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Commodity Markets Brazil

Date post: 26-Jun-2015
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8 MERCADOAGRÍCOLA ~ ~~ mJ.., com a marca do campo o inyestimento em cOlTImoditiesainda é modesto no País, mas COllleçaa crescer. Pode-se aplicar elTIaçúcar, soja e café na BM&F ou em fundos. PorEduardo MagossÍ mbora os rnvestimentos em commodities agrí- colas ainda constituam uma pequena ilha em meio a um oceano de recursos direcionados aos ativos financeiros, eles estão re- gistrando um crescimento expressivo tanto no Brasil como no mundo. A ex- pansão está vinculada aos juros baixos registrados nos Estados Unidos nos úl- timos quatro anos. A baixa rentabilida- de dos juros e títulos norte-americanos levou um volume maior de rnvestidores 52 ES'C/\DAOINVESTIMENTOS a buscar alternativas mais atraentes, como as commodities. Mas o que são commodities e o que os investidores esperam destes ativos? Commodity é todo produto que pode ser armazenado de maneira uniforme e comercializado também de forma ho- mogênea, como açúcar, soja, café, ouro ou petróleo, de modo que um quilo- grama de açúcar, por exemplo, sempre tenha as mesmas características de um outro quilograma de açúcar. É verdade que ninguém vai até um administrador de fundos ou à bolsa de futuros e investe em um quilograma de açúcar. Mas existem papéis cujo valor é derivado do preço destas commodities. São estes contratos, negociados em bol- sas de futuros, que podem ser adquiri- dos por investidores ou colocados nas carteiras de fundos. No Brasil, o mercado de commodities agrícolas ainda é pouco desenvolvido. André de Freitas, diretor da Hedging Griffo, observa que um dos motivos é o juro alto. "Se eu consigo uma boa ren- tabilidade aplicando em títulos do go- verno, que são garantidos pelo Tesouro Nacional, por que vou rnvestir em outra coisa?", argumenta. A Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid) nem conside- ra os fundos de commodities como uma categoria específica. Eles estão incluí- dos nos multimercados, aqueles fundos que podem aplicar em diversos ativos. Segundo a Anbid, no dia 14 de abril de 2005, o patrimônio líquido dos fundos
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Page 1: Commodity Markets Brazil

8 MERCADOAGRÍCOLA

~

~~ mJ..,

com a marca do campoo inyestimento em cOlTImoditiesainda é

modesto no País, mas COllleçaa crescer.Pode-se aplicar elTIaçúcar, soja e café naBM&F ou em fundos. PorEduardoMagossÍ

mbora os rnvestimentos

em commodities agrí-colas ainda constituam

uma pequena ilha emmeio a um oceano derecursos direcionados

aos ativos financeiros, eles estão re-gistrando um crescimento expressivotanto no Brasil como no mundo. A ex-

pansão está vinculada aos juros baixosregistrados nos Estados Unidos nos úl-timos quatro anos. A baixa rentabilida-de dos juros e títulos norte-americanoslevou um volume maior de rnvestidores

52 ES'C/\DAOINVESTIMENTOS

a buscar alternativas mais atraentes,como as commodities.

Mas o que são commodities e o queos investidores esperam destes ativos?Commodity é todo produto que podeser armazenado de maneira uniformee comercializado também de forma ho-

mogênea, como açúcar, soja, café, ouroou petróleo, de modo que um quilo-grama de açúcar, por exemplo, sempretenha as mesmas características de umoutro quilograma de açúcar.

É verdade que ninguém vai até umadministrador de fundos ou à bolsa de

futuros e investe em um quilograma deaçúcar. Mas existem papéis cujo valor éderivado do preço destas commodities.São estes contratos, negociados em bol-sas de futuros, que podem ser adquiri-dos por investidores ou colocados nascarteiras de fundos.

No Brasil, o mercado de commoditiesagrícolas ainda é pouco desenvolvido.André de Freitas, diretor da HedgingGriffo, observa que um dos motivos é ojuro alto. "Se eu consigo uma boa ren-tabilidade aplicando em títulos do go-verno, que são garantidos pelo TesouroNacional, por que vou rnvestir em outracoisa?", argumenta.

A Associação Nacional dos Bancosde Investimento (Anbid) nem conside-ra os fundos de commodities como umacategoria específica. Eles estão incluí-dos nos multimercados, aqueles fundosque podem aplicar em diversos ativos.Segundo a Anbid, no dia 14 de abril de2005, o patrimônio líquido dos fundos

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multimercados era de R$164,8 bilhões,pouco mais de 26% do patrimônio totalda indústria brasileira de fundos, de R$632,4 bilhões.

Freitas estima que, do patrimôniodos fundos multimercados, apenas R$500 milhões estejam aplicados em ati-vos direta ou indiretamente ligados acommodities. "Apesar de estar em cres-cimento, é um volume ainda pequeno",diz. Persiste um grande desconheci-mento sobre commodities e os retornos

e riscos oferecidos por elas.Diferentemente de ações, títulos pú-

blicos ou papéis de renda fixa, comoCertificados de Depósito Bancário(CDBs), o investimento em commodi-ties requer conhecimento específicosobre o mercado em que se quer apli-car. São produtos sofisticados, que nãose encontram nos portfólios das insti-tuições financeiras mais voltadas parao varejo e que geralmente são direcio-nados a investidores com mais predis-posição ao risco.

> Para investir diretamente

No Brasil, o investimento direto emcommodities agrícolas ainda está limita-do às operações realizadas nos pregõesde futuros da Bolsa de Mercadorias &

Futuros (BM&F) e a aplicações em tí-tulos, como a Cédula do Produto Rural(CPR). Outra alternativa é a Letra deCrédito do Agronegócio (LCA), papelcriado recentemente pelo governo paraalavancar o financiamento da agricultu-ra através do mercado.

Na BM&F, os futuros agropecuáriosmovimentaram, de janeiro a março de2005, US$ 2,31 bilhões, volume peque-no perto do giro total da instituição,mas 39,2% superior ao registrado emigual período do ano passado. Juntocom o aumento de negócios na bolsa demercadorias, também cresceu a parti-cipação dos fundos de investimento emfuturos agropecuários.

Parte deste aumento na liquidez daBM&F é provocada pelo crescimentodos negócios com a CPR, que é um títu-lo emitido pelo produtor rural para fi-nanciar sua safra. O emissor recebe re-cursos antecipadamente e, no momentodo vencimento do papel, deve entregar

"Para os gestores de fundos, títulos como a CPRpodem ser utilizados em operações que diminuem avolatilidade." Marcelo Michaluá, da Rio Bravo

a quantidade de produto especificadaem espécie ou em dinheiro, dependen-do do tipo de CPR escolhida. Pode sercomprado por pessoas físicas, mas, nor-malmente, só os grandes investidoresmostram interesse pelo papel.

Alguns bancos compram CPRspor causa do juro atraente que o títu-lo paga. Eduardo Saksida, diretor daAgrofinance Commodities, lembra quemuitas instituições (frnanceiras ou não)que compram CPR, principalmente deboi e café, acabam vendendo futuros nabolsa, .em uma operação estruturadaque cria uma taxa prefixada.

O diretor de finanças estruturadas daRio Bravo, Marcelo Michaluá, explica:"Enquanto empresas fazem isso para seproteger de uma alta de preços de de-

terminada commodity, os fundos fazema operação para minimizar o risco davolatilidade da commodity, transfor-mando o ativo em uma operação derenda fixa".

Do volume total de CPRs emitidas,de aproximadamente R$ 10 bilhões atéo frnal de 2004, estima-se que de 15% a20% tenham sido adquiridos pelos fun-dos. O restante é vendido para grandesinvestidores corporativos e tambémpara pessoas físicas.

"Existem muitos fundos que pos-suem commodities em suas carteiras,mas a grande maioria não especificaessa participação", lembra Saksida, daAgrofinance. Freitas, da Hedging Gri-:ffo,ressalta que poucos fundos afirmampublicamente que possuem esse tipo de

Menos risco e mais ganhos

Um estudo realizado

por dois professores

de finanças norte-ame-ricanos, Gary Gorton. daUniversidade da Pensilvãnia.e K.Geert Rouwenhorst,

de Vale.chamado Fatos eFantasias sobre Futuros

de Commodities. explicapor que o investimento emcommodities pode ser maisatraente do que aplicar em

ações ou títulos públicos.Comparando a rentabi-lidade de um índice decommodities com a doStandard & Poor's 500

(que inclui ações e títulos)ao longo de 45 anos, elesconcluíram que o primeiroproporciona igual rentabi-lidade e risco 19% menor.Outra conclusão: o risco de

queda das ações é maíor

do que o das commodities.E. como estas têm uma

relação inversa com ativosfinanceiros e ações - ouseja, quando um cai, ooutro sobe. e vice-versa -.

diversificar o portfólio coma inclusão de commodities

pode ser uma maneira dereduzir o risco da carteira,

amortizando os períodosde queda.

Variação comparativaVeja a oscilação das commodities. ações e títulos em relação ao índice S&P 5002000.',.".."""",, " " "--'-"-""'-'--' '

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ES'rAI);\'OINVESTIMENTOS 53

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ativo em suas carteiras. "Geralmente,os fundos preferem investir em commo-dities por oportunidade, aproveitandoum período de alta, muitas vezes composições que representam, no máximo,1% da carteira', afirma.

Apenas dois fundos informam expli-citamente que operam de forma expres-siva com commodities em suas cartei-ras: o fundo HG Café, da Hedging Gri-ffo, e o Guepardo, da SLW Corretora.Enquanto o HG Café é constituído porCPRs, futuros e opções de café, o Gue-pardo SLW opera em grande parte comfuturos de boi gordo.

Segundo Freitas, da Hedging Griffo,o HG Café registrou rentabilidade de160% em três anos, desde sua criaçãoem 2001. "Mas é um fundo passivo esempre vai seguir o seu benchmark, ocafé, que no momento registra queda',informa. Mesmo assim, até o dia 14 deabril, o fundo estava rendendo 8% aoano ante um rendimento de 4,75% doCDI no mesmo período. "O granderisco de um fundo de commodities é avolatilidade, mas, como ela é reduzidaao longo do tempo, esses ativos são umótimo investimento para médio e longoprazo", recomenda.

>Nos EUA, salto de 40%

Os fundos de investimento norte-

americanos que possuem commoditiesem sua carteira viram seu patrimôniopassar de US$ 38 bilbões, em 2000,para mais de US$ 150 bilhões em 2004,registrando expansão de 40% apenas noano passado. Mas o volume ainda é tí-mido se comparado com todo o dinhei-ro disponível nos fundos de pensão.

"Menos de 1% dos recursos dos fun-dos de pensão estão aplicados em com-modities", explica Michael McDougall,vice-presidente da mesa de operaçõespara a América Latina da Fimat Futu-res em Nova York, corretora ligada aogrupo francês Société Générale.

Apenas este pequeno volume de re-cursos foi suficiente para criar todauma indústria voltada para estes ativos.McDougall informa que, atualmente,cerca de 450 consultores especializadosem commodities administram recursos

da ordem de US$ 70 bilhões. "Há qua-

54 ESTAD/\OINVESTIMENTOS

"Commodities são uminvestimento de médio elongo prazo," André deFreitas, diretor daHedging Griffo

tro anos, este volume era de cerca deUS$ 20 bilhões, administrado por ape-nas 136 consultores", relata.

Outros US$ 50 bilhões estão em fun-dos de índices de commodities. Estes

fundos têm sua performance vinculadaa um índice que reúne várias commo-dities em sua carteira. O maior deles,administrado pela Goldman Sachs, temum patrimônio de US$ 35 bilhões.

"Nos Estados Unidos, os fundos sãograndes participantes dos mercadosfuturos de commodities, porque estes

w mercados possuem muita liquidez",~ informa Renato de Souza Barros Fras-~ cino, diretor da AgroFinance Commo-i dities Corretora. Segundo ele, o pregão~ de soja pode girar, em um ano, o valor

de 30 safras norte-americanas do grão."Com talliquidez, é muito fácil para osfundos realocarem suas carteiras. Isto

não acontece no Brasil", diz. *. ...u.. . .

.I~II::I:~~I::II Para conhecer em detalhes o

mercado de commodities agricolas,acessewww.bmf.c9ffi.br

o Boi Gordo que foi para o brejo

Em qualquer mercado,desconfie sempre das

promessas de ganhosestupendos que não mos-tram nenhum risco. Elas

custam caro. Há quatroanos, uma campanha na

midia atraiu a atençãode milhares de pessoas.Estrelada por um famosoe idôneo ator de novelas,

a propaganda da FazendasReunidas Boi Gordo S.A.oferecia ao interessado

um certificado, garantidopor contratos de engordade bois, que renderia juroselevadíssimos. Seduzi das,

mais de 30 mil pessoasaplicaram, juntas, cerca deR$ 1 bilhão.

Em 2001, começaram asurgir boatos de que aempresa enfrentava dífi-

culdades. Mesmo assim,a Comissão de Valores

Mobiliários (CVM), res-

ponsável por fiscalizar oscontratos, aprovou, em

agosto daquele ano, aquarta emissão de títulos.Em outubro, a empresapediu concordata.A Boi Gordo vendeu umvolume de contratos de

engorda muito superiorao número de bois quepossuía. E, para agravar a

situação, boa parte delessumiu antes da concorda-

ta, assim como o fundador

da empresa, Paulo Robertode Andrade.

Dez associações de credo-res foram formadas paratentar reaver o dinheiro,sem sucesso. A concorda-ta tornou-se falência em

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2004. Os mais otimistas

acreditam que o processoterminará dentro de uma

década, com a recupe-

ração de apenas 10% doque foi investido. A açãocorre na l' Vara Cível do

Foro Central de São Paulo.

Agora, a Justiça aguarda aavaliação do perito sobrea situação e o valor dopatrimônio total da BoiGordo. [Por Téo Takar]


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