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lrrrRvttq0rs E pREssup0sTos r¡óRlcos DE uM pRoGRAMA MUtTtDtsct-pLr'rAR: 0 luaulrtónro o¡ cLlutrÉRro E MEl'topAUsA oo HUCAMI
C0nsiderat¡0ns and theoret¡cal presupposit¡0ns f0r nult¡d¡sc¡pl¡narypr1gran: the cl¡nacterium and men1pause clinic at HUCAMI
0lga Maria Machado Carlos de Souza.
Rlist tl()O aumcnto da cxpcctativa dc vida c cnvclhccimclto da populagáo tornam aproblcurática da qu:üidadc dc riü rlas mulhcrcs na pós-mcuopausa tcma dc imponánciacrcsccntc no campo da Sai¡dc Colctiva. Uma socicdadc r¡uc valoriza prcdominantementebclcza c.juvcnturlc, tor¡ra dilicil a r,.ir,é¡rcia da fcminilidadc na mulhcr madura, qucrcccssil¡ t-cssr¡tá-la sob paránrctros distirrtos. O pr.cscitc arti.qo aprcscnta prcssupostosc lcl¡¡¡ t¡-¡b¡lhr¡ rlc cr¡rri¡rc nurltidisci¡rlin¿r¡- c¡n cxtcnsáo rrnivcrsitária no Progmmarlc ( lli¡rr:rtór'i¡¡ c \h,r¡o¡rarr.l tlo Hos¡riral t lrrivcr.sir¿ir.io <l¡ IJFES dc 1999 a 2001. Sáo
l,¡,,¡' t,^ (l, , rt, rr..i,, liq.rrl,^.r r rrr'*r rI qrarhraq:io r¡ru. irrl<'ulanr t.nr cuiitcl u¡rrrrir'o. r t i t I ¡ | . r , | , . r | , l,
't '¡'.!..i, ' ¡l' l"tlr,N l)', 'li*i, 'r.ti\. ()' ¡r'irirlruos srrstt.¡tanr ¡lopc'st:r rlc
.¡l¡,¡rl.rr, ¡¡r rr,t, qr.,,l.r ,l,r ||,¡r.r,,.i,, 'l.r riil.r rr ¡rr,'tlrrriv.r i l'l(tsr(.1)ro(luti\i¡. ¡tlt¡t¡(lo
r,¡rr'¡ tr¡rr,' ,r,, r¡rr¡¡rl'r,,. r,l,,1r.ir , ,l, ,qr n rLr,r¡rri¡x.r¡rr,rrlo jrrrrro:is rrsrriirias. O¡rrrrr.rrtr .rrtiq,,.r¡rrr.r'rrr.r r.rt¡rlrirrr irr.rit rrlagóes tcofi(.as (las rcl¡r!-dcs cDtrc corpo clilr$ragcrn. ( (rn¡) Ix.ssupr)s1¡); (lir iltcrr'cnEiio multiclisciplinal cm saúclc.
P\t..\t R.rs-r;n.rlr.:
Sairdc da nurlhcr', mclopausal climatório, multidisciplinaridadc
Thc loogcr lifc cxpcctancy and thc agcing ofthc population givc groüng importanceto thc discussion ofthc living quality for post-meiropausc women in the ficld ofPubücHcalth. A socicty that tcnds to ovcrrarc youth and thc body makcs it diflicllt fornlatlrr-c wo¡ncn !o cxpcricncc drcir fcmininity, u4rich must |)c fulfillcd withi¡ distirctpammctcrs. This papcl prcsc¡¡ts prcsuppositions and rcports thc extcnsion workdcvclopcd by a multidisciplinary tcam in thc Climactcrium and Mcnopausc Programat thc U¡rivcrsity Hospital of thc Fcdeml Ulivcrsity of Espir.ito Santo (HUCAM/UFES), ftirn 1999 to 2001. Thcy arc cstcnsiou projccts cor¡r¡cctcd wirh undcrgraduatcprograrn. rvhich intcgratc a scrics of optional activitics in thc cducation of futurcpnrfcssiorrals. Thc psychologists strpport an intcglatcd approach making the transitionbcnrccn rcproductir'c and no¡r-rcproductivc lifc stagcs, acting both üth thc otltcrplolissiol:rl mcml¡cn of thc tcam a¡rd lr,ith thc paticnts. This papcr also prcscnts
H1sp¡tal Unive$ilár¡0 Cassiana Anlónio Mataes
' Pt]tessota [)aultna da Depatla lent} de l,s¡coloEa e do Mestn(lo en Estudos L¡teñrios da Ltn¡versidadeFedetal do EsDi la Sa1lo
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CÁoE¡¡os SaúoG CorcÍv¡, ¡¡0 oE J^[Erno, 9 (2): 't55 - 179, 2001 - 155
I| 0re¡ il¡nr¡ M¡c{¡oo C¡Bros or s0uza
thcorctical discussions of thc rclation bctu'ccn lxrrly and languagc ¡s ncccssary
prcsuppositions in a multidisciplinary intcrvcntion in thc hcaltlr ficld.
KtiY lv()RDs:
Women's hcalth, mcnopausc, climactcúc, multirlisciplinarity
Nunca dominaremos completamente a natureza, e o nosso organismocorporal, ele mesmo parte dessa natureza, per¡nanecerá semPre comouma estrutura passageira, com limitada capacidade de adaptagáo e
realizagáo, Esse reconhecimento náo possui efeito paralisador. Pelo
contrário, aponta ¿ diregio para nossa atividade. Se nio podemos alastar
todo sofrimento, podemos afastar um pouco dele e miti€Fr outro tanto: a
experiéncia de muitos milhares de anos nos convenceu disso (Freud. 1930).
l. In monuq^o
No início da era cristá a expectativa de vida de uma mulher era de 23
anos. No século XIV, era de 30 anos. No comego do século XX passou a
50 anos, em 1964 já era de 75 anos.2 Isso quer dizer que até 1900 o
número de mulheres na pós-menopausa era táo pequeno que os proble-
mas relacionados á qualidade de vida desse periodo da existéncia feminina náo chegavam a constituir preocupagáo proeminente. N{as atualmen-
te, gragas aos progressos da higiene, da alimentagáo e da medicina as
mulheres tém de enfrentar esse período de sua existéncia.
O novo panorama da populagáo feminina decorre de tr¿s fatores:
l) A menopausa náo é nma doenga, mas uma etapa da vida, e afeta,
portanto, toda mulher;
2) Um nírmero crescente e sem precedentes de mulheres vem atingin-
do a meia idade, e
3) As mulheres estáo vivendo mais do que em épocas anteri()res.
Com uma expectativa de vida de cerca dc B0 a¡ros, as mullleles vivem
cerca de 30 anos privadas das secleqóes ovalia¡ras. Dsses dados nl()stranl
que conhecimento, prer'engáo e tlatamento das diliculdades lisicas e psi-
cológicas relacionados a essa etapa da vida podem afetar um amplo seg-
mento da populagáo. Assim, os estudos sobre a menopausa vém ganhan-
! Dados colhidos cm Guvu,rr, M. Fann$ ¿n n¿nofa$e. Toulotrsc: Éditions Ércs,13.
156 - C¡¡¡nros S¡oor CorErvÁ, Rro oE Ja¡Er¡o,9 (2): 155 - t?9,2001
1991. p.
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li¡ERvEiCóts E pnEssu?oslos T!0Brc0s DF ut pn06¡^¡¡ ¡ul¡totsctPttil¡n I
do importáncia crescente e os proglamas de sairde visando essa faixa
etária passaram a ter maior impacto na saúde coletiva. O bem-estar llsico
e mental, a capacidade de trabalho, enfim, a qualidade de vida do vasto
grupo de ml heres de "meia-idade", que anseiam por manter uma exis-
téncia produtiva e compensadora, quer no aspecto plofissional, quer no
fhmiliar', passaram a ocupar mais e mais os prolissionais da saúde.
Clhama-se menopausa á írltima menstruaqáo na vida de uma mulherque ocorre devido á diminuiqáo plogressiva da produgáo dos hormónios
estrogénio e progesterona, que vai até a parada de funcionamento dos
ovários e a intelmpgáo permanente da capacidade de procriaEáo. Em
algumas mulheres sua proximidade anuncia-se por ilregularidades mens-
truais, fluxos mais escassos ou hemolragias, menstruagóes mais ou menos
freqüentes.
Náo existe uma idade precisa para a ocorr€ncia da menopausa, estan-
do a média situada entle os 45 e 55 anos. E considerada precoce quando
ocorre antes dos 40 e tardia após os 55 anos.
O climatério é a fase em que ocorre a passagem da vida reprodutiva
á pós-reprodutiva. Tem inicio imediatamente antes da menopausa (quan-
do comeEam as manilestaEóes biológicas e clínicas indicativas) e dura, no
mínimo, até o primeilo ano segtinte a ela, ou seja, é o período que
precede e sucede á última menstmagáo.
Este per'íodo pode apresentar-se como compensado ou descompensado.
É considelado compensado quando as mulheres náo apresentam manifes-
taqóes ou quando elas sáo bem toleradas. Considera-se o peúodo como
descompensado quando a intensidade das manilestagóes afeta o bem-estal psicossocial da mulhel.
A *.rloput,su sáo associados vários sintomas categorizados, segundo
o lugar de sua manifestaqáo, como fisicos e psíquicos. Mais adiante abor-
daremos os aspectos lisicos e psiquicos e sua imbricaqáo nos sintomas.
Dentre os sintomas fisicos estáo os fogachos, suores noturnos, fadiga,
cefaléia, tonturas e vertigens) irregularidades do ciclo menstrual, atrofiavulvo-vaginal, reduqáo do tamanho do útero, or'ár'ios e mamas, pruridovaginal, sangramento vaginal, dispareunias, incontinéncia urinária, infec-góes urinárias de repetiqáo, alteragóes de pele, rugas, unhas quebradigas,
queda de cabelo, alteragóes da visáo, modificagóes da voz, boca seca,
CADrnros SAlioE CoLErv¡, Rro D€ JailEr¡o, I (2lr f55 - 179,2001 - 157
| Ore¡ M¡nr¡ M¡cd^00 C¡BLoS DE Sou2^
queimagáo dos lábios, tendéncia ao aumento de peso, osteoporose, dores
ósteo-articulares e musculares, arteriosclerose, hipertensáo arterial,taquicardia, palpitaqóes. Os sintomas psiquicos incluem: irr-itabilidade,
depressáo, distúrbios do sono, perda ou diminr"rigáo da libido, diminuiqáoda memória, dificuldades de concentraqáo, desánimo, ansiedade, instabi-lidade emocional, nervosismo, fadiga, entre outros.
Ainda existe muita controvérsia acerca de quais sintomas decorleriamexclusivamente da redugáo dos níveis holmonais. Aparentemente essa
controvérsia resulta do fato de que médicos e mulheres tém associado
muitos sintomas á menopausa devido á persist€ncia da üsáo estereotipada
desse peiodo da vida reprodutiva feminina. Nfas sah-se que a formamais ou menos compensada com que este período é atravessado depende
da percepgáo subjetiva das transformagóes fisicas e da elaboraqáo delas. Aatengáo á saúde da mulher nessa faixa etária náo poderia negligenciar
esse aspecto ao plancjar as intenenEóes.
Vivemos em um contexto de valorizagáo e até mesmo de culto da
beleza e dajuventude, que náo facilita, sobretudo ás mulheres, a vivénciadas transfif,rmaqóes do climatério. Com isso, torna-se importante enfocar
a mulher no período pós-reprodutir.'o em programas de saúde que abor-dem de forma ampla a problemática desta faixa da populaqáo e que
desempenhem um papel ativo na desconstruqáo/construqáo das represen-
taqóes estereotipadas do feminino e da mulher madura. As dificuldades
fisicas e psicológicas que surgem ou que se intensificam nesta época soli-
citam também uma crítica a conceitos e visóes de mundo, reflexóes e
elaboragóes sobre o lugar da mulher no contexto familiar e social, sobre a
importáncia da beleza na vida feminina em relagáo a outros valores que
podem ser fortalecidos com a maturidade: um trabalho que estimule uma
visáo mais relativista e menos cristalizada do feminino, indicando a mul-tiplicidade das alternativas de realizagáo e satislaqáo que caracteriza o ser
humano enquanro ser cultrrral. ser de lirrgrragem,
O Programa do Ambulatório de Climatério e Menopausa desenvolvido
no Hospital Universitário Cassiano António de IVIoraes (HUCIAI\Í), Vitór.ia,
Espírito Santo, baseia-se no entendimento de que os cuidados capazes de
promover a melhoria da qualidade de vida das mulheres incluem, além da
administragáo de medicamentos e do tratamento de reposigáo hormonal
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l[rEsrcrCúEs r r¡t$sup0sr0s rEó¡rc0$ DE uf, pn06¡Árr luLTtorsct?lri¡R I
(TRH), da readaptagáo da mulher e da adequagáo de seus hábitos á sua
faixa etár'ia, o estímulo á melhor utilizagáo de sua capacidade cliaúva e,
conseqüentemente, á elaboraEáo psíquica. Isso implica o aceso a informa-q6es e á compreensáo das transfornaEóes tipicas desse momento da vida, a
aceitagáo das mesmas e o desenvolvimento de novos hábitos quanto ao
coryo, mas também implica atengáo ás vivéncias psicológicas e desenvolü-
mento da capacidade de distanciamento e critica quanto aos estereótipos
inadvertidamente absorwidos sobre a mulher madura.
As questóes com que o envelhecimento defronta os seres humanos,
além de implicarem reestruturagáo de hábitos de vida visando a promo-gáo da saúde do corpo, mobilizam toda uma elaboraqáo do sentido da
existéncia e seus objetivos, das relagóes entre os seres humanos e dafungáo dos individuos no contexto social. Neste aspecto se fazem notar as
diGrengas quanto ás oportunidades de acesso á sublimagáo e á educagáo
formal. As camadas desfavorecidas da populagáo, que t€m menor acesso
ás instituigóes de ensino, podem ressentir, na fase de redugáo do vigorfisico, da falta de alternativas de outra ordem. Mas, mesmo em camadas
socioeconómicas melhor aquinhoadas, pode-se ver surgir nesta época de
transiqáo a necessidade de rever conceitos e valores, em um movimentoque aponta um novo patamar de maturidade. Em muitas culturas a idade
é sinal de sabedoria acumulada e confere um lugar distinto á mulhermadura, definido positivamente, e náo em fungáo do déficit compararivocom a mulher jovem.
A proposta de atengáo á saúde que norteia o Programa implica aatuagao de profissionais de formaqóes distintas. Como tal, situa-se em
parte na perspectiva apontada por Stepke (1998, p. 134):
"El papel estructurador de las ciencias sociales debe verse en su capacidadde constituir un co¡rocimiento de segundo nivel. Integ¡a la opinión expertade la medicina, la opinión erperta de otros profesionales y la opiniónprofana de usuarios y espectadores. Cada una de estas. Un corolario de loque se ha formulado es la necesidad de preparar a los profesionales de lasalud en matgrias relacionadas con la construcción social de los hechoscon que trabajan. El climaterio femenino, como toda transición ütal, es
más biografia que biología y debe ser entendido en forma integral. Elloimplica famiüaridad con los métodos y prácticas de las ciencias socialesque, sin negar ni atenuar la contribucióu de la biomedicina, puedeincorporarse al arsenal conceptual y metódico con gran beneficio para
C^0E¡ros S^ú0€ CorEÍva, Rto 0r Jarí¡o, I {2): 155 - 179, 2001 - 159
I| otcr MAR|Á llacr^Do CAiLos DE Sour¡
profesionales y gente conrí¡n. Esto siqnifica ensanclrar lir ltirse cognitivl clt
las profesiones de la salud, lo r¡ue tlebiera rt'llejarrsc cn las materias ytemas de su fo¡macióu."
Mas, no caso do Programa em aprego, foi a psi<-análise que forneceuo "arsenal conceitual e metodológico" que apresentamos nas considera-góes finais. Tal embasamento teórico possibilita um ponto de vista apartir do qual a atuagáo multidisciplinar deixa de ser mera colagem de
salrcres, fornecidos cada um por uma disciplina diferente, pois indica umlugar e uma forma de articulagáo entre eles. Tal ponto de vista articula a
história individual e a social, os aspectos simbólicos inconscientes do indi-viduo e da cultura, constituindo sér.ies complcmentares na determinaqáodo ser falante, que incluem também uma va ár'el em aber.to como a
margem de liberdade que tem cada st¡'eito fiente áquilo que o deter.mina.
Esse conjunto de fatores conlere sentido ao que atinge o psíquico vindodo corpo biológico ou do mundo externo.
Usamos o temo cultura ao longo deste tlaltalho em rrma referéncia
antropológica, em que o homem é r'islo rras suas rclagr-rcs rtlitr alx'nils ( (nll
o social, mas conr o sintlxilir'¡r c su¡rs int irlirrr irr,, no\ gr'rrtnr\ r' r,'. irrrlir i-
duos. Tlallalhat't.nlos ({}ll ;r rlr\¡io rl. tll \uilitrt ¡|,.,.i.rrrr,.. . ri.r. Ir.r r'..t-dadt's, inedutirtis rto IiItIt io¡IirIrIr.rrto lriolr'rgirrr r1,,,,,r¡r,,. n,lr.r.tlt.rri-zam sem a intcr'\'cnq¿i() dt¡ sinrl¡ili<o. Itirlrr llrl srrjr.ito rr r:rirrk irlrlui o
exercício das funqóes própr'ias ao ser lálantc. Ciorno srljeito do i¡rrorrst.rcn-
te, ele é efeito do Outro, marca que leva consigo toda a sua vida, ao
mesmo tempo como uma promessa e como um tofmento.
2. O Pnocn,ul¡ DE Ct-t\t,\'t ilRto DE MrN()pr\rJs,\ D() HUClAtrl
O Programa desenvolvido no HUCAN,I tem conro alrrr unr segnrcrrto
da populagáo constituído pol mulheres socioeconómiro-cullur.¿rlnrortc
desfavorecidas. Busca tr¡r-nat acessivcis, ¡ra idadc de transiq-iio da r.ida
reprodutiva para a náo lep|odutiva, conhecimentos e tratamentos aluali-zados relativos ao climatério e menopausa e busca também enftrar. as
transformagóes ressentidas sem terem se tornado, muitas vezes, oltjeto dereflexáo, para possibilitar sua elaboraqáo e simbolizaqáo.
Conduzido por equipe multidisciplinar, o Programa é continuamenterepensado e modificado a partir das reflexóes da equipe de profissionais e
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li¡l8vE{cóEs E p¡Essuposros rEÓnrc0s 0t ut ?¡068^rÁ ||ULÍotsct¡UNA¡ |
das usuárias, mas ainda náo conta com reunióes de equipe com a fre-
qiiéncia que se faria necessária para a construgáo de uma nogáo partilha-da de promogáo de saúde e de educaEáo para a saírde. A aEáo decorre da
contlibuigáo dos conhecimentos produzidos no interior de cada especiali-
dade, atrar'ós de pr'áticas oliundas da medicina, da nutrigáo, do servigo
social ou da psicologia. É olrjctivo dos psicólogos fazel com que nas váúas
intervengócs do Plograma a equipe intera.ia com as usuárias consideran-
do-as como sujeitos, e como tal, poltadores de um saber adquirido ao
longo de suas vidas, no contexto de experiéncias individuais e grupais.
Esse saln' próprio ao sujeito interage com o saber que a equipe de pro-fissionais veicula e discute com as usuár-ias, porque a eficácia de umprocedimento no campo da saúde náo depende apenas da sua "cientifici-dade". A chamada "eficácia simbólica", presente igualmente nas crengas
do sujeito e na lelagáo que ele constrói com a equipe, pode ser de grande
utilidade se devidamente apreciada, mas pode tornar-se um entraver caso
seja negligenciada.
Na peri-menopausa costumam surgir algumas queixas que, emboranáo generalizadas, sáo bastante freqüentes e podem tornar muito descon-
foltável a vida das mulheres. Embo¡a a menopausa náo seja uma doenga,
há casos em que a intensidade do desconforto solicita inter,,engóes espe-
cíficas. Independentemente da severidade das queixas apresentadas, in-fiolmagóes e orientaqóes sobre prcvengáo dos chamados sintomas pós-
menopáusicos, como a arteriosclerose, doenqas coronarianas, hiperten-
sáo, diabctes, osteoporclse e cáncer, pelmitem vislnmbrar o prolongamen-
to do km-estal até uma idade mais avanqada.
No Ploglama, é considelada fundamental a consulta médica com
exame fisico e ginecológico, bem como acompanhamentos complementa-
res, confome a especificidade de cada caso. O tratamento mais freqüen-
temente indicado pelo médico ginecologista consiste na administraEáo de
hormónios semelhantes aos que o corpo produzia antes da menopausa
(esrogénios ou uma combinaEáo de estlogénios e um progestativo), co-
nhecido como Tratamento Hormonal de Substituiqáo (THS) ou Trata-mento de Reposigáo Hormonal (TRH).
I\'{esmo esse tipo de intervenqáo torna-se mais eficaz quando as usuár'ias
se percebem implicadas, enquanto sujeitos, nos seus tratamentos e na
C^oEiros S^úDÉ Co|.crva, 8ro DE Ja[ErÍo, I (2): 155 - 179, 2001 - 161
| Ore¡ M¡n¡¡ M^c{roo Canros D€ So!¿^
produqeo de melhoria da qualidade de vida. Como a qualidade de vida é
reflexo de um conjunto complexo de variáveis de distintas ordens tais que
a qualidade da moradia, hábitos de higiene e alimentales, atividades fisi-
cas e culturais, qualidade do ambiente de trabalho, enfim, situagóes deter-
minadas pelas condiqóes socioecondmicas, implicar o sujeito significa uma
tarefa ampla que pode dar lugar ao planejamento dinámico de interven-góes em vários niveis-
As atividades de acolhimento tém início com a marcaqáo, supenisionada
pela assistente social, da consulta ginecológica. Estáo planejadas para ocore-rem em seguida uma série palestms inlormativas com diversos profissionais
que expóem, sob o ponto de üsta da sua especialidade, as implicagdes da
menopausa na vida das mulhercs. Questóes e dúr.idas sáo esclarecidas no
decomer das palestras, mas é sobretudo nos grupos de sala de espera, que
acontecem enquanto as pacientes aglardam a consulta ginecológrca, que
essas questóes sáo trabalhadas pelas alunas extensionistas do curso de Psicolo-
gia, num contexto de escuta do sujeito. Os grupos de sala de espera fincio-nam também como instáncia de encaminhamento aos demais projetos de
atendimento psicológico indiüdual e atendimento psicológico em gmpo.
"O ginuolngüa é, geralnunte, o mádico de atugíl primárin da mulher. Deste
modo ele pode dar as primeiras *fomagdes sobre o climathin e mmopausa, fa¿er o
exame ginnol,igbo e pedir examts Inboratnraü prnmtioos para as tlnmgas tle altn
pranl4ncia nesta faha ¿tária como o cáncer de mama, do coh uterino, lsteoporose e
domgas cardiorasculares. Cam o intuito tle reduTir a morb tadt e dc proLngar, com
bem estar, a uida da pacimle, o girucokgista predica o abandono dn tabagismo e do
sulentarismo, ban como a redugdo d.a ingesño de áhool. Por outro ladn estimula a
exeringdo fuica e intebctual, a alimentagño saudáuel o conaíuin social.
O clínico/geriatra traz as informagóes sobre o envelhecimento e faz o
atendimento momente sobre doenqas cardiovasculares pois a preval€ncia
de hipertensáo arterial nesta clientela é grande. Também reforga os
aconselhamentos sobre os bons hábitos e estilos de I'ida.A nutricionista atua com o intuito de reduzir o sobrepeso e a obesida-
de que, ambas, sáo importantes causas de morl¡idade e mortalidade de
origem cardiovascular. Buscam, através de estímulo ás atividades lisicas e
alimentagáo adequada em calorias e colesterol, o peso apropriado paraatingir o índice de massa corporal (INIC) ideal.
162 - C¡o¡nros S¡r¡o¡ Colrflv¡, Rro 0E Ja ErBo, I (2)t 155 - 179,2001
lilrrnvE¡Cócs t r¡Essup0sros rEó¡tcos 0E u$ pn06n¡Í^ ¡u!Í0tsctpu¡¡an ¡
O ortopedista avalia o risco de osteoporose que, junto com as quedas,
é fator importante para as fi'aturas que, por sua vez seo causa de altos
índices de molbidade e mortalidade que oneram a mulher, os seus fami-liares e a sociedade. Também reforqa os aconselhamentos sobre os bons
hábitos e estilos de vida mormente as atividades fisicas de impacto sobre
os membros inlér'iores e a ingestáo de cálcio em forma de alimentos e
medicamentos; pode prescrever medicamentos específicos para a
osteoporose.
A nxókga lna a nmpremsdo sobre a sexualidade, esla inerenle a aida e ao
cotfuliano de toclos, e as mudangas deconentes das nouas idades e do pefil dt relmiona-
mentns; também estimuln a refuxdo sobre utas harcformagdes e a importáncia que lém
na nossa aida" .3
3. O t ne¡¡t.Ho Dos psrc:ór.ocos NA uerJrpht tNt lRDrscrpt.INAR
"C'est á savoir que non seulement toute inteiwention parlée est regue parle sujet en fonction de sa structure, mais qu'elle y prend une fonctionstructurante en raison de sa forme, et que c'est précisement la portée des
psychotérapies non analytiques, voire des plus communes "ordonnances"médicales, d'étre des i¡rter¡¡entions qu'on peut qualifier de systémesobsessionnels de suggestion, de suggestions hystériques d'ordre phobiques,voir de soutiens persécutifs, clucune prenant son caract¿re de la sanctionqu'elle donne á la méconnaissacc par le sujet de sa propre realité." (Lacan,1996, p. 300).
As intervengóes dos psicólogos agem em duas frentes: junto aos de-
mais profissionais da equipe multidisciplinar e junto ás mulheres usuárias
do Programa. Em ambas as frentes busca-se promover um lugar de escuta
do mal-estar do sujeito, um espago de expressáo, reconhecimento e reso-
luqáo de conflitos e dificuldades, propiciatório á elaboragáo através da
palavra. Ao introduzir a nogáo de sujeito nas intervenEdes multidisciplinares
em saúde passa-se a considerar o homem, em todos os seus aspectos,
marcado pela linguagem e, como tal, atravessado pelo registro simbólico.Isso o situa na posiqáo paradoxal de sujeito assujeitado e, ao mesmo
tempo, ativamente criador. As relagóes desse sujeito com seu corpo bioló-gico e com o meio náo poderiam ser imediatas: sáo mediatizadas pelas
'r Rcsumo produzido c ccclido pclo Dr. Estcph;rn Moana, mérlico ginccologista idcalizador.c rcsponsávcl pclo Programa.
CaDc¡¡os S¡ú0r Colr¡rva, Rro oc JarEtso, I (2): 155 - 179, 2001 - 163
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| 0Le¡ M¡nr¡ M¡cr¡oo Cr¡ros or Souzr
significagóes conferidas pela linguagem. É uma das mctas dos l)rofissio-nais da Psicologia trabalhal pala que todas as inten,enqóes do Proglama
estejam baseadas nessa consideragáo. Sejam elas pr escrigóes medicamentosas,
intervengóes em nivel de educagáo para a saírde, orr ainda propostas em
nível da psicoterapia, podem ser conduzidas de modo a levar em conta o
sujeito no sistema das significagóes que traz consigo como fi'uto de suas
experiéncias pessoais e como resultado da partilha de significagóes coleti-vas que o meio social produz e veicula. A menopausa é aboldada, entáo,
de forma náo circunscrita aos efeitos fisiológicos da baixa dos hormóniosovarianos e tratada náo apenas através de medicamentos, mas taml)ém, esobretudo, nas significagóes dadas pela mulher ás suas vivéncias.
Observa-se que na menopausa intensificam-se ou presentificam-se á
mulher, confrontada com as evidéncias cor?orais da passagem do tempo
e com o envelhecimento inevitável, as questóes humanas lelacionadas
com a finitude da vida, com o luto relativo ás perdas inevitár'eis de atribu-tos fisicos e psíquicos tipicos da juventude. Alguns plojetos de vida ainda
náo realizados podem tel que sel altandonados. Irazt.r'o hrlo dcssrrs ¡x'r-das pelmitc i mttlhcr' ¡rclct'lx.r' r¡rrc rttrritrrr r ' ¡ I I I r i I I I r ¡ r .. ¡x lrrr:rrrlr r.rrr r i.ir r.i.
c qtt('orttx)s trorrrs ¡ttxlt'tiio rcr'¡ ncorrtlrrl,,.. l,.v rr'-rlirr.r i,,r¡,¡rrr, r¡|,' rl.¡.
¡tt'ts¡rcclivas clt' r'i<la i ttrrr cslirlqo <¡rrt sir .r' lout.r ln^.¡\i.l .i l¡rr¡llr, r ,.¡rr
condiqóes favorár'eis, tant() c\l('r't)its (lrtant() inl{'ntit\. \lrritirs <k.lirs trrlcs-sitaráo de um apoio específico para etrcontral cartri¡rlrr¡s c solrrgót's. St'rrr
as condigóes adequadas, mulheres que viveram até e¡rt¿io cm razoár.el
equilibrio, mergulham em uma situagáo descompensada que lhes conso-
me a energia que poderia ser empregada nessa busca.
Embora sintomas tais como irlitabilidade e depressáo sejam freqiicn-temente associados ao declínio dos holmónios, ao scrcm vcrbalizaclos e
escutados revelam-se como uma tladugáo de sentimentos dc clcscs¡relan-
Ea conseqüentes á percepqáo de falta de alternativas. Nestes casos, er.nlro-
ra o tratamento de reposigáo hormonal tenha eleitos ¡rositirrrs no aumen-
to do sentimento de vitalidade, veriñca-se que náo é suficiente para aju-
dar a mulher. De fato, na maiolia dos casos, os efeitos do TRH sáo tantomais positivos, inclusive no índice de adesáo ao tratamento, quando acom-
panhados de intervengóes que levem em consideragáo os aspectos sulrje-
tivos envolvidos. É essa a perspectiva que os projetos da Psicologia colo-
164 - C¡o¡¡¡os S¡¿or Col!Íya, Rto 0E JailErBo, I (2): 155. 179,2001
l{¡E¡V¡!CóES E PRESSUPOSTOS TEÓ¡tCOS DE Uü P¡OG¡¡¡¡ IUtTtt¡tSCtPltI¡n I
cam e blrscam sustentar dentro do programa, em nível de toda a equipe
multidisciplinar'.
Duas linhas de agáo podem ser destacadas nesses projetos: l) uma
linha reeducativa e profilática, que trabalha a transmissáo e a assimilagáo
das inlolmaqóes solrre a menopausa e climatério, assim como a construEáo
de u.na visáo cliativa desta etapa, para lavorecel o redilecionamento da
vida; 2) rrrna liuha ¡l-opliamente telapéutica que atua em casos de indica-
grio esl>r'cilica, nos quais pelcebe-se que as demais intervengóes náo sáo
sulicicntcs para plomovel lesultados significativos devido a impedimentos e
inibiqóes decollentes de problemas psicológicos mais severos, ligados ou
náo á menopausa, mas que demandam uma atengáo mais individualizada.
Ambas as vertentes, a reeducativa e a terapéutica, encontram-se mescladas
nos ptojetos de atendimento em gnrpo e apenas o projeto de atendimento
¡rsicanalílitrr individual segue apenas a segunda vertente.
il.l l)trrr¡l tlr | (). ¡;ttt ¡'r¡s t)t: s\t-\ t)t: LSpt:tt.\
() gt tt¡r, rl, .r¡l.r rl, r'\lx r,r (r,n\titui utttir ¡nrxllrli<lirtk'<k'traltalho.jírl,ir't¡r¡t, ,,,¡rl¡,, i¡l.r r' , ¡¡rl¡rlg;rrl;r lrn irrtrlrrtlirtr'rlios, r¡uc trtiliza o tempo de
('slx rn (l¡r t ortsulta rtttltlica, tliligirrdo ¿t ( ollvelsa espontánea que ali surge
¡rala olrjctirrrs ct¡muns ás l)essoas entáo leunidas. Integra dessa forma oconjunto das atividades de acolhimento. No Plograma em aprego, consti-
tui um espago onde é possível ás usuárias uma expressáo ativa, através da
fala, sobre o efeito das informaqóes recebidas na fonna de uma escuta
passiva nas palestras de acolhimento. Esse momento, que induz ao exer-
cício da reflexáo e da expressáo, permite que seja elaborada ou construída
uma pelspectiva mais pessoal e individualizada a respeito dos temas abor-
dados. O grupo também possibilita e estimula a troca de experiéncias
entle as pacientes, ajudando-as a identificar vivéncias compartilhadas, e a
dar sentido ás mudangas fisicas e psicológicas típicas desta faixa etária.
No ambiente propício criado para possibilitar a palavra, essas mulhe-
res dáo folma aos sentimentos que as afligem, sejam eles associados aos
sintomas lisicos, psicológicos ou a situagóes de vida indiüduais e coletivas.
A fala cria ou intensifica a tloca e, muitas vezes, a identificagáo de uma
ploblemática comum. A percellgáo de que náo estáo sozinhas e de que
Cao€sros SaúoE CoLrnva, Rro Dr J¡üErno, I (2)i 155 - 179, 2001 - 165
I| ore¡ M¡n¡¡ M¡crÁ00 Ca¡Los oE Sou¿¡
aquilo que as atinge faz parte de um quadro freqüente na vida de outras
mulheres traz regularmente conforto e seguranga.
Entretanto, no grupo de sala de espera náo sáo expl'essas apenas
queixas atribuidas á menopausa. Emergem relatos dos mais diversos, de-
senhando um perfil do cotidiano dessas mulheres trabalhadoras, em bus-
ca de encorajamento e solugóes: dificuldades económicas e profissionas,
problemas de relacionamento familiar e conjugal, vivéncias do dia-a-diaagravadas pelo quadro de sintomas da menopausa e climatér'io.
É também nesses grupos que se podem escutar de forma privilegiadaas impressóes das pacientes a respeito da qualidade do atendimento querecebem do Programa, comentários sob¡'e o relacio¡ramcnto com a eqlli-pe, críticas e sugestóes que as transformam em participantes na constnl-gáo do trabalho, e, com isso, cont buintes ativas para a melhoria daqualidade do atendimento.
Os gmpos de sala de espera permitem o acesso, de forma privilegiada,a dados sobre os ploblemas da populagáo atendida que subsidiam oreplanejamento dos cami¡rhos do Programa, e que incitam á ¡l.odugáo de
conhecimentos em pesquisas variadas.
A partir do grupo de sala de espera é feito o encaminhamento aos
demais projetos constituintes do programa, sendo eles: o Climatério e
Consciéncia Corpoml, o Cli-materno e o Atendimento Individual Psica-
nalítico, realizado por estagiárias e sob supervisáo.
3.2 Pnql¡;'r'o 2 Os cnupos Dt-) rrovt\rr,N to: cr.tl^ | uRto
n coNsfluNctA coRPoRAt.
"Os gtttpos de consciéncia corporal Ém clmo objetiao: 1) analisar a t'erbaliaa1do
indirfulual e grupaN 2) lruar 0 participanÍ¿ ú um frocesso de sensibiliggdo e ¿onstien-
ti4gda corporal, melhorando a percepgdo de sí memto; 3) temperar a útalidade t bm-estar, resgatnndo a capacidade de erlressdo ahaués da desitibigdo, aumuúo da asseñi,idade
e desblnqueio emotional; 4) ofcrecer um espago onde a participank lnssa nmltortilharexperi¿ncias, merlos e ansiedades; e 5) poxibilitar lm mome to de rze.slruhua¡iio,
reorgani4ando assim, sua relagdo com o meio e cont as l¿stoas da sua co¡t¿'it:átia. O
rgfermcial ürico utili4do é o da Biomergétba damuoltida por Alerander l¡uen onde
o pressuposto é de que as d{esas ps;cológitas sdo tambhn. instaladas no corpo naforma
de tansdes musculares inconscimt¿s. Com aistas a tomar conscient¿s e modifrcar estas
tensdu sdo utili¿ados exercícios corporais com o oQjaiao de liberar as anogdes aprüio-
166 - C¡o¡n¡os S¡r:oe Corrrrvr, Bro or Jrrrrno, g (2): lF5 - 179,2001
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luEivt¡qó¡s E p¡¡ssup0sros aEó¡tcos Dt t tt psoc¡¡¡¡ ¡ü!lDrscrpuiÁn I
nadal n0 nmura(amsnto mustulnr, aummtand| clm isto a aitalidade alrnés da
ampüaEdn da respiragdo, que é usada como a principalJÍóma de impedhnenln de acesso
ds emogdes" .+
3.3 Pno¡r]|.o 3 - O ,r'l l:nntrft:¡l l o psrcAN^t,Í|]co lNDrvtDUAt.
Este proieto propolciona o atendimento individual de orientagáo psi-ca¡ralítica a pacientes do Programa. Emlmra destinado aos casos de trans-
tornos mais severos e persistentes nos quais a intenengáo reeducativa ougrupal náo se mostra suficiente, na prática tem recebido também aquelas
pacientes que se manilestam interessadas e que o solicitam durante ogrupo de sala de espera, ou seja, aquelas pacientes que, segundo um auto-diagnóstico, se propóem a esse tipo de trabalho, muitas vezes estimuladaspela experiéncia üüda no grrpo de sala de espera. Os atendimentosdesse projeto, ao contrário dos demais, náo sáo realizados no próprioHospital, mas no Núcleo de Psicologia Aplicada, situado a alguns quiló-metros de distáncia, no Campus Universitário de Goiabeiras. Sáo condu-zidos por estagiários do nono e décimo períodos do curso de Ricologia,sob superuisáo de psicanalistas professores desse mesmo curso.
Tem-se verificado que a maioria das mulheres do Programa que bus-
cam a psicanálise náo o fazem por problemas causados pela menopausa e
climatério. As queixas apontam freqüentemente dificuldades atuais de
relacionamento, sobretudo conjugal, e a persisténcia de sofrimento psí-
quico ligado a situagóes dolorosas vividas nos primeiros anos, decorrentesde desestruturagáo familiar e precárias condig6es materiais e culturais de
existéncia. Uma pesquisa sobre as demandas de análise nessas mulheres e
sobre os resultados obtidos em tratamento psicanalítico está sendo realiza-da e em fase ainda inicial de coleta de dados.
3.4 PRotElo 4 - C r.r-u,r lr:n¡¡os
É um projeto de atendimento em grupo que utiliza a expressáo corpo-ral e artística, as técnicas dramáticas e de relaxamento. buscando a conrcx-tualizagáo, a partilha das dificuldades, o alíüo das tensóes indiüduais e aconsciéncia das dimensóes sociais envolüdas na problemática feminina.
I Rcsumo ccrüdo pcla profcssora CláudiaJorgc Silva, do Dcpanamcnto dc Psicologia daUFES, coordcnadora dcstc projcto.5 Dcsenvolvido pcla professora Kathy Amorim I\{arcondes no ano dc 1999.
C¡DEni0s S^ú08 CorErv¡, R¡o 0E J^xErBo, I {2)t 155 - 17S, 2001 - 167
I
| 0re¡ M¡¡¡¡ M^cH¡oo caRLoS DE sou¿^
4. Arcurr,ts coNSrDrR^eóES IrNArs
Embora confirmemos a constatagáo Stepke (1998, p. 133) de que
"Non son maws efcans lns cremcias pl/ Iares que Lu conch$iones dent!ficas en eL
plano do comprtammtn de las pnsonas", pensamos que a lundamentagáo das
práticas (no caso, a atuagAo multidisciplinar) em um saber de estatuto
diferente da crenga, e sua explicitagáo em uma construEáo teórica, pelmr-
te ao profissional uma posigáo capaz de acolher a diversidade de pontos
de üsta, incluindo as crengas da populagáo atendida, sem aderir a elas, e
de modo a possibilitar ao sujeito em atendimento uma diregáo pessoal de
elaboragáo.
Buscando uma conceitua$o da menopausa que apontasse as rclagóes do
corpo com as significaEóes conGridas pela ünguagem e possibiütasse uma fim-
damentagáo tmrica as intervenq6es multidiscipünares, encontriamos na tmria
psicanalítica da sexualidade a firndamentagáo náo apenas das intervengóes de
um tratamento psicanalítico propriamente dito, mas, pela sua abrangéncia na
compreensáo do ser hurnano, a localizagáo e inter-relacionamento da aEáo das
outras práticas e sal,rcrcs biopsicosociais.
A menopausa é uma condigáo natural do corpo da mulher, que pode
potencializar ou náo o adoecimento, e que é definida em lelaqáo á fungáo
reprodutiva e aos aspectos fisiológicos da sexualidade. Conseqüentemen-
te, sua conceituagáo é correlatira ao modo com que sáo encarados a
sexualidade e o papel desempenhado pelo corpo biológico na mesma.
Buscando fundamentar teoricamente as diversas intervengóes do Progra-
ma, interrogamos de que maneila a teoria psicanalítica, que aponta o
sujeito do inconsciente como eleito de linguagem e que abriu uma outraperspectiva sobre a sexualidade humana, contribuiria para uma aborda-
gem abrangente da menopausa e do climatério feminino er apresentale-
mos a seguir, as consideraq6es a que pudemos chegar. A história das
descobertas freudianas mostra a sua origem na necessidade de criar um
tratamento para queixas apresentadas principalmente pelas mulheres.
Mostra também como Freud foi levado, por exigéncia do próprio traba-
lho clinico, á elaboragáo de uma teoria da sexualidade humana que veio
situar de forma inovadora as relaEóes entre corpo e sexualidade. Essa
teoria traz uma resposta original á questáo: o que é o sexual nos seres
humanos? Partindo da análise das variadas manifestacóes da sexualidade
168 - C¡or¡¡os S¡úor C0rE¡¡v¡, Rro oE J^rEr¡o,9 (2): 155 - 179,2001
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lÍrEnvENgoEs E pf,Essuposlos TEóBl6os 0t uit ?R0Gnaxa xüLÍDtsctpltí¡¡ |
humana, desde as perversóes sexuais á sexualidade infantil, Freud con-
cluiu que esta sexualidade possui caracteristicas táo pecrrliares que náo
poderíamos nos referir a ela, salvo por uma gr.ande imprecisáo terrninoló-gica, como a manifestaqáo de um instinto, este último caracterizado comouma lirngáo biológica a servigo da presewagáo do indivíduo ou da espé-
cie.'l-¡rl cr¡mo mostram as pel,elsóes e a sexualidade infantil, essa sexua-
lidadc tlaz ¡ra base o lato dr Jroder desvinculat-se da f'ungáo reprodutiva.Fl tcm ainda uma segunda característica decon'ente da primeira: a de náo
sur'É{il na 1;ulrldade, momento da maturagáo do apalelho genital, mas a
de passal pol um desenvolvimento desde o nascimento até a fase adulta,malcado por etapas com manifbstaqóes distintas.
"Iais alilmaEóes bascaram-se inicialmente nas observagóes de pessoas
adultas em análise. ou ntelhr¡r'. no relato da sua história e das suas fanta-sias, que possibilitaram o tlagado do desenvolvimento sexllal desde os
¡llirrrlilos irrrr¡s. l)ostr.r'iolrrrn t(., as {)l)scl1'¿rgóes advindas da análise das
¡lrilrri:r. r li.rrrr;rr. trrrrrrr.r'irrrr t orrliltrr:rr;ñr.s ¡rtli¡.io¡¡ais. ,,\ l)artif ctesses cla-
rl,^. liri rI.rIr,rr.r¡|¡| o lx ¡( lr\r, r1,, r[..r.¡irr¡lrirrrt'llt() s(.\Ll¡ll (It(' s(' c(]nh('('(:
r,'r¡r' li,rt¡r.r¡l,r lrr'Ir. r''t.¡qirr,,r¡rl. ¡rrl¡1. l¡ilirr¡, <k. lirtincia t', ¡tot. lirl, t.r
gt rritirl. ( iorrro ri-ro st gtu trr u¡¡r¡r srrtt.sslio litrt.ar', o tcrmcl "fases sexuais",
entl.¡or'¿r rnuito cnr¡l'cgado, náo é o mais adequado. O telmo "organiza-g'óes scxuais" aplica-se melhol a uma estrutura em que as "fases" váo se
superpondo umas ás outi'as, á semelhanga das camadas deixadas pelas
sucessivas el. 4rqóes de um vulcáo, de modo que a anteriol fica de certomodo presen'ada sob as posteriores, o que explica o porqué de serem elas
ainda encontladas na análise de um adulto.Essas olganizaqóes sexuais esclarecem o modo como o sexual e o
colpo se conjugam: as fungóes biológicas ligadas á preservagáo do corposervem de apoio á sexualidade, mas mantendo-se ambas como duas or-dens distintas que podem eventualmente conjugar-se. A justaposigáo que
ocorre em detelminadas ocasióes favorece o equivoco freqüente, no leigoe no médico, de tomálas como uma e mesma coisa. Justamente a sexua-
lidade inlantil anterior á pubeldade mostra partes do corpo ligadas á
nulrigáo luncionarrdo como zonas er'ógenas náo gerritais. E preciso uma
observaEáo muito acumda pala percebet os indícios de que a atividade
dessas paltes do corpo está conjugada com a ploduqáo de plazer, ou
C^DEnflos Saúo€ CorErva, Bro oE Ja[Erno, I (2): 155 - 179, 2001 - 169
I
| Orc¡ M¡¡r¡ M¡cr¡oo C¡nros o¡ Souz¡
atividade sexual, isto é, que sáo zonas erógenas e estao investidas e sobre-
significadas sexualmente. Os próprios órgáos genitais, para se tornarem
sede de prazer, tém de ser investidos ou significados como tal. A sexuali-
dade nas perversóes mostra, pois é outra situaqáo em qlre a disjunqáo
entre genitais (sede da fungáo reprodutiva) e sexualidade (plazer) é
apreensível, que existem duas ordens distintas que se conjugam nos casos
de desenvolvimento bem sucedido.
Dessa forma podemos concluir, para nos direcionarmos á qr.restáo que
nos interessa aqui, que embora nasgamos anatomicanente homem ou
mulher, ou seja, com uma definiqáo sexual, a sexuagáo do sujeito é mais
biográfica do que biológica e ocorre em um percurso no qual contam as
significagóes constituídas ao longo da sua histírria, signilicaE<ies em que o
cotpo será tomado pam que se torne sexuado. A sexuageo "psíquica" éuma questáo de sentido; decorre de um plocesso onde o colpo é tomado
pela linguagem e cujo resultado é a constituigño de um strjeito que se diz
homem ou mulher, de uma maneira que pode ou náo coincidir com osexo anatómico. A teoria do complexo de Edipo é a rentativa fi'eudiana
de explicitar o drama da sexuaqáo do sujeito. Bem ou mal, busca darconta desse processo em que, das relagóes com o Outro plimoldial supor-
tado pelas figuras materna e paterna e com tudo o que elas veiculam do
sentido preexistente na cultura e no social, surge o sujeito.
O que é, entáo, o sexual se náo é aquilo que se define pela fungáo
leprodutiva ou pelo funcionamento do aparelho genital? Freud respon-
deu: é o que está ligado ao prazer de órgáo, sendo que esse órgáo náo tem
de necessariamente que ser o órgáo genital, e isso a simples observagáo
das preliminares do ato sexual pode facilmente ilustrar. É importanrelembrar que a abertura preparada pela teoria freudiana da scxualidade
náo se limita á explicaqáo da variabilidade das zonas er'ósenas o¡.r da
valiabilidade do olrjeto scxual. O conceikr dc srrblimaqáo, cr¡nro unra das
formas que pode assumir ir satisfaqño sexual atlar'és de Llm clirccio¡r¿rmcn-
to da pulsáo pala fins culturais, cstende, anr¡tlia, tlaz nolas htzes ao
campo da satisfagáo. Ilustla a complexidade da satislaqáo humana, aobsen'agáo de que até mesmo o jogo amoroso é tecido por satisfagóes de
outra ordem, náo exclusivamente genitais, e que a própria idéia de amor
170 - C¡oenros S¡rror CoLE¡tv^, Rro D€ Ja¡crRo,9 (2): 1ss - 179,200i
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lilrÉnvEilcÓ€s t PftsstP0sros Ttó¡lc0s Dt üÍ Pn0GRÁMA t¡uLTlolsclPll¡Á¡ |
é uma noqáo sublimada, por exceder á eslet'a sexual e aos fins de repro-
duqáo.
Escutatrdo queixas de uma clientela predominante mente lemlmna'
Freud percebeu a sexualidade na miz dos sintomas e com a sua teoria da
sexualidacle, ao tornal inteligível o (des)funcionamento das relaqóes sexu-
ais cntlc os indivícluos da espécie humana, situou a história desses sujeitos
na Laiz trá<r sti cle si¡ttomas c dislirrrqóes, mas da pl.ópr'ia sexuagáo. Ainda
que náo esteja dit'etamente mencionada nas queixas dos pacientes' que
,uo up.nu. o aspecto manifesto e consciente da questáo' desde que se
disponha a analisar essas queixas, decifrando as manifestaEóes inconscien-
tes ali presrntes á revelia do querer do sujeito, encontra-se essa raiz se-
".,u1. N'fo, para tanto é plecistt ter ampliado a nogáo de sexual' náo
limitando-a ao genital.
Para o tema do presente estudo, quais as conseqiiéncias das descober-
tas freudianas? Por Seu carátel revolucionário, elas foram rejeitadas pelo
meio médico de sua época, e talvez ainda o sejam, e o seráo sempre'
quando e onde os critér'ios de cientificidade só reconheqam explicaqóes
redutoras a fenómenos fisico-qr"rímicos'
Se o sexual náo pode ser explicado apenas pelo luncionamento corptr-
lal, se depende da esfera do psiquico (náo abordalemos aqui a questAo da
materialidade própria a esse psíquico e de suas relagóes com a lingua-
gem), se essa sexualidade antecede á puber'dade, quando se instala a
funqáo r-ept'odutiva, ela poderá também ultrapassar o periodo de inter-
rupEáo dessa funqáo. Com isso entramos no foco do nosso tema) a
conceit t tagáo da ment Paura.
Vimos allteliolmente como a t'elagáo do sujeito ao colpo' e ao luncF
onamellto do corpo, náo é uma relagáo dil'eta, que depende e é marcada
pela histór'ia do sujeito. É nessa história que o corPo e suas Partes váo
adq.,it i., as genitais inclusive, o sentido responsável pela erotizagáo desses
órgaos. Se o que conlere sentido é a linguagem, ela é também o que
permite a sul;jetivagáo do corpo. O corpo pelmanece sensível ás palavras
. u, poluu.u, podem ploduzir efeitos concretos sobre ele: podem' por
exemplo, produzil uma amenorréia ou uma esterilidade' ou crrráJas em
teraDia unicamente vet'bal, sem qualquer aqáo direta sollre o corpo'
CaDEnNos SaúoE Collrrva, Rro DE JailEl¡o,9 (2):155 - 179,2001 - 171
| Ore¡ lr¡nr¡ il¡cn¡oo C¡nros ¡¡ Sou¡¡
As palavras tém tal efeito sobre o corpo que podem desviar suaspartes da fungáo que lhes seria destinada biologicamente e produzir, porexemplo, uma anorexia, sintoma que indica que a fungáo brológica danutngáo está sendo utilizada como lugar de expressño de outras questóesdo sujeito, ainda que contrariando a fungáo je p.erenogáo. Um bebépode, entáo, r€cusar o seio, o alimento qu. o rr.,t.irin, par.a signilicar.ámáe que ele quer seu amor, neo apenas a.o_i.lo q.," lhe está sendooferecida. Com isso estará mostranclo que náo é op.noru_ corpo bioló_gico que necessita ser alimentado, mas que é u_ ,,r¡.ito humano, que remoutras necessidades além daquelas biológicas e mais, que ele pode recusaresse ser biológico a ponto de preferir a morte, se ¡ráo for. co¡rsicrer.adocomo sujeito. Vale lembrar que o reconhecimento do ,.poder
da palavra,,náo é apanágio exclusivo nem da psicanárise nem da nossa.ultura. ve-mos a sua utilizaqáo em outras culturas descrita por lévi-strauss (1975:215)como "eficácia simbólica,': é u
A conjunto du, o.gun i,oe#l ;ffi ::ffi l::; 1T""iñ:.l i::T,anal e fálica, quando ocorre o complexo de Edipo, e a segrrir um períod<rde laténcia, após o qual vem a puber.dade) nu r.".rugaoio su.jeito, é defato_ a história do "banho de linguagem" por que parro o.o.po ,,,, p.o..r_so de subjetivagáo. O momento da puberdade é aquele em'que ir.rompea fungáo reprodutiva, como possibilidade, até enteo ausente cra sexuarida-de. A puberdade haz uma revivescéncia do complexo de Edipo, cujadupla emergéncia, na fase fálica e na puberclacle, é impor.tante. Emboramenos focalizada nos estudos dttica pós_rreudian a, .*",.*,
" ;;':;'.ü#lil] ;#iT:[1,.r;:'.#:,:
entáo que se dá o desenlace que desvincula dos pais a libido do sujeitopara que este busque um objeto exogámico. Vemos Freud apontar asetapas oral, anal e falica, quando ocorre o complexo de Édipo, . u ,.guuum período de laténcia, após o qual vem a puberdade. par.a a empafocalizada neste trabalho, a menopausa, a situaqáo que se joga na puber_dade é fundamental, pois existe um paralelo, airrdu que
"co_ s.ntjdo
inverso, entre as aquisiqóes corporais e psiquicas da puberdade e as per_das vividas no climatério. É o que aponta Helen Deutsch e que ¡.etomare-mos adiante.
;
172 - C¡or¡¡os S¡úo¡ CoLEflv¡, Rto DE Jai¡oso,9 (2): ISS - i79,2001
InfEnvE{CóEs E ?¡tssufoslos ¡EóÍrc0s Dt uI pnoGna¡¡ utTtDtsctpltÍ¡n I
f)issemos que o coryo é tomado pela linguagem que lhe confere sig-
nificaqóes. Assim, as transfolmagóes corporais pelas quais a mulher passa-
lia na menopausa sáo tomadas por ela dentlo de um sistema amplo de
produgáo de significag6es mas que foi fixado no decorrer de sua vidapelos valores culturais mais gerais e pelas experiéncias particulares á sua
biografia. Mas nem tudo fica definido nessas determinagóes. A folmaainda mais singula|izada de sua resposta, emlxrra traga a repetigáo das
marcas histór'icas, traz também as solugóes que encontrou ao longo de
sua vida. E verdade que tais solugóes nern sempre abrem vias e que
também podem constituir a simples reiteragáo de um mal encontro, mas
é também veldade que as determinaqóes náo lecham todas as possibilida-des singulares. A leaqáo de uma mulher ás transformagóes da menopausa
sáo configuradas nesse conjunto. E pol isso também que sáo permeáveis
ás intervengóes através da palawa; o poder da palavra é o instrumento noqual se baseiam, com distintr.¡s modos de operagáo, tanto o atendimentopsicanalítico quanto as formas de intervengáo educativas.
Alglmas psicanalistas, que tém em Helen Deutsch (1952) uma pionei-ra, ocupa¡'am-se especificamente deste momento da mulher e destacaram
algumas de suas características. A percepqáo psíquica das transformag6es,
alirma a autora, que pode ser mais ou menos precoce em relagáo ás
mudangas corpolais, desencadeia na mulhet' um aumento da preocupa-gáo com sua própria pessoa, freqüentemente com o corpo, o que podemanifestar-se na forma de preocupagóes hipocondríacas, somatizagóes e
conversóes ou na forma de cuidados com a aparéncia e a imagem: sáo
sinais de uma luta pela conserwagáo da feminilidade ameaEada pela perdada capacidade reprodutiva. Essas reagóes sáo comparáveis, continua a
autora, áquelas que ocorrem no período da pr'é-puberdade, onde existe
um aumento da atividade, quando as forgas do eu se mobilizam paraconseguir um maior ajuste á r'ealidade, quando antigos valores podem ser
derrubados pelo impulso a experimentar algo novo e excitante. Curiosa-mente, tanto Freud quanto Deutsch apontam a menopausa, á semelhan-ga da puberdade, como um periodo de intensificagáo das demandas sexu-
ais. Essa é mais uma evidé¡rcia do descolamento entre fungáo reprodutivae sexualidade: do contrár'io, como poderia este momento de baixa dos
níveis hormonais ser camcterizado pelo aumento das reivindicaqóes afeti-
CaDE¡¡os Saú0G Colcflva, Rro oE Ja Bno, I (2)t 155 - 179, 2001 - 173
I
| 0lca MÁRra M¡cr¡oo C¡nros o¡ Souz¡
vas e sexuais? No entanto, náo é dificil verifical'a frcqiiincia com quc as
mulheres se sentem, nessa ocasiáo, o que a lineuagem ¡ropulal chama de
mais "carentes".
Gueydan (1991, p. 93) também considera a mcnopausa um período
de atividade intensificada. Como o fim da possibilidade da maternidadenáo constitui a extingáo da feminilidade, neste momento em qr¡c a lonte
narcisista seca, o conhecimento de si mesma e a relaqáo ao homem ple-cisam ser revistos e recolocados em outras bases.
O aumento de atividade pode assumir lblmas diversificadas, dirigindo-se freqüentemente ao próprio corpo, especificamente aos ór'gáos eenitais or-r
ainda a outras partes dele, em uma espécie de protesto ou de negaqáo. Pode
surgir um impulso a engravidal, por exemplo, ou uma preocLrpaqáo exaee-
rada com a sexualidade e com as lungóes e imagem corporais. A intensifi-
cagáo da atengáo dirigida ao coryo faz dele o palco privilcgiado da repre-
sentaEáo de muitas quest6€s, na fonna de doenqas e de queixas a elas
associadas. Seria inadequado e ineficiente tratálas excllrsivamflrlc do lx)n-to de vista da disfunqáo col?oral, sem considelal qrrc sii() nr('nsir!¡('ns (lc trrr
suieib lalante que r)ño ('slii() ¡rrxk'rtrlr lirzcr'-.r',rrrvil rL ¡¡ullr¡ rrr,xL¡.
O artnrcrtlo rlrr ¡rtiritl;rtk. lr¡r,rrrtirrIr ¡xtr r:iri,^ irrt¡rr. \ ¡.rr. | ¡r.¡ tr'-
ristit'o d¿r lltclt()l)iursir, rrrttcs¡xrttrh lr,¡ rl,., rlr r¡r|, rrrII, ¡I|,t rl, t¡.rlr:rllrr¡ i¡t-
tenso de rcclal¡t¡t'agáo tftr li'rlirrirro solr orrlrr¡s ¡riuirrrclrr,.r. ¡r¡ris sirnl¡lli-cos e menos apoiados em cooldenadas narcisistas. l)ssa alivicla<L ¡rrt.isirdeslocar-se do corpo e diligir-se para ál'eas dilbr-cntcs, mais sublinradas,
possibilitando á mulher o acesso a atividades cliativas, intelectuais e altís-
ticas, o aparecimentr¡ de noros intelesses oll o ressurgimcnto dc intclesses
antigos, abandonados durante o periodo reprodutivo. Nessa ¡rossibilidadede deslocamento está a chavc da elaboraqáo das perdas lcla<'it¡rradas ¿ro
envelhecimento inelutár,el presentes no climatér'io ((iuetdan. If)f)I). Nos
casos em que esta ¡rossibilidade cstá r'eduzida, as t'hanccs dc clalxrrat'iio
ficam também mais lestritas. As vivéncias da menr¡rausa tolnanl-sc
descompensadas quando cristalizam-se em queixas fixadas no corpo, quando
na realidade tém raízes inconscientes extensas, pois prescntificam o luto
por perdas de várias ordens e náo apenas pelas transformaEócs corporais.
Que essas últimas venham a primeiro plano e absorvam todo o cenár'io,
bloqueando e dificultando a expressáo do outros aspectos, é uma situaqáo
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l Ttnvtilc0Es E pnEsEuposros rÉÓ¡rc0s DE ut¡ pSoGÍa||^ ttutTtotsctpUÍ¡n I
que uma abordagem meramente corporal da menopausa costuma gerar a
despeito de todos os inconvenientes.
Como o Outro tem um papel constitutivo na mensagem do sujeito, aescuta daqueles que acolhem as demandas de atenEáo á saúde inllui e até
mcsmo dr:telmina a lolma que elas assumem. O conhecimento deste fatolclirrqa a indicag'áo de um planejamento multidisciplinar para programas
cle atenqá() ás mulhercs neste período de vida ¡tar-a qlle a escuta das
c¡ucixas uiio as fixc ¿rr¡ ponto dc vista colpolal, o que coltstitui justamente
ruma das tendéncias problemáticas na menopausa. Os bons resultados
dependem nesses casos do leconhecimento da amplitude do desejo huma-
no que permite ao feminino ser recolocado em outras bases, menos restri-
tas ao corpo. Principalmente nos casos em que o público alvo está locali-zado em unra camada socio-eco¡romico-culturalmente desfavorecida, pro-glanras de atcngáo á saúde devem orientar'-se no sentido de favorecer e
virk¡riz¡rr r¡ lrrtss¡r lrs ¡rloclrrr;ór's sinrltírli< as e is elaboraqóes que elas pos-
\i|||¡ lx t¡ll||.l'r.!r.rtrr.r. ¡rr¡ltirli.r inli¡¡rrrr'' .;-rr¡ r'rtor¡lrt.t irlirrr'¡ll(' suslcntarx)s ('r¡r
r¡r¡r.r ri..'¡r,.rlrr.rrrglrrll rl,¡ t, r l¡trrr¡¡rrr,. r¡tu.o ck'r'a tlt,olganirinro a srjcitork st jirntt, t rrtilizrr¡r ¡l¡t llrr¡r' ullr¡ l'(,( urso lla plomoqao da saúde o po-
dcl c<¡nli'r'ido ¡rla abeltrrra ao campo do Outro que caracteriza este
sujeito. Este fator', quando náo reconhecido pela equipe, náo se torna porisso men<.¡s ativo nas suas inte|vengóes, mas pode atuar em um sentido
contrário aos ob.jetivos do plograma. Porém náo basta que apenas alguns
meml¡ros da cquipe tenham esta visáo: é melhol que a equipe tenha uma
base comum, unr ponto de vista soltre o ser hnmano e sua especificidade
enqLranto sq'eito, que dé a direqáo ampla do conjunto das intervengóes,
mesmo aos participantes encanegados de agóes especializadas. Por outrolado, o tipo de lolmagáo recebida pelos profissionais faz com que as
equipes tenham que construir essa direEáo com um trabalho conjunto elealizado dulante o percurso em comum, já que os curriculos especializa-
dr.¡s dos ctusos de oligcm uáo preparam para isso.
O Ploglama que aplesentamos neste altigo trabalha em direqáo a tais
metas e \rem constluindo, ao longo de alguns anos, um percurso de traba-lho. Para os psicólogos da cquipe a psicanálise propolciona a relerénciabuscada, mas na eqLripe como um todo náo se promoveram condigóes
CaorB¡os SaúoE CoLErv¡, Rro Dr JAilErn0, I (2): 155 - 179, 2001 - 175
I| 0[6A il¡Bra ü¡c¡¡oo Crnros o¡ Sorr¡
para a elaboragáo comum de um referencial, o que implicaria em umtrabalho de muitas horas de dedicagáo de toda uma equipe já bastante
sobrecarregada. A atuagáo dos psicólogos junto á equipe busca de certa
forma suprir esse ponto, mas é a participagáo conjunta nas reflexóes a via
mais adequada para a construgáo que se deseja realizar e que náo tem
como ser substituida.
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