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A MODA E OS TONTOS
O País não quer saber de Moda. Acha fútil. Duas vezes por ano as câmaras de TV apontam para a ModaLisboa e Portugal Fashion e nesses dias enfoca-se o glamour, os VIP’s, as marcas, o streetstyle, “as pessoas esquisitas”, os que querem aparecer. Designers e colecções não passam de flashes no meio de tanto fait diver. E depois há aquele fenómeno de mostrar os tontos da moda. Sim, essas pessoas excêntricas, fúteis e inúteis, “legitimamente” expostas ao ridículo. Fazem-se entrevistas para apanhá-los em falso, afinal nem de moda sabem. Ninguém se questiona sobre esses entrevistados. Conseguir um convite para assistir a um desfile não faz dessas pessoas especialistas em moda, assim como ir ver um filme à Cinemateca não nos torna entendidos em cinema iraniano. O preconceito é patente e celebrado nesses dias. Seria mais importante conhecer e mostrar ao público em geral de que é feita a Moda em Portugal, incentivar o seu consumo, mostrar o talento que nela existe. Há centenas de pessoas de diferentes áreas, que vão do design, à fotografia, produção, maquilhagem, styling, comunicação, entre tantas outras. Pessoas que escolheram trabalhar numa área que é mal paga, com pouca expressão social e, só nos faltava mais esta, alvo de uma infantil chacota. Desde o seu início a DIF apoia a moda nacional e as pessoas que nela trabalham. Mostra o seu trabalho, a sua visão. Oferece-lhe as suas páginas, a capa, os artigos. A DIF gosta da moda nacional mesmo quando os holofotes se apagam.
MARTA GONZÁLEZ
10. ArteTiago AlexandreEntre o Boné e os Ténis Texto: Elsa Garcia
12. CulturaO veganismo que arda no infernoTexto: Hugo Filipe Lopes
14. ModaFeminino ou Masculino? MOW.Texto: Artur Araújo
16. ModaDrama Queen Texto: Dina Cereja
18. ModaBalmain x H&MTexto: Artur Araújo Fotografia: Ricardo SantosStyling: Joel Alves
22. ModaCARHARTT WIP Celebra 25 anos Texto: Tiago L. Pimenta
24. ModaLadies first desde 1916Texto: Rita Castro
26. Kukies
30. MúsicaDo piano mainstream à bazofia Main StreetTexto: João Moura
32. MúsicaAllen Halloween, testemunha no nevoeiroTexto: Francisco FerreiraFotografia: Herberto Smith
34. Still LifeAll Eyes on YouFotografia: António MedeirosSet Design: Marta González
38. ArteVistas de pássaro de Tadashi KawamataTexto: Rafael Vieira
40. ModaJusqu’ici tout va bienFotogra¬fia: Rui Palma Conceito e Styling: Twisted Soul
48. New Stars FactoryFazer da pele um diárioTexto: Hugo Filipe Lopes Fotografia: João MascarenhasStyling: João Carvalho
56. ModaInto the Wild Fotografia: Carla PiresStyling: Sérgio Onze
62. IlustraçãoDesenhar o Rock’n’RollTexto: Hugo Filipe Lopes
64. FotografiaSkate no Pé, Lente na MãoTexto: Elsa Garcia
67. MúsicaJameson Urban RoutesCurso de iniciação à música das cidades Texto: Ana Viotti
DIRECTORTrevenen Morris-Grantham
COORDENAÇÃO EDITORIALMarta González
DIRECTOR DE ARTERicardo Galésio
COLABORADORES DESTA EDIÇÃOAdriana Rodrigues, Ana Viotti, António Medeiros,
Artur Araújo, Carla Pires, Dina Cereja, Elsa Garcia, Francisco Ferreira,
Herberto Smith, Hugo Filipe Lopes, Joana Monteiro, João Carvalho,
João Mascarenhas, João Moura, Joel Alves, Lívia Oliveira, Maria Íris Sobral, Rafael Vieira,
Ricardo Santos, Rita Castro, Rui Palma, Sara Pinheiro, Sérgio Onze, Tiago L. Pimenta,
Tom Perdigão, Twisted Soul Productions
Capa Fotografia: Rui Palma
Conceito e Styling: Twisted Soul Make Up: Lívia Oliveira
Modelo: Cláudio Filipe Vieira Agradecimento especial ao SLASH
Creative Hair Studio
Casaco Fred Perry Corta-vento: CarharttGola Harley Davidson
PROPRIEDADE Publicards, Publicidade Lda.DISTRIBUIÇÃO Publicards [email protected]
REGISTO ERC 125233, NÚMERO DE DEPÓSITO LEGAL
185063/02 ISSN 1645-5444, COPYRIGHT Publicards, Publicidade Lda.,
TIRAGEM MÉDIA: 15 000 exemplaresPERIODICIDADE Mensal,
ASSINATURA 10€ (8 Números)
REDACÇÃO E DEPARTAMENTO COMERCIALLX Factory, sala 3.11
Rua Rodrigues Faria 1031300-501, Lisboa
Telefone: 21 32 25 727Fax: 21 32 25 [email protected]
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Por decisão editorial, cada artigo nesta DIF foi mantido na sua ortografia original.
La Femme
TEXTO ANA VIOTTI
JAMESON URBAN ROUTESCURSO DE INICIAÇÃO À MÚSICA DAS CIDADES
Lisboa, o enorme coração pulsante de Portugal, recebe entre as paredes e no palco do Musicbox, o Jameson Urban Routes 2015. De 22 a 24 e de 30 a 31 de Outubro, este é um festival para dançar e sentir as agitações citadinas, aprender a vibrar e viajar pelo mundo sem sequer sair da sala. Não é um festival preocupado com os hits da radio, mas sim os hits do ritmo e batida que funcionam como pulsação das cidades de onde estes artistas vêm ou visitaram.Olhe-se para o Jameson Urban Routes como um curso intensivo de cinco noites chamado “O que devias estar a ouvir agora, se ainda não estás a ouvir - Edição Música Urbana”. Até te dão a oportunidade de ires ao primeiro dia grátis, porque toda a gente merece um cheirinho de boa música, mesmo que não tenha uns trocos no bolso. Portanto cheguem cedo porque se não ficam à porta, já sabem! Ora, a DIF deixa aqui o livro de iniciação para não irem para as aulas sem os básicos memorizados:
A NÃO PERDER
O grande destaque do festival é óbvio e não há discussão sobre esta escolha: La Femme. Já são conhecidos como os surf rockers franceses, uma combinação improvável mas mais que possível. Finalmente a onda chega a Portugal e toda a gente quer apanhá-la. “Psychedelia, rockabilly, electro, and punk infused surf” é como descrevem o seu som, inspirado nas suas viagens e todas as influências que foram acumulando e desenvolvendo ao longo dos tempos.
A festa em português: As bandas portuguesas nunca são descuradas no cartaz do Jameson Urban Routes, mas também nunca
tiveram tanto peso, mais até que os nomes estrangeiros. Para além de irmos rever o português que mais nos faz dançar, o grande Xinobi, em formato Live Set, há mais para ver. Conhecemos o Nelson Silva dos Holy Nothing numa fila para comprar café, e embora o seu charme natural não tenha sido em vão, nós já éramos fãs da sua música há muito tempo, dançámos ao som de Cumbia o verão inteiro. Cave Story, mil vezes Cave Story. Post Punk psicadélico amoroso, que nos transporta para outras décadas e ao mesmo tempo soa tão actual.
Os estrangeiros não são só americanos: Quanto a estrangeiros, o primeiro que nos salta aos ouvidos é Pilooski. Este nome é o reflexo da música de dança dos últimos tempos, por haver um toque de Cédric Marszewski (o seu verdadeiro nome) nas dancefloors onde temos dançado, quer como compositor, DJ, produtor, engenheiro de som. Imperdível. Estivemos 6 anos à espera de Telepathe e finalmente chegaram! A dupla vem de Brooklyn com o seu pop e sintetizadores para nos hipnotizarem com Destroyer e muito mais. E para acabar em grande, não há como contornar RP Boo aka a pessoa que nos introduziu ao Footwork e nós nunca mais o esquecemos. How to do Chicago Footwork é o vídeo que toda a gente devia ver antes de ir para o Musicbox no dia 31 de Outubro.
Muitos mais nomes vão lá estar e não há nenhum que te vá fazer arrepender. O diploma deste curso é o enriquecimento da alma e quem sabe, uma inspiração para o teu dia-a-dia. Segue o palpitar da música e encontramo-nos por lá.
www.musicboxlisboa.com/jameson-urban-routes-2015
67 DIF MÚSICA
ÍNDICE
Jake & Flo LONDON, AUTUMN 2015 pepejeans.comJake & Flo LONDON, AUTUMN 2015 pepejeans.com
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Entre o Boné e os Ténis é a primeira exposição individual de Tiago Alexandre, inaugurada recentemente na Galeria Graça Brandão, em Lisboa. No título uma “conversa” sobre um corpo cinzento situado entre os dois objectos que tanto ama e o ajudam a passar despercebido. Tiago Alexandre usa normalmente bonés e ténis coloridos, mas para esta exposição pretendeu receber o espectador mostrando um pouco mais de si.As suas influências situam-se nos anos 90 com a apropriação que faz de ténis, bonés ou raquetes, numa escolha relacionada com a bagagem que adquiriu durante a infância e adolescência. “São coisas que realmente gostei e gosto. Foram-me impostos pelo meu grupo de amigos, colegas de escola e bandas que admirava. Definiam-me e serviam para julgar o outro pelo que tinha e usava. Penso que em parte se deve ao crescimento económico dos portugueses durante os anos 90 que criaram filhos mimados completamente expostos à sociedade de consumo que importava novos gostos e costumes dos Estados Unidos”, conta. No seu trabalho utiliza alguns desses objectos como motor.Já o apelidaram de máquina de movimento perpétuo. Trabalha pela adrenalina e para combater uma espécie de vazio. Do seu corpo de trabalho fazem parte o desenho, a instalação e o vídeo, sendo este último um formato que lhe proporciona grande liberdade. Passa muito tempo a ver filmes e séries, “gosto de ruído e estimulo visual
constante, a televisão ainda antes de eu saber já era um objecto de trabalho para mim”. A imagem em movimento é de tal forma densa que lhe permite encontrar layers sobre layers em qualquer plano. Influenciado por Buñuel, ironicamente colocou uma bailarina no papel de sino no vídeo Mickaela Dantas. Bells are still ringing deu título à exposição com a curadoria de Alexandre Melo para a qual Tiago já tinha uma peça praticamente acabada. Acidentalmente, em frente à galeria, encontrou a bailarina Mickaela Dantas. “Dirigiu-se a mim para pedir uma informação sobre uma companhia de dança. Devido à sua postura e penteado clássico presumi que fosse bailarina. Quando se afastou apercebi-me que não tinha uma perna, mas a sua postura e leveza eram extraordinárias. Gerou-se automaticamente toda a acção que eu precisava para filmar. À imagem que me surgiu naquele momento não acrescentei nada e resolvi acentuar a leveza da locomoção elevando o seu corpo do chão com a ajuda de um arnês. Limitei-me a filmar, conta.Tiago gostava de ser rapper ou piloto de motocross. Em criança nunca sonhou ser artista, mas no entanto sempre foi dotado de um espírito crítico e extremamente competitivo. Hoje revela que “é uma sensação óptima quando me apercebo que através de uma imagem criada por mim, de uma forma tão íntima e embrulhada, possa suscitar algum tipo de reflexão ou constatação em alguém externo a todo o processo”.
TEXTO ELSA GARCIA
10 DIF ARTE
TIAGO ALEXANDRE: ENTRE O BONÉ E OS TÉNIS
O que é que aquela cena musical extrema chamada Black Metal, nativa do norte da Europa com gajos gadelhudos vestidos de cabedal, pulseiras de picos, cintos de balas e maquilhagem branca na cara, cujo passatempo preferido é queimar igrejas e fotografar os homicídios que cometem para as capas dos seus discos, poderá ter em comum com aquela cena semi-freak chamada veganismo em que os seus praticantes não raramente são o equivalente hippie das testemunhas de jeová, que querem salvar o mundo à custa da paciência de quem nem sabe a que horas é o almoço quanto mais o que vai comer?Aparentemente nada, pelo menos até aparecer Brian Manowitz mais conhecido por Vegan Black Metal Chef que seria mais ou menos uma mistura de uns Venom com o Winnie the Pooh. Isto porque, apesar do seu ar de quem seria capaz de comer as vossas criancinhas, arrotar de satisfação e pedir para repetir, a verdade é que este chef, não faz literalmente mal a uma mosca. Quando se diz uma mosca, também se diz uma vaca, uma galinha ou um bacalhau porque nos seus programas quem vai para o matadouro é o tofu. Basta ver o seu primeiro episódio onde adapta ao estilo vegan a receita de Pad Thai e saca das suas facas épicas para esquartejar ao bom estilo luciferino os ingredientes, sem o mínimo sinal de misericórdia.
Quem gosta de receitas vegan mas não do estrilho dos metaleiros que se prepare para uma dose intensiva de barulheira e distorção, porque cada programa consiste num vídeo explicativo cujo acompanhamento áudio é a descrição da confecção do prato embrulhada numa linda canção black metal. Ao contrário dos cozinheiros anjinhos da nossa praça, não há cá meninos; o Vegan Black Metal Chef não se fica por recitar instruções ao estilo dona-de-casa-do-estado-novo, já que a sua voz gutural é antes utilizada para rebaptizar coisas como o tabuleiro de ir ao forno de “Altar da Besta” ou o fogão como “Chamas dos Infernos”. Isto sem nunca descurar enternecedoras e gastronómicas homenagens ao Senhor das Trevas.Para quem está curioso para saber se, no meio de todo este circo a comida compensa, não lhe resta fazer mais nada senão desenferrujar o pescoço e praticar o melhor headbanging possível ao som de receitas vegan vindas do inferno, ou não fosse afinal o seitan o alimento mais diabólico que o mundo já conheceu.Por isso, da próxima vez que alguém tiver a ideia de gozar com um amigo vegan porque só come comida de grilo e que à pala dele o mundo vai ficar cheio de vacas à solta, é preciso recordar que essa seita tem um pacto com Satanás.
TEXTO HUGO FILIPE LOPES
12 DIF CULTURA
O VEGANISMO QUE ARDA NO INFERNO
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TEXTO ARTUR ARAÚJO
FEMININO OU MASCULINO? MOW.
As análises de tendências de mercado têm apontado a Geração Z (indivíduos nascidos entre meados dos anos 90 e 2010) como a mais progressiva em relação às questões de sexualidade e género. Os miúdos, hoje em dia, estão fartos de rótulos e querem ser livres. E se isso implica, por exemplo, um rapaz usar roupas tradicionalmente percebidas como femininas, não há problema. Lily Rose-Depp, que recentemente se assumiu como “sexualmente fluída”, e Jaden Smith, que já foi visto a usar vestidos em diversas ocasiões, são apenas alguns dos maiores ídolos/representantes da Geração Z.Telfar e Hood by Air são marcas americanas populares entre miúdos “trendsetters” que gostam de desafiar as normas de género impostas pela sociedade e passam grande parte do seu tempo no Snapchat e no Tumblr. As coleções destas duas marcas têm um grande impacto na cultura popular, influenciam designers europeus e começam a dar forma àquilo que poderá ser o futuro da moda - um futuro onde não parece existir distinção entre masculino e feminino.Por cá, em território nacional, temos a MOW. Fundada este ano por João Patrício (CEO) e Mauro Cordeiro (diretor criativo), a marca, cujo nome deriva da expressão “man or woman”, afirma-se como “gender-free”. A dupla, que já vende peças na Wrong Weather (Porto), prepara-se para lançar uma nova coleção em breve.A DIF falou com o Mauro acerca do conceito da MOW e sobre as suas inspirações.
DIF: Afirmam que as vossas peças não são unissexo, mas sim “gender-free”.Mauro: Sim, no design de roupa unissexo, trabalhas com peças que são relativamente normais, mais democráticas, como t-shirts ou calças de ganga. E essas peças de roupa
são usadas da mesma forma por homens ou mulheres. No entanto, com as nossas criações pretendemos desenvolver sistemas de adaptabilidade, usando uma técnica de modelagem que retire das peças, por exemplo, o cair, ou certos elementos que são convencionalmente percebidos como masculinos ou femininos. Assim, as peças tornam-se mais adaptáveis e tu podes brincar com elas como quiseres, dentro de um espectro de género, sejas homem ou mulher.
DIF: Mas, afinal de contas, porquê fazer roupas “gender-free”? Por rebelião, por uma questão de igualdade ou simplesmente porque torna as coisas mais fáceis, na medida em que não tens de pensar no género associado à peça que estás a criar?Mauro: Não é por ser mais fácil. Aliás, a meu ver, é mais difícil, porque exige muito mais trabalho e pesquisa fazer uma peça versátil, que caia bem em diferentes tipos de corpo, e criar sistemas de adaptabilidade. Mas isso também acaba por ser uma motivação, por ser mais desafiante. Por outro lado, também o faço por uma questão de igualdade.
DIF: A estética do vosso último lookbook é muito atual, com jovens a tirarem selfies com iPhones em frente a um espelho… O que é que te inspira criativamente?Mauro: A minha inspiração baseia-se muito numa estética associada à tecnologia, ao Tumblr, que é a minha maior fonte de pesquisa, aos movimentos de rua… Mas, de facto, interessa-me muito a questão da tecnologia, a relação com os ecrãs.
www.mowofficial.com
14 DIF MODA
TEXTO DINA CEREJA
16 DIF MODA
TEXTO DINA CEREJA
DRAMA QUEEN
VFiles, loja e comunidade online conhecida por descobrir novas promessas da moda mundial, rendeu-se ao talento de David Ferreira, primeiro português finalista do seu concurso internacional. Apenas cinco designers apresentaram, em Setembro passado, as suas colecções na VFiles Runway, indiscutivelmente, um dos desfiles mais divertidos e surpreendentes da semana de moda de Nova Iorque. O designer oriundo da cidade do Porto, de 25 anos, começou a delinear o seu estilo na Central Saint Martins, em Londres, mas foi na Universidade de Westminster que se licenciou, recentemente, em Design de Moda. "Em Westminster somos expostos a todas as especialidades, do menswear ao womenswear, do knitwear ao marketing, até encontrarmos o nosso estilo, e eu queria saber o máximo, não me queria limitar", explica David à DIF. E acrescenta: "A minha visão é a simbiose perfeita entre o tradicional e o moderno. Muita dessa aprendizagem foi adquirida nos estágios realizados com Iris van Herpen, Giles Deacon, Nicholas Oakwell e Meadham Kirchhoff, onde desenvolvi as capacidades necessárias para libertar a mulher da sua forma natural, rumo a novas silhuetas...onde as linhas entre a moda e as restantes artes se fundem".A colecção SS’16 de David Ferreira é marcada por grandes e estruturados vestidos e capas em materiais rígidos como pelo de carneiro do Tibete e lã, aliados à leveza do chiffon de seda e da organza, numa paleta de amarelos vivos e pretos, que se aproxima da estética luxuriosa da alta-costura, na qual David se revê. "Inspirei-me numa musa imaginária criada da mistura entre a Imperatriz Cixi, da China, e Orlando, do filme de Sally Potter. Uma mulher moderna e futurista que celebra o passado e a História: uma time traveller", revela David. As silhuetas dramáticas, conseguidas através das varetas de aço e dos volumes contrastantes, assim como da
textura dilacerada dos bordados de missangas, foram inspiradas na deformação provocada pelas tortuosas práticas estéticas do século XIX — o enfaixamento dos pés e os espartilhos — e pela morte pelos 1000 cortes. A ostentação de Orlando revelou-se nas estruturas teatrais que se fundiam com os movimentos majestosos e velozes dos vestidos de crinolina. www.vfiles.com/runway
16 DIF MODA
TEXTO ARTUR ARAÚJO
18 DIF MODA
Total Looks: Balmain x H&M
FOTOGRAFIA RICARDO SANTOSSTYLING JOEL ALVES
MAKE UP E CABELOS TOM PERDIGÃOMODELO CATARINA SANTOS (L’AGENCE)
FASHION FILM ANTÓNIO MEDEIROS ASSISTIDO POR SARA PINHEIRO
AGRADECIMENTO À TRIENAL DE LISBOA PELA CEDÊNCIA DO PALÁCIO SINEL DE CORDES
TEXTO ARTUR ARAÚJO
BALMAIN X H&M
Olivier Rousteing é o responsável pela ascensão meteórica da marca Balmain que temos vindo a assistir nos últimos anos. Após ter tomado as rédeas da casa francesa em 2011, quando tinha apenas 26 anos, o designer passou do anonimato ao status de celebridade. Não é difícil perceber porquê - basta dar uma vista de olhos pelo seu perfil de Instagram (@olivier_rousteing). Olivier, não só veste, como também mantém um contacto próximo com algumas das celebridades e modelos mais famosas do planeta - Rihanna, Naomi Campbell, Beyoncé, Gigi Hadid, Jennifer Lopez e Jourdan Dunn são apenas alguns exemplos.Porém, neste momento, as maiores musas de Olivier ou, pelo menos, as mais populares do já muito conhecido “Balmain Army”, são as Kardashian. As irmãs Kim, Kendall
e Kylie são verdadeiras embaixadoras da casa francesa, aparecendo em campanhas da marca e vestindo frequentemente as suas peças, não só em passadeiras vermelhas, mas também no dia-a-dia.E se Rousteing adora mulheres poderosas e exuberantes que transpiram sexualidade, características recorrentes nas coleções da marca para a qual trabalha, o cenário não difere muito, quando olhamos para o seu universo masculino. Kanye West, Justin Bieber, e A$AP Rocky são nomes frequentemente ligados à Balmain.No entanto, existem outros fatores que contribuem para o sucesso desta casa francesa e que vão além das associações à “máquina Kardashian” e ao universo do rap (a marca chegou a ser mencionada na icónica canção de Nicki Minaj, “Anaconda”, em 2014). Numa indústria frequentemente apontada como racista, a Balmain destaca-se da maioria das casas de moda, pela diversidade racial que apresenta nos castings dos seus desfiles e campanhas. O facto de Rousteing ter uma presença bastante ativa nas redes sociais e falar abertamente sobre diversos aspetos da sua vida junto da imprensa (o designer já apareceu nu em capas de publicações como a TÊTU e a Out Magazine) atrai ainda mais a atenção das massas.Em Maio de 2015, para a felicidade de muitos, a H&M anunciou uma colaboração com a Balmain. A coleção, que sucede a que o grupo sueco lançou no ano passado em parceria com Alexander Wang, inclui peças para homem e mulher, com uma estética completamente fiel à visão de Olivier para a casa francesa. Algumas peças são diretamente inspiradas em coleções já apresentadas pela marca em temporadas passadas.A colecção estará disponível, a partir de 5 de Novembro, em www.hm.com e na H&M Chiado.
Vê o vídeo do editorial em www.vimeo.com/difmag
18 DIF MODA
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TEXTO TIAGO L. PIMENTA
CARHARTT WIP CELEBRA 25 ANOS
A Carhartt foi fundada em 1889, em Detroit, tendo como principal produto as roupas para trabalhadores dos caminhos-de-ferro. Hamilton Carhartt conseguiu construir uma marca sólida reconhecida como “Extra-Durável, Extra-Confortável, Extra-Extra”. Quase 100 anos depois, no início dos anos 90, Edwin Faeh fundou a “Work in Progress” tornando-se distribuidor exclusivo da Carhartt na Europa. Até então, era muito difícil encontrar a marca fora dos EUA.Baseando-se no legado de qualidade da marca, a chancela “Work in Progress” quis, no entanto, oferecer muito mais do que workwear. Através de uma nova visão, design, produção e marketing, a Carhartt WIP veio conquistar - e vestir - uma audiência urbana com uma atitude underground e espírito criativo. Um público ligado à cultura street, seja skate, música ou arte.
COLEÇÃO EXTRA-ESPECIALPara celebrar os 25 anos, alguns dos mais reconhecíveis modelos de workwear dos arquivos da Carhartt e uma seleção de peças clássicas da Carhartt WIP foram redesenhadas e reinterpretadas, alterando e combinando os tecidos originais, cores e cortes.A coleção Carhartt WIP “25 Years Progress” apresenta 25 produtos com ferragens e etiquetas prateadas, metal usado simbolicamente para a comemoração do 25º aniversário, juntamente com botões em forma de coração como tributo ao logótipo original da Carhartt.
A colecção pode ser encontrada em todas as lojas Carhartt WIP (em Portugal na Rua do Ouro, Lisboa), pontos de venda selecionados e online.
22 DIF MODA
TEXTO RITA CASTRO
LADIES FIRST DESDE 1916
Na estação que dá entrada para o ano em que celebra os 100 anos, a Keds comemora o estilo pessoal com uma nova coleção que apresenta diversas novidades femininas e atualizações de modelos icónicos. Com o slogan “Ladies First desde 1916” a coleção de Outono-Inverno 2015 “apresenta alguns dos nossos padrões e texturas mais inventivos, re-imaginados através de tendências globais ", afirma Holly Curtis, diretor de Design da Keds. Entre as actualizações, estão as novas solas de grossura dupla ou tripla. Destacamos os “Dreamcatcher”, com um look artesanal, repletos de padrões rústicos e texturas que vão desde o ponto cruz à tapeçaria, gangas com lavagem e linho. A América original é homenageada através do uso de padrões Navajo e estampados florais delicados, reforçados por um espectro de tons de terra do Oeste americano.Já a linha “Varsity Life” inspira-se no estilo colegial e na moda masculina, com especial cuidado nas texturas e acabamentos. Materiais premium como a lã, a camurça
ou a pele são combinados para apresentar um look clássico e confortável que honra os quase 100 anos de história da Keds. Northern Lights é a mais brilhante de todas as coleções. Os cintilantes raios de sol em dias de neve e a luz das estrelas nas noites de inverno ofereceram os tons prateados, lavanda e azuis aos modelos da KEDS. Veludos com relevo e pelo de efeito metálico acrescentam um toque ainda mais luxuoso à coleção. A linha Northern Lights apresenta ainda modelos com lantejoulas, ideais tanto para o dia-a-dia, como para uma saída à noite. A KEDS criou um clássico americano quando, em 1916, surgiu com os primeiros sapatos com sola de borracha, fruto de uma ideia revolucionária da US Rubber Company. Foi a KEDS que inventou o termo “sneakers”: os seus ténis, silenciosos por natureza, eram ideais para “sneak” (espiar). O estilo clássico e simples conquistou de imediato as estrelas de Hollywood e continua a atrair novos fãs por todo o mundo.
24 DIF MODA
Dreamcatcher
Varsity Life
Northern Lights
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26 DIF KUKIES
PRANCHAS NA CIDADE
A Ericeira Surf & Skate dá as boas-vindas ao outono com uma coleção que festeja o regresso ao ambiente urbano. Sob o lema “Aproveita o momento. Vive o sonho” apela-se a que cada minuto seja valorizado, independentemente do local ou da estação do ano, afinal a alegria não se extingue com o final do verão. As linhas masculinas variam entre as cores sóbrias e neutras, com o preto como protagonista, e as clássicas camisas axadrezadas. O amarelo mostarda aparece como o complemento ideal de peças mais formais. A Ericeira Surf & Skate nasceu em outubro de 1996, com a abertura da primeira loja, no centro da vila que lhe deu o nome. Para além das lojas multimarca, a Ericeira Surf & Skate tem a sua própria marca de roupa, na qual transmite o conceito de harmonia entre a natureza e o meio urbano, com inspiração na dinâmica e estilo de vida dos desportos de prancha. TLP
SLASH CREATIVE HAIR STUDIO
Abriu recentemente em Lisboa um novo conceito de hair studio que pretende revolucionar o mercado dos salões em Portugal. “Já não somos nem precisamos de uma só coisa ou de um só serviço” diz Ana Ferreira-Hilário, mentora do Slash, “hoje somos designers/empresários, atores/modelos, fotógrafos/empregados de mesa”. Os chamados slashies, são clientes, fãs e, simultaneamente, utilizadores do novo espaço. Isto porque a oferta é multidimensional: além das áreas de serviços comuns a um salão existe também um estúdio e galeria abertos a diversas atividades criativas. +info: www.slash.pt
VELVET ON THE GROUND
A le coq sportif abraçou a tendência do veludo. Nesta estação outono-inverno 2015/16, quatro dos mais bem-sucedidos modelos da marca francesa - Wendon, LCS R900, Arthur Ashe e os Milos - receberam um tratamento de luxo. Agora com pormenores ou revestidos a veludo, os icónicos ténis estão mais femininos e sofisticados que nunca. As cores escolhidas são azul, branco e bordeaux, reforçando mais uma vez as características invernosas deste pack.
28 DIF KUKIES
SKATE EM ALCATRAZ
Neste Outono/Inverno, a Levi’s Skateboarding inspira-se num dos mais lendários lugares da Baía de São Francisco - a famosa prisão de Alcatraz. Foi ali que, em 1988, Bryce Kanights fotografou Mark Gonzales num pijama às riscas - que recordava o uniforme dos presidiários - a andar de skate no pátio da prisão. Uma imagem icónica que serviu de ponto de partida para equipa de design da Levi’s Skateboarding. Os jeans ganham destaque e contam com inovações fundamentais para quem convive diariamente com as rampas e passa muitas horas em cima da tábua.No que toca a mobilidade e durabilidade, nada melhor que recorrer aos extensos arquivos da Levi’s e pesquisar workwear dos anos 30 e 40. O resultado são peças tais como as Work Pants, a Quilted Mason Shirt, o Lined Chorecoat, a Reform Shirt e os 2-Pack Tees. Algo que os presidiários de Alcatraz poderiam ter usado sob o céu nublado de São Francisco. Conhece o universo desta colecção em instagram.com/levisskateboarding
MÓVEIS COM PERSONALIDADE
Azzoto é uma marca portuguesa de mobiliário fundada este ano por Marco Galésio. O nome encerra em si a história de um cientista de carreira que também faz móveis especiais. “Cada peça é desenhada e produzida com paixão e total dedicação” explica o artesão. Tudo começou quando Marco construiu uma casa de madeira para o filho e se deixou envolver pelo desafio de conceber outro tipo de peças. Os móveis Azzoto, produzidos em madeira maçica, são criados através de processos inteiramente artesanais. + info: www.azzoto.com
COLABORAÇÃO #SUGARFREE
A caixa GD-X6900 dá corpo à nova parceria entre a G-SHOCK e a divertida Johnny Cupcakes, marca de roupa americana conhecida pelas t-shirts com gráficos que misturam o universo pop com o culinário. É uma das colaborações mais aguardadas do ano e sem dúvida uma das mais coloridas de sempre do universo G-SHOCK. Muita cor, humor e um design fresco são características que, como não podia deixar de ser, a Johnny Cupcakes deu ao “seu” G-SHOCK. O lançamento mundial está previsto para Novembro e estará disponível em pontos de venda seleccionados.
TEXTO JOÃO MOURA
Esta é a história de um louco que toca piano de roupão e pantufas e fala francês porque é canadiano e vive em Berlim. Jason Charles Beck é muita coisa. Já fez muita coisa e vai continuar a fazer. Músico, compositor, pianista, membro da banda de hip hop Puppetmastaz , recordista mundial com uma performance a solo de 27 horas seguidas, produziu para Jane Birkin e também se iniciou na sétima arte contando com a ajuda de amigos como Feist, Peaches ou Tiga numa obra intitulada ‘Ivory Tower’ que tem o xadrez como centro da narrativa. O auto proclamado ‘hardest workin man in music’ ou - ‘musical genius’ quando está ao piano - é um evento em constante acontecimento e reinvenção. E no meio de tudo o que já fez o que fascina mesmo é mesmo a maneira como conseguiu recolocar o piano na praça.Nele há uma fusão feliz a que não vamos chamar improvável porque hoje tudo se funde - e com isso, não raras vezes muita coisa se fecunda. Mas esta é uma fusão feliz – ou que me faz feliz - e bem concretizada que traz o piano a um público menos clássico. E esse é o grande contributo deste homem para a música e acima de tudo para este instrumento. Um gajo que faz o mainstream bem mais interessante que qualquer tesouro desconhecido. Já há uns tempos que o piano
não tinha uma rockstar à altura. E o melhor é que nem é esta a sua base de formação. Pode não ser o melhor, nem tecnicamente conseguido e nem mesmo ter capacidades fora do normal, mas também não é isso que interessa. Tem o seu lugar na história da música e das teclas (e agora vem aí sacrilégio e o meu direito pelo mérito a chapadas na tromba), tal como Rachmaninoff, Chopin, Elton John, Jerry Lee Lewis, Beethoven, Manzarek ou Mozart. Porque é único e tornou-se único por causa do instrumento que domina. Com ele é tudo preto no branco e o preto é forte e o branco é sujo e oleoso como ele. Mas é um original e é grande. Um homem de quem se gosta odiar ou que às vezes se odeia gostar. Uma espécie de personagem que nunca se desmancha. Que fazemos questão de saber o que disse ou fez, seja para adorar mais um bocado ou para odiar mais fundo. Em dias tripolares é fácil pensar ‘este sacana é demasiado vedeta’ mas a verdade é que sempre que quero dar a conhecer este génio musical a alguém, são esses traços que realço como aqueles que fazem dele um ser raro e acima da média. Por isso e para quem não conhece aconselho ir ao Youtube e escrever ‘Chilly Gonzalez Graz’ e escolher o vídeo de 18:26. No fim desses 18 minutos, desculpem o tempo perdido ou então não têm nada que agradecer.
DO PIANO MAINSTREAM À BAZOFIA MAIN STREET
30 DIF MÚSICA
TEXTO FRANCISCO FERREIRA FOTOGRAFIA HERBERTO SMITH
33 DIF MÚSICA32 DIF MÚSICA
TEXTO FRANCISCO FERREIRA FOTOGRAFIA HERBERTO SMITH
O apelo único da sua música persiste – músicas de alguém que não se exulta mas que segura com toda a força o que é seu, a falar de bairros e de vidas sem artifícios, como se os respirasse. No entanto, não é como um contador de histórias que se vê. “Eu vejo-me mais como uma testemunha de várias vidas. Embora algumas das personagens presentes nas minhas músicas tenham um bocado de mim, ou por vezes, sejam mesmo eu, existe no geral uma necessidade de criar uma nuvem, um nevoeiro, para baralhar e confundir quem ouve as músicas, isto porque as coisas não podem, nem devem ser bastante óbvias, senão não poderíamos chamá-las de arte.”
“No que diz respeito às mensagens contidas nas músicas, eu gostava de vê-las mais como um testemunho e não como conselhos, até porque eu não gosto de dar conselhos a ninguém.”
É esta faceta de testemunha que talvez nos ajude a compreender melhor a multiplicidade de personagens e mundos que povoam os álbuns de Allen Halloween. São retratos para quem quiser observar e ouvir esta realidade. E esta realidade é sempre testemunhada de modo inquieto, com uma relação bastante evidente com Deus, tão evidente como combativa, mais a busca em compreender o mundo e o seu lugar nele do que procurar um porto de abrigo. É uma relação muito consciente, caracterizada por demónios, bruxas, vultos e vozes que dão origem a pedidos como em Rei da Ala (“Jesus não deixes os demónios me acordar / embala-me até o dia chegar”), e onde Allen distingue bem as coisas: “Não tenho ligação nenhuma à religião católica. A minha ligação é sim com Deus, o meu criador, e aos seus ensinamentos e pensamentos, que eu acredito, que estão na Bíblia. De resto, acho que sempre existirá esse combate entre aquilo que tu desejas fazer e aquilo que tu sabes ser o certo para fazer. Por exemplo, o mundo tem-nos dito coisas como ‘segue o teu coração’ e foi isso que eu fiz durante anos até descobrir por exemplo
que Deus diz exatamente o contrário, a Bíblia diz “o coração é traiçoeiro”. Acredito porém que essa luta só existe na cabeça das pessoas que temem a Deus. O resto das pessoas normalmente faz aquilo que considera ser o melhor para elas.”Neste último álbum tomou as rédeas da masterização e, consequentemente, do que nos é dado a ouvir. É claramente o álbum em que as batidas encontram mais espaço. “Maradox Primeiro é um dos meus nomes, é o nome que utilizo como beat maker. Tanto o Maradox como o Halloween cresceram juntos e evoluíram juntos, um como beat maker e produtor e o outro como compositor de canções de rap. O “Híbrido” é um álbum em que o beat tem mais espaço na música, ou seja, é como se eu guardasse um espaço maior em cada música para o beat brilhar. Isso não acontecia muito no passado porque acho que o Halloween era muito superior ao Maradox, hoje equivalem-se, logo dividem mais o protagonismo.”O que o futuro lhe reserva ainda não sabemos. Em julho de 2014, numa entrevista para o site As 1001 Noites, apontava para que Híbrido pudesse ser o último álbum mas não há planos definitivos. “Isso são aqueles pensamentos que tu tens contigo próprio que nunca deveriam ter sido escritos como algo que tu tivesses dito. É como se tu dissesses, ‘eu vou-me mas é casar’ e alguém escrevesse, o Allen disse que vai-se casar. Podes casar-te ou não, depende das raízes e da força que esse amor tiver no futuro.”2016 marcará o 10º aniversário do álbum de estreia. Como vês este percurso? “Desde que o meu mic foi acusado de assassinato foi procurado pelos homens do estrelato perseguido e odiado mas nunca foi encontrado” responde Allen Halloween, incisivo e misterioso, relembrando-nos a letra de O Exorcismo de Mary Witch.É essencial continuar a ouvir Allen Halloween. Não há voz igual neste jardim plantado à beira mar, ninguém canta o que ele canta, como ele o faz. É a história “do meu bairro, do teu bairro ou de um bairro por aí” de Portugal, em 2015.
ALLEN HALLOWEEN TESTEMUNHA NO NEVOEIRO
Volvidos 9 anos sobre o álbum de estreia, “Projecto de Mary Witch”, Allen Halloween regressou com o terceiro álbum. “Híbrido” caiu com estrondo, quatro anos depois de “Árvore Kriminal”, na cena nacional e a crítica foi unânime em louvá-lo.
33 DIF MÚSICA32 DIF MÚSICA
Relógio Nixon
ALL EYES ON YOU
FOTOGRAFIA ANTÓNIO MEDEIROSSET DESIGN MARTA GONZÁLEZ
Bota CAT
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TEXTO RAFAEL VIEIRA
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Triënnale Brugge
Collective Folie, 2013; Work in progress | Vue de l’installation, Parc de la Villette, ParisFoto: Fabrice Seixas / EPPGHV, Courtesy the artist and kamel mennour, Paris
Foto: Fabrice SeixasTEXTO RAFAEL VIEIRA
Silenciosamente suspensas sobre o pátio do complexo quase-monástico do beguinário de Bruges, Bélgica, dou com uma – três – sete... dez casas nas árvores. Dez pequenas estruturas de madeira nas alturas, fruto da participação de Tadashi Kawamata na Trienal de Arquitectura e Arte Contemporânea daquela cidade flamenga, este ano. Enquanto discorro mentalmente do valor artístico desta obra, imagino-me ligeiro a trepar pelos troncos acima, adivinhando-lhe moradores e espreitando por entre frestas de ripas e de ramas. Vistas e visitas de pássaro em virilidades de carpinteiro, um sonho húmido de Mikado a emoldurar uma tarde serena em Bruges. Tadashi Kawamata não se revela, vai-se tacteando. As suas palavras são tímidas, quase modestas e o conjunto da obra deste artista japonês deixa perceber um operário em construção - Vinicius de Moraes concordaria, - em afã de permanente trabalho ao redor de uma peça aparentemente inacabada. Manuseia madeiras, lenhos anónimos, que vai encontrando e recolhendo aqui e além com a perspectiva de lhes «destacar o lado mais belo», diz, enquanto repesca materiais e trabalha com texturas e plasticidades, estabelecendo topografias cénicas. Casas de pássaro, casas nas árvores, casas no alto de prédios, casas em toda a parte. Estruturas parasíticas e postos de observação, guaritas e gáveas. Torres e túneis e ilhas e passagens, paisagens internas e cenografias externas modeladas pelo artista, um Noé dado a extravagâncias e com intervenções disseminadas um pouco por toda a Europa. Na primeira linha da arte contemporânea, ele inscreve-se sem se inscrever, é tão land art como site-specific, agarra-se ao sítio ou lugar de intervenção e desde o primeiro contacto «sabe como o tornar nobre e belo», seja land ou urbanscape. Uns toques
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de construtivismo soviético, não conscientes, e um arrulhar de interesses ao desconstrutivismo arquitectónico, curioso, pois o artista adicionou uma folie sua às folies de Tschumi no Parc de la Vilette, Paris. Cabrita Reis, Ângela Ferreira e Nuno Sousa Vieira partilham muito da sua visão, sobretudo no meu imaginário e no desprendimento com que trabalham o objecto urbano, uma fronteira que é esbatida entre a peça arquitectónica e o artefacto, entre o transponível e o intransponível, entre o exposto e o disposto. A expressão máxima disto tudo é a colecção de maquetas do artista, peças artísticas decerto, cada uma mostrando uma visão de pássaro sobre bairros da lata talvez fictícios, não tão belos em substância quanto o são na representação. Nada disto é alheio ao artista, que enumera as suas predilecções como sendo a arquitectura, o urbanismo, a história, a antropologia, a provocação – e a reacção. A ideia do nomadismo e de transitoriedade que um ninho de pássaro (ou uma casa de árvore) transmite ou a noção de construção precária e desesperada, serve para ilustrar uma arquitectura vernacular que responde à necessidade do abrigo como lugar primordial para habitar. Este pode – e deve – ser construído de palhinha em palhinha conduzidas pelo bico em voo ou juntando este tijolo, aquele resto de qualquer coisa. Estas ideias são a espinha dorsal da obra do artista, que as trabalha com um sentido de humor sofisticado, adivinho, como se percebe na sua «Destroyed Church» da documenta 8, de 1987, ou nas «suas» favelas de Houston e de Otava. Por agora, arrumam-se os tarecos da instalação na Triennale de Brugge e colocam-se em pousio as galerias onde expôs recentemente, em Knokke-Heist e na kamel mennour, que o representa, em Paris. Já se avizinha uma nova instalação no Centro Pompidou de Metz, França, para Fevereiro de 2016, a rematar que Tadashi Kawamata é um incansável obreiro.
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TEXTO HUGO FILIPE LOPES FOTOGRAFIA JOÃO MASCARENHAS STYLING JOÃO CARVALHO
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TEXTO HUGO FILIPE LOPES FOTOGRAFIA JOÃO MASCARENHAS STYLING JOÃO CARVALHO
Longe vão os tempos em que a maioria das tatuagens passeava por aí em braços de ex-combatentes do Ultramar, compostas maioritariamente pelo clássico “Angola/ Amor de Mãe.” Depois foi a fase em que os tatuados eram meliantes ou gandulos, ou como as velhas tanto gostavam de dizer, “os drogados”, até à altura em que, como aconteceu com tudo o que era nicho, o pessoal das tatuagens passou de alternativo a referência, pelo menos para quem não queria ser careta.Quatro décadas de democracia volvidas, as tatuagens tornaram-se algo tão corriqueiro como um corte de cabelo ou uma peça de roupa, e a questão agora é saber quem é mais indicado para tatuar o quê a quem. Por isso fomos falar com cinco dos tatuadores mais interessantes em terras lusitanas. É pôr a pele a jeito porque as agulhas já estão a postos.
1 - Como vieste parar ao mundo das tatuagens?2 - As tatuagens são uma arte?4 - Qual foi a primeira tatuagem que fizeste no teu corpo?5 - Tatuagem que mais gostaste de fazer a um cliente e porquê? E a mais estranha?7 - Temas preferidos para tatuar?8 - Porque é que alguém se tatua? Porque é um rebelde, um desalinhado como antigamente ou mudam-se os tempos mudam-se as vontades?9 - O que mais se passa na tua vida além das tatuagens?
Fazer da pele um diário
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Camisa BarbourCalças G-Star Raw
Casaco H&MVestido Nuno BaltazarÓculos Miu MiuClutch Luis OnofreTénnis Adidas
I N T O T H E W I L DFOTOGRAFIA CARLA PIRES
STYLING SÉRGIO ONZEMAKE UP E CABELOS MARIA ÍRIS SOBRAL
MODELO JAIMIE (BLAST MODELS)ASSISTENTES DE PRODUÇÃO ADRIANA RODRIGUES E JOANA MONTEIRO
Boné Tommy Hil¬figer Polo Fred Perry Casaco Cheap Monday Calças Element Meias e ténis Nike
Casaco Teresa AbrunhosaSaia David CatalánPochete H&MColares e Anéis Adriana Ribeiro Jewelry
A MODA E OS TONTOS
O País não quer saber de Moda. Acha fútil. Duas vezes por ano as câmaras de TV apontam para a ModaLisboa e Portugal Fashion e nesses dias enfoca-se o glamour, os VIP’s, as marcas, o streetstyle, “as pessoas esquisitas”, os que querem aparecer. Designers e colecções não passam de flashes no meio de tanto fait diver. E depois há aquele fenómeno de mostrar os tontos da moda. Sim, essas pessoas excêntricas, fúteis e inúteis, “legitimamente” expostas ao ridículo. Fazem-se entrevistas para apanhá-los em falso, afinal nem de moda sabem. Ninguém se questiona sobre esses entrevistados. Conseguir um convite para assistir a um desfile não faz dessas pessoas especialistas em moda, assim como ir ver um filme à Cinemateca não nos torna entendidos em cinema iraniano. O preconceito é patente e celebrado nesses dias. Seria mais importante conhecer e mostrar ao público em geral de que é feita a Moda em Portugal, incentivar o seu consumo, mostrar o talento que nela existe. Há centenas de pessoas de diferentes áreas, que vão do design, à fotografia, produção, maquilhagem, styling, comunicação, entre tantas outras. Pessoas que escolheram trabalhar numa área que é mal paga, com pouca expressão social e, só nos faltava mais esta, alvo de uma infantil chacota. Desde o seu início a DIF apoia a moda nacional e as pessoas que nela trabalham. Mostra o seu trabalho, a sua visão. Oferece-lhe as suas páginas, a capa, os artigos. A DIF gosta da moda nacional mesmo quando os holofotes se apagam.
MARTA GONZÁLEZ
10. ArteTiago AlexandreEntre o Boné e os Ténis Texto: Elsa Garcia
12. CulturaO veganismo que arda no infernoTexto: Hugo Filipe Lopes
14. ModaFeminino ou Masculino? MOW.Texto: Artur Araújo
16. ModaDrama Queen Texto: Dina Cereja
18. ModaBalmain x H&MTexto: Artur Araújo Fotografia: Ricardo SantosStyling: Joel Alves
22. ModaCARHARTT WIP Celebra 25 anos Texto: Tiago L. Pimenta
24. ModaLadies first desde 1916Texto: Rita Castro
26. Kukies
30. MúsicaDo piano mainstream à bazofia Main StreetTexto: João Moura
32. MúsicaAllen Halloween, testemunha no nevoeiroTexto: Francisco FerreiraFotografia: Herberto Smith
34. Still LifeAll Eyes on YouFotografia: António MedeirosSet Design: Marta González
38. ArteVistas de pássaro de Tadashi KawamataTexto: Rafael Vieira
40. ModaJusqu’ici tout va bienFotogra¬fia: Rui Palma Conceito e Styling: Twisted Soul
48. New Stars FactoryFazer da pele um diárioTexto: Hugo Filipe Lopes Fotografia: João MascarenhasStyling: João Carvalho
56. ModaInto the Wild Fotografia: Carla PiresStyling: Sérgio Onze
62. IlustraçãoDesenhar o Rock’n’RollTexto: Hugo Filipe Lopes
64. FotografiaSkate no Pé, Lente na MãoTexto: Elsa Garcia
67. MúsicaJameson Urban RoutesCurso de iniciação à música das cidades Texto: Ana Viotti
DIRECTORTrevenen Morris-Grantham
COORDENAÇÃO EDITORIALMarta González
DIRECTOR DE ARTERicardo Galésio
COLABORADORES DESTA EDIÇÃOAdriana Rodrigues, Ana Viotti, António Medeiros,
Artur Araújo, Carla Pires, Dina Cereja, Elsa Garcia, Francisco Ferreira,
Herberto Smith, Hugo Filipe Lopes, Joana Monteiro, João Carvalho,
João Mascarenhas, João Moura, Joel Alves, Lívia Oliveira, Maria Íris Sobral, Rafael Vieira,
Ricardo Santos, Rita Castro, Rui Palma, Sara Pinheiro, Sérgio Onze, Tiago L. Pimenta,
Tom Perdigão, Twisted Soul Productions
Capa Fotografia: Rui Palma
Conceito e Styling: Twisted Soul Make Up: Lívia Oliveira
Modelo: Cláudio Filipe Vieira Agradecimento especial ao SLASH
Creative Hair Studio
Casaco Fred Perry Corta-vento: CarharttGola Harley Davidson
PROPRIEDADE Publicards, Publicidade Lda.DISTRIBUIÇÃO Publicards [email protected]
REGISTO ERC 125233, NÚMERO DE DEPÓSITO LEGAL
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Por decisão editorial, cada artigo nesta DIF foi mantido na sua ortografia original.
La Femme
TEXTO ANA VIOTTI
JAMESON URBAN ROUTESCURSO DE INICIAÇÃO À MÚSICA DAS CIDADES
Lisboa, o enorme coração pulsante de Portugal, recebe entre as paredes e no palco do Musicbox, o Jameson Urban Routes 2015. De 22 a 24 e de 30 a 31 de Outubro, este é um festival para dançar e sentir as agitações citadinas, aprender a vibrar e viajar pelo mundo sem sequer sair da sala. Não é um festival preocupado com os hits da radio, mas sim os hits do ritmo e batida que funcionam como pulsação das cidades de onde estes artistas vêm ou visitaram.Olhe-se para o Jameson Urban Routes como um curso intensivo de cinco noites chamado “O que devias estar a ouvir agora, se ainda não estás a ouvir - Edição Música Urbana”. Até te dão a oportunidade de ires ao primeiro dia grátis, porque toda a gente merece um cheirinho de boa música, mesmo que não tenha uns trocos no bolso. Portanto cheguem cedo porque se não ficam à porta, já sabem! Ora, a DIF deixa aqui o livro de iniciação para não irem para as aulas sem os básicos memorizados:
A NÃO PERDER
O grande destaque do festival é óbvio e não há discussão sobre esta escolha: La Femme. Já são conhecidos como os surf rockers franceses, uma combinação improvável mas mais que possível. Finalmente a onda chega a Portugal e toda a gente quer apanhá-la. “Psychedelia, rockabilly, electro, and punk infused surf” é como descrevem o seu som, inspirado nas suas viagens e todas as influências que foram acumulando e desenvolvendo ao longo dos tempos.
A festa em português: As bandas portuguesas nunca são descuradas no cartaz do Jameson Urban Routes, mas também nunca
tiveram tanto peso, mais até que os nomes estrangeiros. Para além de irmos rever o português que mais nos faz dançar, o grande Xinobi, em formato Live Set, há mais para ver. Conhecemos o Nelson Silva dos Holy Nothing numa fila para comprar café, e embora o seu charme natural não tenha sido em vão, nós já éramos fãs da sua música há muito tempo, dançámos ao som de Cumbia o verão inteiro. Cave Story, mil vezes Cave Story. Post Punk psicadélico amoroso, que nos transporta para outras décadas e ao mesmo tempo soa tão actual.
Os estrangeiros não são só americanos: Quanto a estrangeiros, o primeiro que nos salta aos ouvidos é Pilooski. Este nome é o reflexo da música de dança dos últimos tempos, por haver um toque de Cédric Marszewski (o seu verdadeiro nome) nas dancefloors onde temos dançado, quer como compositor, DJ, produtor, engenheiro de som. Imperdível. Estivemos 6 anos à espera de Telepathe e finalmente chegaram! A dupla vem de Brooklyn com o seu pop e sintetizadores para nos hipnotizarem com Destroyer e muito mais. E para acabar em grande, não há como contornar RP Boo aka a pessoa que nos introduziu ao Footwork e nós nunca mais o esquecemos. How to do Chicago Footwork é o vídeo que toda a gente devia ver antes de ir para o Musicbox no dia 31 de Outubro.
Muitos mais nomes vão lá estar e não há nenhum que te vá fazer arrepender. O diploma deste curso é o enriquecimento da alma e quem sabe, uma inspiração para o teu dia-a-dia. Segue o palpitar da música e encontramo-nos por lá.
www.musicboxlisboa.com/jameson-urban-routes-2015
67 DIF MÚSICA
ÍNDICE
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