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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DO PIAUÍ FAESPI CURSO DE...

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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DO PIAUÍ FAESPI CURSO DE BACHARELADO EM PSICOLOGIA WALDIRENE DA COSTA BRITO ESQUIZOFRENIA NA PERSPECTIVA DA ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA TERESINA PI 2017
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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DO PIAUÍ – FAESPI

CURSO DE BACHARELADO EM PSICOLOGIA

WALDIRENE DA COSTA BRITO

ESQUIZOFRENIA NA PERSPECTIVA DA ABORDAGEM CENTRADA NA

PESSOA

TERESINA – PI

2017

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WALDIRENE DA COSTA BRITO

ESQUIZOFRENIA NA PERSPECTIVA DA ABORDAGEM CENTRADA NA

PESSOA

Monografia apresentada à Faculdade de Ensino Superior do Piauí – FAESPI, como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Psicologia. Orientadora: Prof.ª Me. Laís de Meneses Carvalho Arilo.

TERESINA – PI

2017

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WALDIRENE DA COSTA BRITO

ESQUIZOFRENIA NA PERSPECTIVA DA ABORDAGEM CENTRADA NA

PESSOA

Monografia apresentada à Faculdade de Ensino Superior do Piauí – FAESPI, como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Psicologia.

Aprovada em: _____ / _____ / 2017. BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________ Prof.ª Me. Laís de Meneses Carvalho Arilo

Orientadora

Faculdade de Ensino Superior do Piauí – FAESPI

_________________________________________________ Prof.º Esp. Paulo Cesar Borges de Sousa Filho

1º Examinador Faculdade de Ensino Superior do Piauí – FAESPI

_________________________________________________ Prof.ª Me. Juliana Burlamaqui Carvalho

2ª Examinadora

Faculdade de Ensino Superior do Piauí – FAESPI

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RESUMO

O presente trabalho teve como o objetivo compreender a esquizofrenia na perspectiva da abordagem centrada na pessoa, descrevendo as práticas humanistas na perspectiva da reabilitação do paciente no quadro psíquico de esquizofrenia e compreendendo como ocorre o processo de adoecimento do esquizofrênico na visão da respectiva abordagem. Revisão bibliográfica feita nas bases de dados Lilacs, Medline e Scielo, cujas palavras chaves foram esquizofrenia, abordagem centrada na pessoa, esquizofrenia e terapia centrada no cliente. Ressaltando que estas foram selecionadas via DecS e BVS-Psi, baseado em critérios de inclusão e exclusão foram selecionados 11 artigos, referentes ao período de 2011 a 2017. Predominaram artigos em português, publicados no Scielo e realizados no Brasil. Os estudos indicaram que a esquizofrenia é uma doença que acomete tanto homens como mulheres, afetando sua vida social, profissional e afetiva. Diante disso, pode-se perceber que após o surgimento da esquizofrenia a vida familiar é profundamente abalada e é de suma importância a informação para a desmistificação da doença. Assim sendo a abordagem centrada na pessoa olha o esquizofrênico não como um objeto de estudo, mas prioriza o indivíduo como pessoa com suas potencialidades, busca no aqui-a-agora o sentimento que o cliente está experienciando. Vale ressaltar que a relação terapeuta/cliente é essencial para que a terapia possa fluir. Palavras-chave: Esquizofrenia. Abordagem centrada na pessoa. Esquizofrenia e

terapia centrada no cliente.

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ABSTRACT

The objective of this study was to understand schizophrenia from the perspective of

the person - centered approach, describing humanistic practices in the perspective of

patient rehabilitation in the psychic context of schizophrenia and understanding how

the schizophrenic illness occurs in the approach to the approach. A literature review

of the Lilacs, Medline and Scielo databases, whose key words were schizophrenia, a

person-centered approach, schizophrenia, and client-centered therapy. It was

emphasized that these were selected via DecS and BVS-Psi, based on inclusion and

exclusion criteria, 11 articles were selected, covering the period from 2011 to 2017.

Predominant articles in Portuguese, published in Scielo and carried out in Brazil.

Studies have indicated that schizophrenia is a disease that affects both men and

women, affecting their social, professional and affective life. In view of this, it can be

seen that after the onset of schizophrenia family life is deeply shaken and information

for the demystification of the disease is extremely important. So the person-centered

approach looks at the schizophrenic not as an object of study, but prioritizes the

individual as a person with his potentialities, seeking in the here-to-now the feeling

that the client is experiencing. It is noteworthy that the therapist / client relationship is

essential for therapy to flow.

Keywords: Schizophrenia. Person-centered approach. Schizophrenia and client-

centered therapy.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 6

2 REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................... 9 2.1 ESQUIZOFRENIA 9 2.2 ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA 13 2.3 PSICOPATOLOGIA NA PERSPECTIVA DA ABORDAGEM CENTRADA

NA PESSOA .................................................................................................

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3 METODOLOGIA ........................................................................................... 23

4.1 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO ................................................. 23 4.2 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS ............................................. 24 4.3 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS ............................................ 24

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................. 25

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 34

REFERÊNCIAS ............................................................................................ 36

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1 INTRODUÇÃO

A psicoterapia humanista na perspectiva da Abordagem Centrada na Pessoa

ou ACP, teve como fundador o psicólogo Carl Rogers, busca através de suas

técnicas desenvolver um trabalho visando o aumento de autonomia, da realização

pessoal e qualidade de vida das pessoas acometidas por alguma psicopatologia.

Dalgalarrondo (2008) ressalta que dentre as psicopatologias comumente

observadas no campo da saúde mental, a esquizofrenia ganha destaque por se

tratar de um transtorno cerebral grave que se instala ainda na adolescência e

também no início da fase adulta. Acomete danos ao sujeito, alterando sua

percepção sensório-motor, a fala e o pensamento. Ademais, afeta diretamente sua

vida social, profissional e afetiva, o deixando à margem da sociedade, o que irá lhe

causar muito sofrimento, bem como à sua família.

A esse respeito Sadock e Sadock (2008) evidencia que a prevalência da

esquizofrenia é igual em homens e mulheres diferindo apenas no que diz respeito ao

início e curso da doença. Seu início se dá normalmente entre 10 a 25 anos para o

sexo masculino e 25 a 35 anos para o sexo feminino.

Mas de acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (2014) essa

patologia prevalece mais em homens, onde é evidenciado no começo casos de

pequenos surtos, depois começam a apresentar comportamentos esquisitos, como

bizarrices, sentimento de perseguição, falas e risos sem explicações adequadas,

além de alteração no sono-vigília. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de

Transtornos Mentais (2014) para que o sujeito possa ser diagnosticado com

esquizofrenia, deverá apresentar pelo menos de dois ou mais critérios para o

transtorno, como o delírio, alucinações, discurso desorganizado, comportamento

grosseiramente desorganizado ou catatônico e sintomas negativos. Nas palavras de

Viana (2012) ressalta-se que para a reabilitação do indivíduo com esquizofrenia faz-

se necessário sua adesão ao tratamento, sendo de grande valia as abordagens

psicossociais. Sendo assim, a Psicologia Humanista na Abordagem Centrada na

Pessoa tem como objetivo a autorregulação desse sujeito, buscando sua autonomia

e liberdade para uma vida mais saudável.

Hall, Lindzey e Campbell (2008) relatam que a Psicologia Humanista é

otimista quanto ao desenvolvimento sadio da pessoa, porém ele deve estar disposto

a essa mudança. Acredita-se que o sujeito através da autorrealização pode

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progredir, podendo ordenar e ajustar o seu comportamento. De acordo com Viana

(2012) o terapeuta nesse relacionamento torna-se um facilitador, em uma relação de

cuidado para com o cliente, apropriando-se de atitudes como a congruência, a

compreensão empática e a consideração positiva incondicional.

Acredita-se que a relação entre cliente e terapeuta deve ser de

autenticidade, não existindo barreiras e ambos possam sentir-se à vontade e

inteiros. O terapeuta deve propiciar um ambiente de liberdade para que o cliente

possa se expressar sem medo de ser quem é. (HALL, LINDZEY e CAMPBELL,

2008). Rogers (1986) enfatiza que não há distinção nas relações que ele estabelece,

porém se a terapia é real e se há o encontro entre as pessoas envolvidas, não

importará qual seja o diagnóstico psiquiátrico.

Hall, Lindzey e Campbell (2008) mencionam que para que o cliente possa se

deixar explorar ele deve sentir-se aceito incondicionalmente pelo terapeuta, pois os

sentimentos por ele experiência dos são completamente estranhos e desconhecidos.

O terapeuta por sua vez deve facilitar a exposição desses sentimentos, ele deve

entrar em contato com esses elementos.

Diante do exposto, esse trabalho busca a compreensão da esquizofrenia na

perspectiva da Teoria Humanista, suas práticas de reabilitação do paciente e como

ocorre o processo de adoecimento do esquizofrênico na visão da Abordagem

Centrada na Pessoa. Enfatiza-se a importância do relacionamento entre cliente e

terapeuta, mostrando que o manejo do terapeuta pode proporcionar ao cliente um

ambiente sem barreiras para que ele se expresse de uma forma construtiva,

estabelecendo-se um nível de confiança, segurança e conexão entre eles.

O presente trabalho foi organizado através de pesquisas bibliográficas,

tendo como o objetivo geral compreender a Esquizofrenia na perspectiva da

Abordagem Centrada na Pessoa. Quanto aos objetivos específicos o mesmo buscou

realizar um levantamento acerca das produções cientifica sobre o tema, além de

descrever as práticas Humanistas na perspectiva da reabilitação do paciente no

quadro psíquico de esquizofrenia, bem como compreender como ocorre o processo

de adoecimento do esquizofrênico na visão da Abordagem Centrada na Pessoa.

Sobre a estrutura do trabalho, o mesmo foi organizado nos seguintes

capítulos: Introdução; Esquizofrenia; Abordagem centrada na pessoa; Psicopatologia

na perspectiva da abordagem centrada na pessoa; Método; Resultados e

discussões e Considerações finais.

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Como se pode constatar a introdução trás um apanhado geral do trabalho e

serve para orientar o leitor sobre os principais tópicos trabalhados e discutidos sobre

a temática. Na sequência é apresentado todo o embasamento teórico, destacando-

se o conceito da Esquizofrenia, suas características e os fatores de riscos. Segue-se

apresentando a teoria e o manejo da Abordagem centrada na pessoa, tendo como

ideia central o fato da mesma considerar o homem com uma tendência de

autorrealização, desta forma, o mesmo tem toda a possibilidade de se auto

modificar, ou seja, modificar suas próprias atitudes e comportamentos. Em

continuidade ao trabalho, expõe-se que a abordagem centrada na pessoa não tem

como ênfase a classificação e o diagnóstico de um transtorno, e sim o crescimento e

a aceitação do cliente.

Quanto ao método utilizado, pode-se informar que os dados do presente

estudo foram coletados através de pesquisas realizadas em bancos de dados,

estruturada por uma revisão bibliográfica, selecionados por critérios de inclusão e

exclusão delimitados. Em subsequência seguiu-se os procedimentos de análise de

dados, nos quais são indicados a forma que será apresentada.

No que tange ao capítulo dos resultados e discussões acerca das

informações coletadas. Os dados seguem uma apresentação considerando os

artigos encontrados por base de dados, ano, idioma e título de artigo. Em seguida,

tem-se a exposição das considerações finais, a qual contempla um apanhado geral

do trabalho e dos seus objetivos, bem como uma explanação das dificuldades

encontradas no decorrer da elaboração e execução do mesmo, além dos aspectos

mais relevantes sobre o estudo e a importância de se trazer a discussão sobre o

tema.

Nesse contexto, é importante desmistificar preconceitos buscando apoio na

Abordagem Centrada na Pessoa, e compreender como o sujeito com esquizofrenia

vivência esse transtorno, bem como identificar através das práticas clínicas qual a

melhor forma de inserir esse indivíduo na sociedade.

Nessa pesquisa utilizou-se como método revisão bibliográfica com a

finalidade de compreender a esquizofrenia na perspectiva da Abordagem Centrada

na Pessoa e as práticas desenvolvidas no tratamento do indivíduo acometido por

essa patologia, seguindo os critérios de inclusão e exclusão previamente

determinados.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 ESQUIZOFRENIA

A esquizofrenia é considerada uma doença mental complexa, onde ocorre

um empobrecimento intelectual importante e uma ruptura com o mundo exterior.

Sendo assim, o acometido por essa psicopatologia vive em dois mundos paralelos,

um mundo real e o outro patológico. (DALGALARRONDO, 2008).

Tenório (2016) ressalta que o austríaco Ernst V. Feuchtersleben em 1945

criou o termo “psicose” para denominar os sintomas dessa doença mental e

discriminou as supostas alterações no sistema nervoso. Esse termo foi criado para

diferenciar o psíquico do neuronal especificando que esse termo é usado em

psiquiatria. Com essa diferenciação passou-se a descrever, classificar e tratar as

múltiplas psicoses sem a preocupação com as alterações do sistema nervoso.

Classificada hoje pela psiquiatria como uma síndrome, ela é caracterizada por uma série de sintomas e sinais que costumam surgir pela primeira vez, na forma de um surto psicótico, por volta dos 20 anos, nos homens, e 25, nas mulheres, normalmente está associada a uma série de sintomas e sinais como alucinações, delírios e desorganização do pensamento, durante as crises agudas, intercalados por períodos de remissão, dificuldade de expressão das emoções, apatia, isolamento social e um sentimento profundo de desesperança. As principais causas de morte na esquizofrenia são os suicídios, acidentes e outras patologias associadas, devido às manifestações que acometem o paciente. Outros fatores de risco são o consumo de drogas, pouca adesão à terapêutica, baixa autoestima, estresse, desesperança, isolamento, depressão e eventos negativos na vida do paciente. O portador de esquizofrenia apresenta ainda problemas cognitivos, tais como dificuldade de abstração, déficit de memória, comprometimento da linguagem e falhas no aprendizado. A combinação desses sintomas causa grande sofrimento psíquico, com prejuízos nas relações familiares e na vida profissional e demais relações sociais (GIRALDI; CAMPOLIM, 2014 apud SILVA et al. 2016. p. 19).

Com o surgimento da neurologia explica Tenório (2016) que se pode explicar

que nas doenças mentais não existiam lesões como pensadas anteriormente,

diferenciando-se das doenças neurológicas. De acordo com o autor Emil Kraepelin

norteou a psiquiatria no começo do século XX, ressaltando os critérios de evolução e

prognósticos da demência precoce, termo constituído por ele, que tempos depois foi

denominada de esquizofrenia.

Evidencia-se que Bénédict-Augustin Morel em seus escritos (1851-1852)

descreveu a demência precoce como uma degradação do intelecto, onde pode

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evoluir para um quadro de desorganização psíquica, denotando traços de

estereotipia nas atitudes, nos gestos, na linguagem e também no modo de andar

dentre outros. Então, Eugen Bleuler propôs um novo nome para essa doença, que

passou a ser chamada de esquizofrenia, pois dava ênfase à cisão provocada por

essa entidade doentia, que provocava várias alterações nas funções psíquicas.

(EUGEN BLEULER, 2000 apud TENÓRIO, 2016).

De acordo com Pereira (2000) a esquizofrenia é uma doença única que

amontoa para os sujeitos formas clínicas desiguais que ao iniciarem cedo na vida

pode encaminhar o portador ao embrutecimento inconversível do entendimento.

Sendo assim, entende-se que o sujeito sente-se como se seus pensamentos,

sentimentos e ideias estivessem sendo divididos com o mundo externo, o que o

torna mais individualizado.

Além disso, a esquizofrenia pode ser dividida em quatro subtipos de acordo

com Dalgalarrondo (2008). O autor enfatiza que os psicopatólogos do final do século

XIX e início do XX distinguiram quatro subtipos de esquizofrenia. A forma paranóide,

caracterizada por alucinações e idéias delirantes, principalmente de conteúdo

persecutório. A forma catatônica, marcada por alterações motoras, hipertonia,

flexibilidade cerácea e alterações da vontade, como negativismo, mutismo e

impulsividade. A forma hebefrênica, caracterizada por pensamento desorganizado,

comportamento bizarro e afeto pueril. Também definiu subtipo simples, que apesar

de faltarem sintomas característicos, observa-se um lento e progressivo

empobrecimento psíquico e comportamental, com negligência quanto aos cuidados

de si (higiene, roupas, saúde), embotamento afetivo e distanciamento social.

Oliveira, Facine e Júnior (2012) apresentam uma mesclagem de sintomas

característicos da esquizofrenia, conhecidos como sintomas positivos e negativos.

Sendo que os sintomas positivos dizem respeito à ocorrência de delírios,

alucinações, alterações na fala e no comportamento e os sintomas negativos

apresentam-se na diminuição da atividade motora e psíquica, ademais também

ocorrem manifestações emocionais como embotamento afetivo e anedonia.

Viana (2012) estabelece que nos sintomas positivos, podem ocorrer

deformidades ou exageros do raciocínio lógico (delírios interpretações equivocadas

surgindo perigo ou dano), da percepção (alucinação e ouvir vozes conversando

entre si ou vozes de comando). Podendo também ocorrer manifestações

comportamentais como impulsividade, comportamentos esdrúxulos, catatônicos e

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muita agitação. Ainda o mesmo autor determina que nos sintomas negativos,

ocorrem a alogia (decadência da linguagem e do pensamento), embotamento afetivo

(redução na capacidade de expressão emocional), anedonia (incapacidade de

expressar prazer e desinteresse nas interações sociais), avolição (diminuição da

vontade), a autonegligência e a lentidão nas funções motoras e psíquicas.

De acordo com Oliveira, Facine e Júnior (2012) consideram que tanto nos

sintomas positivos como os negativos estabelecem íntima relação com a vivência de

cada indivíduo, configurando-se como modo de transmitir seus medos e impulsos,

bem como efeitos colaterais das drogas antipsicóticas. Considerando que esses

sintomas refletem na vida emocional, social, familiar e financeira, destruindo a vida

do sujeito e trazendo para si a sensação de desvalorização e incompreensão por

parte dos seus entes queridos.

Viana (2012) ressalta que existem numerosas conjecturas para se encontrar

uma explicação para a origem dessa afecção, porém nenhuma conseguiu sanar

essas dúvidas. Alguns estudos pressupõem que sua origem deve-se

fundamentalmente por fatores biológicos, apesar disso perdura ainda muitas dúvidas

que intensificam a ideia de uma origem com fatores variados. Ainda assim levantam-

se diversas suposições para as manifestações da doença. Teorias como a genética,

relativo aos genes que são passados de pais para filhos, a teoria neuroquímica

relacionada ao sistema nervoso e a teoria dopaminérgica onde os níveis de

dopamina estão reduzidos em certas áreas do cérebro, como no sistema límbico,

dentre outras.

Considerando que a esquizofrenia é oriunda de fatores biológicos, Brandão,

Araújo e Máximo (2011) sugerem que o sujeito também é afetado por riscos

ambientais e fatores psicossociais. Os mesmos citam que o uso de fármacos faz-se

necessário para que haja o equilíbrio químico, podendo eliminar ou diminuir

sintomas positivos e negativos. Torna-se conveniente a combinação do tratamento

farmacológico e a psicoterapia para que a terapêutica se torne profícua.

Silva, Jorge e Queiroz (2016) percebem que as doenças mentais iniciam-se

dentro do contexto familiar, e que a mesma não está preparada para lidar com essa

dificuldade. Destarte a família prefere institucionalizar o indivíduo, causando assim o

afastamento da família. Os autores ressaltam que atualmente a reforma psiquiátrica

tem incentivado as famílias a se fazerem presentes quanto á reabilitação desse

sujeito. Compreende-se que o sujeito com diagnóstico de esquizofrenia depende da

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família para sua reabilitação psicossocial, posto que não a cura para essa

psicopatologia.

Giacon e Galera (2013) a priori ressaltam que a esquizofrenia causa

inúmeros danos e perdas na vida do acometido por essa afecção, da mesma forma

para os familiares. Com o impacto inicial da doença a família precisa aprender a se

ajustar a essa nova realidade para a promoção de uma harmonia dentro desse

ambiente. Eventualmente a família passa por períodos de extrema crise e

inconstância diante do diagnóstico, a posteriori se mobilizam para buscarem o

equilíbrio.

Sob o mesmo ponto de vista os autores citados acima ressaltam que as

famílias sentem dificuldade quanto ao lidar com esse processo, experienciando

momentos de angústia como duvidas em relação ao futuro desse indivíduo nas

várias esferas de sua vida. Mas também em meio a essas perdas e limitações

aprendem a ter esperança e olhar mais acuradamente para outras possibilidades

que os permitem viver.

Depreende-se então de acordo com Brandão, Araújo e Máximo (2011) que o

indivíduo acometido por essa afecção necessita de um atendimento interdisciplinar

que o assegure. O tratamento médico-farmacológico, a realização de atividades

ocupacionais e o apoio psicológico são primordiais para a sociabilização desse

indivíduo.

É possível compreender que sem o tratamento adequado o sujeito torna-se

mais vulnerável. Com esse entendimento Silva et al. (2016) esclarece que as

principais causas de morte na esquizofrenia são os suicídios, acidentes e outras

patologias associadas, devido aos sintomas que aparecem no paciente, também

fatores como o uso de drogas, a pouca ou nenhuma adesão ao tratamento, baixa

auto-estima, estresse dentre outros fatores.

Ainda Brandão, Araújo e Máximo (2011) ressaltam que a relação terapêutica

deve favorecer ao sujeito a liberdade de se expressar para desenvolver sua

autonomia. Além disso, frisam que a terapia não diretiva pautada na Abordagem

Centrada na Pessoa pode conduzir a melhor prática de intervenção e propiciar ao

sujeito individualizado no setting terapêutico ou em grupo uma maior liberdade.

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2.2 ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA

A Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) de acordo com Bezerra e Bezerra

(2012) surgiu no final da década de 1950 e início de 1960, nos Estados Unidos,

sendo considerada como a terceira força em Psicologia Humanista como uma

reação à psicanálise e behaviorismo que dominavam a psicologia no momento,

defendendo o valor da pessoa. (ROGERS, 1983 apud BEZERRA; BEZERRA, 2012).

Marcada por insatisfações, a Psicologia Humanista manifesta-se, de acordo

com Bezerra e Bezerra (2012), diante da desesperança e crise moral, em um pós-

guerra, onde prevaleciam as correntes do behaviorismo e psicanálise clássica,

porém entre os humanistas, predominava o pensamento de que essas duas

correntes dispunham de preceitos reducionistas e deterministas.

A ACP foi desenvolvida por Carl Rogers um psicólogo norte-americano e de

conformidade com Bezerra e Bezerra (2012) desenvolveu-se ao longo da sua vida

na Psicologia a partir de sua experiência clínica e pesquisas científicas, contribuindo

assim nas diversas áreas no campo da psicologia. Cabe ressaltar que existem

inúmeros aspectos humanistas presentes nessa abordagem, sendo evidenciado

quando se procura restaurar o respeito, o sentimento e experiência do ser humano.

Sobre a abordagem centrada na pessoa Rogers (1980) ressalta que

modificou esse tema ao longo de sua carreira como aconselhamento não-diretivo,

terapia centrada no cliente, ensino centrado no aluno, liderança centrada no grupo,

porém a denominação mais adequada ao tema foi “abordagem centrada na pessoa”,

também conhecida como “Terapia Centrada no Cliente”.

Bezerra e Bezerra (2012) enfatizam que a ACP tem a concepção de que o

sujeito é um ser ativo no mundo, com vontade própria e com escolhas. Dando um

maior destaque a consciência, à subjetividade e à saúde psicológica. Portanto,

focaliza a relação interpessoal para tornar o ambiente propício para desenvolver o

ser humano em todo o seu potencial, pois é isso que o sujeito busca na relação

quando procura a ajuda.

Braghirolli et al. (2012), evidenciam que a Teoria Humanista valoriza o ser

humano como pessoa e procura clarificar as condições para a mudança de

comportamento. A teoria de Rogers dá-se a conhecer os requisitos básicos para que

aconteça essa mudança, como as noções de livre-arbítrio, responsabilidade e

escolhas.

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Messias e Cury (2015) dão ênfase que o afeto é causa e não resultado dos

comportamentos e é comprovada sempre no presente que se segue, fundamenta-se

no aqui-agora sendo adotada desde os primórdios, não inquirindo se o cliente

experimenta, mas sim como ele experimenta. Os autores enfatizam também que

Rogers concentrava-se no aprendizado entre as duas pessoas ao exercerem

interação na psicoterapia do que no conteúdo manifesto.

Nas palavras de Rogers (1987) a ideia central dessa abordagem é destacar

que os indivíduos possuem dentro de si mesmo uma tendência à auto-compreensão,

e com isso pode modificar suas atitudes e comportamentos. Mas isso só poderá

acontecer se o indivíduo sentir-se em um ambiente facilitador. Esse ambiente

facilitador se dá através da relação terapeuta-cliente.

A prática, a teoria e a pesquisa deixam claro que a abordagem centrada no cliente baseia-se na confiança em todos os seres humanos e em todos os organismos. Há provas advindas de outras disciplinas que autorizam uma afirmação ainda mais ampla. Podemos dizer que em cada organismo, não importa em que nível, há um fluxo subjacente de movimento em direção à realização construtiva das possibilidades que lhe são inerentes (ROGERS, 1980).

Dessa forma Bezerra e Bezerra (2012) confirmam que diante de uma boa

condição dada ao ser humano, o mesmo pode agir em direção a mudanças em seu

comportamento à frente de situações adversas que vive.

Rogers (1987) cita as três condições para o processo facilitador na relação

terapeuta-cliente, podendo também ser aplicado em outras relações que se alcance

um desenvolvimento do indivíduo. O primeiro elemento poderia ser chamado de

autenticidade ou congruência, o segundo é a aceitação incondicional e o terceiro é a

compreensão empática.

Rogers (1987) ressalta que na congruência existe uma simetria na relação e

o terapeuta vivência sentimentos e atitudes do momento e deste modo o cliente

sente-se seguro para se expressar em um nível mais profundo. Na aceitação

incondicional subsiste o interesse do terapeuta pelo cliente para que ele possa

manifestar seus sentimentos, sejam eles, quais forem. Outro aspecto facilitador é a

compreensão empática onde o terapeuta entra em sintonia com os sentimentos do

cliente, clarificando seus significados.

Corroborando com Rogers (1987), os autores Araújo e Freire (2014)

confirmam que ser autêntico ou congruente é dar valor ao que lhe é intrínseco, viver

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essa atitude por completo, que deve ser experienciado no encontro terapêutico com

o sujeito. Nessa atitude, deve-se levar em conta à particularidade dos envolvidos

nesse processo, cabendo ambas as partes a honestidade nas informações que são

importantes. Na psicoterapia, deve-se promover a autenticidade para que haja uma

constante transformação.

Sobre a aceitação incondicional os autores, Araújo e Freire (2014) sinalizam

que essa atitude evidenciou que o terapeuta reconhece a sua responsabilidade pelo

outro e entende a particularidade do indivíduo, obviamente considerando que suas

características vão além de nós e não nos cabe julgar de acordo com nossos

parâmetros.

Na empatia consoante Araújo e Freire (2014) relacionam-se com a

aceitação incondicional, pois a mesma tenta escutar melhor o cliente percebendo o

fenômeno sem distorções e a empatia acolhe a disparidade do outro. Entrementes a

empatia também se alia a congruência no sentido de ouvir, perceber e compreender

como o cliente percebe a si mesmo. Doutro modo o terapeuta irá ouvir apenas o que

lhe é relevante, correndo o risco de haver distorções no processo de escuta.

Esses aspectos requerem do terapeuta uma atitude de suspensão de juízo

de valor em que ele aceita o cliente de uma forma incondicional, deixando-o livre e à

vontade para comunicar seus medos e angústia, ademais o terapeuta entregando-se

a essa relação sem resistências vivendo abertamente os sentimentos, a terapia fluirá

e existirá a possibilidade de mudança e crescimento por parte do sujeito.

Se as pessoas são aceitas e consideradas, elas tendem a desenvolver uma atitude de maior consideração em relação a si mesmas. Quando as pessoas são ouvidas de modo empático, isto lhes possibilita ouvir mais cuidadosamente o fluxo de suas experiências internas. Mas à medida que uma pessoa compreende e considera o seu eu, este se torna mais congruente com suas próprias experiências. A pessoa torna-se então mais verdadeira, mais genuína. (ROGERS, 1987. p.5 ).

Messias e Cury (2015) fazem menção de que um indivíduo congruente é

apto em adotar, adaptar e atualizar sinais e ideias em relação a si e ao outro com

clareza, ela consegue renovar-se, o incongruente em oposição é inflexível e não

consegue adaptar-se a novas ideias no processo de experienciar.

Nas palavras de Rogers (2009) é destacada que a comunicação é muito

eficaz na resolução de problemas, porém à nossa propensão original é de julgar o

outro. Mas quando ouvimos com depreensão, percebendo como o outro sente e

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age, entendemos de uma forma intensa a personalidade do sujeito. Com isso,

podemos causar nesse indivíduo uma poderosa transformação e efetivamente

mudança em nós mesmos.

Se compreendemos realmente uma pessoa desse modo, se estamos dispostos a entrar no seu mundo privado e a ver a forma como a vida lhe parece, sem qualquer tentativa para pronunciar juízo de valor, corremos um risco de sermos nós próprios a mudar (ROGERS, 2014, p.386).

Em se tratando de compreender o sujeito Rogers (1987) percebe que deve

haver uma comunicação pessoal. O terapeuta deve ouvir o cliente e sentir prazer em

ouvir, sendo assim ele consegue ao mesmo tempo entrar contato ilimitado com a

verdade que existe em si e no outro.

Creio que sei por que me é gratificante ouvir alguém. Quando consigo realmente ouvir alguém, isso me coloca em contato com ele, isso enriquece a minha vida. Foi ouvindo pessoas que aprendi tudo o que sei sobre as pessoas, sobre a personalidade, sobre as relações interpessoais. Ouvir verdadeiramente alguém resulta numa outra satisfação especial. É como ouvir a música das estrelas, pois por trás da mensagem imediata de uma pessoa, qualquer que seja essa mensagem, há o universal. Escondidas sob as comunicações pessoais que eu realmente ouço, parecem haver leis psicológicas ordenadas, aspectos da mesma ordem que encontramos no universo como um todo. Assim, existem ao mesmo tempo a satisfação de ouvir esta pessoa e a satisfação de sentir o próprio eu em contato com uma verdade universal. (ROGERS, 1980).

Rogers (1987) revela que para ouvir alguém, deve-se fazer uma leitura

profunda de suas palavras, pensamentos, profundidade de seus sentimentos, seus

conteúdos íntimos, até mesmo o que não é dito. Deve ser capaz de compreender o

que está imerso, apreender os conteúdos da pessoa, o que ela quer dizer, o que

teme e que possa familiarizar-se com o sentimento dela. Assim, Rogers enfatiza que

o ouvir traz muitas experiências relevantes, ouvir a pessoa traz mudanças bilaterais,

entramos em contato com o mundo do outro, seus significados mais pessoais e

como resultado percebemos um olhar agradecido, um alívio, uma liberdade para

expressar-se cada vez mais, e é ali que a pessoa consegue abrir-se mais

plenamente ao processo de mudança.

Tenho notado frequentemente que quanto mais presto uma profunda atenção aos significados de uma pessoa, mais acontece o que relatei. Quando percebem que foram profundamente ouvidas, as pessoas quase sempre ficam com os olhos marejados. Acho que na verdade trata-se de

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chorar de alegria. É como se estivessem dizendo: “Graças a Deus, alguém me ouviu. Há alguém que sabe o que significa estar na minha própria pele”.

(ROGERS, 1987. p. 59).

Rogers (1987) nos chama a atenção para situações em que não

conseguimos ouvir a pessoa. Quando decidimos ouvir o que queremos acabamos

sutilmente distorcendo sua mensagem e com isso o terapeuta pode manipular a

pessoa para que ele seja e diga o que o profissional quer ouvir.

Araújo e Freire (2014) afirmam que a Abordagem Centrada na Pessoa

valoriza o indivíduo, com o fim de propiciar um encontro de qualidade entre

terapeuta e cliente. Também enfatiza que a formação profissional é de total

importância, porém as características pessoais do terapeuta se sobrepõem no

processo da prática clínica. Assim o terapeuta deve dar lugar à experiência

organísmica do sujeito, o deixando livre para mostrar suas preferências por um tipo

ou outro de objeto e/ou ação. O psicólogo deve esquivar-se de utilizar valores que já

foram introjetados, caso o profissional lance mão dessa ferramenta ele pode cair no

erro de influenciar o cliente, nesse caso cabe ao psicólogo assegurar que o cliente

possa valer-se de sua própria experiência.

Para que esse desenvolvimento e integralidade aconteçam Araújo e Freire

(2014) acreditam que o terapeuta deve propiciar um ambiente acolhedor e de

compreensão. Certamente esse objetivo pode ser alcançado se o terapeuta

desenvolver as atitudes facilitadoras como a autenticidade, a consideração positiva e

a empatia. No processo terapêutico faz-se necessário o uso dessas atitudes, porém

os autores frisam que o próprio Rogers (2009) adverte que nem sempre se pode

manter tais atitudes, mesmo assim é importante tentar praticar para suscitar uma

transformação de personalidade.

Os autores acima citados ressaltam que na Abordagem Centrada na Pessoa

a princípio não existe técnicas, porém enfatizam que as atitudes propiciam para o

indivíduo o sentimento de ser único. Na formação do conselheiro é enfatizada uma

aprendizagem teórica, como também vivencial e significativa, com o propósito de

conhecer a vida dos envolvidos. Nesse sentido as técnicas tomam um lugar

secundário, pois o foco é a relação “pessoa para pessoa”. Os autores consideram

que o ambiente acolhedor no setting terapêutico proporciona um encontro mais

caloroso entre psicoterapeuta e cliente.

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As atitudes facilitadoras podem possibilitar a completude na relação dando a

oportunidade ao cliente de desenvolver-se e tendo completo conhecimento de si e

de suas potencialidades. Além disso, o profissional deve estar à vontade para

mostrar-se como uma pessoa com sentimentos e não apenas um prestador de

serviço. A abordagem centrada na pessoa valoriza muito mais a ética que se

manifesta na postura do terapeuta, onde o cliente é tratado de forma singular e

pessoal do que a uma técnica. (AMATUZZI, 2010 apud BEZERRA; BEZERRA,

2012).

De acordo com Araújo e Freire (2014) a atuação do psicólogo na clínica

pode ser voltada aos valores que desenvolva uma aprendizagem dos mesmos.

Esses valores são experienciais e não se referem apenas às experiências do

psicólogo, mas também aquelas vividas pelo cliente, mesmo que esses valores

sejam diferentes. A clínica é um ambiente que deve ser voltado a pessoa do cliente,

onde o mesmo possa desenvolver-se. Por mais que haja diferenças de valores

nessa relação deve-se optar por valores que possam favorecer uma relação

verdadeira. A Abordagem Centrada na Pessoa visa à transformação de valores de

acordo com a experiência de cada organismo, como afirma Rogers pode haver

desenvolvimento pessoal no processo terapêutico.

Do mesmo modo Carl Rogers valorizou a pessoa do psicoterapeuta e

segundo Araújo e Freire (2014) o papel do psicólogo é o de propiciar a pessoa do

cliente um ambiente de satisfação e com isso o profissional torna-se relevante no

processo.

(...) A essência da terapia... é um encontro de duas pessoas, no qual o terapeuta é aberta e livremente ele próprio e evidencia isto talvez mais completamente, quando ele pode livre e com receptividade entrar no mundo da outra. (...) O cliente sente-se confirmado (para usar o termo de Buber) não somente no que ele é, mas em suas potencialidades. Pode afirmar-se, temerosamente de estar certo, como uma pessoa única, separada. Pode tornarse o arquiteto de seu próprio futuro através do funcionamento de sua consciência. O que isso quer dizer é que já que ele está mais aberto à sua experiência, pode permitir-se viver simbolicamente em função de todas as possibilidades. Pode consentidamente dar vida, em seus pensamentos e sentimentos, aos impulsos criativos dentro de si mesmo, às tendências destrutivas que ele descobre dentro de si, ao desafio do crescimento, ao desafio da morte. Pode fazer face, em seu consciente, ao que para ele significa ser, e o que lhe significa não ser. Torna-se uma pessoa humana autônoma capaz de ser o que é e de escolher seu caminho. Este é o resultado da terapia, vista por esta segunda tendência. (ROGERS, 1980 apud BEZERRA; BEZERRA, 2012. p. 100-101).

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Por sua vez é considerável que o profissional esteja em vigilância e tenha

cuidado de não tomar parte com seus sentimentos no processo do cliente,

mantendo-se em neutralidade, para não se colocar em uma posição de autoridade

(ROGERS, 1974 apud ARAÚJO; FREIRE, 2014).

2.3 PSICOPATOLOGIA NA PERSPECTIVA DA ABORDAGEM CENTRADA NA

PESSOA

A abordagem Centrada na Pessoa não tem como ênfase a classificação e o

diagnóstico de um transtorno, mas sim interesse nos indivíduos que experienciam

desadaptações emocionais como os processos psicóticos. Nesse processo

procurasse a superação de certos rótulos da doença, bem como demonstrar que a

relação terapêutica facilita essa mudança.

Na história da loucura Souza, Callou e Moreira (2013) enfatizam que esse

fenômeno passou por vários conceitos. Na Idade Média foi considerada como uma

possessão demoníaca, na modernidade ficou conhecida como perda da razão e por

fim nos dias de hoje concebida como uma doença mental. Porém quando o saber

médico ganhou força à loucura passa a fazer parte da medicina por meio da

psiquiatria, por conseguinte começa a fazer parte da psicopatologia.

Os autores acima mencionados apontam para um erro em relação à origem

dessa psicopatologia e em que circunstância esse fenômeno se constituía. Pois a

clínica psiquiátrica confundia em que condições os fenômenos psicopatológicos se

iniciavam, dessa forma deixavam de lado as variáveis biológicas e psicológicas.

Diante disso colaborava-se para a concepção de que existia uma cisão entre mente

e corpo, forçando assim a psiquiatria a descrever vários sintomas que não dava

sentido a esse adoecimento psíquico, nem tampouco uma compreensão dessa

patologia. Assim delimitava outras áreas do saber, como a psicologia, pois

reafirmavam um motivo apenas orgânico.

Souza, Callou e Moreira (2013) consideram que são inúmeras as discursões

sobre o humano e os fenômenos mentais e podemos citar a Abordagem Centrada

na Pessoa. Porém não se pode confirmar que o psicólogo norte-americano Carl

Rogers que desenvolveu essa abordagem tenha estudado acerca desse fenômeno

mental. Segundo os autores acima citados para Carl Rogers o primordial para a

psicoterapia era a relação pessoa-a-pessoa, o essencial para ele era valorizar o ser

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humano em sua totalidade sem precisar de uma classificação diagnóstica. Carl

Rogers deu uma importante contribuição para o estudo sobre fenômenos mentais,

pois em sua teoria destacava a relação interpessoal, bem como o olhar do

psicoterapeuta ou facilitador.

Recai sobre o psicoterapeuta a responsabilidade de dar ao cliente a

liberdade para ele expressar seus sentimentos em busca de uma maior autonomia

sem atribuir ao mesmo uma rotulação. Rogers preconiza a relação intersubjetiva e

deixa em segundo plano a compreensão da doença.

Todavia Rogers (1987) ressalva que desde 1949, existe um grande número

de estudos que demonstram que a psicologia centrada no cliente traz benefícios a

pessoas esquizofrênicas e perturbadas, no entanto vale deixar claro que esse

processo só será ativado em condições facilitadoras.

No que se refere à Psicopatologia Fenomenológica Souza, Callou e Moreira

(2013) ressaltam que foi inspirada na filosofia de autores como Husserl e Heidegger,

dentre outros, enfatizando a profundidade da experiência do sujeito acometido por

um fenômeno mental. Eles preferiam verificar o modo como esse fenômeno se

revelava e como o sujeito vivenciava esse transtorno com o fim de romper com os

parâmetros de normal e patológico que apenas servem para excluir os sujeitos com

diagnósticos.

Sobre o adoecimento mental a Abordagem Centrada na Pessoa enfatiza

segundo Souza, Callou e Moreira (2016) que os indivíduos nascem com uma

tendência chamada por Rogers de Tendência Atualizante que é a capacidade de

autorregulação, ao desenvolvimento e ao amadurecimento do próprio organismo.

Essa tendência deve nortear o comportamento do terapeuta no que diz respeito ao

seu cliente de tal modo que a confiança que o terapeuta deposita no cliente liberta e

propicia as condições de um crescimento.

A tendência realizadora é seletiva, prestando atenção apenas àqueles aspectos do ambiente que prometem levar a pessoa construtivamente na direção da realização e da completude. Por outro lado, existe uma única força motivadora, o impulso auto-realizador; por outro, existe uma única meta de vida, auto-realizar-se ou ser uma pessoa completa. (HALL; LINDZEY; CAMPBELL, 2008, p.369).

Hall, Lindzey e Campbell (2000) endossam que o organismo torna-se mais

autônomo e ampliado à medida que amadurece, mas para que isso aconteça o

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terapeuta deve ser genuíno e congruente, aceitando empaticamente o cliente,

proporcionando um clima de mudança em que o mesmo sinta-se livre para

expressar-se. A vida das pessoas está em movimento sempre em avanço e essa

tendência deve ser explorada pelo terapeuta a fim de conseguir a melhora do

cliente.

Souza, Callou e Moreira (2013) abonam que Rogers acreditava na

capacidade do cliente para a autorregulação e que a força interior que existe em

cada indivíduo o conduz em direção ao crescimento e mudança terapêutica, mesmo

nos casos mais graves de desordens psíquicas.

Reafirmando o que foi exposto por Souza, Callou e Moreira (2013) sobre a

tendência atualizante, considera-se que o sujeito nasce com essa tendência, porém

para que isso aconteça precisa ser estimulada para que ocorra a mudança do

indivíduo. Contudo, essa mudança só poderá acontecer se forem utilizadas pelo

terapeuta seis condições suficientes para uma modificação da personalidade. Uma

delas seria a incongruência do cliente que o torna vulnerável e ansioso. Nesse

momento o cliente distorce a imagem de si próprio com o que realmente está

vivenciando. Isso significa que, se o terapeuta agrega as seis condições facilitadoras

à relação terapeuta/cliente, a mudança indubitavelmente seria alcançada

plenamente. ROGERS (1980) diz que a tendência realizadora pode ser frustrada ou

desvirtuada, mas não pode ser destruída sem que se destrua também o organismo.

Para Souza, Callou e Moreira (2013) a classificação e o diagnóstico são

mecanismos importantes, no entanto para o processo terapêutico esse olhar torna-

se tendencioso, pois coisifica o cliente, encerrando seu modo de ser. O

psicoterapeuta deve objetivar o crescimento do cliente e aceitá-lo sem impor seu

próprio ponto de vista. O terapeuta auxilia o cliente para que o mesmo entre em

contato com o seu processo de autorrealização, preocupando-se em assegurar um

clima facilitador sem ideias já estabelecidas, e esse clima só poderá acontecer se o

profissional utilizar as qualidades atitudinais de congruência, compreensão empática

e olhar incondicionalmente positivo.

A presença dessas atitudes cria um clima adequado para o crescimento do

cliente que atingiria uma condição de ajustamento e lhe seria permitido experimentar

certos elementos antes danoso de uma forma mais salutar. Diante disso, Rogers

descreve a terapia bem-sucedida centrada no cliente, realizada em condições

ótimas:

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Significa que o terapeuta foi capaz de estabelecer um relacionamento intensamente pessoal e subjetivo com o cliente – relacionando-se não como um cientista com um objeto de estudo, não como um médico, esperando diagnosticar e curar – mas como uma pessoa com outra pessoa. (...) Para o cliente, essa terapia ótima significa uma exploração de sentimentos cada vez mais estranhos, desconhecidos e perigosos nele mesmo, a exploração só sendo possível porque ele está gradualmente percebendo que é aceito incondicionalmente (HALL, LINDZEY, CAMPBELL, 2008, p.363).

Nessa experiência em nível ótimo Souza, Callou e Moreira (2013) afirmam

que quando se obtêm esse nível em psicoterapia significa que o cliente conquistou

um funcionamento pleno, na Terapia Centrada no Cliente. Considera-se que o

indivíduo está literalmente dedicado ao processo de mudança.

Nas palavras de Rogers (2009) é evidenciado que o sujeito desajustado

emocionalmente sente dificuldades de comunicação com os outros e consigo

mesmo, sendo assim poderá acontecer às distorções na comunicação desse sujeito

com suas relações interpessoais.

A pessoa emocionalmente desadaptada, o “neurótico”, tem dificuldades, em primeiro lugar, porque rompeu a comunicação consigo próprio e, em segundo, porque, como resultado dessa ruptura, a comunicação com os outros se viu prejudicada. (...) No indivíduo “neurótico”, partes dele que permaneceram inconscientes, ou reprimidas, ou negadas à consciência, sofrem uma obstrução que impede a comunicação com a parte consciente ou dirigente do indivíduo. (ROGERS, 2009. p. 382).

Mas diante do exposto acima Souza, Callou e Moreira (2013) sumarizam

que em psicoterapia essa pessoa terá o espaço de experimentar sua liberdade para

escolher a diretriz do seu processo, podendo ser ele mesmo e expressar todos os

seus comportamentos quer sejam construtivos ou destrutivos, funcionais ou

disfuncionais, sabendo que será compreendido e aceito pelo terapeuta.

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3 METODOLOGIA

Nessa pesquisa utilizou-se como método revisão bibliográfica com a

finalidade de compreender a esquizofrenia na perspectiva da Abordagem Centrada

na Pessoa e as práticas desenvolvidas no tratamento do indivíduo acometido por

essa patologia, seguindo os critérios de inclusão e exclusão previamente

determinados.

De acordo com Marconi e Lakatos (2003) a pesquisa bibliográfica ou de

fontes secundárias, compreende toda bibliografia já publicada em relação ao tema

que está sendo exposto, a partir de publicações avulsas, boletim, jornais, revistas,

livros, pesquisas, monografias, teses, materiais cartográficos dentre outros, até

mesmo os meios de comunicação orais. Tendo como finalidade por o pesquisador

em contato com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre o assunto.

A Metodologia Científica de acordo com Marconi e Lakatos (2003), mais do

que uma disciplina, significa introduzir o discente no mundo dos procedimentos

sistemáticos e racionais, base da formação tanto do estudioso quanto do

profissional, pois ambos atuam, além da prática, no mundo das ideias. Podemos

afirmar até: a prática nasce da concepção sobre o que deve ser realizada e qualquer

tomada de decisão fundamenta-se naquilo que se afigura como o mais lógico,

racional, eficiente e eficaz.

Assim sendo, o presente trabalho foi realizado através de buscas em

periódicos científicos selecionados por critérios de inclusão e exclusão delimitados.

Realizando-se também a busca de referencias teórica publicados, os mesmos

nortearam a pesquisa, contribuindo para a análise e organização dos dados

coletados, além de terem fundamentado e dado base a todo o estudo.

3.1 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO

Os critérios de inclusão estabelecidos para a seleção dos artigos publicados

foram os seguintes: terem sido publicados entre os anos de 2011 a 2017, estarem

disponíveis em língua portuguesa ou inglesa, e que contemplem o tema e os

objetivos da pesquisa. Em contrapartida, foram excluídos artigos que não se

enquadravam nos referidos objetivos da pesquisa, os que os textos não estavam

disponíveis na integra, além de cartas, editoriais e comentários.

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3.2 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

Foram realizadas buscas, no período de agosto a setembro de 2017, nos

seguintes bancos de dados online: Literatura Latino-Americana e do Caribe em

Ciências da Saúde (LILACS) – que foram acessados através do portal bvsalud

(BVS); e no banco de dados Scientific Eletronic Library Online (SCIELO). Essas

bases de dados foram selecionadas por terem respaldo nacional e por disponibilizar

as publicações de forma gratuita. Foram encontrados 10 artigos no banco de dados

SCIELO e 01 artigo no LILACS. Para seleção dos artigos foram utilizadas as

seguintes palavras-chaves: esquizofrenia, abordagem centrada na pessoa,

esquizofrenia e terapia centrada no cliente. Ressaltando que estas foram

selecionadas via DecS e BVS-Psi.

3.3 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS

Acerca da avaliação e análise do material coletado foram analisados os

artigos que cumpriram com os critérios de inclusão. Utilizaram-se como palavras

chaves: Esquizofrenia; Abordagem Centrada na Pessoa; Psicopatologia na

perspectiva da Abordagem Centrada na Pessoa.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foram encontrados e incluídos onze referências que preencheram os

critérios previamente determinados pelo estudo, que descrevem de forma objetiva e

atualizada sobre o tema, além de obras literárias.

Seguindo a análise, destacam-se as modalidades dos trabalhos científicos

estudados e os bancos de dados online utilizados pelos mesmos, sendo expostos no

quadro 1.

Quadro 1 – Dados Gerais dos artigos pesquisados

DOCUMENTO FONTE IDIOMA AUTOR(ES)/ANO

1 Ajustamento familiar após o surgimento da esquizofrenia

SciELO Português Araújo e Freire

(2014)

2 A realidade do viver com esquizofrenia

SciELO Português Oliveira, Facina e

Siqueira Júnior (2012)

3 A esquizofrenia sob a ótica humanista e existencial

SciELO Português VIANA (2012)

4

A questão da psicopatologia na perspectiva da abordagem centrada na pessoa: diálogos com Arthur Tatossian

LILACS Português Souza, Callou e Moreira (2013)

5 Aspectos humanistas, existenciais e fenomenológicos presentes na abordagem centrada na pessoa

SciELO Português Bezerra e Bezerra

(2012)

6 Esquizofrenia: Uma revisão bibliográfica

SciELO Português Silva et al. (2016)

7

Grupo com pacientes institucionalizados portadores de esquizofrenia: contribuições da Psicologia da Saúde e da Psicologia Humanista

SciELO Português Brandão, Araújo e

Máximo (2011)

8 Os valores e a sua importância para a teoria da clínica da abordagem centrada na pessoa

SciELO Português Araújo e Freire

(2014)

9 Perspectiva da família na convivência com o portador de esquizofrenia

SciELO Português Silva, Jorge e

Queiroz (2016)

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10

Psicose e esquizofrenia: Efeitos das mudanças nas classificações psiquiátricas sobre a abordagem clínica e teórica das doenças mentais.

SciELO Português Tenório (2016)

11 Psicoterapia centrada na pessoa e o impacto do conceito de experienciação.

SciELO Português Messias e Cury

(2015)

Ao se analisar o quadro 1, observa-se que em relação ao idioma das

publicações, do total de 11 artigos, verifica-se que todos constam no idioma

português. Assim sendo, pode-se inferir que, no que tange a produção científica de

estudos e pesquisas sobre a esquizofrenia na perspectiva da abordagem centrada

na pessoa, a língua portuguesa vem se destacando. Em continuação à exposição

das informações e bases coletadas, segue-se a apresentação dos dados

organizados por objetivo principal e por resultados.

Quadro 2 - Objetivo principal das pesquisas e seus resultados

TITULOS OBJETIVO PRINCIPAL DA

PESQUISA RESULTADOS

Ajustamento familiar após o surgimento da esquizofrenia.

Conhecer o processo de ajustamento familiar nos cinco primeiros anos após o diagnostico de esquizofrenia.

Pode ser percebida mudança de comportamento após o aparecimento da doença, bem como a melhora no quadro do doente logo após a adesão ao tratamento.

A realidade do viver com esquizofrenia.

Entender a realidade do viver com esquizofrenia a partir do relato de quem a vivencia.

A importância de se escutar as pessoas que vivenciam esse processo de adoecimento diariamente em suas vidas.

A esquizofrenia sob a ótica humanista e existencial

Entender a esquizofrenia dentro da percepção do humanismo

A cura não é solucionar problemas, mas entrar em contato com a tendência atualizante que cada um tem dentro de si, com uma relação genuína e congruente

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A questão da psicopatologia na perspectiva da abordagem centrada na pessoa: diálogos com Arthur Tatossian.

Pensar possíveis contribuições da psicopatologia fenomenológica de Arthur Tatossian para a clínica humanista.

Tatossian não se limita ao diagnóstico ou ao sintoma, mas, diferentemente dele, não focaliza a pessoa como o centro único da questão. Ele propõe a compreensão de uma experiência que é objetiva e subjetiva, simultaneamente, e que se constitui de forma ambígua no entrelaçamento de ambas.

Aspectos humanistas, existenciais e fenomenológicos presentes na abordagem centrada na pessoa.

Contribuir na reflexão sobre as possíveis correlações entre essas perspectivas filosóficas e a Abordagem Centrada na Pessoa.

A ACP é detentora de um corpo teórico próprio, sistematizado e consistente, aberta a permanente atualização, conclui-se que, antes de tudo, é uma abordagem psicológica singular, com sólida fundamentação em pesquisas acadêmicas estabelecidas a partir de atendimentos psicoterápicos, ampliada posteriormente para diferentes tipos de relação de ajuda.

Esquizofrenia: Uma revisão bibliográfica.

Propiciar conhecimento que auxiliarão a um maior entendimento sobre esta patologia.

Conhecer a esquizofrenia é de essencial relevância para o entendimento da doença em si e também acompanhar de forma adequada.

Grupo com pacientes institucionalizados portadores de esquizofrenia: contribuições da Psicologia da Saúde e da Psicologia Humanista

Gerar condições de humanização àqueles que, devido ao quadro clínico, às condições de saúde, em geral, e ao abandono familiar, vivem a situação de exclusão institucionalizada.

Seja na prevenção, na promoção da saúde ou no tratamento de doenças, o importante é que o trabalho do psicólogo chegue onde houver a necessidade de favorecer o desenvolvimento de aspectos saudáveis.

Os valores e a sua importância para a teoria da clínica da abordagem centrada na pessoa.

Discutir o lugar dos valores pessoais do psicólogo na teoria da clínica da ACP. Compreendemos que a psicoterapia rogeriana é um processo de aprendizagem significativa de valores, o que não implica em um ensino de tais valores por parte do psicólogo.

Pudemos verificar e apontar que a prática da abordagem centrada na pessoa está estabelecida sobre valores que embasam, desde o seu modo de pensar e de fazer ciência, até a sua proposta de atuação, envolvendo as atitudes facilitadoras, bem como a atividade clínica como um todo.

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Perspectiva da família na convivência com o portador de esquizofrenia.

Compreender a convivência da família com o membro portador de esquizofrenia.

As famílias adquiriram conhecimento nas reuniões com os profissionais e com as trocas de informações com as outras famílias e isso ajudou no convívio com o doente.

Psicose e esquizofrenia: Efeitos das mudanças nas classificações psiquiátricas sobre a abordagem clínica e teórica das doenças mentais.

Indicar de maneira útil para o trabalho dos profissionais da saúde mental, a validade clínica da divisão entre neurose e psicose, seu alto poder de orientação prática, e, sobretudo, a necessidade de perseguirmos um entendimento profundo do que é a psicose como condição psicopatológica que define, não um “a menos” no funcionamento mental, mas uma lógica específica de funcionamento de um sujeito em face das exigências da vida e da subjetividade.

Conforme o sujeito seja psicótico ou neurótico, ele tenderá a responder às injunções capitais da vida de modo diferente.

Psicoterapia centrada na pessoa e o impacto do conceito de experienciação.

O foco deste artigo dirige-se das contribuições no campo da psicoterapia, de hipóteses formuladas por Eugene T. Gendlin. Atualmente as abordagens derivadas da obra desses dois autores são independentes e extrapolaram o campo restrito da intervenção psicoterapêutica, tendo seus conceitos sido aplicados em variados contextos como educação, relações sociais, relações de trabalho, arte, saúde e política, entre outros.

As condições essenciais para a transformação terapêutica foram descritas por ele com extrema clareza.

Após a exposição e análise dos dados dos estudos científicos que foram

utilizados e com a releitura dos mesmos para que não fosse perdido o fundamento

do estudo, podemos inferir que foram encontradas informações sobre diversos

temas como: o ajustamento familiar após o surgimento da esquizofrenia, a

importância da informação para a desmistificação da doença e o acompanhamento

humanizado àquele que é afetado pela esquizofrenia.

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Silva, Jorge e Queiroz (2016) mencionam que quando se fala em

esquizofrenia, percebe-se uma mudança de pensamento, outrora a doença era

considerada como algo sobrenatural, ou ainda como uma doença no cérebro, e hoje

se sabe que a mesma é uma doença de multicausalidades, ou seja, não se pode

justifica-la apenas através de uma única vertente, é necessário um olhar mais amplo

e múltiplo da doença. Vários aspectos do ser devem ser considerados, além de não

se falar em uma cura, mas sim em uma reabilitação na esfera psicossocial.

A esquizofrenia caracteriza-se por disfunções dos vínculos interpessoais e a

inaptidão de raciocinar e comunicar-se com o externo e modifica os processos

cognitivos (ISAACS, 1998 apud VIANA, 2012). Vale ressaltar que é uma disfunção

que acomete cerca de 1% da população do mundo e que afeta ambos os gêneros,

há relatos que desde os primórdios que existem descrições de sinais e sintomas

bem semelhantes ao que atualmente chamamos de esquizofrenia. (SADOCK;

SADOCK, 2006 apud VIANA 2018).

Vale citar que conforme Viana (2012) Bleuler deu ênfase em sinais e

sintomas, pois julgava serem essenciais e evidenciou a dissolução das funções da

mente como particularidades distintas dessa disfunção. Além disso, o mesmo

afirmava que essa doença não tinha apenas um transtorno, mas um grupo de

transtornos que se caracterizava por sintomatologias comuns.

Bleuler (1993, p.45) define como esquizofrenia um grupo de psicoses caracterizado “por uma alteração do pensamento, do sentimento e das relações com o mundo exterior de um tipo específico e que não encontramos em nenhum outro lugar”. Há “uma cisão mais ou menos nítida das funções psíquicas”, a personalidade “perde sua unidade”, os conceitos perdem sua integridade, muitas vezes reduzidos a representações parciais, a atividade associativa é fragmentada, interrompendo-se bruscamente, perdendo seu fio, adquirindo qualquer coisa de bizarra. Nos casos mais graves, deixa de haver qualquer manifestação de afeto; nos menos graves, o afeto é inadequado. Esses sintomas chamados fundamentais ficaram conhecidos como os “três As” da esquizofrenia de Bleuler: ambivalência, associações cindidas e afeto inadequado ou embotado. (TENÓRIO, 2016. p. 947)

Diante do exposto Viana (2012) corrobora enfatizando que a esquizofrenia

apresenta danos relevantes à vida do paciente, intervindo diretamente na habilidade

do sujeito em responder de forma positiva as condições da vida e do que é real, com

isso ocasiona danos em todas as esferas de sua vida, quer sejam sociais, afetivas

ou familiares. Esses danos se apresentam durante a fase mais tenra da idade ou

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início da fase adulta, começando com sintomas pouco peculiares, que pode ser

pontuada com a perda de energia, da iniciativa e do interesse, humor depressivo,

começa a se isolar, tem comportamentos inapropriados, desleixo com a aparência e

higiene pessoal podendo desaparecer por um tempo até que reapareça com

sintomas mais peculiares da doença.

Romero (2010 p. 53) o patológico é aquilo que deteriora e ameaça tanto a vida quanto a existência, limitando-as em suas atividades e capacidades originárias. Assim, vida e existência estão numa constante interdependência; a existência se torna psicopatológica quando nega mistifica e aliena seu ser mais próprio: sua liberdade, suas possibilidades, sua realização mesma. O psicopatológico não é algo externo ao indivíduo, é a própria existência que se perde e degrada (VIANA, 2012. p. 42).

O ajustamento familiar após o surgimento da esquizofrenia sendo relevante

conhecer o processo de ajustamento familiar nos primeiros anos após o diagnóstico

de esquizofrenia e que diante disso pode ser percebida a mudança de

comportamento após o aparecimento da doença. Com as informações e

acompanhamento dessa família é possível que tanto a família como o doente

possam dar um novo significado as suas vidas. Podendo observar que com a

adesão do doente ao tratamento médico-medicamentoso e a psicoterapia foi

observado à melhora desse sujeito. (ARAÚJO; FREIRE, 2014).

Além disso, deve-se esclarecer também a população sobre esse processo

de adoecimento para que seja tomada uma posição mais positiva em relação ao

sujeito, que por sua vez sofre com muito preconceito por falta da informação correta.

Com isso estereótipos ou distorções da realidade são vinculados a esses sujeitos,

do mesmo modo que as fantasias sobre esquizofrênicos fazem com que as pessoas

se afastem com medo dos doentes, soma-se a isso a não adesão do sujeito afetado

ao tratamento por medo de serem rejeitados. Conhecer a doença e propiciar uma

melhoria na vida desse sujeito e dar a ele uma condição de acompanhamento

adequado. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA, 2014).

Oliveira, Facine e Siqueira Junior (2012) corroboram com o que foi exposto

acima explicitando que o sujeito deve ter consciência da sua realidade, sabendo que

o tratamento deve ser mantido durante toda sua vida e que a família deve ser

também informada para que ajude o portador dessa afecção. Com as informações

corretas família e doente podem discernir episódios que podem desencadear as

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reincidências e os fenômenos anteriores. Analisando a dificuldade, a gravidade e

outras implicações relevantes, torna-se a relevância de atentar para esses sujeitos

com empatia, acolhendo e reconhecer que esse sujeito sofre e que precisa

ressignificar sua vida para coexistir com a doença.

Ademais dentro de um acompanhamento em condições humanizadas

àqueles que sofrem com esse distúrbio devido ao quadro clínico, às condições de

saúde agravadas e também devido ao abandono da família que os excluem

institucionalizando-os, o importante é que para o tratamento ter êxito é preciso que o

psicólogo esteja onde houver a necessidade para que favoreça o desenvolvimento

saudável do ser humano. (BRANDÃO; ARAÚJO; MÁXIMO, 2012).

Segundo os autores Silva, Jorge e Queiroz (2016) a família é ser ativo no

processo de reabilitação do sujeito acometido pela esquizofrenia. Assim sendo, é

necessário que a mesma se aproprie das informações e passe a ter uma

compreensão desse processo de adoecimento, principalmente pelo fato de uma de

suas funções fundamentais serem sociabilização e formação de seus integrantes,

além da mesma ser grande rede de apoio ao doente.

Pode-se perceber também a realidade do viver com esquizofrenia para uma

melhor compreensão dessa vivência e como é importante o ato de escutar com

apreensão a essas pessoas que experienciam esse processo de adoecimento

diariamente em suas vidas. (OLIVEIRA; FACINA; SIQUEIRA JÚNIOR, 2012).

Entendendo o processo de adoecimento dessa psicopatologia, pode-se

entendê-la sob a ótica humanista e existencial e dentro dessa percepção do

humanismo na perspectiva da abordagem centrada na pessoa podemos inferir que a

cura nessa abordagem não significa dizer que é solucionar o problema, mas sim

entrar em contato com a tendência que todo sujeito tem em autorrealizar-se e para

isso deve-se promover uma relação verdadeira e honesta. (VIANA, 2012).

Dentro dessa compreensão da abordagem ACP em relação à esquizofrenia

pode-se constatar que não podemos nos limitar a diagnósticos ou a sintomas, mas

sim dar ênfase a pessoa como o cerne da questão, sendo proposta à compreensão

dessa afecção de uma forma objetiva e subjetiva para ambas as partes. Chamar a

atenção para o papel ativo e não passivo desse sujeito, como um agente que pode

interpretar sua vida e envolver-se com as pessoas do seu mundo. (SOUZA;

CALLOU; MOREIRA, 2012).

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Com relação à prevalência da doença foi evidenciado de acordo com

Sadock e Sadock (2008) que a esquizofrenia acomete tanto homens como mulheres

se distinguindo apenas em relação à idade, porém a Associação Brasileira de

Psiquiatria (2014) ressalva que a esquizofrenia acomete mais o sexo masculino.

Porém com respeito ao tratamento e reabilitação do esquizofrênico, Viana (2012)

aponta que se faz necessário a adesão do paciente.

De acordo com os autores é importante a combinação dos fármacos para

um correto tratamento que podem proporcionar a estabilidade química, bem como a

psicoterapia, sendo relevante o relacionamento entre terapeuta e cliente. Com isso

tentasse minimizar o sofrimento e encorajar o cliente. Para isso é relevante

tratamentos que se completem para um melhoramento da sintomatologia, podendo

ser terapia individual ou grupal, bem como intervenção com a família. (NUNES, 2000

apud VIANA, 2012).

Todavia é relevante ressaltar que a esquizofrenia é oriunda de fatores

biopsicossociais e de acordo com os autores essa afecção inicia-se no contexto

familiar trazendo vários prejuízos tanto para o indivíduo como para a família. Diante

do exposto é fato que o relacionamento torna-se difícil inicialmente por falta de

informações. Esse indivíduo torna-se mais vulnerável e experimenta momentos de

extrema angústia, igualmente a família sofre com essa nova realidade. Contudo em

meio a tantas dúvidas a família consegue buscar o equilíbrio.

A família, no desempeno de seus papéis, tem uma função importante na dimensão da saúde por ser um sistema de referência do qual faz parte um modelo explicativo de saúde-doença a envolver um conjunto de valores, crenças, conhecimentos e práticas que conduzem as ações das famílias na promoção da saúde de seus membros, na prevenção e no tratamento da doença. Nas interações vivenciadas pelos componentes da família de per se, as ações e reflexões deles, resultarão na construção de um significado que lhes permitirá a definição do estado em que se encontram, assim como, a capacidade de desempenhar ações e reflexões na contínua interação. (SILVA; JORGE; QUEIROZ, 2013. p. 55).

Nesse contexto foi possível constatar que os autores concordam quanto à

necessidade de uma inclusão a um tratamento interdisciplinar que envolve alguns

elementos em particular: como a família, o tratamento farmacológico, atividades

ocupacionais e a psicoterapia.

Dentro desse universo de possibilidades foi dado destaque ao tratamento

psicoterapêutico, dando ênfase a Abordagem Centrada na Pessoa desenvolvida

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pelo psicólogo Carl Rogers. Essa abordagem dá ênfase ao aqui-agora e não

questiona se o cliente experiência, mas como ele experimenta os sentimentos. Além

disso, clarificasse que a ACP, há princípio não se utiliza de técnicas, mas de atitudes

que facilitam a mudança de comportamento do sujeito, já que essa doença não é

passível de cura. Cabe ao terapeuta propiciar essas atitudes facilitadoras como: a

congruência, a aceitação incondicional positiva e a empatia. Entende-se que o

indivíduo tende a buscar a autorrealização e com isso consegue ressignificar sua

vida. Mas para que isso aconteça o terapeuta deve favorecer um ambiente seguro

para que o cliente se sinta acolhido e capaz de exprimir seus sentimentos.

Contudo nas palavras dos autores cabe ressaltar que a Abordagem

Centrada na Pessoa não se detém em classificação diagnóstica, mas na relação

pessoa-a-pessoa, valorizando o indivíduo com todas as suas limitações e

potencialidades. O terapeuta deve ser autêntico e entender a personalidade do

sujeito, com uma escuta qualificada e deixando de lado o julgamento, com isso à

transformação efetivamente será bilateral.

O cliente deve ser o centro do tratamento, afirma a mesma, não se enfatizando a doença, mas a existência do doente, que é sujeito em potencial. Desta forma, as intermináveis classificações dos distúrbios psíquicos a partir de seus "sintomas" tornam-se irrelevantes do ponto de vista terapêutico. Não há necessidade de supor a existência de "doenças mentais" subjacentes aos fenômenos psíquicos considerados "anormais" ou "desajustados", nem de classificar ou diagnosticar o indivíduo para selecionar técnicas terapêuticas específicas. Toda terapia bem-sucedida é uma relação interpessoal caracterizada pela aceitação, empatia e genuinidade (FREIRE, 2000 apud VIANA, 2012).

No tratamento da esquizofrenia Viana (2012) enfatiza que os esquizofrênicos

experienciam complicações cognitivas e falta de manejo social. Contudo vale

ressaltar que as abordagens psicossociais fazem-se indispensáveis para que aja

uma interação entre sujeito, família e sociedade. Pensando nisso, cabe frisar que a

Psicologia Humanista deve buscar um manejo que ajude o cliente na mudança,

tornar-se honesto consigo mesmo, tomar consciência de suas escolhas e suas

responsabilidades e aprender a resolver seus conflitos internos.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo buscou compreender a esquizofrenia na perspectiva da

Abordagem Centrada na Pessoa, descrevendo as práticas Humanistas para a

reabilitação do paciente no quadro psíquico de esquizofrenia, além disso, entender

como ocorre o processo de adoecimento do esquizofrênico. Pois existe a

necessidade de desmistificar os preconceitos para que haja uma compreensão

dessa psicopatologia.

Em todas as obras encontradas, pode ser observada que os autores estão

em conformidade no que diz respeito à esquizofrenia. Seus relatos iniciam-se dando

ênfase no histórico da doença conceituando o que é a esquizofrenia, os avanços

que foram achados e no tratamento dessa psicopatologia.

Também foi abordada a relevância da família na reabilitação desse sujeito,

pois é na família que esse sujeito encontra o suporte para conseguir se ajustar a sua

nova realidade. A família por sua vez, experiencia momentos de desequilíbrio e

incertezas diante desse diagnóstico, com isso a informação se faz necessária para

que a doença seja desmistificada e a família possa estruturar-se e se adequar a

essa nova vida.

Evidenciou-se também que além da família é significativa a adesão ao

tratamento farmacológico para a estabilidade química do paciente, bem como a

inclusão desse indivíduo na psicoterapia.

A Abordagem Centrada na Pessoa prioriza o ser humano como pessoa e

procura clarificar quais requisitos são essenciais para que a mudança de

comportamento aconteça. Fundamenta-se no aqui-e-agora, dando ênfase ao

sentimento experienciado pelo cliente, sendo relevante a relação terapeuta/cliente.

Foi ressaltado que o indivíduo tem a disposição a buscar sua tendência

atualizante e com isso pode haver uma transformação em suas atitudes. Porém para

que isso ocorra não basta apenas à adesão ao tratamento psicoterapêutico, mas há

a necessidade de um ambiente acolhedor e facilitador e esse ambiente só será

atingido se o profissional se apropriar de uma postura de autenticidade.

Fica evidente que dentro do processo psicoterápico as condições de

autenticidade, a aceitação incondicional e a compreensão empática, são essenciais

para o bom estabelecimento da relação terapêutica. Nesse processo o terapeuta

deve utilizar essas ferramentas e experienciar esse encontro com o seu cliente

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levando em conta a particularidade de ambos os envolvidos. Cabe ressaltar que

ambos têm a responsabilidade e devem-se considerar as características intrínsecas

de um e outro.

No entanto o terapeuta deve ser cauteloso para não influenciar o cliente, sua

escuta deve ser qualificada a ponto de não distorcer o fenômeno que lhe é

manifestado. Ademais deve ser feito uma suspensão de juízo de valor e deve-se

procurar perceber o cliente como ele é e como ele se percebe. Nessa perspectiva o

terapeuta deve entregar-se a relação, a fim de quebrar todas as resistências para

que a terapia possa fluir.

Com respeito à comunicação observa-se que é eficaz nesse contexto da

relação, do mesmo modo que o ouvir com depreensão torna-se também produtivo,

pois nos torna aptos a compreender a personalidade do sujeito e pode-se entrar em

contato com conteúdos ilimitados de si e do outro. O ouvir traz muitas experiências e

mudanças, podemos entrar em contato com o mais íntimo da pessoa e com isso

podemos perceber o olhar agradecido e aliviado de liberdade.

Observa-se a necessidade de mais estudos sobre a temática psicopatologia

na perspectiva da Abordagem Centrada na Pessoa, para uma melhor compreensão

desse fenômeno. Acerca dessa temática os autores enfatizam a importância do

terapeuta e de como deve ser a sua postura no que se refere à relação

terapeuta/cliente. No que diz respeito à psicopatologia a Abordagem Centrada na

Pessoa prioriza a pessoa em si e não o diagnóstico, pois acredita na capacidade de

autorregulação do mesmo.

Fazem-se necessárias também mais pesquisas acerca da opinião e postura

de profissionais que prestam atendimento a esses sujeitos, pois alguns podem se

mostrar atualizados sobre a temática, com isso o manejo pode tornar-se mais

esclarecido e o atendimento mais eficaz, proporcionando ao sujeito a compreensão

da sua afecção e a adesão ao melhor tratamento e dessa forma favorecendo o

processo de mudança do comportamento disfuncional para um comportamento mais

salutar.

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