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ISSN 0873-3295 Boletim de Pastoral Litúrgica · O gesto salvífico de Cristo na cruz, ... novo”...

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Publicação trimestral – Ano XXVI – Nº 103 – Julho / Setembro 2001 – Preço 400$00 Boletim de Pastoral Litúrgica ISSN 0873-3295 103
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BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICAPropriedade do Secretariado Nacional de Liturgia

Director: Pedro Lourenço FerreiraRedacção e Administração: Secretariado Nacional de LiturgiaSantuário de Fátima – Apartado 31 — 2496-908 FÁTIMATel. 249 533 327 – Fax 249 533 343 – E-mail: [email protected]

Publicação registada na SGMJ nº 118776ISSN 0873-3295

Assinatura anual: Portugal: 1.600$00 (IVA incl.) — Outros países: 2.500$00

G.C. – GRÁFICA DE COIMBRA

Depósito Legal Nº. 88 990/95

O essencial da melhor parte, Pedro Lourenço Ferreira ........................................ 65

Festa dos amigos de Deus, João Paulo II ............................................................... 67

Oração da manhã, João Paulo II ............................................................................. 69

Só a Deus a honra e a glória, João Paulo II ........................................................... 71

O Senhor proclama a sua palavra, João Paulo II ................................................... 73

O Senhor entra no seu templo, João Paulo II......................................................... 75

Os ritos iniciais da Missa – 2. Ritos iniciais, José Ferreira ................................. 77

Curso para Acólitos – 3. O interior de uma igreja, José de Leão Cordeiro ......... 81

A nova edição da Oração Universal, Pedro Lourenço Ferreira ............................ 84

Apresentação da Quinta Instrução, Congregação do Culto Divino ...................... 85

A Associação Europeia de Secretários Nacionais de Liturgia .............................. 91

Bens Culturais da Igreja ........................................................................................... 95

Livros litúrgicos ........................................................................................................ 96

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O ESSENCIAL DA MELHOR PARTE

EDITORIAL

Os tempos que correm são propícios aconfusões e fecundos em aparências. Mas,tanto quanto nos é dado saber, estas coisassão tão antigas como a desgraça. A liturgiasofre as consequências desta realidade,embora se esforce por palavras e por obrasa evitar esta fraqueza humana. Hoje fala--se do “essencial” como de uma moda deregresso ao estado inicial, e da “melhorparte” como de uma opção possível, masmuito discutível.

Esta questão já é abordada pelo Evan-gelho. Quando interrogaram Jesus acercado primeiro mandamento da Lei, Ele res-pondeu com o primeiro e o segundo, nosquais todos se resumiam. E quando Martase queixou a Jesus de a sua irmã a ter dei-xado sozinha com o trabalho, ouviu daboca do Mestre o que não era de esperardum hóspede: “Marta, Marta, andas in-quieta e preocupada com muitas coisas,quando uma só é necessária. Maria es-colheu a melhor parte, que não lhe serátirada” (Lc 10, 41-42).

Insistimos na questão e perguntamospelo essencial, como se este bastasse, ediscutimos a melhor parte com o argu-mento de que, embora sendo uma boaparte, a outra causa também é importante.A confusão instala-se e abre-se a porta daaparência. A retórica é uma arte, por vezesao serviço da mentira, que vê aumentar onúmero dos aprendizes. Por isto mesmo,Jesus chamou a atenção: “Fazei e observaitudo o que eles disserem, mas não imiteis

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as suas obras, pois eles dizem e não fa-zem” (Mt 23, 3) e ainda mais: “De facto,os filhos deste mundo são mais espertosdo que os filhos da luz, no trato com osseus semelhantes” (Lc 16, 8).

A liturgia, entendida como exercíciodo ministério sacerdotal de Cristo, estáisenta de todos estes males do tempo epermanece pura aos olhos de Deus e dosSantos, mas a liturgia que Cristo celebrano sacramento da sua Igreja está continua-mente sujeita às fraquezas da humanidadeneste parto de salvação. Entre a liturgia deCristo e a liturgia da Igreja existe a vidaque une o corpo ao espírito e a morte quedeclara o espírito livre e o corpo cadáver.Por este motivo o sacerdote reza antes dacomunhão: “A comunhão do vosso Corpoe Sangue, Senhor Jesus Cristo, não sejapara meu julgamento e condenação, mas,pela vossa misericórdia, me sirva deprotecção e remédio para a alma e para ocorpo”.

A liturgia celebra e proclama a ver-dade, o essencial e a melhor parte, masassim como a vida é irmã da morte e lutamentre si pela sobrevivência, as acçõeslitúrgicas são gestos sagrados que reali-zam o que anunciam: a vida e a morte. Éassim que rezamos e cantamos: “Anuncia-mos, Senhor, a vossa morte, proclamamosa vossa ressurreição”. E isto é o essenciale a melhor parte donde procede a vida,mas onde se pode encontrar também amorte. O gesto salvífico de Cristo na cruz,

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que para uns é loucura e para outros éescândalo, é o essencial e a melhor parteda Igreja e não lhe será tirada na eficáciadas acções litúrgicas. Cristo garantiu a suapresença e acção até ao fim dos tempos.A Igreja acolhe esta presença de Cristo edá-lhe corpo mediante a acção do EspíritoSanto.

Estas considerações vêm a propósitodas nossas celebrações litúrgicas, sejamelas sacramentos ou sacramentais, cha-mem-se Missa ou Confissão, Liturgia dasHoras ou adoração ao Santíssimo. Todasproclamam a mesma verdade: Deus quersalvar todos os homens, Cristo realizou aobra da redenção e o Espírito Santo comu-nica a salvação. Salva-se quem acolhe avida e condena-se quem rejeita a vida. Talcomo conhecemos os trabalhos da obra daredenção na paixão, morte e ressurreiçãodo Senhor, assim devemos procurar co-nhecer os trabalhos que completam nonosso corpo o que falta à paixão de Cristo.Neste sentido, as acções litúrgicas estãoao nosso serviço, individual e colectiva-mente, como em Cristo pela Igreja e naIgreja por todos os homens. A ascese cristãque resulta da liturgia e a ela conduz vaireclamando a verdade da liturgia e davida, porque da mesma coisa se trata.

Uma certa onda de desencanto vaidemolindo lentamente a obra das nossasmãos, mas ainda bem, porque assim po-demos regressar ao essencial da melhorparte que não nos será tirada pelo mar, quesempre terá ondas de enrolar. A liturgiacristã é obra de Jesus Cristo. O sinal dacruz coloca o orante na cena do Calvário efaz dele um actor que representa, tornapresente e realiza o mistério de redenção.Por este motivo se recomenda que naMissa “sobre o altar ou perto dele, colo-ca-se uma cruz” (IGMR 79). Isto não é oessencial, mas indica o essencial para ser

entendido e celebrado como essencialpara que não se perca a melhor parte. OCorpo de Cristo, todo divino e todo huma-no, não é uma abstracção da mente, masum todo que integra todas as coisas, até opróprio pecado. O essencial da comunhãoeucarística não é o Coração de Jesus, maso Cristo total, ideia tão querida a SantoAgostinho. Quando comungamos não nosfixamos nas botas que engolimos, porquede facto não as engolimos: isso não é es-sencial nem faz parte do corpo erguido nacruz. Quando comungamos não separa-mos a carne do osso, porque nem é carnenem é osso, mas o sacramento do Corpode Cristo, tão belo e perfeito como a Vir-gem O deu à luz, mas sempre bonito comoa Mãe o soube vestir. Nesse Corpo estátoda a divindade e toda a humanidade.Está o essencial, a melhor parte e todas aspartes que integram a verdade e a perfei-ção das coisas criadas e redimidas.

As celebrações litúrgicas são gestossalvíficos do Cristo total que integra a gló-ria de Deus e o mundo dos homens. Nestesgestos nada é supérfluo, mas tudo é cha-mado a ser esplendor da verdade e culturaartística. Os templos e os seus adornos,os ministros e as suas vestes, os ritos e osobjectos litúrgicos, a palavra e o livro, ocanto e a oração, os gestos e os senti-mentos estão ao serviço do essencial. Averdade e a beleza reclamam a perfeiçãono pormenor. O cerimonial litúrgico tem amissão de indicar o essencial do mistério edeclarar a melhor parte da vida da Igreja.

A liturgia não anda errante, mas al-gumas celebrações estão desfiguradascomo o rosto de Cristo na paixão. Importaimpregnar todas as celebrações da belezae da verdade de Cristo ressuscitado. Con-tribuir para que tal seja possível é nossodever e salvação.

PEDRO LOURENÇO FERREIRA

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A VOZ DO PAPA

FESTA DOS AMIGOS DE DEUSCatequese sobre o Salmo 149

1. “Regozijem-se os justos na glória ecantem jubilosos em seus leitos”. Esteapelo do Salmo 149 (v. 5), que acaba deser proclamado, remete para uma auroraque está prestes a despontar e vê os fiéisprontos a entoar os seus louvores matu-tinos. Com uma expressão significativa,este louvor é definido como “um cânticonovo” (v. 1), ou seja, um hino solene eperfeito, propício para os últimos dias,quando o Senhor reunir os justos nummundo renovado. Todo o Salmo está im-pregnado de uma atmosfera festiva,inaugurada já pelo aleluia inicial e depoiscadenciada com cânticos, louvores, ale-gria, danças e sons de tímpanos e decítaras. A oração que este Salmo inspira éa acção de graças de um coração repletode exultação religiosa.

2. Os protagonistas deste Salmo sãochamados, no original hebraico do hino,com dois termos característicos da espiri-tualidade do Antigo Testamento. Por trêsvezes são definidos como “hasidim” (vv.1.5 e 9), ou seja, “os piedosos, os fiéis”,aqueles que respondem com fidelidade eamor (hesed) ao amor paternal do Senhor.A segunda parte deste Salmo surpreende,porque está repleta de expressões bélicas.Parece-nos estranho que no mesmo versí-culo o Salmo fale dos “louvores de Deus aplena voz” e da “espada de dois gumes nas

suas mãos” (v. 6). Reflectindo, podemoscompreender o motivo: o Salmo foicomposto para os “fiéis” que estavamempenhados numa luta de libertação;combatiam para libertar o seu povo opri-mido e para lhe dar a possibilidade deservir a Deus. Durante a época dos Maca-beus, no século II a.C., os combatentespela liberdade e pela fé, submetidos a umadura repressão por parte do poderhelenista, chamavam-se precisamentehasidim, “os fiéis” à Palavra de Deus e àstradições dos Padres.

3. Na perspectiva actual da nossa oração,esta simbologia bélica torna-se umaimagem do nosso compromisso de crentese, depois de termos cantado a Deus oslouvores matutinos, podemos partir pelasestradas do mundo, no meio do mal e dainjustiça. Infelizmente, as forças que seopõem ao Reino de Deus são imponentes: o Salmista fala “de povos, de nações, dechefes e de nobres”. Todavia, está con-fiante porque sabe que ao seu lado se en-contra o Senhor, que é o verdadeiro Rei dahistória (cf. v. 2). Por conseguinte, a suavitória sobre o mal é certa e será o triunfodo amor. É neste combate que participamtodos os hasidim, todos os fiéis e os justosque, com o poder do Espírito, completama obra admirável que tem o nome do Reinode Deus.

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4. Partindo das referências do Salmo ao“coro” e aos “tímpanos e cítaras”, SantoAgostinho comenta: “O que é que re-presenta um coro? [...] O coro é um grupode cantores que cantam em conjunto. Secantarmos num coro, devemos cantar emharmonia. Quando se canta em coro, umaúnica voz desafinada fere o ouvinte e se-meia confusão no próprio coro” (Enarr. inPs., 149: CCL 40, 7, 1-4).

Depois, referindo-se aos instrumentosutilizados pelo Salmista, pergunta-se: “Por que motivo o Salmista pega no tím-pano e no saltério?”. Em seguida, respon-de: “A fim de que não só a voz louve aoSenhor, mas também as suas obras. Quan-do se tocam o tímpano e o saltério, asmãos harmonizam-se com a voz. Assimdeve ser também para ti. Quando cantareso aleluia, deves oferecer o pão ao faminto,vestir aquele que está nu e hospedar o pe-regrino. Se fizeres isto, não só a voz canta-rá, mas com voz se hão-de harmonizar asmãos, enquanto com as palavras concor-darão as obras” (Ibid., 8, 1-4).

5. Há outro vocábulo, com que os oran-tes deste Salmo são definidos: trata-se dos“anawim”, isto é, “os pobres, os humil-des” (v. 4). Esta expressão é muito fre-quente no Saltério e indica não só osoprimidos, os miseráveis e os que sãoperseguidos por causa da justiça, masinclusivamente aqueles que, sendo fiéisaos compromissos morais da Aliança comDeus, são marginalizados por quantosescolhem a violência, a riqueza e a prepo-tência. É nesta luz que se compreende quea classe dos “pobres” não é apenas umacategoria social, mas uma opção espiri-tual. Este é o sentido da primeira, célebre,Bem-Aventurança: “Bem-aventurados ospobres em espírito, porque deles é o reinodos céus” (Mt 5, 3). Já o profeta Sofonias

se dirigia com a seguinte expressão aosanawim: “Procurai o Senhor, vós todos,os humildes da terra, que cumpris a sualei. Procurai a justiça, buscai a humilda-de: talvez assim acheis abrigo no dia dacólera do Senhor” (2, 3).

6. Pois bem, o “dia da cólera do Senhor”é precisamente aquele que se descreve nasegunda parte do Salmo, quando os “po-bres” se põem ao lado de Deus a fim delutar contra o mal. Sozinhos, eles não têma força suficiente, nem os instrumentos,nem as estratégias necessárias para seoporem à irrupção do mal. Contudo, afrase do Salmista não admite hesitações: “O Senhor, de verdade, ama o seu povo eadorna os humildes (anawim) com a vitó-ria” (v. 4). Representa-se espiritualmenteaquilo que o Apóstolo Paulo declara aosCoríntios: “O que é vil e desprezível nomundo é que Deus escolheu, como tam-bém aquelas coisas que nada são, paradestruir as que são” (1 Cor 1, 28).É com esta confiança que “os filhos deSião” (v. 2), os hasidim e os anawim, ouseja os fiéis e os pobres, se preparampara viver o seu testemunho no mundo ena história. O cântico de Maria, contidono Evangelho de Lucas, o canto do Mag-nificat constitui o eco dos melhores senti-mentos presentes nos “filhos de Sião”: olouvor de exultação a Deus Salvador, aacção de graças pelas grandes coisas quelhe fez o Omnipotente, o combate contraas forças do mal, a solidariedade paracom os pobres e a fidelidade ao Deus daAliança (cf. Lc 1, 46-55).

JOÃO PAULO II

23 de Maio de 2001Transcrito de L'Osservatore Romano

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ORAÇÃO DA MANHÃCatequese sobre o Salmo 5

1. “Pela manhã, Senhor, ouvis a minhavoz, mal nasce o dia exponho o meu pedi-do e aguardo ansiosamente”. Com estaspalavras, o Salmo 5 apresenta-se comouma oração da manhã e por isso se situabem na liturgia das Laudes, o cântico dofiel no início do dia. A tonalidade de fundodesta súplica está marcada também portensão e ansiedade pelos perigos e amar-guras que podem acontecer inesperada-mente. Mas não falta a confiança emDeus, sempre pronto a amparar o seu fielpara que não tropece no caminho da vida.

“Ninguém, a não ser a Igreja, possuiuma confiança assim” (São Jerónimo,Tractatus LIX in psalmos, 5, 27: PL 26,829). E Santo Agostinho, chamando a

atenção para o título que é dado ao Salmo,título que diz na sua versão latina: Paraaquela que recebe a herança, explica: “Portanto, trata-se da Igreja que recebe emherança a vida eterna por meio de nossoSenhor Jesus Cristo, de maneira que elapossui o próprio Deus, adere a Ele, e n’Eleencontra a sua felicidade, segundo o queestá escrito: “Bem-aventurados os man-sos, porque possuirão a terra” (Mt 5, 5)(Enarr. in Ps., 5: CCL 38, 1, 2-3).

2. Como acontece muitas vezes nosSalmos de “súplica” dirigidos ao Senhorpara que nos liberte do mal, são três aspersonagens que entram em cena nesteSalmo. Em primeiro lugar, aparece Deus(vv. 2 e 7), o Tu por excelência do Salmo,ao qual se dirige confiante aquele queinvoca. Perante os pesadelos de um diacansativo e talvez rigoroso em relação àinjustiça, alheio a qualquer compromissocom o mal: “Tu não és um Deus que seapraz com o mal” (v. 5).

Um longo elenco de pessoas más, omalvado, o estulto, quem pratica o mal, omentiroso, o sanguinolento, o ignorante,passa diante do olhar do Senhor. Ele é oDeus santo e justo e põe-se ao lado dequem percorre os caminhos da verdade edo amor, opondo-se a quem escolhe “asveredas que conduzem ao reino das som-bras” (cf. Pr 2, 18). Então, o fiel não se

A VOZ DO PAPA

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sente sozinho e abandonado quando en-frentar a cidade, penetrando na sociedadee no enredo das vicissitudes quotidianas.

3. Nos versículos 8-9 da nossa oraçãomatutina a segunda personagem, quemora, apresenta-se a si próprio com um Eu,revelando que toda a sua pessoa se dedicaa Deus e à sua “grande misericórdia”. Eletem a certeza de que as portas do templo,isto é, o lugar da comunhão e da intimida-de divina, fechadas para os incrédulos, seabrem diante dele. Entra por elas a fim desentir a segurança da protecção divina, en-quanto fora o mal se alastra e celebra osseus aparentes e efémeros triunfos.

Da oração matutina no templo o fielrecebe a força interior para enfrentar ummundo com frequência hostil. O próprioSenhor o levará pela mão e o guiará pelasestradas da cidade, ou melhor, “aplanarápara ele o caminho”, como diz o Salmistacom uma imagem simples e sugestiva. Nooriginal hebraico esta serena confiançafunda-se em duas palavras (hésed esedaqáh): por um lado, “misericórdia oufidelidade” e, por outro, “justiça ou salva-ção”. São as palavras típicas para celebrara aliança que une o Senhor ao seu povo e acada um dos fiéis.

4. Por fim, eis que se projecta no hori-zonte a obscura figura da terceira perso-nagem deste drama quotidiano: são osinimigos, os malvados, que já se aponta-vam nos versículos precedentes. Depoisdo “Tu” de Deus e do “Eu” do orante, en-contra-se agora um Eles que indica umamultidão hostil, símbolo do mal do mundo(vv. 10-11). A sua fisionomia esboçadacom base num elemento fundamental nacomunicação social, a palavra. Quatroelementos, boca, coração, garganta, lín-gua, exprimem a radicalidade da maldade

inerente às suas escolhas. A sua boca estácheia de falsidade, o seu coração planeiaconstantemente traições, a sua garganta écomo um sepulcro aberto, preparada paradesejar apenas a morte, a sua língua é se-dutora, mas “carregada de veneno mortal”(Tg 3, 8).

5. Depois deste severo e realístico retratodo perverso que atenta contra o justo, oSalmista invoca a condenação divina numversículo (v. 11), que a liturgia cristã omi-te, querendo desta forma conformar-secom a revelação neo-testamentária doamor misericordioso, que oferece tambémao malvado a possibilidade da conversão.

Neste ponto, a oração do Salmista temum final cheio de luz e de paz (vv. 12-13),depois do obscuro perfil do pecador queacabamos de delinear. Uma vaga de sere-nidade e de alegria envolve quem é fiel aoSenhor. O dia que agora se inicia para ocrente, apesar de ser marcado por cansei-ras e ansiedades, terá sempre sobre si o solda bênção divina. O Salmista, que conhe-ce profundamente o coração e o estilo deDeus, não tem nenhuma dúvida: “PoisVós, Senhor, abençoais o justo; dum escu-do de graças o circundais” (v. 13).

JOÃO PAULO II

30 de Maio de 2001Transcrito de L'Osservatore Romano

70 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

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1. “Sede bendito... para todo o sempre,Senhor, Deus do nosso pai Israel!” (1 Cr29, 10). Este intenso cântico de louvor,que o primeiro livro das Crónicas põe noslábios de David, faz-nos reviver a explo-são de alegria com que a comunidade daantiga aliança saudou os grandes prepara-tivos realizados com vista à construção dotemplo, fruto de um compromisso con-junto do rei e de muitos que tinham traba-lhado com ele. Como que competiam emgenerosidade, porque isto exigia uma mo-rada que não “se destina a um homem,mas ao Senhor Deus” (Ibid., v. 1).

Ao reler aquele acontecimento, sécu-los depois, o Cronista intui os sentimentosde David e de todo o povo, a sua alegria eadmiração por quantos tinham oferecido asua contribuição: “O povo alegrava-secom as suas oferendas voluntárias, poisera de coração generoso que as faziam aoSenhor. O próprio rei David sentiu ale-gria” (Ibid., v. 9).

2. Este é o contexto em que nasce o Cân-tico. Mas ele só considera brevemente asatisfação humana, para pôr a glória deDeus imediatamente no centro daatenção: “A Vós, Senhor, a grandeza... aVós, Senhor, a realeza...”. A grande tenta-ção que está sempre à espreita, quando serealizam obras pelo Senhor, é a de nos co-

locarmos a nós mesmos no centro, comose nos sentíssemos credores de Deus. Da-vid, pelo contrário, atribui tudo ao Senhor.Não é o homem, com a sua inteligência e asua força, o primeiro artífice de quanto serealizou, mas sim o próprio Deus.

David expressa desta forma a profun-da verdade de que tudo é graça. Num certosentido, aquilo que foi colocado à disposi-ção para o templo, não é senão a restitui-ção, além disso extremamente exígua, dequanto Israel recebeu no inestimável domda aliança que Deus estipulou com os an-tepassados. Na mesma linha, David dámérito ao Senhor por tudo o que constituiua sua sorte, tanto em campo militar comonos sectores político e económico. Tudovem d’Ele!

3. Daqui, o impulso contemplativo des-tes versículos. Parece que ao autor doCântico não bastam as palavras, para pro-fessar a grandeza e o poder de Deus. Eleconsidera-O sobretudo na especial pater-nidade demonstrada a Israel, “nosso pai”.Este é o primeiro título que exige o louvor“agora e sempre”.

Na recitação cristã destas palavras,não podemos deixar de recordar queesta paternidade se revelou de modocompleto na encarnação do Filho de Deus.Ele, só Ele, é que pode falar a Deus cha-

SÓ A DEUS A HONRA E A GLÓRIAO Cântico de Crónicas 29, 10-13

A VOZ DO PAPA

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mando-Lhe, em sentido próprio e afectuo-samente, “Abba” (Mc 14, 36). Ao mesmotempo, através do dom do Espírito, é-noscomunicada a sua filiação que nos torna“filhos no Filho”. A bênção do antigoIsrael por parte de Deus Pai adquirepara nós a intensidade que Jesus nosmanifestou, ensinando-nos a chamar aDeus “Pai nosso”.

4. Depois, o olhar do autor bíblico alar-ga-se da história na salvação para todo ocosmos, a fim de contemplar a grandezade Deus Criador: “Tudo, nos céus e na ter-ra, é vosso!”. E ainda, “Vós sois soberanosobre todas as coisas”. Como no Salmo 8,o orante do nosso Cântico ergue a cabeçapara a o firmamento infinito, dirigindo emseguida o olhar admirado para a imensi-dão da terra e tudo vê submetido ao domí-nio do Criador. Como expressar a glóriade Deus? As palavras sobrepõem-se,numa espécie de sucessão mística: gran-deza, poder, glória, majestade e esplendor;e depois, ainda força e potência. Tudo oque o homem experimenta de belo e degrande deve referir-se Àquele que está naorigem de todas as coisas e que tudo go-verna. O homem sabe que tudo quantopossui é dádiva de Deus, como salientaDavid, dando continuidade ao Cântico: “Quem sou eu e quem é o meu povo,para que possamos fazer-vos volunta-riamente estas oferendas?” (1 Cr 29, 14).

5. Este pano de fundo da realidade, comodom de Deus, ajuda-nos a conjugar os sen-timentos de louvor e de reconhecimentodo Cântico com a autêntica espiritualidadedo “ofertório”, que na liturgia cristã nosfaz viver sobretudo na celebração eucarís-tica. É o que emerge da dupla oração comque o sacerdote oferece o pão e o vinho,destinados a tornar-se Corpo e Sangue de

Cristo: “Da vossa bondade recebemos estepão, fruto da terra e do trabalho do ho-mem, e apresentamo-lo a Vós para que setorne para nós alimento de vida eterna”.Esta oração é repetida sobre o vinho.Sentimentos análogos são sugeridos tantopela divina Liturgia bizantina, como peloantigo Cânone Romano , quando naanamnese eucarística exprimem a cons-ciência de oferecer como dom a Deus, ascoisas d’Ele recebidas.

6. A última aplicação desta visão deDeus é realizada pelo Cântico, tendo emvista a experiência humana da riqueza edo poder. Estas duas dimensões aparece-ram enquanto David predispunha o neces-sário para construir o templo. Tambémpara ele mesmo podia ser uma tentação,aquela que é uma tentação universal: agir-mos como se fôssemos árbitros absolutosdaquilo que possuímos, fazendo disto ummotivo de orgulho e de injustiça em rela-ção ao próximo. A oração cadenciada nes-te Cântico leva o homem à sua dimensãode “pobre”, que tudo recebe.

Então, os reis desta terra são unica-mente uma imagem do Reino divino: “aVós, Senhor, a realeza!”. Os abastadosnão podem esquecer-se da origem dosseus próprios bens: “É de Vós que vêm ariqueza e a glória”. Os poderosos devemsaber reconhecer-se em Deus, como fonte“de toda a grandeza e de todo o poder”. Ocristão é chamado a interpretar estas ex-pressões, contemplando com exultaçãoCristo ressuscitado, glorificado por Deus“acima de todo o Principado, Potestade,Virtude e Dominação” (Ef 1, 21).

Cristo é o verdadeiro Rei do universo!

JOÃO PAULO II

6 de Junho de 2001Transcrito de L'Osservatore Romano

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1. Alguns estudiosos consideram oSalmo 28, que acabamos de recitar, comoum dos textos mais antigos do Saltério. Époderosa a imagem que o sustém no seudesenvolvimento poético e orante: defacto, estamos perante o desencadearprogressivo de uma tempestade. Ela émarcada no original hebraico por umapalavra, qol, que significa ao mesmotempo “voz” e “trovão”. Por isso algunscomentadores deram ao nosso texto o tí-tulo de “Salmo dos sete trovões”, devidoao número de vezes que essa palavra neleé repetida. Pode dizer-se, com efeito, queo Salmista concebe o trovão como umsímbolo da voz divina que, com o seu mis-tério transcendente e inatingível, irrompena realidade criada chegando ao ponto dea perturbar e amedrontar, mas que no seusignificado mais profundo é palavra depaz e de harmonia. Aqui o pensamento vaipara o capítulo 12 do IV Evangelho, ondea voz que, do céu, responde a Jesus, éentendida pela multidão como um trovão(cf. Jo 12, 28-29).

Ao propor o Salmo 28 para a oraçãodas Laudes, a Liturgia das Horas convi-da-nos a assumir uma atitude de profundae confiante adoração da Majestade divina.

2. São dois os momentos e os lugares aosquais o cantor bíblico nos conduz. Nocentro (cf. vv. 3-9) encontra-se a represen-

tação da tempestade que se desencadeia apartir da “extensão das águas” do Mediter-râneo. As águas marinhas, aos olhos dohomem da Bíblia, encarnam a desordemque atenta contra a beleza e o esplendor dacriação, chegando a corrompê-la, a des-truí-la e a abatê-la. Por conseguinte, temosna observação da tempestade que se enfu-rece, a descoberta do poder imenso deDeus. Quem reza vê o furacão que sedesloca para norte e cai na terra firme. Oscedros altíssimos do monte Líbano e domonte Sirion, chamado outras vezesHermon, são arrancados pelos raios eparecem saltar sob os trovões como ani-mais amedrontados. Os estrondos aproxi-mam-se, atravessam toda a Terra Santa edescem para sul, nas estepes desérticas deKades.

3. Após esta visão de grande movimentoe tensão somos convidados a contemplar,por contraste, outro cenário que é repre-sentado no início e no final do Salmo (cf.vv. 1-2.9-11). Ao assombro e ao medocontrapõe-se agora a glorificação ado-rante de Deus no templo de Sião. Há quaseum canal de comunicação que une osantuário de Jerusalém com o santuárioceleste: nestes dois âmbitos sagrados hápaz e eleva-se o louvor à glória divina. Obarulho ensurdecedor dos trovões é subs-tituído pela harmonia do cântico litúrgico,

O SENHOR PROCLAMA A SUA PALAVRACatequese sobre o Salmo 28

A VOZ DO PAPA

JULHO – SETEMBRO 2001 73

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o terror pela certeza da protecção divina.Agora Deus aparece “dominante sobre atempestade” como “rei para sempre” (v.10), isto é, como o Senhor e o Soberano detoda a criação.

4. Diante destes dois quadros antitéticoso orante é convidado a realizar uma duplaexperiência. Em primeiro lugar, devedescobrir que o mistério de Deus, expres-so no símbolo da tempestade, não pode serapreendido e dominado pelo homem.Como canta o profeta Isaías, o Senhor, se-melhante ao esplendor ou à tempestade,irrompe na história semeando pânico emrelação aos perversos e aos opressores.Sob a intervenção do seu juízo, os adver-sários soberbos são destronados como árvores atingidas por um furacão oucomo cedros despedaçados pelas flechasdivinas (cf. Is 14, 7-8).

Nesta luz é evidenciado aquilo que opensador moderno (Rudolph Otto) qua-lificou como o tremendum de Deus, ouseja, a sua transcendência inefável e a sua presença de juíz justo na história dahumanidade. Ela ilude-se em vão ao pen-sar que pode opor-se ao seu poder sobera-no. Também Maria exaltará no Magnificateste aspecto do agir de Deus: “Exerceu aforça com o Seu braço e aniquilou os quese elevavam no seu próprio conceito. Der-rubou os poderosos dos seus tronos e exal-tou os humildes” (Lc 1, 51-52).

5. Mas o Salmo apresenta-nos outro as-pecto do rosto de Deus, o que se descobrena intimidade da oração e na celebraçãoda liturgia. Segundo o pensador mencio-nado, é o fascinosum de Deus, ou seja, ofascínio que provém da sua graça, o misté-rio do amor que se propaga no fiel, a segu-rança serena da bênção reservada para ojusto. Até perante a confusão do mal, das

tempestades da história, e da própria cóle-ra da justiça divina, o orante se sente empaz, envolvido pelo manto de protecçãoque a Providência oferece a quem louva aDeus e segue os seus caminhos. Atravésda oração chega-se à consciência de que overdadeiro desejo do Senhor consiste emconceder a paz.

No templo é restabelecida a nossaapreensão e cancelado o nosso terror; nósparticipamos na liturgia celeste com todos“os filhos de Deus”, anjos e santos. E so-bre a tempestade, semelhante ao dilúviodestruidor da maldade humana, curva-seentão o arco-íris da bênção divina, querecorda “a aliança eterna concluída entreDeus e todos os seres vivos de toda a espé-cie que há na terra” (Gn 9, 16).

É esta, principalmente, a mensagemque se realça na leitura “cristã” do Salmo.Se os sete “trovões” do nosso Salmo re-presentam a voz de Deus no universo, aexpressão mais nobre desta voz é aquelacom que o Pai, na teofania do Baptismo deJesus, revelou a Sua identidade mais pro-funda como “Filho muito amado” (Mc 1,11 e par.). São Basílio escreve: “Talvez, ede maneira mais mística, “a voz do Senhorsobre as águas” ecoou quando veio umavoz do alto ao baptismo de Jesus e disse: Este é o Meu Filho muito amado. Então,de facto, o Senhor pairava sobre muitaságuas, santificando-as com o baptismo. ODeus da glória ecoou do alto com a vozpoderosa do seu testemunho... E podestambém entender como “trovão” aquelamudança que, depois do baptismo, se rea-liza através da grande “voz” do Evange-lho” (Homilias sobre os Salmos: PG 30,359).

JOÃO PAULO II

13 de Junho de 2001Transcrito de L'Osservatore Romano

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1. O antigo cântico do Povo de Deus, queagora acabamos de ouvir, ressoava nofundo do templo de Jerusalém. Para podercaptar com clareza a ideia-base queatravessa este hino, é necessário ter bempresentes três dos seus pressupostosfundamentais. O primeiro diz respeito àverdade da criação: Deus criou o mundo eé o seu Senhor. O segundo refere-se aojuízo ao qual Ele submete as suas criatu-ras: devemos apresentar-nos a Ele parasermos interrogados sobre o que realiza-mos. O terceiro é o mistério da vinda deDeus: Ele vem ao mundo e à história, edeseja ter livre acesso, para estabelecercom os homens uma relação de profundacomunhão. Um comentador moderno es-creveu: “Estas são três formas elementa-res da experiência de Deus e da relaçãocom Deus; nós vivemos por obra de Deus,perante Deus e podemos viver com Deus”(G. Ebeling, Sobre os Salmos, Bréscia1973, pág. 97).

2. A estes três pressupostos correspon-dem as três partes do Salmo 23, que agoraprocuraremos aprofundar, consideran-do-as como três partes de um trípticopoético e orante. A primeira é uma breveaclamação ao Criador, ao qual pertence aterra com os seus habitantes (vv. 1-2). Éuma espécie de profissão de fé no Senhor

da criação e da história. A criação, se-gundo a antiga visão do mundo, é conce-bida como uma obra arquitectónica:Deus lança as bases da terra sobre o mar,símbolo das águas desordenadas e des-truidoras, sinal do limite das criaturas,condicionadas pelo nada e pelo mal. A rea-lidade está suspensa sobre este abismo e éa obra criadora e providencial de Deusque a conserva no ser e na vida.

3. Do horizonte cósmico a perspectivado Salmista limita-se ao microcosmo deSião, “o monte do Senhor”. Estamos agorana segunda parte do Salmo (vv. 3-6). Esta-mos diante do templo de Jerusalém. A pro-cissão dos fiéis dirige aos guardas da portasanta uma pergunta inicial: “Quem serádigno de subir ao monte do Senhor? Quempoderá permanecer em seu lugar santo?”.Os sacerdotes como se verifica tambémem alguns textos bíblicos chamados pelosestudiosos “liturgia de entrada” (cf. Sl 14;Is 33, 14-16; Mq 6, 6-8) respondem fa-zendo o elenco das condições para poderter acesso à comunhão com o Senhor noculto. Não se trata de normas meramenterituais e exteriores que devem ser cumpri-das, mas de empenhos morais e existen-ciais a serem praticados. É quase como umexame de consciência ou um acto peniten-cial que precede a celebração litúrgica.

O SENHOR ENTRA NO SEU TEMPLOCatequese sobre o Salmo 23

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A VOZ DO PAPA

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4. São três as exigências apresentadaspelos sacerdotes. Em primeiro lugar épreciso ter “mãos inocentes e um coraçãopuro”. “Mãos” e “coração” recordam aacção e a intenção, isto é, todo o ser dohomem que deve estar radicalmente orien-tado para Deus e para a sua lei. A segundaexigência é a de “não dizer mentiras” que,na linguagem bíblica, não remete apenaspara a sinceridade mas sobretudo para aluta contra a idolatria, sendo os ídolosfalsos deuses, ou seja, “mentira”. Destaforma, recorda-se o primeiro mandamentodo Decálogo, a pureza da religião e doculto. Por fim, eis a terceira condição quediz respeito às relações com o próximo: “não jurar com perfídia contra o próxi-mo”. A palavra, como sabemos, numa ci-vilização oral como era a do antigo Israel,não podia ser instrumento de engano, masao contrário, símbolo de relações sociaisinspiradas na justiça e na rectidão.

5. Desta forma, chegamos à terceiraparte que descreve indirectamente a en-trada jubilosa dos fiéis no templo para seencontrarem com o Senhor (vv. 7-10).Num sugestivo jogo de apelos, perguntase respostas, apresenta-se a revelaçãoprogressiva de Deus, marcada por três dosseus títulos solenes: “Rei da glória, Se-nhor forte e poderoso, Senhor dos exér-citos”. As portas do templo de Sião sãopersonificadas e convidadas a levantar osseus dintéis para deixar entrar o Senhorque toma posse da sua casa.

O cenário triunfal, descrito peloSalmo nesta terceira parte poética foi utili-zada pela liturgia cristã do Oriente e doOcidente para recordar tanto a vitoriosadescida de Cristo ao inferno, da qual fala aPrimeira Carta de Pedro (cf. 3, 19), como agloriosa ascensão ao céu do Senhor res-suscitado (cf. Act 1, 9-10). O mesmo

Salmo ainda é cantado em coros alterna-dos pela liturgia bizantina na noite pascal,da mesma forma como era utilizado pelaliturgia romana, no final da procissão dosramos, no segundo Domingo da Paixão. Asolene liturgia da abertura da Porta Santa,durante a inauguração do Ano Jubilar,permitiu-nos reviver com intensa como-ção interior os mesmos sentimentos vi-vidos pelo Salmista quando atravessou aporta do antigo Templo de Sião.

6. O último título, “Senhor dos exérci-tos”, não tem como poderia parecer àprimeira vista um carácter marcial, mes-mo se não exclui uma referência às tropasde Israel. Ao contrário, está dotado deum valor cósmico: o Senhor, que agoraestá para vir ao encontro da humanidadedentro do espaço limitado do santuário deSião, é o Criador que tem por exércitotodas as estrelas do céu, ou seja, todas ascriaturas do universo que lhe obedecem.No livro do profeta Baruc lê-se: “As es-trelas brilham nos seus postos e ale-gram-se. Ele chama-as e elas respondem:“Aqui estamos”. E, jubilosas, dão luz aoSeu criador” (Br 3, 34-35). O Deus infi-nito, omnipotente e eterno adapta-se àscriaturas humanas, aproxima-se delas paraas encontrar, ouvir e entrar em comunhãocom elas. E a liturgia é a expressão desteencontro na fé, no diálogo e no amor.

JOÃO PAULO II

20 de Junho de 2001Transcrito de L'Osservatore Romano

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OS RITOS INICIAIS DA MISSA

MISSA

ENTRADA E CÂNTICO(47-48 [25-26])*

A entrada do presidente (bispo, pres-bítero e, em casos especiais, o diácono)faz com que o povo reunido, no meio doqual entra o seu presidente, como sinal deCristo enquanto Cabeça da Igreja, se torneassembleia celebrante.

O presidente entra acompanhado pelodiácono, se o haver, e pelos outros mi-nistros; é a procissão de entrada. Estaprocissão sai da sacristia ou de outro lu-gar conveniente.

À frente vai o turiferário com o turí-bulo fumegante se se usar o incenso;segue-se o crucífero com a cruz, semprecom a imagem de Cristo voltada para afrente, no meio dos ceroferários com oscastiçais de velas acesas. Podem incor-porar-se outros acólitos que tenham a de-sempenhar outros serviços. Segue-se oEvangeliário (não o Leccionário) leva-do pelo diácono, ou, na ausência dele,por um acólito ou leitor (120 [81]). Porfim, o sacerdote celebrante. Se se usa oincenso, este impõe-o no turíbulo antes dese iniciar a procissão de entrada e benze-ocom o sinal da cruz sem dizer nada. Se aprocissão tiver de passar diante do Santís-simo Sacramento, não se faz a genuflexão.

O cântico (47-48 [25-26]; 121 [83])

Entretanto, canta-se o cântico de en-trada ou intróito. “A finalidade destecântico é dar início à celebração, favore-cer a unidade dos fiéis reunidos, intro-duzi-los no mistério do tempo litúrgico ouda festa e acompanhar a procissão deentrada do sacerdote e ministros”. Estecântico, tal como o da comunhão, faz partedos cânticos processionais, destinados,como o nome indica, a acompanhar umaprocissão, diferentemente de outros quesão cantados em razão de si mesmos,como o Glória, o salmo responsorial ou oSanto.

O cântico de entrada, apesar de muitoantigo, ainda não existia em África notempo de S. Agostinho (+ 430), segundo otestemunho do mesmo santo doutor, eainda hoje não existe na celebração daPaixão do Senhor em Sexta-feira Santa,que, depois da entrada em silêncio e de umtempo de oração igualmente em silêncioconcluído pela colecta do presidente, pas-sa directamente à leitura da palavra deDeus; de modo semelhante, na Vigília pas-cal, em que, depois do rito prévio do Lu-cernário, se entra directamente na Liturgiada Palavra, introduzida pela bela admoni-ção do presidente: “Ouçamos agora, decoração tranquilo, a palavra de Deus. Me-ditemos... Oremos...”.

* Estas citações referem-se à Instrução Geral do Missal Romano (IGMR). Os números entre parêntesis rectosreferem-se à nova edição.

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O texto e a maneira de o cantar(48 [26])

O Missal é, por natureza, o livro dasorações do presidente, o que antigamentese chamava o Sacramentário; todaviaactualmente traz também, além daquelasorações, as antífonas dos dois cânticosprocessionais, o da entrada e o da comu-nhão; estas antífonas podem depois alter-nar com um salmo, que o Missal indicaquando a antífona é tirada dele.

“O cântico de entrada é executado al-ternadamente pelo coro e pelo povo, oupor um cantor alternando com o povo, oupor toda a assembleia em conjunto ou so-mente pelo coro. Pode utilizar-se ou a an-tífona com o respectivo salmo que vem noGradual Romano”, (o livro oficial doscânticos da Missa, em latim e com cantogregoriano), “ou no Gradual Simples”(edição muitíssimo simplificada domesmo), “ou outro cântico apropriado àacção sagrada ou ao carácter do dia ou dotempo, desde que o texto tenha a aprova-ção da Conferência Episcopal. Se não hácântico de entrada, recita-se a antífona quevem no Missal, ou por todos os fiéis, oupor um grupo, ou por um leitor, ou entãopelo próprio sacerdote a seguir à sauda-ção, que também a pode adaptar à maneirade monição inicial”.

Todas estas soluções, algumas nãomuito fáceis de realizar, mostram como opresidente não deve substituir-se à assem-bleia e que esta não deve ter na celebraçãoum papel simplesmente passivo.

O canto deve acompanhar o cortejoaté que o presidente tenha chegado ao lu-gar da presidência e os ministros tenhamocupado os seus lugares e se tenha estabe-lecido o silêncio na assembleia.

VENERAÇÃO DO ALTAR(49 ]27]; 122-123 [84-85])

“Chegado ao presbitério, o sacerdote,os diáconos e os ministros saúdam o altarcom uma inclinação profunda. Em se-guida, em sinal de veneração, o sacerdotee o diácono beijam o altar; e, conforme ascircunstâncias, o sacerdote incensa a cruze o altar”.

O altar é a mesa do sacrifício e do ban-quete pascal, na qual o sacerdote, repre-sentando o Senhor Jesus Cristo, realiza omesmo que o próprio Senhor fez e entre-gou aos seus discípulos para que eles o fi-zessem em memória d’Ele, ara especial,onde se perpetua sacramentalmente o sa-crifício da cruz até que Cristo venha, mesaem volta da qual se reúnem os filhos daIgreja, para darem graças a Deus e comun-garem o Corpo e o Sangue de Cristo. Oaltar é, por isso, o centro da acção degraças que se realiza totalmente na Euca-ristia. Por isso, os escritores eclesiásticosviram no altar como que um sinal dopróprio Cristo, donde o dizer-se: “O altar éCristo” (Pontifical da Dedicação do Altar,nn. 4-5; IGMR 296 [259]).

SIGNAÇÃO(50 [28])

Terminado o cântico de entrada, o sa-cerdote, na cadeira da presidência, e toda aassembleia fazem o sinal da cruz. Até à re-cente reforma litúrgica este gesto erapróprio da Missa rezada, não da Missacantada, que era a que representava a tra-dição, e, se em tempos tardios ele tambémentrou na Missa solene, foi pela contami-nação que se estabeleceu entre as duas for-mas de celebração. No entanto, o sinal da

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cruz é hoje normal ao iniciar-se cristãmen-te qualquer momento de oração ou até detrabalho ou outros.

SAUDAÇÃO(47 [28]; 124 [86])

“O sacerdote saúda a assembleia comuma das fórmulas propostas, exprimindo apresença do Senhor”. Não se trata, portan-to, de um simples cumprimento social,mas “com esta saudação e a resposta dopovo manifesta-se o mistério da Igrejareunida”. De facto, a assembleia reunidapara a celebração é mais do que um sim-ples encontro fraterno; é a Igreja ali pre-sente.

A saudação é a primeira palavra que opresidente dirige à assembleia; qualqueroutra só deve vir depois.

O Missal apresenta várias fórmulasde saudação com a respectiva resposta etodas com música. Este diálogo entre opresidente e a assembleia, sobretudo sefor cantado, é uma bela abertura da cele-bração. A fórmula IV pode inclusive seradaptada ao tema da celebração do dia,conforme o Missal exemplifica.

Entre as diversas fórmulas de sauda-ção reaparece aqui o tradicional “O Se-nhor esteja convosco”, que será bom quevolte a ser utilizado.

Se o presidente for Bispo, usa a fór-mula: “A paz esteja convosco”, cuja res-posta é: “Bendito seja Deus...”.

MONIÇÃO(48; 124 [86])

“O sacerdote, por si ou por um minis-tro idóneo, pode dirigir aos fiéis umas bre-

víssimas palavras de introdução à Missado dia”. De maneira nenhuma se trata deuma breve homilia!

Se não há cântico de entrada, o sacer-dote, em vez de recitar a respectiva antífo-na, pode adaptá-la e fazer dessa adaptaçãouma monição de entrada.

ACTO PENITENCIAL(51 [29]; 125 [87])

O acto penitencial, sem se precisarcomo ele então se fazia, já vem referidona mais antiga alusão à celebração daEucaristia fora da Sagrada Escritura, nopequeno opúsculo conhecido pelo nomede Didakhê de cerca do ano 100: “Emcada dia do Senhor (o Domingo), reuni--vos, parti o pão e dai graças (a Eucaris-tia), depois de confessados os vossospecados, para que o vosso sacrifício sejapuro” (Did XIV, 1). Tudo isto está na linhada palavra do Senhor no Evangelho: “Sefores apresentar a tua oferta sobre o altare ali te recordares que o teu irmão temalguma coisa contra ti, deixa lá a tua ofertadiante do altar, vai primeiro reconciliar-tecom o teu irmão e vem depois apresentar atua oferta” (Mt 5, 25-24).

Apesar da significação penitencialdeste acto antes da celebração da Eucaris-tia, ele não existia na Missa solene até àrecente reforma litúrgica, senão porque,no segundo milénio, as muitas apologiasmedievais – fórmulas de origem privadaintroduzidas como acréscimo na estruturabásica das acções litúrgicas, sobretudoda Missa, com sentido geralmente peni-tencial – também elas passaram para aMissa solene, mas nunca se integrarambem na sua celebração. Uma dessasapologias foi o “Confesso a Deus todo-

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-poderoso”, que na Missa solene, inclu-sive na Missa Pontifical, era dito alterna-damente, em voz baixa, dialogada entre osclérigos, dois a dois, enquanto o coro con-tinuava a cantar o intróito. Foi a recentereforma litúrgica que lhe deu (ou lhe resti-tuiu !) o lugar que ela tem hoje em todas ascelebrações da Missa. Trata-se de um ver-dadeiro acto de contrição, que vem bem apropósito antes da celebração da Eucaris-tia, desde que “reconheçamos que somospecadores” e que, com sentimentos peni-tenciais, peçamos perdão ao Senhor a fimde “celebrarmos dignamente os santosmistérios”, isto é, a Eucaristia.

O Missal apresenta três fórmulas parao acto penitencial: depois da monição dopresidente e de “alguns momentos de si-lêncio”:a) todos dizem a confissão geral: “Con-

fesso a Deus...”;b) breve diálogo de dois versículos entre

o presidente e o povo: “Tende compai-xão de nós...”;

c) três invocações, que se podem adaptarao tema do dia ou da festa, seguidas aprimeira do Kýrie, a segunda doChriste e a terceira outra vez do Kýrie.

Se se usar esta última fórmula, o Kýriejá não se dirá depois do acto penitencial.Por fim, qualquer das três fórmulas doacto penitencial se conclui com a absol-vição do presidente, que, no entanto, nãotem eficácia sacramental (51).

Ao domingo, sobretudo no TempoPascal, em lugar do acto penitencial podefazer-se a bênção e a aspersão da água emmemória do Baptismo (51 [29]), comovem no Missal. Esta aspersão deverá seracompanhada de um cântico.

JOSÉ FERREIRA

80 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

As ilustraçõesdo Evangeliário apresentadas

pelo próprio autor.

Um livro para ler,meditar e contemplar

o mistério.

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CURSO PARA ACÓLITOS

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O INTERIOR DE UMA IGREJA

1. Tempo de oração• Acolhimento• Sinal da cruz• Pequena oração

2. A porta principal e o átrioJá vimos na lição anterior como são as

igrejas por fora. Hoje vamos descobrircomo elas são por dentro. Se na terra ondevivemos há igreja paroquial, é essa quevamos visitar; se não houver igreja paro-quial mas sim outra igreja ou capela ondese celebra a missa no domingo, é para elaque se dirige a nossa visita.

Uma igreja tem a porta principal epode ter portas laterais. Nós vamos entrarpela porta principal. Se ela estiver fe-chada, começamos por abri-la. Quemguarda a chave da igreja é o senhor prior,ou o sacristão, ou ainda algumas daspessoas que têm a responsabilidade dearranjar a igreja.

Muitas igrejas, logo a seguir à porta daentrada, têm um pequeno átrio, isto é, umespaço vazio. Isso quer dizer que quemvem de fora não entra logo na igreja. Nou-tras, este átrio é antes da porta principal.Seja duma maneira ou de outra, é bom quehaja um espaço para que as pessoas,

ACÓLITOS

JULHO – SETEMBRO 2001 81

ACÓLITOS

quando chegam de casa ou quando saemda igreja possam, no caso de estar a cho-ver ou de fazer muito calor, falar aí umascom as outras. Quando o átrio é depois daporta principal, existe um guarda-vento,que faz mais do que guardar o vento,porque também guarda do frio, do barulhoda rua, e evita que os cãezinhos que acom-panham os donos entrem na igreja, quenão é lugar para eles.

Quando a igreja tem guarda-vento, énele que está a porta ou as portas pelasquais se entra directamente na igreja.

Questões práticas:

— Quais são as dimensões da porta prin-cipal da nossa igreja? Há figuras nessaporta? Quais?— Além da porta principal há outrasportas laterais? Quantas são?— A igreja tem o átrio? Como é ele epara que serve?— A igreja tem guarda-vento ou nãotem? Quantas portas tem o guarda-vento?Esse guarda-vento serve para quê?

3. A nave ou lugar dos fiéisVamos então penetrar no interior da

igreja. Antes de avançar olhemos comatenção. Estamos na parte mais ampla da

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igreja. É um grande salão, não é? Cha-ma-se lugar dos fiéis, porque é aí que osfiéis estão durante a missa; também sechama nave, porque, pelo seu feitio e al-tura parece um grande navio ou umagrande nave.

Esta parte pode ter várias formas:pode ser rectangular, quadrada, ou emsemi-círculo. Quase todas as igrejas têmuma só nave. Mas algumas têm mais doque uma. Normalmente, a nave tem ban-cos ou cadeiras para os fiéis. Quase sem-pre há capelas laterais ao longo da nave,mas pode não haver.

Questões práticas:

— Quantas naves tem a nossa igreja?— E quantos bancos ou cadeiras para osfiéis?— Quantas pessoas cabem em cada ban-co?— Quando os bancos estão todos cheiosou as cadeiras todas ocupadas, quantaspessoas estão na igreja?— A nossa igreja tem capelas laterais?Quantas são?

3. O presbitério

Passemos agora da nave da igreja paraa outra parte, mais pequena, onde está oaltar. Chama-se a esta segunda parte daigreja o presbitério. Esta palavra vem depresbítero, que é outro nome que se dá aossenhores padres. Então quer dizer que as-sim como a nave é o lugar dos fiéis, assimo presbitério é o lugar dos presbíteros e detodos os ministros litúrgicos, dos quais jáfalámos noutra lição.

Primeiro que tudo reparem que subi-mos um, dois ou mais degraus para che-garmos a esta parte, o que quer dizer que

ela está em plano superior à nave dos fiéis.É como num teatro, onde o palco tambémestá acima da plateia. Para quê? Para sever bem o que aí se passa. Na igreja é amesma coisa. Para se ver bem o que aí sefaz, o presbitério está em plano superior ànave.

Quais são as coisas que se encontramno presbitério? Encontram-se aí o altar, acadeira presidencial, o ambão, por vezes osacrário, bancos para os ministros, euma mesa, chamada credência, onde secolocam as coisas necessárias para a cele-bração da Missa. Falaremos de tudo issonoutras lições.

Questões práticas:

— Quantos degraus subimos ao passar-mos da nave para o presbitério?— Quais são as coisas que existem nopresbitério da nossa igreja?— Quantos metros tem a nossa igrejadesde a porta da entrada até ao fundo dopresbitério?— E quantos metros tem de largura?

6. A capela baptismal

Todas as igrejas paroquiais têm umlugar próprio para fazer os baptismos.Chama-se a esse lugar capela baptismal. Édentro dessa capela que está a pia baptis-mal. As pias baptismais podem ter muitosfeitios: redondas, quadradas ou poli-gonais. Algumas são divididas ao meio,para de um lado estar a água limpa que seutiliza no baptismo, e no outro se deitaressa água na cabeça dos baptizandos, tan-to crianças como adultos. Outras não sãodivididas: têm apenas um espaço amplointerior, onde uma criança pode ser bapti-zada por imersão. No princípio não havia

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pias baptismais, mas verdadeiras piscinas,onde toda a gente era baptizada dentro daágua.

Se quiserem, podemos dar um beijo napia baptismal, pois foi aí que recebemos avida nova que Deus nos deu pela água epelo Espírito Santo. Já houve tempos emque os fiéis, quando entravam na igrejaparoquial, iam sempre beijar a pia baptis-mal. Era um bonito costume. Ainda hoje,se alguém quiser fazer isso de vez emquando, lhe fica muito bem.

Questões práticas:— De que material é feita a nossa piabaptismal: de mármore, de granito, degesso ou de metal?— Qual é o seu feitio: redonda, quadra-da ou poligonal? Se for poligonal, quan-tos lados tem? Qual é a altura desde obordo superior ao chão?— Os baptismos sempre se fizeram,como hoje, em pias baptismais? Porquê?— Já participaste alguma vez na cele-bração de algum baptismo?

7. A capela do SantíssimoSacramento ou o Sacrário

Nos primeiros tempos da Igreja o pãoconsagrado para as pessoas muito doentespoderem comungar antes de morrer, guar-dava-se numa caixa fechada, na Sacristia.Depois veio outro tempo em que, em cadaigreja paroquial havia sempre uma capelado Santíssimo Sacramento. Era aí que, de-pois da missa, se guardava o pão consa-grado num cofre, que se chama sacrárioou tabernáculo.

Mais tarde o sacrário começou apôr-se no presbitério. É assim que conti-nua a fazer-se em muitas igrejas. Mas estámandado que, nas igrejas novas, haja uma

capela do Santíssimo, que também servepara aí se rezar em silêncio, quando seentra na igreja ou noutros momentos.

Numa das próximas lições havemosde aprender muito bem o que faz um can-didato a acólito quando entra numa igreja,como se ajoelha para adorar o SantíssimoSacramento, e muitas outras coisas. Hojedizemos só isto.

Questões práticas:— Qual foi o primeiro lugar da igrejaonde se guardou o pão consagrado paraos fiéis prestes a morrer? Mais tarde,onde passou a guardar-se o pão consa-grado?— Que outro nome se dá ao pão consa-grado que se guarda nas nossas igrejas?— Na nossa igreja paroquial o Santíssi-mo Sacramento está numa capela própriaou no presbitério?

8. A sacristiae outros lugares da igreja

Também fazem parte do interior doedifício da igreja a sacristia, onde seguardam as vestes litúrgicas e outrascoisas necessárias às celebrações, as salaspara reuniões, as casas de banho e outrasdependências.

Questões práticas:— Quantas sacristias e salas tem a nossaigreja?— E quantas casas de banho?— Na nossa igreja há inscrições antigasgravadas em pedra ou em mármore? Quedizem elas?— Em que data foi construída a nossaigreja?

JOSÉ DE LEÃO CORDEIRO

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84 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

A nova edição daORAÇÃO UNIVERSAL

Está em distribuição uma nova ediçãoda Oração Universal. O SecretariadoNacional de Liturgia entende que, namedida do possível, os livros litúrgicosdevem ser revistos nas novas edições. Estelivro foi revisto e aumentado. A revisãoprocurou corrigir erros, imprecisões eformulações mais orantes e homogéneas.O aumento refere-se sobretudo aos for-mulários do santoral que representamuma quarta parte do livro. Assim, ossantos de memória obrigatória têm agoraformulários próprios de composição ori-ginal e com referência explícita à celebra-ção. Conseguiu-se aplicar ao santoral oque antes se tinha conseguido com osdomingos. De facto, as preces destas

orações fazem uma boa síntese do misté-rio celebrado, sobretudo da liturgia da pa-lavra. Inspiradas noutros textos da liturgiaprópria do dia, estas preces prestam umbom contributo à oração da Igreja. Háinformações de que muitos sacerdotesutilizam estas preces para a preparação dahomilia, o que muito ajuda a situá-la nadinâmica da celebração. Há ainda conhe-cimentos de que alguns fiéis recorrem aestes formulários para a sua meditação ecompromisso de cada dia.

Os formulários para os dias feriaisforam concebidos com uma estrutura maissimples, mas não menos orante. A formalitânica, a que não estamos tão familiari-zados, deve ser recuperada para as nossascelebrações. A brevidade da proposta e amaior intervenção da assembleia criamum ritmo de oração mais condizentecom o tempo ferial. Por este motivo, epela própria elaboração das preces, nãose recomenda a união de várias intençõesseguidas, mas pode convir que se omitamalgumas e se acrescentem outras, respei-tando sempre a forma litânica e o refrãousado para a aclamação.

Nesta edição merece particular aten-ção a mudança da conclusão da oraçãopresidencial que passa a ser a forma breve:“Por Jesus Cristo, nosso Senhor”. E paraajudar o canto desta oração, sobretudo aaclamação, foi preparado um apêndice emforma de separata para poder ser usada emqualquer parte do livro. As 48 propostasde aclamação com canto, devidamenteordenadas por tempos e celebrações sãoum subsídio importante para a boa formu-lação da oração universal.

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A Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos publicou uma novaInstrução para a recta aplicação da Constituição sobre a Sagrada Liturgia do Concílio VaticanoII. Chama-se LITURGIAM AUTHENTICAM. Aborda os princípios que devem governar astraduções nas várias línguas modernas dos textos da Liturgia romana.

Enquanto aguardamos a tradução do texto, oferecemos a apresentação oficial da QuintaInstrução.

Terminada esta fase geral, houve um pe-ríodo de experiência prática, que exigia neces-sariamente um notável espaço de tempo. Coma Carta Apostólica Vicesimus quintus annus de4 de Dezembro de 1988 de João Paulo II, quecomemorava o 25° aniversário da ConstituiçãoConciliar, iniciou-se uma nova fase de umagradual avaliação, de conclusão e de consoli-dação. A 25 de Janeiro de 1994, a Congrega-ção para o Culto Divino e a Disciplina dosSacramentos fez progredir mais uma vez esseprocesso com a publicação da quarta “Instru-ção para a recta Aplicação da Constituição dasagrada Liturgia do Concílio Vaticano II”, aVarietatis legitimae, que trata das questõesdifíceis acerca da Liturgia romana e da incultu-ração.

A quinta Instrução

Em Fevereiro de 1997 o Santo Padre pe-diu à Congregação para o Culto Divino e aDisciplina dos Sacramentos para dar mais umpasso em frente com a codificação das conclu-sões do trabalho empreendido em colaboraçãocom os Bispos ao longo dos anos, referente àquestão das traduções litúrgicas, assunto queestava na ordem do dia, como já foi dito, desde1988.

Por conseguinte, a 20 de Março de 2001 aquinta, pós-conciliar, “Instrução para a rectaAplicação da Constituição sobre a sagradaLiturgia do Concílio Vaticano II”, Liturgiamauthenticam, foi aprovada pelo Santo Padre na

INSTRUÇÃO LITÚRGICA

NOVA INSTRUÇÃO PARA A RECTA APLICAÇÃODA CONSTITUIÇÃO SOBRE A SAGRADALITURGIA DO CONCÍLIO VATICANO II

As grandes Instruções pós-conciliares

A 4 de Dezembro de 1963 os Padres doConcílio Vaticano II aprovaram a Constituiçãosobre a sagrada Liturgia Sacrosanctum Conci-lium. Para facilitar a aplicação da renovaçãolitúrgica desejada pelos Padres conciliares, aSanta Sé, posteriormente publicou cinco docu-mentos de especial importância, cada um delesnumerados numa única série como “Instruçõespara a recta Aplicação da Constituição sobre asagrada Liturgia do Concílio Vaticano II”.

A primeira, Inter Oecumenici, foi publica-da pela Sagrada Congregação dos Ritos e pelo“Consilium” para a aplicação da ConstituiçãoLitúrgica, a 26 de Setembro de 1964, e con-tinha os princípios gerais de base para a orde-nada aplicação da renovação litúrgica. Trêsanos mais tarde, a 4 de Maio de 1967, foi pu-blicada uma segunda Instrução, Tres abhincannos. Esta estabelecia ulteriores adaptações àOrdem da Missa. A terceira Instrução, Litur-gicae instaurationis, de 5 de Setembro de1970, preparada pela Sagrada Congregaçãopara o Culto Divino, organismo que sucedeuà Sagrada Congregação dos Ritos e ao “Consi-lium”. Esta Instrução fornecia em primeirolugar directrizes acerca do papel central doBispo na renovação da liturgia em toda a dio-cese. Posteriormente, a renovação litúrgica di-zia respeito à actividade da revisão das ediçõesem língua latina dos livros litúrgicos e da suatradução nas várias línguas modernas.

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audiência concedida ao Secretário de Estado ea 28 de Março foi publicada pela Congregaçãopara o Culto Divino e a Disciplina dos Sacra-mentos. Entrou em vigor no dia 25 de Abril de2001.

A Instrução Liturgiam authenticam servede comentário sobre as traduções em línguavernácula dos textos da Liturgia romana, comofoi estabelecido pelo artigo 36 da Constituiçãolitúrgica: 1. O uso da língua latina, salvaguardado umdireito particular, seja conservado nos ritos la-tinos.2. Considerando contudo que, quer na missaquer na administração dos Sacramentos, quernoutras partes da Liturgia, muitas vezes o usoda língua vulgar pode ser muito útil para opovo, seja-lhe concedido uma parte mais am-pla, e sobretudo nas leituras e nas admonições,em algumas orações e cânticos, segundo asnormas que são fixadas para os casos particu-lares nos seguintes capítulos.3. Com base nestas normas, é tarefa dacompetente autoridade eclesiástica territorial,segundo o art. 22, 2, consultando também, senecessário for, os Bispos das regiões limítrofesda mesma língua, decidir acerca do uso e daextensão da língua vulgar. Estas decisões de-vem ser aprovadas, isto é, confirmadas pela SéApostólica.4. A tradução do texto latino em língua vulgar para uso na Liturgia, deve ser apro-vada pela competente autoridade eclesiásticaterritorial, acima referida.

Deve mencionar-se que entretanto se veri-ficaram alguns progressos a nível jurídico eoutros, entre os quais algumas medidas que esclareceram a referência da Constituição às“competentes autoridades eclesiásticas territo-riais”. Na prática, estas tornaram-se o que hojese chamam Conferências dos Bispos.

Visão de conjunto

A quinta Instrução inicia-se mencionandoa iniciativa do Concílio e os esforços realiza-dos pelos Sumos Pontífices e pelos Bispos detodo o mundo, constatando o sucesso da reno-vação litúrgica e observando ao mesmo tempoa necessidade de uma contínua vigilância paragarantir a identidade do Rito romano a nívelmundial. A este propósito, a Instrução retoma

as observações feitas em 1988 pelo Papa JoãoPaulo II, ou seja, o seu desejo de que se vámais além da fase inicial para entrar num perí-odo de traduções aperfeiçoadas de textoslitúrgicos. Por isso, a Liturgiam authenticamoferece à Igreja Latina uma nova formulaçãode princípios que devem governar as tradu-ções, à luz de mais de trinta anos de experiên-cia, no uso do vernáculo nas celebraçõeslitúrgicas.

A Liturgiam authenticam substitui todasas normas publicadas anteriormente sobre astraduções litúrgicas, excepto as directrizes daquarta Instrução, a Varietatis legitimae, e es-clarece que as duas Instruções devem ser lidascomo complementares. O novo documento fazapelo, mais de uma vez, a uma nova era nastraduções dos textos litúrgicos.

É necessário fazer observar que a presenteInstrução substitui todas as normas anteriores,das quais assume muitos dos conteúdos, forne-cendo-lhes uma disposição mais ordenada esistemática, completando-os com alguns escla-recimentos e relacionando-os com questõesafins que até agora foram tratadas de maneiradestacada. Além disso, o documento deve en-frentar a tarefa de apresentar em poucas pági-nas os princípios susceptíveis de aplicação àsdiversas centenas de línguas actualmente usa-das na celebração litúrgica em todas as partesdo mundo. A Instrução não recorre à termino-logia técnica da linguística ou das ciências hu-manas, mas limita as suas considerações prin-cipalmente ao âmbito da experiência pastoral.

Ilustramos a seguir o desenvolvimento ge-ral da argumentação do novo documento, semseguir em cada ponto as expressões exactas oua sequência dos vários pontos.

As escolha das línguas vernáculas

Deveriam usar-se na Liturgia unicamenteas línguas mais faladas, evitando a introduçãode muitas línguas, com o risco de provocaruma fragmentação do povo em pequenosgrupos e talvez causar discórdias. Ao fazer aescolha das línguas a serem introduzidas naliturgia, é preciso ter em conta factores como onúmero de sacerdotes, diáconos e colaborado-res leigos que podem servir-se sem dificulda-des de uma determinada língua, a disponibili-dade de tradutores para aquela língua, e as

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possíveis práticas, compreendidos os proble-mas económicos, de produzir e publicar boastraduções da Liturgia.

Os dialectos, que não têm o apoio de re-cursos de formação académica e cultural, nãodevem ser aceites como línguas litúrgicas emsentido estrito, mesmo se podem ser utilizadasna Oração dos Fiéis, no texto dos cânticos, ouem algumas partes da homilia. Depois, a Ins-trução faz um resumo actualizado do procedi-mento que deve ser seguido por parte das Con-ferências dos Bispos ao decidir em comunhãocom a Santa Sé a plena ou parcial admissão naLiturgia de uma determinada língua.

A tradução dos textos litúrgicos

O coração da Instrução é uma nova e re-cente exposição, com tonalidades reflexivas,dos princípios que devem regular a tradução nalíngua vernácula dos textos litúrgicos. O docu-mento realça desde o início a índole sagrada daLiturgia e a exigência que também as tradu-ções reflictam atentamente esta característica.

O Rito romano, como todas as grandes fa-mílias litúrgicas históricas da Igreja católica,tem um estilo e uma estrutura própria que de-vem ser respeitados na medida do possíveltambém nas traduções. A Instrução recorda oapelo a vários documentos pontifícios anterio-res para uma aproximação à tradução dos tex-tos litúrgicos, que corresponda a um critérionão só de exercício de uma criatividade, masde cuidado pela fidelidade e rigor na traduçãodos textos latinos em língua vernácula, tendotambém em conta, obviamente, a maneiracaracterística em que cada língua se exprime.Existem exigências particulares a serem en-frentadas na preparação de traduções que sedestinam aos territórios evangelizados emtempos mais recentes e a Instrução consideratambém as condições em que adaptações demaior importância dos textos e dos ritosse podem realizar, remetendo a solução dessesproblemas ao que está exposto na InstruçãoVeritates legitimae.

O recurso a outros textospara facilitar a tradução

A vantagem da consulta dos textos das an-tigas fontes litúrgicas é reconhecida e encora-jada, mesmo se se constata que o texto da

editio typica, ou seja, a edição moderna latina,é sempre o ponto inicial da tradução. Onde otexto latino se serve de palavras provenientesde outras línguas antigas (por exemplo, ale-luia, amen, ou Kyrie, eleison) estas expressõespodem ser conservadas na língua original. Astraduções litúrgicas devem ser feitas com basena editio typica do latim e nunca com base nasoutras traduções. A Neo-Vulgata, a versão cor-rente da Bíblia latina, deve ser tomada em con-sideração como um instrumento suplementarna preparação das traduções bíblicas para ouso litúrgico.

Léxico

O léxico escolhido para uma tradução li-túrgica deve ser ao mesmo tempo de fácil com-preensão para as pessoas comuns e expressivoda dignidade e do ritmo rectórico do original,uma linguagem destinada ao louvor e ao cultoque exprima reverência e gratidão para a glóriade Deus. Além disso, a língua destes textos nãodeve ser entendida como expressão da disposi-ção interna do fiel, mas antes da palavra deDeus revelada.

As traduções não devem estar submetidasa qualquer dependência exagerada de modosexpressivos modernos e, em geral, de uma lín-gua com um tom psicológico. Formas de colo-rido arcaizante podem por vezes revelar-seapropriadas a um vocabulário propriamentelitúrgico.

Os textos litúrgicos não se configuramcompletamente autónomos ou separáveis docontexto geral da vida cristã. Compete à ho-milia e à catequese contribuir para elucidar eexplicar o seu sentido e para esclarecer o con-teúdo de alguns textos. Não existem naLiturgia textos que incentivem atitudesdiscriminatórias ou hostis em relação aoscristãos não católicos, à comunidade hebraicaou a outras religiões, ou que negam de qual-quer forma a igualdade universal da dignidadehumana. O aparecimento de uma incorrectainterpretação do sentido contrário pode seresclarecida pelas traduções, mas não é esta asua tarefa primária.

Género

Muitas línguas têm nomes e pronomes quese referem tanto ao género masculino como ao

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feminino. O abandono destes termos, sobre-tudo se resultam de uma tendência inicial daevolução semântica, nunca é prudente nem ne-cessário, porque não constitui um ponto depassagem obrigatório do desenvolvimento lin-guístico. O uso dos nomes colectivos deve serpreferido aos termos tradicionais mantido emexpressões nas quais a sua abolição possacomprometer o significado ou dar lugar a umafalta de vocábulos que exprimam o ser humanona sua unidade, como na tradução do hebraicoadam, do grego anthropos ou do latim homo.Ao mesmo tempo, uma quase necessária mu-dança do número gramatical ou a criação decópias de palavras que servem ao masculino eao feminino não é um modo lícito de alcançar afinalidade de uma verdadeira inclusividade.

O género tradicional das pessoas da Trin-dade deve ser mantido. Expressões ou palavrascomo Filius hominis (Filho do homem) e Pa-tres (Padres) devem ser traduzidos com rigor,todas as vezes que se encontram nos textosbíblicos ou litúrgicos. O pronome femininodeve ser mantido todas as vezes que se refere àIgreja. Palavras que exprimem afinidades ouparentesco e o género gramatical de anjos,demónios e divindades pagãs devem ser tradu-zidos e o seu género deve ser conservado, ten-do em conta o uso do texto original ou o tradi-cional de uma determinada língua moderna.

A tradução de um texto

As traduções devem procurar não alargarou diminuir o significado das palavras origi-nais, enquanto que palavras que evoquem fra-ses estereotipadas propagandistas de conteúdocomercial ou com conotações políticas, ideo-lógicas ou semelhantes devem ser evitadas. Osmanuais de estilo para uso académico ou pro-fano nas línguas vernáculas não podem serusados sem um estudo crítico porque a Igrejapossui temas específicos para comunicar e umestilo expressivo que lhes é apropriado.

A tradução caracteriza-se como esforço decolaboração com a finalidade de preservar amáxima continuidade possível entre o originale o texto em língua vernácula. O tradutor devepossuir não só uma habilitação específica, mastambém confiança na misericórdia divina e es-pírito de oração, e a disponibilidade para acei-tar a revisão da sua obra por outros. Quando

forem necessárias modificações substanciaispara conformar um determinado livro litúrgicocom esta Instrução, tais revisões devem serefectuadas uma só vez, para evitar dificuldadesrepetidas e a impressão de uma contínua insta-bilidade na oração litúrgica.

Traduções bíblicas

Deve ser dada uma atenção particular àtradução da Sagrada Escritura para usolitúrgico, obra que deve ao mesmo tempo con-siderar uma fundada exegese, mas ter tambémem vista um texto adequado à função litúrgica.Deve ser usada uma única tradução universal-mente na área de uma determinada Conferên-cia dos Bispos e deve ser a mesma no mesmotrecho que ocorre em várias partes no conjuntodos livros litúrgicos. A finalidade deve ser,em cada língua, um estilo especificamente sa-grado, conforme com o léxico estabelecidopelo uso católico popular e, na medida dopossível, pelos principais textos catequéticos.Todos os casos duvidosos relativos àcanonicidade e à exacta disposição do textodevem ser resolvidos fazendo recurso à Neo--Vulgata. As imagens concretas fornecidaspor algumas palavras, segundo um estilo lin-guístico propriamente figurado, como o“dedo”, a “mão”, o “rosto” de Deus, ou o seu“caminhar”, as palavras como “carne” e se-melhantes, devem ser traduzidas literalmentetodas as vezes que são usados e não substitu-ídas por palavras abstractas. Com efeito, estassão figuras típicas do texto bíblico, que, comotais, devem ser mantidas.

Outros textos litúrgicos

As normas para a tradução da Bíblia emuso na Liturgia aplicam-se, em geral, tambémàs traduções das orações litúrgicas. Ao mesmotempo, deve reconhecer-se que, enquanto aformulação da oração litúrgica pode estar su-jeita, em alguns sentidos, a ser determinadapela cultura da qual faz uso, por sua vez elacomeça a fazer parte de um processo de forma-ção daquela mesma cultura, numa tipologia derelação, não meramente passiva. Por conse-guinte, a língua litúrgica pode razoavelmentedivergir da língua ordinária, mas reflectir,

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ao mesmo tempo, os seus elementos melhores.O ideal será o desenvolvimento de um determi-nado contexto de uma língua vulgar digna,adequada ao culto.

O léxico litúrgico deve incluir as princi-pais características do Rito romano, radicar-senas fontes patrísticas e harmonizar-se com ostextos bíblicos. Neste ponto, aconselha-se queseja harmonizada a tradução em língua moder-na com os usos do Catecismo da Igreja Católi-ca e que se usem palavras distintivas, todas asvezes que seja feita referência a pessoas ou aobjectos sagrados, de forma que se evitemconfusões com as que são adoptadas para coi-sas da vida quotidiana.

A sintaxe, o estilo e o género literário são,eles também, elementos de importância funda-mental para a elaboração de uma tradução fiel.A relação entre os períodos, sobretudo quandosão expressos através da subordinação, e figu-ras como o paralelismo, devem ser cuidadosa-mente mantidas.

Os verbos devem ser traduzidos comexactidão, respeitando a pessoa, o número, avoz. Ao contrário, pode ser dada maior liber-dade à tradução de estruturas sintáticas maiscomplexas. Tenha-se sempre em consideraçãoque os textos litúrgicos se destinam à declama-ção pública e ao canto.

Tipologias específicas de texto

Além disso, devem ser fornecidas normasespecíficas para a tradução das Orações Euca-rísticas, do Credo (no qual o verbo deve serposto na primeira pessoa do singular: “creio”e não “cremos”), para a orientação e o ordena-mento interno dos livros litúrgicos, para osseus decretos preliminares e para os textoslegislativos. Elas devem ser acompanhadas pordescrição na preparação das traduções por par-te da Conferência dos Bispos e dos procedi-mentos necessários para obter a aprovação e aconfirmação dos textos litúrgicos pela SantaSé. Os actuais requisitos específicos da apro-vação pontifícia para as fórmulas sacramen-tais, bem como a exigência que haja uma únicatradução da Liturgia para cada determinadogrupo linguístico, especialmente no que dizrespeito à Ordo Missae, são reconfirmados.

A organização do trabalho de traduçãoe as Comissões

A preparação das traduções é um ónuspesado sobretudo para os Bispos, porque elesdevem, naturalmente, recorrer à ajuda de peri-tos. Em cada trabalho de tradução pelo menosalguns dos Bispos devem estar directamenteempenhados, não só no controlo directo epessoal dos textos definitivos, mas tambémparticipando sempre activamente nas váriasfases de preparação. Mesmo se nem todos osBispos de uma Conferência são peritos numadeterminada língua em uso no seu território,eles devem assumir uma responsabilidade co-legial para os textos litúrgicos e uma estratégiade conjunto para o uso das várias línguas noâmbito pastoral.

A Instrução expõe claramente os procedi-mentos (em princípio correspondentes aos queactualmente já estão em vigor) para a aprova-ção dos textos por parte dos Bispos e para a suasucessiva apresentação para a revisão e confir-mação por parte da Congregação para o CultoDivino. O documento dedica um certo espaçoa pôr em evidência a importância da submissãodos assuntos litúrgicos à Santa Sé, baseando-separcialmente no Motu Proprio de Sua Santida-de João Paulo II “Apostolos suos” de 1998, noqual era esclarecida a natureza e a função dasConferências dos Bispos. O procedimento desubmissão, além de ser sinal da comunhão dosBispos com o Papa, tem também um valor deconsolidação desta relação. Ela garante a qua-lidade dos textos e tem por finalidade que ascelebrações litúrgicas das Igrejas particulares(Dioceses) estejam em plena harmonia com atradição da Igreja Católica ao longo dos sécu-los e em todos os lugares do mundo.

Onde uma cooperação entre Conferênciasdos Bispos que usam a mesma língua sejaapropriada ou necessária, compete unicamenteà Congregação para o Culto Divino e aDisciplina dos Sacramentos erigir comis-sões conjuntas ou “mistas”, normalmente apósuma solicitação por parte dos Bispos. EstasComissões não são autónomas e não consti-tuem um canal de comunicação entre a SantaSé a as Conferências dos Bispos; não desem-penham um papel decisivo, mas estão simples-mente ao serviço do ministério pastoral dosBispos; encarregam-se exclusivamente da tra-

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dução das editiones typicae latinas, mas não dacomposição de novos textos em vulgar, nem deconsiderações sobre questões teoréticas, nemde adaptações culturais, e não têm relaçõescom órgãos análogos de outros grupos linguís-ticos.

A quinta Instrução recomenda que pelomenos alguns dos Bispos que compõem acomissão sejam também membros da comis-são litúrgica da Conferência dos Bispos a quepertencem. Contudo, a comissão “mista” édirigida pelos Bispos membros, de acordo comos estatutos, que devem ser confirmados pelaCongregação para o Culto Divino. Estes esta-tutos devem, normalmente, receber a aprova-ção de todas as Conferências participantes dosBispos; se isto não for possível, a Congregaçãopara o Culto Divino pode intervir para redigir eaprovar com a própria autoridade os estatutos.

Estas Comissões segundo quanto expõe odocumento empenham-se particularmente nacoordenação do uso dos recursos disponíveispara cada uma das Conferências dos Bispos,de forma que, por exemplo, uma determinadaConferência possa produzir um primeiro esbo-ço de tradução, posteriormente revisto pelasoutras Conferências dos Bispos, a fim de obterdesta forma um texto melhorado, que seja utili-zado universalmente.

As comissões “mistas” não se destinam àsubstituição das comissões litúrgicas nacionaise diocesanas e não podem, por conseguinte,desempenhar nenhuma das suas funções.Devido à importância da sua obra, todas aspessoas, excepto os Bispos, empenhadas nasactividades de uma comissão “mista” devemobter o nihil obstat por parte da Congregaçãopara o culto Divino e a Disciplina dos Sacra-mentos antes de assumir o próprio encargo.Como todos, quantos estão relacionados coma comissão colaboram com ela unicamente atempo determinado e estão vinculados por umcontrato para o desempenho das suas funçõesem absoluto segredo e no anonimato.

As comissões existentes devem conformaros próprios estatutos com esta Instrução esubmetê-los à Congregação para o Culto Divi-no no prazo de dois anos a partir da data emque são emanados.

O documento realça também a necessida-de da própria Santa Sé de traduções litúrgicas,

sobretudo nas principais línguas, e do seudesejo de estar cada vez mais estreitamenteenvolvida na sua preparação. Ele refere-setambém, em geral, aos vários tipos de organis-mos que a Congregação para o Culto Divinopode constituir para a solução dos problemasde tradução numa ou em várias línguas.

Novos textos

Uma secção sobre a composição de novostextos sublinha que a sua finalidade é essen-cialmente facilitar as necessidades genuínasculturais e pastorais. Por conseguinte, eles sãoexclusivamente da competência das Confe-rências dos Bispos, e não competem de formaalguma às comissões “mistas” para as tradu-ções. Devem respeitar o estilo, a estrutura, oléxico e as outras características tradicionaisdo Rito romano. De particular importância,devido ao seu impacto sobre a pessoa e memó-ria, são os hinos e os cânticos. Este material emlíngua moderna deve ser submetido a uma re-visão geral e as Conferências dos Bispos sãoconvidadas a regular a questão de acordo coma Congregação no prazo de cinco anos.

A Instrução conclui com uma série de bre-ves secções técnicas que contêm directrizes re-lativas à publicação das edições dos livroslitúrgicos, incluído o copyright, e os procedi-mentos para a tradução dos textos litúrgicospróprios de cada diocese e famílias religiosas.

Transcrito de L'Osservatore Romanoa quem agradecemos a tradução.

A edição da novaInstrução Geral

do Missal Romanoencontra-se

quase prontapara a impressão.

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A ASSOCIAÇÃO EUROPEIADE SECRETÁRIOS NACIONAIS

DE LITURGIA REUNIU EM FÁTIMA

ENCONTRO EUROPEU

Portugal recebeu pela segunda vez aAssociação Europeia de Secretários Na-cionais de Liturgia, que reuniram emFátima nos dias 15 a 21 de Junho. Esta as-sembleia, que integra os secretários dasComissões Episcopais de Liturgia de cadapaís e região linguística da Europa, reúnecada dois anos e é preparada por uma co-missão executiva. Na anterior assembleia,realizada em Munique, Portugal foi eleitopara local desta reunião.

A logística deste evento é complexa,mas o acontecimento merece todos os es-forços e os resultados são animadores. Aprimeira característica deste grupo é a di-versidade de línguas e a dificuldade de co-municação, mas a riqueza que ela encerraconstitui um incentivo maior e com a aju-da de todos tudo se supera.

As conferências e as comunicaçõesmais importantes foram apresentadas porescrito e em várias traduções para facilitaro acesso a todos. A comunicação pessoalfoi conforme os conhecimentos de cadainterveniente, havendo sempre o cuidadode oferecer uma possível tradução. Ascelebrações litúrgicas mais importantesforam as oficiais do Santuário e não cons-tituíram qualquer dificuldade, o que dizmuito da organização litúrgica do Santuá-rio de Fátima quanto à integração de ou-tras línguas.

A Iniciação Cristã foi o tema principalde estudo. Eberhard Amon, Professor eDirector do Instituto Litúrgico de Trier naAlemanha, abriu os trabalhos com umaexposição sobre a história da IniciaçãoCristã para pessoas entendidas no assunto.

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92 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

Mons. Luciano Paulo Guerra D. Pere Tena

A presidência da assembleia: Jean-Claude Crivelli, D. Manuel Falcão e Pedro Ferreira

Os nossos vizinhos de Espanha: Juan Maria Canals e Lluis Prat

Associação Europeia de Secretários

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JULHO – SETEMBRO 2001 93

No dia 16 de Junho o Senhor D. Serafim Ferreira e Silva, Bispo de Leiria-Fátima,celebrou o aniversário de nascimento e de ordenação episcopal.

Passou a manhã com este grupo europeu e presidiu à celebração da Missa na Capelinha.

Philippe Barras, leigo e director do CentroNacional de Pastoral Litúrgica de Paris

Jean-Claude Crivelli e Irmã Raphaëlle Martin,ambos da Suiça,

Philippe Gueudet, da França

Nacionais de Liturgia em Fátima

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94 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

Dionísio Boróbio, catedrático de Liturgiana Universidade de Salamanca, apresen-tou um estudo sobre a conversão e o bap-tismo, suas exigências e consequências navida cristã. Philippe Gueudet, da França,falou da nova problemática dos que reco-meçam à procura da fé e dos sacramentos.D. Pere Tena, Presidente da ComissãoEpiscopal de Liturgia de Espanha, expôs otema da confirmação como iniciação àvida eclesial. Jean-Claude Crivelli, daSuiça, fez uma breve comunicação sobre aritualidade e a vida moral e levantou ques-tões muito actuais sobre o assunto. TonyRogers, da Inglaterra, fez um exame críti-co ao Ritual da Iniciação Cristã dos Adul-tos no contexto contemporâneo. JamesO’brien, da Congregação do Culto Divi-no, apresentou uma comunicação para in-formações várias. A estas comunicaçõesdeve juntar-se a que o Reitor do Santuário,Mons. Luciano Paulo Guerra, apresentousobre Fátima e a conversão, que foi parti-cularmente apreciada. Participaram du-rante algumas actividades e apresentaramcumprimentos o Bispo de Leiria-Fátima,D. Serafim Ferreira e Silva, o Presidenteda Comissão Episcopal de Liturgia de Por-tugal, D. Manuel Falcão, e o Senhor Nún-cio Apostólico, D. Edoardo Rovida.

O dia cultural foi dedicado a Fátima,Batalha, Alcobaça e Nazaré. Para encerraresta amostra da nossa cultura, o Presi-dente da Câmara de Ourém, Dr. David Ca-tarino, ofereceu uma recepção no Castelo,seguido dum jantar de convívio, que cer-tamente ficará na memória de todos econfirma a alta cultura do nosso bomacolhimento.

No último dia procedeu-se a eleições eo Presidente foi reeleito por um novo man-dato. A próxima assembleia ficou marcadapara Budapeste em 2003.

PEDRO LOURENÇO FERREIRA

o Senhor Núncio Apostólico, D. Edoardo Rovida,participou em alguns trabalhos e dirigiu a palvra

aos participantes.

James O’brien, da Congregação do Culto Divino

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ARTE SACRA

JULHO – SETEMBRO 2001 95

BENS CULTURAIS DA IGREJA

O Secretariado Nacional dos BensCulturais da Igreja promoveu no passadodia 3 de Julho uma Acção de Formação deFormadores na Província Eclesiástica deBraga. O encontro realizou-se no CentroApostólico do Sameiro, em Braga, e, nãose destinando ao grande público, contoucom um bom grupo de interessados noassunto. As dioceses desta ProvínciaEclesiástica tiveram a oportunidade deoferecer aos seus formadores diocesanosos conhecimentos técnicos necessáriospara o bom desempenho da sua missão.

O elenco de professores manifestabem o interesse que se dedicou a estaacção de formação. Os participantes erampessoas muito interessadas nos assuntos,o que enriqueceu extraordinariamenteos tempos de debate e diálogo.

O Boletim de Pastoral Litúrgicafez-se presente para se informar e poderinformar os seus leitores. Os Bens Cultu-rais da Igreja têm muito a ver com aliturgia: nela nasceram e a ela se destina-vam. A renovação litúrgica do ConcílioVaticano II tem dedicado mais atenção aoselementos celebrativos e pastorais, masnunca deixou de reconhecer o valor daarte sacra, que interessa à Igreja sobretudopelo contributo que presta à liturgia. A artesacra tem o seu lugar reservado neste bole-tim que se propõe formar para a liturgia.

A Comissão Episcopal dos Bens Cul-turais da Igreja fez-se presente com todosos seus membros: D. Albino MamedeCleto, D. Carlos Francisco Martins Pi-nheiro, D. António José Cavaco Carrilho eP. Nuno Filipe Fraga Aurélio. Este gestodiz do interesse e da dedicação a esta no-bre causa da Conferência Episcopal.

Os conferencistas foram escolhidospela sua competência específica. O Cón.Prof. Doutor José Marques iniciou ostrabalhos com uma exposição sobre“Identificar os inimigos do património.Princípios gerais da defesa e conserva-ção dos Bens Culturais”. Seguidamente, oP. Arqº José Manuel Ribeiro abordou aquestão da estatuária, das talhas e daspinturas, sempre por ordem e com muitaclareza, recorrendo a demonstraçõesgráficas. A Drª Manuela Pinto da Costafalou das questões relacionadas com a pa-ramentaria e os tecidos: conhecimentosque todas as zeladoras das nossas igrejasdeviam possuir. A Drª Fátima Macedofalou da ourivesaria e dos cuidados a tercom estes materiais. Por fim, a Profª Fer-nanda Ribeiro falou da “Documentaçãográfica” e da necessidade de cuidar estegénero de património que guarda uma boaparte da memória histórica e que corre orisco de desaparecer.

No encerramento D. Albino MamedeCleto fez a síntese das grandes questõesabordadas durante o encontro e lançounovos desafios para que se promova adefesa e a produção do património, sem seesquecer a sua utilização pastoral e cate-quética. Recordou a necessidade de secontinuar com estas acções de formação ede avançar com publicações que expli-quem o que devem fazer nas paróquias ossacristães, zeladoras, mordomos e comis-sões de festas. Anunciou que já estão a serpreparados directórios com orientações esugestões sobre a defesa do património, demodo que este tema seja tratado na próxi-ma Assembleia Plenária da ConferênciaEpiscopal Portuguesa.

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LIVROS LITÚRGICOSSituação em Julho de 2001

Missal– Formato maior – (1ª ed.) ................................................................................... Disponível– Formato menor – (1ª ed.) .................................................................................. Esgotado– (2ª ed. aguarda a publicação da edição típica latina)

Leccionário:– I. Ano A (2ª ed.) – Previsto para o verão 2001 ............................................ Esgotado– II. Ano B (1ª ed.) ........................................................................................... Disponível– III. Ano C (2ª ed.) – Edição revista ................................................................ Disponível– IV. Ferial I: Advento, Natal, Quaresma, Páscoa ............................................. Disponível– V. Ano II: Anos ímpares ................................................................................ Disponível– VI. Ano III: Anos pares .................................................................................. Disponível– VII. Santoral e Comuns .................................................................................... Disponível– VIII.Missas Rituais, Diversas e Votivas ........................................................... Disponível

Evangeliário ............................................................................................................... DisponívelOração dos Fiéis (2ª ed. revista e com formulários para o santoral) ......................... DisponívelLiturgia das Horas [foi revista e actualizada]

– Vol I. Advento e Natal (4ª ed.) ...................................................................... Disponível– Vol II. Quaresma e Páscoa (4ª ed.) ................................................................. Disponível– Vol III. Tempo Comum (4ª ed.) ....................................................................... Disponível– Vol IV. Tempo Comum (4ª ed.) – Previsto para o verão 2001 ........................ Esgotado– Abrev. Edição abreviada [Laudes-H. Int.-Vésp. e Completas] (3ª ed.) .......... Disponível– Abrev. Laudes e Vésperas [Laudes-Vésp. e Completas] (1ª ed.) ................... Disponível

Celebração do Baptismo ............................................................................................ DisponívelIniciação Cristã dos Adultos ...................................................................................... DisponívelCelebração da Confirmação (2ª ed.) .......................................................................... DisponívelSagrada Comunhão e Culto do Mistério Eucarístico Fora da Missa ......................... DisponívelRitual do Ministro Extraordinário da Comunhão (4ª ed.) .......................................... DisponívelCelebração da Penitência (2ª ed.) .............................................................................. DisponívelUnção e Pastoral dos Doentes ................................................................................... DisponívelCelebração das Exéquias ........................................................................................... DisponívelOrdenação do Bispo, dos Presbíteros e Diáconos (2ª ed.) ........................................ DisponívelCelebração do Matrimónio ........................................................................................ DisponívelDedicação da Igreja e do Altar .................................................................................. DisponívelBênção de um Abade e de uma Abadessa ................................................................. DisponívelRitual da Profissão Religiosa ..................................................................................... DisponívelRitual dos Exorcismos ............................................................................................... DisponívelConsagração das Virgens ........................................................................................... DisponívelCelebração das Bênçãos ............................................................................................ DisponívelInstituição dos Leitores e dos Acólitos ...................................................................... DisponívelBênção dos Óleos dos Catecúmenos

e dos Enfermos e Consagração do Crisma (2ª ed.) .............................................. Disponível

INFORMAÇÃOINFORMAÇÃO

96 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

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PUBLICAÇÕES DO SNL

A celebração do Tempo do Natal (2ª ed.) ................................................ 700$00A Religiosidade Popular e a Celebração da Fé ....................................... 400$00Adaptação das Igrejas segundo a Reforma Litúrgica ........................... 700$00Akathistos ..................................................................................................... 400$00As bênçãos .................................................................................................... 750$00Bênçãos da Família ..................................................................................... 750$00Cânticos de Entrada e de Comunhão I

(Advento, Natal, Quaresma e Páscoa) ........................................... 1.200$00Cânticos de Entrada e de Comunhão II (Tempo Comum) .................. 1.200$00Cassete com as Melodias Oficiais do Missal Romano ........................... 1.000$00Cânticos instrumentados para Banda ........................................................ 2.000$00Directório para as celebrações dominicais na ausência do presbítero .... 100$00Directório Litúrgico 2002 .......................................................................... 900$00Agenda – Directório Litúrgico 2002......................................................... 1.200$00Enquirídio dos Documentos da Reforma Litúrgica .............................. 5.000$00Guião do XXVI Encontro Nacional Pastoral Litúrgica ........................ 1.000$00Guião do XXVII Encontro Nacional Pastoral Litúrgica ...................... 1.000$00Introduções aos Salmos e Cânticos de Laudes e Vésperas................... 800$00Instrução Geral do Missal Romano (6ª ed.) ............................................ 900$00Instrução Geral sobre a Liturgia das Horas (2ª ed.) ............................. 400$00Liturgia das Horas – Edição para canto (Tempo Comum)................... 2.000$00O Ministério do Leitor ................................................................................ 1.000$00O Tríduo Pascal ............................................................................................ 500$00O Tempo Pascal (2ª ed.) ............................................................................. 700$00Ordenamento das Leituras da Missa ........................................................ 500$00Ritual do Ministro Extraordinário da Comunhão (4ª ed.) ................... 800$00Salmos Responsoriais – Organista – (2ª ed.) – P. Manuel Luís ............ 3.500$00Salmos Responsoriais – Salmista – (2ª ed.) – P. Manuel Luís .............. 2.800$00

EEEEEMMMMM PREPPREPPREPPREPPREPARARARARARAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃO:::::Colectânea de músicas do P. Carlos SilvaColectânea de textos litúrgicos antigosLiturgia das Horas – Ed. para canto (Advento, Natal, Quaresma e Páscoa)

Secretariado Nacional de LiturgiaSantuário de Fátima – Apartado 31 — 2496-908 FÁTIMATel. 249 533 327 Fax 249 533 343E-mail: [email protected]

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A Liturgia é simultaneamentea meta

para a qual se encaminha a acção da Igrejae a fonte

de onde promana toda a sua força.(SC 10)


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