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mitos e contracultura

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    Mito & ContraCultura

    Cesar Augusto de Carvalho

    resuMoConsiderada irracional desde os seus primrdios, a crtica contracultura revelou-se incapaz de perceber a revoluo cognitiva que se instaurava com as dierentesprticas de espiritualidade. Substituindo a lgica racionalista da excluso pelalgica da incluso, onde os elementos se equivalem, o movimento contraculturalresgatou a experincia mtica, que ajuda o homem a procurar a onte de sua

    prpria vida e se integra ao processo de ormao dosel, dando-lhe um novosignicado. Surge, dessa orma, um novo tipo de percepo e pensamento.Palavras-chave: Contracultura. spiritualidade. ito.spiritualidade. ito.Sel.

    abstraCtConsidered irrational since its beginning, the criticism o counterculture hasshown itsel incapable o perceiving the cognitive revolution that was produced bydierent practices o spirituality. Substituting the rationalist logic o exclusion orthe logic o inclusion, in which the elements are equivalent, the counterculturalmovement rescued the mythical experience, which helps man search or the sourceo his own lie and is part o the process o ormation o the sel, giving it a newsignicance. A new type o perception and thinking thus emerges.Keywords: Counterculture. Spirituality. yth. Sel.Spirituality. yth. Sel.

    Doutor em Histria pela UNSP/Assis, SP; mestre em Sociologia pelo IFCH/UNICAP; docente do

    Depto. de Cincias Sociais da UL Universidade stadual de Londrina. Autor do livro Viagem aomundo alternativo: a contracultura nos anos 80. So Paulo: Unesp, 2008 [no prelo].

    Dossi: 40anosDe MaioDe 68

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    Oensaio que voc vai ler uma refexo sobre a importncia do pensamentomtico na prtica contracultural. Para acilitar sua leitura trao algunspressupostos que podero orient-lo.A contracultura apresenta trs grandes ases em sua linha de tempo cronolgica. Aprimeira, conhecida como gerao beatnik e quase que exclusivamente limitadaaos stados Unidos no nal dos anos 40 e 50, concentrou seu eixo de atuao nosaspectos literrios e artsticos sem que suas propostas de novos comportamentos ehbitos de vida chegassem a ter grande importncia. Depois, o movimento hippie,herdeiro dos primeiros, leva estas propostas sua radicalidade mxima. So osanos foridos que, graas guerra do Vietn, apresenta uma marca de contestao poltica. O enmeno se repetir em vrios pases em dierentes momentos

    colocando em evidncia os veculos de comunicao como seus propagadorese multiplicadores. No Brasil, onde ganha expresso mxima na dcada de 70, adjetivada de desbundeou gerao perdida. Na dcada seguinte, um novodeslocamento marcar a atuao da contracultura: agrega toda a herana dasdcadas anteriores e assume a bandeira da deesa ecolgica.

    Ainda que marcada pelas cores locais dos espaos onde ruticam eindependentes das caractersticas de seus deslocamentos histricos potico,poltico e ecolgico em todos eles h um elemento comum, o vazio existencial

    de seus atores.

    este vazio existencial a ora motriz e, na busca para preench-lo, osarqutipos mticos encontrados no inconsciente coletivo servem-lhes de roteiroe guia de ao. So estes arqutipos, estruturas supra-histricas (JUNG, 2006),as diretrizes das interaes sociais - estas sim, marcadas pela historicidade e osubsdio psquico da experincia vivida.

    sta relao paradoxal de oras e intensidades entre a experincia vivida

    e o drama arquetpico de seu inconsciente ornecer as bases da identidadeconstruda pela contracultura ao longo dos anos. aqui se apresenta o limitedo prprio conhecimento: ainda que aponte para a possibilidade de compreensodeste enmeno, o mito no se deixa apreender, da mesma orma que a lua, ao serefetir nas guas do lago, apenas um plido refexo do objeto inatingvel.

    , para encerrar esta introduo, uma palavra sobre a estrutura dosargumentos. medida que se optou pela busca de uma conectividade entre asestruturas mticas e a ormao dossels de seus atores, a relao causal ocupa umlugar secundrio, ainda que relevante. Neste caso, a circularidade, num vai-e-vem

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    s vezes abusivo, o caminho adequado para se colocar, e se recolocar, os mesmosargumentos que, quando retomados, ajudam a esclarecer as conectividades.

    A marca da espiritualidade est presente em boa parte dos documentoscontraculturais. Jack Kerouac, cone da gerao beatnik nos anos 50, conta, porexemplo, num dos captulos de seu livro Viajante Solitrio (2005: p. 46-64) suaexperincia nas montanhas geladas do noroeste norte- americano que os msticoschamariam, sem dvida, de iluminao.

    Depois de um longo perodo de muitas viagens e arras, Kerouac sente a

    necessidade de recolher-se e dedicar-se a uma espcie de meditao: tudo o queeu queria era deitar na grama e olhar as nuvens (2005: p. 46).

    Para realizar seu projeto candidata-se a uma vaga de vigia de incndio.Durante sessenta e trs dias e noites permaneceria sozinho no alto de umamontanha numa rea de preservao ambiental, a noroeste dos stados Unidos.Ainda que advertido pelo uncionrio que o conduziria montanha acima sobreas diculdades e condies adversas que enrentaria naquele perodo, Kerouacno desanima. Anal, busca uma experincia rara no mundo moderno: solido

    completa e tranqila em meio a um ambiente selvagem, dia e noite (2005, p.50).

    Depois de um longo percurso montanha acima, sob chuva orte, lama e operigo da caminhada beira de enormes precipcios, o metropolitano Kerouac sechoca com a viso daquilo que seria seu lar nos prximos meses, um pequenobarraco de telhado pontiagudo, isolado no topo do mundo que o ez engolir emseco, amedrontado:

    - Aquilo a minha casa durante todo o vero? o vero isso!Outro susto viria logo na primeira noite. Depois de um dia tentando

    combater a depresso limpando a casa, acorda, no meio da madrugada, com oscabelos em p, assustado com uma enorme sombra negra que penetra pela janelado barraco. Demora a perceber que a sombra de uma montanha a quilmetrosde distncia. Sem se incomodar com os ratos sai da cama e se surpreende com osgigantescos vultos negros de montanhas ao redor:

    Foi um pouco demais para um garoto urbano o medo de que o AbominvelHomem das Neves pudesse estar respirando s minhas costas, no escuro, me

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    ez voltar para a cama e enterrar a cabea dentro do saco de dormir (2005,p. 54-5).

    Acostumando-se com o ambiente e a rotina de um trabalho relativamente

    cil - estar atento a qualquer sinal de ogo e comunicar-se diariamente com a base-, o medo oi se dissipando.

    Para quebrar a monotonia, volta e meia grita e canta perguntas daliteratura budista que o intrigam. Com o tempo e a solido, as perguntas e refexesencontram respostas que marcaro sua existncia e perl de escritor:

    Pensando nas estrelas noite aps noite comeo a perceber que As estrelasso palavras e todos os incontveis mundos da Via Lctea so palavras, eesse mundo tambm o . percebo que no importa onde eu esteja, seja

    em um quartinho repleto de idias ou nesse universo innito de estrelas emontanhas, tudo est na minha mente. No h necessidade de solido. Porisso, ame a vida pelo que ela e no orme idias preconcebidas de espciealguma em sua mente (2005, p. 6).

    mbevecido com suas descobertas solitrias, sintetiza-as numa espcie deorao:

    Visto que, ao compreender que Deus Tudo, voc percebe que deve amar tudopor pior que seja, em ltima anlise nada bom nem mau (pense na poeira),

    apenas o que , ou seja, o que se az parecer [...] percebi que no eranecessrio me esconder na desolao e que podia aceitar a sociedade para oque desse e viesse, como uma esposa vi que, se no osse pelos seis sentidos,viso, audio, olato, tato, gosto e pensamento, a individualidade disso tudo,que no-existente, simplesmente no haveria nenhum enmeno paraapreender, na verdade no haveria seis sentidos nem individualidade (2005,p. 62).

    Na tela de seu sonho o som de diamantes corta o silncio enquanto um

    poeta lhe indica, inscritos no cu, os arabescos da simplicidade e da cumplicidadeda palavra. m seu caderno, anota:

    Nenhum homem deveria passar a sua vida sem experimentar, ao menosuma vez, a salutar e at enadonha solido de um ermo, exclusivamentedependente de si prprio e aprendendo assim, portanto, a conhecer a sua oraverdadeira e oculta. A aprender, por exemplo, a comer quando tem ome e adormir quando tem sono (2005, p. 58).

    Nesse relato, Kerouac no ez, seno, narrar uma experincia exttica queo budismo denominasatori, um tipo de iluminao espiritual. Na literatura zen-

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    budista esta a experincia pessoal de Buda, que os seus discpulos devem conhecer,pois ela apresenta a conscincia mais prounda que le teve no momento de suaIluminao2 (SUZUKI, 972, p. 4).

    sse aspecto mstico acentuou-se com o movimento hippie, nos anos60. Nos anos 80, o movimento alternativo transormou-o em item principal deseu universo paradigmtico. No Brasil, Luis Carlos aciel, um dos principaisdivulgadores e militantes da contracultura, inconormado com essa tendncia,critica-a como uma maniestao de irracionalidade:

    O misticismo religioso oi, sem dvida, o lado extremo da contraculturahippie como sempre o oi, de resto, de todos os irracionalismos. O queo caracterizou, oi a mistura delirante de todos os xtases: Tibete, ndia,

    parapsicologia, zen-budismo, realismo mgico, discos voadores, astrologia,bolas de cristal, macumba (vodu, para eles), iluminaes psicodlicas eespiritismo puro e simples estavam, todos, misturados no mesmo saco msticoda contracultura(ACIL, 987, 98).

    aciel estaria repleto de razo se o saco mstico da contracultura ossea crena ilimitada no sobrenatural. Neste caso, o irracionalismo saltaria evidente,pois abole qualquer possibilidade de explicaes lgicas e causais. Um exemplotpico desse irracionalismo a declarao de uma autoridade rabe que considerou

    otsunami, que devastou boa parte da sia, em 2005, como uma vingana divinapor causa dos gays que reqentam as praias asiticas4. Outro exemplo comum,ligado aos aspectos supersticiosos, o hbito bastante popularizado de no passarembaixo de escada porque d azar.

    Todavia, o misticismo predominante na contracultura era de outro tipoe estava mais voltado para a contemplao espiritual, como pareceu ter sido a

    2 Aqueles cujas mentes esto pereitamente/desenvolvidas nos constituintes de Iluminao,/Que no se ligando ao mundo regozijam-se em/ ter do apego se libertado,/ Cujos cancros estodestrudos, resplendentes/ (em sabedoria) , eles emanciparam-se (de todo lao terreno) nestemundo. (TIPITAKA, SUTTAPITAKA & KHUDDAKANIKAYA, 2000, p. 59).

    Justia seja eita. Anos mais tarde, aciel vai repensar essa questo e esclarecer que o misticismo dacontracultura um elemento liberador: a experincia mstica se caracteriza pelo desaparecimentodo ego (ACIL, 200, p. 50).

    4 These great tragedies and collective punishments that are wiping out villages, towns, cities andeven entire countries, are Allahs punishments o the people o these countries, even i they are

    uslims, Sheik Fawzan Al-Fawzan told Saudi television in an interview translated by the iddleast edia Research Institute (http://www.wiccanweb.ca/article-779.html. Acesso em 7 jan. 05).Acesso em 7 jan. 05).

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    experincia Sozinho no Alto da Montanha descrita por Kerouac (2005, p. 46-64), que buscava o xtase da unio direta com a divindade.

    Outra considerao diz respeito ao prprio conceito de irracionalismo. Ora,

    o que aciel considera como tal a busca que os jovens rebeldes, a partir dos anos50, iniciaram como alternativa racionalidade. Busca que tinha como objeto umtipo de percepo que inclusse tudo o que o racionalismo vigente exclua comoantpoda:

    a contracultura se caracterizou por uma contundente crtica ao predomnioda racionalidade. A nase na linguagem verbal uma das maniestaesdesta racionalidade, (...). Como alternativa, se propunham as imagens, ocorpo, a msica, a arte, a emoo, o mstico, o ldico (GURRA, 996, p.

    57).A hiptese possvel de ser levantada aqui a de que, a esse carter excludente

    da lgica binria da racionalidade ou isto ou aquilo a contracultura vaijustapor a lgica da incluso, substituindo a conjuno ou pela conjuno e isto e aquilo.

    So vrias as conseqncias desse tipo de pensamento. Primeiro temosum deslocamento da problemtica: a possibilidade de um pensamento crticodesaparece. Como diz Lyotard, toda a crtica se instala no campo do outro, aceitaas dimenses, as direes, o espao do outro no momento mesmo em que elacontesta (LYOTARD, 97, p. ) e, nesse sentido, a lgica da incluso incorporaa racionalidade num outro plano, para armar-se como um novo dispositivo.Nele, todos os elementos relacionam-se em condies de igualdade: tudo vale. astais elementos no valem por si mesmos, pois dependem da relao estabelecidacom os outros. ntre os pontos estende-se uma linha, uma conexo. Os dierentesndulos, que traam dierentes e mltiplas linhas, criam redes, plataormas planas

    nas quais importa mais o lugar, a posio ocupada, que saber onde o comeoou o m:

    estar no meio, como o mato que cresce entre as pedras. over-se entre ascoisas e instaurar uma lgica do e. Conexo entre um ponto qualquer eoutro ponto qualquer. Sem comeo nem m, mas entre. No se trata de umasimples relao entre duas coisas, mas do lugar onde elas ganham velocidade:o entre-lugar. Seu tecido a conjuno e... e... e. Algo que acontece entreos elementos, mas que no se reduz aos seus termos. Dierente de uma lgicabinria, uma justaposio ilimitada de conjuntos (PIXOTO, 2000).

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    Nesta lgica de conectividades, a condio de existncia de cada umdos elementos que constri o todo depende das relaes de interdependnciacriadas pelas prprias conexes. Uma no existe sem a outra. A singularidade, aindividualidade de cada ponto, s pode existir na relao, no conjunto. este spode denir-se pela teia complexa de relaes que seus elementos estabelecem(CAPRA, 986, p. 259-60).

    ssa condio vital de interdependncia levou o coreano, Thich Nhat Hanh,monge zen-budista, a criar o neologismo interexistnciapara acentuar-lhe aindamais o carter vital:

    Se voc poeta, v claramente uma nuvem neste papel branco. Se no existira nuvem, a chuva no cai. Se no cair a chuva, a rvore no cresce. Se no

    cresce a rvore, no se az o papel. Para se azer o papel, tem de existir anuvem. nto, podemos dizer que o papel e a nuvem se encontram eminterexistncia. Se observamos mais proundamente o papel, vemos nele a luzdo sol. Sem ela o mato no cresce. Ou melhor, sem ela, nada no mundo cresce.Por isso, reconhecemos que a luz do sol tambm existe neste papel branco.O papel e a luz do sol se encontram em interexistncia. Se continuarmosobservando proundamente, veremos o lenhador que cortou a rvore levadaposteriormente marcenaria.

    Veremos tambm o trigo no papel. Sabemos que o lenhador no pode existirsem o po de cada dia. Por isso, o trigo, a matria-prima do po tambmexiste no papel. Pensando desta maneira, reconhecemos que um papelbranco no pode existir quando altar qualquer um desses elementos. Noposso citar nada que no esteja aqui, agora. O tempo, o espao, a terra, achuva, os minerais contidos no solo, a luz do sol, as nuvens, os rios, o calor...tudo est aqui, agora. No podemos existir sozinhos.

    ste papel branco totalmente constitudo de elementos que no so papel.Se devolvermos todos os elementos que no sejam papel sua origem, o papeldeixar de existir. O papel no existir, se orem tirados os elementos queno sejam papel., O papel, em sua espessura na, contm tudo do universo.Nele, no h nada que exista em independncia. A inexistncia de elementosindependentes signica que tudo satiseito por tudo.

    Temos que existir em interexistncia com os demais, assim como este papelque existe porque todos os demais elementos existem (HANH, 988 p. -5).

    O pensamento ecolgico, mtico por excelncia, um dos melhores

    exemplos da utilizao do conceito de interexistncia, ou interconectividade,este utilizado tanto pelos ecologistas como pelos alternativos dos anos 80. Prero,

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    todavia, manter interexistncia para reorar a condio vital da conexo,no sentido dado por Thich Nhat Hann.. Ao incorpor-lo como pressuposto deseu dispositivo produtor de conhecimento, o pensamento ecolgico transcendea simples preocupao com o meio ambiente, pois exige uma mudana napercepo sobre o ecossistema planetrio, considerado como organismo vivo eno como mquina (CAPRA, 986, p. 5) em constante movimento. Cada ponto,cada ncleo, cada singularidade concentra um oco energtico transacional, objetoda relao de troca. uma dinmica viva em que a transmutao entre matria eenergia invarivel no processo. Dinmica que leva o homem a resignar-se vidae aceit-la sem lamrias, pois ela transitria, vida sempre em movimento:

    Pouco importa onde passaremos o nal de nossas vidas. (...) Pouco importa

    onde passaremos o nal de nossos dias. No so muitos. Poucas horas mais,poucos invernos mais. (...) por que eu deveria lamentar a passagem do meupovo? Tribos so eitas de homens, nada mais. Homens vm e vo como asondas do mar (SATTL, 987, p. 4).

    Com outra linguagem, a ecologia revaloriza os mesmos elementostradicionais que encontramos nas sociedades pr-modernas (CAPRA, 985, p. 40;LAGO & PDUA, 985, p. ). Um exemplo clssico desses elementos a amosacarta de Seattle. scrita em 855, o chee indgena Seattle expressa nela sua

    indignao diante da proposta do governo norte-americano em comprar as terrasonde os ndios viviam: possvel comprar ou vender o cu e o calor da terra?(SATTL, 987, p. ). No universo simblico daquele chee indgena, a terra um elemento sagrado e no algo de que se possa dispor, comercializar. umorganismo vivo e ornecedor de vida, nossa me:

    Devem ensinar, s suas crianas, que o solo a seus ps a cinza de nossos avs.Para que respeitem a terra, digam a seus lhos que a terra enriquecida comas vidas de nosso povo. nsinem s suas crianas o que ensinamos s nossas

    crianas; que a terra nossa me. Tudo o que ocorrer com a terra, ocorreraos lhos da terra. Se os homens desprezam o solo, esto desprezando a simesmos (SATTL, 987, p. 5).

    So estes valores tradicionais de unidade da vida e de integrao dohomem com a natureza que renascem numa nova linguagem: a terra, percebidacomo organismo vivo, torna-se pressuposto de um moderno dispositivo ecolgico,enquanto nas sociedades pr-modernas era condio de existncia.

    as em ambas as situaes encontramos o mesmo papel mtico da origem,num mito que representado por Gaia ou Geia, a deusa que ornece o alimento e a

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    vida. Ligada associao entre a mulher e a terra, a e-Terra a personicaodo arqutipo materno, gura dominante nas antigas sociedades agrrias:

    A mulher d luz, assim como da terra se originam as plantas. A mealimenta, como o azem as plantas. Assim, a magia da me e a magia daterra so a mesma coisa. Relacionam-se. A personicao da energia que dorigem s ormas e as alimenta essencialmente eminina. A Deusa a guramtica dominante no mundo agrrio (CAPBLL, 200, p. 77).

    Gaia nasce depois do Caos primordial e, sem interveno masculina, gera ocu, as montanhas e o mar, cada um deles representado por uma divindade: tudoest dentro dela, de modo que os deuses so seus lhos. Tudo quanto voc v, tudoaquilo em que possa pensar, produto da Deusa (CAPBLL, 200, p. 77).

    Organismo vivo, Gaia vive de alimentar-se de seus prprios lhos, aomesmo tempo em que os cria, simbolizando a totalidade5 e nos traduz a condio vital da existncia, ainterexistncia. uma concepo que obriga o mundocontemporneo a pensar-se, necessariamente, como uma aldeia global, conceitoorjado por cLuhan (2002) e que se reere complexa rede de comunicao queinterliga o mundo.

    stas concepes de mundo e a ecologia apenas uma delas - que seapropriam dos elementos considerados sagrados pelas sociedades pr-modernas

    signicam uma verdadeira revoluo do processo de conhecimento.xemplo melhor acabado dessa revoluo o trabalho de Carlos Castaneda.

    studante de Antropologia numa universidade americana, Castaneda dirige-seao xico para estudar as experincias dos brujos. m 968 publica A rva doDiabo, primeiros resultados de seu trabalho. Nele, relata as experincias de suapesquisa cientca: um caminho espiritual baseado no uso de plantas alucingenase de rituais xamnicos em busca de poder e sabedoria. Reconhece que dom Juan deatus, que se torna seu mestre, introduziu-o numa completa revoluo cognitiva:uma orma dierente de ver, compreender e expressar o mundo (CASTANDA,2002, p. 2). A onte de seu aprendizado eram os xams do xico Antigo, cujosensinamentos aziam com que o discpulo internalizasse os processos cognitivosxamnicos responsveis pela percepo da vida cotidiana, processos que incluemmemria, experincia, conscincia e o uso especializado de qualquer sintaxedada (CASTANDA, 2002, p. ).

    5 O mito da Deusa-e sustenta a concepo de uma teoria sobre a origem dos continentes:

    Pangia, nome da terra quando era ainda um nico continente, mais tarde dividido dando origemaos cinco continentes (BRANCO, 997, p. 7-9).

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    ssa tendncia espiritualista, pauta cada vez mais presente nas discussescientcas, levou o msico Koellreutter a refetir sobre o encontro da cincia e daespiritualidade como

    o acontecimento mais importante no campo da cultura deste sculo.Representa uma imagem de um mundo global que procura evitar as divises,os confitos e a discriminao. Quer dizer, uma losoa do mundo queprocura realmente enatizar mais as coisas que unam os seres humanos, doque as coisas que dividam (987, p. A-49).

    sta a mesma opinio que encontramos em inmeros autores coevos,dentre eles, Capra (985; 986; 999) e Wilber (200). Todavia, e ainda queos limites entre cincia e espiritualidade sejam cada vez mais tnues, as duas

    experincias no se conundem. A primeira diz respeito a tudo aquilo que possaser captado pelo pensamento e expresso pela palavra, reerindo-se sempre a umaexperincia vivida e, portanto, unilateral; j o caminho da espiritualidade leva experincia do absoluto, do todo, de uma experincia no traduzvel por palavras,que os msticos chamam de sabedoria:

    ... Certamente refeti sobre muita coisa, mas seria dicil para mim transmitir-te os meus pensamentos. Olha, meu querido Govinda, entre as idias que seme descortinaram encontra-se esta: a sabedoria no pode ser comunicada. A

    sabedoria que um sbio quiser transmitir sempre cheirar a tolice.- sts brincando? perguntou Govinda.

    - No brinco, no. Digo apenas o que percebi. Os conhecimentos podem sertransmitidos, mas nunca a sabedoria. Podemos ach-la; podemos viv-la;podemos consentir em que ela nos norteia; podemos azer milagres atravsdela. as no nos dado pronunci-la e ensin-la. sse ato, j o vislumbreis vezes na minha juventude. Foi ele que me aastou dos meus mestres. Umapercepo me veio, Govinda, que talvez se te agure novamente como uma

    brincadeira ou uma bobagem. Reza ela: o oposto de cada verdade igualmenteverdade. Isso signica: uma verdade s poder ser comunicada e ormuladapor meio de palavras, quando or unilateral. Ora, unilateral tudo quantopossamos apanhar pelo pensamento e exprimir pela palavra. Tudo aquilo apenas um lado das coisas, no passa de parte, carece de totalidade, estincompleto, no tem unidade. Sempre que o augusto Gotama nas suas aulasnos alava do mundo, era preciso que o subdividisse em Samsara e Nirvana,em iluso e verdade, em sorimento e redeno. No se pode proceder deoutra orma. No h outro caminho para quem quiser ensinar. as o prpriomundo, o ser que nos rodeia e existe no nosso ntimo, no nunca unilateral.

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    Nenhuma criatura humana, nenhuma ao inteiramente Samsara neminteiramente Nirvana. Homem algum totalmente santo ou totalmentepecador Uma vez que acilmente nos equivocamos, temos a impresso de queo tempo seja algo real. No, Govinda, o tempo no real, como veriquei

    em muitas ocasies. se o tempo no real, no passa tampouco de ilusoaquele lapso que nos parece estender-se entre o mundo e a eternidade, entre otormento e a bem-aventurana, entre o Bem e o al (HSS, 976, p. 4).

    Qual o papel, ento, do pensamento cientco quando se deixa ertilizarpelo pensamento mtico? Voltarei a essa questo mais rente. Todavia, pode-seadiantar que, neste caso, o pensamento cientco tem a mesma uno do mito:ajuda o homem a procurar a onte de sua prpria vida, a energia que o anima(CAPBLL, 200, p. 79).

    Boa parte dos envolvidos com o movimento contracultural, em especialos oriundos da vida intelectual, tem certa restrio em considerar suas prticasmsticas como sendo religiosa, restrio mantida pelos integrantes da Nova ra(New Age), movimento espiritual que se inicia no nal dos anos 80 e encontrasuas razes na contracultura (DANDRA, 2000, p. ). A objeo contracultural,todavia, no se reere religio como elemento essencial para a vida humana,por ser um elo entre o sagrado e o proano, como j apontava Durkheim (2000).

    A objeo est restrita ao ato dela ser, na maioria das sociedades, uma prticainstitucionalizada e, como tal, onte de poder.

    Timothy Leary, em entrevista a um programa da televiso brasileira, em992, reerindo-se aos anos 60, comenta uma das principais caractersticas dosjovens: a armao do indivduo contra o poder constitudo e contra tudo aquiloque estivesse institudo, osse a economia, a poltica, a religio:

    A idia era liberdade individual. Pense por si mesmo. No siga a Igreja.No siga polticos. No se aliste. Pense por si mesmo. Bob Dylan cantava

    no trabalhe mais na azenda de aggie. Quer dizer: no trabalhe para aautoridade. Ns paramos a guerra. Os anos 60 eram globais. Ol irmo!.Paccos. ra muito meditativo. a religio , nos anos 60, era a religiodo humanismo. Deus no est em Roma! Deus no est na eca! Deus estno ser humano. o seu trabalho como ser humano despertar e descobrirsua alma, seu poder e compartilhar com outras pessoas (apudGURRA996, p. 49).

    Nos anos 80, a postura em relao religio institucionalizada no

    muito dierente. Apesar de proundamente religioso, um naturalista, gerente de

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    restaurante vegetariano em Cuiab, preere considerar sua prtica religiosa muitomais uma losoa de vida que religio:

    A religio no deve ser um conjunto de proibies. nto ns temos a

    religio simplesmente como uma losoa de vida.6

    Na verdade, h apenas uma dierena de grau entre o que os contraculturaischamam de espiritualidade e o que chamam de religio. m dilogo com Capra,um telogo esclarece que a religio sempre o encontro com o mistrio, quetraduzida para a vida do dia-a-dia, torna-se espiritualidade; institucionalizadatorna-se uma religio, isto , sinnimo de poder (CAPRA & STINDL-RAST,999, p. 26).

    Chamada de espiritualidade ou religiosidade, a onte alimentadora desteencontro com o mistrio o mito. Todavia, mesmo sendo um veculo que ajudao ser humano a desvendar este mistrio, o mito um conceito mais amplo quea religio: pode ser encontrado nos contos de adas, nas narrativas ccionais oumesmo na terapia psicolgica junguiana, dentre outras.

    as o mito, assim como a religio, pode servir de elemento para legitimartodo um sistema social. sta uno mtica7 leva muitos autores a conceberemo mito em seu sentido vulgar, de alsicao da realidade. Todo o processo de

    modernizao da sociedade ocidental trabalhou com a idia de que a destruiodos mitos levaria o ser humano conquista da razo, ao esclarecimento.sclarecimento este que levou ao desencantamento do mundo e crise espiritualdestas mesmas sociedades.

    A uno de legitimao social desempenhada pelo mito levou Lvi-Straussa consider-lo um substituto da ideologia nas sociedades modernas:

    Nada se assemelha mais ao pensamento mtico que a ideologia poltica. mnossas sociedades contemporneas, talvez esta tenha se limitado a substituiraquele. Ora, o que az o historiador quando evoca a Revoluo Francesa? lese reere a uma seqncia de acontecimentos passados, cujas conseqnciaslongnquas se azem, sem dvida, ainda sentir atravs de toda uma srie, no-reversvel, de acontecimentos intermedirios. as, para o homem poltico epara os que o seguem, a Revoluo Francesa uma realidade de outra ordem:

    6 Depoimento gravado em evereiro de 986 para a elaborao da minha tese de doutorado Viagemao mundo alternativo: a contracultura nos anos 80.

    7 Funo chamada por Campbell de sociolgica porque suporta e valida determinada ordem social(200, p. 2).

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    seqncia de acontecimentos passados, mas tambm esquema dotado deuma eccia permanente, permitindo interpretar a estrutura social da Franaatual, os antagonismos que nela se maniestam, e entrever os lineamentos daevoluo utura (LVI-STRAUSS, 996, p. 24)8.

    Ainda que seja indiscutvel a uno legitimadora do mito, existe umadierena undamental entre este e a ideologia. sta dierena encontra-se no apelo racionalidade eito pela ideologia, porm ausente no mito. Ambos possuem,enquanto linguagem, certas particularidades, mas a linguagem do mito estrutura-se atravs de smbolos que no se deixam captar pela lgica racional:

    O elo entre os smbolos no depende da lgica conceitual: no entra nemna extenso, nem na compreenso de um conceito. Tampouco aparece nonal de uma induo ou deduo, nem de qualquer procedimento racionalde argumentao. A lgica dos smbolos undamenta-se na percepo de umarelao entre dois termos ou duas sries, que escapa... a toda classicaocientca (CHVALIR, 989, p. XXXVIII).

    J a ideologia, pelo seu carter abstrato e racional, esvazia os smbolostornando-os elementos que designam um sistema de idias com objetivo especcode orientar e legitimar a atividade histrica dos grupos sociais envolvidos. Aideologia, portanto, ornece modelos de ao bastante precisos, com objetivos emeios para alcan-los (LAPASSAD & LOURAU, 972, p. 85-6).

    Pertencendo a dois campos dierentes, ainda que cumprindo a mesmauno de legitimao, o carter racional dos sistemas ideolgicos no chega a sercompreendido por integrantes de culturas nas quais o mito tem papel importante.Campbell relata um dilogo bastante curioso entre um lsoo nova-iorquinoe um monge xintosta japons. Por ser pequeno, transcrevo-o na ntegra. Diz olsoo:

    Assistimos j a um bom nmero de suas cerimnias e vimos alguns dos seus

    santurios. as no chego a perceber a sua ideologia. O japons ez umapausa, mergulhando em proundo pensamento, e ento balanou lentamentea cabea. Penso que no temos ideologia, disse. No temos ideologia. Nsdanamos (CAPBLL, 200, p. 2).

    Mito: oiMaginrioeaConstruoDoselfNa historiograa contempornea, o conceito de imaginrio social ou

    coletivo ganhou posio de destaque nos estudos das representaes coletivas,

    8 Veja-se tambm endras (968, p. 22).

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    abrindo espao para expandir e criar novos territrios da pesquisa social (VOVLL,998, p. 84).

    O nosso imaginrio representa um espao virtual de intercmbios entre

    antasia, mito, religio e quaisquer outras ormas simblicas. Todavia, mais doque uma juno das dierentes representaes sociais, o imaginrio uncionacomo elemento de identicao social, pois elabora certa representao de si;estabelece a distribuio dos papis e das posies sociais, exprime e impe crenascomuns (BACZKO, 985, p. 09).

    No entanto, apesar de toda amplitude e importncia, o conceito deimaginrio social um conceito esttico, pois no d conta dos mecanismosde produo das representaes. esmo reconhecendo que dierentes tipos

    de imaginrio estabeleam relaes entre si, criando complexos sistemas derepresentaes (BACZKO, 985, p. 2), este um conceito que no nos ajudaa entender como uma determinada coletividade produz seus mecanismos depercepo e identidade.

    Se o imaginrio um conceito limitado, talvez seja melhor alar desel,conceito criado pelo interacionismo simblico cujo arquiteto George H. ead(992). Apresentado como um dispositivo produtor das representaes, o seldiz respeito percepo do indivduo sobre si mesmo, em relao aos outros eaos sistemas sociais. Neste sentido, um conceito dinmico, elucidativo e tem avantagem de no conundir-se com uma de suas oras propulsoras, o inconscientecoletivo9.

    O conceito deselapresenta, portanto, dois aspectos positivos: primeiro, um dispositivo produtor que d conta da dinmica das representaes, de todosos tipos, na constituio da identidade do sujeito e, em segundo lugar, ajuda aentender o papel do mito na construo dessa mesma identidade.

    Para ead, oselconstitui-se de dois elementos distintos: o eu,consideradocomo elemento pr-verbal em que a experincia existe sem linguagem, ou seja, para vivenci-la no existe um processo refexivo; e amente, produtora doprocesso refexivo que transorma a pessoa num ser social. Assim, para ser algum um ser social necessrio que o indivduo tenha essa capacidade de usar

    9 Vovelle (99, p. 07-26) descarta o conceito considerando-o intencionalmente vago. Todavia,este procedimento signica abrir mo de perceber sua importncia como linguagem produtora de

    arqutipos simblicos reeridos tanto vida psquica individual quanto coletiva, pelo menos nosentido que lhe atribui Jung (s/d).

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    a linguagem, cujo dispositivo produtor a mente (JOHNSON, 997, p. 44).struturado em uno de idias, impresses e sentimentos que temos sobre nsmesmos, oselconstitui aidentidade socialdo indivduo. Sempre um processoem construo, apresenta duas aces: de um lado o trabalho solitrio e mentaldo indivduo, que refete e constitui-se como sujeito; de outro, o material dessarefexo social, pois obtido na interao com outras pessoas.

    A prpria interao, portanto, revela-se tambm um processo duplo,mental e social, pois as pessoas agem em relao recproca em contextos sociais.A interao ace a ace nos d uma idia clara desse processo. Tomemos comoexemplo minha hipottica reao ao ser apresentado a um homem branco, queocupa um cargo de alto executivo e anda bem vestido. inha interao e todo o

    processo de comunicao sero infuenciados pelas caractersticas deste homembranco e as imagens que dela surgem, muitas baseadas nas experincias vividascom outras pessoas. Contudo, ao perceb-lo como um indivduo racista, oumesmo como algum vaidoso com o cargo que ocupa, remodelo minha interaoe, eventualmente, posso mudar radicalmente o meu comportamento.

    Pode-se inerir, a partir deste exemplo,0 que na interao social o que estem jogo a percepo da subjetividade, que undamenta a ao de um indivduoem relao ao outro:

    Na interao social, percebemos outras pessoas e situaes sociais e, baseando-nos nelas, elaboramos idias sobre o que esperado e os valores, crenas eatitudes que a ela se aplicam. Nessa base, resolvemos agir de maneiras quetero os signicados que queremos transmitir (JOHNSON, 997, p. ).

    Numa linguagem dierente, mas lembrando o mesmo processo, CarlosCastaneda, em seus muitos livros, explica a constituio dosel, chamado porele de ovo luminoso. Resumo a explicao como segue: o ovo o espao onde

    o ser humano recolhe e atingido por substncias de todo os tipos que, ao serprocessadas, vo gerar sua identidade, com a qual atuar no mundo exterior.Tais substncias, ao serem recolhidas, misturam-se com outras j existentes;algumas desaparecem por no encontrarem correspondncia ou ressonncia. As primeiras, que se undem ou mesmo se chocam, geram uma nova queproporciona um novo momento, uma nova identidade que arma ou altera o

    0 xemplo criado com base na abordagem interacionista desenvolvida por Berger & Luckmann(978 p. 49-50).

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    curso do tempo, da histria, do mundo. Assim como osel, o ovo luminoso um produto de linguagem2.

    No movimento alternativo dos anos 80, o oco de signicao na construo

    das identidades sempre de origem mtica. , aqui, o mito entendido no comoa narrativa de atos hericos ou lendrios, mas como algo que diz respeito scondies de existncia. Assim, todo o sentido social do imaginrio alternativo seexpressa numa valorizao daquilo que considerada sagrada: a prpria vida.

    A lenda de Jaso e o Velocino de ouro uma excelente analogia paraentender-se a construo doselmtico. Destinado a uma misso suicida, por ordemdo rei Plias, Jaso deve buscar o velocino de ouro que, oerecido em sacricio aZeus, ca estendido no alto de uma rvore e guardado por um enorme e terrvel

    drago. Para busc-lo, Jaso manda construir o navio Argo, que o conduzir coma tripulao rumo ao oriente. Nessa viagem so inmeros os obstculos e provasa que Jaso e seus heris, os Argonautas, so submetidos. Conseguindo matar omonstro, Jaso volta com o velocino de ouro para a Grcia, onde, ao chegar aoporto, consagra seu navio que ser transportado ao cu e transormado numa dasconstelaes. (FAVR, 998, p. 886-7).

    Simbolicamente, o velocino de ouro representa aquilo que inacessvel

    ao homem, uma oerenda aos deuses. A conquista desse tesouro - que pode sero smbolo do conhecimento, da imortalidade ou das recluses espirituais - s possvel atravs de uma srie de provas que permitem penetrar no domnio dointerdito (FAVR, 998, p. 887). Como todos os mitos sobre busca de um tesouro,seja ele material ou espiritual, o que o heri busca sempre a ssncia Divina, nomaniestada, sempre guardada por guras que representam perigosas entidadespsquicas, de quem corremos o risco de ser as vtimas, caso no tenhamos poder eno tomemos as necessrias precaues (CHVALIR, 989, p. 88). ais do que

    isso, essas guras monstruosas reerem-se necessidade do homem em esorar-separa atingir o tesouro oculto, o smbolo de sua vida interior s descoberto ao nalde longas privaes (CHVALIR, 989, p. 88).

    Utilizo-me do resumo sucinto e bem elaborado da concepo de ovo luminoso eita por RenatoGuiselini de Carvalho, em mensagem eletrnica enviada em de jan. 2005.

    2 Todo o trabalho espiritual consiste em perceber exatamente isso: a construo da identidade doindivduo um produto de linguagem e, portanto, algo que existe apenas como imagem. Cabe, na

    prtica espiritual, desenvolver essa percepo para que o praticante redirecione sua vida no sentidode diluir estas identidades construdas nesse processo.

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    Na Chapada dos Guimares, um dos principais plos alternativos dosanos 80, todos so argonautas em busca do velocino de ouro. O tesouro buscado o equilbrio com a natureza que, no decorrer do processo, revela-se equilbriointerior. As diculdades so muitas: alta de conhecimento para trabalhar a terra,diculdades no relacionamento e as prprias condies materiais, nem sempreavorveis ao sucesso das experincias. Frustradas ou bem sucedidas, o resultadodelas sempre o mesmo: os argonautasalternativos reconstrem suas identidadese redenem seu papel social criando novas redes simblicas que instauram osagrado na vida cotidiana.

    O mito, visto como uma erramenta analtica ou como matria quealimenta a identidade social, contm pistas que nos ajudam a procurar, dentro

    de ns mesmos o sentido a muitas das inquietaes humanas (CAPBLL, 200,p. 5). Assim, o mito permite dois tipos de buscas: a mental e a de vida. nquantoonte para a refexo no processo de construo dosel, a busca de sentido paraorientar a interao social; mas ao mesmo tempo, uma experinciade vida quese d no dia-a-dia. m sntese, um jogo duplo do indivduo na sociedade e dasociedade no indivduo. De sua experincia individual nasce a base para construiros relacionamentos sociais, de grupos, de instituies, de sistemas sociais. daexperincia coletiva, cada um remodela-se enquanto indivduo. ste o paradoxo

    que refete a complexidade da vida social: sistemas no existem sem indivduos eindivduos s existem em sistemas sociais. m conseqncia, tanto as identidadessociais que modelam os sistemas sociais, quanto os sistemas sociais, so merasabstraes que condicionam a aparncia, a experincia e o comportamentoindividual.

    ssa experincia da singularidade armao do eu abre duaspossibilidades: voc pode iludir-se acreditando que sua identidade real ilusoque, de modo geral, as religies orientais, em especial o hindusmo e o budismochamam de maya ou acreditar que uma iluso necessria. m ambos os casos, o jogo ilusrio da identidade jogo de linguagem - que vai sendo construdo ereconstrudo ao longo da vida.

    Perceber que a identidade social um produto imaginrio, ainda quenecessrio, oi uma das caractersticas undamentais do movimento contracultural.sta caracterstica se az presente no movimento beatnik; se acentuar nos anos60 com a utilizao das drogas alucingenas e com a infuncia do pensamento

    Veja-se o aproundamento do tema em CARVALHO (2008).

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    oriental (ACIL, 200, p. 64); e se revelar preocupao dominante nomovimento alternativo nos anos 80.

    sse tipo de percepo uma busca interior do prprio indivduo, e sua

    motivao maior oi a crise existencial vivida pelas geraes do ps guerra que,muitas vezes, maniestou-se como reao exacerbada racionalidade vigentenas sociedades modernas. Como contraponto a essa racionalidade, risava-se aimportncia da experincia em si, a experincia que permitira ao indivduo atingiroutro nvel de percepo, outro tipo de conscincia. m outras palavras, a naseestava na busca de uma experincia de vida armando a existncia (ser/corpo)contraposta experincia intelectual (palavra/mente).

    Como resultado, desenvolveu-se o pensamento mtico e a descoberta

    conseqente da vida interior. as uma descoberta, evidentemente, s acessvelqueles que tm a fexibilidade necessria para arriscar-se na aventura de viveros mitos, no como uma experincia de retorno a um paraso perdido, nem comoexperincia intelectual, mas como experincia de vida que se az no cotidiano,num processo sem m.

    Porm, o que se conquista menos resultado e mais caminho, pois esteest sempre se reazendo sem que o paradoxo inerente prpria construo do

    sel seja abolido: que para viver a experincia mtica e perceber-se como umaidentidade rgil e ilusria, o indivduo precisa do conhecimento que, no entanto,no substitui a experincia de vida. Como diz um velho ditado zen-budista: odedo que aponta para a lua, no a lua. Ou, em outras palavras, o conhecimentomtico ajuda a manter a mente alerta para a experincia de estar vivo. Reerindo-se aos mitos antigos, Campbell esclarece que eles

    oram concebidos para harmonizar a mente e o corpo. A mente pode divagarpor caminhos estranhos, querendo coisas que o corpo no quer. Os mitos e

    ritos eram meios de colocar a mente em acordo com o corpo, e o rumo da vidaem acordo com o rumo apontado pela natureza (CAPBLL, 200, p. 74).

    as os mitos antigos perderam-se, bem como toda a literatura doesprito, deixando o indivduo deriva de seu prprio caminho. Um caminholongo, marcado por muitas transies, desde a inncia maturidade e morte,que nas sociedades pr-modernas azia-se acompanhar pelos rituais de passagem,importante para manter o sentimento de participao num sistema social. ssesrituais desapareceram ou seus signicados sagrados esvaziaram-se, transormando-

    se em eventos sociais, destitudos de signicao mtica.

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    Assim, nesses estgios de desenvolvimento que so os mesmos de sempre,criou-se uma lacuna e os proundos problemas interiores, os mistrios da vidae da morte, caram sem aqueles temas que sempre deram sustentao vidahumana, que construram civilizaes e enormaram religies atravs dos sculos(CAPBLL, 200, p. 4).

    A carta, j citada, do chee indgena Seattle d conta do signicado dessacrise:

    mesmo o homem branco, cujo Deus caminha e ala com ele de amigo paraamigo, no pode estar isento do destino comum. Apesar de tudo, podemosser irmos. Veremos. Uma coisa sabemos e que o homem branco poderum dia descobrir nosso Deus o mesmo Deus. Vocs podem pensar que opossuem, como desejam possuir nossa terra; mas no podem. le o Deus dohomem, e sua compaixo igual para o homem vermelho e para o homembranco. sta terra preciosa para le e eri-la desprezar seu Criador. Oshomens brancos tambm passaro; talvez mais breve do que todas as outrastribos. Continuem contaminando suas camas, e em uma determinada noitevocs sero suocados pela sua prpria runa.

    as nas suas desaparies vocs brilharo intensamente, iluminados pelaora de Deus que os trouxe a esta terra e, por alguma razo especial, lhesdeu o domnio sobre esta terra e sobre o homem vermelho. sse destino

    um mistrio para ns, pois no compreendemos quando os balos soexterminados, os cavalos selvagens so domados, os recantos secretos dadensa foresta so impregnados do cheiro de muitos homens e a viso dosmorros obstruda por os que alam. Onde est o arvoredo? Desapareceu.Onde est a guia? Desapareceu. Que dizer adeus ao potro veloz e caa? o m da vida e o incio de uma subvida (SATTL, 987, p. 4; 45).

    Um outro documento mostra-nos o estranhamento provocado pelos hbitosde homens que vivem numa sociedade urbana e industrial na mente de um sujeito

    que vive numa sociedade mtica. O depoimento, colhido por um antroplogoalemo, oi escrito pelo chee de uma das tribos do arquiplago de Samoa, nosmares do sul, depois de voltar de uma viagem terra dos Papalagui (pronuncia-se Papalgui), nome dado aos estrangeiros e que signica aquele que urou ocu. Como o primeiro homem branco a desembarcar em Samoa chegou numveleiro branco, os nativos acharam que as velas brancas eram o buraco pelo qualo europeu urou o cu e apareceu em sua terra.

    Dos depoimentos, seleciono um trecho sobre nosso costumeiro ato deproduzir o conhecimento, que os samoanos consideram um desperdcio:

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    certo impulso mau persegue o Papalagui: o que ele deseja, realmente, quandopensa, atingir os poderes secretos do Grande sprito. le prprio d umbonito nome a esse desejo: conhecer. Conhecer quer dizer ter uma coisa toperto dos olhos que se pode nela tocar com o nariz, e at atravess-la, penetr-

    la. sta procura, este desejo de penetrar tudo uma ansiedade impertinente,desprezvel. le pega uma escalopendra, atravessa-a com um pequeno dardo,arranca-lhe uma perna e quer ver que aparncia tem essa perna separada docorpo; de que orma est a este presa; depois quebra a perna do animal paraver sua grossura. Para ele, isto importante, essencial. Arranca da pernauma lasca do tamanho de um gro de areia e coloca-a em baixo de um tubocomprido, dotado de certa ora misteriosa, que agua muito a viso. Comeste olho grande e orte, o Papalagui v tudo, tuas lgrimas, uma tirinha datua pele, um cabelo, tudo, mas tudo mesmo. le parte todas estas coisas at oponto de no haver mais o que quebrar nem partir. ste ponto quase sempreo mais minsculo possvel, mas tambm quase sempre o mais importanteporque por ele que se chega ao mais alto conhecimento, que s o Grandesprito possui.

    as a chegar no dado ao Papalagui e nem a ora mgica dos seus olhosmais penetrantes jamais conseguiram pois o Grande sprito no deixa que lhetomem os segredos. Nunca. Quem jamais conseguiu trepar mais alto do queo topo da palmeira a que as pernas se agarram? Chegando ao topo, tem-se de

    descer novamente, pois no h mais tronco por onde subir. O Grande spritotambm no gosta da curiosidade dos homens e oi por isto que atou ortescips por cima das coisas, de todas elas, sem princpio nem m; eis porquetodo aquele que est sempre desdobrando e desdobrando o seu pensamento obrigado a reconhecer que continua ignorante e a deixar ao Grande spritoas respostas impossveis de descobrir. Se bem, no entanto, que os Papalaguismais inteligentes e corajosos o reconheam, existem alguns, doentes detanto pensar, que no cedem em sua paixo de querer saber e da resulta

    que, de tanto pensar, se desorientam de mil maneiras, tal qual penetrassemnuma foresta virgem sem trilhas por onde caminhar. xtraviam-se e chegaum momento em que a inteligncia deles no consegue mais, de repente,conorme j tem de ato acontecido, distinguir entre homens e animais; eacabam armando que os homens so animais e que os animais so gente(SCHURANN, s/d, p. 90-).

    Queiramos ou no, a inocncia de Tuivii, esse chee samoano, perdeu-secom o processo de modernizao e a crise existencial instaurou-se como parte

    do cotidiano moderno. A contracultura parte da histria da busca de soluo

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    crise que se acentuou, a partir dos anos 50, com a instaurao da sociedade deconsumo.

    as a soluo no passou pela proposta de mudana revolucionria, ainda

    que em seus primrdios, por motivos bastante especcos, o ideal romntico deuma nova sociedade tenha se imposto. Nem mesmo oi uma proposta social ecoletiva e, como j oi dito, menos ainda por um retorno ao paraso perdido. Doscaminhos da contracultura nasceram os reordenamentos simblicos das redes designicao. Novos jogos de linguagem impuseram-se. Neles, os smbolos mticospulsam em cada gesto, em cada depoimento, em cada ato de vida. o cotidiano,apesar de seu aparente carter proano, revela-se sagrado, abrindo a possibilidadej cantada pela milenar sapincia chinesa - presente nOLivro das Mutaes,I

    Ching(WILH, 986, p.56) - de a cultura atingir sua culminncia na religio,segundo o ideogramaO Caldeiro:

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