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M I S T I C I S M O l C I Ê N C I A l A R T E l C U L T U R A INVERNO 2017 Nº 301 – R$ 10,00 ISSN 2318-7107
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M I S T I C I S M O l C I Ê N C I A l A R T E l C U L T U R A

INVERNO 2017Nº 301 – R$ 10,00

ISSN 2318-7107

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Hélio de Moraes e MarquesGrande Mestre

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Sincera e FraternalmenteAMORC-GLP

Prezados Fratres e Sorores

Saudações Rosacruzes!

O periódico O Rosacruz é uma tradição da AMORC em todo o mundo. Ele é editado em vários idiomas em 66 países. Nós, da Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa, primamos por mantê-lo o mais instrutivo possível em termos de cultura de modo geral; incluindo ciência, misticismo e arte.

A migração do estudo das nossas monografias pela internet tem aumentado consideravelmente. Esta modalidade tem se mos-

trado positiva na medida em que diminui o uso de papel, tinta, grampos e outros materiais que têm impacto direto na natureza. Se o frater ou a soror desejar, poderá optar por este meio de estu-do que é também mais econômico, além de sustentável sob o aspecto dos insumos envolvidos no processo. Algumas Grandes Lojas só têm a modalidade virtual e a tendência é de cada vez mais jurisdições expandirem suas lições e atividades pela internet.

Lembro que o projeto de acessibilidade continua se aperfeiçoando. Além das monografias acessíveis a partir de novembro para deficientes visuais, em breve teremos materiais em Libras (linguagem de sinais!), para deficientes auditivos. Aguardem!

Nossa Grande Loja já começou a preparação para a XXV Convenção Nacional Rosacruz, que será de 10 a 13 de outubro de 2018, no Teatro Guaíra, em Curitiba-PR. O tema é “Ética, Pessoa e Sociedade – A Força da Unidade”. Ele deve suscitar as nossas reflexões mais profundas como ci-dadãos do planeta em qualquer país que vivamos, porque os problemas que enfrentamos hoje são resultado de um conjunto de características humanas que precisam ser reformuladas para serem superadas. Além do seu tema provocar abordagens ousadas, a Convenção despertará o espírito de fraternidade que nos une a todos, enquanto “Caminhantes na Senda da Sabedoria”.

Teremos uma participação especial da OGG – Ordem Guias do Graal, além de arte, lúdico, cultura e o mais genuíno misticismo. Tudo num clima peculiar aos nossos estudos.

Com meus melhores votos de Paz Profunda, sou

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0404 Código Rosacruz de Vida – Artigo décimo nonoPor CHRISTIAN BERNARD, FRC – Imperator da AMORC

06 Cogitar para compreenderPor RODMAN R. CLAYSON, FRC – ex-Grande Mestre da GLI

11 Ah! Os relógiosPor MARIO QUINTANA

12 Agostinho da Silva – O Paradoxo e a Vida ConversávelPor ABDUL CADRE, FRC

18 Marketing pessoal e MisticismoPor LUIZ AFONSO CAPRILHONE ERBANO, FRC

24 Os cavaleiros templáriosPor RALPH M. LEWIS, FRC

32 A sementePor AULORES FERREIRA LYRA, SRC

34 Os ensinamentos da CabalaPor SANDRA REGINA RUDIGER AYYAD, SRC

38 Um pouco de nós mesmosPor ROBERT E. DANIELS, FRC

42 Pinóquio e a didática do MitoPor MARIO SALES, FRC

48 Sanctum Celestial“A FONTE DA JUVENTUDE” Por H. SPENCER LEWIS, FRC – Ex-Imperator da AMORC

52 Ecos do passadoUMA HOMENAGEM À HISTÓRIA DA AMORC NO MUNDO

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Os textos dessa publicação não representam a palavra oficial da AMORC, salvo quando indicado neste sentido. O conteúdo dos artigos representa a palavra e o pensa mento dos próprios autores

e são de sua inteira respon sabilidade os aspectos legais e jurídicos que possam estar interrelacionados com sua publicação.

Esta publicação foi compilada, redigida, composta e impressa na Ordem Rosacruz, AMORC – Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa.

Todos os direitos de publicação e repro dução são reservados à Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis, AMORC – Grande Loja da Jurisdição de Língua Portu guesa. Proibida a reprodução parcial ou total por qualquer meio.

As demais juris dições da Ordem Rosa cruz também editam uma revista do mes mo gênero que a nossa: El Rosacruz, em espanhol; Rosicru cian Digest e Rosicrucian Beacon, em inglês; Rose+Croix, em francês; Crux Rosae, em alemão; De Rooz, em holandês; Ricerca Rosacroce, em italiano; Barajuji, em japonês e Rosenkorset, em línguas nórdicas.

expedienten Coordenação e Supervisão: Hélio de Moraes e Marques, FRC

n Editor: Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa

n Colaboração: Estudantes Rosacruzes e Amigos da AMORC

como colaborarn Todas as colaborações devem estar acom panhadas pela declaração do

autor cedendo os direitos ou autori zando a publicação.

n A GLP se reserva o direito de não publicar artigos que não se encaixem nas normas estabelecidas ou que não esti verem em concor dância com a pauta da revista.

n Enviar apenas cópias digitadas, por e-mail, CD ou DVD. Originais não serão devolvidos.

n No caso de fotografias ou ilustrações, o autor do artigo deverá providenciar a autorização dos autores, necessária para publicação.

n Os temas dos artigos devem estar relacionados com os estudos e práticas rosacruzes, misti cismo, arte, ciências e cultura geral.

Publicação trimestral da ORDEM ROSACRUZ, AMORC

Grande Loja da Jurisdição de Língua PortuguesaBosque Rosacruz – Curitiba – Paraná

CIRCULAÇÃO MUNDIAL

Propósito daOrdem Rosacruz

A Ordem Rosacruz, AMORC é uma orga-nização interna cio nal de caráter templário, místico, cul tural e fraternal, de homens e mulheres dedicados ao estudo e aplicação prática das leis naturais que regem o uni-verso e a vida.

Seu objetivo é promover a evolução da huma nidade através do desenvolvimento das potencia lidades de cada indivíduo e propiciar ao seu estudante uma vida har-moniosa que lhe permita alcançar saúde, felicidade e paz.

Neste mister, a Ordem Rosacruz ofe-rece um sistema eficaz e comprovado de instrução e orientação para um profundo auto conheci mento e compreensão dos processos que conduzem à Iluminação. Essa antiga e especial sabedoria foi cui-dadosamente preservada desde o seu desenvolvimento pelas Escolas de Misté-rios Esoté ricos e possui, além do aspecto filosófico e metafísico, um caráter prático.

A aplicação destes ensinamentos está ao alcance de toda pessoa sincera, disposta a aprender, de mente aberta e motivação positiva e construtiva.

Rua Nicarágua 2620 – Bacacheri82515-260 Curitiba, PR – Brasil

Tel (41) 3351-3000 / Fax (41) 3351-3065www.amorc.org.br

nossa capaPintura de J. Augustus Knapp, intitulada Father C.R.C., uma concepção idealista do espírito do Rosacrucianismo – o sábio sentado em sua mesa, copiando do Livro Secreto da Natureza apoiado na caveira humana, com suas páginas iluminadas pela vela da mente iluminada. O Grande Livro da Rosacruz ao lado na mesa junto a uma ampulheta, mostra que oportu-namente tudo deverá ser revelado.

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Por CHRISTIAN BERNARD, FRC – Imperator da AMORC

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OCódigo Rosacruz de Vida é um guia de conduta para todo estu-dante Rosacruz que pretende vi-ver conforme os ideais da Ordem.

Publicamos nesta edição mais um artigo do Código, comentado pelo nosso Imperator.

“Preste assistência a qualquer ser humano, a despeito de raça, credo ou cor, sempre que puder ajudar, direta ou indiretamente, em qualquer emergência. Se não puder auxiliar pessoalmente, mas puder interce-der no sentido de lhe ser prestada ajuda, também isto será imperativo. Em silêncio e em paz, realize o seu trabalho, preste o seu serviço, e retire-se sem alarde.”

Esta determinação inclui um apelo direto à solidariedade humana, ou, indo mais além, a todo ser vivente, o que amplia de forma

singular o campo de aplicação deste artigo. É evidente que, demonstrar um profundo interesse pelas criaturas humanas, é ajudá--las, sempre que possível ou tivermos ocasião para fazê-lo, é a nossos irmãos humanos que devemos estar prontos para acudir, para prestar-lhes a assistência necessária. De fato, uma planta ou um animal estarão sempre dispostos a aceitar nossa ajuda. Não haverá dissimulação, ditada pela compreensível altivez do homem e será fácil observar-se uma planta que definha, ouvir-se os ge-midos de um animal ou distinguir-se, nos olhos deste, um laivo de angústia ou um apelo de socorro. No que diz respeito ao ho-mem, é preciso ir, às vezes, muito além das aparências, porque inúmeros são aqueles que, acreditando ser incompreendidos ou mal interpretados, preferem não repartir sua dor ou seus tormentos, nem revelar a

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situação precária em que se encontram. É fundamental aprender a sentir o que pode encobrir uma atitude ou um comportamen-to, se se tem a consciência de que uma ajuda pode ser útil. Neste caso, é necessária maior prudência, pois a pessoa que nós queremos ajudar poderá melindrar-se por nossa in-gerência em sua vida, em problemas não mencionados abertamente. Todo auxílio, aliás, deve ser efetuado em silêncio o que é frisado por este artigo do “Código Rosacruz de Vida”, com as seguintes palavras: “Em silêncio e em paz, realize o seu trabalho, preste o seu serviço, e retire-se sem alarde.”

Cada termo deste artigo reveste-se de uma importância capital. Ele indica, por exemplo, que a assistência pode ser direta ou indireta. Se ela é direta, não há qualquer problema. Constatamos que estamos pessoalmente em condição de auxiliar e auxiliamos. De fato, um auxí-lio direto é sempre possível pela prece, pela meditação e pelos princípios que nós aprendemos, progressivamente, no cur-so de nossos estudos rosacruzes, mas ele deve ser complementado pela assistência imediata que pudermos prodigalizar.

Que tipo de assistência podemos pres-tar? É impossível responder objetivamente esta pergunta porque podemos ajudar de mil maneiras, e cabe a cada um de nós, definir individualmente o tipo de assis-tência que pode prestar. Antes de decidir isso, recomenda-se um rápido período de meditação, mas, se a urgência for mui-to grande e se for preciso ação imediata, então, um simples pensamento, dirigido como um apelo ao Cósmico, bastará para nos esclarecer e conduzir à solução justa.

No que concerne à ajuda indireta, se nada pudermos fazer diretamente, mas se estivermos em condições de fazer um apelo a alguém ou a alguma instância, por saber que ela poderá ser útil no caso

em questão, lembremo-nos do que ex-plica este artigo dezenove: nós temos o dever imperioso de agir. De outro modo, e tratando-se de um “dever”, nenhuma desculpa pode ser apresentada. Se nós não agirmos, a lei do carma, a lei de compen-sação, registrará nossa falha e teremos, mais cedo ou mais tarde, que aprender uma lição, por termos infringido o preceito da solidariedade, que deve reger nosso com-portamento em relação a todos os seres humanos, onde quer que se encontrem.

É claro que, para o Rosacruz, ajudar não é um simples dever. Para nós, ajudar é bem outra coisa. É uma doação de nós mesmos aos outros, com alegria, calma e paz, no silêncio da mais atenciosa discri-ção. Na formação que os recebe da Ordem, tudo nos conduz ao estado primeiro que um discípulo deve alcançar no caminho em que a iluminação do ego, do “eu” ma-terial e limitado, constitui a característica essencial. Em todo o caso, o Rosacruz que imprime a devida atenção e zelo necessário a seus estudos não pode encarar a assistên-cia prestada a outro senão como um ato de amor fraternal, realizado com alegria, sem qualquer reserva ou restrição, e de forma gratuita, ou seja, sem esperar nada em tro-ca; são estas as qualidades que nos permi-tem reconhecer o auxílio verdadeiramente místico, muito diferente daquele que, não raramente, se observa no mundo profano.

Desta sorte, que as recomendações deste décimo nono artigo de nosso “Có-digo” fiquem gravadas em nós, prontas a emergir de nossa consciência no momento em que o privilégio e a felicidade de au-xiliar os outros nos forem concedidos.

Possa o Cósmico e nossos Mestres dar a todos força e coragem, não apenas para en-frentar as circunstâncias difíceis da vida, mas também, para ajudar os outros a sobrepujar, eficientemente, as suas. Que assim seja! 4

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Por RODMAN R. CLAYSON, FRC – ex-Grande Mestre da GLI

Cogitar© THINKSTOCK.COM

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Desde Sócrates, nos bosques de Atenas, ao moderno cientista em seu labora tório, os homens amplia-ram o horizonte do conhecimento,

pela cogitação, indagação, formulação de perguntas buscando comprovar a verdade.

À medida que seguimos o curso de nos-sa curiosidade e cogitação, verificamos que estamos sujeitos a muitas incompreensões. A incompreensão é uma ideia imprecisa ou errônea que algumas vezes advém da aceita-ção, como verdade e fato, de coisas a respeito das quais temos pouco conhecimento e sobre as quais não nos aprofundamos suficiente-mente. As incompreensões são usualmente o resultado de uma falta de entendimento claro e preciso a respeito de uma coisa ou assunto. Com essa falta de compreensão, somos mui-tas vezes levados a interpretar muitas coisas erroneamente. Como os filósofos, devería-mos recorrer à meditação para tornarmo-nos completamente conscientes a seu respeito.

Seria interessante começarmos com nós mesmos, com uma espécie de autoexame e auto elucidação. Compreendemos o que temos realizado ou experimenta do? Qual a base exata para o nos-so exame de qualquer coisa? Muitas vezes somos desviados por uma crença arraigada ou convicção baseada em ideias errôneas. Devemos apren-der a não nos enganar mos nem presumir em demasia.

Na busca intelectual de fatos e verdades devemos ser honestos com nós mesmos. Não apenas explorar fatos de determi-nados processos naturais, mas apren-der a compreender essas coisas. Devemos ser científicos em pensa mento. O propósito do pensamento científico é responder as cogitações do Homem e satisfazer a sua necessidade de conhecimento. Os filósofos

gregos resumiam seus argumentos, a fim de que pudessem aprendê-los. E aprendiam, a fim de que pudessem compreender. Estavam plenamente conscientes da verdade que foi afirmada centenas de anos mais tarde por Francis Bacon: “O conhecimento é poder”.

A cogitação é a base para a busca do co-nhecimento. A cogitação é a sensação de mistério a respeito de uma coisa; contudo, não nos dá conhecimento da mesma. Pode, não obstante, prover o estímulo para a ação que nos levará a descobrir a verdadeira res-posta e todos os fatos com ela relacionados. Tanto Platão como Aristóteles afirmavam que a cogitação é o sentir do filósofo. Mais tarde, Descartes afirmou: Cogito, ergo sum. A cogita-ção é algo mais que curiosidade. É um proces-so de pensamento que leva ao conhecimento.

A vida de uma pessoa pode ser uma aven-tura estimulada e aguçada pela descoberta. À medida que satisfazemos nossa curiosida-de, que aprendemos no vos fatos, não temos tempo para nos aborrecermos. Os fatos se adaptam ao grande esquema das coisas, po-rém, de vem ser fatos e não incompreensões.

A forma da Terra foi para o Homem motivo de preocupação desde

tempos imemoriais. Até há algumas centenas de anos a

Terra era considerada como sendo chata. Então, com a intensificação do novo conhecimento, a incom-preensão foi eliminada e a

Terra passou a ser conhecida como redonda e esférica.

Devemos prosseguir em nossas buscas, pelo esforço inte-

lectual, estimulado pela observação, de modo que possamos chegar a conhecer algo a respeito da verdade, da natureza do mundo em que vivemos e do significado de nossas próprias vidas. Nossa preocupação relaciona--se com o mundo material, nossa compre-

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ensão objetiva a seu respeito e a necessidade de cultivarmos a intensificação do conheci-mento e maior compreensão. Não temos de ser cientistas. Muitas poucas pessoas o são e muitas outras não têm o desejo de se reportar ou ultrapassar suas experiências diretas. Não obstante, o pensador, aquele cuja consciência está imbuída de cogitações, tem necessidade dos métodos científicos. Ele conduz suas buscas inteligentemente, porque compreende que não pode permitir que sua mente se obs-trua com in compreensões.

Ilusões esuperstições Mencionemos aqui algumas das incompreen-sões mais comuns. Todos nós, com probabi-lidade, gostamos de descrever as belas glórias do luar. Agrada-nos dizer que a lua cheia tem iluminado a Terra. Mencionamos seu brilho. Consciente ou inconscientemente pensa-mos na lua como emitindo uma intensidade tremenda de luz, ao passo que o que nos refe-rimos como luar é, na verdade, luz do sol re-fletida. A lua não tem luz própria. É um corpo escuro, exceto que quando o sol brilha sobre ela a luz é refletida para a Terra. Verifica mos que o mesmo se aplica aos planetas do siste-ma solar, se nos entregarmos ao estudo ele-

mentar de astronomia. Os planetas não têm luz própria, porém, emitem luz refletida do sol. É essa luz refletida que vemos na direção Oeste, à tarde, ou do Este, pela manhã, ao nos referirmos à estrela matutina e vespertina. Vênus e Mercúrio, porém, não são estrelas; são planetas do sistema solar e, às vezes, refle-tem, brilhantemente, a luz do sol.

Hoje, sorrimos quando lemos que há cen-tenas de anos o povo pensava que a Terra era fixa, que era o centro do uni verso e que as estrelas, no céu, passavam sobre suas cabeças, à noite. Isso era, realmente, incompreensão.

Atualmente, sabemos que o nosso sol é o centro do sistema solar. A Terra é apenas um dos nove planetas que giram em torno do sol em seu sistema. Sabemos, também, que há centenas de milhares ou mesmo milhões de outros sistemas solares, girando em torno de sóis-estrelas, nas profundezas dos espaços cósmicos do universo. Sabemos que a Terra é uma esfera gira tória no espaço; que as estre-las não passam sobre nossas cabeças, à noite; que é a rotação da Terra para o Leste, da qual não estamos conscientes, que faz com que a luz, o sol e as estrelas pareçam nascer no Leste e se pôr no Oeste, o que, naturalmente, não é a realidade. A Terra está girando em torno do seu eixo, abaixo deles e temos essa grande ilusão do movimento estelar.

Talvez alguém possa achar que essas coisas são por demais remotas, por de mais afastadas de nós para que façam grande diferença no co-nhecimento prático, porém, examinemos mais detidamente a questão da incompreensão.

É verdade que algumas incompreensões são classificadas na categoria de ilusões e, se não compreendemos a ilusão, podemos formar uma concepção errônea. Quando criança ou adulto teve a oportunidade de enfiar uma vara num barril de água, num poço, num córrego ou num lago? Para comprovação, a introdução de uma colher em um copo cheio de água bas-tará. Uma vara introduzida na água num de-

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terminado ângulo e, também, a colher, darão a impressão de serem curvas. Sabemos, contudo, que a vara e a colher não se dobram, quando na água; na verdade, podemos provar que isso realmente não ocorre. Toda via, uma pessoa de pouca imaginação poderia, simplesmente, aceitar a ideia de que a água tem alguma influ-ência sobre a vara ou a colher que faz com que elas se curvem. Isso seria incompreensão.

Estamos naturalmente familiarizados com outras ilusões que são in compreensões como as que se relacionam com o sentido do tato. Se alguém vendar seus olhos e colocar um de seus dedos sobre um pedaço de gelo e lhe disser que o que está sentindo é quente, acre-ditará que o objeto que seu dedo está tocan-do é quente. O frio extremo e determinada intensidade de calor parecem ter algo em comum com o sentido do tato.

Lembra-se, quando criança, da “cobra de cabelo”? Certamente lembrar-se-á se tiver vivido numa fazenda ou rancho, onde havia cavalos. Acreditávamos, firmemente, que um

fio de cabelo de um cavalo, se deixado na água durante longo tempo, transformar-se-ia numa cobra. Infantil, talvez, porém, lembra-mo-nos de adultos que acreditavam nisso.

Poderá começar a ver, então, quão pró-xima da ilusão e da incompreensão está a superstição. É dever do pensador contribuir para com a eliminação das superstições exis-tentes no mundo, assim como das incompre-ensões e ilusões. Como adultos, é bom que jocosamente admitamos certas ideias supers-ticiosas que possam afastar a decantada má sorte após passarmos por debaixo de uma escada, quebrarmos um espelho ou vermos um gato preto cruzar nosso caminho, porém, é coisa bem diferente aceitarmos essas ideias supersticiosas. Há incompreensões a respeito de negócios? A caixa de surpresas, sua emba-lagem e o seu tamanho tornam o produto em seu interior de melhor qualidade? Investigue por si mesmo. Não se deixe levar pela suges-tão e inferência. Não presuma. Não se deixe levar por uma incompreensão.

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Muitos de nós acreditamos que aprecia-mos o gosto da soda e sorvete de baunilha, porém, a ciência nos diz que temos sido enganados em nossa suposição, porque nem a soda nem o sorvete de baunilha têm sabor distinto, mas apenas um odor distinto que é o fator que orienta a nossa escolha.

A menteinquiridora Alguém poderá argumentar: quando desa-parece a incompreensão? A verdade ou fato de uma circunstância ou coisa será revelada pela investigação e conhecimento acurado da mesma. Até a época de Leonardo Da Vinci, no século XV, os médicos não acreditavam que o sangue circulasse através do corpo físico. O talento de Da Vinci abarcava muitos campos. Ele era, primariamente, pintor e cientista. Descobriu, contudo, que o sangue no corpo humano circula e anunciou este fato às escolas científicas da época. Sua afir-mativa foi recebida com escárnio. Escreveu sobre sua descoberta com amplos detalhes. Seu manuscrito, afortunadamente, foi pre-servado para os anos futuros, quando os médicos se tornariam mais compreensivos e evoluídos para receber a notícia alarmante de sua descoberta e testá-la.

Naturalmente, pode ser argumentado que não havia uma incompreensão e que era apenas questão de conhecimento que estava aguardando descoberta. A despeito do ponto de vista que se possa for mar, deve ser admitido que a curiosidade, a cogitação, a busca e a investigação eliminaram o que anteriormente tinha se tornado uma ideia ou conceito errôneo.

A educação e a aquisição de conhecimento não são apenas para uns poucos; elas se des-tinam a todos. Portanto, é de vantagem para todos procurar aumentar seu conhecimento

e adquirir maior compreensão. Com essa compreensão não estaremos inclinados a nos lançar a conclusões que possam ser impreci-sas. Para a pessoa mentalmente preguiçosa é muito fácil aceitar uma incompreensão. Usualmente, chegamos a esse ponto pela ma-nutenção de pensa mentos que nos agradam, sem levar em consideração o ponto de vista mais generalizado ou a perspectiva que, por necessidade, deve incluir maior conhecimen-to geral e, possivelmente, também conheci-mento específico, em determinados campos.

Devemos estar a par das novas descober-tas da época; devemos ter mente inquiridora e investigar. Da pesquisa e investigação advém novo conhecimento, e este traz nova compreensão. As incompreensões, via de re-gra, são o resultado da falta de conhecimento e, se não formos cuidadosos, isto poderá nos levar ao reino da superstição e da ilusão. Portanto, entreguemo-nos às cogitações. Adquiramos conhecimento. Determinemos os fatos e a verdade. Se isto fizermos com mente ampla, a falta de compreensão desapa-recerá. Pela auto aplicação as falsas crenças são despojadas, uma a uma. O resultado é que nos tornamos mais verdadeiramente eruditos, mais propriamente preparados e mais abundantemente qualificados para vi-ver uma vida de sucesso e felicidade. 4

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Amigos, não consultem os relógios quando um dia eu me for de vossas vidas em seus fúteis problemas tão perdidas que até parecem mais uns necrológios…

Porque o tempo é uma invenção da morte: não o conhece a vida – a verdadeira – em que basta um momento de poesia para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna somente por si mesma é dividida: não cabe, a cada qual, uma porção.

E os anjos entreolham-se espantados quando alguém – ao voltar a si da vida – acaso lhes indaga que horas são…

Por MARIO QUINTANA – poema do livro A Cor do Invisível

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12 O ROSACRUZ · INVERNO 2017

Por ABDUL CADRE, FRC*

Agostinhoda Silva

“A meta é provavelmente o ponto sem dimensão. E esse é muito difícil. Acho que não o vou atingir

e estou contente por a meta ser essa!”

O Paradoxo e aVida Conversável

Chegou a este lado da vida no ano de 1906, desembarcou na ci-dade do Porto sob o signo de Aquário e entendeu deixar-nos no Domingo de Páscoa de 1994. Neste entretanto, foi o mais que numa só vida se pode ser: filósofo (no mais profundo do concei-

to), professor contagiante, escritor polifacetado, conferencista, educador, poliglota, viajante, fundador de institutos e universidades. À semelhança de Fernando Pessoa, usou vários heterónimos, não para produzir um drama em gente, como dizia aquele, mas como matriz de uma vida conversável.

Se quiséssemos um nome para o seu pensamento, podíamos chamar--lhe “filosofia da vadiagem”. Em que consiste? Tornarmo-nos na criança que se maravilha com tudo o que observa, poetas à solta e arranjarmos maneira de criar as condições adequadas para cumprir o nosso destino (que é a nossa liberdade) de contemplar o mundo tornado conversável, isto é, pacífico, fraternal e solidário. Como fazê-lo? Ser cada um aquilo que verdadeiramente é e tornar-se contagiante. Contagiar pelo exemplo e não fazer batota com o vírus que o torna humano, que é a fala, não esque-

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cendo que esta lhe vem do céu; o que se ganha ao nascer é a voz.

Se cotejássemos a extensa obra ensaística de Agostinho da Silva com quanto é regra, entendimento ou en-sino da nossa Ordem, dificilmente encontraríamos contradições substan-ciais de conteúdo, dado que a conver-gência é a principal característica do pensamento místico.

Quando se referiam ao seu discur-so como o seu pensamento, logo ele retorquia não saber se o pensamento era dele; era bem possível que o pensa-mento andasse por aí e que o seu méri-to teria sido encontrá-lo…

Nascido português – nacionalidade que só readquiriu em 1992 – natura-lizou-se brasileiro, na sequência do exílio a que se viu obrigado, por razões políticas. Foi por isso no Brasil que de-senvolveu a maior parte da sua longa vida académica e deu largas à sua pro-dução literária e filosófica, onde ne-nhum género lhe foi estranho. Quando nos deixou, tinha dupla nacionalidade, a sua pátria era a língua portuguesa e a sua religião a dos fiéis do amor.

Aos Fratres e Sorores que queiram saber da riquíssima bibliografia e dos pormenores biográficos de George Agostinho Baptista da Silva, aconse-lhamos consultarem a página http://www.agostinhodasilva.pt. Nestas linhas, vamos tão somente tentar interpretar a figura daquele que entre amigos e admiradores era chamado apenas de “Professor”. Dizemos interpretar, sa-bendo bem que toda a interpretação implica limitação e parcialidade. Profes-sor, aureolado de mistério, rodeado de alunos e de pombos, sob uma frondosa árvore, no Largo do Príncipe Real, em Lisboa, é também como é referido no

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romance Casa da Rússia, do escritor britânico John Le Carré, que o visitou um dia no nº 7 da Travessa do Abarracamento de Peniche, a bem conhecida morada, situada na 7ª colina de Lisboa, onde acorriam em peregrinação per-manente os muitos amigos e admiradores, que tinham por ele uma atração quase religiosa.

Após uma série de entrevistas televisi-vas, subordinadas à designação Conver-sas Vadias, o pensamento do professor Agostinho da Silva chegou ao grande público, tornando-se conversa de café, nem sempre fiel, antes pelo contrário.

O seu magnetismo e a aura pública que ganhara eram tais que o número daqueles que não gostavam dele seria bem reduzido, poucos se atrevendo a criticá-lo negativa-mente. Um dos seus poucos detratores, o melhor que achou para dizer – citamos de cor – foi: “como filósofo, é uma fraude, mas o que mais me aborrece nele é aquela pos-tura presunçosa e anacrónica de profeta”. Todavia, tal remoque mais se destacou pelo azedume do que pela originalidade, pois é certo que alguns comentadores de boa vontade e respeito o designavam como um misto de filósofo grego e profeta bíblico.

Do muito que se dizia e comentava, diríamos nós que aqueles mais virados ao orientalismo chamavam-lhe Mahatma; os tocados pelo new age diziam que tinha vindo do futuro; os esoteristas queriam-no como mestre; os ateus lamentavam que ele não repudiasse a crença em Deus, os cris-tãos que ele fosse budista e os budistas que ele fosse cristão; os monárquicos queriam--no para alferes da pátria, os conservadores chamavam-lhe comunista, os comunistas chamavam-lhe intelectual burguês, os amigos do autoritarismo chamavam-lhe anarquista.

Que bom, para quem dizia que não ti-nha discípulos, porque quem puxa carroça é burro; que discutir, que etimologicamente significa sacudir, é bom, porque, mais do que despertar-nos, não nos deixa adormecer; que se a natureza quisesse que todos pensássemos igual não dava uma cabeça a cada um.

Ele nunca quis discípulos, apenas pro-curou despertar no outro a chama tími-da ou ignorada. Além disto, sendo certo que não desprezava os livros nem o saber de que eles são depósito, prezava bem mais a vida, que ela sim é que é mestra.

Quando lhe perguntavam se se considera-va um esoterista, ou um ocultista, dizia que não, que o Pessoa é que sim, ele seria sim-plesmente, se lhe quisessem pôr uma etique-ta, um místico, cuja principal característica é o amor no seu sentido mais lato, implicando naturalmente o amor ao saber. Dizia ele: Tal-vez o maior amor seja o dos místicos, porque esse [amor] tem consigo a suprema qualidade de nunca ser plenamente realizável1.

Quando lhe diziam do quão utópicas eram as suas proposições, respondia que pois claro, pois que se referiam ao futuro. Não seriam utópicas se havidas no passado, pois que uto-pia é aquilo que ainda se não realizou, aquilo que ainda não teve lugar, segundo a própria etimologia. Não se trata de coisas impossíveis. A utopia de hoje é a realidade de amanhã.

“ Ele nunca quis discípulos,

apenas procurou despertar no

outro a chama tímida ou

ignorada. ”

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É bom que se diga que as propostas de Agostinho da Silva, classificadas por muitos como utópicas, partiam de exigências bem simples, que ele invocava como a base da verdadeira sociologia e chamava do princípio dos três esses: o sustento, a saúde e o saber.

Depois, quando afirmava que não era pelo heterodoxo nem pelo ortodoxo, mas sim pelo paradoxo2, punha em tudo isto o cerne do mistério da Religião e da Ciência, bem como de todo o conhecimento. Veja-se o grande paradoxo da Geometria: o ponto, que não tem dimensão, desenha todas as dimen-sões, toda a geometria conhecida. Também Deus poderá ser visto como o supremo ser paradoxal, pois tem a fatalidade de ser livre, sendo assim o modelo de todos os paradoxos e o poeta à solta por excelência. Então, se o concebemos como modelo, fundamos ne-cessariamente o nosso dever de ascender ao paradoxo. A conquista do paradoxo impede que nos acusemos mutuamente. Quem é que não sabe que é sempre um ortodoxo que acu-sa outro ortodoxo de ser heterodoxo?

O seu contacto com a cultura japonesa – foi bolseiro da UNESCO no Japão – despertou--lhe o interesse pelo xintoísmo e pelo Zen bu-dismo. O seu apreço pelo paradoxo fê-lo dizer que podíamos definir o Zen como um sistema paradoxal por excelência, aquele que admite que alguma coisa seja sempre alguma coisa e o seu contrário. Se perigo existe nisto, é a impos-sibilidade de um verdadeiro código moral.

Tendo estudado profundamente várias religiões, incluindo os cultos afro-brasileiros – participou em rituais de candomblé – dizia do islão que o critério da submissão – eti-mologia de islam – não lhe era simpático, já que a liberdade é o nosso dever ser, mesmo que paradoxalmente se possa dizer que o nosso destino é a nossa liberdade e a liber-dade o nosso destino. O seu fervor ia para o que se referia à Idade do Espírito Santo3, na sequência do pensamento de Joaquim de

Flora4 e das propostas de Francisco de Assis, cuja anunciação ritual e simbólica remonta em Portugal às ações da Rainha Santa Isa-bel5: as festas (culto) do Espírito Santo, a coroação do Menino Imperador do Mundo, a libertação dos presos, a vida gratuita.

A sua grande admiração pela Fé Bahá’í, levou algumas pessoas a pensar que ele seria membro desse culto, mas Agostinho da Silva, poeta à solta, não pertencia a ne-nhuma igreja instituída, nem a partido político ou grupo. Todavia, do seu ponto de vista, a Fé Bahá’í constituía uma atitude religiosa que valia a pena estudar, entender e praticar, pois enquadrar-se-ia nos valo-res constitutivos do Quinto Império6.

Não se confunda Quinto Império com qualquer mando ou poder mundano, conote--se sim com quinta-essência, Idade do Espíri-to Santo, Era de Aquário. Veja-se em Fernan-do Pessoa, veja-se na Ilha dos Amores.

E saiba-se que as propostas Bahá’í7, agostinia -nas e pessoanas, têm imensos pontos convergen-tes e coincidentes com a nossa “Utopia Rosa-cruz”, conforme contida no manifesto Positio.

Voltemos então à vida conversável: … a pluralidade e até a contradição de opiniões [obriga] a pensar e a escolher e é pela escolha que se afirma a liberdade de cada um8. Será, pois, pela via do conversável – da poesia à solta – que a vida se desenvolverá, porque o mundo acaba sempre por fazer o que sonha-ram os poetas9, sendo que poeta é todo aquele que cria10. Afinal, o mundo é só o poema em que Deus se transformou11. Então, bastas vezes o professor dizia que há duas coisas muito importantes que devemos aprender: o quão extraordinário é o mundo e sermos por dentro tão amplos quanto possível, para que o mundo todo possa entrar, sem esquecer que um dos significados da palavra mundo é limpo. Por isso, devemos querer o mun-do e não o seu contrário, que é o imundo. Todavia, seria preciso não viver para negar

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“ … há duas coisas muito importantes que devemos aprender: o quão

extraordinário é o mundo e sermos por dentro tão amplos quanto possível. ”

que o mundo seja mau; mas é nessa mesma maldade que devemos procurar o apoio em que nos firmarmos para sermos nós próprios melhores e, como tal, melhorarmos os outros12. Este melhorar os outros, porém, exige muita empatia e um cuidado apurado quanto à in-transigência. Ser intransigente com os outros não tem grande sentido; eles são o que podem ser e creio que seriam melhores se o pudessem; a Natureza ou o meio lhes tiraram as condi-ções que os levariam mais alto; não os devo olhar senão com uma íntima piedade13. Afi-nal, o mal que se vê é aguilhão para o bem que se deseja; e quanto mais duro, quanto mais agressivo, se bate em peito de aço, tanto mais valioso auxiliar num caminho de progresso14.

Quando o tomavam por vegetariano, costumava dizer que evitava comer bicho, porque os bichos não tinham culpa de que ele precisasse de comer…

Mas um certo dia, em sua casa, um grupo alternativo condenava com paixão a cruelda-de dos caçadores. Ele ouvia, ouvia paciente-mente e a dada altura remata: pois é, matar os pobres dos pássaros, que não fazem mal a ninguém… Claro, é cruel. Mas por outro lado, já viram quanta perícia é necessária para apontar a arma a um bicho assim tão pequenino e acertar-lhe em pleno voo?

Era a sua forma de ver as coisas pelo seu conflito intrínseco e a aplicação didática do princípio cristão de “não julgarás”. Nisto, por

vezes, chegava a ser desconcertante. Numa entrevista, dizia: Não há homem algum que não possa ser elogiado; às vezes os assassinos têm pontaria excelente; e não existe homem algum que não possa ser censurado; houve santos que não tomavam banho15.

De ser desconcertante poderia falar aque-le franciscano que fora convidado para dar início à ideia do professor de uma Faculdade de Teologia e que, quinze dias depois da che-gada ao Brasil, vindo de Portugal, continuava à espera, sem nada para fazer. Foi ter com o professor: “então, a Teologia?”. Responde--lhe o Professor: “Meu querido irmão, faça o seguinte, escolha um lugar sossegado onde ninguém o possa ver ou perturbar, sente-se numa pedra e pense em Deus, sem nunca se distrair, pelo tempo que possa”.

A ideia de Agostinho da Silva para uma Faculdade de Teologia, era um lugar onde residiriam em permanência teólogos de várias religiões com a missão de investi-garem, ensinarem e trocarem experiências teológicas. Nunca tal concretizou e o má-ximo que conseguiu foi uma Faculdade de Teologia restritamente católica, entregue aos dominicanos, com quem acabaria por se dar excelentemente. Foi por eles convi-dado para falar sobre o ateísmo e acabou por converter um deles às suas teses.

Uma das teses era de que alguns dos ateístas tinham uma vida mística tão forte

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e tão sensível quanto a de qualquer homem religioso16. Outra tinha a ver com as re-lações entre religiosidade e mística, pois entedia que há milhões de pessoas religiosas cuja vida mística é nula, sendo praticamen-te uma vida comercial, visto comprarem um certo número de coisas por meio de certos atos e cerimónias e mais nada17.

Em Julho de 1986, entrevistando o pro-fessor Agostinho da Silva para o Diário de Notícias, a jornalista Antónia de Sousa dizia a dado passo: O professor é contagioso..., ao que ele retorquia: Se o contágio é bom, excelente! Se o contágio for considerado ruim, péssimo!

É que há palavras que são vírus de matar a Graça, a charis. Por exemplo: competição, produtividade e rendibilidade, que são formas de negar a fraternidade, a liberdade e a igual-dade. Tal trindade agnóstica dos economistas deste tempo que passa, envolve o desprezo do homem, da natureza e do sagrado. O homem tornado ser descartável, a natureza como uma serva e o sagrado como postura tola de poetas vagos e beatas serôdias. E assim a vida se nega pela assunção da morte e esta nos despreza, porque a escolhemos por engano.

E há palavras que são vírus de enganar, como o moderno diálogo, que é o divórcio na fala pela emulação dos monólogos; a língua bifurcada com palavras de pontas aceradas, es-perando a rendição. Falsamente polidas, enve-nenadamente sopradas. Eis o credo ainda inse-pulto e já cadáver, a sombra que passa. Diálogo que, como dizia o mestre, tem o mesmo prefi-xo que diabo, que é aquele que divide. Diabo que só existe quando lhe damos existência.

E há ainda palavras de ornamento, inúteis como togas, e outras de ruído que empapam a conversa. E há o discurso da promessa e do apelo, a ameaça e os esbirros de soslaio. Mas vem o menino imperador e diz: “bas-ta!” Nem grades nem ornamentos. O me-nino tem o sorriso bondoso e matreiro do velho professor. Está como sempre esteve,

no Príncipe Real, a dar milho aos pombos e palavras de eucaristia aos jovens atentos. Como o viu John Le Carré e quase assim o pôs na “Casa da Rússia”. O escritor só não viu que este era um ritual, um quase conjuro do grande banquete do Espírito Santo, que Isabel, influenciada por Joaquim de Flora, inventou para um dia – um dia de comer de graça para todos – e nós temos de ser capazes de em futuro mais ou menos pró-ximo prolongar por todo o ano. E aí à mesa se conversa, que é o modo mais humano de comunhão dos alimentos do corpo e da alma.

Conversar sim, que é colocar-se a gente na posição do outro. Em conversão, que é um caminho de dois sentidos, uma postura de mútua descoberta. 4

* Por respeito ao autor, que é de Portugal, conservamos a forma original da escrita.

Notas: 1. “Sete Cartas a Um Jovem Filósofo”; 2. Uma das obras de Agostinho da Silva chama-se precisamente Reflexões, Aforismos e Paradoxos; 3. Podíamos identificar com Idade de Aquário; 4. Teo-ria das três idades: do Pai, do Filho e do Espírito Santo; 5. De educação e ascendência cátara, à Rai-nha Santa Isabel atribui a lenda o célebre milagre das rosas: teria transformado moedas de ouro nas mencionadas flores. O curioso é que à sua tia-avó, Isabel da Hungria, também a lenda diz o mesmo. De Santa Isabel, o que muito poderá despertar a curiosidade dos rosacruzes é a sua relação com o médico, astrólogo e alquimista Arnaldo de Vilano-va. O túmulo da santa, com o seu corpo incorrupto, encontra-se no Convento de Santa Clara-a-Nova, em Coimbra; 6. “Raízes Intemporais da Vida e da Alma de Agostinho da Silva”, Ellys, Editora Sete Caminhos, Lisboa, 2006; 7. A título de afastar qual-quer confusão, devemos esclarecer que os célebres colóquios “TRADIÇÃO E INOVAÇÃO – SUA UNI-DADE EM AGOSTINHO DA SILVA”, que tiveram lugar na Faculdade de Letras do Porto (1996-1999), se deveram ao grande empenhamento da associa-ção agostiniana CADA, onde membros da AMORC e seguidores da Fé Bahá’í tiveram a iniciativa; 8. “Carta Vária”; 9. “Conversação com Diodima”; 10. “Conversas Vadias”, entrevistas televisivas. Foram publicadas em DVD; 11. “Quadras Inéditas”; 12. “Parábola da Mulher de Loth”; 13. “Diário de Alcestes”; 14. “Considerações”; 15. “Conversas Vadias”; 16. “Vida Conversável”, textos organiza-

dos e prefaciados por Henryk Siewierski, Assírio & Alvim, Lisboa, 1994; 17. Ibidem.

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Por LUIZ AFONSO CAPRILHONE ERBANO, FRC*

Marketing pessoale Misticismo

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Nenhum vento sopra a favor de quem não sabe para onde ir, frase atribuída à Sêneca, cé-lebre filósofo grego que viveu

entre 4 a.C. e 65 d.C. Assim, devemos nos propor a seguinte questão: “O que eu estarei fazendo daqui a dez anos? Onde estarei? Quais serão meus objetivos?”

Planejamento, nos dias atuais, tornou--se uma palavra de ordem. Não se alcança nenhum objetivo, de qualquer natureza, seja de caráter pessoal ou empresarial, se não houver um minucioso trabalho de análise, avaliação e execução de um plano, no qual cons-tem todas as possibili-dades e alternativas referentes ao que se espera ou se propõe para o futuro.

Planejar, num sentido mais ge-ral, é determinar o caminho que nos levará da situ-ação atual a uma situação futura me-lhor, em todos os seus aspectos. Não basta querer, é preciso colocar em prática ações que nos levem ao estado futuro almejado.

Todo estudante Rosacruz sabe da importância da mentalização como instru-mento para a consecução de objetivos, por mais difíceis que possam parecer. O Cós-mico possui todos os recursos, cabendo a cada um de nós imaginar exatamente o que queremos e deixar que o Cósmico encontre os meios, dentro do merecimento de cada um, para que o objetivo seja alcançado.

O Universo é ilimitadamente rico em potencialidades e não somos nós apenas meros espectadores de sua grandiosidade,

mas sim agentes transformadores, emana-dos que somos - imagem e semelhança de Deus. Cabe-nos evoluir em todos os sentidos e, presos que estamos temporariamente à matéria, podemos e devemos desfrutar, com sabedoria, dos benefícios que ela pode trazer à evolução de nossa personalidade-alma.

Assim, como conciliar o desejo de as-cender na senda da iluminação com a bata-lha diária pela sobrevivência num mundo cada vez mais materialista e competitivo? A AMORC nos ensina que não podemos ne-

gligenciar nossa condição material, pois ela tem papel importante

em nosso desenvolvimento espiritual, propiciando-

-nos as necessárias experiências para o

desenvolvimento total de nosso cor-po, de nossa men-te e de nossa per-sonalidade-alma.

Logo, os recur-sos que a Ciência

nos coloca à dis-posição não podem

ser negligenciados ou esquecidos, pois

que podem nos ajudar significativamente na busca

das condições materiais que nos facilitem o alcance da transcendência

da alma, aliviando o sofrimento resultante da busca da satisfação das necessidades básicas da carne e abrindo a oportunidade para a iluminação espiritual.

Portanto, o tema deve ser analisado sob duas óticas: inicialmente, devem ser analisa-dos os aspectos existentes no mundo físico, ou seja, o que a sociedade e o mundo empre-sarial esperam dos profissionais, quais são os seus valores e seus atributos e o que fazer para desenvolvê-los. Depois, como conciliar

“ Não basta querer,

é preciso colocar em prática ações que nos levem ao

estado futuro almejado. ”

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estes atributos com os valores de um verda-deiro místico, que busca a plena harmonia entre o plano material e o plano espiritual?

Dentre os diversos conceitos utilizados pela moderna Administração de Negócios, destaca-se o Marketing como um dos mais importantes neste mundo globalizado e cheio de desafios. Porém, no mais das vezes, esta Ciência é mal-entendida e até mesmo mal-vista, num sentido frequentemente bastante pejorativo. Entretanto, trata-se de ferramenta estratégica indispensável e fundamental para o sucesso das organizações.

Destaca-se, por sua abran-gência, a definição estabe-lecida por Kotler (2000, p.30): Marketing é um processo social por meio do qual pessoas e grupos de pessoas obtêm aquilo de que necessitam e o que desejam com a criação, oferta e livre negociação de produtos e serviços de valor com outros.

Ou seja, a principal função do Marketing é a de satisfazer desde as neces-sidades básicas dos indivíduos até e os seus mais sofisticados desejos, por meio de ferramentas que impliquem no processo de trocas, ou seja, se há uma neces-sidade (estado de carência, falta) ou um dese-jo (aspecto da necessidade, derivado de fato-res socioculturais e individuais) há como sa-tisfazê-los, obtendo, em troca, uma remune-ração ou o reconhecimento de uma situação que traga algum benefício aos envolvidos.

O conceito de Marketing surgiu no final dos anos 50, com conotação fortemente empresarial, mas nos dias de hoje é mais

uma filosofia de gestão, aplicada a qualquer atividade humana, na qual as decisões são tomadas mais de fora para dentro (o que o mercado ou a sociedade precisa), do que de dentro para fora (o que eu tenho para ofere-cer ao mercado ou à sociedade).

Por extensão, pode-se, a partir da defi-nição original de Marketing, atribuir um conceito à ideia de Marketing Pessoal como sendo como o indivíduo/profissional projeta sua imagem no mercado de trabalho, ou seja, o processo contínuo que visa à construção e

manutenção de uma imagem pesso-al e profissional diferenciada.

Trata-se, em última instân-cia e dentro de padrões

rigorosamente éticos e profissionais, de

como o profissional “vende” sua ima-gem ao mercado de trabalho.

Mas, antes de tudo, é necessário conhecer o que o

mercado de traba-lho procura num

profissional; quais são os conhecimentos

que ele deve desenvolver, quais deverão ser as habi-

lidades que devem ser desen-volvidas para enfrentar os desafios da

vida cotidiana, quais serão as suas atitudes diante destes desafios? A soma destes valores denomina-se competência e a soma das com-petências individuais origina, numa organi-zação, o que se chama de capital humano.

Assim, o capital humano de uma orga-nização deriva da capacidade individual de resolver problemas (Competências Técnicas, Habilidades Pessoais, Atitudes, Educação, Experiência e Valores), cujo valor pode e deve ser atribuído ao balanço das organi-

“ … o sucesso pessoal

e profissional está atrelado a pessoas

com visão de futuro… ”

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zações, pela impossibilidade de se conceber uma organização sem pessoas.

Destes conceitos, pode-se ainda depreen-der que o sucesso pessoal e profissional está atrelado a pessoas com visão de futuro (ca-pacidade de analisar possibilidades), que são capazes de resolver problemas com compe-tências específicas para determinadas funções (ancoragem técnica) e que possuam vontade de fazer as coisas, com capacidade de trabalhar em equipe, além de serem comprometidas e com grande capacidade e vontade de aprender. E isto tudo deve estar solidamente fundamen-tado em valores éticos e num grande sentido de responsabilidade social e ambiental.

Além disto, há uma série de atributos que certamente são necessários para um maior desenvolvimento pessoal e que os estudantes de misticismo, em geral, têm mais facilida-de de reconhecer e, então, aprimorar. Em

primeiro lugar, deve-se ter visão de mundo holística, ou seja, perceber claramente que a vida é uma só quer estejamos em casa, no trabalho, no lazer ou num templo sagrado. A realização é um processo contínuo e ocorre a cada minuto do dia, onde quer que estejamos ou estejamos fazendo. Para isto, é preciso uma grande dose de autoconhecimento, ou seja, devemos conhecer profundamente nossos talentos no sentido de aprimorá-los, e nossas limitações, na intenção de minimizá-las.

Para tornar estes atributos perceptíveis é necessário também aprender a se comuni-car, a expressar pensamentos e ideias com clareza, criando assim um ambiente favorá-vel junto aos possíveis interlocutores, para a consecução de objetivos que favoreçam não só o desenvolvimento individual, mas principalmente de todo o grupo envolvido numa determinada atividade. Perseverança,

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persistência e nunca desanimar, devem ser palavras de ordem, para que se tenha a capa-cidade de suportar as pressões do dia e dia e voltar à luta sem perder o ritmo e o entusias-mo, o que se chama de resiliência.

Importante ainda é destacar a importân-cia de ampliar os relacionamentos pessoais e profissionais, formando uma rede (network) de contatos que manterão o indivíduo, no sentido pessoal e profissional, sintonizado com o mundo e com o mercado de trabalho. Deve-se lembrar o que diz a sabedoria popu-lar: “quem se assemelha se aproxima”. Logo, aqueles que fazem parte de uma rede de relaciona-mentos, geralmente apre-sentam semelhanças em diversos aspectos que acabam por qualificar o grupo todo, facilitando um julgamento mais favorável por quem busca um determinado per-fil de profissional. Daí a importância de se estabelecer uma network a partir de critérios muito rigorosos.

Estes são, de forma resumida e concisa, alguns aspectos concernentes à realidade atual do mercado de trabalho, cada vez mais competitivo e exigente quanto à qualificação profissional e sem os quais o interessado em se desenvolver pode ver ruir seus sonhos de construir ou avançar na carreira, de forma sólida, consistente e permanente.

Mas existe outro lado da vida, que não é apenas satisfazer as ambições de crescimento profissional, de adquirir bens ou desfrutar das muitas oportunidades que o mundo material pode propiciar. O místico sabe que

estes fatores todos são apenas um instrumen-to para que ele possa atingir as condições necessárias para perseverar na senda da ilu-minação, ou seja, o sucesso material deve ser visto como um facilitador para o acesso aos recursos que levem o buscador ao caminho da Luz, da Vida e do Amor.

Neste momento surge a necessidade de se analisar a segunda proposta deste texto, que é a de definir as condições que vão além do texto científico, além das exigências do mer-cado, mas que se configuram como a inclu-

são de aspectos de natureza mística na busca da evolução profissio-

nal, tornando clara a fina-lidade espiritual a partir

da busca de melhores condições materiais.

A ideia de su-cesso para o mís-tico deve ser a de alcançar, passo a passo, metas progressivas, pré--estabelecidas e que levem a um

propósito elevado. A palavra propósi-

to reveste-se de uma importância muito es-

pecial, pois deriva do inglês pure proposal, cuja tradução

pode ser entendida como “proposta pura”, ou seja, o que de mais puro temos a oferecer a nós mesmos, resultado de uma imagem nítida e clara de um futuro superior, em todos os aspectos, ao estado presente.

Para que não arrefecer e se manter fiel ao seu propósito, vale lembrar Mateus 26,41: “Vigiai e orai, para não cairdes em tentação. O espírito, com certeza, está preparado, mas a carne é fraca”. Isto significa que devemos sem-pre agradecer pelos talentos com os quais o Cósmico nos abençoou e procurar aprimorá-

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-los sempre, numa atitude de permanente mo-tivação, ou seja, buscar no fundo do coração os reais e mais nobres motivos para a ação.

O verdadeiro místico não acredita no des-tino. É claro que todas as pessoas nascem com certa inclinação, certa missão na vida, mas, pelo livre-arbítrio, podem alterar o rumo dos acontecimentos, pela prática da inalterável lei da causa e consequência. A maior parte das coisas que acontecem às pessoas decorre de decisões que são tomadas no passado, restan-do um percentual bem menos significativo ao impacto das decisões daqueles que nos ro-deiam ou de fatores externos e sem controle.

Quem trabalha a Energia Cósmica a seu favor, com persistência e entusiasmo, de-senvolve um sentido de autoconfiança que o levará ao estado de independência e ri-queza espiritual e material que caracteriza, senão os iluminados, com certeza aqueles que estão trilhando a verdadeira senda que levará à almejada iluminação.

Se os objetivos forem claros, os ideais se-rão desafiadores e de fácil consecução, pois estarão em convergência com o propósito es-tabelecido para esta encarnação. Se todos fi-zerem apenas o que se espera deles, o mundo não evolui. O verdadeiro buscador, ou seja, aquele que não só evolui individualmente, mas quer fazer a diferença para a evolução da humanidade, seja em que área for (espiritu-alidade, política, ciência, humanismo, litera-tura, artes em geral, etc.) sempre estabelecerá para si mesmo objetivos desafiadores.

Para melhores resultados é necessário se estabelecer uma divisão entre as diversas áre-as da vida, em seus aspectos físicos (econô-mico, financeiro, alimentação, atividades físi-cas, saúde, etc.), mentais (carreira, profissão, educação formal e informal, leituras, lazer, política, hobbies, etc.) e espirituais (religião, misticismo, etc.), estabelecendo metas e a correspondente troca que poderá ser ofereci-da para se alcançar determinado objetivo.

Não basta querer, é preciso determinar, inicialmente no plano místico, pedindo ao Cósmico, conforme o que a Ordem ensina (mentalizando, refletindo sobre as opções, meditando e entregando a solução ao Cós-mico), mas também é necessário colocar no papel as metas, os prazos para que a ação aconteça, o que oferecemos em troca deste ou daquele objetivo, além de formas eficazes de acompanhamento e avaliação dos resultados alcançados. Manter-se fiel ao propósito é fun-damental. Não é à toa que a palavra foco (do grego focus/fogo) representa um ponto no qual se deve concentrar a atenção em busca de respostas para as mais variadas aflições.

Em síntese, o sucesso pessoal, a autorrea-lização e a busca pela iluminação estão todos vinculados ao estabelecimento do equilíbrio entre o físico e o espiritual, entre o pessoal e o profissional, por meio do aprimoramento das relações pessoais e interpessoais, com ética e responsabilidade social e ambiental.

Só assim o ser humano estará cumprindo com o seu mister, que é utilizar os recursos da matéria que ele mesmo escolheu, pelo exercício do livre-arbítrio, como veículo de evolução da personalidade-alma rumo à reintegração com o Deus de seu coração, voltando à Unidade, de onde, talvez, nunca devesse ter saído. 4

Referência Bibliográfica: KOTLER, Philip. Administração de Marketing. 10. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2000.

* Luiz Afonso Caprilhone Erbano é professor universitário, consultor de empresas e palestrante em diversas áreas; especialista em Marketing e Propaganda, Didática do Ensino Superior; MBI em Gestão Estratégica do Conhecimento e da Inteligência Empresarial; mestre em Educação, doutor em Engenharia da Produção; cursos de aperfeiçoamento em Engenharia de Avaliações e Gestão Universitária (University of Alberta/Canada). Autor de diversos artigos e dos livros: “Gestão e Marketing na Era do Conhecimento”; “A Captação de Recursos para Instituições de Ensino Superior sem Fins Lucrativos no Brasil”; Participação nos livros “Educação 2006”; “Educação 2007” e “Safira Paranaense” (2015). Autor do romance “A Verdade Original Revelada” (2010); do livro de poesias “Na Intimidade do Espelho”(2014). FRC, Membro da Loja Rosacruz Água Verde, Curitiba-PR.

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Por RALPH M. LEWIS, FRC

Os cavaleiros templários

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Rua dos Cava leiros: Em 1310, os Cava leiros de St. John construí ram um castelo e fortaleza na cidade de Rodes, na ilha grega de Rodes, no Mar Egeu, próxima à costa da Turquia. Os templá rios original mente juraram defender a segurança de todos os peregri nos que viajassem para a Terra Santa.

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Os Cavaleiros Templários fo-ram um desen-volvimento na-

tural das Cruzadas da Idade Média. Como é de conheci-mento geral, as Cruzadas fo-ram uma série de expedições à Síria e à Palestina, esta últi-ma denominada Terra Santa. As Cruzadas consistiam de “devotos e intrépidos reis e cavaleiros”, bem como cléri-gos, soldados e simples cam-poneses. Seu intuito era de libertar ou recupe rar a Terra Santa, a terra natal do Cristo, daqueles que os cruzados chamavam de “turcos infiéis”.

Nesse período em particular, o cris-tianismo ocidental significava a Igreja Católica Ro mana; não havia outras seitas cristãs. Todas as outras religiões ou cren-ças eram não-cris tãs; consequentemente, em conformidade com a intolerância que então prevalecia, eram elas pagãs e seus seguidores infiéis. No sentido literal, pagão é o indivíduo que não reconhece o Deus da revelação. Todavia, um pagão não é ne-cessariamente ateu. Mas, na opinião dos cristãos daquela época, e de muitos cristãos dos nossos dias, uma pessoa devota que conceba Deus no sentido pan teístico, ou como uma consciência universal, é, não obstante, pagã. Com toda certeza, todos os não-cristãos eram assim con siderados.

Parecia irreverente, um sacrilégio, para os cristãos, que locais relacionados com o nascimento e a vida do Cristo estivessem sob domínio de alguma autoridade não--cristã. Pequenos bandos de peregrinos, durante anos antes das Cruzadas, haviam viajado para a Palestina, com o fim de visi-

tar os santuá rios. Em sua devoção e primiti-va crença, imaginavam que tais visitas lhes trariam uma graça espiritual, assegurando--lhes bênçãos especiais no outro mundo.

Eles atravessavam regiões agrestes, onde praticamente não havia lei e ordem. E punham em risco a sua segurança, via-jando principalmente a pé. Em consequ-ência, eram assaltados, roubados e mortos por bandidos que os atacavam. Esses fatos chegaram ao conhecimento da Europa Ocidental e da cristandade e tornaram--se o incentivo para as Cruzadas.

Durante os séculos doze e treze, cada geração formou pelo menos um grande exército de cruzados. Além desses enor-mes exércitos, que às vezes chegavam a trezentos mil homens, havia “pequenos bandos de peregrinos ou soldados da Cruz”. Durante aproximadamente duzentos anos, houve um fluxo quase contínuo de reis, príncipes, nobres, cavaleiros, clérigos e gente do povo, da Inglaterra, da França, da Alemanha, da Espanha e da Itália, para a

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Conquista de Jerusalém pelos Cruzados, por Émile Signol, no Palácio de Versalhes.

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Ásia Menor. Ostensivamente, essas migra-ções tinham fins religiosos, levando consigo, como já disse mos, muitos aventureiros, cujo objetivo era de explorar. Assassinos e ladrões viajavam para a Terra Santa e rou-bavam, pilhavam e violavam mulheres.

Os muçulmanos, devotos e respeitadores da lei, cuja cultura era muito superior à da Europa, na época, ficavam chocados com a conduta desses “cristãos”. Era de se esperar que protegessem suas famílias e proprieda-des desses saqueadores religiosos. Assim, por sua vez, matavam os peregrinos ou os expulsa vam. Sem dúvida, muitos peregri-nos inocen tes perderam a vida por causa da reputação criada pela conduta de alguns de seus com panheiros. Os povos não-cristãos do Oriente Próximo não podiam distinguir os peregrinos que tinham nobres propósitos daqueles cujos objetivos eram perversos.

A PrimeiraCruzada Tomando conhecimento desta situação, o Papa Urbano II, em 1095, em Clermont, França, exortou o povo a iniciar a primeira grande Cruzada. Conclamou os cavaleiros e nobres feudais a cessarem a guerra que tra-vavam entre si e socorrerem os cristãos que viviam no Oriente. “Tomai a estrada para o Santo Sepulcro; arrebatai a região à raça per-versa e sujeitai-a ao vosso domínio”. Consta que, quando o Papa terminou de falar, a vasta multidão que o escutava clamou quase em uníssono: “É a Vontade de Deus”! Esta frase tornou-se depois o grito de guerra da heterogênea massa que formou o exército da Cruzada. Aqueles homens estavam convictos de que estavam obede cendo à vontade de

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Deus, de modo que brutalidade, assassínio, estupro e pilhagem, nas terras do Oriente, estavam justificados por sua missão.

Era impossível aqueles milhares de ho­mens levarem consigo alimento suficiente para a viagem, visto que esta durava vários meses, em condições muito difíceis. Por­tanto, eram obrigados a buscar sustento nas terras que invadiam. Muitas pessoas inocen­tes do Oriente, não­cristãs, eram assassina­das, seu gado lhes era tomado e suas casas saqueadas, para o sustento dos cruza dos, que sobre elas se abatiam como nuvem de devo­radores gafanhotos. Naturalmente, a retalia­ção vinha rápida e violenta. Muitos cruzados foram mortos pelos húngaros, que reagiram para se proteger contra a depre dação causada pelas hordas que passavam por sua região.

O espírito de avareza ou cobiça apro­veitou­se das circunstâncias. Muitos cruza­dos procuravam seguir para a Palestina e a Síria por mar, a fim de evitar a viagem mais longa, toda feita por terra. Ricos mercadores das prósperas cidades de Veneza e Gênova tramaram conceder aos cruzados “livre” pas­sagem para a Síria e a Palestina. Mas exi giam dos peregrinos o compromisso de exclusi­vidade de comércio em qualquer cidade por eles conquistada. Isto permitiria a esses mer­cadores ocidentais manter centros comerciais no Oriente, obtendo então os excelentes pro­dutos do seu artesanato. As joias, a cerâmica, a seda, a especiaria, a mobília e os bordados do Oriente eram superiores a tudo o que se produzia na Europa Ocidental da época.

Das Cruzadas emergiram muitas curio­sas ordens religiosas e militares. Duas das mais importantes foram os Hospitalários e os Templários. Estas ordens “combina­vam dois interesses dominantes da época, o monge e o soldado”. Durante a primeira Cruzada foi formada, de uma associação monástica, a ordem conhecida como os

Hospitalários. Seu objetivo era de socor­rer os pobres e enfermos dentre os pere­grinos que viajavam para o Oriente.

Posteriormente, a Ordem admitiu cava­leiros, além de monges, e depois tornou­se uma ordem militar. Os monges usavam uma cruz em sua veste e andavam com uma espada à cinta. Lutavam, quando ne­cessário, embora se dedicassem principal­mente a socorrer os peregrinos doentes. Haviam recebido generosas doações de terras, nos países do Ocidente. Também construíram e controla ram mosteiros fortificados, na Terra Santa. No século treze, quando a Síria, principalmente, foi evacuada pelos cristãos, os Hospitalários mudaram sua sede para a ilha de Rodes e, mais tarde, para Malta. Esta ordem ainda existe e seu emblema é a Cruz de Malta.

A outra ordem tinha o nome de Cavaleiros Templários, ou “Cavaleiros Pobres de Cristo e do Templo de Salomão”. Esta Ordem não foi fundada para fins de auxilio terapêutico. Desde sua formação, era uma ordem militar. Seus fundadores foram Hugues de Payens,

A Cruzde Malta

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Castelo dos Cavaleiros. Este castelo, do Grande Mestre dos Cavaleiros de São João de Jerusalém, está situado na antiga cidade de Rodes, onde fundaram uma cidade-fortaleza, no século catorze. Os italianos a restauraram em 1937-40.

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um cavaleiro borgonhês, e Geoffroi de Saint-Omer, um cavaleiro francês.

No começo do século doze, eles assumi-ram a proteção dos peregrinos que se diri-giam a Jerusalém. Pretendiam realmente constituir uma escolta armada para esses grupos. Mais tarde, seis outros cavaleiros se uniram a eles. Esses nove cavaleiros se constituíram numa “comunidade religiosa”. Fizeram um juramento solene, ao Patriarca de Jerusalém, em que se comprometeram a guardar estradas públicas e abandonar o cavaleirismo terreno; seu juramento incluía um voto de castidade, abstinência e pobreza.

A missão dos Templários arrebatou a imaginação, não só dos homens livres de classes inferiores, mas, também de altas

autoridades seculares e no seio da Igreja. Balduíno I, Rei de Jerusalém, cedeu parte do seu palácio a essa Ordem de monges-guer reiros. Esse palácio era adjacente à Mesquita de Al-Aksa, o chamado Templo de Salomão. Devido a esta localização os componentes da Ordem passaram a ser cha-mados Cavaleiros Templários (Cavaleiros do Templo). A princípio, não usavam unifor-mes, nem qualquer hábito especial; usavam suas roupas costumeiras. Depois, passa-ram a usar uma veste branca com a dupla cruz vermelha. O primeiro ato que atraiu atenção mundial para eles foi o seu esforço para redimir cavaleiros excomungados.

Muitos cavaleiros haviam violado seu alto código de cavaleirismo, em expedições

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O templo de Paris.

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à Terra Santa, e haviam sido excomunga-dos pela Igreja. Os Templários procuraram redimi-los e introduzi-los em sua Ordem. Assumiram também a missão de “impe-dir que trapaceiros, assassinos, perjuros e aventureiros, explorassem a Terra Santa”.

Um outro ato, logo no início, colocou os cavaleiros em atrito com o clero. Os Templários tentaram conseguir imunida-de à excomunhão por párocos e bispos.

O dirigente principal da Ordem era denominado “Mestre do Templo de Jerusa-lém”. Mais tarde, passou a Grande Mestre da Ordem em Chipre. A autoridade desse Grande Mestre era considerável; mas não era absoluta. Ele tinha de consultar a maio-ria dos Templários em questões como, por exemplo, declarações de guerra. Por mui-tos anos os Templários mantiveram-se em guerra contra os “infiéis”. Os chamados infiéis eram principalmente os sarracenos, muçulmanos devotos e ferozes na defesa de sua fé. Com frequência os Templários, embora demons trassem grande bravura, eram chacinados nessas campanhas, como na batalha de 18 de outubro de 1244.

Como Ordem, os Templários se torna-ram extremamente ricos. Eram-lhes legadas grandes propriedades, e a nobreza lhes fazia vultosos donativos. Esta fortuna e seu con-sequente poder exerceram seu efeito sobre a Ordem. Às vezes os Templários ostentavam uma autoridade que chegava a constituir arrogância. Não obstante, conti nuaram a se aliar, por vários meios e particularmente como indivíduos, às famílias reinantes da Europa. “Um Grande Mestre era padrinho de uma filha de Luiz IX”. “Um outro era padrinho de um filho de Filipe IV”. Sua influência se fez sentir em meio ao clero, pois, os Templários eram convocados a par-ticipar nos concílios privativos da Igreja, como o Concílio Lateranense de 1215.

Banqueirose Financistas Uma curiosa função, totalmente distinta de seu objetivo declarado, mas que era um sinal do seu poder, foi a de que os Tem plários se tornaram os grandes financistas e banquei­ros da época. Consta que seu Templo de Paris era o centro do mercado financeiro mundial. Neste banco, papas e reis deposi­taram seu dinheiro. Os Templários ingressa­ram com êxito no mercado de câmbio com o Oriente. Essa foi talvez a primeira de tais empresas na Europa. Não cobravam juros sobre empréstimos, pois, a agiota­gem era proibida, declarada imoral pela Igreja e a Coroa. Aluguéis superiores aos valores usuais para empréstimos sob hipo­teca eram uma espécie de juro tolerada.

A história registra que os Templários atin­giram o ápice do seu poder pouco antes de sua ruína. Com efeito, haviam eles se tornado uma “igreja dentro da Igreja”. Isto acabou provocando uma desavença com o Papa Bonifácio VIII. No dia 10 de agosto de 1303, o rei se aliou ao chefe dos Templários contra o Papa. Esse mesmo rei, Philippe, acabou

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traindo os Templários. Ele havia sofrido um grande prejuízo financeiro e não conseguira recuperar seus recursos. Imagi nou, então, que a supressão dos Cavaleiros Templários lhe seria vantajosa; assim, plane jou unir to-das as ordens, sob a sua autori dade.

Primeiro era necessário, pensava ele, desa-creditar os Templários. Procurou realizar seu intento proclamando que a Ordem era heréti-ca e imoral. Introduziu espiões na Ordem, os quais, segundo consta, cometeram perjúrio revelando os ritos, juramentos e cerimônias, e declarando que os mesmos profanavam o cristianismo. O público em geral sabia que os Templários tinham ritos secretos, mas não conheciam realmente sua verdadeira nature-za. Havia rumores infundados de que esses ritos eram lascivos e blasfemos. Portanto, as declarações dos espiões perjúrios do Rei Philippe pareceram confirmar os boatos.

O Papa não se demonstrou inclinado a acreditar naqueles relatos que lhe eram transmitidos através das tramas de Philippe e tomar providências em função dos mes-mos. Então o rei, astutamente, apresentou suas inventadas queixas à Inquisição, que, na época, prevalecia na França. A Inquisição tinha o poder de agir sem consultar o Papa. Em consequência, o Grande Inquisidor exi-giu a prisão dos Templários. No dia 14 de setembro de 1307, Philippe determinou que os membros da Ordem dos Templários fos-sem capturados.

Jacques de Molay A 6 de junho de 1306, Jacques de Molay, Grande Mestre dos Templários de Chipre, consultava o Papa Clemente V sobre “a pers-pectiva de uma nova Cruzada”. Aproveitou o ensejo para denunciar as acusações que estavam sendo feitas contra os Templários e partiu. Durante todo o tempo em que

lhes eram imputadas incriminações, os Templários não se defenderam. Seis meses depois, Jacques de Molay e sessenta de seus companheiros foram presos e forçados a confessar. Primeiro, os oficiais do rei os tor-turaram. Em seguida, entregaram-nos aos inquisidores da Igreja, para que fossem ainda mais torturados. Muitos desses Templários eram idosos e morreram em decorrência da desumana crueldade a eles infligida por aqueles representantes da Igreja. As con-fissões que lhes eram arrancadas eram falsas; eles foram forçados a confessar atos de irreverência e heresia. O Grande Mestre foi obrigado a escrever uma carta em que admitia ter cometido atos contra a Igreja.

O Papa acabou sancionando os atos dos inquisidores e ordenou a prisão dos Tem-plários em toda a cristandade. É possível que tenha se sentido inseguro quanto à medida que tomara, pois, mais tarde, de-terminou uma nova Inquisição, para recon-siderar as acusações contra os Templários. Acreditando que teriam um julgamento justo, os Tem plários abjuraram suas confis-sões anteriores, que tinham sido feitas sob coação. Sofreram, porém, amarga decepção! A retração de suas confissões era passível de punição com a morte na fogueira, cas-tigo que muitos foram obrigados a sofrer.

No dia 14 de março de 1314, Jacques de Molay, o Grande Mestre, e um outro Tem plário, foram levados a um cadafal-so “ergui do em frente à Notre Dame”. Deviam então confessar sua culpa, ante os legados papais e o povo. Ao invés dis-to, abjuraram suas confissões e tentaram defender os Tem plários diante da gran-de multidão que assis tia ao processo. Proclamaram a inocência da Ordem. Foi imediatamente ordenado, então, que eles fossem queimados. E assim foram executa-dos, com a aprovação da Igreja Romana.

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O que os Templários haviam realizado? Muitos lhes atribuíram o impedimento

da propagação do poder islâmico na Europa. Talvez eles tenham realmente contribuído para isto, mas é discutível a questão de que a propagação da cultura islâmica na Europa teria sido prejudicial. Geralmente, os his­toriadores admitem que a civilização teria avançado séculos se tivesse sido permitido que a sabedoria dos muçulmanos se pro­pagasse pela Europa naquela época. Foram necessários vários séculos de progresso do conhecimento, na Europa, para igualar e superar o conhecimento que os muçulmanos então possuí­am. Os povos islâmicos eram os preservadores do conhecimento original dos gregos e dos egípcios.

Talvez a maior realização dos Tem­plários tenha sido o estímulo à virtude entre os bravos e fortes. Muitos cavaleiros haviam adquirido muito conhecimento nos países orientais durante as Cruzadas. Tinham descoberto que havia no Oriente uma civilização superior à que existia na mais rude sociedade do Ocidente cristão.

Muitos Templários foram secretamente iniciados nas escolas de mistério do Oriente, onde lhes foi revelada a sabedoria do passa­do. Embora constituíssem uma Ordem cristã, os Templários eram independentes da Igreja, no sentido de que esta não dominava o seu pensamento. Muitos se tornaram Templários porque, dentro da esfera de influência e prote­ção da Ordem, podiam estudar e desenvolver um conhecimento que não ousavam, como indivíduos, estudar e desenvolver fora dessa esfera. As pessoas de mentalidade liberal ti­nham na Ordem dos Cavaleiros Templários uma espécie de refúgio. Foram estes estudos, a investigação intelectual e os rituais mís­ticos, que pro vavelmente deram crédito ao boato de que os Templários eram hereges.

Segundo a tradição, muitos cavaleiros Cruzaram o Umbral da Ordem Rosacruz e a ela se afiliaram os que eram membros de escolas esotéricas. Muitos cavaleiros ti-veram a coragem de investigar os campos de conhe cimento que suas aventuras nos países orientais haviam possibilitado. E esse conhe cimento ultrapassava as limita-das fronteiras de indagação da Igreja. 4

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n C O N T O M Í S T I C O

Por AULORES FERREIRA LYRA, SRC

Senhor, criador e doador da vida.Experimento a vocação

de ser semente, encontro-me no meio de muitas outras

sementes, sinto-me em comunhão e ao mesmo tempo me sinto única.

Tu nos tomas em tuas mãos, conheces profundamente cada uma de nós, acolhes nossas diferenças e tens carinho especial por todas.

Senhor, reconheço que estar em tuas mãos dá-me segurança, sentir tua ternura me deixa em paz.

Sinto alegria única em ser semente e alegria maior por estar em tuas mãos, nosso criador.

Nesta presença amorosa e significativa, experimento algo novo em meu viver: sinto grande encanto por minha existência, sinto sinceros desejos de querer trabalhar mais em tua senda.

Quero ser útil, quero ser sinal, quero ser tua. Por isso confio no Senhor.

Começo a acolher mais e mais teu projeto de vida para comigo, sonho de esperança para todos.

Confesso Senhor, que muitas vezes não sei o que desejas de mim. Vivo em muitas dúvidas e resistências.

Mesmo assim confio. Sei que em Tuas mãos estou segura.

Pois sei que me amas muito. Às vezes me sinto cansada, reajo, e sigo em especial, a chuva que vem do céu e que está fazendo

abrir meu coração, e de braços abertos para nos acolher como semente e para nos acompanhar cada uma na sua simplicidade.

E chega um momento histórico, um momento decisivo: é preciso descer até as profundezas da terra.

É preciso mergulhar no novo, no desconhecido.

O semeador com toda a ternura do mundo deita-me terra adentro.

Algo estranho acontece comigo: foge-me a luz, sufoca-me a terra, invade-me o medo e a solidão…

Tudo é escuridão, estou só.Sinto falta da luz, das outras sementes.Sinto falta do carinho, falta-me

a mão do semeador.Deparo-me com os muros da terra,

estou num mundo desconhecido, num silêncio gritante.

Experimento o desespero, o abandono, não vejo saída, estou sem forças. Sinto-me acorrentada ao meio, à impotência, ao nada.

O que está acontecendo comigo? O que fazer? Como sair dessa? De longe escuto uma voz suave que me diz: “não tenhas medo, seja amigo da terra, confie nela” confiar em quem me sufoca? Como acolher o que parece uma ameaça? Como ser amigo de quem me amedronta? Com as lágrimas e o suor reguei a terra e pouco a pouco fui me rendendo, fui confiando apesar de todas as resistências. Uma voz terna e amiga me diz: não fique na escuridão, você foi feita para a

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luz, venha para fora. Senti algo e alguém muito presente neste processo todo. Senti um forte apelo a dar tudo das poucas forças que ainda sobravam, para sair e conhecer a vida nova, a vida estampada no horizonte da esperança.

… mas como?Nesta dinâmica de sair de mim para entrar

no novo, sinto que nasço, que renasço.Sinto uma presença que me refaz, sinto gosto de

uma mão amiga. É presença que me passa coragem, confiança, passa-me a certeza de que a luz é mais forte que a noite, sinto que nenhuma noite, por mais escura que seja, consegue impedir o amanhecer de um novo dia.

E, pouco a pouco, fui crescendo e sendo algo com a ajuda do sol, da água, da luz… da graça.

Hoje sou pequena planta, exposta a tudo. Experimento grande confiança em ti. É tua seiva que me faz ser, que me faz viver, que me faz ser para os demais.

Em ti e contigo nossa autonomia se toma filiação, em ti e contigo nossa vida se torna serviço alegre e humilde.

Contigo, Senhor, nossas dores se tomam solidariedade, contigo os medos se tomam confiança, contigo as nossas cruzes se tornam sensibilidades, contigo os sofrimentos se tornam esperança, contigo, a morte se torna vida.

Senhor desejo e quero, com tua graça, produzir o oxigênio da misericórdia, da confiança, da fraternidade, da paz…

Desejo e quero acolher a todos na sombra que me faz descansar e refaz a vida.

Desejo e quero exalar o perfume de tua ternura e de teu amor infinitos, desejo e quero ser sinal de nova criação em ti. É a semente se abrindo para a vida.

Que assim seja!Um dia uma pedra dura, áspera e fria diz a

uma flor que se encontrava no mesmo jardim:– Eu sempre te protegerei se tu me mostrar

um único lugar onde possa encontrar Deus. A flor respondeu:– Eu te darei um prêmio se me

mostrar um único lugar onde Ele não se encontra. 4

“ Nesta dinâmica de sair de mim para entrar no novo, sinto que nasço, que renasço. ”

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34 O ROSACRUZ · INVERNO 2017

n M I S T I C I S M O

Muitos caminhos nos levam ao Criador. Podem ser ca-minhos filosóficos, religiosos ou científicos; o certo é que todos nós chegaremos a ele, em tempos diferentes.

Eu escolhi estudar Cabala. Desde minha mais tenra adolescência lia e buscava livros sobre este assunto. Até hoje ainda faço isso; só me tornei mais seletiva. A Cabala abriu muitas portas para mim, respondeu perguntas internas e através dela en-tendi que há uma metodologia certa para entender esse assunto, que muitos ainda hoje acham complexo. Os estudos sobre Cabala possuem três vertentes. Sei que poucos sabem sobre isso.

A primeira vertente é a Egípcia. Ela é a Kabash ou Magia dos Sacerdotes do Antigo Egito. É a mais antiga e foi transmitida ao príncipe Moisés. Hoje ela é extremamente reservada e existem no mundo apenas 12 iniciados.

Por SANDRA REGINA RUDIGER AYYAD, SRC

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A segunda vertente é a Hebraica. O povo hebreu a conservou e transmitiu até hoje. Seus grandes expoentes são Abraão, Moisés, Rabino SHIMÓN BAR YOCHAI – O RASHBI – nos séculos II e III da nossa Era e que escreveu o Zohar.

A terceira vertente é a Cristã ou Hermé-tica. Basicamente surgiu por volta do século XII, com grandes expoentes: Giovanni Pico della Mirandola; Johannes Reuchlin; Athana-sius Kircher; Raimundo Lúlio; Jacob Boehme; Louis Claude de Saint-Martin; Martinez de Pasquallys; Moshe Cordovero; Fabre Olivier; Alexandre Saint-Yves d’Alveydre; Gérard En-causse (Papus); Éliphas Levi, entre outros.

Primeiramente vamos ver o que significa a palavra Cabala.

Cabala הינונק significa, traduzido do he-breu, “da boca para o ouvido”, implicando em uma tradição oral. Ela nos orienta dizendo quem somos, de onde viemos, e para onde vamos. Explica que há várias dimensões que nos permeiam e que estão ao mesmo tempo ao nosso redor. Nos mostra que não há morte como a palavra define; um término para sem-pre. Nós somos de origem divina, não temos fim. Neste processo não há involução, tudo o que existe nos múltiplos Universos está em desenvolvimento na forma espiral ascendente.

Uma parte são os estudos a outra nos é revelada através da dedicação aos estu-dos. É onde ocorrem o que conhecemos hoje como fenômenos parapsicológicos. De acordo com o grande explorador da Ca-bala, Gerson Scholem: “Cada homem tem seu próprio e único acesso à Revelação. A autoridade não mais reside em um singular e inequívoco significado da comunicação divina, mas na sua infinita capacidade de assumir formas novas”. É por isso que a Cabala se chama “A Sabedoria Oculta”. Através dela a pessoa experimenta mudan-ças internas, que só ela sente ou sabe que estão acontecendo.

É por isso que trago comigo o aforismo cabalístico que aprendi com o meu Instru-tor: Existem entre os homens vários níveis de evolução e vários níveis de compreensão. Este processo também se aplica à Cabala.

O primeiro livro para quem quer iniciar seus estudos sobre o tema é A Torá escri-ta; também é conhecida como Chumash (O Pentateuco – os cinco livros de Moisés), nela se encontram os 613 mandamentos. Os 5 livros da Torá escrita são: Bereshit (Gênesis), Shemot (Êxodo), Vayikrá (Levítico), Bemi-dibar (Números), Devarim (Deuteronômio). O segundo livro que deve ser estudado é O Livro da Formação ou SEPHER YETZIRAH – Bereschit. A tradução mais antiga do inglês

foi feita pelo Rev. Dr. Isidor Kalisch em 1877; essa versão foi publicada pela AMORC em 1950 para o português

Pergaminho da Torá

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n M I S T I C I S M O

“ O Propósito do estudo da Cabala é ser

um ITINERáRIO para as pessoas alcançarem o Criador. ”

Guemaras (comentário e elucidação do pri-meiro, escrita no jargão hebraico-aramaico) e a própria Torá.

– TANACH – É a bíblia hebraica. Ta (Torá) + Na (Neviim) + Ch (Ctuvim).

– ASCH METZARAPH – É o Fogo Pu-rificador. O significado de Ash ou ashah é “fogo” ou “sacrifício de fogo” e Metzareph é “limpo” ou “purificar”.

– APOCALIPSE DE SÃO JOÃO – Livro do Apocalipse ou “O livro da Revelação” é também conhecido como Apocalipse de João, é um livro da Bíblia Cristã.

Através destes estudos vamos compreender que os cabalistas nos falam do mundo espiritual através da linguagem dos ramos e das raízes. Nós humanos, que vi-vemos no Mundo dos Resultados e das Cau-sas (Mundo dos Ra-mos), não temos acesso ao (Mundo das Raízes) Mundo Espiritual, onde tudo é criado e deci-dido. O Propósito do estudo da Cabala é ser um ITINERÁRIO para as pessoas alcançarem o

Criador. Este caminho da alma consiste em 125 etapas ou Degraus, que são alegóricos. Somente um cabalista que passa por todas estas etapas quer ardentemente compartilhar o que colheu com a humanidade.

O objetivo daquele que chega ao Criador ou o Inefável é compartilhar o que aprendeu. É Aprender e Ensinar, o tempo todo.

A nossa amada Ordem Rosacruz em seus ensinamentos trabalha de forma a funda-mentar bem os conhecimentos nos instruin-do sobre: Hermetismo, Alquimia e Cabala – em seus graus mais elevados. Os conheci-

pela Editora Renes. É baseada no manuscrito do ARI, Rabi Isaac Luria, texto em hebraico. O Sepher Yetzirah nos explica que existem 32 vias da sabedoria, vias ocultas, onde o Cria-dor grava seu nome por três numerações:

SEPFER, SEPHAR E SIPUR; NÚMERO, o que NUMERA e o NUMERADO;

ESCRITURA, o NÚMERO e a PALAVRA.Contidos nas Dez Sephirotes = Dez pro-

priedades do divino e suas 22 Letras.Com exceção do Inefável – que não se

pode nomear ou descrever em razão de sua natureza, força, beleza; indizível, indescritível.

O próximo livro que devemos estu-dar é o Sefher ha--ZOHAR – o Livro do Esplendor. É, sem sombra de dúvida, a obra principal e mais sagrada da Cabala, a dimensão mística do judaís-mo. Estudo místico do mundo divino e suas relações com o nosso mundo. São 22 livros, correspon-dentes a cada letra hebraica. O Zohar é a coluna vertebral da Cabala, também chamada de Chochmat ha--Emet – a Sabedoria da Verdade.

Além destes há outros livros que aos pou-cos servem de base e também como orientado-res em nosso caminho, são eles:

– O Sepher Há-BAHIR – O Livro da Iluminação;

– O Sepher Sephiroth – O Livro das Emanações;

– O Talmud – Legislação CÓDIGO MO-RAL Hebraico. Conduta do povo. É a junção das Michná (livro sobre a lei judaica, escrito em hebraico –  pilar central da Lei Oral); as

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mentos Rosacruzes partem principalmente da Cabala Hermética ou Cristã, mas que se fundamenta nos conhecimentos hebraicos. O Martinismo – A Sociedade de Iniciados de Saint-Martin – está baseado na Iniciação. É uma transmissão ritual, pessoal e privada, de caráter íntimo, que confere a qualidade de “Superior Desconhecido/Incógnito” ou S.I.

A Cabala trabalha com a ciência da Ana-logia. O Microcosmo. É o ensinamento da Cabala sobre o Homem. No homem a vida se mantém pela corrente sanguínea que banha todos os órgãos, repara suas forças e retira os elementos inúteis; a cada 120 dias há uma renovação completa do sangue. Cada átomo, molécula, célula, tecido, órgão, sistema, apa-relho do corpo humano é banhado pelo san-gue. Os Glóbulos sanguíneos são receptores e transmissores da vida. Somos uma infinidade de seres em nós mesmos.

O Macrocosmo. É o ensinamento da Ca-bala sobre o Universo; os planetas e as estre-las são os órgãos que dão vida ao Universo e

nele geram MOVIMENTO. Estrelas, Plane-tas, Sistemas solares, Galáxias, Universo. No Universo a vida se mantém pelas correntes de luz que banham todos os planetas, neles se espalhando abundantemente os princípios da geração. O 2 (dois) é o número da criação; símbolo do processo em que o 1 (Um), Deus, coloca algo fora de si. Sopro de DEUS.

Na medida em que aprendo a DOAR e não apenas RECEBER, recebemos do Cria-dor – O INEFÁVEL, uma pequena parte de “PRAZER EM LUZ”, de acordo com a nossa intenção de Doar. Este pequeno prazer é cha-mado de Our Pnini = Luz Interior.

Espero neste breve artigo, que foi escrito com muito amor, poder auxiliar aos amigos sobre a compreensão do assunto. A todos, Paz Profunda! 4

* Soror Sandra Regina Rudiger Ayyad, Membro da AMORC, filiada à Loja R+C São Paulo e à TOM. É palestrante da SP1, Psicóloga, Mestranda em Filosofia pela Fac. São Bento e possui várias Pós-graduações. Autora dos livros: “A Cabala e as Empresas”, “A Aplicação da tradição esotérica no dia a dia das organizações” – Ed. Madras, entre outros.

Dois livros da Bíblia Hebraica

(Tanach)

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Por ROBERT E. DANIELS, FRC

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“ Não condeneis o

discernimento de alguém porque difira

do vosso próprio discernimento. Não

poderão ambos estar errados? ”

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Devemos encorajar nosso semelhante a

buscar em seu interior as suas próprias soluções, o

que há de lhes trazer muito mais satisfação. O serviço que prestemos a

outrem deve ser colocado numa perspectiva de bom senso. Devemos sempre tentar ajudar àqueles que desejam ajudar a si mesmos, mas não devemos fazer pelos outros aquilo que eles têm de aprender a fazer por si mesmos.

A vida mística inclina todos nós ao desejo de prestar algum serviço ao semelhan te, po-rém, para não sermos arbitrários, devemos tentar ajudar a que primeiro aprendam a ajudar a si mesmos. Em nossas tentativas de serviço humanitário, muitas vezes tornamos as pessoas ainda mais desamparadas. Oferecer encorajamento e conselho, quando isto seja solicitado, é a única maneira segura de sermos úteis; assim, devemos fugir à tendência de im-pedir que os outros dependam de si mesmos.

Por outro lado, considerando a situação mundial, complexa como ela pode parecer, o Membro da AMORC pode achar que pouco há que ele possa fazer. No entanto, nisto ele está equivocado. Com forte determinação e firme propósito, ele pode começar a conse-guir aparentes milagres de serviço. Quando recorremos coletivamente aos infinitos po-deres do Cósmico, podemos fazer muito

A citação acima, de um antiquís-simo manus-

crito, oferece uma lição muito impor tante para todos nós. Como é frequente condenarmos outras pessoas e seus pontos de vista, achando que podemos legitimamente julgá-los! E quantas vezes ficou provado que estávamos errados em nosso julgamento! Estes pensamentos devem nos levar a refletir seriamente sobre nossos próprios pontos de vista e conceitos. Esse julgamento de nós mesmos e de outrem pode causar muitos problemas e dificuldades, e inclusive afetar negativamente o nosso esta-do de saúde, o nosso bem-estar. Portanto, a crítica a nós mesmos e a outrem raramente é justificada, e isto deve nos levar a ponderar seriamente qualquer pensamento sobre os outros e sobre nós mesmos, antes de falar-mos e emitirmos nosso julgamento.

É apenas natural que nos preocupemos com o bem-estar de outras pessoas e dese-jemos ajudá-las, mas constitui norma de sabedoria que o estudante de misticismo deve aprender o cuidarmos da nossa própria vida e não interferirmos na vida alheia. Há muita diferença entre nos oferecermos para ajudar pessoas necessitadas e insistirmos com os outros em que sigam o nosso conselho.

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“ Tudo o que pedimos

é que irradiem o Amor do Cósmico e manifestem o desejo de ajudar e servir o

semelhante. ”

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n C O M P O R T A M E N T O

mais do que originalmente concebêramos como a nossa meta de serviço.

Pergunta-se com frequên-cia: “Se o Deus é infinito em seu conhecimento e seu poder, por que não faz mais para ajudar a humanidade”? Muito simplesmente, os poderes cós-micos para os quais nos voltamos em busca de orientação têm plena consciên-cia das necessidades da humanidade, mas não impõem nem podem impor sua vontade aos seres humanos. Precisam de almas so-lícitas, aqui na Terra, que se tornem canais de serviço, a fim de que eles possam se ex-pressar ou manifestar neste plano. Como Rosacruzes, através dos princípios expostos em nossos ensinamentos, estamos nos es-forçando para harmonizar nossa mente, de modo a torná-la receptiva a impressões dos níveis superiores do Cósmico, e, final-mente, para sermos iniciados a um contato superior com a Consciência do Cósmico.

Entretanto, a menos que procuremos ser úteis aos outros, os reinos superiores do Cósmico não estarão à nossa disposição. Portanto, cabe-nos a todos a tarefa de nos unirmos e servir; este é o nosso lema; este é o nosso dever. Nós, que tivemos o privi-légio de nos tornarmos Rosacruzes, temos uma sagrada obrigação.

Nossa primeira tarefa consiste em irra-diarmos paz e amor o tempo todo; em dei-xarmos que a harmonia do Cósmico de nós se irradie. Essa radiação do nosso cora ção demonstrará a melhor forma de serviço que

podemos prestar. Nossa influên cia sobre as pessoas que venhamos a atrair será forte e útil, porque elas estão bus-

cando orientação e um caminho

para uma vida me-lhor e mais proveito-

sa. Tenhamos em mente irradiar o conhecimento

que adquiri mos e as conse-cuções espirituais, interiores, que

tenhamos alcançado. Atrairemos as pessoas conforme as vibrações que emanem do nosso âmago, e poderemos ajudar os necessitados de um modo que pouco perce bemos. Uma palavra de conforto e encora jamento, um sorriso ou um pensamento, isto é muitas ve-zes tudo o que se faz necessário para ajudar-mos aqueles que buscam maior compreensão para suportar o fardo que a vida lhes impôs.

Para nos tornarmos canais de serviço dos Poderes Cósmicos, devemos aprender a irradiar uma consciência espiritual em nossa vida diária, e, por nossa boa dis-posição de ajudar, mesmo do modo mais simples, estaremos preparados para assistir o Cósmico em seu sublime empenho.

Serviço sempre foi o núcleo do ideal Rosacruz. É pelo serviço que verdadeira-mente expressamos a consciência anímica em nosso âmago. À medida que desenvolve-mos ou desabrochamos a beleza da Luz Divina de nosso interior e permitimos que ela de nós se irradie, manifestamos a Vonta de Divina. A vida espiritual é uma vida de serviço, expressando a Vontade, a Inteligên cia e o Amor de Deus, em ação. Sempre que nos dedicamos a esforços úteis,

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o Espírito Divino procura se expressar através de nós, usando-nos como canais em seu plano de serviço ao homem.

Somente ao nos devotarmos aos inte-resses alheios, as forças e inteligências su-periores nos iluminarão, nos inspirarão, em proporção direta com o altruísmo do nosso serviço. Muito podemos fazer por pessoas necessitadas, com apenas um pouco de es-forço. Não pedimos que nossos Membros ponham de lado seus próprios interesses e atividades; pelo contrário, exortamo-los a ampliar seu campo de interesse e ativida-de, permitindo que sua influência cresça

nesse campo. Tudo o que pedimos é que irradiem o Amor do Cósmico e manifestem o desejo de ajudar e servir o semelhante.

Os outros se sentirão atraídos; e, muitas vezes, sua amizade e seu proveitoso e encora-jador conselho será tudo o que os Amados Membros terão de dar. Seu progresso na senda para a suprema iluminação será assegurado por este caminho de serviço. Nem sempre ele será reto e compensador. Conhe cerão sucesso e fracasso. Entretanto, só dando é que real-mente recebemos, e, para recebermos as coisas próprias da vida espiri tual, devemos doar a parte espiritual do nosso próprio ser. 4

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Por MARIO SALES, FRC

e a didática do Mito

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INVERNO 2017 · O ROSACRUZ 43

“ Os místicos, iniciadores da humanidade, só têm um objetivo com seu serviço: desfazer os mistérios. ”

Imagine que você seja um médico e que saiba, por exemplo, que o sangue flui através de válvulas dentro do coração e de lá, através de outras vál-vulas, para as artérias, de forma constante.

Imagine que você queira explicar a alguém que jamais estudou me-dicina o que são válvulas cardíacas; muito bem, qual imagem comparativa, para facilitar a compreensão, você utilizaria para representar esta idéia?

A mim vem imediatamente a imagem de portas que se abrem para fora e depois se fecham. Com isso, falaríamos em controle de passagem, de manei-ra satisfatória, e a imagem cumpriria seu papel.

O que eu fiz, no entanto? Deformei a realidade: as válvulas cardíacas têm três folhetos, ou placas, que abrem ao mesmo tempo e que se fecham trepan-do umas sobre as outras.

Não é bem o que uma porta faz. Ela abre e fecha sozinha. Ela tem um batente, aonde se encaixa. Portas não são iguais a válvulas. São imagens auxiliares, no entanto. E servem ao seu propósito de transmitir uma idéia, ainda que incompleta, do mecanismo do coração.

Agora, digamos que a imagem seja mais complexa. Digamos que o que queremos é explicar o que é o Bem. Não há imagem que possa dar uma idéia aproximada de um conceito tão amplo. Nesta hora entram em cena as cir-cunlocuções, o contorno do fato, do dado, a “voltinha” que torna a explica-ção mais complicada e às vezes mais equivocada.

A didática, a arte de transmitir informações a outros de forma accessível ao seu nível de compreensão, sofre com esses problemas todos os dias. Didá-ticos todos precisamos ser, não apenas professores e educadores, mas médi-cos, policiais, operadores de turismo, cientistas, jornalistas, políticos etc.

Talvez a única classe que não precise disso sejam os artistas. Eles criam um novo real, reinventam a percepção, não para explicá-la, mas para ampliá-la, com isso ampliando a percepção de todos os seres. Somos nós que tentamos explicar o que os artistas fazem, para nós mesmos e para os outros, o que é absolutamente contraproducente, já que arte não é para ser entendida com o cérebro, mas compreendida pelo coração.

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A via do coraçãoA sensibilidade desenvolvida nos livra da necessidade didática. Aqui a compreensão é intuitiva, sem palavras, sem intermediários, sem conceitos auxiliares. Aprendemos com nosso coração.

Estas considerações me vêm à mente enquanto penso nas dificuldades do místico de todas as eras para explicar àqueles que não eram iniciados as boas novas do conhecimento esotérico. Sim, porque a luz deve estar no alto, no velador, para que todos possam vê-la, e não oculta atrás dos armários. Os místicos, iniciadores da humanidade, só têm um objetivo com seu serviço: desfazer os mistérios.

Esta é sua missão mais nobre e mais urgente, embora a heterogeneidade humana obri-gue esta missão a ser cercada de prudência. É aí que entra o símbolo, o mito explicativo. Com sua riqueza interpretativa, o mito se revela mais poderoso e didático do que a narrati-va cheia de comparações do pobre intelecto aristotélico.

Se os místicos dissessem, ao tempo de Moisés, (onde a barbárie e a ignorância eram extremas e civilização, uma palavra ainda não totalmente entendida) que Deus, Todo Po-deroso, gerou tudo que existe em períodos de milhões de anos, e que no princípio, vórtices de plasma se contorciam em busca de densidade, para explodir em estrelas e galáxias e planetas, ninguém alcançaria o significado destas palavras. Nem o próprio Moisés deve ter recebido a informação desta forma.

Ninguém ainda tinha visto uma galáxia, a Terra era todo o Universo conhecido e falar em Sistema Solar seria uma abstração inalcançável. Então, não se podendo narrar os fatos por faltar capacidade expressiva, tanto pela inexistência de conceitos e fatos que sustentassem a compreensão quanto pela falta de cérebros que os compreendessem, usou-se o Mito.

“No Princípio, criou Deus o Céu e a Terra. E o verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” Verbo, a ação, a capacidade de realização. Criar, fazer surgir, como o Sol misteriosamente sur-gia no horizonte, todas as manhãs. De onde vem o Sol? Para onde vai quando se põe?

Lembrem-se: não existiam estações espaciais, nem astronautas. A Terra, para a compre-ensão da época, era plana. Portanto, o Sol aparecia e desaparecia. Era o Carro de Luz que percorria o firmamento e depois mergulhava no horizonte.

E tudo ficava bem assim.Então, surge a necessidade de explicar o homem. Biologia? Isto ninguém conhecia.

Células, mitose, Darwin? Não, ainda não havíamos chegado lá. Nada fluía, tudo era dual em oposição, sem complementaridade, sem dinamismo. O mundo do passado era estático.

E aí, novamente, surge o Mito.Uma narrativa não lógica. O homem, o paraíso, a costela e a mulher “traiçoeira”, que

“induz o pobre, inocente e nobre homem” ao pecado. A serpente; a maçã.E tudo fica bem assim.As massas aceitaram que a explicação era até plausível. E o mundo seguiu seu caminho,

um pouco menos aflito com sua ignorância atávica. A mulher herdou a maldição bíblica de ser a tentadora. O homem, a vítima. Machismo mítico explícito, sem questionamento durante centenas de anos.

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Pinóquio ganha vidaE como alguém que, ouvindo a história da Hidra de Lerna, depois de alguns séculos, quisesse procurar restos fósseis do monstro, muitas pessoas que ouviram esta fantástica história de serpentes e maçãs, empreendem esforços arqueológicos e gastam fortunas para tentar estabelecer em que lugar geográfico do planeta se situava o paraíso.

Para essas pessoas o sonho saltou do livro e sentou ao seu lado. Nossos mitos, nossos arcabouços explicativos, nossos auxiliares didáticos, como Pinóquio, às vezes ganham vida própria e vem nos assombrar ou, pelo menos, atrapalhar. Pinóquios modernos que tiveram atendido seu desejo de ter densidade humana e autonomia de consciência, e que povoam nossas fantasias com tanta força que ninguém lhes negará existência.

O Gepeto da história era um homem bom. Como todos os criadores, artesãos e ar-tistas reais do mundo; no entanto, os criadores reais se identificam neste mito moder-no, pois sabem que suas obras, uma vez publicadas ou expostas, ganham vida própria. Geram Luz e Trevas, mundos ao mesmo tempo mais claros e mais escuros, pois aquilo mesmo que foi feito para facilitar a compreensão, vez por outra torna-se uma muralha entre o homem e a verdade.

Símbolos são como Pinóquio. Criados para embelezar o mundo, são coisas mortas em si até que ganham a vida da interpretação. Só que, exatamente neste momento em que ganham vida, podem também aprender a men-tir, trair a informação que deveriam perpetuar.

Surgem os interpretado-res, aqueles que dizem: “– eu sei quem é esse menino, ele apenas finge ser um meni-no, mas na verdade é um boneco de madeira.” E dito isto, começam a dissecá-lo, a destruí-lo, a desmembrá-lo de tal forma que de Pinó-quio, transformam-no em um Frankenstein.

Pode-se evitar tal atrocidade? Totalmente não.

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O símbolo e oequívoco interpretativoEm simbologia existem muitos Pinóquios e alguns deles perderão a vida duramente conquistada às custas da bênção de uma fada mística, ao serem desmembrados pelos pseudo-doutos. Outros, entretanto, sobreviverão, mesmo que seus narizes vez em quando cresçam um pouco, nos alertando para a presença de uma impropriedade oculta, para uma inverdade, que alguns chamariam de mentira, mas que eu prefiro chamar de falha didática.

Não só quem traduz trai o sentido do que traduz. Quem explica também pode fazê-lo, e o faz.

E o que são narrativas míticas senão textos explicativos, didáticos ao seu modo, embora não lógicos?

Os Gepetos do mundo poderão ver os narizes de sua criação crescer quando fugirem ao sentido original do que deveriam narrar.

Os mitos são animais perigosos, orgulhosos, que só se submetem a uma vontade superior a sua ou a uma inteligência atenta, que antecipe seus movimentos e que escape de seus ardis. Pois os mitos são como a Esfinge: seus enigmas, uma vez resolvidos, produzem a sua própria extinção.

A mentira mítica do Deus de MoisésExplicar coisas complexas por meios comparativos, como vimos, pode gerar contra-dições, erros e confusão.

O exemplo a seguir é bem didático, se me permitem usar o termo. Mostra como, ao tentar narrar a criação, Moisés nos apresenta a Serpente como um ser sincero e conhecedor de fatos ocultos ao Homem, enquanto Deus, como descrito, aparece como um ser que oculta fatos, aliás, que mente. Senão vejamos:

Gênesis 3:1 Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o SENHOR Deus tinha feito, disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?

Gênesis 3:2 Respondeu-lhe a mulher: do fruto das árvores do jardim podemos comer,

Gênesis 3:3 Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: dele não co-mereis, nem tocareis nele, para que não morras.

Gênesis 3:4 Então, a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis.  

Gênesis 3:5 Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal.

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Ora, a serpente desmente o Todo Poderoso e avisa a Eva que o que Deus disse não é verdade.

Lembremos que toda educação religiosa fundamentalista diz que se deve seguir o livro santo ao pé da letra para estar em comunhão com a palavra santa. Assim sendo, o que dizer do versículo 22, deste mesmo capítulo, no qual Deus, depois de descobrir que Adão e Eva tinham comido do fruto da Árvore do Bem e do Mal, deixa escapar a seguinte declaração:

Gênesis 3:22 Então, disse o SENHOR Deus: eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal; assim, que não estenda a mão, e tome também da árvore da vida, e coma, e viva eternamente.

Não apenas Deus, no texto bíblico, con-firma a informação da serpente à Eva de que, ao comer do fruto da Árvore Proibida, Adão e sua companheira tornaram-se co-nhecedores do Bem e do Mal, como havia antecipado a serpente. O desenrolar conhe-cido do episódio mítico mostra que não morreram, como o Todo Poderoso havia prevenido, mas que Adão ainda viveu por 900 anos aproximadamente.

Ou seja, se tomássemos a história e o mito, o arranjo mítico explicativo como fato, ao pé da letra, teríamos que admitir que Deus mentiu e que a Serpente foi sincera e que orientou corretamente a Eva. Ora, não deve ser esta a conclusão mais ética e ontológica, se bem que pareça lógica.

Tais interpretações, as mentiras que o “pinóquio mítico” do Gênesis bíblico conta, sal-tam aos olhos como se seu nariz crescesse. Este é, no entanto, o preço a pagar pela neces-sidade de recorrer ao intelecto e ao mito para compreender o que, às vezes, é temporaria-mente incompreensível.

Além dos óbvios problemas de tradução do hebraico ou do aramaico para o grego, e deste para as línguas modernas, ainda temos de enfrentar os problemas da interpretação de um texto que esconde verdades, que oculta e não revela, as coisas que quer dizer.

Este, no entanto, é assunto para outro texto. 4

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A maior descoberta da humanidade

Por CHARLES VEGA PARUCKER, FRC

Qual a maior descoberta da Humanidade?

Seria a imprensa, que per-mitiu estender o conheci-mento a todas as partes da Terra? A navegação marí-tima, o avião e suas des-cendentes naves espaciais? As vacinas que reduziram as doenças e aumentaram a duração da vida? A te-levisão, o telefone, o raio laser? A eletrônica com sua ilimitada capacidade de reduzir os sistemas de comunicações a milési-mos de pequenos tempos em pequenos espaços?

Na verdade, todas estas invenções e descobertas incorporam em si o espíri-to criativo e de pesquisa de milhares de mentes, mas para mim, a compreen-são do Princípio de Vida, que, de alguma forma, foi trazido à nossa Terra há milhões de anos atrás, abre uma possibilidade infinita para o bem-estar e felici-dade geral do ser humano. Estamos tomando ciên-cia gradativamente deste grande poder colocado em nossas mãos e de suas reais possibilidades para utilização construtiva.

Eis a maior descober-ta dos tempos modernos: “Cada indivíduo pode uti-lizar o Princípio de Vida de acordo com sua vontade, pois este princípio é um servo de sua mente, como o era o gênio da lâmpada de Aladim”. Cada um deve pro-curar entender as suas leis e trabalhar em harmonia com este princípio para conseguir qualquer coisa útil de que necessitar, quer seja saúde, alegria, bens materiais, feli-cidade e sucesso pessoal.

Para constituir o que de-nominamos de civilização moderna, o Criador trouxe

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para este planeta a forma mais simples de vida. A alga, substância gelatinosa que flutuava nas águas e con-tinha o Princípio de Vida, que anima toda a Natureza, os vegetais, os animais e o Homem. E a ameba, primei-ro ser unicelular, pratica-mente confundindo-se com a massa d’água circundante a uma célula da vida. As outras formas e espécies dos reinos vegetal e animal são manifestações diferentes do

“ O próposito da existência,como expressão de Vida, é Evolução.

A vida é dinâmica, nunca estática.Ela nunca para e jamais regride. ”

mesmo Princípio de Vida, organizadas para cumprir tarefas e missões específicas.

O Princípio de Vida foi sobejamente testado através de vulcões e terremotos, tempestades, geleiras, inun-dações, temperaturas e umi-dades altas e baixas, mas que por sua vez configuraram-se em novos incentivos para que ele se manifestasse por meio de seres mais com-pletos, mais resistentes e com níveis mais elevados de

consciência. A borboleta, o cavalo, os vegetais criados para alimentação dos ani-mais e mesmo aqueles que consideramos prejudiciais ao Homem atendem suas funções no esquema global. Houve uma evolução das formas de manifestações das águas, para a terra e para os ares. Para respirar na água, desenvolveu guelras, para viver na terra, respi-rando o ar, pulmões. Para proteger-se contra agentes

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“ Os grandes impérios da antiguidade, os egípcios, os persas, os gregos, os romanos deixaram de existir quando não mais se preocuparam com evolução. ”

agressores e adaptar-se a cada mudança desenvolveu inúmeras formas de escudos de segurança - as conchas, as peles, os cabelos, as gar-ras, os chifres, as penas, etc., mas sempre o mesmo Princípio de Vida, ansiando manifestar-se na criatura.

Todavia, houve seres que após cumprirem suas mis-sões, nos momentos em que aqui viveram, não mais se adaptaram às constantes mu-tações a que foram solicita-dos, como os grandes répteis e monstros da pré-história, e, por isso, não estão, hoje, entre nós. Isto não quer di-zer que o Princípio de Vida, a Força Vital dos Rosacruzes

ameaçou extinguir-se, por-que pleno de poder e ener-gia, com o sentido ilimitado de vida, possui uma inteli-gência imanente, chamemo--la de Natureza, de Criador ou de Cósmico, em busca de sua completa expressão.

O propósito da existên-cia, como expressão de Vida, é Evolução. A vida é dinâmi-ca, nunca estática. Ela nunca para e jamais regride. Se aos nossos olhos se aparentar uma parada da Natureza, um pecado imperdoável ocorre-rá, como o desaparecimento dos animais e vegetais a que nos referimos. Mas a vida ao seu redor continuou sua busca por mais evolução.

Os grandes impérios da antiguidade, os egíp-cios, os persas, os gregos, os romanos deixaram de existir quando não mais se preocuparam com evolu-ção. A decadência começou quando julgaram ter obtido o máximo para seu povo e pararam no tempo.

O estudante de misti-cismo pode aproveitar esta potencialidade, trabalhan-do com a energia vital e utilizando-a na solução de suas dificuldades. Adotando como base o princípio fun-damental de vida podemos vencer e até triunfalmente superar os obstáculos que se nos apresentam, porque

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desde a primeira manifes-tação da vida este sempre foi o seu propósito. Se você considerar que o Princípio de Vida é tão poderoso que é capaz de gerar uma concha para proteger uma ostra, ou criar um veneno para algum fim de ataque, fazer crescer uma nova perna numa ara-nha que a perdeu ou recom-por a vida numa minhoca cortada ao meio, imagine o quanto este “Princípio” poderá fazer por você, como ser racional, pensante, com uma mente ativa e apta para trabalhar com ele.

A evidência disto você poderá constatar sempre. Inicie, por exemplo, uma atividade esportiva ou faça um esforço qualquer re-gularmente. Talvez você sinta cansaço, mas após alguns dias de prática terá condições de dominar esta atividade e, se persistir, poderá até chegar a obter recordes nos resultados.

O simples fato de termos obstáculos a transpor é uma situação altamente favorável, pois quando você dele neces-sita e o solicita com urgên-cia, que mais facilmente ele se colocará em operação.

Quando as coisas ocor-rem de modo tranquilo, quando a vida se desenrola como uma suave canção, o Princípio de Vida se atenua. Quando tudo está harmo-nizado e sereno, quando

não há nada que fazer, parece que o Princípio de Vida fica amortecido.

Nos infortúnios deve-mos deixar que o Princípio de Vida se manifeste, dando-lhe todas as opor-tunidades e você verá que nada lhe é impossível.

Conhecemos números casos de pessoas que recebe-ram um influxo de energia para realizar certas tarefas que a olhos normais seriam impossíveis de se concre-tizar. Pessoas que em mo-mentos de agonia, de deses-pero e extrema necessidade recorreram ao gênio que está em nós e conseguiram missões impossíveis. Temos em nosso ser este Princípio de Vida, tão poderoso, mas que necessita de emprego constante, de utilização diária, para dizermos que podemos “dar a volta por cima” de nossos pro-blemas e difi-culdades usuais.

O Princípio de Vida está por trás de cada ato nosso. Não faz dis-tinção entre pessoas, entre neófitos ou estudantes avançados. Quanto maior for a necessi-dade, mais in-tensamente res-ponderá à nossa

solicitação. Onde houver uma anormalidade, dificul-dade ou doença, o gênio da mente estará pronto, desejo-so e sobretudo capacitado a ajudar-nos. Basta, no entan-to, que saibamos chamá-lo.

O Princípio de Vida é a ação da Mente Universal nos seres vivos, que através do subconsciente mantém nossa sintonia Cósmica. O gênio da Mente se expressará na medida em que confiar-mos em sua capacitação infinita e poderosa. Saber usá-lo é uma das grandes descobertas da Humanidade, em nossos tempos. 4

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Nesta seção sempre homenagearemos a história de nossa Ordem no mundo e na língua portuguesa, lembrando por meio de imagens os pioneiros que labutaram pelo Ideal Rosacruz e plantaram as sementes cujos frutos hoje desfrutamos. A todos eles, a nossa reverência.

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Auditório H. Spencer LewisConstruído em belíssima arquitetura egípcia, em outubro de 1970, durante a IV Convenção Nacio-nal Rosacruz, foi inaugurado pelo então presidente mundial da Ordem Rosacruz, AMORC, Frater Ralph M. Lewis, acompanhado da responsável pela Ordem na Jurisdição de Língua Portuguesa, Soror Maria A. Moura e convidados, o Auditório H. Spencer Lewis.

Esse espaço foi concebido para realizar as ativi-dades desenvolvidas pela Grande Loja. Porém, com o passar dos anos foi necessário pensar em uma repaginação do local e, em 06 de setembro de 2006, ele foi internamente modernizado.

Com capacidade para 500 pessoas, o palco ficou maior, foi implantada uma área para cama-rins e instalada uma cortina de fundo de palco. Com ambiente acolhedor, o auditório dispõe de recursos de som e luz de última geração, incluin-do três projetores Data Show suspensos, com igual número de telões para exibição simultânea.

O Auditório H. Spencer Lewis é ideal para formaturas, convenções, congressos, espetá-culos artísticos e demais eventos. Atualmente o Centro Cultural da AMORC GLP organiza palestras e cursos abertos ao público no local.

A arquitetura egípcia única em Curitiba chama atenção conferindo ao espaço um toque especial e inusitado. Além disso, o auditório faz parte de um notável complexo de oito edifícios, a maioria em estilo egípcio, que compõem a sede mundial da Ordem Rosacruz para a língua portuguesa.

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“A terceira chave compreende, sozinha, uma série mais longa de operações do que todas as outras juntas; os

�lósofos dela falaram muito pouco, ainda que a perfeição de nosso mercúrio dependa dela; mesmo os mais sinceros, como Arte�us, Trevisan e Flamel, ignoraram os prepara-tivos de nosso mercúrio, e deles não se encontra quase ne-nhum que a tenha suposto, em vez de ensinar a mais longa e mais importante das operações de nossa prática.”

“Queremos lhe estender a mão nesta parte do caminho que diz respeito à separação e à puri�cação de nosso mer-cúrio, que se faz por uma perfeita dissolução e glori�cação do corpo, do qual ele se origina, e pela união íntima da alma com seu corpo, cujo espírito é o único elo que opera essa conjunção. Aí está a intenção e o ponto essencial das operações desta chave que se conclui com a geração de uma nova substância bem mais nobre do que a primeira.”

“Depois que o sábio artista extraiu da pedra uma fonte de água viva, que extraiu o suco da vinha dos �lósofos e que fez seu vinho, ele deve observar que em sua substân-cia homogênea, que aparece na forma de água, existem três substâncias diversas e três princípios naturais de todos os corpos: sal, enxofre e mercúrio, que são o espírito, a alma e o corpo. E ainda que pareçam puros e unidos, é preciso muito para que de fato o sejam porque, quando pela desti-lação nós extraímos a água que é a alma e o espírito, o corpo permanece no fundo do recipiente, como uma terra morta, negra e amilácea, que todavia não deve ser desconsiderada, pois em nosso tema nada há que não seja bom.”

“O �lósofo Jean Pontanus a�rma que as super�uida-des da pedra se convertem em uma verdadeira essência e se aprimoram pela ação de nosso fogo, pois os �lhos da ciên-cia não devem ignorar que o fogo e o metal estão escondi-dos no centro da terra e que é preciso lavá-los exatamente com seu espírito para que deles seja extraído o bálsamo, o

sal �xo que é o sangue de nossa pedra. Eis o mistério essen-cial dessa operação, que só é cumprida após uma digestão conveniente e uma lenta destilação.”

“Filhos da arte, saibam que diz Hermes: Oportet autem nos eum aquina anima, ut formam sulphuream possideamus aceto nostro eam miscere; cum enim compositum solvitur, clavis est restaurationis.”

“É preciso que o artista saiba fazer a paz entre a água e o fogo; vejam o que diz o cosmopolita: Purga ergo rebus, fac ut ignire et aqua amici �ant; quod in terrá suâ quae cum üre (?) ascenderat facile facient.”

“Sejam, pois, atentos quanto a este ponto; reguem com frequência a terra com sua água, e terão aquilo que desejam.”

“Não é preciso que o corpo seja dissolvido pela água e que a terra seja in�ltrada por sua unidade para que seja pró-pria para a geração? Hermes diz a mesma coisa com outras palavras: Aqua namque est fortissima a natura, quae trans-cendit et �xam in corpore naturam excitat.”

“De fato, essas duas substâncias são de uma mesma na-tureza, mas de dois sexos diferentes; elas se abraçam com o mesmo amor e a mesma satisfação que o macho e a fêmea, e se elevam insensivelmente juntos, deixando apenas um pouco de fogo no fundo do recipiente, de tal modo que a alma, o espírito e o corpo, após uma depuração exata, pa-recem en�m amigos inseparáveis sob a mesma forma, mais nobre e mais perfeita do que antes e tão diferente da primei-ra forma líquida, assim como o álcool e o vinho, exatamente reti�cado e aerado com seu sal, é diferente da substância do vinho de que foi extraído. Essa comparação não é apenas muito justa, mas também dá ainda aos �lhos da ciência um conhecimento preciso das operações desta terceira chave.”

(a ser continuado)J. Marcus de Vèze

S.I.

TRADICIONAL ORDEM MARTINISTA

Nesta edição, damos continuidade à sequência de extratos do periódico francês “O Véu de Isis” editado na quarta-feira, 23 de março de 1892, cujo original encontra-se em nossos arquivos.

TERCEIRA CHAVE

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Ahumanidade recebe de tempos em tempos personalidades-alma que são “divisoras de águas”, ou seja, o mundo é um antes delas e outro após elas.

Como verdadeiros mensageiros de Luz a serviço da humanidade, esses seres receberam do Cósmico a missão de causar uma forte in�uência na sociedade em que estavam inseridos, recebendo postumamente o reconhecimento pela visão, liderança e iluminação que abrangeram todo o nosso mundo. Vieram para mudar, romper paradigmas e deixar os seus pensamentos, palavras e ações como exemplos de seres humanos especiais.

Esta capa da revista “O Rosacruz” é dedicada a esses seres de luz que, como Mestres, nos ensinaram o sentido da vida.

Jakob Böhme – Toda a juventude de Jakob Böhme foi marcada por experiências místicas. Esse �lósofo e mís-tico luterano alemão, que nasceu em 1575 na cidade de Alt Seidenberg, na Alemanha, passou por importantes questio-

namentos durante sua vida. A espiritualidade e as relações entre o bem e o mal estavam sempre em evidência em seus pensamentos.

Começou sua vida pro�ssional como pastor de ovelhas. Depois disso enveredou para o ramo dos sapateiros, onde teve sua primeira experiência mística. Calado e absorto em seus pensamen-tos, quando passou por uma segunda experiência mística, Jakob Böhme começou a escrever seu primeiro manuscrito intitulado Aurora oder Morgenröte im Aufgang. Porém a obra não lhe trouxe Aurora oder Morgenröte im Aufgang. Porém a obra não lhe trouxe Aurora oder Morgenröte im Aufgangbons frutos, pois foi parar nas mãos do principal pastor de Görlitz, Gregorious Ritcher, que o con-siderou herético e ameaçou exilá-lo caso ele não parasse de divulgar os seus escritos.

Alguns anos se passaram e, por insistência de seus amigos, Böhme voltou a escrever e seus tex-tos começaram a circular novamente entre o povo. Tanto que em 1623 ele publicou seu primeiro livro, Christosophia (der Weg zu Christo). Böhme conquistou muitos seguidores em toda a Europa, mas as demais obras dele só foram publicadas anos mais tardes. Como ele mesmo costumava di-zer, cada livro que escrevia marcava o crescimento do lírio espiritual, o amadurecimento da vida. Para ele o universo era um grande processo alquímico.

Seus ideais trouxeram grandes contratempos e no último ano de sua vida �cou exilado em Dresden retornando à Görlitz apenas para dar adeus à vida aos 49 anos.

Muitas obras de Jakob Böhme são estudadas atualmente por admiradores, místicos e espiritua-listas em vários países.

“A alma busca na Divindade e também nas profundezas da natureza; pois ela tem a sua fonte e a sua origem no todo do Ser divino”.

– Jakob Böhme

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