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Hazel Fisher - Febre de Amor (a Bride for the Surgeon) (Bianca Extra 1) (PtBr)

Date post: 20-Oct-2015
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Febre de amor Hazel Fisher Bianca Extra 1 PROVA DE INOCÊNCIA Título original: “The Matchmakers” Publicado originalmente em 1977 pela Mills & Boon Ltd., Londres, Inglaterra Copyright: Janet Dailey Tradução: Bernardo Aibê FEBRE DE AMOR Título original: “A BRIDE FOR THE SURGEON” Publicado originalmente em 1981 pela Mills & Boon Ltd., Londres, Inglaterra Copyright: Hazel Fisher Tradução: Bruna Bruno Copyright dos dois títulos para a lingual portuguesa: 1982 ABRIL S.A. CULTURAL E DINDUSTRIAL – São Paulo Composto e impresso em oficinas próprias Ilustração da capa: Laerte Agnelli Este livro faz parte de um projeto sem fins lucrativos, de fãs para fãs. Sua distribuição é livre e sua comercialização estritamente proibida. Cultura: um bem universal. Digitalização:
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Febre de amor

Hazel Fisher

Bianca Extra 1

PROVA DE INOCNCIA

Ttulo original: The MatchmakersPublicado originalmente em 1977 pela

Mills & Boon Ltd., Londres, Inglaterra

Copyright: Janet Dailey

Traduo: Bernardo Aib

FEBRE DE AMOR

Ttulo original: A BRIDE FOR THE SURGEONPublicado originalmente em 1981 pela

Mills & Boon Ltd., Londres, Inglaterra

Copyright: Hazel Fisher

Traduo: Bruna Bruno

Copyright dos dois ttulos para a lingual portuguesa: 1982

ABRIL S.A. CULTURAL E DINDUSTRIAL So Paulo

Composto e impresso em oficinas prprias

Ilustrao da capa: Laerte Agnelli

Este livro faz parte de um projeto sem fins lucrativos, de fs para fs.

Sua distribuio livre e sua comercializao estritamente proibida.Cultura: um bem universal.Digitalizao: Reviso: Eudna

Um quarto no fundo do quintal, rodeado de rosas Era de l que Caroline, empregada da casa, ficava olhando Alan Fielding, seu belo e rico patro, sair com suas namoradas. Caroline chorava de amor e cimes, quando, uma noite, Alan se aproximou, cobriu-a de beijos e lhe fez a proposta mais incrvel do mundo!

CAPTULO I

Caroline Weston aguardava, nervosamente, que o prof. Alan Fielding terminasse de ler sua ficha e dissesse se a aceitava ou no para o emprego.

Olhando-o disfaradamente, ela analisou-lhe os traos firmes e severos, e os cabelos negros, que comeavam a ficar grisalhos nas tmporas. Os olhos acinzentados pareceram cruis, quando tornaram a fit-la, e continham uma expresso de quem sabia estar sendo observado.

Caroline corou.

Parece que teve muitos empregos para sua pouca idade, srta. Weston criticou ele.

Acha? Fiquei com a sra. Noakes por todo um ano!

Um ano pode parecer muito para algum to jovem como voc, mas para mim pouco.

Ela apertou os lbios, evitando contradiz-lo. Pensou em Melanie e no quanto ela precisava do apartamento que era oferecido junto com o emprego.

O prof. Fielding quis saber por que ela no freqentara a faculdade, j que obtivera notas to boas no curso tcnico de enfermagem. Perguntou, tambm, por que queria um servio que oferecesse alojamento.

Carol sentiu-se como uma condenada no banco dos rus, mas procurou responder o mais sinceramente possvel. Fizera o curso tcnico para dar assistncia me, acometida de uma doena incurvel. Mas desde criana tivera vocao para a Enfermagem, embora a faculdade no a atrasse. Como no tinha casa prpria, uma colocao que oferecesse acomodaes era-lhe mais conveniente.

Enquanto o prof. Fielding raciocinava sobre os argumentos apresentados, ela aproveitou para dar uma olhada no gabinete do mdico.

A moblia era antiga, imponente e confortvel, e as estantes estavam repletas de livros de Medicina, que tanto a interessavam. Aproveitou para olhar as horas no relgio de parede quatro e quarenta e cinco.

Desde as duas e meia estivera espera daquela entrevista. O professor tivera que atender a uma emergncia e ela resolvera esperar por ele, ao invs de voltar um outro dia. Afinal, estava muito interessada em trabalhar para o famoso e conceituado cirurgio Alan Fielding.

Ele precisava de algum para ajud-lo na clnica particular em vrias atividades eventualmente como enfermeira e, principalmente, como dama de companhia de uma velha tia. Ah, sim; tambm como secretria! E o salrio era irrisrio. Por certo, ele devia ser um po-duro.

Pretende continuar a estudar, fazendo um curso superior, mais tarde? perguntou finalmente.

Os olhos cinzentos fitavam-na profundamente, como se quisessem desvendar-lhe a alma. Carol estremeceu.

Talvez talvez um dia eu possa continuar, doutor.

Quem sabe quando os problemas de Melanie estiverem resolvidos, pensou.

Ento, por quanto tempo poderei contar com seus servios? Ela hesitou, sem saber o que responder.

No sei ao certo, prof. Fielding. Mas no pretendo voltar a estudar antes de dois ou trs anos. Seria o tempo suficiente para Melanie refazer sua vida, raciocinou. Quem sabe, nem volte a estudar. As coisas andam difceis para mim, ultimamente Ah, problemas com o namorado? As sobrancelhas dele juntaram-se, formando uma ruga no meio da testa.

No exatamente.

Entendo. Deve ser um homem casado, ento. Havia desaprovao em sua voz.

Teve vontade de gritar que sim, que era um homem casado. Mais especificamente, o marido de sua prpria irm. Mas este, positivamente, no era um problema dela. Achou que o prof. Fielding devia ser um sujeito preconceituoso e detestvel, e teve mpetos de desistir do emprego.

Tenho vinte e nove candidatas ao cargo, srta. Weston.

Oh! Havia uma inflexo de desalento naquela exclamao involuntria.

Suas esperanas agonizavam. Melanie precisaria arrumar outro lugar para morar. Era uma pena. Aquele apartamento teria sido to conveniente E vinte e quatro delas tm filhos ou pais idosos para sustentar. Ela balanou a cabea, penalizada.

claro que vai preferir beneficiar alguma delas. Quero dizer, aquela que precise mais do apartamento que o oferecido com o emprego Isto aqui no uma instituio de caridade! disse ele inesperadamente. O que me interessa se estas candidatas podero ser auxiliares eficientes!

Claro, claro! apressou-se em concordar.

Caroline sabia que era competente, mas parecia bvio que ele no achava o mesmo. E tudo indicava que no iria contrat-la. Por que, ento, toda aquela conversa fiada? Ela teve vontade de dizer um at logo e muito obrigada, mas refreou-se, pensando na irm. Melanie andava deprimida, relaxando at na aparncia. Casara-se muito cedo e agora, com dezenove anos, j tinha um filho, Simon. O casamento no dera certo. Melanie e Peter estavam se separando e ela pedira ajuda a Carol. No tinha para onde ir e propusera que morassem todos juntos ela, a irm e o filho , pelo menos temporariamente, enquanto as coisas no se definissem.

D-me uma boa razo para que o cargo seja seu, srta. Weston pediu o professor de repente, fazendo com que ela desse um pulo na cadeira.

No consigo lembrar-me de nenhuma, no momento, doutor. Mas no custa fazer uma experincia comigo. Assim, o senhor mesmo poder encontrar alguma razo convincente. Tenho certeza de que ficar satisfeito com o meu trabalho.

Ele sorriu ligeiramente, sem mudar a expresso inquiridora dos olhos.

Voc uma jovem bem-humorada, espirituosa comentou, e reclinou-se na cadeira de espaldar alto, cruzando as longas pernas.

O olhar frio e penetrante no a abandonava, e ela sentia-se extremamente perturbada e apreensiva. Trabalhar para aquele homem, caso ele decidisse contrat-la, seria um desafio. Intimamente, disps-se a enfrentar o desafio. Por ela prpria e pela irm.

A ansiedade que sentia era tanta que devia estar transparecendo em seu rosto, em seus gestos. O professor baixou os olhos para a ficha e, em seguida, encarou-a com ar de quem chegara a uma concluso.

Pois bem. O cargo seu, srta. Weston. Mas faremos um ms de experincia advertiu, quando viu o brilho de satisfao nos olhos dela. Se, ao cabo desse tempo, no provar que est altura de minhas expectativas, ir embora. Assim! Da noite para o dia! E estalou os dedos, significativamente.

Tenho certeza de que no o decepcionarei afirmou Carol, com toda a coragem que pde reunir.

Quanto a isso, duvido muito. E acrescentou, com uma ponta de sarcasmo: Nem sei se vai durar uma semana, quanto mais um ms. Mas vamos aguardar os acontecimentos.

Ele levantou-se e ela apressou-se em fazer o mesmo.

Venha, vou mostrar-lhe o apartamento. o que mais lhe interessa, no mesmo?

Sem esperar resposta, enveredou, a passos rpidos, pela porta afora. Carol seguiu-o, quase correndo. Por certo ele pretendia humilh-la, faz-la sentir-se inferior e mais frgil do que realmente era. Que homem mais arrogante e insuportvel!

Alan Fielding atravessou o ptio dos fundos da casa e encaminhou-se para uma construo, que mais parecia um estbulo. Carol sentiu o corao apertado. Nem lhe passara pela cabea que as tais acomodaes pudessem ser inadequadas para uma criana da idade do sobrinho. Mas, bruscamente, ele mudou de direo, encaminhando-se para outro edifcio, do lado oposto.

Quando a clnica ainda era uma residncia de milionrios, este prdio era ocupado pelo motorista da famlia.

Ela olhou para a grande garagem que acomodava dois carros o Rolls-Royce do mdico e outro carro esporte, verde-metlico. Talvez fosse o carro da sra. Fielding. Mas, afinal, onde ficava o tal apartamento?

A entrada por aqui. Venha disse ele, quando a viu parada, boquiaberta, admirando o Rolls-Royce.

O apartamento no ficava em cima da garagem, como ela supusera, mas ao lado, com uma entrada independente. Carol subiu a escada, atrs dele, obedientemente. Contou treze degraus. Graas a Deus no era supersticiosa!

Quando o professor abriu a porta, ela no pde deixar de manifestar-se.

Mas que lindo! Parece um lar de verdade!

Comeou a percorrer os cmodos num entusiasmo crescente. No eram muito grandes, mas to aconchegantes!

A sala era pequena, mas luminosa e bem arejada. A cozinha, mnima, parecendo maior por causa da pintura branca e de um janelo que dava para o jardim. Rosas! Que maravilha! Ser que Simon poderia brincar no jardim? Simon! S ento ela lembrou-se, preocupada, de que ainda no mencionara a existncia do garotinho.

Melanie tinha sugerido a Carol que inventasse uma histria dramtica, fazendo-se passar pela me de Simon, e o pai seria algum noivo morto s vsperas do casamento. Mas ela no pretendia mentir quele homem, embora soubesse que, mais cedo ou mais tarde, precisaria contar-lhe sobre a existncia de Melanie e do menino.

No gostou da vista, srta. Weston?

Ele estava a poucos centmetros dela e parecia to grande e feroz que Carol chegou a assustar-se. Mas no deu demonstraes disso e respondeu, muito segura de si:

Adoro rosas!

timo! Depois que tiver visto os dormitrios, vou mostrar-lhe o lugar onde ir trabalhar.

Caroline percebeu que ele estava com pressa. Rapidamente, relanceou o olhar pelos dois dormitrios. Um deles era quase um cubculo, mas ela conseguiria ajeitar-se ali. Toda a moblia era simples e funcional. S o quarto maior tinha um armrio, mas, como Melanie no comprava roupas novas h sculos e era Carol quem, vez por outra, comprava algo para o garoto, aquele guarda-roupa seria suficiente. Alis, ela prpria tinha poucos vestidos. Perfeito!

Quando terminar a anlise crtica dos quartos, podemos ir? pressionou-a Alan Fielding, e aquela voz fria a trouxe de volta realidade. Em geral as enfermeiras so rpidas, srta. Weston. Esqueceu-se disso?

Talvez eu tenha perdido um pouco a prtica. A sra. Noakes no era assim to apressadaS depois que falou foi que deu-se conta de que tinha sido grosseira, mas ele nem lhe deu confiana. Limitou-se a lev-la com redobrada rapidez, diretamente para uma sala ensolarada, que ficava ao lado da casa.

aqui que vai trabalhar.

Uma mquina eltrica! Que luxo! Havia tambm arquivos e uma prateleira com livros tcnicos sobre Enfermagem. Carol passou os dedos sobre as lombadas.

Poder l-los nas horas de folga condescendeu ele, notando o interesse da moa.

Ela o olhou, agradecida, e o professor pigarreou.

O que o teria levado a dar o emprego quela moa? Era um bobo, um velho bobo, e ela no passava de uma criana. Mas tivera a coragem de desafi-lo e isso lhe agradara. Passou seus longos dedos pelo queixo. Devia ter feito a barba! Maldita garota! Malditas mulheres!

Intrigada, Carol esperou que seu novo patro desmanchasse a carranca, achando que nunca iria conseguir agradar a um homem to imprevisvel e mal-humorado como aquele.

Minha tia Norah viajou, mas voltar em breve explicou ele. Essa tal tia deve ser outro osso duro de roer, pensou ela, mordendo os lbios.

E e como ela?

Rabugenta.

Oh, mas no deve ser tanto assim! Ela parece ter todo o conforto. Quem consegue ser rabugento morando numa casa dessas, e com tanto dinheiro?

justamente isso que a torna impertinente: dinheiro demais disse ele, com malcia. Mesmo que eu aprove seu trabalho, srta. Weston, certamente ela vai botar defeito. bom ir se conformando desde j. No vai durar mais de um ms neste emprego avisou, impiedosamente, antes de desaparecer pela porta do consultrio.

Ah, mas se ele pensava que a amedrontava, estava muito enganado! Ela iria dobrar aqueles dois. O professor e essa megera da tia!

Carol resolveu dar uma espiada pelas salas da clnica. Quantos compartimentos! Quando abriu novamente a porta do consultrio onde havia sido entrevistada, deu com ele sentado atrs da escrivaninha. Qual seria a reao daquele homem, ao v-la entrar daquela maneira, sem bater?

Quando pode comear? perguntou ele, surpreendendo-a.

A sra. Noakes j se restabeleceu e poder liberar-me a qualquer momento.

Carol sentia trocar a suave e simptica sra. Noakes por aquela fera. Mas, enfim Domingo, ento?

Domingo?!

Assim poder fazer sua mudana e ser apresentada a tia Norah. Na segunda-feira estaria pronta para comear a trabalhar.

Explicou-lhe generalidades sobre salrio e horrios e, por fim, dispensou-a.

Chovia torrencialmente quando Carol abriu a porta para sair. Deu um passo atrs, confusa. Que fazer? Sua nica proteo era uma capa dobrvel, de plstico transparente, que sempre carregava na bolsa. Vestiu-a.

Isso e nada a mesma coisa observou o professor, ao v-la.

Bem, a nica coisa que tenho no momento. Mas no se preocupe, no morrerei de pneumonia antes de domingo!

Mas demorou-se um pouco na portaria, indecisa, olhando a chuva cair. Por fim tomou coragem, e estava saindo pelo porto principal quando o professor passou por ela, de carro. Carol fez-lhe um rpido aceno e correu para o ponto de nibus. Pouco depois, o carro parou a seu lado e, abrindo a porta, o prof. Fielding convidou:

Se tivesse esperado, teria lhe dado uma carona. Entre!

Carol no se fez de rogada, pois a chuva era to forte que, em poucos minutos, a tinha encharcado. Entrou, molhando o assento e respingando gua no terno impecvel dele.

Voc no tem um pingo de juzo! criticou ele, resmungando como uma velha rabugenta.

Carol considerou que, talvez ele no fosse casado. Que mulher iria aturar um homem to implicante? O mais provvel que fosse divorciado.

Deu o endereo da sra. Noakes e ele levou-a at l, em silncio. Mas, quando chegaram, ele despediu-se, sorrindo.

Espero que venha a sentir-se feliz conosco, qualquer que seja o perodo de sua permanncia.

Como ele se modificava quando sorria! Parecia at mais moo!

Oh, muito obrigada! Aquela amabilidade inesperada deu-lhe coragem para ser sincera com ele. Queria dizer-lhe bem O anncio dizia que admitiam crianas no apartamento.

Sim. Dizer-me o qu? O sorriso desapareceu do rosto dele.

que quero dizer existe Simon explicou atabalhoadamente. que ele s tem dois anos e no tenho onde deix-lo.

Pronto, j estava dito! Agora s faltava falar sobre a irm.

Compreendo Ele parecia chocado quando perguntou: Um menino de dois anos?

Justamente. difcil explicar-lhe toda a situao. Mas que o pai deleO prof. Fielding cortou-lhe bruscamente a palavra.

No quero saber sobre o pai dele, srta. Weston! disse, zangado. Isso problema seu, no meu. Claro que, se no tem onde deixar o garoto, poder traz-lo.

Ainda de cara amarrada, ele abriu a porta do carro. Sem querer, seu brao roou-lhe o seio e ela teve uma sbita sensao de excitao e medo.

Devia estar ficando louca! Aquele homem podia ser seu pai e ela o detestava!

Envergonhada e perturbada, deu-lhe um plido sorriso e agradeceu. Mas ele deu a partida e saiu antes que Carol pudesse acrescentar qualquer outra explicao.

Ser que o professor pensara que ela fosse me solteira?

Sentindo-se acabrunhada, rechaou essa hiptese.

No domingo, teria oportunidade de esclarecer tudo. Talvez ele at acabasse rindo do mal-entendido.

CAPTULO II

Mas lindo!

Melanie tambm entusiasmou-se pelo apartamento, enquanto percorria as dependncia, apreciando a boa qualidade da moblia e as alegres cortinas floridas.

E de graa! enfatizou Carol.

Se quisesse, ele poderia cobrar uma nota de aluguel por este apartamento! disse Melanie, olhando para um dos quadros pendurados na parede.

Que nada! Esse um meio que ele usa para convencer as auxiliares a agentarem a megera da tia Norah. Carol riu.

Simon parecia eltrico. Com a vivacidade prpria das crianas pequenas, corria para baixo e para cima, jogava-se sobre as camas, numa algazarra infernal. Melanie notou a preocupao estampada nos olhos da irm e apressou-se a segurar o filho ao colo, que esperneou em sinal de protesto.

Precisamos ter cuidado para no fazer estragos, Melanie. Talvez esta seja a nossa casa por apenas um ms.

Que nada! Vou jogar todo o meu charme em cima desse tal prof. Fielding. Voc vai ver! disse, rindo, olhando-a com seus belos olhos azuis.

Melanie estava longe de ser uma moa esbelta, mas sabia que era bonita e atraente.

Melanie comeou a dizer Carol, hesitante. A propsito de Simon O que h?

O professor pensa que Simon meu filho. Tentei explicar, mas parece que ele chegou concluso de que sou me solteira disse, com evidente contrariedade.

Mas isso timo! Claro que ! insistiu Melanie, ao ver que Carol ficava abismada. Se ele pensar que eu e Simon somos intrusos, capaz de achar ruim. Mas, se pensar que voc a me e que eu s vim para tomar conta do menino enquanto voc trabalha, no haver problema. Voc uma excelente enfermeira e vai conseguir permanecer neste emprego.

De uma certa maneira, a irm estava com a razo.

Mas eu quero que ele saiba a verdade Carol hesitava. Quero que tenha confiana em mim, que no pense que sou daquele tipo de mulher que arruma um filho em cada esquina.

Que bobagem! apenas uma criana, fruto de um grande amor. Voc no est interessada nele, est? Pelo que me contou, um quarento.

Mas a verdade nua e crua era que estava interessada sim, e queria que o prof. Fielding tivesse um bom conceito dela. E ainda havia tia Norah, que, logo primeira vista, parecia ser realmente a velha ranzinza e intolerante que ele descrevera.

A srta. Norah Tester era uma solteirona de setenta anos, aposentada de um alto cargo que ocupara num famoso hospital-escola, e dera a entender, logo de cara, que no aprovara a escolha do sobrinho. No por palavras, mas por gestos e olhares. J descartara, por conta prpria, vrias candidatas.

O ch est pronto! anunciou Melanie, e Carol tentou fazer uma cara alegre. A irm j tinha problemas suficientes com que se preocupar.

O que acha que Peter far, quando no a encontrar em casa? perguntou, enquanto se servia de uma torrada com gelia. Melanie encolheu os ombros, desalentada. Tinha abandonado o lar de manh cedo, na hora em que o marido sara para trabalhar. Ele estava a par da disposio da mulher de se separar, mas Melanie tivera medo de que Peter tentasse dissuadi-la, caso estivesse presente na hora da partida. Alm disso, ela no pretendia dar-lhe o novo endereo, para evitar amolaes. Quanto a Simon, Melanie contornaria a situao levando-o para visitar o pai no trabalho, com a colaborao da cunhada Gail.

Certamente Peter ir tomar seu ch, como ns estamos fazendo neste momento. Deixei-lhe um bolo pronto. Ele no vai descobrir to cedo onde nos metemos.

E era verdade. Elas estavam bem no corao do bairro londrino de Surrey, a menos de meia hora da casa de Melanie e Peter, mas fora de mo o suficiente para passarem despercebidas. A criana no precisaria sair. Tomaria sol e brincaria no prprio ptio.

E ali estavam elas, sob a ameaa de serem despejadas, caso Carol no passasse pelo perodo de experincia.

Carol suspirou, sentindo o peso daquela responsabilidade. A to aspirada oportunidade de fazer um curso superior de Enfermagem pareceu-lhe longnqua e inalcanvel, e talvez j estivesse velha e acabada quando Melanie parasse de apoiar-se nela. Onde est a carta da sra. Mainwaring? perguntou o prof. Fielding, inclinando-se sobre Carol, que estava sentada junto mquina de escrever.

Aqueles dois dias em que ela comeara a trabalhar j lhe pareciam uma eternidade.

Onde acha que deveria estar? perguntou ela por sua vez, afastando da testa uma mancha de brilhantes e ondulados cabelos ruivos.

Na pasta da correspondncia a ser respondida disse Alan Fielding, com toda a calma.

Caroline j havia descoberto que a calma, nele, era um mau sinal. Era sempre o prenuncio de alguma tempestade.

Ento ainda deve estar l. Vou dar uma espiada.

J olhei, srta. Weston.

Oh! Ela o fitou, em dvida, e sem querer, bocejou.

Tia Norah quisera ver at o fim o ltimo filme na televiso e, depois, ainda exigira que Carol lhe servisse uma ceia na cama. A sra. Burr, que trabalhara antes para ela, incumbia-se tambm de preparar-lhe a comida, e cozinhar foi mais uma tarefa que se juntou longa lista de obrigaes de Caroline.

Se acha o trabalho to cansativo, srta. Weston, seria aconselhvel que fosse dormir mais cedo recriminou ele, injustamente. As luzes do apartamento ficaram acesas at uma hora da madrugada!

Eu sei. que eu s Mas ele dispensou a justificativa com um gesto impaciente.

Carol passou os dedos distraidamente pelos longos cabelos que lhe caam por sobre os ombros. Pareciam uma aurola de cobre e o prof. Fielding no despregava os olhos deles. Talvez no estivesse gostando que ela os usasse assim, soltos, no escritrio. Suspirou e voltou a procurar a carta da sra. Mainwaring.

J sei! exclamou, com vivacidade. Devo t-la arquivado na letra eme!

Correu para o arquivo e procurou a pasta. Nada. Talvez estivesse junto com a ficha mdica da paciente, pois, tarde, a sra. Mainwaring teria uma consulta.

Aqui est! E mostrou a carta triunfalmente. Eu sabia que a tinha guardado em algum lugar!

Alan quase lhe arrancou a carta das mos.

Encolhendo os ombros, ela tirou um elstico da gaveta. Repuxou os cabelos para trs e prendeu-os num rabo-de-cavalo. Assim, ficava com uma aparncia mais adequada para o ambiente austero do escritrio.

Mas seu gesto pareceu exaltar ainda mais o mdico.

Por que fez isso?

Pensei que meu cabelo o estivesse incomodando! E acrescentou, com petulncia: O senhor no tirava os olhos dele eEle permitiu-se um breve sorriso de tolerncia.

que seu cabelo faz-me lembrar meu irmo.

Seu irmo ruivo? Pois nem imaginava que tivesse irmosCaroline no pde evitar que suas faces plidas ficassem subitamente vermelhas, ao dar-se conta do sentido ambguo daquela observao.

Ele pareceu ler-lhe os pensamentos.

Voc quis dizer que eu devo ter sido gerado pelo diabo, e que no teria nem mesmo pai e me, quanto mais irmos, no ?

Ora, o que isso? O senhor tem uma tia! disse, muito sem jeito.

E que tia! Voc deve estar passando pelas penas do inferno com ela! Carol permaneceu quieta, mas aqueles olhos aguados decifraram-lhe o pensamento. Bem que avisei que ela era ranzinza e impertinente. Ah, e a propsito de meu irmo, ele dever aparecer por esses dias. clnico geral em Yorkshire. Voc mesma vai constatar como o cabelo dele parece com o seu.

Na escola tambm o apelidavam de cenourinha? ela quis saber.

Acho que sim. No me diga que era esse o seu apelido!

Era e, s vezes, me chamavam de beterraba. Odeio meu cabelo! disse, com veemncia, lembrando-se dos sofrimentos por que passara com as piadas dos colegas.

Odeia? Ele mostrou-se admirado. Mas uma cor muito bonita, srta. Weston! Muitas morenas chegam a tingir o cabelo nessa tonalidade. Mas no h como uma ruiva autntica! Ela sentiu-se to lisonjeada que quase esqueceu-se de sua antipatia por ele. Mas a repreenso que se seguiu reacendeu-lhe o antagonismo. Na prxima vez que arquivar uma carta, assegure-se de que j foi devidamente respondida.

Sinto muito. Sinto mesmoDisse aquilo com um ar to deprimido que o mdico chegou a reparar.

Ser que j est cansada de seu trabalho?

Caroline percebeu que ele estava desapontado e apressou-se em tirar a m impresso.

Que nada! um trabalho muito interessante, e tem me levado a adquirir novos conhecimentos.

Alan sorriu com complacncia, como se estivesse secretamente satisfeito com aquela demonstrao de entusiasmo. Chegou a lembrar-se dos tempos distantes de estudante, quando era jovem e cheio de sonhos.

Carol interpretou mal a expresso meditativa daquele rosto srio. Se ela sorria, nunca era no momento certo. Se bocejava, era porque estava cansada do trabalho. Se arquivava na pasta errada, era o fim do mundo! Que sufoco! Ele era insuportvel!

Fale-me sobre as condies de sade da sra. Mainwaring pediu ele, interrompendo a avalanche de pensamentos negativos de Carol.

Surpresa, ela tentou raciocinar.

Oh, sim! Ela tem cncer no seio e o senhor dever oper-la amanh.

Baseada em qu, chegou concluso de que ela tem cncer?

Bem que ela se queixa de um caroo no seio e E da? Prossiga.

Bem, o clnico geral que a examinou aventou a hiptese de cncer explicou Carol, sem muita segurana.

Por que essa hiptese, srta. Weston?

No estou bem certa. Algumas vezes os caroos podem ser malignos, outras vezes no.

Ento, como pode afirmar que ela tem cncer? perguntou, fazendo-a sentir-se ignorante e inoportuna.

De fato, nem sempre o aparecimento de caroos significa que a pessoa esteja com cncer.

Caroos no seio, em geral, so benignos, srta. Weston. Mas, pelo histrico da sra. Mainwaring, bem provvel que seja, realmente, cncer. Mesmo assim, percebe o perigo de chegar a concluses precipitadas?

Caroline apertou os lbios. Logo ele, falando sobre concluses precipitadas! Pois no tinha concludo que Simon era filho dela, sem a menor prova ou evidncia?

Mas preferiu guardar para si o revide. Dava a vida por um pouco de paz.

Soltou um suspiro de alvio quando ele saiu, batendo a porta com violncia.

Naquela noite, suas obrigaes com tia Norah terminaram mais cedo. A velha preferia ler a ver televiso, e Carol aproveitou para tambm dedicar-se leitura de um dos livros tcnicos sobre Enfermagem. O prof. Fielding j tinha dado permisso para isso, e ela foi tirando da estante o que lhe interessava, sem pedir licena e sem imaginar que ele pudesse precisar do livro para alguma consulta.

Estava lavando a loua do jantar, enquanto Melanie lia uma histria infantil para Simon, quando o mdico apareceu inesperadamente.

Bati porta, mas ningum ouviu comeou a falar, mal-humorado. S ento viu Melanie.

A moa estava com seus cabelos loiros esparramados pelos ombros, esperando que acabassem de secar. Carol tinha conseguido, finalmente, persuadi-la a cuidar melhor da aparncia.

Ela susteve a respirao quando seu atraente patro e a bela irm cruzaram olhares. Era importante que Alan simpatizasse com Melanie. Mas quem poderia resistir aos encantos da irm? Absurdamente, sentiu uma dor no peito, ao pensar nisso.

Melanie levantou-se e levou o filho sonolento para a cama, antes de estender sua delicada mo para cumprimentar o mdico.

Foi com um aperto no corao que Carol fez as apresentaes.

Essa essa minha irm Melanie. Melanie, apresento-lhe meu patro, o prof. Alan Fielding.

Alan apertou a mo de Melanie com relutncia e sorriu-lhe. Mas sorriu-lhe abertamente, de verdade! Carol nem podia acreditar.

No me lembro de ter mencionado uma irm, srta. Weston disse ele, dirigindo-se a Carol em tom de censura.

Ela percebeu que Alan Fielding estava lutando para controlar-se. Por certo queria dar-lhe uma bronca, mas no desejava ser descorts com Melanie.

Carol olhou de soslaio para a figura angelical de Simon, que dormia placidamente na caminha. Tentou inspirar-se naquele ser inocente, mas no conseguiu.

Quando, resolutamente, fitou aqueles olhos penetrantes e gelados, arrependeu-se de t-lo feito. Se no estava completamente equivocada, havia dio naquele olhar!

Que crime imperdovel ela teria cometido? Afinal, ele no precisava daquele apartamento. Que mal havia em que fosse ocupado por duas mulheres?

Impulsivamente, Melanie colocou a mo sobre o brao do cirurgio e sorriu-lhe com doura. Ele retribuiu o sorriso.

Por favor, prof. Fielding. Desejava ter uma palavrinha com o senhor falou Melanie, com sua vozinha de criana que Carol julgava irresistvel. Caroline acha que o senhor merece uma explicao. Se puder dar-me dois minutinhos de ateno E olhou-o interrogativamente, com seus angelicais olhos azuis, num apelo eloqente.

Mas o professor no pareceu comover-se e tentou desvencilhar-se de Melanie. Ela no se deu por vencida e o conduziu at a sala, deixando a irm sozinha no quarto.

Carol deixou-se cair sentada na cama de Melanie. Confiava no charme da outra. Com toda a certeza, ela lhe explicaria, com muito tato, que, na verdade, era ela a me da criana e lhe diria que houvera um mal-entendido. Ele se comoveria com a histria toda e permitiria que morassem todos juntos, at que Melanie pudesse resolver seus problemas pessoais.

Caroline tinha certeza de que ele a veria com melhores olhos, se soubesse que Simon no era seu filho. Recostou-se na cama, procurando relaxar Melanie o convenceria.

Vim at aqui para apanhar aquele livro tcnico que a senhorita tirou da estante. A voz enrgica de Alan Fielding fez com que Carol se sentasse rapidamente na cama.

Cus! Ela quase adormecera!

Melanie estava ao lado dele e a irm olhou-a de relance, para certificar-se de que tudo estava na mais perfeita ordem. Aliviada, sorriu para ambos e levantou-se animadamente, com tanto mpeto que bateu com o joelho na ripa da cama. Encabulada, arriscou um olhar para o mdico, mas aqueles olhos cinzentos no eram tranqilizadores. No; positivamente, ele no estava de bom humor. A piscadela que Melanie lhe dera fora otimista demais.

Sentindo-se uma perfeita idiota, Carol esforou-se para justificar-se junto ao prof. Fielding, garantindo-lhe que o livro estava com ela, inclume, e desculpando-se por t-lo usado sem permisso.

Um olhar de incredulidade foi tudo o que recebeu como resposta, e apressou-se em ir buscar o livro, que estava em cima do guarda-roupa. Trepou numa cadeira, pensando que s faltava mesmo levar um tombo e quebrar uma perna. Alan Fielding haveria de exultar, se isso acontecesse! Quando alcanou o grosso volume, a cadeira balanou e ela caiu, com livro e tudo.

As mos firmes do cirurgio a ampararam, segurando-a pela delgada cintura. Carol adorou aquele contato inesperado.

Muito sem graa, entregou-lhe o livro, murmurando um agradecimento. Um seco boa-noite foi a resposta que recebeu, quando ele saiu intempestivamente do apartamento, fechando a porta com fora.

Caroline sentiu um arrepio de frio. Aquelas mos quentes lhe faziam falta. Gostaria que tivessem se demorado por mais tempo sobre seu corpo.

Ento? Seu charme funcionou? perguntou irm, com o rosto afogueado.

Os olhos de Melanie brilharam.

Tenho certeza de que sim! Ele disse que seria mesmo melhor eu ficar para cuidar de voc e do garoto. Achou que voc no daria conta dele sozinha, tendo que trabalhar. E disse tambm que uma boa funcionria, que trabalha duro e que ele no gostaria que fosse embora.

Caroline tentava falar, mas no achava as palavras certas.

O o qu? Que histria essa de voc cuidar de mim? Voc contou-lhe a verdade a respeito de Simon, no contou? perguntou, temendo ouvir a resposta que a irm acabou lhe dando.

Como poderia? Pensei que estivssemos de acordo em fazer Simon passar por seu filho! E acrescentou, na defensiva: De qualquer forma, ele nem me deu oportunidade de explicar direito. Ele s falava de voc e da necessidade de traz-la novamente para o bom caminho!

O qu? explodiu Carol. E, lembrando-se de Simon, abaixou a voz. Eu estou no bom caminho! Voc que est querendo sair dele! O prof. Fielding deveria preocupar-se com voc, no comigo!

Sem esperar pelos protestos da irm, saiu do apartamento e precipitou-se pela escada. Sem saber bem para onde ia, mas andando a passos decididos, viu-se, de repente, sob a janela do consultrio de Alan Fielding.

O mdico estava l, junto escrivaninha, debruado sobre o livro que acabara de recuperar.

As cortinas de veludo estavam repuxadas para os lados e ela pde olh-lo por um longo tempo, sem ser pressentida.

Sentiu que uma profunda tristeza a invadia, sem entender a razo. Era uma melancolia, uma saudade indefinida, que no tinha explicao. A nica coisa que sabia que tinha vontade de passar os braos pela nuca de Alan, encostar seu rosto ao dele e deslizar os dedos por aqueles cabelos salpicados de fios brancos.

Assustada com seus prprios pensamentos, afastou-se devagar, com ar desconsolado.

J tinha problemas demais para acrescentar a eles uma paixo sem cabimento.

CAPTULO III

O prof. Fielding atende os clientes particulares somente no perodo da tarde explicou a enfermeira Farrell.

Todas as tardes?

Claro que no! respondeu a enfermeira, fazendo um trejeito de desaprovao com a boca que irritou Carol. No acha que o pobre homem tem direito a um pouco de folga? Ele s d consultas trs vezes por semana.

Jssica Farrel era uma enfermeira de meia-idade que ajudava o professor em regime de meio expediente. Era uma mulher alta e arrogante, que olhou, incrdula, para a figurinha frgil de Carol.

Tem certeza de que pode dar conta do recado? Se for o caso, podemos recorrer a uma agncia de empregos temporrios Oh, no! Por favor! Carol atreveu-se a cortar-lhe a palavra. Eu tenho o curso tcnico de Enfermagem assegurou, sem entretanto, convencer a velha funcionria.

Sei. J ouvi dizer. Mas voc no seguiu a profisso. E prosseguiu, implacavelmente, quando percebeu que Carol ia interromp-la novamente: O fato de voc ter dado assistncia a sua me, quando ela teve cncer, no lhe deu prtica suficiente. Pelo que sei, no continuou seu treinamento.

Caroline soltou um suspiro sentido. Tinha inteno de dar seqncia ao curso e ao treinamento, mas os problemas conjugais de Melanie haviam atrapalhado tudo. Como teria adorado vestir novamente um uniforme de enfermeira! At as tarefas menos atraentes, como despejar comadres e trocar lenis sujos, eram bem aceitas. E exatamente por isso ela fazia tanta questo de substituir a enfermeira Farrell durante aqueles dez dias de frias.

Na verdade, no haveria necessidade de muitos conhecimentos. Tudo se resumia em estar presente quando o professor examinasse pacientes do sexo feminino, em ajud-las a tirar a roupa, marcar consultas e providenciar as fichas mdicas para acompanhamento dos casos, conferncias e operaes. No era um bicho-de-sete-cabeas, e ela estava ansiosa para atender a primeira paciente.

Talvez no fosse a melhor arquivista do mundo, nem poderia ser, porque sua verdadeira paixo estava na Enfermagem. E pretendia tornar-se to indispensvel a Alan Fielding que, ao fim do ms de experincia, ele acabasse lhe suplicando para ficar.

Mas, antes disso, deveria fazer um treino prvio, trabalhando ao lado da sra. Farrell duas vezes por semana. Todavia, isso no a desobrigava das tarefas cotidianas; e s para atender tia Norah seria preciso uma pessoa trabalhando em perodo integral!

Depois de despachar o ltimo paciente de sua segunda tarde de treinamento, teve a primeira discusso com a srta. Norah Tester.

A enfermeira Farrell e o cirurgio estavam trancados no consultrio, discutindo relevantes assuntos mdicos, e Carol j voltara a seu posto junto mquina de escrever, quando Norah Tester entrou, furiosa, sala adentro. Seu rosto revelava um nervosismo incontrolvel.

H mais de uma hora que estou esperando por voc, mocinha! Sabe que no gozo de boa sade e, assim mesmo, me obriga a sair por a, sua procura! E continuou, irascvel: Pelo que me consta, voc foi contratada para ser minha dama de companhia!

A voz da srta. Tester estava bastante alterada e Carol correu para pegar uma cadeira, fazendo-a sentar-se, com receio de que a agitao pudesse provocar nela um ataque cardaco.

Sinto muito que no tenha me encontrado logo disse o mais brandamente possvel. que o prof. Fielding deu consultas hoje tarde e eu estive ajudando esclareceu. Preciso aprender a rotina, poisTia Norah interrompeu-a, com um gesto brusco.

Minhas necessidades so prioritrias. Sua obrigao era estar sentada a meu lado, assistindo ao seriado de televiso. Eu lhe tinha avisado!

Caroline mordeu os lbios. Sabia que a velha realmente lhe avisara. Mas como poderia estar em dois lugares ao mesmo tempo? No era Santo Antnio!

Precisarei ficar aqui para receber instrues da enfermeira Farrell disse, falseando a voz, na tentativa de controlar-se. Uma boa enfermeira nunca perde a calma, lembrou-se. Sinto imensamente, mas a senhora bem que podia assistir televiso sem a minha presena. O professor precisa de mim aqui, e Alan no precisa de voc! esbravejou a tia. Ele acha voc uma intil! Pior do que intil, com essa essa criana E prosseguiu, obviamente omitindo a palavra ilegtima: E ele ainda disse mais O que foi que ele disse? indagou Carol, arrependendo-se de ter feito a pergunta quando tia Norah lanou-lhe um olhar cruel e triunfante.

Que voc uma moa muito trabalhadeira e que ele aprecia a sua colaborao! Uma voz masculina, severa e enrgica, fez-se ouvir, e as duas viraram-se simultaneamente.

Os olhos de Caroline estavam marejados de lgrimas, mas ela no podia derram-las e, disfaradamente, comeou a remexer nos arquivos.

Alan Fielding entrara na sala porque o barulho daquela discusso tinha perturbado sua reunio com a enfermeira Farrell.

Quer dar-me seu brao, tia Norah? convidou o cirurgio, e Carol virou-se imediatamente, disposta a ajudar.

Notou que as faces da srta. Tester estavam azuladas e ela parecia estar sofrendo alguma dor. Apressadamente, Carol colocou-se ao lado da velha, mas o professor a dispensou, com um gesto de irritao.

Deixe! A enfermeira Farrell e eu cuidamos disso.

Rejeitada, ela voltou para a mquina de escrever, cabisbaixa, enquanto os dois amparavam a mulher. Nesses casos, costumavam dar-lhe uns tabletes sublinguais para aliviar a dor, mas o sobrinho no fez qualquer sugesto a respeito. No fundo, talvez soubesse que tudo aquilo no passava de uma encenao infantil de Norah, para chamar a ateno.

A velha estava pendurada pesadamente no brao de Alan, quando uma voz alegre e jovial quebrou o silncio.

Al, titia! Como ? Tendo mais um de seus ataques? Quem foi o culpado desta vez?

Um rapaz parecidssimo com Alan Fielding entrou no consultrio e Carol arregalou os olhos, espantada. Ele tambm era ruivo, mas tinha o cabelo bem mais escuro do que o dela. Subitamente, Caroline reanimou-se, achando, sem qualquer justificativa, que tinha encontrado um aliado. Tia Norah pareceu descontrair-se. Um arremedo de sorriso suavizou-lhe a fisionomia severa e ela deu o brao ao recm-chegado.

Alan ficou olhando, em silncio. Seus lbios contraram-se, numa expresso sarcstica, e Carol sentiu por ele. Era evidente que Geoffrey era o sobrinho favorito.

Percebendo que se distrara, olhando a cena, Carol enrubesceu. Era paga para trabalhar e, afoitamente, recomeou a bater mquina.

O barulho das teclas chamou a ateno de Geoffrey sobre ela.

Uma ruiva! Caro irmo, voc sempre demonstra seu bom gosto! comentou, estendendo as mos para Carol, que, timidamente, levantou-se, dirigindo-lhe um sorriso educado.

Seus lindos cabelos estavam presos por um recatado coque e o dr. Fielding sacudiu a cabea, como se estivesse penalizado.

Isso no funciona, enfermeira. Ns, os ruivos, devemos deixar os cabelos expostos s intempries!

Carol levou instintivamente as mos ao coque, retraindo-se diante daquela observao, o que provocou um renovado prazer no jovem mdico.

Ele estava para fazer um novo comentrio jocoso quando Alan veio em socorro de Carol. Segurou firmemente o brao do irmo, e, seguido pela enfermeira Farrell e por tia Norah, afastou-o da sala. A porta fechou-se atrs deles e Caroline soltou um suspiro de alvio.

Ser que ela agentaria? Aquela paixo secreta por Alan j era um tormento, vinha at tirando-lhe o sono. S faltava comear a discutir com a tia e ter que suportar as gozaes de Geoffrey! Seria o cmulo!

Sentou-se mesinha junto janela, abaixou a cabea e desatou a chorar. Era um choro sentido, com as lgrimas rolando pelas faces plidas. Aquela era uma reao estpida, sem lgica e infantil, mas no podia evit-la.

Subitamente, sentiu o peso de toda a sua solido. No tinha ningum no mundo com quem desabafar, exceo de Melanie. Mas pouco adiantaria chorar no ombro dela.

Tinha vontade de, pelo menos uma vez, abrir seu corao, ser consolada e mimada. Mas, com apenas vinte anos, sentia-se sozinha e deprimida. Ningum se importava com ela!

Por alguns minutos, entregou-se sua prpria dor. Depois, com os olhos vermelhos de tanto chorar e a fisionomia desfeita, voltou escrivaninha e deu de cara com Geoffrey, parado junto porta.

Encarou-o desafiadoramente, pronta para suportar mais uma gozao.

Sinto muito, srta. Weston disse ele, gentilmente, fechando a porta e aproximando-se dela. Ser que foram as minhas brincadeiras que lhe causaram tantos estragos?

Ela sacudiu a cabea, numa negativa, e comeou a lidar com alguns papis que estavam sobre a escrivaninha.

Voc deve ter sofrido muito na escola, por causa da cor dos cabelos continuou ele, debruando-se sobre a escrivaninha. Alan chamou-me a ateno. Deu-me uma bronca e tanto!

Carol enviou-lhe um sorriso pacifista. Talvez ele no fosse to mau assim.

Ns, os ruivos, precisamos, ao menos, ser solidrios disse ela, aliviando a tenso.

Eu preciso ser mais do que isso. Alan disse-me que preciso ser compreensivo e gentil com voc, e no aborrec-la ainda mais com minhas piadinhas inoportunas. Ele me contou que sua vida no foi fcil e que voc precisa de apoio e orientao.

Ele tambm lhe disse que sou me solteira? perguntou, muito sria.

Geoffrey hesitou.

Tambm.

Odeio seu irmo! Aquela exploso de rancor chocou mais a ela mesma do que a Geoffrey. Ele quer ser o dono da verdade! To perfeito e intransigente! Ele no sabe nem a metade da histria e se mete a juiz do mundo!

Estava to furiosa que, se Alan aparecesse naquele momento, seria capaz de atirar-lhe a mquina de escrever na cabea.

Pois eu acho que ele est to preocupado com sua felicidade quanto sua irm deve estar disse Geoffrey, pousando as mos nos ombros de Carol. Alan contou-me que ela veio com voc para dar-lhe apoio e cuidar da criana. Como v, pelo menos existe algum que lhe d valor. Apertou aqueles ombros magros com suavidade e fez-lhe uma carcia no queixo.

Carol comeou a sentir-se menos tensa. Aquele toque era apenas uma demonstrao de solidariedade, e ela permitiu que ele continuasse. Mas a imagem de Alan reapareceu em sua mente, como era freqente acontecer, e ela retraiu-se.

Preciso continuar com isso aqui disse, com voz hesitante. O prof. Fielding vai precisar destes relatrios para a conferncia de amanh e ainda nem comecei a bat-los.

Voc fica a, com seus relatrios, que eu vou providenciar um suco de laranja bem geladinho! E saiu, antes que ela tivesse tempo de recusar.

Metodicamente, Carol separou as laudas, o papel carbono, e encaixou tudo na mquina, calculando que aquele seria um servio para umas duas horas. Nos ltimos dias, sentia dificuldade em concentrar-se. Pudera! Tendo que suportar Alan e tia Norah!

Mais uma lgrima saltou-lhe dos olhos e comeou a rolar pelo rosto, mas ela decidiu no interromper o trabalho.

A mquina eltrica era bem mais complicada do que a manual. Carol preferia mil vezes os servios de enfermagem do que os de secretria. As lgrimas embaralhavam-lhe a vista e ela necessitava datilografar aqueles apontamentos com perfeio. Queria, a todo custo, que Alan ficasse satisfeito com seu trabalho.

Um grande e alvo leno branco foi colocado em seu ombro, e ela o pegou para enxugar as lgrimas, sem ao menos levantar a cabea.

Obrigada, dr. Geoffrey.

Prof. Fielding. Uma voz pausada fez-se ouvir e ela ergueu os olhos, sentindo-se extremamente embaraada.

Oh, sinto muito, professor. Estou datilografando suas anotaes para a palestra de amanh e Estou vendo. Por que est chorando, srta. Weston?

O tom de voz dele era calmo e resignado. Carol ficou novamente tensa, espera do pior.

Ele puxou uma cadeira e sentou-se perto dela. Carol ficou lutando para encontrar as teclas certas. Apertou o boto das maisculas, mas, antes que comeasse a bater o texto, sentiu seus dedos aprisionados nas mos dele.

A sensao foi agradvel. Agradvel at demais. Assim mesmo, ela tentou libertar-se. Sem xito.

Quantas vezes vou ter que repetir a mesma coisa, srta. Weston? Agora ele no parecia mais to resignado e at havia um certo rancor em sua voz. Caroline umedeceu os lbios ressequidos.

Estou me sentindo um pouco triste, mas vou sair disso em cinco minutos, no se preocupe apressou-se a dizer.

Se precisar de uma figura paterna para desabafar suas mgoas, srta. Weston, aqui tem um ombro amigo, disposto a substituir seu pai. Ou seu tio, se preferir.

Ela sacudiu a cabea vigorosamente. Positivamente, no o encarava como um tio!

Geoffrey reapareceu e interps-se entre eles no momento em que Alan segurava gentilmente as mos de Carol. Os dois irmos trocaram um olhar de desafio. O suco de laranja que Geoffrey trazia derramou-se e ele soltou um palavro, deixando Caroline vermelha de vergonha, no tanto pelo palavro, mas por ter sido surpreendida numa situao que poderia dar o que pensar.

Infelizmente, a realidade era bem outra!

Notou, com surpresa, que seu patro apressava-se em largar-lhe a mo e tambm enrubescia, ante o olhar do irmo. Carol engoliu em seco. Em sua imaginao, eles pareciam dois galos de briga, prestes a se degladiarem.

Quer que eu lhe traga outro suco? perguntou Geoffrey, bem menos alegre do que h pouco, e ela sorriu-lhe, agradecida.

Aquela gentileza a tocara, principalmente num momento em que se sentia cercada de inimigos por todos os lados. Mas toda aquela amabilidade poderia ser uma faca de dois gumes e o outro lado da lmina se incumbiria de cort-la quando o ms de experincia tivesse terminado. Isso ficou patente quando seu patro soltou uma espcie de grunhido e saiu pela porta, batendo-a com fora.

Receio ter ofendido o professor desculpou-se Carol, muito nervosa, quando Geoffrey sentou-se a seu lado.

Ofender no seria bem o termo que eu usaria. Ele at me pareceu muito feliz em sua companhia. Alis, desculpe-me pela interrupo.

Oh, no! protestou ela, exasperada, e tratou de explicar: Ele me encontrou chorando e deu-me um leno. Mostrou o leno usado. Apenas ofereceu-me um ombro amigo para que eu chorasse minhas mgoas!

Notou que os olhos de Geoffrey tornaram-se maliciosos.

Ele fez isso? bom cuidar-se, garota. Homens maduros tm um fraco por jovenzinhas ruivas!

Aquilo podia ser mais uma gozao, mas Carol teve novamente vontade de soc-lo.

O professor no to velho assim! protestou. Ele tem sido muito bom comigo e sou-lhe muito grata.

Sem dar-lhe mais ateno, comeou a bater a mquina freneticamente. Se no se apressasse, nem noite terminaria aquilo.

Estava to absorta que nem percebeu quando Geoffrey retirou-se silenciosamente.

Mas fantstico, Carol! Ter uma oportunidade dessas de sair noite!

Melanie estava eufrica, mas Caroline no conseguia compartilhar do mesmo entusiasmo. E sentiu-se uma desmancha-prazeres quando tentou faz-la raciocinar.

Voc acha que correto? Algum poderia v-la. Melanie no se deu por vencida.

Sua boba! Ningum vai ver-me! Estamos longe o suficiente de casa!

Uma nuvem negra pareceu toldar-lhe a fisionomia, e Caroline percebeu que a irm lembrara-se do lar abandonado.

Deve ser difcil abandonar um lar, pensou ela. Mas, como nunca tinha possudo um, no podia avaliar exatamente como seria isso.

Seus pais tinham se separado logo aps o nascimento de Melanie e j estavam mortos. Portanto, Carol jamais soubera o que era ter uma casa, uma famlia. E, agora, pensava se a irm entraria com um processo de divrcio ou se aquela separao a faria pensar melhor sobre o quanto Peter lhe fazia falta.

Mas e se ela estivesse enamorada de Alan? No, no seria possvel! Melanie no podia estar interessada nele. Tinha afirmado vrias vezes que ainda amava o marido. E que o professor era muito velho para ela. Mesmo assim, aceitara o convite de Alan e preparava-se para sair com ele naquela noite.

No se preocupe com Simon disse Carol. Vou p-lo na cama hora de sempre garantiu. A srta. Tester vai fazer uma visita e no precisar de mim esta noite.

Pelo menos nesse ponto sentia-se tranqila. A noite se aproximava, prometendo ser longa e solitria. To logo Melanie fosse embora, ela levaria Simon para brincar um pouco no jardim, antes de ir para a cama.

Melanie estava deslumbrante, vestida com a melhor roupa da irm, um longo de algodo indiano, estampado de negro e dourado. Pelo menos estava bem mais bonita do que Caroline, com seu avental de cozinha alaranjado. Para completar a toalete, Melanie pusera brincos dourados e uns colares fantasia da irm.

Foi com o corao apertado que Carol viu Melanie descer alegremente a escada do apartamento, em direo casa de Alan Fielding.

Em seguida, levou Simon para passear pelos jardins floridos at ele cair de sono. O garoto no parecia estar sentido com a ausncia da me e s perguntara por ela umas duas vezes. Caroline, ao contrrio, no parava de pensar no assunto.

Ela soubera, atravs da enfermeira Farrell, que, no amplo terreno dos fundos por onde andara passeando com Simon, o professor chegara a ter um burrico e uma criao de galinhas. No conseguia imaginar aquele austero cirurgio cuidando de um burrico. Era completamente fora de propsito. Mas acontecera. Alan Fielding tinha resgatado o animal das mos de um carroceiro que o maltratava e espancava de forma brutal, deixando s pele sobre osso. E, apesar dos cuidados que o professor dispensara ao pobre burrico, ele acabara morrendo.

Caroline sentiu-se triste e deprimida quando ouviu a histria. Mas o episdio servia para comprovar que o prof. Fielding no era to desalmado quanto parecia ser. Mas, se continuasse a levar Melanie para passear, no estaria mais praticando uma boa ao, e sim algo condenvel e cruel. Pelo menos sob o ponto de vista de Carol.

Entretida com um tratado de anatomia, ela assustou-se quando ouviu o barulho do motor do Rolls-Royce entrando na garagem. Onze e meia. Caroline j estava cansada e com sono, mas teve que admitir que no era assim to tarde para algum como Melanie chegar. Ela bem que precisava espairecer um pouco.

Ficou atenta ao rudo de passos na escada e entrou em pnico ao perceber que duas pessoas estavam subindo os degraus. No mnimo, Melanie convidara o professor para um cafezinho de despedida.

Aos trancos, correu para a cozinha para pr gua na chaleira. Estava atarefada, preparando uma bandeja com xcaras e aucareiro, quando Melanie a chamou, anunciando que tinha trazido um convidado.

Com relutncia, Carol foi ao encontro deles. Melanie parecia radiante.

Suas faces plidas tinham readquirido a cor e o cabelo brilhava, vioso, graas ao mise-en-plis que Carol ajudara a fazer.

Alan Fielding trajava um elegante terno social e estava carrancudo como sempre. Esse detalhe trouxe um certo alvio a Carol. No teria suportado se ele tivesse chegado ali rindo de satisfao.

O cafezinho j j est saindo anunciou, evitando olhar para o patro.

Voc um amor, Carol. E obrigada por todo o trabalho que teve comigo. Alan gostou muito do seu vestido. Melanie deu uma volta completa em torno de si prpria e Caroline olhou para baixo, envergonhada pelos chinelos velhos que estava usando.

Nesse instante, Simon acordou, assustado. Vendo a me, ergueu os bracinhos e chamou:

Mezinha, mezinha, venha c!

Sem hesitar, Melanie correu para ele e o abraou.

Mame est aqui, filhinho disse Melanie instintivamente beijando a criana.

Carol empalideceu na hora. E sentiu-se desfalecer, ao deparar com o olhar acusador do cirurgio.

Melhor assim, falou consigo mesma. Claro que deveria ter dito antes que Simon era filho de Melanie. Mas, agora, parecia que isso no ia fazer diferena alguma. Alan devia estar enamorado de Melanie e no iria criar caso. Todavia, no foi com ar enamorado que ele murmurou em seco Boa-noite, minhas senhoras e foi-se embora, sem ao menos esperar pelo caf.

Talvez tivesse tido uma desiluso, pensando que a me solteira fosse Melanie. Que, alis, parecia nem ter dado pela coisa. Estava to habituada a ser chamada de mezinha que sequer lhe passou pela cabea que aquela revelao poderia ter chocado o professor.

De sua parte, Carol sentia-se mais tranqila. A verdade tinha vindo finalmente tona.O dia seguinte foi muito movimentado. Alan Fielding podia ter todos os defeitos do mundo, mas no lhe faltava dedicao. Tratava todos os pacientes com igual cuidado e carinho.

Caroline o observava e sentia uma vontade imensa de ajud-lo na parte clnica dos casos. Ressentia-se do contato limitado que era obrigada a manter com os pacientes. Por ela, trocaria de cargo com a enfermeira Farrell. Deixaria aquela escocesa avantajada lidar com a velha tia Norah e se incumbiria de dar assistncia ao professor.

Naquela tarde, Carol teve que enfrentar as mais variadas situaes, desde ajudar a sra. Abbott a vestir-se, at tranqilizar a sra. Douch, que usava e abusava do escasso tempo do cirurgio queixando-se da hrnia que a atormentava h anos. Mas uma operao naquela idade avanada seria desaconselhvel. Alm disso, lady Smith, que aparecera vinte minutos antes da hora marcada, insistia em ser atendida imediatamente. E vieram mais duas senhoras apresentando caroos nos seios.

Ainda bem que a sra. Abbott no tinha nada de grave! Era uma boa pessoa e, quando Carol a auxiliou a colocar o corpete, ela mostrou-se grata.

Esses corpetes so to complicados! Mas a senhorita muito prestativa, enfermeira elogiou, mas Carol s captou uma ou duas palavras.

Estava preocupada. Alan Fielding praticamente no falara com ela desde a noite anterior. O pouco que dizia restringia-se a comentrios profissionais. Estava mais carrancudo do que nunca, exprimia-se mais por gestos do que por palavras e Carol era forada a adivinhar-lhe as intenes.

Suspirando, enviou um sorriso amistoso sra. Abbott. Com grande alvio, lera a anotao do professor na ficha mdica da simptica senhora: carente de afeto. Pela idade que tinha, at que a sra. Abbott era bem saudvel, e seu nico mal eram os quilos a mais, que a obrigavam a usar cintas e corpetes ortopdicos. Caroline j estava suando de tanto mexer em todos aqueles ilhoses e colchetes.

Que mdico bonito! estava dizendo a velha senhora. Tem uns olhos lindos, uns clios to longos!

Caroline sorriu. De fato, ele tinha clios longos, mas isso no amenizava a frieza daqueles olhos cinzentos. Uma pedra de gelo, isso o que ele era!

Quando acabou de vestir a sra. Abbott, Carol apressou-se em arrumar o gabinete de exames, trocando o lenol e guardando os instrumentos mdicos.

No podia considerar-se propriamente uma enfermeira, e foi com ar quase divertido que correu os dedos pelo estetoscpio.

Isso no um brinquedo, srta. Weston!

A voz sria e fria de Alan Fielding interrompeu aquele prazer e, com o susto, ela deixou cair o estetoscpio ao cho.

Ambos abaixaram-se ao mesmo tempo para peg-lo e seus olhos se encontraram.

Por que mentiu a respeito da criana? perguntou ele bruscamente, e ela ressentiu-se com aquela acusao injusta.

Eu no menti coisa alguma! revidou, tambm bruscamente. Foi o senhor quem fez conjecturas desde o incio, e nem me deu chance para explicar!

Absurdo! Voc uma pequena maquiavlica! Permitiu que eu ficasse com pena de voc, que desejasse proteg-la!

Realmente queria proteger-me? perguntou, muito admirada. Se fosse verdade, isso significava que Alan se incomodava com ela. Pelo menos um pouquinho.

No sei quem de ns dois precisa mais de proteo, srta. Weston disse ele, com voz rouca.

Em seguida, juntou os instrumentos, guardou-os no armrio de vidro e dirigiu-se apressadamente para o escritrio.

CAPTULO IV

No me diga que voc a srta. Weston!

Caroline e a elegante moa morena se defrontaram, ambas surpresas. Mas a mais atnita era Carol, pois Vanessa Clifton se apresentara como noiva de Alan Fielding.

Por que est estranhando tanto? perguntou Carol, franzindo o nariz diante daquele perfume que reconheceu ser o extrato de Fidji.

Era uma essncia de que sempre gostara. Achava-a, porm, muito sofisticada para a simplicidade de uma garota pobre. Aspirou profundamente, ao seguir a srta. Clifton at a sala de espera.

Vou esperar meu querido aqui mesmo disse ela, com doura na voz. Ele no gosta que invadam seus domnios Lanou outro olhar de assombro para Carol. Acho que Alan estava brincando comigo. Ele disse Mas no prosseguiu. Desatou a rir.

Ela bonita, Caroline reconheceu, descontente. Mas no to atraente quanto Melanie. Como Alan poderia ter preferido Vanessa Clifton?

Ele estivera brincando com os sentimentos da irm. Sara com ela mais umas trs vezes e no tinha o direito de agir dessa maneira. No tinha!

A moa morena enxugou, com um lencinho rendado, uma lgrima provocada pelo riso.

Sinto muito mas, se tivesse ouvido o que Alan diz a seu respeito! Juro que pensei que ele estivesse brincando, e vim hoje aqui com as unhas afiadas, pronta para o ataque! Teve outro acesso de riso e Carol ficou olhando, fascinada, para aquelas unhas esmaltadas de vermelho. Hoje pela manh vi o nosso Geoff com uma moa esquisita, l no jardim, mas nunca podia imaginar que fosse voc continuou Vanessa. Vim disposta a lutar pelo meu amor, pensando que a srta. Weston fosse uma ruiva alta e sofisticada!

Pois bem. No sou nada disso, e da? retrucou Carol. Quer me dizer exatamente o que foi que o prof. Fielding falou de mim?

Ela estava servindo de joguete nas mos da outra, mas precisava saber a verdade.

Ele disse que voc era uma doura de cenourinha e que eu precisava ser boazinha com voc! respondeu, ainda rindo.

Caroline fechou os olhos, ressentida, mas calou-se. Podia at imaginar o professor dizendo uma coisa daquelas.

Eu at diria que voc parece mais uma beterraba. assim de nascena?

Caroline j tinha perdido a pacincia e estava prestes a dizer o que pensava de Vanessa e do ilustre cirurgio, quando Alan apareceu.

Querido! Vanessa Clifton voou pela sala em direo a ele. A mocinha digo ela indicou vagamente Carol com as mos , sua jovem auxiliar, estava aqui me entretendo.

Bem. Muito bem murmurou ele distraidamente. Agora pode retirar-se, srta. Weston. O sr. David no chegar antes das cinco e meia e eu mesmo poderei atend-lo.

Caroline chegou a sentir-se chocada com aquela dispensa abrupta e foi saindo de mansinho, ainda em tempo de ouvir a srta. Clifton comentar:

Voc tinha razo, Alan. Ela mesmo um tipo raro! Rara, eu? Rara? Que atrevimento!

Sua raiva era endereada ao mdico, e no quela morena tonta, que no sabia nem o que dizia. Ento, senhor professor, quer dizer que me acha um bicho raro? Um patinho feio?

Seria mesmo, perguntou-se, olhando sua imagem refletida no imenso espelho que decorava a parede do corredor e que, de acordo com as palavras do prof. Fielding, servia para convencer os clientes obesos a perderem peso.

Agora, o espelho mostrava Caroline Weston tal como ela era uma moa esguia, com seios pequenos, cintura fina e pernas longas. E aquele cabelo! No havia dvida de que parecia mesmo uma cenoura, ou uma beterraba. A evidncia estava a, naquele detestvel espelho.

Com mos trmulas, ela arrancou os grampos e sacudiu a cabea seguidamente, at que os cabelos se soltassem. Talvez um corte curto e moderno pudesse melhorar sua aparncia.

Caroline acostumara-se a considerar Melanie como a mais bonita, sempre cercada de admiradores, mas, at aquele momento, no chegara ao cmulo de sentir-se um bicho raro. Podia nunca ter sido o centro das atenes, numa festa por exemplo, mas suas maneiras agradveis sempre a faziam conquistar novas amizades.

Ser que sou to rara assim? falou em voz alta, mas calou-se, ao ver outra figura refletida no espelho.

Quando criana, ouvira dizer que as meninas vaidosas, quando ficam se olhando muito no espelho, acabam vendo o diabo. E no que era mesmo verdade?

A imagem refletida era a de Alan Fielding, e Carol ficou to confusa que teria preferido ver o capeta em pessoa.

Mos fortes e amistosas pousaram em seu ombro e ela o viu sacudir a cabea.

No, Carol. Eu nunca disse isso de voc. Pelo menos no com o sentido que voc est dando.

Ela tornou a olhar para o espelho. Aquela mocinha mida e ruiva parecia sumir diante do porte altivo daquele homem moreno e grisalho.

Tudo bem balbuciou ela, assim que recuperou a fala. Tenho certeza de que a srta. Clifton no quis ser indelicada.

Claro que tinha sido, mas Carol preferiu no complicar as coisas. Mas, em seguida, voltou a pensar no assunto e no se conteve. Disparou a pergunta:

Ser que seu irmo tambm acha que sou to rara assim?

Por que fizera aquela pergunta, se no estava nem um pouco interessada na opinio de Geoffrey Fielding? A fisionomia do professor endureceu.

Por que no pergunta ao prprio Geoffrey? Aproveite uma daquelas horas em que vai chorar suas mgoas com ele! Voc vive fazendo isso!

Quem que vive fazendo isso? defendeu-se, j tremendo de raiva.

Recebeu de volta um daqueles olhares sombrios e penetrantes.

Desde que chegou no faz outra coisa, a no ser chorar as mgoas! At inventou ser me de Simon, para que ele e eu tivssemos pena de voc. E no me admiraria muito se tudo isso no fizesse parte de um plano para acabar se casando com Geoffrey. Vanessa me contou que, hoje pela manh, viu-a abraada a ele. Parece que at andaram se beijando.

Caroline ps as mos na cintura, furiosa, e retribuiu-lhe o olhar com outro que o teria matado ali mesmo, se fosse uma flecha.

Quanta generosidade da parte dela! No deixarei de agradecer-lhe, na prxima vez que vier aqui saturar o ar com aquele perfume inebriante! ironizou, chocada ao dar-se conta de que estava com cime da outra.

Vanessa no iria mentir sobre o que viu. Por que o faria? Caroline notou que ele parecia exausto com aquela discusso toda.

Estivera operando pela manh e atendera vrios pacientes tarde. Ela no tinha o direito de desgast-lo ainda mais Alan Fielding precisava de um pouco de paz e descanso.

O senhor trabalha demais comeou ela, conciliadora. No deveramos estar aqui discutindo por um mal-entendido sem importncia. Quando a srta. Clifton passou, seu irmo estava apenas querendo tirar um mosquitinho que tinha cado em meu olho. Foi a nica hora em que ele ps as mos em mim completou, olhando-o de soslaio, para estudar-lhe a reao.

E o que lhe importa se trabalho muito? perguntou, j em tom mais ameno, e ela balanou a cabea. Realmente, por que haveria de importar-se? Voc se importa mesmo, Carol? insistiu, levantando-lhe o queixo gentilmente.

Ela o fitou, desconfiada. Qual seria o truque agora? H pouco, ele a acusara de estar flertando com Geoffrey e, agora, ele prprio estava querendo flertar com ela. Nisso tudo, onde ficava a glamourosa Vanessa Clifton?

Estava disposta a esclarecer a dvida com algum comentrio mordaz, mas ele no lhe deu tempo. Calou-a com a presso de seus lbios severos, que repentinamente se tornaram doces e macios, fazendo-a sentir-se perdida.

Aturdida, deixou que ele enlaasse sua fina cintura e a puxasse para junto dele. Seus sentidos se acenderam imediatamente, dando-lhe a sensao de estar queimando por dentro. No conseguia pensar, quanto mais raciocinar. Parecia-lhe que mil estrelas explodiam sua volta e teve a terrvel revelao: ela o amava!

Parecia incrvel amar um carrasco daqueles, mas era a pura realidade. Os lbios de Alan deslizaram por seus cabelos ruivos, suavemente, enquanto sussurrava:

Que cabelos lindos, minha pequena Carol!

mesmo? Pensei que os achasse ridculos disse, afastando-se um pouco, sem poder reprimir um certo ressentimento na voz.

Oh, Caroline!

Alan parecia estar possudo pelo desespero quando tornou a procurar os lbios dela com avidez, desta vez obrigando-a a separ-los e beijando-a com sensualidade. Aquelas mos longas e experientes escorregaram voluptuosamente pelo corpo esguio, at repousarem sobre os quadris, ajustando-a de encontro a si, numa nsia louca. Ela correspondeu quele apelo, admirada com sua prpria capacidade de reao, at ento desconhecida.

Carol sabia que precisava det-lo, mas quando aqueles dedos hbeis se introduziram pelo decote, roando-lhe os seios, ela sentiu-se enlanguescer. No tinha foras para recha-lo. Todo o seu corpo pulsava e ardia. Haveria um prazer ainda maior do que esse?

Teve mpetos de gritar o que sentia por ele, que o amava, que o queria de corpo e alma, mas seus lbios continuavam merc dos beijos ardentes de Alan.

Ento, inesperadamente, ele a empurrou. E de forma to brusca que ela perdeu o equilbrio e teve que encostar-se mesa para no cair.

Espantada, viu o homem que amava lutando consigo mesmo para readquirir o autocontrole. Ele inclinou-se junto parede, apoiando-se nela com os braos abertos. Abaixou a cabea, com a respirao ofegante, entrecortada de soluos. Ela aproximou-se, querendo reconfort-lo.

Deixe-me! ordenou secamente. Meu Deus! O que fui fazer?

Voc no fez nada demais arriscou Carol timidamente.

Mas poderia ter feito! retrucou ele, e Carol teve vontade de abra-lo e dizer-lhe que fizesse o que quisesse, o que bem entendesse. Ela aceitaria. Um homem de meia-idade, tentando seduzir uma adolescente!

No sou uma adolescente! J tenho vinte anos. Alm disso, voc no estava me seduzindo, estavaO que poderia dizer-lhe? Que estava tentando fazer amor com ela, sem inteno de casar-se s por causa disso?

Carol era realista. Esperou que ele se recobrasse por completo, que se tranqilizasse e perguntou por Vanessa.

Ele teve um sobressalto.

Vanessa! Esqueci dela! Fez uma pausa, meneando a cabea. Eu vim aqui para... Oh, at esqueci o que vim fazer. Por certo, no vim com o propsito de seduzir uma mocinha. Os olhos acinzentados, agora bem longe de serem frios, pousaram sobre ela. Desculpe-me, no sei o que deu em mim.

No se preocupe, prof. Fielding. Ela voltou a ser formal. posso entender.

A expresso fria e distante voltou aos olhos dele. Aquele era o Alan Fielding que ela conhecia bem e com quem sabia lidar. O outro, o homem empolgado pela paixo e pelo desejo, escapava a seu controle.

Seguiu com o olhar aquela figura alta e imponente, que abriu a porta e foi recebido pelos braos calorosos da srta. Clifton. Ela saberia como lidar com o homem. Caroline devia contentar-se em saber lidar com o cirurgio.

O restante do ms de experincia transcorreu sem incidentes. O dr. Geoffrey Fielding voltou sua clnica em Yorkshire, aps duas semanas de frias. Ele e Caroline tinham conseguido ficar amigos, mas no passaram disso. Tia Norah aceitara, resmungando, o fato de Carol ir ficando, e, apesar dos protestos, pareceu tornar-se mais humana, a ponto de interessar-se pelo pequeno Simon.

Possivelmente o sobrinho lhe explicara a situao, tornando claro que o garoto era filho de Melanie, legitimamente casada, de papel passado, na igreja e no cartrio.

Caroline chegou a afeioar-se velha. Talvez ela sofresse de solido e precisasse de algum que a amasse, que se interessasse por sua vida. Mas fechou o corao a Alan Fielding, depois daquela cena amorosa no consultrio. Convenceu-se de que ele simplesmente a usara.

Alis, Alan tornara-se mais implicante e exigente desde aquele dia, chegando mesmo a ser rude em suas admoestaes. Procurava achar defeito em tudo. Ou a fita da mquina estava apagada demais, ou Caroline no estava vestida de acordo com o ambiente da clnica, ou de outras coisas que inventava. Chegou at a comprar um avental verde, horroroso, que ia quase at os ps de Carol, para que ela o usasse por cima da roupa.

Quando Vanessa Clifton, que agora era assdua freqentadora da clnica, a viu naqueles trajes, teve um novo acesso de riso.

Com Vanessa por ali, Alan no convidara mais Melanie para sair, e Carol no se conformava com a reao da irm. Ela agora andava quieta, plida e cabisbaixa. Ningum reconhecia nela a exuberante e extrovertida Melanie.

Essa era mais uma razo para desprezar Alan Fielding. Melanie j sofrera uma desiluso com o marido irresponsvel, e, agora, sofria a segunda, com o patro da irm.

Os homens eram mesmo uns selvagens!

Caroline odiava Alan, mas no sabia o quanto o dio estava prximo do amor.

No era fcil suportar tudo aquilo, mais as eternas implicncias de tia Norah. Assim mesmo, Carol sentiu-se aliviada quando, passado o ms de experincia, ningum resolveu dispens-la. Sinal de que, bem ou mal, estava agradando.

Foi ento que a bomba explodiu.

A srta. Tester estava vendo televiso com o volume ao mximo, pois era meio surda, quando Carol notou que ela dissera alguma coisa. Algo como no prximo ms.

Abaixou o volume e pediu para que ela repetisse, desculpando-se por no ter ouvido direito.

Vai acontecer alguma coisa importante no prximo ms? perguntou, fingindo entusiasmo.

Naquela tarde, a velha havia estado mais exigente do que nunca e a obrigara a rebater vrias vezes as cartas pessoais. Isso atrasara o servio do prof. Fielding e ele tivera que esperar, com evidente impacincia, que Carol terminasse de datilografar-lhe a correspondncia profissional.

Terminado o servio, Alan dera uma rpida conferida e assinara, sem mais delongas. Caroline sabia o porqu daquela pressa toda, pois fora ela mesma quem se incumbira de reservar duas poltronas na melhor fileira do teatro. No era difcil imaginar quem seria a convidada. Iriam assistir a um musical que Carol estava louca para ver. Mas ir sozinha no tinha graa. Alis, nada mais tinha graa para ela, ultimamente.

Vai ser na Cornualha completou a srta. Tester e Carol enrubesceu. Mais uma vez tinha perdido parte da frase.

Oh, vai ser muito bom, srta. Tester! disse ela. Como disse mesmo que se chama o lugar?

A velha soltou um suspiro de impacincia.

Voc no ouvia uma s palavra do que eu disse!

Sinto muito. que tive um dia terrvel. Mas sei que isso no desculpa para no lhe prestar ateno.

De fato, no desculpa concordou. O que aconteceu? Meu sobrinho obrigou-a a trabalhar muito hoje?

Caroline respondeu com sinceridade:

s vezes bastante difcil suport-lo.

Voc vem dizer isso logo a mim? Voc sabe, ele vivo continuou ela. Carol levantou a cabea, abismada.

No sabia disso! E tem filhos?

Patrcia nunca quis ter filhos. No tinha a menor vocao para o lar. E era cheia de fricotes. Era capaz de desmaiar, se visse uma gota de sangue. Era um tal de Patrcia no gosta disso, ou Isso no bom para Patrcia, ufa! A srta. Tester sacudiu as mos enrugadas e Carol sorriu. Ela era alta, loira. E que voz! Mas de que adiantava? Era difcil viver com ela. Voc sabia que meu sobrinho adora crianas? E voc? perguntou a velha senhora, pulando de um assunto para outro.

Eu adoro! Alan pensou at que Simon fosse meu filho! disse, feliz por poder culp-lo de alguma coisa.

At eu pensei! admitiu a srta. Tester, e Carol segurou-lhe as mos. s vezes, acho que ele piorou de gnio, desde que soube que Simon filho de Melanie continuou, pensativa. E era verdade. E o que voc pretende fazer agora? perguntou tia Norah e Carol a olhou, desconcertada. Oh, no se incomode, esqueci-me de que no est me ouvindo mesmo.

Caroline tornou a prestar-lhe ateno e viu uma ruga sulcando-lhe a fronte. O que teria dito a respeito da Cornualha? Ser que pretendia passar umas frias na costa?

A respeito da Cornualha, srta. Tester Vou morar com minha sobrinha, a irm de Alan. Ela vive perto de Truro.

E vai para sempre? Agora que conseguira entrosar-se melhor com a velha senhora Carol sentia que ela fosse embora.

Espero que sim. Assim voc no precisar mais agentar minhas implicncias.

No diga isso! protestou Carol. S espero que o professor arrume bastante servio para preencher minhas horas vagas.

Isso o de menos. O caso que existe Alison.

Alison?

Seria outra namorada de Alan?

a filha de minha sobrinha Elizabeth. Acabou de diplomar-se e Alan prometeu-lhe o apartamento dos fundos.

Mas comeou a dizer Carol, porm tia Norah a interrompeu.

Essa promessa foi feita quando Alison entrou na faculdade, muito antes de Alan pensar em oferecer a residncia a uma funcionria. Ele teve essa idia porque vivamos muito isolados aqui. Nem sempre podamos contar com Jssica Farrell, que, felizmente, mora no fim desta rua. E a vizinhana no das melhores.

E ns? perguntou Carol, preocupada. Ele vai querer nos despejar?

A srta. Tester pousou as mos sobre os ombros de Caroline e deu-lhe umas pancadinhas confortadoras.

No sei bem o que Alan pretende fazer. Seria melhor perguntar a ele. No existe outro lugar onde sua irm e seu sobrinho possam ficar?

Caroline sentiu-se arrasada. Aquilo era um assunto mais srio do que se imaginava. Se Alan pretendia ocupar o apartamento, isso significava no s despejo, mas tambm demisso. Talvez fosse melhor que ela mesma pedisse as contas. No havia outra alternativa.

O que havia, na realidade, era um outro problema para Carol, no dia seguinte.Aconteceu na hora do almoo. A parte da manh tinha sido relativamente calma, pois Alan estivera operando e ela sentia-se quase feliz. O sol entrava pela sala, dando ao ambiente um ar gostoso de vero. Sabendo estar sozinha, despira aquele avental abominvel e soltara o cabelo. Tinha at tirado as sandlias, para sentir-se mais vontade. E foi assim, descala e assobiando uma modinha, que comeou a subir a escada do apartamento.

O problema das acomodaes tinha que ser resolvido, mas Carol estava to otimista naquele dia que at pensou que o professor seria compreensivo e acabaria arrumando outro lugar para elas. Caroline sabia que havia vrios quartos vagos na casa principal e imaginou que pudesse usar um deles. Simples.

Continuou subindo e parou de assobiar quando encontrou Melanie, que estava parada na porta, muito sria e compenetrada.

Aconteceu alguma coisa com Simon? perguntou, pois foi a primeira coisa que lhe ocorreu.

No. Ele est bem. Mas ns vamos embora daqui. Carol empalideceu.

Por qu? Voc andou ouvindo alguma coisa a respeito de Alison?

Que Alison? Ora, esquea. Eu vou voltar para Peter afirmou, de queixo erguido, cheia de determinao.

Melanie! Voc no pode fazer isso!

Caroline sacudiu a cabea, desconsolada, sabendo de antemo que Melanie no a ouviria.

No s posso, como vou fazer isso! confirmou, com as feies alteradas. Oua, eu o amo! Voc nunca entenderia!

Carol teve vontade de dizer que entendia. Que tambm amava. Que amava e odiava ao mesmo tempo. Que odiava aquele maldito homem, mas no podia viver sem ele! Limitou-se, porm, a encarar a irm.

Quando pretende mudar-se? perguntou, vencida, e entrou no apartamento.

Hoje mesmo. O txi vir buscar-me s trs horas. Assim estarei l quando Peter chegar do trabalho. Ambas olharam, sem apetite, para a comida que Melanie tinha preparado. O que tem a dizer-me ainda? Alguma outra objeo?

Carol meneou a cabea.

Tem certeza do que est fazendo?

Preciso tentar de novo. Voc entende, no entende?

Sim.

Caroline queria contar-lhe sobre o problema do apartamento, mas de que adiantaria, agora? Bem ou mal, Melanie tinha onde morar, e ela, talvez, pudesse arrumar um cantinho na casa do professor.

Olhou para aquele apartamento to aconchegante e pensou, com rancor, que no era justo ter que sair dali. Afinal, aquele era o seu lar! E ocupar um quarto na casa do mdico significaria uma convivncia perigosa com ele.

Voc tambm poderia mudar-se. No h razo para ficar num apartamento to grande. solteira e poderia arrumar um quarto em outro lugar.

Obrigada pela sugesto disse secamente.

A irm parecia ter se esquecido de que aquele apartamento fora conseguido por Carol, um direito que adquirira por ter que agentar um patro insuportvel e uma velha ranzinza. Possivelmente, Alan at inventara aquela histria sobre Alison, para livrar-se dela.

Caroline almoou mal e voltou preocupada para o escritrio. No tinha mais vontade de assobiar e no se sentia mais otimista. Doa-lhe a cabea. Se pudesse gritar, ou chorar, talvez se sentisse mais aliviada. Mas deixaria o desabafo para mais tarde. Agora, precisava terminar de datilografar as cartas de Alan. Alm disso, a srta. Tester necessitaria dela, para ajud-la a fazer as malas.

Ainda descala, entrou no escritrio, de cabea baixa, sentindo-se a mais desgraada das criaturas.

Foi ento que Alan apareceu, com a fisionomia fatigada, parecendo extremamente abatido.

Caroline ficou esperando pelo golpe de misericrdia. S de uma coisa tinha certeza: preferiria mil vezes ser chicoteada pela lngua ferina do mdico a ter que ir embora.

Tia Norah disse-me que j a preveniu disse Alan, com voz aptica, desviando o olhar para a janela que dava para o jardim.

Sim. Ela me disse que voc vai precisar do apartamento para sue sobrinha.

Pois uma antiga promessa. Alison necessita fazer algumas pesquisas em Londres e no tem onde ficar. Alm disso, vai casar-se em breve, e no h nada como um apartamento de graa para se comear uma nova vida. Voc poder ocupar um dos quartos da casa ofereceu, sem muito entusiasmo.

E a srta. Clifton? Ela no vai gostar nada disso!

Acho que no vai gostarAlan parecia divertido, ao dizer aquilo. que no era ele quem teria que agentar as piadinhas de Vanessa. Melanie vai embora, prof. Fielding.

Eu sei. Ela disse-me h tempos que tinha inteno de ir.

Mas s hoje eu soube disso! exclamou Carol, sentindo-se trada.

Voc sempre trabalha desse jeito? perguntou ele, mudando de assunto e olhando para as pernas mostra e os ps descalos de Caroline.

No o esperava to cedo desculpou-se ela.

Nota-se! A voz soava irnica.

Se eu soubesse, teria vestido aquele avental horroroso!

Ele continuava a olhar-lhe as pernas e Carol comeou a sentir-se cada vez mais acanhada.

Tenho que reconhecer que voc fica melhor assim admitiu ele. Se Melanie vai voltar definitivamente para o marido, isso muda muita coisa acrescentou, encarando-a.

Os olhos cinzentos pareciam mais gelados do que nunca e Carol sentiu um calafrio. Tinha chegado o momento da punhalada final. Sem dvida ele iria demiti-la. E foi ento que ele falou Quer se casar comigo, Caroline?

Ela quase desmaiou, ao ouvir essas palavras. Ser que no estava sonhando?

O eminente cirurgio, prof. Alan Fielding, estava pedindo a insignificante Caroline Weston em casamento?

Abriu a boca, perplexa, e tornou a fech-la quando Alan deu um passo frente.

CAPTULO V

Nervosa, Carol tambm deu um passo atrs, com os olhos muito arregalados pelo choque e pela dvida.

Pelo amor de Deus, garota! explodiu Alan. Eu no vou violent-la!

Carol enrubesceu.

Eu eu gaguejou, mas no foi adiante. Ele sorriu.

Com essa roupa, voc est parecendo uma menina de quinze anos e faz com que eu me sinta um velho tolo.

Por qu? perguntou ela, num fio de voz. Quero dizer, o casamentoEle ficou surpreso.

Parece-me bvio o porqu. Ou voc quer explicaes mais detalhadas?

No, mas que No vamos discutir isso agora, Carol. Minha agenda est cheia para esta tarde. noite, iremos conversar em algum lugar tranqilo. Irei busc-la s oito horas.

Sim, mas que tentou novamente, mas o enigmtico Alan Fielding virou-lhe as costas.

Ela estava to abalada que teve de sentar-se numa cadeira de rodas que estava por perto. Imagine, casar-se com o prof. Fielding!

Soltou uma risadinha nervosa. Ela, noiva do professor! Sentiu a cabea zonza. Certa vez, numa festinha do hospital, tomara umas e outras e ficara meio bbada. Era exatamente a sensao que sentia agora. Aquilo era inacreditvel! Inacreditvel era o termo certo. Por que ele haveria de propor-lhe casamento?

J refeita do impacto, comeou a raciocinar friamente. Caroline Weston no deixava que ningum a fizesse de boba, nem mesmo o prof. Fielding. Mordeu os lbios com tanta fora que chegou a tirar sangue deles.

O motivo daquela proposta tornava-se evidente. Alan Fielding tinha uma reputao a preservar. E isto era tudo. Claro!

Ele no tinha acomodaes para ela, a no ser na prpria casa. Tia Norah e Melanie iriam embora e eles ficariam sozinhos. verdade que Alison ocuparia o apartamento dos fundos, mas isso pouco contava. No seria conveniente, aos olhos dos ricos e importantes pacientes de Alan Fielding, que ele vivesse com a secretria. Logo comeariam as fofocas maliciosas. Alan estava apenas preocupado com a reputao dele. E por isso decidira casar-se.

Ser esposa de Alan!

Seu corao alvoroou-se, ao pensar no que isso significava. Significava compartilhar de seu sobrenome, de sua vida, de sua camaSuspirou, sonhadora. Sentir aqueles dedos sensveis percorrendo-lhe o corpo, acariciando-a Era demais!

Alan, eu o amo!, gritou intimamente, esquecendo-se de todos os rancores e do propsito de nunca sujeitar-se a ser escrava de um homem.

Talvez ele no gostasse muito quando descobrisse que ela era virgem, sem qualquer experincia sexual. Afinal, era um perfeccionista e esperava perfeio tambm nos outros. Mas quem sabe se, nesse caso, seria mais tolerante, em considerao juventude dela, e se prestaria a ensinar-lhe todos os segredos do amor? Carol queria faz-lo feliz em todos os sentidos.

noite, enquanto fazia uma busca infrutfera em seu guarda-roupa, cata de algo adequado para a ocasio, Carol lembrou-se da elegante Vanessa Clifton e toda a euforia desapareceu. Afinal, Vanessa tinha afirmado que era noiva dele. No usava nenhum anel de noivado no dedo, mas isso era o de menos.

Sentou-se, meditativa e solitria, na beira da cama. Como solitria estava aquela casa, depois que Melanie se fora. E, com ela, tambm o lindo vestido marrom de Carol, que lhe custara to caro e que seria to apropriado para um jantar. Mas a perda do vestido era o de menos. Sua maior preocupao era a de que, na nsia de proteger seu bom nome, Alan tivesse repudiado a noiva. E Vanessa no era mulher para ser repudiada. Alis, para ser justa, combinava muito bem com a figura e a posio social de Alan. Muito mais que Caroline.

Se ele se casasse com Vanessa, Carol poderia usar um dos cmodos da casa sem provocar escndalos. Mas quem sabe a srta. Clifton no aceitara essa condio, ou fizera exigncias demais?

Quaisquer que fossem as razes, Carol decidiu propor-se o desafio de tornar-se uma esposa digna do renomado cirurgio Alan Fielding!

Depois de muito escolher entre suas poucas roupas, acabou se decidindo por um conjunto azul, muito simples e nada apropriado para vestir noite. Pensou, desanimada, que nem ficara noiva oficialmente e o noivo j teria que envergonhar-se dela!

Procurou compensar a simplicidade do vestido com um penteado mais elaborado. A maquilagem era outro problema. Melanie tambm carregara o estojo e s sobrara um msero batom. Pacincia!

Ela continuaria a ser a modesta Caroline e Alan precisaria aceit-la tal como era.

Alan no comentou nada sobre a aparncia de Carol, mas a cara que fez dizia muito mais do que simples palavras.

Ele no gostou. Mas, como nunca foi pobre, no pode compreender que algum no tenha dinheiro para comprar roupas, pensou Carol, ressentida, quando ele abriu a porta do fulgurante Rolls-Royce.

Se Alan ficara desapontado, ela ficou foi deslumbrada, ao entrar no restaurante que ele escolhera. Era um verdadeiro palcio de vidro e luzes e seus olhos brilharam de assombro, quando entrou no salo. Jantar fora j era um privilgio para quem no estava acostumada a isso, mas jantar naquele lugar era o mximo!

Desconfiada, Caroline achou que aquela noite seria uma exceo. Depois de casado, ele no a levaria mais a lugares como aquele. Talvez nem sequer sasse mais com ela. Talvez esperasse que a futura esposa se restringisse a ser cozinheira, arrumadeira, secretria, possivelmente, recepcionista dos colegas de profisso. Em compensao, lhe daria um lar. E seu amor. Bem, no seria amor de verdade, pois ele no a amava. Mas, mesmo assim, poderiam ter um casamento satisfatrio.

Foi servida uma sopa de aspargos, mas Carol no estava com muita fome. S queria que Alan falasse sobre a proposta de casamento, para conhecer as condies. E queria tambm abordar o assunto Vanessa.

Aceita um pouco de vinho? perguntou ele.

O qu? Ah, sim, por favor.

Ele serviu uma dose generosa de vinho branco. Caroline provou-o e achou que era um pouco seco. Mas, e da? Precisava ganhar foras e por isso tomou a bebida de uma vez s, mesmo sabendo que a boa educao mandava que ele fosse saboreado em pequenos goles.

Tentando tomar coragem, Carol? perguntou ele, em tom sarcstico e aborrecido.

Ela estava sempre fazendo as coisas erradas. Ser que nunca conseguiria agrad-lo?

Sem consult-la, tornou a encher-lhe o copo. Em seguida, foi servido o peixe. Caroline gostou do molho de cogumelos e acabou comendo tudo. Ansiosa, perguntou pela sobremesa.

O jantar ainda no terminou avisou ele, entediado, afastando seu copo de vinho ainda pela metade. Encomendei um fil mignon. Como sobremesa, um pudim, ou talvez queijo, ou doces, como preferir.

J um pouco alterada pelo vinho e embaraada pela gafe que cometera, ela resolveu ser irnica.

Foi muito gentileza sua perguntar-me o que prefiro. Na verdade, no gosto de fil mignon. Mas nem lhe passou pela cabea perguntar-me isso. Aposto que quando sai com Vanessa sempre pergunta o que ela quer!

Voc no passa de uma criana caprichosa revidou ele. E eu no devo estar raciocinando direito!

Talvez no esteja mesmo concordou Carol, enquanto chegava o fil. E, por falar nisso, ns amos conversar sobre sua proposta de casamento, lembra-se?

Ah, sim, minha proposta. Bem, achei que no seria conveniente voc morar na minha casa, agora que estamos sozinhos. Ela meneou a cabea lentamente.

Voc se preocupa com a sua reputao!

E com a sua.

Muito decente de sua parte! Ele franziu a testa.

Em vista das circunstncias, decidi que o casamento seria a melhor soluo para o caso. Por outro lado, voc estar mais disponvel. A enfermeira Farrell vai aposentar-se em breve, e nada impede que ela a prepare para assumir seus encargos.

Caroline engasgou. Quer dizer que ela estaria disponvel para exercer mais uma tarefa: enfermeira da clnica! Sim senhor!

E Vanessa Clifton? perguntou, sentindo-se satisfeita por v-lo embaraado.

Ela tem imaginao demais respondeu Alan, depois de um longo silncio.

Mas ela me disse que era sua noiva! Voc deve t-la pedido em casamento!

No, no pedi coisa alguma. Foi ela quem andou fazendo suposies.

justo. Se ela era sua amante, deve ter presumido que um dia seria sua esposa.

Por favor, Carol, pare de me agredir desse modo! Comporte-se como uma adulta!

Os tempestuosos olhos cinzentos fitaram-na com rancor e, de repente, Carol perdeu completamente o apetite.

Se no estiver gostando do fil, pode deix-lo. Pedirei outra coisa.

No necessrio. Vou comer s a sobremesa. Da prxima vez, se no se importar, gostaria de pedir frango.

Est nervosa esta noite, hein?

Para alvio de Carol, ele parecia mais divertido do que chateado.

O pudim coberto por uma camada de creme fez com que ela lambesse os lbios, ao v-lo. Alan chegou a rir, vendo a satisfao dela.

At que enfim tinha feito alguma coisa que o agradara! Sentiu-se mais animada, mas o ressentimento voltou quando Alan a encarou e disse, muito srio: Naturalmente, minha proposta ser mais ligada negcios do que a sentimentos. Ser um casamento s no nome. Eu jamais sonharia em ter alguma ligao mais ntima com uma garota de sua idade.

Claro, claro sussurrou, admirada por ter conseguido falar. Ela no servia para am-lo, ser amada, compartilhar a vida com ele! S servia como uma escrava. Uma escrava de luxo!

O que ser que Geoffrey vai dizer disso tudo? perguntou, com vivacidade, esperando provocar-lhe alguma reao.

Geoff?

Ser que no ficar chocado em ter-me como cunhada? Parece que tinha acertado no alvo. A reao de Alan no se fez esperar.

Nunca mais fale de meu irmo dessa forma! Gosto muito dele e, por ser dez anos mais velho, sinto-me


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