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Muitas antas e muita gente! As relações entre os recintos ...De modo a responder às questões...

Date post: 30-Sep-2020
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| 393 | 2018 Muitas antas e muita gente! As relações entre os recintos de fossos e os monumentos megalíticos no Alentejo Central Lots of dolmens and lots of people! The relations between ditched enclosures and megalithic monuments in Alentejo Central RESUMO Em Portugal, mais concretamente na região centro-alentejana, o universo fu- nerário das sociedades camponesas do 4.º e 3.º milénio a.n.e. foi tratado, até aos finais da década de ’90 do século passado, separadamente do “mundo dos vivos”. Tal devia-se, por um lado, à visibilidade dos monumento megalíti- cos na paisagem, e, por outro lado, aos diferentes trabalhos que lhes foram di- rigidos especificamente, dos quais se destaca o do casal Leisner, no concelho de Reguengos de Monsaraz (Leisner & Leisner, 1985). O potencial informativo dos “povoados” e das antas era de tal forma desequili - brado que foram organizados encontros científicos sob a temática “Muitas an- tas, pouca gente?” (Gonçalves, 2000), contraditadas, após a descoberta dos Perdigões e após a execução dos trabalhos de minimização de impactes na área do regolfo da Barragem de Alqueva, com o binómio “Muita gente, poucas antas?” (Gonçalves, 2003). O reconhecimento, na primeira década do século XXI, de dezenas de recintos de fossos alterou definitivamente o paradigma até então conhecido, sendo possível afirmar hoje que, na região centro-alentejana, havia muita gente e, por isso, muitas antas, não obstante a ausência de estudos específicos sobre a demografia pré-histórica. Na presente comunicação pretende-se debater as relações espaciais entre os recintos de fossos e os monumentos megalíticos alentejanos, procurando in- ferir os comportamentos sociais dos grupos que ocupavam esta área geográ- fica através dos dados empíricos disponíveis. PALAVRA-CHAVE: SW Peninsular; Recintos de fossos; Megalitismo; Relações espaciais Filipa Rodrigues 1 1 Crivarque, Lda. / UNIARQ – FLUL/ STEA – Sociedade Torrejana de Espeleologia e Arqueologia
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Page 1: Muitas antas e muita gente! As relações entre os recintos ...De modo a responder às questões delineadas, recorreu-se aos Sistemas de Informação Geográfica (SIG), mais concretamente

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Muitas antas e muita gente As relaccedilotildees entre os recintos de fossos e os monumentos megaliacuteticos no Alentejo Central

Lots of dolmens and lots of people The relations between ditched enclosures and megalithic monuments in Alentejo Central

RESUMOEm Portugal mais concretamente na regiatildeo centro-alentejana o universo fu-neraacuterio das sociedades camponesas do 4ordm e 3ordm mileacutenio ane foi tratado ateacute aos finais da deacutecada de rsquo90 do seacuteculo passado separadamente do ldquomundo dos vivosrdquo Tal devia-se por um lado agrave visibilidade dos monumento megaliacuteti-cos na paisagem e por outro lado aos diferentes trabalhos que lhes foram di-rigidos especificamente dos quais se destaca o do casal Leisner no concelho de Reguengos de Monsaraz (Leisner amp Leisner 1985) O potencial informativo dos ldquopovoadosrdquo e das antas era de tal forma desequili-brado que foram organizados encontros cientiacuteficos sob a temaacutetica ldquoMuitas an-tas pouca genterdquo (Gonccedilalves 2000) contraditadas apoacutes a descoberta dos Perdigotildees e apoacutes a execuccedilatildeo dos trabalhos de minimizaccedilatildeo de impactes na aacuterea do regolfo da Barragem de Alqueva com o binoacutemio ldquoMuita gente poucas antasrdquo (Gonccedilalves 2003) O reconhecimento na primeira deacutecada do seacuteculo XXI de dezenas de recintos de fossos alterou definitivamente o paradigma ateacute entatildeo conhecido sendo possiacutevel afirmar hoje que na regiatildeo centro-alentejana havia muita gente e por isso muitas antas natildeo obstante a ausecircncia de estudos especiacuteficos sobre a demografia preacute-histoacutericaNa presente comunicaccedilatildeo pretende-se debater as relaccedilotildees espaciais entre os recintos de fossos e os monumentos megaliacuteticos alentejanos procurando in-ferir os comportamentos sociais dos grupos que ocupavam esta aacuterea geograacute-fica atraveacutes dos dados empiacutericos disponiacuteveisPALAVRA-CHAVE SW Peninsular Recintos de fossos Megalitismo Relaccedilotildees espaciais

Filipa Rodrigues1

1Crivarque Lda UNIARQ ndash FLUL STEA ndash Sociedade Torrejana de Espeleologia e Arqueologia

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ABSTRACTThis paper aims to discuss the spatial analysis between ditched enclosures and megalithic monuments in Alentejo Central in order to infer the social beha- viors of groups that occupied this region during the Late Neolithic periodKEY WORDS SW Iberia Ditched Enclosures Megalithism Spatial Analysis

1 INTRODUCcedilAtildeO A actual regiatildeo centro-alentejana2 despertou desde muito cedo o interesse de vaacuterios arqueoacutelogos nacionais e estrangeiros que nela reconheceram um enorme potencial para a investigaccedilatildeo sobre as comunidades preacute-histoacutericas traduzido desde logo pela identificaccedilatildeo de inumeros monumentos megaliacuteti-cos funeraacuterios Eacute neste contexto de produccedilatildeo cientiacutefica que o Alentejo Central eacute elevado ao estatuto de territoacuterio paradigmaacutetico do megalitismo funeraacuterio portuguecircs estando reconhecidos cerca de 130 monumentos megaliacuteticos A par destes conhecem-se ainda cromeleques e menires isolados que embora possam ter nalguns casos cronologias antigas dentro da diacronia neoliacutetica partilharam o espaccedilo com os seus congeacuteneres funeraacuterios Numa fase mais recente da investigacatildeo outros tipos de siacutetios quer relacio-nados com o ldquomundo dos mortosrdquo quer relacionados com o ldquomundos dos vivosrdquo surgiram nesta regiatildeo Eacute o caso dos hipogeus da Sobreira de Cima (Va- lera 2013) e das gravuras rupestres identificadas no Santuaacuterio Exterior do Escoural ou nas margens do Guadiana que demonstram que esta regiatildeo foi palco de vaacuterios cenaacuterios de vivecircncia ao longo de toda a Preacute-Histoacuteria Recente Todos estes siacutetios normalmente conectados com as manifestacotildees simboacuteli-cas e a vertente ideoteacutecnica das comunidades preacute-histoacutericas encontram-se ao lado de uma rede de povoamento ainda mal conhecida De facto ateacute ao momento conhecem-se alguns ldquopovoados abertosrdquo e raros ldquopovoados forti-ficadosrdquo sendo esta lacuna aparentemente preenchida pela proliferacatildeo de recintos de fossos que na ultima deacutecada tecircm sido dados a conhecer quer atra- veacutes de escavacotildees arqueoloacutegicas quer atraveacutes do seu reconhecimento por fo-tografia aeacutereaNesta regiatildeo a construccedilatildeo dos recintos de fossos tem iniacutecio na ultima eta-pa do Neoliacutetico ou seja durante a segunda metade do 4ordm mileacutenio ane e emerge de um processo histoacuterico caracterizado pelabull comprovada mobilidade populacional entre a Estremadura e o Alentejo privilegiando o contacto entre o litoral e o interior com forte interacatildeo intra e intergrupal considerando os resultados das anaacutelises paleogeneacuteticas e isotoacutepi-cas realizadas no Algar do Bom Santo (Carvalho 2014) 2 Regiatildeo artificial recentemente criada que de um modo geneacuterico se circunscreve ao distrito de Eacutevora Do ponto de vista paisagiacutestico e geomorfoloacutegico corresponde agrave planiacutecie alentejana estando neste trabalho delimitada a Norte pela Serra de Ossa a Oeste pela Sera de Monfurado a Sul pela Serra do Mendro utilizando-se como limite Este a fronteira poliacutetica do paiacutes

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bull ldquoterritorializacatildeo da paisagemrdquo atraveacutes da construcatildeo dos monumentos funeraacuterios megaliacuteticos normalmente conectado com um aumento demograacutefi- co e complexificacatildeo social considerando a anaacutelise das dataccedilotildees absolutas documentadas para o fenoacutemeno megaliacutetico3 (Boaventura amp Mataloto 2013)Ainda que de forma desigual neste momento estatildeo disponiacuteveis dados empiacuteri-cos provenientes de 11 recintos de fossos crono-culturalmente integrados no designado Neoliacutetico Final sendo eles bull Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) (Rodrigues 2008 2013 e 2015) bull Moreiros 2 (Monforte Portalegre) (Boaventura 2006 Valera Becker amp Boaventura 2013) bull Cabeco do Torratildeo (Elvas Portalegre) (Lago amp Albergaria 2001) bull Paraiacuteso (Elvas Portalegre) (Mataloto amp Costeira 2008 e 2009 Mataloto et alii 2011) bull Juromenha 1 (Alandroal Eacutevora) (Calado amp Mataloto 1998 Mataloto amp Boaventura 2009) bull Malhada das Mimosas (Alandroal Eacutevora) (Calado amp Rocha 2000) bull Aguas Frias (Alandroal Eacutevora) (Calado amp Rocha 2004) bull Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz Eacutevora) (Lago et alii 1998 Valera 2008 Valera 2010 Valera Silva amp Maacuterquez Romero 2014) bull Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo Beja) (Arnaud 1993 Valera amp Filipe 2004 (Santos et alli 2014) bull Fareleira 3 (Vidigueira Beja) (Figueiredo 2013) bull Igreja Velha de Satildeo Jorge (Serpa Beja) (Soares 1994 e 1996) (v Fig 1)4

3 Neste caso importa referir as dataccedilotildees aferidas para a ocupaccedilatildeo realizada anteriormente agrave construccedilatildeo do monumento 2 de Vale Rodrigo que de acordo com Boaventura e Mataloto (2013) estabelecem ldquo[] momentos de termini post quosrdquo de-marcando o iniacutecio de uma Fase 1 do ldquoprocesso de megalitizaccedilatildeordquo Ua 10830 3940 ndash 3250 cal BC e KIA 31381 3940-3700 cal BCE) (Armbruester 2006 e 2007)

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Destes 11 apenas cinco se encontram datados pelo radiocarbono ndash Moreiros 2 Juromenha 1 Igreja Velha de Satildeo Jorge Porto Torratildeo e Perdigotildees Se por um lado as distribuiccedilotildees de probabilidades entre as dataccedilotildees mais antigas e com maior grau de fiabilidade de cada recinto mencionado natildeo permitem admitir de imediato a sua sincronia por outro lado tambeacutem natildeo permitem rejeitaacute-la existindo uma estreita janela que possibilita o seu tratamento em simultacircneo (v Fig 2) Havendo uma evidente analogia entre o espoacutelio reco- lhido nos cinco recintos datados e os restantes seis e partindo do princiacutepio que a anaacutelise sobre estes siacutetios tem de comeccedilar por algum lado ainda que com fragilidades claramente assumidas os onze recintos foram tratados para efeitos do presente trabalho de forma sincroacutenica

Assim natildeo sendo o objectivo deste texto debater a funcionalidade dos recintos de fossos identificados na regiatildeo alentejana mas sim compreender a sua relaccedilatildeo com os monumentos megaliacuteticos reconhecidos no seu entor-no imediato pretende-se com o presente exerciacutecio responder agraves seguintes questotildees1) existem aacutereas preferenciais para a construccedilatildeo dos monumentos megaliacuteti-cos e se sim estatildeo associadas aos recintos de fossos

4 Devido agrave escassez de dados sobre esta temaacutetica especiacutefica foram considerados os recintos de fossos do Porto Torratildeo Fareleira 3 e Igreja Velha de Satildeo Jorge localizados no Baixo Alentejo e natildeo na regiatildeo centro-alentejana conforme se indica desde logo no tiacutetulo deste trabalho

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2) a presenccedila dos recintos de fossos inibiu a construccedilatildeo dos monumentos megaliacuteticos nas suas aacutereas directas de accedilatildeo3) como eacute que se efectua a gestatildeo da morte nos recintos de fossos do Neoliacuteti-co Final e quais as inferecircncias sociais que daiacute advecircem

Desta forma nos proacuteximos pontos seratildeo descritos (i) a metodologia uti-lizada para atingir os objectivos previamente definidos (ii) quais os resulta-dos obtidos e (iii) as primeiras leituras sociais que se podem efectuar

2 METODOLOGIA De modo a responder agraves questotildees delineadas recorreu-se aos Sistemas de Informaccedilatildeo Geograacutefica (SIG) mais concretamente ao programa ArcGis 93 para efectuar uma anaacutelise espacial da implantaccedilatildeo quer dos recintos de fos-sos enquanto unidades de estudo individuais quer dos recintos associados aos monumentos megaliacuteticos existentes no seu entorno imediatoTodos os siacutetios arqueoloacutegicos em apreccedilo foram devidamente implantados numa base cartograacutefica digital que teve por base as Cartas Militares de Por-tugal agrave escala 125 000 o que significa que o resultado obtido considera curvas de niacutevel distanciadas entre si 10m A implantaccedilatildeo dos siacutetios foi rea- lizada mediante as coordenadas disponiacuteveis quer na bibliografia quer no inventaacuterio geral de siacutetios arqueloacutegicos produzido pela Direcccedilatildeo-Geral do Pa- trimoacutenio Cultural ndashEndoveacutelicoApoacutes esta implantaccedilatildeo implementou-se em torno de cada recinto de fossos um buffer de 5km utilizando como referencia teoacuterica de partida os criteacuteri-os claacutessicos estabelecidos por Higgs e Vitta-Finzi (1972) que definiram a partir de estudos etnograacuteficos que as sociedades agropastoris plenamente sedentarizadas natildeo exploram territoacuterios que se localizem a uma distacircncia superior a essa a partir do lugar de povoamento No entanto apreciando o atual estado do conhecimento acerca dos recintos de fossos do SW Penin-sular considerou-se pertinente estabelecer fronteiras mais latas na ordem dos 10 km (normalmente associadas agraves sociedades de caccediladores recolecto-res) natildeo tanto para perceber que aacutereas do territoacuterio foram economicamente exploradas mas sim eventuais redes de contacto entre siacutetios partindo do princiacutepio de que em determinado momento estes poderatildeo ter sido sincroacuteni-cos Esta opccedilatildeo justifica-se pelos recentes dados empiacutericos referentes ao periacuteodo imediatamente antecedente - o Neoliacutetico Meacutedio - que revelaram uma grande mobilidade das populacotildees conquanto para o Neoliacutetico Final e Calcoliacutetico da regiatildeo de Torres Vedras (portanto mais proacuteximas cronologica-mente das aqui estudadas) se possa concluir por uma notaacutevel reducatildeo da mobilidade humana a julgar pelos dados publicados por Watermann et alii

398 | 5 ldquoPastos Naturais satildeo comunidades vegetais compostas de espeacutecies herbaacuteceas ou lenhosas (ou ambas)1113088 que produzempastagem principalmente utilizada como alimento pelos animais domeacutesticos Podem ser cultivados conhecidos como pastos agriacutecolas ou podem natildeo ser cultivados conhecidos como pastos permanentes ou pastagens naturaisrdquo (Papanastasis V P (sd)

(2013) Ao mapa dos recintos de fossos devidamente delimitados pelos buffers de 5 e 10km acrescentou-se os dados geograacuteficos referentes agraves antas inventa- riadas num raio de 20 km em torno dos siacutetios em anaacutelise de modo a obter uma imagem espacial de ambas as realidades De referir que este mapa natildeo considera1) a vertente temporal das antas e dos recintos ou seja assume-se na sua execuccedilatildeo a sincronia entre todos os monumentos megaliacuteticos e entre estes e todos os recintos de fossos em apreccedilo o que natildeo corresponde agrave verdade histoacuterica fundamentalmente este desvio arqueograacutefico adveacutem (1) da na-tureza de muitos trabalhos sobre os monumentos megaliacuteticos correspon-dentes agrave sua identificaccedilatildeo ndash prospeccedilatildeo ndash sem escavaccedilatildeo arqueoloacutegica as- sociada que permita a aquisiccedilatildeo de uma cronologia fina para a sua utilizaccedilatildeo e por conseguinte (2) a ausecircncia de dataccedilotildees absolutas que possibilitem estabelecer eventuais relaccedilotildees de contemporaneidade entre siacutetios o que provoca uma imagem artificial distorcida e condensada2) alguns monumentos megaliacuteticos mais recentes nomeadamente os que se conhecem em torno do recinto de fossos do Porto Torratildeo ndash nucleo de tholoi da Horta do Joatildeo da Moura (Pereiro 2010 Corga amp Ferreira 2011 informaccedilatildeo pessoal de Raquel Santos ndash Neoeacutepica) Monte do Cardim 6 (Fi- gueiredo 2009) e Monte do Pombal (Dias amp Figueiredo 2009)3) as formas ldquosubterracircneasrdquo de megalitismo funeraacuterio ndash hipogeus ndash conhe-cidos quer na Sobreira de Cima (Valera 2013) quer em torno do Porto Tor-ratildeo ndash Monte do Carrascal (Santos 2010 Neves amp Mendes 2011) ndash sendo este ultimo bastante relevante para a anaacutelise da emergecircncia dos recintos de fossos do Neoliacutetico Final pelo que seraacute analisado particularmente adiante

3 RESULTADOS 31 A relaccedilatildeo entre recintos de fossosPara melhor compreensatildeo dos dados obtidos na anaacutelise espacial ldquorecintos de fossos ndash antasrdquo impora efectuar uma breve descriccedilatildeo dos resultados ob-tidos na anaacutelise da implantaccedilatildeo de cada recinto de fossos em apreccedilo (natildeo demonstrados no presente trabalho uma vez que esse natildeo eacute o objectivo que se pretende atingir)

Assim nos 11 siacutetios analisados atraveacutes dos SIG verificou-se a sistemaacutetica implantaccedilatildeo em lugares planos ou com declives suaves sendo as inclinaccedilotildees orientadas a Sul ou Sudeste congregando algumas das condiccedilotildees essen- ciais e fundamentais para a execuccedilatildeo das actividades agriacutecolas que estatildeo na base da economia das sociedades neoliacuteticas A anaacutelise das condiccedilotildees

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ambientais a 5km e 10km permitiu ainda constatar a presenccedila de territoacute- rios aptos para diferentes praacuteticas pecuaacuterias ndash pastos naturais5- passiacuteveis de constituir verdadeiras paisagens pastoris6 (Rodrigues 2015)

Mas se a anaacutelise das condiccedilotildees de implantaccedilatildeo revelam uma conjun-tura especiacutefica que conduz agrave fixaccedilatildeo das comunidades construtoras dos recintos de fossos visando uma estrateacutegia econoacutemica previamente esta-belecida tambeacutem demonstra preocupaccedilotildees de controlo de territoacuterio e de comunicaccedilatildeo intergrupal

O numero consideraacutevel de siacutetios jaacute identificados a Norte da Serra de Portel permite a ponderaccedilatildeo de um eixo de controlo territorial no sentido N S que nas regiotildees a Sul desse relevo ainda natildeo estaacute comprovado mas que eacute sugerido atraveacutes da posiccedilatildeo geograacutefica dos recintos Neste caso a existecircncia de uma organizaccedilatildeo territorial idecircntica teria uma orientaccedilatildeo no sentido W-E

Assim no designado ldquoeixo N-Srdquo reconhece-se (1) uma grande pro- ximidade fiacutesica entre siacutetios praticamente constante (2) a sobreposiccedilatildeo de aacutereas de intersecccedilatildeo (eventualmente correspondente a zonas de inte- racccedilatildeo grupal) bastante semelhantes (3) assim como a intervisibilidade entre recintos o que permite a assunccedilatildeo de uma base poliacutetica comum que se organiza de forma estrateacutegica para melhor controlar um territoacuterio que por ancestralidade eacute seu (v Fig 3)

Figura 3 6 ldquoPaisagens pastoris satildeo terras heterogeacuteneas compostas por uma variedade de comunidades de plantas em que todas ou a grande maioria satildeo frequentadas e utilizadas como pasto para o gado Por outras palavras as paisagens pastoris incluem mais do que um tipo de pastos espalhados numa aacuterea especiacutefica e utilizados por uma ou mais espeacutecies de gadordquo (Papanas-tasis V P (sd)

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32 A relaccedilatildeo entre recintos de fossos e monumentos megaliacuteti-cos funeraacuteriosDa cartografia geral produzida (Fig 4) sobressai a disparidade entre o numero de monumentos megaliacuteticos situados a Norte da Serra de Portel e a escassez registada a Sul deste maciccedilo montanhoso A explicaccedilatildeo para tal fenoacutemeno poderaacute estar relacionada com as condicionantes geoloacutegicas das regiotildees verificando-se a Norte uma zona predominante-mente graniacutetica com disponibilidade de mateacuteria-prima para a execuccedilatildeo dos monumentos e a Sul uma carecircncia destes materiais tendo as so-ciedades preacute-histoacutericas procurado soluccedilotildees alternativas tais como a es-cavaccedilatildeo de hipogeus Regista-se assim um numero muito limitado de monumentos em torno dos recintos de fossos localizados na zona Sulbull dentro dos buffers do Porto Torratildeo natildeo haacute qualquer monumento dolmeacutenico identificado estando no entanto registadas diferentes for-mas de tratamento dos mortos como se veraacute numa discussatildeo adiante ndash tholoi hipogeus enterramentos em fossos despejo de restos humanos no interior do fossos delimitadores do recintobull nas aacutereas de exploraccedilatildeo do recinto de fossos da Fareleira 3 registam-se apenas dois monumentos megaliacuteticos integrados no buffer de 10 kmbull junto ao recinto de fossos da Igreja Velha de Satildeo Jorge registam-se dois monumentos megaliacuteticos ndash Monte da Velha 1 e Monte da Velha 2 (Soares amp Arnaud 1984 Soares 2008) ndash localizados a uma distacircncia inferior a1km do siacutetio em apreccedilo Situaccedilatildeo completamente oposta eacute a que se verifica nos recintos de fos-sos a Norte da Serra de Portel onde parece haver um pleno ldquoconviacuteviordquo entre ambas as formas de apropriaccedilatildeo dos territoacuterios sem que uma ex-clua a outra Por outras palavras existe uma ldquoharmoniardquo entre ldquomundo dos vivosrdquo e ldquomundo dos mortosrdquo ldquo[] onde o rito se conforma com o haacutebitordquo (Boaventura amp Mataloto 2013 84) Assim em torno de cada recinto em anaacutelise encontram-se monumentos megaliacuteticos quer dentro do buffer de 5km quer dentro do buffer de 10km o que demonstra que independentemente de haver ou natildeo sincronia nas construccedilotildees e nas utilizaccedilotildees a presenccedila de um recinto ou a presenccedila de um monumento megaliacutetico natildeo foi impeditiva que outras construccedilotildees similares posteri-ores ou simultacircneas tivessem lugar Ou seja haacute uma sobreposiccedilatildeo no espaccedilo entre todos os elementos analisados- recintos de fossos e monu-mentos megaliacuteticos - em plena convivecircncia territorialA elaboraccedilatildeo de Cartas de Visibilidades Acumuladas para cada um dos recintos de fossos e respectivos monumentos megaliacuteticos situados num

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raio de 10 km em torno dos primeiros permitiu ainda aferir que todos os siacutetios satildeo visiacuteveis entre si sendo possiacutevel assumir que os construtores de antas satildeo os contrutores dos recintos de fossos e vice-versa (Fig 6 7 8 e 9)Esta ocupaccedilatildeo massiva do territoacuterio sem qualquer termo comparativo com os periacuteodos antecedentes torna-se assim consentacircnea natildeo soacute com a ideia de um aumento demograacutefico exponencial na regiatildeo mas tambeacutem com a efectiva sedentarizaccedilao dos grupos humanos que satildeo cada vez mais in- tervenientes e modeladores da paisagem que os rodeia territorializando-a e reclamando-a para si Este espaccedilo natildeo soacute eacute o lugar que habitam mas eacute tambeacutem o lugar onde se eterniza a sua ancestralidade

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No que respeita agraves atividades funeraacuterias que estatildeo diretamente associa-das aos recintos de fossos conhecem-se dados provenientes daqueles que satildeo os lugares com a diacronia de ocupaccedilatildeo mais ampla os Per-digotildees e o Porto Torratildeo Quer num quer noutro siacutetio satildeo conhecidas dife- rentes actividades funeraacuterias e respectivo tratamento dos mortos Mas se para o primeiro caso ndash Perdigotildees ndash tem vindo a ser colocada a questatildeo de ldquo[] os Perdigotildees [] serem essencialmente um siacutetio de gestatildeo simboacutelica e praacutetica da morte e da vida um cenaacuterio para as mais variadas praacuteticas sociais ritualizadas [] para o qual nos falta uma designaccedilatildeo concreta pe- rante a cada vez maior desadequaccedilatildeo operativa de conceitos como povoa-do necroacutepole monumento etc pelo caraacutecter compartimentador e exclusivo que encerramrdquo (Valera amp Godinho 201037) para o segundo siacutetio ndash Porto Torratildeo ndash os dados revelam a criaccedilatildeo de aacutereas de necroacutepole bem definidas fora do periacutemetro delineado pelo sistema de fossos identificado (Rodrigues 2014) Analisando ambos os casos1 Complexo Arqueoloacutegico dos PerdigotildeesNo ultimos anos tecircm sido identificadas no interior do Complexo Arqueoloacutegico dos Perdigotildees diferentes ocorrecircncias que induzem os seus investigadores

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a assumir uma diversidade de praacuteticas funeraacuterias a saber ldquo[] deposiccedilotildees primaacuterias manipulaccedilatildeo poacutes-deposiccedilatildeo primaacuteria trasladaccedilotildees e deposiccedilotildees secundaacuterias cremaccedilotildees deposiccedilotildees em fossa deposiccedilotildees em fossos de-posiccedilotildees em sepulcros de tradiccedilatildeo megaliacuteticardquo (Valera amp Godinho 201037) cuja compreensatildeo passa por ldquo[] linking them to the ideological principles that are present in (and reinforced by) the location of the site and the mea- ningful relationship it establishes with the local landscape (both terrestrial and celestial) as well as in the architectonic design of the enclosures or in the practices of filling ditches and pits with intentional and formal depositsrdquo (Valera Silva amp Maacuterquez Romero 2014) Estes dados tecircm levado os investi-gadores do siacutetio a afastar a ideia de uma compartimentaccedilatildeo espacial entre ldquomundo dos vivosrdquo e ldquomundo dos mortosrdquo e a encarar os recintos de fossos do SW Peninsular como locais que poderatildeo ter sofrido um ldquo[] fenoacutemeno de ldquonecropolizaccedilatildeordquo (Valera amp Godinho 201037) O mais recente estudo acerca da temporalidade deste siacutetio permitiu esta-belecer diferentes etapas cronoloacutegicas da sua construccedilatildeo estando incluiacutedas nesta situaccedilatildeo as distintas estruturas com contextos funeraacuterios associados Este exerciacutecio assume especial importacircncia quando se pretende verificar se os restos humanos estatildeo (1) ldquoespalhadosrdquo ou ldquoconcentradosrdquo em determi-nadas aacutereas do recinto ou (2) se acompanham a evoluccedilatildeo arquitectoacutenica do siacutetio podendo-se definir eventuais aacutereas interiores ou exteriores de uti-lizaccedilatildeo Obviamente este tipo de exerciacutecio deteacutem agrave luz dos conhecimen-tos actuais alguns obstaacuteculos significativos vinculados ao facto de ainda existirem estruturas delimitadoras a escavar e a datar Poreacutem os dados empiacutericos disponiacuteveis devem ser analisados com as devidas salvaguar-das de forma a natildeo se cair na posiccedilatildeo de impasse de nada propor e de nada interpretar Assim quando confrontada a imagem proporcionada pe-los trabalhos de prospeccedilatildeo geofiacutesica onde foram devidamente implantados os contextos funeraacuterios identificados ateacute ao momento com o esquema de fases de construccedilatildeo arquitetoacutenica atestado atraveacutes da bateria de dataccedilatildeo radiomeacutetricas verifica-se que grande parte das atividades funeraacuterias que tiveram lugar neste recinto encontravam-se fora da aacuterea delimitada pelos fossos agrave eacutepoca em que foram realizadas Ou seja aparentemente as de-posiccedilotildees em fossa do Neoliacutetico Final encontram-se afastadas daquele que eacute o nucleo central do recinto correspondente agrave aacuterea ativa nesta eacutepoca natildeo havendo assim uma relaccedilatildeo direta entre o que se passava no seu interior e as atividades funeraacuterias que tiveram lugar no seu exterior Ou seja ava- liando os dados empiacutericos permitidos pela leitura arquitetoacutenica elaborada pelos investigadores as actividades funeraacuterias datadas do Neoliacutetico Final

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natildeo estatildeo diretamente associada agraves atividades intrassiacutetio pelo que natildeo se pode relacionar a fundaccedilatildeo desse recinto de fossos com o simbolismo as-sociado agraves praacuteticas funeraacuterias Refira-se tambeacutem que se no caso das estru-turas megaliacuteticas de tipo tholoi existe uma relaccedilatildeo (1) com as orientaccedilotildees da entradas conhecidas (2) com a dicotoacutemica relaccedilatildeo Este Oeste (3) assim como com a presenccedila do cromeleque a Este jaacute para os enterramentos em fossa do Neoliacutetico Final esse simbolismo natildeo pode ser aplicado de modo categoacuterico Efetivamente estes contextos localizam-se a Noroeste num local afastado dos sepulcros de tipo tholoi Ou seja as associaccedilotildees que tecircm vindo a ser reclamadas perdem assim o sentido deixando cair os significados que se pretendem vislumbrar 2 Porto TorratildeoTambeacutem neste siacutetio foram reconhecidas diferentes atividades funeraacuterias que agrave exceccedilatildeo dos contextos de cremaccedilatildeo em tudo se assemelham ao que jaacute foi descrito para os Perdigotildees Associados agravequele que eacute o maior recinto de fossos conhecido na aacuterea em apreccedilo reconhecem-se diferentes modos de tratamento dos mortos enterramentos em fossa (Rebelo 2009 Rebuge Saacute amp Cheney 2010 Neto et alii 2013) enterramentos em monumentos funeraacuterios de tipo tholoi e hipogeus (Dias amp Figueiredo 2009 Figueiredo 2009 Pereiro 2010 Neves amp Mendes 2011 Corga amp Ferreira 2011) e de-posiccedilatildeo de restos humanos no interior de fossos (Rodrigues 2014)Atestada essa diversidade que evidenciava diferentes localizaccedilotildees espa-ciais torna-se imperativo perceber se haveria aacutereas preferenciais de de-posiccedilatildeo dos restos humanos independentemente do tipo de tratamento que haviam sofrido (deposiccedilatildeo primaacuteria secundaacuteria com sem ritual) O tratamento estatiacutestico do numero miacutenimo de indiviacuteduos presentes em cada um dos contextos permitiu a perceccedilatildeo de que ldquodespite the fact that human remains apear throughout the entire archaeological complex there is a clear prevalence of this type of context outside the enclosed area And that is com-patible with the notion of a relatively well bounded necropolis Not in a par-ticular place (there are funerary monuments on the East and South sides of the enclosed area) but markedly out the enclosed areardquo (Rodrigues 2014) A descriccedilatildeo acima exposta reflete o cocircmputo dos contextos funeraacuterios iden-tificados neste siacutetio independentemente da sua cronologia No entanto se estes dados forem restringidos apenas agrave cronologia em apreccedilo a situaccedilatildeo natildeo difere Dos diferentes siacutetios onde foram identificados enterramentos e restos humanos o conjunto de hipogeus do Monte do Carrascal eacute aquele que apresenta uma cronologia enquadrada na etapa final do Neoliacutetico

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(Neves amp Mendes 2011) sendo igualmente o local de enterramento com o numero miacutenimo de indiviacuteduoas mais elevado o que mais uma vez re- vela que eacute fora das aacutereas definidas pelos recintos que se processa grande parte das actividades funeraacuterias destas comunidades Haacute no entanto uma excepccedilatildeo correspondente a um enterramento em fossa identificado na aacuterea intrafossos que pode ser cronologicamente enquadrado no Neoliacutetico Final (Neto et alii 2013) Apesar de natildeo se saber qual a relaccedilatildeo temporal entre os hipogeus do Monte do Carrascal e o enterramento em fossa do Porto Torratildeo eacute notoacuterio que haacute tratamento diferencial de determinados indiviacuteduos quer no que respeita ao ritual e lugar de enterramento quer no que respeita agrave sua individualidade

4 PRIMEIRAS LEITURASA recente identificaccedilatildeo de multiplas formas de sepultar tratar os mortos identificadas quer nos recintos de fossos quer nas suas aacutereas mais proacuteximas demonstram que as actividades funeraacuterias dos gru-pos do final do Neoliacutetico na regiatildeo do Alentejo natildeo satildeo exclusivas das antas mas aplica-se igualmente aos monumentos subterracirc-neos ndash os hipogeus ndash aos enterramentos em fossa agraves cremaccedilotildees e ao despejo literal de partes de restos humanos para o interior de estruturas negativas (fossos) Ainda que haja problemas associa-dos agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas que atestem quer o iniacutecio des- tas actividades quer a sua contemporaneidade estaacute corroborada a diver-sidade que eventualmente pode assumir contornos sociais conectaacuteveis com as relaccedilotildees intra e intergrupaisConsiderando os dois casos especiacuteficos acima expostos ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash estatildeo evidenciadas duas situaccedilotildees inegaacuteveisbull aumento demograacutefico demonstrado no numero significativo de contex-tos funeraacuterios que natildeo tecircm qualquer termo comparativo com as eacutepocas precedentes embora natildeo existam estudos demograacuteficos aprofundados acredita-se que esta circunstacircncia soacute eacute possiacutevel porque haacute definitivamente mais gente sedentarizada neste territoacuterio a partir do Neoliacutetico Finalbull diversidade no tratamento dos mortos natildeo obstante a coesatildeo cultural verificada no ldquomundo dos vivosrdquo verificado nas arquiteturas (ldquopovoadosrdquo monumentos megaliacuteticos recintos de fossos) na cultura material (con-juntos ceracircmicos industria liacuteticas artefactos ideoteacutecnicos) e nas estrateacute-gias de subsistecircncia (economia mista de produccedilatildeo de alimentos e ati- vidades cinegeacuteticas eventualmente associada agrave recoleccedilatildeo de recursos silvestres)

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Quanto agraves questotildees previamente definidas1) A macro anaacutelise efectuada natildeo permite aferir aacutereas preferenciais para a construccedilatildeo das antas em torno dos recintos de fossos em estudo contudo ao avaliar-se os siacutetios sobre os quais existe mais informaccedilatildeo ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash observa-se que durante a etapa final do Neoliacutetico os grupos construtores de recintos optaram por realizar as suas actividades funeraacuterias nas imediaccedilotildees desses lugares2) Apesar dos imensos desvios arqueograacuteficos que podem existir neste exerciacutecio devido fundamentalmente agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas ve- rifica-se que a construccedilatildeo preacutevia de qualquer um dos elementos arquitecoacuteni-cos em anaacutelise natildeo inibiu a construccedilatildeo do outro as imagens produzidas parecem aliaacutes sugerir o contraacuterio se considerarmos que os recintos de fossos poderatildeo ter funcionado como polos de agregaccedilatildeo social com ocu-paccedilotildees residenciais e permanentes temos de aceitar que no seu entorno imediato desenvolveram-se actividades pertencentes ao quotidiano dessas comunidades e entre essas a gestatildeo da morte teria um tratamento especial mas natildeo distante3) Os dados dos Perdigotildees e do Porto Torratildeo parecem sugerir que haacute uma preferecircncia para o desenvolvimento das actividades funeraacuterias fora das aacutereas delimitadas pelos fossos durante o Neoliacutetico Final no entanto exis- tem excepccedilotildees que permitem assumir a existecircncia de um tratamento dis-tinto entre indiviacuteduos uns satildeo inumados em estruturas colectivas enquanto outros tecircm enterramentos individuais se esta diferenciaccedilatildeo eacute ou natildeo sin-croacutenica eacute uma questatildeo que por agora fica obrigatoriamente em aberto

AGRADECIMENTOSA autora agradece agrave equipa da Direcccedilatildeo-Geral do Patrimoacutenio Cultural que gere a base de dados Endoveacutelico pela disponibilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo geograacutefica referente agrave implantaccedilatildeo dos monumentos megaliacuteticos inventa- riados na regiatildeo estudada

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICASArnaud J M (1993) O povoado calcoliacutetico de Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) siacutentese das investigaccedilotildees realizads Vipasca 41-60Boaventura R (2011) Cronologiacutea del megalitismo en el Centro-Sur de Portugal Menga Revista de Prehistoria de Andaluciacutea 158-190Boaventura R amp Mataloto R (2013) Entre mortos e vivos noacutetulas acerca da cronologia absoluta do Megalitismo do Sul de Portugal Revista Portuguesa de Arqueologia 81-101Calado M amp Mataloto R (1998) Relatoacuterio intercalar referente aos trabalhos do Blo-co 2 do Plano de Minimizaccedilatildeo de Impactes do Regolfo do Alqueva Escavaccedilatildeo do Povo-

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ado Neoliacutetico de Juromenha 1 (Alandroal) Campanha 1 (Abril a Julho de 1998) Lisboa Fundaccedilatildeo da Unoversidade de LisboaCalado M amp Rocha A (2000) Relatoacuterio de escavaccedilatildeo do povoado da Malhada das Mimosas (Alandroal) - Campanha 2 - 2000 Lisboa Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa Centro de Arqueologia de Lisboa EDIA SACarvalho A F (Ed) (2014) Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Universidade do AlgarveCorga M amp Ferreira M T (2011) Horta do Joatildeo da Moura 1 - Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirinha e Valbom - Fase de Obra exemplar policopiado Styx estudos de antropologia EDIA SADias S amp Figueiredo M (2009) Relatoacuterio preliminar dos trabalhos arqueoloacutegicos e an-tropoloacutegicos do Monte do Pombal 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2009) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos Monte do Cardim 6 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2013 Fevereiro 5) Fareleira 3 ditched enclosure Retrieved Junho 20 2014 from Portuguese Prehistoric Enclosures wwwportugueseenclosuresblogspotptGonccedilalves V S (2000) Muitas antas pouca gente Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de ArqueologiaGonccedilalves V S (2003) Muita gente poucas antas Origens espaccedilos e contextos do Megalitismo Actas do II Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Por-tuguecircs deAHiggs E S amp Vita Finzi C (1972) Prehistoric Economies a territorial aproach In Papers in Economic Prehistory (pp 27-36) London Cambridge University PressLago M amp Albergaria J (2001) O Cabeccedilo do Torratildeo (Elvas) contextos e interpretaccedilotildees preacutevias de um lugar do Neoliacutetico alentejano Era Arqueologia 4 pp 39-62Lago M Duarte C Valera A Albergaria J Almeida F amp Carvalho A (1998) Povoado dos Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz) dados preliminares dos trabalhos arqueoloacutegi-cos realizados em 1997 Revista Portguesa de Arqueologia 45-152Leisner G amp Leisner V (1985) Antas do Concelho de Reguengos de Monsaraz Lisboa UNIARCHMataloto R amp Costeira C (2008) O povoado calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Revista Portuguesa de Arqueologia 11 5-27Mataloto R amp Costeira C (2009) O Povoado Calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Notiacutecia da sua identificaccedilatildeo IV Encontro de Arqueologia del Suroeste Peninsular (pp 107-133) HuelvaMataloto R Davis S Costeira C Clemente R amp Santos I (2011) Os povoados de fossos do Paraiacuteso uma ocipaccedilatildeo do IV III mileacutenios aC na regiatildeo de Elvas Balanccedilo das intervenccedilotildees 2009-2010 Actas do V Encontro de Arqueologia Peninsular (pp 39-72)Neto N Rocha M Santos R amp Rebelo P (2013) Povoado calcoliacutetico do Porto Torratildeo - uma inumaccedilatildeo em fossa Arqueologia em Portugal - 150 anos (pp 379-385) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesNeves M J amp Mendes C (2011) Monte do Carrascal 2 - Trabalhos arqueoloacutegicos e ntropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes decorrentes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirnha e Valbom - Fase de obra Styx EDIA SAPereiro T (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Horta do Joatildeo da Moura 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SARebelo P (2009) Relatoacuterio Final da intervenccedilatildeo arqueoloacutegica no Povoado do Porto

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Torratildeo Ferreira do Alentejo Beja Neoeacutepica EDIA SARebuge J Saacute A amp Cheney A (2010) Intervenccedilatildeo Arqueoloacutegica em Porto Torratildeo (Sector 3 Oeste) Beja Archeoestudos EDIA SARodrigues F (2008) O recinto de fossos da Ponte da Azambuja 2 (Porte Eacutevora) primeira notiacutecia Apontamentos de Arquologia e Patrimoacutenio pp 49-56Rodrigues F (2013) Iacutedolomania figuras antropomoacuterficas e ldquoiacutedolos de cornosrdquo do recinto de fossos do Neoliacutetico Final da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) Arqueologia em Portugal 150 anos (pp 435-446) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesRodrigues F (2014) Skeletons in the ditch funerary activity in ditched enclosures of Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo Beja) Recent Prehistory Enclosures and Funerary Practices in Europe (pp 59-69) Oxford ArchaeopressRodrigues F (2015) O siacutetio da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) e a emergecircncia dos recintos de fossos no SW Peninsular nos finais do 4ordm mileacutenio ane Tese de Doutoramen-to exemplar policopiadoSantos H (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Monte do Carrascal 2 Era Ar-queologia EDIA SASantos R Rebelo P Neto N Rebuge J Saacute A Cheney A et al (2014) Porto Torratildeo resultados preliminares 4ordm Coloacutequio de Arqueologia de Alqueva O plano de rega Beja EDIA SASoares A M (1994) Descoberta de um povoado do Neoliacutetico junto agrave Igreja Velha de Satildeo Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Resultados Preliminares Vipasca 3 pp 41-49Soares A M (1996) Dataccedilatildeo absoluta da estrutura neoliacutetica junto agrave Igreja Velha de S Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Vipasca 5 51-58Soares A M amp Arnaud J M (1984) Escavaccedilotildees do Sepulcro Megaliacutetico MV2 (Vila Verde de Ficalho Serpa) Arquivo de Beja II1 67-82Valera A C amp Filipe I (2004) O povoado do Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) Novos dados e novas problemaacuteticas no contexto da calcolitizaccedilatildeo do Sudoeste peninsular Era Arqueologia 7 pp 23-32Valera A C amp Godinho R (2010) Ossos humanos provenientes dos fossos 3 e 4 e gestatildeo da morte nos Perdigotildees Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 6 pp 29-40Valera A C Becker H amp Boaventura R (2013) Moreiros 2 (Arronches Portalegre) geofiacutesica e cronologia dos recintos interiores Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 9 37-46Valera A C (2014 February 2) Perdigotildees NE gate Retrieved Juin 20 2014 from Portu-guese Prehistoric Enclosures wwwportuguese enclosresblogspotptValera A C Silva A M amp Maacuterquez Romero J (2014) The temporality of Perdigotildees En-closures absolute chronology of the structures and social practices Spal 23 pp 11-26Waterman A J Peate D W Silva A M amp Thomas J T (2013) In search of homelands using strontium isotopes to identify biological markers of mobility in lata prehistoric Portu-gal Journal of Archaeological Science p no prelo

Page 2: Muitas antas e muita gente! As relações entre os recintos ...De modo a responder às questões delineadas, recorreu-se aos Sistemas de Informação Geográfica (SIG), mais concretamente

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ABSTRACTThis paper aims to discuss the spatial analysis between ditched enclosures and megalithic monuments in Alentejo Central in order to infer the social beha- viors of groups that occupied this region during the Late Neolithic periodKEY WORDS SW Iberia Ditched Enclosures Megalithism Spatial Analysis

1 INTRODUCcedilAtildeO A actual regiatildeo centro-alentejana2 despertou desde muito cedo o interesse de vaacuterios arqueoacutelogos nacionais e estrangeiros que nela reconheceram um enorme potencial para a investigaccedilatildeo sobre as comunidades preacute-histoacutericas traduzido desde logo pela identificaccedilatildeo de inumeros monumentos megaliacuteti-cos funeraacuterios Eacute neste contexto de produccedilatildeo cientiacutefica que o Alentejo Central eacute elevado ao estatuto de territoacuterio paradigmaacutetico do megalitismo funeraacuterio portuguecircs estando reconhecidos cerca de 130 monumentos megaliacuteticos A par destes conhecem-se ainda cromeleques e menires isolados que embora possam ter nalguns casos cronologias antigas dentro da diacronia neoliacutetica partilharam o espaccedilo com os seus congeacuteneres funeraacuterios Numa fase mais recente da investigacatildeo outros tipos de siacutetios quer relacio-nados com o ldquomundo dos mortosrdquo quer relacionados com o ldquomundos dos vivosrdquo surgiram nesta regiatildeo Eacute o caso dos hipogeus da Sobreira de Cima (Va- lera 2013) e das gravuras rupestres identificadas no Santuaacuterio Exterior do Escoural ou nas margens do Guadiana que demonstram que esta regiatildeo foi palco de vaacuterios cenaacuterios de vivecircncia ao longo de toda a Preacute-Histoacuteria Recente Todos estes siacutetios normalmente conectados com as manifestacotildees simboacuteli-cas e a vertente ideoteacutecnica das comunidades preacute-histoacutericas encontram-se ao lado de uma rede de povoamento ainda mal conhecida De facto ateacute ao momento conhecem-se alguns ldquopovoados abertosrdquo e raros ldquopovoados forti-ficadosrdquo sendo esta lacuna aparentemente preenchida pela proliferacatildeo de recintos de fossos que na ultima deacutecada tecircm sido dados a conhecer quer atra- veacutes de escavacotildees arqueoloacutegicas quer atraveacutes do seu reconhecimento por fo-tografia aeacutereaNesta regiatildeo a construccedilatildeo dos recintos de fossos tem iniacutecio na ultima eta-pa do Neoliacutetico ou seja durante a segunda metade do 4ordm mileacutenio ane e emerge de um processo histoacuterico caracterizado pelabull comprovada mobilidade populacional entre a Estremadura e o Alentejo privilegiando o contacto entre o litoral e o interior com forte interacatildeo intra e intergrupal considerando os resultados das anaacutelises paleogeneacuteticas e isotoacutepi-cas realizadas no Algar do Bom Santo (Carvalho 2014) 2 Regiatildeo artificial recentemente criada que de um modo geneacuterico se circunscreve ao distrito de Eacutevora Do ponto de vista paisagiacutestico e geomorfoloacutegico corresponde agrave planiacutecie alentejana estando neste trabalho delimitada a Norte pela Serra de Ossa a Oeste pela Sera de Monfurado a Sul pela Serra do Mendro utilizando-se como limite Este a fronteira poliacutetica do paiacutes

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bull ldquoterritorializacatildeo da paisagemrdquo atraveacutes da construcatildeo dos monumentos funeraacuterios megaliacuteticos normalmente conectado com um aumento demograacutefi- co e complexificacatildeo social considerando a anaacutelise das dataccedilotildees absolutas documentadas para o fenoacutemeno megaliacutetico3 (Boaventura amp Mataloto 2013)Ainda que de forma desigual neste momento estatildeo disponiacuteveis dados empiacuteri-cos provenientes de 11 recintos de fossos crono-culturalmente integrados no designado Neoliacutetico Final sendo eles bull Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) (Rodrigues 2008 2013 e 2015) bull Moreiros 2 (Monforte Portalegre) (Boaventura 2006 Valera Becker amp Boaventura 2013) bull Cabeco do Torratildeo (Elvas Portalegre) (Lago amp Albergaria 2001) bull Paraiacuteso (Elvas Portalegre) (Mataloto amp Costeira 2008 e 2009 Mataloto et alii 2011) bull Juromenha 1 (Alandroal Eacutevora) (Calado amp Mataloto 1998 Mataloto amp Boaventura 2009) bull Malhada das Mimosas (Alandroal Eacutevora) (Calado amp Rocha 2000) bull Aguas Frias (Alandroal Eacutevora) (Calado amp Rocha 2004) bull Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz Eacutevora) (Lago et alii 1998 Valera 2008 Valera 2010 Valera Silva amp Maacuterquez Romero 2014) bull Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo Beja) (Arnaud 1993 Valera amp Filipe 2004 (Santos et alli 2014) bull Fareleira 3 (Vidigueira Beja) (Figueiredo 2013) bull Igreja Velha de Satildeo Jorge (Serpa Beja) (Soares 1994 e 1996) (v Fig 1)4

3 Neste caso importa referir as dataccedilotildees aferidas para a ocupaccedilatildeo realizada anteriormente agrave construccedilatildeo do monumento 2 de Vale Rodrigo que de acordo com Boaventura e Mataloto (2013) estabelecem ldquo[] momentos de termini post quosrdquo de-marcando o iniacutecio de uma Fase 1 do ldquoprocesso de megalitizaccedilatildeordquo Ua 10830 3940 ndash 3250 cal BC e KIA 31381 3940-3700 cal BCE) (Armbruester 2006 e 2007)

Figura 1

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Destes 11 apenas cinco se encontram datados pelo radiocarbono ndash Moreiros 2 Juromenha 1 Igreja Velha de Satildeo Jorge Porto Torratildeo e Perdigotildees Se por um lado as distribuiccedilotildees de probabilidades entre as dataccedilotildees mais antigas e com maior grau de fiabilidade de cada recinto mencionado natildeo permitem admitir de imediato a sua sincronia por outro lado tambeacutem natildeo permitem rejeitaacute-la existindo uma estreita janela que possibilita o seu tratamento em simultacircneo (v Fig 2) Havendo uma evidente analogia entre o espoacutelio reco- lhido nos cinco recintos datados e os restantes seis e partindo do princiacutepio que a anaacutelise sobre estes siacutetios tem de comeccedilar por algum lado ainda que com fragilidades claramente assumidas os onze recintos foram tratados para efeitos do presente trabalho de forma sincroacutenica

Assim natildeo sendo o objectivo deste texto debater a funcionalidade dos recintos de fossos identificados na regiatildeo alentejana mas sim compreender a sua relaccedilatildeo com os monumentos megaliacuteticos reconhecidos no seu entor-no imediato pretende-se com o presente exerciacutecio responder agraves seguintes questotildees1) existem aacutereas preferenciais para a construccedilatildeo dos monumentos megaliacuteti-cos e se sim estatildeo associadas aos recintos de fossos

4 Devido agrave escassez de dados sobre esta temaacutetica especiacutefica foram considerados os recintos de fossos do Porto Torratildeo Fareleira 3 e Igreja Velha de Satildeo Jorge localizados no Baixo Alentejo e natildeo na regiatildeo centro-alentejana conforme se indica desde logo no tiacutetulo deste trabalho

Figura 2

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2) a presenccedila dos recintos de fossos inibiu a construccedilatildeo dos monumentos megaliacuteticos nas suas aacutereas directas de accedilatildeo3) como eacute que se efectua a gestatildeo da morte nos recintos de fossos do Neoliacuteti-co Final e quais as inferecircncias sociais que daiacute advecircem

Desta forma nos proacuteximos pontos seratildeo descritos (i) a metodologia uti-lizada para atingir os objectivos previamente definidos (ii) quais os resulta-dos obtidos e (iii) as primeiras leituras sociais que se podem efectuar

2 METODOLOGIA De modo a responder agraves questotildees delineadas recorreu-se aos Sistemas de Informaccedilatildeo Geograacutefica (SIG) mais concretamente ao programa ArcGis 93 para efectuar uma anaacutelise espacial da implantaccedilatildeo quer dos recintos de fos-sos enquanto unidades de estudo individuais quer dos recintos associados aos monumentos megaliacuteticos existentes no seu entorno imediatoTodos os siacutetios arqueoloacutegicos em apreccedilo foram devidamente implantados numa base cartograacutefica digital que teve por base as Cartas Militares de Por-tugal agrave escala 125 000 o que significa que o resultado obtido considera curvas de niacutevel distanciadas entre si 10m A implantaccedilatildeo dos siacutetios foi rea- lizada mediante as coordenadas disponiacuteveis quer na bibliografia quer no inventaacuterio geral de siacutetios arqueloacutegicos produzido pela Direcccedilatildeo-Geral do Pa- trimoacutenio Cultural ndashEndoveacutelicoApoacutes esta implantaccedilatildeo implementou-se em torno de cada recinto de fossos um buffer de 5km utilizando como referencia teoacuterica de partida os criteacuteri-os claacutessicos estabelecidos por Higgs e Vitta-Finzi (1972) que definiram a partir de estudos etnograacuteficos que as sociedades agropastoris plenamente sedentarizadas natildeo exploram territoacuterios que se localizem a uma distacircncia superior a essa a partir do lugar de povoamento No entanto apreciando o atual estado do conhecimento acerca dos recintos de fossos do SW Penin-sular considerou-se pertinente estabelecer fronteiras mais latas na ordem dos 10 km (normalmente associadas agraves sociedades de caccediladores recolecto-res) natildeo tanto para perceber que aacutereas do territoacuterio foram economicamente exploradas mas sim eventuais redes de contacto entre siacutetios partindo do princiacutepio de que em determinado momento estes poderatildeo ter sido sincroacuteni-cos Esta opccedilatildeo justifica-se pelos recentes dados empiacutericos referentes ao periacuteodo imediatamente antecedente - o Neoliacutetico Meacutedio - que revelaram uma grande mobilidade das populacotildees conquanto para o Neoliacutetico Final e Calcoliacutetico da regiatildeo de Torres Vedras (portanto mais proacuteximas cronologica-mente das aqui estudadas) se possa concluir por uma notaacutevel reducatildeo da mobilidade humana a julgar pelos dados publicados por Watermann et alii

398 | 5 ldquoPastos Naturais satildeo comunidades vegetais compostas de espeacutecies herbaacuteceas ou lenhosas (ou ambas)1113088 que produzempastagem principalmente utilizada como alimento pelos animais domeacutesticos Podem ser cultivados conhecidos como pastos agriacutecolas ou podem natildeo ser cultivados conhecidos como pastos permanentes ou pastagens naturaisrdquo (Papanastasis V P (sd)

(2013) Ao mapa dos recintos de fossos devidamente delimitados pelos buffers de 5 e 10km acrescentou-se os dados geograacuteficos referentes agraves antas inventa- riadas num raio de 20 km em torno dos siacutetios em anaacutelise de modo a obter uma imagem espacial de ambas as realidades De referir que este mapa natildeo considera1) a vertente temporal das antas e dos recintos ou seja assume-se na sua execuccedilatildeo a sincronia entre todos os monumentos megaliacuteticos e entre estes e todos os recintos de fossos em apreccedilo o que natildeo corresponde agrave verdade histoacuterica fundamentalmente este desvio arqueograacutefico adveacutem (1) da na-tureza de muitos trabalhos sobre os monumentos megaliacuteticos correspon-dentes agrave sua identificaccedilatildeo ndash prospeccedilatildeo ndash sem escavaccedilatildeo arqueoloacutegica as- sociada que permita a aquisiccedilatildeo de uma cronologia fina para a sua utilizaccedilatildeo e por conseguinte (2) a ausecircncia de dataccedilotildees absolutas que possibilitem estabelecer eventuais relaccedilotildees de contemporaneidade entre siacutetios o que provoca uma imagem artificial distorcida e condensada2) alguns monumentos megaliacuteticos mais recentes nomeadamente os que se conhecem em torno do recinto de fossos do Porto Torratildeo ndash nucleo de tholoi da Horta do Joatildeo da Moura (Pereiro 2010 Corga amp Ferreira 2011 informaccedilatildeo pessoal de Raquel Santos ndash Neoeacutepica) Monte do Cardim 6 (Fi- gueiredo 2009) e Monte do Pombal (Dias amp Figueiredo 2009)3) as formas ldquosubterracircneasrdquo de megalitismo funeraacuterio ndash hipogeus ndash conhe-cidos quer na Sobreira de Cima (Valera 2013) quer em torno do Porto Tor-ratildeo ndash Monte do Carrascal (Santos 2010 Neves amp Mendes 2011) ndash sendo este ultimo bastante relevante para a anaacutelise da emergecircncia dos recintos de fossos do Neoliacutetico Final pelo que seraacute analisado particularmente adiante

3 RESULTADOS 31 A relaccedilatildeo entre recintos de fossosPara melhor compreensatildeo dos dados obtidos na anaacutelise espacial ldquorecintos de fossos ndash antasrdquo impora efectuar uma breve descriccedilatildeo dos resultados ob-tidos na anaacutelise da implantaccedilatildeo de cada recinto de fossos em apreccedilo (natildeo demonstrados no presente trabalho uma vez que esse natildeo eacute o objectivo que se pretende atingir)

Assim nos 11 siacutetios analisados atraveacutes dos SIG verificou-se a sistemaacutetica implantaccedilatildeo em lugares planos ou com declives suaves sendo as inclinaccedilotildees orientadas a Sul ou Sudeste congregando algumas das condiccedilotildees essen- ciais e fundamentais para a execuccedilatildeo das actividades agriacutecolas que estatildeo na base da economia das sociedades neoliacuteticas A anaacutelise das condiccedilotildees

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ambientais a 5km e 10km permitiu ainda constatar a presenccedila de territoacute- rios aptos para diferentes praacuteticas pecuaacuterias ndash pastos naturais5- passiacuteveis de constituir verdadeiras paisagens pastoris6 (Rodrigues 2015)

Mas se a anaacutelise das condiccedilotildees de implantaccedilatildeo revelam uma conjun-tura especiacutefica que conduz agrave fixaccedilatildeo das comunidades construtoras dos recintos de fossos visando uma estrateacutegia econoacutemica previamente esta-belecida tambeacutem demonstra preocupaccedilotildees de controlo de territoacuterio e de comunicaccedilatildeo intergrupal

O numero consideraacutevel de siacutetios jaacute identificados a Norte da Serra de Portel permite a ponderaccedilatildeo de um eixo de controlo territorial no sentido N S que nas regiotildees a Sul desse relevo ainda natildeo estaacute comprovado mas que eacute sugerido atraveacutes da posiccedilatildeo geograacutefica dos recintos Neste caso a existecircncia de uma organizaccedilatildeo territorial idecircntica teria uma orientaccedilatildeo no sentido W-E

Assim no designado ldquoeixo N-Srdquo reconhece-se (1) uma grande pro- ximidade fiacutesica entre siacutetios praticamente constante (2) a sobreposiccedilatildeo de aacutereas de intersecccedilatildeo (eventualmente correspondente a zonas de inte- racccedilatildeo grupal) bastante semelhantes (3) assim como a intervisibilidade entre recintos o que permite a assunccedilatildeo de uma base poliacutetica comum que se organiza de forma estrateacutegica para melhor controlar um territoacuterio que por ancestralidade eacute seu (v Fig 3)

Figura 3 6 ldquoPaisagens pastoris satildeo terras heterogeacuteneas compostas por uma variedade de comunidades de plantas em que todas ou a grande maioria satildeo frequentadas e utilizadas como pasto para o gado Por outras palavras as paisagens pastoris incluem mais do que um tipo de pastos espalhados numa aacuterea especiacutefica e utilizados por uma ou mais espeacutecies de gadordquo (Papanas-tasis V P (sd)

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32 A relaccedilatildeo entre recintos de fossos e monumentos megaliacuteti-cos funeraacuteriosDa cartografia geral produzida (Fig 4) sobressai a disparidade entre o numero de monumentos megaliacuteticos situados a Norte da Serra de Portel e a escassez registada a Sul deste maciccedilo montanhoso A explicaccedilatildeo para tal fenoacutemeno poderaacute estar relacionada com as condicionantes geoloacutegicas das regiotildees verificando-se a Norte uma zona predominante-mente graniacutetica com disponibilidade de mateacuteria-prima para a execuccedilatildeo dos monumentos e a Sul uma carecircncia destes materiais tendo as so-ciedades preacute-histoacutericas procurado soluccedilotildees alternativas tais como a es-cavaccedilatildeo de hipogeus Regista-se assim um numero muito limitado de monumentos em torno dos recintos de fossos localizados na zona Sulbull dentro dos buffers do Porto Torratildeo natildeo haacute qualquer monumento dolmeacutenico identificado estando no entanto registadas diferentes for-mas de tratamento dos mortos como se veraacute numa discussatildeo adiante ndash tholoi hipogeus enterramentos em fossos despejo de restos humanos no interior do fossos delimitadores do recintobull nas aacutereas de exploraccedilatildeo do recinto de fossos da Fareleira 3 registam-se apenas dois monumentos megaliacuteticos integrados no buffer de 10 kmbull junto ao recinto de fossos da Igreja Velha de Satildeo Jorge registam-se dois monumentos megaliacuteticos ndash Monte da Velha 1 e Monte da Velha 2 (Soares amp Arnaud 1984 Soares 2008) ndash localizados a uma distacircncia inferior a1km do siacutetio em apreccedilo Situaccedilatildeo completamente oposta eacute a que se verifica nos recintos de fos-sos a Norte da Serra de Portel onde parece haver um pleno ldquoconviacuteviordquo entre ambas as formas de apropriaccedilatildeo dos territoacuterios sem que uma ex-clua a outra Por outras palavras existe uma ldquoharmoniardquo entre ldquomundo dos vivosrdquo e ldquomundo dos mortosrdquo ldquo[] onde o rito se conforma com o haacutebitordquo (Boaventura amp Mataloto 2013 84) Assim em torno de cada recinto em anaacutelise encontram-se monumentos megaliacuteticos quer dentro do buffer de 5km quer dentro do buffer de 10km o que demonstra que independentemente de haver ou natildeo sincronia nas construccedilotildees e nas utilizaccedilotildees a presenccedila de um recinto ou a presenccedila de um monumento megaliacutetico natildeo foi impeditiva que outras construccedilotildees similares posteri-ores ou simultacircneas tivessem lugar Ou seja haacute uma sobreposiccedilatildeo no espaccedilo entre todos os elementos analisados- recintos de fossos e monu-mentos megaliacuteticos - em plena convivecircncia territorialA elaboraccedilatildeo de Cartas de Visibilidades Acumuladas para cada um dos recintos de fossos e respectivos monumentos megaliacuteticos situados num

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raio de 10 km em torno dos primeiros permitiu ainda aferir que todos os siacutetios satildeo visiacuteveis entre si sendo possiacutevel assumir que os construtores de antas satildeo os contrutores dos recintos de fossos e vice-versa (Fig 6 7 8 e 9)Esta ocupaccedilatildeo massiva do territoacuterio sem qualquer termo comparativo com os periacuteodos antecedentes torna-se assim consentacircnea natildeo soacute com a ideia de um aumento demograacutefico exponencial na regiatildeo mas tambeacutem com a efectiva sedentarizaccedilao dos grupos humanos que satildeo cada vez mais in- tervenientes e modeladores da paisagem que os rodeia territorializando-a e reclamando-a para si Este espaccedilo natildeo soacute eacute o lugar que habitam mas eacute tambeacutem o lugar onde se eterniza a sua ancestralidade

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No que respeita agraves atividades funeraacuterias que estatildeo diretamente associa-das aos recintos de fossos conhecem-se dados provenientes daqueles que satildeo os lugares com a diacronia de ocupaccedilatildeo mais ampla os Per-digotildees e o Porto Torratildeo Quer num quer noutro siacutetio satildeo conhecidas dife- rentes actividades funeraacuterias e respectivo tratamento dos mortos Mas se para o primeiro caso ndash Perdigotildees ndash tem vindo a ser colocada a questatildeo de ldquo[] os Perdigotildees [] serem essencialmente um siacutetio de gestatildeo simboacutelica e praacutetica da morte e da vida um cenaacuterio para as mais variadas praacuteticas sociais ritualizadas [] para o qual nos falta uma designaccedilatildeo concreta pe- rante a cada vez maior desadequaccedilatildeo operativa de conceitos como povoa-do necroacutepole monumento etc pelo caraacutecter compartimentador e exclusivo que encerramrdquo (Valera amp Godinho 201037) para o segundo siacutetio ndash Porto Torratildeo ndash os dados revelam a criaccedilatildeo de aacutereas de necroacutepole bem definidas fora do periacutemetro delineado pelo sistema de fossos identificado (Rodrigues 2014) Analisando ambos os casos1 Complexo Arqueoloacutegico dos PerdigotildeesNo ultimos anos tecircm sido identificadas no interior do Complexo Arqueoloacutegico dos Perdigotildees diferentes ocorrecircncias que induzem os seus investigadores

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a assumir uma diversidade de praacuteticas funeraacuterias a saber ldquo[] deposiccedilotildees primaacuterias manipulaccedilatildeo poacutes-deposiccedilatildeo primaacuteria trasladaccedilotildees e deposiccedilotildees secundaacuterias cremaccedilotildees deposiccedilotildees em fossa deposiccedilotildees em fossos de-posiccedilotildees em sepulcros de tradiccedilatildeo megaliacuteticardquo (Valera amp Godinho 201037) cuja compreensatildeo passa por ldquo[] linking them to the ideological principles that are present in (and reinforced by) the location of the site and the mea- ningful relationship it establishes with the local landscape (both terrestrial and celestial) as well as in the architectonic design of the enclosures or in the practices of filling ditches and pits with intentional and formal depositsrdquo (Valera Silva amp Maacuterquez Romero 2014) Estes dados tecircm levado os investi-gadores do siacutetio a afastar a ideia de uma compartimentaccedilatildeo espacial entre ldquomundo dos vivosrdquo e ldquomundo dos mortosrdquo e a encarar os recintos de fossos do SW Peninsular como locais que poderatildeo ter sofrido um ldquo[] fenoacutemeno de ldquonecropolizaccedilatildeordquo (Valera amp Godinho 201037) O mais recente estudo acerca da temporalidade deste siacutetio permitiu esta-belecer diferentes etapas cronoloacutegicas da sua construccedilatildeo estando incluiacutedas nesta situaccedilatildeo as distintas estruturas com contextos funeraacuterios associados Este exerciacutecio assume especial importacircncia quando se pretende verificar se os restos humanos estatildeo (1) ldquoespalhadosrdquo ou ldquoconcentradosrdquo em determi-nadas aacutereas do recinto ou (2) se acompanham a evoluccedilatildeo arquitectoacutenica do siacutetio podendo-se definir eventuais aacutereas interiores ou exteriores de uti-lizaccedilatildeo Obviamente este tipo de exerciacutecio deteacutem agrave luz dos conhecimen-tos actuais alguns obstaacuteculos significativos vinculados ao facto de ainda existirem estruturas delimitadoras a escavar e a datar Poreacutem os dados empiacutericos disponiacuteveis devem ser analisados com as devidas salvaguar-das de forma a natildeo se cair na posiccedilatildeo de impasse de nada propor e de nada interpretar Assim quando confrontada a imagem proporcionada pe-los trabalhos de prospeccedilatildeo geofiacutesica onde foram devidamente implantados os contextos funeraacuterios identificados ateacute ao momento com o esquema de fases de construccedilatildeo arquitetoacutenica atestado atraveacutes da bateria de dataccedilatildeo radiomeacutetricas verifica-se que grande parte das atividades funeraacuterias que tiveram lugar neste recinto encontravam-se fora da aacuterea delimitada pelos fossos agrave eacutepoca em que foram realizadas Ou seja aparentemente as de-posiccedilotildees em fossa do Neoliacutetico Final encontram-se afastadas daquele que eacute o nucleo central do recinto correspondente agrave aacuterea ativa nesta eacutepoca natildeo havendo assim uma relaccedilatildeo direta entre o que se passava no seu interior e as atividades funeraacuterias que tiveram lugar no seu exterior Ou seja ava- liando os dados empiacutericos permitidos pela leitura arquitetoacutenica elaborada pelos investigadores as actividades funeraacuterias datadas do Neoliacutetico Final

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natildeo estatildeo diretamente associada agraves atividades intrassiacutetio pelo que natildeo se pode relacionar a fundaccedilatildeo desse recinto de fossos com o simbolismo as-sociado agraves praacuteticas funeraacuterias Refira-se tambeacutem que se no caso das estru-turas megaliacuteticas de tipo tholoi existe uma relaccedilatildeo (1) com as orientaccedilotildees da entradas conhecidas (2) com a dicotoacutemica relaccedilatildeo Este Oeste (3) assim como com a presenccedila do cromeleque a Este jaacute para os enterramentos em fossa do Neoliacutetico Final esse simbolismo natildeo pode ser aplicado de modo categoacuterico Efetivamente estes contextos localizam-se a Noroeste num local afastado dos sepulcros de tipo tholoi Ou seja as associaccedilotildees que tecircm vindo a ser reclamadas perdem assim o sentido deixando cair os significados que se pretendem vislumbrar 2 Porto TorratildeoTambeacutem neste siacutetio foram reconhecidas diferentes atividades funeraacuterias que agrave exceccedilatildeo dos contextos de cremaccedilatildeo em tudo se assemelham ao que jaacute foi descrito para os Perdigotildees Associados agravequele que eacute o maior recinto de fossos conhecido na aacuterea em apreccedilo reconhecem-se diferentes modos de tratamento dos mortos enterramentos em fossa (Rebelo 2009 Rebuge Saacute amp Cheney 2010 Neto et alii 2013) enterramentos em monumentos funeraacuterios de tipo tholoi e hipogeus (Dias amp Figueiredo 2009 Figueiredo 2009 Pereiro 2010 Neves amp Mendes 2011 Corga amp Ferreira 2011) e de-posiccedilatildeo de restos humanos no interior de fossos (Rodrigues 2014)Atestada essa diversidade que evidenciava diferentes localizaccedilotildees espa-ciais torna-se imperativo perceber se haveria aacutereas preferenciais de de-posiccedilatildeo dos restos humanos independentemente do tipo de tratamento que haviam sofrido (deposiccedilatildeo primaacuteria secundaacuteria com sem ritual) O tratamento estatiacutestico do numero miacutenimo de indiviacuteduos presentes em cada um dos contextos permitiu a perceccedilatildeo de que ldquodespite the fact that human remains apear throughout the entire archaeological complex there is a clear prevalence of this type of context outside the enclosed area And that is com-patible with the notion of a relatively well bounded necropolis Not in a par-ticular place (there are funerary monuments on the East and South sides of the enclosed area) but markedly out the enclosed areardquo (Rodrigues 2014) A descriccedilatildeo acima exposta reflete o cocircmputo dos contextos funeraacuterios iden-tificados neste siacutetio independentemente da sua cronologia No entanto se estes dados forem restringidos apenas agrave cronologia em apreccedilo a situaccedilatildeo natildeo difere Dos diferentes siacutetios onde foram identificados enterramentos e restos humanos o conjunto de hipogeus do Monte do Carrascal eacute aquele que apresenta uma cronologia enquadrada na etapa final do Neoliacutetico

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(Neves amp Mendes 2011) sendo igualmente o local de enterramento com o numero miacutenimo de indiviacuteduoas mais elevado o que mais uma vez re- vela que eacute fora das aacutereas definidas pelos recintos que se processa grande parte das actividades funeraacuterias destas comunidades Haacute no entanto uma excepccedilatildeo correspondente a um enterramento em fossa identificado na aacuterea intrafossos que pode ser cronologicamente enquadrado no Neoliacutetico Final (Neto et alii 2013) Apesar de natildeo se saber qual a relaccedilatildeo temporal entre os hipogeus do Monte do Carrascal e o enterramento em fossa do Porto Torratildeo eacute notoacuterio que haacute tratamento diferencial de determinados indiviacuteduos quer no que respeita ao ritual e lugar de enterramento quer no que respeita agrave sua individualidade

4 PRIMEIRAS LEITURASA recente identificaccedilatildeo de multiplas formas de sepultar tratar os mortos identificadas quer nos recintos de fossos quer nas suas aacutereas mais proacuteximas demonstram que as actividades funeraacuterias dos gru-pos do final do Neoliacutetico na regiatildeo do Alentejo natildeo satildeo exclusivas das antas mas aplica-se igualmente aos monumentos subterracirc-neos ndash os hipogeus ndash aos enterramentos em fossa agraves cremaccedilotildees e ao despejo literal de partes de restos humanos para o interior de estruturas negativas (fossos) Ainda que haja problemas associa-dos agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas que atestem quer o iniacutecio des- tas actividades quer a sua contemporaneidade estaacute corroborada a diver-sidade que eventualmente pode assumir contornos sociais conectaacuteveis com as relaccedilotildees intra e intergrupaisConsiderando os dois casos especiacuteficos acima expostos ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash estatildeo evidenciadas duas situaccedilotildees inegaacuteveisbull aumento demograacutefico demonstrado no numero significativo de contex-tos funeraacuterios que natildeo tecircm qualquer termo comparativo com as eacutepocas precedentes embora natildeo existam estudos demograacuteficos aprofundados acredita-se que esta circunstacircncia soacute eacute possiacutevel porque haacute definitivamente mais gente sedentarizada neste territoacuterio a partir do Neoliacutetico Finalbull diversidade no tratamento dos mortos natildeo obstante a coesatildeo cultural verificada no ldquomundo dos vivosrdquo verificado nas arquiteturas (ldquopovoadosrdquo monumentos megaliacuteticos recintos de fossos) na cultura material (con-juntos ceracircmicos industria liacuteticas artefactos ideoteacutecnicos) e nas estrateacute-gias de subsistecircncia (economia mista de produccedilatildeo de alimentos e ati- vidades cinegeacuteticas eventualmente associada agrave recoleccedilatildeo de recursos silvestres)

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Quanto agraves questotildees previamente definidas1) A macro anaacutelise efectuada natildeo permite aferir aacutereas preferenciais para a construccedilatildeo das antas em torno dos recintos de fossos em estudo contudo ao avaliar-se os siacutetios sobre os quais existe mais informaccedilatildeo ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash observa-se que durante a etapa final do Neoliacutetico os grupos construtores de recintos optaram por realizar as suas actividades funeraacuterias nas imediaccedilotildees desses lugares2) Apesar dos imensos desvios arqueograacuteficos que podem existir neste exerciacutecio devido fundamentalmente agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas ve- rifica-se que a construccedilatildeo preacutevia de qualquer um dos elementos arquitecoacuteni-cos em anaacutelise natildeo inibiu a construccedilatildeo do outro as imagens produzidas parecem aliaacutes sugerir o contraacuterio se considerarmos que os recintos de fossos poderatildeo ter funcionado como polos de agregaccedilatildeo social com ocu-paccedilotildees residenciais e permanentes temos de aceitar que no seu entorno imediato desenvolveram-se actividades pertencentes ao quotidiano dessas comunidades e entre essas a gestatildeo da morte teria um tratamento especial mas natildeo distante3) Os dados dos Perdigotildees e do Porto Torratildeo parecem sugerir que haacute uma preferecircncia para o desenvolvimento das actividades funeraacuterias fora das aacutereas delimitadas pelos fossos durante o Neoliacutetico Final no entanto exis- tem excepccedilotildees que permitem assumir a existecircncia de um tratamento dis-tinto entre indiviacuteduos uns satildeo inumados em estruturas colectivas enquanto outros tecircm enterramentos individuais se esta diferenciaccedilatildeo eacute ou natildeo sin-croacutenica eacute uma questatildeo que por agora fica obrigatoriamente em aberto

AGRADECIMENTOSA autora agradece agrave equipa da Direcccedilatildeo-Geral do Patrimoacutenio Cultural que gere a base de dados Endoveacutelico pela disponibilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo geograacutefica referente agrave implantaccedilatildeo dos monumentos megaliacuteticos inventa- riados na regiatildeo estudada

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICASArnaud J M (1993) O povoado calcoliacutetico de Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) siacutentese das investigaccedilotildees realizads Vipasca 41-60Boaventura R (2011) Cronologiacutea del megalitismo en el Centro-Sur de Portugal Menga Revista de Prehistoria de Andaluciacutea 158-190Boaventura R amp Mataloto R (2013) Entre mortos e vivos noacutetulas acerca da cronologia absoluta do Megalitismo do Sul de Portugal Revista Portuguesa de Arqueologia 81-101Calado M amp Mataloto R (1998) Relatoacuterio intercalar referente aos trabalhos do Blo-co 2 do Plano de Minimizaccedilatildeo de Impactes do Regolfo do Alqueva Escavaccedilatildeo do Povo-

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ado Neoliacutetico de Juromenha 1 (Alandroal) Campanha 1 (Abril a Julho de 1998) Lisboa Fundaccedilatildeo da Unoversidade de LisboaCalado M amp Rocha A (2000) Relatoacuterio de escavaccedilatildeo do povoado da Malhada das Mimosas (Alandroal) - Campanha 2 - 2000 Lisboa Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa Centro de Arqueologia de Lisboa EDIA SACarvalho A F (Ed) (2014) Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Universidade do AlgarveCorga M amp Ferreira M T (2011) Horta do Joatildeo da Moura 1 - Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirinha e Valbom - Fase de Obra exemplar policopiado Styx estudos de antropologia EDIA SADias S amp Figueiredo M (2009) Relatoacuterio preliminar dos trabalhos arqueoloacutegicos e an-tropoloacutegicos do Monte do Pombal 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2009) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos Monte do Cardim 6 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2013 Fevereiro 5) Fareleira 3 ditched enclosure Retrieved Junho 20 2014 from Portuguese Prehistoric Enclosures wwwportugueseenclosuresblogspotptGonccedilalves V S (2000) Muitas antas pouca gente Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de ArqueologiaGonccedilalves V S (2003) Muita gente poucas antas Origens espaccedilos e contextos do Megalitismo Actas do II Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Por-tuguecircs deAHiggs E S amp Vita Finzi C (1972) Prehistoric Economies a territorial aproach In Papers in Economic Prehistory (pp 27-36) London Cambridge University PressLago M amp Albergaria J (2001) O Cabeccedilo do Torratildeo (Elvas) contextos e interpretaccedilotildees preacutevias de um lugar do Neoliacutetico alentejano Era Arqueologia 4 pp 39-62Lago M Duarte C Valera A Albergaria J Almeida F amp Carvalho A (1998) Povoado dos Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz) dados preliminares dos trabalhos arqueoloacutegi-cos realizados em 1997 Revista Portguesa de Arqueologia 45-152Leisner G amp Leisner V (1985) Antas do Concelho de Reguengos de Monsaraz Lisboa UNIARCHMataloto R amp Costeira C (2008) O povoado calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Revista Portuguesa de Arqueologia 11 5-27Mataloto R amp Costeira C (2009) O Povoado Calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Notiacutecia da sua identificaccedilatildeo IV Encontro de Arqueologia del Suroeste Peninsular (pp 107-133) HuelvaMataloto R Davis S Costeira C Clemente R amp Santos I (2011) Os povoados de fossos do Paraiacuteso uma ocipaccedilatildeo do IV III mileacutenios aC na regiatildeo de Elvas Balanccedilo das intervenccedilotildees 2009-2010 Actas do V Encontro de Arqueologia Peninsular (pp 39-72)Neto N Rocha M Santos R amp Rebelo P (2013) Povoado calcoliacutetico do Porto Torratildeo - uma inumaccedilatildeo em fossa Arqueologia em Portugal - 150 anos (pp 379-385) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesNeves M J amp Mendes C (2011) Monte do Carrascal 2 - Trabalhos arqueoloacutegicos e ntropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes decorrentes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirnha e Valbom - Fase de obra Styx EDIA SAPereiro T (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Horta do Joatildeo da Moura 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SARebelo P (2009) Relatoacuterio Final da intervenccedilatildeo arqueoloacutegica no Povoado do Porto

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Torratildeo Ferreira do Alentejo Beja Neoeacutepica EDIA SARebuge J Saacute A amp Cheney A (2010) Intervenccedilatildeo Arqueoloacutegica em Porto Torratildeo (Sector 3 Oeste) Beja Archeoestudos EDIA SARodrigues F (2008) O recinto de fossos da Ponte da Azambuja 2 (Porte Eacutevora) primeira notiacutecia Apontamentos de Arquologia e Patrimoacutenio pp 49-56Rodrigues F (2013) Iacutedolomania figuras antropomoacuterficas e ldquoiacutedolos de cornosrdquo do recinto de fossos do Neoliacutetico Final da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) Arqueologia em Portugal 150 anos (pp 435-446) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesRodrigues F (2014) Skeletons in the ditch funerary activity in ditched enclosures of Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo Beja) Recent Prehistory Enclosures and Funerary Practices in Europe (pp 59-69) Oxford ArchaeopressRodrigues F (2015) O siacutetio da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) e a emergecircncia dos recintos de fossos no SW Peninsular nos finais do 4ordm mileacutenio ane Tese de Doutoramen-to exemplar policopiadoSantos H (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Monte do Carrascal 2 Era Ar-queologia EDIA SASantos R Rebelo P Neto N Rebuge J Saacute A Cheney A et al (2014) Porto Torratildeo resultados preliminares 4ordm Coloacutequio de Arqueologia de Alqueva O plano de rega Beja EDIA SASoares A M (1994) Descoberta de um povoado do Neoliacutetico junto agrave Igreja Velha de Satildeo Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Resultados Preliminares Vipasca 3 pp 41-49Soares A M (1996) Dataccedilatildeo absoluta da estrutura neoliacutetica junto agrave Igreja Velha de S Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Vipasca 5 51-58Soares A M amp Arnaud J M (1984) Escavaccedilotildees do Sepulcro Megaliacutetico MV2 (Vila Verde de Ficalho Serpa) Arquivo de Beja II1 67-82Valera A C amp Filipe I (2004) O povoado do Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) Novos dados e novas problemaacuteticas no contexto da calcolitizaccedilatildeo do Sudoeste peninsular Era Arqueologia 7 pp 23-32Valera A C amp Godinho R (2010) Ossos humanos provenientes dos fossos 3 e 4 e gestatildeo da morte nos Perdigotildees Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 6 pp 29-40Valera A C Becker H amp Boaventura R (2013) Moreiros 2 (Arronches Portalegre) geofiacutesica e cronologia dos recintos interiores Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 9 37-46Valera A C (2014 February 2) Perdigotildees NE gate Retrieved Juin 20 2014 from Portu-guese Prehistoric Enclosures wwwportuguese enclosresblogspotptValera A C Silva A M amp Maacuterquez Romero J (2014) The temporality of Perdigotildees En-closures absolute chronology of the structures and social practices Spal 23 pp 11-26Waterman A J Peate D W Silva A M amp Thomas J T (2013) In search of homelands using strontium isotopes to identify biological markers of mobility in lata prehistoric Portu-gal Journal of Archaeological Science p no prelo

Page 3: Muitas antas e muita gente! As relações entre os recintos ...De modo a responder às questões delineadas, recorreu-se aos Sistemas de Informação Geográfica (SIG), mais concretamente

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bull ldquoterritorializacatildeo da paisagemrdquo atraveacutes da construcatildeo dos monumentos funeraacuterios megaliacuteticos normalmente conectado com um aumento demograacutefi- co e complexificacatildeo social considerando a anaacutelise das dataccedilotildees absolutas documentadas para o fenoacutemeno megaliacutetico3 (Boaventura amp Mataloto 2013)Ainda que de forma desigual neste momento estatildeo disponiacuteveis dados empiacuteri-cos provenientes de 11 recintos de fossos crono-culturalmente integrados no designado Neoliacutetico Final sendo eles bull Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) (Rodrigues 2008 2013 e 2015) bull Moreiros 2 (Monforte Portalegre) (Boaventura 2006 Valera Becker amp Boaventura 2013) bull Cabeco do Torratildeo (Elvas Portalegre) (Lago amp Albergaria 2001) bull Paraiacuteso (Elvas Portalegre) (Mataloto amp Costeira 2008 e 2009 Mataloto et alii 2011) bull Juromenha 1 (Alandroal Eacutevora) (Calado amp Mataloto 1998 Mataloto amp Boaventura 2009) bull Malhada das Mimosas (Alandroal Eacutevora) (Calado amp Rocha 2000) bull Aguas Frias (Alandroal Eacutevora) (Calado amp Rocha 2004) bull Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz Eacutevora) (Lago et alii 1998 Valera 2008 Valera 2010 Valera Silva amp Maacuterquez Romero 2014) bull Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo Beja) (Arnaud 1993 Valera amp Filipe 2004 (Santos et alli 2014) bull Fareleira 3 (Vidigueira Beja) (Figueiredo 2013) bull Igreja Velha de Satildeo Jorge (Serpa Beja) (Soares 1994 e 1996) (v Fig 1)4

3 Neste caso importa referir as dataccedilotildees aferidas para a ocupaccedilatildeo realizada anteriormente agrave construccedilatildeo do monumento 2 de Vale Rodrigo que de acordo com Boaventura e Mataloto (2013) estabelecem ldquo[] momentos de termini post quosrdquo de-marcando o iniacutecio de uma Fase 1 do ldquoprocesso de megalitizaccedilatildeordquo Ua 10830 3940 ndash 3250 cal BC e KIA 31381 3940-3700 cal BCE) (Armbruester 2006 e 2007)

Figura 1

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Destes 11 apenas cinco se encontram datados pelo radiocarbono ndash Moreiros 2 Juromenha 1 Igreja Velha de Satildeo Jorge Porto Torratildeo e Perdigotildees Se por um lado as distribuiccedilotildees de probabilidades entre as dataccedilotildees mais antigas e com maior grau de fiabilidade de cada recinto mencionado natildeo permitem admitir de imediato a sua sincronia por outro lado tambeacutem natildeo permitem rejeitaacute-la existindo uma estreita janela que possibilita o seu tratamento em simultacircneo (v Fig 2) Havendo uma evidente analogia entre o espoacutelio reco- lhido nos cinco recintos datados e os restantes seis e partindo do princiacutepio que a anaacutelise sobre estes siacutetios tem de comeccedilar por algum lado ainda que com fragilidades claramente assumidas os onze recintos foram tratados para efeitos do presente trabalho de forma sincroacutenica

Assim natildeo sendo o objectivo deste texto debater a funcionalidade dos recintos de fossos identificados na regiatildeo alentejana mas sim compreender a sua relaccedilatildeo com os monumentos megaliacuteticos reconhecidos no seu entor-no imediato pretende-se com o presente exerciacutecio responder agraves seguintes questotildees1) existem aacutereas preferenciais para a construccedilatildeo dos monumentos megaliacuteti-cos e se sim estatildeo associadas aos recintos de fossos

4 Devido agrave escassez de dados sobre esta temaacutetica especiacutefica foram considerados os recintos de fossos do Porto Torratildeo Fareleira 3 e Igreja Velha de Satildeo Jorge localizados no Baixo Alentejo e natildeo na regiatildeo centro-alentejana conforme se indica desde logo no tiacutetulo deste trabalho

Figura 2

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2) a presenccedila dos recintos de fossos inibiu a construccedilatildeo dos monumentos megaliacuteticos nas suas aacutereas directas de accedilatildeo3) como eacute que se efectua a gestatildeo da morte nos recintos de fossos do Neoliacuteti-co Final e quais as inferecircncias sociais que daiacute advecircem

Desta forma nos proacuteximos pontos seratildeo descritos (i) a metodologia uti-lizada para atingir os objectivos previamente definidos (ii) quais os resulta-dos obtidos e (iii) as primeiras leituras sociais que se podem efectuar

2 METODOLOGIA De modo a responder agraves questotildees delineadas recorreu-se aos Sistemas de Informaccedilatildeo Geograacutefica (SIG) mais concretamente ao programa ArcGis 93 para efectuar uma anaacutelise espacial da implantaccedilatildeo quer dos recintos de fos-sos enquanto unidades de estudo individuais quer dos recintos associados aos monumentos megaliacuteticos existentes no seu entorno imediatoTodos os siacutetios arqueoloacutegicos em apreccedilo foram devidamente implantados numa base cartograacutefica digital que teve por base as Cartas Militares de Por-tugal agrave escala 125 000 o que significa que o resultado obtido considera curvas de niacutevel distanciadas entre si 10m A implantaccedilatildeo dos siacutetios foi rea- lizada mediante as coordenadas disponiacuteveis quer na bibliografia quer no inventaacuterio geral de siacutetios arqueloacutegicos produzido pela Direcccedilatildeo-Geral do Pa- trimoacutenio Cultural ndashEndoveacutelicoApoacutes esta implantaccedilatildeo implementou-se em torno de cada recinto de fossos um buffer de 5km utilizando como referencia teoacuterica de partida os criteacuteri-os claacutessicos estabelecidos por Higgs e Vitta-Finzi (1972) que definiram a partir de estudos etnograacuteficos que as sociedades agropastoris plenamente sedentarizadas natildeo exploram territoacuterios que se localizem a uma distacircncia superior a essa a partir do lugar de povoamento No entanto apreciando o atual estado do conhecimento acerca dos recintos de fossos do SW Penin-sular considerou-se pertinente estabelecer fronteiras mais latas na ordem dos 10 km (normalmente associadas agraves sociedades de caccediladores recolecto-res) natildeo tanto para perceber que aacutereas do territoacuterio foram economicamente exploradas mas sim eventuais redes de contacto entre siacutetios partindo do princiacutepio de que em determinado momento estes poderatildeo ter sido sincroacuteni-cos Esta opccedilatildeo justifica-se pelos recentes dados empiacutericos referentes ao periacuteodo imediatamente antecedente - o Neoliacutetico Meacutedio - que revelaram uma grande mobilidade das populacotildees conquanto para o Neoliacutetico Final e Calcoliacutetico da regiatildeo de Torres Vedras (portanto mais proacuteximas cronologica-mente das aqui estudadas) se possa concluir por uma notaacutevel reducatildeo da mobilidade humana a julgar pelos dados publicados por Watermann et alii

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(2013) Ao mapa dos recintos de fossos devidamente delimitados pelos buffers de 5 e 10km acrescentou-se os dados geograacuteficos referentes agraves antas inventa- riadas num raio de 20 km em torno dos siacutetios em anaacutelise de modo a obter uma imagem espacial de ambas as realidades De referir que este mapa natildeo considera1) a vertente temporal das antas e dos recintos ou seja assume-se na sua execuccedilatildeo a sincronia entre todos os monumentos megaliacuteticos e entre estes e todos os recintos de fossos em apreccedilo o que natildeo corresponde agrave verdade histoacuterica fundamentalmente este desvio arqueograacutefico adveacutem (1) da na-tureza de muitos trabalhos sobre os monumentos megaliacuteticos correspon-dentes agrave sua identificaccedilatildeo ndash prospeccedilatildeo ndash sem escavaccedilatildeo arqueoloacutegica as- sociada que permita a aquisiccedilatildeo de uma cronologia fina para a sua utilizaccedilatildeo e por conseguinte (2) a ausecircncia de dataccedilotildees absolutas que possibilitem estabelecer eventuais relaccedilotildees de contemporaneidade entre siacutetios o que provoca uma imagem artificial distorcida e condensada2) alguns monumentos megaliacuteticos mais recentes nomeadamente os que se conhecem em torno do recinto de fossos do Porto Torratildeo ndash nucleo de tholoi da Horta do Joatildeo da Moura (Pereiro 2010 Corga amp Ferreira 2011 informaccedilatildeo pessoal de Raquel Santos ndash Neoeacutepica) Monte do Cardim 6 (Fi- gueiredo 2009) e Monte do Pombal (Dias amp Figueiredo 2009)3) as formas ldquosubterracircneasrdquo de megalitismo funeraacuterio ndash hipogeus ndash conhe-cidos quer na Sobreira de Cima (Valera 2013) quer em torno do Porto Tor-ratildeo ndash Monte do Carrascal (Santos 2010 Neves amp Mendes 2011) ndash sendo este ultimo bastante relevante para a anaacutelise da emergecircncia dos recintos de fossos do Neoliacutetico Final pelo que seraacute analisado particularmente adiante

3 RESULTADOS 31 A relaccedilatildeo entre recintos de fossosPara melhor compreensatildeo dos dados obtidos na anaacutelise espacial ldquorecintos de fossos ndash antasrdquo impora efectuar uma breve descriccedilatildeo dos resultados ob-tidos na anaacutelise da implantaccedilatildeo de cada recinto de fossos em apreccedilo (natildeo demonstrados no presente trabalho uma vez que esse natildeo eacute o objectivo que se pretende atingir)

Assim nos 11 siacutetios analisados atraveacutes dos SIG verificou-se a sistemaacutetica implantaccedilatildeo em lugares planos ou com declives suaves sendo as inclinaccedilotildees orientadas a Sul ou Sudeste congregando algumas das condiccedilotildees essen- ciais e fundamentais para a execuccedilatildeo das actividades agriacutecolas que estatildeo na base da economia das sociedades neoliacuteticas A anaacutelise das condiccedilotildees

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ambientais a 5km e 10km permitiu ainda constatar a presenccedila de territoacute- rios aptos para diferentes praacuteticas pecuaacuterias ndash pastos naturais5- passiacuteveis de constituir verdadeiras paisagens pastoris6 (Rodrigues 2015)

Mas se a anaacutelise das condiccedilotildees de implantaccedilatildeo revelam uma conjun-tura especiacutefica que conduz agrave fixaccedilatildeo das comunidades construtoras dos recintos de fossos visando uma estrateacutegia econoacutemica previamente esta-belecida tambeacutem demonstra preocupaccedilotildees de controlo de territoacuterio e de comunicaccedilatildeo intergrupal

O numero consideraacutevel de siacutetios jaacute identificados a Norte da Serra de Portel permite a ponderaccedilatildeo de um eixo de controlo territorial no sentido N S que nas regiotildees a Sul desse relevo ainda natildeo estaacute comprovado mas que eacute sugerido atraveacutes da posiccedilatildeo geograacutefica dos recintos Neste caso a existecircncia de uma organizaccedilatildeo territorial idecircntica teria uma orientaccedilatildeo no sentido W-E

Assim no designado ldquoeixo N-Srdquo reconhece-se (1) uma grande pro- ximidade fiacutesica entre siacutetios praticamente constante (2) a sobreposiccedilatildeo de aacutereas de intersecccedilatildeo (eventualmente correspondente a zonas de inte- racccedilatildeo grupal) bastante semelhantes (3) assim como a intervisibilidade entre recintos o que permite a assunccedilatildeo de uma base poliacutetica comum que se organiza de forma estrateacutegica para melhor controlar um territoacuterio que por ancestralidade eacute seu (v Fig 3)

Figura 3 6 ldquoPaisagens pastoris satildeo terras heterogeacuteneas compostas por uma variedade de comunidades de plantas em que todas ou a grande maioria satildeo frequentadas e utilizadas como pasto para o gado Por outras palavras as paisagens pastoris incluem mais do que um tipo de pastos espalhados numa aacuterea especiacutefica e utilizados por uma ou mais espeacutecies de gadordquo (Papanas-tasis V P (sd)

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32 A relaccedilatildeo entre recintos de fossos e monumentos megaliacuteti-cos funeraacuteriosDa cartografia geral produzida (Fig 4) sobressai a disparidade entre o numero de monumentos megaliacuteticos situados a Norte da Serra de Portel e a escassez registada a Sul deste maciccedilo montanhoso A explicaccedilatildeo para tal fenoacutemeno poderaacute estar relacionada com as condicionantes geoloacutegicas das regiotildees verificando-se a Norte uma zona predominante-mente graniacutetica com disponibilidade de mateacuteria-prima para a execuccedilatildeo dos monumentos e a Sul uma carecircncia destes materiais tendo as so-ciedades preacute-histoacutericas procurado soluccedilotildees alternativas tais como a es-cavaccedilatildeo de hipogeus Regista-se assim um numero muito limitado de monumentos em torno dos recintos de fossos localizados na zona Sulbull dentro dos buffers do Porto Torratildeo natildeo haacute qualquer monumento dolmeacutenico identificado estando no entanto registadas diferentes for-mas de tratamento dos mortos como se veraacute numa discussatildeo adiante ndash tholoi hipogeus enterramentos em fossos despejo de restos humanos no interior do fossos delimitadores do recintobull nas aacutereas de exploraccedilatildeo do recinto de fossos da Fareleira 3 registam-se apenas dois monumentos megaliacuteticos integrados no buffer de 10 kmbull junto ao recinto de fossos da Igreja Velha de Satildeo Jorge registam-se dois monumentos megaliacuteticos ndash Monte da Velha 1 e Monte da Velha 2 (Soares amp Arnaud 1984 Soares 2008) ndash localizados a uma distacircncia inferior a1km do siacutetio em apreccedilo Situaccedilatildeo completamente oposta eacute a que se verifica nos recintos de fos-sos a Norte da Serra de Portel onde parece haver um pleno ldquoconviacuteviordquo entre ambas as formas de apropriaccedilatildeo dos territoacuterios sem que uma ex-clua a outra Por outras palavras existe uma ldquoharmoniardquo entre ldquomundo dos vivosrdquo e ldquomundo dos mortosrdquo ldquo[] onde o rito se conforma com o haacutebitordquo (Boaventura amp Mataloto 2013 84) Assim em torno de cada recinto em anaacutelise encontram-se monumentos megaliacuteticos quer dentro do buffer de 5km quer dentro do buffer de 10km o que demonstra que independentemente de haver ou natildeo sincronia nas construccedilotildees e nas utilizaccedilotildees a presenccedila de um recinto ou a presenccedila de um monumento megaliacutetico natildeo foi impeditiva que outras construccedilotildees similares posteri-ores ou simultacircneas tivessem lugar Ou seja haacute uma sobreposiccedilatildeo no espaccedilo entre todos os elementos analisados- recintos de fossos e monu-mentos megaliacuteticos - em plena convivecircncia territorialA elaboraccedilatildeo de Cartas de Visibilidades Acumuladas para cada um dos recintos de fossos e respectivos monumentos megaliacuteticos situados num

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raio de 10 km em torno dos primeiros permitiu ainda aferir que todos os siacutetios satildeo visiacuteveis entre si sendo possiacutevel assumir que os construtores de antas satildeo os contrutores dos recintos de fossos e vice-versa (Fig 6 7 8 e 9)Esta ocupaccedilatildeo massiva do territoacuterio sem qualquer termo comparativo com os periacuteodos antecedentes torna-se assim consentacircnea natildeo soacute com a ideia de um aumento demograacutefico exponencial na regiatildeo mas tambeacutem com a efectiva sedentarizaccedilao dos grupos humanos que satildeo cada vez mais in- tervenientes e modeladores da paisagem que os rodeia territorializando-a e reclamando-a para si Este espaccedilo natildeo soacute eacute o lugar que habitam mas eacute tambeacutem o lugar onde se eterniza a sua ancestralidade

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No que respeita agraves atividades funeraacuterias que estatildeo diretamente associa-das aos recintos de fossos conhecem-se dados provenientes daqueles que satildeo os lugares com a diacronia de ocupaccedilatildeo mais ampla os Per-digotildees e o Porto Torratildeo Quer num quer noutro siacutetio satildeo conhecidas dife- rentes actividades funeraacuterias e respectivo tratamento dos mortos Mas se para o primeiro caso ndash Perdigotildees ndash tem vindo a ser colocada a questatildeo de ldquo[] os Perdigotildees [] serem essencialmente um siacutetio de gestatildeo simboacutelica e praacutetica da morte e da vida um cenaacuterio para as mais variadas praacuteticas sociais ritualizadas [] para o qual nos falta uma designaccedilatildeo concreta pe- rante a cada vez maior desadequaccedilatildeo operativa de conceitos como povoa-do necroacutepole monumento etc pelo caraacutecter compartimentador e exclusivo que encerramrdquo (Valera amp Godinho 201037) para o segundo siacutetio ndash Porto Torratildeo ndash os dados revelam a criaccedilatildeo de aacutereas de necroacutepole bem definidas fora do periacutemetro delineado pelo sistema de fossos identificado (Rodrigues 2014) Analisando ambos os casos1 Complexo Arqueoloacutegico dos PerdigotildeesNo ultimos anos tecircm sido identificadas no interior do Complexo Arqueoloacutegico dos Perdigotildees diferentes ocorrecircncias que induzem os seus investigadores

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a assumir uma diversidade de praacuteticas funeraacuterias a saber ldquo[] deposiccedilotildees primaacuterias manipulaccedilatildeo poacutes-deposiccedilatildeo primaacuteria trasladaccedilotildees e deposiccedilotildees secundaacuterias cremaccedilotildees deposiccedilotildees em fossa deposiccedilotildees em fossos de-posiccedilotildees em sepulcros de tradiccedilatildeo megaliacuteticardquo (Valera amp Godinho 201037) cuja compreensatildeo passa por ldquo[] linking them to the ideological principles that are present in (and reinforced by) the location of the site and the mea- ningful relationship it establishes with the local landscape (both terrestrial and celestial) as well as in the architectonic design of the enclosures or in the practices of filling ditches and pits with intentional and formal depositsrdquo (Valera Silva amp Maacuterquez Romero 2014) Estes dados tecircm levado os investi-gadores do siacutetio a afastar a ideia de uma compartimentaccedilatildeo espacial entre ldquomundo dos vivosrdquo e ldquomundo dos mortosrdquo e a encarar os recintos de fossos do SW Peninsular como locais que poderatildeo ter sofrido um ldquo[] fenoacutemeno de ldquonecropolizaccedilatildeordquo (Valera amp Godinho 201037) O mais recente estudo acerca da temporalidade deste siacutetio permitiu esta-belecer diferentes etapas cronoloacutegicas da sua construccedilatildeo estando incluiacutedas nesta situaccedilatildeo as distintas estruturas com contextos funeraacuterios associados Este exerciacutecio assume especial importacircncia quando se pretende verificar se os restos humanos estatildeo (1) ldquoespalhadosrdquo ou ldquoconcentradosrdquo em determi-nadas aacutereas do recinto ou (2) se acompanham a evoluccedilatildeo arquitectoacutenica do siacutetio podendo-se definir eventuais aacutereas interiores ou exteriores de uti-lizaccedilatildeo Obviamente este tipo de exerciacutecio deteacutem agrave luz dos conhecimen-tos actuais alguns obstaacuteculos significativos vinculados ao facto de ainda existirem estruturas delimitadoras a escavar e a datar Poreacutem os dados empiacutericos disponiacuteveis devem ser analisados com as devidas salvaguar-das de forma a natildeo se cair na posiccedilatildeo de impasse de nada propor e de nada interpretar Assim quando confrontada a imagem proporcionada pe-los trabalhos de prospeccedilatildeo geofiacutesica onde foram devidamente implantados os contextos funeraacuterios identificados ateacute ao momento com o esquema de fases de construccedilatildeo arquitetoacutenica atestado atraveacutes da bateria de dataccedilatildeo radiomeacutetricas verifica-se que grande parte das atividades funeraacuterias que tiveram lugar neste recinto encontravam-se fora da aacuterea delimitada pelos fossos agrave eacutepoca em que foram realizadas Ou seja aparentemente as de-posiccedilotildees em fossa do Neoliacutetico Final encontram-se afastadas daquele que eacute o nucleo central do recinto correspondente agrave aacuterea ativa nesta eacutepoca natildeo havendo assim uma relaccedilatildeo direta entre o que se passava no seu interior e as atividades funeraacuterias que tiveram lugar no seu exterior Ou seja ava- liando os dados empiacutericos permitidos pela leitura arquitetoacutenica elaborada pelos investigadores as actividades funeraacuterias datadas do Neoliacutetico Final

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natildeo estatildeo diretamente associada agraves atividades intrassiacutetio pelo que natildeo se pode relacionar a fundaccedilatildeo desse recinto de fossos com o simbolismo as-sociado agraves praacuteticas funeraacuterias Refira-se tambeacutem que se no caso das estru-turas megaliacuteticas de tipo tholoi existe uma relaccedilatildeo (1) com as orientaccedilotildees da entradas conhecidas (2) com a dicotoacutemica relaccedilatildeo Este Oeste (3) assim como com a presenccedila do cromeleque a Este jaacute para os enterramentos em fossa do Neoliacutetico Final esse simbolismo natildeo pode ser aplicado de modo categoacuterico Efetivamente estes contextos localizam-se a Noroeste num local afastado dos sepulcros de tipo tholoi Ou seja as associaccedilotildees que tecircm vindo a ser reclamadas perdem assim o sentido deixando cair os significados que se pretendem vislumbrar 2 Porto TorratildeoTambeacutem neste siacutetio foram reconhecidas diferentes atividades funeraacuterias que agrave exceccedilatildeo dos contextos de cremaccedilatildeo em tudo se assemelham ao que jaacute foi descrito para os Perdigotildees Associados agravequele que eacute o maior recinto de fossos conhecido na aacuterea em apreccedilo reconhecem-se diferentes modos de tratamento dos mortos enterramentos em fossa (Rebelo 2009 Rebuge Saacute amp Cheney 2010 Neto et alii 2013) enterramentos em monumentos funeraacuterios de tipo tholoi e hipogeus (Dias amp Figueiredo 2009 Figueiredo 2009 Pereiro 2010 Neves amp Mendes 2011 Corga amp Ferreira 2011) e de-posiccedilatildeo de restos humanos no interior de fossos (Rodrigues 2014)Atestada essa diversidade que evidenciava diferentes localizaccedilotildees espa-ciais torna-se imperativo perceber se haveria aacutereas preferenciais de de-posiccedilatildeo dos restos humanos independentemente do tipo de tratamento que haviam sofrido (deposiccedilatildeo primaacuteria secundaacuteria com sem ritual) O tratamento estatiacutestico do numero miacutenimo de indiviacuteduos presentes em cada um dos contextos permitiu a perceccedilatildeo de que ldquodespite the fact that human remains apear throughout the entire archaeological complex there is a clear prevalence of this type of context outside the enclosed area And that is com-patible with the notion of a relatively well bounded necropolis Not in a par-ticular place (there are funerary monuments on the East and South sides of the enclosed area) but markedly out the enclosed areardquo (Rodrigues 2014) A descriccedilatildeo acima exposta reflete o cocircmputo dos contextos funeraacuterios iden-tificados neste siacutetio independentemente da sua cronologia No entanto se estes dados forem restringidos apenas agrave cronologia em apreccedilo a situaccedilatildeo natildeo difere Dos diferentes siacutetios onde foram identificados enterramentos e restos humanos o conjunto de hipogeus do Monte do Carrascal eacute aquele que apresenta uma cronologia enquadrada na etapa final do Neoliacutetico

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(Neves amp Mendes 2011) sendo igualmente o local de enterramento com o numero miacutenimo de indiviacuteduoas mais elevado o que mais uma vez re- vela que eacute fora das aacutereas definidas pelos recintos que se processa grande parte das actividades funeraacuterias destas comunidades Haacute no entanto uma excepccedilatildeo correspondente a um enterramento em fossa identificado na aacuterea intrafossos que pode ser cronologicamente enquadrado no Neoliacutetico Final (Neto et alii 2013) Apesar de natildeo se saber qual a relaccedilatildeo temporal entre os hipogeus do Monte do Carrascal e o enterramento em fossa do Porto Torratildeo eacute notoacuterio que haacute tratamento diferencial de determinados indiviacuteduos quer no que respeita ao ritual e lugar de enterramento quer no que respeita agrave sua individualidade

4 PRIMEIRAS LEITURASA recente identificaccedilatildeo de multiplas formas de sepultar tratar os mortos identificadas quer nos recintos de fossos quer nas suas aacutereas mais proacuteximas demonstram que as actividades funeraacuterias dos gru-pos do final do Neoliacutetico na regiatildeo do Alentejo natildeo satildeo exclusivas das antas mas aplica-se igualmente aos monumentos subterracirc-neos ndash os hipogeus ndash aos enterramentos em fossa agraves cremaccedilotildees e ao despejo literal de partes de restos humanos para o interior de estruturas negativas (fossos) Ainda que haja problemas associa-dos agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas que atestem quer o iniacutecio des- tas actividades quer a sua contemporaneidade estaacute corroborada a diver-sidade que eventualmente pode assumir contornos sociais conectaacuteveis com as relaccedilotildees intra e intergrupaisConsiderando os dois casos especiacuteficos acima expostos ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash estatildeo evidenciadas duas situaccedilotildees inegaacuteveisbull aumento demograacutefico demonstrado no numero significativo de contex-tos funeraacuterios que natildeo tecircm qualquer termo comparativo com as eacutepocas precedentes embora natildeo existam estudos demograacuteficos aprofundados acredita-se que esta circunstacircncia soacute eacute possiacutevel porque haacute definitivamente mais gente sedentarizada neste territoacuterio a partir do Neoliacutetico Finalbull diversidade no tratamento dos mortos natildeo obstante a coesatildeo cultural verificada no ldquomundo dos vivosrdquo verificado nas arquiteturas (ldquopovoadosrdquo monumentos megaliacuteticos recintos de fossos) na cultura material (con-juntos ceracircmicos industria liacuteticas artefactos ideoteacutecnicos) e nas estrateacute-gias de subsistecircncia (economia mista de produccedilatildeo de alimentos e ati- vidades cinegeacuteticas eventualmente associada agrave recoleccedilatildeo de recursos silvestres)

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Quanto agraves questotildees previamente definidas1) A macro anaacutelise efectuada natildeo permite aferir aacutereas preferenciais para a construccedilatildeo das antas em torno dos recintos de fossos em estudo contudo ao avaliar-se os siacutetios sobre os quais existe mais informaccedilatildeo ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash observa-se que durante a etapa final do Neoliacutetico os grupos construtores de recintos optaram por realizar as suas actividades funeraacuterias nas imediaccedilotildees desses lugares2) Apesar dos imensos desvios arqueograacuteficos que podem existir neste exerciacutecio devido fundamentalmente agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas ve- rifica-se que a construccedilatildeo preacutevia de qualquer um dos elementos arquitecoacuteni-cos em anaacutelise natildeo inibiu a construccedilatildeo do outro as imagens produzidas parecem aliaacutes sugerir o contraacuterio se considerarmos que os recintos de fossos poderatildeo ter funcionado como polos de agregaccedilatildeo social com ocu-paccedilotildees residenciais e permanentes temos de aceitar que no seu entorno imediato desenvolveram-se actividades pertencentes ao quotidiano dessas comunidades e entre essas a gestatildeo da morte teria um tratamento especial mas natildeo distante3) Os dados dos Perdigotildees e do Porto Torratildeo parecem sugerir que haacute uma preferecircncia para o desenvolvimento das actividades funeraacuterias fora das aacutereas delimitadas pelos fossos durante o Neoliacutetico Final no entanto exis- tem excepccedilotildees que permitem assumir a existecircncia de um tratamento dis-tinto entre indiviacuteduos uns satildeo inumados em estruturas colectivas enquanto outros tecircm enterramentos individuais se esta diferenciaccedilatildeo eacute ou natildeo sin-croacutenica eacute uma questatildeo que por agora fica obrigatoriamente em aberto

AGRADECIMENTOSA autora agradece agrave equipa da Direcccedilatildeo-Geral do Patrimoacutenio Cultural que gere a base de dados Endoveacutelico pela disponibilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo geograacutefica referente agrave implantaccedilatildeo dos monumentos megaliacuteticos inventa- riados na regiatildeo estudada

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICASArnaud J M (1993) O povoado calcoliacutetico de Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) siacutentese das investigaccedilotildees realizads Vipasca 41-60Boaventura R (2011) Cronologiacutea del megalitismo en el Centro-Sur de Portugal Menga Revista de Prehistoria de Andaluciacutea 158-190Boaventura R amp Mataloto R (2013) Entre mortos e vivos noacutetulas acerca da cronologia absoluta do Megalitismo do Sul de Portugal Revista Portuguesa de Arqueologia 81-101Calado M amp Mataloto R (1998) Relatoacuterio intercalar referente aos trabalhos do Blo-co 2 do Plano de Minimizaccedilatildeo de Impactes do Regolfo do Alqueva Escavaccedilatildeo do Povo-

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ado Neoliacutetico de Juromenha 1 (Alandroal) Campanha 1 (Abril a Julho de 1998) Lisboa Fundaccedilatildeo da Unoversidade de LisboaCalado M amp Rocha A (2000) Relatoacuterio de escavaccedilatildeo do povoado da Malhada das Mimosas (Alandroal) - Campanha 2 - 2000 Lisboa Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa Centro de Arqueologia de Lisboa EDIA SACarvalho A F (Ed) (2014) Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Universidade do AlgarveCorga M amp Ferreira M T (2011) Horta do Joatildeo da Moura 1 - Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirinha e Valbom - Fase de Obra exemplar policopiado Styx estudos de antropologia EDIA SADias S amp Figueiredo M (2009) Relatoacuterio preliminar dos trabalhos arqueoloacutegicos e an-tropoloacutegicos do Monte do Pombal 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2009) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos Monte do Cardim 6 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2013 Fevereiro 5) Fareleira 3 ditched enclosure Retrieved Junho 20 2014 from Portuguese Prehistoric Enclosures wwwportugueseenclosuresblogspotptGonccedilalves V S (2000) Muitas antas pouca gente Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de ArqueologiaGonccedilalves V S (2003) Muita gente poucas antas Origens espaccedilos e contextos do Megalitismo Actas do II Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Por-tuguecircs deAHiggs E S amp Vita Finzi C (1972) Prehistoric Economies a territorial aproach In Papers in Economic Prehistory (pp 27-36) London Cambridge University PressLago M amp Albergaria J (2001) O Cabeccedilo do Torratildeo (Elvas) contextos e interpretaccedilotildees preacutevias de um lugar do Neoliacutetico alentejano Era Arqueologia 4 pp 39-62Lago M Duarte C Valera A Albergaria J Almeida F amp Carvalho A (1998) Povoado dos Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz) dados preliminares dos trabalhos arqueoloacutegi-cos realizados em 1997 Revista Portguesa de Arqueologia 45-152Leisner G amp Leisner V (1985) Antas do Concelho de Reguengos de Monsaraz Lisboa UNIARCHMataloto R amp Costeira C (2008) O povoado calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Revista Portuguesa de Arqueologia 11 5-27Mataloto R amp Costeira C (2009) O Povoado Calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Notiacutecia da sua identificaccedilatildeo IV Encontro de Arqueologia del Suroeste Peninsular (pp 107-133) HuelvaMataloto R Davis S Costeira C Clemente R amp Santos I (2011) Os povoados de fossos do Paraiacuteso uma ocipaccedilatildeo do IV III mileacutenios aC na regiatildeo de Elvas Balanccedilo das intervenccedilotildees 2009-2010 Actas do V Encontro de Arqueologia Peninsular (pp 39-72)Neto N Rocha M Santos R amp Rebelo P (2013) Povoado calcoliacutetico do Porto Torratildeo - uma inumaccedilatildeo em fossa Arqueologia em Portugal - 150 anos (pp 379-385) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesNeves M J amp Mendes C (2011) Monte do Carrascal 2 - Trabalhos arqueoloacutegicos e ntropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes decorrentes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirnha e Valbom - Fase de obra Styx EDIA SAPereiro T (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Horta do Joatildeo da Moura 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SARebelo P (2009) Relatoacuterio Final da intervenccedilatildeo arqueoloacutegica no Povoado do Porto

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Torratildeo Ferreira do Alentejo Beja Neoeacutepica EDIA SARebuge J Saacute A amp Cheney A (2010) Intervenccedilatildeo Arqueoloacutegica em Porto Torratildeo (Sector 3 Oeste) Beja Archeoestudos EDIA SARodrigues F (2008) O recinto de fossos da Ponte da Azambuja 2 (Porte Eacutevora) primeira notiacutecia Apontamentos de Arquologia e Patrimoacutenio pp 49-56Rodrigues F (2013) Iacutedolomania figuras antropomoacuterficas e ldquoiacutedolos de cornosrdquo do recinto de fossos do Neoliacutetico Final da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) Arqueologia em Portugal 150 anos (pp 435-446) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesRodrigues F (2014) Skeletons in the ditch funerary activity in ditched enclosures of Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo Beja) Recent Prehistory Enclosures and Funerary Practices in Europe (pp 59-69) Oxford ArchaeopressRodrigues F (2015) O siacutetio da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) e a emergecircncia dos recintos de fossos no SW Peninsular nos finais do 4ordm mileacutenio ane Tese de Doutoramen-to exemplar policopiadoSantos H (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Monte do Carrascal 2 Era Ar-queologia EDIA SASantos R Rebelo P Neto N Rebuge J Saacute A Cheney A et al (2014) Porto Torratildeo resultados preliminares 4ordm Coloacutequio de Arqueologia de Alqueva O plano de rega Beja EDIA SASoares A M (1994) Descoberta de um povoado do Neoliacutetico junto agrave Igreja Velha de Satildeo Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Resultados Preliminares Vipasca 3 pp 41-49Soares A M (1996) Dataccedilatildeo absoluta da estrutura neoliacutetica junto agrave Igreja Velha de S Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Vipasca 5 51-58Soares A M amp Arnaud J M (1984) Escavaccedilotildees do Sepulcro Megaliacutetico MV2 (Vila Verde de Ficalho Serpa) Arquivo de Beja II1 67-82Valera A C amp Filipe I (2004) O povoado do Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) Novos dados e novas problemaacuteticas no contexto da calcolitizaccedilatildeo do Sudoeste peninsular Era Arqueologia 7 pp 23-32Valera A C amp Godinho R (2010) Ossos humanos provenientes dos fossos 3 e 4 e gestatildeo da morte nos Perdigotildees Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 6 pp 29-40Valera A C Becker H amp Boaventura R (2013) Moreiros 2 (Arronches Portalegre) geofiacutesica e cronologia dos recintos interiores Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 9 37-46Valera A C (2014 February 2) Perdigotildees NE gate Retrieved Juin 20 2014 from Portu-guese Prehistoric Enclosures wwwportuguese enclosresblogspotptValera A C Silva A M amp Maacuterquez Romero J (2014) The temporality of Perdigotildees En-closures absolute chronology of the structures and social practices Spal 23 pp 11-26Waterman A J Peate D W Silva A M amp Thomas J T (2013) In search of homelands using strontium isotopes to identify biological markers of mobility in lata prehistoric Portu-gal Journal of Archaeological Science p no prelo

Page 4: Muitas antas e muita gente! As relações entre os recintos ...De modo a responder às questões delineadas, recorreu-se aos Sistemas de Informação Geográfica (SIG), mais concretamente

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Destes 11 apenas cinco se encontram datados pelo radiocarbono ndash Moreiros 2 Juromenha 1 Igreja Velha de Satildeo Jorge Porto Torratildeo e Perdigotildees Se por um lado as distribuiccedilotildees de probabilidades entre as dataccedilotildees mais antigas e com maior grau de fiabilidade de cada recinto mencionado natildeo permitem admitir de imediato a sua sincronia por outro lado tambeacutem natildeo permitem rejeitaacute-la existindo uma estreita janela que possibilita o seu tratamento em simultacircneo (v Fig 2) Havendo uma evidente analogia entre o espoacutelio reco- lhido nos cinco recintos datados e os restantes seis e partindo do princiacutepio que a anaacutelise sobre estes siacutetios tem de comeccedilar por algum lado ainda que com fragilidades claramente assumidas os onze recintos foram tratados para efeitos do presente trabalho de forma sincroacutenica

Assim natildeo sendo o objectivo deste texto debater a funcionalidade dos recintos de fossos identificados na regiatildeo alentejana mas sim compreender a sua relaccedilatildeo com os monumentos megaliacuteticos reconhecidos no seu entor-no imediato pretende-se com o presente exerciacutecio responder agraves seguintes questotildees1) existem aacutereas preferenciais para a construccedilatildeo dos monumentos megaliacuteti-cos e se sim estatildeo associadas aos recintos de fossos

4 Devido agrave escassez de dados sobre esta temaacutetica especiacutefica foram considerados os recintos de fossos do Porto Torratildeo Fareleira 3 e Igreja Velha de Satildeo Jorge localizados no Baixo Alentejo e natildeo na regiatildeo centro-alentejana conforme se indica desde logo no tiacutetulo deste trabalho

Figura 2

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2) a presenccedila dos recintos de fossos inibiu a construccedilatildeo dos monumentos megaliacuteticos nas suas aacutereas directas de accedilatildeo3) como eacute que se efectua a gestatildeo da morte nos recintos de fossos do Neoliacuteti-co Final e quais as inferecircncias sociais que daiacute advecircem

Desta forma nos proacuteximos pontos seratildeo descritos (i) a metodologia uti-lizada para atingir os objectivos previamente definidos (ii) quais os resulta-dos obtidos e (iii) as primeiras leituras sociais que se podem efectuar

2 METODOLOGIA De modo a responder agraves questotildees delineadas recorreu-se aos Sistemas de Informaccedilatildeo Geograacutefica (SIG) mais concretamente ao programa ArcGis 93 para efectuar uma anaacutelise espacial da implantaccedilatildeo quer dos recintos de fos-sos enquanto unidades de estudo individuais quer dos recintos associados aos monumentos megaliacuteticos existentes no seu entorno imediatoTodos os siacutetios arqueoloacutegicos em apreccedilo foram devidamente implantados numa base cartograacutefica digital que teve por base as Cartas Militares de Por-tugal agrave escala 125 000 o que significa que o resultado obtido considera curvas de niacutevel distanciadas entre si 10m A implantaccedilatildeo dos siacutetios foi rea- lizada mediante as coordenadas disponiacuteveis quer na bibliografia quer no inventaacuterio geral de siacutetios arqueloacutegicos produzido pela Direcccedilatildeo-Geral do Pa- trimoacutenio Cultural ndashEndoveacutelicoApoacutes esta implantaccedilatildeo implementou-se em torno de cada recinto de fossos um buffer de 5km utilizando como referencia teoacuterica de partida os criteacuteri-os claacutessicos estabelecidos por Higgs e Vitta-Finzi (1972) que definiram a partir de estudos etnograacuteficos que as sociedades agropastoris plenamente sedentarizadas natildeo exploram territoacuterios que se localizem a uma distacircncia superior a essa a partir do lugar de povoamento No entanto apreciando o atual estado do conhecimento acerca dos recintos de fossos do SW Penin-sular considerou-se pertinente estabelecer fronteiras mais latas na ordem dos 10 km (normalmente associadas agraves sociedades de caccediladores recolecto-res) natildeo tanto para perceber que aacutereas do territoacuterio foram economicamente exploradas mas sim eventuais redes de contacto entre siacutetios partindo do princiacutepio de que em determinado momento estes poderatildeo ter sido sincroacuteni-cos Esta opccedilatildeo justifica-se pelos recentes dados empiacutericos referentes ao periacuteodo imediatamente antecedente - o Neoliacutetico Meacutedio - que revelaram uma grande mobilidade das populacotildees conquanto para o Neoliacutetico Final e Calcoliacutetico da regiatildeo de Torres Vedras (portanto mais proacuteximas cronologica-mente das aqui estudadas) se possa concluir por uma notaacutevel reducatildeo da mobilidade humana a julgar pelos dados publicados por Watermann et alii

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(2013) Ao mapa dos recintos de fossos devidamente delimitados pelos buffers de 5 e 10km acrescentou-se os dados geograacuteficos referentes agraves antas inventa- riadas num raio de 20 km em torno dos siacutetios em anaacutelise de modo a obter uma imagem espacial de ambas as realidades De referir que este mapa natildeo considera1) a vertente temporal das antas e dos recintos ou seja assume-se na sua execuccedilatildeo a sincronia entre todos os monumentos megaliacuteticos e entre estes e todos os recintos de fossos em apreccedilo o que natildeo corresponde agrave verdade histoacuterica fundamentalmente este desvio arqueograacutefico adveacutem (1) da na-tureza de muitos trabalhos sobre os monumentos megaliacuteticos correspon-dentes agrave sua identificaccedilatildeo ndash prospeccedilatildeo ndash sem escavaccedilatildeo arqueoloacutegica as- sociada que permita a aquisiccedilatildeo de uma cronologia fina para a sua utilizaccedilatildeo e por conseguinte (2) a ausecircncia de dataccedilotildees absolutas que possibilitem estabelecer eventuais relaccedilotildees de contemporaneidade entre siacutetios o que provoca uma imagem artificial distorcida e condensada2) alguns monumentos megaliacuteticos mais recentes nomeadamente os que se conhecem em torno do recinto de fossos do Porto Torratildeo ndash nucleo de tholoi da Horta do Joatildeo da Moura (Pereiro 2010 Corga amp Ferreira 2011 informaccedilatildeo pessoal de Raquel Santos ndash Neoeacutepica) Monte do Cardim 6 (Fi- gueiredo 2009) e Monte do Pombal (Dias amp Figueiredo 2009)3) as formas ldquosubterracircneasrdquo de megalitismo funeraacuterio ndash hipogeus ndash conhe-cidos quer na Sobreira de Cima (Valera 2013) quer em torno do Porto Tor-ratildeo ndash Monte do Carrascal (Santos 2010 Neves amp Mendes 2011) ndash sendo este ultimo bastante relevante para a anaacutelise da emergecircncia dos recintos de fossos do Neoliacutetico Final pelo que seraacute analisado particularmente adiante

3 RESULTADOS 31 A relaccedilatildeo entre recintos de fossosPara melhor compreensatildeo dos dados obtidos na anaacutelise espacial ldquorecintos de fossos ndash antasrdquo impora efectuar uma breve descriccedilatildeo dos resultados ob-tidos na anaacutelise da implantaccedilatildeo de cada recinto de fossos em apreccedilo (natildeo demonstrados no presente trabalho uma vez que esse natildeo eacute o objectivo que se pretende atingir)

Assim nos 11 siacutetios analisados atraveacutes dos SIG verificou-se a sistemaacutetica implantaccedilatildeo em lugares planos ou com declives suaves sendo as inclinaccedilotildees orientadas a Sul ou Sudeste congregando algumas das condiccedilotildees essen- ciais e fundamentais para a execuccedilatildeo das actividades agriacutecolas que estatildeo na base da economia das sociedades neoliacuteticas A anaacutelise das condiccedilotildees

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ambientais a 5km e 10km permitiu ainda constatar a presenccedila de territoacute- rios aptos para diferentes praacuteticas pecuaacuterias ndash pastos naturais5- passiacuteveis de constituir verdadeiras paisagens pastoris6 (Rodrigues 2015)

Mas se a anaacutelise das condiccedilotildees de implantaccedilatildeo revelam uma conjun-tura especiacutefica que conduz agrave fixaccedilatildeo das comunidades construtoras dos recintos de fossos visando uma estrateacutegia econoacutemica previamente esta-belecida tambeacutem demonstra preocupaccedilotildees de controlo de territoacuterio e de comunicaccedilatildeo intergrupal

O numero consideraacutevel de siacutetios jaacute identificados a Norte da Serra de Portel permite a ponderaccedilatildeo de um eixo de controlo territorial no sentido N S que nas regiotildees a Sul desse relevo ainda natildeo estaacute comprovado mas que eacute sugerido atraveacutes da posiccedilatildeo geograacutefica dos recintos Neste caso a existecircncia de uma organizaccedilatildeo territorial idecircntica teria uma orientaccedilatildeo no sentido W-E

Assim no designado ldquoeixo N-Srdquo reconhece-se (1) uma grande pro- ximidade fiacutesica entre siacutetios praticamente constante (2) a sobreposiccedilatildeo de aacutereas de intersecccedilatildeo (eventualmente correspondente a zonas de inte- racccedilatildeo grupal) bastante semelhantes (3) assim como a intervisibilidade entre recintos o que permite a assunccedilatildeo de uma base poliacutetica comum que se organiza de forma estrateacutegica para melhor controlar um territoacuterio que por ancestralidade eacute seu (v Fig 3)

Figura 3 6 ldquoPaisagens pastoris satildeo terras heterogeacuteneas compostas por uma variedade de comunidades de plantas em que todas ou a grande maioria satildeo frequentadas e utilizadas como pasto para o gado Por outras palavras as paisagens pastoris incluem mais do que um tipo de pastos espalhados numa aacuterea especiacutefica e utilizados por uma ou mais espeacutecies de gadordquo (Papanas-tasis V P (sd)

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32 A relaccedilatildeo entre recintos de fossos e monumentos megaliacuteti-cos funeraacuteriosDa cartografia geral produzida (Fig 4) sobressai a disparidade entre o numero de monumentos megaliacuteticos situados a Norte da Serra de Portel e a escassez registada a Sul deste maciccedilo montanhoso A explicaccedilatildeo para tal fenoacutemeno poderaacute estar relacionada com as condicionantes geoloacutegicas das regiotildees verificando-se a Norte uma zona predominante-mente graniacutetica com disponibilidade de mateacuteria-prima para a execuccedilatildeo dos monumentos e a Sul uma carecircncia destes materiais tendo as so-ciedades preacute-histoacutericas procurado soluccedilotildees alternativas tais como a es-cavaccedilatildeo de hipogeus Regista-se assim um numero muito limitado de monumentos em torno dos recintos de fossos localizados na zona Sulbull dentro dos buffers do Porto Torratildeo natildeo haacute qualquer monumento dolmeacutenico identificado estando no entanto registadas diferentes for-mas de tratamento dos mortos como se veraacute numa discussatildeo adiante ndash tholoi hipogeus enterramentos em fossos despejo de restos humanos no interior do fossos delimitadores do recintobull nas aacutereas de exploraccedilatildeo do recinto de fossos da Fareleira 3 registam-se apenas dois monumentos megaliacuteticos integrados no buffer de 10 kmbull junto ao recinto de fossos da Igreja Velha de Satildeo Jorge registam-se dois monumentos megaliacuteticos ndash Monte da Velha 1 e Monte da Velha 2 (Soares amp Arnaud 1984 Soares 2008) ndash localizados a uma distacircncia inferior a1km do siacutetio em apreccedilo Situaccedilatildeo completamente oposta eacute a que se verifica nos recintos de fos-sos a Norte da Serra de Portel onde parece haver um pleno ldquoconviacuteviordquo entre ambas as formas de apropriaccedilatildeo dos territoacuterios sem que uma ex-clua a outra Por outras palavras existe uma ldquoharmoniardquo entre ldquomundo dos vivosrdquo e ldquomundo dos mortosrdquo ldquo[] onde o rito se conforma com o haacutebitordquo (Boaventura amp Mataloto 2013 84) Assim em torno de cada recinto em anaacutelise encontram-se monumentos megaliacuteticos quer dentro do buffer de 5km quer dentro do buffer de 10km o que demonstra que independentemente de haver ou natildeo sincronia nas construccedilotildees e nas utilizaccedilotildees a presenccedila de um recinto ou a presenccedila de um monumento megaliacutetico natildeo foi impeditiva que outras construccedilotildees similares posteri-ores ou simultacircneas tivessem lugar Ou seja haacute uma sobreposiccedilatildeo no espaccedilo entre todos os elementos analisados- recintos de fossos e monu-mentos megaliacuteticos - em plena convivecircncia territorialA elaboraccedilatildeo de Cartas de Visibilidades Acumuladas para cada um dos recintos de fossos e respectivos monumentos megaliacuteticos situados num

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raio de 10 km em torno dos primeiros permitiu ainda aferir que todos os siacutetios satildeo visiacuteveis entre si sendo possiacutevel assumir que os construtores de antas satildeo os contrutores dos recintos de fossos e vice-versa (Fig 6 7 8 e 9)Esta ocupaccedilatildeo massiva do territoacuterio sem qualquer termo comparativo com os periacuteodos antecedentes torna-se assim consentacircnea natildeo soacute com a ideia de um aumento demograacutefico exponencial na regiatildeo mas tambeacutem com a efectiva sedentarizaccedilao dos grupos humanos que satildeo cada vez mais in- tervenientes e modeladores da paisagem que os rodeia territorializando-a e reclamando-a para si Este espaccedilo natildeo soacute eacute o lugar que habitam mas eacute tambeacutem o lugar onde se eterniza a sua ancestralidade

Figura 4

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Figura 6

Figura 5

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Figura 7

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No que respeita agraves atividades funeraacuterias que estatildeo diretamente associa-das aos recintos de fossos conhecem-se dados provenientes daqueles que satildeo os lugares com a diacronia de ocupaccedilatildeo mais ampla os Per-digotildees e o Porto Torratildeo Quer num quer noutro siacutetio satildeo conhecidas dife- rentes actividades funeraacuterias e respectivo tratamento dos mortos Mas se para o primeiro caso ndash Perdigotildees ndash tem vindo a ser colocada a questatildeo de ldquo[] os Perdigotildees [] serem essencialmente um siacutetio de gestatildeo simboacutelica e praacutetica da morte e da vida um cenaacuterio para as mais variadas praacuteticas sociais ritualizadas [] para o qual nos falta uma designaccedilatildeo concreta pe- rante a cada vez maior desadequaccedilatildeo operativa de conceitos como povoa-do necroacutepole monumento etc pelo caraacutecter compartimentador e exclusivo que encerramrdquo (Valera amp Godinho 201037) para o segundo siacutetio ndash Porto Torratildeo ndash os dados revelam a criaccedilatildeo de aacutereas de necroacutepole bem definidas fora do periacutemetro delineado pelo sistema de fossos identificado (Rodrigues 2014) Analisando ambos os casos1 Complexo Arqueoloacutegico dos PerdigotildeesNo ultimos anos tecircm sido identificadas no interior do Complexo Arqueoloacutegico dos Perdigotildees diferentes ocorrecircncias que induzem os seus investigadores

Figura 9

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a assumir uma diversidade de praacuteticas funeraacuterias a saber ldquo[] deposiccedilotildees primaacuterias manipulaccedilatildeo poacutes-deposiccedilatildeo primaacuteria trasladaccedilotildees e deposiccedilotildees secundaacuterias cremaccedilotildees deposiccedilotildees em fossa deposiccedilotildees em fossos de-posiccedilotildees em sepulcros de tradiccedilatildeo megaliacuteticardquo (Valera amp Godinho 201037) cuja compreensatildeo passa por ldquo[] linking them to the ideological principles that are present in (and reinforced by) the location of the site and the mea- ningful relationship it establishes with the local landscape (both terrestrial and celestial) as well as in the architectonic design of the enclosures or in the practices of filling ditches and pits with intentional and formal depositsrdquo (Valera Silva amp Maacuterquez Romero 2014) Estes dados tecircm levado os investi-gadores do siacutetio a afastar a ideia de uma compartimentaccedilatildeo espacial entre ldquomundo dos vivosrdquo e ldquomundo dos mortosrdquo e a encarar os recintos de fossos do SW Peninsular como locais que poderatildeo ter sofrido um ldquo[] fenoacutemeno de ldquonecropolizaccedilatildeordquo (Valera amp Godinho 201037) O mais recente estudo acerca da temporalidade deste siacutetio permitiu esta-belecer diferentes etapas cronoloacutegicas da sua construccedilatildeo estando incluiacutedas nesta situaccedilatildeo as distintas estruturas com contextos funeraacuterios associados Este exerciacutecio assume especial importacircncia quando se pretende verificar se os restos humanos estatildeo (1) ldquoespalhadosrdquo ou ldquoconcentradosrdquo em determi-nadas aacutereas do recinto ou (2) se acompanham a evoluccedilatildeo arquitectoacutenica do siacutetio podendo-se definir eventuais aacutereas interiores ou exteriores de uti-lizaccedilatildeo Obviamente este tipo de exerciacutecio deteacutem agrave luz dos conhecimen-tos actuais alguns obstaacuteculos significativos vinculados ao facto de ainda existirem estruturas delimitadoras a escavar e a datar Poreacutem os dados empiacutericos disponiacuteveis devem ser analisados com as devidas salvaguar-das de forma a natildeo se cair na posiccedilatildeo de impasse de nada propor e de nada interpretar Assim quando confrontada a imagem proporcionada pe-los trabalhos de prospeccedilatildeo geofiacutesica onde foram devidamente implantados os contextos funeraacuterios identificados ateacute ao momento com o esquema de fases de construccedilatildeo arquitetoacutenica atestado atraveacutes da bateria de dataccedilatildeo radiomeacutetricas verifica-se que grande parte das atividades funeraacuterias que tiveram lugar neste recinto encontravam-se fora da aacuterea delimitada pelos fossos agrave eacutepoca em que foram realizadas Ou seja aparentemente as de-posiccedilotildees em fossa do Neoliacutetico Final encontram-se afastadas daquele que eacute o nucleo central do recinto correspondente agrave aacuterea ativa nesta eacutepoca natildeo havendo assim uma relaccedilatildeo direta entre o que se passava no seu interior e as atividades funeraacuterias que tiveram lugar no seu exterior Ou seja ava- liando os dados empiacutericos permitidos pela leitura arquitetoacutenica elaborada pelos investigadores as actividades funeraacuterias datadas do Neoliacutetico Final

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natildeo estatildeo diretamente associada agraves atividades intrassiacutetio pelo que natildeo se pode relacionar a fundaccedilatildeo desse recinto de fossos com o simbolismo as-sociado agraves praacuteticas funeraacuterias Refira-se tambeacutem que se no caso das estru-turas megaliacuteticas de tipo tholoi existe uma relaccedilatildeo (1) com as orientaccedilotildees da entradas conhecidas (2) com a dicotoacutemica relaccedilatildeo Este Oeste (3) assim como com a presenccedila do cromeleque a Este jaacute para os enterramentos em fossa do Neoliacutetico Final esse simbolismo natildeo pode ser aplicado de modo categoacuterico Efetivamente estes contextos localizam-se a Noroeste num local afastado dos sepulcros de tipo tholoi Ou seja as associaccedilotildees que tecircm vindo a ser reclamadas perdem assim o sentido deixando cair os significados que se pretendem vislumbrar 2 Porto TorratildeoTambeacutem neste siacutetio foram reconhecidas diferentes atividades funeraacuterias que agrave exceccedilatildeo dos contextos de cremaccedilatildeo em tudo se assemelham ao que jaacute foi descrito para os Perdigotildees Associados agravequele que eacute o maior recinto de fossos conhecido na aacuterea em apreccedilo reconhecem-se diferentes modos de tratamento dos mortos enterramentos em fossa (Rebelo 2009 Rebuge Saacute amp Cheney 2010 Neto et alii 2013) enterramentos em monumentos funeraacuterios de tipo tholoi e hipogeus (Dias amp Figueiredo 2009 Figueiredo 2009 Pereiro 2010 Neves amp Mendes 2011 Corga amp Ferreira 2011) e de-posiccedilatildeo de restos humanos no interior de fossos (Rodrigues 2014)Atestada essa diversidade que evidenciava diferentes localizaccedilotildees espa-ciais torna-se imperativo perceber se haveria aacutereas preferenciais de de-posiccedilatildeo dos restos humanos independentemente do tipo de tratamento que haviam sofrido (deposiccedilatildeo primaacuteria secundaacuteria com sem ritual) O tratamento estatiacutestico do numero miacutenimo de indiviacuteduos presentes em cada um dos contextos permitiu a perceccedilatildeo de que ldquodespite the fact that human remains apear throughout the entire archaeological complex there is a clear prevalence of this type of context outside the enclosed area And that is com-patible with the notion of a relatively well bounded necropolis Not in a par-ticular place (there are funerary monuments on the East and South sides of the enclosed area) but markedly out the enclosed areardquo (Rodrigues 2014) A descriccedilatildeo acima exposta reflete o cocircmputo dos contextos funeraacuterios iden-tificados neste siacutetio independentemente da sua cronologia No entanto se estes dados forem restringidos apenas agrave cronologia em apreccedilo a situaccedilatildeo natildeo difere Dos diferentes siacutetios onde foram identificados enterramentos e restos humanos o conjunto de hipogeus do Monte do Carrascal eacute aquele que apresenta uma cronologia enquadrada na etapa final do Neoliacutetico

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(Neves amp Mendes 2011) sendo igualmente o local de enterramento com o numero miacutenimo de indiviacuteduoas mais elevado o que mais uma vez re- vela que eacute fora das aacutereas definidas pelos recintos que se processa grande parte das actividades funeraacuterias destas comunidades Haacute no entanto uma excepccedilatildeo correspondente a um enterramento em fossa identificado na aacuterea intrafossos que pode ser cronologicamente enquadrado no Neoliacutetico Final (Neto et alii 2013) Apesar de natildeo se saber qual a relaccedilatildeo temporal entre os hipogeus do Monte do Carrascal e o enterramento em fossa do Porto Torratildeo eacute notoacuterio que haacute tratamento diferencial de determinados indiviacuteduos quer no que respeita ao ritual e lugar de enterramento quer no que respeita agrave sua individualidade

4 PRIMEIRAS LEITURASA recente identificaccedilatildeo de multiplas formas de sepultar tratar os mortos identificadas quer nos recintos de fossos quer nas suas aacutereas mais proacuteximas demonstram que as actividades funeraacuterias dos gru-pos do final do Neoliacutetico na regiatildeo do Alentejo natildeo satildeo exclusivas das antas mas aplica-se igualmente aos monumentos subterracirc-neos ndash os hipogeus ndash aos enterramentos em fossa agraves cremaccedilotildees e ao despejo literal de partes de restos humanos para o interior de estruturas negativas (fossos) Ainda que haja problemas associa-dos agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas que atestem quer o iniacutecio des- tas actividades quer a sua contemporaneidade estaacute corroborada a diver-sidade que eventualmente pode assumir contornos sociais conectaacuteveis com as relaccedilotildees intra e intergrupaisConsiderando os dois casos especiacuteficos acima expostos ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash estatildeo evidenciadas duas situaccedilotildees inegaacuteveisbull aumento demograacutefico demonstrado no numero significativo de contex-tos funeraacuterios que natildeo tecircm qualquer termo comparativo com as eacutepocas precedentes embora natildeo existam estudos demograacuteficos aprofundados acredita-se que esta circunstacircncia soacute eacute possiacutevel porque haacute definitivamente mais gente sedentarizada neste territoacuterio a partir do Neoliacutetico Finalbull diversidade no tratamento dos mortos natildeo obstante a coesatildeo cultural verificada no ldquomundo dos vivosrdquo verificado nas arquiteturas (ldquopovoadosrdquo monumentos megaliacuteticos recintos de fossos) na cultura material (con-juntos ceracircmicos industria liacuteticas artefactos ideoteacutecnicos) e nas estrateacute-gias de subsistecircncia (economia mista de produccedilatildeo de alimentos e ati- vidades cinegeacuteticas eventualmente associada agrave recoleccedilatildeo de recursos silvestres)

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Quanto agraves questotildees previamente definidas1) A macro anaacutelise efectuada natildeo permite aferir aacutereas preferenciais para a construccedilatildeo das antas em torno dos recintos de fossos em estudo contudo ao avaliar-se os siacutetios sobre os quais existe mais informaccedilatildeo ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash observa-se que durante a etapa final do Neoliacutetico os grupos construtores de recintos optaram por realizar as suas actividades funeraacuterias nas imediaccedilotildees desses lugares2) Apesar dos imensos desvios arqueograacuteficos que podem existir neste exerciacutecio devido fundamentalmente agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas ve- rifica-se que a construccedilatildeo preacutevia de qualquer um dos elementos arquitecoacuteni-cos em anaacutelise natildeo inibiu a construccedilatildeo do outro as imagens produzidas parecem aliaacutes sugerir o contraacuterio se considerarmos que os recintos de fossos poderatildeo ter funcionado como polos de agregaccedilatildeo social com ocu-paccedilotildees residenciais e permanentes temos de aceitar que no seu entorno imediato desenvolveram-se actividades pertencentes ao quotidiano dessas comunidades e entre essas a gestatildeo da morte teria um tratamento especial mas natildeo distante3) Os dados dos Perdigotildees e do Porto Torratildeo parecem sugerir que haacute uma preferecircncia para o desenvolvimento das actividades funeraacuterias fora das aacutereas delimitadas pelos fossos durante o Neoliacutetico Final no entanto exis- tem excepccedilotildees que permitem assumir a existecircncia de um tratamento dis-tinto entre indiviacuteduos uns satildeo inumados em estruturas colectivas enquanto outros tecircm enterramentos individuais se esta diferenciaccedilatildeo eacute ou natildeo sin-croacutenica eacute uma questatildeo que por agora fica obrigatoriamente em aberto

AGRADECIMENTOSA autora agradece agrave equipa da Direcccedilatildeo-Geral do Patrimoacutenio Cultural que gere a base de dados Endoveacutelico pela disponibilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo geograacutefica referente agrave implantaccedilatildeo dos monumentos megaliacuteticos inventa- riados na regiatildeo estudada

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICASArnaud J M (1993) O povoado calcoliacutetico de Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) siacutentese das investigaccedilotildees realizads Vipasca 41-60Boaventura R (2011) Cronologiacutea del megalitismo en el Centro-Sur de Portugal Menga Revista de Prehistoria de Andaluciacutea 158-190Boaventura R amp Mataloto R (2013) Entre mortos e vivos noacutetulas acerca da cronologia absoluta do Megalitismo do Sul de Portugal Revista Portuguesa de Arqueologia 81-101Calado M amp Mataloto R (1998) Relatoacuterio intercalar referente aos trabalhos do Blo-co 2 do Plano de Minimizaccedilatildeo de Impactes do Regolfo do Alqueva Escavaccedilatildeo do Povo-

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ado Neoliacutetico de Juromenha 1 (Alandroal) Campanha 1 (Abril a Julho de 1998) Lisboa Fundaccedilatildeo da Unoversidade de LisboaCalado M amp Rocha A (2000) Relatoacuterio de escavaccedilatildeo do povoado da Malhada das Mimosas (Alandroal) - Campanha 2 - 2000 Lisboa Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa Centro de Arqueologia de Lisboa EDIA SACarvalho A F (Ed) (2014) Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Universidade do AlgarveCorga M amp Ferreira M T (2011) Horta do Joatildeo da Moura 1 - Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirinha e Valbom - Fase de Obra exemplar policopiado Styx estudos de antropologia EDIA SADias S amp Figueiredo M (2009) Relatoacuterio preliminar dos trabalhos arqueoloacutegicos e an-tropoloacutegicos do Monte do Pombal 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2009) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos Monte do Cardim 6 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2013 Fevereiro 5) Fareleira 3 ditched enclosure Retrieved Junho 20 2014 from Portuguese Prehistoric Enclosures wwwportugueseenclosuresblogspotptGonccedilalves V S (2000) Muitas antas pouca gente Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de ArqueologiaGonccedilalves V S (2003) Muita gente poucas antas Origens espaccedilos e contextos do Megalitismo Actas do II Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Por-tuguecircs deAHiggs E S amp Vita Finzi C (1972) Prehistoric Economies a territorial aproach In Papers in Economic Prehistory (pp 27-36) London Cambridge University PressLago M amp Albergaria J (2001) O Cabeccedilo do Torratildeo (Elvas) contextos e interpretaccedilotildees preacutevias de um lugar do Neoliacutetico alentejano Era Arqueologia 4 pp 39-62Lago M Duarte C Valera A Albergaria J Almeida F amp Carvalho A (1998) Povoado dos Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz) dados preliminares dos trabalhos arqueoloacutegi-cos realizados em 1997 Revista Portguesa de Arqueologia 45-152Leisner G amp Leisner V (1985) Antas do Concelho de Reguengos de Monsaraz Lisboa UNIARCHMataloto R amp Costeira C (2008) O povoado calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Revista Portuguesa de Arqueologia 11 5-27Mataloto R amp Costeira C (2009) O Povoado Calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Notiacutecia da sua identificaccedilatildeo IV Encontro de Arqueologia del Suroeste Peninsular (pp 107-133) HuelvaMataloto R Davis S Costeira C Clemente R amp Santos I (2011) Os povoados de fossos do Paraiacuteso uma ocipaccedilatildeo do IV III mileacutenios aC na regiatildeo de Elvas Balanccedilo das intervenccedilotildees 2009-2010 Actas do V Encontro de Arqueologia Peninsular (pp 39-72)Neto N Rocha M Santos R amp Rebelo P (2013) Povoado calcoliacutetico do Porto Torratildeo - uma inumaccedilatildeo em fossa Arqueologia em Portugal - 150 anos (pp 379-385) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesNeves M J amp Mendes C (2011) Monte do Carrascal 2 - Trabalhos arqueoloacutegicos e ntropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes decorrentes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirnha e Valbom - Fase de obra Styx EDIA SAPereiro T (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Horta do Joatildeo da Moura 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SARebelo P (2009) Relatoacuterio Final da intervenccedilatildeo arqueoloacutegica no Povoado do Porto

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Torratildeo Ferreira do Alentejo Beja Neoeacutepica EDIA SARebuge J Saacute A amp Cheney A (2010) Intervenccedilatildeo Arqueoloacutegica em Porto Torratildeo (Sector 3 Oeste) Beja Archeoestudos EDIA SARodrigues F (2008) O recinto de fossos da Ponte da Azambuja 2 (Porte Eacutevora) primeira notiacutecia Apontamentos de Arquologia e Patrimoacutenio pp 49-56Rodrigues F (2013) Iacutedolomania figuras antropomoacuterficas e ldquoiacutedolos de cornosrdquo do recinto de fossos do Neoliacutetico Final da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) Arqueologia em Portugal 150 anos (pp 435-446) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesRodrigues F (2014) Skeletons in the ditch funerary activity in ditched enclosures of Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo Beja) Recent Prehistory Enclosures and Funerary Practices in Europe (pp 59-69) Oxford ArchaeopressRodrigues F (2015) O siacutetio da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) e a emergecircncia dos recintos de fossos no SW Peninsular nos finais do 4ordm mileacutenio ane Tese de Doutoramen-to exemplar policopiadoSantos H (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Monte do Carrascal 2 Era Ar-queologia EDIA SASantos R Rebelo P Neto N Rebuge J Saacute A Cheney A et al (2014) Porto Torratildeo resultados preliminares 4ordm Coloacutequio de Arqueologia de Alqueva O plano de rega Beja EDIA SASoares A M (1994) Descoberta de um povoado do Neoliacutetico junto agrave Igreja Velha de Satildeo Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Resultados Preliminares Vipasca 3 pp 41-49Soares A M (1996) Dataccedilatildeo absoluta da estrutura neoliacutetica junto agrave Igreja Velha de S Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Vipasca 5 51-58Soares A M amp Arnaud J M (1984) Escavaccedilotildees do Sepulcro Megaliacutetico MV2 (Vila Verde de Ficalho Serpa) Arquivo de Beja II1 67-82Valera A C amp Filipe I (2004) O povoado do Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) Novos dados e novas problemaacuteticas no contexto da calcolitizaccedilatildeo do Sudoeste peninsular Era Arqueologia 7 pp 23-32Valera A C amp Godinho R (2010) Ossos humanos provenientes dos fossos 3 e 4 e gestatildeo da morte nos Perdigotildees Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 6 pp 29-40Valera A C Becker H amp Boaventura R (2013) Moreiros 2 (Arronches Portalegre) geofiacutesica e cronologia dos recintos interiores Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 9 37-46Valera A C (2014 February 2) Perdigotildees NE gate Retrieved Juin 20 2014 from Portu-guese Prehistoric Enclosures wwwportuguese enclosresblogspotptValera A C Silva A M amp Maacuterquez Romero J (2014) The temporality of Perdigotildees En-closures absolute chronology of the structures and social practices Spal 23 pp 11-26Waterman A J Peate D W Silva A M amp Thomas J T (2013) In search of homelands using strontium isotopes to identify biological markers of mobility in lata prehistoric Portu-gal Journal of Archaeological Science p no prelo

Page 5: Muitas antas e muita gente! As relações entre os recintos ...De modo a responder às questões delineadas, recorreu-se aos Sistemas de Informação Geográfica (SIG), mais concretamente

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2) a presenccedila dos recintos de fossos inibiu a construccedilatildeo dos monumentos megaliacuteticos nas suas aacutereas directas de accedilatildeo3) como eacute que se efectua a gestatildeo da morte nos recintos de fossos do Neoliacuteti-co Final e quais as inferecircncias sociais que daiacute advecircem

Desta forma nos proacuteximos pontos seratildeo descritos (i) a metodologia uti-lizada para atingir os objectivos previamente definidos (ii) quais os resulta-dos obtidos e (iii) as primeiras leituras sociais que se podem efectuar

2 METODOLOGIA De modo a responder agraves questotildees delineadas recorreu-se aos Sistemas de Informaccedilatildeo Geograacutefica (SIG) mais concretamente ao programa ArcGis 93 para efectuar uma anaacutelise espacial da implantaccedilatildeo quer dos recintos de fos-sos enquanto unidades de estudo individuais quer dos recintos associados aos monumentos megaliacuteticos existentes no seu entorno imediatoTodos os siacutetios arqueoloacutegicos em apreccedilo foram devidamente implantados numa base cartograacutefica digital que teve por base as Cartas Militares de Por-tugal agrave escala 125 000 o que significa que o resultado obtido considera curvas de niacutevel distanciadas entre si 10m A implantaccedilatildeo dos siacutetios foi rea- lizada mediante as coordenadas disponiacuteveis quer na bibliografia quer no inventaacuterio geral de siacutetios arqueloacutegicos produzido pela Direcccedilatildeo-Geral do Pa- trimoacutenio Cultural ndashEndoveacutelicoApoacutes esta implantaccedilatildeo implementou-se em torno de cada recinto de fossos um buffer de 5km utilizando como referencia teoacuterica de partida os criteacuteri-os claacutessicos estabelecidos por Higgs e Vitta-Finzi (1972) que definiram a partir de estudos etnograacuteficos que as sociedades agropastoris plenamente sedentarizadas natildeo exploram territoacuterios que se localizem a uma distacircncia superior a essa a partir do lugar de povoamento No entanto apreciando o atual estado do conhecimento acerca dos recintos de fossos do SW Penin-sular considerou-se pertinente estabelecer fronteiras mais latas na ordem dos 10 km (normalmente associadas agraves sociedades de caccediladores recolecto-res) natildeo tanto para perceber que aacutereas do territoacuterio foram economicamente exploradas mas sim eventuais redes de contacto entre siacutetios partindo do princiacutepio de que em determinado momento estes poderatildeo ter sido sincroacuteni-cos Esta opccedilatildeo justifica-se pelos recentes dados empiacutericos referentes ao periacuteodo imediatamente antecedente - o Neoliacutetico Meacutedio - que revelaram uma grande mobilidade das populacotildees conquanto para o Neoliacutetico Final e Calcoliacutetico da regiatildeo de Torres Vedras (portanto mais proacuteximas cronologica-mente das aqui estudadas) se possa concluir por uma notaacutevel reducatildeo da mobilidade humana a julgar pelos dados publicados por Watermann et alii

398 | 5 ldquoPastos Naturais satildeo comunidades vegetais compostas de espeacutecies herbaacuteceas ou lenhosas (ou ambas)1113088 que produzempastagem principalmente utilizada como alimento pelos animais domeacutesticos Podem ser cultivados conhecidos como pastos agriacutecolas ou podem natildeo ser cultivados conhecidos como pastos permanentes ou pastagens naturaisrdquo (Papanastasis V P (sd)

(2013) Ao mapa dos recintos de fossos devidamente delimitados pelos buffers de 5 e 10km acrescentou-se os dados geograacuteficos referentes agraves antas inventa- riadas num raio de 20 km em torno dos siacutetios em anaacutelise de modo a obter uma imagem espacial de ambas as realidades De referir que este mapa natildeo considera1) a vertente temporal das antas e dos recintos ou seja assume-se na sua execuccedilatildeo a sincronia entre todos os monumentos megaliacuteticos e entre estes e todos os recintos de fossos em apreccedilo o que natildeo corresponde agrave verdade histoacuterica fundamentalmente este desvio arqueograacutefico adveacutem (1) da na-tureza de muitos trabalhos sobre os monumentos megaliacuteticos correspon-dentes agrave sua identificaccedilatildeo ndash prospeccedilatildeo ndash sem escavaccedilatildeo arqueoloacutegica as- sociada que permita a aquisiccedilatildeo de uma cronologia fina para a sua utilizaccedilatildeo e por conseguinte (2) a ausecircncia de dataccedilotildees absolutas que possibilitem estabelecer eventuais relaccedilotildees de contemporaneidade entre siacutetios o que provoca uma imagem artificial distorcida e condensada2) alguns monumentos megaliacuteticos mais recentes nomeadamente os que se conhecem em torno do recinto de fossos do Porto Torratildeo ndash nucleo de tholoi da Horta do Joatildeo da Moura (Pereiro 2010 Corga amp Ferreira 2011 informaccedilatildeo pessoal de Raquel Santos ndash Neoeacutepica) Monte do Cardim 6 (Fi- gueiredo 2009) e Monte do Pombal (Dias amp Figueiredo 2009)3) as formas ldquosubterracircneasrdquo de megalitismo funeraacuterio ndash hipogeus ndash conhe-cidos quer na Sobreira de Cima (Valera 2013) quer em torno do Porto Tor-ratildeo ndash Monte do Carrascal (Santos 2010 Neves amp Mendes 2011) ndash sendo este ultimo bastante relevante para a anaacutelise da emergecircncia dos recintos de fossos do Neoliacutetico Final pelo que seraacute analisado particularmente adiante

3 RESULTADOS 31 A relaccedilatildeo entre recintos de fossosPara melhor compreensatildeo dos dados obtidos na anaacutelise espacial ldquorecintos de fossos ndash antasrdquo impora efectuar uma breve descriccedilatildeo dos resultados ob-tidos na anaacutelise da implantaccedilatildeo de cada recinto de fossos em apreccedilo (natildeo demonstrados no presente trabalho uma vez que esse natildeo eacute o objectivo que se pretende atingir)

Assim nos 11 siacutetios analisados atraveacutes dos SIG verificou-se a sistemaacutetica implantaccedilatildeo em lugares planos ou com declives suaves sendo as inclinaccedilotildees orientadas a Sul ou Sudeste congregando algumas das condiccedilotildees essen- ciais e fundamentais para a execuccedilatildeo das actividades agriacutecolas que estatildeo na base da economia das sociedades neoliacuteticas A anaacutelise das condiccedilotildees

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ambientais a 5km e 10km permitiu ainda constatar a presenccedila de territoacute- rios aptos para diferentes praacuteticas pecuaacuterias ndash pastos naturais5- passiacuteveis de constituir verdadeiras paisagens pastoris6 (Rodrigues 2015)

Mas se a anaacutelise das condiccedilotildees de implantaccedilatildeo revelam uma conjun-tura especiacutefica que conduz agrave fixaccedilatildeo das comunidades construtoras dos recintos de fossos visando uma estrateacutegia econoacutemica previamente esta-belecida tambeacutem demonstra preocupaccedilotildees de controlo de territoacuterio e de comunicaccedilatildeo intergrupal

O numero consideraacutevel de siacutetios jaacute identificados a Norte da Serra de Portel permite a ponderaccedilatildeo de um eixo de controlo territorial no sentido N S que nas regiotildees a Sul desse relevo ainda natildeo estaacute comprovado mas que eacute sugerido atraveacutes da posiccedilatildeo geograacutefica dos recintos Neste caso a existecircncia de uma organizaccedilatildeo territorial idecircntica teria uma orientaccedilatildeo no sentido W-E

Assim no designado ldquoeixo N-Srdquo reconhece-se (1) uma grande pro- ximidade fiacutesica entre siacutetios praticamente constante (2) a sobreposiccedilatildeo de aacutereas de intersecccedilatildeo (eventualmente correspondente a zonas de inte- racccedilatildeo grupal) bastante semelhantes (3) assim como a intervisibilidade entre recintos o que permite a assunccedilatildeo de uma base poliacutetica comum que se organiza de forma estrateacutegica para melhor controlar um territoacuterio que por ancestralidade eacute seu (v Fig 3)

Figura 3 6 ldquoPaisagens pastoris satildeo terras heterogeacuteneas compostas por uma variedade de comunidades de plantas em que todas ou a grande maioria satildeo frequentadas e utilizadas como pasto para o gado Por outras palavras as paisagens pastoris incluem mais do que um tipo de pastos espalhados numa aacuterea especiacutefica e utilizados por uma ou mais espeacutecies de gadordquo (Papanas-tasis V P (sd)

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32 A relaccedilatildeo entre recintos de fossos e monumentos megaliacuteti-cos funeraacuteriosDa cartografia geral produzida (Fig 4) sobressai a disparidade entre o numero de monumentos megaliacuteticos situados a Norte da Serra de Portel e a escassez registada a Sul deste maciccedilo montanhoso A explicaccedilatildeo para tal fenoacutemeno poderaacute estar relacionada com as condicionantes geoloacutegicas das regiotildees verificando-se a Norte uma zona predominante-mente graniacutetica com disponibilidade de mateacuteria-prima para a execuccedilatildeo dos monumentos e a Sul uma carecircncia destes materiais tendo as so-ciedades preacute-histoacutericas procurado soluccedilotildees alternativas tais como a es-cavaccedilatildeo de hipogeus Regista-se assim um numero muito limitado de monumentos em torno dos recintos de fossos localizados na zona Sulbull dentro dos buffers do Porto Torratildeo natildeo haacute qualquer monumento dolmeacutenico identificado estando no entanto registadas diferentes for-mas de tratamento dos mortos como se veraacute numa discussatildeo adiante ndash tholoi hipogeus enterramentos em fossos despejo de restos humanos no interior do fossos delimitadores do recintobull nas aacutereas de exploraccedilatildeo do recinto de fossos da Fareleira 3 registam-se apenas dois monumentos megaliacuteticos integrados no buffer de 10 kmbull junto ao recinto de fossos da Igreja Velha de Satildeo Jorge registam-se dois monumentos megaliacuteticos ndash Monte da Velha 1 e Monte da Velha 2 (Soares amp Arnaud 1984 Soares 2008) ndash localizados a uma distacircncia inferior a1km do siacutetio em apreccedilo Situaccedilatildeo completamente oposta eacute a que se verifica nos recintos de fos-sos a Norte da Serra de Portel onde parece haver um pleno ldquoconviacuteviordquo entre ambas as formas de apropriaccedilatildeo dos territoacuterios sem que uma ex-clua a outra Por outras palavras existe uma ldquoharmoniardquo entre ldquomundo dos vivosrdquo e ldquomundo dos mortosrdquo ldquo[] onde o rito se conforma com o haacutebitordquo (Boaventura amp Mataloto 2013 84) Assim em torno de cada recinto em anaacutelise encontram-se monumentos megaliacuteticos quer dentro do buffer de 5km quer dentro do buffer de 10km o que demonstra que independentemente de haver ou natildeo sincronia nas construccedilotildees e nas utilizaccedilotildees a presenccedila de um recinto ou a presenccedila de um monumento megaliacutetico natildeo foi impeditiva que outras construccedilotildees similares posteri-ores ou simultacircneas tivessem lugar Ou seja haacute uma sobreposiccedilatildeo no espaccedilo entre todos os elementos analisados- recintos de fossos e monu-mentos megaliacuteticos - em plena convivecircncia territorialA elaboraccedilatildeo de Cartas de Visibilidades Acumuladas para cada um dos recintos de fossos e respectivos monumentos megaliacuteticos situados num

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raio de 10 km em torno dos primeiros permitiu ainda aferir que todos os siacutetios satildeo visiacuteveis entre si sendo possiacutevel assumir que os construtores de antas satildeo os contrutores dos recintos de fossos e vice-versa (Fig 6 7 8 e 9)Esta ocupaccedilatildeo massiva do territoacuterio sem qualquer termo comparativo com os periacuteodos antecedentes torna-se assim consentacircnea natildeo soacute com a ideia de um aumento demograacutefico exponencial na regiatildeo mas tambeacutem com a efectiva sedentarizaccedilao dos grupos humanos que satildeo cada vez mais in- tervenientes e modeladores da paisagem que os rodeia territorializando-a e reclamando-a para si Este espaccedilo natildeo soacute eacute o lugar que habitam mas eacute tambeacutem o lugar onde se eterniza a sua ancestralidade

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No que respeita agraves atividades funeraacuterias que estatildeo diretamente associa-das aos recintos de fossos conhecem-se dados provenientes daqueles que satildeo os lugares com a diacronia de ocupaccedilatildeo mais ampla os Per-digotildees e o Porto Torratildeo Quer num quer noutro siacutetio satildeo conhecidas dife- rentes actividades funeraacuterias e respectivo tratamento dos mortos Mas se para o primeiro caso ndash Perdigotildees ndash tem vindo a ser colocada a questatildeo de ldquo[] os Perdigotildees [] serem essencialmente um siacutetio de gestatildeo simboacutelica e praacutetica da morte e da vida um cenaacuterio para as mais variadas praacuteticas sociais ritualizadas [] para o qual nos falta uma designaccedilatildeo concreta pe- rante a cada vez maior desadequaccedilatildeo operativa de conceitos como povoa-do necroacutepole monumento etc pelo caraacutecter compartimentador e exclusivo que encerramrdquo (Valera amp Godinho 201037) para o segundo siacutetio ndash Porto Torratildeo ndash os dados revelam a criaccedilatildeo de aacutereas de necroacutepole bem definidas fora do periacutemetro delineado pelo sistema de fossos identificado (Rodrigues 2014) Analisando ambos os casos1 Complexo Arqueoloacutegico dos PerdigotildeesNo ultimos anos tecircm sido identificadas no interior do Complexo Arqueoloacutegico dos Perdigotildees diferentes ocorrecircncias que induzem os seus investigadores

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a assumir uma diversidade de praacuteticas funeraacuterias a saber ldquo[] deposiccedilotildees primaacuterias manipulaccedilatildeo poacutes-deposiccedilatildeo primaacuteria trasladaccedilotildees e deposiccedilotildees secundaacuterias cremaccedilotildees deposiccedilotildees em fossa deposiccedilotildees em fossos de-posiccedilotildees em sepulcros de tradiccedilatildeo megaliacuteticardquo (Valera amp Godinho 201037) cuja compreensatildeo passa por ldquo[] linking them to the ideological principles that are present in (and reinforced by) the location of the site and the mea- ningful relationship it establishes with the local landscape (both terrestrial and celestial) as well as in the architectonic design of the enclosures or in the practices of filling ditches and pits with intentional and formal depositsrdquo (Valera Silva amp Maacuterquez Romero 2014) Estes dados tecircm levado os investi-gadores do siacutetio a afastar a ideia de uma compartimentaccedilatildeo espacial entre ldquomundo dos vivosrdquo e ldquomundo dos mortosrdquo e a encarar os recintos de fossos do SW Peninsular como locais que poderatildeo ter sofrido um ldquo[] fenoacutemeno de ldquonecropolizaccedilatildeordquo (Valera amp Godinho 201037) O mais recente estudo acerca da temporalidade deste siacutetio permitiu esta-belecer diferentes etapas cronoloacutegicas da sua construccedilatildeo estando incluiacutedas nesta situaccedilatildeo as distintas estruturas com contextos funeraacuterios associados Este exerciacutecio assume especial importacircncia quando se pretende verificar se os restos humanos estatildeo (1) ldquoespalhadosrdquo ou ldquoconcentradosrdquo em determi-nadas aacutereas do recinto ou (2) se acompanham a evoluccedilatildeo arquitectoacutenica do siacutetio podendo-se definir eventuais aacutereas interiores ou exteriores de uti-lizaccedilatildeo Obviamente este tipo de exerciacutecio deteacutem agrave luz dos conhecimen-tos actuais alguns obstaacuteculos significativos vinculados ao facto de ainda existirem estruturas delimitadoras a escavar e a datar Poreacutem os dados empiacutericos disponiacuteveis devem ser analisados com as devidas salvaguar-das de forma a natildeo se cair na posiccedilatildeo de impasse de nada propor e de nada interpretar Assim quando confrontada a imagem proporcionada pe-los trabalhos de prospeccedilatildeo geofiacutesica onde foram devidamente implantados os contextos funeraacuterios identificados ateacute ao momento com o esquema de fases de construccedilatildeo arquitetoacutenica atestado atraveacutes da bateria de dataccedilatildeo radiomeacutetricas verifica-se que grande parte das atividades funeraacuterias que tiveram lugar neste recinto encontravam-se fora da aacuterea delimitada pelos fossos agrave eacutepoca em que foram realizadas Ou seja aparentemente as de-posiccedilotildees em fossa do Neoliacutetico Final encontram-se afastadas daquele que eacute o nucleo central do recinto correspondente agrave aacuterea ativa nesta eacutepoca natildeo havendo assim uma relaccedilatildeo direta entre o que se passava no seu interior e as atividades funeraacuterias que tiveram lugar no seu exterior Ou seja ava- liando os dados empiacutericos permitidos pela leitura arquitetoacutenica elaborada pelos investigadores as actividades funeraacuterias datadas do Neoliacutetico Final

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natildeo estatildeo diretamente associada agraves atividades intrassiacutetio pelo que natildeo se pode relacionar a fundaccedilatildeo desse recinto de fossos com o simbolismo as-sociado agraves praacuteticas funeraacuterias Refira-se tambeacutem que se no caso das estru-turas megaliacuteticas de tipo tholoi existe uma relaccedilatildeo (1) com as orientaccedilotildees da entradas conhecidas (2) com a dicotoacutemica relaccedilatildeo Este Oeste (3) assim como com a presenccedila do cromeleque a Este jaacute para os enterramentos em fossa do Neoliacutetico Final esse simbolismo natildeo pode ser aplicado de modo categoacuterico Efetivamente estes contextos localizam-se a Noroeste num local afastado dos sepulcros de tipo tholoi Ou seja as associaccedilotildees que tecircm vindo a ser reclamadas perdem assim o sentido deixando cair os significados que se pretendem vislumbrar 2 Porto TorratildeoTambeacutem neste siacutetio foram reconhecidas diferentes atividades funeraacuterias que agrave exceccedilatildeo dos contextos de cremaccedilatildeo em tudo se assemelham ao que jaacute foi descrito para os Perdigotildees Associados agravequele que eacute o maior recinto de fossos conhecido na aacuterea em apreccedilo reconhecem-se diferentes modos de tratamento dos mortos enterramentos em fossa (Rebelo 2009 Rebuge Saacute amp Cheney 2010 Neto et alii 2013) enterramentos em monumentos funeraacuterios de tipo tholoi e hipogeus (Dias amp Figueiredo 2009 Figueiredo 2009 Pereiro 2010 Neves amp Mendes 2011 Corga amp Ferreira 2011) e de-posiccedilatildeo de restos humanos no interior de fossos (Rodrigues 2014)Atestada essa diversidade que evidenciava diferentes localizaccedilotildees espa-ciais torna-se imperativo perceber se haveria aacutereas preferenciais de de-posiccedilatildeo dos restos humanos independentemente do tipo de tratamento que haviam sofrido (deposiccedilatildeo primaacuteria secundaacuteria com sem ritual) O tratamento estatiacutestico do numero miacutenimo de indiviacuteduos presentes em cada um dos contextos permitiu a perceccedilatildeo de que ldquodespite the fact that human remains apear throughout the entire archaeological complex there is a clear prevalence of this type of context outside the enclosed area And that is com-patible with the notion of a relatively well bounded necropolis Not in a par-ticular place (there are funerary monuments on the East and South sides of the enclosed area) but markedly out the enclosed areardquo (Rodrigues 2014) A descriccedilatildeo acima exposta reflete o cocircmputo dos contextos funeraacuterios iden-tificados neste siacutetio independentemente da sua cronologia No entanto se estes dados forem restringidos apenas agrave cronologia em apreccedilo a situaccedilatildeo natildeo difere Dos diferentes siacutetios onde foram identificados enterramentos e restos humanos o conjunto de hipogeus do Monte do Carrascal eacute aquele que apresenta uma cronologia enquadrada na etapa final do Neoliacutetico

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(Neves amp Mendes 2011) sendo igualmente o local de enterramento com o numero miacutenimo de indiviacuteduoas mais elevado o que mais uma vez re- vela que eacute fora das aacutereas definidas pelos recintos que se processa grande parte das actividades funeraacuterias destas comunidades Haacute no entanto uma excepccedilatildeo correspondente a um enterramento em fossa identificado na aacuterea intrafossos que pode ser cronologicamente enquadrado no Neoliacutetico Final (Neto et alii 2013) Apesar de natildeo se saber qual a relaccedilatildeo temporal entre os hipogeus do Monte do Carrascal e o enterramento em fossa do Porto Torratildeo eacute notoacuterio que haacute tratamento diferencial de determinados indiviacuteduos quer no que respeita ao ritual e lugar de enterramento quer no que respeita agrave sua individualidade

4 PRIMEIRAS LEITURASA recente identificaccedilatildeo de multiplas formas de sepultar tratar os mortos identificadas quer nos recintos de fossos quer nas suas aacutereas mais proacuteximas demonstram que as actividades funeraacuterias dos gru-pos do final do Neoliacutetico na regiatildeo do Alentejo natildeo satildeo exclusivas das antas mas aplica-se igualmente aos monumentos subterracirc-neos ndash os hipogeus ndash aos enterramentos em fossa agraves cremaccedilotildees e ao despejo literal de partes de restos humanos para o interior de estruturas negativas (fossos) Ainda que haja problemas associa-dos agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas que atestem quer o iniacutecio des- tas actividades quer a sua contemporaneidade estaacute corroborada a diver-sidade que eventualmente pode assumir contornos sociais conectaacuteveis com as relaccedilotildees intra e intergrupaisConsiderando os dois casos especiacuteficos acima expostos ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash estatildeo evidenciadas duas situaccedilotildees inegaacuteveisbull aumento demograacutefico demonstrado no numero significativo de contex-tos funeraacuterios que natildeo tecircm qualquer termo comparativo com as eacutepocas precedentes embora natildeo existam estudos demograacuteficos aprofundados acredita-se que esta circunstacircncia soacute eacute possiacutevel porque haacute definitivamente mais gente sedentarizada neste territoacuterio a partir do Neoliacutetico Finalbull diversidade no tratamento dos mortos natildeo obstante a coesatildeo cultural verificada no ldquomundo dos vivosrdquo verificado nas arquiteturas (ldquopovoadosrdquo monumentos megaliacuteticos recintos de fossos) na cultura material (con-juntos ceracircmicos industria liacuteticas artefactos ideoteacutecnicos) e nas estrateacute-gias de subsistecircncia (economia mista de produccedilatildeo de alimentos e ati- vidades cinegeacuteticas eventualmente associada agrave recoleccedilatildeo de recursos silvestres)

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Quanto agraves questotildees previamente definidas1) A macro anaacutelise efectuada natildeo permite aferir aacutereas preferenciais para a construccedilatildeo das antas em torno dos recintos de fossos em estudo contudo ao avaliar-se os siacutetios sobre os quais existe mais informaccedilatildeo ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash observa-se que durante a etapa final do Neoliacutetico os grupos construtores de recintos optaram por realizar as suas actividades funeraacuterias nas imediaccedilotildees desses lugares2) Apesar dos imensos desvios arqueograacuteficos que podem existir neste exerciacutecio devido fundamentalmente agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas ve- rifica-se que a construccedilatildeo preacutevia de qualquer um dos elementos arquitecoacuteni-cos em anaacutelise natildeo inibiu a construccedilatildeo do outro as imagens produzidas parecem aliaacutes sugerir o contraacuterio se considerarmos que os recintos de fossos poderatildeo ter funcionado como polos de agregaccedilatildeo social com ocu-paccedilotildees residenciais e permanentes temos de aceitar que no seu entorno imediato desenvolveram-se actividades pertencentes ao quotidiano dessas comunidades e entre essas a gestatildeo da morte teria um tratamento especial mas natildeo distante3) Os dados dos Perdigotildees e do Porto Torratildeo parecem sugerir que haacute uma preferecircncia para o desenvolvimento das actividades funeraacuterias fora das aacutereas delimitadas pelos fossos durante o Neoliacutetico Final no entanto exis- tem excepccedilotildees que permitem assumir a existecircncia de um tratamento dis-tinto entre indiviacuteduos uns satildeo inumados em estruturas colectivas enquanto outros tecircm enterramentos individuais se esta diferenciaccedilatildeo eacute ou natildeo sin-croacutenica eacute uma questatildeo que por agora fica obrigatoriamente em aberto

AGRADECIMENTOSA autora agradece agrave equipa da Direcccedilatildeo-Geral do Patrimoacutenio Cultural que gere a base de dados Endoveacutelico pela disponibilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo geograacutefica referente agrave implantaccedilatildeo dos monumentos megaliacuteticos inventa- riados na regiatildeo estudada

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICASArnaud J M (1993) O povoado calcoliacutetico de Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) siacutentese das investigaccedilotildees realizads Vipasca 41-60Boaventura R (2011) Cronologiacutea del megalitismo en el Centro-Sur de Portugal Menga Revista de Prehistoria de Andaluciacutea 158-190Boaventura R amp Mataloto R (2013) Entre mortos e vivos noacutetulas acerca da cronologia absoluta do Megalitismo do Sul de Portugal Revista Portuguesa de Arqueologia 81-101Calado M amp Mataloto R (1998) Relatoacuterio intercalar referente aos trabalhos do Blo-co 2 do Plano de Minimizaccedilatildeo de Impactes do Regolfo do Alqueva Escavaccedilatildeo do Povo-

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ado Neoliacutetico de Juromenha 1 (Alandroal) Campanha 1 (Abril a Julho de 1998) Lisboa Fundaccedilatildeo da Unoversidade de LisboaCalado M amp Rocha A (2000) Relatoacuterio de escavaccedilatildeo do povoado da Malhada das Mimosas (Alandroal) - Campanha 2 - 2000 Lisboa Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa Centro de Arqueologia de Lisboa EDIA SACarvalho A F (Ed) (2014) Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Universidade do AlgarveCorga M amp Ferreira M T (2011) Horta do Joatildeo da Moura 1 - Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirinha e Valbom - Fase de Obra exemplar policopiado Styx estudos de antropologia EDIA SADias S amp Figueiredo M (2009) Relatoacuterio preliminar dos trabalhos arqueoloacutegicos e an-tropoloacutegicos do Monte do Pombal 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2009) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos Monte do Cardim 6 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2013 Fevereiro 5) Fareleira 3 ditched enclosure Retrieved Junho 20 2014 from Portuguese Prehistoric Enclosures wwwportugueseenclosuresblogspotptGonccedilalves V S (2000) Muitas antas pouca gente Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de ArqueologiaGonccedilalves V S (2003) Muita gente poucas antas Origens espaccedilos e contextos do Megalitismo Actas do II Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Por-tuguecircs deAHiggs E S amp Vita Finzi C (1972) Prehistoric Economies a territorial aproach In Papers in Economic Prehistory (pp 27-36) London Cambridge University PressLago M amp Albergaria J (2001) O Cabeccedilo do Torratildeo (Elvas) contextos e interpretaccedilotildees preacutevias de um lugar do Neoliacutetico alentejano Era Arqueologia 4 pp 39-62Lago M Duarte C Valera A Albergaria J Almeida F amp Carvalho A (1998) Povoado dos Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz) dados preliminares dos trabalhos arqueoloacutegi-cos realizados em 1997 Revista Portguesa de Arqueologia 45-152Leisner G amp Leisner V (1985) Antas do Concelho de Reguengos de Monsaraz Lisboa UNIARCHMataloto R amp Costeira C (2008) O povoado calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Revista Portuguesa de Arqueologia 11 5-27Mataloto R amp Costeira C (2009) O Povoado Calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Notiacutecia da sua identificaccedilatildeo IV Encontro de Arqueologia del Suroeste Peninsular (pp 107-133) HuelvaMataloto R Davis S Costeira C Clemente R amp Santos I (2011) Os povoados de fossos do Paraiacuteso uma ocipaccedilatildeo do IV III mileacutenios aC na regiatildeo de Elvas Balanccedilo das intervenccedilotildees 2009-2010 Actas do V Encontro de Arqueologia Peninsular (pp 39-72)Neto N Rocha M Santos R amp Rebelo P (2013) Povoado calcoliacutetico do Porto Torratildeo - uma inumaccedilatildeo em fossa Arqueologia em Portugal - 150 anos (pp 379-385) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesNeves M J amp Mendes C (2011) Monte do Carrascal 2 - Trabalhos arqueoloacutegicos e ntropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes decorrentes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirnha e Valbom - Fase de obra Styx EDIA SAPereiro T (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Horta do Joatildeo da Moura 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SARebelo P (2009) Relatoacuterio Final da intervenccedilatildeo arqueoloacutegica no Povoado do Porto

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Torratildeo Ferreira do Alentejo Beja Neoeacutepica EDIA SARebuge J Saacute A amp Cheney A (2010) Intervenccedilatildeo Arqueoloacutegica em Porto Torratildeo (Sector 3 Oeste) Beja Archeoestudos EDIA SARodrigues F (2008) O recinto de fossos da Ponte da Azambuja 2 (Porte Eacutevora) primeira notiacutecia Apontamentos de Arquologia e Patrimoacutenio pp 49-56Rodrigues F (2013) Iacutedolomania figuras antropomoacuterficas e ldquoiacutedolos de cornosrdquo do recinto de fossos do Neoliacutetico Final da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) Arqueologia em Portugal 150 anos (pp 435-446) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesRodrigues F (2014) Skeletons in the ditch funerary activity in ditched enclosures of Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo Beja) Recent Prehistory Enclosures and Funerary Practices in Europe (pp 59-69) Oxford ArchaeopressRodrigues F (2015) O siacutetio da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) e a emergecircncia dos recintos de fossos no SW Peninsular nos finais do 4ordm mileacutenio ane Tese de Doutoramen-to exemplar policopiadoSantos H (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Monte do Carrascal 2 Era Ar-queologia EDIA SASantos R Rebelo P Neto N Rebuge J Saacute A Cheney A et al (2014) Porto Torratildeo resultados preliminares 4ordm Coloacutequio de Arqueologia de Alqueva O plano de rega Beja EDIA SASoares A M (1994) Descoberta de um povoado do Neoliacutetico junto agrave Igreja Velha de Satildeo Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Resultados Preliminares Vipasca 3 pp 41-49Soares A M (1996) Dataccedilatildeo absoluta da estrutura neoliacutetica junto agrave Igreja Velha de S Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Vipasca 5 51-58Soares A M amp Arnaud J M (1984) Escavaccedilotildees do Sepulcro Megaliacutetico MV2 (Vila Verde de Ficalho Serpa) Arquivo de Beja II1 67-82Valera A C amp Filipe I (2004) O povoado do Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) Novos dados e novas problemaacuteticas no contexto da calcolitizaccedilatildeo do Sudoeste peninsular Era Arqueologia 7 pp 23-32Valera A C amp Godinho R (2010) Ossos humanos provenientes dos fossos 3 e 4 e gestatildeo da morte nos Perdigotildees Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 6 pp 29-40Valera A C Becker H amp Boaventura R (2013) Moreiros 2 (Arronches Portalegre) geofiacutesica e cronologia dos recintos interiores Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 9 37-46Valera A C (2014 February 2) Perdigotildees NE gate Retrieved Juin 20 2014 from Portu-guese Prehistoric Enclosures wwwportuguese enclosresblogspotptValera A C Silva A M amp Maacuterquez Romero J (2014) The temporality of Perdigotildees En-closures absolute chronology of the structures and social practices Spal 23 pp 11-26Waterman A J Peate D W Silva A M amp Thomas J T (2013) In search of homelands using strontium isotopes to identify biological markers of mobility in lata prehistoric Portu-gal Journal of Archaeological Science p no prelo

Page 6: Muitas antas e muita gente! As relações entre os recintos ...De modo a responder às questões delineadas, recorreu-se aos Sistemas de Informação Geográfica (SIG), mais concretamente

398 | 5 ldquoPastos Naturais satildeo comunidades vegetais compostas de espeacutecies herbaacuteceas ou lenhosas (ou ambas)1113088 que produzempastagem principalmente utilizada como alimento pelos animais domeacutesticos Podem ser cultivados conhecidos como pastos agriacutecolas ou podem natildeo ser cultivados conhecidos como pastos permanentes ou pastagens naturaisrdquo (Papanastasis V P (sd)

(2013) Ao mapa dos recintos de fossos devidamente delimitados pelos buffers de 5 e 10km acrescentou-se os dados geograacuteficos referentes agraves antas inventa- riadas num raio de 20 km em torno dos siacutetios em anaacutelise de modo a obter uma imagem espacial de ambas as realidades De referir que este mapa natildeo considera1) a vertente temporal das antas e dos recintos ou seja assume-se na sua execuccedilatildeo a sincronia entre todos os monumentos megaliacuteticos e entre estes e todos os recintos de fossos em apreccedilo o que natildeo corresponde agrave verdade histoacuterica fundamentalmente este desvio arqueograacutefico adveacutem (1) da na-tureza de muitos trabalhos sobre os monumentos megaliacuteticos correspon-dentes agrave sua identificaccedilatildeo ndash prospeccedilatildeo ndash sem escavaccedilatildeo arqueoloacutegica as- sociada que permita a aquisiccedilatildeo de uma cronologia fina para a sua utilizaccedilatildeo e por conseguinte (2) a ausecircncia de dataccedilotildees absolutas que possibilitem estabelecer eventuais relaccedilotildees de contemporaneidade entre siacutetios o que provoca uma imagem artificial distorcida e condensada2) alguns monumentos megaliacuteticos mais recentes nomeadamente os que se conhecem em torno do recinto de fossos do Porto Torratildeo ndash nucleo de tholoi da Horta do Joatildeo da Moura (Pereiro 2010 Corga amp Ferreira 2011 informaccedilatildeo pessoal de Raquel Santos ndash Neoeacutepica) Monte do Cardim 6 (Fi- gueiredo 2009) e Monte do Pombal (Dias amp Figueiredo 2009)3) as formas ldquosubterracircneasrdquo de megalitismo funeraacuterio ndash hipogeus ndash conhe-cidos quer na Sobreira de Cima (Valera 2013) quer em torno do Porto Tor-ratildeo ndash Monte do Carrascal (Santos 2010 Neves amp Mendes 2011) ndash sendo este ultimo bastante relevante para a anaacutelise da emergecircncia dos recintos de fossos do Neoliacutetico Final pelo que seraacute analisado particularmente adiante

3 RESULTADOS 31 A relaccedilatildeo entre recintos de fossosPara melhor compreensatildeo dos dados obtidos na anaacutelise espacial ldquorecintos de fossos ndash antasrdquo impora efectuar uma breve descriccedilatildeo dos resultados ob-tidos na anaacutelise da implantaccedilatildeo de cada recinto de fossos em apreccedilo (natildeo demonstrados no presente trabalho uma vez que esse natildeo eacute o objectivo que se pretende atingir)

Assim nos 11 siacutetios analisados atraveacutes dos SIG verificou-se a sistemaacutetica implantaccedilatildeo em lugares planos ou com declives suaves sendo as inclinaccedilotildees orientadas a Sul ou Sudeste congregando algumas das condiccedilotildees essen- ciais e fundamentais para a execuccedilatildeo das actividades agriacutecolas que estatildeo na base da economia das sociedades neoliacuteticas A anaacutelise das condiccedilotildees

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ambientais a 5km e 10km permitiu ainda constatar a presenccedila de territoacute- rios aptos para diferentes praacuteticas pecuaacuterias ndash pastos naturais5- passiacuteveis de constituir verdadeiras paisagens pastoris6 (Rodrigues 2015)

Mas se a anaacutelise das condiccedilotildees de implantaccedilatildeo revelam uma conjun-tura especiacutefica que conduz agrave fixaccedilatildeo das comunidades construtoras dos recintos de fossos visando uma estrateacutegia econoacutemica previamente esta-belecida tambeacutem demonstra preocupaccedilotildees de controlo de territoacuterio e de comunicaccedilatildeo intergrupal

O numero consideraacutevel de siacutetios jaacute identificados a Norte da Serra de Portel permite a ponderaccedilatildeo de um eixo de controlo territorial no sentido N S que nas regiotildees a Sul desse relevo ainda natildeo estaacute comprovado mas que eacute sugerido atraveacutes da posiccedilatildeo geograacutefica dos recintos Neste caso a existecircncia de uma organizaccedilatildeo territorial idecircntica teria uma orientaccedilatildeo no sentido W-E

Assim no designado ldquoeixo N-Srdquo reconhece-se (1) uma grande pro- ximidade fiacutesica entre siacutetios praticamente constante (2) a sobreposiccedilatildeo de aacutereas de intersecccedilatildeo (eventualmente correspondente a zonas de inte- racccedilatildeo grupal) bastante semelhantes (3) assim como a intervisibilidade entre recintos o que permite a assunccedilatildeo de uma base poliacutetica comum que se organiza de forma estrateacutegica para melhor controlar um territoacuterio que por ancestralidade eacute seu (v Fig 3)

Figura 3 6 ldquoPaisagens pastoris satildeo terras heterogeacuteneas compostas por uma variedade de comunidades de plantas em que todas ou a grande maioria satildeo frequentadas e utilizadas como pasto para o gado Por outras palavras as paisagens pastoris incluem mais do que um tipo de pastos espalhados numa aacuterea especiacutefica e utilizados por uma ou mais espeacutecies de gadordquo (Papanas-tasis V P (sd)

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32 A relaccedilatildeo entre recintos de fossos e monumentos megaliacuteti-cos funeraacuteriosDa cartografia geral produzida (Fig 4) sobressai a disparidade entre o numero de monumentos megaliacuteticos situados a Norte da Serra de Portel e a escassez registada a Sul deste maciccedilo montanhoso A explicaccedilatildeo para tal fenoacutemeno poderaacute estar relacionada com as condicionantes geoloacutegicas das regiotildees verificando-se a Norte uma zona predominante-mente graniacutetica com disponibilidade de mateacuteria-prima para a execuccedilatildeo dos monumentos e a Sul uma carecircncia destes materiais tendo as so-ciedades preacute-histoacutericas procurado soluccedilotildees alternativas tais como a es-cavaccedilatildeo de hipogeus Regista-se assim um numero muito limitado de monumentos em torno dos recintos de fossos localizados na zona Sulbull dentro dos buffers do Porto Torratildeo natildeo haacute qualquer monumento dolmeacutenico identificado estando no entanto registadas diferentes for-mas de tratamento dos mortos como se veraacute numa discussatildeo adiante ndash tholoi hipogeus enterramentos em fossos despejo de restos humanos no interior do fossos delimitadores do recintobull nas aacutereas de exploraccedilatildeo do recinto de fossos da Fareleira 3 registam-se apenas dois monumentos megaliacuteticos integrados no buffer de 10 kmbull junto ao recinto de fossos da Igreja Velha de Satildeo Jorge registam-se dois monumentos megaliacuteticos ndash Monte da Velha 1 e Monte da Velha 2 (Soares amp Arnaud 1984 Soares 2008) ndash localizados a uma distacircncia inferior a1km do siacutetio em apreccedilo Situaccedilatildeo completamente oposta eacute a que se verifica nos recintos de fos-sos a Norte da Serra de Portel onde parece haver um pleno ldquoconviacuteviordquo entre ambas as formas de apropriaccedilatildeo dos territoacuterios sem que uma ex-clua a outra Por outras palavras existe uma ldquoharmoniardquo entre ldquomundo dos vivosrdquo e ldquomundo dos mortosrdquo ldquo[] onde o rito se conforma com o haacutebitordquo (Boaventura amp Mataloto 2013 84) Assim em torno de cada recinto em anaacutelise encontram-se monumentos megaliacuteticos quer dentro do buffer de 5km quer dentro do buffer de 10km o que demonstra que independentemente de haver ou natildeo sincronia nas construccedilotildees e nas utilizaccedilotildees a presenccedila de um recinto ou a presenccedila de um monumento megaliacutetico natildeo foi impeditiva que outras construccedilotildees similares posteri-ores ou simultacircneas tivessem lugar Ou seja haacute uma sobreposiccedilatildeo no espaccedilo entre todos os elementos analisados- recintos de fossos e monu-mentos megaliacuteticos - em plena convivecircncia territorialA elaboraccedilatildeo de Cartas de Visibilidades Acumuladas para cada um dos recintos de fossos e respectivos monumentos megaliacuteticos situados num

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raio de 10 km em torno dos primeiros permitiu ainda aferir que todos os siacutetios satildeo visiacuteveis entre si sendo possiacutevel assumir que os construtores de antas satildeo os contrutores dos recintos de fossos e vice-versa (Fig 6 7 8 e 9)Esta ocupaccedilatildeo massiva do territoacuterio sem qualquer termo comparativo com os periacuteodos antecedentes torna-se assim consentacircnea natildeo soacute com a ideia de um aumento demograacutefico exponencial na regiatildeo mas tambeacutem com a efectiva sedentarizaccedilao dos grupos humanos que satildeo cada vez mais in- tervenientes e modeladores da paisagem que os rodeia territorializando-a e reclamando-a para si Este espaccedilo natildeo soacute eacute o lugar que habitam mas eacute tambeacutem o lugar onde se eterniza a sua ancestralidade

Figura 4

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Figura 6

Figura 5

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Figura 7

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No que respeita agraves atividades funeraacuterias que estatildeo diretamente associa-das aos recintos de fossos conhecem-se dados provenientes daqueles que satildeo os lugares com a diacronia de ocupaccedilatildeo mais ampla os Per-digotildees e o Porto Torratildeo Quer num quer noutro siacutetio satildeo conhecidas dife- rentes actividades funeraacuterias e respectivo tratamento dos mortos Mas se para o primeiro caso ndash Perdigotildees ndash tem vindo a ser colocada a questatildeo de ldquo[] os Perdigotildees [] serem essencialmente um siacutetio de gestatildeo simboacutelica e praacutetica da morte e da vida um cenaacuterio para as mais variadas praacuteticas sociais ritualizadas [] para o qual nos falta uma designaccedilatildeo concreta pe- rante a cada vez maior desadequaccedilatildeo operativa de conceitos como povoa-do necroacutepole monumento etc pelo caraacutecter compartimentador e exclusivo que encerramrdquo (Valera amp Godinho 201037) para o segundo siacutetio ndash Porto Torratildeo ndash os dados revelam a criaccedilatildeo de aacutereas de necroacutepole bem definidas fora do periacutemetro delineado pelo sistema de fossos identificado (Rodrigues 2014) Analisando ambos os casos1 Complexo Arqueoloacutegico dos PerdigotildeesNo ultimos anos tecircm sido identificadas no interior do Complexo Arqueoloacutegico dos Perdigotildees diferentes ocorrecircncias que induzem os seus investigadores

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a assumir uma diversidade de praacuteticas funeraacuterias a saber ldquo[] deposiccedilotildees primaacuterias manipulaccedilatildeo poacutes-deposiccedilatildeo primaacuteria trasladaccedilotildees e deposiccedilotildees secundaacuterias cremaccedilotildees deposiccedilotildees em fossa deposiccedilotildees em fossos de-posiccedilotildees em sepulcros de tradiccedilatildeo megaliacuteticardquo (Valera amp Godinho 201037) cuja compreensatildeo passa por ldquo[] linking them to the ideological principles that are present in (and reinforced by) the location of the site and the mea- ningful relationship it establishes with the local landscape (both terrestrial and celestial) as well as in the architectonic design of the enclosures or in the practices of filling ditches and pits with intentional and formal depositsrdquo (Valera Silva amp Maacuterquez Romero 2014) Estes dados tecircm levado os investi-gadores do siacutetio a afastar a ideia de uma compartimentaccedilatildeo espacial entre ldquomundo dos vivosrdquo e ldquomundo dos mortosrdquo e a encarar os recintos de fossos do SW Peninsular como locais que poderatildeo ter sofrido um ldquo[] fenoacutemeno de ldquonecropolizaccedilatildeordquo (Valera amp Godinho 201037) O mais recente estudo acerca da temporalidade deste siacutetio permitiu esta-belecer diferentes etapas cronoloacutegicas da sua construccedilatildeo estando incluiacutedas nesta situaccedilatildeo as distintas estruturas com contextos funeraacuterios associados Este exerciacutecio assume especial importacircncia quando se pretende verificar se os restos humanos estatildeo (1) ldquoespalhadosrdquo ou ldquoconcentradosrdquo em determi-nadas aacutereas do recinto ou (2) se acompanham a evoluccedilatildeo arquitectoacutenica do siacutetio podendo-se definir eventuais aacutereas interiores ou exteriores de uti-lizaccedilatildeo Obviamente este tipo de exerciacutecio deteacutem agrave luz dos conhecimen-tos actuais alguns obstaacuteculos significativos vinculados ao facto de ainda existirem estruturas delimitadoras a escavar e a datar Poreacutem os dados empiacutericos disponiacuteveis devem ser analisados com as devidas salvaguar-das de forma a natildeo se cair na posiccedilatildeo de impasse de nada propor e de nada interpretar Assim quando confrontada a imagem proporcionada pe-los trabalhos de prospeccedilatildeo geofiacutesica onde foram devidamente implantados os contextos funeraacuterios identificados ateacute ao momento com o esquema de fases de construccedilatildeo arquitetoacutenica atestado atraveacutes da bateria de dataccedilatildeo radiomeacutetricas verifica-se que grande parte das atividades funeraacuterias que tiveram lugar neste recinto encontravam-se fora da aacuterea delimitada pelos fossos agrave eacutepoca em que foram realizadas Ou seja aparentemente as de-posiccedilotildees em fossa do Neoliacutetico Final encontram-se afastadas daquele que eacute o nucleo central do recinto correspondente agrave aacuterea ativa nesta eacutepoca natildeo havendo assim uma relaccedilatildeo direta entre o que se passava no seu interior e as atividades funeraacuterias que tiveram lugar no seu exterior Ou seja ava- liando os dados empiacutericos permitidos pela leitura arquitetoacutenica elaborada pelos investigadores as actividades funeraacuterias datadas do Neoliacutetico Final

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natildeo estatildeo diretamente associada agraves atividades intrassiacutetio pelo que natildeo se pode relacionar a fundaccedilatildeo desse recinto de fossos com o simbolismo as-sociado agraves praacuteticas funeraacuterias Refira-se tambeacutem que se no caso das estru-turas megaliacuteticas de tipo tholoi existe uma relaccedilatildeo (1) com as orientaccedilotildees da entradas conhecidas (2) com a dicotoacutemica relaccedilatildeo Este Oeste (3) assim como com a presenccedila do cromeleque a Este jaacute para os enterramentos em fossa do Neoliacutetico Final esse simbolismo natildeo pode ser aplicado de modo categoacuterico Efetivamente estes contextos localizam-se a Noroeste num local afastado dos sepulcros de tipo tholoi Ou seja as associaccedilotildees que tecircm vindo a ser reclamadas perdem assim o sentido deixando cair os significados que se pretendem vislumbrar 2 Porto TorratildeoTambeacutem neste siacutetio foram reconhecidas diferentes atividades funeraacuterias que agrave exceccedilatildeo dos contextos de cremaccedilatildeo em tudo se assemelham ao que jaacute foi descrito para os Perdigotildees Associados agravequele que eacute o maior recinto de fossos conhecido na aacuterea em apreccedilo reconhecem-se diferentes modos de tratamento dos mortos enterramentos em fossa (Rebelo 2009 Rebuge Saacute amp Cheney 2010 Neto et alii 2013) enterramentos em monumentos funeraacuterios de tipo tholoi e hipogeus (Dias amp Figueiredo 2009 Figueiredo 2009 Pereiro 2010 Neves amp Mendes 2011 Corga amp Ferreira 2011) e de-posiccedilatildeo de restos humanos no interior de fossos (Rodrigues 2014)Atestada essa diversidade que evidenciava diferentes localizaccedilotildees espa-ciais torna-se imperativo perceber se haveria aacutereas preferenciais de de-posiccedilatildeo dos restos humanos independentemente do tipo de tratamento que haviam sofrido (deposiccedilatildeo primaacuteria secundaacuteria com sem ritual) O tratamento estatiacutestico do numero miacutenimo de indiviacuteduos presentes em cada um dos contextos permitiu a perceccedilatildeo de que ldquodespite the fact that human remains apear throughout the entire archaeological complex there is a clear prevalence of this type of context outside the enclosed area And that is com-patible with the notion of a relatively well bounded necropolis Not in a par-ticular place (there are funerary monuments on the East and South sides of the enclosed area) but markedly out the enclosed areardquo (Rodrigues 2014) A descriccedilatildeo acima exposta reflete o cocircmputo dos contextos funeraacuterios iden-tificados neste siacutetio independentemente da sua cronologia No entanto se estes dados forem restringidos apenas agrave cronologia em apreccedilo a situaccedilatildeo natildeo difere Dos diferentes siacutetios onde foram identificados enterramentos e restos humanos o conjunto de hipogeus do Monte do Carrascal eacute aquele que apresenta uma cronologia enquadrada na etapa final do Neoliacutetico

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(Neves amp Mendes 2011) sendo igualmente o local de enterramento com o numero miacutenimo de indiviacuteduoas mais elevado o que mais uma vez re- vela que eacute fora das aacutereas definidas pelos recintos que se processa grande parte das actividades funeraacuterias destas comunidades Haacute no entanto uma excepccedilatildeo correspondente a um enterramento em fossa identificado na aacuterea intrafossos que pode ser cronologicamente enquadrado no Neoliacutetico Final (Neto et alii 2013) Apesar de natildeo se saber qual a relaccedilatildeo temporal entre os hipogeus do Monte do Carrascal e o enterramento em fossa do Porto Torratildeo eacute notoacuterio que haacute tratamento diferencial de determinados indiviacuteduos quer no que respeita ao ritual e lugar de enterramento quer no que respeita agrave sua individualidade

4 PRIMEIRAS LEITURASA recente identificaccedilatildeo de multiplas formas de sepultar tratar os mortos identificadas quer nos recintos de fossos quer nas suas aacutereas mais proacuteximas demonstram que as actividades funeraacuterias dos gru-pos do final do Neoliacutetico na regiatildeo do Alentejo natildeo satildeo exclusivas das antas mas aplica-se igualmente aos monumentos subterracirc-neos ndash os hipogeus ndash aos enterramentos em fossa agraves cremaccedilotildees e ao despejo literal de partes de restos humanos para o interior de estruturas negativas (fossos) Ainda que haja problemas associa-dos agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas que atestem quer o iniacutecio des- tas actividades quer a sua contemporaneidade estaacute corroborada a diver-sidade que eventualmente pode assumir contornos sociais conectaacuteveis com as relaccedilotildees intra e intergrupaisConsiderando os dois casos especiacuteficos acima expostos ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash estatildeo evidenciadas duas situaccedilotildees inegaacuteveisbull aumento demograacutefico demonstrado no numero significativo de contex-tos funeraacuterios que natildeo tecircm qualquer termo comparativo com as eacutepocas precedentes embora natildeo existam estudos demograacuteficos aprofundados acredita-se que esta circunstacircncia soacute eacute possiacutevel porque haacute definitivamente mais gente sedentarizada neste territoacuterio a partir do Neoliacutetico Finalbull diversidade no tratamento dos mortos natildeo obstante a coesatildeo cultural verificada no ldquomundo dos vivosrdquo verificado nas arquiteturas (ldquopovoadosrdquo monumentos megaliacuteticos recintos de fossos) na cultura material (con-juntos ceracircmicos industria liacuteticas artefactos ideoteacutecnicos) e nas estrateacute-gias de subsistecircncia (economia mista de produccedilatildeo de alimentos e ati- vidades cinegeacuteticas eventualmente associada agrave recoleccedilatildeo de recursos silvestres)

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Quanto agraves questotildees previamente definidas1) A macro anaacutelise efectuada natildeo permite aferir aacutereas preferenciais para a construccedilatildeo das antas em torno dos recintos de fossos em estudo contudo ao avaliar-se os siacutetios sobre os quais existe mais informaccedilatildeo ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash observa-se que durante a etapa final do Neoliacutetico os grupos construtores de recintos optaram por realizar as suas actividades funeraacuterias nas imediaccedilotildees desses lugares2) Apesar dos imensos desvios arqueograacuteficos que podem existir neste exerciacutecio devido fundamentalmente agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas ve- rifica-se que a construccedilatildeo preacutevia de qualquer um dos elementos arquitecoacuteni-cos em anaacutelise natildeo inibiu a construccedilatildeo do outro as imagens produzidas parecem aliaacutes sugerir o contraacuterio se considerarmos que os recintos de fossos poderatildeo ter funcionado como polos de agregaccedilatildeo social com ocu-paccedilotildees residenciais e permanentes temos de aceitar que no seu entorno imediato desenvolveram-se actividades pertencentes ao quotidiano dessas comunidades e entre essas a gestatildeo da morte teria um tratamento especial mas natildeo distante3) Os dados dos Perdigotildees e do Porto Torratildeo parecem sugerir que haacute uma preferecircncia para o desenvolvimento das actividades funeraacuterias fora das aacutereas delimitadas pelos fossos durante o Neoliacutetico Final no entanto exis- tem excepccedilotildees que permitem assumir a existecircncia de um tratamento dis-tinto entre indiviacuteduos uns satildeo inumados em estruturas colectivas enquanto outros tecircm enterramentos individuais se esta diferenciaccedilatildeo eacute ou natildeo sin-croacutenica eacute uma questatildeo que por agora fica obrigatoriamente em aberto

AGRADECIMENTOSA autora agradece agrave equipa da Direcccedilatildeo-Geral do Patrimoacutenio Cultural que gere a base de dados Endoveacutelico pela disponibilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo geograacutefica referente agrave implantaccedilatildeo dos monumentos megaliacuteticos inventa- riados na regiatildeo estudada

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICASArnaud J M (1993) O povoado calcoliacutetico de Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) siacutentese das investigaccedilotildees realizads Vipasca 41-60Boaventura R (2011) Cronologiacutea del megalitismo en el Centro-Sur de Portugal Menga Revista de Prehistoria de Andaluciacutea 158-190Boaventura R amp Mataloto R (2013) Entre mortos e vivos noacutetulas acerca da cronologia absoluta do Megalitismo do Sul de Portugal Revista Portuguesa de Arqueologia 81-101Calado M amp Mataloto R (1998) Relatoacuterio intercalar referente aos trabalhos do Blo-co 2 do Plano de Minimizaccedilatildeo de Impactes do Regolfo do Alqueva Escavaccedilatildeo do Povo-

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ado Neoliacutetico de Juromenha 1 (Alandroal) Campanha 1 (Abril a Julho de 1998) Lisboa Fundaccedilatildeo da Unoversidade de LisboaCalado M amp Rocha A (2000) Relatoacuterio de escavaccedilatildeo do povoado da Malhada das Mimosas (Alandroal) - Campanha 2 - 2000 Lisboa Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa Centro de Arqueologia de Lisboa EDIA SACarvalho A F (Ed) (2014) Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Universidade do AlgarveCorga M amp Ferreira M T (2011) Horta do Joatildeo da Moura 1 - Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirinha e Valbom - Fase de Obra exemplar policopiado Styx estudos de antropologia EDIA SADias S amp Figueiredo M (2009) Relatoacuterio preliminar dos trabalhos arqueoloacutegicos e an-tropoloacutegicos do Monte do Pombal 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2009) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos Monte do Cardim 6 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2013 Fevereiro 5) Fareleira 3 ditched enclosure Retrieved Junho 20 2014 from Portuguese Prehistoric Enclosures wwwportugueseenclosuresblogspotptGonccedilalves V S (2000) Muitas antas pouca gente Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de ArqueologiaGonccedilalves V S (2003) Muita gente poucas antas Origens espaccedilos e contextos do Megalitismo Actas do II Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Por-tuguecircs deAHiggs E S amp Vita Finzi C (1972) Prehistoric Economies a territorial aproach In Papers in Economic Prehistory (pp 27-36) London Cambridge University PressLago M amp Albergaria J (2001) O Cabeccedilo do Torratildeo (Elvas) contextos e interpretaccedilotildees preacutevias de um lugar do Neoliacutetico alentejano Era Arqueologia 4 pp 39-62Lago M Duarte C Valera A Albergaria J Almeida F amp Carvalho A (1998) Povoado dos Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz) dados preliminares dos trabalhos arqueoloacutegi-cos realizados em 1997 Revista Portguesa de Arqueologia 45-152Leisner G amp Leisner V (1985) Antas do Concelho de Reguengos de Monsaraz Lisboa UNIARCHMataloto R amp Costeira C (2008) O povoado calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Revista Portuguesa de Arqueologia 11 5-27Mataloto R amp Costeira C (2009) O Povoado Calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Notiacutecia da sua identificaccedilatildeo IV Encontro de Arqueologia del Suroeste Peninsular (pp 107-133) HuelvaMataloto R Davis S Costeira C Clemente R amp Santos I (2011) Os povoados de fossos do Paraiacuteso uma ocipaccedilatildeo do IV III mileacutenios aC na regiatildeo de Elvas Balanccedilo das intervenccedilotildees 2009-2010 Actas do V Encontro de Arqueologia Peninsular (pp 39-72)Neto N Rocha M Santos R amp Rebelo P (2013) Povoado calcoliacutetico do Porto Torratildeo - uma inumaccedilatildeo em fossa Arqueologia em Portugal - 150 anos (pp 379-385) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesNeves M J amp Mendes C (2011) Monte do Carrascal 2 - Trabalhos arqueoloacutegicos e ntropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes decorrentes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirnha e Valbom - Fase de obra Styx EDIA SAPereiro T (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Horta do Joatildeo da Moura 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SARebelo P (2009) Relatoacuterio Final da intervenccedilatildeo arqueoloacutegica no Povoado do Porto

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Torratildeo Ferreira do Alentejo Beja Neoeacutepica EDIA SARebuge J Saacute A amp Cheney A (2010) Intervenccedilatildeo Arqueoloacutegica em Porto Torratildeo (Sector 3 Oeste) Beja Archeoestudos EDIA SARodrigues F (2008) O recinto de fossos da Ponte da Azambuja 2 (Porte Eacutevora) primeira notiacutecia Apontamentos de Arquologia e Patrimoacutenio pp 49-56Rodrigues F (2013) Iacutedolomania figuras antropomoacuterficas e ldquoiacutedolos de cornosrdquo do recinto de fossos do Neoliacutetico Final da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) Arqueologia em Portugal 150 anos (pp 435-446) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesRodrigues F (2014) Skeletons in the ditch funerary activity in ditched enclosures of Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo Beja) Recent Prehistory Enclosures and Funerary Practices in Europe (pp 59-69) Oxford ArchaeopressRodrigues F (2015) O siacutetio da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) e a emergecircncia dos recintos de fossos no SW Peninsular nos finais do 4ordm mileacutenio ane Tese de Doutoramen-to exemplar policopiadoSantos H (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Monte do Carrascal 2 Era Ar-queologia EDIA SASantos R Rebelo P Neto N Rebuge J Saacute A Cheney A et al (2014) Porto Torratildeo resultados preliminares 4ordm Coloacutequio de Arqueologia de Alqueva O plano de rega Beja EDIA SASoares A M (1994) Descoberta de um povoado do Neoliacutetico junto agrave Igreja Velha de Satildeo Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Resultados Preliminares Vipasca 3 pp 41-49Soares A M (1996) Dataccedilatildeo absoluta da estrutura neoliacutetica junto agrave Igreja Velha de S Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Vipasca 5 51-58Soares A M amp Arnaud J M (1984) Escavaccedilotildees do Sepulcro Megaliacutetico MV2 (Vila Verde de Ficalho Serpa) Arquivo de Beja II1 67-82Valera A C amp Filipe I (2004) O povoado do Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) Novos dados e novas problemaacuteticas no contexto da calcolitizaccedilatildeo do Sudoeste peninsular Era Arqueologia 7 pp 23-32Valera A C amp Godinho R (2010) Ossos humanos provenientes dos fossos 3 e 4 e gestatildeo da morte nos Perdigotildees Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 6 pp 29-40Valera A C Becker H amp Boaventura R (2013) Moreiros 2 (Arronches Portalegre) geofiacutesica e cronologia dos recintos interiores Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 9 37-46Valera A C (2014 February 2) Perdigotildees NE gate Retrieved Juin 20 2014 from Portu-guese Prehistoric Enclosures wwwportuguese enclosresblogspotptValera A C Silva A M amp Maacuterquez Romero J (2014) The temporality of Perdigotildees En-closures absolute chronology of the structures and social practices Spal 23 pp 11-26Waterman A J Peate D W Silva A M amp Thomas J T (2013) In search of homelands using strontium isotopes to identify biological markers of mobility in lata prehistoric Portu-gal Journal of Archaeological Science p no prelo

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ambientais a 5km e 10km permitiu ainda constatar a presenccedila de territoacute- rios aptos para diferentes praacuteticas pecuaacuterias ndash pastos naturais5- passiacuteveis de constituir verdadeiras paisagens pastoris6 (Rodrigues 2015)

Mas se a anaacutelise das condiccedilotildees de implantaccedilatildeo revelam uma conjun-tura especiacutefica que conduz agrave fixaccedilatildeo das comunidades construtoras dos recintos de fossos visando uma estrateacutegia econoacutemica previamente esta-belecida tambeacutem demonstra preocupaccedilotildees de controlo de territoacuterio e de comunicaccedilatildeo intergrupal

O numero consideraacutevel de siacutetios jaacute identificados a Norte da Serra de Portel permite a ponderaccedilatildeo de um eixo de controlo territorial no sentido N S que nas regiotildees a Sul desse relevo ainda natildeo estaacute comprovado mas que eacute sugerido atraveacutes da posiccedilatildeo geograacutefica dos recintos Neste caso a existecircncia de uma organizaccedilatildeo territorial idecircntica teria uma orientaccedilatildeo no sentido W-E

Assim no designado ldquoeixo N-Srdquo reconhece-se (1) uma grande pro- ximidade fiacutesica entre siacutetios praticamente constante (2) a sobreposiccedilatildeo de aacutereas de intersecccedilatildeo (eventualmente correspondente a zonas de inte- racccedilatildeo grupal) bastante semelhantes (3) assim como a intervisibilidade entre recintos o que permite a assunccedilatildeo de uma base poliacutetica comum que se organiza de forma estrateacutegica para melhor controlar um territoacuterio que por ancestralidade eacute seu (v Fig 3)

Figura 3 6 ldquoPaisagens pastoris satildeo terras heterogeacuteneas compostas por uma variedade de comunidades de plantas em que todas ou a grande maioria satildeo frequentadas e utilizadas como pasto para o gado Por outras palavras as paisagens pastoris incluem mais do que um tipo de pastos espalhados numa aacuterea especiacutefica e utilizados por uma ou mais espeacutecies de gadordquo (Papanas-tasis V P (sd)

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32 A relaccedilatildeo entre recintos de fossos e monumentos megaliacuteti-cos funeraacuteriosDa cartografia geral produzida (Fig 4) sobressai a disparidade entre o numero de monumentos megaliacuteticos situados a Norte da Serra de Portel e a escassez registada a Sul deste maciccedilo montanhoso A explicaccedilatildeo para tal fenoacutemeno poderaacute estar relacionada com as condicionantes geoloacutegicas das regiotildees verificando-se a Norte uma zona predominante-mente graniacutetica com disponibilidade de mateacuteria-prima para a execuccedilatildeo dos monumentos e a Sul uma carecircncia destes materiais tendo as so-ciedades preacute-histoacutericas procurado soluccedilotildees alternativas tais como a es-cavaccedilatildeo de hipogeus Regista-se assim um numero muito limitado de monumentos em torno dos recintos de fossos localizados na zona Sulbull dentro dos buffers do Porto Torratildeo natildeo haacute qualquer monumento dolmeacutenico identificado estando no entanto registadas diferentes for-mas de tratamento dos mortos como se veraacute numa discussatildeo adiante ndash tholoi hipogeus enterramentos em fossos despejo de restos humanos no interior do fossos delimitadores do recintobull nas aacutereas de exploraccedilatildeo do recinto de fossos da Fareleira 3 registam-se apenas dois monumentos megaliacuteticos integrados no buffer de 10 kmbull junto ao recinto de fossos da Igreja Velha de Satildeo Jorge registam-se dois monumentos megaliacuteticos ndash Monte da Velha 1 e Monte da Velha 2 (Soares amp Arnaud 1984 Soares 2008) ndash localizados a uma distacircncia inferior a1km do siacutetio em apreccedilo Situaccedilatildeo completamente oposta eacute a que se verifica nos recintos de fos-sos a Norte da Serra de Portel onde parece haver um pleno ldquoconviacuteviordquo entre ambas as formas de apropriaccedilatildeo dos territoacuterios sem que uma ex-clua a outra Por outras palavras existe uma ldquoharmoniardquo entre ldquomundo dos vivosrdquo e ldquomundo dos mortosrdquo ldquo[] onde o rito se conforma com o haacutebitordquo (Boaventura amp Mataloto 2013 84) Assim em torno de cada recinto em anaacutelise encontram-se monumentos megaliacuteticos quer dentro do buffer de 5km quer dentro do buffer de 10km o que demonstra que independentemente de haver ou natildeo sincronia nas construccedilotildees e nas utilizaccedilotildees a presenccedila de um recinto ou a presenccedila de um monumento megaliacutetico natildeo foi impeditiva que outras construccedilotildees similares posteri-ores ou simultacircneas tivessem lugar Ou seja haacute uma sobreposiccedilatildeo no espaccedilo entre todos os elementos analisados- recintos de fossos e monu-mentos megaliacuteticos - em plena convivecircncia territorialA elaboraccedilatildeo de Cartas de Visibilidades Acumuladas para cada um dos recintos de fossos e respectivos monumentos megaliacuteticos situados num

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raio de 10 km em torno dos primeiros permitiu ainda aferir que todos os siacutetios satildeo visiacuteveis entre si sendo possiacutevel assumir que os construtores de antas satildeo os contrutores dos recintos de fossos e vice-versa (Fig 6 7 8 e 9)Esta ocupaccedilatildeo massiva do territoacuterio sem qualquer termo comparativo com os periacuteodos antecedentes torna-se assim consentacircnea natildeo soacute com a ideia de um aumento demograacutefico exponencial na regiatildeo mas tambeacutem com a efectiva sedentarizaccedilao dos grupos humanos que satildeo cada vez mais in- tervenientes e modeladores da paisagem que os rodeia territorializando-a e reclamando-a para si Este espaccedilo natildeo soacute eacute o lugar que habitam mas eacute tambeacutem o lugar onde se eterniza a sua ancestralidade

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No que respeita agraves atividades funeraacuterias que estatildeo diretamente associa-das aos recintos de fossos conhecem-se dados provenientes daqueles que satildeo os lugares com a diacronia de ocupaccedilatildeo mais ampla os Per-digotildees e o Porto Torratildeo Quer num quer noutro siacutetio satildeo conhecidas dife- rentes actividades funeraacuterias e respectivo tratamento dos mortos Mas se para o primeiro caso ndash Perdigotildees ndash tem vindo a ser colocada a questatildeo de ldquo[] os Perdigotildees [] serem essencialmente um siacutetio de gestatildeo simboacutelica e praacutetica da morte e da vida um cenaacuterio para as mais variadas praacuteticas sociais ritualizadas [] para o qual nos falta uma designaccedilatildeo concreta pe- rante a cada vez maior desadequaccedilatildeo operativa de conceitos como povoa-do necroacutepole monumento etc pelo caraacutecter compartimentador e exclusivo que encerramrdquo (Valera amp Godinho 201037) para o segundo siacutetio ndash Porto Torratildeo ndash os dados revelam a criaccedilatildeo de aacutereas de necroacutepole bem definidas fora do periacutemetro delineado pelo sistema de fossos identificado (Rodrigues 2014) Analisando ambos os casos1 Complexo Arqueoloacutegico dos PerdigotildeesNo ultimos anos tecircm sido identificadas no interior do Complexo Arqueoloacutegico dos Perdigotildees diferentes ocorrecircncias que induzem os seus investigadores

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a assumir uma diversidade de praacuteticas funeraacuterias a saber ldquo[] deposiccedilotildees primaacuterias manipulaccedilatildeo poacutes-deposiccedilatildeo primaacuteria trasladaccedilotildees e deposiccedilotildees secundaacuterias cremaccedilotildees deposiccedilotildees em fossa deposiccedilotildees em fossos de-posiccedilotildees em sepulcros de tradiccedilatildeo megaliacuteticardquo (Valera amp Godinho 201037) cuja compreensatildeo passa por ldquo[] linking them to the ideological principles that are present in (and reinforced by) the location of the site and the mea- ningful relationship it establishes with the local landscape (both terrestrial and celestial) as well as in the architectonic design of the enclosures or in the practices of filling ditches and pits with intentional and formal depositsrdquo (Valera Silva amp Maacuterquez Romero 2014) Estes dados tecircm levado os investi-gadores do siacutetio a afastar a ideia de uma compartimentaccedilatildeo espacial entre ldquomundo dos vivosrdquo e ldquomundo dos mortosrdquo e a encarar os recintos de fossos do SW Peninsular como locais que poderatildeo ter sofrido um ldquo[] fenoacutemeno de ldquonecropolizaccedilatildeordquo (Valera amp Godinho 201037) O mais recente estudo acerca da temporalidade deste siacutetio permitiu esta-belecer diferentes etapas cronoloacutegicas da sua construccedilatildeo estando incluiacutedas nesta situaccedilatildeo as distintas estruturas com contextos funeraacuterios associados Este exerciacutecio assume especial importacircncia quando se pretende verificar se os restos humanos estatildeo (1) ldquoespalhadosrdquo ou ldquoconcentradosrdquo em determi-nadas aacutereas do recinto ou (2) se acompanham a evoluccedilatildeo arquitectoacutenica do siacutetio podendo-se definir eventuais aacutereas interiores ou exteriores de uti-lizaccedilatildeo Obviamente este tipo de exerciacutecio deteacutem agrave luz dos conhecimen-tos actuais alguns obstaacuteculos significativos vinculados ao facto de ainda existirem estruturas delimitadoras a escavar e a datar Poreacutem os dados empiacutericos disponiacuteveis devem ser analisados com as devidas salvaguar-das de forma a natildeo se cair na posiccedilatildeo de impasse de nada propor e de nada interpretar Assim quando confrontada a imagem proporcionada pe-los trabalhos de prospeccedilatildeo geofiacutesica onde foram devidamente implantados os contextos funeraacuterios identificados ateacute ao momento com o esquema de fases de construccedilatildeo arquitetoacutenica atestado atraveacutes da bateria de dataccedilatildeo radiomeacutetricas verifica-se que grande parte das atividades funeraacuterias que tiveram lugar neste recinto encontravam-se fora da aacuterea delimitada pelos fossos agrave eacutepoca em que foram realizadas Ou seja aparentemente as de-posiccedilotildees em fossa do Neoliacutetico Final encontram-se afastadas daquele que eacute o nucleo central do recinto correspondente agrave aacuterea ativa nesta eacutepoca natildeo havendo assim uma relaccedilatildeo direta entre o que se passava no seu interior e as atividades funeraacuterias que tiveram lugar no seu exterior Ou seja ava- liando os dados empiacutericos permitidos pela leitura arquitetoacutenica elaborada pelos investigadores as actividades funeraacuterias datadas do Neoliacutetico Final

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natildeo estatildeo diretamente associada agraves atividades intrassiacutetio pelo que natildeo se pode relacionar a fundaccedilatildeo desse recinto de fossos com o simbolismo as-sociado agraves praacuteticas funeraacuterias Refira-se tambeacutem que se no caso das estru-turas megaliacuteticas de tipo tholoi existe uma relaccedilatildeo (1) com as orientaccedilotildees da entradas conhecidas (2) com a dicotoacutemica relaccedilatildeo Este Oeste (3) assim como com a presenccedila do cromeleque a Este jaacute para os enterramentos em fossa do Neoliacutetico Final esse simbolismo natildeo pode ser aplicado de modo categoacuterico Efetivamente estes contextos localizam-se a Noroeste num local afastado dos sepulcros de tipo tholoi Ou seja as associaccedilotildees que tecircm vindo a ser reclamadas perdem assim o sentido deixando cair os significados que se pretendem vislumbrar 2 Porto TorratildeoTambeacutem neste siacutetio foram reconhecidas diferentes atividades funeraacuterias que agrave exceccedilatildeo dos contextos de cremaccedilatildeo em tudo se assemelham ao que jaacute foi descrito para os Perdigotildees Associados agravequele que eacute o maior recinto de fossos conhecido na aacuterea em apreccedilo reconhecem-se diferentes modos de tratamento dos mortos enterramentos em fossa (Rebelo 2009 Rebuge Saacute amp Cheney 2010 Neto et alii 2013) enterramentos em monumentos funeraacuterios de tipo tholoi e hipogeus (Dias amp Figueiredo 2009 Figueiredo 2009 Pereiro 2010 Neves amp Mendes 2011 Corga amp Ferreira 2011) e de-posiccedilatildeo de restos humanos no interior de fossos (Rodrigues 2014)Atestada essa diversidade que evidenciava diferentes localizaccedilotildees espa-ciais torna-se imperativo perceber se haveria aacutereas preferenciais de de-posiccedilatildeo dos restos humanos independentemente do tipo de tratamento que haviam sofrido (deposiccedilatildeo primaacuteria secundaacuteria com sem ritual) O tratamento estatiacutestico do numero miacutenimo de indiviacuteduos presentes em cada um dos contextos permitiu a perceccedilatildeo de que ldquodespite the fact that human remains apear throughout the entire archaeological complex there is a clear prevalence of this type of context outside the enclosed area And that is com-patible with the notion of a relatively well bounded necropolis Not in a par-ticular place (there are funerary monuments on the East and South sides of the enclosed area) but markedly out the enclosed areardquo (Rodrigues 2014) A descriccedilatildeo acima exposta reflete o cocircmputo dos contextos funeraacuterios iden-tificados neste siacutetio independentemente da sua cronologia No entanto se estes dados forem restringidos apenas agrave cronologia em apreccedilo a situaccedilatildeo natildeo difere Dos diferentes siacutetios onde foram identificados enterramentos e restos humanos o conjunto de hipogeus do Monte do Carrascal eacute aquele que apresenta uma cronologia enquadrada na etapa final do Neoliacutetico

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(Neves amp Mendes 2011) sendo igualmente o local de enterramento com o numero miacutenimo de indiviacuteduoas mais elevado o que mais uma vez re- vela que eacute fora das aacutereas definidas pelos recintos que se processa grande parte das actividades funeraacuterias destas comunidades Haacute no entanto uma excepccedilatildeo correspondente a um enterramento em fossa identificado na aacuterea intrafossos que pode ser cronologicamente enquadrado no Neoliacutetico Final (Neto et alii 2013) Apesar de natildeo se saber qual a relaccedilatildeo temporal entre os hipogeus do Monte do Carrascal e o enterramento em fossa do Porto Torratildeo eacute notoacuterio que haacute tratamento diferencial de determinados indiviacuteduos quer no que respeita ao ritual e lugar de enterramento quer no que respeita agrave sua individualidade

4 PRIMEIRAS LEITURASA recente identificaccedilatildeo de multiplas formas de sepultar tratar os mortos identificadas quer nos recintos de fossos quer nas suas aacutereas mais proacuteximas demonstram que as actividades funeraacuterias dos gru-pos do final do Neoliacutetico na regiatildeo do Alentejo natildeo satildeo exclusivas das antas mas aplica-se igualmente aos monumentos subterracirc-neos ndash os hipogeus ndash aos enterramentos em fossa agraves cremaccedilotildees e ao despejo literal de partes de restos humanos para o interior de estruturas negativas (fossos) Ainda que haja problemas associa-dos agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas que atestem quer o iniacutecio des- tas actividades quer a sua contemporaneidade estaacute corroborada a diver-sidade que eventualmente pode assumir contornos sociais conectaacuteveis com as relaccedilotildees intra e intergrupaisConsiderando os dois casos especiacuteficos acima expostos ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash estatildeo evidenciadas duas situaccedilotildees inegaacuteveisbull aumento demograacutefico demonstrado no numero significativo de contex-tos funeraacuterios que natildeo tecircm qualquer termo comparativo com as eacutepocas precedentes embora natildeo existam estudos demograacuteficos aprofundados acredita-se que esta circunstacircncia soacute eacute possiacutevel porque haacute definitivamente mais gente sedentarizada neste territoacuterio a partir do Neoliacutetico Finalbull diversidade no tratamento dos mortos natildeo obstante a coesatildeo cultural verificada no ldquomundo dos vivosrdquo verificado nas arquiteturas (ldquopovoadosrdquo monumentos megaliacuteticos recintos de fossos) na cultura material (con-juntos ceracircmicos industria liacuteticas artefactos ideoteacutecnicos) e nas estrateacute-gias de subsistecircncia (economia mista de produccedilatildeo de alimentos e ati- vidades cinegeacuteticas eventualmente associada agrave recoleccedilatildeo de recursos silvestres)

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Quanto agraves questotildees previamente definidas1) A macro anaacutelise efectuada natildeo permite aferir aacutereas preferenciais para a construccedilatildeo das antas em torno dos recintos de fossos em estudo contudo ao avaliar-se os siacutetios sobre os quais existe mais informaccedilatildeo ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash observa-se que durante a etapa final do Neoliacutetico os grupos construtores de recintos optaram por realizar as suas actividades funeraacuterias nas imediaccedilotildees desses lugares2) Apesar dos imensos desvios arqueograacuteficos que podem existir neste exerciacutecio devido fundamentalmente agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas ve- rifica-se que a construccedilatildeo preacutevia de qualquer um dos elementos arquitecoacuteni-cos em anaacutelise natildeo inibiu a construccedilatildeo do outro as imagens produzidas parecem aliaacutes sugerir o contraacuterio se considerarmos que os recintos de fossos poderatildeo ter funcionado como polos de agregaccedilatildeo social com ocu-paccedilotildees residenciais e permanentes temos de aceitar que no seu entorno imediato desenvolveram-se actividades pertencentes ao quotidiano dessas comunidades e entre essas a gestatildeo da morte teria um tratamento especial mas natildeo distante3) Os dados dos Perdigotildees e do Porto Torratildeo parecem sugerir que haacute uma preferecircncia para o desenvolvimento das actividades funeraacuterias fora das aacutereas delimitadas pelos fossos durante o Neoliacutetico Final no entanto exis- tem excepccedilotildees que permitem assumir a existecircncia de um tratamento dis-tinto entre indiviacuteduos uns satildeo inumados em estruturas colectivas enquanto outros tecircm enterramentos individuais se esta diferenciaccedilatildeo eacute ou natildeo sin-croacutenica eacute uma questatildeo que por agora fica obrigatoriamente em aberto

AGRADECIMENTOSA autora agradece agrave equipa da Direcccedilatildeo-Geral do Patrimoacutenio Cultural que gere a base de dados Endoveacutelico pela disponibilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo geograacutefica referente agrave implantaccedilatildeo dos monumentos megaliacuteticos inventa- riados na regiatildeo estudada

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICASArnaud J M (1993) O povoado calcoliacutetico de Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) siacutentese das investigaccedilotildees realizads Vipasca 41-60Boaventura R (2011) Cronologiacutea del megalitismo en el Centro-Sur de Portugal Menga Revista de Prehistoria de Andaluciacutea 158-190Boaventura R amp Mataloto R (2013) Entre mortos e vivos noacutetulas acerca da cronologia absoluta do Megalitismo do Sul de Portugal Revista Portuguesa de Arqueologia 81-101Calado M amp Mataloto R (1998) Relatoacuterio intercalar referente aos trabalhos do Blo-co 2 do Plano de Minimizaccedilatildeo de Impactes do Regolfo do Alqueva Escavaccedilatildeo do Povo-

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ado Neoliacutetico de Juromenha 1 (Alandroal) Campanha 1 (Abril a Julho de 1998) Lisboa Fundaccedilatildeo da Unoversidade de LisboaCalado M amp Rocha A (2000) Relatoacuterio de escavaccedilatildeo do povoado da Malhada das Mimosas (Alandroal) - Campanha 2 - 2000 Lisboa Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa Centro de Arqueologia de Lisboa EDIA SACarvalho A F (Ed) (2014) Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Universidade do AlgarveCorga M amp Ferreira M T (2011) Horta do Joatildeo da Moura 1 - Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirinha e Valbom - Fase de Obra exemplar policopiado Styx estudos de antropologia EDIA SADias S amp Figueiredo M (2009) Relatoacuterio preliminar dos trabalhos arqueoloacutegicos e an-tropoloacutegicos do Monte do Pombal 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2009) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos Monte do Cardim 6 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2013 Fevereiro 5) Fareleira 3 ditched enclosure Retrieved Junho 20 2014 from Portuguese Prehistoric Enclosures wwwportugueseenclosuresblogspotptGonccedilalves V S (2000) Muitas antas pouca gente Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de ArqueologiaGonccedilalves V S (2003) Muita gente poucas antas Origens espaccedilos e contextos do Megalitismo Actas do II Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Por-tuguecircs deAHiggs E S amp Vita Finzi C (1972) Prehistoric Economies a territorial aproach In Papers in Economic Prehistory (pp 27-36) London Cambridge University PressLago M amp Albergaria J (2001) O Cabeccedilo do Torratildeo (Elvas) contextos e interpretaccedilotildees preacutevias de um lugar do Neoliacutetico alentejano Era Arqueologia 4 pp 39-62Lago M Duarte C Valera A Albergaria J Almeida F amp Carvalho A (1998) Povoado dos Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz) dados preliminares dos trabalhos arqueoloacutegi-cos realizados em 1997 Revista Portguesa de Arqueologia 45-152Leisner G amp Leisner V (1985) Antas do Concelho de Reguengos de Monsaraz Lisboa UNIARCHMataloto R amp Costeira C (2008) O povoado calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Revista Portuguesa de Arqueologia 11 5-27Mataloto R amp Costeira C (2009) O Povoado Calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Notiacutecia da sua identificaccedilatildeo IV Encontro de Arqueologia del Suroeste Peninsular (pp 107-133) HuelvaMataloto R Davis S Costeira C Clemente R amp Santos I (2011) Os povoados de fossos do Paraiacuteso uma ocipaccedilatildeo do IV III mileacutenios aC na regiatildeo de Elvas Balanccedilo das intervenccedilotildees 2009-2010 Actas do V Encontro de Arqueologia Peninsular (pp 39-72)Neto N Rocha M Santos R amp Rebelo P (2013) Povoado calcoliacutetico do Porto Torratildeo - uma inumaccedilatildeo em fossa Arqueologia em Portugal - 150 anos (pp 379-385) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesNeves M J amp Mendes C (2011) Monte do Carrascal 2 - Trabalhos arqueoloacutegicos e ntropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes decorrentes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirnha e Valbom - Fase de obra Styx EDIA SAPereiro T (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Horta do Joatildeo da Moura 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SARebelo P (2009) Relatoacuterio Final da intervenccedilatildeo arqueoloacutegica no Povoado do Porto

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Torratildeo Ferreira do Alentejo Beja Neoeacutepica EDIA SARebuge J Saacute A amp Cheney A (2010) Intervenccedilatildeo Arqueoloacutegica em Porto Torratildeo (Sector 3 Oeste) Beja Archeoestudos EDIA SARodrigues F (2008) O recinto de fossos da Ponte da Azambuja 2 (Porte Eacutevora) primeira notiacutecia Apontamentos de Arquologia e Patrimoacutenio pp 49-56Rodrigues F (2013) Iacutedolomania figuras antropomoacuterficas e ldquoiacutedolos de cornosrdquo do recinto de fossos do Neoliacutetico Final da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) Arqueologia em Portugal 150 anos (pp 435-446) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesRodrigues F (2014) Skeletons in the ditch funerary activity in ditched enclosures of Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo Beja) Recent Prehistory Enclosures and Funerary Practices in Europe (pp 59-69) Oxford ArchaeopressRodrigues F (2015) O siacutetio da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) e a emergecircncia dos recintos de fossos no SW Peninsular nos finais do 4ordm mileacutenio ane Tese de Doutoramen-to exemplar policopiadoSantos H (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Monte do Carrascal 2 Era Ar-queologia EDIA SASantos R Rebelo P Neto N Rebuge J Saacute A Cheney A et al (2014) Porto Torratildeo resultados preliminares 4ordm Coloacutequio de Arqueologia de Alqueva O plano de rega Beja EDIA SASoares A M (1994) Descoberta de um povoado do Neoliacutetico junto agrave Igreja Velha de Satildeo Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Resultados Preliminares Vipasca 3 pp 41-49Soares A M (1996) Dataccedilatildeo absoluta da estrutura neoliacutetica junto agrave Igreja Velha de S Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Vipasca 5 51-58Soares A M amp Arnaud J M (1984) Escavaccedilotildees do Sepulcro Megaliacutetico MV2 (Vila Verde de Ficalho Serpa) Arquivo de Beja II1 67-82Valera A C amp Filipe I (2004) O povoado do Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) Novos dados e novas problemaacuteticas no contexto da calcolitizaccedilatildeo do Sudoeste peninsular Era Arqueologia 7 pp 23-32Valera A C amp Godinho R (2010) Ossos humanos provenientes dos fossos 3 e 4 e gestatildeo da morte nos Perdigotildees Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 6 pp 29-40Valera A C Becker H amp Boaventura R (2013) Moreiros 2 (Arronches Portalegre) geofiacutesica e cronologia dos recintos interiores Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 9 37-46Valera A C (2014 February 2) Perdigotildees NE gate Retrieved Juin 20 2014 from Portu-guese Prehistoric Enclosures wwwportuguese enclosresblogspotptValera A C Silva A M amp Maacuterquez Romero J (2014) The temporality of Perdigotildees En-closures absolute chronology of the structures and social practices Spal 23 pp 11-26Waterman A J Peate D W Silva A M amp Thomas J T (2013) In search of homelands using strontium isotopes to identify biological markers of mobility in lata prehistoric Portu-gal Journal of Archaeological Science p no prelo

Page 8: Muitas antas e muita gente! As relações entre os recintos ...De modo a responder às questões delineadas, recorreu-se aos Sistemas de Informação Geográfica (SIG), mais concretamente

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32 A relaccedilatildeo entre recintos de fossos e monumentos megaliacuteti-cos funeraacuteriosDa cartografia geral produzida (Fig 4) sobressai a disparidade entre o numero de monumentos megaliacuteticos situados a Norte da Serra de Portel e a escassez registada a Sul deste maciccedilo montanhoso A explicaccedilatildeo para tal fenoacutemeno poderaacute estar relacionada com as condicionantes geoloacutegicas das regiotildees verificando-se a Norte uma zona predominante-mente graniacutetica com disponibilidade de mateacuteria-prima para a execuccedilatildeo dos monumentos e a Sul uma carecircncia destes materiais tendo as so-ciedades preacute-histoacutericas procurado soluccedilotildees alternativas tais como a es-cavaccedilatildeo de hipogeus Regista-se assim um numero muito limitado de monumentos em torno dos recintos de fossos localizados na zona Sulbull dentro dos buffers do Porto Torratildeo natildeo haacute qualquer monumento dolmeacutenico identificado estando no entanto registadas diferentes for-mas de tratamento dos mortos como se veraacute numa discussatildeo adiante ndash tholoi hipogeus enterramentos em fossos despejo de restos humanos no interior do fossos delimitadores do recintobull nas aacutereas de exploraccedilatildeo do recinto de fossos da Fareleira 3 registam-se apenas dois monumentos megaliacuteticos integrados no buffer de 10 kmbull junto ao recinto de fossos da Igreja Velha de Satildeo Jorge registam-se dois monumentos megaliacuteticos ndash Monte da Velha 1 e Monte da Velha 2 (Soares amp Arnaud 1984 Soares 2008) ndash localizados a uma distacircncia inferior a1km do siacutetio em apreccedilo Situaccedilatildeo completamente oposta eacute a que se verifica nos recintos de fos-sos a Norte da Serra de Portel onde parece haver um pleno ldquoconviacuteviordquo entre ambas as formas de apropriaccedilatildeo dos territoacuterios sem que uma ex-clua a outra Por outras palavras existe uma ldquoharmoniardquo entre ldquomundo dos vivosrdquo e ldquomundo dos mortosrdquo ldquo[] onde o rito se conforma com o haacutebitordquo (Boaventura amp Mataloto 2013 84) Assim em torno de cada recinto em anaacutelise encontram-se monumentos megaliacuteticos quer dentro do buffer de 5km quer dentro do buffer de 10km o que demonstra que independentemente de haver ou natildeo sincronia nas construccedilotildees e nas utilizaccedilotildees a presenccedila de um recinto ou a presenccedila de um monumento megaliacutetico natildeo foi impeditiva que outras construccedilotildees similares posteri-ores ou simultacircneas tivessem lugar Ou seja haacute uma sobreposiccedilatildeo no espaccedilo entre todos os elementos analisados- recintos de fossos e monu-mentos megaliacuteticos - em plena convivecircncia territorialA elaboraccedilatildeo de Cartas de Visibilidades Acumuladas para cada um dos recintos de fossos e respectivos monumentos megaliacuteticos situados num

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raio de 10 km em torno dos primeiros permitiu ainda aferir que todos os siacutetios satildeo visiacuteveis entre si sendo possiacutevel assumir que os construtores de antas satildeo os contrutores dos recintos de fossos e vice-versa (Fig 6 7 8 e 9)Esta ocupaccedilatildeo massiva do territoacuterio sem qualquer termo comparativo com os periacuteodos antecedentes torna-se assim consentacircnea natildeo soacute com a ideia de um aumento demograacutefico exponencial na regiatildeo mas tambeacutem com a efectiva sedentarizaccedilao dos grupos humanos que satildeo cada vez mais in- tervenientes e modeladores da paisagem que os rodeia territorializando-a e reclamando-a para si Este espaccedilo natildeo soacute eacute o lugar que habitam mas eacute tambeacutem o lugar onde se eterniza a sua ancestralidade

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No que respeita agraves atividades funeraacuterias que estatildeo diretamente associa-das aos recintos de fossos conhecem-se dados provenientes daqueles que satildeo os lugares com a diacronia de ocupaccedilatildeo mais ampla os Per-digotildees e o Porto Torratildeo Quer num quer noutro siacutetio satildeo conhecidas dife- rentes actividades funeraacuterias e respectivo tratamento dos mortos Mas se para o primeiro caso ndash Perdigotildees ndash tem vindo a ser colocada a questatildeo de ldquo[] os Perdigotildees [] serem essencialmente um siacutetio de gestatildeo simboacutelica e praacutetica da morte e da vida um cenaacuterio para as mais variadas praacuteticas sociais ritualizadas [] para o qual nos falta uma designaccedilatildeo concreta pe- rante a cada vez maior desadequaccedilatildeo operativa de conceitos como povoa-do necroacutepole monumento etc pelo caraacutecter compartimentador e exclusivo que encerramrdquo (Valera amp Godinho 201037) para o segundo siacutetio ndash Porto Torratildeo ndash os dados revelam a criaccedilatildeo de aacutereas de necroacutepole bem definidas fora do periacutemetro delineado pelo sistema de fossos identificado (Rodrigues 2014) Analisando ambos os casos1 Complexo Arqueoloacutegico dos PerdigotildeesNo ultimos anos tecircm sido identificadas no interior do Complexo Arqueoloacutegico dos Perdigotildees diferentes ocorrecircncias que induzem os seus investigadores

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a assumir uma diversidade de praacuteticas funeraacuterias a saber ldquo[] deposiccedilotildees primaacuterias manipulaccedilatildeo poacutes-deposiccedilatildeo primaacuteria trasladaccedilotildees e deposiccedilotildees secundaacuterias cremaccedilotildees deposiccedilotildees em fossa deposiccedilotildees em fossos de-posiccedilotildees em sepulcros de tradiccedilatildeo megaliacuteticardquo (Valera amp Godinho 201037) cuja compreensatildeo passa por ldquo[] linking them to the ideological principles that are present in (and reinforced by) the location of the site and the mea- ningful relationship it establishes with the local landscape (both terrestrial and celestial) as well as in the architectonic design of the enclosures or in the practices of filling ditches and pits with intentional and formal depositsrdquo (Valera Silva amp Maacuterquez Romero 2014) Estes dados tecircm levado os investi-gadores do siacutetio a afastar a ideia de uma compartimentaccedilatildeo espacial entre ldquomundo dos vivosrdquo e ldquomundo dos mortosrdquo e a encarar os recintos de fossos do SW Peninsular como locais que poderatildeo ter sofrido um ldquo[] fenoacutemeno de ldquonecropolizaccedilatildeordquo (Valera amp Godinho 201037) O mais recente estudo acerca da temporalidade deste siacutetio permitiu esta-belecer diferentes etapas cronoloacutegicas da sua construccedilatildeo estando incluiacutedas nesta situaccedilatildeo as distintas estruturas com contextos funeraacuterios associados Este exerciacutecio assume especial importacircncia quando se pretende verificar se os restos humanos estatildeo (1) ldquoespalhadosrdquo ou ldquoconcentradosrdquo em determi-nadas aacutereas do recinto ou (2) se acompanham a evoluccedilatildeo arquitectoacutenica do siacutetio podendo-se definir eventuais aacutereas interiores ou exteriores de uti-lizaccedilatildeo Obviamente este tipo de exerciacutecio deteacutem agrave luz dos conhecimen-tos actuais alguns obstaacuteculos significativos vinculados ao facto de ainda existirem estruturas delimitadoras a escavar e a datar Poreacutem os dados empiacutericos disponiacuteveis devem ser analisados com as devidas salvaguar-das de forma a natildeo se cair na posiccedilatildeo de impasse de nada propor e de nada interpretar Assim quando confrontada a imagem proporcionada pe-los trabalhos de prospeccedilatildeo geofiacutesica onde foram devidamente implantados os contextos funeraacuterios identificados ateacute ao momento com o esquema de fases de construccedilatildeo arquitetoacutenica atestado atraveacutes da bateria de dataccedilatildeo radiomeacutetricas verifica-se que grande parte das atividades funeraacuterias que tiveram lugar neste recinto encontravam-se fora da aacuterea delimitada pelos fossos agrave eacutepoca em que foram realizadas Ou seja aparentemente as de-posiccedilotildees em fossa do Neoliacutetico Final encontram-se afastadas daquele que eacute o nucleo central do recinto correspondente agrave aacuterea ativa nesta eacutepoca natildeo havendo assim uma relaccedilatildeo direta entre o que se passava no seu interior e as atividades funeraacuterias que tiveram lugar no seu exterior Ou seja ava- liando os dados empiacutericos permitidos pela leitura arquitetoacutenica elaborada pelos investigadores as actividades funeraacuterias datadas do Neoliacutetico Final

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natildeo estatildeo diretamente associada agraves atividades intrassiacutetio pelo que natildeo se pode relacionar a fundaccedilatildeo desse recinto de fossos com o simbolismo as-sociado agraves praacuteticas funeraacuterias Refira-se tambeacutem que se no caso das estru-turas megaliacuteticas de tipo tholoi existe uma relaccedilatildeo (1) com as orientaccedilotildees da entradas conhecidas (2) com a dicotoacutemica relaccedilatildeo Este Oeste (3) assim como com a presenccedila do cromeleque a Este jaacute para os enterramentos em fossa do Neoliacutetico Final esse simbolismo natildeo pode ser aplicado de modo categoacuterico Efetivamente estes contextos localizam-se a Noroeste num local afastado dos sepulcros de tipo tholoi Ou seja as associaccedilotildees que tecircm vindo a ser reclamadas perdem assim o sentido deixando cair os significados que se pretendem vislumbrar 2 Porto TorratildeoTambeacutem neste siacutetio foram reconhecidas diferentes atividades funeraacuterias que agrave exceccedilatildeo dos contextos de cremaccedilatildeo em tudo se assemelham ao que jaacute foi descrito para os Perdigotildees Associados agravequele que eacute o maior recinto de fossos conhecido na aacuterea em apreccedilo reconhecem-se diferentes modos de tratamento dos mortos enterramentos em fossa (Rebelo 2009 Rebuge Saacute amp Cheney 2010 Neto et alii 2013) enterramentos em monumentos funeraacuterios de tipo tholoi e hipogeus (Dias amp Figueiredo 2009 Figueiredo 2009 Pereiro 2010 Neves amp Mendes 2011 Corga amp Ferreira 2011) e de-posiccedilatildeo de restos humanos no interior de fossos (Rodrigues 2014)Atestada essa diversidade que evidenciava diferentes localizaccedilotildees espa-ciais torna-se imperativo perceber se haveria aacutereas preferenciais de de-posiccedilatildeo dos restos humanos independentemente do tipo de tratamento que haviam sofrido (deposiccedilatildeo primaacuteria secundaacuteria com sem ritual) O tratamento estatiacutestico do numero miacutenimo de indiviacuteduos presentes em cada um dos contextos permitiu a perceccedilatildeo de que ldquodespite the fact that human remains apear throughout the entire archaeological complex there is a clear prevalence of this type of context outside the enclosed area And that is com-patible with the notion of a relatively well bounded necropolis Not in a par-ticular place (there are funerary monuments on the East and South sides of the enclosed area) but markedly out the enclosed areardquo (Rodrigues 2014) A descriccedilatildeo acima exposta reflete o cocircmputo dos contextos funeraacuterios iden-tificados neste siacutetio independentemente da sua cronologia No entanto se estes dados forem restringidos apenas agrave cronologia em apreccedilo a situaccedilatildeo natildeo difere Dos diferentes siacutetios onde foram identificados enterramentos e restos humanos o conjunto de hipogeus do Monte do Carrascal eacute aquele que apresenta uma cronologia enquadrada na etapa final do Neoliacutetico

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(Neves amp Mendes 2011) sendo igualmente o local de enterramento com o numero miacutenimo de indiviacuteduoas mais elevado o que mais uma vez re- vela que eacute fora das aacutereas definidas pelos recintos que se processa grande parte das actividades funeraacuterias destas comunidades Haacute no entanto uma excepccedilatildeo correspondente a um enterramento em fossa identificado na aacuterea intrafossos que pode ser cronologicamente enquadrado no Neoliacutetico Final (Neto et alii 2013) Apesar de natildeo se saber qual a relaccedilatildeo temporal entre os hipogeus do Monte do Carrascal e o enterramento em fossa do Porto Torratildeo eacute notoacuterio que haacute tratamento diferencial de determinados indiviacuteduos quer no que respeita ao ritual e lugar de enterramento quer no que respeita agrave sua individualidade

4 PRIMEIRAS LEITURASA recente identificaccedilatildeo de multiplas formas de sepultar tratar os mortos identificadas quer nos recintos de fossos quer nas suas aacutereas mais proacuteximas demonstram que as actividades funeraacuterias dos gru-pos do final do Neoliacutetico na regiatildeo do Alentejo natildeo satildeo exclusivas das antas mas aplica-se igualmente aos monumentos subterracirc-neos ndash os hipogeus ndash aos enterramentos em fossa agraves cremaccedilotildees e ao despejo literal de partes de restos humanos para o interior de estruturas negativas (fossos) Ainda que haja problemas associa-dos agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas que atestem quer o iniacutecio des- tas actividades quer a sua contemporaneidade estaacute corroborada a diver-sidade que eventualmente pode assumir contornos sociais conectaacuteveis com as relaccedilotildees intra e intergrupaisConsiderando os dois casos especiacuteficos acima expostos ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash estatildeo evidenciadas duas situaccedilotildees inegaacuteveisbull aumento demograacutefico demonstrado no numero significativo de contex-tos funeraacuterios que natildeo tecircm qualquer termo comparativo com as eacutepocas precedentes embora natildeo existam estudos demograacuteficos aprofundados acredita-se que esta circunstacircncia soacute eacute possiacutevel porque haacute definitivamente mais gente sedentarizada neste territoacuterio a partir do Neoliacutetico Finalbull diversidade no tratamento dos mortos natildeo obstante a coesatildeo cultural verificada no ldquomundo dos vivosrdquo verificado nas arquiteturas (ldquopovoadosrdquo monumentos megaliacuteticos recintos de fossos) na cultura material (con-juntos ceracircmicos industria liacuteticas artefactos ideoteacutecnicos) e nas estrateacute-gias de subsistecircncia (economia mista de produccedilatildeo de alimentos e ati- vidades cinegeacuteticas eventualmente associada agrave recoleccedilatildeo de recursos silvestres)

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Quanto agraves questotildees previamente definidas1) A macro anaacutelise efectuada natildeo permite aferir aacutereas preferenciais para a construccedilatildeo das antas em torno dos recintos de fossos em estudo contudo ao avaliar-se os siacutetios sobre os quais existe mais informaccedilatildeo ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash observa-se que durante a etapa final do Neoliacutetico os grupos construtores de recintos optaram por realizar as suas actividades funeraacuterias nas imediaccedilotildees desses lugares2) Apesar dos imensos desvios arqueograacuteficos que podem existir neste exerciacutecio devido fundamentalmente agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas ve- rifica-se que a construccedilatildeo preacutevia de qualquer um dos elementos arquitecoacuteni-cos em anaacutelise natildeo inibiu a construccedilatildeo do outro as imagens produzidas parecem aliaacutes sugerir o contraacuterio se considerarmos que os recintos de fossos poderatildeo ter funcionado como polos de agregaccedilatildeo social com ocu-paccedilotildees residenciais e permanentes temos de aceitar que no seu entorno imediato desenvolveram-se actividades pertencentes ao quotidiano dessas comunidades e entre essas a gestatildeo da morte teria um tratamento especial mas natildeo distante3) Os dados dos Perdigotildees e do Porto Torratildeo parecem sugerir que haacute uma preferecircncia para o desenvolvimento das actividades funeraacuterias fora das aacutereas delimitadas pelos fossos durante o Neoliacutetico Final no entanto exis- tem excepccedilotildees que permitem assumir a existecircncia de um tratamento dis-tinto entre indiviacuteduos uns satildeo inumados em estruturas colectivas enquanto outros tecircm enterramentos individuais se esta diferenciaccedilatildeo eacute ou natildeo sin-croacutenica eacute uma questatildeo que por agora fica obrigatoriamente em aberto

AGRADECIMENTOSA autora agradece agrave equipa da Direcccedilatildeo-Geral do Patrimoacutenio Cultural que gere a base de dados Endoveacutelico pela disponibilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo geograacutefica referente agrave implantaccedilatildeo dos monumentos megaliacuteticos inventa- riados na regiatildeo estudada

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICASArnaud J M (1993) O povoado calcoliacutetico de Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) siacutentese das investigaccedilotildees realizads Vipasca 41-60Boaventura R (2011) Cronologiacutea del megalitismo en el Centro-Sur de Portugal Menga Revista de Prehistoria de Andaluciacutea 158-190Boaventura R amp Mataloto R (2013) Entre mortos e vivos noacutetulas acerca da cronologia absoluta do Megalitismo do Sul de Portugal Revista Portuguesa de Arqueologia 81-101Calado M amp Mataloto R (1998) Relatoacuterio intercalar referente aos trabalhos do Blo-co 2 do Plano de Minimizaccedilatildeo de Impactes do Regolfo do Alqueva Escavaccedilatildeo do Povo-

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ado Neoliacutetico de Juromenha 1 (Alandroal) Campanha 1 (Abril a Julho de 1998) Lisboa Fundaccedilatildeo da Unoversidade de LisboaCalado M amp Rocha A (2000) Relatoacuterio de escavaccedilatildeo do povoado da Malhada das Mimosas (Alandroal) - Campanha 2 - 2000 Lisboa Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa Centro de Arqueologia de Lisboa EDIA SACarvalho A F (Ed) (2014) Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Universidade do AlgarveCorga M amp Ferreira M T (2011) Horta do Joatildeo da Moura 1 - Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirinha e Valbom - Fase de Obra exemplar policopiado Styx estudos de antropologia EDIA SADias S amp Figueiredo M (2009) Relatoacuterio preliminar dos trabalhos arqueoloacutegicos e an-tropoloacutegicos do Monte do Pombal 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2009) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos Monte do Cardim 6 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2013 Fevereiro 5) Fareleira 3 ditched enclosure Retrieved Junho 20 2014 from Portuguese Prehistoric Enclosures wwwportugueseenclosuresblogspotptGonccedilalves V S (2000) Muitas antas pouca gente Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de ArqueologiaGonccedilalves V S (2003) Muita gente poucas antas Origens espaccedilos e contextos do Megalitismo Actas do II Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Por-tuguecircs deAHiggs E S amp Vita Finzi C (1972) Prehistoric Economies a territorial aproach In Papers in Economic Prehistory (pp 27-36) London Cambridge University PressLago M amp Albergaria J (2001) O Cabeccedilo do Torratildeo (Elvas) contextos e interpretaccedilotildees preacutevias de um lugar do Neoliacutetico alentejano Era Arqueologia 4 pp 39-62Lago M Duarte C Valera A Albergaria J Almeida F amp Carvalho A (1998) Povoado dos Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz) dados preliminares dos trabalhos arqueoloacutegi-cos realizados em 1997 Revista Portguesa de Arqueologia 45-152Leisner G amp Leisner V (1985) Antas do Concelho de Reguengos de Monsaraz Lisboa UNIARCHMataloto R amp Costeira C (2008) O povoado calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Revista Portuguesa de Arqueologia 11 5-27Mataloto R amp Costeira C (2009) O Povoado Calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Notiacutecia da sua identificaccedilatildeo IV Encontro de Arqueologia del Suroeste Peninsular (pp 107-133) HuelvaMataloto R Davis S Costeira C Clemente R amp Santos I (2011) Os povoados de fossos do Paraiacuteso uma ocipaccedilatildeo do IV III mileacutenios aC na regiatildeo de Elvas Balanccedilo das intervenccedilotildees 2009-2010 Actas do V Encontro de Arqueologia Peninsular (pp 39-72)Neto N Rocha M Santos R amp Rebelo P (2013) Povoado calcoliacutetico do Porto Torratildeo - uma inumaccedilatildeo em fossa Arqueologia em Portugal - 150 anos (pp 379-385) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesNeves M J amp Mendes C (2011) Monte do Carrascal 2 - Trabalhos arqueoloacutegicos e ntropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes decorrentes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirnha e Valbom - Fase de obra Styx EDIA SAPereiro T (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Horta do Joatildeo da Moura 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SARebelo P (2009) Relatoacuterio Final da intervenccedilatildeo arqueoloacutegica no Povoado do Porto

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Torratildeo Ferreira do Alentejo Beja Neoeacutepica EDIA SARebuge J Saacute A amp Cheney A (2010) Intervenccedilatildeo Arqueoloacutegica em Porto Torratildeo (Sector 3 Oeste) Beja Archeoestudos EDIA SARodrigues F (2008) O recinto de fossos da Ponte da Azambuja 2 (Porte Eacutevora) primeira notiacutecia Apontamentos de Arquologia e Patrimoacutenio pp 49-56Rodrigues F (2013) Iacutedolomania figuras antropomoacuterficas e ldquoiacutedolos de cornosrdquo do recinto de fossos do Neoliacutetico Final da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) Arqueologia em Portugal 150 anos (pp 435-446) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesRodrigues F (2014) Skeletons in the ditch funerary activity in ditched enclosures of Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo Beja) Recent Prehistory Enclosures and Funerary Practices in Europe (pp 59-69) Oxford ArchaeopressRodrigues F (2015) O siacutetio da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) e a emergecircncia dos recintos de fossos no SW Peninsular nos finais do 4ordm mileacutenio ane Tese de Doutoramen-to exemplar policopiadoSantos H (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Monte do Carrascal 2 Era Ar-queologia EDIA SASantos R Rebelo P Neto N Rebuge J Saacute A Cheney A et al (2014) Porto Torratildeo resultados preliminares 4ordm Coloacutequio de Arqueologia de Alqueva O plano de rega Beja EDIA SASoares A M (1994) Descoberta de um povoado do Neoliacutetico junto agrave Igreja Velha de Satildeo Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Resultados Preliminares Vipasca 3 pp 41-49Soares A M (1996) Dataccedilatildeo absoluta da estrutura neoliacutetica junto agrave Igreja Velha de S Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Vipasca 5 51-58Soares A M amp Arnaud J M (1984) Escavaccedilotildees do Sepulcro Megaliacutetico MV2 (Vila Verde de Ficalho Serpa) Arquivo de Beja II1 67-82Valera A C amp Filipe I (2004) O povoado do Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) Novos dados e novas problemaacuteticas no contexto da calcolitizaccedilatildeo do Sudoeste peninsular Era Arqueologia 7 pp 23-32Valera A C amp Godinho R (2010) Ossos humanos provenientes dos fossos 3 e 4 e gestatildeo da morte nos Perdigotildees Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 6 pp 29-40Valera A C Becker H amp Boaventura R (2013) Moreiros 2 (Arronches Portalegre) geofiacutesica e cronologia dos recintos interiores Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 9 37-46Valera A C (2014 February 2) Perdigotildees NE gate Retrieved Juin 20 2014 from Portu-guese Prehistoric Enclosures wwwportuguese enclosresblogspotptValera A C Silva A M amp Maacuterquez Romero J (2014) The temporality of Perdigotildees En-closures absolute chronology of the structures and social practices Spal 23 pp 11-26Waterman A J Peate D W Silva A M amp Thomas J T (2013) In search of homelands using strontium isotopes to identify biological markers of mobility in lata prehistoric Portu-gal Journal of Archaeological Science p no prelo

Page 9: Muitas antas e muita gente! As relações entre os recintos ...De modo a responder às questões delineadas, recorreu-se aos Sistemas de Informação Geográfica (SIG), mais concretamente

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raio de 10 km em torno dos primeiros permitiu ainda aferir que todos os siacutetios satildeo visiacuteveis entre si sendo possiacutevel assumir que os construtores de antas satildeo os contrutores dos recintos de fossos e vice-versa (Fig 6 7 8 e 9)Esta ocupaccedilatildeo massiva do territoacuterio sem qualquer termo comparativo com os periacuteodos antecedentes torna-se assim consentacircnea natildeo soacute com a ideia de um aumento demograacutefico exponencial na regiatildeo mas tambeacutem com a efectiva sedentarizaccedilao dos grupos humanos que satildeo cada vez mais in- tervenientes e modeladores da paisagem que os rodeia territorializando-a e reclamando-a para si Este espaccedilo natildeo soacute eacute o lugar que habitam mas eacute tambeacutem o lugar onde se eterniza a sua ancestralidade

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No que respeita agraves atividades funeraacuterias que estatildeo diretamente associa-das aos recintos de fossos conhecem-se dados provenientes daqueles que satildeo os lugares com a diacronia de ocupaccedilatildeo mais ampla os Per-digotildees e o Porto Torratildeo Quer num quer noutro siacutetio satildeo conhecidas dife- rentes actividades funeraacuterias e respectivo tratamento dos mortos Mas se para o primeiro caso ndash Perdigotildees ndash tem vindo a ser colocada a questatildeo de ldquo[] os Perdigotildees [] serem essencialmente um siacutetio de gestatildeo simboacutelica e praacutetica da morte e da vida um cenaacuterio para as mais variadas praacuteticas sociais ritualizadas [] para o qual nos falta uma designaccedilatildeo concreta pe- rante a cada vez maior desadequaccedilatildeo operativa de conceitos como povoa-do necroacutepole monumento etc pelo caraacutecter compartimentador e exclusivo que encerramrdquo (Valera amp Godinho 201037) para o segundo siacutetio ndash Porto Torratildeo ndash os dados revelam a criaccedilatildeo de aacutereas de necroacutepole bem definidas fora do periacutemetro delineado pelo sistema de fossos identificado (Rodrigues 2014) Analisando ambos os casos1 Complexo Arqueoloacutegico dos PerdigotildeesNo ultimos anos tecircm sido identificadas no interior do Complexo Arqueoloacutegico dos Perdigotildees diferentes ocorrecircncias que induzem os seus investigadores

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a assumir uma diversidade de praacuteticas funeraacuterias a saber ldquo[] deposiccedilotildees primaacuterias manipulaccedilatildeo poacutes-deposiccedilatildeo primaacuteria trasladaccedilotildees e deposiccedilotildees secundaacuterias cremaccedilotildees deposiccedilotildees em fossa deposiccedilotildees em fossos de-posiccedilotildees em sepulcros de tradiccedilatildeo megaliacuteticardquo (Valera amp Godinho 201037) cuja compreensatildeo passa por ldquo[] linking them to the ideological principles that are present in (and reinforced by) the location of the site and the mea- ningful relationship it establishes with the local landscape (both terrestrial and celestial) as well as in the architectonic design of the enclosures or in the practices of filling ditches and pits with intentional and formal depositsrdquo (Valera Silva amp Maacuterquez Romero 2014) Estes dados tecircm levado os investi-gadores do siacutetio a afastar a ideia de uma compartimentaccedilatildeo espacial entre ldquomundo dos vivosrdquo e ldquomundo dos mortosrdquo e a encarar os recintos de fossos do SW Peninsular como locais que poderatildeo ter sofrido um ldquo[] fenoacutemeno de ldquonecropolizaccedilatildeordquo (Valera amp Godinho 201037) O mais recente estudo acerca da temporalidade deste siacutetio permitiu esta-belecer diferentes etapas cronoloacutegicas da sua construccedilatildeo estando incluiacutedas nesta situaccedilatildeo as distintas estruturas com contextos funeraacuterios associados Este exerciacutecio assume especial importacircncia quando se pretende verificar se os restos humanos estatildeo (1) ldquoespalhadosrdquo ou ldquoconcentradosrdquo em determi-nadas aacutereas do recinto ou (2) se acompanham a evoluccedilatildeo arquitectoacutenica do siacutetio podendo-se definir eventuais aacutereas interiores ou exteriores de uti-lizaccedilatildeo Obviamente este tipo de exerciacutecio deteacutem agrave luz dos conhecimen-tos actuais alguns obstaacuteculos significativos vinculados ao facto de ainda existirem estruturas delimitadoras a escavar e a datar Poreacutem os dados empiacutericos disponiacuteveis devem ser analisados com as devidas salvaguar-das de forma a natildeo se cair na posiccedilatildeo de impasse de nada propor e de nada interpretar Assim quando confrontada a imagem proporcionada pe-los trabalhos de prospeccedilatildeo geofiacutesica onde foram devidamente implantados os contextos funeraacuterios identificados ateacute ao momento com o esquema de fases de construccedilatildeo arquitetoacutenica atestado atraveacutes da bateria de dataccedilatildeo radiomeacutetricas verifica-se que grande parte das atividades funeraacuterias que tiveram lugar neste recinto encontravam-se fora da aacuterea delimitada pelos fossos agrave eacutepoca em que foram realizadas Ou seja aparentemente as de-posiccedilotildees em fossa do Neoliacutetico Final encontram-se afastadas daquele que eacute o nucleo central do recinto correspondente agrave aacuterea ativa nesta eacutepoca natildeo havendo assim uma relaccedilatildeo direta entre o que se passava no seu interior e as atividades funeraacuterias que tiveram lugar no seu exterior Ou seja ava- liando os dados empiacutericos permitidos pela leitura arquitetoacutenica elaborada pelos investigadores as actividades funeraacuterias datadas do Neoliacutetico Final

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natildeo estatildeo diretamente associada agraves atividades intrassiacutetio pelo que natildeo se pode relacionar a fundaccedilatildeo desse recinto de fossos com o simbolismo as-sociado agraves praacuteticas funeraacuterias Refira-se tambeacutem que se no caso das estru-turas megaliacuteticas de tipo tholoi existe uma relaccedilatildeo (1) com as orientaccedilotildees da entradas conhecidas (2) com a dicotoacutemica relaccedilatildeo Este Oeste (3) assim como com a presenccedila do cromeleque a Este jaacute para os enterramentos em fossa do Neoliacutetico Final esse simbolismo natildeo pode ser aplicado de modo categoacuterico Efetivamente estes contextos localizam-se a Noroeste num local afastado dos sepulcros de tipo tholoi Ou seja as associaccedilotildees que tecircm vindo a ser reclamadas perdem assim o sentido deixando cair os significados que se pretendem vislumbrar 2 Porto TorratildeoTambeacutem neste siacutetio foram reconhecidas diferentes atividades funeraacuterias que agrave exceccedilatildeo dos contextos de cremaccedilatildeo em tudo se assemelham ao que jaacute foi descrito para os Perdigotildees Associados agravequele que eacute o maior recinto de fossos conhecido na aacuterea em apreccedilo reconhecem-se diferentes modos de tratamento dos mortos enterramentos em fossa (Rebelo 2009 Rebuge Saacute amp Cheney 2010 Neto et alii 2013) enterramentos em monumentos funeraacuterios de tipo tholoi e hipogeus (Dias amp Figueiredo 2009 Figueiredo 2009 Pereiro 2010 Neves amp Mendes 2011 Corga amp Ferreira 2011) e de-posiccedilatildeo de restos humanos no interior de fossos (Rodrigues 2014)Atestada essa diversidade que evidenciava diferentes localizaccedilotildees espa-ciais torna-se imperativo perceber se haveria aacutereas preferenciais de de-posiccedilatildeo dos restos humanos independentemente do tipo de tratamento que haviam sofrido (deposiccedilatildeo primaacuteria secundaacuteria com sem ritual) O tratamento estatiacutestico do numero miacutenimo de indiviacuteduos presentes em cada um dos contextos permitiu a perceccedilatildeo de que ldquodespite the fact that human remains apear throughout the entire archaeological complex there is a clear prevalence of this type of context outside the enclosed area And that is com-patible with the notion of a relatively well bounded necropolis Not in a par-ticular place (there are funerary monuments on the East and South sides of the enclosed area) but markedly out the enclosed areardquo (Rodrigues 2014) A descriccedilatildeo acima exposta reflete o cocircmputo dos contextos funeraacuterios iden-tificados neste siacutetio independentemente da sua cronologia No entanto se estes dados forem restringidos apenas agrave cronologia em apreccedilo a situaccedilatildeo natildeo difere Dos diferentes siacutetios onde foram identificados enterramentos e restos humanos o conjunto de hipogeus do Monte do Carrascal eacute aquele que apresenta uma cronologia enquadrada na etapa final do Neoliacutetico

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(Neves amp Mendes 2011) sendo igualmente o local de enterramento com o numero miacutenimo de indiviacuteduoas mais elevado o que mais uma vez re- vela que eacute fora das aacutereas definidas pelos recintos que se processa grande parte das actividades funeraacuterias destas comunidades Haacute no entanto uma excepccedilatildeo correspondente a um enterramento em fossa identificado na aacuterea intrafossos que pode ser cronologicamente enquadrado no Neoliacutetico Final (Neto et alii 2013) Apesar de natildeo se saber qual a relaccedilatildeo temporal entre os hipogeus do Monte do Carrascal e o enterramento em fossa do Porto Torratildeo eacute notoacuterio que haacute tratamento diferencial de determinados indiviacuteduos quer no que respeita ao ritual e lugar de enterramento quer no que respeita agrave sua individualidade

4 PRIMEIRAS LEITURASA recente identificaccedilatildeo de multiplas formas de sepultar tratar os mortos identificadas quer nos recintos de fossos quer nas suas aacutereas mais proacuteximas demonstram que as actividades funeraacuterias dos gru-pos do final do Neoliacutetico na regiatildeo do Alentejo natildeo satildeo exclusivas das antas mas aplica-se igualmente aos monumentos subterracirc-neos ndash os hipogeus ndash aos enterramentos em fossa agraves cremaccedilotildees e ao despejo literal de partes de restos humanos para o interior de estruturas negativas (fossos) Ainda que haja problemas associa-dos agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas que atestem quer o iniacutecio des- tas actividades quer a sua contemporaneidade estaacute corroborada a diver-sidade que eventualmente pode assumir contornos sociais conectaacuteveis com as relaccedilotildees intra e intergrupaisConsiderando os dois casos especiacuteficos acima expostos ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash estatildeo evidenciadas duas situaccedilotildees inegaacuteveisbull aumento demograacutefico demonstrado no numero significativo de contex-tos funeraacuterios que natildeo tecircm qualquer termo comparativo com as eacutepocas precedentes embora natildeo existam estudos demograacuteficos aprofundados acredita-se que esta circunstacircncia soacute eacute possiacutevel porque haacute definitivamente mais gente sedentarizada neste territoacuterio a partir do Neoliacutetico Finalbull diversidade no tratamento dos mortos natildeo obstante a coesatildeo cultural verificada no ldquomundo dos vivosrdquo verificado nas arquiteturas (ldquopovoadosrdquo monumentos megaliacuteticos recintos de fossos) na cultura material (con-juntos ceracircmicos industria liacuteticas artefactos ideoteacutecnicos) e nas estrateacute-gias de subsistecircncia (economia mista de produccedilatildeo de alimentos e ati- vidades cinegeacuteticas eventualmente associada agrave recoleccedilatildeo de recursos silvestres)

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Quanto agraves questotildees previamente definidas1) A macro anaacutelise efectuada natildeo permite aferir aacutereas preferenciais para a construccedilatildeo das antas em torno dos recintos de fossos em estudo contudo ao avaliar-se os siacutetios sobre os quais existe mais informaccedilatildeo ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash observa-se que durante a etapa final do Neoliacutetico os grupos construtores de recintos optaram por realizar as suas actividades funeraacuterias nas imediaccedilotildees desses lugares2) Apesar dos imensos desvios arqueograacuteficos que podem existir neste exerciacutecio devido fundamentalmente agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas ve- rifica-se que a construccedilatildeo preacutevia de qualquer um dos elementos arquitecoacuteni-cos em anaacutelise natildeo inibiu a construccedilatildeo do outro as imagens produzidas parecem aliaacutes sugerir o contraacuterio se considerarmos que os recintos de fossos poderatildeo ter funcionado como polos de agregaccedilatildeo social com ocu-paccedilotildees residenciais e permanentes temos de aceitar que no seu entorno imediato desenvolveram-se actividades pertencentes ao quotidiano dessas comunidades e entre essas a gestatildeo da morte teria um tratamento especial mas natildeo distante3) Os dados dos Perdigotildees e do Porto Torratildeo parecem sugerir que haacute uma preferecircncia para o desenvolvimento das actividades funeraacuterias fora das aacutereas delimitadas pelos fossos durante o Neoliacutetico Final no entanto exis- tem excepccedilotildees que permitem assumir a existecircncia de um tratamento dis-tinto entre indiviacuteduos uns satildeo inumados em estruturas colectivas enquanto outros tecircm enterramentos individuais se esta diferenciaccedilatildeo eacute ou natildeo sin-croacutenica eacute uma questatildeo que por agora fica obrigatoriamente em aberto

AGRADECIMENTOSA autora agradece agrave equipa da Direcccedilatildeo-Geral do Patrimoacutenio Cultural que gere a base de dados Endoveacutelico pela disponibilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo geograacutefica referente agrave implantaccedilatildeo dos monumentos megaliacuteticos inventa- riados na regiatildeo estudada

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICASArnaud J M (1993) O povoado calcoliacutetico de Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) siacutentese das investigaccedilotildees realizads Vipasca 41-60Boaventura R (2011) Cronologiacutea del megalitismo en el Centro-Sur de Portugal Menga Revista de Prehistoria de Andaluciacutea 158-190Boaventura R amp Mataloto R (2013) Entre mortos e vivos noacutetulas acerca da cronologia absoluta do Megalitismo do Sul de Portugal Revista Portuguesa de Arqueologia 81-101Calado M amp Mataloto R (1998) Relatoacuterio intercalar referente aos trabalhos do Blo-co 2 do Plano de Minimizaccedilatildeo de Impactes do Regolfo do Alqueva Escavaccedilatildeo do Povo-

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ado Neoliacutetico de Juromenha 1 (Alandroal) Campanha 1 (Abril a Julho de 1998) Lisboa Fundaccedilatildeo da Unoversidade de LisboaCalado M amp Rocha A (2000) Relatoacuterio de escavaccedilatildeo do povoado da Malhada das Mimosas (Alandroal) - Campanha 2 - 2000 Lisboa Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa Centro de Arqueologia de Lisboa EDIA SACarvalho A F (Ed) (2014) Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Universidade do AlgarveCorga M amp Ferreira M T (2011) Horta do Joatildeo da Moura 1 - Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirinha e Valbom - Fase de Obra exemplar policopiado Styx estudos de antropologia EDIA SADias S amp Figueiredo M (2009) Relatoacuterio preliminar dos trabalhos arqueoloacutegicos e an-tropoloacutegicos do Monte do Pombal 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2009) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos Monte do Cardim 6 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2013 Fevereiro 5) Fareleira 3 ditched enclosure Retrieved Junho 20 2014 from Portuguese Prehistoric Enclosures wwwportugueseenclosuresblogspotptGonccedilalves V S (2000) Muitas antas pouca gente Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de ArqueologiaGonccedilalves V S (2003) Muita gente poucas antas Origens espaccedilos e contextos do Megalitismo Actas do II Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Por-tuguecircs deAHiggs E S amp Vita Finzi C (1972) Prehistoric Economies a territorial aproach In Papers in Economic Prehistory (pp 27-36) London Cambridge University PressLago M amp Albergaria J (2001) O Cabeccedilo do Torratildeo (Elvas) contextos e interpretaccedilotildees preacutevias de um lugar do Neoliacutetico alentejano Era Arqueologia 4 pp 39-62Lago M Duarte C Valera A Albergaria J Almeida F amp Carvalho A (1998) Povoado dos Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz) dados preliminares dos trabalhos arqueoloacutegi-cos realizados em 1997 Revista Portguesa de Arqueologia 45-152Leisner G amp Leisner V (1985) Antas do Concelho de Reguengos de Monsaraz Lisboa UNIARCHMataloto R amp Costeira C (2008) O povoado calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Revista Portuguesa de Arqueologia 11 5-27Mataloto R amp Costeira C (2009) O Povoado Calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Notiacutecia da sua identificaccedilatildeo IV Encontro de Arqueologia del Suroeste Peninsular (pp 107-133) HuelvaMataloto R Davis S Costeira C Clemente R amp Santos I (2011) Os povoados de fossos do Paraiacuteso uma ocipaccedilatildeo do IV III mileacutenios aC na regiatildeo de Elvas Balanccedilo das intervenccedilotildees 2009-2010 Actas do V Encontro de Arqueologia Peninsular (pp 39-72)Neto N Rocha M Santos R amp Rebelo P (2013) Povoado calcoliacutetico do Porto Torratildeo - uma inumaccedilatildeo em fossa Arqueologia em Portugal - 150 anos (pp 379-385) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesNeves M J amp Mendes C (2011) Monte do Carrascal 2 - Trabalhos arqueoloacutegicos e ntropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes decorrentes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirnha e Valbom - Fase de obra Styx EDIA SAPereiro T (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Horta do Joatildeo da Moura 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SARebelo P (2009) Relatoacuterio Final da intervenccedilatildeo arqueoloacutegica no Povoado do Porto

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Torratildeo Ferreira do Alentejo Beja Neoeacutepica EDIA SARebuge J Saacute A amp Cheney A (2010) Intervenccedilatildeo Arqueoloacutegica em Porto Torratildeo (Sector 3 Oeste) Beja Archeoestudos EDIA SARodrigues F (2008) O recinto de fossos da Ponte da Azambuja 2 (Porte Eacutevora) primeira notiacutecia Apontamentos de Arquologia e Patrimoacutenio pp 49-56Rodrigues F (2013) Iacutedolomania figuras antropomoacuterficas e ldquoiacutedolos de cornosrdquo do recinto de fossos do Neoliacutetico Final da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) Arqueologia em Portugal 150 anos (pp 435-446) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesRodrigues F (2014) Skeletons in the ditch funerary activity in ditched enclosures of Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo Beja) Recent Prehistory Enclosures and Funerary Practices in Europe (pp 59-69) Oxford ArchaeopressRodrigues F (2015) O siacutetio da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) e a emergecircncia dos recintos de fossos no SW Peninsular nos finais do 4ordm mileacutenio ane Tese de Doutoramen-to exemplar policopiadoSantos H (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Monte do Carrascal 2 Era Ar-queologia EDIA SASantos R Rebelo P Neto N Rebuge J Saacute A Cheney A et al (2014) Porto Torratildeo resultados preliminares 4ordm Coloacutequio de Arqueologia de Alqueva O plano de rega Beja EDIA SASoares A M (1994) Descoberta de um povoado do Neoliacutetico junto agrave Igreja Velha de Satildeo Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Resultados Preliminares Vipasca 3 pp 41-49Soares A M (1996) Dataccedilatildeo absoluta da estrutura neoliacutetica junto agrave Igreja Velha de S Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Vipasca 5 51-58Soares A M amp Arnaud J M (1984) Escavaccedilotildees do Sepulcro Megaliacutetico MV2 (Vila Verde de Ficalho Serpa) Arquivo de Beja II1 67-82Valera A C amp Filipe I (2004) O povoado do Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) Novos dados e novas problemaacuteticas no contexto da calcolitizaccedilatildeo do Sudoeste peninsular Era Arqueologia 7 pp 23-32Valera A C amp Godinho R (2010) Ossos humanos provenientes dos fossos 3 e 4 e gestatildeo da morte nos Perdigotildees Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 6 pp 29-40Valera A C Becker H amp Boaventura R (2013) Moreiros 2 (Arronches Portalegre) geofiacutesica e cronologia dos recintos interiores Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 9 37-46Valera A C (2014 February 2) Perdigotildees NE gate Retrieved Juin 20 2014 from Portu-guese Prehistoric Enclosures wwwportuguese enclosresblogspotptValera A C Silva A M amp Maacuterquez Romero J (2014) The temporality of Perdigotildees En-closures absolute chronology of the structures and social practices Spal 23 pp 11-26Waterman A J Peate D W Silva A M amp Thomas J T (2013) In search of homelands using strontium isotopes to identify biological markers of mobility in lata prehistoric Portu-gal Journal of Archaeological Science p no prelo

Page 10: Muitas antas e muita gente! As relações entre os recintos ...De modo a responder às questões delineadas, recorreu-se aos Sistemas de Informação Geográfica (SIG), mais concretamente

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No que respeita agraves atividades funeraacuterias que estatildeo diretamente associa-das aos recintos de fossos conhecem-se dados provenientes daqueles que satildeo os lugares com a diacronia de ocupaccedilatildeo mais ampla os Per-digotildees e o Porto Torratildeo Quer num quer noutro siacutetio satildeo conhecidas dife- rentes actividades funeraacuterias e respectivo tratamento dos mortos Mas se para o primeiro caso ndash Perdigotildees ndash tem vindo a ser colocada a questatildeo de ldquo[] os Perdigotildees [] serem essencialmente um siacutetio de gestatildeo simboacutelica e praacutetica da morte e da vida um cenaacuterio para as mais variadas praacuteticas sociais ritualizadas [] para o qual nos falta uma designaccedilatildeo concreta pe- rante a cada vez maior desadequaccedilatildeo operativa de conceitos como povoa-do necroacutepole monumento etc pelo caraacutecter compartimentador e exclusivo que encerramrdquo (Valera amp Godinho 201037) para o segundo siacutetio ndash Porto Torratildeo ndash os dados revelam a criaccedilatildeo de aacutereas de necroacutepole bem definidas fora do periacutemetro delineado pelo sistema de fossos identificado (Rodrigues 2014) Analisando ambos os casos1 Complexo Arqueoloacutegico dos PerdigotildeesNo ultimos anos tecircm sido identificadas no interior do Complexo Arqueoloacutegico dos Perdigotildees diferentes ocorrecircncias que induzem os seus investigadores

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a assumir uma diversidade de praacuteticas funeraacuterias a saber ldquo[] deposiccedilotildees primaacuterias manipulaccedilatildeo poacutes-deposiccedilatildeo primaacuteria trasladaccedilotildees e deposiccedilotildees secundaacuterias cremaccedilotildees deposiccedilotildees em fossa deposiccedilotildees em fossos de-posiccedilotildees em sepulcros de tradiccedilatildeo megaliacuteticardquo (Valera amp Godinho 201037) cuja compreensatildeo passa por ldquo[] linking them to the ideological principles that are present in (and reinforced by) the location of the site and the mea- ningful relationship it establishes with the local landscape (both terrestrial and celestial) as well as in the architectonic design of the enclosures or in the practices of filling ditches and pits with intentional and formal depositsrdquo (Valera Silva amp Maacuterquez Romero 2014) Estes dados tecircm levado os investi-gadores do siacutetio a afastar a ideia de uma compartimentaccedilatildeo espacial entre ldquomundo dos vivosrdquo e ldquomundo dos mortosrdquo e a encarar os recintos de fossos do SW Peninsular como locais que poderatildeo ter sofrido um ldquo[] fenoacutemeno de ldquonecropolizaccedilatildeordquo (Valera amp Godinho 201037) O mais recente estudo acerca da temporalidade deste siacutetio permitiu esta-belecer diferentes etapas cronoloacutegicas da sua construccedilatildeo estando incluiacutedas nesta situaccedilatildeo as distintas estruturas com contextos funeraacuterios associados Este exerciacutecio assume especial importacircncia quando se pretende verificar se os restos humanos estatildeo (1) ldquoespalhadosrdquo ou ldquoconcentradosrdquo em determi-nadas aacutereas do recinto ou (2) se acompanham a evoluccedilatildeo arquitectoacutenica do siacutetio podendo-se definir eventuais aacutereas interiores ou exteriores de uti-lizaccedilatildeo Obviamente este tipo de exerciacutecio deteacutem agrave luz dos conhecimen-tos actuais alguns obstaacuteculos significativos vinculados ao facto de ainda existirem estruturas delimitadoras a escavar e a datar Poreacutem os dados empiacutericos disponiacuteveis devem ser analisados com as devidas salvaguar-das de forma a natildeo se cair na posiccedilatildeo de impasse de nada propor e de nada interpretar Assim quando confrontada a imagem proporcionada pe-los trabalhos de prospeccedilatildeo geofiacutesica onde foram devidamente implantados os contextos funeraacuterios identificados ateacute ao momento com o esquema de fases de construccedilatildeo arquitetoacutenica atestado atraveacutes da bateria de dataccedilatildeo radiomeacutetricas verifica-se que grande parte das atividades funeraacuterias que tiveram lugar neste recinto encontravam-se fora da aacuterea delimitada pelos fossos agrave eacutepoca em que foram realizadas Ou seja aparentemente as de-posiccedilotildees em fossa do Neoliacutetico Final encontram-se afastadas daquele que eacute o nucleo central do recinto correspondente agrave aacuterea ativa nesta eacutepoca natildeo havendo assim uma relaccedilatildeo direta entre o que se passava no seu interior e as atividades funeraacuterias que tiveram lugar no seu exterior Ou seja ava- liando os dados empiacutericos permitidos pela leitura arquitetoacutenica elaborada pelos investigadores as actividades funeraacuterias datadas do Neoliacutetico Final

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natildeo estatildeo diretamente associada agraves atividades intrassiacutetio pelo que natildeo se pode relacionar a fundaccedilatildeo desse recinto de fossos com o simbolismo as-sociado agraves praacuteticas funeraacuterias Refira-se tambeacutem que se no caso das estru-turas megaliacuteticas de tipo tholoi existe uma relaccedilatildeo (1) com as orientaccedilotildees da entradas conhecidas (2) com a dicotoacutemica relaccedilatildeo Este Oeste (3) assim como com a presenccedila do cromeleque a Este jaacute para os enterramentos em fossa do Neoliacutetico Final esse simbolismo natildeo pode ser aplicado de modo categoacuterico Efetivamente estes contextos localizam-se a Noroeste num local afastado dos sepulcros de tipo tholoi Ou seja as associaccedilotildees que tecircm vindo a ser reclamadas perdem assim o sentido deixando cair os significados que se pretendem vislumbrar 2 Porto TorratildeoTambeacutem neste siacutetio foram reconhecidas diferentes atividades funeraacuterias que agrave exceccedilatildeo dos contextos de cremaccedilatildeo em tudo se assemelham ao que jaacute foi descrito para os Perdigotildees Associados agravequele que eacute o maior recinto de fossos conhecido na aacuterea em apreccedilo reconhecem-se diferentes modos de tratamento dos mortos enterramentos em fossa (Rebelo 2009 Rebuge Saacute amp Cheney 2010 Neto et alii 2013) enterramentos em monumentos funeraacuterios de tipo tholoi e hipogeus (Dias amp Figueiredo 2009 Figueiredo 2009 Pereiro 2010 Neves amp Mendes 2011 Corga amp Ferreira 2011) e de-posiccedilatildeo de restos humanos no interior de fossos (Rodrigues 2014)Atestada essa diversidade que evidenciava diferentes localizaccedilotildees espa-ciais torna-se imperativo perceber se haveria aacutereas preferenciais de de-posiccedilatildeo dos restos humanos independentemente do tipo de tratamento que haviam sofrido (deposiccedilatildeo primaacuteria secundaacuteria com sem ritual) O tratamento estatiacutestico do numero miacutenimo de indiviacuteduos presentes em cada um dos contextos permitiu a perceccedilatildeo de que ldquodespite the fact that human remains apear throughout the entire archaeological complex there is a clear prevalence of this type of context outside the enclosed area And that is com-patible with the notion of a relatively well bounded necropolis Not in a par-ticular place (there are funerary monuments on the East and South sides of the enclosed area) but markedly out the enclosed areardquo (Rodrigues 2014) A descriccedilatildeo acima exposta reflete o cocircmputo dos contextos funeraacuterios iden-tificados neste siacutetio independentemente da sua cronologia No entanto se estes dados forem restringidos apenas agrave cronologia em apreccedilo a situaccedilatildeo natildeo difere Dos diferentes siacutetios onde foram identificados enterramentos e restos humanos o conjunto de hipogeus do Monte do Carrascal eacute aquele que apresenta uma cronologia enquadrada na etapa final do Neoliacutetico

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(Neves amp Mendes 2011) sendo igualmente o local de enterramento com o numero miacutenimo de indiviacuteduoas mais elevado o que mais uma vez re- vela que eacute fora das aacutereas definidas pelos recintos que se processa grande parte das actividades funeraacuterias destas comunidades Haacute no entanto uma excepccedilatildeo correspondente a um enterramento em fossa identificado na aacuterea intrafossos que pode ser cronologicamente enquadrado no Neoliacutetico Final (Neto et alii 2013) Apesar de natildeo se saber qual a relaccedilatildeo temporal entre os hipogeus do Monte do Carrascal e o enterramento em fossa do Porto Torratildeo eacute notoacuterio que haacute tratamento diferencial de determinados indiviacuteduos quer no que respeita ao ritual e lugar de enterramento quer no que respeita agrave sua individualidade

4 PRIMEIRAS LEITURASA recente identificaccedilatildeo de multiplas formas de sepultar tratar os mortos identificadas quer nos recintos de fossos quer nas suas aacutereas mais proacuteximas demonstram que as actividades funeraacuterias dos gru-pos do final do Neoliacutetico na regiatildeo do Alentejo natildeo satildeo exclusivas das antas mas aplica-se igualmente aos monumentos subterracirc-neos ndash os hipogeus ndash aos enterramentos em fossa agraves cremaccedilotildees e ao despejo literal de partes de restos humanos para o interior de estruturas negativas (fossos) Ainda que haja problemas associa-dos agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas que atestem quer o iniacutecio des- tas actividades quer a sua contemporaneidade estaacute corroborada a diver-sidade que eventualmente pode assumir contornos sociais conectaacuteveis com as relaccedilotildees intra e intergrupaisConsiderando os dois casos especiacuteficos acima expostos ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash estatildeo evidenciadas duas situaccedilotildees inegaacuteveisbull aumento demograacutefico demonstrado no numero significativo de contex-tos funeraacuterios que natildeo tecircm qualquer termo comparativo com as eacutepocas precedentes embora natildeo existam estudos demograacuteficos aprofundados acredita-se que esta circunstacircncia soacute eacute possiacutevel porque haacute definitivamente mais gente sedentarizada neste territoacuterio a partir do Neoliacutetico Finalbull diversidade no tratamento dos mortos natildeo obstante a coesatildeo cultural verificada no ldquomundo dos vivosrdquo verificado nas arquiteturas (ldquopovoadosrdquo monumentos megaliacuteticos recintos de fossos) na cultura material (con-juntos ceracircmicos industria liacuteticas artefactos ideoteacutecnicos) e nas estrateacute-gias de subsistecircncia (economia mista de produccedilatildeo de alimentos e ati- vidades cinegeacuteticas eventualmente associada agrave recoleccedilatildeo de recursos silvestres)

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Quanto agraves questotildees previamente definidas1) A macro anaacutelise efectuada natildeo permite aferir aacutereas preferenciais para a construccedilatildeo das antas em torno dos recintos de fossos em estudo contudo ao avaliar-se os siacutetios sobre os quais existe mais informaccedilatildeo ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash observa-se que durante a etapa final do Neoliacutetico os grupos construtores de recintos optaram por realizar as suas actividades funeraacuterias nas imediaccedilotildees desses lugares2) Apesar dos imensos desvios arqueograacuteficos que podem existir neste exerciacutecio devido fundamentalmente agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas ve- rifica-se que a construccedilatildeo preacutevia de qualquer um dos elementos arquitecoacuteni-cos em anaacutelise natildeo inibiu a construccedilatildeo do outro as imagens produzidas parecem aliaacutes sugerir o contraacuterio se considerarmos que os recintos de fossos poderatildeo ter funcionado como polos de agregaccedilatildeo social com ocu-paccedilotildees residenciais e permanentes temos de aceitar que no seu entorno imediato desenvolveram-se actividades pertencentes ao quotidiano dessas comunidades e entre essas a gestatildeo da morte teria um tratamento especial mas natildeo distante3) Os dados dos Perdigotildees e do Porto Torratildeo parecem sugerir que haacute uma preferecircncia para o desenvolvimento das actividades funeraacuterias fora das aacutereas delimitadas pelos fossos durante o Neoliacutetico Final no entanto exis- tem excepccedilotildees que permitem assumir a existecircncia de um tratamento dis-tinto entre indiviacuteduos uns satildeo inumados em estruturas colectivas enquanto outros tecircm enterramentos individuais se esta diferenciaccedilatildeo eacute ou natildeo sin-croacutenica eacute uma questatildeo que por agora fica obrigatoriamente em aberto

AGRADECIMENTOSA autora agradece agrave equipa da Direcccedilatildeo-Geral do Patrimoacutenio Cultural que gere a base de dados Endoveacutelico pela disponibilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo geograacutefica referente agrave implantaccedilatildeo dos monumentos megaliacuteticos inventa- riados na regiatildeo estudada

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICASArnaud J M (1993) O povoado calcoliacutetico de Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) siacutentese das investigaccedilotildees realizads Vipasca 41-60Boaventura R (2011) Cronologiacutea del megalitismo en el Centro-Sur de Portugal Menga Revista de Prehistoria de Andaluciacutea 158-190Boaventura R amp Mataloto R (2013) Entre mortos e vivos noacutetulas acerca da cronologia absoluta do Megalitismo do Sul de Portugal Revista Portuguesa de Arqueologia 81-101Calado M amp Mataloto R (1998) Relatoacuterio intercalar referente aos trabalhos do Blo-co 2 do Plano de Minimizaccedilatildeo de Impactes do Regolfo do Alqueva Escavaccedilatildeo do Povo-

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ado Neoliacutetico de Juromenha 1 (Alandroal) Campanha 1 (Abril a Julho de 1998) Lisboa Fundaccedilatildeo da Unoversidade de LisboaCalado M amp Rocha A (2000) Relatoacuterio de escavaccedilatildeo do povoado da Malhada das Mimosas (Alandroal) - Campanha 2 - 2000 Lisboa Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa Centro de Arqueologia de Lisboa EDIA SACarvalho A F (Ed) (2014) Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Universidade do AlgarveCorga M amp Ferreira M T (2011) Horta do Joatildeo da Moura 1 - Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirinha e Valbom - Fase de Obra exemplar policopiado Styx estudos de antropologia EDIA SADias S amp Figueiredo M (2009) Relatoacuterio preliminar dos trabalhos arqueoloacutegicos e an-tropoloacutegicos do Monte do Pombal 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2009) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos Monte do Cardim 6 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2013 Fevereiro 5) Fareleira 3 ditched enclosure Retrieved Junho 20 2014 from Portuguese Prehistoric Enclosures wwwportugueseenclosuresblogspotptGonccedilalves V S (2000) Muitas antas pouca gente Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de ArqueologiaGonccedilalves V S (2003) Muita gente poucas antas Origens espaccedilos e contextos do Megalitismo Actas do II Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Por-tuguecircs deAHiggs E S amp Vita Finzi C (1972) Prehistoric Economies a territorial aproach In Papers in Economic Prehistory (pp 27-36) London Cambridge University PressLago M amp Albergaria J (2001) O Cabeccedilo do Torratildeo (Elvas) contextos e interpretaccedilotildees preacutevias de um lugar do Neoliacutetico alentejano Era Arqueologia 4 pp 39-62Lago M Duarte C Valera A Albergaria J Almeida F amp Carvalho A (1998) Povoado dos Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz) dados preliminares dos trabalhos arqueoloacutegi-cos realizados em 1997 Revista Portguesa de Arqueologia 45-152Leisner G amp Leisner V (1985) Antas do Concelho de Reguengos de Monsaraz Lisboa UNIARCHMataloto R amp Costeira C (2008) O povoado calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Revista Portuguesa de Arqueologia 11 5-27Mataloto R amp Costeira C (2009) O Povoado Calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Notiacutecia da sua identificaccedilatildeo IV Encontro de Arqueologia del Suroeste Peninsular (pp 107-133) HuelvaMataloto R Davis S Costeira C Clemente R amp Santos I (2011) Os povoados de fossos do Paraiacuteso uma ocipaccedilatildeo do IV III mileacutenios aC na regiatildeo de Elvas Balanccedilo das intervenccedilotildees 2009-2010 Actas do V Encontro de Arqueologia Peninsular (pp 39-72)Neto N Rocha M Santos R amp Rebelo P (2013) Povoado calcoliacutetico do Porto Torratildeo - uma inumaccedilatildeo em fossa Arqueologia em Portugal - 150 anos (pp 379-385) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesNeves M J amp Mendes C (2011) Monte do Carrascal 2 - Trabalhos arqueoloacutegicos e ntropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes decorrentes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirnha e Valbom - Fase de obra Styx EDIA SAPereiro T (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Horta do Joatildeo da Moura 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SARebelo P (2009) Relatoacuterio Final da intervenccedilatildeo arqueoloacutegica no Povoado do Porto

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Torratildeo Ferreira do Alentejo Beja Neoeacutepica EDIA SARebuge J Saacute A amp Cheney A (2010) Intervenccedilatildeo Arqueoloacutegica em Porto Torratildeo (Sector 3 Oeste) Beja Archeoestudos EDIA SARodrigues F (2008) O recinto de fossos da Ponte da Azambuja 2 (Porte Eacutevora) primeira notiacutecia Apontamentos de Arquologia e Patrimoacutenio pp 49-56Rodrigues F (2013) Iacutedolomania figuras antropomoacuterficas e ldquoiacutedolos de cornosrdquo do recinto de fossos do Neoliacutetico Final da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) Arqueologia em Portugal 150 anos (pp 435-446) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesRodrigues F (2014) Skeletons in the ditch funerary activity in ditched enclosures of Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo Beja) Recent Prehistory Enclosures and Funerary Practices in Europe (pp 59-69) Oxford ArchaeopressRodrigues F (2015) O siacutetio da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) e a emergecircncia dos recintos de fossos no SW Peninsular nos finais do 4ordm mileacutenio ane Tese de Doutoramen-to exemplar policopiadoSantos H (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Monte do Carrascal 2 Era Ar-queologia EDIA SASantos R Rebelo P Neto N Rebuge J Saacute A Cheney A et al (2014) Porto Torratildeo resultados preliminares 4ordm Coloacutequio de Arqueologia de Alqueva O plano de rega Beja EDIA SASoares A M (1994) Descoberta de um povoado do Neoliacutetico junto agrave Igreja Velha de Satildeo Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Resultados Preliminares Vipasca 3 pp 41-49Soares A M (1996) Dataccedilatildeo absoluta da estrutura neoliacutetica junto agrave Igreja Velha de S Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Vipasca 5 51-58Soares A M amp Arnaud J M (1984) Escavaccedilotildees do Sepulcro Megaliacutetico MV2 (Vila Verde de Ficalho Serpa) Arquivo de Beja II1 67-82Valera A C amp Filipe I (2004) O povoado do Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) Novos dados e novas problemaacuteticas no contexto da calcolitizaccedilatildeo do Sudoeste peninsular Era Arqueologia 7 pp 23-32Valera A C amp Godinho R (2010) Ossos humanos provenientes dos fossos 3 e 4 e gestatildeo da morte nos Perdigotildees Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 6 pp 29-40Valera A C Becker H amp Boaventura R (2013) Moreiros 2 (Arronches Portalegre) geofiacutesica e cronologia dos recintos interiores Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 9 37-46Valera A C (2014 February 2) Perdigotildees NE gate Retrieved Juin 20 2014 from Portu-guese Prehistoric Enclosures wwwportuguese enclosresblogspotptValera A C Silva A M amp Maacuterquez Romero J (2014) The temporality of Perdigotildees En-closures absolute chronology of the structures and social practices Spal 23 pp 11-26Waterman A J Peate D W Silva A M amp Thomas J T (2013) In search of homelands using strontium isotopes to identify biological markers of mobility in lata prehistoric Portu-gal Journal of Archaeological Science p no prelo

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No que respeita agraves atividades funeraacuterias que estatildeo diretamente associa-das aos recintos de fossos conhecem-se dados provenientes daqueles que satildeo os lugares com a diacronia de ocupaccedilatildeo mais ampla os Per-digotildees e o Porto Torratildeo Quer num quer noutro siacutetio satildeo conhecidas dife- rentes actividades funeraacuterias e respectivo tratamento dos mortos Mas se para o primeiro caso ndash Perdigotildees ndash tem vindo a ser colocada a questatildeo de ldquo[] os Perdigotildees [] serem essencialmente um siacutetio de gestatildeo simboacutelica e praacutetica da morte e da vida um cenaacuterio para as mais variadas praacuteticas sociais ritualizadas [] para o qual nos falta uma designaccedilatildeo concreta pe- rante a cada vez maior desadequaccedilatildeo operativa de conceitos como povoa-do necroacutepole monumento etc pelo caraacutecter compartimentador e exclusivo que encerramrdquo (Valera amp Godinho 201037) para o segundo siacutetio ndash Porto Torratildeo ndash os dados revelam a criaccedilatildeo de aacutereas de necroacutepole bem definidas fora do periacutemetro delineado pelo sistema de fossos identificado (Rodrigues 2014) Analisando ambos os casos1 Complexo Arqueoloacutegico dos PerdigotildeesNo ultimos anos tecircm sido identificadas no interior do Complexo Arqueoloacutegico dos Perdigotildees diferentes ocorrecircncias que induzem os seus investigadores

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a assumir uma diversidade de praacuteticas funeraacuterias a saber ldquo[] deposiccedilotildees primaacuterias manipulaccedilatildeo poacutes-deposiccedilatildeo primaacuteria trasladaccedilotildees e deposiccedilotildees secundaacuterias cremaccedilotildees deposiccedilotildees em fossa deposiccedilotildees em fossos de-posiccedilotildees em sepulcros de tradiccedilatildeo megaliacuteticardquo (Valera amp Godinho 201037) cuja compreensatildeo passa por ldquo[] linking them to the ideological principles that are present in (and reinforced by) the location of the site and the mea- ningful relationship it establishes with the local landscape (both terrestrial and celestial) as well as in the architectonic design of the enclosures or in the practices of filling ditches and pits with intentional and formal depositsrdquo (Valera Silva amp Maacuterquez Romero 2014) Estes dados tecircm levado os investi-gadores do siacutetio a afastar a ideia de uma compartimentaccedilatildeo espacial entre ldquomundo dos vivosrdquo e ldquomundo dos mortosrdquo e a encarar os recintos de fossos do SW Peninsular como locais que poderatildeo ter sofrido um ldquo[] fenoacutemeno de ldquonecropolizaccedilatildeordquo (Valera amp Godinho 201037) O mais recente estudo acerca da temporalidade deste siacutetio permitiu esta-belecer diferentes etapas cronoloacutegicas da sua construccedilatildeo estando incluiacutedas nesta situaccedilatildeo as distintas estruturas com contextos funeraacuterios associados Este exerciacutecio assume especial importacircncia quando se pretende verificar se os restos humanos estatildeo (1) ldquoespalhadosrdquo ou ldquoconcentradosrdquo em determi-nadas aacutereas do recinto ou (2) se acompanham a evoluccedilatildeo arquitectoacutenica do siacutetio podendo-se definir eventuais aacutereas interiores ou exteriores de uti-lizaccedilatildeo Obviamente este tipo de exerciacutecio deteacutem agrave luz dos conhecimen-tos actuais alguns obstaacuteculos significativos vinculados ao facto de ainda existirem estruturas delimitadoras a escavar e a datar Poreacutem os dados empiacutericos disponiacuteveis devem ser analisados com as devidas salvaguar-das de forma a natildeo se cair na posiccedilatildeo de impasse de nada propor e de nada interpretar Assim quando confrontada a imagem proporcionada pe-los trabalhos de prospeccedilatildeo geofiacutesica onde foram devidamente implantados os contextos funeraacuterios identificados ateacute ao momento com o esquema de fases de construccedilatildeo arquitetoacutenica atestado atraveacutes da bateria de dataccedilatildeo radiomeacutetricas verifica-se que grande parte das atividades funeraacuterias que tiveram lugar neste recinto encontravam-se fora da aacuterea delimitada pelos fossos agrave eacutepoca em que foram realizadas Ou seja aparentemente as de-posiccedilotildees em fossa do Neoliacutetico Final encontram-se afastadas daquele que eacute o nucleo central do recinto correspondente agrave aacuterea ativa nesta eacutepoca natildeo havendo assim uma relaccedilatildeo direta entre o que se passava no seu interior e as atividades funeraacuterias que tiveram lugar no seu exterior Ou seja ava- liando os dados empiacutericos permitidos pela leitura arquitetoacutenica elaborada pelos investigadores as actividades funeraacuterias datadas do Neoliacutetico Final

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natildeo estatildeo diretamente associada agraves atividades intrassiacutetio pelo que natildeo se pode relacionar a fundaccedilatildeo desse recinto de fossos com o simbolismo as-sociado agraves praacuteticas funeraacuterias Refira-se tambeacutem que se no caso das estru-turas megaliacuteticas de tipo tholoi existe uma relaccedilatildeo (1) com as orientaccedilotildees da entradas conhecidas (2) com a dicotoacutemica relaccedilatildeo Este Oeste (3) assim como com a presenccedila do cromeleque a Este jaacute para os enterramentos em fossa do Neoliacutetico Final esse simbolismo natildeo pode ser aplicado de modo categoacuterico Efetivamente estes contextos localizam-se a Noroeste num local afastado dos sepulcros de tipo tholoi Ou seja as associaccedilotildees que tecircm vindo a ser reclamadas perdem assim o sentido deixando cair os significados que se pretendem vislumbrar 2 Porto TorratildeoTambeacutem neste siacutetio foram reconhecidas diferentes atividades funeraacuterias que agrave exceccedilatildeo dos contextos de cremaccedilatildeo em tudo se assemelham ao que jaacute foi descrito para os Perdigotildees Associados agravequele que eacute o maior recinto de fossos conhecido na aacuterea em apreccedilo reconhecem-se diferentes modos de tratamento dos mortos enterramentos em fossa (Rebelo 2009 Rebuge Saacute amp Cheney 2010 Neto et alii 2013) enterramentos em monumentos funeraacuterios de tipo tholoi e hipogeus (Dias amp Figueiredo 2009 Figueiredo 2009 Pereiro 2010 Neves amp Mendes 2011 Corga amp Ferreira 2011) e de-posiccedilatildeo de restos humanos no interior de fossos (Rodrigues 2014)Atestada essa diversidade que evidenciava diferentes localizaccedilotildees espa-ciais torna-se imperativo perceber se haveria aacutereas preferenciais de de-posiccedilatildeo dos restos humanos independentemente do tipo de tratamento que haviam sofrido (deposiccedilatildeo primaacuteria secundaacuteria com sem ritual) O tratamento estatiacutestico do numero miacutenimo de indiviacuteduos presentes em cada um dos contextos permitiu a perceccedilatildeo de que ldquodespite the fact that human remains apear throughout the entire archaeological complex there is a clear prevalence of this type of context outside the enclosed area And that is com-patible with the notion of a relatively well bounded necropolis Not in a par-ticular place (there are funerary monuments on the East and South sides of the enclosed area) but markedly out the enclosed areardquo (Rodrigues 2014) A descriccedilatildeo acima exposta reflete o cocircmputo dos contextos funeraacuterios iden-tificados neste siacutetio independentemente da sua cronologia No entanto se estes dados forem restringidos apenas agrave cronologia em apreccedilo a situaccedilatildeo natildeo difere Dos diferentes siacutetios onde foram identificados enterramentos e restos humanos o conjunto de hipogeus do Monte do Carrascal eacute aquele que apresenta uma cronologia enquadrada na etapa final do Neoliacutetico

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(Neves amp Mendes 2011) sendo igualmente o local de enterramento com o numero miacutenimo de indiviacuteduoas mais elevado o que mais uma vez re- vela que eacute fora das aacutereas definidas pelos recintos que se processa grande parte das actividades funeraacuterias destas comunidades Haacute no entanto uma excepccedilatildeo correspondente a um enterramento em fossa identificado na aacuterea intrafossos que pode ser cronologicamente enquadrado no Neoliacutetico Final (Neto et alii 2013) Apesar de natildeo se saber qual a relaccedilatildeo temporal entre os hipogeus do Monte do Carrascal e o enterramento em fossa do Porto Torratildeo eacute notoacuterio que haacute tratamento diferencial de determinados indiviacuteduos quer no que respeita ao ritual e lugar de enterramento quer no que respeita agrave sua individualidade

4 PRIMEIRAS LEITURASA recente identificaccedilatildeo de multiplas formas de sepultar tratar os mortos identificadas quer nos recintos de fossos quer nas suas aacutereas mais proacuteximas demonstram que as actividades funeraacuterias dos gru-pos do final do Neoliacutetico na regiatildeo do Alentejo natildeo satildeo exclusivas das antas mas aplica-se igualmente aos monumentos subterracirc-neos ndash os hipogeus ndash aos enterramentos em fossa agraves cremaccedilotildees e ao despejo literal de partes de restos humanos para o interior de estruturas negativas (fossos) Ainda que haja problemas associa-dos agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas que atestem quer o iniacutecio des- tas actividades quer a sua contemporaneidade estaacute corroborada a diver-sidade que eventualmente pode assumir contornos sociais conectaacuteveis com as relaccedilotildees intra e intergrupaisConsiderando os dois casos especiacuteficos acima expostos ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash estatildeo evidenciadas duas situaccedilotildees inegaacuteveisbull aumento demograacutefico demonstrado no numero significativo de contex-tos funeraacuterios que natildeo tecircm qualquer termo comparativo com as eacutepocas precedentes embora natildeo existam estudos demograacuteficos aprofundados acredita-se que esta circunstacircncia soacute eacute possiacutevel porque haacute definitivamente mais gente sedentarizada neste territoacuterio a partir do Neoliacutetico Finalbull diversidade no tratamento dos mortos natildeo obstante a coesatildeo cultural verificada no ldquomundo dos vivosrdquo verificado nas arquiteturas (ldquopovoadosrdquo monumentos megaliacuteticos recintos de fossos) na cultura material (con-juntos ceracircmicos industria liacuteticas artefactos ideoteacutecnicos) e nas estrateacute-gias de subsistecircncia (economia mista de produccedilatildeo de alimentos e ati- vidades cinegeacuteticas eventualmente associada agrave recoleccedilatildeo de recursos silvestres)

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Quanto agraves questotildees previamente definidas1) A macro anaacutelise efectuada natildeo permite aferir aacutereas preferenciais para a construccedilatildeo das antas em torno dos recintos de fossos em estudo contudo ao avaliar-se os siacutetios sobre os quais existe mais informaccedilatildeo ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash observa-se que durante a etapa final do Neoliacutetico os grupos construtores de recintos optaram por realizar as suas actividades funeraacuterias nas imediaccedilotildees desses lugares2) Apesar dos imensos desvios arqueograacuteficos que podem existir neste exerciacutecio devido fundamentalmente agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas ve- rifica-se que a construccedilatildeo preacutevia de qualquer um dos elementos arquitecoacuteni-cos em anaacutelise natildeo inibiu a construccedilatildeo do outro as imagens produzidas parecem aliaacutes sugerir o contraacuterio se considerarmos que os recintos de fossos poderatildeo ter funcionado como polos de agregaccedilatildeo social com ocu-paccedilotildees residenciais e permanentes temos de aceitar que no seu entorno imediato desenvolveram-se actividades pertencentes ao quotidiano dessas comunidades e entre essas a gestatildeo da morte teria um tratamento especial mas natildeo distante3) Os dados dos Perdigotildees e do Porto Torratildeo parecem sugerir que haacute uma preferecircncia para o desenvolvimento das actividades funeraacuterias fora das aacutereas delimitadas pelos fossos durante o Neoliacutetico Final no entanto exis- tem excepccedilotildees que permitem assumir a existecircncia de um tratamento dis-tinto entre indiviacuteduos uns satildeo inumados em estruturas colectivas enquanto outros tecircm enterramentos individuais se esta diferenciaccedilatildeo eacute ou natildeo sin-croacutenica eacute uma questatildeo que por agora fica obrigatoriamente em aberto

AGRADECIMENTOSA autora agradece agrave equipa da Direcccedilatildeo-Geral do Patrimoacutenio Cultural que gere a base de dados Endoveacutelico pela disponibilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo geograacutefica referente agrave implantaccedilatildeo dos monumentos megaliacuteticos inventa- riados na regiatildeo estudada

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICASArnaud J M (1993) O povoado calcoliacutetico de Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) siacutentese das investigaccedilotildees realizads Vipasca 41-60Boaventura R (2011) Cronologiacutea del megalitismo en el Centro-Sur de Portugal Menga Revista de Prehistoria de Andaluciacutea 158-190Boaventura R amp Mataloto R (2013) Entre mortos e vivos noacutetulas acerca da cronologia absoluta do Megalitismo do Sul de Portugal Revista Portuguesa de Arqueologia 81-101Calado M amp Mataloto R (1998) Relatoacuterio intercalar referente aos trabalhos do Blo-co 2 do Plano de Minimizaccedilatildeo de Impactes do Regolfo do Alqueva Escavaccedilatildeo do Povo-

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ado Neoliacutetico de Juromenha 1 (Alandroal) Campanha 1 (Abril a Julho de 1998) Lisboa Fundaccedilatildeo da Unoversidade de LisboaCalado M amp Rocha A (2000) Relatoacuterio de escavaccedilatildeo do povoado da Malhada das Mimosas (Alandroal) - Campanha 2 - 2000 Lisboa Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa Centro de Arqueologia de Lisboa EDIA SACarvalho A F (Ed) (2014) Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Universidade do AlgarveCorga M amp Ferreira M T (2011) Horta do Joatildeo da Moura 1 - Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirinha e Valbom - Fase de Obra exemplar policopiado Styx estudos de antropologia EDIA SADias S amp Figueiredo M (2009) Relatoacuterio preliminar dos trabalhos arqueoloacutegicos e an-tropoloacutegicos do Monte do Pombal 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2009) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos Monte do Cardim 6 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2013 Fevereiro 5) Fareleira 3 ditched enclosure Retrieved Junho 20 2014 from Portuguese Prehistoric Enclosures wwwportugueseenclosuresblogspotptGonccedilalves V S (2000) Muitas antas pouca gente Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de ArqueologiaGonccedilalves V S (2003) Muita gente poucas antas Origens espaccedilos e contextos do Megalitismo Actas do II Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Por-tuguecircs deAHiggs E S amp Vita Finzi C (1972) Prehistoric Economies a territorial aproach In Papers in Economic Prehistory (pp 27-36) London Cambridge University PressLago M amp Albergaria J (2001) O Cabeccedilo do Torratildeo (Elvas) contextos e interpretaccedilotildees preacutevias de um lugar do Neoliacutetico alentejano Era Arqueologia 4 pp 39-62Lago M Duarte C Valera A Albergaria J Almeida F amp Carvalho A (1998) Povoado dos Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz) dados preliminares dos trabalhos arqueoloacutegi-cos realizados em 1997 Revista Portguesa de Arqueologia 45-152Leisner G amp Leisner V (1985) Antas do Concelho de Reguengos de Monsaraz Lisboa UNIARCHMataloto R amp Costeira C (2008) O povoado calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Revista Portuguesa de Arqueologia 11 5-27Mataloto R amp Costeira C (2009) O Povoado Calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Notiacutecia da sua identificaccedilatildeo IV Encontro de Arqueologia del Suroeste Peninsular (pp 107-133) HuelvaMataloto R Davis S Costeira C Clemente R amp Santos I (2011) Os povoados de fossos do Paraiacuteso uma ocipaccedilatildeo do IV III mileacutenios aC na regiatildeo de Elvas Balanccedilo das intervenccedilotildees 2009-2010 Actas do V Encontro de Arqueologia Peninsular (pp 39-72)Neto N Rocha M Santos R amp Rebelo P (2013) Povoado calcoliacutetico do Porto Torratildeo - uma inumaccedilatildeo em fossa Arqueologia em Portugal - 150 anos (pp 379-385) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesNeves M J amp Mendes C (2011) Monte do Carrascal 2 - Trabalhos arqueoloacutegicos e ntropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes decorrentes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirnha e Valbom - Fase de obra Styx EDIA SAPereiro T (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Horta do Joatildeo da Moura 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SARebelo P (2009) Relatoacuterio Final da intervenccedilatildeo arqueoloacutegica no Povoado do Porto

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Torratildeo Ferreira do Alentejo Beja Neoeacutepica EDIA SARebuge J Saacute A amp Cheney A (2010) Intervenccedilatildeo Arqueoloacutegica em Porto Torratildeo (Sector 3 Oeste) Beja Archeoestudos EDIA SARodrigues F (2008) O recinto de fossos da Ponte da Azambuja 2 (Porte Eacutevora) primeira notiacutecia Apontamentos de Arquologia e Patrimoacutenio pp 49-56Rodrigues F (2013) Iacutedolomania figuras antropomoacuterficas e ldquoiacutedolos de cornosrdquo do recinto de fossos do Neoliacutetico Final da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) Arqueologia em Portugal 150 anos (pp 435-446) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesRodrigues F (2014) Skeletons in the ditch funerary activity in ditched enclosures of Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo Beja) Recent Prehistory Enclosures and Funerary Practices in Europe (pp 59-69) Oxford ArchaeopressRodrigues F (2015) O siacutetio da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) e a emergecircncia dos recintos de fossos no SW Peninsular nos finais do 4ordm mileacutenio ane Tese de Doutoramen-to exemplar policopiadoSantos H (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Monte do Carrascal 2 Era Ar-queologia EDIA SASantos R Rebelo P Neto N Rebuge J Saacute A Cheney A et al (2014) Porto Torratildeo resultados preliminares 4ordm Coloacutequio de Arqueologia de Alqueva O plano de rega Beja EDIA SASoares A M (1994) Descoberta de um povoado do Neoliacutetico junto agrave Igreja Velha de Satildeo Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Resultados Preliminares Vipasca 3 pp 41-49Soares A M (1996) Dataccedilatildeo absoluta da estrutura neoliacutetica junto agrave Igreja Velha de S Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Vipasca 5 51-58Soares A M amp Arnaud J M (1984) Escavaccedilotildees do Sepulcro Megaliacutetico MV2 (Vila Verde de Ficalho Serpa) Arquivo de Beja II1 67-82Valera A C amp Filipe I (2004) O povoado do Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) Novos dados e novas problemaacuteticas no contexto da calcolitizaccedilatildeo do Sudoeste peninsular Era Arqueologia 7 pp 23-32Valera A C amp Godinho R (2010) Ossos humanos provenientes dos fossos 3 e 4 e gestatildeo da morte nos Perdigotildees Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 6 pp 29-40Valera A C Becker H amp Boaventura R (2013) Moreiros 2 (Arronches Portalegre) geofiacutesica e cronologia dos recintos interiores Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 9 37-46Valera A C (2014 February 2) Perdigotildees NE gate Retrieved Juin 20 2014 from Portu-guese Prehistoric Enclosures wwwportuguese enclosresblogspotptValera A C Silva A M amp Maacuterquez Romero J (2014) The temporality of Perdigotildees En-closures absolute chronology of the structures and social practices Spal 23 pp 11-26Waterman A J Peate D W Silva A M amp Thomas J T (2013) In search of homelands using strontium isotopes to identify biological markers of mobility in lata prehistoric Portu-gal Journal of Archaeological Science p no prelo

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No que respeita agraves atividades funeraacuterias que estatildeo diretamente associa-das aos recintos de fossos conhecem-se dados provenientes daqueles que satildeo os lugares com a diacronia de ocupaccedilatildeo mais ampla os Per-digotildees e o Porto Torratildeo Quer num quer noutro siacutetio satildeo conhecidas dife- rentes actividades funeraacuterias e respectivo tratamento dos mortos Mas se para o primeiro caso ndash Perdigotildees ndash tem vindo a ser colocada a questatildeo de ldquo[] os Perdigotildees [] serem essencialmente um siacutetio de gestatildeo simboacutelica e praacutetica da morte e da vida um cenaacuterio para as mais variadas praacuteticas sociais ritualizadas [] para o qual nos falta uma designaccedilatildeo concreta pe- rante a cada vez maior desadequaccedilatildeo operativa de conceitos como povoa-do necroacutepole monumento etc pelo caraacutecter compartimentador e exclusivo que encerramrdquo (Valera amp Godinho 201037) para o segundo siacutetio ndash Porto Torratildeo ndash os dados revelam a criaccedilatildeo de aacutereas de necroacutepole bem definidas fora do periacutemetro delineado pelo sistema de fossos identificado (Rodrigues 2014) Analisando ambos os casos1 Complexo Arqueoloacutegico dos PerdigotildeesNo ultimos anos tecircm sido identificadas no interior do Complexo Arqueoloacutegico dos Perdigotildees diferentes ocorrecircncias que induzem os seus investigadores

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a assumir uma diversidade de praacuteticas funeraacuterias a saber ldquo[] deposiccedilotildees primaacuterias manipulaccedilatildeo poacutes-deposiccedilatildeo primaacuteria trasladaccedilotildees e deposiccedilotildees secundaacuterias cremaccedilotildees deposiccedilotildees em fossa deposiccedilotildees em fossos de-posiccedilotildees em sepulcros de tradiccedilatildeo megaliacuteticardquo (Valera amp Godinho 201037) cuja compreensatildeo passa por ldquo[] linking them to the ideological principles that are present in (and reinforced by) the location of the site and the mea- ningful relationship it establishes with the local landscape (both terrestrial and celestial) as well as in the architectonic design of the enclosures or in the practices of filling ditches and pits with intentional and formal depositsrdquo (Valera Silva amp Maacuterquez Romero 2014) Estes dados tecircm levado os investi-gadores do siacutetio a afastar a ideia de uma compartimentaccedilatildeo espacial entre ldquomundo dos vivosrdquo e ldquomundo dos mortosrdquo e a encarar os recintos de fossos do SW Peninsular como locais que poderatildeo ter sofrido um ldquo[] fenoacutemeno de ldquonecropolizaccedilatildeordquo (Valera amp Godinho 201037) O mais recente estudo acerca da temporalidade deste siacutetio permitiu esta-belecer diferentes etapas cronoloacutegicas da sua construccedilatildeo estando incluiacutedas nesta situaccedilatildeo as distintas estruturas com contextos funeraacuterios associados Este exerciacutecio assume especial importacircncia quando se pretende verificar se os restos humanos estatildeo (1) ldquoespalhadosrdquo ou ldquoconcentradosrdquo em determi-nadas aacutereas do recinto ou (2) se acompanham a evoluccedilatildeo arquitectoacutenica do siacutetio podendo-se definir eventuais aacutereas interiores ou exteriores de uti-lizaccedilatildeo Obviamente este tipo de exerciacutecio deteacutem agrave luz dos conhecimen-tos actuais alguns obstaacuteculos significativos vinculados ao facto de ainda existirem estruturas delimitadoras a escavar e a datar Poreacutem os dados empiacutericos disponiacuteveis devem ser analisados com as devidas salvaguar-das de forma a natildeo se cair na posiccedilatildeo de impasse de nada propor e de nada interpretar Assim quando confrontada a imagem proporcionada pe-los trabalhos de prospeccedilatildeo geofiacutesica onde foram devidamente implantados os contextos funeraacuterios identificados ateacute ao momento com o esquema de fases de construccedilatildeo arquitetoacutenica atestado atraveacutes da bateria de dataccedilatildeo radiomeacutetricas verifica-se que grande parte das atividades funeraacuterias que tiveram lugar neste recinto encontravam-se fora da aacuterea delimitada pelos fossos agrave eacutepoca em que foram realizadas Ou seja aparentemente as de-posiccedilotildees em fossa do Neoliacutetico Final encontram-se afastadas daquele que eacute o nucleo central do recinto correspondente agrave aacuterea ativa nesta eacutepoca natildeo havendo assim uma relaccedilatildeo direta entre o que se passava no seu interior e as atividades funeraacuterias que tiveram lugar no seu exterior Ou seja ava- liando os dados empiacutericos permitidos pela leitura arquitetoacutenica elaborada pelos investigadores as actividades funeraacuterias datadas do Neoliacutetico Final

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natildeo estatildeo diretamente associada agraves atividades intrassiacutetio pelo que natildeo se pode relacionar a fundaccedilatildeo desse recinto de fossos com o simbolismo as-sociado agraves praacuteticas funeraacuterias Refira-se tambeacutem que se no caso das estru-turas megaliacuteticas de tipo tholoi existe uma relaccedilatildeo (1) com as orientaccedilotildees da entradas conhecidas (2) com a dicotoacutemica relaccedilatildeo Este Oeste (3) assim como com a presenccedila do cromeleque a Este jaacute para os enterramentos em fossa do Neoliacutetico Final esse simbolismo natildeo pode ser aplicado de modo categoacuterico Efetivamente estes contextos localizam-se a Noroeste num local afastado dos sepulcros de tipo tholoi Ou seja as associaccedilotildees que tecircm vindo a ser reclamadas perdem assim o sentido deixando cair os significados que se pretendem vislumbrar 2 Porto TorratildeoTambeacutem neste siacutetio foram reconhecidas diferentes atividades funeraacuterias que agrave exceccedilatildeo dos contextos de cremaccedilatildeo em tudo se assemelham ao que jaacute foi descrito para os Perdigotildees Associados agravequele que eacute o maior recinto de fossos conhecido na aacuterea em apreccedilo reconhecem-se diferentes modos de tratamento dos mortos enterramentos em fossa (Rebelo 2009 Rebuge Saacute amp Cheney 2010 Neto et alii 2013) enterramentos em monumentos funeraacuterios de tipo tholoi e hipogeus (Dias amp Figueiredo 2009 Figueiredo 2009 Pereiro 2010 Neves amp Mendes 2011 Corga amp Ferreira 2011) e de-posiccedilatildeo de restos humanos no interior de fossos (Rodrigues 2014)Atestada essa diversidade que evidenciava diferentes localizaccedilotildees espa-ciais torna-se imperativo perceber se haveria aacutereas preferenciais de de-posiccedilatildeo dos restos humanos independentemente do tipo de tratamento que haviam sofrido (deposiccedilatildeo primaacuteria secundaacuteria com sem ritual) O tratamento estatiacutestico do numero miacutenimo de indiviacuteduos presentes em cada um dos contextos permitiu a perceccedilatildeo de que ldquodespite the fact that human remains apear throughout the entire archaeological complex there is a clear prevalence of this type of context outside the enclosed area And that is com-patible with the notion of a relatively well bounded necropolis Not in a par-ticular place (there are funerary monuments on the East and South sides of the enclosed area) but markedly out the enclosed areardquo (Rodrigues 2014) A descriccedilatildeo acima exposta reflete o cocircmputo dos contextos funeraacuterios iden-tificados neste siacutetio independentemente da sua cronologia No entanto se estes dados forem restringidos apenas agrave cronologia em apreccedilo a situaccedilatildeo natildeo difere Dos diferentes siacutetios onde foram identificados enterramentos e restos humanos o conjunto de hipogeus do Monte do Carrascal eacute aquele que apresenta uma cronologia enquadrada na etapa final do Neoliacutetico

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(Neves amp Mendes 2011) sendo igualmente o local de enterramento com o numero miacutenimo de indiviacuteduoas mais elevado o que mais uma vez re- vela que eacute fora das aacutereas definidas pelos recintos que se processa grande parte das actividades funeraacuterias destas comunidades Haacute no entanto uma excepccedilatildeo correspondente a um enterramento em fossa identificado na aacuterea intrafossos que pode ser cronologicamente enquadrado no Neoliacutetico Final (Neto et alii 2013) Apesar de natildeo se saber qual a relaccedilatildeo temporal entre os hipogeus do Monte do Carrascal e o enterramento em fossa do Porto Torratildeo eacute notoacuterio que haacute tratamento diferencial de determinados indiviacuteduos quer no que respeita ao ritual e lugar de enterramento quer no que respeita agrave sua individualidade

4 PRIMEIRAS LEITURASA recente identificaccedilatildeo de multiplas formas de sepultar tratar os mortos identificadas quer nos recintos de fossos quer nas suas aacutereas mais proacuteximas demonstram que as actividades funeraacuterias dos gru-pos do final do Neoliacutetico na regiatildeo do Alentejo natildeo satildeo exclusivas das antas mas aplica-se igualmente aos monumentos subterracirc-neos ndash os hipogeus ndash aos enterramentos em fossa agraves cremaccedilotildees e ao despejo literal de partes de restos humanos para o interior de estruturas negativas (fossos) Ainda que haja problemas associa-dos agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas que atestem quer o iniacutecio des- tas actividades quer a sua contemporaneidade estaacute corroborada a diver-sidade que eventualmente pode assumir contornos sociais conectaacuteveis com as relaccedilotildees intra e intergrupaisConsiderando os dois casos especiacuteficos acima expostos ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash estatildeo evidenciadas duas situaccedilotildees inegaacuteveisbull aumento demograacutefico demonstrado no numero significativo de contex-tos funeraacuterios que natildeo tecircm qualquer termo comparativo com as eacutepocas precedentes embora natildeo existam estudos demograacuteficos aprofundados acredita-se que esta circunstacircncia soacute eacute possiacutevel porque haacute definitivamente mais gente sedentarizada neste territoacuterio a partir do Neoliacutetico Finalbull diversidade no tratamento dos mortos natildeo obstante a coesatildeo cultural verificada no ldquomundo dos vivosrdquo verificado nas arquiteturas (ldquopovoadosrdquo monumentos megaliacuteticos recintos de fossos) na cultura material (con-juntos ceracircmicos industria liacuteticas artefactos ideoteacutecnicos) e nas estrateacute-gias de subsistecircncia (economia mista de produccedilatildeo de alimentos e ati- vidades cinegeacuteticas eventualmente associada agrave recoleccedilatildeo de recursos silvestres)

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Quanto agraves questotildees previamente definidas1) A macro anaacutelise efectuada natildeo permite aferir aacutereas preferenciais para a construccedilatildeo das antas em torno dos recintos de fossos em estudo contudo ao avaliar-se os siacutetios sobre os quais existe mais informaccedilatildeo ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash observa-se que durante a etapa final do Neoliacutetico os grupos construtores de recintos optaram por realizar as suas actividades funeraacuterias nas imediaccedilotildees desses lugares2) Apesar dos imensos desvios arqueograacuteficos que podem existir neste exerciacutecio devido fundamentalmente agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas ve- rifica-se que a construccedilatildeo preacutevia de qualquer um dos elementos arquitecoacuteni-cos em anaacutelise natildeo inibiu a construccedilatildeo do outro as imagens produzidas parecem aliaacutes sugerir o contraacuterio se considerarmos que os recintos de fossos poderatildeo ter funcionado como polos de agregaccedilatildeo social com ocu-paccedilotildees residenciais e permanentes temos de aceitar que no seu entorno imediato desenvolveram-se actividades pertencentes ao quotidiano dessas comunidades e entre essas a gestatildeo da morte teria um tratamento especial mas natildeo distante3) Os dados dos Perdigotildees e do Porto Torratildeo parecem sugerir que haacute uma preferecircncia para o desenvolvimento das actividades funeraacuterias fora das aacutereas delimitadas pelos fossos durante o Neoliacutetico Final no entanto exis- tem excepccedilotildees que permitem assumir a existecircncia de um tratamento dis-tinto entre indiviacuteduos uns satildeo inumados em estruturas colectivas enquanto outros tecircm enterramentos individuais se esta diferenciaccedilatildeo eacute ou natildeo sin-croacutenica eacute uma questatildeo que por agora fica obrigatoriamente em aberto

AGRADECIMENTOSA autora agradece agrave equipa da Direcccedilatildeo-Geral do Patrimoacutenio Cultural que gere a base de dados Endoveacutelico pela disponibilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo geograacutefica referente agrave implantaccedilatildeo dos monumentos megaliacuteticos inventa- riados na regiatildeo estudada

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICASArnaud J M (1993) O povoado calcoliacutetico de Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) siacutentese das investigaccedilotildees realizads Vipasca 41-60Boaventura R (2011) Cronologiacutea del megalitismo en el Centro-Sur de Portugal Menga Revista de Prehistoria de Andaluciacutea 158-190Boaventura R amp Mataloto R (2013) Entre mortos e vivos noacutetulas acerca da cronologia absoluta do Megalitismo do Sul de Portugal Revista Portuguesa de Arqueologia 81-101Calado M amp Mataloto R (1998) Relatoacuterio intercalar referente aos trabalhos do Blo-co 2 do Plano de Minimizaccedilatildeo de Impactes do Regolfo do Alqueva Escavaccedilatildeo do Povo-

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ado Neoliacutetico de Juromenha 1 (Alandroal) Campanha 1 (Abril a Julho de 1998) Lisboa Fundaccedilatildeo da Unoversidade de LisboaCalado M amp Rocha A (2000) Relatoacuterio de escavaccedilatildeo do povoado da Malhada das Mimosas (Alandroal) - Campanha 2 - 2000 Lisboa Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa Centro de Arqueologia de Lisboa EDIA SACarvalho A F (Ed) (2014) Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Universidade do AlgarveCorga M amp Ferreira M T (2011) Horta do Joatildeo da Moura 1 - Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirinha e Valbom - Fase de Obra exemplar policopiado Styx estudos de antropologia EDIA SADias S amp Figueiredo M (2009) Relatoacuterio preliminar dos trabalhos arqueoloacutegicos e an-tropoloacutegicos do Monte do Pombal 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2009) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos Monte do Cardim 6 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2013 Fevereiro 5) Fareleira 3 ditched enclosure Retrieved Junho 20 2014 from Portuguese Prehistoric Enclosures wwwportugueseenclosuresblogspotptGonccedilalves V S (2000) Muitas antas pouca gente Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de ArqueologiaGonccedilalves V S (2003) Muita gente poucas antas Origens espaccedilos e contextos do Megalitismo Actas do II Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Por-tuguecircs deAHiggs E S amp Vita Finzi C (1972) Prehistoric Economies a territorial aproach In Papers in Economic Prehistory (pp 27-36) London Cambridge University PressLago M amp Albergaria J (2001) O Cabeccedilo do Torratildeo (Elvas) contextos e interpretaccedilotildees preacutevias de um lugar do Neoliacutetico alentejano Era Arqueologia 4 pp 39-62Lago M Duarte C Valera A Albergaria J Almeida F amp Carvalho A (1998) Povoado dos Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz) dados preliminares dos trabalhos arqueoloacutegi-cos realizados em 1997 Revista Portguesa de Arqueologia 45-152Leisner G amp Leisner V (1985) Antas do Concelho de Reguengos de Monsaraz Lisboa UNIARCHMataloto R amp Costeira C (2008) O povoado calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Revista Portuguesa de Arqueologia 11 5-27Mataloto R amp Costeira C (2009) O Povoado Calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Notiacutecia da sua identificaccedilatildeo IV Encontro de Arqueologia del Suroeste Peninsular (pp 107-133) HuelvaMataloto R Davis S Costeira C Clemente R amp Santos I (2011) Os povoados de fossos do Paraiacuteso uma ocipaccedilatildeo do IV III mileacutenios aC na regiatildeo de Elvas Balanccedilo das intervenccedilotildees 2009-2010 Actas do V Encontro de Arqueologia Peninsular (pp 39-72)Neto N Rocha M Santos R amp Rebelo P (2013) Povoado calcoliacutetico do Porto Torratildeo - uma inumaccedilatildeo em fossa Arqueologia em Portugal - 150 anos (pp 379-385) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesNeves M J amp Mendes C (2011) Monte do Carrascal 2 - Trabalhos arqueoloacutegicos e ntropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes decorrentes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirnha e Valbom - Fase de obra Styx EDIA SAPereiro T (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Horta do Joatildeo da Moura 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SARebelo P (2009) Relatoacuterio Final da intervenccedilatildeo arqueoloacutegica no Povoado do Porto

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Torratildeo Ferreira do Alentejo Beja Neoeacutepica EDIA SARebuge J Saacute A amp Cheney A (2010) Intervenccedilatildeo Arqueoloacutegica em Porto Torratildeo (Sector 3 Oeste) Beja Archeoestudos EDIA SARodrigues F (2008) O recinto de fossos da Ponte da Azambuja 2 (Porte Eacutevora) primeira notiacutecia Apontamentos de Arquologia e Patrimoacutenio pp 49-56Rodrigues F (2013) Iacutedolomania figuras antropomoacuterficas e ldquoiacutedolos de cornosrdquo do recinto de fossos do Neoliacutetico Final da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) Arqueologia em Portugal 150 anos (pp 435-446) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesRodrigues F (2014) Skeletons in the ditch funerary activity in ditched enclosures of Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo Beja) Recent Prehistory Enclosures and Funerary Practices in Europe (pp 59-69) Oxford ArchaeopressRodrigues F (2015) O siacutetio da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) e a emergecircncia dos recintos de fossos no SW Peninsular nos finais do 4ordm mileacutenio ane Tese de Doutoramen-to exemplar policopiadoSantos H (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Monte do Carrascal 2 Era Ar-queologia EDIA SASantos R Rebelo P Neto N Rebuge J Saacute A Cheney A et al (2014) Porto Torratildeo resultados preliminares 4ordm Coloacutequio de Arqueologia de Alqueva O plano de rega Beja EDIA SASoares A M (1994) Descoberta de um povoado do Neoliacutetico junto agrave Igreja Velha de Satildeo Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Resultados Preliminares Vipasca 3 pp 41-49Soares A M (1996) Dataccedilatildeo absoluta da estrutura neoliacutetica junto agrave Igreja Velha de S Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Vipasca 5 51-58Soares A M amp Arnaud J M (1984) Escavaccedilotildees do Sepulcro Megaliacutetico MV2 (Vila Verde de Ficalho Serpa) Arquivo de Beja II1 67-82Valera A C amp Filipe I (2004) O povoado do Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) Novos dados e novas problemaacuteticas no contexto da calcolitizaccedilatildeo do Sudoeste peninsular Era Arqueologia 7 pp 23-32Valera A C amp Godinho R (2010) Ossos humanos provenientes dos fossos 3 e 4 e gestatildeo da morte nos Perdigotildees Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 6 pp 29-40Valera A C Becker H amp Boaventura R (2013) Moreiros 2 (Arronches Portalegre) geofiacutesica e cronologia dos recintos interiores Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 9 37-46Valera A C (2014 February 2) Perdigotildees NE gate Retrieved Juin 20 2014 from Portu-guese Prehistoric Enclosures wwwportuguese enclosresblogspotptValera A C Silva A M amp Maacuterquez Romero J (2014) The temporality of Perdigotildees En-closures absolute chronology of the structures and social practices Spal 23 pp 11-26Waterman A J Peate D W Silva A M amp Thomas J T (2013) In search of homelands using strontium isotopes to identify biological markers of mobility in lata prehistoric Portu-gal Journal of Archaeological Science p no prelo

Page 13: Muitas antas e muita gente! As relações entre os recintos ...De modo a responder às questões delineadas, recorreu-se aos Sistemas de Informação Geográfica (SIG), mais concretamente

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a assumir uma diversidade de praacuteticas funeraacuterias a saber ldquo[] deposiccedilotildees primaacuterias manipulaccedilatildeo poacutes-deposiccedilatildeo primaacuteria trasladaccedilotildees e deposiccedilotildees secundaacuterias cremaccedilotildees deposiccedilotildees em fossa deposiccedilotildees em fossos de-posiccedilotildees em sepulcros de tradiccedilatildeo megaliacuteticardquo (Valera amp Godinho 201037) cuja compreensatildeo passa por ldquo[] linking them to the ideological principles that are present in (and reinforced by) the location of the site and the mea- ningful relationship it establishes with the local landscape (both terrestrial and celestial) as well as in the architectonic design of the enclosures or in the practices of filling ditches and pits with intentional and formal depositsrdquo (Valera Silva amp Maacuterquez Romero 2014) Estes dados tecircm levado os investi-gadores do siacutetio a afastar a ideia de uma compartimentaccedilatildeo espacial entre ldquomundo dos vivosrdquo e ldquomundo dos mortosrdquo e a encarar os recintos de fossos do SW Peninsular como locais que poderatildeo ter sofrido um ldquo[] fenoacutemeno de ldquonecropolizaccedilatildeordquo (Valera amp Godinho 201037) O mais recente estudo acerca da temporalidade deste siacutetio permitiu esta-belecer diferentes etapas cronoloacutegicas da sua construccedilatildeo estando incluiacutedas nesta situaccedilatildeo as distintas estruturas com contextos funeraacuterios associados Este exerciacutecio assume especial importacircncia quando se pretende verificar se os restos humanos estatildeo (1) ldquoespalhadosrdquo ou ldquoconcentradosrdquo em determi-nadas aacutereas do recinto ou (2) se acompanham a evoluccedilatildeo arquitectoacutenica do siacutetio podendo-se definir eventuais aacutereas interiores ou exteriores de uti-lizaccedilatildeo Obviamente este tipo de exerciacutecio deteacutem agrave luz dos conhecimen-tos actuais alguns obstaacuteculos significativos vinculados ao facto de ainda existirem estruturas delimitadoras a escavar e a datar Poreacutem os dados empiacutericos disponiacuteveis devem ser analisados com as devidas salvaguar-das de forma a natildeo se cair na posiccedilatildeo de impasse de nada propor e de nada interpretar Assim quando confrontada a imagem proporcionada pe-los trabalhos de prospeccedilatildeo geofiacutesica onde foram devidamente implantados os contextos funeraacuterios identificados ateacute ao momento com o esquema de fases de construccedilatildeo arquitetoacutenica atestado atraveacutes da bateria de dataccedilatildeo radiomeacutetricas verifica-se que grande parte das atividades funeraacuterias que tiveram lugar neste recinto encontravam-se fora da aacuterea delimitada pelos fossos agrave eacutepoca em que foram realizadas Ou seja aparentemente as de-posiccedilotildees em fossa do Neoliacutetico Final encontram-se afastadas daquele que eacute o nucleo central do recinto correspondente agrave aacuterea ativa nesta eacutepoca natildeo havendo assim uma relaccedilatildeo direta entre o que se passava no seu interior e as atividades funeraacuterias que tiveram lugar no seu exterior Ou seja ava- liando os dados empiacutericos permitidos pela leitura arquitetoacutenica elaborada pelos investigadores as actividades funeraacuterias datadas do Neoliacutetico Final

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natildeo estatildeo diretamente associada agraves atividades intrassiacutetio pelo que natildeo se pode relacionar a fundaccedilatildeo desse recinto de fossos com o simbolismo as-sociado agraves praacuteticas funeraacuterias Refira-se tambeacutem que se no caso das estru-turas megaliacuteticas de tipo tholoi existe uma relaccedilatildeo (1) com as orientaccedilotildees da entradas conhecidas (2) com a dicotoacutemica relaccedilatildeo Este Oeste (3) assim como com a presenccedila do cromeleque a Este jaacute para os enterramentos em fossa do Neoliacutetico Final esse simbolismo natildeo pode ser aplicado de modo categoacuterico Efetivamente estes contextos localizam-se a Noroeste num local afastado dos sepulcros de tipo tholoi Ou seja as associaccedilotildees que tecircm vindo a ser reclamadas perdem assim o sentido deixando cair os significados que se pretendem vislumbrar 2 Porto TorratildeoTambeacutem neste siacutetio foram reconhecidas diferentes atividades funeraacuterias que agrave exceccedilatildeo dos contextos de cremaccedilatildeo em tudo se assemelham ao que jaacute foi descrito para os Perdigotildees Associados agravequele que eacute o maior recinto de fossos conhecido na aacuterea em apreccedilo reconhecem-se diferentes modos de tratamento dos mortos enterramentos em fossa (Rebelo 2009 Rebuge Saacute amp Cheney 2010 Neto et alii 2013) enterramentos em monumentos funeraacuterios de tipo tholoi e hipogeus (Dias amp Figueiredo 2009 Figueiredo 2009 Pereiro 2010 Neves amp Mendes 2011 Corga amp Ferreira 2011) e de-posiccedilatildeo de restos humanos no interior de fossos (Rodrigues 2014)Atestada essa diversidade que evidenciava diferentes localizaccedilotildees espa-ciais torna-se imperativo perceber se haveria aacutereas preferenciais de de-posiccedilatildeo dos restos humanos independentemente do tipo de tratamento que haviam sofrido (deposiccedilatildeo primaacuteria secundaacuteria com sem ritual) O tratamento estatiacutestico do numero miacutenimo de indiviacuteduos presentes em cada um dos contextos permitiu a perceccedilatildeo de que ldquodespite the fact that human remains apear throughout the entire archaeological complex there is a clear prevalence of this type of context outside the enclosed area And that is com-patible with the notion of a relatively well bounded necropolis Not in a par-ticular place (there are funerary monuments on the East and South sides of the enclosed area) but markedly out the enclosed areardquo (Rodrigues 2014) A descriccedilatildeo acima exposta reflete o cocircmputo dos contextos funeraacuterios iden-tificados neste siacutetio independentemente da sua cronologia No entanto se estes dados forem restringidos apenas agrave cronologia em apreccedilo a situaccedilatildeo natildeo difere Dos diferentes siacutetios onde foram identificados enterramentos e restos humanos o conjunto de hipogeus do Monte do Carrascal eacute aquele que apresenta uma cronologia enquadrada na etapa final do Neoliacutetico

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(Neves amp Mendes 2011) sendo igualmente o local de enterramento com o numero miacutenimo de indiviacuteduoas mais elevado o que mais uma vez re- vela que eacute fora das aacutereas definidas pelos recintos que se processa grande parte das actividades funeraacuterias destas comunidades Haacute no entanto uma excepccedilatildeo correspondente a um enterramento em fossa identificado na aacuterea intrafossos que pode ser cronologicamente enquadrado no Neoliacutetico Final (Neto et alii 2013) Apesar de natildeo se saber qual a relaccedilatildeo temporal entre os hipogeus do Monte do Carrascal e o enterramento em fossa do Porto Torratildeo eacute notoacuterio que haacute tratamento diferencial de determinados indiviacuteduos quer no que respeita ao ritual e lugar de enterramento quer no que respeita agrave sua individualidade

4 PRIMEIRAS LEITURASA recente identificaccedilatildeo de multiplas formas de sepultar tratar os mortos identificadas quer nos recintos de fossos quer nas suas aacutereas mais proacuteximas demonstram que as actividades funeraacuterias dos gru-pos do final do Neoliacutetico na regiatildeo do Alentejo natildeo satildeo exclusivas das antas mas aplica-se igualmente aos monumentos subterracirc-neos ndash os hipogeus ndash aos enterramentos em fossa agraves cremaccedilotildees e ao despejo literal de partes de restos humanos para o interior de estruturas negativas (fossos) Ainda que haja problemas associa-dos agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas que atestem quer o iniacutecio des- tas actividades quer a sua contemporaneidade estaacute corroborada a diver-sidade que eventualmente pode assumir contornos sociais conectaacuteveis com as relaccedilotildees intra e intergrupaisConsiderando os dois casos especiacuteficos acima expostos ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash estatildeo evidenciadas duas situaccedilotildees inegaacuteveisbull aumento demograacutefico demonstrado no numero significativo de contex-tos funeraacuterios que natildeo tecircm qualquer termo comparativo com as eacutepocas precedentes embora natildeo existam estudos demograacuteficos aprofundados acredita-se que esta circunstacircncia soacute eacute possiacutevel porque haacute definitivamente mais gente sedentarizada neste territoacuterio a partir do Neoliacutetico Finalbull diversidade no tratamento dos mortos natildeo obstante a coesatildeo cultural verificada no ldquomundo dos vivosrdquo verificado nas arquiteturas (ldquopovoadosrdquo monumentos megaliacuteticos recintos de fossos) na cultura material (con-juntos ceracircmicos industria liacuteticas artefactos ideoteacutecnicos) e nas estrateacute-gias de subsistecircncia (economia mista de produccedilatildeo de alimentos e ati- vidades cinegeacuteticas eventualmente associada agrave recoleccedilatildeo de recursos silvestres)

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Quanto agraves questotildees previamente definidas1) A macro anaacutelise efectuada natildeo permite aferir aacutereas preferenciais para a construccedilatildeo das antas em torno dos recintos de fossos em estudo contudo ao avaliar-se os siacutetios sobre os quais existe mais informaccedilatildeo ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash observa-se que durante a etapa final do Neoliacutetico os grupos construtores de recintos optaram por realizar as suas actividades funeraacuterias nas imediaccedilotildees desses lugares2) Apesar dos imensos desvios arqueograacuteficos que podem existir neste exerciacutecio devido fundamentalmente agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas ve- rifica-se que a construccedilatildeo preacutevia de qualquer um dos elementos arquitecoacuteni-cos em anaacutelise natildeo inibiu a construccedilatildeo do outro as imagens produzidas parecem aliaacutes sugerir o contraacuterio se considerarmos que os recintos de fossos poderatildeo ter funcionado como polos de agregaccedilatildeo social com ocu-paccedilotildees residenciais e permanentes temos de aceitar que no seu entorno imediato desenvolveram-se actividades pertencentes ao quotidiano dessas comunidades e entre essas a gestatildeo da morte teria um tratamento especial mas natildeo distante3) Os dados dos Perdigotildees e do Porto Torratildeo parecem sugerir que haacute uma preferecircncia para o desenvolvimento das actividades funeraacuterias fora das aacutereas delimitadas pelos fossos durante o Neoliacutetico Final no entanto exis- tem excepccedilotildees que permitem assumir a existecircncia de um tratamento dis-tinto entre indiviacuteduos uns satildeo inumados em estruturas colectivas enquanto outros tecircm enterramentos individuais se esta diferenciaccedilatildeo eacute ou natildeo sin-croacutenica eacute uma questatildeo que por agora fica obrigatoriamente em aberto

AGRADECIMENTOSA autora agradece agrave equipa da Direcccedilatildeo-Geral do Patrimoacutenio Cultural que gere a base de dados Endoveacutelico pela disponibilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo geograacutefica referente agrave implantaccedilatildeo dos monumentos megaliacuteticos inventa- riados na regiatildeo estudada

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICASArnaud J M (1993) O povoado calcoliacutetico de Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) siacutentese das investigaccedilotildees realizads Vipasca 41-60Boaventura R (2011) Cronologiacutea del megalitismo en el Centro-Sur de Portugal Menga Revista de Prehistoria de Andaluciacutea 158-190Boaventura R amp Mataloto R (2013) Entre mortos e vivos noacutetulas acerca da cronologia absoluta do Megalitismo do Sul de Portugal Revista Portuguesa de Arqueologia 81-101Calado M amp Mataloto R (1998) Relatoacuterio intercalar referente aos trabalhos do Blo-co 2 do Plano de Minimizaccedilatildeo de Impactes do Regolfo do Alqueva Escavaccedilatildeo do Povo-

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ado Neoliacutetico de Juromenha 1 (Alandroal) Campanha 1 (Abril a Julho de 1998) Lisboa Fundaccedilatildeo da Unoversidade de LisboaCalado M amp Rocha A (2000) Relatoacuterio de escavaccedilatildeo do povoado da Malhada das Mimosas (Alandroal) - Campanha 2 - 2000 Lisboa Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa Centro de Arqueologia de Lisboa EDIA SACarvalho A F (Ed) (2014) Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Universidade do AlgarveCorga M amp Ferreira M T (2011) Horta do Joatildeo da Moura 1 - Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirinha e Valbom - Fase de Obra exemplar policopiado Styx estudos de antropologia EDIA SADias S amp Figueiredo M (2009) Relatoacuterio preliminar dos trabalhos arqueoloacutegicos e an-tropoloacutegicos do Monte do Pombal 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2009) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos Monte do Cardim 6 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2013 Fevereiro 5) Fareleira 3 ditched enclosure Retrieved Junho 20 2014 from Portuguese Prehistoric Enclosures wwwportugueseenclosuresblogspotptGonccedilalves V S (2000) Muitas antas pouca gente Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de ArqueologiaGonccedilalves V S (2003) Muita gente poucas antas Origens espaccedilos e contextos do Megalitismo Actas do II Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Por-tuguecircs deAHiggs E S amp Vita Finzi C (1972) Prehistoric Economies a territorial aproach In Papers in Economic Prehistory (pp 27-36) London Cambridge University PressLago M amp Albergaria J (2001) O Cabeccedilo do Torratildeo (Elvas) contextos e interpretaccedilotildees preacutevias de um lugar do Neoliacutetico alentejano Era Arqueologia 4 pp 39-62Lago M Duarte C Valera A Albergaria J Almeida F amp Carvalho A (1998) Povoado dos Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz) dados preliminares dos trabalhos arqueoloacutegi-cos realizados em 1997 Revista Portguesa de Arqueologia 45-152Leisner G amp Leisner V (1985) Antas do Concelho de Reguengos de Monsaraz Lisboa UNIARCHMataloto R amp Costeira C (2008) O povoado calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Revista Portuguesa de Arqueologia 11 5-27Mataloto R amp Costeira C (2009) O Povoado Calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Notiacutecia da sua identificaccedilatildeo IV Encontro de Arqueologia del Suroeste Peninsular (pp 107-133) HuelvaMataloto R Davis S Costeira C Clemente R amp Santos I (2011) Os povoados de fossos do Paraiacuteso uma ocipaccedilatildeo do IV III mileacutenios aC na regiatildeo de Elvas Balanccedilo das intervenccedilotildees 2009-2010 Actas do V Encontro de Arqueologia Peninsular (pp 39-72)Neto N Rocha M Santos R amp Rebelo P (2013) Povoado calcoliacutetico do Porto Torratildeo - uma inumaccedilatildeo em fossa Arqueologia em Portugal - 150 anos (pp 379-385) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesNeves M J amp Mendes C (2011) Monte do Carrascal 2 - Trabalhos arqueoloacutegicos e ntropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes decorrentes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirnha e Valbom - Fase de obra Styx EDIA SAPereiro T (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Horta do Joatildeo da Moura 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SARebelo P (2009) Relatoacuterio Final da intervenccedilatildeo arqueoloacutegica no Povoado do Porto

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Torratildeo Ferreira do Alentejo Beja Neoeacutepica EDIA SARebuge J Saacute A amp Cheney A (2010) Intervenccedilatildeo Arqueoloacutegica em Porto Torratildeo (Sector 3 Oeste) Beja Archeoestudos EDIA SARodrigues F (2008) O recinto de fossos da Ponte da Azambuja 2 (Porte Eacutevora) primeira notiacutecia Apontamentos de Arquologia e Patrimoacutenio pp 49-56Rodrigues F (2013) Iacutedolomania figuras antropomoacuterficas e ldquoiacutedolos de cornosrdquo do recinto de fossos do Neoliacutetico Final da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) Arqueologia em Portugal 150 anos (pp 435-446) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesRodrigues F (2014) Skeletons in the ditch funerary activity in ditched enclosures of Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo Beja) Recent Prehistory Enclosures and Funerary Practices in Europe (pp 59-69) Oxford ArchaeopressRodrigues F (2015) O siacutetio da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) e a emergecircncia dos recintos de fossos no SW Peninsular nos finais do 4ordm mileacutenio ane Tese de Doutoramen-to exemplar policopiadoSantos H (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Monte do Carrascal 2 Era Ar-queologia EDIA SASantos R Rebelo P Neto N Rebuge J Saacute A Cheney A et al (2014) Porto Torratildeo resultados preliminares 4ordm Coloacutequio de Arqueologia de Alqueva O plano de rega Beja EDIA SASoares A M (1994) Descoberta de um povoado do Neoliacutetico junto agrave Igreja Velha de Satildeo Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Resultados Preliminares Vipasca 3 pp 41-49Soares A M (1996) Dataccedilatildeo absoluta da estrutura neoliacutetica junto agrave Igreja Velha de S Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Vipasca 5 51-58Soares A M amp Arnaud J M (1984) Escavaccedilotildees do Sepulcro Megaliacutetico MV2 (Vila Verde de Ficalho Serpa) Arquivo de Beja II1 67-82Valera A C amp Filipe I (2004) O povoado do Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) Novos dados e novas problemaacuteticas no contexto da calcolitizaccedilatildeo do Sudoeste peninsular Era Arqueologia 7 pp 23-32Valera A C amp Godinho R (2010) Ossos humanos provenientes dos fossos 3 e 4 e gestatildeo da morte nos Perdigotildees Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 6 pp 29-40Valera A C Becker H amp Boaventura R (2013) Moreiros 2 (Arronches Portalegre) geofiacutesica e cronologia dos recintos interiores Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 9 37-46Valera A C (2014 February 2) Perdigotildees NE gate Retrieved Juin 20 2014 from Portu-guese Prehistoric Enclosures wwwportuguese enclosresblogspotptValera A C Silva A M amp Maacuterquez Romero J (2014) The temporality of Perdigotildees En-closures absolute chronology of the structures and social practices Spal 23 pp 11-26Waterman A J Peate D W Silva A M amp Thomas J T (2013) In search of homelands using strontium isotopes to identify biological markers of mobility in lata prehistoric Portu-gal Journal of Archaeological Science p no prelo

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natildeo estatildeo diretamente associada agraves atividades intrassiacutetio pelo que natildeo se pode relacionar a fundaccedilatildeo desse recinto de fossos com o simbolismo as-sociado agraves praacuteticas funeraacuterias Refira-se tambeacutem que se no caso das estru-turas megaliacuteticas de tipo tholoi existe uma relaccedilatildeo (1) com as orientaccedilotildees da entradas conhecidas (2) com a dicotoacutemica relaccedilatildeo Este Oeste (3) assim como com a presenccedila do cromeleque a Este jaacute para os enterramentos em fossa do Neoliacutetico Final esse simbolismo natildeo pode ser aplicado de modo categoacuterico Efetivamente estes contextos localizam-se a Noroeste num local afastado dos sepulcros de tipo tholoi Ou seja as associaccedilotildees que tecircm vindo a ser reclamadas perdem assim o sentido deixando cair os significados que se pretendem vislumbrar 2 Porto TorratildeoTambeacutem neste siacutetio foram reconhecidas diferentes atividades funeraacuterias que agrave exceccedilatildeo dos contextos de cremaccedilatildeo em tudo se assemelham ao que jaacute foi descrito para os Perdigotildees Associados agravequele que eacute o maior recinto de fossos conhecido na aacuterea em apreccedilo reconhecem-se diferentes modos de tratamento dos mortos enterramentos em fossa (Rebelo 2009 Rebuge Saacute amp Cheney 2010 Neto et alii 2013) enterramentos em monumentos funeraacuterios de tipo tholoi e hipogeus (Dias amp Figueiredo 2009 Figueiredo 2009 Pereiro 2010 Neves amp Mendes 2011 Corga amp Ferreira 2011) e de-posiccedilatildeo de restos humanos no interior de fossos (Rodrigues 2014)Atestada essa diversidade que evidenciava diferentes localizaccedilotildees espa-ciais torna-se imperativo perceber se haveria aacutereas preferenciais de de-posiccedilatildeo dos restos humanos independentemente do tipo de tratamento que haviam sofrido (deposiccedilatildeo primaacuteria secundaacuteria com sem ritual) O tratamento estatiacutestico do numero miacutenimo de indiviacuteduos presentes em cada um dos contextos permitiu a perceccedilatildeo de que ldquodespite the fact that human remains apear throughout the entire archaeological complex there is a clear prevalence of this type of context outside the enclosed area And that is com-patible with the notion of a relatively well bounded necropolis Not in a par-ticular place (there are funerary monuments on the East and South sides of the enclosed area) but markedly out the enclosed areardquo (Rodrigues 2014) A descriccedilatildeo acima exposta reflete o cocircmputo dos contextos funeraacuterios iden-tificados neste siacutetio independentemente da sua cronologia No entanto se estes dados forem restringidos apenas agrave cronologia em apreccedilo a situaccedilatildeo natildeo difere Dos diferentes siacutetios onde foram identificados enterramentos e restos humanos o conjunto de hipogeus do Monte do Carrascal eacute aquele que apresenta uma cronologia enquadrada na etapa final do Neoliacutetico

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(Neves amp Mendes 2011) sendo igualmente o local de enterramento com o numero miacutenimo de indiviacuteduoas mais elevado o que mais uma vez re- vela que eacute fora das aacutereas definidas pelos recintos que se processa grande parte das actividades funeraacuterias destas comunidades Haacute no entanto uma excepccedilatildeo correspondente a um enterramento em fossa identificado na aacuterea intrafossos que pode ser cronologicamente enquadrado no Neoliacutetico Final (Neto et alii 2013) Apesar de natildeo se saber qual a relaccedilatildeo temporal entre os hipogeus do Monte do Carrascal e o enterramento em fossa do Porto Torratildeo eacute notoacuterio que haacute tratamento diferencial de determinados indiviacuteduos quer no que respeita ao ritual e lugar de enterramento quer no que respeita agrave sua individualidade

4 PRIMEIRAS LEITURASA recente identificaccedilatildeo de multiplas formas de sepultar tratar os mortos identificadas quer nos recintos de fossos quer nas suas aacutereas mais proacuteximas demonstram que as actividades funeraacuterias dos gru-pos do final do Neoliacutetico na regiatildeo do Alentejo natildeo satildeo exclusivas das antas mas aplica-se igualmente aos monumentos subterracirc-neos ndash os hipogeus ndash aos enterramentos em fossa agraves cremaccedilotildees e ao despejo literal de partes de restos humanos para o interior de estruturas negativas (fossos) Ainda que haja problemas associa-dos agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas que atestem quer o iniacutecio des- tas actividades quer a sua contemporaneidade estaacute corroborada a diver-sidade que eventualmente pode assumir contornos sociais conectaacuteveis com as relaccedilotildees intra e intergrupaisConsiderando os dois casos especiacuteficos acima expostos ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash estatildeo evidenciadas duas situaccedilotildees inegaacuteveisbull aumento demograacutefico demonstrado no numero significativo de contex-tos funeraacuterios que natildeo tecircm qualquer termo comparativo com as eacutepocas precedentes embora natildeo existam estudos demograacuteficos aprofundados acredita-se que esta circunstacircncia soacute eacute possiacutevel porque haacute definitivamente mais gente sedentarizada neste territoacuterio a partir do Neoliacutetico Finalbull diversidade no tratamento dos mortos natildeo obstante a coesatildeo cultural verificada no ldquomundo dos vivosrdquo verificado nas arquiteturas (ldquopovoadosrdquo monumentos megaliacuteticos recintos de fossos) na cultura material (con-juntos ceracircmicos industria liacuteticas artefactos ideoteacutecnicos) e nas estrateacute-gias de subsistecircncia (economia mista de produccedilatildeo de alimentos e ati- vidades cinegeacuteticas eventualmente associada agrave recoleccedilatildeo de recursos silvestres)

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Quanto agraves questotildees previamente definidas1) A macro anaacutelise efectuada natildeo permite aferir aacutereas preferenciais para a construccedilatildeo das antas em torno dos recintos de fossos em estudo contudo ao avaliar-se os siacutetios sobre os quais existe mais informaccedilatildeo ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash observa-se que durante a etapa final do Neoliacutetico os grupos construtores de recintos optaram por realizar as suas actividades funeraacuterias nas imediaccedilotildees desses lugares2) Apesar dos imensos desvios arqueograacuteficos que podem existir neste exerciacutecio devido fundamentalmente agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas ve- rifica-se que a construccedilatildeo preacutevia de qualquer um dos elementos arquitecoacuteni-cos em anaacutelise natildeo inibiu a construccedilatildeo do outro as imagens produzidas parecem aliaacutes sugerir o contraacuterio se considerarmos que os recintos de fossos poderatildeo ter funcionado como polos de agregaccedilatildeo social com ocu-paccedilotildees residenciais e permanentes temos de aceitar que no seu entorno imediato desenvolveram-se actividades pertencentes ao quotidiano dessas comunidades e entre essas a gestatildeo da morte teria um tratamento especial mas natildeo distante3) Os dados dos Perdigotildees e do Porto Torratildeo parecem sugerir que haacute uma preferecircncia para o desenvolvimento das actividades funeraacuterias fora das aacutereas delimitadas pelos fossos durante o Neoliacutetico Final no entanto exis- tem excepccedilotildees que permitem assumir a existecircncia de um tratamento dis-tinto entre indiviacuteduos uns satildeo inumados em estruturas colectivas enquanto outros tecircm enterramentos individuais se esta diferenciaccedilatildeo eacute ou natildeo sin-croacutenica eacute uma questatildeo que por agora fica obrigatoriamente em aberto

AGRADECIMENTOSA autora agradece agrave equipa da Direcccedilatildeo-Geral do Patrimoacutenio Cultural que gere a base de dados Endoveacutelico pela disponibilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo geograacutefica referente agrave implantaccedilatildeo dos monumentos megaliacuteticos inventa- riados na regiatildeo estudada

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICASArnaud J M (1993) O povoado calcoliacutetico de Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) siacutentese das investigaccedilotildees realizads Vipasca 41-60Boaventura R (2011) Cronologiacutea del megalitismo en el Centro-Sur de Portugal Menga Revista de Prehistoria de Andaluciacutea 158-190Boaventura R amp Mataloto R (2013) Entre mortos e vivos noacutetulas acerca da cronologia absoluta do Megalitismo do Sul de Portugal Revista Portuguesa de Arqueologia 81-101Calado M amp Mataloto R (1998) Relatoacuterio intercalar referente aos trabalhos do Blo-co 2 do Plano de Minimizaccedilatildeo de Impactes do Regolfo do Alqueva Escavaccedilatildeo do Povo-

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ado Neoliacutetico de Juromenha 1 (Alandroal) Campanha 1 (Abril a Julho de 1998) Lisboa Fundaccedilatildeo da Unoversidade de LisboaCalado M amp Rocha A (2000) Relatoacuterio de escavaccedilatildeo do povoado da Malhada das Mimosas (Alandroal) - Campanha 2 - 2000 Lisboa Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa Centro de Arqueologia de Lisboa EDIA SACarvalho A F (Ed) (2014) Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Universidade do AlgarveCorga M amp Ferreira M T (2011) Horta do Joatildeo da Moura 1 - Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirinha e Valbom - Fase de Obra exemplar policopiado Styx estudos de antropologia EDIA SADias S amp Figueiredo M (2009) Relatoacuterio preliminar dos trabalhos arqueoloacutegicos e an-tropoloacutegicos do Monte do Pombal 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2009) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos Monte do Cardim 6 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2013 Fevereiro 5) Fareleira 3 ditched enclosure Retrieved Junho 20 2014 from Portuguese Prehistoric Enclosures wwwportugueseenclosuresblogspotptGonccedilalves V S (2000) Muitas antas pouca gente Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de ArqueologiaGonccedilalves V S (2003) Muita gente poucas antas Origens espaccedilos e contextos do Megalitismo Actas do II Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Por-tuguecircs deAHiggs E S amp Vita Finzi C (1972) Prehistoric Economies a territorial aproach In Papers in Economic Prehistory (pp 27-36) London Cambridge University PressLago M amp Albergaria J (2001) O Cabeccedilo do Torratildeo (Elvas) contextos e interpretaccedilotildees preacutevias de um lugar do Neoliacutetico alentejano Era Arqueologia 4 pp 39-62Lago M Duarte C Valera A Albergaria J Almeida F amp Carvalho A (1998) Povoado dos Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz) dados preliminares dos trabalhos arqueoloacutegi-cos realizados em 1997 Revista Portguesa de Arqueologia 45-152Leisner G amp Leisner V (1985) Antas do Concelho de Reguengos de Monsaraz Lisboa UNIARCHMataloto R amp Costeira C (2008) O povoado calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Revista Portuguesa de Arqueologia 11 5-27Mataloto R amp Costeira C (2009) O Povoado Calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Notiacutecia da sua identificaccedilatildeo IV Encontro de Arqueologia del Suroeste Peninsular (pp 107-133) HuelvaMataloto R Davis S Costeira C Clemente R amp Santos I (2011) Os povoados de fossos do Paraiacuteso uma ocipaccedilatildeo do IV III mileacutenios aC na regiatildeo de Elvas Balanccedilo das intervenccedilotildees 2009-2010 Actas do V Encontro de Arqueologia Peninsular (pp 39-72)Neto N Rocha M Santos R amp Rebelo P (2013) Povoado calcoliacutetico do Porto Torratildeo - uma inumaccedilatildeo em fossa Arqueologia em Portugal - 150 anos (pp 379-385) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesNeves M J amp Mendes C (2011) Monte do Carrascal 2 - Trabalhos arqueoloacutegicos e ntropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes decorrentes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirnha e Valbom - Fase de obra Styx EDIA SAPereiro T (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Horta do Joatildeo da Moura 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SARebelo P (2009) Relatoacuterio Final da intervenccedilatildeo arqueoloacutegica no Povoado do Porto

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Torratildeo Ferreira do Alentejo Beja Neoeacutepica EDIA SARebuge J Saacute A amp Cheney A (2010) Intervenccedilatildeo Arqueoloacutegica em Porto Torratildeo (Sector 3 Oeste) Beja Archeoestudos EDIA SARodrigues F (2008) O recinto de fossos da Ponte da Azambuja 2 (Porte Eacutevora) primeira notiacutecia Apontamentos de Arquologia e Patrimoacutenio pp 49-56Rodrigues F (2013) Iacutedolomania figuras antropomoacuterficas e ldquoiacutedolos de cornosrdquo do recinto de fossos do Neoliacutetico Final da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) Arqueologia em Portugal 150 anos (pp 435-446) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesRodrigues F (2014) Skeletons in the ditch funerary activity in ditched enclosures of Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo Beja) Recent Prehistory Enclosures and Funerary Practices in Europe (pp 59-69) Oxford ArchaeopressRodrigues F (2015) O siacutetio da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) e a emergecircncia dos recintos de fossos no SW Peninsular nos finais do 4ordm mileacutenio ane Tese de Doutoramen-to exemplar policopiadoSantos H (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Monte do Carrascal 2 Era Ar-queologia EDIA SASantos R Rebelo P Neto N Rebuge J Saacute A Cheney A et al (2014) Porto Torratildeo resultados preliminares 4ordm Coloacutequio de Arqueologia de Alqueva O plano de rega Beja EDIA SASoares A M (1994) Descoberta de um povoado do Neoliacutetico junto agrave Igreja Velha de Satildeo Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Resultados Preliminares Vipasca 3 pp 41-49Soares A M (1996) Dataccedilatildeo absoluta da estrutura neoliacutetica junto agrave Igreja Velha de S Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Vipasca 5 51-58Soares A M amp Arnaud J M (1984) Escavaccedilotildees do Sepulcro Megaliacutetico MV2 (Vila Verde de Ficalho Serpa) Arquivo de Beja II1 67-82Valera A C amp Filipe I (2004) O povoado do Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) Novos dados e novas problemaacuteticas no contexto da calcolitizaccedilatildeo do Sudoeste peninsular Era Arqueologia 7 pp 23-32Valera A C amp Godinho R (2010) Ossos humanos provenientes dos fossos 3 e 4 e gestatildeo da morte nos Perdigotildees Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 6 pp 29-40Valera A C Becker H amp Boaventura R (2013) Moreiros 2 (Arronches Portalegre) geofiacutesica e cronologia dos recintos interiores Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 9 37-46Valera A C (2014 February 2) Perdigotildees NE gate Retrieved Juin 20 2014 from Portu-guese Prehistoric Enclosures wwwportuguese enclosresblogspotptValera A C Silva A M amp Maacuterquez Romero J (2014) The temporality of Perdigotildees En-closures absolute chronology of the structures and social practices Spal 23 pp 11-26Waterman A J Peate D W Silva A M amp Thomas J T (2013) In search of homelands using strontium isotopes to identify biological markers of mobility in lata prehistoric Portu-gal Journal of Archaeological Science p no prelo

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(Neves amp Mendes 2011) sendo igualmente o local de enterramento com o numero miacutenimo de indiviacuteduoas mais elevado o que mais uma vez re- vela que eacute fora das aacutereas definidas pelos recintos que se processa grande parte das actividades funeraacuterias destas comunidades Haacute no entanto uma excepccedilatildeo correspondente a um enterramento em fossa identificado na aacuterea intrafossos que pode ser cronologicamente enquadrado no Neoliacutetico Final (Neto et alii 2013) Apesar de natildeo se saber qual a relaccedilatildeo temporal entre os hipogeus do Monte do Carrascal e o enterramento em fossa do Porto Torratildeo eacute notoacuterio que haacute tratamento diferencial de determinados indiviacuteduos quer no que respeita ao ritual e lugar de enterramento quer no que respeita agrave sua individualidade

4 PRIMEIRAS LEITURASA recente identificaccedilatildeo de multiplas formas de sepultar tratar os mortos identificadas quer nos recintos de fossos quer nas suas aacutereas mais proacuteximas demonstram que as actividades funeraacuterias dos gru-pos do final do Neoliacutetico na regiatildeo do Alentejo natildeo satildeo exclusivas das antas mas aplica-se igualmente aos monumentos subterracirc-neos ndash os hipogeus ndash aos enterramentos em fossa agraves cremaccedilotildees e ao despejo literal de partes de restos humanos para o interior de estruturas negativas (fossos) Ainda que haja problemas associa-dos agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas que atestem quer o iniacutecio des- tas actividades quer a sua contemporaneidade estaacute corroborada a diver-sidade que eventualmente pode assumir contornos sociais conectaacuteveis com as relaccedilotildees intra e intergrupaisConsiderando os dois casos especiacuteficos acima expostos ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash estatildeo evidenciadas duas situaccedilotildees inegaacuteveisbull aumento demograacutefico demonstrado no numero significativo de contex-tos funeraacuterios que natildeo tecircm qualquer termo comparativo com as eacutepocas precedentes embora natildeo existam estudos demograacuteficos aprofundados acredita-se que esta circunstacircncia soacute eacute possiacutevel porque haacute definitivamente mais gente sedentarizada neste territoacuterio a partir do Neoliacutetico Finalbull diversidade no tratamento dos mortos natildeo obstante a coesatildeo cultural verificada no ldquomundo dos vivosrdquo verificado nas arquiteturas (ldquopovoadosrdquo monumentos megaliacuteticos recintos de fossos) na cultura material (con-juntos ceracircmicos industria liacuteticas artefactos ideoteacutecnicos) e nas estrateacute-gias de subsistecircncia (economia mista de produccedilatildeo de alimentos e ati- vidades cinegeacuteticas eventualmente associada agrave recoleccedilatildeo de recursos silvestres)

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Quanto agraves questotildees previamente definidas1) A macro anaacutelise efectuada natildeo permite aferir aacutereas preferenciais para a construccedilatildeo das antas em torno dos recintos de fossos em estudo contudo ao avaliar-se os siacutetios sobre os quais existe mais informaccedilatildeo ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash observa-se que durante a etapa final do Neoliacutetico os grupos construtores de recintos optaram por realizar as suas actividades funeraacuterias nas imediaccedilotildees desses lugares2) Apesar dos imensos desvios arqueograacuteficos que podem existir neste exerciacutecio devido fundamentalmente agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas ve- rifica-se que a construccedilatildeo preacutevia de qualquer um dos elementos arquitecoacuteni-cos em anaacutelise natildeo inibiu a construccedilatildeo do outro as imagens produzidas parecem aliaacutes sugerir o contraacuterio se considerarmos que os recintos de fossos poderatildeo ter funcionado como polos de agregaccedilatildeo social com ocu-paccedilotildees residenciais e permanentes temos de aceitar que no seu entorno imediato desenvolveram-se actividades pertencentes ao quotidiano dessas comunidades e entre essas a gestatildeo da morte teria um tratamento especial mas natildeo distante3) Os dados dos Perdigotildees e do Porto Torratildeo parecem sugerir que haacute uma preferecircncia para o desenvolvimento das actividades funeraacuterias fora das aacutereas delimitadas pelos fossos durante o Neoliacutetico Final no entanto exis- tem excepccedilotildees que permitem assumir a existecircncia de um tratamento dis-tinto entre indiviacuteduos uns satildeo inumados em estruturas colectivas enquanto outros tecircm enterramentos individuais se esta diferenciaccedilatildeo eacute ou natildeo sin-croacutenica eacute uma questatildeo que por agora fica obrigatoriamente em aberto

AGRADECIMENTOSA autora agradece agrave equipa da Direcccedilatildeo-Geral do Patrimoacutenio Cultural que gere a base de dados Endoveacutelico pela disponibilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo geograacutefica referente agrave implantaccedilatildeo dos monumentos megaliacuteticos inventa- riados na regiatildeo estudada

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICASArnaud J M (1993) O povoado calcoliacutetico de Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) siacutentese das investigaccedilotildees realizads Vipasca 41-60Boaventura R (2011) Cronologiacutea del megalitismo en el Centro-Sur de Portugal Menga Revista de Prehistoria de Andaluciacutea 158-190Boaventura R amp Mataloto R (2013) Entre mortos e vivos noacutetulas acerca da cronologia absoluta do Megalitismo do Sul de Portugal Revista Portuguesa de Arqueologia 81-101Calado M amp Mataloto R (1998) Relatoacuterio intercalar referente aos trabalhos do Blo-co 2 do Plano de Minimizaccedilatildeo de Impactes do Regolfo do Alqueva Escavaccedilatildeo do Povo-

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ado Neoliacutetico de Juromenha 1 (Alandroal) Campanha 1 (Abril a Julho de 1998) Lisboa Fundaccedilatildeo da Unoversidade de LisboaCalado M amp Rocha A (2000) Relatoacuterio de escavaccedilatildeo do povoado da Malhada das Mimosas (Alandroal) - Campanha 2 - 2000 Lisboa Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa Centro de Arqueologia de Lisboa EDIA SACarvalho A F (Ed) (2014) Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Universidade do AlgarveCorga M amp Ferreira M T (2011) Horta do Joatildeo da Moura 1 - Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirinha e Valbom - Fase de Obra exemplar policopiado Styx estudos de antropologia EDIA SADias S amp Figueiredo M (2009) Relatoacuterio preliminar dos trabalhos arqueoloacutegicos e an-tropoloacutegicos do Monte do Pombal 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2009) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos Monte do Cardim 6 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2013 Fevereiro 5) Fareleira 3 ditched enclosure Retrieved Junho 20 2014 from Portuguese Prehistoric Enclosures wwwportugueseenclosuresblogspotptGonccedilalves V S (2000) Muitas antas pouca gente Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de ArqueologiaGonccedilalves V S (2003) Muita gente poucas antas Origens espaccedilos e contextos do Megalitismo Actas do II Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Por-tuguecircs deAHiggs E S amp Vita Finzi C (1972) Prehistoric Economies a territorial aproach In Papers in Economic Prehistory (pp 27-36) London Cambridge University PressLago M amp Albergaria J (2001) O Cabeccedilo do Torratildeo (Elvas) contextos e interpretaccedilotildees preacutevias de um lugar do Neoliacutetico alentejano Era Arqueologia 4 pp 39-62Lago M Duarte C Valera A Albergaria J Almeida F amp Carvalho A (1998) Povoado dos Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz) dados preliminares dos trabalhos arqueoloacutegi-cos realizados em 1997 Revista Portguesa de Arqueologia 45-152Leisner G amp Leisner V (1985) Antas do Concelho de Reguengos de Monsaraz Lisboa UNIARCHMataloto R amp Costeira C (2008) O povoado calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Revista Portuguesa de Arqueologia 11 5-27Mataloto R amp Costeira C (2009) O Povoado Calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Notiacutecia da sua identificaccedilatildeo IV Encontro de Arqueologia del Suroeste Peninsular (pp 107-133) HuelvaMataloto R Davis S Costeira C Clemente R amp Santos I (2011) Os povoados de fossos do Paraiacuteso uma ocipaccedilatildeo do IV III mileacutenios aC na regiatildeo de Elvas Balanccedilo das intervenccedilotildees 2009-2010 Actas do V Encontro de Arqueologia Peninsular (pp 39-72)Neto N Rocha M Santos R amp Rebelo P (2013) Povoado calcoliacutetico do Porto Torratildeo - uma inumaccedilatildeo em fossa Arqueologia em Portugal - 150 anos (pp 379-385) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesNeves M J amp Mendes C (2011) Monte do Carrascal 2 - Trabalhos arqueoloacutegicos e ntropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes decorrentes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirnha e Valbom - Fase de obra Styx EDIA SAPereiro T (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Horta do Joatildeo da Moura 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SARebelo P (2009) Relatoacuterio Final da intervenccedilatildeo arqueoloacutegica no Povoado do Porto

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Torratildeo Ferreira do Alentejo Beja Neoeacutepica EDIA SARebuge J Saacute A amp Cheney A (2010) Intervenccedilatildeo Arqueoloacutegica em Porto Torratildeo (Sector 3 Oeste) Beja Archeoestudos EDIA SARodrigues F (2008) O recinto de fossos da Ponte da Azambuja 2 (Porte Eacutevora) primeira notiacutecia Apontamentos de Arquologia e Patrimoacutenio pp 49-56Rodrigues F (2013) Iacutedolomania figuras antropomoacuterficas e ldquoiacutedolos de cornosrdquo do recinto de fossos do Neoliacutetico Final da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) Arqueologia em Portugal 150 anos (pp 435-446) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesRodrigues F (2014) Skeletons in the ditch funerary activity in ditched enclosures of Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo Beja) Recent Prehistory Enclosures and Funerary Practices in Europe (pp 59-69) Oxford ArchaeopressRodrigues F (2015) O siacutetio da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) e a emergecircncia dos recintos de fossos no SW Peninsular nos finais do 4ordm mileacutenio ane Tese de Doutoramen-to exemplar policopiadoSantos H (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Monte do Carrascal 2 Era Ar-queologia EDIA SASantos R Rebelo P Neto N Rebuge J Saacute A Cheney A et al (2014) Porto Torratildeo resultados preliminares 4ordm Coloacutequio de Arqueologia de Alqueva O plano de rega Beja EDIA SASoares A M (1994) Descoberta de um povoado do Neoliacutetico junto agrave Igreja Velha de Satildeo Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Resultados Preliminares Vipasca 3 pp 41-49Soares A M (1996) Dataccedilatildeo absoluta da estrutura neoliacutetica junto agrave Igreja Velha de S Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Vipasca 5 51-58Soares A M amp Arnaud J M (1984) Escavaccedilotildees do Sepulcro Megaliacutetico MV2 (Vila Verde de Ficalho Serpa) Arquivo de Beja II1 67-82Valera A C amp Filipe I (2004) O povoado do Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) Novos dados e novas problemaacuteticas no contexto da calcolitizaccedilatildeo do Sudoeste peninsular Era Arqueologia 7 pp 23-32Valera A C amp Godinho R (2010) Ossos humanos provenientes dos fossos 3 e 4 e gestatildeo da morte nos Perdigotildees Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 6 pp 29-40Valera A C Becker H amp Boaventura R (2013) Moreiros 2 (Arronches Portalegre) geofiacutesica e cronologia dos recintos interiores Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 9 37-46Valera A C (2014 February 2) Perdigotildees NE gate Retrieved Juin 20 2014 from Portu-guese Prehistoric Enclosures wwwportuguese enclosresblogspotptValera A C Silva A M amp Maacuterquez Romero J (2014) The temporality of Perdigotildees En-closures absolute chronology of the structures and social practices Spal 23 pp 11-26Waterman A J Peate D W Silva A M amp Thomas J T (2013) In search of homelands using strontium isotopes to identify biological markers of mobility in lata prehistoric Portu-gal Journal of Archaeological Science p no prelo

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Quanto agraves questotildees previamente definidas1) A macro anaacutelise efectuada natildeo permite aferir aacutereas preferenciais para a construccedilatildeo das antas em torno dos recintos de fossos em estudo contudo ao avaliar-se os siacutetios sobre os quais existe mais informaccedilatildeo ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash observa-se que durante a etapa final do Neoliacutetico os grupos construtores de recintos optaram por realizar as suas actividades funeraacuterias nas imediaccedilotildees desses lugares2) Apesar dos imensos desvios arqueograacuteficos que podem existir neste exerciacutecio devido fundamentalmente agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas ve- rifica-se que a construccedilatildeo preacutevia de qualquer um dos elementos arquitecoacuteni-cos em anaacutelise natildeo inibiu a construccedilatildeo do outro as imagens produzidas parecem aliaacutes sugerir o contraacuterio se considerarmos que os recintos de fossos poderatildeo ter funcionado como polos de agregaccedilatildeo social com ocu-paccedilotildees residenciais e permanentes temos de aceitar que no seu entorno imediato desenvolveram-se actividades pertencentes ao quotidiano dessas comunidades e entre essas a gestatildeo da morte teria um tratamento especial mas natildeo distante3) Os dados dos Perdigotildees e do Porto Torratildeo parecem sugerir que haacute uma preferecircncia para o desenvolvimento das actividades funeraacuterias fora das aacutereas delimitadas pelos fossos durante o Neoliacutetico Final no entanto exis- tem excepccedilotildees que permitem assumir a existecircncia de um tratamento dis-tinto entre indiviacuteduos uns satildeo inumados em estruturas colectivas enquanto outros tecircm enterramentos individuais se esta diferenciaccedilatildeo eacute ou natildeo sin-croacutenica eacute uma questatildeo que por agora fica obrigatoriamente em aberto

AGRADECIMENTOSA autora agradece agrave equipa da Direcccedilatildeo-Geral do Patrimoacutenio Cultural que gere a base de dados Endoveacutelico pela disponibilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo geograacutefica referente agrave implantaccedilatildeo dos monumentos megaliacuteticos inventa- riados na regiatildeo estudada

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICASArnaud J M (1993) O povoado calcoliacutetico de Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) siacutentese das investigaccedilotildees realizads Vipasca 41-60Boaventura R (2011) Cronologiacutea del megalitismo en el Centro-Sur de Portugal Menga Revista de Prehistoria de Andaluciacutea 158-190Boaventura R amp Mataloto R (2013) Entre mortos e vivos noacutetulas acerca da cronologia absoluta do Megalitismo do Sul de Portugal Revista Portuguesa de Arqueologia 81-101Calado M amp Mataloto R (1998) Relatoacuterio intercalar referente aos trabalhos do Blo-co 2 do Plano de Minimizaccedilatildeo de Impactes do Regolfo do Alqueva Escavaccedilatildeo do Povo-

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ado Neoliacutetico de Juromenha 1 (Alandroal) Campanha 1 (Abril a Julho de 1998) Lisboa Fundaccedilatildeo da Unoversidade de LisboaCalado M amp Rocha A (2000) Relatoacuterio de escavaccedilatildeo do povoado da Malhada das Mimosas (Alandroal) - Campanha 2 - 2000 Lisboa Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa Centro de Arqueologia de Lisboa EDIA SACarvalho A F (Ed) (2014) Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Universidade do AlgarveCorga M amp Ferreira M T (2011) Horta do Joatildeo da Moura 1 - Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirinha e Valbom - Fase de Obra exemplar policopiado Styx estudos de antropologia EDIA SADias S amp Figueiredo M (2009) Relatoacuterio preliminar dos trabalhos arqueoloacutegicos e an-tropoloacutegicos do Monte do Pombal 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2009) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos Monte do Cardim 6 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2013 Fevereiro 5) Fareleira 3 ditched enclosure Retrieved Junho 20 2014 from Portuguese Prehistoric Enclosures wwwportugueseenclosuresblogspotptGonccedilalves V S (2000) Muitas antas pouca gente Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de ArqueologiaGonccedilalves V S (2003) Muita gente poucas antas Origens espaccedilos e contextos do Megalitismo Actas do II Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Por-tuguecircs deAHiggs E S amp Vita Finzi C (1972) Prehistoric Economies a territorial aproach In Papers in Economic Prehistory (pp 27-36) London Cambridge University PressLago M amp Albergaria J (2001) O Cabeccedilo do Torratildeo (Elvas) contextos e interpretaccedilotildees preacutevias de um lugar do Neoliacutetico alentejano Era Arqueologia 4 pp 39-62Lago M Duarte C Valera A Albergaria J Almeida F amp Carvalho A (1998) Povoado dos Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz) dados preliminares dos trabalhos arqueoloacutegi-cos realizados em 1997 Revista Portguesa de Arqueologia 45-152Leisner G amp Leisner V (1985) Antas do Concelho de Reguengos de Monsaraz Lisboa UNIARCHMataloto R amp Costeira C (2008) O povoado calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Revista Portuguesa de Arqueologia 11 5-27Mataloto R amp Costeira C (2009) O Povoado Calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Notiacutecia da sua identificaccedilatildeo IV Encontro de Arqueologia del Suroeste Peninsular (pp 107-133) HuelvaMataloto R Davis S Costeira C Clemente R amp Santos I (2011) Os povoados de fossos do Paraiacuteso uma ocipaccedilatildeo do IV III mileacutenios aC na regiatildeo de Elvas Balanccedilo das intervenccedilotildees 2009-2010 Actas do V Encontro de Arqueologia Peninsular (pp 39-72)Neto N Rocha M Santos R amp Rebelo P (2013) Povoado calcoliacutetico do Porto Torratildeo - uma inumaccedilatildeo em fossa Arqueologia em Portugal - 150 anos (pp 379-385) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesNeves M J amp Mendes C (2011) Monte do Carrascal 2 - Trabalhos arqueoloacutegicos e ntropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes decorrentes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirnha e Valbom - Fase de obra Styx EDIA SAPereiro T (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Horta do Joatildeo da Moura 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SARebelo P (2009) Relatoacuterio Final da intervenccedilatildeo arqueoloacutegica no Povoado do Porto

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Torratildeo Ferreira do Alentejo Beja Neoeacutepica EDIA SARebuge J Saacute A amp Cheney A (2010) Intervenccedilatildeo Arqueoloacutegica em Porto Torratildeo (Sector 3 Oeste) Beja Archeoestudos EDIA SARodrigues F (2008) O recinto de fossos da Ponte da Azambuja 2 (Porte Eacutevora) primeira notiacutecia Apontamentos de Arquologia e Patrimoacutenio pp 49-56Rodrigues F (2013) Iacutedolomania figuras antropomoacuterficas e ldquoiacutedolos de cornosrdquo do recinto de fossos do Neoliacutetico Final da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) Arqueologia em Portugal 150 anos (pp 435-446) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesRodrigues F (2014) Skeletons in the ditch funerary activity in ditched enclosures of Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo Beja) Recent Prehistory Enclosures and Funerary Practices in Europe (pp 59-69) Oxford ArchaeopressRodrigues F (2015) O siacutetio da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) e a emergecircncia dos recintos de fossos no SW Peninsular nos finais do 4ordm mileacutenio ane Tese de Doutoramen-to exemplar policopiadoSantos H (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Monte do Carrascal 2 Era Ar-queologia EDIA SASantos R Rebelo P Neto N Rebuge J Saacute A Cheney A et al (2014) Porto Torratildeo resultados preliminares 4ordm Coloacutequio de Arqueologia de Alqueva O plano de rega Beja EDIA SASoares A M (1994) Descoberta de um povoado do Neoliacutetico junto agrave Igreja Velha de Satildeo Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Resultados Preliminares Vipasca 3 pp 41-49Soares A M (1996) Dataccedilatildeo absoluta da estrutura neoliacutetica junto agrave Igreja Velha de S Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Vipasca 5 51-58Soares A M amp Arnaud J M (1984) Escavaccedilotildees do Sepulcro Megaliacutetico MV2 (Vila Verde de Ficalho Serpa) Arquivo de Beja II1 67-82Valera A C amp Filipe I (2004) O povoado do Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) Novos dados e novas problemaacuteticas no contexto da calcolitizaccedilatildeo do Sudoeste peninsular Era Arqueologia 7 pp 23-32Valera A C amp Godinho R (2010) Ossos humanos provenientes dos fossos 3 e 4 e gestatildeo da morte nos Perdigotildees Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 6 pp 29-40Valera A C Becker H amp Boaventura R (2013) Moreiros 2 (Arronches Portalegre) geofiacutesica e cronologia dos recintos interiores Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 9 37-46Valera A C (2014 February 2) Perdigotildees NE gate Retrieved Juin 20 2014 from Portu-guese Prehistoric Enclosures wwwportuguese enclosresblogspotptValera A C Silva A M amp Maacuterquez Romero J (2014) The temporality of Perdigotildees En-closures absolute chronology of the structures and social practices Spal 23 pp 11-26Waterman A J Peate D W Silva A M amp Thomas J T (2013) In search of homelands using strontium isotopes to identify biological markers of mobility in lata prehistoric Portu-gal Journal of Archaeological Science p no prelo

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ado Neoliacutetico de Juromenha 1 (Alandroal) Campanha 1 (Abril a Julho de 1998) Lisboa Fundaccedilatildeo da Unoversidade de LisboaCalado M amp Rocha A (2000) Relatoacuterio de escavaccedilatildeo do povoado da Malhada das Mimosas (Alandroal) - Campanha 2 - 2000 Lisboa Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa Centro de Arqueologia de Lisboa EDIA SACarvalho A F (Ed) (2014) Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Universidade do AlgarveCorga M amp Ferreira M T (2011) Horta do Joatildeo da Moura 1 - Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirinha e Valbom - Fase de Obra exemplar policopiado Styx estudos de antropologia EDIA SADias S amp Figueiredo M (2009) Relatoacuterio preliminar dos trabalhos arqueoloacutegicos e an-tropoloacutegicos do Monte do Pombal 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2009) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos Monte do Cardim 6 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2013 Fevereiro 5) Fareleira 3 ditched enclosure Retrieved Junho 20 2014 from Portuguese Prehistoric Enclosures wwwportugueseenclosuresblogspotptGonccedilalves V S (2000) Muitas antas pouca gente Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de ArqueologiaGonccedilalves V S (2003) Muita gente poucas antas Origens espaccedilos e contextos do Megalitismo Actas do II Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Por-tuguecircs deAHiggs E S amp Vita Finzi C (1972) Prehistoric Economies a territorial aproach In Papers in Economic Prehistory (pp 27-36) London Cambridge University PressLago M amp Albergaria J (2001) O Cabeccedilo do Torratildeo (Elvas) contextos e interpretaccedilotildees preacutevias de um lugar do Neoliacutetico alentejano Era Arqueologia 4 pp 39-62Lago M Duarte C Valera A Albergaria J Almeida F amp Carvalho A (1998) Povoado dos Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz) dados preliminares dos trabalhos arqueoloacutegi-cos realizados em 1997 Revista Portguesa de Arqueologia 45-152Leisner G amp Leisner V (1985) Antas do Concelho de Reguengos de Monsaraz Lisboa UNIARCHMataloto R amp Costeira C (2008) O povoado calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Revista Portuguesa de Arqueologia 11 5-27Mataloto R amp Costeira C (2009) O Povoado Calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Notiacutecia da sua identificaccedilatildeo IV Encontro de Arqueologia del Suroeste Peninsular (pp 107-133) HuelvaMataloto R Davis S Costeira C Clemente R amp Santos I (2011) Os povoados de fossos do Paraiacuteso uma ocipaccedilatildeo do IV III mileacutenios aC na regiatildeo de Elvas Balanccedilo das intervenccedilotildees 2009-2010 Actas do V Encontro de Arqueologia Peninsular (pp 39-72)Neto N Rocha M Santos R amp Rebelo P (2013) Povoado calcoliacutetico do Porto Torratildeo - uma inumaccedilatildeo em fossa Arqueologia em Portugal - 150 anos (pp 379-385) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesNeves M J amp Mendes C (2011) Monte do Carrascal 2 - Trabalhos arqueoloacutegicos e ntropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes decorrentes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirnha e Valbom - Fase de obra Styx EDIA SAPereiro T (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Horta do Joatildeo da Moura 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SARebelo P (2009) Relatoacuterio Final da intervenccedilatildeo arqueoloacutegica no Povoado do Porto

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Torratildeo Ferreira do Alentejo Beja Neoeacutepica EDIA SARebuge J Saacute A amp Cheney A (2010) Intervenccedilatildeo Arqueoloacutegica em Porto Torratildeo (Sector 3 Oeste) Beja Archeoestudos EDIA SARodrigues F (2008) O recinto de fossos da Ponte da Azambuja 2 (Porte Eacutevora) primeira notiacutecia Apontamentos de Arquologia e Patrimoacutenio pp 49-56Rodrigues F (2013) Iacutedolomania figuras antropomoacuterficas e ldquoiacutedolos de cornosrdquo do recinto de fossos do Neoliacutetico Final da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) Arqueologia em Portugal 150 anos (pp 435-446) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesRodrigues F (2014) Skeletons in the ditch funerary activity in ditched enclosures of Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo Beja) Recent Prehistory Enclosures and Funerary Practices in Europe (pp 59-69) Oxford ArchaeopressRodrigues F (2015) O siacutetio da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) e a emergecircncia dos recintos de fossos no SW Peninsular nos finais do 4ordm mileacutenio ane Tese de Doutoramen-to exemplar policopiadoSantos H (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Monte do Carrascal 2 Era Ar-queologia EDIA SASantos R Rebelo P Neto N Rebuge J Saacute A Cheney A et al (2014) Porto Torratildeo resultados preliminares 4ordm Coloacutequio de Arqueologia de Alqueva O plano de rega Beja EDIA SASoares A M (1994) Descoberta de um povoado do Neoliacutetico junto agrave Igreja Velha de Satildeo Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Resultados Preliminares Vipasca 3 pp 41-49Soares A M (1996) Dataccedilatildeo absoluta da estrutura neoliacutetica junto agrave Igreja Velha de S Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Vipasca 5 51-58Soares A M amp Arnaud J M (1984) Escavaccedilotildees do Sepulcro Megaliacutetico MV2 (Vila Verde de Ficalho Serpa) Arquivo de Beja II1 67-82Valera A C amp Filipe I (2004) O povoado do Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) Novos dados e novas problemaacuteticas no contexto da calcolitizaccedilatildeo do Sudoeste peninsular Era Arqueologia 7 pp 23-32Valera A C amp Godinho R (2010) Ossos humanos provenientes dos fossos 3 e 4 e gestatildeo da morte nos Perdigotildees Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 6 pp 29-40Valera A C Becker H amp Boaventura R (2013) Moreiros 2 (Arronches Portalegre) geofiacutesica e cronologia dos recintos interiores Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 9 37-46Valera A C (2014 February 2) Perdigotildees NE gate Retrieved Juin 20 2014 from Portu-guese Prehistoric Enclosures wwwportuguese enclosresblogspotptValera A C Silva A M amp Maacuterquez Romero J (2014) The temporality of Perdigotildees En-closures absolute chronology of the structures and social practices Spal 23 pp 11-26Waterman A J Peate D W Silva A M amp Thomas J T (2013) In search of homelands using strontium isotopes to identify biological markers of mobility in lata prehistoric Portu-gal Journal of Archaeological Science p no prelo

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Torratildeo Ferreira do Alentejo Beja Neoeacutepica EDIA SARebuge J Saacute A amp Cheney A (2010) Intervenccedilatildeo Arqueoloacutegica em Porto Torratildeo (Sector 3 Oeste) Beja Archeoestudos EDIA SARodrigues F (2008) O recinto de fossos da Ponte da Azambuja 2 (Porte Eacutevora) primeira notiacutecia Apontamentos de Arquologia e Patrimoacutenio pp 49-56Rodrigues F (2013) Iacutedolomania figuras antropomoacuterficas e ldquoiacutedolos de cornosrdquo do recinto de fossos do Neoliacutetico Final da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) Arqueologia em Portugal 150 anos (pp 435-446) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesRodrigues F (2014) Skeletons in the ditch funerary activity in ditched enclosures of Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo Beja) Recent Prehistory Enclosures and Funerary Practices in Europe (pp 59-69) Oxford ArchaeopressRodrigues F (2015) O siacutetio da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) e a emergecircncia dos recintos de fossos no SW Peninsular nos finais do 4ordm mileacutenio ane Tese de Doutoramen-to exemplar policopiadoSantos H (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Monte do Carrascal 2 Era Ar-queologia EDIA SASantos R Rebelo P Neto N Rebuge J Saacute A Cheney A et al (2014) Porto Torratildeo resultados preliminares 4ordm Coloacutequio de Arqueologia de Alqueva O plano de rega Beja EDIA SASoares A M (1994) Descoberta de um povoado do Neoliacutetico junto agrave Igreja Velha de Satildeo Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Resultados Preliminares Vipasca 3 pp 41-49Soares A M (1996) Dataccedilatildeo absoluta da estrutura neoliacutetica junto agrave Igreja Velha de S Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Vipasca 5 51-58Soares A M amp Arnaud J M (1984) Escavaccedilotildees do Sepulcro Megaliacutetico MV2 (Vila Verde de Ficalho Serpa) Arquivo de Beja II1 67-82Valera A C amp Filipe I (2004) O povoado do Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) Novos dados e novas problemaacuteticas no contexto da calcolitizaccedilatildeo do Sudoeste peninsular Era Arqueologia 7 pp 23-32Valera A C amp Godinho R (2010) Ossos humanos provenientes dos fossos 3 e 4 e gestatildeo da morte nos Perdigotildees Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 6 pp 29-40Valera A C Becker H amp Boaventura R (2013) Moreiros 2 (Arronches Portalegre) geofiacutesica e cronologia dos recintos interiores Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 9 37-46Valera A C (2014 February 2) Perdigotildees NE gate Retrieved Juin 20 2014 from Portu-guese Prehistoric Enclosures wwwportuguese enclosresblogspotptValera A C Silva A M amp Maacuterquez Romero J (2014) The temporality of Perdigotildees En-closures absolute chronology of the structures and social practices Spal 23 pp 11-26Waterman A J Peate D W Silva A M amp Thomas J T (2013) In search of homelands using strontium isotopes to identify biological markers of mobility in lata prehistoric Portu-gal Journal of Archaeological Science p no prelo


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