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    CIG NOS NO R ZIL

    ontri uição ethnogr phi

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    LIVRARIA B. L. GP RNIER

    DO MESMO AUTOR

    Curso de Lit te ra tura Brazileira, ou escolha de varias trecho ;em prosa e verso. dos melhores autores n:lcionaes, antigos emodernos, seguido dos Cantos do padre Anchieta, obra ado-ptada pelo Imperial Collegio de Pedro II , I v. in-8 ene 5 000

    Cantos do Equador, poesias, r v. in-S br................................ 2SoooMytbos e Poemas , nacionalismo, poesias, 1 v. n ~ bT 2Revista da Exposi ção Anth ropolog ica, illuslrada com gra-

    vuras em madeirn, I v. in-4 cart................. 5 000Poemes de l Esclavage et Légendes d es In dien s, lradueçao

    franceza da RevIu COJ1lJlle1 ciale, Fi l a l c i i et fl1 aritilllc Jcom uma luminosa JNTRODUCÇÃO sobre a eSl.:r.widào no Brnzil ,por Ch. 1I10rel.

    Desta obra. favoravelmente acolhida por qw i toda a imprensada Europa e America, e que valeu a seu autor as boas palavrasde Herbert Spencer, Quatrefages, J. Lubboek, Ferdinand Dénis,E. Zola J Elisée Reclus, Camille Doucel, GladsLme, Ch. Charlicr,E. Delcau, V. Quesada, C. von Koseritz J Barão de Tcffé, C. de Laet,

    Oscar d Araujo, Clovis de Bevilacqu3, Felix Ferreira, etc., daqual já se acha publicada, entre outras, a vcr.-; lo hespanhola deD. Benigno T. lvlartinez, no Urllguaz I v. n ~ br................ 2 000

    Cancioneiro dos Ciganos, 1 v. in-S cne. 3 000Parnaso Brazileiro, comprchendclldo toda a cvoluÇãO da poesia

    no Brazil, desde 1556 até 1880, enriquecido de incditos dopadre Anchieta, da Academia dos Esquecidos, Arcadia Fran-ciscana Fluminensc, etc., 2 grossos v o u m ~ 8Sooo

    Chronica Geral do Brazil , obra posthuma do Dr. :Mello l\1oraes,contendo todos os acontecimentos, desde :1. descoberta do Brazilaté o anilO de 1879, systematisada e puhlicada por :Mcllo l\for:lcsFilho, grossos vols.

    P Df: o. LE.UlINnli:l l i FILHOS U IIIOR 1

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    MELLO MORAES FILHO

    os IG NOS NO R ZIL

    CONTRI UIÇÃO ETH TOGRAPHICA \

    6 8

    L GARNIER Editorj { 1O E f N E I R O

    ~ 8 8 6 3 i ~ ~ 1 r 1 ~

    q t ~ ~

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    e te f lum n r t aollo n ú ~ r Ci

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    Ao D R . LUIZ DE CASTRO

    Traductor da Historia do razi l de Southey

    do Capital cirCltlação e ancos de James Wilsondo Tratado pratico dos ancos de William Gilbertcollaborador da Revista Popular e redactor chefedo ornal do C 11l1llercio

    Ao homem de lettras erudito e jornalista deactividades notavcis

    Admiração e reconhecimento.

    MELLO MORAES FlLI lO.

    1

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    Ao D R MOURA BRAZIL

    Ex chefe de clinica do Professor de Wecker

    Ao medico sabio e ophthalmologista celebre

    Homenagem e sincera estima.

    MELLO MORAES FILHO l

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    PRIM IR P RT

    TU LID DE T R D I Ç Õ E S

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    Estudo sobre as primitivas migrações de ciganos na

    Europa e opiniões a respeito de sua origem

    De onde vinham os doze penitentes que em1427 chegaram a Pariz com um sequito de maiade cento e vinte pessoas?

    Que clima deixaram esses homens estranhose de cabellos crespos essas mulhel es t r igueirae em cujas orelhas reluziam brincos de prata e

    de pedraria?Domiciliados nas proximidades de Saint-Dénis

    o povo corria para ouvir dellas a buena-dichaemquanto que a pilhagem e o roubo estendiamse pela cidade.

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    OS CIGANOS

    o arcebispo de Pariz amedrontado pelassuperstições de que eram portadores esses forasteiros que se diziam cbristãos do baixo EgYI oos foz evaouar hapelle e fulminoL. de ex·

    communbão a todos que os procurassem nointuito de saberem a sina.

    Desde então o odio popular cabiu sobre ollese o terror quandu ollcs passavam murmuravaapontando - Ahi vão os orvos o Egypto

    Mas o caracter da raça suas migrações sualinguagem a ausencia de uma idéa de pntl ia ede historia nacional o que comprovâm relativamente á sua origem á sna filiação ethnira?

    Recorramos ás chronicas ~ datas de souprimeiro apparecimento em diversos Estados daEuropa consultemos o ponsamento dos histol iadores que tentaram acompanbar-Ihes a marchae dos sabias nas suas conclusões laboriosas.

    Conta-nos a historia dos povos barbaros quedepois da morte de Justiniano occupou o tbronode Constantinopla Leão o- Isnuriano quo arregi-mentou as populações da Bulgaria lla grandeguerra empl ebendida contra os Sarracenos queinvadiram seus dominios obl igando-os a suspen·der o sitio no anno de 718.

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    NO BRAZIL 13

    A paz assegurada pela luta prolongou-seaté o reinado de Constantino Copronymo nãose Jando faeLo algum momoravelontre Romunose bal bal 0Sdurante oste periodo. Esse pl incipe

    porém conquistando cm 755 terriLoriosperto doEuphratos conduziu á Tbracia os Syrios e Ârmenios que flprisionarana ma; .im:l.parte Paulici:l.nos ou M::micheuselcmc: l1tos da formaçãodOi; nthingans ou ciganos raça disseminadaaindt1

    hoje pela Bulgnria.A csta corrente de emigração armeni:1attri-buem os Armeniosactuaes dos grandes cent.rosda Criméa a sua genealogia.

    Aos nthingans por r r u p ~ ãTchenghellescomo os chamam no Oriente e aos Judeuso histol iadorFle\lrJ prende a origem dos cigauos.

    Quer sojam olles da seiLa dos hercsiarcascomo suppoem notaveis eantigos historiadoresquer não os nthingans ostivernm igunlmeutesob O jugo dos kalifas acham-sederramadoseobre toda a Turquia da El1ropfl avultam empartidas considel aveis na Valacbia ulgariaMoldavia Thracia nos Estados Tar taros Bessarabia etc. procurando do prefercncia as regiões

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    OS CIGANOS

    do Danubio, até certo tempo não transcendendo os limites estabelecidos pelos sultões.

    a Tluquia essas tr:ibus dão a s:i mes \S onome de omitschel palavra composta eophtasegundo a :interpt etação de CODstancio, e q

    pela decomposição do rorni ou rom que s:ignificahomem, e chal Egypto forma - homem doEgypto

    Procuraudo analogias, afim de descobrir·lbeso ponto de partida o sabio Marins N:igor asencontra entre Zigeuner como :igualmente os de·nominam e Zengitano, outr 01 a parte do terri-torio africano, para ah:i eoUocae-lhes o berço,

    Para Aventinus, ellos nada mais eram do que

    hordas das fronteiras hungaeas e tu rca Pio I Idiscordando dos demais autores que so oecuparam do assumpto adianta que os ciganos sãouma corrente de po])ulação del ivada da Zogoc:ia, pa:iz que demora a pequena distancia do

    Caucaso,Os sabios modernos, Grellmalln, Gro: fundel ,

    Mareden e Hoyland pretendem que sejam pariahsda India expulBos por Tamerland em 1398 dasmargens do Ganges; e, como só om 1417 apl -

    recel am na Europa suppõe-se que as pl imitiv8s

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    NO BRAZIL 15

    migrações fossem na Persia e Egypto hypothesefavoravelmente aceita pela seiencia hodierna

    Joaquim José Caetano Ferreil a no seuEs·baço de um dicc :onal io j l ~ l j d j c odiz o seguinteem comcço de artigo:

    Ciganos - Raça de gente vagabunda Onome ciganos vem do italiano Zingan umageração o r l l n t ~do Egypto que p o i ~quo estepaiz o conquistndo pelo sultão Selim em 1517

    appareceu na Allemanba e se espnlbou depoispor toda a Europa

    O franc zes os chamam Bohemiens porse lhes havorem unido no tempo da gnerra dosHu s tas uns fugitivosda Bohemia.

    O lcxicograpbo Ãntonio de Momes e Si1vaassim o definc:

    Ciganos - Raça de gente vagabunda quediz vem do Egypto e pretcnde conhecer o futuro pe1as raias ou linhasda mão; deste embustevive...

    Constancio diverge suppondo que cigano éuma variante de Zangui Dome de urna provincia entre Ethiopia e .B:gypto onde viveram pormuito tempo depois de expulsos da India suapatria

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    16 OS CIGANOS

    Dabi cbamarem-se ipsi s pelos inglezesisto é quasi Egypcios.

    O mesmo a utor prolongando as suas cousi.derações insiste:

    C São uma casta indiana expulsa. de suapatria e que se acolheu á Persia depois aoEgypto donde se espalbamm pela Europa baalguns seculos.

    D. Rapbael Bluteau cuja erudição e criteriofazem peso nas letras de Portugal no seu pro-fundo artigo consagrado á questão apresentaalgumas idéas originaes e dignas de reparo.

    Assim entre os pontos quo são communsaos outros sabias o motivo da maldição ela raçadando·lhe origem judaica; opinião que não é soguida e que nos parece insustentavel.

    Destaquemos o que de ma is curioso se en·contra no eminente escriptor:

    C ig nos - Nome que o vulgo dá a unshomens vagabundos e embusteiros que se fingem

    natllrnes elo Egypto e obrigados a peregrinarpelo mundo sem assento nem domicilio permanente como descendentes dos que não quizel amagazalhar o Divino Infante quando a VirgemSantíssima e S José peregrinavam com eUe peloEgypto

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    NO BRAZIL

    Rapha.el Valater1 ano faz menção dessagente e diz que tl :lZ na ol igem de uns pa.riahsde Imn tl ibu dn Pel sia que faziam profissão dedizer buena dicha. Querem outros autores queos ciganos viessem d:l E clavonia ali de umastenAS do Turco, eonfinuntes com a Hungria..»

    O antol do Jll1:rcat homem do letras araboaffil ma. quo elles descendom em linhn. recta dePhal uó.

    Remont:l.ndo·nos ainda. erudição antiga,encontmmos notirias le qne no seeuIo XV appa-1 eeeram Europa uns Egypcios o Persas denominados angui dizendo-se em époen. remotahabitadores das margens do Nilo; que no começo

    da él n acima tropilhaa vagabundas invadiram aAllomanha e em 1422 as avançadas que chegaram n Pariz, vindas da Bohemia, torna.ram·secon heeida.s dos francezes por Bo1Lémiens

    O celebre missionn.rio Bor1 ow que conviveu

    l:tl gos annos com eIles que ~ t n o u · l h sa lingu aos usos e 05 costumes e que era con ideradoramo nlU om homem), acha no · seu dialectoq ue é o mesmo por toda a parte, vestigios doantigo estado pUJ iah

    o proeioso Iiv1 0

    de u Thouvenel

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    18 osCIGANOS

    ongrie et la Valachie nota-se igual tendencia noespirita do escriptor ü to pelo estudo comparativo de varias termos fazeI-os originarias da Jndin.

    Apezar de vagas conjecturas ha geralmenteaccôrdo em que os ciganos t r v e ~ t r mo Egyptoconcluindo Borrow: Por toda a parte elles conservam os mesmos costumes e as mesmas palavras.

    Segundo os mais recentes estudos sobre esse

    povo mysterioso e errante que acredita e terintroduzido o bronze na Bjuropa essa tribus decaldeirciros ferreiros ourives latoeiros conductores de ursos e embusteiros Jobert de Possajulga-os descendentes de Axabes e Mom os con

    quistadores da Hespan ba.Paul Bataillard sustenta a theoria de que aemigração bohemia vinda da Europa oriental e daAsia para as regiões occidentaes constitue umaraça pre-historica raça dos Sigynes do hi toriadorHerodoto ou Sintbies mencionados por Homeropopulação numerosa da ilha de Lemnos.

    O ciganologo Pott não esposando na integraos conceitos deste sabio vacila devéras emquanto á proccdencia o que não sllecede a Ascolique os acei ta sem reservas

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    NO BRAZlL 9

    Raça metalurgica na Turquia da Europa ena Hungria jogadores de sôcco e saltimbancosna J lglaterra seus chefes vivem com opuleuciana Valachia Tl ansylvanja e Moldavia.

    Alguns na Rllssia possllem consideraveis for-tunas.

    Sem que a sciencia tenha até o presentepodido esclarecer o enigma atravez do qual seesconde e te povo que tira do de prezo a queha sido votado a armas que maneja contraas civilisações ma is robustas não passando demeras hypotheses as inducções scientificas relativas á sua na.cionalidade primitiva não aconteceo mesmo com referencia ás suas migrações na

    Europa.A a.pparição dos primeiros bandos no con-

    tinente europeu nos demonstra a historia ter sidonn HllUgl ia no seculo XIV. Dahi partiram nasdirecçõcs de léste e oeste.

    Grandes levas derramaram-se pela Russia.A.llemanha Inglaterra Italia França e Hes-panba etc. parecendo seus paizes predilectos aRassia e a Hespanba principalmente as mattasdesertas da Andaluzia Cordova o Monte Sacro

    Sevilha e Madrid.

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    OS CIGANOS

    É claro que a distribuição dosgrupos devel iater sido gmdu l tocando elles em épocas irregu-lares aos pontos successivos.

    m rgem de seu itinerario registremos asderradcil flsd t s e as jorn d s imprevistas

    . 0 .

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    Os ciganos na Hespanha E m Portugal Legis laçãopara os ciganos Extradição para o Brazil eAngola As revelações do Sr. Pinto o i t s -O alojamento dos ciganos O cigano é a soldada mestiçagem A t rasladação da côrte real por-tugueza para o Brazil _ O rei e seu s q u i t o -O conde dos Arcos FidalgQs e vadios Festascoloniaes O curro no campo de Sant Anna -

    O fandango dos ciganos As r e c o m p e n s a s -J á l a - t c /1c yuc.

    No seculo X hordas de ciganos vindosdos Pyrinéos entraram na Hespnnha ahi che-

    gando a do Junho de 1449.Extenuados pclas fadigas longas banidos

    dos paizes por onde passavam lançados parafóra de todas as terras pediam nesse refugio oesquecimento e a paz para os delictos de sua

    vidaimpersistente

    e delutas

    incommensuraveis.

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    OS CIGANOS

    E uma especie de noite os protegeu poralgum tempo, começando na Hespanba a naexisteneia acti va, o seu despertar na sociedade,no reinado de Carlos III que os ut;lisou em

    proveito das artes.Esta rebabilitação moral foi tl allsitoria e

    enganadora; novos governos desencade::tram contraos pariabs-erradios aLrozes persegnições, despojando-os de eus empregos e profissões, desti

    tuindo-os da naLuralisação e privilcgios a quetinham direito.

    Aos azares da má sorte, no comb:1te bl açoa braço contra o destino adverso, numerosasavançadas emigraram para Portugal indo maistarde alimentar as chammas das fogueiras inquisitoriaes de D. João II que augmentara doscodigos portuguezes as leis expressamente promulgadas para punil-os.

    1 Ol denações, Liv 5° tit. 69, l°. Leis de 7 deJaneiro de 1606, de 13 de Setembro de 1613, ele 24 deOutubro de 1647, de 5 de Fevereiro de 1649, de 6 deJaneiro e de 10 de Novembro de 1708, de de Setembrode 1760. Decretos de 30 de Julho de 164 , de 20 de Setembro de 1649, de 7 de Agosto de 1686, de 8 de Fe-vereiro de 1718 e ele 17 de Julho de 1745. Provi ão de9 de Julho de 1679. 1artas Regias de 3 de Dezembro de1614 e de 30 de Junho de 1639 e Aviso ele 15 de Maio

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    NO BRAZIL 23

    A respeito dessa.raça isto é, de sua origemcostumes e tradiçõesnenhum ccho se escapa dasvelt as chronicasportuguezas a não ser o de

    seus passos nostribunaes do crime e o de seuslamentos ao tom das vagas na:: amuradas dosnavios que o conduziam aos degredos doBrazilc Angola.

    E é pela legi Iação que vamos sOl prendelas primeiras turmas que aportaram á nossasplagas ueterminando a prioridade das provinciasque as receberam.

    Abramos as Ol denat ;ões do einoDiz o decreto de 27 de Agosto ue 1685 :

    Fica eommutado aos ciganos o degredoda

    Africa para o M:ll anhão. as provisões de 15 de Abril de 1718 23

    de Agosto de 1724 29 de Maio de 1726 e de29 de Julho de 1740 lê se:

    Se os ciganos e outros malfeitores de

    gradados do reinopara Pernambuco não ado-de 1756. Pelo Alvará de 20 de Outubrode 1760 se procedeu contra os ciganos que de te reino foram degradadospara o Estado doBrazil e ahi viviam de poticos commettendo furtos de cavallos escravos e cal l egando-se dearmas de fogo pelas estradas.Vejam a e te respeito asLeis d \ 13 de :Março de 1526 de26 de Novembro de 1538

    de 17 elel l ~

    .sto de 1557 e o AlvarÍlele 14 :Março de 1573.

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    4 OSCIGANOS

    ptarem nesta capitania algum modo de vidaestavel e continuarem a commetter crimes serãonovamente degradados de a para Angola. »

    Em 1718 por decreto de de Abnl doramdegradados os ciganos do reino para a praçada cidade da Bahia ordenando-se ao governadorque ponha cobro e cuidado na prohibição douso de sua lingua e gíria não permittindo quese ensine a seU filhos afim de obter-se a suaextincção. »

    Foi por essa data segundo o Sr. PintoNoites estimavel e venerando lon 1 de 89annos que chegaram ao Rio de Janeiro os seusavós e paren te s - nove familias para aqui de

    gradadas em razão de um roubo do quintos deouro attribuido aos ciganos.

    De sua prodigiosa memoria archivo inesgotavel da historia de sua nação entre nósdeixou rolar durante duas horas que com elIeconferenciámos informações admira veis de criterio e saber tradicional. Dahi a noticia quepossuimos de familias importantes do Bl l1zilcruzadas com elIes e a lista nominal das que

    Cigano.

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    NO BRAZIL

    acima referimos dc onde emergem algumas daCidade Nova Minas Sahia etc.

    N a intimidade desse povo intelligente e ás

    mais das vezes calumniado conseguimos escrupulosamente verificar que as palavras do discretoancião ajustavam-se á versão popular dos maisesclarecidos de sua tribu

    O Sr. Pinto Noites dando-nos a relação dasnove familias ou pejo menos o nome dos seuschefes comprehendidos no decreto de banimentode de Abril de 1718 estabelece a ordem seguinte :

    João da Costa Ramos por alcun ba João doReino com scu filho Fernando da Costa R amose sua mulhcr D Eugenia; Luiz Rabello deAragão; um Ricardo Fraga que seguiu paraMinas; Antonio Laço com sua mulher J acinthaLaço; o conde de Cantanhede; Manoel Cabrale Antonio Curto que foram para a Babia

    acompanbados além de mulher e filhos de norasgenros e netos.

    - Logo que desembarcaram terminou o nossoconferente alojaram-se em barracas no campodos Ciganos enorme e inculta praça que se esten

    dia da rna do Cano até á barreira do Senado.

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    26os CIGANOS

    EmpL egavam-se. elles, pelo que pudemosdeprebender da narrativa no trabalbo tios metaes:eram caldeireiros, ferreiros, latoeiros e ouri es;

    as mulheres rezavam de quebranto e li. m a sina.Qual o rumo posteriormente tomado pelosdeportados, quantos internaram se nas florestasou permaneceram nos centros colonisados, é umaquestão complexa e de resolução difficilima.

    Tropas e tropas vagabundas infestavam onorte e o sul, vivendo dn naturcza e na naturezacommerciando nos pequenos povoados e pirateando nas cstrada. A repl oducção entre sideu-se em grande escala; o crU7.amento com astres raça existentes efl ectuou-se, sendo o cigano

    a solda que uniu as tres peças de fundição damestiçagem actual do Bl azil.

    11 ebulição dos elementos disparatados denos a formação, mais portuguezes o bobemiosvieram juntar se em 1808, em desproveito do

    negro cujo mananeial ia em bL eve estancar-socom a abolição do tra:fiC o

    O estado do Brazil nessa época era tod ôespecial; a familia real portugueza traslada-separa a colonin., alterando physionomia do

    passado.

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    NO BRAZlL

    AcontecimenLos noLaveis.se. uccedem; o paizatraves a nova phatle na sua organiza.ção politicaaduinistrativa e ecollomica.

    E tudemos os factos.Á chegada da côrte real portugueza o Riode Janeiro em a capiLal do uma colonia que l

    sua metropole cou iderava como uma feitoria.O commercio e toda a especie cio industria lheoram vedados; trabalhava na agricultura e nasmina para mandar o producto do seu traba.lhoa seus dominadores da Europa

    O principe-regonte voiu quasi inesperadamente escoltado por uma squacll a ingleza denove náos commandada pelo vice-almiranteSidney Smith. A o quadm pOI·tugueza compunha·sc de muitas náos de linha além dos naviosmercantes quo iam chegando verfazendo aotodo 3 000 pessoas as que acompanharam o reino dizei do conselheiro Drum mondo

    O conde dos Arcos p e l ~ o n i f i c ç ã oescolhidade todos os defeitos de sua casta perseguia barbaramente o contrabando que eram todos osprodllctos estrangeiros. Rodeoll-se de malsinsque denunciavam quem tinha uma peça ou outra

    de fazenc n ingleza ou fmnceza. Se o infeliz em

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    28 OS CIGANOS

    negociante, ml\ndavam que fo so por alguns diasposto de sentinelb cl\l'l'egado de armas, portada alfandega; emquanto durasso o despacho. dto

    não contando as sommas com que o condemnavam.

    Em prohibido por lei quo no Bmzil houvesse ourives E 3ta loi foi del'ogada muito depoisda mudança das côrtes portuguozas, e jlí existiamna rua dos Ourives lojas de ambos os lados,mas qne só negociavam com obras feitas noPorto ou Lisboa - que a mctropolo cOllEentiaque as usassem os habitantes do Brazil

    Do interminavel sequito da ~ t m i l irealpoucos prestavam para alguma cousa. Eram fi·dalgos e vadios. Aos fidalgos mandou-se darpensões do thesouro: aos casados de 4:000 eaos solteiros de 2:400 . Os vadios foram empregados nas repartições que se Cl'earam pamesse fim

    Aos fidalgos, ainda depois do regresso dafamilia real, o thesouro do Bl'azil pa.gou algunsrp ezes as taes pensões. Posições civis e militares,a lucrativa servidão do paço, lagares de governadores e capitães-generaes das provincias lhes

    foram dados.

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    NO BRAZIL 9

    E tudo isto não bastava Creou-se a ordemda Torre e E pada - valor e lealdade - paragn;-\rdoar o valor dos que fugiram com o rei ea lealdade do o acompanharem para o Brazil

    A desapropriação, a rapina e ú menoscabodos brios da colonia excediam mcsmo dos limitcsda affl onta ...

    E os fidalgos o os vadios não eram maisfidalgos nem menos vadios do qne os ciganos,que certamente fizel \m parte da comitiva ...

    Luminaria , musi< :a , Te eurn em acção degraça e demonstraçõcs calorosas de regosijospopulares assignala,am a gran lo recepção dosenbor na senzala do captivo.

    Os ares pareciam 80noros, as janellas tr:msformavam-se em ja: dins; li ruas, á noite, aoclarno das luzes, alongavam-so como rios defogo ...

    Isto durou por nove dias.

    Desde então a capital do Rio de Janeiroera toda fe tas. Repetidas vezes pomposos bandos, por ordem do Senado da Camara,

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    30OS CIGANOS

    Quando o Brazi1 foi elevado a reino osfo1-guedos tocaram ao delirio: arcos triumpbaestorneio cavalhadas carros alegoricos oÍfere os

    pelo commel cio pela classe dos ourivesmarce-neiros caldeireirosIa toeiros; representaçõe notheatro re:1 1 com o« Elogio das E. taçõe. e tr ns-p rentes e o quanto a riqueza e a imaginaçãopodem manifestar de mais caprichoso:tudo con-

    tribuiu pam o grandioso do acto commemol l1tivo.O Sr. Pinto Noites que ainda conserva alembranç.l das festas que tiveram logar pOl oc-casião dos desposoriosdo SI Pedro I com aprillceza D. Leopoluinaarcbiduqueza d Austriadescreveu·nos com clal eza o que viraebamandoespecialmente o nosso interessepara o « c:urro noOampo l por isso que aos doseu nu l o couberamas glorias mais vivas.

    Oomeçaram os festejos a 12 deOutubro de1818 e terminaram a 15.

    No primeiro dia depois das salvas das for-talezas da recepção do corpo diplomatico nopaço da Boa · Vista e das solemnidades religiosaso povo em mlütidão apin badona 5 praças nasjanellas nos telha.dos impa.cientava·scpor avistarSU Mngestanes e familia real.

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    NO BRAZIL 31

    As portas das casas estavam a 'madas deseda, as colchas de damasco espelhavam ao sol,a. uas eram scintilantes de areia fina e e maltada de iiôres.

    Coretos com bandas mili tarc , a.rcos e ban-deiras tremulando nos gal hal'll eLes soldados dosregimentos e das ll1iiie:i:l.R gonLe aos borbotões,davam a a fe. ta. o cuo ho da. ll1agnificeneia, dasdyna tias asiatícas...

    Os inos ropic:lITI a girandolas estrugelll, osbatedor S, disparada, de e padas desembainhada , abrem alas ...

    D. João VI e a sua e:ôl te ás acclaranções dasturba aos ons

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    3 OS CIGANOS

    Nos palanques faustosamente adornados afidalguia o a vadiagem domin:warn absolutas.

    El-rei e os nobres no seu docel sumpt JSO

    escutam as bandas de mu ica que executam dobrados e hymnos esperando o torneio.

    A foguetaria estoura as beldados faiscantesde perolas e brilhantes ::Lnceiam pelo instante dajusta que deveria scr adllliravel.

    Em frente do palanquo real o rico e humanitario cigano Joaquim Antonio RabcIlo mandara alTanjar com a maior galbal dia imaginavelum tablado de pl eciosa madeil a do onele se crglliados quatro cantos uma construcç.ão do estyloegypcio realçando sobre o damasco a seda e oveludo galões e rondas dt ouro.

    Joaquim Antonio Rabello a quem a hi torianacional talvez um elia considere como uma forçanas agitações politicas da Independencia assim odeterminara para o dansado dos ciganos a quemensaiara com enthusias o artistico e vestira ásua custa.

    A s quatro horas ela tarde rebentam bombasas girandolas sibilam e um soar de guizos chocalhando nas cabeçadas e peitoraes de fogososginetee annuncia as cavalhadas.

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    NO BRAZTL

    Vinte eaval1eiros com seus pagens envergamexquisitos costumes symbolisando christi íos emo ros.

    Os cavallos ajaezados de pmta relincham

    escarvando a tena sopeados na arena.Os justadores empuuham compridas lanças

    com fitas na ponta simulam desafio traçam largoaceno com espadas e lanças indicando posiçõesa tomarem e separam-se.

    Galopando em volta do ci rco confundem-seapós sauuam o l ei pronunciam discuI so . de em·baixada findo o que o partido dos hristãostoma á direita e o dos ouros á esquerda.

    Depois das evoluções mais arriscadas da

    corrida da argolinha e das cinco cabeças da ven·cida de um dal1es Ohristãos e MOtLrOs vão ásvarandas implorar ás formosas damas o baptismode um olhar meigo ou a confirmação ue um sorriso de amor.

    Flores triumphos palmas repetidas ...N isso um ou tl o grupo salta na liça - os

    OiganosGuiando soberbos cavallos brancos arreiados

    Com igualdade e riqueza balançando pel1nachosimplantados em discos de fórma lunar luzidos

    criados transpoem as barreirus.

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    34 OS CIGANOS

    O bailadores trazem as bailadeiras garupamorenas, sedl1eiol as como n s prophetizas gentias.

    Os homens tmjam jaq uota oscarJn.te, ca:ção

    de veludo azul, meias de seda côr de rosa, cbapéodosabado de veludo com p umas, sapatos baixosde fivelas. As moças ajustam á cintura flexivel co turne de veludo, primorosamente bordado, calção, meias escarlates, sapatos do setimbranco com ramagens de ouro; na cabeça, comoum turbante de nuvens, um touen.do azul, recamado de estrellas, como o diadcma daR noites doOriente.

    A embaixada cigana dirige-se ao palanquereal; a music[\, toca, e os cor eis, levemente fustigados, empinam-se no centro da planicie, rodamdansam a polka.

    A multidão, contente do desempenbo, manifesta-se com ruido.

    Findos o primeiros exerClclOs, os pagenstomam ~ bl ide dos animaes e conduzem os cavalleiros ao rccinto do baile.

    Abi, depois das cortezias á familia real, umasalvo. de castanbolas marca o principio do dansado ... E, ao som das guitarras o fandn.ngo hes

    l anbol peneira, arde e geme - mansinho como as

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    NO BRAZLL 35

    ondulações de um lago qlleute eomo os beijosdas odali e a lascivo como as in pirações doPOl.a-rei.

    Os dansarinos süo victol iados: flores fitas

    applaus0s elles os conquistam pela magia plangente de seus instJ umen tos pela graça ideal desuas dansRs.

    D. Joiio VI participando do agrado geralfal-os vil á ua pI Cença. Uma banda de lT U iea

    pl ecede-o na maiol ol dcm.Subindo ao pavilhão dou camaristas trazem

    estendidos n UIDcoxim do purpura os premiosqlle lhos eram destinados: patentes militares aoshomcns e joias ás mulheres. 1

    As ovações os vivas a el-rei e as harmoniascoroa am R ar ista e a festa ...

    Re tabolecido o silencio voltarRm jubilososa seu palanque.

    Preludiaram na guital [ a uns accórdes ca-

    1 A Joaquim Antonio Rabello sargento mór do 3°regimento de milicia la côrtc foi concedida a mercêde melhoramento de reforma no posto de tenente- oronel;e nomeado al fere aggregado das Ordenanças da côrteJosé Cardoso BebeJJo 1 I1anoelLaço Antonio Vaz al·gado Fernando José da Co-ta J osó LIÚZ da lIIottaBalthazar Antonio Polycarpo e João do :Na cimento·

    ataI.

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    36 S CIGANOS

    sados a vozes de uma cantilena em sua lingua gem.

    A tradição olvidou a toada e as letras...Para o Sr. Pinto Noites el a o anto egypcioA s 6 horas os clarins á frente de enorme

    prestito ecboavam na cidade. El·rei nosso senhorvia as luminarias ...

    Uma mulher trigueira no auge da affiicçãoolbando paI a uma crnz vermelha 1 pintada noalto de sna porta fitou o rei na sua passageme estendendo os braços como que querendo re·pellir uma visão perlieguidora exclamou:

    - Jála·te úengueE o prcstilo seguia ...

    1 Era uma intimuçfio de despejo por ordem de el-reipara que o morador cedesse a C LSn aos recem-chegud do reino.

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    airros dos ciganos iganos corretores de escravos

    - Bazar de negTos novos - Casas de ciganos emr840 - O local da5 reuniões - A festa de SantaAnna por antonomasia II a Cigana Velha - Osciganos do becco do Bem-bom - Como elles t rajavam - O brodio - A Se 1L 1Jltia - O I l m í O e e l - A estatua da Aurora.

    Em 1830, os iJaiJ'l'o preferidos pejos lollsp ~ l a l i a lJabiLac::To ill :tm o YHlongo e a gra nde

    área h C:lt ci, Yulha.

    OIl I UI uio de escravo obrigando-os afixarem-se n:H]. cllc, em eonseqnunein, do tl'afico,a explomç:10 uas minas e o negado de a:i maeS

    roelamando fl sua. p r ~ S e l l ç :nesLe, segne-se queha i a escolha uma razão natural.

    Depois ue lS0S a l'ua dos Cignnos e o camno3

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    NO BRAZIL 9com n tanga do Africano os brilhos do estanuartenacional. 1

    Os ciganos, como um v banido, vilipen-

    1 O gOY ruo, pela lei de 7 de Novembro de 1831,declarou livres todos o Africano imporbldo depoisde a data, viu qne as providen ins e rigores impos toseram illudidos e d sprezudo , a lei SOI himada e o trufico, como nunca, progredin, com o mnior escandulo.

    Em um documento, ref rido no relatorio do Ministerio de E trangeiro , apr ,eutad lÍs cumams, ca lcu la · sea importação de Africnno- no Brazil, de 1842 a 1851,em 325,015.

    Póde-se, sem medo de eITar, garantir que, depois doacto do governo, foi ella em progressi io n cendente,zom bando-sc da lei por espaço de 1 annos.

    Segundo a opinião do corrsu Morgnn, o numero total. os apprehendidos fixava- e npcnas em 5.099, a contar

    dn primeira apprehensão de 352 na escuna mitia emFcverci 1 0 de 1 21.

    Lord Palm ston, cm Julho de 1864, eleva-o a 10 mil,dos quue ó 2.505 se sabe onde paravam quanto aosoutros, diziam ter morrido ou sido furtados.

    A condiçi io I dus instmcções de 28 de Outubrode 1834, que acompanharam portaril1 do ministrodn Justiça, Aureliul10 de ouza e Oliveira Coutinho,a sim concebida; que só os possam arrcmntar J essoasdeste município, de reconheci la probidade e inteireza JJ,

    foi logo bmlada pelo avi o de seu suecessor, lVIanoelAlves Branco, que mandou - que se contemplasse comalguns Africanos livres o de embargador Aureliano deSouza e Oliveira Coutinho, com fueuldade de levaI-ospara fórn do munieipio, a logar erto que ene indiearn,satisfazendo todas as condições das i nstrucções arespeito.

    As melhores peças foram para a sua fazenda de Paquequer, onde houve um celebre levante, de que p s ~ qsuimos noticiuB minuciosas.

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    OS CIGANOS

    diado, aceitamm com prazol um commel (;io que~ L v i l t a \ n .mais ao s ~ n h o lque comprava, do quc

    il familia, os filbos, os vcncidos, escl twisados cflmtoda a sua ])l'ole, em troc:. de um fio d mis

    sangaR, nUla [,lca, um macha lo, nma bugigangade tbeatl o ou UlIl tmpo vermelho

    Naquclles bazal es da t,ymnin. ]1IImana e da

    deslealdade d:. sorte, o cigano, repimpado emsua po]Lr()Ila, de chic:ote em punbo, el'a o me

    dianeiro ele mlí fi} lias tl'Ul1s::eções elos dc_gru-çados que recebiam o ar c n luz ainl \ez datelba-viL de UIl l sotiLo, on da:; gl'ndcil ele fOl ro deuma alcova abafnd:1 c immllnda,

    As, im sopfll'nelos do mais, mlll'nHll'avam phrai: es

    barbaras oele

    torror, na pel suasão de que osbrancos os ir iam elevomr e que não mais vcriamas areias ele seus dcsertos o os céos oncantadosele SU: tel ra,

    Nn. loja, cuja ll10lJilia nITo cxccdi:1 de i ~ u m

    cnrleir[ls, l I m ~ ~mOl'illgn com a g l l : ~c um chi otependurado ii P:ll' dll, o co: ]'elol' bl'lILal uOlllilla\'

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    NO BRAZIL

    ua immensa fOl tun,t proveiu de ser media-neiro, na compra de escravos para Minas, aAmaro Velho, João Gomes Velho e João GomesBanoso do q uae recelJin. uma dobln. por cabeça.

    O refugo entregava aos p rentes que iamvender no interior.

    O nlons adaptados por ~ lado á nossacivili,ação, m:li salientes se LOl nava m pelo. eus

    co ·tul1les e usos, inconte t:welmenLe proprios.:Mor:wam em casas tel rcas, gostavam qne

    tivessom tl es portas que consel v:wam a,bertasduranto o dia o parLe da noite.

    O aspecto daquellas vivendas, quo a imagi-

    nação poplllnr architectnva cio super tiçõos, ciomara.vilhoso que incutia o tonar cio chimerascliabolicas, aJugentava as consciencias crecllllas otimoratas.

    Pelo que aincla Testa, o pela descripção cle uma

    contemporanoa c lin 1 rosLaul emos es es qllacl osdo pa sacio, essas pinturas ue goncro, pre. aclesapparecerem, como têm desapparecido entrenós a tmclições los nossos pais, as tl iuus dosnossos j nclio , o Ul lÇO ti tan ico dos nosso - negros,

    1 Cignl n

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    42 OS CIGANOS

    ensanguentado e enfraquecido por quasi quatroseculos de escravidão

    A sala da frente de uma casa de ciganosem 1840 era ampla, perfuilla,da e de um a seio

    propriamente hollandoz. direito, bavia uma,camn, de jacn,randá com escada envernizada, ornamentada de maçanotas douradas, por baL \::o

    das quaes descansavam os braços de ferro quesustentavam pesado sobre-céo de damasco; ao

    fundo o Ol atorio, que consistia n um registo desanto colado ao mlU:O cercado de bicões de setime seda de cores vivíssimas, flores e fitas; a umdos angulos, circumdada de ramagens de pitangacanela, mangueira e jasmins, grande talha coberta com toalha de crivo; ao lado, quatro coposde crystal em salva de prata côco de pra,ta, etc.

    Dous consólos, alguns mochos de palhinha.e esteiras estendidas no chão, completavam-lheos adereços.

    Em dias de festa, porém, este aposento sofi l. iamodificações: uma mesa de jantar vinha para omeio; serpentinas castiçaes com mangas de vidro,occupavam os competentes logares, e as violas,61 1htçadas de fitas, encordoadn,s de novo, agUUJlI-davam encostadas os tocn,dores babeis.

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    NO BRAZIL

    o rigor de ta dispo. ição foi mantido nl1850 pelos ciganos do becco do Bem-bom, conver ido na estalagem qneora enfrenta eom fi.rua do Iarqnez de Pombal.

    Era ahi o rendez vous da élite dinbeirosa, sitio cla. sico de seus folguedos, de seus rodiosruido os.

    O proprietario ou al l endatario doterrenoe edificaçõe chamava-seJoaquim José Lopes,velho e estimado hefe de reconhecida pt obidade e honradez. Sua mulher, D. Ignacia deSllnt Anna., corre na lenda comoum typo acabado de bell za e virtudes.

    No dia da santa de seu nome Sant Anna),

    a qUf1m os CigllUOS cbrismaram de « OiganaVelha l, era curioso de ver-se osranchos que-para ali se dirigiam, com suas vestimentas fantasiosas, com seusornamentos bizal l os.

    Descrevamos a scena e osper onagens.

    É noite. O céo étransparente

    e azul,aos

    lumes do lnar. As estrellas, como conchas dediamante, brilham tremulas e parecem soltas noether. A Oadeia Velha, com seu musicas ambulantes, com o povaréo que vai assi til ao fogono Campo, toma um aspecto verdadGiramente

    feerico.

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    OS CIGANOS

    o becco do Bem-bom, bodn do de ( asi n basiguaes c t e r l ~ a s ,illuminadas com aran I l:1s embandeirado magestoso de tropbéos assemelh 1.-sen umn. ilha enc wlada qne mão desconhecidaassentasse sobre UU n lagôa de lnz.

    Cn,ntos, barmonia , fio res Os velhos cllvel gam jaquetas ele alam:lI es;

    a gravata enc:1l naeln. desce· lhes do pe. coç , formando laço. A call1isn. tem fôfos no peito o

    colete é do veludo furtn-cor6i l, chapéo palbacalçn. de ganga amarelh apn.Los de ~ t r d

    baixa de verniz com i las do ouro.

    NodioR, moreno aI g res, ompunham bengalão de canna da Indin destamp:un a baceLa. de

    t:1rtarugn, repleta de rrmvstl inhll que offel ecemaos amigos e, al l C g:dn.ndo os alba sorvem a

    piladn., limpando o nariz com o lenço ele Alcobaça, vermelbo e finissimo. Gl OSSOS cordões deouro, ei iça,dos de figas de eora.os c veronicas

    reluzem estendentlo-se sobl e o coleto 0 o v.)1umoso abc1omen, fazendo uma cUI va depois, e prendendo o relogio por ultimo

    As 111:1tronas trajn,m vestidos bl aneos, dUI osde gommn., enfeitados de fitas escarln,tes, verdee,aznes e amarellas .-\.os hombros dobrado em

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    'o BRAZIL 45

    tre. pon tas, chale ue Ton lei n bordado l seuafrouxa; na, cabeça, enfiara, la de 1 0fias, cravos eja-mins, agiganta-se o trepa-moleque, colossal pentede tartaruga, em moda, no tempo.

    Em voltn. do pescoço, enl'Ugado e trigueiro,colares preciosos, fios de Ol':les e contas ueouro, dentados de figuinhas cora ill:l e unicomia pô 'eiras, taliHmuns, ete.

    0 moços g \ o. o , com sua g,',wut[l, solforin[l sn.pn.to de fiveln., (:[l,lçns l· ul'im d' Angola,meneiam chicotinhos de c'Lvullo com correntede pl ab.

    A fOl'mosura das jovens mal nas fascina; deflores nativas na, eoma. de azo'lic:ho, a profundez

    do olhal', a gl aci0sidade do semblante, os 'ornese diamantes limitando-lhes o bu, to de bl'onze ...tudo, tudo recorda uquelln.s c[l,beç.as biblicas queinspil'[l.ram o Cantica dos Canticos

    .As ca as do becco do Bem-bom estito e:,plen

    dilln., [l beJlez:ls ch ias de gmç.t espalham sorrisos, colhem l'endim ntos J protestos, affeetos I° bl odil eomeça...

    Os trovadores de can Lam, iI1spiram-se.As castn.obolas estalam como beijos no ar.As violas dei xam ond ulal' as i tas e, treitas •

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    46 OS CIGA os

    e variadas. Oitavadus pelosmenestreis nervososos tinidos são doces e ardentes os preludiosimitam choviscos metalicos sobreuma lamina

    de crystal.Na sala vastissima conversa-se contratam-seos pares trocam-sedelicadeza deveres polidos.

    Os velhos e assenhoras mais idosas ali seacham em suas poltronas.

    As luzes em profusão resplandecem osaromas inebriam as flores fanam-se pelo calor.

    Os escraVOd como uma columna detrévasespiam do corredor ...

    Deu-se o . ignalpara a dansa - É a erra-baia

    - O menino dizum cigano velho ao tocador que ponteia: bate pinho 1 j z babaras raparigas ...

    E le to um rapagão de fórmas aihleticaspula no meio da sala e canta:

    Sobre mim raios despejeO céo que nos ouveagoraSe sobre a minha vontadeNão tens mando a toda bora.

    1 Na gyria bater no pinho significa - tocar viola.

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    NO BRAZIL.

    Tel minando o veeso qllebra o corpo abaixa-se ergue-se puxa a freira diante de umamoça que levanta-se.Rodam duas vezes paramdefronte um do outro afa. tam-se aproximam-se

    recuam sapateando saltando dansando cantaudo:

    Nossa Senhora da GloriaTem grande merecimento

    Mas a l:3enho1 a Sant AnnaTrago mais no pensamento

    I lê lê. . lê... lô é lá ..

    As dansas fervem no rodopio osapateado

    é mais celere e docescantigas cantam á porfia.o fervor do bailado a dama fica só porqueo cavalheiro senta-se. Ássuas seducçõesoutrosnão resistem e dansam ultimando a Serra ba iapela vez do tocador que requebra ponteia edescanta.

    O ú tem quatro figurantes: duas moça 8 -dous homens.

    A viola dá afinrução mais alta 0S cantadoresvariam as quadras as velhos animam.. ospares com outros ditos:

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    48 OS CIGANOS

    - Bota p ra baixo, menino tudo por baixo

    Aos clamorcs dc.'tes recresce o enthnsia mo,os vio eiros tocam mais activos c o Ôl O repeteo estribilho popular:

    O an é pass' 1'0 prcto faz casa 110 capão. .

    lJústôs místUs brauam o idosos ciganos,csfregando a miras, baLendo palmas e trcpito as,

    Os figurantcs qucbram duas vezcs, pamID,contemplam-sc; :ts cLl 'ltanholas troam, as violasptangem flcompanhando as trovas, as moçasdansam juntas e depois os seus vis-a·vis.

    Quando estes, isolados no saliLo rompem no

    sapateado veloz, os instrumcntos bambeum nofandango as c:\Dtigas slio mais ternas, c daqui,dali, d'acoJá., sahe u m b o t a b a i x o - c o r t ajaca - bravo da letl'fI - que exprime o jubiloe a glorificação.

    Se cansam) substituem-se, natul'filmente pelosqne dentre elles mais amam o applauso, a ( :tnsac a mulher.

    Além da 8eJ rrt baia e do nú os ciganospossuem outro;; d n ~ d o todos porém obl'igauos poesia.

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    NO BRAZIL 49

    N as suas dall as, completamente pl ofana,

    o em l1CLcI beSpll.llhol ó seno ivel: o Rola men zellgoo Caúocl,) sul o (,' llf/biroba e o C.mrlieiro . ãoclansa pal'cnda;;, lasci \'as, sapa tearIas, d irrcl'inclo

    poneo en Ll C si.

    O ( rena é a r scl· ada pal a o fim do urodiojé Ludo o qlle a de animado, qucl tc c original. eXIH'c ErrO no g stn, aLtitur mirr:ica regulai ,inspil auos pclo f; 'llLimcllto COIlli11l1m.

    S ~ o l l l H l oo c n b n j ~ m oqn cxcita o ryLhmo,

    na C:lUCIlCi:t hlS fi;;lll':lS exccutfl.uas, uS clan fi-dOl·c.; cantam versos, gll:lsi . cmpL'c trfillieionaes,

    Com I'claçii : as l m pLO > rol igiosos e Oll Lrai ir-

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    OS CIGANOS

    Por uma convenção de eft eito n um momentodado uma dama nca no centro coHoca na cabeçaum castiçal de vidro com vela accesa sobresa-hindo nesse grupo esvelta e sOIDnolenta como aestatua da Aurora coroada dos sonho da noitee da estl ella da manhã.

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    Theoria das superst ições Deuses fetiches O con-flicto dos mythos A ordem dos factores Os

    oraculos da cigana Pragas e maleficios _ Rezade quebranto Para obter se o que é difficil Pa r a ver se a quem está longe Contra bi-cheiras Para fazer apparecer negro f u g i oPara chamar_se a quem está ausente _ Para ter-se noticias Para p re ve ni r a co n te ci me nt os E s-conjuro Syntheses N a sociedade e na familia Alcunhas As ciganas brazileiras.

    N a razão directa da antiguidade dos povosestá a superstição.

    A consciencia primitiva no seu despertar éabsorvida pelo temor de um on mais scres sobre-naturaes e as manifestações desse estado evolu-tivo são as praticas ridiculas e absurdas.

    Confessemos entretanto que nenhuma reli-

    gião nenhuma civilisação excluiu a adoração de

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    52 OS CIGAI\OS

    potencia imaginarias e as fórmnl:ts rituac., aindnmesmo q ~ 1 o mediuneiro pla ticu - feiticeiro,medico ou sacCl'dute - illten-enl1:t, de3de qne ocrento tem nece:',;idade de cOl11nl1lniC:ll'·se com adi, indade.

    Natural ismo, f'etiehislllo, an l hl opomorphi:mo,poJ,ytheisll1o, zooiatt'in., astroln.lria, christian i mo,etc., todos os l Ul tOR, t c l ~as seilas, têm successi.vameuto (;ondemllado como E:ub el iva . a u aoça

    estranhas a O l l ~dogmas.nc

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    NO BRAZIL

    zoologicos, completamente extremes - o brancoe o negro.

    O caboclo bravo, sem a menor idéa de Deus,como attestam os chronistas; o negro idolatrano periodo mais atrazado da escala dos cultos,protestam contra um ideal definido no regimenespiritual. Os deuses tupy guamnys comprehendendo mythos homeomorphos e anthropomorphosnem mesmo pertenciam aos nossos indios, segundoinvestigações de recentes americanistas, mas eramacommodaçõos; as tribus africanas que para aquivieram, não iam mais longe nas suas adorações,do que á transmissão que faziam das faculdadesrudimentares do seu ceI cbro pouco denso aos

    m nip nços elevados á categoria de divindadesnos candomblés convulsionarios.

    .Para os negros nunca foram as conjuraçõesas fórmulas do commercio com os fetiches.

    Nos s rv ços que conhecemos, ás uncções

    narcoticas, ás macerações, IÍs excitações dasdansasao p ngo e ás beberagens totanisantes, attribuimos as acções pretendidamente m tgicas.

    O índio e o negro no nosso mod o de en-

    Assim chamam os Africanos as ceremonias de

    d r fortun

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    54 os CIGANOS

    tender contribuiram apenas para a nossa mytho-logia popular o que se verifica com a crençada Oaipora das Vyáras do Sacy serêrê o dosDongás.

    Emquanto a superstições propriamente ditasaugurios encantamentos e rezas a collaboraçãoportugueza é evidente apezar de pouco avultada.

    Nos Oantos e ontos populares do Brazil doerudito Sylvio Roméro ba provas do que ficaexpendido na parte concernente a orações de quefazem uso as nossas populações atrazadas.

    Um factor porém com o qual nunca contamos - o cigano - parece-nos ahi representalo ln incipal papel mais de accôrdo com a indolee tradições dt raça com seu caracter mystel iosoe remoto.

    O portuguez como espirito mais pratico maispreoccupado por conseguinte menos impressionavel aceitava o milagre como uma imposiçãosem indagar sem mutilal·o para crear outrosdeuses.

    N a sua fatlúdade genealogica estava engrandecer o culto externo bumanisando a divindade.Dahi o alistamento dos santos no exercito comsoldo e patente; a Virgem servindo de madrinha

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    oBRAZIL

    55

    ás crianças; os santos padroeiros de cidade protectores de namoros e casamentos; a intervençãodirecta das entidades celestes na vida publicae privada

    Remontando-nos á linguagem dos oraculos,aos exorcismos, a concepções cla,ramen te supersticiosas, não dcve ser muito o que de Portugalrecebemos, explicando-se o facto pelo seu genionacional.

    Navegadores audazes, entregues ás onquistasde terras para o rei, os portuguezes consti tuiamuma nação maritima. ]] o terror e o medo, quegeram o maravilhoso, seriam para elies elementosperturbadores incompativeis com o successo de

    suas temerarias emprezas.Os homens do mal não sonham ou sonham

    pouco; a tempestade os desafia, a fadiga os prostrao oceano canta-lhes ao ouvido uma canção monotona que os adormecc.

    Sem floresta, onde em cada arvore se enrosca nm fantasma, em cada montanha se asylaum monstro; sem os sonhos que dão corpo emovimento ás creações bizarras, as superstiçõessão pouco provaveis ou quasi impo siveis.

    O que adiantamos não é negar em absoluto

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    OS CIGANOS

    o quinhão que da metl opole nos coube de crendicespopulares mas é fazendo o inventario da herança psychica das raças colonisadol as marcarao cigano o logar que lhe é indisputavel na for·

    mação desse genero de poesia que tem doutrinado as nossas clflsses baixas.

    ntes de tudo devemos lembrar-nos que não hauma abusão um encantamento uma oração quenão seja um echo partido das nossas mattas virgens

    E as partidas ciganas errantes pelos sertões ahivivem ha seculos e o nacionalismo brazileirorefractario ás gmndes cidades dellas repercutecomo uma correnteza á distancia.

    Estudando a psychologia dos grupos colonosembora se reconheça a actual mestiçagem do penosarnento supersticioso não é le boa critica attri-buir sómente ao POl tuguez e ao negro o quepelos habitos e tendencias naturaes mais pertenceao cigano natureza credula fantasiosa visionaria.

    O fetichismo das nações da Africa Occidentalé o lado bmto do natumlismo e os contos dasfadas a reza de Santa Helena legendas cavalheirescas e asceticas da idade mé< lia ·

    Ao portuguez devemos o Lobis homemMula sem cabeça o Pesadelo e algumas rezas não

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    NO BRAZ1L

    persistindo o mais. Assim o systema de enguiçosa lenda de D Branca prognosticos por meiode espelhos dados amoras

    de·se observar o que é commum nas crençasdos calons reminiscencias do fetichismo africanoo que comprova as influenciaH pre-historicas damythologia destes na doutrina sacerdotal daquelles.

    Em todo o caso o que cumpre estabelecer éque na creação informe de nossa theogonia nacional destacam-se qnatro individualidades: - ocaboclo o portuguez e o negro - dominando nodegráo mais elevado a cigana que lê a sina quepossue um ritual completo de oraculos de pragas

    e de exorcismos.Consultemol-a na sciencia dos presagios.EH-a que interpreta os augurios tirados dos

    animaes:- Quando se escuta os estalos da barata.

    que róe é que breve haverá brodio- c O zumbido do bezouro que entra pela

    janella e desapparece é noticia de morte dealgum parente

    - Quando se vê vagar dentro de casa umaborboleta preta é máo agouro e para conjuraI-o _

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    58 OS CIGANOS

    é preciso a gente benzer-se e persignar-se tresvezes. - Se a borboleta é branca, é morte deanjinho; se ~ ~ z ou de variadas cores: - brodiosprazer divertimentos.

    - O c nto do sapo é desgraça tremendaque trahí. o luto a todos, principalmente se esteanimal apparece em casa ou no quintal. .

    - O rato que anda de dia na sala, de umlado para outro; indica molestia na familia, barulho, desavença entre parentes. .

    O grito do pato é chuva; se bate comas azas, é grande tempol al.

    - Quando o grilo canta no quarto de dormir, é que está para chegar algum parente ou

    pessoa conhecida e intima. Se o canto é na portada rua é que alguem está para fazer viagem.

    - O uivo do cão a deshoras é ,agouro:parente que está a morrer ou em perigo.

    - C Virando-se um cã.o de barriga para oima,

    no meio do SOálho indica gente que -chega defóra. Se l1l ina dentro de casa, é fortullla.- A ris da coruja é mensagem d1l ill@l tJe

    que escarnece da humanidade. São verdadeiras fórmas auguraes da sciancia

    dos ll.l uspicios terrestres e da magia do Oriente.

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    NO BRAZIL

    Só dos ciganos, raça mais antiga, poderia ie rpassado ao nosso povo esse fragmento do calendario do oracnlos.

    As suas pragas e maleficios têm o caractertali manico e demonologico de altas origens. Osaccessorios não nos foram bem descriptos, masnessa fórmulas sente· se todo o vigor das invocações e da cabala primitivas.

    PRAGA

    l( Pelos chifres do Anjo das Trévas -Pe l a schammas que o consomem injustamente no inferno;- Hei de ver-te perseguido: - Na lama, nasareias gordas, nas ondas do mar ... - Até morreres na ponta de uma faca - Zus I zus I zus I Crava, no chão uma. faca.

    - Só se o diabo não foi atirado no inferno /...

    Exaltada como uma possessa, a feiticeira,quando finda o esconjuro, vai ao quintal, as

    perge os quatro cantos com agua salgada, dandotres pulos em cada um delles, terminando porentornar o resto da agua, que til ára com umacma, no centro do terreno.

    - Más facadas te varem as tripas )J ou:- Ah I forca, açoitado das galés I» são pragas

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    CIGANOS

    ainda hoje por ellas usadas na Oidade-Nova.Do volumoso codigo de maleficios só podemos

    obter o seguin te

    Fulano, eu te esconjuro, com ete velasbentas e sete padres religiosos I - Fulano, teusangue é vermelbo como sol »)

    Dá tres pancadas com o pé e diz

    - Elle aqui I ElIe aqui I ElIo aqui I

    As rezas no geral abrangem fórmulas deencantações) das quaes ellas tiram recursos comomagismo modico, como imprecações neutralisantes de maleficios, como magia favora'l'el e especial.

    REZ DE QUE R NTO

    Jesus seja comigoE Jesus fale por mimSe Jesus falar por mimNão haverá que so opponba

    Oontra mim.»

    Esta oração deve ser pronunciada ao meio-diaou á meia-noite, depois do que defuma-se a criançaque tem quebranto ou bucho virado accrescen

    tando

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    NO BRAZIL

    Nossa Senhora defumouO seu amadoFilhinho

    P ra cheirar Eu a ti se te defumo

    É p ra sararREZA PARA OBTER-SE o QUE Dlli FICIL

    « Rita sois dos impossiveis De Jesus sois estimada

    Sois a minha protectoraRita minha advogada

    ás affiicta e affiigidaCorrestesp ra os pés da cruz Eu affiicta e affiigida

    Me lanço aos pés de JesusApezar de termos colhido da boca de legi-

    timas lins estas orações notámos que domesmo modopor que podem ser delias podemser uma assimilação São excepções Ocaracter

    geral das precedentes e das que se seguemédiversoREZA PARA VER-SE A QUEM ESTÁ AUSENTE

    « Fulano por detrás te vejo em cruz e por omim fulano o sol e a luz I

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    62 os CIGANOS

    Fulano, tu irás e acharás; em busca demim, fulano, tu tornarás.

    Fulano, Deus é; Deus quer; Deus pódetudo quan to quer.

    « Assim, fulano,tu acabarás em bem . men

    REZA 'OONTRA BIOREl'RAS E INSEOTU 3

    Bichos mãos, que fazeis, que comeis, quea Deus não levais?

    Permitta Jesus do céo que caiam deumem um, de dOllS em dous, ,de tres em tres, dequatro em quatro de cinco em cinco, de seisem seis, de sete em sete, de oito em oito, denove em nove - AflsitÍl comoJesus filho daVirgem de N z r e t ~

    A cada palavra, acada phrase fustigam comgalhos de arruda ou alecrim a ulcera verminosa,gavetás on'de ha traças cupim, etc.

    R ElZA PARA FAZER APPA'R EOER N EORO TUGIDO

    Almas I almas I almasI Â s tres que mor-reram enforcadas; as tres quemorreram dego-ladas; as treE que m01.'rel'am afogadas -Todastrea, toda:s seis,todas nove, que 'se 1n00'rpOremno coração de fulano - 'Queel1 e não POflsa alar

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    NO BRAZIL 63

    nem socegar nem alliviar sem por esta portaentrar

    Esta invocação declamam suspendendo umaenorme pedra que collocam sobl e a roupa do de

    linquente torcida em rodilha atrás da portaquando o sino bate meio-dia.

    O processo repete-se por tres dias consecutivos no momento convencionado . e,. asseguraram-nos as ciganas ser seguido de exito.

    REZA PARA aRAMAR A QU ESTÁ LONGE

    C Fulano eu não tenho por quem te mandebusCAa ,.nem por quem te mande ahalar nempor quem te Uillnde queb.rar .as m,itos,cOil:dasdo

    coração

    SÓ, ientho qllatl o jami iaes que estesmoram nos Paraísos Infernaes Voem. Que estesnão possam ter socago sem que entres por estaporta a dentro

    REZA PARA TER SE NOTIOIAS DE ALGUEM ou SABER SE

    o QUE SE DESEJA

    CC Meu poderoso S. Pediro príncipe de t ~os apostolos que tres v.ezes·disseste ~ lo.go ~1U l pendestes - Uma. cova .f uncL-a fizestes @ I1deou;vistes uma voz do céo dizoo -vos :-Pe

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    64 OS CIGANOS

    como isto é verdade ou mentira mostra me pelavoz do povo...

    Durante horas esquecidas dedilham no rasariaesta oração sentadas á porta da rua e das pa-lavras ditas ao acaso pelos transeuntes fazemcombinações a que dão inteiro credito.

    Accrescentam ellas que o encanto quebra sese quem reza fala ou responde a quem lhequestiona.

    REZA PARA PREVENIR AOONTEOIMENTOS FUNESTOS

    C Eu fulano vejo hoje a luz para me en-commendar a mou Deus filho da Virgem Maria: Anda re i tão seguramente como andou meu

    Senhor Jesus Christo no ventre de Maria San-tissima: Que nem seus inimigos nem seuscontrarias nem seus adversarias nunca offen-deram.

    Assim minha Mãi Santissima da Conceiçãonão será o meu corpo offendido o meu sanguederramado nem mal sentenciado.

    Hoje neste dia em qualquer dia emqualquer hora com o sangue de meu SenhorJesus Christo andará o meu corpo borrifado ecom o leite de Maria Santissima andará coberto.

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    NO BRAZIL

    O Virgem pura não fostes vós aquellaSenhora que dissestes pela. vossa sacratissimaboca. que todo aquelle que por vós chamassecento e cincoenta vezes havia de ser valido

    « Pois hoje é occasião. Valei-me Virgempura da Conceição I

    C Se vires minha Mãi Santi8sima alguma á sentença dada hoje neste dia contra meucorpo pela vossa mão direita será tirada e pela

    esquerda revogada. men »

    Entre clles os sonhos têm um valor altamenteprophetico e influem sobre os acciden tes domesticos.

    Eis um esconjuro classico:

    I Vai-te Filho das Trévas sonho máo quesurgiste cabeceira do meu leito I - Vai.te ec não tornes I - Porque se tornares o Diaboserá comtigo como a alma é com o corpo I ás I Vai-te I

    A forte idealisação dessas fórmulas misturadas algumas do christianismo não cabe naelaboração acanhada do systema nervoso centralda raça negra e escapa á individualidade calmae reflectida do portuguez sujeito á inspecção dolIacerdote que fazia desapparecer a razão pela J

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    S CIGANOS

    fé e acoimava de herezia tudo que era alheioao sanctuario.

    as fórmas augllraes no conhecimento do

    futuro n ritos cabalísticos o cigano devia ter

    vencido o conquistador.Indomito perdido nos steppcs nas florestas

    nos deserios a sua pbysionomia é lJlacida e so-

    nhadora a sua autonomia distincta como o seutypo.

    No duelo travado com a justiça nos combates empenhados contra a c i ~ i j s a ç ã oellesasylaram-se no reducto de suas crenças e dassciencias occultas cuja flor perderam e buscamainda nos talismans nas conjurações nos encano

    tamentos na magia emfim armas que defendame ofl endam.Muitas das nossas superstições e rezas não

    tiveram outras fontes.- A cigana é a sacerdotiza da nossa theurgia

    popular

    ntre homens mulheres e crianças vivendoretirados conservando mais ou menos seus costumes singulares a decadente colonia da Cidade

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    NO BRAZlL 6

    Nova não póde ser inferior a quinhentos habitantes.

    r a familia ou na sociedade essa nação é de·uma originalidade palpitante mas esquiva por

    isso que tio escondem no seu isolamento.Os homens empregam-se gerabnente no fôro

    e fazendo-lhes justiça são honcstos.Nenhum delles até o presente foi levado á

    barra dos tribunaes por ladrão.Durante os vinte ultimos annos de ses ão

    do jury apenas foram pronunciados dous e cumpriram pena-por ferimentos leves

    A injuria que se lhes atira é uma phraseOs seus modos as s \S expansões a sua

    gyria são cxquisitos.As mulheres não dão aos homens a mão lo

    apertar e estes quando se encontram não têmoutro comprimento senão:

    - Olé I olá olô I recebendo em troc:1 igual.saudação.

    Os filhos não beijam a mão aos pais; es-tendem o braço e com um tom de voz plangente e vagaroso dizem:

    - bença e são correspondidos a so-·brolho carregado: - deus

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    68 OS CIGANOS

    Sem distincção reconhecem se mutuamenteparentes: a idade é quem determina pelo gráo derespeito que lhe é inherente o tratamento O queé mais moço de dous annos chama a outro de

    tio e assim por diante motivando tal estylonaturaes confuRões.

    Em geral uma boa noticia um dito felizum verso bem improvisado á viola ou cousasemelhante se enthusiasma a algum delles este

    cerra o punho e n um transporte de alegria deassombro desfecha sobre a perna ou sobre a mesaum socco exclamando:

    Ê ta topé I bravas meu primo Ou então:

    Bravo cha ;o I I simas ternacal I. .. 2U ma das curiosidades mais salientes do seu

    vi ver in timo são as alcu n hr.s que com o habitodegeneram em nomes proprios. Constituindo essesbandos uma tribu não é difficil desapparecerem

    os nomes ficando os appellidos.Este systema estende se a toda a casta no

    Brazil. O Beijo o Róla o Catú o Come pol

    1 Moço rapaz.2 Ser arrojado Tfllente magnifico.

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    NO BR ZIL 9

    vara etc., ciganos celebres das partidas de Minas,passaram á tradição com as alcunhas.

    Eutre os da Cidade Tova , Joi o é jWijim-mijirn José, Pés de rato Luiz, Trepadéra Joaquim, Papagaio Antonio, Miudinho e outros,taes como: Pernas finas Boca de buraco Ma-ripius

    As mulheres não fazem excepção á regra.Dabi, Flori beIla, por exemplo, é conhecida por

    Fefé ontras por Zirnbilirn Tindála Gilá Mar-melada Canela Pé de tomate ó o verde

    Nisso os nossos calons divergem dos daRus ia, que dão ás mulheres o nome das flores,das estrel1as e das rainhas

    Não é pOl que faltem ás ciganas brazileiraso perfume da virtude, o fogo do amor e a ma- .gestade da belleza

    õ

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    A evolução da familia - Heranças physiologicas e pa-thologicas - O · i m e os parabens - As dadivas- Os preparativos - As madrinhas e o quartoe cinco lençóes - O u de Do discurso do Sr.Pinto Noites - A arca da all iança - Mezesdepois.

    o 1n 1 eigl1l1o Leve os sens C:ltrtos po.rlieula.rea,coloridos do rl Í:lexos elos dia. antigo

    lei:; de evolução,que annullu1 am osfactosisolados, encontram es es pal iás n u eminenciado uma eiyilisaçiIo noapogcu ue onde impcllidospor forças inconscientes dcscel D D1 como homens

    o ainda rodeum como flwtnsruns ..Em Slll1 vitlu, fUl til doriscos e avclüul as notomplo ou na praça na ciua.do ou DO:; desertoso halito das outras ociedados j

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    OS CIGANOS

    Sm gindo dos nevoeiros pre-historicos ou não,O certo é que elles altearam·se á perfectibilidadesociologica, no tocan te á instituição da familia.

    elo viço de suas legendas, pelo symbolismodas suas manifestações sensi vei , pela inviolabilidade de seu regimen privativo, póde excluir-se deseus costumes a polygamia, p omiscuidadc, oincesto, etc., sendo unicamente adoptada en tre

    elles

    monogamia como união sexual, estadoque assignala o supremo desenvolvimento dascollectividade. humanas.

    Como conjuncto ethuico, o casamento dosciganos da Cidade ova abrangia toda uma sériede particularidades iypicafl da raça, dissemelhantes a mais não serem das que se notam nasoutras que mais têm influido no nosso meio.

    intervenção paterna como med ianeil a doscontratos os usos cxcentricos en tre os noivos ep[wentes, a lealdade le revelaçiIo que infamava,a prova sacramental do ade 1 que assentavasobre a virgindade as bases da familia nascente,- imprimiam nesses pactos uma cal actel istica em analogias nas nossas camadas pO ulares.

    1 Camisa.

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    NO BRAZIL 73

    Na sua convivencia o escrupulo de orpo es-tr nho 1 detel mina allianças entre parentcs proximos e - cousa extraordinaria - a infecundidadenão os fere observando nós por excepção entre

    essa gente casos pathologicos o que tambem sepóde explicar pela embrülguez no arto da copulaas privações as tristezas prolongadas a miseria etc.

    Em nossas vi itas medicas r ca a de muitosdelles o que nos fez e pecie foi a quantidade de

    surdos-mudos que existe na casta. Attestllmoster pre tado os nossos serviços profis ionaes afamilia nas quaes dous ou mais de sens membrossotfrem desto mal.

    Do concurso dos sexo não só tran mi ttem

    aos descendentes heranças phy iologicas e patho-logicas caracteres red ucLivcis e il reductivois comotambem a individualidade moral que varía comoaspecto mas que não se evapora como es encia.

    Referindo-nos aos casamentos os ciganos do

    Rio de Janeiro até 1850 não tinham passado dapha e primitiva a im como ainda hojo a p r-ti s de Minas Bahia o Maranhão no dizor insuspeito do SI Pinto Noites o mais alto repre-

    2 Pessoa ele ou tl a raça.

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    OS CIGANOS

    sentnute dos insíinctos nomadas do seu povo.Delte que arma a sua barraca no ven to lu

    gubre das 110. sas fioJ c tas e das velhas ntnins

    com quem privamos passemos ás informaçõesque são tanto mais exacta quanto são elle. personagens authenticos.

    Em geral o amor não t o ~ w tparto nessesactos. Não era necessal io para que as alliançnsse realizassem sympat.l.lia comlTIam estl cmeeimento atfeeto ...

    Dahi insucce sos frequentes que se mani-festavam pelo enfado e desprazer de uma vidainteira da mulher 11 do homem constrangidospelo dever a riios fingido. e a sorverem resignados a ultima gotia. de am:.u gul a que lhesenvenenava os dias.

    Essas nupcias realizavam-se fatalmente comopor desfastio dos pais que 8e lembravam de queum filho cstava em idrtde de tonHLl estado niTo

    assistindo aos da noiva o dircito do recusa

    Entre lons o dominio da igllnldadc é absoluto. Negar uma moça pedida a casamento implica estabelecer l Iuta de prcconeei tos emque o provoeador terá de ser vencido pelas

    aeusações expondo a murmnrios mnlevolos e á

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    NO BRAZ1L

    ealumnia umn reputação vozes immacnlada.Conheciclo o dilema, o s constituia a regTa,

    a mono que a I apal ign. não honves e tropeçadona de. honra.

    Os tramites seguir eram vulga 1 e as scenasdesdobl fivam- o natumlmente.

    Assim, quando nm to (pai) tinha um filho,maior de 17 annos, official de justiça ou com umemprogo qualquor, dil igin-se com olle á casa deum outl O to que tives e \lma filha Duui .

    Á distancia, percebida as int uções, aquelleo recebia fa\oravelmcnte com agl·:-tdos declamatorios, modo 3 expn,nsi\o., ditos cbistosos ...

    0i3 dou conferellciavn,m em segredo, poralgum tempo.

    O rapaz uc c ~ l l f i d oe timi lo, de pé e afastn do e comnclo uma portada alongava o olhalde so laio, e tirava o pescoço, suspendia respiração, apanhando no ar paln,vm descollnexas.

    Se a filhn nito estn,va PUl a, o pai, que porinstante: acariciara uma il/usno, cobria rostoele vergonha lamentava se e soluçando, desvendava o m) stel io da dor que o pungia.

    E esta lealdade não o aviltava diante dos

    seus, lllflis tal de sabedores elo oecorrido, nem no

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    76 OS CIGANOS

    animo do progenitor do malogmdo noivo queo aconselhava ele casal-a com um qlliérrl p ninalvitre aceito sem exame e posto em praticade seguida.

    O consorcio com estrangeit·o importava exclusão ignominiosa da tl ibu e pela tribll.

    O contrario porém dava-se quando a mãide amanbã fosse a virgem de boje.

    O avelhantado b to radiante de jubilo e fe-

    licidade vendo a fllndar-se no tllmulo m s l esurgirno futuro cbrtlllava a fil ha e tremulo ele contentamento arrebatado ele enthusiasmo entregavaao homem ele sna casta um tbesouro ele virtudespara a riqueza ele sua prole.

    Enlão o pai do pretendente dil igia-se aeste:

    - Aproxima te; cbega-te meu filbo. Olhaque teu tio aceita a tua müo e se compraz deque faças parte de sua familia.

    O filho obedecendo:- Agradeço meu tio a houra que me dá

    certo de que emquanto eu tiver um pr to defeijão e um pit ng saberei repartir com suafilha e minha futura consorte.

    Nesta oceasião apparecia a sogra com a

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    NO BRAZIL

    cbusma de filhos parentes e escl n.vos endircitando o chale vermelho pulando de ati feitarindo e gritando

    O primo pai do noivo enfiava as mãos nasalgibeiJ as do colete empertign.va-se e depoiscom o abraço aberto corria pam e11a tocn.ndo-seprotestos cordiaes e n mistoE os.

    O noivo beijava-lhe rcspeitosamente a dextratomava a benção ao sogro inclinava-se diante desua noiva e um peqneno dialogo se entaboln.va:

    - Só lhe posso garantir meu primo quesua filha nunca e arrependerá Meu filho - nãoé por que o seja - é muito ganhador davida: tem quéda para as barganhas não tem

    vicios é bumilde e emfim - é bom á bocacheia I Quanto ao ser pobre todos o são.

    - Sim meu primo cu sei o quanto elle ébom e foram sempre esses os meus descjos; oque se quer é fortuna.

    É verdade interrompe a reflectida sograsorte é que é tudo.

    - Dizes bem minha filbn. acci escenta a avóé só delIa que carecemos

    - Quanto á menina pro segue o pai orgu-

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    78 OS CIGANOS

    lhoso - é o que se vê: muito la únzinha 1; émesmo uma alma de Deus. Dê-lhe sen filho umvestidinho de e hita uns tamancos e banha paI a

    os cabellos quando ella precisar e é ba tant.epara sermos Lo los muito felizes.

    - Isso rr.sponde o pai do noivo Lerá criagraças a Deus porque o menino tem baq1te 2para o dinueiro e não é coca71âo

    Termi nados 03 incidentes da negociação a queos ciganos chamam dar a barroada COlTlCçaVamlogo entrar os t ios compadre primos e maispflren tela que vi nb aro dar os parabells.

    A casa era lavada de ponLa a ponta osoalho coberto de areia e enfeit.e aID a talha doramagens floridas.

    DUfllS OLI tros violas encordoadas de novodeviam ficar á espera dos t o ~ d o r e s os bl odiosque principiavam na noiLe immediaLa á do pedidoe se prolongavam até á do noivado.

    Em todas as direcções partiam em.issRl iosportadores de participações e convites

    E. ta formalidade cra de rigor não se ex-

    1 Boa boazinha.2 Fortuna felicidade.3 Mentiroso.

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    NO BRAZIL

    cluinuo mosmo os inimigos; porquanto, o ca -

    mento o a morte são p:tra. os c lmes os aconteciment.os mais solemnes da vida,

    o manbib eguinte, ao levantar tio solnoivo pl essLll osO mimos ava noint com nmenorme ramalheto do eravos braneos o encar

    nado, e consecutivamente com outra dadivase s p o n ~ e bem como I llboncte13 finos vidros decheiros peça do fita côr de r o ~ amal ella, escarlate, córte::l de vestido oncarnado, côr de cra:voamal elJo e nZlll lenços bOl lllldos do \ RI io matize , tudo i.so acompanhado de jasmin do Cabo,alecrim mvinas, etc,

    Diariament. pal n quantos ehegaviLm -

    tendiam-se esLeiras rllpletas de igu:.Irias e.xqllisita ,ensopados abllndancia do assados c gl Undesl o m b o ~de carne de rco \ i;1l1dn sobremodoc timn.c1a pelos Cig;1Il0R.

    EI guialU- e brindes, r s g v m ~ ecompri

    mentos bebia-se com eutlIllsiasmo á sande doditoso par,

    Ao anoitecer, dunsas, os chor dos na v i o l ~

    os de can tes especiaes o os broclios

    No rua do noivado, quo cahia sempl e n um

    aabbado enfeitavam a casa com apparato

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    8 OS CIGANOS

    gosto. Na porta fincavam beUos troncos de manogueira o a atmosphera quo se respirava lá dentrotresoalava de odores inelistinotos pela misturaelas essencias acres com o fumo elo bonjoim ealfazema que ardiam.

    A s tros para as quatl o horas da tarde a habitação fervia. do gente os vizinhos abelhudos es-tavam atten tos o os transountes paravam na rua.

    No moia ela lufa-lufa as matrona que acom·panhavam os noivos os padrinhos a f.tmilia encaminhavam-se á froguozia

    Para os actos a que nos referimos haviaquatro madrinhas: duas iam á igreja o duasficavam.

    Recebidos em matrimonio do volta do temploatacavrtm-se giranclolas e apenas os esposostranspunham o lar cascatas de flores cahiatnlhes em ondas sobre a fron te irisadas e odo-riferas.

    Os menostreis preludiavam nas violas as suastoadas os cantadores improvisavam os seus epi-thalamios inspirados o os convidados do tocbasaccesas formavam alas por anue passavam osrecem-casados.

    A meia-noite retimvam se todos para um

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    NO BRAZ1L8

    lado da sab; adiantando-se os o vos e as duasmadrinha.

    As violas e as canções vibravam mais fortes.

    Sobre um moveI, cinco lençóes, alvos comouma hostia, aromn,tisados com alfazema e salpicados de flores, achavam-se superpostos.

    Quatro tochas aece as, encostadas a umamesa, derramavam sobre o linho uma luz de

    ambar 0\11 0.

    As janellas fechavam·se, a in·quietação transparecia em todos os semblantes:o rito sagrn.do do de ia cumprir-se.

    E os padrinhos, que tambem eram quatrodesdobmvam o lençóe o suspendiam acima dn

    cabeça juntando as extremidades, passando umao outro os cirios que sustinham alongando obraço opposto e formavl1m o quarto onde o sacri:ficio incruento deveria celebrar-se.

    En Lão ne e entravam os desposados e asduas sacerdoLizas.

    O instrumentos tangiam mais vigorosos,Como que para suffocar algum gemido de dor ...

    Umn das matronas dospin. a noiva, deitava-asobre um leito, introduzia-lhe o dedo jndicadorno vesti bulo da vagina, despedaçava a mem-

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    82 OS CIGANOS

    brAna hymen, enxu 6 ando camisa de cambra iaas gotta. de ~ n g u dn. virginclrtue,

    Vestid:1 J10VHmente, a nm ,ignal njustado,

    os patlriouos largavam os leuçóe , c o maridomostrava no nde as rosas da purez aos alaridos do festim.

    Depois du musica, tIos cantos, das palmas cdas flores, o noivo recitn,vu um discurso, O finaldo que pronunciara o SI , Pinto Noites é textualmente este:

    c( Senbores I os ~ e u slom ores c a mio baeu.baixa< 'L estão c1eseriptos no quadro de fOImusura de JJuizn, meu thesonro »

    Bl'avos, trovn.. , feliei tações, ..

    O Gade solemnementc n.conclicionado n'llmacaixinbl\ ele preço, embebido de aromas suave,cobcl'to de folhas de alecl-im, ncn,va pertencendoao eRposo, qne o gnal d:l.\n. para sempre comopenhor de Rua alliança.

    E obrodio

    recomeçn.va ...

    Estes usos não sa1ientavam-se abruptos comomontanhas em planícies vastas. Rn,,.ia em tudoum ~ s t y l o uma. .conc:ltenaçoo, uma gradaçno

    h:umoniea.

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    NO BRAZJL 83

    Oomo corolario da cel emonia nupcial, onascimentoclc algullla Cl jança l evestiu- e deumcarllcter oUl igaclo a uevel os resLrjctos.É que ocigano tendo pel uitlo ua pfl.tria de origem suspendia o berço de seus filhos sombra fresca. desuas tradições e l l l1.ntos.

    JJogo que uma mulher gravjda Lava atermo e que as uores p pal l1.ntes allnojavam nn.cama, as.istiam no qllal toá parturiente tros pa.-rentas mais chegadas e na ala cantavam osvisitnnLes eanLos Elagrados a Duvél pam s l l a v i ~ : J los _offl imentos da

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    8 OS CIGANOS

    prata; dentro deitavam colares e moedas de ouropara que tivesse fortuna.

    Depois da l igadura e cárte do cordão enxuto

    em riquissima toalha de linho e crivo defumadade alfazema o pai a tomava no colo e a beijavacom transporte

    As parteiras faziam a toilette da parida bo-tavam juntinho o recem-nascido o quarto seabria a meia porta e os parentes ent ravam paravel-o.

    Para que os visitantes não tl ouxessem máos r s e não levassem a feli id de que tivesse tra-zido o pequeno defumavam-se antes e depois depenetrarem no aposento.

    aias e objectos de valor cada um lhe offertava presentes estes que vendiam servindo odinheiro para a compra do enxoval.

    O nome que lhe punham era do santo dodia dos padrinhos e no caso de divergencias

    lançavam sortes sanccionando-se religiosamentea decisão do acaso.

    Na mesma noite ou na immediata haviacan torin e bailado.

    O bapLisado não differia dos nossos.

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    VI

    A morte é a continuação da vida - O mundo real eo mundo invisivel - O per-espir i to _ Ultimosdeveres - Ciganos e Egypcios - N a CadeiaVelha e Valongo - Molestia agonia e morte- O embalsamento - O j l nhn>· A v u v -

    O enterro - Actualidade na Cidade-NovaNoite Cigana - O s trovadores da morte.

    o cadaver antes de ser parLilha do anatomista que disseca o musclllo para e tudn.r-lheas fórmas as illserçõe. c ~ relações foi em todosos tempos o simulacro do nma parada subita navida de uma entidade d e f i l i t i ~seguindo diversorumo.

    As pompas funer:ll ias entre os povos inf:tntis revelavam que a id a da morte alliada áidéa de somno physiologico e dos son bos é abase da t1.leoria da iro Iuol talidade da vicia depois I

    da cessação absoluta das funcções nutritivas.

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    86 OS CIGANOS

    Desde os ritos gl osseil os da Polynesia e dosnegros do Katunga o Dahomé até ás pompaslustraes das raças branoas, a cl ença na continuação da exi. tenoia matel ia1 além-tuD1ulo é oexodo da alma immortal , incorruptivel , ethel oa,apercebida pela consciencia humana depois deuma evolução di fficil, lenta, tardia ...

    Dahi vêm as pl ovisões de viveres e armasde combate de que os v s selvagens cercam osdespojos dos seus; as mulberes, os filhos, o I aren tes en ter rados v s com o defunto as hecatombes hOl l iveis de escravo:: e prisioneiro deguerra o sacrificio de victima isolada para

    levarem noticias ao morto na viagem da eternidade.

    O mundo invisivel, f ~ t r i c d opelas imaginaçõesprimitivas segundo os moldes elo mundo vrsivol,de conformidade com a natureza e as concdrçõc

    geraes o especiaes elo m io fOl l1lJCeLl os elt meotosfigurativos elos deveres e cuidados para com oque morrcm

    Se algumas tribus alJ

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    NO BR ZIL

    tbumos não impedem que todas as raças rendamao finado o tributo á morte, e os cuidados benevolentes ~ l q u l cuja existeneia foi apenas interrompida.

    Os Oiganos, como os Egypcios, reunem nosdestroço de seus ri tos a mais alta concepçãoda individualidade pCl sistente e da individualidadefutum parn. ambo a alma é material, quer i z r -

    conserva a semelba.nça e os attributos corporeos.

    Procurando o genesis dessa comprehensão,a encontmremos uas illusões, nas alucinações,nos soubos e nos somnos patbologicos.

    U o ·tante os Egypciof e os nossos antigos lons consagrarem no seu ritun.l funeral io a

    lavagem do corpo aquelles rodeurem as mumias e divindn.des mythicas, a uniformidade do pensarsó destôa cntre e tos, quando o christianismolhes empresta as ficções perfumadas do incenso e seu mysticismo n.umiravel, ainda que aviven

    tadas pelas crenças antoriormente pagãs.Faltando-nos o critorio preciso para um es

    tudo comparativo da creação da alloa entre enes,quusl esquccidos de suas tl Udições e da tbeologia e suas hordas, suppomos entretanto evidcnte a

    influencia egypcia 110 seu ideal.

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    88 OS CIGANOS

    Excepção feita dos velorios janhal , janhal -nipen), 1 comIDuns a muitas populações, mesmoda Europa e que se encontram nos eostumes dosindios desta parte da America, são variadas asrelações rituaes dos ciganos brazileiro com os

    fragmentos das fórmulas sagradas que a egyptologia tem podido decifrar nos papyrus e inscripções do Egypto.

    Descrevamos o que se dava, no começo dcsteseculo, na Oadcia Velha e Valongo, em umacasa dessa gen te, por occasião da morte do umdeIres; assistamos em ospirito a es as scenas,cujos actoref , n uma simplicidade remota, tinhamcomo espectadores todo o seu passado, quc se

    aninhava no mysterio, todas as gerações quese foram, das quaes elles abi eru,m os representantes no momento supremo da dor.

    Do caracter desse drama de superstições,desse conjuncto de situações extraordinarias dessas

    manifestações pungitivas e lugllbres como o os-touro da vaga nos mares desertos - restabeleçamos o pensamento capital, que quebra-se contraa rigidez cadaverica e echôa necropole cle um

    1 Chõro, lamentação, velorio.

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    NO BRA lIL 89

    povo que foi gl twde como a suas institnições eos seus monumento

    Ultrapa savamos as devisa coloniaes Quando um cigano adoecia e o phenomenos

    morbido den unciavam O ravidade, a pessoas dafamilia o ontregavam a um profi sional, quo deordinario era o mais conhecido por sua dedicaçãoe do intere soo

    Uedicaclo o enfermo, a confiança na sciencia

    consolidava-se com as molhoras deste, e retirava-selogo que os symptomas, aggl :lvando-se, prognosticavam ele en la e faLal

    este ca o chamavam uma clU andeira-velha lin a qnem davam o nome de t -

    para benzer o rczar SUll S rozas cSI ecificas, naintenção de restabelecel em o loente, rccorrendoos parentes aos vaticinios se os refol çoS da my-thologia medica eram improficnos e as benzedurasinuteis.

    . Quando os phenomenos l)recul sorcs haviam

    unnunciac10 o periodo termina da molc tia e asbulhas da agonia faziam-se ouvir, a casa iapouco a pouco enchendo-se de parentes, ávidos ecuriosos, circulando naquella aLmosphel a phrasesimportunas, que ás vezes perturbavam o estado I todo particular do agonisante.

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    90 OS CIGANOS

    De pontos distantes aflluiam mo is e maisque vinham compartilhar dos pezares do hl l quea morte principiava de obscureceI com a sombra

    esgn rl ada de suas azas.Acercados do moribundo que revezava o

    olhar prestes a atufar-se nas tréva eternas mflottmiga enxugava-lhe o suor viscoso apagfLVa.lbea derradeira lagrima contr:tbin.·lbo nos dedossem tacto o il io acceso e o SUSSLllTO abl ia margem ao lamento a afllicção pl orompia no soluçoe o desespero retumbava nas apostropho nosgritos aphonicos do nel vosismo convulsionario...

    Atiravam·se sobre o morto erguiam as mãosflllppl ices aos céos invocavam os santos do suadevoção e depois appellavam para resignaçãoquo é um bom e para o fatalismo que é umdogma.

    Lavado o COl PO un tado com oleos e bel vasaromatieas com sua vestimenta magnifica o

    tl ansportavam para um esquife fornecido porirmandade religiosa e o collocavam sobre umestrado coborto de veludo preto agaloado deouro guarnecu.lo de oito tocheiros.

    Seguiam.so as narrativas fllnebi es dl3 SUllf.l

    vil tudes de sens exemplos de eal iclM.e c abne·

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    NO BRAZIL

    gação; lembravam os trajes de que usava, ascomidas que mais saboreava, as quadras quedizia nos rodios finalmente a sua vida inteira,n l ,ociedade e na familia.

    R j nh v m- Oh I como em bom, quando cstava em

    casa, pon teando á viola ...Choro e gemidos cntrecortados re pondiam

    ao lamcnto.

    U PARE TE - Quando chegava da rua,Q[l nsn.do que se deitn.va naquelln. c teirn..

    M FILHO - Vejam o lenço que t inha Illl.mão, qnando IlOS deixou. Ai ai ai . ..

    A VIUVA - Olhem o cbapéozinbo delle; nãoo botarei mais na cabeça. Ai ai I ai... Quesorte, men Dous

    - Minha tia, diz um dos circumstantes,tenba paciencia, é este o caminbo da verdade.

    A VIUVA - Sim, men sobrinho, sim. Aiai ai Venha ver como está; pa,rece que estádormindo. Ai ai ai Que sorte I que sorte é aminba

    OS PARENTES vendo o cadavel' - Ah n.h

    como encolheu tanto

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    92 OS CIGANOS

    A VIUVA - Sim, sim) é pn.ra crc cer no céo.Ai ai ai

    UM IRMÃo - Console· se, minha irmã; re ligne·so, que a resignaç.ão é uma prece que cahenos seios de Deus.

    A VIUVA - Sim, tenho muitn. re. ignação;mas a dor é maior do que a vontade que temo.

    Ne te interim chega um parente, que vemtransmittir os pezames á viuva:

    - Então prima, morreu o primoA VIUVA - Oh não, primo; agora é que

    elle começa a viver.O PRIMO - Sim, minbn. prima, dorme-se

    melhor para acordar no céo.

    A VIUVA - Os sapatos lue calça vn todasas manhãs, depois de os teL engraxado ... Ai aiai Tudo se foi com elJe; até luz da minhavida com a sua se apagou.

    Que sorte que sorte, meu Deus Antes as

    facas me houvessem atravessado) uvê t doque elle ter morrido.

    A viuva cortava os cabellos, deitava metadesobre a região precordial do finado e envolvia o

    Deus.

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    NO BRAZIL 93

    rosto no ve ,tido com que e tava ao expirar omarido. ProD l indo palavra. eabaliE>ticas, atiravatudo n uma fogueira lu traI, preparada paraeste fim

    Antes de sahir o enterro, empilhavam juntoao catafalco as roupas do morto, os pl Utos emque comia, a viola, as jo ia etc., c j nh vmnsuspendendo-os successivamen te...

    Até o levarem tumba, a vi uva andava de

    rastos sob o estrado, rezando por n.qnelle quelhe Iorn o amor, o amparo c vicJn

    O sabimento dirigia-se á igreja ...O esquife, carregado pelos Terceiros, ia co

    berto de flores e borrifado de Ia.grimas.

    A infeliz, de pés de calços, vestida de eternoluto, os filhos e o parentes acolupallbavam.


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