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Cryptochristianismus Ao Longo Dos Tres Primeiros Seculos

Date post: 08-Nov-2015
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artigo sobre o problema da epigrafia cripto-cristã e sua história
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Crypto-Christianismus O criptocristianismo dos primeiros três séculos no contexto da epigrafia Greco- Romana Abstract: This brief essay is about a kind of epigraphic material which can be grouped into what modern scholars are calling crypto-christians literature and it deals with the first three centuries of Christianity, at a time when the Christian movement still was a mere superstitio. Keywords: Epigraphy, Chrypto-Christianity, Christian Epigraphy, Early Christianity. Abstract: este breve ensaio se refere a um tipo de material epigráfico que pode ser agrupado dentro do que os especialistas modernos chamam de literatura crypto- cristã e diz respeito aos primeiros três séculos da Cristandade, em um tempo quando o movimento cristão era ainda uma mera superstição. Palavras-chaves: Epigrafia, Criptocristianismo, Epigrafia Cristã e Cristianismo Primitivo. Introdução Este pequeno ensaio 1 está dividido em três partes: a primeira delas diz respeito a uma breve explicação sobre a epigrafia e algumas questões que a envolvem, em particular aquelas ligadas ao problema da epigrafia cristã; a segunda parte, ainda que modo superficial, está voltada para contexto do tema em questão; já a terceira se ocupa de explicar a partir de três exemplos o tema do artigo, isto é, a epigrafia cripto-cristã . A epigrafia foi, em seu início, um ramo da arqueologia e como tal esteve bastante ligada ao desenvolvimento desta 2 . Aos poucos, entre os séculos XVI e XIX, o estudo de tábuas, estelas, urnas etc. levou a epigrafia a um outro patamar, tornando-se, seu estudo, uma área de confluência entre a filologia e a arqueologia. O estudo que ora se apresenta é tributário direto desta tradição, ou seja da epigrafia como setor de investigação tanto arqueológica como filológica. Por isso, é sempre de bom 1 Quero agradecer ao prof. dr. André Chevitarese, bem como aos colegas Daniel Justi e André Barroso pela recepção calorosa com que fui acolhido nesta jornada. 2 LIMENTANI atribui a Ciriaco (de’ Pizzicolli) di Ancona (1391-1453) “a descoberta de um novo gênero literário: o manuscrito epigráfico-antiquario”. LIMENTANI, IDA CALABI. Epigrafia Latina. Con un’appendice bibliografica di Attilio Degrassi. Milão: Istituto Editoriale Cisalpino, 1968. Pg. 43.
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  • Crypto-Christianismus

    O criptocristianismo dos primeiros trs sculos no contexto da epigrafia Greco-

    Romana

    Abstract:

    This brief essay is about a kind of epigraphic material which can be grouped into

    what modern scholars are calling crypto-christians literature and it deals with the

    first three centuries of Christianity, at a time when the Christian movement still was

    a mere superstitio.

    Keywords: Epigraphy, Chrypto-Christianity, Christian Epigraphy, Early Christianity.

    Abstract: este breve ensaio se refere a um tipo de material epigrfico que pode ser

    agrupado dentro do que os especialistas modernos chamam de literatura crypto-

    crist e diz respeito aos primeiros trs sculos da Cristandade, em um tempo

    quando o movimento cristo era ainda uma mera superstio.

    Palavras-chaves: Epigrafia, Criptocristianismo, Epigrafia Crist e Cristianismo

    Primitivo.

    Introduo

    Este pequeno ensaio1 est dividido em trs partes: a primeira delas diz respeito a

    uma breve explicao sobre a epigrafia e algumas questes que a envolvem, em

    particular aquelas ligadas ao problema da epigrafia crist; a segunda parte, ainda

    que modo superficial, est voltada para contexto do tema em questo; j a terceira

    se ocupa de explicar a partir de trs exemplos o tema do artigo, isto , a epigrafia

    cripto-crist .

    A epigrafia foi, em seu incio, um ramo da arqueologia e como tal esteve bastante

    ligada ao desenvolvimento desta2. Aos poucos, entre os sculos XVI e XIX, o estudo

    de tbuas, estelas, urnas etc. levou a epigrafia a um outro patamar, tornando-se,

    seu estudo, uma rea de confluncia entre a filologia e a arqueologia. O estudo

    que ora se apresenta tributrio direto desta tradio, ou seja da epigrafia como

    setor de investigao tanto arqueolgica como filolgica. Por isso, sempre de bom

    1 Quero agradecer ao prof. dr. Andr Chevitarese, bem como aos colegas Daniel

    Justi e Andr Barroso pela recepo calorosa com que fui acolhido nesta jornada. 2 LIMENTANI atribui a Ciriaco (de Pizzicolli) di Ancona (1391-1453) a descoberta de um novo gnero literrio: o manuscrito epigrfico-antiquario. LIMENTANI, IDA CALABI. Epigrafia Latina. Con unappendice bibliografica di Attilio Degrassi. Milo: Istituto Editoriale Cisalpino, 1968. Pg. 43.

  • tom apresentar, ainda que introdutoriamente, alguns elementos particulares

    Epigrafia de modo a tornar este pequeno trabalho mais claro. No nosso caso

    lidamos com um tipo de epigrafia bastante sui generis seja pela forma, seja por seu

    contedo, seja por seu contexto histrico, entre outros: inscries crists

    primitivas. As compilaes de epigrafia crist foram contemporneas descoberta

    da epigrafia propriamente dita, isto , desenvolveu-se de modo ancilar

    arqueologia e filologia desde o sculo XV, at que, no sculo XIX, ganhasse certa

    independncia o que possibilitou a confeco de corpora voltados especialmente

    para o estudo do cristianismo em seus primrdios3. Sobre esse ponto, a pesquisa

    epigrfica relativa ao cristianismo primitivo refletiu com muita freqncia os

    problemas, em nvel terico e metodolgico, surgidos no seio fosse da Arqueologia,

    fosse da Filologia, deixando de lado, por exemplo, algo to comum ao estudo da

    literatura crist dos primeiros sculos, como por exemplos, os estudos sobre

    Histria ou mesmo Teologia. Apenas muito recentemente vemos despontar

    trabalhos monogrficos em que a epigrafia crist passa a ser fundamental na

    investigao histrica acerca do cristianismo primitivo.

    Para iniciarmos esta apresentao consideremos preliminarmente que o objeto da

    epigrafia so inscries feitas em um suporte, durvel ou no, cuja freqncia de

    certas palavras ou letras (smbolos) encoraja o epigrafista transcrio e

    traduo. No entanto, esta noo por demais imprecisa, pois em no poucos

    casos o material encontrado acompanhado de desenhos dos mais variados e

    grupo de letras ou palavras que encontram mais de um significado, forma e

    sentido, no perfazendo qualquer padro. Por isso, o contexto, no

    necessariamente histrico, mas antes arqueolgico e\ou filolgico, se torna de vital

    importncia para o discernimento do material epigrfico pesquisado. Neste caso,

    trata-se no somente de sabermos com que suporte estamos lidando (pedra,

    3 J no sculo XX, muitas das inscries crists coligidas entre os sculos XVII e

    XIX foram revisitadas por Telogos e Historiadores da Igreja. Eis algumas destas

    colees dispostas em ordem cronolgica: GRUTER : Inscriptiones antiquae totius

    orbis romani in corpus absolutissimitm redactae (1603). BOSIO : Roma

    sotterranea; ARINGHIUS : Roma subterrnea; SARAZANI : S. Damasi papae opera,

    etc. (1638).RIVINUS : S. Damasi carmina sacra (1652);CIAMPINI : Vetera

    monimenta (1690);FABRETTI : Inscriptionum antiquarum, etc. (1699);

    BUONARROTI : Osservazioni sopra alcuni frammenti di vetri antichi (1716);

    BOLDETTI : Osservazioni sopra i sacri cimiteri (1720); LUPI : Epitaphium Severae

    martyris (1734); MURATORI : Novus thesaurus veterum inscriptionum (1739-42);

    MARANGONI : Acta S. Victorini illustrata, etc. (1740); MERENDA : S. Damasi papae

    opuscula, etc. (1754); GORI : Thesaurus veterum dipticorum (1759); GAETANO

    MARINI (1815). A. MAI : Scriptorum veterum nova collectio, vol. v.(1831).

    MARCHI : / monumenti primitivi dellarte cristiana,etc. (1845); LE BLANT : Inscriptions chretiennes de la Gaule (1856); BOECK: C.I. Graecarum, vol. iv. Ed.

    Kirchhoff. (1859). In: Marucchi, O. Christian Epigraphy. An Elementary Treatise. Cambridge: Cambridge University Press, 1921. Pp.43-44.

  • metal, cermica, madeira etc), ou do local em que foi encontrado (necrpole, praa

    pblica, templos) ou do tipo de inscrio feita (votiva, honorfica, monumental).

    Obviamente, isto tudo aumenta em importncia o caso do cristianismo primitivo

    pois, como fica cada vez mais claro para historiografia atual, estamos falando de

    Cristianismos e esta pluralidade possui indubitavelmente reflexos em suas

    manifestaes sejam elas econmicas, sociais, jurdicas ou artsticas.

    Para o presente trabalho, o que nos ocupa um tipo de inscrio marcada por um

    trao muito caracterstico: a dissimulao, ou seja, a necessidade de o(s)\a(s)

    autor(es)\(as) ocultarem(-se) e\ou no revelarem em sua totalidade o sentido da

    mensagem, encobrindo em alguns casos a sua identidade ou disfarando sua

    crena, em uma atmosfera de crise econmica, social e principalmente poltica,

    obrigando a superstitio crist a constante clandestinidade. Neste caso, as

    inscries crists, em muitos casos cifradas, atendem perfeitamente quelas

    virtudes da arte da criptografia apontadas por Francis Bacon (1561-1626) sculos

    mais tarde: no devem ser laboriosas para escrever e ler [mas] impossveis de

    decifrar4. Este tipo de carter da literatura crist primitiva teve seu

    reconhecimento apenas no final da dcada de 60 do sculo XX e ganhou o nome de

    crypto-cristianismo por Jacques Fontaine (Fontaine, 1968: 98-121). Fontaine

    aponta mais propriamente o estilo crypto-cristo para a obra de Minucius Felix

    (150-270 d.C.) indicada inicialmente por um dos ltimos editores da obra Octavius,

    J. Beaujeu, que ao qualificar o modo como Felix redige e se dirige aos seus

    adversrios, procedendo por aluses5. Sua obra suscitaria uma leitura em dupla

    transparncia: de um filsofo pago, hostil aos cticos, esticos, monotestas; mas

    tambm de cristo atento s ressonncias judaico-crists e testamentrias6. Esta

    dualidade muitas vezes, em nosso caso, expressa por fenmenos lingsticos e

    morfolgicos como o bilingismo (ou mesmo trilingismo), as abreviaes de

    nomes prprios e, especialmente, pelo aparecimento de um iconografia bastante

    particular quelas superstiones.

    -O Problema do Ponto de Vista Histrico.

    4 FRANCIS BACON the advancement of learning. II, XVI, 6. 5 Minucius Felix procde par allusions: seuls les connaisseurs taient en mesure de sapercevoir que lOctauius (...) visait plus particulirement Favorinus et son cercles. FONTAINE, JACQUES Minucius Felix et les valeurs ambigus dum style cryptochrtien. In: Idem. Aspects et Problmes de la prose dart latine au IIIe. sicle - La gense des styles latins chrstiens. Turim: Bottega dErasmo, 1968. Pg.101. O texto em questo Octavius de Marcus Minucius Felix estabelecido e

    traduzido por JEAN BEAUJEU. Paris: Les Belles Lettres, 1964. 6 Ibidem, pg. 103.

  • de opinio comum7 que a histria das perseguies aos cristos pode ser dividida

    em trs fases: a primeira comeara no raiar do movimento apostlico e findara com

    o famoso incndio em 64 d.C.; a segunda se iniciara com o fim do governo de Nero

    indo at o ano de 250 d.C., j sob o governo de Decius (249-251 d.C.); por fim, a

    terceira principiou com Decius e teve seu fim na derrota de Licinius por Constantino

    em 324 d.C. Em relao primeira fase, no se sabe quase nada com base nas

    fontes da autoridade romana e contamos exclusivamente com as fontes literrias

    crists. Na segunda fase, os especialistas afirmam que as perseguies tiveram um

    carter apenas local, sem a participao da autoridade central. Apenas na terceira

    fase, em especial a partir do perodo de Diocleciano (284-305 d.C.) podemos

    entrever o envolvimento mais do governo de Roma com a superstitio crist

    (KERETSZTES, 1983: 379-399)8. Ainda que cheio de lacunas, o perodo neroniano

    54-68 d.C. - no deixa de ser exemplar no sentido de fornecer a tnica com que a

    autoridade romana pautar sua atividade perante a crena crist9, pelo menos at

    meados do III sculo, revelando uma virada nas relaes polticas entre o imperium

    romanum e o cristianismo, principalmente aps o incndio em 64 d. C., ainda que,

    diga-se de passagem, a literatura crist pouco tenha tratado deste fato10. Um

    incndio deflagrado na capital levou a uma onda de violncia por parte das

    autoridades romanas. Ao fim e ao cabo 10 dos 14 bairros da cidade de Roma,

    caput mundi, haviam sido engolidos pelo fogo. A procura das causas encetou,

    segundo informa Tcitus (55-117 d.C.), a perseguio de grupos religiosos e, entre

    eles, estavam os seguidores de um Christos (Tac. Ann. 44, sqq)11. A literatura

    romana no deixa dvida sobre as causas da tragdia: teria sido um incndio

    criminoso, maquinado pelo ento imperador Claudio Nero (54-68 d.C.) com

    7 Veja as referncias completas na obra pstuma de de Ste. CROIX, G. E. M Christian Persecution, Martyrdom, & Orthodoxy. Oxford: Oxford University Press,

    2006. Cf tambm: de Ste CROIX, G. E. M. Por que fueron Perseguidos los primeros cristianos? In: FINLEY, M. I. (ed.) Estudios Sobre Historia Antigua. Trad. R. Lpez. Madrid: Akal, 1981. Pp. 233-273 (este artigo consta do livro

    pstumo com pequenas modificaes); SHERWIN-WHITE, A. N. Por que fueron perseguidos los primeros cristianos? Una correction. In: FINLEY, M. I (ed.) op.cit. Pp. 275-280; e ainda de Ste CROIX, G. E. M. Por que fueron perseguidos los primeros cristianos? Una replica. Idem. Op. cit. 281-287. 8 Para o tema, com exaustiva bibliografia veja: Ste CROIX, G.E.M. Christian Persecution, Martyrdom & Orthodoxy. Oxford: Oxford Univ. Press, 2006. Em

    especial a partir das pginas 50. Cf tambm: KERESZTES, PAUL From the Great Persecution to the Peace of Galerius. Vigiliae Christianae. Vol. 37, no. 4 (Dec,

    1983). Pp. 379-399. 9A. Harnack, Persecutionem suscitavit qua ille gloriose pro Christo sanguinem fudit". Syncell. (663, 6-8): 10 interessante notar que o principal autor da nascente historiografia crist,

    Eusbio de Cesaria (265-339 d. C.), em sua Histria Eclesistica, no cita o fato

    mas adjudica ao perodo neroniano (54-68 d.C.) como o do incio das perseguies. 11 A narrativa do incndio comea de fato no pargrafo 38.

  • conseqncias polticas at ento inimaginveis. Muito j foi decantado destas

    famosas passagens, em boa parte, observando menos o fato em si e mais os

    apontamentos de Tcitus, em especial suas observaes sobre a pretensa

    misantropia ou o odium humani generis dos seguidores de Christos12 e, a se contar

    a reao romana, em que alguns foram presos e outros tantos supliciados,

    insultados, crucificados e queimados, o fato causara comoo mesmo para autores

    no-cristos (Cassio Dios Hist. Rom. 62.2. Suet. Nero, XXXVIII).. No entanto,

    a literatura romana no tinha dvida sobre a autoria do incndio. Um fato, porm,

    permanece, ao menos aparentemente, envolto em dvidas. Como teriam as

    autoridades romanas reconhecido os ditos christiani. Segundo nos informa Tacitus,

    em primeiro lugar agarraram correpti13 alguns e pela revelao destes (indicio

    eorum) uma multido foi presa. Eis a grande lio do incndio: como, de fato, a

    represso romana reconhecera os cristos envolvidos neste episdio e, para alm

    da mera especulao retrica, como os cristos ao longo dos trs primeiros sculos

    se reconheciam uns aos outros?

    Boa parte dos autores modernos unnime em reconhecer que o Cristianismo

    praticado nos trs primeiros sculos se difundiu de modo plural e sincrtico14. Em

    parte porque sua crena partilhava certos preceitos do monotesmo judaico15 ou da

    cultura dita pag, em parte porque ao longo da histria do Imprio Romano, em

    especial a partir de Nero, a clandestinidade foi uma constante, impedindo que o

    movimento ganhasse coeso fosse em seu formato ritual, fosse doutrinal. O fato

    relevante no apenas na modernidade, mas j na antiguidade, as comunidades

    crists, por meio da documentao disponvel, evidenciavam uma multiplicidade em

    12 No Codex Mediceus (68 II fol. 38), um dos quais serviu para a fixao do texto

    dos Anais de Tacitus possivel ler forma Chrestianos. 13 Um termo no jurdico, mostrando a aleatoriedade com que a autoridade romana

    decidiu pela captura dos pretensos incendirios. 14 ADOLF von HARNACK reconhece o sincretismo como algo fundamental para o

    entendimento do sucesso da misso crist: Synkretistisch war es [o Cristianismo] von Anfang an auf heidenchristlichem Boden nicht als pures Evangelium ist es erschienen, sondern mit allem ausgestattet, (...). ber nun erst, um die Mitte des

    3. Jahrhunderts, war die neue Religion fertig als synkretistische Religion par excellence, und dabei doch exklusiv! . Pp. 302-303. Sincrtico foi o Cristianismo desde o princpio sobre solo pago e cristo. No como Evangelho puro apareceu,

    mas antes guarnecido com tudo. Somente, ento, da metade do III sculo d.C. em

    diante, a nova religio esteve pronta como a religio sincrtica par excellence, e nessa altura, contudo, exclusiva. HARNACK, A. Mission und Ausbreitung des Christentums in den ersten drei Jahrhundert. Leipzig: Hinrich, 1915. 15 De fato, o movimento cristo, desde seus primrdios, seguindo bem de perto a sua matriz judaica, caracterizou-se por ser um imenso mosaico de percepes. Da,

    melhor entend-lo como um movimento plural, do que singular. Assim, torna-se

    mais interessante pensar em cristianismos do que em cristianismo. CHEVITARESE, A. L. Cristianismos. Questes e Debates Metodolgicos. Rio de Janeiro: Kln, 2011. Pg. 22.

  • relao ao credo que praticavam16. Um documento de 16 captulos datado entre o

    primeiro sculo e a primeira metade do sculo II d.C. - A Didaque -, chamada

    tambm de Instruo dos Doze Apstolos, nos oferece bem a medida da

    disperso do movimento cristo ao longo desta poca. Com poucos oficiantes

    reconhecidos em um primeiro momento - no h um clero 17propriamente dito - e

    a quase inexistncia de uma liturgia que se atm ao batismo, eucaristia, e

    confisso as comunidades crists se ressentem com presena de falsos profetas

    ( ) (trs captulos da Didaqu so dedicados ao tema). O documento,

    com fragmentos em vrios idiomas (latim, copta, srio, rabe e georgio), um

    demonstrativo cabal de quanto tempo os cristos ainda levariam para se

    reconhecerem mutuamente como partilhando um credo semelhante18.

    O perodo ps-neroniano no menos confuso neste sentido. Ainda que admitamos

    o surgimento de literatura crist, as questes referentes a que tipo de categoria

    tal literatura pertence suscita ainda bastante controvrsia. No que diz respeito a

    uma literatura propriamente crist destes trs primeiros sculos, preciso

    considerar, com Frances Young, ao menos 5 pontos: A) o que de fato literrio em

    termos cristos? B) Quais textos devem ser includos na categoria de literrios?

    Eles formavam para as comunidades algum tipo de unidade ? C) De qual nvel

    social e cultural eles se originaram (aqui h que se considerar a fixao da tradio

    oral em forma escrita)? D) Quais so as peculiaridades retricas e de linguagem de

    um modo geral deste gnero de textos? Como estes textos devem ser

    16 Veja por exemplo a passagem em que Irineu de Lyon (circa 140 200 d.C.) comenta o fato de a apostasia de Marcio (sculo I d.C.) s fora considerada

    heresia em sua prpria poca, isto , entre o sculo II e III d.C. (Adv. Haer. III, 4,

    3). Cf. os importantes apontamentos de FREND, W. H. C. El fracaso de las persecuciones en el imperido romano. In: FINLEY, M. I. (Ed.) op.cit.Pp.289-314. 17 Leia-se hierarquia. 18 STORNIOLO, IVO; BALANCIN, EUCLIDES M. (Org). Didaqu: o catecismo dos

    primeiros cristos para as comunidades de hoje. 16. ed. So Paulo: Paulus, 2009.

    Em especial, os captulos XI 1.Se vier algum at voc e ensinar tudo o que foi

    dito anteriormente, deve ser acolhido. 2.Mas se aquele que ensina perverso e

    ensinar outra doutrina para te destruir, no lhe d ateno. No entanto, se ele

    ensina para estabelecer a justia e conhecimento do Senhor, voc deve acolh-lo

    como se fosse o Senhor. 3.J quanto aos apstolos e profetas, faa conforme o

    princpio do Evangelho. 4.Todo apstolo que vem at voc deve ser recebido como

    o prprio Senhor. 5.Ele no deve ficar mais que um dia ou, se necessrio, mais

    outro. Se ficar trs dias um falso profeta. 6.Ao partir, o apstolo no deve levar

    nada a no ser o po necessrio para chegar ao lugar onde deve parar. Se pedir

    dinheiro um falso profeta. 7.No ponha prova nem julgue um profeta que fala

    tudo sob inspirao, pois todo pecado ser perdoado, mas esse no ser perdoado.

    8.Nem todo aquele que fala inspirado profeta, a no ser que viva como o Senhor.

    desse modo que voc reconhece o falso e o verdadeiro profeta.

  • historicamente lidos?19 A epigrafia crist no escapa a estas perguntas e com elas o

    problema de delimitarmos a noo de epigrafia crist se torna mais complexo. A

    literatura crist (e suas distintas formas de expresso escrita) cresceu no seio da

    cultura Greco-Romana e traz consigo traos indelveis desta, entre eles o fato de

    ser praticada por uma elite literariamente educada (HARRIS, 1991). Boa parte do

    que at bem pouco tempo atrs se chamava literatura crist se baseava na

    canonicidade dos textos e no legado da Sagrada Tradio (Harnack, 1893: 22-23),

    a qual apenas recentemente tem recebido um outro tratamento. No obstante, o

    juzo acerca da epigrafia crist do perodo segue sem uma avaliao mais

    aprofundada20.

    Para alm das questes literrias propriamente ditas, h que se considerar a

    canonicidade, isto , a legitimidade que adquirem ao longo dos primeiros dois

    sculos perante os livros que conhecemos hoje como Bibla, e cuja preocupao

    aparece em escritos de Irineu de Lyon e Hiplito. Assim como as admoestaes da

    Didaqu contra os falsos profetas, o processo de canonicidade nos d a medida da

    diversidade de crenas crists de ento.

    Dois ltimos aspectos no negligenciveis so, de um lado, que a circulao de

    textos era bastante tmida, e de outro o fato de que o mundo antigo, em sua

    grande maioria, era iletrado, alis iletramento at muitas vezes celebrado21.

    Tudo isso contribua para a heterodoxia, entendida por escritores antigos e

    modernos como um distanciamento da regula fidei,22 no apenas em termos

    19 YOUNG , FRANCES. Introduction: the literary culture of the earliest Christianity. In: YOUNG, FRANCES et al. (Eds)- The Cambridge History of Early Christian

    Literature. Cambridge: Cambridge University Press, 2008. PP. 5-10. 20 Em HORSLEY, G. H. R. (ED) New Documents Illustrating Early Christianity. Austrlia: Macqaurie University 1981, os nove volumes (a partir do 6. volume foi

    editado por S. R. Llewelyn at 2002) no mencionam qualquer palavra sobre o

    problema do estilo ou gnero da literatura crist, detendo-se em problemas

    lingsticos (vol. 5). Harris sugere que, no caso das inscries, ainda que no seja

    possvel provar conclusivamente, devido a sua diversidade possvel perceber a

    heterogeneidade da linguagem falada (HARRIS, WILLIAM V. -Ancient Literacy.

    Harvard: Harvard University Press, 1991. Pg.177). 21Cf. Irineu de Lyon III, 4, 2. O iletramento no quer dizer absolutamente analfabetismo. A mensagem de um texto

    pode ser alcanada por meio de intermedirios (Harris, 34) ou pelo uso de elementos simblicos ( R. Thomas, 134),

    ou ainda como diz Irineu sem papel nem tinta. Cui ordinationi assentiunt multae gentes barbarorum eorum qui in Christum credunt, sine charta vel atramento scriptam habentes per Spiritum in cordibus suis salutem, et veterem

    Traditionem diligenter custodientes, in unum Deum credentes Neste caso, o que poderia ser

    decorativo possui grande valor explicativo para a compreenso da mensagem. Por

    isso, no se pode considerar o iletramento ou mesmo o semi-letramento como

    similar ao analfabetismo, nem tampouco em oposio transmisso oral. YOUNG,

    FRANCES Christian Teaching. In: Young, F. et al. (Eds)-op. cit. Pp. 464-484. 22

    A aproximao entre heterodoxia e desvio da regula fidei aparece com fora em

    vrias ocasies em escritores do cristianismo primitivo. Cf. por exemplo Athanasius

    de Alexandria (295-373 d.C.) Epist. ad Episc. I, 5, 1182-1183 (vol. 25, 549, 16).

  • teolgicos, mas tambm rituais at pelo menos o IV sculo23. O fato traz tona a

    necessidade de se explicar como um credo especfico que no possua qualquer

    organizao sistematizadora difundia-se, ao longo destes trs sculos, a ponto de

    distinguir o que era recto do que era obliquo24. Talvez a questo esteja falsamente

    posta na medida em que no se tratava de um credo especfico, surgido ex-nihilo.

    guisa de concluso.

    Neste contexto de iletramento e heterodoxia, as representaes pictricas ganham

    um valor incomensurvel, ainda mais caso estejamos falando de representaes

    acompanhadas de escritos de carter pblico como so de fato as epigrafias. Nelas

    possvel entrever certo cuidado em apresentar e ocultar a mensagem,

    simultaneamente. o que os autores modernos tm chamado de estilo cripto-

    cristo25. Em nosso caso, estes tipos de epigrafias nos ajudam a entender o

    Para A. Harnack (Mission und Ausbreitung), o sincretismo inicial da igreja primitiva

    ganhou pouco a pouco a sntese necessria para a formao da ortodoxia e as

    doutrinas desviantes tornaram-se degenerescncias (chamada por isso de

    Verfallstheorie). Quanto crtica Verfallstheorie com as respectivas crticas a

    Harnack cf. WILLIAMS, ROWAN Does it make sense to speak of pr-Nicene orthodoxy?. In: WILLIAMS, R. (ed.)- The Making of Orthodoxy: essays in honour of

    Henry Chadwick. Cambridge: Cambridge University Press, 1989. Pp. 1-23.

    23 J no incio do sculo XIX, especialistas apontavam para a diversidade axiolgica

    na Igreja Primitiva. Veja por exemplo o livro de MHLER, JOHANN ADAM Die Einheit in der Kirche oder das Princip (sic) des Katholicismus, dargestellt im Geiste

    der Kirchenvter der drei ersten Jahrhundert. Tbingen: Heinrich Laupp, 1825.

    Especialmente o captulo III. Alm das diversas controvrsias Teolgicas ou

    Cristolgicas, houve ainda a dissenso Eclesiolgica. Por exemplo: Donatismo (o

    Batismo e a Ordenao sacerdotal) no poderiam ser ministrada aos lapsi. Ainda

    havia as controvrsias entre Cristos e Judeus-Cristos ( Nazarenos Judasmo Messianico, Ebionitas os pobres, cristianismo de converso Torah e Elchasaitas preceitos morais e dietas). Para um tratamento do problema veja a obra: WILLIAMS, R. The making of orthodoxy Essays in honor of Henry Chadwick. Cambridge: Cambridge University Press, 1989. Em especial o artigo do editor: Does it make sense to speak of pr-Nicene orthodoxy? Pp.1-23. Cf tambm o

    interessante artigo de LOSEHAND, JOACHIM The Religious Harmony in the Ancient World Vom Mythos religiser Toleranz in der Antike. In: Gttinger Forum fr Altertumswissenschaft 12 (2009). Pp. 99-132.

    24 Orthodoxia, entendida como sana doctrina ou recta fides, no era noo usada

    pelos primeiros cristos. O problema talvez fosse, naquele contexto, mais de ordem

    cultual ou ritual do que propriamente doutrinal. Veja a discusso em Joachim

    Losehand The Religious Harmony in the Ancient World Vom Mythos religiser Toleranz in der Antike. In: Gttinger Forum fr Altertumswissenschaft 12 (2009);

    Cf. tambm NORRIS Jr., RICHARD A. Articulating Identity. In: YOUNG, FRANCES, AYRES, LEWIS; LOUTH, ANDREW (eds.) The Cambridge History of Early Christian Literature. Cambridge: Cambridge University Press, 2008. Pp. 71-90. 25 Em um artigo recente, HECK, EBERHARD - Nochmals: Lactantius und Lucretius. Antilucrezisches im Epilog des lactanzischen Phoenix-Gedichts? - International

    Journal of the Classical Tradition, vol. 9, No. 4, Spring 2003, pp. 509-523, ainda

  • universo mental cristo primitivo. Em especial, aquele dos grupos letrados, isto

    dos fazem parte da elite romana. No criptocristianismo imagem e conceito ganham

    fora prpria, formando um conjunto cujo significado, mesmo que vago, ser

    reconhecido por aqueles que partilham valores e conhecimentos comuns. Neste

    contexto, talvez fosse impossvel para Nero encontrar os cristos, talvez mesmo

    fosse impossvel que se reconhecessem o que refora nossa hiptese de que a nova

    f, plural e mltipla desde seu momento mais primevo, tenha partilhado um

    evangelho comum mas com prticas muito diferentes.

    Inscries e Comentrios26

    A)

    A primeira de nossas inscries foi gravada em uma gema de cornalina, que

    pertencia a uma coleo privada em Londres, com outras jias do mesmo estilo27.

    Segundo o relato do arquelogo que comprou proprietria a jia, teria sido

    encontrada em Constanza (Kustendje) em uma praia, junto com outros objetos e

    foi datada como pertencente aos primeiros trs sculos de nossa Era. Atualmente

    encontra-se no Museu Britnico sob o nmero :1895,1113.1, AN186312. Apesar de

    que recuse a idia de estilo crypto-cristo, como advogada por Fontaine,

    favorvel ao uso quando este se refere ao que ele chama de camuflagem do

    contedo cristo na literatura. Para a discusso do termo com literatura

    especializada veja especialmente as pginas 514-515. 26 Trata-se apenas de observaes preliminares 27 SMITH, CECIL The Crucifixion on a greek gem. In: The Annual of the British School at Athens. No. III, Londres: 1896-1897. Pp. 201-206

  • estar um pouco avariada possvel ver a figura do Cristo crucificado, apresentado

    de modo frontal, exceto pelos ps. Na altura do exergo, espao em medalhas ou

    moedas onde normalmente se grava a data ou qualquer outra inscrio, encontra-

    se uma linha que serve de suporte para a cena. A cruz, na forma de um T divide o

    que seria o conjunto dos 12 apstolos, seis de um lado e seis de outro, os quais so

    apresentados em uma escala bem menor do que a figura central do Cristo, mesmo

    estando ambos os grupos representados a partir do exergo. Encimando a gema l-

    se claramente a inscrio C , que em grego significa peixe, mas como

    acrnimo equivale s iniciais do ttulo (Jesus

    Cristo, filho de Deus, Salvador), em lugar do j tradicional INRI Iesus Nazarenus

    Rex Iudaeorum (Jesus de Nazar, Rei dos Judeus). O autor chama a ateno para o

    fato de que esta pode ser a mais antiga representao da crucificao ou, ao

    menos, uma das primeiras28. Um ltimo ponto a notar a associao direta entre

    imagem e escrita, tornando toda a cena quasi bilnge.

    B)

    28 Sugesto tambm aceita por G. H. R. HORSLEY New Documents Illustrating early Christianity. A review of the Greek inscriptions and papyri published in 1976.

    Macquarie University: Australia, 1984. Pg. 140.

  • Para a segunda inscrio, conforme nos relata K. Jaro29, uma antiga lenda conta

    que a Imperatriz Helena, esposa de Constantius e me de Constantino I (306-337

    d.C), em 326 d.C. teria encontrado o Titulus Crucis e ordenado que parte da

    inscrio fosse levada ao seu palcio em Roma, e parte seria mantida em

    Jerusalm. Consoante o mesmo Jaro, do ponto de vista paleogrfico nihil obstat

    por datar a inscrio para a primeira metade do sculo I d.C. e que salvo errore et

    omissione no h provas nem de uma falsificao do sculo IV d. C., nem em poca

    posterior. A inscrio trlinge sendo a primeira linha escrita em hebraico capital,

    da direita para a esquerda, como de praxe na escrita hebraica, e as outras duas

    em grego e latim, respectivamente. Seu contedo to simplesmente o gentlico

    de Jesus, Nazareno30, seguido nas duas ltimas linhas da letra inicial que designa a

    palavra rei, indicando a causa poena: para (basileus) e R para rex.

    Como registra a lenda encontra-se hoje em Roma, na Baslica de Santa Croce in

    Gerusalemme.

    1 yrjvnh

    2 NAZAREN- B

    3- NAZARENUS R

    C)

    29 JARO, Karl Inschriften des heiligen Landes aus vier Jahrtausenden. Mainz am Rhein: Philipp von Zabern, 2001. Pg. 319. 30 O escriba parece, ao escrever Nazareno em grego, , ter substitudo a

    forma tradicional com ETA por EPSILON, como est na inscrio. Ainda neste

    sentido, substituiu tambm a letra omikron em grego, o , pelo ayin - r -em

    hebraico na forma cursiva.

  • A ltima de nossas inscries um exemplo claro da integrao do pictrico com o

    escrito propriamente dito, pois alm da mensagem engastada entre o e o , na

    horizontal e o smbolo da cruz, de ambos os lados, na vertical, temos uma srie de

    elementos cuja disposio obedeceu a regras tanto gramaticais quanto estticas,

    cujo fundo sem duvida regido pela crena31. Assim, tanto a palavra ,

    quanto a palavra C, foram abreviadas de forma corrente como em lngua

    hebraica, como reservada aos nomina sacra onde os elementos centrais da palavra

    so omitidos32. A inscrio pertence ao baixo imprio mas um belo exemplar da

    preocupao do escriba e\ou proprietrio de marcar a filiao a sua crena. digno

    de nota, o fato do genitivo possessivo ( theos mou - lit. Deus de mim) encontrar-se

    acomodado bem no centro da inscrio, com a terminao genitiva - -, coroando

    a letra capital . Ela datada provavelmente para o baixo imprio.

    ( ) , ( ) , Cristo, meu Deus, Glria para Ti!

    Consideraes Finais:

    A distncia entre o significado e contedo destas inscries no irrelevante.

    Grosso modo, podemos notar um entrelaamento estreito, ou ao menos a inteno

    de que a composio proporcione uma leitura onde interajam os elementos visuais

    e escritos, entre a composio destas inscries, com a preocupao do efeito

    31 Ed. Pr. Jean-Paul Rey-Coquais, I Tyre 1.49, pp.32-33 (pl. 45.1). 32 TRAUBE, LUDWIG. Nomina Sacra. Versuch einer Geschichte der christlichen Krzung. Munique: C.H.Beck, 1907. 33 Preocupao esta que parece no ocorrer com a desinncia da forma dativa

    a Ti, deslocada para a extremidade.

  • visual, e o seu impacto no pblico-leitor. Preliminarmente, nos exemplos

    mostrados, verificamos ao menos trs constantes, em maior ou menor grau, dada a

    natureza de cada das inscries.

    a) A preocupao entre o simblico e semntico na composio das inscries;

    b) A reiterao de certos elementos que funcionem como meio identificador da

    composio epigrfica;

    c) A necessidade da anlise comparativa, que no se encerre na inscrio,

    dada a variedade tanto em que tais inscries aparecem, quanto no que diz

    respeito aos contextos histricos distintos.

    Embora as consideraes acima sublinhem o fato de que haja um pblico-leitor

    cristo para o qual eram voltadas estas inscries, preciso no exagerar quanto

    ao uso pblico deste tipo de epigrafia. Em primeiro lugar porque devemos ter em

    conta o carter devocional que leva o escriba ou o financiador da inscrio na

    confeco destas, de modo que a composio epigrfica pode ser mais um sinal de

    demonstrao da crena do que de transmisso de uma mensagem; em segundo

    lugar, e como conseqncia da primeira, porque, ainda que consideremos uma

    certa unidade composicional na distribuio dos elementos figurativos e textuais,

    perfeitamente possvel l-los (ou perceb-los) de modo distinto. Deste modo

    imagem e texto podem ser entendidos de maneira harmnica ou no, isto , sem

    um vnculo necessrio entre ambos. Ora, ao considerarmos pluralidade da

    mensagem crist ao longo destes trs sculos, as inscries crypto-crists atuam

    como moto e em conseqncia em infinitas direes, proporcionando o mosaico de

    que se falava alhures.


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