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análise formal na produção visual, 1ª parte

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Mestrado Ensino das Artes Visuais A Análise Formal Na Produção Visual 1ª parte Teoria e Didática das Artes Visuais I
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Mestrado Ensino das Artes Visuais

A Análise Formal Na Produção Visual1ª parte

Teoria e Didática das Artes Visuais I

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1. Contexto histórico/apresentação

Este é um exemplar, pertencente a um conjunto de pinturas rupestres, existentes na caverna de Altamira.Está situada no norte de Espanha, em Santillana del Mar, na Cantabria. É uma das mais importantesrelíquias da Pré-história, pela quantidade e diversidade de pinturas que guarda em óptimo estado deconservação. Pertence a um período denominado por Paleolítico Superior (entre 18.000 e 14.000 anos). Acaverna é dividida por vários espaços destintos, entre eles: o vestíbulo, sala de polígrafos, a cova e o rabo

1de cavalo . Mas de todas estas áreas, há uma que surpreende qualquer observador: a sala dos Polígrafos.2 No tecto desta sala podemos ver um conjunto de pintura, de tal forma impressionaste, que Breuil

chamou-lhe a Capela Sistina da Arte do Paleolítico. Foi declarado Património da Humanidade pela3UNESCO , por ser uma das mais importantes representações deste período.A população desta época, os Homo Sapiens Sapiens, viviam essencialmente da pesca, caça e mais tarde

da agricultura e criação de gado, o que lhes possibilitou permanecer mais tempo em determinadaslocalidades, deixando assim de ser nómadas. A religião também surge nesta época, uma vez que sentiam anecessidade de compreender alguns fenómenos naturais, até à data inexplicáveis. As artes são, muitasvezes, uma forma de exteriorização, dessa preocupações e crenças.

Esta pintura retrata um bisonte que parece estar encolhido (com as patas dobradas), de cabeça dobrada para baixa. É, sem dúvida nenhuma, um dos grandes ex libris da caverna.

do mundo,

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Análise da obra da arte - 1

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Título/Autor: Bisonte - Pintura Rupestre. Autor desconhecido.Realizado: Paleolítico Superior Materiais: Matérias naturais, sobre rocha.

Dimensões: -

1 Texto original: “Vestibulo, Sala de Polícromos, La Hoya, Cola de Caballo”. Informações retiradas do vídeo«Cueva de Altamira», exposto no canal de história Artehistotia.tv.

2 Henri Breuil (1877-1961), arqueólogo francês dedicado ao estudo da pré-história. No seu percurso, estudouvárias cavernas mas com predominância das cavernas de Lascaux e Altamira.

3 UNESCO - siglas de United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

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2. Análise formal da imagem

2.1 A forma e composiçãoAinda que o seu estado de conservação seja considerado bom, não se pode dizer que a figura seja muito

nítida. Ainda assim, facilmente reconhecemos, uma mancha (superfície), que se assemelha a um animalde grande porte. As formas estão isoladas não havendo qualquer sobreposição, como acontece com algunsexemplares de outros períodos.

 Normalmente o povo do Paleolítico Superior, retratava nas suas pinturas cenas do quotidiano, relativasaos animais. Os animais eram sem dúvida nenhuma, o elemento que mais figurava nas suas composições:

 bisontes, touros, cavalos, javalis, entre outros.O “Bisonte” apresenta linhas curvas, livres, em que a grande preocupação é retratar a realidade. Os seu

contornos, são o mais evidente do conjunto. O traço é continuo e vincado a preto, e é ele que define aimagem. Os chifres e os olhos do bisonte, também são definidos pelo contorno a preto. A superfície variaa sua intensidade, para conferir volumetria à figura. Quanto ao suporte, como já foi dito, foi pintado sobrea rocha. Como é sabido, os povos primitivos faziam uso das paredes das cavernas onde habitavam, e que

frequentavam, para se manifestarem artisticamente.

2.2 CorTrata-se de uma pintura policromática, que varia do preto (considerando o preto uma cor secundária),

do ocre, tons terra e preto. O vermelho, normalmente nas pinturas do Paleolítico Superior, é a cor maismarcante, o que se pode verificar também neste caso. Em relação à superfície, nota-se uma preocupaçãoem criar uma volumetria, fazendo uso de gradações claro-escuro. Assim podemos ver a escalacromática, com as cores mais marcantes da imagem.

seguinte

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 Estas cores caracteriza-se por serem análogas e conferem harmonia cromática . Os tons sãoquentes e o contraste é basicamente dado pelo contorno. Tanto a saturação das cores como o seu valor tonal são elevados, evidentemente pelo grau de pureza dos materiais (ainda que a imagem não permita ter 

 bem essa noção).As cores quentes, por sua vez, conferem dinamismo e a sensações de proximidade. No entanto,

neste caso, acredito que esta “escolha”, se deve ao facto de terem uma variedade muito limitada demateriais.

2.3 Textura, técnicas e materiaisA textura era dada pela própria rocha. Os artistas desta época, faziam uso do relevo e da textura da

rocha, para adicionar realismo à imagem. O locais escolhidos como suporte, eram seleccionados emfunção da imagem que queriam pintar. É evidente que o realismo da figura era conseguido, não só pelo

aproveitamento das texturas e dos relevos da rocha, mas também pela técnica adoptada. Segundo algunsestudos arqueológicos, as imagem era inicialmente desenhada a carvão (os contornos), e só depois eram

 preenchidas as superfícies, tendo em consideração as diferentes tonalidades claro-escuro. É aliás nestaépoca, que começam a ter esta preocupação de sombrear a forma. Até aqui as pinturas eram constituídas

 por superfícies planas, daí a grande inovação de o “Bisonte”, à semelhança do que acontece com outrasimagens desta época. Como referi à pouco, os recursos materiais de que disponham os Homo SapiensSapiens, eram bastante limitados. É por isso habitual vermos pinturas desta época, com a mesma escalacromática. Afinal, todos os seus desenhos eram elaborados com sangue, terra, óxido e como aglutinantes:a água e a gordura de animal. Para pintar, utilizavam as mãos, e utensílios que criavam propositadamente

 para esse fim, semelhantes aos pinceis actuais (o que possibilita pinturas mais minuciosa e detalhadas).

à imagem

à figura,

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3. Iconografia e significado

É num contexto de medo que o desenvolve as suas temáticas. Os seus temores,estavam relacionados principalmente com a falta de comida e o frio, questões básicas para a sua

sobrevivência. Mas estas representações, podem conter em si múltiplos significados. Se por uma lado, háalguns arqueólogos que defendem que estas pinturas são a manisfestação das suas crenças; por outro, háos que acreditam que é apenas uma necessidade de expressão, sem qualquer significado. Pegando na

 primeira teoria, podemos entender facilmente que, sendo este um povo de caça e de luta, procurem práticas mágicas para lhe trazer algum alento e confiança. Assim o artista era visto como um mágico, queatravés desses rituais, ajudava toda a povoação a conquistar bons resultados. Quanto mais fiel fosse arepresentação da figura, maior a probabilidade de conseguir que a magia se concretiza-se. Outraexplicação para a utilização predominante do vermelho, é exactamente por esta cor ser mágica: elarepresenta o sangue e a vida.

Dentro do estudo que me foi possível realizar, faz sentido concluirmos, que o artista do PaleolíticoSuperior, procurou na arte uma forma, não só de expressar os seu sentimentos, mas também uma forma de

chegar aos Deuses. A magia, no meu entender, esta a base de toda a arte, deste período.

artistas, deste período,

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1. Contexto histórico/apresentação

Villa Boscoreale é uma vila romana situada na cidade de Boscoreale, a cerca de dois quilómetros de1Pompéia, na Campânia (sul de Itália). Como o próprio nome indica, Boscoreale era uma importante

reserva natural, destinada à caça. Este fresco pertence à Roma Antiga, uma civilização que existiu duranteo séc. VIII a. C.. A obra foi encontrada em 1900, depois de terem realizado algumasescavações no local. Com ela, foram também encontrados Paraalém dessa casa, a vila está recheada de vestígios deste período, mas sem dúvida que a habitação decampo, é a mais emblemática de todas. Supostamente o proprietário da casa era Fannius Synistor, mas

2ainda hoje existe muita contestação, em redor desta questão .

Grande parte do trabalho aqui encontrado tem características do Helenismo e do Classicismo, existetambém uma influência da civilização grega, uma vez que os gregos apreciavam as pinturas no interior das habitações. N entanto, e como todo o bom Romana que se preze, as pinturas ostentam uma realidade

 bem mais faustosa, que a grega.

3Este fresco está exposto no Museu Metropolitano de Arte , em Nova York, e representa bem a arte praticada neste período.

numa casa de campo,um número elevado, de importantes obras.

A arte reflecte com precisão o estilo de vida dos romanos: rico eluxuoso.

Título/Autor: Villa de Fannius Synistor - Autor desconhecido.Realizado: Apartir do Sec. I a.C.Materiais: Fresco

Dimensões: -

1 Boscoreale nome original que significa floresta real.2 Existe um outro nome que aparece em algumas peças da casa e que se julga poder se tratar de outro

 proprietário: Lúcio Herrenius Florus. Na Roma Antiga os objectos eram normalmente identificados pelo seu proprietário, com etiquetas.

3 Museu Metropolitano de Arte, tradução do nome original - Metropolitan Museum of Art.

Análise da obra da arte - 2

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2. Análise da imagem

2.1 A forma e composiçãoEste fresco caracteriza-se pela utilização de formas geométricas simples, ainda que sobrepostas. Como

 podemos ver na figura seguinte, se mantivermos apenas os contornos gerais do desenho, vemos que este éconstituído por formas geométricas básicas. Outra questão importante é o enquadramento da cena, estar inscrito num rectângulo de ouro (identificado na figura, com contorno a vermelho). Esta é uma das

influências da Antiga Grécia, bastante visível neste período (. Relativamente às perspectivas usadas, nota-se

alguma confusão frenética. Todos os elementos têm dois pontos de fuga,distintos entre si. Quero com isto dizer, que os ponto de fuga de um bloconão são os mesmos, do outro, e assim sucessivamente. Aliás em primeiro

 plano, na fracção que tem uma porta, só existe um ponto de fuga, causando por isso alguma estranheza. A coluna que aparece no lado direito, era muitousual nas pinturas desta épocas. Ao entrarmos numa sala, revestida de

frescos como este, vemos o espaço mais amplo, quase sem limites.Funciona como um trompe d’oeil , fazendo parecer que existem mais salasdo que na realidade. Esta coluna é uma forma de separar as diferentes cenas

 pintadas, mantendo uma linguagem arquitectónica, em sincronia com a sala.Para além destes elementos geométricos, também estão representadas

algumas plantas ( , na envolvente dos blocos.Os pontos fortes desta pintura, estão no centro esquerdo da composição,

em forma de “L” (pontos azuis). O equilíbrio das formas, te por isso de ser com o pesoda coluna, à direita.

2.2 Cor

Embora o azul, e o verde sejam dominantes, porque ocupam a maior parte da superfície da imagem, nãosão tónicas. As cores que manifestamente sobressaem mais, são o vermelho e os laranjas.O artista mostra uma preocupação clara, em manter o equilíbrio nas cores. Se observarmos, os dois

grupo cromático, aqui presente, são precisamente cores complementares. Mas nada melhor do queobeservar as seguintes cores, que foram retiradas do fresco

como járeferido anteriormente)

sem grande destaque)

complementado,

Existe uma harmonia cromática, resultante do contraste entre cores complementares. No entanto, seobservarmos apenas a cena que se insere no rectângulo de ouro, verificá-mos que háum desequilíbrio acentuado. A imagem tora-se mais pesada do lado esquerdo. É por isso importante focar o papel da coluna: os seus tons quentes, mantêm o equilíbrioda composição, e criam a tão afamada harmonia cromática.

O contraste entre cores quentes e frias é também fulcral, na percepção da cena.Todos os elementos mais “afastados do observador” têm cores frias e estão emconcordância com as formas mais difluídas e menos detalhadas. Por sua vez, oselementos mais “próximos” estão pintados com cores quentes, assim como as formasapresentam mais detalhes. Tanto a saturação como o valor tonal, são elevados emambos os casos, tornando o conjunto vibrante.

2.3 Textura, técnicas e materiais

Os frescos são feitos sobre as paredes, com base de gesso ou cal ainda frescos. Os pigmentos são diluídos em água, e depois de aplicados sobre o cal/gesso. Após a

secagem, passam a fazer parte do revestimento da parede. Por esse motivo a sua durabilidade é grande,sendo mais resistentes em locais menos húmidos. Existem também exemplares, em que os retoques foramdados após a secagem.

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Quanto à textura, o suporto é liso, e por isso não tem qualquer influência no aspecto final da obra.Relativamente à textura criada pelo artista, a imagem está com uma aspecto craquelê, mas acredito queesteja relacionado com o seu estado de conservação ou com a qualidade da fotografia. Assim, e tendo por 

 base, que é um problema posterior à pintura, penso que as formas geométricas têm cores planas, e que

apenas a vegetação, que se ergue no fundo, é texturada (pela sua forma).

3. Iconografia e significado

Como já foi dito, a civilização romana gostava de ostentar o luxo e a grandeza. Nos seus objectos dearte, na arquitectura e em tudo o que realizavam, estava sempre presente esse traço tão vincado. Estefresco não é excepção. Podemos ver um conjunto de blocos, que deduzimos serem habitacionais. Umgrande complexo que nos mostra a grandeza das casas, desta época. Não se trata da representação de ummodesto lar, no meio do campo. Esta habitação tem muitas salas (a avaliar pelo exterior), muitas janelas,colunas, vasos e adornos arquitectónicos. Digo ser apenas uma casa, porque efectivamente o artistaapresenta-nos apenas uma porta. Uma porta bastante ornamentada, que serve de entrada para o “palácio”.

As cores são vivas, mostram força e poder. Os tons quentes assemelham-se ao bronze, e o azul/verde à pedra lápis-lazúli. É curioso, e por isso me refiro a esta pedra, que já esta civilização tinha um particular fascínio por esta rocha. Eles acreditavam que ela tinha um poder afrodisíaco, associado ao vigor efertilidade. Certo é que, esta rocha era muitas vezes triturada e utilizada como pigmento para a pintura, noentanto era muito cara e por isso raramente usada. Por estes motivos, julgo que a utilização desta cor, nosdá um sinal de riqueza, valor, luxo, de virilidade e poder.

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1. Contexto histórico/apresentação

1Esta obra encontra-se no Galeria Nacional de Arte , em Washington (Estados Unidos da América), e pertence à colecção Samuel H. Kress. O seu autor Giotto di Bondone (1266-1337), nasceu em Florença(Itália). O trabalho de Giotto caracterizava-se por ser humanista. Nas suas pinturas religiosas e de

 passagens bíblicas, conseguimos identificar aspectos humanos, reais, do quotidiano. Giotto é o grande pioneiro desta época, rompe com a tradição medieval, dando início a uma nova cultura: a culturamoderna. Cultura que vai estar, mais tarde, na base do Renascimento.

Giotto «...leva a efeito uma reforma linguística sem precedentes, caracterizada sobretudo pela2

restituição do espaço fenoménico e pela ideia de reprodução realista.» . Ainda que as suas obras sejam deestilo bizantino, ele revoluciona a estética e confere à pintura maior destaque, onde os traços são maisexpressivos, mais humanos e mais próximos da realidade.

Este fresco foi provavelmente pintado, como decoração central de um retábulo com cinco partes.Retrata a Virgem Maria e o seu filho Jesus. Foi um dos seus últimos trabalhos, e é uma pintura commarcadas influencias Bizantinas e Clássicas. Na arte Bizantina estão bem presentes as influências da artegreco-romana.

1 Galeria Nacional de Arte, tradução do nome original - National Gallery of Art.2 Giotto e o século XIV, em «Guia de História da Arte», p.11.

Análise da obra da arte - 3

Título/Autor: Madonna and Child - Giotto.Realizado: Séc. XIV (Entre 1320 - 1330)Materiais: Têmpera sobre painel de madeira.

Dimensões: 85.5 x 62 cm

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2. Análise formal da imagem

2.1 A forma e composiçãoEsta peça é bastante trabalhada e o seu requinte é pormenorizado. O retábulo tem um fecho abobadado

e como já referido, pensa-se que terá sido a parte central de um conjuntode cinco retábulos. As formas não têm contornos muito vincados, e avolumetria é dada pelo contraste claro-escuro e pelo sombreado. Quanto àcomposição, a figura materna está centrada, ligeiramente à esquerda, paracompensar o peso da outra figura humana. Por sua vez, o menino, estásentado no colo da mãe, colocado à direita da imagem. O conjuntoenquadra-se num

(figura no lado esquerdo). A composição emtriângulos, viria a ser bastante utilizada no Renascimento.

Relativamente aos dois personagens, mãe e filho, estão representadoscom bastante pormenor, ainda que não ostentem demasiados ornamentos.

Existe ali um elemento, aparentemente “decorativo” e discreto, mas que  parece prender o olhar da criança .Giotto não escolheu esse ponto ao acaso, ele está estrategicamentecolocado, entre o cruzamento do triângulo, que está na base da composição(contorno azul), e a linha mediana horizontal..

2.2 CorTrata-se de uma policromia, embora as cores nesta obra sejam bastante suaves. A cor dominante e

tónica é o amarelo-dourado. As vestes na Virgem, que normalmente são azuis, estão escurecidas dandomais realce ao dourado. Na figura seguinte, podemos ver algumas das cores mais presentes nesta obra, nasua maioria são cores análogas.

rectângulo, que por sua vez circunscreve o triângulo queesta na base da composição

(questão que abordarei mais à frente)

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Todas as cores são pouco saturadas, ainda que tenham bastante valor tonal (excepto a veste escura damãe). Os contrastes são notórios, e a cena torna-se mais iluminada e apelativa. A iluminação da cena, étotalitária, tendo em cona que está presente de igual modo, em toda a obra.

2.3 Textura, técnicas e materiaisEste trabalho tem como suporte um painel de madeira e o material usado para pintar foi a têmpera. A

têmpera era muito utilizada na pintura desta época, principalmente em Itália, onde os seus contornosforam mais evidentes. Esta técnica baseava-se no uso de água, misturada com gema de ovo, que servia deaglutinante. Para alé disso facilitava a secagem, permitindo mais rapidamente a sobreposição de camadas.

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3. Iconografia e significado 

Em termos iconográficos a arte sacra, está sempre repleta de significado. Este caso não é diferente, noentanto a Virgem aparece enquadrada num ambiente mais natural e sem a pose tão teatral, como era

habitual. O seu olhar é sereno e está direccionado ao observador, porque é a ele, que Ela se dirige, quandomostra o seu filho Jesus. No todo, a Virgem Maria transmite-nos a sensação de

 paz, afinal Jesus chegou para nos ajudar, Ele foi enviado por Deus, para nossa3salvação: «A tua salvação espero, ó Senhor!» .

 Na maioria das representação da Madonna e o menino, a mãe segura o filhocom a mão esquerda (tal com acontece neste caso), mas a mão direita indica ocaminho a seguir, o caminho de Jesus. Por esse motivo, a mão esquerda estánormalmente a apontar para ou menino, ou sobre as suas pernas dele, paraindicar ao espectador qual a direcção a seguir. Neste caso, a mão esquerda da

 Madonna, segura uma pequena planta, que Jesus também pega, quase como sequisesse brincar. Interpreto este facto, como um momento de partilha de

afecto, entre mãe e filho. Esta será o aspecto talvez mais humanista de toda aobra. Outra questão também bastante importante, e que raramente acontece, éque o menino não está a olhar para o espectador. O que se verifica na maioriadas obras, com esta temática, é que efectivamente Jesus dirige-se aoobservador, abençoando-o com um gesto bem característico (como podemosver na figura à direita). Curiosamente, na interpretação de Giotto, o meninoestá a brincar com as folhas e está a olhar para um bordado, das vestes de suamãe. O pormenor seguinte, mostra-nos exactamente a direcção do olhar de Jesus. Este facto éextremamente importante, porque acredito que aquele bordado, não é um mero elemento decorativo.

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Analisando esse elemento mais de pero, podemos dizer que se assemelha a umaflor, mas também podemos ver nele, muito mais do que isso. Fazendo odesenho, sem grandes preocupações com rigor da forma, verificamos que existede facto uma cruz, como extremidades floridas. A pequena azul (no

esquema), repete-se nas quatro pontas da cruz, e tem três (ramificações).Comparando semelhanças, desta cruz em flor, com outras cruzes já representadas,

Reparamos que existe uma, idêntica: a (imagens abaixo). Estes dois casos, têm a pontatrifurcada. Outra curiosidade é que a Cruz Florenciada, é mais comumente chamada de Cruz Flor de Lis(pela sua semelhanças com esta flor). Ora se compararmos as pétalas da flor de Lis, mais próximosficámos, da nossa imagem inicial, de Giotto.Esta Cruz e a também a flor de Lis (por associação), tem um significado

4muito especial: a Trindade . Este pequeno elemento assume assim, um dos papeis mais importantes, nesta obras. Ela certifica que estamos perante omensageiro de Deus. O menino não necessita por isso de trazer consigo

5nenhum manuscrito, globo ou cetro .

“flor”folhas

Cruz Florenciada

Cruz Florenciada Flor de Lis

3 Bíblia Católica (antigo testamento), Gênesis cap. 49, versículos 18 (49:18).4 Trindade ou Santíssima Trindade, significa: Pai, Filho e Espírito Santo. Estas foram as Pessoas que Deus

escolheu, para difundirem a sua palavra.5 Normalmente Jesus, no colo de sua mãe, traz consigo um manuscrito sagrado (a palavra de Deus) e/ou um

globo (o universo) e/ou um cetro (bastão ornamentado que indica a Sua soberania).9

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1. Contexto histórico/apresentação

Esta obra encontra-se no Galeria Nacional de Arte, em Washington, colecção Chester Dale. O seu autor francês, Edegar Degas (1834-1917), foi um dos grandes pintores do Impressionismo. Não era um comumimpressionista, a sua abordagem vai buscar influências à Renascença italiana e ao Realismo francês.Grande parte do seu trabalho foi dedicado à pintura de bailarinas. Os seus primeiros paços na pintura,eram cópias ou interpretações de obras, de outros artistas. Só mais tarde, após a sua ida para a Guarda

1 Nacional , renasce um novo Degas, com uma perspectiva marcadamente mais pessoal. Nesta sua segundafase artística, Degas aproxima-se mais do impressionismo. Retrata temos vulgares, onde a obre vale por si

só. A realidade fiel já não era um objectivo, procurava sim, o movimento, a luz, a impressão. Como járeferido, o artista mostrou um grande interesse pela temática aqui exposta: as bailarinas. Podemos por isso encontrar um conjunto enorme de obras, com esta mote. Aliás, Degas é conhecido como o pintor de

 bailarinas. O curioso é que as cenas mostram as bailarinas, não em grandes poses de bailado, mas emensaios, ou até mesmo, enquanto se arranjam para o ensaio.

1 Degas serviu a Guarda Nacional do seu país (frança), na Guerra Franco-Prussiana ou também intitulada deGuerra Franco-Germânica (1870-1871).

Análise da obra da arte - 4

Título/Autor: Four Dancers - Edgar Degas.Realizado: 1899Materiais: Óleo sobre tela

Dimensões: 151.1 x 180.2 cm

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2. Análise formal da imagem

2.1 A forma e composiçãoA imagem é composta por quatro bailarinas e ao fundo umas vegetações. Em primeiro plano, das

quatro bailarinas, três estão a arranjar as suas vestes, enquanto uma quarta observa. Aliás este e o únicoelemento, que lhe podemos ver o olhar. Não existem contornos, àexcepção dos corpos das meninas, que têm um contorno frágil edescontinuo. A composição é marcada pelas figuras humanas, queestão em grupo e totalmente à direita. Se analisarmos só a formaexiste um desequilíbrio acentuado, até porque os elementos devegetação, que estão ao fundo do lado direito, são pouco volumosos.Em contrapartida os tules das bailarinas, estão de tal forma diluídoscom o fundo, que parecem não pertencer ao resto do corpo. Tendoeste ponto em consideração, já é possível encontrar maior equilibro,no conjunto, ainda que essa compensação só seja dada pela cor.

2.2 CorAs suas obras são intensas e vibrantes, é este caso, não foge regra. A cor dominante é o verde, pois

grande parte da obra tem esta cor, no entanto a sua complementar ajuda a harmonizar a composição.Trata-se de uma harmonia entre cores complementares, em que a cor mais quente (o vermelho), apareceem menos áreas mas tem um papel igualmente vibrante. A escala cromática desta obra, varia entre oamarelo, laranja, vermelho e as suas complementares azul e verde, como podemos ver na seguinte figura.

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As cores são muito saturadas mas o seu valor tonal, principalmente do verde, é médio. Por esse motivoo verde parece estar mais “apagado”, sem luz. Este contraste de luz, realça a figura humana, como se asluzes do palco estivessem apontadas para elas. A luz sempre foi uma das grandes preocupações, deste

 período artístico, outra questão importante é a fusão das cores. Observando esta obra como um todo,notamos que as cores se misturam. Os corpos das bailarinas têm manchas verdes, que à distância não sãoreconhecidas. É como se as cores se “contagiassem” umas às outras. Esta característica confere bastantedinamismo à imagem.

2.3 Textura, técnicas e materiaisEste óleo sobre tela, de Degas, tem uma curiosidade interessaste, como em grande parte das obras

desta corrente artística, a mistura de cores era óptica e não material. Basicamente o que acontece é que oartista pinta com cores primárias, que pela sua proximidade e dimensão, parecem-nos à distancia, coressecundárias. Dando um exemplo mais concreto: se pintarmos uma pequena mancha azul ao lado de umaamarela, ao longe podemos vê-la verde. Claro que a dimensão de cada uma delas, tinha de ser bemestudada, para conseguir o efeito desejado. Nesta pintura, também foi usada esta técnica mas de formamais tímida. Os contornos quase não existem, excepto os corpos das bailarinas, que sãodestacados com contornos finos e pretos. Todos os restantes elementos não têm nenhum contorno e édifícil definir, com precisão, os seus limites. As pinceladas são fortes, expressivas e curtas, tornando oóleo bastante texturado. A textura é mais uma prova evidente, do cunho impressionista, que este trabalhoalberga.

como já foi dito,

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3. Iconografia e significado 

As raparigas estão em poses vulgares, três delas, parecem estar mesmo acompor a alça do seu fato de bailado. A quarta mulher observa o grupo, e

 parece ser a professora. O seu olhar é de contentamento mas sério. Todastêm o cabelo preso, como normalmente acontece neste tipo de dança. Têmum ar despreocupado, enquanto desempenham uma tarefa que lhes éfamiliar. Se nos centrarmos nas três jovens, observamos que elas parecem

 preencher uma sucessão de imagens, como uma sequência fotografada.Temos essa impressão porque efectivamente as bailarinas são muitosemelhantes, e todas elas estão a compor a alça direitado seu vestido. É como se estivéssemos sentados aassistir a uma ensaio, e nos ficasse na memória apenas

alguns frames. Acredito que Degas tenha sido influenciado, pelas experiências de2Eadward Muybridge , uma vez que morou algum tempo em Londres. Vivia-se, nesta

época, a agitação das experiências fotográficas de Muybridge, que procuramovimento, através das suas fotografias sequênciais (imagem à direita).Outra questão curiosa é que a cena parece desenrolar-se no campo, local nada

habitual para bailados. Realmente a Natureza aparece aqui, como expressão deliberdade. Os impressionistas interpretavam muitas vezes a natureza, com os seus tonsintensos e livres de formalismos.

Apreciar um bailado em plena liberdade, parece ser a conjugação prefeita!

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2 Eadward Muybridge (1830-1904). Fotógrafo inglês conhecido pelo seu estudo, de fotografia sequencial.

Sequência de um cavalo agalopando - Muybridge .

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1. Contexto histórico/apresentação

Joseph Mallord William Turner (1775-1851), nasceu em Londres e foi, no início da sua carreira,aguarelista e topógrafo. Reproduzia com frequência as suas viagens, que realizava à Europa. Podemosnotar na sua obra grandes alterações com o decorre dos anos. Turner afasta-se progressivamente darepresentação natural e aproxima-se mais do romantismo. Era notório também o seu interesse pelas

 paisagens, com especial foco para paisagens marítimas e/ou ribeirinhas. Mostrou-se sempre fascinado1 pelo rio Tamisa , e pelos efeitos de luz-sombra, criados pelos reflexos da água. As suas obras mais

marcantes, enquadram-se no Romantismo, a são reflexivas e profundas. O Romantismo caracterizava-se

 por isso mesmo, pela linguagem e temática lírica e utópica, voltada para o artista. O “eu” era vivamenteestimulado e os artistas, desta época, buscavam em si, os sonhos, as emoções e as contradições, inerentesao Ser Humano. Turner, procurava na pintura, muito mais que elementos figurativos. «Nas sua obras, afusão entre o indivíduo e a natureza é levado até aos limites da destruição da imagem figurativa, porque,na sua poética, a penetração emotiva da paisagem implica a perda de qualquer certeza racional e de

2qualquer referente cognoscitivo.» . Muitos acreditam que foi um visionário, pioneiro na estéticaimpressionista.

Esta obra encontra-se actualmente na Galeria Nacional de Arte, em Washington, colecção Widener.

1 O rio Tamisa (River Thames), situado no sul de Inglaterra, banha Oxford e Londres. Daí o fascínio de Turner  pelo rio, da sua terra natal.

2 O Romantismo, em «Guia de História da Arte», pp.108-109.

Análise da obra da arte - 5

Título/Autor: Keelmen Heaving in Coals by Moonlight - Joseph Mallord William Turner Realizado: 1835Materiais: Óleo sobre tela

Dimensões: 92.3 x 122.8 cm

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2. Análise formal da imagem

2.1 A forma e composiçãoEsta obra e marcada pelos contraste claro-escuro, e é evidente que o artista pretendia um equilíbrio

entre as formas e a cor. Como era frequente, Turner retrata aqui uma paisagem marítima, o que parece ser um cais. Existem duas manchasdistintas, nesta obra, uma mais clara, relativa ao céu e à água, e outra bem mais escura dos barcos. Grande parte dos barcos está do ladodireito. Do lado esquerdo estão apenas dois veleiros, mais visíveis emais nítidos. Analisando a pintura, segundo a lei dos três terços,

 percebemos que a lua está num ponto de desataque (assinalado naimagem com um ponto vermelho). A linha do horizonte coincide comum terça da imagem total, conferindo à obra bastante estabilidade. Nãoexistem contornos, excepto nos barcos.

2.2 Cor Nesta obra a fusão de cores é tal, que é difícil até de definir qual a cor dominante. Certo é que se

olharmos o conjunto, a cor que prevalece é o cinzento azulado. As águas turbas com a agitação, mostramtons ocre, de águas revoltas e sacudidas. Realmente o que merece sem dúvida ser realçado, é a luz. A luznesta cena é absolutamente deslumbraste e trágica. O contraste é acentuado, entre o brilho do luar e fumodo brasas, nos barcos. A luz é dada apenas pela lua (um foco), e por isso alguns elementos não estão bemiluminados.

São cores pasteis suaves, que nos mostram um lado mais sombrias e misterioso. Mas em contraste osnegros, são carregados e intensos. Tendo em consideração a seguinte amostra de cores, verificamos quehá um recurso à harmonia entre cores frias e quentes, embora pelo seu tom seco, não seja muito evidente.

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São cores que provieram do azul e da sua complementar o laranja. Neste caso e como já referi, sãocores pasteis e como tal, são pouco saturadas. O seu valor tonar, no entanto, é elevado. O cinzento conferemais dramatismo à cena, fazendo nos lembra o neblina.

2.3 Textura, técnicas e materiaisTrata-se de um óleo sobre tela, marcado por um requinte técnico, impressionante. As cores estão

misturadas, acentuando a sensação de nevoeiro. Pinceladas muito expressivas, próximas do que maistarde se iria praticar, no impressionismo.

Mas definitivamente, a questão vital, nesta obra lindíssima, é a capacidade que Turner tem, de nostransmitir sensações, através dos contraste luz-sombra. A pintura é ricamente texturada, com especialdestaque para as zonas mais claras: o céu e a água.

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3. Iconografia e significado 

A obra mostra-nos o transporte de carvão, no rio Tyne, no norte de Inglaterra.Segundo a Galera Nacional de Arte, onde o quadro se encontra, o carvão estaria

a ser transportado de Northumberland e Durham. Esta zona tinha muito carvão efoi por isso palco de muita movimentação comercial. Nesta época, os navios avapor já existiam e vivia-se um clima frenético. Neste caso acredito que estes

 barcos sejam à velas mas existe mais um elemento que nos transporta para estecontexto fabril e mecânico. Se repararmos há dois elementos, bastantecamuflados, que parece ser chaminés de uma unidade industrial, ou quem sabe

de um barco a vapor (rectângulos azuis, na imagem). Vemos maisabaixo, um grupo de homens que estão nas quilhas, com tochas (rectângulo vermelho, naimagem). As quilhas estão carregadas de carvão mas a visualização da cena torna-se difícil,

 pela quantidade de fumo que a envolve. Do lado esquerdo, barcos à vela aguardamtranquilos, a luz da manhã, para dar início à sua viagem.

A atmosfera, em todo o quadro, é contaminada por aquelo fumo intenso. Predomina anostalgia criada pelas nuvens de fumo e pela espectacular luz do luar. Um cenáriodramático e trágico recheado de subjectividade.

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3 Nouthumberland e Durham são duas cidades limítrofe do Norte de Inglaterra. São também fronteiriças dacidade de Newcastle, uma das mais fortes cidades na comercialização de carvão, nesta época. Ainda hoje se usa aexpressão idiomática: “Selling coal to Newcastle” - Vender carvão a Newcastle, que significa um acto condenadoao fracasso, uma vez que seria até ridículo tentar vender carvão na cidade que mais carvão comercializava, naqueletempo.

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1. Contexto histórico/apresentação

Frank Philip Stella nasceu na cidade de Malden mas em 1958 foi morar para Nova Iorque, o que viria aer uma grande influência, nos seus trabalhos. Desde de muito cedo que o artista foi reconhecido pela suaabordagem inovadora, ele foi um dos vanguardistas norte-americanos mais importantes, da arteminimalista. Os seus trabalhos não se limitam à pintura, tinha também objectos de design, litografias eobjectos arquitectónicos. Na década de 60, o pintor rendeu-se ao abstraccionismo geométrico, onde seentendia o quadro como o objecto de arte, e não o quadro como uma representação de algo. No fundo

1Stella antecipa a arte conceptual , onde as questões relacionadas com a forma, a técnica ou aparência, são

o menos importante. Como o próprio nome indica, ao conceptualismo interessa-lhe o conceito, a ideia queestá por detrás. «Na arte conceptual, a ideia ou conceito é o aspecto mais importante da obra. Significaque todo o planejamento e decisões são tomadas antecipadamente, sendo a execução um assunto

2secundário. A ideia torna-se na máquina que origina a arte.» .Ao longo dos anos, o artista mostra cada vez mais interesse pela tridimensionalidade. As suas obras são

mais complexas, repletas de relevos e detalhes. Stella continua a habitar e a trabalhar em Nova Iorque,3onde tem o seu atelier. Esta obra encontra-se actualmente no museu Tate , em Londres.

1 A arte Conceptual surge em 1965, tanto na América como na Europa.2 Sol LeWitt (1928-2007) foi um dos grandes artistas que preconizou o Minimalismo.3 O museu Tate tem quatro galerias: Tate Britain; Tate Modern; Tate St Ives; Tate Liverpool (a única que se situa

fora de Londres). Esta obras de Stella, está na galeria Tate Britain.

Análise da obra da arte - 6

Título/Autor: Hyena Stomp - Frank Stella 1962.Realizado: 1962Materiais: Óleo sobre tela

Dimensões: 19,56 x 19,56 cm

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2. Análise formal da imagem

2.1 A forma e composiçãoAparentemente as formas da imagem, remetem-nos para um aglomerado de

quadrados, centrados, e divididos pelas suas diagonais. Mas é muito mais do queisso, a base da construção é bem mais complexa e fascinante. A composição tem

4como base, a espiral dos náutilos (imagens à direita). É a chamada espirallogorítmica, mais conhecida por espiral Áurea ou de Ouro. Tendo esta elipse comoalicerce, Stella conseguiu criar um conjunto de figuras geométricas semelhantes(barras em perspectiva), muito dinâmicas e sequenciais . Stellaconseguiu, através da sua base de estudo, manter a mesma perspectiva ilusória daconcha. Ficámos com a sensação que o ponto de fuga está bem no centro do quadro,e sem saber muito bem se a “pirâmide quadrangular” é concava ou convexa.

2.2 CorEsta obra tem uma curiosidade, bastante comum nos quadros de Stella: entre as “fitas” coloridas,

existe uma pequena linha branca. Normalmente, o autor deixava uma pequena linha sem tina, ficando o branco da tela visível. Ainda que não possa afirmar com exactidão, acredito que neste caso, o mesmoacontece. Existe uma sequência grande de obras de Stella, que usam esta técnica.

Trata-se de uma policromia, de cores planas, que variam entre os azuis, verdes, laranjas e amarelo. Ascores escuras são dominantes, no entanto a cor tónica é o vermelho. Como podemos ver na seguintefigura, as cores são saturadas (ainda que não estejam no seu estado máximo de saturação), mas têm umvalor tonal reduzido, excepto o amarelo que é mais claro (mas mesmo assim não é puro).

(imagens abaixo)

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Podemos afirmar que se trata de cores complementar, que criam harmonia cromática. Convém realçar também, que os contrastes entre cores quentes e frias, conferem à obra mais ritmo e profundidade.

2.3 Textura, técnicas e materiaisEste trabalho é um óleo sobre papel, como já foi dito, com cores planas e bem delineadas. Como

contorno, o pintor deverá ter optado por deixar a tela em branco, o que acentua não só a percepção detridimensionalidade, como também de dinâmica. A obra tecnicamente não é texturada, as superfícies sãouniformes e lisas.

4 Náutilos (Nautilidae) é um tipo de concha pertencente aos cefalópodes, que o seu interior tem a forma de umaespiral logorítmica.

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3. Iconografia e significado

Não se consegue compreender esta obra, se não a associarmos à obra que lhe serviu de inspiração,Hyena Stomp. De facto Stella batizou o seu trabalho, com o mesmo nome da música, que lhe deu forma.

5

Refiro-me à síncope de uma música de Jazz, do autor Jelly Roll Morton . Na década de 60, o Jazz estava no auge, vivia-se o frenesim da liberdade melódica, harmónica e

rítmica. Aboliram-se as regas, e toca-se ao sabor do momento, da emoção. Hyena Stomp não eraexcepção, não pela construção musical, bastante clássica, mas pelas risadas que Morton introduziu namúsica. Algo inédito e surpreendente. Ora Hyena Stomp, mas desta vez a pintura, também segue a mesmalógica. Tem uma base clássica e rigorosa, no entanto surpreende-nos pelo uso aparentemente “aleatório”da cor.

Quase como um placar de néon, que muda de cor alternadamente, ao qual se tirou umafotografia, e que naquele momento, por puro acaso, estava com aquelas cores.

Além do mais, é evidente a preocupação do artista, em criar ritmo, rimas e repetições, tal comoacontece no Jazz.

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5 Jelly Roll Morton (1885-1941) foi um dos grandes pianistas e compositores, norte-americanos. Sagrou-se noJazz sendo um dos primeiros grandes teóricos do género.

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1. Contexto histórico/apresentação

Mark Rothko (1903-1970) nasceu na Rússia, e com 10 anos foi morar para a América. Nos últimosanos da sua vida, sofreu de uma doença grave, que o impossibilitou de pintar telas de grande dimensão.Acabou por se suicidar aos 67 anos. Viveu a II Guerra Mundial e todas as transformações sociais que daíadvieram. O pós II Guerra Mundial (1939-1945), foi de necessidade de mudança, e em Nova Iorque, essacede de novas linguagem, era ainda maior. As vanguardas americanas floresceram, e trouxeram com elas,

1duas correstes distintas do expressionismo abstracto . A linhas das duas correntes, é bastante ténue e por 2isso difícil de definir, no entanto uma assenta nos princípios do action-painting , e a outra representada

3

 pelo abstraccionismo histórico . Rothko enquadra-se mais, neste último, ainda que siga uma linha muito própria. Começou por ser marcadamente expressionista mas gradualmente procurou a simplificação. Estaterá sido, uma das primeira obras, em que o pintor rejeitou por completo, qualquer elemento figurativo.As suas obras procuravam cada vez mais, o ideal de pintura absoluta. É nesta década de 40, que ficaassociado à Escola de Nova Iorque, que surge como um novo caminho, na arte americana.

Esta obra encontra-se actualmente na Galeria Nacional de Arte, em Washington, colecção RothkoFoundation.

1 O Expressionismo Abstracto surgiu no pós-guerra e foi o primeiro movimento exclusivamente americano. O seudestaque foi tal, que colocou Nova Iorque no centro das actividades artísticas da época.

2 A action-painting, tipificado principalmente por Jackson Pollock, ainda está muito ligado à figuração.Distingue-se pelo sua energia e frenética.

3Abstraccionismo histórico - terminologia utilizada por Sandro Sproccati, em «Guia de História da Arte», p.223.Segundo o autor, uma visão mais idealista, que procura que a imagem se transforme em “acontecimento ritual,mágico, sagrado...”.

Análise da obra da arte - 7

Título/Autor:  No. 8 - Mark Rothko.Realizado: 1949Materiais: Óleo sobre tela

Dimensões: 228.3 x 167.3 cm

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2. Análise formal da imagem

2.1 A forma e composiçãoAs formas, nesta obra de Rothko, são bastante rígidas. Não quero com isto dizer, que é composta por 

elementos geométricos rigorosos. Refiro-me à austeridade dos elementos que a constituem, desordenadosmas quietos. Não tem contornos, ainda que se consiga distinguir quatro zonas destintas. De qualquer modo, mesmo que quiséssemos, calcular a área de cada uma das manchas, seria uma missão impossível.Uma das manchas mais imponentes, é a superfície pintada a vermelho, que se aproxima de um quadradomas não o é. O artista não teve qualquer preocupação, nem ao nível da forma, nem ao nível da

composição. Não existe nenhum equilíbrio, e a composição é monótona, semgrande profundidade. O único elemento que nos poderá dar a sensação devolume, é um pequeno rectângulo, com contornos mais escuros, ainda quemuito esbatido, e que por isso parece ser decalcado, pelo “quadrado”vermelho (pormenor imagem ao lado). Como se o “quadrado” fosse detecido, e conseguíssemos perceber o que está por detrás do pano.

A dimensão do quadro é de destacar, pela sua grandeza. Rothko dizia muitas vezes, que só pintandotelas grandes, o artista poderia fazer parte da obra.

2.2 CorO quadro é constituído por branco, bege e vermelho carregado. O vermelho é muito saturado e tem um

valor tonal também elevado. Por sua vez, o bege é também bastante saturado mas o seu valor tonal émenor, como podemos ver na seguinte imagem.

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O bege, no conjunto, fica realçado pela proximidade do vermelho (cor mais escura). Assim parece-nosser um amarelo claro, bastante diferente do que efectivamente é. Rothko, como já foi dito, não tevequalquer preocupação com a harmonia das formas, nem das cores. A cor dominante e tónica é sem dúvidao vermelho. As superfícies não são totalmente planas, no entanto não há intenção, por parte do artista, decriar qualquer tipo de movimento ou ritmo. Os contrastes são conseguidos apenas pelas cores quentes eneutras. As suas obras, nesta fase, têm sempre poucas cores, senão só , apostando num cromatismosimplificado.

2.3 Textura, técnicas e materiais Nesta obra, os contornos não existem, sendo por isso difícil delimitar as formas. As pinceladas são

 bem visíveis, mas não mantêm grande coerência entre si. Dá a ideia que se trata de uma pintura feita por camadas: primeiro é pintado uma camada base de bege, depois o vermelho e por fim o branco, que não

cobre totalmente, a camada inferior. Partindo deste princípio, e visto tratar-se de um óleo, teria de ter tidoum tempo elevado de secagem, entre uma camada e outra, para evitar a mistura das cores. As texturas sãodadas pela pincelada firme e rápida. A sobreposição das pinceladas semi-transparentes, reforça esteaspecto da obra.

uma

Quanto às dimensões da própria tela, e como já referi, o artista simplesmente não pintava em telas pequeninas, por achar serem insuficientes, para conseguir pertencer à obra.

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3. Iconografia e significado

As forma aqui não têm qualquer associação directa, com nenhuma realidade. Esse era aliás o conceitoda arte de Rothko. Ela nunca poderá ser associada a qualquer experiência visível. Basicamente era feito o

convite ao observador, para experimentar a obra. No fundo o pintor procura reduzir a obra, ao mínimo, aoobjecto em si: tela, caixilho e cor.

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1. Contexto histórico/apresentação

Dan Flavin (1933-1996) nasceu e morreu em Nova Iorque. Alguns dos seus projectos só foramterminados, após a sua morte.

Esta obra encontra-se actualmente no Hermes Trust, em Londres. As suas abordagens enquadram-se naarte conceptual que, como já foi abordado aqui, prima pela ideia que motiva o artista a criar determinadaobra, e não pelo seu aspecto final. Foi sem dúvida um dos artistas mais inovadores do séc.XX,mostrando-nos um conceito totalmente diferente de arte: arte enquanto luz. Consegue assim surpreender todos os espectadores, com um jogo absolutamente deslumbraste, de intensidade.

 Na década de 60 surgiram mais artistas, que utilizaram a luz como obra de arte, tais como Turrell,Irwin, Wheeler ou Maria Nordman. Desta vez usaram a luz, como espaço de luz (imagem abaixo).Uma atmosfera calma e fascinante, que nos remete para mundo dos sonho e da magia. 

Análise da obra da arte - 8

Título/Autor: A Primary Picture - Dan Flavin.Realizado: 1964Materiais: Luzes fluorescente

Dimensões: 61 x 122 cm

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Spread - Henry Art Gallery em Washington.James Turrell.

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2. Análise formal da imagem

2.1 A forma e composiçãoTodo o conjunto caracteriza-se pelo seu minimalismo. Aparentemente foram

utilizadas seis lâmpadas fluorescentes, colocadas de forma a criar um rectângulo. Olado esquerdo desse rectângulo, contém mais duas lâmpadas, que os restantes ladosque só contêm uma (ver imagem à direita). As lâmpadas são “barras” de néon, todascom o mesmo diâmetro, e que representam os contornos da obra. O rectânguloformado pelo conjunto, aproxima-se bastante do rectângulo de ouro.

2.2 CorEstamos perante uma policromia aparentemente simplificada, com recurso às cores primárias. Digo

aparentemente, porque entendo aqui duas analises distintas da cor: as cores das lâmpadas e as cores por elas projectadas. Analisando os reflexos das luzes, verificámos que existem uma infinidade de tonsdiferentes de cada cor. No entanto o azul, o vermelho e o amarelo, estão na base de toda a obra. Podemos

então verificar nesta obra, a seguinte escala cromática (obtida directamente pelas lâmpadas).

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Até ao nível da cor, o autor quis simplificar ao máximo, ou será que esta simplificação é apenassupérflua? Bem, sabemos que a arte conceptual é efectivamente minimalista, mas aqui ao nível da cor,descobrimos um leque muito mais vasto de tons, do que à primeira vista nos parece. Vejamos a seguinterecorte, que corresponde ao interior do rectângulo.

É realmente surpreendente a quantidade e a beleza da luz, aqui criada. As gradações de luz, dãovolumetria ao espaço, e uma sensação de jovialidade.

Avaliando o conjunto e a meu ver, a cor mais dominante e tónica é o amarelo. O azul vemcomplementar a composição cromática, como elemento mediador, entre as duas forças maiores: oamarelo e o vermelho. É a brilhante conjugação das cores/luz, e da sua intensidade, que permitem umnúmero mais variado e mais interessante de reflexos. As cores são planas e lisas, sem qualquer textura.

2.3 Textura, técnicas e materiais Nesta obra, com já referido, o autor fez uso de objectos (lâmpadas), criando assim cor-luz. Essa cor-

luz é gerada artificialmente, através de energia eléctrica. O peculiar aqui, é o facto de Flavin ter utilizadoobjectos que são fabricadas em série, para fazer delas a sua arte.

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3. Iconografia e significado

A luz é um elemento essencial à vida, e por isso durante muito tempo, os artistas procuraramrepresentar nas suas obras a luz. Flavin dá-nos a luz como obra artística. Não é necessário representar 

nada, porque ela já o é: a luz pela luz. Como já foi dito, o autor foi bastante inovador nesta abordagem,uma vez que jamais alguém ousou usar, a luz para representar a luz: o objecto pelo objecto. Outra questãoigualmente importante, é que normalmente a arte preconiza a obra única, inimitável. Assim esta obrastorna-se algo controversa, e que com certeza causou muitas críticas e muita discussão. Esta é uma obrasimplificada de tal forma, que se pode comprar num hipermercado. A questão é que não devemosentender esta obra, como meras lâmpadas. Se a contemplarmos, pressentimos que há algo mais, para láaquelas lâmpadas. Algo que só uma observação cuidada, e mais atenta, e nos podem mostrar: o verdadeiroencanto da obra.

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1. Contexto histórico/apresentação

Esta escultura pertence ao americano Roy Lichtenstein (1923-1997), está exposto nos jardins da Galeria  Nacional de Arte. Lichtenstein nasceu e em Nava Iorque, e preconizava na sua obra, os clichésdas bandas desenhadas. Os seus trabalhos parece estar fora do seu contexto, associando-se muito à Arte

1Pop . No final do séc.XX, surgiram alguns artistas, que pegando nas linguagens, da publicitária e das bandas

desenhada, fizeram duras críticas à sociedade da época. Uma arte conceptual, minimalista e comcontornos da Arte Pop. Richard Artschwager, foi um bom exemplo disso mesmo, assim como Jef Koons,Peter Halley e claro Roy Lichtenstein.

morreu

Análise da obra da arte - 9

Título/Autor: House I - Roy Lichtenstein.Realizado: 1998Materiais: Placas de alumínio

Dimensões: 311,2 x 454,7 x 137,8 cm

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1 O movimento Arte Pop (originalmente Pop Art), surge na década de 50 no Reino Unido e nos Estados Unidos.Caracterizava-se pelas duras críticas à sociedade de consumo, e usava a figura humana, como produto igualmenteconsumível. Andy Warhol foi uma das figuras centrais deste movimento.

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2. Análise formal da imagem

2.1 A forma e composiçãoEsta escultura é marcada pela ilusão que cria, e pela sua perspectiva real. Quero

com isto dizer, que efectivamente a escultura não é plana, não se trata apenas de um painel de alumínio. Como podemos ver na imagem ao lado, ela é constituída por quatro painéis distintos, que convergem em quatro linhas. Os seus contornos sãofortes, carregados e espessos. O seu desenho é elementar e irregular e tem como base,o estudo das perspectivas e consequente ilusão. Ficamos sempre na dúvida se a casaestá a avançar em direcção ao observador ou a retroceder. Um jogo ilusório bastanteinteressante, conseguido pelo artista, nesta obra.

2.2 CorEstamos perante uma policromia simplificada, com recurso a cores primárias, à semelhança de alguns

trabalhos aqui revistos. Uma vez que estão à exposição solar, no jardim, as suas cores variam muito de

fotografia para fotografia. Mesmo assim acredito que se tratem de cores puras, bem ao gosto deLichtenstein, e ao sabor do movimento. Vejamos então a escala cromática, presentes na obra (nesta fotografia).

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Analisando as cores retiradas do quadro, podemos constatar que são bastante saturadas, embora o seuvalor tonal seja reduzido. A cor dominante julgo ser o azul, e a tónica sem dúvida o amarelo, até porque éa cor com mais valor. O preto é usado como contorno, dando à obra quase uma linguagem de bandadesenhada, dando maior destaque, os seus quatro componentes. Partindo da analise de outras obras, desteartista claro, e considerando a possibilidade desta imagem ter sido tirada com pouca luz, atrever-me-ia adizer, que também neste caso as cores devem ser vibrantes, brilhantes e intensas (cores puras). Resta adúvida, de quem por infelicidade, nunca cruzou com tal objecto.

2.3 Textura, técnicas e materiaisComo já referi, a obra é constituída por quarto placas, que curiosamente estão pintadas dos dois lados.

Trata-se de alumínio fabricado e pintado. As cores são superfícies planas e por esse motivo, não têmqualquer textura.

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3. Iconografia e significado

Estas placas fazem lembrar os placares publicitários, com mensagens forte, apelativas. A sualinguagem está bastante próxima das “histórias aos quadradinhos”, e no fundo, são uma crítica social ao

consumo de massas. Este é o resultado entre a combinação da arte abstracta, e uma componente maiscomercial, associada ao produto de consumo. Como já foi dito, a casa, dá-nos a ideia detridimensionalidade, mas é

o verdadeiro interesse desta escultura, o facto de nos criar um conflito cerebral,entre o que é próximo e o que não é.

O artista defende que a obra de arte deve buscar no quotidiano, signos e símbolos (contidos por exemplo na publicidade), e que cercam a cultua de massas. Esta visão afasta-se do princípios quesustentam o abstraccionismo. Aqui fica bem presente, a obra de arte enquanto reflexo da vida, numasociedade marcada pelo capitalismo.

difícil percebermos, que arestas estão mais próximas ou mais afastadas doobservador. Aqui reside

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1. Contexto histórico/apresentação

Paul Jackson Pollock (1912-1956) nasceu em Cody e mais tarde foi morar para Nova Iorque. Era algo problemático, uma vez que sofria de alcoolismo.

1 Na sua carreira sofreu várias influências, mas André Masson , e as suasabordagens pós-guerra, foram de facto as mais importantes.

Como já foi referenciado a proposito de Mark Rothko, o pós-guerra trouxemuitas mudanças. Trouxe também a procura de algo novo, que podesseanimar uma realidade sombria e sem crédito, própria dos acontecimentos

históricos vividos. Neste contexto surge o action-painting, uma variante doexpressionismo abstracto, e no qual se enquadram, as obras maissignificativas desta artista. Uma atitude automatizada e mecânica, que dáforma, a uma arte ricamente expressiva.

O Número 1 encontra-se actualmente na Galeria Nacional de Arte, em Washington.

1 André Masson (1896-1987) esteve sempre ligado ao Surrealismo e ao Expressionismo Abstracto. Mas foi a partir da II Guerra Mundial que se começa a distanciar mais do Surrealismo, e a procurar uma linguagem maisautomatismo, mais próximo do que viria a ser o Action-painting.

Análise da obra da arte - 10

Título/Autor:  Number 1 (Lavender Mist) - Jackson Pollock .Realizado: 1950Materiais: Esmalte, óleo e alumínio sobre tela.

Dimensões: 221 x 299,7 cm

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Composition - , 1955 França.André Masson

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2. Análise formal da imagem

2.1 A forma e composiçãoEsta imagem cedida para análise, é apenas um pormenor da obra. Assim vejamos a seguinte figura,

que nos mostra qual o respectivo enquadramento.

Aqui não exista forma, nem composição previamente estudadas. Quase tudo é ao acaso, o pintor executa a obra livremente, e tanto a forma como a composição, obedecem à emoção do momento. As“linhas” têm muito movimento e conferem à obra bastante dinamismo.

2.2 CorA obra presenteia-nos com uma infindável variedade de cores, que se torna difícil defini-las. Podemos

ver o preto e o salmão (bem suave), que são as cores dominante e tónicas. No entanto existem mais tons,

nesta delirante obra: o azul, o branco, o cinzento... mas todas elas, com um valor tonal reduzido, aindaque bastante saturadas. Senão vejamos as cores retiradas da pintura.

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Realmente não há dúvida que o quadro está repleto de cor e movimento. As “linhas” e as manchasescuras, realçam toda a envolvente, dando mais luz, às cores mais suaves. Consegue-se assim criar umaatmosfera única, denunciando a sua temática: A névoa de Lavanda ( Lavender Mist ).

2.3 Textura, técnicas e materiais

Esta obra de Pollock, é simplesmente impossível de imitar. Neste quadro ele usa o eÉ uma peça única, pelo seu carácter frenético e vibrante. O autor, como já referido,

enquadra-se no expressionismo abstracto. Interessa por isso perceber, em que se baseia o action-painting . Trata-se pois de uma abordagem, que exige rapidez deexecução e muita energia. Como o próprio nome indica, tem de partir sempre da acção. Mas Pollock,

2dentro desta linguagem, usa uma técnica muito específica, chamada dripping .consiste em deixar cair a tinta, directamente do recipiente, produzindo efeitos de arrastamento: deixar quea tinta escorregue, através da acção e dos movimentos do artista. Por isso, o pintor opta por colocar oquadro no chão, para lhe facilitar a excussão da técnica ( . Não pinta com os pinceis (coma função que normalmente lhe damos), apenas com salpicos, que esvoaçam ao sabor dos gestos.

smalte, o óleo e oalumínio sobre tela.

action-painting, dentro da corrente do 

dripping,

como neste caso)

A técnica do

Obra complecta Pormenor para análise

2 Dripping significa gotejar, derivada da palavra gota.29

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3. Iconografia e significado

O action-painting, como variante do expressionismo abstracto, tem a particularidade de retomar oconceito central, do Surrealismo. Refiro-me ao automatismo, que segundo estudos da psicanálise,

defendem que o automatismo psíquico, permite ir buscar no inconsciente, a motivação da obra. Querocom isto dizer que, o pintor no seu estado “automatizado”, concebe a obra de forma inconsciente. Por essa ordem de ideias, não existe qualquer preocupação estética, nem formal, e procurar-lhe umsignificado, seria matar-lhe a alma. A obra é um espelho, onde Pollock nos mostra, o que de mais

 profundo e inatingível tem.

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