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MONITORIZAÇÃO ESTRUTURAL COM BASE EM FIBRA ...paginas.fe.up.pt/~cfr/docs/CFR_CI6.pdfutilização...

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MONITORIZAÇÃO ESTRUTURAL COM BASE EM FIBRA ÓPTICA: O EXEMPLO DA PONTE DA LEZÍRIA Carlos Rodrigues 1 , Carlos Félix 2 , Armindo Lage 3 , Joaquim Figueiras 4 1 Universidade do Porto, Faculdade de Engenharia LABEST, Porto, Portugal. [email protected] 2 Instituto Superior de Engenharia do Porto / LABEST, Porto, Portugal. [email protected] 3 Universidade do Porto, DEEC, Porto, Portugal. [email protected] 4 Universidade do Porto, Faculdade de Engenharia LABEST, Porto, Portugal. [email protected] Resumo: A monitorização estrutural assume um papel de crescente destaque no seio da engenharia estrutural. Procura-se o conhecimento do comportamento real da estrutura pela medição de um conjunto de grandezas físicas representativas. Espera-se uma gestão e uma manutenção mais realista conducente ao incremento da segurança e do período de vida útil da estrutura. Neste contexto, o recurso à tecnologia das fibras ópticas revela características que a tornam vantajosa quando comparada com as soluções convencionais de natureza eléctrica para monitorização estrutural. Foca-se a aplicação prática deste trabalho, apresentando o caso do sistema avançado de monitorização estrutural de base óptica da Ponte da Lezíria. Descrevem-se os principais aspectos relacionados com as grandezas medidas, com a concepção do sistema e com a arquitectura da rede de sensores adoptada. Ilustram-se as potencialidades do sistema em pleno funcionamento salientando os resultados recolhidos desde a abertura da ponte ao tráfego rodoviário. 1. INTRODUÇÃO São inúmeras as potencialidades associadas à monitorização estrutural de carácter permanente no domínio da Engenharia Civil. Chama-se a atenção para a analogia presente na Figura 1. Do mesmo modo que o médico procura o tratamento para o seu paciente face aos primeiros sintomas e queixas, na monitorização estrutural procura-se medir e analisar aspectos representativos do comportamento da estrutura de forma a detectar comportamentos anómalos (sintomas) e proceder à sua resolução de forma atempada e criteriosa [Glisic e Inaudi, 2007]. A implementação de planos de monitorização estrutural vem, por isso, potenciar significativamente a eficiência da manutenção das infra-estruturas, interferindo no prolongamento da sua vida útil, na redução dos custos de manutenção e na sua utilização em condições de segurança eficientemente controladas e optimizadas. Figura 1 - Paralelismo entre a monitorização estrutural e o tratamento médico com vista à detecção antecipada de anomalias e à sua eficiente resolução [Glisic e Inaudi, 2007].
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  • MONITORIZAÇÃO ESTRUTURAL COM BASE EM FIBRA ÓPTICA:

    O EXEMPLO DA PONTE DA LEZÍRIA

    Carlos Rodrigues1, Carlos Félix

    2, Armindo Lage

    3, Joaquim Figueiras

    4

    1 Universidade do Porto, Faculdade de Engenharia – LABEST, Porto, Portugal. [email protected]

    2 Instituto Superior de Engenharia do Porto / LABEST, Porto, Portugal. [email protected]

    3 Universidade do Porto, DEEC, Porto, Portugal. [email protected]

    4 Universidade do Porto, Faculdade de Engenharia – LABEST, Porto, Portugal. [email protected]

    Resumo: A monitorização estrutural assume um papel de crescente destaque no seio da

    engenharia estrutural. Procura-se o conhecimento do comportamento real da estrutura pela

    medição de um conjunto de grandezas físicas representativas. Espera-se uma gestão e uma

    manutenção mais realista conducente ao incremento da segurança e do período de vida útil

    da estrutura. Neste contexto, o recurso à tecnologia das fibras ópticas revela características

    que a tornam vantajosa quando comparada com as soluções convencionais de natureza

    eléctrica para monitorização estrutural. Foca-se a aplicação prática deste trabalho,

    apresentando o caso do sistema avançado de monitorização estrutural de base óptica da

    Ponte da Lezíria. Descrevem-se os principais aspectos relacionados com as grandezas

    medidas, com a concepção do sistema e com a arquitectura da rede de sensores adoptada.

    Ilustram-se as potencialidades do sistema em pleno funcionamento salientando os resultados

    recolhidos desde a abertura da ponte ao tráfego rodoviário.

    1. INTRODUÇÃO

    São inúmeras as potencialidades associadas à monitorização estrutural de carácter permanente

    no domínio da Engenharia Civil. Chama-se a atenção para a analogia presente na Figura 1. Do

    mesmo modo que o médico procura o tratamento para o seu paciente face aos primeiros

    sintomas e queixas, na monitorização estrutural procura-se medir e analisar aspectos

    representativos do comportamento da estrutura de forma a detectar comportamentos anómalos

    (sintomas) e proceder à sua resolução de forma atempada e criteriosa [Glisic e Inaudi, 2007].

    A implementação de planos de monitorização estrutural vem, por isso, potenciar

    significativamente a eficiência da manutenção das infra-estruturas, interferindo no

    prolongamento da sua vida útil, na redução dos custos de manutenção e na sua utilização em

    condições de segurança eficientemente controladas e optimizadas.

    Figura 1 - Paralelismo entre a monitorização estrutural e o tratamento médico com vista à detecção antecipada de

    anomalias e à sua eficiente resolução [Glisic e Inaudi, 2007].

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]

  • No que concerne à monitorização das grandezas mais representativas do comportamento

    estrutural, vários métodos e tecnologias têm sido empregues na procura por redes de sensores

    mais fiáveis, robustas e económicas. Tradicionalmente a instrumentação estrutural era

    baseada em sensores de natureza eléctrica, tais como, extensómetros de resistência eléctrica,

    sensores de cordas vibrantes, LVDT, etc. Mais recentemente, os sistemas de monitorização

    baseados em fibra óptica têm demonstrado um conjunto de vantagens que os fazem emergir

    relativamente às tecnologias convencionais.

    Comprovando as potencialidades e vantagens dos sensores em fibra óptica são vários os

    registos relatando o sucesso da utilização das mais diversas tecnologias ópticas na

    monitorização de pontes, barragens, túneis, edifícios, centrais nucleares e oleodutos entre

    outras estruturas. Têm sido medidos parâmetros estruturais, tais como, deformações,

    deslocamentos, rotações, vibrações, forças, pressão, etc., assim como, aspectos ambientais tais

    como temperaturas e humidade [Glisic e Ianudi, 2007; Li et al, 2004; Casas e Cruz, 2003;

    Graver et al, 2004].

    Neste trabalho apresentam-se alguns aspectos gerais relativamente à instrumentação em fibra

    óptica para monitorização estrutural com particular enfoque nos sensores de Bragg.

    Concretiza-se este trabalho com a apresentação do sistema de monitorização estrutural em

    fibra óptica da Ponte da Lezíria, sobre o rio Tejo, em Portugal. São apresentados os aspectos e

    os resultados mais relevantes deste sistema de monitorização estrutural.

    2. INSTRUMENTAÇÃO EM FIBRA ÓPTICA

    2.1. Aspectos gerais

    Quando disposta convenientemente, por alteração das propriedades ópticas da própria fibra

    óptica ou por interposição de qualquer dispositivo apropriado, as perturbações externas que

    actuam na fibra podem ser capazes de introduzir alterações nas propriedades da luz

    transportada. É esta propriedade que é explorada pelos sensores em fibra óptica que permitem

    recorrer à medição de propriedades da luz transportada no interior da fibra óptica para

    medição indirecta de grandezas externas, conforme ilustrado na Figura 2.

    Figura 2 - Princípio geral dos sensores em fibra óptica.

    Quadro 1 - Tecnologias de sensores em fibra óptica e respectivas propriedades da luz medidas.

    Tecnologia Parâmetro medido Sensibilidade intrínseca

    Redes Bragg Comprimento de onda Deformação e temperatura

    Interferómetro Fabry-Pérot Fase Deformação

    Interferómetro de Michelson Fase Deformação

    Dispersão de Brillouin Frequência Deformação e temperatura

    Dispersão Raman Frequência Temperatura

  • Várias tecnologias e propriedades ópticas têm sido estudadas para avaliação de parâmetros

    mecânicos, químicos e térmicos com recurso à medição de variações nas propriedades da luz,

    tais como, a sua intensidade, frequência, comprimento de onda, fase ou polaridade [Culshaw e

    Kersey, 2005]. No Quadro 1, destacam-se algumas das tecnologias ópticas mais exploradas e

    que se encontram actualmente no mercado sob a forma de diversas soluções para medição de

    parâmetros estruturais.

    Pelas suas características e pela sua extrema sensibilidade a variações de temperatura e de

    deformação, os sensores de Bragg têm sido porém os que mais sucesso têm tido na

    Engenharia Civil [Majunder et al, 2008]. É também sobre esta tecnologia que recai a maior

    parte da investigação realizada ao longo dos últimos anos no seio do LABEST relativamente à

    utilização de sensores em fibra óptica na monitorização estrutural.

    2.2. Sensores de Bragg

    As redes de Bragg consistem numa modulação periódica do índice de refracção, gravada ao

    longo de uma pequena extensão, tipicamente da ordem de um centímetro, no núcleo da

    própria fibra óptica. Ao encontrar a rede de Bragg, a luz que se propaga na fibra é

    parcialmente reflectida pelos interfaces entre as porções de fibra que apresentam diferente

    índice de refracção. Verifica-se, no entanto, que apenas uma pequena porção do espectro de

    luz interagirá em fase, dando origem à reflexão de um comprimento de onda bem definido,

    conforme representado na Figura 3 [Melle, 1993; Othonos, 1997; Keshyap, 1999].

    Figura 3 - Princípio de funcionamento das redes de Bragg: a) Configuração da rede de Bragg; b) espectro de luz

    de entrada; c) espectro de luz transmitida; d) espectro de luz reflectida.

    São várias as potencialidades das redes de Bragg no domínio das fibras ópticas. Nas redes de

    comunicação têm sido sobretudo utilizadas como filtros e reflectores. As suas potencialidades

    como sensores baseiam-se na sua sensibilidade intrínseca a variações de deformação e de

    temperatura [Othonos, 1997].

    Os sensores de Bragg apelam, por isso, à medição do comprimento de onda da luz reflectida

    pela rede de Bragg [Kersey et al, 1997]. Variações da deformação, , ou variações da

    temperatura, T, conduzirão a variações no comprimento de onda reflectido pelo sensor, b, traduzidas pela lei de Bragg

    ΔTζααPΔεPλ

    Δλfsee

    b

    b (1)

    onde eP e ζ são os coeficientes foto-elástico e termo-óptico da fibra, respectivamente, e sα e

    fα são os coeficientes de dilatação térmica do material da estrutura de suporte e da própria

    fibra, respectivamente.

  • 2.3. Vantagens e Desvantagens

    No cômputo geral, a tecnologia dos sensores em fibra óptica apresenta excelentes

    propriedades para monitorização de parâmetros ambientais e mecânicos, evidenciando,

    geralmente, um conjunto de vantagens quando comparada com as tecnologias eléctricas

    convencionais.

    A qualidade dos sensores e a sua apropriação a aplicações no domínio da Engenharia Civil

    também tem sido estudada pela comunidade científica e explorada por diversos fabricantes.

    Continuamente aparecem novas soluções para medir os mais diversos parâmetros de interesse

    para a engenharia estrutural. É objectivo de toda a comunidade encontrar soluções mais

    fiáveis, robustas e competitivas.

    Neste particular tem-se observado que o custo dos componentes dos sistemas ópticos,

    nomeadamente dos sensores, equipamentos de aquisição, conexões e das próprias fibras tem

    diminuído significativamente nos últimos anos, beneficiando da sua utilização massiva nas

    redes de comunicação [Artungo et al, 2011].

    Actualmente, os benefícios inerentes à tecnologia óptica são em muitos casos, por si só,

    capazes de justificar a sua utilização. Começa-se, mesmo, a verificar que as soluções ópticas

    são, em muitos casos, economicamente vantajosas dada a maior flexibilidade na arquitectura

    da rede de sensores. Mais ainda, em algumas aplicações particulares, como no caso dos

    ambientes explosivos e centrais nucleares, os sensores em fibra óptica são actualmente a única

    solução viável [Glisic e Inaudi, 2007].

    Para focar as potencialidades dos sensores em fibra óptica na monitorização estrutural, no

    Quadro 2 resume-se um conjunto de vantagens e desvantagens associadas a esta tecnologia

    [Glisic e Inaudi, 2007; Udd, 1995; Measures, 2001].

    Quadro 2 - Vantagens vs. desvantagens dos sensores em fibra óptica.

    Vantagens:

    Imunidade a interferências electromagnéticas (EMI) e frequências rádio (RFI);

    Apropriada para utilização em ambientes explosivos;

    Isolamento eléctrico;

    Imune a corrosão;

    Tolerante a altas temperaturas;

    Dimensões reduzidas;

    Elevada sensibilidade;

    Apresenta sensibilidade a diversas grandezas físicas;

    Estabilidade ao longo do tempo;

    Permite transmissão do sinal ao longo de grandes distâncias face à reduzida atenuação;

    Esquemas de multiplexagem permitem criar redes de sensores mais eficientes;

    Matéria-prima muito abundante.

    Desvantagens:

    Custo geralmente elevado da maior parte dos componentes;

    Fragilidade das fibras;

    Dificuldade de conexões das fibras ópticas.

  • 3. MONITORIZAÇÃO ESTRUTURAL DA PONTE DA LEZÍRIA

    Apresenta-se o sistema de monitorização estrutural baseado na tecnologia das fibras ópticas,

    mais concretamente em sensores de Bragg, instalado na Ponte da Lezíria. Este sistema,

    implementado no tabuleiro da estrutura principal sobre o rio Tejo, actua de forma autónoma

    procedendo ao acompanhamento contínuo de extensões, flechas e temperaturas críticas.

    3.1 A Ponte da Lezíria

    A Ponte da Lezíria, inserida no Sublanço A1/Benavente da A10 – Auto-Estrada Bucelas /

    Carregado / IC3, constitui a mais recente travessia sobre o rio Tejo, no Carregado (Portugal)

    tendo sido inaugurada em Julho de 2007. Esta engloba uma extensão total de cerca de 12 km

    de obras de arte, composta por três subestruturas distintas: viaduto de acesso Norte (1700 m),

    viaduto de acesso Sul (9160 m) e a ponte propriamente dita sobre o rio Tejo (970 m).

    No que diz respeito à estrutura principal, esta apresenta uma extensão total de 970 m, dividida

    em vãos parciais aproximados de 95 + 6 x 130 + 95 m conforme representado na Figura 4 e

    ilustrado na Figura 5. A solução estrutural adoptada é constituída por um tabuleiro único em

    caixão monocelular de betão armado pré-esforçado, construído por avanços sucessivos, com

    aproximadamente 30 m de largura total e altura variável entre 8 m nos apoios de continuidade

    e 4 m a meio vão e junto aos pilares de transição. Este tabuleiro é pré-esforçado

    longitudinalmente por cabos interiores aderentes, complementados por quatro pares de cabos

    de pré-esforço exterior. A largura do tabuleiro é ainda conseguida por via de grandes consolas

    laterais que se encontram apoiadas em escoras metálicas que descarregam na laje inferior do

    caixão [COBA-PC&A-CIVILSER-ARCADIS, 2005].

    Figura 4 - Alçado geral da Ponte da Lezíria sobre o rio Tejo, no Carregado (extensão total 970 m).

    Figura 5 - Vistas gerais da Ponte da Lezíria.

    Os pilares são constituídos por duas lâminas de betão armado, sendo, cada uma destas

    lâminas, por sua vez, dividida em duas por intermédio de um vazio central. A ligação do

    tabuleiro aos pilares P1 a P5 é monolítica, enquanto que nos pilares P6, P7 e de transição

    (PTN3 e PTS1) existem aparelhos de apoio do tipo panela guiados longitudinalmente. As

    fundações são indirectas por intermédio de grupos de 8 ou 10 estacas.

  • 3.2. Objectivos da monitorização

    Pretende-se, com a implementação de um sistema de monitorização estrutural, acompanhar o

    comportamento da estrutura durante a fase de exploração, designadamente na medição de

    extensões no tabuleiro, flechas e temperaturas que se julgam parâmetros caracterizadores do

    comportamento local e global da estrutura. Potencia-se, com este sistema de monitorização de

    longa duração, o desenvolvimento de um registo contínuo com vista à detecção de variações

    no comportamento da estrutura indiciadoras de avarias como forma de manutenção sustentada

    da infra-estrutura. Procura-se ainda a caracterização da resposta da estrutura em condições

    normais de serviço, perante a passagem do tráfego rodoviário corrente ou com a passagem

    excepcional de veículos de referência.

    3.3 Grandezas medidas

    No Quadro 3, resumem-se as grandezas físicas monitorizadas com recurso à tecnologia

    óptica, assim como, a quantidade de pontos da estrutura caracterizados cuja distribuição

    espacial está representada nas Figuras 6 a 8 [Figueiras et al, 2007].

    Quadro 3 - Distribuição e grandezas medidas pelo sistema de monitorização de base óptica da Ponte da Lezíria.

    Grandeza Localização Quantidade

    Extensão Banzo inferior e banzo superior das secções de todos

    os meios-vão e secções junto aos apoios de

    continuidade

    30

    Flechas Meio-vão e secção de referência: PTN3, P2 e P7 11

    Temperatura Secções representativas 10

    Figura 6 - Localização esquemática (em alçado) das secções onde se mede a extensão (total 15 secções).

    Figura 7 - Localização esquemática (em alçado) das secções onde se mede a flecha (total 11 secções).

    Figura 8 - Localização esquemática (em alçado) das secções onde se mede a temperatura (total 5 secções).

    A medição de extensões no tabuleiro da ponte é realizada com recurso a transdutores de

    deformação de base óptica embebidos no betão. Este sistema de monitorização alberga um

    total de 15 secções críticas, designadamente todos os meios vãos e secções junto aos pilares.

    Em cada secção instrumentada encontram-se instalados dois transdutores de deformação,

    alinhados longitudinalmente, estando um localizado na laje superior e o outro na laje inferior

    do caixão (ver distribuição em corte na Figura 9), perfazendo, deste modo, um total de 30

    transdutores de deformação de base óptica em funcionamento [Figueiras et al, 2007].

  • Figura 9 - Localização esquemática, em corte transversal, da instrumentação óptica.

    Com recurso ao método dos níveis líquidos e a transdutores para medição do nível

    hidrostático são medidas as flechas da estrutura em todos os meios vãos, perfazendo, desta

    forma, oito pontos de medição distribuídos ao longo da estrutura. São ainda utilizadas como

    referência e como meio de controlo do sistema as medições realizadas sobre o PTN3, P2 e P7

    [Figueiras et al, 2007].

    É ainda medida a temperatura em 10 pontos criteriosamente seleccionados [Figueiras et al,

    2007]. Esta informação permite, por um lado, caracterizar as condições ambientais a que a

    estrutura se encontra efectivamente sujeita. Por outro lado, a medição de temperaturas

    representativas junto aos transdutores de deformação permite a compensação da sensibilidade

    das redes de Bragg à temperatura, constituindo um aspecto essencial para a correcta avaliação

    das restantes grandezas observadas.

    3.4. Transdutores

    Com vista à aplicação prática e efectiva dos sensores de Bragg nas estruturas reais da

    engenharia civil e com vista à medição das grandezas físicas representativas do

    comportamento estrutural foram desenvolvidos transdutores, de caracteristicas e desempenho

    adequado para a corrente aplicação prática [Rodrigues et al, 2011].

    Transdutor de embeber para medição de deformação

    As estruturas de betão armado levantam um conjunto de especificidades relacionadas com a

    medição de deformação e com os respectivos transdutores. Procura-se que os transdutores

    exibam um comportamento adequado durante as diferentes condições da estrutura,

    nomeadamente face ao surgimento de fendilhação moderada. Pretende-se igualmente que

    sejam robustos o suficiente para aguentar com a adversidade da betonagem, durante a

    construção da estrutura, de forma a poderem ser embebidos no betão. Com este propósito

    foram desenvolvidos, no LABEST/FEUP, transdutores específicos para embeber no betão. Na

    Figura 10 apresenta-se o elemento sensor em apreço.

    Figura 10 - Transdutor de embeber no betão para medição de deformação com base em sensores de Bragg.

  • Este transdutor, com geometria e propriedades mecânicas criteriosamente estudadas,

    demonstrou ser capaz de caracterizar correctamente a deformação média instalada ao longo

    do desenvolvimento do transdutor, prevendo-se um comportamento satisfatório em caso de

    fendilhação moderada do betão. Estes são constituídos, de forma sumária, por um varão em

    aço inox com 1.0 m de comprimento, criteriosamente nervurado e munido de duas cabeças de

    ancoragem nas extremidades. As fibras ópticas, contendo os sensores de Bragg, foram coladas

    de forma a ficarem alinhadas longitudinalmente, na zona central, do respectivo corpo do

    varão. Consegue-se a medição de extensões com uma precisão da ordem de 1 .

    Transdutor para medição de flechas com recurso a níveis líquidos

    A metodologia adoptada para medição de flechas ao

    longo da estrutura tem como base de funcionamento um

    nivelamento hidrostático e a aplicação do princípio dos

    vasos comunicantes a um circuito hidráulico interno,

    cheio de água, que percorre a estrutura e contempla todos

    os pontos interessados. Este circuito hidráulico,

    encontrando-se em equilíbrio hidrostático, permite

    acompanhar a deformada da estrutura (e do próprio

    circuito solidário com esta) por via do acompanhamento

    de variações da altura aparente do nível de líquido nos

    pontos em causa, relativamente a pontos de referência

    imunes a deslocamentos verticais.

    Desenvolveram-se transdutores de base óptica capazes de

    medir, com elevado rigor e estabilidade, níveis

    hidrostáticos associados à medição de flechas. O

    resultado final do transdutor desenvolvido no

    LABET/FEUP está presente na Figura 11. Procedeu-se à

    sua análise e calibração, em período prévio à sua

    instalação em obra, onde se verificou a sua capacidade

    para medição de flechas com um erro inferior a 0.5 mm

    [Rodrigues et al, 2010].

    Figura 11 - Transdutor para medição de

    flechas com base em níveis líquidos

    munido com sensores de Bragg

    [Figueiras et al, 2009].

    3.5. Arquitectura da rede de sensores

    Na Figura 12 esquematiza-se a arquitectura geral da rede óptica instalada na ponte da Lezíria

    englobando os vários sensores. Esta rede de sensores desenvolve-se ao longo de toda a ponte,

    compreendendo uma extensão de cabo óptico de cerca de 1250 que alberga 16 pontos

    repartidos de ligação. A rede óptica serve, deste modo, todos os sensores de Bragg

    multiplexados, quer no tempo, quer no espaço, e a medir grandezas distintas, designadamente

    os 30 sensores de deformação, os 11 sensores de flecha e os 10 sensores de temperatura.

    A configuração da rede é ramificada com ponto central sobre o pilar P2 onde se encontra

    alojado o equipamento de interrogação e armazenamento de dados de todo o sistema

    sensorial. Este posto (PO2-PT) é constituído por um sistema de interrogação de sinal óptico

    de 4 canais (MOI sm130-500), um comutador óptico de 1x8 canais (Thorlabs PRO8

    OSW8108) e uma unidade CPU do tipo industrial. Adoptou-se, neste caso, um equipamento comercial de interrogação de sinal óptico, baseado num laser de varrimento sintonizado, tendo

    capacidade para interrogação paralela e simultânea de 4 canais ópticos com frequência de

    aquisição máxima de 500Hz.

  • Figura 12 - Configuração esquemática da rede de sensores ópticos e respectivos equipamentos.

    De acordo com a natureza das grandezas medidas e com a distribuição dos transdutores na

    ponte, procedeu-se à distribuição dos diversos sensores por diferentes fibras ópticas. Os

    sensores ficaram assim agrupados em fibras ópticas distintas (ramos) sobre as quais se

    adoptaram esquemas de multiplexagem espacial em série englobando um máximo de 10

    sensores de Bragg com comprimentos de onda de referência distintos. A configuração acima

    preconizada conduz à distribuição de três fibras para ligação exclusiva dos transdutores

    deformações, combinada com cinco fibras para ligação combinada dos transdutores de flechas

    e das temperaturas.

    Destaca-se que a combinação do equipamento apresentada conduz a uma disponibilidade de

    três canais ópticos obtidos directamente no interrogador óptico para ligação das três séries

    afectas aos transdutores de deformação, podendo atingir frequências de aquisição máximas de

    500 Hz (limitado pelo interrogador de sinal). Paralelamente, cinco dos oito canais ópticos

    disponíveis no comutador óptico estão disponíveis por multiplexação temporal do quarto

    canal do interrogador para ligação dos restantes transdutores, comportando frequências de

    aquisição significativamente mais baixas (limitado pelo comutador óptico).

    Por último, importa referir que o presente sistema de monitorização está enquadrado numa

    rede de comunicação que engloba os vários sistemas distribuídos de aquisição e digitalização

    de dados provenientes dos restantes sensores eléctricos. Esta permite a interligação de todos

    os postos de observação locais a um posto de observação central. Esta rede de comunicação,

    também em fibra óptica, estende-se para além na presente estrutura também para os viadutos

    de acesso igualmente monitorizados. Os dados recolhidos na obra são enviados para um

    servidor localizado no dono de obra, sendo inseridos numa base de dados. Uma aplicação

    web, acessível para utilizadores devidamente credenciados, permite posteriormente o acesso e

    a visualização gráfica dos dados a partir de um qualquer PC.

  • 3.6. Instalação

    A instalação do presente sistema de monitorização foi uma tarefa complexa obedecendo a

    uma coordenação com a frente de obra que conduziu, muitas vezes, a períodos de instalação

    apertados, nomeadamente no que diz respeito à instalação dos sensores embebidos no betão.

    A instalação dos transdutores ocorreu geralmente ainda durante a construção da estrutura,

    assumindo um papel essencial a robustez da instalação e dos próprios elementos a instalar.

    Foca-se, neste contexto, a sequência das tarefas gerais realizadas: i) calibração e preparação

    em laboratório dos diversos elementos a instalar; ii) instalação dos transdutores de embeber;

    iii) instalação dos sensores externos; iv) instalação do circuito hidráulico; v) condução de

    cablagens e interligação dos sensores; vi) instalação do sistema de aquisição; vii) ligação do

    sistema de aquisição à rede de comunicação.

    Salienta-se aqui a implementação prática e a integração da rede de sensores ao longo da

    estrutura. A interligação dos diferentes transdutores dá-se, de acordo com o atrás apresentado,

    por intermédio do cabo óptico que incorpora seis fibras ópticas e percorre longitudinalmente o

    interior do caixão da ponte em calha técnica instalada na parede lateral do caixão. A derivação

    da fibra óptica dos cabos para o respectivo sensor, dá-se ao nível das secções transversais no

    interior de caixas de derivação especificamente destinadas para esse efeito. Estas caixas de

    derivação perfazem um total 16 unidades distribuídas por outras tantas secções: 7 sobre os

    pilares da Ponte (P1 a P7), 8 a meio de cada um dos vãos e outra no encontro do lado Norte

    (PTN3). O percurso, ao longo da secção transversal, a partir das caixas de derivação até ao

    sensor embebido no betão, é realizado no interior de tubagem embutida no betão.

    No conjunto de imagens da Figura 13 apresentam-se alguns dos aspectos acima referidos

    relativamente à instalação e ao arranjo final dos sensores instalados na Ponte da Lezíria.

    Figura 13 - Pormenores da instalação do sistema de monitorização em fibra óptica.

  • 3.7. Potencialidades

    A monitorização estrutural de base óptica decorre segundo dois modos de funcionamento

    previamente programados de acordo com o preconizado no Quadro 4.

    Quadro 4 - Frequências de aquisição e modos de funcionamento.

    Grandeza Frequência Aquisição

    Modo I Modo II

    Deformação 1/15min até 500 Hz

    Flechas + Temperatura 1/15min até 0.5Hz

    Contempla-se a existência de um modo de aquisição normal, Modo I, segundo o qual o

    sistema procede à aquisição de dados de todos os sensores com uma periodicidade de 15

    minutos. A monitorização preconizada tem como objectivo a caracterização do

    comportamento diferido da estrutura, nomeadamente os efeitos decorrentes da retracção e

    fluência dos materiais estruturais. Estes fenómenos ocorrem de forma contínua e lenta,

    implicando uma monitorização de longa duração.

    Complementarmente e forma programada é possível accionar um modo de funcionamento

    rápido, Modo II, no qual a frequência de aquisição poderá ser incrementada para valores que

    poderão ir até 500 Hz na medição de extensões e/ou 0.5 Hz na medição de flechas. Com este

    modo de funcionamento potencia-se a caracterização do comportamento estrutural perante a

    passagem de veículos referenciados, bem como, a medição desse mesmo comportamento

    decorrente de solicitações de tráfego corrente. Dada a natureza destas acções, estas justificam

    a adopção de frequências de aquisição significativamente superiores, compatíveis com a

    natureza dos fenómenos que se pretende caracterizar.

    4. RESULTADOS

    Ilustra-se o desempenho do presente sistema de monitorização tendo por base os dois modos

    de funcionamento supracitados. São aqui mostrados os resultados mais relevantes da

    monitorização estrutural.

    4.1. Resultados da monitorização permanente (Modo I)

    De forma a mostrar o desempenho da estrutura durante a sua fase de exploração, nas Figuras

    14 a 16, ilustra-se a evolução das temperaturas, extensões e flechas registadas ao longo de

    aproximadamente um ano e meio de exploração do sistema. A título ilustrativo foram

    seleccionados sobretudo os registos obtidos na secção central do vão da ponte entre os pilares

    P6 e P7. Chama-se a atenção para as Figuras 14 e 15 onde se confronta a evolução dos

    registos no interior dos banzos superior e inferior desta secção transversal (ver posição

    relativa dos pontos de medição na Figura 9). Relativamente a estes resultados destaca-se

    ainda que as extensões representadas são o resultado da compensação dos efeitos de natureza

    térmica, quer sobre os sensores, quer sobre a componente de deformação térmica livre dos

    materiais estruturais.

  • Figura 14 - Evolução das temperaturas, na secção de meio-vão entre os pilares P7 e PTS1, medidas no interior

    dos banzos superior e inferior do tabuleiro em caixão.

    Figura 15 - Evolução das extensões, na secção de meio-vão entre os pilares P6 e P7, medidas nos banzos

    superior e inferior do tabuleiro em caixão.

    Figura 16 - Evolução da flecha na secção de meio-vão entre os pilares P6 e P7.

    Efeitos sazonais

    De forma a proceder a uma análise crítica dos resultados acima apresentados, procura-se

    avaliar a sazonalidade do comportamento da estrutura muito associada às variações anuais de

    temperatura e humidade. Verifica-se, no presente caso, que a resposta estrutural, traduzida

    pelo par de extensões e pela flecha (ver Figuras 15 e 16), está concomitante relacionada com

    a evolução da temperatura (ver Figura 14) associada aos períodos de arrefecimento e

    aquecimento anual.

    Pese embora a resolução da figura não permita destrinçar claramente os ciclos diários,

    constata-se ainda, em termos gerais, uma maior amplitude da resposta estrutural nos ciclos

    diários de Verão traduzida pela maior espessura das linhas nos períodos quentes. De referir

    ainda que, para além da sazonalidade da resposta estrutural, não é perceptível qualquer

    tendência uniforme nestes registos confirmando que a retracção e fluência global são já pouco

    significativas nesta fase de maturação dos materiais estruturais.

  • Ciclos diários

    De forma a melhor avaliar as variações diárias das grandezas atrás referidas, representa-se, na

    Figura 17, esses mesmos registos mas destacando um período de três dias.

    Figura 17 - Ciclos diários das várias grandezas monitorizadas na secção de meio-vão entre os pilares P6 e P7: a)

    temperatura no interior dos banzos superior e inferior da secção transversal; b) variação da extensão no banzo

    superior e inferior da secção transversal; c) variação da flecha.

    Observa-se, com maior grau de detalhe, a ocorrência de ciclos diários associados

    naturalmente a intervalos aproximados de 24 horas. Estes ciclos atingem os seus picos

    diariamente às 6 e às 18 horas aproximadamente. Verifica-se que os ciclos referidos estão

    patentes em todas as grandezas analisadas, fazendo prever alguma relação entre estas

    grandezas. Salienta-se o efeito da temperatura, considerando a sua componente diferencial e

    uniforme, na deformada global da estrutura, conforme demonstram os resultados

    apresentados.

    No entanto, é importante referir que nem todas as grandezas medidas se encontram

    perfeitamente em fase. Por exemplo, é possível observar que as temperaturas representadas

    atingem os seus picos em períodos distintos separados por um hiato que pode chegar a 4

    horas nos dias de maior insolação. Tal facto está em muito associado ao efeito da insolação e

    à inércia térmica associada à volumetria e dimensão da estrutura.

    Correlação entre as grandezas medidas

    De forma a melhor compreender e quantificar a dependência dos indicadores estruturais atrás

    referidos é pertinente avaliar o grau e modo de correlação destas diferentes grandezas. Desta

    forma, representam-se, na Figura 18, as correlações que se julgam mais pertinentes

    correspondentes às várias componentes da resposta estrutural.

    Figura 18 - Correlação das grandezas medidas a meio-vão entre P6 e P7: a) flecha vs. variação diferencial de

    temperatura; b) flecha vs. variação uniforme de temperatura; c) flecha vs. curvatura a meio-vão.

    a) b) c)

    a) b) c)

  • É de salientar a boa correlação da flecha a meio-vão, quer com a respectiva curvatura, quer

    com variação de temperatura diferencial nessa mesma secção (Figuras 18.a) e 18.c)).

    Verifica-se, por outro lado, uma fraca correlação entre a variação uniforme da temperatura e a

    respectiva flecha tal como seria de esperar (Figura 18.b)). Pese embora se considere que a

    descrição detalhada ultrapassa o âmbito deste artigo, é de referir ainda que os resultados

    obtidos estão em conformidade com um modelo numérico que permitiu aferir

    qualitativamente a reposta da estrutura induzida por variações de temperatura.

    Limites de vigilância e alerta

    Face à evolução registada ao longo do primeiro ano de serviço da estrutura, propôs-se ainda

    um conjunto de alarmes. Estes são activados sempre que se observem registos

    comportamentais desviantes relativamente ao padrão do primeiro ano de observação. Neste

    momento estão já implementados dois níveis de alarme correspondentes às zonas de aviso e

    de alerta esquematicamente representadas na Figura 19.

    Figura 19 – Representação esquemática dos níveis de alarme correspondentes às zonas de aviso e alerta

    associadas à evolução da flecha a meio-vão.

    Os referidos alertas são enviados através da base de dados para as entidades técnicas

    competentes através de e-mail e SMS. Cada nível acarreta níveis de intervenção diferentes.

    Ao violar a zona de aviso, espera-se, por parte dos técnicos, um acompanhamento cuidadoso

    da evolução futura da estrutura, sendo no entanto de prever a sua rápida normalização. Na

    zona de alerta exige-se já uma análise cuidadosa do comportamento estrutural, pode estar-se

    perante danos estruturais, podendo-se justificar medidas excepcionais de inspecção e

    vigilância caso se mantenha um comportamento anómalo. Prevê-se que, de futuro, estes

    níveis possam ainda ser refinados tendo em conta a influência das acções ambientais e os

    efeitos diferidos dos materiais.

    4.2. Resultados de campanhas de monitorização de curta duração

    Acções do tráfego rodoviário

    Associado às frequências de aquisição mais elevadas remete-se para a Figura 20 a

    caracterização da resposta estrutural, no vão P6-P7, associada ao tráfego rodoviário, obtida

    durante o período de 1 hora de observação. Nesta figura, os efeitos da temperatura foram

    filtrados, encontrando-se destacados os picos de extensão associados à passagem de veículos

    relevantes. Mostra-se igualmente os histogramas de efeitos. A realização de campanhas de

    caracterização neste âmbito permite caracterizar os efeitos da acção rodoviária de forma

    regular e sistemática.

  • -20 0 20

    0

    5

    10

    15

    20

    Extensão (x10-6 m/m)

    N. ocorr

    ência

    Figura 20 - Detecção de picos (eventos) de extensão associados ao tráfego rodoviário no vão P6-P7 e respectivo

    histograma de efeitos durante um hora de observação.

    De forma geral, relativamente a estes resultados, importa ainda assinalar o facto da amplitude

    de extensões induzidas pelo tráfego rodoviário ser significativamente menor do que a referida

    amplitude associada aos ciclos térmicos diários. Uma vez mais fica patente a importância da

    acção térmica na avaliação do desempenho estrutural, nomeadamente quando comparada com

    a solicitação rodoviária.

    Traçado de linhas de influência

    Salienta-se mais uma potencialidade associada à possibilidade de aquisições de maior

    frequência. Esta possibilita o traçado de linhas de influência de extensões nas várias secções

    instrumentadas, associadas à passagem de veículos correntes. Na Figura 21 ilustra-se um

    registo de linhas de influência, nas oito secções de meio-vão (fibra superior e fibra inferior),

    obtidas durante a passagem de um veículo em condições normais de circulação (veículo

    pesado a circular a uma velocidade média de 75 km/h).

    Figura 21 - Linhas de influência obtidas durante a passagem de um veículo em condições normais de circulação.

    Neste particular os autores gostariam de salientar as potencialidades desta funcionalidade

    numa perspectiva de caracterizar periodicamente a resposta estrutural perante a passagem de

    um veículo convenientemente caracterizado. A passagem deste veículo poderá mesmo ocorrer

    sem necessidade de perturbar as condições normais de funcionamento desta infra-estrutura. A

    caracterização desta resposta e a avaliação da sua evolução ao longo do tempo será um

    aspecto de maior importância na aferição do correcto desempenho da estrutura ao longo da

    sua exploração.

    Inf.

    Sup.

    Sup.

    Inf.

  • 5. CONCLUSÕES

    Apresentou-se as mais-valias e as particularidades associadas à monitorização estrutural com

    enfoque para a instrumentação baseada em fibra óptica e nos sensores de Bragg. Destacou-se

    as vantagens desta tecnologia cada vez mais emergente relativamente às soluções

    convencionais de natureza eléctrica.

    Passou-se à explanação do sistema de monitorização de base óptica instalado na Ponte da

    Lezíria para acompanhamento contínuo do comportamento estrutural. Apresentou-se a

    metodologia adoptada para monitorização da deformação ao nível das lajes superior e inferior

    do tabuleiro da ponte, para monitorização das flechas a todos os vãos da ponte e para

    monitorização das temperaturas mais representativas. Desenvolveram-se transdutores

    específicos para medição destas grandezas.

    Mostrou-se a arquitectura e os aspectos mais relevantes relacionados com a implementação de

    um sistema avançado de monitorização estrutural integralmente baseado em fibra óptica.

    Com o sistema exposto propõe-se acompanhar a evolução da deformada global da estrutura

    por medição directa de flechas e curvaturas a meio-vão. Procurou.se relacionar estas

    grandezas com as acções ambientais e com as propriedades diferidas dos materiais e pré-

    esforço. Atendendo ao facto da frequência de aquisição poder ir até 500 Hz, tornou-se

    igualmente possível obter o traçado de linhas de influência, quer de extensões, quer de

    curvaturas, com a passagem de veículos correntes em circulação normal. Espera-se, com a

    combinação das várias vertentes da monitorização estrutural apresentada, a implementação de

    um conjunto de indicadores relevantes para aferição e controlo do comportamento estrutural.

    Procura-se com o sistema apresentado contribuir para o incremento da vida útil desta

    importante infra-estrutura rodoviária, sustentando a sua utilização em condições optimizadas

    de segurança e de economia.

    AGRADECIMENTOS

    Os autores agradecem à Brisa – Auto-estradas de Portugal, S.A. e ao consórcio construtor

    TACE ACE a colaboração e o apoio prestado. Agradece-se igualmente à equipa da FEUP-

    LABEST o apoio prestado na instalação do presente sistema de monitorização. O primeiro

    autor agradece ainda o apoio financeiro concedido pela FCT e pela Newmensus, Lda na

    forma de uma bolsa de doutoramento em empresa SFRH/BDE/15645/2006.

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