DOENCA PERIODONTAL EM "HAMSTERS" ("C, ,R I C E T U S

A U R A T U S") CAUSADA POR "STREPTOCOCCUS" ANFI-

BIONTE SINTETIZADOR DE DEXTRANA *

WILSON C. DE ARAUJO 1HARDY EBLING 2

MILTON DE UZEDA 3

PEDRO PABST 4

AALrERACAO periodontal em "hams-ters", caracterizada pelo apareci-mento de depOsito supra e sub-gen-

gival, migr.acao apical da aderencia epite-lial, erosao do cemento, presenca de bolsa ,alveoloclasia, mobilidade dos dentes, fo idescrita anteriormente por KEYES e LIKINs(1946), KING e GIMSON (1948) e MITCHELL,(1950) .

KEYES e JORDAN (1964) observaram que"hamsters", consumindo uma dieta corn ele-vada concentracao de sacarose, ,apresenta-vam alteracao periodontal progressiva ,quando tinham na flora normal (.anfibion-tes) certos microrganismos filamentosos ,aerobios, gram positivos, posteriorment e

classificados como Odontomyces viscosu s

(JORDAN e KEYES, 1964 ; HOWELL JR . e cols .

1965) .

A inoculacao destas bacterias filamen-tosas na cavidade oral de "hamsters" albi-nos, isentos de doenca periodontal, induziarapidamente o acilmulo de placa, formacaode b61sa periodontal e alveoloclasia. Estarelacao de causa e efeito ressaltou a impor-tancia do O . viscosus como agente etiolo -

* Trabalho realizado no LaboratOrio de Microbiolo-gia Oral com auxi :io do Conselho de Pesquisas da U .F.R. J

1. Pesqusiador Conferencista do C . N. Pq .

2. Professor Titular da Faculdade de Odontologia d a

U.F .R .G .S .

3. Bolsista do C . N. Pq . (Iniciaao Cientifica) .

4. Seruigo de Microbiologia e Imunologia da Faculda-

de de Ci@ncias Medicas da U .E .G .

gico primario da doenca periodontal des-ses roedores, nao se afastando a possibili-dade de outras bacterias participarem com oinvasores secundarios (JORDAN e KEYES ,1965) .

Como o Laboratdrio de MicrobiologiaOral vinha estudando Streptococcus cornpotential cariogenico (sintetizadores d eamilopectina e dextrana), urn extensoprograma experimental corn "hamsters" fo iiniciado corn o objetivo fundamental de ,oportunamente, poder emprega-los na ava-liacao da atividade cariogenica de estrep-tococos de origem humana, caracterizados ,principalmente, pela capacidade de forma tplaca dental in vitro em meio nutritivocontendo sacarose .

0 presente trabalho foi realizado corna finalidade de se conhecer a microbiot anormal de urn grupo de "hamsters" e a spossiveis alteracoes dessa flora, quando o sroedores consumi.am uma dieta corn saca-rose .

Animais de 20 a 22dial foram utiliza-dos na experimen-

tacao : quatro animais constituiram o grupocontrole, recebendo durante o periodo ex -perimental, uma dieta de biscoito compac-

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MATERIALE METODOS

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DOENcA PERIODONTAL EM " HAMSTERS " ( "CRICETU SAURATUS " ) CAUSADA POR " STREPTOCOCCUS " ANFI -BIONTE SINTETIZADOR DE DEXTRAN A

to, cenoura e macs ; trinta animais (quatroanimais por gaiola) foram submetidos adieta 2000, do National Institute of Denta lResearch (Bethesda, Maryland) contend o56% de sacarose . 0 periodo experimenta lteve a duracao de 90 dias . A dieta cario-genica era frequenteinente renovada nasgaiolas, porque, preparada como polvilho ,favorecia o desperdicio pelos roedores .

A colheita do material foi realizada cornuma pequena Inecha de algodao esteriliza-da, de tara conhecida, que era esfregad asobre as superficies dentais, sobre as pa-pilas gengivais e tambem sObre a lingua d ecada animal.

0 material foi homogeneizado em Sali-na fisiolegica esteril, observando-se a re-lacao 20mg/ml ; diluicoes decimais fora miinediatamente realizadas tambem em Sa-linas ate 10-6, inoculando-se aliquotas d e0,1 ml nos meios nutritivos .

Com a finalidade de determinar oniunero total de microrganismos viaveis ,aliquota de cada diluicao foi semeada emagar-sangue, incubando-se as placas emanaerobiose, em jarra tipo Brewer, corn95% de Nitrogenio e 5% de gas carbe-nico, durante 4 dias (GIBBONS e col ., 1963) .Para a determinacao do numero de Veillo-nella, o material foi inoculado em profun-didade no agar-lactado de . sedio-vancomi-cin.a (Rogosa e cols ., 1958), incubando-seas placas em anaerobiose durante 4 dias .0 numero de Lactobacillus foi determina-do, inoculando-se o material em profundi-dade no meio seletivo do Rogosa SL e in-cubando-se as placas em aerobiose durante4 dias (RoGOSA e cols ., 1951) . No isolamen-to de Streptococcus, 0,1 ml de cada diluica ofoi semeado na superficie do agar Mitis-Sa-livarius, contendo 5% de sacarose e teluri-to de potassio; as placas foram incubadas,durante 48 h, em microaerofilia, em jarratipo Brewer, na qual a mistura gasosa foiinsuflada apenas uma vez apes eliminaca odo ar (OLIVEIRA e ARAUJO, 1968) .

Analise bacteriolegica foi realizada e mquatro fases distintas : quando os animaistinhain 22 dias, e, ambos os grupos consu-miam a mesma .dieta compacta; apes 30dias e 60 dias de consumo das 'dietas pelosdois grupos de roedores ; apes 90 dias d econsumo da dieta 2000 pelo grupo experi-mental .

Finda a experiencia, os animais foramsacrificados por inalacao de titer . Apes de-capitacao e remoeao da pele, as seguinte setapas foram desenvolvidas imediatamen-te : 1 . exame das maxilas, corn auxilio demicroscepio estereoscepico (32X), para apesquisa de depesitos nao calcificados (pia -ca dental), as vezes revelados corn facili-dade, esfregando-se uma solucao de fucsi-na basica a 2% ; 2 . o maxilar superior e ahemi-mandibula esquerda foram colocado sem formol a 10% para pesquis .a de chile eposterior exame histopatologico ; 3 . a he-mi-mandibula direita foi fervida durante30 min ., para remoeao completa de tecid omole, e posterior analise da perda essea,da mobilidade dos dentes e da presenca d etartaro .

Para o exame histopatologico, o niate-rial foi desmineralizado pelo EDTA, se-gundo a tecnica descrita por ERAUSQUIN eMURUZABAL (1967), submetendo-se os corte sa coloracao pela Hematoxilina-Eosina eP .A .S . Para a evidenciacao das bacterias ,os cortes foram corados pelo metodo d eMAcCALLUM-Goodpasture (1960) . De cadabloco foram preparadas 25 laminas para"se conseguir uma terceira dimensao", evi-tando-se assim erros grosseiros tao bem de-inonstrados por STANLEY (1962) .

Resultados e Discussa o

A dieta corn 56% de sa -carose provocou o au -mento do numero d e

microrganismos viaveis, revelado pornumerosas colhnias existentes nas placasde agar-sangue, que foram semeadas cornaliquotas das diluieoes mais elevadas domaterial . 0 grupo contrble, consumindo adieta compacta, manteve o nAmero globalde microrganismos nas tees colheitas rea -

QUADROBACTERIOLO-GICO

lizadas (0, 30, e 60 dias), nao havend ojustificativa para se prolongar a observa-cao deste grupo (Graficol) .

7

MGrupo contra.Grupo experimental

0

30

60

90Dias /ransom da diefa

GRAFICO 1 — Determinacao do numero tote '. de microrga-nismos utuueis nos "hamsters" dos grupos experimental e

contr6le .

Os autores que anteriormente pro-curaram estudar a microbiota oral d e"hamsters", corn a finalidade de investigara influencia da dieta consumida, utili-zaram saliva que era em geral aspirad .a .apes imobilizacao do animal (ORLAND ,1946 ; HELMAN e MITCHELL, 1953 ; Gustaf-son e cols ., 1953 ; BoGOSA e col ., 1957) . Nopresente trabalho, a mecha de algoda oprocurou recolher os microrganismos de-positados nas superficies dentais, na mar -gem gengival e na superficie ,da lingu ados roedores, nichos que parecem expres-sar mais apropriadamente a flora anfi-bientica da cavidade oral .

Considerando, agora, - a variacao d ecertos generos microbianos, analisada cornauxilio de meios seletivos, algumas obser-vacees interessantes foram anotadas . 0numero de Streptococcus aumentou grada-tivamente ate 60 ,dias (Grafico 2) . Como,porem, o numero de Streptococcus no gru-po controle nao sofreu alteracao, depreen-de-se que a dieta 2000, corn 56% de saca-rose, estimulou a proliferacao dos estrepto -Cocos .

Por outro lado, no grupo experimenta lhouve certa diminuicao no numero de Lac-tobacillus, contrastando corn os animais dogrupo controle, nos quais aumentou o

Grupe cntr k. 96rupa experimental

0

30

6o

Dias /memo da dieta

GRAFICO 2 — Determinaca-o do numero total de Strepto-coccus nos "hamsters" dos grupos experimental e contr6le .

numero destes bastonetes gram positivo snas colheitas sucessivas, realizadas apes 3 0e 60 dias, em relacao a colheita initial(Grafico 3) .

4

6

Grupo contrdleGrupo experimenta l

0

30

60

90Dias / consumo da dieta

GRAFICO 3 — Determinaca- o do numero de Lactobacillu snos "hamsters" dos grupos experimental e contr6le .

Neste aspecto particular, os resultado sagora relatados discordam das observacoe srelatadas por GUSTAFSON e col . (1953) ; qua-tro grupos de "hamsters", consumindo die-tas corn 8%, 16%e 48% de sacarose, apre-sentaram aumento acentuado do numerode lactobacilos e estreptococos em relaca o

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N ampo cwdrote'Grupo experimental

30

60

Dias /consumo da dicta

GRAFICO 4 — Determinacao do rulmero de Veillonella no s10

"hamsters" dos grupos experimental e controle .

X

DOENCA PERIODONTAL EM " HAMSTERS " ( " CRICETU SAURATUS " ) CAUSADA POR " STREPTOCOCCUS" ANFI-BIONTE SINTETIZADOR DE DEXTRAN A

ao grupo controle, cuja dieta nao tinha sa-carose .

Os resultados do presente trabalho di-vergem tambem das observacoes de ROGOSAe cols . (1957) corn grupos de "hamsters"machos e femeas consumindo uma diet asem sacarose e outra contendo 15% de sa-carose . Os autores relataram que, indepen-dente do tipo da dieta empregada, havi aurn aumento significativo do numero d eestreptococos em relacao a primeira ana-lise bacteriologica, realizada cinco dias an-tes de desmamar os animais . No present etrabalho, a analice bacteriologica da pri-meira colheita mostrou que o numero d eStreptococcus correspondia ao de Lactoba-cillus nos dois grupos de roedores que, na-quele momento, consumiam a mesma diet asolida . Nas colheitas subsequentes, o mime-ro de Streptococcus manteve-se aproxi-madamente igual ao de Lactobacillus ape-nas no grupo de "hamsters" controle, poi sno grupo sob dieta corn sacarose a ocor-rencia de Streptococcus foi sempre supe-rior a de Lactobacillus . A divergenciaentre os resultados talvez possa ser expli-cada pela composicao e pela consistenciadas dietas empregadas .

A dieta corn 56% de sacarose deter-minou tambem o .aumento de Veillonellaque foi sempre mais abundante que Lac-tobacillus na cavidade oral dos roedore s(Grafico 4) .

Evidentemente, outros microrganis-mos podem ter aumentado de numero ,sob influencia da dieta 2000, e, junta-mente corn Streptococcus e Veillonella, de-terminaram o aumento significativo d onumero de microrganismos viave is mos-trado nas placas de agar sangue . Porexemplo, ROGOSA e cols. (1957), examinan-do esfregacos corados pelo Gram, corn afinalidade de descrever a distribuica oqualitativa dos varios tipos microbianosda saliva de roedores sob dieta cariogeni-ca, relataram que os estreptococos eramencontrados em "numero moderado" e"os microrganismos com aspecto de lacto-bacilo eram infrequentes", entretanto, a sbacterias fusiformes eram encontrada sfrequentemente e em grande numero, ha -via uma grande populacao de cocos gran-des, pleomorficos, leveduras, bacteroide se espiroquetas .

Em estudo subsequente sera interes-sante ampliar esta analise bacteriologica ,acrescentando outros meios nutritivos se-letivos que favorecam o isolamento e re-conhecimento de outros tipos microbianos,permitindo investigar com mais profundi-dade a influencia da dicta contendo saca-rose no desequilibrio da flora anfibionti-ca dos roedores .

Exame macroscdpic o

Os animais que consumiram a dictacom sacarose apresentaram placa dental,em geral disposta em torno dos dentes emuito inserida no sulco gengival, confor-Ine mostra a Figura 1 . Entretanto, algu •mas vezes, a placa recobria totalmente acoroa dos dentes, alem de penetrar pelosulco gengival .

A ocorrencia de lesao de cane na scoroas foi esporadica . Coin auxilio do Ini-croscopio e de uma sonda lisa foi consta-tado que em geral as coroas estavam in-tegr.as, sem a destruicao tipica da "cari eaguda" descrita por outros autores (KEYES ,1959, 1960, KEYES a FITZGERALD, 1962, 1963 ;FITZGERALD a KEYES, 1963) .

Os animais do grupo experimenta lapresentavam sinais de alteracao periodon-tal — retrpcao gengiv.al, destruicao ossea e

intensa mobilidade dos dentes . No primei-ro molar inferior, aparecia a "cane cer-vical" ou "lesao erosiva .da rail" discutidacom muita propriedade por KEYES e JORDAN(1964), cuja localiz.acao a talvez explicad apela anatomia da regiao que favorece oacumulo de placa dental (Figuras 2 e 3) .

Os animais do grupo controle naoacmnularam placa dental, quer sobre a scoroas quer no sulco gengival . Tambemnao haviam sinais de alteracao periodonta l(Figura 4) .

Exanle Microscopico —

0 aspecto histopatologico das altera-coes periondontais, corresponde, em linhasgerais, as descricoes lidas nos trabalhos d eCOSTICH (1955), KEYES (1946) e MITCHEL L(1948) .

Bolsas periodontais do tipo supra-osse oforam vistas com frequencia relativa ; asbolsas infra-osseas, contudo, nao foramvistas . Em certos dentes, a bolsa atingia oterco apical da raiz .

Paralelamente as alteracoes degenera-tivas associadas .ao processo inflamatoriodos tecidos periodontais, foi observada neo-formacao de fibras colagenas as quais sedispunham obedecendo, possivelmente, asadaptacoes funcionais do dente envolvido .Alem destas alteracoes, extensas areas d ehemorragia podiam ser notadas .

Outra ocorrencia de observacao comuln fo ia migracao apical da aderencia epitelial a olongo do cemento (Figuras 5, 6, 7 e 8) , con-forme ,descrcao anterior de KLINGSBERG eBUTCHER (1960) e RUSHTON (1951) . Envol-vimento da area interradicular corn exten-sa destruicao ossea associada a presenca deplaca dental (Figuras 5, 9 e 10) tambem fo inotado, corroborando observacoes realiza-das por Shklar e COHEN (1961) .

0 epitelio do sulco, nas bolsas, mostra-va destruicao parcial (ulceracao) corn in-filtracao de celulas inflamatorias cronica sno tecido conectivo subjacente (Figura 11) ;o fundo da bolsa evidenciava infiltrado ce-

lular inflamatorio predominante de linfoci-tos e plasmocitos e as fibras colagenas es-tavam em completo desarranjo (Figura 12) .Nos processos periodontais m.ais avancadosurn achado sempre presente era a reab-sorcao osteoclastica da crista alveolar eperda da disposiccao normal das fibrascresto-dentais (Figura 13) . No osso al-veolar interradicular, a reabsorcao osse amuitas vezes se dava mais intensamentenos espacos medulares ("undermining re -sorption" dos autores americanos) .

A lesao de cane tinha as caracteristi-cas comumente descritas para a especie hu-mana, corn os canaliculos da dentin acheios de micorganismos (Figuras 14 e15) . Em geral, havia dentina secundariae zonas de hemorragia na polpa . Em al -guns casos havia necrose total da polpa .

A dieta com sacarose (56%) possibi-litou a formacao de placa cujo componen-te microbiano, em alguns casos, determi-nou a destruicao de esmalte e dentina acusta de seu metabolismo . 0 potentia lcariogenico dentes microrganismos, no en-tanto, deve ser insuficiente para determi-nar o quadro de "cane aguda" (rampantcaries) relatado por outros autores . Porexemplo, FITZGERALD e KEYES (1960) ino-cularam em "hamsters" amostr.as de es-treptococos (isolados de lesao de cane deoutro roedor), e, apos 42 dias de consum oda dieta cariogenica, apareciam extensaslesoes de cane, ou as coroas estava mcompletamente destruid.as .

A ocorrencia esporadica de lesoes decane, apesar do consumo de dieta corn sa-carose, talvez seja explicada pelo aci mu-lo tambem ocasional da placa dental so-bre as coroas dos roedores .

Depositos calcificados (tartaro) naoforam observados, talvez porque a dietacorn sacarose nao tenha sido substituidapela dieta solida, apos a formacao de pla-ca dental . Segundo KEYES e JORDAN (1964) ,a formacao de tartaro parece exigir duasfaces principais — a formacao de um pre-

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cursor organico (a placa), constituido d ebacterias e, seguindo-se posteriormente, amineralizacao do depbsito .

Isolamento . e caracterizacdodo agente etioldgico —

Os trabalhos de JORDAN e KEYES e JoR-

DAN (1964) revelaram que a doenca perio-dontal em "hamsters" era causada por urnmicrorganismo filamentoso, aerobio, gra mpositivo, que apresentava em agar sangu ecolonias circulares, claras e viscosas . Pos-teriormente, o microrganismo foi classifi-cado corno Odontomyces viscosus p o rHOWELL JR., JORDAN, GEORG e PINE (1965) .

Varias vezes foi tentado o isolamentode O . viscosus nestes roedores do grupo ex-perimental : placa dental, colhida corn um acureta esterilizada, foi imediatamente ho-mogeneizada em salina fisiologica esteril ,seguindo-se a semeadura de aliquotas d evarias diluicoes do material na superficiede agar sangue ; apos 48 h de incubacao emaerobiose, a 37.°C, as colonias, cujo aspectomais se assemelhavanr as caracteristicas doOdontomyces foram repicadas para meiode tioglicolato . Nao foram isolados mi-crorgattistnos coin caracteristicas morfolo-gicas que sugerissem a ocorrencia de Odon-tomyces .

As condicoes de cultivo eram adequa-das no aspecto nutritivo e respiratorio par apermitir o isolamento de O . viscosus . En-tretanto, corno nao foi isolado dos roedores ,foi admitida a particip.acao de outro mi-crorganismo no mecanismo de formacao daplaca gengival e da consequente alteraca operiodontal observada nos "hamsters" qu econsumiam a dieta corn sacarose .

No exame bacteriologico, realizado pa-ra estudar as possiveis alteracoes da mi-crobiota oral, as placas de agar Mitis-Sali-varius apresentavam colonias de estrep-tococos, elevadas, rugosas, irregulares ecircundadas por abundante material muci -1 2 laginoso (Figura 16) .

O aspecto morfologico das colonias er abent semelhante aquele descrito para os es-treptococos sintetizadores de dextrana, corntividade cariogenioa para roedores (CARLS••

SON, 1965 ; DE STOPPELAAR e cols ., 1967 ;KRASSE, 1966) . Outras colonias eram ele-vadas, circulares, corn a superficie lisa ,bordas irregulares e apresentavam escass omaterial mucilaginoso . A caracterizacaobioquimica-sorologica destas amostras fo irealizada e sera discutida oportunament eem outro trab.alho * .

A maneira do exame bacteriologicorealizado has quatro etapas, procuramoscontar as colonias sem material mucilagi-noso e as colonias corn material mucilagi-noso . Os resultados sugerem que a diet acorn sacarose determiinou tambem o •au .mento dos estreptococos cujas colonias con-tinham certo material mucilaginoso, talvezexplicando a placa gengival observada no sroedores (Grafico 5) .

®colonias sem polissacaride ocolonias cam polissacarideo

0

30

60

90Dias /consumo da diet a

GRAFICO 5 — Determinacao do nlimero de Streptococcu ssintetizadores de dextrana nos "hamsters" dos gr_tpos ex-

perimental e contrdle .

Corn a finalidade de demonstrar a ca-pacidade destes nticrorganismos forma ren tplaca .a partir da sacarose, varias colonia scorn material mucilaginoso foram inocula-

./ das em caldo contendo 5% de sacarose, se-guindo-se a introducao de urn pequeno has-tao de vidro, com uma das extremidade s

* 0 trabalho [01 executado pelo Dr . Cesar Martins deOliveira, do Laboratdrio de Microbiologia Oral, e sem iutilizado corno Tese de Doutoramento .

7

1513

dobrada, a semelhanca de uma bengala(OLIVEIRA e ARAuao, 1968) . Cada 48 h . obastao foi transferido para outro caldo-sa-carose (5%), seguindo-se a incubacao a37°C em microaerofilia . Ao final da ter-ceira transferencia podia-se constatar a de-posicao abundante de material mucilagi-noso (Figura 17) .

A capacidade de formar plac.a "in vi-tro" esta relacionada corn a sintese de dex-trana, polissacarideo que adere a qualquersuperficie, como, por exemplo, uma secaode fio de aco inoxidavel, tubo capilar, den-te artificial ou natural extraido . Provavel-mente, a placa depositada no sulco gengi-val esta relacionada corn a acao destes es-treptococos s6bre a sacarose component eda dieta empregada .

Algumas amostras formadoras de pla-ca "in vitro" foram cultivadas em bala ocorn 5 litros do caldo-sacarose (5%) corna finalidade de estudar a natureza quimi-ca do material mucilaginoso, extraido da scelulas e do sobrenadante, apos 48 h . decultivo, seguindo-se a tecnica anterior-

s_mente descrita por GIBBONS e BANGHART(1967) .

0 material liofilizado foi hidrolizadocom acido sulfiirico 2N (2mg/ml), a 100°Cem ampolas seladas, durante 1 h ., 2 h. e3 h., seguindo-se a neutralizacao pelo car-bonato de bario . 0 hidrolizado foi anali-sado por cromatografia descendente, ern-pregando-se a mistura solvente de butanol-acido acetico-agua (40 :10 :22) e reveladasas manchas corn a solucao s.aturada de ni-trato prata-acetona-agua, hi'droxido de so-dio a 1% em etanol e soloed() de tiosulfa-to de sodio A. 2% . Apenas manchas de gli-cose foram encontradas no material hidro-lisado, sugerindo, entao, que o polissacari-deo era do tipo dextrana .

A natureza quimica do polissacaride ofoi tambem estudada pela tecnica da pre-cipitacao em gel (tecnica de Ouchterlony) :no orificio central foi colocado sSro anti-pneumococo tipo II (Difco) e, nos orifi-cios circundantes, concentracoes diferente sdo polissacarideo extraido (dissolvido emagua destilada) e, como controle, dextran aque fora extraida de um.a cultura de Leu-conostoc mesenteroides . Uma linha de pre-cipitacao continua apareceu antra o soro eos varios antig-enos, confirmando que o po-lissacarideo extraido dos estreptococos for-madores de placa e do tipo dextrana .

GIBBONS e cols . (1966) relataram queratos gnotobititicos, inoculados corn amos-tras de Streptococcus de origem humana(amostras GS5 e LM7), acumulavam plac adental e, posteriormente, apresentavam do -erica periodontal, caracterizada pela des-truicao do osso alveolar, principalmentenas areas onde havia tambem "carie d eraiz" . As amostras de estreptococos sinte-tizavam dextrana em meio contendo saca-rose, o que justificava sua capacidade deformar placa "in vitro" e "in vivo" .

Os resultados do presente trabalho de-monstraram que os "hamsters" apresenta-vam na flora normal estreptococos sinteti-zadores de dextrana, que aumentaram d eniimero corn a dieta de 56% de sacarose ,permitindo a formacao de placa dental e aalteracao periodontal descrita .

Assim, alem da acao patogenica d oOdontomyces viscosus sobre o periodontode "hamsters", descrita anteriormente po r'JORDAN a KEYES (1964), os resultados apre-sentados agora sugerem que Streptococcussintetizadores de ,dextrana tambem pode mser agente etiologico da alteracao perio-dontal nas condicoes de realizacao do pre-sente trabalho .

CARLSSON, J . 1965 . —

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"Hamsters" corn 20 a 22 dias foram submetidos a uma dietaRESUMO

corn 56% de sacarose (dieta 2000, do NIDR, Bethesda, Mary -land), enquanto o grupo controle consumiu uma dieta so-

Iida e sem sacarose . 0 periodo experimental durou 90 dias . Antes da admi-nistracao da dieta 2000, e apos 30, 60 e 90 dias de consumo, foi procedido ur nexame bacteriologico para investigar as possiveis rnodi f icacoes da microbio-to e a relacao corn as alteracoes de tecidos duros e moles .

A dieta corn sacarose favoreceu o ,aumento total de microrganismos via-veis, de Veillonella e de Streptococcus, principalmente de amostras que sinte-tizavam material mucilaginoso que se depositava em torno das colonias . Poroutro lado, o numero de Lactobacillus decresceu .

Os animais do grupo experimental apresentaram placa depositada sobre amargem e no sulco gengival, provocan do, gradativamente, retracao gengival ,formacao de bSlsa, destruicao ossea e mobilidade dos denies .

A ocorrencia da carie foi esporadica, talvez porque apenas alguns animais

apresentaram placa depositada sobre as coroas .

Odontomyces viscosus nao foi isolado da placa relacionada corn o quadro

periodontal . Entretanto, as amostras de Streptococcus isoladas, cujas coloniasno agar Mitis-Salivarius (5% sacarose) estavam circundadas por material mu-cilaginoso, formavam placa "in vitro" no super f icie lisa de urn bast -do de vi-dro, em meio liquido contendo 5% de sacarose . Esta propriedade pode ex-plicar a capacidade do microrganismo f orrnar placa "in vivo" nos roedores qu econsumirarn dieta corn sacarose (dieta 2000) e que consequentemente, apre-sentaram o quadro periodontal descrito acima .

Pela capacidade do material mucilaginoso reagir corn o soro anti-pneumo-coco tipo II e pelo resultado da cromatogra f is do hidrolisado, o material fo icaracterizado como dextrana .

Twenty to twenty two-day-old golden hamsters fed diet 200 0SUMMARY

(N1DR, Bethesda, Maryland) with 56% sucrose, during th eexperimental period (90 days) .

A group of control animals fed a solid diet without sucrose .

Routinely, before receiving the sucrose diet and after they had been o ndiet (30, 60 and 90 days) the oral cavity of all the animals was swabbed to ve-rify any modification of the microbiota and its relation to odontopathic se-quelae observed for hard and soft tissues .

ABO/GB - REVISTA BRASILEIRA DE ODONTOLOGIA 5ANO XXVII - N . 0 161 - JAN ./FEV ., 1970 - RIO - GB 1

DOENCcA PERIODONTAL EM " HAMSTERS " ( " CRICETUSAURATUS " ) CAUSADA POR "STREPTOCOCCUS " ANFI-BIONTE SINTETIZADOR DE DEXTRAN A

Sucrose diet increased the number of total viable microorganisms, Veillo-nella and Streptococcus with extracellular "capsular" material .

On the other hand, the number of Lactobacillus decreased in these ani-mals .

Animals under sucrose diet exhibited large plaque deposits around gingi-val margin and extending into developing periodontal pocket . All animalsdeveloped localized areas of alveolar bone resorption and root caries in lower

first molar which contained masses of bacterial plaque .

Dental caries was in frequently although certain animals exhibited bacteria lplaque covering the crowns .

Odontomyces viscosus was not isolated from the gingival plaque . But, ahigh number of dextran-forming Streptococcus was frequently isolated fromthe bacterial plaque accumulated around the gingival margin and into thepocket .

AGRADECIMENTOS

ao DR . ROBERT J . FITZGERALD, do National Institute of Dental Research (Bethesda,

Maryland) a gentileza de fornecer a dieta cartogenica .

ao SR . JOSE ANTONIO PIDES FERREIRA da Documentacao DidAtica do Instituto de

Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pela confecgao dos graficos a do

material fotografico apresentados .

ao DR. JOSE CARLOS BORGES, TELLES, Professor - Assistente de Patologia da Facul-

dade de Odontologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, as initmeras sugestOes apre-

sentadas durante a preparacSo do manuscrito .

16

ABO/GB — REVISTA BRASILEIRA DE ODONTOLOGIA 1 7ANO XXVII - N .° 161 - JAN ./FEV ., 1970 - RIO - Gl3

FIG . 2 -- Mondibula descarnad de um animal d o

//rupo experimental apresentando e .r(ensa destrui ;riodo nano alveolar e "came do raiz" (Hamster 111.2) .

FIG .

— Aninio eontroie, que eonsumiu die/ a

commie/a, nao apresenta altera(ao periodontal .

11G . 3 — 31e .smo aspeclo ob .seruado no animal 111 6

que c nsumiu (1 diets )).our 56% de sacarose .

5 — Boisas perlodonlais .supra-asseas em

animal do grnpo experimental : deslruicdo do ePi-

leli.o, inigracao da aderencia epilelial e des/rui(u n

do osso alveolar do espago inlerradicular .

1%' :y 1 — Placa dental de-aositada no star() yenyiva l

animal sob diela corn

56% de sacarose

18

DOENCA PERIODONTAL EM " HAMSTERS " ( " CRICETU S

AURATUS " ) CAUSADA POR "STREPTOCOCCUS " ANEI-

BIONTE SINTETIZADOR DE DEXTRAN A

FIG . G — Bolsas periodontais supra-osseas em ani -

mal do grupo experimental : A placa dental ocup a

o espaeo entre .o epitelio da bdlsa e o dente .

Fig 7 -- BO sa periodontal avaneada coi n

forznacao de placa dental ocupando o es-paeo entre o epitelio do sulco e o dente .

Fig . 8 — A destruigfio do epitelio pelaplaca dental que jet estabeleceu contato

corn ,o corio ;

direita, observa-se hiper-

plasia localizada de cemento

FIG . 1) — Aumenlo maior d,o osso alveolar do espae ointerradicutar, vislo na fig . 5, mostrando inlensaalividade osteocidstica envolvendo principalment eos espaeos medalares ("undermining resorption") .

ABO/GB — REVISTA BRASILEIRA DE ODONTOLOGIAANO XXVII - N .° 161 - JAN,/FEV., 1970 - RIO - 13

9

FIG . 10 — Doenga periodontal anancada coin en-ooluimento do e .spaco inlerradicular e foruiacoo d e

bolsa nesta area .FiG . 11 — Bpi/Clio do sale() mostrando deslrui{s opartial e inflamaciio cronica no cdrio, mUna bols aperiodontal supra-ossea de gr aancle pro;canuidade .

FIG . 12 — Aliment() nyaior de anal tired do teeid o

eonjuulioo sabepitdlia1 de ulna bdisa, corn infiitra-coo de chubs infiamatorias e desorganizasao d e

fibras oolagenas .

FIG . 1 .1 — ( :ris/a de ossa alveolar eorre .epondenle ab81sa periodontal Cl) ident ian do a presenla de as -

leoelasta .s eat (aim rcabsor0o .

DOENCA PERIODONTAL EM HAMSTERS " ( " CRICETU SAURATUS " ) CAUSADA POR " STREPTOCOCCUS " ANFI-BIONTE SINTETIZADOR DE DEXTRANA

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1'IG . Iii — Came de denting errzden-

eiando-se a eXistencia de deslraicn ode canalienlo .s alguns dos quaffs esdu o

diialados .

FIG . Iii — 1sperlo carueleri,slico das colonial dee .slreploeocos : a nzalerial znucila1linoso enoolue a

eol0nia escura .

Fib . 15 — Boelerias inf'i /rondo os cannli-

('ulas' denlintirios .

BIG . 17 -- Faruurli:o de Mora i neiiro : nialerial niaeiivalinoso de-

posiiado sabre ulna :mperfieie Ns :

em mein liquid() com b% de saca-ro .se inoca :ado cam eslreplococo .s .