Charles Perrault
C ONTOS E FABULAS
Tradupao e posfdcio
Mario Laranjeira
ILustrapoes
Fe
I U,fM INlJHAS
ll.tIIl.. "I'~{;ilhl/ (:O{1iCS cl bilks
Copyright © 2007 dJ!sta tl'adurdo e edirdo Edirora Iluminuras Lrda.
Capa e ilustraroes Fe
Etlidio A Garatuja Amarda
Revisdo Ariadne Escobar Branco, Lucia Brandao e Alexandre Jose da Silva
(Es re livro segue as novas regras do Acordo Onografico da Lingua Porruguesa.)
(:et ouvrage. publi'; dam Ie cadre du programme de participation II ItI publication. benijicie du _'omien dll Miilistl:1'e Franrais des Ajfoim- i:.rTaligires. de l'Amhmsarle de FranC(' au Bresil et dll C011.fulat Gelleral de France ,i ,)'rio Paulo.
hre li v1'O. publicado no ambiro do programa de parricipa,ao a publica,ao, CO <HOu co m 0 apoio do
Miniw' ri o F rances da, Relac;6es Exreriores, da Embaixada da Fran," no Brasil e do Co nsul ado Ge ral da I:r:tll<;a ern Sao Paulo.
Dados Imemaciollais de Caralogac;:ao na Publica,ao (CIr) (e,mara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Pe rr au lr , C ha rl es, J628- J 703
CO ntOS e fibulas I Charles Pen-ault ; rradu~ao e postacio Mario Laranjeira ; ilu srra<;6es Fe - (3.reimp. j Sao Paulo : Iluminuras , 2007.
Titulo original: Comes et fabl es I S BN 978-85 -7321-255-6
I. C OntOS - Lirerarura infamo-juvenil 2. Fabulas - Lirerarura infamo-juvenil I. Fe. II. Tirulo
06-8055 C DD-028 .5
Indices para caralogo SiSlematico: I. Comas Lireralura infanto-juvenil 028.5 2. Fibulas Lilerarura infanto-juven il 028.5
2009 EDITORA ILUMINURAS LTDA.
Rua Inacio Pereira da Rocha, 389 - 05432-011 - Sao Paulo - SP - Brasil Tel.! Fax: (11)3031-6161
[email protected] www. iluminuras.com.bc
iN [)IC:E
CONTOS EM VERSOS
Prefacio ... .... .............. ...... ....... ............................................................... 13 Griselidis ....... .... .... ............. ... .......... ...................................................... 17 Griselidis ............ ... ...... ... ... .... ....... ..... .......................................... .. ........ 19 Ao Senhor. .. ao enviar-Ihe Griselidis ...................................................... 49 Pele de Asno ...... ..... ... .. .......... .. ............ ..... .. .............. ... ........ ...... .... .... .... 53 Os Desejos Ridfculos ...... .................................................... ........... .. ... .. 73
HISTORIAS OU CONTOS DE ANTIGAMENTE COM MORALIDADES
ASenhorita .. .... ...... .. ................................................................. ......... ... 81 A Bela Adormecida no bosque ............................................. ................. 83 o Chapeuzinho Vermelho .................................................................... 91 Barba Azul ... ..... .......................................................................... ..... .. ... 95 o Mestre Gato ou 0 Gato de Botas ..................................... ...... ......... 101 As Fadas .... ....... ...... ............................................................................. 105 A Gata Borralheira ou A Sapatilha de Vidro .................................... .... 109 Riquete do Topete .... ......... ...... ... .... ...... .......................... ...... ............... 115 o Pequeno Polegar ........... ........... .... ..... .. ..... .... ............ .......... ... , ........ . 121
os DESEJOS RIDfc U LOS Conto
1A SENHORITA DE LA C...
Se f6sseis pessoa razoavel, Eu jamais ousaria vos eonrar
Esta fabula louea e poueo amavel Que vou agora vos narrar.
A mat~ria saiu de uns palmos de Chouriyo. "Uns palmos de Chouriyo, minha cara! Que tristeza! Que horror e isso!" Uma Preeiosa exclamaria, Qu~, sempre terna e seria,
56 quer ouvir falar do eorayao. Mas v6s que bern melhor que qualquer Alma viva Sabeis eonrar e eneantar,
Ser tao simples e clara na expressao, Que 0 que se ouve ate pareee que se ve; Que sabeis que e a forma que se da ao que Se eria, mais do que a materia,
Gilbert Rouger, em sua edi~;io dos COnt05 de Perrault (Paris, Garn ier, 1967, p. 295, prop6e identifld.-Ia it heroina do Delflnado Philis de L1 C harce, que foi a Paris a pedido de Lu is XlV depois de rer lurado contra as rropas do Duqu e de Saba ia com urn punhado de camponeses. A identifJca~ao tern sua verossjm i l han~a, mas nao deixa de se r conjectural.
I
q lll' 11':11 !lde/,a;\ 1I1l1;1 Narr:l~"a();
f\ll1arcis miJlha Elbula e a moral
'1Cil ho J isso, direi, a certeza rotal.
Era uma vez urn pobre Lenhador,
Que, cansado de tanto dissabor
Que a vida traz, tinha vontade
De as margens do Aqueronte ir descansar:
Imaginava, em seu pesar profundo,
Que, desde que viera a este mundo,
o Ceu, em sua crueldade,
Nenhum desejo seu quis nunca realizar.
Urn dia em que, no Bosque, p6s-se a se queixar,
JUpiter, raio amao, a ele se mostrou.
Nao e nada facil pintar
o medo que do homem se apossou.
"Nao quero nada, disse, atirando-se ao chao,
Nenhum desejo, nem Trovao,
Emelhor deixar tudo como est,l.
- Nao deves ter nenhum temor,
Disse JUpiter, s6 por rua queixa vim ca, Mostrar-te que es injusto ao assim reclamar.
Escura-me pois. Eu me obrigo,
Eu que do mundo sou soberano senhor,
Tres desejos que queiras realizar,
Seja sobre 0 que for, conta comigo.
Ve 0 que pode te fazer contente,
Ve 0 que pode te satisfazer;
E como ser feliz dos teus votos depende,
Pensa bern antes de os fazer."
D ito isso, pra 0 Ceu Jupiter regressou,
E 0 alegre Lenhador, 0 seu feixe pegando,
Para voltar a casa, as costas 0 lanc;:ou.
Esse fardo jamais the pareceu tao brando,
E, "Nao devo, disse ja correndo,
N ,it\;( I:l'/l' l ~elll rd\cx:tu, ( ) caso cimportJnre, eu pretendo
l)a parroa pedir a opiniao.
() lha, disse ao enrrar na cas a de sape,
Vamos fazer, N ha Chica, urn born almoc;:o ate,
Ficamos ricos de uma vez,
Eso fazer alguns desejos, tres." E ai ele conrou que the acontecera,
O uvindo isso, a Esposa uns mil projeros fez;
Mas considerando a prcmencia
De agir no caso com prudencia;
"Meu caro Bras, disse ao marido, era
Born evitar os males da impaciencia:
Examin emos bern nos dois
o que se ha de fazer nessa ocorrencia;
Para amanha deixemos 0 primeiro Voto, e vamos pedir conselho ao travesseiro.
_ Tambem acho melhor deixar para depois;
Agora vai buscar vinho arras dos gravetos"
Disse Bras; e bebeu urn born rrago, avoJlt8de,
Junto ao fogo, apoiado as costas da cadeira:
"Ja que temos aqui tao boniro braseiro ,
Bern viria a calhar urn naco de Chourit,o!"
M al acabou de dizer isso, Sua mulher notou, com grande espanto,
Urn Chouric;:o comprido que, de urn canto
Da lareirasaindo, e serpenteando Chegava ate bem peno dela.
Soltou urn grito de repente,
Mas, achando que essa esparrela
Tinha por causa simplesmente
o desejo que, imprudente,
Seu homem tinha formulado ,
Nao ha injuria ou xingac;:ao
Que por 6dio ou desilusao
Nao tenha sobre ele lanc;:ado .
"Quando se pode, disse, urn Imperio ganhar,
,'t l( d :IS, o u 1'0 , di:llilan [L'S,
Rubis c roupas elegances,
PO] que eque so : :houric;:o se vai desejar? - Esta bern, disse ele, eu fiz a escolha errada,
Cometi falha exagerada, Farei melhor da outra vez,
- Born, born, disse ela, vai ver se estou la na esquina, Ter urn desejo assim, so urn burro , uma res!" Mais de uma vez 0 esposo, irado, desatina E pensa baixo em desejar a viuvez,
E quem sabe, entre nos , born pedido seria: "Os homens so nasceram pra sofrer! dizia; Seja 0 Chouric;:o peste, e Chouric;:o outra vez;
Queira Deus, pecora infeliz, Pendurar urn no teu nariz! "
A prece pelo Ceu foi logo ouvida, E assim que 0 seu Marido assim falou,
No nariz da esposa irritada,
Urn naco de Chouric;:o se agarrou. Tal prodigio imprevisto 0 pos louco da vida. Nha Chica era bonita e arrumada, E, para sem disfarce, ir logo ao fato,
Nesse lugar 0 tal ornato Nao produzia born efeito;
A nao ser que, no rosto pendurado,
Impedia a mulher de palrar ao seu jeito, Para urn esposo, ganho exagerado,
Tao grande e feliz que entao pos-se a pensar Nada mais desejar.
Bern poderia, ocorre asua mente,
Depois de sorte tao funesta, Com 0 desejo que me resta, Fazer-me Rei de repente.
Nada ha igual, de fato, aregia grandeza; Mas devo antes ter certeza,
I)c U )Jl1() :I Ra illh a if:! esta],
L'~ como !Icafia cla infeliz Ao ir ao trono se sentar Tendo tres palmos de nariz.
Tenho de ouvi-Ia a esse respeito, E que ela escolha, e seu direito,
Tornar-se uma Princesa opulenta e potente Conservando 0 nariz feio que tern,
Ou ficar Lenhadora e 0 que Ihe convem, Com urn nariz como 0 de toda gente.
Examinado 0 caso com cuidado, Embora conhecesse 0 cerro e seu efeito,
E que, quando se e coroado, Tem-se 0 nariz sempre perfeito;
Como nada e maior que a ansia de agradar, Ela optou por manter a Toca camponesa
Ao inves de ser feia e tornar-se Princesa.
Assim 0 Lenhador nao mudou seu estado, Nao se tornou urn grande Potentado, Nem de escudos sua bolsa pode encher,
Feliz por empregar 0 desejo restante, Fraco prazer, recurso irrelevante,
Para amulher 0 estado antigo devolver.
Ebern :verdade pois que aos homens miseraveis, Aos cegos, sem prudencia, inquietos, variaveis,
Nao cabe formular desejos, E que poucos denrre eles sao capazes
De usar os dons do Ceu tornando-os eficazes.