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A VIDA DO PÁSSARO, O CANTO E A DANÇA DO...

Date post: 16-Nov-2018
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1 Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Filosofia e Ciências Humanas Departamento de História, Curso de Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica A VIDA DO PÁSSARO, O CANTO E A DANÇA DO TANGARÁ MARIA CECÍLIA BARBOSA KEREXU Florianópolis 2015
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    Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Filosofia e Cincias Humanas

    Departamento de Histria, Curso de Licenciatura Intercultural Indgena do Sul da Mata Atlntica

    A VIDA DO PSSARO,

    O CANTO E A DANA DO TANGAR

    MARIA CECLIA BARBOSA KEREXU

    Florianpolis 2015

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    Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Filosofia e Cincias Humanas

    Departamento de Histria, Curso de Licenciatura Intercultural Indgena do Sul da Mata Atlntica

    A VIDA DO PSSARO,

    O CANTO E A DANA DO TANGAR

    MARIA CECLIA BARBOSA KEREXU

    Trabalho apresentado como requisito para obteno do titulo em Licenciatura Intercultural Indgena do Sul da Mata Atlntica na Universidade Federal de Santa Catarina, sob a orientao dos profs. Evelyn Schuler Zea e Jos Kelly Luciani. Terminalidade: Linguagens

    Florianpolis 2015

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTRIA Curso Licenciat ura Int ercult ural Indgena do Sul da Mat a At lnt ica Campus Universit rio Trindade CEP 88.040-900 Florianpolis Sant a Cat arina FONE (048) 3721-9249 - FAX: (048) 3721-9359

    At est o que o acadmico(a Maria Ceclia Barbosa, mat ricula n. 11104059, ent regou a verso f inal de seu TCC cujo t t ulo A vida do pssaro, cant o e dana do t angar, com as devidas correes sugeridas pela banca de defesa.

    Florianpolis, 02 de maro de 2015.

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    Orient ador(a)

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    Sumrio

    1. Dedicatria ............................................................................................................. 7 2. Agradecimentos .................................................................................................... 8 3. Resumo (em guarani e em portugus) ............................................................. 10 4. Apresentao ....................................................................................................... 12 5. Introduo ............................................................................................................ 15 6. A vida do pssaro tti ...................................................................................... 16 7. O canto e a dana do tangar ........................................................................... 19 8. Consideraes finais ............................................................................................. 24

    9. Referncias ........................................................................................................... 25 10. Anexos ............................................................................................................... 26

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    1. Dedicatria

    Dedico este trabalho em primeiro lugar a Nhanderu que me deu sade, sabedoria, fora para superar e vencer todas as minhas dificuldades para minha formao acadmica. Dedico este trabalho para meus queridos filhos e esposo Macimino M. de Morais Angatu, Marco Mariano de Morais Mbaraka Poty e Marciano Mariano de Morais Mbaraka,y Poty e , netos Eliezer M. de Morais Jeguaka , Lazie M. de Morais Kunumi potyj, Kvilin M. de Morais Takua Miri, Maicon Willam M. De Morais Tup e Dionatan Natan M. de Morais Ver Poty e para todos os meus irmos e irms.

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    2. Agradecimentos AGUYJIVETE XONDARO KUERY XERETARA KUERY: Saudaes a todos os meus parentes com o karai Macimino Mariano de Morais ery ma nhande kuery Aguyjivete xondaro kuery xeretar kuery. Saudao para todos os guerreiros e para todos os parentes: Xee mombe,uta kirami,i xondaro reko. Agradeo a Nhanderu em primeiro lugar pela fora que tem dado, coragem, vida e sade. Estimulo principalmente o apoio das famlias dos meus filhos e esposo, para que eu pudesse enfrentar, da forma mais simples e prazerosa a construir este estudo. Mas quero dizer que valeu apena, que Nhanderu voz abenoe a todos. Agradeo as lideranas da minha comunidade Mbya Guarani de ter me dado apoio, fora para vencer meu estudo. Na poca Pedro Barbosa era cacique e Joao Barbosa vice cacique, foi o vice que assinou a anuncia para eu poder estar na licenciatura, porque o cacique no estava na aldeia. O cacique Marco Mariano de Morais que assumiu de cacique at dia de hoje e outras lideranas tambm me incentivaram e me deram apoio e fora de estar enfrentando esta licenciatura intercultural indgena para a nossa comunidade. Que Nhanderu abenoe a todos. Agradeo todos os professores indgenas os no indgenas da minha escola Fen,n da T.I. Toldo Chimbangue de Chapec SC. Vanisse domingo, Santa Maria, Joao Batista, Janete, Adilson Barbosa, Vanda, Ivanir, Janice, Maura, Felipe, Ozia, Claudson, Tarciso e Natanael. Que Nhanderu abenoe a todos. Quero tambm agradecer todos os professores do Curso de Licenciatura Intercultural Indgena pelas contribuies que me deram durantes as etapas do Curso. Que so os docentes indgenas e os no indgenas Maria Dorothea, Maria Helena Alpini, Ana Luzia, Antonella, Carlos, Flvia Mllo, Ismenia, Atais, Aldo, Mauro, Jos Ribamar Bessa, Rivelino Barreto, Maria Izabel, Murilo Mariano, Clarissa, Marina, e, especialmente Evelyn e Jos Kelly que tambm orientaram este TCC. E pelas experincias, e suas sinceridade de trabalho que realizaram comigo, para que eu tenha um curso de formao especial e pelos cuidados do cotidiano da escrita, leitura e dos trabalhos. Agradeo tambm a Jozileia Daniza Kaingang pela gravao de vdeo da pesquisa e ao pessoal da Funai que me deu apoio, especialmente Rosangela e Clovis. Agradeo a toda Coordenao do Curso, Maria Dorothea, Lucas, Murilo, Mariano, Juliana e Ariane. Agradecemos a Universidade Federal de Florianpolis Santa Catarina pela criao deste curso de formao docentes e tambm pela concesso da bolsa permanncia de estudo.

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    3. Resumo (em guarani e em portugus)

    RESUMO EM GUARANI:

    Kova`e re ombaapo rojoguerayvu xeramoi rev jerojy tangar. Kovae ojea ayvu tuja ve vae rev, kunumi kuery, kyringue kuery, uvixa xerekoa pygua, rogueru jerojy tangara. Mbaexapa yma ngua, mbaexa pa kovae pesquisa oxauka yma ngua rupi mbya kuery oi teri jerojya a peve. Ojeapo tuja vae opy re rgua jerojy agu, javi nhande kuery ojerojy oka re. Mbae jerojy apy ojapo agu. Nhambopara agu guyrai reko, oporai vae Jerojy agu tangar. Yma rgua mbya kuery, mbaexapa oeko Jerojy vae, oguereko jerojy agu, rojapo karai kuery, omanha vixoi kuery, kaaguy ae gui, mbaexa pa, nhandesxy kovae jerojy, mbae omee ta pav kuery. Kovae jerojy vae javi, xee ayvu pa oaxa kyringue, kyringue, ae xery memby kuery, mbae ejuju p.

    RESUMO EM PORTUGUS:

    Objetivo deste trabalho foi estudar com xeramoi sobre a vida do pssaro, o canto e a dana tangar na aldeia mbya guarani que fica situada na T. I. Toldo Chimbangue, no Municipio de Chapec SC. Para alcanar este objetivo foi realizada pesquisa atravs de rodas de conversa com pessoas sbias da comunidade e tambm com os adolescentes, crianas e o cacique da aldeia buscando conhecer e descrever a vida do pssaro e tambm o canto e a dana tangar, como era antigamente e como so realizadas as danas. Nas falas mostrou que desde antigamente ns guarani temos nossas danas que so realizadas pelas pessoas sbias na casa de reza. A dana do tangar sendo como uma me das danas que distribui para todos. Essa dana tambm pode ser usada para fazer pedido de casamento, e faz parte de tradies para passar de gerao em gerao, de pais para os filhos para que eles venham a conhecer.

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    4. Apresentao

    Meu nome Maria Ceclia Barbosa Kerexu e h 14 anos trabalho como professora na escola indgena ensino fundamental Fen`no. Desde 1999 moro na Terra Indgena Toldo Chimbangue, no Municpio de Chapec (SC), na qual vivem Guarani e Kaingang. Todos ns da comunidade vivamos antes na rea indgena Pinhalzinho, no Municpio de Planalto (Rio Grande do Sul). Ns Guarani estamos provisoriamente na TI Toldo Chimbangue aguardando o ministro da justia definir a demarcao da terra do Araai, no municpio de saudade Kunha Por (SC).

    Ns guarani viemos sofrendo desde 1996 lutando pela nossa terra me que seja demarcada para que os nossos filhos e netos futuramente venham crescer na terra onde nossos avs morreram e deixaram para nosso futuro filhos, netos e bisnetos. Na poca o cacique guarani foi Pedro Barbosa e foi ele que organizou seu povo da aldeia na data de 19 de junho de 1999 para fazer a retomada no Araai, no municpio de saudade Kunha Por (SC). No ms de outubro fomos despejados pelos polcias pela ordem do juiz de Chapec (SC). Teve nibus no local para levar todos ns na TI Nonoai (RS) e nos soltaram no meio de um potreiro de gado, tratando-nos como se fosse animais. Neste momento, tinha at criana desmaiando de fome, um deles era meu filho, tinha quatro anos de idade. E tambm fui agarrada pelos policiais nos meus braos e me levaram no nibus a fora. E no dia 19 de outubro de 1999 viemos para TI Toldo Chimbangue Chapec (SC) para que a comunidade pudesse ficar mais junto ao processo da demarcao da terra Araai. O cacique kaingang IDALINO DA VEIGA kaingang cedeu um pequeno espao para ns acampar provisrio no prazo de dois ano ento o contrato foi de dois anos. A o tempo foi se passando e chegou este prazo; novamente entre as lideranas kaingang e lideranas guarani sentaram e fizeram outro contrato para que os guarani permaneam acampados na TI Toldo Chimbangue at demarcar a nossa terra Araai.

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    Hoje temos um espao pequeno na TI Toldo Chimbangue para minha comunidade Mbya Guarani plantar, para nosso consumo. Como mandioca, batata doce, milho e feijo. Temos casa de madeira coberto de brasilita, gua encanada e tratada, criamos galinha, suno, bovino , gato , cachorro. Na nossa aldeia tambm tem congregao evanglica, casa de reza que opy. Temos profissionais que trabalham na comunidade, as lideranas, cacique, capito, agente de sade, aisan (que cuidam da gua). Temos uma pequena escola de 11 de comprimento por 8 metros quadrado, com uma sala multisseriada de 4 ao 5 ano, mas hoje no est funcionando mais por no estar na nossa terra demarcada este espao, pertence a terra kaingang ento foi feito reunio para entrar acordo de colocar os aluno na escola Fenn at ns guarani ter nosso espao prprio. Desde ano 2012 nossos alunos esto estudando na escola Fenn. Ns temos a cultura e costumes diferentes tem dos alguns dos nossos alunos guarani que no se adaptou neste ambiente da escola, at mesmo no momento de lanche e em sala de aula, tambm nas brincadeiras eles so tmidos, eu falo que temos de respeitar as diferenas culturas de cada povos. Em nosso redor existem muitas coisas diferentes, como a forma de falar as lnguas, modo de viver, modo de ser, a alimentao, forma de trabalhar, preparao do solo, nos rituais, na forma de respeitar uns aos outros, a forma da organizao social da comunidade guarani e a forma de estudar na escola. Nosso territrio um lugar de ns indgenas de convivncias e a convivncia pelos rios pescar, caar na mata, confeces de artesanatos, danas, cantos, rituais e outros.

    Eu nasci em Nonoai (RS) . Meus pais Clementino Barbosa e Carmelinda de Oliveira do santo ele foram a bito. Somos setes irmos e quatro irms de pai e me e mais dois irmos que so filhos do meu pai com outra mulher do primeiro casamento dele. O nome deles so Antnio Barbosa, Maria Ceclia, Pedro, Joo, Miguel, Elza, Alcindo, Natalina, Volmir, Neusa, Alevino Barbosa filho de outra me e Albino Barbosa, so estas minhas famlia. Eu Maria me casei e tive um filho com o primeiro esposo, que o

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    Marco Mariano de Morais, depois de nos separamos, e depois me casei com segundo marido e tive um filho que tem nome de Marciano Mariano de Morais que meu caula. Eu e meus familiares viemos para T.I. Toldo Chimbangue em 1999. Passei a ser professora para dar aula quando fui indicada pelas lideranas e comunidade mbya guarani no ano de 2000. Assim comecei minha carreira em sala de aula, e no primeiro ano tinha 26 alunos na escola Guarani. Nesta poca, no tinha prdio de escola, as aulas funcionavam em uma casa coberta de lona preta e as crianas estudavam sentadas em cho batido em cima de uns pedaos de papelo. Comeamos no zero, sem material escolar e enfrentamos muitas dificuldades. Ainda no tinha formao de capacitao de professores indgenas, foi s no ano de 2003 que fui chamada para curso de formao para professores indgenas no magistrio intercultural bilngue em RODEIO 12, no municpio de Timb (SC). E depois fomos para Governador Celso Ramos por mais cinco ano de magistrio e no final foi no hotel de so Francisco do sul (RS). Em 2010 fiz minha prova de vestibular e ingressei no Curso de Licenciatura Intercultural Indgena do Sul da Mata Atlntica que quero finalizar com este Trabalho de Concluso de Curso que trata da vida do pssaro, canto e dana do tangar.

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    5. Introduo

    J fiz trabalhos de pesquisa sobre artes guarani e neste trabalho eu gostaria de aprofundar a pesquisa da vida do pssaro, canto e dana do tangar. As caractersticas da dana do tangar, ouvindo a msica e o som e o significado do tangar. Onde praticada esta dana, quem dana, em que momento se dana, saber a histria da dana, como as pessoas que j tem conhecimento da dana, se uma dana de animais sagrada, saber os hbitos, onde dorme se no cho ou nas rvores, sobre os ninhos etc.

    Existem muitas pesquisas feitas sobre vrias danas indgenas, mas meu foco ser na dana do tangar. Tangar o nome de um pssaro sagrado para ns guarani. um pssaro que Nhanderu nos deixou para ser guardies da dana do xondaro e esse pssaro que ensina a conhecer a natureza.

    Esse tema faz parte das discusses das prticas corporais como forma de linguagem, prticas que so expressas em danas, cantos, rituais, esportes, msicas, sons, artesanatos, grafismos e pinturas corporais.

    Eu Maria Ceclia Barbosa quero dizer que meu foco da pesquisa a dana tangar, mas tem outros nomes de pssaro sagrado para os Mbya guarani. O Main,i que beija-flor que significa para ns o caminho, exemplo: Quando tem famlia pequena o pai vai pescar ou vai em outro lugar tem que falar com o filho para ficar com a me: Exemplo: Quando a criana no consegue dormir. Porque o espirito da criana est perdido sem achar o caminho onde seu pai andou. Ento o pai chega na casa e o filho no consegue dormir, a criana levada do xeramoi e pede para o karai rezar e pedir que o beija-flor trazer o filho para casa na suas asas. Logo que o karai reza o espirito da criana logo chega, e logo a criana dorme, porque o espirito est no corpo dele. Urukure,a que a coruja dona da noite s canta, grita e avisa quando algo vai acontecer, se algum vai morrer e tambm canta quando a noite est boa. Durante a noite ele fica acordado e durante o dia s dorme.

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    Nesse trabalho meu foco vai ser a pesquisa do pssaro tangar e seus ensinamentos de como vivem, como cantam, como danam.

    6. A vida do pssaro tti

    Fonte: http://dicionariotupiguarani.blogspot.com.br/2012/08/tangara.html

    Nessa parte vou descrever o que xeramoi Macimino Mariano de Morais Angatu contou da vida do pssaro tangar que tambm chamamos tti. Quando fala da dana, fala de tangar. Quando fala do passarinho, fala de tti.

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    Ele contou que o tamanho dele menor que o Joo-de- Barro, o tti bem menor. O pssaro macho dominante do grupo ele se comporta como um santinho no alto de um puleiro. Ele possui cerca de 12 a 13 cm, a plumagem dele azul, a cauda preta com duas penas centrais, que mais longa do que as outras e na cabea a pena vermelha. E os mais novos so verde, para eles atingir as penas como os mais velhos; a plumagem adulta s com 2 anos. De idades e as femeas so verde escura a cauda da femea mais longa do que dos machos, ela mais ligeirinha so mais silencio. E o cantar dela diferente do macho. Ele tem um canto para se comunicar e para avisar para se reunir para danar. So pssaro muito atentos, eles ficam vigiando todos momentos cuidando as vinte quatro horas por dia. Quando um canta longe eles se esperta e comea pular e movimentar o corpo e responder com o canto. E um pssaro muito inteligente. Ele avisa quando o dia esta bom e dia ruim . Quando se rene para danar primeiro eles se conversa para depois comear a dana e cada um na sua posio, fazem fileira somente os macho e a fmea fica vigiando ao lado cantado junto e danando parada e os macho comeam danar em circulo e cantando. Depois que em ser a dana cada um pula no galho. Esta dana acontece no cip torcido em crculo para facilitar a dana.

    Os principais hbitos deste pssaro so: ele pousa nas ocas da madeira ou em galhos e faz ninho na forquilha da rvores bem alto na floresta, o ninho dele feito de casca de cobra e folha seca e teia de aranha. Depois que eles nascem os filhos abandonam seus ninho. Depois quando tem os vinte dias passam para se alimentar sozinhos.

    Ele contou tambm que os tti vivem mais nos capo da mata, na beira dos rios e nas matas grandes onde vivem os animais ferozes e onde tem caas. E quando as pessoas vo caar ou ver as armadilhas ou fazer roados para plantio sempre este pssaro est na frente, nos guiando e protegendo como os guardies.

    Quando tem algo desagradvel que no est bom ele comea a cantar diferente assim: ttt, ttt... neste canto ele est vendo alguns

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    animais ferozes que podem nos atacar. Os mais velhos dizem que o canto dele o som que avisa que alguma coisa pode acontecer no caminho. O cantar deste pssaro est dizendo que no para prosseguir por que no est bom e que para voltar para sua casa. Quando ouvir este canto pode acontecer alguma coisa. Quando ele faz outro cantar porque est bom para prosseguir a caminhada, voc pode andar o quanto voc quiser, quando ele canta desta forma x-x-x-x porque o dia est muito bom.

    No canto deles quando eles cantam assim toririoi x, significa que estamos chegando no prximo vero e chegando mais um final de ano, chegando para prximo ano novo.

    Ele um pssaro danador, ele reza, canta, conta histria h muitos anos.

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    7. O canto e a dana do tangar

    Foto: Macimino Mariano de Morais Angatu e eu, Maria Cecilia Barbosa, na opy (foto tirada por Jozileia Daniza Kaingang, janeiro/2015)

    Nessa parte vou apresentar a transcrio e traduo da letra do canto do tangar e tambm vou descrever o que xeramoi Macimino Mariano de Morais Angatu contou da dana tangar nas rodas de conversa na aldeia Mbya Guarani do Araxa na Terra indgena Toldo Chimbangue Chapec SC.

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    Transcrio da letra do canto:

    Tangar ka`aru nhagu, tangar ka`aru nhagu

    Ojerojy, ojerojy

    Onhembo jerejere, Onhembo jerejere,

    Opo`opo`opo`opo, guyr guyr, guyr guyr.

    Traduo:

    Tangar ao entardecer, tangar ao entardecer,

    E ele dana e ele dana

    E ele gira e ele gira e tambm pula

    E tambm pula e mergulha e mergulha e ele pula ele pula e mergulha e mergulha

    Transcrio da letra do canto:

    Xekyvyi, xekyvyi, oo rire

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    Ejevy voi jaa gu, ejevy voi jaa gu

    Jaa mavy, jaa mavy

    Jopiveii

    Pararovai, jaa jerojy

    Pararovai, jaa jerojy

    Traduo:

    Crianas, crianas, vamos juntos

    Vamos caminhando

    Venham ligeirinho para agente ir

    Do outro lado do mar para agente danar

    Xeramoi Macimino contou que a dana do tangar a primeira dana comear s oito horas da manh para ter contato com outras danas, como o xondaro. Os antigo fala que a dana tangar uma iniciao dos movimentos de agilidade dos corpos, porque este pssaro sagrada. Esta dana ela vista com todos homens e mulheres. Essa dana como uma me que distribui com todos. Ela tambm pode ser usada para fazer pedido de casamento.

    Esta dana significa para ns o canto do tangar, uma dana que se demonstra muito interessante para ver a forma que danado e cantado, o nome se refere a dana que imita esta ave, que a sensao de agilidade desta ave sagrada. Imita os gemidos e rudos e o movimento deste dana tangar que se refere a movimentos corporais e preparando o corpo para outras experincias. Os movimentos do corpo tambm imitam o bater das asas do pssaros. A leveza representa avoar do pssaro que se chama dana do tangar.

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    Os guerreiros e as guerreiras um saber que vem trazido de muito tempo, que este pssaro sagrado que se chama mensageiro que vem do Nhanderu. Este pssaro vive rodeando o tekoa, olhando como guardies das aldeias. Alm disso ele considerado guardio da aldeia e este pssaro sempre est atento a tudo o que acontece nas aldeias.

    A dana tangar muito sagrado, porque esse um espirito que vem do Nhanderu. Em primeiro lugar diz que guardies da natureza e da dana tangar, como uma me das danas que distribui para todos. Como contou xeramoi Macimino Mariano de Morais Angatu (2014):

    a dana do tangar muito importante porque isso j vem desde quando existiu o povo guarani na face da terra quando como kara reza e Nhanderu fala comigo. Primeiramente meu pai dizia que antigamente que esta dana era feitos pelos homens e mulheres para que eles estivessem atentos e preparados para os dias maus que ainda est para vir ao mundo. Por isso motivo esta dana praticada todas as manhs e todas as tardezinhas antes do kuaray [que o sol] quando ele levanta de manh e quando ele se pe de tarde para Nhanderu enviar seus guardies para guardar a comunidade, para que estejam sempre protegendo a comunidade onde vivemos ou moramos. Por esse motivo esta dana sempre praticada at dia de hoje e a comunidade no devem se esquecer desta dana.

    Hoje esta dana visto com todos homens, mulheres, jovens e crianas que j sabe danar. A dana tangar uma expresso de artes de nossa cultura. Esta dana nos faz muito bem para a nossa sade e que envolve tambm uma defesa do nosso corpo de vida e nos trs nimos para ns guarani e fora e coragem para sobreviver. Este pssaro existe at dia de hoje.

    O Angatu karai Macimino da aldeia Araxai Mbya Guarani, ainda falou sobre esta dana que nunca deve ser esquecido por que esta dana muito antiga. A dana feita pelas pessoas sbias, xeramoi kuery. Quem ensina o karai.

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    Primeiro feito o lugar para uma reza para preparar e depois formar um grupo de dana do tangar, que mais tranquilo. Depois que preparou com a dana do tangar, pode fazer outra dana, como a do xondaro, que para ter agilidades e movimento do corpo para que esteja preparada para a luta, tanto homens, mulheres jovens e crianas.

    A dana do tangar s imita o pssaro do tangar. A dana do xondaro imita outros animais, como o macaco por exemplo. O passo da dana do tangar devagar e o passo da dana de xondaro bem rapidinho que significa movimento do corpo que est se preparando para luta de guerra.

    A dana tangar organizada com o karai, formando um crculo.

    O crculo significa o pssaro que fica rodeando a madeira quando ele acha uma abelha na rvore cantando desta forma x-xxx. Ele um pssaro alegre e tambm muito bravo.

    Quando est danando dizendo assim, dana, dana e todo junto dobra o joelho, que significa concentrao. Quando ergue as mos para cima e gira para esquerda e para direita significa as asas do pssaro pedindo a proteo para natureza e para a comunidade onde vivemos que os guardies da natureza. E quando faz o pula e pula significa a defesa do movimento do corpo tendo sua defesa. Tambm faz o mergulha e mergulha, est significando a defesa do seu prprio corpo.

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    8. Consideraes finais

    Oporai ka`aru nhagu kyringue oporai mba`e retu japo`i ria`e ka`aru nhagu nhanem baraete nhane rexa agu nhanderu pe por ve agu.

    Tekoa re kyringue oporai ka`aru nhagu oporai. Xee ma h`e gui kyringue rev anhembo`e ajeroky hagu xeramoi kuery gua,y kuery

    onhomongeta agu re.

    (Xeramoi Macimino Mariano de Morais Angatu)

    As crianas cantam sempre e danam todos os dias para que eles tenham fora para que Nhanderu enxerga agente e fica contente com

    agente. Na aldeia as crianas cantam todas as tardezinha e eu e as crianas aprendemos a danar com as pessoas mais sbios da aldeia que

    nosso dever de ensinar os nossos filhos.

    (minha traduo)

    Considero que foi importante realizar este trabalho, pois foi feito com as pessoas mesmos da comunidade. Para fazer a pesquisa eu no trabalhei sozinha, mas com as pessoas da aldeia. Ns fomos procurar o pssaro e fizemos vrios passeios no mato. Ouvimos o pssaro e vimos ele do outro lado do rio. Tambm nos reunimos na opy para os cantos e a dana do tangar. Foi feito uma pequena roda de conversa com as crianas na opy por volta das 6 horas da tarde. Depois de muitas conversas explicando a importncia do opy que um lugar sagrado onde e contada a histria pelas pessoas mais velhas, com os karai, e onde so praticadas as danas, rezas, musicas e cantos. Pedi para eles cantar o canto do tangar e eles cantaram. Depois disto perguntei pelas importncias da dana tangar. Um deles respondeu e disse que esta dana para Nhanderu proteger todos ns, o outro disse para dar fora. E o outro falou que uma dana sagrada e temos que respeitar. Considero este canto e dana no deve nunca ser esquecida e espero que meu trabalho possa ajudar a lembrar. Ns guarani devemos sempre praticar estes cantos e dana na comunidade, na opy e fora da opy.

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    9. Referncias

    As principais referencias para meu TCC foram as conversas com as pessoas mesmos da comunidade. Tambm consultei pginas na internet e alguns livros, entre os quais os mais importantes foram esses trs:

    WERA,K. et al. Mbya Reko (vida guarani).Florianpolis: Epagri, 2008. 59p.

    Caderno bilngue: Guarani (caderno feito pelos professores indgenas do Magistrio Bilngue).

    PASUELOS BALLIVIAN, Jose (Org). Artesanato kaingang e guarani:Territrios indgenas-Regio sul/ 1. Ed. So Leopoldo: Oikos,2011.

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    10. Anexos

    Fotos feitos pelo meu filho Marcos Mariano de Morais em outubro/2014

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