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af livro - static.fnac-static.com · cialíssima saudade explicam-se pela “síndrome da primeira...

Date post: 08-Nov-2018
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4l 90 22002 ccontroll a balaada de hill strreet acction

man agua bbrava alcântarra-marr all sttars arrroz-

-doce aarthurr c. clarkke as avventuras de toom sawwyer

as mattinés: ccrazy nights, ppathé, archotte, cenntral

park... as primmas auttocolanntes baltazar bbarriguuitas

batalhaa navaal benzzina beerlindees bic bicicletas

vilar bien-êtrre blusõões du;; y bolaa nívea nas prraias

bomboocas boonanza bonecaas de paapel para recoortar

bonecoos articulados do lone ranger boonecos que

saíam nos ggelados bota botilde botaas bicuudas

de cowwboy botas ccaneleiiras bootas orrtopéddicas

botas ssendraa break dance caderrnetas dde cromos

calipo camissolas trricotadas cannada drry caneetas

molin ccão quue abanna a cabbeça caaramelos drácula

caricass carrinnhos de choqque carrrocel ccarros nsu

cartuchos paara autoo-rádio casa africanaa casaccos à

freitas do ammaral casal bosss cigarrros de chocoolate

cola caao cowwboys e índios crónicca feminina ccubo

de rubik the ccure dalllas dattsun dissco souund edittora

abril ennforcaado era uma vvez famme farinnha peensal

fi sgas flfl ashdaance fl iippers ford caapri fráágil ginngão

heidi hhomemm reggiscontta ioguurte chocolatte ucal

ioguurteira johnnyy guitaar jornaal do inncrível jouef

(commboios em escala) kalkitoos kispoo larannjina c

lassie latass de reefrigeraantes livros anita loois loja

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palmmers mmonopóólio mmini traail musstang nancy

o síttio do pica-ppau ammarelo ooranginna os jovens

vagaabundoos ovnis pacotes de leite coom moorango

papeel de paredee patcchouli películas colloridas

paraa colocar nas tv’s peenélopee petazetas pez pipi

pirolito pistolas dde águaa playmobil ponnchos pratos

pic-nnic pullovers benettton ataados à ccinturaa ou às

costtas pulsseira anntónio sala reebuçados diamante

revissta ginna revissta tânnia ritzz rock rendeez-vous

saltaar ao elásticco saltto ao eixo ssandálias de

plásttico série esppaço 19999 sloww soldaadinhoos sony

walkkman sppectrum spicce girls subbutteo suddoeste

tatuagens não ppermanentess ténis sanjoo ténis

Johnn Smitth tetrris todddy trêês em linha trinitá

tuliccreme vverão aazul víídeos jvvc wranngler yyoplait

A nossa infância e adolescência são territórios iguais a Portugal. Os portu-gueses que nasceram nos anos 60 e 70 e cresceram nos anos 70 e 80 do século passado tiveram o privilégio de nascer e de crescer em simultâneo com a infância e adolescência da democracia no país. Somos uns felizardos porque as nossas alegrias, hesitações, dúvidas e triunfos coincidiram com as alegrias, hesitações, dúvidas e triunfos de uma nação.

A 25 de Abril de 1974, Portugal começou de novo, com a desvantagem de 41 anos de ditadura que acinzentaram a terra, e a vantagem de 831 anos de história que a coloriram. Os Portugueses são nostálgicos por defi nição – onde se encontram no planeta sentimentos como a saudade, cantos como o fado ou mitos como o sebastianismo? A nostalgia é para nós tão natural como respirar. E não existem décadas que nos provoquem tanta nostalgia (e nos inspirem tanta saudade) como as de 70 e 80 do século XX. Mas porquê?

Em primeiro lugar, pela sintonia entre o crescimento de uma geração e a matu-ridade de um povo. Entre 1970 e 1988, tudo parecia novo a cada um de nós porque era, literalmente, novo para todos. Os nossos fi lhos, afi lhados, sobri-nhos, irmãos e primos mais novos abrem a boca de espanto quando lhes fala-mos do prazer de provar Bombocas, de beber uma Laranjina C, de vestir uns jeans (até fi nais dos anos 70, apenas meia dúzia de privilegiados os conseguiam obter através de viagens de familiares a Paris e Londres) ou de ouvir “Staying Alive” dos Bee Gees, em 1978, quando comprámos a banda sonora de Febre

de Sábado à Noite, estreado no “nosso” cinema uns meses antes – era o tempo em que ainda existiam grandes salas de cinema, os cineteatros como o Monu-mental e o Condes, em Lisboa, ou o Trin-dade e o Batalha, no Porto, com a pala-vra “centro comercial” a um par de anos (e milhões de contos de reis) de distância.

Em segundo lugar, a intensa nostalgia, e a espe-cialíssima saudade explicam-se pela “síndrome da primeira vez”. O contacto iniciático com gel de cabelo (quase sempre o “Studio Line”, da L’Oréal), um jogo de vídeo do ZX Spectrum ou o neo-romantismo dos Duran Duran é o mesmo que sentir o primeiro beijo ou a viagem inaugural de bicicleta. Marca-nos para sempre.

Em terceiro lugar, todas as sensações e descobertas desta época são indisso-ciáveis da idade que tínhamos quando as experimentámos. Os especialistas da psiquiatria e da sociobiologia asseguram que nenhuma experiência é tão relevante para a construção da nossa personalidade, e o desenvolvimento do nosso percurso de vida, como as que temos durante a infância e a ado-lescência. Os tais fi lhos, afi lhados, sobrinhos, irmãos e primos mais novos voltam a torcer o nariz – ou a esboçar um sorriso de troça – quando lhes falamos do irrepetível fascínio, riqueza, alegria de ser jovem nos anos 70 e 80. “Devia ser uma grande seca”, é o comentário inevitável. Eles não sabem até que ponto é imortal um tempo em que não havia quase nada para, de súbito, passar a haver quase tudo. Uma era em que a escassez de sons, sabo-res, objectos, imagens aguçavam o engenho, e o mundo – como a vida – era descoberto todos os dias.

Eles não sabem, mas com este livro vão passar a saber. Irão compreender--nos melhor, o que é meio caminho andado para se compreenderem melhor a si próprios. O sorriso de troça transformar-se-á, lentamente, numa espé-cie de nostalgia por proximidade. Talvez haja mesmo suspiros: “Quem me dera ter vivido nesse tempo...”

Quanto a nós, esplêndidas trintonas, quarentões incansáveis, mães e tios de cinquenta charmosas pri-maveras, este é um verdadeiro Guia Retrospectivo da Felicidade. Lembras-te da felicidade, não te lembras?

“Vou contar até 30!” “Coisa doce tão fofinha”

BRINCAR COMER

1 2

“Portugal – One Point”

VER TELEVISÃO

3

“Já chegámos?”

VIAJAR

6“Há um Sanjo em cada pé”

VESTIR

7

“Não tenho culpa, não votei AD”

“Bic laranja para escrita fina/bic cristal para escrita normal”

COLECCIONARESTUDAR

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“Queres dar uns beijos?” “O futuro é tão brilhante que precisamos de usar

óculos escuros”

NAMORAR O FUTURO

8 9

ISTO, SIM, ERA UMA BELA CONSOLA.

1

Como era brincar antes das consolas, dos computadores por-táteis, dos tablets, dos smartphones, dos milhões de gadgets que irrompem pelos outdoors e pela Internet para seduzirem o tédio dos nossos fi lhos e o código do nosso cartão multibanco?Era simples, muito simples. Mas também era muito diver-tido. Começava com os amigos na rua – ainda se podia brin-car nas ruas sem correr risco de atropelamento por um SUV –, no bairro (ainda havia bairros), a correr atrás da bola feitos Fernando Gomes (o “Bibota”), Jordão, Chalana, sujando os calções, marcando golos de antologia com bolas de trapos ou de plástico (custavam 10 escudos, eram caras como fogo) em balizas de meio metro marcadas por garrafas ou camisolas enroladas no chão. Éramos quase tão tecnicistas como Lionel Messi, quase tão atléticos como Cristiano Ronaldo, e a mãe não ganhava que chegasse para o detergente da máquina. Quem não se lembra, como se fosse hoje, de uma jogada absolutamente de génio protagonizada no recreio lá da escola (chovia a cântaros, foi uma batalha campal, se caíssem bombas enquanto durava o embate não seria menos épico), daquele toque de calcanhar a isolar o Asdrúbal – o vizinho vesgo, que rematou tão ao lado que foram 320 escudos para pagar o vidro da mercearia do Ernesto, esse maus fígados – ou do pontapé de bicicleta na praia do petróleo, em Mato-

sinhos, ou no areal de Carcavelos, já com 12 anos, prestes a ganhar coragem para fazer testes nos iniciados do Salgueiros ou do Estoril, mas fi cando à porta, chuteiras na mão, quando se confi rmava através do gradeamento para o campo de trei-nos que aquilo era só craques de palmo e meio?

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or-s

o o?er-n-

Os mais afortunados recorriam às bicicletas de competição que

os pais tinham comprado, ou que mandavam fazer por encomenda.

Mas já era um privilégio ser-se o jovem proprietário de uma bicicleta

Vilar: “Para homem, senhora e criança”, como sublinhavam os

anúncios, tinha quase o formato de uma mota, com caixa

de velocidades e punho de mudanças no quadro. Um mimo.

Nos anos 70 e no princípio dos anos 80, o sofá, as cadeiras e a cama eram inimigos mortais. Não havia ecrãs LCD para contemplar, ou polegares para exercitar enviando mensagens, lol. Estávamos bem era fora de casa, a correr, a saltar ou a partir os dentes porque os travões da “bicla” falharam na curva da recta grande do Parque de Campismo de Vila do Conde, ou na infi ndável rampa do Parque de Campismo de Monsanto – todos temos cicatrizes de guerra, na testa, cotovelos, joelhos. Também se faziam corridas de bicicleta, nos parques da cidade ou durante os piqueniques de fi m-de-semana, numa altura em que os ciclistas ainda eram super-heróis, a Volta a Portugal ainda agitava multidões e o doping ainda não manchara o Tour de France.

A alternativa era os patins. Não os actuais patins em linha, com ligas metálicas mais sofi sticadas do que o PC de Mark Zuckerberg, mas um par de alumínio, de peso contundente, como as Warwick Flyer. Pelos anos 70 e 80, no Jardim Zoológico de Lisboa, o Mestre Araújo ensinava milhares de crianças a patinar.

Crescer ao ar livre era, portanto, uma obrigação.

E uma bênção. Jogava-se ao “mata” (duas equipas com

o mesmo número de jogadores, uma bola pequena,

o campo riscado na areia, gizado no chão ou com recurso

a ramos em bosques e fl orestas; era o tempo das brincadeiras

ecológicas avant la lettre), na esperança de mostrarmos a agilidade às

meninas e de acertarmos com violência nos amigos menos simpáticos. Brinca-

va-se à macaca, essa primeira experiência lúdica unissexo, com rectângulos tra-

çados no asfalto, números em ordem crescente, uma pedra atirada para cada

número, cada vez mais difícil, sempre ao pé-coxinho.

Crescer ao

E uma bênç

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o campo risca

a ramos em bosqu

ecológicas avant la lettre)

meninas e de acertarmos com vio

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No capítulo “Menina Não Entra”, eles brincavam com berlindes (também

se chamavam bilas, com nomes esotéricos como “abafador”, “papa-mundos”

ou “nuvem”), lançavam o pião – os berlindes e o pião são duas reminiscências

pré-democráticas – ou o ioiô. No capítulo “Sai Daqui, Estúpido”, elas saltavam à

corda, por vezes ainda de saia rodada e fi ta na cabeça. Por vezes, havia tréguas,

e uns e outras brincavam às escondidas – “Vou contar até 30!”

Na antecâmara da puberdade, quando as raparigas começaram a deixar de ser criaturas estranhas e alienígenas (e nós deixámos de ser espécimes bizar-ros para elas), jogava-se ao “lenço”, mais não seja para corrermos junto delas, respirarmos a dez centímetros delas, agarrando-as quando podíamos “porque o jogo é assim, não sabes?”. Nas férias grandes ou no intervalo do meio na escola (durava 20 minutos), era um jogo perversamente efi caz: bas-tava o dito lenço, nas mãos do árbitro do jogo, ao centro, com duas equipas mistas numeradas, uma de cada lado, as chamadas de rompante do árbitro (“N.º 1 e N.º 3 com a boca!”, “N.º 2 e N.º 5 ao pé-coxinho!” ou “Fogo!”, quando todos tinham de jogar em simultâneo), menino e menina a chegarem junto do lenço ao alto, na mão do árbitro, face a face, vendo qual deles se escapulia com o lenço nos dedos ou entre os dentes, tentando fugir antes que o adversário lhe tocasse, para vencer a ronda.

Na praia, os intemporais cas-telos de areia não serviam apenas para impressionar o pai ou testar a veia artística. Os acessos, as ameias, os cor-redores junto às torres, a ponte levadiça serviam de palco a homéricas corridas de caricas (no Norte cha-mavam-se “sameiras”), as tampas das garrafas dos refrigerantes que então se populariza-vam. As das garrafas de Coca-Cola, que traziam estampados os nossos jogadores favoritos, eram as mais requisitadas. Cada rival tinha direito a três toques com o indi-cador para fazer avançar a carica, e tra-çavam-se metas intermédias, para onde se regressava sempre que a carica saía do traçado ofi cial (a nobre arte da carica foi mais tarde substituída por um parente afastado dos matrecos, o Subbuteo, um torneio de futebol de mesa para dois jogadores, de gigantesca popularidade planetária durante meia década).

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a-), as dos

SUBBUTEO:

piparote para a frente

20

Chegados a casa, exaustos mas satisfeitos, ainda havia tempo para um jogo de tabuleiro. Ocupava tardes inteiras de domingo quando chovia lá fora, ou parte dos sábados à noite, em família. O “Jogo da Glória” era o mais simples, uma cornucópia de números onde era preciso chegar ao fi m, tentando contornar as armadilhas ou os pântanos, e lançando os dados para alcançar as casas de “avança” (também as havia de “recua”; foram o primeiro pesadelo dos azarados).

Mais tarde, a partir dos dez anos, o jogo mais popular era o “Monopólio”, tão viciante que novas versões continuam a chegar ao mercado com regularidade. Espécie de crash course do capitalismo, jogava-se a dinheiro (falso, o que não impedia ataques pré-adolescentes de cobiça e avareza), e permitia-nos comprar a Rua Augusta ou a Estação do Rossio em Lisboa, e a Rua de Santa Catarina ou a Estação de São Bento no Porto. O maior receio era a Prisão, que nos obrigava a pagarmos fi ança e a regressarmos à casa de partida – não é difícil imaginar o “Monopólio” como o jogo predilecto na infância de Alexandre Soares dos Santos ou de João Rendeiro (embora este talvez apreciasse mais o “Jogo da Bolsa”, essa bela iniciação ao neoliberalismo).

Era o jogo de tabuleiro mais patriótico da época: o boneco que comandava as partidas lançava o mote (num cartão, por escrito, que os bonecos mal abriam a boca nesta altura), desabafando: “Pergunte que eu Respondo!” Uma agulha magnética – esse portento

tecnológico dos anos 70 – indicava as respostas, e sempre se fi cava a saber a altura das serras beirãs, os afl uentes do Tejo ou o nome dos parques naturais

minhotos e transmontanos.

Era o jogo de tao boneco que com(num cartão, por ea boca nesta alturb lRespondo!” Uma

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MONOPÓLIO:

passa aí 2 contos!

Quando não estávamos ocupados na centenária arte de desarrumar o quarto, com o auxílio de primos, primas e amigos, construindo tendas e fortalezas como se fôsse-mos accionistas da Mota Engil, elas brincavam com bebés chorões (era o precoce apelo da maternidade, com bolhas a sair pelas encantadoras boquinhas e simulacros de chichi e cocó apelando à odorífera realidade) ou com bonecas. Normalmente adquiridas em expedições até à fronteira espanhola, tinham nomes como Nancy, loira e de olhos claros comme il faut (a expressão “politicamente correcto” ainda nem sequer tinha sido inven-tada, e as bonecas multirraciais estavam à distância de uma geração), Cindy, autêntico despertador das tendências fashion nas pré-adolescentes, ou Barbie, a “tia da Linha” das bonecas de plástico, magra como uma fagulha, de insustentável mau gosto nas vestimen-tas e mais fútil que um chá das cinco no Estoril. Mas a Barbie já tinha namorado, o Ken, embora este fosse um imbecil (a Cindy não tinha namorado mas passeava o cão, era mais esperta). E as roupas brilhavam tanto... Quase em simultâneo, as Barriguitas permitiam um acesso menos dispendioso a este universo.


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