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A ESTALAGEM
1ª Edição
2015
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Autor da Obra: Any More
Editoração: Any More
Montagem da Capa: Any More
(Baseadas em imagens de domínio público)
A Estalagem.
1ª Edição
Ano de Edição: 2015
Contato: [email protected]
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ÍNDICE
1. A RONDA MATINAL......................................................10
2. TORMENTA...................................................................16
3. PERSEGUIÇÃO.................................................................24
4. O BARMAN...................................................................32
5. OUTRO DIA FRIO............................................................41
6. O TEATRO DA DOR........................................................45
7. O TITEREIRO...................................................................60
8. FRAGMENTOS.................................................................79
9. AMANTES...................................................................83
10. O MONSTRO.................................................................100
11. UM DIA QUENTE........................................................114
12. CORAÇÃO PARTIDO.................................................118
13. O CHEF..................................................................132
14. DESEQUILÍBRIO..........................................................145
15. ANIMAIS..................................................................161
16. LOUCURA..................................................................176
17. A CAÇADA..................................................................179
18. METAMORFOSE..........................................................203
19. O ENTREGADOR.........................................................217
20. BRINQUEDOS...............................................................235
21. O NECROTÉRIO...........................................................240
22. CORTINA DE FUMAÇA.............................................261
23. GESSO E PORCELANA...............................................280
24. INIMIGO INTERIOR....................................................284
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25. O HOSPÍCIO..................................................................292
26. PESADELOS NAS PAREDES.....................................301
27. O HOMEM QUE VIU UM CRIME.............................305
28. BARULHO..................................................................316
29. O CAMINHO.................................................................320
30. O ACORDO..................................................................340
31. A TEMPESTADE...........................................................352
32. COVA RASA..................................................................355
33. O ANDARILHO APODRECIDO................................368
34. O LIVRO DE REGRAS.................................................371
35. ALICERCES DE SANGUE...........................................376
36. O MUNDO EXTERIOR................................................384
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A RONDA MATINAL
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frio intenso forçou o policial Radagásio a
vestir o casaco que sua esposa tricotou duran-
te todo o verão. O jovem sargento era atento,
determinado e muito dedicado ao trabalho. Ele quase sempre
começava a ronda matinal por volta das 06h30min da manhã.
Às vezes era escalado para a madrugada. O jovem policial
detestava esse horário, não por conta do frio ou do sono, mas
por ter que deixar o calor da esposa para trás. Gostava especi-
almente de caminhar à beira do rio que levava à floresta negra,
como era chamada a densa mata que cercava a região. Apesar
de nesta época do ano estar branquinha como a névoa que
pairava sobre suas árvores.
Radagásio começava a ronda no porto de pequenos
barcos e caminhava até próximo à entrada da floresta. O rio
afunilava entre uma espécie de caminho de pedras e sumia
floresta adentro. O policial caminhava esse percurso em uma
hora. Depois ele voltava e tomava um café reforçado no cais.
Ao aproximar-se das pedras, Radagásio pensou ter ou-
vido uma voz distante murmurar palavras irreconhecíveis. Ele
parou. Tentou escutar novamente achando que poderia ser
alguém precisando de ajuda. “Corra”, e depois “entre lá”. Foi
o que Radagásio ouviu.
— Quem está aí? — Gritou ele para o vazio em volta —
Precisa de ajuda? — Silêncio. De repente a frase “consequên-
O
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cias funestas” foi ouvida pelo policial. Radagásio olhou para
trás e viu algo vindo em sua direção pela margem do rio. Ele
desceu pelas pedras e ficou parado ali olhando o objeto mar-
rom crescer enquanto aproximava-se de si. Era uma espécie de
carro. Uma música estranha e triste chegava aos seus ouvidos,
cantada pelo motorista. Radagásio imaginou que as palavras
que ouvira a pouco vinham da cantoria daquele homem, arras-
tadas pelo vento. Quando o veículo estava a poucos metros,
ele fez sinal de parada. O carro fez um ruído estranho como se
fosse desmontar e parou.
— Pois não senhor policial? — Disse o homem grande
que dirigia o veículo. O carro tinha uma cabine feita de madei-
ra. Desenhos talhados ilustravam as portas. Eram símbolos e
círculos na forma de talos de flores e desenhos geométricos.
Não estava pintado. A carroceria também feita da mesma ma-
deira estava coberta com uma lona verde-oliva.
— Você sabia que não pode dirigir pela margem do
rio? — Perguntou Radagásio.
— Humm! Não senhor, eu não sabia.
— Para onde está indo?
— Em direção à floresta... — Disse o homem. Radagá-
sio o interrompeu:
— É perigoso lá. Ninguém deve entrar sem companhia
e desarmado.
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— Já estou acostumado. Eu moro lá dentro — Disse o
estranho homem com um sorriso sinistro no rosto.
— Você mora dentro da floresta negra? — Radagásio
demonstrou surpresa.
— Por que a surpresa, policial?
— Eu conheço essas redondezas desde que me entendo
de gente, e nunca soube de alguém que morasse no interior da
floresta. Qual o seu nome?
— É Badhu, senhor policial.
— Badhu de quê?
— Absirto Badhu. Seu criado. — O homem sorriu no-
vamente.
— Este veículo não pode trafegar. Está completamente
fora da lei...
— Mas senhor, é um transporte feito exclusivamente
para a floresta. — Radagásio, que era um homem bom, sorriu.
— Tudo bem, vai embora. Toma cuidado.
— Eu sou a coisa mais perigosa da floresta. — Disse
Badhu ao ligar o motor do carro e sair vagarosamente. Quan-
do andou cerca de cinco metros, Radagásio viu algo escorren-
do sobre os pneus gastos.
— Espere! — O carro parou.
— O que foi agora, policial? — Perguntou Badhu com
certa irritação.
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— Este líquido que está caindo da carroceria...
— Que líquido? — Enquanto Badhu se fazia de desen-
tendido, Radagásio usou o dedo para coletar um pouco do
líquido e o cheirou. Imediatamente ele constatou enquanto
puxava a arma:
— Senhor, saia do carro agora! Isso é sangue?
— Calma! Calma! Sim, é sangue. Mas não é de gente.
Pode erguer a lona. — Radagásio permaneceu com a arma
apontada em direção ao homem enquanto levantava uma pon-
tinha da lona. Ele toma um susto:
— O que é isso? — Um ronco ensurdecedor fez com
que Radagásio se afastasse do carro.
— São porcos. Porcos selvagens, policial. Eu estou le-
vando para a minha chácara. — Explicou Badhu.
— E esse sangue?
— Um deles está morto...
— Você é nojento, cara! — Disse o policial — O que são
essas coisas? — Apontou Radagásio para um local entre a ca-
bine e a carroceria.
— Ahh! São produtos de limpeza. Alvejantes, trapos,
vassouras e uma bebida — O policial olhou para Badhu por
alguns segundos e ordenou:
— Vai embora. E tome um banho! Você está fedendo.
— Ele observou o veículo desaparecendo entre as pedras até
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sumir totalmente na brancura que cobria a floresta negra. Ra-
dagásio olhou o sangue na areia lavada do rio e caminhou em
direção ao cais.
O jovem policial sabia que encontraria aquele homem
bizarro e sua caminhonete de madeira novamente. Esse tipo
de coisa já acontecera antes. Essa região era como uma roda,
todos os acontecimentos voltariam a ocorrer.
O policial que nasceu perto do lago chamado “Lago Se-
co”, era apaixonado pelas árvores, bosques e as casas isoladas
que pareciam pequenos castelos de tinta branca desbotada.
Mas na floresta negra ele não entrava sozinho e desarmado.
Radagásio sempre lembra que, quando criança, tentou seguir
os trilhos do trem que raramente eram usados, para ir em di-
reção ao interior da floresta até as montanhas do outro lado.
Mas seus amigos de aventuras desistiram enquanto Radagásio
continuou sozinho por alguns quilômetros. Ele passou doze
horas perdido. Para uma criança, isso foi uma experiência do-
lorosa. O menino foi encontrado pelo pai e alguns caçadores.
— Espero que hoje tenha panquecas na lanchonete. —
Disse ele ao retornar do devaneio.
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2
TORMENTA
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uando Enzo passou pelo quilômetro quarenta e oito
indo em direção a sua casa, colocou a cabeça para
fora do carro antigo e poluidor que ganhou o apeli-
do de Banheira. Estava gelado e com uma névoa branquinha
feito algodão rasgando o lugar. Apesar do frio cortante ele
queria sentir um pouco do ar e do cheiro da floresta que pare-
cia interminável do seu lado esquerdo e direito. A estrada de
asfalto já gasta pelo tempo e não por veículos, já que quase
ninguém viajava por estas bandas, parecia um infinito tapete
preto à sua frente. Quando olhou atrás, não dava para ver
mais nada a não ser a brancura da névoa no fim da tarde. Enzo
abriu a boca só por um instante e foi surpreendido por algum
inseto que entrou fazendo ele tossir e quase vomitar. O carro
ziguezagueou na estrada vazia chocando os pneus gastos nas
imperfeições do asfalto. O homem pisou firmemente no freio e
o cheiro de borracha queimada substituiu o da floresta gélida.
O carro parou ali mesmo no meio da estrada e Enzo saiu dele
tossindo e babando enquanto o inseto rasgava a sua garganta.
Depois de algum desespero breve, apoiou os braços na lateral
enferrujada do carro e tentou vomitar. Só conseguiu uma baba
amarela, misturada com cerveja barata. Após algum tempo,
enquanto ofegava, entrou no carro cambaleante e girou a cha-
ve devagar. No instante em que o motor rangia, Enzo pensou
em como um inseto pode ser incômodo e riu quando lembrou
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em seguida de seu chefe Vitor, que era bastante incômodo,
pelo menos para ele.
Algumas horas antes, Enzo recebera uma carta na mesa
de madeira velha, pintada de azul que ficava na despensa em
que guardava o seu material de trabalho na fábrica de estrume
ensacado, exercendo a função de manutenção de tubulações.
Era uma carta de aviso de sua demissão. Os motivos alegados
eram constantes faltas e atrasos, chegando muitas vezes chei-
rando a cerveja velha. Não demorou nem quinze segundos
para ler e jogou a caixa de ferramentas no chão, abandonando
a sala, e em seguida, invadindo o recinto da frente, ocupado
por seu chefe imediato: Vitor.
— Seu desgraçado, o que significa isso? — Vitor tirou
as pernas do alto da mesa, ajeitou-se na cadeira, soltou a revis-
ta sobre pesca que lia e respondeu cinicamente:
— Significa sua demissão! Bêbados como você não me-
recem trabalhar aqui, nem mesmo com bosta! — Os olhos
vermelhos de Enzo fitaram o homem com ódio e desprezo,
mas nada comparado ao sorriso de canto de boca de Vitor.
Aquela expressão de quem simplesmente não reconhece o
outro como alguém. Enzo literalmente voou para cima de Vi-
tor, um homem de estatura alta, derrubando-o da cadeira e
fazendo um barulho oco quando o gerente bate a cabeça na
estante de troféus, ganhos pelo seu time de bocha nos jogos do
mês de abril. Rapidamente dois colegas de Enzo entram na
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sala e levantam os dois homens do chão. Enzo esbraveja e se
brasa ainda mais quando Vitor apenas sorri de desdém:
— Eu vou matar você, desgraçado! — Enquanto os
companheiros de Enzo o tiram dali puxando-o como um saco
grande de estrume.
— Cara, tu tá louco? — Pergunta o mais velho, de ócu-
los.
— Fui demitido, cara, fui demitido! — Dizia ele com
lágrimas nos olhos.
— Por quê? — Antes que Enzo possa responder, dá um
solavanco liberando as mãos do homem que o seguravam e
entra novamente em sua sala. Ali ele recolhe seus poucos per-
tences e sai batendo a porta. No caminho chutou cestos de lixo
e golpeou portas fechadas, chamando a atenção de outros fun-
cionários que dificilmente se lembram de tê-lo visto antes na-
quela Empresa. A mesma balbúrdia que Enzo bancava nos
corredores enquanto saía, já havia sido feita por ratazanas de
esgoto que circulavam livremente nos setores mais insalubres
daquele lugar malcheiroso. Entrou no velho carro estacionado
no pátio sem sol e saiu cantando pneus. Ninguém se importou
com isso.
Alguns pingos d’água trouxeram Enzo de volta dos
seus devaneios e ele observou que o tempo estava ficando es-
curo, e vinha uma tempestade enorme pela frente. Logo, ele
levantou os vidros e acelerou ainda mais, pois esperava encon-
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trar a bela esposa que por alguma razão obscura gostava de
perdedores como ele. Os arranhões na garganta ainda o inco-
modavam e ele tossia aqui e acolá.
Meia hora depois Enzo entrava na pequena cidade cer-
cada por grandes árvores. O temporal que se aproximava afu-
gentou os poucos moradores dali e todos certamente tomavam
alguma bebida quentinha dentro de suas casas. O carro encos-
tou devagar em frente à casa branquinha de Enzo. Enquanto
pegava suas coisas do porta-luvas, observou que a grama es-
tava com ramos quebrados e havia lama sobre ela. Pegadas
grandes e profundas demonstravam que não eram de sua deli-
cada esposa. Enzo não costumava receber visitas, quando sim,
eram mulheres da região, amigas de sua mulher. Quanto a ele,
não tinha amigos, apenas colegas de bares. Caminhou deva-
gar, aproximando-se da porta protegida por uma tela contra
mosquitos. Olhou pelo vidro escuro e molhado, e viu algumas
roupas jogadas pelo chão. Entrou e foi catando-as notando que
eram de sua esposa. Tentou dá um sorriso de canto de boca,
mas franziu a testa quanto encontrou roupas masculinas: era
uma calça. Pegou-a do chão e não reconheceu como sendo sua.
Era maior do que o seu manequim. Olhou para o alto da esca-
da e não queria imaginar nada. Subiu devagar passando a mão
sobre o corrimão de madeira lisinha. Conforme subia degrau
por degrau com as roupas na mão, apertava o corrimão com
força. Finalmente chegou ao topo e aproximou devagar da
porta com a fresta de luz amarela por baixo. Estremeceu
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quando ouviu ruídos e soluços. Encostou o ouvido na porta e
escutou os sussurros característicos queimando lá dentro. Não
havia mais dúvidas. A primeira coisa que fez quando desco-
briu que sua esposa o traía, foi sentar do lado de fora do quar-
to e chorar. Escutava os saltos e gritos que rasgavam seu corpo
por dentro. Enzo poderia ser um perdedor, mas amava a bela
esposa mais que qualquer coisa na vida. Subitamente, trans-
formou a tristeza em ódio. Limpou os olhos, levantou-se e vol-
tou até o canto abaixo da escada. Apanhou uma haste de ferro
usada para travar as portas e subiu mais rápido. Cada degrau
aumentava o grau de seu ódio e quando finalmente girou a
maçaneta da porta, já não existia ódio, e sim loucura. Viu o
lençol branco se mexer com as brincadeiras dos amantes lá
embaixo e correu com a haste de ferro na mão. Quando deu o
segundo passo, ele enroscou-se na camisa do homem e caiu
vergonhosamente no pé da cama, quebrando dois dentes da
frente da boca, os incisivos centrais. O susto do casal, enrolado
nos lençóis, foi grande. Sofia jogou o homem que amara agora
a pouco no chão ao lado da cama abaixo da janela do sobrado.
Enzo não conseguiu vê-lo enquanto se contorcia de dores com
o rosto no chão. Neste momento o amante pulou a janela, en-
rolado em lençóis, caindo quase em pé como um gato lá em-
baixo e fugindo em seguida sob a chuva do entardecer.
— Como pôde fazer isso comigo mulher? — Grita o
mancebo traído, agora sem os dentes da frente e gotejando
sangue. Sofia permanece parada de joelhos na cama, espanta-
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da com a insólita cena que se lhes mostrava. Enzo levanta-se
do chão e alça novamente a barra de ferro. Sofia dá-se conta
que ele está mesmo irado e disposto a feri-la. A bela mulher
esboça um semblante de lamentação enquanto a barra de ferro
acerta o seu lindo rosto suado. O ferimento é profundo e o
sangue jorra instantaneamente. Enzo leva às mãos à cabeça
enquanto a mulher se contorce de dor sobre a cama. Ele não
sabe exatamente o que fazer, pois nunca passara por nada pa-
recido. Mas o ódio de vê-la nua e saber que foi de outro ho-
mem, o consome como uma droga, e ele bate ininterruptamen-
te naquela que um dia foi tudo o que ele teve de valor. Não há
gritos.
Enzo fez um café enquanto a chuva lá fora castigava a
cidadezinha. Ele está calmo e caminha pela casa com a xícara
na mão. Está com todo o corpo respingado por sangue. Sobe
novamente até o quarto e fita a mulher alguns minutos en-
quanto sorve a bebida quente. Quando termina, joga a xícara
no chão e recolhe os lençóis sujos e enrola o corpo morto com
delicadeza. Ele leva o cadáver frio como a noite lá fora, com
dificuldade, até o carro olhando em volta de forma desconfia-
da. Vislumbra a janela do quarto acima de onde o amante pu-
lou e volta-se para o carro. Abre o porta-malas e joga o corpo
dentro. Ele volta mais uma vez até a casa e vasculha algumas
gavetas pegando roupas e uma lanterna. Sobe até o quarto e
limpa o chão. Recolhe as roupas dos amantes e as põem num
saco. Bate à porta da frente da casa e guarda a sacola na parte
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de trás do veículo. Dá mais uma olhada em volta, entra no
carro e some devagar na noite chuvosa.
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PERSEGUIÇÃO
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carro de Enzo cruzou os primeiros cinquenta qui-
lômetros em altíssima velocidade. O negrume da
noite e o peso da chuva eram como um manto para
esconder seu crime. Em sua mente, agora doentia, ele achava
que havia honrado seu nome, como se este tivesse algum va-
lor. Não tinha nenhum, como deixou claro: Vitor, Sofia e o
homem que amara sua mulher horas antes. A boca exalava o
cheiro do sangue dos seus dentes arrancados pela queda. Suas
roupas estavam manchadas de sangue como estampas de um
tecido muito brega. Pensou que pudesse esconder o corpo
numa distância segura de sua cidade. Quando alguém procu-
rasse por Sofia, ele poderia dizer que ela o havia deixado e
voltou para a capital para morar com os pais. É provável que
ninguém duvidasse. Afinal, muita gente se perguntava como
Sofia vivia com um homem como aquele. Ele sabia disso.
Havia um local de difícil acesso a menos de quarenta
quilômetros à frente e era lá que deixaria o corpo nu de sua
esposa repousar. Pigarreou algumas vezes ainda em decorrên-
cia do maldito inseto na garganta. Subitamente um brilho ain-
da delicado passou pelos seus olhos, refletido pelo retrovisor
de seu carro. Ele olhou para o espelho e gelou momentanea-
mente quando viu dois faróis de um veículo a certa distância.
Enzo nunca imaginou que dois carros rodando na mesma di-
reção, pudessem ocorrer naquele fim de mundo. Manteve a
calma e apertou o acelerador um pouco mais, tentando não
O
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chamar a atenção. Olhou novamente o retrovisor e constatou
que o brilho diminuía lentamente ficando ofuscado pela chu-
va. Até que em certo momento, ele desapareceu.
Depois de alguns minutos ele viu uma pequena placa
escrita em letras mal feitas, apontando para a esquerda, en-
trando numa estrada de terra, que dizia: “Lago Seco”.
— Háaa! Finalmente a entrada! — Ele então começa a
diminuir a velocidade e virar devagar para a esquerda. Se fos-
se direto naquela direção iria direto para a capital, apesar de
ele nunca ter ido lá, nem mesmo conhecia alguém que o tives-
se feito. Logo que entrou soltou um palavrão quando o carro
deu um solavanco enorme ao passar por uma lombada de
areia. Ele ouviu a pancada oca do corpo de Sofia, ao bater na
tampa do porta-malas. Olhou pelo espelho retrovisor como se
esperasse ver alguma coisa.
A chuva foi diminuindo e simultaneamente um vapor
branco subia do solo refletindo a luz dos faróis do carro. A
visibilidade reduziu ainda mais e o limpador de para-brisa
não era suficiente. De repente, outro solavanco, e mais outro:
— Merda! Que estrada desgraçada é essa? — O carro
começara a dançar na estrada esburacada e escura enquanto
Enzo esbravejava solitário. Acelerou o carro na esperança de
melhorar a rodagem e isso fez com que o veículo saltasse como
um touro de rodeio. Súbito, o porta-malas se abre e Enzo con-
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tinua correndo por mais alguns metros quando uma pancada
se faz ouvir, como um saco de batatas caindo ao chão.
— Que foi isso? — Ele freia bruscamente e desse do
carro mantendo os faróis acesos e olhando para trás. Lá está o
corpo enrolado nos lençóis manchados de vermelho. Caminha
com certa pressa cerca de dez metros e abaixa-se para pegar o
corpo de Sofia. Os lençóis se abrem e ele fita o rosto machuca-
do da mulher. Esboçou um lamúria, mas foi interrompido por
uma fresta de luz delicada que bombardeou o seu peito. Le-
vantou a cabeça e viu o que provavelmente seriam aqueles
faróis vistos lá atrás. Seu coração gela. Ele pega o corpo de
Sofia, põe nas costas e corre com dificuldade naquele terreno
rugoso e molhado em direção ao carro, joga a mulher no por-
ta-malas e dá mais uma olhada no carro que se aproxima ago-
ra mais rapidamente. Entra no veículo e arranca na lama que,
para seu desespero, derrapa e atola. Enzo olha no retrovisor e
empurra o pé com força no acelerador quando subitamente o
veículo rasga a lama e perde o controle virando a esquerda,
caindo para o acostamento dentro da mata. Ele aproveita esse
golpe de sorte e adentra mais um pouco na esperança de não
ser visto. O carro que se aproximava passa com velocidade
moderada jogando lama para todos os lados enquanto Enzo
observa pelas brechas da mata o seu suposto perseguidor su-
mir na escuridão da noite. Enzo achou que teve sorte de o car-
ro ter entrado na mata e que talvez ninguém o tenha visto. Ele
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aguarda um pouco e finalmente sai dali indo em direção ao
seu destino.
Agora, Enzo tem um novo problema. Será que foi vis-
to? Por que a pessoa daquele carro não parou? Não! Talvez
não tenha sido visto. Quem sabe fosse melhor procurar um
novo local para esconder Sofia. Não! Definitivamente deveria
enterrar o corpo no local escolhido.
Finalmente, depois de uma hora, a estrada melhorou
um pouco permitindo a Enzo aumentar a velocidade. Era mui-
to estreita e perigosa, poderia ter animais cruzando a pista e
não daria tempo de desviar. Mesmo assim resolveu correr bas-
tante. Depois de deslizar numa estrada de melhor qualidade
por algum tempo, Enzo começa a cochilar naquela situação em
que você dorme e desperta numa fração de segundos, mas que
finalmente cai num sono mais profundo e demorado devido
ao cansaço e estresse extremos. De repente, Enzo acorda de
supetão com as luzes fortes no retrovisor de seu carro, seguido
por uma estridente buzina. Parecia ser o veículo que passara
por ele mais atrás e que agora estava praticamente colado em
sua traseira. Enzo acelera o velho carro e quanto mais o faz, o
seu perseguidor aproxima-se. O carro, então passa para o seu
lado direito e Enzo tenta forçar a vista, mas não consegue ver
nada lá dentro daqueles vidros com película negra. O perse-
guidor joga sua máquina sobre Enzo que desce da estrada.
Para sua sorte aquele algoz vai embora enquanto Enzo perma-
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nece bufando em seu carro. E agora tinha certeza que havia
sido descoberto, só não entendia porque aquela pessoa não
chamava a polícia e acabava logo com aquilo. Subiu novamen-
te o asfalto e seguiu viagem. Aumentou muito a velocidade na
esperança de encontrar seu perseguidor, estava decidido a
eliminar logo o problema. Mas foi em vão pois não conseguia
ver nada naquela noite escura.
Depois de algum tempo sua garganta começou a coçar
novamente:
— Maldito inseto! O que fez com minha garganta? —
Começou a tossir forte até que tirou a atenção da estrada. Fi-
nalmente, quando parou de tossir, deparou-se com uma silhu-
eta a sua frente. Chocou-se contra aquilo, arrebentando o para-
brisa. Enzo foi jogado a metros de distância e apagou.
A chuva voltara a cair forte quando Enzo abriu os
olhos. Olhou em volta tentando entender a situação enquanto
clareava a mente. Procurou em volta pelo corpo do animal que
atingiu e não encontrou. Até que viu, a poucos metros, o seu
carro. Levantou-se com dificuldade e caminhou até lá. Foi di-
reto ao porta-malas e gelou quando não viu o corpo de Sofia.
Colocou a mão na cabeça e gritou, gritou e gritou. Os proble-
mas não paravam de aumentar para aquele homem. Tentou
acalmar-se e começou a procurar em volta na estrada e nos
canteiros. Encontrou partes das roupas que levara na sacola.
Estavam jogadas pelo chão e seguiam entrando na floresta. Os
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trapos estavam ensanguentados. Viu marcas de que algo fora
arrastado e não pensou muito. Pegou a lanterna no porta-
luvas do carro e entrou direto na floresta.
Muitos minutos se passaram enquanto Enzo caminha-
va ofegante pela floresta esbranquiçada pela névoa espessa.
Ruídos de animais desconhecidos sussurravam na floresta.
Sons aterradores. Ele seguiu pegadas e galhos quebrados por
muitos metros até que passou por lugares que jurava ter pas-
sado antes. Escorreu a mão no rosto e se encostou a uma gran-
de árvore. Respirava ofegante e reconheceu que estava perdi-
do. A lanterna dava sinais de cansaço assim como ele. E enfim
apagou.
— Maldita lanterna! — Jogando-a no chão. Quanto ao
próprio Enzo, caminhou se arrastando e esgueirando por entre
as árvores, imerso numa bruma alva e fria, pisando em espi-
nhos e galhos retorcidos. Os arranhões do inseto continuavam
a doer. Pigarreou sangue e sentia-se tonto. Sua visão estava
turva e tudo indicava que iria desmaiar de novo. Provavel-
mente batera a cabeça. Reclamava. Mas tudo o que passava
aqui eram consequências de suas ações desastrosas. Lembrou-
se de tudo o que o trouxe a esse lugar e teve o arrependimento
mais forte até então. Quase gritou, mas não adiantaria muito.
De repente, observou luzes adiante. Buscou forças, sabe-se lá
de onde, e caminhou meio torto naquela direção. Tomou cui-
dado, pois poderia ser seu oponente que o esperava numa
A ESTALAGEM 33
emboscada. Quando finalmente saiu da densa floresta, encon-
trou o que parecia ser uma estalagem no meio do nada, rodea-
da de névoa e árvores. Tinha um ar bucólico, mas era bem
construída e parecia haver muitos quartos pela quantidade de
janelas que se espichavam para o alto. Temia encontrar seu
algoz lá, por isso esperou um pouco antes de aparecer de fato.
Pensou em mentiras para dizer. Olhou novamente para a cons-
trução e notou que não havia nenhum carro por perto, ne-
nhuma condução de qualquer natureza. Logo, não poderia seu
opositor estar por aqui. Ganhou confiança e caminhou até o
local. Havia um tapete de boas-vindas à porta. Pensou quão
estranho era tudo aquilo. Abriu devagar e um ar quente bom-
bardeou todo o seu corpo. Pudera estar sonhando? Pensou.
Era uma estalagem com um tipo de bar no térreo. Havia dois
homens bebendo em um canto e gargalhando alto. Enzo pen-
sou que só poderiam ser da região. Aproximou-se do balcão e
ouviu o barman perguntar cordialmente:
— Gostaria de tomar uma bebida, amigo viajante?
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O BARMAN
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orango Podre, observando o homem assustado a
sua frente, resolveu repetir a pergunta:
— Gostaria de uma bebida, Senhor? — O homem
permaneceu calado e assustado olhando em volta, como quem
procura alguém. Morango Podre sentiu certa empatia por ele e
encheu o copo de uma bebida quente. O homem estava sujo e
de camisa manchada em vermelho diluído na água da chuva.
A boca estava mole, parecia estar sem dentes.
— Gostaria de tomar um banho, senhor? — Perguntou
Morango Podre.
— Onde estou? — Indagou o homem no balcão do bar
da estalagem.
— Está na minha estalagem! — Respondeu o barman.
— Como esse local pode existir aqui? Eu não sabia
que... Como as pessoas frequentam esse lugar? Não há estra-
das nem nada!
— Como você chegou aqui? — Questionou Morango
Podre.
— Bem... eu me perdi enquanto... caçava!
— Conseguiu matá-la? — Perguntou Morango Podre
enquanto limpava um copo com uma flanela vermelha.
M
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— O quê? — O homem salta do banco em frente ao
balcão, quase derramando a bebida. Ao que Morango Podre
completa:
— Perguntei se conseguiu matar o que estava caçando!
— Ahh! Não, eu realmente me feri feio ao cair numa
vala. Quebrei dois dentes e me perdi!
— Então essas manchas são do seu sangue...
— Sim! Dos meus dentes, e de todo o resto! — Respon-
deu o homem, interrompendo o barman.
— Está gostando da bebida?
— Sim, está ótima, mas não tenho como pagar!
— Não se preocupe com isso! É uma gentileza minha.
Ademais, todo mundo tem como pagar de alguma forma!
— Não, eu não tenho! Vê? Meus bolsos estão até rasga-
dos. — Mostrando o pano sujo que forra os bolsos da calça.
— Você pode entreter nossos convidados!
— Entreter? Convidados? Que convidados? Como as-
sim, entreter? — Enquanto repete perguntas sobre perguntas,
ele olha em volta.
— Bom, quando chegar a hora você pode nos brindar
contando uma história!
— Contar histórias? Eu não sei contar histórias!
— Todo mundo sabe contar histórias! — Insiste Moran-
go Podre.
A ESTALAGEM 37
— Meus pais nunca me contavam histórias quando cri-
ança. Eu nunca fui muito de leitura. Como posso contar histó-
rias? — Disse o homem divagando.
— Você pode contar sobre a matança!
— Quê? Do que está falando homem? — O homem es-
tropiado altera a voz para o barman.
— A matança de animais! Você não estava caçando?
— Já disse que não consegui matar nada, me feri e cá
estou! — Responde ele aborrecido pela insistência do barman.
— Ahh! De fato, me esqueci disso!
— Como pode ter se esquecido disso se acabei de falar?
— A chuva... a chuva limpa minha memória quase
sempre! A chuva limpa muitas coisas, quase sempre. — Expli-
ca o barman.
— De qualquer modo não posso ficar muito tempo, te-
nho que voltar para casa... — Antes de finalizar a frase um
relâmpago clareia o ambiente e o trovão vem em seguida.
— O temporal tende a piorar agora! — Afirma Morango
Podre — Temos quartos lá em cima que você pode descansar
até o dia clarear!
O convidado levanta-se do banco e caminha até a por-
ta. Observa que de fato a tormenta é muito pesada. Poderia
piorar sua situação ainda mais.
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— Está bem, vou aceitar sua hospitalidade! — Morango
Podre sorri facilmente. É um homem gentil por natureza.
— A propósito, qual o seu nome?
— É Enzo. E o seu?
— Morango Podre.
— Morango Podre não é nome de gente!
— E é nome de quê? — Desafia o barman.
— Não sei! Não é um apelido, não?
— Meu nome é esse mesmo! Foi minha mãe que me
deu!
— E a sua mãe gostava de você? — Enzo o cutuca sor-
rindo. Quando nota que agora o barman está sério, resolve se
desculpar.
— Não quis ofender! Mas diga-me, o porquê desse
nome?
— Eu nasci vermelho como morango e fedorento como
um defunto.
— Gulp! — Enzo olha por cima do copo que está na
sua boca e continua a virar até o último gole. Sentou o copo no
balcão e olhou para o lado esquerdo encontrando duas pesso-
as conversando numa mesa redonda no canto perto da janela.
— Quem são aqueles?
— Não sei! — Responde Morango Podre.
— Achei que fossem seus hóspedes!
A ESTALAGEM 39
— Eles são meus hóspedes, mas não sei quem são! As-
sim como você!
— Mas você sabe meu nome!
— Ahh! Seus nomes são Chino e Tejones e são viajantes
assim como você.
— Como eles chegaram aqui? Não vi carros ou outro
tipo de transporte lá fora.
— Eles chegaram aqui do mesmo modo que você. De-
pois de uma longa jornada, de alguma forma pararam para
descansar. Chino, por exemplo. É aquele gordo — Apontando
para o homem — Ele é teatrólogo e chegou aqui arrastado por
um burro, com o pé enroscado nos arreios.
— Tá brincando? — O barman permaneceu sério, e
continuou.
— Tejones, entrou pela lateral empurrado por uma en-
xurrada e dentro de uma caixa de madeira. Veja ali! — Apon-
tando para a lateral do bar, onde havia um grande rombo fe-
chado com tábuas de cor mais escura do que a parede, desta-
cando bem o local.
— Estranho não?
— O que é estranho, senhor Enzo?
— Toda essa história. Parece...
— Mentira? Mas não é. A vida é mesmo estranha.
ANY MORE 40
— Mas como esses homens chegaram aqui nessas situ-
ações? O que faziam?
— Depois podemos perguntar-lhes suas histórias en-
quanto passa o temporal, não?
— Hehe! — Enzo sorri com tão insólita situação.
— Ri é muito bom, senhor Enzo. Eles riram quando o
senhor entrou por aquela porta, todo estropiado, com a boca
mole e sem os dentes da frente. De camisa manchada de ver-
melho, sem sapatos e assustado. Tenha certeza que eles riram
de você e provavelmente acharam uma situação bem estranha
— Enzo passou a mão na cabeça e pensou, pensou e reconhe-
ceu curvando a cabeça que de fato estava numa situação igual
a daqueles homens.
Levantou-se do banco com o copo na mão e olhou em
volta do salão em que estava. Havia marcas nas paredes como
ranhuras e desenhos irreconhecíveis. Quadros de pessoas em
fotos de família e luminárias de madeira envelhecida. Havia
algumas manchas nos pontos mais baixos das paredes. Enzo
permaneceu algum tempo tentando identificar as manchas
como em um teste de Rorschach. Imaginou que algumas delas
formavam mãos. Entediou-se e circundou a sala enquanto o
barman limpava os copos e os outros dois homens bebiam e
conversavam quase sussurrando. Quando finalmente deu a
volta completa chegando novamente ao balcão, Morango Podre
anunciou:
A ESTALAGEM 41
— Sente-se senhor Enzo. Vou preparar um quarto para
o senhor passar a noite, ou ficar o quanto quiser. — Dizendo
isto, ele pega uma chave no chaveiro atrás de si e sai dali em
direção às escadas mais à esquerda.
Momentos depois Morango Podre chega novamente ao
bar e balança a mão chamando Enzo. Os dois sobem os de-
graus de madeira barulhenta. Eles entram em um corredor
muito comprido.
— Parece menor lá de fora — Observa Enzo.
— As aparências enganam, principalmente quando se
olha de fora. — Reforça Morango Podre.
Eles param em frente à porta de número vinte e um:
— Pronto senhor Enzo, eis aqui o seu quarto. Tome um
banho e se vista. Temos algumas roupas no armário.
— Obrigado — Dito isso, ele entra no quarto, deixando
a porta semiaberta, e Morango Podre dá meia-volta em direção
ao bar.
Enzo tira os trapos que está vestindo e caminha até o
banheiro. Lá ele encontra uma bela banheira branca e já entra
sem muita cerimônia. Enquanto liga a ducha a garganta come-
ça a coçar, e aumenta exponencialmente, esquentando e fa-
zendo com que Enzo se esforce para respirar. Ele põe o dedo
na garganta e tenta vomitar aquele maldito inseto. O fôlego
diminui e Enzo principia a ficar vermelho, passando para ro-
xo, e finalmente ele cai com o corpo para fora da banheira. O
ANY MORE 42
tempo passa lentamente enquanto Enzo se retorce no chão
frio. Quando a consciência parece ir embora, Enzo sente uma
forte pancada nas costas, e mais outra, e mais outra. Até que
uma pasta vermelha e um inseto esmagado caem de sua boca.
A respiração começa a voltar ao normal junto com sua consci-
ência. Quando tudo está às claras, Enzo levanta a cabeça e ob-
serva o rosto angelical de uma linda jovem à sua frente.
— O... obrigado!
— De nada! Você está bem?
— Sim! Eu estou!
— Eu sou Anita. E você?
— Enzo! Como conseguiu me encontrar?
— Sua porta estava semiaberta e quando eu passava
para ir ao bar, escutei você gemendo. É um inseto?
— Sim, esse desgraçado ficou preso na minha garganta
há algum tempo — Anita o ajuda a levantar e ele não deixa de
perceber seu cheiro delicioso de flores do campo.
— Enzo! Tem certeza de que está bem?
— Sim estou!
— Bom! Então te espero lá no bar. — Deixando ele sen-
tado na cama, Anita sorri e sai pela porta. Enzo levanta-se de-
vagar e observa de perto o inseto que lhe atormentou todas
aquelas horas. Pega por uma das patas e joga-o no cesto de
papel entrando em seguida no banho.
A ESTALAGEM 43
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