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A Ilustracaoxcxc

Date post: 07-Jul-2018
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    A ILUSTRAÇÃO DE LIVRO INFANTI L: ANÁLISE DE SEUS

    DIFERENTES ESTILOS E COMPOSIÇÕES

    Luciana Oshiro1

    Milton Koji Nakata2 

    Resumo

    O objetivo deste trabalho foi a pesquisa para apresentação de algumasdiretrizes de ilustração em livro infantil de maneira a proporcionar uma

    melhor assimilação e compreensão do conteúdo, considerando-se aimportância desta às crianças em sua fase de pré-alfabetização. Para tal,fez-se primeiramente um estudo teórico a respeito do panorama históricoda literatura infantil e de sua ilustração, bem como do desenvolvimento dacriança na fase já descrita. Feito isto, foram selecionados doze livroscompostos por diferentes tipos de ilustrações e diagramações, realizando-seposteriormente uma análise a respeito destas imagens quanto a suadisposição e composição. Concluída a análise verificou-se se estascaracterísticas se encontravam de acordo com as levantadas a respeito dapercepção da criança na sua fase de pré-alfabetização. Com base nessesdados, identificaram-se as eventuais falhas que possam vir a prejudicar oentendimento da informação a ser transmitida para a criança,

    apresentando-se, por fim, o indicativo para possíveis soluções destas.Palavras-chave: Design; Ilustração; Livro; Programação Visual. 

    Abstract

    This study aims at presenting some patterns of illustration in children’sbooks that could promote a better assimilation and understanding of thebook contents by the child, considering how important they are for thechildren in their pre-literacy period. To do so, a theoretical study analyzingthe historical aspects of children’s literature and their illustrations, as wellas the children’s development during the aforementioned period, was made.Twelve books were selected and analyzed according to different kinds of

    illustrations and diagrams presented. After this analysis, the characteristicsof the books were compared to the aspects of the children’s perceptions,emphasizing what is really important for these readers. Based on this, faultsthat could damage the understanding of the contents were detected, andfinally, possible solutions for these faults were presented.

    1 Graduanda de Design, Faculdade de Arquitetura Artes e Comunicação - UNESP;[email protected] Professor Doutor – Departamento de Desenho Industrial - Faculdade de Arquitetura Artes eComunicação - UNESP; [email protected].

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    2 Keywords: Design; Illustration; Book; Graphic Design. 

    1. Introdução

    Desde o ano de 1900 a.C. aproximadamente, o homem faz uso de figuras afim de expressar-se e representar aquilo que via na forma de desenhos e

    hieróglifos em paredes de cavernas. Com o passar dos anos, desenvolvetambém a fala, podendo transmitir agora fatos e pensamentos.

    Mais tarde, como conseqüência disto, surgem diversas formas deescrita, facilitando assim transmitir histórias e documentar acontecimentosocorridos. No início, ela era privilégio de poucos e à grande massapopulacional só cabia a linguagem oral. LINS (2004) afirma que na épocada Idade Média, antes do surgimento da imprensa, os textos eram feitos àmão, repletos de ornamentos já havendo uma preocupação com o empregode uma linguagem visual a fim de complementar a parte escrita.

    Até hoje essa linguagem visual se vê muito presente nos livros,principalmente se tratando de livros infantis. Como já comprovado em

    estudos, a identificação das crianças com imagens é grande. Entretanto,mesmo com todo o investimento dado aos livros infantis no que diz respeitoàs variadas técnicas e estilos de ilustrações e o aprimoramento daqualidade gráfica do impresso final, Lins (2004) constatou um decréscimono número de leitores.

    Assim, surgem duas questões. Estariam os livros infantis aplicandocorretamente a ilustração de forma a incentivar e facilitar a melhorassimilação do conteúdo pelas crianças? Como despertar o interesse emaior interação da criança com a história e não torná-la apenas umaouvinte desta? 

    2. Revisão Teórica

    2.1. O surgimento da literatura infantil e o panorama histórico da

    ilustração

    A relação homem e imagem é bastante forte desde seus primórdios. Já aonascer ele se vê rodeado delas. Os primeiros registros das expressõeshumanas se dão nas paredes das cavernas, na forma de desenhos ehieróglifos (LINS, 2004). Relacionando a imagem com a literatura, a maisantiga ilustração data do ano de 868, na China, utilizando-se da ilustração etexto ainda fazendo uso da técnica manual gravada em bloco de madeira.Todavia, neste período não existiam ainda os livros propriamente ditos.Segundo Manguel (1997), a origem dos primeiros livros pode ser apontada

    das tabuletas feitas em argila ou rolos de papiros, um tipo de papel egípcioadvindo de um vegetal de folhas compridas e com hastes secas. O posterioruso de peles de animais permitiu o surgimento do “quaterni” ou dobraduraem quatro, dando um melhor aproveitamento de espaço e proporcionandoum maior arranjo das páginas.

    Outro aspecto que não poderia deixar de ser citado foi o advento daimprensa. A produção artesanal fazia do livro um objeto bastante caro ondepoucos podiam pagar para adquiri-lo. O desenvolvimento da impressão fezcom que os livros perdessem o seu caráter de objeto único passando a serreproduzível e mais acessível a uma parcela crescente da população. Este

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    3foi um marco importante visto que permitiu o ingresso do público infantil nomundo literário.

    No início, não havia uma literatura especificamente voltada a essesleitores. Foi apenas no século XVII que, na França, a criança é reconhecidacomo um ser diferente do adulto, com necessidades e característicaspróprias (COELHO, 1991). De fato o mundo das percepções infantis é

    profundamente diferente do dos adultos (VIGOTSKY; LURIA; LEONTIEV,2001). Assim sendo, um conhecimento mais a fundo deste público énecessário, sendo apresentado no tópico a seguir. 

    2.2. O Público alvo: As Crianças

    A faixa etária do atual projeto proposto é a da pré-escolaridade, o quesegundo Mukhina (1996) corresponde ao período dos três aos sete anos deidade. É claro que a individualidade existe e o desenvolvimento de duas oumais crianças de uma mesma idade nunca se dará exatamente da mesmamaneira. Gessel (1996), porém afirma que mesmo isto ocorrendo, estasvariações individuais ligam-se a uma tendência central porque asseqüências e o plano básico do desenvolvimento humano são característicasrelativamente estáveis. Assim sendo é possível traçar algumascaracterísticas delas.

    Vigotsky; Luria; Leontiev (2001) em seu estudo comprovaram que ascrianças na faixa etária dos dois a cinco anos podem ter preferênciasacentuadas pelas cores, enxergando principalmente suas combinações detonalidades nas manchas.

    Na idade dos três ou quatro anos, a criança gosta de explorar ascoisas e entra na tão conhecida "idade dos porquês". Larrick (1969) explicaa importância desta etapa, já que é através dela que as crianças partem embusca de respostas, encontrando nos livros uma fonte de novas idéias e

    novas experiências. Nesta idade elas possuem uma vaga compreensão dasfiguras de um livro, se entretém durante um curto período olhando para asimagens, virando as páginas, apontando objetos e designando-os pelosnomes. Os livros de qualquer gênero com figuras em relevo são tateadosrepetidos vezes e também se inicia o gosto por colorir. Pode-se aindaignorar completamente as formas e ter preferências acentuadas pelas cores(GESELL, 1996).

    Em se tratando de crianças de quatro a cinco anos, elas possuemcomo característica a disposição a ouvir histórias mais longas e jádemonstram interesse por selecionar, elas mesmas, determinados livros.Segundo estudos realizados por Larrick (1969), constatou-se que nessafaixa etária as histórias com animais possuem uma boa aceitação. Alémdisso, elas se identificam com diversos materiais tais como lápis, papel ecola, preferindo desenhar e colorir livros com figuras (GESELL, 1996).

    Já ao atingir os sete anos a criança inicia o desenvolvimento de umpensamento mais racional e começa a interessar-se por livros que realcemações ou aventuras, mostrando o heroísmo e a coragem do personagem.Gesell (1996) exemplifica contando que a leitura de um livro sobreincêndios pode acarretar uma longa discussão sobre os prós e contras dofogo.

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    4Atentar-se a todas estas características e produzir uma obra de fato

    adequada às crianças na sua fase de pré-alfabetização não é fácil. Assimsendo, um projeto bem estruturado é fundamental para a obtenção de umresultado mais adequado e satisfatório. 

    2.3. Projetando um livro infantil

    Começando pelo conteúdo textual, Neto; Rosamilha; Dib, (1974) chamamde "inteligibilidade do texto" a propriedade que o material escrito devepossuir, primando por facilitar a compreensão de quem lê. No entanto, umacompreensão facilitada não é sinônimo de um conteúdo resumido ou vazio.Novas informações, experiências e vocabulários são fundamentais, poispromovem um contato maior com novos conceitos, descobertas e situaçõesatuais. Assim sendo, o texto será inteligível quando conseguir interpretar esimplificar o conteúdo por meio de linguagem acessível ao público infantil,organizando e estruturando este da melhor forma e fazendo uso tambémdos recursos tipográficos e ilustrativos que facilitam o processo deaprendizagem.

    Por isso, durante a sua criação e execução, o material “livro infantil”conta com a participação de vários profissionais tais como o escritor,pedagogos e também os designers. Enquanto os psicólogos e educadores

     julgam se a obra é adequada à determinada faixa etária, os designers seresponsabilizam pela pesquisa teórica e técnica buscando obter as imagens,cores, escolhas tipográficas, formas ou materiais mais adequados para aexecução daquele projeto. O designer é o responsável por integrar oconteúdo textual e visual de forma a proporcionar assim a maior legibilidadee comunicabilidade com o leitor. A ele cabe a preocupação com a qualidadeestética e funcional do livro, fazendo com que este se torne um objetoagradável ao espectador, compondo-o de informações visuais queproporcionem uma interpretação mais a fundo e uma reflexão, estimulando

    o imaginário e o fantasioso. Assim sendo, o desenvolvimento de novastecnologias veio a favorecer e muito o campo da ilustração de livrosinfantis.

    Com o advento do computador e seus novos softwares, resultadoscada vez mais surpreendentes são obtidos. Essas ferramentas permitem aoilustrador explorar, cada vez mais, variadas soluções plásticas (NAKATA,2004). Diretamente na tela ele encontrará uma vasta gama de cores,texturas e efeitos. Além disso, questões como proporções, perspectivas,pontos de fuga, entre outras, podem ser solucionadas em poucos minutos.Sem dúvida, a grande vantagem desse meio é a praticidade, e a maiorrapidez com que os resultados são obtidos. O avançado desenvolvimentodos softwares atuais faz com que certos programas já possuam traçadosprontos que simulam com grande perfeição técnicas manuais como pinturasa guache, aquarela, lápis de cor, aerografia, etc.

    Nakata (2004) ressalta que assim como a ilustração, a tipografiatambém é um elemento extremamente versátil usado na composição daestrutura de um design, e muito poderoso quando desenvolvidoapropriadamente primando pela legibilidade do conteúdo e não sendotratada apenas como um ornamento ao livro. Com a computação, esta foibastante beneficiada havendo surgimento de uma possibilidade para arenovação da linguagem gráfica.

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    5Assim, recursos não faltam. Entretanto, cabe ao ilustrador buscar

    estas atualizações e aplicá-las de forma correta, visto que de nada vale atecnologia se não implantada conforme as reais necessidades do públicoalvo. Para a formação de um conjunto final mais apropriado, todos oselementos devem ser aplicados de forma adequada. 

    3. Análise dos livros infantis

    Após o levantamento teórico, foram selecionados livros infantis dediferentes autores e ilustradores levando-se em conta principalmente osdiversos estilos de ilustrações. Também se atentaram às diferentesdiagramações nas páginas, às proporções entre figuras e textos presentes,ao formato do livro, ao tipo de papel e à qualidade gráfica da impressão. Oslivros analisados foram: A Corujinha Juju (MOURA, 2001), A Família doMarcelo (ROCHA, 2001), A Libélula e a Tartaruga (ALVES, 1999), A VelhinhaMaluquete (MACHADO, 1998), Boas Maneiras / Público (MOURA, 199-?),Descobrindo o Mundo dos Dinossauros (RUTZEN, 199-?), João contra aBruxa Cabelão (AMARAL, 2001), Poesias para Crianças / Cinco Sentidos

    (HEINE, 199-?), O Pote de Melado (FRANÇA e FRANÇA, 2003), O que é?(MACHADO e CLAUDIUS, 2000), O Menino Maluquinho e Os Voluntários daPátria (BARBALAT, 2001) e Três Vampiros se Divertem (CARDOSO, 2001).

    Durante a análise identificaram-se algumas características positivas enegativas. O primeiro e mais importante aspecto comprovado foi à presençadas ilustrações na composição de todos os livros.

    Constatada a presença das imagens notou-se a divisão destas emduas naturezas: coloridas e em preto, branco e tons de cinza. Naamostragem analisada verificou-se a maior presença de livros comilustrações coloridas, um resultado satisfatório visto que segundo Larrick(1969) os livros mais indicados são os pequenos contos com belas

    ilustrações a cores.Outro aspecto analisado foi a questão do contraste. Um problema

    encontrado em relação a este foi a constante aplicação de cores próximas(de uma mesma família de cores quentes ou frias) ou em tons próximos emáreas também próximas, podendo assim confundir o pequeno leitor,conforme figura 1.

    fonte: Rocha, 2001 fonte: Amaral, 2001 fonte: Moura, 199-?

    Figura 1.: Aplicação de cores próximas – À esquerda “A Família de Marcelo”(ROCHA, 2001), ao centro “João Contra a Bruxa Cabelão” e à direita “Boas

    Maneiras / Público”

    Outra forma de contraste é o de tamanho, o qual foi pouco explorado,sendo encontrado em apenas um dos doze livros selecionados (“Poesiaspara Crianças / Cinco Sentidos”, HEINE, 199-?). Este tipo de recurso é útil,

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    6pois auxilia na compreensão e chama a atenção do leitor para o assuntoprincipal, no caso, cada sentido e seu respectivo órgão sensorial, conformefigura 2.

    fonte: HEINE, 199-?

    Figura 2.: O Contraste de Tamanho – “Poesias para Crianças / Cinco Sentidos”

    Em relação ao traçado contornando os elementos, Mukhina (1996)relata em seu livro uma experiência realizada com crianças de três, quatro,

    cinco e seis anos onde concluiu que a presença deste na ilustração éimportante, pois auxilia na identificação dos elementos. Os livros analisadosapresentam quase sempre este traçado, o qual variou de linhas maisgrossas a mais finas, na cor preta ou outra de acordo com as coresutilizadas nas determinadas regiões da imagem. Notou-se que as áreasonde se optou pelo não uso do traçado são as de estilo mais realistas oumenos caricatos, como no caso de “João contra a bruxa Cabelão” (AMARAL,2001) e “A Velhinha Maluquete” (MACHADO, 1998). Entretanto houve casosonde a complexidade da ilustração fez com que essa se tornasse confusa,exigindo maior atenção do leitor devido ao grande detalhamento da cena,conforme figura 3. Nestas situações a utilização de uma linha contornandoos elementos seria útil, demarcando os personagens ou objetos principais e

    ajudando na sua identificação e entendimento.Os livros no geral empregaram diferentes técnicas na produção da

    imagem. Figuras mais caricatas, com pinturas semelhantes ao lápis de cor,aquarela, giz de cera, passando por figuras mais reais, com traços maiscaracterísticos do computador e até a construção de personagens em massade modelar foram encontradas. Este é um ponto muito significativo, poismostra uma preocupação dos ilustradores em tentar chegar a umalinguagem mais apropriada para transmitir a mensagem desejada, além dedar ao público infantil uma maior variedade nas obras o que ajuda nocontato das crianças com as diversas técnicas, conforme figura 4.

    fonte: Amaral, 2001

    Figura 3.: Ausência de Traçado de Contorno – “João Contra a Bruxa Cabelão.” 

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    fonte: Machado, 1998) fonte: França e França, 2003 fonte: Rutzen, 199-?

    Figura 4.: Diferentes Técnicas – À esquerda “A Velhinha Maluquete”, ao centro “O Pote de Melado” e à direita “Descobrindo o Mundo dos Dinossauros”

    Em se tratando da integração texto e imagem, um dos problemasencontrados foi a falta de conexão entre a idéia principal da narrativa e ailustração, no que diz respeito à expressão dos personagens. Um exemplodisto foi encontrado em “Três Vampiros se divertem” (CARDOSO, 2001)onde o parágrafo conta que os três personagens Xisco, Xarope e Xereta sãoexpulsos de seu castelo por uma bruxa (Xandoca). A ilustração utilizadaapresentou os garotos sendo expulsos e fugindo de Xandoca, porém asexpressões em seus rostos demonstram felicidade. Na obra “A CorujinhaJuju” (MOURA, 2001) em um total de sete ilustrações, sendo sete situaçõesdistintas, a personagem principal apresenta-se em cinco delas com amesma expressão facial, conforme figura 5.

    Quanto à diagramação a principal falha encontrada foi em relação àlegibilidade do texto. No caso, a sobreposição do texto na ilustração ou vicee versa acaba por prejudicar parcialmente a leitura, conforme figura 6.

    Já quanto à inteligibilidade do texto apenas dois podem serapontados como de maior complexidade. São eles: “A Libélula e aTartaruga” (ALVES, 1999) e “João contra a Bruxa Cabelão” (AMARAL,

    2001), ambos indicados para a faixa etária dos quatro a oito anos. Oprimeiro apresentou um vocabulário extremamente rebuscado (emprego depalavras como ‘efêmero’, ‘diáfanas’, ‘prudentes’ ou ‘leviano’) e o conteúdoda narrativa foi mais adulto, mostrando duas maneiras de se enxergar eviver e reagir frente a diferentes situações, incluindo-se a morte. Já osegundo apresentou uma história que exige uma maior atenção do leitor eutilizou algumas palavras não muito usuais (‘jequitibá’, ‘ceia’, ‘estrondo’,entre outras) para crianças. Entretanto a narrativa foi bem mais simplesque a anterior.

    Por último, analisaram-se os aspectos gráficos. Notaram-se umapreocupação com a diagramação das páginas, espaçamentos em branco emargens. As informações estão no geral bem distribuídas, com exceção dosproblemas já ressaltados anteriormente. O que se observou como poucoexplorado foi à questão do tipo de papel, formato da obra e tipografia.Neto; Rosamilha; Dib (1974) afirmaram que o uso de papéis muito finospode prejudicar a percepção visual das letras, principalmente se a sombradas letras impressas na outra face do papel se fizer presente no verso domesmo. No livro “Poesia para Crianças – Cinco Sentidos” (HEINE, 199-?)verificou-se esta falha. A folha permite a visibilidade de parte do texto eilustração da página anterior (figura 7). O mais interessante foi que estaocorreu justamente no tipo de papel mais indicado para melhor legibilidade,opaco e sem brilho segundo Neto; Rosamilha; Dib (1974).

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    8Outra falha encontrada foi na qualidade final das imagens que

    compõe a obra “O menino Maluquinho em Os Voluntários da Pátria”(BARBALAT, 2001). As ilustrações são marcadas pela presença de pontos eserrilhadas, conforme figura 7.

    fonte: Cardoso, 2001 fonte: Moura, 2001

    Figura 5.: Integração texto e imagem – À esquerda “Três Vampiros sedivertem”” e à direita “A Corujinha Juju”

    fonte: Moura, 2001 fonte: Moura, 199-? fonte: Rocha, 2001

    Figura 6.: Legibilidade – À esquerda “A Corujinha Juju”, ao centro “BoasManeiras / Público” e à direita “A Família de Marcelo”

    No quesito formatos, estes variaram entre quadrangular e retangular,enquanto a tipografia variou entre Elzevir, Didot e Bastonada, com exceçãodas obras “O que é?” (MACHADO e CLAUDIUS, 2000) e “A VelhinhaMaluquete” (MACHADO, 1998) que utilizaram os tipos Bastarda e Fantasia.O emprego da caixa alta se deu em seis das doze obras analisadas: “ACorujinha Juju” (MOURA, 2001), “A Velhinha Maluquete” (MACHADO, 1998),

     “Boas Maneiras – Público” (MOURA, 199-?), “Conhecendo os amigosDinossauros” (RUTZEN, 199-?), “Poesias para Crianças – Cinco Sentidos”(HEINE, 199-?) e “O que é?” (MACHADO e CLAUDIUS, 2000).

    Segundo Gomes (2003), tipos em caixa alta não são indicados paratextos longos por proporcionar uma leitura desconfortável. Entre as obrasanalisadas a única que apresenta problemas para a sua leitura foi o livro

     “Boas Maneiras – Público” (MOURA, 199-?). A grande quantidade de textopor página somado ao uso da caixa alta faz com que a leitura se torne umpouco cansativa, conforme figura 8.

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    fonte: Heine, 199-? fonte: (Barbalat, 2001).

    Figura 7.: Falha no aspecto gráfico – À esquerda “Poesia para Crianças – CincoSentidos” e imagem em baixa qualidade - À direita em “O Menino Maluquinho em

    Os voluntários da Pátria”

    fonte: MOURA, 199-?

    Figura 8.: Leitura cansativa – “Boas Maneiras / Público”  

    4. Considerações

    Os livros exercem um papel muito importante na educação e informaçãodos seres humanos de todas as idades, pois proporcionam o conhecimentoe a compreensão dos fatos, podendo despertar outros interesses e auxiliarna qualidade de vida do leitor.

    Para as crianças, eles desenvolvem e estimulam a imaginação, acriatividade e o gosto pela leitura. Assim sendo, projetar um livro infantilnão é uma tarefa simples. Levando-se em conta ainda a exigência cada vezmaior de seu público movido pelo convívio em meio a uma realidade repleta

    de altas tecnologias e os mais variados tipos de produtos, não é de seespantar que estes procurem também nos livros, qualidades estéticas ecriativas que lhes chamem a atenção e os motivem a se adentrarem nomundo da leitura.

    Para que isso aconteça, não basta apenas o livro ser formadode uma boa história. Desde o momento que antecipa a sua aquisição, aobra literária já deve possuir atributos que despertem ou aumentem odesejo do leitor para o início de sua leitura. Além disso, é fundamental queesta motivação não só aconteça durante o primeiro contato com o

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    10determinado produto, mas sim que se encontre durante a leitura algo quemantenha esse grau de interesse.

    Isto pode ser obtido através de um projeto gráfico bem estruturado erealizado. Neste caso a integração entre o conteúdo escrito e o visual éfundamental. Assim a presença da ilustração não só representandovisualmente, mas dialogando com o texto tem o poder de questionar,

    reformular, sintetizar e acrescentar novas informações ao que foi escrito,possibilitando ao receptor da mensagem uma leitura mais completa e rica.Em se tratando de livros infantis destinados ao público pré-escolar (três asete anos) isto se torna ainda mais importante, visto a grande identificaçãodas crianças desta faixa etária com figuras, imagens e desenhos. Ailustração destes livros não é apenas um simples ornamento agregado aotexto aleatoriamente, mas possui o importante papel de auxiliadora dacompreensão do conteúdo a ser transmitido, incentivando também aimaginação e o desenvolvimento perceptivo.

    Porém é importante lembrar que cada obra deve receber uma soluçãoespecífica, pois uma história nunca é igual à outra. Para o encontro doresultado mais adequado, a exploração de diferentes técnicas é válida. Oresponsável pela ilustração da obra deve buscar unir beleza efuncionalidade, apresentando a mensagem de forma clara. Para isto, aescolha de diferentes técnicas pode auxiliar para despertar a atenção dopúblico.

    Entretanto, deve-se se atentar a algumas características importantes,a começar pelo o uso das cores. Elas se mostram mais eficientes ajudandona melhor percepção das imagens, destacando as ilustrações em meio aotexto e chamando a atenção do leitor, diferente daquelas que utilizamapenas o preto, branco e suas derivadas tonalidades.

    Juntamente às cores, as crianças se atentam muito às formas doobjeto, assim sendo as linhas de contorno auxiliam na identificação e

    definição das mesmas. Isto é reforçado ainda com a aplicação do contraste.Com ele pode-se dar ênfase a determinada parte da cena em questão,tornando a página mais dinâmica além de quebrar a monotonia da peçagráfica.

    A utilização de novas tecnologias também é bem vinda. Todavia, cabeao ilustrador estar buscando as atualizações presentes no mercado eaplicando-as de forma correta, visto que de nada vale a tecnologia se nãoimplantada seguindo as reais necessidades do público alvo.

    É importante destacar também o papel fundamental que o designertem no projeto gráfico do livro infantil bem como na composição das suasilustrações, visto que ele muitas vezes não é apenas responsável pela

    diagramação das imagens, mas também em muitos casos pela própriacriação destas. Os conhecimentos e conceitos possuídos pelo designer noque diz respeito a melhor forma de se transmitir a idéia trabalhando emconjunto com o ilustrador especializado mais nos aspectos técnicos para odesenvolvimento das ilustrações só tendem a melhorar o resultado final.

    Outro fator que merece atenção é com relação ao texto. Estando oleitor infantil na fase de aprendizagem, as obras destinadas a eles devempossuir uma linguagem compreensível sem que esta acarrete também noempobrecimento do conteúdo. Deve haver uma preocupação na escrita ediagramação deste em meio à ilustração.

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    11Tendo em vista todas as características citadas e utilizando-se das

    palavras de Neto; Rosamilha; Dib (1974), podem-se afirmar, portanto queum livro onde se tem uma total harmonia entre o texto, caracteres eespaços tipográficos, ilustração, papel, encadernação e claro, o preço final,é o que pode ser chamado de um livro bem planejado. Entretanto o fatorcusto deve ser bem analisado, visto que o bom planejamento de um livro

    não é um gasto, mas um investimento necessário para um resultado de fatosatisfatório.

    Assim sendo, enquanto não houver uma conscientização e maiorreconhecimento da importância de todos os aspectos citados para a leiturae entendimento do conteúdo pelos pré-escolares, falhas continuarãoacontecendo, podendo sim contribuir para o desinteresse das crianças pelasobras. 

    5. Bibliografia

    [1] ALVES, R.  A libélula e a tartaruga. 8° edição. São Paulo: Paulus.1999.

    [2] AMARAL, M. L. João contra a bruxa Cabelão. São Paulo: Editora doBrasil. 2001.

    [3] BARBALAT, L. O menino maluquinho e os voluntários da pátria .Curitiba: Educacional. 2001.

    [4] CARDOSO, M. M. Três vampiros se divertem . São Paulo: Ave-Maria.2001.

    [5] COELHO, N. N. Panorama histórico da literatura infantil/ juvenil.4° edição. São Paulo: Editora Ática. 1991.

    [6] COELHO, N. N. A literatura infantil. São Paulo: Edições Quíron LTDA;Brasília; INL. 1981.

    [7] CUNHA, M. A. A.  Literatura infantil: teoria e prática. São Paulo:Editora Ática. 1983.

    [8] FRANÇA E FRANÇA. O pote de melado. 6° Edição. São Paulo: EditoraÁtica. 2003.

    [9] GESELL, A. A criança dos 0 aos 5 anos. São Paulo: Editora MartinsFontes. 1996.

    [10] HEINE, E.  Poesias para crianças / cinco sentidos. EditoraBrasiLeitura. [199-?].

    [11] LARRICK, N. Guia dos pais na escolha de livros para crianças . Riode Janeiro: Instituto Roberto Simonsen – Centro de Bibliotecnia para odesenvolvimento. 1969.

    [12] LINS, G. Livro infantil? . 2° edição. São Paulo: Edições Rosari. 2003.

    [13] MANGUEL, A. Uma história da leitura. São Paulo: CIA das Letras.1997.

    [14] MACHADO, A. M. A ve lhinha maluquete. São Paulo: Moderna. 1998.

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    12[15] MACHADO, A. M e CLAUDIUS. O que é?. Rio de Janeiro: Salamandra.

    2000.

    [16] MOURA, P. A corujinha Juju . Editora Ciranda Cultural. 2001.

    [17] MOURA, P. Boas maneiras / público. Editora Ciranda Cultural. [199-?].

    [18] MUKHINA, V.  Psicologia da idade pré-escolar. 1° edição. SãoPaulo: Livraria Martins Fontes Editora LTDA. 1996.

    [19] NAKATA, M. K. A ilustração de livro infantil: Design contribuindo noseu processo de realização. Universidade Estadual Paulista, Faculdadede Arquitetura, Artes e Comunicação. 61f. Bauru. 2004.

    [20] NETO, S., ROSAMILHA, N e DIB, C. Z. O livro na educação. Rio deJaneiro: Gráfica Editora Primor S.A. 1974.

    [21] ROCHA, R A Família do Marcelo . São Paulo: Salamandra. 2001.

    [22] RUTZEN, S.  Descobrindo o mundo dos dinossauros . EditoraBrasiLeitura. [199-?].

    [23] VIGOTSKY, L. S., LURIA, A. R. e LEONTIEV, A. N.  Linguagemdesenvolvimento e aprendizagem. 7° edição. São Paulo: ÍconeEditora. 2001.


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