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27-43-1-SM

Date post: 16-Nov-2015
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Revista de Discentes de Ciência Política da UFSCAR | Vol. 2 n. 1 2014 69 Era FHC X Era Lula: a disputa simbólica no horário eleitoral de 2010 1 FHC era X Lula era: the symbolic dispute on electoral schedule Joyce Miranda Leão Martins 2 Resumo: A revolução nos meios de comunicação provocou mudanças na configuração da política que, progressivamente, desloca seu lócus de atuação das ruas para as telas, principalmente quando se trata de atrair o voto de eleitores em campanhas majoritárias. No Brasil, isso passou a ocorrer a partir da redemocratização, período em que houve a queda da censura e o desenvolvimento do marketing político. A simbiose entre os campos político e midiático possibilitou o surgimento de novas formas de longevidade no poder, agora apoiadas em “imagens-marca” fortes, capazes de darem origem a distintas temporalidades políticas. O objetivo deste artigo é analisar o horário eleitoral de Dilma Rousseff e José Serra, na campanha presidencial de 2010, atentando para como os legados simbólicos de Lula e FHC, dos partidos de Dilma e Serra, respectivamente, foram usados para conseguir a adesão do telespectador/eleitor. A metodologia utilizada foi a da análise do discurso. Foram importantes noções como condições sociais de produção, lugar de fala e ethos. Palavras-chave: Era Lula; Era FHC; Horário eleitoral; Marketing Político. Abstract: The revolution in the means of communication provoked changes in the configuration of the political power that progressively dislocate its locus of actuation from the streets to the screens, chiefly when it deals with attracting the vote of electors in majority campaign. In Brazil, this began to occur from the redemocratization period in which there was the fall of the censorship and the development of the political marketing. The symbiosis between the political fields and mediatic made possible the coming up of new forms of longevity in power, now supported by strong “images-mark” capable of bringing into being distinct 1 Uma versão preliminar deste artigo foi apresentada no 7º congresso da Associação Latino- Americana de Ciência Política (ALACIP). 2 Mestre em Sociologia (UFC) e Doutoranda em Ciência Política (UFRGS). Bolsista da CAPES. Contato: [email protected].
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  • Revista de Discentes de Cincia Poltica da UFSCAR | Vol. 2 n. 1 2014

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    Era FHC X Era Lula: a disputa simblica no horrio eleitoral de 20101

    FHC era X Lula era: the symbolic dispute on electoral schedule

    Joyce Miranda Leo Martins 2 Resumo: A revoluo nos meios de comunicao provocou mudanas na configurao da poltica que, progressivamente, desloca seu lcus de atuao das ruas para as telas, principalmente quando se trata de atrair o voto de eleitores em campanhas majoritrias. No Brasil, isso passou a ocorrer a partir da redemocratizao, perodo em que houve a queda da censura e o desenvolvimento do marketing poltico. A simbiose entre os campos poltico e miditico possibilitou o surgimento de novas formas de longevidade no poder, agora apoiadas em imagens-marca fortes, capazes de darem origem a distintas temporalidades polticas. O objetivo deste artigo analisar o horrio eleitoral de Dilma Rousseff e Jos Serra, na campanha presidencial de 2010, atentando para como os legados simblicos de Lula e FHC, dos partidos de Dilma e Serra, respectivamente, foram usados para conseguir a adeso do telespectador/eleitor. A metodologia utilizada foi a da anlise do discurso. Foram importantes noes como condies sociais de produo, lugar de fala e ethos.

    Palavras-chave: Era Lula; Era FHC; Horrio eleitoral; Marketing Poltico.

    Abstract: The revolution in the means of communication provoked changes in the configuration of the political power that progressively dislocate its locus of actuation from the streets to the screens, chiefly when it deals with attracting the vote of electors in majority campaign. In Brazil, this began to occur from the redemocratization period in which there was the fall of the censorship and the development of the political marketing. The symbiosis between the political fields and mediatic made possible the coming up of new forms of longevity in power, now supported by strong images-mark capable of bringing into being distinct

    1 Uma verso preliminar deste artigo foi apresentada no 7 congresso da Associao Latino-Americana de Cincia Poltica (ALACIP). 2 Mestre em Sociologia (UFC) e Doutoranda em Cincia Poltica (UFRGS). Bolsista da CAPES. Contato: [email protected].

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    political temporalities. The objective of this article is to analyze Dilma Roussefs electoral schedule and Jos Serra in the presidential campaign of 2014, considering the symbolic legacy of Lula and FHC, the parties of Dilma and Serra, respectively, that were being used to attain the adhesion of the television watcher and the elector. The methodology being used was the analysis of the discourse. They were important notions as well as social conditions of production, place of speaking and ethos.

    Key-words: Lulas era; FHCs era; electoral schedule; political marketing.

    1. Introduo

    As eleies brasileiras, ocorridas depois da redemocratizao do pas,

    acontecem dentro de um ciclo de padro miditico publicitrio3 de campanhas

    polticas, que teve origem em 1989, perodo em que o marketing poltico pde se

    desenvolver, e os jornalistas puderam falar dos candidatos sem medo de censura.

    A midiatizao da poltica, isto , a poltica produzida para ser noticiada,

    acompanha o processo de revoluo dos meios de comunicao e a

    preponderncia destes nas formas de sociabilidade, as quais foram modificadas

    com o advento de novas tecnologias. A evoluo tcnica das sociedades causa

    transformaes em distintos mbitos, trazendo consequncias, tambm, para a

    configurao da poltica. Antes mostrada nas ruas, nas visitas a casas dos eleitores,

    nos comcios, passa progressivamente a se deslocar para o campo das imagens,

    tendo a TV como lcus privilegiado. Os antigos modos de comunicao poltica no

    desaparecem, mas se adaptam ao que interessante de ser mostrado na tela.

    O entrelaamento do espao poltico com o miditico provocou, de acordo

    com Champagne (1996), o surgimento de um novo jogo poltico, caracterizado pela

    tentativa de formao da opinio atravs da TV e com a ajuda de institutos de

    sondagem. Essas imbricaes entre a poltica e a mdia podem ser vistas de modo

    especial durante as campanhas eleitorais, momento em que os prprios agentes do

    campo poltico utilizam o espao miditico para falar com o pblico. Essa nova

    3 Definido pela ambincia midiatizada das campanhas eleitorais, bem como pelo forte apelo publicidade, feito nas propagandas veiculadas nos spots (inseres polticas na programao diria) e nos blocos do horrio eleitoral (Carvalho, 1999).

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    forma de fazer poltica tambm proporcionou modo indito de longevidade no

    poder, mantido atravs da construo e manuteno de imagens pblicas positivas

    no horrio eleitoral, na comunicao institucional de governos etc. A imprensa

    costuma chamar de era essa temporalidade, a qual enraizada no imaginrio

    coletivo produz e reproduz uma memria atravs de narrativas que particularizam

    uma poca cuja durao tende a se estender por mais de um mandato (Carvalho,

    2013, p.46).

    O objetivo deste artigo analisar o Horrio Gratuito de Propaganda

    Eleitoral (HGPE) de Dilma Rousseff e Jos Serra, na campanha presidencial de

    2010, atentando para como os legados simblicos de Lula e FHC, dos partidos de

    Dilma e Serra, respectivamente, foram usados para conseguir adeso do

    telespectador/eleitor.

    2. O padro miditico no jogo poltico

    Campanhas presidenciais com forte apelo miditico so caractersticas das

    eleies ocorridas ps-redemocratizao. Nessas campanhas, o discurso sedutor,

    ancorado em imagens, tornou-se elemento fundamental para o sucesso de

    candidaturas. Se antes a retrica, a troca de favores entre polticos e eleitores, os

    conchavos com chefes polticos tradicionais resultavam nos votos, agora a poltica

    tem que se adaptar lgica da linguagem miditica, posto que, em eleies

    majoritrias, a televiso veio ganhando fora cada vez maior. Os discursos

    audiovisuais funcionam como dispositivos mobilizadores de imaginrios, os quais

    circulam em determinado meio social.

    O conceito de imaginrio social foi proposto por Cornelius Castoriadis entre

    as dcadas de 1960 e 1970, destacando a importncia que assume na instituio da

    vida social. Na viso desse autor, os imaginrios so significados construdos

    coletivamente em um processo que no ocorre de modo consciente. (1995). De

    acordo com ele, o imaginrio usaria o simblico no somente para exprimir-se [...]

    mas para existir, para passar do virtual a qualquer coisa mais (1995, p.154). A

    definio dada por Charaudeau, entretanto, a adotada neste artigo. Para

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    Charaudeau, todo imaginrio um imaginrio de verdade que essencializa a

    percepo do mundo em um saber provisoriamente absoluto (2008, p.205), visto

    que o homem no construiria percepes significantes sobre o mundo se no as

    tivesse por verdadeiras. Sabendo que os imaginrios circulam atravs da

    linguagem, Charaudeau, para ajudar na anlise de discurso poltico, cria um

    conceito:

    medida que esses saberes, enquanto representaes sociais, constroem o real como universo de significao, segundo o princpio de coerncia, falaremos de imaginrios. E tendo em vista que estes so identificados por enunciados linguageiros produzidos de diferentes formas, mas semanticamente reagrupveis, ns os chamaremos de imaginrios discursivos. Enfim, considerando que circulam no interior de um grupo social, instituindo-se em normas de referncias por seus membros, falaremos de imaginrios scio-discursivos. (Charaudeau, 2008, p.203).

    A disputa simblica entre discursos a disputa pela hegemonia do sentido

    do imaginrio, pela fixao de sentidos que possa ser mais vantajosa a candidato A

    ou B. As estratgias discursivas de Dilma Rousseff e Jos Serra, ao evocar os ex-

    presidentes Lula e FHC, mobilizaram imaginrios tradicionais da poltica brasileira,

    em uma tentativa de conseguir adeso mais facilmente.

    O embate entre as duas eras foi iniciado por Dilma, que se valia da imagem

    de Lula para se apresentar aos eleitores. Para saber por que os ex-presidentes

    acabaram sendo protagonistas de uma eleio que no era a deles e quais os

    significados disso (dos discursos que evocavam os governos do PT e do PSDB),

    importante uma breve explicao das eras Lula e FHC.

    3. A emergncia de duas eras

    Os governos Lula e governos FHC esto no imaginrio social como

    marcadores de distintas temporalidades na poltica brasileira. como se uma era

    se contrapusesse a outra. Dois Brasis construdos com prticas e discursos

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    polticos, que comearam a ser desenhados na segunda eleio presidencial, ps-

    redemocratizao.

    No comeo de 1994, Lula lembrava episdios recentes da vida do pas, como

    o governo corrupto de Collor. O petista levantava a bandeira da tica, da seriedade,

    posicionando-se como o anti-Collor. Lula comeara o ano como favorito do

    eleitorado, mas quando Fernando Henrique anunciou (29/03/1994) que iria

    deixar o ministrio4 para lanar sua candidatura presidncia da Repblica, o

    cenrio comeou a mudar. Se Lula recordava fatos que nenhum brasileiro gostaria

    de vivenciar novamente, FHC trazia para o cenrio da disputa uma lembrana que

    parecia assustar muito mais: a inflao do governo Sarney contraposta

    estabilidade, pela qual somente ele, Fernando Henrique, seria o responsvel. O

    Real nasceu envolto em mantos de esperana dos brasileiros, e suas primeiras

    cdulas vinham com a assinatura de seu pai. E, assim,

    O afastamento do ministrio para candidatar-se, longe de significar abandono do filho sua prpria sorte, foi semantizado como ato de confirmao da preocupao de pai zeloso com o futuro do rebento: concluda a tarefa de germinao ele antecipa-se para pleitear o lugar ideal (a presidncia) para acolh-lo com a segurana de poder garantir a continuidade de seu desenvolvimento saudvel. (Carvalho, 1995, p.36).

    FHC conseguiu a proeza de controlar a inflao brasileira, que apresentava

    nmeros constantemente crescentes desde os ltimos governos militares (Geisel e

    Figueiredo). O feito, simbolizado na criao do Real, permitiu a Fernando Henrique

    ganhar de virada o pleito presidencial de 1994, decidido j no primeiro turno.

    A conquista de manuteno da estabilidade, aliada ao fato do socilogo

    mostrar-se na campanha de 1998 como o grande homem capaz de combater as

    crises econmicas, e por consequncia atenuar o desemprego, permitiriam a

    reeleio do psdebista, em 1998, novamente no primeiro turno. Esse resultado

    tambm refletia a descrena da populao no PT, o medo do retorno da

    instabilidade econmica, que poderia ser gerado por Lula e seus aliados. Ou seja, a

    4 Fernando Henrique era ministro da Fazenda de Itamar Franco, vice de Collor, que assumiu a presidncia quando este renunciou, acuado por denncias de corrupo.

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    vitria de FHC, no primeiro turno em 1998, no demonstrava (necessariamente)

    um contentamento da populao diante da situao do pas.

    O desenrolar e o fim do segundo mandato de FHC, com o pas envolto em

    crises econmicas, trouxeram marcas negativas para o socilogo e seu partido, o

    PSDB. FHC saiu da presidncia como privatizador; responsvel pela estagnao da

    economia e do desemprego. Seus adversrios reforaram essa ideia (o PT iria

    ajudar a tornar a privatizao uma marca negativa da Era FHC). Excludo da

    campanha de 2002, o ex-presidente no pde responder aos ataques. Jos Serra,

    candidato do PSDB, rejeitou a misso que caberia a ele de defender o governo de

    seu partido, afirmando que FHC era uma pessoa, e ele, Serra, outra. Desse modo,

    sua atuao na campanha parecia falar, entrelinhas, que ter sido do governo era

    um peso para sua candidatura.

    FHC ia saindo do cenrio poltico-eleitoral como um presidente ruim,

    estando j muito longe, quase apagada, a imagem do grande homem que soube

    vencer a inflao. Nesse contexto, ressurgiu Lula como um homem que soube

    aprender com seus erros e amadureceu.

    Lula simbolizava a esperana da mudana, de uma vida diferente, mas sem

    rupturas bruscas. Eleito no segundo turno, mas com a maior votao j recebida

    por um candidato a presidente (mais de 52 milhes de votos5), ele iniciou o

    mandato adotando projetos6 de FHC. As primeiras decises do novo presidente

    provocaram uma diviso no partido, e os dissidentes se desligaram do PT para

    fundar o PSOL (Partido do Socialismo e Liberdade), sigla oposicionista de

    esquerda. Mesmo com os percalos do escndalo do mensalo7, Lula conseguiu se

    reeleger e continuar a trilhar um caminho positivo no imaginrio social brasileiro,

    diferente daquele de FHC. Com alta aprovao popular, Lula chegou ao final de seu

    primeiro governo como um pai bondoso, que ajudava seus filhos.

    Lula saiu praticamente ileso das denncias de corrupo que derrubaram

    lderes do PT e auxiliares seus no comando da presidncia. Como explicar esse fato

    5 Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Eleicoes/0,,AA1330800-6282,00.html 6 A Reforma da Previdncia um dos projetos em pauta que mais causa a revolta dos eleitores de Lula. 7 Nome como a imprensa passou a se referir s denncias do deputado Roberto Jefferson (Partido Trabalhista Brasileiro PTB), que acusava o PT e o Ministro da Casa Civil, Jos Dirceu, de manterem um esquema de pagamento para os deputados votarem em propostas do governo.

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    e a vitria de Lula em 2006? E seus mais de 80% de aprovao pessoal8, no final de

    seu segundo mandato? Uma das hipteses consideradas que, sendo pessoal o

    carter do carisma, a venerao e confiana esto depositadas apenas em Lula, que

    reconhecido como pessoa extraordinria. Outra suposio, feita pelo socilogo

    Francisco Oliveira, que a vitria de Lula estaria relacionada posio de

    governante, e como tal, com recursos para desenvolver programas para os mais

    pobres. O apoio popular se basearia assim nas polticas assistencialistas do

    governo, de gerenciamento da pobreza, tendo como maior exemplo o programa

    Bolsa Famlia. Para referendar essa tese, Oliveira diz que no Nordeste, regio que

    recebe o maior contingente da assistncia [dessa poltica do governo], Lula

    ultrapassou os 70% de votos recebidos para legitimar seu segundo mandato9.

    Decerto que a oposio a Lula no cessou, mas encontrou pouco espao

    para atuar. Nacionalmente, o PSDB (de oposio ao governo federal petista)

    chegou a votar favoravelmente em propostas de Lula, quando essas reproduziram

    algumas reformas idealizadas pelo PSDB. Os movimentos sociais, que sempre

    foram base do PT, encontravam-se em delicada situao para se opor de maneira

    veemente ao presidente, devido dependncia que tinham do governo: Lula

    nomeou como ministros do trabalho ex-sindicalistas influentes na CUT. [...] Mesmo

    o MST v-se manietado [em relao ao governo, pois este] financia o assentamento

    das famlias no programa de reforma agrria10. Outros movimentos da sociedade

    civil, que se colocavam como oposio ao executivo federal, eram de menor

    amplitude e fora na mdia, visto que muitos eram recentes e alguns surgiram

    depois que Lula se tornou presidente.

    De acordo com Oliveira, o que se via era um governo de comando da classe

    trabalhadora, com polticas sociais voltadas para os pobres, mas em aliana com os

    ricos. Desse modo, Lula se tornava quase um consenso. Francisco de Oliveira

    afirma que:

    8 Popularidade de Lula de 80,5%, aponta pesquisa CNT/Sensus: http://g1.globo.com/politica/noticia/2010/08/cntsensus-mede-popularidade-de-lula-em-805.html 9 Ver: Oliveira, p. 1, Hegemonia s avessas. 10 Ver: Oliveira, p. 4, Hegemonia s avessas.

    http://g1.globo.com/politica/noticia/2010/08/cntsensus-mede-popularidade-de-lula-em-805.htmlhttp://g1.globo.com/politica/noticia/2010/08/cntsensus-mede-popularidade-de-lula-em-805.html

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    A vitria do ex-metalrgico [...] criou no pas [...] o que chamou de uma hegemonia s avessas: a classe dominante aceita ceder aos dominados (que Lula, em tese, representa) o discurso poltico, desde que os fundamentos da dominao que exerce no sejam questionados. (Entrevista Lydia Medeiros, do jornal O Globo)11.

    Ainda de acordo com o cientista social, o conjunto dessas aparncias (de

    comando, domnio, por parte dos antes dominados) esconde outra coisa, para a

    qual no temos nome, nem talvez conceito.12 As suposies que se possam fazer

    partiro todas de um mesmo princpio: a aprovao gritante que Lula conseguiu

    perante os brasileiros.

    A anlise de Oliveira foi feita em 2007, um ano aps a reeleio de Lula, e o

    ex-presidente continuou com alta aprovao e com a imagem de um pai que

    ajudava os pobres. Esse fato que ser bastante explorado na eleio de 2010, na

    qual, mesmo sem ser candidato, Lula apareceu como um importante personagem

    no discurso dos postulantes presidncia. Em contraposio a ele tambm estar

    presente a Era FHC que Serra tenta esquecer no incio da campanha. Antes de

    analisar esta, vai se passar ao mtodo utilizado.

    4. O Horrio Eleitoral e as imagens no discurso

    Analisar imagens que surgem nos discursos significa compreender o seu

    processo de produo, que passa pelos contextos histrico, social e poltico.

    importante esclarecer que essas imagens vo alm de sua conotao visual:

    imagem pblica no um tipo de imagem em sentido prprio, nem guarda

    qualquer relao com a imagem plstica ou configurao visual exceto por analogia

    com o fato da representao (Gomes, 2007, p.246). Imagem pblica de um sujeito

    qualquer , pois, um complexo de informaes, noes, conceitos, partilhado por

    uma coletividade qualquer, e que o caracterizam. Imagens pblicas so concepes

    caracterizadoras. (Gomes, 2007, p.254).

    11 Ver: http://www.ie.ufrj.br/aparte/pdfs/chicooliveira040207.pdf 12 Ver: Oliveira, p. 5, Hegemonia s avessas.

    http://www.ie.ufrj.br/aparte/pdfs/chicooliveira040207.pdf

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    O ethos, construo da imagem de si no discurso (Maingueneau, 2005), que

    depende da incorporao de outrem, criado com a mobilizao de imaginrios

    sociais. De acordo com Charaudeau o ethos poltico deve [...] mergulhar nos

    imaginrios populares mais amplamente partilhados, [pois] deve atingir o maior

    nmero, em nome de uma espcie de contrato de reconhecimento implcito.

    (Charaudeau, 2008, p.87). Imaginrios seriam as percepes significantes tidas

    como verdadeiras pelos sujeitos sociais. (Charaudeau, 2008).

    A atuao desses imaginrios e das imagens pblicas, na fala dos agentes

    sociais, percebida pela anlise do discurso, que surge entre as lacunas da

    Lingustica, da Psicanlise e do Marxismo: interroga a Lingustica pela

    historicidade que ela deixa de lado, questiona o Materialismo perguntando pelo

    simblico e se demarca da Psicanlise pelo modo como, considerando a

    historicidade, trabalha a ideologia como materialmente relacionada ao

    inconsciente sem ser absorvida por ele (Orlandi, 2012, p.20).

    Quando a anlise do discurso usada como instrumento metodolgico para

    a compreenso de discursos polticos midiatizados, precisa levar em conta que

    estes, ao contrrio da maioria dos discursos que circulam no social, so pensados

    com o objetivo maior de conseguir adeso e de estar adequados tela, sendo a

    parte inconsciente dos discursos, supostamente, atenuada.

    Mas o que discurso e qual a sua diferena para o simples texto? A distino

    se d porque este somente unidade de sentido e aquele implica sujeito,

    historicidade. De acordo com Pinto, o discurso nada mais que o local onde

    prticas sociais so materializadas. Por isso, no deve ser entendido como um

    ramo da Lingustica, mas como um estudo das formas com que sujeitos histricos

    significam suas condies de existncia (Pinto, 1989). Pode-se dizer que

    Charaudeau complementa a afirmao, ao argumentar que, nas Cincias Sociais, o

    estudo do discurso se diferencia de uma simples observao da linguagem:

    Novas noes como as de enunciao, de corpora de textos (e no apenas de frases), de contextos, de condies de produo permitiram aos estudos lingusticos descobrir e determinar um novo campo de anlise da linguagem, que no remetia mais lngua, ao estudo dos sistemas da lngua, mas ao discurso, isto , aos atos de linguagem que circulam no mundo social e que testemunham, eles prprios, aquilo que so os

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    universos do pensamento e de valores que se impem em um tempo histrico dado. (2008, p.37).

    Importante dizer que um discurso est sempre dentro de outro

    (interdiscurso), que o permite, atualiza-o e desloca seus sentidos. Ao trazer o

    contexto para a cena da produo das falas, o analista do discurso poltico deve

    contar com o apoio das pesquisas de opinio pblica, responsveis por captar

    tendncias da sociedade em determinado momento. Para Jorge Almeida

    fundamental que, nos estudos sobre o discurso poltico miditico, sempre que

    possvel se trabalhe combinando a anlise do discurso; com a anlise da cena

    poltica e dos cenrios que vo sendo construdos; e com a recepo atravs de

    pesquisas qualitativas e quantitativas (1999, p.72).

    Observar o contexto de fabricao dos discursos perceber as condies

    sociais de produo destes que, segundo Orlandi, podem ser consideradas em

    sentido estrito (contexto imediato) e em sentido amplo, incluindo o contexto scio-

    histrico, ideolgico. (2012).

    s condies sociais de produo se ligam o lugar de fala do enunciador, o

    qual se distingue do locutor por ser este o que profere as palavras, enquanto o

    enunciador as produz.

    O lugar de fala se refere posio no campo poltico, a um lugar construdo

    discursivamente e tambm ao ambiente cognitivo. Os discursos se filiam a

    formaes discursivas (que so componentes das formaes ideolgicas)

    determinam o que pode e deve ser dito em um contexto, de acordo com a posio

    do enunciador. A formao discursiva o lugar de constituio de sentido, modo

    de inscrio histrico no qual os textos se apresentam como regularidades

    enunciativas (Almeida, 1999).

    Os conceitos expostos foram utilizados para a anlise dos programas do

    HGPE de Jos Serra e Dilma Rousseff. Pinto (1989) e Orlandi (2012), por serem de

    distintas escolas de anlise do discurso, no so autoras que costumam ser

    utilizadas juntas. Entretanto, tm em comum a percepo de que no discurso so

    travadas batalhas de imposio de sentidos, bem como a noo de que para aquele

    emergir so necessrias condies de produo, atreladas ao lugar de fala e s

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    formaes discursivas. A viso de ambas importante dentro de uma

    hermenutica da profundidade (HP), proposta por Thompson (1999). De acordo

    com o autor, a HP um referencial metodolgico geral (no qual teoria e prtica se

    retroalimentam), que pode abarcar diversos mtodos para uma melhor

    compreenso/interpretao da realidade.

    Thompson divide a HP em trs fases: anlise scio-histrica; anlise

    discursiva; interpretao/reinterpretao. Todas as trs podem abarcar variados

    leques de mtodos e permitem ao analista selecionar uns e preterir outros,

    dependendo da subjetividade de cada cientista, do objeto a ser estudado, das

    condies de pesquisa etc. A primeira fase refere-se s condies sociais de

    produo e recepo das formas simblicas; a segunda relaciona-se aos meios

    para se compreender as estruturas de um discurso: anlise de contedo, de

    conversao etc.; a terceira analisa a doxa, levando em conta essa dimenso,

    mas procurando entender como as formas simblicas so interpretadas e

    compreendidas pelas pessoas que as produzem e as recebem no decurso de suas

    vidas quotidianas. (1999, p. 363). Excetuando-se a anlise da doxa, pois aqui no

    haver estudo de recepo, somente das estratgias utilizadas para a persuaso de

    destinatrios idealizados, as outras duas fases da HP sero contempladas.

    Importante destacar que aqui se refere ao destinatrio idealizado como sendo

    o eleitor, mas aquele tambm pode ser o poltico adversrio em uma tentativa de

    um programa do horrio eleitoral de impor ao outro a sua agenda, a sua pauta.

    Para a anlise, todo o horrio eleitoral foi gravado e assistido, porm aqui se

    destacaram as falas relacionadas a Lula e FHC, que tiveram bastante peso na

    campanha e foram decisivas nos momentos finais do jogo eleitoral de 2010.

    5. Dilma Rousseff: a candidata anunciada pelo presidente

    Em 17 de agosto de 2010, primeiro dia dos blocos de propaganda do HGPE,

    Dilma surge do Brasil gigante, que vai do Rio Madeira ao Chu. Vem ao lado do

    padrinho. O Brasil de Dilma o mesmo de Lula, fruto de uma era dourada

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    construda pelo petista. Ela seria a sucessora natural, posto que fez parte do

    governo do presidente e que suas biografias polticas se entrecruzavam:

    Lula se tornou o primeiro operrio presidente, e Dilma a primeira mulher a ser ministra de Minas e Energia, presidente do Conselho de Administrao da Petrobras e ministra-chefe da Casa Civil. Lula deu rumo ao Brasil. Dilma coordenou todo o ministrio e programas como o PAC, o Minha Casa, Minha Vida e Luz Para Todos. Lula [...] inovou, rompeu barreiras, mudou o pas. No por acaso, quer passar a faixa primeira mulher presidente do Brasil.

    Alm de ser a herdeira autorizada pelo presidente, Dilma aparecia como a

    garantia de que a Era Lula no findaria. Em trecho do programa, em que presidente

    e candidata conversam, h o seguinte dilogo:

    Dilma: - o futuro comea sem que se interrompa o presente, porque o Brasil no quer e no pode parar. O povo brasileiro quer seguir construindo este Brasil novo [...]. Nosso povo sabe que agora tem um projeto com a fora e o tamanho do Brasil. Lula: Um projeto, Dilma, que est s comeando. Muita coisa j foi feita, mas tenho certeza que saltos ainda maiores vo acontecer no seu governo,

    Se Lula foi um pai para os brasileiros, Dilma seria a me, com todo o vis

    positivo que o imaginrio ligado imagem de me traz: aquela que cuida, zela,

    defende. Ela vinha pelas mos de Lula, e ele entregava a ela seu povo, para que ela

    desse continuidade Era Lula. O programa se encerra com jingle que narra a

    entrega simblica do mandato do ento presidente:

    Deixo em tuas mos o meu povo E tudo que mais amei Mas s deixo porque sei Que vais continuar o que fiz E meu pas ser melhor E o meu povo mais feliz Do jeito que sonhei e sempre quis Agora, as mos de uma mulher vo nos conduzir Eu sigo com saudade Mas feliz a sorrir Pois sei, o meu povo ganhou uma me Que tem um corao que vai do Oiapoque ao Chu

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    Com o sucesso da primeira semana do HGPE, Dilma sobe nas pesquisas13 de

    inteno de voto:

    GRFICO 1. Inteno de voto estimulada para presidente Respostas estimulada

    Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/poder/786566-dilma-abre-17-pontos-sobre-serra-e-venceria-no-1-turno-aponta-datafolha.shtml

    O programa da candidata no sofre inflexo, mas, alm de me e herdeira da

    era dourada (reiterada em msicas e imagens de um Brasil feliz), tambm so

    apresentadas imagens da petista como uma batalhadora. Apesar do apoio do

    presidente, no dia da Independncia, o programa do dia 7 no deixou de ressaltar

    que Dilma era uma mulher guerreira (capaz de vencer obstculos sozinha), ao

    fazer a analogia de Dilma com mulheres que estiveram frente de seu tempo.

    Texto, fala de narrador em off, msica instrumental e imagens foram intercaladas

    ao percorrer a vida de mulheres pioneiras ao longo da histria do Brasil. A

    13 Grfico tirado do jornal Folha de So Paulo. A pesquisa do Data Folha. http://www1.folha.uol.com.br/poder/786566-dilma-abre-17-pontos-sobre-serra-e-venceria-no-1-turno-aponta-datafolha.shtml

    http://www1.folha.uol.com.br/poder/786566-dilma-abre-17-pontos-sobre-serra-e-venceria-no-1-turno-aponta-datafolha.shtmlhttp://www1.folha.uol.com.br/poder/786566-dilma-abre-17-pontos-sobre-serra-e-venceria-no-1-turno-aponta-datafolha.shtmlhttp://www1.folha.uol.com.br/poder/786566-dilma-abre-17-pontos-sobre-serra-e-venceria-no-1-turno-aponta-datafolha.shtml

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    primeira delas, Catarina Paraguau, chegou a ser colocada como a responsvel pela

    formao do povo brasileiro:

    Primeiros anos de 1.500: uma ndia se casa com o portugus Diogo Caramuru e inicia a formao de um povo novo e mestio, povo brasileiro. (Catarina Paraguau); 1835: indignada com a escravido, ela se engaja na luta dos mals pela liberdade. (Luza Mahin); 1877: ao romper barreiras ela partiu para reinventar a msica brasileira (Chiquinha Gonzaga); 1888: uma mulher sanciona a lei que abole a escravido (Princesa Isabel); Anos 30 e 40: uma mulher projeta a cultura e a alegria brasileira em todo mundo (Carmem Miranda).

    Dilma vai ao segundo turno devido ao caso Erenice14 e, na nova etapa da

    campanha, acentua-se a evocao a Lula e a contraposio da imagem deste ao

    perodo de FHC. Antes de mostrar a disputa mais acirrada, vai se passar

    apresentao de Serra no HGPE, durante o primeiro turno.

    6. Jos Serra: a oposio que no estava l

    A grandeza de Serra est no povo, ele no tem padrinhos, no fala dos

    governos do PSDB e esquece o ex-presidente Fernando Henrique. O Brasil de

    Serra tambm feliz. Quem autoriza o psdebista so os mais humildes, a quem o

    candidato se assemelha pela histria de vida. Em 17 de agosto de 2010, Serra

    apresentado pelo narrador em off, enquanto imagens do candidato, quando

    criana, aparecem na tela:

    O Serra nasceu nessa casinha, num bairro operrio de So Paulo. A me, dona de casa. O pai, vendedor de frutas. Filho de famlia pobre, estudou em escola pblica. Aos 21 anos, j era lder, presidente dos estudantes do Brasil. Foi secretrio estadual do Planejamento; deputado federal duas vezes. Aprovado pelo povo, se elegeu senador. Como ministro do Planejamento, ajudou a implantar o real. Pela sua competncia, se tornou

    14 O programa de Serra relacionava Dilma a Jos Dirceu e a nova ministra da Casa Civil, amiga de Dilma. A notcia propagada era a seguinte: Entra dia, sai dia e o governo do PT cada vez mais se enrola em escndalos e mais escndalos. Hoje, mais um caso grave. Folha de S. Paulo de hoje: Filho da ministra Erenice Guerra pediu 5% de comisso para aprovar financiamento para empresa. Diz o jornal: A empresa recebeu a proposta de doar 5 milhes de reais para a eleio de Dilma. Dilma e Erenice, juntas desde 2003. As duas entraram no lugar de Z Dirceu.

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    ministro da Sade. Em 2004, Serra eleito prefeito de So Paulo. Em seguida, governador do estado. O nico governador, da histria de So Paulo, eleito no primeiro turno.

    Serra e o povo brasileiro se parecem pelas suas histrias de luta. No se

    nega que Lula tenha feito um bom governo, mas seria Serra o melhor para suced-

    lo. Lula Silva, Serra Z, os dois so povo. Assim, depois de colocar vrios

    nordestinos15 em seu programa, Serra surge em uma favela cenogrfica, ao som de

    jingle que dizia: Quando o Lula da Silva sair, o Z que eu quero l [...] Jos Serra

    um brasileiro to guerreiro quanto eu. o Z que batalhou, estudou, foi luta e

    venceu. Z bom, eu j conheo, eu j sei quem ele . Pro Brasil seguir em frente,

    sai o Silva e entra o Z.

    Agindo desse modo, Serra ajudava na manuteno da aura positiva

    relacionada Era Lula. Todavia, devido a posio do candidato no campo poltico

    (postulante pelo PSDB, sigla de oposio a Lula), Serra no obtm sucesso com a

    estratgia de se aproximar do presidente. O lugar de Serra era o da oposio, mas

    ele no estava l. Na primeira semana do HGPE, Serra cai nas pesquisas16 e seu

    programa sofre inflexo. Apesar de no afastar, de imediato, seu ethos da imagem

    de Lula, passa a explorar outras imagens pblicas como: o homem de bem, de

    Deus, bom gestor, ficha limpa. Essa ltima imagem contraposta a de Dilma, amiga

    de Dirceu, responsvel por deixar Erenice na Casa Civil.

    Ainda no primeiro turno, Serra tentou fazer com que a disputa entre

    imagens fosse somente ligada a ele e Dilma: Eu no cheguei na vida pblica, agora

    no, nem foi um padrinho quem me trouxe at aqui. Por isso, eu no preciso ficar

    na sombra de ningum (Programa do dia 4 de setembro de 2010). Ganhou uma

    batalha quando, com o caso Erenice17, ajudou a provocar o segundo turno. Mas

    perdeu a guerra, em definitivo, na nova etapa da campanha, quando Lula e

    15 Serra tentou destruir o pr-ethos de que era contra nordestinos, bem como atrair a parcela do pas mais beneficiada com programas sociais do governo Lula. 16 Ver tpico Dilma Rousseff: a candidata anunciada pelo presidente. 17 At o resultado oficial do primeiro turno, a eficcia da nova fase da campanha para produzir um segundo turno era um mistrio, que somente se desvaneceu com a apurao. O surpreendente nmero de votos da candidata Marina Silva, do Partido Verde (PV), evanglica, possibilitou o segundo turno, mas Sirkis (2011), dirigente do PV e um dos responsveis pela campanha de Marina, o prprio Joo Santana, marqueteiro da Dilma, reconheceram que o fator dominante do desgaste de Dilma naquela reta final do primeiro turno foi o caso Erenice.

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    Fernando Henrique vieram a se tornar protagonistas de uma eleio que no era a

    deles.

    7. O Brasil de FHC x o Brasil de Lula

    A disputa entre dois Brasis, simbolizados em duas eras distintas, fica mais

    evidente no segundo turno. Apesar de Dilma surgir agradecendo a Deus (algo que

    no tinha feito durante todo o primeiro turno), e Serra falar da defesa da vida e do

    meio-ambiente, apesar do tema aborto ser bastante falado no perodo do segundo

    turno, foi a disputa entre as eras Lula e FHC que deu o tom da nova fase da

    campanha. O novo jingle de Serra, apresentado j no final do primeiro turno, ecoou

    bastante, numa tentativa explcita de opor candidato e adversria, colocando o

    psdebista como a representao do bem:

    Quando se conhece bem uma pessoa, Logo se sabe se gente boa. Com Serra, essa certeza a gente tem: Serra do bem. Serra do seguro-desemprego, Do genrico, remdio mais barato. Serra o Brasil seguindo em frente, Cuidando da gente, sempre ao nosso lado. Serra tem firmeza no que faz, A gente conhece, a gente j viu. Tanta coisa boa ele j fez E vai fazer muito mais, Por todo o Brasil. Quando se conhece bem uma pessoa, Logo se sabe se gente boa. Com Serra, essa certeza a gente tem: Serra do bem.

    Mas no havia condies sociais de produo de um discurso de Salvador

    (mito poltico descrito por Girardet, 1987) e da mobilizao de um imaginrio dos

    temores. Ao contrrio, Serra que foi ligado eficazmente a um perodo sombrio. A

    propaganda de Dilma acusava Serra e FHC de responsveis por um passado em

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    que o Brasil era ruim. No primeiro programa petista, do segundo turno, uma

    locutora afirmava:

    No Brasil de Serra e FHC no haveria o Bolsa Famlia. No haveria o Minha Casa, Minha Vida nem o Luz Para Todos. 36 milhes de brasileiros no teriam alcanado a classe mdia e 28 milhes ainda estariam na pobreza. No haveria PAC nem os 14,5 milhes de empregos criados por Lula. Agora o Serra quer voltar, mas o Brasil que no quer voltar ao passado. O Brasil quer seguir mudando com Dilma.

    As comparaes passaram a ser constantes. Em 18 de outubro, o prprio

    Lula quem abre o HGPE de Dilma, afirmando:

    O Brasil que ficou para trs era o pas da desigualdade, do arrocho salarial, do desemprego. O novo Brasil que estamos construindo, distribui renda, cria mais de 14 milhes de empregos e eleva a maioria de sua populao para a classe mdia. Est na hora de voc escolher o Brasil que voc quer: o Brasil capaz de tirar 28 milhes de brasileiros da misria e levar 36 milhes para a classe mdia ou o Brasil que fechava os olhos para a pobreza. O Brasil que dava errado ou o Brasil que est dando certo e que Dilma vai continuar.

    Alguns programas foram feitos apenas com esse sentido, imputar a Serra o

    anti-ethos de privatizador e, simultaneamente, mostrar Dilma como a protetora do

    Brasil. Dia 14 de outubro, afirmava a candidata:

    um crime privatizar a Petrobras e o pr-sal. Falo isso porque, h poucos dias, o principal assessor do candidato Serra, para a rea de energia, e ex-presidente da Agncia Nacional de Petrleo, durante o governo FHC, defendeu a privatizao do pr-sal [...], nosso grande passaporte para o futuro. Com ele, o Brasil vai arrecadar bilhes de dlares. Essa riqueza ser investida nas reas de Educao, Sade, Cultura, Meio-Ambiente, Cincia e Tecnologia e combate pobreza. Graas a uma lei criada pelo nosso governo, com a minha participao.[...] Ns acreditamos que o fortalecimento das nossas empresas bom para todo o povo brasileiro. Eles s pensam em vender o patrimnio pblico.

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    Uma narrao em off alerta para os perigos de votar em quem entregou de

    bandeja as riquezas do Brasil, avisando que Banco do Brasil, Caixa Econmica e a

    Petrobras escaparam por pouco.

    Serra tentava defender-se, dizia em debates que no ia privatizar nada, mas

    apresentava uma postura dbia, pois seu programa passou a legitimar uma das

    privatizaes feitas por FHC:

    No passado era assim: gente rica tinha telefone. Gente pobre tinha lugar

    na fila do orelho. O Serra defendeu a modernizao da telefonia. O PT,

    da Dilma, foi contra, mas a ideia do Serra venceu e, hoje, graas

    modernizao da telefonia, todo mundo, rico ou pobre, tem o seu celular

    e acesso internet. Com Serra, o avano pra todos.

    Sem sada e sem poder tirar do caminho os governos federais do PSDB,

    Serra insistia que a disputa deveria ser entre ele e Dilma, que tinha posies dbias

    sobre o aborto e era aliada a um PT radical e corrupto. O candidato tentou, como

    nova estratgia, defender que as conquistas do Brasil tinham surgido bem antes de

    Lula:

  • Revista de Discentes de Cincia Poltica da UFSCAR | Vol. 2 n. 1 2014

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    Jos Serra construiu sua biografia com muito trabalho e com muito esforo. Serra j lutava pelas reformas de base, pelos trabalhadores, pela liberdade. Serra foi perseguido pela ditadura e teve que se exilar no Chile. De volta ao Brasil, lutou pelas eleies diretas j. A Dilma, ningum sabe, ningum viu. Serra apoiou Tancredo Neves para presidente, diferente do PT da Dilma, que no apoiou Tancredo contra Maluf. Serra foi o melhor deputado da constituinte de 88. Diferente do PT da Dilma, que se recusou a assinar a constituio. No Ministrio do Planejamento, Serra ajudou no Plano Real. Diferente do PT da Dilma, que foi contra. Este Jos Serra um homem que nunca se envolveu em escndalos e que sempre foi coerente. Sempre condenou o aborto e sempre defendeu a vida.

    A tentativa, porm, mostrou-se tardia. Depois do primeiro ethos no

    consolidado, o de homem do povo, Serra foi perdendo os demais por assuntos que

    surgiram em outros espaos da mdia: uma ex-aluna da mulher de Serra afirmou

    que esta havia feito um aborto; Dilma, em debate da Rede Bandeirantes, chamou de

    corrupto ex-assessor de Serra. Enquanto as acusaes iam ficando sem respostas,

    Serra via esvanecer suas imagens de homem de bem e de ficha limpa. Dilma estava

    fortalecida, amparada pelos que confiavam na Era Lula. Como se fora um rito de

    consagrao, o ltimo programa da candidata convocou os brasileiros para votar

    mais uma vez em Lula (agora representado por uma mulher), em Dilma e em si

    mesmos:

    Quatro anos atrs milhes de Lulas e Dilmas decidiram que o Brasil devia continuar mudando. Avanando, cada vez mais, na direo de um pas socialmente mais justo, mais humano, grandioso. E assim mudaram para melhor seus destinos e o destino de milhes de irmos, que finalmente saram da pobreza. Milhares de jovens, que jamais teriam oportunidade na vida, ingressaram na universidade. Famlias, que sequer tinham um teto, ganharam um lar, e o Brasil finalmente virou um pas de verdade. O pas dos brasileiros. Cada um dos Lulas e Dilmas que foram s ruas naquele dia, h quatro anos, so responsveis por um novo Brasil e tudo por causa de um simples gesto [aparecem imagens de urnas e de brasileiros indo votar]. Dilma presidente o povo no poder de novo, para continuar transformando o Brasil.

    O voto aparecia como um dever, forma de agradecer e louvar a Santssima

    Trindade: Lula, Dilma e a Ptria. As representaes da candidata, de Lula e da

    Ptria se fundem. Negar Dilma seria negar uma nao melhor, de mais

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    oportunidades, colocando todos os brasileiros sob o risco de voltar ao pas das

    sombras, que remetia ao tempo do FHC e do Serra.

    8. Comparando estratgias discursivas

    No horrio eleitoral, a disputa pelo poder travada atravs das imagens que

    aparecem nos discursos, os quais podem ser de trs tipos: parafrstico,

    polissmico e polmico (Orlandi, 2012). O primeiro est dentro de uma formao

    discursiva18 dominante, tentando reproduzir os sentidos desta. O segundo, por sua

    vez, aceita a formao discursiva dominante, mas tenta dela se deslocar e criar

    outros significados sobre o mundo social. J o discurso polmico aquele que

    procura romper completamente com o discurso dominante, caso de Plnio Sampaio

    na eleio de 2010, que rejeitou a afirmao de que "O Brasil vai bem", expressa na

    formao discursiva da continuidade. De acordo com Carvalho, "o instituto da

    reeleio, em vigor a partir das eleies presidenciais de 1998, [...] introduziu uma

    varivel nova na dinmica eleitoral, favorecendo a tendncia de continuidade

    poltica" (2013, p. 46).

    A continuidade, que costumava ter um sentido negativo, pois associada a

    clientelismo, ganha, no padro miditico publicitrio, outra conotao. Nesse

    sentido, Dilma foi mostrada como a herdeira do legado de Lula, a candidata-

    governo, que discursava do lugar de fala do poder, de quem sabe o que diz por

    estar no comando. Desse modo, a estratgia da "herdeira" tinha significados que

    no eram apenas promessas. Ancorava-se em realizaes de Lula, que afirmava

    que ela era ele. Ser herdeira do ento presidente significava, segundo os programas

    do HGPE: a continuao dos programas sociais do governo Lula; ter a garantia do

    "voto certo" avalizada pelo presidente; a distncia do desemprego. A construo

    dessa imagem perpassou as outras duas que o programa tentou criar: ela seria

    uma boa me porque estava ao lado de Lula; era uma mulher batalhadora como as

    mulheres brasileiras mas, ao mesmo tempo, no era qualquer uma: tinha estado ao

    18 Ver, neste artigo, o tpico O Horrio Eleitoral e as imagens no discurso.

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    lado de Lula. Levando adiante o sentido de que o Brasil estava bem, era nefasto

    tudo que se opusesse a Dilma e Lula.

    Serra, tentando aproximar-se da imagem bem aceita do petista, apresentou-

    se como o "Z" (homem do povo, melhor para seguir Lula) e competente, tentando,

    posteriormente, mobilizar as foras do bem (representadas pelos que estavam

    com ele) contra as foras do mal (simbolizadas no PT). A primeira e a ltima

    estratgia do psdebista foram arriscadas, posto que ambas esbarravam nas

    inexistentes condies sociais de produo desses discursos. Ele, conforme foi dito

    na descrio/explicao dos programas, falava de um lugar de fala que no era o

    seu e tentava se apresentar como "Salvador da Ptria" (Girardet, 1987),

    mobilizando o imaginrio dos temores, no momento em que o pas no passava

    por crise.

    As imagens, alm de dependerem da aprovao de outrem, tambm

    esbarram no contexto de determinado momento, o que explica a opo de Serra de

    deixar vazio o lugar de fala da oposio, no se opondo ao discurso hegemnico

    (Pinto, 1989) que era respaldado pelas pesquisas de opinio. Assim, a disputa pelo

    poder no ocorreu frontalmente, visto que Serra adotou um discurso parafrstico e

    s, posteriormente, deslocou-se para o discurso polissmico, tentando mostrar que

    o Brasil havia comeado a melhorar desde 1988, com a nova constituio, e que o

    governo de FHC tambm fora responsvel por algumas das vitrias vistas

    atualmente. Ou seja, alm da dificuldade de ser um representante do PSDB quando

    o governo Lula tinha grande aprovao, Serra terminou criando, para si, outro

    obstculo: tendo aceitado o discurso hegemnico, como depois se opor a este?

    Os governos Lula e FHC foram, inicialmente, usados como estratgia

    discursiva, por Dilma Rousseff, na disputa pelo executivo federal. O sentido foi o de

    potencializar a fora do apoio de Lula, bom apenas no por ser ele, mas por

    significar uma oposio a FHC. Serra tentou se desvencilhar desse embate,

    trazendo a disputa para a imagem dele e a da Dilma. Ele, um homem do povo, com

    histria que se assemelhava a de Lula pelas batalhas dirias pela vida; ela, uma

    mulher da qual pouco se sabia.

    A queda nas pesquisas somada ao abandono da primeira estratgia do

    candidato do PSDB (a palavra Z foi abandonada) permite inferir que a estratgia

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    no foi bem sucedida. Depois de tentar mobilizar outros eth, para alm do homem

    do povo, Serra acabou entrando na disputa colocada por Dilma: a Era Lula X a Era

    FHC. Na tentativa de apresentar pontos positivos do governo do PSDB e de

    amenizar as qualidades do governo Lula, na campanha j no segundo turno, Serra

    ajudou a mostrar que a disputa entre governos passados teve importncia

    fundamental na campanha de 2010.

    9. Concluso

    O horrio eleitoral, veiculado em tempo em que a poltica vem deslocando

    seu locus de ao das ruas para as telas, importante ferramenta para os

    candidatos se apresentarem aos eleitores e tentarem convenc-los, atravs de

    discursos audiovisuais. A poltica midiatizada recicla imaginrios tradicionais,

    mostrando-os em nova roupagem.

    A aceitao ou no das imagens pblicas que se tentam construir depender

    das vises polticas de cada eleitor. O Z apresentado por Serra, no primeiro dia

    do horrio eleitoral, no convenceu como o melhor para suceder Lula, o qual

    apresentou Dilma como sua candidata. Surgiu uma me para o Brasil, legitimada

    pelo criador da era dourada brasileira. Ao colocar-se fora do seu lugar de fala

    (candidato de oposio ao PT), Serra aparecia como usurpador de um Brasil que

    no era seu, que ele no havia ajudado a construir. Durante todo o primeiro turno,

    o candidato do PSDB tentou se aproximar de Lula e evitou falar de Fernando

    Henrique e no governo deste.

    Devido ao lugar de fala e as condies sociais de produo, um discurso no

    totalmente livre, e a imagem de Serra era indissocivel a do PSDB e da Era FHC,

    ficando claro que somente para Dilma era benfica a estratgia de evocao dos

    governos passados do PT e do PSDB. Dilma explorou a ligao da imagem de Serra

    de Fernando Henrique, enquanto aproximava seu ethos ao de Lula e da sua era,

    bem como ligava a prpria imagem a um Brasil feliz. Aproximar-se de Lula, ao

    mesmo tempo em que relacionava ex-presidente do PSDB a candidato do mesmo

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    partido, era um trunfo que Dilma tinha nas mos para mobilizar para si

    imaginrios positivos (a zelosa, a guerreira, a herdeira da era dourada).

    A disputa entre os Brasis de Serra e Dilma foi, assim, a disputa entre as eras

    FHC e Lula, que atuaram como sombras durante toda a campanha. No segundo

    turno, essa disputa com personagens alheios a 2010 se intensificou. Vence o

    sentido de que o Brasil de Serra no era pensado para os brasileiros, posto que ele

    seria um privatista, enquanto o pas de Dilma e Lula seria o Brasil da era de ouro, a

    me gentil disposta a lutar pelos seus filhos, que no fogem luta e votariam no

    PT por votar na defesa dos seus.

    A eleio de 2010 atualizou a disputa travada por PT e PSDB h 16 anos.

    Apesar dos novos personagens, possvel afirmar que os imaginrios em torno de

    Fernando Henrique e Lula foram os protagonistas.

    Referncias ALMEIDA, Jorge (2004a). O marketing poltico-eleitoral. In: RUBIM, Antonio Albino Canelas (org). Comunicao e Poltica. Salvador: Edufba. ______. (2004b). "Serra e a mudana: um discurso fora do lugar de fala. In: RUBIM, Antonio Albino Canelas (org.). Eleies presidenciais em 2002 no Brasil. So Paulo: Hacker. ______. (1999). A conquista do lugar de fala e a fala fora do lugar nos discursos de FHC e Lula sobre o Real. In: RUBIM, Antonio Albino Canelas; BENTZ, Ione Maria Ghislene; PINTO, Milton Jos. (orgs.). Prticas Discursivas na Cultura Contempornea. So Leopoldo: Editora da Unisinos. AMARAL, Ricardo Batista (2011). A vida quer coragem A trajetria de Dilma Rousseff, a primeira presidenta do Brasil. Rio de Janeiro: Sextame. BOURDIEU, Pierre (1996). A Economia das Trocas Lingsticas: o que falar quer dizer. So Paulo: Edusp. ______. (1989). O Poder Simblico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. CARVALHO, Rejane Vasconcelos Accioly. (2013). Campanhas eleitorais e comunicao miditica: ciclos de mudana e continuidade. Fortaleza: Edies UFC. _______. (2004). Representaes da Poltica. In: RUBIM, Albino Antonio Canelas (org). Comunicao e Poltica. Salvador: Edufba.

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