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Abel e Caim: dois tipos de cidade - 30giorni.it 12 Brasiliana... · A ORAÇÃO, OS MILAGRES, A...

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A ORAÇÃO, OS MILAGRES, A VIRGINDADE DE MARIA, A HUMANIDADE DE JESUS Bento XVI no Advento e no Natal Abel e Caim: dois tipos de cidade Entrevista com Nello Cipriani sobre o De civitate dei de Santo Agostinho In caso di mancato recapito rinviare a Uff. Poste Roma Romanina per la restituzione al mittente previo addebito. If undelivered please return to sender, postage prepaid, via Romanina post office, Roma, Italy. En cas de non distribution, renvoyer pour restitution à lʼexpéditeur, en port dû, à: Ufficio Poste Roma Romanina, Italie In caso di mancato recapito rinviare a Uff. Poste Roma Romanina per la restituzione al mittente previo addebito. If undelivered please return to sender, postage prepaid, via Romanina post office, Roma, Italy. En cas de non distribution, renvoyer pour restitution à lʼexpéditeur, en port dû, à: Ufficio Poste Roma Romanina, Italie www.30giorni.it MENSILE SPED. IN ABB. POST. Tar. Economy Taxe Percue Tassa Riscossa Roma. ED. TRENTA GIORNI SOC. COOP. A R. L. ISSN 1827-627X ANO XXIX - N.12- 2011 - R$ 15,00 - 5 ANO XXIX - N.12- 2011 - R$ 15,00 - 5 nella Chiesa e nel mondo nella Chiesa e nel mondo Diretor: Giulio Andreotti na Igreja e no mundo Diretor: Giulio Andreotti na Igreja e no mundo
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A ORAÇÃO, OS MILAGRES, A VIRGINDADE DE MARIA, A HUMANIDADE DE JESUS

Bento XVI no Advento e no Natal

Abel e Caim: dois tipos de cidade

Entrevista com Nello Cipriani sobre o De civitate dei de Santo Agostinho

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Diretor: Giulio Andreottina Igreja e no mundo Diretor: Giulio Andreottina Igreja e no mundo

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EDITORIAL

Europa: a visão dos pais fundadores

— por Franco Frattini 4

CAPA

ABEL E CAIM: DOIS TIPOS DE CIDADE

A inveja da graça alheia

Entrevista com Nello Cipriani — por L. Cappelletti 34

NESTE NÚMERO

IGREJA

Com o coração em paz

Entrevista com Joseph Han Zhi-hai — por G. Valente 20

Carta aos amigos, nove anos depois — por G. Valente 30

NIGÉRIA

O terrorismo que veio de longe

— por John O. Onaiyekan 26

CRISTIANISMO

A oração, os milagres, a virgindade de Maria,

a humanidade de Jesus

Bento XVI no Advento e no Natal 41

NOVA ET VETERA

“A fé pede”

Algumas frases sobre a oração — por Luigi Giussani 72

SEÇÕES

CARTAS DO MUNDO TODO 8

LEITURA ESPIRITUAL 12

30DIAS NA IGREJA E NO MUNDO 30

330DIAS Nº 12 - 2011

No sétimo aniversário da morte de Dom Luigi Giussani republicamos

algumas frases suas sobre a oração

De Gasperi

A fé pede

ChinaCom o coração em paz. Entrevista

com Joseph Han Zhi-hai, bispo sem o reconhecimento do governo de Pequim

Um artigo de Franco Frattini explica como retomar o caminho iniciado pelospais fundadores da Europa

Na capa:

A oferta de Abel e Caim, mosaico, Capela Palatina, Palermo

N. 12 ANO 2011an

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XIX Sumário

p. 20

p. 4

p. 72

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C reio que seja essencial inspirar-nos no magisté-rio moral, no impulso ideal e na visão previden-te de Alcide De Gasperi especialmente nestes

momentos difíceis para o clima econômico e políticodo nosso país e do continente europeu. Por isso, emnovembro do ano passado, acolhi, com plena cons-ciência da honra que me fora concedida e da respon-sabilidade que me fora solicitada, o convite para assu-mir o prestigioso encargo de presidente da Fundaçãodedicada ao estadista trentino, justamente à luz dagrande herança política e espiritual que nos foi deixa-da por um dos pais da União Europeia e por um prota-gonista absoluto do renascimento democrático, civil ematerial da Itália e da Europa. Então, prometi a mimmesmo recompensar a confiança que me fora dada,dando o máximo empenho e entusiasmo para levar àfrente sempre mais o percurso de promoção e difusãodos valores de liberdade, solidariedade e unificaçãoeuropeia que a Fundação, nestes anos, delineou sob aimportante direção do presidente Andreotti. Fico mui-to agradecido a ele e à senhora Maria Romana DeGasperi pela sua disponibilidade em continuar a aju-dar-nos na busca deste importante objetivo.

“Um político olha para as próximas eleições.Um estadista para as próximas gerações”Essa frase de Alcide De Gasperi evidencia de modoextremamente eficaz a enorme diferença que existeentre os nobres ideais e os grandes valores éticos queinspiraram a previdente ação de De Gasperi, Ade-nauer e Schuman e os horizontes circunscritos ao di-videndo eleitoral, as vacilações diante das volúveispesquisas eleitorais e os objetivos de curto prazo que

muitas vezes distinguem a atual liderança europeia eo debate político na Itália.

Nos últimos tempos, não raramente, privaram aspolíticas europeias do estímulo necessário para umamais íntima perspectiva unitária os egoísmos naciona-listas, os facciosos interesses sectários, as míopes con-traposições, a ausência de visão. Então é inevitável queo debate europeísta tenha se tornado improdutivo e in-capaz de fazer da Europa a verdadeira protagonista po-lítica no mundo. E quem paga somos todos nós.

O presidente da República italiana Napolitano re-cordou que “as instituições da União Europeia e os Es-tados que fazem parte dela, sem excluir nenhum, estãopagando o preço das insuficiências, hesitações, contra-dições, sobre as quais cada um deveria se interrogarqual é a sua cota de responsabilidade”. Diante da cons-tatação desta grande diferença entre os grandes ideaisdo passado e a crise de liderança do presente, não po-demos desanimar. Ao contrário, devemos reagir, ten-tando infundir no projeto europeu a visão e a coragemdos pais fundadores.

por Franco Frattini

Editorial

Europa: a visão dos pais fundadores

Manifestantes diante da sede do Banco Central Europeu em Frankfurt em outubro de 2011

Na condição de presidente honorário da Fundação De Gasperi, soliciteique o deputado (ex-ministro das Relações Exteriores italiano) FrancoFrattini, que assumiu o cargo de presidente da Fundação em novembrode 2011, explicasse aos nossos leitores o que o liga ao ensinamentopolítico de De Gasperi e o espírito com o qual guiará a Fundação

Giulio Andreotti

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Creio que hoje, para a Itália, a ação daEuropa seja uma oportunidade de estímuloe de encorajamento, para que finalmentesejam feitas as reformas que vacilações evetos cruzados nos impediram de fazer, des-de a redução da dívida pública até uma re-forma estrutural das aposentadorias. Te-mos consciência da necessidade urgente dereformas no sentido liberal para uma maiorcompetitividade na economia e garantirconcretas perspectivas de futuro para os jovens desilu-didos. A economia social de mercado, coluna do popu-larismo europeu, é também neste aspecto nosso guia emarca dos nossos valores.

Por outro lado, quando se descarrega nas institui-ções europeias o peso moral e político das próprias res-ponsabilidades, não nos damos conta do ulterior perigode contribuir para a formação de um fenômeno quepõe em risco a manutenção da Zona Euro e o superiorbem coletivo da União Europeia. Sem o euro, hoje to-dos nós estaríamos em uma situação bem pior no quese refere aos efeitos dramáticos dos ataques especulati-vos. Devemos ser mais cautelosos em criticá-lo e maisconvictos em sustentá-lo, não tanto porque a estar emcrise não é o euro, mas a dívida soberana, mas porquepor trás do euro há todo o projeto europeu.

Hoje pagamos o custo da “não Europa”: somos obri-gados a rigorosas políticas de austeridade porque somospoliticamente frágeis, porque uma verdadeira gover-nança europeia ainda não existe. A especulação inter-nacional não apostou apenas na insolvência da dívidapública grega, mas também e principalmente contra asolvibilidade política de toda a União Europeia, apostan-do em seus elementos de fraqueza e nas suas divisões in-ternas. Se a crise grega tivesse sido enfrentada desde oinício com decisão e forte espírito unitário, não teria ha-vido o contágio. Porém onde se continuasse a invocar o

uso da soberania nacional contra a Europa, nenhum fi-nanciamento de fundo europeu – por mais ingente quefosse – poderia jamais conseguir dissuadir os especula-dores em continuar com seus cínicos ataques.

E então, neste momento mais do que nunca perce-be-se “a exigência taxativa de mais Europa” como foidefinida pelo presidente Napolitano, ou seja, a necessi-dade de dar o salto de qualidade que requer o processode integração europeia. Por um lado, as instituições eu-ropeias não são suficientemente sólidas e coesas paranos proteger de imprudências e danos de uma finançasem ética e de um irresponsável acúmulo da dívida so-berana. Por outro, nenhum país europeu individual-mente, nem mesmo o maior e mais eficiente, pode “sesalvar sozinho”.

Para defender a credibilidade de cada um dos Esta-dos membros nos mercados financeiros, é preciso res-tituir credibilidade ao projeto europeu por inteiro, apartir do relançamento da construção de uma verda-deira e própria governança econômica. Devemos iralém de Maastricht, e superar a ilusória pretensão deque o respeito de regras e procedimentos sejam sufi-cientes para substituir as escolhas estratégicas da polí-tica, que o cumprimento mecânico de critérios técni-cos e o automatismo de sanções em caso de inadim-plência tenham condições de abolir todas as crises,presentes e futuras.

530DIAS Nº 12 - 2011

Alcide De Gasperi com Konrad Adenauer, Robert Schuman e os ministros do Exterior da Holanda e Luxemburgo durante os trabalhosdo Conselho da Europa em Estrasburgo em 1951

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Hoje pagamos o custo da “não Europa”: somos obrigados

a rigorosas políticas de austeridade porque somos politicamente

frágeis, porque uma verdadeira governança europeia

ainda não existe. A especulação internacional

não apostou apenas na insolvência da dívida pública grega,

mas também e principalmente contra a solvibilidade política

de toda a União Europeia

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Editorial

Do governo das regras ao governo das escolhasPara resistir ao ataque dos especuladores, devemospassar da coordenação mecânica de políticas basea-das em regras consideradas válidas em todas as si-tuações a um governo unitário da política econômi-ca, que possa realizar suas escolhas segundo os desa-fios que se apresentam a cada vez. Na ausência de taldesenho unitário, a especulação, ao atingir um país,logo depois se dirigiria a outro, dentro da Zona Euro.E os pequenos bancos italianos, franceses ou ale-mães não poderiam se manter sozinhos diante deum mar em tempestade. O almirante deve estar emBruxelas, não em cada uma das capitais. E deve dis-por de instrumentos adequados para fazer girar a ro-ta da frota quando o radar assinala as secas da reces-são ou o ciclone da especulação.

A Europa deve então voltar a ser a verdadeira pro-tagonista. E assim convencer os mercados financei-ros internacionais de que os povos europeus aindasão fortemente estimulados pela vontade política su-perior de defender os nobres ideais de solidariedade,liberdade e unidade aos quais se inspiraram os paisfundadores. Para dar um novo estímulo ao projetoeuropeu, no momento, não é oportuno reabrir a cai-xa de Pandora que é a modificação dos Tratados. Maspodemos apostar em utilizar amplamente os instru-mentos já existentes.

Com Tratados inalterados, por exemplo, o artigo136 do Tratado da União Europeia poderia já permitiro reforço do Banco Central Europeu e dotá-lo de umpapel análogo ao atribuído ao FED, o sistema de ban-cos centrais dos Estados Unidos. Deste modo, os mer-cados entenderiam imediatamente que seria politica-mente excluída qualquer opção de falência individualde um membro da Zona Euro. Recordemo-nos que amanutenção do dólar nunca foi colocada em discus-são por causa da dívida de cada um dos Estados fede-rais. Todavia, a Califórnia esteve várias vezes à beirada falência total e a sua dívida pesa sobre o PIB ameri-cano mais do que a da Grécia sobre o europeu. É avontade política superior a induzir a especulação aatacar os que estão carentes e não os que estão unidospor uma agenda unitária.

Não seria necessária uma modificação dos Trata-dos nem mesmo para reforçar a vigilância europeiasobre bancos e seguradoras, ou para criar umaagência de rating europeia. Na economia global éfundamental confiar em terceiros que certifiquem demodo transparente o estado das finanças públicas edas companhias privadas. Mas a nota final a ser da-da à Europa deve vir de controladores europeus, enão de sujeitos de outros continentes, que além detudo ficam impunes mesmo quando cometem gra-ves erros de avaliação.

Continuar partindo da coragem e da previdên-cia dos pais fundadoresGostaria de recordar algumas proféticas palavras so-bre este assunto pronunciadas por De Gasperi.Olhando para uma Europa que começava a nascer se-gundo o método funcionalista, o estadista trentino re-conhecia que “a construção dos instrumentos e dosmeios técnicos, as soluções administrativas, são, semdúvida, necessárias”. Mas logo depois ele advertia so-bre o risco de involuções implícito no “construir so-mente administrações comuns sem uma vontade polí-tica superior”. E acrescentava que, sem vida ideal,sem calor, a construção europeia “poderia também

De Gasperi preside a Assembleia da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, 10 de maio de 1954

De Gasperi acrescentava que, sem vida ideal, sem calor,

a construção europeia “poderia também parecer a um certo

momento um acréscimo supérfluo e talvez também opressivo

como aparece em certos períodos do declínio o Sacro Império

Romano. Neste caso”, sublinhava, “as novas gerações [...]

olhariam à construção europeia como um instrumento

constrangedor e opressivo”

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CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS

Franco Cosimo Panini Editore: Capa; pp.35,36,39,40; Associated Press/LaPresse: pp.4,25,26,33; Corbis: pp.8-9,16,17,19,20,21; Lessing/Contrasto: pp.11; Enzo LoVerso:pp.12,14,15,72,75,76-77,79; Getty Images: pp.22-23,27,28,29; Romano Siciliani: pp.26,70; Reuters/Contrasto: pp.27,56; Archivio ETS Milano: pp.30,55; Osservatore Romano:pp.31,45,58,66; Franco Cosimo Panini Editore sob licença de Fratelli Alinari: pp.34-35,37,38,40; Paolo Galosi: p.69.

730DIAS Nº 12 - 2011

parecer a um certo momento um acréscimo supérfluoe talvez também opressivo como aparece em certosperíodos do declínio o Sacro Império Romano. Nestecaso”, sublinhava, “as novas gerações [...] olhariam àconstrução europeia como um instrumento constran-gedor e opressivo”.

Para dar um novo calor e estímulo ideal ao projeto,e evitar que a Europa dos spread e dos PIBs pareça àsjovens gerações como o Sacro Império Romano emdeclínio, é necessária maior co-participação dos cida-dãos. É preciso superar o déficit democrático atravésda descoberta da dialética, da paixão pelo debate e olivre confronto exprimindo a exigência de que à Euro-pa financeira una-se a Europa política. E talvez eleger,nas próximas eleições, o presidente do Conselho Eu-ropeu com o sufrágio universal.

A Fundação De Gasperi pode dar uma significativacontribuição a este debate, promovendo a discussãosobre as questões estratégicas da Europa. A Fundaçãopode estimular o interesse à construção europeia, ce-lebrando os sucessos de De Gasperi e recordando asua paixão ideal também através de lembranças amar-gas dos insucessos. Não podemos nunca esquecer quepara De Gasperi e os outros pais fundadores não foifácil sustentar, em uma Europa traumatizada peloódio fratricida, o princípio do “nunca mais guerra en-tre nós”. O seu sucesso não estava por nada definido.Prevaleceram contra o preconceito e a oposição pre-

conceitual porque conseguiram afirmar a força dasideias no livre confronto democrático, determinandosuas próprias posições mas se esforçando para enten-der sempre as razões dos outros.

De resto,alguns de seus projetos ainda não foramcompletados, por mais que eles tenham lutado comforça e determinação na arena política. Mas de umadesilusão política sofrida por De Gasperi emerge to-da a sua paixão europeísta. Refiro-me à não realiza-ção da Comunidade Europeia de Defesa, projeto aoqual De Gasperi tinha acreditado muito. A recusa daComunidade Europeia de Defesa pôs em risco oprocesso de integração e ainda hoje pagamos asconsequências em termos de fragmentação da polí-tica de defesa europeia. Ainda hoje, em uma Europaque no decorrer dos anos conseguiu uma moedaúnica mas não uma espada, há quem continue apreferir formatos limitados em vez de uma perspec-tiva unitária no setor da defesa.

Porém, as derrotas de um pai podem se tornar vi-tórias para a sua prole se esta tiver condições de reco-lher o legado de valores pelos quais seu pai lutou. Ahistória daquela batalha política evidencia, mais doque muitos outros sucessos, a fé de De Gasperi noideal da construção de uma Europa livre e unida. Aconfiança nestes valores de liberdade inspirou o movi-mento para a unificação europeia e deve sustentar-nos na nossa ação atual. q

REDAÇÃO

Via Vincenzo Manzini, 45 00173 Roma Tel.+39 06 72.64.041 Fax +39 06 72.63.33.95Internet: www.30giorni.it E- mail: [email protected]

Vice-Diretores

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Redação

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Gráfica

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Imagens

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Colaboradores

Pierluca Azzaro, Françoise-Marie Babinet,Marie-Ange Beaugrand, Maurizio Benzi, Lorenzo Bianchi, Massimo Borghesi, Lucio Brunelli, Rodolfo Caporale,Pina Baglioni, Lorenzo Cappelletti, Gianni Cardinale, Stefania Falasca, Giuseppe Frangi, Silvia Kritzenberger, Walter Montini, Jane Nogara, Stefano M. Paci, Felix Palacios, Tommaso Ricci, Giovanni Ricciardi

Colaboraram neste número

Franco Frattinio arcebispo de Abuja John O. Onaiyekan

Escritório Legal

Davide Ramazzotti - [email protected] de redação

[email protected]

3OGIORNI nella Chiesa e nel mondoé uma publicação mensal registrada junto ao Tribunal de Roma na data 11/11/1993n. 501. A publicação beneficia-se de subsídios públicos diretos de acordo com a lei de 7 de agosto de 1990, n. 250

SOCIEDADE EDITORA

Trenta Giorni soc. coop. a r. l. Sede legale: Via Vincenzo Manzini, 45 00173 Roma

Conselho de Administração

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Diretor responsável

Roberto Rotondo

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Arti Grafiche La ModernaVia di Tor Cervara, 171 - Roma

ESCRITÓRIO PARA ASSINATURA E DIFUSÃO

Via Vincenzo Manzini, 45 - 00173 RomaTel. +39 06 72.64.041 Fax +39 06 72.63.33.95E-mail: [email protected] segunda a sexta-feira das 9h às 18he-mail: [email protected]

Este número foi concluído na redação

dia 31 de dezembro de 2011.

Impressão concluída no mês de fevereiro de 2012

3OGIORNInella Chiesa e nel mondo

Diretor Giulio Andreotti

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CHILECOMUNIDADE MISSIONÁRIA SAN MARTÍN DE PORRES

Quien reza se salva é muito útil para a evangelização

Ovalle, 19 de outubro de 2011

Senhor diretor,amado no Senhor Jesus,desejo que a presente o encontre em boa saúde, assimcomo todos seus colaboradores em uma tão nobre mis-são de publicar uma revista católica tão importante.

Gostaria de agradecer-lhe pela gentileza de enviar-nos mensalmente 30Días, que nos informa sobre a vi-da da Igreja e sobre muitos outros assuntos.

No próximo mês de novembro teremos as primei-ras comunhões em vários lugarejos e gostaríamos desolicitar à sua generosidade para que nos enviassetrinta exemplares de Quien reza se salva que daría-mos como presente, pois trata-se de um livro comple-to e muito útil para a evangelização.

Que o Senhor lhe faça sentir a sua ternura e aimensa alegria de pertencer-lhe cada dia mais.

Uma saudação fraterna e a minha eterna gratidão,

padre Pedro Galvez Rojo

Ovalle, 23 de novembro de 2011

Caro irmão no Senhor,recebemos os exemplares de Quien reza se salva, eos distribuímos durante as primeiras comunhões doDomingo de Cristo Rei, outros serão distribuídos naFesta da Imaculada.

O Senhor que não se deixa superar em generosida-de recompensará a sua.

Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo • C

8 30DIAS Nº 12 - 2011

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930DIAS Nº 12 - 2011

Fazemos votos de um santo Advento na espera dagrande festa do Natal.

Uma saudação fraterna e a minha eterna gratidão,

padre Pedro Galvez Rojo

Ovalle, 24 de novembro de 2011

Senhor diretor,estimado em Jesus Bom Pastor.Em um exemplar da revista 30Días havia como su-plemento um livrinho mais um CD de cantos grego-rianos, uma maravilha. Iubilate Deo. Abusando dasua generosidade gostaria muito de pedir-lhe a doa-ção de cinco exemplares para dá-los de presente a

outras missões que demonstraram muitointeresse em tê-los.

Podemos apenas garantir que nas nossasorações iremos considerar as suas intençõese as de seus colaboradores.

Uma saudação fraterna,

padre Pedro Galvez Rojo

PANAMÁVISITANDINAS DO MOSTEIRO DA VISITACIÓN

DE SANTA MARIA

Quinhentos exemplares de Quienreza se salva

Las Cumbres, 26 de outubro de 2011

Viva Jesus!Caríssimo senhor Giulio Andreotti e colabo-radores de 30Dias, estamos extremamenteagradecidas pelo apostolado da “boa im-prensa” que vocês realizam distribuindo este“alimento” da formação e da informação,graças ao qual ficamos ao corrente das coi-sas belas e grandiosas e de grandes heroís-mos por parte dos nossos irmãos católicosdo mundo todo. Muito obrigada.

Rezamos para que o nosso santo funda-dor Francisco de Sales possa ajudá-los.

Na semana passada recebemos a visitade um amigo sacerdote que trabalha na

mesma paróquia em que trabalhava o mártir padreHéctor Gallego. Contou-nos do seu trabalho e nóstambém falamos das nossas atividades. Falamos daJornada Vocacional e contamos que distribuímosQuien reza se salva. Ele mostrou grande interesse epediu-nos como poderia fazer para receber qui-nhentos exemplares. Por isso nos oferecemos paraescrever-lhes e fazer-lhes este pedido em nome dopadre Arselio Castro, da paróquia San Pedro Após-tol, de Santa Fé de Veraguas. Podem enviar ao nos-so endereço.

Estamos muito agradecidas a vocês por esta gran-de caridade para com as missões do Panamá.

Deus seja abençoado.

Irmã Margarita María García, V.S.M.

Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo •

Uma vista aérea do Monte das Beatitudes com o Santuário e o Lago Tiberíades, Israel

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Las Cumbres, 30 de novembro de 2011

Viva Jesus!Caríssimo senhor Andreotti e colaboradores de30Dias, agradecemos-lhes pelos livros Quien reza sesalva que chegaram ontem. Já comunicamos ao reve-rendo padre Arselio para que venha buscá-los. Muitoobrigada, continuaremos a rezar pelo seu apostolado.

Deus seja abençoado.

Irmã Margarita María García, V.S.M.

ANGOLADOMINICANAS DO MOSTEIRO MÃE DE DEUS

Também valoramos imenso Quem reza se salva

Kuito, 26 de outubro de 2011

Senhor Giulio Andreotti,muito estimado irmão em Cristo Nosso Senhor,receba as nossas cordiais e fraternas saudações, comvotos de saúde e paz no Senhor. Que o mesmo Se-nhor, com os dons do Seu Espírito oriente sempre osseus trabalhos para a Sua glória e edificação da Igreja.

Muito agradecemos a riqueza e profundidade dasinformações, da Igreja nossa Mãe que nos chegaatravés da revista 30Dias. Também valoramos imen-so o panfleto da doutrina cristã Quem reza se salvaque nos têm enviado.

Temos oferecido a muitos irmãos que frequentama nossa casa, na maioria deles jovens catequistas.Por isso, vimos por esta, se possível for, pedir quenos mandem por favor uns 200 exemplares. Deseja-mos oferecer a todos, nas festas de Natal, porque hátempos atrás muitos nos vêm pedindo. Além disso,temos um encontro ao mês com meninas que dizemquerer ser irmãs. Mas são adolescentes, e embora jásaibam bem as verdades da nossa fé, estamos seguin-

do a ordem do panfleto, e, de maneira especial, omodo como explica o sexto mandamento e a confis-são sacramental. Mas, infelizmente não temos maisnenhum, acabaram-se.

Agradecemos a vossa obra de valiosa colaboraçãona Igreja, para a expansão do Reino de Deus, propa-gando a doutrina cristã. Obrigada.

Deus Nosso Senhor abençoe sempre todos os vos-sos trabalhos, e vos dê alegria na vossa doação.

Sempre unidos com a oração com Jesus e Marianossa Mãe,

irmã Maria Reis do Espírito Santo, O.P.

ESTADOS UNIDOSPARÓQUIA SAINT FRANCIS DE SALES

Um obrigado de Nova York

Nova York, 3 de novembro de 2011

Prezados senhores,atualmente recebemos a sua maravilhosa revista naparóquia, mas com um único problema, que é em ita-liano. A nossa paróquia, antes da minha chegada, eraguiada por sacerdotes que faziam parte de uma con-gregação italiana, os Padres de Dom Orione. Recen-temente fui nomeado pároco e sou um sacerdote dio-cesano. Eu já recebia 30Days na minha paróquia an-

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terior e por isso conheço perfeitamente a ótima quali-dade da sua revista. Peço-lhes gentilmente que conti-nuem a enviá-la, mas em inglês. Sou reverendo PhilipKelly e a paróquia é a Saint Francis de Sales em NovaYork. Obrigado pela atenção e pelo seu ótimo traba-lho no campo da mídia católica.

Fraternalmente,

padre Philip J. Kelly

QUÊNIACONVENTO DOS FRADES CAPUCHINHOS

Um colégio capuchinho que hospedaestudantes de cinco nações africanas

Nairóbi, 10 de novembro de 2011

Prezado senador Giulio Andreotti,eu já tinha lhe escrito pedindo um exemplar de30Dias em inglês, pois estamos em um colégio quehospeda 50 estudantes provenientes de cinco nações(Quênia, Uganda, Zâmbia, Maláui e Tanzânia).

Peço-lhe esta caridade: no convento não há nemuma revista. Seria possível receber um exemplar em

língua italiana? Agradeço-lhe, tendo a certeza queserei satisfeito. Rezaremos pelo senhor e pelos seuscolaboradores.

Padre Giorgio Picchi

TANZÂNIAIRMÃS MISSIONÁRIAS DA CONSOLATA

Who prays is saved: tão bonito, tão útil, tão precioso

Iringa, 10 de novembro de 2011

Prezadíssimo diretor,dirijo-me ao senhor com muita alegria para agradecer-lhe pelos livrinhos Who prays is saved. Tão bonitos,tão úteis, tão preciosos. Espero poder receber tam-bém a revista 30Giorni. Que o Senhor o abençoe e orecompense por este grande dom.

Digo-lhe “obrigada” com a oração para o senhor epara seus colaboradores.

Votos de um feliz Natal e sereno Ano Novo.

Irmã Magda Boscolo

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A margem oriental do Lago Tiberíades, Israel

continua na p. 16

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Nos batizados resta a concupiscência ad agonem / para a luta, ou seja, para a oração

Leitura espiritual/44

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Introdução

Como comentário ao cânon 5 do decre-to De peccato originali do Concílio de

Trento, que publicamos em seguida, pensa-mos em apresentar na seção Nova et Veteraalguns trechos de padre Luigi Giussani so-bre a oração (“A fé pede”, publicado em30Dias, n. 1, p. 34-43, 2008).

Esses trechos evidenciam como o pro-prium da resposta da liberdade do homem àatração da graça é oração. “Quod operum leximperat hoc fidei lex impetrat / O que a lei or-dena a fé pede”, diz Santo Agostinho (DeSpiritu et littera 13, 22). “Et fides orat / A fétambém reza”, diz ainda Santo Agostinho(Enchiridion de fide, spe et caritate 2, 7). Defato, a fé não é conquista nem posse nossa,mas é reconhecimento / confessio / que pede/ supplex.

Ao mesmo tempo esses trechos revelamde maneira surpreendente o coração da ex-periência cristão vivida por padre Luigi Gius-sani. Assim, com a proximidade do sétimoaniversário de sua morte, que ocorre em 22de fevereiro próximo, somos ajudados a cap-tar o coração da sua experiência, que podeser resumida nestas suas palavras: “A oraçãonão é uma atividade, é a atividade do homemsegundo todas as dimensões da sua pessoa; aatividade que não for oração não é atividadehumana, carece da verdade como ponto departida e da verdade como fim”. São as mes-mas palavras usadas por Agostinho, quando

diz que depositar a esperança na oração re-presenta “totum atque summum negotium / aatividade totalizante e suprema” da vida cris-tã (De civitate Dei XV, 21).

A propósito disso, é muito sugestiva umanota, enviada a 30Dias por um membro dosMemores Domini, em que lemos uma frase deDom Giussani de 1992. Tinha ido encontraralgumas pessoas e, na soleira da porta de ca-sa, cumprimentando-as, lhes disse: “Pen-sem naquela menina de quinze, dezesseteanos [Maria], que vivia tudo como oração,que remetia tudo à oração: nós devemos fa-zer como ela. Faz quarenta anos que repitoisso e nem mesmo uma só pessoa me levoua sério até hoje”. Talvez fosse necessáriaaquela perseguição que Dom Giussani pre-via em abril de 1992 (“A ira do mundo, hoje,não se ergue diante da palavra Igreja, ficaquieta até diante da ideia de alguém se dizercatólico, ou diante da figura do Papa comoautoridade moral. Aliás, existe uma reverên-cia formal e até sincera. O ódio explode –mal se contém, e logo transborda – diantede católicos que se apresentam como tais,católicos que se movem na simplicidade daTradição” [L. Giussani, Un avvenimento di vi-ta, cioè una storia, introduzione del cardinaleJoseph Ratzinger, Edit-Il Sabato, Roma1993, p. 104]) para que a alguém, nos anosseguintes, fosse doado estar próximo a ele,ao reconduzir tudo a oração.

Jesus salva Pedro das águas, mosaico do século XII, Catedral de Monreale, Palermo

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Decretum de peccato originali, can. 5 (Denzinger 1515)Si quis per Iesu Christi Domini nostri gratiam, quae in baptismate confertur, rea-tum originalis peccati remitti negat, aut etiam asserit, non tolli totum id, quodveram et propriam peccati rationem habet, sed illud dicit tantum radi aut nonimputari: anathema sit.

In renatis enim nihil odit Deus, quia “nihil est damnationis iis” (Rm 8,1), quivere “consepulti sunt cum Christo per baptisma in mortem” (Rm 6,4), qui “nonsecundum carnem ambulant” (Rm 8,4), sed veterem hominem exuentes et no-vum, qui secundum Deum creatus est, induentes (cf. Ef 4,22-24; Cl 3,9s), inno-centes, immaculati, puri, innoxii ac Deo dilecti filii effecti sunt, “heredes quidemDei, coheredes autem Christi” (Rm 8,17), ita ut nihil prorsus eos ab ingressu cae-li remoretur.

Manere autem in baptizatis concupiscentiam vel fomitem, haec sancta Syno-dus fatetur et sentit; quae cum ad agonem relicta sit, nocere non consentientibuset viriliter per Christi Iesu gratiam repugnantibus non valet. Quin immo “qui le-gitime certaverit, coronabitur” (2Tm 2,5). Hanc concupiscentiam, quam ali-quando Apostolus “peccatum” (cf. Rm 6,12-15; 7,7.14-20) appellat, sancta Sy-nodus declarat Ecclesiam catholicam numquam intellexisse peccatum appellari,quod vere et proprie in renatis peccatum sit, sed quia ex peccato est et ad pecca-tum inclinat. Si quis autem contrarium senserit: anathema sit .

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Decreto sobre o pecado original, cân. 5

Se alguém nega que pela graça de nosso Senhor Jesus Cristo conferida no batis-mo é remida a culpa do pecado original, ou mesmo afirma que não é retirado tu-do o que tem verdadeira natureza de pecado, mas diz que o pecado é apenas can-celado ou não imputado, seja excomungado.

De fato, naqueles que foram regenerados Deus não encontra nada de odioso, pois“já não há condenação” (Rm 8,1) para aqueles que “pelo batismo foram sepultadoscom Cristo em sua morte” (Rm 6,4), os quais “não procedem segundo a carne” (Rm8,4), mas despojando-se do homem velho e revestindo-se do novo, criado segundoDeus (cf. Ef 4,22-24; Cl 3,9s), foram tornados inocentes, imaculados, puros, sem cul-pa e filhos queridos por Deus, “herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo” (Rm8,17); de modo que absolutamente nada os impede de entrar no céu.

Este santo Concílio confessa e crê que nos batizados permanece todavia a con-cupiscência ou o impulso; mas, uma vez que essa foi deixada para a luta, não po-de prejudicar aqueles que não se entregam e virilmente combatem com a graçade Jesus Cristo. Aliás, “só recebe a coroa quem lutar segundo as regras” (2Tm2,5). O santo Concílio declara que a Igreja Católica nunca pretendeu que essaconcupiscência, chamada algumas vezes pelo Apóstolo de “pecado” (cf. Rm6,12-15; 7,7.14-20), é assim chamada porque naqueles que são regenerados épecado real e propriamente, mas porque tem origem no pecado e ao pecado in-clina. Se alguém pensa o contrário, seja excomungado.

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PERUDIOCESE DE HUÁNUCO

Lendo 30Giorni sinto-me em comunhão com a Santa Mãe Igreja

Huánuco, 11 de novembro de 2011

Estimado diretor,cumprimento-lhe em nome do Senhor Jesus Cristoagradecendo pelo número 7/8 de 2011 da revista30Giorni que acabamos de receber.

Lendo o conteúdo, a minha fé aumenta e sinto-meem comunhão com a Santa Mãe Igreja cuja base departida é a presença viva de Cristo que a edifica pes-soalmente.

O senhor Jesus continue a conceder-lhe boa saúde eabençoe o trabalho que vocês realizam com 30Giorni.

Saudações,

monsenhor Jaime Rodríguez Salazar, M.C.C.I.,bispo de Huánuco

BRASILCARMELO CRISTO REDENTOR

Tantas pessoas se beneficiaram econtinuam se beneficiando com o livrinhoQuem reza se salva

São José, Santa Catarina, 13 de novembro de 2011

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!Muito estimado senhor Giulio Andreotti,recebemos mensalmente a tão bem elaborada revista30Dias, pela qual agradecemos muitíssimo, pois oseu conteúdo tão substancioso e fiel à voz da Igreja sefaz uma luz neste mundo tão carente da Verdade.

Também já recebemos outros de seus excelentestrabalhos como o livrinho Quem reza se salva,através do qual tantas pessoas se beneficiaram econtinuam se beneficiando. São pessoas de todasas idades, inclusive jovens que não abandonam Je-sus. Assim pedimos, se for possível, que nos en-viem mais exemplares, pois muitas outras pessoasgostariam de se beneficiar deste instrumento tãoprático e profundo, que tanto ajuda no relaciona-mento com nosso bom Deus.

Rezamos por todos os que formam esta equipe deverdadeiros evangelizadores dentro de nossa amadaIgreja especialmente rezamos por suas intenções.

Deus em sua infinita bondade e liberalidade os cu-mule com suas boas graças.

Agradecidas,

as monjas carmelitas

São José, Santa Catarina, 9 de dezembro de 2011

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!Estimado senhor diretor e demais componentes des-ta equipe, que sempre nos presenteiam com tão ricomaterial para o crescimento da Igreja e a difusão do

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Reinado de Cristo nas almas. Agradecemos sincera-mente a atenção e a presteza com que nos atende-ram ao solicitarmos exemplares do precioso livroQuem reza se salva.

Pedimos que Deus em sua infinita bondade conti-nue os abençoando e santificando.

A todos e a cada um, a certeza de nossa oração.Um Feliz e Santo Natal a todos.No Senhor,

as monjas carmelitas

BENIMPARÓQUIA DO SAGRADO CORAÇÃO

O pequeno livro Qui prie sauve son âmeé muito importante

Porto Novo, 14 de novembro 2011

Senhor diretor,inicialmente gostaríamos de repetir o nosso agradeci-mento e o de todos os paroquianos (catecúmenos, ca-tequistas e participantes às várias missas) pelo serviço,tão importante, que o pequeno livro Qui prie sauve

son âme faz e continua a fazer para o conhecimentodas orações e para as celebrações comunitárias.

Com a presente, pedimos-lhe que nos ajude a re-forçar estes resultados concedendo-nos, principal-mente para os novos catecúmenos e os novos paro-quianos, cerca de 2 mil exemplares do livrinho em lín-gua francesa.

Na esperança de que o nosso pedido encontreuma acolhida favorável, agradecemos-lhe antecipa-damente.

o pároco, padre Paul Akplogan

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À esquerda e acima, duas imagens das ruínas

da sinagoga de Cafarnaum, Israel

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ISRAELCARMELITAS DO MOSTEIRO DE MONTE CARMELO

A nossa oração principalmente para padre Giacomo

Haifa, 15 de novembro de 2011

Caríssimos,depois da sua generosa oferta gostaríamos de enviar-lhes um pequeno sinal de reconhecimento, além danossa oração, principalmente para padre Giacomo.Pensamos muito nele nestes últimos meses, confian-do-o ao Senhor. Nos perguntávamos: como estará?Ultimamente vimos o insistente pedido de oração nasua revista, portanto vamos adiante!

O Senhor é sempre imperscrutável nas suas vias ea nós resta apenas a humilde confiança no Seu amor.

Obrigada por todo o bem que vocês fazem. A suarevista é realmente bela e é motivo de alegria à nossadecana (93 anos) que viveu muitos anos em Roma. Hátodo um passado que lhe satisfaz “reler”, sempre incli-nada ao futuro, o terreno e o da vida eterna.

Fraternalmente no Senhor, rezamos por vocês.

Irmã Maria Giuseppina di Santa Teresa, OCD (em nome da prioresa)

ÍNDIACOMUNIDADE NAVJEEVAN

Fundamos uma casa para abrigar crianças positivas ao HIV/Aids

Ujjain, Madhya Pradesh, 20 de novembro de 2011

Caríssimo diretor Giulio Andreotti, fazemos votos de um feliz Natal!Como vai? Espero bem. Sou irmã Rose Thomas Kooli-purackal, irmã carmelitana.

Gostaria de agradecer-lhe de todo coração pela30Giorni. Graças a esta revista recebo notícias e artigosreligiosos. É realmente um presente. Como mudei de en-dereço, de Bhopal fui transferida para Ujjain, gostaria, sepossível, de receber a revista no meu novo endereço.

Trabalhei como enfermeira por 22 anos no HospitalCasilino de Roma e por três anos no Hospital San Gio-vanni. Em 2006 voltei definitivamente à Índia. Aqui nadiocese de Ujjain fundamos uma casa para crianças posi-tivas ao HIV/Aids. Eu sou a responsável e trabalho comoutras duas irmãs. Todas as crianças são órfãs, seus paismorreram de Aids; atualmente temos treze: oito meninose cinco meninas que estão abrigadas em uma outra estru-tura. O espaço é pequeno, por isso está sendo construídauma nova casa que poderá receber quarenta crianças(vinte meninos e vinte meninas). Porém a construção ain-da está na metade porque o dinheiro das contribuiçõesacabou. O governo indiano não ajuda, ao contrário, au-menta os preços. Para terminar as obras serviria o equi-valente a 35 mil euros. Além disso, as crianças que abri-gamos têm uma idade que varia de três a quatorze anos epara irem à escola devem caminhar três quilômetros apé, portanto serviria também um micro ônibus que custa-ria cerca de oito mil euros.

Quando voltei de Roma a minha vontade era de traba-lhar com os pobres e abandonados. O Senhor confiou-me este apostolado. Aqui na Índia a nossa missão é fazerqualquer coisa para os pobres, e para as crianças abando-nadas da sociedade. Caso nos ajude com qualquer quan-tia, a recompensa lhe será dada pelo Senhor Jesus: nóspodemos rezar pelo senhor, pela sua família, e por todasas suas intenções. Peço-lhe humildemente que aceite osnossos pedidos.

Avise-nos se devemos fazer alguma coisa e se é preci-so de uma carta do bispo.

Que o Senhor o abençoe. Em união na oração,

irmã Rose Thomas KoolipurackalA casa para as crianças soropositivas administrada pelas irmãs

carmelitas de Ujjain, Índia

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1930DIAS Nº 12 - 2011

UGANDACOMBONI SISTER LACOR HOSPITAL

Permito-me pedir novamente os livrinhosQuem reza se salva em inglês,tão solicitados e desejados principalmentepelos doentes

Gulu, 21 de novembro de 2011

Estimado senador Giulio Andreotti,as solenidades natalinas que rapidamente se aproxi-mam, fazem-me antecipar ao senhor e à redação osmeus mais fervorosos votos de felicitações. Espere-mos que a paz de Cristo, Príncipe da Paz, estenda-sepor todo lado, nos nossos corações, nas famílias eem toda as nações do mundo. Aproveito a ocasiãopara exprimir-lhe a minha sincera gratidão e neces-sário obrigada pela maravilhosa revista 30Dias, que

recebo regularmente em italiano e inglês, graças àsua generosidade, muitíssimo apreciada tambémpelas irmãs da comunidade.

Permito-me pedir humildemente mais uma vez oslivrinhos Quem reza se salva em inglês, tão solicita-dos e desejados principalmente pelos doentes donosso hospital, convencida de que com este livrinho,tanto no hospital quanto na volta em família, pode-rão conhecer melhor Cristo presente para dirigir-sea ele como ensina a Igreja.

Agradeço antecipadamente e conte com a nossa,e minha, pobre oração! Renovo o meu sincero e ne-cessário obrigada ao senhor e aos colaboradores, eos votos de que Jesus Salvador os abençoe e osacompanhe por todo o ano 2012 e sempre.

Em Cristo,

irmã Romilde Spinato e irmãs

O Monte Tabor visto do Vale de Jezreel

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Na foto grande, a cidade de Lonzhou, atravessada pelo rio Amarelo; à direita, um grupo de jovens estudantes

Com o coração em pazEntrevista com Joseph Han Zhi-hai, bispo na China sem o reconhecimento do governo de Pequim: “Venho de uma família que conhece Jesus há quatrocentos anos.Meu pai e minha mãe me batizaram oito dias depois que nasci.Sabiam que a Igreja pede aos pais que logo batizem seus filhos”

por Gianni Valente

Igreja

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L anzhou é uma das cidadesmais poluídas do mundo.Em certos dias, na cidade

mais importante da província chi-nesa norte-ocidental de Gansu, aneblina é tão densa que não dápara ver nem a montanha deLanshan, que se eleva poucos qui-lômetros ao sul. Ao contrário, oolhar de Joseph Han Zhi-hai, qua-renta e seis anos, arcebispo dessametrópole que margeia o r ioAmarelo, continua a ser límpido eagudo, mesmo quando se detémna passagem delicada e contro-vertida que a catolicidade chinesavem vivendo.

Han foi ordenado bispo em2003. Os funcionários políticoslocais e nacionais ainda não reco-nheceram oficialmente sua orde-nação episcopal. Mas sua condi-

ção de sucessor dos apóstolosprivado de “certificação” gover-namental não lhe impede de agire muito menos de testemunhar aliberdade própria de quem cami-nha com o coração em paz namesma fé dos apóstolos. Ele dizde si mesmo: “Venho de uma fa-mília que conhece Jesus há qua-trocentos anos. Meu pai e minhamãe me batizaram oito dias de-pois que nasci. Sabiam que aIgreja pede aos pais que logo ba-tizem seus filhos”.

O senhor nasceu em 1966.A China estava bem no meioda Revolução Cultural. Quelembranças tem dos anos dasua infância?

JOSEPH HAN ZHI-HAI: Mo-rávamos num vilarejo a duzentos

quilômetros de Lanzhou. Nãoera um povoado católico, mas aperseguição também tinha che-gado até lá. Durante aquele tem-po, meus pais e meus parentesmantiveram sua fé no íntimo deseu coração, sem mostrá-la empúblico, nem com o simples fatode ir à missa. Não era possívelagir de modo diferente. Por sor-te, a nossa casa era um poucodistante das outras. Para nós eramais fácil continuar a rezar, atémesmo juntos. Meu avô nuncadeixou de repetir orações em fa-mília. Foi assim que nos preser-vou na fé.

Depois, quando cresceu,quais foram as outras pes-soas importantes que o se-nhor encontrou ao longo docaminho?

Às vezes parece que pensam que nós aqui na China nãoouvimos e não seguimos Jesus.Isso está errado. É preciso partirdo fato de que aqui na China jáexiste a Igreja de Cristo.A Igreja una, santa, católica e apostólica, tal como a confessamos no Credo

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Certamente padre Filipe, quemais tarde, em 1981, se tornariabispo de Lanzhou e me ordenariasacerdote. Ele havia sido libertadoem 1978, depois de trinta anosde prisão e isolamento, e desdeaquele dia, assim que recuperou aliberdade, sem um só lamento re-começou de imediato a anunciaro evangelho, percorrendo vilas ecampos. Passava o dia todo fora,visitando os cristãos da região, ca-sa por casa, rezando a missa, re-zando com eles e confortando atodos. Na época, eu era um jovemestudante. Olhando para ele, nas-ceu também em mim o desejo deme tornar sacerdote. Mas nãoexistia nenhum seminário na épo-ca. Íamos por aí procurando ospoucos e velhos manuais e livrosde teologia e de doutrina que ti-nham escapado da destruição. Es-tudávamos com o pouco que con-seguíamos encontrar. Depois ogoverno permitiu a reconstruçãodas igrejas. E então as famílias seencontravam para erguer juntassuas capelas e paróquias. E assima fé voltava a florescer.

Se compararmos aqueleperíodo ao tempo presente, oque mudou na vida cotidianados católicos?

Hoje vejo muita abertura, hámais liberdade que naquela épo-ca. Nas nossas comunidades ain-da há muita fé, mas vemos tam-bém nos jovens uma fragilidade li-gada de certa forma ao novo ma-terialismo que marca a sociedade.O risco de dispersão está mais li-gado ao consumismo e ao mate-rialismo da vida moderna que àsdificuldades nas relações com ogoverno.

E como o senhor trabalhacom os jovens e as crianças?

Trabalhamos sobretudo comos estudantes pré-universitários.Criamos grupos de estudos nosperíodos de férias. Mas o que con-ta são as relações pessoais comcada um, mais que as iniciativascoletivas.

Como e quanto o senhor setornou sacerdote?

Aconteceu em 1994. Éramoscinco recebendo a ordenação sa-cerdotal pelas mãos do bispo Fili-pe. Entre nós, nenhum tinha fre-quentado os seminários reaber-

tos na China sob o controle dogoverno. Eu recebi as lições fun-damentais de um leigo que co-nhecia teologia.

Alguns anos após a mortede Filipe, o senhor mesmo setornou bispo. Mas foi orde-nado sem receber a aprova-ção e a permissão dos órgãosdo governo.

Estávamos em janeiro de2003. Eu já tinha percebido, ha-via algum tempo, que a divisãoque existe na China entre bispos ecomunidades “oficiais” e “clan-destinas” não tinha sentido. Amaioria dos bispos eleitos segun-do os procedimentos desejadospelo governo tinha sido legitima-da pela Santa Sé e estava tambémem comunhão com o Papa. Porisso, me pareciam ultrapassadas earquiváveis as velhas indicaçõesque circulavam na Igreja, exortan-do a evitar as celebrações eucarís-ticas conjuntas com os padres e osbispos que aceitavam colaborarcom o governo.

E então o senhor não guar-dou esses pensamentos parasi mesmo...

Poucos meses depois da minhaordenação, escrevi uma cartaaberta para convidar a todos osmeus irmãos bispos a libertar oscatólicos chineses dessa divisão.A coisa mais simples era confes-sar com serenidade e coragem anossa comunhão de fé com o Pa-pa. Assim poríamos de lado equí-vocos inúteis e suspeitas danosas.

Hoje, em relação ao inícioda divisão, as coisas não mu-daram muito.

Na minha opinião, para ver osfatos como são de verdade, é pre-ciso fazer uma distinção. A maio-ria esmagadora dos bispos orde-nados segundo as práticas deseja-das pelo governo estão em comu-nhão com Roma, hoje mais doque naquela época. Ninguémquer realmente fazer uma Igrejachinesa separada da Igreja univer-sal. Os condicionamentos fazemparte da situação política em quenos encontramos.

É por isso que a divisãocontinua?

Dentro da comunidade clan-destina há setores extremistasque não aceitam nenhum diálo-

go e condenam os outros. Mes-mo entre aqueles que são regis-trados nas estruturas da políticareligiosa governamental há al-guns que procedem no caminhoerrado. Mas estou certo de que aesmagadora maioria deseja e es-pera a plena comunhão públicae visível de todos aqueles quepertencem à Igreja Católica daChina.

Como convém comportar-se em relação às pretensõesdo governo?

Eu aproveitei novos espaçosque se abriram. Se evito o confli-to com o governo, posso dedicarmais energias e aproveitar maisoportunidades para anunciar oevangelho a mais pessoas. Por is-

so, na minha opinião, quando épossível, convém que os bispossaiam da condição de chamadaclandestinidade, tomem cons-ciência da situação atual e te-nham uma postura de diálogo enão de conflito com o governo.

Qual é o efeito mais graveda divisão entre os católicos?

O fato de não compartilha-rem a Eucaristia, acusando-semutuamente. Pois, se confessa-

22 30DIAS Nº 12 - 2011

Igreja

Jovens desempregadosleem os anúncios de emprego em Lanzhou

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mos a mesma fé, só o fato de co-mungar do mesmo cál ice doCorpo e do Sangue de Nosso Se-nhor pode fazer florescer outravez a unidade e a comunhão. AEucaristia é a fonte dessa unida-de. Se desaparece essa fonte sa-cramental, a unidade não poderenascer por vontade dos ho-mens e nem pelos chamados deatenção e pelas indicações quevêm do exterior.

Nem as que vêm do Vaticano?Às vezes parece que pensam

que nós aqui na China não ouvi-mos e não seguimos Jesus. Issoestá errado. É preciso partir dofato de que aqui na China jáexiste a Igreja de Cristo. A Igrejauna, santa, católica e apostóli-ca, tal como a confessamos noCredo. A nossa comunhão sópode florescer se o próprio Je-sus, também aqui na China, ali-menta e mantém unida a suaIgreja com os seus sacramentos,mantendo nela a fé dos Apósto-los. Faz parte dessa fé também acomunhão com o sucessor dePedro e a obediência ao seu mi-nistério, tal como foi desejadopor Jesus. Do contrário, se nãohouvesse isso, se aqui na Chinanão houvesse entre o povo eseus pastores a fé católica, seriainútil fazer discursos ou oferecerdisposições disciplinares sobreessas coisas.

Esse reconhecimento ins-pirou o olhar para a Igreja naChina expresso na carta queBento XVI dirigiu a todos oscatólicos chineses em 2007.Aquele pronunciamento doPapa não respondeu de mo-do claro às questões que o se-nhor havia apresentado emsua carta aberta de quatroanos antes?

A carta do Papa foi uma res-posta importantíssima a muitosproblemas que atormentam aIgreja na China. Nós a lemos com

emoção, muitos não esperavamuma carta tão clara e ficaram sur-presos. Mas com o passar do tem-po alguns acrescentaram outrascoisas, outros comentários, quise-ram defender interpretações par-ciais. E então, ao menos em par-te, aquele pronunciamento per-deu a sua força.

Dizem que algumas autori-dades políticas locais impedi-ram a difusão daquela carta.

Em algumas regiões, houveproibições, mas na prática nãofuncionaram. A carta circulava domesmo jeito. No entanto, em al-gumas províncias, como Fujian eHebei, houve comunidades ecle-siais que receberam a carta comcerta reserva.

Na fase que se seguiu àpublicação da carta do Pa-pa, cresceu o número de or-denações de bispos reco-nhecidos paralelamente tan-to pela Santa Sé quanto pe-las autoridades civis chine-sas. Como o senhor avaliaesse modus procedendi ex-perimentado sobretudo en-tre 2009 e 2010?

O governo busca pôr em práti-ca a sua política. Quer manter umcerto controle sobre os procedi-mentos para as nomeações epis-copais. Na minha opinião, se elesaprovam a ordenação de bisposque têm também o mandatoapostólico do Papa, convém pro-ceder dessa forma. Se os candida-tos identificados são dignos e se

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ENTREVISTA COM O BISPO JOSEPH HAN ZHI-HAI

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Joseph Han Zhi-hai durante um batismo

Nas nossas comunidades ainda há muita fé, mas vemostambém nos jovens umafragilidade ligada de certa formaao novo materialismo que marca a sociedade. O risco de dispersãoestá mais ligado ao consumismo e ao materialismo da vidamoderna que às dificuldades nas relações com o governo

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mostram conscientes das respon-sabilidades a que são chamados, épreciso evitar objeções e compli-cações inúteis.

O fato é que a fase das or-denações com “consenso tá-cito paralelo” se interrompeuquando o poder civil impôstrês ordenações episcopaisilegítimas. Houve a excomu-nhão automática dos bisposilegítimos, que a Santa Séchegou a divulgar. Como osenhor vê essa situação?

Se alguém se deixa ordenarbispo mesmo sabendo que a San-ta Sé é contrária à sua ordena-ção, é inevitável que receba tam-

bém as penas canônicas. Mas épreciso sempre avaliar as cir-cunstâncias caso a caso, levandoem conta a situação particularem que nos encontramos, e aspressões que pesam sobre os bis-pos chineses.

Depois daqueles aconteci-mentos, as suspeitas volta-ram a cercar todos os bisposque aceitam agir em confor-midade com a política religio-sa do governo.

É preciso dizer, antes de maisnada, que aqui na China nós es-tamos em comunhão com o bis-po de Roma. Nós também somosbispos católicos, e sabemos o

que significa tudo isso. Mas, sen-do bispos católicos na China, vi-vemos neste país, onde existeum governo que tem determina-da política. Hoje, se não aderi-mos a essa política, as conse-quências não são tão graves co-mo antigamente. Mas tudo setorna mais difícil: entramos nu-ma situação de conflito que tornamais difícil a vida cotidiana daIgreja e o trabalho pastoral nor-mal. Devemos levar isso em con-ta, justamente em virtude da ta-refa que temos.

Como o senhor manifestaconcretamente a sua comu-nhão com o sucessor de Pedro?

24 30DIAS Nº 12 - 2011

Igreja

Joseph Han Zhi-hai tinha37 anos e era bispo havia

poucos meses quando, emmeados de 2003, escreveuuma “Carta aberta aos ami-gos” que representa aindahoje um documento preciosopara entender o presente docatolicismo chinês. Nessetexto, o jovem bispo contavauma passagem importanteque vivera nos anos anterio-res com alguns coetâneos,todos ordenados sacerdotesfora dos organismos e dosprocedimentos de controleimpostos à Igreja.

Por um longo tempo Hane seus amigos continuaram adesconfiar dos bispos, dospadres e dos leigos católicosque, diferentemente deles, aceitavam colaborar coma Associação Patriótica (o instrumento-chave da polí-tica religiosa do regime). Suspeitavam que os bisposordenados com o beneplácito do governo e frequente-mente sem o da Sé Apostólica cultivassem o projetode “provocar um cisma em nossa Igreja, criando umaIgreja Católica independente da Igreja universal e doPapa”. Por isso, Han e seus amigos recusavam-se ase unir às celebrações eucarísticas deles e estimula-vam os fiéis católicos a fazer o mesmo. Uma divisãodolorosa, mas que parecia inevitável, se quisessem“preservar a unidade da nossa Igreja com a Igreja uni-versal e com o Santo Padre”. Depois, porém, elestambém descobriram progressivamente que muitosdos bispos “oficiais”, mesmo nomeados segundo osprocedimentos impostos pelo governo chinês, tinham

sido legitimados pelo Papa etinham recebido dele o man-dato apostólico. Vinha à tonacom contornos cada vez maisnítidos o dado de que “a maio-ria dos bispos oficiais já estãoem união com o Papa e aIgreja universal”.

Nessas circunstâncias, obispo Han se deu conta deque era justamente o apart-heid sacramental ainda prati-cado no seio do catolicismochinês que acabava por tor-nar crônicas as divisões e asinimizades, tornando estéreisos chamados à reconciliação:“Estamos ainda divididos emuma comunidade of icial euma comunidade não oficial,que celebram a Eucaristia se-

paradamente”, escreveu Han em sua epístola, “aopasso que a Eucaristia é justamente o momento emque a unidade é feita e celebrada. [...] É a Eucaristiaque alimenta a unidade”.

Na época, as hesitações que muitos tinham a darpassos concretos no caminho para a reconciliaçãoeram compreendidas por Han à luz da perturbaçãoconstituída pela Associação Patriótica dos CatólicosChineses, “que é ambígua quando se trata da unidadecom a Santa Sé, realidade que é essencial para nós”.Ainda hoje o papel exercido pelos órgãos “patrióticos”em relação à vida eclesial – até a pretensão de contro-lar as nomeações episcopais – representa por diver-sas razões um nó que precisa ser desfeito.

G. V.

Joseph Han Zhi-hai, arcebispo de Lanzhou

Carta aos amigos, nove anos depois

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Quando colaboro com o gover-no repito sempre abertamente ecom força que para nós, católicos,é essencial a nossa comunhão como Papa. Faz parte da nossa catolici-dade. Mas devo dizer também queeles aceitam isso. Ou de qualquerforma não têm objeções sobre isso.Eles seguem a sua política, o quelhes interessa é o aspecto político.As coisas que para nós são de im-portância crucial, como a fidelidadeao Papa como guardião da Tradi-ção, para eles não parecem interes-sar muito.

O fato é que o senhor ain-da se encontra na condiçãode bispo “não oficial”, nãoreconhecido como bispo pe-los órgãos do governo. Algu-ma coisa vem sendo feitaquanto a isso?

Não existe outro bispo “ofi-cial” em Lanzhou, aprovado pelogoverno. Há algum tempo osmembros do governo me repe-

tem que logo me reconhecerãocomo bispo da diocese, mas aindanão estabeleceram um momentopreciso para isso.

Se isso acontecer, temeque haja equívocos e má von-tade na comunidade eclesial?

Estamos todos unidos em tor-no disso. Todos compartilham omesmo pensamento. Todosveem que o reconhecimento porparte do governo não contradize não impede a comunhão como Papa e com a Igreja universal.

Quando isso acontecer, osenhor deverá ter contatoscom a Associação Patriótica,o organismo de controle ins-pirado pelo regime. Comoacha que seriam as relaçõescom a AP?

Atualmente o chefe da AP é ain-da um leigo. No futuro, esse papelpoderia ser assumido por um dossacerdotes da diocese, de modo agerir tudo de maneira amigável.

O que o senhor diria ao Pa-pa, para esclarecer-lhe a si-tuação chinesa?

O momento é confuso. E nãopode continuar assim. No futuro,seria útil levar em conta duas coi-sas. Em primeiro lugar, que nósqueremos estar em comunhão como Papa, queremos ser um só cora-ção com ele. E em segundo lugarque precisamos ser claros ao indi-car o que está errado e o que deveser corrigido, entre as anomalias dacondição em que nos encontramos.Mas, ao fazer isso, nunca devemosperder os contatos. É preciso man-ter abertos os canais que servempara que continuemos a nos ex-pressar. Pois há situações que só sepodem resolver com o diálogo.

Talvez o senhor possa logoencontrar o Papa, quando forconvocado a Roma para o Sí-nodo dos Bispos.

Ficaria feliz com isso. Mas nãocreio que consiga ir... q

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O governo tem determinada política. Hoje, se não aderimos a essapolítica, as consequências não são tão graves como antigamente.Mas tudo se torna mais difícil: entramos numa situação de conflitoque torna mais difícil a vida cotidiana da Igreja e o trabalho pastoralnormal. Devemos levar isso em conta, justamente em virtude da tarefa que temos

Um santinho do papa Bento XVI entre as páginas de um missal de bolso numa igreja em Pequim

Fiéis durante a missa de Natal numa igreja em Pequim

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26 30DIAS Nº 12 - 2011

O que está acontecendoem meu país e de quem éa culpa? Não existem in-

formações que possamos definirexatas a respeito dos autores domassacre do Natal na paróquiade Santa Teresa, em Madalla,perto de Abuja. Quem reivindi-

cou o massacre, ostentando-sediante de Deus, é o chamado gru-po Boko Haram, gente sem ros-to, cuja ideologia é a de quem fre-quenta o terrorismo internacio-nal e se reveste de fanatismo islâ-mico. Mas é um grupo variegado,com interesses contraditórios.

Há quem afirme que alguns delestenham estagiado nos campos detreinamento com os talibãs e a al-Qaeda, no Afeganistão e no nor-te do Paquistão. Eles seguem ospassos dos extremistas, que,também na Nigéria, imaginamuma aplicação da charia que che-

O arcebispo de Abuja analisa a situação do país depoisdos atentados às igrejas e reflete sobre as raízes do grupo Boko Haram: a cultura desses terroristas não énigeriana. A Igreja Católica, que quer a paz e o acordo,é vítima do projeto louco de quem visa dividir o país com a finalidade de apropriar-se dos recursos naturais

por John O. Onaiyekanarcebispo de Abuja

O terrorismo que veio de longe

Nigéria

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gue à pena de amputação dasmãos e lapidação das adúlteras.São minoria, mas causam umagrande desordem, e cremos infe-lizmente que tenha chegado omomento em que se iniciará naNigéria uma reação em cadeia,depois de anos em que espera-mos e desejamos que esse fenô-meno pudesse ser resolvido fisio-logicamente, apenas pela aplica-ção de leis e pela negociação.

Repito que a cultura desses ex-tremistas não é nigeriana, masdo terrorismo internacional. Eque papel caberia ao islã nessecenário?

Sabemos que a relação entre aIgreja e o islã na África não é ho-mogênea. Em muitos países aconvivência funciona, embora in-terrompida por ações contráriasà paz realizadas por pretensos is-lamistas. No norte do nosso con-tinente, como no Oriente Médio,as pequenas minorias cristãs empaíses totalmente muçulmanostrabalham para encontrar umbom equilíbrio de convivência.Na Nigéria, não se dá o caso deuma pequena minoria cristã, mashá paridade numérica com o islã:e não existe outro caminho paraevitar a autodestruição, além doreconhecimento mútuo e daigualdade substancial. Com isso

estou simplesmente dizendo oque qualquer muçulmano nige-riano confirmaria: e sei dissocom certeza. Cristãos e muçul-manos vivemos um equilíbrio emnível institucional e social, e navida cotidiana não dá para perce-ber se o seu interlocutor – mem-bro do establishment ou vende-dor no mercadinho – é de fé islâ-mica ou cristã. Só esses gestosterroristas apontam o dedo paraas diferenças. Tem razão quemespecula sobre as intenções dochamado grupo Boko Haram,cuja finalidade seria exatamenteprovocar a reação armada doscristãos, e portanto o caos e ofim da Nigéria como nós a co-nhecemos. Para chegar a isso,justamente, apostam também nadivisão entre os cristãos.

Sob a genérica definição “cris-tãos nigerianos” se reúnem de-nominações diferentes. A nossacomunidade católica segue comtodo o coração o que a Igreja deRoma nos sugere – e não nos or-dena – no campo do diálogo reli-gioso, convencidos de que essaseja a sua maneira de dar paz aopaís, ainda que outros grupos,protestantes, pensem diferente-mente e nos critiquem, algunschegando penosamente a dene-grir o islã enquanto tal, associan-do-o plenamente ao grupo BokoHaram. Com esses radicais cris-tãos achamos difícil caminharjuntos, pois eles não querem dia-logar e “provocam” os extremis-tas, a ponto de a sua reação nãose fazer esperar: é só ver, porexemplo, como as bombas aca-bam explodindo diante de umaigreja católica, no dia de Natal.Justamente contra nós, que fize-mos de tudo para procurar a har-monia religiosa de nosso país, eque só podemos continuar a di-zer a verdade.

Fora ou dentro de nosso país,há quem possa criticar a franque-za com que nos dirigimos aosnossos muçulmanos nigerianos.Nós não vemos contradição en-tre o diálogo e o pedido ao líderdo islã nigeriano de que isole osterroristas infiltrados nas suas co-munidades. Não nos preocupa-mos com o “politicamente cor-

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À esquerda e no alto, duas imagens da igreja de SantaTeresa, em Madalla (perto de Abuja,capital da Nigéria), onde a explosãode um carro-bomba matou vinte e cinco pessoas durante a missa deNatal, em 25 de dezembro de 2011. O atentado foi reivindicado pelogrupo fundamentalista Boko Haram

DEPOIS DO ATENTADO DE NATAL

O encontro entre o presidentenigeriano, Goodluck Jonathan, à esquerda na foto, e o sultão de Sokoto,Muhammad Sa’ad Abubakar, líder espiritual dos muçulmanos do país africano e presidente do Conselho Supremo da Nigéria para os AssuntosIslâmicos, em Abuja, em 27 de dezembro de 2011, depois dos sangrentos atentadoscontra os cristãos ocorridos no Natal

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reto”, justamente graças à natu-ral sinceridade que temos unscom os outros. Os chefes muçul-manos sabem muito bem que ochamado grupo Boko Haram fezvítimas tanto islâmicas quantocristãs. Não podem dizer que oproblema de supostos terroristasmuçulmanos não os toca. No diade Natal, em Madalla, morrerammuçulmanos também. Com igualfranqueza, dizemos que não exis-te possibilidade nenhuma de umarepresália violenta por parte doscatólicos. Temos consciência deque é o governo central, antes detodos nós, que tem o poder e aresponsabilidade de protegerseus cidadãos.

É errado pensar que a rivali-dade entre cristãos e muçulma-nos faça parte do jogo fisiologi-camente. O país pertence a to-dos nós, cristãos e muçulmanos,cidadãos de um Estado rico ex-portador de petróleo, onde a hi-pótese da separação entre nortee sul é totalmente irrealizável.Quando vocês ouvirem alguémdefender a tese dos dois Estados,islâmico no norte e cristão no

sul, segundo o modelo do Sudão,saibam que a pessoa está men-tindo ou não entende nada. Arealidade é que há cristãos quenão apenas vivem no norte, aolado dos hausa-fulani islâmicos,mas são também originários donorte; ao mesmo tempo, quasecinquenta por cento da minhaetnia, iorubá, tradicionalmentedo sul, é composta por muçul-manos. Então, onde traçaremosa linha de fronteira sobre a qualconstruir as nossas trincheiras,se alguém nos levar à guerra?

Atingir a Igreja Católica signi-fica atingir quem deseja o acor-do, procurar o caos e impor rup-turas violentas em nossas pró-prias religiões, cristianismo e is-lã: pois os “mais ortodoxos” decada uma das duas partes acusa-rão de fraqueza os correligioná-rios abertos ao diálogo.

O conflito religioso escondeuma outra verdade. As lutas têmorigens tribais, políticas e econô-micas – ligadas também à redis-tribuição iníqua das riquezas pe-trolíferas, acompanhada por umenorme desemprego – e se con-

jugam com a semi-incapacidadede ação por parte do governocentral, cuja legitimidade eleito-ral era até pouco tempo contes-tada nos tribunais. A presidênciaatual é de um cristão, que assu-miu o cargo interrompendo atradicional alternância entre umpresidente islâmico e um cristão.A direção política do país é divi-dida em si mesma entre facçõesque não parecem saber bem pa-ra onde nos conduzir. Espera-mos que entrem em acordo, eque o governo colabore com aoposição e não pactue com osterroristas.

Eles já são hoje conhecidospor todos como Boko Haram,que em língua hausa significa “aeducação ocidental é abominá-vel”. É a enésima definição usadacom o intuito de aumentar o sen-timento de conflito de civiliza-ções. Mas esse tipo de educaçãonão nos foi imposta, nem peloscolonos ingleses nem pelos go-vernos nigerianos que se sucede-ram nos últimos cinquenta anos,inclusive aqueles que eram ex-pressão do norte tradicional-

30DIAS Nº 12 - 201128

Nigéria

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mente muçulmano. Nenhum denós é obrigado a confiar nessemodelo educativo ou social. NaNigéria, não há imposição e cadaum pode ter a educação religiosaque deseja.

O Boko Haram baseia-se noerro – que difunde – de identificara Igreja com uma cultura. É umequívoco... mundial. Não muitotempo atrás me convidaram paraum congresso em Madri sobre otema do confronto entre o islã e oOcidente. Esses senhores realiza-vam um congresso baseando-sena ideia de que o cristianismofosse ocidental e hostil ao islã;então perguntei a eles onde de-veria me sentar: porque não eraocidental e nem muçulmano,mas nigeriano e cristão. Talvezos “representantes do Ocidente”naquele congresso tenham-seressentido com as minhas afir-mações. Porém, eles mesmosnão estavam dispostos a defen-der o cristianismo, enquanto osrepresentantes islâmicos discu-tiam apenas sobre religião... De-finitivamente, a Igreja era fecha-da numa morsa sufocante.

Quem usa a expressão BokoHaram usa inconscientementeum slogan que quer valer-se deum estereótipo em voga para po-luir ainda mais o imaginário cole-tivo. Além disso, na realidade, ogrupo que comete os atentadosassumiu originalmente um nomeem árabe, que se refere de modogenérico, como acontece comoutros grupos, à jihad, que nãosignifica “a educação ocidental éabominável”. Outros aplicaramseguidamente essa et iqueta.Mas, enquanto esses criminososdifundem por meio da violênciao significado do Boko Haram,seus líderes estudaram todos “àocidental” e alguns realmente noOcidente. Na Nigéria, não se fazcarreira sem uma “educação oci-dental”: por exemplo, sem essetipo de educação, os oficiais nãoprogridem no exército nigeria-no. Houve ainda defensores doBoko Haram que encenaram os-tentosamente uma fogueira empraça pública, queimando seusdiplomas universitários, que defi-niram como “inúteis e danosos”.Mas aqui estamos diante do irra-

cional, de gente que eu definiriasubmetida a lavagem cerebral,pessoas com as quais até dialo-gar é árduo.

A nossa comunidade católicavive em paz com todos. A Igrejapronunciou-se definitivamenteem favor da liberdade religiosa,eliminando assim qualquer possí-vel mal-entendido. A Igreja donosso Concílio Vaticano II, alémdisso, não temeu nem se esqui-vou da modernidade, sabe com-preendê-la e abraçá-la, deu-nosmeios para sustentar o diálogocom o mundo.

Nós não podemos aceitar a li-berdade religiosa reticentemen-te, com um “sim, porém...”, poisisso significaria negar a liberdadede alguém, até a nossa própria.

Os ensinamentos do Concíliosão um patrimônio que nos per-mite viver juntos, no mundo e en-tre as diversas religiões, as quaistalvez não possuam ainda essepatrimônio e se esforçam paraencontrar em suas teologias justi-ficativas para viver a relação coma modernidade. Vale tanto paraos meus amigos muçulmanosquanto para mim mesmo o fatode que no Alcorão, como na Bí-blia, cada um de nós pode encon-trar trechos que a interpretaçãopermite forjar como apologia daintolerância e da violência. NoLivro dos Juízes, Deus vem como exército para debelar os pa-gãos...! Mas o Senhor deseja queneste mundo nós vivamos empaz e o reconheçamos como Pai.E não devemos forçar ninguém:quem deseja se tornar muçulma-no esteja livre para isso, comotambém quem deseja continuar aser cristão. E que o Estado seja agarantia de que isso possa acon-tecer pacificamente. Eis a minhaliberdade religiosa: eu sou cristãopor graça de Deus, mas isso nãosignifica que essa graça seja dadasempre ou a todos. Não há obri-gação na fé. Aqui na Nigéria cita-mos muitas vezes e de boa vonta-de uma bela sura do Alcorão: “SeDeus quisesse, nos teria feito to-dos muçulmanos”.

(Depoimento tomado por GiovanniCubeddu, revisto pelo autor)

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DEPOIS DO ATENTADO DE NATAL

Na página ao lado, a sede das NaçõesUnidas de Abuja,devastada peloatentado de 26 de agosto de 2011,no qual foram mortas18 pessoas. Essemassacre também foireivindicado pelogrupo fundamentalistaBoko Haram; aqui à esquerda, umaplataforma petrolíferada empresa Total, em Amenem, a 35 quilômetros de Port Harcourt, no Delta do Níger

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Curtas Curtas Curtas Cu3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUN

30 30DIAS Nº 12 - 2011

«“A profunda razão do fato que esta noite,pelo nascimento daquele menino, a moradado homem deixou de ser ‘uma terra tenebro-sa’ é dita pelo apóstolo Paulo na segunda lei-tura. Ouçamo-la mais uma vez: ‘Manifestou-se a graça de Deus, fonte de salvação para to-dos os homens’. No menino nascido em Be-lém ‘manifestou-se a graça de Deus’”. São aspalavras do cardeal Carlo Caffarra, arcebis-po de Bolonha, na homilia da missa da meia-noite do Santo Natal. Em seguida o cardealdisse: “Deus não mora mais em uma luz ina-cessível. Revelou-nos quais são os seus pen-samentos sobre o homem: são ‘graça e mise-ricórdia’. Nesta noite foi revelado o verdadei-ro nome de Deus: ‘manifestou-se a graça deDeus, fonte de salvação’. Ele veio cuidar decada um de nós; tomar-nos pela mão paraconduzir-nos à verdadeira vida”. Na homiliado dia de Natal, o arcebispo disse: “Caros ir-mãos e irmãs, mesmo o olho mais são preci-

sa ser iluminado por uma fonte lu-minosa para enxergar: não podepor si mesmo criar o ato da visão.Do mesmo modo também a nos-sa razão é guia muito incerta senão for iluminada pela luz do Ver-bo feito carne [...]. ‘Porém, aosque o acolheram’, continua oSanto Evangelho, ‘deu-lhes po-der de se tornarem f i lhos deDeus: são os que creem no seunome’. Esta é a verdadeira mu-dança da condição humana: ‘deu-lhes poder de se tornarem filhosde Deus’. Instituiu-se uma novarelação com Deus, fundada no fa-to que, fazendo-se homem, o Ver-

bo fez o homem partícipe da sua condição di-vina. ‘Ó, grande benevolência! Grande mise-ricórdia’, exclama Santo Agostinho. ‘Era oFilho único, e não quis ficar sozinho... O úni-co Filho que o Pai tinha gerado e por meio doqual tudo tinha feito, este Filho ele enviou aomundo para que não ficasse só, mas que ti-vesse irmãos adotivos’ [Comentário aoEvangelho de João 2,13]. Caros irmãos e ir-mãs, que a nossa beatitude eterna seja decidi-da pela aceitação de um fato histórico, é o es-cândalo permanente da proposta cristã. Mashoje está acontecendo uma apresentação daproposta cristã que é desprovida de qualquerescândalo. Isso acontece todas as vezes quese reduz o cristianismo a uma doutrina reli-giosa ou moral, colocando em segundo pla-no a pessoa do Verbo encarnado [...]. Carosamigos, a verdadeira, única, última pergun-ta, por fim, é uma só: é verdade ou não que omenino que nasceu hoje de Maria é Deus?”.

NATAL DO SENHOR“A nossa beatitude eterna é decidida pela aceitação de um fato histórico”

A estrela indica o lugar onde nasceu Jesus na Gruta da Natividade, Basílica da Natividade, Belém

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urtas Curtas Curtas CurtasSAGRADO COLÉGIOAs demissões deSandoval. Os 80 anosde Cheong. A mortede Foley

No dia 7 de dezembro foramaceitas as demissões do car-deal mexicano Juan Sando-val Íñiguez, 78 anos com-pletados em março, do car-go de arcebispo de Guadala-jara, que ocupava desde1994. Para substituí-lo Ben-to XVI nomeou o cardealFrancisco Robles Ortega,62 anos, que desde 2003era arcebispo de Monterrey.

Ainda no dia 7 de dezem-bro o cardeal coreano Nicho-las Cheong Jin-Suk comple-

tou 80 anos; era arcebispode Seul desde 1998.

No dia 11 de dezembrofaleceu o cardeal norte-ame-ricano John Patrick Foley,76 anos, ex-grão-mestre daOrdem Equestre do SantoSepulcro e ex-presidente doPontifício Conselho das Co-municações Sociais.

Portanto no f inal de2011 o Colégio cardinalí-cio resulta composto por192 membros, dos quais109 eleitores. No dia 6 dejaneiro de 2012 completa80 anos o cardeal portu-guês José Saraiva Martinse no dia 13 de janeiro faz80 anos o cardeal chinêsJoseph Zen.

NDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO

30DIAS Nº 12 - 2011 31

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“A constante presença de cristãos na região éessencial para o bem político dos países doOriente Médio”. Assim afirmou Rowan Wil-liams, primaz da Comunhão anglicana, em umdiscurso pronunciado junto à Câmara dos Lor-des e sintetizado no L’Osservatore Romano

de 12-13 de dezembro: “No momento atual”,prosseguiu Williams, “a situação dos cristãosna região é mais vulnerável do que já tenha sidopor muitos séculos”. Situação dramática queprovoca um constante fluxo migratório de cris-tãos, dos quais o “mais preocupante” é o depalestinos “por causa da trágica situação emque se encontra atualmente a zona da chama-da West Bank”. O jornal vaticano sintetiza queo primaz anglicano fez-se porta-voz dos temo-res dos cristãos do Oriente Médio, os quais “de-nunciam que sofrem um duplo ataque à suaidentidade: por um lado este é feito por umanova geração de muçulmanos que os tratamcomo se fossem uma garantia do Ocidente,por outro, consideram-se vítimas de uma retó-rica ocidental que, ou os ignora totalmente ou,desconsideradamente, coloca-os em perigoporque põe em termos de confronto religioso oque na realidade é um verdadeiro conflito, atémesmo de caráter militar”.

CRISTIANISMOO Primaz anglicano à Câmara dos Lordes: temores pela presença dos cristãos no Oriente Médio

Rowan Williams

Cardeais na Sala Clementina dão as felicitações de Natal ao Papa

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HISTÓRIA/1A CIA, o fim da URSS e a eleição de Karol Wojtyla

“Depois de vinte anos daqueda da URSS, anunciadano Natal de 1991 e ocorri-da até 31 de dezembro domesmo ano, com a dissolu-ção de todas as instituiçõessoviéticas, a CIA apresen-tou documentos até entãosecretos que confirmamque a administração Rea-gan e a de Bush pai já ti-nham antecipado e que ti-nham contribuído para elacom o apoio do papa JoãoPaulo II. A queda da URSS,esclarecem os documen-tos, ocorreu antes do pre-visto, graças à implosão doseu império e à recusa deMikhail Gorbatchov, seuúltimo presidente, de pre-veni-la com a força. Masdesde 1978, na eleição docardeal polonês Karol Woj-tyla a pontífice, a CIA tinhaconsiderado a implosãocomo provável”. Escritopor Ennio Caretto no Cor-riere della Sera de 30 dedezembro.

HISTÓRIA/2A retórica doliberalismo iniciou coma Guerra do Ópio

“Há muitos paralelos curio-sos entre a situação no iní-cio do século XIX e agora.Na época como agora omundo ocidental tinha umgrande déficit comercial pa-ra com a China. Esta é a ra-zão pela qual a Companhiabritânica das Índias orientaiscomeçou a exportar o ópio

para a China em grande es-cala, com consequências ca-tastróficas para aquele país.Quando no final os inglesesentraram em guerra contraa China disseram que fa-ziam em nome do livre-co-mércio, mesmo se o produ-to principal que exporta-vam, o ópio, era produzidosob o monopólio do Estado.Hoje as potências ociden-tais não podem recorrer aosmesmos meios, mas estãoaumentando a retórica em

torno de temas como o libe-ralismo. Decidiram esque-cer que esta retórica foi usa-da pela primeira vez paradefender o ópio – mas se háuma nação que tem condi-ções de recordar isso me-lhor do que outras é justa-mente a China. Por isso, oschineses são completamen-te impermeáveis a esses ar-gumentos”. Esta é uma pas-sagem da entrevista com oescritor estadunidense, deorigem indiana, AmitavGhosh, publicada na revistaEspresso de 15 de dezem-bro. O escritor depois expli-ca: “Há um paralelismo en-tre a Guerra do Iraque e aGuerra do Ópio, principal-mente nos discursos que ascircundaram. Trata-se de to-das as motivações “bondo-sas”, a falsa piedade: esta-mos fazendo o bem do mun-do, dizia-se. Mas por baixohá a mais terrível violência, amais terrível cobiça. Quandocomecei a escrever, este tipode ideologia capitalística es-tava em ascensão, pensava-se realmente que o mercadofosse um deus. E surpreen-dia-me que ninguém visseque o primeiro terreno deprova para os defensores dolivre comércio tinha sido omercado do ópio”.

Curtas Curtas Curtas Cu3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUN

32 30DIAS Nº 12 - 2011

O cardeal Karol Wojtyla, arcebispo de Cracóvia, eleito papa, em 16 de outubro de 1978

A batalha de Amoy na China,26 de agosto de 1841, durantea primeira Guerra do Ópio

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30DIAS Nº 12 - 2011 33

urtas Curtas Curtas CurtasNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO

HISTÓRIA/3A China, os EUA e a tentação de umanova Guerra Fria

“O Pacífico ocidental estáenfrentando um problemadifícil, isto é, conciliar ascrescentes aspirações daChina em uma região ondeos Estados Unidos mantive-ram a primazia desde o fimda Guerra Fria. Os EUApretendem manter o domí-nio na região? Ou estão dis-postos a operar através defóruns multilaterais para re-definir as regras? A decisãoserá determinante para en-tender se a paz continuará areinar no Pacífico”. Este é oincipit de um discurso do ex-primeiro-ministro australia-no Malcon Fraser publicadono jornal La Stampa de 20de dezembro, comentandoa decisão dos Estados Uni-dos de aumentar a presençamilitar no Oceano Pacífico.Assim escreveu no artigo:“Do outro lado da regiãoÁsia-Pacífico, a ascensãoda China é vista como posi-tiva, mas solicitando quePequim opere no âmbito deregras partilhadas em nívelinternacional. Isso, natural-mente, deveria valer paratodos. Mas as tensões serãoinevitáveis se a China nãoparticipar na criação destasregras [...]. A China não de-monstrou nenhum interes-se em emular as potênciasimperialistas europeias doséculo XIX ou os esforçosimperialistas do Japão naprimeira metade do séculoXX. A história da China ig-nora a ânsia por tais ambi-ções”. Fraser conclui assim:“Hoje a Ásia apresenta umasérie completamente novae única de circunstâncias.Os dilemas derivantes detais circunstâncias reque-rem novas soluções, nãoconceitos obsoletos deGuerra Fria”.

ORIENTE MÉDIOO chefe do Mossad: a arma nucleariraniana não ameaça a existência de Israel

“Um Irã em posse de ar-mas nucleares não consti-tu ir ia necessar iamenteuma ameaça para a exis-tência de Israel. É a afirma-ção do chefe do Mossad(serviço de inteligência deIsrael), Tamir Pardo, porocasião de um discurso auma centena de embaixa-dores israelenses. A notíciafoi publicada no Ha’aretzcitando três diplomataspresentes”. Depois esta foinovamente publicada pelaagência de notícias Adnk-ronos em 29 de dezembro.

AMÉRICA LATINAAcordo de livre-comércio entre os países do Mercosul e aPalestina

No dia 20 de dezembro emMontevidéu, no Uruguai,os países do Mercosu l(Mercado Comum daAmérica do Sul) assinaramum acordo de livre-comér-cio com os representantesda Autoridade NacionalPalestina. A notícia foi pu-blicada pela agência inter-nacional France Presse.Já durante as negociações

anteriores à assinatura, ex-plica a agência, os quatropaíses (Argentina, Brasil,Paraguai e Uruguai) indi-caram que o acordo apostaem reforçar o pedido dogoverno palestino de obtero reconhecimento comoestado membro das Na-ções Unidas. Em 2007 oMercosul assinou um acor-do análogo com o Estadode Israel.

FINANÇAS/1A verdadeira agênciade rating é a China

“Provavelmente em brevetempo todas as grandeseconomias do mundo (me-nos o Canadá) terão perdi-do o triplo “A”, inclusiveLondres. O termo de com-paração para o mercadonão será mais a pequenafórmula, por si mesma in-gênua, da nota dez, masuma análise mais geral decada país. Talvez seja umbem. Certamente aquiloque conta, ou seja, a taxade juros sobre a dívida, se-rão determinados por umfator diferente: a disponi-bilidade dos grandes cre-dores asiáticos em finan-ciar as dívidas do Ociden-te. A verdadeira agênciade rating não é S&P, masa China”. Texto de um arti-go publicado no Corrieredella Sera de 16 de de-

zembro com o título: Masa verdadeira agência derating é a China.

FINANÇAS/2Robert Fisk e oscrimes das finançasinternacionais

No dia 11 de dezembro ojornal Fatto Quotidianotraduziu um artigo, extraí-do do Independent, de Ro-bert Fisk, um dos mais bri-lhantes jornalistas britâni-cos. Eis alguns trechos:“Bancos e agências de ra-ting tornaram-se os ditado-res do Ocidente sem muitadiferença com os Mubarake os Ben Ali [...]. Não preci-sa ser um gênio para en-tender que as agências derating e os bancos ameri-canos são intercambiáveistanto que os dirigentes tro-cam de cargos entre umaagência e outra, de umbanco a outro, e muitas ve-zes terminam fazendo par-te do governo dos EstadosUnidos. Os mesmos im-postores que davam o tri-plo “A” aos empréstimossubprime e aos derivadosamericanos antes de 2008,agora estão repetindo o jo-guinho sujo na Europaameaçando o rebaixamen-to dos governos e dos ban-cos. Por que os jornalistasfinanceiros que estacionampermanentemente emWall Street não nos ilumi-nam? Por que a BBC , aCNN e al-Jazeera tratamessas corjas de criminososcomo respeitáveis institui-ções? Por que não seabrem inquéri tos sobreseus escandalosos compor-tamentos?”. Título do arti-go: Os novos ditadores doOcidente. q

Acampamento dos sem-tetoem Sacramento depois dacrise financeira dos subprime

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“A tristeza pela bondade de um outro, sobretudo se é irmão, é o pecado que Deus condena mais que qualquer outro” (De civitate Dei XV, 7, 1).Entrevista com padre Nello Cipriani sobre Abel e Caim, como imagens dos dois tipos de cidade (ou seja, de Igreja) que aparecem no De civitate Dei

Acima, uma das quatro lajes em baixo-relevo (das quais foram extraídos os detalhes das páginas seguintes) de Wiligelmo (século

XI-XII), fachada da Catedral de Módena; a partir da esquerda: a oferta de Abel e Caim, Caim mata Abel, Deus repreende Caim;

abaixo, Santo Agostinho num afresco do século VI, Basílica de São João de Latrão, Roma

por Lorenzo Cappelletti

CA PA

A inveja da graça alheia

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N a virada do ano voltamos a conversar compadre Nello Cipriani, professor ordináriono Instituto Patrístico Augustinianum, de

Roma, sobre Abel e Caim como imagens dos doistipos opostos de cidade (ou seja, de Igreja) queaparecem no De civitate Dei de Santo Agostinho.Uma peregrina na terra, a outra que precisa ates-tar-se neste mundo. Uma peregrina, não porquecaduca, como erroneamente se entende, mas por-que não pretende construir-se por si mesma e sereconhece constantemente criada por Deus; eportanto é livre, livre para pedir e oferecer a simesma. A outra que pretende construir para siuma morada estável neste mundo e que, portan-to, se concebe necessariamente em alternativa oupelo menos em concorrência com qualquer umque neste mundo queira afirmar sua presença.

Dados os binômios usados pelo próprioSanto Agostinho (cidade dos homens/cidadede Deus; cidade terrena/cidade celeste, etc.),uma das maiores dificuldades para quem seaproxima do De civitate Dei é entender que

as duas cidades não são uma real e outraideal, mas fazem parte ambas, continuamen-te, do panorama histórico; e a outra grandedificuldade é que a sua oposição absolutanão coincide de modo algum com uma imper-meabilidade absoluta de uma em relação àoutra. Há algum texto em que Santo Agosti-nho mostra com maior clareza a imanência àhistória e o aspecto dinâmico da relação en-tre as duas cidades?

NELLO CIPRIANI: No passado houve um grandedebate em torno da noção das duas cidades, objetodo De civitate Dei de Santo Agostinho. Alguns estu-diosos, sobretudo protestantes, entenderam a cidadede Deus apenas como uma comunidade espiritual einvisível, uma communio sanctorum, ou como umacomunidade meramente escatológica, que não terianenhuma relação com a Igreja que vive no tempo,unida pela comunhão dos sacramentos e ordenadapor uma hierarquia. A razão dessa interpretação sedeve ao fato de que o critério seguido pelo bispo deHipona para distinguir as duas cidades, a de Deus, ouceleste, e a dos homens, ou terrena, vem da sua pos-tura interior oposta. Elas nascem de dois amores con-trários: a cidade de Deus nasce do amor a Deus quechega até o desprezo de si mesmo, a cidade terrena,do amor a si mesmo que chega até o desprezo deDeus; a primeira vive segundo o Espírito ou segun- ¬

ABEL E CAIM: DOIS TIPOS DE CIDADE

A oferta de Abel e Caim, mosaico do século XII,

Capela Palatina, Palermo

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do Deus, a outra segundo a carne ou segundo o ho-mem. As duas cidades, além disso, mesmo tendo sen-timentos opostos, já que são animadas por uma fé,uma esperança e um amor diferentes, vivem atravésdo tempo confundidas e mescladas uma à outra. Por-tanto, a impressão é de que o discurso está no planoda meta-história e não da concretude histórica, quepode ser reconhecida. Semelhante conclusão, po-rém, não corresponde de modo algum ao pensamen-to de Santo Agostinho, que repete muitas vezes que aIgreja é a cidade de Deus, ou melhor, a parte dela quevive na história “entre as perseguições dos homens eas consolações de Deus”1. Já no início da obra, de fa-to, ele distingue a parte da cidade de Deus que vive naestabilidade da sé eterna e a parte que “neste correrdos séculos caminha peregrina entre os infiéis, viven-do de fé e esperando com perseverança”2 a vida eter-na. No livro dezoito do De civitate Dei ele retoma ahistória da Igreja: fundada por Cristo sobre o funda-mento dos Apóstolos, difunde-se primeiramente deJerusalém para a Judeia e para a Samaria; depois,com o anúncio do Evangelho aos povos pagãos, seestende a todo o mundo conhecido. Delineia depoissuas características principais: na Igreja há uma hie-rarquia, há praepositi, de modo particular o bispo,chamados a servir os irmãos, e há simples fiéis, quesão também cristos, ou seja, consagrados, e partici-pam do sacerdócio de Cristo. O momento central davida da Igreja é a celebração eucarística, quando elase une ao sacrifício de Cristo na cruz e com ele ofere-ce a si mesma. Da Eucaristia os cristãos extraem a for-ça para suportar as perseguições e o martírio. A Igre-

ja, de resto, não tem apenas inimigos externos que aperseguem; sofre também em razão dos hereges e demuitos que são cristãos só de nome. A cidade deDeus, que é a Igreja peregrina, vive no mundo subme-tida às leis e às autoridades do Estado, respeita tudo oque não é contrário à religião e não deixa de dar a suacontribuição para criar uma sociedade pacífica, poisconsidera a paz temporal um bem precioso para to-dos. Por fim, a cidade de Deus, que caminha peregri-na no mundo, é a Igreja, ou seja, a comunidade bemvisível dos crentes, que vive no tempo com o olhar fi-xo na eternidade, mas que sofre e se esforça na histó-ria para aliviar as misérias dos homens, pois é anima-da por uma fé “que age pela caridade” (Gl 5,6). Se aesperança escatológica a projeta para o céu, a carida-de a liga à história, para antecipar em alguma medidajá aqui a paz que não tem ocaso.

Pode-se dizer que a essência da cidade ce-leste, representada por Abel, segundo Agos-tinho, está toda no fato de Abel ter aceito serperegrino, enquanto Caim pôs-se a construiruma cidade? Se dermos atenção a algo men-cionado no livro XV do De civitate Dei, po-deríamos dizer que Abel põe-se a si mesmo àdisposição para que um Outro se manifeste(sua praesentia servientem) e Caim, ao con-trário, precisa demonstrar que está ali e, por-tanto, que tem importância (suam praesen-tiam demonstrantem)3?

Abel, que não constrói nenhuma cidade, e Caim,que a constrói, são figuras bem representativas dasduas cidades, pois para Santo Agostinho a esperan-

30DIAS Nº 12 - 201136

Agostinho observa que Caim, ao ver que Deustinha aceito a oferta do irmão e não a sua, nãodeveria ter-se indignado nem sentido inveja, master-se arrependido e imitado o irmão bom, pois –conclui – “a tristeza pela bondade de um outro,sobretudo se é irmão, é o pecado que Deus condena mais que qualquer outro”

1 “Inter persecutiones mundi et consolationes Dei” (Agostinho, De civitate Dei XVIII, 51, 2).2 “...In hoc temporum cursu, cum inter impios peregrinatur ex fide vivens, sive in illa stabilitate sedis aeternae, quam

nunc exspectat per patientiam...” (Agostinho, De civitate Dei I, Praefatio).3 “Invenimus ergo in terrena civitate duas formas, unam suam praesentiam demonstrantem, alteram caelesti civitati

significandae sua praesentia servientem” (Agostinho, De civitate Dei XV, 2).

ABEL E CAIM: DOIS TIPOS DE CIDADE

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ça escatológica e, respectivamente, o retraimentono mundo são suas principais características distinti-vas. Os cidadãos da cidade terrena são tais justamen-te porque vivem retraídos na terra, buscam apenasos bens deste mundo e, pela posse deles, se esfor-çam e lutam entre si. O cristão, por sua vez, vive nomundo sem se apegar a ele; faz bom uso dos benstemporais, sem se deixar possuir por eles, pois seconsidera exilado neste mundo e tem os olhos sem-pre voltados para a pátria do céu, que é o próprioDeus. Todavia, as diferentes esperanças não são oúnico elemento distintivo das duas cidades. SantoAgostinho considera a cidade de Deus diferente dacidade terrena também pelo amor à verdade e sobre-tudo pela humildade de quem se reconhece criatura

de Deus e portanto vive na obediência e na submis-são ao Criador. Escreve: “Na cidade de Deus e à cida-de de Deus exilada no tempo é recomendada sobre-tudo a humildade, que é exaltada em grau supremoem seu rei, que é Cristo, enquanto em seu adversá-rio, que é o diabo, domina, como ensina a SagradaEscritura, o vício oposto a essa virtude, ou seja, a so-berba. Está portanto aqui a grande diferença entre asduas cidades de que falamos: uma é a sociedade doshomens pios, a outra a dos ímpios; cada uma unida aseus anjos, a primeira unida aos anjos nos quais pre-valeceu o amor de Deus, a outra aos anjos em queprevaleceu o amor a si”4. Outro elemento distintivoda cidade de Deus é a caridade que impele seusmembros a servirem-se mutuamente, enquanto ¬

A oferta de Abel e Caim

4 “Quapropter quod nunc in civitate Dei et civitati Dei in hoc peregrinanti saeculo maxime commendatur humilitas etin eius rege, qui est Christus, maxime praedicatur contrariumque huic virtuti elationis vitium in eius adversario, qui estdiabolus, maxime dominari sacris Litteris edocetur: profecto ista est magna differentia, qua civitas, unde loquimur, ¬

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na cidade terrena domina a paixão pelo poder e pelopredomínio (cf. De civitate Dei XIV, 28).

Em outro lugar, do livro XV, Agostinho fazuma comparação entre as duas cidades combase numa outra imagem bíblica, a das ofertasfeitas a Deus por Abel e Caim, uma recebida e aoutra recusada. Recusada – Agostinho comen-ta – não porque Caim não tenha oferecido algoseu, mas porque, justamente oferecendo algo aDeus, pretendia na realidade não servir, mas

servir-se de Deus. Essa também pode ser umaimagem eficaz e atual, pois permite entenderaté onde pode chegar o equívoco da religiosida-de até mesmo dos cristãos, que pode existir nãoa serviço, mas como justificação de si.

Sim, é verdade. Os dois irmãos, Abel e Caim, sãovistos como representativos das duas cidades tambémpela expressão da sua religiosidade. Segundo o livrodo Gênesis, Caim sentiu tristeza, pois Deus tinha rece-bido a oferta de Abel e não a sua (cf. Gn 4,4-5). Como

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Caim mata Abel

ABEL E CAIM: DOIS TIPOS DE CIDADE

utraque discernitur, una scilicet societas piorum hominum, altera impiorum, singula quaeque cum angelis ad se perti-nentibus, in quibus praecessit hac amor Dei, hac amor sui” (Agostinho, De civitate Dei XIV, 13, 1).

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observa Santo Agostinho, pelo relato bíblico “não éfácil precisar por quais motivos Caim desagradou aDeus”5. Na primeira carta de João, porém, lemos queCaim estava tomado pelo maligno e matou seu irmão,“porque as suas obras eram más, ao passo que as doseu irmão eram justas” (1Jo 3,12). O bispo de Hiponaentende essas palavras no sentido de que Caim com asua oferta “dava a Deus algo seu, mas dava-se tambéma si mesmo”6. E explica: “Assim fazem todos aquelesque, mesmo não seguindo a vontade de Deus, mas asua, ou seja, mesmo não vivendo com o espírito reto,mas perverso, oferecem todavia a Deus uma dádiva,com a qual pensam torná-lo propício, a fim de que osajude não a curar seus desejos maus, mas a satisfazê-los”7. Provavelmente tinha em mente em primeiro lu-gar os sacrifícios públicos que no império romano ospagãos ofereciam a seus deuses, para serem por elesajudados a reinar sobre os outros povos, “não pelo de-sejo de prover o seu bem, mas por querer dominá-los”8. Porém, ele oferece, em seguida à observaçãohistórica, um princípio geral que infelizmente pode seraplicado também à religiosidade de muitos fiéis: “Osbons se servem do mundo para gozar de Deus, osmaus ao contrário querem servir-se de Deus para go-zar o mundo”9. A análise de Santo Agostinho, de qual-

quer forma, não se detém aqui. Ele observa ainda queCaim, ao ver que Deus tinha aceito a oferta do irmão enão a sua, não deveria ter-se indignado nem sentidoinveja, mas ter-se arrependido e imitado o irmão bom,pois – conclui – “a tristeza pela bondade de um outro,sobretudo se é irmão, é o pecado que Deus condenamais que qualquer outro”10.

Como é possível dizer, seguindo sempre o li-vro XV do De civitate Dei, que depositar a espe-rança na invocação do nome do Senhor Deus(como faz Enos, outra figura veterotestamentá-ria da cidade celeste) é a atividade totalizante esuprema da cidade de Deus sem sermos tacha-dos de espiritualismo e de quietismo e manten-do, todavia, a radicalidade dessa afirmação?

Também Enos, o filho de Set, é visto por SantoAgostinho como uma figura representativa da cidadede Deus, porque foi o primeiro que “começou a invo-car o nome do Senhor”11. E essa – explica – “na pre-sente condição de morte é toda e a máxima ocupaçãoda cidade de Deus peregrina neste mundo”12. Em suaradicalidade, a afirmação é realmente forte, mas nãonos deve surpreender, se levarmos em conta que aoferta a Deus vem de Deus não menos que a invoca-ção de seu nome13. Já no décimo livro da obra Agos-

Abel, que não constrói nenhuma cidade, e Caim,que a constrói, são figuras bem representativas das duas cidades, pois para Santo Agostinho a esperança escatológica e, respectivamente, o retraimento no mundo são suas principaiscaracterísticas distintivas. Os cidadãos da cidadeterrena são tais justamente porque vivem retraídosna terra, buscam apenas os bens deste mundo e, pela posse deles, se esforçam e lutam entre si

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30DIAS Nº 12 - 2011

5 “In quo autem horum Deo displicuerit Cain, facile non potest inveniri” (Agostinho, De civitate Dei XV, 7, 1).6 “Dans Deo aliquid suum, sibi autem se ipsum” (Agostinho, De civitate Dei XV, 7, 1).7 “Quod omnes faciunt, qui non Dei, sed suam sectantes voluntatem, id est non recto, sed perverso corde viventes,

offerunt tamen Deo munus, quo putant eum redimi, ut eorum non opituletur sanandis pravis cupiditatibus, sed explen-dis” (Agostinho, De civitate Dei XV, 7, 1).

8 “Non caritate consulendi, sed dominandi cupiditate” (Agostinho, De civitate Dei XV, 7, 1).9 “Boni quippe ad hoc utuntur mundo, ut fruantur Deo; mali autem contra, ut fruantur mundo, uti volunt Deo” (Agosti-

nho, De civitate Dei XV, 7, 1).10 “Hoc peccatum maxime arguit Deus, tristitiam de alterius bonitate, et hoc fratris” (Agostinho, De civitate Dei XV, 7, 1).11 “Speravit invocare nomen Domini Dei” (Agostinho, De civitate Dei XV, 21).12 “In hoc mundo peregrinantis civitatis Dei totum atque summum in hac mortalitate negotium” (Agostinho, De civita-

te Dei XV, 21).13 “Illa autem, quae caelestis peregrinatur in terra, falsos deos non facit, sed a vero Deo ipsa fit, cuius verum sacrifi-

cium ipsa sit” (Agostinho, De civitate Dei XVIII, 54, 2).

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Também Enos, o filho de Set, é visto por Santo Agostinho como uma figura representativada cidade de Deus, porque foi o primeiro que “começou a invocar o nome do Senhor”. E essa – explica – “na presente condição de morte é toda e a máxima ocupação da cidade de Deus peregrina neste mundo”

Deus repreende Caim

ABEL E CAIM: DOIS TIPOS DE CIDADE

14 “Vera sacrificia opera sint misericordiae sive in nosipsos sive in proximos, quae referuntur ad Deum” (Agosti-nho, De civitate Dei X, 6).

15 “Hoc est sacrificium christianorum: Multi unum corpusin Christo. Quod etiam sacramento altaris fidelibus noto fre-quentat Ecclesia, ubi ei demonstratur, quod in ea re, quamoffert, ipsa offeratur” (Agostinho, De civitate DeiX, 6).

tinho dissera que toda a vida de cada cristão e de todaa cidade remida é um sacrifício agradável a Deus. Es-se culto espiritual da cidade de Deus não é uma eva-são dos compromissos da vida concreta de cada dia.O verdadeiro culto de Deus, de fato, consiste noamor a Deus e inseparavelmente no amor ao próxi-mo (cf. De civitate Dei X, 3, 2). Para Santo Agosti-nho, “os verdadeiros sacrifícios são as obras de mise-ricórdia, que fazemos para nós mesmos e para o pró-ximo em louvor a Deus”14. É sacrifício agradável aDeus, portanto, tudo o que os membros do corpo deCristo fazem para manter unida na caridade a comu-nidade eclesial, exercendo cada um o seu carismaem benefício dos outros membros. Enfim, a Eucaris-tia é culmen et fons da vida da cidade de Deus pere-grina no mundo: “Este é o sacrifício dos cristãos:‘Muitos e um só corpo em Cristo’. A Igreja celebraesse mistério com o sacramento do altar, conhecidodos fiéis, no qual lhe é mostrado que, na coisa queoferece, ela mesma é oferecida”15.

Para concluir, portanto, padre Cipriani nos re-corda oportunamente que é o sacramento a fonteda verdadeira imagem da Igreja, justamente porqueela, celebrando-o, nada demonstra (demonstrat),mas lhe é mostrado (demonstratur) que naquilo queoferece (offert) ela mesma é oferecida (offeratur). Doativo ao passivo, poderia, como bom orador, co-mentar Agostinho.

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A oração, os milagres, a virgindade de Maria, a humanidade de Jesus

Bento XVI no Advento e no Natal

Repouso na fuga ao Egito, Bartolomé Esteban Murillo, Museu Puškin, Moscou

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Agora, interroguemo-nos: a quem deseja o Filho revelar os misté-rios de Deus? No início do Hino, Jesus manifesta a sua alegria, por-que a vontade do Pai consiste em manter estas coisas escondidasaos doutos e aos sábios, e em revelá-las aos pequeninos (cf. Lc 10,21). Nesta expressão da sua oração, Jesus manifesta a sua comu-nhão com a decisão do Pai, que revela os seus mistérios a quantostêm um coração simples: a vontade do Filho é uma só com a do Pai.

A revelação divina não se realiza em conformidade com a lógicaterrena, para a qual são os homens cultos e poderosos que possuemos conhecimentos importantes e que depois os transmitem às pes-

Os pequeninos

Audiência Geral

quarta feira, 7 de dezembro de 2011

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ADVENTO 2011

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soas mais simples, aos pequeninos. Deus recorreu a um outro estilo:os destinatários da sua comunicação foram precisamente os “peque-ninos”. Esta é a vontade do Pai, e o Filho compartilha-a com alegria.

Mas o que significa “ser pequenino”, simples? Qual é “a peque-nez” que abre o homem à intimidade filial com Deus e ao acolhi-mento da sua vontade? Qual deve ser a atitude de fundo da nossa

4330DIAS Nº 12 - 2011

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Assim rezamos a Vós: demonstrai a Vossa força, ó Deus

Na página ao lado, O nascimento de Jesus; aqui, acima, O anúncio aos pastores, painéis lígneos policromados do teto da igreja de São Martinho, Zillis, Suíça

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oração? Meditemos sobre o “Sermão da montanha”, onde Jesusafirma: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão aDeus” (Mt 5, 8). É a pureza do coração, aquela que permite reco-nhecer o rosto de Deus em Jesus Cristo; é ter um coração simples,como o das crianças, sem a presunção daqueles que se fecham em simesmos, pensando que não têm necessidade de ninguém, nem se-quer de Deus.

No Evangelho de Mateus, depois do Hino de Júbilo, encontramosum dos apelos mais urgentes de Jesus: “Vinde a mim, todos vós queestais cansados e oprimidos, e Eu aliviar-vos-ei” (Mt 11, 28). Jesuspede-nos para ir ter com Ele, que é a verdadeira sabedoria, com Eleque é “manso e humilde de coração”; propõe “o seu jugo”, o cami-nho da sabedoria do Evangelho, que não é uma doutrina a aprender,nem uma proposta ética, mas uma Pessoa a seguir: Ele mesmo, o Fi-lho Unigénito, em perfeita comunhão com o Pai.

Estimados irmãos e irmãs, considerámos por um momento a ri-queza desta oração de Jesus. Também nós, com o dom do seu Espí-rito, podemos dirigir-nos a Deus, mediante a oração, com a con-fiança de filhos, invocando-o com o nome de Pai, “Abá”. Mas deve-mos ter o coração dos pequeninos, dos “pobres de espírito” (Mt 5,3), para reconhecer que não somos auto-suficientes, que não pode-mos construir a nossa vida sozinhos, mas precisamos de Deus, te-mos necessidade de O encontrar e escutar, de lhe falar. A oraçãoabre-nos à recepção do dom de Deus, à sua sabedoria, que é o pró-prio Jesus, para cumprir a vontade do Pai sobre a nossa vida e en-contrar assim alívio nas dificuldades do nosso caminho.

Obrigado.

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AVVENTO 2011ADVENTO 2011

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Na visão do Apocalipse há outro pormenor: sobre a cabeça damulher revestida de sol há “uma coroa de doze estrelas”. Este sinalrepresenta as doze tribos de Israel e significa que a Virgem Maria es-tá no centro do Povo de Deus, de toda a comunhão dos santos. E as-sim esta imagem da coroa de doze estrelas introduz-nos na segundagrande interpretação do sinal celeste da “mulher revestida de sol”:

4530DIAS Nº 12 - 2011

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Assim rezamos a Vós: demonstrai a Vossa força, ó Deus

Nossa Senhora e a IgrejaA única armadilha da qual a Igreja pode e deve ter

receio é o pecado dos seus membros

Solenidade da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

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além de representar Nossa Senhora, este sinal encarna a Igreja, a co-munidade cristã de todos os tempos. Ela está grávida, no sentido deque leva no seu seio Cristo e deve dá-lo à luz para o mundo: eis a la-buta da Igreja peregrina na terra, que entre a consolação de Deus eas perseguições do mundo deve levar Jesus aos homens.

Afresco que representa o capítulo XII do Apocalipse,

na parede de fundo da Basílica de São Pedro al Monte, Civate (Lombardia)

ADVENTO 2011

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É precisamente por isto, porque leva Jesus, que a Igreja encontra aoposição de um adversário feroz, representado na visão apocalípti-ca por “um grande dragão vermelho” (Ap 12, 3). Este dragão procu-rou em vão devorar Jesus – o “filho varão, destinado a governar to-das as nações” (12, 5) – em vão porque Jesus, através da sua morte eressurreição, subiu para Deus e sentou-se no seu trono. Por isso odragão, derrotado de uma vez para sempre no céu, orienta os seusataques contra a mulher – a Igreja – no deserto do mundo. Mas emtodas as épocas a Igreja é apoiada pela luz e pela força de Deus, quea alimenta no deserto com o pão da sua Palavra e da sagrada Euca-ristia. E assim em cada tribulação, através de todas as provas que en-contra ao longo dos tempos e nas diversas partes do mundo, a Igrejasofre a perseguição, mas resulta vencedora. E precisamente destaforma a Comunidade cristã é a presença, a garantia do amor deDeus contra todas as ideologias do ódio e do egoísmo.

A única armadilha da qual a Igreja pode e deve ter receio é o peca-do dos seus membros. De facto, enquanto Maria é Imaculada, livrede qualquer mancha, a Igreja é santa, mas ao mesmo tempo marca-da pelos nossos pecados.

Por isso, também nós, sobretudo nesta celebração, não cessamosde pedir com confiança filial a sua ajuda: “Ó Maria, concebida sempecado, intercede por nós que a ti recorremos”. Ora pro nobis, interce-de pro nobis ad Dominum Iesum Christum!

30DIAS Nº 12 - 2011 47

Assim rezamos a Vós: demonstrai a Vossa força, ó Deus

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Hoje gostaria de meditar convosco a respeito da oração de Jesus,vinculada à sua prodigiosa actividade de cura. Nos Evangelhos sãoapresentadas várias situações em que Jesus reza diante da acção be-néfica e curadora de Deus Pai, que age através dele. Trata-se de umaoração que, mais uma vez, manifesta a relação singular de conheci-

A oração e os milagresO Doador é mais precioso que o dom concedido;

o dom é dado “por acréscimo”

Audiência Geral

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

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Jesus cura um coxo, painel lígneo policromado

da igreja de São Martinho, Zillis, Suíça

ADVENTO 2011

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mento e de comunhão com o Pai, enquanto Jesus se deixa envolvercom grande participação humana na dificuldade dos seus amigos,por exemplo de Lázaro e da sua família, ou dos numerosos pobres eenfermos que Ele deseja ajudar concretamente.

Um caso significativo é a cura do surdo-mudo (cf. Mc 7, 32-37). Anarração do evangelista Marcos – que há pouco ouvimos – de-monstra que a acção curadora de Jesus está ligada a uma sua relaçãointensa, quer com o próximo – o doente – quer com o Pai.

Mas o ponto central deste episódio é o facto de que Jesus, nomomento de realizar a cura, procura directamente a sua relaçãocom o Pai. Com efeito, a narração diz que Ele, “levantando osolhos ao céu, suspirou” (v. 34). A atenção ao enfermo, o cuidadode Jesus para com ele estão ligados a uma profunda atitude de ora-ção dirigida a Deus. E a emissão do suspiro é descrita com um ver-bo que no Novo Testamento indica a aspiração a algo de bom queainda falta (cf. Rm 8, 23).

O conjunto da narração demonstra que o envolvimento humanocom o enfermo leva Jesus à oração. Mais uma vez sobressai a sua re-lação singular com o Pai, a sua identidade de Filho Unigénito. Nele,através da sua pessoa, torna-se presente o agir curador e benéfico deDeus. Não é por acaso que o comentário conclusivo das pessoas,depois do milagre, recorda a avaliação da criação no início do Géne-sis: “Ele fez bem todas as coisas” (Mc 7, 37). Na obra curadora de Je-sus sobressai de modo claro a oração, com o seu olhar voltado parao Céu. A força que curou o surdo-mudo é, sem dúvida, provocadapela compaixão por ele, mas provém do recurso ao Pai. Encontram-se estas duas relações: a relação humana de compaixão para com ohomem, que entra em relação com Deus, tornando-se assim cura.

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Assim rezamos a Vós: demonstrai a Vossa força, ó Deus

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O Catecismo da Igreja Católica comenta assim a oração de Jesus nanarração da ressurreição de Lázaro: “Apoiada na acção de graças, aoração de Jesus revela-nos como devemos pedir: antes de lhe ser da-do o que pede, Jesus adere Àquele que dá, e se dá nos seus dons. ODoador é mais precioso que o dom concedido, é o “tesouro”, e én’Ele que está o coração do Filho; o dom é dado “por acréscimo”“(cf. Mt 6, 21; e 6, 33)”. Isto parece-me muito importante: antes que odom seja concedido, aderir Àquele que doa; o doador é mais pre-cioso que o dom. Por conseguinte, também para nós, além daquiloque Deus nos concede quando O invocamos, o maior dom que Elenos pode oferecer é a sua amizade, a sua presença, o seu amor. Ele éo tesouro precioso que devemos pedir e conservar sempre.

Com a sua oração, Jesus deseja conduzir à fé, à confiança total emDeus e na sua vontade, e quer mostrar que este Deus, que amou detal modo o homem e o mundo, que chegou a enviar o seu único Fi-lho (cf. Jo 3, 16), é o Deus da Vida, o Deus que traz a esperança e écapaz de inverter as situações humanamente impossíveis.

ADVENTO 2011

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Assim rezamos a Vós: demonstrai a Vossa força, ó Deus

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Confiança! É a mão de Jesus

que tudo conduz...

Santa Teresa do Menino Jesus

Não nos cansemos de rezar. A confiançafaz milagres.

Santa Teresa do Menino Jesus

Convite à oraçãoA redação de 30Dias convida a todos, em particular às pessoas consagradasdos mosteiros de clausura, a rezarem por padre Giacomo Tantardini. Há al-guns meses ele vem-se tratando de um câncer no pulmão. Que o Senhor nosconceda pedir com confiança o milagre da cura. Aos sacerdotes que esti-mam e querem bem a 30Giorni pedimos que celebrem a santa missa segun-do essa intenção. Aos pais pedimos a caridade de fazerem seus filhos rezar.

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Em particular, gostaria de meditar brevemente sobre a importân-cia da virgindade de Maria, isto é, do facto que concebeu Jesus per-manecendo virgem.

No contexto do acontecimento de Nazaré há a profecia de Isaías.“Olhai: a jovem está grávida e dará um filho, por-lhe-á o nome deEmanuel” (Is 7, 14). Esta antiga promessa encontrou cumprimento

A virgindade de MariaMaria deseja que o Filho que vai nascer dela

possa ser todo dom de graça

Angelus

domingo, 18 de dezembro de 2011

30DIAS Nº 12 - 201152

A Virgem Maria, detalhe da Anunciação,

Beato Angélico, Museu do Prado, Madri

ADVENTO 2011

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Assim rezamos a Vós: demonstrai a Vossa força, ó Deus

30DIAS Nº 12 - 2011 53

superabundante na Encarnação do Filho de Deus. Com efeito, nãosó a Virgem Maria concebeu, mas fê-lo por obra do Espírito Santo,ou seja, do próprio Deus. O ser humano que começa a viver no seuseio assume a carne de Maria, mas a sua existência deriva totalmen-te de Deus. É plenamente homem, feito de barro – usando um sím-bolo bíblico – mas vem do alto, do Céu. O facto que Maria concebapermanecendo virgem é portanto essencial para o conhecimentode Jesus e para a nossa fé, porque testemunha que a iniciativa foi deDeus e sobretudo revela quem é o concebido. Como diz o Evange-lho: “Por isso mesmo é que o Santo que vai nascer há-de chamar-seFilho e Deus” (Lc 1, 35). Neste sentido, a virgindade de Maria e a di-vindade de Jesus garantem-se reciprocamente.

Eis por que é tão importante aquela única pergunta que Maria,“muito perturbada”, dirige ao Anjo: “Como será isso, se eu não co-nheço homem?” (Lc 1, 34). Na sua simplicidade, Maria é muito sá-bia: não duvida do poder de Deus, mas quer compreender melhor asua vontade, para se conformar de modo completo com ela. Maria éinfinitamente superada pelo Mistério, mas ocupa perfeitamente olugar que, no centro dele, lhe foi atribuído. O seu coração e a suamente são totalmente humildes e, precisamente pela sua humilda-de singular, Deus espera o “sim” desta jovem para realizar o seu de-sígnio. Respeita a sua dignidade e a sua liberdade. O “sim” de Mariaimplica o conjunto de maternidade e virgindade, e deseja que tudonela seja para glória de Deus, e o Filho que vai nascer dela possa sertodo dom de graça.

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Quando ouvimos ou pronunciamos, nas celebrações litúrgicas,este “hoje nasceu para nós o Salvador”, não usamos uma expressãoconvencional vazia, mas queremos dizer que Deus nos oferece “ho-je”, agora, para mim, para cada um de nós, a possibilidade de O re-conhecer e acolher, como fizeram os pastores em Belém, para queEle nasça inclusive na nossa vida e a renove, ilumine e transformecom a sua Graça, com a sua Presença.

A manjedoura de Belém

Audiência Geral

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

30DIAS Nº 12 - 201154

Menino Jesus, detalhe da Natividade, Andrea Pisano,

púlpito da Catedral de Sena

ADVENTO 2011

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Assim rezamos a Vós: demonstrai a Vossa força, ó Deus

E, ainda são Leão Magno, noutra sua homilia de Natal, afirmava:“Hoje o autor do mundo foi gerado do seio de uma virgem: Aqueleque fez todas as coisas tornou-se filho de uma mulher, por Ele mes-mo criada. Hoje, o Verbo de Deus apareceu revestido de carne e, em-bora nunca tivesse sido visível aos olhos humanos, tornou-se tam-bém visivelmente palpável. Hoje, os pastores ouviram da voz dosanjos que nasceu o Salvador, na substância do nosso corpo e danossa alma” (Sermo 26, In Nativitate Domini 6, 1: PL 54, 213).

Natal e Páscoa são ambos festas da redenção. A Páscoa celebra-acomo vitória sobre o pecado e a morte: determina o momento final,quando a glória do Homem-Deus resplandece como a luz do dia; oNatal celebra-a como o entrar de Deus na história, fazendo-se ho-mem para levar o homem a Deus: marca, por assim dizer, o mo- ¬

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A estrela que indica o lugar onde nasceu Jesus na Gruta da Natividade, Basílica da Natividade, Belém, com a inscrição

HIC DE VIRGINE MARIA IESUS CHRISTUS NATUS EST

(AQUI DA VIRGEM MARIA NASCEU JESUS CRISTO)

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mento inicial, quando se entrevê o clarão da alvorada. Mas precisa-mente como a aurora precede e já faz pressentir a luz do dia, assim oNatal já anuncia a Cruz e a glória da Ressurreição.

Contemplemos a gruta de Belém: Deus abaixa-se a ponto de sercolocado numa manjedoura, que já é prelúdio da humilhação nahora da sua paixão. O ápice da história de amor entre Deus e ohomem passa através da manjedoura de Belém e do sepulcro deJerusalém.

Vivamos o Natal do Senhor, contemplando o caminho do amorimenso de Deus, que nos elevou a Si através do Mistério da Encarna-ção, Paixão, Morte e Ressurreição do seu Filho, porque – como afir-ma santo Agostinho – “em [Cristo] a divindade do Unigénito fez-separtícipe da nossa mortalidade, a fim de que nós participássemosna sua imortalidade” (Epístola 187, 6, 20: PL 33, 839-840).

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Crianças na Gruta da Natividade

ADVENTO 2011

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Assim rezamos a Vós: demonstrai a Vossa força, ó Deus

30DIAS Nº 12 - 2011 57

QUEM REZA SE SALVA“Estou muito contente com o fato de 30Giorni fazer uma

nova edição deste pequeno livro que contém as orações

fundamentais dos cristãos, amadurecidas ao longo

dos séculos. Faço votos de que este pequeno livro possa

se tornar um companheiro de viagem para muitos cristãos”.

Da apresentação de 18 de fevereiro de 2005 do cardeal Joseph Ratzinger

(eleito Papa em 19 de abril de 2005 com o nome de Bento XVI)

O livrinho, do qual 30Dias

já distribuiu centen as de milhares de exemplares,

publicadas em língua italiana, inglesa, francesa, espanhola, portuguesa,

alemã e chinesa, contém as orações mais simples da vida cristã,

como as da manhã e da noite,

e tudo o que ajuda para uma boa confissão

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A leitura que ouvimos, tirada da Carta do Apóstolo São Paulo a Ti-to, começa solenemente com a palavra “apparuit”, que encontramosde novo na leitura da Missa da Aurora: apparuit – “manifestou-se”. Es-ta é uma palavra programática, escolhida pela Igreja para exprimir, re-sumidamente, a essência do Natal. Antes, os homens tinham falado ecriado imagens humanas de Deus, das mais variadas formas; o pró-

A humanidade de JesusNo menino do estábulo de Belém,

pode-se, por assim dizer, tocar Deus e acarinhá-Lo

Santa Missa

sábado, 24 de dezembro de 2011

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NATAL 2011

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Veni ad salvandum nos!Vinde salvar-nos!

prio Deus falara de diversos modos aos homens (cf. Heb 1, 1: leiturana Missa do Dia). Agora, porém, aconteceu algo mais: Ele manifestou-Se, mostrou-Se, saiu da luz inacessível em que habita. Ele, em pessoa,veio para o meio de nós. Na Igreja antiga, esta era a grande alegria doNatal: Deus manifestou-Se. Já não é apenas uma ideia, nem algo quese há-de intuir a partir das palavras. Ele “manifestou-Se”.

Mas agora perguntamo-nos: Como Se manifestou? Ele verdadeira-mente quem é? A este respeito, diz a leitura da Missa da Aurora: ¬

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Adoração do Menino, Gerrit van Honthorst, Galleria degli Uffizi, Florença

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“Manifestaram-se a bondade de Deus (…) e o seu amor pelos ho-mens” (Tt 3, 4). Para os homens do tempo pré-cristão – que, vendo oshorrores e as contradições do mundo, temiam que o próprio Deusnão fosse totalmente bom, mas pudesse, sem dúvida, ser tambémcruel e arbitrário –, esta era uma verdadeira “epifania”, a grande luzque se nos manifestou: Deus é pura bondade. Ainda hoje há pessoasque, não conseguindo reconhecer a Deus na fé, se interrogam se a For-ça última que segura e sustenta o mundo seja verdadeiramente boa,ou então se o mal não seja tão poderoso e primordial como o bem e abeleza que, por breves instantes luminosos, se nos deparam no nossocosmos. “Manifestaram-se a bondade de Deus (…) e o seu amor peloshomens”: eis a certeza nova e consoladora que nos é dada no Natal.

Deus manifestou-Se… como menino. É precisamente assim queEle Se contrapõe a toda a violência e traz uma mensagem de paz.Neste tempo, em que o mundo está continuamente ameaçado pelaviolência em tantos lugares e de muitos modos, em que não cessamde reaparecer bastões do opressor e vestes manchadas de sangue,clamamos ao Senhor: Vós, o Deus forte, manifestastes-Vos comomenino e mostrastes-Vos a nós como Aquele que nos ama e pormeio de quem o amor há-de triunfar. Fizestes-nos compreenderque, unidos convosco, devemos ser artífices de paz. Amamos o vos-so ser menino, a vossa não-violência, mas sofremos pelo facto deperdurar no mundo a violência, levando-nos a rezar assim: De-monstrai a vossa força, ó Deus.

Natal é epifania: a manifestação de Deus e da sua grande luz nummenino que nasceu para nós. Nascido no estábulo de Belém, não nospalácios do rei. Em 1223, quando Francisco de Assis celebrou emGreccio o Natal com um boi, um jumento e uma manjedoura cheiade feno, tornou-se visível uma nova dimensão do mistério do Natal.

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NATAL 2011

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Veni ad salvandum nos!Vinde salvar-nos!

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Nossa Senhora com o Menino, Carlo Maratta, Kaunsthistorisches Museum, Viena

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A Capela do Presépio no convento de São Francisco em Greccio, Rieti

NATAL 2011

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Veni ad salvandum nos!Vinde salvar-nos!

Francisco de Assis designou o Natal como “a festa das festas” – maisdo que todas as outras solenidades – e celebrou-a com “solicitudeinefável” (2 Celano, 199: Fontes Franciscanas, 787). Beijava, com gran-de devoção, as imagens do menino e balbuciava-lhes palavras de ter-nura como se faz com os meninos – refere Tomás de Celano (ibidem).

Para a Igreja antiga, a festa das festas era a Páscoa: na ressurreição,Cristo arrombara as portas da morte, e assim mudou radicalmenteo mundo: criara para o homem um lugar no próprio Deus. Poisbem, Francisco não mudou, nem quis mudar, esta hierarquia objec-tiva das festas, a estrutura interior da fé com o seu centro no mistériopascal. Mas, graças a Francisco e ao seu modo de crer, aconteceu al-go de novo: ele descobriu, numa profundidade totalmente nova, ahumanidade de Jesus. Este facto de Deus ser homem resultou-lheevidente ao máximo, no momento em que o Filho de Deus, nascidoda Virgem Maria, foi envolvido em panos e colocado numa manje-doura. A ressurreição pressupõe a encarnação. O Filho de Deus vis-to como menino, como verdadeiro filho de homem: isto tocou pro-fundamente o coração do Santo de Assis, transformando a fé emamor. “Manifestaram-se a bondade de Deus e o seu amor pelos ho-mens”: esta frase de São Paulo adquiria assim uma profundidadetotalmente nova. No menino do estábulo de Belém, pode-se, porassim dizer, tocar Deus e acarinhá-Lo.

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Hoje, quem entra na igreja da Natividade de Jesus em Belém dá-seconta de que o portal de outrora com cinco metros e meio de altura,por onde entravam no edifício os imperadores e os califas, foi emgrande parte tapado, tendo ficado apenas uma entrada com metro emeio de altura. Provavelmente isso foi feito com a intenção de prote-ger melhor a igreja contra eventuais assaltos, mas sobretudo para evi-tar que se entrasse a cavalo na casa de Deus. Quem deseja entrar no lu-gar do nascimento de Jesus deve inclinar-se. Parece-me que nisto seencerra uma verdade mais profunda, pela qual nos queremos deixartocar nesta noite santa: se quisermos encontrar Deus manifestado co-mo menino, então devemos descer do cavalo da nossa razão “ilumi-nada”. Devemos depor as nossas falsas certezas, a nossa soberba inte-lectual, que nos impede de perceber a proximidade de Deus. Deve-mos seguir o caminho interior de São Francisco: o caminho rumoàquela extrema simplicidade exterior e interior que torna o coraçãocapaz de ver. Devemos inclinar-nos, caminhar espiritualmente porassim dizer a pé, para podermos entrar pelo portal da fé e encontrar oDeus que é diverso dos nossos preconceitos e das nossas opiniões: oDeus que Se esconde na humildade dum menino acabado de nascer.

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NATAL 2011

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Veni ad salvandum nos!Vinde salvar-nos!

A pequena Porta da Humildade através da qual pode-se entrar na Basílica da Natividade em Belém

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O Filho de Maria Virgem nasceu para todos, é o Salvador de todos. Numa antífona litúrgica antiga, Ele é invocado assim: “Ó Ema-

nuel, nosso rei e legislador, esperança e salvação dos povos! Vin-de salvar-nos, Senhor nosso Deus”. Veni ad salvandum nos! Vindesalvar-nos!

E é isto mesmo o que significa o nome daquele Menino, o nomeque, por vontade de Deus, Lhe deram Maria e José: chama-se Jesus,

Vinde salvar-nos!Deus é o Salvador, nós aqueles que se encontram em perigo.

Ele é o médico, nós os doentes

Mensagem Urbi et orbi

domingo, 25 de dezembro de 2011

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Bento XVI durante a santa missa da noite de Natal 2011

NATAL 2011

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Veni ad salvandum nos!Vinde salvar-nos!

que significa “Salvador” (cf. Mt 1, 21; Lc 1, 31). Ele foi enviado porDeus Pai, para nos salvar sobretudo do mal mais profundo que estáradicado no homem e na história: o mal que é a separação de Deus,o orgulho presunçoso do homem fazer como lhe apetece, de fazerconcorrência a Deus e substituir-se a Ele, de decidir o que é bem e oque é mal, de ser o senhor da vida e da morte (cf. Gn 3, 1-7). Este é ogrande mal, o grande pecado, do qual nós, homens, não nos pode-mos salvar senão confiando-nos à ajuda de Deus, senão gritandopor Ele: “Veni ad salvadum nos – Vinde salvar-nos!”. ¬

30DIAS Nº 12 - 2011 67

Nascimento de Cristo, Anton Raphael Mengs, Städtisches Museum, Braunschweig

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O próprio facto de elevarmos ao Céu esta imploração já nos colo-ca na justa condição, já nos coloca na verdade do que somos nósmesmos: realmente nós somos aqueles que gritaram por Deus e fo-ram salvos (cf. Est [em grego] 10, 3f). Deus é o Salvador, nós aquelesque se encontram em perigo. Ele é o médico, nós os doentes. O fac-to de reconhecer isto mesmo é o primeiro passo para a salvação, pa-ra a saída do labirinto onde nós mesmos, com o nosso orgulho, nosencerramos. Levantar os olhos para o Céu, estender as mãos e im-plorar ajuda é o caminho de saída, contanto que haja Alguém queescute e possa vir em nosso socorro.

Por isso, amados irmãos e irmãs de Roma e do mundo inteiro,neste Natal de 2011, dirijamo-nos ao Menino de Belém, ao Filho daVirgem Maria e digamos: “Vinde salvar-nos!”.

30DIAS Nº 12 - 201168

Nossa Senhora com o Menino, detalhe, Sandro Botticelli e escola, Gemäldegalerie der Akademie der bildenden Künste, Viena

NATAL 2011

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No dia seguinte à solene liturgia do Natal do Senhor, hoje cele-bramos a festa de Santo Estêvão, diácono e primeiro mártir da Igre-ja. O historiador Eusébio de Cesareia define-o o “mártir perfeito”(Die Kirchengeschichte V, 2, 5: GCS II, 1, Lipsia 1903, 430), porqueestá escrito nos Actos dos Apóstolos: “Cheio de graça e força, Estêvãofazia extraordinários milagres e prodígios entre o povo” (6, 8). ¬

Veni ad salvandum nos!Vinde salvar-nos!

30DIAS Nº 12 - 2011 69

O santo Estêvão, detalhe do mosaico do arco triunfal

da Basílica de São Lourenço fora dos Muros, Roma

O martírio secretoAqueles que praticam os mandamentos do Senhor

prestam-lhe testemunho e invocam fielmente o nome do Senhor

Festa de santo Estêvão protomártir

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

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Depois da geração dos Apóstolos, os mártires adquirem um lugarde primeiro plano na consideração da Comunidade cristã.

Queridos amigos, a verdadeira imitação de Cristo é o amor, quealguns escritores cristãos definiram o “martírio secreto”. A este pro-pósito são Clemente de Alexandria escreve: “Aqueles que praticamos mandamentos do Senhor prestam-lhe testemunho em cada ac-ção, porque fazem o que Ele quer e invocam fielmente o nome doSenhor” (Stromatum IV, 7, 43, 4: SC 463, Paris 2001, 130). Como naantiguidade, também hoje a adesão sincera ao Evangelho pode exi-gir o sacrifício da vida e muitos cristãos em várias partes do mundoestão expostos a perseguições e por vezes ao martírio. Mas, recorda-nos o Senhor, “quem perseverar até o fim será salvo” (Mt 10, 22).

30DIAS Nº 12 - 201170

Mosaico do arco triunfal da Basílica de São Lourenço fora dos Muros, Roma

© Copyright 2011 - Libreria Editrice Vaticana

NATAL 2011

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“A fé pede”Dia 22 de fevereiro é o aniversário da morte de Dom Luigi Giussani. Recordando-o com gratidão e esperança, publicamos algumas frases suas sobre aoração. Todas poderiam se resumir na expressão de Santo Agostinho: “Aquilo que a leiordena, a fé pede”

C R I S T I A N I S M O

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7330DIAS Nº 12 - 2011

Ao grito desesperado do pastor Brand, no homônimo drama de

Ibsen (“Responde-me, ó Deus, na hora em que a morte me engole:

não é, então, suficiente toda a vontade de um homem para conse-

guir uma só parcela de salvação?”), corresponde a humilde positi-

vidade de Santa Teresinha do Menino Jesus, que escreve: “Quando

vivo a caridade, é somente Jesus que age em mim”.

Tudo isto significa que a liberdade do homem, sempre implicada

pelo Mistério, tem como forma suprema e inatacável de expressão a

oração. Por isto, a liberdade se coloca, segundo toda a sua verdadei-

ra natureza, como pedido de adesão ao Ser, portanto, a Cristo.

(Palavras pronunciadas diante de João Paulo II, Roma, Praça de São Pedro, 30 de maio de 1998)

Nestas páginas, algumas imagens dos mosaicos da Catedral de Monreale,Palermo, século XII; na página ao lado,Jesus cura a hemorroíssa, detalhe. A expressão de Agostinho “A fé pede”que dá o título a essas páginas éextraída de De Spiritu et littera 13, 22.

O último encontro de Dom Giussani com João Paulo II, Praça de São Pedro, 30 de maio de 1998

veteraNovaetNovaetArquivo de 30Dias - Janeiro de 2008

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74 30DIAS Nº 12 - 2011

É Cristo [a] presença que salva. Então, a nós, cabe pedi-lo. O “pedido

da presença de Cristo dentro de cada situação e ocasião da vida”: nessa

palavra do Papa pode-se resumir toda a ascese.

(L’opera del movimento. La fraternità di Comunione e liberazione.Cinisello Balsamo, Milão, ed. San Paolo, 2002, p. 177)

§§

“O pedido da presença de Cristo em cada situação e ocasião da vida” –

é uma frase do Papa –, isso é a ascese.

Que se torne familiar em nós o pedido da presença de Cristo em cada

situação e ocasião da vida, isso é a ascese.

(L’opera del movimento. La fraternità di Comunione e liberazione.Cinisello Balsamo, Milão, ed. San Paolo, 2002, p. 176)

E a ascese é justamente isto: que se torne em nós familiar, apesar de tu-

do, o pedido da presença de Cristo em qualquer situação da vida; a Cris-

to, presença que salva. A nós cabe caminhar sem deixar de pedir.

(Em busca do rosto do homem.

São Paulo, ed. Companhia Ilimitada, 1996, p. 110)

“A fé pede”

C R I S T I A N I S M O

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30DIAS Nº 12 - 2011

Jesus cura os dois cegos, detalhe

75

veteraNovaetNovaetArquivo de 30Dias - Janeiro de 2008

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7730DIAS Nº 12 - 2011

Jesus salva Pedro das águas

§

“Tra il dire e il fare c’è di mezzo il mare” [entre o dizer e

o fazer, existe um mar]. Foi o título de um dos nossos pri-

meiros encontros no primeiro ano no Berchet. “Tra il di-

re e il fare c’è di mezzo il mare”. Mas existe uma outra fór-

mula, que é quase igual – quase igual nas palavras –: “Tra

il dire e il fare c’è di mezzo il domandare” [entre o dizer e

o fazer, existe o pedir].

(Si può (veramente?!) vivere così?

Milão, ed. Bur, 1996, p. 377)

Portanto, a força do pedido é o outro que está presen-

te, não você. Essa é a diferença entre toda a grandeza de

alma do homem – seja epicurista, seja estóico, confor-

me as várias versões – e o cristão. Para o homem co-

mum, o importante é aquilo que ele é capaz de fazer, ca-

paz de superar (seja ele estóico ou epicurista). Já o

cristão... é como uma criança: está todo inclinado para a

presença da mãe, do pai, do outro. É a força de Deus.

(Una presenza che cambia. Milão, ed. Bur, 2004, p. 122)

veteraNovaetNovaetArquivo de 30Dias - Janeiro de 2008

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30DIAS Nº 12 - 201178

Ele [Jesus] é o destino, pois é Deus, que passa pela proposta e pela in-

dicação que dá à sua liberdade, é o destino que se submete à sua liber-

dade, que o ama tanto a ponto de condicionar-se à sua liberdade. E não

à sua liberdade como acontecimento heróico, pois, diante da escolha

do destino, o tema é tamanho que intimaria à imaginação um gesto

heróico: a liberdade, a escolha da liberdade (de fato, todo o mundo in-

fla isso aqui!). Mas não: Jesus é o destino que indica e se propõe à sua li-

berdade no que ela tem de mais infantil, mais ingênuo e bom, mais ele-

mentar, que é o pranto ou o pedido.

(L’attrattiva Gesù. Milão, ed. Bur, 1999, p. 290)

§

Esse é o trabalho?

É claro; daí se entende que o trabalho, em última instância, é oração,

ou seja, um pedido: o pedido a Deus de que reponha você nos trilhos,

lhe dê equilíbrio outra vez, torne seus olhos lúcidos novamente, dê for-

ça ao seu coração. Então você entende que ler os salmos das Laudes, da

Hora Média, das Vésperas e das Completas, ler os salmos com atenção

renova-o por inteiro, serve para renová-lo por inteiro.

(Una presenza che cambia. Milão, ed. Bur, 2004, p. 115)

“A fé pede”

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7930DIAS Nº 12 - 2011

Cura dos dez leprosos, detalhe

veteraNovaetNovaetArquivo de 30Dias - Janeiro de 2008

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80 30DIAS Nº 12 - 2011

Devemos pedir a força do Pai, a força de Deus. A força de Deus é um ho-

mem, a misericórdia de Deus tem um nome na história: Jesus Cristo, diz

o Papa na encíclica que citei. Nós devemos pedir Jesus! “Vem, Senhor Je-

sus. Vem, Senhor” é o grito que sintetiza toda a história humana, a histó-

ria da relação entre o homem e Deus na Bíblia. Peguem a Bíblia, vejam na

última página, as últimas palavras são estas: “Vem, Senhor”. Devemos re-

zar. É uma mendicância, não é uma força, mas a extrema fraqueza, a ex-

pressão extrema da consciência da fraqueza que existe em nós. A

consciência da nossa fraqueza se torna mendicância. A mendicância é a

última possibilidade de força adequada ao nosso destino, torna o ho-

mem adequado ao destino. Normalmente, isso se chama oração.

(Avvenimento di libertà. Conversazioni con giovani universitari. Gênova, ed. Marietti, 2002, p. 56)

Quer dizer então que o pedido também é um milagre?

É claro, ninguém pode dizer “Senhor Jesus”, a não ser no Espírito. É como

se alguém pretendesse existir – ao menos três fios de cabelo – por si só. Nem

mesmo um fio de cabelo! Você não pode acrescentar nem um fio de cabelo

à sua cabeça (sim, pode usar alguma loção, mas não serve para nada!).

O verdadeiro problema é que o pedido já é um milagre. É a primeira for-

ma da coerência, da realização de si, da própria liberdade. Rezar é um mi-

lagre, e é preciso aceitar o milagre.

(L’attrattiva Gesù. Milão, ed. Bur, 1999, p. 216)

§

“A fé pede”

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Estou muito contente, portanto, com o fato de 30Giorni fazer uma nova edição destepequeno livro que contém as orações fundamentais dos cristãos, amadurecidas ao longodos séculos. Elas nos acompanham durante todas as vicissitudes da nossa vida e nos aju-dam a celebrar a liturgia da Igreja rezando. Faço votos de que este pequeno livro possa setornar um companheiro de viagem para muitos cristãos.

da apresentação do cardeal Joseph Ratzinger(eleito Papa em 19 de abril de 2005 com o nome de Bento XVI)

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