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Historia politica economica do reinado do S. Rey D. Jozé I.pdf

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c

RIO T A P A J Ó S

POR

E m c o m m i » s 5 o * è i e n t i f i c a

  p e l o

  G o v e r n o

  I m p e r i a l

R I O DE J A N E I R O

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 O

o HÍSTORKO, GEÔGRAPHÍCO S STFÍNGGRAP

DO

DEDIC

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R O

  T P J Ó S

SANTARÉM SEUS

 ARREDORES

 E SEU

HISTÓRICO.

urrente calamo  v o u   t r a n s c r e v e r  a s   n o t a s   q u e   t o m e i

d e s d e

  q u e

  a v i s t e i

  as á g u a s   c r i s t a l l i n a s pretas d o s n a -

l u r a e s d o   r i o   T a p a j ó s ; p o r   i s s o   s e m   b e l l e z a s   d e

  e s t y l o

a c i l

  s e r á o m e u   d i z e r f i r m a n d o - m e   e m   e s t u d o s  e n a   v e r a

c i d a d e

 d o s  f a c t o s  q u e

  o b s e r v e i .

t r a v e s s i a

  d a

  v i l l a

  d e

  M o n t e - A l e g r e p a r a

  S a n t a r é m ,

a p r e s e n t a   i m p r e s s õ e s   v i v a s  e   a l e g r e s .

P e l a s

 

h o r a s

  d a m a n h ã d o

  d i a

  1 5 d e

 M a i o

 d e 3 8 7 2 c o

m e c e i

 a

  d i s t i n g u i r   u m a   l i n h a   n e g r a   n a m a r g e m

  d i r e i t a

  d o

A m a z o n a s , q u e   i n d i c a v a  a

  p r o x i m i d a d e

 d o  T a p a

 jós.

 A m e

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O b s e r v e i ,

  q u a n d o

  p e n e t r e i

  n o

  r i o

  T a p a j ó s , q u e

  a n t e s

  d a

c o n f u s ã o

  g e r a l

  d a s á g u a s , s ã o a s d o A m a z o n a s q u e s e   i n t r o -

m e t t e m

  p e l a s

  d o s e u a í í l u e n t e .

C o m e ç a - s e a

  o b s e r v a r

  n e s t e

  q u e a s á g u a s

  b a r r e n t a s

f o r m a m   a q u i   e   a l l i   m a n c h a s   c l a r a s   e

  d i s t i n c t a s ,

  q u e á

m e d i d a

  q u e s e a p p r o x i m a m d o A m a z o n a s v ã o - s e

  a u g m e n

t a n d o   a t é   c o n f u n d i r e m - s e .   E * n o t á v e l a p r e s e n ç a   d e s s a

p o r ç ã o d ' a g u a b r u s c a m e n t e

  d i c t i n c t a

  d a s á g u a s

  n e g r a s ,

f o r m a n d o

  c o m o

  q u e u m p a n n o   p r e t o   m a n c h a d o d e p a r d o .

A c o n f l u ê n c i a d a s á g u a s , o

  a s p e c t o

  d a s m a r g e n s , a n a

t u r e z a ,

  t u d o

  a l l i

  é

  d e s l u m b r a n t e .

Q u a n d o

  p e n e t r e i

  n o T a p a j ó s ,

  c o m o

  q u e   s e n t i   m i n h a

a l m a   a l e g r a r - s e .

A

  c i d a d e

  d e S a n t a r é m e s t á   s i t u a d a   n a   m a r g e m   d i r e i t a

d o r i o T a p a j ó s ,

  q u a s i

  n a c o n f l u ê n c i a d o

  m e s m o

  c o m o

A m a z o n a s , s o b u m a d o c e e m i n ê n c i a , q u e ,

  p r i n c i p i a n d o

  n a

m a r g e m   v a i   t e r m i n a r   n o s c a m p o s , p r ó x i m o á

  s e r r a

  q u e a

r o d ê a , a d u a s l é g u a s d e

  d i s t a n c i a .   F i c a   n a l a t .

  S 2

o

— 2 4 '

5 2

e n a l o n g .

  O 1 1   °

  — 3 3 ' — 1 1 .

  O c c u p a u m a   bela p o

s i ç ã o ,   d e s c o r t i n a   u m

  l a r g o

  h o r i z o n t e ,   é

  v a r r i d a   p e l o s

v e n t o s ,

  t e m u m

  c l i m a

  s a u d á v e l e u m a

  t e m p e r a t u r a

  q u e , s e

b e m q u e   d u r a n t e   o   d i a

  a t t i n j a

  d e 3 0

0

  a 9 0

0

  F a h r . ,

  é a m e -

n i s a d a p e l a s   b r i z a s

  e t e m a s   n o i t e s

  f r e s c a s

  e a g r a d á v e i s ,

n u n c a

  e x c e d e n d o o t h e r m o m e t r o d e 8 2

  0

O s

  d i a s

  s ã o

  a l e g r e s ,

  s e u   a l v o r e c e r   é

  l i n d o

  e a s

  s u a s

t a r d e s   s o b e r b a s .   O   e s p e c t a c u l o   q u e s e   r e p e t e   t o d a s   a s

t a r d e s ,

  d u r a n t e

  o

  a r r e b o l ,

  é s e m p r e

  v a r i a d o

  e m a g e s t o s o .

N u n c a s e

  d e i t a

  o s o l n o T a p a j ó s s e n ã o

  c e r c a d o

  d e o u r o e

p u r p u r a .   A e l e v a ç ã o d e 1 6 m e t r o s   a c i m a   d o   n i v e l   d o m a r ,

c o n t r i b u e   p a r a

  q u e a s u a s i t u a ç ã o   s e j a   m a g n í f i c a .   D i s t a n d o

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pelos

 seus

 bellos pontos de vista pela sua

  posição,

  torna-se

a princeza do Amazonas pela sua

  popu lação t ambém

occupa um lugar importante.

  Contém

 a cidade 2.304

  i n d i

v íduos ,  sendo  d. 120   do sexo masculino e 1.184 do  f e m i

nino. Nacionaes 2.203 e estrangeiros 101 comprehendendo

207

 casados

2.204 solteiros sendo 730 de côr branca

567 tapuyos 659 pardos e 348 pretos. Apenas são escravos

467

  i nd iv íduos

  e só sabewi ler 586. Todo o

  munic íp io

tem

 8.643 habitantes sendo brancos 1.098 tapuyos 4.690

de

  côr

 830 do sexo

 masculino 4.191

e do

 feminino

 4.452.

O  boato de que este  local é um foco de lepra e elephan-

tiasis dos Á rabes,   é

 infundado

e custa a crer que autores

taes

  como Baena

paraense

no seu

  Ensaio corographico

Herdon

  no seu

  Walley

  of the

  Amazon

e Agassiz na sua

Voyage

  u

  Brésil

affirmem

  que grassam

  estas

  molés t ias

entre os naturaes.

  Não

 sendo bem

 informados

 esses

 autores

tomaram

  a nuvem por Juno. Indagando observando por

m im

  nr

  >mo,

  só encontrei dous casos de elephantiasis isto

mesmc m

  i nd iv íduos

 que

  não são

 do lugar.

 E

verdade que

alguns lephantiacos apparecem ás vezes mas são trazidos

á

 cidade a

 implorar

  a caridade e depois retiram-se para

outras

  povoações

 onde residem. O testemunho de pessoas

antigas e de

  méd i cos

  corrobora esta

  a s s e rção .

Compõe-se

  a cidade de cinco ruas parallelas ao rio

cortadas por

 oito travessas

 em

  ângulos

  rectos embellezada

por  um largo e duas  p r aça s ,   comprehendendo 300

 casas

das

 quaes

 12 são de sobrados e 65 de palha todas bem

edificadas se bem que algumas antigas e ainda de

  r ó tu l a s

 e

postigos.

  Contam-se entre ellas 36 lojas de fazendas e ta-

vernas 4 padarias 1 botequim 1 typographia 1 bilhar

3 quitandas 3

 a çougues ,

  3 boticas 1 ferraria

1 fundaria

1 relojoaria

2 lojas de alfaiates 4 marcenarias

1

 saboaria

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—  8 —

A casa da câmara é um bonito edifício, espaçoso, tendo

no frontespicio quatro columnas, que formam um

 peristyllo

para onde se  sobe por uma escadaria que o

 rodeia,

 e que

dá entrada por tres portas, tendo

 duas janellas

 de cada lado.

Divide-se  da  cadêa que  es tá  no mesmo  edif ício por um

pateo quadrado, rodeado de columnas quadrangulares.

Contém

 esta

  quatro grandes, arejados e limpos comparti-

mentos,

  onde actualmente existem 18  presos e condem-

nados, e um

 louco.

Foi começada a  cons t rucção  em 1853 e terminada em

1867. O seu rendimento annual é de 7:000 a 8:000 000.

Um grande e asseado templo serve de matriz, com a  invo

cação de Nossa Senhora da  Conceição.  Se bem que sua parte

architectonica  não contenha  ricos* ornamentos ,  póde-se

dizer

 que é

 ella

 a

 melhor

 igreja

 das

 pov oações do

 Amazonas.

Outr'ora tinha duas torres, po rém essas cahiram. Faz

 frente

para o rio e occupa um dos lados do largo que  fica quasi no

centro

 da cidade. Foi inaugurada ém 1819, e ccnstruida

pelos esforços do vigário de en t ão o padre po r tuguês Manoel

Fernandes  Leal  e dos  c idadãos José  Fernandes dos Reis e

Antônio Fernandes dos Reis, porappelido os preguiças.  De

pois  da

  nossa

 em ancipação polit ica o mesmo  vigário  não

querendo adherir a

 ella

 retirou-se para Lisboa.

Examinando

 a igreja, deparei  com um c ruci f ixo que para

m im mereceu grande veneração e respeito, porque comme-

moraum  milagre,  feito quando o Dr. Von Martins,  d i r i g in

do-se a

 S a n t a ré m naufragou

 no dia

 18

 de Setembro de 1819

no  Amazonas,  p ró x imo  á embocadura do  T a p a j ó s .  Um

quadro

 de  ferro fundido com letras em relevo, douradas,

collocado

 na  base  da cruz,

  refere

 o  milagre,  da seguinte

f ô r m a :  «

 O

  cavalheiro Carlos Fred. Phil.

  de

  Martius

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Divina do furor  d s  ondas do Amazonas junto d villa de

Santarém mandou como monumento de sua pia

 gra

tidão ao Todo

 Poderoso erigir este crucifixo nesta igr

de Nossa Senhora da

 Conceição

 no anno de

 1846

O   C h r i s t o   é d e

 t a m a n h o

  n a t u r a l ,   d e   f e r r o

 d o u r a d o ,

  c r a

v a d o

 e m u m a

  c r u z

  d e i t a ú b a .

  C u m p r i n d o

  a

  p r o m e s s a

  q u e

e n t ã o

  f i z e r a ,

 o s á b i o b o t â n i c o ,

  a p e n a s

  c h e g o u  á  E u r o p a , '

r e m e t t e u

  a i m a g e m e o

  q u a d r o ,   s e n d o

 e n t ã o

  a q u i c o l l o c a d o

n a c r u z

  e m

  1 8 4 6 .

  O r n a

  o

  p r i m e i r o a l t a r

 d a

  d i r e i t a .

  N ã o

 é

o b r a

  d e   a r t e ,  m a s   e t e r n i s a

  d u a s   c o u s a s : 

« p i a g r a t i d ã o »

d e M a r t i u s

  e s u a

  v i n d a

  a o   B r a z i l .

E s t a

  é a   t e r c e i r a i g r e j a ;  

l .

a

,

  q u e   e x i s t i a  n a   p r i m i t i v a

a l d ê a , e r a

  c o b e r t a

  d e   t e l h a ,

  s e g u n d o

 o   i n v e n t a r i o   q u e

l i

  f e i t o

  p e l o

  p r i m e i r o   v i g á r i o , e r a n a r u a

 do

  C a s t e l l o ,

n a e s q u i n a

  f r o n t e i r a

 á

  a c t u a l

  p h a r m a c i a

  d o

  S r . M a t t o s

  ,e

f o i

  e d i f i c a d a

  p e l o

  4.° m i s s i o n á r i o o

 P a d r e

  J o ã o

  M a r i a

  G o r -

s o n i  e m  1 6 8 2 ;  2 . n o

  l a r g o

  d a

  I m p e r a t r i z ,

  o n d e

  h o j e

a i n d a

  s e v ê u m   c r u z e i r o .   M a l   e d i f i c a d a

  p e l o

 P a d r e

  M a n o e l

R a b e l l o ,

  f o i

  e m 1 7 3 3   r e e d i f i c a d a

  p e l o - P a d r e L u i z A l v a r e s ,

q u e a b i m i s s i o n o u

  a t é 1 7 4 6 .

  E s t a

  t i n h a j u n t o   u m   c o l l e g i o

d i r i g i d o

  p e l o s p a d r e s

  d a   c o m p a n h i a ,  q u e   e x i s t i a ,   j á   a r r u i -

n a d o

 e m

  1 8 1 4 ,

  s e n d o

  a b a n d o n a d o

  e m

  1 8 1 9 ,

  d e p o i s

  d a

c o n c l u s ã o d a   a c t u a l m a t r i z .

N o

  c a m p o

 e m   f r e n t e  a o

  c e n t r o

  d a

  c i d a d e ,

  e x i s t e  o

  c e m i

t é r i o ,

 t o d o  m u r a d o ,

 c o m u m a

  e a p e l l i n h a ,

 e

  a l g u n s

  t ú m u l o s

d e

  m á r m o r e , d e   v a l o r .

A d i r e i t a

  d a

  c i d a d e ,   s e p a r a d a   p o r

  u m a e s p a ç o s a p r a ç a á

m a r g e m t a m b é m d o

  r i o

e s t á

 

aldêa,

  u l t i m o

  v i s l u m b r e

  d a

a n t i g a

  t a b a ,

  d a

  q u a l

  s ó

 r e s t a

  u m a

  v e l h a t a p u y a

  c e n t e n á r i a .

E '

 h a b i t a d a p o r t a p u y o s ,

  d e s c e n d e n t e s   d o s

  v e l h o s

 T a p a j ó s  e

p o r o u t r o s

  d e  c r u z a m e n t o   d e

  o u t r a s

  t r i b u s .

  C o m p õ e - s e d e

s e s s e n t a

  e   o i t o

 p a l h o ç a s ,   a l g u m a s

  a r r u a d a s , o u t r a s

  e s p a

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vadindo

 o cholera-morbus o Amazonas,   ceifou quasi toda a

sua  popu lação .   Conservam os  indígenas  ainda uns  restos

longínquos dos usos   primitivos.

A esquerda da cidade

 fica

 um outeiro, d onde se goza o

mais bello panorama. Quando

 não

 fosse

 notável

  esse  ponto

pelo

 grande horizonte, e perspectivas variadas que dahi se

gozam,

 as ruínas que ahi ainda se vê, de um antigo  forte,  o

fariam, com as  suas recordações

  h i s t ó r i cas .

Com

  effeito

 grossas

  porções

  <?e

 muralhas,

 signaes

 de

 fos

sos, aqui excedendo a mata que já as cobre,

 acolá

  enco

berta pela mesma, nos lembram o patriotismo de um

 abas

tado portuguez e o não menos nobre de seu  filho,   a quem

cabe a  gloria não  só da

  edif icação,

  como do seu commando.

Reinando D. João

  I V ,

  e temendo alguma  invasão  defran-

cezes

 pela Guyanna, mandou

  fortificar

 as margens do

  Ama

zonas, por

 cujo

 motivo Francisco da

 Moita

  Fa lcão ,

  o mesmo

que foi ao  Maranhão  com o Governador Gomes Freire de

Andrade

 em 1685, pela revolta de  Manoel Beckmann,  offere-

ceu-se para fazer quatro fortalezas á sua custa e no curto es

paço de quatro

  annos

 ; pelo que

  El-Rei,

  por  lvará de 15

de Dezembro de 1684,  fez

 mercê

  ao mesmo

  indivíduo

 de

uma das quatro que se obrigára  a fazer, podendo o mesmo

por

  sua

 morte

  passal-a  a  seus

 filhos.   Missionava

 então a al-

dêa dos  Tapajós o padre  João  Maria  Garsoni e fallecendo

Francisco da Motta   Fa lcão ,  deixando apenas  principiadas as

mesmas  fortalezas,   D . J o ã o ,   por Carta  Patente  de

  1

4 de

Julho de

  1716,

  fez mercê  a seu   filho   Manoel da  Motta  de

Siqueira,

  do governo  vitalício  da fortaleza dos   Tapa jó s ,

em

  recompensa do  serviço  de tel-as   feito à sua custa.

Prestou  este,  juramento, e rendeu preito e homenagem,

nas  mãos  do Governador  Capitão  General  Christovão  da

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— {{ m

d i a   1 8   d e J u n h o d e   1 7 1 8 ,   a s s e n t a n d o p r a ç a d e p o i s a   2 6

d e J u l h o

 c o m

 o

 s o l d o

  d e

 8 0 0 0 0

 a n n u a e s ,

  p o r

 o r d e m

 d o

m e s m o

  G o v e r n a d o r ,

 d a d a

 e m

  1 5 d o m e s m o m e z   e a n n o .

D e z a n o v e

 a n n o s

 d e p o i s ,

 n ã o

 p o d e n d o ,

  p e l a s  m o l é s t i a s q u e

s o f f r i a

  e p e l a  a v a n ç a d a   i d a d e q u e   t i n h a ,  d e  8 0   a n n o s ,   c o n t i

n u a r   c o m o

  G o v e r n a d o r

 d a

 m e s m a

  f o r t a l e z a ,   r e q u e r e u  ao

G o v e r n a d o r   C a p i t ã o

  G e n e r a l ,

  q u e e n t ã o

  e r a

 J o ã o d e

  A b r e u

C a s t e l l o

  B r a n c o , ( 1 )

 q u e

  h a v i a

  t o m a d o

  p o s s e

  e m

 1 8

 d e

S e t e m b r o

 d e  1 7 3 7 ,   q u e ,  e m

  v i s t a

  d a   c a r t a p a t e n t e

 q u e

t i n h a ,   n o m e a s s e s e u   f i l h o   J o ã o   d a  M o t t a   d e  S i q u e i r a p a r a

s u b s t i t u i l - o .

  A t t e n d e n d o   o  G o v e r n a d o r ,

  p a s s o u

 e m  8  d e

O u t u b r o   d o  m e s m o   a n n o ,  u m a   c a r t a   p a t e n t e a o   m e s m o  J o ã o

d a M o t t a

  d e   S i q u e i r a ,

  d a n d o - l h e o   r e f e r i d o   g o v e r n o   d a

  f o r t a

l e z a

 

s e m

 s o l d o ,

 p o r p e r t e n c e r

 a

 s e u

  p a i .

 T o m o u

 e n t ã o

 p o s s e

e m

  2 1

 d e

  O u t u b r o   d o

 m e s m o  a n n o ,

 d e p o i s

  d e

 r e n d e r   p r e i t o

e

 h o m e n a g e m

  a   E l - r e i c o m o   e r a d e   e s t y l o .

 P a s s a n d o

 a g o v e r

n a r  a  f o r t a l e z a   J o ã o d a   M o t t a   d e   S i q u e i r a  e  v a g a n d o  o p o s t o

d e t e n e n t e p o r   p a s s a g e m   q u e  d e l l e   f e z p a r a   o  d e   a j u d a n t e

d e

  a r t i l h a r i a   D o m i n g o s

  R o d r i g u e s ,   e m 9

  d e

 N o v e m b r o

 de

1 7 4 6 ,

  f o i

  p r o v i d o

 n o

 m e s m o

  p o s t o

  s e u

  f i l h o

  M a n o e l

 d a

  M o t t a

d e

  S i q u e i r a ,

  p o r   c a r i a p a t e n t e

  d a m e s m a

  d a t a , a s s i g n a d a

p e l o  m e s m o   g o v e r n a d o r

  C a s t e l l o

  B r a n c o .   M e r e c e u   e s t e p o s t o ,

p e l o s  relevantes s e r v i ç o s

 q u e

 p r e s t o u  c o m o   s o l d a d o v o l u n

t á r i o  d a   c o m p a n h i a   d o c a p i t ã o J o ã o P a e s  do

  A m a r a l ,  n o

e s p a ç o

 d e

 u m

  a n n o

 e  o i t o  m e z e s .

E n t r o u  e m   e x e r c i c i o  no  d i a

 1 2 d e

 N o v e m b r o

 d o m e s m o

a n n o .

C o n s i d e r a v a m - s e

  o u t r o r a  b o n s   s e r v i ç o s , a s  rondas sen-

tinellas e guardas l  M a n o e l d a   M o t t a , f o i  t a m b é m   J u i z

o r d i n á r i o  e  d e o r p h ã o s ,

  d a

  v i l l a   d e   S a n t o  A n t ô n i o   d e   G u r u p à ,

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Reconhecendo  D . Pedro I I o pacifico, os  serviços

 prestados

por

  seu avô, quiz ainda mais galardoal-o nomeando-o

moço  fidalgo

 de sua Real

  Casa

  e agraciando-o com o ha

bito  de Christo, em quatro  g e r a çõe s .  Gozam ainda estes

foros, sem o saber ou delles não fazer

 caso,

 os sete

  filhos

 que

ainda vivem de

 João

  Pedro da Motta de Siqueira, que  falle-

ceu em 1864 com 70 annos. De pesquiza em pesquiza con

segui saber o histórico  do Forte do Tapa jós por documen

tos originaes que

  f u i

 descobrir nas

 mãos

 da

 viuva

 do mesmo,

Theodora  Antonia Gomes, moradora no Á r a p ix u n a .  1)

1)  DOM

 JOÃO

  P O R

  GR Ç

D E  D E O S

  R E I

  D E  P O R T U G A L  E DOS

  A L G A R V E S

  D

Q U E M   E

  D A L E M

  M R E M

 Á FR IC

S E N H O R   D E

  G U I N É

  E D C O N Q U I S T A

N A V E G A Ç Ã O C O M M E R C I O  D E T I Ó P I A A R Á B I A P É R S I E D Í N D I A E T C .

Faço saber aos que esta minha Carta Patente virem que tendo con

sideração  a haver  feito  merc ê  a Francisco da  Motta  Falcão  por

lvará  de quinze de Dezembro de mi l e  seiscentos  oitenta e quatro

de uma das quatro Fortalezas que se havia obrigado a fazer por sua

conta dentro em quatro

  annos

  pelo Rio das Amazonas acima nas

partes  mencionadas, na

  provisão

  que se havia  passado  para o  dito

effeito, qual  t lle escolhesse em sua  vida,  e por sua morte para um

de

 seus

 filhos  qual elle nomeasse  e hora vem representar por parte

de seu

  filho

  Manoel da  Motta  de Siqueira fallecer o dito  seu Pay sem

dar cumprimento as

  condições

  com que lhe havia fei o a referida

merc ê e as mais com elle mencionadas e só deixar principiadas algumas

das ditas Fortalezas, e por sua morte tratar o dito Manoel da  Moita  de

Siqueira

  com todo o valor trabalho e

  despeza

  de

  sua... .da

  não de

acabar

  as  taes fortalezas as quaes  se acham em sua  ultima  perfeição

como que tinha  i n d i  as  condições  que se haviam dado ao

dito seu pay e mercê  de governal-a.

  escolhe-se

  em sua

vida,  e por sua morte ao  íilho  que  nomeasse,  e que se devia  verificar

no supplicante por ter satisfeito as  condições  a que o  dito seu pay

estava  obrigado, e para se lhe  passar

 o

é

despacho

  do Governo da Tal

Fortaleza nomeando logo a dos

  Tapajós

  que elegia para sua

  assis

tência  ; e tendo despeito aos documentos que apresentou e ao que

sobre

  este

 requerimento  informou  o Governador e  Capitão  geral do

Estado do Maranhão  e respondeu o meu procurador da Coroa a que

se deu vista.

Hei  por bem fazer

 mercê

  ao  dito  Manoel da  Motta  de Siqueira do

governo da dita Fortaleza do Tapajós  cm sua  vida  e por sua morte ao

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Ainda  em 1852, existia o forte, servindo de quartel e

de cadeia, para onde se entrava por

 pontes

 que tinha

 sobre

os fossos. Formava um quadrado, com 22

  b r a ç a s

  de cada

de que se  f a r á  termo nas  costas desta  Carta  Patente  que por firmeza

de tudo lhe mandei

  passar

 por duas vias por mim assigriada e sellada

c o m  0 sei Io  grande de mhha*  armas, e nos registros do dito  A l v a r á  se

p o r ã o  as  verbas  n e c e s s á r i a s , e pagou de novo direito quarenta mi l ré i s

da propriedade e outo mil  réis  da renuncia que se carregaram do

Thesoureiro

  A l e i x o

  Botelho de Ferreira, a fls. 31 e deu

  f i a n ç a

  no l i

vro  a  dobra  do  papel inutilizou  uma  linha  in-

teira)  dão junclica, e não a  apresentando  no dito tempo  pagar  pelo

que a junta lhe arbit rar, como constou de seu em forma registado

no registro geral a  f l s . 47. Dada na cidade de Lisboa, aos quatorze

dias do mez de Julho.  D i o n i z i o  Cardoso Pereira a fez, Anno do nasci

mento de Nosso Senhor

  Jezuz

 Christo de mil e

 setecentos

 e

 dezeseis.

Seguia-se  uma  assignatura indecifrável).

Assignado)  L  R E I

Lugar  do  s c l l o .

Patente

 por que Vossa Magestade faz

  m e r c ê

  a Manoel da

  M o t t a

  de

Siqueira do governo da fortaleza dos  T a p a j ó s  em sua vida e por sua

morte ao  f i l h o que elle nomear e que com o di to governo haja soldo

de outenta mil

 r é i s

  cada

  anno  pagos

  pelo rendimento da

  í a z e n d a

  real,

como nella se declara que vai por duas vias.

Para

  Vossa Magestade ver.

Por rezolução de Vossa Magestade de 16 de Março de 1716, em con

sulta do conselho  u l t i m o  de 13 do dito mez e anuo.

Pagou 400  r é i s .

Joseph  de Carvalho Abreu.  Joseph  Gomes de Azevedo.

Fica

 assentada e>ia carta nos

  l i v r o s

  das

  m e r c ê s

  e pagou vinte via

e  f ica  posta a verba que requer. Lisboa 22 de Julho de 1716. Amaro

Nogueira de Andrade.

Registada na  c â m a r a  mór da corte e reino no  l i v r o  de otticios e

meio és  f l s .  392.  L isbòa  23 de Julho de 1716. Innocencio  C o r r ê a  de

Moura.

Pagou X ré i s  por ser via. Lisboa 23 de Julho de 1716. Dom J  M i g u e l

Maldonado.

Registada na secretariado conselho ultramarino no  l i v r o  1. de

o f f i c i o s

  a fls. 12o e

 f i ca

  posta a verba que requer. Lisboa 23 de Julho

de 1716.

Assignatura  [Inintiligivel.)

Cumpra-se como Sua Magestade, que Deus guarde manda ao go

vernador da fazenda real desta  capitania Pedro Mendes Vismas lhe

mande  sentar

  p r a ç a

  com soldo de outenta mil

 r é i s

  como e se

r e g i s t a r á  aonde...

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l a d o

d e f e n d e n d o

  o s

  â n g u l o s q u a t r o

  b a l u a r t e s .

  T i n h a

  e m

r o d a   f o s s o s   c o m   p o n t e s l e v a d i ç a s e

 e r a

  t o d o   c o n s t r u i d o  d e

t a i p a   d e

  p i l ã o .

G e n e r a l d e s t e E s t a d o   C h r i s t o v ã o  d a   C o s t a   F r e i r e ,   h o u v e   p o s s e ,

j u r a m e n t o ,

  p r e i t o  e  h o m e n a g e m  e m   s u a s   m ã o s   M a n o e l   d a  M . d e

S i q u e i r a

  p e l o g o v e r n o   d a   F o r t a l e z a

  d o s

  T a p a j ó s

  q u e

 S u a

 M a -

g e s t a d e   q u e  D e u s

  G u a r d e

  p o r  m e r c ê   d e q u ;>  f ô r a   t e s t e m u n h a s   o

C a p i t à o - M o r   d a   C a p i t a n i a   J o s é   V e l h o   d e

  A z e v e d o

  ( 1 )  e o   C o r o n e l

d a s   o r d e n a n ç a s

  l l a r i o

  d e

  M o r a e s

  B i t a n c u r t .   B e l é m  d o  P a r á 1 8

d e   J u n h o   d e  1 7 1 8 .

Antônio Rodrigues Chaves.

F i c a r e g i s t r a d a n o L i v r o q u e s e r v e d e n a f a z e n d a r e a l d e

fl.   2 5 v e r s o  e ls 7 e  l a n ç a d o  o   s o l d o   d e   8 0 ,  d e   p r i m e i r a p l a y n a

a

 fl.

 3 3 8 , p o r m i m

  e s c r i v ã o

  d e l l a ,

  e t c .

( A s s i g n a d o ) .  Caballeiro.

JO O DE BREU C STELLO BR NCO DO CONSELHO DE SU M GEST DE

G o v e r n a d o r   e C a p i t ã o   G e n e r a l   d o   M a r a n h ã o ,   e t c .   F a ç a   s a b e r   a o s

q u e e s t a   m i n h a   C a r t a P a t e n t e v i r e m   q u e s e n d o - m c   a p r e s e n t a d a   p o r

M a n o e l   d a

  M o t t a

  d e

  S i q u e i r a

 u m a

  p a t e n t e p a s s a d a   e m   c a t o r z e  d e

J u l h o

  d e m i l   s e l e c e n t o s  e   d e z e s e i s , p e l a q u a l   S u a   M a j e s t a d e

q u e

  D e u s

  G u a r d e

  f o i

  s e r v i d o p r o v e l - o

  n o

  g o v e r n o

  d a

  f o r t a l e z a

  d o

T a p a j ó s  e m  r e m u n e r a ç ã o   d o s   s e r v i ç o s   q u e   h a v i a   f e i t o   a o   d i t o

S e n h o r   e d i f i c a u d o  á  s u a   c u s t a q u a t r o F o r t a l e z a s   n o   R i o  d a s A m a

z o n a s  e   f a z e n d o o u t r o s m a i s   s e r v i ç o s  e m  a t t e n ç à o   a o s   q u a e s   l h e

f o i

  c o n c e d i d o

  n a m e s m a

  P a i e n t e   a

  m e r c ê

  d e

 q u e

  p o d e r i a   n o m e a r

u m d o s   s e u s   f i l h o s   q u a l   e l l e   e s c o l h e s s e p a r a   q u e p o r s u a   m o r t e

l i c a s s e   c o m  o   g o v e r n o   d a m e s m a   F o r t a l e z a  e  r e q u e r e n d o - m e   q u e

p o r   s e   a c h a r   j á   m u i t o a d i a n t a d o   n a   i d a d e ,   q u e   p a s s a   d e   o i t e n

t a

  a n n o s  e   p e l o s s e u s

  a - h a q u e s

  t o t a l m e n i e   i n h a b i l   p a r a p o d e r

a s s i s t i r   n a m e s m a

  F o r t a l e z a

  n e m

  f a z e r

 n e l l a

  a l g u m

  s e r v i ç o ú t i l

 a

S u a

  M a g e s t a d e  m e   p e d i a

  n o m e a s s e

  p a r a   s u b s t i t u i r a  s u a   f a l t a  a

s e u   f i l h o   J o ã o  d a   M o t t a S i q u e i r a , p r o v e n d o - o   n o   g o v e r n o   d a   r e

f e r i d a

  F o r t a l e z a  e   a t t e n d e n d o   e u a o s   b o n s   s e r v i ç o s   q u e  o   d i t o

M a n o e l   d a   M o t t a   d e   S i q u e i r a   t e m   f e i t o  a  S u a   M a j e s t a d e , r e c o

n h e c e n d o  n a m e s m a   p r e z e n ç a a   v e r d a d e ,   d a s u a   s u p l i c a   p e l o  q u e

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—  15 —

O Governo provincial  ha poucos annos, gastou infructife-

ramente mais de 20:000^0000 mandando levantar uma

muralha  na frente do mesmo, que

  ficou

  em principios e

que ainda hoje se vê.

e  obedeçam  as  suas   ordens como devem e são obrigados. E  antes

que o

  dito João

  da

  Motta

  Siqueira  passe  ao governo da

  dita  forta

leza  j u ra r á  em

  mesmas

  maons preito e homenagem. E por  íirmeza

de tudo lhe mandei  passar

  apresente

  por mim

 assignãda,

  sellada

como sinele de minhas armas que se  cu mp ri rá tão inteiramente

como

  n ella se contetn, é se

  reg is t ra rá

  onde tocar. Dada

  n esta

cidade de

  Belém

  do

  Grão-Pará

  aos 8 dias do mez de Outubro do

anno do Nascimento de Nosso Senhor JESUS Christo de 1737.

José Gonçalves da Fonseca, Secretario do Estado a íez.

Assinado— João de Abreu Castello Branco. Carta Patente pelo

Governo da fortaleza dos  T a p a j ó s  que V. Ex. foi servido man

dar

  passara  João

  da

  Motta

  Siqueira em nome de Sua Magestade

pelas

  razões

  acima declaradas.

Regulamento a fls. 18 do L, 1.° do Registro Geral que serve n esta

Secretaria,  íica  registrada  esta  Patente.  Belém  do  Pará  8 de

  Outu

bro  de 1737.

José Gonçalves

  da Fonseca.

Aos vinte e um dias do mez de outubro de mil selecentos e

trinta  e

  sete

  nesta

  cidade de  Belém  do  Grão-Pará,  no  Palácio

deste

  Governo aonde Governador

  Capitão

  General

  deste

  Es

tado  João  de  Abreu  Castello Branco, faz preito e homenagem em

suas

  maoens

  João

 da

  Motta

  de Siqueira do Governo da Fortaleza

do

  Tapajós

 em que é

  provido

  pela

  Patente

  atraz escrita de que fez

assento

  no

  livro

  das homenagens que assignou com o

  Capitão-Mór

do  Pará  Custodio Antônio  da Gama e o Coronel Gaspar de Siqueira

Queiroz,  que se acham   presentes  a

  este

  acto ; e de como fez o

dito  preiio

  e homenagem se lhe passou

  esta  cert idão

  que eu

  José

Gonçalves  da Fonseca fiz e assignei.  Assig. José Gonçalves  da

Fonseca.

Registem-se-;he e se lhe sente  praça na fô rma  que a mesma patente

declara.

  Belém

  do

  Pará,

  3 de Outubro de 1737.

(Assignado), Figueiredo

Registrada nos Livros da Fazenda que servem de Cartas Patentes

f l

76. Vc. 77.  Belém  do  Pará,  em 30 de Outubro de 1737.

(Assignado) Pedro Cavalleiro.

JOÃO DE ABREU CASTELLO BRANCO DO CONSELHO DE SUA MAGES

tade Governa dor  Capitão  General do Estado do  Maranhão ,  etc.

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  16 —

Collocado como disse em soberba posição como ponto de

vista,

  não o é comtudo

  m i ü t a r m e n t e

  fallando ; porque não

evita

  a passagem de vasos de guerra pelo Amazonas, nem

tão pouco fecha a embocadura do rio  T a p a j ó s;  por haver

entrando e sahindo de guarda, Fazendo rondas e sentinellas com

todo

  cuidado e zelo ao

  r ea l s e r v i ç o ;

  e porque se acha vago o pos

to de Tenente da  Fortaleza  dos  T a p a j ó s  por passagem que d elle

fez Domingos Rodrigues que o exercia ao

  posto

  de Ajudante de

Ar t i lhar ia d es ía pra ça  e esperar do dito Alwoel da Motta de Si

queira  s irva

  com boa

  s a t i s f a ç ã o

  conforme a

  c o n f i a n ç a

  que

  f a ç o

  da

sua

  pessoa. Hei por bem provel-o como por esta

  f a ç o

 ao referido

posto de Tenente da Fortaleza  dos  T a p a j ó s  qne  s e r v i r á  por tempo

de tres annos emquanto eu houver por bem e Sua Magestade não

ordenar

  o contrario com o qual

  posto

  g o z a r á  de todas as honras,

previlegios, liberdades,

  i z e n ç o e s

  e franquezas que em

  r e z ã o

  dé

lhe lhe tocarem. Pelo que mando a todas as pessoas que lhe forem

subordinadas

  lhe

  o b d e ç a m ,

  cumpram, guardem suas ordens tanto

de

 palavra,

  como por

  è s c r i t o

  como devem e são obrigados e ou-

trosim  ordeno ao Procurador da  Fazenda  Re a l  lhe mande formar

seu ascento

  para

  prevenir o soldo que levaram seus anteccessores,

e o  C a p i t ã o  da dita

 Fortaleza

  lhe  dará  posse e juramento na  f ô r ma

do estilo, e por firmeza de tudo lhe mandei passar a presente por

m im

  ^signada e sellada com o sinete de minhas armas que se

c u m p r i r á

  inteiramente como h ella se

  c o n t é m

  e se

  r e g i s t r a r á

  onde

tocar.

Dada  na cidade de  B e l é m  do  P a r á  aos nove dias do mez de

Novembro do anno do Nascimento de Nosso Senhor

  J E S U S

Christo  de mil

  setecentos

  quarenta e seis. E eu Malhias Paez de

Albuquerque  Ofiicial

  da

  Secretaria

  de Estado a fiz:

Assignado, João de Abreu Castello Branco.

Carta Patente por que V. Ex. ha por bem prover Manoel da

Mõ t t a

  de

  Siqueira

  no

  posto

  de Tenente da

  Fortaleza

  dos

  Ta p a j ó s

que se acha vago por ler passado Domingos Rodrigues que ser

v ia

  ao

  posto

  de Ajudante de

  A r t i l a r i a

  d esla

  p r a ç a

  como n es-

ta   se declara,

Para V. E x. ver.

Registrada  a fls. 142 do  L i v r o que serve n esta  Secretaria  de  E s -

tado de Registo de Patentes militares.

  P a r á

  9 de Novembro de

18S6.

Mathias Paez de Albuquerque.

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— —

p a s s a g e m f r a n c a p e l o c a n a l d e n o m i n a d o i m p r o p r i a m e n t e

I g a r a p é

  a ç u

S a n t a r é m , a   m a i o r   d a s   c i d a d e s   d a p r o v í n c i a , é t a m b é m

a e m q u e   m a i s   s e v ê   d e r r a m a d a   a i n s t r u c ç ã o .   O i t o e s t a

b e l e c i m e n t o s   d e e d u c a ç ã o h a   a l l i q u a t r o e s c o l a s p u b l i c a s

p a r a   o   s e x o m a s c u l i n o s e n d o d u a s   n o c t u r n a s p a r a a d u l t o s

e   e s c r a v o s u m a   p a r a   o   s e x o f e m i n i n o  e   m a i s

  t r e s

  o u t r a s

e s c o l a s

  p a r t i c u l a r e s

d u a s

  p a r a

  o

  s e x o m a s c u l i n o

  e u m a

p a r a

  o

  f e m i n i n o .

  A l é m

  d e s t a s s e t e e s c o l a s   e x i s t e

  u m

  c o l -

l e g i o p a r t i c u l a r

 j á b e m

  m o n t a d o ,

  p a r a e n s i n o   p r i m á r i o e

s e c u n d á r i o .   D i v i d i d o   e m   i n t e r n a t o   e   e x t e r n a t o a d m i t t e

p a r a

  a m b a s

  a s d i v is õ e s

 a l u m n o s   g r a t u i t o s .

  F o i

  i n s t a l l a d o

n o

  d i a 1 d e

  O u t u b r o

  d o

  a n n o

  d e

  1 8 7 1 m a t r i c u l a n d o - s e

n e s s e d i a  3 5   a l u m n o s . A c t u a l m e n t e c o n t a 5 0 n u m e r o  q u e

p a r e c e d i m i n u t o m a s q u e n ã o é s e  a t t e n d e r m o s   á

  f a l t a

  d e

p o p u l a ç ã o e a o   f a c t o   d e   h a v e r e m   o u t r a s e s c o l a s   t a m b é m

f r e q ü e n t a d a s . 0

  a u g m e n t o   p r o g r e s s i v o

  e o   e s t a d o

  s a t i s f a c -

t o r i o   q u e s e

 n o t a m

  s ã o

  d e v i d o s

  a o s e sf o r ç o s d o s e u

  d i g n o

d i r e c t o r  o  t e n e n t e c o r o n e l J o a q u i m R o d r i g u e s   d o s   S a n t o s   e

d o

  v i c e - d i r e c t o r

  o   h o n r a d o   e

  i n t e l l i g e n t e

 C a p i t ã o   F e r n a n d o

F è i i x

 G o m e s

 J ú n i o r .

F r e q ü e n t a m j á o 1 .

0

  a n n o

  d o   c u r s o   s e c u n d á r i o

  o i t o

a l u m n o s .   0   g o v e r n o

  p r o v i n c i a l

  s u b v e n c i o n a e s t e e s t a b e l e

c i m e n t o   c o m a   q u a n t i a   d e   4 : 0 0 0 0 0 0 ,   q u e é s e m   d u v i d a

a l g u m a   m u i t o   p e q u e n a ;   a t t e n d e n d o   a o s   m e l h o r a m e n t o s

q u e   s e  t o r n a m   n e c e s s á r i o s á   c a s a q u e é  p e q u e n a ,  j á   p a r a

o

  n u m e r o

  d e

  a l u m n o s

  e

  p a r a o u t r a s r e f o r m a s

  d e q u e n e

c e s s i t a

  o

  m a t e r i a l .

A '

  f a l t a

  d e   m a i o r   e s p a ç o

  o n d e

  n a s   h o r a s   d e

  r e c r e i o

  o s

a l u m n o s   s e  d i v i r t a m d e s e n v o l v e n d o   o s e u   p h y s i c o é   s e n

s í v e l .   A c r i a n ç a

  q u e r

  a r e e s p a ç o , p r e n d ê l - a e m u m

  a c a

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—  8 —

praticas das duas primeiras sciencias; porque, qualquer

que

 seja

 a carreira que tenha de seguir o alumno, o estudo

da

  bo tân ica

de mineralogia, geologia, etc., ser-lhe ha

sempre mais

  u t i l

  do que o da physica e chimica, que

ap ren d e rão

  nas faculdades. A maioria dos alumnos natu

ralmente  s egu i rá  a vida da lavoura, e para esses aproveita

mais a historia natural do que a physica.

Existe ahi

  t a m b é m

  uma sociedade

  litterario-scientifica

 ,

com

  o nome de

  Sociedade Elhnographica

com um museu

e uma bibliotheca, com mais de 2.000 volumes, que

  está

franqueada ao publico.  Foi fundada no dia 7 de Setembro

de 1872, pelo humilde autor deste escripto, com a coope

ração

  das principaes

 pessoas

 da localidade, a quem rendo

aqui

  um publico testemunho de

  g ra t i d ão .

O  commercio em  San t a rém  é grande, e  es tá  todo nas

mão s  dos nacionaes, que procuram o engrandecimento do

seu

  t o r r ã o .

  O alto

  Tapa jós

  e o

  mun ic íp io abastecem

  seu

mercado. Os principaes

  gêneros

  de

  expor tação

são : bor

racha,  cacáo cal, gado, couros, g u a r a n á pirarucu peixe),

salsa,  vinhos, etc. Outros productos  t a m b é m  exporta,

porém  em quantidade  diminuta, como: cavallos, cumaru,

es tôpa

oleo de copahyba,

 sebo,

  tabaco, etc.

Comparando-se a

  exportação

  do triennio de 1869 a 1871,

vê-se que diminue, e que provavelmente  d i m i n u i r á  ainda

mais.

  Tendo augmentado gradualmente até 1867, anno

da maior

  expor tação começou

  de

  en tão

  para cá a apre

sentar

  osci l lações

quando devia ir augmentando progres

sivamente .

Por

  este

 pequeno quadro dos principaes  gêneros  expor-

tativos

 poder-se-ha

 avaliar. 1)

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—   19 —

êneros

1869. 1870. 1871.

arrbs. lbs. arrbs. lbs. arrbs. lbs.

Borracha  7.477 9.240 6.987

Cacáo

  16.067 44.590 40.028

Carnes 5.585 5.281 8.928

Couros 6.000 4.000 1.434

Pirarucu  peixe)... 10.898 23.460 11.837

Salsa

  115 29 199 68 20

Nos

  outros

 gêneros  nota-se  tam bém sens ível d im inui

ção .

  Duas

 t êm

  sido as  causas  : uma natural, contra a

qual

  não ha

  r em éd io

mas outra que é mister comba

ter quanto

 antes.

  A primeira

  fo i

 a abundante chuva dos

úl t imos  annos, que impedio a  pesca,  matou o gado e

destruio

  as

  p l an t açõ es ;

  a segunda é a

  extracção

 da bor

racha, que fez com que  centenares de  ind iv íduos  aban

donassem  suas  p lan tações seu commercio, etc. e seguis

sem para o

  Alto

  Amazonas, onde, procurando um

 lucro

fictício

perderam a

  s aúde

  e algum capital que por ven

tura

  possu íam para voltarem  miseráve i s quando não  fica

vam

  sepultados lá.

  Famí l ias

 inteiras abandonaram tudo e

seguiram para os seringaes.

A   p rohib ição  expressa

  de extrahir-se borracha nas  flo

restas do governo,  t r a r á  nos primeiros cinco annos alguma

para lysação

  ao commercio, mas depois as

  rendas  serão

maiores,  h av e rá  progresso, lavoura, industria,  haverá

finalmente

 vida I

Innumeros productos  vegetaes  são hoje desprezados, o

que não o  s er ão e n t ã o ;  as madeiras, por exemplo, que

podem  abastecer nossos arsenaes e mercados,  serão apro

veitadas ;  ver-se-hão  as margens dos rios cobertas de ser

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Dir -me-hão ,  talvez, que é  impossíve l  essa  p r o h i b i ç ã o ;

mas assim como se prohibe a pesca da tartaruga no tempo

da postura para não faltar alimento á pobreza), assim

t a m bé m pôde  prohibir-se a e x t r a c ç ã o   da borracha.

Lavoura

 e industria,

  póde-se

  dizer que não existem em

Sa n t a r é m .

  Os fazendeiros são creadores de gado e só

  cu l

tivam  pequenas  porções  de terreno para o costeio das

fazendas.

  Quanto

 

industria, não ha

  s enão

  uma fabrica

de vinhos de frutas do paiz que já exporta annualmente

quasi 2.000 garrafas), algumas  redes  e uma ou outra

obra de palha grosseira, a não ser a da

  colônia

  americana

que ahi existe, prosperando  muito  e a da cal, que se ex

porta  para a  p rovínc ia   do Amazonas. Alguns americanos

do sul, estabelecidos na serra, são os

  ún icos

  lavradores

que mostram o que

  pode rá

  ser o

  munic íp io

  de

  San ta rém

quando reconhecerem a  necessidade  de trabalhar e a

emigração

  para ahi

  a í í luir .

E

uma

  colônia

  composta de 19

  f amí l i a s ,  representadas

por  quasi 88 i nd iv íduos , sendo 77 norte-americanos e I I in-

glezes. Entre elles existem dous

  méd icos ,

  quatro

  m e c â

nicos,

 um padre,

  sendo

 os outros lavradores. O

 Padre

 que

o Rev. Sr. Hennington, é tão industrioso que conseguio

fazer por suas

  p rópr ia s mãos

  lOmachinas, com os recursos

do lugar. São movidas por agua e podem trabalhar

todas a um tempo ou

 separadamente.

  1)

O

  estrangeiro que aporta a

  S a n t a r é m ,

  é recebido com

agasalho e

 affago.

Os

 usos

  e costumes são os de uma sociedade bem edu

cada  apezar de dizer Henrique Bates, naturalista, na sua

obra

  he

 naturalist

  on the

  Am azone : primo que a alta

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meio dia, quando o sol es tá a pino e que o calor é insuppor-

tavel,

  por

  causa

 da areia ;

  tertio

que nas noites chuvosas

os jacarés

  e

 onças

  chegam á cidade.

As  duas

  primeiras

  asserções

  são inteiramente falsas e

filhas

  de  indisposições

 pessoaes^

 segundo

  0

 

n

indaguei.

A  terceira,  t a m b é m  é falsa. Bates nunca vio onças dentro

da cidade, mas, aproveitando-se do archivo da

  c âmara

municipal,

  que teve entre

  m ãos a f f irmou

 um facto que

não se dava na  época em que elle v isi tou Sa nta rém  (1851).

V i

 que o l ivro 1.° das

 actas

 das  sessões da  c â m a r a a  f l 43,

que em  sessão  de 13 de Dezembro de 1830, o vereador

Domingos  José

 Martins de Albuquerque, propoz, que visto

apparecerem ás  vezes animaes ferozes na  vi l la se  pagas

se

  pelas

  rendas  do conselho da municipalidade a quantia

de 4 a quem

 matasse

 um dos ditos animaes dentro da ci

dade;

  depois de alguma

  d iscussão

  foi resolvido

  pagar-se

somente 4 por  cada

  onça

  e 2 , por qualquer outro

 ani

mal . Ahi colheu Bates sua  in fo rmação .

Depois do  rápido esboço  que íiz do  estado  actual de

S a n t a r é m

apresentarei alguns esclarecimentos sobre o seu

passado.

Foi  taba  principal  dos  Tap a jó s que  julgo  oriundos do

P e r ú d o n d e  sahiram talvez pela  invasão hespanhola. Não

havendo documento nenhum  histórico  a tal respeito, a

archeologia

 encarrega-se

 de mostrar que os

 Tapajós

 tinham

quasi os mesmos

  usos

  dos Incas. O uso dos muirakitans,

dos

 quaes

 depois  fa l lare i vem mostrar  t a m b é m que, na

descida do Peru, relacioriaram-se com a  t r i b u que existia

no Rio Trombetas, e que impropriamente foi chamada

das Amazonas, porOrellana. Habitaram não só a margem

do rio mas  t a m b é m  as

  chapadas

 das

 serras

 que a contor

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  22 —

conchas, etc. Senhores de toda a margem do rio, com

diversos nomes

  á q u e m

 das cachoeiras, ainda hoje chamado

pelos tapuyos Tapayú parand  rio dos  Tapa jós ,  tinham

sua  principal  taba na embocadura do mesmo rio.

Por ordem do superior dos frades da companhia, o padre

Antônio Vieira,

  em 1661

  fundou

 a aldeia dos

  Tapa jós

 o

padre

  João

  Felippe

 Bittendorf,

 em

 virtude

 da ordem

  rég ia

de D. Pedro reunindo a estes propriamente ditos os

 Urue-

r u c ú s ,

  que estavam na outra margem. Sendo governador

Ruy

  Vaz de Siqueira e mandando uma

  expedição

  ao rio

Urubu  vingar a morte covarde e

  t ra içoei ra

  do sargento-

mór Antônio Arnaud  Vi le l l a ,

 sahio esta no dia 6 de Setem

bro

  de 1664, commandada pelo

  capi tão

  Pedro da Costa

Favilla, que chegou á  a ldêa dos  Tapa jós em 25 do mesmo

mez e anno, chamando a si alguns dos indios

 Tapa jós

 que

ainda ahi

  v iv iam.

  1)

Em

  1768, quando o padre Dr.

 José

 Monteiro de Noronha,

vigário

  geral do Rio Negro, escreveu seu  Roteiro diversas

tribus

  habitavam as margens do rio, uma das

 quaes

 a dos

Maués ,

 ainda hoje ahi se conserva, e os outros gentios eram

os

  Tapacorá ,

  Carary,

  . lacaré tapiyá , Çuar i rana,

  Piriquito,

Uarupá , Sapopé , Uaráp i ranga

  e

  Yauain.

  Os

  Sapopés

  e

Jacaré tap iyá  eram antropophagos. Os  Uaru p á  e  Çuar i rana

e

  Piriquito,  tinham

  nas faces

 signaes

 pretos feitos á ponta

de espinhos e depois

  coloridos.

  Os  Yauain tinham  uma

listra  larga e da mesma côr desde  a raiz dos cabellos na

testa até a barba.  Suas  tabas  eram as  povoações de  Alter

do Chão, Boim,  Pinhel,  Vil la

  Franca e outras

  além

  das

cachoeiras, tendo alguns, como os

  Sap u p és

  e

  Uaru p às ,

algumas malocas, no

  furo  U rar iâ ,

  que

  deságua

  no rio Tu-

pinambaranas, e no  Matary,  centro dos  S a p u p é s .

  Habi-

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— 23 —

tavam pelo centro os seguintes: Apaunuariás, Marixitás,

Amanajés Apicur icús Mor ivás Moqui r iás Jacaréuarás

Anjuar iás Senecur iás Necur iás etc,  vindo julgo  eu, os

A m a n a j é s  do rio Tocantins, os quaes usavam no  lábio  su

perior  um  fu ro  e outros nas orelhas, que eram enfeitados

com  pennas amarellas e azues mettidas em um canudinho,

que se adaptava aos mesmos furos. Dous nomes indicavam

a localidade de

 suas

 tabas,

 se

  áq u em

  ou

  a lém

 das cachoei

ras :  Canicuruz  designava os do baixo  Tapajós  e  Yapy

ruara

  os do  Alto.  Mais tarde  estas  tribus foram exter

minadas pelos  M u n d u r u c ú s . Em 1750 a  população na  aldôa

era de 400 almas pouco mais ou menos.

Em  virtude da lei de

  G

 de Junho de 1754, que mandou

elevar á categoria de  v i l la as  missões dos jesuitas, já em

estado  de prosperidade,  po rém  sujeitas ao  o rd inár io D.

Francisco

  Xavier

  de  Mendonça  Furtado, 1) elevou a al-

dêa  dos  Tapajós a

  villa

 de  S a n t a r é m sendo inaugurada ern

3  de Julho de 1757 pelo seu primeiro  v igário o Rev.

Padre  Francisco

  Xavier

  Eleulerio, nomeado por  Provisão

do Rev. Bispo D.

 Frei

  Miguel de Bulhões em 22 de  Abril

do mesmo anno. Missionava

 en tão

  ahi novamente o padre

Luiz  Alvares, que no aclo da  i n au g u ração  poz embargos

dando como motivos o não ler ordem do seu prelado para

dar posse ao mesmo  vigário.  2) Tendo  lido  solemnemente

na  Matriz  a  Provisão que o nomeava, e elevava a aldea a

1) Commendador de Santa

 M arinha

  da Mata dos Lobos da Ordem

de

  Christo

 e

  capi tão  tenente

 da

  real

 marinha

2) Os  m i s s i o n á r i o s  que

 teve

  ;> aldea dos  Tapajós  furam os seguintes

padres da Companhia <ie Jesus: t.°

  J o ã o

  Pliilippe Bitteiuiorf, funda

dor

  da

 a l d é a ;

 2.° Aloysio Gomado; 3.°

 An t ô n i o Pe r e ir a ,

  que missionou

a n a ç ã o Cayoana,

  e reuniu-as em

  Araçary , Tapary

  e

  Borary;

  4.°

  J o ã o

Maria Garsoni

  1680), que

  e d i í i c o u

 a l .

a

 igreja,

  porque os autec sso-

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  24

villa, o Rev. Parocho lavrou um termo, assignado, não só

pelo

 Director dos  í n d i o s o Tenente  Manoel  C o r r ê a Moncada,

como

  pelo  C a p i t ã o - m ó r  Paulo,  Principal  A n d r é  e mais

pessoas que em grande numero assistiram  aesseacto.  O

m i s s i o n á r i o L u i z  Alvares, negou a sua assignatura. 1) Em

24  de Outubro do mesmo anno  foi l ida a primeira pastoral,

obrigando

  o povo ao

  dizimo

  de tudo quanto colhessem,

fizessem,

 extrahissem, etc. fazendo a sua

  primeira

  visita

pastoral  o arcypreste Dr.

  J o s é  Monteiro

  de

 Noronha,

 em 29

1)  Dom  Frei Miguel  de  BuJhoens da  Ordem   dos  Pregadores por  mercê

de Deus

  e de

 Santa

  Sé

 Apostólica Bispo

  do

  Grão Pará

do

  Conselho

de

  Sua

  Ma gestade Fidelissima

  etc

Porquanto o Illm.eExm. Francisco Xavier de Mendonça Furia-

d o ,

  Governad or e

  C a p i t ã o

  General do Estado, nos

  participou

  çue

e m o b s e r v â n c i a

  das  Reaes  leis de Sua Magestade

  e r e g i á

  na

  Aldeia

dos

  T a p a j ó s

  em

  V i l l a

  de

  S a n t a r é m ,

  e na confo rmi dade das  f:eaes

Ordens do

  dito

  Senhor £ da  declaração  fue os  Prelados regulares

deste

  Estado

  fizeram  em  junta

  de.dez de Feverei ro , competente ao

nosso Pastoral

  o f f i c i o

  destinar

  algum

  E c l e z í a s t i c o

  subdilo nosso

para Parocho da referida

  V i l l a ,

  e na

  pessoa

  do Reverendo Padre

Francisco

  Xavier

  Eleu te ri o con co rr em todos os requezitos

  neces

s á r i o s

  para desempenhar as

  o b r i g a ç õ e s

  deste  emprego, o nomeamos

V i g á r i o

  interino  da nova

  V i l l a

  de Saiarem, que

  s e r v i r á

  em  quanto

Sna Magestade como Governador e perpetuo

  Administrador

  do  Mes

trado,

  Cavallaria  e Ordem do nosso Senhor JESUS

  Chrislo,

  não man

dar  o  co nt ra ri o e nó s o havermos por bem, ao

  qual

  recommendamos

administre

  a

 seus fregueses

 os Sacramentos , que lhe pertencem com

aquella

  V i g i l â n c i a

  eze l loq t i e

  c o n v é m

  ao

  s e r v i ç o

  de Deus e ao bem

cper i tua l

  das

  nossas

  ovelhas que

  amamos

  nas entranhas de

  Jesus

Christo

  podendo absolver de todos os

 peceados

  a nós reservados, ob

servando na

  a d m i n i s t r a ç ã o

  dos mesmos Sacramentos

  inviolavelmen-

te a

  forma

  que dec lar a  o  Sagrado

  Concilio  Trideutino

  e

  Constitui-

ç o e n s

  porque se governa este Bispado e

  t e r á

  um especialismo cuidado

e m

  os

  ins t rui r

  nos

  Mysterios

  da Nossa Fé e lhes pr opo r a palavra de

Deus aos Domingos e dias Santos

  especialmente

  nos dias de

  maio

res solenidades na

  igreja

  fazendo-lhes aquellas prat icasesper imaes

que

  julgar

  mais

  ú t e i s

  e proporcionadas a direcçâo de

  suas

 almas em

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— 25 —

de Outubro ainda do mesmo anno. Entre elle o vigário o

Director  dos índios e os  chefes dos

  mesmos

 fizeram  um

ajuste  em que se obrigava o  mesmo director pelo povo  a dar

annualmente vinte  mil réis para  guizamentos  da Igr eja e

um   pote de

  manteiga

 de  tartaruga  e

 outro

 de

  azeite

  de  andi-

roba

  para a lâm pa da do sacrario. Varias pastoraes  foram

então

  expedidas

  por D.  Miguel  de Bulhões exigindo  os dí

zimos

sob   pena  d e e x c o m m u n h ã o  maior.  Tres  annos

Dada

  nesta cidade

  de B el ém do Grão Par á sob  nosso  signale  sello

das

  nossas

  armas.

Passada

 pela

 Ch artcellaria e  registrada

 aonde pertencer.

  Aos 22 de

A bri l  de 1757.  Assignada.  f  F r e i  Miguel Bispo  do Pará .

Registrada.  F e r r e i r a  Leonardo.

A c h .

a

  e  sello—400 r s .

  Recebi

  F e r r e i r a  Leonardo.

Auto de posse que tomou o Reveren do Padre Vigário Francisco Xavier

Eleuterio da Igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição da Villa de

Santarém que até agora se chamava aldêa dos Tapajós em nome do

Exm.° e Revm.

0

  Sr. Padre Frei Migu el de Bulhõesj do Conselho de

Sua Mag estade F idellissima etc. Bispo desta Diocese.

Aos 3 dias do mez de Julho do anno de mil setecentos e cincoenta

e

  sete

  na

  matriz

  da Vi l la de Santarém

  onde

  s e acharão

  presentes

o  Director  o

 Tenente

 Manoel  Corrêa  Moncada o C a p i t ã o - m ó r  Paulo

o Capi tão

  Jacob;

  o Capi tão

  Domingos

o Capitão  Fellippe  e o Ajudante

D a m i ã o e o s  moradores  e  sendo  ahi  junto  o povo da   dila  Vi l la que

até

  agora

  se

  chamava

  Aldeia

  dos Ta pajó s ns pr ese nç a de

  todos

mandou  o  Reverendo  V i g á r i o  Francisco  Xa v i e r  Eleuterio publicar

u ma p r o v i s ã o d e S u a E x .

a

  R e v i n .

a

  em que

  nomeava

  e  consiituia

vigário da  dita

  Freguezia

  em

  virtude

  da

  qual  tomou  posse

 da

  sobre

dila  Igreja em   nome  de Sua Ex .

a

  R e v m .

a

  S r .  Bispo abrindo  e fei-

xando

  a  porta  do Sacrario observando  as

  mais cerimonias

  do Es-

ti 11o a  qual  o  Reverendo  Padre  m i s s i o n á r i o  Lu iz  Alvares  embar-

gou

  dizendo

  que  tinha

  embargos

  que por a dita  posse

porque

  não

linha  ordem  de seu  Prelado  para dar  posse nem   menos quiz assignar.

e só

  disse

  que  fazia

  entrega

  ; o que  tudo

 entenderam

  as   pessoas  que

se

  achavam

  presentes

  que

  abaixo

  vã o

  assigaadas

e para que a

 todo

í e m p o

  constasse

  da   referida  posse

mandou

  o  Reverendo  Vigár io

Francisco  Xa v i e r

  Eleuterio

  fazer

  este

 termo  por  mini  Manoel  Bap-

lista  de Araújo Escr ivão  commissario  nomeado pelo dito  V i g á r i o

que   este  llz é

  assignei.

Vil la

  de Santarém 3 de

  Julho

 de

 1857.—Manoel  Baptista

  de Araújo .

— O   V i g á r i o Francisco  X a v i e r E l e u t e r i o . — J o ã o

  Baptista

  M a r d e l . —

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—   26 —

depois o Bispo D. Frei João de S. José Queiroz, nomeou

o

 2.° Vigário

 em 17 de Setembro de 1760, o

 Padre

  Antônio

da  Silva.  Em 29 de Julho de 1775

  foi

 nomeado o 3.°

Vigário

  Padre

  Dionizio  da  Fonseca,   pelo Bispo D.   Frei

João

 Evangelista Pereira. Foi depois elevada á categoria de

cidade pela

  resolução

 n.° 145 de 24 de Outubro de 1848,

sendo

  presidente o coronel do  imperial   corpo de  enge

nheiros Jeronimo Francisco Coelho. Em 28 de Julho de

1800 porém

já era tal a

  imp ortância

  da

  villa

  que o go

vernador D. Francisco de Souza Coutinho, propoz para

Lisboa  a  creação   de uma nova comarca, tendo por   séde

a mesma  vi l la com outras que deviam formar a nova

jur isdicção. H o je é cabeça  de comarca,

  sendo

 classificada

de 1 / entranciapeloDecr. n.° 687 de 2ü de Julho de 1850

e de 2.

a

 pelo Decr.

  n .°

 5023 de 24 de Julho de 1872. Tem

dous termos, o de  Santarém   e o de Monte

 Alegre,

 com

prehendendo 5

  munic íp ios :

  de

  Santa rém Monte

 Alegre,

Alenquer,

  Villa Franca e Itaituba, com dous collegios  elei-

toraes

 o de Santarém   e o de  Monte Alegre.  Feito este  bos-

quejo,

 proseguirei no estudo da natureza.

Logo

  depois da minha

 chegada,

 no dia 17 pela

  m a n h ã

comecei a fazer algumas  herborisações.  Seguindo pelo

centro da

 a ldêa

encontrei uma

 pequena

 capoeira e tomando

um trilho  que por ella

 passava,

  f u i dar ao matadouro pu

blico que consta  apenas   de um cercado, ou curral com

uma coberta ao lado. O gado é morto na margem do rio.

Sahindo d ahi dei no campo, onde um pequeno

  igarapé

forma um lago.

Ahi  nas margens

 desse

 lago, vi pala primeira vez

 o   jard

(Leopoldinia  puichra), que  apezar  de pouco desenvolvidos,

tinham  alguns

  cachos

  de fructos maduros. Crescem no

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2 7

N a s i m m e d i a ç õ e s

  d e s s e l a g o ,

 um a

 c r u z

  i n d i c a

  q u e

o u t r o r a

  a h i   f o i

 u m

 c e m i t é r i o .

 C o m

  e l l a

  a i n d a e n c o n t r a m - s e

s o b

  a v e g e t a ç ã o

  a l g u m a s   s e p u l t u r a s ,   c o b e r t a s   d e   t i j o l o s

g u a r d a n d o   o s   r e s t o s  d o s   c h o l e r i c o s   q u e   a l l i   s e  s e p u l t a r a m

q u a n d o

  h o u v e a

  e p i d e m i a   d e

  1 8 5 5 .   N e s s a   é p o c a

  d e s o -

l a d o r a

 o p o v o   f e z  u m   v o t o  a S .

 Se b a s t i ã o , q u e c o m e ç o u

 

c u m p r i r - s e  em

 J u n h o   d e  1 8 7 2 , l e v a n t a n d o - s e

 o s

 a l i c e r c e s

d e

  u m a

  c a p e l l a

 s o b

 a

 p r o t e c ç ã o d o

 m e s m o

  S a n t o .

  C o m o

p o r m i l a g r e   a   c a p e l l a   v a i s e e r g u e n d o

  g r a ç a s a o s e s f or ço s

d o   s e u   p r o v e d o r  o  T e n e n t e C o r o n e l J o a q u i m R o d r i g u e s  d o s

S a n t o s ,

  a u x i l i a d o

  p e l o p o v o .

 P o u c o  é  o d i n h e i r o

 m a s  t ã o  b e m

é   e l l e

  a p r o v e i t a d o

  q u e

 a   o l h o s   v i s t o s   a p p a r e c e   a   p r o v a  d o

m i l a g r e

  d e S .

  S e b a s t i ã o . E s t á  s e n d o  c o n s t r u í d a

 n o

  b a i r r o

d e n o m i n a d o

 Mundo-Novo

q u a s i

 e m

 d i r e c ç ã o

 a o s f u n d o s

 d a

C â m a r a   M u n i c i p a l .

E x p l o r e i   d e p o i s d i a r i a m e n t e

 em

  t o d a s   a s

 d i r e c ç õ e s  o

c a m p o   q u e  o c c u p a  u m  e s p a ç o d e   m a i s   d e  d u a s  l é g u a s  e m

t o r n o

  d a

  c i d a d e , c o b e r t o   d e   i l h a s

 o u

 c a p õ e s d e v e g e t a ç ã o ,

n o s   q u a e s   e n c o n t r a m - s e e n t r e   a s   l e g u m i n o s a s

  o s g ê n e r o s

Hecastophyllum

indigofera, cássia, aeschynomene,

 co

l h e n d o d e s t e

  u l t i m o

  a l g u m a s  f l o r e s  d a

 e s p é c i e  paniculata;

piperaceas,

  v a r i a s   e s p é c i e s  do g ê n e r o

 Artanthe;

 mal-

vaceas,  g ê n e r o  sida,

  s p , v a r . ;

 bignoniaceas, acanthaceas

a l g u m a s

 passifloreaceas

 e

 apocynaceas,

  e n t r e   e l l a s   a b u n

d a n d o   a l g u m a s

  t r e p a d e i r a s  do g ê n e r o   allamanda.  o

l i t o r a l

  q u e

  b o r d a

 o

 c a m p o ,

  o n d e

  s e

  e n c o n t r a

 o

 astro-

caryum jauary   c r e s c e m s o b r e  a s

 gramineas

  d i v e r s a s  con-

volvulaceas

  d o

  g ê n e r o   Ipomasa  Pharbitis),  de

  f l o r e s

r o x a s ,

  b r a n c a s  e   a m a r e l l a s . T r e s  e s p é c i e s

 àeclitoria,

 d e

f l ô r e s   b r a n c a s , r o x a s ,

 e

  b r a n c a s

  e

 r o x a s ,   a b u n d a m

 p o r

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—  2 8   —

o u t r a a m a r e l l o - a v e r m e l h a d a . V a r i a s r o s a c e a s d o g ê n e r o

hirtella

 e  myrtaceas f o r m a m   a l g u n s   c a p õ e s n a  p a r t e

s o m b r i a

d o s  q u a e s

  e n c o n t r a m - s e   melastomaceas.  N e s t a s

f a m i l i a s

m u i t a s   e s p éc i e s s ã o   m a d e i r a s   d e   l e i e   t o d a s   c o m

p r o p r i e d a d e s

  p a r a

  o s

  d i v e r s o s m i s t e r e s

  d a   a r t e .  E m   u m

d o s m o n t e s f o r m a d o s p e l a  o n d u l a ç ã o d o   t e r r e n o e n c o n t r e i

a l g u n s  g e o d o s   a r e n o s o s n a   e n c o s t a   d o   l a d o  d o N .

N a

  p a r t e b a i x a

 e

 h u m i d a

  d e

 a l g u m a s m a t a s

  e x t e n s a s

q u e   f o r m a m   a s  m a i o r e s

  i l h a s

 d o c a m p o a v e g e t a ç ã o é   f o r t e

a l t a n e i r a

s e r r a d a

 e

  m a i s

  v a r i a d a .

  P r e d o m i n a   s e m p r e   a h i

n o s c l a r o s d e i x a d o s p e l a s a r v o r e s  a  p a l m e i r a  curuá  atta-

l

spectabilis)  e n c o n t r a n d o - s e

  t a m b é m o

 cyagrus cocoides,

o astrocaryum acaule, e  cenocarpus bamba. N uma   d e s t a s

m a t a s

  v i

 s o b e r b o s

  p é s d e i na jà

  maximiliana regia)

 c o m

e s p i q u e s

  d e

 m a i s

  d e c e m p é s d e   a l t u r a .

  T r e p a m   p e l a v e g e

t a ç ã o  a l g u m a s

 j a c i t a r a s

  desmoncus)  e n t r e  a s e s p éc ie s q u e

e n c o n t r e i

  d u a s  s ã o

  n o v a s

u m a t e m 0

m

0 4 5  de  d i â m e t r o .

D e n o m i n e i - a s   D. ataxacanthus e  D. oligocanthus.  A l g u n s

i g a r a p é s q u e   c o r t a m a q u i   o u   a l l i   o   t e r r e n o a r e n o s o  do

c a m p o

  a p r e s e n t a m

 em

 s u a s

  m a r g e n s

 a s

 aroideas

 e

 a

 mau-

ritia aculeata.  Q u a n t o  á   o r c h i d e a s sò se   e n c o n t r a m

n a s a r v o r e s

  d o s c a m p o s  e

  s o b r e

  o s j a r á s

  a l g u n s

  mona-

chanthus viridis, e  n a s   m a t a s a l g u m a s gongoras.

  C a s o s

d e  heteranthia  t e n h o o b s e r v a d o

  b e m

  d i s t i n c t o s

 n o  mona-

chanthus,  a p r e s e n t a n d o   no  m e s m o   p s e u d o b u l b o

  t r e s   g ê -

n e r o s

  d i v e r s o s :

 t e m

 e m

 c a d a

  h a s t e

  f l o r a l

 o

 monachanthus

o

 catasetum

 e o  myanthus  o u n a

 m e s m a   h a s t e

  l ô r e s   e  u m

e   o u t r o   g ê n e r o .  N o  monachantus é

 s e m p r e

 a

 p o l l i n i a

  r u -

d i m e n t a l

e m q u a n t o

  q u e  o

 catasetum  a p r e s e n t a - s e

  e l l a

s e m p r e   b e m   c a r a c t e r i s a d a c o m o

  c a u d i c u l o

  e

  r e t i n a c u l o .

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29

monachanthus,  ainda mesmo depois de secco e fecundado

ou

  desenvolvido

 o

  fructo,

  conserva a sua anthera presa do

clinandro.

Apezar de  diíferentes  na  fô rma dos  verticillos  externos

da  flôr, e nos  órgãos reproductores, apresentam-se ambos

dando sementes.

  Munidos de

 cavidades stigmaticas, se bem

que o

  funiculo

  do gynostomo seja mais

 desenvolvido

 no

monachanthus,

  ambos fecundam-se e

  frutificam-se,

 não

podendo concordar por isso com a

  opinião

  de

  Charles

Darwin,

  que considera o

 monachanthus

  como a

 fêmea

 do

catasetum.

  Que se não deva

  formar

  dous

  gêneros

  como

Lindley

  estabeleceu concordo, attenta a circumstancias da

heteranthia, já observada  também por Hooker.

Mas,  que só frut if ique o monachanthus  como R. Schom-

burgk  affirma, também não

 concordo,

 porque

 tenho obser

vado na mesma

  haste

  ambas as

  flôres

 fecundadas o que é

fácil de ver-se por serem as  flôres persistentes.

Notei  no Rio de Janeiro a m udança do  monachanthus

para o  gênero  myanthus  como também observou o sábio

D r.

 C. A.

  Serrão

e

 catasetum,

  enas

 observações

 que aqui

tenho

  feito

  tenho notado que o

  catasetum tritentatum,

com

 a sua

 synonymia,

 não

 pôde

  ser considerado

 senão

 um

monachanthus,

  ou

 então,

  com Reichembach

 filho, acabar-

se este  gênero  e conservar-se o de catasetum  com a sua

heteranthia  {monachanthus myanthus  e  catasetum .

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BAIXO

 TAPAJÓS

Não só

 com

 o

 fimde conhecer

  vegetação

mas apro

fundar  t ambém   minhas  indagações sobre  os

 usos

 e

costumes dos extinctos indios

 Tapa jós

tratei

 de

 explorar

t ambém 

parte da serra

 do

 Piquiatuba,  1) denominada Ta

perinha.

  Para esse imacompanhado do Exm. Sr. Dr. An

tônio

 Joaquim Gomes do Amaral, em uma grande

  iga r i l é

convenientemente preparada,  dirigi-me para

 esse

 ponto.

Fallando  pela  primeira  vez  n este  bom amigo, cumpre

aqui render um publico testemunho de reconhecimento e

gra t idão pelos  auxí l ios  que  desse distincto cavalheiro e

amigo  recebi; já   facilitando-me  meios de  conducção ou

providenciando

 para que nada me faltasse na  á r d u a  tarefa

que desempenho. Em um lugar onde tudo

 são difiQculdades,

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—   32 —

Deixando o porto de Santarém, no dia 5 de Junho pelas

2

  horas da tarde, demandei a emboeadura do

 Tap a jós .

Ainda  avistava a mais de quinhentas  braças a linha  d i v i

sória  entre as  águas  azuladas

  d este

 e as  pardacentas  do

Amazonas quando notei outra vez as  porções  d aguas  do

Amazonas destacadas nas do  Tapajós ora á  superf íc ie ora

no fundo formando grandes malhas barrentas que se não

confundem.

 A medida que me aproximava do grande rio,

maiores e mais unidas eram ellas, a té que

 finalmente

 de

sembocando no Amazonas, seguindo ainda por

 longo

 espaço

destacadas,

  sensivelmente chegaram a confundirem-se.

Depois de uma curta travessia pela margem, onde a corren

teza ainda formava grande marulho,  deixei  o Amazonas e

penetrei pelo

 furo

 Ituquy.  Antes de entrar

 n este,

  pouco

abaixo da  confluência  do  Mahicá parei para examinar

alguns  astrocaryum jauarys  e um  igapó  que  fica  junto á

margem.

 Encontrei

 algumas utricularias muito desenvol

vidas,  das quaes  colhi algumas com fructos,  não podendo

infelizmente colhel-as em  flor porque abertas as

 flores

 ao

alvorecer,  apenas se aproxima o meio do dia ellas deixam a

sua

 haste

 evem matizara agua.

  A

 poucos

 passos

 d ahi,

 uma

scena

  própria  da natureza do equador chamou minha

a t tenção.  Presa á um grande tronco, cahido nagua, uma

pequena montaria  balouçava-se á sombra de um frondoso

ingazeiro  e a poucos  passos,  na parte mais sombria da

mata,

 atada

 a

 duas

 arvores uma alva rede encobria o corpo

de uma tapuya, que ahi gozava a natureza, emquanto o seu

pirarucu  assava-se num braseiro que lhe ficava  p róx imo.

Poético  era o lugar, serena a tarde, que gozava em   plena

liberdade a  filha  do  filho das selvas.   Vulgar é esta scena,

para quem viaja o valle do Amazonas.

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_

  33 —

da canarãna, pela sua roupagem. Um facto, nota-se n estas

aves;

  ellas,

  tinguijam

  t amb ém

  o peixe. Formado um

bando, levantam um vôo baixo por sobre a  superfície

das  águas  e vão lançan do ifellas uma  m a té r ia leitosa excre-

menticia,

  que embebeda o peixe fazendo-o subir á tona

d agua. Voltando depois o bando, aproveita

  en tão

  a

 presa

fácil  que assim preparou. Os  pescadores   aproveitam-se

d essa  occasião  para apanhar  t amb ém  o peixe.

J á

  noite

 deixei

 o Ituquy  e penetrei por um estreito canal

art i f icial  denominado  Cavado,  mas que pela enchente es

tava completamente debaixo d agua;

  formando

 com o campo

alagado, pelo qual atravessa,  um immensolago coberto de

vege tação .

  Depois de algumas horas de viagem,

 vi-me

 per

dido, porque a

 luz

 que

 nos guiava

 era a das estrellas, no meio

da

 escur idão .

 Oraencalhando, ora recuando, assim como que

as apalpadellas, depois de algum tempo de demora encon

t rei

  novamente o canal por onde segui. Durante esta   tra

vessia vagarosa, porque levava a

  igari té então

  tocada a

varas, uma musica horrorosa fazia-se

 ouvir

 em torno de

 nós

e como que nos acompanhava. Cantores de todas as vozes

e de todas as idades, pareciam

  esmerar-se

  em mostrar

o som rouquenho de

  suas

  enormes guellas. Alguns nas

bordas mesmo da

  igari té

  animavam-se a deixar se ver e

ouvir.  Compunha-se  essa  gigantesca musica, de j acarés  de

todos os tamanhos.

  Para assanhal-os,

 um dos

  apuicuitdras

1)

 arremedava-os;

  en tão

  como que as

  águas

 animavam-se,

ouvia-se o barulho

  d á g u a

  batida pelas caudas  e um

 ruido

infernal atroava os ares,  com o ronco de todos a um tempo.

No

 meio d estes  perigos, aprazia-me comtudo em os mandar

arremedar, para apreciar a  revolução  que havia no es

paço  alagado.  O jacaré  alligalor)  é o saurio mais  temivel

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—   3 4  —

d a A m e r i c a d o N o r t e ( g a v i a l e ) , c h e g a n d o a t e r 2 0 p a l m o s ;

t o r n a - s e r e s p e i t a d o p r i n c i p a l m e n t e p e l a e n c h e n t e

  o u

  p e l a

v a z a n t e

  d o s

  l a g o s ,   o n d e   e m   m o n t e s   s o b r e p o s t o s

  u n s a o s

o u t r o s   ( c o m o d á - s e

  n o

  l a g o g r a n d e

  d e   V i l l a - F r a n c a ,

  a s s i m

c o m o

  q u e

  a m o r t e c i d o s e s p e r a m p e l a p r e s a s o b r e   q u a l

 s e

l a n ç a m   l o g o

  q u e a t ê m a

  s e u   a l c a n c e .   T e m í v e i s

  e m

  t e r r a ,

p e r s e g u i d o r e s  á   t o n a   d a g u a ,

  s ã o c o m t u d o

  i n o f f e n s i v e i s

  d e

b a i x o d a

 m e s m a .

  P r e s o

  n a

  r e d e

  q u a n d o o s

  p e s c a d o r e s t i r a m

s e u s

  l a n c e s ,   s ó

  s e d e i x a c o n h e c e r p e l o p e s o

 

p o r q u e   t o r n a - s e

e n t ã o i m m o v e l ,

  p a r a

  f i c a r

  f u r i o s o a p e n a s

  s e v ê n a

  a r e i a ,

s e n d o   o s   s e u s   m o v i m e n t o s   p a r a   o s   l a d o s   c o m t u d o   v a g a r o s o s ,

p o r c a u s a

  d a

  p o u c a m o b i l i d a d e

  d a s

  v e r t e b r a s

  s a l i e n t e s

  d o

p e s c o ç o . N a g u a ,   p a r a m e l h o r e n g a n a r

  a

  s u a   p r e s a , e s c o n

d e - s e t o d o d e i x a n d o

  s ó

  d e

  f ó r a o s

  o l h o s , c u j a s o r b i t a s f i c a m

m a i s e l e v a d a s

 d o q u e o

  r e s t o

 d a

  c a b e ç a .

 S ã o

  v o r a z e s

  e

  a l i

m e n t a m - s e d e   a v e s p a l u d o s a s

  e   r i b e i r i n h a s ,   d e

  p e i x e s

  e d e

q u a l q u e r

  q u a d r ú p e d e ,

  n ã o

  d e s p r e z a n d o  c a r n e   h u m a n a

q u a n d o   l h e

  é

  f á c i l

 a

  p r e s a .

  T e m

  c o m t u d o

  u m

  i n i m i g o

  a o

q u a l   n ã o

  r e s i s t e

  e   p e l o   c o n t r a r i o   e n t r e g a - s e   c o m o

  q u e

  m a g -

n e t i z a d o . E s s e i n i m i g o

 é

o n ç a

  Felis

  s p .

  var.)

  q u e s e

a p r a z , a n t e s

  d e

  c o m e ç a r

 

d e v o r a l - o , f a z e r - l h e   n e g a ç a s ,

c o m o q u e

  m o s t r a n d o

 o

  p o u c o

  c a s o

  q u e í a z d o s

  s e u s

  d e n

t e s e   d a s u a

  f o r ç o s a

 e

 d e n t a d a c a u d a

  p o r

 o n d e c o m e ç a

  a

c o m e l - o .

T r e s   e s p é c i e s s e   e n c o n t r a m   n o s  r i o s

 e

 l a g o s ,

 o

 jacaré-açu,

A. sderops) o curúa,   s p . n o b .   e o jacaré-tinga  [ A . p a l

pebrosus.  i

  q u e é

  m u i t o   m e n o r ,   m a i s   c l a r o ,

  n ã o

  o f f e n d e o

h o m e m

e

  s e r v e p a r a

  o

  s e u   a l i m e n t o , a p e z a r d e   t e r

  s u a

c a r n e

  u m

  c e r t o  a l m i s c a r .

  A m b o s

  p õ e m

  o v o s

  e m

  n i n h o s

  n a s

m a r g e n s d o s   r i o s ,

 q u e o

  s o l   c h o c a , f i c a n d o

 a m ã i

  a   v i g i a l - o s .

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—   35 —

mais se podia apreciar pela escuridão da noite, a não ser

innumeros pyrilampos que cobriam a

  vegetação

  que sahia

fóra

 d agua.

 Mo pertenciam estes  á ordem dos  coleopteros

gen.  lampyres  mas eram umas

 pequenas

 larvas de 0

m

02 de

comprimento, pouco mais ou menos, que immoveis  se con

servavam sobre as folhas, com  um pequeno  luzeiro continuo,

na parte  inferior  da extremidade opposta á  c a b e ç a .  Era tal

o numero e t ão forte o luzeiro, que dava uma luz fusca que

deixava ver os objectos.

Depois de ter  atravessado  o  Cavado  penetrei no rio

Ayayá onde  está  situado o engenho do Exm. Sr.  Barão  de

S a n t a r é m .  Depois de algumas  horas de viagem por

 este

r io cheguei ao referido engenho,

  pelas

 2 horas  da madru

gada.

  Quér  pela sua  pos ição qu ér  pela boa  d irecção  do

estabelecimento, assim como

 pelas

 suas

 sól idas

  e

  espaçosas

accommodações é o primeiro do m u n i c í p i o .  A grande casa

de vivenda, de telha, é inteiramente

 separada

 do engenho,

que lhe  fica quasi fronteiro e que é todo igualmente de te

lh a  Com machinas  p rópr ias  para o fabrico do

  assucar

 e

aguardente, movidas

 pelas

 águas de um  a ç u d e que  são tra

zidas por um longo canal

  a r t i f i c ia l

pelo qual navega uma

montaria,

  fabrica annualmente avultada quantidade desses

gêneros que são  vendidos no mercado de  San t a rém   ou ex

portados.  Além  dos productos  p rópr ios do engenho, fabrica

t a m b é m   excellentes vinhos de laranja, cacáo canna,  c a jú

etc. que  nada deixam a

 desejar.

  Cult iva também  o m i lho o

arroz, o fe i jão o fumo,  a mandioca, o  cacáo etc.  Dirigido

pelo intelligente Norte-Americano Rhome e

  sócio

 do mesmo

Barão o estabelecimento  es tá  n um estado  prospero e pa

rece que muitos melhoramentos tem de  soffrer, pela

  acti-

va adminis t ração  do mesmo Rhome. Assentado na margem

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—   3Í6

 m>

 

conduzida a canna que tem de ser moida. Tem aproxima

damente 400 pés de altura

 esta

  calha.

No mesmo dia da minha chegada, depois de percorrer o

estabelecimento e  suas dependênc ias tomando uma mon

taria,

  segui pelo referido canal, que de certa distancia em

diante passa por baixo da mata, e f u i ao lago que dá origem

ao mesmo canal.  Está situado

 esse

 lago no meio da flores

ta que o rodeia, espraiando

  suas

  á g u a s

  por baixo delia, e

é  coberto quasi que litteralmente por

  nympheaceas

  e

  ca

bombaceas.  Ahi encontrei um  ún ico pé de uma  uiricularia

de flores côr de rosa.  As margens  estão cobertas de assahy-

zeiros e

  c a r a n â s .

  De

 volta

 notei que o canal

  estava

 aberto

por  meio do que chamam  mina  de cernamby 1) e de que

 estava

 informado. Aproveitando-me da  o c c a s i ã o f u i  exa-

minal-a.

  Depois de percorrer toda a  super f í c ie  occupada

pela mina, que

  es tá

 coberta de uma camada de terra vege

t a l

onde já cresce vigorosa

 vegetação

deixando em alguns

lugares transparecer a mesma, pude, estudando a natureza

e  d isposição do terreno, conhecer que affectaa  f ô r m a  mais

ou menos regular e pronunciada de um cone, cuja base

abrange

 u m espaço

 de mais de

 vinte

 b raças

 de

 d iâm et ro . No-

te i  que  a lém  desta,  havia mais outras muito menores. A

primeira  impressão  que causou-me um  cór te  de mais de

duas b raças  de profundidade,  feito pouco a cima da base

do referi do cone,  f o i que essa immensa quantidade de con

chas ahi reunidas em

 camadas,

 certificava-me a

 passagem

 de

ág uas

 em tempos immemoriaes que ahi formaram

 esse

 de-

sito, mas examinando as  conchas  notei serem modernas,

e ainda com

  representantes

 nas  á g u a s  do Amazonas e Ta

p a j ó s . Geologicamente fallando, quanto a  m i m

esse

  depo-

posito

 só

 attesta

 o deslocamento das  á g u a s do Amazonas, e

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37

o curso do Tapa jós e não um deposito  feito por ellas. Exa

minando a parte excavada e fazendo outras

  excavações

reu

nindo as circumstancias que me vieram ao conhecimento e

encontrei,

 pude chegar a uma  conclusão que se não é ver

dadeira, ao menos satisfaz-me e julgo não  ser  e r r ô n e a . Creio

que  esse  deposito

 foi

 feito pelos antigos selvicolas, servindo

t a m b é m   de sepultura aos

  seus

  cadáveres como

  passo

 a

provar.

Entre as innumeras  conchas que  formam

  esse

 deposito,

só quatro ou cinco espécies pude

  distinguir

  predominando

uma espécie dos  gêneros  Castalia Unio eHyarea que são

oleraceas. Entre as

  mesmas,

 formando os stractus, encon

t re i alguns fragmentos de l o u çad e barro, alguns com

 signaes

de  fu l igem assim como

  pequenos

  fragmentos de  ossos

de peixe-boi, e de  d iori to da mesma qualidade do dos

machados encontrados por mim nas.

  serras

  das  c i rcum-

v iz in h an ças .  Se

  fosse

  um deposito,  feito  por correntes

d aguas,  geologicamente fallando, grande seria o numero

de gêneros e   espécies de molluscos que ahi  se encontrariam,

porque grande é o seu numero nas  águas amazônicas e não

seriam transportados os

  gêneros

  mencionados, todos

  p ró

prios á  a l im e n t a ç ã o .  Os fragmentos de  louça provam que

não houve deposito  feito

 pelas

 á g u a s

pelas

  circumstancias,

não  só da sua  exis tência  ahi, sem mostras de ter sido ro

lados, como a

  ausênc ia

  de outro qualquer corpo ou seixo

rolado, assim como a identidade na  comparação fei ta  com

outros fragmentos encontrados na serra que  fica  sobran-

ceira. Os fragmentos de  d iori to é outra circumstancia que

dá ao meu espirito a  convicção  de que fosse  obra dos gen

tios.  Duas outras circumstancias, acabaram depois de

convencer-me: o encontro de alguns  craneos  de  indios,

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  38 —

para os gentios que habitavam a serra. Finalmente, a fi

gura

 que

 representa

  a

 referida mina,

 é a de ter

 sido

  for-

mada pelos homens e não por

  agentes

 da   natureza.   Se em

vez de uma

  figura

  conica,  que  geralmente   apresenta  os de

pósitos

  feitos pelo homem,   fosse  um   plano horizontal,

talvez  trouxesse   alguma duvida,  mas  tal qual hoje existe

convence-me que  fo i feitura  de  indios  o  dito deposito,  que

hoje tem

 o

 nome de mina, porque dahi, como de uma mina

calcarea extrahe o seu

  p ropr ie tá r io

  o  material com  que   fa

brica  excellente cal. Uma

  objecção

  apparece,  onde foram

os indios

 buscar

 tantas

 conchas

 ? Para  que queriam as

 mes

mas

 

Como puderam fazer esse  monte   que  mede   algumas

cinco b raças

 de profundidade? Julgo responder assim: Como

disse

 os

 gêneros  astalia

  e

  Unio que mais abundam

  são

alimentieios, naturalmente fariam

 esses

 molluscos parte

 da

a l imen tação

 dos  gentios,  que  muito perto   se   encontravam

nas  águas do Amazonas, que   en tão tinha o seu  leito  nas pro

ximidades e fizeram ahi

 nesse

 lugar um deposito,

  não só

 para

os restos

 das

 que comiam, como para aquellas

  que

 apodre

ciam, servindo depois paranelle   enterrar-se  os  mortos.  (1)

quantidade não admira, porque grande

  popu lação em

largos  annos  poderia fazer ainda maior deposito  do que

existe.  ^ tmàm^um .  -  >(^fct fa

A

  verdade  é que esses  molluscos dão mais luz  á  ethno-

graphia do  que á geologia,

  fo i

 a

  opinião

 que

  formei

 depois

de alguns dias  de  invest igações  e  estudos.   Mostrando  um

dos

  usos

 da

 extincta

  t r ibu  que

 outr ora habitava

  estas re

giões mostra  t a m b é m

  esse

 deposito de conchas,

  que

 havia

facilidade  no encontro dos molluscos,   nas  á g u a s Amazoni-

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9 —

eas, que então pelo Ayayá passavam, banhando um terre

no,

  que calculo

 estar

 cincoenta

  pés

 acima do actual

  nivel

do Amazonas,  en tão desobst ru ído   das ilhas baixas e de

terras de  a l luvião,   que hoje separam  estes  das fraldas da

serra. O que chamam  rio Ayayá,   não é mais do que a reu

nião  das   águas   dos   I g a r a p é s :   Urumary,  M ahycá,  Mararu,

Diamantino,  T in ingú e lgarapé-açú ,  que juntos  formam um

desaguadouro no Amazonas, do qual é separado  por ilhas

de modernas  fo rmações ,   de que acabo de  fa l lar .   Natural

mente sendo

 pescadora

 a  t r ibu  ahi existente  en tão ,   a Tapa

jós ,  (o  que se deprehende pela form ação do  monte de conchas

e por alguns fragmentos das  mesmas  que encontrei no alto

da serra,) e habitando  esta   o mesmo alto, prova que

esse iugar procuravam para evitar os  p ân t an o s ,  que haviam

de

 existir

 nas

 actuaes

  terras firmes baixas, e as

  enchentes

haviam de lavar as

 mesmas,

  ficando esse  deposito conchi-

fero

 na praia; porque  pequena é a distancia que o separa

da aba da serra

k

  estando  actualmente em terra  f i rme ,   dis

tante das  águas   do  Ayayá.

Para ter sido levantamento de terreno em que houvesse

deposito

 d agua

 nesse

 lugar, é um absurdo, por não serem

as  conchas fosseis,e  não  ter  havido revo lução geológica  mo

derna que

 pudesse

 trazer alguma duvida á  questão.

verdade que  revoluções contemporâneas   do homem

moderno têm havido, que têm levantado terrenos acima

das  á g u a s ,  formando depósitos   conchiferos, alguns ficando

a té  em cima das montanhas, como se encontrou na Euro

pa—na

 Sardenha,

  Sicilia,

  e nos antigos Estados

 pon tifícios,

porém   nunca n elles

 foram

 achados  ossos  humanos. A pre

sença  dos fragmentos das rochas com que foram  fabrica

dos os machados, que se encontram na serra, assim como

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—   4 0  •

A l o u ç a c o n t e m p o r â n e a d a d a s e r r a é m a i s u m a p r o v a q u e

c o n f i r m a

  a

 m i n h a

  o p i n i ã o .

J u l g o   t e r   e s c l a r e c i d o

 a e x i s t ên c i a  d e s s a   c h a m a d a   m i n a ,

p o r é m e s p í r i t o s

  m a i s

  e s c l a r e c i d o s  e

 c o m p e t e n t e s

  q u e   j u l -

g u e m

 e d e c i d a m , p o r q u e q u a n t o  a m i m ,  a  a p p a r i ç ã o  e m

u m

  p e q u e n o

  l o c a l

  d e  u m   d e p o s i t o   c o n s t i t u í d o   e x c l u s i v a

m e n t e d e   m o l l u s c o s ,  n ã o   p r o v a  f o r m a ç ã o d e c a m a d a s

  f e i t a s

p o r

  p h e n o m e n o s g e o l ó g i c o s , n ã o

 h a v e n d o

  o u t r o s

 v e s t í gi o s

e m   p a r t e

 a l g u m a

  d e l l e s .

P o n d o

 d e

  p a r t e

  e s t e   a s s u m p t o ,   c o n t i n u o   a  m i n h a e x c u r -

ç ã o .

D e p o i s   d e  c h e g a r  á  c a s a  e   t e r   c o n v e n i e n t e m e n t e   a c o n d i -

c i o n a d o

 a l g u m a s a m o s t r a s  d o s

  m o l l u s c o s

 q u e  a c i m a   f a l l e i

q u e p u d e

  c o l h e r

  p e r f e i t o s ,  e u m a p o r ç ã o  d o s   q u e c o m p õ e m

q u a s i  a   t o t a l i d a d e   d a  m i n a ,

  i s t o  é ,

 d o s  j á   e s t r a g a d o s ,   m e t -

t i - m e  em  u m a

  p e q u e n a

  m o n t a r i a   e

  f u i   e x a m i n a r

 o  igapó

q u e c o b r e  a   b a i x a  d a s

  t e r r a s

  n a   f r e n t e   d o  e n g e n h o . A  v e g e

t a ç ã o a q u á t i c a   a h i ,   é a   m e s m a  q u e   e n c o n t r e i   n o s  l a g o s   d e

S a n t a r é m . C o m p õ e - s e  de  d u a s   e s p é c i e s * d e

 pontederias

u m a d e   f o l h a s

  l a r g a s

  e

  o u t r a

  d e   f o l h a s

  e s t r e i t a s :

  s e n d o

a

  p r i m e i r a

  c o n h e c i d a

 n o

 R i o

 d e   J a n e i r o ,   d e u m a e s p é c i e

d e  utricularia d e

  f l o r e s

  a m a r e l l a s ,  d e   v a r i a s

 nympheaceas,

e n t r e   e l l a s   u m a e s p é c i e , q u e

 e s t a v a

 e n t ã o  e m   f l o r  e  q u e

j u l g o   s e r  a

 nymphaea

  alba. B o r d a e s s e  i g a p ó ,  a s s i m   c o m o

q u a s i   t o d a  a m a r g e m d o A y a y á ,

 a

 c a n a r ã n a , q u e é u m a

graminea,

 q u e   c r e s c e  q u a s i   s o b r e  a  a g u a   n o s   l u g a r e s   b a i

x o s ,  o n d e   a s r a í z e s p o s s a m

  t o c a r

 o   s o l o ,  e q u e

  s u b s t i t u o

 o

c a p i m

  d A n g o l a ,

 d o   s u l .

D e s t a  c a n a r ã n a é q u e s ã o  f o r m a d a s   q u a s i

  t o d a s

 a s

  i l h a s

q u e m a t i z a m

  o A m a z o n a s .

  A s s e m e l h a - s e

  á

 c a n n a

  c r i o u l a ,

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41

que em alguns lugares apparecem com f reqüênc ia e mesmo

aos bandos, eomo a piassoca e a

 ga rça .

 Duas

 espécies

 de mar

f i m

  pescador,  alcedo)  tenho encontrado nas margens dos

rios,  uma grande e outra pequena, dando-se  aqui a ambas o

nome de ariramba. Decahia  en tão a tarde quando  vo l te i

tendo  então occasião  de ver e  ouvir  o grasnar, como que

latido,  de algumas

  c au in t ah ú s

(1)

  palamedea comuta)

que estavam sobre

  i g ap ó .

  Despertas pelo

 ruido

  das

  ág u as

batidas pelos remos, levantaram ligeiras o vôo,  não me

dando tempo de

 atiral-as

 

Dizem os indios que quando o c a i n t a ú o u   cauintahu  es tá

bebendo agua, nenhuma outra ave, desce a beber, sem que

elle

  tenha primeiramente acabado. A crista cornea que

tem   perto do

 bico,

  segundo a  opinião  geral tem certas  v i r -

tudes : preserva de  ataques de estupor e cura-os, é  anti-

doto  para o veneno de cobra, etc.   Sustenta-se  de hervas

principalmente do grelo da  aninga.

No   dia seguinte pelas 6 horas da  m a n h ã  tomando um

animal,

  subi ao cume da serra, para examinar a floresta.

D ahi goza-se um soberbo panorama, vendo-se

 a té

  perder-

se nas nuvens

 do

 horizonte,

 innumeros

 iga rapés

 que correm

pelas terras baixas, distinguindo-se bem o Tapa jós asso

berbado tudo pelo volume do  Amazonas ; apresentando o as

pecto geral, de um mar coberto de ilhas e

  p en ín su l a s

  de

verdejante

  vege tação .  Depois de por algum  tempo, gozar

as delicias de uma, das brilhantes paginas da natureza do

Equador,

  segui, tendo á  minha  esquerda um grande ca

çoai onde ouvia-se  c â n t a r o j a p ú {cassicus cristatus),  e á

minha  direita

  um immenso canavial, occupando ambos a

chapada da serra ou a terra preta, chamada. Geralmente

observei, que as

 chapadas

 das serras, são dotadas de uma

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—   42 —

forte camada de  úmus que toma uma côr ennegrecida, e

que é

  favorável

 a toda e

  espécie

 de cultura ; por

 essa

 razão

penso, os antigos habitantes das florestas, os Tupayus,

procuravam de preferencia essas paragens como pude ave

riguar  pelos  vestígios que delles tenho encontrado. D'esta

serra, (Taperinha) foram me communicados alguns  f rag-

mentos de machados, pelo Sr. Rhome, entre ellesum dif-

ferente dos que até

 en tão

  encontrara, que pelo mesmo Sr.

foram achados  quando passou-se  o arado nas terras. Feito

da mesma rocha, dos que já  tive occasião  de descrever, ap-

parentando quasi o mesmo  fei t io afasta-se,  p o r é m na

maneira por que são feitos os encaixes, por onde deviam

passar

 as  p r isões que o uniam ao cabo.

Apeando-me

;

  á entrada da mata,  f u i puxando o anima

por  entre ella, para melhor observar e colletar. Pouco

depois de deixar o lugar cultivado, comecei insensivel

mente a

 descer,

  á sombra de um immenso docel de verdu

ra

que a

  cenlenares

 de pés ficava acima de minha

 cabe

ç a .  Tinha por companheiro o bom amigo Dr.  Amaral  e

alguns tapuyos, que nos serviam de guia. Logo que co

mecei a caminhar deparei com um grande pé de

  inajd

que media mais de cem pés, pelo calculo que fizemos,

medindo um outro que jazia por terra já

 secco,

  derrubado

pelo vento, e que tinha iguaes  d i m e n s õ e s .  Descendo,

entrei

  num vallehumido, coberto igualmente por fechada

floresta,

  mas cuja  vegetação  não  a t t ingía  ás  p ro p o rçõ es

da da vertente da serra e era

  en tão

  mais

  e n t r e l a ç a d a

  de

s i pó s .

  Ahi encontrei muitos exemplares de  griffini e

uma  mus ce cujas flores senti não poder aproveitar por

estarem  estragadas,  não só pelo tempo como pelos insec-

tos. Abunda ahi a  caça  grande, tanto que por mais de

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  43 —

os vestígios frescos que a cada passo encontrávamos. O ma

caco de prego

  cebus cirrhifer?)

  ahi é

 t a m b é m

 vulgar, por

que por mais de uma vez encontrei alguns bandos. Sendo

  tarde comecei a subir, voltando pelo mesmo caminho.

Compondo-se a floresta de uma grande variedade de ma

deiras

  reaes,  p rópr ias

  para

  const rucçao

  e marcenaria, que

seria enfadonho enumeral-as, basta só dizer, que

  tive

 oc:

s i ã o d e

  medir uma itauba

  acrodiclidium)

  que na altura

de um homem apresentava um

 d i âme t ro

 de onze palmos,

com

  uma altura correspondente. Pobre mostravam-se-me

os galhos

 d esses

 madeiros em orchideas, pois que nem uma

  encontrei; assim como em palmeiras que só quatro es

pécies

  achei, o

  inajd

  que abunda, a

  mumbaca

  ( astroca-

r y u m ,

  um ou outro

 (raro) jatá

  /cyagrus) e alguns

  maraja-y

(bactris)

 que estavam

 então com

 fructos,

  entre elles um no

vo

 que denominei

 B

monticola.

No

  dia seguinte,

  deixei

  o Engenho da Taperinha e

 fu i

visitar

  um outro

  sitio,

  notando que abunda na margem

em  que está assentado o m e s m ó  engenho, uma verbeneacea,

a  vitex tarumã.  Deixando o Engenho, vem a  p ropó-

sito

  patentear os bons

  serviços

  que como amigo me tem

prestado o seu Exm.

  propr ie tár io , serv iços ,

  que a

  gra t idão

guarda no

  co ração ,

  e só patentea-os quando

  impei lida

  pe

lo

 mesmo.

A

 mesma natureza, a mesma

  vegetação,

  quasi as mesmas

scenas,  notei

  durante dous dias de

  excursões

  que

  fiz

 pe

los

  lugares que depois

  percorri,

  antes de

 voltar

 para San

t a r é m ,

  onde cheguei no dia 10.

A h i

  tive  occasião,

  na

  véspera

  do dia de S.

 Jo ão ,

  de ver

dous costumes antigos, que vão cahindo em desuso, mas

que um não deixa de ser pittoresco. Um delles é o

  Çairé

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  44 —

exemplo, o padroeiro é Santo Antônio; em Santarém, porém,

ainda

  conservam a antiga

 devoção.

  Escrevendo as minhas

impressões

  de viagem e fazendo um estudo dos costumes

da  provincia,  não posso deixar de dizer o que é o   ça i ré .

Como

 disse,

  procissão

 ou festa, é ainda hoje

 feita

 pelos ta

puyos e  indios,   que para

  esse

  fim, preparam na aldeia

uma

  grande coberta ou rancho de palha onde termina a

festa.

  Dão

 a

 esse

 rancho o nome de

 ramada

porque anti

gamente era com effeito^  uma ramada que preparavam.

Feito  também

  com

  antecedência

  o

  tarubd

bebida

 espiri-

tuoza

 preparada   c o m b e i j ú s d e  mandioca ralada, no dia  pró

prio  sahe   o   çairé   em   procissão   acompanhado por grande

numero  de mulheres, por ser festa   privativa   dellas. O

çairé é um   semicirculo

 de madeira de 5 a 6 palmos de

 d iâ

metro,

  contendo dentro dous outros menores, collocados

um

  a par de outro sobre o

 d iâmetro

 do grande; cada um

d elles com um raio perpendicular ao mesmo  d iâme t ro ,

rematando por uma cruz.

 Estes

  arcos são cobertos de al

godão  batido, enfeitados de

  fitas,

  espelhinhos e biscoutos,

sahindo da cruz que orna o cimo do arco exterior uma

  fita

comprida.

  Seguram

 este

 arco tres mulheres velhas, sendo a

do  meio  denominada mestra que  são  as cantoras e uma quar

ta

  segue

  a t rás ,

  entre as

  duas

 primeiras segurando na

  fita

de que  fallei. Ao  lado   segue  uma outra, que   pôde  ser mo

ça,  e leva o   tamborinho pequeno tambor rasticamente

feito

 e  enfeitado  de   fitas,

 assim com a vaqueta, e que é leva

do  debaixo do   braço   esquerdo.

Segue

  na frente o

  çairé,

  precedido de uma bandeira

branca com uma  figura  mal pintada, que representa o

Santo

 protector,

 e  a t rás  em morno  silencio,  grande numero

de mulheres, que ouvem o canto triste e m onótono  das ve

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os

 juizes

 da festa, elevam-os para a igreja, assim

 como

 o

 v igá-

r i o

que são levados depois para a ramada. Este depois de

benzer a mesa, que preparam para obsequiar os

 convivas,

retira-se acompanhado pelo mesmo  ça i ré  e pelo jantar que

lhe oí ferecem.  Segue-se  depois um ceremonial entre os

Juizes, procuradores, mesarios, etc.

  fastidioso

 de descre

ver terminando a festa por  dansas, que  vão  até o dia se

guinte,  acompanhadas de  l ibações  de  t a r u b á  e d'agua-ar-

dente, que põe todos mais ou menos em um estado pouco

lisongeiro.  Na  igreja, nas  casas  onde vão, ou pelas ruas,

nunca

  cessa

  a cantiga, que é cadenciada pelo

 tamborinho

e pela  inc l inação  para frente ou para traz, que dá a fita ao

ça i ré movida  pela mulher que

 segue

 dansando e pulando

de um para outro lado. Por mais que tenha procurado a

origem

  ou

  etymologia

  da palavra

  ça i ré

ainda não pude

descobrir.  S e r á s o i r é e que por

 corruptela

 chegasse a  ç a i r é?

O

 que representa

  ? n in g u ém

  o

 sabe.

 Parece comtudo segun

do

  uma

  versão

  que

  ouv i

que é um emblema para

perpetuar a  l e m b r a n ç a  do  dilúvio  solidificando  a  rel igião

O arco,  s ignificará a arca, os espelhos, a luz que depois se

fez os biscoutos, a  a b u n d â n c i a e o tamborinho, o ruido

das  á g u a s em torno da arca.  Será

 esta

 a origem ? O que é

verdade é que para

  o

 indio e o tapuyo o

 ç a i r é

é um  motivo

para se porem bem  com

 Deus,

  no Céo e regalarem-se com

as mulheres na terra. Esta festa tive  occasião  de estudal-a

na

  véspera

 de S.

  João.

Pelas 8  horas dessa

 noite,

  apresen

tou-se em

 minha

  casa  uma

  m u l t i d ão

 precedida pelo

  ç a i r é

que entrando agglomeraram-se as mulheres num lado da

sala,com

 o ç a i ré á frente, e num tom baixo e  monó tono co

m e ç a r a m  a cantar. Sendo uma festa de tapuyos, todo o can--

to

 era na lingua geral, o que para

  m im

  era mais enfadonho

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  4t> —

estavam com .coroa de flores naturaes e algumas artificiaes,

assim como que os tapuyos traziam coroas nos

 seus

 cha-

péos

perguntei se era

  aquillo  p rópr io

 da mesma

  dansa

 ou

p roc i s s ão ;  responderam-me que era um antigo uso,   p r ó

prio do dia.

Com   effeito,

 sahindo a percorrer a cidade vi que muitas

mocas de

 familias

 distinctas, assim como mancebos, traja-

vam

  vestidos brancos, e

 tinham

  aquellas as frontes e

 estes

os  seus   chapéos  de palha coroados. Uso antigo,   en tão

muito  apreciado pela juventude e mocidade, que se ufana

vam

 de saltar a

 fogueira

 assim coroados, hoje

 desapparece,

como

  vão desapparecendo cs  usos  e costumes innocentes

do  povo.

 Este costume era, e ainda é, seguido de outro em

que entra uma das tantas

  supers t i ções

que a noite

 des

se dia traz; umas doces, outras amargas ao co ração umas

de

 e sperança

e outras de realidade. E

crença

  entre a po

pulação

 que

 o

 banho tomado na madrugada do dia de S.

  João

cura e evita as  molés t i as pelo que quasi todos armados

de  b raçados  de plantas aromaticas, como a periperioca, o

trevo

 e a pataqueira,

  antes

  de alvorecer se

 dirigem

  para

a margem do

 r io

  e

 apenas

 desponta

  o

 dia

 l ançam-se

  n agua.

A

 praia

 fica

 coberta de

  indivíduos

 de ambos os sexos, e de

todas as idades e cores, que levados pela fé, assim

  termi

nam

  o festejo do Santo.

No

  dia 29 de Junho, pelas 4 horas da madrugada, to

mando o vapor  Inm

deixei

  o porto de

  S a n t a r ém

e subi

o

 Tapa j ó s .

  Este que se

  lança

  no Amazonas como

  vimos,

por  uma foz estreita,   passando   a cidade de  San t a rém  co

meça

 a alargar-se, formando uma ampla bacia denominada

de

  Vi l la  F rança

por ahi

 ficar

  situada na margem esquerda

a

  vi l la

  deste  nome. E antiga aldeia de Cumaru ou dos

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n ú c l e o   d e s t e s   i n d i o s ,   d e s c i d o   d o   r i o  d o m e s m o  n o m e  q u e

p r ó x i m o d e s á g u a . C o m p u n h a - s e

  a

  a l d e i a

  d e

  i n d i o s

  A r a -

p i u n s ,  C o m a n d y , G o a n a c u á s ,

 M a r x a g o a r a s ,

  A p ua t i á s , A r a -

p u c u s ,

 A n d i r á g o a r e s

 e   o u t r a s .  E m   v i r t u d e  d a

  l e i

 d e 6 d e

J u n h o

 d e

  1 7 5 5 ,

  f o i p e l o g o v e r n a d o r F r a n c i s c o X a v i e r   d e

M e n d o n ç a   F u r t a d o e l e v a d a   á   V i l l a   e m  M a r ç o  d e   1 7 5 8 .   P a r a

o

 N d a   v i l l a

  f i c a

  o   e x t e n s o l a g o  g r a n d e

 d e   V i l l a

  F r a n c a   o u

d a s

  C a m p i n a s ,

  a n t i g o

  T u c u m á ,

  o n d e

  h o u v e

  u m

  g r a n d e

p e s q u e i r o

  r é g i o ,

 a p p r o v a d o   p o r

 p r o v i s ã o

 d o

  E r á r i o

  d e 2 8

d e J u l h o   d e

  1 7 8 3 .

E r a   n o t á v e l  e s t a   v i l l a   p e l a

  i n d u s t r i a

  q u e   a h i h a v i a  d e   t e

c i d o s   d e   p a l h a ,   q u e   h o j e

  está   e x t i n c t a .

 T e m   p o r o r a g o   a

m a t r i z  N o s s a  S e n h o r a

  d a  C o n c e i ç ã o .  A s u a  p o p u l a ç ã o  é d e

3 . 6 7 2

 i n d i v í d u o s,

 s e n d o

 1.75.6

 h o m e n s ,

 e

 1 . 9 1 6

  m u l h e r e s :

s ã o   n a c i o n a e s   3 . 6 6 5

 e

  e s t r a n g e i r o s 7 ,   q u e

 f o r m a m

  5 5 2  f a -

t í í í í t á •

  '

W i

  '

l

í

v

^ B

?

 

:

*

> ;

^ • ' •   fyt^f-

  vt

U m a   q ue s t ã o   g e o g r a p h i c a   c o n v é m   a q u i e s c l a r e c e r ,

  v i s t o

c o m o

  e r r a d a m e n t e a l g u n s

  v i a j a n t e s

 e

  e s e r i p t o r e s

 t ê m

 aífir-

m a d o ,   l a n ç a r - s e   o   T a p a j ó s   n o  A m a z o n a s p o r  u m

  d e l t a ,

 o

q u e   n ã o é   e x a c t o .

O   q u e

  n a t u r a l

 m e n t e  t o m a m

  c o m o

  o u t r a  b o c a   d o m e s m o

r i o n ã o é  m a i s   d o

 q u e

 o   c a n a l  d e

 q u e

 a c i m a   f a l l e i .   P e r

c o r r e n d o t o d a  a

 r e g i ã o  b a n h a d a

  a h i p e l o

 T a p a j ó s

 e

 A m a z o

n a s , e s t u d a n d o   a  q ue s t ã o ,   a o  p a s s o  q u e   o b s e r v a v a   a  v e g e -

t a ç ã o ,   c h e g u e i   a o   c o n h e c i m e n t o   d e q u e   p o r   u m a s ó

 b o c a ,

e s t a   m e s m a   b a s t a n t e   e s t r e i t a ,   e m   r e l a ç ã o   á  m a s s a d á g u a

g e r a l ,   q u e a t é n a

  r e g i ã o

  d a s   c a c h o e i r a s   o c c u p a   m a i o r

e x t e n c ã o

  c m   l a r g u r a ,  s e

 l a n ç a

  o m e s m o n o

 A m a z o n a s .

M a i s   d e t a l h a d a m e n t e

  p r o v a r e i

  o  q u e   a d i a n t o .

O

  r i o  T a p a j ó s

  c h e g a n d o  e m

  f r e n t e

 á

  V i l l a

  F r a n c a a l a r g a -

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8/16/2019 Historia politica economica do reinado do S. Rey D. Jozé I.pdf

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  48 —

ir um canal denominado furo do Veado que corre e lan-

ra-se

 no

 Arapixuna

 na

  d i recção

  de O N 0. Este rio não é

mais do que um desaguadouro do lago Cara r iacá que pelo

fu ro

  do mesmo nome recebe as

  ág u as

  do Amazonas e vae

lançar-se

 no

  Tapa jós

com o nome de rio Jary dirigindo-se

a

  principio

  de N a S e depois para S 0< Da foz do Jary

que recebe sempre as  ág u as  do Amazonas começa  a costa

das

  raras

 

que

 forma

 quasi um

 t r i ângu lo

 equilatero tendo

por  base

 o canal ou

  f u ro S u r u r ú

que une o Jary á bahia

das Araras.

Em continuação

  da grande

 enseada semi-circular

 que ahi

o rio

 forma

encontra-se a chamada ponta dos

 Piriquitos

 e

logo depois a bahia do mesmo nome que

  forma

  uma

longa  pen ínsu la

  banhada a S E pelo canal  impropria

mente chamado  Igarapé-açú que communica o Amazonas

com   o Tapa jós trazendo  suas  águas barrentas que correm

pelo  Tapa jós

 ao

 longo

 da costa que termina na Ponta Negra

l imi te

  N da foz do mesmo

  T a p a j ó s .

  Pelo que acabo de

expôr vê-se que nenhum b raço lança o Tapa jós para o Ama

zonas

visto

  como não se

  pôde

  considerar

  b r a ç o s

nem o

Jary nem o

 Igarapé-açú

por receberem

  águas amazôn icas

e não levarem as do

 Tapa jós .

  Considerado mesmo geogra-

phicamente

e attendendo á

  d i recção

  dos dous rios e á

sua grande correnteza

vê-se

 que naturalmente ambos

 estes

canaes seguem o rumo S O que

  indicam

  a

  força

  da cor

rente levada pelo Amazonas que leva  en tão  a de N S

Quando não houvesse a côr das

  á g u a s

á

  d i recção

  geogra-

phica

não era

  possível

  admittir-se que úm rio que segue

uma di recção lançasse braços

  levando

  suas  ág u as

  para

traz.  A parte denominada Ponta Negra é a extremidade

S da

  ilha

  quasi triangular que

  firma

  a bocca do

  Tapajós

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_  4 9  —

c e r m a i s m i n h a o p i n i ã o a p r e s e n t o a i n d a a f o r m a ç ã o d e   d u a s

p e q u e n a s

  i l h a s ,

 n a

 f o z

 d o

 m e s m o

 I g a r a p é - a ç ú .

  C o m o   é

 s a

b i d o ,

 o

 A m a z o n a s   c o n s t a n t e m e n t e f o r m a

  e

  d e s l r o e   i l h a s

 n o

s e u c a m i n h a r   e

 q u e

  s e n ã o d á   i s s o  e m   o u t r o s   r i o s ,   s o b r e

t u d o

  n o

 T a p a j ó s

q u e

  p e l a n a t u r e z a

  d e s e u

 t e r r e n o ,

 n ã o

c o n s e n t e t a e s   f o r m a ç õ e s p o i s

  b e m n o

 T a p a j ó s

  o n d e  a s

m a r g e n s   s ã o   a r e n o s a s a s s i m   c o m o  o  s e u   l e i t o f o r m a r a m -

s e

  d u a s

  i l h a s

 n ã o d e

  a r e i a ,

 m a s

 d e m a t é r i a s

  s e d i m e n t o s a s

d a   m e s m a   n a t u r e z a

 d a s

 d o

 A m a z o n a s

q u e

 s e

 c o b r i r a m  d e

u m a

  v e g e t a ç ã o p r ó p r i a

  d o

  g r a n d e

  r i o

e

 q u e  n ã o

  e x i s t e

e m

  t o d o

 o

  c u r s o

 d o  T a p a j ó s .   F o r m a d a s

 a s

  i l h a s   d e

  g r o s s o s

m a d e i r o s ,  c a n a r ã n a m u r e r ú c o b e r t a s   d e p o i s   p o r c a m a d a s

d e s e d i m e n t o ,  a

  p r i m e i r a

 v e g e t a ç ã o  q u e   a p r e s e n t a ,

 é

  l o g o

 a

d e

  u m a

 e s p é c i e

 d e

 chorão

 o u

 salgueiro

a

 salix

 Martiana>

d e n o m i n a d a  Âyorana p o i s

 b e m

  e s s a   v e g e t a ç ã o

 é

 q u e lít—

t e r a l m e n t e

 j á

  c o b r e

  a s

 d u a s   i l h a s

 d o

 T a p a j ó s

q u e

  a s s i m   a t - -

t e s t a m

  u m a

  f o r m a ç ã o a m a z ô n i c a .

A

 p r ó p r i a v e g e t a ç ã o

d a s   m a r g e n s   d o

  I g a r a p é - a ç ú

é a .

m e s m a  q u e   s e   e n c o n t r a   n a s  á g u a s   d o

  r i o

  A m a z o n a s .   s

i l h a s

 d a

  c a n a r a n a s

  o u

 periantans

t r a z i d a s

  p e l a s   c o r r e n t e s , .

e n t r a n d o p e l o

 I g a r a p é - a ç ú

f o r m a m   h o j e   l i n d a s

  c a m p i n a s

q u e o r l a m t o d a  a  m a r g e m

  d o m e s m o

a s s i m   c o m o  a cecro-

pia scabra q u e

 é  p r ó p r i a

  d a s  m a r g e n s

 do   g r a n d e r i o .

a h i   p r e d o m i n a .  O  q u e  é   e x a c t o  é  q u e   g e o l o g i c a m e n t e   f a l - >

l a n d o

 a

 p e n í n s u l a  c o m p o s t a

 d e   i l h a s

  f o r m a d a s p e l o s   i g a r a

p é s o u   a n t e s c a n a e s ,   e q u e  c o m e ç a   n o   A r a p i u n s ,   o u t r o r a

n ã o   e x i s t i a ,   p o r q u e t o d a  a s u a f o r m a ç ã o

 é

 d e   s e d i m e n t o ,

e   p e l a  v e g e t a ç ã o   a t t e s t a   s e r e m

  t e r r a s

  a m a z ô n i c a s .

  f o z

d o   T a p a j ó s

 q u e

  h o j e é  a p e n a s

  d e

 1 . 2 0 0   m e t r o s ,   o u t r   o r a

t i n h a   m a i s

 d o   t r i p l o  e

  d e v i a   f i c a r

  p o u c o

  a b a i x o  d o   r i o   A r a

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50

tram-se

  aves,

 que não se encontram no  Tapajós e sim no

Amazonas, como o

 carard

plotus anhinga, os

  arapapds

canchromacochlearia eos

  mergulhões

colymbus.

Raiava o dia quando  passávamos a ponta do Cururu, lugar

onde torna-se a estreitar o rio a que um elevado monte de

fôrma

  conica, para quem

  começa

 a subir o rio, dá um as

pecto

 bonito

 á entrada da

 enseada

 onde

  está

 plantada a

 vi l la

de

  Alter

  do

  Chão

que confusamente se avista de bordo,

na margem oriental. Esta  povoação está em completa de

cadência ; reina a m iséria e ás vezes mesmo a fome. Consta

de quarenta

 casas

 de palha. Tem uma escolla publica

  f r e -

qüentada

  por 28 alumnos. Os habitantes empregam-se na

pesca  ou na  extracção  da borracha, para que abandonam

os

  seus

  lares. Lavoura não existe, a não ser rocinhas de

mandioca ou de  bananas,  para o sustento  p rópr io assim

como não ha industria alguma; quando, entretanto possuem

terras

  férteis

  e a

 proximidade

 da cidade e do centro com-

mercial  os convida ao trabalho.

Alter

 do

 Chão

 dista 4 a

 5 léguas

 da cidade de

  Sa n ta r é m .

A

 igreja que é de telha, mas pobre em ornatos e alfaias

  está

estragada.

  Tem

 a

  invocação

  de Nossa Senhora da

 Sa ú de .

Conta

 hoje

 uma

 população

 de 593

  indivíduos formando

 100

famíl ias sendo

  317 homens e 297 mulheres, dos  quaes

são nacionaes

 592.

Foi a

 antiga

 aldeia Borary ybyrayb  1) ou Hibirabibe 2)

fundada pelo 3.

0

  missionário

  jesuita, o padre

  Antônio

  Pe

reira

  com indios

  Cayoanas

  e Tapaipurus. Em 1729,

10.° m issionário o padre Sebastião Fusco, chamou os indios

para a aldeia dos

 Tapajós sendo abandonada

 aquella. Em

1738 porém

por ordem do

  vigário provincial

o padre

José

  de Souza,

  passou

 o padre Manoel Ferreira, 12.° mis

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o s  T a p a j ó s , e n t ã o e m   n u m e r o  d e  c e r c a  d e   4 0 0 , p o r t e r e m s i d o

d e s i m a d o s

  p o r u m a

  e p i d e m i a

  d e

  c u r s o s ,

 s e g u n d o

  r e f e r e

  o

m e s m o   M a n o e l   F e r r e i r a

  e m u m s e u   e s c r i p t o .

F o i   e l e v a d a á

  v i l l a  e m

  1 7 5 8 ,

 p o r é m

  h o j e

 é   f r e g u e z i a .  N a s

s u a s

  t e r r a s

  a n t i g a m e n t e   e   a i n d a

  h o j e ,  m a s

 é

 r a r o ,

 e n c o n t r a

v a m - s e   c o n t a s  d e   f e l d s p a t h   m u i r a k i t a n s )   p e l o   q u e   m u i t o s

e m v e z d e

 B o r a r y   q u e r e m

  q u e

 s e j a

 Puerary.

  1 )

  m a s  c o m o  é

c o n h e c i d a

  é

  p e l o p r i m e i r o

  n o m e .

  D e s t a s

  c o n t a s ,

 u s a d a s

p e l o s

 T a p a j ó s ,

  d e p o i s   f a l t a r e i .   P a s s a n d o

 a  e n s e a d a ,  o

  m o n t e

q u e

  s e n o s

 a f i g u r a   s e r t o d o c o n i c o ,

  c o m e ç a a

  e s t e n d e r - s e ,

p e r d e   a f ó r m a d e q u e f a l l e i , e   a p r e s e n t a   o  c u m e   a c h a t a d o .

O

  r i o   a p r e s e n t a   s u a s  m a r g e n s   o r l a d a s

  d e u m a

  c a d e i a

 d e

m o n t a n h a s , s e n d o  p o r é m a   o r i e n t a l   m a i s   a c c i d e n t a d a  e o n

d u l a d a c o b e r t a s

 d e v e g e t a ç ã o .

C o m e ç a m o s

 a   d o b r a r

  a

 p o n t a  d o  J a g u a r a r y

  á s 9

  4

/ 2   h o r a s ,

o n d e

 c o m e ç a u m a

  e n s e a d a g r a n d e d e n o m i n a d a   P i q u i a t u b a ,

p o r q u e   a h i

 v e m

  m o r r e r

 a

  s e r r a

 d o

  m e s m o   n o m e ,

 d e

 q u e

 j á

t i v e  o c c a s i ã o d e   f a l l a r .   S e p a r a   e s t a   e n s e a d a ,   d e u m a o u

t r a ,

 o i g a r a p é

 M a r a h y ,

 q u e d á s e u  n o m e  a

 e s t a .

A h i

  a s m o n t a n h a s

  s ã o

  b a i x a s

  e s e m

  a c c i d e n t e s ,

 q u e

  t o r

n e m n o t á v e l

  e s t a   p a r a g e m ,

 a n ã o

  s e r

 u m   g r a n d e

 b a n c o

 d e

a r e i a ,  q n e   f i c a

  f r o n t e i r o

  a u m   o u t r o   d e

  p e d r a ,

  n a m a r g e m

o p p o s t a ,  n a   p o n t a   c h a m a d a S u r u q u á ,

  b a n c o s

  e s t e s   q u e n o

t e m p o

  d e

  s e c c a ,

  s ã o

  c o b e r t o s   a p e n a s

  p o r

  4

 o u 5

 p a l m o s

d a g u a ,   d e i x a n d o e n t r e t a n t o e n t r e  a s   p e d r a s   u m   c a n a l  q u e

n a   m a i o r v a s a n t e  s e m p r e

  m e d e  1 5 a 1 8

 p a l m o s

 d e   p r o f u n d i -

d e .

  A h i o

  r i o

  t e m d e   l a r g u r a

  c i n c o m i l h a s , f i c a n d o e s t e s

d o u s   p o n t o s   d i s t a n t e s

  d e S a n t a r é m 3 2

 m i l h a s

  e d e   A l t e r  d o

C h ã o ,

 2 0 .

  A s 1 0 * / 2

  p a s s e i

 a

 p o n t a

  d e

 S.

 T h o m é ,

  c h e g a n

d o  a B o i m á s 1 1   h o r a s .

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52  —

feitas de palha, tendo só cinco de telhas em nm só  l a n ço .  A

igreja,

  que temas

  paredes

 feitas

 de

 páo

  a pique, é coberta,

igualmente de palhas,  está muito arruinada, e tem por pa

trono Santo Ignacio.

 Foi

 fundada no

 lago

 Uaicurapá no canal

Ramos ou Tupinambaranas pelo padre  Jesuíta Antônio da

Fonseca, em 1669, com

 indios

  Tupinambás  e mudada de

pois  para o rio  Ande rá onde se aggregaram os

 indios

 do

mesmo nome, e ahi permaneceu

 até

  o anno de 1737,

 época

em que foi mudada pelo padre   Manoel  Lopes da mesma

Companhia, para o

 lugar

 que hoje occupa. Emquanto  esteve

no lago Uaicurapá  teve por orago Santa   Maria  Maior  e de

pois

 Santo

 Ignacio

  de

 Loyola.   Hoje

  ainda a população é de

indios

 e tapuyos, que levados pela  indolência natural, e os

fallazes  lucros da extracção da borracha, deixam suas  ter

ras em abandono, nada cultivam,  e contentes com alguma

farinha

  que lhes dá algumas  braças de terra  r o ç ada vivem

fóra de toda a sociedade, desconhecendo os principaes de-

veres de um c i dadão .  Levados por uma  péssima  e duca ç ão

vivem sujeitos, porque se

 julgam

  incapazes de por  si se

  d i r i -

girem.

  Amam  a liberdade, mas não a comprehendem. E

habitado

 o

 districto

  por 103

 familias,

 com 600

  individuos,

dos

 quaes

 260 são homens

 e

 340 mulheres, sendo 594 nacio-

naes.  Ahi assisti, ao que denominam elles

  varrição

  da

festa

que consiste em andar pelas ruas homens e mulheres

 

atrás de  duas   bandeiras,

 e

 de um tambor, acompanhados

de  cracachd i) cantando de casa  em  casa,  no dia seguin

te à festa de

 algum

  Santo.

  Tinham

  festejado S. Pedro na

véspera

  e quando  corria  a  povoação encontrei-me com

^varrição que depois de correr algumas  casas, precedi

dos de duas  bandeiras, branca  e  encarnada, e de um enorme

tambor,  entraram em uma  casa   onde sobre uma tosca

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—  òó

lenço de seda roxa. Collocando-se em frente á mesa, come

çou

  o

  ind iv íduo

  que levava o tambor a tocar e a cantar,

ficando aos lados as  duas   bandeiras. Algumas mulheres

ahi  ficaram, mas quasi

  todas

  se retiraram deixando-o na

sua  devoção. Trajavam todos

 vestes

 domingueiras.

O  aspecto  geral da  povoação  é bonito,  es tá  bem situada,

abrange bastante espaço e a baixa  vegetação campestre que

a circunda a distingue das outras do baixo  Tapa jós . Dista

esta

 freguezia 186  léguas da capital, 24 de  S a n t a r é m 13

de Pinhel e 13 de Itaituba.

 Acima

 da  povoação   encontram-

se alguns sitios á margem do rio  rodeados   pela  vegetação

natural,  sem apresentarem

  indicio

 algum de lavoura.  Pas

sando a ponta Itapuama (1) o rio alarga

 bastante,

 e apre

senta  as margens

  elevadas

  perpendicularmente, uns 200

pés

  acima do rio. Cobre as

  mesmas

  uma

  vegetação

  alta-

neira, que pelas  abertas  que deixa,  vê-se  argilla  vermelha

de que são compostas. Diversa é a f ô rma  das arvores que

ahi  observei, das do  Al to Tapajós sendo estas   esguiase

quasi sem copas, emquanto que as que cobrem as margens,

na  reg ião  das cachoeiras, são frondosas e de um verde mais

negro. Em Itapuama, existiam outr ora os indios Napai-

purus e  Cu ra ré s que tendo se mudado para Jaguarary,

foram

  levados depois pelo 6.° m iss ionár io  o padre  José  de

Souza, para Borary. Foram aldeiados em Itapuama pelo

padre Manoel Rabello,  p o r é m tendo sido ahi os  Curarés

amarrados por um Paulo Ferreira cunhado de Manoel da

Motta  e levados captivos para o  P a r á os  restantes   se

mudaram. (2)

Na  margem oriental, 193  l éguas  distante da capital, 31

acima da cidade de  S a n t a r é m   e a 6 á q u e m   de Itaituba,  es tá

situada a Freguezia de

  Aveiros,

  antiga  povoação   fundada

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—   54 —

chamado Magoary e elevada á villa em 1781 pelo Gover

nador

  José

 de

  Nápoles

 Tellode Menezes. Tendo

  l ido

  como

suas  c on t e m porâ ne a s  a categoria de  v i l l a  fo i depois rebai

xada

 pelo estado

 de regresso em que estava pela lei n.° 148

de 18 de Novembro de 1848. Com effeito hoje  Aveiros é

uma povoaçãosinha  em abandono cercada de matos com

posta de uma só rua parallela ao  r i o , com 30 casas tendo só

duas

  de telhas.

  A

 matriz que tem por padroeira Nossa

Senhora da  Conceição,  é pequena baixa sem torres de

telha porém   completamente estragada tendo na frente já

aberturas por onde se

  devassa

 o interior. Em 1700

flores

ceu porque  en tão era grande o commercio que tinha com

os Cuyabanos que em grandes  monções  ahi aportavam.

A

  população  do districto de Aveiros éde 1.972  ind iv íduos ,

dos quaes 915 são do sexo masculino e 1.057 do  feminino

formando  30C f a m í l ia s . São nacionaes 1.955.

Proveito

  algum usufruem de suas terras e de suas  ma

tas e a

 pesca

 que poderia ao menos prevenir a fome é  lam

bem

  despresada.

 Entregue á  inacção sabe a sua  população

tapuya dessa inérc ia e semi-brutalidade em que  vive, quan

do aproxima-se o

 ve rão ,

 que parte

  e n t ã o ,

  para a

  vida

 im-

moral

  e desregrada que os lança  na  m i sé r i a  e locupleta a

outros;  seguem para os seringaes. Uma verdadeira praga

afflige a população ,é a formiga de

 fogo

  myrrn ica rubra)  que

algumas

  vezes

 afugenta a  população ,  porque e tal a  qual i

dade

 que chega a

 cobrir

 o chão  das casas e da rua.

Na

 margem

 occidental

 duas

 léguas

 acima

 desta

 Freguezia

a  seis de

 Itaituba

está  plantada numa  p lan íc ie  sobre uma

e m i nê nc i a , a extincta m issão de Santa Cruz. Pittorescoé o

lugar aprazível

  suas

 praias e excellentes florestas cobrem

suas uberrimas terras. Fica-lhe  fronteira a  ilha  do mesmo

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i   r >

nho em 1799; e sujeita a jurisdiceão da ex-villa de Pinhel,

que lhe

  fica

 distante rio abaixo, 3

  l éguas .

  Cahiu em

 deca

dência

 e

 fo i

 novamente

  creada

 em 1848,

  sendo

 nomeado o

seu  miss ionár io   em 8 de Novembro do mesmo anno. Hoje é

uma maloca de Mundurucus semi-civilizados, que   ahi vivem

na ociosidade, quando  não estão  na   extracção  da borracha.

Dezanove palhoças  accommoda uma  po pulação  de cem  almas

emquanto que em 1855, tinha 609  indivíduos,

  sendo

 349

adultos, 165 homens, e 184 mulheres e 260 menores

dos quaes  141 eram do sexo masculino,

  sendo

 só casados

99indios.

 Habitava  então   esta   população   48 pa lho ças.

Uma  pequena  capella, por assim dizer  abandonada,  con

serva ainda a

 Sagrada

 Cruz, ahi plantada pelos  padres  da

Companhia. Outr ora mais populosa,

  com

 maior numero de

casas

  tinha alguma

  im po r tânc ia,

  pelo commercio que fa

ziam os indios com a

 salsa,

 o cravo, etc. mas

 hoje

 em com

pleto abandono,  attesta  mais o

 regresso

 do importante rio,

que pela natureza  é  destinado a

 figurar

 a par dos mais ricos.

Pouco acima de

  Santa

  Cruz, na mesma margem   fica  a

ponta  Pêca-açú   (I) que   f ô rma   um grande promontorio.

Deságua

 quasi em frente a

 este,

 o

 r io

 Cupary que dizem ser

abundante em borracha, e pelo qual Bates, em Agosto de

1851  subiu, e estudou a sua fauna. A  i lha  de   Uruará fica-

lhe quasi  fronteira.  Ao anoitecer cheguei á i lha  de   Urucuri-

tuba, um dos lugares em que o vapor aporta. Ahi tem um

portuguez alguma lavoura, com um engenho movido a

animaes, para fabrico da aguardente e assucar.  Commer-

cia  com os

 indios

 e  tapuyos e exporta  muita

 gomma

 elástica.

E um dos pontos apraziveis e onde encontrei sobre uma

crescentia cujete

um bonito exemplar do

 epidendrun va~

nillosmum.

  Ahi pernoitando, segui

 viagem

 no dia seguin

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  —

minada Brasilia Legal, por ter sido um ponto onde alguns

c i d a d ã o s  voluntariamente se armaram contra os Cabanos,

em   1836. Informaram-me que ainda em 1848, haviam ahi

perto de vinte pa lhoças mas que hoje não tem nem um  terço

desse

 numero. Pela lei n.° 266, de 16 de Outubro de 1854,

foi-lhe   conferida a categoria de freguezia e de  v i l l a mas

não   correspondendo ella a essa  honra,  foi-lhe depois tirada

pela lei n.° 290 de 15 de Dezembro de 1865.

Passando esta

  encontrei as ilhas das Guaribas, dos

 Papa

gaios e as do  Gu a ran á  sal que são em numero de quatro.

Pouco acima

  destas

  ilhas, na margem oriental, ha uma

ponta formada de  pedras calcareas   que tem o nome de

Ip áp ix u n a   (1). E

bastante

  elevado, e algumas rochas es-

boroadas

 pela

  acção

  do tempo se amontoam sobre a praia.

Tres qualidades de rochas ahi se apresentam dando cal, de

differentes

 qualidades.

  Destas

 rochas é que se

 fabrica

 a cal

em San ta rém que tem grande consumo em todo o

 Ama

zonas .

Na   enseada   formada pela ponta da

  Brasilia Legal,

  uma

l égua  acima da  ex-missão   de

  Santa

 Cruz, e a 34 de  Santa

rém f ica  uma outra  povoação formada de  í n d io s  e ta

puyos, que  fo i outr ora uma outra  m i s sã o

creada

 no mes

mo  anno. Fica

 assentada

 na margem esquerda  do r io Cury,

que ahi  deságua se  compõe  de um pequeno numero de

palhoças das  quaes   algumas  es tão

  abandonadas.

  O lugar

das  orações  é uma  pequena   capella de palha, onde se ve

nera, como em

 Santa

  Cruz, o lenho do Salvador. Não ha

ahi  lavoura ou industria, entregues  á  indolência  professam

esses indios uma moral que muito pouco abona a  educação

que  foi legada pelos primeiros que commerciaram no Tapa

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hoje

 só conta algumas  f amí l i as que por amor ao lugar ou por

outra qualquer circumstancia, não têm deixado o lar, pelos

lucros fallazes do seringal. Em 1858 ainda contava uma

população  de 282  ind iv íduos

sendo

 adultos 166, dosquaes

86 eram homens e 116 menores,  destes  64 eram do sexo

masculino Habitavam 14 fogos.

Em   frente á ponta do Ipa-pixuna,  ficam   as Barreirinhas,

onde existe um canal entre as

  mesmas

  e uns escolhos,

formados por um banco de areia e rochas. Deste ponto

para cima  começam   a ser mais  p ró x imas  as ilhas.  Acima

da  i lha  das  Barreirinhas,  vê-se  na margem  Occidental em

terra  f i rme  algumas  habi tações .

Passando a  ilha  das Pederneiras, nome que tem de muito

s l x  que se encontra formando

 grandes

 rochas, contorna-

se a  i lha de Camarury, pelo  b raço  oriental do r i o onde  íica

pouco acima, a  povoação  de Mundurucus  Uix i tuba antiga

missão d i r ig ida  pelo Capuchinho

  Frei

  Egydio de Garezio,

em   1849, que missionava  t a m b é m   Cury e

  Santa

 Cruz, sob

o nome de  missão  do  Tap a jó s .  Dista do Cury urna  l égua

e quasi duas de Itaituba e 35 de S a n t a r é m .  A causa da ex-

t incção  d esses   fócos

 de

  civilização

encarrega-se

 de dizer o

finado

  general Conselheiro Jeronymo Francisco Coelho.

quando

  destas

  missões  trata no seu  Rela tór io  apresentado

em   1849, a pag. 82. Diz elle : « Em geral os indios

 destas

tres

  aldeias, em

  suas

  r eu n iõ es  festivaes  en t regão-se  a ex

cessos

 de embriaguez, e  neste  estado  to rnão-se  momen

taneamente  iusubordinados.  T a m b é m   pessoas  estranhas

v ã o f r e q ü e n t e m e n t e  ás aldeias plantar a  desmora l ização

seduzir e lezar os indios. Grande parte delles de ambos os

sexos  se  acha  fó ra a  t i tulo  de

 aggregados

 em  serviço  de

particulares, que com elles tem sempre abertas  contas leo

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a

  competência

  do

  miss ionár io

  sobre os

  indios

e recusam

entregal-os o que são outras

  tantas

 causas de contrarie-

dade  para o augmento tranquiilidade e bôa ordem dos

aldeamentos.

Cumpre

  advertir que  esta mesma

  d e sm o ra l i s ação

se-

d u c ç õ e s

  e traficancias se praticam não só nestas  aldeias

mas em todos os pontos da  p rovíncia onde ha indios ou

a ld êad o s

ou em

 suas

 malocas e os principaes corruptores

dos

  ind ígenas

  são

  essas

  esquadrilhas de  canoas  de rega-

tões

mascates ou quitandeiros dos  rios que os cruzam e

penetram por todas as partes incutindo falsas

  idêas

  no

animo dos  indios illudindo-se com embustes suscitando-

Ihes  m ã o s  conselhos para os afastar da  o b ed iên c ia aldea-

mento regular

apresentando-se

  como

 seus

  amigos

p o rém

com   ardiloso e perverso  disignio  de conservarem o

 exclu

sivo

  monopólio de suas  re lações  commerciaes a fim de os

poderem lezar á vontade e impunemente visto que os in

dios

  não tem claro conhecimento dos valores dos

  g ê n e r o s

que

  p e r m u t a m . »

As especulações

 commerciaes e a descoberta dos

 seringaes

neste

  rio  fizeram  com que  essas m issões  de  en t ão para cá

desapparecessem; quando ainda em 1855 prosperavam e

tinham  1.503 indios apezar da epidemia que as  d i z im o u .

Começou a  decadência  em 1858.

Passando a povoação uns escolhos que da mesma margem

se dirigem para o

 r io d i f íi cu l tam

  a

  navegação

  porque um

grande banco ou

  i lha

 de areia lhe

  fica

 quasi

 fronteiro dei

xando um canal por onde

  em b arcaçõ es

  de maior calado

passam.

Em   frente a

 esta

  i lha  ou banco fica  a  vi l la  de Itaituba

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f' 59 —  . ,

Não me sendo possível ir a esta freguezia, comtudo tomei

algumas

  in fo rmações

  que não

 posso

 deixar de dal-as, na

ráp ida descr ipção  que  faço  do Rio  T a p a j ó s .  Distante de

S a n t a r é m  30  lég u as ,  e uma de Aveiros,  está  edificada na

margem opposta a esta a freguezia de Pinhel, antiga aldeia

de S.  José  de Matapus, fundada pelo padre  Jesu í ta José  da

Gama em 1722, que  en tão  missionava Arapiuns. Foi ele

vada a  vil la  em 1758,  p o rém  pela Res. n.° 233 de 21 de

Dezembro de 1853  foi-lhe  tirada  essa  categoria, em vista

do atrazo e da decadência em que

  estava.

  Compõe-se  de 35

casas de palha, quasi todas tapuyas.

A

 igreja tem por orago S.  José . Es tá  em decadência como

todas

 as  povoações do T ap a jó s ; d ecad ên c ia  que se não  pôde

attribuir,

  senão  á  ex t racção  da borracha, porque

  antes

 da

popu lação  entregar-se a ella, todos  esses  lugares floresce

r a m ,  eram mais populosos e havia mais industria e la-

Trinta e sete léguas, acima da cidade de Santarém, e

cento e noventa e nove da capital, na margem occidental

do  Tapa jós ,  a 4

o

  19' 25" 4 ct. S e 12° 2' 10' Long.  Occ.

do meridiano do Rio de Janeiro,

  está

  edificada a

  Vi l la

  de

Itaituba.

  (1) Tendo por origem o estacionamento de for- 

ças  legaes pela  revolução  de 1835, que chamou muitos

individuos  e animou o lugar, a actual  vi l la  que  en tão t i

nha poucos moradores foi se desenvolvendo, tornando-se

o ponto commercial mais importante do  T a p a j ó s .  Esta i m

p o r t ân c i a  levou o presidente da Provincia que  então  era o-

Tenente Coronel do Corpo de Engenheiros (2J Henrique de

Beaurepaire Rohan, a transferir pela Lei n . ° 290 de 15de

Dezembro de 1856, a categoria de freguezia e  de.villa,

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—   60

conferida pela Lei n.° 260 de 16 de Outubro de 1836 a po

voarão

  de  Brasilia Legal,   para Itaituba. A 3 de Novembro

de 1857 celebrou a Gamara M unicipal  a sua primeira  sessão

sendo

  esta   de

  in s ta l l ação posse

  e juramento, presidindo

então

  a

  Província

 o Doutor

  João

  da  Silva

  Ga r rão .

Como

 as mais

 povoações

 de que tenho

 fallado,

 a de Itaituba

t a m b é m

  cahe, porque compondo-se

  ella

  hoje de uma só

  l i -

nha de

 casas

 parallela ao rio, outr ora tinha mais outra

da qual ainda se notam  ves t íg ios .  Tem 37 casas,   sendo

16 cobertas de telha e 21 rusticamente feitas com palhas

de  c u r u á das  quaes   muitas   es tão

  muito

  arruinadas.   Sete

destas casas  es tão oecupadas

 por estabelecimentos commer

ciaes, dos

  quaes

  dous são de commerciantes estrangeiros.

Além   das  casas  commerciaes, tem mais o commercio am

bulante, formado por 12

 canoas

 de  r eg a tõ es das quaes  são

nacionaes

  oito. Ainda

  outras

  casas

  existem

  fóra

  da

  villa

negociando clandestinamente, que segundo  f u i  informado

«   tem por fim

 i I l u d i r

 as  Repar t i ções publicas que   s ão . i n cu m -

bidas de cobrar os impostos municipaes e provinciaes. »

A

 matriz

  es tá

  em

  cons t rucção

tendo já as  paredes   late-

raes

 e da (rente principiadas, celebrando-se os

  ofiicios

 di

vinos

 n uma choupana nos fundos da  Igreja.  Tem actual-

mente por padroeira Santa Anna,

  sendo

 em 1845 Santo

 A n -

tônio

 e outrora Nossa Senhora da

  Conceição .

A  população

  do

  munic íp io

  pelo recenseamento de 1 de

Agosto de 1872 é de 7.873 almas, que assim estavam

  d i v i -

didas :

Em

  Itaituba

No   Seringal

No

  Baccabal (mundurucus)

1.573

800

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 - 6 1

C o n t a - s e   e n t r e  o s 1 . 5 7 3   h a b i t a n t e s  d e   I t a i t u b a 8 5 7 h o

m e n s , 7 1 6

  m u l h e r e s

d o s

 q u a e s

  2 9 0

  c a s a d o s

6 8 v i ú v o s e

1 . 2 1 3   s o l t e i r o s

a v u l t a n d o

  n e s s e   n u m e r o a s c r i a n ç a s d e

a m b o s

 o s   s e x o s .

Q u a n d o é t ã o   g r a n d e   o n u m e r o d e

 c r i a n ç a s ,

  e m   e s t a d o

d e   f r e q ü e n t a r e m a s  e s c o l a s n o t a - s e e n t r e t a n t o  q u e s ó h a

u m a   e s c o l a p u b l i c a q u e t e m   m a t r i c u l a d o s   1 7

  a l u m n o s ,

n ã o

 s e n d o

 f r e q ü e n t a d a

  p o r

  m a i s

 d e 1 0 .

N ã o é p o r

  f l t

d e   g o s t o   o u a p t i d ã o , q u e s e  n o t a   e s s a

f l t

d e f r e q ü ê n c i a   e  d e

 m a t r i c u l a

m a s   s i m p e l a s

  d i s t a n c i a s

l

  . á  v e n c e r .   .   { ; •  ^$' $MW$-

C o r r i   t o d o s o s

  s i t i o s

 e h a b i t a ç õ e s d e   t a p u y o s m a l o c a s  d e

i n d i o s

 e   p e r g u n t a n d o

  s e m p r e

  p o r q u e   n ã o p u n h a m o s

  f i l h o s

n a e s c o l a

 r e s p o n d i a m - m e ,

 c o m o

 s e

  h o u v e s s e

  c o m b i n a ç ã o :

«   s e n t i m o s   n ã o   p o d e r   m a n d a r  n o s s o s   f i l h o s   d i a r i a m e n t e

p o r q u e

  a

  e s c o l a

 é

  l o n g e

s e  e l l e s  p o d e s s e m l á

 d o r m i r

  c o m

m u i t o g o s t o   m a n d a r i a m o s . »

S e  h o u v e s s e ,   p o i s e m v e z d e u m a   s i m p l e s e s c o l a p a r a

e x t e r n o s u m a q u e   r e u n i s s e   a s   d u a s   c l a s s e s   d e   a l u m n o s

i n t e r n o s

 e

  e x t e r n o s

s e r i a

  e s s a

  e s c o l a m u i t o

  f r e q ü e n t a d a e

p r e s t a r i a

  i n n u m e r o s

  s e r v iç o s á  c a u s a   d a

 c i v il i z a ç ã o .

 N ã o

s e   e x i g i r   m u i t o   d o  a , l u m n o ,   o   s i m p l e s e n s i n o   p r i m á r i o ,

s a t i s f a z

  a s   n e c e s s i d a d e s   e  p o r c e r t o  a b r i r á

  m a i s

  o s   o l h o s

d e s s e s   i n d i v i d u o s  q u e   c e g o s   p e l a   e d u c a ç ã o   r e c e b i d a   d e

s e u s   a v ó s , n ã o s e

 c o n t a m

  n o n u m e r o d e

 c i d a d ã o s .

  Q u e

a l é m d o

  e n s i n o

  p r i m á r i o , é

  e s t a

  a

  p a r t e

 m a i s

  e s s e n c i a l

o

p r o f e s s o r e m u m a   h o r a   d e p r e l e c ç ã o d iá ri a ,   i n i c i a s s e  o s

a l u m n o s   n o s

  d e v e r e s

  q u e t e m o  h o m e m

  p a r a

  c o m D e u s e

p a r a   c o m a   s o c i e d a d e n o s   d e v e r e s   d o c i d a d ã o ,  n a s   l e i s  q u e

o   p r o t e g e m n o   c o n h e c i m e n t o   d a

  n o s s a

 c o n s t i t u i ç ã o po lít i

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este sempre a doutrina chrislã com as garantias e regalias

que tem

 homem

 religioso

 na sociedade em que

  vive.

 Mostrar

que perante Deus todos são iguaes, que o nascimento não

obriga

  este a ser escravo daquelle, que todos devem tra

balhar

 em

 commum

 para

  gloria

  de Deus e prosperidade da

pá t r ia .

Dous

 internatos um na

  villa

 de

 Itaituba,

 outro em San

t a rém

trariam

 não só o desenvolvimento

 morSl

  do Tapa

jós

como daria

  importância

  ao lugar augmentando o seu

commercio

  e a sua lavoura, porque a

  f reqüênc ia

  dos pais

e parentes dos alumnos para

 esses

 lugares,  trariam  ani

mação

dariam

 lugar a especulações commerciaes,chamaria

população

  e portanto

 á v i d a

  que

 falta

  agora.

Com

  pouco dispendio faria  o governo a

 despeza

 com a

construcção  de casas, que não exigem  luxo mas commo-

didades,despeza que talvez os particulares a fizessem. As '

mensalidades, com um pequeno

  auxilio

 do Estado

  chegarão

para  alimentação  e mesmo  ves tuár io para aquelles alum

nos que

 forem

 extremamente pobres. Para

 este

 a

 classe

 de

gratuitos

  é  indispensável.

  Estes

 internatos estabelecidos

um

  em

 Itaituba

 para a

  população

  do

  Alto Tapajós

outro

em Santarém  seria

  muito

  f r eqüentado e ainda mais  serão

si

 as autoridades não á

 força

 mas por meios persuasivos,

empregarem a  sua» influencia  para com aquelles que

não  prestarem-se a remetter  seus  f i lhos.  Um aux ilio  an-

nual

  de 1:200 para cada internato, e uma

  despeza

 de

4:000 00O

 a 6:000 para

  construcção

  de cada

  casa,

 não

é

  dispendio que não

 possa

 fazer uma

 província

  da ordem

da do

 Pará .

 Despeza que se

  fará

 annualmente sem pesar aos

cofres,

 si se der providencias  enérgicas para que se pro

cedam

 ás cobranças

 dos impostos que ha, de maneira

  a n ã o

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tende ao engrandecimento da

  prov í nc i a .

  Si se quizer in-

s t rucção

 na

 provínc ia ,

  creem-se

  os internatos que só assim

se r á  ella  derramada e  evi t a rá  o  escândalo  da  educação  de

o r p h ã o s

 por particulares.

Tendo sido elevada a  vil la  em 1856 só se

  começou

  a

cobrar impostos em Itaituba no anno de 1869, isto é,

quinze annos depois, perdendo assim a

  Provínc ia

  e a Câ

mara, mais de 140:000^000 estabelecendo por

  base

  as

quantias de 3:300 000 de rendimentos municipaes e

6:000 00Ô  de provinciaes, que  foram os do  exercício de

1871

  a 1872, da

  c â m a r a municipal

 ecollectoria.

O

 rendimento do

  mun i c í p i o

  poderia ainda

  attingir

  ao

t r i p l o ,  si a  a r r e c a da ç ã o  de impostos fossem effectuadas re

gularmente e se empregassem as

  disposições

  das posturas

eas leis que o regem.

O

 commercio que havia ha alguns annos em grande escala

com

  a

 provínc ia

  de  Mato  Grosso, para onde se exporta

vam

  milhares de arrobas de

 g u a r a n á ,

 agora vai

  d i m i n u i n -

do a ponto de  descer  a

  expor tação

  a 180

 @

 em 1872; de

vido á

 ext racção

  da borracha que occupa todos, os que

outr'ora se occupavam na

 industria

 do  gua ra ná .

Diminuindo  o fabrico do mesmo artigo, augmentou a

expor tação

  da gomma

  elást ica

  para a  capital, que pare

cendo á primeira  vista trazer melhoramento e

  a bun dâ nc i a

para o lugar, por ser grande o commercio que se faz

 desse

g ê n e r o ,  não veio mais do que trazer a  misé r i a  para as

naturaes.  ,

Collocada  sobre uma doce

  e mi nê nc i a ,

  a

  v i l l a ,

  apresen

ta  vista do rio um

 aspecto

  a gra dá ve l ,  e delia se goza uma

bella

  paisagem, formada pela serra que se eleva na mar

gem

  opposta, e pelas ilhas que matizam as

  á g u a s .

  Em

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  6o —

encontrava quér soltos entre a areia e seixos quér em al

gumas pedras trazidas pelas correntes.

  A hi

 apanhei varias

espécies  dos molluscos representantes dos terrenos  Devo-

nianos e

 carbonifero

 dos

 gêneros  Orthis^roductus atrypa

terebralula rhynconella spirifera

o

  clymenia.

Alguns polypeiros

 dos

  gêneros  cyathophilwn

  e

  enchen-

tes

  imperfeitos

 e um gasteropode do  gênero  bellerophon

t a m b é m

 ahi achei. Fragmentos de varias

  espécies

 de

  sílex

encontram-se em

  ab u n d ân c i a

  entre os seixos de quartzo e

agatha que são trazidos de mais longe e ahi se accumulam

formando

 assim uma das praias mais ricas geologicamente

fallando.

Percorrendo outras praias

cont inuações

  da de

  Itaituba

v i  que

  d i f fer iam

  desta por serem umas arenosas e outras

 ricas em seixos. Nestas como na de

  Itaituba

encontrei

t a m b é m

  alguns fragmentos de machados de

  d iori to

e mes

mo

  alguns perfeitos da mesma

  f ô rma

  dos que já havia

encontrado nas

  immediações

  de

  S a n t a r é m

assim como pe

quenos fragmentos de louça  pintada de vermelho que ap-

parecem desenterradas pelas

 águas

  da

 chuva

e que provam

que ahi

 existio

 uma maloca.

No

  dia 4 pelas 6 horas da

  m a n h ã

subindo o rio e cos-

teando a margem occidental

dirigi-me

 para o riacho Bom

Jardim acima da v i ll a uma  légua. Lança-se este no T apajós

por

  uma bocca de 6 á 8

  b raças

durante a cheia ede uma

a

  duas

  depois do escoamento das

  ág u as

depois de ter

passado por lugares baixos por onde se espraia formando

p a ú e s

e de um curso de

 duas

 léguas

 pouco mais ou menos

originando-se

segundo os

 indios Mauhés

no lagoCapituan.

Pouco acima de sua

  foz tem

 uma

  ilha

 quasi circular cober

ta  de v egetação baixa.

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—   fiC —

Pela acção das águas a parte inferior da pedreira fôrma

grandes abobadas, e grutas de

 f ô rmas

  caprichosas.

Apresenta  ahi seis   s t ra t i f icações perfeitamente horizon

tais,  cobertas de 3 a 4 palmos de terra vegetal e de cores

mais ou menos claras. A primeira

  não

 é

 calcinavel,

  é cor

tada por pequenos veios de quartzo e ornada de geodos de

erystal

 de aragonita, com a

 espessura

 de um metro.

A

  segunda é formada de

 silex,

  com 0,1 de

 espessura

sobreposta á tereeira, que calcina perfeitamente, dando

eal  bastante alva. N esta encontram-se muitos molluscos

fosseis dos  gêneros  terebralula stringocephalus spiri-

fera relzia pentamerus atrypa calceola productus.

Como

  a   primeira   a quarta não calcina, emquanto que

a quinta  calcinando bem, dá cal grosseira. Como a terceira

s t ra t i í icação a sexta produz cal que nada deixa a desejar

pelas  suas  propriedades e  alvura.

Sobre  esta   pedreira estabeleceu um  italiano,  um

  forno

de  pequenas

  d imenções

mas que lhe tem produzido cal

que em quantidade exporta, dando-lhe  muito   interesse.

Subindo o   r io cujas margens são Cobertas de baixa vege

tação

encontrei a 150

  b raças

 de distancia, no mesmo lado

outra

 pedreira, mas que deixa

 fóra

 d agua só dous stratus,

sendo o primeiro   de uma cor cinzenta e o segundo ama-

rellado.  A vegetação  rachitica  que a cobre, mostra ape

quena profundidade do  h úm u s  e a grande   ex tensão  que

tem

  a mesma para o interior.  Ambos os stratus calcinam

bem

pela

  exper iência

  que fiz. Continuando a subir, na

margem  opposta   começa  a apparecer outra pedreira com

tres stratus, de pedra  in fer ior mas calcinaveis, tendo

o

  primeiro

 e terceiro itmumeros molluscos fosseis, sendo

os do primeiro de  gênero diverso  dos do  terceiro. Encontrei

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—   67 —

do rio navegável que percorri, mais de meia légua, en

contram-se  signaes  da  ex is tência  do calcareo, já pela vege

t ação já pela apparencia das rochas em alguns lugares,

que o pouco

  h úmu s

 que as cobre deixa a descoberto, mos

trando que de  ambas  as margens para o  interior  existe

a

  con t inuação

 das rochas.

Deixa  de ser  navegável  o riacho, porque espraiando,

fica  todo  obs t ru ído

  pelos

 vegetaes,

  e

 apresenta  en tão

 tam

bém

  pouco fundo. Ahi encontrei pela  primeira  vez um

bando de lontras,  lutra braziliensis Scientifica e com-

mercialmente

  fallando,  este  riacho por si só constitue

uma riqueza, que hoje

  desprezada,  poderá

  para o fu

turo

  constituir um ramo de industria

  muito lucrativa.

Distrahidos

 hoje os naturaes, com a ex t racção da borracha,

-

 não dão fé do que perdem,

  será

  tarde, talvez, quando

vier o arrependimento O que hoje desprezas,  aman h ã o

estrangeiro

  ap re sen t a rá

  como

  t i tu lo

  de riqueza.

Passando

  o dia

  neste

  iga rapé occupado em colher

amostras,  voltei  já tarde para a  v i l la encontrando quasi

na embocadura do mesmo um bando de mais de duzentas

ciganas

  (opistocumus cristatus).

Constando-me que em um sitio  p róx imo  ao rio  P i racanã

existiam

  algumas  igaçauas  (1) para elle me  d i r ig i  na ma

drugada do dia 6 de Julho, tomando para isso uma mon

taria

  tripolada por dous tapuyos, e indo amanhecer na

ponta da

  i lha

  de Camararury que  divide  o

 Tapa jós

 em

dous  b raços estendendo  suas praias por elle a dentro em

1)

  Corruptella  de

  yucdçam

do verbo

  yucd

matar, com a termi-

ção

 verbal áua  hoje  ába)  que faz  çauá  ou çába  por terminar o verbo

em vogai; significa, o lugar onde se mata, ou se enterra um morto, e

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—   68 —

grande extensão. Querendo conhecer a vegetação que orna

as margens,

  q u é r

  da

  i lha quér

 do rio,

 nesse

  lugar, tomei

pelo b raço  que costeia a ilha pela margem

 esquerda

 e desci.

Tomando nota das plantas que estavam em  flor ou

mais abundava nas margens, notei que uma ou outra

soqueira de jauary apparecia, rompendo a espessa   ramada,

feita

 de algumas plantas  sarmentosas,   que ahi crescem

em abundânc ia  tornando inaccessivel as margens, sem au

xi l io

  de algum instrumento que abra passagem.   Come

çando  a

 vasar

 o rio, comtudo as  águas  beijavam ainda as

raizes e  ramas

  dessa

  longa sipoada, d entre a qual e  a l ém

via-se romper e

 apparecer

 grandes  pés de tachy do igapó  (1),

uma  polygoneacea do  gênero t r ip lar is e que julgo  ser a

triplaris Bomplandiana que embellezava a floresta com

suas

  flores

  brancas

  e avermelhadas, quando velhas, que

apresentavam quasi  suas  copas   inteiramente cobertas de

flores;  são  arvores altas, mas cuja madeira não tem em

prego,  senão  para  ca rvão .  Com  seus   troncos mergulha

dos n agua e firmados na areia se  an tepõe  a essa  cipoada,

innumeros pés de

  myrtaceas

dos

 gêneros  psidium

  e

  u-

genia.

Entre

  estas

  espécies alguns pés de  vitex tarumã e

uma  malpighiacea do  gênero  Iannsia estavam  t a m b é m

em flor.  ofvn

Costeando a i lha dobrei a sua ponta norte e comecei a su

b ir  o rio pelo outro  b raço chegando ao  sitio  ás 10 horas

da  m a n h ã .

Collocado  este

  sobre uma  e levação oecupa um grande

espaço  do terreno denominado  terra preta hoje coberto

por  um cafezal quasi abandonado.

Em   frente â

 casa

  que es tá  quasi beira-rio, deparei logo

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—   69 —

com innumeros vestígios de igaçauas compostos de fragmen

tos de  louça uma grosseira e sem  desenhos  e outra

mais  fina e com desenhos a í fec tando fô rmas geomét r icas e

coloridos com  tinta  encarnada.  Pelos mesmos cheguei a

ajuizar que as  f ô rmas  das  mesmas aproximavam-se das

das panellas. Procedendo logo a uma  escavação  a ver

se encontrava alguma perfeita f u i informado en tão  pelos

habitantes do

  sitio

que nenhuma encontraria por ter

sido

 esse

 lugar todo escavado pelo Professor Hart que  t i rou

quantas  igaçabas  encontrou. Vendo mallogrado o meu in

tento internei-me pelo cafezal a ver se encontrava outros

vestígios sendo  ainda  in fruct i fero  o meu trabalho pois

nem um só  t raço  dellas encontrei.

Para

 compensar o tempo perdido o

  acaso

  fez-me

 depa

rar com um machado de  d ior i to  compacto o mais bello e

bem acabado que encontrei . Tinha de comprimento 0

m

25

sobre 0

m

09de largura. O córte  bem  aguçado contrastava

com   os lados arredondados que se prolongavam  a lém   da

abertura dentada que  p ró x ima  ao alvado tinha para pren

der o cabo.

  Pesava

 mais de 4 libras e é um dos machados

mais raros que se encontra no

  Alto T ap ajó s. Além

  deste

outros ainda encontrei porém   pequenos

achatados

e se

melhantes aos que já havia encontrado anteriormente

Sendo

 informado

 que quasi toda a parte elevada dessa mar

gem era de terra preta lugar onde habitavam de prefe

rencia os antigos gentios pelas provas que existem e pelos

seus

 vestígios

  só se encontrarem

  nesses

 terrenos comecei

a percorrer todos os sitios dessa margem que me pagaram

o trabalho com alguns exemplares dos mesmos machados

mais ou menos perfeitos.

 Pelas

  f ô r m a s pela natureza da

pedra e pela  s eme lh an ça q u é r  da qualidade desenho e

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. 0

g | ^_   7 —

  :

r

M;;ií

V a r i a s m a l o c a s

  e x i s t i r a m c o m o   j á

  t i v e   o c c a s i ã o

  d e   f a l l a r

e m

  a m b a s

 a s

  m a r g e n s

  c o m

  d i v e r s o s

 n o m e s

  e m e s m o

  c o s

t u m e s

m a s

  c r e i o  q u e

  a l g u m a s

  e r a m   s u b- di v i s ões d o s T a

p a j ó s ,

 q u e n ã o   h a b i t a r a m s ó  a   f o z   d o

  r i o

q u e   t o m o u - l h e   o

n o m e .

  ^

A

  m a r g e m   d e s t e l a d o t e m

 a m e s m a

  v e g e t a ç ã o , q u e

 a

d o

  o u t r o

d i f f e r e n ç a n d o - s e   c o m t u d o

e m

 n ã o   s e r  t ã o   a b u n

d a n t e

 o

 t a c h y

e m

  a p p a r e c e r m a i s

 leguminosas,

  t r i b u

  f a b a -

c e a e n c o n t r a r e m - s e v u l g a r m e n t e m u i t a s

 convolvulaceas,

d o   g ê n e r o  jacquemontia.

E s t a n d o

  o

  d i a   a b r a z a d o r   2 8 R e a u m ) ,

  a

  a t m o s p h e r a

b a i x a

 e  n u v e n s

  c a r r e g a d a s p a r a

  o S

  a m e a ç a n d o m u d a n ç a

d e

  t e m p o ,

  p e l a s

  3

  h o r a s  d a   t a r d e

 d i r i g i - m e

  p a r a   I t a i t u b a .

D e p o i s d e

 u m a

  h o r a

  d e

 v i a g e m

  c o m e ç o u a

 s o p r a r

 o

  v e n t o

q u e c r e s c e n d o

  s e m p r e ,

 e n c a p e l l o u  a s  á g u a s ,  q u e

 a

  c u s t o  p o

d i a

 a   f o r ç a   d e  d o u s   r e m o s   r o m p e l - a s . S o b r e v i n d o d e p o i s

c h u v a a c o m p a n h a d a d e   r e p e t i d o s  r e l â m p a g o s

  e

  t r o v õ e s ,

f o r m o u - s e

  u m

  v e r d a d e i r o t e m p o r a l a c o m p a n h a d o

 d e

  f u -

r a c õ e s ,

  q u e

 m e

  o b r i g o u   a  a r r i b a r

 a u m a

  p r a i a

c o m

  g r a n d e

d i í ü c u l d a d e ,

  j á

 m o l h a d o

  n ã o s ó

 p e l a c h u v a

  c o m o

 p e l a

  a g u a

q u e e n t r a v a  n a c a n ô a   o c e a s i o n a d a p e l a q u e b r a d a s v a g a s   d e

e n c o n t r o

 a o s e u  c o s t a d o .   E n t ã o ,   t i v e  o c c a s i ã o

 d e

  o b s e r v a r

o   t e m p o r a l

  s e m

  r i s c o  d e

  v i d a u m

  d o s  m a i o r e s   q u e  c o s t u

m a m

  a s s o l a r   e s s a  p a r a g e m .   A c h u v a c e s s á r a .

 O

  v e n t o

  m u -

g i a   p e l a   f l o r e s t a l e v a n d o a n t e   s i   i n n u m e r a s

  f o l h a s f l o r e s   e

g a l h o s ;

  a s

 á g u a s

  e n c a p e l l a d a s p a r e c i a m

  r e f l u i r

 c o m

  r a p i

d e z  o r u i d o

 d a

  c h u v a

  e d o s

  t r ov õ e s e r a

  a t e r r a d o r e n

t r e t a n t o

 o

 s o l

  e s t a v a  f ó r a, a

 t a r d e   c l a r a

e s ó  g r o s s a s   n u v e n s

c o r r i a m   p e l o   h o r i z o n t e

  d e S

  p a r a

 N .

E r a

  u m

  e s p e c t a c u l o s o b e r b o q u e s e

  m e

  o f f e r e c i a

e q u e

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ras, depois de lutar

 muito

 com* a corrente que ainda sentia-

se do

 temporal,

 cheguei a Itaituba, onde o vento tinha

 feito

garrar algumas montarias,  canoas de cachoeira e atirado

com  outras para terra.

No

 dia seguinte, ao alvorecer, torneia

  d i recção

 da mata

que

  fica

 á esquerda da

  v i l l a ,

  onde encontrei muitas

  maxi-

milianos régias

  e uma variedade de

 bactris macroacantha

de porte menor, que estava comfructos verdes.  Próximo

a um lago que ahi ha coberto de

  aninga

encontrei alguns

pés  de  syphonia  seringueiras) e de  Dipterix odorata

cumaru)

 que estavam

  t ambém

  com fruetos. Estes  servem

de alimento aos morcegos, que comem a polpa do mesocar-

po e abandonam o resto.

Distante  do cumaruzeiro encontram-se sempre lugares

eobertos

 destes

 restos, que mostram, que os fruetos

 foram

para ahi levados pelos morcegos n ão  comendo elles os mes

mos no p é ,  mais sim longe

 deste.

Abunda  ahi  t ambém   a  cyagrus cocoides  e algumas ma

deiras de l ei ; formando uma floresta que, se bem

 bastante

elevada, mostra que é de nova

  a ppa r i ção .

Voltando ás 10 horas da  m a n h ã   tomei uma montaria e

me

  d i r i g i

  para

  Uix i tuda.

  1)

A vista da

  v i l l a

  de Itaituba,

  po rém

 quasi duas

  l éguas

abaixo,  es tá

 assentada

  na margem occidental, a  povoação

de  Uixituba, antiga  missão  cuja população   é toda de indios

mundu r u c ú s .

Muito

  mais antiga do que Itaituba,  esta

  povoação

  que

em

 1855 tinha uma

 população

 de 500

 i nd iv íduos ,

  sendo

 234

homens e 260 mulheres, divididas em 48 fogos,  está  hoje

reduzida a 8  p a lhoças ,  das quaes 5

 abandonadas,

  contendo

apenas  uns  vinte  ind iv íduos  que  formam tres  famí l ias .

Ainda  recorda o seu

  passado

 a igreja, com a  invocação

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na, tem

 e legância

mas

 com

 o resto da

  povoação está

  em

 m i

nas e é habitada pelos morcegos, que têm infestado o seu in

terior.  As hervas e os arbustos tomaram conta das antigas

ruas, que

  formam

 hoje uma verdadeira capoeira ou serra-

dão.  Correndo as choupanas dos  indios,  tive occasião  de

ver

  preparar e provar uma bebida repugnante, mas que

para elles é deleitosa, o

  t a r u b á .

Ralada a mandioca, mettem a massa  no

  t ip i ly

  e extrain

do

  o sueco, de que se prepara o tucupy, fazem delia gran

des beijus de  forno,  denominados  b e i j u s -açú .  Estes  vão

depois de borrifados com agua para um paneiro, onde são

accumulados uns sobre outros, tendo entre elles folhas de

curumi-caa,

  e depois cobertos com

 folhas

 de assahy;  assim

conserva-se por dous ou tres dias, findos os quaes,  depois

de apodrecidos os beijus,

 são

 mettidos em um pote , d onde

sahe

 depois a

 massa

 quando delia se querem servir, dissol

vida  n agua e

  passada

 em peneira, que constitue

  en t ão

  o

t a r u b á .   E uma bebida agri-doce

 muito

 estimada entre in

dios

 e tapuyos.

Geralmente

  t a m b é m

  se usa o

 tucupy,

  (1) que

  n ã o

 é mais

do

  que o sueco da mandioca, extrahido o

 po lv i lho

cozido

ao fogo ou ao sol, misturado com agua, e que se emprega

em

  molhos para peixe e mesmo para carne.

  O

 tucupy que é

essencialmente venenoso  antes   da

  ex t racção

  do

  polvilho

  e

de cozido, que tem

  en tão

  o nome de

  m a n y p u ê r a

torna-se

depois

  inoffensivo

  e

  ag radáv e l

pela

  evaporização .

  Com a

massa  deixada pelo tucupy prepara-se o

 arubé

  que é

  feito

com

  sal, pimenta, alho, que tudo socado, produz uma

massa

 semelhante á mostarda. Cozido o tucupy com sal, pi

menta e outros ingredientes entra na

  composição

 do

  tacacd

que  não é mais do que gomma da fecula da mandioca.

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Gomo

 a praia tie

  Itaituba

  a de

  Uixituba

é

  também

  co

berta

 de seixos rolados e encontram-se

  t ambém

  algumas

amostras de

 ferro

que  indicam  haver por ahi alguma

 m i

na que

  não

 pude descobrir. Sahindo de

 U ixituba

costean-

do

 sempre a

 margem

observei que a

 vegetação

 que ha pela

parte arenosa e  fôrma o l imite das matas que se estendem

das montanhas até ahi é composta de myrtaceas

gêneros

eugenia

  e

 psidium ;

  de

  caparidaceas

  entre as

 quaes

  ha o

catauary

uma arvore

  baixa cujo  f ructô

  e  casca  socada

emprega-se como  cáustico nas  moléstias que o reclamam

e que

  julgo

  ser a

  crataeva Bentham i;

  de

  leguminosas

t r ibu  fabaceas e o  gênero  inga  representado por varias es

pécies

de algumas

  malpighiaceas

  sarmentosas ; de varias

apocinàceas do gên ero ambliantera

e

 taberna e montana.

Por  entre a copada

  folhagem

 das arvores da

  floresta

que da baixa se

  estende

  à serra

destacam-se

  as frondas

dos

  muca já s

 ;

  crocomia sclerocarpa

e dos

 ina jás maxi-

miliana régia

que

  ahi assoberbados

 se apresentam.

\im  alguns lugares a costa é pedregosa estendendo-se

em

  frente

 á Itaituba pelo rio a formar recife; que duran

te a cheia

 estão

 cobertos pelas

  águas

e na vasante

 formam

praia.

Alguns  sitios

 ha nesta margem

porém

  sem

 lavoura

a

não  ser a pequena

 cultura

 da mandioca e de algumas ba

naneiras. A laranja o

  cacáo

  e outras

 frutas

apparecem

aqui

 ou

  all i

como planta de

  luxo.  Voltando

 á tarde

gozei

ainda

 do espectaculo magestoso do

 arrebol

  nas

  águas

 Ta-

pajonicas.

Raiava

 o sol do dia 8 quando eu já seguia a

 explorar

 a

margem

 occidental

acima do

  igarapé Bom

 Jardim.

  Pouco

acima

 deste desembarcando

  f u i

 examinar a chapada que

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v e r s a .   S ã o   m a i s   g r o s s o s  e   c o m p r i d o s l e n d o   a

 m e t a d e

 d a

l a r g u r a

  d a q u e l l e s

s e n d o

 d e

  i g u a l

  f ô r m a d o

  g r a n d e e n c o n

t r a d o   n o P i r a c a n ã .   S e g u i n d o p e l o   r i o   n o   l u g a r l l a p e u a   ( 1 )

d e p a r e i   c o m   o u t r o s  m a c h a d o s d e   i g u a l   f ô r m a , n u m   s i t i o

q u e a h i

  f i c a

s o b r e   a e l e v a ç ã o . A t é   a h i  a m a r g e m   a p r e s e n

t a

  p r a i a s c o b e r t a s   d e   s e i x o s r o l a d o s  d e   v a r i a s n a t u r e z a s

a p p a r e c e n d o m u i t o   p o u c o s   f o s s e i s  e c o b r e m - s e  a s   r i b a n

c e i r a s  d e   m y r l a c e a s  e   o u t r a s p l a n t a s   j á   m e n c i o n a d a s  n a s

p r a i a s

  a n t e r i o r e s

p r e d o m i n a n d o

  a s

 fabaceas.

  A h i  o

 r i o

c o m e ç a a   f o r m a r   u m a   e n s e a d a   s e m i - c i r c u l a r   q u e s e c o m -

m u n i c a  a u m   l a g o f o r m a n d o   u m a   p o n t a   a o S

  d o n d e

  c o m e

ç a a m a r g e m a   e l e v a r - s e q u a s i p e r p e n d i c u l a r m e n t e f o r m a

d a   d e   r o c h a s c a l c a r e a s .   A t é a  p a r t e  b a n h a d a   p e l a s  á g u a s

a s u p e r f í c i e d a s

  r o c h a s a p r e s e n t a m c i n c o

  s t r a t i fi c a ç õe s ,

s e n d o   a s q u a t r o   p r i m e i r a s   h o r i z o n t a e s  e a   u l t i m a  d e u m a

s t r u c t u r a   d i f f e r e n t e

  f o r m a n d o   t a l u s   s u c c e s s i v o s   e

  i r r e g u

l a r e s q u e   m o s t r a m   q u e   d e p o i s   d e  u m rem niement do

f u n d o   d o

  r i o

c o m e ç a r a m   a s  á g u a s a

  c o r r e r

  t r a n q u i l l a m e n l e

f o r m a n d o   a s   p r i m e i r a s   s t r a t i f i c a ç õ e s .  p r i m e i r a   é

 c o m

p o s t a

 d e

  s e i x o s r o l a d o s c o n s o l i d a d o s p o r

  u m a a m á l g a m a d e

g r é s ,   a p r e s e n t a n d o

  i n d i c i o s

  d e

  o x y d o

  d e

  f e r r o .   A t t r i b u o

e s t a  c o n s o l i d a ç ã o a o   c a r b o n a t o   d e   c a l q u e  o á c i d o c a r b ô

n i c o   t i n h a  e m s o l u ç ã o e q u e   d e p o i s e v a p o r o u - s e .

A i n d a   n a s   p r a i a s e n c o n t r a m - s e s e i x o s

 

f r a g m e n t o s   d e

r o c h a c o b e r t o s  d e   c a r b o n a t o   d e

  c a l .

A

  s e g u n d a

 s tr a t i f i c a ção t e m u m a c ô r

  a m a r e l l a d a

 

a

  t e r

c e i r a   é   b r a n c a   e a   q u a r t a p a r d a c e n t a n ã o  s e n d o   n e n h u m a

c a l c i n a v e l .

  E s t a s r o c h a s   s ã o   c o b e r t a s   d e u m a c a m a d a d e

h ú m u s   d e   d o u s  a  q u a t r o  p a l m o s  d e  p r o f u n d i d a d e .   N a   s e g u n

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  75 —

Grandes blocs, que se despegaram da massa geral, com

f ô r m a s

 mais ou menos

  geomét r icas

  e regulares, enchem o

r io

que ahi é

 fundo,

 mas que

  ficam

 a descoberto pela va

sante .  ,

 t

, JSIÉ&^S'fi ?*Bm' '

A   vegetação  que cresce no h ú m u s  é

 baixa,

 destacando-se

a

 piteira,  agave americana Linn.

  que  nestas

  regiões

 vi

pela primeira vez, por entre as

 polypodeaceas aroideaceas

e  bromeliaceas.  Aqu i  ou  a l l i  sombream com sua basta  fo -

lhagem,

  alguns

 pés

 de sumauma,

  eriodentfrum sumauma.

Algumas  orchideas ahi apparecem, representadas, pela

Brassavola Amazônica por uma

  variedade

 do  epidendrum

vanillosmum

  e por um

  oncidium

  que

  não

 estava em

  flor

com

  o habitus do

  oncidium pumilum

mas de grandes

  d i -

m en sõ es

e com as folhas excessivamente coriaceas e mos-

queadas

 de

 carmim,

  que

 julgo

 ser o

 Lanceanum.

  Termina

a parte elevada da margem n um grande apuyseiro,

  ficus

sendo

  dahi

  em diante baixa e coberta de

  vegetação

 quasi

toda

 dicotyledonea.

  Pela  f ô r m a  que apresentam as rochas,

denominaram  os naturaes esse

 lugar

  P a r e d ã o .

Depois

  de um

 bello

  dia, armou-se á tarde um

  temporal

de vento e trovoada, corno são ahi costumados, que

  ob r i -

gou-me de volta, a chegar á

  vi l la

  ás 8 horas da

 noite.

No

 dia 10 tornei a ir ao

 P a r e d ã o

e chegando ao  sitio de

 

nominado

  Sumauma, ahi

  fiquei

para no dia seguinte ex

plorar

  as margens  dahi  para

  cima.

  Com effeito,  no dia

seguinte,

  ao alvorecer, depois de percorrer um

  pouco,

 a

margem

 occidental

  que ahi é pedregosa, e abunda em çe

cropias

atravessei o rio que apresenta

  en tão

  uma largura

de tres a quatro

 milhas.

No   centro encontra-se a  i lha  de Itacapam (\) que apre

senta uma ponta a SSO talhada a prumo sobre o rio,

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de uma grande  e l evação formada de um  s ó b l o c  de por-

phyro,  com

 sa l iências

  angulosas

  que lhe dão o

 aspecto

 de

uma

 fortaleza

 abandonada.  Toda da mesma rocha, é cober

ta, comtudo, de mato na sua parte superior, de  grami-

neas e bromelias. Depois de costeal-a  dirigi-me  para outra

margem e desembarquei, n uma

  extensa

  praia  arenosa,

chamada do Painim. Ahi encontrei milhares de  uacuráos

caprimulgus)

  de uma

  só espécie

que cobriam

 espalhados

a praia. Eram pardos, com o peito branco, e quando pousa

dos sobre a areia

  achatavam-se

  de tal maneira que torna

vam-se á pouca distancia quasi imperceptiveis.

Os  seus  ninhos s ão   covas na areia, onde depositam dous

ovos brancos, que cobertos pela areia são chocados pelo

sol.  Pouco acima  desta   praia  íica  um

  sitio

 com o mesmo

nome de Painim, que tem uma excellente

 casa

 de telha.

Seguindo sempre a margem, encontrei 2 milhas acima

deste

  sitio  uma alta barranca formada de  l â m i n a s  de

schisto, de

 tres

  consistencias,  sendo  a primeira escessiva-

mente

  molle

  e pardacento e a terceira enuegrecida e

 bas

tante dura.

Acima

 d esta

  extensa  barranca encontrei algumas  tillan-

dsias  e

 duas

 orchideas, a maxillaria rufescens  e um  epiden,-

drum,  que pelo corymbo  secco  que  apresentava   pareceu-

me ser

  o

  chomburgkii.  Quasi na embocadura do rio Ta-

p a c o r à - a ç ú que ahi  afflue,  encontrei novas

  barrancas

de? schisto, onde na

  segunda

 camada,   t a m b é m   molle,  en

contrei,

  póde-se

  dizer, uma mina de

  sulphureto

  de

  fer

ro,  tal é a quantidade que ahi se encontra encravado no

schisto. Entre estas  barreiras, a margem é argillosa forman

do

  t a m b é m

  duas camadas  que se distinguem

  pelas

  cores,

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choeirado  para o  interior,

  fica

  a

 ilha Itapocu

  (1) da

 qual

fallarei

 mais adiante.

O  Tapaco r á - a çú tem cerca de 50  braças  de

  largo,

 e

suas  margens são ricas em madeiras de  l e i e com terras

apropriadas, principalmente,  para a

  cultura

 da canna e do

ca f é .

Atravessando

 em frente á

 Ilha  Itapocu

  tomei  a margem

occidental,  voltando para a  v i l l a .  Ahi grandes arvores ob

struíam a margem,  cabidas

 por

 desmoronamentos,  causados

pela  enchente.

  Passando

  em frente à praia do Painim,  en

contrei

 o denominado lago Capituam, (2) que não é mais do

que um grande saco, formado pelo Tapa jós ficando

 este

 um

pouco

 ao N do

  Igarapé

  do mesmo nome, que

 deságua

 onde

termina a barranca calcarea. E um riacho de grande exten

são porém

  estreito, e cheio de

  v ege t ação .

omeçando  a anoitecer

 pernoitei

 no  sitio Sumauma,

  don

de sahi pelas 10 horas da manhã do dia 12.

Devido,

  julgo  eu ao excessivo sol que apanhei, os dias

que se seguiram, não pude trabalhar, comtudo no 16,

achando-me

 melhor,

  f u i novamente ao sitio do  Piracanã ver

se podia descobrir

 ainda alguma

  i g açaua

mas

 infelizmente,

ahi chegando  f u i accommettido por um ataque de febres in-

termittentes, ou   sezões que levou-me á cama.

  Voltando

 á

tarde assim mesmo doente  f u i a alguns sitios onde havia

deixado  anteriormente encommendas de machados de pe

dras, e pude alcançar  alguns.  •

Agravando-se-me  a  molés t ia pude conhecer quanto é

falta de recursos a

  v i l l a

  de  Itaituba,   não havendo ahi me

dicamentos, á excepção  de pílulas  do Dr. Capper, que em

vez de minorar-me os

 soffrimentos,

 agravou-os.

Depois  de alguns dias de intensa febre dia e

 noite,

  com

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—   78 —

alguns medicamentos que levava em botica portátil con

segui debellar a febre e entrar em

  co n v a l e scen ça .

  No dia

4 de Agosto sahi pela primeira  vez a tomar

  ares

tendo

então occasião  de assistir a uma maneira de  pescar ahi

usada.

  Consiste em fazer primeiramente uma cova no

fundo

 do rio onde se deposita alguma comida e passado

horas vae o indio  pescar.  Leva comsigo uma  linha ar

mada de anzol em uma extremidade tendo ahi um ponta-

lete amarrado e uma vara. Chegando á praia amarra a

extremidade sem anzol na vara que espeta na areia  e pondo

isca no anzol atira-se ao rio levando

 este

 preso nos  dentes

e mergulhando vae espetar dentro da cova pelo pontalete

o anzol e

 nada apressado

 para terra onde vem segurar a

ponta da  linha que ficara amarrada e ahi puxa o peixe

que não tarda a pegar no anzol por  estar  ahi sevado.

Quantos são os peixes  pescados

tantas

  são as  vezes  que se

repetem a  scena  do mergulho. Alguns dias depois de ahi

pescar-se a  pesca  torna-se abundante porque acostu

mam-se  elles á

 seva

 que ahi se deita.

Achando-me mais  forte nos dias 5 e 6 fiz algumas ex

cursões

  pelos campos que correm

 a l ém

  da mata que mar

gina a costa occidental atraz da  v i l l a  de

 itaituba.

  São cam

pos  rasos com  capões ou uma outra  vegetação mirrada

composta quasi que exclusivamente de  duas  espécies  de

muruchy  byrsonima),  de jutahy  hymencea),  e de alguns

pés de  baccaba  OEnocarpus distichus)  e  I n a j á  [maximi-

liana régia),  po rém

  sendo

 estes

 infezados.

  O

 terreno

  é t o d o

argilloso crescendo mesmo ahi mal as gramineas.

  Passando

este

 campo que se

  estende

  por algumas  l ég u as co meça

a floresta que occupa um terreno mais baixo cortado por

alguns  i g a rap és e em alguns lugares  semeado de  igapós .

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O  Enocarpus distichuse a  max im i l i a n a r é g ia ahi não só

abundam, como tomam um desenvolvimento

  ex t r ao rd iná -

r i o .  Medi ahi um pé de maximiliana,  cabido seceo por ter

ra ou pelos

 annos

 ou por temporaes, que attingia ao enor_

me comprimento de 135  p é s com 2 */t palmos dediametro,

Nos  igapós apparece  a aninga  caladium),  e o  c a r a n ã

r

mauritia armata),  que não só não altinge á e levação  que

lhe

  é

 p rópr ia

como morrem muitos

  p é s

antes

  do completo

desenvolvimento.

Em

  alguns lugares humidos,

  cresce

  o

 m a r a já

  bactris)

que se estende por alguns  e spaços .  Goza-se ahi na floresta

uma frescura  ag radáve l emquanto que no campo,  apezar

de alguma  v iração  o calor é insupportavel. Ahi anima a

floresta  um  pequeno  pássaro

  esverdeado

  do  gênero  tana-

gra,  que com seu canto assoviado e repetido por centenares

de companheiros, occultos

  pelas

  folhas no alto das ar

vores, forma uma harmonia que dá vida ao sombrio lugar.

Tendo ahi colhido algumas  flôres  do Enocarpus, passei

o dia 8 desenhando-as e em preparativos de viagem para a

r eg i ão das cachoeiras.

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TO T AP A JÓ8

Depois de feitos os preparativos

 n ecessários,

 para uma ex

pedição

 á

 região

  das cachoeiras, arriscada

  porém

  cheia de

encantos pelo lado scientifico, pelas  10

 horas

 da

  ma nhã

 do

dia

  10 de Agosto de 1872, n unia canoa

  própria

 de ca

choeiras, tripolada por quatro indios,

  tres

 mundurucus e

um

  mauhe, pilotados por um cuyabano pratico do rio,

e interprete, sahi da

  vi l la

 de Itaituba.

Passando

  ás

 tres horas

  da tarde em frente ao

  Igarapé

Itapéua 1), que deságua na margem

 occidental

 meia  légua

acima do do Bom Jardim, ahi apanhei um forte temporal,

que, emmarulhando as á gua s , a todo o momento atiravam-

as para dentro da canoa, o que retardou-me a viagem;

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  82 —

As canoas usadas para a navegação das cachoeiras, pouco

differem

 das

  iga ri tés 1); têm

 mais do que

 estas,

 uma tolda

baixa

  na proa, que serve para accommodar as cargas, e

uma

  puxada na popa, onde vai o

  piloto

  de pé, segurando

o leme, que tem o

 fei t io

 de um remo de voga, pouco mais

ou menos, com uma larga pá, p o rém  mais grosso, que por

uma  correia é preso á canoa. Como na subida do rio, a

viagem

 é sempre pelas margens,

  não

 usam remos, mas sim

dezingas, que são varas de 2 1/2

  b r a ç a s

  de

 comprimento,

com

  as pontas ferradas, que servem para

  t a m b é m

  nas ca

choeiras desviar a canoa das pedras, e

 forçal -a

 a subir a

corrente.

O

  sol do dia 11, quando despontou no horizonte, veio

encontrar-me, na entrada do canal Itapocu (2), que na

parte occidental tem a margem coberta de jauarizeiros.

Este canal é formado pela

  i lha

  do mesmo nome, que se

estende  em

  fôrma

  de crescente por mais de tres quartos

de

  l ég u a ,

  terminando a S O em uma extensa praia, que

se prolonga a  formar um

  baixio.

  E coberta  esta   por uma

densa floresta,

 onde se acoutam, depois de atravessarem o

rio

 muitos porcos do mato.

O

  canal que nesta

  época

 dá passagem franca apezar de

innumeros

  baixios, que se estendem a   formar  occidental-

mente

  extensas

 praias, pelo

  verão

  quasi  secca  inteiramen

te.

  Bonitas paisagens ahi se encontram, animadas por al

guma

  rez, que descendo do campo, vem á margem beber

agua. Sahindo do canal, pouco acima, a margem se eleva

formando

 um

  p a red ão

  de schisto de mais de 50

  pés ,

  que a

acção  das  á g u a s  escava, sobre o qual crescem muitos  Eno-

carpus distichus

  e

 mauritias armatas.

  Na parte sombria

medram

  algum

  lichem

  e

 gramineas,

  assim como

 destaca-

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—   83 —

se um uu outro pé de cecropia digitala que na barranca

se

  b a l o u ç a

  sobre algumas

  aroideas.

  Fronteando um£

branca praia do lado

 oriental,

  o

 p a red ão

  se eleva mais, co

bre-se  litteralmente de

  felices

  e

  licopodiaceas,

  torna-se

humido,  e apresenta nos lugares sombrios alguns pés de

cyatheas  e alsophilas,  arborecentes, magestosas, que  pro

vam

  estar

  esse

  lugar a mais de 400

 p és

 acima do

  n ível

 do

mar.

  Alguns

 capões

 cobrem as

 vezes

 o

 alto,

  predominando

entre as arvores a cupiuba

  [myrcia)

  e

 o  arapary,

  que pelas

suas

  folhas vistas de baixo pareceu-me ser uma   legumi-

nosa. Pela encosta

  vê -se t am bé m

 o uauassu

  atalea

  spe-

ciosa),

  e o

  v indicaá

  ou cardamomo,

  amom um sylvestre.

Toda

  esta  parte schistosa tem o nome de

 Itapocu,

 até

 o

 de

nominado porto do   Pindoval,   donde   começa  a margem a

denominar-se

  Tayácoara

  (.1), nome tirado de um riacho

que ahi despeja

 suas   á g u a s .  Dahi

  até uma pequena

  casca

ta

tem

 essa  d en o m in ação passando  en tão

 a ter a de Bar-

reirinha.

  Neste

  espaço

 a costa é baixa, tem uma vegeta

ção

  serrada abundando a caxinguba

  {pharmacosyseal)

  e

o

  p a r i c á r a n a mimosa.  Aos

 lados da pequena

  cascata

 encon

t re i

 alguns

 pés

 de catauary,

  crataevaBenthamii,

  arvore me

dicinal

 empregada pelos tapuyos: usando das

 cascas

 do lenho

e das frutas,

 socadas,

  como

  c áu s t i co .

  O

  l imite

  da deno

m in ação

 Barreirinha,

  é um bonito

  sitio

  sobre uma peque

na

  collina

  coberta por um Inajasal, contornada por um

pequeno lago, que se

  tornou

 celebre, pela

 forte  res is tênc ia

que oppuzeram ahi os

  Cubanos

  contra a

  força  legal

 em

1835

que

  inundou

  de   sangue  a bella campina que hoje

ainda

 existe. Continua a margem dahi com o nome de

 Jaca

r é .

  A s 2 horas da tarde passei em

 frente

 da I lh a U aru p á

que se divide  por.um

 baixio;de

 areia, outr ora habitada pelos

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8 4

A b a c a x i z e  C a n u m á   q u e   d e s a g u a m n o U a r a r i á   c o n f l u e n l e  d o

T u p i n a m b a r a n a s ,

  f o r a m p a r a a s  i m m e d i a ç õ e s  d e   A v e i r o s ,

e   d a h i s a h i n d o a m a l l o c a r a m - s e   n e l l a .

  F o r a m

  e x t e r m i n a

d o s p o r  u m   l a d o p e l o s   M a u h é s  e   p o r o u t r o p e l o s  M a m p á s ,

c o m t u d o   a i n d a  a   o i t o   a n n o s   e x i s t i a   u m a   f a m i l i a   d e l l e s .

T i n h a m

 as   f a c e s p i n t a d a s  d e   p r e t o ,  e  e r a m b o n s

  n a v e

g a n t e s ,  c o n h e c e d o r e s

  d o

  r i o s e n d o  e l l e s   o s   q u e   e n s i n a r a m

a n a v e g a ç ã o  p e l a s c a c h o e i r a s ,  a o s   c i v i l i z a d o s .

O   t e r r e n o

 a t é

  a h i ,

  a l é m

  d a   z o n a

  f l o r e s t a l q u e

  m a r g i n a

o   r i o , c o b r e - s e   d e   p i r i q u i t e i r a s   1 )  bombax q u e  s e m

f o l h a s   a p r e s e n t a v a m - s e c o m p l e t a m e n t e

  a m a r e l l a s p e l a s

s u a s   i n n u m e r a s   f l o r e s .

  A p p a r e c e m

  a l g u m a s  bromeliaceas

e  a b u n d a  a

 brassavolla Martiana.

D e s á g u a  e m

  f r e n t e

 a

 e s t a

  i l h a

p o r

 u m a

 b o c c a

 d e 5 0

 b r a

ç a s ,

 o

  r i o

 J a c a r é ,   q u e

 é

 o  c a m i n h o m a i s

  s e g u i d o p a r a

 a s

t e r r a s  d o s   M a u h e s .   D a h i p a r a   c i m a   c o m e ç a  a  m a r g e m

 a

s e r   a r g i l l o s a ,  a b u n d a n t e e m

 c a r a i p é - r a n a ,

 lecithidea P e l a s

m a r c a s  q u e se  n o t a m   n a s  a r v o r e s   r i b e i r i n h a s ,

  o

  r i o  a t é

e s t a   d a t a

 t e m

  d e s c i d o

  1 0

 p a l m o s .

A t r a v e s s a n d o

  o

  r i o ,   p e l a s

 7

  h o r a s   d a   t a r d e c h e g u e i

 á

i l h a

  T r a c u á   2 ) ,  q u e   c o r r e  d o  N a S e

  f i c a

  f r o n t e i r a  á d o

U a r u p á ,  n um  d o s  p o n t o s  e m  q u e s e  a l a r g a  o   r i o .  A s  s u a s

p r o x i m i d a d e s   são  c h e i a s   d e   b a i x i o s ,   e n t r e   a s  q u a e s  c o m

p o u c o   f u n d o ,   se  p ô d e   n a v e g a r .

H o s p e d e i - m e

 e m

 c a s a

 d e

 u m

  C u y a b a n o

 q u e

  a h i r e s i d e ,

o   S r .   S i l v e r i o  d e   A l b u q u e r q u e A g u i a r ,  m a i s   c o n h e c i d o p o r

L e v e r g e r ,

  q u e

  p e l a s   s u a s   m a n e i r a s f r a n c a s  e   a t t e n c i o s a s ,

s a b e   a n g a r i a r s y m p a t h i a s .

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  83 —

Deixando este ponto no dia 12, pelas 9 horas da manhã

comecei a navegar em

 direcção

  á

 primeira

 cachoeira, cujo

estrepito já ouvia surdamente. Um quarto de  légua  de

pois,

  começam

  as ilhas do  Maranhãosinho,  nome da

  p r i -

meira cachoeira.

A   primeira  está  no meio do braço esquerdo do rio,   for

mado pela ilha do Tracuá ,  e estende-se  para  esta  deixando

um

 canal entre ellas. Esta

  ilha

 tem a

  fôrma

  de tres pe

quenos montes, entre os quaes  nas cheias se navega.   Nella

abunda a  Jacitara,   (1) desmoncus que em Mato Grosso tem

o nome de urubamba.  A esquerda da ponta desta  ilha fica

a dos Ananazes, quasi toda arenosa,   coberta de bromelias

e jauarys, onde me demorei, para a

  tripolação

  apanhar

cipós,  (ituá

  e

  m ucun ã ,

  que deviam servir na cachoeira •

como sirga. As praias destas   ilhas são elevadas, cobertas

de areia  finíssima  e alva que  formam montes como dunas.

Dahi atravessei para a margem esquerda onde a corrente

  é forte,  e penetrei por um canal pedregoso, com algu

mas ilhotas de

  pedras

  soltas.

Passando estas  ilhas, entrei na cachoeira.  Bonito golpe

de vista, e rizonha natureza

 

A

 cachoeira não é mais do

que um archipelago, por assim dizer, pedregoso, sobre o

qual

 ha pouca e rasteira  vegetação,  por entre o qual, as

águas correm e rolam  impetuosas  formando aqui grandes

corredeiras, que se  passam  sem perigo, com cuidado e

bom

 piloto,

  e a l l i  remansos e rodamoinhos em lugares não

navegáveis.

Dista

 esta

  cachoeira de Itaituba 18

  léguas .

  Durante o

inverno

 o

 aspecto

 geral da cachoeira muda, com o engros-

samento das  águas,  que submergem muitas ilhotas e ro

chedos, que agora

 estão

 descobertos ; assim como

 desappa-

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  86

bem a corrente tornando mais difficil a navegação. O declive

ahi  das  águas é de 10°, n um  espaço de   trinta  a quarenta

b r a ç a s .

  O encont

 ro

  das  águas  por canaes  differentes, ahi

formam  grandes marulhos, que  difíicuitam  a travessia,

mas nunca  formam verdadeira cachoeira.

Na  ponta denominada Santa   Rita,

  fica

 a embocadura do

canal Pocu  1), falsamente chamado

  i g a r a p é .

  A h i  a corren

te não é tão

 forte

 porque são mais distanciadas as

  ilhas,

 o

que faz com que seja  também  mais profundo o  leito do

r i o .  Acima  da bocca do Pocu,

 fica

 uma grande

  ilha

 de ro

chedos, que me

 affirmam

 os práticos  ficar  submergida du

rante as cheias, onde agora a corrente é bastante  forte.

Neste ponto não ha

  ilhas,

  o rio alarga-se consideravel

mente, apresenta

 suas

 margens montanhosas,

 diminue

 a

 cor

renteza e começa se a avistar a serra do  Coatá  pela  frente.

Esta parte  desobstruída  de ilhas é sobremaneira

  pitto-

resca.  Poucas   palmeiras ahi se avistam, a não ser um

ou

  outro jauary. Parando fiz uma

  excurção

  pela baixa

floresta da margem esquerda, onde deparei com uma

aspasia e uma cactacea para mim nova, que  cresce  com

as folhas alternas

  apegadas

  á  casca   das arvores, d onde

brotam  algumas raizes, assim como do rhyzoma, que as

tem mais fortes e compridas. As folhas são  ellipticas>  lo-

buladas, tendo no angulo dos lobulos feixes de aculeos

pequenos.  Dão um aspecto ao tronco sobre o

 qual

 nascem

e se enroscam,  muito caprichoso.

As

 margens

  nesse

  e spaço ,

  de um quarto de

  l égua ,

 têm

as praias ora

 arenosas

 ora pedregosas. A s 12 1/4 da tarde

cheguei  à entrada da cachoeira  Maranhão Grande.

  Nota-

se  então  a  differença  da natureza desta que é por toda

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  87 —

vada. Chegando ao « rabo da cachoeira» como denomi

nam

  os naturaes a entrada da mesma, saltei sobre os ro

chedos e  f u i em busca de um canal que ahi ha, secco ago

ra

  inteiramente,

 mas de grande

  profundidade

 pela enchen

te onde,

  diziam

  os meus  indios,  havia um grande pé de

jauary,

  com diversos galhos. Sobre os rochedos medram

algumas bromelias, e na parte arenosa que ha entre elles

o  cyagrus cocoides

Não  crendo que

  pudesse

 haver palmeiras de galhos, no

gênero   astrocaryum, tomei  por fábula  o dito dos indios,  mas

como

 me assegurassem que ahi havia um exemplar, como

quem procura um thesouro assim procurava o  jauary de ga

lhos,  quando saltei em terra.

Com

  effeito

 depois de duas horas de um calor abrazador,

exposto ao sol, sob um

 solo

 arenoso ou pedregoso, deparei

com   um grande jauarizeiro com quatro magnificos ga

lhos,  ornados todos de bellas  frondas, com espadices de

fruetos,  já seccos.

Para

  m i m

e

 julgo

 mesmo que para a  sciencia,  esta  aber

r ação

  é nova, o que levou-me a desenhar immediatamente

o pé, e cortal-o para com vagar estudar a

  r am i f icação

  dos

tecidos.  E uma a b e r r a ç ã o  da natureza, mas que segundo

f u i

  depois

  informado, repete-se

 com  f r eq ü ên c i a  nos jaua-

rizaes do

 Tap a jó s .

Depois

  de acondicionar o meu thesouro, segui na canoa

a té a ponta fronteira á i l h a grande onde a corrente é   impe

tuosa  A hi dobrou  a ponta a canoa, ajudada por espia,

que levavam dous  indios,  saltando de rocha em rocha, e

impellida  pelas zingas dos dous que  ficaram  dentro

delia.  | { iíhm

Custou

 essa   passagem 20  minutos,  de luta entre a  força

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—  88 —

esta cachoeira, penetrei n um canal todo de rochas,

pelo  qual seguindo

  fui

 dar na cachoeira das Furnas (t),

que não é mais do que um immenso  poço onde desaguam

vários

  canaes,   que atravessando por entre innumeras

ilhotas de rochedos, em todas as  direcções ahi se  lançam

com  grande marulho, redomoinhando as  águas que lisas

apparentemente ás vezes,

  forma

  vários  redomoinhos, que

principiam

  por pequenos

  círculos

se alargam, apro

fundando

  consideravelmente, a

  abrir

  enormes gargantas

em fôrma de

  f u n i l

que quando se

 fecham

 é com um grande

estrondo levantando grande  jorro  d agua. Ai da canoa

que tocar n um dos  círculos  impetuosos

 

E immediata-

mente sorvida com toda a carga, e mui longe vai apparecer

toda

  desmantelada. Formam-se assim

  neste

  lugar

  vários

redomoinhos,

  destes,   que em um  minuto  afundam quasi

ao  leito  do rio e em menos, tomam o seu

 estado

 natural.

Durante

  a cheia dizem ser medonha

  essa

 paragem pelas

innumeras e repetidas

  furn s

  que incessantemente for-

mam-se e desfazem-se, com  horrível  estampido.

À í 2 1/2 horas da tarde estava sobre as Furnas, marcan

do então o

 Therm.

 25°

 Reaum.

Apenas passam-se estas,  varias ilhas de rochas de  fôrmas

caprichosas,  formam  outros tantos  canaes,  por onde se

escoam com rapidez as  águas  da cachoeira do Coatá.  Corre

esta

 entre a grande

  ilha

  do mesmo nome e outras peque

nas. Tres  obstáculos  nella se encontram, que são  duas

quedas

 e uma

  rápida

 correnteza num pequeno cabo

  for-

mado pela  ilha. Afíluindoa  maior força dágua  num canal

de 200 braças com declive,  na passagem por cima de um

recife

 que corre de lado a lado fôrma a

 primeira

 queda, que

não tem mais de um

 metro

 de altura.

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formam  nova queda, de menos altura e cuja passagem   é

menos trabalhosa.

Quando cheguei á

  ilha,

  para evitara cachoeira que

 fica-

lhe

 á esquerda de quem sobe, penetrei n um estreito canal

de 4 a 5 braças entre rochedos, que costea-lhe a   direita, e

subindo por elle cheguei a um ponto, que pela sua peque

na quantidade d agua, impediu-me de seguir e  obrigou-

me a pernoitar ahi, visto como,

 sendo

  tres horas da tarde,

não  tinha tempo de transpor a cachoeira, para onde tinha

de  voltar.  Sendo ainda cedo tomei a minha caixa de

herborização e f u i visitar  a

 ilha

 e ver a cachoeira do  Apuhy,

cujo estrondo ouvia.

Penetrando pela floresta que cobre a

 ilha,

  na sua parte

elevada, ahi encontrei uma outra espécie  de  Vitex,  de flores

muito

 maiores, das que a

  tarumã,

  ede côr azul, que tem

o nome de pã d arcorâna.

Pela semelhança externa*da

  f l o r

 os

  naturaes

  dão a

  essa

verbeneacea

  esse

 nome, por

 assemelhar-se

 ás do páo  d arco,

que é uma bignoniacea. Deparei com algumas orchideas

minhas conhecidas antigas, como a  dichaza,  a   aspasia,

encontrando todavia

 duas

  outras, o

  oncidium lanceanum

e um epidendrum,  que pelo porte, me era estranho e esta

va

  infelizmente sem flores. Algumas   bifrenarias auran-

tiacas,  ahi haviam também  sem

  florescência.

  Entre as  pal

meiras só encontrei algumas baccabeiras e um ou outro

specimen de  bactris.

Sahindo a praia, avistei a poucos  passos  a magestosa ca

choeira do  Apuhy, magestosa não pela queda da agua, mas

pelo caprichoso panorama que se goza. Que soberba natu

reza  O estampido das

  quedas,

  e o

 sussuro

 das  águas que

depois se

 precipitam

 umas  após outras no   r emanço casam-

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— 9

Começando a anoitecer, dirigi-me pela restinga pedre

gosa que

 f ô r m a

 o canal, ahi

 en tão

 totalmente secco, e me di

r i g i para a praia onde  ficara a  c an ô a .   Quando ahi cheguei,

 a

 minha

 rede estava armada em duas

 mag n í f ica s

  arvores,

e junto

  delia

  a

  minha

  arma de dous canos. Na parte mais

sombria

 da floresta, n um ponto donde se avistava a   canôa,

o meu piloto  escolheu para

 nossa

 dormida.

A

 frescura, o som nunca

  interrompido

  da cachoeira, a

lua  que  magn í f i ca  coava sua luz por entre a  folhagem,  o

cr i -c r i -c r i dos insectos e a voz sonora de um  caprimulgus

que animava a natureza, fizeram-me gozar de uma das

noites

 maisbellasda

  vida

 nas   r eg iõ es  equatoriaes .

Ao  romper d alva do dia 13, os cantos e gritos  de ban

dos de araras, papagaios e

  m a r a c a n ã s ,

  que por sobre a

minha  cabeça  passavam para  i r em   para a  comedia  vieram

despertar-me. Uma frescura  a g r a d á v e l   me convidava a

um   passeio, pela mata, o que  f i z ,   aproveitando o tempo

em

  que ás  costas  se carregava a bagagem para a praia da

v

  mesma   i lha   opposta á em que eu dormira  e acima da ca

choeira do  Coatá .   Pelas 8 horas,   po rém, t ive   de embarcar

para

  descer

 o canal, por onde na

  véspera

  subira, para en

trar

  na cachoeira.

Podia  f icar   na praia onde estava a bagagem e esperar

a  canôa ,   mas preferi montar a cachoeira,  soffrer a impres

são que  causa  ver o trabalho que dá e passar  os mesmos

riscos

 dos que me acompanhavam, para poder avaliara

subida

 de uma cachoeira.

Sendo abundante o peixe nesta paragem, ia de pé na

prôa   da   canôa   um dos indios, armado de arco e flexa,  para

matar alguns, mas

  infelizmente,

  só um  pacú pôde-se

í lexar .  E n o táv e l  a presteza com que despedem a flexa

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  m ~

A h i e s t a v a u m n e g o c i a n t e c o m u m a g r a n d e c a n ô a d e s c a r

r e g a d a s o b r e

 u m a s

  p e d r a s l a v a d a p e l a s

 á g u a s ,

 h a v i a m

  j á

o i t o

  d i a s s e m q u e

 p o d e s s e m   l i v r a l - a

  d o

  p e r i g o .   D e i x a n d o

a  m i n h a   c a n ô a

  n u m a

  p e q u e n a   e n s e a d a m a n d e i  a   m i n h a

t r i p o l a ç ã o

  a j u d a r

 a   t i r a r   a c a n ô a d o

  p e r i g o

 e m q u e

  e s t a v a

e

  f a z e r   p a s s a l - a t o d o s o s  o b s t á c u l o s.   E s t a v a e s t a s o b r e a s

  r o

c h a s   d o   r e c i f e  d e q u e   f a l l e i q u e f ô r m a a

  p r i m e i r a   q u e d a

o u

  q u e d a

  g r a n d e

  d o C o a t á ,   c o m o

  s e d e n o m i n a

j u n t o   á s

r o c h a s  d a m a r g e m   d i r e i t a .   J u n t a   a t ri p o laç ão d a s  d u a s   c a

n o a s p a r t e

  a t i r o u - s e   n a g u a   e   p a r t e

d e p o i s

 d e

  s i r g a d a

 a

c a n ô a ,  t o m o u  a   l o n g a   s i r g a   e   e s t e n d e u - s e p e l a s r o c h a s   d a

m a r g e m .

A c o s t u m a d o s

  a o

  t r a b a l h o

  n a s

 c a c h o e i r a s

  o s   i n d i o s  e

  t a

p u y o s n ã o  d e r a m   m o s t r a s   d e   s o f f r e r  a

  c o r r e n t e

e  u n s a q u i

m e r g u l h a n d o o u t r o s

  a l l i   b a n h a n d o - s e

  m o s t r a v a m - s e

 s a

t i s f e i t o s .

E s t e n d i d a

  a   s i r g a   q u e

  l e v a v a m

t o m o u   o m e u   p i l o t o   o

l e m e

a

  g e n t e

 q u e

  e s t a v a  n a g u a  m e t t e r a m - s e u n s p o r b a i x o

d a   c a n ô a  o n d e   e s t a  o   p e r m i t t i a o u t r o s p e l o s l a d o s e  c o m e

ç a r a m á f o rç a a

  s u s p e n d e l - a

u n s c o m a s

  c o s t a s o u t r o s

c o r o  a s  m ã o s ,

  e m q u a n t o

  e r a t a m b é m   p u x a d a   p e l a   s i r g a .

D e p o i s

  d e   i n a u d i t o

  t r a b a l h o

 d e

  m a i s

  d e   d u a s

  h o r a s c o n

c o r d o u - s e

  e m

  f a z e l - a   d e s c e r

  o

  r i o   p a r a   s u b i r   p e l o l a d o

 o p -

p o s t o o n d e

  s e b e m q u e a   c o r r e n t e f o s s e m a i s c a u d a l o s a

t i n h a  m e n o s   p e d r a s .

C o m   e f f e i t o   i m p e l l i n d o - s e   a c a n ô a   p a r a b a i x o e s t a  c o m

a l g u m c u s t o s a f o u - s e

 e

  s e r i a

  l e v a d a p e l a

  c o r r e n t e

  s e

 n ã o a

s u s t e n t a s s e m   á

  s i r g a .

  E n t ã o

  p a s s a n d o

  a t r i p o l a ç ã o   p a r a

e l l a c o m u m a   v e l o c i d a d e   i n c r i v e l   d e s c e u i n c l i n a n d o - s e

p a r a

  a m a r g e m

  o p p o s t a o b e d e c e n d o

  a o

 l e m e

  q u e o m e u

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  92 —

da primeira vez, foi a canôa sirgada e impellida pela

força

  dos

  indios,

  que com agua acima da cintura a

 sus

pendiam

  e

  imp e l l i am.

  Depois de meia hora de trabalho

galgou

 a queda e entrou pelo

  r eman ço .

Gritos  en t ão

 de

 alegria,

 coroaram a passagem; conduzida

depois a zinga, transpoz sem

  muito

  trabalho as outras

passagens,

  indo fundear na praia onde estavam as cargas.

Descendo por sobre as rochas,

  voltou

 a

  t r ipo lação

 a buscar

a minha

 c an ô a

que pelo mesmo processo passou, mas sem

tanto

 trabalho por ser

  muito

 menor.

Estando a  t r ipolação canç ada para embarcar as muitas

cargas

  do negociante, e tendo de ajudal-o a

 passar

 a ca

choeira

 do Apuhy,

  falhei esse

 dia. Sendo cedo, internei-me

pela mata depois de ter examinado algumas

  podostemeas

que ahi cobrem as rochas, já

 seccase

 completamente

  inu -

tilizadas.

  Algumas bonitas e em

  f lôr

 avistava no centro

da corrente sobre rochas onde era

  imposs ível

  chegar-se.

A   i lha

  é elevada e cobre-se de

  vegetação

 inteiramente

diversa

  da que

  cresce

  na

  a r êa

  entre as rochas da praia,

que é composta de

  rosaceas

  e

  myrtaceas

grandes arvores,

soberbas

 palmeiras

 co mp õ em

  a mata. A

 dipierix odorata

e

 

lecythis ollaria

  ahi predominam. O

  asirocaryum

jauary maximiliana regia cenocarpus distichus

são as

palmeiras da parte elevada, emquanto a

  bactris marajá

e

geonoma paniculigera

  e

  mulliflora

crescem em algumas

baixas. Algumas orchideas encontrei, das mesmas que

já refer i

encontrando mais uma

  burliagtonia

uma

  sehom-

hurgkia

  e uma variedade da

 maxillaria uncata.

Voltando  tarde depois de uma

  refe ição l igei ra

me di

r ig i

 para a cachoeira do Apuhy, para ver o

 b raço

  que deita

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—   93 —

tei-me admirando o abysmo revolto que se abria a meus

pés .

Ao cahir da noite d ir igi-m e  para a praia onde encontrei no

grande areai que ahi existe a minha rede armada em  duas

zingas entre outras dos companheiros.

Quando as trevas deviam cobrir  a natureza a lua apre

sentou-se  com todo o b r i lho argentando as  á g u a s e dando

encanto ás areias das praias. Deitado ao relento adormeci

ao som do hyrono gigante que entoava a cachoeira ao

Creador.

No

  dia seguinte

  atravessou-se

 as

  cargas

  para a

 i lha

  do

Apuhy

que  fica fronteira e fo i conduzida a t r a v é s  da floresta

que a cobre para a margem de um

  b r a ç o

  da cachoeira do

Apuhy que mansa e suavemente corre por entre pedras.

Passando-se

 parte do dia

 neste

 transporte não pude seguir

viagem

e

 aproveitei

 a

  m a n h ã

para correr a floresta.

A hi  abunda o cumaru de duas  espécies dipterix odo-

rata

  e

 oppositi folia

varias

 lecythideas siphonia elástica

e algumas palmeiras. Ahi desenhei a  f lo r  do jauary e

encontrei

  uma variedade nova da

  bactris simplicifrons

com

  o habitus e

  f ruct i f ica ção igual

mas afastando por

ser aculeada que denominei a

 gracilis.

  Entre as orchideas

crescem sobre alguns troncos a mesma  espécie  de epi-

dendrum

que

  e n c o n t r á r a

  no

  Coatá.

Examinando  á tarde as rochas que  formam a cachoeira

notei que quasi todas eram de

  d ior i to

e

 d ior i to

  compacto

vindo

 esclarecer-me um ponto ethnographico. Diziam-me

n ã o  existir  na  p rov ínc ia  as rochas de que eram feitos os

machados que se encontram dos antigos habitantes das

selvas e  este  encontro veio mostrar-me a origem delles

pelo

 menos dos que tenho encontrado que são de rocha da

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94

cidas pelo

 brilho

 que apresentam. Esta.

 espécie

 de

  oxydação

cobre todas as rochas, dando-lhe um tom avermelhado.

Colhi  diversas amostras, que  t ive occasião de remetter

depois ao Governo

  I m p e r i a l .

  A cachoeira que abrange a

largara do rio é  dividida por tres ilhas, que formam quatro

canaes,

  sendo  os tres da margem  direita os que formam

grandes corredeiras,  e m b a r a ç a d a s  por pedras e com mais

declive, como o primeiro da direita, o Frechal. Fica esta na

L  4

o

, 32', O , e na  L o n g .  55°, 54', 23 .

No dia 15, depois de passar a  m a n h ã  em algumas inves-

igações fui

  atacado

 de febre que levou-me á rede.

A

 par da bella natureza, e das riquezas

 vegetaes

 e na-

luraes que se encontram ahi, ha uma praga, que torna

insupportavel a viagem por

 essas

 paragens. E' a dos piuns

e borrachudos, que em nuvens nos cobre o corpo, e cujas

mordeduras  causa

  in í l ammação

  nas

  m ã o s

  e rosto ; chega a

suppurar e leva o

 viajante

 á cama com febres.  O p ium  é um

diplero  quasi  impercep t íve l cuja mordedura  fica  assigna-

lada por uma pinta vermelha, como a dos borrachudos.

Alimentando-se  quasi que exclusivamente do nectar das

flores

 do  assacu, causam as

  suas

 mordeduras, quando em

a b u n d â n c i a

os mesmos symptomas de envenenamento,

dos produzidos pelo veneno da planta.

A   ausênc ia  dos  pássaros  e

  aves

  torna  no tável  a  reg ião

das cachoeiras, a não ser o canto, ao  c r e p ú s c u l o do

crá -chué

  (i)

  turdus),

  e os

 gritos

 dos papagaios, araras ema-

racanãs

nenhum mais se houve. Sendo

  en tão

 o tempo dos

tucanos,  apenas  um  ouv i  cantar. Se a fauna por  esse

lado

  é pobre nas margens, não o é quanto ás

 o n ças felis

jaguapara,  L ia is

 

felis concolor  que ahi abundam.

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—  95 —

senoa das guaribas, mycetes tal é a voz desses primates,

produzida

  pelo grande

  hyoide,

  que as caracterisa. Duas

espécies  ahi  vivem  em sociedade, occupando cada uma,

um a  das margens do  r i o a preta e a vermelha.  Habitam

estas a margem direita e aquellas a esquerda.

  Dizem

 que

entre os  pássaros  notam-se  t ambém modi f icações  nas

cores, sendo mais vivas as da margem oriental.

Nesse mesmo dia, emquanto a febre consumia-me,

fazia-se a passagem das canoas. Principiando ás 8 horas

da  m a n h ã  a sirgar-se as mesmas, só ás 3 horas da tarde

chegaram ellas ao canal  u l t im o  da esquerda,  hoje medindo

u m

  palmo a tres de

 profundidade,

  mas de perigosa pas

sagem no tempo das enchentes. Existe ahi uma ponta de

pedra denominada  Cabo   Uno que é a parte mais  per i

gosa do canal, por arrastarem para

 ella

 as correntes todas

as canoas, qué não havendo muita  pratica e cuidado

 nella

naufragam.  1)

  Tira

  o seu nome do de um cuyabano que

ahi

  primeiro naufragou.

  A custo atravessando a mata da

i lha na margem desse canal

 pernoitei.

No dia 16 depois de embarcada a mesma bagagem, des

pedi-me  do negociante que

  a j u d á r a

  a subir, e pelas

11  horas segui

  viagem.

  Depois de atravessar o canal

Cabo Lino,  que tem seu  leito  todo pedregoso, sahi no rio,

que  en tão  alarga-se consideravelmente e

  apresenta-se

 se

meado de ilhas cobertas de

 jauary

 s. A margem esquerda

ahi

  cobre-se de pdo

  d arco

  bignonia), que se destaca das

outras arvores pela sua copa coberta de

 flores

 amarellas.

Pelas

 2 1/2 horas da tarde atravessei em

 frente

 da emboca-

dura do  I g a rap é Pimental,  que  deságua  na mesma margem

pouco abaixo da cachoeira

 U r u á

  2).  Passando este,  d i r i -

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f

gi-me pelo meio do rio para a margem direita, demoran-

do-me  algum

  tempo em uma

  ilha,

 onde em  volta

  delia

mandei  pescar.  A s 3 1/2 chegava ás corredeiras do

Uruá ,

  impropriamente chamadas cachoeiras, porque não

constituem

 ellas mais do que grandes

  massas

 d agua, que,

apertadas  entre os recifes que se atravessam  irregular

mente de uma a outra margem, mais ou menos parallelos,

se

  precipitam

  impetuosamente sem

  formarem

  quedas.

Corre  esta  ora de N a S, ora de S E a N O.

Tendo atravessado ellas, ora á  sirga, ora á

 zinga,

 cheguei

ás  5 horas da tarde á  ultima,  onde sobre uma

  ilha

 ahi

passei a

 noite.

  Atada a minha  rede a uma grande arvore

secca,

 que ahi eslava, preparava-me para deitar-me levado

pelas dores que no corpo me

 tinha

 deixado a

 febre,

 quando

de uma fenda que

 ella

  tinha,  começou  a sahir uma quanti

dade  prodigiosa de morcegos, que em alguns minutos

formou uma grande nuvem, que atravessou por sobre as

cachoeiras. A lua que estava magestosa, e harmonia das

águas  na sua  rápida  carreira, deram-me uma  agradável

noite,

 que compensou o soí rimento do dia.

No dia seguinte, pelas 6 horas da  ma nh ã ,  deixei o Uruá

e segui viagem pela mesma margem.  Notei que as ilhas

que aformoseam o rio  dahi  para  cima,  eram cobertas

de vegetação mais basta, e vi campeando por sobre a

  f l o -

resta da margem, muito para o

 interior,

  gigantescos pés

de palmeiras,  u u ssus  I ) ,  (atalea excelsa).

Algumas

  barracas de seringueiras apparecem pela

margem ; de homens que alraz de um  lucro  fallaz,  sujei

tam-se a passar   lodo o verão  na mata, sem um só com

panheiro,

  vivendo

  vida de condemnado, e de  animal.  Pelas

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—   97 —

Quasi fronteira, fica-lhe uma pequena ilha, arenosa,

coberta de astrocaryum jauarys, que se cobrem de

  tillan-

dsias.  Pelas   2 horas  da tarde cheguei á maloca de indios

Mundurucus,  chamada do  Bo b u ré .  Chegando gravemente

doente, não pude seguir viagem.

Quasi deserta,  hoje a maloca do  Boburé não é mais do

que um pequeno centro de tres  f am í l ias compostas de vinte

a

  trinta

  ind iv íduos

  de ambos os

 sexos,

  representantes

  da

grande  t r i b u   dos Mundurucus.   Meio

  civilizados,

  não  fal iam

comtudo ainda o  portuguez, e quasi todos deixaram os

seus  usos   p r imi t ivos .  Poucos são os que são pintados.

Chegando entre elles,  f u i bem recebido e agazalhado, não

me deixando o velho  t u c h á u a quasi que um só instante.

Entre elles

 passei

 a noite, seguindo no dia seguinte

  pelas

7 horas  para cima. Ao deixar o  porto da maloca, encontrei

algumas  pontederias que estavam em  f lôr e algumas

nympheaceas.  A s 8 1/2 comecei a montar a cachoeira do

B o b u r é que são

 semelhantes

  ás do  Uruá porém

  apresen

tando comtudo algumas

  quedas,

  entre os recifes que a

c o m p õ e m correndo de O para L. Tendo de  descarregar-se

a

  canôa

  para subir algumas

  quedas,

  saltei em terra, na

margem  direita.  Correndo os rochedos que aqui e

  al l i

entre a areia  formam  immensas  chapadas,   encontrei sobre

alguns diversos e differentes sulcos, uns já gastos,   outros

ainda perfeitamente  v is íveis que mostravam ter sido feitos

pela mão do homem.

Examinando com

 a t t enção

  as

  suas

  f ô rmas

comparando

uns com outros, medindo as suas   profundidades, cheguei

a convencer-me de que ahi é que eram  aperfe içoados  os

machados de pedra que se encontram nas margens do Ta

p a j ó s .

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  99 —

algumas araras, que numa enorme

 c ieir de m c co

lecythis),

  das frutas da mesma

  faziam

  seu pascigo. Ahi

passei a noite felizmente sem febre.

Tendo armado a minha rede no copiar

  I

da

 casa,

 pude

apreciar o

  lindo

  luar, não conseguindo

 conciliar

 o somno

senão

 depois de uma hora da

 noite,

 por causa do canto me

lancólico

  do

  yuru-tahy  2)

 ou

 uru-tahy,

  que sem querer

procurava ouvir.

Yuru-tahy  é um fissirostro nocturno do gênero  capri-

mulgus,

  cujo

 canto,

 sendo

  melancó l ico , como

 que arremeda

um a

  gargalhada de mofa e compassada ;

  começando

  forte

as primeiras notas e

 diminuindo

 progressivamente as ul

timas.

  Com pequenos intervallos repete o canto, que no

silencio

  da noite ouve-se longe, e

  causa

  mais ou menos

im p res são ,

  chamando a

  a t tenção

  para

  elle.

  E

r

  para os

indios

  um Deus submettido á

  Yacy,

  lua, que é a

 deusa

dos vegetaes. Contam as velhas tapuias, que é um

  pás -

saro

  folgazão ,

  e que o seu canto isso demonstra.

Dizem

  ellas, que outr'ora,

  passando

 uma mulher, que

voltava da

  roça ,

  por cima de um tronco que estava cahido,

atravessado no caminho, teve de, para passal-o, levantar

u m

  pouco a perna, e que  passando

  t a m b é m

  momentos

depois o Yuru-tahy,  ao tronco fez esta pergunta :

4 Mu i rá a tu çaçáu a

 neara

  rupi ?

 (3)

Ao

 que respondeu  logo o tronco :

— T u r u ç u

  cera cunhan

 yuru  n e a u é

  catu. (4)

Gostando elle da

  p i lhér ia ,  soltou

  uma grande garga

lhada : Uá

 

  I

Uá . . . Uá

 1

Hoje

  quando o luar é claro, pela calada da noite dizem

que elle recorda-se do facto e solta a gargalhada.

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—   100 —

E grande com a plumagem toda pedrez, olhos negros,

grandes e salientes, bocca extremamente rasgada com o

bico

  superior   muito  pequeno e

  unciforme

 quasi occulto

por  pennas  que

  terminam

  capilliforme e o pescoço semi-

pardacento. Pousa perpendicularmente na ponta  dospáos

seccos,  e isolado com a cauda entre pernas, de maneira

que  pareça  a  continuação  do mesmo. Pouco  e svoa ç a

deixando

  somente o seu

  poleiro

  para

  a r remeçar-se

 sobre

as  suas  presas,   que são sempre insectos, voltando para

elle  d onde solta o seu canto ou gargalhada. Não faz

ninho, desova em qualquer ôco  de páo.

Sahindo

 no dia seguinte pelas 6 horas da  m a n h ã  notei

que

  dahi

 em diante as margens têm florestas que chegam

á praia, não sendo tão elevadas. Apparecem poucos re

cifes, sendo

 o

 leito pedregoso.  Muitas sumaumeiras, emas-

sarandubas do  igapó ahi apparecem. Da  ponta dos  Encan

tados que  fica na margem esquerda,  fronteira a um recife

da margem direita que se entromette pelo r io começam   a

apparecer algumas ilhas pedregosas, com pouca  vegetação

que infelizmente não

  florescia.

  A  vegetação  das margens

do Boburé

 para

 cima

  é m a i s

 virente.

 A s 7 1/2

 entrei

 n um

canal

 formado por uma grande

  ilha

com basta

  vegetação

junto

 á margem

  direita;

  entre

  esta

  e uma outra menor

coberta

 de gramineas e arenosa, ha

 outro

 canal, pedregoso,

onde o rio corre com grande velocidade, formando uma

pequena queda que fôrma a que chamam o  rabo do mergu-

Ihão.  O

 canal por onde passei que desemboca, onde o rio

em   toda sua largura tem 2 1/2

 milhas,

 é  também our içado

de pequenos rochedos, por entre os quaes  o rio corre com

velocidade com águas desencontradas. A 1/2  milha depois

de se entrar

 neste

 canal, encontra-se uma

  ilha

  em

 fô rm a

 de

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—   101 —

um bosque de astrocaryum jauarys. Pouco acima desta

i lha

 á margem direita (terra

  firme)

  apresenta

  um

  espaço

de 20  b raças  em quadro, onde a mata  fo i derrubada, ja

zendo ainda por terra os troncos, entre os quaes  encontrei

algumas sepulturas, cobertas de

  japds

  (1), ou por

  varas

deitadas longitudinalmente do comprimento da sepultura.

Uma  cruz de páo pintada de preto, pia promessa de algum

viajante talvez, nos indica ser ahi a

 ultima

 morada de alguns

viajantes c h r i s tão s .  Victimas de nauf rág ios ou de m olés t ias

para ahi têm sido conduzidos aquelles que por

 essa

  região

morrem.

Sendo

 um lugar de tristeza, como que a natureza não

quiz  impressionar o viajante que ahi toca, pois desdobra

suas

 galas

 em torno, de maneira, que  f ô rma  ahi um dos

pontos mais risonhos da  reg ião  das cachoeiras. Descendo

á  praia depois de visitar aquelles que, como eu, nave

gavam^ ahi pereceram, encontrei dous ninhos de  t r aca j á s

[emys ,  contendo um 16 ovos e outro 24. As  t raca jás

como as tartarugas, desovam nas praias, mas não em

bandos como estas.  Cavam uma cova na areia, depositam

os ovos, cobrem-os com a mesma areia, que calcam depois

com

  o peito. O calor

 choca-os

 e quando  apparece  alguma

chuva sahem os

  pequenos

  t r a c a j á s .  Um facto nota-se  no

viver

  desses

  chelonios, que  passam  a mór parte do seu

viver

  debaixo  d agua,  sahindo somente algumas  vezes

para sobre as  pedras  seccarem-se  ao sol, e é que, logo

depois de uma forte trovoada, sempre apparecem elles á

superf íc ie das  á gua s ou sahem para as praias.

Os  pescadores  não deixam

  escapar esta

 circumstancia,

e no dia seguinte a uma noite de trovoada, sahem a fazer

a pesca,   que sempre  en tão é abundante.

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— 1 0 2 —

N ã o t e n d o e n c o n t r a d o a t é a h i s e n ã o a l g u n s m o l l u s c o s d o

g ê n e r o unio 

e n c o n t r e i

 e n t ã o

  a l g u n s r e p r e s e n t a n t e s

 d o g ê

n e r o

 castalia,  d e

  v a r i a s

 e s p é c i e s e

 t a m a n h o s .   C o n t i n u a n d o

v i a g e m n o t e i   q u e   e s t e c a n a l q u e t e m a   s a h i d a m u i t o   m a -

r u l h a d a p o r

  a t r a v e s s a r

  a

  c o r r e n t e e n t r e

  i l h o t a s   d e r o

c h e d o s é u m   d e s v i o p a r a

  e v i t a r

  a   c a c h o e i r a   d o

 Meryulhão

q u e l h e

  f i c a   p a r a l l e l a .   A h i a

  t e m p e r a t u r a

  a s 9

  h o r a s

  d a

m a n h ã

  e r a

  d e 2 4 ° R e a u m . L o g o

  d e p o i s

  d a

  s a h i d a p a r e i

e m u m a   b e l l a   e n s e a d a ,  o n d e   a l m o c e i e   e n c o n t r e i   a l g u m a s

p o n t e d e r i a s .

  F i c a - l h e d e f r o n t e

 u m a

  p e q u e n a

  i l h a   d e r o

c h e d o s   c o m   t r e s   a r v o r e s d e s p i d a s   d e   f o l h a g e m c a r u n -

c h o s a s

m a s d e u m

  a s p e c t o m u i t o

  a g r a d á v e l . U m d o s

 m a i s

r i c o s

  t r i b u t á r i o s d o A m a z o n a s , é l a m b e m o T a p a j ó s  u r n  d o s

m a i s

  b e l l o s

e q u e

  m a i s

  v a r i a d a s

  e

  i n t e r e s s a n t e s

 s c e n a s

a p r e s e n t a s o b r e t u d o

  á   m e d i d a   q u e   s o b e

  p a r a   s u a s   n a s

c e n t e s .   A s 1 1   h o r a s p e n e t r e i  n o v a m e n t e   e m   r i o   m o r t o

d o n d e  s e

 a v i s t a m i n n u m e r a s f r o n d a s

  d e

 u a u a s s u s

q u e s e

e l e v a m

  a c i m a

 d a

  f l o r e s t a .

  A s 2   h o r a s   d a   t a r d e c h e g u e i   a o

s i t i o

 d e n o m i n a d o

  S.

  F r a n c i s c o

 d e

 P a u l a s a h i n d o

  á s 4

  h o r a s

c o m u m a

  t e m p e r a t u r a

  d e 2 8 ° R e a u m .

F i c a   e s t e   s i t i o   f r o n t e i r o  á  e m b o c a d u r a  d o   r i o  J u a n   X i m .

A s 4 */a c o m e ç o u a   t r o v e j a r

z u n i n d o v e n t o

  S .

  A c a l m a n d o

u m   p o u c o

  e s t e

c o m e ç a r a m a s e

 a g i t a r

  a s  á g u a s ,  p a s s a n d o

a

  t e m p e r a t u r a

 a 2 4 ° R e a u m . A s 5

  h o r a s

  a t r a v e s s e i   a   i l h a

Boia-açú  1 ) ,

 q u e

  f i c a

 a 3 2 0 b r a ç a s d a

 t e r r a f i r m e

n a m a r g e m

d i r e i t a ,

  o n d e h a u m

  l a g o

  e m q u e

  d i z e m m o r a r

  a

  m ã i

d agua o u  boia-açú, o u  bicho  o fundo, q u e é a

 m e s m a   c o u s a .

S u p e r s t i c i o s o

 c o m o   é  o  p o v o  d o

  i n t e r i o r

  d a p r o v í n c i a   a d m i t -

t e ,   c o m o u m   f a c t o   i n c o n t e s t á v e l , a e x i s t ên c i a d e u m

  e n t e

s o b r e n a t u r a l q u e  v i v e   s o b   a f ô r m a d e u m a i m m e n s a   c o b r a

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  103 —

lago, as águas desapparecem eo caminho por onde passa,

vai-se transformando em canal, ás

 vezes

 de 20, 30

  braças

de largura, que corresponde ao  d i â m e t r o  da mesma. Sa~

hindo nos grandes

  rios,

  as  ág u as  encapellam-se , faz sos-

sobrar as canoas, carrega com as ribanceiras , e  causa

i n u n d a ç õ e s . C r é d u l o s ,

  não procuram averiguar a  causa

desses

  phenomenos, e attribuem-os á mãi

  d á g u a ,

  que

nunca foi vista e que todos a

 evitam.

  Sedimentosos como

são

  os terrenos da margem do Amazonas, não é para

admirar

 os

 factos,

  de aberturas de canaes   e de

  formações

de lagos. Entretanto todos acreditam na

  b o i a - a ç ú ,

  não

admittem

  queda  ex is tência delia se duvide, apezar de con

tar-se delia factos inverosimeis, verdadeiras historias do

Barão

 de Munkausen.

As

  pessoas

  mais

  sensatas,

  não crendo na mãi

  d á g u a ,

julgam  que a

  ficção

 mais se enraiga no espirito da gente

c r é d u l a ,  por apparecer com  f reqüênc ia  algumas  sucur i jús

Euneles murinus)

  de tamanho

  fóra

 do

 comumm.

  Se

 fora

a

 referir aqui,

  o que se diz ter praticado a

  boia-açú ,

 muitas

paginas me seriam precisas; por isso, deixando esta

  fábula

tradicional,

 passo

 a continuar a minha viagem.

Da

  pequena bocca que communica o lago

 Boia-açú

  com

o rio,

  começa

  a apparecer

  junto

  á margem muitas

  ponte-

derias,

  que se

 prolongam

  por mais de tres quartos de

  l égu a .

Ah i  apanhei alguma chuva, que era seguida de forte

 tro

voada, fazendo-me gozar  o espectaculo variado e maisbello

que a natureza sóe apresentar. Atravessando por entre

serrada chuva, avistava-se o sol que se recolhia n um  leito

de purpura e

 an i l ,

  como que

  a t ravés

  de um véo, unido o

Armamento

  ás

  á g u a s

  por uma  linha  de nevoa branca.

A

  chuva cessou, e o sol appareceu depois quasi a sumir-se

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/

—   104 —

Quando admirava a sublimidade da scena, que por lodo

o horizonte se

  apresentava,

  o meu

  piloto

  que já por al

guns momentos estivera, como que reconcenIrado, e não

perdia de vista as  ág u as como que procurando alguma

cousa, me disse: —

 P a t r ã o

não acredita na

  Oyoára.

Vendo

  que  tratava-se   de algum facto tradicional, pedi-

lhe  que me explicasse o que  significava a   Oy o á ra .  (1) To

mando

  en tão

  um ar, que revelava receio, e ao mesmo

tempo vontade de  desabafar-se,   começou  em tom baixo a

narrar uma lenda, que para elle era uma realidade.

Assim c ô m o d o s  indios prim it ivos  da America do Norte, e

dos da  Asia  e Oceania, ha lendas e t rad içõ es que entretem

hoje as familias muitas vezes  em

 seus

 s e rões assim  t a m b é m

os

  nossos

  auctothones, legaram-nos

  t rad ições

que n um

povo

 ainda não muito  civilizado como são os  t a p a j ó s e os

indios

 que ainda conservam alguns usos  p r imi t ivos passam

por  realidades, e  in í lue  muito no seu  v iver .  Cheias algu

mas de poesia, outros de  c renças  jesuiticas plantadas pelos

colonos portuguezes, hoje servem para mostrar a indole e

conservar ainda alguns dos costumes antigos.  Fó ra  da luz

derramada pela

  civilização essas  c renças

  calam no animo

do tapuyo, e não ha arredal-o dellas.

A   Oyoára como a sereia dos antigos, é a nympha, ou o

gênio   dos  iga rapés seductora dos mancebos tapuyos. E

uma mulher  linda;   a alvura de seu rosto,  seus  meigos

olhos negros e sua bocca de coral, formam um conjuncto,

rea lçado

  pelos

  seus

  cabellos negros e

 ondeados

 que

 pelas

espaduas se derramam como um manto.

Seu corpo é um complexo de  f ô r m a s encantadoras, que

contrastam com as negras   f ô r m a s do boto que toma da  c in-

tura para baixo.

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—   105 —

dos igarapés, ou depois de um temporal á tarde, no des-

cahir  da noite, e que o

  c repúscu lo

  com

 suas

 doces

 e va-

riegadas cores, embellezam a natureza,

  en tão

  a

  Oyoára

apparece  na  superf íc ie  das  á g u a s ,  sacode  seus cabellos

presos  por flores de  m o r e r ú  (1) e entoa o seu canto. Can

to

  de amor e de

 volúpia

 que ai daquelle que ouve cega

mente embriaga-se e atira-se nos

  b raço s

  daquella que

o seduziu, que  apenas  tem em  seus  braços a presa,  des-

apparece  com ella,  levando-a para os abysmos das  águas

onde tem os seus palácios  de ouro e pedraria.

Todos evitam o encontro da  Oyoára.  O  i tacára  (2) pelas

noites de luar, foge dos lugares onde dizem que

 ella

 mora

ou pode encontral-a ; todos temem o seu canto, entretanto

que fugindo-se delia, sem nunca

  n inguém

  a ter  visto,

assim mesmo quantos não dizem ter

  sido—peg o

 pela

Oyoára?

Qualquer  molést ia  cerebral, ou nervosa, é produzida

por eífeito da  Oyoára ,  das

 quaes

 se curam com fum igações

de alho, pimenta malagueta ou disciplinando-se com cor

das d'arcos.  Dizem  que uma

  espécie

  de

  raiva,  ataca

 os

que

  soffrem

 o encanto da

  Oyoára , d i f ferençando-se porém ,

cm  que

 esta

 faz o  indiv íduo procurar a agua.

Esta raiva, encanto da O yoára,  não é mais do que effeito

da

  imag inação

  escaldada pela

  t rad ição .

Pondo de parte a

  t r ad i ção ,

  continuarei na

  descripção

da natureza. O rio ahi corre para O e a temperatura

baixou,

  a 20° depois da trovoada. Chegando ás 6 horas da

tarde ao

  T u c u n a r é

  cuara (3),

  f u i

 aboletar-me na

 casa

 de

uma

  famí l ia

  Mauhe, onde sobre um grande

  muquem

  (4)

varias  espécies de  caça estavam se assando.  Dem recebido

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pelo

  Mauhe, chefe da

  f am í l i a

passei parte da noite to

mando algumas notas sobre a sua

  g i r ia .

Sahindo no dia seguinte pelas 6 horas da

  m a n h ã

  passei

pela pequena

  i lha

  do

 T u c u n a r é

que

  fica

 fronteira e paral-

lela á do Bom Fim, mais comprida, e quasi junta á mar

gem  esquerda.

Temperatura entã o 19°

 Reaum. Entre

 estas duas

 ilhas, ha

u m

  grande banco arenoso.

  Passando-se

 a

  ilha

 do Bom Fim

varias outras, pequenas, que

  formam

  um canal de 33

braças

 de largura. Em frente á ponta da

  i lha

  do

 T u c u n a r é

deságua  o canal do mesmo nome, com 6  b r a ç a s  de bocca,

e de pequeno curso.

Entrando

 por elle

  tive

 de

 voltar,

  por não ter agua

  su f f i -

ciente á

  l ivre navegação

  da minha

  canôa

e costeando

depois a  i l h a Tu cu n a ré entrei por um  b r a ç o do rio que se

une ao  igarapé  quasi na sua embocadura, e separa  a  ilha

da terra

  f i r m e .

  Descendo por  este canal,

  f u i

 dar a um pe

queno

  porto,

  onde desci para tomar por terra o caminho

para as terras dos Mauhes, isto é, onde estes indios têm as

suas

 malocas. Este canal é estreito coberto de matas com

leito

  arenoso, onde abunda a

  castalia.

  Grandes jauarys

apparecem na parte arenosa, assim como

  vivem

  ahi soce-

gadamente bandos de

  opisiocumus cristatus

de mais de

duzentos

  ind iv íduos

que ao aproximar-se a canoa, fazem

ouvir  o seu grasnar. Seguindo  logo  para os Mauhes  tive

de atravessar

  uma.

 grande floresta, por entre a qual é sem

pre o caminho, se caminho

  pôde

  chamar-se a passagem

por

  entre a

  vegetação

  fechada, que se anda desviando, ora

dos espinhos, ora dos

  cipós.

O

 terreno todo accidentado obrigava-me, ora a subir ora

a

 descer, passando  igapós

e

  i g a rap és .

  Rica em palmeiras

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  107 —

grandes claros, emquanto outras elevavam suas frondas

acima  das

  copas

  mais altas das arvores.

  Bonita

  floresta,

animada por innumeros cantos de uma

  espécie

  de tana-

gra que em bandos escondiam-se entre a folhagem.

A h i

 encontrei uma

  euterpe assahysinho

que por ser

nova

  denominei

  longibracteata.

Por felicidade encontrei muitos exemplares, uns com

fruetos,

 outros com flores em

  vários gráos

  de desenvolvi

mento.  V i ta m b é m

  ahi pela primeira vez a Enocarpus mi-

nor

mas sem

  flor.

  Depois de meio dia de uma

  agradável

e  u t i l  travessia pela flcresta cheguei á primeira  maloca,

denominada do Sahy, nome tirado do do

  t u c h á u a .

Está

  situada no alto de uma serra, em cuja fralda corre

um l indo igarapé

sobre um

  espaço

 descampado, mas já

invadido por nova  vegetação que oceulta algumas

 casas.

Compõe-se

  de varias

  cabanas,

 e é habitada por umas 10

familias, comprehendendo cerca de oitenta pessoas. Guia

do

  pelo

  t u ch áu a d ir ig i -me

  á mata, onde me mostrou elle

o

  sipó

 que entra na

  p reparação

  do tabaco

  par icá aimbé

na

  g ir ia

  delle, e a  folha  que serve para sua

  to rrefacção

uma

  myristicacea do

  gênero  eoceulus.  Voltando

 assisti ao

curativo

 de um doente, por meio do

 putuipe

instrumento

que descreverei, ao tratar dos costumes dos indios

  Mau

hes, assim como do preparo do  p a r i c á .

  Passando

 a noite

entre elles, no dia seguinte

  voltei

por me achar

 bastante

doente. Sendo informado que as outras malocas eram

iguaes a esta desisti de visital-as.

Usam

 elles ahi já de roupas, mas  v ivem qu ér  homens,

q u é r

  mulheres quasi nús, conservando ainda

  seus

  usos

pr imi t ivos .

  São affaveis, obsequiadores, e muitos

  in te l l i -

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  108 —

Estando a temperatura em 24° Reaum. ás 11 horas da

manhã

  segui viagem.

Sahindo pelo mesmo canal, entrei novamente no rio,

que

  então

 é muito largo, e completamente morto,  o b s t r u í -

do por alguns bancos. A 1 1/4 comecei a

 costear

  a  ilha

do Mamboahy, ou Namboay, que é coberta por uma

 densa

floresta.  Ao   frontear-se  esta   um longo recife, destaca-se

da margem e se prolonga pelo canal. A s 2

  horas

  cheguei

ao

  sitio

 de um mulato cuyabano, homem que a poder de

immoralidades e vilanias tem conseguido dominar,  escra-

visando grande numero de tapuyos, que trabalham para

augmentar sua  fortuna.   (1) A s 3 1/2

  passei

 pelo

  ribeirão

Mamboahy,  que tem actualmente 5

  braças

  de emboca-

dura, com um curso de mais de 20  l é gua s e pelo qual se

vai  também

  ás terras dos Mauhes. Na sua foz, encontrei

grande numero de

  pontederias

A margem ahi  cobre-se

de algumas rochas, que se destacam das arvores que che

gam á praia;  sendo  algumas de quartro. Ahi o rio é com

pletamente morto e corre a OSO. Marcando o Therm.

 Reaum. ás 5 horas,  começou a

 essa

 hora uma forte

  tro

voada, acompanhada de vento S que obrigou-me a deman

dar o porto do sitio de um Mauhe.

  Sendo

  a casa

 pequena,

e estando  ahi o

 tucháua

  da maloca do

  Açará

  com muita

gente, preferi

  dormir

  á sombra das arvores, a beira rio.

No dia  2 1

pelas

 7 1/2, sahi acompanhado pelo

  tucháua

e parte de sua gente, que seguiam-me em uma grande

c anôa .

  Ao chegar â ponta da

  ilha,

  a margem que lhe

  f i r a

fronteira apresenta  uma barranca argillosa de 20 a 30  pal

mos de altura.  Começa então  a

 apparecer

  novas

 pequenas

ilhas

  de rochedos,   semeadas  pelo canal. A s 9 horas   che

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—   109 —

Ahi assisti á lümigação da gomma elástica, e tirei o re

trato  do

  t u c h á u a

cujo nome

  chr is tão

  é Paulo.

  Inteira

mente pintado, com a maior facilidade e sem cerimonia

t i r o u  as   ca lças e  poz-se   nú para eu poder   desenhar  as

  lis

tas da parte  inferior  do corpo. Depois de ter tomado alguns

apontamentos ahi, segui viagem, chegando a outra maloca,

porem

  de

  Mauhés

  ás 4 1/2 da tarde (1).

  Chama-se

 esta

maloca,  do

  José

 Pocu.

  Passando

 a noite

 nesta,

 que

 apenas

hoje

 conta  duas  familias,  sahi no dia seguinte pelas 5 horas

da  m a n h ã  chegando ao lugar denominado   Fechos

  d

Mon-

tanha  às 6 1/2 horas.

A hi o rio estreita-se

  muito

 e

 ambas

 as margens

  são

 mon

tanhosas.

  Pequenas  ilhotas de rochedos salpicam o mesmo,

que

  en tão

  é morto. A s 10 horas cheguei à pequena ca

choeira  do

  A c a r á .

  Uma

  successão

  de rochedos baixos

fô rma vár ios  canaes,   Onde as   á g u a s  se

 precipitam

  espu

mosas

  com pequeno declive. De

 ambas

  as margens, ahi

adiantam-se pontas, que estreitam

  muito

 o rio, formando

en tão

 o verdadeiro fecho. Sobre os rochedos, cobertos pela

agua crescem muitas  podostemeas e pascigam algumas

g a r ç a s .

  As

  á g u a s

 bramem ahi com estrondo, na sua

 pas

sagem por um  leito  pedregoso e de encontro aos rochedos

que procuram impedir-lhe  a marcha. A

 passagem   fo i

 feita

â sirga e com muita   d i í iicu ldad e porque o embate da cor

rente offerecia a cada momento eminente perigo.  Pas

sada

  a cachoeira, continua o

 r io

 a ser

  obs t ru ído

 por lages

de rochas, até em frente á maloca do

 A cará

onde cheguei

á s  10 3/4.

Fica  esta assentada  á margem do rio, na  fralda  da mon

tanha, e  compõe-se  de 12  casas,

  sendo

 a  principal  a do

t u c h á u a ao lado da qual ha um grande rancho, onde

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—   110 —

estão em serviço. 0 uso geral do guaraná entre os Mauhes

ainda é observado com todas as formalidades.

Desde

 o

 romper do dia até ás 5 horas da tarde leva uma

mulher

que é rendida quando  e s t á can çad a a ralar o

g u a r a n á

no centro do rancho emquanto as outras cosem

ou catam-se assentadas  em  linha.

Os homens deitados nas  redes que pendem^de todos os

esteios que sustentam o mesmo rancho fumam o tauary

ou  se embalam.

Rodeada de grandes cuias com agua quando a mulher

diz

  que o

  g u a ra n á e s tá

  prompto levantam-se homens e

mulheres cada um por sua vez com uma pequena cuia e

vem

  bebel-o indo logo

  após

  para o seu lugar. Acabado

este

começa

  logo novamente a fazer-se outra

  p o rção

e

assim

  passam

 o dia de minuto em minuto bebendo o gua

r a n á .

  Os Mauhes são hospitaleiros intelligentes e mais

vivos

 que os Mundurucus

sendo

 um typo mesmo diverso.

São  mais claros têm olhos mais vivos notando eu que

geralmente as mulheres são bonitas apezar  de soffrerem

quasi todas um pouco de strabismo convergente. A ceri

monia

  do

  pa r icá

que alguns dizem só se

  e í fec tuar

 em oc-

casiões solemnes n ã o é  exacto tomam sempre em qualquer

occasião  em que estejam  atacados  de  cons t ipação  ou

molleza.

Empregam-se hoje na

 ex t racção

 da borracha ; e cultivam

algum  terreno do qual colhem o  mi lho a mandioca e

algum  a lgodão que  fiam  para o fabrico das  suas  redes.

Amando

 a

  i n d ep en d ên c i a

não quizeram seguir os con

selhos dos  miss ionár ios  que por ahi passaram reunindo a

população

  dispersa para formarem um centro para a ca-

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tinha  comtudo a  importância  da grande festa da tocan-

dyra,

  por faltarem dous dos principaes elementos; o

cachiry  e a tocandyra. Não havia enthusiasmo por isso,

assim como porque

 diminuto

 era o numero de

 dansantes.

Fiquei

 todavia  satisfeito,  por ficar  conhecendo

 essa

 dansa,

ainda  muito  mal conhecida, e o uso dos instrumentos que

nella

  entram.

A

noite

 dormi

 entre elles, alumiado pela luz produzida

pela resina de jutahy e breu, de que se servem, fazendo-a

arder sobre um cepo, que ha

 fincado

 no meio do rancho.

Pela madrugada do dia seguinte, seguindo viagem,

cheguei ás

 G

 horas á cachoeira da Montanha.

E esta uma das mais bellas e  também  a mais perigosa,

depois da do

 Apuhy.

  Uma grande

  ilha

  quasi circular, de

200 pés de altura, coberta de densa   floresta, embellezada

por

 algumas palmeiras,   divide  o rio em dous

  b r a ços ,

  que

formam as   duas   cachoeiras, ou antes  famosas corredeiras

por

  entre recifes, que produzem um fragor medonho. Ahi

a  canôa  sobe  á sirga, com a  tripolação n agua para empur-

ral-a

  ou suspendôl a  quando é preciso.   Passando   a ca

choeira o rio volta-se subitamente.

Chegando ahi a

 essa

 ponta vi que arriscava sem  gloria

minha

  vida

  se continuasse a subir, porque gravemente

doente, sem recursos a morte era  inevitável  ;

  resolvi

 por

tanto

  descer

 novamente o rio. Dista   esta   cachoeira de

Itaituba  75  léguas  e da maloca do  Acará  uma. Ahi as

margens são elevadas e cobertas de matas.

Voltando  á maloca a despedir-me   desses   bons amigos,

ahi  me demorei um pouco, de maneira que  passei   a ca

choeira  do Acará  ás 12 horas, chegando ao  Tucunaré ás

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  112 —

a do Uruá e ás 3 passei a do Apuhy, dormindo na ilha do

mesmo nome.

E ad m i ráv e l

  a rapidez com que se   desce,   e como o

proeiro

 ajudado pelo

  piloto

 em um segundo desvia a

  canôa

de um perigo eminente. Nas cachoeiras, a queda da

  canôa

é ráp ida

 como o pensamento.

Sensação

  singular se experimenta

  e n t ã o ;

  é um

  mix to

de orgulho e medo, de prazer e alegria.

Sahindo ás 6 horas da  m a n h ã   do dia 26, passei  logo a

cachoeira do

 Coatá

  e ás 9 1/2 a do

 M aranh ão

  Grande.

Chegando a esta,

  tomei

  pelo canal estreito de margens

pedregosas, que tem uma pequena queda, na margem

esquerda, e algumas ilhas de rochedo pelo centro. Este

canal evita a passagem pelo

 M aran h ão s in h o ,

  que demanda

na descida

  muito

  cuidado pelos innumeros

  canaes

  entre

rochas, para as

 quaes

  chama acorrente. Esta cachoeira

tinha

 outrora o nome de

  Piracaú

  (1) alludindo  ao peixe

que se encontra ás

 vezes

 morto ou de

  bubuya

  (2) sobre as

á g u a s

  pelo embate das mesmas nas pedras.

Quando davam 2 horas da tarde chegava eu á

  i lha

T r a c u á ,

  d onde sahi ás 3 horas, chegando a um

  sitio

  de um

seringueiro  na margem esquerda ás 6 1/2 da tarde. Ahi

tomando alguns apontamentos, passei a noite até a 1 1/2

hora;

  sahindo

  en tão

 em

  d i recção

 a   Itaituba.

Rompeu

  o sol do dia 27 para mim quando atravessava a

embocadura

  do Tapa corá-açú ,   vindo  d e scan ça r

  e   t  ratar-me

da

  molés t ia

  apanhada nesta

  ex cu r são

  ás 10 horas da

m a n h ã .

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I V

G E O G R A P I I I A

  E E T H U Í O G R A M I I A

r

0

  r o

 T a p a j ó s o u   P r e t o c o m o   v u l g a r m e n t e   é   a p p e l l i d a d o

p e l o s h a b i t a n t e s

 de

 s u a s

  m a r g e n s ,

  p e l a

 s u a i m p o r t â n c i a

n a t u r a l e   p e l o   f u t u r o   q u e   o f f e r e c e   a q u e l l e s q u e d e   s u a s

r i q u e z a s s e q u i z e r e m

  a p r o v e i t a r

g e o g r a p h i c a m e n t e   m e r e c e

u m   a r t i g o   e s p e c i a l p o r q u e s e b e m q u e  j á f o s s e t r a t a d o

p e l o

 C o n d e

  C a s t e l n a u

e

  p e l o e n g e n h e i r o p o r t u g u e z R i c a r d o

F r a n c o   d e   A l m e i d a S e r r a a i n d a h o j e   é   q u a s i d e s c o n h e c i d o

a n ã o

  s e r p e l o s n e g o c i a n t e s

  q u e

  p o r

  e l l e

  n a v e g a m

  a n n u a l -

m e n t e

  c o m m e r c i a n d o .   1 )

N ã o f a ç o u m a d e s c r i p ç ã o c i r c ü m s t a n c i a d a d e   t o d o  o s e u

c u r s o

m a s

  i n d i c a r e i

  c o m e x a ct i d ã o o q u e

  s e i p e l a s

  i n f o r

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  114 —

rio, pelo que pude observar, e pelo que consta já escrip-

to .  Occupando um lugar distincto entre os  t r ib u t á r io s do

Amazonas,

  farei

 por

  corr ig i r

  alguns erros que se têm

 vul~

garisado sobre  elle.  Simples  será  a'minha  exposição  e

conscienciosa a  indicação do que sei e observei. Como todo

o commercio hoje é

  feito

  pelo

  Arinos,

  descreverei  este e

não tratarei do Juruena.

O rio  Tapa jós , que propriamente assim é chamado, nas

ce da  união  de dous grandes  a f í l u en t e s , o Arinos  e o Ju

ruena, depois de ter recebido o S.  Manoel.  As fontes

principaes destes dous  afí luentes es tão nos altos campos dos

Parecys, vulgarmente chamados serra dos Parecys, a 14°

e 42' 30 Lat. S 63° 3'  Lo n g .  O de Paris. O  Arinos

abrangendo um

  espaço

  de 100

  lég u as

 de E a O com

 duas

ramif icações

 que se cruzam com as

  á g u a s

  que correm para

o Paraguay e  seus  af í luen tes ,  tem verdadeiramente sua

principal

  nascente  a 15

  léguas

  da  Vi l la  do Diamantino.

A

  fazenda do Estivado, onde  esteve  Castelnau,  pôde  ser

considerada a

  linha divisória

  entre as

  á g u a s

 que correm

para os rios do N e as que correm para os do S. O

 rio

Preto

  uma das principaes fontes do

  Arinos, fica

  3 a 4 lé

guas  da

  Vi l la

 e o seu porto a 5 ou 6 da mesma. Por ahi

navegam as

 canoas

 que vão de Itaituba para o Diamantino,

apezar de ser um rio estreito, com 10 a 45 b r a ç a s  de lar

gura e geralmente  o b s t ru íd o  de  p á o s .

Passam  por elle  canoas

 carregadas

 com 1 a 2.000 arro

bas.

Dahi começa  o A rinos,  que perpetua o nome de uma  t r ibu

de indios, hoje desconhecida, que já  vem com  20 a 25 bra ça s

de largura, ficando logo abaixo na margem esquerda o

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gem  direita

  o rio dos

  Patos

onde habitam os indios Ba-

cairis.

  Vinte léguas

  abaixo do Porto do Rio Preto

  fica

 a

embocadura do

  Sumidouro

por onde desceu em 1747

João

  de Souza de Azevedo e não

 João

  da Cunha Azevedo,

como dá Lacerda no seu  Diccionario, que em companhia

de Pascoal  Arruda  vinham em busca de ouro; por elle

t a m b é m  desceu em 1805  João Viegas e em 1812  Antônio

T h o m é

  de

  F r a n ç a .

  Sendo o

 primeiro

 navegante do

 T apajós ,

o portuguez

  filho

  da

  I lha

 da Madeira Leonardo de

  Oliveira,

segundo refere o

 Padre  José

  de Moraes, na sua

  Historia

  o

Estado

  o

  Maranhão

I . pag. 511. Tem a barra  deste rio

15  b r aças  pouco mais ou menos de largura,

  sendo

  sua

corrente

  r áp id a

  e d'agua crystallina. Fica na Lat. S13°

23

30 e na-

  l ong .

  O 56° 17' 30 . As margens do Su

midouro

  são habitadas pelos indios Parecys, que como

os Mundurucus, usam  t a m b é m  de uma capa de palha, para

encobrir

  o

  ó rgão

  sexual.  Passando-se  a

  i lha

  do

  Cyriaco

que recorda o nome de um viajante que ahi morreu,

chega-se

  a uma grande campina á

  direita,

  onde dizem

habitar

  os indios Mambyuaras e Tapanhonas.

  Trinta léguas

abaixo do Sumidouro

  deságua

 o rio

 Tapanhonas

que tem

pouco mais ou menos 20

  b r aças

 de bocca.

  A hi

 e pelas bar

reiras do

  Genipapo

mais abaixo aparecem os Tapanhonas.

Pela

  a b u n d â n c i a

 que ha da

 fava,

 chamada de Santo Ignacio,

existe ahi um lugar denominado

  Faval.

  Doze

  léguas

abaixo

  fica

 o

  Barranco vermelho

abaixo do qual existem

algumas ilhas.

 Dahi

  em diante

 começam

 a apparecer

 matas

pelas margens, mais frondosas. Ha ahi uma arvore, que se

encontra  t a m b é m   no baixo  T a p a j ó s ,  denominada pelos

Cuyiabanos

 Tu cu r i ,

  que se emprega no fabrico de

  ubãs

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4 6 

o rio que corria placidamente começa a ser obstruído por

cachoeiras e saltos.

Abaixo  deste  ponto milhares de escolhos ou ilhas de

rochas,  formam um labyrintho de canaes, que vem depois

formar  a cachoeira da Figueira que não formando quéda

é comtudo

  muito

 marulhosa, só dando

 passagem

 pela parte

direita.  Segue-se

  depois o  Boqueirão que é um canal

muito revolto.

Em  continuação recifes entre os quaes ha grande corren

teza, formando a cachoeira do  Rebojinho  que é

  ins ign i f i -

cante, e menos perigosa, do que os baixios que se lhe se

guem  Consta haver ouro nesse  lugar.

O rio dahi para baixo é cheio de pedras, havendo uma

no centro de 24 palmos de altura, com lüO de

 circumferen-

cia.  O maior  tributário  do  Arinos  ahi  deságua  algumas

léguas abaixo, na margem  direita,  que é o

  rio o

  Peixe

com  40 braças  de largura, pouco mais ou menos. Ahi a

largura

  do Arinos é de umas 100

  b r a ç a s .

  As cachoeiras do

Rebojinho  e  Meia carga têm uma  rápida  correnteza, que

obriga

 a serem sirgadas as

 canoas.

 Passadas

 estas

 o

 rio

 tor

na-se

 morto, e faz numerosas voltas, até encontrar-se com

uma  ilha longa, que  fica quasi defronte da foz do Juruena.

De

 Pouzo Alegre á foz do Juruena, são 42  l é gua s tendo

esta de largura 180  b r a ç a s emquanto que o  Arinos ahi

apparece só cem 100 de largura,  porém  unidas as  á gu a s

apresentam uma largura de mais de meia

 milha,

  semeada

de ilhas que encobrem ao observador uma das margens.

Fica  a  junção  de 10° 24' 30 de Lat. S e 58° 2' 45

de Long.  0. Desta  união  para baixo o rio continua com o

nome de Juruena, impropriamente, porque dahi é que deve

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—  117 —

pelo que

 esse

 lugar se denomina

 Lages

ficando a 6

 léguas

pouco mais ou menos da

  j u n ç ã o .

Abaixo

 desse

 ponto

  fica

 uma extincta

 a ldèa

 de

  App iacás

com  o nome de  Largo  da  Povoação.

Cinco  l éguas abaixo a  Sirga  do espinho que é uma ag-

g lomeração  de recifes e ilhas, que formam as margens e o

leito  do  r io e occultam a foz do rio S João  da  Barra  que

ahi deságua

na margem esquerda.

  Começam

 a apparecer

as montanhas que

  vão

 dar ao Salto Augusto,

 chegando-se

depois ao  Taguaralzinho onde es tão aldeiados os A ppia cás .

A

  posição

  geographica  desse  ponto é o parallelo 9

o

  2'

cruzado pelo meridiano 58° 16' 40 .

Os Appiacás  são ahi os melhores auxiliares da navega

ção

já vendendo aos navegantes os

 seus

 productos e com^

prando os que precisam, já guiando as  canoas  e empre

gando as  suas  fo rças no transporte de cargas.  Cultivam

a mandioca, a canna de assucar,  o

  a lgodão

a batata doce*

as  bananas e o m i lho que plantam em roda de suas  caba-

nas ou a pouca distancia, e colhem

 t a m b é m

  a  salsa e a

borracha. Usam um quadrado preto pintado em torno aos

l áb ios .  Sahindo dos cantos da bocca uma

 linha

 da mesma

côr

  que termina nas orelhas e duas outras, uma partindo

das  azas do nariz a juntar-se na orelha com a

 primeira,

 e

a outra sahindo

  dessa

  j u n ção  e terminando no queixo,

onde dobra-se em angulo para o beiço como tive occasião

de ver. São bonitos, trabalhadores e activos, e  faliam bem

a

  lingua

 geral.

Hoje

 é pequena a

  t r i b u

  porque muitos têm sahido para

emprego com particulares, e mesmo porque a maior parte

delles, não querendo entreter  re lações com os brancos, re

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  H S -

Os Appiacás têm uma outra aldêa, em uma ilha abaixo.

Passando a embocadura do S.

  J oão

  da Barra, existe uma

grande cachoeira, de forte correnteza, podendo calcular-se

a velocidade das

  á gua s

  em 8 a 12 milhas por hora.

Uma légua abaixo, está a  Salto Augusto  ou  Salto Gran-

de De Itaituba a  este ponto,

  gasta

  uma  canôa  escoteira

um  mez, e carregada dous.

Fica

  na Lat. S 8

o

  53' 15 e na

  Long.

  O 58

9

  15'. Ahi

existe outro aldeiamento de  Appiacás pertencentes como

os outros á

  p rovíncia

  de Mato Grosso,

  sendo

 ahi que natu

ralmente todos dão o  l imi te  da provincia  do  P a r á .

Lsta  é a barreira maior que encontra o navegante, que

passa de uma para outra

  p rov ínc i a

que pelas cheias do

inverno

  torna-se medonha e faz desanimar todo aquelle

que não conhece a sua  n avegeção .  Sendo  ho r r íve l  ahi o

estampido da agua, precipitada, por tres canaes, dos

 quaes

o da direita, se bem que não seja o mais alto, é o que tem

maior  volume d'agua e ha entretanto encanto em contem

plar-se a effervescencia das  águas que se despenham.

O

 canal da

 direita

 mede quasi 40

  b r a ç a s

 de largura, em-

quanto que o da esquerda não tem mais de 25. O terceiro

tombo  fica muito

 mais abaixo.

As

  canoas não

 t r an spõem

  ahi o salto, mas servem-se de

um  varadouro, por onde carregam as cargas às costas.

Dahi  começa  uma serie, quasi que não interrompida de

cachoeiras, mais ou menos perigosas, mas pelas

 quaes

 se

desce,  ajudado á sirga, ou somente à zinga, que  t e rmi -

nam-se

  no Salto de S.

  S imão .

  Pela ordem natural são

estas:

  Tucurizal,

  Furnas, Salsal, Rebojo, Banquinho,

Lage de S. Lucas, Saival,  Dob ra rão S.  Gabriel,  8. Ra-

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—  149 —

começa a espraiar-se. E' de difficil transito e fica a 8

o

  3°

50

  Lat. S e a

  57°

 59' 15

Long.

  0.

A cachoeira de Todos os Santos  f ica  uma  l é g u a abaixo,

e marca umas  vinte  l é g u a s  do Salto  Augusto.  A h i o rio

estreita-se, alargando-se  p o r é m  muito na embocadura do

r io

  S.

  T h o m é , , q u e

  tem 25

  b r a ç a s

  de bocca, seguindo de

pois  placidamente, até a  foz  do rio S.  Manoel.  Tem este

na sua embocadura a largura de 280  b r a ç a s  pouco mais

ou  menos, engrossando assim o rio, a alargar-se uma

milha, emquanto que anteriormente á j u n çã o ,  só tem umas

180 braças ,  se tanto. Medeia entre estee o rio S.  Th o mé

2 0 l é g u a s .

  Antigamente

 fazia-se a  navegação por ahi, mas

por  causa das innumeras cachoeiras, e dos

  indios

  Bida-

pirapes,

 ou barbados,  muito  ferozes, que ás vezes  infes

tavam

 suas

 margens,

  f o i

 abandonada.

Dahi  para  baixo,  as  á g u a s  deixam a côr olivacea, que

tinham  e tomam a preta,  razão por que  dahi  começa-se  a

chamar rio Preto ou  T a p a j ó s .  A foz do S.  Manoel  fica

7

o

  21' Lat. S e 37° 47' 30 Long.  0.

Descendo encontra-se logo abaixo um grande  I g a r a p é , de

nominado

  Agua Pona

por onde se vai ás campinas, onde

es tá a grande taba dos Mundurucus.

Subindo  por

 este

  I g a r a p é , depois de

 seis

 dias de viagem,

chega-se

  ao

t

 porto,  onde  co meçam as campinas, mas,  dis

tante ainda das malocas meio dia de viagem, por terra.

Abaixo deste  igarapé f ica um outro chamado  Pesqueiro

sendo ahi o rio muito  tranquillo  por  espaço  de algumas

l é g u a s .  Junto ao  I g a r a p é  Tri fica uma  a l d ê a de  Mundu

rucus .

Deságua  na margem esquerda o  i g a r a p é  acarécanga

1), .onde perto ha outra  a ldêa  dos mesmos  í n d i o s .  Obs

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mais de  duas l éguas ,  toma

  esse

 lugar o nome de  Baixio

das

  Capoeiras

ficando á sua direita o

 Iga r apé Cabruâ .

Algumas  l éguas  abaixo,  fica  o

 baixio

 do Chacorão muito

perigoso no tempo da vasante. Ahi o rio mede 1/2  légua

«te largo, e  conta-se  até o S. Manoel 20  l é g u a s .  Depois

de algumas  l éguas do r io  morto passa-se o lago das Piranhas

(1),  para vir se encontrar na mesma margem direita) os

Igarapés  Cadiriry

  e

 Cabet/atu

dando

  este

 u l t im o

  entrada

para as campinas.

Passando-se duas malocas de Mundurucus, hoje aban

donadas,

 apparece

  o rio das  Tropas antigo  Paitú-uvy.

E notável

  este

 rio por nos recordar um facto que mostra

perfeitamente a  índole  destes  indios, e que deu lugar á

m u d a n ç a  do nome

 deste

 rio. Os portuguezes acostumados

a escravisar todos os povos com quem tratavam, com o fim

de satisfazer á amb ição  que  l h e s é   innacla, fizeram em 1773

uma  expedição   ao  Al to Tapajós ,  chegando até  este  rio.

Ahi

 fizeram propostas de compra de escravos, e como os

Mundurucus

  n ão  quizessem acceder á proposta, romperam

em  hostilidades, com o fim de fazerem prisioneiros, que

depois seriam captivos. Os Mundurucus pegaram

  en tão

em

  armas

  e pela numerosa  popu lação   fizeram tal resis

tência ,  que obrigou a tropa  p o r tu g u éza  a debandar pelo

rio abaixo, tendo-lhes faltado  m u n i ç õ e s .  Os indios  en tão ,

sem perda de tempo, puzeram-se no encalço  dos portuguezes

e vieram devastando tudo quanto encontraram, levando a

logo

 e flecha tudo, até o forte de

 S a n t a r é m

  onde se

 refugiou

a tropa, que  ficou   sitiada por elles.

In t rép idos  como eram os Mundurucus, guerreiros te

midos em todo o valle do  Tap a jó s , comtudo não escalaram

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  121 —

julgaram mais acertado propor paz, sendo aceita pelos na-

turaes.

  Encontrei

 uma testemunha

 deste

 facto na

  ilha

  do

Tracuá,

  em

 casa

 do Sr.   Silverio  de Albuquerque Aguiar.

E uma velha tapuya, hoje cega, de cabellos todos brancos,

que conta

 talvez

 mais de cento e quarenta annos, conser

vando  todavia as  suas   faculdades. Diz

 ella

  que estava

então

 em

  Alter çlo Chão,

  d onde

  é filha,

  quando elles  pas

saram devastando

  tudo.

  Que era tal o terror que só o

nome

 de   m u n d u r u c ú   inspirava, que todos  fugiam aban

donando o que possuiam. Disse-me mais que depois que

elles

 voltaram,   fo i

 ella

  para   Santa rém,   que   então   era só

povoado

  por  indios,  e ajudou a carregar pedras para a

segunda igreja, que   então  os padres da  Companhia de

 Jesus

estavam

 edificando.

  vimos

 no cap. l.°, em que

  época foi

  edificada a igre

ja ,  e por elle vê-se  que esse  facto fo i  pelos annos de 1733.

Passando-se

 o rio das Tropas,  entra-se n um esteiro de

grande correnteza, interceptado de rochas, abaixo do qual

deságua  o   igarapé   Pacú   (1). Na margem esquerda mais

abaixo entra-se na cachoeira   do  Mangabalzinho que n ão  é

mais do que uma grande

 corredeira,

 entre

 recifes.

 Segue-se

o  baixio  de  Cantagallo onde  estão   alguns seringueiros,

pelas margens do  rio.

Na  mesma margem, esquerda,   deságua   o rio  Crepury

com   30   braças  de boca e em frente a uma  i lha .   Este  rio  dá

t a m b é m   entrada para as campinas  dos

 Mundurucus;

  é todo

encachoeírado,

  sendo as mais

  notáveis,

  seguindo da

  foz

 :

a  J aua r i té   (2), a   Pacú (3),   a   Curimatá   (4), a   J aca ré ,   e a

Cuicuiápe  (5), que   são  as cinco primeiras. E

muito

  pis-

coso e abundante de

  caça .

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—-

 122 —

Contam os navegantes até á foz deste rio, trinta  léguas,

donde

  segue

 rio morto,

 passando

 uma

  légua

  abaixo pelo

morro

 do Cuatdcuara buraco de

 Cuatá,

alludindo-se acir-

cumstancia de apparecerem muitos

 macacos

 cua tás ,  Ateliês

sobre os barrancos e mesmo nos buracos que existem neste

morro, feitos pela  acção do tempo.

Abaixo um pouco,  fica na margem direita a  missão  do

Bacabal fundada em 1870, por

  Frei

 Pelino de Castrovalva

e

 Frei  Antônio

 de Albano, com os indios que ahi já exis

t iam. Esse lugar tinha o nome de  Ponta grossa.

Estão

  hoje aldeiados nesta

  missão

  cerca de 700 indios

Mundurucus,

  missionados por  esses  dous capuchinhos

italianos.

A

 posição

 da

  missão

  é uma das mais bellas do

 Tap ajós ,

pela

  elevação

  em que

  está ,

  e pelo grande horizonte que

alcança. Contém 16 grandes barracões ,  onde estão alojados

os indios,

  além

 de outras

 barracas com fornos

 para farinha.

Tem  uma boa capella

 feita

 de páo a pique e

 duas casas

 para

escolas de ambos os

  sexos.

 Uma grande

 casa

 de sobrado,

envidraçada,  serve

 de

 residência

  aos

  missionários .

  Tem um

campanário

 de 60 palmos de altura com dous sinos, um de

8 e outro de 14 arrobas.

  Suas

 terras são fé r te is . Os indios

entregam-se

 á lavoura, e

 lavram

 um terreno de quasi quatro

l é gua s .  As doenças que ahi reinam são ordinariamente os

pleurizes, e a dysenteria, que ceifam annualmente de 15 a

20 vidas. As escolas  são  f reqüentadas  por 45 alumnos do

sexo masculino e 40 do

 feminino.

Abaixo fica a grande cachoeira do Mangabal, antes gran

de corredeira por entre recifes, de mais de

 tres  léguas

 de

extensão. Tira

 o seu nome de innumeras mangabeiras, que

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—  1 2 3

a n t e r i o r ,

 q u e s ão  B o b u r é ,  M e r g u l h ã o ,  U r u á ,  A p u h y ,  C u a t à ,

F u r n a s ,

  M a r a n h ã o

 G r a n d e

 e M a r a n h ã o s i n h o .

  P o u c o

 a c i m a

d o   B o b u r é ,   c o m o   d i s s e   d e s á g u a o

 Juanxin r i o

  b a s t a n t e

r i c o

 em   m a d e i r a s e   s e r i n g a e s ;

 é

 e n c a c h o e i r a d o , f i c a n d o  a

p r i m e i r a

  c a c h o e i r a ,

  d e  n ome

 B e b a l ,

 a 2 l ég ua s d a

  f o z ;

 a s

o u t r a s  s ã o a s

 c h a m a d a s ,

 C a p ã o ,

 U a p u h y ,

  U r u b u c u a r a ,

  P a c ú ,

C a h y   1 ) .

 D e s t a s

  p a r a

  c i m a   o   r i o   é

 c o b e r t o

  d e

  b a i x i o s ,

f i c a n d o

 a s c a c h o e i r a s

 p r ó x i m a s

 umas

 á s

  o u t r a s ,

 n u m e sp a ç o

d e

  u m a l é g ua e

 u m  q u a r t o , c o n s e r v a n d o

  o   r i o

  q u a s i

  s e m

p r e  a  mes ma  l a r g u r a  d a  f o z .

G a s t a - s e

  n a  v i a g e m   d e

  I t a i t u b a

 a o

  S a l t o A u g u s t o ,

  s e m

c a r g a s

  2 0

  d i a s , e

 c o m

  c a r g a s

  6 0

  d i a s ,

 e

 d a h i

  a o  D i a m a n

t i n o  2 0 o u  3 0 , s e  v a e - s e   d e s c a r r e g a d o o u c a r r e g a d o .

S e g u n d o

 o

 S r . C h a n d l e s s ,

  n a s

  s u a s

 Notes

 onrivers Ari-

nos Juruena and

  Tapajós p ó d e - s e   a v a l i a r  o   c u r s o  d o

T a p a j ó s ,

 c o m

  o s  s e u s  d o u s  r a m o s

  p r i m i t i v o s  e m

  4 . 2 0 0  m i l h a s

i n g l e z a s ,  o u 3 4 8 l ég u a s   b r a z i l e i r a s ,  q u e

 a s s i m

  estão

  i v i -

d i d a s 

D o

  P o r t o V e l h o

  à

B o c c a

 d o

 S u m i d o u r o

  , 80

« d o

 R i o

  T a p a n h o n a s

  420

A l t o   d a s c a c h o e i r a s   d o   A r i n o s  400

B o c c a

 do  A r i n o s  420

S a l t o   A u g u s t o  140

B o c c a   d o R . S. T h o m é

  65

« d o S.

  M a n o e l

  0

l .

a

  A l d e i a

  d e

  M u n d u r u c u s  80

B o c c a   d o R .

 C r e p u r y  100

C a c h o e i r a   d o

  A p u h y

  120

I t a i t u b a  25

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  124 —

Conta poiso Tapajós, propriamente dito, como tributá

rios,

 na margem

 oriental,

 os rios seguintes por ordem geo-

graphica, da sua  foz:

  Mapiri ,

  que é engrossado pelo

 I ru rà ,

Igarapé-açú,  Marahy, Cupary,  Tapacorá-açú, Juá nx im ,

Crepury,  Pacú,

  Pimental, das Tropas ou Paitu-ury, Cabe-

tutu, Cadiriry, I r i ,  Pesqueiro,   Agua   Pona, finalmente S.

Manoel.  O Cupary é engrossado pelo

  Cupary-açú,

  em

cujas

 cabeceiras

 estão

 os

 indios

 Jacaré-u aras , t r i bu

  errante,

feroz,

  perseguida pelos

 Mundurucus.

  Chega-se   a  essa   t r i

bu também   pelo Tapacorá-açú,  um dos  afíluentes  mais r i

cos

  do

 Tapajós Na margem

 occidental,

  poucos e não tão

importantes  são os  afíluentes  que ahi desaguam, assim

denominados : Uarapiuns,  Cury,  Piracanã ,  Bom Jardim,

Itapeua, Capituam, Tajacuara,

 Jaca ré , Tam anduá ,

  Tucu

n a r é ,

  Mambuahy e

 Jacaré-acanga .

Da   primeira  cachoeira para cima, as  suas  margens r i -

zonhas, ricas e

  fér te is ,

  não

 são

 habitadas,

  senão

 por al

guns seringueiros pelo verão, e pelos indios  Mundurucus  e

Mauhés, que ahi

 vivem

 em aldeiamenlos.

Contam-se entre os

 primeiros

 as seguintes malocas, por

ordem  geographica:   Cury,   Santa Cruz,   Uxituba  (nestas

os

 indios

 estão semi-civilizados), Boburé , duas  na cachoeira

da

 Montanha,  Igapó,

 na cabeceira da Mangabal, Baccabal,

Boa-Vista

  (abaixo do  P acú , Chacorão,  Capoeiras e as do

I r i .  A

 mais populosa

 destas

 é a do Baccabal, havendo  algu

mas extinctas, como a da embocadura do Juanxim, e a do

meio

  da cachoeira

 Mangabal.

  Poucas

 malocas contam os

Mauhés ahi, porque, perseguidos outr ora pelos

 Munduru

cus, refugiaram-se para o

  interior,

  entretanto  além de al

gumas  familias  dispersas, encontram-se as malocas:

 Boia-

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—   125 —

extracção da gomma elástica, que os negociantes obrigam

a

 tiral-a,

 para pagamento dos

  gêneros

 que ahi vendem por

preços fabulosos. A  moeda entre elles quasi  não  é conhecida

porque todo o commercio é  feito  por permuta de gê

neros.

Antes

 de descrever os usos  e costumes

 destes  indios,

 con

vém   mencionar os que habitaram outr ora as margens

deste

  formoso rio.  Dividiam-se,  como já   tive

  occasião

 de

dizer,

  em Canicuruz e

 J a p i r u á r a ;

  tendo a  primeira deno

minação

  todas as tribus que habitavam o baixo

 Tapajós

 e

a segunda

 os

  da

 regiãos

 da cachoeiras.

Dominava

  o baixo

 Tapajós

 os Tapayu ou

 Tapajós tr ibu

da

 qual  já

  fallei tratando de

 Santarém porém

 que apresenta

re i  agora alguns de  seus  usos.

Augmentada

  com o correr dos annos foi

 esta

  t r ibu

  se

estendendo, principalmente pela margem  direita  até á

cachoeira do Bo buré tomando varias denom inações porém

conservando os mesmos costumes.

Para chegar a

  esse

  conhecimento,

  tive

 de fazer um es

tudo

 particular, sobre dezoito qualidades de machados de

pedras, que

  encontrei

 desde

 as

 serras

 que

 circumdam

 San

ta rém

  até á cachoeira do

  Boburé ;

  assim como sobre frag

mentos de  louça  encontrados

  neste

  espaço.  Da referida

cachoeira para cima, os machados têm fôrmas inteiramen

te differentes, dos que se encontram nas terras pretas on

de

  existiram

  as malocas.

  Nesse  espaço

 em uma qualquer

das malocas os machados que se encontram sempre são

dos mesmos

  feitios

  e de rocha da mesma natureza,

  dio

r i to

emquanto que os que se encontram, rarissimos, do Bo

buré para acima  aífectam  outra  f ô rm a . Comparando a   louça

encontrada na serra do P iquiá tuba onde habitavam sem

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dura

 do rio

 até a cachoeira acima referida nas

  chapadas

das serras nos lugares hoje denominados

  terras pretas

Usavam  de  igaçauas  duplas para guardarem os

 ossos

dos seus.

Collocavam estes

 dentro de uma

 espécie

 de panella que

era mettida dentro de um pote ornado de  desenhos  de

linhas

  com

  fôrmas

  mais

 ou

  menos

 geom étr icas

feitas

 com

tinta

  vermelha que

  julgo

  ser caragiru com oleo de co-

pahyba ou castanha. Destas

  igaçáuas

encontrei fragmen

tos no

 Piracanã

como já disse anteriormente. Eram enter

radas

  umas  junto

 ás

 outras

com a

 bocca para

 cima.

 Pelos

fragmentos encontrados as maiores  poderão  ter quando

muito tres palmos de  d i â m e t ro .  Fragmentos iguaes encon

t re i

  perto da cachoeira

 Apuhy

  e alguns nas praias

  trazi

dos pelas correntes.  Acima

 do Bo buré

 não encontrei frag

mento  algum.  Usavam para o  córte  das arvores de ma

chados de

  vários

  tamanhos assim como para a guerra

além   do arco e flecha hervada de massas de  diorito com

a

  fôrma

 de dous cones unidos pela

  base.

  Dous fragmen

tos

 destes

 encontrei um no Piquiatuba e outro em

  I t a i tu -

ba.  Tinham  idolos imitando a  fôrma humana assim como

na

  louça

  de uso

  doméstico

  usavam de ornatos

 com fôrmas

de  pássaros  e reptis. A parte exterior de panellas ou

vasos era ornada com

  desenhos

  resultantes da  com

pressão

  de tecidos de palmeiras de encontro à

  superfície

dos objectos quando ainda frescos; de maneira que eram

estes

  tão variados quanto

  pôde

  ser variado o mesmo

tecido.

Pacificamente  viviam   no baixo  Tapa jós até a  época

em

  que os portuguezes

  começaram

  a estender a sua

 con

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— 27 —

t u d o

  o

  s a r g e n t o - m ó r   B e n t o M a c i e l

f i l h o

  d o

  g o v e r n a d o r

B e n t o M a c i e l P a r e n t e

o m e s m o

  q u e

  f r a c a

  e

  v e r g o n h o s a

m e n t e   e n t r e g o u

  a

 J o ã o  C o r n e l l e s c o m m a n d a n t e d o s   h o l -

l a n d e z e s

e m 2 7 d e

 N o v e m b r o

  d e

 1 6 4 1

a

  c i d a d e

 d e S .

L u i z .

  f

-

fi

 

V

  :

  V

M

^ f ^ ^ l l H i l j t e

F r e i   C h r i s t o v ã o  d e   A c u n a ,  q u e

  f o i

 n o m e a d o   p e l o  C o n d e

C h i n c h o n

v i c e - r e i

 d o  P e r u p a r a   ap e rf ei ço a r   a   p l a n t a  d o

A m a z o n a s ,   l e v a n t a d a p e l o  m e s m o   c a p i t ã o   P e d r o   T e i x e i r a

n a   s u a  s u b i d a

 a

 Q u i t o

c h e g a n d o   c o m o m e s m o

 q u a n d o

 s e

d i r i g i a m

  p o r B e l é m ,

  a o

 T a p a j ó s

 e m

  1 6 3 9 d i z :   q u e

 p a

r a n d o

  n a

  a l d e i a

  d o s

 T a p a y ú ,   e n c o n t r o u

  u m a   p a r t i d a  d e

p o r t u g u e z e s

  q u e

 a h i   e s t a v a m

q u e

 t i n h a m s i d o

 b e m

 r e

c e b i d o s p e l o s

  i n d i o s   e

  t r a t a d o s

  c o m

  p r o v a  d e c o n fia n ç a

 e

b o a v o n t a d e

  d e   t r a f i c a r e m .

  A p e z a r   p o r é m d e   s e r e m

  b e m

r e c e b i d o s

t e r e m r e c e b i d o i n n u m e r a s   oífertas,

 e

  s e r e m

c o n v i d a d o s p a r a v i r e m   s e

 e s t a b e l e c e r  n a  a l d e i a c o m t u d o

f o r t i f i c a r a m - s e

v i s t o  o s   n a t u r a e s

  n ã o

  q u e r e r e m y e n d e r

s e u s

 i r m ã o s .

 A c u n a   p r o c u r o u   d i s s u a d i r   o s p o r t u g u e z e s

 d o

i n t u i t o

  e m q u e

  e s t a v a m

  d e

  a t a c a r

 o s

  i n d i o s

e

  c h e g o u

m e s m o a

 o b t e r

 d o

 c o m m a n d a n t e

 d a

 e x p e d iç ã o ,

  q u e e r a

e n t ã o   B e n t o M a c i e l

a

 s u a   p a l a v r a

  d e

  h o n r a c o m o

 n ã o

f a r i a

  m a l a l g u m a o s   i n d i o s ;  p o r é m  a p e n a s  A c u n a   r e t i r o u - s e

c a h i o   s o b r e   e s t e s b a r b a r a e

 t r a i ç oe i r a m e n t e ,

 d e   m a n e i r a

q u e b a t i d o s  d e   s o r p r e z a e n t r e g a r a m   o s   s e l v a g e n s s u a s

f l e c h a s

e m

  s i g n a l

  d e

 s u b m is s ã o. D e s a r m a d o s

  o s

  i n d i o s

m e t t e r a m   o s   p o r t u g u e z e s e s t e s   e m u m a   e s p é c i e  d e

c u r r a l e  c o m e ç a r a m   a   c o m m e t t e r e x c e s s o s   d e   b a r b a r i

d a d e

  e   v a n d a l i s m o p r i n c i p a l m e n t e   c o m a s   m u l h e r e s .

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mero,  soltaram os chefes e conduziram os captivos para a

capital.  1)

1)

 Dou aqui  a data de alguns decretos  prohibindo  a

  e s c r a v i d ã o

  e

na sua integra um  bando.

Um Decreto de D. Carlos de 7 de Julho de 1550 e um outro de

21 de Setembro de 1556 declararam

  livres

  os

 indios

 do  B r a z i l .

Em

  20 de

  Março

  de 1570 D.

  Sebast ião

  publicou

  um Decreto

declarando que nenhum

 indio

  seria considerado escravo salvo sendo

aprisionado  em guerra aberta por  elle  autorizada exceptuando-se

os

 A y m o r é s

 e as tribus mais ferozes que costumam assaltar as outras

e os portuguezes. para comer. Foi confirmada por segunda Lei de 22

de Agosto de 1587; que declarava que os

  indios

  que trabalhassem

para os portuguezes não deviam olhar-se como escravos mas sim

como  jornaleiros  livres a

 cujo

  a r b í t r i o

  ficava

  trabalhar ou não se

gundo lhes conviesse. Felippe I em 11 de Novembro de

 1593,

 declarou

que seriam só escravos os

 indios

  capturados em hostilidades por elle

ordenadas e pelas

 Leis

  de 5 de Junho de 1605 e 30 de Julho de 1609

prohibiu

  escravizal-os em caso  algum.  D.  João  IV renovou a plena

abol ição da escravatura e o Governador Balthazar de Souza Pereira

veio  para o

  P a r á

  com ordens de emancipar todos os  indios que es

tivessem  escravizados. D.  José  pela Lei de 6 de Junho de 1755 fez

observar as leis de seus  antecessores e mandou declarar por  edita es

pregados nos lugares mais  públ icos das cidades de  Belém  e S.  Luiz do

Ma r a nhã o , « que os indios como livres e isentos de toda a  e sc r a v i dã o ,

podem

  dispòr  de suas

 pessoas

 e bens  como melhor lhes parecer sem

outra

  su je i ção

  temporal que não seja a que devem ter ás minhas

leis

para á sombra dellas

 viverem

 na paz e u n i ã o c h r i s t ã ,  e na socie

dade  c i v i l ,  em que mediante a  Div ina Graça ,  procuro manter os

povos que Deus me  c o n í i o u ;  nos quaes

 ficaram

  incorporados os re

feridos  indios

sem  d i s t incção ou  excepção  alguma para gozarem de

todas as honras pr iv i l ég ios  e liberdades de que os meus vassallos

gozam  actualmente conforme as  suas  respectivas  g r a d u a ç õ e s e ca-

bedaes

 ».

O Papa Benedicto XIV em  1741

 promulgou

 a bulla  Pastorum contra

a

  e sc rav idão

  dos

 indios prohibindo

  comprar vender dar ou receber

em escravidão  os  indios.

José de Nápoles Telles de Menezes do Conselho de Sua Magestade

Fidelissima Governador do Estado do G r ã o - P a r á  e Rio Negro etc.

Sendo-me presente o escandaloso abuso que com a mais reprehen-

sivel  t r a n sg r e s sã o  das  Sagradas

  leis

e  o í d e n s  de Sua Magestade

tantas  vezes  mandadas  publicar  pelos meus Exms.  Predecessores

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—  129 —

Os

  Tapajós

  que eram temidos pelos portuguezes, por

causa

  de

  suas

  flechas serem hervadas,

  soffreram

 muitas

tentativas da parte da gente de  a l ém  mar, com o fim de re-

duzil-os

 á  e sc rav idão mas sempre sem  effeito, porque não

se sujeitavam, elles selvagens, a  essa  lei selvagem dos

brancos;

 estando

 p o r é m promptos, como homens livres,  a

Que da

  p u b l i c a ç ã o

  deste

 em diante nenhuma

  pessoa

  de qualquer

qualidade, estado, ou

  c o n d i ç ã o

  que seja,  possa  recolher, conservar,

ou

  servir-se nas

 suas casas,

 rossas e fazendas de

  indio

  algum que não

lhe

 haja sido concedido por uma legitima  Portaria minha por escrito

com

  que declare o tempo e

  f ô r m a

  da

  dita  c o n c e s s ã o ;

  E que todo o

que, sem

  este  i n d i s p e n s á v e l

  documento constar, que contrario pra

tica, fique

 pelo dito facto incurso nas  penas do Bando de 12 de Feve

reiro

 de 1754 mandado

  l a n ç a r  nesta

 cidade pelo

 I l l m .

 e Exm. Sr. Fran

cisco

 Xavier

  de

  M e n d o n ç a

 Furtado com que determina;

Que todos os que assim se acharem sem Portaria de

  P e r m i s s ã o s e r á

condemnado o sujeito, que os retiver a pagar

  a l é m

  da soldada a

quantia de 2$000 por mez, a metade para o mesmo

  i n d i o

e a outra

metade para os cativos na

  forma

  do Regimento dos

  o r p h ã o >

como

t a m b é m p a g a r á

  mais 3$000 applicados para a obra de um hospital, etc.

E

 igualmente nas do outro Bando de 3 de

  Maio

  de 1764 mandado pu

blicar

  pelo

  I l l m .

  e Exm. Sr. Fernando da Gosta de Athayde Teive,

com

  que ampliando as

 penas

 assim a Ordena que toda a

 pessoa

  com-

prehendida no

  a b o m i n á v e l

  crime de consentir no seu

  s e r v i ç o

  indios

de um e outro sexo, sem os justos

  t í t u l o s

que prescrevem ás Leis e

Ordens de Sua Magestade alem das referidas

 penas

  s e r ã o

  condemnados

em

  mais um mez de

  p r i s ã o

  e 5 000 havido summariamente por cada

indio

  para o denunciante. Com a

  a d v e r t ê n c i a p o r é m

que se os ditos

denunciantes por

  ó d i o s

e

  v i n g a n ç a s  fizerem

  denuncias falsas, e que

assim se verifiquem,

  s e r ã o

  castigados, como

  f a l s á r i o s

com as  penas

que lhe competem. Cujas denuncias se

  f a r ã o

 perante o Dr. Intendente

Geral

  e

  t e r ã o

  principio findo o tempo de dous  mezes  que lhes assigno

da data

  deste

  em diante para declararem os indios que

  tiverem

  sem

legitimo

  t i t u l o

 de Portaria de

  c o n c e s s ã o

  ou Termos de soldada, por

que fazendo-o dentro no referido Termo,

  s e r ã o

  absolvidos das sobre-

ditas

  penas.

E  para que chegue a

 noticia

  de todos, e não possam allegar

  igno

r â n c i a

  se

  a f f l x a r á  este

  Bando por editaes nos lugares

  p ú b l i c o s  desta

cidade, e nos de todas as mais

  villas

  de moradores brancos

  desta

Capitania

 e depois de registrado nos

  livros

  da Secretaria do Estado,

da

  C â m a r a

Contadoria da junta da Real Fazenda, Intendencia do

Commercio

  e do Juizo dos

  O r p h ã o s .

  Dada

  nesta

 cidade de

  B e l é m

  do

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commerciar

 com elles em termos pacíficos.

  Estas

 e outras

expedições

  fizeram

com que os

  Tapajós

  fossem se

  re fu

giando para o  interior  e se tornassem

  inimigos

  figadaes

dos portuguezes. Os indios que passaram para cima  for

maram diversas malocas em diversos pontos com outras

denominações.  Victimas  desta inimizade foram  também

os inglezes quando tentaram subir o r io que  destroçados

por  elles até deixaram a sua bandeira que os indios

guardavam como tropheo.

Estas

  expedições  resumiram  muito a  população  destes

indios de maneira que valorosa como era  não podia re

sistir

  aos  ataques  repetidos dos mundurucus que  domi

navam o alto  Tapajós trazendo t ambém   sempre as outras

tribus  que haviam na  região  das cachoeiras foragidas.

Em   1661 quando appareceram os m issionários jesuítas

e  começaram   a catechisal-os fundando para isso  missões

diminuto

 era seu numero tanto que muitos outros indios

a  estas  missões  se chegaram. Captivos uns foragidos

outros levados pela morte o resto

esta

 bella  t r ibu extin-

guio-se deixando perpetuada a sua  memór ia  no nome do

mais bello rio do Amazonas.

  Recordações

 ainda

 hoje

  temos

pelos  seus  machados pela sua  louça  e pelos seus

  muird

kitans.  1)

A   época do desapparecimento dos Ta pajó s começou  em

1750 com uma epidemia de cursos de sangue que appa-

receu eem 1798

 elles

 já não existiam senão cruzados com

outros.

  Tive occasião

 de

 estar

 com

 uma velha

 Tapajós

em

Santarém e nella v i pela primeira vez em seu  pescoço  um

grosso  m u i r á k i t a n que guarda como uma  re l íquia e diz

ser boa para dores de garganta. Disse-me

  ella

que em

certa  época  do anno partiam alguns companheiros para

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Referio-me  que os   Tapajós  foram quasi todos exter

minados por dysenteria e febres que appareceram, que

matava-os ás

 dúzias

 por dia.

Durante o tempo do  domínio   dos  Tapayús no baixo

Tapajós viviam também   pelas

  margens do rio e para o

interior  outras tribus que mais tarde foram exterminadas

pelos Mutirucus, hoje

 Mundurucus;

 ou fugiram  para outros

pontos da

  província.

Entre ellas, como  disse  dando o  histórico  de  Sa n ta r é m

haviam

 as seguintes:   Apaunuariás Amanajás Marixitás

Apicuricus,

  Moquir iás Anjuariás Jararéuaras Apecurias,

Cenecuriás Motuari Anjuariás Uarupás

Periquitos e Sua-

riranas.

  1)

üesapparecendo estas

 tribus,

 só existiam

 em  768 as

 tres

ultimas,

  e um diminuto numero de

  Tapayús apparecendo

comtudo outras, que  viviam  quasi sempre em luta. Eram

estas

  as dos

  Tapacorás

Cararys,

  Jacaré tapiás Sapopés

Iauains, Uarapirangas, e

 M auhés.

  Os

 Sapopés

 vieram das

immediações  do rio Matary, assim como os Periquitos. Os

Uarupás habitavam,  antes  de se estabelecerem no  Tapajós

os rios Abacaxiz e

  Canumá

que desembocam no

  furo

Uarariá que dá no  Tupimnabarânas .

No século   X V I I

  varias

  missões

  fundaram os

  jesuí tas

pelo rio  Tapajós com os nomes de S.  José  deMatapus,

Cumaru,  Cury, Santo Ignacio, e Borary, como vimos, que

depois algumas foram  elevadas a  villas e ainda hoje con

servam

  essa

  categoria, se bem que não

  mereçam

pelo

seu atrazo,  pequena  população  e desenvolvimento intellec-

tua l .

  Algumas com justa

  razão

  viram-se privadas dessa

categoria, por leis provinciaes.

As

  que ainda conservam os

  t í tulos

  de

  villa

  são as que

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A  população destas m issões nunca chegou a ser a bravia

catechisada mas sim a de indios já meio

 civilizados

 que

vinham de outros lugares e procuravam esses  aldeiamentos

onde havia mistura de diversas tribus.

Quando em 1773 fundou-se a segunda igreja com colle-

gio,  na aldeia dos  Tapayús ,  hoje cidade de  Santarém,

haviam ainda nas

  cercanias

 duas tribus de Tapayús,  a dos

Pa ra uá s e a dos A riréaçus .

Os indios de algumas das tribus que habitavam outr ora

o r io , tinham

 signaes

 que os distinguiam por exemplo : os

Iauains tinham um

  listão

 preto nas faces

desde

 a raiz do

cabello á barba; os  Uarupás, Çuariranas  e Periquitos

tinham as faces pintadas com listas. Alguns eram anthro-

pophagos como os Sapopés e Jacaré-tap iyás e Ua rupá s .  Dos

seus

 ritos

usos

  e

  costumes  nada

  hoje consta tudo per

deu-se

 com o tempo que até da  memór ia  dos naturaes

apagou a sua  le m bra nç a .

Depois de 1774

  appareceu

  no alto  Tapajós  uma  tr ibu

também  anthropophaga denominada  Mampás,  que foi a

principal

  causa

 do exterminio dos

  Uarupás ,

  que se

  viam

também  perseguidos pelos Mauh és. Os U arup ás viviam pelas

vizinhanças das aldeias de Santo Ignacio e S.  José .

Em

  1835 havia ainda uma

  famil ia uarupá

 em Aveiros

e ha poucos annos outra na  ilha U aru pá .

Os indios que habitam hoje o  Tapajós são ,  os Parin-

t intins, Parabitetés, Appiacás, Têlêuates, Tuparurus Iau-

r i tés ,

  Tapaiunas Andiraz ou  Jaca réua ras ,  Amaneius e

Parauaritis. Todos  estes vivem  errantes pelas florestas do

centro á  excepção  dos  Appiacás, Parabitetés  e Andiraz

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  133 —

rivalidade entre dous irmãos tuchâuas (l) Mundurucus,

que aspiravam

  o

 lugar de

  m u r u u i c h à u a

  (2), nasceu  esta

t r i b u ,  como mais adiante   explicarei.  Usam grandes arcos

de paxiuba e zarabatanas,  en tan içadas   com jacitara e

depois pintadas de preto. As flechas

 destas

 são hervadas,

emquanto que as dos arcos,

 feitas

 de tabocas,

  n ão

 o

 s ão .

 (3)

E

a

  ún ica t r ibu

  do

 Tapa jós ,

 que

 não

 quer

 commercio

 com o

homem

 civilizado

 e que sempre o ataca, quando o encontra.

Dizem que

  faliam

 o dialecto

 Mundurucu,

  com

  excepção

  de

duas

 palavras.

Os

  Appiacás

  e

  P a rab i t e t é s ,

  que são

 i rm ã o s ,

  oriundos do

mesmo tronco, usam, como já disse, um risco negro circum-

dando os

 l áb io s ;

  os Tuparurus enfeitam-se com tres riscos

verticaes dentre as sobrancelhas á raiz dos cabellos; os

I a u a r i t é s

  tornam-se garbosos com as

  suas

  tres linhas que

fogem

  do canto dos

  lábios

  angularmente; os Tapaiunas,

para

  evitarem

 as mordeduras dos insectos, pintam-se com

o sueco da  casca  do fruetodogenipapo; os Parauaritis

 são

pintados quasi como os

 App iacás. Os Ja ca réu ár as ,

  por dous

que vi e segundo varias

  pessoas

  conceituadas que com

elles estiveram, são indios excessivamente alvos e que

parecem ser albinos, pela circumstancia de não poderem

soffrer

 a luz do dia. Esta particularidade, junta á sua ma

neira

 de viver,  fez com que merecessem o nome de

  Anderás

morcegos ,

  pelo qual são geralmente conhecidos. E digno

de notar-se os

  seus

  costumes.

  Não

 andam durante o dia,

que passam nas

  suas

 cabanas,

  não deitados em redes, mas

pendurados pelas pernas, com a

  cabeça

  para

  baixo,

 em

traves que cruzam as  cabanas   de lado a lado.   Assim dor

mem   durante o dia e assim flecham á

 noite,

 quando sahem

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— 4 4

 

para suas excursões. Logo que presentem caça, sobem ás

arvores e pendurados

 pelas

 curvas das pernas  aos galhos

matam-a. Andam completamente nús, e não usam  pin

tar-se. Como já disse,  têm o seu aldeiamento nas

 nascentes

do rio Cupary.

Além  destes

 indios, ha

  duas

 outras

 grandes

 tribus, que

formam a base  da

  população

  de todo o rio

 Tapa jós

e que

figuram  entre as mais antigas: a dos  Mutiricus  ou Mun

durucus e a dos

  Mauhés

antigos M aguês 1)

Dispersos em malocas pelas margens do  r io têm os  p r i

meiros a sua taba

  principal

 na margem

  esquerda

  perto

das campinas, que unem a

  província

  do

 Pa rá

 á de Goyaz e

Mato Grosso.

Calcula-se a

  população

  dos Mundurucus em 48 a

20.000 almas,

  sendo

 5.000, já semi-civilizados e  d is t r i

buídos

  pelas

  malocas, ea dos  Mauhés  em 700 a 1.000,

divioidas em 51 malocas,  exparsas

 pelas

  florestas que se

unem á  Província  do Amazonas, limitadas pelo rio Mau-

he-açú

que vulgarmente tem o nome de

 terras dos Mauhés

No Pará

  as principaes malocas são:

 Acuai Su curé-ed itú

Uirauacê

Terra-nova,

 Amocahy,

 Pererema,

  Mangarê-puitá

Jutahy,  Apocuitá

Mirity

Pacoval,  Açahysal Tucuman,

Pantinady, Peredy, Suruby, Undy,  Sururu pa i tà Guaranà -

putira,

  Etê-caucé Paratáudy Cuvucá Araticú

Pindobal,

Araçá Panacú Sápiady

Sahahy, Inajatuba, Tucumahy,

Majurú Laranjá l

Cupahyba-pixuna,

 Ara t icú-miry

Pirahy,

Xibuhy Paricatuba,  Meruy,  Sary, Muperam, Saricam ,

Açancê

Apeteguy, Curupira, Poeira-piranga ,

  A r a ç a r y

Aipaçahy Paicá Udecan,  Acará Tu cun aré-cuára .

A  t r ibu

  dos Mundurucus é a mais numerosa e a mais

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135

feita no trabalho de

 pennas.

  São homens fortes, muscu-

losos, bastante morenos, de um olhar sombrio e triste, com

olhos rasgados,  e com os

 ossos

 faciaes bem proeminentes.

Indolentes, como todo o

  indio

  da  região  equatorial, são

comtudo mais trabalhadores. São os

  braços

  dos nego

ciantes e os  seus  melhores freguezes.

A

  t r ibu  hoje existente nas campinas

  fôrma

  uma

  taba

composta de 32 malocas,

  sendo

  as principaes:

  Cab ruá ,

Uary

  l),Aruduby

  2), Acupary 3), Curucupi 4), Ari-

tairy  5), Decudemo  6), Imburariry,  Sampraribi,  Aipucá

7),

 Dauapone 8),

  Dassêpaqueti,

  Carênaurari ,  Paraby 9),

Saapicpic 10), Capicpic 11), Baurim,

  Quiminbicá ,

  Aitic

12),  Arucuré ,  Uassairamtim, Biamsobu,  Apissânaiqui ,

Arubadury  13J, Dairy,  üaréry  14), ainda outras  menos

importantes ;

 sendo

 a maior a Dauapone. No tempo em que

todas

 as malocas obedeciam a um só chefe, tinha elle sua

residência

  na margem do rio das  Favas, em Biamsobu ;

hoje esse  lugar está vago, e não é preenchido, porque es

peram pela volta do seu rei que perdeu-se em uma batalha.

São

 Sebastianistas 

Pelo rio

  Tapajós dão lhes

  o nome

  também

  de  caras-

-pretas pelo costume que têm elles de se pintarem.

Com

 effeito  os homens, talvez que para sua

  presença

  ser

mais respeitada, usam pintar a

  cara  desde

 a raiz dos ca-

bellos,

  até á  maxilla  superior toda de preto e dahi até a

i

Rio de Machado.

2)  T e r ra  de papagaio.

3) Rio de páo de

  mo r r ã o

4  Lugar  onde desce  a r a r a

5) Rio de  I n a j á

6) Sahida

 d

Coa tá

7) Sumauma.

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—   136 —

inferior, principiando das orelhas listadas angularmente a

formar pequenos rhomboides. O  pescoço até ás claviculas

é  listado verticalmente até o encontro de  tres  linhas que

passam  por

  essa

  região  e por

 sobre

  as omoplatas,  hor i

zontalmente ; o peito e  braços são listados t ambém angular

e perpendicularmente, de maneira que formam  uma serie

de  t r iângulos uns unidos aos outros.  As costas e

 pernas

são  listadas verticalmente até os tornosellos, exceptuan-

do-se

  a parte anterior das canellas, que não tem

  lista

alguma. Usam os cabellos  raspados, em roda da  cabeça

deixando-os  crescer  somente  no alto, pintando a parte

raspada com uma massa,

 chamada  ser d

1)

As  mulheres pintam a

 cara

 com uma

 banda

  negra que

parte de uma a outra orelha  passando  por cima do  beiço

superior e pelo angulo do queixo; da parte terminal in

ferior dessa banda segue

 para baixo do queixo outra

 porção

igual  á mesma  porém  listada em t r iângulos que são cheios

por linhas parallelas a um lado dos

  mesmos

  t r iângu los .

IJOS  ângulos  externos dos olhos partem linhas para as

orelhas, assim como os internos são unidos por

  sobre

 o

nariz por uma, que dá uma apparencia de usarem  todas

as mulheres de  óculos.  Por

  sobre

 as claviculas, passando

pelas

 omoplatas  tres linhas parallelas, formam um collar

que  dá-lhes algum realce. De cima da  região abdominal,

partem linhas perpendiculares e parallelas que se terminam

sobre

 o púbis e verilhas. Todas as mulheres que observei,

assim eram pintadas;

  somente

  os homens, alguns va

riavam

  de pintura, não na

  fôrma

mas na quantidade de

linhas.  Uns eram pintados até os

 seios,

  outros até as ve

rilhas.  A  razão é  esta:  na idade de  1 4 annos começam a

pintar-se, mas como é dolorosa a operação e causa inf lam

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  137 —

mações e febre, só depois de seccas as feridas produzidas é

que procedem a nova pintura; em geral é annualmente

feita  esta

  operação

o que leva muitos

  annos,

  de maneira

que só depois de 20 annos  es tão  completamente pintados.

Além do tempo que levam a pintar-se,  acontece que alguns

riscos que têm são indicativos de

  serviços

  feitos á

  t r i b u .

Alguns,

  se bem que velhos, não chegam a ficarem todos

pintados, porque não prestaram os

  serviços

 que dão lugar

á pintura, ou porque pela sua pouca idade ainda não t i

veram

  occasião

  de prestal-os.

O  processo  que empregam para  esse  fim é  b á r b a r o  e

doloroso. Depois de  t r aça rem  sobre  a pelle uma linha de

tinta,

  com uma  espécie de pincel

 feito

 de espinhos de mu-

rumuru  que das palmeiras são os mais venenosos), mo

lhado na mesma tinta,  começam  a picar a pelle.

  Este

pincel

 é proporcionado â largura da lista, e pelo numero

de espinhos fura a pelle quasi que poro por poro.

  Nesse

mesmo dia e no seguinte,

  esta

 parte assim pintada  fica in-

flammada e produz uma ferida que custa a cicatrizar.

A tinta empregada ê assim fabricada: deitam dentro de

uma panella o breu produzido por uma Burseracea do

gêne ro

  icica

  a que se dá o nome vulgarmente de

  breu

branco

  e

  l ançam- lhe  fogo;

 depois do

  breu  acceso

 collocam

o

  fundo

 de uma outra panella

  sobre

  a bocca da primeira,

de modo que  recebe todo o fumo produzido pelo breu in

cendiado. Depois de extincto o breu, raspam o pó que o

fumo

 accumulou no fundo da panella e juntam-o em uma

vasilha. Emquanto  arde  o breu fervem em uma outra

panella as folhas de uma convolvulacea, a

  convolvulus

edulis

com a

 casca

 de uma leguminosa, por elles chamada

chiriri

  e o pericarpo do

  Assahy-zinho euterpe

 longibrac-

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mordente.  Esta  tinta é geralmente guardada n um  caroço

de

  tucumã-açú.

Divide-se

  a  t r ibu   em tres grandes  famíl ias a  Aririchá,

ou  branca, a  Ipápacate,  ou vermelha, e a  Iasumpaguate,

ou  preta..

Estas

  tres cores são puramente convencionaes, porque

na côr da pelle não fazem elles

  d i í ferença

mas  indicam

uma diíferença

  de nascimento; assim os mancebos não

podem

  receber por companheiras raparigas da mesma fa

mília

  ou côr, por serem consideradas

  i r m ã s .

  O branco

nunca procura para ter a seu lado,

  senão

 a mulher da

 fa

mília  das  côres  preta ou vermelha; e assim acontece ao

das outras

  côres .

  O

  filho varão

sempre é da

  condição

do

 pai; se

 este

 é

 vermelho,

 o

  fi lho também

 o é.

Vivem

  em malocas  separadas,   no centro da qual ha

sempre um grande quartel onde dormem e  vivem   todos

os homens, emquanto que as [mulheres moram em ca

banas separadas.  Desde a idade de 9 annos,   começam  os

meninos a

 dormir

 no

 quartel.

  Nelle é que são feitos todos

os trabalhos dos  indios,  e nelle se guardam todos os

  ins

trumentos,  quér de guerra,   quér de  caça. Tem esse  quartel

o nome de  exça.  E uma grande meia agua coberta de

palha

  de palmeira,  tocando o telhado o  chão sempre com

a frente para o nascente, e  dividido  por  duas   linhas de

esteios, que partindo do fundo vem terminar muito  fóra

do

  mesmo quartel. Em cada uma

 destas  divisões

 moram

os guerreiros da mesma

  famíl ia

cuja

 distincção vê-se

 na

côr

  dos esteios; são pintados os brancos com tabatinga,

os vermelhos com

 u ru c ú bixa orellana,)

  e os pretos com

um a  tinta feita

 de diversas plantas.

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Ha quarté is  habitados por mais de quatrocentos indios.

As

  cabanas

 das mulheres têm os telhados cobertos ou

de  sapé anatherium bicorne  ou de  caranã-y lêpydoca-

rium

e as

  paredes feitas  com

 pannos da casca do tauary,

couratari cosidas umas ás outras com cipós e são  presas

a

  travessas

 horizontaes

  postas

 pela parte de dentro.

No  quartel tocam continuadamente das 5 ás 8 horas da

ma nhã

  e ás mesmas horas da tarde o

  ufuá;

  que é um

instrumento

  guerreiro, feito de uma taboca de 2 a 3 pol-

legadas de  diâmetro e 3 a 4 palmos de

 comprimento,

 com

um  bocal da mesma taboca,  porém fina preso com  cêra

virgem  e que produz um som forte e

 vibrante.

Andam  todos  nús usando os homens, continuadamente,

o

  iráipêman

  (1) e do

 erdrêpê.  O

 primeiro

 é uma pequena

bolça

 conica,

 feita

 de

  um  foliolo

 da

 palmeira  curuá

ornado

de

  pennas

 ou elythros de coleopteros, que serve para es

conder a

  cabeça do

 membro  v i r i l ;  e o segundo é uma cinta

estreita tecida de

  algodão

 que serve para levantar

 o

 mesmo

quando se banham ou têm de atravessar qualquer rio.

Trazem  tres furos nas orelhas, sendo o  inferior maior,

pelos

  quaes

  passam; no  primeiro uma penna de arara e

nos dous  úl t imos tibias de mutum, ou rolletes de  páo .

Obedecem a um ou dous

  tucháuas

que ha em cada

maloca,  mas veneram muito  a

  Muirá tucu

o seu rei que

desappareceu, mas que ainda esperam.

  Estes

  tuchauas

governam

 independentemente uns dos outros e têm direito

de

 vida

 e de

  morte

 sobre os

 seus

 subditos.

O viajante entre elles é sempre bem recebido e se lhe

offerece logo o Ddú que é uma comida feita de castanhas

assadas em

  puqueca

  (2) no muquem e depois

  socadas.

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—   140 —

é

 mal visto afastam-se delle e recusam-lhe os presentes

que costumam fazer quando é aceita a offerta de

 pássaros

de quadrúpedes etc. Al.mentam-se de  caça com be jús

em

  vez de farinha.

Alguns desertores que ha entre elles e que se sujeitaram

a

  soffrer

 serem pintados ensinaram respeitar o dia de

Sexta

 feira

 Santa que por elles é chamada  Tupanabê.

  ( )

A   religião  delles é só a  crença  em um Ente que tudo

creou

 e sobre o qual ha varias

  t radiçõ es.

Deus

caruçá-caraibê

segundo a sua

  c rença

 andou entre

elles

com um

 filho

  chamado

  Rairú

antes  da

  creação

 do

céo

que

  fo i

 depois da do homem. Contam a

  creação

 do

homem  e suas differentes raças

 da seguinte

 f ô rm a : Ca ruçá -

Caraibê detestava seu  f i lho por querer usurpar-lhe o seu

poder pelo que resolveu desfazer-se delle por varias

vezes sahindo Ra i rú sempre vencedor.

Uma

  vez depois de flechar a extremidade de uma folha

de  tucumã-açú uma alta palmeira coberta de espinhos

ordenou

 a seu

 filho

  que subisse para

  tirar

  a

 flecha

certo

de que  ficaria elle todo

  ferido

e cahiria quando subisse

sobre a folha para tirar  a flecha;  porém Ra i rú chegando

á palmeira tocou-lhe com os dedos o que fez com que

todos os espinhos se abaixassem e sem perigo algum subio

e trepou sobre a folha  donde  t i rou  a flecha que entregou

a seu

  pai .

  Este mais enraivecido por ter ainda uma vez

seu

  f i lho

  mais poder do que  elle deixou  passar  alguns

dias

para usar outro estratagema.

Fez

  então

 de uma

 porção

 de barro um

  t a tú

enterrou-o

deixando  só de  fóra a cauda e ordenou a seu  filho  que

tirasse o  ta tú  para  f ó r a .  Segurando pela cauda Ra i rú

empregava todas as

 suas  forças

  para

 puxal-o

mas eram

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—   141 —

caraibê desfructava o seu isolamento depois de alguns

dias apparece-lhe novamente

  R a i rú

sem que diga a tra

dição  por que meios chegou elle a sahir do fundo da

terra

communicando que ahi encon trára  uma  mul t idão

de homens e mulheres e que seria bom fazer com que

elles sahissem para cultivar a terra.

Aceitando

 a proposta de R airú Caruçá lanço u  na terra

uma semente que germinando produzio um algodoeiro.

Esta é a origem do algodão  entre elles. Crescendo

 este

do

algodão produzido Deus fez uma extensa corda na extre

midade da qual atou

  Ra i rú

e pelo buraco

 feito

 pelo

  t a tú

deixou-o descer.

No fim de alguns minutos começaram  a subir pela corda

os

 individuos

 escolhidos nas entranhas da terra por

  R a i rú .

Os

 primeiros

  que sahiram eram pequenos e

 feios

porém

progressivamente

  foram

 sahindo depois homens esbeltos e

mulheres formosas porém  infelizmente quando sahiam

as mais lindas a corda já gasta  e não supportando mais o

grande

 peso

 dos que por ella  ainda subiam arrebentou-se

e

 foram

 precipitados no fundo da terra.

Deus então dividiu

 essa

 mu ltidão que havia sabido em

differentes  tribus; distinguindo-as com  desenhos  de

fôrmas e côres  differentes que  até hoje ainda conservam.

Assim

 explicam

 a sua pintura que é sempre a mesma e não

arbitraria.  Ficando

  dessa

  gente uma  porção

  feia

e ra-

chitica Deus então disse fazendo-lhes um  traço  vermelho

sobre o nariz:

  «Vms.

  não são dignos de

  viverem

  com a

raça  humana; sejam

  antes

  animaesI»  E transformou-os

em mutuns-açú que

 desde

 então  vivem  pelas matas sol

tando seus sentidos gemidos.

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meios de reapparecer, pelo que ainda seu pai empregou

outro estratagema para ver-se  l ivre delle. Encontrando na

margem

 de um rio uma pedra

  escavada

  pelas

  á g u a s

em

f ô r m a de forno; ordenou a seu  f i lho que a

 puzesse

 sobre a

cabeça

a fim de

 leval-a,

 para

 nella cozinharem.

  Obedecendo

R a i r ú poz a pedra na cabeça porém apenas o fez com eçou

a mesma  acrescer  e a subir arrebalando-o da terra. Tal

crescimento teve que

  fo rmou

  a abobada celeste. Pelo seu

Gênesis

assim foi creado o Armamento.  Ainda Caruçá-

cara ibê andou por algum tempo sobre a terra,  p o rém

depois desappareceu.

Pela rigorosa  observânc ia  que fazem da  f ami l i a a que

pertencem, o seu typo ainda não es tá  degenerado; de ma

neira  que o mundurucu conserva ainda a sua indole e a

belleza

  primit iva. Muito

  moralizados, não admittem a

convivência

 entre estrangeiros e

  suas

 mulheres e se por

acaso alguma cahe  em qualquer

  falta

  é immediatamente

expulsa da

  t r ibu .

Não  são polygamos, mas podem  desfazer-se  da mulher

quando cheguem a aborrecer-se

  delia,

  e tomar outra, sem

pre de outra  famil ia porque como disse, todo o mundurucu

encara a mulher da sua

  côr

 como uma

  i r m ã

  e só  estes la

ços admittem.

Como

 todos os indios do

  Valle

 do Amazonas, a mulher é

quem

 mais trabalha; os

  serv iços

 de

  roça

  são feitos por

  ella,

assim como todos os mais; o homem reserva para si os tra

balhos mais nobres, como sejam o fabrico de intrumentos

para a guerra, a caça etc.  As mulheres tudo quanto carre

gam  é em cestos compridos, sustentados pela cabeça por fi

bras

  vegetaes  e que apoiam-se nas

  costas;

  a  estes  ces

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Guerreira como é a  t r ibu dos mundurucus, explica  a tra

dição

 esta  indole bellicosa, e

 o

 costume que

  têm

 de cortarem

a  cabeça  aos vencidos depois de ama batalha.

  Dizem

  que

outrora,  dous  i rm ão s  disputavam o  p u t á  sceptro) de mu

r u u i c h á u a mas que sendo escolhido um chamado  Mu i râ tu -

cu o  outro desgostoso  f u g i u da t r i bu com sua  famil ia . O mu-

r u u i c h á u a mandou-o chamar, accedendo o fugi t ivo ao cha

mado ;  po rém tempos depois continuando a desintelligencia

entre elles,

 tornou

  o

  i rm ão

 a sahirda

  t r i b u

acompanhado

pela  f am i l ia e pelos amigos, que

 formavam

  en tão um par t i

d o . O m u r u u i c h á u a vendo o  i rm ão partir,  com gente, da

qual elle era  t u c h á u a n ã o consentiu que elle formasse nova

t r i b u impedindo com um estratagema  t rág ico que depois

tornou-se um costume. Alguns  dias depois da partida, sa

bendo o

 t u c h á u a

  onde seu

  i rm ão

  estava acampado, man

dou

  o convidar para uma grande

  c a ç a d a .

  Este accedeu ao

convite,

  n ão

 pensando na cilada em que ia cahir.

  No

 dia da

caçada depois de effectuada esta, quando se d ir igia  só para

o acampamento, tres mundurucus mandados por  Muirá tucu

o

 flexaram,

  e por conselho dos  pagés para provarem ao

seu

  m a n d a t á r i o

  que  tinham

 cumprido

  as ordens, cortaram

a

  cabeça

 do morto, que f o i levada e guardada como um tro-

pheo, entre elles.

  Dahi

  en tão começaram  as hostilidades

entre os Mundurucus e a nascente  t r i b u dos Parentintins.

Dias

  depois  vieram  os que perderam o seu chefe, já

com

  outro eleito á frente atacar o

  m u r u i c h á u a

  fratricida

e refugiaram-se novamente na mata depois de tomarem

esta

  v ingança

suppondo

 talvez

 que os mundurucus não os

perseguissem. Mas, se havia odio  de  i rmão para  i r m ã o

dahi

 nasceu o de

  t r i b u

  a

  t r i b u

de

 f ô rm a

 que no anno se

guinte quando não esperavam  foram  atacados pelos  mun

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Este costume mereceu-lhes o nome de  Paiquicé  1), ou

corta

  cabeças

que lhe dão os outros

 indios.

  A guerra tra

dicional

que ainda fazem a outras tribus, depois de ter

exterminado

  algumas, hoje é com um duplo fim, o de

perpetuar o odio de  r aça  eode  trazer mulheres para  si .

Sahem todos os

 annos  expedições

  de guerra, commum-

menle nos mezes de Fevereiro ou

 Março

dando cada maloca

um  certo numero de arcos. 2) Quinze dias

  antes

 da par

tida,  passam

  a cantar e a

 dansar

  em frente dos

  qua r t é i s

e na  véspera da partida,  t i ram dos mesmos, onde guardam,

os instrumentos de guerra dos que succumbiram nas bata

lhas do anno anterior e enfeitam-os.

No  dia seguinte, quando partem, são estes levados de

mão  em mão como que em  p rocissão com gritos de  v in -

gança e choro e grita  das mulheres, que acompanham os

guerreiros, levando as suas armas e maquyras. 3) No  p r i -

meiro

 encontro que ha com o

 in imigo

muitas  vezes a cen-

tenares  de

  l éguas

  da maloca, estes, instrumentos são que

brados nas

  costas

 dos primeiros

  inimigos

 que cahem, em

signal  de  sat isfação  de  v i ngança .  Generosos na guerra

para com as mulheres e

 c r i an ça s

são

 b á r b a r o s

  para com

os homens, os

 quaes

 são todos mortos á  flexa ou a massa.

Usam  na guerra  vár ios  instrumentos. No primeiro en

contro

  servem-se do  irari  4) e da

 ubê

  5); mas

  apenas

 a

luta  trava-se peito a peito, servem-se do bd y  6); sempre

a peleja é animada pelo som vibrante âopem-y que é uma

espécie

 de cometa, de dous palmos de comprimento,

 feita

de  duas  porções  de cerne de madeira, cavados e depois

«)

 Corruptella

  d ePayéqu i c é ,

  isto é  faca  de pagés porque segundo

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v

— 145 —

e n t a n i ç a d o s .   S o p r a - s e  por um   f u r o   l a t e r a l .   Ufuá é que

o s g u i a

 a o

  c o m b a t e .

T e r m i n a d a   u m a   b a t a l h a o s  m u n d u r u c u s   v e n c e d o r e s r e

c o l h e m

  o s

  d e s p o j o s a s s i m

  c o m o   a s c a b e ç a s d o s

  i n i m i g o s

o q u e   t u d o   é  t r a z i d o   p a r a  o  s e u a c a m p a m e n t o .   L o g o  q u e

  u m

  i n i m i g o c a h e o   v e n c e d o r p a s s a - l h e  u m a m ã o  a o s  c a -

b e l l o s  e c o m a   o u t r a a r m a d a

 d e

 u m a

  f a c a f e i t a  d e

 u m

 p e

d a ç o d e   t a q u a r a c o m a   m a i o r d e s t r e z a  o   d e g o l a .

N o d i a

 s e g u i n t e

 a o d o

  c o m b a t e

e m p r e g a m - s e  e m

  a r

r a n c a r

  o s   d e n t e s  d e  a l g u m a s   c a b e ç a s   i n i m i g a s  e e m m u -

q u e a r o u t r a s .

 O

  p r o c e s s o p a r a s e c c a r e m

  as   c a b e ç a s   é

s i m p l e s

 5  d e p o i s   d e   e x t r a h i r e m  a

 m a s s a

  e n c e p h a l i c a p e l o

b u r a c o

  o c c i p i t a l

 e  d e   a r r a n c a r e m   o s

 o l h o s

m e t t e m - a s  e m

a z e i t e  d e

  a n d i r o b a  e

 e x p õ e m - a s a o   f u m e i r o .

  O

  or ifíc io d o s

o l h o s  é  c h e i o  d e   b r e u o n d e   c o l l o c a m   d o u s   d e n t e s  d e   c u t i a

p a r a a n i m a r

 o  r o s t o .   C o m

  t a l   h a b i l i d a d e   f a z e m e s t a s o p e

r a ç õ e s ,

  q u e a

  c a b e ç a

  c o n s e r v a - s e p e r f e i t a m e n t e a s s i m

c o m o   o s

  c a b e l l o s

q u e são  a n t e s p e n t e a d o s .   D e n o m i n a m

e l l e s   e s t a s

  c a b e ç a s

 pariuá-á q u e   d e p o i s   são   c o n d u z i d a s

e m   u n s  e s p e t o s  d e  p ã o , c h a m a d o s  pariuá-á-renape  G a r -

b o s o s l e v a m d e p o i s e s t e s

 h o r r í v e i s   t r o p h e u s

p a r a

 a

  m a l o c a

e n ã o s e  s e p a r a m   d e l l e s   s e n ã o   d e p o i s   d a  g r a n d e   f e s t a  d a

t e r m i n a ç ã o  d a

  g u e r r a .

 C o m o é

  c o n s i d e r a d o

  g u e r r e i r o

  v a

l e n t e

o

 i n d i o  q u e

  t r a z   e s t a

 c a b e ç a n ã o

  t r a b a l h a   e m q u a n t o

n ã o   se   f a z  a   g r a n d e   f e s t a e é

 r e s p e i t a d o

  e   p r e s e n t e a d o

p o r t o d o s . P a r a   o n d e   v a i

a   l e v a e

 q u a n d o d o r m e ,   p e l o

p a r i u á - á - r e n a p e

 a

 e s p e t a

  j u n t o

 á

 r e d e .

 P o r

 s o m m a

  a l g u m a

s e d e s f a z d e s t e

  t r o p h e u

a n t e s

  d e s e   c e l e b r a r  a

  d i t a

  f e s t a .

E m q u a n t o   o s   g u e r r e i r o s

 a p a n h a m o s

 d e s p o j o s

a s

 m u

l h e r e s   r e c o l h e m   o s   c o m p a n h e i r o s   iuem-nates  f l e o s

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O s a c h i r á u s   s ã o   c o n d u z i d o s p a r a   a   m a l o c a ;   m a s c o m o

h a g r a n d e s   d i s t a n c i a s

  a

  v e n c e r , -

 n ã o

  l e v a m - o s   i n t e i r o s ,

  m a s

s i m

  e m

  q u a r t o s

  m o q u e a d o s

C h e g a n d o

  a o s

  q u a r t é i s , s e

p a r a m

  a s

  c a r n e s

  d o s

 o s s o s

  e

  m e t t e m   e s t e s ,   d e p o i s

  d e b e m

l i m p o s , d e n t r o

  d e u m

  c e s t o  c h a m a d o

 achiráu-irupd e

  g u a r

d a m n o s m e s m o s   q u a r t é i s .

D e p o i s

  d e

  v o l t a r e m t o d o s

  o s

  g u e r r e i r o s p a r a s u a s   m a l o

c a s ,   e

  c u r a d o s

  o s  f e r i d o s ,

  c e l e b r a - s e

 a

  f e s t a

  d a s r e c o m p e n

s a s

 

E m

  c e r t o d i a d e t e r m i n a d o ,

  r e u n e m - s e

  e m u m a m a -

l o c a

  t o d o s

  o s  m u n d u r u c u s ,

  p a r a a s s i s t i r e m

 a o

  f a b r i c o

  e

r e c e b e r e m

  o

 pariudte-ran  1 ) ;

  q u e

  c o n s i s t e

 e m u m a

  c i n t a

d e i   t / 2 p o l l e g a d a

 d e   l a r g u r a , t e c i d a  d e   i o

  e a l g o d ã o ,   t e n d o

n a p a r t e

  i n f e r i o r

  u m a

  f r a n j a

  f e i t a   c o m   t o d o s   o s   d e n t e s   d e

u m a

  q u e i x a d a i n i m i g a . D e p o i s

  d a

  c h e g a d a

  d e

  t o d o s

  o s

m u n d u r u c u s ,

  o

  t u c h á u a

  o r d e n a

  u m a

  g r a n d e

  c a ç a d a ,

  a f i m

d e   h a v e r c o m e s t i v e i s p a r a

  o s

 c o n v i d a d o s .

  N a

  n o i t e d e s s e

m e s m o

  d i a ,   c o m e ç a

  a

  c o n f e c ç ã o

  d a

  c i n t a ,

  q u e é

  p r i v a t i v a

d o s t u c h a u a s .

E m q u a n t o   e s t e s t e c e m

  a s

  c i n t a s ,

  o s

 i n d i o s a r r a n c a m

  o s

d e n t e s

  d a s

  m a x i l l a s

 d o s

 i n i m i g o s

  q u e

  t r o u x e r a m , l u s t r a m ,

e f u r a m ,

  c o m o

  d e n t e

  d o

  p e i x e  rd-chéua

o u

 rubd

n a

  l i n g u a

g e r a l .

E m q u a n t o

  u n s

 f u r a m

  o s

  d e n t e s , o u t r o s l u s t r a m

  e o u -

t r o s ,

  p a s s a m   a o s t u c h a u a s ,   q u e ,   p a r a c a d a d e n t e

  q u e

  p r e n

d e   á

  c i n t a

  t e m u m

  c a n t o ,

  o u u m a

  q u a d r a

  e m q u e

  d e s p e r

t a

  o s

 b r i o s

  d a

  m o c i d a d e ,   l e m b r a

  a o s

  m a i s v e l h o s

  o s

  s e u s

s o f f r i m e n t o s   e m   c a m p a n h a s

  p a s s a d a s

  e

  m o s t r a

  q u e n ã o s e

d e v e m   e s q u e c e r

  o s

 e x e m p l o s

  d o s

  s e u s m a i o r e s ,

  e

  c o n t i

n u a r

  o

 e x t e r m í n i o

  d e

 s e u s i n i m i g o s . P i n t a m

  a

 v i n g a n ç a

  c o m

c ô r e s   s e d u c t o r a s ,  e  f a z e m   v e r  q u e   p a r a c a d a   i r m ã o m o r t o   é

n e c e s s á r i o

  u m a

  c a b e ç a   i n i m i g a

  q u e

  s i r v a   p a r a   r e c o m p e n

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  147 —

Uma quadra, pude alcançar ouvir, e aqui refiro:

Béque

  bequiqui capipim

  otêgê .

Ochê

 urupanum

 rãne

 egê,

Ochê urubê  am aum egê.

Beque mum  ochê  capicape nansum. 1)

Durante

 o fabrico destas cintas, toda a

 tribu

 assiste as

sentada e nua, em roda dos

  tucháuas porém logo

 que fi

cam

  promptas, levantam-se

  todos

  e se dirigem

  para

  os

quartéis

 onde

 vão tomar as vestes da festa,  para assistirem

á

  cerimonia da

 distribuição

 dos

  prêmios

 aos feridos.

Antes de continuar a  descripção desta cerimonia, con

vém descrever o  vestuário da festa.  Ornam a  cabeça com

o  aquiri-aá uma

  espécie

  de coifa, tecida de

  algodão

 com

pennas do corpo de

  arara

de maneira que externamente

fica

 como

  que avelludada, emquanto que por dentro só

apparece o tecido de

  algodão.

Desta coifa, da

 altura

 das orelhas

  para traz,

 pende uma

espécie

  de babado de duas ordens de pennas, da cauda da

mesma

 arara

 unidas umas ás outras e enfeitadas na extre

midade inferior com pennas  miúdas de côr differente que

encobre o

  pescoço.

Pelos furos superiores das orelhas passam duas rozetas

igualmente de pennas. Cingem na cintura o  tempê-á que

é  uma banda feita  como  aquiri-aá isto  é, a parte que se

aperta

 á cintura é feita de pennas

  miúdas

 e delia pendem

quatro  divisões de pennas compridas, unidas e enfeitadas,

que correspondem, duas aos lados e duas á frente e costas.

Passam  a tiracollo carurape que é uma facha de pennas,

terminada  por uma grande rozeta, e ornam os hombros

com o  báman ou dragonas de cachos de pennas  m iúdas ;

os pulsos com as  ipê-á ou pulseiras; e as curvas das

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encobrem  as canellas enfeitadas com cascas de fruetos

para chocalhar. Nos tornozellos também

  levam

 o  caniubi

rie que é uma  liga  de pennas miúdas fechada por uma

rozeta.

Geralmente as pulseiras e dragonas e ligas são de pen

nas pretas de

  mutum

  e o resto do  vestuário  de

 pennas

azues e encarnadas.

Levam

  uns arcos enfeitados de pennas irarê;  outros

lanças

btcacá-ipê e outros uma espécie de sceptro putá

feito

 das

 pennas

 mais longas da cauda da arara unidas as

pontas por uma rozeta e enfeitádas com

 pennas

 miúdas na

parte que prende a uma flecha em que seguram.

Assim

 vestidos abrem alas por entre as  quaes passam

os feridos nús com os cabellos crescidos cahidos pelas

costas para ir receber o prêmio da sua bravura.

Estes

 desde

 que chegam da guerra

não

 trabalham nem

cortam os cabellos. Chegando estes junto aos tuchauas de

pois de uma pequena allocução recebem as cintas que pelos

mesmos tuchauas são amarradas. Depois de assim pre

miados tantos feridos quantas  foram as cintas preparadas

são premiadas também tres mulheres uma de cada familia

correspondente ás cores preta branca e encarnada que

como  irmãs  recebem por todos os mortos a recompensa

representando a

 viuvez

 de cada  familia.

Apresentam-se vestidas com o  collar  de dentes de ani

maes que

 neste

  dia todas trazem e com o carurape. Nas

mãos empunham dous putás:  um de um ancião outro de

algum morto.

Finda esta cerimonia os feridos recolhem-se

 logo

 para

as casas das

  familias

emquanto as mulheres vão dansar

e chorar cantando em roda das casas das familias dos mor

tos e na

 frente

 dos  quartéis nas divisões a que cada uma

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—  449 —

Durante esta dansa e canto, ha intervallos em que ser

ve-se

 a comida e a

 maniquêra.

  1)  Termina a festa, que

começa

  ás 6 horas da tarde, ao romper do dia  seguinte

pela cerimonia do  córte  dos cabellos dos feridos. Pela

madrugada  são os feridos conduzidos entre alas de guer

reiros,

  que ao som dos instrumentos, os vão levando

 para

o quartel, onde os tucháuas  os fazem assentar-se, cortam-

lhes os cabellos e

 vestem-os

  c<>m as roupagens de pen

nas,

  terminando por uma grande

  allocução.

Esta

  festa dura ás vezes oito dias, emquanto ha feridos

a  recompensar; entrando

  logo

 elles  no dia  seguinte  no

numero dos dansantes.

Assistem alguns guerreiros, com os  seus

 pariuá-á

e

toda a dansa e canto e ao som de um grande instrumento,

o

  caruquê

cuja  voz é medonha, e é

  feito

 de um tronco

de uma arvore de madeira leve, ocado,

  tendo

  por bocal

uma  raiz  rachada e igualmente ocada, presa a uma

  tra-

vessa na parte interna do tronco.

lém

  desta festa, celebram os Mundurucus outras

 fes

tas no

 correr

  do anno, mas não guerreiras : são as

 festas

dos animaes.

  Para

 elles, assim como para  toda a gentilida-

de,

  todos

 os animaes

 têm

 uma

 mãi

 imaginaria, como: a

 mãi

da

 anta, a mãi do veado, etc.

Depois de uma grande  caçada  fazem grandes dansas,

em que arremedam a voz dos animaes que festejam. Nessas

occasiões  não servem-se do vestuário de pennas, mas sim

de um especial. Pintam-se

  todos

  com o

  sêrd

ornam a

cabeça

  com o

 aquiri

que é um

 enfeite,

 que preso nos ca

bellos que conservam no alto da cabeça levanta dahi um

pennacho de pennas e cahe

 para

  os

  lábios

  um

 tecido

  de

foliolos

 de muruly, que assemelham-se na fôrma  a uma

grande espiga de milho.

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Cingem ao  pescoço  o ichu que é uma  espécie  de patro

na

 feita

  de grelos de  muruty  enfeitada de pennas, que é

amarrada nas costas. Nestas patronas

  levam

 elles peque

nos animaes

 comojabotys,

 periquitos,  çayú is etc.

São festas acompanhadas de grandes  l ibações  de  mani-

quera e cachiry.  Trazem o arco e a flecha de  caça  up) ás

costas, e a dansa é formada por uma grande  filia  de

  Mu n -

durucus de  m ão s dadas, levando os dous das extremidades

dons grandes

  torés

ao som dos  quaes  dansam fazendo

muitas  evoluções.

Assisti a uma dessas

 dansas

 e admirou-me a certeza dos

passos assim como o numero de  figuras.  Geralmente dan

sam

 formando circulo

e em todos os passos batendo

 muito

com  os pés. Quando  terminam  uma parte, batem todos

palmas e fazem uma vozeria  in fe rna l .

Além destas festas, celebram de tres em tres annos a fes-

ta  geral, ou do enterro dos ossos.  Os ossos  dos mortos em

campanha,

 como

 disse,

  são

 guardados no

 quartel

 por

 espaço

de tres 'annos; findos os quaes, depois desta grande festa

que dura um mez, estando elles sempre presentes, são met-

tidos

 dentro de uma  igaçáua e enterrados para sempre.

Nesta festa, vestem os mundurucus os seus  ves tuár ios

de pennas e os guerreiros desfazem-se dos  seus  pariud-d

ou

 penduram-os no quartel.

Quando morre algunrda t r i b u são vestidos com as suas

roupagens guerreiras e enterrados dentro de  casa.

Valentes como  são tornam-se covardes quando trata-se

do   Maraquemara.

  São

 muito

  supersticiosos e acreditam

em fei t iços. Nenhuma  molés t ia  para elles é natural, sem

pre é causada por  feit iço e ai daquelle, que fôr indicado

yelopagé como feiticeiro  ou maraquemara

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  151 —

l própria mulher e filhos são os primeiros a evital-o e en-

í regal -o á  v ingança .

O   curandeiro ou

 pagé

ás vezes vendo o máo

 effeito

 dos

seus  r eméd io s

para não se desacreditar trata logo de

suspeitar  fe i t iço. Então os parentes do doente ou morto vão

muitas

 vezes

 a malocas distantes onde mora o maraque

mara dizem ao  t u c h á u a  a que fim vão e partem ao en

contro da v i c t im a .  Não o ferem como guerreiros mas sim

por meio de

 enganos  apossam-se

  das

  armas

  da

  v ic t ima

e

 en tão l ançam -se sobre

  ella

arrastam-a

 para o campo e

ahi  a reduzem a cinzas.

A

  v ict ima  que tem a  consciência  de si nunca foge em

bora

  seja

  aconselhado por algum amigo para

  fug i r af im

 de

evitar

 a morte.

  Não

 crê que o matem embora veja

 sempre

o exemplo e tenha sido mesmo ás

 vezes

 instrumento

  desta

scena

 da barbaria. Conheci um t u ch áu a que assim morreu.

Não

 nos devemos admirar

  destas  ab e r raçõ es

  do espirito

humano

destas  c renças  selvagens

porquanto ha um sé

culo ainda a velha Europa condemnava á morte os

 seus

feiticeiros.

Outro uso ainda selvagem é o das mulheres cortarem a

dentes

  o

  cordão um bil ical

  das

  c r ianças

 quando  nascem.

Este

 processo ainda approxima o homem do bruto.

Algumas

 malocas hoje já vão

  recebendo

 a luz da

  c iv i l i

zação ; já o uso de roupa e  armas de fogo vai  sendo  in t ro

duzido mas quasi nenhuma pratica de

  rel igião infelizmen

te existe. Alguns

  regatões

 que com elles

  traficam

só têm

em vista aproveitar-se de

 seus

  serviços e

 de

  seus

  recursos

pervertendo e não educando.

Terminando

 este

  tosco trabalho cunupre-me dizer que

os

 recursos

 que offerece o formoso e rico

  Tap a jó s

com os

seus  milhares de  b raços ind ígenas promette um futuro

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