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No texto de E rnesto D erez ens ky e dema is co leg as da ... · no m ade e a psica na lise como...

Date post: 02-Nov-2018
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No texto de Ernesto Derezensky e demais colegas da EOL, lemos discus-sao em torno de UIll diagn6stico de endofrenia, a partir da apresenta<;ao depacientes em um hospital publico de Buenos Aires.Nas se<;5esfinais, encontramos dois textos de alcance mais amplo, que

freqiientam, cada um a sua maneira, 0 campo da cultura: 0 de HeleniceSaldanha de Castro (EBP), com reflex5es sobre 0 objeto nada na anorexia,e 0 de Oscar Reymundo (EBP), sobre os impasses e as possibilidades dasnovas configura<;5es familiares que jamais caberao nos estreitos parame-tros da biologia.Por fim, na se<;aoLeituras, a critica de Jean-Claude Milner a serie de

livros infanto-juvenis intitulada Harry Potter.

Mal se encerra 0 PIPOL 3 e 0 olhar ja se volta para 0 PIPOL 4.o PIPOL 3 deu testemunho de uma epidemia que atingiu, e atinge todos

os dias, 0 Campo freudiano, fazendo vibrar toda a sua comunidade europeia.

Ha quatro anos, abria-se em Paris, financiado pela Ecole de la Cause freu-dienne, 0 Centro Psicanalitico de Consultas e Tratamento (CPCT) da ruaChabrol. Se ha, hoje, uma dezena de CPCTsna Fran<;a,muitos na Espanha,dois na Halia, um em Bruxelas, muitos outros em forma<;ao;se umas cin-qiienta institui<;5es aderiram a RIPA, nossa Rede de Institui<;5es de Psica-nalise Aplicada; se todo esse mundinho esta em pleno crescimento, issonao se clevea qualquer diretiva, a qualquer injun<;ao.Na verdade, ha quatroanos, 0 CPCT de Paris parecia destinado a ser uma iniciativa experimentalque permaneceria a unica por muito tempo, ate que seus ensinamentospudessem ser sabiamente extraidos por comites cientificos.Dm entusiasmo inesperado subverteu tudo isso. As massas do Campo

freudiano se apropriaram da ideia e transformaram-na em for<;amaterial;superaram todos os obstacuIos, descobrindo jazidas insuspeitadas de boavontade, disponibilidade, tempo livre, e revelando voca<;5es,como se cadaum se tivesse dito: "Finalmente, aqui estamos!" Como se, enfim, fizessemosuma volta ao futuro. Como se, par nasso intermedin, a psicanalise firmasseuma nova alian<;acom 0 tempo presente.

nomade e a psicanalise como uma instalac;ao portatil, suscetivel de se deslo-car para novos contextos e, em particular, para as institui<;6es. as relatos decaso mostram e demonstram, evidenciam, que os efeitos psicanaliticos pro-priamente ditos se produzem no seio de contextos institucionais, nao imp or-tando 0 quanta esses contextos autorizem a instala<;ao de urn lugar analitico.Ha urn lugar analitico possivel na institui<;ao - digamos, urn Lugar Alfa.Urn Lugar Alfa nao e urn local de escuta. Hoje, chama-se de lugar de es-

cuta 0 local em que 0 sujeito e convidado a falar 0 que quiser, a vontade. Diz-se que 0 por em palavras alivia. Urn Lugar Alfa e urn lugar de respostas, urnlugar em que falar a toa assume a forma de questao e a propria quesUio, aforma da resposta. Nao ha Lugar Alfa se, pela media<;ao do analista, 0 falara toa nao revelar urn tesouro, 0 do outro sentido que vale como resposta, ouseja, na condi<;ao de saber inconsciente. Essa muta<;ao do falar livrementeresulta no que chamamos de transferencia, a qual permite a ocorrenciado ate interpretativo, que, POl' sua vez, divide-se em urn antes e urn depois,como dizemos c1assicamente.Para haver urn Lugar Alfa, faz-se necessario- e e suficiente - instalar-

se 0 lac;o pelo qual "0 emissor recebe do receptor sua propria mensagemnuma forma invertida"l, encontrar-se 0 sujeito, a partir dai, conectado como saber suposto de que ele proprio ignorava ser a sede.

Somos levados pOl' esse grande movimento, que, ao mesmo tempo, preci-samos elucidar, nem que seja apenas para saber qual 0 proximo passo a darno caminho do PIPOL.A fim de justificar, aos nossos proprios olhos, a renovac;ao introduzida pelo

cpcr em organizar nossos papeis psicanaliticos, tivemos de recorrer a uma ve-lha distinc;ao: psicanalise pura e psicanalise aplicada. Muito bem! Isso e c1assico.E absolutamente certo que deixamos intacta a psican~ise pura, as mes-

mas exigencias continuam se impondo a forma<;ao dos analistas, 0 passepermanece como 0 que pensamos ser 0 verdadeiro fim de uma analise e tra-balhamos no sentido de legitimar isso.A renova<;ao de que se trata foi produzida no nivel da psicanaIise apli-

cada a terapeutica. Era mais confortavel pensarmos assim. Introduzimosnela uma mudan<;a de paradigma, modificamos parametros ate entao cons-tantes, dura<;ao e pagamento: dura<;ao limitada e programada, pagamentosuprimido. Aten<;ao! Suprimido nao so para 0 paciente, mas tambem, aomenos ate 0 momenta, para 0 terapeuta.Nao ha d6vida de que ja se praticara e teorizara a terapia breve - lem-

bremos, por exemplo; de urn dos mais antigos analistas, Franz Alexander -,assim como 0 tratamento gratuito - imaginemos 0 dispensario de Berlimno tempo de Wilhelm Reich -, mas, a meu vel', jamais em tal escala e tam-pouco com a elabora<;ao c1inica ad hoc que a caracteriza atualmente.

A emergencia desse momenta de saber deve ser severamente controlada, poise uma faisca que pode incendiar toda a campina, vale dizer, atear no sujeitoo incendio de urn delirio interpretativo generalizado. Imp6e-se uma sele<;aodrastica aos operadores no Lugar Alfa, a fim de nos assegurarmos de quesac capazes de urn controle ponderado dos efeitos psicanaliticos, dosadossegundo a capacidade do sujeito de suporta-Ios. Mesmo assim, no Lugar Alfa,os operadores nao podem deixar de praticar a arte do diagnostico rapido. Emgeral, em nossos CPCfs, essa tarefa e confiada aos analistas mais certificados,mais experientes, que podem elaborar uma prescri<;ao detalhada.

Tudo isso teria sido impossivel, se nossa referencia se mantivesse restritaao conceito fossilizado do enquadre, que se confunde com 0 consultorio doanalista que atua como profissionalliberal. as efeitos psicanaliticos resul-tam nao apenas do enquadre, como tambem do discurso, isto e, da instala-<;aode coordenadas simb6licas pOl' alguem que e analista e cuja qualidadeprofissional nao depende do terreno apropriado do consultorio, nem danatureza da c1ientela, e sim da experiencia em que ele se engajou.as conceitos lacanianos de ate analitico, discurso analitico e fim da ana-

lise como passe ao analista e que nos perrnitiram conceber este como objetol LACAN, Jacques. "Func;ao e campo da palavra e da linguagem em psicanalise"(1956). Em: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998, p. 297.

Ja se percebe, dessa forma, 0 que pode atrair na pra.tica dos efeitos te-rapeuticos rapidos: 0 alto grau requerido de dominio clinica, a mobilizac;aoimediata do saber previamente acumulado pOl'meio tanto do estudo dostextas quanta da experiencia efetiva, a avalia~ao instantanea e a assunc;aoconsciente do risco clinico. Pode-se constatar, assim, que uma conexao como saber suposto, que, hipoteticamente, chamamos de inconsciente, mesmose for fugaz, traduz-se, de modo geral, par uma reconexao com 0 que sechama, tradicionalmente, de 0 discurso do Outro.Mantenho-me a distancia - nossa distancia - desb formula~ao. A no-

meac;ao"0 Outro" e apenas uma aproxima~ao, visto que nao se trata de umainstancia unificada, nem de um monolito. Nao vejo tampouco objec;ao emfalarmos de uma reconexao com a realidade social.

Ospsicanalistas que atllam nos LugaresAlfaestao, seguramente, em cone-xaodireta com 0 social, encamam eles proprios 0 social e restabelecem 0 lac;osocialdos sujeitos que acolhem. E isso 0 que justifica 0 titulo do PIPOL 3. Emcontrapartida, os sujeitos que eles acolhemnao se encontram mais em conexaodireta com 0 social, situando-se, sobretudo, em uma situac;aode "desconexao".A situa~aode desconexao social nao e 0 tema que, agora, convemdiscutir?Consider ados os psicanalistas que trabalham nos Lugares Alfa, nos

CPCTs,nas instituic;oes RIPA, compreende-se 0 entusiasmo que pode apo-derar-se deles, ao verem anuladas as media~oes que, comumente, velama posic;aodo analista, que velam, para 0 proprio analista, que ele est a emconexao direta com 0 social. Um analista nao pode funcionar, se nao esti-vel' em conexao direta com 0 social, embora, em seu consultorio, ele possadesconhecer isso e alimental' os doces devaneios - Schwarmerei - de suaextraterritorialidade.Citamos, freqiientemente, essa palavra pela boca de Lacan, como se ele

lhe tivesse feito um elogio, em vez, e claro, de uma ironia. Quando 0 LugarAlfa emigra do consultorio para a instituic;ao, a verdade que se desnuda ea da socialidade estrutural da posic;ao e do ate analiticos. Eu poderia atedizer que 0 sucesso dos CPCTs - e, mais ainda, 0 das instituic;oes RIPA - eo sucesso dessa "operac;aoverdade". E nisso que se fundamenta 0 que inter-pretei, naqueles dias, como um "finalmente, aqui estamos".

o que e 0 "social" que fizemos figural' no titulo do PIPOL 3?A principio, e uma palavra de sentido ample, eminentemente comoda,

que estabelece uma interface entre a linguagem das autoridades politicas eadministrativas, e a nossa, a custa, sem duvida, de um equivoco. 0 segredo -o nosso - e que nao fazemos distinc;ao entre a realidade psiquica e a reali-dade social. A realidade psiquica e a realidade social.No ultimo ensino de Lacan, encontra-se esta proposic;ao provocante:

"A neurose depende das relac;oessociais"2. Para dissipar a impressao de pa-radoxo do que acabo de falar, basta lembrar que, no fundamento da reali-dade social, ha a linguagem. Entendamos pOl' linguagem a estrutura queemerge da lingua que se fala sob 0 efeito da rotina do lac;osocial. E a rotinasocial que faz com que 0 significado preserve um sentido, 0 sentido que edado pelo sentimento de cada um de "fazer parte de seu mundo, ou seja, desua pequena familia e do que a rodeia"3.

2 IACAN, Jacques. "0 seminario, livro XXIV, L'insu que sait de l'une-bevue s'ailea mourre" (1976-7). Inedito, li<;1Iodo dia 17 de maio de 1977; MILLER, Jacques-Alain. "Le tout dernier Lacan". Inedito, lic;6es dos dias 14 e 21 de marc;o de 2007.

3 IACAN, Jacques. 0 Seminaria, liura XX: mais, ainda (1972-3). Rio de Janeiro:Jorge Zahar Editor, 1982, cap. IV.

Quando se fala de psicanalise pura e de psicanaIise aplicada, entende-seque os resultados da primeira sao investidos na segunda. Isso esta certo e e,em principio, 0 caso do proprio analista no que respeita a sua propria anali-se, que nao e nem breve, nem programada, nem gratuita. Nao menospreze-mos, todavia, que ha nisso um efeito de retorno. A psicanalise aplicada - aque praticamos - tern incidencia, cada vez maior, sobre a psicanalise pura.Trata-se de algo sensivel na clinica da psicose comum, sem desenca-

deamento, em que os efeitos da foraclusao nao sao espetaculares - comoos delirios e as alucina~oes - e se traduzem pOl'sinais mais discretos, pOl'fenomenos element ares as vezes infimos, pOl'desligamentos sucessivos dafamilia e de tudo que se situa ao redor dela: as rela~oes sociais, 0 mundo.

A psicanalise aplicada tambem implica conseqiiencias sobre a teoria da cura.A programa<;§.o de tratamentos breves t0111a0 analista mais atento a experi-encia de carla sessao, tomada uma a uma, ao passo que 0 Durcharbeitung daexperiencia pura - a perlabora<;iio, como em geral e traduzida -, 0 tempo paracompreender prolongado que a analise pura impoe, tern como efeito naturaldesgastar esse detalhe e ate toma-lo imperceptivel para 0 analista. 0 que sepode chamar, as vezes, microcuras, conduzidas nos Lugares Alfa, acabara por es-timular a vigilancia dos analistas na dire<;§.oda cura analitica propriamente dita.Em terceiro lugar, destaco que, agora, certos numeros de nossos Lugares

Alfa institucionais sac subvencionados por administradoras e 0 serao cadavez mais. Ora, uma exigencia natural impoe-se a eles: prestar contas a seuscomanditarios. Estes querem 0 total, 0 quantitativo, 0 numero. Queremtransformar resultados em estatisticas, em maquinas de classificac;ao, emcomputadores. Eles ja nos ofere cern os servic;os de seus engenheiros.Pode-se afirmar que operamos com 0 saber suposto e que 0 saber ex-

posta desnatura nossa operaC;ao. Pode-se dizer, suspirando, que e muitofastidioso preencher as fichas que nos demandam. Proponho que se con-sider em as co isas de outro modo: como uma oportunidade de transformarnossa clinica - seus diagn6sticos, seus posicionamentos - no circuito dacomunicaC;ao comum, ou seja, antes de qualquer coisa, faze-la transpor 0

registro da transmissao integral, que Lacan chamou de materna.o materna nao e somente 0 uso de $, a, S" S2e 0 mais que se segue.

A exigencia dos comanditarios deve se constituir, para n6s, na oportunida-de de formalizar nossa clinica e - por que nao? - de rivalizar com 0 DSM.Por que nao criar a BPS? Quem duvida de que a constituic;ao de uma "basepsicanalitica do sintoma" suscetivel de quantificaC;ao pode implicar efeitosmais auspiciosos sobre a qualidade da transmissao clinica, nela compreen-dida a mais variada? Sou 0 unico a desejar uma armadura matematica maisconsistente do que aquela de que dispomos? Nao 0 creio.

Na linguagem administrativa contemporanea, a desconexao social ternurn nome comum: desinsen;ao. Essa palavra foi escolhida para nomear 0

projeto de pesquisa RIPA no ambito europeu. Vejo oPIPOL 4 como umapreparaC;ao para essa pesquisa, da qual decorre 0 titulo que proponho:"Clinica e pragmatica da desinserC;ao em psicanalise".

Digo clinica, porque, evidentemente, temos a dizer e a ordenar coisas queconcemem aos fundamentos psicanaliticos da desinserc;iio, em que podere-mos investir nossos resultados referentes a psicose comum, sobretudo os quegiram em tome do que Hugo Freda chamou de "precariedade simb6lica". Naoha duvida de que poderemos contribuir com algo novo - a rejeic;iioescolar, porexemplo -, visto que 0 significante mestre nos permite percep<;oes da autoridadee do saber que podem ser comunicadas. Digopragmatica, em vez de tratamentoou cura, porque a situamos na ordem do saber-fazer-ai, do "sair-se bem com".A grande animac;iio que nos impele decorre do fato de que a psicanalise se

mostrou - e ainda se mostra - defasada em relac;iio a ela pr6pria. Sua praticaimplica 0 abalo de todas as aparencias; ela pae em pratica urn poderoso princi-pio, quase socratico, de ironia, e permanece, muitas vezes, presa a crenc;as ob-soletas, refugiada numa extraterritorialidade imaginaria. Ela nao se reconhecemais num universo contemporaneo, que, no entanto, mais do que outras, con-tribuiu para fazer emergir e, entre os menos simpaticos, os mais ignorantes,chora em Nome-do-Pai, sonhando reconstruir seu reinado. Nostalgia do mo-mento freudiano da psicanalise, quando ainda reinava uma ordem social auto-ritaria, hierarquica, regulamentaria e ate disciplinadora, em que a psicanalisese encontrava numa situac;iio alveolar, a pleitear 0 direito de gozar.Era uma epoca em que a inserc;iiosocial se fazia, primordialmente, pela identi-

fica<;iiosimb6lica. Urn psicanalista podia, enta~, glorificar a liberac;iiodo desejo, asalvac;iiopela pulsao. Estamos, hoje, nurn tempo em que 0 Outro nao existe mais.No "zenite social", 0 objeto a 0 substituiu. A inserc;iio de da menos por identi-ficac;iiodo que por consumo. 0 sonho e menos a liberac;iio e mais a satisfac;iio.Ao mesmo tempo que a realidade social se mostra dominada pela falta-de-gozar.Dai, a moda das drogadi<;oes, que nao e simplesmente uma moda de habitos:tudo se toma adic;iiono comportamento social, tudo assume urn estilo aditivo.E preciso reconhecer nas drogadi<;oes, assim como no consumo frenetico

dos mais-de-gozar que a tecnologia multiplica e lanc;a no mercado, em rltmocada vez mais acelerado, urn esforc;o desesperado para compensar urn defeitode satisfa<;ao que e estrutural.

o passo seguinte a ser dado na serle de PIPOLs se impoe logicamente. Con-vem passar ao estudo tematico, diferencial, graduado, das situa<;oes subje-tivas de desconexao social.

Tr'ata-se da chave do choque de civiliza<;oes.0 que assim se designa e, es-sencialmente, a oposi<;ao,a incompatibilidade entre a civiliza<;aoreligiosae a civiliza<;aomercantil; entre a civiliza<;aodominada pelo Ideal do Eu eaquela que domina, propriamente falando, 0 supereu, cujo imperativo seformula no "Goza!"; entre a civiliza<;aodo respeito e a nossa, que e a dagula. A civiliza<;aomercantil estigmatiza a do Ideal do Eu como fanatismo,ao passo que esta, por sua vez, e estigmatizada como perversao, corrup<;ao,libertinagem, gozo-pride. Entre as duas, ha essa mistura enigmatica, a Chi-na de hoje, em que se observam, a urn so tempo, urn contrale autoritario doIdeal e uma extraordinaria desinibi<;aodo consumo.Por que psicanalistas nesses tempos de mal-estar? Nao para compar-

tilhar 0 mal-estar. 0 born humor que reinou nessas Jornadas testemunhaque esse nao e nosso estilo. Nao ser enganado pela satisfa<;aoilusoria domais-de-gozar nao pressupoe, igualmente, instalar-se na rejei<;aoda almanobre e anatematizar a realidade social contemporfmea. A missao que noscabe nesse mundo e a de reconhecer e elucidar a diversidade humana, adiversidade dos modos-de-gozar da especie. Isso exige reatar 0 espirito dapsicanalise a sua origem, quando os psicanalistas ainda sabiam sacrificara psicanalise os semblantes da respeitabilidade. A psicanalise, entao, sabiaque, para ser totalmente rigorosa, era-lhe preciso ser urn pouco bandida.Falei de urn momenta freudiano que esta atras de n6s. 0 momenta la-

caniano nao e menos 0 que foi, ao mesmo tempo, na conjuga<;aobarroca,existencialista e estruturalista, ou seja, cientifica. 0 proprio Lacan deixouesse momenta para tras e esbo<;ou,para nos, a configura<;aodo momen-to contemporaneo, que e pragmatico. Sim, somos pragmMicos como todomundo hoje, embora urn pouco a parte - pragmMicos paradoxais que naopropugnam 0 culto do issofunciona. 0 isso funciona nao funciona jamais.Nosso born humor advem, sem duvida, do fato de que sabemos que issofalha, ainda que acreditemos falhar de urn jeito born.Acreditemos que precisam de nos.

o sujeito suposto saber introduzido por Lacan consiste em radicalizar aopera<;iiofreudiana, 0 "mergulho do sujeito". Essa radicaliza<;iiotern con-seqiiencias sobre 0 que chamamos de "significante da transferencia". Pare-ce-me que, nas exposi<;oes,oscila-se entre diferentes defini<;oespossiveisdo significante da transferencia: ele seria "urn" significante, como Pierre-Gilles Gueguen dizia em sua introdu<;ao? 0 tra<;o sobre 0 qual se escolheo analista? 0 significante que surge em correla<;iiocom a sintoma? Parao Homem dos ratos, a jaculatoria imprevista diante de Freud: "Capitiio"?A todas essas quest6es se pode responder, em certo sentido, que sim. Nos,todavia, aproximamo-nos mais profundamente da questao quando situ-amos, com Reginald Blanchet, que 0 significante da transferencia e umaquestiio. Vma questiio nao e urn significante, e sim uma marca diacrmca,um ponio Jeirrterroga<;ii-;'-'E,sobretudo, urn lugar vazio. .---- ..

No algoritmo da transferencia que prop6e: S ~ Sq, Lacan fala do "signifi-cante S da transferencia, isto e, de urn sujeito, com sua implica<;iiode urnsignificante que diremos ser qualquer [...]. Se ele e denominavel por urn

1 Publicado originalmente em LettreMensuelle, n. 260, 2007, p. 14-17.Este texto eurn fragmento da conferencia que Eric Laurent, delegado geral da Associa9iio Mun-dial de Psicaniilise, pronunciou no dia 19 de maio de 2007 em Atenas, durante 0V Congresso da New Lacanian School, intitulado "Nascimentos da transferencia".A integra dessa conferencia pode ser lida no Bolenm da NLS, n. 2.


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