CONTRIBUI(:AO PARA A GEOLOGIA DAREGIAO DE IBAITt, PARANA
HENRY MAU
Comissao Nacional de Energia Nuclear
ABSTRACT
The author describes glacial and interglacial rocks and tectonics of the PennsylvanianTubarao series of the area of Ibaiti, northeastern Parana.
The shape, roundness, grain size and lithology of tillite pebbles was studied.Orientation of the pebbles was looked for to procure evidence for the direction ofmovement of the continental glaciers. An east-west direction is indicated, with a tendence for the northwestern quadrant. The same result is obtained from an analysis ofstriated and imbricated tillite pebles.
An interglacial horizon is described, formed by sandstone, limestone, varvite andtillite. Sandstone channels within tillite and rocks on top of it, including varvite, limestone, conglomerate, stratified siltstone with pebbles, were described.
The area is crossed by great diabase dikes, belonging to the Upper Triassic-Jurassicvolcanism, that filled joints and faults. The cracks follow two directions and theirnormals: N 45-75 E and N 15-45 W; N 60-80 Wand N 10-30 E, the former being themore frequent one.
RESUMO
o autor descreve sedimentos glaciais e interglaciais e a tectonica da serie Tubaraona regiiio de Ibaiti, no norteste do Parana.
Foram estudados a forma, arredondamento, granulacfio e litologia dos seixos detilito. Examinou-se a orientacao de seixos com 0 intuito de determinar a direcfio domovimento das geleiras continentais. Esta indicada uma direcao este-oeste, com tendencia para 0 quadrante noroeste. 0 mesrno resultado obtem-se pela analise de seixosestriados e imbricados no tilito.
Descreve-se urn horizonte interglacial constituido por arenito, calcareo, varvito etilito. Foram descritos canais de arenito dentro do tilito e as rochas que se superpiiema ele, incluindo varvito, calcario, conglomerado e siltito estratificado com seixos.
A regiao e atravessada por grandes diques de diahasioe falhas. As fend as seguem duas direcfies e suas normais:N 60-80 WeN 10-30 E, sendo a primeira a mais frequente.
que preencheram diaclasesN 45-75 E e N 15-45 W;
14 BOL. SOc. BRAS. CEOL. V. 7, N. 1, 1958
INTRODU<;:KO
Ibaiti, antiga Barra Bonita, esta situada no nordeste do estado do Parana. A regiao observada estende-se de Camhui a Pinhalao, incluindo parteda bacia do rio do Peixe e parte da do rio das Cinzas (fig. 1).
Descrevemos rochas glaciais e interglaciais e procuramos obter a direcfiodo movimento do inlandsis preterite e a dos diques e fendas da regifio.
o mapa geologico (fig. 2) foi baseado em fotografias aereas. A geologia resulta de dados obtidos pelo autor, por A. Sobanski, Pinto (1946, p.48) e Mempel (1957, prancha 1).
Agradeco aos meus companheiros de trabalho do Crupo Mixto Brasileiro-Americano de Pesquisas de Uranio, especialmente ao eng. A. Sobanski;ao dr. S. E. do Amaral, da Universidacle de Sao Paulo; ao prof. dr. V.Leinz, da Universidade de S. Paulo, a orientacfio e 0 estimulo.
LEGENDAEstrada de rodaoem
Estrada de ferro •
ESCALA25 50 75Kmo
500
st~1°
P aronoponema
Fig. I - Mapa de loccrlizocdo
MAD - GEOLOGIA DE IBAIT!
GEOLOGIA GERAL
15
Na area de Ibaiti afloram sedimentos continentais da serie Tubarao.A base e constituida de rochas glaciais e interglaciais do grupo Itarare,sucedidos por sedimentos fluvio- limno-paludais do grupo Guata (tab. 1).
TABELA 1 - Coluna Geologica da regiao de Ibaiti (MEMPEL, 1957, p . 39, modif.)
Idadc Serie Crupo Membro Ambientc Espessura
Serra Geral Derrarnes de Vulcanico,Jurassico Sao lava, sills, t errestre 500 m
Bento diquesTrias. super.
Botucatu Arenito Eolico 50- 250 m
D i scord i\ n ciaMorro Pelado
Rio do Raslo - - - - --- -Serrinha Limnico, ate 300 m
PassaDois Terezina
Pcrmiano inferior Estrada Xova - - - - - - -Serra Alta Agua salobra 210 m
Irati - 50 m
Palerm o Lfmnico 40-70 mPensilvaniano Tubarao t:ual:i
Hin BOlli. () Llrnnico 50-130 m
Ti lilo 5 Glacial 30-50 mItarare
..Vreni tn 4/5 Interglacial ate 200 m
Ti lh o 4 Glacial 30 m
o diastrofismo triassico supcrior-jurassico abriu falhas e diaclases poronde .se introduziram diques de diabasio.
o grupo Itarare so esta representado por dois tilitos e urn arenito intertilitico, constituindo 0 topo do grupo (Mempel, 1957, P: 49).
o til ito "Quatro" tern pouca expressao na regiao. 0 tilito superior,"Cinco", e a morena de fundo (Leinz, 1937, p. 25) do quinto e ultimoavanco das geleiras continentais sobre esta regiao e constitui uma unidadeestratigrafica per,sistente sob a formacao Rio Bonito.
Entre os dois tilitos mcncionados, esta urn arenito interglacial, que podeincluir conglomerado, argilito, varvito, calcario, e mesmo tilito. Mempel(1957, p. 53) sugeriu a designacfio "Quatro/Cinco" para este horizonte,aludindo a sua posicao.
I-'0'1
t:::I0rCfJ0nttl::a>-YJ
0 0 0 0 0 I C"lM0r
o 0 0 0 1 :<o 0 ~_l
~I-'
I-'\0CJl00
OF:':;',<.::.:.:}.:.....:::::..~..~ :..:.:>::: : '~ : '
E SC AlA3
POVOADOS
F -FiflUelro
EO-Euzibio de Oliveira
e 0DuRuJino
~
o 0
. fCJ Grupo Guo/a'SERlE •
TUBARAo 10
0 0 001 Grupo Itarare
::·.(i!i;;':.;..:::::. :- ;:::.:: :; ,~ :'/ ..'-;":;':::': ': ~.: :" .: ': '.:".0
.x. Mina de Corvaoobandonada
....... f)ique de diobasio
C -Corviiozinho
AB-Artur Berr --des
Fig. 2 - Mapa geolog ico da regiiio d e Ibal':i
MAD - GEOLOGIA DE IBAITI 17
o Grupo Cuata comeca com a formacao Rio Bonito, que jaz sobre 0
grupo Itarare com uma discordancia crosiva (Mempel, 1957, p. 47). Econstituida por arenitos, siltitos var iegados, folhelhos, silex e carvao, este,proximo a base da formacao,
A formacao Palermo (tab . 1 ) so ocupa os pontes mais elevados da regiao. E constituida por argilas e siltitos coloridos com pouco sil ex (Mempel,1957, p. 45 ).
Teria havido na area de Ibaiti, urn largo vale, orientado estc-oeste eentalhado no tilito, por onde escorria a agua de degelo do inlandsis. Argumentos a favor disso seriam : as espcssuras anormalmente grandes nesta areada forrnacfio Rio Bonito (ate 130 m, contra cerca de 70 m, normalmente] emesmo da Iormaciio Palermo (ate 70 m contra 40 m l , que estariam preenchendo tal vale; a ocorrencia de conglomerados fhivio-glaciais com seixoscristalin os sobre 0 tilito e na porcfio basal da formacao Rio Bonito que, talcomo a discordancia observada, rcfletem condicoes de erosao (Mempel,1957, p. 47 , 48). Neste vale, largo de varios quilometros, houve formagao de turfa em lagos e braces mortos de rios, constituindo hoje carviio.
Morfologicamente, a area constitui urn planalto ondulante com altitudemedia de 850 m, com vales encaixados a ate 750 m. 0 arenite basal daformacao Rio Bonito, arenitos e varvitos interglaciais, formam dcgraus morfologi cos . Os diques destacarn-se como espigoes longos e ingremes.
A drenazem parece ser controlada principalmente pelos diques do quadrante noroeste.
ROCHAS GLACIAIS
Leinz (1937) descreveu a petrografia das rochas glaciai s do sui doBrasil. S6 nos deteremos em alguns pormenores.
Os componentes do tilito nao- estao estratificados e niio apresentamclassificacao granulometrica. Raramcnt c 0 tilito apresenta uma estratificacao,indistinta, nao horizontal . (v. Klebelsberg, 1948, p. 256 ), cu jos " estratos"so podem ser seguidos por alguns metros. Tal estrutura passa gradualmentepara a estrutura nfio estratificada.
Em urn ponto, no km 85+600 da R. V . P. S. C., foram eucontradosvegetais carbonizados muito fragmentados no tilito.
Os seixos do tilito sao freqiientemente envolvidos por .uma delgada capade carbonate de calcic. No krn 85 + 600 quase todos os seixos a tem; noscortes da regiao de ] apira, ela e rara. Talvez a sua Ireqiiencia no primeirocaso se deva a ocorrencia ali, acima do til ito , de leitos de calcari o e siltitocalcifero na base da formacao Ri o Bonito.
A composicfio qualitativa dos se ixos e muito variavel . Conlorme determinacao megascopica no campo, os quartzites e granitos predominam entreos seixos do tili to,
18 BOL. SOC. BRAS. GEOL. V. 7, N. 1, 1958
Fig . 3 - Aspecto de urn cor te fresco do tilito Krn 85+ 700, R .V .P .S .C.
A percentagem de seixos de rochas cristalinas em relacao ao de rochassedimentares no tilito, varia entre 70% e 86% (tab. 2).
TABELA 2 - Frequencia litol6gica dos seixos de tilito
Km 67 +900 Km 85+6~O Kill 5+50~ .lapiru Ihaiti (Ioc. 7)ROCHA. loco I I LEINZ, 1937
118 seixos 161 seixos 75 seixos 75 seixos 200 seixos
Granito .. .. . . ... . . . 25% 29% 19% 12% 17%Quartzo-p6rfiro .. . . .. - 1 - 12 9Aplito _ •• •••• • • • • • 0, 3 2 8 8 -Diorito . . . . . . . . . . . .. 1 - - - -Feldspato • • • • • • 0 •• • • 3 2 - 1 -Quartzo ., .... . .... 3 2 1 3 -Quartzi to • • • • 0 • • • • 00 35 34 26 27 2Marrnore .. . ... . ... , 9 9 1 - 8Gneiss . . . . . . . . .. . . . . 3 5 8 3 26F ilito . . , . . . . . . . . . . . 2
I- - 1 7
Micaxisto .... ... . . . . - 1 01 1 -
Anfibolito . . .. .. . ... - 1 - - -
Horn fels .... .. .. - I - 1 - 16. ..Conglomerado - .... .. - - 1 3 -
Til it o . .. . . . . .. . .. . 3 - - - -
Arenite . .... .. . , .. - - - 7 5 2Siltito ... . .. ... " . ... 1 4 18 12 -
Folhelho . .. .. .. .. , . 3 1 5 - 7Calcario . .. .. . . . . . ... 5 4 - 12 6Dolomite . . . . . . . . . . . 2 2 - - -
Silex . . . . . .. . . . . ' " 2 3 1 - -
A forma dos seixos do ti lito varia bas tante. Holmes (1941, p. 1306)distinguiu as seguintes seis categorias no campo: tabular, romboedroide,
MAD - GEOLOGIA DE IBAIT! 19
cuneiforme, discoide, ovoide e variedroide (estes nao se enquadram em nenhum dos outros grupos). Nao se ohservou relacao entre litologia e formade seixos. Pareee haver eerta preferencia, entretanto, dos quartzitos paraa forma romboedroide e em cunha, dos granitos e siltitos para rornhoedroide e ovcide e dos gneisses e xistos, para tabular (tab. 3).
TABELA 3 - Correlacao entre forma e litologia, para 150 seixos de tilito
FORMA
Rocha
Granito ... ' . . . . . . 3 5 2 4 7 2 23Quartzito . . . .. . . . 8 13 13 4 5 5 48Gneiss .. . - - . . - - -- 3 - - 1 2 1 6Siltito .. ... . . - . . 3 6 2 1 8 2 23Folhelho _. . .. .. . 2 1 - 1 - - 4Aplito I • ••• ••••• •• 3 1 4 2 1 1 12Quartzo. _. __. ___ .. 1 - 1 -- - - 2Arenite .. .. .. . . .. . 2 3 2 1 1 - 9Quartao-pnrfiro .. . - 4 5 - - 1 10Filito . .. .. .. . .. . . 1 - - - - - 1Feldspato _.. ... _. _ I - 1 - - - - 1Hornfels ... .. .... . - - - 1 - - 1Conglomerado .. .. . - - 2 - - 1 3Micaxisto _.. .. _. __ - 2 - 1 1 - 4Marrnore . ... . .. .. . - - - - 1 - 1Silex. ... . . . . .... . . - - - - - 1 1
---- --- - --- - -- - ---~- --- -- - - --Total: 150- -----
POI' localidade:
km 85 +500 19% 25% 14% 12% 23% 7% 100%
Japira, loc. 11 (fig. 2) 16% 23% 27% 10% 12% 12% 100%
Tambem 0 arredondamento dos seixos e muito variavel, Holmes (1941,p. 1306) distinguiu quatro eategorias segundo 0 arredondamento, no campo:seixos bern arredondados, moderadamente arredondados, poueo arredondadose bern angulares. Em eada uma das loealidades seguintes, mediram-se 75seixos, sendo seu arredondamento, por eategorias, 0 seguinte.
grandes, pequenos e de matriz nometro de lado, na superficie de urn
maior
fig. 2)Japira (Ioc, 11,127030ji41%17%
redor de 5 em em media. 0
km 85+50022%28%33%17%
Bern arredondadoModeradamente arredondadoPoueo arredondadoBern angular
o eixo maior dos seixos mede aobloeo visto por nos tern 2,1 m3.
Mediu-se a pereentagem de seixostilito, marcando-se urn quadrado de urn
20 BOL. SOC. BRAS. GEOL. V. 7, N. 1, 1958
corte. Em dez linhas paralelas, espaeadas de 10 em, media-se quantos centimetros, respectivamente, por cento, oeupava eada frat<ao. A media dO!5resultados e a percentagem na area, ' e admite-se, tarnbem no volume.
E a seguinte a relaciio entre os componentes de diferentes granulacoesem tilitos:
R.V.P.S.C Kill menor que 1 em 1-5 cm maJOr que 5 em
85+700 87 % 5% 8'7067+800 95 % 3% 2('//0
85+800 95% 4% 1'/0Os seixos estriados sao raros nos tilitos hrasileiros, em media, cerca de
0,5% (Leinz, 1937, p. 10) .
Entre 46 seixos estriados analisados, a litologia se distribui da seguintemaneira :
QuartzitoSiltitoDolomitoFolhelhoCalcarioArenite
28%20 %13%11%11%4%
GranitoMicaxistoMarmoreFilitoHornfelsSilex
2%2%2%2%2%2%
As direcoes das estrias sao mais marcadas em seixos maio res, pois queestes ficaram por mais tempo em suas posicfies dentro da geleira (v.Klebelsberg, 1948, p. 263) .
F.oram medidos 42 sistemas de estrias em 38 seixos diferentes, todosmaiores de tres em (fig. 5a). As estrias se coneentram entre E-W e N 75W,e subordinadamente, entre N 15 W e N-S (tab. 4) .
Fig 4 - Dts iuncco co luna r 110 tilito , Km 85+ 700, R.V.P.S .C .
MAD - GEOLOGIA DE IBAIT! 21
Observamos cinco pares de seixos imbricados, virtualmente em contacto:tres na localidade 11 (fig. 2) e os dois outros, no km 85+600. As direcoese sentidos indicados pelos seixos imbricados estfio tabulados abaixo:
Japira (local. 11) km 85+600
l. E para W 4. E para W
2. SW para N 75 E 5. E para W
3. SW para N 20 E
Os seixos do tilito, aparentemente desorientados, estatisticamente ternseus eixos maiores orientados paralelamente a dire~ao do movimento da geleira (Leinz, 1937 , p. 15; Holmes, 1941, p. 1301; v. Klebelsberg, 1948, r255, 263; Flint, 1947, p. 107).
Holmes (1941, p_ 1301) determinou a direcao do inlandsis quaternario,medindo no campo a direcao do eixo maior dos seixos, 0 mergulho do eixomaior e do eixo interrnediario, as tres dimensoes principais e incluiu 0 seixoem uma das categorias de arredondamento e de forma meneionadas.
Este metodo foi adaptado ao trabalho eom tilito. Foram escolhidosdois cortes com cerca de 5 m de eomprimento e 1,5 m de altura, de ondese pudessem retirar os seixos maiores de urn em, da matriz. 0 seixo eradeseoberto, os mergulhos axiais medidos com 0 clinornetro de Abney e asdirecfies dos eixos , com a bussola, 0 metodo foi aplicado em dois pontos
Lee II
c fl7 ~IXOS)
,-- IKm 85-500b (17seiros)
Loc II. Km 85- 500a (42 f!SfrJOS)
Km 85' 600d fl33 seisos]
Km 67e (JOO seixos)
Km 85'600f( 364 seixos)
Fig . 5 - Atitude de estrias e seixos
22 BOL. SOc. BRAS. GEOL. V. 7, N. 1, 1958
com 75 seixos em cada urn, Foram escolhidos os seixos que se enquadramnos criterios de Holmes para indicar a direcao paralela ao movimento dageleira.
No km 85 +500 as direcoese ao redor de N 30 W (fig. Sb) ,N 30 WeN 45 W, (fig.5c).
mais indicadas estao entre N-S e N 15 EProximo a Japira (loc. 11, fig. 2 ) , entre
o resultado nfio foi insofisrnavel, talvez devido ao pequeno nurnero deseixos que se enquadraram nas categorias previstas por Holmes como favoraveis, e ao fato de terem sido usados seixos de horizontes distantes ate 1,5m entre si.
Alem de descricao detalhada, somente a direcao do eixo maior de outrosseixos foi medida. Para isso, foram escolhidos seixos de forma ovoide, arredondamento de hora a moderado, nao subeqiiidimensionais, de urn a dez emde comprimento, corn mergulho do eixo interrnediario menor de 15°. Taisseixos (Holmes, 1941, p. 1325) tern a maior tendencia de assurnir uma orientac,;ao paralela ao movimento da geleira.
No km 85+600, entre 133 seixos predomina a direciio entre N 75 W eE-W (fig. 5 d).
No km 67 da ferrovia, perto de Japira, entre 100 seixos predominam asdirecfies entre N 75 E e E-W, e entre N 60 WeN 75 W (fig. 5e).
Ainda no km 85+600, Iez-se uma medida dos eixos maiores de 365seixos, sem preocupacao de comprovar suas caracteristicas, Tarnbem aqui,predomina nitidamente 0 setor entre N 75 W e E-W, e 0 entre N 60 E e N75 E (fig. Sf).
Leinz (1937, p. 32) obteve, no nordeste do Parana, a direciio dos eixosmaiores dos seixos de tilito entre N 10 E e N 30 E (N 15 E em Ibaili).Maack (1946, p. 181) no centro e sul do estado, obteve direc,;oes entre N 22E e N 54 E, tambem com medida de eixos maio res de seixos de tilito.
o presenle estudo determinou 05 seguintes elementos suscetiveis de dara direcao do inlandsis : orientaciio de seixos segundo 0 metodo de Holmescompleto e segundo os principais caracteres sornente ; direcao das estriasem seixos do tilito; 0 sentido pode ser dado pela imbricacjio de seixos (tab. 4).
As determinacoes de eixos maiores de seixos pelo metodCl de Holmes simplificado, pela direcao das estrias e pela imbricacao de seixos concordam aoredor de E·W com tendencia para 0 quadrante noroeste. A determinacaodo movimento pela imbricacao dos seixos deu E para W (tab. 41.
MAD - GEOLOGIA DE IBAITI
T ABEL A 4 - R esllffio das observacoes dir ecionais
23
K m 85 + 600 Km 85+600 Km 85 .1 Krn 67 . J apira Ri b. doLOCALIDADE Enganoe Loc, 11 R VPSC +500 RVPSC Loc. 11 Loc. 5
Estrutura Estrias Imbrie. Seixos Seixos Seixos Seixos ForesetsSeixos--- -- - - - - - - - -
N .>de observacoes 42 5 133 364 7fi 100 75 13
- - - --- - -- -- ---~ ---- - - -~lf1 :s: ~ U) :;:: Ci1 ~ > ~ =>
;.> ~ >£lDirecoes "'I .> ,
l ot:> ." .- .- ot:> ,"~~ ~~ l'iil- ... g I ot:> io M '"'" i-'; Z z
~ _1 1'-- .".~ z...
:~ z<0 '" '" OIl '" '"0. J ~ E:;::~ ;.,.~
OIl '" ~il '"f;il ::: m ::::OIl '"li,) l~ .- ot:> 'r.>f;il ~ ~ 0 0.0.."~ ,
<'0t-'"~ ~
1- 0 Z Yog Z ~~z Z Z~~ Z Yo -':11 lf1
Sedimentos intertiliticos: 0 arenito "4/5"
Vma seccao foi observada a noroeste de Ibaiti no vale do rib. do Engano,perto da sede da faz. Paraiso (Ioc, 5, fig. 2 ). Sabre 0 tilito "Quatro" estaurn arenito com 5 m de espessura, seguido por varvito tipico e compactocom 7 m de espessura , incluindo raras lentes rnilimetricas de calcareo ; 0
varvito passa gradualmente para arenito com estratificacao cruzada com 8 mde espessura, contcndo lentes de calcareo de ate 1 m de espessura. Segue-seo tilito "Cinco". Pelo men os na metade do banco de varvito, contaram-secerca de 600 varves pOI' metro.
Proximo ao centro do banco de varvito, ha leitos silticos com estratificacao cruzada. Mediu-se a dire~ao e 0 sentido da corrente que depositouos "foresets". A noroeste da sede da fazenda, quatro, dentre seis foresetsapresentaram direciio de SW para N 35 E; a sudoeste da sede (loc. 5),cinco dentre sete rnedidas deram SW para N 15 E. Nao se acredita queestas direcoes reflitam a direcao e 0 senti do da geleira continental (Tab. 4 ).
Dentro do -arenito "4/5" tambem ha lentes de tilito. Vma delas podeser vista numa pedreira a 500 m a leste de Pinhalao (Ioc. 10, fig. 1).
o tilito e compacto, de car creme, pobre em seixos, cuja maioria emenor de 5 em. Arocha e cortada pOI' diaclases espacadas de 1-2 m. Hanumerosas concrecoes manganiferas e ferriferas, geralmente de estrutura concentrica.
24 BOL. SOC. BRAS. GEOL.V. 7, N. 1, 1958
o tilito tem estratificacao indistinta que constitui direcao de fraqueza,cuja atitude e N 40 E, com mergulho de 6u a 16° para NW.
Lateral e verticalmente 0 tilito passa a arenito amarelo grosseiro,
E provavel que este tilito represente a carga de uma massa de "gelomorto ", que permaneceu algum tempo isolada da geleira, acabando pOl'fundir e depositar scdimento (Flint, 1947 , p. 148).
o topo do tilito " Cinco" pode demonstrar a passagem de clima glacialpara ameno. No furo n." 11 da Comissao Nacional de Energia Nuclear, aonorte de Figueira, acima do tilito ha urn argilito branco com estruturas devidas a correnteza, seguida de estratificacao, com seixos e nodulos de pirita;acima, urn siltito branco e, finalmente, carvao.
o ambiente teria passado de glacial para lacustre, com evidencias decorrentes e turbidez causadas pela agua turva do degelo, Com 0 distanciarda geleira e 0 avanco da vegetacao, houve formacao de turfa.
Na mina de carvao de Ibaiti (Ioc, 7) e alhures, sobre 0 tilito se acha urnconglomerado grosseiro com seixos cristalinos de ate 80 cm de diiimetro.Essa rocha foi interpretada pOl' Leinz (1940, p. 57) como fhivioglacial oumorena frontal e pOl' Mempel (1957 , p. 48 ) como Ihivioglacial. Localmente,na mina, sobre 0 tilito ha um siltito carbonoso contendo raros seixos, e acirna, 0 carviio.
Proximo ao km 86, ocorre tilito, com intercalacoes de argilito e varvito,localmente cobertas pOl' conglomerados. Seguem-se siltito calcifero, calcareo fitado, ritmico passando a banco espesso, e arenito grosseiro, pertencentesa formacao Rio Bonito.
o topo "do arenito "4/5" esta exposto no km 66 da ferrovia , onde e argiloso, com raros seixos, mal estratificado, passando a tilito de matriz argilosa,pobre em seixos.
lntercalaciies no tilito
Proximo ao km 67, ocorrem intercalacoes de arenito e conglomeradono tel'go inferior do horizonte de tilito, em uma zona de uns 4 m de espessura. Pode haver ate tres lentes superpostas, separadas pOl' tilito.
As lentes tern espessura maxima de urn metro e comprimento maximoobservado de 200 m. Mediu-se a orientacao de uma, a N 75 E.
o arenito das lentes pode apresentar estratificacao cruzada e uma tendencia para a diminuiciio da granula«ao de uma lente para a que Ihe esuperior. Tern gra fina, e mal arredondado, amarelado, rico em feldspato,
No topo das lentes de arenito, junto ao contacto com 0 tilito, podehaver uma camada de seixos recobrindo a lente. Esses seixos resultam provavelmente da lavagem do tilito por agua corrente.
MAD - GEOLOGIA DE IBAIT! 25
A agua de degelo pode escorrer dentro da geleira em canais, onde ocasionalmente se formam depositos de sedimentos. A fusao do gelD provocadesabamentos nos canais, Talvez as estruturas observadas se devam a isso(Twenhofel, 1950, p. 257).
Entre os km 85+400 e 86, ha intercalacoes de argilas estratificadas,localmente varvicas, proximo ao tapo do tilito. Sao lentes irregulares deespessura de cerca de urn metro. Perturbacces locais sao atribuidas por Mernpel (1957, p. 52) It erosao do gelo,
TECTONICA
As formacfies da serie Tubarao expostas na regiiio de Ibaiti tern ummergulho de cerca de 10 para NW e sao concordantes. Faz exeecao a discordancia erosiva na base da formacao Rio Bonito (Mempel 1957, p. 47, 61) .
.•~l
o estilo tectonico da regiao e de tensao, caracterizado por falhament~em blocos e ausencia de dobramentos (Mempel, 1957, p. 64). Rupturas dacrfista acornpanhadas de imimeras fendas secundarias forrnaram-se segundoIinhas preteritas NE e NW. Por estas geoclases subiu 0 magma basaltico(Leinz, 1949, p. 52).
CAMBUI
toe 1
loe 4b
\\
\" (27 didcJoses) loc 4 c- Km90 + 050-
42diOclases J
loc.6 b...-- 5
( /75 diaclases)
- Km 85+ 200-
loc 60
"'-- 10t 21J diaclases)
Fig . 6 - Atitude de diaclases e d iques
26 BOL. SOc. BRAS. GEOL. V. 7, N. 1, 1958
Na area de Ibaiti, a maioria das diaclases sao bern desenvolvidas e proxim as da vertical. Dispoem-se geralmente em quatro faixas, perpendicularesduas a duas (fi g. 7) : N 45-75 E e N 15-15 W; N 60-80 WeN 10-30 E.
Estas direcoes foram ohservadas em Santa Catarina, sendo denominadas"catarinense" e " r iograndense" respcctivamente, pOl' Putzer (1953, p. 47 ).
A densidade das diaclases e inferior a uma pOl' metro linear. Na proximidade de diques, a densidade chega a tres por metro, desenvolvidas aponto de original' disj unqao colunar (fig. 4 ) , como no tilito compacto dokm 85+400. E interessante que mesmo diaclases bern desenvolvidas naocortam os seixos (fig. 3) .
Foram feitas as seguintes observacoes em diaclases (fi g. 7):
1. Em 11 dos 18 casos observados, a direcao catarinense e a maisproeminente.
2. Em 9 dos 18 casos vistos ha orientacfio definida.
3. Apresentam urn padrfio ortogonal em seis localidades ( la, 4b, 10,3b? e 5a? (fig. 2).
4. Dispoem-se paralela e perpendicularmente a diques nas localidadesla? , 4b e 4c (fig. 2 ).
5 . Formam urn lingulo agudo com a direcao do dique de diabasio quepreenche a falha do km 85+200 (loc. 6, fig. 2). Este lingulo variacom a litologia: de urn lado da falha , no tilito, e de 62°, enquantoque do outro, no siltito e arenito, e de 72° (fig. 6, 7).
6. Dispoern-se paralelamente ao dique de diabasio na loco 8b (fig. 2).
Tres falhas foram observadas na regifio, todas preenchidas par diabasio :a do km 85+200 (lac. 6), com rejeito calculado em 100 m, que seria aborda ori ental de urn "horst" (Mempel, 1957, p. 64); a de Iapira, com rejeito nao determinado e a do km 90 +200 da ferrovia (loc . 4 ) , com rejeitode urn metro.
A maioria dos diques observados se incluem na direciio "catarinense".
As direcfies ort ogonais " catarinense" e "riograndense" pertencem aomesmo plano de esforcos cada uma (Putzer, 1953 p. 47) na tensao sofridapela regifio,
o lingulo agudo formado pelas diaclases e 0 dique-falha da localidade6 poderia ser devido a esforcos de cisalhamento abrirem diaclases "locais"durante 0 falhamento.
MAD - GEOLOGIA DE lBAIT! 27
E
E
,,. ,
BO1060
/
. 04 0' 020io
I (diqu_J
A - tJifD, lor:11- 7 didcfases --, I
B- '1ItID, Km66tZoo -:J6d -- - - -
I
N
IA .. 0 N W do st+J~ - 14 dioclases - -
8 - 0 SW.dO S~dt -6 dio"cJas~s l - - -
I
IA - 0 W do dlqlJ~ - 7dlOdoses
B - 0 w. 1'("'0 do d,,,,,o-,IN'dOI I'·---
I" /\ I r;
" I ' ",/ ....-,,/1·..... I " \ / \/ \ .
](l20
Lac a- JopJroI
Loc. 10JPinholao - 3laloclases II I
'0
Loc. 4 -Km 90 a ~'400 IA- s'/Mo 0 EdO dltl~ -J6 didd- .\ , ,B- s~x Q W- 2Tc1idclases -- - I \ < t "c- rOl~l/)o oE-4Zdit1cJoses ....- : ~ /.-, \
I I I : \ l :" \.\ '. ,', ' . . ,
" \ '~. " ;,'j,/ "'-;•...'.\_-...,'.."0",/ \I~ .
J
N
I I ILac Z- Frgueiro - 5 a,aclases -
I 7- lboitl' - J dlaclrJS~s --- ~I
I 9"Km' 2oo'9d,ocb$osI
Lac :3- Carvoo21nhoI
I I I I
I Lac.1- Combu!A-(1rtnil. (40dio~Ias-J) -B - soo- oronila(7 d'ool) - - _.
c-sob. oro.,la(9dmol) .
I I
,""/1 \
!I\, II ,. ,, \
f \a _ _
.0
ILac 5 . F0 2 Poroiso
I t
, I-, 'ihQfJ~1
." I
.1
U 4
' t:!
<:> 5
1:::>
2
<:>
'"-e 40
t:! 30
20
10
()
I...
Q; 20
I:: to' :::>
~ .,..15
10
15
W
Fig. 7 Atitude de diacl ases e diques
28 BOL. SOC. BRAS. GEOL. V. 7, N. 1, 1958
BIBLIOGRAFIA
FLINT, RICHARD F. (1947) Glacial Geology and the Pleistocene Epoch: 589 p.John Wiley and Sons, Inc., New York.
HOLMES, C. D. (1941), Till Fabric: GeoI. Soc. Amer., Bull v. 52, p. 1299-1354, NewYork.
von KLEBELSBERG, R. (1948) Handbuch der Gletscherkunde und Glazialgeologie, Bd.1, 403 p., Springer Verlag, Wien.
LEINZ, VIKTOR (937) Estudos sabre a glaciacao permo-carbonifera do suI do Brasil:S.F.P.M., Dep. Nac. Prod. Min., BoI. n. 21, SSp. Rio de Janeiro.(1940) A genese do carvao in Carvao mineral de Barra Bonita e Carvfiozinho,S.F.P.M., Dep. Nac. Prod. Min., BoI. n. 42, p. 43-65. Rio de Janeiro.(1949) Contribuicao it geologia dos derrames basalticos do sul do Brasil:Univ. S. Paulo, BoI. 103, GeoI., n. 5, 61p., S. Paulo.
MAACK, REINHARD (1946) Geologia e Geografia da regiao de Vila Velha, Estadodo Parana, e consideracoes sabre a glaciacfio carbonifera no Brasil: MuseuParan., Arqui., v. 5, 305 p. Curitiba.
MEMPEL, GERHARD (1957) Das Oberkarbon in Nordost-Parana (Brasilien): Beiheftezum GeoI. Jahrbuch, ht. 25, Beitraege zur Geologie von Brasilien, p. 33·79.Hannover.
PINTO, ESTEVAM (1946) Carvao no Parana in Helatorio da Diretoria 1944: D.F.P.M.,Dep. Nac. Prod. Min., Bol 77, p. 47-58. Rio de Janeiro.
PUTZER, HANNFRIT (1953) Diastrofismo gerrnanotipo e sua relacfio com 0 vulcanismobasaltico na parte meridional de Santa Catarina: Soc. Bras. GeoI., BoI. v. 2, n.1, p. 37-74. Sao Paulo.
TWENHOFEL, W. H. (1950) Principles of Sedimentation: 673 p., Mc Graw Hill BookCo., Inc. New York.
Dezembro de 1957