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NO TRAJETO DAS ÁGUAS, SOBRE O SULCO DOS RIOS. MEMÓRIAS DO SAGRADO FEMININO...

Date post: 18-May-2021
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NO TRAJETO DAS ÁGUAS, SOBRE O SULCO DOS RIOS. MEMÓRIAS DO SAGRADO FEMININO NA GRAVURA AFRO AMAZÔNICA IN THE PATH OF THE WARTERS, ON THE GROUND OF THE RIVERS MEMORIES OF THE FEMALE SACRED IN AFRO-AMAZONIC ENGRAVING Glauce Santos / UFPA RESUMO Poética visual que apresenta trajetos percorridos sobre as águas, trajetos fluviais, ancestralidade, memórias, lugares, minhas vivências na tradição afro-brasileira, o sagrado feminino e sua representação nas gravuras, os processos de gravação, a forma de pensar a imagem a ser gravada, a experiência da gravação, domínio das técnicas, manuseio das ferramentas, o processo de impressão da matriz gravada, a estampa, meus experimentos e desdobramentos dessa pesquisa em outras linguagens visuais, o ato poético na pesquisa em arte. PALAVRAS-CHAVE Trajetos; Memórias; Feminino; Gravuras ABSTRACT Visual poetics that show paths crossed over the waters,river paths, ancestry, memories, places, my experiences in the Afro-Brasilian tradition, the sacred feminine and its representation in the engravings, the processes of recording, the way of thinking the image to be recorded, the experience of recording, mastery of techniques, handling of the tools, the printing process of the engraved matrix, the print, my experiments and unfolding of this research in other visual languages, the poetic act in art research. KEYWORDS Paths; Memoirs; Female; Engravings
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NO TRAJETO DAS ÁGUAS, SOBRE O SULCO DOS RIOS. MEMÓRIAS DO SAGRADO FEMININO NA GRAVURA AFRO AMAZÔNICA

IN THE PATH OF THE WARTERS, ON THE GROUND OF THE RIVERS MEMORIES OF THE FEMALE SACRED IN AFRO-AMAZONIC ENGRAVING

Glauce Santos / UFPA

RESUMO Poética visual que apresenta trajetos percorridos sobre as águas, trajetos fluviais, ancestralidade, memórias, lugares, minhas vivências na tradição afro-brasileira, o sagrado feminino e sua representação nas gravuras, os processos de gravação, a forma de pensar a imagem a ser gravada, a experiência da gravação, domínio das técnicas, manuseio das ferramentas, o processo de impressão da matriz gravada, a estampa, meus experimentos e desdobramentos dessa pesquisa em outras linguagens visuais, o ato poético na pesquisa em arte.

PALAVRAS-CHAVE Trajetos; Memórias; Feminino; Gravuras

ABSTRACT Visual poetics that show paths crossed over the waters,river paths, ancestry, memories, places, my experiences in the Afro-Brasilian tradition, the sacred feminine and its representation in the engravings, the processes of recording, the way of thinking the image to be recorded, the experience of recording, mastery of techniques, handling of the tools, the printing process of the engraved matrix, the print, my experiments and unfolding of this research in other visual languages, the poetic act in art research. KEYWORDS Paths; Memoirs; Female; Engravings

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SANTOS, Glauce. No trajeto das águas, sobre o sulco dos rios: memórias do sagrado feminino na gravura afro amazônica, In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM ARTES PLÁSTICAS, 28, Origens, 2019, Cidade de Goiás. Anais [...] Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2019. p. 1410-1426.

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No trajeto das Águas: Lugares-memórias-pertencimento

Belém do Pará, situada na região norte, cidade onde nasci, é quase uma ilha

construída de costas para o rio. Trata-se de uma região insular, formada por 42

ilhas, com altitude de dez metros ao nível do médio do mar, sob um clima quente e

úmido, com temperatura média de 30°C, a hidrografia é rica com furos, igarapés,

rios e baías, tanto em sua parte continental quanto na insular. O volume de água se

presentifica na Baía do Guajará, do Marajó, de Santo Antônio, do Sol, no rio Guamá,

rio Mari-Mari, no igarapé do Tucunduba; Estes são alguns dos recursos que

compõem a península.

Foi em meio a tantas baías, rios, igarapés, marés, floresta amazônica, trajetos

fluviais e urbanos que nasceu o projeto “no trajeto das águas, sobre o sulco dos

rios”, no qual compartilho um pouco da minha produção visual, em especial a

gravura, suas diferentes técnicas, minhas memórias, meu processo artístico e as

vivências de uma mulher-artista-afro-amazônica.

A origem ribeirinha e litorânea da minha família, tanto pela parte de minha mãe,

quanto de meu pai, sempre esteve presente em minha vida, apesar de eu ter

nascido na zona urbana de Belém. Minha mãe é maranhense, nasceu em um

vilarejo chamado Prainha, que fica próximo da vila de Estandarte, pertencente ao

municipio de Cândido Mendes no Estado do Maranhão, localizado às margens do

Oceano Atlântico. Desde criança escuto a história da viagem de barco que a família

fez pelo oceano, vindo do Maranhão em direção a cidade de Bragança, lá moraram

por alguns anos e depois mudaram-se para a capital Belém, onde fixaram

residência. Nunca esqueci os relatos de minha mãe, as histórias sobre o trajeto que

o trajeto que foi extremamente perigoso, com várias turbulências, maresias terríveis.

O barco era pequeno e houve momentos de muito pânico no mar, mamãe tinha

treze anos, passou mal inúmeras vezes durante a viagem, feita com toda a sua

família.

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SANTOS, Glauce. No trajeto das águas, sobre o sulco dos rios: memórias do sagrado feminino na gravura afro amazônica, In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM ARTES PLÁSTICAS, 28, Origens, 2019, Cidade de Goiás. Anais [...] Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2019. p. 1410-1426.

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Já ouvi esse relato em diferentes fases da minha vida, e sempre prestei atenção na

forma como minha mãe fala do mar, uma mistura de medo, pânico, encantamento e

beleza. Em sua voz há muito respeito pela natureza, pela senhora das águas

salgadas.

Recordo também das minhas viagens na infância, para a zona do salgado, no oeste

do estado do Pará, indo em direção da cidade de Maracanã, uma região de praias

de água salgada. Lembro-me que ao chegar na cidade pelo acesso da estrada,

ainda tínhamos que, de barco, atravessar o rio que leva o nome da cidade, era

preciso adentrar os furos, as vilas de pescadores, as localidades ribeirinhas onde

meus bisavós (paternos) moravam, e meus avós paternos juntamente com meu pai

nasceram, cresceram e depois vieram para a capital Belém, tentar uma vida melhor

para os filhos, com acesso aos estudos. Mas sempre que podiam e quando a

saudade apertava, voltavam e algumas vezes, levavam-me junto com meu irmão,

para conhecer o lugar e conviver com parte da familia, tios, tias, primos e primas que

moravam lá. A rotina de travessia no rio era constante, recordo que nem sempre

tinha barco grande, e algumas vezes tínhamos que atravessar em um casquinho

(canoa), que de tão pesado com nossas bagagens, ficava rente a água, parecia que

ia afundar conosco. A brisa no rosto, o sol quente na pele, a chegada no outro lado

do rio, os extensos manguezais devido a proximidade com o mar (oceano Atlântico),

o trapiche improvisado e a trilha pela mata até chegar na casa dos parentes até hoje

estão impregnados em minha memória.

As águas sempre de alguma forma, estiveram permeando a minha vida, houve um

período em que morei e trabalhei na contra-costa do Marajó, na cidade de Chaves e

suas vilas, uma região insular. Foram três anos em localidades distantes, onde eu

estive atravessando ou percorrendo rios, baías, igarapés, lagos, e para fazer o

trajeto entre Chaves e Belém, tinha que passar pelo encontro do rio com o mar,

fazer a curva na ponta do Maguari, virar a esquina do oceano, momentos

extremamente intensos e lindos, onde me via por entre muitas maresias e ventanias,

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SANTOS, Glauce. No trajeto das águas, sobre o sulco dos rios: memórias do sagrado feminino na gravura afro amazônica, In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM ARTES PLÁSTICAS, 28, Origens, 2019, Cidade de Goiás. Anais [...] Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2019. p. 1410-1426.

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as viagens por “fora”, modo local de falar pelo oceano, nunca são iguais, sempre há

algo novo.

Navegar as marés na ilha dos Camaleões ou na ilha do Machado, atravessar as

águas enfurecidas em frente a Ilha das Melancias, segurar firme em alguma parte do

barco para não cair na água, seguir as recomendações dos barqueiros e

comandantes, devido a maresia muito forte naquela área. São alguns dos sons e

imagens que trago comigo, mar calmo não faz um bom marinheiro, no meu caso

marinheira.

Após esses três anos, retornei do Marajó, e dei início a uma série de gravuras e

projetos, retomei meu diário das viagens, constituído de imagens, fui rever meus

desenhos, arquivos fotográficos, minhas anotações, textos, vídeos, objetos que

trouxe comigo. Aos poucos, durante o processo de pesquisa, percebi que as

gravuras que eu faço provêm das minhas vivências, encontran-se permeadas pelas

memórias de infância, pelas minhas recordações. São ligações, conexões com o

meu fazer artístico que estou descobrindo. Não demorou muito para que eu

percebesse que o meu processo no campo da arte caminhava junto com o meu

processo nos rios e de busca pessoal na tradição afro-brasileira (religião de matriz

africana).

A partir dessas imersões, comecei a ligar os fios que conduzem e tecem essa teia

de memórias e me remetem a tradição afro, os afetos, a sensação de pertencimento

me aproximando dos lugares e das pessoas. Ouvir, aprender, reviver os

atravessamentos, os trajetos percorridos, permitir as imagens que vêm na mente, é

traduzir as ideias em desenhos, fotografias, filmagens, em ato de gravar. A matriz

revela novas estampas, deixa expostos os processos de gravura.

Jan Assmann sintetiza as principais contribuições dele e de Aleida Assmann ao

desmembrarem o conceito de “memória coletiva” de Maurice Halbwachs. Nos

conceitos de memória cultural e memória comunicativa, há dois modos diferentes de

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SANTOS, Glauce. No trajeto das águas, sobre o sulco dos rios: memórias do sagrado feminino na gravura afro amazônica, In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM ARTES PLÁSTICAS, 28, Origens, 2019, Cidade de Goiás. Anais [...] Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2019. p. 1410-1426.

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lembrar. No que tange abrangendo à memória cultural, encontra-se muitos de seus

estudos sobre religião. Para Assmann:

Memória é conhecimento dotado de um index de identidade, é conhecimento sobre si, quer dizer, é a identidade diacrônica própria de alguém, seja como indivíduo ou como membro de uma família, uma geração, uma comunidade, uma nação ou uma tradição cultural e religiosa. (ASSMANN, 2008, p. 122).

O tema das águas retratado nas gravuras, gira em torno de um universo feminino,

que se dá de duas formas, eu, mulher, produzindo gravuras, e o tema da minha

pesquisa que está ligado às mulheres, ao sagrado-feminino na construção do mundo

afro. Trata-se da mitologia, dos valores civilizatórios afro-brasileiros, uma reverência

aos orixás das águas doces e salgadas, rio e mar. São elas: Oxum e Iemanjá,

divindades de origem africana e cultuadas no Brasil, que habitam um universo afro-

brasileiro marcado por sentimento de pertencimento.

As memórias de infância, as viagens já relatadas e as constantes visitas ao terreiro

de Umbanda1 ainda criança, onde minha mãe me levava para tratamento espiritual,

conduzem-me aos cheiros de defumação, aos banhos de ervas, à enorme imagem

de Iemanjá que ficou guardada na memória por muitos anos. Permanecem em mim

a cor azul de seu vestido, as crianças que brincavam comigo.

O meu reencontro na fase adulta com o universo feminino da tradição afro-brasileira,

o Candomblé2 (da qual faço parte), e as mulheres que organizam a cosmovisão

feminina do mundo. O cotidiano dessas mulheres que sempre estão a frente de

tudo, com suas roupas brancas feitas de tecidos bordados, colares de fios de

contas, os turbantes brancos, sempre muito bem arrumadas, usando jóias, cantando

as cantigas que eu não recordava, somente uma vaga lembrança da melodia. Havia

uma concha do mar, um búzio, um caracol que guardei por muitos anos. As imagens

das águas e terreiros se fundiam, agora era capaz de ouvir o som da maré, ver a

paisagem dos rios, a linha do horizonte separando céu e mar, sentir o balanço dos

barcos, o movimento de enchente e vazante das águas, a maré alta invadindo e

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SANTOS, Glauce. No trajeto das águas, sobre o sulco dos rios: memórias do sagrado feminino na gravura afro amazônica, In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM ARTES PLÁSTICAS, 28, Origens, 2019, Cidade de Goiás. Anais [...] Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2019. p. 1410-1426.

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alagando as ruas, seja na cidade ou nas localidades mais distantes. Não existe o

nosso tempo, e sim o tempo da Maré.

Origem ancestral dos processos de gravura

Durante o meu processo de pesquisa com a série de gravuras “no trajeto das águas,

sobre o sulco dos rios”, percebi a grande importância das primeiras manifestações

artísticas encontradas em rochas na África, em especial as gravuras, fatos que são

comprovados pela arqueologia e outras ciências.

Sempre me perguntei qual a importância dessa gravura para nós? Quais a

informações que nos trazem? Penso também que podemos mudar a perspectiva do

olhar, algo que se faz necessário para criar em todos uma consciência crítica sobre

a arte que nos foi ensinada, estudar a origem da gravura é de certa forma entender

o meu próprio processo artístico na diáspora, enquanto mulher afrodescendente.

Atualmente, a cada ano aparecem novas publicações, pesquisadores procurando

recuperar as porções inteiras da antiga face da África, sendo esse resultado cada

vez mais positivo. Não podemos esquecer os motivos que impediram e privaram a

África de ter a estabilidade necessária a toda criação. A teoria da inferioridade racial,

a história equivocada de passividade dos africanos, o tráfico e comércio de pessoas

negras do século XV ao XX, ao longo da história da humanidade, são testemunhos

que não se teve benevolência com a África.

Com o aparecimento do homo faber-artifex, o ser humano capaz de fabricar ou criar

com ferramentas, surgem também toda uma produção artística, para além de seus

utensílios cotidianos, acredita-se que na África central e meridional, as gravuras de

contorno profundamente entalhadas, estivessem relacionadas a finalidades

religiosas, já os desenhos gravados com ranhuras mais delicadas, teriam uma

finalidade pedagógica ou de iniciação. O refinamento provém do fato de que

algumas superfícies vazadas e polidas com brilhantismo representam as cores das

peles dos animais ou dos objetos que carregavam com eles.

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SANTOS, Glauce. No trajeto das águas, sobre o sulco dos rios: memórias do sagrado feminino na gravura afro amazônica, In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM ARTES PLÁSTICAS, 28, Origens, 2019, Cidade de Goiás. Anais [...] Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2019. p. 1410-1426.

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Quanto as técnicas de gravação nesse período, os artistas desenvolvem à sua

maneira própria de gravar, através do traço ou incisão utilizado nas rochas, com

mais ou menos intensidade. Através do tipo de seres representados, são definidos

os períodos, e as fases das gravuras. Quando começam a surgir as primeiras

ferramentas de gravura, como a machadinha de pedra apontada, ou um pedaço de

madeira apontado, de ponta bem dura, os precursores dos buris, ferramentas de

gravar atuais, que são feitas de aço, cuja ponta cortante em variação, é usada para

gravar em metal ou madeira, impelindo traços afilados, que através dos golpes e

incisões feitos nas rochas é que entendemos o quanto esses artistas buscavam a

precisão técnica, pois perceberam que construindo ferramentas mais elaboradas,

poderiam obter gravuras melhores.

As gravuras assim como as pinturas, também exigiam esforço físico, algumas foram

feitas em rochas que medem até nove metros de altura, com o tempo os artistas-

gravadores da África, foram adquirindo precisão e técnicas próprias.

Tornou-se um costume dar nome de animais aos períodos da arte mural ou arte pré-

histórica, búfalo, elefante, boi, cavalo, camelo e carneiro, representações de animais

em cada fase, as quais são determinadas pela forma do traço, técnica de trabalho

na rocha, como a incisão, martelagem mais ou menos acentuada, polimento da

pedra, e o tipo de seres representados, basicamente dois períodos, o primeiro com

duas fases, e o segundo com quatro fases.

Sabe-se também das dificuldades de métodos e datação, tudo dependia das

condições em que eram encontradas as rochas onde ficam as gravuras rupestres e

os vestígios deixados por seres humanos, os quais foram atingidos pela ação do

tempo. Para os pesquisadores foi necessário estipular essas fases e períodos para

estudar melhor, tendo como base teórica a rocha e a partir dela obter uma

cronologia, como o perfil do traço da gravura que mudava. Segundo os

pesquisadores, os motivos poderiam ser vários, devido ao efeito de processos físico-

químico ou narrativas míticas.

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SANTOS, Glauce. No trajeto das águas, sobre o sulco dos rios: memórias do sagrado feminino na gravura afro amazônica, In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM ARTES PLÁSTICAS, 28, Origens, 2019, Cidade de Goiás. Anais [...] Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2019. p. 1410-1426.

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Meu Processo Artístico

Os processos artísticos com a gravura são na maioria das vezes solitários, essa

relação entre a gravura e o artista é algo vivenciado intensamente, o ato de gravar

requer atenção e precisão no traço, a gravação requer esse dominio da técnica. A

série de gravuras que integra o projeto “no trajeto das águas, sobre o sulco dos rios”,

foi realizada nos últimos quatro anos, é uma produção artística que conversa com a

natureza das águas, com a sua sonoridade, com o seu tempo, a forma como essas

águas me atravessam ao longo da minha vida, os lugares onde morei, a força das

águas, o sagrado feminino que nela habita, o tempo da maré.

A minha trajétoria com a gravura é marcada por gravuras de grandes e pequenos

formatos, neste processo utilizo as técnicas da xilogravura, carimbos xilográficos, e

linóleo-gravuras, os trabalhos revelam minhas memórias do sagrado feminino, de

lugares, vestígios e constatações de minha ancestralidade afro-amazônica. Além

das gravuras tenho também um vídeo-arte (Figura 01), instalações de objetos

(Figura 02), e duas performances que foram apresentadas no porão do PPGARTES-

UFPA, no ano de 2018. Na produção de gravuras, que antecede a minha entrada no

programa de mestrado, apresenta a vivência referente às viagens pela região do

Marajó, proporcionadas pelos encontros do rio com o oceano, vividos na observação

das enchentes e vazantes, marés altas, pororocas e tudo o que a natureza nos

oferece, trajetos, processos, memórias, saberes, ancestralidade e descobertas de

uma artista.

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SANTOS, Glauce. No trajeto das águas, sobre o sulco dos rios: memórias do sagrado feminino na gravura afro amazônica, In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM ARTES PLÁSTICAS, 28, Origens, 2019, Cidade de Goiás. Anais [...] Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2019. p. 1410-1426.

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Figura: 01. Frame do vídeo “No trajeto das águas, sobre o sulco dos rios”. Apresentado no Museu Casa das Onze Janelas. Belém, 2015. Artista/Foto: Glauce Santos.

A minha produção artística desde o ano de 2011 até o presente momento, tem como

tema o elemento água, a natureza e o feminino que nela habita, em especial as

divindades africanas, que na atual pesquisa de mestrado, estão presentes nos

orixás Oxum e Iemanjá, o rio e o mar. Representadas através de instalações de

objetos, sons de maré, gravuras (em diversas técnicas), performances e um vídeo.

Na mitologia Iorubá, Oxum, é a deusa do rio que leva o mesmo nome, e fica

localizado na Nigéria, mas precisamente na região de Ijexá por onde corre o rio

Oxum, no continente africano. Representa a sabedoria e o poder feminino, reina

sobre as águas doce, rainha das cachoeiras, lagoas, é a rainha de todos os rios, é a

deusa da beleza, do amor, ligada à riqueza, é representada como uma deusa

cercada de jóias de cobre, é a responsável pela criança ainda no ventre da mãe,

quando uma mulher deseja ter filhos dirigem-se a Oxum, pois ela controla a

fecundidade, é a segunda esposa de Xangô, antes foi casada com Ogum, Orunmilá

e Oxóssi, é a dona do jogo de búzios. No Brasil é cultuada nos terreiros de

Umbanda, Mina e Candomblé, na Bahia é sincretizada com Nossa Senhora das

Candeias, em Recife com Nossa Senhora dos Prazeres, seu arquétipo é o das

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mulheres graciosas e elegantes, com paixão pelas jóias, perfumes e vestimentas,

símbolo de charme, beleza e sensualidade, porém mais reservadas.

Iemanjá é divindade feminina, em Iorubá é chamada de Yemoja, seu nome deriva de

Yèyè omo ejá, que significa Mãe cujos filhos são peixes, mãe das águas dos povos

iorubanos no Daomé-África, o orixa dos Egbá, uma nação iorubá localizada na

região entre Ifé e Ibadan, onde existe o rio Yemoja, que devido as guerras entre as

nações iorubanas, o povo Egbá migrou para Abeokutá por volta do início do século

XIX, e como não era possivel levar o rio Yemoja, levaram somente os objetos

sagrados, suportes do axé da divindade, e passaram a fazer suas obrigações em

outro rio, que tornou-se a nova morada de Iemanjá. No Brasil é uma divindade muito

cultuada nos terreiros de Umbanda, Mina e Candomblé, foi sincretizada com Nossa

Senhora da Imaculada Conceição, o sábado é o dia da semana que lhe foi

consagrado, é conhecida também como Dandalunda, Inaé, Janaína, princesa, rainha

do mar, sereia, padroeira dos pescadores, é ela quem decide o destino de quem

entra no mar. Na diáspora, seus adeptos vestem roupas em tom de azul claro, seus

colares são de vidro transparente, na dança imitam movimento das ondas, seu

arquétipo é de serem fortes, rigorosas, altivas, voluntariosas, e algumas vezes

impetuosas e arrogantes.

As instalações artísticas fazem parte do meu processo artístico, e foram

apresentadas em conjunto com o vídeo “Sigo no trajeto das águas”, e a série de

gravuras “as águas”, tudo fez parte de uma exposição individual entitulada “No

trajeto das águas, sobre o sulco dos rios”, apresentada na sala Gratuliano Bibas no

Museu Casa das Onze Janelas, como resultado da bolsa-prêmio de pesquisa,

experimentação e divulgação artística, da Fundação Cultural do Estado do Pará-

FCP, edital no qual fui selecionada e premiada no ano de 2015. Palalelamente ao

processo de gravuras, também faço essas instalações e performances, a partir das

imagens criadas no desenho e na gravura, vou tendo ideias para outras

possibilidades artísticas, as quais foram tomando espaço e a pesquisa segue em

processo (Figura 02, figura 03 e figura 04).

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Figura:02-Instalação “No trajeto das águas, Iemanjá”, realizada no Ateliê do PPGARTES-UFPA. Belém, 2018. Artista/Foto: Glauce Santos.

Figura: 03-Performance “No trajeto das águas” de Glauce Santos, realizada no Ateliê do PPGARTES-UFPA. Belém, 2018. Foto: Luena Müller Chaves.

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Figura: 04-Instalação “No trajeto das águas”, realizada no Ateliê do PPGARTES-UFPA. Belém, 2018. Artista/Foto: Glauce Santos.

Na instalação apresentei senhora Iemanjá através dos objetos do mar, variados

tipos e tamanhos de conchas, corais, caracois, pérolas, espelho, e o tecido azul

claro. Sempre quis representá-la através desses objetos, os quais fui colecionando

ao longo desses anos, nas diversas viagens que fiz, alguns ganhei de presente. É

um universo feminino ancestral, delicado, permeado por minhas memórias de

infância, de um certo vestido azul, uma imagem de Iemanjá, um universo cheio de

força e valores civilizatórios afro-brasileiros.

Uma das etapas mais importantes do processo de gravura com o qual trabalho, é a

seleção de imagens a serem gravadas, para o suporte do linóleo, escolhi somente

os figurativos, diferentes tipos de conchas, caracóis variados (Figura 05), um cavalo

marinho (Figura 06), e um búzio, as incisões foram feitas com ferramentas próprias

de linóleo-gravura, como trata-se de uma superfície lisa e de fácil perfuração, as

ferramentas são curvada, não necessitando de tanta pressão na incisão do traço na

matriz. A impressão foi feita na prensa, e utilizei o papel debret, pois queria um papel

mais resistente, que não fosse tão fino.

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SANTOS, Glauce. No trajeto das águas, sobre o sulco dos rios: memórias do sagrado feminino na gravura afro amazônica, In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM ARTES PLÁSTICAS, 28, Origens, 2019, Cidade de Goiás. Anais [...] Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2019. p. 1410-1426.

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Figura: 05-“As águas”. Técnica: Linóleo-gravura. Dimensões: 32 x 24 cm. Ano: 2016-2017. Artista/Foto: Glauce Santos.

Figura: 06-“As águas”. Técnica: Linóleo-gravura. Dimensões: 32 x 24 cm. Ano: 2016-2017. Artista/Foto: Glauce Santos.

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SANTOS, Glauce. No trajeto das águas, sobre o sulco dos rios: memórias do sagrado feminino na gravura afro amazônica, In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM ARTES PLÁSTICAS, 28, Origens, 2019, Cidade de Goiás. Anais [...] Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2019. p. 1410-1426.

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Deixei a imensidão de um rio para uma gravura mais abstrata e menos figurativa,

para que eu pudesse trabalhar essa imensidão com mais liberdade na matriz de

madeira em grande formato, a xilogravura me deu o resultado exato, utilizei o buril

raiado e as goivas V e U para desbaste e entalhe.

O processo de gravação consiste em diferentes etapas, na madeira inicia-se com a

preparação da matriz. O corte da madeira no tamanho desejado, o lixamento e

polimento da superficie para só depois receber o desenho, e posteriormente as

incisões que gravam a imagem pensada para aquele suporte. A série de

Xilogravuras “no trajeto das águas, sobre o sulco dos rios”, traz imagens em grandes

formatos, medindo 2.20 na horizontal e 80 cm na vertical, representa as águas de

rio, a etapa de gravação da matriz de madeira feita durante em um dia todo, e para

os cortes-incisões na matriz, utilizo principalmente as goivas V, U, e um buril raiado

apenas para alguns detalhes.

A impressão é feita no dia seguinte, pois considero a etapa mais importante nesse

processo todo, um momento muito aguardado por mim, onde será revelada a

estampa da matriz gravada. Nesta etapa de impressão, tive que criar uma tonalidade

para a cor da água de rio da nossa região, uma cor barrenta (Figura 07), para isso

utilizei tinta gráfica off-set, uma mistura de ocre com marrom, mas sem precisar ser

tão forte como o ocre, com alguns experimentos conseguir chegar em uma

tonalidade da água de rio da região amazônica.

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Figura: 07-“As águas”. Técnica: Xilogravura. Dimensões: 2.20 x 80 cm. Ano: 2015-2016. Artista/Foto: Glauce Santos.

A textura própria da madeira, os veios, os sulcos que a ferramenta faz, a invasão da

matéria é um momento único entre o eu-artista e a matriz-obra (Figura 08),

particularmente gosto muito da abstração da água na matriz de madeira, a imagem

do rio nas representações do sagrado feminino estão entranhadas na minha

memória, foram feitas quatro matrizes das águas, em grandes formatos, imagens

desses trajetos fluviais que fui entalhando aos poucos por vários dias.

Figura: 08-A artista Glauce Santos em processo de impressão da matriz gravada. Técnica: Xilogravura. Ano: 2015. Foto: Jean Ribeiro

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Figura: 09-A artista Glauce Santos em Processo de impressão da matriz gravada. Técnica: Xilogravura. Ano: 2015. Foto: Jean Ribeiro.

Considerações de um trajeto percorrido sobre as águas

Os processos de gravação vivenciados nesta pequisa mostram os desdobramentos

dessa relação da mulher com a gravura, o ato poético, a forma de pensar a imagem

a ser gravada, a experiência de uso e domínio das técnicas, o manuseio com as

ferramentas, o processo de impressão, minhas memórias, meus trajetos percorridos,

os lugares por onde passei e continuo a navegar. Minha busca e vivência na

tradição afro-brasileira continua no caminho das águas, nas travessias onde se

constitui minha poética visual percorrida pelos sulcos de rios da gravura.

Notas

¹ Religião brasileira que sintetiza vários elementos das religiões africanas e cristãs. Formada no início do século XX, no sudeste do Brasil a partir da síntese com movimentos religiosos como Candomblé, Catolicismo e Espiritismo. 2 Religião original da região da Nigéria e Benin, trazida ao Brasil por africanos escravizados e aqui estabelecida, uma convivência com as forças da natureza e os ancestrais.

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SANTOS, Glauce. No trajeto das águas, sobre o sulco dos rios: memórias do sagrado feminino na gravura afro amazônica, In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM ARTES PLÁSTICAS, 28, Origens, 2019, Cidade de Goiás. Anais [...] Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2019. p. 1410-1426.

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Referências

ASSMANN, Aleida. Espaços da recordação: Formas e transformações da memória cultural. Tradução: Paulo Soethe. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2011.

ASSMANN, Jan. Comunicative and cultural memory. In; ERLL, Astrid; NUNNING, Ansgar (ED.). Cultural memory studies: an international and interdisciplinary handbook. Berlin; New York: De Gruyter, 2008.

HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. Tradução: Laurent Léon Schaffter. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1990.

Glauce Santos

Mestranda do Programa de Pós-graduação em Artes da UFPA, Especialista em Políticas de Igualdade Racial pela UFPA, licenciada em Educação Artística-Artes Plásticas pela UFPA, é professora, artista visual premiada com bolsas de criação, tem obras em acervos de galerias e museu, curadora da mostra Nós de Aruanda-artistas de terreiro, tem trabalhos com gravuras pequenas e em grande escala, instalações artísticas, vídeo, performance, pesquisa processos artísticos, memórias e arte afro-brasileira. Contato: [email protected] .


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