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Hans K. LaRondelle - Carruagens de Salvaçã

Date post: 25-Jul-2015
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CARRUAGENS DE SALVAÇÃO O Drama Bíblico do Armageddon Hans K. LaRondelle Título do original em inglês: Chariots of Salvation REVIEW AND HERALD PUBLISHING ASSOCIATION Washington, DC 20039-0555 Hagerstown, MD 21740 Copyright © 1987 by Review and Herald Publishing Association Tradução: Carlos Biagini Dedicado a todo estudante das profecias bíblicas que deseja estar pronto para a segunda vinda de Cristo.
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CCAARRRRUUAAGGEENNSS DDEE SSAALLVVAAÇÇÃÃOO

O Drama Bíblico do Armageddon

Hans K. LaRondelle

Título do original em inglês: Chariots of Salvation REVIEW AND HERALD PUBLISHING ASSOCIATION Washington, DC 20039-0555 Hagerstown, MD 21740 Copyright © 1987 by Review and Herald Publishing Association Tradução: Carlos Biagini

Dedicado a todo estudante das profecias bíblicas que deseja estar pronto para a segunda vinda de Cristo.

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Carruagens de Salvação 2

O Armagedom será um conflito do Oriente-Ocidente que conduz ao

holocausto nuclear? Desempenhará o Estado de Israel um papel principal nos eventos dos

últimos dias? Como deveríamos interpretar o livro do Apocalipse? Suas imagens são

literais ou simbólicas? Muitos escritores religiosos predisseram enredos dramáticos dos eventos dos

últimos dias. São bíblicos os seus pontos de vista? Como interpretamos corretamente a profecia?

O Dr. Hans K. LaRondelle, após trinta anos de estudo e ensino, escreve mostrando como a Bíblia interpreta suas próprias predições e promessas. Todas as profecias, ele explica, devem ser vistas através do seu cumprimento em Cristo. Quando vemos a Bíblia através de Cristo, não encontramos terríveis ameaças de guerra global mas a promessa emocionante de libertação divina para os que nEle confiam. As guerras do Antigo Testamento, onde Deus lutou pelo Seu povo, nos dão a chave para entender a batalha do Armagedom entre o Cordeiro e o anticristo.

Nascido nos Países Baixos, LaRondelle recebeu um doutorado em teologia sistemática e ética sob a orientação do notável teólogo Dr. G. C. Berkouwer. Atualmente é professor de teologia na Andrews University. Além de vários outros livros, ele publicou em periódicos como Andrews University Seminary Studies, Ministry, e o Journal of the Evangelical Theological Society.

". . . uma mui necessária correção nos pontos de vista populares dos tempos do fim.” – Tremper Longman III, Westminster Theological Seminary ". . . uma realização de marco na paisagem caótica de formulações escatológicas. " – Gilbert Bilezikian, Wheaton College "Especialmente interessante é o estudo de LaRondelle da falsa profecia no Antigo Testamento e como isto se aplica ao distinguir modernas versões de falsa profecia, até mesmo entre alguns vaticinadores evangélicos.” – Greg Beale, Gordon-Conwell Theological Seminary “. . . o único tratamento genuinamente detalhado, até onde eu sei, do mui discutido tópico do ‘Armagedom’.”

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Carruagens de Salvação 3

– Kenneth A. Strand, Andrews University

Agradecimentos Este livro é resultado de uma cortesia dos administradores da Andrews

University e do Seventh-day Adventist Theological Seminary em Berrien Springs, Michigan. O tempo que eles me concederam aos sábados me permitiu registrar o resultado de anos de estudo no tópico importante das guerras santas na Bíblia.

Eu gostaria de agradecer particularmente ao Dr. Raoul Dederen, decano associado do seminário e diretor de Teologia e do Departamento de Filosofia Cristã; ao Dr. Gerhard F. Hasel, decano do seminário; e Richard W. Schwarz, vice-presidente da administração acadêmica, por seu apoio moral e encorajamento na produção deste livro.

A reação de evangelistas e estudantes do seminário ajudaram-me a afiar minha compreensão deste tópico importante.

Este estudo foi beneficiado em particular pela crítica construtiva e sugestões positivas feitas pelo Dr. Gregory K. Beale, professor assistente do Novo Testamento, Divisão de Estudos Bíblicos, do Seminário Teológico Gordon-Conwell, de South Hamilton, Massachusetts.

Agradeço à minha esposa, Barbara, por digitar o manuscrito e pelas muitas horas de trabalho que ela empregou neste extenso projeto.

A menos que seja mencionado o contrário, os textos de Bíblia neste livro são da Bíblia Sagrada, com as siglas seguintes: RA – Almeida Revista e Atualizada. NVI – Nova Versão Internacional. BJ – A Bíblia de Jerusalém. NASB – New American Standard Bible. NEB – New English Bible. NKJV – New King James Version. RSV – Revised Standard Version.

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Carruagens de Salvação 4

PREFÁCIO Todos os que estão interessados em um estudo bíblico acerca do significado do

Armagedom serão gratos para este desafiador e iluminador livro do Dr. Hans K. LaRondelle.

Foram apresentados os princípios de hermenêutica que o autor adota efetivamente em seu trabalho prévio. The Israel of God in Prophecy: Principles of Prophetic Interpretation, AU Monographs, Vol. XIII, Studies in Religion (Andrews University Press, 1983).

Poucos estudantes da Bíblia tiveram sucesso em conseguir suporte para um tema específico a totalidade da revelação divina. Mais que outros, o Dr. LaRondelle parece ter alcançado sua meta, deixando a Bíblia ser o guia no tópico enigmático do Armagedom. Este livro pode ser chamado um marco miliário relacionado ao estudo da "guerra santa'' na Escritura Sagrada, em particular com respeito a estabelecer a unidade fundamental da natureza das guerras de libertação de Yahweh na Bíblia hebraica, e o propósito da segunda vinda de Cristo no Novo Testamento, para o tópico de Armagedom. Com respeito a profecias não cumpridas, há sempre o perigo de o intérprete especular ou sutilmente se tornar ele um profeta. Este livro tentou cuidadosamente evitar estas armadilhas. Apresenta consistentemente uma interpretação cristocêntrica da profecia bíblica e da história.

Acima de tudo, o Dr. LaRondelle permite, até certo ponto, a participação do leitor no drama emocional do último ato redentor de Deus. Ele desperta o desejo de estar ao lado do Senhor na antecipação da crise final e preparar-se para isto agora, seguindo o Cristo como Salvador e Senhor por uma renovada decisão de fé.

Gerhard F. Hasel, Decano do Seminário teológico da Andrews University Berrien Springs, Michigan

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Carruagens de Salvação 5

CONTEÚDO Introdução.......................................................................................................6

1. Como Distinguir a Verdadeira e a Falsa Profecia........................................8

2. Guerras Santas na Primitiva História de Israel..........................................24

3. A Guerra de Yahweh do Ponto de Vista Profético

de Israel.....................................................................................................37

4. A Última Guerra na Perspectiva Apocalíptica..........................................48

5. Jesus Cristo como Guerreiro Divino.........................................................58

6. A Queda de Babilônia no Tempo do Fim…..............................................73

7. Carruagens de Salvação.............................................................................98

8. Armagedom: O Dia do Juízo Universal

e Livramento............................................................................................111

9. A Crise do Tempo do Fim para o Povo de Deus ................................... 133

10. O Selo Final de Proteção Divina..............................................................147

11. A Presença de Elias.................................................................................161

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INTRODUÇÃO O tópico do "Armagedom'' no último livro da Bíblia fascinou os estudantes de

Escritura Sagrada por séculos. O fundando do Estado de Israel em 1948 acrescentou novo vigor neste interesse. Muitos crentes sinceros chegaram à conclusão de que o termo Armagedom em Apocalipse 16:16 prediz a localização geográfica da batalha final entre os exércitos judeus e gentios, a decisiva guerra de destruição universal a ser travada na planície de Megido, perto de Monte Carmelo na Palestina do norte. Sugerida pela New Scofield Reference Bible (1967; veja nota em Apoc. 19:17), a interpretação baseia-se na pressuposição de uma aplicação absolutamente literal da linguagem e imagem profética. Abordei este assunto da hermenêutica do literalismo em profecia em um livro prévio: The Israel of God in Prophecy: Principles of Prophetic Interpretation, AU Monographs, Studies in Religion, Volume XIII (Berrien Springs, Mich.: Andrews University Press, 1983).

Nesta ocasião é meu propósito analisar os princípios hermenêuticos do Novo Testamento e aplicá-los às "guerras santas” na história e profecia bíblica. Vou me concentrar, em particular, na guerra religiosa final na profecia da Bíblia. Minha meta é estabelecer até que ponto as profecias do Antigo Testamento já foram cumpridas na história passada e então usar estes princípios de cumprimento como a diretriz e norma por interpretar a batalha apocalíptica do "Armagedom" que muitos hoje crêem ser precisamente ali na esquina. Sem uma hermenêutica bíblica responsável – as diretrizes de interpretação derivaram da própria Escritura Sagrada – o crente não pode distinguir entre verdadeiras e falsas compreensões da profecia bíblica.

Parece claro de nossa perspectiva da unidade essencial de ambos os testamentos da Bíblia que qualquer interpretação do "Armagedom'' não centralizado e determinado pelo Deus de Israel e o Seu Messias, Jesus de Nazaré, torna a profecia bíblica uma predição. A predição desconecta a profecia do Armagedom da história da redenção. Quer dizer, interpreta o assunto central do Armagedom como um assunto de interesse econômico-político, como os depósitos de óleo no Oriente Médio. Se a Bíblia apresenta o Armagedom como a última "guerra santa" na história humana, então Deus e o Seu povo messiânico, o povo do Messias Jesus, constitua o próprio cerne da batalha cósmica do "grande dia do Deus todo-poderoso'' (Apoc. 16:14). “Pois quantas forem as promessas feitas por Deus, tantas têm em Cristo o ‘sim’ ” (2 Cor. 1:20, NVI). Então temos que aplicar todos os termos hebraicos das profecias bíblicas do tempo do fim – Israel, Babilônia, Monte Sião, Armagedom, etc. – em uma conexão vivente com Cristo, isto é, cristologicamente.

Para preparar o Seu povo no mundo inteiro durante aquele dia terrível de juízo, Deus prometeu enviar o profeta Elias como seu precursor designado, como último sinal dos tempos (veja Mal. 4:5, 6). Esta mensagem de preparação do tempo do fim é a substância do assunto de nosso último capítulo.

A Palavra de Deus não voltará para Ele vazia. A testemunha reavivada da Escritura Sagrada criará uma remanescente fiel de crentes de todas as nações. Eles sobreviverão ao "Armagedom" e serão libertos, como foi o antigo Elias, pelas

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carruagens celestiais de salvação, enviadas do trono de Deus. Cristo será o seu Defensor, o seu Guerreiro Santo na crise do tempo do fim da história da salvação.

Porém, tempo e espaço não permitiram um tratamento do milênio como descrito em Apocalipse 20.

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Carruagens de Salvação 8

COMO DISTINGUIR A VERDADEIRA E A FALSA PROFECIA Em nosso tempo de insegurança e mudança muitas pessoas tornaram-se

interessadas no que lhes reserva o futuros. A astrologia desfruta agora seu maior incremento na história. Não poucos buscam conselho para seu futuro pessoal ou político dos adivinhadores ou médicos famosos. Infelizmente, a experiência mostrou que tais prognosticadores são guias incertos ao futuro. Por outro lado, muitos reivindicam que a Bíblia prediz o futuro com certeza. É dito que um terço disto consiste em profecia preditiva. Escritores religiosos populares apontam especialmente à profecia do Armagedom do último livro de Bíblia (Apoc. 16:16). Eles discutem que esta profecia se refere ao território do Vale de Megido, perto de Monte Carmelo na Palestina do norte, como o campo de batalha durante a última guerra mundial no próximo futuro. Políticos advertem contra a ameaça de uma guerra nuclear mundial usando o termo Armagedom.

A pergunta é Como podemos ter certeza que nós conhecemos precisamente o que a Bíblia quer dizer com o misterioso termo Har Magedon, popularmente conhecido como Armagedom?

Os crentes cristãos propõem interpretações contraditórias. Alguns argumentam que a verdadeira igreja de Cristo não terá nenhuma parte na angústia final ou tribulação do mundo. Deus de repente vai raptar ou arrebatar a igreja da Terra para céu justamente antes que o tumulto final comece. Estes intérpretes, que insistem na aplicação literal dos termos Israel e Monte Sião na profecia para o tempo do fim, crêem que a fundação do moderno Estado de Israel em 1948 foi o primeiro sinal do rapto iminente de crentes cristãos ao céu.

Outros estão convencidos de que a verdadeira igreja de Cristo tem que passar por uma tribulação futura e então precisa preparar-se durante um tempo sem precedente de perseguição e prova.

Modernas Especulações de Cumprimentos Proféticos

Os literalistas, referindo-se a si mesmos como dispensacionalistas, consideram o

ano 1948 como o começo da geração final do Israel de Deus. Eles apelam à declaração de Cristo aos Seus discípulos: "Não passará esta geração até que todas estas coisas aconteçam" (Mar. 13:30, NVI). Levando a duração de uma "geração'' como 40 anos, concluíram muitos que o ano 1988 seria o ano de "Armagedom". Hal Lindsey escreveu em seu best-sellser The Late Great Planet Earth (New York: Bantam Books, 1973):

Que geração? Obviamente, no contexto, a geração que veria os sinais – o principal entre eles o renascimento de Israel. Uma geração na Bíblia é algo como quarenta anos. Se esta é uma dedução correta, então dentro de quarenta anos ou por volta de 1948, poderiam acontecer todas estas coisas (pág. 54).

Nós somos a geração da qual Ele estava falando! (The 1980s Countdown to Armageddon [New York: Bantam Books, 1982], p. 162).

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De acordo com este cálculo, alguns pensavam que o seu arrebatamento ao céu ocorreria sete anos antes de 1988 e atualmente estariam preparados para serem tirados da Terra em 1981.

Podemos sentir os efeitos devastadores de tais especulações quando o Sun-Times de Chicago, 4 de junho de 1981, informou: "Na preparação para o evento [de um rapto físico da Terra para céu, 28/junho/1981] os 50 membros [da Lighthouse Gospel Foundation em Tucson, Arizona] deixaram seu trabalho e se dispuseram de algumas de suas propriedades'' (pág. 34). Um dos membros, um jovem médico, segundo notícias disse, "Eu jamais conheci tanta paz, tanta alegria.'' Pergunta-se como ele se sentiu depois do dia de sua decepção, quando a profecia da seita falhou.

O literalismo geográfico especialmente tem grande atração para crentes dispensacionalistas. Harold Lindsell aponta ao território do Oriente Médio como o cenário da profecia do tempo do fim. "As Escrituras predisseram que o Oriente Médio seria central para os eventos que cercam o segundo advento de Jesus Cristo " (The Gathering Storm [Wheaton, III.: Tyndale House Publishers,1980], p. 97). Ele vê o "Armagedom " como referindo-se à guerra final entre o Estado de Israel e a confederação das nações árabes produtoras de petróleo. Lindsell especula ''que que o fim da época virá antes de acabar-se o petróleo das nações árabes. Isto significaria que o fim não está distante e que o plano de Deus para a consumação da história alcançará seu clímax no futuro não muito distante '' (ibid., pág. 101).

Alguns consideram a captura da antiga cidade de Jerusalém pelo exército israelita durante a Guerra dos Seis Dias de junho de 1967 como um cumprimento adicional da profecia do Antigo Testamento, até mesmo como "um ponto decisivo na história humana". Derek Prince afirma que "o restabelecimento do governo judeu sobre a área que Jesus conhecia como 'Jerusalém' marcou uma transição de uma era para outra. A era que Jesus chamou 'os tempos dos gentios' está acabando. Em seu lugar está surgindo uma era nova era – uma era que introduzirá o governo de Deus na terra, para Israel e para todas as nações '' (The Last Word on the Middle East [Lincoln, Va.: Chosen Books, 1982], p. 97).

Adequadamente, os dispensacionalistas chamam a nação moderna de Israel "o estopim para o último conflito mundial que está adiante" (J. F. Walvoord, Armageddon, Oil and the Middle East Crisis [Grand Rapids: Zondervan Books, 1974], p. 23). De fato, Walvoord preparou uma lista detalhada ou calendário profético de eventos a acontecerem "da Terceira Guerra Mundial ao Armagedom" (ibid., pp. 23, 200-206).

Hoje inúmeros profetas modernos do cristianismo – especialmente em círculos religiosos fundamentalistas – anunciam ao mundo que nós estamos vivendo na última geração prévia ao dia do juízo universal. Sua interpretação das profecias bíblicas surge de uma suposição comum: Nós temos que ler as visões proféticas dos profetas hebreus como uma antecipada descrição literal da história! Em outras palavras, a diretriz interpretativa ou pressuposição é um rígido literalismo. Permite só uma aplicação literal das palavras e imagens do Antigo Testamento para seu moderno cumprimento do tempo do fim. Isto implica em que todas as descrições étnicas e geográficas de

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Israel e os seus antigos inimigos na profecia têm que ter cumprimento absolutamente literal em nosso tempo. A suposição adicional pretende que o moderno Estado de Israel se tornará novamente a nação teocrática (Deus governa) entre o mundo gentio. A idéia filosófica por atrás deste conceito é que o significado original de profecia de Antigo Testamento exige um cumprimento literal incondicional nos tempos do Novo Testamento, sem relação com o impacto dramático da primeira vinda de Cristo em toda a profecia.

Verdadeira e Falsa Profecia Dentro do Antigo Israel

Pouco antes do exílio babilônico alguns afirmaram que Deus restabeleceria logo

e abençoaria a nação judaica. Tais pregadores nacionalistas atraíram às promessas prévias de Deus mas isolado da aliança total de Deus com Israel. Apontando ao Templo glorioso de Salomão em Jerusalém, eles reivindicaram: "Este é o templo do Senhor, o templo do Senhor, o templo do Senhor!'' (Jer. 7:4), como se para dizer, Deus e a nação de Israel são inseparavelmente um, não importa como o Israel se relaciona com Deus. Porém, o profeta Jeremias fervorosamente tentou contrariar tal sensação distorcida de segurança:

Assim diz o Senhor dos Exércitos: “Não ouçam o que os profetas estão profetizando para vocês; eles os enchem de falsas esperanças. Falam de visões inventadas por eles mesmos, e que não vêm da boca do Senhor.” (Jer. 23:16).

Além disso, os profetas auto-designados também surgiram entre os judeus

exilados em Babilônia. Eles proclamaram um retorno antecipado de Israel à Terra Prometida e despertam um espírito de rebelião. Nabucodonosor prendeu e executou dois dos agitadores (Jer. 29:22), na verdade cumprindo uma predição que Jeremias fizera em uma carta aos exilados. "Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, a respeito de Acabe, filho de Colaías, e a respeito de Zedequias, filho de Maaséias, que estão profetizando mentiras a vocês em meu nome: ‘Eu os entregarei nas mãos de Nabucodonosor, rei da Babilônia, e ele os matará diante de vocês" (verso 21).

Um dia no tribunal de Templo, Jeremias ficou de repente face-a-face com um oponente apaixonado, o profeta patriótico Hananias. Hananias foi tão longe sobre anunciar que em apenas pouco tempo Deus cumpriria Sua promessa de restaurar Israel, uma pretensão em oposição direta à palavra profética de Jeremias de que o exílio de Israel em Babilônia continuaria por uns 70 anos completos (veja Jer. 25:11; 29:10). Atrevidamente Hananias predisse, em nome do Senhor, que dentro de dois anos Deus traria os "exilados de Judá que foram para a Babilônia" (Jer. 28:4) – um poderoso apelo e previsão sensacional para Israel! Ele predisse iminente "paz" (shalom) para sua nação. Em realidade era sua própria prognosticação! Jeremias naquele momento só poderia mostrar que tal pregação de shalom estava em conflito fundamental com as anteriores revelações proféticas de Deus por Moisés e todos Seus profetas (verso 8; cf. Isa. 8:20).

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O que na verdade transformou a predição de Hananias da restauração de Israel em uma falsa profecia? Estava o breve tempo que ele fixou antes do retorno de Israel do exílio babilônico em contraste com os 70 anos de Jeremias do cativeiro? Parece que uma diferença mais fundamental caracterizou os falsos profetas: eles aplicaram a promessa da aliança de Deus de paz e bênção de um modo incondicional à restauração futura de Israel, ignorando e negando completamente que Deus tinha feito do arrependimento genuíno e de um retorno fiel ao Senhor a condição prévia explícita para a reunião de Israel e restauração como a nação teocrática.

Assim diz o Senhor: “Quando se completarem os setenta anos da Babilônia, eu cumprirei a minha promessa em favor de vocês, de trazê-los de volta para este lugar. Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês”, diz o Senhor, “planos de fazê-los prosperar e não de lhes causar dano, planos de dar-lhes esperança e um futuro. Então vocês clamarão a mim, virão orar a mim, e eu os ouvirei. Vocês me procurarão e me acharão quando me procurarem de todo o coração. Eu me deixarei ser encontrado por vocês”, declara o Senhor, “e os trarei de volta do cativeiro. Eu os reunirei de todas as nações e de todos os lugares para onde eu os dispersei, e os trarei de volta para o lugar de onde os deportei”, diz o Senhor. (Jer. 29:10-14, NVI).

Arrependimento moral era a nota tônica fundamental de todos as profecias de Jeremias (veja Jer. 18:7-10). Por outro lado, Hananias "pregou rebelião contra o SENHOR '' (Jer. 28:16), levando Israel a "confiar em mentiras " (verso 15) quando ele em 593 A.C. solenemente anunciou uma paz incondicional para Jerusalém.

Vários estudiosos do Antigo Testamento chamam Hananias uma "caricatura" do profeta Isaías, porque ele somente papagueou a promessa de Isaías que "naquele dia'' Deus destruiria o jugo da Assíria do pescoço de Jerusalém (Isa. 10:27). O profeta concluiu da promessa de Deus, feita a Isaías cem anos antes, que a prometida libertação de Sião tem que aplicar-se literalmente a Judá do seu próprio tempo. Caso contrário, Deus seria infiel à profecia de Isaías. O teólogo judeu Martin Buber mostra a falha em seu raciocínio.

Hananias não percebeu, porém, que há tal coisa como uma hora completamente diferente da história. Ele não sabe que há culpabilidade, uma culpabilidade por qual fracassa a comissão da hora. . . .

Os falsos profetas popularizaram a promessa da mensagem de Isaías somente e ignoram a condição inerente em cada mensagem profética de salvação; eles mudaram a promessa segura para um Israel que cumpriria fielmente a sua chamada em uma promessa incondicional de segurança para todas as vezes (em Die Wandlung, Heidelberg 2 [1946-1947], pp. 279, 280 [own translation]).

Assim Hananias não era um intercessor para Israel que pleiteava com o Senhor pela proteção de sua Santa Cidade e o seu Templo como os verdadeiros profetas eram chamados a fazer (Jer. 27:18). Jerusalém estava para ser destruída de acordo com o juízo de Deus para quebrar a confiança de Judá no Templo de Deus em vez de no Deus do Templo. A senso de falsa segurança da cidade era em realidade uma caricatura da garantia que o Rei Ezequias tinha mostrado anteriormente quando o rei assírio, Senaqueribe, ameaçou Jerusalém. Então Ezequias "rasgou suas vestes, vestiu pano de saco e entrou no templo do Senhor'' (Isa. 37:1, NVI) e pediu a Isaías que orasse pelo remanescente que ainda sobreviveu (verso 4). A resposta de Deus naquele

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momento tinha sido, ''Eu defenderei esta cidade e a salvarei, por amor de mim e por amor de Davi, meu servo!" (verso 35, NVI).

Mas uma mudança religiosa para pior tinha ocorrido nos reis subseqüentes de Jerusalém. Durante o reinado do último rei de Judá, Zedequias, surgiram falsos profetas. Suas mensagens de paz e de nenhum dano não só criaram falsas esperanças mas antes aceleraram os juízos de Deus sobre a cidade impenitente.

Eles tratam da ferida do meu povo como se não fosse grave. “Paz, paz”, dizem, quando não há paz alguma (Jer. 6:14, NVI).

Vivem dizendo àqueles que desprezam a palavra do Senhor: “Vocês terão paz”. E a todos os que seguem a obstinação dos seus corações dizem: “Vocês não sofrerão desgraça alguma”. Mas qual deles esteve no conselho do Senhor para ver ou ouvir a sua palavra? Quem deu atenção e obedeceu à minha palavra?” (Jer. 23:17, 18, NVI)

Não enviei esses profetas, mas eles foram correndo levar sua mensagem; não falei com eles, mas eles profetizaram (verso 21, NVI).

Os profetas auto-designados de Israel pareciam ter acreditado com uma paixão

que eles continuaram só a tradição de verdadeira profecia. Mas Deus julgou caso contrário:

Porque fazem o meu povo desviar-se dizendo-lhe “Paz” quando não há paz e, quando constroem um muro frágil, passam-lhe cal, diga àqueles que lhe passam cal: Esse muro vai cair! . . .

Despedaçarei o muro que vocês caiaram e o arrasarei para que se desnudem os seus alicerces. Quando ele cair, vocês serão destruídos com ele; e saberão que eu sou o Senhor. Assim esgotarei minha ira contra o muro e contra aqueles que o caiaram. Direi a vocês: O muro se foi, e também aqueles que o caiaram, os profetas de Israel que profetizaram sobre Jerusalém e tiveram visões de paz para ela quando não havia paz. Palavra do Soberano, o Senhor” (Eze. 13:10, 11, 14-16, NVI).

Desde o começo Moisés especificamente ensinou que o critério decisivo por distinguir a verdadeira da falsa profecia era seu acordo ou discordância com a prévia vontade revelada de Deus (veja Deut. 13:1-5). Portanto, Deus pode provar o povo de Israel mediante o desafio de um falso profeta, ver se eles O amam com lealdade verdadeira (verso 3). A Torah permaneceu como critério para determinar toda a verdadeira ou falsa profecia. Enquanto Moisés falou principalmente desses profetas que incitariam Israel a seguir outros deuses, a mais ampla aplicação relaciona-se a cada predição que engana o povo porque está em conflito com a expressa vontade do Deus de Israel: voltar à aliança Deus (Deut. 30:1-3).

Depois da destruição de Jerusalém por Nabucodonosor em 586 A. C., Deus revelou a causa mais profunda para o fracasso das falsas visões de paz:

As visões dos seus profetas eram falsas e inúteis; eles não expuseram o seu pecado para evitar o seu cativeiro. As mensagens que eles lhe deram eram falsas e enganosas (Lam. 2:14, NVI).

Dentro da cidade foi derramado o sangue dos justos, por causa do pecado dos seus profetas e das maldades dos seus sacerdotes (Lam. 4:13, NVI).

Os falsos profetas em Israel evidentemente faltaram na verdadeira preocupação

pelo bem-estar do povo de Deus. Ezequiel os expôs até mais rigorosamente:

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Seus profetas disfarçam esses feitos enganando o povo com visões falsas e adivinhações mentirosas. Dizem: “Assim diz o Soberano, o Senhor”, quando o Senhor não falou. O povo da terra pratica extorsão e comete roubos; oprime os pobres e os necessitados e maltrata os estrangeiros, negando-lhes justiça. Procurei entre eles um homem que erguesse o muro e se pusesse na brecha diante de mim e em favor desta terra, para que eu não a destruísse, mas não encontrei nenhum. Por isso derramarei a minha ira sobre eles e os consumirei com o meu grande furor; sofrerão as conseqüências de tudo o que fizeram. Palavra do Soberano, o Senhor (Eze. 22:28-31, NVI).

Essas profetas auto-proclamados até arrogantemente proibiram os profetas de Deus de falar as verdadeiras palavras do Senhor! Miquéias reclamou, “‘Não preguem’, dizem os seus profetas. ‘Não preguem acerca dessas coisas; a desgraça não nos alcançará.’ ” (Miq. 2:6; cf. Amós 7:16). Em resposta ele anunciou o próprio oposto de paz para Israel:

Por isso, por causa de vocês, Sião será arada como um campo, Jerusalém se tornará um monte de entulho, e a colina do templo, um matagal (Miq. 3:12, NVI).

Qual era então a diferença essencial entre a verdadeira e a falsa profecia na

história de Israel? Não era a idéia de que os verdadeiros profetas proferem só destruição para o futuro enquanto os falsos profetas predizem somente paz e prosperidade. Os profetas de Deus definitivamente prometeram esperança anunciando a paz permanente do reino Messiânico próximo (veja Miq. 4:1-5; Amós 9:11-15; Jer. 23:5, 6; 29:13, 14; 32:42; Eze. 36:24-32; 37:24-28).

A diferença essencial era o fato de que os verdadeiros profetas acentuaram o pré-requisito divino de verdadeiro arrependimento se fosse para a nação evitar a justiça retributiva do Senhor. Conseqüentemente, apenas um remanescente espiritual experimentaria a paz prometida e bênção de Israel (Amós 5:6, 15; Miq. 2:12, 13; 4:6-8; Jer. 23:3-6; 31:7, 31-34; Eze. 36:24-28). A falsa profecia evidentemente omitiu esta precondição moral, acentuando o cumprimento das promessas de restauração de Deus, como se estas fossem garantias incondicionais. Tais profetas não expuseram os pecados de Israel. Eles não pediram fé e obediência da aliança. Assim, os falsos profetas não reconheceram a hora histórica de apostasia de Israel! Eles meramente passaram o seu dogma favorito da eleição incondicional de Israel, não mostrando nenhuma preocupação formal com sua importantíssima relação com Deus e com o Messias de profecia.

Hoje nós podemos reconhecer os falsos profetas pelas mesmas afirmações inábeis de eleição divina e restauração do moderno Estado de Israel.

Como Distinguir a Verdadeira e a Falsa Profecia

Segundo o Novo Testamento Para os crentes cristãos, Jesus de Nazaré é o verdadeiro intérprete do Antigo

Testamento. Eles O reconhecem como o Messias da profecia de Israel. Cristo não apenas Se considerou como um profeta de Deus (Mar. 6:4; Luc. 13:33), mas Ele também demonstrou previsão profética e discernimento com autoridade divina (Mar.

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13; Mat. 5-7). James D. G. Dunn diz perceptivamente de Cristo que “Sua fonte de autoridade não era a lei, os pais, a tradição ou os rabinos, mas Sua própria certeza de que Ele conhecia a vontade de Deus. . . . O fato de que Jesus usava abba ao dirigir-se a Deus nos permite dizer com um pouco de confiança que Jesus experimentava Deus como Pai de um modo muito pessoal e íntimo" (Unity and Diversity in the New Testament [Philadelphia: Westminster Press, 1972], pp. 186, 187).

Em Cristo Deus ofereceu a Israel a mais completa e mais clara revelação de Sua vontade e dos propósitos de Suas alianças com Abraão, Moisés, e Davi (veja Heb. 1:1, 2). Só de Jesus é dito ter vindo do próprio coração e "seio do Pai" no céu (João 1:18, RSV). Cristo viu Sua missão prefigurada nas Escrituras hebraicas: "São as Escrituras que testemunham a meu respeito" (João 5:39, NVI). Ele aturdiu os judeus do Seu tempo ao Ele anunciar que o tempo dos antítipos religiosos e os cumprimentos dos ofícios proféticos, reais, e sacerdotais de Israel tinha chegado com Sua vinda: "Agora está aqui o que é maior do que Jonas". "Agora está aqui o que é maior do que Salomão". "Aqui está o que é maior do que o templo'' (Mat. 12:41, 42, 6, NVI).

Jesus viu a Torah primariamente como um livro de promessa e redenção, não como um volume de lei como os fariseus fizeram. Cristo também aplicou os salmos, especialmente aqueles compostos pelos reis de Israel ou líderes representativos, a Ele e para Seu chamado divino. Depois de Sua ressurreição da morte, Ele explicou aos Seus discípulos que é o próprio coração e centro da Bíblia hebraica. “Ele lhes disse: ‘Como vocês custam a entender e como demoram a crer em tudo o que os profetas falaram! Não devia o Cristo sofrer estas coisas, para entrar na sua glória?’ E começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras” (Luc. 24:25-27, NVI).

Os estudiosos da Bíblia estão agora começando a reconhecer cada vez mais o fato de que o Antigo Testamento como um todo não é primariamente centralizado em Israel, mas centralizado no Messias. O coração da missão profética e histórica de Israel é o Cristo. Isto implica que nós só podemos entender corretamente as profecias da Bíblia quando relacionamos as predições com relação a Deus e o Seu Messias, o Ungido Filho de Deus (veja 2 Cor. 1:20).

Cristo aconselhou os Seus seguidores, "Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês os reconhecerão por seus frutos'' (Mat. 7:15, 16, NVI). Por seus "frutos" Cristo não quis dizer o poder do profeta em realizar exorcismos ou milagres ou o seu clamor de aceitar Cristo como Senhor, mas o fruto moral de fazer a vontade do Pai que está no céu (versos 21-23). Assim Cristo indicou que Ele insistiu na prova que Moisés prescreveu em Deuteronômio 13:1-5 pelo desmascarar de falsos profetas na igreja. A falsa profecia apregoa um deus que é fundamentalmente diferente do Redentor e Governador de Israel, um deus que não requer obediência moral nem arrependimento que o Senhor insiste em Sua Torah (veja Deut. 30:1-10). O falso profeta "tentou afastá-los do caminho que o Senhor, o seu Deus, lhes ordenou que seguissem'' (Deut. 13:5, NVI).

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Cristo até mesmo advertiu, "Pois aparecerão falsos cristos e falsos profetas que realizarão grandes sinais e maravilhas para, se possível, enganar até os eleitos" (Mat. 24:24, NVI). Da mesma maneira que a falsa profecia no Antigo Testamento teve como sua ênfase exclusiva as promessas de paz de Deus, enquanto ignorando os aspectos condicionais do retorno moral de Israel ao Senhor, assim a falsa profecia na era cristã fica identificada por seu fracasso em conectar as promessas da aliança de Deus a Israel com a fé em Jesus como o Cristo. Esta é agora a condição irrevogável de Deus para o cumprimento da profecia. O apóstolo Paulo acentuou, “Pois quantas forem as promessas feitas por Deus, tantas têm em Cristo o ‘sim’ ” (2 Cor. 1:20).

Por conseguinte, esses que declaram "paz" para Israel e a igreja enquanto ignorando a condição prévia divina de fé em Cristo para o cumprimento das profecias da Bíblia não proclamam o Deus da Escritura Sagrada. Paulo escreve no verdadeiro estilo profético quando adverte contra os falsos profetas nos últimos dias. “Quando disserem: ‘Paz e segurança’, a destruição virá sobre eles de repente, como as dores de parto à mulher grávida; e de modo nenhum escaparão” (1 Tess. 5:3; cf. Jer. 6:14; 8:1 1; Eze. 13:10).

Onde Está o Fiel Remanescente de Israel?

Cristo declarou solenemente aos líderes judeus do Seu tempo, "Portanto eu lhes

digo que o Reino de Deus será tirado de vocês e será dado a um povo que dê os frutos do Reino" (Mat. 21:43, NVI).

O que O levou a tal conclusão chocante que Deus removeria do povo escolhido o abençoado privilégio de ser uma nação teocrática? Cristo explicou a razão em Sua parábola dos lavradores. Eles tinham decidido com relação ao filho do proprietário, “ ‘Este é o herdeiro. Venham, vamos matá-lo e tomar a sua herança’ ” (verso 38, NVI). Assim os construtores judeus rejeitaram a Pedra Fundamental de Israel: o Filho de Deus (verso 42)! O povo que receberia o reino de Deus não era alguma geração futura de judeus, mas aqueles de Seu tempo que aceitaram Jesus como o Messias da profecia. Cristo assegurou aos Seus próprios discípulos, "Não tenham medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do Pai dar-lhes o Reino" (Luc. 12:32). Cristo ordenou doze deles exatamente como os Seus apóstolos para representar o novo Israel Messiânico que Ele chamou "minha igreja" (Mat. 16:16-18). A igreja apostólica representou o remanescente crente em Cristo do antigo Israel. O apóstolo Paulo ensinou então, "Assim, hoje também há um remanescente escolhido pela graça" (Rom. 11:5, NVI).

As promessas de Deus de bênção divina não serão cumpridas necessariamente no povo judeu como uma unidade política ou como um grupo étnico, mas na comunidade Messiânica de fé. O remanescente de Israel consistiu em primeiro lugar em judeus que creram que Jesus é o Senhor de Israel e Salvador do mundo. Também são dados boas-vindas aos cristãos gentios neste fiel remanescente de Israel (veja Rom. 10:9-13). Eles são, por assim dizer, "enxertados" no remanescente de Israel, como brotos da oliveira brava entre os ramos cultivados da oliveira sobem na árvore do Israel de Deus (Rom. 11:17). Os judeus que rejeitam a Cristo estão "cortados" da oliveira da aliança de

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Deus, mas "se não continuarem na incredulidade, serão enxertados, pois Deus é capaz de enxertá-los outra vez" (verso 23). Tudo depende de fé ou incredulidade no Messias Jesus como o núcleo central das promessas e profecias bíblicas. Jesus declarou que ''Aquele que não está comigo, está contra mim; e aquele que comigo não ajunta, espalha'' (Mat. 12:30, NVI). Os judeus que persistem em rejeitar a Jesus como o Senhor de Israel ficam dispersos mesmo ao estarem vivendo em Palestina.

A profecia bíblica tinha predito a reunião de Israel em torno do Messias. "Naquele dia as nações buscarão a Raiz de Jessé [o Messias], que será como uma bandeira para os povos, e o seu lugar de descanso será glorioso" (Isa. 11:10, NVI). Cristo começou a cumprir esta promessa de restauração magnífica para Israel ao Ele convidar a todos os judeus, "Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso" (Mat. 11:28, NVI).

A vida de Cristo prenuncia o tempo de cumprimento messiânico. A igreja espiritual de Cristo é a restauração de Israel na profecia. Este é o enfoque cristocêntrico das profecias hebraicas relativo ao remanescente de Israel (para um tratamento mais pleno, veja LaRondelle, O Israel de Deus na Profecia, caps. 7-10).

O tempo do cerco romano da antiga Jerusalém mostra quão vitalmente importante é saber quem é o verdadeiro Israel de Deus. Antes da destruição de Jerusalém em 70 A.D., surgiram falsos profetas na cidade, prometendo aos judeus libertação iminente do exército romano. Josefo, historiador judeu, relata como tais profetas auto-designados só ainda apóiam a resistência teimosa dos judeus em Jerusalém até o último momento fatal.

Um falso profeta era a ocasião da destruição destas pessoas, que tinham feito uma proclamação pública na cidade nesse mesmo dia, que Deus lhes ordenou que tomassem o Templo, e que lá eles receberiam sinais milagrosos de sua libertação. Agora, havia um grande número de falsos profetas subornados [aliciados] pelos tiranos para impor ao povo que lhes proclamavam que eles deveriam esperar por libertação de Deus (Wars of the Jews 6. 5. 2, in W. Whiston, trans., Josephus: Complete Works [Grand Rapids, Mich.: Kregel Pub., 1960], p. 582).

Tais profetas insistiram que a libertação divina, prometida pelos profetas hebreus para Israel no Monte Sião, logo seria cumprida (veja Joel 2:32; 3:2; Dan. 12:1). Eles esperaram a libertação iminente de Deus da cidade em dificuldade. Porém, o tempo demonstrou-lhes ser os intérpretes errôneos da profecia bíblica e assim falsos profetas, sentenciados a uma morte miserável.

Qual foi o erro básico de suas falsas profecias? Era sua aplicação da promessa de restauração como uma garantia incondicional para o Israel étnico. Agora que Cristo tinha vindo como o Filho de Deus, o fiel remanescente de Israel seria apenas aqueles que criam que Deus falara Sua palavra final no Messias Jesus. Cristo, portanto, ordenou os Seus discípulos em termos claros para fugir da condenado "cidade santa" (Mat. 24:15-20). Retirando Sua presença messiânica de Jerusalém, Jesus declarou: "Eis que a casa de vocês ficará deserta" (Mat. 23:38, NVI). O princípio de um literalismo geográfico que mantém que a Jerusalém física ainda é o centro do cumprimento profético faz do velho território a norma decisiva de cumprimento em vez de Cristo Jesus. A pessoa de Cristo é, porém, o real "lugar santo". O próprio Jesus

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declarou que "Aqui está o que é maior do que o templo'' (Mat. 12:6; cf. Luc. 17:20, 21; João 4:21-24). Por conseguinte, só uma interpretação cristocêntrica das promessas do Antigo Testamento, não o literalismo, é correta para nossa dispensação cristã.

Outra marca de falsa profecia dentro do cristianismo é o aberto ou disfarçado tempo apontado do Segundo Advento. Qualquer esforço para fixar alguma forma de horário para a segunda vinda de Cristo entra em conflito com a advertência de Cristo: "Quanto ao dia e à hora ninguém sabe, nem os anjos no céu, nem o Filho, senão somente o Pai. Fiquem atentos! Vigiem! Vocês não sabem quando virá esse tempo" (Mar. 13:32, 33, NVI).

Para ilustrar o significado de Suas palavras, Jesus contou uma parábola sobre um senhor que designou uma tarefa a cada de Seus servos e os deixou cuidando de Sua casa. O mestre insistiu com o porteiro para estar alerta: "Portanto, vigiem, porque vocês não sabem quando o dono da casa voltará" (verso 35). Sua advertência aplica-se com plena força para a igreja. Logo após a Sua ressurreição os discípulos perguntaram a Cristo, “Senhor, é neste tempo que vais restaurar o reino a Israel?” Mas Cristo respondeu imediatamente: “Não lhes compete saber os tempos ou as datas que o Pai estabeleceu pela sua própria autoridade” (Atos 1:6, 7, NVI).

O verdadeiro cristão vive então diariamente em prontidão pela vinda do Mestre, porque Cristo mora e seu coração. Os eleitos de Cristo não serão enganados. Paulo nos assegura: "Mas vocês, irmãos, não estão nas trevas, para que esse dia os surpreenda como ladrão. . . . Não somos da noite nem das trevas. Portanto, não durmamos como os demais, mas estejamos atentos e sejamos sóbrios; pois os que dormem, dormem de noite, e os que se embriagam, embriagam-se de noite. Nós, porém, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo a couraça da fé e do amor e o capacete da esperança da salvação. Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para recebermos a salvação por meio de nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Tess. 5:4-9).

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GUERRAS SANTAS NA PRIMITIVA HISTÓRIA DE ISRAEL Teólogos cunharam o termo guerra santa para expressar os atos libertadores de

Deus no êxodo de Israel do Egito e em sua conquista subseqüente da terra prometida de Canaã. Yahweh, como o Deus da aliança, tomou a iniciativa de redimir Israel de uma nação opressiva e a autorizou que desapropriasse sete povos diferente de Canaã que viviam em grosseira impiedade (veja Deut. 7:1, 2; 9:4, 5). Desde sua liberação do Egito, Israel louvou Deus como o seu guerreiro divino. "O SENHOR é homem de guerra; SENHOR é o seu nome'' (Êx. 15:3, RA), ou mais exatamente, "Yahweh é um guerreiro, Yahweh é o seu nome!'' (BJ). O Antigo Testamento não oferece um quadro uniforme das guerras de Yahweh porque no tempo o conceito mostra grande variação. Não obstante, podemos observar vários traços que parecem salientar-se como elementos característicos.

A chamada às armas veio freqüentemente de líderes cheios do Espírito, que tocavam a trombeta e enviavam mensageiros a todas as tribos para reunir um exército de voluntários sob o comando de Yahweh (Juí. 3:27; 6:34; 1 Sam. 13:3). Israel viu estes soldados do exército como "os exércitos do Deus vivo'' (1 Sam. 17:26). O exército estava sujeito a regras rígidas de auto-consagração, de abstinência, e de votos para Deus (Jos. 3:5; 2 Sam. 11:11; Núm. 21:2). Antes de ocorrer uma batalha particular, um profeta oferecia sacrifícios a Deus e pedia conselho divino e direção na guerra (1 Sam. 7:9; 13:9-12; Juí. 20:23, 27). O profeta então anunciava a certeza absoluta de vitória sobre o inimigo, declarando que Yahweh tinha "entregue" o inimigo nas mãos de Israel (Jos. 2:24; 6:2, 16; 8:1; 10:8, 19; Juí. 3:28; 4:7; 7:9; etc.). Esta certeza tinha suas raízes na convicção de que Yahweh iria à frente de Israel no campo de batalha (Juí. 4:14; Deut. 20:4).

No princípio os sacerdotes retrataram isto ao levar "a arca da Aliança do SENHOR" na frente de Israel (Jos. 3:11). O relatório de 1 Samuel 4-6 celebra a soberania de Yahweh como o divino comandante de Israel. Nem Israel nem os filisteus poderiam controlar a arca sagrada do Senhor, o símbolo do seu trono e governo. Yahweh permaneceu a cargo de Seu povo. Quando o sacerdócio quebrou a aliança (1 Sam. 2) ou declarou guerra sem consultar o Senhor, Israel sofreu derrota e o seu exército foi sacrificado (1 Sam. 4:10, 11).

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O fato de os filisteus terem capturado a arca de Deus mostra que o conceito de guerra de Yahweh poderia ser dramaticamente invertido. De fato, Yahweh poderia empreender guerra até mesmo contra Seu próprio povo, um conceito desenvolvido mais tarde pelos posteriores profetas de Israel em sua perspectiva escatológica. Enquanto Israel vivesse em genuíno companheirismo de aliança com o seu Senhor divino, toda vez que eles erguiam a arca de Deus isso significou que Yahweh subiu para lutar a batalha de Israel.

Quando a arca partia, dizia Moisés: "Levanta-te, Yahweh, e sejam dispersos os teus inimigos, e fujam diante de ti os que te aborrecem!” E no lugar de repouso dizia: "Volta, Yahweh, para as multidões de milhares de Israel'' (Núm. 10:35, 36, BJ).

A Escritura vê tais guerras como as batalhas de Yahweh (1 Sam. 18:17; 25:28) e

Israel as registrou em um livro específico, que não mais existe, chamado "Livro das Guerras do SENHOR" (Núm. 21:14). Os inimigos de Israel foram também considerados como os inimigos de Yahweh (Juí. 5:31; 1 Sam. 30:26; Sal. 83:1-3). A Bíblia descreve a parte de Yahweh nas guerras de Israel em mais de um modo: como o que estava travando a luta enquanto Israel só precisava ficar em silêncio (Êx. 14:14; Isa. 30:15), ou como o vencedor que chamava a participação de Israel a destruir o inimigo aterrorizado, chamado a colocar o ''inimigo sob maldição'' (hebraico herem) (Deut. 7:2, 5, 6; 20:16-18). A profetiza Débora até mesmo pronunciou uma maldição sobre os israelitas que moraram na cidade de Meroz ''pois não vieram ajudar o SENHOR'' (Juí. 5:23, NVI).

Millard C. Lind faz a observação interessante que "o herem, a dedicação dos espólio a Yahweh e a destruição de toda a vida. . . era uma instituição de guerra santa que o Israel manteve em comum com outros povos do Próximo Oriente" (Yahweh Is a Warrior: The Theology of Warfare in Ancient Israel [Scottdale, Pa.: Herald Press, 1980], p. 81). Uma feição característica da atividade de Yahweh como guerreiro era a produção de tal pânico súbito ou terror entre os Seus inimigos que causava uma confusão desnorteadora e ocasionalmente autodestruição total dentro de suas fileiras.

Na vigília da manhã, Yahweh, da coluna de fogo e da nuvem, viu o acampamento dos egípcios, e lançou a confusão no acampamento dos egípcios. Ele emperrou as rodas dos seus carros, e fê-los andar em dificuldade. Então os egípcios disseram: “Fujamos da presença de Israel, porque Yahweh combate a favor deles contra os egípcios.'' (Êx. 14:24, 25, BJ).

Então caiu terror sobre todo o exército – tanto sobre os que estavam no acampamento e no campo, como sobre os que estavam nos destacamentos e nas tropas de ataque – o chão tremeu. Foi um pânico enviado por Deus. ... Então Saul e todos os seus homens se reuniram e foram para a batalha. Encontraram os filisteus em total confusão, ferindo uns aos outros com suas espadas (1 Sam. 14:15-20, New International Version;* também veja Êx. 15:15, 16; 23:27; Deut. 2:25; 7:23; 11:25; Jos. 2:9, 24; 5:1).

* A NVI (Nova Versão Internacional) equivalente à NIV (New International Version) diferiu desta em 1 Sam. 14:15,

vertendo: “Então caiu terror ... O chão tremeu e houve um pânico terrível”, omitindo que o pânico veio de Deus; por isso, traduzimos da NIV, que neste caso concorda com a BJ (Bíblia de Jerusalém); porém a BJ , como as nossas RA e RC, no verso 20, omitem que os filisteus é que entraram em confusão. – Nota do tradutor.

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A Escritura também viu a parte de Deus em fenômenos natural que levaram Israel a triunfar na batalha, como o escurecimento do sol, o súbito secamento de águas e o voltar das águas, súbita chuva pesada, saraiva, trovões e terremoto (Êx. 14:19,21; Jos. 3:13; 4:23; 5:1; Juí. 5:20, 21; 1 Sam. 7:10; 14:15, 20). Este elemento cósmico acrescentou à batalha de Israel o aspecto de uma teofania salvadora e destruidora, ou o aparecimento de Deus. Isto levou os inimigos a reconhecer que Deus estava lutando a favor de Israel (Êx. 14:14; Jos. 2:9-11).

Por outro lado, o propósito último da guerra de Yahweh era a glorificação do Deus de Israel como o Rei vitorioso e Redentor de Israel, louvor que constitui o tema central do cântico de Moisés em Êxodo 15. Moisés atribui o afogando do exército egípcio somente ao efeito da teofania majestosa e soberania de Yahweh:

O SENHOR é homem de guerra; SENHOR é o seu nome. Lançou no mar os carros de Faraó e o seu exército. ... A tua destra, ó SENHOR, é gloriosa em poder; a tua destra, ó SENHOR, despedaça o inimigo.... O SENHOR reinará por todo o sempre. (Êx. 15:3-18, RA). Outro exemplo da guerra de Yahweh é a destruição de Jericó, como descrito em

Josué 6. Antes da queda da cidade, o Capitão divino do exército de Israel apareceu perante Josué. O líder israelita em reverência se prostrou com o rosto em terra e perguntou: "Que mensagem o meu senhor tem para o seu servo?" (Jos. 5:14, NVI). Como retorno veio a certeza: "Saiba que entreguei nas suas mãos Jericó, seu rei e seus homens de guerra" (Jos. 6:2, NVI). Dali em diante, Israel foi chamado a participar mais ativamente nas guerras de Yahweh.

Depois que Israel levou caladamente a arca de Yahweh ao redor da cidade durante sete dias e os sacerdotes tocaram as trombetas e o povo deu um "forte grito de guerra" (verso 5, BJ), os muros de Jericó de repente caíram, indicando como a conquista de Canaã por Israel foi efetuada pelo ato soberano de Deus somente. A responsabilidade de Israel era fazer cumprir o anátema na cidade hostil (verso 21). Esses israelitas que secretamente retivessem para si mesmos algum despojo do inimigo também cairiam sob o anátema de Yahweh, como aconteceu a Acã, da tribo de Judá. Ele tomou uma bela capa, prata e pedaços de ouro da pilhagem e os escondeu no solo dentro de sua tenda. O seu ato infiel para com a lei de guerra de Yahweh levou o exército de Israel a sofrer derrota na batalha contra Ai. Descoberto por revelação divina, Acã confessou, dando "glória" a Deus. Depois de sua execução, Israel foi novamente vitorioso na guerra de Yahweh (Jos. 7, 8).

A razão para o apoio condicional de Yahweh de Israel aparece na aliança de Moisés. As bênçãos e maldições de Deus baseavam-se na resposta de Israel às obrigações sagradas da aliança. Em Deuteronômio 32 a vitória ou a derrota na guerra é o resultado de uma decisão da corte divina na qual Deus estabelece as razões para Suas ações legais: "Faço morrer e faço viver, feri e curarei" (verso 39, NVI).

Outro exemplo de guerra de Yahweh ocorre em Juízes 4 e 5. Débora louva o ato de "justiça" de Yahweh ao derrotar o rei cananeu Jabim e Sísera, seu cruel comandante do exército, pelas águas do Megido:

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Desde o céu lutaram as estrelas, desde as suas órbitas lutaram contra Sísera. O rio Quisom os levou, o antigo rio, o rio Quisom (Juí. 5:20, 21, NVI). O que de fato parecia ter acontecido era que um súbito raio de desespero

encalhou as carruagens de Sísera na planície cheia de água, dando para o Israel uma vitória súbita. "Todo o exército de Sísera caiu ao fio da espada; não sobrou um só homem" (Juí. 4:16, NVI). Débora termina o seu cântico do triunfo de Israel com palavras carregadas de significado apocalíptico: "Assim pereçam todos os teus inimigos, ó SENHOR!" (Juí. 5:31, NVI).

Tanto o Cântico de Moisés em Êxodo 15 como o Cântico de Débora em Juizes 5 são hinos de vitória que Israel usava em suas posteriores celebrações festivais, e assim eles mostraram uma influência profunda na esperança escatológica de Israel (veja Lind, Yahweh Is a Warrior, p. 74).

Poderíamos mencionar mais de um tipo de guerra de Yahweh no tempo dos Juízes de Israel, a intervenção miraculosa do Senhor na guerra de Gideão contra os midianitas (Juí. 6-8). Em uma experiência de teofania Deus chamou Gideão diretamente para ser o líder militar de Israel. "Vai com a força que te anima, e salvarás a Israel das mãos de Midiã" (Juí. 6:14, BJ). Depois de destruir o altar de Baal em Ofra, ele reuniu voluntários de várias tribos de Israel para estar prontos para a batalha. Porém, “Yahweh disse a Gideão: ‘O povo que está contigo é numeroso demais para que eu entregue Madiã nas suas mãos; Israel poderia gloriar-se disso às minhas custas, e dizer: ‘Foi a minha própria mão que me livrou’ ’ ” (Juí. 7:2, BJ).

Depois que Gideão reduziu o seu exército para só 300 guerreiros, ele surpreendeu os midianitas à noite com o toque das trombetas, quebrando os cântaros, e vitorioso grita, "Espada por Yahweh e por Gideão!" (Juí. 7:21, BJ). Efetuou tal terror entre os midianitas que "Yahweh fez que em todo o acampamento a espada cada um voltasse a espada o seu companheiro." (verso 22, BJ). Gideão não teve que travar nenhuma luta absolutamente exceto capturar e executar dois príncipes midianitas, em completa analogia com a vitória de Moisés sobre o Egito no Mar Vermelho. Ele só completou a derrota dos reis midianitas e o seu exército. Apesar de que Moisés fizera chover pedras de Yahweh, Rei de Israel por causa de sua vitória maravilhosa sobre o exército do Egito (Êx. 15:18), Israel pediu agora para que Gideão fosse o seu rei. Sua resposta histórica foi: "Não serei eu quem reinará sobre vós, nem tampouco meu filho, porque é Yahweh quem reinará sobre vós" (Juí. 8:23, BJ). A guerra de Yahweh em Israel foi moldada segundo a intervenção soberana de Deus no Mar Vermelho. O Senhor era o agente exclusivo da guerra santa. Ele só era o Salvador de Israel. A presença de Yahweh era o fator decisivo na vitória e existência de Israel como uma teocracia.

Alguns estudiosos também classificaram um incidente significante durante o tempo dos profetas anteriores na categoria de guerra santa. Aconteceu depois de Israel tomar a decisão dramática no Monte Carmelo para renovar sua aliança com Yahweh e seguir só a Ele. O profeta Elias naquele momento exerceu sua autoridade política ao

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comandar a morte de 450 profetas de Baal e de 400 profetas de Asera que recusou se arrepender e reconhecer o Deus de Israel apesar da demonstração da glória de Yahweh (1 Reis 18:19,40).

Eis uma batalha intensamente espiritual no Monte Carmelo, a confrontação de um verdadeiro profeta de Yahweh e muitos profetas de Baal, a colisão da adoração verdadeira e da apóstata, culmina em um flash súbito de glória divina e a execução subseqüente de todos os falsos profetas impenitentes. William H. Shea indicou com grande percepção como a prova final de Elias no Monte Carmelo aparece como um tipo do Armagedom. “É desta batalha [no Monte Carmelo] que nós deveríamos extrair a imagem da qual depende a 'batalha do Armagedom' no Apocalipse. Todos os elementos principais do último são dispostos em posição paralela em 1 Reis 18 de forma historicamente concreta" ("The Location and Significance of Armageddon in Revelation 16:16," Andrews University Seminary Studies 18, No. 2 [1980]: 157-162).

Os profetas de Israel deram para o Deus de Israel o nome de Yahweh Sabaoth, "o SENHOR dos exércitos", 279 vezes. Alguns estudiosos do Antigo Testamento mostram que os profetas pretendem o título para designar Yahweh como o guerreiro divino. O termo exércitos indicaria a totalidade de forças sobre as quais Yahweh rege, tanto no céu como na terra. "Yahweh era o comandante de todos os poderes sobrenaturais como também dos exércitos de Israel" (J. Watts, in The New International Dictionary of the New Testament Theology [Grand Rapids: Zondervan, 1978], vol. 3, p. 960).

Quando Israel finalmente coroou seu Deus da aliança como o rei supremo no Monte Sião, a antiga fortaleza dos cananeus, Davi compôs o Salmo 24 para dramatizar em liturgia sagrada a conquista de Canaã por Yahweh como o guerreiro real de Israel. Como a procissão sacerdotal com a arca chegou aos portões antigos da fortaleza de Sião a troca seguinte de cânticos expressou o significado religioso do evento:

Quem é este rei de glória? É Yahweh, o forte e valente, Yahweh o valente das guerras. ... É Yahweh dos Exércitos: Ele é o Rei da glória! (Sal. 24:8-10, BJ)

A própria menção de Yahweh como o comandante valente de Israel e o guerreiro vitorioso faz as portas girarem nos seus gonzos de forma que a arca de Deus e sua multidão jovial possa entrar na fortaleza de Sião para celebrar o entronização de Yahweh em Jerusalém.

Davi eventualmente subjugou todas as nações circunvizinhas sob a Sua jurisdição porque "o Senhor dava vitórias a Davi em todos os lugares aonde ia" (2 Sam. 8:6, NVI). Em última instância os governantes de todas as nações vassalas que freqüentavam as festas anuais de Israel reconheceram a monarquia suprema de Yahweh com gritos de aclamação.

Povos todos, batei palmas, Aclamai a Deus com gritos alegres! Pois Yahweh Altíssimo é terrível, é o grande rei sobre a terra inteira.

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Ele põe as nações sob o nosso poder, põe-nos os povos debaixo dos pés. . . . Deus sobe por entre ovações, Yahweh, ao clangor de trombeta. . . . Os príncipes dos povos se aliam com o povo do Deus de Abraão. Pois os escudos da terra são de Deus, E ele subiu ao mais alto (Sal. 47:1-9, BJ).

Estudiosos cristãos sentiram no Salmo 47 a mais profunda promessa do louvor

cósmico e universal de Deus e do Seu Messias no grande dia do futuro (veja Apoc. 5:13).

Guerras de Yahweh pelos Reis Davídicos

Os sucessores de Davi já não puderam manter a paz do império de Israel. As

nações vassalas começaram a tramar rebelião contra o rei davídico, como o Salmo 2 retrata com força dramática. (Para um tratado detalhado, veja H. K. LaRondelle, Deliverance in the Psalms: Messages of Hope for Today [Berrien Springs, Mich.: First Impressions, 1983].) Embora nem toda guerra que Israel empreendeu pode qualificar-se como guerra de Yahweh autêntica, porque eles se tornaram mais seculares em natureza, alguns suportam as marcas da guerra de Yahweh. Uma marca básica de guerra santa genuína era que não o rei mas o profeta ou um sacerdote inspirado iniciavam a convocação decisiva para a guerra. Como sucessores de Samuel, os profetas reivindicavam a autoridade suprema na política externa e guerra estratégica de Israel como uma teocracia (1 Reis 20:13, 14; 22:1-28). O profeta ungia o rei, poderia censurá-lo, e até mesmo anunciar a rejeição de Deus de um rei particular (veja 1 Sam. 10:1; 15:22; 1 Reis 18:17, 18; 19:15, 16; 20:41, 42; Jer. 34).

Um estudioso de Antigo Testamento conclui: "Pelo tempo de Acabe (c. 869-850), o profeta como o porta-voz de Yahweh em situações militares era uma força política que nenhum rei em Israel ou Judá poderia ignorar" (D. L. Christensen, Transformations of the War Oracles in Old Testament Prophecy. Harvard Diss. in Rel. 3, 1975, p. 31). O típico estilo de ''convocações para guerra'' nós agora reconhecemos como uma forma básica de discurso profético. Um rei parece ter compreendido a autoridade política do profeta quando ele exclamou no leito de morte do profeta Eliseu: "Meu pai! meu pai! Carro e cavalaria de Israel!" (2 Reis 13:14, BJ; cf. 2:12).

Um dos reis teocráticos mais ilustres de Judá foi o Rei Josafá. Quando os moabitas e os amonitas vieram lutar contra ele nos meados do nono século A.C., ele dedicou todo Judá a Deus em um dia nacional de jejum e oração pública oferecida no pátio do Templo. "Ó nosso Deus, não irás tu julgá-los? Pois não temos força para enfrentar esse exército imenso que vem nos atacar. Não sabemos o que fazer, mas os nossos olhos se voltam para ti" (2 Crôn. 20:12, NVI). Um sacerdote levita, sob inspiração de Deus, respondeu a Judá com a seguinte certeza de vitória: ''Não tenham medo nem fiquem desanimados por causa desse exército

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enorme. Pois a batalha não é de vocês, mas de Deus. ... Vocês não precisarão lutar nessa batalha. Tomem suas posições, permaneçam firmes e vejam o livramento que o Senhor lhes dará, ó Judá, ó Jerusalém." (versos 15-17, NVI). O exército de Israel foi assim consagrado ao Deus de Israel, de acordo com a lei de Moisés (Deut. 20:1-4). A certeza profética fez Josafá tão confiante que ele designou um coro para cantar louvores ao Senhor quando eles marcharam na frente do exército. Então um súbito pânico golpeou o inimigo de Israel, destruindo sua unidade e fileiras. "Os amonitas e os moabitas atacaram os dos montes de Seir para destruí-los e aniquilá-los. Depois de massacrarem os homens de Seir, destruíram-se uns aos outros. Quando os homens de Judá foram para o lugar de onde se avista o deserto e olharam para o imenso exército, viram somente cadáveres no chão; ninguém havia escapado" (2 Crôn. 20:23, 24, NVI). Não maravilha que Jerusalém respondesse com um festival de louvores e exuberante ação de graças.

A maior ameaça a Judá e Israel veio, porém, com a invasão dos exércitos assírios. Em 722 A.C. a Assíria deportou as dez tribos de Israel e então invadiu Judá e finalmente pôs cerco em Jerusalém em 701 A.C. A ameaça assíria à casa real de Davi forma o fundo imediato de uma das intervenções mais espetaculares de Deus na história. Quando o comandante do campo assírio se levantou diante dos muros da cidade santa e insultou o Deus de Israel, chegou o ponto decisivo (veja Isa. 36, 37). Ezequias, o rei de Jerusalém, consultou o Senhor e recebeu a certeza profética, "Eu defenderei esta cidade e a salvarei, por amor de mim e por amor de Davi, meu servo!" (Isa. 37:35, NVI). Em imagem antiga típica o oráculo de guerra divino enviou então ao rei assírio auto-suficiente: "Porei o meu anzol em seu nariz e o meu freio em sua boca, e o farei voltar pelo caminho por onde veio" (verso 29, NVI). O resultado desta guerra de Yahweh lê como segue:

Naquela noite o anjo do Senhor saiu e matou cento e oitenta e cinco mil homens no acampamento assírio. Quando o povo se levantou na manhã seguinte, o lugar estava repleto de cadáveres! (2 Reis 19:35).

Guerra de Yahweh nos Salmos

Alguns sacerdotes de Jerusalém compuseram hinos específicos para comemorar

as vitórias dramáticas de Yahweh na história de Israel (veja Sal. 46; 48; 76). Tais cânticos de Sião louvavam a Deus como o único refúgio e força de Israel.

Deus está no seu meio [da cidade]: ela é inabalável, Deus a socorre ao romper da manhã. Povos estrondam, reinos se abalam, ele alteia a sua voz e a terra se dissolve. Yahweh dos exércitos está conosco, nossa fortaleza é o Deus de Jacó! (Sal. 46:5-7, BJ). Conforme ouvimos, assim vimos também na cidade de Yahweh dos Exércitos, na cidade de nosso Deus. Deus firmou-a para sempre (Sal. 48:9, BJ).

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Neste quadro ideal da invencibilidade de Sião a suposição subjacente é que

Yahweh e Sião estão desfrutando uma unidade espiritual e estão vivendo em genuíno companheirismo de aliança. Também nesta base os salmos reais prometem ao rei davídico vitória sobre os seus inimigos (Sal. 18; 20; 21) e a liturgia sagrada celebra o seu triunfo militar (Sal. 2; 110). Porém, outros salmos, chamados de lamentos, nomeiam a Deus como fiel guerreiro para salvar Israel da derrota do exército e opressão estrangeira (Sal. 60; 83). Um salmo de Davi, o Salmo 60, é especialmente instrutivo, porque introduz o conceito da taça da ira de Yahweh como um sinônimo da guerra de Yahweh (Sal. 60:3; cf. 75:8). Surpreendentemente, Davi aqui se queixa que o Guerreiro divino que marchou com os exércitos de Israel na conquista vitoriosa do passado rejeitou agora Seu próprio povo e até mesmo voltou Sua ira neles. Israel bebeu o vinho da ira de Deus e cambaleou, impotente diante das nações (Sal. 60:1-3, 10). Não obstante, para "aqueles que o temem" (verso 4) – o Israel verdadeiramente religioso – Deus assegura a ajuda e o triunfo renovado em um oráculo de guerra inspirador (versos 6-12). No Salmo 83 Israel apela a Yahweh para lutar novamente as suas batalhas como Ele costumava para vindicar o Seu nome e ter Sua soberania reconhecida universalmente (versos 9-18).

O Salmo 68 é provavelmente o cântico mais magnífico das guerras santas de Yahweh. Este salmo de Davi, notoriamente complicado, parece ter sido escrito durante um ataque crítico por Aram contra Israel, como registrado em 2 Samuel 10:16-19. Enfrentando a ameaça de um imenso exército, Davi ergue suas mãos ao céu para despertar Deus a agir como o guerreiro de Israel. "Deus se levanta: seus inimigos debandam, seus adversários fogem de sua frente." (Sal. 68:1, BJ; cf. Núm. 10:35).

Davi, revisando primeiro os triunfos de Deus desde o Êxodo e a conquista da terra, anuncia sua certeza de vitória. "Certamente Deus esmagará a cabeça dos seus inimigos, o crânio cabeludo dos que persistem em seus pecados" (Sal. 68:22, NVI).

O registro histórico mostra quão completo foi a vitória de Israel sobre os arameus (veja 2 Sam. 10:17-19). Os salmos das guerras vitoriosas de Yahweh contêm inerentemente a perspectiva profética do triunfo da última guerra que Deus empreenderá em nome do Seu remanescente fiel, a batalha do Armagedom. Tudo depende, porém, de nossa definição do remanescente fiel de Israel. Os salmos freqüentemente acentuam que, no final de contas, os juízos de Deus também cairiam sobre um Israel infiel e rebelde (veja Sal. 78 e 106).

Moisés já tinha confrontado Israel com os dois lados da aliança de Deus: bênçãos e maldições (Deut. 27, 28; Lev. 26). Se Israel recusasse escutar a voz de Yahweh, castigos cada vez mais crescentes viriam ao povo escolhido: "os que vos aborrecerem assenhorear-se-ão de vós e fugireis, sem ninguém vos perseguir" (Lev. 26:17, RA). Até mesmo depois que Israel estivesse disperso entre as nações, a maldição os seguiria: "o ruído de uma folha movida os perseguirá; fugirão como quem foge da espada. . . . Cairão uns sobre os outros como diante da espada, sem ninguém os perseguir" (versos 36, 37, RA). Esta maldição de aliança na verdade significou a

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guerra de Yahweh contra um Israel rebelde, infiel! Os profetas clássicos vão desenvolver este aspecto de julgamento mais adiante.

A GUERRA DE YAHWEH DO PONTO DE VISTA PROFÉTICO DE ISRAEL

O profeta Amós que escreveu antes do exílio das dez tribos para a Assíria em 722

A.C., aplicou a maldição da aliança divina a um Israel apóstata. Ele anunciou que um terror sobrenatural incapacitaria o poder militar de Israel do seu tempo de modo que “ ‘os guerreiros mais corajosos fugirão nus naquele dia’, declara o SENHOR” (Amós 2:16; cf. Amós 5:3). Duane L. Christensen observa que nos oráculos de guerra de Amós “o juízo em Israel apresenta um quadro surpreendente da guerra santa de Yahweh empreendido contra o Seu próprio povo” (Transformations, p. 17). Aqui nós deparamos uma nova aplicação do conceito tradicional da guerra de Yahweh. Torna-se um oráculo de juízo contra Israel. Amós também reverte o significado do uso popular do termo o dia de Yahweh. Ele surpreendeu Israel por seu anúncio desafiador, “Não

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será, pois, o Dia do SENHOR trevas e não luz? Não será completa escuridão, sem nenhuma claridade?” (Amós 5:20).

É interessante que Gerhard Von Rad e outros discutiram que o conceito do dia de Yahweh teve sua origem nas batalhas de Yahweh na história primitiva de Israel ("The Origin of the Concept of the Day of Yahweh," Journal of Semitic Studies 4, No. 2 [1959]: 97-108). Realmente Amós identifica a imagem da guerra de Yahweh com esse do dia de Yahweh (Amós 5:20, 27; 9:1-4, 10). E porque o dia de Yahweh teve um cumprimento histórico imediato (em 722 A.C.) como também uma dimensão apocalíptica, o mesmo confirma à guerra de Yahweh.

O oráculo de guerra de Amós acentua, porém, o castigo de Israel no futuro histórico imediato no qual a Assíria era ser o agente da ira de Deus em Israel (Amós 5:27). O profeta introduz a noção nova de que o dia de Yahweh será a guerra de Deus contra um Israel impenitente cuja adoração cúltica e celebrações não mais são aceitáveis a Ele (vv. 18-27). Neste distinção entre o Israel arrependido e o impenitente fica a mensagem básica dos profetas: o dia do Senhor é o dia de salvação só para o remanescente fiel de Israel (Amós 5:15; 9:11, 12; Miq. 2:12; Joel 2:32; Sof. 3:8-13; Hab. 2:4; Dan. 12:1, 2).

O profeta Isaías faz um uso opressivo das imagens da guerra de Yahweh em seus discursos de juízo contra Assíria, Babilônia, Egito, Edom, e outras nações, especialmente quando eles subiram ao grande exército e poder político (Isa. 13-23; 31; 34; 47; 63). O aspecto mais significante dos oráculos de guerra de Isaías contra os inimigos de Israel é o seu estilo e perspectiva apocalíptica aparente; quer dizer, estes oráculos de guerra contêm dimensões cósmicas e universais que só podem ser cumpridas no último dia de juízo. O oráculo de guerra de Isaías contra a antiga Babilônia contém tal perspectiva escatológica:

Levantem uma bandeira no topo de uma colina desnuda, gritem a eles; chamem-nos com um aceno, para que entrem pelas portas dos nobres. Eu mesmo ordenei aos meus santos; para executarem a minha ira já convoquei os meus guerreiros, os que se regozijam com o meu triunfo. ... O Senhor dos Exércitos está reunindo um exército para a guerra. ... Vejam! O dia do Senhor está perto, dia cruel, de ira e grande furor, para devastar a terra e destruir os seus pecadores. As estrelas do céu e as suas constelações não mostrarão a sua luz. O sol nascente escurecerá, e a lua não fará brilhar a sua luz. Castigarei o mundo por causa da sua maldade, os ímpios pela sua iniqüidade. Darei fim à arrogância dos altivos

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e humilharei o orgulho dos cruéis (Isa. 13:2-11, NVI).

Os aspectos cósmico-universais deste oráculo de guerra contra Babilônia,

cumpriu-se inicialmente na destruição histórica do Império Neo-babilônico, prestando-se a um significado mais profundo e uma dimensão escatológica. Por conseguinte, em vez de considerar Isaías 13 e 14 uma profecia antiquada sobre a antiga Babilônia, encontramos nisto uma oportunidade e relevância crescente enquanto o dia de juízo final se aproxima. Os oráculos de guerra de Isaías apontam ao real assunto da ira de Deus: o inimigo de Deus e o opressor do povo de Deus será subvertido e será totalmente esmagado (Isa. 14:1-6, 25). Eles também predizem o triunfo glorioso do Messias e Seu povo que resultará no reino perpétuo de paz e retidão na Terra (Isa. 11).

É muito notável que as promessas pavorosas de Isaías sobre o Messias e Seu reino deriva dos oráculos de Sua guerra santa (Isa. 7; 9; 11; 35). Isaías apela ao rei assustado da casa de Davi em Jerusalém a ficar firme em sua fé na aliança davídica (2 Sam. 7:12-17) e não confiar em qualquer aliança política com a Assíria ou Egito para a sobrevivência de Israel (Isa. 7:1-14; 30:1, 15). O próprio Yahweh Se oporia às ameaças militares de outras nações de acordo com Sua estratégia divina:

Ai dos que descem ao Egito à busca de socorro, Procuram apoiar-se em cavalos, põem a sua confiança nos carros, porque são muitos, e nos cavaleiros, porque são de grande força, mas não voltam os seus olhares para o Santo de Israel, nem buscam a Yahweh. . . . Pois o egípcio é homem e não deus, os seus cavalos são carne e não espírito. Quando Yahweh estender a sua mão, aquele que socorre tropeçará e o socorrido cairá; e perecerão ambos juntos. . . . Como ruge um leão – o leão novo – sobre a sua presa. . . assim descerá Yahweh dos Exércitos para guerrear no Monte Sião, sobre o seu outeiro. Como aves que voam. assim Yahweh dos Exércitos velará sobre Jerusalém, velará sobre ela a livrará, protegerá e a libertará. Voltai para aquele contra o qual se rebelaram tão profundamente os filhos de Israel (Isa. 31:1-6, BJ).

Assim Isaías apelava aos líderes políticos secularizados de Jerusalém para

retornar a Yahweh e confiar na aliança davídica com sua esperança messiânica. Mas Isaías não era nenhum sonhador inativo! Ao mesmo tempo ele anunciou a mensagem chocante que Yahweh usaria a Assíria como o instrumento de Sua ira para empreender guerra contra um Israel irreligioso, de forma que só um remanescente sobreviveria:

Ai dos assírios, a vara do meu furor,

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em cujas mãos está o bastão da minha ira! Eu os envio contra uma nação ímpia, contra um povo que me enfurece, para saqueá-lo e arrancar-lhe os bens, e para pisoteá-lo como a lama das ruas. ... Naquele dia o remanescente de Israel, os sobreviventes da descendência de Jacó, já não confiarão naquele que os feriu; antes confiarão no Senhor, no Santo de Israel, com toda a fidelidade. Um remanescente voltará, sim, o remanescente de Jacó voltará para o Deus Poderoso (Isa. 10:5-21, NVI).

A avaliação de Deus sobre Judá como uma "nação ímpia" significa que Ele

radicalmente e indiscriminadamente rejeitou o Seu povo? Certamente não. Um remanescente que provaria fé em Yahweh seria salvo! Este conceito dual de Israel como nação ímpia e como remanescente fiel constitui o fundo para entender o surpreendente oráculo de guerra de Isaías 29:1-8. Yahweh se apresenta aqui como o guerreiro que porá cerco à farisaica cidade de Davi. Ele a sujeitará à humilhação até curvar sua face no pó como um inimigo capturado. Nesta colocação Isaías usou o nome Ariel de modo irônico para designar Jerusalém como o altar de Deus, ou lugar de sacrifício.

Mas eu sitiarei Ariel, que vai chorar e lamentar-se, e para mim será como uma fornalha de altar. Acamparei ao seu redor; eu a cercarei de torres e instalarei contra você minhas obras de cerco (Isa. 29:2, 3).

O formalismo religioso da cidade (veja v. 1) e sua jactância de segurança (Isa.

28:14, 15) provocou o atordoante retrato de Deus como empreendendo guerra contra ela. Os apelos de Jerusalém com relação às promessas da aliança eram portanto presunçosas. Ela não cumpriu a condição de fé e obediência que Moisés tinha esboçado em Deuteronômio 30:1-10. Israel assim entendera mal a natureza de sua eleição e chamando divino. Isaías dá a impressão que o tribunal divino celestial julgou a Cidade Santa e pronunciou a sentença, ou "coisa decidida" (Isa. 28:22, BJ). O profeta expressa a resposta de Yahweh em termos de guerra santa:

Certamente, Yahweh se erguerá no Monte Farazim, inflamar-se-á como no Vale de Gabaon, a fim de realizar a sua obra, a sua obra estranha, a fim de executar a sua tarefa insólita. (verso 21, BJ).

N. Gottwald resume esta reversão profética de guerra de Yahweh. "O pensamento

religioso sobre guerra tomaram um novo rumo com o aparecimento de profetas que

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tinham guerra santa na cabeça pela declaração audaciosa que nas guerras à mão Yahweh não lutou por Israel mas contra Israel" (Interpreter's Dictionary of the Bible, supplement volume [Nashville: Abingdon, 1976], p. 944).

Apesar do veredito divino, outra surpresa espera a cidade sitiada. Deus inverterá dramaticamente Sua guerra santa. Em uma manifestação surpreendente de Sua presença, Yahweh quebrará as forças hostis determinadas na destruição de Sião:

Mas os seus muitos inimigos se tornarão como o pó fino, as hordas cruéis, como palha levada pelo vento. Repentinamente, num instante, o Senhor dos Exércitos virá com trovões e terremoto e estrondoso ruído, com tempestade e furacão e chamas de um fogo devorador. ... Assim será com as hordas de todas as nações que lutam contra o monte Sião (Isa. 29:5-8, NVI).

Poucos oráculos de guerra oferecem este cenário surpreendente de uma mudança

súbita de guerra de Yahweh (também veja Isa. 17:12,14; Miq. 4:11-13; Sof. 3:1, 2, 7, 8; Zac. 14:1-3). A volta predita do destino de Jerusalém nós achamos melhor ilustrado talvez pelo cerco histórico e libertação de Jerusalém em 701 B. C. durante o reinado do rei davídico Ezequias (veja acima). Contudo, a consumação plena da profecia de Isaías jaz definitivamente no futuro. A última perspectiva dos oráculos de guerra que fala do triunfo de Sião é escatológica, centralizado nas profecias messiânicas (Isa. 9 e 11; Miq. 5).

O profeta Sofonias cujos oráculos contra as nações datam dos primeiros anos do rei davídico Josias (640-609 A.C.), continua o conceito espantando de guerra de Yahweh encontrado em Amós e Isaías. Nenhum outro livro parece tão ocupado com o dia do juízo universal de Deus (veja Sof. 1). Surpreendentemente o centro focal é o juízo de Deus sobre Jerusalém (Sof. 2:1-3; 3:1-8). Embora a "espada" de Yahweh destruirá os Filisteus, Moabe e Amon, Etiópia e Assíria, porque eles insultaram o Seu povo (Sof. 2:4-15), o último alvo do guerreiro divino é Jerusalém (Sof. 1:4-13)! O demandante divino reclama esta acusação legal: "Ela não ouviu o chamado, não aceitou a lição; não confiou em Yahweh, não se aproximou de seu Deus!" (Sof. 3:2, BJ). Especificamente Ele acusa os líderes políticos, os juizes, os profetas de tribunal, e os sacerdotes de roubo, jactância, engano e profanação do santuário (veja vv. 3, 4). Mas pior de tudo, Ele acusa Jerusalém de impenitência e indisposição em aceitar correção (verso 7).

Sofonias faz um apelo final ao arrependimento, porque o dia de ajuste de contas é iminente e o veredicto final do conselho divino será irrevogável:

Reúna-se e ajunte-se, nação sem pudor, antes que chegue o tempo determinado e aquele dia passe como a palha, antes que venha sobre vocês a ira impetuosa do Senhor, antes que o dia da ira do Senhor os alcance.

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Busquem o Senhor, todos vocês, os humildes da terra, vocês que fazem o que ele ordena. Busquem a justiça, busquem a humildade; talvez vocês tenham abrigo no dia da ira do SENHOR (Sof. 2:1-3, NVI).

Deus parece relutante em rejeitar este impenitente Israel (Sof. 3:5), mas o dia de

prova está se aproximando rapidamente. Naquele tempo o Deus da aliança subirá no tribunal celestial para trazer Israel à justiça e anunciar a sentença final. “‘Por isso, esperem por mim’, declara o Senhor, ‘no dia em que eu me levantar para testemunhar’ ” (v. 8, NVI).

Nesta passagem o profeta aguarda com interesse o resultado do processo de Deus contra a cidade rebelde. O veredicto divino revela tanto a justiça como a graça de Deus. Notável é o estilo de justiça retributiva de Yahweh. Ele ordena todas as nações gentílicas que se reúnam ao redor da cidade condenada, presumivelmente para destruí-la totalmente, inclusive o Templo corrompido (veja v. 8). A guerra de Yahweh contra Jerusalém é assim o resultado de Seu juízo investigativo do povo da aliança.

O estudioso do Antigo Testamento H. M. Lutz conclui de seu estudo de Sofonias que "o motivo de batalha é subordinado ao motivo do processo do tribunal. . . . A guerra das nações é um ingrediente deliberado do procedimento de tribunal legal de Deus contra a cidade " (Jahwe, Jerusalem und die Völker, WMANT 27 [Neukirchen, 1968], p. 99 [tradução própria]).

Deus convoca as nações pagãs à guerra contra Jerusalém para executar o Seu juízo em um apóstata e idólatra povo da aliança. Esta guerra de Yahweh contra Jerusalém pareceria ser o juízo final de Deus sobre Israel como uma nação teocrática. Neste ponto, porém, o profeta revela suas surpreendentes boas novas. De repente, Yahweh rechaçará as nações hostis desde Sião e neles derramará Sua ira santa. "O mundo inteiro será consumido pelo fogo da minha zelosa ira" (verso 8). A esperança escatológica de Israel, expressa antes em Isaías 29:5, 6, é aqui renovada. Com paixão apocalíptica Sofonias anuncia o juízo universal de Deus sobre os gentios porque "o mundo inteiro" assaltou cruelmente Seu povo da aliança. Não obstante, a preocupação última de Sofonias não é a justiça punitiva de Yahweh. O propósito eterno de Deus é a restauração de Israel como verdadeiros adoradores do Criador-Redentor e a vindicação do Seu santo nome, como Sofonias esclarece:

Mas deixarei no meio da cidade os mansos e humildes, que se refugiarão no nome do Senhor. O remanescente de Israel não cometerá injustiças; eles não mentirão, nem se achará engano em suas bocas. Eles se alimentarão e descansarão, sem que ninguém os amedronte (Sof. 3:12, 13, NVI).

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Em sua perspectiva escatológica o profeta enfatiza que só um remanescente religioso e moral será salvo. Isto implica, porém, que os verdadeiros adoradores de Yahweh entre os gentios serão bem-vindos nos festivais pós-exílicos de Sião. Tal pertence também à comunidade universal de fé (veja verso 9; cf. Isaías 56).

Em sua colocação histórica original podemos ver o cumprimento inicial dos proféticos oráculos de guerra de Sofonias na destruição de Jerusalém pelo rei babilônico Nabucodonosor em 586 A.C. Jeremias, o profeta contemporâneo, desenvolveu a imagem de Yahweh como guerreiro santo em maior detalhe, especialmente com respeito à Babilônia.

Jeremias retrata Yahweh como o soberano governante que emprega Babilônia como sócio involuntário em Seu castigo de um Israel obstinado. Durante o cerco de Jerusalém (588-586 A.C.) Zedequias, o rei de Judá, enviou os mensageiros ao profeta com o argumento, "Consulte agora o SENHOR por nós porque Nabucodonosor, rei da Babilônia, está nos atacando. Talvez o SENHOR faça por nós uma de suas maravilhas e, assim, ele se retire de nós" (Jer. 21:2, NVI). Os habitantes de Jerusalém aparentemente ainda esperaram um súbito salvamento por Yahweh, como acontecera cem anos antes durante o reinado do Rei Ezequias (Isa. 37). Porém, Jeremias respondeu com as notícias inquietantes que o Guerreiro santo lutaria contra Israel com o mesmo poder que Ele tinha usado no passado contra os seus inimigos. "Eu mesmo lutarei contra vocês com mão poderosa e braço forte, com ira, furor e grande indignação. Matarei os habitantes desta cidade, tanto homens como animais; eles morrerão de uma peste terrível" (Jer. 21:5, 6, NVI).

A resposta divina revela a irresponsabilidade dos falsos profetas em sua insistência por salvamento iminente e em seu apelo pelas promessas anteriores de Deus em isolamento da situação histórica presente de Israel. Não sem ironia, Jeremias expôs esses pregadores dogmáticos quando a história os demonstrou falsos. “Onde estão os vossos profetas que vos anunciavam: ‘O rei de Babilônia não virá contra vós nem contra esta terra’?” (Jer. 37:19, BJ). Aqui deparamos o problema fundamental da falsa profecia: seu aplicação incondicional e não-histórica das prévias promessas de Deus da redenção de Israel. A hora de apostasia é ignorada, com o resultado que a fé se torna em presunção.

A falsa profecia só apressou Jerusalém a uma destruição horrenda! Por outro lado, o verdadeiro profeta entregava a mensagem impopular que Deus estava em guerra contra a "cidade santa" (veja também Jer. 6:1-6; 8:14-17; 15:3-9; 19:7). Jeremias anunciou que Deus colocaria "a bandeira'' em Judá e as nações circunvizinhas por um período de 70 anos (Jer. 25:9-11). Depois daquele tempo Babilônia seria julgada e colocada sob a proibição eterna de Deus (Jer. 50:21-27; 51:56, 57). O profeta então amplia sua visão em uma perspectiva apocalíptica e prediz que Yahweh chamará a juízo todas as nações do mundo diante de Seu tribunal de justiça e "entregará os ímpios à espada" (Jer. 25:31). "E haverá, naquele dia, vítimas de Yahweh de uma à outra extremidade da terra" (verso 33, BJ). Tal devastação universal na Terra acontecerá, "por causa do furor da espada e por causa do brasume da ira do SENHOR" (verso 38, RA).

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Porém, esta amplificação cósmico-universal da guerra final de Deus contra os ímpios focaliza-se sobre Babilônia e Edom como os opressores mais desumanos do povo da aliança. A "taça da ira de Yahweh" será retirado um Israel purificado e será dado aos seus atormentadores (Jer. 49:7, 12-16; 51:7; cf. Obad. 1-4, 10-16; Isa. 51:22, 23).

A mensagem consoladora para o Israel de Deus é aparente: Deus Se levantará para empreender guerra contra o perseguidores de Seu povo da aliança. Em última instância o propósito dos oráculos de guerra de Jeremias contra Babilônia é a libertação e restauração de um novo Israel em companheirismo com o Senhor:

“Naqueles dias, naquela época”, declara o SENHOR, “se procurará pela iniqüidade de Israel, mas nada será achado, pelos pecados de Judá, mas nenhum será encontrado, pois perdoarei o remanescente que eu poupar (Jer. 50:20, NVI).

A destruição eterna de Babilônia só acontece como um ato da justiça retributiva

de Deus porque ela havia determinado destruir o povo de Deus e sua adoração em Seu santuário. A restauração de Israel de Yahweh necessita a destruição de Babilônia. A salvadora e punitiva justiça de Deus são inseparavelmente conectadas.

Contudo, o Redentor deles é forte; Senhor dos Exércitos é o seu nome. Ele mesmo defenderá a causa deles, e trará descanso à terra, mas inquietação aos que vivem na Babilônia. (verso 34, NVI).

De fato, a convocação divina para Israel para fugir da Babilônia e retornar a Sião

em um novo êxodo para proclamar os atos redentores do Senhor muda a ênfase desta profecia de destruição de Babilônia para uma mensagem de esperança e salvação para o Israel de Deus (veja Jer. 50:8; 51:6, 9, 10, 45, 50).

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A ÚLTIMA GUERRA NA PERSPECTIVA APOCALÍPTICA Daniel e Ezequiel desenvolvem a certeza da última restauração do povo de Deus

através de um novo estilo literário de profecia chamado apocalíptico. Um marco básico apocalíptico é seu período de história em duas eras sucessivas, a era presente e a era messiânica. Mais precisamente, a idéia prediz uma ordem seqüente de eventos futuros, na suposição de que o conselho divino predeterminou o curso de história (Dan. 10:21). O clímax da história é o juízo cósmico-universal no qual Yahweh reina supremo. O Seu veredicto subverte todos os poderes políticos e militares hostis ao Seu povo e à sua adoração no Seu Templo. Então Ele vindicará Seu fiel povo da aliança, tão longamente ultrajado e rejeitado (veja Dan. 7 e 8), e lhes confiará o domínio perpétuo do mundo (Dan. 2:44; 7:27). Porém, Daniel indica que primeiro tem que chegar um final "tempo de angústia", ou guerra contra os santos de Deus que terminará com um súbito resgate divino (Dan. 12:1; 11:44, 45).

Mas a Escritura não promete salvar indiscriminadamente todo o Israel étnico. Vem apenas a esses dentro de Israel que em perseguição permaneceram fiéis a Deus e cujo nome foi "achado inscrito no livro" (Dan. 12:1; cf. Isa. 4:3; Mal. 3:16; Eze. 13:9; Sal. 69:28). Esta libertação apocalíptica tem sua pronunciação nas incríveis narrativas de Daniel sobre o socorro divino dos decretos de morte políticos nos capítulos 3 e 6. Daniel se concentra em Miguel, o "grande Príncipe'', como o Defensor celestial de Israel. Lutando pelo Israel de Deus, Ele triunfará afinal judicialmente e militarmente sobre todos os inimigos terrestres e cósmicos de Israel (Dan. 12:1; 10:13, 20, 21; cf. Isa. 24:21). A vitória messiânica de Miguel em Daniel 12 pode ser vista como o resultado prático do entronização do Filho do homem em Daniel 7 e também como o triunfo do Messias em Daniel 8, o Príncipe de príncipes (veja A. J. Ferch, The Son of Man in Daniel Seven, Andrews University Seminary Doct. Diss. Series 6 [1979], pp. 99-107).

O livro do Novo Testamento da Revelação, o Apocalipse de João, combina o guerreiro celestial de Daniel (Miguel) e o Príncipe de príncipes juntos em uma figura, e O identifica como o Cristo ascenso (veja Apoc. 12:3-10).

O que Daniel só indicou brevemente como "tempo de angústia" para Israel (Dan. 12:1), Ezequiel desdobra mais adiante em um enredo extenso de dois capítulos (Eze. 38, 39). O profeta posterior retrata o Israel pós-exílico como restaurado na Terra Prometida, vivendo em "povoados" sob as plenas bênçãos da aliança de Deus (Eze. 38:11). Se se aceita uma ordem seqüente dos capítulos 37 e 39, então a era messiânica é aqui pressentida. O Messias, como o Davi maior, governa Israel como Seu rei, e o Espírito de Deus é derramado na teocracia (Eze. 37:24, 25; 39:29). O profeta chama a

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agressão massiva a este escatológico Israel de Deus por muitas nações, dirigidas por Gogue do norte distante, "um plano maligno" (Eze. 38:10, NVI). Apesar disto, a Inspiração interpreta a guerra profana de uma perspectiva divina como parte do propósito mais elevado de Deus: "Nos dias vindouros, ó Gogue, trarei você contra a minha terra, para que as nações me conheçam quando eu me mostrar santo por meio de você diante dos olhos delas" (verso 16, NVI; cf. v. 4).

A Providência anuncia a vinda de um banho de sangue apocalíptico como o dia da matança por Yahweh: “Filho do homem, assim diz o Soberano, o Senhor: ‘Chame todo tipo de ave e todos os animais do campo: Venham de todos os lugares ao redor e reúnam-se para o sacrifício que estou preparando para vocês, o grande sacrifício nos montes de Israel. Ali vocês comerão carne e beberão sangue’ ” (Eze. 39:17; cf. 1 Sam. 17:45-47; Sof. 1:7; Isa. 34:5-8; Jer. 46:10; 51:39, 40).

Ezequiel não deixa nenhuma dúvida de que Deus intervirá novamente na história. Como guerreiro vitorioso, Ele lutará por Seu povo como Ele costumava fazer nos tempos antigos. Yahweh de repente manifestará Sua presença santa em um assustador ''terremoto em Israel" e se despejará nos inimigos de Israel "torrentes de chuva, saraiva e enxofre ardente" causarão tal terror que "a espada de cada um será contra o seu irmão" (Eze. 38:18-22).

O profeta usa energicamente o conceito de guerra de Yahweh como transmitido por profetas prévios (cf. Eze. 38:17; 39:8). O último inimigo do povo de Deus será esmagado nas montanhas de Israel (Eze. 38:8, 21; 39:2, 17), da mesma maneira que Isaías tinha predito antes com respeito à Assíria: "Nos meus montes a pisotearei. O seu jugo será tirado do meu povo, e o seu fardo, dos ombros dele" (Isa. 14:25, NVI).

Igualmente Joel desenvolve em maior detalhe a perspectiva geral de profetas prévios, como, por exemplo, o derramamento futuro do Espírito de Deus no tempo Messiânico (veja Joel 2:28, 29; cf. Isa. 32:15; 44:3; Eze. 39:29). Ele usa a convocação divina até mesmo para os inimigos de Israel para santificar uma guerra contra Jerusalém:

Proclamem isto entre as nações: Preparem-se para [literalmente: santifiquem-se] a guerra! Despertem os guerreiros! Todos os homens de guerra aproximem-se e ataquem (Joel 3:9, NVI; cf. Jer. 6:4).

Sua perspectiva apocalíptica está em notável harmonia com as expectativas de

Ezequiel da guerra final de Yahweh contra as nações (veja Eze. 38, 39). Como em Ezequiel, assim Joel acentua a natureza da última guerra não como um conflito secular de nação contra nação mas como a batalha cósmico-universal entre o céu e um mundo unido em rebelião contra Deus e Seu povo da aliança. Yahweh permanece no controle do princípio ao fim. Ele ordena a luta final no "Vale de Josafá", que combina os vales ao redor de Monte Sião, como o lugar designado de juízo. O Próprio Senhor determina o resultado final.

Reunirei todos os povos e os farei descer ao vale de Josafá.

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Ali os julgarei por causa da minha herança — Israel, o meu povo — pois o espalharam entre as nações e repartiram entre si a minha terra (Joel 3:2, NVI).

Joel apresenta Yahweh como o Demandante divino em Seu último processo contra Seus inimigos. Repetidamente o profeta descreve Israel não como uma nação secular ou um povo étnico mas como Sua herança e Seu povo (cinco vezes, versos 2-3), quer dizer, como o povo espiritual de Deus ou teocracia. A glória da Shekinah de Yahweh habita o Monte Sião como o refúgio para Seu povo (veja verso 17).

As acusações contra a Filístia e as cidades fenícias, Tiro e Sidom, é que eles venderam os israelitas capturados como escravos para os gregos e assim os dispersaram entre as nações (versos 2, 4, 6; cf. Amós 1:6, 9; Eze. 27:13), e que eles roubaram o ouro e a prata de Israel que pertenciam a Yahweh (Joel 3:5). Deus Se identifica tão completamente com Seu povo da aliança em Seu processo apocalíptico que Ele faz aos inimigos de Israel a pergunta, "O que vocês têm contra mim?" (verso 4). O veredicto divino segue a lei de mosaica de justiça retributiva. "Se estão querendo vingar-se de mim, ágil e veloz me vingarei do que vocês têm feito" (verso 4, NVI; veja também o v. 7). Esta lei aplicou-se especificamente contra a falsa testemunha (Deut. 19:18, 19; cf. Sal. 7:15, 16; 9:15, 16). Os gentios injustamente acusaram e condenaram Israel. A história registra que os fenícios e filisteus, comerciantes de escravos judeus, foram vendidos em escravidão, especialmente por Alexander o Grande em 332 A.C. (veja The Interpreter's Bible. [Nashville: Abingdon Press, 1956], vol. 6, p. 756). O juízo de Deus trará essencialmente as mesmas acusações contra o pagão do tempo do fim: falsas acusações e perseguição daqueles que O adoram em verdade (Joel 2:32).

A execução da sentença de Deus assume a natureza de guerra de Yahweh porque Israel enfrenta a ameaça de extinção. Então, Joel suplica "Faze descer os teus guerreiros, ó Senhor!" (Joel 3:11). Porque será o dia cósmico-universal de Yahweh (versos 14-16), o profeta não chama o lugar do campo de batalha apocalíptico o Vale de Kidron, mas simbolicamente "vale de Josafá" (versos 2, 12), quer dizer, o lugar de "juízo de Yahweh". Vemos isto enfatizado novamente no simbolismo familiar de Yahweh como "o que pisa as uvas" de multidões de ímpios na prensa de vinho (verso 13; cf. Isa. 63:3; Jer. 25:30). O Apocalipse de João aplica este simbolismo em seu cumprimento apocalíptico ao segundo advento de Cristo e aos Seus inimigos em escala universal (Apoc. 14:14-20).

Finalmente, a profecia de Zacarias da guerra escatológica de Deus prova ser de importância suprema. Os últimos três capítulos de Zacarias são construídos no estilo de um quiasmo literário, o centro focal do qual aponta para predições messiânicas que mais tarde receberam significado extraordinário para Jesus Cristo e o Novo Testamento (Zac. 12:10-14; 13:7-9) (veja J. G. Baldwin, Haggai, Zechariah, Malachi, gen. ed. D. J. Wiseman, Tyndale OT Commentaries [Downers Grove, Ill. : Intervarsity Press, 1983], pp. 77-80). O livro apresenta o Rei Messias do capítulo 9 como o companheiro íntimo de Yahweh que seria "perfurado", ou martirizado, porém, em Jerusalém por um Israel rebelde (Zac. 13:7; 12:10). O próprio propósito de Deus já tinha incluído tal Messias sofredor: "Fira o pastor, e as ovelhas se dispersarão" (Zac.

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13:7, NVI). Séculos mais tarde Cristo viu Seu próprio sofrimento e morte como o cumprimento da predição de Zacarias. As implicações são de longo alcance: são vistos os seguidores de Cristo então são vistos como a ovelhas dispersas de Yahweh, como o verdadeiro remanescente de Israel (veja Mat. 26:31; Mar. 14:27).

Como conseqüência da rejeição de Israel e execução do Pastor Messias, Zacarias prediz que Yahweh empreenderá guerra contra Jerusalém e a terra inteira de Israel, de forma que "dois terços serão ceifados e morrerão; todavia a terça parte permanecerá" (Zac. 13:7, 8; cf. 14:2). Esta forma de discurso de juízo tem obviamente seu padrão em um oráculo contra Jerusalém que Ezequiel tinha feito antes do exílio babilônico (veja Eze. 5:2, 4, 12). Como o oráculo de guerra de Ezequiel contra Jerusalém acentuou que um remanescente fiel seria protegido pela marca de aprovação de Deus (Eze. 9), assim Zacarias promete que Deus reservará um remanescente fiel que se arrepende do assassinato do Messias de Israel no futuro escatológico.

Todavia a terça parte permanecerá, diz o SENHOR. Colocarei essa terça parte no fogo, e a refinarei como prata, e a purificarei como ouro. Ela invocará o meu nome, e eu lhe responderei. É o meu povo, direi; e ela dirá: ‘O SENHOR é o meu Deus’. (Zac. 13:8b, 9; cf. 12:10).

À luz do choque racional de Zacarias para a guerra de Yahweh contra Jerusalém,

fica claro por que o Cristo insistiu que Seus discípulos fugissem de Jerusalém e Judéia às montanhas (veja Mat. 24:15, 16). Cristo viu Yahweh empreendendo guerra contra a Cidade Santa quando os exércitos romanos destruíram Jerusalém em 70 A. D., como em linha com as predições de Zacarias: "Reunirei todos os povos para lutarem contra Jerusalém; a cidade será conquistada" (Zac. 14:2, NVI). Indubitavelmente Cristo tinha esta e outras profecias em mente ao explicar, "Pois esses são os dias da vingança, em cumprimento de tudo o que foi escrito" (Luc. 21:22, NVI). A razão de Cristo aplicar os oráculos proféticos de destruição sobre Jerusalém para Sua própria geração foi a convicção de que Sua presença era a visita de Deus para oferecer paz messiânica e salvação ao Seu povo da aliança (Luc. 19:41, 42). Com voz lacrimosa Ele anunciou durante Sua última visita a Jerusalém, "não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não reconheceste a oportunidade da tua visitação" (verso 44, RA). Rejeitando a Cristo significaram o rejeição do Deus da aliança de Israel. Encheram a medida de culpabilidade dos seus antepassados (Mat. 23:32). Não obstante, Jesus também olhou além do juízo de Jerusalém ao Seu retorno como o juiz de todo os povos. Então a previsão de Zacarias será cumprida em uma escala mundial (Mat. 24:30; Zac. 12:12). Cristo empreenderá guerra santa contra todos os que O perfuraram e que assaltaram Seu povo, o Israel espiritual (veja Apoc. 1:7; 6:14-17).

Resumo

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O Antigo Testamento revela que realmente Yahweh empreendeu guerras contra os inimigos jurados de Israel do passado, tal como o Egito (Êx. 15:3, 4), Amaleque (Êx. 17:16), os filisteus (1 Sam. 17:45-47), os amorreus (Amós 2:9), Babilônia, e outros. A libertação de Israel do Egito pelo súbito secamento do Mar Vermelho e o afogamento do exército de faraó, a Escritura vê como o exercício da monarquia de Yahweh e apresenta como o protótipo das vitórias futuras de Israel sobre seus inimigos na Terra Prometida (Êx. 15:14-16, 18; Deut. 1:30; 7:19; Miq. 7:15; Isa. 11:10-16; 43:16-19). Os escritores da Bíblia regularmente descrevem a presença de Deus em uma guerra de Yahweh por via de terremoto, fenômenos no sol, lua, e estrelas, torrentes de chuva e granizo, e especialmente por enviar terror e pânico paralisante entre os assaltantes de Israel (Êx. 15:16; Deut. 7:20, 23). Estas são as manifestações da presença da teofania de Yahweh. As seguintes três características introduzem a genuína guerra de Yahweh: (1) a convocação divina para preparar guerra por meio de um profeta ou sacerdote do Senhor; (2) as orientações divinas para a participação de Israel; (3) a garantia de vitória.

As batalhas de Yahweh estavam condicionadas à fidelidade de Israel para com a aliança divina (Sal. 46; 48). Sua rebelião persistente e impenitência iniciariam o juízo de Yahweh e a guerra santa em contrário, como especificado na aliança mosaica (Lev. 26:27-34). Deus empregou até mesmo a Assíria e Babilônia como parceiros tradicionais de Seus juízos punitivos sobre Israel e Judá. Contudo Ele sempre preservou, por Sua graça, um remanescente fiel de Seu povo da aliança.

As profecias apocalípticas de Daniel, Ezequiel, Joel, e Zacarias desenvolvem a teologia de que Deus dirige Sua guerra final contra os inimigos implacáveis do povo messiânico cheio do Seu Espírito. A guerra de Yahweh nunca é uma luta política secular entre nações. Tal interpretação da última guerra nas Escrituras proféticas é característica da falsa profecia moderna. A batalha de Deus é contra os últimos assaltantes do povo remanescente messiânico e de sua adoração divina (Sal. 2; Joel 2:32; Dan. 11:45; 12:1; Eze. 38, 39; Zac. 12:8, 9; 13:9; 14:1-3). Esta é a essência da última guerra de Yahweh na profecia da Bíblia.

O propósito da guerra de Yahweh é a vindicação de Sua soberana monarquia entre as nações e a restauração do governo do Messias na Terra em paz e justiça paradisíaca (Eze. 39:21-29; 47:1-12; 48:35; Zac. 14:9, 16; Joel 3:18; Miq. 4:1-5; Amós 9:13-15).

O estudioso do Antigo Testamento Peter C. Craigie concluiu corretamente que o tema de Deus o Guerreiro, não é algo periférico na Bíblia hebraica mas "um dos aspectos mais significantes e centrais da teologia do Antigo Testamento" (The Problem of War in the Old Testament [Grand Rapids: W. B. Eerdmans Pub. Co., 1978], pág. 38).

A importância última das antigas profecias de Israel centraliza-se em sua esperança messiânica para o mundo. Como Joyce G. Baldwin declara tão bem em seus comentários sobre o governo messiânica de Zacarias 9:9, 10: "As únicas esperanças realistas de paz mundial ainda se centralizam neste rei" (Haggai, Zechariah, Malachi, pág., 167).

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A Relevância de Guerra de Yahweh para a Igreja de Jesus Cristo

Porque o Deus de Israel é o mesmo ontem, hoje e amanhã, Seus juízos no

passado explicam a natureza de Seus juízos futuros. Isto empresta a todos os atos iniciais de redenção de Deus um caráter tipológico. A queda de Babilônia no passado funciona como tipo, ou prefiguração, da certeza da queda da Babilônia apocalíptica (cf. Jer. 50, 51 e Apoc. 17, 18). Os juízos nacionais do dia do Senhor se tornam tipos proféticos do dia cósmico-universal do Senhor no futuro. A geografia do Meio-Oriente, centrada no Monte Sião, serve como um tipo para o campo de batalha mundial da igreja de Cristo contra o anticristo.

O livro de Apocalipse toma emprestado nomes hebraicos e imagens da guerra de Yahweh como seu retrato dramático da vinda de Cristo em juízo. Estes consumação cristológica significa que o Novo Testamento define o Israel de Deus como o povo de Cristo, isto é, como a igreja universal de Cristo (veja Atos 4:25-28). É então de importância decisiva entender a estrutura bíblica da tipologia cristã (veja LaRondelle, O Israel de Deus na Profecia, cap. 4). A abordagem tipológica do Novo Testamento descansa no fato de que os antigos inimigos de Israel eram determinados teologicamente por sua hostilidade contra Yahweh e Seu povo da aliança no Antigo Testamento. O uso de seus nomes na dispensação cristã serve como "tipos" que designam os inimigos de Cristo e Seu povo da nova aliança, a igreja universal. Este enfoque cristológico e aplicação escatológica distingue a tipologia cristã de qualquer mau uso alegórico ou de uma repetição literalista na história da redenção. A relação de tipo e antítipo não é nenhuma repetição étnica ou geográfica mas uma conclusão e intensidade escatológica, por causa da glória de Cristo. O conceito de uma repetição literal do passado na dispensação futura é um motivo pagão que foi superado pela tipologia do Novo Testamento. O juízo vindouro e a redenção do segundo advento de Cristo não corresponderão simplesmente ao que foi antes na história – eles transcenderão a história de Israel em uma escala global porque o cumprimento escatológico é determinada por um nível mais alto de glória em Cristo que seus tipos do Antigo Testamento (veja F. Foulkes, The Acts of God. A Study of the Basis of Typology in the Old Testament [London: Tyndale, 1955]).

A nova aliança possui uma glória que de longe ultrapassa a antiga aliança (2 Cor. 3). Como o Israel messiânico, a igreja de Cristo é o cumprimento do plano de Deus para o mundo com o antigo Israel (Rom. 9-11; veja o comentário em O Israel de Deus na Profecia, caps. 7, 8). Por conseguinte, os inimigos do antigo Israel – o Egito, Babilônia, Edom, e outras nações – servem no Novo Testamento como símbolos dos oponentes da igreja de Cristo.

O dia de Yahweh é transformado no dia de Cristo (veja 1 Cor. 1:8; 2 Cor. 1:14; Filip. 1:6, 10; 2:16). A ira de Yahweh se torna a ira do Cordeiro (Apoc. 6:16). Yahweh como guerreiro celestial o Novo Testamento transfigura em Cristo como guerreiro santo (Apoc. 19:11-15). Enquanto que o Antigo Testamento reconhece Yahweh como "o Deus dos deuses, o Senhor dos reis" (Dan. 2:47), agora o Cristo recebe o título "Rei

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dos reis e Senhor dos senhores" (Apoc. 19:16). Como Yahweh manifestou Sua justiça salvadora e punitiva em nome do Israel, assim o Cristo demonstrará tanto o Seu juízo redentor e punitivo na batalha de "daquele grande dia do Deus todo-poderoso" (Apoc. 16:14) em nome do verdadeiro Israel de Deus. Os juízos sobre os inimigos nacionais do antigo Israel em seus territórios locais servem como tipos ou profecias representadas do Armagedom.

JESUS CRISTO COMO GUERREIRO DIVINO Alguns levantaram a pergunta: O Deus de amor e misericórdia no Novo

Testamento não substitui o Deus de guerra e vingança do Antigo Testamento? Não dispensa o Novo Testamento qualquer uso simbólico de Cristo como guerreiro na ética e profecia cristã? O perigo agudo é que nós começamos de uma filosofia idealista que predetermina seu conceito do que é bom. Nós assumimos que alguma evolução ou progressão existe de primitivo aos mais puros conceitos de Deus na Bíblia. Mas tal desenvolvimento teológico era estranho às mentes dos escritores do Novo Testamento. Para Cristo e Seus apóstolos, da mesma maneira que para os profetas de Israel, o amor divino é uma espada de dois gumes que efetua tanto julgamento como salvação.

O ensino de Jesus sobre o reino de Deus é completamente orientado ao governo cósmico do Deus de Israel, um fato que fica muito claro nas tentações de Cristo no deserto. Aqui Satanás ofereceu a Jesus o governo sobre todos os reinos da Terra em troca do Seu reconhecimento do supremo senhorio de Satanás (Mat. 4:11; Mar. 1:12, 13; Luc. 4:1-3). Jesus começou Sua missão entrando em guerra com o poder maligno

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que está por trás da humanidade pecadora. Seu subseqüente exorcismo de demônios era o resultado de Sua vitória sobre Satanás. O homem era escravo de alguém mais forte do que ele. Jesus entrou em combate atual com Satanás para amarrar o "homem forte'' (Mat. 12:29) e expelir os demônios da alma desses que puseram sua confiança nEle.

"Mas se é pelo Espírito de Deus que eu expulso demônios, então chegou a vocês o Reino de Deus. “Ou, como alguém pode entrar na casa do homem forte e levar dali seus bens, sem antes amarrá-lo? Só então poderá roubar a casa dele'' (versos 28, 29, NVI).

George E. Ladd considera o triunfo espiritual de Cristo de importância suprema.

"No próprio coração da missão de nosso Senhor está a necessidade de salvar os homens da escravidão do reino satânico e trazê-los à esfera do reino de Deus'' (A Theology of the New Testament [Grand Rapids: W. B. Eerdmans Pub. Co., 1974], pág. 53).

Nesta batalha religioso-moral Cristo recusou usar qualquer força externa ou coerção. Ele antes escolheu os sofrimentos e morte em uma cruz como Sua missão e maneira para estabelecer uma monarquia perpétua (João 10:17, 18; Mar. 10:45). A Pedro Ele esclareceu Sua intenção: "Guarde a espada! Acaso não haverei de beber o cálice que o Pai me deu?'' (João 18:11). E para Pilatos, o governador romano, Ele mostrou a natureza espiritual de Seu reino. "O meu Reino não é deste mundo. Se fosse, os meus servos lutariam para impedir que os judeus me prendessem. Mas agora o meu Reino não é daqui'' (João 18:36, NVI).

Por outro lado, Sua segunda vinda é uma questão diferente. Aqui Cristo se antecipa ao Seu aparecimento "nas nuvens do céu, com poder e grande glória". Então Ele enviará anjos poderosos para salvar os Seus escolhidos dos seus opressores (Mat. 24:30, 31; Mar. 13:26, 27; Luc. 21:27). Cristo, quando colocado sob juramento pelo sumo sacerdote, declarou solenemente: "Chegará o dia em que vereis o Filho do homem assentado à direita do Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu" (Mat. 26:64, NVI). Aqui Jesus Se identificou com o Messias da profecia de Israel, predito governador de todo os povos. "Ele se identifica com a figura divina em Daniel 7:13 que monta a Divina Carruagem de guerra" (T. Longman III, ''The Divine Warrior: The New Testament Use of an Old Testament Motif," The Westminster Theological Journal 44, No. 2 [1982]: 290-307, citando de pág., 295).

Jesus Cristo como o Cavaleiro Celestial da Nuvem

O significado teológico da "nuvem" nas descrições de Jesus do Seu retorno em

esplendor divino ficam claras a partir de seu significado no Antigo Testamento e seu mundo religioso contemporâneo. O Salmo 104, um dos cânticos da natureza mais bonitos da antiguidade, louva o Deus de Israel como rei do universo que "Faz das nuvens a sua carruagem e cavalga nas asas do vento'' (verso 3). Esta declaração poética recebe significado teológico se visto à luz de descrições cananitas de Baal

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como o "cavaleiro nas nuvens". (documentação em Longman, pág. 295). Assim o Salmo 104 está tentando dizer que Yahweh é o supremo Deus e governante.

O Antigo Testamento normalmente descreve as ações de Yahweh como o guerreiro divino que luta em nome de Seu povo escolhido. Para esse propósito Ele monta na carruagem de Sua nuvem, atira Suas setas, e reprova os inimigos de Israel com o Seu trovão (Sal. 18:9-15; 68:4, 33; Deut. 33:26; Naum 1:3, 4; Jer. 4:13). No oráculo de Sua guerra contra o Egito, Isaías adverte, "Yahweh, montado numa nuvem veloz, vai ao Egito. Os deuses do Egito tremem diante dele e o coração dos egípcios se derrete no seu peito" (Isa. 19:1, BJ).

A passagem que impressionou mais profundamente na consciência messiânica de Cristo, porém, foi aparentemente a teofania da nuvem na cena de juízo de Daniel 7. Nesta passagem apocalíptica o Deus de Israel delegou o reinado soberano de toda a Terra a "alguém semelhante a um filho de homem, vindo com as nuvens dos céus" (verso 13, NVI).

O Novo Testamento usa três preposições diferentes em sua aplicação desta visão de Daniel do Filho do homem para o retorno de Cristo: "nas nuvens" (Mat. 24:30; 26:64), "em uma nuvem" (Luc. 22:27), "com as nuvens" (Apoc. 1:7). Os estudiosos de Antigo Testamento mostram que a imagem de nuvem do Filho do homem em Daniel 7 se refere a um atributo divino. André Feuillet colecionou uns 70 textos no Antigo Testamento que conecta "nuvens" com aparecimentos divinos e intervenções, especialmente com teofanias de juízo (veja Ferch, The Son of Man in Daniel Seven, pp. 162-166). O "filho de homem" celestial em Daniel 7 então pertence à categoria de deidade. Quando Jesus escolheu Se designar preeminentemente como o "Filho do Homem", Ele reivindicou autoridade divina para perdoar pecados (Mar. 2:10) e retornar como o divino juiz do mundo (Mat. 16:27). (Para um estudo de compreensivo do significado teológico da auto-designação de Jesus como "o Filho do Homem" como título Messiânico nos quatro Evangelhos, veja Ladd, A Theology of the New Testament, pp. 145-158, 244-246). Cristo aplicou a teofania da nuvem do Filho de homem diretamente em Daniel 7 a Si mesmo como o cavaleiro da nuvem no dia de juízo.

O Apocalipse de João focaliza o segundo advento de Cristo com círculos sempre intensificados. O revelador vê Cristo que vem como o rei-juiz e guerreiro "sentado na nuvem" (Apoc. 14:14) e montando em um cavalo branco. "El julga e guerreia com justiça" (Apoc. 19:11). Ele lidera um exército divino, da mesma maneira que Yahweh Sabaoth tinha feito antes com Israel (verso 14). É chamado o grande dia da ira de Deus e o Cordeiro (Apoc. 6:17).

O livro retrata o Guerreiro apocalíptico em um manto "tingido de sangue" porque "Ele pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus todo-poderoso" (Apoc. 19:13, 15; cf. Apoc. 14:17-20), da mesma maneira que Yahweh foi pintado em Isaías 63:2, 3 e em Joel 3:13. Além disso, "de sua boca sai uma espada afiada com a qual ferirá as nações" porque "Ele as governará com cetro de ferro" (Apoc. 19:15), um indicador para as promessas messiânicas do Salmo 2:9 e Isaías 11:4.

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Em resumo, o livro do Apocalipse porta a mensagem de esperança e garantia divina de que Cristo virá como o Messias real para salvar o Seu povo na última guerra do mundo contra Deus.

O Uso Figurado do Simbolismo de Guerra

O livro do Apocalipse é o livro de contrastes. Coloca Cristo em oposição ao

anticristo escatológico. Os capítulos 12 a 14, a unidade central no Apocalipse de João, até predizem o surgimento de uma trindade satânica para esmagar a Cristo e Seu povo. O antigo dragão (Apoc. 12) emprega dois assistentes ou aliados em sua guerra contra os santos: a besta do mar, com dez chifres, e uma besta da terra, com dois chifres (Apoc. 13). O capítulo 13 revela o clímax sinistro da perseguição de Satanás contra a igreja.

Em sua dissertação, The Use of Daniel in Jewish Apocalyptic Literature and in the Revelation of St. John (Lanham-New York-London: University Press of America, 1984), Gregory K. Beale demonstra convincentemente que Apocalipse 13 é um reelaborado criativo de Daniel 7 (pp. 229-248). A evidência mostra "que Apocalipse 13 é modelada em Daniel 7" (pág. 247).

O Apocalipse agora integra as características simbólicas das quatro bestas de Daniel 7 em uma besta apocalíptica (Apoc. 13:1 , 2). Esta nova besta tem dez coroas em seus dez chifres, uma referência óbvia aos dez reis ou reinos que emergiriam do quarto império mundial em Daniel 7:7, 24. A natureza blasfema da besta do mar de Apocalipse 13:1, 5, 6 continuam as afirmações blasfemas do "pequeno" chifre de Daniel 7:8, 25. Até mesmo a transferência da autoridade do dragão para a besta (Apoc. 13:2, 4) é uma característica tomada emprestado de Daniel 7 (versos 6, 14). A exclamação de jactância do mundo inteiro "Quem é como a besta? Quem pode guerrear contra ela?" (Apoc. 13:4), pode ser visto como a aplicação irônica de João do chifre orgulhoso de Daniel 7:21, que "fazia guerra contra os santos e os vencia". João alude a Daniel 7:21 quando ele diz da besta, "Foi-lhe dado poder para guerrear contra os santos e vencê-los" (Apoc. 13:7). O período de "quarenta e dois meses" determinado em Apocalipse 13:5 para o governo de blasfêmia e perseguição corresponde aos três e meio tempos de Daniel 7:25 (cf. também Apoc. 12:6, 14).

A característica da besta de caluniar o santuário divino e os que moram nos céus (Apoc. 13:6) tem sua origem no poder blasfemo do chifre em Daniel 8:10, 11. (Já Apocalipse 12:4, 9, 13 tinha se referido a Daniel 8:10.) Beale tira a importante conclusão: "João então identificou a figura blasfemadora de Daniel 7 com essa de Daniel 8, visto que ambos são caracterizados pela mesma insolência [arrogância orgulhosa]" (ibid., pág. 234).

Após a guerra universal da besta contra os santos em Apocalipse 13:7 vem a frase notável: "Foi-lhe [à besta] dada autoridade sobre toda tribo, povo, língua e nação. Todos os habitantes da terra adorarão a besta" (vv. 7, 8, NVI). Esta cláusula de autorização ("foi-lhe dada autoridade") sugere um contraste irônico com o entronização do Filho do homem em Daniel 7:14, onde "foi-lhe dado domínio, e

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glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído" (RA).

Pode-se dizer, portanto, que em Apocalipse 13 "os esforços de conquista da besta são somente uma paródia irônica do triunfo final do "filho do homem" (ibid., pág. 237). Este estilo apocalíptico de paródia contrastante entre Cristo e seu anticristo escatológico repetidamente ocorre em outras frases simbólicas de Apocalipse 13. Por exemplo, a besta recebeu em um de suas cabeças uma ferida mortal por uma espada, contudo voltou à vida novamente (mencionado três vezes, em Apoc. 13:3, 12, 14). Esta imitação não pode senão ajudar-nos a lembrar da verdadeira morte e ressurreição do Cordeiro Messiânico (também mencionado três vezes, em Apoc. 5:6, 9, 12).

Este uso de ironia para retratar a besta como o anticristo nós podemos ver novamente na pequena seção da segunda besta que sai "da terra'' e é descrito como "o falso profeta'' (Apoc. 16:13; 19:20; 20:10). Ele tem "dois chifres como cordeiro, mas que falava como dragão" (Apoc. 13:11). Igualmente, a imposição da "marca" ou "o nome da besta ou o número do seu nome" sobre a mão direita ou na fronte de todo adorador da besta sugestionam um sinal de culto em oposição direta ao selo apocalíptico – "o selo do Deus vivo'' – colocado pelos anjos de Deus nas frontes do Israel de Deus (Apoc. 13:16, 17; 7:2-4). Afinal, o mundo será dividido apenas em duas classes: aqueles que adotam a marca da besta e aqueles que se levantam com o Cordeiro "tendo na fronte escrito o seu nome e o nome de seu Pai" (Apoc. 14:1). Os adoradores de Deus e de Cristo são assim colocados em oposição direta aos adoradores da besta e da sua imagem. A questão fundamental da guerra final é, portanto, uma questão religiosa profunda e substância teológica. O ponto da questão o Apocalipse enfatiza em termos de lealdade à lei da aliança de Deus e ao Seu Messias, Jesus: "Aqui está a perseverança dos santos que obedecem aos mandamentos de Deus e permanecem fiéis a Jesus" (Apoc. 14:12, NVI; cf. 12:17).

O tempo de angústia final para os cristãos fiéis será o resultado de sua lealdade à vontade de Deus revelada na Escritura Sagrada e de sua recusa conscienciosa em submeter-se a uma lei estatal que viola a lei divina. O boicote profano dos verdadeiros santos não significará nada menos que o prelúdio para o Armagedom, a guerra santa do Deus onipotente.

A Nova Libertação Extrai um Novo Cântico

Israel lembrou-se das vitórias das batalhas de Yahweh em seus cânticos de

adoração e celebra estes triunfos militares como atos da monarquia de Deus e de Seus justos juízos. Os exemplos anteriores são conhecidos como o Cântico de Moisés e o Cântico de Débora (Êx. 15; Juí. 5). Os profetas de Israel usaram o Êxodo e a conquista como protótipos e modelos para a futura vitória de Yahweh sobre Babilônia e para Seu triunfo final no dia apocalíptico de juízo (Osé. 2:14, 15; Isa. 11:16; 27:1, 12, 13; 51:10, 11; 52:1-12; Eze. 20:33-42; Jer. 23:7, 8). Isaías acentuou especialmente a

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conexão tipológica entre a vitória passada de Yahweh sobre o Egito e a próxima derrota de Babilônia:

Assim diz o Senhor, aquele que fez um caminho pelo mar, uma vereda pelas águas violentas, que fez saírem juntos os carros e os cavalos, o exército e seus reforços, e eles jazem ali, para nunca mais se levantarem, exterminados, apagados como um pavio. “Esqueçam o que se foi; não vivam no passado. Vejam, estou fazendo uma coisa nova!” (Isa. 43:16-19, NVI).

O profeta vai além da idéia de uma mera analogia da liberação futura de Israel

com aquela do passado; antes ele acentua o fato de que a futura libertação de Deus excederá muito a primeira. Bernhard W. Anderson observa que "o Êxodo, então, é um 'tipo' do novo êxodo que se cumprirá em um modo mais maravilhoso, com um mais profundo significado soteriológico [redentor], e com implicações mundiais, o propósito de Yahweh revelado no princípio por palavra e ação" (''Exodus Typology in Second Isaiah,'' em Israel's Prophetic Heritage. B. W. Anderson and W. Harrelson, eds. [New York: Harper, 1962], págs. 194, 195).

O futuro ato de redenção de Yahweh levará Israel a cantar novos cânticos de celebração. "Os resgatados do Senhor voltarão [do cativeiro]. Entrarão em Sião com cântico; alegria eterna coroará sua cabeça" (Isa. 51:11, NVI; cf. 35:10). A certeza de restauração futura é tão inabalável que o Israel é persuadido com antecedência, "Cantem ao Senhor um novo cântico, seu louvor desde os confins da terra" (Isa. 42:10, NVI; veja a conexão com a guerra de Yahweh no verso 13). Este "novo cântico" é o grito de vitória do redimido (Sal. 40:3; 96:1; 98:1-3; 144:9, 10; 149:1, 6-9). Será a antífona do povo messiânico na nova dispensação (Isa. 12). O escatológico grito de vitória anuncia que a angústia de Israel terminou porque Yahweh se tornou sua salvação (verso 2). Assim o Cântico de Moisés (Êx. 15:2) é renovado. Também o assim chamado Apocalipse de Isaías, capítulos 24 a 27, prediz novos cânticos durante o banqueteie escatológico para todos os povos no Monte Sião para celebrar a libertação de Jerusalém no último juízo (Isa. 24:14-16). Deus então vence o mal, e a Cidade de Deus está em paz (Isa. 26:1-8).

A morte reconciliadora de Jesus Cristo como o Cordeiro de Deus criou uma nova situação na história da salvação. Levou o céu a romper em novo louvor. A nova doxologia é um grito de vitória cósmica, porque Cristo ganhou a batalha decisiva na cruz na grande controvérsia com Seu arquiinimigo. A vitória de Cristo prova que Ele é digno de ser coroado como o legítimo rei que julga sobre todas as nações. "O Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos" (Apoc. 5:5).

E eles cantavam um cântico novo: “Tu és digno de receber o livro e de abrir os seus selos, pois foste morto, e com teu sangue compraste para Deus gente de toda tribo, língua, povo e nação. Tu os constituíste reino e sacerdotes para o nosso Deus, e eles reinarão sobre a terra” (versos 9, 10).

Com base em Seu autosacrifício, Cristo recebe "muitas coroas'' (Apoc. 19:12),

em oposição ao anticristo que usa "dez coroas'' (Apoc. 13:1). Cristo será o

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testamenteiro do eterno conselho e plano de Deus. O Cordeiro é o Leão de Judá, o Guerreiro Davídico que recebeu autoridade divina e poder para reger o cosmo inteiro (Gên. 49:8-12; Filip. 2:9-11; Atos 2:36; Apoc. 19:16). Quão significativo que todas as criaturas dêem ao Cristo ressurreto a adoração e glória que só a Deus pertencem:

Depois ouvi todas as criaturas existentes no céu, na terra, debaixo da terra e no mar, e tudo o que neles há, que diziam: “Àquele que está assentado no trono e ao Cordeiro sejam o louvor, a honra, a glória e o poder, para todo o sempre!” (Apoc. 5:13, NVI).

João vê "o Cordeiro, em pé sobre o monte Sião" em companhia do Israel

Messiânico (Apoc. 14:1). Ao som de harpas o grupo posterior prorrompe com "um novo cântico" diante do trono de Deus e o Seu conselho celestial. Mas é restrito aos que experimentaram a redenção de Cristo. "Ninguém podia aprender o cântico, a não ser os cento e quarenta e quatro mil que haviam sido comprados da terra" (verso 3). Os seguidores do Cordeiro (verso 4) erguem-se em notável contraste com os seguidores da besta no capítulo 13. Eles recusarão adorar a besta apesar das ameaças legais ordenadas contra eles pela besta e o falso profeta (Apoc. 13:15-17).

João descreve a lealdade dos redimidos em simbolismo profundo. "Estes são os que não se contaminaram com mulheres, pois se conservaram castos" (Apoc. 14:4). O Antigo Testamento qualificou o povo da aliança como a noiva, ou a "esposa" de Yahweh (Isa. 54:5, 6; Osé. 2:16, 19, 20) e o Novo Testamento como a virgem ou noiva de Cristo (2 Cor. 11:2). Por conseguinte, a Escritura simbolicamente descreve a apostasia religiosa como fornicação ou adultério (veja Eze. 16; Apoc. 2:20-22). João retrata a Babilônia como o ''mãe das meretrizes" "embriagada. . . com o sangue dos mártires de Jesus" (Apoc. 17:5, 6, KJV). Nesta base J. Massyngberde Ford conclui que os "cento e quarenta e quatro mil não estão contaminados com meios de rameiras de mulheres meretrizes significa que eles não se deram à adoração da besta" (Revelation, The Anchor Bible [Garden City, N.Y. : Doubleday and Co., Inc., 1975], pág. 244). Seu "cântico novo" testemunha eloqüentemente de sua experiência religiosa como seguidores do Cordeiro até fim. Pela fé eles reivindicaram o triunfo de Cristo publicamente como o seu próprio:

Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram e, mesmo em face da morte, não amaram a própria vida (Apoc. 12:11, RA).

A igreja triunfante celebrará os atos de redenção e juízo de Deus por toda a

eternidade: Vi algo semelhante a um mar de vidro misturado com fogo, e, em pé, junto ao mar, os

que tinham vencido a besta, a sua imagem e o número do seu nome. Eles seguravam harpas que lhes haviam sido dadas por Deus, e cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro: “Grandes e maravilhosas são as tuas obras, Senhor Deus todo-poderoso. Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações. Quem não te temerá, ó Senhor? Quem não glorificará o teu nome? Pois tu somente és santo. Todas as nações virão à tua presença e te adorarão, pois os teus atos de justiça se tornaram manifestos” (Apoc. 15:2-4, NVI).

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O resultado final do conflito entre a igreja dos séculos e a trindade satânico surge graficamente em Apocalipse 15. O corpo de Cristo atravessará uma provação de água e fogo no tempo do fim, mas Deus a salvará para a eternidade. Como o antigo Israel atravessou com segurança o Mar Vermelho e então cantou o Cântico de Moisés para celebrar Yahweh como guerreiro redentor, assim a igreja remanescente atravessará a provação final do anticristo com firmeza e se reunirá ao antigo Israel cantando "o cântico do Cordeiro" (verso 3). O Cordeiro é maior que Moisés porque Ele liberta todos os crentes de Satanás, pecado, e morte por meio de Seu autosacrifício reconciliador.

As visões de João da igreja triunfante tencionam encorajar a igreja militante agora a lutar "a boa peleja" da fé com perseverança até o fim.

A Cruz e a Peleja Cristã

A morte de Cristo era o Seu decisivo triunfo sobre Satanás e o reino diabólico. Jesus explicou o significado cósmico de Sua morte violenta ao declarar: "Chegou a hora de ser julgado este mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo. Mas eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim" (João 12:31, 32, NVI). Este significado da cruz de Cristo recebe atenção especial no último livro de Bíblia:

Então ouvi uma forte voz dos céus que dizia: “Agora veio a salvação, o poder e o Reino do nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo, pois foi lançado fora o acusador dos nossos irmãos, que os acusa diante do nosso Deus, dia e noite” (Apoc. 12:10, NVI).

Para indicar o significado cósmico da vitória espiritual de Cristo na cruz, a

lealdade de Cristo a Deus até o fim, Paulo usa a imagem de guerra militar: "E, tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz" (Col. 2:15, NVI).

O apóstolo interpreta a ressurreição de Cristo da morte como uma exaltação à soberania sobre todas as autoridades diabólicas. Deus empossou agora Cristo à Sua mão direita, "muito acima de todo governo e autoridade, poder e domínio, e de todo nome que se possa mencionar, não apenas nesta era, mas também na que há de vir" (Efés. 1:21, NVI). Paulo aplica as vitórias militares de Yahweh descritas em Salmo 68 a Cristo. "Quando subiste em triunfo às alturas, ó SENHOR [Yahweh] Deus, levaste cativos muitos prisioneiros (veja Sal. 68:18 e Efés. 4:8). O apóstolo vê a ascensão de Cristo como o Seu retorno triunfal de guerra santa escoltada por um trem de cativos como os troféus de Sua guerra. Em um sentido legal Cristo ganhou a guerra cósmica decisivamente entre Deus e Satanás na cruz. Em realidade empírica, porém, todos os poderes maus não estão ainda sujeitos ao Senhor Jesus (Heb. 2:8). Cristo exerce o Seu poder agora em paciência, ame, e clemência. "O Senhor não demora em cumprir a sua promessa, como julgam alguns. Ao contrário, ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento" (2 Ped. 3:9, NVI). Mas há um limite ao reino da graça de Cristo. "Pois é necessário que ele [Deus o Pai] reine

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até que todos os seus inimigos sejam postos debaixo de seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte" (1 Cor. 15:25, 26, NVI).

A vitória de Cristo na cruz é agora ativa e efetiva na marcha avançada dos verdadeiros pregadores do evangelho, em transformar inimigos de Cristo (como Saulo de Tarso) em Seus amigos leais, expulsando demônios, curando doentes – em resumo, na contínua atividade messiânica de Cristo. A consumação final tem lugar só quando Ele retornar em glória divina para reclamar o que é Seu. Nós temos a certeza, "Em breve o Deus da paz esmagará Satanás debaixo dos pés de vocês" (Rom. 16:20, NVI).

O cristão renascido tem o privilégio de estar unido com Cristo e Sua causa. No sagrado ato do batismo Cristo transfere todo crente do domínio de Satanás para o Seu reino dele (Col. 1:13). O combate cristão, portanto, não é uma luta contra inimigos humanos, mas contra os poderes maus por trás deles. Embora condenado e despojado de seus direitos legais por Deus, os demônios ainda podem exercer o seu poder (Apoc. 12:12-17). Portanto, os cristãos precisam estar alertas e espiritualmente ativos:

Vistam toda a armadura de Deus, para poderem ficar firmes contra as ciladas do Diabo, pois a nossa luta não é contra seres humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais. Por isso, vistam toda a armadura de Deus, para que possam resistir no dia mau e permanecer inabaláveis, depois de terem feito tudo. Assim, mantenham-se firmes, cingindo-se com o cinto da verdade, vestindo a couraça da justiça e tendo os pés calçados com a prontidão do evangelho da paz. Além disso, usem o escudo da fé, com o qual vocês poderão apagar todas as setas inflamadas do Maligno. Usem o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus. Orem no Espírito em todas as ocasiões, com toda oração e súplica; tendo isso em mente, estejam atentos e perseverem na oração por todos os santos (Efés. 6:11-18, NVI).

Este chamado apostólica à guerra cristã é necessário a toda hora, porque "as

forças espirituais de mal" constantemente travam guerra contra a igreja do Senhor Jesus. Como o corpo de Cristo, a igreja Cristã é invencível porque Cristo está nela. "as portas do Hades [inferno] não poderão vencê-la" (Mat. 16:18, NVI). Roy Yates explica que "a Igreja é o lugar onde este Senhorio de Cristo é completamente percebido, onde os cristãos não estão sujeitos a nenhum outro poder senão o de Seu Senhor, e do qual eles devem estender a influência de Cristo até que ele se torne sinônimo do cosmo. É através da Igreja que este mistério é proclamado aos poderes e que continua a guerra espiritual contra todas as forças anti-deus no cosmo" (Evangelical Quarterly 52 [1980]: 108).

A batalha cristã não é obtida pela força humana ou armamento apenas, mas pela união com Cristo e Seu poder. Os verdadeiros cristãos lutam com a "armadura de Deus". A descrição de Paulo desta armadura – a couraça da justiça, o capacete da salvação – vem em parte da descrição de Isaías sobre Yahweh como guerreiro santo (veja Isa. 59:15-19). O crente está verdadeiramente comprometido na batalha de Deus. Mas ele tem que lutar e conquistar como Cristo fez, pela união com Ele.

A Escritura eleva a vitória de Cristo pelo sofrimento como um exemplo aos cristãos: "Porque, tendo em vista o que ele mesmo sofreu quando tentado, ele é capaz

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de socorrer aqueles que também estão sendo tentados" (Heb. 2:18, NVI). O apóstolo dá a seguinte representação do propósito e estilo da guerra cristã:

Pois, embora vivamos como homens, não lutamos segundo os padrões humanos. As armas com as quais lutamos não são humanas; ao contrário, são poderosas em Deus para destruir fortalezas. Destruímos argumentos e toda pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levamos cativo todo pensamento, para torná-lo obediente a Cristo (2 Cor. 10:3-5, NVI).

O clímax da guerra espiritual da igreja de Jesus Cristo ainda está no futuro. As

guerras de conquista do antigo Israel não são nenhum mandato ou justificação para as guerras religiosas-políticas dos cristãos. Por outro lado, a Bíblia pede ao cristão para cooperar com a polícia e apoiar o seu governo pelo pagamento de impostos. Em Romanos 13:1-7 Paulo reconhece certas obrigações para com o estado como ordenadas por Deus. Os cristãos ainda têm uma dupla cidadania. Eles pertencem não só a uma nação particular mas também ao reino de Deus (veja Filip. 3:20).

As demandas de ambas as cidadanias podem conduzir a uma tensão insuportável ou paradoxo em tempos de crise. Um exemplo aparece no livro de Atos. Quando as autoridades civis de Jerusalém proibiram os apóstolos de Cristo da liberdade religiosa de falar, Pedro respondeu com as palavras históricas, "É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens!" (Atos 5:29, NVI). Isto implica, é claro, a vontade do cristão para sofrer por amor a Cristo sem retaliar mal com mal ou violência com violência. O exemplo de Pedro de guardar sua espada e sua vontade de ser crucificado pela causa de Cristo empresta força peculiar à sua deliberação:

Por causa do Senhor, sujeitem-se a toda autoridade constituída entre os homens; seja ao rei, como autoridade suprema, seja aos governantes, como por ele enviados para punir os que praticam o mal e honrar os que praticam o bem. Pois é da vontade de Deus que, praticando o bem, vocês silenciem a ignorância dos insensatos. Vivam como pessoas livres, mas não usem a liberdade como desculpa para fazer o mal; vivam como servos de Deus. Tratem a todos com o devido respeito: amem os irmãos, temam a Deus e honrem o rei (1 Pedro 2:13-17, NVI).

Contudo, se sofre como cristão, não se envergonhe, mas glorifique a Deus por meio desse nome. ... Por isso mesmo, aqueles que sofrem de acordo com a vontade de Deus devem confiar sua vida ao seu fiel Criador e praticar o bem (1 Pedro 4:16-19, NVI).

A previsão profética de Apocalipse 13 indica que a natureza protetora do estado finalmente abrirá caminho à possessão diabólica do governo no tempo do fim. A sociedade boicotará e finalmente proscreverá o fiel remanescente de Cristo (versos 15-17). Sob tais circunstâncias o conselho de Deus, como incorporado em Sua mensagem do tempo do fim de Apocalipse 14:6-12, torna-se de uma pertinência crescente. Seguir o Cordeiro de Deus significa vida, enquanto seguir a besta leva à destruição. Na crise final a palavra de Cristo se provará verdadeira.

Quem, pois, me confessar diante dos homens, eu também o confessarei diante do meu Pai que está nos céus. Mas aquele que me negar diante dos homens, eu também o negarei diante do meu Pai que está nos céus. ... e quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Quem acha a sua vida a perderá, e quem perde a sua vida por minha causa a encontrará (Mat. 10:32-39, NVI).

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Nenhum governo humano ou programa político jamais podem alcançar paz total e perpétua na Terra. A única esperança do homem pendura-se na promessa de Deus: "Eis que faço novas todas as coisas" (Apoc. 21:5). Então e só então a visão profética de Isaías será entendida:

Ele julgará entre as nações e resolverá contendas de muitos povos. Eles farão de suas espadas arados, e de suas lanças, foices. Uma nação não mais pegará em armas para atacar outra nação, elas jamais tornarão a preparar-se para a guerra (Isa. 2:4).

Cristo volverá como rei para estabelecer o Seu reino de paz universal e perpétua. Sua guerra final prevenirá todas as guerras futuras. Na abençoada certeza desta promessa a igreja canta hoje:

Todo o granizo do poder do nome de Jesus! Os anjos caem prostrados; Produzam a diadema real, E O coroam o Senhor de tudo! –Edward Perronet, 1779.

A QUEDA DE BABILÔNIA NO TEMPO DO FIM

O Apocalipse de João consiste em um mosaico de imagens engenhosamente

construído tirado do Antigo Testamento, contudo é completamente cristocêntrico em sua mensagem teológica. Na visão inaugural vemos o Cristo ressurreto como nosso grande sumo sacerdote, "com uma veste que chegava aos seus pés e um cinturão de ouro ao redor do peito" de pé entre "sete candelabros de ouro" (Apoc. 1:13, 12). Este retrato simbólico da atividade de Cristo depois de Sua ressurreição em nome de Sua igreja universal deriva do sacerdócio de Israel e seu santuário hebraico. A mensagem é clara: Jesus não só morreu como o verdadeiro Cordeiro de Deus para nos libertar de nossos pecados pelo Seu sangue (Apoc. 1:5), mas também como o Cristo ressurreto Ele é nosso sumo sacerdote diante de Deus. Ele cumpre na realidade presente aquilo que o tabernáculo hebraico e seu ritual prefigurou em seus tipos proféticos.

O livro de Apocalipse, portanto, abre com o anúncio crucial de que as ofertas sacrificais de Israel e o sacerdócio levítico encontraram seu cumprimento messiânico no Cristo crucificado e ressurreto. Assim com um golpe de mestre João proclama a mensagem essencial do livro de Hebreus: "A ordenança anterior é revogada, porque era fraca e inútil (pois a Lei não havia aperfeiçoado coisa alguma), sendo introduzida uma esperança superior, pela qual nos aproximamos de Deus'' (Heb. 7:18, 19, NVI).

Uma conseqüência dramática do novo acesso a Deus por meio de Cristo como cordeiro e sumo sacerdote é a criação de um novo Israel de Deus. Cristo "nos constituiu reino e sacerdotes para servir a seu Deus e Pai" (Apoc. 1:6). O que as doze tribos de Israel sob Moisés foram chamadas a ser, "um reino de sacerdotes" no qual cada israelita seria uma testemunha viva do Deus Redentor, cada com acesso direto ao Senhor (Êx. 19:6), é cumprido agora na igreja dos doze apóstolos de Cristo. A transição do Israel nacional para o novo Israel Messiânico é a conseqüência irrevogável da morte de Cristo como o verdadeiro Cordeiro Pascal e de Sua ressurreição como o verdadeiro sumo sacerdote e Rei Messias. A inextricável união de

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Cristo e Sua igreja universal é o tema do novo cântico no céu depois da ascensão de Cristo: "Tu os constituíste reino e sacerdotes para o nosso Deus, e eles reinarão sobre a terra" (Apoc. 5:10, NVI).

Que alta honra e grande responsabilidade Deus deu a todos os que estão em Cristo Jesus! Esta promessa deu conforto e inspiração à igreja apostólica na qual todos suportaram perseguição por sua fé em Cristo. A reivindicação de ser judeu não é suficiente para o cumprimento das bênçãos de Deus, porque até os judeus se tornaram inimigos de Deus e de Seu Cristo (veja Apoc. 2:9; 3:9) ao rejeitarem a glória de Deus refletida em Jesus Cristo (cf. 2 Cor. 4:4). Tanto João Batista como Jesus proclamaram que Deus não era dependente dos judeus naturais para o cumprimento das promessas de Sua aliança (veja Mat. 3:9; João 8:33-44). A história da igreja devia significar o cumprimento da história de redenção de Israel. O mesmo Deus inspirou o Antigo e o Novo Testamento, e assim eles formam um todo orgânico, uma revelação progressiva (veja Heb. 1:1, 2).

O sete candelabros dourados no santuário divino já não representam o Israel étnico como a luz espiritual do mundo (cf. Zac. 4:1-14; Apoc. 1:13). Disse Cristo aos Seus discípulos: "Vós sois a luz do mundo" (Mat. 5:14). Os candelabros de Israel simbolizam agora a igreja universal. O Cristo glorificado explica pessoalmente a João que "os sete candelabros são as sete igrejas" (Apoc. 1:20, NVI). Outro exemplo de que a imagem hebraica é elevada pela autoridade de Cristo para se tornar um “mistério” cristão ou símbolo (verso 20), ocorre na visão: "Tinha em sua [de Cristo] mão direita sete estrelas" (verso 16). Daniel tinha usado a metáfora de estrelas para designar os anjos de Deus e os verdadeiros líderes e mestres de sabedoria de Israel (Dan. 8:10; 12:3).

Agora Cristo revela a João: "Este é o mistério das sete estrelas que você viu em minha mão direita... : as sete estrelas são os anjos das sete igrejas" (Apoc. 1:20, NVI). Cristo nos oferece aqui a chave para aplicar a imagem hebraica de todo o livro de Apocalipse a Cristo e a Seu próprio povo. A missão do povo da antiga aliança de Yahweh continua agora no povo da nova aliança de Jesus Cristo proibindo qualquer esforço para interpretar novamente os nomes hebraicos e lugares geográficos de acordo com as restrições de sua antiga aliança. Uma aplicação literal das imagens e nomes hebraicos de João – se étnicas ou geográficas – significaria cair novamente na antiga aliança que era válida só antes da cruz de Cristo. O literalismo assim nega a função decisiva da cruz e a ressurreição do Messias Jesus pela aplicação das profecias de Israel à dispensação do Novo Testamento. Eles aplicam a um Israel crente em Cristo só à igreja apostólica (veja Rom. 11:17-24).

A Unidade do Filho do Homem Com Deus

Alguns consideram o fato que a fonte literária primária para o Apocalipse é o

Antigo Testamento como "o primeiro passo para uma inovação ao descobrir o significado dos símbolos no Apocalipse" (D. Ezell, Revelations on Revelation [Waco, Tex.: Word Books, 1978], pág. 20).

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O que o Jesus declarou sobre Sua unidade com Deus, "Eu e o Pai somos um" (João 10:30), o Apocalipse de João captura em um retrato de Jesus com cores tomadas de passagens do Antigo Testamento que descrevem o aparecimento de Deus (Apoc. 1:7, 14-16; cf. Dan. 7:9; 10:5, 6; Eze. 43:2). João aplica várias características de Yahweh para o Cristo glorificado.

De fato, poderíamos expressar a autoridade divina de Cristo mais explicitamente que o livro de Apocalipse ao descrever o Senhor ressurreto dizendo: "Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim" (Apoc. 22:13; cf. 1:8, 17)? Tal designação de absolutos divinos pertence apenas ao Todo-poderoso (Isa. 44:6; 41:4). A lição prática deste retrato glorioso da unidade de Cristo com Deus parece ser que Cristo cumprirá as antigas promessas de Yahweh.

A Igreja como o Novo Israel

O último livro da Bíblia serve como cimalha do Novo Testamento. Transmite a mensagem de que Cristo executa a justiça de Deus tanto nas manifestações salvadoras como punitivas. Consistente com este princípio de evangelho é o uso de eventos da história antiga de Israel como tipos para descrever a apostasia e o reavivamento da igreja Cristã. Cristo aconselha Sua igreja em Pérgamo, "Você tem aí pessoas que se apegam aos ensinos de Balaão, que ensinou Balaque a armar ciladas contra os israelitas ... Ao vencedor darei do maná escondido" (Apoc. 2:14-17, NVI). Aqui Cristo aplica à Sua igreja uma antiga imagem de maldição e bênção. A razão subjacente é evidente: Ambos o povos pertencem a um e ao mesmo Deus da aliança que visitou Israel em Jesus como o Messias da profecia.

A outra igreja apostólica, em Tiatira, a mensagem de Cristo é: "No entanto, contra você tenho isto: você tolera Jezabel, aquela mulher que se diz profetisa" (verso 20, NVI).

Para entender o significado de "Jezabel, aquela mulher" deve-se lembrar a história de Israel sob o Rei Acabe, que casou com Jezabel, a filha de um sacerdote pagão. Só quando reconstruímos a situação histórica do Antigo Testamento pode nós pegamos o significado teológico de Jezabel e aplicamos os princípios básicos de sua apostasia para a igreja de Tiatira. Tal correspondência teológica não é acidental mas sugere uma relação tipológica. Significa que Jezabel em Israel era um prefiguração profética de uma "Jezabel" na igreja de Cristo. Enquanto a Jezabel antiga enganou e perseguiu o Israel de Yahweh, a Jezabel apocalíptica, por seus ensinos, engana e coage os servos de Cristo (veja 2 Cor. 11:13-15). Reivindicando falar a verdade religiosa e moral em nome de Cristo como uma "profetiza", ela ensina, não obstante, erro e apostasia por seu falso cristianismo.

Este tema de verdadeiro e falso cristianismo em mútua oposição o Apocalipse desenvolve mais adiante em capítulos subseqüentes pelos símbolos contrastantes de uma mulher pura (Apoc. 12) e uma prostituta (Apoc. 17), ou de Jerusalém e Babilônia (Apoc. 17-18; 21). Esta correlação contrastante de verdade e falsidade é o padrão consistente no livro de Apocalipse. Louis F. Were declara que "Babilônia só é

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mencionada nas profecias do Apocalipse por causa de sua oposição a Jerusalém" (The Fall of Babylon in Type and Antitype [Melbourne, Australia, 1952], pág. 14). Assim nós temos que definir Babilônia teologicamente por sua oposição a Sião, o verdadeiro povo de Deus.

A Natureza de Babilônia

Para entender por que Deus traz Seu juízo das sete últimas pragas sobre

"Babilônia", precisamos explorar o significado teológico da primeira Babilônia; quer dizer, determinar sua atitude contra Deus e Seu povo da aliança. A Escritura retrata os começos de Babilônia como uma cidade que se rebelou contra Deus. Seus habitantes construíram uma torre que alcançaria "os céus" (Gên. 11:4), provavelmente sem medo de outro dilúvio, desafiando assim a promessa de Deus para o futuro de gênero humano. O juízo de Deus de confundir o seu idioma, porém, "os espalhou por toda a terra'' (verso 9). Motivado pelo princípio de salvação por suas próprias obras e esquemas, Babel rejeitou a vontade de Deus desde o começo.

Séculos mais tarde Nabucodonosor, rei do Império Neo-babilônico, invadiu a terra de Israel várias vezes, destruindo o Templo de Salomão e a cidade de Jerusalém. Ele levou o povo cativo e os deportou para Babilônia. Daniel informa como Deus enviou a Nabucodonosor um sonho nefasto sobre uma árvore enorme que foi cortada até ficar só um toco. O rei de Babilônia desafiadoramente desconsiderou sua mensagem ao ostentar, "Acaso não é esta a grande Babilônia que eu construí como capital do meu reino, com o meu enorme poder e para a glória da minha majestade?" (Dan. 4:30, NVI). O veredicto de Deus foi então "Sua autoridade real lhe foi tirada" (verso 31, NVI).

A última rei de Babilônia, Belsazar, profanou os vasos sagrados do Templo de Israel em seu banquete real. Em resposta, a mensagem de Deus apareceu em forma de código na parede de palácio, interpretado por Daniel como "Foste pesado na balança e achado em falta. ... Teu reino foi dividido e entregue aos medos e persas" (Dan. 5:27, 28, NVI). Daniel indicou aquele Belsazar teve, em efeito, repetido a exaltação própria de Nabucodonosor. "Mas tu, Belsazar, seu sucessor, não te humilhaste, embora soubesses de tudo isso. Ao contrário, te exaltaste acima do Senhor dos céus" (versos 22, 23, NVI).

A característica essencial de Babilônia é clara – era o inimigo mortal de Israel e seu Deus da aliança. Rejeitou a verdade da graça salvadora como revelada no Templo sagrado de Jerusalém, blasfemou o Deus de Israel, e oprimiu o povo de Deus. Aqui nós temos o caráter teológico de Babilônia como tipo religioso que continua em todas as suas manifestações futuras, especialmente em seu antítipo apocalíptico durante o tempo do fim.

O desafio de Babilônia da autoridade de Deus tem, então, duas dimensões – verticalmente: contra a revelada vontade de Deus em Seu santuário; horizontalmente: contra Seu povo da aliança e suas formas de adoração. Babilônia está em guerra em

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ambas as frentes, porque eles são inseparavelmente ligados. A guerra contra Yahweh, o Deus de Israel, é percebido imediatamente na guerra contra o Israel de Deus. O princípio de desafio que inspirou a antiga Babilônia motivará novamente a Babilônia apocalíptica. Mas este evento assegurará inevitavelmente o mesmo divino veredicto sobre a Babilônia do tempo do fim como executado em seus tipos históricos.

A Queda de Babilônia no Tipo Dois profetas de Israel, Isaías e Jeremias, dedicaram capítulos inteiros dedicados

de seus livros na predição da destruição de Babilônia. Ambos indicam que Babilônia desabaria de um modo misterioso: um secando súbito das águas de seu protetor Rio Eufrates. O Eufrates fluiu do norte e correu ao longo do lado ocidental da cidade interna de Babilônia, correndo ao redor da fortaleza norte e o palácio central (veja mapa detalhado na página 96).

Assim diz o Senhor, o seu redentor, que o formou no ventre ... que executa as palavras de seus servos e cumpre as predições de seus mensageiros, “que diz acerca de Jerusalém: Ela será habitada ... que diz às profundezas aquáticas: Sequem-se, e eu secarei seus regatos, que diz acerca de Ciro: Ele é meu pastor, e realizará tudo o que me agrada; ele dirá acerca de Jerusalém: ‘Seja reconstruída’, e do templo: ‘Sejam lançados os seus alicerces’ (Isa. 44:24-28, NVI).

Sua predição notável revela um oráculo de guerra anterior mais completo contra

Babilônia: Caiu! A Babilônia caiu! Todas as imagens dos seus deuses estão

despedaçadas no chão! (Isa. 21:9, NVI). O veredicto de Deus da queda da antiga Babilônia e do êxodo de Israel da

Babilônia descansa no coração das "boas notícias" que o profeta prometeu a Sião nos capítulos 40 a 47 (veja Isa. 40:3, 9-11; 41:2-4, 25-27; 46:11; 47). Isaías enfatiza o resultado providencial de Deus para o Seu povo: libertar Israel de Babilônia, criar um novo êxodo de redenção, e os conduzir na Terra Prometida de forma que eles poderiam reconstruir o Templo de Yahweh e poderiam restabelecer sua adoração de louvor e ação de graças ao seu divino Redentor. O Senhor garantiu a Seu povo da aliança que Ele levaria seu capturador idólatra a uma destruição súbita.

Desça, sente-se no pó, Virgem Cidade de Babilônia. ... Eu me vingarei; não pouparei ninguém.” ... Você disse: ‘Continuarei sempre sendo a rainha eterna!’ ... Estas duas coisas acontecerão a você num mesmo instante, num único dia, perda de filhos e viuvez ... A desgraça a alcançará e você não saberá como esconjurá-la. ... Não há ninguém que possa salvá-la (Isa. 47:1-3, 7, 9-15, NVI).

Enquanto Israel estava na Babilônia o profeta Jeremias escreveu dois capítulos

elaborados (50, 51) em um rolo especial para anunciar a certeza da queda de Babilônia. Ele pediu para um oficial judaico para ler isto na cidade de Babilônia, então "amarre nele uma pedra e atire-o no Eufrates" e anunciar: "Assim Babilônia afundará

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para não mais se erguer, por causa da desgraça que trarei sobre ela. E seu povo cairá" (Jer. 51:63, 64, NVI). Jeremias também explicou a razão por que Babilônia seria destruída completamente. Era porque Deus "se vingou de seu templo" e a redenção do Seu Israel "pois perdoarei o remanescente que eu poupar" (Jer. 50:28, 20, NVI).

Assim diz o Senhor dos Exércitos: “O povo de Israel está sendo oprimido, e também o povo de Judá. Todos os seus captores os prendem à força, recusando deixá-los ir. Contudo, o Redentor deles é forte; Senhor dos Exércitos é o seu nome. Ele mesmo defenderá a causa deles, e trará descanso à terra, mas inquietação aos que vivem na Babilônia. ... Uma espada contra as suas águas! Elas secarão. Porque é uma terra de imagens esculpidas, e eles enlouquecem por causa de seus ídolos horríveis (Jer. 50:33-38, NVI).

Assim diz o Senhor: ... “Você que vive junto a muitas águas e está rico de tesouros, chegou o seu fim, a hora

de você ser eliminado” (Jer. 51:1, 13, NVI). Por isso, assim diz o Senhor: “Vejam, defenderei a causa de vocês e os vingarei;

secarei o seu mar e esgotarei as suas fontes” (verso 36, NVI). Uma mensagem emerge com esmagadora clareza: A queda de Babilônia ocorrerá

para libertar o Israel de Deus para que ele possa voltar ao Monte Sião e restaurar a adoração e glorificação de seu fiel Deus da aliança. Aqui nós temos a mensagem do evangelho implícita da destruição de Babilônia. Para apreciar a ênfase na destruição de Babilônia, deve-se ver seu propósito salvador. Babilônia tem que cair para deixar o Israel livre para seu novo êxodo, no caminho do Monte Sião em uma nova Jerusalém. Esta é a glória de Deus e a vindicação inexpugnável de Sua aliança com Israel.

O Eco do Destino da Babilônia do Tempo do Fim

O que aconteceu à antiga cidade nos dá pistas para o destino do mal e seus

partidários durante os dias antes da segunda vinda de Cristo. O falecimento de Babilônia nos assegura que Deus tratará de todas essas forças que se Lhe opõem e perseguem o Seu povo. A mensagem da destruição de Babilônia é uma das mais confortantes.

Tem a História honrado as predições? Babilônia se desmoronou de repente, como Daniel 5 registra. Mas o modo como de fato caiu é de especial significado, porque a mesma maneira de sua destruição que o Apocalipse eleva como um tipo que prefigura o falecimento futuro de Babilônia no fim da história.

A natureza tipológica da queda da antiga Babilônia não requer que toda característica da profecia já deve ter achado sua realização atual em história. As realizações parciais das profecias velhas de destruição e saque de libertação o propósito mais alto de tranqüilizante as pessoas de Deus da maior realização Messiânica nos últimos dias. Predição verbal e sua realização inicial ou parcial enfatizam a segurança irrevogável da última consumação da mensagem profética: O reino de Satanás será derrotado, e o reino de Deus sempre regerá. Mesmo assim, as

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profecias hebréias nunca podem ficar antiquadas até o Messias estabeleceu o reinado universal dele. O dia apocalíptico de Yahweh com seus sinais cósmicos ainda não ocorreu durante a subversão de Babilônia pela Medo-Pérsia. As características apocalípticas nas predições hebraicas da destruição de Babilônia revelam que tais oráculos de guerra contêm uma perspectiva dupla: um cumprimento local de alcance limitado e uma consumação apocalíptica de longo alcance em um equilíbrio cósmica e universal. As antigas profecias de Israel da queda de Babilônia já possuem inerentemente a estrutura de uma perspectiva tipológica. Com mais do que hipérbole poética, Isaías descreveu o colapso vindouro de Babilônia como "o dia de Yahweh" (Isa. 13:6, BJ) e o "dia do furor da sua ira" (v. 13, NVI). Babilônia "será destruída por Deus, à semelhança de Sodoma e Gomorra. Nunca mais será repovoada nem habitada, de geração em geração" (versos 19, 20, NVI; cf. Jer. 50:46). Naquele dia o sol, a lua, e as estrelas "não mostrarão a sua luz" (Isa. 13:10). Deus castigará "o mundo por causa da sua maldade, os ímpios pela sua iniqüidade" (verso 11, NVI; cf. Jer. 51:47-49).

É bastante óbvio que todos estes aspectos cósmico-universais não encontraram sua consumação literal pela queda da antiga Babilônia em 539 A.C. Mas o tempo virá, assegura o livro de Apocalipse, que todas as antigas profecias de juízo ocorrerão em uma escala irrestrita. O antítipo sempre é maior que seus tipos. Interpretar uma identificação completa de Israel, Babilônia, e o secamento de seu Eufrates no passado com o seu futura cumprimento antitípico nega que a chave tipológica dada no Apocalipse de João, capítulo 1. Um exemplo revelador da natureza tipológica das promessas da aliança de Deus aparece em garantia:

"Naqueles dias, naquela época”, declara o Senhor, “se procurará pela iniqüidade de Israel, mas nada será achado, pelos pecados de Judá, mas nenhum será encontrado, pois perdoarei o remanescente que eu poupar (Jer. 50:20, NVI).

Que maravilhosa promessa de graça a Israel de volta da Babilônia! Era outro

modo de expressar a promessa da "nova aliança" de Deus como declarado antes (Jer. 31:31-34; também veja Eze. 36:26-28). Tal promessa era vitalmente significante para o remanescente de Israel que voltou da Babilônia, para ''todos aqueles cujo coração Deus despertou" (Esd. 1:5, NVI).

Mas ficou claro, porém, que o cumprimento inicial da promessa na volta do remanescente não era a glória plena e completa da nova aliança. O Messias pessoalmente teve que consumar esta nova aliança pela aspersão do Seu próprio sangue sacrifical e pelo poder de Sua graça perdoadora e purificadora (veja Mat. 26:26-28; Luc. 22:20).

O Novo Testamento ensina que a fé em Cristo torna possível o cumprimento da promessa de Jeremias da anulação divina da culpabilidade de Israel e que é experimentado pelo Israel Messiânico. Nós podemos chamá-lo de cumprimento escatológico. O tempo da nova aliança veio com Cristo. NEle a aliança está presente. Com o Seu advento começaram os últimos dias dos profetas de Israel (veja Atos 2:16, 17 e Joel 2:28). Porque Cristo voltará como o juiz do mundo, a promessa de uma

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consumação mais gloriosa, apocalíptica da nova aliança permanece. O estudioso do Antigo Testamento Hans Walter Wolff expressou esta tensão entre os cumprimentos presente e futuro da nova aliança de Jeremias como segue:

Por enquanto e até o dia do cumprimento, nós permanecemos tanto justos como e pecadores simultaneamente. O perdão prometido a nós é a razão para cada um de nós estar cheio todas as manhãs de surpresa sobre o mundo e sobre si mesmo, e sobre ser permitido começar novamente na nova aliança em direção da nova aliança, na tensão entre o cumprimento em Jesus e a consumação para nós mesmos, para a comunidade do Israel, e para as nações (Confrontation With Prophets [Philadelphia: Fortress Press, 1983], p. 61).

Em resumo, a promessa de Deus de perdão para Israel era imediatamente efetiva em seu êxodo de Babilônia, foi afiançado pela cruz e ressurreição de Cristo, é oferecido agora a todos os que crêem em Cristo Jesus, contudo será total e plenamente percebido só no último dia, na segunda vinda de Cristo.

Nós podemos observar adicionais implicações tipológicas da queda de Babilônia: Como notado, a Babilônia se desmoronou primeiro quando (de acordo com tradição histórica) o general persa Ciro desviou de repente o fluxo do norte do Eufrates no décimo sexto de Tishri (setembro-outubro), um tempo em que o rio estava em seu nível mais baixo, a um lago perto de forma que seus soldados poderiam entrar em Babilônia por via do leito fluvial seco. O resultado foi a rendição inesperada de Babilônia em 539 A.C., sem quaisquer sinais ou manifestações apocalípticas. Este cumprimento inicial funciona, porém, como uma garantia renovada da promessa de libertação com respeito à era messiânica.

No tempo dos apóstolos uma nova "Babilônia" na forma de César em Roma opôs-se ao senhorio supremo de Cristo (veja 1 Pedro 5:13). O Apocalipse de João introduz a revelação chocante de que as igrejas gradualmente se afastariam de Cristo, da mesma maneira que a antiga Jerusalém tinha se afastara de Yahweh. E assim como os profetas de Israel chamaram Jerusalém "rameira" assim o Apocalipse chama a igreja cristã infiel de rameira (veja Eze. 16:15; Isa. 1:21; Apoc. 17:1, 18).

A igreja espiritual, ou corpo de Cristo, por outro lado, nunca pode ser vencida. Os eleitos não serão enganados (Mat. 16:18; 24:24). A igreja fiel, a mulher de Apocalipse 12, acha-se a si mesma forçada a cortar vínculos de qualquer igreja apóstata e opressiva – a rameira de Revelação 17 – por via de um novo movimento de êxodo para seguir o Cristo. No "deserto" a Palavra de Deus a manterá viva e também a protegerá contra o ataque violento das águas destruidoras.

A mulher fugiu para o deserto, para um lugar que lhe havia sido preparado por Deus, para que ali a sustentassem durante mil duzentos e sessenta dias. ...

Foram dadas à mulher as duas asas da grande águia, para que ela pudesse voar para o lugar que lhe havia sido preparado no deserto, onde seria sustentada durante um tempo, tempos e meio tempo, fora do alcance da serpente. Então a serpente fez jorrar da sua boca água como um rio, para alcançar a mulher e arrastá-la com a correnteza. A terra, porém, ajudou a mulher, abrindo a boca e engolindo o rio que o dragão fizera jorrar da sua boca (Apoc. 12:6-16, NVI).

O clímax da era cristã, porém, verá uma guerra universal contra o povo remanescente de Cristo. "Irou-se o dragão contra a mulher e foi pelejar com os

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restantes da sua descendência, os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus" (verso 17, RA).

Este guerra final e total se tornará o "Armagedom" quando Cristo entrar em cena.

Por que a Caiu a Antiga Babilônia Para entender o que a Bíblia diz sobre a futura queda de Babilônia nós temos que

saber por que a antiga Babilônia se desmoronou. A queda de Babilônia moderna é prenunciada e prefigurada em seu tipo histórico. Porém, nós interpretamos mal a tipologia bíblica se assumimos que o tipo e o antítipo devem ser idênticos em cumprimentos étnicos e geográficos. Em tipologia bíblica os eventos antitípicos messiânicos são sempre maiores que os seus tipos hebraicos. Correspondência só existe em pontos teológicos básicos; quer dizer, nas relações básicas de aliança com Yahweh e o Seu Cristo. Tanto Davi como Cristo foram ungidos como rei de Israel, contudo a monarquia de Cristo é infinitamente maior que a de Davi. O reino de Davi só prenunciou o reino messiânico de um modo pequeno e defeituoso. A monarquia de Cristo também será grandemente superior à de Salomão em todo sua glória e sabedoria (veja Mat. 12:41, 42).

O tipo histórico funciona na providência de Deus como um modelo nacional e local do juízo universal e redenção de Cristo. Assim é com o colapso político-militar da velha cidade de Babilônia e a libertação subseqüente de Israel. Isto pede uma análise cuidadosa da razão por que Babilônia caiu e de que modo foi subvertida porque os eventos históricos levam algumas características essenciais relativas ao Armagedom.

Por que a antiga Babilônia foi sentenciada a cair pelo juízo de Deus nas profecias de Isaías, Jeremias e Daniel? Eles deram as razões como: oposição para Yahweh e continuada opressão de Israel, Seu povo da aliança, até que Babilônia alcançou o limite da provação divina:

Preparei uma armadilha para você, ó Babilônia, e você foi apanhada antes de percebê-lo; você foi achada e capturada porque se opôs ao Senhor. ... Escutem os fugitivos e refugiados vindos da Babilônia, declarando em Sião como o Senhor, o nosso Deus, se vingou, como se vingou de seu templo. ... Retribuam a ela conforme os seus feitos; façam com ela tudo o que ela fez. Porque ela desafiou o Senhor, o Santo de Israel. ... Assim diz o Senhor dos Exércitos: “O povo de Israel está sendo oprimido, e também o povo de Judá. Todos os seus captores os prendem à força, recusando deixá-los ir. Contudo, o Redentor deles é forte; Senhor dos Exércitos é o seu nome. Ele mesmo defenderá a causa deles, e trará descanso à terra, mas inquietação aos que vivem na Babilônia (Jer. 50:24-34, NVI).

Não pode haver nenhuma pergunta sobre a razão por que o veredicto de Deus condenou Babilônia. Babilônia tinha se exaltado religiosa e politicamente contra Deus e contra o Seu povo da aliança. Ela deportou Israel ao exílio e destruiu o Templo de Deus e seus serviços de adoração sagrados. A cidade alcançou o ponto sem retorno quando Belsazar, sob intoxicação, ordenou que os vasos sagradas do Templo de

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Jerusalém fossem usados em seu banquete real e orgia blasfema (veja Dan. 5:1-4). Neste ponto tornou-se verdadeiro que "o julgamento dela chega ao céu, eleva-se tão alto quanto as nuvens" (Jer. 51:9, NVI). "de repente apareceram dedos de mão humana que começaram a escrever no reboco da parede, na parte mais iluminada do palácio real", as palavras misteriosas, "MENE, MENE, TEQUEL, PARSIM" (Dan. 5:5, 25, NVI). Como no desafio de Nabucodonosor (Dan. 4), assim agora no ato de Belsazar de insulto ao Deus de Israel, fica dramaticamente evidente que Yahweh é o juiz do opressor de Israel. O tribunal divino examinou o registro do governador ímpio de Babilônia e chegou a um veredicto. Só Daniel poderia interpretar os sinais misteriosos para o aterrorizado rei: "Tequel: Foste pesado na balança e achado em falta. ... Teu reino foi dividido e entregue aos medos e persas" (Dan. 5:27, 28, NVI). Yahweh não demorou a execução do veredicto da Babilônia. "Naquela mesma noite Belsazar, rei dos babilônios, foi morto" (verso 30, NVI). A Babilônia apocalíptica cairá pela mesma razão religiosa: auto-exaltação sobre a autoridade de Cristo e condenação dos verdadeiros seguidores do Senhor Jesus e de sua adoração no santuário de Deus.

A Maneira da Queda de Babilônia

Poucos expositores da profecia põem atenção na maneira precisa em que

Babilônia caiu de acordo com a profecia. Um autor, entretanto, menciona que "Os profetas hebreus haviam falado claramente sobre a maneira como Babilônia devia cair" "Os medos e persas, havendo desviado do seu leito o Eufrates, estavam marchando para o coração da cidade desguarnecida." (E. G. White, Profetas e Reis, pág. 531).

Esta queda notável de Babilônia por meio do desviar súbito da cachoeira do Eufrates – registrado pelos antigos historiadores Xenofonte e Heródoto – já foi aludido nas Escrituras proféticas bem antes do nascimento de Ciro. O profeta Jeremias tinha indicado a natureza da derrota da cidade de Babilônia. "Você que vive [habitas, RA] junto a muitas águas e está rico de tesouros, chegou o seu fim, a hora de você ser eliminado" (Jer. 51:13, NVI). "Secarei o seu mar e esgotarei as suas fontes" (verso 36, NVI). "Uma espada contra as suas águas! Elas secarão" (Jer. 50:38, NVI).

Isaías foi mais detalhado em sua descrição da parte de Yahweh na queda de Babilônia ao apresentar suas palavras:

Que diz às profundezas aquáticas: Sequem-se, e eu secarei seus regatos, que diz acerca de Ciro: Ele é meu pastor, e realizará tudo o que me agrada; ele dirá acerca de Jerusalém: ‘Seja reconstruída’, e do templo: ‘Sejam lançados os seus alicerces’ (Isa. 44:27, 28, NVI).

O famoso Cilindro de Ciro – um documento cuneiforme achado nas ruínas de

Babilônia, agora no Museu britânico – confirma a súbita conquista de Babilônia por Ciro em 539 A.C. Declara: "Sem qualquer batalha, ele [Marduque] o fez [Ciro] entrar em sua cidade de Babilônia, poupando Babilônia de qualquer calamidade" (J. B.

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Pritchard, ed., Ancient Near Eastern Texts, 3rd ed. [Princeton, N. J. : Princeton University Press, 1969], pág. 315).

O modo que a Babilônia caiu pode ser visto, então, como um cumprimento literal da profecia. "Na inesperada penetração do exército do conquistador persa ao coração da capital de Babilônia, através do canal do rio cujas águas tinham sido desviadas; na sua entrada pelos portões internos que por descuido tinham sido deixados abertos e desguarnecidos, tiveram os judeus abundante evidência do cumprimento literal da profecia de Isaías concernente à súbita subversão dos seus opressores" (White, Profetas e Reis, pág. 552).

Nós podemos notar especialmente a ligação íntima entre a predição de Isaías do secamento do Eufrates e a queda conseqüente de Babilônia. O secamento do Eufrates prepararam o caminho para a entrada de Ciro em Babilônia para assumir seu governo mundial. Deus abriria as portas até "diante dele [Ciro], de modo que as portas não estejam trancadas: Eu irei adiante de você e aplainarei montes ... Por amor de meu servo Jacó, de meu escolhido Israel, eu o convoco pelo nome e lhe concedo um título de honra, embora você não me reconheça" (Isa. 45:2-4, NVI).

O Deus de Israel deu a Ciro os títulos honrados de "ungido" e "meu pastor" (Isa. 45:1; 44:28), títulos que claramente sugerem que os atos de subversão militar e liberação de Ciro eram tipos da guerra santa de Cristo contra a Babilônia apocalíptica. "Ao subverter a Babilônia e libertar os judeus, Ciro fez para o Israel literal o que o Cristo realizará para todos os Seus escolhido na subversão da Babilônia mística e a libertação do Seu povo do domínio dela" (Apoc. 18:2-4, 20; 19:1, 2)" (The SDA Bible Commentary [Washington, D.C. : Review and Herald Pub. Assn., 1953-1957], vol. 4, p. 265).

Tal tipologia apocalíptica só pode ser discernida quando primeiro reconstruímos o contexto histórico do tipo do Antigo Testamento. Então nós podemos captar o significado do antítipo futuro por meio de uma extensão dos pontos religiosos básicos do tipo hebraico para o antítipo cristão – quer dizer, para a igreja espiritual de Cristo e os opressores dela.

Armagedom: A Destruição da Babilônia Apocalíptica

Se o nome Babilônia simboliza inimigo de Deus e Cristo (Apoc. 14: 8; 17:4, 5;

18:2), então justamente por isso nós podemos ver os cristãos fieis como o Israel de Deus. O resultado final deste conflito entre esta Babilônia universal e este universal Israel a Escritura chama de Armagedom e denota a destruição de Babilônia como a montanha da morte (Apoc. 16:16-21; veja abaixo, Capítulo VIII).

Exegetas têm observado que a descrição da sexta praga – o súbito secamento do grande rio Eufrates (verso 12) – somente anuncia a preparação dos poderes políticos para a real batalha do Armagedom. A colisão do Armagedom então nós esperaríamos ocorrer durante a sétima praga. Mas tudo que nós ouvimos para a praga final é que Babilônia a grande entra em colapso e é destruída (verso 19). O Armagedom e a destruição da Babilônia universal são portanto idênticos. Podemos reconhecer na

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unidade da sexta e a sétima praga duas fases sucessivas do evento do Armagedom: o preliminar secamento do grande rio Eufrates e a queda subseqüente de Babilônia a grande.

O sexto anjo derramou a sua taça sobre o grande rio Eufrates, e secaram-se as suas águas para que fosse preparado o caminho para os reis que vêm do Oriente. ... O sétimo anjo derramou a sua taça no ar, e do santuário saiu uma forte voz que vinha do trono, dizendo: “Está feito!” ... A grande cidade foi dividida em três partes, e as cidades das nações se desmoronaram. (versos 12-19, NVI).

Ao risco de ser redundante, nós gostaríamos que o leitor mais uma vez considere

a estrutura teológica de um tipo hebraico e seu antítipo cristão correspondente. A autoridade do Novo Testamento estabelece a ligação providencial entre um tipo do Antigo Testamento e seu antítipo do Novo Testamento.

A tipologia cristã pode ser resumida como segue: Tipologia é a teologia da progressão dos atos salvíficos de Deus mediante Jesus

Cristo. É baseada no pressuposto bíblico de que Deus sempre age de acordo com os princípios imutáveis de Sua natureza santa e de Sua vontade (Núm. 23:19; Mal. 3:6). No Novo Testamento, a tipologia é caracterizada tanto pela correspondência histórica quanto teológica entre o tipo e o antítipo. A correlação teológica consiste no fato de que os tipos do Antigo Testamento são todos determinados teologicamente por sua relação específica com Yahweh, o Deus de Israel, enquanto todos os antítipos do Novo Testamento são qualificados por sua relação com Cristo Jesus, o Filho de Deus. Pelo fato da comunhão da aliança com Deus ser estabelecida apenas através de Cristo, toda a tipologia no Novo Testamento converge e culmina em Cristo. Porque Ele cumpre e completa a história da salvação do Antigo Testamento, a tipologia do Novo Testamento se origina, centraliza e termina em Cristo. Esse foco cristológico e a perspectiva escatológica distinguem a tipologia de qualquer situação paralela acidental. (LaRondelle, The Israel of God in Prophecy, pp. 44, 45).

Os estudantes de bíblia geralmente concordam que nós temos que entender o

juízo de Deus das sete últimas pragas em Apocalipse 16-19 da perspectiva dos juízos de Deus sobre o Egito e sobre a Babilônia. A primeira pergunta, então, é: Quais são os pontos teológicos básicos do juízo de Deus sobre o Egito e sobre a Babilônia como os inimigos de Israel? E como devemos aplicá-los de um modo cristocêntrico para a queda futura de Babilônia, ou Armagedom?

A correspondência básica entre o propósito de Deus com as dez pragas sobre o Egito e com as sete pragas sobre a Babilônia apocalíptica parece óbvio: o salvamento do povo de Deus e o juízo de seus opressores religiosos-políticos. A nova responsabilidade do povo de Deus hoje é apenas que eles têm que fugir da Babilônia antes de suas pragas serem derramadas do céu:

Saiam dela [da Babilônia], vocês, povo meu, para que vocês não participem dos seus pecados, para que as pragas que vão cair sobre ela não os atinjam! Pois os pecados da Babilônia acumularam-se até o céu, e Deus se lembrou dos seus crimes (Apoc. 18:4, 5, NVI).

O povo de Deus no Antigo Testamento eram o povo de Yahweh (veja Jer. 51:45), mas no Apocalipse eles são o povo de Cristo (Apoc. 17:6), o povo de Deus da nova

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aliança. Esta transformação cristológica do Israel de Deus é o pivô teológico ao redor do qual revolve todo o simbolismo apocalíptico. Os seguidores do Cordeiro de Deus fugirão de Babilônia para estar em pé no Monte Sião (Apoc. 14:1).

A aplicação cristocêntrica assim desenvolve organicamente na aplicação centralizada na igreja, a chamada interpretação eclesiológica. Como Yahweh e o Israel étnico estavam unidos como parceiros da aliança contra o antigo Egito e Babilônia, assim agora Cristo e Seu corpo universal na Terra estão unidos contra a moderna Babilônia. Para determinar quem é o Israel de Deus e quem é a Babilônia hoje, temos primeiro que estabelecer o caráter teológico de cada participante no enredo da queda da antiga Babilônia.

Babilônia: funcionou como o inimigo de Yahweh e o opressor de Israel. Eufrates: como uma parte integrante de Babilônia, sustentou a capital como uma

parede protetora, assim foi igualmente hostil ao Israel. Secamento do Eufrates: como o juízo de Yahweh sobre Babilônia, causou a

queda súbita e funcionou como a iniciação da libertação de Israel. Ciro como general dos reis medos e persas: Yahweh "ungiu" Ciro para derrotar

Babilônia e libertar Israel. Ciro e os reis do oriente leste eram assim os inimigos de Babilônia e os libertadores de Israel.

Daniel e Israel em Babilônia: eles eram o povo arrependido de Deus, o fiel remanescente de Israel.

Estas caracterizações religiosas são os pontos teológicos básicos da queda de Babilônia do Antigo Testamento. No Apocalipse, porém, a Babilônia representa a inimiga mortal de Cristo e de Seu Israel. O livro de Apocalipse agora vê a Babilônia e Israel como universalmente presente no mundo. O apelo do evangelho vai "a toda nação, e tribo, e língua e povo" (Apoc. 14:6), uma ênfase quádrupla que acentua claramente seu âmbito universal. O anúncio seguinte que "Babilônia a Grande" caiu baseia-se no fato de que ela "fez todas as nações beberem do vinho da fúria da sua prostituição!" (verso 8). O mundo inteiro fica finalmente sob o seu feitiço (Apoc. 13:3, 4, 7). Em harmonia com a presença universal de Babilônia, a Inspiração dá também ao rio de Babilônia, o Eufrates, um aplicação explicitamente universal: "As águas que você viu, onde está sentada a prostituta, são povos, multidões, nações e línguas" (Apoc. 17:15, NVI). Aqueles que insistem que o Eufrates representa só aqueles que vivem na localização geográfica atual do Eufrates têm que seguir a mesma interpretação com "a Babilônia". Porém, tais falham em aplicar a estrutura teológica da tipologia bíblica.

O livro de Daniel contém a raiz mestra profética da extensão mundial de todos os eventos do tempo do fim no Apocalipse de João. A fórmula que acentua o cumprimento universal em Apocalipse – "toda tribo, língua, povo e nação" (Apoc. 5:9; cf. 7:9; 10:11; 11:9; 13:7; 14:6; 17:15) – é encontrado basicamente no livro de Daniel com seu indiscutível âmbito universal de cumprimento (Dan. 3:4, 7; 4:1; 5:19; 7:14; G.K. Beale, "The Influence of Daniel upon the Structure and Theology of John's Apocalypse," Journal of the Evangelical Theological Society 27, No. 4 [December 1984]: 413-423). João intencionalmente repete esta fórmula de Daniel em várias

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colocações dos eventos finais para prevenir o erro do literalismo étnico ou geográfico para sua terminologia e imagem do Antigo Testamento. A interpretação do anjo sobre o Eufrates em Apocalipse 17:15 nos protege contra o literalismo geográfico e nos guarda de uma recaída em qualquer aplicação de Oriente Médio.

O Antigo Testamento menciona o Eufrates como o limítrofe do norte da terra que Deus prometeu a Israel (Gên. 15:18; Deut. 1:7). Além deste fluxo enorme, chamado o "mar" de Babilônia em Jeremias 51:36, viviam os inimigos mortais de Israel, Assíria e Babilônia. Quando a Assíria atacou Israel, Isaías retratou dramaticamente a invasão em termos poéticos como a precipitação de um Eufrates transbordante que inundou todo de Judá e ameaçou submergir o remanescente de Israel em Jerusalém (veja Isa. 8:7, 8). Só a intervenção divina do anjo de Yahweh expôs sobre o "súbito secamento" das "águas" bravas do Eufrates (veja Isa. 37:36).

Sempre que Deus secou literalmente um mar ou um rio, representou consistentemente um juízo divino sobre os inimigos do Seu povo. O secando apocalíptico do rio de Babilônia, portanto, sugere o juízo final de Deus sobre Babilônia (Apoc. 16:12). Em realidade este juízo ocorrerá quando as multidões civis de todas as nações perceberem de repente que Deus pesou e condenou a Babilônia religiosa. Então eles retirarão imediatamente sua submissão, até invertendo o seu apoio uma vez leal em tal ódio ativo que eles destroem completamente Babilônia. Esta dissolução de Babilônia parece ser a essência de Apocalipse 17, porque ela se torna o clímax na reversão súbita de uma união leal (versos 1, 2 ) a um ódio mortal entre os seguidores e os líderes religiosos de Babilônia. "A besta e os dez chifres que você viu odiarão a prostituta. Eles a levarão à ruína e a deixarão nua, comerão a sua carne e a destruirão com fogo" (verso 16, NVI).

O significado desta revelação divina para o cristianismo está além de estimação. Entendemos mais completamente ao levarmos em conta sua correspondência com a antiga Jerusalém. Logo antes de Nabucodonosor destruiu a Cidade Santa (em 586 A.C.), o profeta Ezequiel explicou a razão por que tal juízo tinha sido o veredicto de Yahweh:

Mas você [Jerusalém] confiou em sua beleza e usou sua fama para se tornar uma prostituta. Você concedeu os seus favores a todos os que passaram por perto, e a sua beleza se tornou deles. ... “Você, mulher adúltera! Prefere estranhos ao seu próprio marido! ... Por isso, prostituta, ouça a palavra do Senhor! Assim diz o Soberano, o Senhor: Por você ter desperdiçado a sua riqueza e ter exposto a sua nudez em promiscuidade com os seus amantes, por causa de todos os seus ídolos detestáveis, e do sangue dos seus filhos dado a eles, por esse motivo vou ajuntar todos os seus amantes, com quem você encontrou tanto prazer, tanto os que você amou como aqueles que você odiou. Eu os ajuntarei contra você de todos os lados e a deixarei nua na frente deles, e eles verão toda a sua nudez. ... Depois eu a entregarei nas mãos de seus amantes, e eles despedaçarão os seus outeiros e destruirão os seus santuários elevados. Eles arrancarão as suas roupas e apanharão as suas jóias finas e a deixarão nua. Trarão uma multidão contra você, que a apedrejará e com suas espadas a despedaçará. Eles destruirão a fogo as suas casas e lhe infligirão castigo à vista de muitas mulheres. ... Assim diz o Soberano, o Senhor: Eu a tratarei como merece, porque você desprezou o meu juramento ao romper a aliança (Eze. 16:15-59, NVI).

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A sentença de Deus sobre a antiga Jerusalém serve aparentemente como o

modelo para o Seu veredicto sobre a moderna Babilônia. O fato de que o antigo Israel se tornou uma prostituta diante de Deus em seu culto religioso traz para casa a possibilidade chocante de que a igreja cristã formal em seu culto e relações políticas se tornará uma apóstata religiosa que perseguirá até o fiel. Ezequiel 16 e Apocalipse 17 ambos enfatizam o mesmo juízo de Deus sobre a esposa infiel – sus próprios amantes políticos anteriores que a destruirão. Como Jerusalém esteve exposta à sua vergonha – "nudez" simboliza culpabilidade diante de Deus – e as mesmas nações nas quais ela colocou sua confiança por meio de alianças profanas que a levaram à ruína (Eze. 16:26-28), assim uma cristandade caída sofrerá o mesmo destino e estará exposta como "despida" e trouxe à ruína por suas próprias multidões confiadas no fim da era cristã (Apoc. 17:15, 16). Também, como em Israel, a filha de um padre que tinha se tornado prostituta foi condenada "a ser queimada no fogo" (Lev. 21:9), assim a corporação cristã prostituída será queimada "com fogo" (Apoc. 17:16, 17). O juízo de Deus em Apocalipse 17 nós então podemos explicar como segue: "O lado político da coalizão religiosa-política universal. . . se torna um instrumento nas mãos de Deus para executar a sentença contra o lado religioso da união" (The SDA Bible Commentary, vol. 7, p. 859).

Surge a pergunta: O que exatamente levará os poderes políticos e as multidões a mudar sua união tão abruptamente com a Babilônia em ódio total e vingança retributiva? Parece que só uma revelação especial e chocante de Deus para as nações teria tal impacto. Deve vir a eles logo antes da sexta praga e bem poderia ocorrer durante a quinta praga: "O quinto anjo derramou a sua taça sobre o trono da besta, cujo reino ficou em trevas" (Apoc. 16:10, NVI). "Trevas" não pode significar uma condição espiritual súbita, porque o reino babilônico sempre foi espiritualmente escuro. Esta escuridão universal na Terra é o resultado de um juízo divino prenunciado em uma antiga praga sobre o Egito. Moisés trouxe "escuridão total" sobre todo o Egito durante três dias. "Todavia, todos os israelitas tinham luz nos locais em que habitavam Ainda todos os Israelitas tiveram luz nos lugares onde eles viveram '' (Êx. 10:23, NVI). Se qualquer correspondência existe entre ambos juízos de trevas, podemos esperar novamente um sinal visível da protetora luz de Deus para Seu verdadeiro povo da aliança. Tal sinal da fidelidade da aliança de Deus convencerá os perseguidores enganados a quem pertencem os verdadeiros adoradores do Deus vivo e levam as multidões iradas a retirar sua submissão de repente da Babilônia e a destruí-la completamente. Assim o propósito de Deus será cumprido (Apoc. 17:17). Um escritor pressentiu o drama dos eventos das últimas três pragas na moderna Babilônia do modo seguinte:

Com brados de triunfo, zombaria e imprecação, multidões de homens maus estão

prestes a cair sobre a presa, quando, eis, um denso negror, mais intenso do que as trevas da noite, cai sobre a Terra. Então o arco-íris, resplandecendo com a glória do trono de Deus, atravessa os céus, e parece cercar cada um dos grupos em oração. As multidões iradas subitamente se detêm. Silenciam seus gritos de zombaria. É esquecido o objeto de

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sua ira sanguinária. Com terríveis pressentimentos contemplam o símbolo da aliança de Deus, anelando pôr-se ao amparo de seu fulgor insuperável

(E. G. White. O Grande Conflito, págs. 635, 636).

Em resumo, Apocalipse 16 e 17 retratam o Armagedom como a destruição total

de uma Babilônia universal. Esta é a essência teológica do Armagedom. A pergunta então realmente é: O que significa Babilônia a Grande? A resposta de Apocalipse 17 é basicamente que Babilônia denota a união ilícita da religião apóstata e governo político.

Então, Babilônia moderna surge de uma aliança de religioso ou liderança eclesiástica e governo político. O resultado inevitável é o promulgação de leis que obrigam certas tradições religiosas sobre todos os cidadãos, independente de suas convicções de consciência. O ponto crítico de tal totalitarismo ocorrerá quando a sociedade proscrever os verdadeiras seguidores de Cristo e os ameaçar de extinção. Seus clamores ao céu por salvação na hora de emergência não serão despercebidos pelo Pastor do rebanho, o Mestre do universo. O juízo das pragas finais provoca a súbita dissolução de Babilônia, seguida pela libertação imediata do Israel de Deus.

Nós podemos agora fazer a pergunta: Como se pode imaginar tão grande salvação no tempo do fim? Isso é o assunto de nosso próximo capítulo.

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CARRUAGENS DE SALVAÇÃO A idéia de um salvamento final dos seguidores de Cristo pela intervenção divina

nos negócios humanos tem suas raízes na história antiga de Israel da "guerra" de Yahweh e na perspectiva profética de Israel no Dia de Yahweh.

O antigo Israel nunca concebeu a Deus como um ser que vivia em solidão nos céus. O profeta Miquéias viu Yahweh "assentado em seu trono, com todo o exército dos céus ao seu redor, à sua direita e à sua esquerda" (1 Reis 22:19). Como Criador do céu e da terra, Ele estava cercado de miríades de anjos santos e querubins que constituíram Sua hoste divina ou exército de guerreiros vitoriosos (Joel 2:11; Sal. 80:1; 103:20; 148:2: Zac. 14:5).

De importância especial neste respeito é o título de Deus Yahweh Sabaoth, freqüentemente achado nos Salmos e traduzido como "o SENHOR dos Exércitos" (em RA, RC, NVI) ou "o SENHOR Todo-poderoso'' (em New International Version) (veja Sal. 24:10; 46:7, 11; 48:8; 69:6; 84:1, 3, 12). A isto nós podemos acrescentar a designação maior de "Yahweh Deus de Sabaoth", traduzido como "SENHOR Deus dos Exércitos" e "SENHOR Deus todo-poderoso" (Sal. 59:5; 80:4, 7, 14, 19; 84:8; 89:8). O termo hebreu para "hoste" (saba) é idêntico a "exército". Davi indicou pelo título que Yahweh era tanto "o Deus dos exércitos de Israel'' (1 Sam. 17:45) e o comandante de "suas hostes celestes", Seus anjos poderosos (Sal. 103:20, 21).

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Moisés louvou Yahweh porque Ele marchou vitoriosamente do Monte Sinai com Israel "com miríades de santos desde o sul" (Deut. 33:2; cf. Gál. 3:19). Débora se referiu a esta teofania histórica como a segurança para o novo ato de Yahweh de libertação dos reis hostis de Canaã (Juí. 5:4, 5, 19, 20). Davi também se lembrou com orgulho a marcha triunfal de Yahweh no Salmo 68:7-10. Ele acentuou aquele muitos milhares de anjos guerreiros acompanharam a Deus. "Os carros de Deus são incontáveis, são milhares de milhares; neles o Senhor veio do Sinai para o seu Lugar Santo. Quando subiste em triunfo às alturas, ó Senhor Deus, levaste cativos muitos prisioneiros" (Sal. 68:17, 18, NVI). A Bíblia de Jerusalém traduz estes versos como segue:

Os carros de Deus são milhares de miríades; o Senhor veio do Sinai para o santuário. Subiste para o alto, capturando cativos.

Moisés e Davi descreveram o Deus de Israel como o cavaleiro celestial que

cavalga sobre as nuvens, que vem para salvar Seu povo quando na sua angústia eles chamam a Ele (Deut. 33:26; Sal. 68:4, 33). Em seus cânticos de adoração Israel confiou na inspirada certeza: "O anjo do SENHOR acampa-se ao redor dos que o temem, e ele os livra" (Sal. 34:7). Davi retratou a presente resposta de Deus as seus clamores por ajuda na imagem semipoética de uma teofania:

Ele abriu os céus e desceu; nuvens escuras estavam sob os seus pés. Montou um querubim e voou, deslizando sobre as asas do vento. Fez das trevas o seu esconderijo, das escuras nuvens, cheias de água, o abrigo que o envolvia. Com o fulgor da sua presença as nuvens se desfizeram em granizo e raios, quando dos céus trovejou o Senhor, e ressoou a voz do Altíssimo. Atirou suas flechas e dispersou meus inimigos, com seus raios os derrotou (Sal. 18:9-14, NVI).

O profeta Habacuque também se referiu a Yahweh como o guerreiro libertador de

Israel numa fascinante representação da salvação divina. Sua elaborada descrição de Yahweh como guerreiro cósmico tomou emprestadas algumas características do mundo religioso contemporâneo para destacar a superioridade de Yahweh.

Será contra os rios, Iahweh, que a tua cólera se inflama ou o teu furor contra o mar, para que montes em teus cavalos, em teus carros vitoriosos?

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Tu desnudas o teu arco, sacias de flechas a sua corda. Cavas o solo com torrentes; Ao ver-te as montanhas tremem; uma tromba d’água passa, o abismo faz ouvir a sua voz, levanta para o alto as suas mãos. Sol e lua permanecem em sua morada, diante do brilho do relâmpago de tua lança. Com cólera percorres a terra, em ira pisas as nações. Tu saíste para salvar o teu povo, Para salvar o teu ungido; destroçaste o teto da casa do ímpio, desnudando os fundamentos até à rocha. Traspassaste com teus dardos o chefe dos seus guerreiros que se arregimentavam para nos dispersar com gritos de alegria, como se fossem devorar um miserável em lugar escondido. Pisaste o mar com teus cavalos, o turbilhão das grandes águas! (Hab. 3:8-15, BJ).

Em seu poema litúrgico, Habacuque começa a se lembrar da antiga fama de Deus com relação ao êxodo histórico de Israel do Egito. Como resultado, ele pede que Deus restabeleça agora Seus atos de liberação para com Jerusalém. "Realiza de novo, em nossa época, as mesmas obras. . . ; em tua ira, lembra-te da misericórdia" (verso 2, NVI). Antecipando uma resposta positiva para sua súplica, ele prevê a vinda de uma teofania impressionante no qual Yahweh chega em esplendor majestoso para libertar seus oprimidos e trazer castigo a seus opressores (versos 3-7). Depois da descrição do aparecimento de Yahweh como guerreiro divino, Habacuque descreve extensivamente o ato de libertação (versos 8-15; veja texto acima). Esta seção começa com a pergunta retórica se Yahweh dirigiu o Seu ato punitivo somente contra o mar caótico e rios (verso 8), um eco de antigos conceitos cananitas, quando Ele montou os Seus cavalos e Suas "carruagens vitoriosas". O profeta responde que Deus veio salvar o Seu povo e o Seu ungido, esmagando de repente o líder da terra ímpia (verso 13). Significante é o modo no qual Habacuque expressa a vitória de Yahweh: "Com as suas próprias flechas lhe atravessaste a cabeça, quando os seus guerreiros saíram como um furacão para nos espalhar" (verso 14, NVI). A descrição não é mitologia pagã ou poesia abstrata. Yahweh Se fez conhecido na história de Israel como o Deus do Êxodo, como o Deus do Sinai, como o capitão dos exércitos de céu que conquistou Canaã. O profeta constrói sua teologia e sua esperança pela nova libertação de Israel na história, sobre eventos reais no passado de Israel.

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Donald E. Gowan aplicou esta lição para os cristãos hoje. "Nós conhecemos Deus pelo que ele fez, e nessa base nós cremos no que ele fará no futuro" (The Triumph of Faith in Habakkuk [Atlanta: John Knox Press, 1976], pág. 82). Parece como se Habacuque em sua referência às "carruagens vitoriosas" ou "carruagens de salvação" (NASB, NKJV) tomasse emprestado diretamente do salmo de Davi do guerreiro famoso (Sal. 68). Herman Gunkel até chamou este famoso salmo "um hino escatológico" sobre o êxodo do Israel de Deus no tempo do fim.

De maneira interessante, algum exegetas judeus, como Rashi, viram no Salmo 68 uma referência à vindoura era Messiânica, uma opinião compartilhada pelo apóstolo Paulo em Efésios 4:8. O estudioso judeu Umberto Cassuto prefere ver o Salmo 68 como uma oração urgente de Davi, não diferente da de Habacuque 3, a qual ele ofereceu durante um tempo de agudo perigo para Israel, "pedindo que o Senhor apresse a libertação, que Seus fiéis da aliança esperaram com confiança. É tanto uma oração como uma expressão de fé" (Biblical and Oriental Studies [Jerusalem: The Magnes Press, The Hebrew University, 1973], Vol. I, pág. 279). Ele interpreta "as carruagens de Deus" do Salmo 68:17 como "as carruagens dos anjos que acompanham a glória da Presença Divina que vem de Sinai para habitar no Monte Sião '' (ibid., pág. 265). A versão King James Version traduziu igualmente: "As carruagens de Deus são vinte mil, até mesmo milhares de anjos: o SENHOR está entre eles, como no Sinai, no lugar santo."

O The Seventh-day Adventist Bible Commentary observa que a tradução "anjos" neste texto é uma conjetura e que a frase provavelmente deveria ser traduzida, de acordo com um equivalente Ugarítico, como "guerreiros", significando "os guerreiros de Deus, a hoste angelical" (vol. 3, pág., 791).

Cumprimentos históricos definidos do salmo inspirado aparecem no ministério do profeta Eliseu. O exército dos arameus tinha cercado a cidade de Dotã para capturá-lo, porque ele tinha informado o rei de Israel da guerra secreta planejada pelo rei da Síria. Uma manha o servo de Eliseu descobriu para seu espanto que "uma tropa com cavalos e carros" tinha posto cerco a Dotã. O profeta, porém, lhe assegurou: "Não tenha medo. Aqueles que estão conosco são mais numerosos do que eles" (2 Reis 6:16, NVI). Eliseu não pretendeu dizer que o exército de Israel era maior que o da Síria. Ele orou para que Deus permitisse o seu servo ver o exército celestial de Yahweh. "Então o Senhor abriu os olhos do rapaz, que olhou e viu as colinas cheias de cavalos e carros de fogo ao redor de Eliseu" (verso 17). As carruagens de salvação de Deus e seus exércitos celestiais eram uma realidade invisível. Em outra ocasião, durante o cerco de Samaria pela Síria, o exército angelical de Yahweh interveio até mesmo de um modo mais espetacular. Quando a crise de Israel ficou crítica, quatro leprosos decidiram um dia que sua única esperança de sobrevivência seria desertar ao acampamento sírio. Chegando ao acampamento do inimigo, não acharam ninguém lá! Então eles descobriram um fato surpreendente. “Pois o Senhor tinha feito os arameus ouvirem o ruído de um grande exército com cavalos e carros de guerra, de modo que disseram uns aos outros: ‘Ouçam, o rei de Israel contratou os reis dos hititas e dos egípcios para nos atacarem!’ Então, para

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salvar sua vida, fugiram ao anoitecer, abandonando tendas, cavalos e jumentos, deixando o acampamento como estava” (2 Reis 7:6, 7, NVI).

Eliseu experimentou a intervenção salvadora das carruagens de salvação de Yahweh quando "eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao céu num redemoinho." (2 Reis 2:11, RA). O grito de Eliseu, "Meu pai, meu pai, carros de Israel e seus cavaleiros!" (verso 12), era "uma referência clara aos membros do exército divino que luta por Israel" (P. D. Miller, Jr., ''The Divine Council and the Prophetic Call to War," Vetus Testamentum 18 [1968]: 107). A confortante mensagem de esperança em todas estas histórias bíblicas são que o Deus de Israel não só fez isto mas prometeu que Ele enviará novamente as Suas carruagens de salvação para o Seu povo durante Armagedom.

Libertação Final do Oriente Cósmico

Não podemos entender o Armagedom em sua plenitude se nós vemos a queda da

Babilônia do tempo do fim como um fim em si mesmo. O colapso de Babilônia serve a um propósito maior: "para que fosse preparado o caminho para os reis que vêm do Oriente" (Apoc. 16:12, NVI). Para entender o significado teológico desta última frase, nós precisamos olhar mais uma vez a seu original hebraico, a queda da Babilônia antiga. Tanto Isaías como Jeremias predisseram que os reis que vinham do Oriente subverteriam Babilônia. Isaías confortou o Israel exilado em Babilônia com as boas notícias que Yahweh já tinha incitado do Oriente um libertador, a quem o Deus de Israel tinha designado como o rei sobre muitas nações:

Quem despertou o que vem do oriente, e o chamou em retidão ao seu serviço, entregando-lhe nações e subjugando reis diante dele? . . . Eu, o Senhor, que sou o primeiro, e que sou eu mesmo com os últimos Despertei um homem, e do norte ele vem; desde o nascente proclamará o meu nome.... Desde o princípio eu disse a Sião: “Veja, estas coisas acontecendo!” A Jerusalém eu darei um mensageiro de boas novas Do oriente convoco uma ave de rapina; de uma terra bem distante, um homem para cumprir o meu propósito. ... Concederei salvação a Sião, meu esplendor a Israel. (Isa. 41:2-4, 25-27; 46:11-13, NVI).

É um fato notável que as predições de Isaías sobre a conquista de Ciro da Pérsia estão unidas com profecias Messiânicas (Isa. 42:1-7). O profeta compara Ciro com um Redentor maior, o Servo de Yahweh que seria "uma luz para os gentios, para abrir os olhos aos cegos, para libertar da prisão os cativos e para livrar do calabouço os que

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habitam na escuridão" (versos 6, 7). O que Ciro faria para o Israel nacional, em escravidão na Babilônia, o Messias realizará em grande alcance para todos os filhos de Deus que se sentam em escuridão e escravidão em qualquer lugar. Uma das predições mais confortantes para Israel era a certeza de que Deus chamara um general do exército persa para libertar Israel de Babilônia. Em sua obra de libertação Ciro serviu como um tipo da missão de liberação do Messias:

Assim diz o Senhor ao seu ungido [messias]: a Ciro, cuja mão direita eu seguro com firmeza... Por amor de meu servo Jacó, de meu escolhido Israel, Eu o convoco pelo nome e lhe concedo um título de honra, embora você não me reconheça (Isa. 45:1-4, NVI). Que diz acerca de Ciro: “Ele é meu pastor, e realizará tudo o que me agrada; ele dirá acerca de Jerusalém: ‘Seja reconstruída’, e do templo: ‘Sejam lançados os seus alicerces’ ” (Isa. 44:28, NVI).

Isaías chama Ciro o "ungido" de Yahweh, indicando que o guerreiro oriental será equipado com poder para cumprir uma missão para Yahweh e o Seu povo. O profeta descreve o Messias vindouro em termos idênticos. "O Espírito do Soberano, o SENHOR, está sobre mim, porque o SENHOR ungiu-me para levar boas notícias aos pobres" (Isa. 61:1). Embora Ciro cujo nome significa pastor, não adorou o Deus de Israel, Yahweh o escolheu para ser "meu pastor". Ele devia servir a causa de Deus: redimir Israel da Babilônia, mandá-lo de volta para reconstruir Jerusalém, e pôr a fundação de um novo Templo.

Jeremias acrescenta à profecia anterior de Isaías a colocação maior de que Deus trará "contra a Babilônia uma coalizão de grandes nações do norte. Elas tomarão posição de combate contra ela e a conquistarão" (Jer. 50:9, NVI). "Vejam! Vem vindo um povo do norte; uma grande nação e muitos reis se mobilizam desde os confins da terra" (verso 41).

O Senhor incitou o espírito dos reis dos medos, porque seu propósito é destruir a Babilônia.. . . Preparem as nações para o combate contra ela: os reis dos medos (Jer. 51:11-28, NVI).

Um olhar ao mapa dos impérios rivais no tempo de Jeremias mostra que o Império da Média estava localizado principalmente ao norte de Babilônia, enquanto a Pérsia estendia-se ao leste de Babilônia. Ciro veio da Pérsia, e portanto Yahweh pôde chamá-lo "do oriente", "desde o nascente" "de uma terra bem distante" (Isa. 41:2, 25; 46:11). Mas Ciro não marchou só. Ele era o chefe-em-chefe das forças aliadas dos reis da Média e Pérsia. Enquanto vindo do oriente, Ciro invadiu Babilônia desde o norte. Seu desvio das águas do Eufrates preparou o caminho para os reis do oriente entrarem na capital e assumir o seu governo mundial (cf. Dan. 5:28). O Apocalipse escolhe a histórica liberação de Israel da Babilônia por Ciro como o tipo hebraico para a subversão da Babilônia do tempo do fim por Cristo (Apoc. 16:19).

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A natureza tipológica dos juízos divinos no Antigo Testamento é reconhecida amplamente. Louis F. Were observa: "Era costume dos profetas guiados pelo Espírito empregar eventos locais, nacionais em uma 'dupla' aplicação pintando eventos mundiais com relação ao Messias e Sua Igreja" (The Fall of Babylon in Type and Antitype, pág. 64).

Jesus aplicou tal aplicação dupla em Sua previsão da destruição de Jerusalém e do mundo em Mateus 24. A unidade teológica do Antigo e Novo Testamentos tem suas raízes em sua conexão tipológica. O juízo de Deus sobre a moderna Babilônia no Apocalipse é mais que uma analogia acidental com a subversão de Ciro da antiga Babilônia. Cristo voltará como rei celestial para consumar os tipos hebraicos e profecias em uma escala universal e cósmica. Ele não Se levantará de qualquer localização geográfica, mas do trono de Deus. Sua aproximação à Terra é então do Oriente astronômico ou cósmico!

Esta dimensão já aparece em uma visão de Ezequiel. Ele viu que "do caminho do oriente, vinha a glória do Deus de Israel" e então entra no templo "pela porta que olha para o oriente" (Eze. 43:2, 4, RA). Igualmente, João observa em uma visão um anjo "subindo do Oriente [grego: heliou de anatolês de apo], tendo o selo do Deus vivo" (Apoc. 7:2, NVI). Mandado por Deus, o anjo apocalíptico virá então da direção de Deus. O anjo com o selo protetor de Deus para os santos não se origina de algum país oriental da Terra, mas desce do oriente cósmico. Semelhantemente, no nascimento de Cristo os sábios da Babilônia vieram a Belém dizendo, "Vimos a sua estrela no oriente [en têi anatolêi]" (Mat. 2:2).

O léxico A Greek-English Lexicon of the New Testament (W. F. Arndt and F. W. Gingrich, eds. [Chicago: University of Chicago Press, 1957, p. 61]) observa que o termo singular anatolê provavelmente não é uma expressão geográfica – como o plural anatolôn em Mateus 2:1 – mas é "mais propriamente astronômico" aqui (pág. 61). Também a descrição do advento de Cristo em Luc. 1:78 aponta para os céus orientais: "do alto nos visitará o sol nascente [anatolê]". Os judeus descreveram o "Messias de Yahweh'' poeticamente como "o sol nascente" (Strack-Billerbeck, Kommentar zum NT, II:113). Cristo se identifica a Sua igreja como "a Brilhante Estrela" (Apoc. 22:16). Ele usou imagem cósmica para descrever o Seu retorno: "Assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até no ocidente, assim há de ser a vinda do Filho do Homem" (Mat. 24:27, RA).

O colapso futuro de Babilônia é "para que fosse preparado o caminho para os reis que vêm do Oriente [apo anatolês heliou, do nascimento do sol]" (Apoc. 16:12). A direção da bússola "do oriente" é idêntica ao de Apocalipse 7:2, e assim aponta para o Oriente cósmico ou a direção de Deus para a procissão dos guerreiros divinos.

Também reveladora é a frase “para que o caminho. . . possa estar preparado” [Apoc. 16:12, NKJV], (hina hetoimasthei he hodos). Esta expressão comumente se refere à atividade redentora de Deus na história da salvação, com o implícita apelo para a preparação e prontidão do homem (cf. Luc. 2:30, 31; 1 Cor. 2:9; Rom. 9:23; João 14:2, 3). Deus enviou João Batista para "preparar o caminho para o Senhor" de forma que o povo poderia estar pronto para receber a Cristo (Mat. 3:3; cf. Isa. 40:3;

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Luc. 1:17, 76). Em Sua providência, Deus também proverá o modo apropriado de preparação para o glorioso retorno de Cristo a nosso mundo para redimir Seu povo oprimido. O súbito secamento das águas do Eufrates e subseqüente queda de Babilônia abre o caminho para a vinda do Senhor como o rei legítimo, e Seus exércitos celestiais para tomar o comando do Planeta Terra (Apoc. 19:14).

Nas palavras de C. Mervyn Maxwell, "o momento da verdade" é "o momento quando milhões e milhões de pessoas ao redor do mundo vêem de repente pela hipocrisia de seus líderes espirituais e detestam o clero em quem eles puseram sua confiança", com o resultado imediato de retirada do "apoio popular do tempo do fim ao falso sistema religioso conhecido como 'Babilônia' " (God Cares [Mountain View, Calif.: Pacific Press Pub. Assn., 1985], vol. 2, pp. 442, 443).

Muitos expositores do livro de Apocalipse identificaram os "reis do Oriente" em Apocalipse 16:12 com Cristo e Seus exércitos celestiais em Apocalipse 19:11-16 e com alegria descobriram aqui a mensagem final de esperança para a igreja de Jesus Cristo do tempo do fim (para uma revisão, veja Louis F. Were, The Kings That Come From the Sunrising [Berrien Springs, Mich.: First impressions, 1983, reprint] capítulo 4).

Aqueles que crêem em Jesus como seu Salvador pessoal e O seguem em seu estilo de vida como o divino Senhor e Luz não têm nada a temer a escuridão futura. "Para os que temem o meu nome nascerá o sol da justiça, trazendo cura em suas asas" (Mal. 4:2, RSV).

Alguns fizeram a pergunta: Por que o plural ("reis do Oriente") se pretende descrever o retorno de Cristo como libertador dos Seus fiéis? Maxwell sugere que Apocalipse 16:16, 17 implica que Cristo e Deus o Pai chegarão na cena do Armagedom “como os ‘reis do oriente’ ” (God Cares, vol. 2, p. 443).

Precisamos nos lembrar que Apocalipse 16 toma para seu final duas pragas da descrição hebraica da queda de Babilônia por Ciro e os "reis do Oriente" para assegurar a igreja de Cristo da certeza da queda da Babilônia do tempo do fim. Segundo, Cristo provoca a destruição de Babilônia apocalíptica em Apocalipse em união com Seus exércitos celestiais. "Os exércitos dos céus o seguiam, vestidos de linho fino, branco e puro, e montados em cavalos brancos" (Apoc. 19:14).

Como o comandante das legiões angelicais do céu, Cristo descerá dos céus orientais para empreender guerra contra os unidos "reis da terra" e os seus exércitos (verso 19). Os "reis do Oriente" aparecem assim em oposição aos "reis da terra", um contraste cósmico entre céu e terra. O resultado é uma conclusão previamente determinada, porque os anjos de Deus excedem infinitamente em poder os reis terrestres.

A pergunta foi feita mais adiante por que Apocalipse 16:12 apresenta anjos como "reis". Uma ligação semelhante foi usada pelos profetas de Israel quando eles endereçaram os reis hostis de Babilônia e Tiro como símbolos, ou representantes, de um anjo caído de Deus (veja Isa. 14:4, 12; Eze. 28:12-16). Parece muito apropriado que os anjos não-caídos de Deus são apresentados como guerreiros-reis celestiais que virão empreender guerra contra os reis de todo o mundo (Apoc. 19:14). Também os

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"reis do Oriente" simbolicamente funcionam como o antítipo dos reis anteriores do oriente, sob Ciro, os salvadores de Israel da Babilônia. Como antítipo, os futuros reis do nascimento do sol são muito maiores que seu tipo do Antigo Testamento. Os anjos guerreiros não são "reis" em uma sentido político terrestre. Eles vêm e montam ''sobre cavalos brancos" e vestem branco, da mesma maneira que o próprio Cristo! Isto indica que Seus anjos funcionam como Ele: como as legiões de Deus sob Cristo, como os exércitos celestiais de Cristo, em uma missão divina de salvamento – a liberação do Planeta Terra.

O livro de Daniel tinha descoberto previamente que existe uma guerra contínua entre anjos guardiões de vários reinos terrestres. Tais de anjos a Escritura classifica como "príncipes" inclusive Miguel (Dan. 10:13. 20; 12:1). Daniel chama o vitorioso Príncipe de príncipes no capítulo 8 como "o Príncipe do exército" (Dan. 8:11). Cristo sugeriu que os anjos de Deus são organizados em disciplinadas unidades de batalha. "Você acha que eu não posso pedir a meu Pai, e ele não colocaria imediatamente à minha disposição mais de doze legiões de anjos?" (Mat. 26:53, NVI). Em Sua volta todas as legiões, ou formações de batalha, de anjos santos acompanhará Cristo (cf. Mar. 8:38). Se um anjo de Deus pôde matar 185.000 soldados assírios em uma única noite (veja 2 Reis 19:35), que poder invencível é simbolizado então por todas as hostes de anjos quando eles vierem como poderosos guerreiros de Yahweh (Joel 3:11; Salmo 103:20, 21)!

Portanto, não podemos esperar a última libertação da humanidade originando-se na sociedade humana absolutamente. Virá de fora da raça humana, do espaço exterior, do Cristo voltando como Senhor onipotente. Ele descerá dos céus orientais, junto com Suas miríades de anjos, para salvar todos os que Lhe pertencem por uma fé viva (veja Mat. 24:31).

Alguns sugeriram que os exércitos de salvação de Cristo em Apocalipse 19 também incluem santos, como Enoque e Elias que ascenderam vivos ao céu antes. Nesta ligação é interessante notar que o Apocalipse retrata vinte e quatro "anciãos" no céu vestidos de trajes brancos e usando coroas douradas em suas cabeças (veja Apoc. 4:4, 10). Nós podemos certamente assumir que esses santos trasladados à glória ou já ressuscitados da morte pelo tempo de João (Mat. 27:52, 53; Efés. 4:8), formarão parte do acompanhamento real que segue Cristo em Sua missão gloriosa.

O propósito último do retorno de Cristo não é a destruição de Babilônia mas o levantamento do reino de Deus de paz eterna e justiça na Terra. Cristo foi entronizado como o soberano governante sobre nosso planeta ao Ele subir da morte e ascender ao trono do Pai (Atos 2:36; Mat. 28:18; cf. Dan. 7:14). Porém, só quando soar a última trombeta para inaugurar o ano jubileu (cf. Lev. 25:8-10; Isa. 27:13; 1 Tess. 4:16, 17) Cristo virá tirar o domínio de Babilônia e entregar o governo desta Terra a uma humanidade redimida que O adora em Espírito e em verdade.

O sétimo anjo tocou a sua trombeta, e houve fortes vozes nos céus que diziam: “O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre (Apoc. 11:15, NVI).

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Então a soberania, o poder e a grandeza dos reinos que há debaixo de todo o céu serão entregues nas mãos dos santos, o povo do Altíssimo. O reino dele será um reino eterno, e todos os governantes o adorarão e lhe obedecerão (Dan. 7:27, NVI).

ARMAGEDOM: O DIA DO JUÍZO UNIVERSAL E LIVRAMENTO O termo Armagedom só ocorre uma vez nas versões inglesas do livro de

Apocalipse: "Então os três espíritos os reuniram no lugar que, em hebraico, é chamado Armagedom" (Apoc. 16:16, NVI). Claro que nós devemos entender a passagem de seu próprio contexto bíblico. O texto declara que o nome Armagedom é cunhado "em hebraico" o que aponta a uma conexão do Antigo Testamento. Normalmente os intérpretes traduzem o nome como "Montanha de Megido", mas isto não traduz a palavra atual Megido, ou Magedon (ou Mageddon), como os manuscritos gregos do Apocalipse lêem. De maneira interessante, a versão grega do Antigo Testamento, a Septuaginta, normalmente transcreve o nome da cidade de Megido como Mageddo (2 Crôn. 35:22; Juí. 1:27; Jos. 12:21). Mas em uma ocasião parafraseia a expressão "a planície de Megido" como "a planície da morte" ou destruição, isto é, em Zacarias 12:11 (ekkoptomenou: "de ser cortado").

O nome Har-Magedon no original grego de Apocalipse 16:16, como Montanha de Destruição, indica a natureza do evento que ocorrerá quando os espíritos de demônios juntarem ou unirem todos os poderes políticos do anticristo contra Deus e o povo de Cristo. Destruição será o seu destino na providência de Deus. Isbon T. Beckwith conclui portanto: ''Ele [o nome Har-Magedon] é então um nome imaginário por designar a cena da grande batalha entre o Anticristo e o Messias" (The Apocalypse of John [Grand Rapids: Baker Book House, 1979, reprint of 1919], pág. 685).

Robert H. Mounce vê o Armagedom igualmente como o clímax de história da salvação:

Onde quer que aconteça, Har-Magedon é simbólico da subversão final de todas as forças de mal pela força e poder de Deus. O grande conflito entre Deus e Satanás, entre Cristo e o Anticristo, entre o bem e o mal, que se encontra atrás do curso desconcertando da história inclina-se na questão última em uma luta final na qual Deus emergirá vitorioso e levará com ele todos os que nele colocaram a fé (The Book of Revelation, The New International Commentary on the New Testament [Grand Rapids: Eerdmans, 1977], pág. 302).

Relativo ao fundo histórico da cidade de Megido, os expositores se referem principalmente à guerra histórica de Israel contra os reis hostis de Canaã, celebrada no Cântico de Débora (Juí. 5). Quando a posição de Israel era indefesa e desesperada contra as carruagens de Sísera (Juí. 4:13), o Senhor interveio do céu por uma chuva pesada de forma que "o rio Quisom [um rio perto de Megido] os levou (Juí. 5:19-21). Leon Morris e outros vêem esta guerra vitoriosa de Yahweh ''como um símbolo da subversão final de todas as forças do mal por um Deus todo-poderoso" (The Revelation of St. John, Tyndale NT Commentary [Grand Rapids: Eerdmans, 1973], pág. 200). Isto levanta a pergunta de quais são os pontos básicos das guerras de

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Yahweh na Bíblia hebréia (veja capítulos II-IV). Se o Armagedom é a guerra final de Deus contra os Seus inimigos jurados, então as guerras de Yahweh prévias funcionam como tipos ou prefigurações de Sua guerra apocalíptica. Os atos de Deus de juízo e salvação todas as vezes são basicamente um em natureza e propósito.

O Cântico de Débora já apontou ao futuro ao concluir com uma passagem que contém uma perspectiva apocalíptica:

Assim pereçam todos os teus inimigos, ó SENHOR! Mas os que te amam sejam como o sol quando se levanta na sua força (Juí. 5:31). O Armagedom diferirá de seus tipos no Antigo Testamento em que toda a

população mundial dividir-se-á naqueles que são o povo da nova aliança de Deus e aqueles que são os seus inimigos decididos.

O Armagedom em Seu Contexto Apocalíptico

Então vi saírem da boca do dragão, da boca da besta e da boca do falso profeta três

espíritos imundos semelhantes a rãs. São espíritos de demônios que realizam sinais miraculosos; eles vão aos reis de todo o mundo, a fim de reuni-los para a batalha do grande dia do Deus todo-poderoso. “Eis que venho como ladrão! Feliz aquele que permanece vigilante e conserva consigo as suas vestes, para que não ande nu e não seja vista a sua vergonha.” Então os três espíritos os reuniram no lugar que, em hebraico, é chamado Armagedom (Apoc. 16:13-16, NVI).

Esta seção registra uma visão distinta ("Então vi") que parece interromper o fluxo

da sexta e sétima pragas. Podemos entender o interlúdio como uma descrição de como os espíritos de demônios preparam o mundo para a guerra final de Deus. Visões subseqüentes explicam mais especificamente que o Armagedom é a final revelação dos fatos entre a Babilônia do tempo do fim e o Messias (veja Apoc. 17:14 e 19:11-21).

João viu três espíritos de demônios emergir do dragão, da besta, e do falso profeta. Mounce explica que "os espíritos imundos procedem das bocas do triunvirato profano e sugerem a propaganda persuasiva e enganosa que nos últimos dias conduzirá os homens a um compromisso incondicional para a causa de mal '' (The Book of Revelation, pág. 299).

Deixada sem resposta é a pergunta: O que de fato é esta universal “causa do mal?” O texto diz: "Vão aos reis de todo o mundo [oikoumenê], a fim de reuni-los para a batalha do grande dia do Deus todo-poderoso" (verso 14). Alguns saltaram à conclusão de que as palavras predizem uma guerra mundial entre um bloco Oriental de nações um bloco Ocidental. Tal especulação pode surgir só quando primeiro se disseca as palavras da Escritura completamente de sua raiz bíblica e contexto. Nenhuma guerra de nação contra nação está à vista aqui. O clímax do Apocalipse de João trata de um mal mais sério na visão de Deus: forças religiosas apóstatas conduzirão todos os poderes políticos na Terra a se unir por uma causa comum, empreendendo guerra contra o povo de Deus! Aqui está a trama assassina da última guerra demoníaca no

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Apocalipse. Aqui está "a causa do mal" que ativará o envolvimento dramático de Deus e o juízo de Sua guerra santa contra Babilônia. Guerra contra Deus é guerra contra o povo de Deus. Esta sempre foi a experiência do Israel de Deus na Escritura Sagrada e foi a razão por que Deus interveio para libertar Seu fiel povo da aliança. O fato de que o povo de Cristo estará no centro da guerra apocalíptica nós já podemos deduzir da advertência de Cristo:

Eis que venho como ladrão! Feliz aquele que permanece vigilante e conserva consigo as suas vestes, para que não ande nu e não seja vista a sua vergonha (Apoc. 16:15, NVI).

Cristo convoca os Seus seguidores por este meio para permanecer espiritualmente despertos e estar preparados para o momento crítico no término da história. Só quando o crente em Cristo está espiritualmente vestido com a veste da justiça de Cristo pode estar firme no teste final de fé (cf. Apoc. 3:18). Beckwith enfoca esta questão religiosa do Armagedom: "O ajuntamento de todas as forças da Besta para a batalha abrirá aos santos a crise suprema" (The Apocalypse of John, pág. 684).

Aparentemente os santos ainda não foram arrebatados ao céu durante as pragas finais sobre Babilônia. A união instigada pelo demônio de todos os poderes políticos e religiosos apóstatas da Terra voltam-se contra o fiel povo de Cristo. Nós só podemos ver seu significado à luz da guerra cósmica entre Deus e Satanás, entre Cristo e Seu anticristo. C. Mervyn Maxwell conclui que “a batalham do Armagedom não será a terceira guerra mundial”, porque “no ‘Armagedom’ os reis de terra são ajuntados por demônios para lutar não tanto um contra o outro como contra o Cordeiro” (God Cares, vol. 2, pág. 442). O questão final é: Quem regerá o universo? O grande conflito começou no céu e continuou então na Terra desde a queda de Adão (Apoc. 12:7-9; Gên. 3:15). Anjos caídos constantemente juntam ou unem os líderes políticos e militares para uma última meta: a destruição da igreja de Cristo. "Guerrearão contra o Cordeiro, mas o Cordeiro os vencerá, pois é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; e vencerão com ele os seus chamados, escolhidos e fiéis" (Apoc. 17:14, NVI).

Esta é a explicação do anjo sobre o motivo que conduzirá nosso mundo à batalha do Armagedom. Ao mesmo tempo assegura aos crentes que Cristo triunfará espetacularmente, porque foi estabelecido Senhor supremo em Seu sacrifício expiatório como o Cordeiro. Os títulos que pertencem a Deus somente na Bíblia Hebraica – Rei de reis e Senhor de senhores (Deut. 10:17; Sal. 136:3; Dan. 2:47) – é transferido agora a Cristo ao Ele votar como guerreiro divino. (Veja o estudo de G. K. Beale, “The Origin of the Title ‘King of kings and Lord of lords' in Revelation 17:14,” New Testament Studies 31, No. 4 [1985]:618-620).

Mas como na realidade os reis "empreendem guerra" contra o Cordeiro de Deus? George B. Caird explica: "O único modo pelo qual os reis terrestres podem empreender guerra ao Cordeiro é por meio dos seus seguidores. A guerra é então novamente outra referência para a grande perseguição" (The Revelation of St. John the Divine [New York: Harper and Row, 1966], pág. 220). João antes tinha indicado a perseguição apocalíptica do Israel de Deus por meio de novas leis estatais: "Irou-se o dragão contra a mulher e foi pelejar com os restantes da sua descendência, os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus" (Apoc. 12:17, RA).

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A visão de João sobre o Armagedom em Revelação 19 descobre completamente a resposta de Deus para a trama satânica apontada ao povo de Cristo. Aqui o revelador retrata Cristo como o guerreiro celestial montando Seu cavalo de batalha branco, que virá em resgate do Seu povo.

Vi os céus abertos e diante de mim um cavalo branco, cujo cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro. Ele julga e guerreia com justiça. Seus olhos são como chamas de fogo, e em sua cabeça há muitas coroas e um nome que só ele conhece, e ninguém mais. Está vestido com um manto tingido de sangue, e o seu nome é Palavra de Deus. Os exércitos dos céus o seguiam, vestidos de linho fino, branco e puro, e montados em cavalos brancos. De sua boca sai uma espada afiada, com a qual ferirá as nações. “Ele as governará com cetro de ferro.” Ele pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus todo-poderoso. Em seu manto e em sua coxa está escrito este nome: REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES. ... Então vi a besta, os reis da terra e os seus exércitos reunidos para guerrearem contra aquele que está montado no cavalo e contra o seu exército (Apoc. 19:11-19, NVI).

Esta visão do segundo advento de Cristo proclama que Ele vem salvar a Sua

igreja e executar o juízo Messiânico sobre o ímpio, como anunciado nas Escrituras Hebraicas (veja Sal. 2:9; Isa. 11:4). Paulo já tinha acentuado este duplo aspecto do retorno de Cristo ao ele escrever que Cristo punirá os perseguidores de Seu povo "com eterna destruição" no dia Ele vier ser glorificado em Seu povo (2 Tess. 1:5-10).

O nome "Fiel e Verdadeiro" (Apoc. 19:11) é a garantia de Cristo que Ele votará na hora de emergência universal. Ele é fiel às Suas promessas da aliança e os consumirá com o esplendor e brilho inflamado do aparecimento de Cristo.

O Armagedom Visto Por seu Antecedente Hebraico

Cristo virá tanto como juiz como guerreiro. "Ele julga e guerreia com justiça". O

antecedente específico do Antigo Testamento para a dupla missão do Messias é a profecia de Joel 3. Aqui Yahweh convoca todas as nações para reunir-se no Vale de Josafá para empreender guerra contra o Israel de Deus no Monte Sião. O Deus de Israel aparecerá então como seu juiz e como o guerreiro que lutará por Seu povo cercado:

Ali os julgarei por causa da minha herança — Israel, o meu povo. ... O sol e a lua escurecerão, e as estrelas já não brilharão. O Senhor rugirá de Sião. . . Mas o Senhor será um refúgio para o seu povo, uma fortaleza para Israel (Joel 3:2-16, NVI).

A relação de Joel 3 com Apocalipse 19 pertence ao cumprimento messiânico. A

interpretação inspirada da profecia de Joel é uma aplicação cristológica. A visão apocalíptica de João sobre Cristo como juiz e guerreiro divino transforma o juízo de Yahweh contra os inimigos de Israel em um juízo de Cristo contra os inimigos de Seu

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povo. Os inimigos de Israel se tornam "a besta e os reis da terra" e "o falso profeta" (Apoc. 19:19, 20). Durante o Armagedom Cristo será um refúgio para o Seu povo, um lugar seguro para o Israel de Deus, onde quer que eles estejam no mundo.

A interpretação de João de Joel 3 no livro de Apocalipse nos ensina que as profecias hebraicas do julgamento de Yahweh sobre os inimigos nacionais de Israel não podem mais ser aplicadas em suas restrições étnicas e geográficas após a cruz e a ressurreição de Cristo. O Novo Testamento revela que as promessas de Israel terão seu cumprimento de uma novo maneira por meio de Cristo e em uma escala maior, um fato que fica notavelmente aparente se nós observamos como Apocalipse 14 aplica esta escritura do Antigo Testamento na moldura da pós-ressurreição:

Lancem a foice, pois a colheita está madura. Venham, pisem com força as uvas, pois o lagar está cheio e os tonéis transbordam, tão grande é a maldade dessas nações! (Joel 3:13, NVI).

Apocalipse 14 aplica a imagem agrícola da cena de juízo local por volta de seis

vezes ao juízo mundial universal. Cristo executará o juízo de Yahweh no Vale de Josafá em uma escala global. Ele lança a foice quando a colheita da Terra está madura (três vezes "terra" em Apoc. 14:15, 16). Do mesmo modo os cachos de uvas vêm do mundo inteiro (também três vezes "terra" nos versos 18, 19, RSV) e é lançado no "grande lagar da ira de Deus" (verso 19). O "grande lagar" é em realidade também universal (versos 18, 19) e não mais o vale local de Josafá de Joel no Oriente Médio. O Monte Sião se torna no Novo Testamento o símbolo do lugar onde Cristo reúne o Seu povo para adoração e para Seu companheirismo salvador e santificador (veja Heb. 12:22-24; Apoc. 14:1).

Em resumo, o Apocalipse de João ensina a igreja que: (1) o juízo de Yahweh será levado a cabo por Cristo em Seu retorno em glória divina; (2) o povo da aliança de Yahweh que se reúnem no Monte Sião é o povo de Cristo; (3) o vale local de juízo se expande para a Terra inteira.

Dito em termos teológicas, o Apocalipse ensina a aplicação cristológica, eclesiológica e universal do juízo profético de Joel e libertação.

Apocalipse 19, porém, como todos os expositores reconhecem, apresenta o quadro mais completo do Armagedom. O capítulo retrata Cristo como o guerreiro vitorioso, descendo do céu em um cavalo de batalha branco (verso 11). Ele vem reivindicar nosso planeta como o Seu domínio legítimo: "em sua cabeça há muitas coroas" (verso 12). Nem o dragão com suas sete coroas (Apoc. 12:3) nem o monstro do mar com suas dez coroas (Apoc. 13:1) receberam de Deus a autoridade para reinar sobre a humanidade. Cristo volta como "Rei dos reis e Senhor dos senhores" (Apoc. 19:16). A Ele só o Pai autoriza a governar a Terra, e Ele só executará a santa vontade de Deus, porque Ele é "o Verbo de Deus" (verso 13). Tudo aquilo que os profetas hebreus tinham predito através dos séculos sobre a essência e execução do juízo de Yahweh, Jesus Cristo cumprirá e consumará. O livro de Apocalipse aplica quatro motivos antigos de juízo para o retorno de Cristo do céu:

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A. "Está vestido com um manto tingido de sangue" (verso 13). B. "De sua boca sai uma espada afiada, com a qual ferirá as nações" (verso 15). C. "Ele as governará com cetro de ferro" (verso 15). D. "Ele pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus todo-poderoso" (verso 15). A acumulação de motivos de juízo no Apocalipse dá à igreja a certeza de que o

Cristo ressuscitado é o ponto focal de todas as perspectivas hebraicas de juízo, que a monarquia de Cristo é a única esperança para um mundo sofredor da injustiça, crueldade e perseguição religiosa. As quatro descrições simbólicas de Cristo como juiz-rei vêm de cenas do Antigo Testamento em que Yahweh ou o Seu Messias exerce a vingança divina nos perseguidores do verdadeiro Israel. A revelação de que o Cristo crucificado e ressurreto executará em realidade as predições hebraicas de juízo assegura a unidade orgânica do Antigo e Novo Testamentos e das alianças.

A. "Está vestido com um manto tingido de sangue" (Apoc. 19:13 ). Alguns entendem a passagem como significando que Cristo entra em um manto

manchada de sangue para simbolizar Sua abnegação por todos os homens. Mas nós sempre temos que relacionar em primeiro lugar a linguagem do quadro apocalíptico com sua raiz e fonte hebraica. Isaías tinha expressado o juízo de Deus em Edom, o amargo inimigo de Israel (veja Núm. 20:18-20; 2 Crôn. 28:17), no estilo poético seguinte:

Quem é aquele que vem de Edom, que vem de Bozra, com as roupas tingidas de vermelho? Quem é aquele que, num manto de esplendor, avança a passos largos na grandeza da sua força? “Sou eu, que falo com retidão, poderoso para salvar.” Por que tuas roupas estão vermelhas. . . “Eu as [as nações] pisoteei na minha ira e as pisei na minha indignação; o sangue delas respingou na minha roupa, e eu manchei toda a minha veste. Pois o dia da vingança estava no meu coração, e chegou o ano da minha redenção'' (Isa. 63:1-4, NVI).

A imagem dramática do profeta do juízo de Yahweh sobre o antigo inimigo de

Israel aparentemente serve em Apocalipse 19 como o modelo para a missão final de Cristo ao mundo. O Apocalipse ensina como o oráculo de guerra de Isaías contra Edom será cumprido em Cristo e em Seu anticristo no Armagedom. Mais importante é a mensagem que a graça salvadora de Deus combina com Sua. Deus tem em mente um duplo propósito: "o dia da vingança" também introduzirá o tempo de Sua redenção (Isa. 63:4). Isaías 34 e 35 operam em mais detalhe estes dois aspectos da guerra de Yahweh contra Edom. O dia da vingança de Deus sobre Edom (Isa. 34:5, 6) torna-se representativo de Sua guerra contra todas as nações: "a indignação do SENHOR está contra todas as nações" (verso 2, RA).

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Ele os destruirá totalmente, ele os entregará à matança. . . . os montes se encharcarão do sangue deles (versos 2, 3).

A característica adicional de sinais cósmicos – o céu se enrolarão como um pergaminho e as estrelas cairão (verso 4) – que descrevem a teofania de Yahweh indica que a destruição histórica de Edom não era contudo o cumprimento completo do oráculo de guerra de Isaías. Sua perspectiva apocalíptica só será alcançada completamente no retorno do Messias Jesus, ao Ele executar a justiça de Deus e trazer redenção a Seu povo (veja Apoc. 6:12-15). Isaías enfatiza que a destruição de Edom ocorre por causa da redenção de Israel: "um ano de retribuição, para defender a causa de Sião" (Isa. 34:8). Por um lado, o território de Edom se tornará uma desolação, um betume ardente que "não se apagará de dia nem de noite; sua fumaça subirá para sempre" (versos 9, 10), enquanto por outro lado, Deus estabelecerá o Seu reino glorioso em Sião e transformará todo deserto em um jardim do Éden. Não mais doentes ou incapacitados aparecerão entre os resgatados do Senhor, "alegria eterna coroará suas cabeças" (Isa. 35:1-10). Assim nós achamos igualmente que seguindo imediatamente à batalha de Armagedom em Apocalipse 19, começam as alegrias perpétuas dos santos durante o milênio e na Terra feita nova (Apoc. 20-22). Aqui está o revestimento prateado ao redor da nuvem escura do Armagedom.

B. "De sua boca sai uma espada afiada, com a qual ferirá as nações" (Apoc.

19:15). Esta imagem nos lembra da primeira visão de João sobre Cristo, quando ele viu

uma "espada afiada de dois gumes" vir da boca do Senhor (Apoc. 1:16). Tal retrato sugere uma imagem de batalha. Cristo advertiu a Pérgamo que Ele lutaria com a espada de Sua boca contra aqueles que ensinam idolatria e imoralidade na igreja (Apoc. 2:14-16). Poder-se-ia preferir pensar em uma justa condenação verbal da falsidade, de um "pronunciamento de conduta mortal" (R. H. Mounce) por Cristo, mas o realismo da linguagem do quadro de João sobre a volta de Cristo refere-se a algo dito anteriormente na descrição semipoética de Isaías que o Messias davídico "com suas palavras, como se fossem um cajado, ferirá a terra; com o sopro de sua boca matará os ímpios. A retidão será a faixa de seu peito, e a fidelidade o seu cinturão" (Isa. 11:4, 5; cf. Isa. 49:2). Esta perspectiva profética da guerra final do Messias contra ''o ímpio" declara o propósito da vinda de Cristo no Armagedom: matar o ímpio, especificado por João como a besta, o falso profeta, e os reis da terra (Apoc. 19:19, 20).

A besta e o falso profeta são capturados e "lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre", enquanto o resto – os reis da Terra e as multidões enganadas – "foram mortos com a espada que saía da boca daquele que está montado no cavalo" (verso 21). Enquanto a besta e o falso profeta aparentemente simbolizam as organizações religiosas apóstatas cujos seguidores enfurecidos sacrificarão seus falsos

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pastores (veja capítulo VI), as multidões iradas de Babilônia estarão incapazes de permanecer diante do esplendor consumidor da glória da Shekinah de Cristo.

A mensagem do Armagedom só desdobra a essência do ensino de Paulo relativo ao anticristo: "Então será revelado o perverso, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca e destruirá pela manifestação de sua vinda" (2 Tess. 2:8). Assim ambos os apóstolos Paulo e João proclamaram como parte da mensagem de seu evangelho que o Senhor Jesus Cristo será o cumpridor do Messias vitorioso de Isaías. Jesus subverterá a Babilônia anticristã e extinguirá todos os Seus inimigos, quer dizer, aqueles que se rebelam contra Sua supremacia.

Isaías pintara Yahweh como o guerreiro cuja "espada" entraria em juízo e causaria uma "grande matança em Edom" (Isa. 34:5, 6). A imagem de João sobre Cristo ensina que a espada de Yahweh será confiada a Cristo. Ele julgará e guerreará com justiça absoluta. Os juízos temerosos da ira divina, para a qual todos os profetas hebreus apontaram e que o Novo Testamento aplica à segunda vinda de Cristo, não pode ser espiritualizada em uma vitória do evangelho sobre mentes más.

O clamor simbólico dos mártires mortos pela justiça divina (Apoc. 6:9-11) achará sua satisfação na justiça retributiva e salvadora de Deus. Então as multidões em céu gritarão:

“Aleluia! A salvação, a glória e o poder pertencem ao nosso Deus, pois verdadeiros e justos são os seus juízos. Ele condenou a grande prostituta que corrompia a terra com a sua prostituição. Ele cobrou dela o sangue dos seus servos”. E mais uma vez a multidão exclamou: “Aleluia! A fumaça que dela vem, sobe para todo o sempre" (Apoc. 19:1-3, NVI).

C. "Ele as governará com cetro de ferro" (Apoc. 19:15). Tomando isto por si só, poderíamos entender mal esta frase como sugerindo que

Cristo regerá de uma forma impiedosa sobre os impenitentes. Mas uma reflexão em sua fonte, o Salmo 2, remove qualquer mau conceito de seu significado intencional. Neste salmo real Deus comissionou Seu Filho ungido a aconselhar os gentios primeiro (versos 10-12) e então julgar as nações rebeldes:

Tu [o Rei Messias] as quebrarás com vara de ferro e as despedaçarás como a um vaso de barro (Sal. 2:9, NVI).

Uma coisa está clara no paralelismo poético: o Messias exercerá Sua autoridade

para reinar julgando e executando aqueles que recusam reconhecê-Lo como Senhor. Ele "as despedaçarás como a um vaso de barro".

O Salmo 110 fala do juízo Messiânico em termos menos poéticos: O Senhor está à tua direita; ele esmagará reis no dia da sua ira. Julgará as nações, amontoando os mortos

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e esmagando governantes em toda a extensão da terra (versos 5, 6).

Quase não se poderia expressar mais realistamente esta obra estranha do Messias.

O mesmo realismo do juízo de Deus aplica-se em Apocalipse 19 a Cristo quando Ele vier como rei-guerreiro para conhecer Seus inimigos anticristãos na batalha do Armagedom.

D. "Ele pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus todo-poderoso" (Apoc.

19:15). A quarta imagem simbólica recorda o retrato da vindima da terra em Apocalipse

14:17-20. Lá um anjo declara que as uvas da Terra estão maduras, então outro anjo as ajunta e as lança "no grande lagar da ira de Deus" (verso 19). Aquela visão conclui com um clímax atordoante. "E o lagar foi pisado fora da cidade, e correu sangue do lagar até aos freios dos cavalos, numa extensão de mil e seiscentos estádios" (verso 20, RA).

Novamente o significado torna-se transparente apenas se nós levamos em conta sua raiz mestra em Joel 3. Joel apresentou o vale ao redor do Monte Sião, "o Vale de Josafá" como se fosse um lagar cheio de maldade (verso 13), obviamente referindo-se ao ajuntamento das nações hostis ao Israel de Deus (versos 2, 12). O juízo de Deus "fora da cidade" (Apoc. 14:20) sugere como a cena de juízo de Joel será cumprida na realidade. "Monte Sião" é o lugar onde dois ou três se reúnem em nome do Deus da nova aliança (verso 1). Robert Mounce sugere que a referência profética para o juízo "fora da cidade" alude ao sofrimento de Cristo "fora da porta". Sua conclusão é que "aqueles que recusam o primeiro juízo devem tomar parte do segundo" (The Book of Revelation, pág. 282).

O pisar as uvas era uma cena agrícola famosa em Israel. Os profetas freqüentemente a usaram para ilustrar a realidade do vindouro juízo e condenação, o efeito da guerra santa.

O Senhor ruge do alto. . . Ele grita como os que pisam as uvas; grita contra todos os habitantes da terra. . . Naquela dia, os mortos pelo Senhor estarão em todo lugar, de um lado ao outro da terra. (Jer. 25:30-33, NVI).

Quando o revelador descreve 1.600 estádios até o freio dos cavalos (verso 20),

ele aponta simbolicamente para a Terra inteira. O Apocalipse usa quatro como o número da Terra (Apoc. 7:1; 20:8); suas multiplicações sugerem a superfície total de nosso mundo. Em outras palavras, o juízo final de Deus estende-se aos ímpios onde quer que eles estejam. O único lugar de segurança e proteção está no Monte Sião, quer dizer, onde está o Cordeiro de Deus (Apoc. 14:1-5). É dito que Cristo pisa o lago "do furor da ira do Deus todo-poderoso" (Apoc. 19:15). Mounce faz um comentário sobre a frase "João não é melindroso sobre o Filho que entra na execução do juízo" (ibid.). Porém, o ponto de João é declarar uma verdade apocalíptica que nós podemos avaliar melhor à luz do oráculo de guerra de Isaías contra Edom (Isa. 63:1-4; veja sob o

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subtítulo A). O ato de Cristo pisar as uvas produzirá uma torrente de "vinho" que Ele verte como se fosse na "taça de sua ira". Todos os seguidores da besta e do falso profeta têm que bebê-lo (Apoc. 14:9, 10). Isaías já tinha explicado a imagem ao ele dizer:

Farei seus opressores comerem sua própria carne; ficarão bêbados com seu próprio sangue, como com vinho. Então todo mundo saberá que eu, o Senhor, sou o seu Salvador, seu Redentor, o Poderoso de Jacó (Isa. 49:26).

O ato de Cristo em pisar as uvas quando Ele voltar à Terra é outra metáfora

poderosa para pôr a par o destino irrevogável de Babilônia. Ela receberá seu Armagedom.

Armagedom: a Grande Ceia de Deus para as Aves

Vi um anjo que estava em pé no sol e que clamava em alta voz a todas as aves que voavam pelo meio do céu: “Venham, reúnam-se para o grande banquete de Deus, para comerem carne de reis, generais e poderosos, carne de cavalos e seus cavaleiros, carne de todos — livres e escravos, pequenos e grandes” (Apoc. 19:17, 18, NVI).

O convite do anjo para que os pássaros de rapina compareçam à grande ceia de

Deus encontra-se em deliberado contraste com o anterior convite: "Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro" (verso 9). Evidentemente Deus proverá ambos os banquetes – um para Babilônia no Armagedom, o outro para Israel reunido no Monte Sião (Apoc. 18:4; 14:11). As comidas representam aparentemente destinos opostos: a maior alegria de companheirismo com Cristo no céu acima contra a angústia indizível da separação total de Deus na Terra. Em outras palavras, Deus proverá vida eterna ou morte eterna. É a responsabilidade inevitável do homem escolher entre o Cordeiro e a besta, entre Cristo e o anticristo. O próximo capítulo prestará mais atenção à natureza deste conflito espiritual.

O que significa que um anjo de Deus está "em pé no sol" e que ele convida todos os pássaros de rapina para a ceia de Deus? Sugere uma proclamação de importância cósmico-universal: a convocação final de Deus para céu e terra para tomar parte na batalha decisiva. A certeza do triunfo de Deus assegura aos abutres que eles receberão suas carcaças. O convite para o Armagedom segue o estilo Oriental antigo de entrar em combate: ''Venha aqui, e darei sua carne às aves do céu e aos animais do campo!" (1 Sam. 17:44, NVI). Moisés e os profetas até advertiram um Israel incrédulo: "Os seus cadáveres servirão de alimento para todas as aves do céu e para os animais da terra e não haverá quem os espante" (Deut. 28:26, NVI). Infelizmente, Israel como nação se separou do Deus vivo. Jerusalém apostatou em tal grau da aliança de Yahweh que adotou o costume pagão de sacrificar os primogênitos de Israel. Naquele tempo o profeta Jeremias trovejou que o infame Vale de Ben Hinom, a sudoeste de Jerusalém, seria transformado em um "Vale de Matança" e cumpriria a predição de Moisés sobre

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a maldição da aliança (veja Jer. 7:32, 33). O profeta Sofonias reiterou o juízo em seu apelo sonoro para que Jerusalém se preparasse para a morte.

Calem-se diante do Soberano SENHOR, pois o dia do SENHOR está próximo. O SENHOR preparou um sacrifício; Ele consagrou seus convidados. No dia do sacrifício do SENHOR Eu punirei os príncipes e os filhos do rei (Sof. 1:7, 8).

Enquanto é óbvio que estes oráculos de juízo proféticos acharam um

cumprimento literal na horrível destruição de Jerusalém e terminaram a dinastia davídica no fatal ano 586 A.C., eles contêm, não obstante, uma perspectiva escatológica definida. A dimensão futura nós vemos desenvolvido especialmente no oráculo de guerra de Ezequiel contra Gogue (Eze. 38, 39). Sua intrigante predição do ataque futuro de Gogue contra o Israel de Deus "nos montes de Israel" (Eze. 38:8; 39:2, 4) parece ser uma raiz mestra principal da previsão de João da batalha do Armagedom.

Você virá do seu lugar, do extremo norte, você, acompanhado de muitas nações, todas elas montadas em cavalos, uma grande multidão, um exército numeroso. Você avançará contra Israel, o meu povo, como uma nuvem que cobre a terra. Nos dias vindouros, ó Gogue, trarei você contra a minha terra, para que as nações me conheçam quando eu me mostrar santo por meio de você diante dos olhos delas. . . . Em meu zelo e em meu grande furor declaro que naquela época haverá um grande terremoto em Israel. . . . Convocarei a espada contra Gogue em todos os meus montes. Palavra do Soberano, o Senhor. A espada de cada um será contra o seu irmão. Executarei juízo sobre ele com peste e derramamento de sangue; desabarei torrentes de chuva, saraiva e enxofre ardente sobre ele e sobre as suas tropas e sobre as muitas nações que estarão com ele (Eze. 38:15-22, NVI).

Nos montes de Israel você cairá, você e todas as suas tropas e as nações que estiverem com você. Eu darei você como comida a todo tipo de ave que come carniça e aos animais do campo (Eze. 39:4, NVI).

Filho do homem, assim diz o Soberano, o Senhor: Chame todo tipo de ave e todos os animais do campo: Venham de todos os lugares ao redor e reúnam-se para o sacrifício que estou preparando para vocês, o grande sacrifício nos montes de Israel. Ali vocês comerão carne e beberão sangue.... À minha mesa vocês comerão sua porção de cavalos e cavaleiros, de homens poderosos e soldados de todo tipo. Palavra do Soberano, o Senhor (versos 17-20, NVI).

O Apocalipse estendeu a descrição daqueles mortos pelo Messias além da lista de

nações em Ezequiel 39. No Armagedom os abutres se alimentarão com a "carne de todos — livres e escravos, pequenos e grandes" (Apoc. 19:18). A matança das multidões de Babilônia, reunidas para a batalha contra Deus e o Seu Messias, João agora vê como universal e total. O mundial inteiro estará no monte da destruição, um Har-Magedon. Deliberadamente o Apocalipse amplia o campo de batalha das previsões de Ezequiel e Joel para uma escala global. "Todo o povo'' na Terra será

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envolvido finalmente. As aves "que voam pelo céu" são chamadas a alimentar-se da carne de todos os guerreiros mortos que estavam lutando contra o Divino Governante. Cristo tinha advertido Jerusalém: "Onde houver um cadáver, ali se ajuntarão os abutres" (Luc. 17:37; cf. Mat. 24:28). Jesus usou esta expressão idiomática para advertir a nação de Israel que a rejeição do Seu messiado levaria à decadência espiritual e destruição. O cumprimento da predição de Cristo veio com a horrenda realidade quando Jerusalém experimentou o seu "Armagedom" dela em 70 A.D. William R. Kimball comenta:

Apesar das reivindicações pretensiosas de falsos profetas, Deus não estava vindo para libertar e sim para julgar. A ira consumidora de Deus seria reunida contra a nação merecedora tão naturalmente e inevitavelmente quanto são os abutres atraídos à carne putrefata (What the Bible Says About the Great Tribulation [Joplin. Mo.: College Press Pub. Co., 1983], pp. 149, 150).

O princípio básico do juízo de Deus sobre Jerusalém permanece inalterado para um mundo que rejeitou a Cristo. Aqui aparece o motivo do apelo e advertência de Cristo quanto ao Armagedom no Apocalipse para o mundo hoje: o Seu Messiado!

Muitos observaram que Apocalipse 19 não descreve uma batalha atual entre o céu e a Terra. Como os seres mortais poderiam oferecer alguma resistência contra o Guerreiro Divino quando Ele descer dos céus orientais? O Apocalipse revela que quando o céu realmente se abrir e a Terra tremer por um terremoto universal, o medo de repente paralisará todas as pessoas.

Os reis da terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos e todo escravo e todo livre se esconderam nas cavernas e nos penhascos dos montes e disseram aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro, porque chegou o grande Dia da ira deles; e quem é que pode suster-se? (Apoc. 6:15-17, RA).

Como podemos possivelmente conceber uma batalha tradicional sob tais

circunstâncias? O Apocalipse de João portanto traz no enfoque o real assunto da grande controvérsia:

Então vi a besta, os reis da terra e os seus exércitos reunidos para guerrearem contra aquele que está montado no cavalo e contra o seu exército. Mas a besta foi presa, e com ela o falso profeta . . . Os dois foram lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre (Apoc. 19:19, 20, NVI).

O Armagedom é o resultado de uma apostasia universal com relação a Deus e a

Cristo. A Terra será unida em rebelião religiosa e política contra Cristo e Seus verdadeiros seguidores. Qualquer conflito político ou militar entre nações do Oriente e do Ocidente não conhece a condição fundamental para o Armagedom – que todas as forças políticas e militares da Terra omitem suas diferenças mútuas e se unem em guerra contra o Deus da Bíblia e contra aqueles que O adoram de acordo com as Escrituras. Esta questão do Armagedom já era central nos salmos reais. De acordo com eles, o Rei Davídico empreenderá uma guerra final contra todos os que conspiraram contra o soberano Deus de Israel e decidiram destruir o povo da aliança de Deus (Salmos 2, 18, 20, 21, 110, e outros). Os salmos reais estão baseados na

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aliança davídica (veja 2 Sam. 7:12-16) e transmitem a única esperança para o futuro do mundo: o reinado universal do Messias.

O Salmo 2 em Sua Perspectiva do Tempo do Fim

O Salmo 2 e suas aplicações do Novo Testamento tornam claro que a batalha

final e conclusiva na Terra centraliza-se na questão religiosa da vontade de Deus como revelado em Sua aliança com Israel. O salmo começa com a surpreendente pergunta: "Por que se enfurecem as nações e os povos conspiram em vão?" A idéia aqui não é que alguns países empreendem guerra entre si, mas o de uma conspiração de nações na "terra" (três vezes) contra o rei teocrático no Monte Sião.

Os reis da terra tomam posição e os governantes conspiram unidos contra o SENHOR e contra o seu ungido, e dizem: “Façamos em pedaços as suas correntes, lancemos de nós as suas algemas!” (versos 2, 3).

O motivo das nações gentílicas não é lutar por mera independência política e

econômica. Antes, eles se uniram "contra o SENHOR e contra o seu ungido" (verso 2)! Eles se rebelam contra o Deus da aliança de Israel e o Messias por razões religiosas; eles se revoltam contra a soberania de Yahweh. O conflito é portanto essencialmente de natureza religiosa: Quem é o soberano Governante do mundo? Os líderes das nações expressam seu ódio contra Yahweh rejeitando suas "correntes" ou laços, uma aparente referência às leis de adoração e moralidade da aliança de Deus com Israel. O Novo Testamento ensina que o homem natural é basicamente egocêntrico e portanto por natureza em guerra com o Deus de amor altruísta. "A mente pecadora é hostil a Deus. Não se submete à lei de Deus, nem pode fazê-lo" (Rom. 8:7, New International Version).

O que a Escritura chama de coração carnal está em conflito fundamental com a lei espiritual de Deus (veja Gál. 5:16, 17 e Rom. 7:14-25). Visto que Cristo é a incorporação da lei e do amor de Deus, a humanidade impenitente está em guerra com Cristo e Sua justiça. A guerra do Sinédrio em Jerusalém contra Cristo e Seus apóstolos poderia bem ser, de acordo com Gamaliel, lutar contra Deus (Atos 5:39). Cristo Se identifica completamente com o Seu povo. Ele perguntou a Saulo que recolhia os cristãos na prisão: "Saulo, Saulo, por que você me persegue?" (Atos 9:4).

Os apóstolos interpretaram sua comissão de pregar a Cristo como o Messias da profecia como uma mensagem autorizada pelo Rei celestial. "e [Deus] nos confiou a mensagem da reconciliação. Portanto, somos embaixadores de Cristo, como se Deus estivesse fazendo o seu apelo por nosso intermédio" (2 Cor. 5:19, 20, NVI). Paulo apelou a cada cristão na Terra a ser "bom soldado de Cristo Jesus" (2 Tim. 2:3) e lutar "o bom combate fé" (1 Tim. 6:12).

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A igreja apostólica viu a rebelião contra o Messias como predita no Salmo 2 cumprida na conspiração de "Herodes e Pôncio Pilatos e ... o povo de Israel" contra Cristo Jesus e Seus apóstolos (veja Atos 4:24-28). Sua interpretação cristológica do Salmo 2 apóia-se na convicção apostólica de que o verdadeiro Israel é representado pela comunidade, ou corpo, de Jesus Cristo, isto é, pela igreja de Cristo. O Novo Testamento declara que o ungido rei de Israel no Salmo 2 achou seu cumprimento Messiânico na ressurreição de Cristo dos mortos (Atos 13: 32, 33) e em Sua entronização celestial como "Senhor e Cristo" (Atos 2:36; Heb. 1:5, 13; 5:5). Ele reina agora atraindo todos os homens a Si por meio da pregação do evangelho, ganhando até mesmo alguns de Seus inimigos mais apaixonados, como Saulo de Tarso.

O Salmo 2 alcances seu clímax no apelo de Yahweh para todos os gentios: "Beijem o Filho" (Sal. 2:12), quer dizer, reconheçam a monarquia suprema e autoridade do Messias de Israel. O ato de reverência e adoração receberá aprovação divina e bênção. Por outro lado, o Messias executará a justiça de Yahweh contra todos os zombadores de Sua autoridade e reinado (verso 9).

O livro de Apocalipse alcança seu clímax na consolação de que o Salmo 2 será cumprido em sua perfeição quando Cristo voltar como o juiz divino e rei para trazer a justiça a todas as forças ímpias e anticristãs na Terra. "Ele as governará com cetro de ferro" (Apoc. 19:15; veja também Sal. 2:9).

Em resumo, a mensagem do Novo Testamento diz que o Salmo 2 é progressivamente cumprido no ministério de Cristo:

1. em Sua entronização celestial como sacerdote-rei (Sal. 2:7 ). 2. em Seu presente reinado em superar a hostilidade do homem contra Sua graça

e justiça (versos 10-12). 3. em Sua vinda como o juiz e testamenteiro da justiça divina para todas as

nações (verso 9). (Para um tratamento em profundidade do Salmo 2, veja meu livro Deliverance in

the Psalms. Messages of Hope for Today, Berrien Springs, Mich.: First Impressions, 1983], pp. 51-60).

Este tripla aplicação cristológica do Salmo 2 estabelece o princípio de que o salmo – com sua guerra apocalíptica de Yahweh – deve ser aplicado por meio da cruz, da Ressurreição, da Ascensão, e da Segunda Vinda de Cristo. A cruz transforma os termos hebraicos e imagens em categorias cristológicas. A guerra contra Deus é a guerra contra o povo espiritual de Cristo. O Armagedom é a resposta do Céu aos gritos do Israel de Deus pela libertação do opressor babilônico. O Apocalipse apresenta só dois exércitos em contraste no confronto do Armagedom. De um lado estão "os reis do mundo inteiro" que seguem as autoridades religiosas apóstatas e os espíritos de demônios (Apoc. 16:14), enquanto do outro lado estão "os reis do Oriente" (verso 12), que vêm trazer juízo nesta conspiração universal contra o Israel de Deus.

Os dois tipos de "reis" adversários levaram muitos expositores da Bíblia à convicção de que "os reis do Oriente" não pertencem ao mundo babilônico mas antes são os redentores celestiais do povo de Deus. Estes libertadores reais não poderiam ser líderes humanos porque "os reis do mundo inteiro" foram enganados para se unir à

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Babilônia (verso 14). No contexto do Armagedom João duas vezes chama Cristo "Senhor dos senhores e Rei dos reis" (Apoc. 17:14; 19:16); a razão disso é que Ele conduzirá "os exércitos do céu" (verso 14) a nosso planeta para concluir a guerra cósmica entre Deus e Satanás sobre sua monarquia. Será, portanto, "a batalha do grande dia do Deus todo-poderoso" (Apoc. 16:14).

A batalha do Armagedom é a última praga a cair do céu sobre Babilônia. Aqueles que querem deixar a cidade condenada têm que fazê-lo antes das pragas começarem a cair e antes do fim da prova humana. Em Sua providência Deus proveu uma chamado final para fugir da Babilônia no tempo do fim. Aqueles que obedecem o ultimato divino virão a ser o povo remanescente final de Deus. Carruagens Divinas de salvação os salvarão do Armagedom. Para eles o Armagedom será o dia de libertação!

A CRISE DO TEMPO DO FIM PARA O POVO DE DEUS Os profetas do Antigo Testamento tinham descrito o clímax da história humana

em termos de uma conspiração universal das nações contra o Israel de Deus. As multidões hostis finalmente planejarão um golpe mortal contra a comunidade Messiânica. A perspectiva profética de Joel mostra o fiel remanescente de Israel que busca um último refúgio no Monte Sião, no santuário de Yahweh. Nesta colocação da emergência final, Joel anuncia a certeza de que "então todo aquele que invocar o SENHOR pelo nome será salvo: porque quando o SENHOR der a palavra ainda haverá sobreviventes no Monte Sião e em Jerusalém um remanescente a quem o SENHOR chamará " (Joel 2:32, NEB)

O mesmo princípio fundamental de libertação para o remanescente de Israel do tempo do fim aparece também no livro apocalíptico de Daniel. "Naquele momento Miguel aparecerá, Miguel o grande capitão, que monta guarda sobre seus compatriotas; e haverá um tempo de angústia como nunca houve desde que eles se tornaram uma nação até aquele momento. Mas naquele momento o povo será liberto, todo aquele que está escrito no livro" (Dan. 12:1, NEB).

Também o oráculo de Obadias sobre a guerra de Yahweh contra Edom termina com a esperança: "Mas no monte Sião estarão os que escaparam; ele será santo" (verso 17, NVI). A maioria dos profetas descreve a libertação final do povo de Deus em termos de uma teofania cósmica de Yahweh como libertador celestial.

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Sofonias caracteriza os sobreviventes em Jerusalém no dia do SENHOR como "os mansos e humildes, que se refugiarão no nome do SENHOR. O remanescente de Israel não cometerá injustiças; eles não mentirão, nem se achará engano em suas bocas" (Sof. 3:12, 13, NVI). Então o Senhor agirá "contra todos os que oprimiram vocês" (verso 19). A perspectiva apocalíptica usual dos profetas era que Deus proverá um remanescente fiel, humilhe e santo de Israel que adora Deus em Espírito e em verdade. Ele os libertará no Monte Sião quando Ele vier como guerreiro divino no dia do Senhor. O Apocalipse adota a perspectiva de uma guerra universal contra o Israel de Deus e a transforma nos termos de Cristo e Seus verdadeiros seguidores (Apoc. 12-19). O livro agora apresenta o drama do fim como uma guerra religiosa-política do "dragão" contra Cristo e Seu fiéis em todos os lugares. "E o dragão se enfureceu contra a mulher, e foi empreender guerra ao resto da descendência dela, quer dizer, àqueles que guardam os mandamentos de Deus e se mantêm fiéis ao testemunho de Jesus. Ele se pôs em pé sobre a praia" (Apoc. 12:17, NEB).

João descreve o "dragão" como um monstro semelhante a besta com um rabo como uma serpente. Tem sete cabeças, cada um portando uma coroa real, e possui dez chifres (verso 3). Então ele identifica o dragão com "a antiga serpente chamada Diabo ou Satanás" (verso 9), uma referência direta à serpente que enganou o homem no Paraíso, de acordo com o primeiro livro da Bíblia.

A conexão inspirada entre o dragão dos últimos dias com o enganador da humanidade no Paraíso indica que a última luta de Satanás contra a humanidade é basicamente da mesma natureza religiosa como o primeiro conflito no Jardim do Éden. A questão será a veracidade e a validez permanente da vontade revelada de Deus ao homem. Do princípio até o fim a serpente-dragão permanece o mesmo Satanás. Ele sempre tem sugerido que a palavra de Deus não é digna de confiança, que a lei moral de Deus é muito restritiva da liberdade humana – assim como nos nega autonomia absoluta – e portanto deve ser mudada, e que a penalidade de Deus como a morte para o transgressor não é verdade porque a morte significa só a transição para uma esfera mais elevada de vida e sabedoria (veja Gên. 3:1-4; Dan. 7:25). Esta grande ilusão só aumentará e alcançará seu clímax no tempo do fim.

Eles serão destruídos, porque não abriram suas mentes para amar a verdade, para achar salvação. Então Deus os põe sob uma ilusão que opera neles para crer a mentira, de forma que todos eles possam ser trazidos a juízo, todos os que não creram a verdade mas fizeram sua deliberada escolha pecaminosa (2 Tess. 2:10-12, NEB).

O ódio de Satanás contra Deus invariavelmente se traduziu em ódio contra o povo da aliança de Deus, como mostra o registro histórico de Antigo e Novo Testamentos em cada página. Os livros apocalípticos de Daniel e João unem-se em descobrir que nosso mundo se tornou o campo de batalha sobre a confiabilidade da palavra de Deus. A serpente reivindicará até o fim que a lei de Deus é desarrazoada e que Sua ameaça de castigar com a morte é pura mentira (cf. Gên. 3:1-4).

Desde que o homem tomou partido na luta espiritual entre Deus e Satanás, a serpente tem estado em guerra contra o povo de Deus. Ele busca destruir os santos da

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face da Terra. Seu alvo é atingir o poder de Deus sem ter o caráter de Deus, receber a adoração cósmica de todas as criaturas sem ser o Criador, governar incontestado no universo sem amar a criação.

A característica das sete cabeças coroadas obviamente aponta à estratégia de Satanás de empregar poderes políticos e militares para proscrever e executar o Israel de Deus. A crise do fim chegará quando Satanás tem sucesso ao enganar todas as nações por meio de sinais sobrenaturais para uni-los em rebelião contra o Deus de Israel. Dentro da estrutura total do Apocalipse, os capítulos 12-14 formam seu coração central. Os três capítulos enfocam a guerra do dragão contra a mulher de Deus depois dela gerar o Messias (Apoc. 12:4-6, 14-17). O modo como Satanás desempenha sua guerra contra Cristo e sua igreja revela-se dramaticamente em Apocalipse 13, às vezes chamado o capítulo do anticristo. O dragão vai à praia e dá boas-vindas a uma besta que sobe fora do mar como seu aliado. Como o dragão, assim esta besta do mar tem sete cabeças, cada uma com "um nome de blasfêmia" e possui dez chifres, cada um com uma coroa real. O dragão então transmite à besta do mar "o seu poder, o seu trono e grande autoridade" (versos 1, 2). O fato de que uma ferida mortal, infligida a uma de suas sete cabeças, foi curada levou "o mundo inteiro" a adorar o dragão e a besta do mar, agora considerada invencível aos olhos de todas as pessoas (versos 3, 4).

O Apocalipse coloca a conexão íntima entre o dragão e a besta em deliberado contraste com a união de Deus o Pai e Seu Filho, o Messias. A besta do mar e o dragão têm o mesmo número de cabeças e chifres (Apoc. 12:3; 13:1), sugerindo uma unidade essencial das duas criaturas. O dragão deu até mesmo à besta o seu trono e poder e autoridade. A cura milagrosa de uma ferida mortal de um de suas cabeças simboliza o poder do dragão para reavivar o seu agente agonizante com o único propósito de enviá-lo em uma missão diabólica: "Foi-lhe [a besta de mar] dado poder para guerrear contra os santos e vencê-los. Foi-lhe dada autoridade sobre toda tribo, povo, língua e nação" (Apoc. 13:7, NVI).

Reciprocamente, Deus enviou o Seu Filho em uma missão em harmonia perfeita com Sua vontade salvadora. Depois que o Cristo tivesse estado mortalmente ferido na cruz, Ele subiu do morto pelo poder de Deus. Então o Pai Lhe deu participação cheia no trono dele e poder e autoridade (Efés. 1:20-22).

O paralelismo da besta do mar e Cristo indica que a besta representa o anticristo como um imitador ou caricatura de Cristo. Para complicar o engano, o dragão estimula outro agente para realizar o seu propósito de governar o mundo. Da mesma maneira que a Divindade consiste em um trindade – o Pai, o Filho, e o Espírito Santo – assim Satanás cria sua falsa trindade. Como dragão, ele emprega, portanto, um segundo poder, uma "besta, que sai da terra" que tem dois chifres como cordeiro mas fala como dragão (Apoc. 13:11). Sua missão será exaltar a besta do mar e –por meios de milagres enganosos – levar o mundo inteiro a adorar a besta de mar revivida (verso 14). O Apocalipse se refere à segunda besta como "o falso profeta" (Apoc. 19:20; 16:13). "O falso profeta" atua como a falsificação do Espírito Santo. Enquanto o Espírito de Deus veio como o Espírito da verdade para trazer glória a Cristo (João 16:13, 14), o falso

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profeta por seus milagres engana o mundo inteiro forçando todos os homens a adorar uma "imagem" do anticristo (Apoc. 13:14, 15).

O Apocalipse expressa a natureza coercitiva desta falsa adoração por meio do obrigar político de um "marca da besta" (Apoc. 19:20; 13:16). Cristo chama Sua igreja por este meio a estar acordada às questões nos conselhos legislativos das nações. A consciência ligada pela Palavra de Deus na Escritura Sagrada é um direito humano inalienável como também uma responsabilidade solene a ser exercitada diante de Deus. A consciência humana é o último campo de batalha das forças do bem e do mal. A crise final da história será um dilema religioso e moral que cada pessoa tem que enfrentar individualmente. Deus dirige o seu ultimato para cada indivíduo: "Se alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mão, também esse beberá do vinho da cólera de Deus" (Apoc. 14:9, 10, RA). Estar do lado de Cristo ou estar do lado do anticristo – essa é a questão final! “Aqui é onde a fortaleza do povo de Deus tem seu lugar – guardar os mandamentos de Deus e permanecer leal a Jesus " (Apoc. 14:12, NEB).

O medo de boicote público e morte parece motivar muitos a tomar o partido dos poderes políticos governantes. Cristo nos ensinou por palavra e exemplo, porém, que em assuntos de adoração divina, está em jogo a vida eterna. Ele considerou o companheirismo com o Pai de suprema importância para Sua própria vida. Seu maior medo era ser abandonado por Deus. No Getsêmani Ele lutou com a submissão de sua própria vontade à do Pai chora, clamando: "Pai, se queres, afasta de mim este cálice; contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua" (Luc. 22:42). Assim Ele praticou Seu conselho: "Não tenham medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Antes, tenham medo daquele que pode destruir tanto a alma como o corpo no inferno" (Mat. 10:28, NVI; cf. Luc. 12:5). O exemplo de Cristo dá ao crente coragem para entrar no conflito final de Apocalipse 13. Desmond Ford descreve as implicações para a última geração de cristãos:

Este capítulo [Apocalipse 13] aponta para a crise longamente antecipada no término dos séculos – a crise que prenuncia o Dia do Senhor e o Armagedom. O Armagedom é para a igreja o que o Calvário era para Cristo – o último conflito, a face escondida de Deus, a ameaça de extinção, mas a máxima libertação (Crisis: A Commentary on the Book of Revelation [New Castle, Calif., 1982], Vol. II, pág. 578).

Em oposição às demandas do anticristo, o Apocalipse coloca as eternas reivindicações de Deus ao homem:

Ele clamou em alta voz, "Temei a Deus e rendei-lhe homenagem; porque chegou a hora do seu juízo! Adorai o que fez o céu e a terra, o mar e as fontes das águas” . . . Ainda um terceiro anjo seguiu, clamando em alta voz: "Aquele que adorar a besta e sua imagem e receber sua marca em sua fronte ou sobre sua mão, ele beberá o vinho da ira de Deus, vertido não diluído no cálice de sua vingança. Ele será atormentado com fogo e enxofre diante dos santos anjos e diante do Cordeiro" (Apoc. 14:7-10, NEB).

Deus envia três anjos para anunciar sua advertência final a todos os que vivem na Terra para neutralizar a obra dos "três espíritos imundos" (versos 6-9; 16:13, 14). Os anjos insistem com os santos a permanecerem leal aos mandamentos de Deus e serem "fiéis a Jesus" (Apoc. 14:12).

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Enquanto os três espíritos satânicos influenciam as leis políticas do mundo inteiro "para reuni-los para a batalha" contra Deus no Armagedom (Apoc. 16:14, 16), os três anjos santos de Deus pleiteiam para que todos os crentes deixem Babilônia e se levantem com o Cordeiro no Monte Sião (Apoc. 14:1; 18:4).

As Falsas Reivindicações do Anticristo

As taças celestiais da ira em Apocalipse 16 especificam em mais detalhe o

conteúdo do dia da ira com que o capítulo 6 terminou. A série de juízo das sete pragas "seu clímax na destruição da rameira'' (J. M. Ford, Revelation, pág. 120). Baseado no fato de que o Apocalipse como um todo segue o modelo do esboço de Ezequiel – apostasia, julgamento, e restauração final – J. Massyngberde Ford conclui que a prostituta Babilônia do livro de Apocalipse designa não o Império romano mas uma pervertida "Jerusalém" o "Israel infiel" da Era Cristã (ibid., pp. 282-288). Em outras palavras, a Babilônia moderna não é um poder ateu mas o infiel povo do Deus da aliança que se comporta como a antiga Babilônia. A sugestão dela ganha peso se nós consideramos o seguinte testemunho bíblico:

Cinco profetas hebreus tinham caracterizado as tribos apóstatas de Israel – inclusive Judá – do seu próprio tempo como uma "prostituta", como uma esposa adúltera de Yahweh (Osé. 2:5; 3:3; 4: 15; Isa. 1:21; Miq. 1:7; Jer. 2:20; 3:1, 6-10; veja especialmente Eze. 16 e 23). Mais que qualquer outro profeta, Ezequiel acusou Jerusalém em termos gráficos de ter agido como "prostituta descarada [sem vergonha]" com o Egito, Assíria, e Babilônia (Eze. 16:26-30).

Por causa de suas relações de amor ilícitas, Deus julgará Israel em Sua ira santa reunindo os mesmos amantes contra ela. Eles despojarão sua nudez, roubarão suas pedras preciosas, e finalmente a cortarão em pedaços com suas espadas e queimarão completamente suas casas (versos 37-41). O antítipo apocalíptico deste juízo sobre o Israel caído é aplicado em Apocalipse 17 à prostituta Babilônia. "Quanto aos dez chifres que você viu, eles odiarão a prostituta; eles despojarão sua nudez e a deixarão devastada, devorarão a sua carne e a queimarão no fogo" (Apoc. 17:16, NEB).

A acusação de Deus contra Seu povo da antiga aliança era bastante específica: "Pois elas cometeram adultério e há sangue em suas mãos. Cometeram adultério

com seus ídolos; até os seus filhos, que elas geraram para mim, sacrificaram aos ídolos. Também me fizeram isto: ao mesmo tempo contaminaram o meu santuário e profanaram os meus sábado" (Eze. 23:37, 38, NVI).

O santuário e o sábado eram os pilares básicos de Israel para adorar a Deus como Criador e Redentor. Isto fez Israel ser único em religião e ética. Deus ainda mede tanto a apostasia como a reforma por estas verdades sagradas que conectam o céu e a Terra. A máxima responsabilidade da adoração cúltica de Israel e vida moral baseia-se especificamente no sacerdócio ordenado.

Dentro do simbolismo geral de Jerusalém como adúltera o enfoque central portanto se concentra especialmente no sacerdócio corrupto (ibid., pág. 285). De maneira interessante, o rolo Qumran acusou Jerusalém novamente de apoiar um

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sacerdócio ímpio que tinha iniciado uma apostasia litúrgica no santuário e tinha promovido injustiça social às custas do pobre (ibid., pág. 286).

Várias características da prostituta apocalíptica apontam a uma apostasia renovada na igreja Cristã: (1) ela segura um cálice dourado em sua mão (Apoc. 17:4); (2) ela escreveu em sua fronte um nome de significado místico: "Babilônia, a grande, a mãe das meretrizes e das abominações da terra" (verso 5); (3) ela está "embriagada com o sangue dos santos", os mártires de Jesus (verso 6).

Seu vestido colorido de púrpura e escarlata, adornado com ouro, pedras preciosas, e pérolas, nos faz lembrar imediatamente do sumo sacerdote de Israel que usava as mesmas cores e de quem peitoral tinha doze pedras preciosas dispostas em ouro (veja Êx. 28:5, 15-20). A inscrição misteriosa na fronte da rameira, "Babilônia, a grande", podemos ver então como a contraparte do gravura na fronte do sumo sacerdote: "Santidade ao SENHOR" (veja Êx. 28:36, 38). Em outras palavras, o quadro da adúltera de Apocalipse sugere uma paródia do sumo sacerdote de Israel, uma apostasia religiosa de magnitude universal dentro da cristandade. O anticristo tem sido chamado até mesmo de "sacerdote-corrupto" da Era Cristã (ibid., pág. 288). Reivindicando o ministério sagrado de salvação – "o cálice da salvação" no santuário (cf. Sal. 116:13) – ela oferece confusão religiosa e moral ao invés de seu cálice dourado cheio do vinho de Babilônia (cf. Apoc. 14:8). Babilônia insiste aparentemente na coação legal de seus dogmas religiosos pelos poderes do estado de forma que os dissidentes possam ser processados e em última instância executados (Apoc. 17:1-6).

A antiga Jerusalém já era a assassina dos profetas de Deus (veja Mat. 23:29-39). Se existe uma correspondência básica da apostasia de Israel e a apostasia da igreja, pode-se esperar que o anticristo corrompa o método de salvação da nova aliança e seu sábado sagrado. Antecipando uma apostasia fundamental dentro da igreja apostólica, Paulo começou a admoestar os anciãos de igrejas locais para preparados para a vindoura distorção do evangelho apostólico:

Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue. Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles (Atos 20:28-30, RA).

Se, na verdade, vindo alguém, prega outro Jesus que não temos pregado, ou se

aceitais espírito diferente que não tendes recebido, ou evangelho diferente que não tendes abraçado, a esse, de boa mente, o tolerais (2 Cor. 11:4, RA).

O apóstolo Paulo percebeu que "a rebelião final contra Deus" seria desmascarada

em todo seu engano só no "tempo adequado" da história e que só o aparecimento glorioso de Cristo a destruirá (2 Tess. 2:3-8).

O Apocalipse de João contém o convite final de Cristo a todos os que vivem na Terra para deixar Babilônia e vir ao Monte Sião como o Israel de Deus (Apoc. 18:4; 14:1), separar-se da rameira (Apoc. 17), e se unir à mulher de Deus (Apoc. 12). A questão é basicamente uma questão de adoração leal ou desleal ao Criador (Apoc.

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14:7, 9-11). O aceitar a marca da besta está em contraste direto ao recebimento do selo do Deus vivo. O conflito final gira sobre a validez permanente dos mandamentos originais de Deus e a fé apostólica em Jesus (Apoc. 14:12). O centro do último conflito religioso repousa, então, na verdadeira interpretação da lei moral de Deus e o evangelho de Jesus Cristo na Escritura Sagrada. Não é até que Deus estabeleça claramente diante do povo a questão da autoridade de Escritura Sagrada relativo à lei e o evangelho, “e este seja levado a optar entre os mandamentos de Deus e os dos homens, é que, então, aqueles que continuam a transgredir hão de receber ‘o sinal da besta’ ” (White, O Grande Conflito, pág. 449). Esta será a controvérsia final da última geração no mundo inteiro (Apoc. 14:6, 9-12).

Tipos Históricos do Drama Final

O primeiro mártir por sua fé foi Abel. Caim irou-se contra seu irmão porque

Deus aceitou a oferta de Abel, enquanto Ele recusou aceitar a de Caim. Assim "Caim atacou seu irmão Abel e o matou" (Gên. 4:8). Este ódio fatal entre adoradores do mesmo Deus é o protótipo da guerra amarga do anticristo contra a verdadeira igreja de Cristo. A questão final se centrará novamente na adequada adoração de Deus.

Duas narrativas do livro de Daniel iluminam especificamente a questão religiosa no drama apocalíptico. Nabucodonosor, rei de Babilônia, tinha erguido uma imagem de ouro na planície de Dura. Ele comandou que todos "prostrem-se em terra e adorem a imagem de ouro" assim que eles ouvissem o som da corneta e outros instrumentos musicais (Dan. 3:1-5) em sua cerimônia de dedicação. Seu decreto totalitário não permitiu nenhuma liberdade de consciência. "Quem não se prostrar em terra e não adorá-la será imediatamente atirado numa fornalha em chamas" (verso 6, NVI). Três funcionários governamentais judeus, em lealdade a Yahweh, persistentemente recusaram obedecer seu comando real.

Quando o rei enfurecido os desafiou com a pergunta "Que deus poderá livrá-los das minhas mãos?" (verso 15, NVI), eles responderam com coragem exemplar: "O Deus a quem prestamos culto pode livrar-nos, e ele nos livrará das tuas mãos, ó rei. Mas, se ele não nos livrar, saiba, ó rei, que não prestaremos culto aos teus deuses nem adoraremos a imagem de ouro que mandaste erguer" (versos 17, 18, NVI).

Expositores reconheceram esta história comovente de prova de lealdade em face da morte pelos funcionários hebreus em Babilônia e de sua libertação divina como um tipo significante da crise do tempo do fim para a igreja de Deus na Babilônia moderna. Tanto Daniel 3 (o tipo) como Apocalipse 13 (o antítipo) mencionam um decreto de morte emitido por legisladores relativo a uma questão religiosa. Ambos os livros apocalípticos descrevem uma "imagem" que Babilônia ergue como o máxima prova de fé para o Israel de Deus. Em ambas as situações os poderes governantes obrigam a falsa adoração com penalidade de morte. Daniel 3 dá conta da libertação surpreendente de três funcionários hebreus fiéis depois de eles serem condenados legalmente e executados. Tais salvamentos não são característicos para todos os verdadeiros crentes. Muitos se tornaram mártires ou exilados e não receberam "o tinha

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sido prometido" (veja Heb. 11:37-40. Apoc. 6:9-11). João viu muitos "que foram decapitados por causa do testemunho de Jesus e da palavra de Deus. Eles não tinham adorado a besta nem a sua imagem, e não tinham recebido a sua marca na testa nem nas mãos" (Apoc. 20:4, NVI).

A narrativa de Daniel antes serve como um tipo para indicar como Deus livrará os santos na crise final. Alguns serão decapitados, enquanto outros só serão executados judicialmente e fogem da morte presente. Os fiéis sobreviventes estarão com o Cordeiro como a contraparte dos hebreus leais que entraram na fornalha ardente junto com Um que era como "um filho dos deuses" (Dan. 3:25).

A história da lealdade pessoal de Daniel para com Deus quando enfrentou um decreto de morte político (Dan. 6) uma vez mais assegura a promessa de salvamento divino para o remanescente final. Os funcionários governamentais persas tentaram achar acusação contra Daniel concernente à sua lealdade política mas não conseguiram. “Finalmente esses homens disseram: “Jamais encontraremos algum motivo para acusar esse Daniel, a menos que seja algo relacionado com a lei do Deus dele’ ” (verso 5, NVI). Enganando o Rei Dario, eles tiveram sucesso em emitir uma lei que proibia oração a qualquer um a não ser ao rei por 30 dias, sob pena de morte. Recusando comprometer sua consciência religiosa, Daniel continuou dando glória ao Deus de Israel três vezes ao dia. Condenado pela nova lei, ele foi lançado na cova dos leões. Mas Daniel sobreviveu à prova porque Deus enviou o Seu anjo dele, e "fechou as bocas dos leões" (verso 21).

Esta conta usa o verbo salvar enfaticamente cinco vezes. Como Daniel foi assim achado "inocente" aos olhos de Deus, o rei mandou lançar os seus falsos acusadores na cova dos leões (verso 24). Em outras palavras, eles receberam o mesmo juízo que tramado para Daniel. Assim será no Armagedom ao término da história da salvação. O livro de Daniel termina com a gloriosa promessa que durante a angústia final a intervenção pessoal de Miguel libertará o verdadeiro Israel. "Naquela ocasião Miguel, o grande príncipe que protege o seu povo. . . . Mas naquela ocasião [de angústia final] o seu povo, todo aquele cujo nome está escrito no livro, será liberto" (Dan. 12:1, NVI). O resgate final dos santos incluirá os mártires até mesmo porque Deus os ressuscitará do morto. " Multidões que dormem no pó da terra despertarão '' (verso 2).

As narrativas de Daniel de lealdade religiosa máxima para com a lei sagrada de Deus e de libertação divina (Dan. 3 e 6) provê os tipos imediatos ou prefigurações da crise final para o povo de Deus e sua libertação divina (Dan. 12:1, 2). A mensagem do profeta do Antigo Testamento de esperança serve como o fundo para a crise do tempo do fim predita e o resultado providencial em Apocalipse 13 e 14.

O livro de Ester registra outro drama épico na história de Israel que se encontra e termina em Apocalipse. O rei Persa Xerxes ordenou a todos os seus servos para curvar-se diante de Hamã, seu mais alto funcionário real. O judeu Mardoqueu, da tribo de Benjamim, recusou obedecer uma ordem que parecia pedir honra religiosa a um homem. Em reação, o enfurecido Hamã começou a conspirar a destruição de todo o povo de Deus ao longo das 127 províncias do império de Xerxes, da Índia a Cush [a Etiópia] (Ester 3:1-6). Hamã insistiu com o rei que emitisse um decreto real que

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permitisse a aniquilação do povo judeu porque eles viviam separados da cultura persa e não obedeciam as leis do rei: Não convém ao rei tolerá-los", ele aconselhou Xerxes (verso 8). Depois que ele e o rei lançassem sortes [hebraico: pur], um decreto real fixou o décimo terceiro dia do décimo segundo mês para a eliminação de todos os cidadãos judeus: "exterminar e aniquilar completamente todos os judeus, jovens e idosos, mulheres e crianças, num único dia . . . e de saquear os seus bens"(verso 13, NVI).

Enquanto Hamã preparou a execução de Mardoqueu, a rainha Ester que era a prima de Mardoqueu, informou a Xerxes da conspiração maligna contra o próprio povo dela. O seu apelo foi: "Poupe a minha vida e a vida do meu povo; este é o meu pedido e o meu desejo. Pois eu e meu povo fomos vendidos para destruição, morte e aniquilação" (Ester 7:3, 4, NVI). Quando o rei percebeu que Hamã tinha usado autoridade real para a própria exaltação de primeiro-ministro, ele ordenou que fosse enforcado na própria forca que Hamã tinha preparado para Mardoqueu (versos 9, 10). Então Xerxes emitiu um novo édito real, permitindo que todos os judeus se protegessem e destruíssem seus atacantes (Ester 8:11). "Para os judeus foi uma ocasião de felicidade, alegria, júbilo e honra" (verso 16, NVI). O esquema assassino que Hamã maquinou contra os judeus tinha voltado contra "a sua própria cabeça" (Ester 9:25).

Este drama tem mais que interesse histórico. Podemos ver o decreto de morte do livro de Ester como outro protótipo do decreto de morte apocalíptico de Apocalipse 13:15-17. Enquanto os pontos teológicos básicos de proscrever o povo da aliança de Deus são o mesmo, o impacto futuro acontecerá numa escala global e o salvamento da igreja remanescente será infinitamente mais espetacular e glorioso.

Nesta perspectiva tipológica lemos a Bíblia Hebraica à luz de Cristo e o Novo Testamento e a achamos cheia de esperança e advertência para a igreja hoje. A história de Israel das guerras de Yahweh e sua perspectiva profética no último crise apresentam os tipos e sombras da questão da verdadeira adoração em jogo no Armagedom. O Apocalipse indica como as guerras e triunfos de Yahweh no passado alcançarão o seu clímax cósmico-universal em Cristo como guerreiro divino. A história de Israel também mostra em exemplos práticos como os cristãos podem se preparar para o conflito final com os poderes de escuridão: pela fiel adoração de acordo com a vontade revelada de Deus, como Daniel praticou; por intercessões insistentes junto aos governantes políticos, como Ester fez; por confiança e resposta obediente à aliança de Deus, como os amigos de Daniel manifestaram – em poucas palavras, por humilde andar diariamente com Deus. A graça de Deus é suficiente, porque o Seu poder se aperfeiçoa em nossa fraqueza (2 Cor. 12:9). Se o coração humano se une a Cristo, todas as coisas são possíveis. Aquele que começa com o Senhor também pode terminar com Ele. Cristo promete que "aquele que perseverar até o fim será salvo" (Mat. 24:13).

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O SELO FINAL DE PROTEÇÃO DIVINA

A pergunta quanto a como alguém pode preparar-se para o Armagedom adquire uma urgência crescente. Será muito tarde preparar-se quando nós vermos Cristo vindo em Sua glória. Então "todos os povos da terra se lamentarão" com remorso amargo "por causa dele" (Apoc. 1:7). Então os líderes da terra clamarão aos montes e às rochas: "Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro, porque chegou o grande Dia da ira deles; e quem é que pode suster-se?" (Apoc. 6:16, 17 - RA).

A resposta à pergunta "quem poderá ficar de pé?" (BJ) toma toda a extensão de Apocalipse 7, um dos mais confortantes capítulos do livro. Apresenta "a teologia do remanescente" em João (J. M. Ford, Revelation, pág. 120). Ele vê em uma visão como Deus enviará um anjo especial "subindo do Oriente" para selar "as testas dos servos do nosso Deus" aparentemente para sua proteção contra a destruição cósmico-universal vindoura. "Então ouvi o número dos que foram selados: cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos de Israel" (verso 4, NVI).

A mensagem básica é a certeza de que Deus não destruirá o mundo indiscriminadamente. Deus diferencia entre os que O servem e os que não o servem. Ele decide quem pertence a Ele e quem não. "O Senhor conhece os que lhe pertencem" (2 Tim. 2:19). Malaquias declara:

Depois, aqueles que temiam o Senhor conversaram uns com os outros, e o Senhor os ouviu com atenção. Foi escrito um livro como memorial na sua presença acerca dos que temiam o Senhor e honravam o seu nome. “No dia em que eu agir”, diz o Senhor dos

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Exércitos, “eles serão o meu tesouro pessoal. Eu terei compaixão deles como um pai tem compaixão do filho que lhe obedece. Então vocês verão novamente a diferença entre o justo e o ímpio, entre os que servem a Deus e os que não o servem" (Mal. 3:16-18, NVI).

Estudiosos chamam esta idéia de separar o Israel espiritual do Israel não-espiritual a teologia de um remanescente. Duas situações de crise na história de Israel parecem especialmente atuar como tipos proféticos do selamento apocalíptico do remanescente de Deus antes do Armagedom. O primeiro ocorreu no Egito. Deus ordenou que Israel pusesse o sangue do cordeiro de Páscoa nos batentes e vigas superiores das portas de suas casas. "O sangue será um sinal para indicar as casas em que vocês estiverem; quando eu vir o sangue, passarei adiante. A praga de destruição não os atingirá quando eu ferir o Egito" (Êx. 12:13, NVI). O esguicho de sangue era a marca designada de Deus para Israel de que pertencia a Yahweh. Os que aceitaram o Seu emblema ordenado receberam proteção quando os juízos punitivos de Yahweh caíram sobre o Egito. Israel, por fé e obediência, precisou apropriar-se deste selo da aprovação de Deus.

Nenhum menos significante é a visão de Ezequiel de seis executores angelicais da ira de Deus sobre Jerusalém depois que tivesse recusado se arrepender de sua apostasia e idolatria. Yahweh ordenou que os anjos sacrificassem os idólatras no Templo de Deus e na Cidade Santa. A misericórdia de Deus aparece, porém, ao mesmo tempo em Seu envio com antecedência de um anjo especial com um kit de escritura dos executores com a comissão "Percorra a cidade de Jerusalém e ponha um sinal na testa daqueles que suspiram e gemem por causa de todas as práticas repugnantes que são feitas nela" (Eze. 9:4, NVI).

William H. Shea tira esta conclusão perceptiva: Assim uma diferenciação foi feita neste entre as duas classes do povo em Judá

naquele tempo – o justo e o ímpio – o remanescente a ser salvo e os não remanescentes a serem destruídos. A implicação desta divisão é que a distinção entre os indivíduos nestes dois grupos tinha sido produzida enquanto Yahweh se sentou em juízo em Seu templo. A execução da sentença foi o resultado de decisões alcançado durante a sessão de juízo no templo. Este juízo dos habitantes de Judá era investigativo no sentido de que se tinha chegado a uma decisão em cada caso e como resultado fez-se uma divisão entre estas duas classes de pessoas (Selected Studies on Prophetic Interpretation, Daniel and Revelation Committee Series [Washington, D.C. : Review and Herald Pub. Assn., 1982], Vol. I, pág., 17).

Os selados com o selo de Deus foram protegidos do derramamento da ira de Deus. Eles receberam o selo por causa de seu sincero arrependimento da maldade e idolatria dentro de Israel (veja Eze. 7, 8). Mas quanto ao resto de Israel, "em sua maldade, ela se revoltou contra as minhas leis e contra os meus decretos mais do que os povos e as nações ao seu redor. Ela rejeitou as minhas leis e não agiu segundo os meus decretos" (Eze. 5:6, NVI).

Um Israel arrependido é um Israel espiritual. O juízo destrutivo de Deus é o Seu juízo retributivo: "Então eu, de minha parte, não olharei para eles com piedade nem os pouparei, mas farei cair sobre a sua cabeça o que eles têm feito" (Eze. 9:10, NVI). Deus manifestou Sua misericórdia quando em Seu juízo Ele separou o Israel de Deus de um Israel apóstata. Ele os reservou através de Sua própria marca especial de

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aceitação e propriedade em suas frontes. Assim, primeiro veio o selamento do fiel remanescente de Israel, então seguiu-se a execução de um Israel impenitente.

Em seu contexto histórico o cumprimento primário desta visão solene foi a destruição de Jerusalém e seu Templo por Nabucodonosor em 586 A.C. O Apocalipse de João aplica o mais amplo cumprimento do tempo do fim da visão de juízo de Ezequiel no capítulo 7 como o selamento divino dos 144.000 verdadeiros Israelitas que sobreviverão o dia de ira (versos 1-8). Deus escolhe este remanescente final de Israel como Sua possessão especial num mundo rebelde. Eles sobreviverão ao Armagedom e estarão em pé sobre o Monte Sião junto com o Cordeiro pascoal de Deus (veja Apoc. 14:1-5). Este companheirismo define os 144.000 israelitas como o Israel Messiânico, a igreja universal de Cristo Jesus, quando o sexto selo é aberto (Apoc. 6:12).

Se vemos as 12 divisões tribais, com 12.000 israelitas de cada tribo, como um símbolo da igreja mundial dos 12 apóstolos de Cristo, então nós temos que entender também o número 144.000 igualmente como representante do Israel universal de Deus na crise do fim da história da salvação.

A lista de 12 tribos em Apocalipse 7 é sem igual na Escritura e obviamente simbólico. Coloca Judá como o primeiro em linha, aparentemente para acentuar que Cristo é a cabeça do novo Israel (Apoc. 5:5, 6). Ademais, omite a tribo de Dã e a substitui pela tribo de Manassés que já está incluída em José (Apoc. 7:8) para manter o número 12. A explicação provável da omissão simbólica é a convicção judaica e cristã primitiva de que Dã representava a idolatria e que de Dã emergiria Belial, ou o anticristo (veja Gên. 49:17; Juí. 18:30; 1 Reis 12:29). Em outras palavras, a omissão de Dan também tem significado messiânico. O número 12 e seus múltiplos ocorrem mais de 30 vezes no livro de Apocalipse e a palavra tribo ou tribos 15 vezes.

O estudo de Albert Geyser conclui que as 12 tribos em Apocalipse representam "finalidade cósmica, porque 12 é também o símbolo de conclusão, cumprimento. . . A insistência do Apocalipse nisto pressupõe o cumprimento da promessa da aliança a Davi em 2 Sam. 7:15, as promessas constantes de restauração do seu reino de doze tribos pelos profetas, e a conclusão do esquema cósmico de Deus de renovação do céu e da Terra como Sua habitação, o Seu povo de Israel sob o Seu Messias, e para os gentios que em fé se deram a Ele" him'' (''The Twelve Tribes in Revelation: Judean and Judeo Christian Apocalypticism," New Testament Studies 28 [1982]: 388-390).

João vê em visão a Nova Jerusalém com 12 portas tendo gravados os nomes das 12 tribos de Israel, enquanto seus 12 fundamentos levam os nomes dos 12 apóstolos do Cordeiro (Apoc. 21: 12, 14). Assim Israel e a igreja são declarados um povo de Deus. Douglas Ezell sente que também os 144.000 israelitas verdadeiros de Apocalipse 7 e 14 representam simbolicamente todos os redimidos da humanidade:

Como João usou o título do Antigo Testamento reservado aos israelitas "um reino de sacerdotes" para referir-se a todos os cristãos (veja Apoc. 1:6; 5:9, 10), então agora ele usa os doze (tribos) multiplicado por doze (os apóstolos), multiplicado por dez (o número de perfeição) elevado à terceira potência (o número da deidade) para simbolicamente descrever todos os redimidos (Revelations on Revelation, p. 60).

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Significante é a descrição de João que ele só “ouviu o número” dos israelitas selados (Apoc. 7:4), enquanto assim que ele “olhou” ele viu “grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos” (verso 9, RA). Esta conexão auto-explicativa entre o que o João ouve e o que ele vê já apareceu no capítulo 1, onde João “ouviu” atrás de si “uma voz forte como de trombeta”. Então ele "voltou-se para ver quem falava", e ele viu a Cristo (Apoc. 1:10, 12, 13). O que o João vê tem por finalidade ser um esclarecimento adicional do que ele ouviu. O mesmo padrão ocorre novamente no capítulo 5, onde João ouviu um dos anciãos dizer: “ ‘Eis que o Leão da tribo de Judá . . . venceu.’ . . . Depois vi um Cordeiro, que parecia ter estado morto” (Apoc. 5:5, 6). O que o João vê explica o que ele ouviu. Portanto, muitos estudantes de Bíblia consideram a visão de João da multidão vitoriosa de todas as nações como a explicação divina do número 144.000 israelitas triunfantes no tempo do fim. Deus prometeu que os descendentes de Abraão seriam "como a areia do mar, uma multidão que não pode ser numerada" (Gên. 32:12, NKJV; veja também Gên. 15:5; Gál. 3:7, 29).

João menciona duas características específicas da multidão incontável que ele viu: " Estes são os que vieram da grande tribulação e lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro." (Apoc. 7:14, NVI).

Primeiro, são os santos cristãos, embora sejam judeus ou gentios, porque crêem no sangue expiatório de Cristo como o Cordeiro de Deus. Segundo, todos eles sobrevivem "a grande tribulação" ou tempo de perseguição. A distinção entre a visão do anjo do Oriente com respeito ao selamento do remanescente de Israel e a visão da grande multidão é uma progressão histórica. O selamento dos 144.000 em Apocalipse 7 coloca o Israel de Deus ainda na Terra, anterior à crise final de fé, enquanto a visão dos santos vitoriosos, com palmas em suas mãos, os tem na glória divina, diante do trono de Deus. Eles já "vieram da grande tribulação". Pode-se assim observar progressão na história da salvação em Apocalipse 7. Parece razoável concluir que a multidão vitoriosa no céu deve representar os santos de toda a história humana, incluindo os 144.000 do tempo do fim, o Israel de Deus.

Tal conclusão está em harmonia com o resto do Novo Testamento, porque assume que todos os filhos de Deus passam por tribulações e sofrimentos por Cristo (veja Heb. 11:24-26; atos 14:22; 2 Tim. 3:12; 1 Tess. 3:3). Paulo declara até mesmo que nós somos "co-herdeiros com Cristo, se de fato participamos dos seus sofrimentos, para que também participemos da sua glória" (Rom. 8:17, NVI). Todavia, o enfoque principal do livro de Apocalipse definitivamente é a tribulação final na história da salvação e a última geração do Israel de Deus. Parece ser o contexto claro no qual os 144,000 são colocados, como D. Ezell indica:

Com o número simbólico, 144,000, e a grande multidão João pintou um quadro gráfico para responder à pergunta com que Apocalipse 6 terminou: "Porque chegou o grande Dia da ira deles; e quem é que pode suster-se?" (Apoc. 6:17) (ibid., pág. 61).

Apocalipse 12-19 mais especificamente desenvolve o enfoque do tempo do fim e explica por que os 144.000 tomam o estágio central novamente em Apocalipse 14:1-5.

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Eles são os que superaram a ameaça final de Babilônia: o decreto de morte universal contra o Israel de Cristo. Eles preferiram ser leais ao Cordeiro e renderem suas vidas a Ele do que aceitar a marca da besta e morar em Babilônia (Apoc. 13:15-17). Os 144.000 israelitas vieram da "grande tribulação" da última guerra religiosa na história mundial. Como a última legião de leais e consagrados de Cristo eles são simbolicamente representados como 12 unidades de batalha de 12.000 guerreiros, semelhante à legião especial de Moisés de guerreiros consagrados em Números 31:1-7.

O determinado plano de Deus é prevenir o soprar dos ventos de destruição no mundo até que todos os Seus escolhidos legionários tomem o seu posto de fé na crise final da Terra (Apoc. 7:1). Os anjos de destruição esperam sob a ordem restritiva: "Não danifiquem, nem a terra, nem o mar, nem as árvores, até que selemos as testas dos servos do nosso" (verso 3, NVI). O número simbólico dos santos selados não implica que a igreja remanescente de Cristo necessariamente seja um pequeno número. "O número 144.000 não denota uma limitação numérica dos que estão selados; simboliza a perfeição final do povo de Deus '' (E. D. Schmitz, in The New International Dictionary of New Testament Theology [Grand Rapids: Zondervan, 1976], vol. 2, pág. 695).

A plenitude dos 144.000 de Israel parece ser antes uma multidão incontável de vencedores cristãos:

Depois destas coisas olhei e vi uma grande multidão que ninguém podia contar, de todas as nações, de todas as tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro. Estavam trajando vestes brancas e tinham palmas nas mãos; e clamavam em grande voz: “Vitória ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro” (Apoc. 7:9, 10, NEB).

Em contraste direto aos que aceitaram a marca da besta, os membros do Israel

espiritual receberam o nome do Cordeiro e de Seu Pai em suas frontes (Apoc. 14:1), o seu sinal de vitória messiânica. Eles tiveram a coragem de confessar a Cristo como o Senhor e comandante de suas vidas. Sua vitória sobre o anticristo é a derrota de Satanás. O povo de Deus só triunfou por causa de sua união com Cristo em Sua morte e ressurreição (Apoc. 12:11). Como vencedores do anticristo, receberão vestes brancas de Cristo, da mesma maneira que todos os prévios conquistadores de fé os receberão (Apoc. 3:4, 5, 18).

As Vestes Brancas

No Antigo Testamento as vestes coloridas do povo de Israel e de seus sumo

sacerdotes portavam significado religioso (Núm. 15:37-41; Êx. 28). O sumo sacerdote diariamente usava vestes de linho fino trançado com fios de ouro e fios de tecidos azul, roxo e vermelho e um peitoral com pedras preciosas montadas em fixações de ouro. Na sua testa ele usava um prato de ouro gravado com as palavras "Santidade a Yahweh" (veja Êx. 28:36). Isaías regozijou-se na restauração de Israel depois do Exílio nestas palavras: ''porque me cobriu de vestes de salvação e me envolveu com o

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manto de justiça" (Isa. 61:10, RA). E Salmo 132:16 canta do sacerdócio de Israel: "Vestirei de salvação os seus sacerdotes". Mais tarde Cristo usou a veste de bodas como uma metáfora do perdão e aceitação divina em Sua parábola do banquete de bodas (Mat. 22:11).

O livro de Apocalipse freqüentemente emprega a veste branca como o veste escatológica prometida a todos os seguidores de Cristo e vencedores. Representa pureza e justificação divina, vitória e vindicação divina no último juízo. Durante o quinto selo apocalíptico o veredicto de Deus no tribunal divino vindicará os mártires. "Então cada um deles recebeu uma veste branca" (Apoc. 6:11). É uma triste realidade na vida que os cristãos freqüentemente poluem sua veste, recebida no batismo, por deslealdade e indolência (Apoc. 3:4). Cristo atrai então a todos os Seus seguidores professos a serem vencedores e manter suas vestes brancas de forma que seus nomes permanecerão no livro da vida (versos 5, 18). O último desafio e ameaça vêm durante o escatológico tempo de angústia, a grande tribulação de Daniel 12:1. Então Deus desperta cada crente para lutar a última batalha da fé num tempo de amarga perseguição. Apesar de fracassos prévios, o crente em Cristo pode então renovar a aliança com Deus e em nova consagração lavar sua veste de caráter. Em uma surpreendente figura de linguagem o anjo intérprete explica como os crentes poderão ficar em pé na provação final: “Então ele me disse: ‘Estes são os que atravessaram a grande provação; eles lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro’ ” (Apoc. 7:14, NEB).

A participação do sangue vital expiatório de Cristo traz justificação divina, santificação, e glorificação. Mas fé salvadora é possessão de fé, uma fé que o cristão tem que exercer diariamente. A última bem-aventurança do Apocalipse declara: "Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que lhes assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas" (Apoc. 22:14).

Jesus já tinha dito: "Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus" (Mat. 5:8, RA). Nenhuma outra preparação servirá aos santos para o Armagedom: "Eis que venho como vem o ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia e guarda as suas vestes, para que não ande nu, e não se veja a sua vergonha" (Apoc. 16:15, RA).

Para estar firme na crise futura, o filho de Deus deve viver uma vida santificada consistente agora e deve ter certeza em seu coração da salvação presente. Já em seus dias Paulo insistia: "Agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação!" (2 Cor. 6:2, NVI). O tempo de ir a Cristo, render-se a Cristo como o Senhor, e aceitar Seu dom de uma nova relação com Deus é agora! Cristo Se oferece como o Cordeiro de Deus para todos os que se sentem indignos diante de um juiz santo, para todos os que precisam de perdão divino de pecados. O ato judicial de Deus de colocar o crente arrependido como justo diante dEle por Sua graça nós não achamos exibido em nenhuma parte mais graficamente que em uma visão do profeta pós-exílico Zacarias. Ele vê Josué, o sumo sacerdote, que representou o remanescente de Israel que tinha voltado do cativeiro babilônico, em pé na presença de Deus. O profeta ouve Satanás acusar Josué de ser indigno de salvação. Mas Deus rejeita o pedido de Satanás por

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mais castigo de Israel. No tribunal do céu a graça salvadora de Deus resulta na justificação daquele Israel arrependido:

“Não é este homem um tição tirado do fogo?” Ora, Josué estava usando roupas imundas em pé diante do anjo; e o anjo voltou-se e disse aos que estavam diante dele: “Tirem suas roupas imundas”. Depois ele tornou a dizer a Josué: “Veja como tirei a culpa de você, e porei em você vestes finas” (Zac. 3:2-4, NEB).

Esta maravilhosa mudança de veste branca por roupas sujas é o chamado para

servir Deus, com a promessa adicional de glorificação eterna: Se você andar nos meus caminhos e obedecer aos meus preceitos, você governará a

minha casa e também estará encarregado das minhas cortes, e eu lhe darei um lugar entre estes que estão aqui (verso 7, NVI).

Enquanto o perdão de pecados e a vida santificada é a experiência dos

verdadeiros santos em todas as idades (veja Salmo 32; Rom. 4:4-8), a redenção adiciona um significado intensificado para a geração final do povo. Eles terão que conhecer o último teste de lealdade a Cristo.

A necessidade de um vivo companheirismo com Cristo é o mais urgente para a última geração de cristãos. Aos que entesouram sua comunhão com Cristo mais que a vida e então recusam a marca da besta e sua imagem, o Senhor concede o selo divino de aprovação e sobrevivência. Ele os reconhece assim como seus próprios e os salvaguarda contra a ira divina sobre Babilônia e seu Armagedom. O próprio Deus os vindica e os sela para a trasladação ante a última trombeta (cf. 1 Cor. 15:51-55; 1 Tess. 4:16, 17).

O Selo de Evangelho e o Selo Apocalíptico

Há um real perigo de confundir o selo apocalíptico de Deus no fim do tempo com

o selo do evangelho que todos os cristãos recebem quando chegam à fé em Cristo e se unem a Ele no batismo. Cada crente renascido recebe o Espírito Santo em Seu batismo como o selo da redenção.

Quando vocês ouviram e creram na palavra da verdade, o evangelho que os salvou, vocês foram selados em Cristo com o Espírito Santo da promessa, que é a garantia da nossa herança até a redenção daqueles que pertencem a Deus, para o louvor da sua glória (Efés. 1:13, 14, NVI).

Não entristeçam o Espírito Santo de Deus, com o qual vocês foram selados para o dia da redenção (Efés. 4:30, NVI).

Ora, é Deus que faz que nós e vocês permaneçamos firmes em Cristo. Ele nos ungiu, nos selou como sua propriedade e pôs o seu Espírito em nossos corações como garantia do que está por vir (2 Cor. 1:21, 22, NVI).

De acordo com o ensino apostólico, todo crente renascido em Cristo recebeu o

selo da propriedade de Deus em seu coração quando ele foi ungido com o Espírito Santo. “Pois vocês não receberam um espírito que os escravize para novamente

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temerem, mas receberam o Espírito que os adota como filhos, por meio do qual clamamos: ‘Aba, Pai’ ” (Rom. 8:15).

A unção do Espírito se refere ao batismo do crente na água e no Espírito (veja João 3:5; 1 João 2:20, 27; 1 Cor. 12:13). Nós observamos uma real semelhança aqui com o próprio batismo de Jesus, onde Deus colocou Seu "selo de autoridade” (João 6:27, NEB) ou "selo de aprovação'' (NVI) em Cristo quando o Espírito Santo desceu sobre Ele como uma pomba. Do céu uma voz disse: “Tu és o meu Filho amado; em ti me agrado” (Luc. 3:21, 22). A divina certeza de ser filho de Deus é oferecida agora a todo o mundo que crê em Cristo:

Pedro respondeu: “Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos seus pecados, e receberão o dom do Espírito Santo. Pois a promessa é para vocês, para os seus filhos e para todos os que estão longe, para todos quantos o Senhor, o nosso Deus, chamar” (Atos 2:38, 39, NVI).

O Espírito de Deus "sela" o crente como herdeiro de Cristo e o chama a perseverar na fé até o fim (Mat. 24:13; Rom. 5:1-5). Cristo insiste com todos os Seus seguidores:

Seja fiel até a morte, e eu lhe darei a coroa da vida (Apoc. 2:10, NVI). Farei do vencedor uma coluna no santuário do meu Deus, e dali ele jamais sairá.

Escreverei nele o nome do meu Deus e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce dos céus da parte de Deus; e também escreverei nele o meu novo nome (Apoc. 3:12, NVI).

A profecia de Apocalipse 7:1-8 preocupa-se com uma situação de crise sem igual quando os fiéis “servos” de Deus (verso 3) coletivamente tenha que enfrentar o teste do tempo do fim de lealdade em face da morte, em resistir o anticristo (Apoc. 13:15-17). Eles precisam de proteção durante os ventos finais de luta universal e derramamento de sangue (Apoc. 7:1, 2) e poder a para ficar em pé no grande dia da ira de Deus (Apoc. 6:17). Os servos de Deus já estão na posse do selo espiritual do Espírito Santo recebido em seu batismo em Cristo. Eles estão portanto "em Cristo". Mas só depois que os servos de Deus do tempo do fim tenham sido testados relativo à marca da besta e tenham sido achados leais até à morte receberão dos anjos de Deus o exclusivo "selo apocalíptico" como a marca de aprovação divina e proteção contra as forças de morte e destruição.

Justamente por isso, os cristãos que por ignorância transgrediram a santa lei de Deus não receberão a marca da besta até depois que tenham sido confrontados com o discutido sinal da supremacia de Deus e tenham voluntariamente rejeitado Sua lei da aliança. Este teste apocalíptico de fé traçará a última linha de demarcação entre o verdadeiro e o apóstata cristianismo diante de Deus.

Podemos ter certeza de que Deus não deixará o mundo em escuridão concernente à questão final de Sua autoridade e vontade. Todos terão luz suficiente para tomar uma decisão inteligente. Na agitação final do anticristo a linha de distinção será delineada cada vez mais publicamente "entre os que servem Deus e os que não servem" (Mal. 3:18).

Em realidade todo o caráter e espiritualidade do adorador virão à luz na hora de decisão apocalíptica. Apocalipse 14:1-4 enfatiza o compromisso total dos 144.000

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verdadeiros israelitas para com Cristo. Eles O "seguem aonde quer que ele vá". O Apocalipse os elogia como as virgens e "primícias para Deus e para o Cordeiro" por causa da qualidade de sua adoração (cf. Rom. 11:16; 2 Cor. 11:2).

L. F. Were descreve suas características distintivas: Esta companhia santa, a última da colheita do mundo, viverá através do período mais

escuro da Terra, num tempo quando os enganos do diabo serão os maiores; e, num tempo quando todo o mundo se maravilhará após a besta, eles permanecerão, em face da ameaça de morte, leal ao Cordeiro de Deus e suportarão o conflito final com Ele (144,000 Sealed! When? Why? [Melbourne, Australia, n.d.], pág. 76).

Apocalipse 7 indica por que os 144.000 precisarão de um selo especial do tempo do fim: garantir sua proteção dos sete anjos que Deus comissionou de Seu Templo celestial para derramar as sete últimas pragas no mundo babilônico (cf. Apoc. 6:17; 15:1, 5-8; 16:1, 2).

Aqui está a contraparte óbvia, ou antítipo, da mensagem de selamento para o antigo Israel em Ezequiel 9. Anunciou o juízo de Deus e misericórdia de Seu Templo terrestre em um Israel dedicado a uma falsa adoração (Eze. 8). Deus mostrou piedade divina todavia em que Ele enviou um anjo antecedente à frente como uma figura sacerdotal (Eze. 9:2) para marcar as frontes de um remanescente arrependido com um sinal de aceitação divina, claramente visível aos executores angelicais que seguiram em sua esteira. Os posteriores eram os agentes de justiça retributiva, ordenados para sacrificar todos aqueles israelitas que não mostraram este selo do Senhor em suas frentes (cf. versos 5-10; Deut. 13:8). Na visão de Ezequiel a destruição do teimoso e impenitente povo da aliança, imediatamente seguiu o selamento do remanescente. O Senhor da glória abandonou tal Jerusalém e tal adoração ao deixar o santuário (Eze. 10:18).

A mensagem da visão do juízo de Ezequiel é crescentemente oportuna para a última geração do povo da aliança de Deus. Do trono de Deus em Seu Templo celestial serão enviados Seu juízo final e misericórdia. A ira do Cordeiro (Apoc. 6:17) não é exatamente uma metáfora que indica o resultado natural de violar as leis de Deus. É o juízo do tempo do fim específico de Cristo nos desdenhadores de Sua graça expiatória e o rejeitadores de Sua autoridade divina. O propósito desta previsão apocalíptica é conduzir cada incrédulo e cristão meio-comprometido ao arrependimento genuíno diante de Deus.

Walter Zimmerli explica seu propósito: Até mesmo o blasfemar do Santo pela abominação humana, quando os homens

começam a gemer sobre as abominações da devoção auto-legada do povo, então um lugar de misericórdia pode ser visto dentro do queimar da ira divina e ao ponto de abandono pela presença divina (Ezekiel, Hermeneia [Philadelphia: Fortress tress, 1979], vol. I, pág., 253).

Basicamente assim será novamente no juízo de um mundo que rejeitou a Cristo. William H. Shea mostra que "O juízo anterior do templo em Jerusalém reflete em microcosmo o que é previsto como acontecendo em escala macrocósmica na posterior sessão de juízo a ser citada no templo no céu" (Selected Studies in Prophetic Interpretation, pág. 13).

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Na visão de juízo de Ezequiel só aqueles de Israel marcados pela figura sacerdotal escaparão da ira de Deus. Assim será no selamento do tempo do fim. No juízo final, só os verdadeiros adoradores de Deus serão escolhidos para receber o selo apocalíptico em suas frentes. Eles escaparão da ira do Cordeiro (Apoc. 6:16, 17). As sete últimas pragas não os afetarão ou os danificarão. Este selo de Deus garante sua trasladação em glória imortal quando Cristo aparecer. Só os selados sobreviverão ao Armagedom.

Em conclusão, podemos resumir a diferenciação bíblica entre o selo do evangelho e o selo do tempo do fim como segue:

O selo de evangelho é colocado: O selo apocalíptico é colocado: nos corações nas frontes de crentes novos dos servos de Deus pelo Espírito Santo pelos santos anjos no sacramento do batismo durante o teste final de fé para lhes assegurar de sua para lhes assegurar proteção adoração de Deus durante as pragas e futuro herança. e Armagedom.

A PRESENÇA DE ELIAS O último capítulo do Antigo Testamento contém uma promessa escatológica.

Não só é notável porque constitui a mensagem de advertência final de Deus para o antigo Israel mas também porque contém os princípios básicos do apelo final de Deus para Seu povo da nova aliança, a igreja.

Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível Dia do SENHOR; ele converterá o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos a seus pais, para que eu não venha e fira a terra com maldição (Mal. 4:5. 6, RA).

O Novo Testamento interpreta o "grande e terrível Dia do SENHOR" ou dia de juízo, como a segunda vinda de Cristo (Heb. 9:27, 28). Deus enviará o " profeta Elias" para salvar Seu povo daquele dia que queimará o ímpio numa destruição tão complete que "nem raiz nem ramo" permanecerá (Mal. 4:1). A recepção da mensagem de Elias é crucial; se é rejeitada, Deus vai ferir "a terra com maldição". Se for aceita, Israel será unido a Deus numa aliança que traz as bênçãos de Deus.

Quem é este Elias vindouro? Ele é o mesmo profeta que se dirigiu a Israel durante a crise da apostasia de Baal? A mensagem aparece novamente no Apocalipse, o livro que prepara um povo para o segundo advento de Cristo?

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Ao longo da história vários mensageiros reivindicaram ser Elias. É importante que nós entendamos o significado desta profecia intrigante do retorno de Elias. A menos que o façamos, não poderemos distinguir entre o verdadeiro e o falso Elias no tempo do fim.

Para Malaquias e seus contemporâneos, Elias, de Tisbe, em Gileade (1 Reis 17:1), era um antigo profeta. Ele viveu mais de quatro séculos antes de Malaquias, uns 800 anos antes de Cristo. O livro de Reis revela que Elias era um profeta enviado por Deus a Israel n um tempo de apostasia religiosa e moral. Israel tinha caído na idolatria e imoralidade da adoração de Baal, e a missão de Elias era chamar o povo de Deus a renovar a aliança mosaica, restabelecer a adoração sagrada de Israel com relação a Yahweh. Quando Deus diz a Malaquias, "Eu enviarei Elias novamente antes que o juízo final ocorra" nós temos que assumir que o povo de Deus aparentemente apostatou de novo.

Numa leitura superficial, a promessa pareceria indicar que o próprio profeta votaria. O Novo Testamento indica, porém, que a profecia nos aponta para uma dupla repetição da mensagem de Elias em vez do retorno do profeta atual. Cristo interpretou a predição de Malaquias como a vinda de uma mensagem de reavivamento e reforma semelhante em espírito e natureza àquela de Elias, projetada para preparar o caminho para o Seu primeiro advento. No Apocalipse nós podemos procurar uma mensagem adicional, semelhante em espírito e natureza àquela entregue pelo antigo profeta, o propósito da qual é preparar o caminho para o segundo advento de Jesus. A mensagem de Elias, então, não aponta à reencarnação ou reaparição do profeta literal, mas antes é uma chamada de Deus para que o povo se prepare para o advento de Cristo.

Jesus esclareceu a Seus discípulos que os rabinos estavam corretos ao discutir que Elias deve preceder a vinda do Messias como Seu precursor (Mat. 17:10). “Jesus respondeu: ‘De fato, Elias vem e restaurará todas as coisas. Mas eu lhes digo: Elias já veio, e eles não o reconheceram, mas fizeram com ele tudo o que quiseram. Da mesma forma o Filho do homem será maltratado por eles’. Então os discípulos entenderam que era de João Batista que ele tinha falado” (versos 11-13, NVI).

João Batista não reivindicou ser uma reencarnação do antigo profeta Elias (João 1:21) mas acentuou sua missão em ser a "voz" ou mensagem, para anunciar o aparecimento iminente do Messias. Ele “respondeu com as palavras do profeta Isaías: ‘Eu sou a voz do que clama no deserto: “Façam um caminho reto para o Senhor” ’ ” (verso 23, NVI).

Já antes do nascimento de João, o anjo Gabriel tinha declarado aos seus pais, "Fará retornar muitos dentre o povo de Israel ao Senhor, o seu Deus. E irá adiante do Senhor, no espírito e no poder de Elias, para fazer voltar o coração dos pais a seus filhos e os desobedientes à sabedoria dos justos, para deixar um povo preparado para o Senhor" (Luc. 1:16, 17).

Gabriel cita as mesmas palavras de Malaquias 4 e os aplica para a missão de João. Dizendo que a mensagem de Elias é uma mensagem de preparação para o advento de Cristo, Gabriel interpretou a predição do Antigo Testamento cristologicamente.

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Assim o Novo Testamento também provê a chave para a compreensão da profecia de Malaquias em relação ao segundo advento de Cristo. Para este evento a antiga profecia aponta mais diretamente, como nós podemos notar por sua ênfase no "grande e terrível" dia de juízo que o Novo Testamento retrata como o segundo advento de Jesus. Os apóstolos chamam o dia de juízo como "o dia de nosso Senhor Jesus Cristo" (veja 1 Cor. 1:7, 8:5:5; 2 Cor. 1:14).

A Mensagem de João Batista

A mensagem de Elias será repetida, então, antes da segunda vinda de Jesus

Cristo. Ela preparará uma povo para encontrar a Deus em juízo. Nós podemos entender melhor o propósito da última mensagem de Elias notando o que João Batista fez para preparar o povo para o Primeiro Advento. Jesus disse que João "restaurará todas as coisas" (Mat. 17:11). Ele estava fazendo o que Elias tinha feito, chamando o povo de volta a Deus e aos Seus mandamentos.

Quando ele reprovou o Rei Herodes pela relação ilícita do rei com o esposa de seu irmão (Luc. 3:19), sua fiel exaltação da lei de Deus custou-lhe a vida. Mas ele não era um legalista, porque ele pregou a Cristo como "o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (João 1:29).

É hoje necessária tal mensagem de reavivamento e restauração? Nunca os homens pisaram mais desafiadoramente os mandamentos de Deus. Nunca mais amplamente eles rejeitaram a Deus, nunca desconsideram mais Sua Palavra. Nunca o mundo tem precisado da mensagem de Elias mais que hoje.

A mensagem de Elias vem somar-se ao nosso senso do retorno iminente de Cristo porque a mensagem tem que vir no momento certo. João Batista não veio séculos antes do Primeiro Advento – ele o introduziu. Igualmente, a proclamação da mensagem de Elias introduz o Segundo Advento. É uma mensagem de impacto mundial e chama o povo de Deus, onde quer que eles estejam, para deixar a apostasia e voltar à correta relação de aliança com Deus.

Para entender o significado da mensagem para nossos dias nós temos que examinar mais de perto seus princípios básicos primeiro como foi dado por Elias. Ao fazê-lo, nós nos protegeremos de má interpretação básica.

A Mensagem de Elias

Em 1 Reis 16:30-33 nós lemos do casamento do Rei Acabe com "Jezabel, filha

de Etbaal, rei dos sidônios". Foi proibido aos reis de Israel o casamento com pagãos porque com o consorte freqüentemente vinha uma religião pagã. E assim foi. A adoração a Baal, misturada com a verdadeira adoração a Yahweh, foi introduzida e imposto ao povo.

O vigésimo terceiro capítulo de 2 Reis explica ao culto a Baal mais completamente, revelando-a como uma forma de adoração do sol. Sob este sistema o povo adorava "todo o exército de estrelas" queimando "incenso a Baal, ao sol e à lua,

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às constelações e a todos os exércitos celestes" (versos 4, 5). O culto a Baal em Israel, porém, era um amalgamação, misturando princípios da fé hebraica e os de Baal num sistema. O resultado foi que as 10 tribos do norte "abandonaram todos os mandamentos do Senhor, o seu Deus, e fizeram para si dois ídolos de metal na forma de bezerros e um poste sagrado de Aserá. Inclinaram-se diante de todos os exércitos celestiais e prestaram culto a Baal" (2 Reis 17:16, NVI).

A missão de Elias era convocar Israel da apostasia para voltarem a Deus e Seus mandamentos. Deus não pode ser separado de Seus mandamentos. É por meio deles que Ele expressa que Sua vontade. Rejeitar a vontade de Deus é rejeitar o próprio Deus.

Como o sinal da apostasia religiosa de Israel, Deus reteve a chuva (1 Reis 17:1; veja também Deut. 11:16, 17). Durante três anos e meio não veio nenhuma chuva, um período desastroso para a nação. Poderia esperar-se que depois de um ano os israelitas caíssem de joelhos para descobrir o que estava religiosamente errado com eles. Ao invés disso, Acabe e Jezabel endureceram seus corações, e o povo sofreu terrivelmente. Ao término dos três anos e meio Deus mandou Elias de volta aos líderes apóstatas com um apelo final.

Como o povo dos dias de Elias receberam sua mensagem? Quando Acabe viu Elias o que ele lhe disse foi: "É você, você o perturbador de Israel?" (1 Reis 18:17, RSV).

O profeta respondeu: "Eu não perturbei Israel; mas você sim, e a casa de seu pai, porque você abandonou os mandamentos do SENHOR e seguiu os baalins" (verso 18, RSV).

Verdadeiros centros de culto na revelação divina. O porta-voz de Deus desejava conduzir o povo de Deus a uma decisão de renovar sua lealdade para com Ele. Elias dirigiu-se ao povo e disse: “Até quando vocês vão oscilar para um lado e para o outro? Se o SENHOR é Deus, sigam-no; mas, se Baal é Deus, sigam-no’. O povo, porém, nada respondeu” (verso 21). Nesta hora dramática Elias começou a restabelecer o altar do Senhor que estava em ruínas (verso 30).

Aqui nós recebemos um vislumbre do que o culto a Baal tinha feito. Tinha rejeitado o culto de Yahweh em sua mensagem de salvação pela graça de Deus (veja Lev. 17:11). Elias leva 12 pedras e reconstrói o altar. Ao fazê-lo ele reaviva a doutrina de salvação pela graça apenas e enfatiza a unidade das 12 tribos de Israel. Certamente aqui está uma mensagem de unidade e de restauração da lei divina e o evangelho.

A mensagem de João Batista continha os princípios básicos da mensagem de Elias. Ele chamou o povo de volta aos mandamentos de Deus e ao verdadeiro arrependimento pela fé no Cordeiro de Deus (João 1:29). Eles significavam sua aceitação da mensagem por seu batismo para o perdão dos pecados (Luc. 3:3). Assim João cumpriu sua comissão de preparar o caminho para o primeiro advento de Jesus.

E assim deve ser no tempo do fim. Como discípulos de Jesus, nós temos que convocar o homem moderno para voltar da apostasia, voltar de qualquer forma sofisticada de tal "adoração de ídolos" que podemos ter hoje: do baal do materialismo, de cientificismo, do oculto, de falsos conceitos do evangelho de Deus. A mensagem de

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Elias é um apelo para voltar do legalismo por um lado e da permissividade do outro, voltar à verdadeira adoração de Yahweh, voltar à lei original e ao evangelho. Isso tem sido o propósito de Deus em todas as idades: trazer a humanidade de volta à Sua aliança. E assim Deus enviou a incorporação de Sua lei e evangelho no Messias Jesus para andar entre nós, para que pudéssemos saber o que Deus se parece e buscar andar com Ele.

A Mensagem de Elias para Hoje

A mensagem de Elias para nossos dias aparece em Apocalipse 14:6-20. O

cenário, como predito em Malaquias 4, é o juízo. João vê uma “nuvem branca e, assentado sobre a nuvem, alguém ‘semelhante a um filho de homem’. Ele estava com uma coroa de ouro na cabeça e uma foice afiada na mão. Um anjo chama Àquele assentado na nuvem: “‘Tome a sua foice e faça a colheita, pois a safra da terra está madura; chegou a hora de colhê-la’. Assim, aquele que estava assentado sobre a nuvem passou sua foice pela terra, e a terra foi ceifada” (versos 14-16, NVI).

Aqui nós temos um retrato simbólico do segundo advento de Cristo. Ele vem com uma coroa – como Rei dos reis – e com um foice – como juiz. O último juízo, apontado por todos os profetas, que Ele cumprirá em breve. A imagem vem diretamente de Joel que é, por assim dizer, um apocalipse em cápsula do Antigo Testamento. Joel pinta Yahweh que desce no vale de Josafá para julgar as nações que perseguiram Seu povo da aliança. Em Joel 3:13 a frase aparece ''Lancem a foice, pois a colheita está madura." Nós temos que concluir, então, que João aplica o apocalipse de Joel do juízo de Yahweh como o dia do juízo de Cristo. O próprio Cristo tinha declarado que Seu Pai "deu todo o juízo ao Filho '' (João 5:22, RSV).

Mas Cristo não votará sem primeiro emitir um chamado ao arrependimento, um convite para restabelecer a verdadeira adoração, um apelo para o preparo para a Sua vinda. E tal convite divino aparece em Apocalipse 14, onde três anjos tocam uma mensagem de preparação apocalíptica.

Deus deu as mensagens dos três anjos de Apocalipse 14 para serem entendido. Eles são a mensagem de Elias para nossos dias, convocando o povo de Deus onde quer que eles sejam, como que sejam chamados – católico romano, luterano, metodista, nazareno, adventista do sétimo dia, batista, ou outro – para voltar ao compromisso com a vontade revelada de Deus, à verdadeira adoração, de volta aos passos de Jesus.

O nome da igreja que nós professamos seguir não é de máxima importância, porque uma igreja não salva. Se uma igreja não salva, então seguramente seu nome não pode salvar. O mais importante é se uma igreja ouve e está respondendo à mensagem de Elias, à mensagem que, como nos dias da apostasia de Acabe e nos dias de João Batista, chama todo o mundo a voltar aos "mandamentos de Deus e a fé de Jesus" (Apoc. 14:12, RSV).

A mensagem de Elias hoje convoca todos os homens em lugar de adorar a criação a adorar o Criador. "Adorem aquele que fez os céus, a terra, o mar e as fontes das águas" (Apoc. 14:7, NVI). Isto aparentemente coloca o significado do quarto

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mandamento no centro focal: "Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. . . . porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o SENHOR abençoou o dia de sábado e o santificou" (Êx. 20:8-11, RA).

Um autor expressou a oportunidade da mensagem de Elias do tempo do fim de Apocalipse 14 nestes palavras desafiadoras: "Na exaltação do humano sobre o divino, no louvor aos líderes populares, no culto a Mamom, e na exaltação dos ensinos da ciência sobre as verdades da Revelação, multidões hoje estão seguindo a Baal" (White, Profetas e Reis, pág. 170).

Uma terrível advertência de juízo vai para os que escolhem adorar "a besta e sua imagem", que os comentaristas identificaram com religião apóstata, a alteração audaciosa da lei de Deus e do evangelho. Um anjo mensageiro declara solenemente que Babilônia – o sistema de religioso apóstata – "caiu, caiu" (verso 8).

É significante que a Escritura chama o povo de Deus de volta à "perseverança" (RA), ou "paciência" (KJV) dos santos (verso 12). Perseverança é resistência. Aqui está um apelo não só para se tornar cristãos mas para permanecer cristãos, mesmo em face da perseguição, que é freqüentemente a porção daqueles que sinceramente seguem os mandamentos de Deus. Assim nós vemos que, como nos dias de Elias, a guarda dos mandamentos é um das marcas que identificam os verdadeiros adoradores de Deus. Uma terrível maldição virá naqueles que deliberadamente desafiam a Deus e Sua vontade (veja versos 9-11). O céu convocam todos os homens para crerem em Jesus com uma fé que salva e santifica.

Esta fé exerce tal compulsão que aqueles que a possuem estão dispostos a seguir Jesus em todos o caminho, onde quer que Ele conduza. A pergunta é: Amamos a Cristo supremamente?

A Presença de Elias O Apocalipse descreve o coração da última mensagem de advertência como

segue: "Então vi outro anjo, que voava pelo céu e tinha na mão o evangelho eterno para proclamar aos que habitam na terra, a toda nação, tribo, língua e povo" (Apoc. 14:6, NVI). Nós podemos resumir a mensagem inteira nesta frase inclusiva: "o evangelho eterno". Se não é o evangelho, o antigo evangelho, evangelho inalterado, o pregador não pode representar corretamente o Elias do tempo do fim. Ele não está orando no espírito e poder e verdade de Elias. Se uma igreja não está proclamando a mensagem básica do evangelho salvador da graça livre e soberana de Deus, se não apresenta a justificação pela fé sem as obras da lei, então não está cumprindo a missão professa; não está expondo o singular e único evangelho de Deus que julga todas as outras mensagens (veja o Gál. 1:6-9).

Note que o Apocalipse aqui usa "evangelho" com relação a "perpétuo" (KJV), ou "eterno". João parece agregar esta qualificação porque os que reivindicam pregar a mensagem de Elias face ao perigo de oferecer um evangelho diferente. Um evangelho

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que enfoca tanto nas advertências contra Babilônia e a besta e sua marca pode condenar em lugar de salvar.

O evangelho eterno salva. O único caminho do Paraíso perdido ao Paraíso restaurado, abarca todas as dispensações. É a mesma mensagem do evangelho da morte substituinte do Filho de Deus que Isaías pregou (Isa. 53). A mesma mensagem sobre o Cordeiro de Deus que João Batista pregou. O mesmo evangelho de aceitação divina do verdadeiro arrependimento que Jesus pregou. O mesmo evangelho de graça soberana que Paulo pregou. Este é o evangelho que também a última geração é chamada a proclamar com urgência. O horário de Deus é sempre perfeito. A proclamação universal do convite final de Deus para voltar a Ele e seguir Sua vontade revelada – a presença de Elias – pode ser considerado como o maior sinal de todos de que Cristo breve virá em Sua glória.

Em Sua misericórdia Ele nos chama para reavivar nossa adoração do Criador, uma adoração que irradia amor divino para todos os homens, em Espírito e em verdade. Enquanto o evangelho de Cristo nos chama à obediência a Deus de todo nosso coração e de toda nossa força, é a própria antítese do legalismo, porque nos afasta da dependência em nossos esforços à total dependência em Cristo. A mensagem divina cria fé naqueles que a ouvem. Sendo pregada agora, ela prepara a humanidade para estar em pé no juízo, face-a- face com Aquele que vem com coroa e foice, como Rei dos reis e como justo juiz.

Agora, enquanto Ele ainda oferece livremente a graça de Sua salvação, a mensagem de Elias requer nossa decisão: “Até quando vocês vão oscilar para um lado e para o outro? Se o SENHOR é Deus, sigam-no; mas, se Baal é Deus, sigam-no’.” (1 Reis 18:21, NVI). A verdade nunca foi medida através de números. Elias esteve praticamente só contra os 850 profetas de Baal e Aserá apoiados pelo governo de Israel (versos 19, 22). Deus não está satisfeito com neutralidade num tempo de apostasia. Quando Ele nos dirige um apelo para fazer um novo compromisso com Ele e Sua palavra e com Seu reino, é tempo de levantar-se e ser contado entre o fiel remanescente, cujas credenciais e credo são a Bíblia e a Bíblia somente.

A Final Revelação dos Fatos no Tipo e Antítipo

O conflito espiritual entre Elias e os profetas de Baal no Monte Carmelo atua

como um protótipo dramático da batalha final entre o bem e o mal como descrito em Apocalipse 16:13-16. No tempo de Elias três poderes estavam unidos em oposição ao profeta de Deus: Acabe, o rei de Israel, que representava o poder estatal do reino do norte. Jezabel, sua esposa pagã que veio da Fenícia e ativamente promoveu o culto de Baal dentro das tribos do norte de Israel. Ela "estava exterminando os profetas do Senhor" (1 Reis 18:4), e ela representava o poder perseguidor da religião apóstata obviamente dentro de Israel. E finalmente, os falsos profetas, um total de 850, que obedeceram as ordens de Jezabel (verso 19).

Não é nenhuma coincidência que João descreve os três poderes apocalípticos que se unem para opor-se ao Israel Messiânico de Deus no tempo do fim como "o dragão",

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"a besta”, e "o falso profeta" (Apoc. 16:13). Esta trindade demoníaca, dirigidos por um ódio sobrenatural contra o verdadeiro Israel de Deus, une todos os poderes estatais do mundo para um golpe mortal final contra a igreja proscrita no Har-Magedon (verso 16).

Alguns estudiosos identificaram "Har-Magedon", ou "Monte Megido" com o Monte Carmelo, localizado perto do Megido, com a conseqüência que eles vêem Har-Magedon como o antítipo apocalíptico da luta final histórica no Monte Carmelo nos dias de Elias (veja E. Lohmeyer, Die Offenbarung des Johannes [Tübingen, 1953], p. 137; W. H. Shea, "The Location and Significance of Armageddon in Revelation 16:16," AUSS 18 (1980): 157-162).

Esta conexão tipológica ensina uma vez mais que a questão em jogo no Armagedom é a verdadeira ou a falsa adoração do Deus de Israel. Mais que isso, o resultado da confrontação final revela um paralelo mais notável com a vitória de Elias. Fogo do Deus de Israel no céu decidiu quem era o Deus vivo quando consumiu o sacrifício de Elias no Monte Carmelo (1 Reis 18:38). O profeta de Deus então ordenou a captura de todos os falsos profetas e comandou sua execução no Vale de Quisom (verso 40). Na batalha do Armagedom Cristo ganhará sua vitória de um modo semelhante. Quando Ele aproxima da cena de batalha com Seus exércitos celestiais, a guerra santa acha um rápido fim:

A besta foi presa, e com ela o falso profeta que havia realizado os sinais miraculosos em nome dela . . . Os dois foram lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre (Apoc. 19:20, 21, NVI).

De maior consolação para o povo de Deus, porém, é a máxima recompensa do

próprio Elias. Depois da conclusão de sua missão, Deus o trasladou em glória imortal quando uma carruagem celestial com cavalos de fogo pendiam do céu. "E Elias foi levado aos céus num redemoinho" (2 Reis 2:11, NVI). Nesta experiência a recompensa de Elias é um tipo profético do que a última geração dos filhos de Deus receberá.

Quando Cristo voltar em Sua glória dos céus orientais, montando em Seu vitorioso cavalo de batalha, miríades de anjos O acompanharão em seus cavalos brancos para libertar os santos de seus opressores e os transferir para a presença eterna de Cristo (Apoc. 19:11-14). Eles têm aguardado por isto durante muito tempo! Valia a pena viver e sofrer por isto, como o apóstolo Paulo declarou: "Considero que os sofrimentos que suportamos agora não se comparam com o esplendor, ainda não revelado, que está em reserva para nós" (Rom. 8:18, NEB).


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