+ All Categories
Home > Documents > Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento...

Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento...

Date post: 20-Apr-2021
Category:
Upload: others
View: 0 times
Download: 0 times
Share this document with a friend
271
Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento de mapas e imagens UUB.
Transcript
Page 1: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento de mapas e imagens UUB.

Page 2: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de
Page 3: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

Anders Fredrik Regnell Médico, botânico e doador

Bo S. Lindberg

Page 4: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

Abstract Lindberg, B. S. 2019. Anders Fredrik Regnell. Médico, botânico e doador. 244 pp. Uppsala.

Anders Fredrik Regnell was the largest private donor to Uppsala University of his time, but he was born in great poverty by an anonymous servant girl in Stockholm 1807. He spent his first years as a fosterling, but at the age of six, his father brought him to Uppsala, where he was given the opportunity to study.

At the university, he studied botany for a few years, before entering medical school. After graduation and training as a doctor, he moved to Caldas in Brazil, which had a better climate for his weak lungs.

Regnell was regarded as a very skilled doctor and ran a lucrative practice. He invested his profits in plantations and he also became known as the money-lender of the district, lending money at an interest rate of up to 20%. As he was a bachelor without offspring, he soon began to donate his fortune to medical and botanical institutions in Sweden. When he passed away, his entire estate went to Uppsala University.

His main interest, however, was botany. From his arrival in Caldas in 1840, and up to his death in 1884, he collected plants. Many botanists visited him and stayed in his house for years. These plants are now exhibited in the Regnell herbarium at the Museum of Natural History in Stockholm. The herbarium holds more than 400 000 specimens and is one of the largest collections of South American plants in the world.

Regnell was considered a peculiar man by those around him and he had few friends. His confidant was Isak Gustaf Clason, a classmate from Uppsala. They never met in person after Regnell left Sweden, but they regularly exchanged letters up to Clason´s death in 1880. These letters were donated to the University library in Uppsala and have been used for this book.

© Bo S. Lindberg

Tradução Karin Ekström e Lavinia Machado Boman, através de subsídio do Fundo Vilhelm Ekman, Universidade de Upsala.

Page 5: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

Anders Fredrik Regnell. Quadro de autoria de Jean Hagen 1910 para a Academia Real de Ciências.

Page 6: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de
Page 7: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

Índice

 

A infância de Regnell ................................................................................. 11 

A morte do pai ........................................................................................... 14 

Padrasto e madrasta .................................................................................... 16 

A família paterna de Regnell ..................................................................... 18 A tia Britta Stina .................................................................................... 19 A prima Anna ........................................................................................ 20 A família Brattström .............................................................................. 22 A família Linnström .............................................................................. 27 

Família materna de Regnell ....................................................................... 31 

Anos escolares ........................................................................................... 35 

Amigos de juventude ................................................................................. 38 O sapateiro de Jerusalém ....................................................................... 48 

Botânico ou médico? .................................................................................. 54 

Viagens botânicas de Regnell .................................................................... 56 

Estudos médicos e Tese de Doutorado ...................................................... 58 

Faculdade de Medicina em Upsala ............................................................ 63 Instituição Anatômica e Regnellianum ................................................. 79 

O Instituto Karolinska ................................................................................ 84 

Empregos de Regnell como médico na Suécia .......................................... 93 

Saída da Suécia .......................................................................................... 96 

O Brasil na época de Regnell ..................................................................... 98 Chegada ao Rio de Janeiro e exame ...................................................... 99 Chegada a Caldas ................................................................................ 100 A família Westin ................................................................................. 102 A visita do Cônsul Geral Leonard Åkerblom ...................................... 106 

Page 8: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

Escravidão ........................................................................................... 110 

O solteiro solitário.................................................................................... 112 

Regnell como médico e farmacêutico ...................................................... 115 

Fontes termais e o clima em Caldas ......................................................... 122 As fontes termais ................................................................................. 122 Observações meteorológicas e topográficas ........................................ 123 

A biblioteca de Regnell ............................................................................ 125 

Contatos de Regnell em botânica na Suécia ............................................ 130 

Como botânico em Minas Gerais ............................................................. 133 

Visitantes em Caldas ................................................................................ 141 Johan Fredrik Widgren ........................................................................ 141 Christoffer Fredrik Jacobsson ............................................................. 142 Emil Sköldberg .................................................................................... 143 Gustaf Lindberg ................................................................................... 144 Per Widén ............................................................................................ 146 Salomon Eberhard Henschen .............................................................. 146 João Barbosa Rodrigues ...................................................................... 164 Hjalmar Mosén .................................................................................... 167 Albert Löfgren ..................................................................................... 175 

O herbário Regnelliano ............................................................................ 177 

A fortuna de Regnell ................................................................................ 179 

Doações para organizações oficiais ......................................................... 185 

Doações e subsídios a particulares não parentes ...................................... 187 

As doenças de Regnell e sua morte .......................................................... 197 

Prêmios durante a vida ............................................................................. 205 

O legado na Suécia................................................................................... 208 

O doador generoso ................................................................................... 211 

Túmulo no cemitério de Caldas ............................................................... 213 O antigo cemitério de Upsala .............................................................. 217 

Fontes e referências .................................................................................. 219 

O testamento de Regnell .......................................................................... 221 

Doações de Regnell para a Universidade de Upsala ................................ 223 

Page 9: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

O Regnelliano e o anatômico .............................................................. 224 Fundo regnelliano menor da Faculdade de Medicina .......................... 224 Fundo Regnelliano maior da Faculdade de Medicina ......................... 224 Fundos Regnellianos de reserva .......................................................... 224 Bolsistas de Regnell ............................................................................ 225 Fundo de pensão .................................................................................. 226 Fundo hospitalar .................................................................................. 226 Fundo de bolsa Regnelliano para estudantes de medicina .................. 226 Doações com fins botânicos e zoológicos ........................................... 226 

Outras doações para instituições em Upsala ............................................ 228 Bolsa Regnelliana para o centro acadêmico Upland ........................... 228 Sociedade de Ciências de Upsala ........................................................ 228 Sociedade upsaliense de medicina ...................................................... 228 

Significado de Regnell para a Universidade de Upsala ........................... 231 Valor das doações de Regnell para a Universidade de Upsala 2009 ... 232 

Doações de Regnell para a Academia Real de Ciências .......................... 233 1.  Destinados à botânica ................................................................. 233 2.  Doação de Anders Fredrik Regnell destinada à zoologia .......... 233 3.  Doação Regnelliana para a estação Kristineberg de biologia marinha em Fiskebäckskil ................................................................... 234 

Doações de Regnell para instituições médicas em Estocolmo ................. 235 Para o Instituto Karolinska .................................................................. 235 Fundo A.F. Regnell para a pediatria ou clínica Regnelliana no hospital pediátrico. .............................................................................. 235 Sociedade médica de Estocolmo ......................................................... 236 Sociedade Sueca de Medicina ............................................................. 236 Sociedade de entomologia ................................................................... 237 

Fundo Anders Fredrik Regnell na Sociedade Sueca de Medicina ........... 238 

Plantas nomeadas em homenagem a Anders Fredrik Regnell ................. 242 

Lista de pessoas........................................................................................ 248 

Índice de pessoas...................................................................................... 261 

Agradecimentos ....................................................................................... 269 

 

Page 10: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de
Page 11: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

11

A infância de Regnell

Anders Fredrik Regnell nasceu em 8 de junho de 1807 na Paróquia de La-dugårdsland ou Hedvig Eleonora, como é chamada hoje. Ele foi batizado no mesmo dia pelo Padre Uddén e recebeu o nome de Anders Fredrik. Dizem que a mãe era a empregada doméstica Britta Pehrsdotter, de 27 anos. A ma-drinha foi a "viúva Sofia Engelo, nascida Bergqvist, que ajudou no parto e com quem a criança está atualmente” como consta no livro de nascimento.1O nome do pai não consta e não foi possível encontrar Britta Pehrsdotter.

Figura 1. Livro de batismo de Anders Fredrik na Paróquia de Ladugårdlandet. (Arquivos da cidade de Estocolmo).

Não se sabe onde ele viveu durante seus dois primeiros anos, mas a partir de 1809 ele foi criado pelo seleiro Carl Bonne e sua esposa Anna Kajsa Åberg no sítio de Lilla Häggdal, Marielund, na Paróquia de Funbo, situado a cerca de 20 km a leste de Upsala.2 O casal tinha mais duas crianças sob sua guarda. O seleiro, que nasceu em 1760, morreu em 1811. Anna Kajsa era doente e não tinha condições de trabalhar e nos Registros Paroquiais não consta quem cuidou das crianças. Aos 6 anos de idade, em 1813, ele teve que se mudar para Upsala, para um pai que provavelmente nunca tinha encontrado.3

O pai, o até então desconhecido Anders Ringnell, havia se casado em 1812 com a viúva Christina Åkerberg, nascida Demin. Segundo as memórias

1 Paróquia de Hedvig Eleonora. Livro de nascimento e batismo CI:16, p. 209, criança no 68. 2 Paróquia de Funbo, Registro Paroquial 1802-1809, AI:6 p. 164. 3 Catedral de Upsala, Registro de mudança 1798-1814 B: I, p. 158.

Page 12: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

12

sobre Regnell, Christina era viúva do dono de um restaurante, mas no Re-gistro de Casamento consta apenas que ela era viúva.4 Recém-casados, An-ders e Christina moraram com Anders Fredrik na casa da viúva Catharina Berg na quadra Fågelsången.5 Anders Ringnell parece ter adquirido o negó-cio da viúva Berg6 e se tornado dono do restaurante, primeiro na casa da esquina entre a rua Drottninggatan e Stora Torget, depois em frente à Câmara Municipal, voltado para a rua Vaksalagatan. Na casa da quadra Fågelsången moravam também o zelador Johan Holmberg e família. Os filhos Johan Gus-taf e Karin Holmberg tornaram-se amigos de Anders Fredrik; eles aparecem mais tarde na história. Ringnell foi o padrinho de batizado de Karin.

Figura 2. Mapa do cen-tro de Upsala em 1855 pelo topógrafo Conde H. A. Taube. Na Stora Torget situavam-se o restaurante de Anders Ringnell e a Farmácia Scheele. Na parte supe-rior vê-se o jardim Linné e no meio ficava o observatório Anders Celsius. Junto ao rio, à esquerda no mapa, mo-raram Anders Fredrik e dois colegas durante o período escolar. Do ou-tro lado do rio vê-se parte da Catedral (Mapa do Arquivo Nacional de Upsala).

4 Ela tinha se casado em 1807 com o empregado da guarda do castelo, Magnus Åker-berg, mas este morreu em 1811, aos 57 anos de idade. 5 Catedral de Upsala. Registro Paroquial 1813, AIA: 5D p. 1. 6 Documentos que confirma a compra nos anos em questão, estão faltando.

Page 13: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

13

Anders Fredrik Regnell foi criado num ambiente único, pelo fato de três ci-entistas mundialmente famosos terem exercido sua atividade numa área ge-ográfica limitada. Cinquenta anos antes (1792-1786), a farmácia de Carl Wilhelm Scheele se situava na casa vizinha, junto à Stora Torget. Scheele havia descoberto não só o oxigênio, mas também o cloro, manganês, moli-bdênio, tungstênio e bário. Numa casa a 100 metros ao norte da rua Svartbäcksgatan ficava o observatório Anders Celsius (1701-1744). Celsius era professor de astronomia, mas ele é mais conhecido hoje pela escala de temperatura de 100 graus. Além disso, a 200 metros, na rua Svartbäcksgatan, o rei das flores Carl von Linné (1707-1778) tinha o seu famoso jardim, onde ele morou até sua morte. A casa de Celsius e o jardim de Linné ainda existem até hoje, enquanto que a casa de Scheele foi demolida na década de 1960.

Os Professores Per Hedenius7 e Carl Santesson, 8 em sua homenagem por ocasião da morte de Regnell, deram muitas informações que provavelmente tenham sido fornecidas por pessoas que se lembravam dele durante a moci-dade. Segundo eles, Regnell falou de sua madrasta com afeição durante toda a vida, embora ela raramente tivesse tempo de lhe dar o amor de que ele tanto precisava, devido ao intenso trabalho em seu restaurante. Essas pala-vras positivas foram talvez baseadas em narrativas orais, porque nas cartas preservadas não constam essas informações. Anders Fredrik não sofreu ne-nhuma privação material, mas ele não possuía um lar na acepção da palavra. Hedenius afirmou durante o memorial que nem às refeições o garoto encon-trava os pais, mas era encaminhado para uma sala no subsolo lotada de hós-pedes desconhecidos. Ele escreveu para o amigo Isak Gustaf Clason (veja sobre ele mais adiante) que, durante a vida escolar, ele morava na casa da viúva Borg (Berg?) à rua Ågatan, juntamente com dois colegas. 9 Até a dé-cada de 1950 era comum que meninos vindos de outros lugares do país mo-rassem como inquilinos10 ou, juntamente com seus irmãos, morassem em casa própria supervisionados por um parente feminino mais velho. Que um garoto da própria cidade de Upsala, tendo seu lar na quadra ao lado, morasse desta forma, é sem dúvida estranho.

7 Hedenius, Per: Till minne av Anders Fredrik Regnell. Upsala Läkareförenings förhandlingar 1884–1885, band 20, nr 4, 249–270. 8 Santesson, Carl: Minnesteckning över Anders Fredrik Regnell, Hygiea 1885, 17, p. 461–485. 9 UUB x285m1, 18/2 1845. 10 O melhor amigo de Regnell, Isak Gustaf Clason, de Furudal em Dalarna e todos os seus irmãos moravam como inquilinos em outras famílias durante longos períodos. Veja Hassel-berg, Ylva: Den sociala ekonomin. Familjen Clason och Furudals bruk 1804–1856. Acta Universitatis Upsaliensis. Studia Historica Upsaliensia 189, Uppsala 1998, p. 173.

Page 14: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

14

A morte do pai

O pai estava com frequência ocupado com trabalho fora de casa e conforme os testemunhos existentes, não se importava muito com o filho. Não se sabe se ele tinha outros filhos. Anders Ringnell morreu de acidente vascular ce-rebral em 1830, com apenas 46 anos de idade. O inventário não tinha sido encontrado por ter sido arquivado sob o nome de Anders Strangell, mas já foi reencontrado. Apesar de ser difícil de decifrar, lê-se:

No dia 15 de setembro de 1830 foi realizado pelo Conselho Municipal um registro legal avaliando o espólio da propriedade deixada pelo falecido esta-lajadeiro Anders Ringnell, que no dia 3 de julho, sem herdeiros, faleceu e deixou a viúva Christina Catharina.

O estalajadeiro Sr Ringnell e a viúva, através de um testamento conjunto no dia 9 de julho de 1819, estabeleceram que aquele que sobrevivesse ao outro teria pleno direito ao espólio e, após apresentação do referido ato, Madame Ringnell declarou o espólio como segue […]

O inventário foi assinado pelos comissários E. G. Schram11 e Eric Carlsson. O saldo era de 8125 riksdales.12 O pai e a madrasta eram, portanto, relativa-mente ricos. Anders Ringnell veio de uma família bem pobre e Christina Demin também não tinha herdado nada conforme o inventário de sua mãe em 1818. A fortuna foi, portanto, adquirida durante os pouco mais de 15 anos em que o casal manteve o restaurante. Conforme a lei daquela época, filhos fora do casamento não tinham direito à herança do pai, mas nada o impediria de escrever um testamento incluindo o filho. Ao contrário, quando Anders Fredrik tinha 12 anos, o casal se assegurou de que eles próprios dis-poriam da fortuna.

Regnell não parece ter tido problemas econômicos durante o período de estudo, portanto ou o pai lhe dava dinheiro, o que não é mencionado no tes-tamento, ou ele recebeu mesada do padrasto e madrasta até ele mesmo ga-nhar dinheiro como médico em 1832. Provavelmente ele pode juntar o sufi-ciente trabalhando como médico para a viagem a Caldas, no Brasil, em 1841 11 Schram, Claës Eric: Uppsalasläkten Schram, Stockholm 1926, p. 46. 12 BoU Uppsala RR FII:a 44 nr 437. O saldo 8 125 riksdales (moeda antiga sueca) equivale a 637 000 coroas conforme o Índice de Preços ao Consumidor de 2009, (Edvinsson, Rodney:

www.historia.se/indexprisjamforelse.ht). O inventário da sogra tem a designação BoU Upp-sala RR FIIa:38 nr 364.

Page 15: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

15

e para seu sustento até sua clínica começar a dar lucro. Uma carta enviada de Caldas em 1842 para o escrivão C. P. Carlmark, em Estocolmo, sugere que ele tinha dinheiro depositado numa caderneta de poupança e esperava receber dinheiro do padrasto.13

Regnell quase nunca mencionava o nome do pai nas cartas para a Suécia. Em 1874 ele escreveu uma carta para o seu amigo Isak Gustaf Clason que, numa caminhada pelo cemitério, tinha visto a lápide do pai e reagido à orto-grafia:

Quando entrei na escola secundária em Upsala, o velho escrevia seu nome como Ringnell. Eu devo ter esquecido de colocar o pingo no i nos meus ca-dernos ou escrito de forma que o professor tenha lido como um e, pois ele riscou a letra n acreditando que a primeira sílaba seria regn– e como eu não sabia ou não queria contrariar fui obrigado a escrever Regnell, mas o velho continuava escrevendo Ringnell, não Rignell.

Figura 3. O túmulo de Anders Ringnell no antigo cemitério de Upsala no verão de 2009. O texto diz: Aqui descansa o estalajadeiro Anders Ringnell, nascido em 22 set. de 1784, falecido em 3 julho de 1830. Foto Bo Lindberg.

13 UUB x285m1, 6/7 1842 (deve ser Johan Peter Carlmark, como é evidenciado na cor-respondência de Isak Gustaf Clason, x285m3, carta para Johan Peter Carlmark; nenhum C. P. Carlmark existia naquela época em Estocolmo no Registro Populacional).

Page 16: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

16

Padrasto e madrasta

Em 1831, após a morte de Ringnell, Christina Demin casou-se pela terceira vez com um comerciante varejista chamado Erik Pettersson, nascido em 1796. Ele ganhou então um padrasto que, com uma atitude pouco amigável e hostil, tornou sua vida ainda mais triste e fria, como Per Hedenius formulou durante o memorial de Regnell em 1885. Regnell escreveu em 1844 para seu colega Per Johan Hyckenström, que era médico em Upsala, se ele pode-ria controlar como estavam o padrasto e a madrasta.

No envelope ele também juntou uma carta aos padrastos e disse algumas verdades que eles desconheciam.14 Não se tem conhecimento do conteúdo desta carta, mas pode-se interpretar com “algumas verdades” que o relacio-namento com a madrasta não era tão idílico como os signatários das memó-rias sugeriam. Ele também pediu a Isak Gustaf Clason para visitar a madrasta e perguntar se ela gostaria de lhe escrever de vez em quando. Ele falou tam-bém sobre dar uma ajuda financeira à madrasta”. “não há como evitar que isto também beneficie Pettersson”.15 Pettersson fez inúmeros negócios imo-biliários fracassados e faliu em meados da década de 1850. O rico comerci-ante Gabriel Wilhelm Gillberg comprou então o terreno que Pettersson pos-suía na Stora Torget (provavelmente o que ele havia adquirido através do casamento com a madrasta de Regnell) e o casal pode desta maneira morar mais barato na fazenda de Gillberg em Stabby, um pouco afastada do cen-tro.16

Christina Demin faleceu de velhice em 1859 e foi enterrada ao lado do seu segundo marido Anders Ringnell. Regnell tinha dado a Clason a missão de levantar um túmulo para o pai no antigo cemitério de Upsala e ele queria que a madrasta fosse enterrada lá, mas sem Erik Pettersson.17 Isak Gustaf tinha pedido ao irmão Edward, que morava em Upsala, para visitar Petters-son e depois relatou:

No que diz respeito à cruz, parece que ele [Pettersson] não tem qualquer opi-nião a não ser uma inscrição, que implica que Ringnell e sua segunda (?)

14 UUB x285m1, 27/1 1844. 15 UUB x285m2, 23/3 1859. 16 UUB x285m1, 28/11 1853. 17 UUB x285m1, 15/3 1864.

Page 17: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

17

esposa estavam enterrados lá. Nós temos aqui um senhor de Dalarna que es-culpe em granito e já entramos em acordo com ele.18

Isak Gustaf escreveu a Edward:

No que diz respeito ao túmulo eu digo como o Finado Dumbom “quanto mais simples – mais fácil.”; com um adendo de que, “se por um lado o amigo Regnell está tão preocupado com a preciosidade, por outro lado acho eu que se deva levar em conta a posição social dos falecidos e por este motivo não escolher algo tão especial ou que chame tanto a atenção”. UUB x240 7/4 1864.

Regnell ficou sabendo através de carta de Pettersson que uma lápide já tinha sido colocada no túmulo do pai, mas que o nome da madrasta não constava nela. Uma lápide nova com o nome da madrasta já não era mais relevante, pelo que ele escreveu “eu estou menos interessado em uma nova e mais pro-penso à sugestão de Pettersson de doar uma quantia equivalente para fins beneficentes”.19

Erik Pettersson passou seus últimos anos no asilo para idosos Gubbhuset, localizado em frente ao Centro Acadêmico Upland na rua Sankt Johannes-gatan. Ele vivia em condições relativamente precárias e Regnell deu-lhe um pequeno auxílio financeiro até sua morte em 1878. O tesoureiro Johan Gus-taf Brunnberg, um velho amigo de Regnell e de Clason escreveu para este: “O velho Pettersson está agora morto e enterrado por sua conta ao lado da esposa no mesmo túmulo do velho Rignell”. 20 Não foi encontrado o inven-tário nem de Christina Demin nem de Erik Pettersson.

18 UUB x285m1, 31/1 1869. 19 UUB x285m1, 5/8 1869. 20 UUB x285m3, 23/3 1878.

Page 18: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

18

A família paterna de Regnell

Embora Regnell não tivesse família própria, mas somente parentes relativa-mente distantes (veja a árvore genealógica), ele sempre manifestou grande interesse em saber como eles estavam. Em quase todas as cartas de Isak Gus-taf Clason ele recebia notícias deles e, depois de ficar rico no Brasil, sempre perguntava por eles e ajudou-os durante toda a vida, enquanto viveram. Para se ter uma ideia de sua personalidade, o relacionamento familiar teve grande espaço no relato da sua vida.

O pai, estalajadeiro Anders Ringnell, nasceu em 1784 em Dragby, na pa-roquia de Skuttunge, algumas milhas ao norte de Upsala. Ele era filho do soldado Anders Olsson Rask e sua esposa Anna Larsdotter Lagerström. Os pais de Rask eram Olof Carlsson e sua esposa Stina Jansdotter. Anders Ols-son, com o nome de soldado Rask, nasceu em 1762 na paróquia de Gryta. Anders Rask tinha também uma irmã, Britta, nascida em 1768 em Ramsta. Ela mudou depois o seu nome para Björkman e casou-se com o açougueiro Lindström (veja a família Linnström). Havia mais dois meninos na família, mas não se conhece o destino deles.

O soldado Anders Rask está inscrito na relação de nomes do regimento de Upland, na companhia Bälinge número 38 no departamento de Dragby em Skuttunge. Conforme uma anotação de 1789, ele havia trabalhado 6 ¾ anos e sua altura era de 5 pés e 8 polegadas (mais o menos 172 cm). Existe informação de que ele foi preso no dia 24 de agosto de 1789, o que significa que ele foi um dos cerca de 170 homens do regimento de Uppland presos na batalha de Svensksund. A maioria dos presos foi levada, segundo a literatura, para a região do Mar Negro e com isso Anders Rask desapareceu da relação de nomes. No verão de 1791, 64 deles puderam voltar para a Suécia, mas Rask não estava entre eles.21

Anders Rask e Anna Lagerström tiveram mais uma criança, a filha Britta Stina, nascida em 1787, irmã do estalajadeiro Anders Ringnell e mãe da” prima Anna” ou ”da velhinha Anna”, cujo nome reaparece muitas vezes nas cartas recebidas e enviadas de Anders Fredrik Regnell.

21 Mensagem do Arquivo de Guerra ref. Rask 422-2010/57 através do arquivista Bo Berg.

Page 19: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

19

Figura 4. Árvore genealógica de Regnell, a partir de seu bisavô Olof Carlsson.

A tia Britta Stina Britta Stina Andersdotter casou-se em 1809 com o fazendeiro e guarda rural Jan Fredrik Lundberg, estabelecendo-se em Storbyn, na Antiga Upsala. Ini-cialmente, o policial era bem-conceituado no lugarejo, mas com o tempo ele foi ficando cada vez mais esquisito e acabou sendo internado em 1850 no Hospício de Upsala, onde faleceu em 1859. Britta Stina viveu sozinha em Storbyn, falecendo pobre e inválida em 1857.

O casal teve quatro filhos: os três filhos Jan-Erik, Matts e Anders, ao que parece, faleceram bem novos. A filha Anna Lundberg, que era a mais velha, nasceu em 1814. A esposa de Anders Ringnell, Christina Demin de Upsala, foi uma das madrinhas de batismo.

Page 20: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

20

A prima Anna Anna casou-se em 1835 com o fazendeiro e cavalariço Erik Jansson, nascido em 1803 na Antiga vila Upsala. O pai de Erik era jurado leigo no Tribunal Distrital, um homem de confiança. Os pais eram relativamente ricos e dei-xaram várias fazendas como herança para Erik e os irmãos. Erik apresentou bem cedo problemas com álcool. O irmão, Matts Jansson, jurado leigo no Tribunal Distrital, escreveu para a primeira reunião do tribunal do distrito de Vaksala, no dia 28 de maio de 1839,22 que Erik abusava de bebidas fortes:

Pelo fato de Erik receber cerca de 40 barris de grãos de suas propriedades em Nyby e Bredåker em rendimentos anuais e, além disso, ele mesmo cultivar a metade de um terreno na Antiga Upsala, a contribuição anual de Jan Jansson, o irmão de Matts que era juridicamente incompetente poderia ser perdoada – mas este não é o caso, infelizmente.

O vice pastor Olof Fredrik Elgklo testemunhou que Erik não tinha estado sóbrio durante toda a primavera e que não havia cuidado do plantio apesar das advertências do padre. Matts solicitou que o Tribunal Distrital (áreas rurais) “colocasse Erik e a esposa Anna Lundberg sob um tutor para que Erik não destruísse a bela propriedade que ele herdara do pai”, o que também foi a decisão do Tribunal Distrital. Erik teve ainda que pagar por embriaguez. Ele faleceu sem filhos, de febre, em 1852. No livro da paróquia, Anna foi considerada desonrada.

Anna continuou morando em Nyby, na Antiga Upsala e depois de algum tempo ouviu falar da fortuna e das doações do primo Anders Fredrik Regnell. No ano de 1868 Regnell escreveu para Clason que “recebera uma carta de uma Anna Lundberg, que, conforme informação própria e da certidão de nascimento seria prima dele.”23 Ela vivia em circunstâncias precárias e pedia ajuda. Ela já tinha escrito uma vez para Regnell quatro anos antes, através do Professor Glas, que também lhe emprestara 100 riksdales (antiga moeda sueca), mas Regnell afirmava nunca ter recebido nenhuma carta. Anna não tinha como pagar de volta os 100 riksdales. Regnell pediu a Clason que, por enquanto, desse a ela 100 riksdales através do Conselheiro Municipal Hens-chen, pai de Salomon, que na ocasião estava em Caldas em casa de Regnell, mas que entregasse parceladamente, “pois se for verdadeiro o que Erik Pet-tersson me escreveu, de que Anna Lundberg toma umas doses, não é acon-selhável dar uma grande quantia de uma vez”. Clason também pagaria a Glas os 100 riksdales que ele havia emprestado a Anna.

22 Tribunal Distrital de Vaksala AI:40. 23 UUB x285m1, 28/11 1868. A formulação é algo surpreendente, porque ele, em uma carta 11/12 1872 (UUB x285m1) escreveu que Anna residiu dois anos na casa de seus pais.

Page 21: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

21

Clason, que então morava em Falun, entrou em contato com seu velho amigo, o ecônomo agrícola em Upsala e lhe pediu para examinar se Ana necessitava de mais ajuda. Brunnberg escreveu para Clason:

Foi uma amizade original que você me arranjou na prima de Regnell, que todos os dias me visita com a mesma ladainha sobre suas necessidades e a situação precária de sua habitação.24

Brunnberg pediu para ver o Contrato de Benefício de Anna e pode constatar que ela poderia sobreviver com ele; ela recebia 7 ½ barris de grãos e diversas outras regalias.25 O dono do terreno também tinha a obrigação de manuten-ção da moradia. Brunnberg continuou:

Às vezes fica meio apertado para ela, mas de vez em quando ela vive razoa-velmente bem e mantém um relacionamento com um galanteador no Statt.

Brunnberg repreendeu Anna pelo seu relacionamento com homens e ela pro-meteu que ele nunca mais ouviria falar sobre isso – ela temia que o fato chegasse aos ouvidos de Regnell.26 Brunnberg a considerava insuportável, com suas conversas, suas lamúrias e sua incontável necessidade de dinheiro. Ele achava que ela não deveria ser sustentada, mas sim mantida no limite da fome para que se abstivesse de umas e outras. Clason foi da mesma opinião depois de receber o relatório de Brunnberg:

[NN] diz ademais que às vezes ela bebe a aguardente dele em (ilegível na margem da carta) e convida os fazendeiros que passam, descaradamente, para desgosto das esposas deles. Parece não existir nenhuma honra nesta sua pa-rente e ela não merece muita ajuda.27

A casa, no entanto, estava em condições miseráveis com respeito a paredes, chão e telhado. O dono da casa confessou que tinha obrigação de corrigir os defeitos, mas por ocasião da compra do imóvel, ele havia recebido mais um dependente e ficou com muitas dívidas, sem condições de efetuar reformas dispendiosas. Brunnberg recebeu inicialmente 100 riksdales de Regnell para consertar os defeitos, depois mais dinheiro em diferentes ocasiões para Anna; entre outras, ”ela recebeu 40 riksdales para comprar um casaco, um vestido preto, um xale e luvas para poder frequentar a igreja decentemente vestida”.28 24 UUB x285m3, 20 abril e 22 junho 1870. 25 Costumava-se escrever um Contrato de Benefício quando um proprietário vendia ou cedia a fazenda para os seus filhos. Neste era estipulado que o vendedor ou os pais tinham o di-reito a moradia, alimentação e sustento durante suas vidas remanescentes. 26 UUB x285m3, 3/8 1870, carta de Brunnberg para Isak Gustaf Clason. 27 UUB x285m3, 9/6 1870. carta de Brunnberg para Isak Gustaf Clason 1972. 28 UUB x285m2, 12/10 1872.

Page 22: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

22

Anna recebia também uma ajuda regular, mas nunca estava satisfeita. Se-gundo Brunnberg, ela dizia:

Regnell que é tão rico e com tanto gosto doa seus bens para estranhos (deve se referir a outros) bem que poderia se lembrar de seus parentes mais próxi-mos.29

Em 1875, Brunnberg escreveu:

Toda vez que Anna faz uma visita, ela fala largamente sobre as grandes ri-quezas de Regnell. Não estou nada satisfeita com a generosidade dele para com estudantes, dizia e lamenta, na verdade discorda dele dar suporte para famílias desconhecidas, quando tem Anna em vida, que é sua parente e her-deira mais próxima.31

Brunnberg disse a Anna que ela deveria ficar satisfeita pela grande genero-sidade de Regnell e que ela não tinha direito de exigir nada. Ele também disse que se ela fosse muito exigente, Regnell poderia perder totalmente a vontade de ajudá-la.

Anna Lundberg viveu até 1892. No livro paroquial, após sua morte, está escrito na margem: “Parenta do falecido Doutor Regnell no Brasil. Desfruta de apoio financeiro da Universidade de Upsala através de recursos doados por Regnell”.30 Regnell havia organizado de tal forma que, após sua morte, a ajuda deveria ser paga pela Universidade através de juros dos recursos que ele havia doado e que, após a morte de Anna, os recursos fossem utilizados para o Jardim Botânico da Universidade.

A família Brattström Em 1845, Anders Fredrik Regnell escreveu para Clason sobre um colega de escola em comum cujo nome era Anders August Lindström, que tinha a pele clara e cabelo vermelho como fogo. Ele tinha dividido o quarto com ele e um outro colega durante dois anos, no tempo de escola, na casa da viúva Borg, num apartamento de dois quartos bem em cima do açougue na rua Ågatan.33 O pai de August era um açougueiro rico de Estocolmo chamado Anders Lindström e a mãe se chamava Britta Björkman. De acordo com a carta, a mãe de August era tia paterna de Anders Fredrik, mas na realidade ela era tia paterna do pai de Regnell (veja a árvore genealógica). Regnell ia com frequência para a casa de August durante as férias e ele passava o natal lá, por exemplo. August tinha também uma irmã mais velha, Charlotta:

29 UUB x285m3, 25/4 1875. 30 Paróquia antiga de Upsala, Husförhörslängden 1891–1895 AI:24 p. 139.

Page 23: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

23

[…] quando além do mais existia na casa uma filha da minha idade, com a qual eu me simpatizava, você deve se perguntar se depois de 24 anos eu ainda penso com saudade do tempo que se foi e particularmente se me interesso pelas pessoas mais importantes daquela época.31

Interessante é que Regnell, quando ia realizar sua longa viagem para o Bra-sil, escreveu um testamento, para o caso de vir a falecer. Este foi escrito no dia 24 de setembro de 1840 com Charlotta e seus filhos como beneficiários (o padrasto e a madrasta nem eram mencionados). Ele também deu a Char-lotte uma procuração para que pudesse fazer saques da caderneta de pou-pimediatamente instalar janelasança que ele havia deixado (veja o capítulo Saída da Suécia). O testamento foi testemunhado pelo Secretário do Consu-lado P. Pettersson e o Comissário de bordo E. Stramowitz e foi enviado para Clason para ser guardado até Regnell regressar. Para Clason ele escreveu:

[…] esta é minha última preocupação; e agora me entrego tranquilamente ao mar selvagem com a certeza de que cumpri todos os meus deveres e de que deixei minha causa em boas mãos.32

A filha mais velha de Anders Lindström e de Britta Björkman, Charlotta Lindström, nasceu em 1807 na paróquia de Johannes. Ela se casou em 1826 com o dono de mercearia Carl Wilhelm Brattström, que provavelmente tinha feito negócios ruins, porque em 1832 uma nota foi publicada nos jornais Post-e Inrikes de que ele havia entrado em acordo com os credores. 33 Nos últimos anos de sua vida ele arrendou a fazenda de Ålstens em Bromma. Brattström foi atendido por Magnus Huss no hospital Serafimer no período em que Regnell trabalhava lá.34 Ele faleceu em torno de 1837, mas não foi possível estabelecer data e local exatos.35 Após a morte do marido, Charlotta morou na casa dos pais juntamente com os filhos. Desde 1845 Regnell queria ajudar financeiramente Charlotta e seus filhos.39 Sua morte em 1846, de reu-matismo, conforme o atestado de óbito, foi um duro golpe para ele. Ele es-creveu para Clason:

A notícia sobre a senhora Brattström me doeu ao extremo. Nós fomos, como Você sabe, quase criados juntos na casa dos pais dela, onde passei os mo-mentos mais felizes da minha vida. Por esse motivo fiz a disposição que está em Sua custódia [o testamento], mas agora tudo acabou. Ficaram ainda dois filhos indefesos, como Você me contou. A mim me doeria se eles sofressem alguma necessidade, mas me comprometer com o sustento delas talvez não

31 UUB x285m1, 15/12 1846. 32 UUB x285m1, 24/9 1840. 33 Post-och Inrikes Tidningar 23/11 1832. 34 UUB x285m1, 29/4 1875. 35 Post-och Inrikes Tidningar 30/3 1837.

Page 24: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

24

seja a melhor coisa. Os parentes por parte de pai deveriam poder fazer isso, bem como o Sr L.36

Os dois mais velhos, Carl e Aurora, também chamada de Constance, foram considerados capazes de se sustentar (veja a árvore genealógica). Regnell estava disposto a dar uma pequena ajuda de 100 riksdales até que Clason pudesse dar maiores informações sobre a herança das crianças, agora órfãs, bem como sobre outros fatos. Ele escreveu também que o irmão de Char-lotta, o Tenente Linnström e o cunhado Brattström viveram de tal forma que arruinaram o açougueiro Lindström e com isso ele não deixou nada para a posteridade.

O filho de Carl Wilhelm e Charlotta, Carl Brattström, nasceu em 1827 na Paróquia da Catedral de Estocolmo. Primeiro ele tentou ser marinheiro, mas como Clason escreveu: “a tentativa de testar o mar parece que lhe ensinou uma lição”.37 Regnell deu-lhe dinheiro para fazer um curso de encadernador e ele se tornou encadernador em Gudmundrå, um pouco ao sul de Kramfors em Ångermanland. Uma das irmãs de Carl havia contado para Clason que Carl havia escrito para as irmãs e pedido 300 riksdales para se casar com uma moça rica. Se elas não lhe dessem o dinheiro, ele se suicidaria. ”Tudo mentira” escreveu Clason para Regnell38 e seis anos depois: ”Há muito tempo não tenho simpatia por ele e deixo a decisão com Você”.39 Carl não recebeu nenhum dinheiro nem de Regnell nem das irmãs, mas ele se casou assim mesmo com a rica filha de um fazendeiro Johanna Jonsdotter de Nora, na província de Västernorrlands. Durante muito tempo Carl ficou em des-graça com Regnell, mas em 1873 ele escreveu para Clason com respeito a uma discussão sobre subsídio:

[…] um excedente de 200 riksdales pode ser dado para o irmão delas [as irmãs Brattström], Carl, que já pagou caro o suficiente pelos 150-200 riksda-ler quando ele tentou dar o golpe há muitos anos, que resultou em que ele não recebeu nada, enquanto as irmãs receberam milhares de riksdales.40

Aos poucos surgiu a explicação do porquê Clason não tinha nenhuma sim-patia por Carl, quando Clason escreveu para Regnell e lhe contou que Carl havia escrito uma carta de oito páginas em que se arrependia de sua irres-ponsabilidade juvenil.41 Carl tinha tido uma hemorragia e estava com medo de morrer.

36 UUB x285m1, 15/12 1846. Com Hr L. refere-se provavelmente ao tenente August Linns-tröm. 37 UUB x285m2, 21/3 1850. 38 UUB x285m2, 21/1 1863. 39 UUB x285m2, 18/1 1869. 40 UUB x285m1, 23/6 1873. 41 UUB x285m2, junho 1874.

Page 25: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

25

Uma pessoa da região aconselhou-o a lhe pedir ajuda quando soube que Você era um parente distante, mas ele não teve coragem, até porque acreditava que eu [Isak Gustaf] pudesse impedir por causa daqueles antigos 150, que ele achava que estava me devendo. A história por trás disso era que ele iria res-gatar uma criança num orfanato, mas alguns anos depois ele encontrou a mesma mulher em Norrköping, que então confessou que ela o havia enga-nado e a outros com a mesma história. Ele agora reclama de que a informação falsa da necessidade de me devolver dinheiro tornou-se uma longa e persis-tente causa de vergonha para ele. Ele está casado com a filha rica de um fazendeiro, provavelmente contra a vontade dos pais e o relacionamento fa-miliar de uma forma geral não deve ser dos melhores. Ele teve sete filhos, dos quais três vivem, um de nove anos, um de 3 anos e meio e o último de apenas alguns meses de idade. Ele precisaria de uma máquina de encaderna-ção para poder melhor se sustentar como encadernador.

Regnell queria agora ajudar Carl, que corria o risco de ter que abandonar sua fazenda e escreveu para Clason:

[…] você pode comprar uma máquina de colar e a fazenda por 1 300 coroas e hipotecá-la, para que ele não se desfaça dela em caso de necessidade. Esses 1 300 devem ser considerados como doação.42

O filho mais velho de Carl e Johanna, Albin, nascido em 1866, também se tornou encadernador. Ele se casou com Stina Dorotea Ålin e teve no mínimo 5 filhos. Albin faleceu em 1935 em Kramfors. Carl e Johanna tiveram mais dois filhos. O filho Hans, nascido em 1872, está inscrito no livro paroquial de 1890–1900 entre os não encontrados. A filha Nicolina, nascida em 1874, faleceu com um ano de idade.

O encadernador Carl Brattström tinha uma economia ruim e havia caído em disputa com um comerciante da região, mas perdeu o processo e morreu miserável em Gudmundrå em 1878. Depois de sua morte, a esposa escreveu para Charlotta Lorichs, viúva de Isak Gustaf Clason, pedindo sua ajuda para conseguir auxílio de Regnell para poder pagar as dívidas. Através do irmão de Isak Gustaf, Edward Clason, que havia herdado a função do irmão como representante legal de Regnell na Suécia, ela conseguiu uma ajuda financeira temporária. No entanto, ela voltava insistentemente para pedir mais dinheiro ao gerente da fábrica em Graningeverken, Johan Erland Gavelius, que era conhecido da Sra. Lorichs e morava perto da viúva Brattström. Edward Cla-son escreveu em 1883 um atestado a pedido de Gavelius para mostrar à viúva quando ela exigisse mais dinheiro:

O apoio que o Doutor A. F. Regnell, que estava no Brasil, deu para a viúva de Carl Brattström através do gerente J. E. Gavelius foi totalmente temporá-rio e, na lista que me foi entregue pelo Doutor Regnell sobre as pessoas que, através dele, usufruem de auxílio econômico anual não se encontra registrado

42 UUB x285m1, 11/11 1874.

Page 26: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

26

e nem é mencionado o nome da viúva, pelo que nenhum pedido de auxílio financeiro em nome dela, segundo minha função como responsável pelos ne-gócios do Dr Regnell, será enviado ao gerente, Sr. Gavelius.43

Os outros filhos de Carl Wilhelm Brattström e Britta Björkman eram Aurora Constance, nascida em 1828, Sofia, nascida em 1830 e falecida solteira em 1902 e Charlotta Wilhelmina, chamada Mina, nascida em 1831 e falecida solteira em 1898. Depois que Isak Gustaf Clason se mudou para Estocolmo em 1868, ficou mais fácil ter contato com os filhos de Brattström. A filha mais velha, Constance Brattström, era governanta na casa de uma senhora de quem ela esperava um dia ser herdeira, o que não aconteceu. Em 1869 Clason escreveu uma carta contando o que havia acontecido com ela:

Constance Brattström chegou muito jovem à casa da idosa Sra. Ehrenhoff. Parece que, assim que ela faleceu, Constance conseguiu também outro em-prego – porém logo ela se deixou convencer e foi gerenciar a casa do filho solteirão da nobre velha, o oficial Ehrenhoff44 – que isso não ia dar certo, minha esposa logo percebeu, especialmente porque Eh. era conhecido por sua falta de responsabilidade – e assim foi, aos trancos e barrancos-parece que tiveram 3 filhos juntos, dos quais dois ainda vivem, todos abandonados num orfanato. Ela foi, entretanto, fiel ao marido e ele mostrou a ela um tes-tamento de 8000 rd (riksdales) em capital e mais outros bens -com o que ela se considerava relativamente bem sustentada. Entretanto, o Sr. Oficial está no momento à beira da morte e por influência dos parentes ricos o testamento foi modificado de tal forma que ela agora só receberá da família o total de 400 riksdales por ano. Foi através de Sofie e de Mina que eu agora fiquei sabendo de tudo isso – quando elas vieram aqui desesperadas e me consul-tado se nada poderia ser feito legalmente. Eu lhes pedi que convencessem Constance de que 400 rd também é dinheiro, que muitas esposas honestas têm menos – e se ela não está acostumada com nenhum trabalho que não seja o serviço doméstico, o melhor é ser submissa e agradecida pelo que ela re-cebe, não se queixar de ingratidão e não colocar toda a culpa nele, pois ele poderia facilmente deixá-la sem um tostão, uma ameaça que ele teria feito no começo do relacionamento caso ela não se deixasse dominar. Pobre menina, que nenhum apoio dos pais tem – são relativamente muitas as que passam pela mesma experiência de Const. Br.49

Regnell nunca comentou o destino de Constance nas cartas para Clason. As irmãs Brattström mais novas tinham necessidade de auxílio, pelo fato de es-tarem doentes e terem dificuldade de se sustentar e receberam ajuda a vida toda. Com o amor de irmãs, nos últimos anos elas dividiam com Constance a ajuda que recebiam. Sofie Brattström e Isak Gustaf Clason tinham, se-gundo o que ele escreveu, travado uma longa batalha discutindo se Cons-tance deveria receber ajuda ou não. Numa das últimas cartas de Clason para

43 UUB x285m3, 27/5 1883. 44 Constance era, conforme o recenseamento de Estocolmo de 1867-empregada do Ofi-cial Gustaf Ehrenhoff e morava na parte superior da estrebaria.

Page 27: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

27

Regnell ele escreveu, entretanto, que seria justo que todas as irmãs recebes-sem a mesma quantia e pediu a Regnell que concordasse e que também de-clarasse que ela teria direito a uma ajuda permanente dos fundos de Regnell após sua morte.45 Ela faleceu em 1910 e no inventário consta que ela tinha uma pensão do fundo Regnelliano.46 Não se sabe o destino dos filhos que ela teve com o oficial Ehrenhoff.

A família Linnström August Lindström, irmão de Charlotta, nasceu na Paróquia de Johannes em Estocolmo em 1810 e era colega de classe de Clason e Regnell na Kate-dralskolan em Upsala. Regnell escreveu para Clason:

Você se lembra de que Lindström ficou famoso na escola – criando o grande collegium scolasticum, o primeiro depois da ordem escolar –Deus permita que seja o último. Ele também fez o cabelereiro tingir de preto seus cabelos cor de fogo.47

Esta opinião e sua vida posterior sugerem que ele era menos comportado na escola, mas apesar disso ele recebia nota A em comportamento e nada de negativo foi anotado no relatório do Corpo Docente da Katedralskolan, ou do collegium scolasticum, como se chamava naquela época.

August foi inscrito como estudante em 1824, com 14 anos de idade, no Centro Acadêmico Estocolmo em Upsala com o nome de Lindström, que ele depois mudou para Linnström. Ele interrompeu seus estudos na Universi-dade e escolheu a carreira militar; ele tornou-se Segundo Tenente no Regi-mento Livbeväring em 1829 e Tenente em 1837. Casou-se em 1834 na igreja Klara com Sofia Iserhielm, filha do Juiz da Suprema Corte Carl Johan Iserhi-elm e de sua esposa Lovisa Gustafa von Köhler.

August Linnström foi, durante algum tempo, arrendatário da fazenda Söder Eke na paróquia de Lista em Södermanland, onde a filha mais velha Britta Lovisa Augusta nasceu em 1835. Entre os padrinhos estavam o Doutor Regnell e vários parentes nobres da mãe. Ela faleceu solteira em 1894 na freguesia de Klara.

O filho Hjalmar Linnström nasceu em 1836 na freguesia de Klara. Ele escreveu para Isak Gustaf Clason em 1863 que as irmãs estavam doentes e não podiam se sustentar.48 Ele queria também abrir uma livraria e pediu ajuda a Regnell através de Clason, tanto para as irmãs como para seus próprios negócios. Caso Regnell fosse se lembrar dele no testamento, era melhor que

45 UUB x285m2, 29/5 1880. 46 Arquivos da cidade de Estocolmo: BoU 1910–39-no. 47 UUB x285m1, 18/2 1845. 48 UUB, x285m4, 27/7 1863.

Page 28: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

28

ele desse o dinheiro agora, quando era necessário. Regnell emprestou-lhe 15 000 coroas, mas escreveu para Clason que tinha dúvidas sobre fazer negó-cios com Hierta, que era então dona da editora. “Se a ideia de Linnström é boa, a própria Hierta deveria apoiar, mas se é ruim ou aventureira deve ser abandonada”.49 Aos poucos Hjalmar pagou sua dívida. Pode-se ler sobre Hjalmar no Dicionário Sueco biográfico de bolso55 “que ele foi empregado do livreiro L. J. Fritze em Estocolmo de 1853 a 1862 e que se graduou no ensino médio em Upsala em 1860. Ele cuidou dos negócios da editora de L. J. Hierta de 1862 a 1871, assumindo-a em 1871 e dirigindo-a até que foi à falência em 1884. Entre os livros da editora destacam-se Uppfinningarnas bok (O Livro dos Descobridores) de 1872 a 1875, Världslitteraturens histo-ria (História da Literatura Mundial) de 1875 a 1876, Andersens sagor och berättelser (Sagas e Contos de Andersen) de 1878 e Sveriges historia från äldsta dagar till våra dagar (A História da Suécia dos tempos antigos até nossos dias) de 1877 a 1881. Entretanto, ele é mais conhecido hoje pelo livro Svenskt boklexikon (Dicionário Sueco) de 1830 a 1865, que foi publicado de 1865 a 1881. Os custos dessa publicação causaram-lhe a falência. Nos ne-crológios por ocasião de sua morte em 1914 consta que o Tesouro Nacional lhe dava uma pequena pensão por suas contribuições culturais. Ele foi cha-mado de um dos editores mais interessantes de nosso país e o autor mais abrangente de nossa obra bibliográfica. Hjalmar casou-se em 1886 com Hulda Maria Elisabet Svahn, que faleceu em 1890, sem filhos.

O Tenente August Linnström mudou-se em 1838 para a fazenda real Bråberg, na Paróquia de Dagsberg em Bråviken, como arrendatário. Aí nas-ceram os filhos Jenny Antoinetta Sofia em 1838, que faleceu solteira em Klara em 1886, Anders Robert August nascido em 1839, Henrietta Emilia, nascida em 1840 e falecendo muito cedo, bem como a irmã Antoinetta Te-rese, nascida em 1842. A filha Ebba Eleonora Carolina Hortensia Julia, nas-cida em 1843, morreu afogada durante o banho alguns meses após a morte da mãe em 1862.

August Linnström foi primeiro Tenente na linha de frente do quinto bata-lhão dinamarquês de 1848 a 1849. Ele participou, dentre outras, da batalha de Dybböl e Gudsö, onde ele se destacou e tornou-se cavalheiro de Danne-brogen. Ele foi demitido do exército sueco em 1850. Quando seu pedido de reemprego no exército dinamarquês foi indeferido, ele se transferiu para o Serviço de Guerra de Schleswig-Holsteinsk e, ao lutar contra seus ex irmãos de armas, foi riscado da ordem maçônica. A transição para o lado inimigo foi motivo de grande interesse em ambos os lados da baía. Ele emigrou pos-teriormente para os Estados Unidos, onde entrou no exército e morreu na batalha de Bull Run em Virginia, a 30 de agosto de 1862.50

49 UUB x285m1, 14/8 1866. 50 Schöldström, Birger: Svenskarne under Dannebrogen 1848–1850. Stockholm 1903, p. 49.

Page 29: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

29

Em 1849, Isak Gustaf Clason escreveu para Regnell que a esposa de Linnström o havia procurado e perguntado quando ele iria escrever para Regnell; ela queria provavelmente ajuda, mesmo sem ter se expressado aber-tamente. Como Clason sabia que Regnell não queria ajudá-la por causa do marido ela não recebeu nada, mas mais tarde recebeu uma pequena ajuda através de um Notário Tham, de forma que Linnström não tivesse acesso ao dinheiro. Apesar disso, em uma ocasião, assim que Sofia recebeu o dinheiro, ela pagou uma hipoteca para ele. Clason escreveu em 1850 que ” Linnström anda pela cidade e faz [?]. Ele participou da guerra dinamarquesa, o melhor é que ele volte para lá”.51

O Sínodo diocesano de Estocolmo autorizou o divórcio entre Sofia e seu marido” perdido”, o Tenente August Linnström, no dia 3 de novembro de 1857.52 Sofia Iserhielm faleceu em 1862. No inventário53 consta que ela era a ex-esposa do Tenente Anders August Linnström. Os bens existentes eram insignificantes. Consta no inventário que o filho Anders Robert August se encontrava em local desconhecido e não se tinha notícias dele. Apesar de Clason ser responsável pelos pagamentos e pelos empréstimos ele não co-nhecia os filhos de Linnström e o que sabia é que Hjalmar era trabalhador e diligente. “Quanto às meninas, creio que elas herdaram da mãe um pouco da altivez da nobreza”.54 Segundo se sabe, os filhos de August Linnström e So-fia Iserhielm não tiveram descendentes. Enquanto August Linnström e Sofia Iserhielm estavam vivos, Regnell achava que os parentes nobres de Sofia poderiam fazer algo pelos filhos.55 Por ocasião das discussões sobre seu tes-tamento em 186356 ele escreveu que, como não sabia nada sobre os filhos de Brattström e Linnström, ele não os mencionaria no novo testamento que ti-nha sido obrigado a escrever, pois o testamento anterior havia desaparecido. Ele pediu a Clason que, se ele não tivesse outras notícias sobre eles antes de sua morte, que cada um recebesse conforme as necessidades, em primeiro lugar os Brattström. Eles receberiam ajuda proveniente dos juros do fundo de capital de Regnell enquanto vivessem. Posteriormente, o fundo passaria para a Universidade de Upsala. Os filhos de August Linnström vinham em segundo lugar e Clason escreveu em 1869: ”parece que Você não quer ter

51 UUB x285m2, 21/3 1850. 52 Stockholms domkapitel 1857, protocolo AI:207 § 4. Sofia solicitou o divórcio na Câmara municipal de Estocolmo em 1856. Ela motivou o seu pedido pelo fato do Tenente August Linnström já no ano de 1850 ter abandonado o país de nascimento sem fornecer o local do seu paradeiro e, (portanto), com maldade e má vontade tê-la abandonado e a seus desprotegi-dos seis filhos.(Arquivo da Câmara Municipal de Estocolmo, departamento 3, protocolo nr 88, 8/5 1856). 53 Arquivo da Biblioteca da Cidade de Estocolmo, Inventário 100107-0938. 54 UUB x285m2, 18/1 1869. 55 UUB x285m1, 21/2 1854. 56 UUB x285m1, 18/4 1863.

Page 30: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

30

nada a ver com os filhos de Linnström!” 57 Jenny Linnström, que era doente, recebia, entretanto, uma pequena pensão.

Regnell esperava que Clason, como um último favor em nome da ami-zade, assumisse a tarefa de dividir a ajuda conforme as necessidades e que Clason, em seu testamento, nomeasse alguém que pudesse assumir este pa-pel depois de sua morte, como por exemplo os padres das três paróquias juntas. Regnell não tinha coragem de colocar os Brattström e os Linnström como herdeiros, com receio de que as autoridades em Caldas tomassem para si a herança deles ou que o Governo brasileiro cobrasse vinte porcento da herança. Isto já havia acontecido com algumas pessoas que haviam recebido suas aposentadorias da rainha Amelie, Imperatriz D. Amélia casada com o Imperador Pedro I.58 Clason escreveu em uma ocasião que ele achava bom que Regnell mandasse todo o dinheiro para a Suécia, ”para que escapassem das garras dos aduaneiros brasileiros”. O risco seria menor se a Universidade fosse a herdeira, assim a herança que restasse no Brasil poderia ser vigiada pelos representantes oficiais da Suécia no país. Ele deixou, através de um codicilo autenticado dentro de um envelope lacrado para a Universidade, os regulamentos referentes às anuidades para os parentes.59 Após a morte de Regnell estas foram pagas, portanto, através da Universidade de Upsala.

Durante todo o tempo em que morou no Brasil, ele tinha interesse em saber como estavam e se preocupava muito com os poucos e distantes pa-rentes. Brattström e Linnström, bem como seus filhos, eram primos em se-gundo e terceiro graus, respectivamente e muitos deles ele sequer havia en-contrado.

57 UUB x285m2, 18/10 1869. 58 UUB x285m1, 30/11 1875 59 UUB x285m2, 3/2 1874. Um codicilo é uma cláusula adicional no testamento.

Page 31: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

31

Família materna de Regnell

Em meados de 1870, quando Regnell se tornou um homem rico no Brasil, o economista Brunnberg fez uma investigação sobre seu passado. Provavel-mente nem mesmo Regnell tinha conhecimento dessas investigações, tanto que Brunnberg escreveu para Clason:

Obrigado por Sua carta e a opinião que Você me deu sobre a carta de Regnell para o Conselheiro Municipal Holmberg. Suas últimas revelações sobre as investigações que realizei sobre a mãe de Regnell foram totalmente desne-cessárias, uma vez que eu ainda estou longe de chegar a uma conclusão de-finitiva e ele tinha ainda menos motivos para afirmar que eu tinha sido obri-gado a fazê-la. Todo o propósito da minha pesquisa tem sido de, caso a mãe de Fredrik tenha deixado algum parente próximo em condições precárias, in-formá-lo e, se for seu desejo, dar-lhe oportunidade de ajudar também, o que ele certamente faria, da mesma forma que ele ajuda os parentes por parte de pai.60

A prima Anna contou que a mãe de Anders Fredrik trabalhava como empre-gada na casa do Barão Sture em Marielund, Funbo, na mesma época em que Anders Ringnell era cocheiro lá e que ela havia falecido três anos após o nascimento da criança. O vice pastor em Funbo, Johan Sandén, procurou a mãe no Livro Paroquial a partir de 1802, a pedido de Brunnberg, sem encon-trá-la. Ele também perguntou a pessoas idosas na região se eles tinham al-guma lembrança de Anders Ringnell, encontrando então um idoso com boa memória que havia trabalhado quando menino como porteiro para os Senho-res Sture, naquela mesma época. Ele contou que se lembrava de que Ringnell ”se deitou” com uma empregada com o nome de Kristin e que essa empre-gada tinha viajado para Estocolmo para ter a criança que, a pedido de Ring-nell, foi acolhida na igreja juntamente com sua namorada. Por este motivo Ringnell teve que dar dinheiro para a empregada para poder casar-se com uma viúva em Upsala chamada Åkerman (deve ser Åkerberg). De onde essa empregada tinha vindo ou para onde ela tinha ido o velho não sabia. A mãe poderia muito bem ter trabalhado em Marielund, mas ser inscrita em outro lugar. Conforme o pastor Sandén, era comum nessa época que mulheres

60 UUB x285m3, 15/5 1876.

Page 32: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

32

como Kristin escrevessem seu nome como Catharina, que era considerado mais fino.61

O Conselheiro municipal Johan Gustaf Holmberg, que foi amigo de in-fância de Regnell, apareceu com duas cartas que ele havia recebido de seu pai, o zelador acadêmico Johan Holmberg, que é mencionado em uma das cartas. Não se sabe como Holmberg havia conseguido estas cartas. Elas es-tão hoje na coleção de cartas de Clason, no departamento de manuscritos da Carolina Rediviva.62 Uma carta era de Anders Ringnell para uma Demoiselle Mari C Schröder, em Estocolmo, datada de 16 de junho de 1812. Na carta Ringnell reclamava de Mari por ela tentar impedi-lo de se casar com Chris-tina Åkerberg, pelo fato dele já ter prometido casar-se com Mari. Ringnell ameaçou processar Mari diante do Tribunal, se ela não voltasse atrás na exi-gência de casamento. Ele prometeu também dar a ela de 30 a 40 riksdales para que desistisse das acusações.

A outra carta era de Maria Catharina Schröder dirigida a ”Meus Queridos pais e pais de criação” datada em Estocolmo no dia 6 de agosto de 1812. Citação da carta:

[…] como é de vosso conhecimento, Ringnell fez um compromisso matri-monial comigo com a promessa de que ele em sã consciência não voltaria atrás e isso ele não fez, mas contou para todos sem exceção, bem como tam-bém para o padre Widing em Ladugårdslandet […].

Ela continuou escrevendo que, na presença do zelador Holmberg e sua es-posa Helena, Ringnell lhe havia prometido casamento, tendo além disso dado a ela um anel de ouro e pedido ao ouvires Tunman que gravasse o nome de Maria e o seu próprio no anel.

No livro de avisos de casamento da Paróquia de Upsala no ano de 1812 não existe nenhuma anotação sobre algum impedimento contra o casamento, com o que ficou claro que Maria Catharina Schröder tinha ficado satisfeita com a compensação que ela recebeu para desistir de Ringnell. Ela não pode ser identificada. A viúva de um carteiro com o nome incomum de Maria Kristina Schröder faleceu em Upsala em 1836 com a idade de 72 anos. Ela deveria ter nascido em torno de 1764, mas é pouco provável que ela fosse a mãe de Anders Fredrik, porque, de acordo com o inventário, ela não tinha filhos. A Mari para quem Anders Ringnell escreveu em 1812 tinha tido um relacionamento com Anders, conforme a informação na carta e poderia ser a mãe de Anders Fredrik Regnell, ao qual teria dado à luz em lugar desco-nhecido, com pseudônimo. A favor desta hipótese existe o fato de que Mari menciona o Padre Widing como testemunha quando da promessa de casa-mento. Widing foi Padre de 1807 até 1818 na Paróquia de Ladugårdslandet,

61 UUB x285m3, 17/1 e 8/5 1876, carta de Johan Sandén para o ecônomo Brunnberg. 62 UUB x285m3, carta para Brunnberg.

Page 33: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

33

onde Anders Fredrik nasceu. No Livro de Nascimento, o nome fornecido como mãe é Britta Pehrsdotter, um nome muito comum e muito difícil de ser localizado sem outros dados, como por exemplo data e local de nascimento. Algumas provas seguras de quem era a mãe de Regnell foram impossíveis de se conseguir e com isso a esperança de encontrar algum parente se aca-bou.

Clason escreveu para Brunnberg que, pelas cartas de Regnell, era impos-sível saber se ele acreditava que Marie Schröder fosse sua mãe. Ele continua:

[…] se a tal Marie era uma bela camareira em Marielund, pode-se provavel-mente duvidar que o Pai” Ringnell” fosse realmente seu pai ou pode até ser que corre sangue nobre em suas veias.63

No Arquivo Regional de Upsala existe um livro escrito a mão onde se lê que

Anders Regnell, nascido em 1784 em Skuttunge, tornou-se cidadão no dia 5 de dezembro de 1814. Ele casou-se com uma camareira que trabalhava na casa do Barão Düben em Marielund e depois de um ano de casamento ela contou que tinha um filho, algo que ela até então havia ocultado e mencionou o patrão como sendo o pai. Regnell não aceitou mal ou desfavoravelmente esse segredo, ao contrário, logo levou o menino para sua casa. Quando Regnell faleceu, a viúva casou-se novamente com um comerciante de nome Pettersson, que foi muito duro e cruel para com o enteado. De tristeza e so-frimento, ele ficou doente e depois que se formou como Bacharel de Medi-cina, foi orientado pelos médicos a fazer uma longa viagem marítima. Assim o fez. Depois dessa viagem, Anders Fredrik Regnell jamais voltou para a Suécia, mas ficou morando na América do Sul, onde ele, através da ciência médica, conseguiu uma fortuna considerável. Seu lugar de residência en-quanto idoso é a Cidade de Caldas (Minas Gerais), de onde ele enviou uma doação de 30 000 coroas para auxiliar na construção de um pequeno prédio para a Associação Médica de Upsala. Da mesma forma ele deu 400 coroas como contribuição para o fundo Casa do Idoso e do viúvo (Burguesia Gubb-och Enkehusfond), onde seu padrasto, duro e desagradável, ficou internado durante muitos anos e ali terminou seus dias.64

Na fazenda Marielund, em Funbo, no início da década de 1800, morava o Barão Sten Sture, casado com Charlotta Florentine Beata Ingelotz. A filha deles, Antoinette Sture, casou-se com o Barão Joachim Ulrich von Düben. Este nasceu em 1797 e assim pode ser descartado como pai de Regnell. Mas com certeza a família von Düben tinha ligação com Marielund. A declaração acima é comprovadamente incorreta quando se trata de com quem o “bur-guês Regnell” se casou. Conforme o Livro de Casamento e o Livro Paroquial foi com Christina Demin e ela, na época do nascimento de Anders Fredrik,

63 UUB x285m5 20/3 1876. 64 Arquivo Nacional em Upsala; Hägg, S. A.: Historik över borgerskpet i Uppsala 1751–1881. (Landsarkivet Uppsala) Iniciada em 1883 (ano de lançamento não especificado).

Page 34: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

34

era casada com o empregado da Guarda do Castelo, Magnus Åkerberg. A história, no entanto, mostra que a questão da origem de Regnell provocou grande interesse e levou a muitas especulações em Upsala, quando, anos após sua morte, suas doações tornaram-se públicas.

Page 35: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

35

Anos escolares

O contraste entre a vida no pequeno sítio em Funbo e Upsala deve ter mar-cado época para Regnell. Dois anos após sua saída do sítio ele foi admitido na escola Katedral em Upsala em 1815.65 De acordo com o histórico escolar, ele cursou as séries primária e secundária, bem como uma classe de prepa-ração profissional. Em 1820 ele foi admitido no colegial e passou seis se-mestres na classe do Reitor. Os anos escolares terminaram no dia 10 de junho de 1824, com um exame na presença do arcebispo Carl Rosén von Rosens-tein.

Pelas notas fica claro que Anders Fredrik ganhou A em língua grega e geometria e B nas outras matérias: teologia, ética, lógica, retórica, história, geografia, alemão, francês, latim e aritmética. As notas dos colegas Georg Gustaf Fant e Isak Gustaf Clason, que se tornariam seus amigos para toda a vida e de Anders August Lindström, que era seu parente, também constam do histórico escolar.

Em desempenho e comportamento Regnell ganhou a nota A. Conforme a ordem escolar de 1820,66 que ficou valendo até o ano de 1849, as letras ti-nham o seguinte significado: – Conhecimento com louvor/desempenho – Conhecimento bom/desempenho – Conhecimento suficiente/desempenho – Conhecimento insuficiente/desempenho

Isak Gustaf Clason e Anders Fredrik Regnell obtiveram conceitos escritos dados pelo próprio Linné em suas bolsas de estudo.67 Regnell também rece-beu um prêmio de dois riksdales por seu desempenho em canto.

65 Arquivo Nacional de Upsala: Histórico escolar da Katedralskolan em Upsala AI:1 p. 50–54. 72 Histórico escolar da Katedralskolan de Upsala AI:1 (Arquivo Estatal de Upsala) p. 50–54. 73 Associação de História do ensino sueco; Anais de 1924, Lund, p. 60. 74 Linné, Carl von: Egenhändiga anteckningar af Carl Linnæus om sig själf med anmärk-ningar och tillägg (Notas pessoais de Carl Linnæus sobre si mesmo com anotações e acréscimos). Upsala, Palmblad & C. 1823. O livro foi publicado por um dos últimos sobre-viventes dos Linnæus, Adam Afzelius: Neste Linné se apresenta com a imagem de Rei das Flores que o futuro recebeu: ”Carl Linnæus era portanto o filho mais velho, nascido em 1707, na madrugada entre os dias 22 e 23 de Maio, à 01h, bem na primavera mais bonita, quando o cuco anunciava o verão entre os meses frondescentiæ e florescentiæ [mês das fo-lhas e mês das flores]”.

Page 36: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

36

Figura 5. Notas finais do exame de Regnell e de seus colegas de classe na Kate-dralskolan em 1824. Arquivo Nacional de Upsala.

Page 37: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

37

Figura 6. Notas de ordem e comportamento. Arquivo Nacional de Upsala.

Page 38: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

38

Amigos de juventude

Nas reminiscências do professor Per Hedenius na sala Carolina, durante uma comemoração na Universidade de Upsala, no dia 6 de março de 1885, ele descreveu como Regnell era visto por seus contemporâneos:

Ele não se sentia atraído pelas diversões que atraem os rapazes jovens. Ele possuía um caráter excepcionalmente equilibrado e calmo, desde a infância tinha opiniões firmes, era teimoso, de hábitos moderados e costumes rigoro-sos. Parcimonioso em palavras e gastos era normalmente sério e pouco co-municativo. Suas amizades durante a fase escolar eram restritas a alguns pou-cos amigos.68

Na Katedralskolan ele encontrou os amigos que manteve durante toda a vida: Georg Gustaf Fant e Isak Gustaf Clason, que eram colegas de classe e Jakob Fredrik Neikter Arosenius, que se formou dois anos depois.

Georg Gustaf Fant era chamado Göran e tornou-se pároco e padre das paróquias de Vänge e Läby, nas cercanias de Upsala. Jakob Fredrik Neikter Arosenius tornou-se capitão do corpo topográfico e mais tarde tenente-coro-nel do exército. Ele foi responsável pelos Arquivos militares de 1861 a 1874 e membro da Academia de Ciências Militares de 1848 até sua morte. Ele ajudou Regnell a calcular a localização topográfica de Caldas com a ajuda de suas observações. Seu nome incomum foi herdado de seu avô materno Jakob Fredrik Neikter, que era professor Skytteanus em Upsala.

Quem era mais próximo de Regnell era Isak Gustaf Clason, que se tornou importante em seus contatos com a Suécia. Ele nasceu em 1808 na fábrica Furudal na paróquia de Ore em Dalarna e era o filho mais velho do dono da fábrica, Isak Gustaf Clason e de sua primeira esposa Margareta Gahn, filha do químico Johan Gottlieb Gahn, em Falun, professor e amigo do famoso químico Jöns Jacob Berzelius69. Na família ele era chamado de Gustaf, mas os amigos de juventude chamavam-no de Isak (às vezes o nome era escrito Isaak); para evitar mal-entendidos ele é chamado de Isak Gustaf, neste livro.

68 Hedenius, Per: Till minne av Anders Fredrik Regnell, Upsala Läkareförenings förhand-lingar 1884–1885, band 20, nr 4, p. 249–270. 69 Uma foto em miniatura de Greta Gahn, pintada por Fredrik Westin, havia, de acordo com Fredrik Clason, em Furudal, na infância de Isak Gustaf. O quadro do altar na igreja de Caldas também é pintado por Westin.

Page 39: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

39

Conforme as tradições familiares, Clason descendia de uma família de va-lões De Fer, que desde a década de 1600 eram ligados à indústria de ferro. O pai tinha assumido a fábrica de Furudal em Dalarna, depois de seu pai, que tinha o mesmo nome. A fábrica era conhecida pela fabricação de cor-rentes para âncoras. A corrente de âncora da corveta Vanadis, com a qual Salomon Henschen viajou para o Rio quando foi visitar Regnell, foi forjada em Furudal.

Figura 7. Foto antiga da fábrica de Furudal. O prédio branco principal da década de 1810 aparece no meio da foto, do outro lado do rio Ore. Foto de Johanna Ljungberg, Furudal.

Isak Gustaf ficou órfão de mãe em 1813 e cresceu quase totalmente separado do pai. Durante os anos escolares em Falun ele viveu com o avô até sua morte em 1818 e posteriormente, por alguns anos, com sua tia Maria, mãe de sua futura esposa. Em 1820 ele foi admitido como estudante na Kate-dralskolan em Upsala, onde primeiro cursou a série secundária e depois a classe do reitor, onde estudou durante seis semestres. Durante os anos esco-lares em Upsala ele foi pensionista na casa de um amigo da família, David Magnus Schedwin, onde morou até o ano de 1831. 70A casa de Schedwin ficava na rua Sysslomansgatan 8, casa de um andar com lucarnas, que até hoje existe. O Centro Acadêmico de Upland ficava do outro lado da rua

70 A mãe de David Magnus Schedwin, Anna Britta Troilia, era meia-irmã do dono da fá-brica Johan Jacob Munktell em Grycksbo, casado com Eva Gahn, que era irmã da madrasta de Isak Gustaf Clason, Henrika Gahn. Schedwin mais tarde tornou-se economista. Ele foi padrinho da meia-irmã de Isak Gustaf, Eva, batizada em 1824.

Page 40: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

40

Sysslomansgatan e transversalmente ficava o Centro Acadêmico de Väst-manland-Dala. Isak Gustaf recebeu provavelmente ordens de casa para não ter colegas inadequados, porque ele escreveu:

Papai pode ficar tranquilo que eu não vou arranjar camaradas inadequados na escola, uma vez que o Doutor [Schedwin], que em geral não gosta de me-ninos, mas só suporta aqueles de quem gosta, pretende permitir que eu tenha o mínimo contato possível com colegas que eu não possa ter em casa. Seu filho mais obediente, Isak Gustaf Clason.71

Durante esse período ele raramente ia para a casa em Furudal, porém escre-via quase toda a semana para o pai. No natal de 1824, quando tinha 16 anos, ele escreveu:

[…] espero que nesse inverno Papai seja bom e me permita ir para casa, uma vez que nos últimos cinco anos eu não fui durante o inverno. Gustaf, o filho obediente de meu bom Pai.72

Durante os anos escolares Clason e Regnell foram camaradas, conforme o que Schedwin escreveu em 1823, de Upsala, para o pai, em Furudal: ”Gustaf está sentado com o livro ao lado do colega Regnell”.73 Os dois meninos eram órfãos de mãe, os dois tinham madrasta e os dois viviam a maior parte do tempo separados do pai, o que provavelmente fez com que eles tivessem uma ligação especial.

Isak Gustaf formou-se em 1824, ao mesmo tempo que os amigos Göran Fant, Anders Fredrik Regnell e August Lindström. Fant e Regnell passaram o verão de 1824 em Furudal, juntamente com Clason. No verão de 1826 eles estudaram alemão e francês com Schedwin, que no dia 15 de junho escreveu para o velho Isak Gustaf Clason: “Eles ainda não têm, particularmente Regnell, tanto conhecimento em francês para que possam se beneficiar dele”. 74 Isak Gustaf Clason estudou primeiro história com Erik Gustaf Geijer e depois teologia, prestando o exame de teologia em novembro de 1824, se-gundo o que contou em uma carta de 29 novembro para ao pai. Ele, porém, ”cometeu um grande erro no protocolo, por não saber que Moisés veio antes de Abraão”. Posteriormente ele completou seus estudos na Universidade com o exame de Jurisprudência em 1827 e o exame de Mineralogia em 1830. Durante um exame de química para o professor Walmstedt, o Príncipe Oskar estava presente como chanceler da Universidade. Walmstedt fez então algo

71Arquivo Nacional, coleção de Isak Gustaf Clason I. G. Clason III para Isak Gustaf Clason, 31/1 1820, vol. 1. 72 Arquivo Nacional, Coleção de Isak Gustaf Clason I. G. Clason III para Isak Gustaf Clason, 29/11 1824, vol. 1 73 UUB, Arquivo de Furudal nr 37, carta 247. 74 UUB, Arquivo de Furudal nr 38, carta 25.

Page 41: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

41

que nunca tinha feito e nunca iria fazer novamente: ele contou para os estu-dantes quais eram as perguntas que ele faria para que pudessem preparar-se, de forma que Walmstedt não sentisse vergonha se eles não soubessem res-ponder. Em dezembro de 1831 ele se tornou engenheiro metalúrgico e foi aluno regular na Bergsskolan75 em Falun, de 1832 a 1833. Conforme o que o sobrinho Fredrik Clason escreveu em seu livro sobre Furudal, desde 1841 o pai havia manifestado o desejo de que o filho mais velho assumisse Furu-dal, mas este tinha outros planos.76 Desde 1851, três anos antes da morte do pai, em 1856, ele havia se tornado Mestre de altos fornos em Falun. Ele era um eminente engenheiro metalúrgico77 e posteriormente tornou-se chefe no Jernkontoret em Estocolmo, para onde se mudou em 1869. Nesta altura sua área de responsabilidade se expandiu, resultando em viagens para altos-for-nos em todo país. Como exemplo, pode-se mencionar que em dois meses, entre 5 de janeiro e 5 de março de 1870, ele visitou 40 altos-fornos e fábricas, alguns deles duas ou três vezes.78

Foi o irmão mais novo de Isak Gustaf, Wolter, que por algum tempo as-sumiu Furudal, mas depois de pouco tempo ele foi substituído por outros proprietários. A década de 1860 foi uma época de grande preocupação para a indústria de ferro e a ideia de uma venda completa da fábrica já havia sido discutida entre os irmãos Clason. Isak Gustaf perdeu muito dinheiro na fá-brica e estava preocupado com a possibilidade de ir à falência. Regnell, que havia ficado muito rico e começado a fazer doações com diferentes finalida-des, prometeu ajudar o amigo com empréstimos a juros baixos. Como Regnell havia se reservado o direito de fazer uso das taxas de juros das doa-ções durante toda a vida, ele escreveu que Clason poderia dispor delas, se necessário, para que pudesse pagar suas dívidas.79 Quando Furudal foi ven-dida em 1872, depois das dívidas pagas, só restaram 2000 riksdales para cada um dos irmãos. Em 1884 a fábrica de ferro em Furudal fechou totalmente.

Isak Gustaf casou-se com sua prima Charlotta Lorichs, que era filha do governador de Dalarna, Per Daniel Lorichs e Maria Gahn. Eles tiveram três filhas e um filho, Isak Gustaf, que nasceu em 1856, 20 dias depois da morte do avô. Ele tornou-se um dos principais arquitetos da época na Suécia e, entre outros, desenhou o Museu Nórdico em Estocolmo, a casa do Centro Acadêmico Norrland em Upsala e o monumento em memória de Regnell em Caldas.

Como Regnell, Clason se interessava por ciências naturais sentido lato e não só de metalurgia profissional. Ele escreveu em 1863 que tinha a intenção

75 Clason, Fredrik: Köpmän, bruksmän, ämbetsmän, UUB x255 sa:1 p. 82. A Bergsskolan foi fundada mais o menos em 1820, depois que o Estado comprou as quatro fazendas de Johan Gottlieb Gahn, o laboratório e a coleção de minerais dos herdeiros, por 15 000 riksdaler. 76 Clason, Fredrik: Furudals bruks historia, Upsala 1938, p. 108. 77 Dicionário Biográfico sueco: 8, Estocolmo 1929, p. 559. 78 UUB x285m2, 18/3 1870. 79 UUB x285m1, 7/6 1865.

Page 42: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

42

de visitar a reunião de pesquisadores de ciências naturais nórdicos, que se realizaria em Estocolmo em julho daquele ano. O encontro de pesquisadores, que reunia cientistas, entre eles muitos médicos dos países nórdicos, tinha sido organizado a cada dois anos, de acordo com o modelo alemão e inglês desde o final da década de 1830. O encontro de 1863 em Estocolmo teve 873 participantes.80 Ele participou também do encontro de Kristiania [Oslo] em 1869.

Da mesma forma que Regnell, a botânica, no entanto, foi seu maior inte-resse desde a juventude. Ele foi um dos maiores conhecedores da flora de Dalarna e descobriu cerca de 30 novas espécies desconhecidas em Dalarna.81 Ele doou um herbário para a escola de Falun. No começo da década de 1860, Regnell ficou em dúvida se iria enviar suas plantas para o Museu Nacional de História Natural para classificação, uma vez que ele tinha dificuldade de colaborar com o chefe Nils Johan Andersson, ou para a instituição botânica de Upsala. Isak Gustaf escreveu então que, se tivesse tido tempo, ele teria feito as classificações. 82 Ele também lembrou que Regnell lhe havia prome-tido uma cópia das duplicatas que ele tinha em seu herbário mediterrâneo. Alguns anos depois, no entanto, ele conseguiu dedicar-se à botânica. Em 1869 ele escreveu:

Agora no outono tornei-me assistente de Andersson e os primeiros 16 pacotes já estão colocados corretamente nas prateleiras que já existiam e o catálogo resolvido, depois que você fizer o endosso.83

Ele mandou também sementes que ele mesmo tinha juntado, para que Regnell se sentisse feliz de ter a flora sueca a seu redor. Ele escolheu espé-cies que pudessem crescer em solo seco, mas não se sabe se as plantas so-breviveram no clima de Caldas. O que ilustra seu interesse pela botânica ao longo da vida foi a carta que ele escreveu antes de sua morte:

Nas revistas que Você recebeu anteriormente, Você viu um anúncio sobre palestras na Universidade de Estocolmo, e que Wittrock também realiza os chamados experimentos botânicos, dos quais eu até resolvi participar – para isso foram comprados vários microscópios. 84

Na última carta preservada escrita para Regnell, ele escreve que está envol-vido com herbários.85

80 Nordisk familjebok, Uggleupplagan, 1913, p. 591. 81 Almquist, Erik: Dalarnas flora, förteckning över kärlväxterna, Stockholm 1949, p. 109. 82 UUB x285m2, 27/3 1860. 83 UUB x265m2, 18/10 1869. 84 UUB x285m2, 6/9 1879. 85 UUB x285m2, 16/7 1880.

Page 43: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

43

Isak Gustaf Clason foi quem se tornou representante legal de Regnell na Suécia e quem fielmente ficou ao lado de Regnell dando conselhos e suges-tões, em coisas tanto grandes como pequenas, fosse para comprar roupas íntimas da Suécia, de que Regnell gostava muito, providenciar ajuda a pa-rentes, cuidar dos herbários ou de todas as pequenas e grandes doações que ele fazia. Regnell tinha um temperamento difícil, percebido por muitos e o demonstrava às vezes contra seu melhor amigo. Em 1845 ele escreveu em uma carta que estava satisfeito com a contabilidade recebida, mas:

[…] quero ao mesmo tempo chamar a atenção do QI: [querido irmão] que amizade e negócios são coisas diferentes, ou grandezas de diferentes tipos, e que você, como matemático e calculista, não deveria misturar.86

Figura 8. Isak Gustaf Clason. Foto forne-cida por Per Clason.

Naquela ocasião, o assunto dizia respeito a que Regnell considerava que Cla-son deveria receber uma certa comissão como compensação pelo seu traba-lho, mas outras vezes ele não era tão benevolente. Certa vez ele reclamou em uma longa carta que não havia recebido a contabilidade do dinheiro que

86 UUB x285m1, 19/12 1845.

Page 44: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

44

o professor Widgren (ver sobre ele mais adiante) recebera por várias com-pras. Ele percebeu talvez que tivesse ido longe demais em sua crítica a Cla-son, porque ele escreveu que não deveriam mais falar do assunto,

[…] pois Você deve estar me achando muito ranzinza, principalmente se es-sas linhas o encontrarem mal da perna ou dos olhos, o que é bem provável, pelo que você disse ter sido acometido durante o inverno e primavera.87

Figura 9. Relatório de débito e crédito dos negócios de Regnell na Suécia, em 1879, de Isak Gustaf Clason em Estocolmo e a assinatura de Anders Fredrik Reg-nell em Caldas. UUB x285m1.

Durante mais de 40 anos Clason e Regnell mantiveram contato regular atra-vés de cartas, mas eles nunca mais se encontraram depois que Regnell deixou a Suécia. Em suas cartas para o amigo, Regnell às vezes finalizava com “Tuissimus88 Anders Fredrik”. Uma outra expressão era “o amigo verda-deiro”. Verdadeiro significava ser honesto e de confiança, ser honesto era tido como a essência de um relacionamento de amizade. Uma das caracte-rísticas mais importantes de um amigo verdadeiro eram transparência e ho-nestidade. Naquela época, a confiança pessoal substituía a confiança na lei e nas instituições formais, tanto na Suécia como no Brasil.89

Existem 185 cartas de Regnell para Isak Gustaf Clason arquivadas na Bi-blioteca Carolina, bem como cópias das cartas de Clason para Regnell. Para economizar selo e espaço, Regnell escrevia muitas vezes no mesmo papel,

87 UUB x285m1, 2/10 1861. 88 A Expressão Tuus ou Seu era usada no término das cartas entre homens de maneira infor-mal, e com frequência junto com Querido Irmão. Tuissimus é uma parlavra inventada, que poderia ser traduzida como Seu amigo mais querido. 89 Hasselberg, Ylva: Den sociala ekonomin. Familjen Clason och Furudals bruk 1804–1856. Studia Historica Upsaliensia 189, Uppsala 1998, p. 201.

Page 45: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

45

com tinta preta na horizontal e com tinta vermelha na vertical. Às vezes uma carta sumia e para que o destinatário soubesse, as cartas começaram a ser numeradas. Na década de 1840 levava normalmente de 4 a 6 meses para uma carta chegar ao destino, enquanto depois de 1870 levava em geral de 35 a 45 dias e em 1880 Regnell recebia o correio em 29 a 30 dias. Um exemplo de como se entendia a rapidez naquela época pode ser visto em uma carta do professor de botânica Thore Fries para Clason em 1879: ”com a rapidez de comunicação atual é possível enviar orquídeas vivas [de Caldas para Upsala] com sucesso”. 90 Duas das últimas cartas para Clason em maio e julho de 1880 foram muito longas e o assunto principal era sobre as plantas que Regnell estava prestes a enviar para a Suécia e muitas delas eram descritas detalhadamente. Regnell sabia que seu velho amigo dividia com ele sua pai-xão por flores.

90 UUB x285m3, 2/8 1879.

Page 46: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

46

Figura 10. Uma carta de 7 de junho de 1842 mostra a maneira típica de Regnell escrever, sem interrupção entre os parágrafos. (UUB x285m1). A carta começa com “Irmão Clason, pegue a lente de aumento”.

Em sua última carta de 16 de julho de 1880 para Regnell, Clason escreve que ele estava tão cansado que não tinha mais forças para subir a escada.91 Graças ao cloral ele estava conseguindo dormir deitado. O irmão Edward, que era médico, o havia examinado e viu que os pulmões estavam bem, mas

91 UUB x285m2, 16/7 1880. Cloral, ou tricloroacetaldeído, era usado no final da década de 1860 como sonífero.

Page 47: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

47

que o coração batia irregularmente. Na carta ele escreveu que tinha espe-rança de melhorar, mas acabou falecendo no dia 30 de agosto de 1880 em Lysekil, onde ele costumava passar o verão. Em sua última carta para Isak Gustaf (escrita em 29 de setembro de 1880, quando este já tinha falecido), Regnell escreveu que estava doente com febre, convulsões e tosse com san-gue e ele acreditava que lhe restassem poucos dias de vida. Quando Isak Gustaf faleceu, Anders Fredrik foi o único que restou dos amigos originais, embora ele tivesse sido o mais doente na adolescência. Ele escreveu para Edward que Isak Gustaf tinha sido:

[…] um amigo confiável durante 60 anos, que ocupou o primeiro lugar entre as pessoas cuja amizade eu aprendi a valorizar e ter em alta estima.92

Algumas semanas depois ele voltou a escrever para Edward:

Ao saber do falecimento de I.G, eu me senti incapaz de discutir com calma ou procurar alguma coisa.

Edward respondeu:

Uma das coisas que mais o alegravam em vida e que faziam com que seus olhos se enchessem de lágrimas era Sua amizade e as ocasiões em que ela lhe permitia ser Seu braço direito na Suécia.93

Regnell viveu mais quatro anos, agora sem as cartas do seu velho amigo. A confiança de ser seu braço direito passou agora para Edward.

O meio-irmão Edward Clason nasceu em 1829 em Ore, e faleceu em 1912, como professor de anatomia em Upsala. A mãe era Henrica Gahn, prima da mãe de Isak Gustaf, que havia falecido em 1813. Edward também tinha sido inquilino na casa dos Schedwin, em Upsala, enquanto estudante, onde ele com frequência encontrava seu futuro professor Israel Hwasser, que era um bom amigo de Schedwin. Edward foi casado com Clara Malvina Ullf. Ele era muito religioso e foi membro do comitê da igreja durante muitos anos. Ele também foi vice-presidente da diretoria da Capela Mikael e mem-bro do Conselho da Catedral. Ele comprou o antigo prédio dos Correios ao lado da Biblioteca Carolina na rua Övre Slottsgatan 1, que mais tarde passou a se chamar a casa de Clason. O grossista Viktor Åkerman, casado com a filha de Isak Gustaf, Helena Augusta, ajudou Edward mais tarde com os as-suntos financeiros de Regnell na Suécia. Regnell deu para Edward uma pro-curação irrestrita para ser seu representante na Suécia e, a seu critério, cuidar de seus negócios.

92 UUB x285m1, 20/10 1880. 93 UUB x240 [Regnell], setembro de 1880.

Page 48: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

48

Certa ocasião Edward escreveu que Regnell tinha tantas sugestões sobre fundos, que ele (Edward), ficava totalmente tonto.94 Isak Gustaf respondeu que ele entendia muito bem e que estava ficando difícil para ele também. Ele escreveu também que guardava toda a correspondência e que após sua morte esta deveria ser entregue à Universidade, o que Fredrik, filho de Edward, fez. As diferentes cartas de doações são difíceis de entender, mas o resumo feito pelo professor Key cria uma ordem entre elas, que é a utilizada neste livro (veja o capítulo sobre o testamento de Regnell). 95

O sapateiro de Jerusalém Em muitas das cartas trocadas entre Regnell e Isak Gustaf Clason aparece o estranho fenômeno do Sapateiro de Jerusalém. Em 1849 ele escreveu que havia se esquecido de mandar o Sapateiro de Jerusalém na carta anterior,

[…] como o pobre coitado já está no Brasil há um ano e meio, deve estar com saudades de casa e, portanto, quer se libertar em tempo. Ele está certo e eu faria o mesmo, se pudesse, mas não posso e envio este representante em meu lugar, com a missão especial de parabenizar o Q I [querido irmão] pelo cargo de chefe da produção de ferro na Região Sul96

Em 1865, Regnell recebeu fotografias de Isak Gustaf Clason, Arosenius e Göran Fant e escreveu:

Nos primeiros dias eu não fiz outra coisa a não ser olhar os retratos, olhava um, olhava outro, e às vezes até o Bror Isak, que melhor manteve os velhos traços tão conhecidos.97

Já se haviam passado 25 anos desde que os amigos se tinham visto pela úl-tima vez, pelo que podemos compreender como Regnell, em sua solidão, apreciava os retratos. Quando Regnell se deixou fotografar em 1866, ele mandou uma foto para Arosenius, Fant e Clason e, ao mesmo tempo, escre-veu para o último que o sapateiro de Jerusalém ia junto.98 Um novo retrato foi enviado para Clason em 1872. Regnell escreveu:

Eu pensei em deixar o sapateiro de Jerusalém ir junto na carta, mas além de não querer arriscar a preciosa pessoa numa carta solta, ele chegou tão gelado que sua temperatura na manhã seguinte (ele chegou de madrugada) ainda era

94 UUB x285m3, 2/4 1876. 95 Key, Axel: Anders Fredrik Regnell, Biografia, discurso 7/3 1888. Biografias sobre os membros da Academia Real de Ciências Sueca vol. 3, nr 63, 1891, p. 97–159. 96 UUB x285m1, 3/6 1849. 97 UUB x285m1, 7/6 1865. 98 UUB x285m1, 24/3 1866.

Page 49: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

49

de 45°F [7 °C] (no dia 30/7), a mais baixa deste ano e precisou ser aquecido primeiro.99

Isak Gustaf Clason passou por uma cirurgia em 1870 e quando Regnell o parabenizou pelo feliz resultado, ele queria enviar dentro da carta o sapateiro de Jerusalém, mas não conseguia encontrá-lo.100 Em uma carta para Isak Gustaf em 1871 ele fez algumas considerações sobre a vida:

Conforme um velho ditado, ultrapassar o 64º ano é bem complicado e como este dia está chegando, eu me apresso em enviar o sapateiro de Jerusalém, que já nos serviu durante 46 anos. Meu pai não viveu mais que 46 anos. Eu consegui mudar a ordem dos números uma vez (para 64), mas se ainda vou ter esperança de mudar mais uma vez para que se torne 94, isso só vai ser possível para quem herdou a arte da donzela (Arfvedssons?) em que Gustaf III acreditava tanto e parece que seu Café ainda existe na descida da Catedral (Storkyrkobrinken), não se esqueça de obter a resposta de lá para mim.101

Quando, já na velhice, Göran Fant estava sentado em seu jardim, na casa Paroquial de Vänge, ele se lembrou de que há mais de 40 anos lhe havia sido oferecido um sanduiche de mel, juntamente com os colegas, na casa dos Schedwin. Fant escreveu para Clason em 1864:

Muito obrigado por Sua carta – foi especialmente bem-vinda. Quando eu a abri e vi com meus olhos seu retrato e o sapateiro de Jerusalém, tive que esperar para continuar a lê-la. Minha família logo percebeu que eu tinha re-cebido uma carta nada comum, até que as duas crianças logo começassem a bater palmas e exclamar; “Ah, definitivamente o sapateiro de Jerusalém”. […] Por meio desta reenvio o sapateiro de Jerusalém, com os votos de que ele, quando chegue ao Brasil, encontre Regnell com boa saúde. 102

Clason visitou Göran em Vänge em 1866, comunicando depois que ele es-tava se sentindo bem; a única diferença que ele percebeu foi que já não era tão fácil atravessar as cercas como antigamente – mas ele colocava a culpa na sua barriga de padre. Em 1871 Göran Fant teve um pequeno AVC e podia apenas cuidar de alguns de seus afazeres como padre. Em 1871 ele escreveu em uma carta para Clason: “O sapateiro de Jerusalém está com 47 anos de idade, desde que ele em 1824 foi enviado de Furudal para Regnell”.103 Fant nunca recuperou a saúde. Em sua última carta para Clason ele escreveu: “junto com o sapateiro de Jerusalém envio-lhe meu adeus”.104 Clason visitou-o pela última vez em abril de 1874. Göran estava então de cama na maior

99 UUB x285m1, 23/8 1872. 100 UUB x285m2, 17/10 1870. 101 UUB x285m1, 6/6 1871. Mamsell Arfvedsson foi uma cartomante muito conhecida da época de Gustaf III e nos anos seguintes. 102 UUB x285m3, 23/7 1864, carta de Georg Gustaf Fant para Isak Gustaf Clason. 103 UUB x285m3, 13/8 1871, carta de Georg Gustaf Fant para Isak Gustaf Clason. 104 UUB x285m3, 8/11 1872, carta de Georg Gustaf Fant para Isak Gustaf Clason.

Page 50: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

50

parte do tempo, mas conseguia levantar-se e sentar-se um pouco à mesa, com a ajuda da esposa e de uma empregada. No entanto, ele mal podia se fazer entender e a memória era ruim por causa do AVC. Pouco tempo depois ele faleceu e Isak Gustaf foi a seu enterro na igreja de Vänge.

Quando o filho de Göran Fant, Carl Georg Fant, tornou-se mestre em fi-losofia, Regnell escreveu a Clason105 para dar 400 riksdales a Carl; ele ia afinal receber mesmo uma bolsa de estudos do fundo que Regnell havia cri-ado para os filhos dos dois amigos e de seus filhos, caso o fundo já tivesse sido formado (veja no capítulo sobre o testamento de Regnell, sobre a bolsa de estudos para estudantes de medicina, do fundo Regnelliano). Quando Carl se tornou reitor na Escola Secundária de Mariestad e contou em uma carta para Clason que havia tido uma filha, chamada Anna Clara Carolina e que ele queria que os melhores amigos do pai fossem padrinhos da menina, Cla-son aceitou. Os padrinhos já tinham decidido, antes do nascimento, que a bolsa de estudos seria usada como um presente para a primogênita de Carl.106 Três semanas depois, Carl Fant agradeceu em uma carta o incrível presente que a filha tinha recebido (ela recebeu 500 coroas). Fant escreveu também “que ele tinha esperanças de que, quando o sapateiro de Jerusalém deixasse este vale de lágrimas, ele [Fant] recebesse um pedaço desta prova de amizade entre o pai e seus amigos”.107 Uma filha que nasceu em 1881 recebeu 125 coroas de presente de Regnell.

A amizade também se mostrava de outras formas. Numa carta sem data, Regnell revela que ele tinha mandado tabaco para Fant e Clason, e que o tabaco os agradara tanto, que Clason havia decidido aprender a mastigar ta-baco também. Em 1845 Regnell lhe descreveu sua casa e seu jardim:

Um pequeno bosque com laranjas ou laranjeiras torna meu pequeno jardim muito agradável. Além do privilégio de ter uma laranja quando desejo, a sombra dessas frondosas árvores durante a estação quente é muito agradável. Duas esplêndidas figueiras bem perto da casa me fornecem belos frutos; no momento estou com um prato cheio desses frutos à minha frente. Duas vi-deiras foram plantadas no ano passado, bem no canto da casa; elas já cresce-ram consideravelmente e trançam suas gavinhas no teto da varanda. No ano que vem espero que deem uvas e aí será maravilhoso poder sentar-se na va-randa e se refrescar e de vez em quando esticar o braço e pegar um cacho de uva! Como eu gostaria de poder te oferecer essas delícias. Eu as apreciaria em dobro em Tua companhia. O que me deixa desanimado, às vezes, é o fato de não ter esperança de ver nenhum dos meus conhecidos da juventude, o que me faz sentir falta da minha terra natal; mas onde existe na terra este lugar, onde tudo o que desejamos se une– em nenhum lugar. Esse pensa-mento logo me deixa satisfeito novamente com a minha sorte e não posso reclamar sem ser injusto com a Providência.108

105 UUB x285m1, 23/6 1873. 106 UUB x285m2, 8/2 1875. 107 UUB x285m3, 15/5 1875, carta de Georg Gustaf Fant para Isak Gustaf Clason. 108 UUB x285m1, 18/2 1845.

Page 51: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

51

Figura 11. O jardim de Regnell em Caldas. Foto Salomon Eberhard Henschen.

Em outra ocasião ele pediu a Clason para mandar algumas tigelas (cerca de 425 gr cada) de maçãs secas.109 -isto me lembra a saudade de Kristina pela terra natal, no livro de Vilhelm Moberg, Sista brev till Sverige (Última carta para a Suécia) de 1959. Ela levou três sementes de maçã Astrakan para o novo país e lá as plantou. Ela diz em seu leito de morte: “As maçãs Astrakan estão maduras aqui, estou em casa [...]”

Conforme a edição dos anos de 1800 do Livro Nórdico da Família, o sa-pateiro de Jerusalém se refere a um velho conto sobre um homem chamado Ahasverus, que não permitiu que Jesus descansasse do lado de fora de sua casa a caminho do Gólgota. Por este motivo, ele foi condenado a vagar pelo mundo até o Juízo Final. O significado do sapateiro de Jerusalém a que Regnell e seus amigos se referem não está muito claro, mas com certeza são os pequenos pedacinhos de papel que atualmente se encontram entre os do-cumentos deixados por Isak Gustaf Clason (veja a figura), no departamento de manuscritos da Biblioteca Carolina. A primeira folha é com certeza es-crita posteriormente, pois a letra é a mesma em todas as datas. Ali está escrito que o sapateiro de Jerusalém passou por Järlåsa, a vinte quilômetros de Upsala, no dia 24 de fevereiro, onde Göran era padre, antes de se mudar para Vänge. Mais tarde existem anotações de Viena, Trieste, Veneza, Milão e Frankfurt, antes de chegar a Furudal no dia 29 de agosto de 1853, onde ele ficou até 1861, quando voltou a circular entre Caldas, Vänge e Estocolmo. No dia 23 de outubro de 1874, ele fez sua última viagem de Caldas para Estocolmo e Vänge, para então descansar depois de 50 anos de serviços, 109 UUB x285m1, 11/11 1854.

Page 52: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

52

conforme uma anotação de ARF. Ele foi recebido em Estocolmo no dia 2 de janeiro de 1875 e ali o sapateiro de Jerusalém permaneceu, até chegar ao departamento de manuscritos da Carolina Rediviva.

É surpreendente como os amigos, depois de tantos anos, sempre relem-bravam esse símbolo de amizade entre eles, desde a infância. Isto não condiz com a imagem que se faz de Regnell de sério e exigente, ou do respeitoso padre do interior, ou do poderoso diretor do escritório de Jern. Fredrik Aro-senius nunca é mencionado em relação ao sapateiro de Jerusalém; o círculo parece estar limitado aos três colegas de escola, Fant, Clason e Regnell.

Page 53: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

53

Figura 12. Os pequenos pedacinhos de papel que provavelmente se refe-rem ao sapateiro de Jerusalém. (Um dos pedaços tem escritos inclusive do lado de trás) UUB x 285 m2.

Page 54: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

54

Botânico ou médico?

Na primavera de 1824, Regnell se inscreveu no Centro Acadêmico de Upland.110 Durante o outono, ele estudou teologia e se formou no dia 25/11 de 1824 juntamente com Fant e Clason. O futuro padre Fant recebeu a nota Approbatur, enquanto Clason e Regnell receberam Non sine laude approba-tur.111 Em 1830 Regnell fez o exame preparatório de filosofia para se inscre-ver na Faculdade de Medicina. Pode parecer um período longo para se pre-parar, desde 1824, mas seu interesse era mais voltado para botânica. Ele era membro de uma Associação Botânica de troca em Upsala, que começou por iniciativa do professor, posteriormente padre, Nils Johan Sillén, em Filips-tad. Entre outros membros destacava-se o ”velho Afzelius”, quer dizer, Adam Afzelius, discípulo de Linné, que era professor em matéria médica e havia publicado As anotações sobre si mesmo de Linné (Linnés anteckningar om sig själv), juntamente com Gustaf Fredrik Locrantz e Anders Holmblad, casado com a filha de Afzelius. Já idoso, Regnell escreveu para Clason: “Nenhum dos atuais membros da Associação deve se lembrar das anotações que Sillén deixou”.112

Desde os tempos antigos, botânica e medicina estiveram intimamente li-gadas. Se alguém quisesse ser médico, teria que estudar botânica. As plantas eram altamente valorizadas se pudessem ser usadas no tratamento de doen-ças em humanos e animais. O antecessor de Linné, Olof Rudbeck Sênior, já havia criado um jardim botânico em Upsala. Ele foi seguido por Olof Rudbeck Filho, que Linné encontrou quando ele era um jovem estudante durante uma visita ao jardim, um encontro que influenciou toda sua vida. O concorrente de Linné, Nils Rosén von Rosenstein, pai da pediatria sueca, conquistou a Cadeira de Botânica em 1740, antes de Linné, que teve que se contentar com ser professor de medicina em 1741, mas no ano seguinte eles trocaram, de modo que ficaram com a cátedra que era mais adequada a cada um. Linné restaurou o jardim, que naquela época estava bem destruído e introduziu uma série de novas espécies. Depois de um período, quando o filho de Linné, Carl von Linné filho, tornou-se professor e superintendente

110 UUB Matricula no Centro Acadêmico de Upland. 111 UUB O livro de protocolo da Faculdade de Teologia AI:9 de 1823, p. 60. 112 UUB x285m1, 2/12 1879. Sillén foi também um dos fundadores da mais antiga Associação Esportiva do Mundo, Associação de Natação de Upsala, fundada em 1796.

Page 55: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

55

do jardim, o discípulo de Linné, Karl Petter Thunberg, assumiu. Ele foi su-perintendente durante 45 anos, de 1773 até 1828, quando o professor de Regnell, Göran Wahlenberg, tornou-se professor da chamada “cathedra Lin-naeana tertius”. Os superintendentes seguintes, Elias Fries e o filho Thore Fries, com os quais Regnell tinha muito contato, eram apenas botânicos. Na década de 1850, quando as discussões sobre as doações de Regnell estavam ocorrendo, Israel Hwasser, outro professor de Regnell que também pertencia à escola antiga, sugeriu que se estabelecesse uma bolsa de estudos Linneana. Regnell havia recebido a carta no aniversário de Linné e a princípio havia tido uma reação muito positiva e aprovado a proposta, mas depois de pensar melhor, mudou de ideia. Ele escreveu: ”depois de um tempo toda a poesia desapareceu e várias dúvidas surgiram; apenas uma coisa me parece clara; que o médico e o botânico não podem ou não devem se unir”.113 Ulf Lager-kvist escreve no prefácio de seu livro De Hipócrates à medicina molecular (Från Hippokrates till molekylär medicin) que o progresso da medicina é extremamente incerto e cauteloso, quando comparado a outras ciências na-turais como a física e a química, até o avanço definitivo da ciência médica em meados da década de 1850. 114 Para que o atraso pudesse ser recuperado, era necessária uma especialização. Regnell tinha razão; não havia mais como juntar medicina e botânica caso se quisesse acompanhar o desenvolvimento, que avançava cada vez mais rápido nas duas disciplinas.

113 UUB x285m1, 20/9 1858. 114 Lagerkvist, Ulf: Från Hippokrates till molekylär medicin, Stockholm 1993.

Page 56: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

56

Viagens botânicas de Regnell

Carl von Linné fez a sua famosa viagem para Lappland em 1732 e sua via-gem para Dalarna de 1733 a 1734. Provavelmente não foi por acaso que Regnell realizou viagens semelhantes 100 anos depois. Ao redor de 1824 ele permaneceu alguns verões na casa do amigo Clason em Furudal, Dalarna, Ele também fez uma viagem a Lappland para coletar plantas que faziam parte do herbário lapônio que ele deixou no Hospital Serafimer, quando vi-ajou para o Brasil. Em 1865, no entanto, ele queria que o herbário fosse en-viado para ele em Caldas. Ele escreveu:

Eu havia considerado meu herbário de pouco valor e estava cada vez mais convencido, até que li no jornal Dagl. Allehanda que o professor Andersson havia trazido 40 000 espécimes de plantas da Luleå Lapônica onde quase toda a flora das montanhas da Escandinávia é encontrada.115

Figura 13. Lista feita por Salomon Henschen em 18 junho de 1869, em Caldas, das plantas que completariam a Flora Lapônica de Regnell. S. E. Henschen 29, UUB.

115 UUB x285m1, 7–8/3 1865.

Page 57: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

57

No Departamento de Manuscritos da Carolina Rediviva existe uma longa lista de plantas que Henschen, após a sua estadia em Caldas, ficou incumbido de coletar e enviar para Regnell.116

Regnell fez também uma viagem para a Noruega, como ele descreveu em uma carta:

Caldas, dezessete de maio de 1876. Caro Isak, mais dois dias de correio se foram, pois estive muito ocupado com minha plantação de café e a feitura de meu testamento e não teria pensado em mais nada, se a data acima não me fizesse pensar na Noruega e imediatamente da promessa que eu fiz ao Cônsul Geral de doar 4 000 coroas para a Universidade de Christiania, promessa esta que lhe vou pedir para honrar. Esta promessa talvez lhe surpreenda. No en-tanto, você deve se lembrar que passei a maior parte do ano de 1831 na No-ruega, que eu fui para lá no inverno a cavalo e trenó até Karesuando, depois em um trenó puxado por rena sobre as montanhas geladas, escapado daqueles ventos gelados e depois no Oceano Ártico, longe da costa, em um barco aberto enfrentado uma tempestade de neve com chuva, para poder chegar a Akteidet, e depois a Altengaard, onde eu e os meus companheiros de viagem, totalmente desconhecidos, sem nenhuma carta de recomendação, fomos re-cebidos hospitaleiramente pelo comerciante Aagaard, chegando bem na hora de participar de um almoço que ele estava oferecendo para os notáveis da região em comemoração do dia dezessete de maio. Nós fomos recebidos com a mesma hospitalidade em vários lugares no Finnmarken, Nordlanden e Hau-geland, bem como em Sogn e na região das montanhas de Hardange, mas também nas cidades de Trondhjem e Bergen, mas principalmente em Chris-tiania (Oslo), onde fomos muito bem recebidos por estudiosos como Hans-teen e Keilhau (o botânico Blytt estava nos Pirineus), fomos convidados a participar de reuniões literárias, a ouvir palestras públicas, etc, fomos bem recebidos inclusive no meio dos grandes do país, fomos convidados para a bela fazenda do Conde W. Jarlsbergs [Bogstad] e ficamos lá por vários dias, por exemplo. Com tais antecedentes, não deveria ser inesperada a resposta ao pedido do Cônsul Geral para que eu doasse duas resmas para a Universi-dade de Christiania, uma vez que eu já doei uma coleção de plantas para lá e o atual Partido dos Agricultores na Noruega impediu que a Universidade re-cebesse os fundos necessários para preservar as coleções.117

Em 1880, Regnell doou 150 coroas para o farmacêutico Olof Leopold Sillén, que pediu uma bolsa para viajar para Dovre para coletar plantas. 118 Mais tarde Regnell comprou o livreto sobre musgos que Sillén publicou.119

116 UUB S. E. Henschen 29. 117 UUB x285x1, 17/5 1876. 118 UUB x285m1, 2/3 1880. Sillén ficou conhecido quando, ao coletar plantas em Nya Kop-parberg em 1857, postou uma carta para o irmão Per Wilhelm, carimbada com um selo gult tre skillingbanco. A carta foi postada e carimbada no dia 13/7 em 1857 nos Correios de Nya Kopparberg e devido a um erro de impressão é hoje conhecido como gula treskillingen. Outro exemplar nunca foi encontrado. A última vez em que foi vendido em 1998, custou 15 milhões de coroas. 119 UUB x285m4, carta de Clason para Sillén em 11/4 1880.

Page 58: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

58

Estudos médicos e Tese de Doutorado

Não se tem muito conhecimento sobre os estudos médicos de Regnell, ex-ceto pelo fato dele ter se formado em Filosofia no dia 12 de junho de 1830, antes de se inscrever na Faculdade de Medicina, no dia 1 dezembro de 1830. No momento da inscrição ele usou o nome de Andreas Fredericus Regnell, nascido 1802 [sic]. Como Pai informa Taberneiro, entre parênteses Trac-teur.120

Figura 14. Informações biográficas que Regnell informou em 1877, quando ia ser nomeado Doutor Honoris Causa, na Universidade de Upsala. UUB x240 [Regnell].

120 UUB, Examinati i medicinska fakulteten, DIa:1.

Page 59: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

59

Regnell formou-se posteriormente em teoria no dia 20 de junho de 1835, perante o professor Göran Wahlenberg, que, conforme os escritos existentes, era conhecido por suas exigências estritas. Ele fez o exame prático no dia 4 de junho de 1836 e tornou-se Mestre em Cirurgia (kirurgie magister) em 1837. Provavelmente ele não buscou o seu diploma, que permaneceu no Conselho Nacional de Saúde (Sundhetsstyrelsen), até que foi encontrado e lhe enviado em 1878.121

Figura 15. Capa da dissertação de Regnell. UUB.

121 UUB x285m2, 27/3 1878.

Page 60: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

60

O Professor Israel Hwasser foi o presidente da tese sobre raquitismo (doença inglesa) que foi apresentada em 1836.122 Ela era constituída de três partes: a primeira parte era de responsabilidade de Carl August Aurell (Centro Aca-dêmico de Västergötland), a segunda parte de Regnell (Centro Acadêmico de Upland) e a terceira parte de Jonas Peter Holmbom (Centro Acadêmico de Norrland). Ela não era uma dissertação em termos modernos, mas base-ava-se principalmente em um relato daquilo que as autoridades da época consideravam sobre o raquitismo e seu tratamento e, provavelmente, como era de costume naquela época, foi escrita pelo próprio presidente.

Faltava apenas a parte oral da dissertação, que ocorreu no dia 6 de junho de 1837123 perante os professores Israel Hwasser, Henrik Wilhelm Romans-son e Göran Wahlenberg. Hwasser perguntou o seguinte:

O que significa febre de nervos? Qual a diferença com a febre maligna? E tifo? O que significa delirium mussitans?124 Em que circunstâncias aparecem vômitos no primeiro estágio do processo da doença? Como funcionam os eméticos, administrados no primeiro estágio da doença? Qual o medicamento recomendado no caso de febre tifoide? Como corrigir a febre mefilítica? Du-rante qual estágio da doença é indicada a imersão em água fria? Qual é o efeito?

O Professor Romansson perguntou:

[…] qual a diferença entre oftalmia idiopática e irite? O que caracteriza o que antes era chamado de oftalmia neonatorum? Como era feito o tratamento ha-bitualmente? Como se classificam as irites?

Göran Wahlenberg fez várias perguntas sobre o álcool:

[…] no uso de vinspiritus para necessidades médicas, como conservantes de produtos vegetais etc. quais especiarias e variedades de vinho seriam as me-lhores? Como o araque é obtido? Por que o araque da Batavia é o mais im-portante? Como é obtido o vinho de Palma? Que poder as palmeiras dão ao álcool (spiritus)? Como limpar a aguardente do óleo fúsel? Como é conside-rado o spiritus da batata em comparação ao de grãos?

Romansson deu a nota Non sine laude approbatur, quer dizer, aprovado não sem louvor, enquanto que Hwasser e Wahlenberg deram-lhe a nota cum laude approbatur, a segunda maior nota. A maior nota que se podia obter em uma tese era laudatur, que significava com louvor, depois examina cum

122 Regnell, Anders Fredrik: Om Rachitis, Uppsala 1836. 123 UUB, Protocolos da Faculdade de Medicina 1835-1839, AI:13. 124 Conforme Hemläkaren (O médico da Família) de W. Uhrström de 1881 Delirium mussi-tans significa que as mãos do paciente estão em constante movimento, como se ele quisesse pegar algo nos lençóis da cama. Isso acontece na febre nervosa, que é a denominação antiga de tifo.

Page 61: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

61

laude approbatur e magna cum laude approbatur. A classificação cum laude approbatur era em geral definida como uma nota básica, quando a tese não tinha grandes deficiências, mas quando o objetivo era claramente formulado e implementado.

Regnell foi Primus inter pares na defesa de tese, quer dizer, ele ocupou o lugar de honra. Com este título ele ficou incumbido de responder às pergun-tas do promotor, professor Romansson

se a descoberta de Charles Bell de que nervos específicos para o tato e os específicos para movimentos teriam maior importância para a medicina prá-tica que a descoberta de Harvey sobre a corrente sanguínea teve na sua época.

Conforme os costumes da época, as perguntas eram feitas e respondidas em latim.

Como chanceler da Universidade, o Príncipe herdeiro deveria, na reali-dade, presidir a promoção, mas estava impedido por se encontrar no exterior e havia nomeado o vice-chanceler da Universidade, o Arcebispo Johan Olof Wallin, conhecido escritor de salmos, para ser seu substituto. O ato promo-cional foi descrito nos jornais Post-och Inrikes Tidningar, da seguinte forma:

Ao que foi prometido no jornal Torsdagsbladet a respeito da promoção em Upsala no dia 6, data onomástica de Sua Alteza Real, Duque de Upland, po-demos acrescentar as seguintes notificações adicionais:

O ato foi aberto com um discurso em latim pelo Promotor, professor em ana-tomia e cirurgia, doutor H. W. Romansson, após o qual o pró-chanceler da academia, o sr, Arcebispo doutor Wallin, na ausência do chanceler da Aca-demia, Sua Alteza Real o Príncipe Herdeiro, comunicou ’venia promovendi’. A questão médica foi elaborada pelo anatomista professor assistente Dr. Li-dbeck e respondida pelo primus doutor Regnell, Upland, após o que o ato foi finalizado com orações e agradecimentos pelo ultimus Dr. Lemchen, Smol. Após o ato promocional, a procissão desceu da cátedra da Catedral, onde orações foram feitas pelo padre da Corte Real, professor Wensiæ, após o que a procissão seguiu para a sala de sessões do consistório acadêmico, onde se separou. Os promovidos, dos quais 24 estavam presentes e oito ausentes com a devida permissão, ofereceram depois, no Salão Solene da Biblioteca, um jantar para 100 pessoas,125 ao qual viajantes e estranhos foram convidados sem as respectivas unidades e corporações. Após o jantar houve um passeio no jardim botânico da Academia e a cerimônia terminou com um baile na sala do Centro Acadêmico de Upland.126

Primus era chamado aquele que era melhor e ficava na frente da procissão e o segundo melhor era chamado de ultimus e ficava no final. Quando deixou

125 O Salão Solene provavelmente era a Sala Carolina, onde o memorial sobre Regnell ocorreu 48 anos depois. Conforme Programata Upsaliensia 7, de 1836 (sem página, UUB) o jantar aconteceria no Akademiska orangeriet e o baile no Upsala Gilles hus. 126 Jornais Post e Inrikes Tidningar 10/6 1837.

Page 62: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

62

a Suécia, Regnell deixou o chapéu de doutorado que recebeu na promoção com o padrasto Erik Pettersson. No protocolo do consistório de 1885 consta que ele o testamentou para a Universidade de Upsala, mas seu paradeiro é desconhecido.127

127 UUB, Större Konsistoriets protokoll 21/2 1885.

Page 63: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

63

Faculdade de Medicina em Upsala

Uma das razões pelas quais Regnell doou tanto dinheiro para a formação médica em Upsala (veja o capítulo sobre o testamento de Regnell) foi porque ele havia sido informado de que o Curso de Medicina estava sendo amea-çado. Existem, portanto, razões para relatar o que estava por trás dessas pre-ocupações.

Após a fundação da Universidade de Upsala em 1477, demorou até 1613 para que o primeiro professor em medicina, Johannes Chesnocopherus, fosse nomeado pelo Rei Gustaf II Adolf. 128 Depois de alguns anos este estabeleceu que

deveriam existir dois professores de medicina, um em medicina prática e teórica (instituti-onens medicinæ) e outro em física. O desenvolvimento continuou lento e só em 1788 Adolph Murray foi nomeado como o primeiro professor de cirurgia em Upsala. 129

A partir de meados da década de 1820 houve uma grande briga entre as Faculdades de Medicina das Universidades, principalmente de Upsala e Lund, com o novo Instituto Karolinska. As Faculdades de Medicina acha-vam que o Instituto estava interferindo em seus direitos e por sua vez o Ins-tituto achava que ele estava preso a regras antiquadas, o que fazia com que o Instituto só pudesse formar médicos em menor quantidade. O argumento por parte de Upsala, em parte com razão, era de que o novo Instituto, devido a sua proximidade com o Governo e o Parlamento, bem como pela excelên-cia das notícias, teria mais facilidade que as Universidades antigas de receber verbas dos fundos da época do Rei Gustaf II Adolf para construções, equi-pamentos e salários. Anders Fredrik Regnell era provavelmente da mesma opinião e assim mostrou sua estima pela antiga Universidade, à qual ele sem-pre foi muito grato. Edward escreveu para Isak Gustaf em 1863 em razão de Regnell haver dito

desejo dar recursos para a construção do Instituto de Fisiologia de Upsala. O Instituto Karolinska, entretanto, receberá do Parlamento para a construção – e Upsala tem poucas esperanças de receber ajuda através desta via. Oficiais

128 Wiman, Lars-Gösta: Johannes Chesnocopherus – Sveriges förste professor i medicin, Upp-sala medicinhistoriska förenings årsskrift 2010 p. 42–51. 129 Johansson, Henry: Adolph Murray – Uppsalas förste professor i kirurgi, Uppsala medicin-historiska förenings årsskrift 2010 p. 40–41.

Page 64: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

64

da Guarda, citadinos e agricultores compreendem imediatamente o que o en-sino médico necessita, utilizando as próprias palavras do Instituto no Parla-mento anterior.130

Upsala tinha também, na época, grandes despesas com a construção do novo hospital.

A batalha se entrevê numa carta de Edward Clason para o irmão Isak Gustaf, no início de sua carreira como anatomista e histologista, onde Edward faz grandes objeções à sugestão dos habitantes de Estocolmo para as regras das bolsas de estudo que Regnell pretendia estabelecer. Ele escre-veu que “intrigas e mentiras haviam começado a transparecer”131 e 14 dias depois:

Os habitantes de Estocolmo também entregaram uma proposta de bolsa de estudos. Se os professores do Instituto Karolinska puderem nomear bolsistas, todo estipêndio será uma isca para atrair licenciados a se formarem no Insti-tuto e não em Upsala.

Isak Gustaf Clason tentou manter-se neutro na briga e escreveu para o irmão Edward:

Por me considerar neutro entre Upsala e Estocolmo a respeito do empréstimo dos fundos Regnellianos, em alguns casos pode não ser correto comunicar à contraparte o que o outro está fazendo, mas como acho que a proposta vai contra a vontade de Regnell, eu hesito em não Lhe enviar as desaparecidas [o que era, não se sabe], como já lhe escrevi anteriormente. Contudo, eu de-sejaria que Você não entregasse aos outros Upsaliensis, mas que enviasse de volta com um bom conselho sobre o que eu recomendaria a Regnell em rela-ção à nomeação de dois licenciados, pois sem dúvida, como está proposto, seria uma tentação estudar no Instituto Carol. – e eu sei que Regnell gostaria de fazer algo pelo Hospital Serafimer e os estudantes de Medicina– mas não para o Instituto Carol. Isso certamente iria irritar muito Huss se, por ex., a Faculdade de Medicina em Upsala fizesse a nomeação, mas não é possível isto acontecer através dos licenciados-dos próprios colegas?132

Quando Edward assumiu a tarefa de Isak Gustaf de cuidar dos negócios de Regnell na Suécia, Regnell escreveu que ele não exigia verificações, mas que não ficou satisfeito quando recebeu a contabilidade anual para o ano de 1881. Embora os números estivessem corretos, ele não tinha recebido res-posta às inúmeras perguntas que havia feito:

A demora das respostas e, consequentemente, meu desconhecimento sobre o destino de minhas últimas doações e a incerteza de como eu ainda poderia ajudar os Estudos de Medicina na universidade me fizeram ouvir petições de

130 UUB x285m3, 6/1 1863. 131 UUB x285m3, 10/1 1859. 132 UUB x240 [Regnell], 1/7 1862.

Page 65: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

65

outros lugares e assim enviei 15 280 coroas suecas para a Academia de Ci-ências e como uma soma equivalente espero logo poder enviar para minha Pátria, dificilmente posso negligenciar doar para o Instituto Carolinska. Foi-me sugerido doar para a mesma

1) Meios para 1 a 2 fundos, cujos juros poderiam ser convertidos em 1 ou 2 bolsas cada, dos quais 300 ou 500 coroas suecas para serem utilizadas du-rante 2 a 3 anos pelos Estudantes de Medicina de Upsala, Lund ou do Insti-tuto, que fizerem o exame no Instituto.

2) Um capital de 15 a 20 000 coroas suecas para um fundo de reserva para apoiar Professores Docentes no Instituto no momento da publicação e da pre-paração de manuscritos sobre matérias relacionadas a Ciências Médicas. Pre-tendo dar minha aprovação agora para este fundo.133

A carta que Edward escreveu para Regnell naquela época não foi preservada, pelo que nunca poderemos saber como ele reagiu à insatisfação e ameaça de Regnell, que eram totalmente opostas a suas posições anteriores, de que do-ações não poderiam ser feitas ao Instituto Karolinska. Em maio de 1883 ele escreveu para Edward:

Como não disponho aqui no momento de meios para completar a doação para o Instituto Karolinska falada há tanto tempo, que agora deve ser feita rapida-mente, sinto-me obrigado a usar duas de minhas ações da Caixa Hipotecária de Fazendeiros, que estão depositadas no Escritório de Contabilidade da uni-versidade e através desta peço-lhe que auxilie na execução e entrega para o Sr. Grossista Victor Åkerman [genro de Isak Gustaf Clason]. Os cupons anuais atuais permanecem a seus cuidados para prover Anna Lundberg, como antes. 134

Na época em que Regnell estudava, havia poucos professores na Faculdade de Medicina de Upsala. Quem liderava dentro da Faculdade era Israel Hwas-ser, que foi Reitor da Universidade entre 1835 e 1845–46.135 Como Regnell, ele tornou-se posteriormente primus inter pares (primeiro entre iguais N.T) quando disputou na dissertação De usu balneorum in febris curandis em 1813 em Upsala. Depois de haver participado como médico na guerra contra Napoleão de 1813 a 1814 na Alemanha e Noruega, ele tornou-se professor em Medicina Prática na então cidade russa de Åbo. Depois do incêndio de Åbo em 1827, a Universidade mudou-se para Helsinque, onde ele trabalhou durante alguns anos. Conforme Sven-Eric Liedman, em 1824, Hwasser re-cebeu uma proposta de Carl Johan Ekström de um cargo no Instituto Karo-linska, que ele recusou. 136 Em 1829 ele publicou um panfleto Sobre o Insti-tuto Carolinska.137 No mesmo ano ele se despediu do cargo na Finlândia,

133 UUB x285m1, 16/4 1882. 134 UUB x285m1, carta 29/5 1883. 135 Até 1876 os professores se revezavam para ser rector magnificus (Reitor Magnificus N.T). 136 Liedman, Sven-Eric: Israel Hwasser, Stockholm 1971. 137 E.R.U.F. (Hwasser, Israel): Om Carolinska institutet, Stockholm 1829.

Page 66: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

66

pensando em mudar-se para Estocolmo como médico praticante se não con-seguisse a cátedra, mas sua publicação contribuiu para que ele recebesse o cargo em Upsala.

Quando Hwasser se tornou professor em Upsala em 1830, o antigo Hos-pital Nosocomium Academicum, na Riddartorget, tinha apenas 10 leitos e quando ele deixou o cargo em 1854 tinha 30 leitos. O Hospital foi fundado em 1708 e foi nesse antigo Hospital que Regnell recebeu sua formação prá-tica como estudante de medicina. Hwasser não era muito atuante como mé-dico, mas muito atuante como escritor sobre temas médicos bem como sobre as mais variadas áreas sociais. Ele tinha também opiniões bem determinadas sobre a natureza e o tratamento de doenças, especialmente doenças febris, que foram o assunto mais abrangente de seu trabalho A Ciência da Febre.138 Ele tinha ficado muito impressionado com a obra de Johan Christian Reil com mais de 3 000 páginas sobre febre, com certeza a maior obra que alguém tenha escrito sobre o assunto.139 36 dos seus discípulos fizeram também o Doutorado sobre A Ciência da Febre. Isso parece impressionante, mas na época não se exigia um trabalho tão extenso como com as teses atuais. Em uma carta sem data para o professor de química Lars Peter Walmstedt, Hwasser escreve

Vossa Magnificência! Venho humildemente pedir-lhe permissão para me au-sentar das aulas de terça, quinta e sexta-feira nesta semana. O motivo para isso é que, das 18 dissertações que eu me comprometi de liderar e ser autor durante este semestre, ainda faltam 7, pelas quais eu terei que trabalhar du-rante as madrugadas, se a permissão não me for concedida [..] (falta a conti-nuação da carta).140

As concepções de natureza filosófica que prevaleciam durante os anos de estudo de Hwasser e seu caráter pessoal tornaram-no mais propenso à visão especulativa que à pesquisa científica e médica segundo os métodos empíri-cos recentes. Sua opinião era de que a Universidade deveria reunir todos os ramos da ciência e ele defendia sua independência contra o que ele via como apenas escolas profissionalizantes.141 Hwasser era, portanto, um forte oposi-tor à ideia de tirar a medicina da Universidade e colocá-la em uma escola especial em Estocolmo. Sua publicação “Sobre o Instituto Carolinska” não era apenas um panfleto contra, mas uma apresentação de toda sua convicção

138 Hwasser, Israel: Läran om feber I och II, diss. Uppsala 1839–1844. 139 Reil, Johan Christian: Über der Erkenntnis und Cur der Fieber, band 1–5. Halle 1799–1815. 140 UUB, G 320i. Provavelmente a carta foi escrita na primavera 1837 porque na época Walmstedt era Reitor Magnificus. 141 Livro Nórdico da Família, Edição Uggle, Estocolmo 1920, p. 1405–1409.

Page 67: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

67

científica. Ela foi publicada anonimamente pela E.R.U.F., que se dizia sig-nificar “Uma voz vinda da prisão”. Sem seus esforços o Curso de Medicina na Universidade de Upsala teria terminado em favor do Instituto Karolinska.

No Dicionário Biográfico Sueco, 142 seus discípulos mais proeminentes são descritos como “trevo-de-quatro-folhas” consistindo de Per Erik Gel-lerstedt, professor em Lund, Magnus Huss, professor em Estocolmo, Nils Johan Berlin, que disputou ao mesmo tempo que Regnell e mais tarde se tornou Diretor Geral do Conselho Nacional de Saúde e Olof Glas, professor em Upsala. Nenhum dos que tanto admiravam Hwasser compartilhavam de suas visões especulativas, mas levavam a medicina adiante principalmente através de uma atividade estritamente empírica, orientada para a ciência.

De acordo com suas percepções de natureza filosófica, Hwasser era poli-ticamente conservador e um grande seguidor de Karl XIV Johan. Hwasser foi o fundador da Associação Carl Johan, criada em 1851, com a finalidade de, como está escrito nos estatutos, “honrar e reconhecer gratamente a me-mória do grande herói real”. Uma parte desta adoração foi a publicação de Hwasser com o título provocador A libertação da Noruega e a união com a Suécia.143 Hwasser perguntou a Regnell se ele gostaria de se tornar membro da Associação Carl Johan, mas Regnell respondeu evasivamente:

Não há nenhum obstáculo de minha parte para as contribuições monetárias necessárias, porém, como essa é a única maneira pela qual eu poderia ser útil para a Associação, tenho dúvidas em participar, porém se meu nome já está inscrito, Clason deve cuidar do restante e escrevo para ele hoje.144

Hwasser faleceu no dia 11 de maio de 1860 sem ter tido tempo de ler a res-posta de Regnell, mas segundo Clason, ele perguntou a respeito várias vezes em seu leito de morte.145

142 Band 17, p. 49. 143 UUB x285m1, 17/3 1860. 144 UUB x285m1, 17/3 1860. 145 UUB x285m2, 26/10 1860.

Page 68: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

68

Figura 16. O lendário professor de medicina Israel Hwasser, cami-nhando e olhando as estrelas (canto superior esquerdo), acompanhando sua esposa para casa (à direita), an-dando e resmungando no jardim (fi-leira inferior à esquerda) andando no jardim com um gorro na cabeça (canto inferior à direita). Silhuetas de Bernhard Hwasser146. O original encontra-se no Museu Nórdico.

Jacob Magnus Crusenstolpe escreveu no obituário desrespeitoso do Svea Folkkalender (Calendário Popular Svea N.T) de1861:

No ano da coroação de Carl Johan em 1860, Hwasser partiu para se unir ao ideal de sua admiração em um outro mundo.147

Israel Hwasser fundou a Associação Médica de Upsala em 1832 e foi o seu Presidente até sua morte. Nos primeiros anos a Associação Médica reunia-se no chamado pequeno Nosocomium, em dois quartos voltados para o jar-dim, ao lado do recém-construído anexo do Stadshotellet. De acordo com Edward Clason, ele servia para os encontros memoráveis dos membros du-rante a presidência de Israel Hwasser.148 ‘Uma vez ao ano, no dia de Rudbeck, em Upsala, a Associação entrega o prêmio Hwasser, que foi insti-tuído em memória de um dos médicos mais conceituados de Upsala. O fundo do prêmio Hwasserska foi instituído a partir de uma doação, que original-mente era chamada de bolsa de estudos Hwasserska, tendo sido conferido à Universidade de Upsala em 1861 pelo Rei Karl XV, para honrar, dizia, ”os excelentes serviços do professor Israel Hwasser como médico e cientista”. Atualmente, porém, os meios do prêmio provêm de outras fontes.

Um outro professor da época de Regnell foi Göran Wahlenberg, que ocu-pou a cátedra de Linné. Ele é considerado como o fundador da geografia

146 Israel Hwasser não tinha filhos. Bernhard era provavelmente um sobrinho. 147 Crusenstolpe, Jakob Magnus: Svea Folkkalender 17, 1861 p. 149–154. 148 Clason Edward: Uppsala universitet 1872–1897, Anatomiska institutionen, Uppsala 1897, p. 6.

Page 69: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

69

vegetal, mas teve bem pouca influência no desenvolvimento médico devido a suas simpatias homeopáticas. Ele veio, portanto, a ter um relacionamento tenso com seus colegas de Faculdade e com os alunos.149 Diz-se que ele era uma pessoa respeitada, mas também temida, devido a seu grande conheci-mento. Wahlenberg tinha visitado a casa de Clason, em Furudal, ao redor de 1815, quando ele viajou em Dalarna em uma missão da Sociedade Cientí-fica.150

Figura 17. Professor Göran Wahlenberg. Departamento de Mapas e Imagens, UUB.

Carl Benedict Mesterton desempenhou, por outro lado, um papel muito im-portante. Ele nasceu em 1826 em Åbo e formou-se em 1843 em Upsala, onde ele defendeu a tese “Om medfött hjärnbråck” (Sobre encephaloceles congê-nitas) em 1855. Ele foi nomeado professor de cirurgia e obstetrícia em 1857. A Clínica Cirúrgica e a Maternidade do Hospital Universitário foram criadas por sua iniciativa em 1859. Como membro do Comitê de Educação Médica na Suécia (Kommittén för den medicinska undervisningen i Sverige),151 cri-ado em 1859, ele foi um dos principais oponentes à transferência da educa-ção médica para Estocolmo. Faziam também parte do comitê Per Erik Gel-lerstedt, de Lund e Per Henrik Malmsten, de Estocolmo (todos alunos de Hwasser). Malmsten empenhou-se com afinco pela causa do Instituto Karo-linska e conseguiu convencer Gellerstedt a fazer o mesmo, enquanto que

149 Bahr, Gunnar von: Medicinska fakulteten i Uppsala, professorer och läroämnen 1613–1976, Uppsala 1977, p. 34. 150 Clason, Fredrik: Köpmän, bruksmän, ämbetsmän. UUB x255 sa:1 p. 147. 151 Svenskt biografiskt lexikon, band 25, p. 432.

Page 70: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

70

Mesterton continuou com os mais de 30 anos de batalha de Hwasser contra o Instituto. A surpresa foi grande quando o comitê sugeriu que toda a edu-cação médica deveria ser centralizada em Estocolmo. Mesterton publicou vários artigos sobre o assunto e foi contra a proposta, enquanto Gellerstedt recebeu muitas críticas em Lund por sua posição contra sua própria Facul-dade.

Figura 18. Professor Carl Benedict Mesterton. Departamento de Mapas e Imagens, UUB.

Magnus Huss tinha publicado um folheto 152 com argumentos a favor do Ins-tituto Karolinska e Mesterton respondeu primeiro com um folheto próprio 153 e, em seguida, devido a pressões na imprensa, com um outro com o mesmo título. Ele escreveu:

Quando a questão sobre os dois cargos propostos pelo Governo, um para professor de fisiologia e um para professor assistente em cirurgia, seria deci-dida no Comitê Nacional, na noite anterior saiu um artigo no jornal Aftonbla-det onde o decano da Faculdade de Medicina [Mesterton] havia se despido de honra e glória e as informações por ele entregues eram consideradas fal-sas. Na mesma manhã em que a questão seria decidida pelo Inspetor do IK (Instituto Karolinska – N.T.), o então Diretor Geral M. Huss distribuiu um folheto, Instituto Médico-Cirúrgico Carolinska, informações reais comuni-cadas por seu atual decano, onde constava, entre outras coisas, que [a falada] não concessão dos novos cargos solicitados para professores faria com que a

152 Huss, Magnus: Carolinska Medico-chirurgiska Institutet; faktiska upplysningar medde-lade av dess decanus, Stockholm 1860. 153 Mesterton, Carl Benedict: Erinringar i anledning av de Faktiska Upplysningarna om Ca-rolinska Medico-chirurgiska Institutet. Uppsala 1863.

Page 71: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

71

Faculdade não pudesse preencher, durante muitos anos, as cátedras existen-tes.154

Mesterton achava que conseguiria demostrar ponto a ponto que Huss havia fornecido dados incorretos, em alguns casos com inverdades conscientes. Em seu livro Comerciantes, empresários e funcionários, no capítulo sobre seu pai Edward Clason, Fredrik Clason pode mostrar o quão rápido Mester-ton agiu. Ele tinha visitado Estocolmo um dia antes da decisão do Parla-mento e havia recebido em mãos um artigo recém impresso do partido de Estocolmo. Ele regressou então a Upsala e convocou as “canetas disponíveis da faculdade”, como se dizia. Páginas do folheto foram distribuídas aos pre-sentes, que tiveram que escrever uma resposta para a parte que receberam. Conforme ficavam prontas, as páginas do manuscrito eram entregues aos tipógrafos. Durante a noite foi impresso o folheto de Upsala, que um dos autores levou consigo no primeiro trem da manhã para Estocolmo. Quando os parlamentares se reuniram no Plenário, encontraram a contra-argumenta-ção recém impressa de Upsala ao lado do folheto de Estocolmo.155 Os escri-tos mostram como a batalha estava incrivelmente infectada, mas sem dúvida entendia-se que era uma batalha de vida ou morte por ambas as partes.

O Governo decidiu a questão com a ressalva de Mesterton. Juntamente com Hwasser, ele divide a honra de ter salvo a Faculdade de Medicina de Upsala. O apoio financeiro que Upsala recebeu de Regnell chegou psicolo-gicamente no momento certo. A batalha não terminou com isso. Estocolmo começou a luta para ter uma Universidade, mas a exigência de que as Facul-dades de Medicina de Upsala e Lund fossem fechadas não aconteceu. Muito depois, Regnell comentou a situação em uma carta para Clason:

A Universidade de Upsala ganha um concorrente difícil na nova Universi-dade que está sendo formada em Estocolmo e encontra no Nacional Parentes as mesmas vantagens do Instituto Carolinska em relação à Faculdade em Upsala. Isso faz com que tudo que eu puder disponibilizar vai para Estudos Médicos em Upsala, de forma que seus cuidadores não sucumbam na com-petição com o Instituto por falta de recursos materiais. Temos que agradecer essa competição, como Você certamente deve saber, ao alto nível em que os Estudos Médicos se encontram na terra natal. Ele deve ser mantido e tenho também apoiado ambas as partes, mas sem dúvida com muito maior peso para Upsala.156

Pessoalmente, Mesterton era considerado carrancudo, mas gentil e devido a sua habilidade como cirurgião e obstetra, os estudantes o apelidaram de “O mestre do alicate” (ou “mestre do bisturi”, N.T). Ele era considerado um

154 Mesterton, Carl Benedict: Kort belysning av Stockholmstidningarnas senaste uppsatser i den medicinska frågan. Uppsala 1863. 155 UUB x255 sa:2, Clason, Fredrik: Köpmän, bruksmän, ämbetsmän, p. 44. 156 UUB x285m1, 24/5 1876.

Page 72: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

72

médico muito competente segundo Gustaf Retzius, que havia estudado com ele157 e ele foi muito ativo na construção do novo Hospital Universitário inau-gurado a 6 de dezembro de 1867.158 Ele adquiriu 130 ossos de bacias normais e 26 de etnias representativas para a Instituição de Obstetrícia de Magnus Retzius, irmão de Anders.159 Em 1862, ele comprou também de Magnus Re-tzius um grande acervo de fórceps e outros instrumentos no valor de 7 500 riksdales (moeda sueca da época – N.T.).

Um discípulo de Wahlenberg foi Olof Glas, que nasceu em 1812 e se tornou Doutor em Medicina com a dissertação: Sobre neuralgia periódica no coração. Em 1851 ele se tornou professor em cirurgia e obstetrícia, mas foi transferido, em 1856, para a cátedra de medicina teórica e prática, vaga após Hwasser. Ele estava profundamente envolvido nas discussões sobre as doações e bolsas de estudo de Regnell, mas quase fez com que Upsala per-desse tudo. Regnell escreveu em uma carta para Clason que Glas não se en-volvesse nessa questão:

[…] não se pode esperar que o próprio Glas pegue a caneta e escreva no papel, a julgar pelo que aconteceu anteriormente, ou melhor, não aconteceu, pois ainda não recebi uma única linha sobre a transferência do dinheiro, mas minhas simpatias ainda são para Upsala.160

Isak Gustaf Clason tentou, através do seu irmão Edward, influenciar os co-legas na Faculdade:

O que eu recomendaria, no entanto, seria que Mesterton, Glas ou Você tives-sem tempo de escrever algumas linhas para Regnell e lhe dissessem que fi-caram sabendo com alegria que Ele já tinha enviado os primeiros 10 [mil?], e talvez um pouco de como pretendem usá-los, quão rápido, etc. –em outras palavras, algo amigável, para que ele não tenha razão de reclamar também do silêncio e da rigidez de Upsala.161

Provavelmente nenhuma carta foi mandada para Regnell, porque um ano de-pois Isak Gustaf levantou novamente a questão: “não demorem em lhe es-crever, pois percebemos quão fraco ele na verdade deve estar ”.162 Algumas semanas depois, ele enviou outro lembrete para Edward:

Antes que você viaje para a Alemanha, quero lhe pedir, enquanto você ainda está em casa, que se certifique de que alguém controle Glas rigorosamente

157 Lindblad, Thomas: Gustaf Retzius, a biography, Stockholm 2007, p. 34. 158 Davidsson, Åke: Akademiska sjukhuset 1867–1967, en bildkrönika. Stockholm 1967. 159 Clason, Edward: Uppsala universitet 1872–1897, Anatomiska institutionen, Uppsala 1897, p. 25. 160 UUB x285m1, 18/12 1862. 161 UUB x240 [Regnell], 21/8 1863. 162 UUB x240 [Regnell], 13/3 1864.

Page 73: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

73

em todas as questões relacionadas aos negócios Regnellianos, para que com o tempo não lhes fujam das mãos.163

Figura 19. Professor Olof Glas. Foto Henri Osti. Departamento de Mapas e Imagens, UUB.

Glas havia recebido o relógio de ouro de Wahlenberg em seu leito de morte. Ele foi depois doado para Regnell, que ficou muito contente com o presente e escreveu para Clason:

Memórias antigas de tempos felizes, que passei junto com você, sob a lide-rança do antigo dono deste relógio retornaram, como você facilmente pode imaginar e eu revivi novamente em minha mente os estudos que na época compartilhamos.164

Edward Clason, o meio-irmão de Isak Gustaf Clason, formou-se no Ensino Médio em 1849. Quando ele iniciou seus estudos em Medicina, as matérias teóricas eram administradas por um professor apenas, o professor de Anato-mia, Fisiologia e Direito Médico, Fredrik Sundevall. Edward tornou-se seu assistente em 1853, estudante de medicina em 1857, médico em 1861 e de-fendeu o doutorado em 1862 com a tese: Sobre a etiologia da curvatura da coluna vertebral. Ele foi posteriormente nomeado Assistente de Professor em Anatomia e Fisiologia e em 1863 Adjunto nas mesmas. Em 1877, a Uni-versidade de Upsala decidiu convidar Thore Fries e Edward Clason para a

163 UUB x240 [Regnell], 7/4 1864. 164 UUB x285m1, 20/5 1863.

Page 74: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

74

cadeira de professores em Botânica e Anatomia e Fisiologia, respectiva-mente. Fries foi nomeado, mas Edward Clason recusou o convite. Isak Gus-taf Clason escreveu para Regnell:

[…] então ocorreu o inesperado e incomum, que Edward foi até o chanceler e renunciou ao convite, uma vez que, por causa da Ciência, preferiu perma-necer como professor assistente, um cargo que nenhum médico proeminente gostaria de assumir, em vez de ser professor, cargo a que sempre se poderia conseguir alguém mais facilmente. Essa renúncia atraiu muita atenção de médicos, entre outros, pela nobreza de seus sacrifícios – a mim me parece que o mesmo quer tentar tornar-se professor de anatomia pura, após terem primeiramente sancionado o pedido de separar Fisiologia e Medicina Legal, em particular esta última, que sei que Edward não quer ser obrigado a ler ou examinar.165

Edward Clason teve que esperar a cadeira de professor de anatomia como substituto até 1882, quando se tornou professor titular.166

Figura 20. Professor Edward Clason. Foto Henri Osti. Departamento de Mapas e Imagens, UUB.

Em 1876, dois perigosos criminosos seriam decapitados, o que o Rei, contra sua vontade, deveria aprovar. Isak Gustaf descreveu para Regnell o que ocorreu. Edward viajou para Södermanland, onde a execução ocorreria, juntamente com o assistente Salomon Hens-chen e um zelador. De Estocolmo foram Key e um zelador. Eles puderam dispor de uma sala de dissecção a apenas ¼ de hora do local da execução. Ali os dois professores puderam ter acesso a tecidos frescos de um ser hu-mano. Graças a Regnell, disse Edward, ele teve recursos para adquirir esses tesouros inestimáveis.167

165 UUB x285m2, 7/4 1877. 166 Uma outra versão foi dada por Carl Frängsmyr na História da Universidade de Upsala vol. 2:1, Uppsala 2010 p. 477: Edward Clason considerava que a matéria Anatomia era muito extensa e que havia necessidade de um representante próprio para Histologia. Edward recu-sou, portanto, demonstrativamente, sugestões para se tornar Professor Titular. Ao mesmo tempo, ele não queria privar-se da possibilidade de mudar para uma posição com uma remu-neração melhor, como Professor Titular. Quando um concorrente pleiteou o cargo em 1978, Edward também pleiteou, mas retirou o pedido quando o concorrente retirou. Ele se declarou disposto a registrar-se como candidato ao cargo indivisível de professor somente se algum outro o procurasse. Ele aceitou o cargo de Professor Titular em Anatomia somente quando foram concedidos recursos para o cargo de Histologia. 167 UUB x285m2, 19/4 1876.

Page 75: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

75

Edward Clason foi muito ativo na confecção de estatutos para os diferen-tes fundos que Regnell criou e sua própria instituição de Anatomia recebeu várias contribuições destes fundos.

Edward era considerado um grande excêntrico. Folke Henschen, escreve em suas memórias168 que as grandes coleções de ossos encontradas ao se cavar os alicerces do Parlamento não tinham sido catalogadas sistematica-mente, pois Edward confiava em sua boa memória, pelo que elas em grande parte perderam seu valor científico.

Um proeminente representante da medicina em Upsala foi Frithjof Holmgren, que nasceu em 1831 e faleceu em 1897. Em 1862 ele foi nomeado assistente médico para ensinar fisiologia e, em seguida, montou o primeiro laboratório de fisiologia da Suécia em algumas salas da Instituição Ana-tômica na Islandsbron (ponte no centro de Upsala – N.T). Dois anos depois ele tornou-se um dos primeiros professores de fisiologia do país, que então se separou da cadeira de anatomia. Exercícios de laboratório obrigatórios em fisiologia foram introduzidos por Holmberg em 1871 para todos os estudan-tes de medicina e foram oficialmente regulamentados em 1874, quando tanto a Faculdade de Medicina em Lund como o Instituto Karolinska fizeram o mesmo.

Charles Darwin publicou seu livro que marcou época On the origin of species by means of natural selection (A Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural – N.T.), no final de novembro de 1859, sendo votado como membro da Sociedade Real de Ciências de Upsala no dia 8 de fevereiro de 1860. No estágio inicial de sua pesquisa, Holmgren interessou-se pela fisio-logia do trato digestivo e estudou especificamente a função do estômago das pombas.169 Inspirado por Darwin, ele queria estudar experimentalmente em seus animais de laboratório se uma dieta modificada poderia mudar os ór-gãos digestivos de plantas e de animais carnívoros. Ele queria ver se poderia fazer falcões de pombos e pombos de falcões e, inicialmente, achou que al-guns pombos começaram a se comportar como predadores, mas depois que a fase reprodutiva terminou, a experiência acabou. Holmgren deu uma pa-lestra para a Associação Médica de Upsala sobre as experiências e colocou então uma pomba “kornduva” (comedora de grãos) juntamente com três “köttduvor” (carnívoras) na mesma gaiola para fins de comparação. Con-forme o relatório, as “pombas carnívoras” mostraram-se muito agressivas contra suas companheiras mansas. É fácil achar graça na ideia ingênua de que a seleção natural poderia ser tão rápida quanto Holmgren imaginava e muitos o fizeram já em sua época.170 No entanto, isto aconteceu muito antes

168 Henschen, Folke: Min långa väg till Salamanca, Stockholm 1957. 169 Holmgren, Frithjof: Physiologiska undersökningar över duvans magar, Upsala Läkareför-enings förhandlingar, band 2, 1867–68, p. 648–649. 170 Fröding, Gustaf: Duva blir hök? A poesia começa assim: Falcão e pomba, uma experien-cia científica. Aprimorar o pombo para ser falcão, aprimorar o falcão para ser um pombo, é

Page 76: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

76

do avanço da genética, mas mostrou algo novo na Ciência Médica: através de experimentos, provar ou refutar um postulado.

Figura 21. Professor Frithjof Holmgren. Departa-mento de Mapas e Imagens, UUB.

Frithiof Holmgren escreveu para o Consul Geral Leonard Åkerblom no Rio de Janeiro e pediu ve-neno de flechas ou curare. Åkerblom pediu para Regnell, que, no entanto, respondeu que era im-possível obter curare na região de Caldas. Os ín-dios que usavam o veneno na caça viviam muito longe e, além disso, eram hostis aos brancos, sendo difícil conseguir contato com eles. Ele su-geriu, em vez disso, que procurasse o Doutor

Francisco da Silva Castro, um médico brasileiro conhecido também na Eu-ropa, que enviou dois vasos de barro com curare. Este foi dividido entre as instituições de fisiologia e farmacologia em Upsala. Holmgren relatou seu efeito em várias palestras para a Associação Médica de Upsala em 1865.171 Ele amarrou as artérias das pernas de um sapo e mostrou que o curare agia através dos nervos e não através do sangue.

Depois de trabalhar por oito meses com o famoso fisiólogo alemão Her-man von Helmholtz, Holmgren começou a pesquisar e lecionar sobre fisio-logia dos olhos.172 A maior importância teórica foi sua descoberta da reação fotoelétrica do olho, onde ele pode mostrar que os fenômenos elétricos acon-teciam na retina e não no nervo ótico. Seu extenso estudo sobre a percepção das cores foi menos significativo cientificamente, mas com um significado prático muito maior. Em 15 de novembro de 1875, houve um acidente fer-roviário em Lagerlunda, Östergötland. Os funcionários de um dos trens ha-viam morrido, mas Holmgren considerou que a provável causa do acidente seria de que o condutor ou outra pessoa na locomotiva fosse daltônico e, portanto, não havia percebido que o sinal estava vermelho, com o que os dois trens colidiram. Em um teste de vários funcionários da estrada de ferro, dos quais alguns eram daltônicos, ele demonstrou, perante a liderança da Ferrovia Estatal, que os daltônicos não conseguiam determinar a cor dos si-nais ferroviários. Isso aconteceu na sexta-feira, dia 13 de outubro de 1876 e já no primeiro dia útil após o fim de semana, os médicos ferroviários deram

um pensamento darwinista que os zoólogos da época incubavam. (Escrito ao redor de 1885, mas publicado em Efterskörd 1910) (coleção de versos – N.T.). 171 Protocolo da Associação Médica de Upsala 1864-1867, p. 14-17. 172 Berg, Fredrik: Oftalmologin i Sverige under 1800-talet, Upsala 1965, p. 96–105.

Page 77: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

77

ordem para testar a capacidade de distinguir cores dos funcionários. Na se-quência, foi exigido que todos os funcionários tivessem uma capacidade nor-mal de distinguir cores. A reforma entrou em vigor antes que Holmgren ti-vesse publicado seu método.173

Frithjof Holmgren havia recebido uma carta anônima, em fevereiro de 1876, perguntando se a Ciência Médica poderia confirmar ou desmentir uma declaração no jornal Dagens Nyheter, em 5 de fevereiro de 1876, de que a morte não ocorreria imediatamente após a decapitação. Ele teve oportuni-dade de estudar os processos fisiológicos quando da execução do assassino Hjert, em que Edward Clason havia obtido permissão de utilizar órgãos para pesquisa científica e viajou para o local da execução em Håtorp, Söderman-land, juntamente com um assistente. Ele queria também “evitar a propagação de rumores sobre a terrível operação, sobre os quais é a pergunta”. As con-dições não foram, entretanto, muito favoráveis para estudos psicofisiológi-cos. As cerimônias que precederam a decapitação foram extremamente per-turbadoras. Muitas pessoas tinham se reunido e estava tão frio que Holmgren e seu assistente haviam congelado durante a espera. Eles tinham só um reló-gio de segundos para marcar o tempo. Após a cabeça ter sido separada do corpo, foram observados os movimentos da íris, dos globos oculares, da lín-gua e das mandíbulas. Holmgren considerou que os movimentos eram de puro reflexo e não evidência de que o decapitado estivesse consciente. A cabeça e o corpo foram rapidamente enterrados e colocados em um caixão que foi levado para o local de autópsia nas proximidades, onde Clason e Key assumiram. Holmgren publicou posteriormente uma descrição detalhada de tudo.174

Upsala foi, durante algumas décadas, um centro de pesquisa de fisiologia ocular, com Holmgren na chefia do departamento de fisiologia. Seus dois alunos Magnus Blix e Hjalmar Öhrvall defenderam teses sobre fisiologia dos sentidos. Salomon Eberhard Henschen era professor na Clínica Médica e es-tudava anatomia das vias da visão e o centro de visão localizado no lobo occipital no cérebro. Regnell seguiu com interesse o desenvolvimento da fi-siologia e obteve vários livros didáticos sobre o assunto.

173 Holmgren, Frithjof: Om färgblindhet i dess förhållande till jernvägstrafiken och sjöväsen-det, Uppsala 1877 p. 1–174. 174 Holmgren, Frithjof: Om halshuggning betraktad från fysiologisk synpunkt, Stockholm 1876, p. 1–62.

Page 78: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

78

Figura 22. Professores da Faculdade de Medicina em meados de 1860. Na fileira esquerda de cima para baixo, o professor Edward Clason (anatomia), o professor August Almén química médica e fisiológica) e o professor Fredrik Björnström (medicina teórica e prática); na fileira do meio o professor Carl Mesterton (cirur-gia), o professor Olof Glas (medicina prática e teórica), o professor Fredrik Sunde-vall (anatomia) e o professor Per Hedenius (patologia) e na fileira da direita o ad-junto Frithjof Holmgren (fisiologia), o professor Gustaf Kjellberg (psiquiatria) e o professor Robert Fristedt (ciência médica). Departamento de Mapas e Imagens, UUB.

Page 79: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

79

Instituição Anatômica e Regnellianum Desde os tempos antigos fisiologia e patologia fizeram parte de anatomia. Em 1662–1663, Olof Rudbeck Sênior mandou construir o teatro de anatomia no Gustavianum, onde o ensino de anatomia era aplicado, mas apenas duas dissecções humanas ocorreram lá; principalmente eram mostradas dissec-ções de animais. Em 1757 foram abertas duas salas no andar térreo na nova casa da diretoria da universidade para demonstrações anatômicas, mas as salas eram escuras e úmidas e, portanto, inadequadas. Somente em 1850 a anatomia recebeu novas instalações na quadra Munken, na Islandsbron (nome de uma ponte – N.T), mas teve que compartilhá-las com a fisiologia e a patologia. O meio-irmão de Isak Gustaf, Edward Clason, havia lecionado como adjunto em anatomia e histologia desde 1863 e como professor extra-ordinário responsável pelo ensino desde 1877. Em 1882, ele tornou-se pro-fessor titular de anatomia. O desenvolvimento da anatomia em Upsala e es-pecialmente a instituição de anatomia que Regnell parcialmente financiou foi descrita por Edward Clason em um artigo em 1897.175

Em 1864, Regnell doou 30.000 coroas suecas para a construção de um novo prédio para as Instituições de anatomia patológica e fisiológica. Um prédio em comum para os fisiologistas e os patologistas, chamado Regnelli-anum, foi então construído na rua Trädgårdsgatan e inaugurado em março de 1867. Ele doou posteriormente, em 1868, mais 3.500 coroas suecas para a instalação de água na casa. As instalações eram, entretanto, apertadas, o que também foi reconhecido pelas autoridades. Em março de 1874, Edward escreveu:

Nova doação de Regnell. Nas perspectivas preocupantes do futuro da Facul-dade, é novamente um raio de sol e que Deus abençoe aquele que o enviou.176

Havia, no entanto, muitas opiniões diferentes sobre o que seria feito e Isak Gustaf perguntou a Edward:

Os interessados ainda estão de acordo de como a extensão do Regnellianum deve ser? Não duvide de que cada um queira aproveitar o máximo para si e de que cada um considere sua necessidade como a mais importante, pois pa-rece quase ser necessário haver também um congresso para as Faculdades em Upsala que concilie as opiniões conflitantes e contenha os interessados para que ao menos não se envergonhem uns aos outros.177

Em 1878, Edward achou melhor que Regnell não doasse mais dinheiro na-quele momento, pois o Parlamento poderia achar que não havia necessidade

175 Clason, Edward: Uppsala universitet 1872–1897, Anatomiska institutionen, Uppsala 1897. 176 UUB x255 sa:1, Clason, Fredrik: Köpmän, Bruksmän, Ämbetsmän. p. 214. 177 UUB x240 [Regnell], 27/6 e 6/7 1878.

Page 80: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

80

de fornecer mais recursos.178 Como, em 1880, o Governo ainda não havia destinado, em seu orçamento, fundos para a construção, Edward entrou em contato com o Ministro Eclesiástico F. F. Carlsson. Ele reconheceu a neces-sidade, mas explicou que o Estado não tinha condições financeiras. Edward propôs, então, com o apoio do Ministro e Chanceler da Universidade Hen-ning Hamilton, que Regnell escreveria o seguinte em sua carta de doação:

Eu entrego ao Consistório Universitário em Upsala a quantia de 40.000 co-roas para ser usada na construção e mobília de uma das duas alas do prédio do instituto de anatomia, para cuja construção Sua Majestade Real propôs ao Parlamento de 1882, que concedesse uma contribuição de 140.000 coroas. Deixo ao Prefeito da Instituição a incumbência de decidir para qual das duas alas o valor entregue será utilizado. Uma vez que tanto Sua Majestade Real quanto, em parte, o Parlamento, já reconheceram a necessidade de extensão e ampliação do prédio da Instituição Universitária e o Parlamento declarou querer apenas “adiar a liberação de recursos para tempos futuros mais favo-ráveis”, o Consistório Universitário, consequentemente, não deve deixar de humildemente fazer uma nova petição junto a Sua Majestade Real para a li-beração de recursos para a construção das duas alas restantes, é meu desejo e vontade que, ao mesmo tempo, seja feita uma petição formal ao Estado para que resgate os recursos entregues por mim para o pagamento final destas alas. Se tal resgate ocorrer da forma como suponho e espero, as somas reembolsa-das pelo Estado ao Consistório serão usadas, como tenho razões de acreditar, para rapidamente ampliar ou expandir os prédios das instituições de patolo-gia e fisiologia ou o chamado Regnellianum. Deixo para a Faculdade de Me-dicina, neste caso, a decisão de quando e de que forma executar a futura construção e insisto em que o Consistório administre e, para o mesmo fim, aplique os recursos em questão, bem como os meios excedentes que eventu-almente possam ocorrer na construção da ala para a instituição de anato-mia.179

Regnell daria, portanto, um adiantamento para a construção. Como o Parla-mento concedeu recursos para a construção da Instituição de Anatomia em 1882, este Fundo nunca foi utilizado para esse fim, mas o valor doado, bem como outros meios concedidos pelo Conselho de Doações Regnell, foram usados em parte para o novo prédio da Instituição de Fisiologia e, em parte, para a construção e reforma da Instituição de Patologia.

Quando Regnell, em 1880, doou 50 000 coroas suecas para a construção das alas, os dissecadores deram hurras para Regnell, relatou Edward para Isak Gustaf.180 Ele então respondeu: “Irmão Edward! Coloque um cadeado na boca daqueles que deram hurra; – e depois, escolha – ó homem, escolha o melhor”.181

178 UUB x285m3, 2/7 1878. 179 UUB x285m3, 19/1 1880, carta de Edward para Isak Gustaf Clason. 180 UUB x285m3, 14/4 1880. 181 UUB x240 [Regnell], 20/4 1880.

Page 81: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

81

Figura 23. Instituição Anatômica de 1850, antes da expansão. Departamento de Mapas e Imagens. UUB.

Figura 24. Instituição de anatomia depois que as duas alas foram acrescenta-das. Foto Henri Osti. Departamento de Mapas e Imagens, UUB.

Page 82: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

82

No início de maio de 1880, Edward informou que o Consistório havia rece-bido a carta de doação.182 Foi a última carta entre os irmãos que está preser-vada. Isak Gustaf já estava doente então e faleceu alguns meses depois. O prédio da Anatomia foi concluído em janeiro de 1886. No dia do aniversário de 75 anos de Edward, foram arrecadadas 3 600 coroas suecas para realizar seu desejo de longa data, que um busto de Olof Rudbeck Sênior fosse levan-tado do lado de fora da instituição de anatomia, junto à Islandsbron (nome de uma ponte-N.T.). Este foi levantado em sua homenagem no dia 31 de maio de 1910. O busto foi feito por Carl Eldh.

A Instituição Fisiológica havia se expandido rapidamente além de suas instalações. Os exercícios laboratoriais obrigatórios exigiam espaço. Tam-bém havia muitas visitas, como, por exemplo, trabalhadores da estrada de ferro para exame da capacidade de distinguir cores. A questão do local para fisiologistas foi adiada por vários anos, devido a que opositores de experi-ências com animais entre os parlamentares se opusessem ativamente a Holmgren. Regnell havia se interessado muito pela fisiologia, que ele consi-derava de grande importância para o desenvolvimento da medicina e doado fundos para uma nova Instituição. Em maio de 1886, o Conselho de Doação Regnelliana decidiu financiar a construção do novo Regnellianum. A Uni-versidade cedeu o terreno chamado terreno Waldenströmska, na esquina da rua Trädgårdsgatan e a Slottsgränd, para a construção. Em setembro de 1892, a casa estava construída e mobiliada. É interessante notar que, no teto, há uma claraboia para pássaros. A casa foi inteiramente financiada pelas doa-ções de Regnell, o que também fica evidenciado pela inscrição na entrada principal, que diz Donavit Regnell.183 A Instituição de fisiologia permaneceu na casa até 1968, quando foi transferida para o recém-construído BMC. Mi-lhares de médicos ali estudaram fisiologia ao longo dos anos. A casa é um monumento histórico estatal. Depois de haver abrigado a Instituição Teoló-gica por um tempo, o Regnellianum é atualmente o escritório do Landstings-service no condado da província de Upsala.

182 UUB x285m3, 3/5 1880. 183 Holmgren, Frithjof: Fysiologiska institutionen, Uppsala universitets festskrift 1897, del 2, p. 123–129.

Page 83: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

83

Figura 25. Regnellianum. Arquiteto C. A. Ekholm. Seção de Mapas e Imagens,

UUB.

Figura 26. Placa comemorativa na escadaria de Regnellianum. Foto Bo Lindberg

2010.

Page 84: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

84

O Instituto Karolinska

O concorrente da Faculdade de Medicina, o Instituto Karolinska, considera o dia 13 de dezembro como o dia de sua fundação. Sua Majestade Real de-cidiu, nesta data, estabelecer um “instituto para formação de médicos mili-tares qualificados”. A necessidade havia se tornado evidente por causa da guerra recente vivenciada na Finlândia. O Instituto foi posteriormente cha-mado de Instituto Carolinska Médico – Cirúrgico em homenagem ao Rei Carl XIII. O novo Instituto contratou alguns dos mais brilhantes médicos e pesquisadores da época.

Jöns Jakob Berzelius nasceu em 1779 e havia cursado o ensino médio em Linköping, onde ele, no boletim final, é descrito como “um jovem com es-peranças equivocadas”, o que pode ser explicado pelo fato de que seu maior interesse eram as ciências naturais, o que não era apreciado pelos professo-res.184 Ele se matriculou na Universidade de Upsala em 1797 para se tornar médico e defendeu tese em 1802. Ele foi nomeado professor em medicina e farmácia na Escola de Cirurgia, que posteriormente tornou-se o Instituto Ka-rolinska, em 1807, de que ele foi um dos fundadores.

184 Nordisk familjebok, Uggleupplagan, band 3, 1905, p. 89–90.

Page 85: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

85

Figura 27. Professor Jöns Jakob Berzelius. Fotogravura através de daguerreotipo, feita em Berlim em 1843. Departamento de Mapas e Imagens, UUB.

Berzelius foi professor no Instituto Karolinska até 1832 e um de seus mais famosos professores e pesquisadores da época.185 Sua principal obra é o tra-balho sobre proporções químicas determinadas, isto é, a teoria do átomo em química. A tabela de pesos atômicos que ele lançou em 1818 difere muito pouco da atual. Ele foi secretário permanente da Academia Real de Ciências desde 1819 até sua morte em 1848. Berzelius foi um bom amigo do avô materno de Isak Gustaf Clason, o químico Johan Gahn, mas ele era signifi-cativamente mais velho que Clason e Regnell, não sendo mencionado em suas correspondências. Em virtude de sua fama, no entanto, ele foi um po-deroso fator na luta entre as Faculdades de Medicina e o Instituto. Ele era apoiado por Anders Retzius, Carl Johan Ekströmer, Per Henrik Malmsten e Christian Ehrenfried von Weigel Junior.

Anders Retzius nasceu em 1796 e era filho do professor de História Natu-ral em Lund, Anders Jahan Retzius, que instituiu a Associação Real de Fisi-ografia em 1772. Quando de sua morte, o pai doou para a Academia Real Carolinska, como a Universidade de Lund era chamada na época, sua grande coleção natural, incluindo crânios e esqueletos. O filho Anders tornou-se es-tudante em Lund em 1812 e, posteriormente, estudou por um tempo em Co-penhagen. Ele tornou-se Doutor em Medicina em 1819 e Professor no Insti-

185 Berzelius e Edward Clason estavam em campos opostos na batalha entre o Instituto Karo-linska e a Faculdade de Medicina em Upsala. Berzelius, no entanto, era um velho amigo da família Clason e foi padrinho quando o irmão mais novo de Edward, Henrik, foi batizado, em 1836.

Page 86: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

86

tuto de Veterinária em Estocolmo em 1823. Através da mediação de Berze-lius, ele tornou-se Professor substituto em Anatomia no Instituto Karolinska em 1824 e titular em1840.

Figura 28. Professor Anders Retzius. Departamento de Mapas e Imagens, UUB.

Retzius foi um pesquisador muito conhecido na época. Para a posterioridade ele ficou mais conhecido pelo seu “índice craniano” de 1840, em que ele dividia a humanidade em dolicocéfalos e braquicéfalos, na qual os dolicocé-falos se destacavam pelo empreendedorismo e agressividade e os braquicé-falos por serem conservadores.

O filho Gustaf Retzius continuou o trabalho do pai, fazendo, entre outros, estudos antropológicos na Finlândia e entre os lapões, publicando uma grande obra sobre crânios suecos e sobre o caráter racial dos povos euro-peus.186 Juntamente com alguns outros pesquisadores, Gustaf Retzius fundou a Sociedade Antropológica em 1873; depois de quatro anos, o nome foi mu-dado para Sociedade Sueca de Antropologia e Geografia. O pai, o filho e o neto Retzius não foram os únicos a participar da intensa busca de crânios que os pesquisadores europeus realizaram durante 1800, embora estivessem entre os mais ativos. Em suas inúmeras viagens para o exterior, por exemplo,

186 Retzius, Gustaf: Crania Suecia Antiqua. Beskrivning av svenska människokranier från stenåldern, bronsåldern och järnåldern jämte en blick på forskningen över de europeiska fol-kens raskaraktär, Stockholm 1899.

Page 87: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

87

para o Egito e América do Norte, Gustaf Retzius coletou grandes quantida-des de crânios de cemitérios de guerra e de outros túmulos.187

Figura 29. Professor Gustaf Retzius e o lapão Fjällstedt 1905.188 Museu Nórdico MNA0052720.

Björn Furuhagen realizou uma investigação sobre a história da biologia ra-cial como parte de uma missão para o Governo.189 Nesta se torna evidente que a pesquisa sobre biologia racial era apenas em parte o que hoje entende-mos como ciência. Ela se baseava em parte em conceitos racistas, explícitos ou não. Pesquisadores atuais caracterizam e julgam os arqueólogos e antro-pólogos físicos do século XIX de maneiras diferentes. Alguns alegam que eles devem ser considerados conforme a visão da época e não devem ser julgados segundo nossas referências atuais. Outros alegam que Anders Ret-zius, no fundo, era racista, pois ele considerava que havia relação entre a forma do crânio e outras características psíquicas. Como Tore Frängsmyr190 187 Lindblad, Thomas: Gustaf Retzius, a biography. Estocolmo 2007. 188 Não foi possível determinar quem é o lapão Fjällstedt. 189 Furuhagen, Björn: Den svenska rasbiologins idéhistoriska rötter, en inventering av forsk-ningen, Forum för levande historia, dnr 326, 2006. 190 Frängsmyr, Tore: Svensk idéhistoria, bildning och vetenskap under tusen år, del 2, 1809–2000, Stockholm 2004, p. 52.

Page 88: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

88

enfatiza, a civilização era identificada obviamente com o estilo de vida eu-ropeu e neste os suecos faziam parte da elite. Anders Retzius foi um precur-sor do racismo que conquistaria seguidores entre pesquisadores suecos e po-líticos nas últimas décadas do século XIX. A Sociedade de antropologia Gustaf Retzius tornou-se um centro de pesquisa racial na Suécia. Inicial-mente, não se podia dizer que Gustaf era racista, mas com o tempo ele seguiu a tendência em direção a uma doutrina mais racista com ideias de “mistura racial nociva” e de pureza e supremacia da raça nórdica.

Os irmãos Isak Gustaf e Edward Clason estiveram, além disso, juntos em uma reunião na Sociedade Antropológica, em 1878 e ouviram Hjalmar Stolpe falar sobre a maneira de como os índios do norte do Brasil usavam o fumo. Juntamente com Gustaf Retzius, Stolpe foi um dos fundadores da So-ciedade de Antropologia. Durante uma viagem de pesquisa ao Peru, ele ha-via coletado 80 crânios de índios e levado consigo para Estocolmo.191 Du-rante a palestra, ele mostrou ferramentas feitas de plantas, que eram usadas para pulverizar as bolinhas de fumo, que eram então sopradas dentro do nariz através de um par de tubos, feitos de ossos do antebraço de alguns macacos de braços compridos. Isak Gustaf pediu a Regnell que, através de seus con-tatos, tentasse obter ferramentas semelhantes e as enviasse para a Suécia. O interesse por objetos de uso diário de culturas estrangeiras era grande.192

Anders Retzius não foi tão ativo na batalha entre Upsala e Estocolmo, mas como professor de Regnell, ele o influenciou muito. No início da década de 1830, Regnell foi, durante um ano, vice professor de Anders Retzius. Este então usou o seu ex-aluno como fornecedor de esqueletos do Brasil. Regnell escreveu para Clason em 1845:

Você pode, portanto, prometer ao Prof. Retzius que, com toda a certeza, os esqueletos encantados chegarão este ano. Eu solicitei o esqueleto de um índio de vários locais. Um dos que me prometeram arranjar um deve-me um favor por eu ter cuidado de um de seus escravos e, como pagamento, pedi o crânio de um índio, em vez dos meus 30 riksdales (moeda antiga sueca – N.T.) que eu, no mínimo cobraria, espero que ele mantenha a palavra. Para outro eu dei mais da metade desta soma para o mesmo pagamento. Deste último terei no-tícias em cerca de um mês e do primeiro só em 1, ou 1½ a 2 anos, ou talvez o crânio do índio vá para a Bahia e, nesse caso, já providenciei para que seja entregue ao Cônsul Sueco – que parece ser amigo de Retzius. Pelo mesmo favor consegui que o Consul Geral Westin solicitasse um crânio sudanês de seu amigo Silva Machado, Barão de Antoninho, que está construindo uma colônia entre os índios.193

191 Arbman, Holger: Hjalmar Stolpe som fornforskare, Fornvännen 11, 1941 p. 146–162. 192 UUB x285m2, 16/1 1879. 193 UUB x285m1, 19/12 1845.

Page 89: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

89

No ano seguinte, Isak Gustaf escreveu para Regnell que Retzius ”resmun-gava” que ele não tinha recebido nenhum esqueleto.194 Em 1847, Regnell enviou uma pequena caixa com esqueletos e escreveu que ele tinha um grande esqueleto de uma anta e um crânio de macaco, de modo que as cole-ções não se limitavam somente a esqueletos humanos.195,196

Um outro representante do Instituto Karolinska foi Carl Johan Ekström, como se chamava antes de tornar-se nobre. Ele nasceu em Karlstad em 1793, onde também se formou no ensino médio em 1810. Ainda como estudante do ensino médio, com 15 anos, ele foi contratado como interno no Hospital Tängelunda e depois no Hospital Brinkebergskulle, durante a guerra contra a Noruega.197 Ele estudou depois em Lund, onde se tornou Bacharel em Me-dicina em 1811 e, depois do exame de cirurgia, participou como cirurgião na guerra contra Napoleão. Ele tornou-se médico em 1817 em Upsala. Ekström foi o primeiro bacharel em medicina que se matriculou no novo Instituto Karolinska, os demais eram aprendizes de barbeiro e similares. Seus professores foram, entre outros, Jakob Berzelius, Anders Johan Hags-trömer e Per af Bjerkén. A colaboração com af Bjerkén, que era o cirurgião mais famoso da época, não funcionou muito bem, de acordo com a autobio-grafia de Ekström. Já em 1818 ele tornou-se médico da corte, em 1821 mé-dico da família real e cirurgião no Hospital Serafimer, professor credenciado em 1827 e professor titular de cirurgia no Instituto Karolinska em 1836, mesmo ano em que foi elevado à nobreza, com o nome Ekströmer. Em 1837, tornou-se Diretor Geral do Hospital Psiquiátrico, do Hospital Geral e da clí-nica de enfermidades sexualmente transmissíveis e em 1849, Presidente do Conselho Nacional de Saúde.

194 UUB x285m2, 26/10 1846. 195 UUB x285m1, 21/12 1847. 196 Regnell não era o único interessado em crânios humanos na região. O fotógrafo Henrik Rosén, em Campinas, perguntou a Salomon Eberhard Henschen em uma carta, se ele tinha como conseguir alguns crânios de índios em Caldas. A carta foi assinada, Seu atencioso Hen-rik Rosén (UUB S. E. Henschen 11 19/2 1868). 197 Ekströmer, Aina: Livmedicus Carl Johan Ekströmer – kirurg och nydanare, Kalmar 2007. Sua autobiografia está incluída como um capítulo no livro.

Page 90: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

90

Figura 30. Professor Carl Johan Ekströmer. Cópia de Jean Hage do retrato de Per Södermark em 1851. O quadro encontra-se na Sociedade Sueca de Medicina.

Na batalha entre as Faculdades de Medicina e o Instituto Karolinska, ele atuou tanto como professor no Instituto e como parlamentar. Como presi-dente do Conselho Nacional de Saúde, ele também foi responsável pelo re-latório da Agência Governamental sobre a sugestão apresentada pelo Comitê para o ensino médico na Suécia.

Magnus Huss nasceu em 1807 e formou-se na escola secundária em 1824. Depois ele estudou medicina em Upsala e em suas memórias ele dá uma imagem viva do estado da faculdade de medicina.198 Quando ele e os colegas iam estudar anatomia, afirma Huss que não havia um único professor no as-sunto. Depois de ter adquirido um [sublinhado por Huss] cadáver de Esto-colmo, os estudantes tiveram que tentar aprender por conta própria os mús-culos do corpo através de um livro didático. Tampouco melhorou com Ro-mansson como professor assistente – como tal, ele achava que bastava estu-dar anatomia em cartazes. Huss tornou-se, no entanto, Bacharel em Ciências Médicas em 1832, pós-graduando em Medicina em 1834 e Doutor em Me-dicina no mesmo ano. Em 1839, tornou-se médico assistente na Clínica Mé-dica do Hospital Serafimer e em 1840 médico-chefe e professor extraordi-nário no Instituto Karolinska. Ele estava, portanto, na mesma época que Regnell no Hospital Serafimer e foi, então, também seu paciente. Ele escre-veu em suas memórias que havia adquirido tifo epidêmico em 1837 e

198 Huss, Magnus: Några skizzer och tidsbilder från min lefnad hämtade dels från äldre an-teckningar, dels ur minnet vid 78 års ålder, Stockholm 1891.

Page 91: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

91

fui cuidado por Regnell, um fiel amigo da época de Upsala; a partir desse período de doença, começou na verdade a afeição fraterna que posterior-mente nos uniu e se manteve inalterada durante mais de quarenta e cinco anos de separação.

Huss tornou-se professor titular em 1846 e de 1860 a 1864 foi Presidente da Escola de Saúde e Diretor Geral do Hospital Psiquiátrico, do Hospital Geral e das clínicas de enfermidades sexualmente transmissíveis em toda Suécia de 1860 a 1876. Huss já tinha uma boa reputação como médico e foi cha-mado ao leito de morte do rei herói Karl XIV Johan em 1844, como ele conta em suas memórias. Ele também era médico de vários outros membros da família real. Em suas memórias, ele também descreve o porquê de se inte-ressar pelo consumo abusivo de álcool.

Minha primeira lembrança da vida estudantil não é construtiva. No dia da formatura, os alunos graduandos deram um trote em alguns colegas mais ve-lhos e vi que todos tomaram uma dose de aguardente e como eu também queria me mostrar másculo, tomei uma dose também. Foi minha primeira dose –fez-me ficar bêbado, passei mal ao chegar em casa, sofri bastante no dia seguinte, senti-me envergonhado.

Huss ficou convencido de que essa insignificância, conforme ele escreve, influenciou seu futuro, bem como a experiência de quando teve tifo e a con-valescência depois disso. Ele viu então os efeitos nefastos do alcoolismo. Ele escreveu vários livros notáveis sobre o alcoolismo e sua memória ainda vive na Clínica Magnus Huss para dependentes e viciados, no Hospital Ka-rolinska. Para Regnell, Huss foi um amigo querido e aquele a quem ele pro-curava com seus próprios problemas médicos.

Figura 31. Professor Magnus Huss. Seção de Mapas e Imagens, UUB.

Per Henrik Malmsten nasceu em 1811 e estudou medicina em Upsala, onde ele defendeu a tese Sobre a Doença Renal de Bright em 1841. Ele era um

Page 92: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

92

grande admirador de Israel Hwasser, mas tinha uma ideia totalmente dife-rente do que era Ciência. Ele tornou-se professor em medicina no Instituto Karolinska e foi um dos médicos e professores de medicina mais respeitados de sua época. Como membro do Comitê Real do ensino médico de 1859, ele foi um grande defensor do Instituto Karolinska. De 1872 a 1880 ele foi mé-dico de Oskar II. Ele tinha também uma grande clínica particular e com o tempo tornou-se muito rico, tendo doado parte de sua riqueza para o estabe-lecimento da cadeira de professor P.H. Malmsten de doenças nervosas, no Instituto Karolinska.199 Após despedir-se de seu trabalho como médico, ele entrou em depressão e ficou psiquicamente doente. Ele terminou seus dias em uma clínica nos arredores de Växjö em 1883.200

Figura 32. Per Henrik Malmsten. Seção de Mapas e Imagens, UUB.

Aqueles que lideraram a batalha do Instituto Karolinska foram Berzelius, Ekströmer, Malmsten e Huss. Durante um tempo, parecia que uma das par-tes, principalmente Upsala, perderia a batalha, mas esta terminou com um acordo em 1861, quando foi decidido que o Instituto deveria cooperar com as Faculdades de Medicina de Upsala e Lund. O Instituto teria direito de examinar os pós-graduandos, isto é, médicos. Entretanto, os que desejassem matricular-se no Instituto, deveriam primeiramente ter obtido o Diploma de Bacharel em Medicina em uma das universidades e inclusive ter trabalhado nas Clínicas das Universidades. Somente em 1874 o Instituto adquiriu o di-reito de examinar tanto os estudantes de medicina quanto os pós-graduandos. É interessante notar que o Instituto Karolinska hoje – no espírito de Hwasser – trabalha para criar um complemento humanístico para uma atividade cien-tífica que anteriormente era bastante estrita.

199 Svenskt biografiskt lexikon, band 25, 1985–1987, p. 8–11. 200 Wieselgren, Harald: Bilder och minnen. Stockholm 1889, p. 490–195.

Page 93: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

93

Empregos de Regnell como médico na Suécia

No dia 17 de julho de 1877, quando seria nomeado doutor honorário, ele já havia trabalhado como médico durante o período de estudo, conforme as informações biográficas deixadas por Regnell. Ele havia sido admitido como bolsista no Corpo de Médicos Militares em 1832 e como aposentado do Corpo em 1834. O Conselho de Saúde empregou-o como médico contra a cólera em Karlskrona em 1832 e no Condado de Älsvsborg em 1834. Du-rante o ano de 1833 ele havia sido Professor adjunto no Instituto Karolinska, sob o comando do Professor Anders Retzius. No dia 1 de julho de 1836, ele foi admitido como cirurgião assistente no Hospital Serafimer, onde ele atuou até 16 de junho de 1838. As condições para que Regnell recebesse uma boa educação na época eram excelentes, em todas as áreas de medicina e de ci-rurgia.

O Hospital Serafimer surgiu depois que a Comissão de Saúde nomeada por Sua Majestade Real garantiu o financiamento para o hospital em 1739. Após dois dos principais médicos da época, o amigo de confiança de Linné, médico chefe Abraham Bäck e o professor em cirurgia Olof af Acrel se en-gajarem, o hospital foi inaugurado em 1732. O hospital foi colocado sob a supervisão de dois cavaleiros da Ordem Real Serafim, fundada em 1748, motivo pelo qual foi chamado de Hospital Serafimer. Na carta de anuência de Sua Majestade Real de 4 de abril de 1753, constava que

ninguém pode ser admitido aos cargos de médico público, que não tenha tra-balhado um ou meio ano no Hospital, para que se acostume com o trabalho de médico.

No final do século 18 e início do século 19, o hospital foi o mais importante do país, com 300 leitos, após a expansão em 1823. No regulamento do Ins-tituto Karolinska em 1822, determinou-se que o tempo de serviço daqueles que se inscrevessem no Mestrado em Cirurgia seria de quatro meses no De-partamento de Medicina e de seis meses no Departamento Cirúrgico do Hos-pital.

De maior interesse é a formação que Regnell pode obter em cirurgia ocu-lar, em que o Hospital Serafimer era líder na época. Olof af Acrel realizou uma das primeiras extrações de lente ocular no país e também estava envol-vido em uma complexa e muito discutida batalha sobre operações de catarata

Page 94: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

94

com Johan Gustaf Wahlbom, que publicou o artigo Anotações sobre a reti-rada da lente em 1757.201 O interesse pela cirurgia ocular continuou e as atividades no hospital Serafimer aumentaram significativamente, especial-mente depois que Carl Johan Ekströmer, considerado um dos cirurgiões pi-oneiros na Suécia, tornou-se o cirurgião chefe do Hospital. Ele havia se es-pecializado em cirurgia ocular no exterior e cedeu posteriormente um leito para o jovem cirurgião Vincent Lundberg, que tinha interesse em operações de estrabismo. Ele reunia pessoas estrábicas da rua para operá-las. Durante dois anos ele realizou 150 cirurgias, deu também palestras sobre a cirurgia e publicou alguns casos em 1842.202 Lundberg só iniciou suas cirurgias de es-trabismo em 1842, quando Regnell já havia deixado a Suécia. Regnell tinha, juntamente com Huss, presenciado cirurgias de estrabismo realizadas por Ekströmer durante seu tempo no Hospital Serafimer.203 Ele mesmo talvez tenha realizado tais cirurgias, uma vez que, como médico em Caldas, ele adquiriu instrumentos para tal. Anotações sobre operações de Regnell não foram encontradas nos prontuários do Hospital Serafimer preservados no Arquivo Nacional.

Figura 33. Cirurgia de estrabismo. Desenho de Nicolas-Henri Jacob em Traité complet de l’anatomie de l’ho-mme de Marc-Jean Bourgery em 1839.

201. Berggren, Lennart: Slagsmål och praktgräl förde ögonläkekonsten framåt. Läkartidningen 2002, p. 416–417. 202 Lundberg, Vincent: Hygiea 1842, p. 349–352. 203 UUB x285m1, 1/1 1846.

Page 95: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

95

Regnell já havia começado a ter sintomas de sua doença pulmonar e, por-tanto, ficou agradecido quando teve oportunidade de viajar na corveta Jarra-mas até o Mediterrâneo como médico de bordo, de 1 de julho de 1838 até 20 de junho de 1839.204 Durante a viagem, ele coletou plantas do Mediterrâneo para um herbário, que deixou com Isak Gustaf Clason. 205Regnell trabalhou depois na enfermaria de medicina do Hospital Serafimer de agosto de 1839 até maio de 1840 e como médico na sociedade do canal de Trollhätte de junho até setembro de 1840.

204 Se dois médicos seguissem em um navio, aquele que era responsável pelo tratamento mé-dico a bordo era chamado de médico de bordo e tinha o posto de capitão, o outro era médico. 205 Quando dois médicos seguiam em um navio, o que fosse responsável pela arrecadação fiscal médica era chamado de médico fiscal, o outro era somente médico.

Page 96: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

96

Saída da Suécia

A viagem com o Jarramas para o Mediterrâneo causou uma melhora tempo-rária na doença pulmonar de Regnell, mas quando chegou em casa ele piorou novamente. O então Cônsul Geral do Rio de Janeiro, Lourenço Westin Sê-nior, havia perguntado a Magnus Huss se havia algum médico sueco que quisesse vir ao Brasil e estabelecer-se como médico em Caldas. O convite foi então feito para Regnell, que aceitou com alegria. Quão doente ele estava é ilustrado em um episódio relatado na autobiografia de Axel Key em 1888.206 No barco que o levaria até o navio com o qual ele iria viajar, no rio de Estocolmo, ele sofreu um grave sangramento. Ele foi levado a bordo em tais condições que o capitão, com as palavras “não transporto cadáver” re-cusou-se a levá-lo. Somente graças à interferência dos amigos ele pode per-manecer no navio. A viagem continuou depois para Helsingör, onde houve uma parada de alguns dias. Ele fez então uma lista do que havia deixado na Suécia:

Lista do subscrevente sobre os bens deixados no país de nascimento: a. Em Upsala, com H. Handelsman E. Pettersson. 1. Um grande baú com livros. 2. Um baú menor com livros. 3. Um casaco

novo de fino tecido azul. 4. Um casaco velho. 5. Um sobretudo acolchoado, em bom estado. 6. Um florete. 7. Um chapéu de doutor.

b. No Hospital Real de Estocolmo 1. Um baú grande com plantas cultivadas. 2. Uma caixa com uma má-

quina de eletricidade. 3. Minerais de Gibraltar. 4. Um armário menor pero-lado, contendo plantas exóticas, todos eles sob a custódia da enfermeira Kje-llman. 5. Um armário menor perolado, par com o armário Nr. 4, contendo plantas do Mediterrâneo, à disposição de Olsson – quando parti, estavam na sala dos médicos internos. 6. Armário marrom na segunda enfermaria, con-tendo plantas suecas – quando parti estava na sala dos cirurgiões. 7. Uma caixa com líquens da Norlanden norueguesa e Finnmark, no escritório dos cirurgiões.

c. Com o farmacêutico G. Engelgren no Hospital Garnison: 1. Um par de calças novas. 2. Um casaco de tecido claro, com corte nos braços e na cintura.

2. Com o representante da família Sr. C. Carlmark na Câmara Real de Comércio: Uma caderneta de poupança.

Helsingör dia 24 de setembro de 1840 And. Fred. Regnell

206 Key, Axel: Anders Fredrik Regnell, Levnadsteckningar över Kungl. Svenska Vetenskaps-akademiens Ledamöter, band 3, nr 61, Stockholm 1891, p. 97–159.

Page 97: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

97

No local, ele também escreveu um testamento para sua parenta, a viúva Ca-rolina Charlotta Brattström, mencionada anteriormente.

Figura 34. Procuração para a viúva Carolina Charlotta Brattström em Estocolmo, ou para seus herdeiros para, em caso de meu falecimento, retirar minha caderneta de poupança em poder do representante da família Sr. C. P. Carlmark, o que ex-plica o recibo que recebi do senhor representante da família sobre a referida cader-neta para exigência e efeito em caso de morte. Helsingör dia 24 september de 1840. And. Fre. Regnell, Med. Doktor, Chirurgie magister. 1/10 do restante sumá-rio na caderneta de poupança vai para o senhor representante da família como ho-norários. A. F. Regnell (UUB x285m1, 24/9 1840).

Page 98: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

98

O Brasil na época de Regnell

O Brasil foi colônia de Portugal até 1822, quando o país se declarou inde-pendente e tornou-se um império, com o Imperador Pedro I oriundo da fa-mília real portuguesa. Cinco anos após a morte de Regnell, o Imperador Dom Pedro II foi deposto através de um golpe militar e foi obrigado se exilar, quando o país foi declarado república em 1889. Regnell afirmou que a po-pulação total em sua época chegava a 5 milhões, dos quais muitos eram es-cravos (veja o capítulo sobre escravidão). A província de Minas Gerais207, para onde Regnell se mudou, está localizada no sudeste do país e possui uma área pouco maior que a da França (veja o mapa).

Figura 35. Mapa do Brasil no quadrante superior esquerdo, mostrando Minas Ge-rais no quadrado. Caldas está marcada em vermelho na parte inferior esquerda da figura. O mapa foi criado por Raphael Lorenzeto de Abreu e usado segundo a li-cença GNU de Livre Documentação.

207 Em vez de Gerais às vezes Geraïs.

Page 99: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

99

Durante os anos de 1864 a 1870 houve uma guerra cruel entre o Paraguai de um lado e uma tríplice aliança entre Brasil, Argentina e Uruguai do outro lado, que terminou com uma perda devastadora para o Paraguai. A guerra não afetou diretamente a região de Caldas, mas Regnell mencionou várias vezes em suas cartas a preocupação de que a guerra pudesse chegar mais perto. Em 1868 ele escreveu que havia perdido metade da fortuna que tinha antes da guerra.208 Conforme o que o proprietário de um hotel contou a Sa-lomon Henschen, Regnell tinha 200 000 à 300 000 riksdales (moeda antiga sueca – N.T) antes da guerra e depois da guerra apenas 100 000 a 150 000, mas não era possível saber ao certo em um país que não possuía tributação pública. A guerra afetou também a economia em todo Brasil e causou gran-des perdas quando ele ia trocar seus recursos brasileiros e transferir dinheiro para Suécia. Antes do surgimento do moderno sistema bancário, a letra de câmbio era um meio importante de pagamento e uma forma segura de enviar dinheiro.209 A letra de câmbio foi desenvolvida na Idade Média para adiar um pagamento de uma feira para outra. O pagamento pelos bens muitas ve-zes ocorria através de letra de câmbio, tanto em termos de importação como de exportação. Uma letra de câmbio pode ser caracterizada como uma forma escrita de negócios dependentes de crédito, de grande importância no comér-cio internacional.

Chegada ao Rio de Janeiro e exame Durante a longa viagem para o Rio, os sintomas pulmonares de Regnell di-minuíram. Os arredores do Rio eram lindos e ele imediatamente saiu em ex-cursões que davam ampla colheita de plantas. Ele também começou a se preparar para o exame que necessitava fazer para poder trabalhar como mé-dico no Brasil e escreveu:

Logo de minha chegada ao Rio tive que [praticar] no grande hospital lá exis-tente (possui 600 leitos hospitalares – sendo que o hospital em Estocolmo, com toda sua pompa, não tem mais que 300) chamado Misericórdia (além deste hospital há muitos outros, mas claro, menores) que é utilizado para o Ensino médico […]. Uma informação errônea parece existir no registro dos Médicos Suecos fornecido pelo Conselho de Saúde. Segundo ela, eu seria professor de História Natural no Rio de Janeiro. Esta informação é totalmente sem sentido e não possui o mínimo vestígio de veracidade – e para a mim é sua origem totalmente sem fundamento. Será que na Suécia creem ser tão fácil obter uma cátedra de professor no Rio de Janeiro? Enganam-se muito. A cátedra de professor de História Natural existente no Rio está na faculdade

208 UUB x285m1, 28/2 1868. 209 Andersson, Magnus: Växlar och växelprotesters roll på kreditmarknaden under förindust-riell tid. Föredrag vid Ekonomisk-historiska mötet i Uppsala 5–7 março 2009, acessível em http://www.ekhistmotet09.ekhist.uu.se/node52.

Page 100: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

100

de Medicina – uma Faculdade que possui nada menos que 14 professores titulares, além dos seis adjuntos ou professores substitutos, como são chama-dos em uma Faculdade e eu, com todo o patriotismo possível, nada mais posso que colocá-la bem à frente da Faculdade de Medicina em Upsala ou Lund e o Instituto Karolinska.210

Depois de quatro meses ele pode fazer o teste oral, que era exigido para o exame. O exame foi realizado em francês e ele conseguiu ser aprovado sem dificuldades, conforme o que ele escreveu para Charlotta Brattström.211 Du-rante a estadia no Rio, seu rosto ficou amarelo e, cansado e doente, não su-portou mais o clima insalubre e deixou o Rio já no dia seguinte ao exame. Regnell descreveu, em uma carta para Charlotta, a viagem do Rio para Caldas, em 1845. Ela já lhe havia escrito em 1841, mas só então recebeu resposta. Primeiro ele viajou de navio, pelo litoral, até a ci-dade de Santos, onde permaneceu por 18 dias. A viagem continuou depois a cavalo, pois a estrada era muito ruim para carroças e carrua-gens. Ele teve então um companheiro de viagem, August Westin, so-brinho do Cônsul Geral sueco-norueguês no Rio, que se tornou seu amigo durante todo seu tempo em Caldas e esteve a seu lado, em seu leito de morte, 43 anos depois. A estrada cruzava uma cordilheira 15 a 16 vezes mais alta que a montanha Skinnarvik, conforme contou a Charlotta. Junto com Westin, Regnell chegou à capital São Paulo, na província de mesmo nome. Ela era uma cidade relativamente grande, com presidente, bispo, várias escolas, escola secundária, um jardim botânico e quatro igrejas. Depois de uma parada de um dia, a viagem continuou e, depois de seis dias em um caminho montanhoso, chega-ram a Caldas, que seria seu lar pelo resto da vida.

Chegada a Caldas Empregados não existiam no Brasil, escreveu Regnell para Charlotta, mo-tivo pelo qual ele comprou um escravo. Escravos eram relativamente caros, custavam de 1 000-2000 riksdales (moeda antiga sueca – N-T), mas devido a circunstâncias extremamente favoráveis, ele pode comprar um por apenas 1 250 riksdales.212 “Se o escravo sobrevive, ele faz jus ao preço, mas se morre depois de 1 a 3 anos, perco o meu dinheiro”, escreveu Regnell. Ele comprou também uma pequena casa por 1 200 riksdales e pensou em logo comprar uma casa de campo. A casa tinha cinco quartos, mais uma despensa, uma cozinha e um pequeno jardim com legumes, laranjas, figos e uvas. O fato de

210 UUB x285m1, 17/6 1843. 211 UUB x285m1, 18/2 1845. 212 Isto corresponde a 85 000 coroas suecas em moeda atual.

Page 101: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

101

Regnell imediatamente instalar janelas com vidro chamou um pouco de aten-ção, pois estas quase não existiam nas outras casas da vila. A casa ficava na Rua do Comércio. A rua trocou de nome em 1870 para Rua Conde D ’Eu, nome de um nobre conde francês casado com a princesa Isabel. Depois da revolução de 1889, mudou de nome para Senador Bueno de Paiva.

Figura 36. Rua com a casa de Regnell e a farmácia Cervo de Ouro em Caldas. Foto Salomon Eberhard Henschen.

Page 102: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

102

Figura 37. . Mapa de 1910 sobre Caldas e arredores. Da Revista do Instituto Histó-rico e Geográfico de São Paulo no 24, 1926. A linha preta pontilhada marca a fron-teira entre os estados de Minas Gerais e São Paulo. A cidade de São Paulo fica bem mais ao sul, Caldas ligeiramente à direita, logo acima do centro da foto.

A família Westin Lorentz Westin, ou Lourenço, como era chamado no Brasil, foi o primeiro Cônsul sueco-norueguês no Rio de Janeiro. Ele nasceu na paróquia Hedvig Eleonora em Estocolmo em 1787.213 O pai era Johan Westin, dono de um curtume e vice representante da classe burguesa, meio-irmão do famoso pin-tor de igrejas Fredrik Westin. Lourenço foi nomeado como agente comercial 213 Um primo era Jakob Westin, que desde a juventude colecionava livros. Na festa de jubileu da Universidade de Upsala, em 1877, ele doou sua grande coleção de livros à Universidade. A coleção tinha 30 000 volumes mais uma grande coleção de manuscritos e mapas, que agora fazem parte das coleções da Carolina Rediviva.

Page 103: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

103

no Brasil pelo rei, em 5 de agosto de 1808.214 Ele tinha então apenas 21 anos e supõe-se que o pai tivesse exercido sua influência política para que o filho obtivesse o cargo.

Figura 38. Lourenço Westin sênior. Imagem de Jaime Splettstoser.

Foi Lourenço que, através de Magnus Huss, recrutou Regnell como médico para Caldas. Ele se casou em 1832 com Christina Beata Chenon e faleceu em 1846 na Fazenda do Jardim, sua propriedade perto de Caldas. O Pastor Johan Fredrik Widgren, que estava visitando Regnell, realizou o funeral, que ocorreu em um cemitério inaugurado com esta finalidade, em Jardim. No testamento ele escreveu que sua esposa muitas vezes tinha ataques histéricos e que não possuía o discernimento exigido para cuidar da riqueza que ele deixava ou para educar o único filho do casal, o filho Lourenço, motivo pelo qual ele nomeou o sobrinho August Westin como executor testamentário, para gerenciar o dinheiro e educar o filho.215 Lourenço Westin pediu mais tarde dinheiro emprestado para Regnell, sendo obrigado a deixar sua planta-ção de café como garantia. Em 1854, ele se casou com Maria Amélia de Oliveira e teve 12 filhos com ela. Muitos de seus descendentes residem até hoje em São João da Boa Vista, perto de Caldas. 216

214 Posttidningar, 29/8 1808. 215 Public Record Office. The National Archives. Dept. Records of the Prerogative court of Canterbury, Catalogue reference: Prob. 11/2068. (Traduzido do português para o inglês). 216 Informação fornecida por Jaime Splettstoser.

Page 104: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

104

Figura 39. Lourenço Westin, Jr. Foto de Jaime Splettstoser.

O referido sobrinho do Cônsul Geral, August Rudolf Westin, filho extracon-jugal, nasceu em 1812 na Paróquia Ulrika Eleonora, filho da governanta Christina Ek; o nome do pai não consta no registro de nascimento. No livro Paroquial de 1811–1814 pg. 124, consta que a mãe era empregada na casa do curtidor Anders Westin Johansson, filho do dono do curtume Johan Wes-tin e que August morava com eles. Em 1818 ele morava com a viúva Ulrika Charlotta Westin, viúva de Anders, que havia falecido no mesmo ano, isto é, 1819; ele era na época chamado de filho da viúva, mas é claro, deveria ser enteado. Em 1824, ele é referido como filho adotivo do pai, o dono do cur-tume Johan Westin, que morava na quadra Wattenormen, casa número qua-tro. Essas informações sugerem que Anders Westin era pai de August, em-bora nenhum reconhecimento de paternidade tenha sido encontrado. August Westin e Anders Fredrik Regnell tinham um passado surpreendentemente similar – os dois nasceram fora do casamento, a apenas dois quilômetros de distância entre eles. O provável pai de August cuidou dele desde o começo, enquanto Anders Fredrik só pode ir viver com o pai aos seis anos de idade. Ambos também tiveram uma madrasta.

August Westin era farmacêutico, formado na Inglaterra217 e fez o papel de intérprete para Regnell durante os primeiros anos. Ele era a única pessoa

217 Ferreira, Júlio Andrade: O Apóstolo de Caldas, Franca, 1948, p. 42 (nova edição 2010).

Page 105: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

105

com quem Regnell convivia, conforme o que Vital Brazil escreveu quatro anos antes de sua morte, em sua autobiografia, publicada em 1946.218 .Regnell tentou de várias formas ajudar August Westin a dar conta de sus-tentar sua grande família. Um exemplo é de quando Regnell pediu a Clason para enviar descrições de como fabricar cerveja.219 Não existe nenhuma prova de que ele próprio bebia cerveja, mas ele escreveu:

Assim que tiver oportunidade, peço-lhe que me envie um bom artigo sobre como fabricar cerveja, com todas as operações envolvidas, desde a prepara-ção do malte. A variedade mais apreciada é a Pale ale of Brass, depois Chris-tiania, porém tenho ouvido reclamação de que tem gosto de mofo e pouco gás. A boa qualidade da água para este fim parece ser o mais importante, desejo informação também, bem como o lúpulo, do qual Você bem pode en-viar uma porção. Eu tive esta ideia para proporcionar alguma renda para Au-gust Westin. Se for possível, peça a Mosén [veja o capítulo sobre as visitas de Regnell em Caldas] que obtenha conhecimento prático desta indústria.

Ele retomou esse assunto durante uma longa discussão sobre a água da fonte em Poços de Caldas, que ele repetidamente analisou e até enviou ao profes-sor August Almén em Upsala, para análise. Ele escreveu: “Westin, que tem uma grande família, vive agora da venda de roupas e tecidos de linho e de comércio, o que é sua fonte de renda”.220 Entretanto, os tempos eram ruins para esse tipo de negócio e Westin queria usar arroz em vez de cevada para fabricar cerveja. Grãos de boa qualidade eram difíceis de se conseguir em Caldas.

Uma pessoa que há tempos vivia a seis léguas (mais o menos 30 km) de Caldas, era Miguel Ankarsvärd.221. Regnell escreveu em 1845 que ele havia recebido 500 riksdales (moeda antiga sueca – N.T) do irmão, general adjunto Conde Gustaf Ankarsvärd, para dar a “um irmão perdido aqui morador”. O que ele quis dizer com perdido não está claro, mas em uma carta de 1846 Regnell escreveu que ele tinha visto Ankarsvärd em Caldas e não achou que ele estivesse melhor, sem comentar o que ele quis dizer com isso.222 Miguel chamava-se na verdade Otto Magnus Ankarsvärd e tinha nascido em 1793. Ele tinha sido destituído como tenente em 1818 e depois mandado para o

218 Citado no cap. 12, O médico Regnell no Mistério do Consul de Júlio Olivar, Rondônia, 2005. Vital Brazil, cujo nome completo era Vital Brazil Mineiro da Campanha, nasceu em 1865 na cidade de Campanha em Minas Gerais. Durante a infância ele morou em Caldas e então conheceu Regnell. Vital Brazil teve durante toda a vida uma grande admiração por Regnell. Ele se tornou mais tarde um médico famoso e imunologista, tendo fundado o Insti-tuto Butantan e o Instituto Vital Brazil. Ele ficou, acima de tudo, conhecido pelo soro contra picadas de cobra e picadas de escorpião que produzia. Atualmente, o Instituto Butantan pro-duz cerca de 110 milhões de doses de vacina e 300 mil frascos de soro hiperimune por ano, conforme informação do Instituto. 219 UUB x285m1, 7/1 1871. 220 UUB x285m1, 19/12 1845; UUB x285m1, 13/2 1873. 221 UUB x285m1, 13/2 1873. 222 UUB x285m1, 26/12 1846.

Page 106: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

106

Brasil pela família, o que aparentemente era uma maneira de se livrar das pessoas com mal comportamento naquela época. Miguel recebia uma pensão de 500 riksdales (moeda antiga sueca-N.T.) por ano, que o Conde depositava na conta de Regnell com Isak Gustaf Clason. Regnell pagava depois a pen-são duas vezes por ano. Em 1856 ele escreveu que havia perdido 2 000 riks-dales em taxas de juros com a pensão de Ankarsvärd durante 10-12 anos.223 Miguel faleceu no ano seguinte.224

A visita do Cônsul Geral Leonard Åkerblom Leonard Åkerblom nasceu em 1830 e tornou-se doutor em filosofia em 1857. De 1862 a 1878 ele foi Cônsul Geral sueco-norueguês no Rio e, como tal, de grande ajuda para Regnell. Muitas vezes cartas passavam por Åkerblom e eram enviadas através da mala consular para a Suécia. Åkerblom também recebia dinheiro de Regnell, que transformava em letras de câmbio quando o curso era favorável. As letras de câmbio eram enviadas depois para Isak Gustaf Clason. Durante esta época no Rio, Åkerblom escreveu o livro O Transporte marítimo no Brasil em 1876. Depois do trabalho no Brasil ele foi nomeado Cônsul em Lübeck, onde permaneceu até a aposentadoria.

Em 1872, Åkerblom visitou Regnell em Caldas durante uma viagem até as fontes termais na região. Carl Santesson tomou conhecimento das anota-ções da viagem por ocasião de seu discurso na morte de Regnell em 1885. É o melhor retrato de como Regnell vivia e morava, e é, portanto, citado aqui quase em sua totalidade:

Na cidade de Campinas eu encontrei uma pequena caravana enviada por Regnell, constituída de um cuidador de mulas (Tropeiro) com o título de Te-nente (Alferes) e um negro, que para meu uso traziam um cavalo de equitação e uma mula, esta última para transporte de coisas. Outro caminho de Campi-nas para Caldas não existia além da trilha que, ao longo dos anos, foi formada pelo casco das mulas e que nunca foi mantida, nem devidamente construída desde o início. No meio do caminho muitas vezes era necessário desviar de esqueletos ou carcaças de mulas mortas e, ao lado da estrada, aqui e acolá, viam-se cruzes simples de madeira, que marcavam lugares distintos onde vi-ajantes tinham sido assassinados. O Tenente (Alferes), que se gabava de suas façanhas na guerra contra o Paraguai, estava armado com uma longa pistola de cano duplo; o negro com uma faca de caça e eu mesmo tinha um revólver. No entanto, o perigo para os viajantes não era grande. Assassinatos bem que eram frequentes, mas principalmente por vingança ou por ciúmes.

A vila, ou a atualmente chamada cidade de Caldas surgiu na década de 1830 e acreditava-se possuir cerca de 2 000 habitantes no início da década de 1870, mas já parecia estar em declínio. A grama crescia abundantemente nas ruas

223 UUB x285m1, 24/9 1856.

224 Elgenstierna Gustaf: Den introducerade adelns ättartavlor, Stockholm 1998, p. 124.

Page 107: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

107

não pavimentadas e arbustos densos prosperavam nos espaços vazios da ci-dade. De casas novas só se via uma meia dúzia. Por trás das grades de ferro da terrível prisão – ao lado da igreja e ambas localizadas na praça – os presos pediam em voz alta esmolas das pessoas que passavam e xingavam quando não recebiam nada. Das torres baixas pendia um par de sinos, dos quais um havia pertencido a um navio sueco condenado. Dentro da igreja via-se uma Anunciação da Virgem Maria, obra do conhecido pintor de igreja sueco, Fre-drik Westin.

Figura 40. Quadro no altar em Caldas: Anunciação da Virgem Maria de Fredrik Westin. Foto Jaime Splettstoser.

Nós entramos na casa, desde a rua, pela varanda e encontramos duas portas, uma do lado direito e outra do lado esquerdo, cada uma levando para um consultório, com janelas para a rua. Do consultório à esquerda, entramos em um quarto menor, meio alongado. Para dentro e ao lado deste quarto há um maior, ambos com vista para o pátio e em grande parte ocupados por coleções de plantas. Neste último há uma porta que leva ao quarto de Regnell, que, de acordo com a prática geral no Brasil, não tem janela e nenhuma luz, a não ser a que entra através da porta aberta para o quarto maior do herbário. Na parede menor deste há uma porta, pela qual se entra na chamada sala de jantar, uma sala com 4 janelas, 2 nas duas paredes menores e 1 em cada parede maior, das quais uma é mais tarde sempre fechada com janelas de madeira. Esta é a

Page 108: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

108

maior sala da casa e com razão poderia ser chamada de escritório. Não há decoração ou móveis, como costumamos ter em uma sala de jantar. Pratelei-ras abertas, superiores e inferiores, com livros, papéis, maços de plantas e prensas de plantas (muito primitivas, onde a prensagem é realizada com pe-dras colocadas em cima), ocupam quase tudo, sobrando das paredes apenas janelas e portas. Ao longo da parede com as duas janelas, entre elas um sofá de madeira comprido sem pintura, do tipo mais simples, com braços, mas sem encosto; o assento coberto com um fino tapete de palha ou esteira de palha e, na frente do sofá, uma mesa de trabalho comprida e estreita, também sem pintura. Abaixo da janela fechada com persiana de madeira, uma mesa menor do mesmo tipo da primeira e perto do canto da sala, uma grade co-berta, também sem pintura, que desce para o porão. Na quarta parede, duas portas, uma que leva para um quarto escuro, mais ou menos quadrado e pe-queno e, como o dormitório, sem janela; apenas com iluminação secundária, através da porta aberta da sala de jantar. Este era o quarto de hóspedes da casa. A outra porta leva para um quarto pequeno, com uma janela que dá para o terreno vizinho, utilizado como local para exame ginecológico. Entre as duas portas um pequeno aparador, com várias cantoneiras entre os lados e a parede, uma em cima da outra, com espaço para uma garrafa de água, copos, lâmpada e similares. Em cima do armário, um relógio americano. Do lado de fora e debaixo de uma das janelas da parede lateral há uma cozinha pequena e baixa que Regnell mandou fazer. Em todos os quartos os móveis e a deco-ração eram extremamente simples. Do outro lado de uma das salas de con-sulta pendia uma rede de dormir entre dois ganchos, que também servia de sofá.

A equipe de serviçais durante a visita de Åkerblom era constituída por uma negra velha, que era a cozinheira e dois meninos negros entre 18 a 20 anos que Regnell, segundo o costume do país, havia tomado como garantia de um empréstimo para uma pessoa que não costumava pagar. Regnell expressou sua intenção de conseguir liberdade para ambos, mas primeiro permitindo que eles aprendessem algum ofício. Os jovens pareciam gozar de muita li-berdade e a principal ocupação deles era cuidar da casa, cuidar dos cavalos e da mula do médico. Em suas viagens, um deles o acompanhava como servo (Pajem).

Page 109: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

109

Figura 41. A praça de Caldas com a prisão do lado esquerdo. Desenho Gustaf Lindberg.

Já em 1864, quando Regnell teve um ataque de inconsciência, Clason insis-tiu para que ele nunca viajasse sozinho e que sempre tivesse um acompa-nhante que pudesse ajudá-lo, caso ele tivesse mais ataques.225

Em 1875, Regnell foi convidado por Åkerblom para acompanhá-lo junto com sua família em uma viagem à Europa, mas ele recusou o convite.226 A viagem de Åkerblom foi também para a Suécia e lá ele entrou em contato com o interesse emergente pela etnografia. Åkerblom queria que Regnell apoiasse Artur Hazelius, que alguns anos antes havia aberto seu museu et-nológico ao público. Em 1880, ele foi entregue ao povo sueco e renomeado de Museu Nórdico. Åkerblom sugeriu que Regnell doasse de 500 a 1000 coroas suecas e, como Regnell não queria negar, uma vez que Åkerblom lhe tinha feito tantos favores, doou 700 coroas suecas.227 Hazelius enviou mais tarde algumas revistas ilustradas sobre seu museu etnográfico.228 Regnell pe-diu a Clason que lhe agradecesse, mas ao mesmo tempo perguntou: ”será que a intenção dele é obter mais compensação em dinheiro”? Em 1879, a Sociedade Etnográfica tornou Regnell seu membro por correspondência e ele enviou então um pilão de pedra como presente.229 Provavelmente, como Regnell suspeitava, Hazelius estava esperando tal reconhecimento em di-nheiro, porque em 1880 ele foi presenteado com a dissertação Le Musée d’ethnographie, mas ele achou que, por enquanto, o que ele já havia doado deveria ser suficiente.

225 UUB x285m2, 12/4 1864. 226 UUB x285m1, 23/31875. 227 UUB x285m1, 26/9 1877. 228 UUB x285m1, 2/121878. 229 UUB x285m1, 29/8 1879.

Page 110: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

110

Outra atividade que Åkerblom viu em Estocolmo foi a realizada na Casa Madalena. Esta havia sido iniciada em 1852 para cuidar de mulheres em desgraça e libertadas da prisão e era feita sem fins lucrativos. Por sugestão de Åkerblom, Regnell doou 500 coroas suecas a Lotta Hæggström, filha de um famoso tipógrafo. A Casa foi fechada em 1888

Escravidão No Brasil não havia empregados domésticos, segundo o que Regnell escre-veu para Charlotta, em 1845. Por isso, assim que chegou em Caldas, ele comprou seu primeiro escravo.230 Na Suécia, escravidão tinha sido abolida por Magnus Eriksson, através da Lei de Skara em 1335, 231 mas Gustaf III deu à Companhia das Índias Ocidentais (em sueco: Västindiska Kompaniet – N.T.) o direito de comprar escravos na África Ocidental e usar a colônia sueca Sankt Barthélemy como um porto isento de impostos, como passagem para outros locais. Em 1813, o tráfico de escravos via Sankt Barthélemy foi proibido, mas somente em 1847 eles foram libertados. Erik Gustaf Geijer havia apresentado uma moção sobre o assunto em 1840, mas o Parlamento discutiu a questão por muitos anos antes que uma decisão fosse tomada. No Brasil, os portugueses usavam escravos para trabalhar nas casas e nas plan-tações desde que colonizaram o país. No início eles prendiam os índios para escravizá-los, mas depois foram importados escravos africanos, que não ti-nham como fugir facilmente para dentro da floresta. Anualmente, entre 1811 e 1820, foram importadas 33 000 pessoas como escravos para o Brasil e, de 1821 a 1830, 43 000 pessoas. Em 1850, depois de muita pressão, especial-mente da Grã-Bretanha, foi proibido o comércio de escravos, mas o uso de escravos continuou assim mesmo. Em 1871, ficou decidido que os filhos de mulheres escravas ficariam livres, mas o proprietário poderia usá-los para trabalho até que completassem 21 anos. A escravidão foi abolida no Brasil em 1888, quando a Princesa Isabel, que era regente durante as viagens do Imperador ao exterior, assinou a lei abolindo a escravatura. Os donos dos escravos não receberam nenhuma compensação pelos escravos libertados, o que é considerada uma das razões para o golpe militar que derrubou o Impé-rio.232

Quando Regnell ia vender sua plantação de café em 1878, ele escreveu:

Há poucos dias, finalmente consegui terminar a venda da propriedade por 10 Contos (2/3 do valor real, no máximo), mas ainda falta a venda dos escravos e estou aguardando neste momento a pessoa por mim encarregada de fazê-la, meu ex-gerente da propriedade, com o qual é necessário acertar as contas

230 UUB x285m1, 17/6 1843. 231 Harrison, Dick: Slaveri. Forntiden till renässansen, Lund 2006. 232 Fausto, Boris: A concise history of Brazil, London 1999, p.108–109.

Page 111: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

111

de todo o período. Esta última venda vai ser difícil, quando se deseja, como eu, conseguir um novo senhor que eles mesmos escolham e que frequente-mente não está em condições de compensar o proprietário pelo valor total; e com frequência o senhor escolhido diminui o valor assim que fica sabendo e o escravo o procura. Os escravos chegaram aqui ontem à noite, todos querem ficar comigo, mas aqui em minha chácara eu mal tenho trabalho para a me-tade deles. Uma parte tem que ser vendida, pelo menos para diminuir meu trabalho e ter mais sossego.233

Seus escravos também são mencionados em uma carta em que ele pediu a Clason que enviasse um pequeno inalador, que podia ser aquecido rapida-mente e que ele poderia administrar sozinho. Inalação com vapor de água quente aliviava sua tosse constante. Ele escreveu:

Os ataques mais difíceis geralmente vêm durante a noite, de madrugada e acordar um criado, mesmo sendo escravo e tirar-lhe o sono, eu evito. 234

Ele os considerava como uma propriedade que se pudesse comprar e vender ou liquidar, caso quisesse livrar-se do excedente. No entanto, não há nada que indique que ele estava envolvido em comércio de escravos, no sentido de comprar e vender escravos profissionalmente. Ele se dizia inclusive dis-posto a desistir do lucro para que os escravos pudessem ter o melhor propri-etário possível.

233 UUB x285m1, 18/3 1878. 234 UUB x285m1, 30/5 1880.

Page 112: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

112

O solteiro solitário

Anders Fredrik Regnell nunca se casou e pelo que se sabe nunca teve fi-lhos.235 A paixão de juventude, que ele eventualmente teve por Charlotta, irmã de seu colega de escola August, é o único relacionamento mais intenso com mulheres que aparece nas cartas. Na casa em Caldas, a única mulher era a escrava mencionada em seu testamento e que Åkerblom descreveu como governanta.

Quando Isak Gustaf Clason teve uma filha, que recebeu o nome de Maria Gustava, Regnell escreveu que gostaria de estar nas mesmas condições, se ele fosse 10 anos mais novo.236 Ele também escreveu:

Espero que ganhe o suficiente para, em 4 ou 5 anos, viver sem preocupações na Suécia se o clima permitir, caso contrário, na Itália. Se não der tempo, eu me caso simplesmente com uma morena de 12 a 14 anos, pois não se pode casar com uma mais velha, para poder domá-las conforme a vontade. 237

Em outra ocasião, ele escreveu para Clason:

Se todos os meus planos fracassarem, não vejo outro jeito a não ser Você me enviar uma companhia do gênero feminino, as exigências são poucas: tocar piano e cantar um pouco seriam o mais importante, porém associadas a pren-das domésticas. Casar-se, claro, mas comigo e não com o que tenho.238

Clason achava que era um negócio arriscado e não tinha ninguém para suge-rir, quer do sexo masculino ou do feminino; alguma companhia do último tipo ele nem queria intermediar.239 Isso levou Regnell a responder que seria melhor com alguns livros:

Como você não conseguiu me arranjar nenhuma companhia, nem masculina nem feminina, só resta pedir por uma do neutro. Uma vez que melhorei tanto que tenho podido estar mais tempo fora de casa, não tenho sentido tanta falta

235 No registro do testamento de Caldas, existe uma mulher de nome Regnell, mas não era nenhum parente e sim uma escrava liberta. Antes que a escravidão fosse abolida, os escravos negros não tinham sobrenome. Após a libertação, eles frequentemente usavam os nomes de seus antigos donos (mensagem pessoal de Jaime Splettstoser). 236 UUB x285m2, 31/10 1845. 237 UUB x285m1, 18/2 1845. 238 UUB x285m1, 12/2 1861. 239 UUB x285m2, 26/10 1860.

Page 113: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

113

dos primeiros mencionados, mas talvez mais de um certo tipo dos últimos, como por exemplo, alguma leitura leve enquanto o corpo está descansando na rede ou na cadeira de balanço depois de uma excursão árdua. Melhor tal-vez em francês, depois em inglês […].240

Regnell acompanhou durante toda a vida o destino de seus amigos e dos filhos deles com grande interesse e os apoiou financeiramente sempre que necessário. Eles se tornaram os substitutos da família que ele nunca teve. A solidão e a saudade notam-se em uma carta que ele escreveu no Dia do Sols-tício de Verão (ou do solstício de inverno) em 1872:

Enquanto você passa um dia agradável no campo, no seio de sua família ou entre bons amigos, aqui fica o “solitário”, sozinho em seus aposentos e tem que se satisfazer com a vista do Campo amarelo-amarronzado […].241

Magnus Huss, o velho companheiro de juventude, professor de medicina no Hospital Serafimer, tornou-se o médico de Regnell por correspondência. Em uma carta sobre a doença de Regnell, Huss escreveu para Isak Gustaf Clason que seus dias estavam contados:

Para nós que estamos habituados a um ambiente carinhoso, pode ser difícil pensar em adormecer para sempre totalmente só, separado dos amigos de juventude, mas Regnell não está acostumado a ter amor a seu redor […]. Regnell vai terminar seus dias sobre um ramalhete seco, estes pacotes foram seu único amor, tanto na juventude como na velhice. 242

Regnell pensou muitas vezes em voltar para casa, por exemplo em 1860, quando ele escreveu sobre uma viagem de volta:

É duvidoso acender mais uma vez a chama semiapagada [da esperança] e sinto-me muito ambivalente devido a sintomas que me têm perseguido du-rante o último semestre, por isso não vai haver nenhuma viagem – no entanto, às vezes o coração acredita mais que a razão e temo que o momento atual seja um destes.243

Em outra ocasião, quando ele estava insatisfeito com o pouco apreço que ele achava estar recebendo por suas plantas, ele escreveu:

Querido irmão Isak, diga-me com toda a sinceridade o que você acha do meu herbário. Espero que estas palhas secas que eu juntei e ainda continuo a jun-tar, mereçam tanto trabalho e privações, pois são a razão principal do porquê eu há tempos ainda não fiz uma pequena viagem à Suécia, pois temia que,

240 UUB x285m1, 14/2 1862. 241 UUB x285m1, solstício de verão ou de inverno. 242 UUB x285m1, um dessecador é um aparelho que remove a umidade das plantas. 243 UUB x285m1, 17/3 1860.

Page 114: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

114

em vez dos rostos felizes que eu fui para ver, encontraria principalmente só lábios caídos.244

Em 1875, ele ainda voltou a falar sobre o sonho de viajar para a terra natal, mas aceitou que, para ele, o clima seguramente não seria melhor que o de sua saída.245 Israel Hwasser já lhe havia escrito anteriormente sobre uma vi-agem à terra natal:

Ou você encontra as condições melhores do que o esperado e o retorno tor-nar-se-á duas vezes mais difícil, ou tudo está pior e Você retorna desiludido, em vez da alegria que Você possa sentir então. 246

Em 1859, Edward Clason também foi da mesma opinião, quando escreveu para seu irmão Isak Gustaf e perguntou se Regnell viria para a terra natal e depois retornaria:

Ou ele encontra a terra natal em condições melhores do que esperava e uma nova separação vai ser ainda mais difícil– ou não corresponde a suas espe-ranças e a ilusão vai desaparecer para o resto da vida.247

244 UUB x285m1, 10/2 1861. 245 UUB x285m1, 2/2 1875. 246 Carta de Edward para Isak Gustaf Clason 2/2 1875 (x285m3). 247 UUB x285m3, 1/10 1859.

Page 115: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

115

Regnell como médico e farmacêutico

Na carta a Charlotta em 1845, Regnell escreveu que, assim que chegou a Caldas, teve imediatamente muitos pacientes e ganhava bem, mas de acordo com cartas posteriores, passaram-se alguns anos até que ele se estabelecesse. Provavelmente August Westin preparou o terreno para seu compatriota; ele era bem visto na região através de seu casamento com Maria Inês da Silva, de Caldas.

Conforme o Cônsul Geral sueco-norueguês no Rio, Leonard Åkerblom, que visitou Regnell em Caldas em 1872 (citado por Santesson), ele exerci-tava a arte da medicina em todas as áreas, mas em particular ganhou grande reputação como cirurgião e obstetra. Seus colegas no local viam-no como um concorrente indesejável, mas ele ganhou a confiança do povo e seu con-sultório e, consequentemente, sua renda, aumentou rapidamente.

Ele era procurado em munícipios longe de Caldas. Um exemplo pode ser visto em uma carta de 1848.248 Justamente quando ele ia escrever a carta bateram à porta e ele teve que ir atender a uma pessoa doente em uma viagem de 4 dias e meio. Quando chegou ao local, apareceram doentes de todos os lados e ele acabou ficando por cerca de cinco semanas. Em outra ocasião, ele recebeu uma proposta para ir à Villa de Uberava, onde lhe prometeram 2 000 riksdales (moeda antiga sueca-N.T.), só para a viagem– um valor muito grande naquela época. Além disso ele receberia pagamento pela con-sulta de cada paciente e pagamento por todas as receitas.249

Ele estava em dúvida, entretanto, de que fosse de seu agrado, um vez que não havia muita diversão em Caldas. Ele escreveu que as condições eram diferentes agora, em 1860, quando comparadas a quando Gustaf Lindberg havia estado lá em 1854. A descrição também dá uma visão sobre a vida social em Caldas e as condições em que ele trabalhava:

Atualmente é realizado um baile uma vez por mês-um grupo de moças já apareceu e uma dessas belas moças, filha do juiz Loyola (a mais cobiçada) irá se casar em mais ou menos dois meses com um doutor (juiz), Gabriel Pio Sra. [da Silva], o que é um casamento de grande importância pelo fato de am-bas as partes pertencerem a duas famílias que, desde minha chegada, briga-

248 UUB x285m1, 5/7 1848. 249 UUB x285m1, 4/8 1849.

Page 116: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

116

ram entre si pelo poder em Caldas e esta briga é responsável (sic) pelas mai-ores provocações e oposição até hoje e espero que termine com a realização deste casamento.250

Alguns anos depois, ele descreveu como ele era combatido pelos médicos locais. Seu principal concorrente como médico era casado em uma família influente e tinha também grande influência por ser deputado no Rio. Regnell ainda gostaria que um médico sueco o ajudasse em Caldas, mas conside-rando as dificuldades que ele próprio tinha, não podia prometer que seria fácil. “No entanto, seria bom ter alguém com quem conversar na velhice, agora que o velho amigo August Westin se mudou para San Antonio”.

Que seu irmão Edward não queira nem ouvir falar de vir para cá, talvez seja melhor, porque quando eu lhe escrevi éramos apenas dois médicos aqui em Caldas e agora, com o retorno do meu velho rival Dr. Agostinho, somos três […] No entanto, fico tranquilo no que me diz respeito, porque não preciso trabalhar mais, mas esse não seria o caso do Edward. Mas como Edward não virá, desejo até que o Dr. Agostinho permaneça aqui e tenha muito trabalho, assim posso ter muito mais tempo para arrumar meu herbário – e se der certo, volto para casa. No herbário há mais pacotes do que há dias no ano […]. 251

É possível ter-se uma ideia das atividades de Regnell como médico vendo quais instrumentos e livros médicos ele comprou. Em uma carta de 1842 ele contou que Anders Retzius havia enviado um instrumento para quebrar pe-dras na bexiga, cateteres e sondas para utilizar em problemas urológicos.252 Ele também tinha recebido um cefalótribo e um perfurador craniano, ambos instrumentos usados em complicadas cirurgias obstétricas. Ao mesmo tempo ele recebera alguns protetores de amamentação que eram exatamente iguais a um par que o supervisor de Furudal lhe havia comprado muito mais barato, há 16 anos, em Paris, como ele escreveu em 1861.253 Que ele se dedicou à ginecologia se evidencia pelo fato de que ele havia recebido instrumentos para ligadura de pólipos uterinos e elementos galvânicos para aquecer fios de platina que pudessem ser usados para remover um grande tumor ute-rino.254

Um instrumento para ligadura de pólipos nasais e ganchos para ligadura de artérias e aneurismas profundos são mencionados em uma carta em 1848. Ao mesmo tempo ele pediu agulhas retas para catarata. A punção da catarata é conhecida desde os tempos do Egito antigo e, portanto, não era particular-

250 UUB x285m1, 17/3 1860. O Juiz era José Bernardes de Loyolla, a filha se chamava Ana Augusta de Loyolla e iria se casar com Gabriel Pio da Silva. Este era irmão da esposa de August Westin, Maria Ines da Silva. 251 UUB x285m1, 14/4 1863. Westin voltou depois a morar em Caldas. 252 UUB x285m1, 7/6 1842. 253 UUB x285m1, 10/2 1861. 254 UUB x285m1, 13/2 1873.

Page 117: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

117

mente estranho que Regnell estivesse trabalhando com isso. Ele também ad-quiriu instrumentos para cirurgia de estrabismo. Era bastante incomum que um simples médico do interior fizesse tais cirurgias, mas Regnell provavel-mente tinha visto e talvez até mesmo as tenha realizado durante seu apren-dizado no Hospital Serafimer.

Aos poucos ele reduziu sua atividade cirúrgica. Ele descreveu em uma carta ilustrativa para Clason em 1863, que ele tinha retirado um tumor sobre o olho de uma menina pobre. A mãe escreveu que

a garota ia se casar com um jovem, mas como ele parecia estar em dúvida por causa do caroço, a mãe havia implorado a Regnell para retirar esse obs-táculo. O que fazer! Espero que tenha dado o resultado desejado, mas real-mente eu tive muito trabalho para ligar uma pequena artéria, que jorrava san-gue em meus óculos e fez com que a cirurgia se prolongasse consideravel-mente. Isto já me havia acontecido antes, pelo que atualmente não faço mais tais cirurgias de bom grado.255

Ainda em 1869, Clason enviou-lhe um conjunto de instrumentos para exa-mes e cirurgias ginecológicas: um espéculo de Sims, uma sonda uterina, um depressor, um afastador, um alicate de Stilles, um bisturi e uma tesoura para pólipos uterinos, pinças e porta-agulhas.256 Em 1876 ele pediu a Clason que agradecesse a Eklund por sua tese retroflexio uteri.257 Uma paciente jovem sofria deste distúrbio. Ela era de estatura baixa e não tinha tido filhos nem abortado, apesar de ser casada há vários anos – ela sofria também de disme-norreia. Ele gostaria de ter alguns diafragmas de Hodges, que são mencio-nados na tese de Eklund, para poder testar nela.258 Regnell continuou, por-tanto, com seu trabalho na área de tratamento da mulher por mais tempo que na de cirurgia operatória.

Em 1869 ele ganhou um estetoscópio, que era relativamente uma novi-dade na época. Este foi descrito pela primeira vez em 1819 pelo médico fran-cês René Laënnec,em sua obra clássica De l’auscultation médiate, ou traité du diagnostic des maladies des poumons et du coeur.259 Não se sabe ao certo se Regnell aprendeu a usar um estetoscópio durante seus estudos médicos na década de 1830; nesse caso, ele já teria adquirido um antes. Ao contrário, isto pode ser visto como um exemplo de como ele queria e era capaz de se manter atualizado sobre os avanços da medicina. Outro exemplo são os li-vros de medicina que ele adquiriu por recomendação de Magnus Huss. 255 UUB x285m1, 18/4 1863. 256 UUBx285m2, 18/10 1869. 257 Eklund, Fredrik: Till retroflexionens etiologi och therapi, Stockholm 1875. Retroflexão do útero significa que o útero se encontra virado para trás na pélvis, o que é atualmente considerado um estado normal. A dismenorreia é a menstruação dolorosa. O diafragma de Hodges é um anel que é inserido na vagina para levantar o útero e as paredes vaginais. 258 UUB x285m1, 9/11 em 1876. 259 Laënnec, René Théophile Hyacinthe: De l’auscultation médiate ou Traité du Diagnostic des Maladies des Poumon et du Coeur. Paris em 1819.

Page 118: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

118

Regnell havia pedido o livro de James Copland, Dictionary of practical me-dicine, mas recebeu a edição alemã, que ele achou que tinha um texto feio e que para ele era difícil de ler, pois sua visão havia começado a ficar fraca. Regnell estava muito insatisfeito e escreveu uma longa carta reclamando do livro.260 Ele voltou ao mesmo assunto em mais duas cartas, reclamando do prejuízo que ele havia tido com a compra errada. Finalmente ele conseguiu vender o livro, na tradução alemã, para um médico alemão, mas com preju-ízo, o que ele anotou cuidadosamente.

Regnell lera um artigo no número 242 do jornal Aftonposten de 1849 so-bre um oficial de justiça da cidade chamado Carlsson, em Växjö, que tinha descoberto um remédio contra o câncer, que havia curado os 31 pacientes que tomaram o remédio. Regnell duvidava que todos os pacientes realmente tivessem câncer, mas se o remédio tivesse ajudado mesmo que uma pequena parte deles, seria válido tentar. Ele tinha um paciente em Caldas em que ele havia testado todos meios disponíveis sem sucesso e pediu então a Clason para verificar se o remédio poderia resistir ao transporte e, neste caso, para enviar-lhe o mais rápido possível.261 Não há nenhum relatório nas cartas so-bre o resultado.

A esposa de um amigo de Regnell procurou-o devido a perda de audição e zumbido no ouvido, como som de cigarras. O faradismo não tinha surtido efeito.262 Regnell, que tinha lido que era possível curar os zumbidos no ou-vido com corrente contínua, pediu a Clason que consultasse o professor Fre-drik Sundevall, que tinha defendido uma tese sobre doenças do ouvido e seu tratamento em 1844. Ele era um velho amigo e colega da época de Anders Retzius. A resposta que ele recebeu foi de que “O velho Sundevall” não tinha boa reputação como médico, mas que os outros que Clason tinha consultado não davam o menor crédito à eletricidade quando se tratava de curar doenças do ouvido. Os nervos da audição ficavam muito profundos no osso do crânio para serem alcançados pela eletricidade.

Em 1873, Regnell contou que uma epidemia de varíola devastava a região e que 14 a 15 pessoas já tinham morrido. Ele próprio tinha tido uma bron-quite durante dez dias, mas assim mesmo conseguiu cuidar de uma pessoa que estava doente de varíola:

Para completar, grande parte da população não está vacinada e sofre com a falta de boa vacina – e como não fui vacinado em 60 anos, ou depois de duas tentativas com as vacinas disponíveis não houve resposta, não é sem perigo que lido com pacientes com varíola.263

260 UUB x285m1, 6/1 em 1851. 261 UUB x285m1, 1/1 1851. 262 UUB x285m1, janeiro de 1873. De Michael Faraday. No faradismo, usa-se corrente alter-nada. 263 UUB x285m1, 17/11 em 1873.

Page 119: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

119

Regnell tinha uma opinião talvez um pouco engraçada de sua própria capa-cidade como médico, quando Clason voltou a sentir dor no joelho: “Não se-rei eu, um pobre charlatão do interior, que irá dar algum conselho quando Você tem todos os professores para quem perguntar”.

Ele sugeriu em todo o caso que Clason viesse se banhar nas fontes termais sulfurosas, perto de Caldas.264 A origem do problema do joelho de Clason foi que, no verão de 1819, ele havia escorregado quando tomava banho no lago Ore, em Furudal, e fez um furo no joelho esquerdo. O machucado demorou a sarar. Depois de várias semanas de repouso em cama, ele conseguia andar com ajuda de muletas, mas ficou inativo e perdeu muito de seu interesse anterior pelos estudos. Esta foi uma das razões do porquê o pai o enviou a Schedwin, em Upsala, para estudar e procurar médicos melhores que os en-contrados em Dalarna. Ele procurou o professor Romansson e o Arquiatra Per von Afzelius e depois de um tempo pôde substituir as muletas por uma bengala e, aos poucos, até deixar a bengala. Seu joelho, no entanto, ficou meio rígido durante toda a vida e ele mancava um pouco quando andava. Em uma fotografia ele se apoia em uma bengala.265

Regnell tinha um interesse especial por doenças pulmonares, pois há muito tempo ele sofria com problemas respiratórios e de tosse com sangue. Uma pessoa conhecida na Igreja Presbiteriana do Brasil, Miguel Gonçalves Torres, era seu paciente e assim foi possível obter um testemunho de como Regnell era como médico. Miguel nasceu em Portugal, mas mudou-se para o Brasil. Depois de ter estudado teologia no Seminário Presbiteriano do Rio, ele se tornou pastor em 1871. No entanto, ele adquiriu tuberculose e ficou na casa de Manuel Pinto de Andrade em Santana do Sapucaí, perto de Pouso Alegre. (Regnell nomeou Andrade posteriormente como executor de seu tes-tamento em terceiro lugar, caso os outros dois mencionados em primeiro lugar não estivessem vivos). Quando Miguel estava muito doente, Regnell foi chamado e disse “é possível curar”, mas que era necessário transportar Miguel para Caldas, pois Regnell estava muito ocupado e não tinha tempo de viajar para Santana do Sapucaí. Miguel chegou a Caldas em uma carroça puxada por mulas, fraco, doente, quase morto. Segundo Ferreira, não era um pastor a caminho de sua congregação, mas uma pessoa doente que veio a um sanatório. Qual o tratamento que Miguel recebeu não consta no livro de Fer-reira, mas durante sua estadia em Caldas ele fundou duas igrejas e chegou a ter grande importância para a Igreja Presbiteriana no Brasil. Como o próprio Regnell, que estava quase morrendo quando chegou a Caldas, Miguel Torres viveu muito tempo com sua doença e só morreu em 1892. Ele está, como Regnell, enterrado no cemitério de Caldas. Caldas tinha na época o mesmo

264 UUB x285m1, 23/12 1852. 265 Clason, Fredrik: Köpmän, bruksmän, ämbetsmän. UUB x255 sa:1, p. 182.

Page 120: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

120

rol de Campos do Jordão, para os brasileiros o símbolo de uma estação ter-mal.266

Que Regnell era um produto de sua época quanto à arte médica é mos-trado nas ideias que ele tinha em uma carta de 1863.267 Ele tinha quase mor-rido quando de repente teve um ataque de tontura e convulsões e caiu do cavalo em que estava montado. Demorou 22 horas até que ele pudesse reco-nhecer o lugar onde estava. Ele justificou o ocorrido dizendo que o ataque havia acontecido por causa do feijão branco turco que ele tinha acabado de comer e montado no cavalo imediatamente depois. Outro motivo em que ele também pensou foi que há tempos não colocava sanguessugas junto ao ânus, como ele costumava fazer. Um médico hoje certamente interpretaria o ata-que de maneira diferente.

Conforme muitas testemunhas, Regnell era uma pessoa austera. Se for-mos acreditar em Da Silva Araújo, ele era assim como médico também. Uma vez Regnell recebeu a visita de uma pessoa trazendo uma cesta com uma fortuna em ouro e prata e lhe prometeu tudo, se ele o curasse. Ele teria rece-bido a seguinte resposta “Meu honorário é de 20 mil réis para a consulta, o restante você pode usar para o funeral”.268

Os moradores locais também gostavam de Regnell, mas achavam-no di-ferente:

Nos documentos e jornais da época, Regnell foi chamado de “sábio”, ele foi um dos primeiros pesquisadores a trabalhar no sul de Minas. Ele tinha uma estação meteorológica e um herbário em casa na rua Conde D’Eu, hoje rua Senador Bueno Paiva. Apesar de seu bom nome, ele sempre era visto como “esquisito” – uma definição inexplicável, com várias interpretações popula-res que nem valem a pena mencionar.269

O amigo de Regnell em Caldas, August Westin, que era farmacêutico, como já foi mencionado, mudou-se para St. Antonio. Regnell queria então que um farmacêutico sueco viesse a Caldas, tanto para cuidar da farmácia como para que ele pudesse receber apoio de um conterrâneo em caso de indisposição e de sua morte, para que a herança não fosse roubada. No entanto, o farma-cêutico que tinha pensado em deixar a Suécia arrependeu-se. Westin queria vender sua farmácia e ela tinha sido comprada por Regnell. Ele enviou a Clason uma lista de 60 itens de farmácia que ele queria obter da Suécia em

266 Ferreira, Júlio Andrade: O Apóstolo de Caldas, Franca, 1948, pg. 22, (reedição 2010). Campos do Jordão foi e ainda é uma estância termal popular no estado de São Paulo. A região é popularmente conhecida como Suíça Brasileira. 267 UUB x285m1, 7–8/12 1863. 268 Dahlgren, Ossian: Anders Fredrik Regnell och hans svenska gäster i Brasilien, svensk botanisk tidskrift 56: 3, 1962, p. 405. 269 Olivar Júlio: Mistério do Consul, capítulo 12, Rondônia 2005.

Page 121: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

121

1863.270 Durante muitos anos, ele foi o único representante de Capanema, um produto contra formigas, que causavam grandes danos às plantações.271

Mais tarde, em 1863, ele discutiu com Gustaf Albert Godée, mais tarde farmacêutico em Skänninge, se ele poderia vir para Caldas. Godée exigiu:

Salário no primeiro ano e, se eu não quiser ficar, viagens de ida e volta pagas, com o direito de, se eu permanecer lá, comprar a Farmácia pelo mesmo valor que o Dr. Regnell pagou.272

Regnell interrompeu, portanto, a tentativa de recrutar um farmacêutico:

Sr. Godée, por mais que me custe, não ouso convidá-lo para cá, pois talvez eu abandone a prática, [palavra ilegível] reflexões, mas especialmente porque me contaram que meu atual concorrente (apesar de amigo) Doutor Agosti-nho, que agora foi para o Rio como deputado, pretende procurar algum far-macêutico para Caldas, em vez do italiano que esteve aqui durante muitos anos, sob a proteção do mencionado Doutor, mas que se mudou recente-mente.273

270 UUB x285m1, 23-28/5 1863. 271 Splettstoser, Jaime Junior: Alemães, suecos, dinamarqueses e austríacos em São João da Boa Vista, São Paulo 2003, p. 69–72. 272 UUB x285m4, 1863, carta 178. 273 UUB x285m1, 28/12 1863.

Page 122: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

122

Fontes termais e o clima em Caldas

As fontes termais Regnell estava muito insatisfeito, como já foi mencionado anteriormente, com a pouca valorização que ele achava estar recebendo por seus esforços em coletar plantas. Em 1863 ele escreveu para Clason que estava pensando em mudar para química:

Imagino que você deva achar engraçado ler isto – e eu mesmo preciso fazer o mesmo, pois como você bem sabe eu nunca fui químico e eu me tornar um agora perto dos 50 anos, depois de ter deixado essa ciência durante 30 anos, digo 30 anos, deve ter suas dificuldades. Eu solicitei, entretanto, vários equi-pamentos de Hamburgo que já estão aqui e depois que eu receber o que pre-tendo pedir-lhe que me envie, ter coragem de tentar. Não espero ser conhe-cido do outro lado do Oceano com essas descobertas, mas quem sabe minhas ideias químicas consigam detectar uma e outra falsificação nas preparações químicas que eu e os meus colegas atuais, até agora, temos feito nossos pa-cientes ingerir com boa fé.274

Entre os equipamentos que Regnell solicitou para fazer análises da água, havia uma lâmpada Berzeliana, cilindros de teste e retortas., A pedido do governo brasileiro, ele fez então análises químicas da água em Pocinhos do Rio Verde, um pequeno vilarejo perto de Caldas. O nome significa ’A pe-quena fonte junto ao rio verde’. Ele descobriu que a água continha ácidos (ácido clorídrico, ácido carbônico, ácido silícico e provavelmente ácido sul-fúrico) bem como bases, sódio e provavelmente potássio, mas nenhum alca-loide ou tipo de solo, em todo caso em tão pequena quantidade que eles não deveriam afetar as propriedades da água. Ele queria, entretanto, que seus resultados fossem confirmados por outros e enviou amostras evaporadas da água para o professor August Almén, em Upsala. Almén era frequentemente contratado para analisar água de toda a Suécia e em 1870 ele foi agraciado com o Prêmio Regnelliano da Sociedade Médica Sueca por sua tese sobre água potável.275 Seu método de determinação de açúcar na urina foi usado em todo o mundo por quase 100 anos. Almén, através do casamento com Susanna Fries, tornou-se genro de Elias e cunhado de Thore Fries. Susanna

274 UUB x285m1, 18/5 1863. 275 Almén, August Teodor: Huru bör ett dricksvattens godhet bedömas från sanitär synpunkt? Svenska Läkaresällskapets nya handlingar, serie 2, del 3, 1871.

Page 123: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

123

era uma desenhista habilidosa; sete de seus cartazes originais permanecem em Upsala.

Regnell queria também desenvolver as fontes termais em Poço de Caldas, situadas a 4½ léguas (2,5 milhas suecas ou 25 km, veja o mapa no capítulo Chegada em Caldas) de Caldas, em uma Estância Termal:

As fontes termais ainda estão em seu estado natural, mas são benéficas para centenas de doentes todos os anos. O que seria possível fazer se uma casa de banho fosse estabelecida? O governo apoia o projeto e com cerca de 10 000 riksdales (moeda antiga sueca-N.T.) de meu próprio bolso, eu poderia fazer um trabalho verdadeiramente bom para o país, retribuir parte do que devo e ao mesmo tempo contribuir para a honra da Nação Sueca e dos estrangeiros em geral e mostrar que nem todos têm como único alvo atingir os nativos.276

Um recém-nomeado governador da província não tinha, entretanto, o mesmo interesse que o anterior de fazer das fontes uma estância termal, pelo que Regnell teve que abandonar seus planos.

Observações meteorológicas e topográficas Regnell mostrou desde cedo interesse por meteorologia e, por muitos anos, fez observações precisas sobre o tempo em Caldas. No entanto, ele teve pro-blemas com seu antigo barômetro, que não estava funcionando muito bem e enviou-o para conserto no Rio e enquanto isso adquiriu outro. Ele acreditou por um tempo que suas antigas observações fossem em vão. Em 1874, um jornal ia começar na cidade e ele foi convidado a enviar suas observações para o jornal. Ele não sabia, entretanto, de como um jornal que só saía uma vez por semana ia funcionar. “Os assinantes gostariam, com certeza, de ler sobre outros assuntos também”. Suas observações de temperatura, umidade, pressão do ar e vento foram publicadas durante muitos anos no jornal O Cal-dense. Justamente no dia em que ele escreveu, 19 de novembro de 1874, a temperatura era 32,7 °C ao sol e 25° C à sombra e sem nenhuma nuvem no céu. Ventava sempre em Caldas, pelo que o sol não parecia tão forte.277

A razão de seu interesse pelo clima em Caldas era o fato de o clima ser considerado particularmente benéfico para pessoas com doenças no peito e ele queria medidas objetivas do clima para provar que este era bom. Ele ha-via comprado e lido as teses de Curt Wallis sobre o clima na Sicília e no Egito e pediu a Clason que perguntasse a Wallis sobre alguma tese a ser lida para avaliar se Caldas seria adequada como estância termal. Wallis tinha re-centemente, além disso, recebido em 1874 o Prêmio Regnell da Associação Sueca de Medicina por seu trabalho sobre o clima na Riviera. Ele também

276 UUB x285m1, 6/6 1871. 277 UUB x285m1, 19/11 1874.

Page 124: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

124

pode tomar conhecimento das observações de Regnell sobre o clima em Cal-das, que parecem ter sido publicadas, mas tal publicação não foi encon-trada.278

Talvez inspirado por seu colega de escola Fredrik Arosenius, que era Ca-pitão no Corpo Topográfico, Regnell fez uma série de observações da altura do sol em Caldas. Com base na posição do sol ao meio dia no solstício de verão de 1860 e, com a ajuda de uma série de cálculos matemáticos, Aro-senius determinou a latitude de Caldas como 228. A longitude foi determi-nada através de cálculos durante eclipses da lua e nos eclipses lunares de Júpiter, mas não estava mencionada na carta de Arosenius. Segundo seus cálculos, o sol incidia verticalmente sobre Caldas a 2 de dezembro e 9 de janeiro.279

278 Vetenskapsakademiens årsbok 1904, p. 170. 279 UUB x285m3, 28/6 1861.

Page 125: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

125

A biblioteca de Regnell

Numa carta sem data, provavelmente de 1853, diz-se que a biblioteca de Regnell que ele deixou em Upsala havia pegado fogo, de modo que apenas as chaves dos baús dos livros sobraram. Não se sabe quais os livros existen-tes naquela biblioteca, porém é fato que Regnell se tornou um ávido coleci-onador de livros em Caldas. Em quase todas as cartas para Isak Gustaf ele pedia ajuda para que lhe fossem enviados livros de um livreiro em Esto-colmo ou da firma F. H. Nestler & Melle Buchhandlung em Hamburgo. Em 1869 Clason escreveu que “N.& M. é um tema constante em suas cartas”.280

N. & M. era uma das maiores editoras do seu tempo e tinha grandes negócios de livraria.

Figura 42. Cartão de reclame de Nestler & Melle, Livraria de Regnell em Ham-burg. S. E. Henschen 29, UUB.

Em 1847, um carregamento de livros havia sido apreendido no Rio, porque o capitão do navio tentara contrabandeá-los na alfândega, mas havia sido descoberto.281 Os livros foram então vendidos em leilão. Depois disso, Regnell foi muito cuidadoso para que os livros fossem listados no Conheci-mento de Embarque – um documento de transporte marítimo – e que não fossem contrabandeados. De acordo com os regulamentos aduaneiros, pro-fissionais podiam importar livros que fizessem parte de sua profissão, por exemplo livros de medicina para médicos e livros técnicos para engenheiros. 280 UUB x285m2, 18/10 1869. 281 UUB x285m1, 21/12 1847.

Page 126: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

126

Por isto ele pedia às vezes a alguns dos visitantes que recebia para trazerem livros, o que geralmente funcionava bem, mas às vezes ele pedia que com-prassem livros e lhe enviassem, o que podia levar a dupla entrega, pelo fato de ele também pedir através de Clason.

A incerteza do transporte postal também fazia com que os livros só che-gassem após um tempo tão longo que ele tinha tido tempo de encomendar novos livros e assim recebia duplicatas que ele queria mandar de volta. Ele se esforçava muito para receber de volta o dinheiro pago pelas duplicatas. Em junho de 1869, sumiu um grande carregamento de livros de Hamburgo. Ele escreveu mais de 10 cartas para seu contato no Rio e, em diversas cartas para Isaac Gustaf, pediu-lhe que tentasse rastrear os livros. Pela intensidade da correspondência, entende-se que os livros eram muito importantes para ele; sem a mais recente literatura botânica, por exemplo, ele não podia de-terminar a espécie das plantas que colecionava.

De 1860 até sua morte em 1880, Isak Gustaf Clason escreveu pelo menos 48 cartas para Nestler & Melle em nome de Regnell. Da livraria tinham es-crito para Regnell reclamando que Clason escrevia em sueco, o que ele achava que a empresa poderia ter comunicado diretamente a ele.282 Clason achava difícil escrever em alemão, por isso tinha evitado de fazê-lo, mas como a livraria não havia reclamado, ele havia se acomodado e continuado a escrever em sueco. Ele se engajou especialmente no carregamento de livros que desapareceu. Em 1869, ele escreveu para Nestler & Melle:

Por três vezes solicitei a N. & M. a obtenção de uma contagem precisa sobre os livros que N. & M. enviou a Regnell a partir de 2 de outubro de 1967, mas ainda não fui honrado com uma resposta. Devo agora, pela quarta vez, exigir incondicionalmente uma resposta, em parte porque tenho ordens específicas de Regnell e em parte porque sei que nessa conta também estão incluídas obras que o Sr. Henschen adquiriu e que não pertencem a Regnell e que eles irão pagar-lhe de volta assim que eu souber do preço. Eu necessito, além do mais, saber imediatamente o que N. & M. lhe enviou, porque tenho notado que Regnell pode solicitar os mesmos livros tanto do Rio quanto de Ham-burgo e daqui, se ele achar que demorou demasiado tempo de expedição de qualquer destes lugares.283

Nota-se nitidamente o tom irritado na carta que foi escrita em sueco. Mais tarde, Clason passou a escrever em alemão e tornou se mais formal, mas às vezes ele também se mostrava pessoal, como quando contou aos senhores na livraria que ele estava de cama em convalescença após uma cirurgia, em 1870. Depois da confusão com as remessas perdidas, Regnell ameaçou mu-dar de fornecedor, principalmente porque ele achava também que N. & M. cobrava demais. No entanto, ele também aproveitava a livraria para enviar

282 UUB x285m2, 18/11 1867. 283 UUB x285m2, 18/10 1869.

Page 127: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

127

caixotes com plantas, que eram depois distribuídas para botânicos na Ale-manha.284 Clason também enviava livros suecos, comprados na Suécia, que N. & M. encaminhava em seguida para Regnell. Em ambos os casos, a em-presa era também utilizada como central de transporte.

Regnell fazia questão de acompanhar o desenvolvimento médico na Eu-ropa e solicitava os últimos lançamentos da Suécia, Alemanha, França e até da Inglaterra. O inglês não fazia parte do ensino quando Regnell havia estu-dado, porém ele comprou dicionários de inglês para poder ler literatura in-glesa. Ele teve também aulas de inglês com seu amigo August Westin, que era vizinho e que, conforme Regnell, havia crescido na Inglaterra.285 Durante muitos anos, Regnell escreveu em alemão para Nestler & Melle, mas em 1878 ele escreveu, surpreendentemente, em inglês,286 para a empresa alemã.

Regnell queria saber o que estava acontecendo no mundo da medicina na Suécia e recebia regularmente Svenska Läkaresällskapets förhandlingar, (Conferências da Sociedade Sueca de Medicina) Hygiea, Nordiskt medicinsk arkiv (Arquivo de Medicina Nórdica) e Pharmacopea Suecia, bem como Sundhetskollegiets Berättelse.(Relatórios de Professores da Saúde) A Tids-krift för Militärmedicin (Revista de Medicina Militar) tinha sido lançada em 1876 e Regnell tinha feito assinatura da revista. Algo surpreendente foi que ele queria e conseguiu Svensk författningssamling (Constituição Sueca) e Författningen om allmän hälsovård (Leis da Saúde Pública). É difícil enten-der que benefício ele teria dessas no Brasil.

Ele conhecia pessoalmente muitos médicos daquela época na Suécia. Quando encomendou a Lista de Médicos Sueca de 1875, ele motivou expli-citamente que gostaria de ver quem ainda estava vivo. Ele também acompa-nhou o desenvolvimento de sua antiga Universidade, recebendo regular-mente Uppsala Universitets årsskrift (Anuário da Universidade de Upsala). O Översikt över Kungl. Vetenskapsakademiens förhandlingar (Resumo das discussões da Academia Real de Ciências Sueca) também foi algo que lhe interessou. Ele não ganhou de presente Uppfinningarnas bok (O livro dos inventores) do parente Hjalmar Linnström, apesar de ter apoiado Hjalmar com empréstimos, mas teve que comprá-lo.

Ainda quando criança, ele tinha “eletrizado” a casa, de acordo com o re-lato da empregada Nyström (ver a seção sobre doações para particulares pag 176). Ele conseguiu o Manual de galvanoplastia (Handbok i galvanoplastik) de Frans Dahl, Eletroterapia (Elektroterapi) de Moritz Benedikt e Galvano-terapia e Eletroterapia (Galvanoterapi und Elektroterapie) de R. Bremer. Li-vros didáticos mais gerais foram o Relatório do Progresso da Medicina (Re-port of the progress of medicine) de Horace Dobell, de 1869, os Anais de 284 UUB x285m1, 12/12 1879. Regnell sempre chamava as caixas de plantas de caixotes. 285 UUB x285m1, 12/1 1845. O fato de August Westin ter sido criado na Inglaterra não procede porque ele é encontrado no rol da paróquia de Hedvig Eleonora, até pelo menos o ano de 1824. No entanto, mais tarde ele fez seu curso de farmacêutico na Inglaterra. 286 UUB x285m1, 17/5 1878.

Page 128: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

128

Terapêutica (Annals of Therapeutics) de Bichardat e Características Básicas da Fisiologia Humana (Grundzüge der Physiologie der Menschen) de Johan-nes Ranke.

Após sua visita a Caldas em 1872, o Cônsul Geral Leonard Åkerblom escreveu que Regnell tinha uma reputação particularmente boa como cirur-gião e obstetra. Seu interesse por ginecologia é demonstrado pelo fato de que em 1874 ele comprou o livro de Thomas Gaillard Lehrbuch der Frauen-krankheiten (Livro prático sobre Doenças da Mulher) na tradução inglesa e adquiriu o livro Handbuch der Frauenkrankheiten (Manual de Doenças da Mulher), editado por Theodor Billroth, o livro de Hermann Beigel Die Krankheiten des weiblichen Geschlechts e Doenças do Ovário (Diseases of the ovaries) de Spencer Wallis. Regnell já havia escrito em 1863 que não queria mais fazer cirurgias, mas em 1877 ele comprou A Ginecologia Ope-ratória (Die operative Gynekologie) de Alfred Hegar e Rudolf Kaltenbach.

O próprio Regnell tinha tuberculose pulmonar e nos últimos anos sofria muito de bronquite crônica. Isto pode ter contribuído para que ele comprasse em 1874 o livro Études sur la Phithise de M. Pidaux, de 1873.287

Quando estava mais envolvido com as águas termais de Poços de Caldas, ele obteve livros sobre balneologia, como por exemplo o livro Balneologia, de Lersch, de 885 páginas. Sobre o mesmo tema vieram o livro de Curt Wal-lis: As águas termais climáticas da Sicília, (Siciliens klimats kurorter), O clima do Egito (Egyptens klimat) e Sobre os resorts de inverno no sul da Inglaterra (Om vinterbadorterna i södra England)

No entanto, as aquisições mais extensas diziam respeito à literatura botâ-nica, onde a mais importante para ele era Flora Brasiliensis, publicada por Carl Friedrich Philipp von Martius. Esta obra monumental começou a ser lançada em 1840 e continuou após a morte de Martius, com outros redatores, até 1906; no total foram publicados 41 volumes. Como o trabalho foi lançado em partes, em cadernos, Regnell tinha muitos problemas porque as páginas não permaneciam juntas. (O mesmo problema ele teve com as 1312 páginas do Patologia Geral). Uma obra-prima em botânica que ele comprou em 1877 foi o Tratado Geral de Botânica descritiva e analítica (Traité Général de Botanique descriptive et analytique),de Emmanuel le Maout e Joseph De-caisne,288 e uma obra que ele lia repetidamente era Novos gêneros e espécies de plantas (Nova genera et species plantarum), de Eduard Poppig e Stephan Endlicher.

Regnell também fazia questão de conseguir jornais suecos. Ele escreveu em 1878 que queria ter o Dagligt Allehanda (Diário Allehanda) para acom-panhar o que acontecia na Europa. Os jornais suecos chegavam tão rápido quantos os jornais brasileiros que ele assinava do Rio. Estes muitas vezes ficavam nos correios, a caminho de Caldas, para serem lidos de graça pelos

287 UUB x285m2, 4/7 1874. 288 UUB x285m2, 26/9 1877.

Page 129: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

129

funcionários, o que, naturalmente, não acontecia com os jornais suecos. Ele escreveu na mesma carta:

[…] talvez seja melhor fazer a assinatura por 6 meses apenas, acredito que não vou morrer antes que cheguem aqui – mas admito que, como resultado do enfraquecimento e piora das forças corporais que experimentei em razão do último ataque, da profusa expectoração que ainda continua, temo mais do que nunca os próximos meses de abril e maio, principalmente se houver de minha parte algum descuido, para evitar a ocorrência de uma recaída do mesmo tipo de ataque, que teria como única razão apenas a mudança no clima que trouxe muita chuva.289

Em novembro de 1879, o bibliotecário da Academia Sueca de Ciências, Johan August Ahlstrand, encontrou Isak Gustaf Clason durante uma cami-nhada em Estocolmo e perguntou se Regnell havia tomado alguma decisão sobre a biblioteca após sua morte. Caso contrário, a Academia Científica gostaria de poder selecionar os livros que lhe faltavam e que Regnell tinha. Conforme o acordo no relatório anual da Academia, os empréstimos da bi-blioteca eram grandes e Ahlstrand gostaria de expandir o estoque de livros.290 Não se sabe o que aconteceu com os livros de Regnell após sua morte.

289 UUB x285m1, 19/12 1878. 290 UUB x285m2, 23/11 1879.

Page 130: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

130

Contatos de Regnell em botânica na Suécia

Em Upsala, Elias Fries e o filho eram os botânicos com os quais Regnell tinha maior contato. O Pai Elias nasceu em 1794 e foi aluno de Anders Jahan Retzius em Lund, antes de se tornar professor de botânica em Upsala e chefe do jardim botânico e do museu em 1834. Ele era mais interessado em fungos e é considerado como o fundador da micologia moderna.

Figura 43. Professor Elias Fries. Setor de Mapas e Imagens, UUB.

O filho Thore nasceu em 1832 e tornou-se professor de botânica em Upsala em 1877. No aniversário de 400 anos da Universidade de Upsala em1877, os botânicos em Upsala imprimiram uma brochura com uma chamada para que todos os interessados enviassem sementes e plantas para aumentar o mu-seu da instituição botânica. Doações em dinheiro também eram benvindas. Thore Fries enviou dois exemplares da brochura a Isak Gustaf Clason, uma destinada a Regnell. Para que este não ficasse bravo com o pedido de esmola,

Page 131: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

131

ele pediu a Clason que enviasse a brochura. Fries pensou em ele mesmo atuar como o grande mendigo em prol da instituição, mas como Regnell tinha sido tão generoso, Fries não queria ser demasiado importuno. Como Regnell ha-via doado 4000 coroas para Christiania, Fries achava, entretanto, que ele pu-desse dar algo a Upsala, principalmente pelo fato de a seção de ciências na-turais da faculdade de filosofia tê-lo feito doutor honorário.

A mim me pareceu que ele, neste exato momento, talvez gostasse de mostrar interesse por nosso museu botânico. O tio entende também a que eu me re-firo. Parece ao tio de mau gosto dar a Regnell um sinal ou lembrá-lo neste sentido sem mencionar meu nome? Desejando um alegre verão, continuo sendo o fiel e humilde servo do Tio: Th. M. Fries.294

Figura 44. Professor Thore Fries. Foto Henri Osti. Seção de Mapas e Imagens, UUB.

Isaak Gustaf Clason respondeu de imediato:

Regnell é um verdadeiro amigo de Upsala-Você deve ter visto por todas as suas doações e creio que me lembro de Regnell ter falado anteriormente de dar dinheiro ao botânico em Upsala. Eu vou com prazer enviar Seu pedido a ele, mas como poderei evitar Seu nome, se ele está impresso na bro-chura? O melhor seria, acho eu, se Você simplesmente tomasse coragem-(atrevidamente, segundo Você) e lhe escrevesse.291i

Clason escreveu mais tarde a Regnell sobre a brochura e que ele havia pedido a Fries que ele mesmo lhe escrevesse, o que este também

fez. Regnell preferia, entretanto, dar dinheiro ao jardim botânico em Upsala, como reconhecimento pelo prazer que este lhe havia proporcionado e achava que a instituição podia utilizar as 2000 coroas que haviam sido destinadas anteriormente, mas pediu a Clason para se informar de como estava o rela-cionamento entre o museu e o jardim. Fries respondeu somente em março de 1878, pedindo então desculpas por demorar a responder, mas argumentando 291 UUB x285m5, 12/6 1877 carta para Thore Fries.

Page 132: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

132

ainda de que era o museu que necessitava de dinheiro; as necessidades do jardim eram vistas por todos, e este podia, portanto, conseguir meios de ou-tro lado.292 Regnell deu então 1000 coroas, das quais Fries havia prometido 700 coroas para o vendedor de uma bela coleção de criptogramas.

Um botânico influente, com o qual Regnell tinha às vezes um relaciona-mento difícil, era Nils Johan Andersson. Ele nasceu em 1821 e tornou-se superintendente da seção botânica do Museu Nacional em 1856 e professor Bergianus em 1857. Ele foi um dos primeiros na Suécia a abraçar as ideias de Charles Darwin sobre a seleção natural, apresentada em 1859 no livro On the origin of species by means of natural selection.

Figura 45. Professor Nils Johan Andersson. Seção de Mapas e Imagens, UUB.

Regnell teve também vários contatos om o diretor Axel Pihl no jardim de Rosendal. Pihl era muito ativo na Sociedade Sueca de Jardins, que havia sido criada em 1832 por iniciativa de, entre outros, Anders Retzius e seu cunhado Peter Wahlberg. Wahlberg tornou-se estudante em Upsala em 1818, aluno de medicina em 1825 e defendeu tese em 1827. Ele foi professor em matéria médica de 1836 a 1865 em Estocolmo e, inclusive, professor de história na-tural farmacêutica. Da mesma forma que Regnell, ele tinha feito viagens bo-tânicas na Noruega e na Lapônia, bem como cuidado do herbário de Regnell depois que este saiu da Suécia.

292 UUB x285m3, carta de Fries 27/3 1878.

Page 133: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

133

Como botânico em Minas Gerais

Assim que Regnell desembarcou no Rio, ele começou a colecionar plantas e continuou incansavelmente durante quase todo o resto da vida. Desde 1842 ele tinha um grande plano, como contou para Isak Gustaf Clason, “de clini-car ainda uns dois anos para juntar dinheiro e depois dedicar-se totalmente à botânica.”293 Sua primeira remessa de plantas foi para Peter Wahlberg em Estocolmo. Regnell pediu a Wahlberg que guardasse estas plantas separadas das dele, para que ele pudesse obtê-las de volta se retornasse à Suécia. Ele também pediu a Wahlberg que o recomendasse ao grande botânico von Mar-tius, a quem ele havia escrito, para ter ajuda em classificar suas plantas, uma vez que “minha voz é muito fraca para chegar a um Botânico tão famoso. Há necessidade de um apresentador, quanto maior a influência melhor”.294 Caso as plantas fossem classificadas, tanto Regnell como a Academia de Ciências ganhariam com isso. C respondeu, entretanto, que ele tinha uma coleção tão grande de plantas brasileiras, que no momento seria difícil para ele encontrar algo novo. O fato é um pouco surpreendente, uma vez que Regnell continuou a enviar novas plantas do Brasil para a Europa durante 40 anos.

A princípios de 1845, havia um grande caixote pronto para ser enviado. Nele estava incluído um pacote com 127 amostras destinado a Isak Gustaf-Clason, que também tinha muito interesse por botânica. Regnell queixou-se, entretanto, de que parecia que ninguém tinha interesse na classificação das plantas se não pudesse ficar com elas -do que ele não tinha muito a reclamar. Ao mesmo tempo ele escreveu para Clason:

Em verdade lhe digo que, se esta remessa não tiver um resultado melhor que a anterior, jamais voltarei a enviar minhas coleções, mas enviá-las-ei ao Mu-seu no Rio. Meu interesse por botânica esfriou e chegou a tal ponto que aban-dono tudo.

Ele não recebeu qualquer confirmação de que elas haviam chegado ou sequer um agradecimento:

293 UUB x285m1, 17/6 1843. 294 UUB x285m1, 7/6 1842.

Page 134: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

134

Está bom, prepare de forma que chegue rapidamente, antes que eu perca toda a vontade e interesse por botânica.295

Inicialmente, ele tinha dificuldade de classificar ele mesmo suas plantas, uma vez que ele não tinha acesso à literatura necessária. Ele encomendou, como foi mencionado no capítulo sobre sua biblioteca, livros didáticos de Nestler & Melle em Hamburgo, mas reclamava de que eles não chegavam nunca. Em 1849, ele escreveu uma longa carta para Isak Gustaf e reclamava:

Tão cedo não poderei enviar algo, em parte devido à desorganização política que se é de esperar nas próximas eleições (no Brasil) no dia 8 de agosto, em parte também pela nova guerra entre a Alemanha e Dinamarca, mas tudo estará pronto para enviar, espero eu, em outubro ou novembro, se nenhuma revolução colocar P , o que eu muito receio. Schlechtendal296 parece estar muito ofendido comigo, uma vez que ele parou de me enviar Linnæa, talvez por não lhe haver enviado alguma planta há muito tempo. Você pode, numa ocasião propícia, consolá-lo com que elas não vão faltar e, se elas ainda não chegaram, ele deve agradecer aos senhores alemães por: 1º). uma vez que eles sequer determinaram um mínimo do que eu enviei anteriormente bem como 2º) uma vez que eles se dignaram a começar uma guerra com a Dina-marca. Peça-lhes que deixem os pobres dinamarqueses em paz que eu lhes enviarei as plantas297

O grande nome relacionado com o mundo vegetal brasileiro era o professor Carl Friedrich Philipp von Martius em Munique, sendo o principal respon-sável pela gigante obra Flora Brasiliensis. Regnell escreveu a Elias Fries em 1853 e informou que Martius havia enviado suas plantas a outros botânicos que as registraram devidamente nos anais Brasileiros, como se expressou. Regnell enviou inúmeras remessas de plantas prensadas e tanto ele como os botânicos suecos que o visitaram em Caldas puderam dar seus nomes a plan-tas na Flora Brasiliensis. Salomon Eberhard Henschen comentou uma vez com Isak Gustaf Clason que as informações existentes sobre Plantæ Regne-llianæ em Linnæa 22 e 23 haviam sido negligenciadas na Flora de Marti.298

Regnell também enviou inúmeras caixas com plantas para a Academia de Ciências e aos Fries pai e filho, na instituição de Botânica em Upsala. Ele queria também proporcionar meios para um fundo de viagens no Brasil e para um instituto brasileiro.299 Ele vacilou, entretanto, um bom tempo, entre a Academia de Ciências e Upsala como responsável por este. Clason sugeriu a Academia de Ciências.

295 UUB x285m1, 18/2 1845. 296 Dietrich Schlechtendal publicou a revista Linnæa de 1826 até sua morte em 1866. 297 UUB x285m1, 22–27/5 1849. Regnell provavelmente não sabia que seu parente e colega de escola August Linnström participou na guerra em ambos os lados. 298 UUB x285m3, 19/11 1869. Ver D. F. L. von Schlechtendal em Linnea 22, 1849, p. 511–581 och 23, 1850, p. 443–466. 299 UUB x285m1, 14/8 1866.

Page 135: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

135

Você não teria um motivo maior para deixar com a Instituição Brasileira que para a Academia de Ciências em Estocolmo? Apesar de querer tanto o melhor para Upsala, creio entretanto que, neste caso, a Academia de Ciências tem preferência e digo isto com honestidade e creio que com razão, que a intenção de Andersson seria juntar coleções o mais completas e ricas em exemplares possível num local, até que sejam classificadas, para depois serem distribuí-das facilmente.300

Magnus Huss escreveu a Clason em 1867:

As ideias de Regnell de como ele vai fazer com a Instituição Brasileira não acabam nunca. Eu tenho longos memorandos e perguntas sobre isto. Ele pa-rece ter dificuldade em decidir como fazer o melhor para ao mesmo tempo beneficiar a Terra Natal e o Brasil.301

Até 1869, quem receberia as coleções de plantas e o dinheiro, se Upsala ou Estocolmo, ainda não havia sido decidido e Huss escreveu uma carta para Isak Gustaf Clason:

Caríssimo irmão! Eu utilizo este título confidencial com o desejo de que não seja mal interpretado e que eu receba um semelhante de volta quando que nos encontrarmos ou pessoalmente ou por escrito [...]. A indecisão de Regnell é mais que estranha! Espero que não seja um sintoma de início de velhice? Em relação às novas sugestões que ele agora parece especificar, ele não me disse uma única palavra. Eu imagino, sim, eu sei que ambos os Fries, pai e filho, tentam convencê-lo, em parte através de cartas diretas, em parte através de Henschen, pedindo para dar tudo, tudo para Upsala. Ele tem uma fraqueza por Upsala depois que o tornaram membro honorário da Sociedade. Se ele pudesse se tornar membro da Academia de Ciências talvez ajudasse, mas Andersson disse que não é possível. Entretanto, pergunte a. sobre isto. Acredito que esta seria a garantia mais segura para sua boa vontade em se lembrar de Estocolmo. Seguindo o conselho que recebi em Sua carta, vou imediatamente escrever a Regnell, entretanto, com todo o cuidado que seu humor frágil, propenso a desconfiança, permita.302

Nils Johan Andersson escreveu a Clason em 1865 que Regnell estava pro-penso, infelizmente, a desconfiança sobre a boa vontade de outros.303 An-dersson tinha agora enviado livros e outras coisas que Regnell havia dese-jado e esperava, portanto, que Regnell não tivesse razões para estar bravo com ele. Andersson escreveu ademais:

300 UUB x285m2, 5/12 1866. 301 UUB x285m4, Carta de Huss para Isak Gustaf

Clason. 302 UUB x285m3, 1/5 1869. 303 UUB x285m3, 20/10 1865. Regnell tinha na verdade escrito várias vezes a Clason que Andersson não respondia a suas cartas ou, principalmente, não se importava com o que Regnell enviava ao museu.

Page 136: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

136

Regnell tem espalhado dinheiro a seu redor para todo o lado, ele finalmente poderia fazer algo pela seção de botânica do Museu Nacional. Se quisesse ajudar fornecendo meios para um amanuense ele beneficiaria assim a insti-tuição.

Na carta seguinte Andersson escreveu:

Uma carta de Regnell não respira a boa vontade que eu esperava, apesar de achar que eu fiz o possível para ir ao encontro de Regnell.304

Regnell havia escrito que não valia a pena enviar qualquer coisa para An-dersson e o Museu Nacional, pois Andersson não havia escrito por dois anos, o que Andersson dizia estar incorreto. “Eu agora lavo minhas mãos e digo que mais não posso fazer!”, escreveu Andersson na carta. O relacionamento entre Andersson e Regnell era às vezes muito tenso e somente se evitou uma separação total com a mediação de Clason e Huss. Após uma visita a Esto-colmo no verão de 1867, Clason escreveu que ele tinha tido esperança de apresentar saudações de Regnell oralmente e não por escrito para evitar mal-entendido – “o que é muito fácil com Andersson”. Clason também recebeu, como ele disse, “o que tinha merecido”, quando Andersson, insatisfeito, es-creveu: “não sei o que Você escreveu a R. a meu respeito, mas só sei que o tom em sua carta para mim e Huss não respira boa vontade para comigo, como eu esperava”305

Em 1867, Andersson escreveu novamente a Clason e contou que Regnell havia prometido enviar seu herbário há muitos anos, mas posteriormente sur-giu uma desavença, o porquê Andersson não sabia.306 Ele tomou então as providências para que a Flora Caldensis começasse a ser processada (quando chegasse). Andersson também estava muito irritado por Regnell ha-ver doado dinheiro ao botânico em Upsala – que ele tinha sido convencido pelos “Fries” (pai e filho). Andersson não via nenhum motivo para que Regnell se tornasse membro honorário na Academia de Ciências, “é um ates-tado de honra – não um recibo”. Ele pediu que Clason não escrevesse sobre sua inveja de Upsala – isto era somente em particular entre Andersson e Cla-son. Anos mais tarde pode Clason, entretanto, parabenizá-lo pela nomeação na Academia de Ciências (ele perguntou se ainda podia escrever “Anders” nas cartas apesar do título honorífico) e garantia que

Andersson apostou que R. seria escolhido na Academia de Ciências, apesar dos zoólogos serem em maior número e precisar colocar um dos seus dentro antes de permitir a entrada de um botânico307

304 UUB x285m3, 5/4 1866. 305 UUB x285m2, 22/7 1867,

brev 21:b. 306 UUB x285m3, 1/ 4 1867. 307 UUB x285m2, 9/6 1870.

Page 137: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

137

Duas semanas mais tarde Andersson escreveu que ele confiava em Clason, mas que Huss era totalmente “Uppsalit”. Andersson tinha encontrado o “Ve-lho Fries”, que havia sugerido a Regnell uma bolsa de viagem que seria ad-ministrada em Upsala. Andersson achava que, se Regnell quisesse beneficiar a ciência, o dinheiro deveria ir para a ciência botânica em geral e para o Museu Nacional.

No outono de 1867, Regnell tinha enviado uma caixa grande de plantas ao Museu Nacional, quase que exclusivamente com leguminosas, que ele queria que fossem preparadas por George Bentham308 Mais duas caixas es-tavam a caminho. Andersson queria então

que Regnell criasse um fundo, cujo lucro seria utilizado como salário para um ou dois jovens que preparariam o material aqui junto às grandes coleções [no Museu Nacional], mas esta sugestão não agrada aos Upsalienses. Até o momento só brigas e gastos!309

Regnell estava, entretanto, insatisfeito por Andersson não haver reconhecido o recebimento de sua última remessa e escreveu:

Isto me fez em parte duvidar do valor talvez dado na Academia de Ciências a estas coleções que me custaram tanto tempo (26 anos) e trabalho e ademais me influíram em relação à colocação em Upsala, assim eu resolvi enviar para lá uma quantidade ainda maior de exemplares do que pretendia, sim, quase a mesma quantidade que para a Academia de Ciências. Quem sabe se elas, uma vez em Upsala, serão tão bem utilizadas como na Academia de Ciências e se no futuro poderia ser motivo inclusive para lá colocar a Instituição de Botâ-nica.310

Isak Gustaf Clason interferiu então e escreveu que Regnell podia pensar ou acreditar no que quisesse sobre Andersson , mas que existe diferença entre o mortal que no momento é custos e a própria instituição e ele achava que as coleções deveriam permanecer em Estocolmo.311 Ele também apontou que a distância entre Upsala e Estocolmo não é tão grande e que atualmente não leva mais que duas horas de viajem. Ele deu como exemplo um estudante de quem tinha ouvido falar, que morava em Estocolmo para se libertar da influ-ência danosa de camaradas em Upsala, onde ele estudava. A desconfiança entre Upsala e Estocolmo apareceu nitidamente quando Andersson escreveu que o Cônsul Geral Åkerblom tinha comunicado através de Huss que Regnell havia tomado de volta seu testamento.

308 Bentham era um botânico inglês, membro estrangeiro da Academia de Ciências e tinha estado na Suécia em inúmeras ocasiões. Ele havia publicado Commentationes de Leguminosarum generibus, e era portanto especialmente conhecedor desta área. 309 UUB x285m3, 1/10 1867. 310UUB x285m1, 8/9 1868. 311 UUB x285m2, 18/1 1869. Custos significa ”guardião”

ou “cuidador”.

Page 138: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

138

sem dúvida para alterá-lo da forma que o intrigante Fries, através de Hens-chen, conseguiu poder sobre o homem indeciso. Regnell não consegue se decidir sobre quem vai receber as coleções, se o Museu Nacional ou Upsala. Nestas circunstâncias, não posso esconder de mim mesmo que eu sinto um pouco de insatisfação com todas as brigas e desconforto que Regnell causou não só a mim mas também a meu antecessor com sua indecisão, achando que os superintendentes do museu eram seus empregados privilegiados e eu atu-almente, por este motivo, tampouco tenho como saber se o trabalho que no-vamente Regnell quer que eu faça terá valor para o Museu ou para a Ciência. – e, finalmente, R. parece não saber que todas as suas coleções, exceto as das duas últimas caixas, foram remarcadas e revistas, bem como ele não parece considerar que as referidas plantas devem ser ordenadas definitivamente, pre-sas e determinadas, nessas condições digo que eu solicito formalmente, se vale a pena fazer qualquer coisa antes que R. decida em definitivo onde as coleções irão ficar e com que objetivo elas serão utilizadas, se vão para Upsala ou serão divididas entre U. e Estocolmo antes de serem trabalhadas – acho então que tenho coisas mais importantes que cuidar que dedicar mais tempo de trabalho com isto 312

A concorrência entre as medicinas de Upsala e Estocolmo tinha seu equiva-lente, portanto, entre os botânicos. Foi, entretanto, a Academia Real de Ci-ências que finalmente recebeu as coleções, apesar do desejo de Regnell de que Upsala não saísse perdendo. Em 1879 ele escreveu que as coleções

[ou seriam imediatamente entregues à Ups Acad, que não havia necessidade de retirar da coleção o que seria necessário para o Herb. Generale, acredito ser este o nome, com pouco e que fará falta a Ups.313

Quanto à pergunta sobre quem receberia bolsa de viagem para estudos botâ-nicos no Brasil, [ou outro país tropical], Clason escreveu que Huss achava:

que elas deveriam ir para suecos presentes no Brasil, mas que elas fossem para brasileiros ele nem queria ouvir falar-está certo que o dinheiro veio dali, mas ademais eles não lhe deram nenhuma atenção, dizia ele – nem o convi-daram para membro em suas academias ou lhe deram qualquer medalha, etc e, portanto não mereciam nada dele. Receio que vou receber a mesma res-posta de Andersson, pelo que nem lhe vou perguntar[....], mas faça quais adendos Você quiser314

A isto respondeu Regnell:

Que os brasileiros não serão convidados a pedir bolsa de viagem Você já deve saber. Eles não foram excluídos, entretanto, pelos motivos a que o amigo Huss se referiu, uma vez que eu sou membro por correspondência do Museu Nacional e Imperial do Rio de Janeiro, que é destinado a ser uma

312 UUB x285m3, 23/5 1869. 313 UUB x285m1, 2/9 1879. 314UUB x285m2, 18/10 1872.

Page 139: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

139

instituição equivalente à Academia de Ciências em Estocolmo, bem como fui convidado a ser membro da Sociedade Vellosiana,315 uma sociedade insta-lada há muito tempo para Estudos Botânicos, porém dei a essas uma resposta evasiva, porque me considerei, devido a meus ataques de enfermidade, não ter grande utilidade para a sociedade. Algumas medalhas não me foram ofe-recidas, estas são distribuídas no Brasil na maior parte a pessoas que têm influência política, que com apoio de seus amigos pode dar apoio ao governo com seus votos – e isto em tal profusão que (quase) nenhum valor se dá aqui para estas medalhas [...] os brasileiros foram excluídos como resultado de que o jornal do comitê da Vet.Akad. ter apresentado minha doação como sendo para estudos dos botânicos suecos. Desta forma, eu me considero ainda estar em dívida para com o Brasil – daí minhas ideias de perfuração da terra perto da cidade de Caldas, para tentar dar à mesma uma mais desejada água para uso medicinal – numa tentativa de diminuir esta dívida316

Regnell e seus visitantes suecos naturalmente não eram os únicos botânicos estrangeiros no Brasil. O próprio Carl von Martius havia visitado várias das províncias no sudoeste do Brasil de 1817 a 1820. Os estrangeiros dominaram a botânica durante toda a época de Regnell e ocuparam os cargos de chefia nos museus do país até a queda do império em 1889. Isto feria a autoestima nacional dos brasileiros e um dos primeiros a protestar contra o fato foi o botânico brasileiro Francisco Freire Allemão e Cysnerio. Ele culpava prin-cipalmente von Martius por pedir sempre plantas do Brasil para exame para depois colocá-las em sua Flora Brasiliensis sem se importar com o que os botânicos locais tinham achado da planta no assunto em questão ou dar a eles o reconhecimento do qual eles se achavam merecedores. Ladislau de Souza Mello Netto foi um outro botânico brasileiro muito influente, uma vez que ele era diretor do Museu Nacional Brasileiro no Rio de Janeiro. O im-perador Dom Pedro II tinha consciência da falta de botânicos treinados no Brasil e por isso havia convidado muitos especialistas estrangeiros para o país. Após o golpe de estado e a proclamação da república em 1889, Netto despediu todos os chefes estrangeiros do museu. Netto era adversário de Bar-bosa Rodrigues, 317 a quem combatia com veemência e impediu-o durante um bom tempo de ser escolhido para a prestigiosa Sociedade Vellosiana.

Ossian Dahlgren queixou-se em seu artigo sobre as visitas suecas de Regnell, que um botânico local, nos anos de 1950, sempre tinha que acom-panhar as viagens para coleta no Brasil às custas do viajante e de que pelo

315 A Sociedade Vellosiana havia sido fundada em 1850 para homenagear um dos botânicos pioneiros no Brasil, José Mariano da Conceição Vellozo, que havia desenhado as gravuras da grande Flora Fluminensis. 315 UUB x285m1, 11/12 1872. 316 UUB x285m1, 11/12 1872. 317 Sá, Magali Romero: The botanist and the Maecenas. João Barbosa Rodrigues and science in Brésil in the second half of the nineteenth century, História, Ciências, Saúde-Manguinhos, vol. 8 (suppl.), 2001, p. 899–924. O artigo está em português, mas está accessível na internet em tradução para o inglês.

Page 140: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

140

menos metade do material tinha que ser deixada com o estado brasileiro pos-teriormente. Dahlgren escreveu também que “diz-se que este botânico pode ser muito preguiçoso e imaturo.318

318 Dahlgren, Ossian: Anders Fredrik Regnell och hans svenska gäster i Brasilien, Svensk botanisk tidskrift 56: 3, 1962, p. 411.

Page 141: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

141

Visitantes em Caldas

Johan Fredrik Widgren Regnell recebeu muitos visitantes com interesse por botânica a partir de 1845. O primeiro foi Johan Fredrik Widgren, nascido em Åtvid em Öster-götland, em 1810. Ele tornou-se doutor em filosofia em 1839 e foi ordenado pároco em 1841. Ele era muito interessado em botânica e viajou ao Brasil no mesmo ano, onde ele primeiramente ficou na região do Rio de Janeiro, na casa do cônsul geral Westin. Em 1845, ele foi para a casa de Regnell em Caldas319, onde permaneceu até 1847 e juntou neste tempo uma grande quan-tidade de plantas. 320 Em 1846, Widgren oficiou o enterro do cônsul geral Westin num cemitério inaugurado especialmente na propriedade Jardim, de Westin.. Quando ele ia viajar para casa, Regnell lhe emprestou 35 libras es-terlinas para a viagem e ele teve então que deixar suas coleções como depó-sito. Regnell escreveu em detalhe uma folha inteira numa carta para Isak Gustaf Clason sobre isto e que ele precisava pagar o transporte para o Rio e depois para Estocolmo. Uma condição no acordo era de que Widgren tinha direito de liberar o depósito e então pagar o transporte dentro de um ano. Se ele não conseguisse liberar o depósito, a coleção seria vendida. Ele teve um pouco de dificuldade de vender o herbário dentro do tempo estipulado. Cla-son escreveu sobre as negociações de venda, mas finalmente pode informar em 1850, que o herbário grande, rico em duplicatas e com 50 000 arcas, havia sido comprado com meios estatais321. As plantas foram posteriormente divididas entre a Academia de Ciências em Estocolmo e as universidades de Upsala e Lund. Upsala comprou mais tarde, com meios próprios, o herbário brasileiro de Widgren.322 Em Upsala há também o chamado “Prinsherbariet” (Herbário do Príncipe, N.T.), que no passado pertenceu ao príncipe cantor Gustaf (Frans Gustaf Oscar, príncipe da Suécia e Noruega, N.T).As plantas haviam sido coletadas por Widgren, mas as informações sumárias de que o local de origem era “Brasília” fazem com que a coleção tenha quase que somente interesse histórico. Widgren pode dar seu nome à família Asclepi-

319 UUB x285m1, 18/2 1845. 320UUB x285m1, 31/1 1847. 321 UUB x285m2, 12/11 1847. 322 Dahlgren, Ossian: Anders Fredrik Regnell och hans svenska gäster i Brasilien, Svensk botanisk tidskrift 56:3, 1962, p. 436.

Page 142: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

142

adacea Widgrenia. Isak Gustaf Clason possuía em casa uma narrativa de vi-agem que Widgren havia escrito, mas fez a mesma observação que um leitor havia feito com lápis na margem do escrito: “Se ele tivesse escrito mais sobre o Brasil e seus habitantes que sobre suas fantasias pessoais, teria ficado muito mais interessante.”323 Que se saiba, a publicação das narrativas da vi-agem jamais foram impressas.

Regnell continuou a manter contato com Widgren mesmo depois que ele voltou para a Suécia, pedindo-lhe às vezes que comprasse livros e outras coisas de que Regnell necessitava. Parece que eles se entenderam bem, sol-teirões empedernidos que eram os dois. Talvez a história de deixar uma ga-rantia para o empréstimo tenha sido o motivo de Widgren escrever para Cla-son ao chegar à Suécia: “Há muito que dizer sobre os negócios de Regnell, mas o melhor é falar disso pessoalmente quando nos encontrarmos.”324

Widgren tornou-se professor em 1849 e reitor da escola primária La-dugårdslandet em Estocolmo e, em 1865, pároco nas paróquias de Normlösa e Härberga no bispado de Linköping, onde ele faleceu em 1883. Em suas referências pessoais ele é descrito da seguinte forma:

A mim me disseram que Widgren tinha uma aparência bondosa e jovial, tendo como característica marcante a de um gentil velho solteiro da capital. Isto ele foi durante muito tempo, até quando, devido à idade avançada, voltou novamente à província natal e se mudou da reitoria da escola primária Hedvig Eleonora em Estocolmo, para o cargo de pároco em Normlösa. Ele foi, ade-mais, segundo sabemos, bastante viajado para o estrangeiro e merece, tanto como pesquisador ou, pelo menos, como diligente e eminente colecionador botânico, seu especial necrológio dos que são juízes competentes em tais coi-sas. Que sua flora Brasileira, cobrindo um herbário de nada menos que 50 000 espécies, tenha sido adquirido a nível nacional por fundos instituídos pelo governo, a mim me parece que esta coleção possui não somente valor quantitativo como qualitativo. Sua lápide sepulcral encontra-se no cemitério em Normlösa (Stenhammar).325

Christoffer Fredrik Jacobsson Um outro visitante foi Christoffer Fredrik Jacobsson, nascido em 1807 em Gotemburgo e que a princípio tinha o nome de Pahin326 Ele era de proveni-ência judaica, mas converteu-se posteriormente ao cristianismo, tomando então os nomes de Christoffer Fredrik. Após um exame para filosofia em Lund ele se mudou para Estocolmo, onde se tornou escritor sob os pseudôni-

323 UUB x285m2, 21/3 1850. 324 UUB x285m4, 29/6 1847. 325 Westerlund, Johan Alfred, Setterdahl, Johan Axel och Meurling, Erik: Linköpings stifts herdaminne, del 4, Linköping 1933, p. 420. 326 Paulin, Axel: Svenska öden i Sydamerika, Stockholm 1951, p. 218.

Page 143: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

143

mos de Jacobi Filius, Cajsa Warg o jovem, Jeremias Lunkentuss ou Katzens-krall. Nos anos de 1832 a 1833 ele escreveu 12 trabalhos com estas assina-turas e ficou muito popular entre muita gente por suas pilhérias em verso e prosa. Ele cuidava de suas dívidas do seu jeito, segundo o espírito procla-mado “Eu lhes pago pontualmente, não desafio a lei do devedor; a metade vocês receberão quando eu morrer, a outra metade no dia do juízo final,” Mais tarde ele se ocupou com textos caluniosos contra pessoas da alta aris-tocracia. Ele foi então denunciado à polícia e condenado pelo tribunal de justiça da época a “três meses de reclusão na casa de correção por espalhar cartas com pedidos de esmola de um teor escandaloso” incomum. Ao sair da prisão, ele foi cuidado por parentes, que o enviaram para o Brasil. Primeiro ele se tornou professor de escola no Rio, depois na província de Minas Ge-rais. Ele traduziu para o português o sermão de Widgren ao falecido cônsul geral Westin. Regnell escreveu mais tarde que Jacobsson morou com ele durante muitos anos.327 A cooperação entre Jacobsson e o austero Regnell provavelmente não funcionou muito bem, mas estranhamente, Regnell não comentou nada a respeito em suas cartas para Clason. Ele escreveu, entre-tanto, ao prefeito local mestre E. Brag e contou sobre a situação difícil de Jacobsson. O pároco Niklas Kullberg em Tvååker, que era cunhado de tanto Brag como Jacobsson, respondeu a Regnell e contou-lhe que a mãe de Jaco-bsson havia falecido e que havia uma pequena herança a receber. Ao mesmo tempo, ele pediu notícias sobre o cunhado, com o qual ele estava muito pre-ocupado.328 O último que se ouviu falar de Jacobsson é uma carta que ele enviou para Blekingeposten em 1872. Na carta ele descreveu a escola no Brasil, mas descreveu também sua triste vida tão longe da terra natal.329

Emil Sköldberg Emil Sköldberg nasceu em Knista, em Södermanland, tornou-se aluno de filosofia em Upsala em 1844 e aluno de medicina em 1849. Ele tinha um irmão mais velho, Sven Erik que se tornou doutor em medicina em Upsala em 1835 e provavelmente conheceu Regnell na época e mais tarde mediou o contato dele com Caldas. Emil morou com Regnell durante nove meses sem pagar um tostão, escreveu ele. 330 Quando ele se mudou dali, levava con-sigo coleções anatômicas embaladas em baús.331 Ele faleceu de febre ama-rela, entretanto, a bordo da escuna Daphne, de Gävle, a 11 de abril de 1851, a caminho da Bahia. 332 Regnell queria saber qual o destino de seu legado e

327 UUB x285m1, 23/9 1869. 328 UUB x285m1, 15/9 1852. 329 Blekingeposten 2/8 1872. 330 UUB x285m1, 21/2 1854. 331 UUB x285m1, 9/3 1852. 332 Lagerholm, Julius: Södermanland-Närkes nation 1595–1900, Stockholm 1933, p. 428.

Page 144: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

144

achava que os parentes eram responsáveis por procurar a bagagem com as coleções, uma vez que ele tinha morado com ele de graça durante tanto tempo. Widgren comunicou mais tarde a Isak Gustaf Clason que o legado tinha sido enviado ao presidente Sköldberg, 333 que imediatamente o havia enviado aos parentes mais próximos de Emil em Närke. Widgren acreditava que o legado havia sido vendido em leilão e que inclusive as coleções de Regnell tinham sido vendidas.334

Gustaf Lindberg Gustaf Lindberg nasceu em 1832 e tornou-se estudante em Upsala em 1852. Ele tinha tuberculose e queria, por este motivo, morar em um clima mais ameno. Por sugestão de Huss, ele viajou para o Rio a fins de 1853 e dali escreveu a Regnell perguntando se ele poderia ir viver em Caldas. Ele tinha vários livros que Huss havia comprado. Regnell escreveu a Clason:

Não cheguei a lugar algum com minhas plantas secas que valha a pena men-cionar. Penso, entretanto, com certeza, que em 3 a 4 semanas poderei nova-mente começar a trabalhar e continuar sem interrupção, pois nesta época vai chegar aqui um jovem compatriota, Sr. Lindberg, um estudante do centro acadêmico Estocolmo (imagino eu), que viajou para cá para fugir da tuber-culose e conhecer as florestas brasileiras, para o que ele tem sido treinado há muito tempo. 335

Lindberg fez muitas excursões ao redor de Caldas e conseguiu um herbário próprio e ajudou também Regnell a colocar em ordem seu herbário. Regnell escreveu em 1861

[...] que em uma ocasião, por acaso somente enviei material das coleções de Widgren e Lindberg para estudos na flora de Marti e a minha muito mais rica em espécies que a dos dois juntos (sem contar que muitas das que Lindberg deu a Marti como suas eram em realidade minhas, porquanto eu as trouxe de longas excursões e viagens e dei estas a Lindberg frescas, mas que ele nunca viu crescendo) e ficaram sem uso. Mas longe de ficar com raiva deste fato, fico satisfeito de que pelo menos estas trarão benefícios à ciência uma vez que elas sejam descritas. 336

Lindberg tinha, entretanto, saudades de casa e quando voltou para casa fez o exame para economia e tornou-se mais tarde contador na câmara de Comér-cio. Ele doou seu herbário a seu irmão Sextus Otto, que se tornou professor

333 Provavelmente vice-presidente na Suprema Corte sueca, Per Adolf Sköldberg. 334 UUB x285m4, carta de Widgren de Clason 8/6

1852. 335 UUB x285m1, 20/3 1854.

336 UUB x285m1, 28/12 1861.

Page 145: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

145

em botânica em Helsinque. Gustaf Lindberg escreveu, alguns anos após seu retorno para casa, 337 que Regnell havia dito querer um médico sueco como seu sucessor em Caldas e repetiu isto em 1863, ao mesmo tempo que ele comunicou a Clason que Regnell havia encomendado botas há cinco anos, portanto suas medidas já existiam com o sapateiro para uso futuro. 338 Ele tinha vários pedidos de comprar roupas para Regnell, o que ele descreveu em uma carta para Clason:

Figura 46. Casa de Regnell em Caldas de acordo com um desenho de Gustaf Lind-berg a 27 de janeiro de 1856. Seção de Mapas e fotos, UUB. (Dizem que os dese-nhos de Lindberg foram doados ao Museu Nacional por Dahlgren, mas não foram encontrados lá).

Eu procurei umas camisetas com Sörman, que também tinha as mais finas e macias como seda, mas como os fios me pareceram soltos, deixei-os e com-prei da fábrica Södeberghska os produtos mais finos, com linhas fortes e te-cido liso, se bem que sem a ótima maciez do tipo descrito primeiramente. Consegui meias médias de ótima qualidade, bem tricotadas com boa lã e grossas, que talvez possam substituir 2 outros pares usados do doutor Regnell, de forma que ele possa usá-las sozinhas ou talvez com mais um par, de forma que ele não necessite usar três pares nos pés como antes, quantidade incomum para nós. 339

Regnell queria, na verdade, em suas viagens, sempre poder deixar o par de meias de dentro e os de fora trocar de lugar, de forma que ele sempre tivesse o par de dentro seco.

O compatriota a que Santesson se referiu em sua homenagem a Regnell em 1885 foi Gustaf Lindberg, quando disse:

Um compatriota, familiarizado com a grande família Cactaceae comparou-o muito acertadamente a um Cactus, com excesso de suco nutritivo e magnífi-cas flores, mas com formas estranhas e bizarras – e rico em espinhos

337 UUB x285m4, 23/4 1862. 338 UUB x286m4, 13/8 1863. 339 UUB x285m4, 14/8 1867.

Page 146: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

146

Per Widén Per Widén nasceu em 1825 e havia defendido tese para o grau de doutor em filosofia em 1857 com uma tese com o título Granskning av Kants matema-tiska konstruktion (Revisão da construção matemática de Kant). Na matrí-cula para o centro acadêmico Norrland em Upsala, consta que ele viajou para o Brasil para procurar cura para sua saúde. Magister Widén tinha sido do-cente particular em Upsala e permaneceu no Rio durante um ano antes de ir para Caldas, onde ele, apesar de tudo, faleceu após pouco mais de dois me-ses. A carta de Regnell em 1862, onde ele descreveu suas dificuldades com o enterro de Widén, dá uma ideia da situação que havia na região. Ele escre-veu que:

Ele teve muita dificuldade de transportar o cadáver com os rios cheios depois de muita chuva em embarcadouros miseráveis ou pontes, que em um lugar faltava totalmente, de forma que o caixão teve que ser puxado sobre uma passarela constituída de um tronco estreito único, em inúmeros locais úmidos e barrentos, onde os asnos, os que carregavam o cadáver bem como os que cavalgávamos, frequentemente afundavam -e tudo isto para encontrar um pe-queno pedaço de terra abençoado para este fim pelo Reitor Widgren e onde os restos mortais de Lourenzo Westin estão enterrados. O resultado para mim foi que, além dos membros arrebentados de cansaço, dor de cabeça e nariz escorrendo, tive um ataque da minha velha dor nas costas, de modo que não posso me sentar por muito tempo ainda para escrever. Ainda bem que deu certo, dois dias antes o transporte teria sido totalmente impossível, os rios então estavam muito cheios e a única saída seria enterrar o cadáver na ladeira mais próxima fora da cidade, pois os católicos não permitem o uso de seu cemitério para protestantes.340

É muito improvável que Widén tenha sido de alguma ajuda em botânica no curto tempo que esteve na casa de Regnell.

Salomon Eberhard Henschen Um dos botânicos que visitaram Caldas foi o atualmente tão famoso Salo-mon Eberhard Henschen. Ele nasceu em Upsala em 1847 e terminou o giná-sio aos 15 anos. Desde cedo ele foi independente e negou-se a fazer o jura-mento do estudante quando ia se matricular na universidade. Os estudantes nesta época faziam um juramento de ser leal ao Rei, de seguir os estatutos da universidade e mostrar à diretoria acadêmica a devida obediência. O po-lítico liberal e futuro primeiro ministro Louis de Geer, que era então ministro da justiça, dispensou-o, entretanto, da exigência de fazer um juramento.

340 UUB x285m1, 6–8/1 1862.

Page 147: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

147

Como ele era interessado em botânica, ele foi acompanhante do professor de botânica Thore Fries numa viagem ao Finnmarken em 1864.

Magnus Huss e Thore Fries tinham perguntado a Regnell em uma carta de 1866 se ele poderia receber um jovem aluno em Caldas. Regnell, que necessitava de alguém para ajudá-lo a juntar e ordenar as plantas, respondeu positivamente e prometeu pagar a viagem dele para Caldas e a estadia. Ele pediu também a Clason que lhe desse um adiantamento para a viagem. 341 Regnell achou que Henschen deveria levar consigo um ajudante da Suécia, um acompanhante forte, se ele conhecesse alguma pessoa adequada em quem ele confiasse e que quisesse acompanhá-lo por lealdade a ele. O salário para o ajudante seria de oito piastras espanholas por mês. 342 Em novembro de 1866, Regnell tinha ficado sabendo que os custos de viagem para empre-gados tinham aumentado desde que ele próprio tinha viajado da Suécia. 343 Na época, os empregados podiam viajar pela metade do preço ou até gratui-tamente, se eles morassem e comessem com os marinheiros na proa, agora exigia-se frequentemente preço total. Seria, entretanto, valioso, se Henschen tivesse um empregado de confiança consigo. Regnell contou sobre

um homem que teve que voltar de uma viagem porque o tropeiro havia dei-xado seu senhor no meio do caminho, porque ele não tinha dito “senhor” ao chamar o tropeiro. Eles não eram confiáveis e não toleravam que lhes cha-massem a atenção. Eles conduziam as mulas de 6 a 7 da manhã até 1 ou 2 da tarde, depois se deitavam e tocavam guitarra – a mesma melodia o tempo inteiro.

Henschen não queria levar consigo nenhum ajudante, mas escreveu que ele poderia levar consigo seu irmão, que era estudante. Regnell achou, entre-tanto, que não era do que se necessitava. Deveria ser uma pessoa da classe trabalhadora, uma vez que o ajudante iria ajudar o condutor de mulas com carregar e descarregar, cortar lenha e cozinhar durante as viagens e, além disso, ajudar o próprio Henschen com a secagem entre as folhas de papel das plantas coletadas. Até Clason desaconselhou:

Isto do ajudante não sei como vai ser, conseguir alguém que quisesse algo semelhante devido a lealdade mostrou-se (sic) ser das maiores raridades atu-almente – e ainda mais impossível de estabelecer um contrato para vários anos, para servir em um país e em condições que ninguém conhece344

341 UUB x285m1, 27/7 1866. 342 Para se ter uma ideia do valor de uma piastra, pode-se dizer que quando a Suécia pagou para libertar os escravos em sua colônia St. Barthelémy, cada escravo custou entre 80 e 100 piastras em 1846. 343 UUB x285m1, 30/11 1866. 344 UUB x285m2, 5/12 1866.

Page 148: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

148

Regnell queria que Henschen levasse consigo equipamentos para poder fazer excursões, como roupas adequadas, botas e similares, mas também um apa-relho para em um minuto aquecer um fio de ferro para queimar ferimentos de mordidas de cobra, pois muitas pessoas morriam de mordida de cobra anualmente no Brasil. O escravo de Regnell, Antonio das parasitas (Antonio orquídea), tinha se especializado em coletar orquídeas epifíticas e continuou inclusive após a morte de Regnell, conseguindo desta forma ganhar dinheiro. No final ele foi picado fatalmente por uma cobra enquanto colhia plantas. 345

Regnell também queria para si mesmo roupas e “uma dúzia de toalhas que também podem ser utilizadas como guardanapos, o que eu menciono por motivo do tamanho, não pela elegância, já que aqui não existe luxo”, escre-veu ele. 346 Magnus Huss também falou com Henschen sobre vários livros que Regnell queria e a intenção era que ele levasse, bem como alguns ins-trumentos cirúrgicos. 347 Para preparar-se para a viagem, ele visitou também Nils Johan Andersson no museu nacional de História Natural. Andersson comentou isto em uma carta para Clason:

Há algum tempo um jovem estudioso, Henschen, de Upsala, apresentou-se – com a tarefa que lhe foi requerida para o Dr. Regnell. Não posso negar que esta informação muito me surpreendeu, especialmente porque a mim me fi-cou claro que o Dr. Regnell, que há um tempo interrompeu toda a correspon-dência comigo, corresponde-se com os Fries muito animadamente. 348

Henschen participou da viagem de música no coro de Upsala em 1867, onde o coro, com o dirigente Oscar Arpi ganhou o primeiro prêmio, a medalha de ouro da imperatriz Eugenie. Ele recebeu então um telegrama de seu pai, que comunicou ao filho que ele tinha recebido autorização do conde e ministro B. von Platen de viajar com a fragata Vanadis, desde que ele pagasse as re-feições, que custavam 3 riksdales ao dia na mesa dos oficiais. 349 Ele se apres-sou então a ir para a casa, pois a viagem sairia de Karlskrona no final de outubro. Sexta-feira, dia 4 de outubro de 1867 ele recebeu o aviso de que o Vanadis sairia já no sábado seguinte, dia 12 de outubro.350Ele teve, portanto, que viajar rapidamente para Karlskrona e não levou consigo os livros e ins-trumentos que ele havia prometido a Huss que levaria. Huss havia pedido que ele avisasse quando fosse viajar, para que ele levasse consigo o que Regnell queria. Este reclamou com Clason que Henschen havia comprado livros muito caros e não os que haviam sido pedidos. Huss também estava

345 Dahlgren, Ossian: Anders Fredrik Regnell och hans svenska gäster i Brasilien, Svensk botanisk tidskrift 56:3, 1962, p. 404. 346 UUB x285m1, 27/8 1866. 347 Se o viajante tivesse pessoalmente os livros consigo, as autoridades alfandegárias não pe-diam para pagar aduana. 348 UUB x285m3, 1/4 1867. 349 UUB x285m3, 12/9 1867. 350 UUB x285m3, 5/10 1867.

Page 149: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

149

descontente e escreveu para Clason: “Não indica nada de bom sobre o sen-tido de organização deste homem. Não posso negar que estou muito bravo com isto”.351 O embarque apressado talvez tenha tido como consequência que a estadia em Caldas começou mal e concorreu para que a cooperação entre o velho homem e o estudante jovem, independente, se tornasse tensa.

A viagem com a fragata a vapor Vanadis foi, entretanto, muito agradável. Em uma carta para Fries em 1868, ele escreve:

Na Vanadis estava tudo bom, eu me dei bem com os oficiais, em cujo refei-tório eu comia e, principalmente, eu estava bem visto com o Chefe, o homem mais simpático e mais amável que se possa encontrar, tinha direito de a qual-quer hora ir a seu quarto, sentar-me e ler em sua, comparativamente, grande biblioteca, uma dádiva que provavelmente nenhum dos oficiais recebia e por isso mesmo mais valiosa, desde que o Chefe a bordo de um navio de guerra é mais que um rei em terra – um homem a quem ninguém ousa se dirigir e se ele deseja andar em um lado do convés, ninguém ousa colocar o pé daquele lado.352

Uma explicação para este tratamento amigável tão incomum pode ter sido porque o capitão se chamava Gustaf Emanuel Ullf e era cunhado de Edward Clason. O filho de Edward, Fredrik, que escreveu um livro sobre a indústria de Furudal, havia ficado noivo de Ingeborg, filha de Ullf, em 1894 e casou-se com ela em 1903.

Uma missão que Salomon havia recebido dos parentes na Suécia era ten-tar ter clareza sobre o que havia ocorrido com seu tio Eberhard Munck af Rosenschöld. Este havia acompanhado, em 1840, como médico do navio, uma expedição naval escolar famosa em sua época com a escuna “Príncipe Oscar,” para a América do Sul, sob a chefia do capitão Göran Adolph Oxehuvud. O primeiro timoneiro era André Oscar Wallenberg fundador do banco Enskilda. Após um acidente, o capitão conseguiu levar a escuna para a Argentina, onde ela foi, entretanto, vendida para o governo argentino. Oxehuvud e Munck af Rosenschöld ficaram na América do Sul, enquanto o resto da tripulação voltou para a casa na Suécia. Oxehuvud morreu uns dois anos depois, no Rio, enquanto Munck af Rosenschöld mudou-se para o Pa-raguai, onde ele aos poucos foi trabalhar como médico do ditador do país Francisco Solano Lopez. Ele também devotou-se ao colecionamento de in-setos e plantas, mas um grande carregamento de insetos se perdeu quando o navio para casa afundou na baía Mexicana. Uma pequena parte de suas co-leções existe atualmente na Academia de Ciências em Estocolmo. Ele não havia dado notícias para a família durante muitos anos. Depois de algum tempo Salomon Henschen recebeu notícias dele através do cônsul sueco-no-

351 UUB x285m3, 17/8 1867. 352 UUB G70 ca 10, carta X77.

Page 150: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

150

rueguês em Buenos Aires, Wilhelm Christophersen. Quando a guerra inici-ada por Lopez contra o Brasil, Argentina e Uruguai começou a ir mal, Lopez demonstrou vários sinais de mania de perseguição, mandando matar seu tio, seus cunhados e os mais importantes funcionários estatais. Ele mandou in-clusive dar chibatadas em sua mãe de 70 anos, por haver dito que ele era “adotado.” Ela foi assassinada mais tarde. Entre os que foram mortos, depois de haver sido torturado, estava também Munck af Rosenschöld. Ele havia se casado com a filha de um general Rivarola. A esposa foi executada a tiros dois dias depois do marido e muitos outros da família Rivarola foram assas-sinados. 353

Figura 47. Salomon Henschen em Caldas. Note-se que ele tem o relógio na mão para medir o tempo de exposição.

Se a viagem de Henschen para a América do Sul foi agradável, a estadia dele na casa de Regnell foi ao contrário cheia de conflitos. Regnell havia pedido a Salomon para trazer consigo uma câmera para Caldas, ele esperava poder usá-la para fotografar plantas. O fotógrafo sueco em Campinas, Henrik Ro-sén convidou Salomon para ir aprender fotografia. Ele escreveu a seu irmão Josef sobre a viagem:

Que agradável poder sair da vida em Caldas, depois que eu, no dia da Ascen-ção de Cristo, quebrei o pé na rua, no escuro e tenho que ficar deitado.

353 UUB S. E. Henschen 24, carta 123 (sem data).

Page 151: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

151

Quando eu viajei de lá a cavalo, cheguei a uma floresta maravilhosa. Eu res-pirei fundo, como se tivesse estado trancado em um buraco e saído para o ar puro – eu comecei a cantar.354

No Natal de 1868, ele enviou uma saudação para a família, que estava sen-tada em casa ao redor da mesa de natal e lembrou-os de que ele também fazia parte dali:

Finalmente estou sentado com os velhos e empoeirados maços de plantas, tendo que encontrar “espécies” para agradar o bom Doutor (o que durante muitos anos foi sua principal diversão), apesar de suas riquezas, eu fui neste aspecto mais feliz que ele e não queria por nada trocar e ter suas riquezas e sua tristeza – ou me balanço no lombo de um asno a serviço da flora (este trabalho não é tão agradável), o sol queima na cabeça e me deixa doido. Mi-nha vida aqui é como sempre e nós trabalhamos ainda mais duro que na pri-mavera passada. O doutor, não satisfeito com que eu me levantasse às 6 ho-ras, queria estabelecer um regime de levantar e tomar o café da manhã de 5 às 6, uma tentativa que não funcionou. Nós trabalhamos com a exposição do herbário do Doutor para a Universidade de Upsala – um trabalho mecânico e chato, adequado para um trabalhador, não para gente estudada – que no me-lhor dos casos termina dentro de 1 ½ a 2 meses, mas possivelmente pode demorar de 3 a 4 meses, da manhã à noite. Nos momentos durante o jantar e de noite, livres de trabalho, levo uma vida bastante diligente, talvez às custas dos olhos e até hoje eu tenho me ocupado com inúmeros trabalhos de filoso-fia natural e semelhantes. Vai ser um prazer voltar para casa e me ocupar com estudos gerais durante os estudos de medicina, aqui ainda é uma era de bárbaros, onde quem, sem ser Doutor [...], embora tendo um ou outro livro é visto com “olhos importantes”. O capitão na casa de quem eu estava, tinha três livros: 2 sobre santos, oferendas de missa, regras sobre em que dias se deveria rezar suas 10 a 20 Ave Marias para receber absolvição, entre outros, correspondendo ao nosso livro de salmos, bem como um livro sobre Home-opatia, cuja leitura me deixou totalmente convencido de que o autor não es-tava com suas funções mentais totalmente conservadas quando escreveu ou pode ter sido um impostor – do que eu consegui convencer o capitão após muito trabalho.355

Em relação às discussões de que o irmão Josef viria a Caldas, ele escreveu que “nós vivemos por outro lado como em uma sepultura” e em fevereiro de 1869, quando Josef avisou que ele não havia comprado uma barraca para o trabalho fotográfico que ele havia sido incumbido de conseguir:

Como o Doutor está ausente, sento-me à tarde para escrever-lhe. Com relação a sua última carta, informando que você não comprou a tenda para o aparelho de fotografia, o Doutor grunhiu e estava muito bravo, mas pode ser bom para ele ver que nem todo o mundo sempre está à disposição por nada, embora tenha agora sido por outro motivo. Pessoalmente, não posso dizer quase nada sobre a transação, embora pudesse ser divertido tirar algumas fotos da cidade,

354 UUB S. E. Henschen 24, 16/2 1868. 355 UUB S. E. Henschen 24, carta para Josef Henschen 2/11 1868.

Page 152: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

152

entre outras, eu temo que o Dr. queria que eu ganhasse dinheiro para ele com fotos de pessoas para pagar o aparelho, pelo que não estou tão interessado. Foi só desgraça com o aparelho. A única coisa boa que me aconteceu foi ter ido a Campinas, pois provavelmente tenho sido oprimido aqui, embora a es-tadia com Rosén não tenha sido agradável. Estou ainda indeciso quanto à volta para casa, mas uma coisa é certa, se eu fosse como você, pelo menos não sairia de casa – tenho que escrever-lhe ainda mais e pedir-lhe para não viajar agora, pois creio ser a maior infelicidade que você pode arranjar para todo o seu futuro – que você não venha para este inferno. Qualquer que seja o motivo de sua viagem, acho que não há nenhuma obrigação, quase nenhum outro incentivo senão que sair para viajar. Você vai atravessar o Atlântico e ficar com uma bolsa quase vazia entre cheias (bolsas), que o valorizam ape-nas pelo dinheiro que se tem no bolso, muito arrependimento porque você não terminou seu curso e se tornou uma pessoa de verdade, que pode com certeza ir adiante e, por exemplo, casar-se. Uma outra vez eu escreverei sobre coisas mais agradáveis, mas vou lhe dizer que sinto amargura de viver com um cuco pão duro e pedante, que me atormentou um ano inteiro, que é inútil – sim, nocivo e ademais, vivido pessimamente.

Salomon continua a desaconselhar Josef de vir para Caldas com ênfase:

Pessoalmente, tenho estado tão triste aqui que estive perto de ficar meio doido, embora R. tenha achado que eu vivi uma vida de rei, já que eu, sem esforço algum, tive um pedaço de carne e por 2 vezes ao dia arroz diariamente pra pôr na boca e encher a barriga do necessário e ademais tive o prazer de prensar plantas (e não estudá-las), empacotá-las e juntá-las, já que a pessoa nem tem ideia ou teve alguma outra alegria nos últimos 30 anos além de guardar dinheiro e prensar plantas-sua missão na vida – eu falo agora de como eu realmente penso sobre Rll, quem em casa pode conhecer alguma diversão mais fina e não é um pedaço de pau, penso eu achar muito difícil viver aqui, pelo menos em Caldas. Os Brasileiros não conhecem o que nós chamamos de uma vida agradável. Dinheiro e mulheres é só do que precisam aqui.

Não, não venha, torne-se uma pessoa de bem e não um fotógrafo ambu-lante – queime (ou melhor, venda) a câmera fotográfica, que lhe tirou tanto tempo. Por isso, “não” à fotografia, pegue o livro, estude como doido durante 2 meses, consiga um diploma de Filosofia com nota 8, fique satisfeito e co-rajoso. O caminho vai para a frente, não volta para trás, muito menos para o Brasil,356 para virar um doido paralisado como Rll ou um cigano.

Em uma longa carta para Clason, após a volta de Henschen para casa, Regnell descreveu como ele sentiu o tempo que ele passou em Caldas.357 A carta diz muito sobre a vida em comum de ambos, sobre a vida que Regnell levava e de sua visão quanto a suas doenças, assim vale a pena citá-la em sua totalidade.

356 UUB S. E. Henschen 24, carta para Josef Henschen 6/2 1869. 357 UUB x285m1, 23/9 1869.

Page 153: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

153

Eu desejo que Salomon pudesse fazer jus ou pelo menos diminuísse a im-pressão desagradável que seu comentário impensado causou aos tropeiros. Estas palavras me doeram tanto que eu, por causa de Henschen, tive que mu-dar minha dieta, que foi o principal motivo para o difícil, quase mortal ataque de congestão cerebral que eu tive no último 18 de março. Antes da vinda de Salomon, eu estava acostumado a passar um dia (como regra), frequente-mente dois dias por semana sem comer carne e nos dias em que carne vinha para a mesa, era só um pedaço pequeno, de forma que eu não fosse levado a comer mais que eu devesse devido a fome – eu utilizava carne assada arma-zenada (segundo o costume do país) em gordura ou gordura de porco, de forma que somente um pequeno pedaço era aquecido cada dia. Se às vezes o apetite me levasse a pedir mais, eu tinha então que esperar até que um outro pedaço fosse aquecido, o que eu, naturalmente, não tinha vontade de fazer durante a refeição – e, portanto, nunca aconteceu.

Para S., uma porção maior de carne tinha sempre que ser colocada à mesa para o café da manhã e jantar (uma vez que eu sozinho jamais comia carne no café da manhã), pelo que eu muitas vezes era levado a comer mais carne ao jantar que costumo e inclusive às vezes no café da manhã e meu sangue ficou com muita fibra, entre outras e uma causa para o ataque que eu tive naquele dia. Meu sangue estava muito grosso e correu com dificuldade do corte bastante grande feito para venosecção. Uma outra causa para o ataque foi a indisposição que senti pouco antes do café da manhã, por ter que esperar por S (como sempre) para tomar o mesmo e imediatamente depois do café os problemas que tive para arranjar um acompanhante a cavalo, etc, para S que iria viajar para ver as fontes termais [...], o que causou a subida do sangue para a cabeça.

Meu costume, desde que aqui cheguei, tem sido levantar-me de 15 a 30 minutos após as 6, tomar o café da manhã, após levantar-me, com biscoitos macios e manteiga, para estar pronto às 7 horas para receber pacientes – ao contrário Salomon costuma deitar-se muito tarde e dormir até 8 hs (e mais) de manhã [...] o que com o tempo desagrada; que esta foi provavelmente a causa principal de discórdia entre nós e quando em uma ocasião eu ousei chamar sua atenção de quão inadequado era ter que esperá-lo, fui totalmente ignorado. Aqui estiveram Emil Sköldberg e Lindberg o ano inteiro, bem como Jacobsson durante vários anos, Widgren vários meses de cada vez e nunca tive discussões sobre comida ou refeições com qualquer deles.

Apesar disso eu aceito que S. é um homem decente com muitos e grandes talentos para a vida em sociedade. O que lhe contei Você não deve mostrar para ninguém, eventualmente para Huss. Você não deve mostrar isto para seu irmão Edward, pode ser que ele ache então que S. não se comportou bem para comigo e ficar predisposto, o que poderia prejudicar S.

O comentário para o condutor de mulas que havia magoado Regnell é tratado em várias cartas dele para Henschen, que estava então no Rio ou em Campi-nas:

Ilustre Sr. Candidato. Recebi do tropeiro José Theodoro informações de que o candidato – e, alguns dias mais tarde, através de uma terceira pessoa, a

Page 154: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

154

informação de que o Tit.358 havia se queixado para o dito condutor de mulas sobre a comida em minha casa, que o candidato “comia por conta”, o que na linguagem corriqueira aqui significa que o Tit não pode comer o suficiente.359 Que tanto o acesso a comida como a natureza saudável sempre existiu em minha casa para o Candidato, sou capaz de afirmar, uma vez que sempre comemos juntos da mesma comida. Talvez aconteceu que não fosse sempre do gosto do Tit. ou pouco variado. Mas isto é muito comum em toda a parte no interior do país. Assim escreve Severin (17/8 de 1861) “a respeito da co-mida ela é boa o suficiente, mas sempre a mesma e Särnblad (24/8 67) “sem-pre feijão com arroz” e da mesma forma viviam esses compatriotas em casas muito ricas pertencentes às famílias. Muito menos deveria ser acusado um homem solteiro e que necessita de uma certa dieta. É possível que as palavras do Cand. não tenham sido tão negativas a meu respeito, mas que a queixa foi feita, o homem [tropeiro] garante seriamente. Teria sido melhor.se Tit tivesse motivos concretos para tal manifestação e me dissesse aqui em tempo, em vez de mais tarde ao condutor de mulas, que nada poderia fazer e como eu nunca notei Tit ficar incomodado ou envergonhado em dizer sua opinião so-bre outros assuntos de menor importância, estou inclinado a crer que algum motivo real para a informação ao tropeiro está faltando, esperando uma res-posta satisfatória do Sr. Candidato, And. Fre. Regnell360

Em um P.S a uma carta em 1869, Regnell contou que Salomon Henschen tinha feito compras de 400 mil reis no Rio em nome dele. Ele não havia prometido pagar a passagem de Henschen para casa, mas emprestou-lhe di-nheiro para isto. Ele também havia pago outras coisas que ele não conside-rava sua obrigação ter que pagar,

muito foi, entretanto, que eu nunca me comprometi a pagar, mas eu não quero ter qualquer controvérsia com ele. Eu teria com prazer pago toda a passagem de volta se o resultado de sua viagem tivesse sido de um pouco mais de valor para a Ciência – cada folha que ele juntou tem seu nome na etiqueta locali-zadora que acompanha. Ele próprio pode julgar se eu tenho razão ou não – ele também ajudou um pouco secando as plantas que eu colhi, mas isto não foi nenhum ganho para a Ciência, uma vez que a secagem poderia ser feita mais tarde, até melhor-uma vez que S. raramente tinha a paciência de esticar as folhas das plantas.361

Regnell mudou mais tarde sua opinião sobre a ajuda de Henschen, já que no ano seguinte ele perdoou o dinheiro que ele lhe havia emprestado para a vi-agem para casa.

358 Titulus ou Tit. era usado antigamente no lugar do nome ou título, mas era considerado menos cortês. 359 Comia por conta significa na realidade “uma pessoa que come às custas de outro”. 360 UUB, Carta para S.E. Henschen 11, cartas de suecos P–R. A carta de Henschen para Reg-nell não está conservada. 361 UUB x285m1, 23/9 1869. O câmbio era, no dia 6/8 1869, 18 ½ pences, o que Regnell calculou como mais de 30 libras.

Page 155: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

155

No final de 1869, Regnell escreveu a Clason a respeito de uma remessa de livros que havia desaparecido, provavelmente no Rio. O barco a vapor de Hamburg só passou pelo Rio para em seguida seguir para Santos

com todos os colonizadores que são populares agora quando os escravos logo serão emancipados. Então até eu vou poder evitar ficar dependente dos com-patriotas no Rio, que Henschen parece ter indisposto contra mim. Até na ci-dade de Campinas parece que ele fez o mesmo. Um sueco em Campinas, Henrik Rosén, escreve e recomenda um candidato, Särnblad, que não é tão pouco agradecido como Henschen.

Regnell não havia escrito nada sobre Henschen a Rosén, portanto deve ter sido o próprio Henschen que havia contado. Regnell respondeu vagamente ao pedido de Särnblad de ir para Caldas, apesar das boas recomendações:

Henschen também tinha boas recomendações – mas em minha casa ele não entra mais se o acaso o trouxer para o Brasil – mas não impede que possa ajudá-lo a viajar para outro lugar. Ele é atualmente o mais preparado e não foi pequeno o trabalho que tive para treiná-lo e assim mesmo acreditam os suecos no Rio que foi ele quem organizou meu herbário.362

No mesmo dia Regnell escreveu para Henschen que Westin lhe havia mos-trado uma carta de um sueco no Rio que dizia que

os suecos no Rio não conseguem entender que Regnell não pagou a viagem de volta para o Cand. Henschen quando ele o havia buscado e por ele teve suas coleções organizadas [...] é claro que eu mesmo não escrevi qualquer coisa a algum sueco no Rio e que os suecos lá, em conversa com o Sr. Can-didato chegaram eles mesmos a tais pensamentos. Teria sido mais fácil se o Candidato houvesse contado aos suecos que foi o próprio Cand que teve a iniciativa da viagem e pediu ajuda [...]. Em relação às coleções, Tit poderia informar que 4/5 dessas já haviam sido enviadas [ao Museu Nacional] e o restante 1/5 já organizado, ajudando Tit somente com mais uma revisão das Solanácea e Graminácea.

A princípio Henschen ficou calado sobre as dificuldades que ele tinha em casa de Regnell e nas cartas enviadas para casa, ele só contava o que iria alegrar o pai, irmãos e conhecidos. O irmão Josef Henschen funcionava como intermediário entre Clason, Salomon e Regnell. Entre os anos de 1868 a 1869 existem 12 cartas preservadas de Clason para Josef. Além do mais, ele enviava a pensão para a prima Anna e deu a ela também a fotografia de Regnell, que ela havia pedido. Salomon tinha levado consigo uma câmera para Caldas. Regnell havia pensado em fotografar plantas, mas ficou desa-pontado com o resultado. Clason escreveu a Josef:

362 UUB x285m1, 17/12 1869.

Page 156: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

156

[…] acredito que o motivo foi que o resultado não foi o que ele havia espe-rado. Pode ser algo perdoável para uma pessoa que por tanto tempo esteve separada de praticamente todo o contato com o mundo atual e suas ideias não correspondem à realidade – eu posso ver às vezes de suas cartas, que ele julga o relacionamento de outros como eles eram há 30 anos, já que ele não pode acompanhar e sentir as alterações e mudanças ocorridas desde então.363

Josef também recebeu muitos outros pedidos de Salomon para fazer compras para Regnell, por exemplo um higrômetro para observações meteorológicas.

Regnell também queria um livro de física não muito científico, onde no-vas descobertas sobre luz (polarização e análise espectral), estudo do calor e climatologia fossem descritos, com apresentação sem muitas fórmulas e con-fusões.364 Josef havia também recebido um pedido de tubos de vidro, que seriam empacotados muito juntos para economizar espaço. Muitos estavam empacotadas tão juntos que quebraram. Salomon escreveu para o irmão:

Coitado do Regnell, ele olha para cada tubo quebrado com tristeza e eu me apresso, sem que ele saiba, a jogar fora os quebrados, para que ele não venha reclamar.365

Após algum tempo, Salomon contou a Josef, que por sua vez escreveu para Clason e descreveu a situação de Salomon.

Salomon tinha que morar em um quartinho sem janela e sem possibilidade de ventilação, apesar de haver 4 a 5 quartos desocupados todo o tempo. Sa-lomon havia pedido para usar um deles, mas não podia. Regnell achava que todos os quartos tinham que ficar desocupados como quartos de hóspedes,-mas durante todo o tempo que Salomon esteve lá não havia chegado um único hóspede. Após Salomon ter feito conhecidos depois de uma viagem a Campinas, ele não pode, entretanto, receber qualquer visita deles [...] Regnell acha que se deve apenas cuidar do campo de trabalho e deixar todo o resto de lado. Regnell repetia muitas vezes que ele jamais sentia alegria ou teve algo de que se alegrar, a não ser quando ele descobria alguma espécie nova no mundo vegetal.366

Salomon tinha dificuldade de viver desta forma, escreveu Josef. Em uma ocasião Regnell havia dito não quando Salomon quis visitar um jurista, que possuía uma propriedade na região, à qual ele havia sido convidado por 4 a 5 dias. Josef esperava que Huss e Clason poderiam conseguir alguma me-lhora no relacionamento se eles pudessem contatar Regnell. Isak Gustaf Cla-son respondeu:

363 UUB x285m5, 15/4 1869, carta para Josef. 364 UUB S. E. Henschen 24, carta para Josef 28/2 1868. 365 UUB S. E. Henschen 24, carta para Josef 1/4 1869. 366 UUB x285m3, 5/5, 25/5 e 23/9 1869.

Page 157: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

157

As notícias recebidas sobre o relacionamento de Regnell com o Sr. Salomon Henschen são muito tristes, principalmente porque tenho dificuldade de ver de que forma escritos daqui poderiam modificá-lo e receio que o resultado seria pior através de reclamação direta. Que Regnell, que jamais teve a feli-cidade de ser educado em vida de família, que teve que vencer pelas próprias forças, toda sua fortuna quando ele viajou era XX rd [cifra ilegível], nunca teve alguma necessidade e, segundo suas próprias palavras, somente se dedi-cou à Ciência – se tornasse um ermitão, tanto quanto ao caráter quanto a pretensões, é compreensível, mas eu tinha esperança de que algumas das lem-branças alegres da juventude pudessem despertar com a presença de uma ju-ventude vivaz. O Sr. Gustaf Lindberg, a quem eu pedi ao Sr. Salomon Hens-chen que procurasse para conselhos e informações antes da viagem, disse-me na verdade que Caldas é o local mais desagradável do mundo, mas sem que especialmente se referisse a Regnell e o diretor geral Huss desconhecia tanto quanto eu sobre as reais condições.

Em breve vou escrever a Regnell e assim não deixarei de perguntar-lhe [?] se ele havia dado oportunidade ao Sr. Salomon Henschen a isto e aquilo, ou se ele havia aproveitado os conhecimentos dele em microscopia e, apon-tando as diferentes opiniões de vida atualmente contra as de nossa juventude, procurar despertar seus pensamentos de que ele não deve julgar as necessi-dades de outros segundo as próprias , bem como lembrá-lo de que o Sr. Sa-lomon não foi para lá para apenas para se enterrar em plantas secas, etc, para desta forma conseguir uma mudança. Uma queixa deste tipo pode eventual-mente deixar o Sr. Salomon numa posição ainda maior de dependência.367

Na carta que Isak Gustaf Clason escreveu para Regnell a 19/6 de 1869, ele não fez nenhum comentário sobre a queixa de Josef. Henschen deixou Cal-das em julho de 1869 e, portanto, seria inútil comunicar alguma queixa. Algo que sugere que Clason não falou a este respeito inclusive mais tarde é que ele escreveu a Regnell que

Eu recebi duas cartas suas e em nenhuma dessas você fala a respeito de sua saúde, tenho total motivo para crer que Você continua bem, apesar do Sr. Henschen não constatar o mesmo pessoalmente. 368

Enquanto Salomon estava em Caldas, os irmãos trocavam cartas frequente-mente. Josef tinha começado a estudar medicina, mas estava muito ambiva-lente. Ele queria vir ao Brasil para trabalhar como fotógrafo, mas Salomon desaconselhou, pois ele sabia que o fotógrafo sueco Henrik Rosén em Cam-pinas, tinha tido muita dificuldade de se sustentar no começo e mesmo quando Salomon visitou-o, ele tinha dificuldade de sustentar esposa e filho. Salomon achava que, de preferência, ele deveria tirar o diploma de médico e depois vir para o Brasil, mas nem mesmo isto ele queria aconselhar.369 Ele

367 UUB x285m5, 12/5 1869. 368UUB x285m2, 18/10 1869. 369 UUB S. E. Henschen 24, carta para Josef 14/7 1868.

Page 158: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

158

enviou também um convite de Regnell para Josef de ficar com uma das pro-priedades de Regnell (veja abaixo). Antes de regressar para casa, Salomon escreveu que seria complicado acertar as contas com Regnell.

Josef Henschen mudou-se para a Flórida em 1871, onde ele se tornou fa-zendeiro. A neta de Salomon, Rebecca Weiss, escreveu uma biografia sobre sua vida de aventuras. 370 Esta se baseia na maior parte em troca de cartas entre Josef e Knut Ångström. Os dois haviam se conhecido quando o sexa-genário Knut tinha entrado no laboratório onde Josef trabalhava. Ele estu-dava então medicina, zoologia e botânica. Apesar da diferença de idade (Jo-sef era 14 anos mais velho), eles se tornaram amigos. Quando Josef emigrou mais tarde para os Estados Unidos, eles se escreviam mais ou menos regu-larmente até a morte de Knut em 1910. Knut era filho do professor Anders Johan Ångström, conhecido pela seção Ångström. Knut tornou-se, assim como o pai, professor de física e auxiliou, juntamente com o fisiólogo Hjal-mar Öhrvall quando as primeiras radiografias foram tiradas em Upsala em 1896 (ver posteriormente). Após Salomon ter deixado Caldas, Regnell escreveu a Clason:

Desde que me livrei do Henschen, logo me tornei uma nova pessoa tanto de corpo como de alma, desta forma pude novamente voltar para minha dieta antiga e tive de volta minha antiga paz em casa e me senti revigorado e forte para viagens (visitas médicas no interior) e excursões ao redor da cidade, pelo que meu herbário aumentou mais do que o conseguido durante um tempo igual, durante a estadia de Henschen.371

Clason respondeu a Regnell:

Quando encontrei Henschen após sua chegada, imediatamente conclui que ele não seria adequado para Você –ou, pelo que Lindberg me descreveu, que ele não encontraria nada agradável, sozinho na vida brasileira. Ele me pare-ceu um representante da nova Upsala, para não dizer da nova Europa, que pode tornar-se homem com conhecimento e capacidade, mas da mesma forma ter pretensões e necessidades que não existiam em nossa época e que para nós parecem desnecessárias. Entretanto, já vi que ótima capacidade e competência podem juntar-se e não ouso mais colocá-las na mesma catego-ria, como por ex. Zierbänglarne! Entre Edward e eu esta questão não vai ser tratada. 372

Um resultado duradouro da estadia de Henschen em Caldas foi seu trabalho Études sur le genre Peperonium comprenant les espèces de Caldas, Brésil,

370 Weiss, Rebecca: A Florida Pioneer – the adventurous life of Josef Henschen. Swedish immigrant in the 1870s, Raleigh 2006. 371 UUB x285m1, 11/4 1869. 372 UUB x285m2, 3/12 1869. Zierbängel do alemão zieren que significa ’fazer onda’ ou ’en-feitar’ e bängel ‘garoto levado’ ou ’desconsiderado’. Em Upsala havia na década de 1830 sociedades fechadas chamadas Zierbänglar.

Page 159: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

159

publicado em 1873. 373 O exemplar da Carolina Rediviva é dedicado ao pro-fessor Olof Glas pelo autor. Ele mesmo fez as belas ilustrações no artigo. Na seção de escritos a mão na Carolina Rediviva existe o manus original e ras-cunhos para as ilustrações e até um diário do tempo em Caldas.374

Foram duas pessoas diametralmente opostas que iriam dividir moradia, o solteiro decidido, Regnell, que após muitos anos sozinho tinha dificuldade de mudar sua rotina e o jovem independente, para não dizer estudante indis-ciplinado. A diferença de idade era de mais de 40 anos e a capacidade de adaptação faltava aos dois. Fica-se surpreso, entretanto, de que Regnell achasse ser culpa de Salomon que ele comesse mais carne do que lhe fizesse bem ou de que eles necessariamente tivessem que tomar o café da manhã juntos, apesar de tantos conflitos.

373 Henschen, Salomon: Études sur le genre Peperonia comprenant les espèces des Caldas, Brésil. Nova Acta Regiae Societatis Scientiarum Upsaliensis, ser. 3–7, Uppsala 1873. 374 UUB S. E. Henschen 29, Brasilien 1867–1869.

Page 160: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

160

Figura 48. Desenho de Salomon Henschen em Études sur le genre Peperonia com-prenant les espèces des Caldas, Brésil. S. E. Henschen 29, UUB.

As cartas que Regnell escreveu devido ao comentário de Salomon ao tro-peiro foram extremamente formais e cheias de raiva reprimida. Anders Fre-drik e Salomon nunca chegaram a um grau de amizade que eles se tratassem de “você” um ao outro. A antipatia contra Henschen parece, entretanto, ter diminuído, pois já em 1870 ele assinou uma carta para ele com “Seu afetuoso AFR”.375 Henschen havia pedido uma bolsa para viajar para Kew 376 para organizar as plantas de Regnell, mas como a carta chegou tarde, Regnell sugeriu que a viagem fosse adiada para o próximo ano. O tom na carta foi muito mais cordial que nas cartas anteriores. Tem-se a impressão de que Regnell tinha mais facilidade de ver as qualidades de Henschen à distância

375 UUB S. E. Henschen 14, 17/4 1870. 376 Royal Botanic Gardens em Kew na Inglaterra.

Page 161: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

161

do que quando ele morava em sua própria casa. Assim também foi o relaci-onamento com Mosén, que chegou a Caldas alguns anos mais tarde. Na úl-tima carta que Regnell escreveu para Henschen, ele agradeceu por ter feito o velho amigo de Salomon, Barbosa J. Rodrigues escrever Genera et species orchidearum novarum e desejava ao Sr.Dr. toda a felicidade e sucesso. 377 Salomon Henschen teve seu nome ligado às orquídeas Habenia Henscheni-ana e Epidendrum Henschenii bem como Piper Henschenii.

Um motivo que contribuiu para que Henschen tivesse saudades de casa foi porque ele queria iniciar seus estudos de medicina. Antes que ele pudesse dedicar-se totalmente aos estudos de anatomia, ele teve, entretanto, que aju-dar Thore Fries a decifrar as anotações de Regnell nas etiquetas do herbário. Existem 20 cartas de Isak Gustaf Clason para Henschen guardadas entre os anos 1867 a 1873 e várias delas dizem respeito precisamente a decifrar as etiquetas. Henschen podia, por exemplo, explicar que um M escrito com giz vermelho] significava que a planta fora enviada a Martius na primeira re-messa e que um M azul significava que ela tinha sido enviada na última re-messa de outubro de 1868 a junho de 1869. Um taxidermista que havia sido encarregado por Fries de organizar o herbário, naturalmente não poderia sa-ber disso e ele tinha ademais cometido outros erros. Henschen fez listas, pri-meiro sobre as Melastomatáceas 378, e depois da família Vochysiaceæ. 379Có-pias das listas existem, segundo Dahlgren, no Museu Nacional em Upsala. Henschen mostrou a Clason que as anotações de Regnell sobre os locais das plantas eram em geral sem valor, exceto algumas em português que ele sabia o que significavam, por exemplo “floresta jovem”. Palavras indígenas usa-das não existiam em nenhum dicionário. Regnell tinha às vezes chamado o local pelo nome do proprietário e aconteceu que 5 proprietários haviam se sucedido na época de Regnell em Caldas. Na mesma carta ele se queixou também do irmão de Isak Gustaf:

A ausência do adjunto [Edward] Clason neste semestre foi sentida principal-mente na sala de anatomia, onde sentimos a falta tanto de orientação como, principalmente, de material, de forma que a maior insatisfação existe entre os dissecadores e alguns já decidiram estudar em Estocolmo e na primavera provavelmente outros seguirão aqueles que já foram para lá. Humildemente, Salomon Henschen. 380

A carreira de Henschen caminhou depois rapidamente, em 1873 ele se tor-nou aluno de medicina, formou-se em medicina em 1877 e foi promovido a doutor em medicina em1880. Em 1882 ele tornou-se professor em medicina prática em Upsala e em 1900 ele se transferiu para o Instituto Karolinska

377 UUB S. E. Henschen 14, 4/2 1878. 378 UUB x285m3, 19/11 1869. 379 UUB x285m3, 1/12 1769. 380 UUB x285m3, 1/12 1869.

Page 162: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

162

como professor de medicina interna. Henschen ficou talvez mais conhecido na posteridade por haver localizado o sentido da visão no lobo occipital do cérebro. 381 Seu grande trabalho Klinische und anatomische Beiträge zur Pa-thologie des Gehirns, foi publicado em oito volumes a partir de 1890. O último volume foi publicado no mesmo ano de seu falecimento, 1930.

Ele também participou do desenvolvimento dramático da descoberta de Wilhelm Conrad Röntgen em 1895, do que veio a ser conhecido como a radiação de raio X. No dia 9 de fevereiro de 1896, o professor de fisiologia Hjalmar Öhrvall e o grande amigo da família Henschen, o professor de física Knut Ångström tiraram as primeiras radiografias em Upsala, uma chapa de uma chave e duas de sapos, uma com uma vareta de vidro e a outra com uma caneta de aço inserida no abdômen. Henschen tinha publicado uma chamada aos médicos do país para que enviassem informações sobre pacientes com lesões da visão. Um homem em Örebro tinha recebido um tiro na cabeça e ele foi enviado a Salomon Henschen em Upsala, que realizou um exame neurológico minucioso. Parecia que a lesão existia perto da linha média no lobo occipital. Isto foi confirmado por uma radiografia com o doutor Thor Stenbeck. Este havia justamente iniciado um instituto de Radiologia privado em Estocolmo. No dia 2 de fevereiro de 1897, a bala foi retirada cirurgica-mente pelo professor de cirurgia Karl Gustaf Lennander. Este é considerado o primeiro exame neuro radiológico que resultou em uma medida terapêu-tica. Henschen e Lennander descreveram o caso juntos e Henschen apresen-tou-o também em um congresso em Moscou no mesmo ano.382

Dois anos antes de sua morte, Regnell escreveu a Edward Clason e pediu-lhe para transmitir “saudações e cumprimentos pelo sucesso devido ao re-cente empossamento na honrosa profissão” ao novo professor Henschen. 383 Ele também se declarou positivo para aumentar a contribuição que ele já lhe havia fornecido, se esta não fosse suficiente para iniciar uma clínica cientí-fica. No dia 31 de março, Regnell escreveu ao Consistório Acadêmico prin-cipal que ele havia doado 10 000 coroas a serem utilizadas pelo professor em medicina prática para desenvolvimento do ensino e pesquisa. Em sua última carta para Edward, Regnell informou que ele havia dado a Henschen direitos sobre o lucro de suas doações para a universidade em 1883. 384 Regnell faleceu, entretanto, antes que a carta de doação chegasse ao destino e seu testamento, onde ele declarou a Universidade de Upsala como herdeira, foi considerado ser válido antes da doação para a clínica médica. Posterior-mente, nada aconteceu em relação ao problema até1889, quando Edward Clason escreveu ao comitê da faculdade de medicina do fundo Regnelliano

381 Henschen, Salomon Eberhard: Om synbanornas anatomi ur diagnostisk synpunkt. Uppsala Läkareförenings förhandlingar, band 10, 1893, p. 1–44. 382 Henschen, S. E. & Lennander, K. G.: Om Röntgens strålar i hjärnkirurgins tjänst. Nordiskt medicinskt arkiv 1897, Festband nr 30, p. 1–20. 383 UUB x285m1, 28/8 1882. 384 UUB x285m1, 31/4 [sic] 1884.

Page 163: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

163

maior e sugeriu que, em consideração à memória de Regnell, fossem desti-nados meios para o fundo que Regnell havia desejado para sustentar a pes-quisa na clínica médica. Após uma investigação, foi o que ocorreu.

Figura 49. Salomon Henschen. Seção de Mapas e Imagens, UUB.

Henschen foi um dos especialistas em medicina interna mais conhecidos em sua época e, em 1907, foi chamado ao leito do rei Oskar II e, em 1923, como especialista estrangeiro a Moscou, onde Lenin estava à morte. A viagem para lá é descrita pelo filho que o acompanhou, o professor Folke Henschen, em suas memórias Min långa väg till Salamanca (Meu longo caminho para Sa-lamanca, N.T.) 385, onde ele também conta sobre a época de seu pai em casa de Regnell. O retrato que Folke Henschen transmite sobre a estadia lá é so-mente negativo:

[…] o pai havia contado sobre o doutor Anders Regnell, sua avareza e má vontade, de como ele havia obrigado o pai a torcer o barbante para os pacotes de plantas de algodão que crescia no campo vizinho, mas tendo como resul-tado que estes barbantes caseiros tinham arrebentado durante o longo trans-porte das coleções para a Suécia, de como as bananas de preferência apodre-ciam no jardim em vez de serem dadas aos pobres. Meu pai contou sobre os

385 Henschen, Folke: Min långa väg till Salamanca. Stockholm 1957.

Page 164: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

164

escravos negros, cuja principal alimentação era feijão mulato, sobre o grande fazendeiro Amaral da Lapa que ficava sentado em sua varanda, mas corria para os escravos quando eles não trabalhavam como ele queria. Quando ele levantou seu chicote para bater, ele tinha caído ao chão sem vida. Meu pai acompanhou a procissão do enterro com uma vela na mão, ele tinha visto como os escravos, gritando de dor, haviam se atirado no túmulo aberto, pois Amaral da Lapa era, entretanto, um bom dono de escravos, o que era inco-mum.

Na história dos médicos suecos, lê-se sobre Salomon Henschen: “Como per-sonalidade, ele era mais brilhante que acolhedor. Como pesquisador médico ele foi um grande homem, um de nossos maiores em tempos modernos”.

João Barbosa Rodrigues João Barbosa Rodrigues era brasileiro e morou em Caldas na mesma época de Salomon Henschen e mesmo depois. Ele nasceu no Rio de Janeiro em 1842, mas cresceu em Campanha, na região sul de Minas Gerais. Ele estudou para professor de desenho e se especializou em botânica, sob a direção do botânico brasileiro Francisco Freire Allemão e Cysnerio. Ele havia recebido 50 contos ou 5 100 libras esterlinas do governo brasileiro para publicar um livro de estampas sobre orquídeas, com a promessa de receber mais se não fosse suficiente. Por isso ele permaneceu de 1872 a 1875 na Amazônia, numa expedição científica. Regnell escreveu que. “Barbosa podia ser um bom pintor, mas nenhum grande botânico e como ou quando ele poderia ser?”386 Hjalmar Mosén (ver abaixo), tinha uma opinião muito ruim sobre Barbosa. Em uma carta para Isak Gustaf Clason ele escreveu:

Este botânico brasileiro tinha estado em Caldas anteriormente, na época de Henschen e se chama Barbosa. Ele esteve no campo amazonense durante 3 anos com uma bolsa do governo brasileiro de 2000 coroas por mês, é na re-alidade um simples desenhista ou pelo menos nenhum botânico e é conside-rado tanto dentro e fora do Brasil como um enganador, entre outras ele afirma haver descoberto 100! novas espécies de palmeiras, só 10 teria sido demais, o que Martius e mais uns vinte outros haviam feito exatamente lá antes dele, já que não é fácil você passar perto de uma palmeira sem notá-la, elas se diferem facilmente pelo habitat e os habitantes locais conhecem todas. 387

Regnell, aos poucos, mudou sua opinião sobre Barbosa. Em 1877 ele escre-veu para Clason e contou que Barbosa havia estado com ele nos últimos 5 a 6 meses e descoberto inesperadamente muita coisa nova. 388 Ele ajudava Bar-bosa a juntar plantas e em uma ocasião ele escreveu que precisava subir na

386 UUB x285m1, 17/12 1871. 387 UUB x285m4, 17/7 1877. 388 UUB x285m1, 5/5 1877.

Page 165: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

165

“Serra” (morro) devido a que muitas orquídeas viviam em uma região parti-cular e era impossível encontrá-las só pela descrição do lugar. 389 Aos 70 anos, Regnell subiu a serra numa cavalgada difícil, apesar de todas as suas doenças. Ele apreciava os conhecimentos técnicos de Barbosa e achava seus desenhos bonitos e bem feitos.

Figura 50. Barbosa Rodrigues. Foto do Museu do Meio Ambiente Instituto de Pes-quisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Regnell tornou-se um bom amigo de Barbosa e foi padrinho de um de seus filhos. Barbosa tinha sete filhos, que segundo informações, acompanhavam-no em todas as suas viagens:

[…] Ele desfilava ao chegar a Caldas com seus filhos em caixas no lombo dos asnos. Este homem era também um amante da natureza e rapidamente criou fortes laços com o Dr. André, junto com ele saiam e colhiam plantas, a ele pedia conselhos e recebia todo o tipo de informações importantes. 390

Inclusive Mosén mudou de opinião sobre Barbosa Rodrigues, que havia re-cebido a incumbência do sucessor de Martii, August Wilhelm Eichler, de elaborar Orchidacæ para a Flora Brasiliensis. Barbosa pediu então a Regnell

389 UUB x285m1, 23/7 1877. 390 Olivar, Júlio: O médico Regnell no Mistério do Consul, Anotações de Vital Brazil no capítulo 12, Rondônia 2005.

Page 166: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

166

um exemplar de todas as orquídeas de Regnell que ele não possuía. Mosén pediu a Thore Fries para enviar o que ele tinha para posteriormente enviar para o Museu Nacional do Rio. Ele escreveu:

Se eu tivesse que decidir, eu enviaria inclusive exemplares únicos ao Rio, uma vez que B. Rodrigues é o único conhecedor das orquídeas brasileiras atualmente e por um longo tempo, o que ele publicou até agora está bem feito. 391

Durante a estadia de Barbosa em Caldas, Regnell escreveu também que ele tinha enviado orquídeas vivas para o diretor Axel Pihl, no Jardim Rosendal. 392 Como agradecimento escreveu Pihl posteriormente que ele havia enviado a medalha da Sociedade de Jardins em prata:

[…] mas apesar da carta não apresentar qualquer sinal de ter sido aberta, ela não tinha nenhuma medalha e tampouco estava entre os livros que Pihl en-viou. 393

Dois anos mais tarde Regnell queria que Clason lhe enviasse um novo exem-plar da medalha que havia desaparecido, mas desta vez através do Mistério do Exterior e do cônsul geral no Rio. Ele também contou que tinha recebido informação de Pihl de que as orquídeas passavam bem e cresciam bem em Rosendal. Inclusive um exemplar que havia feito a viagem pelo Atlântico no alto do mastro, pendurada no galho onde ela havia crescido em Caldas, tinha chegado em boas condições e continuou a crescer na Suécia.394

As orquídeas aguentavam bem o transporte empacotadas em musgo úmido e podiam florescer na Suécia. Regnell enviou também orquídeas vi-vas para Fries em Upsala. A melhor época para enviá-las era em março, mas em junho de 1879 ele escreveu que havia acabado de enviar uma caixa com orquídeas para Phil e Fries. Ele tinha se esforçado para enviar aquelas que Fries não tinha recebido anteriormente e por este motivo havia subido a ca-valo até o topo da Pedra Branca, o topo mais alto na Serra de Caldas – e feito uma excursão à Serra para conseguir a Oxalis Regnelli. No dia de seu ani-versário de 72 anos, ele tinha ido a cavalo para conseguir um exemplar extra magnífico da família Epidendrum odoratissimum, que ele tinha visto no ano anterior, mas tinha sido surpreendido por um temporal, que destruiu as flo-res. Ele ficava especialmente interessado em que se tivesse muito cuidado com o que ele enviava, pois ele não acreditava que conseguiria fazer uma coleção tão grande novamente.395

391 UUB G 70 ca 15, carta de Mosén para Fries 13/9 1881. 392 UUB x285m1, 23/7 1877. 393 UUB x285m1, 2/12 1872 (a carta está datada erroneamente, deve ser 2/12 1878, carta 167). 394 UUB x285m2, 6/10 1879. 395 UUB x285m1, 20/6 1879.

Page 167: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

167

O grande livro de Barbosa, Genera et species orchidearum novarum, foi publicado de 1877 a 1882 em dois volumes. Em 1883 ele tornou-se chefe do Museu do Amazonas em Manaus, patrocinado pela Princesa Isabel. De 1890 até sua morte em 1909 ele foi o chefe do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Hjalmar Mosén Hjalmar Mosén nasceu em 1841 e tinha defendido tese em Upsala em 1873 com uma tese sobre musgos. 396 O Professor Nils Johan Andersson, que era superintendente no setor de botânica do Museu Nacional de História Natural, escreveu a Clason em 1871 e recomendou Mosén como ajudante para Regnell:

Mosén, que em todos os aspectos é um jovem ótimo e sério, que já experi-mentou sérias dificuldades e privações, por não se parecer ao eminente Hens-chen, saberia, tenho certeza, como conseguir o afeto de Regnell e, educado por ele para ser um botânico equatorial, honrado por ele como tal, que assim ele receberia de Regnell não somente seu primeiro impulso, como também meios para sua primeira grande viagem. 397

Regnell teria a honra de ele mesmo indicar o primeiro recebedor do estipên-dio de viagem de botânica que ele havia criado e escreveu para Andersson ,em 1872, que ele aceitava que fosse Mosén. 398 Mosén receberia 1000 riks-dales para a viagem e 75 riksdales por mês para trabalhar com a flora brasi-leira no Museu Nacional, de forma que ele estava bem preparado quando viajou. Clason escreveu o seguinte antes da viagem de Mosén:

Eu gostaria de, através de conhecimento pessoal, completar o que Andersson disse sobre ele, mas ele esteve em minha casa na primavera passada durante apenas dois dias, como recepcionista no casamento de minha segunda filha – para isto escolhido por meu genro, de quem ele era conhecido, em parte pelo tempo de Upsala, mais tarde também por sua estadia em Åtvid. Espero simplesmente que a confusão considerável causada pela presença de Hens-chen em sua casa não o tenha desencorajado de visitas semelhantes – você poderia arranjar de forma que Mosén não more ou faça as refeições em sua casa – de forma que Você não se sinta frustrado por não manter sua dieta.399

396 UUB x240 [Regnell], 24/4 1873. Mosén defendeu tese depois do almoço, no dia 30 de abril, mas ”tanto no dia anterior como no posterior não há qualquer ordem com Upsaliensis” como Isak Gustaf escreveu a Edward. Mosén deveria encontrar Salomon Henschen para levar consigo coisas que ele levaria para Caldas. 397 UUB x285m3, P. M. de Nils Johan Andersson para Isak Gustaf Clason bem como x285m2, ls7/11 1871, carta nr 36. 398 UUB x285m1, 17/4 1872. 399 UUB x285m2, 4/11 1871.

Page 168: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

168

Em sua resposta sobre a sugestão de Mosén morar e comer em sua casa que iria

causar grandes dificuldades para Mosén e eu se formos fazer algum trabalho juntos. Se Mosén vem somente para estudar a vegetação e quiser utilizar seu tempo para isto, poderemos entrar em acordo, mas se ele , como H.n., ficar deitado na cama grande parte do dia lendo publicações não pertinentes – até tarde da noite e na manhã seguinte dormir até 7,30 ou ainda mais tarde [...] Mosén faria viagens a lugares no interior – todos menos visitados por botâ-nicos, para onde H.n. nunca iria , daí minha principal insatisfação com ele e não, como Você parece crer, porque ele se dedicava a outros estudos (ou afazeres?) que não a botânica, mas realizar estes aqui às custas da Botânica talvez não estivesse exatamente correto e que eu talvez, em sua viagem de volta, não tivesse motivos para lhe dar algum presente. Eu não o enviei para cá, mas aceitei seu desejo de vir através de Teodor [Thore] Fries e Huss, com a esperança de que eu quisesse dar-lhe ajuda para a viagem. .400

Clason avisou Regnell por ter exigências demasiado duras:

É pedir muito que Mosén (um homem jovem) se dedique tão exclusivamente a seus estudos que ele não possa ou não deva ter interesse por outra coisa, desculpe-me dizer – desta forma ele vai tornar-se um ermitão igual a Você-e é lógico que é muito bom. Quero, portanto opor-me a uma de suas queixas contra Henschen ou a de que ele viajou de repente para casa para tirar seu diploma. Você mesmo é um exemplo vivo de que um médico, melhor que todos, pode avançar e ter oportunidade a estudos da natureza na região, de como seria muito caro para um outro ir – e se eu não me equivoco demasia-damente,-não demora muito para que Henschen consiga seu diploma na Su-écia depois de fazer seu exame, mas voltará novamente para os Trópicos para retomar à Botânica junto com o Doutor.401

Nisto Clason se enganou, entretanto. Henschen jamais voltou ao Brasil. Após ter permanecido algumas semanas no Rio, Mosés chegou a Caldas

no dia 15 de agosto de 1873. Ele começou imediatamente a colecionar plan-tas. De Caldas ele fez viagens curtas e longas para juntar plantas depois que a epidemia de varíola terminou. Clason havia escrito que ele esperava que Regnell já houvesse enviado Mosén em viagens e

não o mantivesse em sua casa como havia feito com Henschen, para exame e organização de seu próprio herbário.

Isto desagradou claramente a Regnell, que respondeu com uma longa carta em 1874:

a respeito do que escreve sobre Mosén, permita-me contar-lhe o que a mim foi escrito sobre ele em 4/11 de 71, a pedido do prof. Andersson, em relação

400 UUB x285m1, 17/12 1871. 401 UUB x285m2, 11/2 1872.

Page 169: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

169

à pergunta se eu queria permitir que M. viajasse ao Brasil no próximo ano para ficar comigo em Caldas, em parte para me ajudar com minhas coleções, em parte para que ele fosse iniciado no estudo da natureza tropical, em parte para que aos poucos se aclimatasse para continuar com o trabalho no hemis-fério sul.

Regnell lembrava que Clason havia escrito:

“Eu não necessito, ademais, comentar sobre as vantagens que Regnell, Mo-sén e a Botânica teriam de tal arranjo.” Quando eu dei meu consentimento para a viagem de M, foi, naturalmente, com referência a este programa, de Mosén ser útil para meu herbário e que eu às vezes sugeri, portanto, um con-trole para começar [...] Nestes 3 a 4 meses em que ele já morou comigo, ainda não consegui nada, mas ele frequentemente faz perguntas sobre o herbário para saber quais as plantas que colheu e da mesma forma frequentemente me pergunta a que família pertence a planta que ele colheu. Eu ouso, portanto, afirmar que ele tem tido muito benefício próprio, do herbário, da hospedagem e provavelmente não chegou tão longe na Flora de Caldas como você parece acreditar. Você escreve agora que o tempo de M. deve ser muito precioso para exame e organização do herbário”. Pode até ser assim, pena somente que você não me disse isto no 4/11-71. Não devendo, portanto, contar com M. para as descrições que eu precisava fazer, vou apressar sua viagem para o Amazonas.402

Clason respondeu que ele não sabia ao certo se iria tomar o amigo ao pé da letra ou ler uma insatisfação em geral nas entrelinhas. Ele perguntou assim mesmo:

[…] não existe em Caldas alguém pobre, confiável, menino ou menina -ou mulheres mais velhas que você possa treinar para fazer a limpeza [de larvas e outros insetos]? Você já tem um par de empregados de confiança, homens! Não poderiam eles ter como trabalho extra diário a limpeza de alguns rama-lhetes de flores por dia? Não fique triste, em vez disso caçoe de mim que como antes julga erradamente, mas quando, durante muitos anos, vemos as mesmas mulheres ocupadas sem parar com a colagem de plantas para o grande herbário, não se pode imaginar uma falta total de máquinas semelhan-tes[?] aí com Você. 403

Como sempre ele sutilmente impedia o descontentamento de Regnell.

402 UUB x285m1, 28/2 1874. 403 UUB x285m2, 7/6 1874.

Page 170: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

170

Figura 51. Hjalmar Mosén. Mapas e Imagens, UUB.

Durante o tempo em que a epidemia de varíola grassou, Mosén permaneceu três meses na casa de campo de Westin em São João da Boa Vista. Quando ele voltou a Caldas, ele e Regnell começaram a organizar as coleções deste, mas Mosén não mostrou nenhum entusiasmo por isto, só trabalhava de 2 a 3 horas por dia. Regnell achou então que era melhor que continuasse sozinho e permitiu que Mosén, que estava impaciente por viajar para Santos, que o fizesse. Dali Mosén escreveu e, para grande surpresa de Regnell, perguntou-lhe se ele poderia ter seu retrato:

A mim me gostaria muito ter uma clara lembrança do tempo em Caldas, como quase que a mais tranquila época em minha vida, apesar de que, como sempre, devido a minha natureza inquieta, só consiga apreciar isto depois de ter passado.404

Mosén gastou muito mais dinheiro do que Regnell tinha calculado e achava razoável, mas apesar disso declarou estar disposto a sustentá-lo enquanto fosse razoável o exigido e se a ciência recebesse proveito equivalente.

Quando Regnell sugeriu a Mosén que eles tentassem organizar um flora de Caldas juntos, ele respondeu evasivamente e por outras vezes de tal forma que Regnell não queria perguntar novamente: “algum entendimento cordial seria difícil de alcançar e uma cooperação sem ele tinha que dar er-rado.”405Regnell apreciava Mosén, em todo caso, por sua competência e es-perava que ela pudesse ter valor para a ciência. Havia custado a Regnell grandes sacrifícios em dinheiro, tempo e serenidade próprias, mas como ele

404 UUB x285m1, 23/10 1873. 405 UUB x285m1, 29/4 1875.

Page 171: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

171

escreveu, “Tantus amor florum”.406 Regnell conhecia seu Linné; isto se en-contra como lema no Hortus Uplandicus. Regnell e Clason tinham recebido as anotações do próprio Linné sobre si mesmo no prêmio do exame de estu-dante em 1824.

Com respeito novamente a M, embora não tenha conseguido ganhar suas simpatias, não quero ser-lhe negativo, ao contrário, quero ajudá-lo na medida do possível em seus esforços científicos.

Em sua carta seguinte, Regnell escreveu que uma nova remessa estava pronta. A organização das plantas tinha sido feita por Mosés, que tinha vol-tado de Santos. Os custos deste durante um ano tinham sido:

um total de 9000 coroas, das quais 300 mil réis sem me perguntar para com-prar plantas. De que forma tanto dinheiro pudesse ser gasto é tão inexplicável para mim como para KB [caro irmão], uma vez que Mosés não me quis dar a mínima explicação. 407

Haviam ocorrido incontáveis discussões sobre desperdício e falta de especi-ficação e Regnell escreveu:

Não posso senão observar minha insatisfação com este desperdício e fazê-lo entender que vai ser descontado dos lucros futuros dos 66 000 que dei à Aca-demia de Ciências. São necessários, portanto, 3 anos para compensar o que M. fez durante 12 meses e, portanto, ele não pode contar com nada após a volta para a Suécia para viagens a museus no exterior que seriam bem neces-sários.

Em 1876, Regnell voltou a quanto Mosén havia custado: 5 Contos mais 687 840 reis em dinheiro.408 Embora Regnell reclamasse, surpreendentemente ele pagou. Ele escreveu também que, agora que Mosés tinha viajado para casa, ele próprio tinha podido usar seu maior e melhor quarto, que ele anterior-mente havia deixado para Mosén, uma surpreendente gentileza para com um homem 34 anos mais jovem. Ele também podia fazer uma dieta melhor, de forma que sua saúde havia melhorado significativamente, apesar de ele ficar cansado e não aguentar andar muito. Ele terminou com:

Seu velho amigo And. ainda está fraco e que os instantes na vida ficam lon-gos, quando eu posso sair tão pouco, você seguramente logo vai se lembrar com algumas linhas para seu velho amigo Rn.409

406 A expressão significa “tão grande é o amor às flores”. 407 UUB x285m1, 5/10 1875. 408 Equivalem a quase 600 000 coroas em valor atual. 409 UUB x285m1, 29/3 1876. carta 147; há duas cartas de Regnell para Isak Gustaf Clason neste dia.

Page 172: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

172

Clason respondeu rapidamente:

Pena ver que você, entretanto, quase sempre parece sofrer por ter algum es-tranho em casa e volta a ficar saudável com sua , como você chama, vida de eremita – é possível viver uma vida de eremita enquanto Você tão animada-mente se interessa por uma garota tão linda como Flora,-mas se na velhice a gente começa a ficar indiferente até por ela, o melhor é procurar algo na so-ciedade humana – imagino até que, do mesmo jeito, estas medalhas vão aca-bar na gaveta da mesa.410

Após seu retorno para Estocolmo, Mosén esteve ocupado com organizar as coleções brasileiras de 1876 a 1883. Ele iria juntar as suas próprias plantas com as de Regnell, Widgren e Lindberg em um único herbário. Até Anders-son havia juntado um pouco que iria fazer parte da coleção, na região do Rio. As plantas de Widgren, especialmente, deram a Mosén muito trabalho, por-que estavam mal distribuídas e mal catalogadas. Regnell tinha dúvidas em ter que pagar mais e tinha pedido a Clason que julgasse se tinha havido “al-gum” resultado do trabalho de Mosén. Clason respondeu:

[…] como eu vou poder julgar “o resultado do trabalho dele” em relação a este “algum”. Será que todo este belo trabalho vai ter que parar por falta de meios? A Universidade não tem se portado de forma que Você se sinta ani-mado em dar-lhe mais, mas independentemente tanto da Universidade quanto de Mosén, etc, etc. Nossa velha amiga Flora, será que ela não deve, de qualquer forma, ter seus cachos arrumados, mesmo que Você ache que a garota, não quero dizer senhorita – tenha se tornado custosa [cara] nos últi-mos anos!

Clason defendeu Mosén e escreveu que, segundo Andersson, Mosén era o único com competência suficiente para realizar o trabalho. 411 Sem dúvida era bom que Andersson se sentasse nas tardes de inverno e colasse plantas, mas Andersson estava em dúvida de tirá-las do museu. Clason achava que seria melhor dar meios para a Academia de Ciências pagar Mosén, que po-deria reunir uma Flora Caldense como a que Andersson queria ter para o Monumentum Regnellianum.412 Também ficaria caro ensinar uma outra pes-soa e Clason lembrou Regnell de que ele havia reclamado de Mosén ter tanto que aprender sobre o mundo vegetal de Caldas quando ele tinha acabado de chegar. Clason terminou a discussão desta vez com “Sed satis prata bibe-runt”413

410 UUB x285m2, 4/10 1876. Regnell tinha recebido as medalhas Estrela Polar, Sankt Olaf e Waêncisa. 411 UUB x285m2, 4/10 1876. 412 UUB x285m2, 26/11 1876. 413 Conf. Virgilius’ Georgica III: Mas o campo bebeu o suficiente, quer dizer, mas agora chega.

Page 173: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

173

Regnell estava, entretanto, desgostoso com Mosén, porque ele não tinha recebido qualquer informação de como o trabalho caminhava ou resposta às perguntas que ele formulava.414 No verão de 1877 ele achou que a junção das quatro coleções brasileiras deveria estar pronta mas ainda não havia recebido qualquer carta de Mosén. 415 Ele pediu a Clason, portanto, que o lembrasse. Clason escreveu:

Quando Mosén voltou do Brasil, parecia que ele tivesse sido acometido de uma grande tristeza e nós suspeitamos no início que fosse um antigo amor frustrado que tivesse abatido seu ânimo – nós tínhamos em realidade motivos para crer que ele tinha estado apaixonado em uma moça em Åtvidaberg (a irmã de meu genro), que durante sua ausência tinha ficado noiva e se casado, sem que ele disto tivesse tido a mínima notícia. Através de seus camaradas, acabei sabendo que mudanças e cuidados com e para antigas dívidas prova-velmente seriam a causa mais correta de sua tristeza.

O próprio Mosén escreveu também a Isak Gustaf Clason em 1878 que ele tinha empréstimos antigos que precisava pagar e pediu para receber 4 000 coroas de Regnell. 416 Ele também escreveu a este que não conseguia traba-lhar em paz, porque suas dívidas atrapalhavam sua concentração o tempo inteiro. 417 Regnell deu a ele 3 000 coroas e depois mais 2 000 quando mais dívidas apareceram, mas Clason não lhe deu qualquer esperança de que ele receberia seu dinheiro de volta.

Regnell também escreveu várias vezes que Mosén deveria escrever al-guns trabalhos científicos sobre as plantas que ele havia juntado para se qua-lificar para suceder a Andersson como chefe do setor de botânica do Museu Nacional. Isto sugere que ele não estava totalmente ciente dos problemas de Mosén.

Após a volta do Brasil, Mosén não esteve muito bem. Seu caráter nervoso, de que ele mesmo falava, fez com que ele cada vez mais começasse a se descuidar do trabalho. Regnell queria que ele viajasse para Upsala e ajudasse com a disposição das plantas enviadas a Thore Fries no instituto de botânica. Regnell estava na realidade muito descontente da maneira de como as plan-tas ali tinham sido tratadas pelo intendente do museu Ahlberg. Não coincidia em absoluto com as instruções que ele tinha dado. Para que fosse correto havia necessidade de conhecimento local, o que Mosén tinha. A preposição para, por exemplo, tinha sido confundida com o estado Pará, nas etiquetas. Fries escreveu que Mosén seria necessário para catalogar as plantas, mas neste caso ele deveria trabalhar sob supervisão e somente com atividades mecânicas, de forma que se pudesse controlar que ele fizesse “algo”. 418 A

414 UUB x285m1, 5/5 1877. 415 UUB x285m1, 23/7 1877. 416 UUB x285m4, 9/1 1878. 417 UUB x285m1, 15–17/7 1876. 418UUB x285m3, 1/1 1880.

Page 174: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

174

natureza do problema de Mosén se vislumbra em um adendo, quando Regnell queria que ele viajasse para Upsala e escreveu: “os vinhos em Upsala não são mais caros que em Estocolmo, onde eles enquanto isso estão guardados”. 419 Fries estava muito preocupado com a insatisfação de Regnell e pediu a Isak Gustaf para apaziguá-lo de todo o jeito e prometeu que ele não permitiria qualquer desvio dos desejos de Regnell, mesmo que Fries achasse que poderia ser feito melhor de outra forma.420

A generosidade de Regnell para com Mosén, tendo no fundo sua insatis-fação com o desperdício deste em Caldas, é surpreendente, mas sem dúvida ele estava tão ansioso de que o herbário brasileiro fosse organizado que ele estava disposto a relevar as faltas de Mosén em geral. No dia 3 de julho de 1879, Regnell escreveu a Isak Gustaf que Mosén havia recebido 12 000 a 15 000 coroas após haver regressado do Brasil, o que equivale a 675 000 – 840 000 coroas atualmente. Ele achou, contudo, que seria um dinheiro bem empregado, se a Suécia fizesse dele um botânico de primeira classe. Regnell tinha sabido, entretanto, que Mosén estava muito melancólico às vezes e per-guntou como ele estava, realmente, em relação ao humor.421

O novo chefe de Mosén, intendente Veit Brecher Wittrock, que sucedeu a Andersson, escreveu a Edward Clason em 1881 sobre ele:

[…] para ele poder ser salvo, seria totalmente necessário que ele saísse de Estocolmo, porquanto eu acredito que tal decisão lhe seria vantajosa. Eu me achei no dever de dar a Mosén conhecimento de tal coisa, uma vez que M. não aparece no museu há mais de cinco semanas. 422

Ele tinha, entretanto, sido visto na cidade nas mais diferentes horas do dia. Ele foi obrigado a deixar seu emprego no Museu Nacional em 1883. Em uma carta escrita a Thore Fries do hospital Sabbatsberg, ele descreveu sua situa-ção:

Irmão Fries, Uma vez que a pensão dada a mim pessoalmente (cerca de 2 000 coroas por ano) terminou no dia primeiro de julho no ano passado, quando a Academia de Ciências recebeu total direito de dispor de toda a doação ao Herb. Bras. e como eu declinei sua sugestão para que eu assumisse o novo emprego de amanuense no mencionado herbário com 750 coroas de salário, com os quais eu não posso viver aqui, estou agora sem emprego. 423

Ele então procurou emprego, mas estava internado no hospital devido a seu reumatismo. Ele tinha pensado em mudar-se para a casa dos pais, mas o pai havia falecido. A mãe tinha se mudado para Upsala e Mosén esperava poder 419 UUB x285m1, tredjedag jul 1879. 420 UUB x285m3, 31/1 1880. 421 UUB x285m1, 27/12 1878. 422 UUB x285m4, 3/3 1881. 423 UUB G 70 ca 15, carta de Mosén para Thore Fries 20/9 1883. Uma outra carta começa com B. B., i.e. Bäste Broder (Caro Irmão, N.T.).

Page 175: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

175

morar com ela. Ele tinha escrito um conto de viagens que ele acreditava po-der dar algum dinheiro, mas nenhum editor queria publicá-lo. Em 1886, ele contou a Fries que ele havia procurado 22 trabalhos em 2½ anos, mas era sempre ignorado; se ele não conseguisse trabalho, logo ele entregava os pon-tos. 424 Um editor de livros o havia aconselhado de ele mesmo conseguir as-sinantes para o Contos de Viagens e Mosén enviou a sugestão de chamado a potenciais assinantes. Ele pediu a Fries para controlar e aprovar a sugestão, mas Fries não respondeu à carta e nem à última carta, em que Mosén escreve que ele receia que Fries tinha se cansado dele. A última carta é escrita em Alsike, Knivsta. 425 Mosén faleceu pouco depois em um hospital em Esto-colmo. Ele era um botânico hábil e suas coleções brasileiras são muito gran-des e bem preparadas. Seu nome foi dado à família de plantas Moseniella.

Albert Löfgren Albert Löfgren acompanhou Mosén às custas de Regnell, como ajudante, prensador de plantas e desenhista. Ele nasceu em 1854 e entre 1873 e 1874 cursou a escola de jardinagem em Karlstad. 426 A princípio parece que Regnell teve uma ajuda considerável de Löfgren para escrever etiquetas, mas entre Löfgren e Mosén a colaboração foi ruim. Devido ao que se sabe sobre Mosén atualmente, a culpa não foi somente de Löfgren. Mosén escreveu a Regnell:

L. mostrou aos poucos algumas facetas que fazem com que não se queira ter muito a pedir dele. Até agora tenho tido mais problema que benefício dele. Ele é, em resumo, pouco confiável e eu seriamente desaconselho que ele acompanhe a Caldas. 427

Löfgren recebeu então 200 mil reis ou 400 coroas para a viagem para casa “e assim eu me livrei dele”, como Regnell escreveu.428 Mas Löfgren ficou no Brasil enquanto Mosén voltou para casa. 429Ele casou-se em 1878 com Emma Bremer, que era alemã. Eles tiveram sete filhos e moraram a maior parte do tempo em São Paulo.

Regnell escreveu em 1879 que Löfgren, apesar de seu trabalho na linha de trens nesta época, tinha tempo e gosto por seu trabalho com algas aquáti-

424 UUB G 70 ca 15, 18/2 1886. 425 UUB G 70 ca 15, carta de Mosén para Fries 18/2 e 5/3 1887. 426 Blomqvist, Anders: Den Wermländska trädgårdsmästarskolan. Tidskrift för CarlstadsGil-let, årg. 13, Karlstad 2004, p. 16–18. A escola abriu em 1854 e fechou já em 1876. 427 UUB x285m1, 29/4 1875. 428 UUB x285m1, 5/10 1875. 429 Lindman, Carl Axel Magnus: In memoriam: Alberto Löfgren, Svensk botanisk tid-skrift, band 13, 1919, p. 112–125.

Page 176: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

176

cas e emprestou a ele seu microscópio durante 3 a 5 meses e apoiou-o inclu-sive de outras maneiras, “uma vontade tão grande de trabalhar não deve ser deixada desatendida”.430 Löfgren não tinha nenhum estudo, mas era ávido em aprender. Ele já tinha conseguido um dicionário de latim e uma gramática de português, mas queria também um livro que tratasse de terminologia, mo-tivo pelo qual Regnell pediu a Clason para enviar um. Um grande número das algas de água doce que Löfgren enviou para a Suécia foram incluídas no grande trabalho Algæ aquæ dulcis de Veit Brecher Wittrock e Otto Nordstedt , de 1877 a 1903. Ele pode dar nome à família Loefgrenia.

Figura 52. Albert Löfgren. Seção de Mapas e Imagens, UUB.

Depois de se ter sustentado como professor de línguas e cartógrafo, ele tor-nou-se mais tarde chefe da seção de botânica e meteorologia no escritório de pesquisa do Estado de São Paulo. Ele também traduziu muitos livros de bo-tânica para o português e doou seu grande herbário para o Museu Nacional de História Natural em Estocolmo. Como reconhecimento por seus traba-lhos, ele foi premiado pela Academia de Ciências Sueca com a medalha de Linné em 1895. De 1891 a 1914 ele foi o vice-cônsul sueco em São Paulo e, como tal, tornou-se cavalheiro da ordem Vasa.

430 UUB x285m1, 20/6 1879.

Page 177: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

177

O herbário Regnelliano

No Museu Nacional de História Natural em Estocolmo encontra-se atual-mente o grande herbário Regnelliano, que contém material da América do Sul, América Central e das ilhas do Caribe. Ele é constituído de 400 000 folhas no total e é, segundo os botânicos, uma das coleções mais importantes de plantas sul americanas do mundo.

Figura 53. Tibouchina regnelli Cogn., que pertence à família Melastomata-ceæ. Regnell colheu-a ele mesmo em 16 abril 1870 na Serra de Caldas. Es-caneado por Mia Ehn, Museu Nacio-nal de História Natural. A escala de cor e a régua são mostradas segundo um padrão seguido por 150 outros her-bários ao redor do mundo.

Parte do material está preparado e pode ser encontrado num banco de dados. Na coleção estão incluídos não somente herbários de Regnell e dos suecos que visitaram Caldas em sua época, mas também material colecionado por botânicos com a ajuda de doações de Regnell para a botânica, para viagens ou para preparação de plantas coletadas. Uma descrição do herbário e dos botânicos que coletaram e prepararam as plantas após a época de Regnell

Page 178: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

178

existe na página inicial do Museu Nacional de História Natural (www.nrm.se).

Entre os que trabalharam como amanuenses de Regnell no Museu Naci-onal de História Natural, devem ser mencionados Carl Lindman que foi con-tratado em 1887 e que, juntamente com Gustaf Malme, ganhou o primeiro estipêndio de viagem da Academia de Ciências. A viagem foi para o Brasil e o Paraguai e dali ele levou para casa coleções muito ricas. Ele descobriu muitas plantas que anteriormente não tinham sido descritas, entre outras a Regnellidium na família Marsiliaceæ. Em 1905 ele se tornou professor e su-perintendente na seção botânica do Museu Nacional de História Natural.

Gustaf Malme ganhou, juntamente com Lindman, o primeiro estipêndio Regnelliano de viagem. Segundo o que se diz, os dois botânicos tinham di-ficuldade de se entender, mas o resultado da viagem foi positivo. Eles trou-xeram para casa mais de 5 000 exemplares. Malme trabalhou posteriormente como amanuense de Regnell de 1895 a 1901, antes de receber novamente o estipêndio de viagem Regnelliano de 1901 1903. A partir de 1911, até sua aposentadoria em 1930, ele foi professor de zoologia e biologia, mas conti-nuou após a aposentadoria até sua morte em 1937, como amanuense de Regnell.

Erik Leonard Ekman tornou-se amanuense regnelliano em 1908 e viajou com a terceira expedição Regnelliana para a América do Sul em 1914. O alvo da viagem era na realidade o Brasil, mas ele deu uma parada em Cuba e na Hispaniola (atualmente Haiti e República Dominicana). Por vários mo-tivos, ele permaneceu durante 17 anos e aí faleceu em 1931. Diz-se que ele contribuiu mais que qualquer outro para o conhecimento da flora do Caribe.

Page 179: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

179

A fortuna de Regnell

No discurso proferido quando a monumento de Regnell foi levantada no ce-mitério de Caldas em 1903, falou-se que ele sempre cobrava honorários bas-tante modestos. Isto não corresponde sempre. Em uma carta ao colega Hyc-kenström, que era médico em Upsala, ele escreveu que os médicos em Cal-das cobravam por visita e que o preço era de um riksdal e 24 skillingbanco (moeda divisionária do riksdal, N.T.)431 Que ele pode receber um pagamento muito mais alto foi mostrado anteriormente quando se descreveu o convite de um pagamento de 2 000 riksdales mais pagamento por todas as consultas e receitas. 432 Em uma ocasião ele tratou do escravo de uma pessoa e, em vez de pedir o valor habitual de 30 riksdales, ele pediu o crânio de um índio (ver o capítulo sobre Retzius).

Regnell emprestava dinheiro a juros de 1 a 1½ % ao mês, ou cerca de 20% ao ano. Ele logo ficou conhecido na região como credor e era muito cuida-doso em pedir garantia para o empréstimo e exigir pagamento em dinheiro, ou ficava com o objeto empenhado. Sua prolixidade, quando Widgren foi obrigado a deixar seu herbário como depósito de um empréstimo de 35 libras para a viagem para casa, testemunha quão cuidadoso ele era, inclusive para valores menores. Ele adquiriu várias propriedades e escravos por meio de depósitos deixados por empréstimos. Quando, em 1864, Regnell falava de voltar para casa, ele escreveu que havia sido obrigado a receber fazendas de alguns que lhe deviam dinheiro, mas não podiam pagar. Ele não podia, por-tanto, viajar para casa.433 Em julho de 1865, quando ele queria ajudar Clason durante a crise com a fábrica de Furudal, ele escreveu:

[…] todo o meu patrimônio encontra-se nas mãos de agricultores que de mim receberam adiantamento para comprar gado das propriedades situadas mais ao interior, que possuem clima melhor. Os animais são depois conduzidos ao Rio, onde os açougueiros empurram os preços para baixo quando chegam muitos animais ao mesmo tempo, principalmente porque eles sabem que os fazendeiros não conseguem levar os animais de volta através de 2 a 3 serras. Às vezes os fazendeiros não conseguem pagar o empréstimo e têm então que pagar em terras ou escravos, dois fazendeiros me ofereceram agora terras por

431 UUB x285m1, 7/6 1842. A quantidade corresponde a 175 coroas de valor atual. 432 UUB x285m1, 4/8 1848. 433 UUB x285m1, 27/7 1864.

Page 180: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

180

um valor de 25 000 riksdales – e ninguém quer comprar a terra porque o rendimento é ruim.434

Regnell ganhou muito dinheiro. Ele pediu conselho a Clason de como ele poderia enviar mais de 10 000 a 12 000 coroas para a Suécia:

Indique-me algum estabelecimento comercial em Estocolmo, de forma que eu possa no momento comprar uma letra de câmbio com algum comerciante de café no Rio435

O pagamento ocorreu, como Regnell sugeriu, de forma que o comerciante de café, neste caso, recebeu o dinheiro e o banco em Estocolmo recebeu uma soma equivalente quando o café foi vendido em Estocolmo. O Consul Geral Åkerblom ajudou Regnell com seus negócios durante todo o tempo que es-teve no Rio. Quando Regnell ia ajudar Clason, que havia perdido grande quantidade de dinheiro na fábrica de Furudal, ele escreveu que em janeiro ele havia ganho 5 000-7 000 riksdales, que ele se ofereceu de enviar a Cla-son.436 A taxa de câmbio estava tão ruim, entretanto, que ele pensou, em vez disso, de comprar café no Rio para depois vendê-lo em Estocolmo. Clason, entretanto, desaconselhou.437 Isto só seria rentável se fosse possível conse-guir frete em um navio, que caso contrário estaria arriscado a velejar sem carga.

Lourenço Westin, citado no capítulo sobre a família Westin, filho do fa-lecido cônsul geral sueco-norueguês de mesmo nome, devia a Regnell nada menos que 20 contos. 438 Lourenço visitou-o em 1871 para discutir a dívida, mas não podia pagar, pelo que Regnell teve que esperar mais dois anos por seu dinheiro, recebendo como garantia uma plantação de café, que segundo o que Regnell escreveu, era muito boa.439 Faltavam, entretanto, trabalhado-res, para que ele pudesse ter lucro dela:

Se eu tivesse certeza de conseguir algumas famílias de Dalarna com vontade de trabalhar e capazes, eu estaria disposto a negociar a vinda delas para cá, mas tem que ser gente boa e conhecida, o trabalho nas plantações de café é favorável [...] O que você diz?

Já em 1868, Salomon Eberhard Henschen havia escrito a seu irmão Josef e contado que Regnell havia convidado algumas famílias a encarregar-se de

434 UUB x285m1, 17/7 1865. 435 UUB x285m1, 2/9 1852. 436 UUB x285m1, 17/2 1866. Isto equivale a 285 000–400 000 coroas em valor atual. 437 UUB x285m2, 22/7 1866. 438 A quantia seria em valor atual o equivalente a 2 200 000 coroas. 439 UUB x285m1, 11/5 1871.

Page 181: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

181

uma propriedade que ele tinha, sob condições bastante favoráveis, mas nin-guém queria vir.440 Josef, que tinha dúvidas sobre o que iria fazer, se conti-nuar a estudar para médico ou viajar para o exterior, recebeu mais tarde, naquele ano, um convite para ir para Caldas. Salomon escreveu:

Se Você quiser se realizar em trabalho agrícola como o que se faz aqui, dife-rente do daí, acho que Você deveria utilizar a oferta que o Dr Regnell pode fazer a você e a outros compatriotas sobre o assunto, pelo que ele me pediu que lhe escrevesse, pois eu lhe contei que Você tem muita vontade de viajar. Ele provavelmente vai ser obrigado a assumir em breve uma das fazendas do capitão que tive como companhia de Campinas, para não ser obrigado a vendê-la abaixo do valor, embora não o próprio Regnell, mas o capitão (de-vedor de Regnell) perde (pelo que entendi). Além disso, ele havia ficado bravo e questionado a compra da fazenda tanto ao capitão como a outro, que ambos complicaram e tentaram extorquir dinheiro de R., etc, motivo pelo qual R. quer, mesmo perdendo, ceder a fazenda a compatriotas emigrantes e criar aqui uma colônia sueca, que com toda a certeza deveria ter êxito. A proposta que ele lhe faz, pessoalmente, no caso dele ser obrigado a assumir a fazenda, o que será decidido nos próximos dias, é que, com colonos, sem pagar taxas a ele (R), assuma e cuide da fazenda durante 7 anos da melhor forma possível e sob sua responsabilidade, dividir todo o ingresso com os colonos, da forma com que vocês entrarem de acordo. Regnell não quer ter nada a ver com todo o negócio, exceto, sem qualquer custo para ele (sem juros para seu dinheiro) ceder a referida propriedade da forma em que ela se encontra, com casa e terra, à Sua disposição. Regnell não teria, portanto, nes-tes 7 anos (a partir do ano que vem), quando os colonizadores deveriam che-gar aqui, qualquer lucro de seu dinheiro e quer agora vender a propriedade abaixo do custo e colocar o dinheiro para render durante estes anos (de 10 a 12 % como se dá aqui) deveria dar perto do dobro do valor da venda, motivo pelo qual ele faz esta proposta agora, inclusive para promover a emigração causada pela miséria na Suécia. 441

Salomon forneceu mais tarde uma descrição detalhada da propriedade. Já na carta seguinte ele estava muito mais negativo em atrair Josef, cansado de estudos, para Caldas, motivado pelas dificuldades que ele próprio tinha com Regnell. Em uma carta a 1 de abril de 1869, ele escreveu:

Se colonizadores não podem ser cogitados no momento, principalmente quando R. teve tantos ataques, duas vezes, há muitos anos ele teve semelhan-tes, embora mais fracos, se ele tiver um novo ele morre.442

No dia 7 de maio ele falou novamente que Josef e ele mesmo iriam virar agricultores e receber colonos suecos em sua propriedade. Em julho é um

440 UUB S. E. Henschen 24, 16/2 1868, carta para Josef Henschen. 441 UUB S. E. Henschen 24, 23/10 1868, carta para Josef Henschen. Fazenda é uma proprie-dade agrícola. 442 UUB S. E. Henschen 24, 1/4 1869, carta para Josef Henschen.

Page 182: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

182

ambivalente Salomon a caminho de casa segundo uma carta do hotel Danska no Rio de Janeiro.

Regnell pode talvez ter tido a ideia sobre emigração de trabalhadores do fotógrafo Henrik Rosén em Campinas, não muito longe de Caldas. O Brasil estava sendo pressionado internacionalmente para acabar com a escravidão. Para impedir a temida perda de mão de obra, houve a partir de 1850 e pos-teriormente, uma propaganda organizada para conseguir emigrantes escan-dinavos para vir para o Brasil. Entre os primeiros houve um grupo de 75 jovens noruegueses, que foram para a colônia imperial Dona Francisca, cha-mada em homenagem a uma filha de Pedro I. Ao mesmo tempo que eles, chegou também um grupo de alemães. Para a maioria, entretanto, o novo país tornou-se uma grande decepção e os poucos que sobreviveram retorna-ram ao país de origem. Em 1868 chegaram cerca de 70 suecos, que se dei-xaram convencer por agentes de emigração, à província de Sta. Catarina, que pertencia a um genro do imperador. O grupo, da mesma forma que um novo em 1871, foi ao encontro de tempos difíceis. As belas promessas que eles tinham recebido antes da viagem não correspondiam de forma alguma à re-alidade. A emigração foi organizada posteriormente por um escritório de re-crutamento em Malmö. O responsável por este é referido como o fotógrafo Henrik Rosén, um dos conhecidos de Regnell, que na ocasião era o cônsul geral sueco-norueguês no Rio. A emigração sueca para o Brasil foi descrita por Axel Paulin.443

Regnell possuiu posteriormente plantações de café. Uma delas ele havia seguramente recebido como pagamento pelo empréstimo a Westin, pois em 1880 ele escreveu que tinha sido obrigado a devolver cerca de 36 000 coroas do que Westin lhe devia.444 Na última carta para Edward, meio ano antes de sua morte, ele escreveu que, devido a que ele tinha sido obrigado a fazer sacrifícios para Westin muito maiores do que ele tinha contado, ele tinha dificuldade de cumprir com a promessa de uma contribuição para a Acade-mia de Ciências – promessa que ele tinha feito quando estava muito mais fraco, em maio do ano anterior. 445

Na ocasião em que ele ia doar dinheiro para a construção de uma estação zoológica marinha em Kristineberg, ele escreveu que

o capital que tenho em Caldas está enterrado em duas propriedades, das quais uma (minha própria), vale de 30 a 40 000 coroas, que eu trabalho com mãos e pés para vender, se eu conseguir, a Inst.Zool. vai receber, se não, eles terão que esperar até a primavera de 1877 por 10 a 12 000 coroas.446

443 Paulin, Axel: Svenska öden i Sydamerika, Stockholm 1951, p. 569–571. 444 UUB x285m1, 27/7 1880. 445 UUB x285m1, 31/3 1884. 446 UUB x285m1, 11/9 1876.

Page 183: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

183

Em quase todas as suas doações, Regnell reservou-se o direito dele mesmo receber os juros do dinheiro enquanto vivesse e ele deu a Clason uma pro-curação para poder sacá-los. Clason podia depois pagar todas as mercadorias que Regnell queria que ele comprasse para enviar a Caldas ou fazer os pa-gamentos a todos os que recebiam auxílio. Esta era para ele uma forma sim-ples de sempre ter meios disponíveis na Suécia. Regnell era, entretanto, muito cuidadoso com receber a contabilidade do dinheiro que ele enviava para a terra natal. Em 1864, ele escreveu:

[…] com relação a minha doação para a Universidade de Upsala, não é um obrigado pela minha carta de doação que desejo, mas um documento (resumo do protocolo) que reconhece que a Universidade recebeu os 16 000 riksdales para o Stip. Bot., com a condição de que eu tenho o direito de dispor dos juros enquanto viver.447

Parece que tinha havido alguma discussão sobre estes juros em Upsala. Isak Gustaf escreveu a Edward:

Embora seja verdade que Regnell se reservou o direto de dispor dos juros durante sua vida -a intenção de Regnell com estas palavras foi somente para ter recursos, na pior das hipóteses e não dar parte de seus bens, bem como talvez perder o resto e acabar passando necessidade[...]. Regnell pode com razão pedir que a Faculdade. ou a Universidade, como agradecimento tanto por esta como pelas outras doações, aceite a inconveniência com os juros, mesmo com o risco não muito agradável de ter que pagá-los ao Doador [...] eu não queria nem mencionar algo sobre isto a Regnell, para não suscitar seu descontentamento e má vontade.448

Regnell queria até ter uma contabilidade precisa de despesas menores para pagamento de instrumentos, livros e jornais que ele havia pedido a Clason para conseguir. Ele pediu, por exemplo, a nota de jornais suecos que ele ha-via comprado e depois permitido que os compatriotas em Caldas lessem. 449 Sem a nota, ele não saberia quanto ele iria pedir deles para que pudessem ler seus jornais. Em 1876, ele pediu a Clason para receber

o exemplar dele do Dagl. Allehanda ou de algum outro que Você mesmo tenha ou de que eu mesmo possa participar contra um pequeno pagamento, de forma que eu quase só terei que pagar a postagem, mande-o pela Inglaterra – fica mais barato.450

Três meses mais tarde ele escreveu que Clason podia cortar fora os anúncios para economizar de postagem, o que Clason se ofereceu para fazer. Clason

447 UUB x285m1, 27/7 1864. 448 UUB x240 [Regnell], 13/1 1866. 449 UUB x285m1, 9/3 1852. 450 UUB x285m1, solstício de verão ou de inverno 1876.

Page 184: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

184

sugeriu também que ele cortaria todos os cantos brancos dos jornais, assim daria para economizar algum ou alguns 10 centavos no envio. Se a intenção era de ironizar ou não é difícil saber. O cuidado com pequenos gastos parece estranho, pensando-se que no outono anterior ele havia doado quase um mi-lhão de coroas, em valor atual, para diferentes fins na Suécia.451

Na homenagem após sua morte, as opiniões positivas sobre o doador ge-neroso prevaleceram, mas um necrológio no Svea Folkkalender menciona que os visitantes em Caldas o achavam avaro, mas reconhece ao mesmo tempo que ele não era avaro para si mesmo, mas para poder dar a outros.452

451 UUB x285m1, 28/11 1875. 452 Sandahl, Oskar Theodor: Dödruna över Anders Fredrik Regnell. Svea Folkkalender, Stockholm 1885, p. 220–234.

Page 185: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

185

Doações para organizações oficiais

Regnell recebia frequentemente cartas de diferentes organizações pedindo auxílio. Um exemplo é a Skyddsföreningen för sinnessjuka (Associação de Proteção dos Doentes Mentais), que recebeu 1 000 coroas.453 Ele deu di-nheiro a seu colega de promoção Nils Johan Berlin, que primeiro foi profes-sor de química médica e fisiológica e depois tornou-se presidente da Asso-ciação Médica. Ele tinha sido aluno de Berzelius e, quando este faleceu em 1891, o último de seus alunos.

A Associação de Entomologia havia chamado Regnell para ser seu mem-bro de honra quando de sua fundação a 14 de dezembro de 1879. Ele doou 2 000 coroas em 1881, dando como única condição que a doação não fosse mencionada nos jornais.

O presidente da Associação Sueca de Medicina Nils Wilhelm Netzel es-creveu-lhe e comunicou que a Associação havia decidido iniciar uma grande reforma em sua casa e mesmo que ele entendesse que o interesse de Regnell por esta não fosse dos maiores, ele queria em todo o caso comunicar o fato. Regnell pediu a Clason para dar 500 coroas.454

Embora o principal interesse de Regnell fosse botânica, ele também deu dinheiro a outras ciências naturais. O Professor Sven Lovén trabalhava com afinco para que fosse construída uma estação de pesquisa de biologia mari-nha na costa oeste e esperava receber ajuda de financiadores privados para a realização de sua ideia. Lovén nasceu em Estocolmo em 1809, formou-se no ginásio em Upsala e defendeu tese em 1829 em Lund, com uma dissertação sobre a distribuição geográfica das aves e tornou-se docente em zoologia no ano seguinte. Ele se interessou posteriormente por trilobitas e moluscos ma-rinhos e é mais conhecido por seu trabalho sobre o desenvolvimento embri-onário de moluscos.

Lovén convenceu Regnell da importância de uma estação de pesquisas de biologia marinha para as ciências naturais e, depois que um local adequado junto ao mar em Fiskebäckskil foi encontrado, Regnell doou 15 000 coroas à Academia Real de Ciências para a compra de um terreno para o prédio. Lovén havia escrito inicialmente que era necessário muito dinheiro, depois que eram necessários 50 000 coroas na “primeira tacada”, mas mais tarde pediu apenas 30 000 coroas como mínimo para construção de uma estação

453 UUB x285m2, 27/3 1878. 454 UUB x285m1, 2/12 1878.

Page 186: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

186

zoológica. Regnell concluiu que antes que Lovén conseguisse pelo menos 30 000 coroas de outra fonte, a construção não começaria e que por enquanto ele podia utilizar o dinheiro para outro fim. Em uma carta para Isak Gustaf (que Regnell escreveu sem que soubesse que o amigo havia falecido), ele contou que Lovén queria que Kristineberg só fosse acessível a suecos, mas que ele próprio achava que os noruegueses também deveriam ser benvindos. 455 Em 1882, ele doou mais 40 000 coroas para a construção dos edifícios e aquários necessários. A estação de biologia marinha entrou em 2008 no Sven Lovén Center för marina vetenskaper (Centro Sven Lovén para a ciência marinha) e pertence atualmente à Universidade de Gotemburgo.

Figura 54. A estação de biologia marinha de Kristineberg hoje. Foto Bengt

Lundve.

Regnell doou 4 000 coroas com fins botânicos para a universidade de Oslo, principalmente para cuidado e manutenção das coleções que ele tinha envi-ado para esta.

455 UUB x285m1, 26/9 1880.

Page 187: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

187

Doações e subsídios a particulares não parentes

Como se pode deduzir do capítulo sobre a fortuna de Regnell, com o tempo ele ficou muito rico e, como anteriormente relatado, deu subsídios para seus parentes, até de segunda e terceira gerações. Quando notícias de suas doa-ções começaram a aparecer nos jornais, ele recebeu uma torrente de cartas com pedidos de esmola de pessoas das quais ele não era parente. Isto fez com que ele ficasse mais e mais ansioso para que suas doações não se tor-nassem públicas. O reitor da Universidade de Upsala prometeu a Edward Clason que ele de bom grado não notificaria algo aos jornais sobre as doa-ções e Clason falou com os redatores, mas como os protocolos do consistório eram públicos, não era sempre muito fácil manter qualquer coisa em sigilo.456 Regnell não gostava de atenção pública, principalmente. Edward escreveu ao irmão Isak Gustaf que o editor de livros Albert Bonnier o havia procurado e lhe pedido para escrever sobre Regnell em uma série planejada que se cha-maria Svenska millionärer (Milionários suecos). Edward suspeitou, entre-tanto, que Regnell iria reprovar isto enquanto ele estivesse em vida e estava por este motivo em dúvida, pelo que Bonnier respondeu: “pense ele o que quiser, mas entre eles ele vai estar”. Edward pensou também que, “se ele não escrevesse, algum outro irá fazê-lo, Bonnier não vai se entregar.”457

Regnell era muito céptico quanto a elogios nas cartas com pedidos de ajuda:

Um Klem (ming) apareceu novamente com a apresentação do relatório anual de 1878 da Biblioteca Real, com uma bela dedicatória do exemplar – como eu não sou extremamente sensível a tais demonstrações deixei o caso de lado, uma vez que esta foi anteriormente uma pergunta entre nós, mas como Você se mostrou interessado pela biblioteca em sua última carta, dê algumas 100 coroas, se Você achar apropriado.458

456 UUB x285m2, 7/1 1875. 457 UUB x285m3, 7/9 1875. Segundo informação da editora Bonniers, Albert Bonnier nunca publicou tal livro. Em contrapartida, alguém com o pseudônimo Lazarus publicou em 1902 um livro com o título Svenska Millionärer no Aktiebolaget Varias Boktryckeri, Estocolmo. Entre os que lá estão mencionados encontram-se Anders Fredrik Regnell e o professor do Instituto Karolinska Per Henrik Malmsten, que foi sócio do comitê para o ensino médico em 1859 e depois ficou muito rico com sua clínica particular. 458 UUB x285m1, 2/3 1880.

Page 188: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

188

Uma amiga de infância que recebeu ajuda foi Maria Lindström, com o nome de solteira Strömberg. Ela havia morado na casa de um comerciante de es-peciarias, no andar embaixo da Sra. Borg, onde Regnell morou durante os anos escolares. Maria tinha mais tarde se casado com o sobrinho do comer-ciante de especiarias, que assumiu o negócio, mas muito cedo ficou viúva. Regnell se lembrava muito bem dela, do tempo em que ele trabalhava no Hospital Serafimer, pois ela então, junto com Charlotta, havia visitado o ma-rido desta, Otto Wilhelm Brattström, paciente de Huss. Maria tinha se casado novamente com Lindström, administrador na mina de cobre Huså em Åres-kutan e depois em uma mina em Gästrikland. Ela havia novamente ficado viúva e morava junto com uma filha adotiva em Mora, em condições muito precárias. 459 Carin Källström nascida Arosenius, prima do amigo de juven-tude de Regnell, Jakob Fredrik Neikter Arosenius, escreveu a Isak Gustaf Clason em 1875, que Maria estava muito doente e pobre. Carin pediu, por este motivo, uma pequena ajuda para ela. 460 Através de Clason, ela recebeu uma pequena ajuda de Regnell. Quando Maria morreu em dezembro do mesmo ano, a filha adotiva recebeu de Regnell 50 coroas para poder pagar as despesas do enterro.

Um retrato da infância de Regnell é dado em uma carta que o “lan-träntmästare” (uma espécie de banqueiro, N.T.) Brunnberg escreveu a Cla-son em 1873. Ela dizia respeito a uma mulher que pedia ajuda, Fredrika Charlotta Nyström, que tinha sido copeira na casa dos pais de Regnell du-rante 12 anos. Ela estava agora com 78 anos e tinha tanta dor articular que não aguentava trabalhar. Ela podia contar detalhes que tornavam a informa-ção de que ela tinha trabalhado na casa do estalajadeiro verídicas, segundo o que Brunnberg acreditava. Ela tinha tido que ficar de pé em um banco, segurando uma corrente, enquanto Anders Fredrik, em companhia de Göran Fant, “eletrificavam”, dando voltas na manivela da máquina de eletrici-dade.461. Regnell não conseguia, entretanto, lembrar-se dela.

[…] que ela teria trabalhado em casa de meus pais durante toda a minha vida acadêmica ou 12 anos e meio e que eu tenha me esquecido dela totalmente, não posso explicar de outra maneira que ela, como ajudante, andasse dentro e fora da casa e portanto não serviu somente a meus pais durante tanto tempo. A prima Anna Lundberg, que nesta época permaneceu em casa de meus pais durante alguns anos, deveria poder dar algumas informações sobre isto. Neste meio tempo, deixe Brunnberg dar cerca de 50 riksdales por enquanto.462

O juiz Johan Gustaf Holmberg e sua irmã Karin eram filhos do porteiro da Universidade, Johan Holmberg. Os irmãos Holmberg tinham crescido juntos

459 UUB x285m3, 29/4 1875. 460 UUB x285m3, 6/12 1875. Carin era casada com o pároco Anders Källström de Mora, que tinha morado em casa de Schedwin ao mesmo tempo que Isak Gustaf Clason. 461 UUB x285m3, 19/ 4 1873, x285m2, 3/9 1873. 462 UUB x285m1, 11/12 1872.

Page 189: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

189

na mesma casa e sido companheiros de brinquedo de Regnell e eles tiveram contato com ele toda a vida. Após a morte do pai, Karin mudou-se para Ös-tervåla junto com sua mãe e quando a mãe faleceu em 1859, Karin se em-pregou em casa do capelão Löfling, que tinha ficado viúvo e estava cego. De acordo com o registro da igreja, ela é dada como mentalmente atrasada. Karin era muito pobre e recebeu uma pequena pensão de Regnell. Quando ela faleceu, o juiz Holmberg, que tinha ido à falência, escreveu uma carta a Regnell pedindo que ele transferisse a pequena pensão para sua filha solteira, incapacitada, Carolina Helena. Brunnberg tinha perdido 1 000 coroas com a falência de Holmberg, que Edward tinha descrito como “não foi bonita”. 463 Brunnberg e Regnell não queriam, por este motivo, que o dinheiro fosse ac-cessível a Holmberg, porém que a filha recebesse uma pequena pensão, que foi colocada no Sparbanken e que poderia ser utilizada somente após a morte do pai.

Um velho conhecido da época estudantil em Upsala era o capelão de Ors-lunda, em Öland, Magnus Gustaf Sjöstrand. Ele nasceu em Kalmar e tinha começado a estudar botânica em Upsala com Elias Fries e é referido no livro paroquial da diocese de Kalmar como um de seus alunos mais inteligentes, mas ele foi obrigado a abandonar seus estudos devido à pobreza. Já em 1833, ele tinha publicado o artigo Härjedalens naturbeskaffenhet och vegetation. Após ser ordenado como pároco em 1841, ele tornou-se capelão na paróquia de Kalmar. Ele é considerado um dos pioneiros no conhecimento da flora de Öland e, em 1863, publicou Calmar och Ölands Flora. Ele tinha uma eco-nomia muito ruim e foi à falência em 1864.464 Regnell havia recebido uma carta de Sjöstrand, que estava muito enfermo e perguntava se ele podia lhe emprestar dinheiro.465 Regnell pediu então a Clason para lhe dar 300 coroas. Sjöstrand agradeceu:

Que o nobre Dr. Regnell me esticasse a mão caridosa foi tão benéfico quanto surpreendente, pois eu alimentava somente uma leve esperança dele me aju-dar, quando eu lhe pedi um empréstimo de 500 coroas. Ele me enviou agora 300 coroas, sem incluir qualquer condição, o que me faz considerar como sendo uma rica dádiva do benfeitor generoso. 466

Clason lembrou Sjöstrand de que, há exatamente 50 anos, ele tinha feito uma viagem a Öland e que, 48 anos depois ele e, seguramente, também Regnell, tinham recebido belas plantas de Öland através de Sjöstrand. Este havia pro-curado Clason entre os médicos matriculados, mas não o havia encontrado, após o que Clason escreveu:

463 UUB x285m2, 11/2 1872. 464 Jornal Kalmar 7/1

1865. 465UUB x285m, 26/10 1879. 466 UUB x285m4, 1/1 1880.

Page 190: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

190

Não me surpreendo do capelão me haver procurado entre os médicos, uma vez que eu realmente tenho tido muito contato com estes e pode parecer algo incomum que um Mineiro ainda sinta prazer com a botânica na velhice – mas é um amor antigo, desde que eu era aluno junto com Regnell em Upsala e depois, como estudante em Upsala, subia o morro de Gottsunda com vários locais de flores bem conhecidos, para colher plantas. Nossos caminhos cer-tamente se separaram, quando eu, em 1830, me formei em minas e energia, mas nós continuamos sempre em contato com a botânica; eu coletava em Dalarna, ele ao redor de Upsala e vários outros locais, bem como sempre trocando exemplares um com o outro.467

Em uma carta pedindo dinheiro em 1877, o médico da cidade e médico de prisão, Otto Wilhelm Åberg, de Norrköping, relatou que grande agradeci-mento Regnell deveria sentir a ele por ter ido para Caldas. Quando, segundo Åberg, o cônsul Westin convidou a ele o trabalho em Caldas, ele escreveu a Regnell, que estava então em Trollhättan e contou que ele próprio não queria viajar, mas perguntou se Regnell queria fazê-lo em seu lugar. Åberg escre-veu então que Regnell, devido a seu sangramento pulmonar, segundo a ex-periência médica, não poderia viver muito tempo em nosso frio nórdico. Åberg afirmou que ele tinha perdido 15 000 coroas de dinheiro guardado, que ele havia emprestado para seu irmão que era comerciante de ferro e ficou insolvente devido à falência de Gunnebo. Ele escreveu a Clason e contou o que ele havia escrito para Regnell. Ele começou sua carta:

Nobilíssimo Sr. Diretor I.G. Clason, cavalheiro da ordem K. Nordst, [...] quando você [Regnell] estava em dificuldades, eu o procurei, agora, quando esta carga me atingiu, eu entrei em dificuldades e apelo a meu camarada e compatriota, lembrando-o do grande favor que eu lhe fiz há 40 anos.468

Ele escreveu sobre quão importante ele tinha sido para a vida atual de Regnell e que gratidão Regnell deveria ter para com Åberg, que o tinha aju-dado com a mais calorosa camaradagem. Åberg sabia que Clason gozava da confiança ilimitada de Regnell e pediu a Clason que dissesse uma palavra a seu favor para Regnell, de forma que ele não esquecesse Åberg em suas do-ações. Åberg tinha 4 filhos desprovidos, enquanto Regnell não tinha qual-quer parente ainda vivo para quem economizar, como Regnell escreveu em sua carta. Regnell respondeu que no momento ele não podia dar mais de 1 000 coroas. Ele não queria fazer uma doação maior para Åberg antes de saber de quanto ele realmente poderia necessitar:

[…] ele talvez tenha pensado, como muitos outros, que aquele que deu umas e outras 100 000 coroas para instituições públicas, pode muito bem dar um ou outro 1 000 para um velho amigo, que se considera necessitar mais e até

467 UUB x285m5, 10/1 1880, carta de Clason para Sjöstrand. 468 UUB x285m4, 20/1 1877.

Page 191: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

191

parece ser assim com Åberg, quando diz que eu já doei muito para a Facul-dade de Med. De Ups. Seja como for. Antes que eu saiba mais sobre como Å, não tenho vontade de dar mais.469

Por este motivo ele pediu a Clason para, através de Huss, que tinha uma casa de campo em Östergötland, para se informar do assunto. O inquérito deu como resultado que Regnell escreveu para Clason:

Dos outros pagamentos para 1877, não há nenhum que eu gostaria de ver mais excluído que o para Åberg, pois ele apenas me descreveu uma necessi-dade, sim, penúria, que após informações posteriores, não existe e ademais baseia sua exigência de ajuda minha pelo fato dele ser o motivo de minha vinda para o Brasil, que ele me havia escrito de Trollhättan, onde eu me en-contrava quando o representante do Cons. Ger.Westin chegou para interessar um médico para Caldas. Eu não recebi tal carta e da mesma forma não tinha ideia a respeito antes da carta de pedido de ajuda de Å. A questão de minha viagem para o Brasil foi a seguinte. Numa tarde, em agosto de 1840, quando eu, como sempre fazia, fui ao cais para ver quais passageiros tinham vindo de Estocolmo pelo canal Göta, encontrei um camarada mais jovem, acho que era o Dr L. [nome ininteligível], que em resposta a minha pergunta sobre novidades da capital, me contou então sobre o representante do Cons. Ger. Westin e que Huss, que era então médico chefe no Hospital, tinha perguntado se alguém queria aceitar a oferta e que somente Sundvall (anatomia de Upsala) estava pensando no assunto. Eu escrevi então a Huss imediatamente, que me pediu para ir a Estocolmo o mais rápido possível, o que eu posterior-mente fiz. Sundvall declinou o convite, mas sobre Åberg não ouvi nada a respeito. Se Você encontrar Dr. L. alguma vez, pergunte-lhe então se foi ele que em primeiro lugar me deu informação sobre Caldas.470

469 UUB x285m1, solstício de verão e solstício de inverno 1876. 470 UUB x285m1, 5/12 1876.

Page 192: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

192

Figura 55. O médico de estado da prisão Otto Wilhelm Åberg. A. E. Hjertstedts ateliê fotográfico. Arquivo da cidade de Norrköping.

Åberg, entretanto, não se deu por vencido. Regnell escreveu que Åberg havia escrito uma nova carta com pedido de dinheiro em maio de 1880, mas que ele tinha ficado sabendo através de Huss que Åberg não tinha em absoluto uma economia ruim, ao contrário era um homem bem de vida, mas conhe-cido por ser muito cheio de si.471 Uma nova tentativa de convencer Regnell em julho do mesmo ano deu o mesmo pobre resultado para Åberg, apesar de ele ter motivado agora o pedido com que Regnell havia dado tanto a outros. Åberg faleceu em fevereiro do ano seguinte. O inventário mostrou que havia sobrado de patrimônio, após o pagamento das dívidas, 43 082 coroas e 95 centavos, equivalente a 2 238 080 coroas em moeda atual.472

Certa vez ele recebeu uma carta do pastor Anders Laurentz de Lekåsa, paróquia de Skara, que pedia um empréstimo de 6 000 riksdales para que pudesse plantar em um pântano. 473 Ele tinha recebido 40 anos livres de im-posto para fazê-lo, o que significava que ele não necessitava pagar imposto durante 40 anos da renda do pântano. Como garantia, o pastor queria deixar

471 UUB x285m1, 30/5 1880. 472 Norrköpings rådhusrätt 23/4 1881, inventário nr 35. 473 UUB x285m1, 7–8/12 1863.

Page 193: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

193

o pântano e ele se comprometia também a pagar seis porcento de juros ao ano. Regnell respondeu que, devido ao compromisso que ele tinha com a Universidade de Upsala, não podia ele mesmo emprestar dinheiro, mas que ele tinha enviado uma letra de câmbio de 6 000 riksdales a Clason para en-tregar à Universidade, que por sua vez talvez pudesse emprestar ao pastor para este projeto proveitoso, como Regnell se expressou. Naturalmente, não devia ser fácil para ele, no interior do Brasil, julgar o assunto corretamente e talvez por este motivo ele cedeu a responsabilidade para Clason e para a Universidade de Upsala.

Clason informou-se, entretanto, sobre quem Laurentz era e não lhe deu nenhum dinheiro. Laurentz havia encontrado Regnell alguma vez durante os poucos meses em que este era médico no canal de Trolhätte. Algum conhe-cimento mais íntimo não pode ter sido, pois Regnell não se lembrava dele. Clason também tinha ficado sabendo que Laurentz era conhecido como um grande malandro. Ele tinha sido avisado várias vezes pelo sínodo diocesano por acusações insultuosas, não comprovadas, por não ter celebrado a euca-ristia por várias semanas e muitas outras falhas no exercício de sua profissão. O livro histórico paroquial diz sobre ele: “L. era um homem empreendedor, que cultivava o pântano em Främmestad, mas que pessoalmente colheu pou-cos benefícios dele, foi à falência após sua morte.”474

Inclusive antigos camaradas de escola se manifestaram: Lars Petter Lau-rell era filho de um jardineiro da Universidade de Upsala e formou-se no ginásio em 1825, um ano depois de Regnell. Mais tarde ele se tornou pro-fessor em Estocolmo. Sua esposa escreveu a Regnell em 1868 que o marido tinha um salário muito baixo e que agora havia necessidade de ajuda para um filho que frequentava a Academia de Desenho. Regnell transferiu a per-gunta totalmente para Clason, uma vez que ele não sabia quanto de dinheiro era necessário nem quanto haveria disponível dos juros, depois que a insta-lação de água para a instituição de fisiologia tivesse sido paga, o que Regnell havia prometido fazer. 475 Em agosto do mesmo ano ele escreveu:

Para Laurell, para que seu filho, que parece ser incapaz, possa aprender lito-grafia, deveria dar 1 a 200 riksdales, de forma que ele assim possa adquirir um meio de sustento. Você faz o que achar melhor.476

A expressão “Você faz o que achar melhor” se repete em muitas das cartas de Regnell para Clason. Em 1869, Clason visitou a família Laurell, que vivia perto da praça Adolf Fredrik em Söder:

474Cederbom, Lars August & Friberg, Carl Olof: Skara stifts herdaminne 1850–1930, del 1, Stockholm 1928–1930, p. 352–354. 475 UUB x285m1, 8/3 1868. 476 UUB x285m1, 23/8 1863.

Page 194: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

194

[…] o homem parece ser um verdadeiro professor, embora de poucas pala-vras – a esposa, ao contrário, muito mais falante. O filho também estava em casa – escoliótico, 20 anos de idade, frequenta a escola de desenho. A esposa é nascida Martin e, portanto, de uma família de desenhistas. Você deve se lembrar das vistas Martin de Estocolmo. Não se falou de qualquer assunto sobre auxílio, da parte deles e eu tive cuidado de não tocar neste assunto. – Você tem, em todo o caso, muitos que querem contar com o rico tio na Amé-rica. 477

Pelo visto Laurell faleceu em 1874, pois Regnell escreveu então a Clason para dar 200 riksdales à viúva para educação do filho. Este, que se chamava Rickard, escreveu posteriormente e agradeceu.478

Muitos parentes de médicos que só tinham conhecido Regnell superfici-almente, manifestaram-se pedindo dinheiro. Uma foi Viktoria Carolina Ty-selius, viúva de um médico em Nederkalix. Ela pediu dinheiro para comprar uma máquina de tricô e ganhou 300 coroas. Regnell achou que ela deveria ficar satisfeita, uma vez que ele não se sentia na obrigação de ajudá-la mais que a qualquer outra pessoa. Um outro pedinte contou que ele era filho de um antigo médico de batalhão em Upsala e pediu um empréstimo para cons-truir uma casa. Regnell pediu a Clason para verificar sua necessidade e dar uma ajuda temporária, mas empréstimo ele não queria dar, causaria demasi-ado trabalho a Clason. Clason retornou e informou que ele não tinha encon-trado o homem e Huss acreditava que talvez se tratasse de um filho fora do casamento de um médico de batalhão e acrescentou “nenhum ótimo indiví-duo”. Estas cartas são somente algumas das que ele recebeu após os jornais terem escrito sobre suas doações. Ele pediu a Clason para examinar se era possível conseguir que pelo menos os jornalistas de Upsala não escrevessem sobre as doações.

Um homem de Växjö tinha anteriormente se manifestado com uma pro-posta de algo que poderia ser usado no Brasil e na Suécia para conservar alimentos. Segundo Regnell, ele “visitou-o” novamente e queria ajuda para financiar um pedido de patente de um para-raios melhor, que poderia ser vendido por 20 coroas. O homem contou que ele poderia proteger contra raios numa área de 2 000 pés quadrados. Regnell respondeu que ele não po-dia julgar o para-raios, mas se Clason encontrasse alguma base para a afir-mação, ele poderia dar alguma ajuda. Provavelmente o inventor não recebeu qualquer auxílio.

Um dos mais esperançosos que Regnell parece ter desmascarado foi Wilhelm Aurell. Regnell escreveu a Clason que “o solicitante, nascido em 1833, queria ir para Upsala para estudar medicina e se diz muito conhecido de Glas, Mesterton e Kjellberg.”

477 UUB x285m2, 31/1 1869. 478 A bolsa de estudos que Regnells doou, deu bons resultados. Rickard mudou-se mais tarde para Helsinque, onde ele trabalhou como xilógrafo.

Page 195: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

195

O sr. Aurell é um antigo ex-estudante que foi reprovado várias vezes nas tentativas de conseguir o grau medi., mas que tem uma grande capacidade de impressionar – e controlar uma doença mental. Quando Edward perguntou a Hedenius: Você conhece Aurell?, recebeu como resposta: Sim, aquele goza-dor eu conheço bem, dar ajuda a ele para o referido fim não pode ser consi-derado outra coisa senão jogar fora

Ele não recebeu nenhum dinheiro.479 Quando Regnell havia doado dinheiro para a sociedade médica em

Estocolmo, o Fäderneslandet (A Pátria) tomou conhecimento e escreveu um artigo sobre o doador generoso, que resultou em que ele novamente recebeu dezenas de cartas com pedidos de ajuda.480 Uma dama esperançosa havia tentado conseguir algum dinheiro de Regnell através de Clason, sem resul-tado e agora escreveu diretamente a Regnell, mas havia se esquecido de es-crever seu nome. Regnell escreveu então a Clason:

[…] ela informou ser filha de um professor que havia publicado em sua época um conhecido dicionário de rimas. Além disso ela pede não somente uma pequena doação de uma só vez, mas uma pensão vitalícia! E como ela diz que possui alguns amigos famosos, ela não se contentaria com migalhas. O melhor é ela se manter com os famosos.481

Muitas das cartas de pedido de ajuda chegaram depois que os jornais escre-veram sobre as doações de Regnell e muitas dessas foram com certeza joga-das diretamente no lixo. As que conhecemos são as que, por carta, ele pediu a Clason que cuidasse dos pagamentos. Entre os que se manifestaram, mui-tos tinham o nome Regnell ou com alguma variação na grafia (havia cerca de 120 na Suécia 482), mas nenhum mostrou-se ser parente. Uma Sofia Ren-gnell não desistiu quando ela ficou sabendo que não era parente, mas retor-nou com uma nova carta, onde ela contava que era pobre, doente e em apuros e pedia ajuda mesmo sem ser parente. Regnell escreveu a Clason que, se ele passasse perto do local onde ela vivia, para investigar a situação dela e, se ele achasse haver motivo, que lhe desse de 20 a 30 coroas de ajuda humani-tária. 483 Ela também recebeu dinheiro, o que é mostrado na contabilidade econômica que Clason enviava a Regnell a cada novo ano.

Em sua última carta para Regnell, Clason escreveu: “[...] espero que Você jogue no lixo as cartas de pedintes – os pedintes não acabam nunca se Você não diz não direto”. Deve ter sido muito desagradável receber tantas, motivo pelo qual o conselho de Clason tinha como intenção a de fortalecer a decisão

479 UUB x285m1, 15/2 1875. 480 Fäderneslandet era uma revista de escândalos fundada em 1830 por Magnus Jakob Cru-senstolpe. 481 UUB x285m1, 24/7 1880. 482 Sveriges släktforskarförbund: Sveriges befolkning 1890, CD, 2003. 483 UUB x285m1, 26/10 1879.

Page 196: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

196

de Regnell. As discussões sobre as doações mostram que ele às vezes tinha muita dificuldade de se decidir, o que Clason sabia.

Page 197: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

197

As doenças de Regnell e sua morte

A enfermidade pulmonar que surgiu em 1838 e que fez com que Regnell se estabelecesse no Brasil continuou até o fim de sua vida. Ele teve uma me-lhora temporária durante a longa viagem que ele fez como médico de bordo na corveta Jarramas no Mar Mediterrâneo durante o outono e inverno, de 1838 a 1839. Cerca de um ano após a volta para casa sua enfermidade piorou e por este motivo ele aceitou com alegria o convite de mudar-se para o Brasil para trabalhar como médico em Caldas, na província de Minas Gerais, com seu clima ameno. A viagem marítima lhe fez bem e ele estava com boa saúde ao chegar ao Rio.

Assim que ele fez o exame obrigatório para que pudesse trabalhar como médico no Brasil, ele deixou o Rio, que tinha um clima demasiado insalubre para ele e viajou para Caldas. Quando lá chegou, ele era obrigado a parar a cada vinte passos, estava pálido e de vez em quando tossia sangue. Após cerca de dois anos, entretanto, ele tinha adquirido uma cor saudável no rosto e sentia-se forte. Ele aguentava cavalgadas cansativas para atendimentos do-miciliares e começou também a sair em excursões para caçar.

As hemoptises recomeçaram em 1848, segundo o que ele escreveu para Clason, porque ele havia descuidado da saúde e tomado água gelada e traba-lhado tanto que ele tinha ficado demasiado suado. “O catarro com sangue continuou como sempre. Será que a temida tuberculose voltou?” 484 Clason respondeu que neste caso não havia muita esperança de vê-lo em casa nem para uma visita. 485

Regnell não queria nunca mais tomar água gelada e apesar de morar no Brasil, terra do café e fosse ele mesmo dono de um cafezal com 8 a 9 000 pés de café, ele jamais tomava café. 486 Ele também escreveu:

De vinho, a única bebida alcoólica que bebi em 20 anos, provavelmente bebi esta mesma quantidade de meias garrafas em todo este tempo – pois somente em mingau de sagu ocorreu que eu ingeri vinho quando estava com náu-seas.487

484 UUB x285m1, 4/8 1848. 485 UUB x285m2, 20/2 1849. 486 UUB x285m1, 29/1 1874. 487 UUB x285m1, 17/8 1860.

Page 198: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

198

Em 1859, ele tinha levado um coice de um asno na perna e tinha tido con-vulsões. Estas retornaram mais tarde no que ele chamava de “congestio ce-rebrale”. Ele as interpretava como “provocadas por esforço excessivo da mente e plantão para não descuidar da assistência de pacientes. 488 Durante uma viagem em 1863, ele teve um novo ataque e caiu do asno:

Eu tive um ataque repentino de vertigem e convulsões, perdi totalmente a consciência [...] e só depois de 22 horas voltei a mim de forma que eu pudesse saber onde estava.

A melhor descrição do ataque de Regnell foi dada por Salomon Eberhard Henschen em uma carta para o irmão Josef. 489 Salomon ainda não havia começado a estudar medicina, mas ele mostrou uma boa capacidade de ob-servação quando escreveu:

Ao retornar do correio, vi Adão, o escravo do Doutor, em meu cavalo (os cavalos estavam arreados para uma viagem), sair correndo na rua, do que eu muito me espantei, quando na entrada eu fui recebido com o grito: “o Senhor caiu” (o dono da casa escorregou ou caiu). Eu não sabia com certeza do que se tratava, portanto corri para o local e encontrei o Doutor Regnell inconsci-ente no jardim, sendo mantido sentado pelo farmacêutico e um escravo; os olhos revirados e uma espuma na boca e com uma respiração rápida. Imedi-atamente nós três o carregamos para a cama, soltamos suas roupas etc., um monte de gente se juntou imediatamente e, após alguns minutos, chegou o outro médico da cidade, que Adão tinha ido buscar a cavalo. O Doutor co-meçou então a vomitar, recebeu uma massa de mostarda etc. e acordou após cerca de 2 horas, às 10 horas e perguntou o que havia acontecido, porque ele estava na cama, por que eu estava no quarto, entre outras. Nós acreditamos que o perigo havia passado, uma vez que ele falava, estava totalmente cons-ciente e não tinha qualquer dor, quando de repente, às 12 horas, em vez de responder a uma pergunta, ele solta um som rouco ou grito e se sacode em convulsões, com a boca espumando: nós chamamos o médico, que chegou imediatamente: o Doutor teve logo depois um terceiro ataque, quando ele gritou e a boca e a face se contorceram loucamente; o pulso bateu algumas vezes e então parou e quase que parou totalmente, como se ele estivesse morto. Nós estávamos, naturalmente, muito preocupados e o médico estava quase sem esperança. Pessoalmente eu não achei que o ataque tivesse sido tão violento que ele não conseguiria aguentar, mas eu sei que Regnell parece ter um problema cardíaco, uma vez que o pulso bate irregularmente, mesmo quando ele está bem e eu receava que isto iria acabar com sua vida. Ele não aceitava tomar nenhum medicamento, especialmente um laxante; após uma sangria ele melhorou um pouco; os olhos pareciam recuperar a consciência, mas ele ficou cerca de 5 a 6 horas sem falar; finalmente ele disse uma ou outra palavra às 7 horas da tarde pouco depois dele usar o urinol e eu estava ao lado da cama, quando ele solta um novo grito e cai em convulsões; já estava escuro e eu me lembro que eu estava sentado sozinho no escuro e o

488 UUB x285m1, 17/3 1860. 489 UUB S. E. Henschen carta de 23/3 1869 para Josef. Clason recebeu uma cópia da carta.

Page 199: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

199

amparava, enquanto os outros novamente correram atrás do Dr. Agostinho (o outro médico): este ataque terminou, entretanto, depois de uma ou mais horas. Ele recebeu um clister e defecou, mas não respondeu e parecia estar inconsciente, mas como um animal, fazia todas as ocupações comuns, prin-cipalmente, quando ele sentia necessidade, sentar-se em posição na cama, etc, quando tinha fome e queria falar com ele ou dar-lhe alguma coisa, ele somente empurrava, como se quisesse dormir. Nós éramos três que iríamos velar exceto os escravos, em que de forma alguma se pode confiar; eles ron-cavam ou davam risada, quando nós os colocávamos de plantão. O farma-cêutico e o advogado do Doutor iriam ficar de plantão primeiro e iriam ficar no quarto do Doutor, quando Regnell de repente se levanta em toda a sua estatura, passa pelos vigilantes, que tentaram falar com ele, vai até a lâmpada, que ele como de costume, sopra e apaga. Os vigias ficam apavorados e cor-reram até mim, onde principalmente o farmacêutico perguntou com medo se o Dr. tinha alguma arma carregada ou semelhante, com a qual ele poderia atirar neles por equívoco, ao encontrar gente em seu quarto no meio da noite. Às 6 horas da manhã, o Doutor se vestiu e foi tomar água no cômodo de fora; eu queria dar-lhe água quente, pois ele tosse com água fria, mas em vez de responder ele grita e cai para trás em meus braços, tremendo de espasmos; nós o levamos para a cama, onde os espasmos terminaram depois de um tem-pinho; mas ele continuou em seu estado de inconsciência que durou um dia inteiro até o jantar, quando ele finalmente pareceu melhor, levantou-se e, com nossa ajuda, procurou vestir suas roupas. Várias vezes, antes que comesse outra vez, ele começou a inspecionar o lençol com a mais minuciosa precisão, se ele tinha o seu comum, como ele tocava em seus buracos e remendos. Logo ele podia falar e nós relatamos a ele o que havia ocorrido, do que ele não tinha a menor ideia. Às 5 horas, ele se encontrava tão bem, que eu achei que poderia contar-lhe que, na tarde anterior tínhamos chamado um outro médico, que Agostinho queria consultar também. Eu não tinha acabado de falar, quando imediatamente seu rosto pálido ficou vermelho e ele, com uma rapidez incomum respondeu que nós iríamos imediatamente enviar descul-pas, sim, ele inclusive me repreendeu, que eu não havia falado sobre isto já pela manhã, assim ele teria economizado esta despesa. Entretanto, como o Dr. estivesse altamente nervoso e confuso em seus pensamentos, achei me-lhor não dizer mais nada além de que somente na hora do jantar ele havia voltado a si, com o que ele, entretanto, não estava satisfeito. Ele estava tão confuso durante todo o dia, que falava incoerentemente toda a tarde; princi-palmente, ele falava sueco com todos os brasileiros que chegavam, com o que eles ficavam muito confusos e achavam melhor sair novamente. Hoje (alguns dias após ter sarado), ele está bem, embora cansado.

Dá uma impressão terrível, quando o Dr., depois de ter estado desacor-dado 1½ dia, dá reprimendas assim que acorda por ter que aceitar dívidas porque nós, de boa vontade, chamamos um médico. O médico foi generoso e não queria receber nada, uma vez que era um colega que estava doente. O Dr. reclamou até das outras despesas com o mensageiro, para um brasileiro, que depois disse que o Dr. R., “mesmo com um pé na cova, continua a amar-rar seus maços de dinheiro.” O farmacêutico tenciona pagar tanto o mensa-geiro para o médico quanto para Augusto Westin.

Em maio de 1870, Regnell escreveu que os ataques tinham começado a vir com mais frequência e, após uma convulsão prolongada, ele queixou-se de

Page 200: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

200

que a memória tinha piorado.490 Magnus Huss funcionou durante um longo tempo com médico de Regnell através de cartas-Ele escreveu a Clason que Regnell tinha arritmia cardíaca, o que ele achava preocupante. “Isto sugere um problema cardíaco orgânico, que na idade dele pode terminar sua vida. Pode ser que os ataques espasmódicos tenham relação com o coração.” 491 Huss pediu a Clason para escrever a Regnell para que ele cuidasse de seus negócios, pois o próximo ataque poderia ser o último e que ele mesmo tam-bém iria escrever. Em agosto de 1871, Regnell se sentia melhor, mas em 1872, Huss escreveu:

As notícias sobre Regnell são lamentáveis, nova convulsão, provavelmente relacionada a um problema cardíaco. Seja feita a vontade de Deus! Feliz-mente, pelo menos a maior parte das doações dele para a Universidade che-garam aqui.492

O cônsul geral Åkerblom tinha enviado um jornal brasileiro a Clason em 1871, onde constava que Regnell havia falecido. Åkerblom estava em dúvida sobre a notícia, enquanto ela não fosse confirmada por outra fonte. Clason escreveu em todo o caso a Regnell contando o que ele tinha ouvido e acon-selhou-o a enviar suas economias para a Suécia e escreveu também que a Academia de Ciências podia se considerar feliz porque a doação que Regnell lhe havia prometido havia sido realizada, de forma que eles evitaram ter que discutir com os executores testamentários. “Mas o que aconteceria com Mo-sén se Regnell estivesse morto quando ele chegasse ou morresse enquanto Mosén estivesse em Caldas?” perguntou Clason, que também mencionou que Mosén tinha interrompido sua carreira de professor para viajar para o Brasil.493

Em 1872, o próprio Regnell queixou-se de que a memória tinha piorado após os ataques e que muitas vezes, após os ataques em 1870, ficava parado com uma planta para pensar onde no sistema ela se encaixava.

Isto fazia com que eu virasse as costas para o ramalhete - montasse a cavalo para dar uma volta somente para desfrutar do verde e da beleza das flores, sem colher nada para o herbário.494

Um dos tratamentos a que Regnell se sujeitava era a sangria. Sangria ou suc-ção era um método antigo de tratamento, cuja simples ideia era que a “do-ença” no corpo sairia com o sangue. O médico militar francês François Brouissais, que foi sargento no exército de Napoleão e seu discípulo Jean Baptiste Bouillard, que foi o internista dominante no início e meados de

490 UUB x285m1, maj 1870. 491 UUB x285m3, 19/6 1870. 492 UUB x285m3, 18/4 1872. 493 UUB x285m2, 2/5 1871. 494 UUB x285m1, 9/4 1872.

Page 201: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

201

1800, levou a sangria a níveis extremos. Mais de dois litros de sangue po-diam ser drenados de pacientes com pneumonia, bem como o uso de san-guessugas. Diz-se que os hospitais estavam inundados de sanguessugas. Ha-via falta de sanguessugas em muitos países e a Hungria se tornou uma grande exportadora destas. Alguns médicos começaram a duvidar do valor de drenar tanto sangue, mas era difícil encontrar um grupo controle, porque todos eram drenados. O médico polonês-austríaco Joseph Diethl mostrou em seu artigo Der Aderlass in der Lungenentzündung , publicado em 1849, que os que não tinham sido submetidos a sangria tinham uma sobrevida melhor que os san-grados.495 A popularidade do método diminuiu posteriormente com rapidez, entre os médicos, mas permaneceu entre curandeiras até o fim do século 19. Clason estava, portanto, mais bem informado que Regnell quando, devido às sangrias de Regnell, ele escreveu que os médicos atuais evitam drenar sangue, mas perguntava como ele, um leigo, poderia julgar o que era melhor, era o mesmo que perguntar a um cego sobre cor.496

Regnell acreditava que o trabalho em cooperação com Mosén, que então viria para Caldas, seria restrito a dar conselhos a ele. As hemoptises aumen-taram novamente em 1874 e ele acreditava que eram devido a que ele tinha comido mais carne de vaca após a chegada de Mosén. Ele havia então utili-zado sanguessugas e a tosse tinha então diminuído. Ele próprio não acredi-tava que ela fosse causada por tuberculose, mas que ele tinha um problema cardíaco.497

Leonard Åkerblom havia convidado Regnell a fazer companhia à família Åkerblom em uma viagem para a Europa em maio de 1876, mas ele não acreditou poder acompanhá-los. Seria difícil poder observar todas as medi-das de precaução que costumavam melhorar sua tosse. Se todas elas pudes-sem ser observadas, ele também não sabia quais as vantagens ele teria da viagem. Ele escreveu que ele preferia, quando o tempo permitia, sair a cavalo em longas cavalgadas e competir com os brasileiros de mesma idade, nasci-dos em cima de cavalo. Ele escreveu ademais:

A pé eu sempre fui fraco desde o começo (1838), devido a meu problema pulmonar. – não posso ficar perto de fumaça de cigarro sem ter uma tosse violenta. Tenho que frequentemente trocar de roupa de forma a manter uma temperatura constante e, se fico suado, trocar rapidamente a camiseta ou ves-tir mais roupa. De manhã é pior – e por causa da tosse pela manhã, não posso me levantar muito cedo.498

495 UUB x285m1, 9/4 1872. 495 Lagerkvist, Ulf: Från Hippokrates till molekylär medicin, Stockholm 1993. Sanguessugas eram usadas contra todos os tipos de doenças. No ano de 1850, calcula-se que 800 000 foram usadas na Suécia, segundo informação do Museu Nacional de História Natural. 496 UUB x285m2, 3/9 1873. 497 UUB x285m1, 29/1 1874. 498 UUB x285m1, 23/3 1875.

Page 202: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

202

No quintal de sua casa em Caldas ele havia mandado construir um tubo de metal alto, através do qual ele respirava ar puro, sentado várias horas por dia. O povo em Caldas contava que a única coisa que podia tirá-lo dali era se uma mulher que fosse dar à luz necessitasse de ajuda.499 O famoso médico brasileiro Vital Brazil morou em Caldas na meni-nice e conheceu então Regnell. Ele escreveu em suas memórias

Em dias claros e ensolarados ele saia com seu cavalo cor de canela, com um chapéu do Chile na cabeça, um grande lenço de seda que protegia suas ore-lhas e nariz, os olhos protegidos por um par de óculos escuros. Ele tinha botas longas e levava na mão uma foice que era uma pá ao mesmo tempo.500

Em suas memórias, o doutor Oscar Piraja Martins escreveu sobre os primei-ros médicos em São João da Boa Vista (citado de Jaime Splettstoser). Sobre Regnell ele escreveu que ele

tinha muito medo de ficar resfriado. Ele começava o dia vestindo várias ca-misas e tirava depois uma a uma, à medida que ficava mais quente, de forma que, depois do almoço, ele só vestia uma. Quando mais tarde ficava mais frio ele vestia uma sobre a outra, até que finalmente ele vestia o mesmo número que de manhã.501

Na última carta que Isak Gustaf Clason escreveu para Regnell, ele contou que havia comprado roupas que seriam enviadas a Caldas com Severin, um farmacêutico amigo de Regnell, que estava de visita na Suécia:

[…] 2 pares de camisetas de algodão, cuecas de qualidades variáveis, mais para saber se talvez ambas possam ser usadas, um dos pares custa 14 coroas, o outro é muito mais barato, somente 6,50. 2 camisetas do mesmo lote que Você comprou através de Mosén custam 4 coroas cada. Além disso, por re-comendação de Huss, acrescentei uma que parece ser muito adequada, pois quando é vestida, fica um espaço vazio entre os pontos, o que faz com que sempre fique uma camada de ar, o que faz com que estas chamadas camisas perfuradas sejam mais quentes que as totalmente vedadas.502

499 Jaime Splettstoser, comunicação pessoal. 500 Citado do capítulo 12 em O médico Regnell no Mistério do Consul. de Júlio Olivar, Rondônia 2005. 501 Splettstoser, Jaime Junior: Alemães, suecos, dinamarqueses e austríacos em São João da Boa Vista, São Paulo 2003, p. 69–72. 502UUB x285m2, 16/7 1880.

Page 203: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

203

Figura 56. Regnell nos últimos dias de vida. Foto C. da Silva Araújo.

Regnell não havia aceitado um convite para jantar durante mais de 20 anos. “Como eu poderia evitar se viajo para a Europa?” escreveu ele por motivo do convite de Åkerblom de acompanhar na viagem para a Europa. No dia 17 de maio de 1876 ele voltou a pensar em viajar, mas perguntou a Clason se seria possível já de antemão dizer não a todos os jantares de cerimônia aos quais ele calculava que seria convidado. 503 Apesar de tudo, ele não conse-guia abandonar a ideia de mais uma vez poder tocar a mão de seus amigos, como ele escreveu, mas alguma viagem nunca aconteceu. Ele estava nestes anos

preocupado com um som pulsante ou de batida no ouvido esquerdo, que se parece exatamente com os sons dos batimentos cardíacos de fetos ouvidos quando se coloca o ouvido no abdômen de uma mulher grávida, tanto quanto à velocidade como quanto à natureza – ou quanto à velocidade, semelhante ao tique-taque de um relógio de bolso do passado, como em nossa moci-dade[...] Considerando ser a pressão arterial em algum dos nervos do ouvido, devido a ficar muito sentado e assim causado esforço intelectual.504

Por meio de um longo passeio a cavalo, ele queria levar o sangue para as extremidades inferiores e havia tido completo sucesso, segundo o que infor-mou a Clason. Mosén, que se encontrava em casa de Regnell de 1873 a 1877, achava que Regnell estava estranho, letárgico e irritável.505

Em 1879, Huss achava que os dias de Regnell estavam contados. 506 Ape-sar do pessimismo de Huss, Regnell aguentou fazer uma viagem a cavalo até

503 UUB x285m1, 17/5 1876. 504 UUB x285m1, 29/4 1875 505 UUB x285m4, 12/6 1877. 506 UUB x285m3, 17/10 1879.

Page 204: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

204

Pedra Branca, o topo mais alto da Serra de Caldas, para conseguir um belo exemplar de uma orquídea que ele sabia existir no local.

Quando Mosén voltou para casa, Regnell pediu a ele que comprasse uma estufa de ferro em Hamburgo e que enviasse a Caldas, para aquecer a casa na época do frio. 507 Quando ela finalmente chegou depois de um ano, ele escreveu que tinha sido obrigado a acendê-la durante oito dias seguidos, pois ele havia se tornado muito mais sensível às mudanças de temperatura e achava que a tosse piorava com o frio. Nos últimos anos de vida, ele procu-rava diminuir a tosse terrível através do uso de roupas quentes e de manter o corpo em equilíbrio, suando pouco e, por isso, trocava de camiseta e calções várias vezes ao dia, de acordo com as mudanças de temperatura. O jornal Ny Illustrerad Tidning havia pedido uma foto dele, mas ele proibiu Clason de entregar alguma.

Peça-lhes para esperar um pouco mais, vai haver ocasião para um obituário, se eles quiserem. Eu ainda consigo me levantar e mexo nos meus cômodos, mas tusso muito e me canso facilmente com o mínimo esforço, por exemplo mudar um dissecado de um pacote para colocar em outro, raramente aguento fazer isto mais que 30 minutos de cada vez, tenho que descansar na rede o mesmo tempo para poder voltar ao trabalho. Lembre-se, logo alguém vai morrer.508

Sua capacidade respiratória estava mais e mais limitada. 509 No ano antes de sua morte, ele descreveu para Edward (Isak Gustaf já havia morrido) que o coração batia muito irregularmente e que pés e mãos tinham inchado. 510 Apesar disso, ele montou a cavalo novamente para coletar plantas mais uma vez, quando ele de repente teve uma nova convulsão, após um bom tempo sem ter tido espasmos. Ele caiu ao chão e teve convulsões repetidas, só re-cobrando a consciência após 40 horas. Ele sentiu então que a morte se apro-ximava e por isso fez questão de que seu testamento fosse assinado e teste-munhado. Nos últimos dias ele só falou sueco e tão baixo que quase não se escutava, falecendo no dia 12 de setembro de 1884. Seu amigo desde que havia chegado a Caldas, August Westin, estava presente em seu leito de morte e foi ele também que cuidou dos negócios dele em Caldas após a morte.

507 UUB x285m1, 9/2 1879. 508 UUB x285m1, 9/2 1879. 509 UUB x285m1, 12/12 1879. 510 UUB x285m1, 29/5 1883.

Page 205: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

205

Prêmios durante a vida

De preferência, Regnell não queria que suas doações recebessem atenção, mas era difícil, naturalmente, manter em segredo doações tão grandes. Os professores Magnus Huss e Olof Glas atuaram para que Regnell recebesse a Ordem da Estrela Nórdica, apesar de Isak Gustaf Clason, que o conhecia melhor, não aconselhar. Isak Gustaf escreveu para Edward:

Você alguma vez comentou que Glas está procurando conseguir a Estrela Nórdica para Regnell e eu lhe respondi para pedir a ele que não o fizesse? Se ele o fizer, não respondo caso Regnell tome de volta tudo o que ele deu; ou nunca dê mais. Huss me informou que por 2 vezes ele já recebeu um não determinado de Regnell sobre a Estrela Nórdica e pensava em obtê-la para ele apesar disso, eu lhe pedi que deixasse de lado e avisei sobre as conse-quências, o que eu por meio desta peço para fazer com Glas.511

Huss arranjou em todo o caso que os jornais escrevessem sobre o fato, mas infelizmente ele foi chamado de Axel Regnell. Regnell foi inundado nova-mente de cartas de pedintes do mundo inteiro e por algum tempo pareceu que ele iria reagir com não dar mais qualquer dinheiro, mas através da atua-ção branda de Clason tudo se resolveu.

Em Upsala se havia discutido de dar a Regnell o título de Professor, mas Isak Gustaf Clason ficou em dúvida e escreveu a Edward que ele, Mesterton ou Glas deveriam escrever-lhe e perguntar o que ele achava disto, mas Cla-son escreveu ao mesmo tempo:

Sem dúvida creio que ele gosta mais de saber que suas doações deram frutos ou que os prédios ficaram prontos e por este motivo mais inclinado a doar que por um título de professor.512

Em uma carta para Clason em 1862, Huss contou que ele havia enviado a sugestão de uma carta de doação para o Hospital Serafimer a Regnell. Assim que a doação fosse resolvida, Huss procuraria obter Estrela Nórdica para ele – algo que Huss supunha que Regnell não recusaria receber. 513 Após a carta de doação ser assinada e Regnell ter enviado uma letra de câmbio de 900

511 UUB x240 [Regnell],

28/11 1862. 512 UUB x240 [Regnell], 13/12 1865. 513 UUB x285m1, 3/4 1862.

Page 206: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

206

libras esterlinas, a ordem da Estrela Nórdica lhe foi enviada, apesar da resis-tência de Regnell. Huss escreveu: “espero que Regnell não esteja descon-tente com ela”. 514 Em 1875 ele recebeu a ordem norueguesa de Santo Olaf e, em 1876, a ordem Vasa superior de comandante. Nesta ocasião, ele rece-beu cartas de pedidos do mundo inteiro, inclusive do “cavalheiro da indústria de Chicago”515 A ordem Vasa foi acompanhada por uma carta que dizia que Regnell não precisava pagar para recebê-la, algo de que somente os cava-lheiros da ordem Vasa estavam isentos. Ele escreveu para Clason

que ele nunca havia usado a ordem da Estrela Nórdica, que tinha ficado numa gaveta durante muitos anos e também não havia usado a ordem de Santo Olaf. Assim ia ocorrer também com o novo disco.

Sua saúde fazia com que ele mais permanecesse em casa e, portanto, não ti-vesse qualquer uso para medalhas. A carta está assinada “O eremita Rn.”516 Clason respondeu que ele também nunca tinha usado suas medalhas e espe-rava não ter que usá-las. Se ele viajasse para a Alemanha, aí sim ele as levaria, pois lá eles são fascinados por isto e usá-las poderia ter um resultado vanta-joso.517

Na festa do jubileu em razão dos 400 anos da Universidade de Upsala em 1877, Regnell se tornou doutor de honra da faculdade de filosofia, pelo que ele se sentiu honrado e ele escreveu a Clason que seria falta de educação não aceitar. 518 Ele enviou então uma lista de suas informações biográficas (ver pag. 56, fig. 14) e ele pediu a Edward, que era membro da faculdade, para representá-lo na promoção. Devido à carta de doação de Regnell, inclusive Isak Gustaf foi convidado, o que por todos “foi considerado como um teste-munho da atenção e agradecimento a Regnell e a seu representante na Sué-cia”, segundo o que Isak Gustaf relatou.519 Clason contou os tiros de canhão quando o presidente ergueu a coroa de louros e promoveu Regnell em sua ausência. Ele não recebeu o diploma de doutor, mas a coroa lhe foi enviada a Caldas. Na mesma caixa havia o menu do jantar e as listas de lugar nas mesas.

Regnell foi membro da Sociedade Sueca de Médicos desde 1845 e tornou-se membro honorário em 1865. No mesmo ano ele tornou-se membro hono-rário da Sociedade Científica Real de Upsala. Em 1871, ele se tornou mem-bro honorário da Sociedade de Médicos de Upsala e em 1878, da Associação de Ciências e Letras de Gotemburgo. No ano de1870, ele se tornou membro

514 UUB x285m3, 10/4 1863. 515 UUB x240 [Regnell], 24/7 1876. 516 UUB x285m1, 24/5 1876. 517 UUB x285m2, 26/11 1876. 518 UUB x285m1, 23/7 1877. 519 UUB x285m2, 13/11 1877.

Page 207: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

207

da Academia Real de Ciências. Regnell também foi membro da Societas bo-tânica Ratisbonnensis desde 1867 e do Museu Imperial e Nacional do Rio de Janeiro desde 1871.

Page 208: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

208

O legado na Suécia

Quando a notícia do falecimento de Regnell chegou à Suécia, muitos jornais escreveram sobre o rico mecenas. Em Upsala houve uma celebração na Sala Carolina na Carolina Rediviva (biblioteca da Universidade de Upsala, N.T.) no dia 6 de março de 1885, com um discurso do professor Per Hedenius.520 Esta foi a última grande reunião no antigo salão de festas da universidade; ele foi renovado posteriormente, de forma que melhor pudesse ser utilizado para sua verdadeira função como biblioteca. Hedenius fez o resumo da his-tória e atividades de Regnell, bem como de suas doações. O ato terminou com música e uma poesia especialmente escrita por Frithjof Holmgren.

Figura 57. Professor Per Hedenius. Seção de Mapas e Imagens, UUB.

520 Hedenius, Per: Till minne av Anders Fredrik Regnell, Upsala Läkareförenings förhand-lingar 1884–1885, band 20, nr 4, p. 249–270.

Page 209: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

209

Em Estocolmo também houve uma grande comemoração organizada pela Academia Real de Ciências, pelo Instituto Karolinska e a Sociedade Sueca de Medicina, com discurso do professor Carl Gustaf Santesson.521 Entre 1 400 e 1 500 convites tinham sido enviados. O príncipe herdeiro Gustaf e a princesa real Viktoria honraram o ato com sua presença (o rei Oskar e a rai-nha Sofia estavam no exterior), bem como ministros suecos e noruegueses, membros das duas câmaras do parlamento e representantes da faculdade de medicina de Upsala. Ali também a festa foi emoldurada com música e poe-sias especialmente escritas sobre Regnell.

Figura 58. Professor Carl Santesson. Seção de Mapas e Fotos, UUB.

Finalmente realizou-se uma grande comemoração sobre ele no aniversário da Academia Real de Ciências, no dia 26 de março de 1888, quando o pro-

521 Santesson, Carl: Minnesteckning över A. F. Regnell. Hygiea 17, 1885, p.

461–485.

Page 210: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

210

fessor Axel Key descreveu suas lembranças. Como um adendo em seu dis-curso, que foi publicado nos documentos da Academia de Ciências, há uma exposição detalhada de todas as doações de Regnell.522

Para o aniversário foi cunhada uma moeda de honra. Na frente vê-se o busto de Regnell com a inscrição “Andreas Fredericus Regnell medicus” e abaixo “Natus 1807, obitus 1884.” Na parte posterior, sob uma coroa de lou-ros, está gravado “Patria heres famam servat” 523 Ao redor da coroa está gra-vado: “Socio de scientiæ naturalis meritíssimo Regia Academia scientiarum suecica 1888”.524

Figura 59. Medalha da Academia Real de Ciências. A medalha

pertence a Jaime Splettstoser Junior.

522 Key, Axel: Anders Fredrik Regnell. Levnadsteckning, föredragen 26/3 1888. Levnads-teckningar över Kungl. Svenska Vetenskapsakademiens ledamöter, band 3, nr 63, 1891, p. 97–159. 523. A terra natal, a que ele fez de herdeira, mantém sua reputação. 524.Da Academia Real de Ciências para seu membro altamente merecedor pelo progresso das ciências naturais.

Page 211: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

211

O doador generoso

O conjunto das doações de Regnell para instituições estatais para fins cien-tíficos na Suécia, em 1888, foi de 870 997, que em valor atual equivale a mais ou menos 53 800 000 de coroas.

Quando os jornais, durante a vida de Regnell, publicavam sobre suas do-ações, frequentemente acentuavam sua enorme generosidade e este foi tam-bém um tema que retornou nos discursos por ocasião das comemorações após sua morte. Naturalmente é impossível com certeza determinar os moti-vos que ele tinha, mas estudos antropológicos e sociológicos têm indicado que uma doação não correspondida leva a uma dívida e assim, a uma relação de dependência. Este raciocínio foi desenvolvido especialmente em um es-tudo de economia social na rede ao redor do pai de Isak Gustaf Clason, o dono de indústria de mesmo nome em Furudal.525 Um conceito criado por Marcel Mauss é a lógica da doação, com cuja ajuda o poder entre os atores em uma rede se dividem.526 De acordo com Mauss, a condição na sociedade é determinada de acordo com as regras da doação. Quando uma relação se estabelece através de doações, aquele que recebe o maior valor na troca tem a condição mais baixa. Doação é uma ação voluntária, mas existe todo o tempo a esperança de um retorno. A lógica da doação só pode existir se hou-ver uma confiança pessoal na rede, como era o caso entre os industriais na época do velho Clason. Uma confiança no sistema, por outro lado, só existe onde se acredita que as leis e outras instituições da sociedade funcionam. Regnell deu muitos exemplos de que ele não tinha confiança nas leis e tri-bunais no Brasil.527 A diferença entre Clason, que havia crescido com a ló-gica da doação dentro da rede em Furudal e Regnell, apareceu nitidamente quando Regnell escreveu uma vez e disse que “amizade e negócios são coi-sas diferentes, ou grandezas de diferentes tipos”. Regnell queria, na ocasião, que Clason cobrasse pagamento por seu trabalho; certamente poder-se-ia re-ceber dentro da rede, mas não foi expressado tão claramente.

As relações de dependência que as doações de Regnell criaram foram na-turalmente mais evidentes para seus parentes, que até sua morte viveram dos juros dele. Os filhos dos amigos Fant e Clason receberam bolsas de estudos.

525 Hasselberg, Ylva: Den sociala ekonomin. Familjen Clason och Furudals bruk 1804–1856. Acta Universitatis Upsaliensis. Studia Historica Upsaliensia 189, Uppsala 1998. 526 Mauss, Marcel: Gåvan. Lund 1997. 527 UUB x285m1, 24/9 1856.A vítima de um crime tinha ela mesma que levar sua causa a um tribunal, pois fiscais do ministério público frequentemente eram inexistentes.

Page 212: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

212

Este último agradeceu “humildemente” pela bolsa do filho. 528 Mas até a uni-versidade e outras instituições científicas tinham dívidas de gratidão para com ele e às vezes ficavam muito receosas de ofender o grande benfeitor. Um exemplo foi o professor de botânica Thore Fries, que estava muito pre-ocupado com desagradar Regnell. Ele havia recebido como missão escrever uma sugestão para o regulamento da utilização dos juros de um fundo de reserva para a instituição de botânica. Ele escreveu então a Clason:

[…] que eu estou igualmente tão desejoso como obrigado a satisfazer este desejo de Regnell é natural, mas desta forma sou obrigado a pedir um pouco de ajuda, de forma que a sugestão esteja tão de acordo com os desejos de Regnell quanto possível, tanto quanto à forma quanto ao conteúdo. 529

No outono ele escreveu novamente a Clason:

[…] o que não pouco ajudou a aumentar minha preocupação quanto ao futuro é que eu não ouvi uma palavra de Regnell. No verão passado eu escrevi a ele, de acordo com a recomendação do Tio, uma carta minuciosa, explicando inú-meras relações na botânica upsaliense e eu espero que ele não tenha achado qualquer palavra da qual se escandalizar[...] R. ficou desgostoso com alguma coisa? Vou ficar perto de 3 meses com um pouco de febre, até que eu receba resposta do Dr. R.530

Fries estava ansioso por se adaptar à vontade de Regnell em relação à orga-nização das plantas que ele tinha enviado para casa, mesmo que ele achasse ser melhor fazer de outra forma. Todos os visitantes que moravam na casa dele em Caldas, ou os bolsistas de Regnell, sabiam também que não se podia morder a mão que os alimentava.

528 UUB x285m2, 19/1 1877. 529 UUB x255m3, carta de Fries 2/7 1878. 530 UUB x285m3, carta de Fries 23/1 och 2/2 1879.

Page 213: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

213

Túmulo no cemitério de Caldas

Desde 1887, a Universidade de Upsala tinha conhecimento de que nada no cemitério de Caldas mostrava onde os restos mortais de Regnell descansa-vam, mas demorou até 1899 antes que alguma coisa acontecesse. Thore Magnus Fries informou, na reunião da Academia Científica no dia 10 de maio, que havia chegado uma carta do senhor L. Westin, membro de uma família sueca originalmente, que morava no Brasil. A carta dizia que não havia qualquer monumento sobre Regnell. 531 Foi organizado um comitê que iria trabalhar para que se levantasse um monumento para ele. Dele faziam parte o professor Veit Brecher Wittrock, que representava a Academia de Ciências, o professor Thore Fries da Universidade de Upsala (presidente do comitê), o professor Salomon Eberhard Henschen da faculdade de medicina de Upsala, o professor Karl Mörner, do Instituto Karolinska e o docente Al-fred Levertin, da Sociedade Sueca de Medicina.532

Um chamado a todos que quisessem honrar a memória de Regnell através de uma doação, para levantar um monumento, foi lançado em outubro de 1899. A coleta deu 3 686 coroas e a Universidade de Upsala contribuiu com mais 286 coroas (se a universidade já havia anteriormente contribuído com algo para a coleta é desconhecido). O professor Gustaf Clason, filho do velho amigo Isak Gustaf, desenhou a pedra tumular, que posteriormente foi feita pela firma Flodquist & Cia em Estocolmo, em granito totalmente polido. Ela ficou pronta em 1901 e, no final de 1901, enviada em quatro partes, via Go-temburgo, para Santos, no Brasil. Dali ela foi transportada de trem para Po-ços de Caldas sem problema, mas o transporte daí para Caldas foi mais difí-cil, devido aos caminhos ruins, que em alguns lugares tinham sido conserta-dos exatamente para a ocasião. Foram necessários 5 dias com 22 bois para puxar. Só no início de 1903 ela chegou ao cemitério de Caldas e depois fo-ram necessários 3 dias para carregar a pedra do portão do cemitério até o local do monumento. Segundo uma informação, uma primeira pedra desa-pareceu na aduana brasileira 533 e uma nova foi conseguida, mas alguma base para esta informação não existe no livro anual da Academia de Ciências de

531 Minnesvården över A. F. Regnell, Kungl. Vetenskapsakademiens årsbok 1904, p. 161–174. (O autor do artigo é desconhecido). 532 Levertin defendeu tese no Instituto Karolinska em 1875 com a dissertação Om Torpa källa, que foi a primeira tese de doutorado.do instituto. Ele se tornou mais tarde docente em balneologia e era, da mesma forma que Regnell, interessado em fontes. 533 Ferreira, Júlio Andrade: O Apóstolo de Caldas, Franca 1948 (nova edição 2010).

Page 214: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

214

1904, que descreve a chegada da pedra. Por outro lado, o cônsul geral Bols-tad notou que um pequeno pedaço da pedra maior havia quebrado durante o transporte, mas que o dano havia sido reparado com cimento.

Figura 60. Sepultura de Regnell em Caldas com o antigo escravo de Regnell Ga-

briel Adãozinho ao lado. Livro anual da Academia Real de Ciências 1904.

O monumento tem a seguinte gravação:

ANDREÆ FREDERICO

REGNELL

Nato in Suecia MDCCCVII

Denato in Caldas MDCCCLXXXIV

NATURALIS SCIENTIÆ

ASSIDUO CULTORI

MÆCENATI LIBERALI

HOC MONUMENTUM

PIE POSUERUNT

CIVES SVECANI534

534 Sobre Anders Fredrik Regnell, nascido na Suécia em 1807, falecido em Caldas em 1884, enérgico promotor das ciências naturais e da medicina, generoso mecenas, o povo sueco levantou este monumento em sua homenagem.

Page 215: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

215

O túmulo de Regnell não tinha qualquer marca, mas seu antigo escravo Ga-briel pode mostrar o local onde Regnell descansava, era um pouco ao lado no cemitério, em um canto junto ao muro. Todos em Caldas acharam, entre-tanto, que o monumento deveria ser colocado bem na frente. Regnell tinha ele próprio determinado que seu corpo seria colocado em dois caixões, um dentro do outro, “para o caso de ser atual levar seu corpo ou ossos para casa”. Não seria, portanto, tão difícil encontrá-lo. Realmente, os dois caixões foram encontrados, mas eles já estavam em condições ruins. Os sapatos de Regnell foram, entretanto, reconhecidos por Gabriel. Após os ossos serem desenter-rados e desinfetados, eles foram colocados em um pequeno caixão, que foi colocado sob o monumento.

Figura 61. Inauguração do túmulo de Regnell. Foto: Livro anual da Academia Real de Ciências, 1904.

O cônsul geral da Suécia e da Noruega, Jens Martin Bolstad, relatou a inau-guração do monumento em uma carta para Thore Fries, que pode ser encon-trada no livro anual da Academia de Ciências de 1904. Presentes à inaugu-ração estavam, além de Bolstad, o representante do município, coronel Vaz Pereira, o juiz doutor Gentil de Rangel, o pároco de Caldas, Joaquim As-sumpção e cerca de cinquenta moradores de Caldas, entre outros os escravos libertados Gabriel, Adãosinho e Domiciano. Os antigos escravos Pedro, Rita e a empregada de Regnell, Maria Julia, não estavam presentes. O povo de Caldas e, principalmente, seus antigos escravos, falavam dele com carinho e

Page 216: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

216

simpatia, diziam que ele sempre era bom para com eles e que eles tinham dele uma lembrança querida, segundo o que Bolstad escreveu na carta.

Durante a inauguração, o monumento foi ladeado pelas bandeiras sueca e brasileira. O juiz Gentil de Rangel fez um pequeno discurso, em que ele, em nome do comité local e de Lourenço Westin, declarou o monumento inau-gurado. Em seguida foi lido um discurso, escrito pelo doutor Pedro Sanchez de Lemos (que estava impedido de estar presente). No discurso ele disse que Regnell tinha sido de grande ajuda a ele quando este se estabeleceu como médico em Poços de Caldas em 1873. Ele elogiou Regnell como médico e disse:

[...] os ensinamentos do sábio médico [...] tiveram para mim tanto valor, que a maioria de meus êxitos estão relacionados a ele, quando dei os primeiros passos na vida prática.

Ele contou além disso que Regnell havia deixado 5 500 mil réis a 5½%, de títulos bancários para o hospital de Caldas. Os juros deste valor eram utili-zados ainda em 1903 para tratar dos doentes da região. Um exemplar em ouro da moeda em memória de Regnell foi depois entregue ao cônsul geral Bolstad e ao doutor Pedro Sanchez de Lemos e um exemplar em prata ao coronel Vaz Pereira, ao doutor Gentil de Rangel, ao pároco Dom Joaquim Assumpção e ao senhor Lourenço Westin em São João da Boa Vista.

Aos 50-anos da morte de Regnell, celebrou-se uma cerimônia no cemité-rio de Caldas. O ministro da Suécia no Brasil, Ragnar Kumlin, colocou uma coroa nas cores azul e amarela em seu túmulo, em nome da Universidade de Upsala, da Academia Sueca (provavelmente seria Academia Real de Ciên-cias) e do instituto Karolinska.

O prefeito de Caldas contou, em uma conversa com o ministro Kumlin, que a cidade de Caldas planejava comprar a casa em que Regnell tinha mo-rado em vida e lá fazer um museu.535 Faltava somente uma quantidade rela-tivamente pequena de dinheiro para realizar estes planos. Entretanto, eles não foram realizados. Hoje sua casa já não existe e algum museu nunca foi fundado.536

535 Dagens Nyheter 15/9 1944. 536 Informação pessoal de Jaime Splettstoser 11 outubro de 2010.

Page 217: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

217

Figura 62. Monumento de Regnell no ano de 2010. Foto Jaime Splettstoser júnior.

O antigo cemitério de Upsala Na Suécia, muitos dos que, de uma forma ou de outra, fizeram parte do cír-culo ao redor de Regnell, obtiveram o último descanso no antigo cemitério de Upsala: o pai Anders Ringnell, a madrasta Catharina Demin, o padrasto Erik Pettersson, o discípulo de Linné, Carl Peter Thunberg, o arcebispo Carl Rosén von Rosenstein, o médico chefe Per von Afzelius, o professor Linne-anus Göran Wahlenberg, os professores de cirurgia Adolf Murray, Henrik Wilhelm Romansson, Carl Benedict Mesterton e Karl Gustaf Lennander, os professores de medicina Israel Hwasser, Olof Glas, e Salomon Eberhard Henschen, seu pai, o juiz de primeira instância Lars Wilhelm Henschen e o filho Folke Henschen, o professor de anatomia Edward Clason, seu filho Fredrik Clason e a esposa Ingeborg Ullf, o professor August Almén e sua

Page 218: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

218

esposa Susanna Fries, os professores de fisiologia Frithiof Holmgren e Hjal-mar Öhrvall, o professor de patologia Per Hedenius, o professor de química e mineralogia Lars Peter Walmstedt, o professor de física Knut Ångström, os professores de botânica Elias Fries e Thore Magnus Fries, o mestre aca-dêmico David Magnus Schedwin, o comerciante Gabriel Wilhelm Gillberg, o maestro Oscar Arpi, o representante jurídico da catedral Johan Gustaf Sch-ram e o fotógrafo Henrik Osti.

Figura 63. Capela no antigo cemitério de Upsala. Logo à esquerda da entrada da capela e um pouco à direita da árvore, ao fundo, vê-se o tú-mulo de Anders Ringnell. Foto Monica Sandberg.

Page 219: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

219

Fontes e referências

Este livro baseia-se em sua maior parte nas coleções de cartas existentes na seção de escritos à mão na biblioteca da Universidade Carolina Rediviva em Upsala (UUB). Fredrik Clason doou as cartas de Regnell a Isak Gustaf Cla-son para a biblioteca da universidade de Upsala. Elas se encontram sob o código x285ml. Clason tirava sempre cópias das cartas para Regnell (x285m2). As cartas que Regnell recebeu de outras pessoas não estão pre-servadas, mas uma vez que Regnell sempre as citava em suas cartas para Isak Gustaf Clason elas podem ser lidas frequentemente em x285m1. Cartas para Isak Gustaf e Edward Clason de pessoas com sobrenome começado com A até He estão em x285m3 e nomes que começam com Ho até Ö, em x285m4, bem como as cartas restantes para Isak Gustaf Clason em x285m5. Algumas cartas de Regnell para Isak Gustaf Clason são muito difíceis de ler, especialmente nos casos em que Regnell escreveu com tinta preta em um sentido do papel e ao contrário com tinta vermelha na perpendicular. As le-tras foram modernizadas, mas a ordem das citações foi conservada.

No grande arquivo sobre Salomon Eberhard Henschen, há muitas cartas de Regnell para Henschen com o código S.E.Henschen 11. Os papéis do Brasil deixados por Henschen estão em S. E. Henschen 29, que também con-tém anotações espalhadas do diário da época antes da viagem, sobre a pró-pria viagem para Caldas e algo sobre a época lá, mas um verdadeiro diário não existe. As cartas de Salomon a seu irmão Josef estão no código S. E. Henschen 24. Uma carta de Henschen para Thore Fries, que descreve a via-gem para o Rio existe sob o código G70 ca 10 (carta X77).

O artigo de Ossian Dahlgren Anders Fredrik Regnell och hans svenska gäster i Brasilien (Anders Fredrik Regnell e seus hóspedes suecos no Bra-sil), na revista Svensk botanisk tidskrift 1962, contém muitas informações valiosas que Dahlgren recolheu do filho de Salomon Henschen, Folke. Dah-lgren conseguiu para si uma tradução do livro de Da Silva Araújo Dupla personalidade de um ilustre botânico -Regnell e o “dr. André”, Sábio, en-fermo e emigrante, Estudos Brasileiros, Ano III, vol. 8 no. 24, Rio de Janeiro 1942 e faz citações do livro em sua tese.

Anders Fredrik Regnell também é citado em alguns livros. O livro de Axel Paulin Svenska öden i Sydamerika (O destino de suecos na América do Sul), Estocolmo, 1951, baseia-se parcialmente em estudos do arquivo con-sular, mas não é totalmente confiável em suas informações de fatos.

Page 220: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

220

O livro de Jaime Splettstoser Alemães, suecos, dinamarqueses e austría-cos em São João da Boa Vista, São Paulo, 2003, é escrito em português, mas o autor me traduziu para o inglês, de bom grado, as páginas 69 a 72, que dizem respeito a Regnell. O capítulo 12 em um livro sobre a família Westin, Mistério do Cônsul, de Júlio Olivar, (ver acima nota de rodapé 500), diz respeito ao médico Regnell. O capítulo foi traduzido muito atenciosamente do português por Karin Ekström, Taguatinga, Brasil, bem como as partes do livro de Júlio Andrade Ferreira O Apóstolo de Caldas (ver acima nota de rodapé 533) que dizem respeito a Regnell.

Page 221: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

221

O testamento de Regnell

O testamento de Regnell diz:537 Eu, André Frederico Regnelli,, formado em Doutor em Medicina pela

Universidade de Upsala, nascido a 7 de junho de 1807, filho do estalajadeiro Anders Rengnell de Upsala, declaro que, eu, com sãs e plenas faculdades mentais, de livre vontade própria, resolvo fazer meu testamento e, como meus pais já faleceram (e) eu não sou nem fui casado, faço-o da seguinte forma:

1:.o) Eu dou com minha morte total liberdade a minha escrava Rita e cem mil reis de presente. 2: o) às filhas da mencionada Rita, Delmina e Maria Júlia, que eu anteriormente declarei livres, com a obrigação de servir até que tivessem 21 anos, que continuem a prestar o serviço que (para elas) falta, para o Sr. August Rudolf Westin ou para quem ele determine. 3:o) os filhos libertos de Rita, Canuto e Pedro, desejo que eles sejam deixados com o Sr. August Rudolf Westin, para que eles também recebam uma educação condi-zente. A mãe, Rita, terá, entretanto, direito de manter uma de suas filhas ou filhos, se ela assim desejar. 4:o) Deixo meu escravo Gabriel para o Sr. August Rudolf Westin; 5:o) Eu dou meus utensílios domésticos, mesas e utensílios de cozinha, roupas de cama, minhas roupas de sair, relógios, bens preciosos, utensílios de viagem, jogos, etc, ao Sr. August Rudolf Westin, o que, entre-tanto, não poderá ser incluído na vigésima parte (que a ele corresponde) se ele for meu executor do testamento. 6:o) Eu deixo minha moradia, situada à rua Conde D’Eu e minha chácara ao lado, na mesma cidade, para a “Santa Casa de Misericórdia” ou “Hospital de Caridade”, que aqui será construído, quer seja na casa que o falecido vigário Francisco de Paula Freudade doou para este fim, ou em alguma outra, com a condição de que venha a pertencer ao município ou a alguma outra sociedade religiosa (Irmandade) e que venha a ser usada para este fim com sabedoria e que devam ser instituídos juros perpétuos no valor médio (destas casas) em benefício da manutenção, isto é, para custos de medicamentos e manutenção de pacientes pobres e desvali-dos., que poderão ser recebidos e mantidos por este hospital e decido para este fim, que minhas posses sejam vendidas em leilão oficial; os meios ad-quiridos desta venda serão depositados em poder do Conselho de Adminis-tração da Província ou em algum banco, que possa oferecer garantias; e caso os juros sejam transformados em novas obrigações e, até que o hospital seja

537 Brandberg, Theodor & von Bahr, Johan: Urkunder och författningar angående donat-ioner vid Upsala Kungl. Universitet (avskrift), Uppsala 1902, p. 145–147, bem como Större konsistoriets protokoll 25/10 1884 § 7, arvode för testamentets översättning från portugisiska samma dag § 9.

Page 222: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

222

devidamente aparelhado e funcione regularmente, a partir deste momento e futuramente estas obrigações serão transformadas em parte de seu capital e seus juros utilizados como eu (acima) decidi, tudo sob a supervisão do “Juiz da Provedoria de Capellas e Rezíduos” e demais autoridades devidas, às quais eu peço que supervisionem que esta determinação possa entrar em vi-gor e que fielmente seja cumprida. 7 :o) Deixo ademais duas letras de câmbio estatais, cada qual no valor nominal e um milhão de réis, para a mesma Casa de Misericórdia, com o mesmo fim. 8:o) Da mesma forma deixo meus ins-trumentos cirúrgicos e aparelhos elétricos para a Casa de Misericórdia. 9:o) Eu determino como herdeira do restante a Universidade de Upsala para o que restou (o líquido da herança) para que meu legado seja usado em benefício dos estudos médicos desta Universidade e colocados no fundo que eu lhes dei a 17 de março de 1872 e, segundo as determinações então feitas (con-forme os estatutos dispostos do mesmo). 10:o) e finalmente, nomeio como meu executor testamentário, como primeiro nome o Sr. August Rudolf Wes-tin, em segundo, na falta deste, o Sr. Doutor Gabriel Pio da Silva e em ter-ceiro, na falta de ambos estes senhores, o Sr. Manuel Pinto de Andrade, aos quais eu, para cada um, peço e convido que tenham a bondade de recuperar as dívidas que a mim sejam devidas, segundo os recibos de dívida e outros documentos e que eles, fielmente, possam preencher esta minha última no-meação.

Cidade de Caldas, 10 de maio de 1883.

André Frederico Regnell

Uma cópia do testamento foi entregue na Câmara Municipal de Upsala para acompanhamento a 23 de fevereiro de 1885. Devido às disposições no mo-mento 9:o no testamento, foram pagos da herança mais 57 592 coroas e 99 centavos e colocadas no fundo nos anos de 1885 a 1888

Page 223: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

223

Doações de Regnell para a Universidade de Upsala

Em uma carta em 1846, Regnell comentou pela primeira vez com Clason que pensava em testamentar seu dinheiro para a Universidade de Upsala. 538 Ele se sentia inseguro por sua vida porque um homem na noite anterior havia sido executado por engano na rua, defronte a sua casa. Os assassinos estavam atrás de um outro homem, mas se enganaram. Eles fugiram da justiça fu-gindo para o interior. No Brasil, não existia fiscal do ministério público nesta época, mas os que se sentiam injustiçados tinham que eles mesmos conduzir sua causa perante a justiça e os que não possuíam os contatos adequados, em geral não tinham chance. Regnell escreveu uma vez: “Deixar algo após si mesmo no Brasil é, para um estrangeiro, sim, para um sem família, inquie-tante.”539 Ele teve a ideia de deixar sua herança na Suécia para algum propó-sito “público” e um pouco mais tarde, ele escreveu: “no Brasil não se tem nenhuma segurança se não se tem amigos poderosos ou parentes. Um ho-mem rico solteiro [na região], foi roubado depois da morte, em 1 400 000 riksdales.540

As doações de Regnell são muito amplas e é difícil ter clareza somente através de suas cartas. A apresentação abaixo se baseia em grande parte no que Axel Key escreveu no Levnadsteckningen över K. Sv. V. A. Led. Bd 3 1888. Ele tinha então completado as fontes escritas com informações orais de Magnus Huss, Salomon Henschen, Gustaf Anders Lindberg, Edward Cla-son, Thore Fries, Per Hedenius e Johan Gustaf Brunnberg, entre outros.

No total, as doações de Regnell para a universidade e para organizações e sociedades a ela ligadas foram de 587897 coroas, que equivalem a 34 407 540 coroas segundo o índice de preços ao consumidor em 2009.541

538 UUB x285m1, 13/3 1846 539 UUB x285m1, 24/9 1856. 540 UUB x285m1, 20/9 1858. 541 587 897 coroas equivaliam ao pagamento de um tempo de trabalho de 507 172 562 coroas no ano de 2009, medidos pelo índice de salários para trabalhadores de indús-tria/peões. (Edvinsson, Rodney: www.historia.se/indexprisjamforelse.ht).

Page 224: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

224

O Regnelliano e o anatômico Regnell doou em 1864, 30 000 coroas para a construção das instituições de anatomia patológica e fisiológica e, para as instalações hidráulicas na casa, mais 3 500 coroas em 1868. Em 1880 ele doou mais 50 000 coroas para a construção das alas do edifício.

Fundo regnelliano menor da Faculdade de Medicina Para a Faculdade de Medicina, Regnell doou 8 000 coroas para, em primeiro lugar, serem utilizados como salário para amanuenses clínicos.

Fundo Regnelliano maior da Faculdade de Medicina Regnell doou, através de cartas de doação, em 17 de março de 1872, um fundo de 40 000 coroas para a faculdade de medicina de Upsala. Para este fundo foram acrescentados, através de cartas de doação especiais, a 17 de novembro de 1873 e 29 de janeiro de 1874 novos “fundos de reforço”, cada um de 40 000 coroas. Juntos somaram, portanto, 80 000 coroas.

Fundos Regnellianos de reserva542 Em 1875, Regnell fez uma doação para a Universidade de Upsala para pro-mover algo de acordo com os fins da fundação da universidade, para a cria-ção da chamada 1:a reservfonden (1º fundo de reserva), de uma soma de 40 000 coroas, mas reservou-se o direito de receber os juros durante 20 anos e, posteriormente, de decidir como o fundo seria utilizado. Caso não surgis-sem tais instruções, os juros seriam utilizados para promover os estudos mé-dicos de acordo com os regulamentos para o fundo de 1872, isto é Medi-cinska fakultetens större Regnellska fond .(Fundo Regnelliano maior da Fa-culdade de Medicina).

Em 1876, ele doou 40 000 coroas para um 2:o reservfond (2º fundo de reserva), com as mesmas disposições que para o primeiro fundo e já no mesmo ano um 3:e reservfond (3º fundo de reserva) de 40 000 coroas com as mesmas disposições.

No dia 2 de dezembro de 1878, ele estabeleceu um 4:e reservfond (4º fundo de reserva) de 40 000 coroas, com a mesma disposição de, na falta de outras instruções em relação aos juros quando estes estivessem disponíveis 542 Em uma carta para Edward a 20/11 1880 (UUB x285m1) Regnell escreveu que sua inten-ção com os fundos de reserva era que sempre existissem meios disponíveis para alguma oca-sião especial e que fossem úteis para os estudos médicos.

Page 225: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

225

para a universidade, que estes fossem então utilizados para promover os es-tudos médicos segundo os regulamentos válidos estipulados por ele com o mesmo fim que tinha, quando o fundo foi estabelecido em 1872.

No dia 17 de fevereiro de 1881, Regnell doou para a universidade mais 40 000 coroas para um fundo de reserva, o 5º. Na carta de doação, ele deter-minou que o fundo fosse utilizado para algo de acordo com os fins da fun-dação da universidade e que ele se reservava o direito de receber no futuro, ele mesmo ou através de alguma pessoa que ele indicasse, reservando-se, durante este tempo, a utilização de 5 % da renda anual, uma restrição que dizia respeito inclusive para o 4º fundo de reserva.

Em 1883, Regnell deixou, segundo a carta de doação do dia 24 de dezem-bro de 1882, a quantia de 16 500 coroas para um 6º fundo de reserva, desti-nado a aumentar até 40 000 coroas. Durante a vida do doador, somente a referida quantia foi depositada.

O capital inicial de todas estas doações foi, portanto, de 216 500 coroas. Em relação ao 4º fundo de reserva, Regnell determinou, na carta do 17 de

março de 1878, que os juros de todo o fundo de 40 000 coroas seriam utili-zados, após sua morte, para a instituição de botânica de Upsala para a compra de plantas vivas, sementes, etc., para o jardim botânico, instrumentos, entre outros, para estudo da fisiologia e anatomia vegetais na instituição, organi-zação e conservação das coleções de plantas brasileiras doadas por Regnell, etc. O fundo foi denominado nas contas da universidade como Regnells bo-taniska fond (Fundo botânico de Regnell).

De acordo com a carta de 20 de agosto de 1882, Regnell determinou que o 5ºfundo de reserva, após sua morte, seria dividido em dois novos fundos, isto é I. um fundo de 10 000 coroas com o nome de Zoologiska institutionens Regnellska fond (Fundo Regnelliano da instituição zoológica) e II, um fundo de 30 000 coroas com o nome de Medicinska fakultetens Regnellska fond för resestipendier (Fundo Regnelliano da Faculdade de Medicina para bolsas de viagem).

Bolsistas de Regnell O Professor de fisiologia Frithjof Holmgren, ativo no Regnelliano, foi bol-sista de Regnell em 1885, quando ele viajou para a Alemanha, Suíça e Áus-tria e, em 1891, para a Dinamarca, Alemanha e França, bem como em 1895 quando ele viajou para a Dinamarca, Alemanha e Suíça. Edward Clason tam-bém foi bolsista de Regnell em 1893 e viajou para a Polônia e Alemanha.543

543 Edward recebeu bolsa ainda durante a vida de Regnell; entre outras ele recebeu 600 co-roas para uma viagem a Leipzig, Bonn e Paris em 1876. (UUB x285m1, 29/3 1876, carta 147).

Page 226: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

226

Fundo de pensão Através da carta de doação de 23 de junho de 1873, Regnell doou para um fundo chamado de första förstärkningsfonden (primeiro fundo de reforço) 24 000 coroas, cujo valor, durante sua vida, poderia resgatar 5 porcento de juros, um juro que após sua morte seria recebido por alguns de seus parentes durante a vida deles. À medida que estas anuidades fossem interrompidas, um capital equivalente deste fundo seria transferido para o fundo da facul-dade de medicina de 1872, de forma que todo o fundo de pensão fosse trans-ferido posteriormente para a faculdade. No final de 1887, o fundo, que havia aumentado através de dois depósitos feitos por Regnell, cada um de 6 000 coroas, subiu para 36 000 coroas.

Fundo hospitalar Em 1885 foi dada uma contribuição de 10 000 coroas para um leito no hos-pital Akademiska.

Fundo de bolsa Regnelliano para estudantes de medicina Através de uma carta de doação no dia 5 de agosto de 1871, Regnell doou, em 1875, um fundo de 5 000 coroas, através de juros acumulados, não utili-zados por ele, de fundos anteriores, com um suplemento direto de cerca de 2 000 coroas. Os recebedores de meios do fundo seriam estudantes de medi-cina merecedores, com menos de 28 anos, de preferência para estudantes do centro acadêmico de Upland, se o interessado tivesse sido considerado tão merecedor quanto os concorrentes. No caso de méritos equivalentes, a ne-cessidade de ajuda deveria ser decisiva. O bolsista seria indicado pela facul-dade de medicina e poderia utilizá-la durante quatro anos, com possibilidade de 1 ano de prolongação. Os herdeiros em linha de sucessão direta até a ter-ceira geração de ambos os amigos de Regnell, Isak Gustaf Clason e o pároco Georg Gustaf Fant, independentemente a que estudos eles se dedicassem, teriam precedência à bolsa a cada segunda vez que ela estivesse vaga.

Doações com fins botânicos e zoológicos A primeira doação feita por Regnell foi para uma bolsa de viagem para sub-sídio de estudos botânicos. A carta de doação está datada de 26 de maio de 1859 e a soma inicial doada foi de 16 000 coroas. A bolsa é dada a cada

Page 227: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

227

cinco anos. Ele doou também 40 000 coroas para a instituição botânica e 10 000 para a instituição zoológica.

Page 228: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

228

Outras doações para instituições em Upsala

Bolsa Regnelliana para o centro acadêmico Upland Através da carta de doação de 17 de abril de 1863, Regnell doou 5 000 co-roas para um fundo destinado a bolsas para estudantes do centro acadêmico Uppland com menos de 28 anos. Na distribuição, segundo a carta de doação, no caso de méritos equivalentes, estudantes não nascidos em Roslagen te-riam precedência.544 Um dos escolhidos do centro acadêmico Upland para o comitê de proposição, com um inspetor como presidente, seis seniores e seis juniores, apresentaria três dos solicitantes como sugestão. Somente em caso de empate, o presidente votaria. Com esta sugestão, o presidente poderia in-dicar o bolsista, que podia receber a bolsa durante três anos, com um ano de prolongação. O primeiro bolsista foi Per Hugo Hagelin, que mais tarde se doutorou com a tese Stomatoskopiska undersökningar av franska språkljud 1889. (Exames estomatoscópicos dos sons da língua francesa, 1889).

Sociedade de Ciências de Upsala Uma doação de 15 000 coroas em 1875 para que a Sociedade tivesse meios de publicar trabalhos maiores e gravuras em sua Acta.

Sociedade upsaliense de medicina A Sociedade upsaliense de medicina havia sido constituída no outono de 1832, por iniciativa do professor de medicina prática Israel Hwasser.545 Nos regulamentos consta que a finalidade da sociedade era fomentar os estudos de medicina em direção a um espírito científico de alto nível, de confiança e

544 Por que estudantes de Roslagen teriam tratamento especial aparece em uma carta de Reg-nell para Isak Gustaf Clason: “[…] o motivo para os estudantes do centro acadêmico de Ros-lag não receberem bolsa foi que, quando Roslagen e Upland se uniram, os Rospiggar se re-servaram o direito particular e indivisível de utilização de suas bolsas, como se nenhuma união houvesse ocorrido” (UUB x285m1, 28/12 1861). 545Bahr, Gunnar von: Upsala Läkareförening 150 år. Upsala Journal of Medical Sciences, 1980, suppl.35.

Page 229: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

229

amizade entre todos os seus membros. Seu aniversário de fundação era con-tado no dia 17 de setembro, que era o aniversário de Hwasser. Ele foi presi-dente da sociedade até sua morte, em 1860 e foi sucedido por seu aluno Per Hedenius, que foi presidente de 1860 a 1885. Em 1865, foi decidido publicar Föreningens förhandlingar e assim ela conseguiu uma revista própria. Em 1875, Regnell doou à sociedade 5 000 coroas como ajuda para a publicação. A revista ainda sobrevive com uma boa saúde aceitável. Reuniões seriam realizadas a cada 14 dias. Desde o início considerou-se importante conseguir literatura médica e deixá-la acessível para os sócios. A pergunta sobre onde a sociedade se reuniria e onde a crescente biblioteca se alojaria tornou-se atual bem cedo. Quando o novo hospital Akademiska ficou pronto em se-tembro de 1867, o professor Mesterton ofereceu à sociedade que dispusesse de dois cômodos, se ela mesma os mobiliasse. Em 1873, a associação rece-beu uma doação de 3 000 riksdales de um doador desconhecido. Foi institu-ído então um fundo para construção e biblioteca e após várias contribuições, o fundo aumentou para 5 121 riksdales em 1875, cerca de 250 000 coroas em valor atual. Em uma carta de doação para o Consistorium Majus no dia 7 de junho de 1876, Regnell escreveu:

Finalmente quero solicitar que o Consistorium queira receber a custódia de alguns títulos de minha propriedade como segurança para uma soma de di-nheiro de vinte e cinco (25 000) mil coroas, que eu, por meio desta me com-prometo, como auxílio para a construção de uma casa para as reuniões da associação médica de Upsala, ou da Biblioteca da Instituição Médica, etc., por mim pagas, assim que a Associação possa dispor de pelo menos uma soma igual de outra fonte para que o trabalho possa ser iniciado.

Após contribuição de outros doadores e através de coletas, a associação pode, em 1886, comprar a casa do empresário Carl Ekman no número 3 de Odislund por 65 000 coroas. A associação vendeu posteriormente a casa e utiliza atualmente locais no Hospital Akademiska para suas reuniões.

Page 230: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

230

Figura 64. Casa da Sociedade Upsaliense de Medicina em Odinslund. Seção de Mapas e Imagens, UUB.

Page 231: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

231

Significado de Regnell para a Universidade de Upsala

O motivo do porquê Anders Fredrik Regnell beneficiou a faculdade de me-dicina de Upsala com suas doações foi que ele entendia que a faculdade e, talvez, toda a universidade estava ameaçada em sua existência através das discussões que ocorreram sobre transferir as atividades para Estocolmo. Elas funcionaram como um freio para todos os investimentos e construções, bem como para o estabelecimento de novas cadeiras em Upsala durante muitos anos.

As opiniões de natureza filosófica que Israel Hwasser, Göran Wahlenberg e outros professores da escola antiga possuíam, influenciaram também o de-senvolvimento. Eles tiveram, entretanto, que se dobrar às pesquisas dirigidas para ciências naturais. Elas eram exercidas por vários professores das novas especialidades: fisiologia, química médica e fisiológica, patologia, farmaco-logia, cirurgia, obstetrícia e ginecologia, oftalmologia etc.

Upsala com certeza não teria podido acompanhar o rápido desenvolvi-mento da medicina que ocorreu na Europa somente com a ajuda das antigas doações da época de Gustaf II Adolf e subvenções estatais. Um exemplo é a fisiologia, que tinha tido que se pôr de acordo com a anatomia e a patologia em locais apertados e inadequados. Graças às doações de Regnell, foi possí-vel a construção de instituições adequadas e Frithjof Holmgren ter possibi-lidades de se ocupar com sua pesquisa que marcou época. Ele foi seguido por uma série de alunos bem sucedidos.

De acordo com Carl Frängsmyr, a profissionalização e especialização da faculdade de medicina deu-se em tudo de importância, sob influência inter-nacional.546 Os professores da faculdade de medicina puderam, com a ajuda dos estipêndios de Regnell, viajar pela Europa e trazer para casa as últimas descobertas, equipamentos e aparelhos para Upsala. Frängsmyr acentua que Upsala já não era o ponto de partida, mas o alvo de viagens de estudo inter-nacionais. Quando a instituição fisiológica comemorou o aniversário de 25 anos em 1889, chegaram homenagens de toda a Europa.

De grande importância para o progresso da ciência foi também Upsala Läkareförenings förhandlingar (Conferências da Sociedade Médica de

546 Frängsmyr, Carl: Uppsala universitet 1882–1916, vol. 2:1, Uppsala 2010, p. 521.

Page 232: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

232

Upsala), que começou a ser publicada em 1865 e que Regnell apoiou medi-ante uma doação. Os membros da faculdade tiveram desta forma condições melhores de espalhar conhecimento de seus resultados no mundo científico, por exemplo Frithjof Holmgren, com seus estudos sobre daltonismo ou Ivar Sandström, por sua descoberta da parótida.

Valor das doações de Regnell para a Universidade de Upsala 2009547 Fundação Renda Valor de mercado

Coroas Coroas

Fundação de Regnell para a insti-

tuição botânica

77 000 2 327 000

Fundação de Regnell para a bolsa

de viagem botânica

109 000 3 326 000

Fundação de Regnell para a clínica

médica

130 000 3 803 000

Fundação de Regnell para bolsas

de viagem para professores da fa-

culdade de medicina

490 000 13 030 000

Fundação de Regnell para a facul-

dade de medicina

1 453 000 50 672 000

Fundação de Regnell para a insti-

tuição zoológica

33 000 909 000

Fundo para a bolsa de Regnell para

estudantes de medicina

20 000 636 000

Fundo para a bolsa de Regnell para

o centro acadêmico Upland

19 000 590 000

Total 2 331 000 75 293 000

547 Informações do economista da academia Kent Berg, administração da academia, 29 de outubro de 2010. A estas se juntam doações particulares para a Universidade para construção, etc. Veja também Uppsala akademiförvaltning página inicial (www.uaf.se) sob stipendier.

Page 233: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

233

Doações de Regnell para a Academia Real de Ciências

1. Destinados à botânica De acordo com a carta de doação de 29 de agosto de 1872, Regnell doou 66 000 coroas para a Universidade, para um fundo que se chamaria Anders Fredrik Regnells botaniska gåvomedel.(Doações para a botânica de Anders Fredrik Regnell). O fundo seria dividido em três sessões, a saber:

1. Fundo para uma bolsa a ser utilizada em viagens com fins botânicos para o Brasil ou outro país tropical, com um capital de 36 000 co-roas.

2. Fundo para o tratamento das coleções colhidas no Brasil ou outros países tropicais com a bolsa Regnelliana, com um capital de 20 000 coroas.

3. Fundo para manutenção e tratamento das coleções brasileiras. Através da carta de doação do dia 4 de abril de 1882, Regnell aumentou

ainda mais estes recursos com uma nova doação de 15 000 coroas, que se-riam juntadas com o terceiro fundo, o qual foi aumentado, assim, para 25 000 coroas. Da renda dos juros, 1 000 coroas seriam usadas como honorários para um auxiliar científico, chamado de amanuense Regnelliano, para o tra-tamento e confecção das coleções. A soma das doações com fins botânicos totalizou 81 000 coroas.

2. Doação de Anders Fredrik Regnell destinada à zoologia Através de uma carta de doação no dia 8 de agosto de 1884, Regnell doou para a Universidade uma soma de 40 000 coroas para a constituição de um fundo com o nome acima.

Page 234: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

234

3. Doação Regnelliana para a estação Kristineberg de biologia marinha em Fiskebäckskil No dia 5 de dezembro de 1876, Regnell doou 15 000 coroas para a Univer-sidade para compra de um terreno para a estação. Em 1882, ele deu mais 40 000 coroas, necessários para a construção dos prédios e do aquário.

Page 235: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

235

Doações de Regnell para instituições médicas em Estocolmo

Desde o ano de 1859 e em uma carta no dia 17 de março de 1860, Regnell informou a Magnus Huss que ele queria doar dinheiro ao hospital Serafimer, em agradecimento à formação que ele tinha lá recebido. Ele escreveu que devia a ele o sucesso que tinha tido em Caldas como médico. É difícil seguir, na correspondência, as discussões sobre fundos e de como os juros seriam utilizados. Elas ilustram claramente algumas das dificuldades que Regnell tinha para se decidir. Em 1870, o capital foi de um total de 40 000 coroas. Aqui se pode mencionar Doktor A. F. Regnells stipendiefond (Fundo para a bolsa Dr.A.F. Regnell) de 30 000 coroas, destinado para custear os gastos com moradia para seis estudantes de medicina.548

Para o Instituto Karolinska Através de uma carta de doação no dia 29 de maio de 1883, depois de um pedido de Magnus Huss, Regnell doou para o Instituto Karolinska 20 000 coroas para um fundo chamado Karolinska institutets reservfond, stiftad av doktor And. Fredr. Regnell. (Fundo de reserva do Instituto Karolinska, fun-dado pelo doutor And. Fredr. Regnell).

Fundo A.F. Regnell para a pediatria ou clínica Regnelliana no hospital pediátrico. Através de uma carta de doação, no dia 1 de março de 1876, Regnell doou 20 000 coroas para a instituição de tratamento de crianças enfermas Princesa Real Lovissa549 O fundo foi colocado sob a administração do instituto Karo-linska. Os juros anuais do fundo seriam utilizados como honorários para

548 Através de uma carta de regulamentação de 1946, o estado encarregou-se dos quartos e pagou por estes a quantia de 40 coroas por mês. No dia 8 de junho de 1978, o governo decidiu que o pagamento seria feito do fundo de moradia estatal, para a comissão de fundos que dividia o dinheiro. De acordo com o protocolo 1978/79:80–82, p. 65– 66 do Parlamento, eles foram usados como presente de Natal para os estudantes. 549 UUB x2 85m3, 5/3 1876.

Page 236: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

236

aqueles que fornecessem o ensino clínico sobre doenças infantis. Instruções mais detalhadas para a utilização do fundo ficaram a cargo dos médicos do instituto. Em 1879, Huss informou a Clason que o professor Rossander, da clínica pediátrica Regnell, tinha enviado uma brochura que descrevia alguns casos que poderiam interessar a Regnell. 550 Em novembro de 1883, Regnell entregou mais 5 000 coroas, destinadas a financiar um leito na clínica. A. F. Regnells stiftelse för barnklinik (fundação A.F. Regnell para a clínica pediá-trica) ainda existe, mas o nome Regnellska kliniken (Clínica Regnelliana) não é utilizado.

Sociedade médica de Estocolmo A Sociedade médica fundada em 1877 dirigiu-se a Magnus Huss e Isak Gus-taf Clason em 1879, perguntando de que forma um pedido de ajuda para o cofre inesgotável de Regnell deveria ser formulado. 551 Pelo visto, Huss con-seguiu formular uma carta convincente, pois já em janeiro Regnell respon-deu com uma doação de 10 000 coroas. A sociedade dispôs a doação de forma que a metade foi para um Regnells grundfond (fundo básico de Regnell) e a outra metade foi destinada para o Regnellska lånefonden (fundo de empréstimo Regnelliano), destinado a dar ajuda a membros da sociedade através de empréstimos.552

Sociedade Sueca de Medicina Uma das primeiras doações de Regnell foi para a Sociedade Sueca de Medi-cina, com a finalidade de instituir um fundo de prêmios. Já em 1862, ele escreveu a Huss e pediu uma sugestão para regulamentos e informação sobre qual valor seria necessário.553 Através de uma carta de doação no dia 26 de março de 1866, foi entregue à Sociedade uma soma de 10 000 coroas para instituir um fundo, que veio a se chamar Regnellska prisfonden (fundo do prêmio Regnelliano), cuja renda deveria premiar uma tese entregue para a competição, escrita por homem ou mulher, sobre matérias pertencentes a pesquisas no campo da medicina. O prêmio é distribuído a cada quatro anos. O fundo aumentou consideravelmente e, na última vez, em 2010, o prêmio distribuído foi de 130 000 coroas (com respeito a vencedor do prêmio e va-lores do prêmio, ver capítulo sobre o fundo de Regnell da Sociedade Sueca de Medicina).

550 UUB x285m3, 23/5 1879. 551UUB x285m3, 11/8 1879. 552 O fundo básico ainda existe, mas, nenhuma distribuição é feita deste, sendo que o capital faz parte dos recursos da sociedade, segundo informação de Jens Andersson. 553 564 UUB x285m1, 2/4 1862.

Page 237: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

237

Sociedade de entomologia A sociedade, quando fundada em 14 de dezembro de 1879, designou Regnell para ser membro de honra. Ele doou o valor de 2 000 coroas em 1881, sem outra exigência exceto de que a doação não seria mencionada nos jornais.

Page 238: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

238

Fundo Anders Fredrik Regnell na Sociedade Sueca de Medicina

O fundo do prêmio Regnell 554 originou-se quando, através da carta de doa-ção de Regnell no dia 26 de março de 1866, ele entregou para a Sociedade Sueca de Medicina a quantia de 10 000 coroas para um fundo, cujos juros da renda seriam utilizados em um prêmio para recompensar artigos de valor, escritos por suecos, para uma competição, com artigos não publicados, sobre matérias pertinentes a pesquisas no campo da medicina.

Nos regulamentos, § 5, consta que o artigo da competição, provido da explicação básica e acompanhado de uma cédula lacrada com o nome, será entregue ao secretário da associação. A cédula com o nome somente poderá ser aberta se o artigo for recompensado com o prêmio.

Os valores dos prêmios (entre parênteses o valor do prêmio segundo o índice de preços ao consumidor de 2009) e os premiados foram os seguintes:

1870 2 000 coroas (113 561); August Teodor Almén: Como a água potável deve ser julgada do ponto de vista sanitário

1874 2 000 coroas (96 532); Curt Wallis: Sobre as termas climáticas na Ri-viera

1878 2 000 coroas (107 248); Frans Wilhelm Warfvinge: Sobre o tifo exan-temático.

1894 4 000 coroas (250 324); Robert Tigerstedt e Klas Gustaf Anders Son-dén: Estudo da respiração humana e do metabolismo total.

1898 4 000 coroas (229 800); Erik Olof Hultgren e Oskar Adolf Efraim An-dersson: Studien in der Physiologie und Anatomie der Nebennieren.

554 Ver também sob Sociedade Sueca de Medicina na página anterior. Em relação à criação do fundo, ver Frithjof Lennmalm: Svenska Läkaresällskapets historia 1808–1908, Stockholm 1908, p. 381. O primeiro regulamento foi adotado em 1866 com alterações em 1871, 1883, 1887, 1890 e 1906. Um novo regulamento foi adotado em 1916 com alterações em 1919, 1922, 1926, 1942, 1950 e 1994.

Page 239: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

239

1902 4 000 coroas (211 308); Johan Erik Johansson e Gunnar Martin Ko-raen: Untersuchungen über den Einfluss der Muskelarbeit auf die Kohlen-säure-Abgabe beim Menchen.

1906 4 000 coroas (201 654); Ernst Landergren: Subsídio para o conheci-mento da diabetes.

1914 3 200 coroas (140 072); Ivar Bang. Artigo desconhecido, mas prova-velmente o artigo para a competição dizia respeito às determinações do açú-car sanguíneo, que nesta época eram a área de pesquisa de Bang

1918 3 500 coroas (63 633); Torsten Thunberg. Artigo desconhecido. Thun-berg se ocupava nesta época do estudo das células respiratórias, de forma que é possível que este era o assunto do artigo para a competição.

1922 4 000 coroas (95 252); Ivar Broman: Beiträge zur Entwicklungsgeschi-chte der Säugethierlunge.

1926 4 000 coroas (102 494); Alfred Pettersson: Über die wärmebeständigen keimtötenden Substansen der Thiersera und die von diesen beeinflussten Bakterien.

1946 5 400 coroas (101 114); Göran Liljestrand e Ulf von Euler: Um estudo sobre a respiração e a regulação da pressão sanguínea durante o trabalho muscular.

1950 5 500 coroas (72 806); Jan Ek, Lars Werkö, Edward Varnauskas e Härje Bucht: Circulação renal e a excreção de sódio e água em pacientes com estenose mitral. Comparação do efeito da hidratação rápida e do lana-tosídeo C em normais e em pacientes com estenose mitral.

1958 6 400 coroas (72 274); Ove Fernö, Bertil Högberg, Inga-Lisa Thom e Börje Uvnäs: Observações sobre a liberação de histamina, seu mecanismo e possibilidades de bloqueio da mesma.

1962 8 000 coroas (80 397); Börje Uvnäs, Bertil Högberg e Inga-Lisa Thom: Observações sobre a liberação de histamina, formação de SRS e mastócitos.

1966 10 000 coroas (84 424); Björn Folkow: Cardiovascular effects of acute and chronic stimulations of the hypothalamic defence area in the rat.

1970 15 000 coroas (108 635); Börje Uvnäs: Acúmulo e liberação de hista-mina nos mastócitos.

Page 240: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

240

1974 15 000 coroas (81 343); Premio dividido entre Sune Rosell : Morfolo-gic and functional aspects on the adrenergic innervation and vasculature in adipose tissue, e Rolf G. Hallin e Erik Torebjörk: Methods to identify elec-trically induced afferent and sympathic C unit responses in human cutaneous nerves

1978 20 000 coroas (73 027); David Ingvar: Hyperfrontal man. On the func-tional anatomy of the conscious state.

1982 22 000 coroas (54 216); Börje Uvnäs, Margareta Westling e Carl-Hugo Åborg: A nonexocytic neurotransmitter release by nerve impulse induced cation exchange (sodium transmitter amine), a possible alternative to current quantal exocytosia theory.

1983 22 000 coroas (49 765); Lars Magnus Gunne: Towards a biochemical definition of tardive dyskinesia. Distribuição extra por motivo do aniversário de 175 anos da Sociedade Sueca de Medicina.

1986 50 000 coroas (93 584); Anders Thune, Erland Thornell e Joar Svanvik: Reflux regulation of flow resistance in the feline sphincter of Oddi by hy-drostatic pressure in the biliary tract.

1990 70 000 coroas (101 025); Sigurd Vitols, Bo Angelin, Staffan Ericsson, Gösta Gahrton, Gunnar Juliusson, Michèle Masquelier, Christer Paul, C. Pe-terson, Mats Rudling, K. Söderberg-Reid e Ulf Tidefelt: Uptake of low den-sity lipoproteins by human leukemic cells in vivo: Relation to plasma lipo-protein levels and possibly relevance for selective chemotherapy.

1994 120 000 coroas (144 807); John Pernow e Jan M. Lundberg: Myocar-dial release, tissue content and coronary vasoconstrictor effects of endothelin in relation to ischemia and reperfusion in the pig.

1998 150 000 coroas (175 078); Christer Owman: Molecular cloning, struc-tural characterization, tissue distribution and functional identification of the first leucotrine receptor – BLTR – and its role as a new type of coreceptor for HIV.

2002 160 000 coroas (175 880); Shahidul Islam: Ryanoidine receptors of pancreatic – cells mediate a distinct content – depending signal for insulin secretion.

Page 241: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

241

2006 150 000 coroas (158 257); Manuela Mataconi, Cecilia Gälman, Ylva Bonde, Bo Angelin e Mats Rudling: Hormonal regulation of intestinal cho-lesterol absorption: Dramatically increased absorption following hy-pophysectomy is completely normalized by thyroid hormone.

2010 130 000 coroas; Martin Hult, Per Tornhammar, Peter Ueda, Charles Chima, Anna Karin Edstedt Bonamy, Benjamin Ozumba e Mikael Norman: Hypertensive diabetes and obesity. Looming legacies of the Biafran famine.

Nos anos de 1882, 1886, 1910 e 1934 nenhum prêmio foi distribuído por falta de artigos para a competição. Em 1890, 1938 e 1942 nenhum artigo foi considerado digno do prêmio. Em 1930, o prêmio não foi distribuído porque a anonimidade foi quebrada. No total foram distribuídas 3 368 519 coroas convertidas segundo o índice de preços ao consumidor de 2009 (o último que existe disponível).

Page 242: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

242

Plantas nomeadas em homenagem a Anders Fredrik Regnell

Marsileaceae Regnellidium Lindm. – Arkiv för Botanik 3 [6]. 2. 1904. Marsileaceae Regnellidium diphyllum Lindm. – Arkiv för Botanik 3 [6]. 14.

f. 1–10. 1904. Orchidaceae Regnellia Barb. Rodr. – Gen. Sp. Orchid. i. 81, 1877. Orchidaceae Regnellia purpurea Barb. Rodr. – Gen. Sp. Orchid. i. 79, 1877. Acanthaceae Justicia regnellii Lindau – Bull. Herb. Boissier v. 672. Adiantaceae Cheilanthes regnelliana Mett. Bak. – Fl. Bras. (Martius) 1 (2):

391, t. 43, f. 1; HB. ed. II. 138. NPfl. 277. 1870. Adiantaceae Gymnogramma regnelliana Lindm. – Ark. Bot. 1. 240 t. 8 f. 6.

1903. Adiantaceae Gymnogramma regnelliana Christ in Schwacke – Pl. Nov. Mineiras 2. 18. 1900; Bull. Boiss. II. 2. 365. 1902. 1900. Adiantaceae Pellaea regnelliana Prantl – Bot. Jahrb. Syst. 3. 420. 1882. Alstroemeriaceae Alstroemeri regnelliana Kraenzl. – Bot. Jahrb. Syst. l.

Beibl. 2, 1913. Apiaceae Eryngium regnellii Malme – Ark. Bot. 3 (13): 9. 1904. Aquifoliaceae Ilex regnelliana Maxim. – Mém. Acad. Imp. Sci. St. – Péters-

bourg, Sér. 7. xxix. n. III. 25, 1881. Araceae Anthuriu regnellianum Engl. – Fl. Bras. (Martius) 3 (2): 96. Asclepiadaceae Calostigma regnellii Malme – Kungl. Svenska Vetensk.

Akad. Handl. xxxiv. no. 7. 66. Asclepiadaceae Oxypetalum regnellii Malme – Ark. Bot. 21A (3): 30, in obs.

1927. Asclepiadaceae Oxypetalum regnellii (Malme) T. Mey. – Dusenia 2: 368.

1951. Asteraceae Alomia regnellii Malme – Kungl. Svenska Vetensk.-Akad.

Handl. xxxii. no. 5. 32. Asteraceae Alomiella regnellii (Malme) R. M. King & H. Rob – Phytologia

24 (5): 396, 1972. Asteraceae Aster regnellii Baker – Fl. Bras. (Martius) 6 (3): 21. Asteraceae Baccharis regnellii Sch. Bip. – Linnaea 22: 571. 1849. Asteraceae Carphobolus regnellii Sch. Bip. – Jahresber. Pollichia xx.–xxi.

417, 1863. Asteraceae Chuquiraga regnellii Baker – Fl. Bras. (Martius) 6 (3): 359.

Page 243: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

243

Asteraceae Dasycondylus regnellii R. M. King & H. Rob. – Phytologia 24 (3): 190, 1972.

Asteraceae Erigeron regnellii Sch. Bip. – Linnaea 22: 571. 1849. Asteraceae Eupatorium regnellii Sch. Bip. – Linnaea 30: 182, 1859–1861. Asteraceae Flotovia regnellii Sch.Bip. – Linnaea 22: 569. 1849. Asteraceae Gnaphalium regnellii Sch. Bip. – Linnaea 30: 180. 1859–1961. Asteraceae Mikania regnellii Sch. Bip. – Linnaea 22: 572, 1849; och 30:

182. 1859–1861. Asteraceae Ophryosporus regnellii Baker – Fl. Bras. (Martius) 6 (2): 188. Asteraceae Piptocarpha regnellii Sch. Bip. Cabrera – Arch. Jard. Bot. Rio de

Janeiro xv. 72, 1957, in obs. Asteraceae Podocoma regnellii Baker – Fl. Bras. (Martius) 6 (3): 16. Asteraceae Stevia regnellii Sch. Bip. – Linnaea 22: 572 (1849); 25: 272.

1852. Asteraceae Stilpnopappus regnellii Baker – Fl. Bras. (Martius) 6 (2): 139.

1873. Asteraceae Strophopappus regnellii (Baker) R.Esteves – Bradea 9 (14): 84.

2003. Asteraceae Symphyotrichum regnellii (Baker) G. L. Nesom – Phytologia 77

(3): 291. 1994, publ. 1995. Bignoniaceae Bignoni regnelliana Sond. – Linnaea 22: 558. 1849. Bignoniaceae Schizopsis regnelliana Bur. ex Baill. – Adansonia 5: 379.

1865. Blechnaceae Blechnum regnellianum (Kunze) C. Chr. – Index Suppl. Blechnaceae Blechnum regnellianum (Kunze) C. Chr. – Index Filic., Suppl.

1906–1912 17. 1913. Blechnaceae Lomaria regnelliana Kunze – Linnaea 22. 576. 1849 (nov. 20.

1847). 1849. Blechnaceae Lomaria regnelliana Kunze – Linnaea 20. 576. 1847. Blechnaceae Lomaria regnelliana Kunze – 1847. Bromeliaceae Bromelia regnelli Mez – Fl. Bras. (Martius) 3 (3): 194. 1891. Bromeliaceae Karatas regnellii Baker – Handb. Bromel. 10. 1889. Bromeliaceae Regelia regnellii Lindm. – in Oefvers. Akad. Holm. 543.

1890. Bromeliaceae Tillandsia regnelli Mez – Fl. Bras. (Martius) 3 (3): 592. 1894. Bromeliaceae Vriesea regnelli Mez – Fl. Bras. (Martius) 3 3): 547. 1894. Cactaceae Rhipsalis regnellii G. Lindb. – Gartenflora xxxix. (1890) 118, fig.

31 et 32; et in Illustr. Hortic. xxxix.(1890) 121. fig. 29, 31, 32; K. Schum. in Mart. Fl. Bras. iv. II. 295, t.58. 1893.

Capparaceae Cleome regnellii Eichler – Vidensk. Meddel. Dansk Naturhist. Fören. Köpenhamn 190. 1870.

Connaraceae Connarus regnellii G. Schellenb. – Candollea ii. 114. 1925. Convolvulaceae Ipomoea regnellii Meisn. – Fl. Bras. (Martius) 7: 266. Cy-

peraceae Carex regnelliana Boeckeler – Cyp. Nov. i. 34. (IK) 1888.

Page 244: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

244

Cyperaceae Pleurostachys regnellii C. B. Clarke – Bull. Misc. Inform. Kew, Addit. Ser. 8: 42. 1908.

Dioscoreaceae Dioscorea regnellii Uline ex R.Knuth – Notizbl. Bot. Gart. Berlin-Dahlem 7: 214. 1917.

Dryopteridaceae Dryopteris regnelliana C. Chr. – Vid. Selsk. Skr. VII. 4. 284 f. 12. 1907.

Eriocaulaceae Eriocaulon regnellii Moldenke – Phytologia iii. 35, 1948. Euphorbiaceae Argythamnia regnellii Kuntze – Revis. Gen. Pl. 2: 594. 5

nov. 1891. Euphorbiaceae Caperonia regnellii Müll. Arg. – Fl. Bras. (Martius) 11 (2):

321. Euphorbiaceae Croton regnellianus Müll. Arg. – Linnaea 34: 122. 1865. Eu-

phorbiaceae Dalechampia regnellii Müll. Arg. – Fl. Bras. (Martius) 11 (2): 647.

Euphorbiaceae Diasperus regnellianus Kuntze – Revis. Gen. Pl. 2: 601. 5 nov. 1891.

Euphorbiaceae Oxydectes regnelliana Kuntze – Revis. Gen. Pl. 2: 612. 5 nov. 1891.

Euphorbiaceae Phyllanthus regnellianus Müll. Arg. – Fl. Bras. (Martius) 11 (2): 58.

Gesneriaceae Seemannia regnelliana Fritsch – Bot. Jahrb. Syst. xxix. Beibl. lxv. 13.

Lamiaceae Salvia regnelliana Briq. – Ark. Bot. 2 (10): 3. 1904. Lamiaceae Vitex regnelliana Moldenke – Phytologia ii. 30. 1941. Lauraceae Gymnobalanus regnellii Meisn. – Vidensk. Meddel. Dansk Na-

turhist. Fören. Köpenhamn 138. 1870. Lauraceae Nectandra regnellii Meisn. – Fl. Bras. (Martius) 5 (2): 310. Leguminosae Crotalaria regnellii Benth. – Linnaea 22: 511. 1849. Leguminosae Lupinus regnellianus C. P. Sm. – Spec. Lupinorum 214. 1940;

cf. Gray Herb. Card Cat. Leguminosae Mimosa regnellii Benth. – Linnaea 22: 529. 1849. Leguminosae Mimosa regnellii Benth. var. exuta Barneby – Mem. New

York Bot. Gard. 65: 495. 1991; Sensitivae Censitae. Leguminosae Mimosa regnellii Benth. var. grossiseta Barneby – Mem. New

York Bot. Gard. 65: 496. 1991; Sensitivae Censitae. Leguminosae Mimosa regnellii Benth. Var. pungens Burkart – in Fl. Ilustr.

Catar., 1 (Leguminosas: Mimosoideas): 244. 1979. Leguminosae Mimosa regnellii Benth. var. supersetosa (Burkart) Barneby –

Mem. New York Bot. Gard. 65: 496. 1991; Sensitivae Censitae. Leguminosae Platycyamus regnellii Benth. – Fl. Bras. (Martius) 15 (1): 323.

(IK). Lentibulariaceae Utricularia regnellii Sylven – Ark. Bot. 8 (6): 25. 1908. Lycopodiaceae Huperzia regnellii (Maxon) B. Øllg & P. G.Windisch –

Bradea 5 (1): 16. 1987.

Page 245: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

245

Malpighiaceae Heteropterys regnellii Miq. – Linnaea 22: 548. 1849. Malvaceae Abutilon regnellii Miq. – Linnaea 22: 554. 1849. Malvaceae Pavoni regnelliana Miq. – Linnaea 22: 551. 1849. Malvaceae Sida regnellii R. E. Fr. – Kungl. Svenska Vetensk. Acad. Handl.

xlii. No. 12, 33. 1908. Melastomataceae Acinodendron regnellii Kuntze – Revis. Gen. Pl. 2: 952. 5

nov. 1891. Melastomataceae Cambessedesia regnelliana Cogn. – Fl. Bras. (Martius) 14

(3): 19. Melastomataceae Clidemia regnellii O. Berg ex Triana – Trans. Linn. Soc. London 28 (1): 91. 8 dec. 1871–13 jan. 1872. Melastomataceae Lasiandra regnelli Miq. – Linnaea 22: 539. 1849. Melastomataceae Leandra regnellii Cogn. – Fl. Bras. (Martius) 14 (4): 116.

1886. Melastomataceae Miconia regnellii Cogn.– Fl. Bras. (Martius) 14 (4): 396

och i DC. Monog. Phan. vii. (1891) 861. 1888. Melastomataceae Oxymeris regnellii Triana – Trans. Linn. Soc. London

28 (1): 91. dec 1871–13 jan 1872. Melastomataceae Pleroma regnellii Triana – Trans. Linn. Soc. London 28

(1): 44. 8 dec. 1871–13 jan. 1872. Melastomataceae Rhynchanthera regnellii Cogn. – Fl. Bras. (Martius) 14

(3): 184. Melastomataceae Tibouchina regnellii Cogn. – Fl. Bras. (Martius) 14 (3):

305. Meliaceae Cedrela regnellii C.DC. – Annuaire Conserv. Jard. Bot. Genève

x. 174. 1907. Myrsinaceae Cybianthus regnellii Mez – Pflanzenr. (Engler) Myrsin. 222.

1902. Myrtaceae Eugenia regnelliana O. Berg – Fl. Bras. (Martius) 14 (1): 245.

Myrtaceae Luma regnelliana (O. Berg) Burret – Notizbl. Bot. Gart. Ber-lin – Dahlem 15: 535. 1941.

Myrtaceae Myrceugenia regnelliana (O. Berg) D. Legrand & Kausel – in Com. Bot. Mus. Hist. Nat. Montevideo, ii. No. 28, 11. 1953.

Myrtaceae Myrcia regnelliana O. Berg – Fl. Bras. (Martius) 14 (1): 174. Myrtaceae Paramitranthes regnelliana (Kiaersk.) Burret – Notizbl. Bot. Gart.

Berlin-Dahlem 15: 543, cum descr. ampl. 1941. Myrtaceae Siphoneugena regnelliana (Kiaersk.) Kausel – Lilloa xxxii. 367.

1967. Orchidaceae Bulbophyllum regnelli Rchb.f. – Linnaea 22: 835. 1850. Orchidaceae Catasetum regnellii Barb. Rodr. – Gen. Sp. Orchid. ii. 219. Orchidaceae Cattleya regnellii R. Warner – Select Orchid. Pl. ser. 2, t. 22. Orchidaceae Didactyle regnellii Barb. Rodr. – Gen. Sp. Orchid. ii. 123. Orchidaceae Encyclia regnelliana (Hoehne & Schltr.) Pabst – Orquídea (Rio

de Janeiro) 29 (6): 277. 1967 publ. 1972.

Page 246: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

246

Orchidaceae Epidendrum regnellianum Hoehne & Schltr. – Arch. Bot. Sao Paulo 1: 243. 1926.

Orchidaceae Habenaria regnellii Cogn. – Fl. Bras. (Martius) 3 (4): 60. 1893. Orchidaceae Laelia regnellii Barb. Rodr. – Gen. Sp. Orchid. ii. 154. Orchidaceae Macradenia regnellii Barb. Rodr. – Gen. Sp. Orchid. ii. 183. Orchidaceae Miltonia regnellii Rchb.f. – Linnaea 22: 851. 1850. Orchidaceae Miltonia regnellii Rchb.f. f. alba (Tessmer) Roeth – Orchidee

(Hamburg) 56 (3): 337. 2005. Orchidaceae Miltonia regnellii Rchb.f var. alba Tessmer – Orchid Rev.111

(1253): 309. 2003. Orchidaceae Miltonia regnellii Rchb.f. var. citrina Cogn. – Dict. Icon. Or-

chid.Miltonia pl.7a. 1900. Orchidaceae Miltonia regnellii Rchb.f. f. citrina (Cogn.) Roeth – Orchidee

(Hamburg) 56 (3): 336. 2005. Orchidaceae Miltonia regnellii Rchb.f. [infrasp.unranked] purpurea Dom-

brain – Fl. Mag. (London) 9: t. 490. 1870. Orchidaceae Miltonia regnellii Rchb.f. f. purpurea (Dombrain) M. Wolff &

O. Gruss – Orchid. Atlas 232. 2007. Orchidaceae Miltonia regnellii Rchb.f. var. travassosiana Cogn. – Chron.

Orchideenne 1 (39): 310–312. 1900. Orchidaceae Miltonia regnellii Rchb.f. f. travassosiana (Cogn.) Roeth – Or-

chidee (Hamburg) 56 (3): 336. 2005. Orchidaceae Miltonia regnellii Rchb.f. f. veitchiana (Cogn.) Roeth – Or-

chidee (Hamburg) 56 (3): 336. 2005. Orchidaceae Miltonia regnellii Rchb.f. var. veitchiana Cogn. – Dict. Icon.

Orchid. Miltonia pl. 7b. 1900. Orchidaceae Oncidium regnellii Rchb.f. – Ann. Bot. Syst. (Walpers) vi. 760. Orchidaceae Prosthechea regnelliana (Hoehne & Schltr) W. E. Higgins –

Phytologia 82 (5): 380. 1997 publ. 1998. Oxalidaceae Acetosella regnellii Kuntze – Revis. Gen. Pl. 1: 93. 1891. Oxalidaceae Oxalis regnellii Miq. – Linnaea 22: 545 (1849). Piperaceae Artanthe regnellii Miq. – Linnaea 22: 574. 1849. Piperaceae Peperomi regnelliana Miq. – in Arch. Neerl. vi. (1871) 173; et in

Förh. Kon. Akad. Wetensch. II. v. 235. 1871. Piperaceae Peperomia regnelliana C. DC. – Linnaea 37: 381. 1872. Piperaceae Piperregnellii C.DC. – Prodr. (DC.) 16 (1): 307. 1869. Poaceae Paspalum regnelli Mez – Repert. Spec. Nov. Regni Veg. 15: 75.

1917. Poaceae Paspalum regnellii Mez ex Ekman – Ark. Bot. 11 (4): 14, nomen.

(1912). Polygalaceae Polygala regnelli Chodat – Bull. Herb. Boissier ii. 548. 1895. Portulacaceae Portulaca regnelliana D. Legrand – in Com. Bot. Mus. Hist.

Nat. Montevideo, ii. No. 27, 6. 1953. Rubiaceae Coussarea regnelliana Müll.Arg. – Flora 58: 466. 1875.

Page 247: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

247

Rubiaceae Psychotria regnellii Müll.Arg. – Flora 59: 548, 552 (1876). Rubiaceae Uragoga regnelli Kuntze – Revis. Gen. Pl. 2: 962. 1891. Rutaceae Fagara regnelliana Chodat & Hassl. – Bull. Herb. Boissier Ser. II.

iv. 1283. Rutaceae Zanthoxylum regnellianum Engl. – Fl. Bras. (Martius) 12 (2): 174. Sapindaceae Serjania regnelli Schltdl. – Linnaea 18: 41 (err. typ. 57). 1844. Simaroubaceae Picramnia regnelli Engl. – Fl. Bras. (Martius) 12 (2): 241. Solanaceae Calibrachoa regnellii (R. E. Fr.) Wijsman – Acta Bot. Neerl. 39

(1): 102. 1990. Solanaceae Sessea regnellii Taub. – Bot. Jahrb. Syst. xv. Beibl. n. 38 18.

1893. Solanaceae Solanum regnelii Hiern – Vidensk. Meddel. Dansk Naturhist.

Fören. Köpenhamn 54. 1877–1878. Sterculiaceae Waltheria regnellii K.Schum. ex R. E. Fr. – Kungl. Svenska

Vetensk. Acad. Handl. xlii. No. 12, 15. 1908. Thelypteridaceae Lastrea regnelliana (C. Chr.) Brade – Bradea 1: 223. 1972. Thelypteridaceae Thelypteris regnelliana (C. Chr) Ponce – Darwiniana 33

(1–4):264. 1995. Verbenaceae Verbena regnelliana Moldenke – Phytologia ii. 425. 1948. Violaceae Alsodeia regnellii Walp. – Ann. Bot. Syst. (Walpers) ii. 67. Violaceae Conohoria regnellii Miq. – Linnaea 22: 555. 1849. Xyridaceae Xyris regnellii L. A. Nilsson – Kungl. Svensk Vetensk. Akad.

Handl. [Stud. üb. Xyrid.] xxiv. n. 14; 43 t. 2. 1892. Zingiberaceae Renealmia regnelliana Loes. – Notizbl. Bot. Gart.

BerlinDahlem 10: 64. 1927.

A relação do museu nacional de História Natural é constituída de 151 repro-duções, mas lá existem várias duplicatas e triplicatas.

Page 248: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

248

Lista de pessoas

Abreu, Raphael Lorenzeto de, cartógrafo. Acrel, Olof af (1717–1806), cirurgião chefe no hospital Serafimer. Adãosinho, Gabriel, Regnells escravo. Afzelius, Adam (1750–1837), professor em matéria médica em Upsala. Afzelius, Per von (1760–1843), irmão do anterior, médico chefe. Agustinho, médico em Caldas. Ahlberg, conservador na instituição Botânica de Upsala. Ahlstrand, Johan August (1822–1896), bibliotecário na Academia Real de

Ciências. Almén, August Teodor (1833–1903), professor em química médica em

Upsala, ganhador do prêmio Regnell 1870. 555 Amelie, princesa de Leuchtenberg (1812–1873), imperatriz do Brasil. Andersdotter, Britta Stina (1787–1859), tia de Regnell. Andersson, Magnus, pesquisador em história da economia na universidade

de Gotemburgo. Andersson, Nils Johan (1821–1880), superintendente do Museu Nacional de

História Natural. Andersson, Oskar Adolf Efraim (1879–1959), médico, ganhador do prêmio

Regnell 1898. Andrade, Manuel Pinto de, agricultor em Santana do Sapucaí. Angelin, Bo, nascido 1949, professor em pesquisa clínica do metabolismo

no Hospital Universitário Karolinska, Huddinge, ganhador do prêmio Regnell 1990 e 2006.

Ankarsvärd, Gustaf (1792–1878), conde, superintendente chefe. Ankarsvärd, Otto Magnus “Miguel” (1793–1857), antigo tenente. Antonio das parasitas, escravo de Regnell. Arosenius, Jakob Fredrik Neikter (1809–1890), tenente coronel no corpo

Topográfico. Arpi, Oscar (1824–1890), dirigente do coro de estudantes de Upsala. Assumpção, Joaquim, pároco católico em Caldas. Aurell, Carl August, nascido 1799, doutor em medicina, médico no municí-

pio Vingåker. Aurell, Wilhelm (1833–1903), antigo estudante em Upsala.

555 Ganhador do prêmio Regnell se refere ao ganhador do prêmio da Sociedade Sueca de Medicina do fundo Anders Fredrik Regnell.

Page 249: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

249

Bahr, Gunnar von (1907–1997), professor de oftalmologia em Upsala. Bahr, Johan von (1860–1929), secretário da universidade e prefeito de

Upsala. Bang, Ivar Christian (1869–1918), professor de medicina e fisiologia quí-

mica em Lund, ganhador do prêmio Regnell 1914. Bell, Charles (1774–1842), anatomista e fisiologista escocês. Bentham, George (1800–1884), botânico inglês. Berg, Catharina, nascida 1755, viúva do estalajadeiro. Berlin, Nils Johan (1812–1891), professor em química médica e diretor geral

do conselho de medicina. Berzelius, Jöns Jakob (1779–1848), pai da química sueca. Bjerkén, Per af (1765–1818), cirurgião chefe do hospital Serafimer. Björkman, Britta (1768–1844), esposa de açougueiro, prima de Anders Rin-

gnell. Björnström, Fredrik Johan (1833–1889), professor de psiquiatria. Blix, Magnus (1849–1904), professor de fisiologia em Lund. Bolstad, Jens Martin, nascido 1858, cônsul geral sueco-norueguês no Rio. Bonde, Ylva, nascida 1979, pesquisadora, ganhadora do prêmio Regnell

2006. Bonne, Carl (1760–1811), colono em Funbo, pai adotivo. Bonnier, Albert (1820–1900), editor de livros. Bouillard, Jean Baptiste (1796–1881), médico francês. Brag, Ewald Heribert (1820–1888), vice juiz de primeira instância em Go-

temburgo. Brandberg, Theodor (1858–1928), vice juiz de primeira instância. Brattström, Albin (1866–1935), paginador em Kramfors. Brattström, Aurora Constance (1828–1910), senhorita. Brattström, Carl (1827–1878), paginador em Gudmundrå. Brattström, Hans nascido 1872. Brattström, Nicolina (1874–1875). Brattström, Otto Wilhelm, falecido 1837, mercador de especiarias em Esto-

colmo. Da Mineiro da Campanha, Vital (1865–1950), médico brasileiro e imunolo-

gista. Broman, Ivar (1868–1946), professor de anatomia em Lund, ganhador do

prêmio Regnell 1922. Brouissais, François (1772–1838), médico militar francês. Brunnberg, Johan Gustaf (1803–1897), banqueiro em Upsala. Bucht, Härje (1916–2008), professor de medicina em Gotemburgo, ganha-

dor do prêmio Regnell 1954. Bäck, Abraham (1713–1795), médico chefe. Carlmark, C. P. (1772–1860), espécie de banqueiro em Estocolmo (Johan

Peter Carlmark). Carlsson, Eric, inventariante.

Page 250: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

250

Carlsson, Fredrik Ferdinand (1811–1887), ministro eclesiástico. Castro da Silva, Francisco, médico no Brasil. Cederbom, Lars August (1860–1939), professor em Skara. Celsius, Anders (1701–1744), professor em astronomia. Chenon, Christina Beata, falecido 1879, casada com o cônsul geral Westin

sênior. Chesnocopherus, Johannes (1581–1635), primeiro professor de medicina em

Upsala. Chima, Charles, doutor, ganhador do prêmio Regnell 2010. Christophersen, Wilhelm Christopher (1832–1913), cônsul geral sueco-no-

rueguês em Buenos Aires 1868–1878. Clason, Edward (1829–1912), professor de anatomia em Upsala. Clason, Fredrik (1865–1954), médico praticante em Upsala, filho de

Edward. Clason, Helena Augusta, casada Åkerman (1852–1937), filha de Isak Gustaf

Clason. Clason, Henrik Gustaf (1836–1857). Clason, Isak Gustaf senior. (1781–1856), industrial em Furudal. Clason, Isak Gustaf (1808–880), engenheiro metalúrgico, diretor de

Jernkontoret. Clason, Isak Gustaf [III] (1856–1930), arquiteto. Clason, Maria Gustava, casada Åkerman (1845–1929), filha de Isak Gustaf

Clason. Clason, Wolter (1821–1874), industrial em Furudal. Crusenstolpe, Magnus Jacob (1795–1865), escritor e periodista. Cysnerio, Francisco Freire Allemão (1797–1874), botânico brasileiro. Dahl, Frans Johan Wilhelm (1825–1888), escolar e parlamentar. Dahlgren, K. V. Ossian (1888–1976), botânico e professor em Upsala. Demin (Åkerberg), Christina (1782–1859), madrasta de Regnell. D´Eu, Gaston d´Orléans (1842–1922), príncipe e conde francês, casado com

a princesa Isabel. Diethl, Joseph (1804–1878), médico polonês-austríaco, professor em Kra-

kow. Dobell, Horace Benge (1828–1917), médico inglês. Domiciano, escravo de Regnell. Düben, Joachim Ulrich von (1797–1843), fazendeiro, barão. Edstedt Bonamy, Anna-Karin, nascida 1974, médica pediatra, ganhadora do

prêmio Regnell 2010. Edvinsson, Rodney, nascido 1971, fil. dr. em história da economia na Uni-

versidade de Estocolmo. Ehn, Mia, superintendente no Museu Nacional de História Natural. Ehrenhoff, senhora. Ehrenhoff, Gustaf (1809–1869), servidor palaciano. Eichler, August Wilhelm (1837–1887), botânico alemão.

Page 251: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

251

Ek, Christina, nascida 1787, mãe de August Rudolf Westin. Ek, Jan, ganhador do prêmio Regnell 1954. Ekholm, Carl Axel (1845–1932), arquiteto em Upsala. Eklund, Abraham Fredrik (1839–1898), primeiro médico do batalhão da es-

tação da marinha em Estocolmo. Ekman, Carl Edward (1826–1903), industrial. Ekman, Erik Leonard (1883–1931), botânico. Ekströmer, Carl Johan (1793–1860), professor em cirurgia no hospital Sera-

fimer, médico da corte. Eldh, Carl (1873–1854), escultor. Elgklo, Olof Fredrik (1776–1847), diácono na Upsala Antiga. Engelgren, Anders Georg (1796–1866), farmacêutico em Estocolmo. Engelo, Sofia, nascida Bergqvist, parteira. Ericsson, Sverker, nascido 1958, doutor em medicina, ganhador do prêmio

Regnell 1990. Eugenie (1826–1920), esposa do imperador Napoleon III. Euler, Ulf von (1905–1983), professor de fisiologia no instituto Karolinska,

ganhador do prêmio Nobel, ganhador do prêmio Regnell 1946. Fant, Anna Clara Carolina (1875–1935). Fant, Carl Georg (1844–1910), reitor da escola geral secundária em Maries-

tad. Fant, Göran Georg Gustaf (1807–1874), pároco em Vänge e Läby. Faraday, Michael (1791–1867), físico britânico. Fernö, Ove (1916–2007), engenheiro civil, descobridor do Nicorette, ganha-

dor do prêmio Regnell 1958. Ferreira, Júlio Andrade (1912–2002), reitor do seminário presbiteriano em

Campinas, escritor. Fjellstedt, sami de Härjedalen. Folkow, Björn, f. 1921, professor de fisiologia em Gotemburgo, ganhador

do prêmio Regnell 1966. Friberg, Carl Olof (1853–1930), pároco em Hjo. Fries, Elias (1794–1878), professor de botânica em Upsala. Fries, Susanna (1841–1919), casada com August Almén. Fries, Thore Magnus (1832–1913), professor de botânica em Upsala. Fristedt, Robert Fredrik (1832–1893), professor de farmacologia em Upsala. Fröding, Gustaf (1860–1911), poeta sueco. Furuhagen, Björn, nascido 1961, docente de história na universidade de

Upsala. Frängsmyr, Carl, nascido 1971, docente de ideia e ciência da história, Uni-

versidade de Upsala. Frängsmyr, Tore, nascido 1938, professor de história da ciência na Univer-

sidade de Upsala. Gahn, Eva (1772–1850), esposa de industrial em Grycksbo. Gahn, Henrica (1796–1872), esposa de industrial em Furudal.

Page 252: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

252

Gahn, Johan Gottlieb (1745–1818), químico. Gahn, Margareta (1786–1813), esposa de industrial em Furudal. Gahn, Maria (1789–1867), esposa do governador Per Daniel Lorichs. Gahrton, Gösta, nascido 1932, professor de hematologia no hospital univer-

sitário Karolinska, Huddinge, ganhador do prêmio Regnell 1990. Gavelius, Johan Erland (1816–1894), gerente na fábrica de Graninge. Geer, Louis de (1818–1871), ministro de justiça e primeiro ministro. Geijer, Erik Gustaf (1783–1847), historiador, escritor e político. Gellerstedt, Pe (1815–1881), professor de medicina prática em Lund. Gillberg, Gabriel Wilhelm (1801–1890), comerciante e doador em Upsala. Glas, Olof (1812–1880), professor de medicina prática e teórica em Upsala. Godée, Gustaf Albert (1838–1918), farmacêutico em Skänninge. Gunne, Lars-Magnus, nascido 1923, professor de psiquiatria em Upsala, ga-

nhador do prêmio Regnell 1983. Gustaf (1829–1852), príncipe cantor. Gälman, Cecilia, nascida 1972, química de hospital em Huddinge, ganha-

dora do prêmio Regnell 2006. Hæggström, Lotta (1830–1897), trabalhadora na casa Magdalena. Hagelin, Per Hugo (1856–1924), doutor em filosofia. Hagströmer, Anders Johan (1753–1830), professor de cirurgia no instituto

Karolinska. Hallin, Rolf Gerhard, nascido 1939, neurofisiólogo clínico, ganhador do

prêmio Regnell 1974. Hamilton, Henning (1814–1886), ministro e chanceler da universidade. Harvey, William (1578–1657), médico inglês, descobridor da circulação

sanguínea. Hasselberg, Ylva, nascido 1967, docente em história da economia na univer-

sidade de Upsala. Hazelius, Artur (1833–1901), etnologista, fundador do museu Nórdico e do

Skansen. Hedenius, Per (1828–1896), professor de patologia e anatomia patológica

em Upsala. Helmholtz, Hermann Ludwig von (1821–1894), professor de fisiologia e fí-

sica em Köningsberg e Berlim. Henschen, Folke (1881–1977), professor de anatomia patológica no instituto

Karolinska. Henschen, Josef (1843–1930), dono de plantação na Florida. Henschen, Lars Vilhelm (1805–1885), juiz de primeira instância em Upsala. Henschen, Salomon Eberhard (1847–1930), professor de medicina interna

na universidade de Upsala e no instituto Karolinska. Hjert Eriksson, Gustaf Adolf (1844–1876), assassino. Hodge, Hugh Lennox (1796–1873), ginecologista americano. Holmberg, Carolina Helena (1843–1923), senhorita. Holmberg, Helena (1778–1859), esposa do porteiro Holmberg.

Page 253: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

253

Holmberg, Johan (1783–1832), porteiro. Holmberg, Johan Gustaf (1808–1883), juiz de primeira instância, amigo de

infância. Holmberg, Karin (1810–1878), amiga de infância. Holmblad, Anders (1800–1841), médico do interior em Vänersborg. Holmbom, Jonas Peter (1801–1866), doutor em medicina, médico de hospi-

tal em Jönköping. Holmgren, Frithjof (1831–1897), professor de fisiologia em Upsala. Hult, Martin, nascido 1983, ganhador do prêmio Regnell 2010. Hultgren, Ernst Olof (1866–1922), médico chefe na casa de saúde de Esto-

colmo, ganhador do prêmio Regnell 1898. Huss, Magnus (1807–1890), médico chefe no hospital Serafimer e professor

de medicina no instituto Karolinska. Hwasser, Bernhard, nascido 1827, assistente de telégrafo. Hwasser, Israel (1790–1860), professor de medicina prática e teórica em

Upsala. Hyckenström, Per Johan (1808–1854), médico praticante em Upsala. Högberg, Bertil, engenheiro pesquisador, ganhador do prêmio Regnell 1962. Ingelotz, Charlotta (1777–1831), baronesa em Marielund. Ingvar, David (1924–2004), professor de medicina em Lund, ganhador do

prêmio Regnell 1978. Isabella (1846–1921), princesa do Brasil. Iserhielm, Carl Johan (1761–1817), juiz da suprema corte. Iserhielm, Sofia (1810–1862). Islam, Shahidul, nascido 1956, pesquisador no instituto Karolinska, ganha-

dor do prêmio Regnell 2002. Jacobsson, Christoffer Fredrik, nascido 1807, estudante universitário. Jansson, Erik (1803–1852), camponês na Upsala Antiga, primo do marido

de Anna. Jansson, Jan, nascido 1793, irmão menor de idade de Erik. Jansson, Matts, nascido 1805, jurado na Upsala Antiga, irmão de Erik. Johansson, Johan Erik (1862–1938), professor de fisiologia no instituto Ka-

rolinska, ganhador do prêmio Regnell 1902. Jonsdotter, Johanna (1836–1894), esposa de um encadernador de livros em

Gudmundrå. Josefine, princesa de Leuchtenberg (1807–1876), rainha da Suécia. José Teodoro, tropeiro em Caldas. Juliusson, Gunnar, nascido 1954, professor de hematologia no hospital uni-

versitário Karolinska, Huddinge, ganhador do prêmio Regnell 1990. Karl XIV Johan (1763–1844), rei da Suécia e Noruega. Karl XV (1826–1872), rei da Suécia e Noruega. Key, Axel (1832–1901), professor de anatomia patológica no instituto Ka-

rolinska. Kjellberg, Nils Gustaf (1827–1893), professor de psiquiatria em Upsala.

Page 254: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

254

Klemming, Gustaf Edward (1823–1893), bibliotecário chefe na biblioteca Real.

Koraen, Gunnar Martin (1877–1952), bacteriologista, ganhador do prêmio Regnell 1902.

Kullberg, Niklas (1806–1883), pároco em Tvååker. Kumlin, Ragnar (1897–1979), diplomata sueco. Källström, Anders (1800–1865), pároco em Mora. Källström, Carin, nascida Arosenius (1806–1892), esposa do pároco de

Mora. Köhler, Lovisa Gustafa von (1782–1827), baronesa. Laënnec, René Théophile Hyacinthe (1781–1826), médico francês, inventor

do estetoscópio. Lagerkvist, Ulf (1926–2010), professor de química médica e fisiológica em

Göteborg. Lagerström, Anna, nascida 1756, tia de Regnell. Landergren, Ernst Gustaf Adrian (1867–1912), laboratorista de fisiologia

experimental, Instituto Karolinska, ganhador do prêmio Regnell 1906. Lapa, Amaral da, fazendeiro e dono de escravos brasileiro. Laurell, Lars Petter, nascido 1809, camarada de escola, professor de escola

em Estocolmo. Laurell, Nils Rickard Emanuel (1849–1889), xilógrafo em Helsinque. Laurentz, Anders (1802–1880), pastor em Lekåsa. Lemchen, Johan Magnus (1811–1877), médico chefe no hospital de cólera

de Estocolmo. Lenin, Vladimir (1870–1924), líder soviético. Lennander, Karl Gustaf (1857–1908), professor de cirurgia em Upsala. Levertin, Alfred (1843–1919), docente em balneologia no Instituto Karo-

linska. Liedbeck, Pehr Jacob, nascido 1802, médico subchefe de anatomia em

Upsala, médico praticante em Estocolmo. Liedman, Sven-Eric, nascido 1939, professor de ideia e ciência histórica em

Gotemburgo. Liljestrand, Göran (1866–1968), professor de farmacodinâmica e farmacog-

nosia no Instituto Karolinska, ganhador do prêmio Regnell 1946. Lindberg, Gustaf Anders (1832–1900), botânico, chefe de contabilidade no

colégio de Comércio. Lindberg, Sextus Otto (1835–1889), professor de botânica em Helsinque. Lindman, Carl Axel Magnus (1856–1928), professor e superintendente da

seção botânica do Museu Nacional de História Natural. Lindström, Anders (1770–1839), açougueiro. Lindström, Charlotta, casada Brattström (1807–1844), amiga de infância. Lindström, Maria, nascida Strömberg (1804–1875), amiga de infância. Linné, Carl von (1707–1778), professor de botânica. Linné, Carl von júnior. (1741–1783), professor de botânica.

Page 255: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

255

Linnström, Anders Robert August, nascido 1839. Linnström, August (1810–1862), tenente, colega de escola. Linnström, Britta Lovisa (1835–1894). Linnström, Henrietta, nascida 1840. Linnström, Hjalmar (1836–1914), publicador de livros. Linnström, Jenny (1838–1894). Linnström, Julia (1843–1862), Linnström, Terese, nascida 1842. Locrantz, Gustaf Fredrik Wilhelm (1799–1881), pároco e médico do traba-

lho em Söderfors. López, Francisco Solano (1827–1870), ditador do Paraguai. Lorichs, Charlotta (1818–1893), esposa de Isak Gustaf Clason. Lorichs, Per Daniel (1785–1853), prefeito em Dalarna. Lovén, Sven (1809–1895), biólogo marinho. Loyolla, Anna Augusta de, cunhada de August Westin. Loyolla, José Bernardes de, juiz. Lundberg, Anna (1814–1892), prima de Regnell. Lundberg, Jan Fredrik (1788–1859), jurado, pai da prima Anna. Lundberg, Jan Magnus, nascido 1953, professor e chefe de pesquisa, ganha-

dor do prêmio Regnell 1994. Lundberg, Vincent (1816–1891), médico. Lundve, Bengt, nascido 1957, engenheiro pesquisador, centro de ciência ma-

rinha Sven Lovén. Löfgren, Albert (1854–1918), botânico sueco no Brasil. Löfling, Anders (1784–1881), Vigário em Östervåla. Malme, Gustaf Oskar Andersson (1864–1937), botânico e professor de bio-

logia. Malmsten, Per Henrik (1811–1883), professor de medicina no Instituto Ka-

rolinska. Machado, Silva, barão de Antoninho. Maria Julia, Regnells cozinheira. Martin, Albertina Amalia, casada Laurell (1814–1890). Martins, Oscar Piraja, médico brasileiro. Martius, Carl Friedrich Philipp von (1794–1868), botânico alemão. Masquelier, Michèle, nascido 1953, químico, ganhador do prêmio Regnell

1990. Mataconi, Manuela, nascida 1976, doutora em medicina, ganhadora do

prêmio Regnell 1990. Mauss, Marcel (1872–1950), sociólogo francês. Mesterton, Carl Benedict (1826–1889), professor de cirurgia em Upsala. Meurling, Erik (1879–1961), pároco contratado em Kristdala. Moberg, Vilhelm (1898–1973), escritor. Mosén, Carl Wilhelm Hjalmar (1841–1887), doutor em filosofia, botânico. Munck af Rosensköld, Eberhard (1811–1869), médico no Paraguai. Munktell, Johan Jacob (1774–1847), empresário em Grycksbo.

Page 256: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

256

Murray, Adolf (1751–1803), primeiro professor de cirurgia em Upsala. Mörner, Karl (1854–1917), professor de química e farmácia no Instituto Ka-

rolinska. Neikter, Jakob Fredrik (1744–1803), professor Skytteanus em Upsala. Netto, Ladislau de Souza Mello (1838–1894), botânico brasileiro e diretor

do Museu Nacional no Rio de Janeiro. Netzel, Nils Wilhelm (1834–1914), professor de obstetrícia e ginecologia no

Instituto Karolinska. Nordstedt, Otto (1838–1924), botânico. Norman, Mikael, nascido 1957, professor de pediatria, ganhador do prêmio

Regnell 2010. Nyström, Fredrika Charlotta, empregada na casa dos pais de Regnell. Oliveira, Maria Amelia de (1835–1909), casada com Lourenço Westin ju-

nior. Oskar II (1829–1907), rei da Suécia. Osti, Henri (1826–1914), fotógrafo em Upsala. Owman, Christer, nascido 1939, professor de neurobiologia molecular em

Lund, ganhador do prêmio Regnell 1998. Oxehuvud, Göran Adolph (1799–1852), capitão de navio. Ozumba, Benjamin, professor da Nigéria, ganhador do prêmio Regnell

2010. Paul, Christer, nascido 1941, professor de hematologia no hospital universi-

tário Karolinska, Huddinge, ganhador do prêmio Regnell 1990. Pedro, antigo escravo de Regnell. Pedro I (1798–1834), imperador do Brasil 1822–1831. Pedro II (1825–1891), imperador do Brasil 1841–1889. Pehrsdotter, Britta, mãe de Regnell. Pereira, Vaz, major e governador de província em Caldas. Pernow, John, nascido 1960, professor de cardiologia no Instituto Karo-

linska, ganhador do prêmio Regnell 1994. Peterson, Curt, nascido 1944, professor, ganhador do prêmio Regnell 1990. Pettersson, Alfred (1867–1951), professor da instituição Estatal, seção de

bacteriologia, ganhador do prêmio Regnell 1926. Pettersson, Erik (1796–1878), mercador de especiarias, padrasto. Pettersson, P., secretário do consulado. Pihl, Axel (1838–1927), diretor do jardim Rosendal. Platen, Baltzar von (1804–1875), ministro da marinha, mais tarde primeiro

ministro. Rangel, Gentil de, juiz em Caldas. Rask, Anders (1762–ca. 1808), soldado, avô de Regnell. Reil, Johan Christian (1759–1813), médico alemão. Rengnell, Sofia, contemplada com auxílio em dinheiro. Retzius, Anders (1796–1860), professor de anatomia no Instituto Karo-

linska.

Page 257: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

257

Retzius, Anders Jahan (1742–1821), professor de História natural em Lund. Retzius, Gustaf (1842–1919), professor de histologia no Instituto Karo-

linska. Retzius, Magnus (1795–1871), professor de obstetrícia no Instituto Karo-

linska. Ringnell, Anders (1784–1830), estalajadeiro, pai de Regnell. Rita, Regnells escrava. Rivarola, general no Paraguai. Rodrigues, João. Barbosa (1842–1909), botânico brasileiro. Romansson, Henrik Wilhelm (1776–1853), professor de anatomia e cirurgia

em Upsala. Rosén, Carl Rosenstein, von (1766–1836), arcebispo. Rosén, Henrik, fotógrafo em Campinas. Rosén, Nils von Rosenstein (1706–1773), pai da pediatria sueca. Rossander, Carl Jacob (1828–1901), professor do hospital Serafimer. Rosell, Sune, nascido 1932, professor de farmacologia no Instituto Karo-

linska, ganhador do prêmio Regnell 1974. Rudbeck, Olof Filho. (1660–1740), professor em Upsala. Rudbeck, Olof Sênior. (1630–1703), professor em Upsala. Rudling, Mats, nascido 1954, professor de pesquisa experimental cardiovas-

cular no hospital universitário Karolinska, Huddinge, ganhador do prêmio Regnell 1990 e 2006.

Sá, Magali Romero, pesquisadora brasileira na Casa de Oswaldo Cruz. Sanchez, Pedro de Lemos, médico em Poços de Caldas. Sandahl, Oskar Theodor (1829–1894), médico sueco e farmacologista. Sandberg, Monica, arquiteta paisagista e fotógrafa. Sandén, Johan (1839–1914), páraco em Funbo. Santesson, Carl (1819–1886), professor de cirurgia. Schedwin, David Magnus (1780–1858), economista da universidade. Scheele, Carl Wilhelm (1742–1786), químico. Schlechtendal, Dietrich Franz Leonard (1794–1866), professor de botânica

em Halle. Schram, Johan Gustaf (1801–1890), economista da catedral, inventariante. Schröder, Maria Catharina, noiva de Anders Ringnell. Schröder, Maria Kristina (1764–1836), viuva do carteiro. Setterdahl, Johan Axel (1856–1919), historiador de pessoas, vigário em

Slaka. Severin, Axel Eberhard (1842–1895), farmacêutico sueco em Campinas. Sillén, Nils Johan (1788–1857), professor e pároco em Filipstad. Sillén, Olof Leopold (1813–1894), farmacêutico em Gävle. Silva, Gabriel Pio da, juris doutor, cunhado de August Westin. Silva, Maria Ines da, esposa de August Westin. Sjöstrand, Magnus Gustaf (1807–1880), vigário em Torslunda, botânico. Sköldberg, Emil (1818–1851), filósofo e estudante de medicina.

Page 258: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

258

Sköldberg, Per Adolph (1780–1853), vice-presidente no supremo tribunal Svea Hovrätt 1843– 1846.

Sköldberg, Sven Erik (1806–1884), médico do interior em Jönköping. Sondén, Klas Gustaf Anders (1859–1940), engenheiro no escritório de águas

de Estocolmo, ganhador do prêmio Regnell 1894. Stenbeck, Thor (1864–1914), pioneiro em radiologia em Estocolmo. Stolpe, Hjalmar (1841–1905), etnólogo e arqueólogo. Stramowitz, E. S., capitão de navio cargueiro. Sture, Antoinette (1798–1865), baronesa. Sture, Sten (1770–1812), barão em Marielund. Sundevall, Fredrik Emil (1811–1881), professor de anatomia, fisiologia e

medicina jurídica em Upsala. Svahn, Hulda Elisabet Maria, (1844–1890), editor de livros. Svanvik, Joar, nascido 1942, professor de cirurgia em Linköping, ganhador

do prêmio Regnell 1986. Särnblad, visitante a Regnell em Caldas. Söderberg-Reid, K., pesquisador, ganhador do prêmio Regnell 1990. Thom, Inga-Lisa, assistente de pesquisa, ganhadora do prêmio Regnell 1958

e 1962. Thornell, Erland, nascido em 1943, médico chefe em cirurgia, ganhador do

prêmio Regnell 1986. Thunberg, Carl Peter (1743–1828), botânico e aluno de Linné. Thunberg, Torsten (1873–1952), professor de fisiologia em Lund, ganhador

do prêmio Regnell 1918. Thune, Anders, nascido 1950, docente de cirurgia em Gotemburgo, ganha-

dor do prêmio Regnell 1986. Tidefelt, Ulf, nascido 1951, professor, ganhador do prêmio Regnell 1990. Tigerstedt, Robert (1853–1923), professor de fisiologia em Helsinque, ga-

nhador do prêmio Regnell 1894. Troilia, Anna Britta (1753–1841), esposa de páraco em Svärdsjö. Torebjörk, Erik, nascido 1939, professor de neurofisiologia clínica em

Upsala e ganhador do prêmio Regnell 1974. Tornhammar, Per, nascido 1982, estudante de medicina, ganhador do prêmio

Regnell 2010. Torres, Miguel Gonçalves (1849–1891), pastor presbiteriano, paciente de

Regnell. Tyselius, Viktoria Carolina (1826–1882), viúva de médico do interior. Uddén, Johan (1769–1816), vigário na paróquia Ladugårdslandet. Ueda, Peter, nascida 1985, ganhadora do prêmio Regnell 2010. Uhrström, Wilhelm Peter, (1842–1915), médico praticante em Estocolmo. Ullf, Clara Malvina (1837–1923), esposa de professor em Upsala. Ullf, Ingeborg (1867–1912), esposa de médico em Upsala. Ullf, Gustaf Emanuel (1833–1913), comendador na marinha.

Page 259: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

259

Uvnäs, Börje (1913–2003), professor de farmacologia no Instituto Karo-linska, ganhador do prêmio Regnell 1958, 1962, 1970 e 1982.

Wahlberg, Peter (Pehr) Fredrik (1800–1877), professor de matéria médica e história natural no Instituto Karolinska.

Wahlbom, Johan Gustaf (1724–1808), primeiro médico da corte, médico do interior em Kalmar.

Wahlenberg, Göran (1790–1851), professor de medicina e botânica em Upsala.

Wallenberg, André Oscar (1816–1886), timoneiro e diretor de banco. Wallin, Johan Olof (1779–1839), arcebispo e escritor de salmos. Wallis, Curt (1845–1922), professor no Instituto Karolinska, ganhador do

prêmio Regnell 1874. Warfvinge, Frans Wilhelm (1834–1908), médico chefe no hospital Sabbats-

berg, ganhador do prêmio Regnell 1878. Varnauskas, Edward, nascido 1923, professor de medicina, ganhador do

prêmio Regnell 1954. Wensjoe, Thure (1801–1865), e.o. predicante da corte, pároco da paróquia

de Klara. Werkö, Lars (1918–2009), professor de medicina em Gotemburgo, ganhador

do prêmio Regnell 1954. Westerlund, Johan Alfred (1849–1925), pároco em Vårdnäs. Westling, Margareta, nascida 1943, engenheira de laboratório, ganhadora do

prêmio Regnell 1982. Westin, Anders (1786–1818), curtidor de peles em Stockholm. Westin, August Rudolf (1812–1886), farmacêutico e comerciante em Cal-

das. Westin, Fredrik (1782–1863), pintor histórico e de igrejas. Westin, Jakob (1810–1880), doador e colecionador de livros. Westin, Johan (1751–1828), representante dos comerciantes de pele em Es-

tocolmo. Westin, Lourenço (1787–1846), cônsul geral sueco-norueguês no Rio de Ja-

neiro. Westin, Lourenço (1833–1912), fazendeiro em Caldas. Westin, Ulrika Charlotta, nascida 1795, madrasta de August Westin. Widing, Lars Peter (1752–1820), pároco na paróquia de Ladugårdslandet. Widgren, Johan Fredrik (1810–1883), pároco em Normlösa e Härberga, bo-

tânico. Vitols, Sigurd, nascido 1953, professor adjunto de farmacologia no instituto

Karolinska, ganhador do prêmio Regnell 1990. Wittrock, Veit Brecher (1839–1914), superintendente do Museu Nacional de

História Natural e presidente dos jardins Bergianska. Åberg, Anna Kajsa, nascida 1765, esposa de colono em Funbo, mãe de cri-

ação. Åberg, Otto Wilhelm (1809–1881), médico da prisão em Norrköping.

Page 260: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

260

Åborg, Carl-Hugo, nascido 1926, engenheiro pesquisador, ganhador do prêmio Regnell 1982.

Åkerberg, Magnus (1754–1811), segurança do palácio. Åkerblom, Leonard (1830–1896), cônsul geral sueco-norueguês no Rio de

Janeiro. Åkerman, Viktor (1835–1916), grossista. Ålin, Stina Dorotea (1867–1922), esposa de um montador de livros de Kram-

fors. Ångström, Anders Johan (1814–1874), professor de física em Upsala. Ångström, Knut (1857–1910), professor de física em Upsala. Öhrvall, Hjalmar (1851–1929), professor de fisiologia no Regnelliano em

Upsala.

Page 261: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

261

Índice de pessoas

Åberg Anna Kajsa, 11 Otto Wilhelm, 190, 192

Åborg Carl-Hugo, 240

Abreu Raphael Lorenzeto de, 98

Acrel Olof af, 93

Adãozinho, 215 Afzelius

Adam, 35, 54 Per von, 119

Agostinho, 116, 121, 199 Ahlberg, 173 Ahlstrand

Johan August, 129 Åkerberg

Magnus, 34 Åkerblom

Leonard, 76, 106, 108, 115, 128, 137, 180, 200, 201, 203

Åkerman Victor, 65 Viktor, 47

Ålin Stina Dorotea, 25

Almén August Teodor, 78, 105, 122,

238 Andersdotter

Britta Stina, 19 Andersson

Nils Johan, 42, 56, 132, 135, 137, 148, 167, 172

Oskar Adolf Efraim, 238 Andrade

Manuel Pinto de, 119 Angelin

Bo, 240, 241 Ångström

Anders Johan, 158 Knut, 158, 162

Ankarsvärd Gustaf, 105 Otto Magnus, 105

Anna Kajsa Åberg, 11 Arosenius

Jakob Fredrik Neikter, 38, 48, 124, 188

Arpi Oscar, 148

Assumpção Joaquim, 215

Aurell Carl August, 60 Wilhelm, 194

Bäck Abraham, 93

Bang Ivar, 239

Bell Charles, 61

Bentham George, 137

Berg Catharina, 12 Fredrik, 76

Berggren Lennart, 269

Berlin Nils Johan, 67, 185

Berzelius Jöns Jakob, 38, 84, 85, 89, 92

Page 262: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

262

Bjerkén Per af, 89

Björkman Britta, 22, 26

Björnström Fredrik, 78

Blix Magnus, 77

Bolstad Jens Martin, 214, 215

Bonamy Anna Karin Edstedt, 241

Bonde Ylva, 241

Bonne Carl, 11

Bonnier Albert, 187

Bouillard Jean Baptiste, 201

Brattström Aurora Constance, 26 Carl, 24, 25 Carl Wilhelm, 23, 26 Carolina Charlotta, 97 Charlotta, 100 Charlotta Wilhelmina, 26 Otto Wilhelm, 188 Sofia, 26

Brazil Mineiro da Campanha Vital, 105, 202

Broman Ivar, 239

Brouissais François, 201

Brunnberg Johan Gustaf, 17, 21, 188, 189,

223 Bucht

Härje, 239 Carlmark

C.P., 96 Johan Peter, 15

Carlsson Eric, 14 Fredrik Ferdinand, 80 Olof, 18

Celsius Anders, 13

Chenon Christina Beata, 103

Chesnopherus Johannes, 63

Chima Charles, 241

Christophersen Wilhelm, 150

Clason Edward, 25, 46, 47, 64, 73, 74,

77, 78, 79, 88, 114, 116, 149, 153, 162, 183, 204, 205, 223, 225

Fredrik, 41, 48, 69, 71, 149 Helena Augusta, 47 Henrik, 85 Isak Gustaf, 13, 15, 16, 18, 25,

29, 35, 38, 41, 43, 48, 64, 72, 73, 74, 88, 130, 131, 133, 137, 141, 156, 158, 161, 164, 167, 173, 183, 205, 211, 226, 236

Maria Gustava, 112 Wolter, 41

Clason Sênior Isak Gustaf, 40

Copland James, 118

Crusenstolpe Jacob Magnus, 67, 68

Cysnerio Francisco Freire Allemão e,

139, 164 Dahlgren

Ossian, 140, 161 Darwin

Charles, 75, 132

Page 263: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

263

Demin Christina Catharina, 14, 16,

19, 34 Diethl

Joseph, 201 Domiciano, 215 Ehrenhoff

Gustaf, 26 Eichler

August Wilhelm, 165 Ek

Christina, 104 Jan, 239

Ekholm Carl Axel, 83

Eklund Abraham Fredrik, 117

Ekman Carl Edward, 229 Erik Leonard, 178 Vilhelm, 4

Ekströmer Carl Johan, 65, 89, 92, 94

Eldh Carl, 82

Elgklo Olof Fredrik, 20

Engelgren Anders Georg, 96

Engelo Sofia, 11

Ericsson Staffan, 240

Euler Ulf von, 239

Fant Anna Clara Carolina, 50 Göran, 35, 38, 40, 48, 49, 50,

188, 211, 226 Faraday, Michael, 118 Fernö

Ove, 239 Ferreira

Julio Andrade, 104 Fjällstedt, 87

Folkow Björn, 239

Frängsmyr Carl, 74, 231 Tore, 88

Frans Gustaf Oscar, 141

Fries Elias, 55, 130, 134 Susanna, 122 Thore Magnus, 45, 55, 74,

122, 130, 131, 147, 161, 166, 173, 175, 212, 213, 215, 223

Fristedt Robert, 78

Fröding Gustaf, 75

Furuhagen Björn, 87

Gabriel, 215 Gahn

Eva, 39 Greta, 38 Henrica, 47 Johan Gottlieb, 38, 85 Margareta, 38 Maria, 41

Gahn, Henrika, 39 Gahrton

Gösta, 240 Gälman

Cecilia, 241 Gavelius

Johan Erland, 25 Geer

Louis de, 146 Geijer

Erik Gustaf, 40, 110 Gellerstedt

Per Erik, 67, 69 Gillberg

Gabriel Wilhelm, 16 Glas

Olof, 67, 72, 73, 78, 159, 205

Page 264: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

264

Godée Gustaf Albert, 121

Gunne Lars Magnus, 240

Gustaf II Adolf, 63, 231

Hæggström Lotta, 110

Hagelin Per Hugo, 228

Hagströmer Anders Johan, 89

Hallin Rolf G., 240

Hamilton Henning, 80

Hansen Evald, 1

Harvey William, 61

Hasselberg, Ylva, 44 Hazelius

Artur, 109 Hedenius

Per, 13, 16, 38, 78, 195, 208, 223, 229

Helmholtz Herrman Ludwig von, 76

Henschen Folke, 75, 163 Josef, 151, 155, 158, 181, 198 Salomon Eberhard, 39, 74, 77,

99, 134, 146, 150, 152, 156, 158, 161, 162, 181, 198, 213, 223

Högberg Bertil, 239

Holmberg Johan, 12 Johan Gustaf, 12, 32, 188 Karin, 12, 188

Holmblad Anders, 54

Holmbom Peter, 60

Holmgren Frithjof, 75, 76, 77, 78, 208,

225, 231 Hult

Martin, 241 Hultgren

Erik Olof, 238 Huss

Magnus, 70, 90, 91, 92, 96, 103, 113, 117, 135, 147, 148, 153, 203, 205, 223, 236

Hwasser Bernhard, 68 Israel, 47, 55, 60, 65, 68, 72,

114, 228, 231 Hyckenström

Per Johan, 16, 179 Ingelotz

Charlotta Florentine Beata, 33 Ingvar

David, 240 Iserhielm

Sofia, 29 Islam

Shahidul, 240 Jacobsson

Christoffer Fredrik, 142, 153 Jansdotter

Stina, 18 Jansson

Erik, 20 Matts, 20

Johan Holmberg, 12 Johansson

Anders Westin, 104 Johan Erik, 239

Jonsdotter Johanna, 24

Juliusson Gunnar, 240

Källström Carin, 188

Karl XIV Johan, 67, 91

Karl XV, 68

Page 265: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

265

Key Axel, 48, 74, 77, 96, 208, 223

Kjellberg Gustaf, 78

Koraen Gunnar Martin, 239

Kullberg Niklas, 143

Kumlin Ragnar, 216

Laënnec René, 117

Lagerkvist Ulf, 55

Lagerström Anna Larsdotter, 18, 30 Britta Stina, 30

Landergren Erik, 239

Lapa Amaral da, 164

Laurell Lars Petter, 193 Nils Rickard Emanuel, 194

Laurentz Anders, 192

Lemchen Johan Magnus, 61

Lemos Pedro Sanchez de, 216

Lenin Vladimir, 163

Lennander Karl Gustaf, 162

Levertin Alfred, 213

Lidbeck Pehr Jacob, 61

Liedman Sven-Eric, 65

Liljestrand Göran, 239

Lindberg Gustaf, 144 Gustaf Anders, 153, 157, 158,

172, 223 Lindman

Carl, 178 Lindström

Anders, 22 Anders August, 22, 35 Charlotta, 23, 112, 115 Maria, 188

Linné Carl von, 13, 35, 56

Linné Filho Carl von, 54

Linnström Anders August, 29 Anders Robert August, 28 Antoinetta Terese, 28 August, 24, 27, 28, 29, 40 Ebba Eleonora Carolina

Hortensia Julia, 28 Henrietta Emilia, 28 Hjalmar, 27, 127 Jenny, 30 Jenny Antoinetta Sofia, 28

Locrantz Gustaf Fredrik, 54

Löfgren Albert, 175, 176

Löfling Anders, 189

Lopez Francisco Solano, 149

Lorichs Charlotta, 25, 41 Per Daniel, 41

Lovén Sven, 185

Loyolla Ana Augusta de, 116 José Bernardes de, 116

Page 266: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

266

Lundberg Anna, 19, 20, 65, 188 Jan Fredrik, 19 Jan M., 240 Vincent, 94

Machado Silva, 88

Malme Gustaf, 178

Malmsten Per Henrik, 69, 85, 91, 92

Maria Julia, 215 Martins

Oscar Piraja, 202 Martius

Carl Friedrich Philipp von, 128, 133, 134, 139

Masquelier Michèle, 240

Mataconi Manuela, 241

Mauss Marcel, 211

Mello Netto Ladislau de Souza, 139

Mesterton Carl Benedict, 69, 70, 78, 205,

229 Moberg

Vilhelm, 51 Mörner

Karl, 213 Mosén

Hjalmar, 161, 164, 167, 168, 169, 172, 173, 175, 200, 203

Munktell Johan Jacob, 39

Murray Adolph, 63

Netzel Nils Wilhelm, 185

Nordstedt Otto, 176

Norman Mikael, 241

Nyström Fredrika Charlotta, 127, 188

Öhrvall Hjalmar, 77, 158, 162

Oliveira Maria Amélia, 103

Oskar II, 92, 163 Osti

Henri, 73, 74, 81 Owman

Christer, 240 Oxehuvud

Göran Adolph, 149 Ozumba

Benjamin, 241 Paul

Christer, 240 Paulin

Axel, 182 Pedro, 215 Pedro I, 182 Pedro II, 139 Pehrsdotter

Britta, 11 Pereira

Vaz, 215 Pernow

John, 240 Peterson

C., 240 Pettersson

Alfred, 239 Erik, 16, 17, 20, 62, 96 P., 23

Pihl Axel, 132, 166

Platen Baltzar von, 148

Rangel Gentil de, 215

Rask Anders Olsson, 18

Reid K.Söderberg, 240

Page 267: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

267

Reil Johan Christian, 66

Rengnell Sofia, 195

Retzius Anders, 85, 86, 87, 93, 116,

132 Anders Jahan, 85, 130 Gustaf, 72, 86, 88 Magnus, 72

Ringnell Anders, 11, 14, 15, 18

Rita, 215 Rodrigues

João Barbosa, 139, 161, 164, 165

Romansson Henrik Wilhelm, 60, 119

Röntgen Wilhelm Conrad, 162

Rosell Sune, 240

Rosén Henrik, 150, 155, 157, 182

Rosenschöld Eberhard Munck af, 149, 150

Rosenstein Nils Rosén, 54

Rudbeck Filho Olof, 54

Rudbeck Sênior Olof, 54, 79, 82

Rudling Mats, 240, 241

Sandahl Oskar Theodor, 184

Sandén Johan, 31

Sandström Ivar, 232

Santesson Carl, 13, 106, 145

Särnblad, 154

Schedwin David Magnus, 39, 40, 47, 119

Scheele Carl Wilhelm, 13

Schlechtendal Dietrich Franz Leonard, 134

Schram E. G., 14

Schröder Maria Catharina, 32 Maria Kristina, 32

Severin Axel Eberhard, 154, 202

Sillén Nils Johan, 54 Olof Leopold, 57

Silva Gabriel Pio da, 116 Maria Inês da, 115, 116

Silva Castro Francisco da, 76

Sjöstrand Magnus Gustaf, 189

Sköldberg Emil, 143, 153

Sondén Klas Gustaf, 238

Stenbeck Thor, 162

Stolpe Hjalmar, 88

Stramowitz E., 23

Sture Antoinette, 33 Sten, 33

Sundevall Fredrik Emil, 73, 78, 118

Svanvik Joar, 240

Taube Conde H.A., 12

Thom Inga-Lisa, 239

Page 268: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

268

Thornell Erland, 240

Thunberg Karl Petter, 55 Torsten, 239

Thune Anders, 240

Tidefelt Ulf, 240

Tigerstedt Robert, 238

Torebjörk Erik, 240

Tornhammar Per, 241

Torres Miguel Gonçalves, 119

Troilia Anna Britta, 39

Tyselius Viktoria Carolina, 194

Ueda Peter, 241

Uhrström Wilhelm Peter, 60

Ullf Clara Malvina, 47 Gustaf Emanuel, 149

Uvnäs Börje, 239

Varnauskas Edward, 239

Vellozo José Mariano da Conceição,

139 Vitols

Sigurd, 240 Vittrock

Veit Brecher, 176 von Düben

Joachim Ulrich, 33 von Rosenstein

Carl Rosén, 35 Wahlberg

Peter, 132, 133

Wahlbom Johan Gustaf, 94

Wahlenberg Göran, 55, 59, 60, 68, 73, 231

Wallenberg André Oscar, 149

Wallin Johan Olof, 61

Wallis Curt, 123, 128, 238

Walmstedt Lars Peter, 40, 66

Warfvinge Frans Wilhelm, 238

Weigel Junior Christian Ehrenfried von, 85

Weiss Rebecca, 158

Wensjoe Thure, 61

Werkö Lars, 239

Westin August Rudolf, 100, 104, 105,

115, 116, 120, 127, 199 Fredrik, 102, 107 Johan, 102, 104 Leonard, 182 Lourenço, 141, 180, 213, 215 Ulrika Charlotta, 104

Westin Jr. Lourenço, 104

Westin Sênior Lourenço, 96, 102, 103

Westin, Johan, 104 Westling

Margareta, 240 Widén

Per, 146 Widgren, 153

Johan Fredrik, 44, 103, 141, 144, 172

Wittrock Veit Brecher, 42, 174, 213

Page 269: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

Agradecimentos

Os seguintes arquivos e bibliotecas gentilmente puseram seus serviços à mi-nha disposição: Biblioteca da Universidade Carolina Rediviva em Upsala (pessoal da Sala de Leitura especial Mapas e Imagens, no Serviço de Repro-dução, no serviço de Publicação e gráfica e no balcão de informações); mu-seu Nacional de História Natural (Arne Anderberg e Mia Ehn); Arquivo Na-cional em Marieberg, Arquivo Estatal em Upsala e Arquivo da cidade de Estocolmo. Arquivo Militar (Bo Berg e Per Clason); Academia Real de Ci-ências; Sociedade Sueca de Medicina.

Muitas pessoas particulares também contribuíram com pontos de vista valiosos: Professor Lennart Berggren, professor Gösta Berglund, professor Martin H:son Holmdahl, a secretária da Sociedade de História da Medicina de Upsala Eva Nyström, o fotógrafo Bengt Lundve, a arquiteta paisagista e fotógrafa Monica Sandberg, as escritoras Rebecca Weiss e Johanna Ljungberg (Furudal), os diretores de museu Eva Ahlsten, Jens Christer An-dersson (Sociedade de medicina de Estocolmo), Adam Justin-Moll (Centro Acadêmico Upland em Upsala), Hernan Concha e Ragnar Jonsell.

Brita Nordenberg, no Setor Cultural da Embaixada Brasileira em Esto-colmo e Luísa Maria Rocha, Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, ajudaram com boa vontade, a conseguir fotografias.

Karin Ekström, Taguatinga, Brasil, e Jaime Splettstoser Jr, São João da Boa Vista, traduziram trechos relevantes de livros em português , além de auxiliar de forma inestimável de várias formas.

O Professor Lennart Elmevik dedicou grande cuidado na leitura e redação de meu manuscrito e contribuiu com muitos valiosos pontos de vista. Ele também revisou o trabalho e a correção. Finalmente, um caloroso obrigado por todos os pontos de vista a Theresa Johnson e Erik Lindberg. O autor é responsável por todos os eventuais erros restantes.

O auxílio econômico para publicação deste livro foi recebido da Socie-dade Sueca de Medicina da Sociedade Médica de Upsala, da seção científica farmacêutica e médica da Universidade de Upsala bem como da Acta Uni-versitatis Upsaliensis.

Page 270: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

270

Fig. 65. Anders Fredrik Regnell. Litografia de Robert Widing, Biblioteca Real

Page 271: Imagem de capa Litografia de Evald Hansen. Departamento ...uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1370481/FULLTEXT01.pdfcom quem a criança está atualmente” como consta no livro de

Recommended