Essa possibilidade de transformao criadora da

    histria constitutiva da vida humana. Na academia, a utilizao da instrumentao tcnica

    restringe e delimita, assim como um instrumental tcnico microeletrnico, no qual est

    concentrado todo o perfil de criatividade tecnolgica de vida acadmica de um tempo. Aplicou-

    se ali e para isso teve que se restringir para funcionar. Na educao, usam-se meios eletrnicos.

    A suposio que as possibilidades de evoluo do indivduo humano podem ser elaboradas e

    encaminhadas numa determinada direo. As outras possibilidades que no se encaixam nesse

    direcionamento ficam fora e isso cria problema para a vida do indivduo e para a vida social. A

    questo que os problemas histricos e sociais tm um tempo muito mais amplo do que o

    imediato. Se algum produz um conhecimento de destruio no vai explodir na mo de quem

    produz, mas na mo de outras geraes. Isso outra dinmica prpria dos fenmenos

    histricos, que tem uma durao que ningum pode acelerar nem retardar. Ele tem seu prprio

    andamento, tanto no sentido destrutivo/negativo, como no sentido positivo/construtivo.

    Exemplo: saiu uma notcia no jornal de que um representante dos Estados Unidos na Lbia foi

    assassinado. E por que ele foi assassinado? Porque o povo revoltou-se contra a divulgao de

    um filme negativo aos muulmanos. Como algum vai terra do outro apresentar um filme

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    contra ele? Isso provocao. O argumento que liberdade de imprensa. Liberdade para

    quem? Pode ser liberdade de imprensa na Amrica, no Ocidente. Nessas comunidades, a

    conversa outra. Elas tm um tempo prprio de transformao, de mudanas. Sempre foi

    assim. No pode ser de imediato. preciso respeitar isso. Houve um tempo em que o europeu

    tinha esse tipo de comportamento. A inquisio um exemplo. O poder est sempre em causa

    em qualquer nvel histrico de realizao cultural e social.

    ZM Como desenvolver a viso crtica de estudantes de comunicao que iro trabalhar

    com a grande mdia e interferir nas relaes sociais?

    ECL Minha experincia diz que nos primeiros anos no adianta abordar isso. O que precisa

    transmitir outra coisa, desenvolver os meios e as condies que futuramente podem ser usados

    como libertao. Porque, no incio, o no s crticas no se apresenta assim. importante dar

    fora a isso, para aos poucos ir amadurecendo, ir crescendo, ir se desenvolvendo at chegar a

    um momento que explode. Que condies so essas? Primeiro, preciso desenvolver uma

    atitude de, ao mesmo tempo, identificar e perceber o que se recebe e se critica, os limites do

    que se recebe. O que crtica? Crtica no mais nada do que perceber os limites daquilo que

    se recebe. Se algum comea a falar isso no primeiro ano de universidade no vai obter

    resultado, porque o feitio, a atrao dos meios eletrnicos to grande que os alunos nem vo

    entender. Eles vo questionar o que isso lhe facilitaria o trabalho, considerando as muitas

    ofertas da mdia. H muitos exemplos de facilitao, como softwares em que se pega um texto

    de Shakespeare em ingls e o programa escreve aquele mesmo texto de outra maneira. S

    conhecendo muito o autor que se vai identificar que aquele texto tirado do original. Para o

    estudante esse programa uma mo na roda. Ele resolve qualquer problema de desempenho

    de faculdade sem nenhum sacrifcio. Com isso, os alunos no precisam fazer pesquisa, quem faz

    o software. Basta instruir com recursos, com informaes cada vez maiores. Por esse motivo,

    h na comunicao a necessidade, desde o incio, de se acentuar a diferena entre comunicar e

    informar. Comunicar no informar. A informao supe a comunicao, mas no d a

    comunicao. Por isso que todas essas conquistas so uma faca de dois gumes, castram e ao

    mesmo tempo vitalizam. E a questo saber qual a linha que separa as duas coisas. Claro que

    no se pode ficar apenas de um lado, impossvel.

    ZM Podemos confirmar o domnio do mercado frente s relaes humanas?

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    ECL A teoria se aplica ao que est acontecendo, mas no tudo o que est acontecendo. Por

    entre ela, abaixo dela, operam foras, possibilidades que no se deixam enquadrar, nem

    manipular pelo mercado. Observe o mercado de arte hoje em dia. O que o mercado de arte?

    S para ficar nas artes plsticas. Suponhamos que diante de um pintor antigo, Van Gogh, por

    exemplo, e uma pintura de hoje, a maneira do apelo de possibilidades humanas totalmente

    diferente. Quando se v um quadro de Van Gogh ou de qualquer outro clssico sente-se que ali

    est pulsando a vida humana, a sua vida. Esse sentimento so possibilidades que dentro de

    voc comeam a medrar, comeam a inquietar e que no encontrariam hora e vez, diante de

    uma obra atual. S que o mercado fez com que essas obras ficassem dependendo da

    mobilizao, da instrumentao e divulgao, do marchand, das galerias, pela televiso, que

    um meio de penetrao maior. No entanto, voc v um filme sobre pintura clssica, v um

    depois do outro, no pra para perguntar qual a possibilidade de vida que hoje esse quadro

    traz? O ritmo de sucesso fica de tal maneira que isso se torna impossvel, inviabilizando a

    capacidade de acompanhamento. preciso um tempo. No s um tempo cronolgico. Exibir um

    quadro durante dez horas, no adianta. No esse o tempo. Por isso esse negcio do mercado e

    do ritmo lucro. A ordem investir numa produo para produzir mais, lucrar mais. Esse

    lucro investido de novo. O ideal produzir mais para lucrar mais. um parafuso sem fim.

    Houve uma mudana nominal pelo mercado, que desenvolveu o lucro como valor. Com isso, o

    mercado quer conquistar todos para os seus valores, ou seja, para o consumo, que gera lucro.

    Para isso, funciona a qualquer preo, independente dos meios usados que levem compra. O

    valor d uma deformao nas escolhas, no julgamento de escolha dos indivduos no grande

    nmero, mas estes ficam infelizes, porque os outros valores humanos no se desenvolvem.

    ZM Na apresentao do livro Introduo metafsica, de Heidegger, o senhor diz que

    Herclito e Parmnides, Plato e Aristteles, So Toms e Descartes, Kant e Hegel, Marx

    e Nietzsche esto presentes [...] no crebro eletrnico, do qual depende hoje a segurana

    do Capitalismo e do Socialismo. Como assim? O senhor est dizendo que a filosofia

    fundamenta as prticas de poder, independentes do tempo histrico e ideolgico?

    ECL A filosofia no serve para coisa alguma. No seno a simples experincia de viver e

    morrer a cada instante na famosa definio de Plato. Porque morreremos um dia, morremos

    cada dia a todo instante de vida.

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    ZM Nesta mesma obra, o senhor afirma que pensar no saber. no saber. Quando

    se pensa, no se pretende saber, quando se pretende saber, no se pensa. O que isso?

    E como se aplica essa hiptese na produo do conhecimento?

    ECL Se j se soubesse tudo de tudo, no haveria a necessidade de pensar e conhecer. Se no

    se soubesse nada de nada, no seria possvel nem conhecer, nem saber.

    ZM Na introduo do livro Ser e Verdade, de Heidegger, o autor aborda a questo

    fundamental da filosofia, questiona sua aplicao e desconstri conceitos dizendo o que

    a filosofia no . O senhor poderia explicar?

    ECL A diviso temporal em sculos ou pocas no histrica. Na Histria, se d a vigncia de

    toda a histria em toda histria. O vigor de ser e no ser se d tanto na presena quanto na

    ausncia.

    ZM A mdia est na fronteira entre o acontecimento e o fato, gerando narrativa. Como o

    senhor percebe a relao entre pensamento e prxis, verdade e simulacro?

    ECL As diferenas entre fato e feito so sempre relativas e derivam de um rigor criativo da

    prpria sociedade. A tentao de toda tecnologia procura multiplicar os vages para dispensar

    a locomotiva. Equivaleria ao empenho de olhar tudo e no ver nada. No existe separao entre

    pensamento e prxis, mas uma relao de recproca constituio entre ambos. Pretender

    separ-los equivale ao esforo de comprar todos os nmeros de uma edio de jornal para

    verificar a veracidade de uma notcia. Com esse desenvolvimento tecnolgico se deu o

    chamado jornalismo investigativo. O que isso? Suponhamos que um reprter ou os vrios

    agentes desse jornalismo vai investigar um determinado fenmeno ligado ao crime. A atitude

    da comunicao desse jornalismo investigativo considera o resultado obtido coisa julgada, o

    que significa o mximo valor, verdade absoluta. Se oficialmente o tribunal no chegar a

    nenhuma concluso, o jornalista cobra do tribunal, porque acha que o resultado da

    investigao dele que a verdade. como se algum dissesse para multiplicar as

    incompetncias da competncia. No d. Comparando: como algum que est esperando uma

    notcia. Acorda de manh e aquela notcia poderia ser a esperada, mas tambm poderia ser o

    contrrio. Ao ler o jornal, o indivduo encontra a notcia como esperava. Mas imediatamente

    vem a dvida: e se no for verdade? Um jeito de saber se verdade ou no sair e comprar a

    edio do dia dos jornais para ver se todo mundo confirma. Se estiver em todos os jornais,

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    ento verdade. Essa homogeneizao da notcia um desvalor educativo e social. A pretenso

    do jornalismo investigativo de suas concluses terem valor de coisa julgada depe contra a

    cegueira do investigador e denuncia uma vontade de controle e dominao dos fatos.

    ZM E com relao imediatez da mdia digital de audincia, de ferramentas,

    interao e produo de notcias. Qual o impacto da sociedade em rede para as relaes

    socioculturais e as polticas econmicas?

    ECL Os multimeios inseridos em rede supem uma experincia social de criao de valores. A

    sociedade em rede no ponto de partida para a criatividade humana. Ao contrrio, ponto de

    chegada.

    ZM Como assim? possvel repensar a comunicao de uma forma mais reflexiva?

    ECL Possvel , mas no d para essa reflexo ser veiculada nos multimeios eletrnicos,

    porque a reflexo sempre algum desempenho singular, individual de cada um. Ningum pode

    pensar pelo outro. S ele pode pensar por ele mesmo. No mximo, eu posso criar condies

    para que o outro assuma as possibilidades de pensar que tem e que ningum pode fazer por

    ele. A dificuldade est a. O ideal da formao, da educao levar as pessoas a aproveitarem as

    possibilidades singulares que cada uma tem. claro que isso representa um perigo para o

    establishment. Mas um perigo que sempre houve, histrico. Foi justamente a vitalidade

    desse perigo que criou novidade, que abriu outras possibilidades. Qual foi a resistncia que o

    desenvolvimento, seja da cincia, seja das artes, ou da vida social e padres de comportamento,

    sofreu quando a sociedade ou a histria abriu novos caminhos? So caminhos que do novas

    dimenses de interrogao. Claro que o establishment faz tudo para isso no acontecer, porque

    se sente ameaado, se sente perdendo poder, ento h um risco. Vida representa sempre risco.

    A comunicao seria uma arena de disputa, da qual sobrevive quem consegue, de alguma

    maneira, abrir novas possibilidades. Essa arena que vai decidir qual o destino futuro da

    histria, no o imediato.

    ZM Quais os limites entre os valores ticos e a sociedade midiatizada, impregnada pela

    tcnica e pela eficcia em uma esfera globalizada?

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    ECL A tica uma questo de criatividade e no de repetio de multimeios. Porque a tica

    no aceita coao de espcie alguma. O valor tico provm de autonomia, da autonomia de uma

    libertao.

    Referncias:

    CARNEIRO LEO, Emmanuel. Aprendendo a pensar II. Petrpolis: Vozes, 2000.

    _________. Itinerrio do Pensamento de Heidegger. In: Introduo Metafsica. Traduo: Emmanuel Carneiro Leo. Rio de Janeiro: Ed. Tempo Brasileiro, 1999.

    HEIDEGGER, Martin. Ser e Verdade. Traduo: Emmanuel Carneiro Leo. Petrpolis: Ed. Vozes, 2007.

    SILVA, Juremir Machado da. O que pesquisar quer dizer: como fazer textos acadmicos sem medo da ABNT e da CAPES. Porto Alegre: Ed. Sulina, 2011.

    SODR, Muniz. Antropolgica do espelho. Petrpolis: Ed. Vozes, 2002.

    ___________. Anotaes de aula do PPGCOM/ECO/UFRJ. Rio de Janeiro, 2012.


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