Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 7 a 10 de junho de 2016
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ENTRE O DIÁRIO DE EXÍLIO E OS FILMES-DIÁRIO: UMA ANÁLISE SOBRE A
REMEMORAÇÃO NA OBRA DE JONAS MEKAS 1
BETWEEN THE EXILE DIARY AND DIARY-FILMS - AN ANALYSIS ABOUT THE
REMEMORATION IN THE WORK OF JONAS MEKAS
Rafael Rosinato Valles 2
Resumo: Neste trabalho pretendemos refletir sobre como a construção do
processo de rememoração se opera no diário de exílio e nos filmes-diário do
cineasta Jonas Mekas. Como objeto de estudo, será analisado o filme-diário
Reminiscences of a Journey to Lithuania, por entender que esta obra
sintetiza a importância da memória nas escolhas narrativas do cineasta.
Palavras-Chave: Cinema. Filme-diário. Memória.
Abstract: In this work we intend to reflect on how the construction of the
rememoration operates in exile diary and diary-films of the filmmaker Jonas
Mekas. As an object of study will analyze the film diary Reminiscences of a
Journey to Lithuania, understanding that this work summarizes the
importance of memory in the narratives choices of the filmmaker.
Keywords: Cinema. Film-diary. Memory.
1. Introdução
Jonas Mekas é um cineasta e escritor que encontrou no processo de rememoração das
suas vivências, uma forma de encontrar a sua própria busca poética. Diante da sua
experiência como prisioneiro nos campos de concentração na Alemanha (1944-45), assumiu
a decisão de relatar a sua rotina de trabalhos forçados num diário de exílio. Ao final da
Segunda Guerra Mundial, seguiu relatando seu dia a dia nos campos de refugiados (1945-
1949), até migrar para os Estados Unidos, anos depois.
1 Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Memória nas Mídias, do XXV Encontro Anual da Compós, na
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, de 7 a 10 de junho de 2016. 2 Doutorando do Programa De Pós-Graduação Em Comunicação Social (PPGCOM), da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Email: [email protected]
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Ao encontrar o cinema, Mekas também encontrou um novo suporte para potencializar
a sua escrita em formato diário e o seu trabalho de rememoração. Envolto em arquivos
fílmicos e recordações distantes da sua terra natal (Lituânia), Mekas construiu um obra onde
a memória assumiu um papel fundamental não somente para entender a construção do seu
olhar e as suas buscas estéticas e narrativas, mas também para conhecer ao autor por detrás
desta trajetória artística. Passados quase cinquenta anos do seu primeiro filme-diário Walden
(1969), Jonas Mekas trouxe ao cinema uma outra perspectiva para se pensar a posição do
autor neste processo de construção de uma rememoração, assim como o uso dos registros no
formato diário como a construção de lugar de memória.
2. A construção da memória na escrita em formato diário
No ano de 1936, Walter Benjamin escreveu o seu referencial artigo O narrador –
Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov, onde buscava analisar a posição do narrador,
a arte de narrar e o seu risco de extinção naquele contexto. Neste período pré-Segunda Guerra
Mundial, Benjamin comenta neste artigo que “são cada vez mais raras as pessoas que sabem
narrar devidamente” (BENJAMIN, 1994, p.197), que conseguem transmitir experiências
vivenciadas pessoalmente ou de histórias que deveriam ser contadas. Para este declínio da
arte de narrar, Benjamin aponta um fator determinante:
Com a Guerra Mundial tornou-se manifesto um processo que continua até
hoje. No final da guerra, observou-se que os combatentes voltavam mudos
do campo de batalha não mais ricos, e sim mais pobres em experiência
comunicável. E o que se difundiu dez anos depois, na enxurrada de livros
sobre a guerra, nada tinha em comum com uma experiência transmitida de
boca em boca. (BENJAMIN, 1994, p.198)
Mas o que Benjamin não teria tempo para reconhecer – uma vez que ao fugir dos
oficiais nazistas alemães, suicidou-se em 1940 na fronteira entre a França e a Espanha – é que
outros tipos de narrativas conseguiram emergir dos campos de concentração e dos escombros
da Segunda Guerra Mundial. Livros como O diário de Anne Frank, de Anne Frank e Isto é
um homem, de Primo Levi3, trouxeram a tona uma literatura que ao invés de ser silenciada
pela guerra, se afirmou em decorrência dela. É diante deste contexto que a escrita em formato
3 Ambos livros forma publicados em 1947, no mesmo período em que Mekas já escrevia o seu diário de exílio,
mas que somente foi publicado em livro no ano de 1990.
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de diário se colocaram não somente como testemunho de guerra, mas enquanto uma
construção memorialística desta guerra. A partir de relatos breves e fragmentados, feitos em
primeira pessoa e escritos em plena guerra, estes diários revelaram uma forma distinta para se
entender a guerra. Desde uma ótica mais íntima e com um sentido de cotidianidade muito
presente nas suas narrativas, além de não ter o mesmo compromisso em afirmar a sua
condição de relato histórico, como o fizeram os livros de história, o diário procurava assim
embaralhar não somente a relação entre história e memória, mas entre autor e narrador.
Mesmo já tendo uma longa história de existência, se levarmos em conta, por exemplo,
os diários que Samuel Pepys4 (1660-1669) escreveu ainda no século XVII, o diário ainda é
considerado dentro do âmbito literário como uma literatura menor, se comparada a gêneros
maiores, como é o caso de romances, novelas, poemas ou até mesmo contos. Isto se deve
muito ao fato do diário não possuir a priori um rigor narrativo e estilístico que as demais
formas literárias buscam, uma vez que é possível escrever um diário sem ter maiores
ambições literárias. Uma pessoa, por exemplo, pode desenvolver este tipo de escrita tanto
para relatar os produtos que vende diariamente no seu armazém, como para descrever os
dramas vividos no front de uma guerra, como é o caso de Mekas.
Mas é diante desta constatação, que os seus questionamentos se iniciam. “Pode-se
considerar um diário uma obra, no sentido de um trabalho acabado? Qual o local do diário na
literatura? Qual a sua esfera: a privada ou a pública?” (SELIGMANN-SILVA, 2012, p.268)
A partir de questionamentos como estes, o diário ainda segue buscando demarcar o seu
território dentro do âmbito da comunicação e da literatura.
Nesta escrita efêmera, o que se pode afirmar é que não necessariamente está em jogo
um refinamento estilístico, mas sobretudo um relato que consiga transparecer a urgência do
momento vivido pelo autor empírico. Ao invés das estruturas narrativas de início, meio e fim
ou de maiores experimentações na focalização do narrador, um diário deve estar aberto as
circunstâncias que se apresentam ou que são geradas através do contexto histórico no qual o
autor se insere. Frente a uma forma de escrita onde as normas não são bem vindas, a única
regra pré-estabelecida para um diário deve ser o respeito pelo calendário, registrando a data
4 Para maiores informações sobre Samuel Pepys:
http://www.pepys.info/
https://en.wikipedia.org/wiki/Samuel_Pepys
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em que a nota foi escrita. Ao estabelecer esta demarcação, o diário se encontra intimamente
ligado ao tempo e a construção de uma memória.
O interesse do diário é sua insignificância. Essa é sua inclinação, sua lei.
Escrever cada dia, sob a garantia desse dia e para lembrá-lo a si mesmo, é
uma maneira cômoda de escapar ao silêncio, como ao que há de extremo na
fala. Cada dia nos diz alguma coisa. Cada dia anotado é um dia preservado.
Dupla e vantajosa operação. Assim, vivemos duas vezes. Assim, protegemo-
nos do esquecimento e do desespero de não ter nada a dizer. (BLANCHOT,
2005, p.273)
É importante observar que o diário enquanto construção narrativa, carrega pelo menos
três paradoxos: ao mesmo tempo que pode ser uma escrita insignificante e ligeira, sem
procurar maiores transcendências literárias ou filosóficas, ela inevitavelmente se torna um ato
de reflexão sobre o autor e o seu próprio processo de escrita. Por que escrever sobre as nossas
vidas com uma dedicação cotidiana? O que motiva uma pessoa a escrever um diário? Por
detrás de uma escrita fácil, existe no diário um desejo de redescobrimentos, em não ser
indiferente as pequenas vivências cotidianas. “O diário está ligado à estranha convicção de
que podemos nos observar e que devemos nos conhecer” (BLANCHOT, 2005, p.275). Ao
assumir este compromisso, se constroem narrativas, se reelaboram situações que vão muito
além do que um mero relatório de atividades realizadas. Por detrás desta insignificância, se
constrói também um narrador que traz um distanciamento para o autor pensar o seu próprio
caminho pessoal.
É neste sentido que casos como o diário de exílio de Jonas Mekas operam um
processo de reflexão e autodescobrimento através dos textos escritos. É o caso, por exemplo,
do que ele escreve no dia 21 de julho de 1944, quando relata que ele e o seu irmão foram
interceptados por oficiais alemães e levados para os campos de concentração em Elmshorn,
subúrbio de Hamburgo. “Adeus, Viena! Ao menos por agora. Que ingênuos que fomos!
Ainda depois de todos estes anos de guerra não chegamos a entender que ISTO É A
GUERRA REAL!” (MEKAS, 2008, p.51, tradução nossa).
Sua forma breve e por momentos restrita a uma função descritiva, acabam sendo
mescladas com afetos e subjetividades que Mekas carrega consigo mesmo e procura transpor
através da escrita. “O diário possui uma respiração, um ritmo, que expressa e aponta para a
situação anímica e corpórea de seu autor” (SELIGMANN-SILVA, 2012, p.264), tornando
assim os textos escritos no seu mais fiel confidente das angústias, questionamentos e
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fraquezas que assolam o seu dia a dia. Suas notas procuram preencher não somente um
sentimento de solidão, mas também buscam encontrar formas para lidar com a perda, com
um passado que já não pode ser mais alcançado, como afirma Mekas em uma nota escrita no
dia 29 de janeiro de 1948:
É tão difícil escrever...
Se supõe que a literatura é a palavra que adota uma forma clara. Mas o
único que posso fazer é gritar, e esse grito é tão pesado, está tão cheio de
nostalgia e fúria... Ai, esta vida verde e crua... E nem sequer a vida inteira,
somente este dia e um fragmento de vida nas barracas, não literatura. Falta
coragem, as esperanças se derrubam, se fazem pedaços. Posso sentir seu
colapso nos rostos que estão ao meu redor. Todos caminhamos com uma
nostalgia intensa e imensa no nosso interior, temerosos por nossos irmãos lá
em casa... (MEKAS, 2008, p.164, tradução nossa)
Como afirma Blanchot, “escrevemos para salvar os dias, mas confiamos sua salvação
à escrita, que altera o dia” (BLANCHOT, 2005, p.275). O diário possui o dom de tornar algo
supostamente insignificante em algo significante, transcendente. Ao estar intimamente ligada
a uma construção subjetiva, o diário procura trazer um novo sentido as pequenas histórias
vivenciadas pelo seu autor.
Da mesma forma, também é possível afirmar que o diário possui um segundo
paradoxo no seu entendimento. Ao mesmo tempo em que esta forma de escrita privilegia o
momento presente, também é responsável por construir um lugar de memória. Como afirma
Raúl Castagnino, no livro Tiempo y expresión literária:
Há impossibilidade física e metafísica de narrar algo simultaneamente
enquanto ocorre, no seu instante de atualidade real. Toda narração, por mais
imediatez que alcance com o presente (enquanto tempo de ocorrer o fato
narrado), sempre será sua evocação, ou seja, sua memória, sua recuperação
do passado. (CASTAGNINO, 1987, p.50, tradução nossa)
No entanto, mesmo sendo uma evocação do que já passou, elaborada muitas vezes
com verbos conjugados no passado, em situações previamente vividas, o seu conteúdo revela
um frescor de algo recém acontecido, a sua narração expressa uma urgência que não espera
semanas, meses ou anos para ser escrita no papel. O intervalo entre o vivido pelo autor e o
contado através do narrador se torna muito tênue.
É o que ocorre, por exemplo, quando no dia 29 de abril de 1945, Mekas afirma que
“esta manhã a terra estava branca pela neve. Cai granizo, tem água em todas as partes. O frio
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e a humidade atravessam os furos das minhas calças velhas. (...) Tenho os pés congelados”
(MEKAS, 2008, p.87, tradução nossa). A conjugação de verbos no passado e no presente se
misturam nesta mesma nota, o narrado participa ativamente no processo de vivencial do
autor. Suas notas são como retratos fotográficos que procuram captar a fugacidade do
momento, não deixando escapar as particularidades do instante. A visualidade que seus
relatos assumem, a riqueza dos detalhes descritos está intimamente ligada a proximidade e a
urgência que Mekas busca em não deixar desvanecer esses momentos diante da passagem do
tempo.
É inegável que podemos identificar no diário algo como as marcas e traços
do presente de sua escritura. O diário produz páginas que se embaralham
com a vida de seu auto-protagonista. Nele somos tocados pelo ar que este
personagem respirava. Tendemos a ver nele um testemunho, ou seja, um
índice, metonímia, e não uma metáfora, que é tradução imagética e mais
distanciada dos fatos arrolados. (...) Vemos o diário como parte do evento
narrado, e não como observação de segunda ordem – por mais equivocada
que esta percepção possa ser. (SELIGMANN-SILVA, 2012, p.264)
É justamente por este efeito de presente, que a leitura dos diários de Mekas possui um
frescor tão intenso, se torna uma experiência de imersão no dia a dia de um prisioneiro da
Segunda Guerra Mundial. Mekas consegue transmitir em palavras, o suspiro de cansaço que
o assola diariamente, o temor pelas bombas que atravessam os campos, a irritação por um
contexto que lhe foi imposto. Como afirma Emilio Bernini no prefácio da versão argentina de
I had nowhere to go (Ningún lugar adonde ir, 2008), “Mekas escreve seu diário como se não
houvesse uma distância temporal, (...) produz um efeito pelo qual a escritura do presente se
torna o próprio presente” (MEKAS, 2008, p.21, tradução nossa).
O seu diário nos faz, enquanto leitores, estarmos “com” o narrador autodiegético. “É
“com” ele que vemos os outros protagonistas, é “com” ele que vivemos os acontecimentos
narrados” (POUILLON, 1974, p. 54). Sem a existência de um narrador onisciente, o diário
faz da sua leitura um processo constante de estar a deriva, de não saber o que poderá
acontecer no relato seguinte. O diário é uma escrita que se encontra sempre pendente das
vivências do seu autor empírico, de fatores exteriores ou gerados por ele, mas que ao final
acabam determinando o que e como será narrado. Uma escrita diarística se constrói através
de um processo de fluxo contínuo que privilegia esta proximidade entre o momento vivido e
o narrado.
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Justamente por esta impossibilidade de adiantar o que ocorrerá no dia seguinte, diários
como o de Mekas assumem projeções de futuro que atestam ainda mais este efeito de uma
escrita do presente. Frente a iminência da Alemanha ser derrotada na guerra, Mekas aos
poucos começou a evidenciar nas suas notas alguns esboços de ideias do que pretendia fazer
diante de tal circunstância. No dia 9 de maio de 1945, um dia depois de se inteirarem que
Alemanha havia se rendido ante os britânicos e americanos - embora ainda não tivesse se
rendido diante da União Soviética, como relata Mekas -, e mesmo tendo que seguir com os
trabalhos forçados no campo de concentração, Mekas já começava a se inserir numa nova
esfera. “Trabalhamos e temos a cabeça cheia de planos. Não pensamos na beleza da
primavera. Estamos pensando em como fazer para chegar a Inglaterra através de Husum
(MEKAS, 2008, p.88, tradução nossa).
Entre este jogo de temporalidades, Mekas também construía no seu diário, o seu
próprio lugar de memória. Ao assumir a escolha de registrar estes momentos vividos, suas
notas são responsáveis pela elaboração de uma memória e de uma busca, sendo ela
intencional ou não, de conservar estas vivências. Como a uma fotografia que embalsama
(BAZIN, 1991) o tempo, a escrita de Mekas também embalsamou as imagens construidas
através das suas palavras, embalsamou os seus sentimentos e afetos contidos naquele
instante.
O diário de Mekas se insere assim num entendimento da escrita não somente como
um meio, mas também como um suporte para a construção da memória. Conhecer os seus
relatos de exílio é uma possibilidade para descobrir com maior precisão e detalhes, as
vivências que a própria memória subjetiva do autor vai esquecendo com a passagem do
tempo. Por ser seletiva e frente a impossibilidade de recordar tudo - ou algo sequer próximo
disso -, a memória necessita recorrer aos seus suportes para assim recordar situações
supostamente esquecidas. É neste contexto mais amplo de relação com a memória que a
escrita assume um grande protagonismo.
No entanto, é importante observar que ao mesmo tempo em que o diário retém estes
relatos enquanto um lugar de memória e que a escrita se torna um dispositivo confiável
enquanto perpetuação do que foi escrito, também acaba estabelecendo um último paradoxo.
Na sua escrita tão íntima, com um caráter profundamente pessoal e confidente, o personagem
narrado se distancia do seu autor empírico. Na mesma medida em que este diário de exílio
embalsama as suas vivências como prisioneiro de guerra, a passagem do tempo e as
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transformações na vida do autor Jonas Mekas o fazem inevitavelmente assumir um
distanciamento sobre estes relatos.
Tendo-se em conta que o homem é um incessante quehacer (ORTEGA Y GASSET,
1970), um ser histórico que se encontra em constante movimento na construção da sua
própria trajetória, o reencontro com aquele autor que um dia escreveu estas notas, termina
provocando um grande efeito de estranhamento. Não por acaso, no prefácio do livro Ningún
lugar adonde ir, Mekas comenta as impressões iniciais que lhe trouxeram este processo de
reencontro com os textos que havia escrito quarenta anos atrás.
Ao reler estes diários já não sei si se trata de verdade ou ficção. Tudo
retorna com a nitidez de um sonho ruim que te faz saltar da cama; leio isto,
não como minha própria vida, mas como a vida de outro, como se o
sofrimento nunca tivesse sido meu. Como poderia haver sobrevivido? Devo
estar lendo sobre a vida de outro. (MEKAS, 2008, p.47, tradução nossa)
Neste trabalho de rememoração, o diário de exílio revela a um Mekas em 1945 que
não é o mesmo Mekas de 1985, ano em que escreveu este texto reflexivo. Existe não somente
um distanciamento temporal e subjetivo entre aquele prisioneiro de guerra e o homem que
reconstruiu sua vida nos Estados Unidos, mas também um distanciamento na ordem do
campo discursivo. Se deparar com os rastros e as lacunas do seu próprio eu revela um
profundo exercício de subjetividade, de desdobramentos na busca por entender como se
constrói a própria auto representação. Por detrás do sentido confessional do diário, também
existe o seu caráter performático que se amplifica através da construção discursiva.
Não se trata apenas do fato de que o autor do diário elege o que vai
inscrever do real que o cerca. A electio (seleção) retórica é parte de todo o
discurso. O autor cria um universo íntimo e a realidade que o envolve
conforme sua capacidade de transpor e saltar entre imagens e palavras,
palavras e imagens. Tradução, como o próprio Benjamin observou em um
texto famoso, é uma forma: não é mera mimesis, imitação, cópia em outra
língua. (SELIGMANN-SILVA, 2012, p.265)
É justamente nestes fatores de distanciamentos temporais contidos no seu ato de
rememoração, neste jogo de duplicidades quanto a construção do eu no seu discurso, que se
tornaram fatores determinantes para entender o processo de construção da sua obra
cinematográfica. Mekas através do seu diário de exílio não se tornou somente um relator dos
acontecimentos de guerra, mas também construiu a um narrador que permaneceu conservado
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no seu diário, frente a um Mekas autor empírico que seguiu sua trajetória de vida até os dias
atuais. É graças a este encontro com o que foi e com o que está sendo, que Mekas encontrará
uma chave essencial na sua própria obra cinematográfica.
3. O filme-diário e o processo de rememoração
3.1 - O diário em filme
Refletir sobre o que se trata o filme-diário ainda é um campo muito pouco explorado
nos estudos dentro do âmbito cinematográfico. Geralmente relegado a ser uma subárea do
que se entende como cinema documentário ou relatos autobiográficos, as reflexões sobre o
que caracteriza um filme-diário geralmente surgem quando se busca refletir sobre a obra de
Jonas Mekas ou David Perlov5, cineastas referentes dentro deste tipo de produção.
Um autor que procurou se aprofundar nesta relação entre cinema e o diário pessoal na
obra de Mekas foi o americano David E. James. Responsável por escrever livros como
Allegories of cinema – American Film in the Sixties, além de ter sido o editor do livro To free
the Cinema – Jonas Mekas & The New York Underground, James procurou estabelecer uma
divisão entre o que ele define como diário em filme e o filme-diário.
O diário em filme inaugurou funções para o aparato que recusaram radicalmente
tanto o uso industrial quanto o de vanguarda, com as extravagâncias, deficiências e
contradições do novo (não) gênero desafiando as normas hegemônicas do suporte
numa nova prática privada do cinema que integrou à práxis da vida. O filme-diário
devolveu tal prática privada a um contexto público e à produção de um produto,
uma obra de arte esteticamente autônoma. (JAMES, 2013, p.168)
O que James pretende identificar neste artigo intitulado Diário em filme/ Filme-diário:
prática e produto em Walden, de Jonas Mekas é que o diário em filme pode ser definido
basicamente como o registro no qual Mekas ou qualquer outra pessoa possa realizar de forma
periódica sobre as suas vivências cotidianas. O diário em filme se constitui pelo registro
audiovisual de fragmentos da vida cotidiana do autor e que revelam uma prática de fluxo
contínuo, sem o propósito de estabelecer início, meio e fim. Como uma obra aberta que não
procura se restringir a regras, o único fator que delimita o que se pode chamar como diário
5 Para maiores informações sobre o realizador brasileiro David Perlov, acessar o site:
http://davidperlov.com/index.html
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(seja ele literário ou audiovisual), é a identificação da data em que foi realizado, como afirma
Maurice Blanchot.
O diário íntimo, que parece tão livre da forma, tão dócil aos movimentos da vida e
capaz de todas as liberdades, já que pensamentos, sonhos, ficções, comentários de si
mesmo, acontecimentos importantes, insignificantes, tudo lhe convém, na ordem e
na desordem que se quiser, é submetido a uma cláusula aparentemente leve, mas
perigosa: deve respeitar o calendário. Esse é o pacto que ele assina. (BLANCHOT,
2005, p.270)
Sem a necessidade de um encadeamento de imagens ou de uma elaboração narrativa,
o diário em filme privilegia assim a fugacidade do instante, da relação do realizador com o
seu entorno, interagindo com o que está acontecendo naquele exato momento em que está
sendo registrado. É partindo deste princípio que Mekas começa a transpor a sua busca
anterior do diário escrito para a sua experiência cinematográfica. Estava em jogo a
espontaneidade, a improvisação, a libertação de convenções que aprisionavam a sua escrita
fílmica. Para Mekas, o uso da câmera tinha que ser um ato tão simples e direto como a
relação que ele estabelecia com o papel e a caneta. O cineasta buscava assim adaptar para o
cinema uma forma de escrita que assumisse um diálogo com o diário escrito.
No entanto, justamente por esta busca de um registro que privilegie o instante, é que o
diário em filme se diferencia do diário escrito, literário. Enquanto que o primeiro é a escrita
do presente, do registro efetuado pela câmera do que está acontecendo naquele momento, o
segundo já é um registro onde a temporalidade é encarada de outra forma. No diário escrito,
geralmente a conjugação do verbo é efetuado no passado, se escreve diante de um evento que
já ocorreu. Se no diário em filme o registro está aberto a improvisações, tendo que estar
constantemente em alerta diante do que possa ocorrer no momento presente, no diário escrito
é a reflexão sobre o que já aconteceu que assume as rédeas do processo.
Quando você escreve um diário, por exemplo, você se senta, à noite, sozinho, e
reflete sobre seu dia, em retrospecto. Mas ao filmar, ao manter um caderno de notas
com a câmera, o maior desafio consiste em como reagir com a câmera no instante,
durante o acontecimento; como reagir de modo que a filmagem reflita o que senti
naquele momento. (MEKAS, 2013, p.132)
Se o diário escrito se constrói diante de um processo de inflexão e reclusão no ato da
escrita, o diário em filme se afirma através de um processo de expansão, ao ser registrado em
imagens que surgem de acordo a como o realizador se relaciona com o seu entorno. Enquanto
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o primeiro privilegia a subjetividade do que já ocorreu, o segundo busca a instantaneidade do
que está acontecendo.
Não é por acaso que este tipo de diário em filme, tanto na obra de Mekas como nos
home movies que registram celebrações familiares, eventos com amigos ou algum registro de
viagem, o registro se torna um processo de interação entre o realizador e o que está sendo
registrado. Desde os olhares diretos para a câmera das pessoas que estão sendo filmadas,
assim como o uso da câmera na mão que abdica do tripé na busca por aproximar-se mais das
pessoas, o diário em filme assume um sentido celebratório sobre a fugacidade do instante em
que se registra.
3.2 - O filme-diário
Desde os seus primeiros anos nos Estados Unidos, Mekas seguiu registrando os seus
diário em filme sem assumir, teoricamente, nenhuma pretensão específica com este material.
Não estava nos seus planos ordenar narrativamente ou elaborar um filme, fator este que se
reforçava pelo excesso de atividades que estava assumindo como produtor na Film Makers´
Corporative, Film Makers´ Cinematheque, assim como nas suas atividades na Anthology
Film Archives e na revista Film Culture.
Na sua militância pela afirmação de uma nova geração de cineastas independentes nos
Estados Unidos no início dos anos sessenta, Mekas se resignava a deixar os seus registros
pessoais em segundo plano. No entanto, mesmo com pouco tempo disponível para si, ele
seguiu registrando. “Tive apenas pedaços de tempo que me permitiram filmar apenas pedaços
de película. Todo o meu trabalho pessoal tomou a forma de notas” (MEKAS, 2013, p.131).
No entanto, a medida em que decidiu rever este material anos depois, o sentido que
assumiu o registro começou a sofrer alterações que iriam determinar o rumo da sua obra.
Enquanto estudava esse material e pensava sobre ele, tornei-me consciente da forma
de um filme-diário e, é claro, isso começou a afetar a minha maneira de filmar, meu
estilo. E em certos momentos isso me ajudou a ter uma paz de espírito. Eu disse
para mim mesmo: “Bem, muito bem – se não tenho tempo para dedicar seis ou sete
meses à produção de um filme, não vou me abalar; irei filmar notas curtas, dia a dia,
todos os dias”. (MEKAS, 2013, p. 132)
Mesmo fincando pé no presente, no registro cotidiano e sem maiores pretensões que
não fossem pequenas notas que registrassem o seu dia a dia, Mekas também começava a
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embalsamar o tempo e a construir uma memória. Guardando nas suas prateleiras o material
filmado, Mekas construía um acervo de imagens que além de ser o seu diário em filme,
também se tornava a preservação da memória de momentos vividos pelo realizador com seus
amigos, familiares e lituanos exilados.
Quando Mekas decide se confrontar a este material anos depois, ele também
confronta a elaboração da sua memória, levanta reflexões sobre a passagem do tempo,
materializa o sentido do que se conhece como filme-diário. “Se o diário em filme vivia no
presente da percepção imediata, em seu presente o filme-diário confronta as ruínas de um
tempo agora irrecuperavelmente perdido” (JAMES, 2013, p.189).
O filme-diário se torna não somente o reencontro de Mekas com os seus arquivos,
mas também a sua afirmação como algo mais profundo que ser um filmador: Mekas se afirma
como narrador e realizador. Se nos diário em filme, o registro falava por si só e a
narratividade se expressava de forma mais elementar, enquanto a escolha do que enquadrar, a
exposição da luz e a velocidade dos quadro por segundo, nos seus filmes-diários, os recursos
narrativos e técnicos irão incrementar a sua paleta de cores. É neste ato de rememoração que
se tornam os seus filmes-diário, que Mekas constrói um sentido de fluxo e encadeamento de
imagens que terminam resignificando a sua própria memória.
Ao agregar um referencial testemunhal e sonoro que busca revisitar o passado, os
arquivos acabam ganhando uma dimensão muito mais profunda, se comparado à
possibilidade de assistir somente ao diário em filme, as imagens em bruto. Diferentemente do
diário em filme, o filme-diário na obra de Mekas revela intencionalidades, incorpora
questionamentos, reflexões que muitas vezes não se mostram evidentes nas imagens.
A subjetividade específica e o peso da memória são, no trabalho de Mekas,
largamente dependentes da voz, bem como os títulos escritos, a sonata para piano e
as canções populares para colorir as imagens que vemos. Se a autobiografia de
Mekas é muito mais um texto-imagem do som em que as imagens são coloridas
como as memórias emocionais, as imagens estão sujeitas a serem controladas e
definidas pelas articulações da voz. A voz determina a maneira pela qual as imagens
são vistas. (TURIM, 1992, p.203, trad. nossa)
Outro fator que agrega a esta construção narrativa contida nos seus filme-diário se
refere a um certo ordenamento dos arquivos. Mesmo que em linhas gerais nos seus filme-
diário, Mekas resista em buscar uma maior organicidade narrativa do material, optando por
um sentido aparentemente mais aleatório que cronológico, como ocorre em As I was Moving
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Ahead...6(2000), em outros trabalhos como Reminiscences of a Journey to Lithuania (1972) e
Lost, Lost, Lost (1976), a construção narrativa traz entendimentos reveladores sobre a
biografia do autor.
É o que ocorre, por exemplo, em Lost, Lost, Lost, a medida em que Mekas, ao optar
por um ordenamento cronológico dos seus arquivos, termina revelando a sua própria
transformação como exilado nos Estados Unidos. Enquanto que na primeira parte do filme,
Mekas se detém a registrar a outros lituanos exilados em Nova York, assim como evidenciar
sua resistência em fazer parte de um gueto com estes exilados, a parte final de Lost, lost, lost
revela anos depois a um Mekas integrado na cultura americana, se afirmando no meio
artístico nova-iorquino. Sem esta busca cronológica, o entendimento desta transformação
teria sido mais difícil.
Diferentemente do diário em filme, onde o que estava em jogo era o valor do registro
em si enquanto ato de filmar o seu cotidiano como um diário de notas sem nenhum
ordenamento que não fosse o cronológico, no filme-diário entra em jogo o encadeamento de
imagens, como elas se relacionam entre si e como estas lidam com as camadas sonoras e
retóricas do cineasta. Mesmo que Mekas tenha buscado realizar uma montagem aleatória em
determinados filmes, ainda assim é possível evidenciar uma elaboração narrativa que se
constrói entre os arquivos e o que está fora dele (em fatores extra diegéticos, como é o caso
do uso da voz em off, das cartelas com textos sobre a imagem, da trilha sonora). Existe no
filme-diário uma intenção de tornar materiais tão heterogêneos e independentes entre si, em
um trabalho que assuma uma certa unidade dentro desta diversidade contida nos arquivos e
na sua narrativa.
O diário em filme inaugurou funções para o aparato que recusaram radicalmente
tanto o uso industrial quanto o de vanguarda, com as extravagâncias, deficiências e
contradições do novo (não) gênero desafiando as normas hegemônicas do suporte
numa nova prática privada do cinema que o integrou à praxis da vida. O filme-
diário devolveu tal prática privada a um contexto público e à produção de um
produto, uma obra de arte esteticamente autônoma. (JAMES, 2013, p.168)
Enquanto que no filme em diário existia um fim privado, onde os arquivos estavam
6 No início do segundo capítulo de As I was Moving Ahead, Mekas comenta com a voz em off que “tudo é
acaso. Estou repassando todos os rolos de som, escolhendo um, escolhendo outro; montando-os; unindo-os ao
acaso, igual às imagens. Da mesma maneira que uno as imagens. Da mesma... Exatamente da mesma maneira
em que as filmei inicialmente: por casualidade, sem plano algum, somente segundo o capricho do momento, o
que naquele momento senti que devia gravar. Uma ou outra coisa, sem saber por que” (trad. do autor).
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destinados a se manter no acervo particular de Mekas, no filme-diário existe uma intenção
clara de tornar este acervo em filmes que não somente se afirmem através de uma construção
estética e narrativa, mas que também evidenciem um processo de rememoração.
4. Análise sobre o filme-diário Reminiscences of a Journey to Lithuania (1972), de Jonas
Mekas
No ano de 1972, quando Jonas Mekas decidiu regressar para a Lituânia pela primeira
vez, lhe propuseram uma equipe técnica e câmeras para registrar este momento e assim fazer
um filme. Mekas não pensou duas vezes em recusar esta proposta. Estava em jogo algo mais
profundo que um bom enquadramento ou uma boa iluminação do registro fílmico. Por detrás
destas filmagens, era necessário captar uma vivência que somente ele conseguiria
documentar com a sensibilidade que o momento exigia. A partir desta convicção nasceu o
filme Reminiscences of a Journey to Lithuania.
Sabia que, embora as imagens filmadas por esses técnicos, seguindo minhas
instruções, tivessem sido “melhores” profissionalmente, elas teriam destruído o
tema que eu estava perseguindo. Quando você vai para casa, pela primeira vez em
25 anos, você sabe, de alguma forma, que as equipes de cinema oficiais não
pertencem àquele lugar. Por isso escolhi a minha Bolex. Minha filmagem tinha de
permanecer totalmente privada, pessoal e “não profissional”. (MEKAS, 2013,
p.138).
No mesmo ano, já com o filme finalizado, Mekas recebeu a visita de um representante
do governo soviético em Nova York, que insistiu em assistir a versão final de
Reminiscences... “Como você se atreve a fazer e mostrar um filme como este para o mundo!
Por que você não mostra as fábricas? Por que você não mostra o progresso?”
(ENGELBACH; KONIG, 2009, p.169, trad. nossa), perguntou o representante soviético.
Mekas não titubeou em responder que “neste filme estou interessado apenas em minha mãe e
minhas memórias de infância, isto é tudo. Este é o meu passado” (ENGELBACH; KONIG,
2009, p.169, trad. nossa).
Mesmo com a Segunda Guerra Mundial terminada há mais de duas décadas, Mekas
seguia vivendo um atravessamento da História sobre o seu caminho. Agora dentro de um
contexto da Guerra Fria, de um enfrentamento entre Estados Unidos e União Soviética,
Mekas se encontrava num estado limiar entre a questão sociopolítica destes dois países.
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Diante das restrições que a União Soviética havia imposto a refugiados da Segunda Guerra
Mundial que migraram para países fora do eixo comunista existente no leste europeu, Mekas
enfrentou um longo processo de mais de vinte anos até poder retornar para Lituânia.
A rememoração que Mekas estabelece através do uso da voz em off se tornam
determinantes para entender a este contexto e a essência do filme. Logo na introdução de
Reminiscences..., são mostradas imagens de Mekas com o seu irmão Adolfas, percorrendo ao
bosque de Catskills, nos Estados Unidos. Simultaneamente a estas imagens, surge a voz de
Mekas, comentando as suas impressões sobre este momento.
A princípios daquele outono, em 1957 ou 1958, uma manhã de domingo, fomos aos
Catskills, ao bosque. Caminhamos entre a folharada, afastando-a com uma vara.
Andamos longamente, entramos no profundo do bosque. Foi bom caminhar assim,
sem pensar, sem pensar em nada sobre os últimos dez anos. E me dizia a mim
mesmo que poderia caminhar assim, sem pensar nos dez anos de guerra, na fome,
em Brooklyn. E quase, e talvez, por primeira vez, enquanto caminhamos pelo
bosque, aquele dia de princípios de outono, foi a primeira vez que não me senti
sozinho na América. Igual que pensei que ali estavam o solo, a terra, e as folhas; e
as árvores, e a gente, e que, da mesma maneira, eu estava, pouco a pouco, me
convertendo em parte de tudo aquilo. Por um momento, esqueci meu lugar. Este era
o começo do meu novo lugar. “Me liberei das cordas do tempo, outra vez”, me
disse. (trad. nossa)
Os bosques remetiam as suas origens, a juventude vivida no meio rural no interior da
Lituânia. No entanto, nesta primeira parte do filme, o uso da voz em off de Mekas ressalta
ainda mais a sua desconformidade com a situação vivida como exilado nos Estados Unidos.
A começar pelas imagens registradas sobre os imigrantes lituanos em Nova York, chama a
atenção o contraste entre o que é mostrado e o que é dito por Mekas no filme. As imagens
não mostram propriamente tristeza, solidão ou melancolia dos lituanos exilados, mas
justamente pessoas dançando, bebendo, tocando música, compartilhando este exílio em
conjunto. Simultaneamente a estas imagens, Mekas afirma, com o uso da voz em off:
Em algum lugar ao final da Atlantic Avenue, ali, em algum lugar costumavam fazer
piqueniques. Costumava observá-los, aos velhos imigrantes e aos novos. E me
pareciam serem animais tristes e moribundos num lugar ao\ que não pertenciam
exatamente, num lugar que não reconheciam. Ali estavam, em Atlantic Avenue, mas
estavam completamente em outro lugar. (trad. nossa)
Logo na sequência seguinte do filme, é o próprio Mekas que aparece sobre a imagem,
em registros feitos em 1950, ao comprar a sua primeira câmera Bolex 16mm. Imagens estas
que mostram a um Mekas com fisionomia séria e sozinho, distante da comunidade lituana.
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“Queria fazer um filme contra a guerra. Queria gritar, gritar que havia uma guerra, porque
caminhava pela cidade e pensava que ninguém sabia que havia uma guerra”, afirma Mekas
sobre estas imagens, o que termina revelando o quanto custou a ele próprio assumir a sua
condição de refugiado, em adaptar-se a uma sociedade que não havia vivido da mesma forma
que ele a Segunda Guerra Mundial. Diante de imagens que revelavam o cotidiano da
sociedade americana nas ruas de Nova York, Mekas comenta:
Pensava que ninguém sabia que havia lugares no mundo em que a gente não pode
dormir, onde a porta foi posta abaixo pela noite pelas botas dos soldados e da
polícia; um lugar assim do qual eu mesmo vinha. Mas nesta cidade ninguém sabia
nada de tudo isto.
Frente a este tom mais ríspido e distante em relação aos americanos, Mekas termina
assumindo um outro tom quando ao final da primeira parte demonstra uma dose maior de
afeto, ao mostrar os refugiados que assim como ele, vieram parar em Nova York. Existem
nestas imagens um processo de identificação, confirmada pelo uso da voz em off de Mekas,
que afirma ainda sentir-se como refugiado, assim como “o mundo está cheio de gente como
nós. Todos os continentes estão cheios de refugiados”.
Diante dos lituanos que, segundo o cineasta, viviam o seu próprio mundo no exílio,
dos americanos que não tinham a dimensão do que foi a guerra, Mekas ainda buscava um
caminho. Ao contrário da segunda e terceira parte deste filme, esta parte inicial se concentra
em imagens dos primeiros anos de Mekas nos Estados Unidos. É no uso da voz em off que o
cineasta termina evidenciando as fraturas da sua trajetória em relação ao contexto que o fez
vir para a América. “Ainda estou na minha viagem rumo ao lar. Te queríamos, mundo, mas
nos fizeste coisas terríveis”, afirma Mekas, ao final da primeira parte.
Se neste início existe um estranhamento e uma certa distância por parte de Mekas
frente ao seu entorno e a sua condição de exilado, a segunda parte de Reminiscences... revela
um tom completamente diferente. Com a imagem introdutória intitulada 100 vislumbres de
Lituânia, agosto de 1971, a segunda parte assume o reencontro de Mekas não somente com o
seu país de origem, com a sua família e seus amigos, mas sobretudo com a sua memória e os
seus afetos. É justamente esta questão que ele logo trata de frisar, quando afirma que:
Claro, vocês gostariam de saber algo sobre a realidade social. Como vai a vida ali,
na Lituânia soviética? Mas que sei sobre isto? Sou uma pessoa refugiada voltando
ao meu lar, em busca do meu lar, voltando a momentos do passado, buscando
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alguns rastros reconhecíveis do meu passado. O tempo em Semeniskiai permanece
suspenso para mim. Permanece suspenso até meu regresso. Agora, lentamente,
começa a mover-se outra vez. (trad. nossa)
Nesta segunda parte, Mekas procura realizar suturas entre o desejo de reencontrar
lugares, amigos e familiares e a busca por resgatar um passado interrompido bruscamente
quando teve que fugir do país. Neste caminho, se torna inevitável um processo de
estranhamento entre os referenciais que Mekas possuía de vinte e cinco anos atrás e os que
hoje o confrontavam, enquanto uma constatação da passagem do tempo. É o que ocorre
quando diante de imagens que revelam a cidade de Semeniskiai, Mekas comenta logo no
início da segunda parte do filme que:
A medida que íamos nos aproximando mais e mais dos lugares que tão bem
conhecíamos, de repente, frente a nós, vimos um bosque. Não reconheci os lugares.
Quando partimos não havia árvores. Plantamos pequenos lentiscos por todas as
partes, sim, e agora os pequenos lentiscos haviam crescido, convertendo-se em
enormes árvores. (trad. nossa)
Ou quando comenta sobre a sua mãe:
Mamãe se queixa de que lhe falha a memória. Não pode encontrar uma colher. Tem
dez, mas esta manhã é incapaz de encontrar nenhuma. “O único que tem que saber
sobre a velhice” disse, “é que não podes encontrar tuas colheres quando envelhece”.
Mekas saia assim do plano das evocações a sua terra natal e da sua família que
caracterizaram os seus anos prévios de exílio na Alemanha e Estados Unidos, para ingressar
no campo das constatações. As suas reflexões assumem a um contexto que não se revela mais
o mesmo desde que foi embora. Neste retorno a Lituânia, existe em Mekas um sentimento
que se mescla entre constatar a passagem do tempo, revelar estas lacunas deixadas por ter
ficado tanto tempo fora de casa e procurar resgatar momentos da sua juventude. Na mesma
medida em que Reminiscences... mostra situações como a família Mekas cantando e
dançando antigas canções lituanas em frente a casa ou quando decide refazer um ritual
familiar de medir as estaturas dos integrantes da família, Mekas também constata de que
forma a passagem do tempo afetou a sua relação com as pessoas que fizeram parte da sua
juventude.
Em dois momentos em especial, o exílio de Mekas nos Estados Unidos emergem
justamente dos seus amigos de juventude. Uma situação ocorre na casa do seu amigo Kostas,
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quando para passar o tempo, ele e seu amigo decidiram pegar alguns instrumentos com os
quais trabalhavam no campo. Ao pegar um tipo de arado que já não utilizavam mais no
campo e decidirem reproduzir sobre a grama o que faziam na juventude, o seu amigo Kostas
comenta ““Agora grava isto para que vejam os americanos quão miseravelmente vivemos”. E
claro, pensou que isto tinha muita graça” (trad. do autor). Este comentário de Mekas exposto
na última frase, como reação ao comentário de Kostas, não somente revela alguém que
conhece e viveu nos dois lados (EUA e URSS), mas também de alguém que ao viver nos
subúrbios de Nova York, possui conhecimento de causa para afirmar que os Estados Unidos
não se resumem ao american way of life. As imagens iniciais da primeira parte de
Reminiscences... comprovam isto.
Esta mesma menção aos Estados Unidos ocorre na sequência em que Mekas, ao
comentar que dormiu na casa da sua amiga Petras, relata que “pela manhã, Petras voltou a
levar o feno ao celeiro, estava meio que se escondendo. Disse: “Não conte na América que
dormimos sobre o feno”. Pareceu-lhe muito gracioso” (trad. do autor). Em outro comentário
muito sutil nesta frase final, Mekas evidencia a projeção de Petras sobre um mundo que ela
imaginava ser muito diferente nos EUA em relação ao que vivia na república soviética.
Enquanto Kostas pedia para Mekas denunciar a situação de vida na Lituânia soviética,
Petras pedia para isto ser omitido. Em ambos pedidos, a presença de Mekas na sua terra natal
incitava nos seus amigos as diferenças entre o que era viver na União Soviética e o que
poderia ser a vida nos Estados Unidos. Como um lituano exilado que vive na América e
estava de passagem, Mekas evidencia um processo de distanciamento, é visto como alguém
que já não pertence mais a este lugar.
Em situações como estas, se evidencia as rasgaduras que o contexto sócio histórico
operou na trajetória de Mekas. Reminiscences... é um filme que revela estas fraturas de um
exilado em busca do que restou do lugar e das pessoas que marcaram a sua juventude. Frente
a estas mudanças construídas nos seus vinte e cinco anos de ausência, é o seu trabalho de
rememoração que procura prevalecer neste filme, ao procurar manter uma busca incessante
por não esquecer as suas vivências no período anterior ao exílio. Mekas afirma no filme, com
o uso da voz em off:
Todos havíamos ido ao mesmo colégio. Invernos longos, profundos e frios nos
quais atravessávamos os campos, os rios gelados, os bosques. Caminhávamos até o
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colégio com nossos narizes congelados, nossas caras ardendo no gélido vento e a
neve. Mas aqueles foram dias belíssimos! São invernos que nunca esquecerei.
Onde estão agora, meus velhos amigos do colégio? Quantos de vocês seguem
vivos? Por onde estão espalhados? Pelos camposantos, pelas salas de tortura, pelas
prisões, pelos campos de trabalhos forçados da civilização ocidental. Mas vejo
vossas caras tal e como eram antes. Na minha memória nunca mudaram.
Permanecem jovens, sou eu quem está envelhecendo. (trad. nossa)
Se na primeira e segunda parte do filme, Mekas revela as consequências que esta
rasgadura operou na sua vida e no seu entorno, ao ter que fugir de casa para não ser pego
pelos alemães nazistas, a terceira parte procura confrontar diretamente esta rasgadura. Mekas
e o seu irmão Adolfas decidem regressar justamente aos campos de concentração onde
estiveram durante a Segunda Guerra Mundial. Ambos vão a Elmshorn, na Alemanha, onde
encontram os lugares onde estiveram presos. Logo na introdução da terceira parte, Mekas
mostra o seu irmão em meio a grama, rodeado de árvores, que naquele momento do registro
não remetiam aos campos de concentração. Mekas comenta com a voz em off:
Adolfas está deitado exatamente no lugar onde costumavam estar nossas camas no
campo de trabalhos forçados. Quando perguntamos para a gente, ninguém lembrava
que ali houvesse tido um campo de trabalhos forçados. Somente a grama o recorda.
(trad. nossa)
O filme mostra na sequência a Gebruder Neunert, uma das fábricas onde trabalharam
em conjunto com prisioneiros de guerra franceses, russos e italianos. Mekas revela nas
imagens que a fábrica segue estando em funcionamento, até mostrar a um dos capatazes que
segue trabalhando ali e que reconheceu a Adolfas. Chama a atenção nas reflexões de Mekas
nesta sequência, o fato dele não assumir um tom que enfatize um ajuste de contas, ou que
revelasse ressentimentos ou atitudes mais emocionais diante deste reencontro, frente a um
local onde lhe “batiam por trabalhar lento e por responder”, como ele próprio afirma. Nesta
sequência, Mekas mostra inclusive ao seu irmão falando com o capataz, comentando com a
voz em off que “falamos de muitas coisas. Era um capataz jovem e bom”.
Num lugar onde não se guardavam rastros evidentes do que foram os campos de
concentração, coube a memória de Mekas reconstruir estes rastros, mostrar que num lugar
onde naquele momento se encontravam pessoas livres e assalariadas trabalhando, um dia foi
um lugar de trabalhos forçados. Mesmo sem pretender assumir um caráter de denúncia,
Mekas evidenciava como a passagem do tempo pode apagar não somente a História, mas a
memória de lugares que fizeram parte de um contexto de guerra.
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Ao final desta sequência, Mekas mostra imagens de crianças que estão em frente a
fábrica e que procuram interagir com o registro da câmera. Estas imagens acabam
estabelecendo uma relação de contraste com o que Mekas reflete através do uso da voz em
off.
Fora (da fábrica), enquanto meu irmão olhava, recordava e rememorava, havia
crianças ao seu redor. Pareceu-lhe muito estranho toda esta gente estranha que
vinha a ver isto, de pé, observando. Pareceu-lhe realmente muito estranho.
Auslander.
Oh, sim! Corram, crianças, corram! Eu também sai correndo daqui uma vez, mas
corria pela minha vida. Espero que nunca tenham que correr por vossas vidas.
Corram, crianças, corram! (trad. nossa)
Reminiscences... é um filme que evidencia o quanto as rasgaduras operadas pelo
contexto histórico ainda eram determinantes no trabalho de rememoração de Mekas sobre a
sua trajetória. Mesmo vinte e sete anos após haver deixado o seu país e mais de vinte anos
vivendo nos Estados Unidos quando realizou este filme, as reflexões do realizador lituano
ainda revelam uma resistência em resignar-se a sua condição de exilado.
5. Considerações finais
Mais que ser uma literatura menor, a escrita em formato diário proporciona a
possibilidade para se refletir sobre questões tanto de ordem narrativa (entender o eu como um
outro), passando por questões históricas (ao trazer a possibilidade de embalsamar o tempo),
assim como trazer a possibilidade em construir um campo memorialístico (criando assim a
um lugar de memória). É dentro deste contexto mais amplo que a obra diarista de Jonas
Mekas (tanto no âmbito da literatura como do cinema), se propõe a potencializar o diário não
somente como simples anotações confidenciais, mas como uma busca poética que se afirma
no seu desejo em realizar um trabalho de rememoração.
Mekas é um autor que encontrou na escrita do seu diário de exílio uma possibilidade
real para refletir sobre a sua própria condição como prisioneiro de guerra e como exilado
político no período pós-guerra. Seus textos deste período podem ser considerados hoje um
importante referente para se conhecer tanto a memória de um prisioneiro na Segunda Guerra
Mundial, como também a descobrir uma construção artística que nos proporciona um outro
olhar sobre a guerra.
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Mas se já não bastasse a relevância desta obra literária, Mekas conseguiu ir mais a
fundo, ao encontrar no meio audiovisual a possibilidade em poder se aprofundar em certos
entendimentos sobre a construção diarista. Através dos registros fílmicos dos diários em filme
e do trabalho de rememoração buscados na elaboração dos seus filmes-diário, Mekas foi um
dos precursores no cinema de uma escrita audiovisual pensada e elaborada em primeira
pessoa. Se hoje o documentário contemporâneo está muito focado em obras onde a
subjetividade do realizador se encontra evidenciada dentro do próprio relato, isto em parte se
deve a filmes como Reminiscences of a Journey to Lithuania e a cineastas como Mekas, que
mostraram como a memória pessoal também pode se afirmar como um testemunho histórico.
O que torna filmes como Reminiscences... tão vigentes hoje para se pensar a
construção do ato de rememoração é a possibilidade para se entender as fissuras e as lacunas
que a passagem do tempo operam sobre a trajetória do seu realizador. Este filme-diário revela
o quanto a memória não é algo estanque, mas um fluxo de recordações, agenciamentos e
esquecimentos que tornam o seu reencontro com o passado em algo tão instigante e
conflitivo.
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