Date post: | 08-Jul-2015 |
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CHAKUR (1981), analisa as defasagens entre as exigências do currículo e o nível de desenvolvimento cognitivo das crianças. Seu
referencial teórico é a concepção de aprendizagem e desenvolvimento cognitivo do
psicólogo suíço Jean Piaget.Para Piaget, a superação de posições empiristas e apriorísticas no trato da problemática da aprendizagem, não se devem exclusivamente a qualidades
adquiridas nem são unicamente produto de propriedades inatas do sujeito.
Para ela, Piaget possui uma posição relativista e dialética, por conceber o
conhecimento como resultado da interação sujeito-objeto, culminando num dado momento, em operações
dedutivas que não evoluem num sentido pré-determinado, mas que se constroem progressivamente.
Nesta perspectiva, as estruturas do conhecimento não são dadas de antemão, elas se desenvolvem; não se fecham em si mesmas, mas “concluem-se” ao final de um longo processo genético, ao mesmo tempo
individual e social, com a conseqüente “abertura” para o conhecimento científico.
Piaget subordina a aprendizagem ao desenvolvimento cognitivo que passa por
sucessivos estágios, nas diferentes fases da vida do indivíduo.
As etapas do desenvolvimento cognitivo, são:
1ªetapa] período sensório-motorpercepção e manipulação de objetos concretos (“esquemas de ação”) –
“classificação prática”;2ªetapa] operatória-concreta inicia-se pela função simbólica (“coleções figurais” e “não-figurais”) e se desenvolve até atingir
as operações concretas (ações interiorizadas, reversibilidade, operações
aplicáveis a conteúdos diversos);
3ªetapa] pensamento operatório-formal na adolescência – possibilidade de
“refletir” as operações independentemente dos objetos e de
substituí-los por proposições (pensamento formal), ou operações dedutivas, formação de conceitos.
4ªetapa] Ressalta-se sempre a atividade do sujeito predominando , em cada
estágio, respectivamente, a atividade motora, a atividade perceptiva e a
atividade mental.
Para Piaget, a aprendizagem envolve assimilação dos dados da realidade às
estruturas cognitivas do sujeito. Para CHAKUR, tal visão se contrapõe tanto à idéia da aprendizagem como
simples reação aos estímulos do meio, quanto à que a concebe como
comportamento contingente, à mercê do acaso.
Para Piaget, são as noções de equilibração e acomodação, que face as transformações ocorridas no meio,
o equilíbrio é atingido mediante a acomodação, que consiste no reajuste das estruturas presentes, ou numa
adaptação ao novo conceito apresentado pela realidade exterior.
Tal adaptação se dá num quadro de interação progressiva de fatores
endógenos e exógenos, e o desenvolvimento da pensamento,
assim como sua correspondência com a realidade, dependendo do nível de
desenvolvimento do sujeito no momento dado.
As estruturas cognitivas não são construídas no vazio. Seus esquemas assimiladores – os esquemas de ação - sofrem
determinações tanto do sistema genético quanto do meio em que
vive o sujeito. Isto é, aos esquemas de assimilação é inerente um processo de regulação e auto-
regulação.
Os conhecimentos lógicos constituem o “órgão regulador da inteligência”. Não são inatos nem
adquiridos, resultam da coordenação de ações e ligam-se àatividade espontânea do sujeito,
mais que às propriedades físicas do objeto; têm portanto, origem na atividade das ações do sujeito.
Com efeito, o desenvolvimento das funções cognitivas se dá por um
processo de equilibraçãoprogressiva, de estágios inferiores a superiores.
Piaget distingue dois níveis de abstração:
a empírica (que se dá a partir da experiência física);
a reflexiva ou formal (com base na experiência lógico-matemática).
Da primeira decorre a aprendizagem caracterizada pela descoberta de
propriedades dos objetos e que consiste numa conceituação descritiva. Da
segunda, resulta a aprendizagem que descobre propriedades e relações das
próprias ações do sujeito, do pensamento em relação à prática,
consistindo na sistematização abstrata em relação ao pensamento concreto.
Pela abstração reflexiva, as experiências lógico-matemáticas vão se integrando em novas estruturas, cuja construção se dá pela reconstrução da
estrutura anterior (permitindo a coerência e a continuidade) ou pela
ampliação da precedente, generalizando-a mediante a combinação com novos elementos (dando-se assim,
o surgimento do novo).
As características diferenciam a “aprendizagem física” da “lógico-
matemática”: enquanto a primeira se dápor associação, prescinde de lógica e necessita de incentivos externos, a segunda se dá por indução-dedução,
necessita da lógica (conforme diferentes fases do desenvolvimento) e
prescinde de estímulos externos (a motivação é inerente ao próprio
processo).
Os conteúdos concernentes àexperiência física mantêm-se relativamente inalterados nas
diferentes fases, já na experiência lógico-matemática, os conteúdos
sofrem modificações com o tempo.
A aprendizagem, então, estáintimamente ligada ao desenvolvimento, e
consiste na mudança de conduta, resultante, ao mesmo tempo, da
experiência e de processos de equilíbrio (aprendizagem sensu lato). Isto quer
dizer que o desenvolvimento cognitivo não é determinado pela mudança de conduta conforme a experiência (ou aprendizagem
sensu stricto), mas ao contrário, a determina.
CHAKUR procura tirar conseqüências para análise do currículo e do ensino
de ciências.Entendendo o ensino como “complexo de ações, intencionalmente destinadas a provocar a aprendizagem”, pondera que as atividades escolares devem
“indicar ou expressar algum conteúdo destinado à aprendizagem dos alunos”.
Concebe o conteúdo como” conjunto de fatos, idéias, noções, princípios e
assuntos contidos num campo de conhecimento sistematizado”. E vê no currículo a organização desse conjunto em experiências de aprendizagem a
serem desenvolvidas na escola.Quanto aos estudos e pesquisas, suas reflexões conduzem-na a criticar (ou
a somar-se aos que criticam):
A tendência à visão estática das estruturas do pensamento e suas
conseqüências na prática escolar, seja na tentativa de acelerar a
aprendizagem sem atentar para seus limites, seja pela atitude de aguardar que a criança saia espontaneamente e sozinha de seu “conflito cognitivo”.
A confusão entre atividade e trabalho manual, desligada da estrutura lógica subjacente;
A confusão entre atividade e processo figurativo;
A tendência a explicar o sucesso de alguns alunos e o fracasso de
outros pela diferença de aptidões ou pelo nível de capacidade de
compreensão.
Quanto à análise da legislação brasileira constante da Lei 5692/71 e dispositivos federais e estaduais dela
decorrentes, a autora identifica alguma aproximação com os
pressupostos de Piaget:
A proposta de variação de conteúdos e métodos conforme as fases de
desenvolvimento;
O escalonamento das matérias segundo a maior ou menor amplitude do campo de
conhecimento que abrangem;A recomendação do aproveitamento das
experiências vivenciais do educando para a sistematização gradativa dos
conhecimentos;A marcha do concreto para o abstrato,
considerando o período sensório-motor, a fase das operações concretas e o estágio
das operações formais.
Constata também uma série de confusões (interpretações inadequadas da teoria psicogenética de Piaget) e ambigüidades (alusão a autores com posições epistemológicas distintas).
Incluem-se nessas confusões e ambigüidades:
A identificação de nível de escolarização com nível de operatividade do sujeito;
A desconsideração de aspectos do pensamento infantil segundo a teoria
piagetiana (sincretismo e justaposição);
A idéia de enquadramento gradativo dos conteúdos nos esquemas lógicos
segundo a lógica do adulto.
O emprego incorreto do termo atividade (categoria curricular) como correspondente a uma determinada fase do desenvolvimento do sujeito (período de operações concretas),
quando, para Piaget, todo conhecimento é atividade independente
do nível;A identificação incorreta dos termos intuitivo e concreto;
Analisando o desenvolvimento das atividades curriculares em sala de
aula, relativas ao ensino de ciências, a autora busca verificar a relação entre as exigências docentes e a capacidade cognitiva das crianças,
partindo da hipótese de que há uma defasagem, expressa na exigência
acima das capacidades.
Com base no desempenho dos alunos em provas piagetianas de
classificação, a autora tece algumas considerações, tais como:
Não se viabiliza na prática o princípio de que o conhecimento não pode ser transmitido, tem que ser
construído, conquistado;
O fracasso e o desajustamento da atuação do educador no desenvolvimento do currículo escolar deve-se em grande
parte, ao fato de que ele inicia as tarefas pela linguagem e por instrumentos
figurativos do conhecimento, ao invés de partir da ação;
Omite-se (ou ignora-se ) o fato de que o comportamento manifesto do aluno traz subjacentes estruturas cognitivas a serem levadas em conta no processo de ensino-
aprendizagem.
Assim, o meio escolar torna-se cada vez mais técnico e menos natural, a ponto de o ensino e a própria escola
chegarem a ser desnecessários (quando não prejudiciais) à vida intelectual do sujeito e às suas
atividades práticas.
Tais considerações, estendem-se também ao trabalho de formação dos professores, em que são apresentadas orientações diversas, incompatíveis, inadequadas à realidade dos alunos e
nem mesmo condizentes com as determinações legais e a proposta curricular que se pretende sejam
seguidas e cujas confusões e ambigüidades não são tocadas.
Mas é possível vislumbrar algumas possibilidades, no próprio
desenvolvimento do currículo, nos limites estreitos da escola, a partir
da contribuição de Piaget. A abordagem interacionista (sujeito-objeto), própria do construtivismo genético (conquista e construção de conhecimentos), permite levantar
alguns fundamentos para o desenvolvimento curricular:
Noção de competência do aprendiz, conforme a evolução das capacidades de
certas condutas;Perspectiva de interação entre o sujeito
que aprende e a situação de aprendizagem;Pressuposto da construção progressiva das
estruturas cognitivas (ordenação de objetivos, conteúdo programático e
atividades para atingir, gradativamente o aspecto propriamente “formal” dos
conhecimentos, atendendo às várias etapas das estruturas internas do sujeito).
É preciso no entanto, tentar corresponder a estrutura curricular ao nível de “competência” da criança em um determinado domínio. Isto corresponde a criar situações que
provoquem contradições, que gerem o “desequilíbrio cognitivo´,que causem distúrbios no modo costumeiro de pensar, exigindo o acionamento do
processo de equilibração.
Finalmente evitar a compartimentação dos objetivos em classificação, seriação, raciocínio numérico, raciocínio espacial, etc,
pois isto reitera uma noção mecanicista de inteligência, que consiste na mera justaposição de
competências.
Segundo CHAKUR, com o currículo organizado a partir das estruturas
cognitivas correspondestes às diferentes fases de desenvolvimento do sujeito, o ensino deixa de se prender unicamente ao aspecto discursivo. Para ela, a ação
pedagógica tenderá a apresentar melhores resultados, se o professor se
apoiar “nas estruturas naturais do pensamento, sem recorrer
necessariamente aos signos (lingüísticos e ou matemáticos) e à formalização”.
A aquisição dos conceitos científicos, sob o ponto de vista do desenvolvimento cognitivo, enquanto
formação de funções psíquicas superiores, através de investigações
da psicologia contemporânea , obteve-se importantes contribuições para a reflexão sobre problemas de estruturação do conteúdo curricular e de organização do processo ensino-aprendizagem na educação escolar.
Refletindo sobre problemas de generalização do ensino, e colocando
a necessidade da superação do pensamento empírico-discursivo pelo
científico-teórico, DAVYDOV (1981), refere-se às críticas que
vem sendo submetida a teoria empírica do pensamento, no plano
lógico-gnoseológico.
Situa a importância das teorias psicológicas sobre o desenvolvimento
cognitivo, que tratam da generalização e formação dos
conceitos nas crianças com base nas peculiaridades gerais da atividade
mental, destacando os trabalhos de Vygotsky, Rubinstein, Piaget.
Piaget, salienta o “papel das operações do sujeito em seu
pensamento”, e com isso, facilitado “a interpretação correta das regularidades fundamentais na
constituição do intelecto infantil.
Mas pondera que, não obstante tenha abordado “as peculiaridades
do pensamento genuinamente teórico” Piaget limitou-se a concentrar “sua atenção nos
aspectos estruturais-discursivos do pensamento”, deixando de analisar “oo desenvolvimento do conteúdo do
próprio pensamento”
O concentrar-se na formação das estruturas lógicas matemáticas fez
que Piaget identificasse o desenvolvimento do pensamento com
o das estruturas pensantes, enxergando, de modo invertido, o desenvolvimento do conhecimento
das coisas como resultado do desenvolvimento da lógica.