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A Afirmação de SP Como Cabeça de Capitania 1681-1766

Date post: 18-Aug-2015
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São Paulo colonial
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História (São Paulo) História (São Paulo), vol. 30 nº1, p.148-173, 2011. ISSN 1980-4369 A marinha destronada: ou a famigerada São Vicente derrotada pela Rochela paulista. A afirmação de São Paulo como cabeça de capitania (1681-1766). The seashore overthrown: or the notorious São Vicente defeated by the Rochela paulista. The statement of São Paulo as head of the captaincy (1681-1766). Amilcar Torrão FILHO * Resumo: A vila de São Vicente, primeira criada na América portuguesa, foi sede da capitania de mesmo nome e, apesar de muito “famigerada noutro tempo”, como diz Frei Gaspar da Madre de Deus, acaba, no século XVIII, “tão desconhecida que nem o nome primitivo conserva para memória de sua antiga existência”. A primeira tentativa de mudança ocorreu em 1681, por obra do marquês de Cascais, donatário da capitania, que contou com a resistência da câmara de São Vicente. Após a restauração da capitania em 1765 o Morgado de Mateus, novo governador da capitania restaurada, transfere definitivamente o governo, a Sé, a junta de fazenda, a guarnição e a provedoria para São Paulo. A Marinha perde definitivamente o governo para o Sertão de serra acima. O objetivo deste artigo é compreender como a cidade de São Paulo adquiriu sua dominância em relação às demais vilas, chegando a renomear a própria capitania, colocando no esquecimento a anteriormente famigerada São Vicente. Palavras-chave: São Paulo. São Vicente. Cidades e vilas. Capital. Cabeça de capitania. Abstract: The village of Sao Vicente was the first “capital” of the Sao Vicente Captaincy. Despite being “once so famous” according to Frei Gaspar da Madre de Deus, Sao Vicente ends up in the eighteenth century, “so unknown not even its original name is kept toward the memory of its former existence”. The first attempt at change occurred in 1681 through the efforts of the Marquis de Cascais, Lord of the Captaincy, who did not have the support of the Council of Sao Vicente. After the captaincy was restored in 1765, Morgado of Mateus, the new governor, permanently transferred the government, the Se Cathedral, the treasury, the garrison and provisions to Sao Paulo. The Sea Realm lost to the government of the “Backwoods”. The aim of this paper is to understand how the * Professor Doutor – Departamento de História da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Rua Monte Alegre, 984, Perdizes, São Paulo, CEP: 05014-901. E-mail: [email protected] .
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Histria (So Paulo) Histria (So Paulo), vol. 30 n1, p.148-173, 2011. ISSN 1980-4369 A marinha destronada: ou a famigerada So Vicente derrotada pela Rochela paulista. A afirmao de So Paulo como cabea de capitania (1681-1766). The seashore overthrown: or the notorious So Vicente defeated by the Rochela paulista. The statement of So Paulo as head of the captaincy (1681-1766). Amilcar Torro FILHO* Resumo: A vila de So Vicente, primeira criada na Amrica portuguesa, foi sede da capitania de mesmo nome e, apesar de muito famigerada noutro tempo, como diz Frei Gaspar da Madre de Deus, acaba, no sculo XVIII, to desconhecida que nem o nome primitivo conserva para memria de sua antiga existncia. A primeira tentativa de mudana ocorreu em 1681, por obra do marqus de Cascais, donatrio da capitania, que contou com a resistncia da cmara de So Vicente. Aps a restaurao da capitania em 1765 o Morgado de Mateus, novo governador da capitania restaurada, transfere definitivamente o governo, a S, a junta de fazenda, a guarnio e a provedoria para So Paulo. A Marinha perde definitivamente o governo para o Serto de serra acima. O objetivo deste artigo compreender como a cidade de So Paulo adquiriu sua dominncia em relao s demais vilas,chegandoarenomearaprpriacapitania,colocandonoesquecimentoaanteriormente famigerada So Vicente. Palavras-chave: So Paulo. So Vicente. Cidades e vilas. Capital. Cabea de capitania. Abstract: The village of Sao Vicente was the first capital of the Sao Vicente Captaincy. Despite being once so famous according to Frei Gaspar da Madre de Deus, Sao Vicente ends up in the eighteenth century, so unknown not even its original name is kept toward the memory of its former existence.Thefirstattemptatchangeoccurredin1681throughtheeffortsoftheMarquisde Cascais, Lord of the Captaincy, who did not have the support of the Council of Sao Vicente. After the captaincy was restored in 1765, Morgado of Mateus, the new governor, permanently transferred the government, the Se Cathedral, the treasury, the garrison and provisions to Sao Paulo. The Sea Realm lost to the government of the Backwoods. The aim of this paper is to understand how the * Professor Doutor Departamento de Histria da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo. Rua Monte Alegre, 984, Perdizes, So Paulo, CEP: 05014-901. E-mail: [email protected]. A marinha destronada: ou a famigerada So Vicente derrotada pela Rochela paulista. A afirmao de So Paulo como cabea de capitania (1681-1766). Histria (So Paulo), vol. 30 n1, p.148-173, 2011. ISSN 1980-4369149cityofSaoPauloacquireditsdominanceoverothervillages,andhadtheCaptaincyrenamed, before casting the renowned Sao Vicente into oblivion.

Keywords: Sao Paulo. Sao Vicente. Cities and villages. Capital. Head of captaincy. A Construo de um Objeto EmboraconstitudacomoproblemanosculoXIX,sendoobjetodeumanovacincia tericaetcnicaoUrbanismo,acidadetemsidorelativamentenegligenciadapela historiografia, no sendo por vezes mais do que um cenrio para o desenrolar dos fatos histricos. A cidade colonial atraiu uma srie de estudos desde a publicao do clssico de Srgio Buarque deHolanda,RazesdoBrasil,cujocaptuloOladrilhadoreosemeadoreraumensaio comparativoentreascidadescoloniaisdeespanhiseportuguesesnaAmricamuitasvezes marcados por uma viso enviesada e at mesmo anacrnica destes espaos urbanos to peculiares, construdos em zonas de conquista e de contato, nos quais conceitos do urbanismo novecentista, comoordemeplanejamentosotransferidosparaaanlisedosespaoscoloniais(TORRO FILHO, 2007) As cidades capitais tampouco tm tido uma maior ateno, com exceo daqueles casosdetransfernciasdassedesdegoverno,muitasvezesresultadodemudanaspolticas estruturaiscomoadescolonizao,ouofimdaUnioSovitica,porexemplo.Ouquandoso criadas novas capitais a partir de planos ambiciosos e arrojados, como Braslia, que engaja projetos de modernizao e regenerao nacionais cujo longo percurso vem desde a proposio de Nova Lisboacomocapitaldacortenoexlioem1808(VIDAL,2009).Capitaldesejada,sonhadae planejada,quepdedocumentar,pormeiodeseuconcurso,diversasconcepesedesgnios propostosparaainteriorizaodoBrasildentrodosmaisavanadosprincpiosdaarquitetura moderna (BRAGA, 2010). Comrelaoscapitaisnacionais,vemsendodestacadoopapelimportantequeelas desempenhamcomofundamentosdosEstadosmodernos,nosquaisacidadedeixadeserum municpio livre e autnomo para tornar-se a sede da autoridade do Estado, dos rgos de governo e daadministraopblica,dasrepresentaesdiplomticas,localizadasgeralmentenocentro geogrfico do pas. Argan recorda que estas capitais deixam, a partir do sculo XVII, de serem espaos fechados em seus muros para tornarem-se [...] um organismo aberto, um n de vias de comunicao (2004, p.71-72; GAMA, 1994). O centro geogrfico condio fundamental para a Amilcar Torro Filho Histria (So Paulo), vol. 30 n1 p.148-173, 2011. ISSN 1980-4369150eficcia econmica de uma capital e as relaes com as partes que lhe esto associadas, formando a suaregio.ParaLepetit,opensamentoeconmicourbanodoAntigoRegimedominadopelo modelodacidadecapital(LEPETIT,2001).Elasconstituemaindaespaosdeinovaoe transformaes polticas e econmicas, dando mais eficincia s formas de produo, mesmo que pormeiodaimprovisao,aindaqueestejaminseridasnumcontextoconservadorcomoodo Antigo Regime (RINGROSE, 1988). Segundo Rawat, a capital desempenha um papel vital na vida danao,comorepositriodopoderpolticoeeconmico,sendoadeterminaodesua localizao um problema central da formao dos Estados, tanto pr-modernos quanto modernos; assim, a construo e realocao das capitais uma questo central para os projetos de construo das naes (RAWAT, 2005). Hancock considera que as capitais cristalizam o discurso nacional, vistas como smbolo do fato urbano e da prpria nao; no caso de Londres e Paris, estas capitais de dois Estados que disputam a primazia do mundo no sculo XIX, so vistas como exemplo e contra-exemplodasduasnaes,constituem[...]osuportematerial,visvel,decivilizaesquese buscamoportermoatermo(HANCOCK,2003,p.9).Elassoasimagensquesintetizamas identidades nacionais de cada pas e so mobilizadas para definir o carter de cada povo nos guias e na literatura de viagem.Se a anlise especfica das capitais atrai poucos estudos, so menos frequentes os trabalhos referentes s capitais coloniais, ou ento s regionais ou provinciais, que no so centros de deciso e de administrao dos Estados nacionais europeus (ZAGARRI, 1988), ou mesmo as cidades que perderamasuacondiodecapitais,comoaLisboadosFelipesouaBarcelonadaderrotada Catalunha (BOUZA, 1994; AMELANG, 2007). Menos ainda uma capital regional colonial como a So Paulo da passagem do sculo XVII para o XVIII, em uma capitania at certo ponto secundria comoeraocasodaantigaSoVicente,numespaodeconquista,poucoconhecido,noquala centralidade no geogrfica, mas est relacionada ocupao de espaos propcios colonizao, geralmentelocalizadosemzonaslitorneas.Trataremos,aqui,destelentoprocessonoquala pequena vila de So Paulo, primeiro ncleo urbano fundado no interior da Amrica portuguesa, com exceodaefmeraSantoAndr,acaboupordestronarnoapenasuma,masdiversasoutras capitais, afirmando a sua centralidade e dominncia de boca do serto e ncleo de conquista.Musset observa que ao contrrio dos espanhis os portugueses utilizaram pouco a tcnica de deslocamentodesuascidades,ascidadesnmadesdequetrata,paraseadaptarsrealidades geogrficasougeopolticasdomundobrasileiro(2002),comaimpressionanteexceode Mazago,transferidadafricaparaaAmrica(VIDAL,2005).NocasodeSoPaulode Piratininga,aelevaoavilaesuaexistnciacomoncleourbanosedeujustamentepela transferncia da vila de J oo Ramalho, Santo Andr da Borda do Campo, para o local mais seguro A marinha destronada: ou a famigerada So Vicente derrotada pela Rochela paulista. A afirmao de So Paulo como cabea de capitania (1681-1766). Histria (So Paulo), vol. 30 n1, p.148-173, 2011. ISSN 1980-4369151doscamposdePiratininga.Nestatransferncia,Cortesovarepresentao,naconquistado territrio por meio da ocupao urbana, da passagem da posse superficial, daBorda posse plena, sem limitao, do Campo (1955, p.229). O que este autor chamar, ento, da constituio de SoPaulocomocapitalgeogrficadoBrasil,comsuasconexes,reaisouimaginrias,como mundo hispnico, sobretudo platino. O outro deslocamento, mais lento, foi da marinha para a serra acima,quandoosportuguesesnaAmricapassaramapenetrardefinitivamenteointeriordo continente, no mais apenas arranhando as costas como caranguejos, na expresso queixosa de Frei Vicente do Salvador. Uma capital nmade, que tem dificuldade em fixar-se, vila mal plantada numa sociedade movedia, com poucas razes para durar, diz Srgio Buarque, mas que despejando em peridicaspulsaesassobrasdeseupovo(HOLANDA,1966,p.66)espalhou-seemnovas comunidades que sucessivamente se vo formando ao largo do serto (Ibid., p.102). E com uma foraqueabsorverSantoAndr,queeraavilaenquantoSoPauloeraapenasumaaldeia, absorvendoseusmoradoreseseunome,devidoaosantoapstolodaconversodogentio,que passou do pequeno colgio para a vila, para a capitania e, recorda Washington Lus, para todo o territriosertanejo.SeacapitaniadeSoVicente,santopadroeirodosnavegadores,oua esquecidaSantoAmaro,outronavegadorsalvoporNossaSenhoraemumailhadeserta, identificada ao Paraso Terrestre, seus habitantes, nmades mas bastante terrestres, j se chamavam paulistas(LUS,1980).Nmadetambmseroterritriosubmetidocentralidadedestavila centrpeta, do qual nunca sero claros nem seus nomes nem seus limites geogrficos, nem mesmo a posse legtima, se castelhana ou portuguesa, se deste ou daquele donatrio ou herdeiro, se senhorial oudacoroa.Adefiniodeseuespao,desuasfronteiras,desuacapitalidade,tudoissoser marcado por uma extrema mobilidade.TratandodaconstituiodeSoPaulocomocapital,oucabeadecapitania,algumas observaes iniciais se fazem necessrias. Ao dizer Capitania de So Vicente, ou Capitania de So Paulo, estamos lidando com um inevitvel grau de anacronismo, na medida em que este territrio, quase que automaticamente identificado ao atual Estado de So Paulo ou mesmo capitania de So Paulo,tornadaautnomaapenasem1720,inicialmentefoiformadopordiversascapitanias hereditrias, aquilo que Srgio Buarque de Holanda chamou de as capitanias paulistas, assim no plural (1966, p.55): as duas capitanias de So Vicente, pertencentes a Martim Afonso de Souza, intercaladas pela de Santo Amaro, mais a de Santana ao sul, o segundo quinho das terras de Pero LopesdeSouza1.Asterrasdoadasaosirmosforamintercaladasnamedidaemquehaviaa possibilidade do encontro de minas de pedras preciosas. Dessa forma seria evitada uma possvel injustia de ficarem as desejadas minas includas numa nica donataria, prejudicando algum de seus Amilcar Torro Filho Histria (So Paulo), vol. 30 n1 p.148-173, 2011. ISSN 1980-4369152proprietrios2(CALIXTO,1924,p.106).Estascapitaniasseriamobjetodeumalongadisputa jurdicaentreosdescendentesdosdonatrios,queserfundamentalnadefiniodeSoPaulo como cabea de capitania, levando, tambm, criao de uma nova, em 1624, quando a condessa de Vimieiro, descendente de Martim Afonso, perde a posse de parte de suas terras e cria a capitania de Nossa Senhora da Conceio de Itanham (Cf. CALIXTO, 1915).Sendo assim, tratamos do territrio inicialmente dividido em cinco capitanias distintas, que formaram em diferentes momentos uma ou mais capitanias de diversos donatrios, bem como de quatrocapitais,trsdelasdestronadasporSoPaulo:SoVicente,aprimeiraviladaAmrica portuguesa, criada em 1532, e primeira cabea da capitania homnima; Santos, porto anexo a So Vicente, elevado dignidade de vila em 1545, que em determinados momentos no sculo XVIII foi asededegovernadoressemapatentedecapitesgenerais,dependentesdogovernodoRiode J aneiro, e que por alguns meses recebeu o governador da recm-criada e restaurada capitania de So Paulo, D. Lus Antnio de Souza Botelho Mouro, o Morgado de Mateus, em 1765; Nossa Senhora da Conceio de Itanham, cabea da pequena capitania da condessa de Vimieiro, tornada vila em 1561, que depois seria anexada capitania de So Vicente; e So Paulo, aldeia jesuta elevada a vila em 1560 com a transferncia de Santo Andr, que passou por um lento processo de reconhecimento desuacentralidadeequeculminarianoreconhecimentodesuacapitalidade.Aestasvilas, poderamos ainda acrescentar uma quinta, a de Nossa Senhora do Carmo, futura cidade de Mariana, que a partir da criao da capitania de So Paulo e Minas do Ouro, em 1709, seria a cabea de fato quando So Paulo se torna a cabea de direito da nova capitania.Neste processo, podemos identificar ainda trs momentos distintos. O Primeiro ocorreu em 1681, quando o donatrio Marqus de Cascais tentou elevar a vila de So Paulo condio de cabea de capitania, no tendo tido xito por conta da reao da cmara de So Vicente, que se ops aestaperdadedignidade,edecisocontrriadogovernadorgeraldoBrasil,omarqusdas Minas. Outro momento importante data de 1709, quando criada a capitania de So Paulo e Minas do Ouro, sendo So Paulo a sua sede nominal, embora os governadores vivessem nas Minas. E finalmente, em 1766, quando aps a restaurao de So Paulo, que havia sido extinta em 1748 e transformada em comarca do Rio de J aneiro, o governador Morgado de Mateus deixa a cidade de Santos e se instala definitivamente na serra acima, apesar dos protestos veementes dos camaristas do porto santista (TORRO FILHO, 2007).Uma das caractersticas especficas das capitais coloniais a sua constituio enquanto sede deumpodersempredelegado,nosendoaresidnciadeumreiouchefedeEstado,mas referenciadaaoutracapitalquelhetemprecedncia,emnossocasoLisboa,oquepoderiaser chamadaumacapitalincompleta.Ascabeasdecapitaniaseriamaindamaisincompletas, A marinha destronada: ou a famigerada So Vicente derrotada pela Rochela paulista. A afirmao de So Paulo como cabea de capitania (1681-1766). Histria (So Paulo), vol. 30 n1, p.148-173, 2011. ISSN 1980-4369153dependentes de uma capital local e outra externa, do outro lado do Atlntico. Nas capitanias que formariam So Vicente e, em seguida, So Paulo, at o sculo XVIII, a sua cabea representa a autoridade e os direitos senhoriais de seu proprietrio, o donatrio, at o momento em que elas so adquiridas pela Coroa.Comotodavilaoucidade,capitaniarepresentaajurisdioadministrativaepoltica portuguesa no ultramar e o controle de um vasto territrio que compreendia os lugares e as vilas sob asuareadeinflunciaeumvastosertoaserexplorado.Poroutrolado,comodescobriuo marqus de Cascais ao tentar elevar So Paulo cabea de sua capitania, esta autoridade tambm est limitada pelos direitos da Coroa em escolher ou manter as sedes de governo dos territrios dos donatrios, deciso que, por sua vez, tambm deveria passar por Salvador, ou pelo Rio de J aneiro a pois,apartirde1763essascapitaisquetambmtinhamprecednciasemrelaossedes regionais da Amrica portuguesa.Outro grau de anacronismo com o qual devemos lidar ao tratar deste tema diz respeito ao termocapital.Emboraaparentados,capitalecabeanosignificamexatamenteamesmacoisa. Bluteau define capital como algo principal, o que como cabea, princpio, & fonte, donde outras cousas se originam, ou em que outras cousas se encerram(1712); pode ser, ainda o que digno de morte, de pena capital, o que encerra uma vida ou uma condio de cidado. Cabea, que era como sedenominavamascidadesprincipaisdosreinosouprovncias,definidainicialmentecomo Cabea do homem. O principal domiclio da alma, & dos rgos dos cinco sentidos; tambm pode significar aquilo que primeiro no nmero, ou na dignidade. A cabea do concelho. Ou ainda: Cabea do Reino. A cidade principal de um Reino. E por Cabea do Imprio, assento, & Corte dos Visso-Reis. (BLUTEAU, 1712).Assim,cabeaotermoquedesignaacidadeouavilaprincipaldoreinooudeuma provncia, uma vez que representa melhor a concepo da sociedade e do reino como corpo mstico3 (BASTOS,2006,7-8),umamonarquiacorporativaconstitudapordiversosmembrosquese integram em ordem e hierarquia, na qual a cabea ordena e d sentido ao corpo poltico, garantindo obemcomumdarepblicaeoequilbriodacidadecomaordemsagradaqualeladeve corresponder4 (BASTOS, 2006; 2007). Este corpo mstico confere homogeneidade, continuidade e perpetuidade monarquia, que assim escapa ao deletria do tempo e da histria, assegurando a permanncia da comunidade, tanto espiritual como poltica.Acabeadevelevarcadapartedocorpoacorrespondersuamelhorconservao, garantindo o respeito s precedncias e s hierarquias da sociedade correspondendo melhor lgica da monarquia corporativa do que a ideia de uma capital de onde emana um poder a partir do centro Amilcar Torro Filho Histria (So Paulo), vol. 30 n1 p.148-173, 2011. ISSN 1980-4369154queseirradiaparaasperiferiasdeformamaisoumenoshomognea5.Porestarazopodemos entenderaaodoMarqusdeCascaisemsuatentativafrustradademudaracabeadesua donataria de So Vicente para So Paulo: a vila de Piratininga no seria uma sede do poder do marqus, que devia conviver com o equilbrio das precedncias dos poderes eclesisticos, locais e rgios, mas representaria a dignidade de seus direitos senhoriais ameaados pela deciso da cmara vicentina,garantindoajustaconservaoedecorodeseusdireitosdelegtimodonatrio, seriamente contestados naquela ocasio. Campbellchamaaatenoparaafaltadeumateorizaosobreascidadescapitais, consideradas pouco mais do que centros administrativos, sem que se destaque seu carter de teatros simblicos da ideologia nacional, catalisadoras da economia do pas, pontes entre a cultura local e a comunidade imaginada do Estado-Nao. Falta uma teorizao sobre o papel da capital no perodo moderno, bem como uma definio do que h de diferente entre as capitais e as demais cidades (CAMPBELL,2003).ComoveremosnocasodeSoVicenteeSoPaulo,essaausnciade teorizao causa ainda mais problemas, pois se trata de capitais construdas num contexto colonial, sedes regionais de capitanias que pertencem a um vasto territrio de conquista, submetidas a um domnio senhorial, mas com funes de capitalidade definidas por deciso rgia. Alm disso, trata-sedeumaexperinciahistricabastantediferentedaqueladefinidaporCampbell,decapitais inseridas num contexto nacional contemporneo ou da construo dos Estados absolutistas. So Vicente e So Paulo so as cabeas de poderes corporativos, partes de um organismo complexo, no qual todos os rgos so indispensveis, o que impossibilita um governo totalmente centralizado. To monstruoso como um corpo que se reduzisse cabea, afirma Hespanha, seria umasociedadeemquetodoopoderestivesseconcentradonosoberano.Afunodacabea, portanto, no a de destruir a autonomia de cada membro do corpo social, mas a de, por um lado, representar externamente a unidade do corpo, e, por outro, manter a harmonia entre todos os seus membros, atribuindo a cada um aquilo que lhe prprio, garantindo a cada qual o seu estatuto (HESPANHA, 1994, p.300).Almdecabea,partemaisimportantedeumcorpo,acidadecapitaldasmonarquias catlicas concebida como a esposa num matrimnio mstico da cidade com seu rei, da monarquia com seu povo, do prncipe com o corpo mstico da sociedade (BOUZA, 1994). Assim, uma capital destronada , como recorda Bouza, uma quase viva afastada de seu rei e esposo querido, como a Lisboafilipina,abandonadapelosertocastelhanonoperododauniodinstica(1994).A capital destronada aparece como uma cabea que perde seu corpo, da mesma forma que uma cidade dominantefuncionacomoumacabeaquebuscasuauniomsticacomocorpoquedefato representa.A marinha destronada: ou a famigerada So Vicente derrotada pela Rochela paulista. A afirmao de So Paulo como cabea de capitania (1681-1766). Histria (So Paulo), vol. 30 n1, p.148-173, 2011. ISSN 1980-4369155Uma capital colonial tambm uma esposa em npcias, contradas em uma unio mstica que une o espao da conquista sobre o gentio monarquia apostlica de Portugal, juntando as partes desconexasdoespaoimperialnumcorpoordenadoeharmnico.SoVicentenossarainha destronada, esposa abandonada e trocada pela jovem noiva do planalto, ataviada com os brilhos das minasdoserto,numnovocontratomatrimonial,contraindoumanovaharmoniaeequilbrio. Portanto, diferentemente das capitais contemporneas, as cabeas do Antigo Regime no possuem este carter de centros da administrao, da burocracia e dos negcios dos governos nacionais, elas prprias so resultantes da formao dos Estados-Nao (CAMPBELL, 2003); elas no concentram os poderes de deciso de um Estado, so antes espaos nos quais convergem os poderes, onde a administrao poltica, eclesistica, das justias, dos negcios poderia estar repartida por diversas vilas. E no caso colonial, funcionam como polos de ocupao e construo de um territrio europeu e cristo na Amrica, tendo que lidar, e muitas vezes competir, com as autonomias das demais vilas e cidades, com a diversidade de jurisdies e poderes. Ainda que sejam, como observa Campbell, paraasatuaiscapitais,cidadesquesodiferentesdasdemais,comumaexperinciahistrica prpria. Fronteiras Movedias A diviso intercalada das capitanias entre os irmos Martim Afonso e Pero Lopes de Souza provocouumaconfusodeseuslimiteseumaindefinio,paraseusdescendentes,dasexatas propriedades,gerandoumlongoecomplicadoprocessojudicial6.Olitgiocomeouquandoa sucessora da Capitania de Santo Amaro, D. Isabel de Lima de Souza Miranda, que no tinha filhos, deixou em testamento a seu primo Lopo de Souza, donatrio de So Vicente, a sucesso de Santo Amaro, juntando as duas capitanias. O conde de Monsanto, tambm neto de Martim Afonso pela rama materna, reivindicou, por sua vez, a Capitania de Santo Amaro. Morto o seu primo Lopo de Souza em 1610, este deixa como herdeira a sua irm, condessa de Vimieiro. A sentena favorvel ao conde dada em 1615, recebendo a posse da capitania de Pero Lopes de Souza. Entretanto, a condessa de Vimeiro no chegou a pedir a confirmao de sua Capitania de So Vicente, que estava fora da disputa, e acaba perdida tambm para o conde de Monsanto, demonstrando a forma como essascapitaniasforamseconfundindocomotempoesuasdenominaesmudadase intercambiadas.A demarcao das capitanias dos dois primos feita em 1623: o conde fica com a assim chamada,apartirdeagora,capitaniadeSoVicente,desaparecendoadenominaodeSanto Amilcar Torro Filho Histria (So Paulo), vol. 30 n1 p.148-173, 2011. ISSN 1980-4369156Amaro, includas as vilas de So Vicente, So Paulo e Santa Ana de Moji. A condessa nomeia as terras que lhe couberam como capitania de Itanham, com sede na vila homnima. A contenda no acabaria aqui, o conde da Ilha do Prncipe, herdeiro das terras de Itanham, reivindica aquelas que estavam em poder dos Monsanto, que lhes so restitudas em 1679, at que o marqus de Cascais, herdeiro do conde de Monsanto, retoma a sua propriedade em 1692.Essa disputa teria um desfecho provisrio em 1711, quando as capitanias so vendidas pelo marqus de Cascais Coroa por 40.000 cruzados, em outra negociao confusa, j que realmente estava sendo vendida a capitania de Santo Amaro e no a de So Vicente, como estavam sendo chamadas as terras do marqus de Cascais (Cf. SILVA, 2009). O impasse se estenderia durante todo osculoXVIII,quandoacasadeVimeiromobilizapersonagenscomoogenealogistaPedro Taques,osgovernadoresMorgadodeMateuseMartimLopesLobodeSaldanhaouoouvidor MarcelinoPereiraCleto,natentativadeprovarseusdireitossobreaCapitaniadeSoVicente, transformada em So Paulo, caso solucionado apenas em 1825, no Tratado de Reconhecimento da Independncia do Brasil, quando os Vimieiro so finalmente indenizados (VIANNA, 1969). ComapossedadapelacmaradeSoVicenteaocondedaIlhadoPrncipeem1679, comeaadisputapelaprecedncianacabeadanovacapitaniadeSoVicentequeestavase formando.OreconhecimentodadoaocondedaIlhapermitircomqueomarqusdeCascais, temporariamente alijado de suas terras, passe uma proviso dando vila de So Paulo, que se havia negado a reconhecer a posse de seu adversrio, o ttulo de cabea de sua capitania em 22 de maro de 1681. Em carta cmara de sua vila fiel e preferida, registrada pelos camaristas em 16 de julho de 1682, o marqus de Cascais reconhece o zelo com o qual os seus moradores defenderam a sua jurisdio contra a deciso intempestiva, em sua viso, dos camaristas de So Vicente. Por isso justifica a cesso da primazia de toda a sua capitania a So Paulo, a quem toca a partir de agora zelar hoje os meus particulares mais do que nunca maiormente amando eu a esse povo mais do que a todos. O que esperava o marqus de sua nova cabea era a resistncia a qualquer agravo contra os seus direitos que a cmara de So Vicente lhe pudesse fazer, por ressentimento de hav-los feito sditos, dependentes da precedncia ento adquirida pela vila de So Paulo7.A cmara da nova cabea comunica ao capito-mor da capitania, ao ouvidor geral, s demais cmaraseaogovernadordoRiodeJ aneiroadecisodeseusenhor.Tambmcomunicaaos habitantes da vila, em 27 de abril de 1683, chamando alguns homens bons para que fossem a praas e lugares pblicos, com o capito-mor, dar notcia da patente com a qual o marqus havia feito merc vila, tornando-a cabea de sua capitania com todos os privilgios e dignidades que at ento havia gozado a vila de So Vicente, clamando para que se apresentasse qualquer um que tivessealgumaprovisoemcontrrio,paraqueentosefizesseoautodeposse8.Acmara A marinha destronada: ou a famigerada So Vicente derrotada pela Rochela paulista. A afirmao de So Paulo como cabea de capitania (1681-1766). Histria (So Paulo), vol. 30 n1, p.148-173, 2011. ISSN 1980-4369157vicentina tambm comunicada, com muito cuidado, em 4 de outubro de 1684, invocando as razes da cmara de So Paulo para considerar-se nova cabea de capitania: inda assim, diz a carta dos camaristas, no ignoramos que vossas mercs as suas as tenham com a mesma opinio.Pedem, ento, que os oficias enviem a So Paulo alguma proviso ou alvar com os quais os reis tenham feito merc de primazia a So Vicente, caso no qual no duvidaremos obedincia de leais vassalos e lograremos o favor do maior cessando a do menor que a do senhor Marqus por onde essa cmara de presente logra a primazia.9 (CARTA..., 1684, p.416)A resposta vem em 21 de janeirode1685,naqualosoficiasdeSoVicenterecordamquebemsesabequeoinimigo queimou esta vila e nessa ocasio arderiam os papis com os quais se poderia provar a merc real feita vila, que se sobreporia determinao do donatrio, afirmando aparentemente respeito e submisso deciso do marqus10. Segundo Benedicto Calixto a cmara de So Vicente possua cpiasdediversasprovises,cartasrgiasealvarsqueprovariamaprimaziadavila,tendo procedido astuciosamente, fingindo concordar com os vereadores de So Paulo, ao mesmo tempo emqueapelavaparaaRelaodaBahiaeparaoGovernador,pedindorevogaodoatodo marqus (CALIXTO, 1924).O marqus das Minas, governador geral da Bahia, resolve a questo favoravelmente a So Vicente, comunicando a sua deciso cmara de So Paulo, em 6 de setembro de 1684. Nesse nterim, a cmara de So Paulo faz uso de suas prerrogativas de cabea, no dando posse a Pedro Taques de Almeida como capito-mor da capitania, por ter sido ele empossado na cmara vicentina. O governador geral afirma aos camaristas de So Paulo que no tinham razo em no reconhecer o capito-mor, uma vez que So Vicente era, por merc particular do rei D. J oo III feita ao primeiro povoador,MartimAfonsodeSouza,aquelaquetinhaaprimaziadacapitania.Portanto,uma proviso do donatrio no tem poder nem jurisdio para definir uma nova cabea, tocando s a Sua Majestade esta diviso, devendo os vereadores de So Paulo, de razo e justia, ceder de sua opinio, ficando como sempre a capitania de So Vicente a cabea como sempre se observou, devendo em caso contrrio recorrer a Sua Majestade, exigindo da edilidade que mantenha, com prudncia, toda a quietao e sossego dessa capitania11(Carta...).Respondendo cmara de So Vicente, o governador geral reitera o seu apoio demanda dos camaristas, afirmando que no era justo perverter a cabea da capitania, uma vez que era uma posse to antiga, apenas com uma proviso do donatrio, sem ordem expressa de Sua Majestade12. Ao capito-mor, o governador afirma categoricamente que o requerimento do marqus de Cascais notinhapropsitonemfundamentoalgum,equesecontinuassecomoutrossemelhantes mand-lo-ei vir aqui preso, e ento saber se o Governo Geral tem poder ou no para prover as Amilcar Torro Filho Histria (So Paulo), vol. 30 n1 p.148-173, 2011. ISSN 1980-4369158vacncias. Reafirma que apenas o rei tinha o poder de instituir a vila de So Paulo como cabea em lugar de Santos (confundida com a vila de So Vicente ou ento um indicativo de que Santos j comeava a sobrepujar a sua vizinha na marinha)13.A cmara piratiningana resiste o quanto pode a dar posse a Pedro Taques, o que significaria capitular definitivamente e desistir de suas pretenses de firmar-se como cabea da capitania. O capito-mor argumenta, em uma petio, que no havia sido reconhecido pela vila de So Paulo por ter tomado posse naquela que era cabea dessa capitania, na forma que o fizeram de seu princpio atopresenteosmaiscapites-mores.AposseemSoVicentesejustificaporsuamuita antiguidade como sede, o que j tinha sido afirmado pelo marqus das Minas, alm de ser uma merc rgia. Pedro Taques acusa a cmara de So Paulo de cavilosamente formarem culpas a ele suplicante, incriminando-o para no reconhecer a ordem do governador. Como no era permitido fazernenhumprocedimentocontraquemtivessepostonamilciaounajustia,enquantoeste estivesse exercitando a administrao, recorda o capito-mor, a insistncia da cmara em process-lofuncionavacomoumamanobraquenoreconheciaasuaposserealizadaemSoVicente, afirmando, assim, a precedncia de So Paulo14. Neste primeiro de maro de 1685, quando Pedro Taquesreconhecidopelacmarapaulistana,acabaaefmeraprimaziadadapelomarqusde Cascais a So Paulo. A tentativa do donatrio em premiar a lealdade de So Paulo esbarrou nas prerrogativas do rei em definir as cabeas de capitania, bem como na tradio e na antiguidade das primazias de So Vicente15. A Rochela do Sul Alm da lealdade demonstrada ao donatrio, a vila de So Paulo, conhecida como a Rochela do Sul, dava mostras da conscincia de sua independncia, quase solitria que vivia nas terras de serra acima, na boca do serto, enfrentando os seus perigos e descobrindo as suas riquezas. Em 10 dejaneirode1683ocorreumlevantamentonavila,queobrigouaosvereadoresfazeremuma vereao extraordinria, aos gritos de viva o povo e morte ao mau governo, com ameaas de morte contra os oficiais da cmara, que no queriam proceder vereao por falta do procurador do conselho.Tudoporquenodesejavamqueviessemaessavilanemouvidoresgeraisnem corregedores da comarca, invocando um suposto privilgio dado pelo rei ao donatrio16.Crendo-se cabea da capitania, os revoltosos exigiam as precedncias e direitos devidos sua dignidade, e a independncia em relao a uma correio que no condizia com os privilgios que acreditavam possuir, mas que no pde ser evitada. Em vereao de 16 de abril de 1700, ir debater a cmara de vereadores, em nome deste povo e das mais Vilas anexas, outros privilgios e A marinha destronada: ou a famigerada So Vicente derrotada pela Rochela paulista. A afirmao de So Paulo como cabea de capitania (1681-1766). Histria (So Paulo), vol. 30 n1, p.148-173, 2011. ISSN 1980-4369159direitos,comoapossedeterrasdasminasdeCataguases.Assim,tantocamposcomomatos lavradios que de direito pertencia aos paulistas por terem sido eles os que conquistaram as ditas terras e so os descobridores das minas do ouro que presentemente se lavram o que notrio e patente, tudo feito, obviamente, a custo de suas vidas e fazendas sem dispndio da fazenda Real. Portanto,seriaumagrandeinjustia,argumentavamosvereadores,queseconcedesseaos moradores do Rio de J aneiro direitos sobre estas terras j que nunca tiveram parte em sua conquista ou descobrimento17.Os levantes eram comuns em So Paulo, e a questo das minas de Cataguases, assim como as desordens pelos monoplios da carne ou do abastecimento de sal esto, para Romeiro, na origem doconflitodosEmboabas.Tensesqueopuseramospaulistasaoschamadosemboabas,os forasteiros, mas tambm opunham a vila aos mercadores de Santos, tidos por aambarcadores e atravessadores (ROMEIRO, 2008). Conforme esta autora, a guerra dos Emboabas que se desenrola entre 1708 e 1709 est marcada pela legenda negra paulista, que representava So Paulo como um bastio incrustado no serto, inexpugnvel autoridade rgia, livre da ingerncia das autoridades, couto de fugitivos e bandidos.Esta legenda negra estaria marcada pela imagem de autonomia e independncia poltica dos homensdeSoPaulo,quenoseconsiderariamvassalosdorei,recusando-lheobedinciae submisso, vivendo nessa Rochela inexpugnvel. Os paulistas no se veriam como vassalos do rei, mas como arrendatrios de suas terras na Amrica (ROMEIRO, 2008). A lealdade paulista era dependente, assim, da sua devida recompensa, resultado de um imaginrio poltico que advinha de um aprendizado de negociao das diversas vezes em que foram acionados para prestar servios ao rei. Essa negociao por vezes acintosa era vista como uma fidelidade suspeitosa, incerta e ambgua (ROMEIRO, 2008).Essa viso contratualista da lealdade pode explicar a adeso da vila de So Paulo causa do marqus de Cascais, contrariando a cabea da capitania que havia acatado a deciso favorvel ao conde da Ilha do Prncipe. Essa lealdade trocada pela dignidade de tornar-se a cabea da capitania, num momento em que esta precedncia poderia auxiliar a vila a legitimar as suas pretenses com relao s descobertas das minas, que teria como resultado o conflito emboaba.Estas descobertas e conflitos tiveram como resultado a criao da capitania de So Paulo e MinasdoOuro,porcartargiade9denovembrode1709,comanomeaodeAntniode Albuquerque Coelho de Carvalho para o cargo de governador. Esta nova unidade administrativa tinha como funo a melhor gesto das minas descobertas, a resoluo dos conflitos por sua posse, a fundao de povoaes para que as pessoas vivam reguladas, em a subordinao da J ustia, alm Amilcar Torro Filho Histria (So Paulo), vol. 30 n1 p.148-173, 2011. ISSN 1980-4369160obviamente de conter os descaminhos do ouro e garantir a arrecadao do quinto. A carta rgia estabelece ainda a nomeao igualitria para os cargos da repblica e governo das povoaes de paulistas e reinis, no fazendo diferena entre eles18.Oficialmente, a partir de agora a vila de So Paulo se torna a cabea da nova capitania; o governador informa ao rei J oo V que estava a caminho das Minas, passando primeiramente em So Paulo, onde lhe parecia conveniente tomar posse do governo para persuadir aqueles povos a sua obrigao, fazendo assim com que vivessem em harmonia com os forasteiros das minas, conforme os desejos de Sua Majestade. Ele comunica tambm cmara da vila a deciso rgia de torn-la cabea da nova capitania19. Entretanto, logo em seguida passar para as zonas de minerao, onde efetivamente viveria e governaria distante de sua sede, passando os governadores a maior parte do tempo na vila de Nossa Senhora do Carmo, erigida em 1711, futura cidade de Mariana20. Na zona defronteira,poucoocupada,acentralidadedeSoPaulojtinhasidoreconhecida,masa necessidadedepovoarelevarasjustiasaointerior,paragarantiraquietaodospovosea conveniente arrecadao, com temor e respeito coroa, levava os governantes s zonas turbulentas da minerao.Tornar So Paulo cabea de capitania apenas nominal funcionava para conciliar os paulistas, ao mesmo tempo em que eram afastados da administrao das minas, j que a verdadeira cabea se encontrava onde era mais necessria segundo o governador. Por isso as instrues rgias deixavam ao seu critrio a escolha de sua residncia, que poderia ser em qualquer destas partes que vos parecer mais conveniente ao meu servio21 Em carta cmara datada de 16 de dezembro de 1711, oReiinformaaosvereadores,quelhehaviamescritoquestionando-osobreodomicliodo governador,queele,assimcomoseussucessores,deveroassistirnessavilacomocabeade comarcaounasminas,sendopormSoPauloacabeaprincipaldessacapitania,no significando que eles no possam ir a todas as terras e partes que a necessidade o pedir, e for mais domeuservio22(1917,p.73).AposseemSoPauloindicaoreconhecimentonoapenasda importncia crescente da vila, mas da necessidade de pacificao dos vassalos rebeldes, trazendo a nova capitania23 rbita do Imprio, infundindo neles os valores polticos do Antigo Regime (ROMEIRO, 2008, p.308).Por outro lado, o porto de Santos ser afastado do governo do planalto, no pelos conflitos entre paulistas e santistas, mas para manter a jurisdio das minas cada vez mais dependentes do Rio de J aneiro. O governador argumenta sobre a convenincia de manter o porto de Santos atrelado ao governo da nova capitania, como um porto seguro para o abastecimento das povoaes e vilas de serra acima, alm de ter sido parte da antiga capitania de So Vicente, ento j denominada So Paulo24. Os oficiais da cmara da vila de Santos tambm solicitam ao rei, em 15 de setembro de A marinha destronada: ou a famigerada So Vicente derrotada pela Rochela paulista. A afirmao de So Paulo como cabea de capitania (1681-1766). Histria (So Paulo), vol. 30 n1, p.148-173, 2011. ISSN 1980-43691611710, que seu porto ficasse subordinado capitania de So Paulo e Minas do Ouro, com receio da distncia em relao ao Rio de J aneiro25.Apesar do apelo do governador e dos vereadores santistas, o rei decide pela subordinao de Santos ao governo do Rio de J aneiro, sendo mais conveniente que no ficasse nenhum porto de mar unido a So Paulo, para que no houvesse comunicao das minas com nenhum porto que no fosse o do Rio, e apenas pelo caminho novo26. Se a vila piratiningana recebera o reconhecimento de sua funo como ponta de lana dos descobrimentos do ouro e sua importncia como entroncamento de caminhos, o Rio de J aneiro aparece como um centro mais fiel defesa dos interesses fiscais da coroa, antecipando uma deciso que seria tomada apenas em 1763, de elevao da cidade cabea da monarquia na Amrica (Cf. BICALHO, 2006).Os protestos do governador das dificuldades de acesso dos paulistas s minas pelo caminho novo,muitodistante,bemcomoasdificuldadesparaadefesaeabastecimentodoplanaltono serviramparademoverSuaMajestadedadecisodedesvincularSantosdaserraacima.Aqui percebemos tambm como a vila de So Vicente perdeu sua antiga importncia e privilgios no apenas para So Paulo, mas tambm para o porto de Santos, que passa em alguns documentos a dar nome a essa curiosa e movedia capitania, que se movia tanto no espao, de fronteiras incertas, quanto nas suas denominaes. J antes da criao da nova capitania, a capitalidade de So Vicente estava sendo colocada prova. Os oficiais da cmara vicentina se queixam ao rei em agosto de 1703 de que o pagamento do ordenado do ouvidor geral deveria ser pago nesta vila e no em So Paulo, ao que o rei contesta que,aindaquesejaSoVicentecabeadacapitania,noeradecomarca,devendosefazero pagamento em So Paulo, onde assiste o ouvidor Geral na qual se lhe deve fazer o pagamento de seu ordenado27 (ORDENS REAIS N 49, 1704). Aqui temos um detalhe importante, pois o rei havia feito de So Paulo cabea de comarca em 1704, o que lhe acrescentava certas dignidades, repartindo a justia pelas suas vilas anexas.A comarca, como explica Bluteau, a marca, ou limite de um territrio, o espao de terra em que se encerra a jurisdio de um corregedor, vivendo debaixo da mesma vara da justia. Vem a ser ainda multido de gente vivendo debaixo da mesma vara de justia. Ou um certo nmero de vilas cuja jurisdio tem os ministros da cabea dela, a qual cidade ou vila grande e notvel, na qual reside o corregedor e provedor de toda a comarca. So Paulo est frente da comarca neste momento, mas sem ter ainda retirado os direitos de cabea de So Vicente, que v novamente suas prerrogativas divididas com a vila de serra acima.Amilcar Torro Filho Histria (So Paulo), vol. 30 n1 p.148-173, 2011. ISSN 1980-4369162Em 1713, o rei decide que a ento cidade de So Paulo deveria, sendo cabea de comarca, e oficialmente tambm de capitania, fazer uma casa de cadeia segura, de pedra e cal28. Em 1724, So Paulosolicitasvilasdacapitaniaqueenviemseuscriminososparaacidadeparaquefossem presos ali, onde havia menos possibilidades de fuga29.Para a constituio da nova capitania foi necessria a compra da antiga donataria de So Vicente ao marqus de Cascais, passando coroa a posse das terras da capitania de Santos e So Vicente, realizada em 1711, depois de ter o marqus tentado vend-la ao potentado paulista J os de Gis de Morais. A antiga So Vicente, ou o que ela se tornara depois de tantas disputas, anexaes e desmembramentos, havia se tornado a principal capitania para a coroa, por isso a necessidade que elafosseretiradadesuacondiosenhorial.Compreendendomuitasvilasdetogrande jurisdionocabiamaisqueelafosseuma propriedadeparticular,passandoaserpatrimnio real30. Nesta compra, acabaram por se confundir novamente as capitanias de So Vicente, Santo Amaro, que seria originalmente a propriedade do marqus de Cascais, e a pequena Itanham, sem contar o desmembramento da capitania do Rio de J aneiro, que originalmente fazia parte das terras doadas a Martim Afonso de Souza; a anexao de Itanham s seria desfeita com indenizao aos herdeiros no reinado de Maria I.Nem mesmo a coroa sabia ao certo os limites das capitanias. Em 1730 ela ainda procurava saber se as capitanias de So Paulo de Piratininga, So Vicente e Nossa Senhora da Conceio de Itanham eram uma s capitania debaixo de diferentes nomes, ou so diversas capitanias que se formaramdascemlguasconcedidasaoprimeirodonatrio31(ARQUIVOHISTRICO ULTRAMARINO).No processo de arregimentao dos paulistas, ao mesmo tempo em que so afastados dos negcios das minas, a vila elevada categoria de cidade em 1711, juntamente com a compra da capitania,umacompensaoportersetornadoumacabeasemgoverno.Seguramente,na avaliaodeparecerdoConselhoUltramarinoem12defevereirode1711,eraumaformade satisfazer e contentar os paulistas que desejavam essa honraria bem como a criao de um bispado, o que dependeria da avaliao do nmero de famlias que pudesse fazer frente s cngruas dos Bispos32.A elevao categoria de cidade atende a um pedido da cmara de So Paulo, enquanto a criao do bispado se efetivaria apenas em 174533. Essa distino representa o reconhecimento da coroa nova dimenso de So Paulo na geografia da Amrica portuguesa (ROMEIRO, 2008, p.309),oreconhecimentodesuacapitalidadequevinhasendoexercidadefato,aindaqueno totalmente reconhecida de direito. A marinha destronada: ou a famigerada So Vicente derrotada pela Rochela paulista. A afirmao de So Paulo como cabea de capitania (1681-1766). Histria (So Paulo), vol. 30 n1, p.148-173, 2011. ISSN 1980-4369163Uma Noiva Engalanada Essaseparaoteriaoutrodesdobramento,nacriaodanovacapitaniadeSoPaulo, separada das Minas por alvar de 2 de dezembro de 1720, instituindo dois governos separados para as Minas e So Paulo, que recebe de volta as suas vilas da marinha de Parati, Ubatuba e ilha de So Sebastio34. As distncias entre So Paulo e as Minas e a falta de assistncia e de acesso s justias fizeramcomquefossedecididaaseparao(ELLIS,1975).Umaquesto,alis,importantena definio das novas capitais americanas no sculo XVIII, a sua proximidade geogrfica funcionaria como uma garantia de representatividade dos povos e acesso justia (ZAGARRI, 1988).Dois anos depois, uma carta rgia devolve o porto de Santos a So Paulo no governo de RodrigoCsardeMenezes,quefoioprimeirogovernadorahabitaracapitalpiratininganaem 1721, deixando o porto de estar sujeito ao governo do Rio de J aneiro35. Com a criao da capitania separada das Minas, j no havia mais a necessidade de separar a serra de seu porto, evitando o descaminho do ouro. Ao mesmo tempo So Paulo ainda divide jurisdies com a marinha, no mais com So Vicente, cada em esquecimento, mas com Santos.O novo governador de So Paulo, Rodrigo Csar de Menezes tenta transferir a arrematao de contratos reais dos dzimos para a cabea de sua capitania. Aps uma queixa do provedor da fazenda real de Santos, o rei adverte ao governador, em carta 11 de agosto de 1722, para que a respeito do lugar onde se arrematava esse contrato e sobre as propinas dos governadores se no inove cousa alguma, sobretudo sem ter havido ordem minha para essa alterao e mudana de lugar36. So Paulo ainda dever disputar as precedncias com Santos at a segunda metade do sculoXVIII,quandoento,ressuscitadaacapitania,haverasuaassunodefinitiva capitalidade. A batalha pela centralidade teria um novo revs, com a extino do cargo de governador em So Paulo, em 1748, cuja capitania transformada em comarca do Rio de J aneiro e seus assuntos militares atribudos a um governador da praa de Santos sem patente de capito general e sob a jurisdio do governador do Rio de J aneiro, sendo tambm desmembradas e criadas as capitanias de GoiseMatoGrosso.Asuaextinoteriasedadopelanecessidadedeconcentraresforose assistncia no extremo oeste, produtor de ouro, e a impossibilidade dessa assistncia vir da cidade de So Paulo, cabea muito distante do resto dos membros do corpo americano (BELLOTTO, 1979; Cf. DERNTL, 2010).Estasituao,vistapeloscontemporneosepormuitoshistoriadorescomoperodode decadnciadeSoPaulo,perdurouatasuarestauraoem1764,depoisderequerimentoda Amilcar Torro Filho Histria (So Paulo), vol. 30 n1 p.148-173, 2011. ISSN 1980-4369164cmaradePiratininga.Maisumavez,ospaulistasutilizamcomoargumentoparareceberuma merc, a de restaurao da capitania neste caso, em carta ao rei, de agosto de 1752, a conquista de vastasnaesdegentioqueviviaemdilatados,eincultossertesdasMinasGerais,Cuiabe Goiases,nosquaisseencontraramaspedrasemetaispreciosos,custadesuasvidas,e fazendas.Comoremuneraodestesservios,utilizandootomcontratualistaqueRomeiro identifica no discurso poltico de So Paulo, os vereadores pedem que enviasse o rei, um capito generalqueostrouxessepolciaelhesfizesseadministrarjustia,umavezquetinhamsido espoliados daquelas minas de que foram progenitores, merecendo, portanto, a real ateno a suas necessidades.Depoisdetantasconquistas,estavamagorasujeitosabuscarjustianoRiode J aneiro, sob riscos de vida na travessia martima, por isso solicitavam um general que vivesse na cidade,umacapitalesquecidaqueclamavaporumbomgoverno37,umaesposaquebuscavao reconhecimento de seus direitos matrimoniais.Sem conseguir sensibilizar Sua Majestade, os oficiais da cmara escrevem novamente ao rei em 12 de fevereiro de 1763. Aqui a anexao de So Paulo ao governo do Rio de J aneiro aparece como um engodo de que padeceu o prprio rei, enganado por informaes de quem mais atendia a ampliar os limites da sua jurisdio do que o real servio de Vossa Majestade (CARTA... 1763). Argumentam que a presena de um general poderia aumentar as descobertas de preciosidades que enriqueceriam a coroa, como nos tempos de Rodrigo Csar de Menezes. Rebater os castelhanos que facilmente passavam pelo serto em direo s terras portuguesas tambm argumento utilizado para justificar o envio de um governador, o que parece ter pesado na deciso da restaurao feita em seguida. E, finalmente, alegam que a existncia de generais em Cuiab e Gois deveria dar mais razo sua splica, uma vez que havendo governo prprio nessas capitanias que em outro tempo foram sujeitas a So Paulo, no se deve negar cabea a honra que se concede aos membros38.A existncia de governo prprio em territrios outrora submetidos a So Paulo, quando este noopossua,criavanavisodospaulistas,umdesequilbrionocorpopolticodamonarquia, dandoaosmembrosprerrogativasnegadascabea,daalegitimidadedesuaspretensespelo envio de um governador que reafirmasse esse equilbrio perdido O conde da Cunha, vice-rei do Brasil entre 1763 e 1767, tambm escreve ao rei em 12 de agostode1764,afirmandoestarreduzidaacapitaniaaumestadolastimvel,sendoimpossvel governar as capitanias de So Paulo e Rio de J aneiro conjuntamente, pelas distncias e por serem os habitantes de So Paulo excessivamente inquietos e revoltosos, em territrio abundante de minas de ouro e nas vizinhanas dos castelhanos39.Em carta ao Secretrio de Negcios da Marinha e Ultramar, Francisco Xavier de Mendona Furtado o conde da Cunha afirma que por conta do miservel estado a que se achava reduzida, A marinha destronada: ou a famigerada So Vicente derrotada pela Rochela paulista. A afirmao de So Paulo como cabea de capitania (1681-1766). Histria (So Paulo), vol. 30 n1, p.148-173, 2011. ISSN 1980-4369165pela falta de governo e pela proximidade da cidade de So Paulo com o novo descoberto de So J oo de J acuri, Sua Majestade decidira nomear a D. Lus Antnio de Souza Botelho Mouro, o Morgado de Mateus, para governador e capito-general de So Paulo. Entre suas atribuies estava a definio dos limites com as Minas e Gois, alm de sua recuperao, dado o miservel estado em que se encontrava40.Interesses diversos orientaram a restaurao de So Paulo: a mudana do eixo poltico para o sudeste da colnia, com a transferncia da capital para o Rio de J aneiro em 1763, o desejo da Coroa empoliciarocontrabandodasminas,osinteressesdosmercadorespaulistasemtergoverno prximo, que atentasse aos seus interesses e as questes de fronteira com os castelhanos no sul, que por mais de uma vez quase chegaram declarao de guerra entre os dois reinos ibricos. O Milagre da Onipotncia Tudo isto e muito mais me ainda necessrio para restabelecer este estado de letargo, em que se achava [a capitania de So Paulo]; o cri-lo de novo seria muitomenos,porqueacriaodascousasobradaNatureza;oressuscit-las milagre da Onipotncia. Para Deus criar o Mundo bastou-lhe uma palavra, e para o restaurar desceu dos Cus, gastou trinta anos, e custou-lhe a vida. Morgado de Mateus.41 Ao chegar restaurada capitania que iria governar, o Morgado de Mateus permanece cerca de nove meses em Santos onde, segundo ele mesmo, iniciou o seu governo pelo assim pedirem as urgncias do Rio de J aneiro. Passou, em seguida cidade de So Paulo onde ratificou a sua posse, como capital que era, em 7 de abril de 1766, dia de Nossa Senhora dos Prazeres, santa da devoo de sua casa em Portugal42. Nesta mudana, teve o governador que tratar com a resistncia de Santos para transferir-se definitivamente para So Paulo. Esteve em Santos desde sua chegada em 23 de julhode1765at2deabrilde1766,demorou-senestavilaparareorganizaraProvedoriae informar-sedoestadodacapitaniaqueiriagovernar.Noentantodesejavaqueapossecomo governadorsedesseapenasemSoPaulo,paranoescandalizaroshabitantes,etambm porque eram as Cmaras que empossavam um Capito General, quando lhe faltasse antecessor (BELLOTTO, p. 88;Cf. TORRO FILHO, 2007, p. 202). OsoficiaisdacmaradeSantosenviamumarepresentaoaoreiparademonstrara inconveninciadasuapartidaparaSoPaulo.Comaextinodacapitaniaelapassaaser governada, como apontamos anteriormente, por um governador sem patente de capito-general e Amilcar Torro Filho Histria (So Paulo), vol. 30 n1 p.148-173, 2011. ISSN 1980-4369166subordinadoaogovernadordoRiodeJ aneiro.Comisso,acmarasantistaprocuramantero governador na marinha, o que seria uma forma de sobrepor-se cidade de So Paulo.Em representao de 6 de agosto de 1766, argumentam os oficiais que nos nove meses em queesteveocapito-generaleogovernoemSantos,seviaaditaPraaesuasFortalezas totalmente fortificadas com o preciso n. de gente que carecia para sua defensa, levando o povo da vila a julga-la segura por terem nela a principal cabea que a regesse em todas as ocasies que fossem necessrias43. No entanto, com a sada do governador ficou a mesma praa destituda no s do governo como da gente de guerra que saiu da mesma para S. Paulo com o dito governador e para outros lugares.Representou-seaogovernadoraconveninciaderesidirogovernoemSantos,massem sucesso. Assim, os oficiais decidiram escrever ao rei, apontando as convenincias do governo se localizar nesta vila, como o fato de ser praa aberta em porto de mar, onde sempre residiram todos os generais, e no em So Paulo, onde se no carece de sua assistncia, e ainda por estar Santos sob o comando de um simples capito-mor de Infantaria, com limitado nmero de trinta soldados, por se acharem uma companhia inteira em Paranagu e outra em So Paulo. Para terem mais tropas e maior segurana, se oferecem para pagar as tropas que se estabelecessem na vila. Queixam-se, ainda, de ter transferido o governador a Provedoria de Fazenda Real, levando consigo contratos e estancos com notrio prejuzo para Santos, apenas por querer residir em S. Paulo.Tentandosensibilizarorei,oscamaristasdamarinhaafirmamqueseSuaMajestade soubesse onde ficava a cidade de So Paulo e a distncia que vai desta Praa, no consentiria que o Governador Cap. General ali residisse, sem utilidade alguma devendo estar nesta Praa onde se faz indispensvel a sua assistncia.OprovedordaFazenda,J osHonriodeValadareseAboim,tambmdemonstrasua insatisfao com a deciso rgia, cumprida pelo governador, de transferir o cofre e a provedoria paraacidadedeSoPaulo.Dizaocapito-generalquesedeveriaesperarumadecisodorei, depois de sua representao, porquanto no ser da sua Real Inteno dispor cousa que prejudique Sua Real Fazenda, pois no pode estar o cofre to distante da Praa principal, e porto do Mar aonde precisamente se faz despesas, com as Fortalezas, militar, e Hospital44. Argumenta que a transfernciaprejudicariaoandamentodoscontratosdasbaleiasedosaleacobranados respectivos impostos, bem como as despesas que freqentemente se precisa fazer em uma Praa, e porto de Mar45. Lembra o risco da transferncia do cofre durante a viagem, tanto por mar quanto por terra, e que em So Paulo ficaria o cofre ainda mais desamparado em um Serto aberto; alm disso, exorta ao governador que deveria ele residir em Santos para dar assistncia se houver por algum incidente [uma] Guerra, o que Deus tal no permita46.A marinha destronada: ou a famigerada So Vicente derrotada pela Rochela paulista. A afirmao de So Paulo como cabea de capitania (1681-1766). Histria (So Paulo), vol. 30 n1, p.148-173, 2011. ISSN 1980-4369167Emcartaaoreide5dedezembrode1767,ogovernadorafirmaqueamudanano acarretou nenhum dos inconvenientes apontados pelo provedor, porque a tudo se deu remdio, e no h outra diferena mais que a girar menos dinheiro na Vila de Santos, e mais nessa Cidade de S. Paulo,emqueatualmenteficaresidindoaditaProvedoria47.Apesardoparecercontrriodo provedor, tanto o cofre quanto o governador sobem a serra em direo a So Paulo, que j no era mais apenas um serto aberto para as autoridades que governavam a capitania. Os argumentos dos oficiais santistas e do provedor da Fazenda no sensibilizaram nem ao rei nem ao governador; ainda em 1782, Marcelino Pereira Cleto, ouvidor interino da comarca, juiz-de-foradeSantos,almdeouvidorecorregedordacomarcadoRiodeJ aneiroeescrivodo processo da Inconfidncia Mineira, apontava a decadncia da vila de Santos, onde tudo era runas, e desero, tendo ficado a marinha sem as minas, sem negcio e sem agricultura (CLETO, 1977, p. 27).Cletoqueixa-sequeforamlevadosparaSoPaulooalmoxarife,acasadefundio,o regimento da praa de Santos e dos voluntrios reais, os estudos de gramtica, filosofia, retrica, ler eescrever,notendosidonomeadonenhumprofessorparaamarinhaatento,reproduzindo praticamente os mesmos argumentos da cmara de Santos, em 1766 (CLETO, 1977). Aponta, ainda, queosgovernadoressemantinhamemSoPaulomesmosemumacasaderesidncia,oque poderiaserprovidenciadomaisfacilmenteemSantos,noColgioqueforadosJ esutas.Da concluir, assim como os oficiais da cmara santista da vereana de 1766, que a cabea da capitania deveria ser transferida para Santos, ou voltar para a vila, j que por um espao de tempo antes da restauraoestevealiumgovernadorsubmetidoaoRiodeJ aneiro.Poissendoaagriculturada marinha mais til, diz Cleto, deve cuidar-se mais na sua povoao, que na serra acima, e isto o contrrio do quesetempraticado.ParaacidadedeSoPaulo,terradoserto,selevouo governo, a S, junta de fazenda, ouvidoria, casa de fundio, o regimento, que era prprio da guarnio da vila, e praa de Santos (...) que estando na cidade de So Paulo isto se povoa, aumenta e enriquece a terra do serto, e se desfalca a marinha, quando se deveria cuidar mais na sua povoao (CLETO, 1977, p. 21). Para confirmar sua tese, o ouvidor lembra que o rei D. J oo III havia restringido a criao de vilas no serto, que deveriam obedecer a uma distncia mnima de seis lguas uma da outra, dando, no entanto, inteira liberdade para a criao de vilas na marinha, do que deduz o autor que o rei conheceu j a utilidade incomparavelmente maior de se povoar antes a marinha, que o serto (CLETO,1977,p.21).Umraciocnioqueerajletramortanapolticadasegundametadedo sculo XVIII, de ampla penetrao e urbanizao do interior.Amilcar Torro Filho Histria (So Paulo), vol. 30 n1 p.148-173, 2011. ISSN 1980-4369168FoiumlongoprocessonoqualSoPauloimpssuadominnciasobreacapitania,que abandona sua denominao de So Vicente para adotar o nome de So Paulo. A denominao de So Paulo sobreps-se antiga Capitania de So Vicente, substituindo seu nome assim como a vila dePiratiningasucedeuaSoVicentenaprimaziadacabeadascapitaniasquereceberiamseu nome. Mesmo tendo sido muito famigerada noutro tempo (famigerada no sentido de famosa), diz Frei Gaspar da Madre de Deus, era agora, no tempo em que escreve em fins do sculo XVIII, to desconhecidaquenemonomeprimitivoconservaparamemriadesuaantigaexistncia (MADRE DE DEUS, 1975, p.29).Antes mesmo de Frei Gaspar, Sebastio da Rocha Pitta j havia chamado a ateno, em 1730, para o fato de que a primeira provncia que se havia fundado na Amrica portuguesa, tendo florescidoopulentaemfbricasdeengenhoseoutraslavouras,nopresentenoconservasse sombras de sua grandeza. E que tambm de cabea da provncia perdesse a vila de S. Vicente a dignidade que passou de Santos, e agora est na cidade de S. Paulo (ROCHA PITTA, 1950, p.100).Rocha Pitta se espanta que uma vila que no tinha mais do que uma igreja matriz e uma capela de Santo Antnio, pequena e insignificante, tenha se sobrepujado a uma marinha poderosa e rica no passado. No entanto, a centralidade de So Paulo e sua feio de cabea de um territrio em expanso vinham se constituindo de forma insupervel.AquicaberecordaradistinoquefazDeSetaentreumacidadecapitaleumacidade dominante:aprimeiraaquelainvestidacomotalporpartedeumgovernodopovo,deum patriciado,deumSenhoroudeumEstado.Acidadedominante,aocontrrio,norecebeesta investidura mas, apesar disso, desempenha uma funo eminente no mbito do sistema territorial de que faz parte (DE SETA, 2002, p.193). Antes de tornar-se cabea, nova esposa entronizada no leitonupcialdacapitaniarestauradaeressuscitada,SoPaulojexerciasuadominncia,como ponta de lana da conquista do serto e das minas, constituindo um centro importante de construo de um territrio que se buscava interiorizar cada vez mais.Ao final do sculo XVIII as duas funes, de capital e dominncia, se confundem numa mesma cidade. Quando da chegada do Morgado de Mateus, o predomnio de So Paulo ainda era contestado pelas vilas que resistiam sua centralidade, mas em nenhum momento o governador ou o rei tiveram dvidas de que era ali onde se tecia a trama do poder. Notas 1 A documentao revela uma indefinio na denominao das capitanias. Aparecem indistintamente com os nomes de So Vicente, So Vicente e So Paulo, Santos e So Vicente, por exemplo. A marinha destronada: ou a famigerada So Vicente derrotada pela Rochela paulista. A afirmao de So Paulo como cabea de capitania (1681-1766). Histria (So Paulo), vol. 30 n1, p.148-173, 2011. ISSN 1980-4369169

2 Cf. em BUENO, (2009, p. 269) uma reconstituio dos limites das capitanias de So Vicente e Santo Amaro, baseada em mapas por satlite. 3Rodrigo de Almeida Bastos recorda a inspirao paulina, na Epstola aos Corntios, da noo de corpo mstico: 2006, pp. 7-8.4 Rodrigo de Almeida Bastos recorda a inspirao paulina, na Epstola aos Corntios, da noo de corpo mstico: 2006, pp. 7-8.5 Sobre a teoria corporativa da sociedade de Antigo Regime preciso retornar ao clssico de HESPANHA, 1994, p. 297 e ss.6 Cf. CALIXTO, 1924, pp. 138 e ss.; MADRE DE DEUS, 1975, pp. 182-225; LEME, 2004, pp. 77 e ss.; SILVA, 2009, pp. 13-9.7 Registro de uma carta do marquez de Cascaes para esta Camara. Registro Geral da Camara Municipal de S. Paulo. So Paulo: Archivo Municipal de So Paulo, 1917, v. III, pp. 345-6. Sobre este tema, cf. BLAJ , 2002, p. 32-3.8 Registro de proviso que passou o senhor marquez de Cascaes a esta Villa. Ibid., pp. 390-1.9 Registro de carta que a Camara de So Paulo escreveu Camara de So Vicente em os quatro do mez de outubro de 684 annos. Ibid., p. 416.10 Registro da carta da Camara de So Vicente. Ibid., pp. 434-5.11 Registro da carta do governador geral o Marquez das Minas a essa Camara escripta em 6 de setembro 1684 annos. Ibid., p. 442-443.12 Carta para os officiaes da Camara da Capitania de So Vicente. Documentos Histricos. Rio de J aneiro: Bibliotheca Nacional, 1929, v. XI, p. 103.13 Carta para o Capito-mor da Capitania de So Vicente. Ibid., p. 101. Azevedo Marques afirma que So Vicente, por conta da m escolha do local de sua fundao, e pelo progresso de Santos, teve uma rpida decadncia, que parece, diz ele, terminar com a extino completa da povoao. MARQUES, 1980, v. 2, p. 250.14 Registro de uma petio do capito Maior Pedro Taques de Almeida e do mandado do ouvidor Diogo Aires de Arajo pordondesedeuposseaocapitoMaiorhojeoprimeirodemarode1685annos.RegistroGeraldaCamara Municipal de S. Paulo. So Paulo: Archivo Municipal de So Paulo, 1917, v. III, p. 447-52.15 Apesar de fartamente documentada a retomada da primazia de So Vicente e a revogao da transferncia feita pelo marqus de Cascais, Ilana Blaj chama a ateno para o fato de que diversos autores, desde coevos como Pedro Taques de Almeida Pais Leme at trabalhos recentes, tomam o ano de 1681 como a data na qual So Paulo se tornou cabea da capitania. BLAJ , 2002, p. 33, n. 42. Mesmo trabalhos publicados depois do de Blaj ainda incorrem neste mesmo erro. o caso, por exemplo, dos de NEVES, (2007, p. 17-18), e BUENO, (2009, p. 270). Bueno cita um foral de 1681 que teria sido um golpe mortal para os santistas, uma vez que, dada a pobreza da vizinha So Vicente, desempenhara Santos, as funes de capital da Capitania de S. Vicente. Este foral a que se refere a autora deve ser a proviso do marqus de Cascais que, como vimos, no chegou a ter efeito. Neste momento, embora contestada, So Vicente continua sendo a cabea da capitania. 16 Actas da Camara da Villa de S. Paulo. 1679-1700. So Paulo: Archivo Municipal de S. Paulo, 1915, v. VII, p. 202-617 Ibid., p. 536-7.18 Carta Rgia creando a Capitania de S. Paulo e Minas do Ouro e nomeando governador da mesma a Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho, - de 9 de novembro de 1709. Documentos Interessantes para a Historia e Costumes de S. Paulo. So Paulo: Archivo do Estado de S. Paulo, 1929, v. XLVII, p. 65.19 Registro de uma carta do senhor general Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho governador e capito general desta villa. Registro Geral da Camara Municipal de S. Paulo. So Paulo: Archivo Municipal de So Paulo, 1917, v. IV, p. 4-5.20 Carta de Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho a D. Joo V. sobre o governo de S. Paulo e Minas do Ouro, - de 3 de abril de 1710. Documentos Interessantes para a Historia e Costumes de S. Paulo. So Paulo: Archivo do Estado de S. Paulo, 1929, v. XLVII., p. 68-9.21 Carta Rgia creando a Capitania de S. Paulo e Minas do Ouro e nomeando governador da mesma a Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho, - de 9 de novembro de 1709. Ibid., p. 65.22 Registro de uma carta de Sua Magestade. RegistroGeraldaCamaraMunicipaldeS.Paulo. So Paulo: Archivo Municipal de So Paulo, 1917, v. IV, p. 73. 23 A situao sui generis da vila de So Paulo, sendo um domnio senhorial e no da coroa, teria sido responsvel para um coevo como Manuel J uan de Morales pelo afluxo de populao no final do sculo XVII, atrados pela liberdade com que se vivia ali, longe da justia do rei. Apud SILVA, RUIZ, 2004, p. 102.24 Carta de Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho a D. J oo V, sobre o Porto de Santos ficar pertencendo nova capitania de S. Paulo e Minas do ouro, - de 3 de abril de 1710. Documentos Interessantes para a Historia e costumes de S. Paulo. So Paulo: Archivo do Estado de S. Paulo, 1929, v. XLVII, p. 70-1.25 Arquivo Histrico Ultramarino (Lisboa), So Paulo, cx.1, doc. 84.Amilcar Torro Filho Histria (So Paulo), vol. 30 n1 p.148-173, 2011. ISSN 1980-4369170

26 Carta Rgia subordinando a praa de Santos ao governo do Rio de J aneiro, - de 18 de maio de 1711. Documentos Interessantes para a Historia e costumes de S. Paulo. So Paulo: Archivo do Estado de S. Paulo, 1929, v. XLVII, p.75-6.27 Ordens Reais n 49, Carta de Sua Magde. porq. Se deClara Ser esta Vila Cabea de Comarqua, 21 de janeiro de 1704. Revista do Arquivo Municipal de So Paulo. So Paulo, I(IV), 1934, p. 68.28 Registro de uma proviso de Sua Magestade que Deus guarde ao ouvidor geral. Registro Geral da Camara Municipal de S. Paulo. So Paulo: Archivo Municipal de So Paulo, 1917, v. IV, p. 218. 29 Documentos Avulsos de Interesse para a Histria e Costumes de So Paulo. So Paulo: Departamento do Arquivo do Estado de So Paulo, Secretaria de Educao, 1954, v. 5, p. 15730 Registro da escriptura de venda, e quitao do donatario pelo marquez de Cascaes real coroa. RegistroGeralda Camara Municipal de S. Paulo. So Paulo: Archivo Municipal de So Paulo, 1917, v. IV, pp. 76 e ss. 31 Arquivo Histrico Ultramarino (Lisboa), So Paulo, cx. 2, doc. 92.32 Arquivo Histrico Ultramarino (Lisboa), So Paulo, cx. 1, doc. 21.33 Carta Real annunciando a creao do Bispado de S. Paulo. Documentos Interessantes para a Historia e Costumes de S. Paulo. So Paulo: Archivo do Estado de S. Paulo, 1895, v. XVI, p. 164.34 Alvar de creao do novo governo de S. Paulo, - de 2 de dezembro de 1720. Ibid., 1929, v. XLVII, p. 95.35 Carta Regia mandando annexar a Praa de Santos Capitania de S. Paulo. Ibid., 1896, v. XVIII, p. 49-51.36 Carta Regia sobre a transferencia para S. Paulo da arrematao dos contractos que se faziam em Santos. Ibid., p. 63-64.37 Registro de uma carta que os officiaies da Camara escreveram a Sua Magestade que Deus guarde pedindo general e mandaram aqui registrar por mim escrivo. RegistroGeraldaCamaraMunicipaldeS.Paulo.So Paulo: Archivo Municipal de So Paulo, 1920, v. X, p. 150-3.38 Registro de uma carta que os officiaes da Camara escreveram a Sua Magestade fidelissima em vereana de 12 de fevereiro de 1763. Ibid., pp. 470-3.39 Documentos Interessantes para a Historia e Costumes de S. Paulo. So Paulo: Archivo do Estado de S. Paulo, 1896, v. XI, p. 209-21140 Ibid., 1929, v. XLVII, p. 144.41 Carta ao Conde de Oeiras, 20 de junho de 1768. Ibid., 1896, v. XIX, p. 29.42 Biblioteca Nacional (Rio de J aneiro). Demonstrao dos principios e das primeiras fundaes da Capitania de So Paulo conforme as noticias adquiridas por D. Lus Antnio de Souza Botelho Mouro, governador e capito-general que foi da dita capitania. S.d. S.l. Arquivo de Mateus. Doc. 16. I-30, 26, 13. 43 Arquivo Histrico Ultramarino (Lisboa), So Paulo, Mendes Gouveia, cx. 26, doc. 2445.44 Parecer que deo o Provedor da Fazenda Real sobre o Contheudo nesta J unta, 28 de janeiro de 1766. Documentos Interessantes para a Historia e Costumes de S. Paulo. So Paulo: Archivo do Estado de S. Paulo, 1895, v. XV, p. 48. 45 Ibid., p. 49.46 Ibid., p. 50. 47 Carta n 6. Sobre a mudana do cofre Real de Santos para S. Paulo. Ibid., 1896, v. XXIII, p. 270-271. Referncias AMELANG, J . Comparing cities: a Barcelona model? Urban History. Cambridge, UK: Cambridge University Press. 34(2), 2007, p. 173-89. ARGAN, G. C. Imagemepersuaso.Ensaios sobre o Barroco. Trad. Mauricio Santana Dias. So Paulo: Companhia das Letras, 2004. BASTOS, R. A. A Ordem Sagrada da Repblica Colonial. Urbana.RevistaEletrnicadoCIEC. Campinas:CIEC,1(1),set./dez.,2006.Disponvelem http://www.ifch.unicamp.br/ciec/revista/artigos/dossie6.pdf. Consultado em dezembro de 2006. ________. Regularidade e ordem nas povoaes mineiras no sculo XVIII. RevistadoIEB. So Paulo, 44, p. 27-54, fev., 2007. A marinha destronada: ou a famigerada So Vicente derrotada pela Rochela paulista. A afirmao de So Paulo como cabea de capitania (1681-1766). Histria (So Paulo), vol. 30 n1, p.148-173, 2011. ISSN 1980-4369171

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