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JMDomenach-A_Propaganda_Política

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  • 8/9/2019 JMDomenach-A_Propaganda_Poltica

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    A PROPAGANDA POL TICAa Propagande Politique

    ean-Marie Domenach

    NDICE

    PRESENTAO

    NTRODUO

    APTULO I - O ambienteglutinao nacional e concentrao urbana

    veno de novas tcnicas

    A Propaganda Poltica

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    AP TULO II - As duas fontes da propaganda

    ublicidade

    eologia poltica

    APTULO III - Propaganda de tipo leninista

    APTULO IV - Propaganda de tipo hitlerista

    APTULO V - Leis e tcnicas

    ei de simplificao e do inimigo nico

    ei de ampliao e desfigurao

    ei de orquestraoei de transfuso

    ei de unanimidade e de contgio

    ontrapropaganda

    APTULO VI - Mito, mentira e fato

    APTULO VII - Opinio e propaganda

    APTULO VIII - Democracia e propaganda

    OTAS

    PRESENTAO

    lson Jahr Garcia

    O que Propaganda Poltica? H um problema em portugus. Em vrias lnguas h uma distinongustica bem clara entre os tipos de comunicao persuasiva. Geralmente a palavra Propaganda sefere transmisso de idias, sejam polticas ou religiosas. Publicidade se refere difuso de produtrvios ou candidatos polticos. Em francs h "Propagande" e "Publicit"; em ingls "Propaganda"

    A Propaganda Poltica

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    Advertising", espanhis distinguem entre "Propaganda"e "Publicidad". Em portugus no, Propaganublicidade so utilizadas indistintamente, da utilizarmos as expresses Propaganda Ideolgica eopaganda ou Publicidadade comercial. Neste livro, cujo original foi escrito em francs, a palavraopaganda se refere transmisso de idias polticas, nada tem a ver com promoo de sabonetes,ampoos, fraldas ou polticos descartveis. um clssico, ningum teria coragem de escrever sobre o tema sem cit-lo. Mais do que isso, ndamentado em outros clssicos, como os textos de: Serge Tchakhotine, A. Sauvy, De Felice, Bartenin, Goebbels, Gustave Le Bon, Walter Lippman, H.D. Lasswell.

    O texto parte de uma anlise da propaganda feita por Lenin e Hitler para extrair alguns princpiosis bsicas; "simplificao e inimigo nico", "ampliao e desfigurao", "orquestrao", "transfusonanimidade e contgio". No deixa de lado a reao da "contrapropanda". simplesmente brilhant

    NTRODUO

    Um dos fenmenos dominantes da primeira metade do sculo XX a propaganda poltica. Sem elandes acontecimentos da nossa poca: a revoluo comunista e o fascismo, no seriam sequer

    ncebveis. Foi em grande parte devido a ela que Lenin logrou instaurar o bolchevismo; Hitler devesencialmente suas vitrias, desde a tomada do poder at a invaso de 1940. Mais que estadistas ederes guerreiros, esses dois homens, que de maneira, sem dvida, bem diferente vincaramofundamente a histria contempornea, so dois gnios da propaganda e ambos proclamaram apremacia dessa moderna arma: "O principal - asseverou Lenin - a agitao e a propaganda em todcamadas do povo"; Hitler disse: "A propaganda permitiu-nos conservar o poder, a propaganda nos

    ossibilitar a conquista do mundo".Alfred Sauvy, no livro Le Pouvoir et l'Opinion, assinala com justeza que em nenhum Estado mod

    regime fascista caiu sem interveno externa, o que, na sua opinio, constitui prova da fora daopaganda poltica. Dir-se- tratar-se sobretudo de um efeito do controle policial. Contudo, a

    opaganda precedia a polcia ou exrcito e lhes facilitava a ao; a polcia alem no podia grande cra das fronteiras da Alemanha; representam, de incio, vitrias da propaganda, a anexao sem comustria e da Tcheco-Eslovquia, bem como a derrocada da estrutura militar e poltica da Frana. A

    opaganda poltica, incontestavelmente, ocupa o primeiro lugar, antes da polcia, na hierarquia dosoderes do totalitarismo moderno.

    No decurso da Segunda Guerra Mundial, a propaganda acompanhou sempre e, algumas vezes,ecedeu os exrcitos. Na Espanha, as brigadas internacionais dispunham de comissrios polticos. Aermacht tinha, na Rssia, "companhias de propaganda". Se a Resistncia francesa no houvessempreendido obscuramente a importncia vital do esforo para imprimir e difundir folhetos e volan

    contedo freqentemente diminuto, jamais teria sacrificado milhares de homens e dos melhores. Smbargo do armistcio, a propaganda no cessou. Ela fez mais para a converso da China ao comuniso que as divises de Mao-Ts-Tung. Rdio, jornal, filme, folhetos, discursos e cartazes opem as idmas s outras, refletem os fatos e disputam entre si os homens. Quo significativa de nossa poca stria dos prisioneiros japoneses devolvidos pela URSS em 1949. Convertidos ao comunismo aps

    ma temporada nos campos de "educao poltica", foram aguardados, na volta; por zeladores de outoutrina, Bblia em mos, a fim de submet-los "reeducao democrtica".

    Desde que existem competies polticas, isto , desde o incio do mundo, a propaganda existe esempenha seu papel. Foram, por certo, uma espcie de campanha de propaganda, aquelas movidasemstenes contra Filipe ou por Ccero contra Catilina. Assaz consciente dos processos que tornam

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    mados os chefes e divinizam os grandes homens, Napoleo compreendeu perfeitamente que umoverno deve preocupar-se sobretudo em obter o assentimento da opinio pblica: "Para ser justo, nficiente fazer o bem, igualmente necessrio que os administrados estejam convencidos. A forandamenta-se na opinio. Que o Governo? Nada, se no dispuser da opinio pblica". Polticos,tadistas e ditadores, de todos os tempos, procuraram estimular o apego s suas pessoas e aos seusstemas de governo. Todavia, no h nada de comum entre as arengas da gora e as de Nuremberg,tre os grafitos eleitorais de Pompia e uma campanha de propaganda moderna. A separao situa-sais perto de ns. A lenda napolenica, to poderosa a ponto de, quarenta anos depois, elevar ao pod

    m novo Napoleo, no se compara ao mito que envolve os chefes modernos. A propaganda do Geneoulanger apresenta, ainda, as feies de outrora: cavalo preto, canonetas, imagens de Epinal... Trinos passados, as formidveis vagas da propaganda teriam sua disposio o rdio, a fotografia, onema, a imprensa de grande tiragem, os cartazes gigantescos e todos os novos processos de reprodufica. Nova tcnica, que usa meios subministrados pela cincia, a fim de convencer e dirigir as masnstitudas no mesmo momento, tcnica de conjunto, coerente e que pode ser, at certo ponto,

    stematizada - sucede ao conjunto dos meios empregados em todos os tempos pelos polticos para ounfo de suas causas e ligado eloqncia, poesia, msica, escultura, s formas tradicionais dalas-artes, em suma. A palavra que a designa , ela tambm, contempornea do fenmeno: propagan

    um dos termos que destacamos arbitrariamente das frmulas do latim pontifical; empregada pela Igtempo da Contra-Reforma (de propaganda fide), mais ou menos reservada ao vocabulriolesistico ("Colgio da Propaganda") at irromper na lngua comum, no curso do sculo XVIII. Malavra guarda sua ressonncia religiosa, que no perder definitivamente seno no sculo XX. Agor

    ossveis definies esto muito longe desse primeiro sentido apostlico: "A propaganda uma tentainfluenciar a opinio e a conduta da sociedade, de tal modo que as pessoas adotem uma opinio e nduta determinada (1) ou ainda: "A propaganda a linguagem destinada massa; ela emprega pala

    u outros smbolos veiculados pelo rdio, pela imprensa e pelo cinema. O escopo do propagandista influir na atitude das massas no tocante a pontos submetidos ao impacto da propaganda, objetos d

    pinio (2)".

    A propaganda confunde-se com a publicidade nisto: procura criar, transformar certas opinies,mpregando, em parte, meios que lhe pede emprestados; distingue-se dela, contudo, por no visar ob

    merciais e, sim, polticos: a publicidade suscita necessidades ou preferncias visando a determinadoduto particular, enquanto a propaganda sugere ou impe crenas e reflexos que, amide, modificamportamento, o psiquismo e mesmo as convices religiosas ou filosficas. Por conseguinte, aopaganda influencia a atitude fundamental do ser humano. Sob esse aspecto, aproxima-se da educadavia, as tcnicas por ela empregadas habitualmente, e sobretudo o desgnio de convencer e debjugar sem amoldar, fazem dela a anttese.Entretanto, a propaganda poltica no uma cincia condensvel em frmulas. Movimenta,

    icialmente mecanismos fisiolgicos, psquicos e inconscientes bastante complexos, alguns dos quaal conhecidos; ademais, seus princpios provm tanto da esttica como da cincia: conselhos daperincia, indicaes gerais maneira das quais sobeja inventar; caso faltem as idias, escasseie olento ou o pblico, no h mais propaganda que literatura. A psicagogia, isto , a direo da almaletiva, deve muita coisa s cincias modernas; pode tornar-se uma cincia? A fica a pergunta. Nosntativa, portanto, no de codific-la, mesmo no estado atual. Acreditamos - esperamos - que ela nrmanecer encadeada s regras funcionais que lhe reconhecemos.

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    AP TULO I - O ambiente

    A propaganda poltico, conforme a examinamos, isto , como uma empresa organizada parafluenciar a opinio pblica e dirigi-la, surgiu somente no sculo XX, ao termo de uma evoluo quoporciona ao mesmo tempo seu campo de ao - a massa moderna - e seus meios de ao: as novascnicas de informao e de comunicao A amplitude de sua influncia avultou de tal maneira, que

    mpe falar de um salto qualitativo, mesmo que a inteno do propagandista e certos procedimentos nham, em regra, permanecido inalterados desde a origem das sociedades polticas.

    glutinao nacional e concentrao urbana

    Dois fatos essenciais caracterizam a evoluo da humanidade no sculo XIX: a formao de natrutura e esprito cada vez mais unificados, e, de outra parte, uma revoluo na demografia e no habEm extensas regies da Europa e da Amrica, o indivduo torna-se cidado. Progressivamente, nvocado a votar; , tambm, chamado a participar de guerras que no dizem respeito apenas apecialistas e mercenrios. Suas responsabilidades, teoricamente ao menos, aumentam com articipao na vida pblica. A poltica exterior no interessa apenas s chancelarias; agita, igualmen

    pinio nacional. Por seu turno, a opinio transforma-se em um instrumento de poltica exterior;evises apoiam-se na calma ou na inquietao da opinio e utiliza-se dela para sustentar uma poltiu pressionar a do adversrio; o irrompimento da guerra de 1870, com o despacho truncado de Ems, ies especiais dos jornais, a exaltao repentina do chauvinismo, constituem brilhante sintoma delutinao nacional e significam que a opinio pblica ascende a um novo estdio.Produz-se, concomitantemente, completa revoluo na demografia e no habitat. A populao doundo dobrou entre 1800 e 1900; a da Europa aumentou de 165% entre 1800 e 1932. Concentra-sebretudo, nas cidades industriais esse novo povoamento, em cujo proveito se despovoam, em certosses, os campos. Nessa enorme agitao, dissolvem-se as clulas tradicionais: a casa, que era aoradia, o patrimnio da famlia, torna-se um lugar de passagem, onde a gente se amontoa; o "bairro

    mpessoal substitui a aldeia e a parquia. Essas comunidades intermedirias que enquadravam odivduo, constituindo-lhe uma sociedade particular, com histria prpria, filtrando-lhe osontecimentos do mundo, desapareceram, deixando-o isolado, desorientado, diante de um mundocional em rpida evoluo, imediatamente expostas s solicitaes exteriores. A misria, a insegurcondio obreira, o temor do desemprego e da guerra, criam permanente estado de inquietao, quua a sensibilidade do indivduo e o impele a refugiar-se nas certezas de massa: "Indivduos reduzi

    uma vida animalescamente privada tambm, psicolgica e moralmente aderem quilo que desprendlor humano, isto , quilo que j agrupou numerosos indivduos. Eles ressentem a atrao social deodo direto e brutal (3)".

    Consequentemente a desarticulao dos antigos quadros, o progresso dos meios de comunicao, rmao dos aglomerados urbanos, a insegurana da condio industrial, as ameaas de crise e deuerra, a que se juntam mltiplos fatores de uniformizao progressiva da vida moderna (lngua,stumes e outros), tudo isso contribui para criar massas vidas de informaes, influenciveis escetveis de brutais reaes coletivas. Ao mesmo tempo, os inventos tcnicos fornecem os meios dir imediata e simultaneamente sobre essas novas massas.

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    nveno de novas tcnicas

    Escrita, palavra e imagem, tais os sustentculos permanentes da propaganda. O emprego deles,ntudo, era limitado: a escrita, o mais possante veculo de propaganda, depois da inveno da imprea prejudicada por seu alto preo e pela morosidade de sua distribuio;- a palavra era limitada pelo alcance da voz humana;- a imagem no ia alm dos desenhos ou pinturas, reproduzidos mediante custosos processos.Ora, as descobertas do, a esses trs suportes, amplitude praticamente indefinida:1 - Difuso da escrita impressa - Os idelogos do sculo XVIII empregaram panfletos, livros (e at

    ma enciclopdia) para uma propaganda revolucionria de efeito certo; o aproximar-se de 1848 verorescimento anlogo. Salvo excees a serem examinadas mais adiante, o preo do livro, que o tornm bem reservado s elites, e os prazos de impresso, forosamente tiram o carter de atualidade dasochuras ou panfletos menos caros. o jornal o veculo de propaganda melhor adaptado.Hegel dizia que a "leitura do jornal a orao matutina do homem moderno". Com a Revoluoancesa surgiram os jornais de opinio e nela desempenharam papel ativo. At meados do sculo XIjornais ainda so muito caros e reservados s elites; difundem-se, sobretudo, mediante assinaturas

    sinatura sinal de riqueza. O jornal custa 5 sous quando 30 sous pagam a jornada de trabalho. Le

    onstitutionnel, em 1825, conta 12.000 as sinantes, e o Times 17.000, o que parecia enorme. O jornassa poca de austera apresentao e de um estilo ponderado, que hoje nos parece aborrecido.O jornal moderno deve sua existncia aos seguintes fatores:- inveno da rotativa, que aumenta a tiragem e reduz o preo;- utilizao da publicidade, que traz novos recursos;- acelerao da distribuio (estrada de ferro, automvel, avio, que permitem transportar osemplares em um mnimo de tempo para quaisquer lugares);- acelerao da informao (sucede o telgrafo aos pombos-correio; constituem-se grandes agnciinformao).Cria-se dessa forma o jornal moderno, cujo baixo preo e cuja apresentao o transformam em um

    strumento popular e em uma formidvel potncia de opinio. Ao mesmo tempo em que aumentam agens, bem como sua influncia, os jornais tornam-se "negcios" a servio do capitalismo ou do

    stado e dependem de agncias de Informaes, igualmente controladas.2 - Difuso da palavra - Demstenes procurava cobrir com a voz o rudo do mar, enquanto Jaursrecia de uma garganta poderosa para sobrepujar as interrupes nos comcios. A inveno doicrofone permitiu ampliar a voz humana de acordo com as dimenses de imensas salas, de vastos hestdios e outros.O rdio libertou definitivamente a palavra de toda limitao. Uma voz pode repercutir,

    multaneamente, em todos os pontos do mundo. O constante aumento do nmero de estaes de rd

    nde a devolver palavra o predomnio por ela perdido, momentaneamente, em favor da imprensa. Nitler nem o General de Gaulle teriam tido, sem o rdio, o papel histrico que lhes coube.3 - Difuso da imagem - A gravura, to importante, por exemplo, na tradio napolenica,neficia-se doa novos processos de reproduo.A inveno da fotografia possibilita reproduo direta e, por isso, mais convincente, suscetvel

    mbm de ilimitada tiragem. O cinema oferece uma imagem mais verdica e surpreendente, que seasta da realidade apenas pela ausncia do relevo.Finalmente, a televiso operou, no tocante imagem, a mesma revoluo que o rdio no concernesom: transmite-a instantaneamente ao domiclio.

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    As tcnicas modernas de difuso derramam as notcias do mundo inteiro diretamente atravs dacrita, da palavra e da imagem, sobre massas de que grande parte se viu recentemente transplantadabtrada ao ambiente em que vivia, sua moral, sua religio tradicional, consequentemente maisnsvel e malevel. Tais tcnicas entregam-lhes a histria quotidiana do mundo, sem que as massassponham de tempo e de meios para exercer um controle retrospectivo; agarram-nas por temor ou poperana e atiram-nas lia. Massas modernas e meios de difuso originam uma coeso da opinio ecedentes. Ph. de Flice, em livro recente, procurou mostrar que todos os povos e todas as pocasereceram sintomas de delrio coletivo. Outrora, contudo, tratava-se de sbitas e selvagens

    anifestaes, de repentinas agitaes que se extinguiam aps algumas devastaes; em nossos diasassa permanece em estado de cristalizao latente e a neurose coletiva, embora suas formas maissvairadas se conservam limitadas, atinge mais ou menos profunda mas permanentemente, grande

    mero de indivduos: "Mesmo em pessoas aparentemente normais, no raro, observamos acessosquietantes de excitao e de depresso, de esquisitas alteraes da lgica e, sobretudo, deficincia d

    ontade traduzida por singular plasticidade s sugestes de origem interior ou exterior (4)

    APTULO II - As duas fontes da propaganda

    ublicidadeNo vamos deblaterar a fim de saber qual das duas - publicidade ou propaganda - filha da outra.distinguiam at a poca moderna: a propaganda de Csar, de Carlos Magno ou de Lus XIV nossava, em suma, de publicidade pessoal, assegurada pelos poetas, historiadores e fabricantes de

    magens, bem como pelos prprios grandes homens, nas suas atitudes, nos seus discursos e atravs dases "histricas": Durante longo tempo, propaganda e publicidade andam entrelaadas, evoluindoralelamente: gabam-se as doutrinas, de incio, tal como os farmacuticos se vangloriam de seus

    nguentos; pintam-se as caractersticas, pormenorizam-se os benefcios: correspondem publicidadeformativa - que assinala o comeo da arte publicitria - os programas e as explicaes no pertinentestemas, pululantes no sculo XIX. Numerosos so os processos comuns propaganda e publicida

    reclamo corresponde a "profisso de f"; marca de fbrica, o smbolo; ao slogan comercial, otribilho poltico. Parece, na verdade, que a propaganda se inspira nas invenes e no xito da

    ublicidade, copiando um estilo que, segundo se julga, agrada ao pblico. Por exemplo, os partidriooulanger, maneira dos grandes armazns de modas, distribuem joguinhos mas, com a diferena defiguras e legendas contribuem para a glria do General.O progresso tcnico logo arrasta a publicidade a um novo estgio: ela procura de preferncia

    mpressionar mais que convencer, sugestionar antes que explicar. O estribilho, a repetio, as imagenraentes derrotam, progressivamente, os anncios srios e demonstrativos: de informativa, torna-se a

    ublicidade sugestiva. Novas maneiras de apresentao, novas tcnicas entram em ao, mormentevido ao estmulo americano, em breve apoiadas em pesquisas de fisiologia, de psicologia e at deicanlise. Aposta-se na obsesso, no instinto sexual etc. Como veremos, a propaganda poltica nordar a tomar de emprstimo tais processos para uso prprio.A publicidade, concomitantemente, tende a tornar-se cincia; seus resultados so controlados,mprovando sua eficcia. Dessarte desnudada a plasticidade do homem moderno: esse dificilmentcapa a certo grau de obsesso, a determinados processos de atrao. Torna-se possvel gui-lo nontido de tal produto ou tal marca, no apenas impondo-o em lugar de outro, mas nele suscitando a cessidade. Descoberta formidvel, decisiva para os modernos engenheiros da propaganda: o homem

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    dio um ser essencialmente influencivel; tornou-se possvel sugerir-lhe opinies por elensideradas pessoais, "mudar-lhe as idias" no sentido prprio, e por que no tentar em matria polque vivel do ponto de vista comercial?Todo um setor da propaganda poltica continua a viver em simbiose com a publicidade: nos Estad

    nidos, por exemplo, as campanhas eleitorais pouco diferem das campanhas publicitrias; as famosaaradas", com orquestras, girls e cartazes, no passam de ruidoso reclamo. Outro ramo da propagan

    oltica, entretanto, embora ainda se inspire nos processos e nos estilos publicitrios, desligou-se daublicidade para criar uma tcnica prpria; aquela propaganda de natureza mais ampla e mais

    racterstica, que estudaremos de modo particular, visto ser ela que mais profundamente influencioustria contempornea.

    deologia poltica

    Limita-se a propaganda de tipo publicitrio a campanhas mais ou menos espaadas cujo padro mpanha eleitoral; a valorizao de certas idias e de certos homens mediante processos bemlimitados, expresso normal da atividade poltica. Outro tipo de propaganda, de tendncia totalitrcorre da fuso da ideologia com a poltica; intimamente ligada progresso ttica, joga com todas

    molas" humanas. No se trata mais de uma atividade parcial e passageira, mas da expresso concretoltica em movimento, como vontade de converso, de conquista e de explorao. Est, essa propaggada introduo, na histria moderna, das grandes e sedutoras ideologias polticas, tais como ocobinismo, o marxismo e o fascismo, e ao embate de naes e blocos de naes nas novas guerras.Tal propaganda poltica (5)data, na verdade, da Revoluo Francesa; os primeiros discursos deopaganda, os primeiros encarregados de propaganda (entre outros, os comissrios junto aos exrcitrtiram dos clubes, das assemblias, das comisses revolucionrias; foram eles que empreenderam aimeira guerra de propaganda e a primeira propaganda de guerra. Uma nao, pela primeira vez,

    bertava-se e organizava-se em nome de uma doutrina subitamente considerada universal. Uma poltterior e exterior, pela primeira vez, fazia-se acompanhar pela expanso de uma ideologia e, por isso

    esmo, segregava a propaganda. Surgiram, ento, todos os recursos da propaganda moderna: aarselhesa, o barrete frgio, a festa da Federao, a do Ser Supremo, a rede dos clubes jacobinos, aarcha sobre Versalhes, as manifestaes de massa contra as Assemblias, o cadafalso nas praas

    blicas, as crticas violentas de L'Ami du Peuple, as injrias de Pre Duchne.Novo tipo de guerra origina-se tambm da Revoluo. Progressivamente, so mobilizadas todas aergias nacionais at a fase da guerra total que Ernst Jnger acreditava atingida em 1914 e que, naalidade, no o fora seno durante a ltima guerra. Depois de 1791 a ideologia alia-se aos exrcitos conduo das guerras, tornando-se a propaganda a auxiliar da estratgia. Visa-se criar, internamenteso e o entusiasmo e instaurar, no campo inimigo, a desordem e o medo. Ao abolir, cada vez mais

    stino entre a frente e a retaguarda, a guerra total oferece propaganda, como campo de ao, noexrcitos, mas as populaes civis, pois, visando as segundas, atinge-se talvez mais seguramente aimeiras; consegue-se mesmo sublevar essas populaes, suscitando o aparecimento de novos tipos ldados, homens, mulheres, crianas, na retaguarda do inimigo: espies, sabotadores ou guerrilheiroo ser nunca demasiado salientar at que ponto as guerras modernas prepararam o terreno para aopaganda, ao favorecer a exaltao, a credulidade, o maniquesmo sentimental. O "bourrage dene"(6)de 1914-1918 abriu o caminho s grosseiras mentiras do hitlerismo. Surgem das guerrascentes completo vocabulrio de intimidao e uma mitologia inteira de conquista. As guerras servilaboratrio para os tcnicos de psicagogia, como o serviram para os engenhos mecnicos. A

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    opaganda ligou-se guerra a ponto de se lhes substituir naturalmente: desde 1947, nutriu a "guerraa", tal como alimentou, em 1939, a "guerra de nervos"... A atual propaganda a guerra levada a ca

    or outros meios.O marxismo-leninismo retomou, elevou a outro plano e aperfeioou esse liame entre a ideologia e

    uerra. Progressivamente, o marxismo substituiu o blanquismo e a insurreio espontnea do tipo. darnadas de Junho, por uma estratgia revolucionria das massas. O movimento operrio, outro fatorcisivo do sculo XIX, cria uma comunidade supranacional, que anima uma mitologia prpria. Noqueamos, foi a social-democracia que inventou o partido de massas; ela que ensaia certo nmero

    cnicas de propaganda (desfiles, smbolos e outros), depois aplicadas correntemente. Lenin, contudoais longe: quer dinamizar pela agitao e propaganda as massas sociais-democratas que caram sobfluncia de polticos aburguesados. Em plena guerra, Lenin e Trotsky, ao combinar a insurreio coopaganda, logram a decomposico do exrcito e da administrao, instaurando a revoluo bolchevssim escreveu J. Monnerot: "Os poderes destrutivos contidos nos sentimentos e ressentimentosumanos podem ser utilizados, manipulados por especialistas, tal como o so, de maneira convergen

    explosivos puramente materiais". A lio no ser perdida. A Unio Sovitica reteve-a em suaoltica. Nela, Hitler inspirou-se eficazmente.

    De uma ou de outra maneira, a propaganda foi secularizada pelo jacobinismo e pelas grandes

    eologias modernas. Mas, desviando-se, no regressa ela s suas origens? Trata-se, ainda, de difundma f - de fide propaganda - por certo, de uma f terrena, cuja expresso e disseminao muito pedemprestado psicologia e tcnica das religies. A propaganda inicial do cristianismo muito deveu aito escatolgico... Igualmente as novas propagandas polticas tm haurido inspirao em uma mitollibertao e de salvao, ligada, contudo, ao instinto de potncia e de luta - mitologia ao mesmo

    mpo guerreira e revolucionria. Empregamos a palavra "mito" no sentido que lhe atribuiu Sorel: "Oomens que participam dos grandes movimentos sociais vem sua prpria ao sob a forma de image

    batalhas asseguradoras do triunfo de suas causas. Proponho o nome de mito a essas idealizaes".itos, que tocam no mais profundo do inconsciente humano, constituem representaes ideais eacionais ligadas luta; exercem sobre as massas poderosa influncia dinamognica e coesiva.

    As grandes propagandas alimentam-se largamente nessas mesmas fontes: uma s histria, militar volucionria, da Europa; um s desejo veemente: o da comunidade perdida. Muito diferente,tretanto, o modo pelo qual orquestram e orientam os velhos sonhos aguados e recalcados pelaciedade moderna.

    APTULO III - Propaganda de tipo leninista

    O marxismo poderia ser caracterizado pelo seu poder de difuso; trata-se de uma filosofia capaz dopagar-se entre as massas, de inicio porque corresponde a um certo estgio da civilizao industria

    pois porque repousa em uma dialtica que pode ser reduzida sua extrema simplicidade, semformar-se substancialmente Certo , contudo, que o marxismo no teria to larga e rpida expansoenin no o houvesse transformado em um mtodo de ao poltica prtica.Para Marx, a conscincia de classe a base da conscincia poltica. Todavia - e esta a contribuiLenin - abandonada a si mesma, a conscincia de classe se encerra na "luta econmica", isto ,

    mita-se conscincia "trade-unionista", atividade puramente sindical e no atinge a conscinciaoltico. Cumpre, despert-la previamente, educ-la e arrast-la luta em mbito mais largo que onstitudo pelas relaes entre operrios e patres. Cabe essa tarefa elite dos revolucionriosofissionais, vanguarda consciente do proletariado. O Partido Comunista deve ser precisamente ostrumento dessa relao entre a elite e a massa, entre a vanguarda e a classe. Lenin substituiu a

    A Propaganda Poltica

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    ncepo social democrata do Partido Operrio, tal como sobretudo a conheceram a Alemanha e aglaterra, pela concepo dialtica de uma coorte de agitadores que sensibilizam e arrastam as massessa perspectiva, entendida a propaganda em um sentido assaz largo (passando da agitao educaoltica), torna-se a correia de transmisso, o liame essencial de expresso, ao mesmo tempo rgido eexvel, que continuamente liga as massas ao partido, levando-as pouco a pouco a unir-se vanguardmpreenso e na ao.A propaganda de tipo bolchevista pode ligar-se a duas expresses essenciais: a revelao poltica nncia) e a palavra de ordem. Segundo Marx, " preciso tornar a opresso real ainda mais dura,

    untando-lhe a conscincia da opresso e tornar a vergonha ainda mais humilhante, dando-a ublicidade"; seguindo-lhe o conselho, Lenin convida os sociais-democratas a "organizarem revelaolticas em todos os domnios"(7). Consistem essas "revelaes" em destrinar, por entre os sofismam que as classes dominantes envolvem seus interesses egostas, a natureza real de seus apetites e ondamento de seu poder, e dar s massas uma "representao clara". "Ora - assevera Lenin - no n

    vros que o operrio poder haurir essa clara representao; no a encontrar seno nas exposies vs revelaes ainda quentes acerca do que ocorre em torno de ns, em dado momento, de que a gentla ou cochicha e que se manifesta por este ou aquele fato, por tais e tais algarismos, vereditos e outssas revelaes polticas, que abrangem todos os domnios, constituem a condio necessria e

    ndamental para a formao das massas tendo em mira sua atividade revolucionria." Eis aqui alicao concreta desse ataque marxista mistificao: o propagandista leninista, no tocante a nomporta qual acontecimento de interesse para a vida das massas, deve elevar-se da aparncia realidaue se encontra no nvel da luta de classes, e no deve deixar os espritos se desviarem ou se afogarem explicaes superficiais e falsas. Guerras, greves, escndalos polticos proporcionaram ocasies; m geral, a partir de fatos mnimos, assaz concretos, que a demonstrao remontar causa para reque parecia acidental explicao poltica geral, que a do Partido Comunista. Assim, o Partidoomunista Francs empenhou-se na demonstrao dos "males do Plano Marshall", partindo de umanria parcial, do fechamento de uma fbrica ou do atraso da canalizao de gua para uma comunaral.

    Tomemos como exemplo o desemprego parcial, que atinge a atividade dos sales de beleza: podeiente pensar que os sales de beleza so em nmero demasiado, que a moda de cabelos compridoue os cabelos crescem, menos este ano... explicaes simplistas ou mitolgicas, rejeitadas peloopagandista comunista. Esse, com facilidade, levar o cliente a admitir que, se os sales de belezato vazios, porque o povo dispe apenas do dinheiro indispensvel s suas necessidade vitais; elenduzir, em seguida, verificao de que o conjunto dos assalariados insuficientemente remunerem conseqncia, porque o dinheiro que lhes devia caber desviado por tributos e taxas, em benefum oramento devorado pelos preparativos militares impostos Frana pela poltica atlntica, a qo passa de defesa dos interesses do capitalismo internacional... Isso no passa de simples exemplo,

    s forjado, dessa argumentao sistemtica, mediante a qual um propagandista educado no mtodoninista deve esforar-se por unir a parte ao todo, denunciando infatigavelmente todas as injustiasscitadas pelo regime capitalista.A palavra de ordem leva-nos ao aspecto combativo e construtivo dessa propaganda. Palavra de or

    a traduo verbal de uma fase da ttica revolucionria. Conceito motriz, expressa o objetivo maismportante do momento, o quanto possvel clara, breve e eufonicamente: quer, em perodovolucionrio, o aniquilamento do adversrio e um escopo unitrio para as massas - "Todo o Poder aovietes", "Terra e Paz", "Po, Paz e Liberdade", "Por um Governo de Ampla Unio Democrtica" euer, em perodo de "edificao socialista", um objetivo de planificao: "Cumprir e Superar o Plano

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    uatro Anos" etc.Importa, porm, que o comunista no condense demasiado a ttica imobilizando-se em uma palavordem que as circunstncias tornaram caduca. Em um artigo de 1917, "A propsito de palavras de

    dem" Lenin mostra a justeza da palavra de ordem "Todo o Poder aos Sovietes", at que outros partpresentados nos Sovietes se aliassem burguesia contra-revolucionria. Uma palavra de ordemndensa a linha poltica do momento, no um excitante vazio, oco: "Toda palavra de ordem deveduzir-se da soma das particularidades de determinada situao poltica". As palavras de ordem baliapas escalonadas que compelem as demais foras polticas a tomarem posio pr ou contra a

    laborao, visando a objetivos concretos e sedutores para as massas.Toda palavra de ordem deve corresponder no s situao poltica, mas, inclusive, ao nvel denscincia das massas No tem valor se no repercute largamente nessa conscincia, e, para tanto, dstinguir as aspiraes latentes no tocante ao tema mais favorvel. Dizia Trotsky: "Acusam-nos de copinio das massas. A censura inexata, tentamos apenas formul-la". Aqui est o segredo do xitovoluo bolchevista: em duas palavras soube Lenin ligar e exprimir as duas reivindicaesndamentais dos milhes de camponeses-soldados do exrcito russo: "Terra e Paz". xito tanto mailminante, considerando-se que os bolchevistas no passavam de um punhado e quase sem poder, ascomenta Trotsky: "Era impressionante a pobreza de meios de que dispunha a agitao bolchevista.

    omo, com to dbil aparelho e diante do nmero insignificante da tiragem dos jornais, puderammpor-se ao povo as idias e as palavras de. ordem do bolchevismo? bem simples o segredo desseigma: as palavras de ordem que correspondem s agudas necessidades de uma classe e de uma poiam milhares de canais. O meio revolucionrio, tornado incandescente, distingue-se por altandutibilidade de idias".A fim de trabalhar o meio, visando nele difundir revelaes e palavras de ordem, o bolchevismossou a distinguir duas espcies de agentes: os propagandistas e os agitadores. Plekhanov o autorsta famosa distino: "O propagandista procura inculcar muitas idias em uma s pessoa ou emqueno nmero de indivduos; o agitador no inculca mais que uma nica idia ou pequeno nmeroias; em compensao, ele as inculca em numerosos grupo de pessoas". Ao comentar essa defini

    z Lenin(8), que o agitador, partindo de uma injustia concreta, engendrada pela contradio do regpitalista, "se esforar por suscitar o descontentamento, a indignao das massas contra essa gritanjustia, deixando ao propagandista o cuidado de dar completa explicao dessa contradio. Da po

    ue o propagandista age sobretudo pela escrita e, o agitador, de viva voz". Visivelmente, entretanto,enin teme deixar transformar-se em uma distino terica o que apenas distino prtica,sencialmente baseada em aptides de temperamento. Seguiramos essas duas famlias, alis, comcilidade, ao longo da histria das revolues sejam sociais, polticas ou religiosas. Hbert e Maratram agitadores; Robespierre e Saint-Just foram propagandistas. Mussolini nunca conseguiu ultrapaestgio de agitador. Ao contrrio, Hitler foi um agitador que soube elevar-se ao nvel de sistematiza

    rica do propagandista. esse um ponto no qual Lenin insistiu em numerosas oportunidades (9): no se trata apenas de agcatequizar a classe operria, como em geral se contentam em faz-lo os sociais-democratas, precir a todas as classes da populao como propagandistas, como agitadores e como organizadores".umpre praticar denncias, fazer revelaes polticas vivas que interessem ao povo inteiro: operriosmponeses, pequenos burgueses. E, para logr-lo, " necessrio que tenhamos "nossos homens",ciais-democratas, sempre e por toda a parte, em todas as camadas sociais, em todas as posies quermitam conhecer as molas interiores do mecanismo do nosso Estado".O papel desses homens, de incio, o de fazer a propaganda e a agitao por todos os meios,

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    ligenciando no sentido de adaptar seus argumentos ao meio em que se encontram. A grandeversidade de sua imprensa constitui uma das caractersticas da propaganda comunista. H, na Uniovitica, jornais para cada regio e cada profisso; todos repetem a mesma coisa, mas o dizem deaneira apropriada s diversas mentalidades. Por outro lado, no h propaganda sem constantentribuio de matria informativa, tanto assim que outro encargo dos especialistas comunistas o dimentar as revelaes de ordem poltica por contnuo afluxo de notcias colhidas em todos os setoreofissionais e sociais. Funciona cada clula como uma antena de informao e, sob o regime sovitijornais dispem de uma multido de "correspondentes populares" colocados em todos os nveis de

    ividades do pas. Para a propaganda comunista, esse trabalho de informao revela-se incontestveemento de superioridade; permite-lhe, sobretudo, reagir mais celeremente que a propaganda adverssconcertando-a e, muitas vezes, ultrapassando-a.De Lenin os partidos comunistas retiveram a "paixo pelas revelaes polticas" organizadas "diatodo o povo". Para eles, no se trata de praticar em regime burgus uma poltica de alianas e dempromissos, a qual monopoliza as foras dos outros partidos, mas, apresentado-se como inimigoseconciliveis do regime, de fazer explodir continuamente entre os adversrios as minas que elesesmos prepararam inconscientemente. Todo passo dado em falso por um governo, toda debilidade

    ma maioria, toda injustia, todo e qualquer escndalo so, dessarte, "desmascarados", "denunciados

    stematicamente ligados ao tema poltico central. Esse vasto e permanente empreendimento desenrosde a menor oficina, passa pelos conselhos municipais e gerais, pelas entidades profissionais, pelobunais at o recinto do Parlamento. Os comunistas eleitos dispem, assim, de tribunas de onde asenncias" caem mais ruidosamente; a Internacional Comunista, no seu II Congresso, recordou a caputado militante que ele no era apenas "um legislador procura, com os demais legisladores, de u

    nguagem comum, mas um agitador enviado ao inimigo, a fim de aplicar as decises do Partido".xistem, tambm, as palavras de ordem do P. C. que os deputados comunistas devem apoiar ensubstanciar no texto de proposies aparentemente concretas, segundo a senha j dada pelo Burea

    oltico em 1924: "Os eleitos devem apresentar projetos puramente demonstrativos, concebidos nosando sua adoo, mas propaganda e agitao".

    Lenin sabe, entretanto, que exrcitos de propagandistas e de agitadores, mesmo que se contassem ilhes, so insuficientes para lograr a vitria se a ao deixar de apoiar-se em uma linha poltica jus

    m realizaes prticas. Sem atos concretos em que se arrime qualquer propaganda no passa de umrbalismo criador de perigosas iluses, imobilizando a ttica em um estgio caduco.Traduz-se essa atividade, em regime capitalista, pelo sustentculo das reivindicaes, pela ao no

    ndicatos e nos agrupamentos de toda espcie, bem como por realizaes concretas, testemunhandoequvoca vontade na prefigurao da futura sociedade capitalista. Esse o papel da

    mostra-testemunho que se observa, por exemplo, nas municipalidades, ao desenvolverem as obrasciais, as colnias de frias, ao construrem moradias e instalaes para a prtica de esportes. A

    opaganda, em decorrncia, autenticada por atos, e isso fundamental.para a massa daqueles aos qnga experincia impe dvidas no tocante ao valor dos programas polticos.Mais importante, ainda, a funo desses prottipos em perodo de conquista revolucionria eificao socialista. Assim, pelo contgio inicial do exemplo, a reforma agrria avana por entre asassas do campesinato chins: a terra posta em comum em uma aldeia cultivada por um grupo deabalhadores convictos e educados; os camponeses dos arredores vm observar de perto, persuadindouco a pouco das vantagens daquela soluo.

    incontestvel que, sob a sua forma moderna, a propaganda poltica foi inaugurada pelo bolchevespecialmente por Lenin e Trotsky. Em 1917, Lenin, genial propagandista e agitador, lana as palav

    ordem que vo dar o ritmo s etapas da conquista do poder. Inovao sem precedentes a de Trot

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    dirigir-se pelo rdio s "massas sofredoras", passando por cima dos governantes. Desenvolvem-seoletariado, no campesinato e no Exrcito propaganda e agitao de inaudita intensidade. Proliferamrculos polticos, os "jornais de fbrica", os oradores de bairros; os agitadores atiram-se ao trabalho sseminam subterraneamente a inquietao e a diviso entre os elementos fiis ao regime tzarista. L

    ue a revoluo se apossa de Leningrado e de Moscou, essa atividade, longe de interromper-se, amplm o fito de alargar e consolidar o poder dos Sovietes. "Comissrios polticos" so enviados para jus unidades militares, a fim de elucidarem as ordens e recoloc-las no contexto poltico geral (10).

    Equipes mveis" de jovens comunistas deslocam-se dentro do Exrcito, estacionam por poucos diasefeituras rurais, no decurso dos quais representam, cantam e fazem palestras polticas. Cria-se, assista rede psicopoltica que, por meio de mltiplos canais - imprensa, rdio, teatro, cinema, jornais lo

    de fbrica, conferncias, comcios e outros meios - atingem os pontos mais afastados do pas. A dirssa atividade polimorfa confiada a uma direo "agit-prop" (abreviatura de agitao e propagand

    ue tem responsveis em todos os escales at a clula de base e que ser sempre o ramo essencial daividade comunista. Mais tarde, as revolues comunistas far-se-o acompanhar de anlogo trabalhonetrao e de educao ideolgica e poltica. Partisans iugoslavos e chineses o impulsionamralelamente organizao de seus exrcitos. " raro encontrar uma unidade que no disponha de s

    mprensa", assevera Djilas, um dos lderes dos partisans iugoslavos (11).

    Mas na China que a propaganda deveria atingir sua maior dimenso. Mao-Ts-Tung foi com efetrategista e o terico de um novo tipo de guerra inspirada na experincia dos partisans, e que na Frai chamada "guerra revolucionria". Mao parte do princpio que o exrcito deve ser a vanguarda de assa inteira empenhada no combate. Mao adapta s relaes entre exrcito e povo os laos institud

    or Lenin entre o partido e a classe operria. Cria-se assim. um aparelho poltico militar que repousabre "hierarquias paralelas" (associaes profissionais, esportivas etc., organizao territorialganizao do partido), as quais transmitem sem cessar as ordens oficiais e a educao poltica. Nade escapa.Em tempo de guerra, esse sistema aplicado aos prisioneiros que so previamente "aniquilados" (fisiologicamente enfraquecidos e psicologicamente isolados), antes de serem submetidos eeducao", como aconteceu nos campos da Coria do Norte e do Viet-minh (12).Em tempo de paz, esta mobilizao das energias utilizada para fins polticos e econmicos. Foi n

    hina, ainda, que este mtodo atingiu seu paroxismo. Centenas de milhares de homens foram impelidtrabalho por campanhas que os tornaram "voluntrios" entusiastas. Na China, como nas democrac

    opulares, o partido desenvolve uma "mstica do plano", tanto por proclamaes gerais quanto portmulos individuais (citao de xitos modelos e de superao de limites fixados, condecoraes do

    perrios de elite etc.).Mas esta manipulao psicolgica serve tambm para sustentar, se for o caso, a poltica exterior drigentes. Assim, em 1958, no momento da campanha por Formosa, as diretrizes semanais emitidas

    dio, imprensa e cartazes, reforadas por manifestaes monstros, se difundiam atravs da China emndas gigantescas, cuja progresso os servios oficiais controlavam de hora em hora.Releva notar, entretanto, ser impossvel delimitar, com preciso, o campo da propaganda nos regiviticos ou de inspirao sovitica. Ela apenas um aspecto de uma atividade total, da instruoimria produo industrial e agrcola, englobando a literatura, a arte e os lazeres. Torna-se objetoopaganda a atividade inteira do cidado. J dizia Zinoviev: "A agitao e a propaganda, entre ns,pousam na instruo (...). Elas formam um todo que preciso concretizar segundo a conceponinista do ensino". Ulteriormente, o "esprito de partido", segundo a terminologia de Jdanov,oderou-se da cincia, da msica, da crtica literria etc., que tm a funo de formar o "novo home

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    vitico".A escola torna-se um dos pilares dessa propaganda total. Em seguida, dos "seminrios polticos", scolas de aperfeioamento" e dos "crculos de estudos" saem, formados, centenas de milhares deropagandistas" ou agitadores que do cursos polticos, realizam palestras nas fbricas, nos kolkoze

    os estabelecimentos comerciais e em instituies de toda espcie. As obras de Marx, de Engels, deenin, de Stalin e de Mao-Ts-Tung formam a base desse ensino. To gigantesco trabalho escoradomeras associaes culturais, que enxameiam nos "recantos vermelhos" das fbricas, nas "isbs deitura" nos campos, nas sociedades beneficentes do Exrcito, nos clubes esportivos e em outras

    remiaes.A propaganda triunfa ao ponto de dissolver-se no conjunto das atividades polticas, econmicas etelectuais de um Estado. Cada uma dessas atividades apresenta um aspecto propagandstico. A

    bsesso dela resultante, certos processos de encenao coletiva, a direo centralizada dos instrumedifuso, a censura, a explorao dos novos acontecimentos, tudo isso no se origina absolutament

    arxismo-leninismo, mas da utilizao totalitria da propaganda.

    APTULO IV - A propaganda de tipo hitlerista

    enorme a contribuio de Hitler e Goebbels propaganda moderna. Como vimos, no a inventaas a transformaram; pois, no ousamos dizer que a tenham aperfeioado. Hoje, o mundo sabe a queonto chegaram os resultados dessa mecnica gigantesca. O grande nmero de tcnicas e processostroduzidos pelo nazismo em matria de propaganda, todavia, subsiste mesmo fora do clima de diolrio em que desabrocharam e nada pode impedir que, doravante, faam parte do arsenal da propag

    oltica.Entre a concepo leninista de propaganda e a hitlerista, h de permeio um mundo. Do mbito darspectiva leninista, a propaganda a transposio da ttica, mas os fins a que se prope, embora

    bjetivos tticos, no so menos, efetivamente visados. Ao lanar Lenin o slogan Terra e Paz, trata-salmente de dividir as terras e assinar a paz; quando Maurice Thorez recomenda: Mo estendida aos

    tlicos, trata-se igualmente de fazer uma aliana com os catlicos, mesmo no passando de etapaovisria no caminho da conquista do poder. Mas, no momento em que Goebbels, depois de pregar cismo anticristo, proclama que o povo alemo faz a guerra "em defesa da civilizao crist", talirmativa no tem para ele nenhuma realidade concreta; no passa de oportuna frmula destinada obilizao de novas massas. O hitlerismo corrompeu a concepo leninista - de propaganda.ansformou-a em uma arma em si, utilizada indiferentemente para todos os fins. As palavras de ordninistas, mesmo ligando-se em definitivo aos instintos e a mitos fundamentais, apresentam basecional. Quando, porm, ao dirigir-se s multides fanticas, que lhe respondiam gritando o Sieg Heitler invocava o sangue e a raa, importava-lhe apenas sobreexcit-las, nelas incutindo profundame

    dio e o desejo de poder. Essa propaganda no mais designa objetivos concretos; ela se derrama por gritos de guerra, de imprecaes, de ameaas, de vagas profecias e, se faz promessas, essas so a tonto malucas que s atingem o ser humano em um nvel de exaltao em que a resposta irrefletidaeria preciso fazer a histria das sucessivas variaes que sofreram os temas da propaganda hitleristaurante a ltima guerra, desde a conquista do espao vital at a defesa do povo, passando pela Novauropa e pela salvaguarda dos valores cristos. Desde essa poca, a propaganda no est mais vinculuma progresso ttica, converte-se ela mesma em ttica em uma arte particular com leis prprias, tilizvel como a diplomacia e os exrcitos. Em virtude de sua fora intrnseca, constitui uma verdadrtilharia psicolgica", onde se emprega tudo quanto tenha valor de choque, onde finalmente a idianta, contanto que a palavra penetre. Compreenderam perfeitamente os ditadores fascistas que a

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    lutinao da massa moderna abria aos seus empreendimentos imensas possibilidades por elesmpregadas desavergonhadamente, com total desprezo da pessoa humana. "O homem moderno estrpreendentemente disposto a crer", dizia Mussolini. Por seu turno, Hitler descobriu que a massa, aolutinar-se, assume um carter mais sentimental, mais feminino: "O povo, em grande maioria, est e

    ma disposio e em um estado de esprito a tal ponto feminino, que as suas opinies e seus atos soterminados muito mais pela impresso produzida nos sentidos que pela reflexo pura". Essa a razetiva do xito da propaganda nazista em relao s massas alems: predomnio da imagem sobre aplicao, do sensvel brutal sobre o racional. Teremos oportunidade de versar os mtodos que

    ntribuem para dar s massas maior receptividade. Toda gente ouviu falar do rufar dos tambores quompanhava Hitler ao galgar as escadas da tribuna do Congresso de Nuremberg e dos comutadores rrente eltrica que lhe permitiam, da tribuna, dosar vontade a iluminao. Desse ponto de vista mbm compreensvel que a nazismo tenha freqentemente dirigido apelos mulher, no que ela possentimentalmente mais irracional e o tenha feito com xito. Hitler, ainda, quem declarava: Quan

    canarmos o poder, cada mulher alem ter um marido".Por um lado, a propaganda hitlerista mergulha suas razes nas mais obscuras zonas do inconscientletivo, ao gabar a pureza do sangue, ao glorificar os instintos elementares de violncia e destruionovar por meio da cruz gamada remotssima mitologia solar. Ademais, emprega sucessivamente te

    versos e at contraditrios com a nica preocupao de orientar as multides ante as perspectivas domento. Jules Monnerot observou perfeitamente esse carter ao mesmo tempo irracional e descontipropaganda nacional-socialista: "Os hitleristas haviam abocanhado todos os temas disponveis na

    lemanha, todos os que, com um mnimo de convergncia no tocante s intenes do momento,udessem favorec-las" (13).

    No obstante, deve-se indagar por que semelhante descontinuidade no prejudicou a propagandatlerista, visto ter ela conseguido no s mobilizar um povo, como tambm atingir gravemente certaes europias. Por certo, o esforo foi colossal. Nesse domnio, Hitler e Goebbels nada deixavamaso. Preparavam cuidadosamente toda manifestao. Hitler assinalara mesmo que as horas dotardecer eram as mais favorveis ao domnio de uma vontade alheia. Tambm o pblico estava

    reparado". Comunidades no estatais foram deslocadas, anulando-se toda espcie de intermediriora que o indivduo se oferecesse sem resistncia s solicitaes da propaganda; havia bem poucos

    omingos em que uma famlia podia reunir-se na intimidade. O Partido e o Chefe estavam presentes da a parte: nas ruas, nas fbricas e at dentro das casas, nas paredes dos quartos. Jornais, cinema e rpetiam incessantemente a mesma coisa. Em suma, inegvel que certo nmero de mitos hitleristasrrespondiam, seja a uma constante da alma germnica, seja a uma situao criada pela derrota, pelosemprego e por uma crise financeira sem precedentes.Isso explica muitas coisas, mas no tudo, mormente a influncia paralisadora exercida pelaopaganda hitlerista sobre naes no alems. Para que a propaganda nazista o conseguisse, malgrad

    ntradies e exageros, para que igualmente pudesse aterrorizar e entusiasmar as massas, das quaisgumas normalmente deviam permanecer a salvo de qualquer perigo, cumpre admitir que sua ao sercia menos no nvel do sentimento e da razo que em outra esfera, em zonas fisiolgicos econscientes, onde encontram equilbrio e se ajustam paixes e hbitos, absurdos ou contraditrios lgica. O escritor russo Tchakhotine, em um livro(14) que, apesar de seu carter sistemtico, a

    bra fundamental consagrada ao nosso tema, esclarece o xito da propaganda nazista atravs daterpretao da teoria dos reflexos condicionados de Pavlov.Apresentamos, adiante, ligeira descrio da experincia de base: coloquemos um torro de acarante de um co previamente imobilizado: produzir-se- saliva na boca do animal. Em seguida,

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    sociemos a apresentao do torro de acar audio de uma buzina e isso muitas vezes:ormalmente, o co continuar a produzir saliva. Em uma terceira fase, porm, contentemo-nos comz-lo ouvir a buzina sem apresentar-lhe o acar: a saliva aparecer de novo. Criamos, ento, umflexo condicionado, isto , o som da buzina associou-se suficientemente ao aparecimento do acar

    onto de suscitar a salivao. A buzina tornou-se, assim, um agente condicionador. - Note-se, todaviue esso excitante de segundo grau no conservar sempre sua eficcia. Com efeito, o agentendicionador complexo - a buzina - tende a perder o valor como substituto do agente condicionador

    mples - o acar - caso esse no lhe seja associado novamente de tempos em tempos, ou melhor, ca

    o se repetir periodicamente a primeira experincia.Ao dar-se prosseguimento a essa mesma experincia, isto , se continuarmos a empregar aquelescitantes em ritmo regular, nem per isso a salivao do co se far em ordem crescente. Ao contrri

    bteremos a inibio das funes reflexas, a qual pode estender-se ao organismo inteiro e provocar utado de sonolncia. Observemos, finalmente, que semelhante estado pode ser conseguido de maneiversa: no seria mais a repetio e sim a intensidade do excitante que estaria em jogo para inibir osflexos normais de um indivduo. O aparecimento repentino da serpente pode inibir os reflexos de fu

    o pssaro que, fascinado, se lanar na goela da cobra.Agora, resta-nos apenas aplicar as regras dessa experincia. Inicialmente, tomemo-la no plano da

    ublicidade: quando, para gabar determinada gua gasosa pelos muros do metr, a publicidade escolmo insgnia uma linda mulher surgindo por entre as bolhas, no existe, evidentemente, nenhumagao de ordem racional entre a gua mineral "X" e a bela mulher. Trata-se apenas de condicionar oturo consumidor, a tal ponto que - retomando nossa comparao - ele da por diante, salivar com omples nome de gua "X", o qual lhe evocar imediatamente a imagem de uma bela mulher ao sair dndas. Tais associaes formam-se mais naturalmente com marcas de sabonetes ou. de meias. A aublicidade utiliza infalivelmente o instinto sexual.

    A propaganda poltica pode igualmente utilizar o instinto sexual. Mulheres graciosas, simbolizandses, como Marianne, decorrem desse reflexo, bastante atenuado no caso. O condicionamento reali

    m - larga escala pelo nazismo, entretanto, foi calcado, sobretudo, no instinto de poder. Para maior

    areza, distinguiremos duas fases correspondentes s experincias por ns rapidamente analisadas: dicio, formar os reflexos e p-los em funcionamento; em seguida, utiliz-los no ritmo necessrio pariar o estado de inibio.1 - Trata-se de elaborar os reflexos condicionados que se constituiro no mecanismo dessaopaganda, no ato de associar o escopo desejado pelas massas ao partido que o tomou como alvo: aqgrandeza do Reich e a felicidade de todos os alemes so associadas ao Partido Nacional-Socialistacumular explicaes e razes para em cada ocasio demonstrar que a esto os fins visados pelortido, seria fastidioso e de resultados medocres. Torna-se muito mais conveniente substituir esseente condicionador simples, que a grandeza do Reich, por um indivduo que se proponha realizar

    sa grandeza, por uma frase ou imagem que a resumam ou a evoquem. Consequentemente, a idia afundida ligada a essa fisionomia, a esse smbolo, a esse slogan a esse grito. Nada de programasinuciosos e demonstraes confusas: bastam a cruz gamada, a saudao hitlerista e a efgie do Chestribuda aos milhes de exemplares... Outro tanto de buzinadas, que fazem salivar todo um povo.imos, todavia, que o smbolo, o excitante secundrio, perderiam sua fora se no fossem revitalizadstaurados por novas associaes como o excitante primrio. O torro de acar , assim, distribudodao por pedao: a ustria, a Tcheco-Eslovquia, Memel e, afinal, o torro inteiro que tem atirar ao co.2 - Mais ainda que chamamentos de promessa ou evocaes de grandeza, esses smbolos so apelforas, so evocaes de angstia. Conhecemos o mecanismo fundamental do terror hitlerista; o P

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    essard demonstrou-o perfeitamente luz da dialtica hegeliana do amo e do escravo: "Se, muito tems o desfecho do combate, a vontade do escravo permanece subjugada e sem que o amo faa grandforo, a razo disso que o terror diante da morte lhe arranca o mnimo de consentimento que o lig

    ontade do vencedor. Se for preciso, castigos parciais viro reavivar a lembrana desse momento degstia, durante o qual trocou a liberdade pela vida e de novo for-lo a uma adeso infinitesimal" (Pe. Fessard descreve exatamente a inibio condicionada, embora por outras palavras. O que no d

    orm, que esses apelos inibitrios podem ser feitos bem mais economicamente: de fato, a propagarnece substitutos que, para evocar a angstia, fazem comodamente as vezes das chicotadas ou, peloenos, do excelentes resultados quando se sabe associ-los devidamente aos golpes do azorrague. Ssmbolos, as canes ou os slogans esses substitutos. O poder de Hitler associou-se, pois, cruzmada e essa reproduzida por toda a parte, e dessarte, ao v-la, o militante recorda-se do momentoaltao em que a ela se votou de corpo e alma; o adversrio lembra-se do momento de terror em quu se lhe arremeterem os uniformes pardos agrupados por trs da bandeira ensangentada, cacetes e

    unho, instante em que, de bom ou de mau grado, teve que concluir o pacto de servido. A cruz gamsa simples imagem, tornou-se segundo a expresso de Tchakhotine, um memento da ameaa, o quascita inconscientemente o seguinte raciocnio: "Hitler a fora, a nica fora real, e como toda a gt com ele, preciso que faa o mesmo, eu, homem. da rua, se no quiser ser esmagado".

    V-se em decorrncia, a importncia do ritmo com que os hitleristas conduziam a propaganda. Jamssava, nem no tempo nem no espao, constituindo-se em permanente tela, visual e sonora, que, emriando de intensidade, mantinha alerta o povo. Se o objetivo parecia distante, "deixava-se cozinharma do povo", segundo a expresso empregada, a fim de que estivesse pronta no momento oportunoertas campanhas iam at o fim inelutavelmente, em um crescendo por vezes assaz longo e que osontecimentos podiam amortecer. O Anschluss, por exemplo, foi precedido por uma campanha de cos. Em outras oportunidades, a gradao fora mais rpida e mais dramtica, como durante as semaecedentes invaso de Tcheco-Eslovquia. Em todos os casos, o golpe era desferido subitamente em prvio aviso. Assim, o militante era mantido em contnuo estado de exaltao, at a Hora H. Nocante ao adversrio, submetido a perptuo alerta, desarticulado psiquicamente, quase entorpecido c

    co de Pavlov, na expectativa do golpe, no mais reagia quando esse o apanhava.Se no se tratasse de semelhante empresa, admirar-se-ia a maneira pela qual se movimentava essaquestra de propaganda: a msica jamais se interrompia. Na sinfonia, havia sempre, em qualquer tre

    ma frase em suspenso e que se poderia retomar. Se a poltica internacional no andasse, retornava-suesto judaica (16). Durante a guerra, ao contrrio, o tema ariano anticristo substitudo peloajestoso mito da Nova Europa, herdeira dos valores cristos, em armas contra a barbrie bolchevistmais se contradizem ou se corrigem, muda-se simplesmente de instrumento. Assim, a propagandati-sovitica, subitamente interrompida em agosto de 1939, retomada em junho de 1941. A orquesntudo, faz tamanho barulho, que s alguns indivduos obstinados em refletir notam a descontinuid

    regra, precisamente, no deixar tempo para pensar. Sucedem-se os apelos s urnas, juntamente coincitaes luta e a lista dos novos objetivos a serem alcanados.Ento, patente a confirmao das experincias de Pavlov. Estabelece-se, contudo, no seio mesmssa permanente estimulao, uma espcie de regular alternncia: ao acar junta-se o chicote. Quainimigo parece insubmisso, afagado; porm, desde que respira, de novo ameaado. Assim,

    mediatamente depois de Munique, quando a opinio internacional acreditou poder respirar, Hitleronuncia dois dos seus mais violentos discursos. Os ouvintes e os interlocutores de Hitler costumavsinalar a habilidade com que alternava a seduo com a brutalidade, a assim chamada

    Gespraechstechnik" ou arte de conversao, alis j conhecida por Napoleo.

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    Consequentemente, em vez de repetir o estmulo, cria-se uma alternncia na excitao, em lugar dmples inibio obtm-se esse estado psquico ambguo e instvel que P. Janet descreveu no livro DAngoisse l'Extase. o que Tchakhotine traduz na perspectiva que lhe prpria: "Estimulado, ostinto de luta pode manifestar-se de duas maneiras antagnicas: uma, negativa ou passiva, exteriorilo medo e pelas atitudes de depresso, de inibio; outra, positiva, que conduz exaltao, a um esexcitao e agressividade... A excitao pode levar ao xtase, a um estado que, conforme o indica

    ome, decorre de uma sada para fora de si mesmo". Esse bem o estado ambguo do alemo submepropaganda hitlerista, petrificado pela exaltao e ao mesmo tempo por uma angstia que alis pod

    ssado ao subconsciente. Numerosos observadores surpreenderam-se, em ocasies em que Hitlerscursava, com o aspecto de indivduos imobilizados na atitude ausente e rgida do sonmbulo. Comeito, ao jogar sucessivamente com os dois plos da vida nervosa, o terror e a exaltao, os nazistasabaram par dominar vontade o sistema nervoso das massas populares, internamente e no Exteriorso, finalmente, deriva de um idntico estado psicolgico ambivalente que, do medo ao entusiasmo,ssa por todos os graus.Entre os homens que seguiam Hitler at o fim e por ele morriam, muitos, por certo, o tinham odiaprocessos e o ritmo da propaganda, contudo, os tinham hipnotizado e arrancado a si mesmos.

    ondicionados at a medula, haviam perdido a possibilidade de compreender, de odiar. No amavam

    m detestavam Hitler, na verdade: fascinados por ele, tinham-se tornado autmatos em suas mos.

    APTULO V - Leis e tcnicas

    A propaganda poltica j tem histria. O uso que dela fizeram os comunistas e nazistas, alis deaneiras bem diversas, torna-se particularmente valioso para a inferncia de certas leis. Vamos expomais objetivamente possvel, pondo de lado todo falso pudor. Se algum indignar-se, permitam-nocordar ter havido uma poca no muito remota - precisamente aquela em que este estudo se iniciou

    m modo ativo, antes de ser redigido - poca em que a propaganda no era nem curiosidade nemividade de segunda ordem, mas luta quotidiana. Fomos apanhados na sua rede, ento e rpida foi a

    ssagem das palavras aos atos: todo converso da "nova ordem", todo ouvinte de Philippe Henriot ernunciante potencial. Todo aquele que aderia Resistncia era um soldado arrebatado ao inimigo enho para a nao. No se tratava tanto de raciocinar, e sim de convencer para vencer. Desprezada pbeis, essa propaganda transformara-se em uma arma terrivelmente eficaz nas mos dos nazistas; e,a custa, os franceses aprendiam a volt-la contra o inimigo. Esse episdio de nossa histria bastariara justificar o interesse, pelas formas - da propaganda, mesmo as mais exageradas e as maisrvertidas. O fato de atravessarmos agora, na Europa Ocidental, um perodo de propaganda parcial eenuada, no impede que tenhamos conhecido e estejamos arriscados de novo a conhecer uma pocaopaganda total.

    Ningum poderia alimentar a pretenso de encerrar- a propaganda dentro de certo nmero de leisncionais. Ela polimorfa e dispe de recursos quase ilimitados. Conforme a assertiva de Goebbelsazer propaganda falar de uma idia por toda a parte, at nos bondes. A propaganda ilimitada emas variaes, em sua flexibilidade de adaptao e em seus efeitos". O verdadeiro propagandista, aq

    ue quer convencer, aplica toda espcie de receitas, segundo a natureza da idia e dos ouvintes, agindincio, pelo contgio de sua f pessoal, por suas prprias virtudes de simpatia e eloqncia. No s

    ementos facilmente mensurveis; contudo, a propaganda de massa teria resultados insignificantes, o fosse sustentada por tenaz e mltiplo esforo de propaganda individual.Expressa-se a propaganda individual pela simples conversao, pela distribuio de brochuras ernais ou, mais sistematicamente pelo mtodo de porta em porta, o qual consiste em bater

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    cessivamente em todas as portas de um quarteiro para oferecer jornais ou solicitar assinaturas emties e, se possvel, entabular conversao a partir da.A alocuo coloca-nos no caminho da propaganda de massas. Esse o processo favorito do "agitamunista, que se aproveita de qualquer incidente para discursar o mais breve e claro possvel. Osportes tcnicos da propaganda de massa so poderosos e inmeros. No possvel trat-losinuciosamente. Contentemo-nos com ligeira explanao:O impresso - O livro, caro e de leitura demorada, permanece, entretanto, instrumento de base.

    eflita-se na importncia do Manifesto Comunista, das obras de Lenin e Stalin, na propaganda

    munista; na tiragem do Mein Kampf na Alemanha.O panfleto, arma predileta da propaganda no decurso do sculo XIX, usada hoje pelos comuniststinando-se mormente aos intelectuais.O jornal o principal instrumento da propaganda impressa, desde os grandes matutinos e vesperti

    os jornais de bairro e de fbrica, distribudos e afixados (jornais murais).Enfim, o cartaz e o opsculo, redigidos com brevidade e de cunho impressionista. O folheto apres

    vantagem de ser cmodo e de permitir fcil e annima distribuio. Quando o folheto se reduz a ummples slogan ou a algum smbolo, toma o nome de volante.A palavra - o rdio, evidentemente, o principal instrumento de difuso da palavra. As emissoras

    incipalmente de ondas curtas, foram utilizadas durante a guerra e o so ainda em funo da propago Interior e no Exterior. Verificou-se que a voz humana reforava consideravelmente a argumentafundindo-lhe vida e presena inexistentes em um texto impresso. Nos Estados Unidos, as vozes doscutores foram examinadas em funo do seu poder de seduo. O rdio pode ser temporariamente

    osto disposio dos partidos polticos, em tempo de eleies. Dele, porm, se servem com maioreqncia os governos desejosos de sustentar suas concepes e sua poltica em emisses destinadascionais ou aos povos estrangeiros. A influncia do rdio pode ser ainda aumentada, mediante audio coletiva".O alto-falante utilizado nas reunies pblicas. Pode ser deslocado . vontade: serviram-se dele n

    nha de frente, em 1939/40, e durante a guerra civil na China. Algumas vezes montado em um

    minho: durante a campanha eleitoral de junho de 1950, o Partido Socialista belga empregouminhes assim equipados; esses veculos paravam de improviso em uma localidade; aps terem tocguns discos, que alertavam a populao, um orador falava ao microfone. Apresenta esse mtodo antagem de alcanar as pessoas que no costumam ir aos comcios. No Vietn, as autoridades francaram igualmente caminhes com alto-falantes, mas, nesse caso, tratava-se de um bazar ambulante rvia para atrair a populao.O canto tambm um veculo de propaganda, quer as canes revolucionrias, polticas, picas otricas, essas uma arma favorita das oposies. Relembremos a Marselhesa e a Internacional, de umdo, e o xito das canes satricas difundidas pelas emisses francesas da B.B.C., de outro lado.

    A imagem - So mltiplas as espcies: fotografias, caricaturas e desenhos satricos - emblemas embolos - retratos de lideres. A imagem , sem dvida nenhuma, o instrumento mais notvel e o maiicaz. Sua percepo imediata e no demanda nenhum esforo. Acompanhado de uma legenda,bstitui vantajosamente no importa que texto ou discurso. Nela resume-se a propaganda, deeferncia, conforme teremos oportunidade de ver a propsito dos smbolos.O espetculo - Enfim, o espetculo um elemento essencial da propaganda. A Revoluo Frances

    ue fez de David o "grande mestre das festas da Repblica", teve o sentido das manifestaes de masganizadas com grandiosa encenao (Festa da Federao, Festa do Ser Supremo). Napoleo reteve

    o. Quanto a Hitler, soube preparar admiravelmente manifestaes gigantescas em estilo de solenimesmo tempo religiosa e esportiva: Congresso de Nuremberg, paradas noturnas com tochas

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    bservemos o papel atribudo aos refletores, iluminao, s tochas: tudo que chama e luz na noitca no mais profundo da mitologia humana).A propaganda introduziu-se na liturgia fnebre. Nenhum espetculo impressiona to profundamen

    ma moderna e lhe d tanto esse sentimento de comunho religiosa a que aspira; o nico de certaompa - assinalou Peguy, aceito pela nossa Repblica civil e laica. Goebbels organizava os funerais efes do partido carinhosamente e em impressionante estilo; conta-nos Plievler (17) que o lder naziegou at a encenar as exquias coletivas de todo o 6o. exrcito alemo, do qual uma parte aindambatia no bolso de Estalingrado.Sem incidir na romntica suntuosidade da encenao hitlerista, so poucas as manifestaes polti

    ue agora no incluem uma parte espetacular, indubitavelmente para atrair as multides e distra-las,mbm - mais profundamente - para satisfazer o pesar pelo desaparecimento de uma liturgia coletivaO teatro, cujo papel foi de grande relevo na Revoluo Francesa, reencontrou durante a Revolu

    olchevista a sua eficcia como propaganda (18). Sketches ligeiros, adaptados aos diversos auditrioxrcito, campesinato e outros), evidenciam os mritos e o futuro dos operrios e camponesesvolucionrios, contrastando com a torpeza dos inimigos. Farsas inspiradas no folclore so igualmenpresentadas com esse desgnio. Amide o teatro inspirou a tcnica da propaganda: por exemplooros falados" exigidos nas manifestaes ou que serviam at para animar Hitler e Mussolini; as

    onferncias dialogadas", em que um comparsa se encarrega, mais ou menos grosseiramente, do papcontraditor. O espetculo preenche uma funo cada vez maior nos comcios e nos desfiles:ascarados encarnam os inimigos; veculos enfeitados representam cenas idealizadas do futuro:siste-se at a sketches simplificados, por vezes reduzidos apenas a gestos, espcie de mmica poltiO cinema um instrumento de propaganda particularmente eficiente, seja ao utiliz-lo pelo seu vamo documentrio - devolve a realidade com o seu movimento, conferindo-lhe indiscutveltenticidade - seja ao us-lo, como ao teatro, para difundir certas teses atravs de antiga lenda, deatria histrica ou de moderno cenrio. Jornais cinematogrficos mais ou menos orientados,terminadas reportagens, pertencem primeira categoria. Na segunda, tinham os nazistas realizado,m O Judeu Sss, um modelo de propaganda anti-semita.Finalmente, a televiso leva ao domicilio uma imagem animada e sonora. Proporciona propaganaravilhoso instrumento de persuaso: a viso do orador confere a esse uma presena completa, e opetculo torna-se visvel a todos. No entanto, a televiso, na medida em que antes uma contemplalitria ou familial, exige da propaganda um estilo menos brutal, mais pessoal e provavelmente maicional.Depois dessa rpida apreciao dos mais importantes veculos de propaganda, examinaremos asincipais leis de seu funcionamento, regras de uso, que podemos deduzir, a ttulo de indicaes, dastria recente da propaganda poltica.

    - Lei de simplificao e do inimigo nicoEm todos os domnios, a propaganda logo se empenha na busca da simplificao Trata se de divid

    outrina e a argumentao em alguns pontos, definindo-os o mais claramente possvel. O propagandim disposio uma escala inteira de frmulas: manifestos, profisses de f, programas, declaraetecismos, os quais, em geral sob forma afirmativa, enunciam certo nmero de proposies em textonciso e claro.Notvel que, na origem das trs grandes propagandas que transtornaram duradouramente a terracontramos trs textos dessa espcie: no Credo ou Smbolo de Nicia, condensou-se a f catlica; a

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    eclarao dos Direitos do Homem e do Cidado, emanada da Revoluo Francesa, constitui, por aszer, o alfabeto da sua propaganda e, ao sobreviver-lhe, testemunha a vitalidade de seus princpios.

    ois textos de uma densidade e de uma clareza admirveis, no se lhes assinalando uma palavra a madigidos em frases curtas e ritmadas, podem ser facilmente retidos pela memria. O marxismo, por srno, apoia-se em um documento mais longo, o Manifesto Comunista, e nele Marx e Engelsndensaram a doutrina em penetrantes frmulas.Esse esforo de preciso e sintetizao constitui a necessidade prvia de qualquer propaganda.

    ncontramo-lo em um texto famoso como a Declarao em 12 pontos do Presidente Wilson e, tamb

    m resultados diversos, nos mltiplos programas, manifestos e profisses de f eleitoral que formamatria bruta da vida poltica.Progredindo sempre no sentido de maior simplificao, a palavra de ordem e o slogan tornaram-seais possvel breves e bem cunhados, segundo tcnica desenvolvida pela publicidade. Vimos que alavra de ordem tem contedo ttico: resume o objetivo a atingir; o slogan apela diretamente s paix

    olticas, ao entusiasmo, ao dio: "Terra e Paz" uma palavra de ordem; "Ein volk, ein Reich, einhrer", um slogan. "Nem um tosto, nem um homem para a guerra do Marrocos" unia palavra ddem; "Doriot no poder", "Rex vencer" so slogans. A distino, alis, nem sempre clara.A rigor; uma doutrina ou um regime resumem-se em um smbolo: smbolo grfico - S.P.Q.R., R.F

    iciais dos soberanos reinantes: smbolo-imagem, tais como bandeiras, bandeirolas, emblemas ousgnias diversas em forma de animais ou objetos - cruz gamada, foice e martelo e outros; smbolostico, a exemplo da saudao fascista, dos punhos levantados e outros; smbolo musical, hino ouases musicais.O smbolo, que originariamente era sobretudo figurativo, como o machado do lictor e o barretermelho da Revoluo Francesa, afastou-se progressivamente da realidade por ele representada, emoveito da facilidade de reproduo. A cruz gamada um smbolo solar pr-histrico, que s tem um

    ame potico com o nazismo. Analogamente, os diferentes tipos de cruz adotados nos ltimos anos: uz de Lorena, por exemplo, smbolo da Frana Livre, evocava um pas martirizado, cujo valor residbretudo na sua simplicidade (a cruz o smbolo mais simples, suscetvel de ser facilmente

    produzido). O "V" britnico, adotado como smbolo aliado, foi um perfeito xito. Letra inicial deVitria", apresentava valor figurativo direto; alm disso, constitua-se, ao mesmo tempo, em smbolfico extremamente simples e cmodo para ser reproduzido nos muros, e em smbolo plstico (os ddos ou os dois braos levantados) e em smbolo sonoro (os... -, a transcrio do "V" para o alfabetoorse, anunciadora das emisses da B. B. C. para os territrios ocupados) e, por esse estratagema, o

    or ltimo, adquiria valor potico, ao confundir-se com o motivo inicial da Quinta Sinfonia deeethoven, o qual evoca os golpes dados na porta pelo Destino.Analisamos, no captulo precedente, o mecanismo por cujo intermdio esses diversos smbolosocam por si mesmos um conjunto de idias e sentimentos. Em todo caso, observemos que a redu

    rmulas claras, a fatos e a nmeros produz sempre melhores resultados que uma longa demonstraeguramente, uma debilidade de certos partidos polticos, como o M.R.P. na Frana, no teremnseguido jamais encerrar suas doutrinas e seus programas em algumas frmulas e smbolos assazidentes para serem conservados de memria.Ademais, uma boa propagando no visa a mais de um objetivo de cada vez. Trata-se de concentrao em um s alvo durante dado perodo. Os hitleristas praticaram perfeio esse mtodo dencentrao, o. qual foi o A. B. C. de sua ttica poltica: aliados aos partidos burgueses e reacionrintra os marxistas, aliados, depois, direita nacionalista contra os partidos burgueses e, finalmente,iminar os nacionalistas, sempre se arranjaram a fim de terem apenas um inimigo.A forma simplificadora mais elementar e rendosa evidentemente a de concentrar sobre uma nic

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    ssoa as esperanas do campo a que pertencemos ou o dio polo campo adverso. Os gritos de "Vivaulano!" ou "Abaixo Sicrano!" pertencem aos primeiros ensaios da propaganda poltica erneceram-lhes sempre um bom cabedal para a sua linguagem de massas. Reduzir a luta poltica validade entre pessoas substituir a difcil confrontao de teses, o lento e complexo mecanismorlamentar por espcie de jogo de que os povos anglo-saxes amam o jeito esportivo e, os povos latlado dramtico e passional "Bidault sem Thorez" - esse slogan do M.B.P. durante a campanha eleit1946, ou melhor ainda, o smbolo grfico P.M.F. (Pierre Mends-France) so mais expressivos qu

    ngos programas.

    A individualizao do adversrio oferece inmeras vantagens. Cada escrutnio era transformado, pzistas, em um "combate contra o ltimo oposicionista". Apreciam os homens enfrentar pessoassveis, de preferncia a foras ocultas. Mormente ao persuadi-los de que o verdadeiro inimigo no rtido ou tal nao, mas o chefe desse partido ou dessa nao, ganha-se duplamente: por um lodo,

    anqilizam-se os adeptos, convencidos de terem pelo frente no massas resolutas como eles, mas umultido mistificada conduzida por um mau pastor e que o abandona ao se lhes abrirem os olhos; por

    utro lado, espera-se dividir o campo do adversrio retirando-lhe alguns elementos. Atacar-se- sempnsequentemente, a indivduos ou a pequenas fraes, e nunca a massas sociais ou nacionais emnjunto. Assim, Hitler jamais pretendeu combater a classe operria marxista, mas alguns

    marxistas-judeus que seguravam os cordes", jamais a Igreja,. mas "uma scia de padres hostis aostado" Comportam-se os partidos comunistas, na propaganda destinada aos catlicos e aos socialistgundo essas regras (19). Percebem-se a as razes da posio descomunal, dentro da propaganda, des de grupo, de conluio, de conspirao. Os grandes julgamentos polticos, como os do incndio

    eichstag ou o processo de Rajk, vm a propsito para autenticar a realidade da trama denunciada envencer as massas de que, na realidade, lutam apenas com uma corja de espies, de sabotadores e

    aidores.Na medida do possvel, tentar-se- ligar esse nfimo grupo de adversrios declarados a uma stegoria ou a um s indivduo. A propaganda hitlerista apresentou a "conspirao dos democratas,utocratas e bolchevistas contra a Europa", como dirigida pela "judiaria internacional"(20)Quando s

    rcebe ser essa categoria insuficientemente homognea, criam-se fora, conjugando os adversrioma enumerao repetida com a mxima freqncia, a fim.de espalhar-a convico de que devem sedos metidos "no mesmo saco". A propaganda comunista usa amiudadamente inesperadas enumera

    m que se procura confundir em uma mesma averso um poltico radical, um arcebispo e um filsofoistencialista. o que se chama o mtodo de contaminao, mediante o qual um partido sugere que vises dos adversrios no passam de artifcios destinados a enganar o povo, pois, na realidade, setendem contra ele.Na maneira como a propaganda hitlerista explorava o senso do inimigo, havia uma ttica detraordinria eficincia psicolgica e poltica. Arte da tapeao levada ao extremo limite, consiste e

    brecarregar o adversrio de seus prprios erros ou de sua prpria violncia, manobra geralmentesconcertante. P. Reiwald assinala com justeza que "o fato de emprestar-se ao inimigo os prpriosfeitos e atribuir-lhe os atos que se est a ponto de praticar, tornou-se, graas a Hitler, a peculiaridadpropaganda nacional-socialista" (21). Cita, inclusive, surpreendente afirmao de Hitler a Rauschn

    qual prova que o Fhrer, personalizando a todo transe o inimigo, atribua sua propaganda verdadeno de catarse de autopurificao pelo dio: "Carregamos todos o Judeu em ns mesmos; mais fntudo, combater o inimigo visvel que o demnio invisvel".

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    - Lei de ampliao e desfigurao

    A ampliao exagerada das notcias um processo jornalstico empregado correntemente pelamprensa de todos os partidos, que coloca em 'evidncia todas as informaes favorveis aos seusbjetivos: a frase casual de um poltico, a passagem de um avio ou de um navio desconhecidos,ansformam-se em provas ameaadoras. A hbil utilizao de citaes destacadas do contexto constimbm processo freqente.A propaganda hitlerista serviu-se sistematicamente das notcias como de um meio de dirigir ospritos. As "informaes" importantes jamais eram comunidades em "bruto"; ao aparecerem, vinhalorizadas, carregadas de um potencial de propaganda. Walter Hagemann d um exemplo de como

    mprensa alem apresentava uma greve nos Estados Unidos; ela no dizia: "Roosevelt realiza umabitragem, recusado pelos grevistas", e, sim: "Os grevistas respondem estpida poltica social deoosevelt com a recusa da arbitragem". A explicao comea, pois, no estgio da informao eralmente acentuada pelo ttulo e pelo comentrio.A preocupao constante dos propagandistas hitleristas era a de uma publicidade "por atacado". -

    -se no Mein Kampf: "Toda propaganda deve estabelecer seu nvel intelectual segundo a capacidadmpreenso dos mais obtusos dentre aqueles aos quais se dirige. Seu nvel intelectual ser, portanto

    nto mais baixo quanto maior a massa de homens que se procura convencer". Da a ironia pesada, ambaria cnica, as injrias(22)que caracterizam a eloqncia hitlerista. Jules Monnerot ressaltou queanos modernos tiveram o dom de "tornar primrio" e reescreveram suas doutrinas em uma "linguagmassas". No quadro em que Bruce L. Smith (23) relaciona todos os grandes propagandistas, apena

    m dentre eles, o dr. Goebbels, fez estudos superiores de humanidades. certo que a propaganda, sem cair em tais excessos, reclama uma expresso que seja compreendilo maior nmero. Cumpre graduar e pormenorizar o menos possvel, e logo apresentar a tese em bl

    da maneira mais surpreendente. No acreditamos naquele que principia opondo restries s suasprias assertivas. Para quem procura o favor das multides, melhor que no diga: "Quando estive

    oder, os funcionrios recebero tanto, os abonos familiares sero aumentados de tanto etc.", mas, deeferncia: "Todo o mundo ser feliz".

    - Lei de orquestrao

    A primeira condio para uma boa propaganda a infatigvel repetio dos temas principais.oebbels dizia astutamente: "A Igreja Catlica mantm-se porque repete a mesma coisa h dois milos. O Estado nacional-socialista deve agir analogamente". A repetio pura e simples, entretantgo suscitaria o tdio. Trata-se, por conseguinte, ao insistir obstinadamente sobre o tema central, deresent-la sob diversos aspectos: "A propaganda deve limitar-se a pequeno nmero de idias e

    peti-las incansavelmente. As massas no se lembraro das idias mais simples a menos que sejampetidas centenas de vezes. As alteraes nela introduzidas no devem jamais prejudicar o fundo dosinamentos a cuja difuso nos propomos, mas apenas a forma. A palavra de ordem deve serresentada sob diferentes aspectos, embora sempre figurando, condensada, em uma frmula invari

    maneira de concluso"(24). O que, alis, no uma inveno, mas, a sistematizao de um processnhecido do velho Cato, que terminava todas as suas arengas pela exclamao: "Delenda Carthagoaticado tambm por Clmenceau que colocava em todos os seus discursos a famosa frmula: "Je fa

    uerre".A qualidade fundamental de toda campanha de propaganda a permanncia do tema, aliado

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    riedade de apresentao. Os partidos comunistas proporcionam um modelo nessa matria, pelabstinao com que repetem um mesmo tema, tratando-o sob todos os ngulos. Se compulsarmos aleo de L'Humanit de 1948, desde lo. de janeiro, data em que deseja aos leitores um Ano Bom, "vitria sobre o plano de runa do partido americano", verifica-se que no h editorial ou artigo de

    ndo que, a propsito de no importa qual assunto, no traga baila o plano Marshall, e esse leitmoproduzido humoristicamente ou indicado nos comentrios e nas crnicas de cinema, de esportes e

    utras.A orquestrao de dado tema consiste na sua repetio por todos os rgos de propaganda, nas for

    aptadas aos diversos pblicos e to variada quanto possvel. "Para um pblico diferente, sempre umatiz diferente", prescrevia uma das diretivas de Goebbels, e ele mesmo levava o cuidado de adaptapblico a ponto de observar em seu Dirio que "a propaganda no domnio da cultura sempre a m

    iciente no tocante aos franceses".Tal como em uma campanha militar, cada um combate com suas prprias armas no setor que lhe signado. A campanha anti-semita dos nazistas foi conduzida simultaneamente pelos jornais, que

    nformavam" e polemizavam, pelas revistas, que publicavam sbios artigos sobre a noo de raa, enema, que produzia filmes como O Judeu Sss. Quando os nazistas tiveram em mos os meios de abre toda a opinio europia, a sua tcnica de orquestrao atingiu sua mxima amplitude: ento

    manalmente, aparecia no Das Reich um editorial do Dr. Goebbels, logo retomado, em lnguas e emgistros diferentes, com as correes demandadas pelas diversas mentalidades nacionais, pelos jornalo rdio alemo, pelo jornais da frente e pela imprensa de todos os pases ocupados.O partido comunista, sua maneira, tambm pratica excelente orquestrao. Os temas fundament

    xados todas as semanas por uma ata de sesso do Politburo em texto sempre claro e conciso, sosenvolvidos pelo conjunto da imprensa comunista e de seus oradores, e descem at os escales da b a modalidade de avisos, de peties, de propaganda oral, de "porta em porta" e outros. Assim, asandes campanhas lanadas pelo Partido Comunista Francs (contra o plano Marshall, contra a bommica) encontram repercusso em todos os cantos do pas e, de um ou de outro modo, alcanam qudos os cidados. Uma grande campanha de propaganda tem xito quando se amplifica em ecos

    definidos, quando consegue suscitar um pouco por toda a parte a retomada do mesmo tema e que stabelece entre os seus promotores e os seus transmissores verdadeiro fenmeno de ressonncia, cujmo pode ser seguido e ampliado. evidente, alis, que, para se obter tal ressonncia, o objetivo dampanha deve corresponder a um desejo mais ou menos consciente no esprito dos grandes massas. osseguimento e o desenvolvimento de uma campanha de propaganda exige que sua progresso sejaompanhada de perto, que se saiba aliment-la continuamente de informaes e de novos slogans etom-la na ocasio oportuna sob forma diferente e o quanto possvel original (reunies, votaes,letas de assinaturas, manifestaes de massa e outras). Uma campanha tem durao e ritmos prprve "agarrar-se", no incio, a um acontecimento particularmente importante, desenrolar-se tanto qua

    ossvel progressivamente e terminar em uma apoteose, em geral por uma manifestao de massa. rdadeiro fogo de artifcio, em uma sucesso extraordinria de girndolas, aquecendo o entusiasmo mximo, que ser atingido pelo espoucar da pea final. O fator primordial de uma campanha deopaganda , em todo caso, a rapidez. Torna-se preciso fazer revelaes continuament