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CONTRIBUTO DAS ARRIBAS PARA 0 BALANC;:O SEDIMENTAR
DO SECTOR COSTEmO QUARTEmA - VALE DO LOBO (ALGARVE - PORTUGALJI
F. Correia, 6. Ferreira & J. A. Dias
U.C.T.R.A . • Universidade do Algarve
Campus de Gambelas • 8000 Faro
Tel : 089-800900; Fax: 089·818353
Resumo
Para se detenninar 0 contributo para 0 balanc;:o sed imentar das alTihas localizadas entre Quarteira e Vale do Lobo
(Algarve. Ponugal), utilizou-se a taxa media de recuo do periodo 1983191 , a altura media das arribas e a exten$!o de
arribas existente no sector, calculando-se uma contribuicr!o anual de 40 300 m l, Para 0 calculo da fra~o
dimensional util das arribas, relativamente as praias adjacentes, considerou-se que as praias slo sobretudo
compostas pot areias entre -0.5 e 3 (lAmm a O.125mm) obtendo-se urns tela~o final entre 0 volume retido na
praia e 0 volume erodido cia arriba de 9()OAI. 0 volume anual retido oa praia. debitado pelas arribas e assim, da
ordem de 36 400 ml/ano. 0 contributo tOlal proveniente das arribas, das praias e da zona submersa pennite conduir
que a denva litoral no frOIj:o costeiro entre Quaneira e Vale do Lobo devern ser superior a 50 000 mJ/ano.
Palavras-Chave: Quaneira - Vale do Lobo, arribas, eros!lo, volumes
Abst rac.t
Cliff erosion conrribulion to the sediment budget in Quarteira - Vale do Lobo (Algarve - Portugal) : To evaluated
the imponance of cliff erosion to the linoral budget for the Quaneira - Vale do Lobo coastal stretch, it was used the
mean retreat rate for 1983/9 1, the average c liff heigl'll and the total clifT extension. resulting in a annual c.ontribution
about 40 300 mJ. Considering thaI the beaches are nlainly composed by sand ranging between -0.5 and 3.0
( 1.4mm to 0.125mm), and comparing with the cliffs granulometry, it was concluded that about 90% of the
sediments resuhed from cliff erosion remain on the adjacent beaches. which means an annual mean volume from
cliff erosion around 36 400 mJ/year. Computing the total eroded volume from Ihe cliffs, beaches and submerged
area iI is possible to conclude that the littoml drift at the study area should be higher than 50 000 mJ/year.
Key words: Quancira . Vale do Lobo, cliffs, erosion, volumes
Introdu~Ao
o estudo do balan~o sedimentar permile conhecer as resuitantes da actua~o dos processos dimimicos que actuam
no litoral, possibilitando a avaliayAo da importAncia relativa das vArias fontes e perdas sedimentares. E, assim,
posslvel caracterizar lDnas em ac~o ou em erosao. 0 transporte longilitoral. 0 contributo fluvial e a eroslo das
arribas marinhas constituem. geralmente, as principais fontes sedimentares de urn ~ costeiro, enquanto que 0
transpone longilitoral para fora desse ~ e 0 transpotte e6lico para 0 interior, constituem as maiores perdas
(Komar, 1976). Por vezes, as tracas transversais entre a zona costeira e a plataforma interna s!lo, lambtm, de grande
imponancia.
I Contribu i~o A99 dQ Grupe DISEPLA
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Prctende-se com estc trabalho avaliar 0 volume de sedimentos disponibilizados pela eroslo das arribas para 0 sector
localizado entre Quarteira e 0 Vale do Gamo, aferindo da sua imponAncia no balanco sedimentar da area estudada,
por comparaylo com os restantes contributos e com a resultante anual estimada para a deriva litoral.
A.ru de Estudo
o prescnte estudo mcidiu sobre as arribas siruadas a leste de Quaneira, estando a Area de estudo limitada a oeste
pela zona urbanizada de Quarteira e a leste pelo Vale do GarTlo (Figura 1) . A zona urbanizada de Quarteira, com
urna extenslo aproximada de 3 lan, encontra-se protegida por 12 esporOes de enrocamento com cerca de 140m de
comprimento e por dois molhes de acesso • Marina de Vilamoura (0 molhe oeste com cerca de 600m e 0 molhe
teste com SOOm). as esporoes sao parcialmente complementados por enrocamentos longilitorais aderentes.
II .Ow, ".I«
". • , " Df'
Figura I - Local izaylo da area de estudo. As setas indicam os locais de colheila
de amostras de sedimentos nas praias.
Figure 1 - Study area location. The arrows show the sampling siles at the beach.
.... e doll -
As arribas. talhadas em forma~()es Plio-plislocenicas, com baixo grau de consolida~o, apresentam modificacOes
muito rnpidas, observaveis a escala anual e mesmo mensal, durante 0 Invemo. A eroslo destas arribas e 0 resultado
de urn conjunto de processos nalUrais e anu6picos descontlnuos no espayo e no tempo. constituindo a eroslo
marinha 0 factor dominante (Oias & Neal. 1992). As caracteristicas inerentes as fonnac()es geol6gicas (ii toiogia,
estrutura, fraClura~o e espessura das camadas) condicionam a estabilidade das arribas, sendo os movimentos de
massa controlados por varios sistemas de diaclases (Oias & Neal, 1992).
Na base das arribas esta presente uma praia arenosa estreila, continua. Em mare cheia de aguas vivas ou durante
temporais a praia e transposta na totalidade, possibilitando a ac~o directa do mar na base da arriba.
Para 0 prescote trabalho, optou·se por sepan!lr a Area de estudo em cinco scctores de arribas, de acordo com a
interru~lo destas por ribciras ou por abarrancarnentos. Aos sectores atribulram-se as denominayOes de: Forte
Novo. Trafal, Vale do Lobo Oeste, Vale do Lobo Central e Vale do Lobo Este, correspondendo a urn total de
1730m de extenslo longilitoral de arribas num sector com urn total de cerca de 3500m.
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o limite nascente (Vale do Gamo) foi detenninado pela exislencia de urna innexAo da linha de costa nesse local,
mudando esta de orientat;:lla e passanda a possuir uma praia arenasa limitada interiormente por urn cardia duna;
quase continuo.
Eroslo das Arribas
Para avaliar 0 volume medio de sedimentos disponibilizados anualmente pela erasa.O das arribas (Va) faram
utBizadas estimativas da taxa media anual de recuo (R), da altura media (Am) e da extens!o das arribas (Ex),
obtidas por restituit;:Ao de fatografia aerea vertical para 0 periodo 198319 1 (Correia el ai, 1995), utilizanda a
seguinte formula :
Va = R . Am . Ex (I)
Para a restitui~a da fOlOgrafia aerea, fai utilizado urn estereorestil:uidor analitica suportado por camputadar. A
altura media, referida ao nlvel media do mar, fai determinada a part ir de varias pantas localizados no topo da arriba,
distando 50m entre si. Para cada ano e sector foi detenninada 0 valor media da cola das pontas no topo, tendo-se
considerada este valor como representaliva da altura media desse sector e ano. A altura media das arribas de cada
sector para 0 perlodo 198319 1, fai determinada calculando a media aritmetica das alturas medias dos anos 1983 e
1991 . A extensllo de cada se<:lar fai obtida por medi t;:llo do comprimento de arriba, nfta se considerando os
abarrancamentos. A taxa media de recuo foi calculada a partir de perfis d istando 5m entre si.
Os valores parciais e totais abtidos para 0 volume erodido das arribas, silo apresentadas no Quadro I. No entanto, a
valume (Va) calculado em cerca de 40 300 mJ/ano, nile corresponde na integra ao volume de areia que sera rel ido e
ut il izado pela praia, devido A aCt;:ilo selectiva da mar que pennilira apenas a permanencia na praia de uma fract;:ila
granulametrica relativamente restrita.
Para Andrade (1990), a parte da volume lotal erodido das arr ibas e que, pelas suas caracteristicas, fi ca retida na
praia (V) e dada por:
V -= Va . ( '·Pr) . Pro . I/(I-Pa) (2)
em que, Pr represcnta a porosidade do material da arriba, Pro a percentagem da distribuir;i!a textural uti! e Pa a
parosidade das arcias da praia.
A porosidade das lilalogias que constituem as arribas da IrOt;:a costeiro em estudo foi determ inada por Silva (I988)
possuindo urn valar media de 0.34. A porosidade da areia da praia assume urn valor medio de 0.41 (Andrade,
1990), semelhante ao valar frequentemente cansiderado na 'iteralum para as areias de praia (OAO).
Sector
Fone Novo
Trafal
V. Lobo W
V. Labo C
V. Lobo E
Quadro I . Volumes totais e por sector provenientes da eroslo das arribas.
Table I - Total volumes and valumes per sector resulting fram cliff erosion.
ExtensAo Altura Taxa media de Volume erodido Volume retido na
Ex(m) media Am recuo R (mlano) Va (mJ/ano) praia V (milano)
(m)
400 10.0 3.5 14000 12632
420 ,., 3.1 9765 88 11
150 20.5 L7 5228 4717
440 16.0 1.2 8448 7623
320 15.0 0.6 2 880 2599
Total 40321 36 382
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A fra~o dimensional util foi estudada tendo em aten~o a distribui~o granulometrica das areias presentes nas
praias, por compara~Ao com a granulometria das arribas. Para tal, foram tecolhidas 19 amostras das arribas,
distribufdas pelos cinco sectores representados na Figura 1. Nem sempre foi posslvel rec:olher amostras no topo e a meio das arribas por dificuldades de acesso. Para as praias foram recolhidas 21 amostras, em oilo locais (Figura I),
incluindo, sempre que posslvel, a berma, a pane superior e a pane inferior da face da praia. ApOs analise
granulometrica pot peneira~o, delerminou~se a amostra media da praia e da arriba de cada sector. Verificou-sc que
os sectores do fufal e de Vale do Lobo C apresentaram valOfes de fmos mais elevados (14% e 17%.
respectivamente) do que os restantes sectores ( inferiores a 10%). Os histogramas de frequencia relativa para as
amostras medias totais da zona de estudo estlo apresentados na Figura 2A. E evidente a existencia de urn excesso de
fmos e de grosseiros na amostra "arribas" relativamente a amostnl. "praias-, Esta maior ca lib~1o da areia da praia
deve-se, seguramente, a seleclividade granulometrica dos processos marinhos.
Para determinar a frac~lo dimensional uti! das arribas, relativamente as praias adjacentes, Oplou-se por eliminar
todas as classes que na amostra "praias", possulssem valotes percenruais inferiores a 1%, admitindo-se assim que as
praias slo sobretudo compostas por areias entre -0.5 e 3 (1.4mm a 0.125mm) e que todos os constituinles das
arribas fora deste intervalo nllo ficam relidos nas praias deste sector. Oeste modo, sAo retirado$ 13% de fmos e 7%
de grosseiros 80 total da amostra "arribas", reconstruindo-se os hislogramas de ftequencia relativa scm estes valores
(Figura 28). Estabelece-se, assim, urn melhor ajuste entre os dois histogramas. Desta fonna, obteve-se uma
percentagem da distribui~o textural util (Pru) de 0.8. Andrade (1990) e D.G.P.N.T.M. (1993), apresentam para
Pru um valor mais baixo, cerea de 0.68. Esta diferen-;a no valor de Pru deve-se, provavelmenle, ao facto destes
autores considerarem como area de estudo 0 tr~o de arribas compreendido entre Olhos de Agua e Vale do Lobo,
comparando as granulometrias destas atTibas com as das praias da Ria Formosa e nllo directarnente com as praias
adjacentes.
" " B
,.I ~ " b . PRAIAS . PRAIoIoS I
-" ~20 !;
j " 1 " t ! • " , , .1----"
~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ : ~ 5 5 5 ~ i p~ m6di0"~ ... c+)
Figura 2 - Distribui~o granulometrica das areias das praias e das arribas, para 0 sector Quarteira - Vale do Lobo
(A). Em (8). distribui~o granulomttrica hipotetica ap6s retirados 13% de finos e 70/.
de grosseiros da amostra "arribas".
Figure 2 - Granulometric distribution for beaches and cliffs for the Quarteira - Vale do Lobo coastal stretch (A).
Hipotetic distribution without 13% offmes and 7 %
of co~ material from "8tTibas" sample.
I
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Recorrendo A equa~Ao (2), e usando os valores de Pro, Pa e Pr expressos, obtem·se uma relaylo V =0.90 Va. do que
resulla urn volume anual retido na praia, debitado pelas arrlbas, de 36 382 ml/ano. Este valor difere
substancialmente do valor obtido por Andrade et af (1989) e Andrade (1990), que e da ordem dos 11 000 ml/ano.
Estas diferen~as devem-se ao facto de este autor considerar urna extensao de arribas notoriamente inferior a utilizada neste trabalho e was de erosao menores, visto que analisa 0 periodo 195 \-52 a 1976, onde 0 reeuo
costeiro era significativamente inferior ao actual (e.g.: Marques & Romariz, 1991; COlTeia et af, 1995, 1996).
Con5idera~6es sobre 0 Balan~o Sedimentar
Neste ponto pretendem-se tecer algumas consideraylSes sobre 0 balan~o sedimentar na zona de estudo e delerminar
qual 0 contributo das 8ITibas para esse balanyo. Pretende-se, ainda, discutir qualitativa e, sempre que possivel,
quantitativamente 0 fomecimento de sedimentos e as perdas sedimentares na zona de estudo.
DU;l1l1liJo'lIl
A maioria dos autores que detenninou a deiiva litoral para 0 sector analisado recolTeu a urn metodo te6rico para a
avalia~o do transporte s6\ido litoral (Quadro II). Os valores da deriva li toral detenninados nem sempre s1l.0
concordantes, de autor para autor, mesmo quando e utilizado 0 mesmo metodo. Esta falta de convergi!ncia resulta da
utilizayiJo de valores diferentes para a agita~1I.o maritima ao largo, para a batimetria, para a orientay1l.0 da linha de
costa e a forma de efectuar a refrac~1I.o da onda. A resultante da deriva litoral assim estimada apresenta-se sempre
dirigida para leste. Todavia, as estimativas volumetricas variam entre 20 000 ml/ano e \30000 ml/ano. No relat6rio
da O.G.P.N.T.M. (1995) e evidenciado que uma rota~o da linha de costa em 2,50 para NW duplica 0 valor da
deriva litoral, enquanto que a rota911.0 de 2,50 para NE a anula, verificando-se assim que facilmente podem ser
introduzidos elTos de analise, sobretodo se atendermos a que a qualidade dos dados direccionais das oodas e
geralmente fraca.
De acordo com os calcu los mais recentes (D.G.P.N.T.M., 1995; Bettencourt, 1994) 0 valor estimado andari entre os
30 000 e os 50 000 ml/ano. parecendo ser razoavel admitir-uma deriva litoral anual media dirigida para lesle, da
ordem de 40 000 ml/ano. ESle volume cOlTespondera A quantidade de sedimentos necessaria para satorat a deriva
litoral e, consequentemente. para a manutenyll.O da estabilidade das praias. A urn fomecimento de sedimentos
inferior a 40 000 mJ/ano devera corresponder urn recuo da linha de costa, enquanto que, se 0 fomeeimento for
superior podera existir acteyll.o.
o fomecimento de sedimentos por der"iva li toral, proveniente do sector 01hos de Agua • Quaneira, localizado
imediatamente a leste da area de estudo, foi fortemente diminufdo ap6s a consttuyAo dos molhes de ViJamouta e dos
esporOes de Quar1eira, os quais restringem fortemente a continuidade da deriva litoral. Por outro lado, apesar da
consttuyao dos molhes datar do infcio dos anos 70, 0 volume estimado para a saturayll.o do molhe oeste da Marina
de Vilamoura (cerca de 500 000 mJJano) ainda nAo foi atingido (D.G.P.N.T.M., 1993 e 1995). Pode enlAo
considerar-se que 0 fomecimento de sedimentos por deriva litoral para a area de estudo e diminuto ou quase nulo.
Por outro lado, as perdas sedimentares no final do troyo em estudo deverio set da mesma ordem de grandeza cia
deriva Iitoral, ou seja. entre 30 000 e 50 000 mlfano, considerando que a deriva cst!, ai,ja saturada
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Quadro II - Estimativas da deriva litoral obtidas por varios aulores.
Table II - Litoral drift estimated by several authors.
II Autor Metodo Ponto de coDtrolo lIeJjv. (m 1 •• 0) I D.G.P., 1988 Shore protection planing Quarteira 43000
and design, 1961
D.G.P .. 1989 C.E.R.C.. 1984 Quaneira 127000
ANDRADE. 1990 e.ERe., 1984 O,Agua - Quarteira 30000
Quaneira-Anca.o 20-10 000
VALE DO LOBO, 1990 C.E.R.C., 1984 Vale do Lobo 130000
D.G.P.N.T.M.,1993 C.E.R.C .• 1984 Vale do Lobo 115000
BElTENCOURT. 1994 C.E.R.C., 1984 Quarteira-Ando 20-40000
D.G.P.N.T.M .• 1995 C.E.R.C .• 1984 Quanc:ira 30000
Forte Novo 34000
Vale do lobo 50000
GENESIS Vemo 2 Forte Novo 38000
NOTAS: C.E.R.C. - Coastal Engineering Research Center
GENESIS - Generalized Model for Simulation of Shoreline Change
Contribui~o Fluvial
A connibuiyAo sedimentar das ribeiras que drenam para a area de estudo (Almargem e Carcavai) e dominada por
componentes silto-argilosos, sendo a frac~ao arenasa minoritiria (Andrade 1990). Por outro lado, eslaS duas ribeiras
apresentam forte sazonalidade, pelo que 0 seu contacto com 0 mar somenle OCOrTe pot pequenos periodos durante 0
Invemo. Assim . parece lfcilo conduir que 0 contributo sedimentar via nuvial para a area de estudo sera
praticamenle nulo.
Conlrlbu/~40 £6/lca
A ac'r!o do vento podera ser responsive!, por urn lado, pela transfercncia de sedimentos da praia emersa para a
continente e. par outro. pela rem~ao de sedimentos das dunas para as praias. Atendendo a que 0 sistema es~
limitado a norte por arribas e que 0 cotdilo dunar e praticamente inexistente. podemos considernr que a
connibui~lo e61ica e nula. nll.o existindo igualmente perdas sedimentares apreciiveis peto vento.
Conlribl/to dIU P,alas
Baseado nos valores das taxas medias de recuo obtidas por compara~ao canogrtfica das canas militares de 1951-52
e de 1976 e considerando a cota media da benna de 4.0m ZH e a profundidade de fecho de 40.6m ZH, Andrade
(1990) est;mou a volume de areias libertado pela praia em cerea de 140000 m'/ano. entre Quaneira e Vale do
GarrA:o. Este valor e notoriamente superior ao detenninado pelo mesmo aulor para 0 volume disponibilizado pelas
arribas (cerca de 11 000 ml/ano). Estes valores foram obtidos para urn perfodo em que ocorria urn emagrecimento
efectivo da praia, e ern que 0 reeuo desta sena superior ao das arribas, relativamente protegidas pela faixa arenosa
subjacente. Actualmente, a disparidade entre taxas de recuo de praias e de arribas ja nll0 se verifiea, visto que as
praias acornpanharn a desloca~ao das arribas adjaeentes, e a pequena largura da praia pennite que, em situa~Ocs de
mare alta ou de elevada energia. ocom urn ataque direclo a base da arriba_
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Parece, assim, ser Ucito admitir que as taxas de recuo detenninadas para as arribas podem ser assumidas como
correctas para as praias. Oesta fonna, e posslvel efectuar urn novo calculo do volume erodido pelo recuo da linha de
costa, para toda a area subjacente a arriba exposta, obtendo-se urn contributo total desta &rea da ordem dos 70 000
ml/ano, usando os limites de Andrade (1990) e urn recuo medio snual de 2 mJano. No entanto, esle valor devera
estar sobrestimado, pelas seguintes rames:
a) a quantidade de areia na praia e reduzida, mantendo esta, genericamente, a mesma fonna e volume a medida que
migra para NE devido ao recuo das arribas; assim 0 seu volume manlem-se constante, n110 advindo dai
contribulo sedimentar directo para a zona costeira;
b) em observa~Oes de campo, delectou-se a existencia de uma bancada de argila compacta, que frequenlemente esltt
a descoberto durante 0 Invemo, tendo-sc verificado que estc nlvel pennanece sem cobertura sedimentar durante
urn longo periodo (varios meses), indicando uma can!ncia em areia na pane submcrsa;
c) 0 aparecimento deste nlvel argiloso, ap6s temporais, foi ja referido em trabalhos da Direc~o de Hidraulica do
Guadiana em observayOes efectuadas em 1944/45 (D.G.P., 1988).
Assim, n110 parece correcto admitir que a totalidade dos 70 000 ml/ano retirados por recuo da parte subjacente a
arriba correspondam a sedimento util para a deriva litoral e, consequentemente, para a praia. Pelo contrario, esse
\ olume corresponde seguramente a uma mistura de materiais, nos quais se inc1ui quantidade apreciavel de fmos
fhancada de argila) e sedimentos das litologias que constituem as arribas (que ocorriam no local onde hoje se
?DContra instalada a praia). 0 contributo arenoso puro, relativo a uma dcsloca~Ao da praia arenosa para 0 continente
Oevera ocorrer, apenas, na parte emersa das praias que nAo estAo limitadas por arribas. Esse valor cotTesponde a urn
iomecimento sedimentar da ordem dos 14200 ml.
~ao t possiveJ, sem um melhor conhecimento da pane submersa da praia, da distribui~ao da bancada argilosa, do
pJeorelcvo das forma~iks plio-quatemarias e da plataforma de abrasilo sobre a qual esta instalada a praia,
.:.el~rminar com precis30 0 volume total util crodido. No entanto, estc por certo que e superior a 14 200 ml/ano e
;.!guramenle inferior aos 70 000 ml/ano estimados.
O;totribu i~Ao das Arribas
-~do por base os valores das taxas medias de recuo, altura media e extensiJo das arribas obtidas por restitui~llo
!&..ogrametrica, e considerando que 0 factor de rendimento da alimenta~o sedimentar das praias a partir da erosAo
cas Mribas e de 0.90, obteve·se urn volume anual retido na praia, debitado pelas arribas. de cerca de 36 400 ml/ano.
~ volume e muito pr6ximo do necessario para saturar a deriva litoral actualmente admitida (40 000 ml/ano),
COITeSpondendo a 91 % desse valor. Nilo se encontra aqui estimado 0 volume correspondente a erosAo das formay{)es
~~plistocen.icas localizadas a cotas inferiores a 2m ZH que podera, no entanlo, ter sido significativo .
.... ll1!lise com parativa dos possiveis contributos sedimentares permite conduir que a erosilo das arribas, das praias e
~ mna submersa adjacente constituem 0 principal factor de fomecimento sedimentar pam a Area estudada. 0
~o dos contributos e superior a resultante anual admitida para a deriva litoral, pelo que e provavel que esta
,z;;cik eotre os SO 000 mlJano e os 110 000 ml/ano. No entanto, considerando que ap6s temporais e durante 0
b\.oemo se verifica 0 aparecimento da referida bancada argilosa, submersa, cuja erosAo nilo fornece contributo
~iavel para a deriva Iitoral, 0 total erodido da zona submersa sera, actualmente. poueo significativo. Oeste
mOOo. IE possivel Que a deriva litoral seja pouco superior a SO 000 ml/ano. correspondendo as arribas 0 principal
::ac::nlmlo para a salura9ilo dessa deriva.
38
Condusk:s
Tendo por base a analise granulometrica, de urn total de 19 amostras etas anibas e 21 amoslrns etas pr.J.ias adjacentes
e admilindo que as pr.J.ias da area de estudo Slo sabretudo compostas por areias entre ·0.5 e 3 (1.4mm 8
O.12Smm) e que .JS constituintes etas arribas fora deste intervalo nao [jearn relidos nas praias deste sector, foram
retir'ados 13% de fUlOS e 7% de grosseiros a amostra caracleristica das arribas, tendo-se obtido uma raz10 de
fomecimen to util para a deriva litoral de 0.8.
Utilizando para a porosidade da praia 0 valor de 0.41 e de 0.34 para as arribas. foi possivel determinar que 0
contributo para a deriva litoral corresponden!. a cerc.a de 90% do volume total erodido das arribas, ou seja, cerc.a de
36 400 ml/ano.
Considerando os diferentes fornecedores sedimentares potenciais para este trCXXl costeiro (deriva litoral. anibas,
praia, ribeiras, dunas e zona submersa), condui-se que 0 principal contributo proven!. da erosl o das arribas. sendo os
restantes fomecimentos relativamenle pequenos. A analise dos volumes envolvidos no fomecimento sedimentar
pennite ainda conduir que a deriva litoral sera superior a 50 OOOm1/ano.
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