CLAUDIA HICKENBICK
LEMBRANA, INTERESSE E HISTRIA SUBSTANTIVA:SIGNIFICADOS DO ENSINO E APRENDIZAGEM DA HISTRIAPARA OS SUJEITOS DA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS
CURITIBA2009
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Lembrana, interesse e histria substantiva 2
CLAUDIA HICKENBICK
LEMBRANA, INTERESSE E HISTRIA SUBSTANTIVA:SIGNIFICADOS DO ENSINO E APRENDIZAGEM DA HISTRIAPARA OS SUJEITOS DA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS
Dissertao de Mestrado apresentada Banca Examinadora da UniversidadeFederal do Paran, como exignciaparcial para a obteno do ttulo deMestre no Programa de Ps-Graduao, da Linha de PesquisaCultura, Escola e Ensino, Setor deEducao.
Orientadora: Prof. Dr. Maria Auxiliadora Moreira dos Santos Schmidt
CURITIBA2009
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Lembrana, interesse e histria substantiva 3
Catalogao na publicaoFernanda Emanola Nogueira CRB 9/1607
Biblioteca de Cincias Humanas e Educao UFPR
Hickenbick, ClaudiaLembrana, interesse e histria substantiva: significados do
ensino e aprendizagem da histria para os sujeitos da educaode jovens e adultos / Claudia Hickenbick. Curitiba, 2009.
166 f.
Orientadora: Prof. Dr. Maria A. M. dos Santos SchmidtDissertao (Mestrado em Educao) Setor de Educaoda Universidade Federal do Paran.
1. Educao de adultos. 2. Histria Estudo e ensino.3.Educao Florianpolis (SC) 4. Histria Aprendizagem.I. Titulo.
CDD 372.89
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Lembrana, interesse e histria substantiva 4
CLAUDIA HICKENBICK
LEMBRANA, INTERESSE E HISTRIA SUBSTANTIVA:SIGNIFICADOS DO ENSINO E APRENDIZAGEM DA HISTRIAPARA OS SUJEITOS DA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS
Este Trabalho de Mestrado foi julgado e aprovado para a obteno do grau
de Mestre em Educao do Programa de Ps-Graduao em Educao da
Universidade Federal do Paran.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Maria Auxiliadora Moreira dos Santos Schmidt, Dra.Universidade Federal do Paran
Orientadora
Prof. Claudia Mortari Malavota, Dra.Universidade do Estado de Santa Catarina
Membro
Prof. Odissia Boaventura de Oliveira, Dra.Universidade Federal do Paran
Membro
Data da defesa: 26 de agosto de 2009
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Lembrana, interesse e histria substantiva 5
Para Mrcia, Carolina e Pedro.
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Lembrana, interesse e histria substantiva 6
AGRADECIMENTOS
Agradeo,Aos colegas e amigos do Instituto Federal de Santa Catarina.Aos colegas da Universidade Federal do Paran.Aos professores do PPGE.s professoras Odisssia Boaventura de Oliveira e Claudia Mortari Malavota, das bancasde qualificao e defesa. professora Elba Artiero. professora Lurdete Cadorin Biava.A amiga Dani Vecchietti Valentina, que me recebeu em sua casa. minha famlia.
Agradeo especialmente s pessoas sem as quais este trabalho no teria sido possvel,
minha orientadora, professora Maria Auxiliadora.Aos professores e alunos da Educao de Jovens e Adultos da rede Municipal de Ensino deFlorianpolis.
Muito obrigada minha me e amiga ngela, porque estiveram sempre perto.
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Lembrana, interesse e histria substantiva 7
Os historiadores profissionais tero decomprometer-se mais claramente com o presente, se
no quiserem que os polticos, os magnatas oulderes tnicos escrevam a histria em seu lugar.
Michell-Rolph Trouillot, historiador Haitiano
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Lembrana, interesse e histria substantiva 8
RESUMO
Esta uma pesquisa educacional sobre o significado que os sujeitos da Educao de Jovense Adultos conferem ao conhecimento histrico. Tomando como referncia as perspectivasda pesquisa qualitativa em educao, caracteriza-se como o estudo de um caso especficoem que ocorre a relao ensino e aprendizagem da Histria. O objetivo principal foianalisar as condies que norteiam as relaes com o conhecimento, bem como osignificado do conhecimento histrico para alunos de um Ncleo de Educao de Jovens eAdultos, da Rede Municipal de Ensino de Florianpolis, no Estado de Santa Catarina,Brasil. O estudo terico tem como referncia a Teoria da Histria de Jorn Rusen e asinvestigaes j realizadas na rea da Educao Histrica, as quais se preocupam,fundamentalmente, com a anlise das ideias histricas de jovens, adultos e crianas. Doponto de vista das condies que podem contribuir para a relao com o conhecimentohistrico, procurou-se caracterizar e analisar situaes referentes a alunos e no alunos, quefrequentam o Ncleo de Educao de Jovens e Adultos, com o intuito de contextualizaraspectos sociais e culturais que poderiam interferir nessas relaes. Do ponto de vista dasrelaes com o conhecimento histrico, o estudo privilegiou a anlise dos significados queesse conhecimento teve e tem na vida desses sujeitos. Os resultados da investigaoindicaram que, em sua maioria, os sujeitos investigados retem, da Histria escolar, osprofessores e a estratgia didtica. Enquanto a Proposta Pedaggica da Educao de Jovense Adultos valoriza o ensino via pesquisa, sem nfase nos contedos disciplinares, os alunosapontam elementos que mostram a valorizao dos contedos especficos da Histria comodisciplina escolar. Da mesma forma, os alunos relacionam-se com a Histria pelavalorizao do conhecimento histrico especfico, e no pelas suas prprias vivncias, aocontrrio dos professores que preconizam a relao com as histrias de vida comoprincpio metodolgico. Os alunos manifestam indcios de entendimento da natureza doconhecimento histrico, no que se refere ao carter investigativo e multiperspectivadodesse conhecimento. Os professores, em geral, no se referem Histria como umconhecimento especializado e concebem o ensino e a aprendizagem de Histria a partir deconceitos estruturais, com destaque para a temporalidade, sendo que os conceitosreferentes construo do conhecimento no surgem como importantes. Os resultados dainvestigao apontam para a necessidade de um debate acerca da natureza da PropostaPedaggica da Educao de Jovens e Adultos, no que se refere relao com oconhecimento especfico da disciplina Histria, a qual, como as outras disciplinas, diluda em projetos de pesquisa e no apresentada sob a forma de contedos especficos.Isso corrobora a importncia que a Educao Histrica tem dado necessidade de sevalorizar a epistemologia prpria da cincia da Histria na relao ensino e aprendizagem.
PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Histria. Educao Histrica. Educao de Jovens eAdultos.
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Lembrana, interesse e histria substantiva 9
ABSTRACT
This study is an educational research about the meaning of historical knowledge to thesubjects in Youngs and Adults Education . Taking the perspectives of qualitative researchin education as a reference, it consists of a specific case of the teaching and learningrelation of History. The main objective was to analyze the conditions directing knowledgerelations, as well as the meaning of historical knowledge for students from the Nucleus ofYoungs and Adults Education in the Municipal Teaching Network of Florianpolis, in thestate of Santa Catarina, Brazil. The theoretical background is based on Jorn RusenHistory Theory and on the existing investigations in the Historical Education area. Thesetheories are specially concerned with the analyzis of the historical ideas of youngs , adultsand children. From the point of view of the contributing conditions to the relation withhistorical knowledge, I attempted to characterize and analyze situations related tostudents and non students taking the Nucleus of Youngs and Adults Education course,aiming to analyse social and cultural aspects that could interfere in these relations. Fromthe point of view of the relations with historical knowledge, the study focused on theanalyzis of the meanings of this knowledge in the subjects lives. The results of theinvestigation indicated that most of the subjects still have the teachers and the didacticstrategies present in their minds as concerning the school history. The Nucleus of Youngsand Adults Pedagogical Proposal values teaching through research, without emphasizingthe disciplinary content of History as a school discipline. In the same way, the studentsrelation with History values specific historical knowledge rather than their own lifeexperiences as established by teachers as methodological principle. The students presenthints of understanding the nature of historical knowledge as concerning the investigativeand multi-faced character of that knowledge. Teachers in general do not refer to Historyas a specialized knowledge and bear the teaching and learning of History from structuralconcepts, emphasizing the importance of temporality.The concepts related to theconstruction of knowledge are not considered important. The results of the investigationpoint out to the necessity do discuss the Pedagogical Proposal of Youngs and AdultsEducation as concerning the relation with specific knowledge of History as a discipline.Similar to what happens in other disciplines, in History knowledge is diluted in researchprojects rather than being presented as specific content.The result reinforces theimportance that Historical Education has given to the episthemology proper of History asa Science in the teaching and learning relation.
KEY-WORDS: History teaching. Hhistorical education. Young and Adults Education.
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Lembrana, interesse e histria substantiva 10
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Situao dos alunos em 2008/2009 ......................................................... 37
QUADRO 2 - No-alunos: docentes e funcionrios do Ncleo 2008/2009(Tempo de experincia na EJA) ..................................................................................... 38
QUADRO 3 - Cronograma da observao (Fevereiro a junho 2008) ........................ 44
QUADRO 4 - Alunos entrevistados/Data ...................................................................... 45
QUADRO 5 - Alunos entrevistados/ Gnero e Idade ................................................... 45
QUADRO 6 - Cronograma de entrevistas com os no-alunos: abordagem ecategoria .......................................................................................................................... 47
QUADRO 7 - No-alunos: docentes e funcionrios do Ncleo entrevistados em doismomentos - inicial e retorno da pesquisa (maio 2008/maio 2009) ...................... 47
QUADRO 8 - No-alunos: professores de Histria entrevistados - retorno dapesquisa (maio de 2009) ................................................................................................. 47
QUADRO 9 - No-alunos: assessores/Consultores do DEC (Entre vistados emabril/maio 2008) .............................................................................................................. 47
QUADRO 10 - Alunos que responderam aos questionrios Modo de Vida eConhecimento Histrico/Idade e gnero. (junho 2008) ............................................... 48
Q UADRO 11 - Alunos: ocupao no mercado de trabalho ............................................... 86
QUADRO 12 - Alunos: aspectos positivos da escola regular ................................... 91
QUADRO 13 - Alunos: aspectos negativos da escola regular .................................... 91
QUADRO 14 - De onde vem o conhecimento histrico que voc possui? ................. 97
QUADRO 15 - Como eram as suas aulas de Histria? ............................................... 100
QUADRO 16 - Quando voc ouve histria em que pensa? ........................................ 108
QUADRO 17 - O conhecimento Histrico que voc aprende em aula....................... 128
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Lembrana, interesse e histria substantiva 11
LISTA DE SIGLAS
ANPED: Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Educao
CEFET-SC: Centro Federal de Educao Tecnolgica de Santa Catarina
CNE: Conselho Nacional de Educao
CONFINTEA: Conferncia Internacional de Educao de Adultos
DEC: Departamento de Educao Continuada da Rede Municipal de Ensino de
Florianpolis.
EJA: Educao de Jovens e Adultos
HNP: Horas no presenciais
HP: Horas presenciais
IF-SC: Instituto Federal de Santa Catarina
LAPEDUH: Laboratrio de Educao Histrica
LDB: Lei de Diretrizes e Bases
MEC: Ministrio da Educao
PPGE: Programa de Ps-Graduao em Educao
TIC: Tecnologias da Informao e da Comunicao
UFPR:Universidade Federal do Paran
UHF: Estrutura Histrica Utilizvel (originalmente em ingls)
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Lembrana, interesse e histria substantiva 12
SUMRIO
INTRODUO ........................................................................................................ 14
CAPTULO 1 - A EDUCAO HISTRICA E A EDUCAO DEJOVENS E ADULTOS .......................................................................................... 201.1 Na pesquisa sobre ensino de Histria, um recorte: a Educao Histrica ........ 20
1.2 Investigaes em Cognio Histrica Situada ...................................................... 23
1.3 O aprendizado histrico como Formao ............................................................. 29
CAPTULO 2 - O PERCURSO DA INVESTIGAO ............................. 37
2.1 Sujeitos ..................................................................................................................... 37
2.1.1 Categoria alunos ................................................................................................... 37
2.1.2 Categoria no-alunos ........................................................................................... 38
2.2 Objetivos e questes de investigao ..................................................................... 39
2.3 Categorias de anlise dos dados ............................................................................. 42
2.4 Instrumentos de investigao ................................................................................. 43
2.4.1 Dirio de campo .................................................................................................... 44
2.4.2 Entrevistas ............................................................................................................. 45
2.4.3 Questionrios ........................................................................................................ 48
CAPTULO 3 - O ENSINO VIA PESQUISA: A PROPOSTA DAREDE MUNICIPAL DE ENSINO DE FLORIANPOLIS PARA AEDUCAO DE JOVENS E ADULTOS ....................................................... 49
3.1 Educao de Jovens e Adultos ................................................................................ 49
3.2 A Educao de Jovens e Adultos da Rede Municipal de Ensino deFlorianpolis .................................................................................................................. 52
3.3 A Proposta de Ensino Via Pesquisa na perspectiva dos sujeitos ..................... 56
3.3.1 Categoria Relao com a Proposta na perspectiva de alunos e no-alunos:demonstrao e anlise dos dados a partir do dirio de campo e dasentrevistas ....................................................................................................................... 66
3.3.2 Categoria Relao com o conhecimento na Proposta na perspectiva dealunos e no-alunos: demonstrao e anlise dos dados a partir do dirio decampo e das entrevistas ................................................................................................. 71
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Lembrana, interesse e histria substantiva 13
CAPTULO 4 - O SIGNIFICADO DO CONHECIMENTOHISTRICO PARA OS SUJEITOS DA EDUCAO DE JOVENSE ADULTOS .............................................................................................................. 824.1 Condies da relao com o conhecimento: os alunos .........................................
4.2 Condies da relao com o conhecimento: os no-alunos .................................
83
954.3 Significados do conhecimento histrico: os alunos e as lembranas das aulasde Histria ...................................................................................................................... 96
4.4 Significados do conhecimento histrico: os no-alunos e as lembranas dasaulas de Histria ............................................................................................................ 102
4.5 O conhecimento histrico considerado relevante para os alunos ....................... 106
4.6 O conhecimento histrico considerado relevante para os no-alunos ................ 118
4.7 Os alunos e a compreenso da Histria como disciplina escolar ........................ 123
4.8 Os no-alunos e a compreenso da Histria como disciplina escolar ................ 129
CONSIDERAES FINAIS ............................................................................... 133
REFERNCIAS ....................................................................................................... 140
APNDICES .................................................................................................................. 146
APNDICE A - Q uestionrio aplicado aos alunos da EJA: modo de vida ..................... 147
APNDICE B - Questionrio aplicado aos alunos da EJA: conhecimento histrico .......... 149
APNDICE C - Questes das entrevistas semiestruturadas com alunos ........................... 151
APNDICE D - Questes das entrevistas semiestruturadas com no-alunos ..................... 152
APNDICE E - Declarao para alunos..................................................................... 154
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Lembrana, interesse e histria substantiva 14
INTRODUO
Esta uma pesquisa qualitativa sobre Ensino de Histria na Educao de Jovens e
Adultos na rea de investigao da Educao Histrica. O estudo busca investigar a relao
dos sujeitos com o conhecimento histrico, a partir do estudo de um caso, na realidade de
um Ncleo de Educao de Jovens e Adultos1 da cidade de Florianpolis. A pesquisa foi
realizada por meio da aproximao junto aos momentos de atividades formais e informais
da escola. Nas aulas, nos intervalos na sala dos professores ou no ptio, entre alunos e no
alunos que participam desse Ncleo.
O trabalho insere-se no mbito do Laboratrio de Pesquisas em Educao Histrica
LAPEDUH2, do Programa de Ps-Graduao em Educao da Universidade Federal do
Paran PPGE/UFPR, e busca uma aproximao das prticas escolares cotidianas,
proprondo-se olhar para o pequeno com um olhar grande3. A pesquisa objetiva afastar-se
do que Jos Mrio Pires Azanha denominava abstracionismo pedaggico. A expresso
indica a desconsiderao s determinaes especficas das situaes focalizadas, em favor
de leis ou princpios gerais, comuns, segundo o autor, nas pesquisas educacionais
brasileiras. (AZANHA, 1992, p. 42)
Trata-se de um trabalho que dialoga com a teoria social. Dessa forma, se no visa a
quantificar ou generalizar para outros casos, localiza sociologicamente as pessoas
envolvidas, para que possa apontar algumas possibilidades educativas para o ensino de
Histria na EJA.
De acordo com Schmidt e Garcia (2009), necessrio vincular as aes dos sujeitos
na escola ao universo mais amplo, para avanar na compreenso da experincia social com
o conhecimento. Para a anlise dos dados, tomou-se como referncia a perspectiva
processual, na direo apontada pela Grounded Theory, para a qual o objetivo no reduzir
a complexidade, fragmentando-a em variveis, em vez disso, aumentar a complexidade, incluindo o
contexto (FLICK, 2004, p.58).
1 A Educao de Jovens e Adultos ser, a partir deste momento, referenciada pela sua sigla: EJA.2 O Laboratrio ser, a partir deste momento, referenciado pel a sua sigla: LAPEDUH.3 Professora Tnia Braga, em aulas do Seminrio de Pesquisa.
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Lembrana, interesse e histria substantiva 15
Neste trabalho, buscou-se uma contextualizao terica da EJA no Brasil e da
Educao Histrica. Empiricamente, um estudo de caso feito por meio de observao
participante passiva.
A perspectiva orientadora desta pesquisa qualitativa referenciou-se em Lessard-
Hbert, Goyette e Boutin (1990) para quem h uma implicao pessoal por parte do
investigador, que busca um estudo aprofundado de casos particulares, sendo esta uma
atitude prpria das abordagens qualitativas situadas no mbito do paradigma
interpretativo. De acordo com Lessard-Hbert, Goyette e Boutin (1990, p.154-156),
[...] a observao participante uma tcnica de observao associada aossistemas narrativos de registros de dados. [...] e pode revestir-se de umaforma mais activa ou mais passiva consoante o nvel de envolvimento doobservador relativamente aos acontecimentos e aos pontos de vista dosindivduos. Na sua forma activa, o observador deve registrar os seusdados aps o perodo de observao, ao passo que, numa forma maispassiva, os pode registrar durante esse perodo.
Segundo Lessrd-Hbert, Goyette e Boutin (1990), a observao participante
passiva , muitas vezes, associada ao inqurito, na sua forma oral (entrevista) ou escrita
(questionrio), com o objetivo de triangular os dados, especificamente no que se refere s
opinies e crenas dos sujeitos investigados.
A observao de aulas, reunies, formaes e dos momentos mais informais, tais
como intervalos e confraternizaes, resultou no dirio de campo, cujas notas descrevem
o que foi visto, ouvido, vivido e pensado pelo investigador. (EVERTSON e GREEN,
1986, apud LESSARD-HBERT, GOYETTE e BOUTIN 1990, p.154). Nesta
investigao, optou-se pela triangulao, fazendo uso do inqurito, tanto na sua forma oral,
as entrevistas, como na escrita, os questionrios.
A investigao de campo aconteceu de fevereiro de 2008 a maio de 2009, momento
em que surgiram os dados, objetivamente produzidos, mas com base na interpretao e na
compreenso da realidade. (LESSARD-HBERT, GOYETTE e BOUTIN ,1990, p.158)
O contexto da investigao foi um Ncleo de EJA, da Rede Municipal de Ensino de
Florianpolis. Esta Rede conta, em 2009, com 11 Ncleos sendo que esse nmero pode ser
alterado a cada ano. Os Ncleos so compostos pelos alunos, professores, coordenador,
auxiliares de ensino e funcionrios de servios gerais e segurana, e funcionam em escolas
pblicas municipais ou estaduais.
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Lembrana, interesse e histria substantiva 16
Assumir o paradigma qualitativo em investigao significa partir de questes
gerais, que certamente sofrem alteraes em campo. As questes gerais deste estudo
estavam diretamente ligadas condio da pesquisadora de professora de Histria do
Centro Federal de Educao Tecnolgica - CEFET-SC, hoje Instituto Federal de Educao,
Cincia e Tecnologia de Santa Catarina - IF-SC, ao trabalho com a construo do
conhecimento histrico, num tempo que vai de 2000 a 2006, no Ensino Mdio e no Ensino
Profissional, neste ltimo, nas classes de EJA.
As concepes de Histria, o trabalho dos historiadores, as fontes e as evidncias
histricas sempre estiveram presentes e so centrais neste trabalho, cujo objeto so as
ideias histricas dos sujeitos da EJA. Essas questes denotavam interesse em investigar
possibilidade de aproximao dos alunos com o conhecimento histrico, por meio de um
Ensino que inclusse no s os contedos especficos da Histria, tais como Renascimento,
Revoluo Industrial Inglesa denominados conceitos substantivos -, mas tambm a
compreenso desse conhecimento, os conceitos estruturais, por exemplo, continuidade,
progresso, evoluo, alm daqueles relacionados s formas de compreenso histrica,
como narrativa, evidncia e inferncia, denominados como ideias de segunda ordem4.
Uma reflexo de Marc Bloch, de 1943, iluminava esta maneira de ver as coisas:
Todo livro de Histria digno desse nome deveria [...] incluir um captulo,ou, se quiserem, uma srie de pargrafos que se intitularia mais oumenos: `Como pude apurar o que vou dizer?. Estou persuadido de que,ao tomarem conhecimento de tais confisses, at os leitores que no sodo ofcio experimentariam um verdadeiro prazer intelectual. (BLOCH,apud SALIBA, 1996)
Considerava-se, ainda, que uma histria mais prxima - a Histria Local ou a
Histria Oral - seria potencialmente interessante para o Ensino de Histria, inclusive pelo
fato de favorecer o trabalho com fontes histricas em sala de aula.
Dessa forma, no primeiro momento da pesquisa, a inteno era investigar as idias,
histrias dos sujeitos durante as aulas, na relao com a Histria Ensinada. Vale dizer que
havia a expectativa de presenciar trabalhos desenvolvidos a partir da Histria Oral, uma
vez que o que se conhecia da Proposta da EJA, at o momento, dava margem a esse tipo de
expectativa.
4 Conceitos substantivos e ideias de segunda ordem so termos prprios aos investigadores em EducaoHistrica, desenvolvidos principalmente a partir de Peter Lee.
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Lembrana, interesse e histria substantiva 17
Em um segundo momento, a partir da observao durante a pesquisa de campo, a
realidade da EJA da Rede Municipal demandou mudanas em funo da sua atual
organizao: trata-se de um curso proposto para acontecer por meio de pesquisas
desenvolvidas pelos alunos, um curso no disciplinar. Devido especificidade dessa
Proposta, o desenrolar desta pesquisa teve que ser adaptado. Poucas vezes foi possvel
observar, por exemplo, professores e alunos trabalhando com o conhecimento histrico
especfico em aulas de Histria. Dessa forma, as ideias histricas das pessoas que
trabalham no Ncleo foram investigadas fundamentalmente, por meio de entrevistas e
questionrios, durante o perodo em que esses sujeitos permaneciam no Ncleo. A questo
central da investigao, conformada pelo campo emprico, ganhou contornos mais abertos:
Qual o significado do conhecimento histrico para os sujeitos da EJA?
A partir dessa questo central, surgiram outras:
Que relaes os sujeitos estabelecem com o conhecimento histrico, em termos de
lembrana da Histria Escolar e de interesse por esse conhecimento?
O que as ideias histricas dos sujeitos revelam em termos de compreenso
disciplinar?
Foram considerados sujeitos desta investigao os alunos do Segundo Segmento do
Curso5, os professores, a coordenadora, os auxiliares de ensino e os funcionrios. Para
alm do Ncleo, foram consideradas a assessora pedaggica e a consultora terica do
Departamento de Educao Continuada - DEC6.
De acordo com Flick (2004, p. 58), o que determina o modo de selecionar as
pessoas a serem estudadas a sua relevncia ao tpico da pesquisa, e no a sua
representatividade. Nessa perspectiva, os sujeitos investigados foram categorizados em
alunos e no- alunos, sendo que os primeiros foram centrais na investigao. Esta opo
est justificada pelo fato de que so esses os sujeitos para os quais a EJA se destina. Nas
pesquisas educacionais no mbito dessa modalidade de ensino, os alunos so os sujeitos
para os quais as atenes esto principalmente voltadas.
De acordo com Durand (2009), os sujeitos so temas privilegiados na atual
discusso da EJA:
5 O Segundo Segmento corresponde 5, 6, 7 e 8 sries do Ensino Fundamental. E a EJA da RedeMunicipal poder ser neste texto referenciada pelo termo Curso, com a letra inicial maiscula.6 O Departamento de Educao Continuada ser, a partir deste momento, referenciado pela sua sigla: DEC.
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Lembrana, interesse e histria substantiva 18
Mais explicitamente podemos constatar que, no caso dostextos analisados, estes trazem questes como o sofrimentoe a experincia como elementos da subjetividade daconstituio dos sujeitos da EJA.J os textos relacionados com a formao de Educadores,professores e educandos apontam para a relao destessujeitos e trazem como contribuio o entendimento de queo currculo da EJA deve levar em conta, em sua organizaoe estrutura, temas que se refiram auto-estima e auto-imagem dos sujeitos da EJA como suporte da construo deuma educao que se alicerce em concepes maishumanistas e existenciais. (DURAND, 2009, pp. 8-9)
Ainda que a autora afirme que os sujeitos da EJA, apresentados nos trabalhos,
sejam professores e alunos, entende-se que o trecho acima demonstra o lugar privilegiado
destes ltimos.
Os instrumentos que permitiram a coleta de informaes foram o dirio de campo,
os questionrios e as entrevistas semiestruturadas. A observao aconteceu nas aulas das
trs turmas do Segundo Segmento do Curso, nas reunies no Ncleo e nas Formaes
Centralizadas, sendo que essas formaes contam com a presena de todos os professores
da EJA da Rede Municipal.
No decorrer dos anos letivos de 2008 e 2009, foram realizadas 13 entrevistas,
individuais e coletivas, com alunos, funcionrios, professores, coordenadores do Ncleo e
assessores e consultores do DEC. Entre os alunos foram aplicados dois questionrios,
respondidos por 41 sujeitos.
Os captulos aqui apresentados tm como referncia as questes que nortearam o
trabalho. Dessa forma, o primeiro captulo situa a Educao Histrica no campo de
pesquisas em Ensino de Histria, como uma perspectiva de investigao e sua relao com
a EJA.
O segundo captulo consta das questes terico-metodolgicas. Explicita o percurso
da investigao e as questes de investigao.
O terceiro captulo apresenta e analisa a Proposta de EJA do Municpio de
Florianpolis, por meio de estudo documental, bibliogrfico e emprico. A anlise leva em
conta a relao dos sujeitos com a Proposta, bem como o seu significado para Educao
Histrica de jovens e adultos em processos de escolarizao.
O quarto captulo apresenta os resultados da pesquisa sobre o significado que os
sujeitos investigados conferem ao conhecimento histrico.
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Lembrana, interesse e histria substantiva 19
Ao tomar as ideias histricas de pessoas envolvidas com a EJA, principalmente os
alunos, como objeto de pesquisa, pensou-se em possibilidades para um ensino de Histria
que, ao desenvolver o pensamento histrico dos alunos, possa cumprir a sua funo social,
de modo que a Histria possa ser uma possibilidade para a orientao da vida prtica, na
perspectiva da formao da conscincia histrica.
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Lembrana, interesse e histria substantiva 20
CAPTULO 1
A EDUCAO HISTRICA E A EDUCAO DE JOVENS E
ADULTOS
Neste captulo, situa-se a Educao Histrica no campo de pesquisas em Ensino de
Histria, como uma perspectiva de investigao especfica. Dessa forma, abordam-se
alguns aspectos de sua histria e referenciais terico-metodolgicos, bem como os seus
objetivos; apresentam-se, ainda, alguns estudos no contexto nacional e internacional, de
pesquisadores da Inglaterra, de Portugal e do Brasil. Explicita-se a concepo de Histria
que fundamenta esta perspectiva de investigao, principalmente por meio da teoria de
Jorn Rusen, mais especificamente no que tange Didtica da Histria e, nesse sentido,
apresentam-se algumas reflexes sobre o Ensino de Histria na EJA.
1.1 Na pesquisa sobre o ensino de Histria, um recorte: a Educao Histrica
A Educao Histrica uma rea de investigao cujas pesquisas tratam da relao
que crianas, jovens e adultos travam com as ideias histricas. Os pesquisadores dessa rea
consideram fundamental acessar o conhecimento que esses sujeitos trazem, para que o
Ensino de Histria possa ser pensado em termos de progresso desse conhecimento. Na
perspectiva desta rea de investigao, Histria deve ser ensinada e aprendida a partir da
prpria cincia de referncia, desenvolvendo, assim, uma cognio situada na
epistemologia dessa cincia. Segundo Barca (2001), desde os anos 70 do sculo XX, a
investigao em cognio histrica tem-se desenvolvido com pujana em vrios pases, sobretudo
em Inglaterra, Estados Unidos e Canad. Outros pases como Portugal e Brasil seguem os mesmos
caminhos. Trata-se de um conjunto de investigadores que, de acordo com Barca (2001, p.13),
encetaram a tarefa sistemtica de estudar os princpios e estratgias daaprendizagem em Histria, de crianas, jovens e adultos. Comopressuposto terico, partem da natureza do conhecimento histrico e,como pressuposto metodolgico empreendem a anlise de ideias que ossujeitos manifestam em e acerca da Histria, atravs de tarefasconcretas. Distanciam-se assim de um critrio generalista decategorizao do pensamento em nveis abstractos ou concretos, que foi
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Lembrana, interesse e histria substantiva 21
estabelecido com os contributos de Piaget e Boom tendo por base ascaractersticas das cincias exactas` como a Fsica e a Matemtica.
Nesse sentido, segundo Castex (2008), os estudos empricos realizados por
investigadores filiados Educao Histrica tm apontado que os fatores principais da
progresso das ideias em Histria no esto relacionados maturao psicolgica, mas
inteligncia e aos mtodos de ensino:
O pesquisador ingls Booth, [...] estudou as idias dos adolescentes paradeterminar a capacidade dos alunos avaliarem fontes histricas e, combase nelas, deduzirem conceitos-chave. Categorizou as respostas em doisconjuntos, baseados em Piaget e Peel, e ainda, na natureza da Histria[...] Booth fundamentou-se na lgica da Histria, argumentando que ascrianas eram capazes de mostrar um `raciocnio hipottico no campoda Histria, sem necessitarem de um nvel operacional formal, ligado aoparadigma das cincias naturais. (CASTEX, 2008, p. 21)
No Brasil, de acordo com a pesquisa realizada por Schmidt (2009), j no incio do
sculo XX, havia um debate no domnio do Ensino de Histria em que se contrapunham
concepes de aprendizagem histrica denominadas tradicionalistas e crticas. A autora
pesquisou as ideias contidas em propostas curriculares e manuais didticos, publicados
entre 1917 e 2004, e constatou o predomnio das teorias psicolgicas no encaminhamento
da aprendizagem histrica.
Segundo esses estudos realizados por Schmidt (2009, p. 24), desde a primeira
metade do sculo, os autores de manuais de Didtica da Histria, destinados formao de
professores, criticavam o excesso de memorizao, a passividade do aluno, a inexistncia
de relao entre passado e presente. Predominava a perspectiva de que o Ensino de
Histria deveria possibilitar aos jovens alunos desenvolver atitudes positivas para com o
Brasil e outras naes, por meio da compreenso de conceitos, tais como os de
continuidade e de unidade da experincia humana, o dinamismo e evolucionismo da
organizao social e o da dependncia do presente em funo do passado, alm de
refletirem sobre a responsabilidade do presente para com o futuro. Tambm era
considerado importante que os alunos refletissem sobre a relao entre indivduo e
sociedade, sobre as diferenas entre os povos, os costumes e as instituies, o conceito de
mudana ou instabilidade da organizao social e o conceito de diferena.
Para essa autora, nas dcadas de 50 e 60, predominava o enfoque na integrao
social dos alunos, o que seria possvel com um ensino que possibilitasse a compreenso do
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Lembrana, interesse e histria substantiva 22
presente por meio da sua localizao temporal. A importncia da formao humanstica
dos alunos, pelo desenvolvimento da conscincia social e esprito cvico, tambm estava
presente nos manuais e na legislao. No final da dcada de 60, surgiu a preocupao com
o nvel cognitivo dos alunos, em consonncia com os princpios da Psicologia Cognitiva,
expressos no encaminhamento sobre o ensino das noes de tempo a partir dos nove anos
de idade, quando estariam desenvolvidas as habilidades que tornariam possvel essa
compreenso. A influncia da Psicologia continuou determinante, no final da dcada de
1990, com a publicao dos Parmetros Curriculares Nacionais, pautados em referenciais
da Psicologia construtivista. (SCHMIDT, 2009, pp. 25, 26, 27).
Para Schmidt (2009, p.30), no se trata de afirmar serem as teorias pautadas na
Psicologia, destitudas de importncia na aprendizagem de crianas e jovens. Entretanto,
tais categorias no dizem respeito especfica cognio histrica, a qual pode ser
designada de Cognio Histrica Situada na Cincia da Histria. E, na perspectiva da
Educao Histrica, somente um ensino no qual estejam contemplados os princpios
cognitivos da Histria, quais sejam, experincia, interpretao e orientao, pode
possibilitar o desenvolvimento da conscincia histrica, sendo que esta no pode ser
confundida com a conscincia social, supra citada, caracterizada pelo desenvolvimento do
esprito cvico.
Experincia, orientao e interpretao so, portanto, princpios cognitivos da
Histria, que na sua forma cientfica elabora sentenas histricas, por meio de recursos
lingsticos denominados conceitos. (RUSEN, 2007, p. 91)
H que se distinguir entre conceitos histricos e no histricos. Conceitos histricos
so aqueles em que est posta a qualidade temporal de estados de coisas do passado
humano, dada a
[...] qualidade que esses estados de coisas possuem numa determinadarelao de sentido e significado com o presente e o futuro. Os conceitosno so histricos porque se referem ao passado, mas porque lidam coma relao intrnseca que existe, no quadro de orientao da vida prticapresente, entre a lembrana do passado e a expectativa do futuro.(RUSEN, 2007, p. 92)
Dessa forma, conceitos tais como trabalho ou economia no so histricos, porque
esto destitudos da qualidade temporal, ao passo que, na expresso trabalho escravo na
economia do Brasil Colonial, essa qualidade est colocada, no sentido da relao presente,
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Lembrana, interesse e histria substantiva 23
passado e futuro. Est, portanto, constituda por conceitos histricos, pela experincia, pela
interpretao e pela orientao, porque a tem-se:
a) o que foi o caso em termos de trabalho em determinado contexto econmico
(experincia);
b) a relao entre a experincia de trabalho naquele contexto e as experincias de
trabalho contemporneas e, conforme Gevaerd (2009, p.142), a reduo das
diferenas entre passado, presente e futuro (interpretao );
c) a utilizao da experincia interpretada para agir, num tempo futuro
(orientao).
Esses princpios esto aqui considerados como propriedades diretoras de uma
cincia, s quais todo o desenvolvimento posterior dessa cincia deve estar subordinado
(FERREIRA, 1988, p.529). Desse modo, considerar a experincia, a interpretao e a
orientao no somente uma tarefa dos profissionais da Histria que se dedicam ao
ensino, mas aos que se dedicam tambm pesquisa histrica. Enfim, a Histria como
cincia est, a eles, subordinada.
1.2 Investigaes em Cognio Histrica Situada
Neste tpico, esto algumas reflexes, resultantes de estudos empricos, referentes
ao desenvolvimento da conscincia histrica e ao trabalho com evidncias histricas em
sala de aula, que podem ser considerados como trabalhos desenvolvidos na rea da
Educao Histrica.
As investigaes em Cognio Histrica Situada esto consolidadas em diversos
pases, na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil. Os investigadores dessa comunidade
internacional tem refletido sobre um Ensino de Histria relacionado s questes da vida
prtica. Nessa perspectiva, para que o conhecimento possa ser vlido, preciso levar em
conta o presente, inserindo a temporalidade no ensino, no sentido de buscar a unidade
passado presente futuro e, com isso, o desenvolvimento da conscincia histrica. A
perspectiva da relao com a vida prtica, segundo Barca (2007), no significa tomar o
passado como significado prtico, isto , como algo a ser utilizado para determinados fins
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Lembrana, interesse e histria substantiva 24
ou interesses, como os projetos polticos e ideolgicos. Tal relao pressupe uma ida ao
passado a partir de questes e problematizaes do presente, tornando-o histrico, isto ,
fundamentado em evidncias e argumentaes historicamente cientficas. Com isso,
podem-se criar condies para que o passado tambm no seja visto como algo morto, isto
, destitudo de sentidos e significados na formao da conscincia histrica.
Para Rusen (2007), a conscincia histrica o ponto de partida da Histria como
Cincia e da Histria como Aprendizado, ainda que ambas sigam para direes diferentes.
Muito embora no estivesse relacionada diretamente com a escola, a relao com o
aprendizado j foi, de acordo com o autor, a finalidade precpua da Histria:
Didtica um conceito altamente controvertido no campo dopensamento histrico. Por um lado, goza de uma venervel tradio.Antes de sua transformao em cincia, a histria refletia sobre seusfundamentos de um modo ao qual se aplica ainda hoje o conceito dedidtico. Tratava-se de ensinar e de aprender a histria, de saber comoescrev-la a fim de que seus destinatrios aprendessem alguma coisapara a vida. Mtodo - conceito-chave da racionalidade - foi sempre vistopelos historiadores, at fins do sculo XVIII, como uma questodidtica. A relao prtica do saber histrico valia como critriodecisivo da formatao historiogrfica, caracterizando desse modo tantoa interpretao como o pensamento histrico. Na fase em que a Histriaj tinha atingido seu estatuto cientfico prprio e se fundado pelareflexo da teoria da Histria, o conceito de didtica conservou o seuprestgio. Ningum menos que Johann Gustav Droysen considerava serdidtica a forma mais elevada de historiografia. A esta, interessariam otodo, a dimenso universal da histria da autocompreenso humana, aforma mais elevada da identidade histrica e, consequentemente, o cernee a inteno fundamental do conhecimento cientfico. (RUSEN, 2007,p.88)
Na discusso atual sobre desenvolvimento da conscincia histrica, o conceito de
literacia histrica surge-lhe associado (BARCA, 2006, p.95), no sentido de que ter literacia
significa compreender a natureza do conhecimento histrico, alm de dominar alguma
histria substantiva. Com relao a essa questo, os estudos de Lee tm sido especialmente
importantes e esto contribuindo para o aprofundamento da discusso epistemolgica dos
conceitos no mbito da cognio histrica .
Para Lee (2006, p.133), a literacia histrica , ainda, um conceito no resolvido na
Educao Histrica, uma vez que h concordncia sobre o fato de que a Histria Ensinada
deve ser mais do que a lembrana dos fatos do passado, mas nem sempre h um acordo
sobre o que esse mais deveria ser. As pesquisas tm permitido conhecer as ideias dos
alunos sobre o passado, mas as reflexes sobre que tipo de conhecimento histrico escolar
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Lembrana, interesse e histria substantiva 25
deve ser privilegiado, sobre o tipo de substncia necessria para que a Histria possa ser
uma ferramenta de orientao temporal ainda esto apenas iniciando. Segundo o autor, o
Ensino de Histria deveria fornecer aos alunos uma ferramenta de orientao, que ele
denomina UHF, uma Estrutura Histrica Utilizvel:
Uma estrutura deve ser um ponto de vista geral de padres de mudanasa longo prazo, no um mero esboo de histria folheando picos dopassado. Deve ser ensinada rapidamente e sempre revisitada, pois assimos alunos podem assimilar novas histrias em relao estruturaexistente ou adaptar a mesma. Seguindo Rusen, essa matria deve ser ahistria humana, no alguns subconjuntos privilegiados dela. (LEE,2006, p. 147)
Ainda no temos, de acordo com Lee, exemplos de aplicao de UHF, sendo que as
experincias mais prximas esto relacionadas perspectiva da Histria Temtica. Para
esse autor, as pesquisas em diversos pases demonstram o conflito entre o pensamento
histrico dos alunos, orientado pelo senso comum, e dos historiadores, elaborado a partir
dos pressupostos da pesquisa histrica. Entretanto, as pesquisas tambm demonstram ser
possvel a progresso do conhecimento histrico dos alunos, em situaes de ensino
aprendizagem em que tenham sido considerados os princpios da Educao Histrica. Com
outras palavras, o Ensino de Histria deve estar fundamentado numa concepo de Histria
que considere perspectivas diversas, de acordo com o debate atual sobre a Cincia da
Histria e, na perspectiva da meta-cognio, que leve em conta a vida prtica, relacionando
passado, presente e futuro.
Para Barca (2007, p.5), atualmente cada vez mais clara a natureza
multiperspectivada do conhecimento histrico. E compreender essa caracterstica da
Histria de fundamental importncia na sociedade do sculo XXI, carregada de
informaes mltiplas, na qual as pessoas so confrontadas com diferentes vises de
mundo. Para a autora (2006, p. 95), aprender Histria ler o passado a partir da
interpretao de variadas fontes, pois o conhecimento histrico no trata de certezas. No
h um passado fixo esperando ser descoberto pelos historiadores, mas variados enfoques
sobre temas muito prximos, que resultam em construes historiogrficas diferentes.
Entretanto, preciso sublinhar que essa caracterstica no implica aceitao de qualquer
verso do passado, uma vez que h um conjunto de critrios para validar o conhecimento
do passado, fundamentalmente relacionados evidncia.
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Lembrana, interesse e histria substantiva 26
Em Portugal, em estudo realizado com 18 universitrios, Barca (2006) debruou-se
sobre o desenvolvimento das competncias de literacia histrica nesses sujeitos. A
investigao ocorreu no mbito da Disciplina Metodologia do Ensino de Histria,
frequentada por alunos do 4 ano da Licenciatura em Ensino de Histria da Universidade
do Minho, por meio de duas questes, quais sejam, os critrios que utilizam os futuros
professores de Histria, quando decidem entre verses histricas diferentes, e como
fundamentam os seus argumentos a favor ou contra determinada verso.
Esse estudo demonstrou que a aceitao da validade de verses diferentes
multiperspectiva emergiu entre alguns poucos universitrios. Alm disso, apontou para
uma coincidncia entre os nveis de ideias observados em adolescentes e crianas
portuguesas e inglesas e os universitrios.
Este quadro coincide amplamente com os nveis de idias deadolescentes e crianas portuguesas (BARCA, 2000;BARCA e GAGO, 2001) e de crianas inglesas (LEE, 2001)analisadas noutros estudos. Acentue-se, porm, que os nveismais elaborados esto presentes com frequncia neste estudocom alunos universitrios, embora os nveis menoselaborados no estejam de todo ausentes! (BARCA, 2006,p.107)
Para a autora, esses resultados problematizam o conceito de progresso de ideias
em Histria, ou seja, como encarar esse conceito, considerando-se a coincidncia de nveis
de raciocnio entre sujeitos de diferentes idades e escolaridade? Os resultados das
investigaes apontam para modos de raciocnio histrico sofisticados em crianas e
adolescentes e implicam o fato de que possvel explorar idias mais elaboradas desde
cedo no Ensino de Histria. (BARCA, 2006, pp. 107 e 108)
Ashby (2006, p.156), considerando a investigao histrica um aspecto importante
da Histria Escolar, preconiza o trabalho com fontes em sala de aula com o objetivo de
desenvolver a compreenso do conceito de evidncia pelos alunos.
A autora apresenta uma anlise das respostas de 320 escolares, entre oito e 14 anos
de idade. As crianas responderam a duas questes especficas, selecionadas para explorar
o conceito de evidncia histrica. Os alunos tiveram que escolher (e explicar a escolha)
entre diferentes afirmaes histricas contidas na base de um conjunto de fontes. A anlise
dos dados indicou que os alunos tendem a tratar as fontes como informaes e a considerar
datas e nmeros contidos nessas fontes como fatos que trazem consigo a sua prpria
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Lembrana, interesse e histria substantiva 27
validade (LEE, ASHBY, DICKINSON, 1996; ASHBY e LEE, 1998; LEE e ASHBY,
1998; ASHBY, 2003; ASHBY, 2004, apud ASHBY, 2006, p. 155).
A partir desse estudo, as dificuldades dos alunos na explorao do conceito de
evidncia histrica podem ser sintetizadas. Segundo Ashby (2006, p.164), os alunos
tendem a tratar a informao tal como dada e no como evidncia para tipos especficos
de afirmaes histricas; considerar possvel acessar diretamente o passado; no olhar os
testemunhos a partir das circunstncias em que foram produzidos; tratar fonte e
evidncia como sinnimos; apelar para a autoridade (professor, especialista, livro,
museu.); ter uma compreenso limitada sobre o que uma fonte de poca capaz de
sustentar.
A importncia do trabalho com fontes histricas em sala de aula est na
possibilidade do desenvolvimento cognitivo, se cons iderados os princpios da cognio
especificamente histrica (experincia, interpretao, orientao), uma vez que,
O sentido histrico evidenciado pelos fatos obtidos pela crtica dasfontes deve estar impregnado pelo sentido constitudo pelos diretamenteinteressados. A interpretao histrica deve possuir, como operao depesquisa, - pelo menos tendencialmente - a qualidade de um dilogo comos sujeitos do passado. Nesse dilogo, o historiador concorre com seuconhecimento analt ico. S ento os duros fatos da causalidade objetivaganham seu perfil histrico: eles conduzem ao mesmo tempo ainterpretao do passado para alm de seus limites at a interpretao dopresente. S assim a atividade de pesquisa do historiador pode serexecutada como um trabalho que lida com uma representao deevoluo temporal, que se estende do passado ao presente e abreexpectativas para o futuro. (RUSEN, 2007, p. 167)
No Brasil, de acordo com Garcia (2009), a partir de um conjunto de atividades de
ensino, pesquisa e extenso, desenvolvidas desde o final da dcada de 90, no PPGE da
UFPR, surgiu o LAPEDUH, com pesquisadores desta e de outras universidades, alm de
professores das Redes do Ensino Bsico do Sistema Pblico de Ensino. No mbito desse
Laboratrio, Schmidt e Garcia vm desenvolvendo investigaes de cunho antropolgico e
sociolgico para captar o que acontece, diariamente, no Ensino de Histria. As primeiras
pesquisas datam do final da dcada de 90 e se realizaram, na sua maioria, em escolas
pblicas de Ensino Fundamental.
Os resultados dos primeiros estudos exploratrios captaram as alteraes sofridas
pelos contedos em cada situao de ensino: mesmo os contedos muito semelhantes
apresentavam diferenas significativas conforme a maneira de ensinar e aprender. Alm
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Lembrana, interesse e histria substantiva 28
disso, constataram o predomnio de um ensino cujos fatos eram apresentados sem mais
discusses sobre a natureza do conhecimento histrico e sem preocupao sobre o que
poderia significar esse conhecimento para os sujeitos. A respeito do interesse pelas aulas
de Histria, as pesquisadoras obtiveram dos alunos respostas pouco animadoras, embora
no surpreendentes: a Histria poderia ser interessante se pudesse ser vinculada s suas
vidas e ao presente, o que era mais comum, quando a Histria lhes chegava de outras
maneiras, pela televiso, pelos livros ou atravs de pessoas mais velhas. (SCHMIDT, 2006
p.18).
Ainda no mbito do LAPEDUH, Fernandes (2007) investigou a significncia
histrica do contedo Os direitos da Mulher, com 25 alunos da 8 srie de uma escola
municipal na periferia de Araucria, Paran.
A significncia histrica um conceito de segunda ordem, relevante na construo
do pensamento histrico e, por isso, tem merecido a ateno dos investigadores em
cognio histrica (CHAVES, 2006 p. 4). Para Barton (2003 apud CHAVES 2006, p. 34),
[...] a Significncia Histrica pode ser analisada a dois nveis: oprimeiro, como significado bsico e intrnseco, correspondente a fatoshistricos pessoais ou particulares; o segundo nvel, como significadomais alargado correspondente noo de interpretao e relevnciahistrica.
Os conhecimentos prvios dos alunos investigados por Fernandes mostraram
ausncia de localizao temporal7 e pouca insero de si mesmos na questo. A anlise das
narrativas dos alunos aps interveno pedaggica e as concluses finais apontaram para o
fato de que o ensino de Histria Geral ou do Brasil no permite que o aluno estabelea
relaes do conhecimento histrico com a sua vida e indicaram,
primeiro a necessidade de repensar o extenso rol de contedos da 8 sriepara permitir um maior tempo de trabalho com as temticas; segundo, aincorporao, pelos livros didticos, de novas temticas como asquestes relacionadas mulher; e terceiro, um maior entrelaamentoentre a histria das famlias e a Histria Geral. (FERNANDES, 2007,p.49)
7 Com relao questo da temporalidade, entretanto, procedente l embrar que, de acordo com Schmidt(2009), a datao cronolgica apenas uma estratgia, uma vez que, segundo Rusen (2004), a orientaono tempo e sobre o tempo organiza-se a partir dos casos do passado e sua articulao com o presente [...]
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Lembrana, interesse e histria substantiva 29
As investigaes sobre as ideias histricas de alunos, de todas as idades e nveis de
escolaridade, includos os que esto se especializando em Histria, apontam para um
Ensino de Histria que no vem favorecendo o desenvolvimento da conscincia histrica.
De acordo com Urban (2007)8, na formao inicial dos professores de Histria
brasileiros, tem predominado os aspectos tcnicos e metodolgicos sobre os aspectos
diretamente relacionados ao conhecimento histrico. Com outras palavras, tem prevalecido
a Didtica Geral, em detrimento da Didtica Especfica. de se pensar sobre a relao
entre a formao inicial dos professores de Histria e o quadro encontrado pelos
pesquisadores nas escolas de Educao Bsica no Brasil e em outros pases.
Alm das questes relacionadas Didtica Especfica, possvel refletir tambm
sobre os critrios dos historiadores, no seu trabalho de pesquisa. Se, como afirma Rusen
(2007, p.88), fosse como j foi critrio decisivo para a pesquisa histrica a relao com
as questes da vida prtica, talvez uma historiografia com mais possibilidade de atuar
como conhecimento para orientao no tempo estaria nas aulas para os universitrios,
futuros professores de Histria, e chegaria mais facilmente s salas de aula da Educao
Bsica.
1.3 O aprendizado histrico como Formao
Para Rusen, autor de referncia para os pesquisadores da Educao Histrica, a
Teoria da Histria , para a Cincia da Histria, a especialidade que trata do enraizamento
dessa cincia na vida prtica e da sua funo nela. A Teoria assume, ento, uma funo
didtica de orientao, abrindo-se aos processos os quais o autor denomina Formao
Histrica. Formao uma categoria que trata da aprendizagem histrica, que no a vivida
pelos historiadores, na academia ou no cotidiano de pesquisa, mas pelas outras pessoas, nas
escolas ou nos dos meios de comunicao de massa, por exemplo. (RUSEN, 2001, pp. 48,
49). Nesse campo, a Teoria da Histria uma didtica, uma cincia do aprendizado, sendo
que, para o autor,
Aprender um processo dinmico no qual o sujeito passa por mudanas.Ele adquire alguma coisa, apropria-se de algo; um entendimento, uma
8 Pesquisa realizada no mbito da Disciplina Didtica da Histria que, de acordo com a autora, recebedenominaes diversas nos cursos em que se insere. Urban analisou as ementas das Disciplinas.
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Lembrana, interesse e histria substantiva 30
capacidade, ou um misto dos dois. No aprendizado histrico d-se aapropriao da histria, um dado objetivo, um acontecimento queocorreu no tempo passado torna-se uma realidade da conscincia,tornando-se subjetivo. Passa assim a desempenhar um papel noordenamento interno do sujeito. (RUSEN, 2007, p. 106)
Formao um modo de recepcionar o saber histrico, de lidar com ele, em um
nvel cognitivo que no o dos historiadores, mas que est relacionado com o grau de
transparncia do saber produzido pelos historiadores. Formao no significa poder dispor
de saberes, mas de formas de saber. Entretanto, essa competncia cognitiva precisa estar
preenchida com os contedos do saber, a experincia da diferena e da mudana no tempo
(RUSEN, 2007, pp.101e112).
Nesse sentido, os autores da Educao Histrica se referem ao que denominam
conceitos substantivos, ou contedos especficos da Histria, e conceitos estruturais, ou
ideias de segunda ordem, como os elementos por meio dos quais o aprendizado deve
acontecer, se o objetivo for a literacia e a conscincia histrica.
Os conceitos substantivos,
[...] tais como Renascimento, Revoluo Industrial Inglesa, e osconceitos de segunda ordem, que esto envolvidos em qualquer histria,qualquer que seja o contedo aprendido. Entre os conceitos de segundaordem esto as categorias temporais, que designam contextos temporaisgerais de estados de coisas que, conforme Rusen ( 2007b, p.93)9 `no sereferem diretamente a nenhum estado de coisas, mas estabelecem aqualidade histrica da mudana temporal, por exemplo, continuidade,progresso, desenvolvimento, evoluo, poca. Incluem-se, tambmcomo conceitos de segunda ordem, aqueles relacionados s formas decompreenso ou pensamento histrico, como o conceito de narrativa,evidncia, inferncia, imaginao e explicao histrica. (SCHMIDT,2009, p.37)
A partir da narrativa histrica, as pessoas percebem contingncia e diferena no
tempo, interpretam essa experincia, retiram dela orientao e motivao para agir na
perspectiva do tempo. Em outras palavras, desenvolvem conscincia histrica, isto ,
constituem sentido sobre a experincia do tempo, no modo de uma memria que vai alm
dos limites de sua prpria vida prtica. (RUSEN, 2007, p.105) Para o autor, essa
competncia de constituir sentido aprendida, e o no prprio processo dessa constituio
de sentido. Aprender, genericamente, elaborao da experincia na competncia
9 RUSEN, Jorn. Reconstruo do Passado Teoria da Histria II: os princpios da pesquisa histrica.Braslia: Unb, 2007 (b), conforme refernci a bibliogrfi ca no artigo.
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Lembrana, interesse e histria substantiva 31
interpretativa e ativa, e a formao histrica nada mais do que uma capacidade de
aprendizado especialmente desenvolvida. (RUSEN, 2007, p.104). Desse modo,
aprendizado formao quando acontece a subjetivao do conhecimento histrico,
quando o aprendiz fica sensibilizado para os processos temporais. Quando o passado
encontra o seu lugar nas circunstncias da prpria vida. (RUSEN, 2007, p.108)
O olhar histrico formado, voltado para a alteridade do passado, podesensibilizar a conscincia para a especificidade de seu tempo presente.Ele pode aprofundar a conscincia de que os dias de hoje se passam deoutra forma do que no passado, porque as condies da vida prtica decada um so historicamente especficas. (RUSEN, 2007, p.113)
A conscincia histrica objeto central nas pesquisas em Educao Histrica
porque perceber, interpretar, orientar-se, motivar-se na perspectiva do tempo o motivo de
ser da Histria. Melhor dizer, da narrativa histrica.
Segundo Rusen, pensar historicamente pensar narrativisticamente, uma vez que o
pensamento histrico - qualquer um, no apenas o dos historiadores obedece a uma
lgica, a lgica da narrativa. Essa tese tratada, na Teoria da Histria, como o paradigma
narrativista. (RUSEN, 2001, p.149) Para esse autor, so fatores determinantes e
mutuamente condicionados da narrativa histrica:
carncias de orientao da vida humana prtica, decorrentes dasexperincias da contingncia na evoluo temporal do mundo humano;diretrizes de interpretao que se referem experincia do passado, sebaseiam na memria e assumem a forma de teorias, perspectivas,categorias implcitas e explicitas; mtodos, com os quais o passadoemprico tornado presente inserido nas diretrizes de interpretao,mediante o que estas se concretizam e se modificam; formas derepresentao da experincia incorporadas diretriz de interpretao;funes de orientao cultural mediante a experincia interpretada erepresentada na forma de uma direo temporal do agir humano e naforma de concepes da identidade histrica. (RUSEN, 2001, p.162)
De acordo com o referido autor, existe uma racionalidade especfica do histrico.
Tipos de racionalidade so tipos de argumentao. Nos anos 40,
O modelo de uma explicao racional baseado nas cinciasmatemtico-experimentais, conhecido pelo nome de Hempel-Popper, foiapresentado como universalmente vlido e aplicado, com essa pretensode validade cincia da histria. O reconhecimento de umaracionalidade cientfica universal causou, entre os especialistas dacincia da histria, reaes desencontradas, pois esse modo de
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Lembrana, interesse e histria substantiva 32
explicao e sua racionalidade dependem decisivamente daargumentao com base em leis gerais. Mas justamente isso no pode serprovado com relao s operaes cognitivas bsicas do pensamentohistrico. A especificidade da histria aparecia como uma lacuna. Noentanto, quando a prpria narrativa pode ser reconstruda como modo deexplicao um de seus pioneiros foi Arthur C. Danto (Arthur C.,Analytische Philosophie der Geschichte, Frankfurt, 1974) o queaparecia como lacuna passou a ser visto como uma qualidade positiva.Nesse momento nasceu, em princpio, o paradigma narrativista.(RUSEN, 2001, p.154)
Para Rusen (2001), possvel compreender racionalmente a narrativa, sendo
necessrio distinguir narrativa histrica de narrativa no histrica. Na narrativa histrica,
considera-se que o que se narra aconteceu realmente, sendo fundamental a vinculao
experincia do tempo de maneira que o passado possa tornar-se presente no quadro cultural
de orientao da vida prtica contempornea. Ao tornar-se presente, o passado adquire o
estatuto de histria. (RUSEN, 2001, p.155)
Para que o passado encontre o seu lugar no presente (RUSEN, 2001, p. 111), deve
acontecer a articulao entre objetividade e subjetividade, sendo esta a caracterstica da
histria como cincia, e pressuposto do processo formativo do aprendizado histrico.
Aprender histria, no nvel da formao, apropriar-se da histria objetiva, podendo
dispor dos dados histricos e, por meio do seu contedo experencial, flexibilizar as
situaes da vida presente e os prprios pontos de vista, possibilitando uma amplido
temporal, em que o presente relativizado no contraste com outras histrias. (RUSEN,
2007, pp. 107 e 109)
Para Rusen (2001), procedente distinguir as trs operaes do aprendizado
histrico como formao, quais sejam, experincia, interpretao e orientao, e analis-
las em seus nveis e dimenses, uma vez que, frequentemente, negligenciam-se
interpretao e orientao em benefcio da experincia :
Quase sempre se deixa de lado que o saber histrico um produto daexperincia e da interpretao, resultado, pois, de sntese, e no um merocontedo a ser decorado. Ocorrem, com freqncia, desequilbrios narelao dos trs componentes. O que adianta, por exemplo, um amplosaber histrico que s se sabe de cor, sem nenhum tipo de valor deorientao? De outro lado, o que adianta a capacidade de reflexo ecrtica de projetos prticos, se ela est vazia de experincia? (RUSEN,2007, p. 111)
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Lembrana, interesse e histria substantiva 33
Segundo Rusen (2001), numa primeira operao, o aprendizado histrico
corresponde ao aumento da experincia, dos saberes sobre o que aconteceu (o que foi o
caso no passado, nos termos de Rusen). Entretanto, algo no adquire o status de histrico
apenas por ter acontecido. A experincia a que se refere Rusen a da distino qualitativa
entre passado e presente, o passado em contraste com o presente, num movimento de
apreenso das diferenas. Para tanto, necessrio que o passado permanea, de alguma
forma, presente. Alm disso, na dimenso da experincia, para que o aprendizado histrico
acontea como formao, a busca pelo saber histrico deve ter origem no prprio sujeito
aprendente. (RUSEN, 2007, pp.111 a 112)
O aumento da competncia interpretativa, a segunda operao, , tambm, resultado
do aprendizado histrico como formao. Nessa dimenso, os tipos de conscincia
histrica sofrem alteraes qualitativas, dos tradicionais para os exemplares, destes para os
crticos e dos crticos para os genticos.
De acordo com Schmidt (2009, p. 36),
Segundo Rusen (2004), os tipos de conscincia histrica so: tradicional,em que a totalidade temporal apresentada como continuidade dosmodelos de vida e cultura do passado; exemplar, em que as experinciasdo passado so casos que representam e personificam regras gerais damudana temporal e da conduta humana; crtica, que permite formularpontos de vista histricos, por negao de outras posies; e gentica,em que diferentes pontos de vista podem ser aceitos porque se articulamem uma perspectiva mais ampla de mudana temporal, e a vida social vista em toda a sua complexidade. A perspectiva crtica e gentica seaproxima do que o educador Paulo Freire define como a passagem daconscincia ingnua para a conscincia crtica. Para o autor, esseprocesso no implica em que o educador e o educando, em determinadoestgio de aprendizado, entendam todo o significado das palavras econceitos, mas que tenham possibilidades de explicitar as mudanas emsua compreenso do mundo.
A terceira operao do aprendizado histrico seria o aumento da competncia de
orientao, qual seja, a habilidade para utilizar a interpretao do passado, analisar a
situao presente e projetar um curso de ao futura. (GEVAERD, 2009, p. 142)
Por meio da categoria Formao, o aprendizado histrico surge em toda a sua
complexidade, indicando as relaes que precisam ser estabelecidas entre o conhecimento
histrico e os sujeitos que desejam ou precisam dele apropriar-se; lanando luz sobre os
vrios elementos que devem compor a apresentao desse conhecimento para alm da
academia, se o horizonte for um Ensino de Histria com alguma conseqncia. Na
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Lembrana, interesse e histria substantiva 34
perspectiva da Educao Histrica, a Histria que vale deve resultar no desenvolvimento
da conscincia histrica. Com outras palavras, o desenvolvimento de um pensamento
racional, de carter argumentativo, no perde de vista a emancipao do ser humano,
atravs da relao passado-presente-futuro. Por emancipao, entenda-se, nas palavras de
Klaus Bergmann, a possibilidade de
[...] libertao em relao a coaes prticas provenientes de situaesmal-compreendidas do passado, na medida em que ela [a Histria]mostra e denuncia o carter antiquado, a inoportunidade e ainconvenincia de determinadas condies de vida diante dademonstrao da possibilidade objetiva de outras condies sociais.(BERGMANN, 1989/1990, p. 36)
Reafirmando alguns pontos j colocados, importante fazer uma reflexo sobre o
significado dos conhecimentos especficos e de sua funo didtica na formao dos
sujeitos. Dessa forma, esta investigao foi conduzida a partir do campo especfico do
conhecimento histrico, na perspectiva da Educao Histrica, cuja preocupao
fundamental o conhecimento e o desenvolvimento das ideias histricas de alunos e
professores, com vistas formao da conscincia histrica. Reafirmando o que diz Rusen
(2001), a conscincia histrica pressupe um tipo de racionalidade histrica, isto , de uma
relao presente e passado que no v o passado como um passado morto (encerrado em si
mesmo), nem como um passado prtico (manipulado com fins utilitrios), mas um passado
histrico. Nesse sentido, a apropriao progressiva de conhecimentos histricos
fundamental para que os sujeitos no sejam historicamente ignorantes.
De acordo com Lee (2006), alm de compreender o que o conhecimento histrico,
a partir de conceitos estruturais ou de segunda ordem, necessrio que a Histria Escolar
possibilite aos alunos desenvolver uma estrutura substantiva, a partir dos conceitos
histricos substantivos. Para o autor, preciso incorporar novas indagaes aos resultados
j alcanados pelas pesquisas, preciso ir alm da dicotomia entre histria substantiva e
compreenso disciplinar, Um conceito de literacia histrica demanda ir alm disso, ao
comear a pensar seriamente sobre o tipo de substncia que a orientao necessita e o que
as compreenses disciplinares devem sustentar naquela orientao. (LEE, 2006, p. 148)
Nesse sentido, entre as questes presentes nas investigaes e reflexes no mbito
da Educao Histrica, duas, especialmente, precisam ser problematizadas na EJA. Uma
est relacionada aprendizagem. O pblico da EJA est fora da faixa etria sobre a qual
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Lembrana, interesse e histria substantiva 35
incide a discusso sobre a maturao psicolgica10 e situa-se no contexto das reflexes
acerca das experincias acumuladas por esses sujeitos. De acordo com Chaves (CHAVES,
2006, p. 9), a investigao tem consensualmente constatado que as compreenses
histricas variam de aluno para aluno e que as formas interpretativas e valores dos
alunos no s resultam das experincias vividas na escola, como tambm so provenientes
da famlia, de filmes histricos da fico televisiva e de comemoraes. (SEIXAS, 1997,
apud CHAVES, 2006, p.9)
A outra questo est relacionada ao Ensino de Histria, numa perspectiva de
progresso, o que pressupe um tempo de experincia com o conhecimento histrico
escolarizado, um tempo maior do que dispem os sujeitos da EJA. Os cursos de EJA tem
uma carga horria diferenciada, e a menor durao dos cursos um fator de atrao para
esses sujeitos, que buscam concluir a escolarizao bsica rapidamente. (HAMMEL,
2009, p. 3-4)
Pensar o Ensino de Histria, na perspectiva da Educao Histrica, na EJA,
significa considerar que as classes de EJA so frequentadas por pessoas com pouco tempo
de vida escolar ou, sendo mais jovens, com uma histria escolar que pode ser considerada
irregular. Alm do mais, isso assim no apenas em termos de tempo vivido, mas de
perspectiva tambm, uma vez que estar estudando (mesmo que o mercado de trabalho
reivindique o aprender sempre) no pode ser considerado to certo quanto estar
trabalhando, ou procurando trabalhar. Em sntese, os alunos investigados so trabalhadores
desde muito cedo.
Dessa forma, torna-se fundamental pensar um Ensino de Histria que, considerando
essas caractersticas, no abra mo do desenvolvimento da conscincia histrica, nem do
compromisso com o processo de desenvolver a racionalidade histrica, com sujeitos jovens
e adultos, de modo que a Histria possa ser uma orientao para a vida. Essas
preocupaes precisam ser pensadas em contextos investigativos. De acordo com Schmidt
10 Referncia categorizao do pensamento em nveis abstratos ou concretos, conforme estudos de Piaget eBoom (BARCA, 2006, p. 14), segundo a qual os sujeitos estariam aptos a compreender conceitos histricospor volta do final da adolescncia. As investigaes em Educao Histrica tem contestado a importncia damaturao psicolgica, ainda que isso no signi fique que esses investigadores desconsiderem a importnciade tais estudos, conforme Schmidt (SCHMIDT, 2009, p. 16); e, ainda, Ashby (2006, p.156), cujo estudolevantou questes relativas a habilidades espec fi cas que demandam que os professores devem levar em contatemas psicolgicos e genricos sobre desenvolvimento cognitivo levant ados pelos trabalhos de Bruner ePiaget (por exemplo, ir alm da informao dada e centrao).
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Lembrana, interesse e histria substantiva 36
e Garcia (2003), a investigao com fins didticos pode ser uma atividade inerente ao
ofcio de professor, mas deve ser pensada na relao com o mtodo e a teoria das cincias
de referncia e no com a pesquisa genericamente entendida. Somente a partir da que
os professores e alunos podem compreender e vivenciar uma relao histrica entre
presente e passado, alm de se apropriarem do caminho da produo do conhecimento
histrico. (SCHMIDT e GARCIA, 2003, p.238).
Nos prximos captulos, as ideias histricas dos sujeitos da EJA sero apresentadas,
a partir de um estudo terico e emprico, com o objetivo de contribuir com a perspectiva de
investigao no campo da Cognio Histrica Situada.
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Lembrana, interesse e histria substantiva 37
CAPTULO 2
O PERCURSO DA INVESTIGAO
Neste captulo, demonstra-se o percurso da investigao entre os sujeitos da EJA,
alunos e no-alunos, apresentando os objetivos, as questes de investigao, as categorias
de anlise e os instrumentos de investigao.
2.1 Sujeitos11
Neste tpico sero apresentados os sujeitos da investigao, categorizados como
alunos e no-alunos.
2.1.1 Categoria alunos
Foram considerados sujeitos nesta categoria todos os alunos que frequentavam o
Segundo Segmento do Curso, alocados nas turmas 1, 2 e 3 do Ncleo.
Duzentos e quarenta e uma pessoas procuraram o Ncleo e, em algum momento,
(uma vez que a matrcula pode ser feita a qualquer tempo), matricularam-se no ano letivo
de 2008, conforme demonstra o Quadro 1.
Q UADRO 1 -Situao dos alunos em 2008-2009 12
Situao N alunos PorcentagemMatriculados 241 -Afastados temporariamente 113 47%Desistentes 17 7%Transferidos 7 3%Certificados 35 16%Matriculados 2009 41 17%
11 Todos os nomes dos sujeitos investigados so fictcios.12 Os nmeros informados pel a secretaria do Ncleo apresentam alguns erros, irrel evantes para os objetivos
desta investigao.
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Lembrana, interesse e histria substantiva 38
O nmero de alunos matriculados refere-se ao total de alunos no Ncleo e no
apenas aos alunos do Segundo Segmento, que foram sujeitos desta investigao.
2.1.2 Categoria no- alunos
Foram considerados, nesta categoria, todos os sujeitos investigados no Ncleo e no
DEC, com exceo dos alunos. So eles, professores, coordenadora, auxiliares de ensino e
funcionrios do Ncleo. Para alm do Ncleo, a assessora pedaggica e a consultora
terica do DEC. Estes sujeitos foram tambm categorizados em especialistas e leigos. Ver
Quadro 2.
Q UADRO 2 - No-alunos: docentes e funcionrios do Ncleo 2008/2009 (Tempo deexperincia na EJA)
Funo Nome Experincia naEJACoordenao Salete 13 anoProf. Artes Rodrigo 4 anoProf. Cincias Paloma 1 anoProf. Geografia Rosana 2 anoProf. Histria Marlene 2 anoProf. Ingls Jamila 2 anoProf. Matemtica Mnica 1 anoProf. Portugus Rosa 1 anoAuxiliar de Ensino Carolina 4 anoAuxiliar de Ensino Rosemeri 1 anoServiosGerais Glaucia 13 anoSegurana Flvio 4 anoSegurana Vanderlei 4 ano
2008-1
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Lembrana, interesse e histria substantiva 39
Funo Nome Experincia naEJACoordenao Salete 13 anoProf. Artes Flvio 1 anoProf. Cincias Paloma 1 anoProf. Geografia Liliane 2 anoProf. Histria Esteves 1 anoProf. Ingls Jamila 2 anoProf. Matemtica Mnica 1 anoProf. Portugus Rosa 1 anoAuxiliar de Ensino Carolina 4 anoAuxiliar de Ensino Rosemeri 1 anoServiosGerais Glaucia 13 anoSegurana Flvio 4 anoSegurana Vanderlei 4 ano
2008-2
Funo Nome Experincia naEJACoordenao Salete 14 anoProf. Artes Raquel 2 anoProf. Cincias Paloma 2 anoProf. Geografia Estela 1 anoProf. Histria Marlene 3 anoProf. Ingls Jamila 3 anoProf. Matemtica Eliana 5 anoProf. Portugus Aline 1 anoAuxiliar de Ensino Carolina 5 anoAuxiliar de Ensino Clara 2 anoServiosGerais Glaucia 14 anoSegurana Flvio 5 anoSegurana Vanderlei 5 ano
2009-1
2.2 Objetivos e questes de investigao
Na presente investigao, as questes foram construdas a partir da observao de
campo e referenciadas, fundamentalmente, pela Teoria da Histria de Jorn Rusen e pelo
contexto da investigao em Educao Histrica, principalmente pelos trabalhos de
pesquisadores brasileiros, portugueses e ingleses.
A questo central, o significado do conhecimento histrico para os sujeitos da
EJA, demandou a construo de outras questes, as quais foram diretamente colocadas nas
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Lembrana, interesse e histria substantiva 40
entrevistas e nos questionrios e, implicitamente, consideradas no decorrer da observao.
So elas:
a) as relaes que os sujeitos estabelecem com o conhecimento histrico, em
termos de lembrana da Histria Escolar e de interesse por esse conhecimento;
b) as ideias histricas dos sujeitos em termos de compreenso disciplinar.
Em sentido amplo, esta pesquisa orienta-se pela perspectiva da cultura, no sentido
que lhe confere Willians, como a relao entre os elementos que compem um modo de
vida. (CEVASCO, 1998, p. 152). A vida escolar apenas um desses elementos e no
pode ser compreendida separadamente. Desse modo, foi considerado importante buscar a
cultura dos alunos, sujeitos centrais nesta investigao, para que a relao que esses
sujeitos estabelecem com o conhecimento histrico escolar pudesse ser compreendida
como um processo da cultura escolar.
Ao buscar esses elementos, o objetivo foi compreender a cotidianidade dos sujeitos
investigados. Para pensar a vida cotidiana, a investigao referenciou-se em Azanha, para
quem no necessria uma distino entre os dois termos, uma vez que
A expresso usual na vida corrente, e a sua ambigidade razoavelmente tolervel. Quase sempre, a expresso designa o conjunto(individual ou social) de prticas, linguagem, episdios, etc. que secaracteriza por serem banais, repetit ivos, rotineiros, por oposio quelesque sejam notveis, excepcionais, catastrficos. (AZANHA, 1992, 114)
importante sublinhar que, por vida cotidiana ou cotidianidade, entende-se uma
totalidade no-aditiva, uma trama em permanente fluncia. No entanto, para Azanha (1992,
pp. 81 e 118), preciso admitir a possibilidade de partio da vida cotidiana, para que se
possa apreend-la cognitivamente.
Na presente investigao, a partio da vida cotidiana dos sujeitos aconteceu a
partir da observao de campo. As questes que permitiram trazer elementos do modo de
vida desses sujeitos foram elaboradas quando j havia transcorrido quatro meses de estudo
de campo. Essas questes foram, assim, fundamentadas nas informaes colhidas at ento
e no depoimento de dois alunos, entrevistados com o objetivo de buscar subsdios para a
sua elaborao. (Alunos Gabriela, 16 anos, e Joel, 32 anos, entrevistados em 20.06.2008).
As questes esto assim relacionadas:
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Lembrana, interesse e histria substantiva 41
Idade, local de moradia e de nascimento e estado civil
Religio
Trabalho
Lazer, gosto musical
Dia-a-dia
Necessidades
Relao com as Tecnologias da Informao e da Comunicao (TIC) e com a leitura.
Vida escolar
importante ressaltar que se concorda com a caracterizao do sujeito da EJA
proposta por OLIVEIRA (1999), para quem, apesar do recorte etrio impresso na sigla, que
faz referncia aos jovens e aos adultos, as caractersticas dos sujeitos, que, via de regra,
frequentam essa modalidade de ensino, so culturais. Dessa forma, tendo em mente essa
linha de pensamento, buscaram-se elementos do modo de vida dos alunos.
Quanto aos professores, considerou-se relevante buscar o seu perfil, optando-se
somente ao da sua dimenso profissional, uma vez que, conforme j foi explicitado, os
sujeitos centrais nesta investigao so os alunos.
Considerou-se que essas questes poderiam permitir a compreenso da realidade
dos sujeitos, no que ela interessa para esta investigao, isto , a relao que esses
estabelecem com o conhecimento histrico na Proposta da EJA. Desse modo, as questes
deram origem ao questionrio denominado Modo de Vida.
As perguntas constantes do questionrio, no entanto, revelaram diferentes nveis de
interesse. Algumas respostas dos alunos tiveram peso maior que outras. Em algumas
respostas, a pergunta foi propositadamente aberta para permitir que os alunos se
colocassem livremente, originando respostas ambguas. Em outras, o decorrer da
investigao demandou que o foco estivesse mais em outras respostas.
Compreender o significado do conhecimento histrico dos sujeitos da EJA o
objetivo central desta investigao. Entretanto, tendo assumido o paradigma qualitativo
como norte para a realizao do estudo, considerou-se relevante buscar a compreenso das
idias dos sujeitos sobre a Proposta da EJA, para que fosse analisada a presena e o
significado do conhecimento histrico na Proposta, o que levou seguinte questo: O
significado da Proposta de Ensino Via Pesquisa para os sujeitos da EJA.
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Lembrana, interesse e histria substantiva 42
A partir dessa questo, surgiram outras, quais sejam: As relaes que os sujeitos
estabelecem com a Proposta; As relaes que os sujeitos estabelecem com o conhecimento
na Proposta.
2.3 Categorias de anlise dos dados
A categorizao foi efetuada em trs momentos. O primeiro foi realizado a partir de
uma codificao aberta. Para Flick, a codificao aberta tem por objetivo expressar dados
e fenmenos na forma de conceitos (FLICK, 2004, p.189). Essa primeira codificao
permitiu que as respostas fossem agrupadas em 14 itens: Lembranas das aulas de
Histria, Conhecimento Histrico Significativo, Compreenso Disciplinar, Faixa etria,
Trabalho, Moradia e Migrao, Relao com as Tecnologias da Informao e da
Comunicao, Letramento, Vida escolar, Crenas e Valores, Objetivos na EJA, Perfil dos
professores, Relao com a Proposta, relao com o conhecimento na Proposta.
Em um segundo momento, efetuou-se um processo de relacionar subcategorias a
uma categoria (FLICK, 2004, p.193), em que foi realizada uma codificao axial para a
anlise das informaes:
Conhecimento histrico:
-Lembrana das aulas de Histria
-Conhecimento Histrico Significativo
-Compreenso Disciplinar
Modo de vida:
-Faixa etria
-Trabalho
-Moradia e migrao
-Relao com as Tecnologias da Informao e da Comunicao - TIC13
-Letramento
-Vida Escolar e objetivos na EJA
-Crenas e Valores
-Perfil dos professores
13 As Tecnologias da Informao e da Comunicao sero, a partir desse momento, referenciadas pela suasigla: TIC
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Lembrana, interesse e histria substantiva 43
Proposta:
-Relao com a Proposta
-Relao com o Conhecimento na Proposta
Com relao categoria Conhecimento Histrico, num terceiro momento,
precedeu-se a uma categorizao seletiva, dando-se continuidade codificao axial. A
partir da categoria Conhecimento Histrico Significativo, foram elaboradas as seguintes
categorias:
a) conhecimento Histrico Significativo Indi vidual: os interesses do mbito da
vida pessoal;
b) conhecimento Histrico Significativo Informati vo: o desconhecido e
potencialmente interessantes;
c) conhecimento Histrico Significativo Prtico: o conhecimento de carter
funcional;