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Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v4 n10 março de 2020 ISSN 2526-4702
SILVA, Francisco Diassis da; COSTA, Jean Henrique; BARBOSA, Raoni Borges. A fruição do tempo livre
nos espaços e equipamentos de lazer na cidade de Mossoró-RN. Sociabilidades Urbanas – Revista de
Antropologia e Sociologia, v.4, n.10, p. 81-104, março de 2020. ISSN 2526-4702.
ARTIGO
http://www.cchla.ufpb.br/sociabilidadesurbanas/
A fruição do tempo livre nos espaços e equipamentos de lazer na cidade de
Mossoró-RN
The enjoyment of free time in leisure spaces and equipment in the city of Mossoró-RN
Francisco Diassis da Silva
Jean Henrique Costa
Raoni Borges Barbosa
Resumo: O presente artigo analisa como ocorre a fruição do tempo livre dos usuários que frequentam os espaços e equipamentos de lazer na cidade de Mossoró-RN. Para esta abordagem foi
utilizada análise bibliográfica, com ênfase em estudos pertinentes à sociologia do lazer e,
concomitantemente, métodos estatísticos (estatística descritiva), por meio da aplicação de 400
questionários aplicados (in loco). Constatou-se que a lógica econômica transforma a cidade em
mercadoria, limitando o acesso da população mais pobre. Desta forma, criam-se extratos
diferenciados do conjunto maior da população, razão pela qual o lazer acaba limitando-se à indústria
cultural (cinema, TV, internet etc.) ou a práticas esportivas. Verificou-se que a renda de 56,25% dos
entrevistados equivale a até dois salários mínimos e que 72,25% dos informantes não estão
satisfeitos com os espaços de lazer. Essa sensação de insatisfação se reflete na perda daqueles
espaços tradicionais de sociabilidade do lazer, o que demonstra a percepção do abandono. 74,75%
afirmaram não se sentirem seguros no espaço urbano, insegurança que, consequentemente, causa o esvaziamento do espaço público, assim como processos de hierarquização, de individualismo e de
segregação social, associados aos conflitos individuais que acabam por advir da violência urbana.
Palavras: Mossoró, espaço público, lazer, indústria cultural, cidade-mercadoria
Abstract: The present article analyzes how the free time enjoyment of the population that frequents
the spaces and leisure equipment in the city of Mossoró-RN occurs. For this approach we used
bibliographic analysis, with emphasis on studies relevant to the sociology of leisure and,
concomitantly, statistical methods (descriptive statistics), through the application of 400 applied
questionnaires (in loco). It was found that the economic logic turns the city into a commodity,
limiting the access of the poorer population, thus creating differentiated communities from the larger
population, which is why leisure ends up being limited to the cultural industry (cinema, TV, internet,
etc.). It was found that the income of 56.25% of respondents is equivalent to up to two minimum
wages and that 72.25% of informants are not satisfied with leisure spaces, this feeling of dissatisfaction reflects the loss of those traditional spaces of sociability of the leisure, which
demonstrates the perception of abandonment. 74.75% said they did not feel safe in the urban space,
insecurity that, consequently, causes the emptying of public space, as well of process of
hierarchization, individualism and social segregation, associated with the individual conflicts that
come from urban violence. Keywords: Mossoró, public space, leisure, cultural industry, commodity
city
O presente artigo traz a temática lazer e fruição do tempo livre no espaço urbano da
cidade de Mossoró, Estado do Rio Grande do Norte (RN). Pensar o lazer é, antes de mais nada,
pensar no espaço urbano e como este possibilita ou impede a fruição do tempo livre (ROLNIK,
2000). Assim, diante do processo de urbanização, as cidades têm acompanhado as diferentes
fases do capitalismo, de modo que essas mudanças trazem novas características para as
sociedades e para humanidade1 (MARICATO, 2015). Observa-se, nas pesquisas realizadas para
1Lefebvre (2004), em sua análise do fenômeno urbano com base no que define como método de transdução (a
reflexão científica sobre o objeto possível), discute a situação ainda virtual de total urbanização do espaço social,
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a elaboração deste artigo, que Mossoró segue a lógica das chamadas “cidades modelos”2, pois
o seu desenvolvimento ocorre sob o domínio do capital e dos seus agentes locais ou externos.
Neste sentido, as atividades de lazer nos espaços públicos ficam restritas, abrindo espaço para
o capital assumir e oferecer à população o lazer como mercadoria3.
É importante destacar, a princípio, o que vem sendo aplicado nos estudos do lazer nas
últimas décadas. Sobretudo a partir da constituição de 1988, o lazer passou a ser considerado
direito social de todos os brasileiros, sendo assegurado, nas constituições estaduais, bem como
em todas as leis orgânicas de municípios de nosso país (MARCELLINO, 2015, p. 7). Para
Marcellino (1996), o lazer, comumente, era tido como sinônimo de tempo livre; porém, com os
estudos contemporâneos, passou-se a considerá-lo como cultura vivenciada, em seu sentido
amplo, no próprio tempo livre. Neste trabalho, pretende-se investigar como acontece a fruição
do tempo livre da população que frequenta os espaços e equipamentos de lazer na cidade de
Mossoró/RN.
em cuja organização concreta experiências passadas de ruralidade, de vida comunal camponesa, de feudo, de pólis,
de cidade mercantil e de centro industrial apareceriam já historicamente acomodados e domados em uma estrutura
social e cultural de relações que extrapolaria as definições teóricas vigentes da sociedade contemporânea como
sociedade de lazer, de consumo, de informação, de conhecimento, pós-industrial, globalizada, de serviços e etc.
Lefebvre, nesse sentido, propõe uma apreensão do fenômeno urbano desde uma extrapolação dos efeitos da
revolução urbana em curso na história da humanidade. Esta revolução urbana atravessaria distintas fases de
superação da vida rural, da vida na cidade política, na cidade mercantil, na cidade industrial e atingiria, atualmente,
uma fase crítica de superação destes paradigmas binários e de oposição campo/cidade - produção rural/comércio
- produção rural/industrial - natureza/cultura. As novas características da fase urbana atual para as sociedades e para a humanidade, na perspectiva deste autor, convergiriam para a superação da heterotopia na experiência
(objetiva) e na vivência (subjetiva) do espaço, o que implicaria, para a presente sociedade burocrática de consumo
dirigido, a concentração de suas energias utópicas nos momentos de lazer, isto é, de performatização do não-
trabalho, enquanto circunstancial antecipação do reino da liberdade marxiano, e de consumo, enquanto realização
narcísica do ideal liberal de individualismo possessivo. 2A noção conceitual e o correspondente projeto político de cidade modelo remetem à experiência de urbanização
no âmbito de uma ampla ofensiva civilizatória (REGT, 2017) inscrita no processo de modernização conservadora
brasileira ao longo do século XX e intensificado durante o último regime autoritário, principalmente a partir dos
anos de 1970 (BARBOSA, 2019). A cidade modelo, assim, se apresenta discursivamente em argumentos de
empreendedores morais (BECKER, 2009) urbanos, - tais como empresários, políticos, burocratas, agentes da
mídia e outros, - que constróem e mobilizam agendas públicas de intervenção no urbano. Os movimentos
higienistas, de embelezamento urbano, de administração da pobreza e da violência, de adestramaneto da força de trabalho e de periferização da malha urbana, nesse sentido, apontam para a ação coletiva, pública e política, de
empreendedores morais urbanos em exercício de intervenção sobre o espaço, sobre a população e sobre os
costumes (BARBOSA. 2015). A experiência brasileira de cidade modelo coloca, na prática, o problema urbano,
típico do capitalismo periférico, de imensa produção de resíduo humano e social, em sentido engelsiano (ENGELS,
1973), sob o manto da cidade oficial, isto é, aquelas ilhas ou manchas urbanas legalmente reconhecidas pelo Poder
Público. 3Franco (2014), em sua discussão sobre o urbano periferizado, segregado e hierarquizado da cidade do Rio de
Janeiro, - a grande metrópole lúdica do carnaval brasileiro, - discorre sobre como a lógica de reprodução do capital
se apresenta coletivamente em representações mercadológicas de uma cidade mercadoria, cujos problemas sociais
são fetichizados em projetos de intervenções urbanas para limpeza, revitalização, urbanização e reurbanização de
áreas socialmente críticas e de risco. De acordo com Franco, a Política de Segurança Pública pautada nos projetos de implementação de UPPs (as UPPs – Unidades de Polícias Pacificadoras foram concebidas originariamente no
Rio de Janeiro e, ato contínuo, propagandeadas ideológica e institucionalmente por todo o Brasil) significou a
produção de um contexto urbano de militarização da periferia urbana e dos territórios teoricamente pacificados,
sem haver, contudo, impactado como transformações qualitativas nas relações de exclusão social dos pobres
urbanos da cidade oficial e na forma de apropriação da pobreza urbana pelo discurso, por parte da mídia e da
Administração Pública, de falência moral e civilizacional diante da violência urbana endêmica. A estratégia das
UPPs, deste modo, refletia a recomposição da Política de Segurança Pública atrelada à penalização da pobreza sob
o pretexto de “guerra às drogas” e de combate à “insegurança social”, e à pacificação de territórios para a expansão
dos ciclos de reprodução do capital imobiliário especulativo em um urbano cada vez mais saturado. Cabe ressaltar
esse cenário de violência urbana no Rio de Janeiro como possível dado comparativo à situação de violência urbana
e de correspondente reação nas práticas urbanísticas na cidade de Mossoró, tida como cidade particularmente
violenta e perigosa.
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Este artigo aborda o conceito de lazer como um prolongamento do trabalho (ADORNO,
2002), e os espaços de lazer como produtos do mundo da mercadoria no processo da
globalização capitalista. Logo, as cidades brasileiras não se preocupam com o lazer, ainda
menos com as necessidades dos seus habitantes4. É corriqueiro, no processo de urbanização,
todos falarem em tornar as cidades mais habitáveis; entretanto, nas palavras de Krippendorf
(2001, p. 38), “ainda que diretamente ligado à urbanização, o custo do lazer não é levado em
consideração pelas cidades, que não se sentem responsáveis pelo mesmo e nem o assumem”.
Metodologicamente, esta pesquisa utilizou análise bibliográfica com ênfase em estudos
relacionados à sociologia do lazer (MARCELLINO, 1996; MARCELLINO, 2015;
MARCELLINO; 1996a; ROLNIK, 2000; PADILHA, 2007; SÁNCHEZ, 2001;
KRIPPENDORF, 2001; COSTA, et al, 2014; XAVIER, et al, 2019), e concomitantemente,
métodos estatísticos por meio de questionário. A partir da análise teórica foi realizada uma
pesquisa por observação5. A partir da análise teórica, centra-se o presente trabalho nas pesquisas
voltadas para a sociologia do lazer e áreas afins. A observação engloba o conjunto das operações
através das quais o modelo de análise (constituído por hipóteses e conceitos) é submetido ao
teste dos factos e confrontado com dados observáveis (QUIVY E CAMPENHOUDT, 2005).
Foram realizadas análises empíricas no espaço geográfico que engloba a pesquisa, destacando-
se bairros, praças, shopping center e favelas.
A partir desta pesquisa, podem ser formuladas novas perspectivas teóricas, sob um novo
ponto de vista, uma nova formulação, uma nova hipótese. Ressalta-se, ainda, que este artigo
tem por finalidade corroborar com estudos futuros que possam vir a ser realizados sobre a
temática. Por conseguinte, buscou-se obter esses dados com a finalidade de identificar como
ocorre a fruição do tempo livre desses informantes nos espaços destinados ao lazer. É a partir
da tela exposta acima que este artigo se justifica e tem início.
A expansão urbana de Mossoró e o modelo da ocupação do solo nas cidades dos países
capitalistas periféricos
No contexto de cidade média, Mossoró, com sua economia baseada na industrialização
e exportação do sal, na extração petrolífera e na fruticultura tropical de exportação, está
localizada na Mesorregião Oeste do Estado do Rio Grande do Norte, e apresenta uma população
residente, segundo o censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE
(2010), de 259,815 habitantes, dos quais 237,241 residentes na área urbana do município.
Ainda, de acordo com o IBGE, a estimativa da população de Mossoró, em 1º de julho de 2018,
é de 294.076 habitantes6. Mossoró notabiliza-se por ser uma cidade polo com localização
privilegiada, pelo que se constitui o segundo centro regional do Estado. Está situada entre duas
capitais: Fortaleza/CE e Natal/RN, com acesso pelas BRs 110, 304, 405 e pelas RNs 115, 117
e 013. Graças a essas rodovias, é possível chegar a todas as regiões do estado e aos estados
vizinhos, Paraíba/PB e Ceará/CE. A capital do Estado do Rio Grande do Norte, Natal, está
localizada a 280KM de Mossoró.
Neste cenário, Mossoró foi alavancada a uma expansão urbana de desenvolvimento
econômico, com forte impacto no setor imobiliário nas últimas décadas: 1980, 1990, 2000 e
2010. As mudanças que acompanharam a expansão da cidade se referem às suas causas – uma
4O lazer enquanto fenômeno ligado à qualidade de vida nas cidades não vem sendo acompanhado pela ação do
poder público (MARCELLINO, 1996). Ver também: (MARICATO, 2011 e MARICATO, 2015). 5Neste caso, o investigador dirigiu-se ao sujeito para obter a informação procurada. Para Quivy e Campenhoudt
(2005, p. 82), “o inquérito por questionário de perspectiva sociológica distingue-se de hipóteses teóricas e a análise
das correlações que essas hipóteses sugerem”. O processo de captação dos informantes aconteceu in loco e foi
realizado nos meses de julho e agosto de 2019, conforme disponibilidade do pesquisador e foram aplicados 400
questionários. 6Estimativa da população residente do Brasil e unidades da federação com data de referência em 1º de julho de
2018. Ver em: <https://www.ibge.gov.br > população > 9103-estimativas-de-população> Acesso em: 06/08/2019.
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nova relação de dominação e exploração. De acordo com Rocha (2005), a cidade nada mais era
do que centro repassador de produtos agrícolas para o comércio internacional, o comércio
agroexportador destinado ao abastecimento das indústrias europeias, especialmente a do
algodão, que levou o estado do Rio Grande do Norte à industrialização. Mossoró incorpora os
padrões globais de modernidade dos países capitalistas periféricos, o que Maricato (2015)
caracterizou como desigualdade, combinando com ruptura e continuidade, modernização e
atraso, modernização conservadora e capitalismo travado. São definições que explicam o
paradoxo evidenciado por um processo que se moderniza alimentando-se de formas atrasadas
e, frequentemente, não capitalistas.
Este processo de modernização conservadora (IANNI, 1992), de modernização sem
modernidade, imprimiu, nas décadas finais do século XIX e ao longo do século XX, o habitus
(ELIAS, 2009) moralmente hierarquizante e excludente e emocionalmente envergonhado e
amedrontado dos moradores das cidades brasileiras. Habitus este que mescla atitudes de amor
e ódio em relação a si, ao outro próximo, ao passado autoritário que conformou lugares e
projetos elitizados e ufanistas e de controle social da pobreza urbana; ao presente de medos
corriqueiros e de violência banal e cruel cotidiana; e, por fim, às projeções futuras individuais
e coletivas frágeis e incertas engendradas em contextos de intensas vulnerabilidades sociais.
Esta modernidade, prenhe de tensões, é sentida ambiguamente pelo urbanita como desejo de
individualidade e como ameaça às tradições e conformações autoritárias e excludentes do
espaço urbano, gerando, assim, sentimentos de amor e ódio à cidade e exigindo do seu morador
comum um exercício diário de uma nova sensibilidade, pautada na privatização das emoções,
no individualismo, na melancolia e no medo do outro relacional e das incertezas do futuro.
A modernização conservadora (DOMINGUES, 2002; MOORE, 1966) significa, em
linhas gerais, a imposição, - por parte da burguesia urbana emergente e da velha oligarquia rural
politicamente aliançados, - de uma dinâmica de transformações profundas no âmbito das
relações entre sociedade, cultura e indivíduo, de modo a modernizar economicamente as
potencialidades de uma economia nacional, sem, contudo, permitir uma contrapartida política
e social de modernização. A sociedade passa, nesse sentido, enquanto sociabilidades ou
figurações, a ser gradativamente configurada de forma impessoal, racional, burocrático-legal,
funcionalmente diferenciada e em cadeias cada vez mais longas e intransparentes de
interdependência entre os indivíduos que movimentam os espaços interacionais e societais.
Deste modo, os espaços, público e privado, de convivência coletiva se dissociam radicalmente,
assim como os modelos de ação e de realidade nas mais variadas esferas de atividades de uma
sociedade complexa, consolidando a experiência individual cotidiana de desorganização
normativa e de multiplicidade de papéis e status sociais como elementos do urbanismo
(WIRTH, 1967; SIMMEL, 1998, 1998a, 2005).
As exigências emocionais, cognitivas e comportamentais sobre os indivíduos em
socialização passam a implicar processos mais demorados e mais arriscados de formação
psicogenética para a convivência no urbano industrializado, destradicionalizado, individualista
e de intensa concorrência mercadológica por bens e serviços. Estas transformações, contudo,
ocorrem em paralelo com a preservação de hábitos, posturas, privilégios, hierarquias e formas
oligopolizadas de produção e imposição da ordem social de cima para baixo.
A modernização conservadora da cidade7, nesse sentido, normaliza e naturaliza a
violência simbólica e material no âmbito das relações cotidianas entre indivíduos que se
orientam a um só tempo em realidades sociais marcadas pelos elementos do moralismo
tradicional e religioso, da desigualdade econômica em formas pré-modernas e da subordinação
política autoritária, mas, também, por projetos, utopias e fantasias da modernidade, tais como
7Ver, nesse sentido, o estudo de Scott (2005) sobre os processos de modernização conservadora a partir da família
brasileira tomada como objeto de pesquisa.
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a confiança nos processos técnico-científicos e o engajamento público nos ideais de democracia
formal e de liberdade da pessoa humana. No entender de Geertz (2012, p. 115):
“Tornar-se moderno” não significava apenas diminuir as diferenças ou negociar
estágios, imitando o Ocidente ou adotando uma postura racional. Era se abrir às
fantasias da época e, então, lutar para realizá-las. Encontrar uma direção, e não
simplesmente seguir uma.
O ímpeto modernizante que marcou o século XX, desde seus primórdios, portanto,
tratava-se de ofensivas civilizadoras e de empreendimentos morais de longo prazo, mas a ser
iniciado de imediato, a cada nova investida, sob pena de se desperdiçar tempo e recurso e
subtrair-se da marcha dos povos e nações desenvolvidos, permanecendo, - enquanto Estado,
Nação, Povo, Sociedade, Cultura e qual mais abstração coletivizante possa ser aludida, - no
atraso da tradição. Geertz, mais uma vez, resume bem o quadro ideológico hegemônico nos
chamados países novos, atrasados, menos desenvolvidos e emergentes, recém-libertos da sua
condição de colônia política ou econômica, e ansiosos por participar das promessas de
progresso da modernidade:
A infraestrutra tinha que ser definida, a agricultura, reformada, o industrialismo,
iniciado, o comércio, incentivado. Mas logo ficou evidente até para o mais
economicista, o mais plenamente convencido de que o progresso material era apenas
uma questão de determinação resoluta, de números confiáveis e teoria adequada, que
as formas políticas, instituições sociais, crenças religiosas, práticas morais e mesmo a
mentalidade psicológica também teriam que sofrer uma reviravolta. Uma tarefa e
tanto – obscura, duvidosa, gigantesca e inquietante. (GEERTZ, 2012, p, 115).
Nesse sentido, a cidade de Mossoró praticamente reproduziu, ainda que com base em
uma lógica particular de distribuição de poder (MOORE, 1987)8, - expresso no modelo de
urbanização periferizada9 que caracteriza sua malha urbana, sua cultura emotiva e seus códigos
de moralidade, - as propostas de modernização conservadora em voga no Brasil ao longo de
suas movimentações político-sociais vivenciadas no século XX10: o surto modernizante
representado pela Revolução de 1930 (VAMPRÉ, 1932) e pela Era Vargas (VARGAS, 1939;
8Para Moore (1987), o contexto societal e interacional urbano se organiza como um intenso conflito derivado da
necessidade de contínua negociação, por parte dos citadinos, em torno do que o autor compreende como princípio da desigualdade. A ordem social urbana implica, nesse sentido, um contrato social, ainda que implícito e deficiente
por natureza, que administra as soluções para os problemas cotidianos de autoridade, de divisão do trabalho e de
distribuição dos bens materiais e simbólicos. Desafios estes deveras problemáticos de administração das tensões e
clivagens sociais cotidianas, de uma perspectiva moral e emocional, em um regime urbano de convivência, haja
vista a tendência à fragmentação, à impessoalidade, à destradicionalização, à privatização das emoções e ao
anonimato que permeiam as relações sociais marcantemente desiguais na cidade. 9Por modelo de urbanização periferizada se entende uma disposição de cidade em que o distanciamento entre a
elite política e econômica local e o homem comum pobre se expressa geograficamente de forma bastante evidente.
Esta segregação de espaços para os ricos e bem sucedidos moradores urbanos e para o restante da população se
desdobra cultural e simbolicamente na hierarquização moral dos lugares urbanos: lugares nobres e valorizados e
lugares periféricos, de pobreza, violência e sujeira (BARBOSA, 2015 e 2019a). 10O discurso da modernidade no Brasil, - em paralelo aos vários projetos autoritários de modernização
conservadora, esboçados ao longo de todo o século XX, pelas elites políticas e econômicas à frente do Estado e
dos demais meios de produção, administração, comunicação e coação para o ordenamento do social, - foi
notadamente pronunciado na passagem do século XIX para o século XX, atingindo o seu auge nos anos de 1930.
Este momento da história nacional, - marcado pelas movimentações políticas em torno da Abolição da
Escravatura, em 1888, da Proclamação da República, em 1889, e dos ajustes e negociações entre as oligarquias
agrárias, que se revezavam nos cargos políticos nacionais e locais, durante as denominadas República da Espada
e República Café com Leite, - configura, ainda, uma fase predominantemente rural e economicamente incipiente
do Brasil, mas já sob a promessa do ideal de progresso conduzido pelo saber técnico-científico e pelo poder
burocrático-estatal na consecução de um amplo projeto de modernização do continente brasileiro (CARDOSO,
1993; COSTA, 2014; BUARQUE DE HOLANDA, 1978; OLIVEIRA VIANNA, 1923; FREYRE, 1936; PRADO
JÚNIOR, 1957).
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1943; HENRIQUES, 1964; SILVA, 1970; GARCIA, 1982; DALMÁZ, 2002); o interlúdio
democrático, denominado de República Liberal, de 1945 a 1964, com seus grandes projetos de
integração nacional (IANNI, 1991; WEFFORT, 1978); o regime autoritário de 1964 a 1988,
que desencadeou um processo violento de expulsão de populações do campo, consolidando a
favelização e o inchaço das grandes cidades brasileiras (KOURY, 2007); e a restauração
democrática, a partir de 1988, sob a ótica neoliberal de privatização dos riscos sociais
(ALMEIDA, 2009; ALMEIDA, 2010). Com efeito, os projetos de grande envergadura de
modernização conservadora, no Brasil, iniciados logo após a instauração da República, em
1889, somaram-se às pressões internacionais em torno da necessidade de higienização e
embelezamento das cidades, assim como de disciplinamento das populações pobres e
marginalizadas desenraizadas de uma vida do campo.
Ianni (1992, p. 37), nesse sentido, apresenta em um esquema sinótico a discussão
política em torno de um projeto modernizador e modernizante para o Brasil ao longo do século
XX:
Todos, a despeito das diversidades de perspectivas e propostas, pensam o Brasil
Moderno, o capitalismo nacional, o capitalismo associado, a industrialização, o
planejamento governamental, a reforma do sistema de ensino, a reforma agrária, a
institucionalização de garantias democráticas, a superação da preguiça pelo trabalho
e da luxúria pelo ascetismo, a mudança das instituições e atitudes, a reversão das
expectativas, a revolução política, a revolução social. Em distintas gradações, as
perspectivas de uns e outros abrem-se em um leque bastante amplo, compreendendo
propostas de cunho liberal, liberal-democrático, corporativo, fascista, socialista e
outras.
...vale a pena observar ... esse vasto movimento intelectual – polarizado pela ideia de
modernização conservadora, autoritária, democrática ou socialista... (IANNI, 1992, p.
37).
Este cenário político instaurado desde a transição do século XIX para o século XX,
pautado na ideologia do progresso (BARRETO, 1996) desencadeou uma fase de intensas
reformas para a adequação das cidades à nova lógica do capital monopolista, da grande indústria
e da burocracia estatal, moldados em linguagem técnico-científica. Estes projetos de
modernização conservadora, com efeito, foram desenvolvidos para e na cidade do Rio de
Janeiro, então capital federal, e logo copiados e seguidos por cidades como São Paulo11,
Salvador, Recife e outras cidades de grande e médio porte, a exemplo de Mossoró.
Maricato (2000, p. 24), - na esteira de Ianni e de outros intérpretes da sociedade e da
cultura brasileiras, - sintetiza, a partir dos efeitos do caminho político-econômico-social que
engendrou o urbano brasileiro, na noção de tragédia urbana brasileira, a atual figuração das
redes de cidades que acomodam mais de 80% da população nacional em um quadro de
pouquíssimas megalópoles, poucas cidades de médio porte e muitas pequenas cidades, com
destaque para o fenômeno da violência urbana endêmica que supera situações de guerra
tradicional entre Estados beligerantes e para o fenômeno da cidade invisível, favelizada,
precarizada e perpassada por riscos ambientais:
11Sevcenko (1992, p. 32), nesse sentido, fala dessa “...cidade (São Paulo) que brotou súbita e inexplicavelmente,
como um colossal cogumelo depois da chuva, era um enigma para seus próprios habitantes, perplexos, tentando
entendê-lo como podiam, enquanto lutavam para não serem devorados”; e, desta forma, chama a atenção para as
transformações psicogenéticas impostas pelos contextos interacionais cada vez mais complexos e intransparentes,
em que o esteio da tradição já não mais comportava o cotidiano impessoalizado que se construía como metrópole,
burocracia racional, indústria, máquina e eletricidade isto é, em síntese, os signos e projetos de modernidade da
civilização burguesa que urgia realizar no século XX. Süssekind (1987), no mesmo diapasão, discorre sobre a
sensibilidade moderna emergente, nas artes e nas letras, na metrópole paulistana que se expandia como modelo de
progresso brasileiro.
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A tragédia urbana brasileira... Tem suas raízes muito firmes em cinco séculos de
formação da sociedade brasileira, em especial a partir da privatização da terra (1850)
e de emergência do trabalho livre (1888). [...]
O inchamento das cidades – que não desenvolveram suficientemente sua capacidade
produtiva para atender com emprego à população imigrante, que acaba relegada ao
terciário formal –, a “desarticulação da rede urbana” com a formação de megapólos
desproporcionais, o “tecido urbano truncado”, entre outros tópicos, são teses e
conceitos que não disfarçam a matriz em relação à qual o desvio é apontado (Castells,
1973). Imperialismo, dependência, fordismo periférico, de alguma forma a
“macrocefalia” deve ser explicada”.
Maricato, nesse mesmo diapasão, discorre sobre o fenômeno social global da
brasialianização do espaço urbano como forma de entender o modelo de modernização
conservadora em sua mais recente fachada neoliberal, que combina, nos países da América
Latina e já também nos países europeus, produtividade econômica concentradora de renda com
subdesenvolvimento social e práticas políticas tradicionalistas. Este complexo fenômeno de
brasilianização das relações sociais e das cidades se caracteriza, assim, pela combinação de:
mercado de trabalho informal, flexibilizado; Estado patrimonialista, privatizado pelas
oligarquias; Economia desregulada ou hiper-regulada para preservar privilégios; proliferação
de personagens urbanos e de condutas liminares entre o legal e o ilegal, tais como o
despachante, o laranja, o especulador, o atravessador, o coyote; a enorme distância cotidiana
entre Lei e Realidade; a correlação acentuada entre violência urbana e desigualdade social e a
segregação étnico-racial de amplas parcelas da população; e a constatação do Direito, na
prática, à invasão de espaços públicos (realizada por condomínios para as classes abastadas, por
um lado, e pelas favelas, por outro lado) em detrimento do Direito à cidade enquanto espaço
público de qualidade de vida.
Nas palavras da autora (MARICATO 2002, p. 31) fica claro como o espaço urbano
brasileiro evoluiu segundo um modelo de urbanização periferizada, de modo que o direito à
cidade foi substituído pela propriedade da mesma:
[...] o proprietário privado se tornou poder político, econômico e social. [...] A
industrialização baseada em baixos salários determinou muito do ambiente a ser
construído. ao lado do grande contingente de trabalhadores que permaneceu na
informalidade, os operários empregados do setor industrial não tiveram seus salários
regulados pela necessidade de sua reprodução, com a inclusão dos gastos com moradia
[...].
Ainda nas palavras de Maricato (2015, p. 80):
Uma proporção maior ou menor da população urbana, dependendo de cada país, é
excluída do direito à cidade e do mercado formal (capitalista), e busca acesso à
moradia por meio de seus próprios e precários recursos. Mesmo sem contar com
levantamentos rigorosos (desconhecemos um país do mundo periférico que tenha
contabilidade rigorosa sobre moradia dos excluídos), podemos dizer que a maior parte
da população urbana constrói suas casas sem concurso de conhecimento técnico (de
engenharia e arquitetura), sem financiamento formal e sem respeito à legislação
fundiária, urbanística e edilícia.
Nessas cidades, como é o caso de Mossoró, formou-se um segmento de classe média,
que fez opção pelos bairros mais abastados, economicamente, como pontuam Lima e Pereira
(2017, p. 19):
Os investimentos na cidade se deram, sobretudo, no seu bairro mais nobre, que é a
Nova Betânia, onde foi construído o primeiro shopping center do município, o
Mossoró West Shopping. No mesmo bairro, próximo ao shopping, foi instalada a
Universidade Potiguar e inúmeros condomínios de luxo, como Alphaville e o Sunville.
Outros empreendimentos na área, de grandes redes varejistas como Atacadão-
Carrefour e o Hiper Bompreço (Wal-Mart), também foram construídos.
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Contudo, foi nesse cenário de expansão e crescimento econômico que alguns problemas
típicos das grandes cidades começaram a surgir. “O crescimento das favelas compromete a vida
nas cidades, fazendo com que essas deixem de ser localidades tranquilas para se viver,
tornando-se muitas vezes espaços onde crescem os desajustes espaciais e as tensões sociais”
(ROCHA, 2005, p. 247). Santana (2006, p. 102) pontua que “o planejamento estratégico tem se
destacado como uma das alternativas de planejamento urbano sucedendo os projetos urbanos
concebidos e conduzidos pelo setor privado da década de 1980”. Esse modelo reforça a ideia
de cidade autônoma, a qual necessita instrumentar-se para competir com as demais, na disputa
por investimentos, tornando-se, assim, uma máquina urbana de produzir renda (ARANTES,
2000). Sobre o planejamento estratégico da cidade de Mossoró, Lima e Pereira esclarecem que:
A cultura traduz as produções simbólicas e materiais de uma dada sociedade, nela
também se formam os elementos de dominação e de poder. Em Mossoró, as
construções arquitetônicas, os monumentos, os nomes de ruas, de bairros, as
celebrações e as festas cívicas demostram estratégias simbólicas usadas pelos grupos
dominantes para a sua permanência no poder local (LIMA e PEREIRA, 2017, p. 22).
No entanto, isso não é suficiente para explicar por que a política urbana está tão distante
das periferias das cidades de médio e grande porte, no Brasil, como mostram diversas pesquisas
(JESSÉ SOUZA, 2017; JESSÉ SOUZA, 2018; JESSÉ SOUZA, 2018a; MARICATO, 2015;
MARCELLINO, 1996; MARCELLINO, 2015; MARCELLINO, 2008; ROCHA, 2005; LIMA
e PEREIRA, 2017; BRANDÃO e COSTA, 2015; ARANTES, 2000; SANCHEZ, 2001;
PADILHA, 2007; ROLNIK, 2000; SOUZA, 2008; XAVIER, et al, 2019; MARICATO, 2011;
DENALDI, 2019; DIAS, 2013). De acordo com Maricato (2015, p. 20), “nos países capitalistas
periféricos essa invisibilidade é histórica”. Conforme a autora, a habitação dos trabalhadores
não é problema para o capital. Por isso, os bairros de moradia dos trabalhadores são construídos
por eles mesmos, aproveitados os horários de descanso. E também por isso as favelas fazem
parte da reprodução da força de trabalho informal. Foi assim durante o processo de
industrialização por substituição de importações, e é assim atualmente. As favelas integram as
cidades de países como o Brasil (MARICATO, 2015). “O planejamento urbano comprometido
com a inclusão social exige abordagem integrada” (MARICATO, 2015, p. 95). Entretanto,
diante das diversas pesquisas acima citadas, o que se verifica no desenvolvimento do espaço
urbano e dos equipamentos de lazer na cidade de Mossoró é o aprofundamento da exclusão
social e da crise urbana. “No contexto brasileiro, planejar as cidades para torna-las menos
predatórias ambientalmente e socialmente mais justas tornou-se uma quase utopia diante da
força e influência que determinados setores e segmentos sociais exercem sobre o Estado”
(DENALDI, 2019, p. 1).
Mossoró tem representatividade econômica nos níveis estadual, regional e nacional,
uma vez que, nessa região, encontram-se a produção de sal, a extração de petróleo e a
fruticultura irrigada de exportação, como citado acima. Outro fato que contribuiu para o
desenvolvimento do espaço urbano da cidade Mossoró foi o fluxo migratório, devido à posição
geográfica – localizada equidistante de Natal e Fortaleza, e possuir três instituições públicas de
grande porte, duas de Ensino Superior (UERN e UFERSA), e uma técnico-profissionalizante
(IFRN), o que movimenta a economia do município por meio da atração da comunidade
acadêmica do Estado e de outros estados brasileiros, visto que existe ingresso nessas instituições
pelo Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e concurso público para técnicos
administrativos e docentes. Ainda, podem-se destacar algumas faculdades privadas –
Universidade Potiguar (UnP), Faculdade Diocesana, Mater Christi, entre outras. Vale ressaltar
que todas essas instituições estão localizadas nas regiões privilegiadas do município. Como
pontuam Brandão e Costa (2015, p. 25):
Note-se, por outro lado, que todos os espaços de atração e de destinação
pretensamente turísticos estão localizados em duas áreas consideradas nobres da
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cidade: Zona Central e a Zona Oeste. Ao mesmo tempo, essas regiões possuem as
melhores infraestruturas de serviços em geral como saúde, educação, saneamento
básico, comercio e segurança pública.
Nesse cenário, houve também, na cidade de Mossoró, investimentos no mercado
imobiliário e na construção de condomínios fechados. Como destaca Sousa (2016, p. 43):
Na cidade de Mossoró, a produção desigual do espaço se revela em novos espaços de
moradia, em novos espaços de consumo e em novos espaços de lazer, que são
concebidos com base em empreendimentos que podem engendrar processos de
segregação ou fragmentação em função da segmentação socioespacial. Tais processos
distinguem locais diferentes para habitar, com menos ou mais infraestrutura, ou ainda,
locais diferentes para se consumir produtos, serviços e entretenimento, dependendo
do poder aquisitivo do morador. Essa perspectiva vem sendo promovida por agentes
públicos e privados e se revelam nas práticas espaciais dos citadinos.
É nesse contexto que se busca implementar em Mossoró o planejamento estratégico
urbano, no caso, a busca do desenvolvimento econômico, por meio de uma nova estratégia de
gestão – o city marketing –, com fim de atrair investimentos e turistas.
Espaços e equipamentos de lazer nas áreas centrais e periféricas da cidade de Mossoró
A acessibilidade aos espaços de lazer “centrais e nobres”12 e as condições restritas a
uma grande parte da população são tendências que surgem e que enxergam o lazer como
mercadoria, oferecendo a uma parcela da população o direito a esse consumo e a esse lazer, ao
passo que exclui dessa possibilidade a maioria da população. “Os diversos equipamentos de
lazer disponíveis – como mais um produto à venda – levam seus frequentadores a encontrar
diversão em torno da celebração de mercadorias, de modo que, mesmo no lazer, o ‘ser’
permanece subjugado ao ‘ter’” (PADILHA, 2007, p. 34).
Para Marcellino (1996), é preciso considerar as barreiras socioculturais verificadas.
Como sabemos, tendo como pano de fundo a questão econômica, existe uma série de barreiras
de sexo, faixa etária, espacial, estereótipos, o que restringe o lazer, qualitativa e
quantitativamente. Isso requer, no âmbito municipal, que se enfatize a atuação, objetivando a
minimizar seus efeitos, e priorize ações que facilitem o acesso às camadas da população que,
normalmente, não são atendidas. O lazer não é visto como essencial e, portanto, os espaços e
equipamentos de lazer não costumam receber a atenção necessária por parte do poder público.
Para Rolnik (2000, p. 4):
Até o momento, viemos caminhando de acordo com um modelo de cidade que nega a
possibilidade de uso do espaço público e intensifica a privatização da vida, o
fechamento da homogeneização dos espaços e que está nos levando à desorganização
social e ao caos urbano. É preciso implementar uma política de investimento muito clara na retomada da qualidade do espaço da cidade, na retomada da sua
multifuncionalidade e beleza, na retomada da idéia de uma cidade que conecta usos,
funções e pessoas diferentes, em segurança. Esse modelo não só é urgente para quem
defende uma posição mais democrática de utilização do espaço público, da vida
pública, mas também porque é mais sustentável.
A transformação dos espaços públicos de lazer em espaços privados consiste no
aumento da desigualdade social – “quanto mais diferença e privilégio existem, mais exacerba
a exclusão, e quanto mais exacerba a exclusão, mais violenta vai ser a cidade” (ROLNIK, 2000,
p. 4). Diante das necessidades de políticas públicas, Marcellino (2015, p. 29) aponta para a
“necessidade de o poder público municipal estabelecer – em conjunto com os executivos
estaduais e federais – políticas setoriais de lazer”.
12Ver em: Nelson Carvalho Marcellino. Lazer e Sociedade: Múltiplas Relações. Organizador, Nelson Carvalho
Marcellino. Campinas, SP: Editora Alinea, 2008, p. 15.
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Assim, a aceleração do modelo privatista trouxe, como resultados concretos e nocivos,
a distinção social, econômica e política, exacerbada nesse momento pela globalização, tornando
espaços públicos e equipamentos de lazer menos atrativos para a maioria da população
mossoroense. A cidade diante de um ambiente globalizado promove sua estratégia de
desenvolvimento econômico e se projeta transformando-se em produto acessível às classes
sociais mais altas e, assim, restam poucos espaços gratuitos e de qualidade destinados ao lazer.
O que se percebe é o lazer como atividade lucrativa, em prol do desenvolvimento econômico
da cidade e a reprodução de suas elites. Assim, o estímulo ao consumo, presente na publicidade,
originou-se no desenvolvimento do capitalismo, em que se combinaram produção industrial em
massa e crescimento do mercado urbano (PADILHA, 2007). Desejamos aproveitar o tempo
livre, as férias, para satisfazer nossos desejos, as necessidades que não foram realizadas no dia
a dia, no cotidiano do trabalho, o que reprimimos, mas que falam ao coração e que têm uma
importância vital para nós (KRIPPENDORF, 2001).
Para Marcellino (1996), o lazer não pode constituir apenas a oportunidade de
recuperação da força de trabalho, ou seja, na esfera da administração pública, é preciso que seja
levado em conta um sentido amplo de lazer, pois é fundamental que se diferencie sua atuação
das demais iniciativas, desde as oportunidades culturais até as da chamada “indústria cultural”.
“Nota-se, ainda, uma vinculação restritiva a um único conteúdo (esporte)...” (MARCELLINO,
1996, p. 25). Tudo isso, segundo o autor, contribui para dificultar o entendimento do lazer como
objeto de estudo, campo de atuação profissional e como esfera de atuação do poder público.
A esse respeito, essas práticas limitadas têm se configurado nesses espaços e
equipamentos de lazer. Para Rocha (2005), a defesa da qualidade de vida, na prática, se traduz
na delimitação de espaços segregados, do ponto de vista das políticas urbanas do mercado,
posição essa dominante, e que, consequentemente, orienta a produção das cidades. Neste
sentido, Rocha (2005, p. 181) destaca que: “A integração exclusivamente comercial ou
financeira não contribui para o bem-estar dos cidadãos. Pode até melhorar as estatísticas e os
índices macroeconômicos, ou oferecer uma imagem que dá impressão que o lugar está se
desenvolvendo”. De acordo com Krippendorf (2001, p. 110-111):
A estrutura das cidades adaptou-se às necessidades da economia e o desenvolvimento
passou a obedecer apenas às coerções econômicas. Esse esquema é muito conhecido:
concentram-se os empregos no coração da cidade. É onde se encontram os melhores
pontos comerciais. [...] A cidade torna-se um imenso centro comercial onde correm
pessoas apressadas que não reconheceriam a si mesmas. [...] Assim, o
desenvolvimento urbano acompanhou esse esquema durante os últimos cinquenta
anos. Um modelo que pensou em tudo, menos no ser humano.
Para Sanchez (2001), nesta virada de século, o que parece explicar a aproximação de
certas políticas urbanas é a orientação dos respectivos governos para a transformação das
cidades em mercadorias. A dominação da comunicação como instrumento político desses
governos é peça-chave para passar a imagem de que a cidade está se desenvolvendo. Diante da
lógica do consumo, as atividades de lazer, nos ambientes públicos, restam restritas, abrindo
espaço para atividade de lazer em ambientes privados. Rolnik (2000, p. 3) reforça que o espaço
público vai diminuindo à medida que é capturado e privatizado. Assim, funções que eram de
responsabilidade do poder público migraram para áreas privadas:
A dimensão pública vai perdendo cada vez mais sua dimensão política de contrato social e acaba reduzindo-se à administração do trânsito, da rede de água e de esgoto,
etc. Na verdade, o espaço público vai diminuindo ao ser capturado e privatizado,
restando apenas e tão somente aquele necessário para a circulação de mercadorias,
inclusive de mercadorias humanas; esvazia-se a dimensão coletiva e o uso
multifuncional do espaço público, da rua, do lugar de ficar, de encontro, de prazer, de
lazer, de festa, de circo, de espetáculo, de venda. Assim, funções que recheavam o
espaço público e lhe davam vida migraram para dentro de áreas privadas, tornando-
se, em grande parte, um espaço de circulação (ROLNIK, 2000, p. 3).
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Via de regra, Mossoró concentra investimentos em áreas específicas e, portanto, se
configura nas políticas das chamadas “cidades modelos” que assolam o país, como aponta
Sanchez (2001). Como exemplo, Xavier et al (2019, p. 120) ressaltam a mobilidade urbana na
cidade de Mossoró:
Na cidade praticamente não há transporte público coletivo, ficando a população refém
de alternativas pouco usuais para mobilidade (carona, moto-taxi, taxi, etc.).
Recentemente, aplicativos como Uber, Xofer e 99Taxi chegaram na cidade. Mesmo
assim, muitos espaços de lazer terminam ficando distantes de bairros periféricos, não
abastecidos por linhas de ônibus. É o caso do único shopping da cidade, que se localiza
no extremo oeste da cidade.
Xavier et al (2019, p. 120) destacam que: “isso acaba por dividir e fragmentar os
perímetros urbanos, fazendo com que surjam ilhas isoladas onde a prática do consumo
subordine e delimite onde se é propícia a pratica do lazer”. Conforme Raquel Rolnik (2000, p.
1):
Quando a cidade se transforma em um lugar absolutamente inóspito, sem qualquer
possibilidade de prazer, ao invés de um lugar onde as pessoas se sintam inseridas na
harmonia de uma comunidade urbana, o lazer estará restrito a espaços e tempo
determinados. Essa situação agrava-se ainda mais porque o cotidiano, inclusive o
tempo de trabalho e o dedicado às atividades necessárias para a sobrevivência.
Neste sentido, percebe-se que Mossoró elaborou uma infraestrutura específica para a
prática do lazer13. A esse respeito, Sanchez (2001, p. 33) pontua que: “A transformação das
cidades em mercadorias vem indicar que o processo de mercantilização do espaço atinge outro
patamar, produto do desenvolvimento do mundo da mercadoria, da realização do capitalismo”.
Para Souza (2008, p. 126), “nessa perspectiva, a pobreza é redimensionada a partir das
necessidades básicas humanas, constituindo um divisor de águas para os que têm acesso aos
bens produzidos pela própria humanidade, e aos que esse direito é roubado”. As mudanças na
infraestrutura urbana da cidade de Mossoró foram se dando pelas modificações ocorridas na
própria estrutura da sociedade.
Nessa perspectiva, pensar os processos de exclusão social é, em grande parte, pensar a
pobreza, pois não se pode entender, neste caso, a pobreza exclusivamente pela escassez de
recursos materiais. “Assim, a pobreza deve ser entendida também pela não distribuição dos
benefícios sociais, culturais e políticos que a sociedade contemporânea tem sido capaz de
produzir, mas não tem sido capaz de repassar” (SOUZA, 2008, p. 125-126). Para completar
esse quadro esquemático, resta lembrar que é papel do Estado a organização do espaço urbano;
no entanto, as cidades são evidências notáveis dessa formulação retórica. Nelas, o melhor
exemplo talvez seja a construção da moradia pelos próprios moradores (trabalhadores de baixa
renda) (MARICATO, 2015).
Apesar de ser uma cidade média e privilegiada pela sua posição geográfica, Mossoró
mantém a cultura de cidade interiorana, ou seja, sua expansão urbana e seu desenvolvimento
econômico continuam se opondo ao desenvolvimento socioespacial. Tendo como suporte tais
considerações, pode-se dizer que, mesmo com sua importante economia regional e o
crescimento populacional urbano, Mossoró ainda se encontra numa condição deprimida em
termos socioespaciais, no que diz respeito à sua infraestrutura, arquitetura e urbanismo.
A cidade cresce desordenadamente para todos os lados, notadamente sem planejamento;
assim, as construções (casas e barracos) redimensionam o espaço, comprometendo a vida na
cidade, principalmente em relação às pessoas que vivem na periferia. O que se verifica é um
13O Corredor Cultural”, onde funciona a Estação das Artes, o Teatro Municipal Dix-Huit Rosado, o Memorial da
Resistência e a Praça da Convivência – esta recebeu o nome de Largo Manuel Duarte. O Corredor Cultural
apresenta-se como espaço de lazer e entretenimento para as classes médias locais.
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conglomerado de bairros que se formam por becos e ruas sem saída, esquecidos, nesse processo
de construção, espaços e equipamentos de lazer.
Os investimentos na cidade se dão, sobretudo, nos bairros mais abastados, geralmente
planejados e ambientalmente mais saudáveis. É daí que surge um processo de individualismo
impulsionando a segregação social, fortemente vinculado ao discurso da violência urbana.
Nesse cenário, o deslocamento da classe média para condomínios fechados ocasiona um
esvaziamento dos espaços públicos, na busca incessante por lugares seguros e exclusivos, como
espaços de lazer nos condomínios fechados, shopping centers, etc.
A desigualdade social, por sua vez, gera uma sociedade dupla – o mundo dos pobres e
o mundo dos ricos. É sabido por todos que o rico nunca quer ser pobre. Por outro lado, o pobre
está sempre querendo ser rico. Daí, cria-se uma ideia falsificada e procura-se justificá-la a partir
do consumo, de querer ser o que não se é por meio do Ter. Isso foi percebido nos dados aqui
obtidos, quando 58,25% dos entrevistados afirmaram que sua renda média familiar é de dois
salários mínimos, e 43,75% dos informantes do mesmo grupo da pesquisa asseguraram que o
espaço de lazer que mais frequenta é o shopping center.
A dimensão urbana, os espaços e equipamentos destinados ao lazer em Mossoró
É relativamente recente (1980 a 2010) a preocupação com os efeitos nocivos causados
pelo processo de urbanização crescente na estrutura das cidades brasileiras. A ação predatória,
derivada dos interesses imediatistas, ocasiona problemas muito sérios que afetam a qualidade
de vida e o lazer das populações, contribuindo, assim, para a violência urbana e a consequente
falta de segurança. Para Marcellino (2008) o lar é o principal equipamento não específico de
lazer, ou seja, um espaço não construído de modo particular para essa função, mas que
eventualmente pode cumpri-la. Nessa mesma categoria figuram os bares, as ruas, as escolas etc.
Corroborando com Marcellino (2008), Xavier, et al (2019, p. 120) pontuam que em Mossoró:
Tal lógica se refere nos dados empíricos coletados e observados na seção anterior. Os
entrevistados terminam reduzindo sua experiência lúdica ao lazer doméstico (TV, e
similares) e ao lazer enquanto esfera de consumo, representado por bares, academias
de musculação e pequenas viagens.
No que se refere às práticas do lazer, todos os citados pelo estudo de Xavier et al (2019)
concordam que os agentes econômicos envolvidos limitam o lazer a certas regiões e afastam
outras, como foi demostrado anteriormente, antes de mais nada, por uma questão comercial.
Assim, a cidade ganha status de empresa e “dessa forma, também os equipamentos de lazer,
espaços de convívio, seguem uma tendência à privatização, incluindo aí as áreas verdes que,
como o próprio lazer, passam a ser “mercadorias” (MARCELLINO, 2015, p. 152). As
transformações socioeconômicas ocorridas na cidade de Mossoró, a partir da década de 1970,
com o crescimento do setor de serviços e comércio, combinado com a expansão urbana
verificada anteriormente, favoreceram as transformações nos hábitos e práticas de lazer da
população. Esse tipo de estruturação do espaço pode ser evidenciado em diversas regiões no
mundo e, também, no município aqui analisado.
Destacando agora o presente estudo empírico, as áreas foram previamente escolhidas no
intuito de que assim pudessem alcançar toda a população da zona urbana da cidade. É
importante reforçar que procurou dividir os quatrocentos (400) questionários entre todas as
regiões e que buscou aqueles locais com maior movimentação de pessoas, dos quais podem ser
destacados: praças, Parque Municipal, Shopping, favelas, feiras (mercado central – “Cobal”),
principais avenidas14, Corredor Cultural e o Teatro.
14Avenida, Alberto Maranhão; Av. Presidente Dutra; Av. Leste Oeste; Av. Rio Branco; Av. João da Escóssia; Av.
Abel Coelho; Av. Felipe Camarão; Av. Coelho Neto; Av. José Damião.
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Os espaços e equipamentos de lazer apresentam uma dinâmica econômica e
demográfica própria, permitindo atender às expectativas de empreendedores e cidadãos,
manifestadas na qualidade de equipamentos urbanos e na prestação de serviços. O Corredor
Cultural, localiza-se na Avenida Rio Branco, e é destinado ao lazer compondo dos seguintes
equipamentos: Estação das Artes Elizeu Ventania, Teatro Dix-Huit Rosado, Museu do Petróleo,
Praça de Eventos, Praça do Skate, Praça da Criança, Praça da Convivência, Praça dos Esportes
e o Memorial da Resistência. Verifica-se que Mossoró possui espaços de cultura característicos.
Uma das características marcantes da cidade, pelo forte simbolismo, referente a suas tradições,
são os eventos denominados Chuva de Bala no País de Mossoró e o Mossoró Cidade Junina, e
que são realizados na extensão do Corredor Cultural e seu entorno.
Ainda quanto aos espaços de lazer destaca-se também o Partage Shopping, este
inaugurado em 2007, com o nome de “West Shopping Mossoró”, e que passou a chamar-se de
Partage Shopping Mossoró, em 2013. Outro espaço de lazer é o Parque Municipal de Mossoró
Maurício de Oliveira. O Parque fica no centro da cidade e ocupa uma grande área verde de 78
mil metros quadrados, às margens do Rio Mossoró.
O Museu Municipal Jornalista Lauro da Escócia também aparece na pesquisa como um
dos espaços e equipamentos de lazer do município. O Museu compõe o patrimônio cultural e
histórico da cidade de Mossoró, com o seu acervo de registro de fatos históricos e de objetos
relativos aos acontecimentos históricos da cidade, principalmente a memória do cangaço na
região, além de informações sobre o jornal O Mossoroense, terceiro jornal mais antigo do
Brasil. Ainda, um conjunto de componentes representativos de culturas indígenas e
paleontológicas. A respeito do equipamento e do usufruto da visitação, é preciso informar que
o Museu se encontra instalado na antiga edificação da Casa da Câmara e Cadeia, prédio
reformado e adaptado à visitação da comunidade e de turistas. Horário de funcionamento: de
terça-feira a sexta feira, das 7h30 às 13h00 horas, e, aos sábados, das 7h00 às 11h00.
Referindo-se especificamente às transformações das cidades e seus respectivos espaços
públicos em espaços privados, Sanchez (2001, p. 33) assevera que nestes tempos:
A nova inspiração encontrada pelo capitalismo na conquista do espaço compreende a
compra e venda do espaço na escala mundial. Essa orientação estratégica tem muito
mais importância que a simples venda de parcelas do espaço, pois procura realizar uma reorganização abrangente da produção subordinada às cidades e aos centros de
decisão. Aí parece estar o que tem de novo o fenômeno do mercado de cidades: a
produção global do espaço. Essa estratégia global encontra uma nova dinâmica para
reprodução do capitalismo: a construção da cidade-mercadoria que, sob a égide do
poder político dos governos locais, perfila-se através dos processos de reestruturação
urbana (como exigência da economia competitiva) e através da construção de imagem
para vende-la, para inseria-la no mercado.
Nas palavras de Feitoza (2017, p. 41), “a cruel dinâmica do capitalismo ao se apropriar
dos melhores espaços ou pedaços urbanos, obriga as camadas economicamente vulneráveis a
instalarem-se em áreas de difícil acesso, inadequadas para habitação e desassistidas pelo poder
público”. Pelo entendimento de lazer, o entretenimento deveria ser um dos componentes do
lazer, ligado, basicamente, aos valores de divertimento. Mas o que se percebe é uma clara alusão
ao entretenimento como lazer mercadoria, atividades populares no sentido de nivelamento por
baixo, com único objetivo de desviar a atenção como a triste realidade pessoal e social dos seres
humanos.
Adentrando no perfil dos 400 informantes, nossa pesquisa mostrou que 54% dos
entrevistados não têm união estável e, que 56,25% dos entrevistados não têm filhos. Logo, é
notório que as responsabilidades familiares exercem influência nas tomadas de decisões em
relação às práticas de lazer, e que o lar acaba por se tornar um equipamento não específico de
lazer, no qual atividades domiciliares como assistir TV, uso da internet, dormir e/ou comer
acabam sendo a forma que esses indivíduos encontram para aproveitar o tempo livre.
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Referindo-se à ocupação profissional dos entrevistados, constatou-se que a maioria são
estudantes, precisamente 34%, e que, a renda média familiar para 56,25% dos informantes é de
até dois salários mínimos. Indagados em que bairro residem, verifica-se que 17,75% dos
informantes responderam que moram no bairro Aeroporto. Vale ressaltar que não se constatou
um grau expressivo entre uma região é outra, isso devido ao fato de que os questionários foram
previamente divididos e aplicados de forma igualitária nas regiões que englobam a pesquisa.
Sobre quais as principais motivações para praticar o lazer, as respostas foram: duzentos
e vinte e quatro, ou seja, 56% dos informantes responderam que sua principal motivação para
praticar o lazer são os cuidados com a saúde; em segundo lugar, setenta e quatro, 18,50%, que
são motivados ao lazer pela sociabilidade ao ar livre; cinquenta, 12,50%, por conta do consumo
nos espaços de lazer privados, shopping center etc.; vinte e cinco, 6,25%, que sua principal
motivação está no estético; quinze, 3,75%, se explicaram com o entretenimento, por exemplo,
festas e outros.
Esse número ínfimo, 3,75% dos informantes que afirmaram a busca do lazer em festas,
demonstra certa confusão, ou incoerência, visto que, nas últimas décadas, 1990, 2000, 2010, a
cidade tem investido em festas-espetáculos, eventos de grande envergadura como o Mossoró
Cidade Junina, o Auto da Liberdade, ‘Pingo da Mei Dia’. O que se relaciona à falta de
compreensão do que seja lazer em sua complexidade. Percebeu-se que, durante a aplicação dos
questionários, essas pessoas associam o lazer exclusivamente à atividade física; por esse
motivo, o número expressivo 56% desses informantes são motivados ao lazer pelo cuidado com
a saúde. O seja, os referidos entrevistados associam o lazer a caminhada, corrida, musculação,
pedalada etc.
Os informantes que responderam que sua motivação para o lazer é a educação somam
apenas doze, ou 3% do total dos informantes. Percebeu-se um número ínfimo dos que são
motivados ao lazer pela educação. Esse fator também pode estar relacionado à falta de capital
cultural e ao contexto em que esses indivíduos se inserem. Falando sobre essas mudanças, Pinto
(2008) ressalta que a globalização da cultura, viabilizada pelos vários meios de comunicação,
ao mesmo tempo em que cria grupos de identidades importantes, provoca o uso acelerado e sem
limites dos tempos e espaços, com o resultado da modificação de hábitos. As inúmeras
mudanças de estilos de vida incluem também a convivência com a violência, medo e violação
de direitos humanos. A esse respeito, também Pinto (2008, p. 45) pontua que:
O acesso ao lazer, como um dos direitos sociais promulgados pela Constituição
Brasileira de 1988, implica, pois a educação de cidadãos capazes de identificar e viver
as oportunidades diversas e disponíveis nos tempos e espaços cotidianos, com condições de compreendê-las e ressignificá-las consciente da sua importância em suas
vidas e das contradições que limitam sua vivencia plena.
Na aplicação do questionário, verificou-se a limitação do lazer à atividade física. Pois,
quando indagados sobre qual sua motivação para o lazer, constatou-se que 56% dos
informantes, conforme afirmaram, consiste no cuidado com a saúde, pelo que relacionam o
lazer ao esporte.
A pesquisa abordou também a mobilidade dos informantes no que diz respeito ao acesso
aos espaços e equipamentos de lazer. Cento e oitenta e sete, ou seja, 46,75% dos entrevistados
responderam que utilizam carro próprio. Ainda, conforme os dados obtidos, oitenta e nove,
22,25%, desloca-se para os equipamentos e espaços de lazer a pé; quarenta e quatro, 11%,
afirmaram que utilizam o serviço “uber”; trinta e nove, 9,75%, que utilizam moto para fazer
esse percurso; vinte e três, 5,75%, que se dirigem aos equipamentos e espaços de lazer de
bicicleta; apenas quatorze, 3,50%, usam o transporte coletivo (ônibus); três, 0,75%, o serviço
de táxi, e apenas um, 0,25% dos entrevistados, afirmou que utiliza moto-táxi.
Os dados mostram que 46,75% dos informantes utilizam o carro próprio para seu
deslocamento aos espaços e equipamentos de lazer da cidade. Isso reflete o drama do sistema
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de transporte público no município. Os dados apontam que apenas 3,50% dos entrevistados
usam o transporte coletivo, confirmando Xavier et al (2019). Outro dado que se mostra
expressivo é aqueles que afirmaram se deslocar aos espaços e equipamentos de lazer a pé, estes
somam exatamente 22,25% dos entrevistados. Percebeu-se nos relatos, durante a aplicação dos
questionários, a falta de compreensão sobre o lazer, ou seja, o relacionar o lazer exclusivamente
com à atividade física, como apontado por Marcellino (2008). No caso, o percurso a pé
geralmente é feito até uma praça do bairro, ou bairro vizinho, para depois fazer a “caminhada”.
Daí a relação exclusiva do lazer com a atividade física. “Isso acaba por dividir e fragmentar
perímetros urbanos, fazendo com que surjam ilhas isoladas onde a prática do consumo
subordine e delimite onde se é propicia a prática do lazer” (XAVIER, et al, 2019, p. 120).
O questionário aborda ainda a questão do dinheiro, se ele é condição ou não para sair de
casa para a prática do lazer no tempo livre. De acordo com os informantes, duzentos e trinta e
quatro, ou seja, 58,50% dos informantes, responderam que é necessário ter dinheiro para sair
de casa para a prática do lazer, no que se percebe a predominância da cultura do consumo que
se estabeleceu, transformando os hábitos cotidianos e as relações entre as pessoas. O
capitalismo se instalou em todas as áreas da sociedade, e na do lazer não foi diferente, segundo
os dados obtidos.
O capitalismo impulsionou um deslocamento do foco das pessoas para as coisas,
fazendo com que elas buscassem significados pessoais em objetos. Nessa nova vida
urbana, as condições materiais tornaram-se mais conhecidas e mais constantes para as pessoas enquanto a vida pública foi ficando cada vez mais frágil (PADILHA, 2007,
p. 32).
Partindo dessa concepção, o capitalismo cria uma rede de dependências do dinheiro: o
trabalho vendido é insuportável, mas é esse trabalho que possibilita ao homem a aquisição do
dinheiro, que faz o homem alguém visível aos olhos da sociedade (PADILHA, 2008). Os baixos
salários e o número expressivo de 43,75% dos entrevistados que afirmaram que o espaço e
equipamento de lazer que mais frequenta é o shopping correspondem à lição de Padilha (2008)
e de Urry (2001), como será mostrado a seguir. Estes autores(as) destacam a necessidade de os
indivíduos consumirem a imagem e o espaço para afirmar sua diferença na catedral do
consumo. A esse respeito, Padilha (2007, p. 31) enfatiza que:
O que conhecemos no Brasil com o nome de shopping center pode ser entendido como
um espaço privado – que se diz público – criado para ser uma solução dos problemas
da cidade onde reinam desajustes, desigualdades, contradições, imprevistos. Por isso,
consideramos a cidade como o ‘mundo de fora’ em contraposição ao shopping center
como o ‘mundo de dentro’. ‘O mundo de fora’ é a realidade-real, o espaço urbano e
seu caráter público. Esse mundo contém outra realidade construída artificialmente, o
‘mundo de dentro’, limpo e isento dos fatores que agem no ‘mundo de fora’ – chuva,
sol, frio, neve, mendigos, pedintes, trânsito, poluição etc.
A dinâmica do capitalismo, ao se apropriar do espaço urbano, cria condições favoráveis
a um lazer restrito, de consumo rápido, com possibilidades ínfimas, onde dificilmente haverá
satisfação e, menos ainda, desenvolvimento pessoal e social dos indivíduos envolvidos.
Segundo relatos de alguns informantes, o argumento da não necessidade de dinheiro para
realização do lazer é porque suas atividades de lazer se resumem a caminhadas na praça do
bairro, ou bairro vizinho, e daí se compreende a falta de compreensão do lazer pela sua
complexidade.
Objetivou-se ainda saber o que os entrevistados acham da infraestrutura dos espaços e
equipamentos públicos de lazer, na cidade de Mossoró, para o desenvolvimento das atividades
de lazer. Discorrendo sobre as informações dos dados obtidos nos questionários aplicados in
loco, a pesquisa mostra que a maioria dos entrevistados, precisamente duzentos e quarenta e
nove, ou seja, 62,25%, não considera adequada a infraestrutura dos espaços e equipamentos
públicos de lazer da cidade de Mossoró para o desenvolvimento das atividades de lazer. No que
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se refere à infraestrutura dos espaços de lazer, existe maior insatisfação nos bairros periféricos.
Segundo relatos dos entrevistados, os bairros onde moram não possuem espaços e/ou
equipamentos de lazer, e quando possuem, são deteriorados, e muitas vezes abandonados15. O
tratamento luminoso dos espaços de lazer se concentra em partes estratégicas das zonas central
e oeste.
Cento e setenta e cinco, ou seja, 43,75% dos informantes, disseram que o espaço de
lazer que mais frequenta é o Partage Shopping. Observa-se uma diferenciação quanto aos
demais espaços e equipamentos de lazer, isso devido ao fato de que a exibição nesses espaços
aumenta o prazer de andar de um lado para outro. Essas pessoas consomem uma gama de temas
vendidos como lazer, e dessa forma acabam olhando e sendo olhadas como se estivessem de
férias. Para Urry (2001), os usuários não deveriam ser vistos simplesmente como vítimas do
consumismo, como viciados em cartão de crédito, mas também como pessoas capazes de
afirmar sua independência em relação aos empresários que implantam os shoppings centers.
Isso se alcança através da flânerie16, quando se continua a passear, olhar e ser olhado: andar a
esmo, situar-se na multidão constituem uma certa ambientação urbana, uma contínua
reafirmação dos direitos e liberdades do lugar onde as mercadorias são adquiridas.
No início de 2014, os shoppings centers ganharam destaque como espaço de lazer
devido ao fenômeno do “rolezinho”, realizado por adolescentes das periferias urbanas que se
reuniam, em grande número, para passear nos shoppings das médias e grandes cidades
brasileiras. Vale ressaltar, que esses eventos causaram apreensão aos frequentadores e,
consequentemente, alguns proprietários desses estabelecimentos conseguiram na justiça o
direito de proibir a realização dos rolezinhos, barrando o acesso dos jovens aos shoppings.
Perguntados sobre os equipamentos de lazer e sobre a segregação dos referidos espaços,
trezentos e vinte, ou seja 80%, respondeu que não se sente excluída de nenhum espaço de lazer
na cidade de Mossoró. O que se justifica por meio da ideologia do consumo que cria uma aura
de que todos são iguais e livres para consumir, quando, na verdade, não são. A partir daí cria-
se uma sensação de inclusão contradizendo o referencial teórico que mostra a dominância da
exclusão. A esse respeito, Souza (2008), destaca que a sociedade pós-moderna é marcada por
profundas contradições no que diz respeito ao acesso e à garantia de qualidade às necessidades
humanas, sobretudo, em relação a educação, saúde, trabalho, lazer e demais direitos sociais dos
diversos extratos sociais. Ainda para a autora, os processos de exclusão são construções
históricas complexas e multissetoriais, só podendo ser compreendidos se olharmos para
diversas esferas no âmbito da vida humana e respectivas necessidades básicas.
Os dados obtidos afirmam que duzentos e trinta e oito, 59,50% dos informantes, não
conhecem nenhum projeto da prefeitura de Mossoró que envolvem a população local nas
práticas de lazer realizadas nos equipamentos e espaços de lazer. É importante destacar que, de
acordo com o calendário de eventos da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer, para 2019,
constam alguns projetos realizados em parceria com outras instituições públicas e privada, entre
estes: Viva Rio Branco, projeto que proporciona atividades físicas e esportivas à população,
aos domingos, no Corredor Cultural. O Viva Rio Branco é realizado de janeiro a dezembro,
segundo o calendário. Outro projeto que consta no calendário é o Cidade Jardim, de acordo com
a Secretaria Municipal de Esportes e Lazer, com atividades todos os domingos, das 17h00 às
15Para Lima e Pereira (2017) no que tange ao problema da violência e da segurança pública, as estratégias de
proteção são encontradas pela classe média por meio de habitação em condomínios privados. A concepção dos
condomínios é a de não estabelecer residências, mas também o de criar espaços de sociabilidade e lazer,
“substituindo”, gradativamente, os espaços públicos urbanos, como praças, bosques ou outros que,
tradicionalmente, eram ocupados pela população e se construíam, frequentemente, relações de sociabilidade
através de encontros, atividades lúdicas e práticas esportivas. 16Em francês essa palavra significa a ação ou hábito de relaxar, agir de forma lenta, suavemente ou passeio.
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20h00, no bairro Alto do Sumaré. As atividades desenvolvidas têm as mesmas características
das do projeto Viva Rio Branco.
Quanto à segurança, a pesquisa destaca que a maioria dos informantes, ou seja, duzentos
e noventa e nove, 74,75%, não se sentem seguros no espaço urbano destinado ao lazer na cidade
de Mossoró. Os dados, mostram um índice altíssimo de pessoas que não se sentem seguras nos
espaços urbanos destinados ao lazer, e se atribui ao cenário do crescimento econômico e dos
investimentos nos mercados imobiliários da cidade de Mossoró, com a expansão urbana, o
crescente índice de violência, como apontado por Lima e Pereira (2017, p. 19):
Em Mossoró, no ano de 2009 a taxa homicídios foi de 42 para cada grupo de cem mil
habitantes; em 2010, as taxas chegaram 48 por grupo de cem mil habitantes (Essa tem
sido a referência utilizada internacionalmente para parametrizar os homicídios). Em
2011, a cidade ostentava a taxa de 56 de homicídios por grupo de cem mil habitantes,
chegando à taxa de 80 casos por grupos de cem mil habitantes até o final de 2011.
É importante dizer que “a violência registrada hoje na cidade de Mossoró não pode ser
auferida a uma causa específica. Sabe-se que a maior parte dela é praticada por e contra jovens
do sexo masculino, em idade reprodutiva e produtiva e se concentra na periferia” (BRANDÃO
e COSTA, 2015, p. 24). Por outro lado, os espaços com boa infraestrutura e de atração do
esporte e lazer estão localizados nas áreas nobres da cidade, segundo apontamentos dos autores
aqui citados. A violência homicida ocorre, em sua maioria, fora dos espaços frequentados pela
classe média e pela elite local – os espaços de atração e de destinação pretensamente turísticos
estão concentrados em áreas consideras nobres da cidade. Neste contexto, para Brandão e Costa
(2015), as políticas públicas vigentes não são suficientes para satisfazer as necessidades básicas
de todos, de modo que o que se tem visto é a violência sendo usada para a autodefesa pessoal e
territorial. A violência homicida ocorre nas regiões periféricas, fora dos espaços culturais das
classes médias e da elite, concentrando-se nas demais regiões onde habitam, sociabilizam-se,
circulam e vivem a maior parte da população (BRANDÃO e COSTA, 2015, p. 25). Daí os
dados expressivos dos informantes que não se sentem seguros nos espaços destinados ao lazer
no município.
Em relação a este cenário de violência urbana, - em que o acesso privatista e
mercadológico a bens e serviços de segurança torna-se um símbolo de status e de diferenciação
social alinhado ao modelo periferizado de urbanismo que fratura culturalmente a malha urbana
em áreas nobres, por um lado, e pobres, por outro, - cabe ressaltar o já clássico estudo de
Caldeira (2003) sobre a cidade de muros e a fala do crime enquanto paradigmas do processo
de modernização conservadora que engendrou a dinâmica e a morfologia das cidades
brasileiras. De acordo com a autora:
A fala do crime constrói sua reordenação simbólica do mundo elaborando
preconceitos e naturalizando a percepção de certos grupos como perigosos. Ela, de
modo simplista, divide o mundo entre o bem e o mal e criminaliza certas categorias sociais. Essa criminalização simbólica é um processo social dominante e tão difundido
que até as próprias vítimas dos estereótipos (os pobres, por exemplo) acabam por
reproduzi-lo, ainda que ambiguamente. [A criminalização] fomenta o
desenvolvimento de dois novos modos de discriminação: a privatização da segurança
e a reclusão de alguns grupos sociais em enclaves fortificados. Estes dois processos
estão mudando as noções de público e de espaço público que até bem recentemente
predominavam em sociedades ocidentais.
O novo padrão de segurança urbana baseada na criação de enclaves fortificados
representa o lado complementar da privatização da segurança e transformação das
concepções do público ...criam um espaço que contradiz diretamente os ideais de
heterogeneidade, acessibilidade e igualdade que ajudaram a organizar tanto o espaço
público moderno quanto as modernas democracias. Privatização, cercamentos, policiamento de fronteiras e técnicas de distanciamento criam um outro tipo de espaço
público: fragmentado, articulado em termos de separações rígidas e segurança
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sofisticada, e no qual a desigualdade é um valor estruturante. No novo tipo de espaço
público, as diferenças não devem ser postas de lado, tomadas como irrelevantes,
negligenciadas. Nem devem também ser disfarçadas para sustentar ideologias de
igualdade universal ou de pluralismo cultural. O novo meio urbano reforça e valoriza
desigualdades e separações e é, portanto, um espaço público não democrático.
(CALDEIRA, 2003, p. 10-12).
Diante da permanência das contradições sociais e de um município com dificuldades
em solucionar os conflitos, vê-se que os mossoroenses procuram soluções, na maioria dos casos,
de forma individual, consolidando processos mais amplos de privatização dos riscos sociais e
de esvaziamento políticos dos espaços públicos no urbano contemporâneo brasileira. Nesse
sentido, Lima e Pereira (2017) enfatizam:
No que tange ao problema da violência e da segurança pública, as estratégias de
proteção são encontradas, na classe média, por meio da habitação dos condomínios
privados. Com isso, busca-se a proteção individual, criando verdadeiros “bairros”,
nestes condomínios, e configura-se o conceito de cidade a partir de domínios
particulares. A concepção dos condomínios é a de não só estabelecer residências, mas
também o de criar espaços de sociabilidade e lazer, “substituindo”, gradativamente,
os espaços públicos urbanos, como praças, bosques ou outros que, tradicionalmente,
eram ocupados pela população e se construíam, frequentemente, relações de
sociabilidade através de encontros, atividades lúdicas e práticas esportivas. Estes espaços mais tradicionais da cidade, pouco a pouco, são abandonados e ficam
desprotegidos, pois já não são mais áreas seguras, as sociabilidades, ali estabelecidas,
são transferidas para áreas residenciais privadas (LIMA e PEREIRA, 2017, p. 20).
De fato, quando o espaço de lazer passa a significar mercadoria e investimento, a
especulação imobiliária contribui para os desequilíbrios espaciais. Os padrões do urbanismo
modernista foram aplicados a uma parte da cidade, impulsionando o esvaziamento do espaço
público. A exemplo dos condomínios, outra opção individualista adotada pela cidade é o
shopping center.
Por isso, consideramos a cidade como o ‘mundo de fora’ em contraposição ao
shopping center como o ‘mundo de dentro’ [...], o declínio do homem público,
entende a formação dessa cultura de consumo a partir da análise histórica do declínio da vida pública, associando ao aumento da importância da esfera do privado. O
capitalismo impulsionou um deslocamento do foco das pessoas para as coisas,
fazendo com que elas buscassem significados pessoais em objetos. Nessa nova vida
urbana, as condições materiais tornaram-se mais conhecidas e mais constantes para as
pessoas enquanto a vida pública foi ficando cada vez mais frágil (PADILHA, 2007,
p. 31).
Ainda de acordo com Padilha (2007, p. 34), “é preciso reconhecer que essa privatização
do lazer nos shopping centers acontece porque, entre outros fatores, não existem políticas
públicas que confiram ao fenômeno do lazer o caráter de direito social”. No que diz respeito a
satisfação dos informantes com os espaços e equipamentos destinados ao lazer no espaço
urbano da cidade de Mossoró, vale ressaltar que duzentos e oitenta e nove, ou seja, 72,25% dos
informantes não estão satisfeitos com os espaços de lazer existentes na cidade.
Perguntados sobre qual atividade de lazer gostariam de realizar e não realizam, foram
obtidos os seguintes resultados: as palavras viagens e viajar apareceram em maior número. A
mobilidade, o lazer, as férias e as viagens são conquistas sociais. Contudo, segundo Krippendorf
(2001, p. 14) “a alegria que deveriam proporcionar não chega realmente a ocorrer. Isso porque
a medalha tem um reverso: por aquilo que conquistamos, somos obrigados a pagar, a dar algo
em troca”; neste sentido, a não realização das atividades de lazer apresentada na pesquisa foi a
falta de condições financeiras. Corroborando com os dados apresentados quando indagados
sobre a renda familiar, duzentos e vinte e cinco dos entrevistados, 56,25%, afirmaram que têm
renda média familiar de um a dois salários mínimos. Portanto, a pesquisa identificou que a
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maioria dos entrevistados tem baixos salários, de maneira que a tomada de decisões em relação
ao lazer está atrelada ao fator econômico.
A pergunta que indagou sobre as atividades de lazer mais praticadas pelo grupo
pesquisado destacou as palavras internet, TV, cinema e viagens. Deste modo, o lazer está cada
vez mais ligado à indústria cultural, cinema, TV, internet etc., a indústria dos recursos
tecnológicos e toda essa parafernália destinada ao lazer e ao turismo são fantasias e informações
aleatórias, impondo às pessoas programações do seu tempo fora do trabalho. Em muitos casos,
a própria natureza do trabalho contribui para limitação do lazer, e por isso a opção do consumo
– TV, internet, shopping e, às vezes, pequenas viagens regionais.
A palavra leitura também apareceu em destaque entre as práticas de lazer dos
informantes. Porém, é sabido que, culturalmente, o brasileiro não tem o hábito de leitura; no
entanto, é importante ressaltar que 34% desses entrevistados, quando perguntados sobre sua
profissão, responderam que são estudantes, o que supõe uma confissão da leitura como lazer ou
mesmo “obrigação” escolar.
Ao analisar a bibliografia e os dados aqui obtidos, percebe-se que o lazer faz parte da
área de influência que se localiza no espaço social, daí ser considerado como problema menor,
pelo mercado, que, por sua vez, dita as regras e as prioridades. Considerando, portanto, essa
lógica, pode-se concluir que a democratização do lazer, englobando as regiões periféricas da
cidade de Mossoró, é tudo que não interessa ao mercado e à economia. Uma das poucas
fascinações que o mercado tem pela periferia consiste na força dos braços e das pernas das
pessoas que lá moram, e não quer isso dizer intenção relativa às práticas de lazer.
Os exemplos dos trabalhadores que moram na periferia e que trabalham nesses centros
de consumo são incontáveis. Valquíria Padilha produziu um ácido texto sobre os trabalhadores
terceirizados, que vivem prazeres e desprazeres na realização de suas profissões, nesses centros
de consumo e lazer.
Na grande maioria dos shopping centers existentes hoje no mundo, a higienização
desses espaços é um importante fator para atrair e manter os clientes. É por isso que
os shopping centers devem ter um mutirão de profissionais de limpeza que, 24 horas por dia, todos os dias da semana, colocam seus corpos e suas emoções a seu serviço.
Os trabalhadores da limpeza são quase os únicos – juntamente apenas com os
responsáveis pela segurança – que permanecem no shopping center quando ele está
fechado ao público. A limpeza e a segurança, atividades laborais mais importantes
destes centros comerciais, são feitas por trabalhadores terceirizados [...], no Brasil,
esses terceirizados moram em favelas, em bairros periféricos da cidade (PADILHA,
2014, p. 329-331).
Ainda de acordo com Padilha (2014), o nojo e a humilhação dos trabalhadores da
limpeza de shopping centers, ao lidarem com o lixo e a sujeira deixados pelos clientes, em
praças de alimentação, e em banheiros, vêm a causar-lhes sofrimento, as vezes com prejuízo da
performance no trabalho. Ademais, a análise dos dados aponta para uma divisão do espaço
urbano cada vez mais acentuada, por conta de descaso do governo local, inclusive agentes
privados, com interesses localizados, principalmente voltados para o mercado imobiliário. A
partir das análises dos dados, fica verificado que esse cenário se agrava devido ao lazer não ser
compreendido, pela população, como cultura, no seu sentido mais amplo, e vivenciada no
tempo disponível. Ou seja, não se busca, pelo menos basicamente, outra recompensa além da
satisfação provocada pela própria situação. A disponibilidade de tempo significa possibilidade
de opção pela atividade ou pelo ócio (MARCELLINO, 2008). Constatou-se, também, entre os
informantes, aqueles que associam o lazer exclusivamente à atividade física; outros buscam as
práticas de lazer nos centros de consumo, procurando afirmar a própria existência e serem
reconhecidos como cidadãos. Ainda há aqueles cujas práticas de lazer se resumem aos bens da
indústria cultural, como TV, Internet etc.
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O modelo perseguido pela cidade de Mossoró, portanto, é o do city marketing; assim, o
espaço toma forma também através de representações simbólicas e imagens adequadas, o que
explica a importância que vêm adquirindo os instrumentos das políticas urbanas (SANCHEZ,
2001). Diante dos dados extraídos da pesquisa, não é preciso grande esforço para perceber que
o modelo adotado quer os pobres fora desses espaços e equipamentos de lazer. Tudo isso é
óbvio. O que não parece ser obvio é que, em última instância, como diria Althusser (2017), a
determinação disso tudo é econômica.
Considerações finais
O lazer na sociedade contemporânea tornou-se sinônimo de status, ou importante
elemento de inserção social, o que se manifesta por meio de práticas prazerosas e de distinção.
A cidade, como ator político, deve agir conjuntamente com sua população, de modo a
minimizar os conflitos internos derivados de uma visão abrangente do futuro. Assim, os espaços
e equipamentos de lazer foram enfocados, neste artigo, com o objetivo de mostrar a forma pela
qual se dá a fruição do tempo livre no espaço urbano. A pesquisa aponta, inicialmente, um
crescimento desordenado das contradições sociais e dos problemas no tecido urbano da cidade
de Mossoró. No caso, a produção e exploração do espaço urbano é determinada pelas regras
capitalistas, de sorte que qualquer pedaço da cidade constitui sempre uma condição de
monopólio; em outras palavras, a cidade é um grande negócio, - uma oportunidade de consumo,
tal como expresso no conceito de cidade mercadoria (FRANCO, 2014), - e a especulação
imobiliária, sua mola propulsora. O artigo aponta, ainda, que parte da sociedade mossoroense
valoriza cada vez mais o espetáculo do consumo dos bens materiais e do lazer-mercadoria,
enquanto limita, ou mesmo exclui, a maioria da população desses espaços e equipamentos de
lazer.
Constatou-se que 56,25% dos informantes têm renda média familiar de um a dois
salários mínimos. Vale dizer que as condições materiais de reprodução desses informantes
acabam por se tornar limitações diversas quanto às práticas de lazer. A pesquisa aponta que
dentre 56% dos informantes, a principal motivação para prática do lazer é o cuidado com a
saúde, a que se associa o lazer, de forma exclusiva, como atividade física. Cabe destacar que
43,75% dos entrevistados afirmaram que o espaço de lazer que mais frequentam é o shopping.
Esse entendimento acaba por limitar as práticas de lazer na população mais pobre, e por
romantizar a privatização do espaço público de lazer, em detrimento daqueles que não podem
pagar. É preciso reconhecer, portanto, que a sociedade de massa não compreende que o
fenômeno do lazer é um direito social, e que a ineficiência dos espaços públicos de lazer acaba
contribuindo, ou abrindo brechas para a privatização do espaço público.
Os dados colhidos apontam que 72,25% dos informantes não estão satisfeitos com os
espaços e equipamentos de lazer na cidade de Mossoró. A sensação de insatisfação estimula a
perda daqueles espaços tradicionais de sociabilidade do lazer, demonstrando uma concepção de
abandono da população mais desassistida. Percebe-se, ainda, que 62,25% dos entrevistados não
consideram a infraestrutura dos espaços e equipamentos de lazer da cidade de Mossoró
adequados para o desenvolvimento das atividades de lazer, evidenciando, assim, que a cidade
não prepara esses serviços e equipamentos de modo que possam atender à procura por todos os
cidadãos. Portanto, a partir desses dados e da bibliografia selecionada para esse estudo, pode-
se afirmar que, com o processo de esvaziamento do espaço público e da hierarquização,
individualismo e segregação social, associado a vários tipos de conflitos sociais e individuais,
acaba por surgir a violência urbana. O que causa na população uma sensação de insegurança,
constatada na pesquisa: 74,75% dos informantes afirmam que não se sentem seguros no espaço
urbano destinado ao lazer, na cidade de Mossoró.
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