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O estudo das unidades de paisagem do bioma Pantanal The study ...

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Revista Ambiente & Água - An Interdisciplinary Journal of Applied Science: v. 7, n. 1, 2012. ISSN = 1980-993X doi:10.4136/1980-993X www.ambi-agua.net E-mail: [email protected] Tel.: (12) 3625-4212 O estudo das unidades de paisagem do bioma Pantanal (http://dx.doi.org/10.4136/ambi-agua.826) Gabriel Pereira 1,3 ; Eduardo Salinas Chávez 2 ; Maria Elisa Siqueira Silva 3 1 Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais DSR, INPE - Brasil e-mail: [email protected] 2 Universidad de la Habana - Cuba. e-mail: [email protected] 3 Universidade de São Paulo FFLCH, USP - Brasil e-mail: [email protected] ; [email protected] RESUMO A observação geoecológica da paisagem permite a análise da fragmentação dos geossistemas em pequenas áreas ou mesmo um diagnóstico de um determinado ambiente ou bioma. Esta abordagem geossistêmica permite alcançar um nível superior de integração dos elementos que compõe o meio, abrangendo a análise da interação e interdependência dos elementos ambientais e sociais. O presente estudo teve como objetivo principal elaborar um mapa de unidades de paisagem e um modelo de ocupação e uso para o Bioma Pantanal, utilizando os dados provenientes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) correspondentes às informações de unidades morfométricas de relevo, geologia, solos e potencial agrícola; o mapa de uso e cobertura da terra desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e os mapas de áreas alagadas do bioma Pantanal e de variabilidade espacial das inundações. A partir do cruzamento entre as variáveis altimetria, declividade, mapa de variabilidade espacial e geologia, foram identificadas 16 unidades de paisagem. Ainda, a análise da vulnerabilidade ambiental das unidades de paisagem do Bioma Pantanal aos diferentes tipos de fitofisionomias, unidades morfométricas e solos mostrou que grande parte do Pantanal apresenta uma média fragilidade ambiental, localizada principalmente na região de deposição aluvial do leque do Rio Taquari e em planícies não inundáveis com altitude entre 50 e 250 metros. Palavras-chave: Pantanal; estudo da paisagem; inundações periódicas. The study of landscape units in Pantanal biome ABSTRACT The geoecological landscape observation allows the analysis of geosystems fragmentation in small areas or a diagnosis of a particular environment or biome. This geosystemic approach permits the integration of elements that constitutes the environment, allowing the interaction and interdependence analysis of social and ecological elements. The main goal of this work was to elaborate a map of landscape units and a territorial planning for Pantanal biome, using data generated by the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE) corresponding to morphometric relief units, geology, soils and agricultural capability; the land cover and land use map developed by the Brazilian Agricultural Research Corporation (EMBRAPA) and the maps of flooded areas and spatial variability of the Pantanal biome. From the crosstab between altitude, slope, spatial variability map and geology we identified 16 landscape units.
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Revista Ambiente & Água - An Interdisciplinary Journal of Applied Science: v. 7, n. 1, 2012.

ISSN = 1980-993X – doi:10.4136/1980-993X www.ambi-agua.net

E-mail: [email protected] Tel.: (12) 3625-4212

O estudo das unidades de paisagem do bioma Pantanal

(http://dx.doi.org/10.4136/ambi-agua.826)

Gabriel Pereira1,3

; Eduardo Salinas Chávez2; Maria Elisa Siqueira Silva

3

1Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – DSR, INPE - Brasil

e-mail: [email protected] 2Universidad de la Habana - Cuba.

e-mail: [email protected] 3Universidade de São Paulo – FFLCH, USP - Brasil

e-mail: [email protected]; [email protected]

RESUMO A observação geoecológica da paisagem permite a análise da fragmentação dos

geossistemas em pequenas áreas ou mesmo um diagnóstico de um determinado ambiente ou

bioma. Esta abordagem geossistêmica permite alcançar um nível superior de integração dos

elementos que compõe o meio, abrangendo a análise da interação e interdependência dos

elementos ambientais e sociais. O presente estudo teve como objetivo principal elaborar um

mapa de unidades de paisagem e um modelo de ocupação e uso para o Bioma Pantanal,

utilizando os dados provenientes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

correspondentes às informações de unidades morfométricas de relevo, geologia, solos e potencial

agrícola; o mapa de uso e cobertura da terra desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa

Agropecuária (EMBRAPA) e os mapas de áreas alagadas do bioma Pantanal e de variabilidade

espacial das inundações. A partir do cruzamento entre as variáveis altimetria, declividade, mapa

de variabilidade espacial e geologia, foram identificadas 16 unidades de paisagem. Ainda, a

análise da vulnerabilidade ambiental das unidades de paisagem do Bioma Pantanal aos diferentes

tipos de fitofisionomias, unidades morfométricas e solos mostrou que grande parte do Pantanal

apresenta uma média fragilidade ambiental, localizada principalmente na região de deposição

aluvial do leque do Rio Taquari e em planícies não inundáveis com altitude entre 50 e 250

metros.

Palavras-chave: Pantanal; estudo da paisagem; inundações periódicas.

The study of landscape units in Pantanal biome

ABSTRACT The geoecological landscape observation allows the analysis of geosystems fragmentation

in small areas or a diagnosis of a particular environment or biome. This geosystemic approach

permits the integration of elements that constitutes the environment, allowing the interaction and

interdependence analysis of social and ecological elements. The main goal of this work was to

elaborate a map of landscape units and a territorial planning for Pantanal biome, using data

generated by the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE) corresponding to

morphometric relief units, geology, soils and agricultural capability; the land cover and land use

map developed by the Brazilian Agricultural Research Corporation (EMBRAPA) and the maps

of flooded areas and spatial variability of the Pantanal biome. From the crosstab between

altitude, slope, spatial variability map and geology we identified 16 landscape units.

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PEREIRA, G.; CHÁVEZ, E. S.; SILVA, M. E. S. O estudo das unidades de paisagem do bioma Pantanal. Ambi-

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Additionally, the analysis of Pantanal biome environmental vulnerability of the landscape units

considering different types of vegetation, topography and soils units showed that Pantanal has an

intermediate environmental fragility, located mainly in the alluvial deposition areas of the

Taquari river and in flood plains with altitude between 50 and 250 meters.

Keywords: Pantanal; landscape; periodic flooding regime.

1. INTRODUÇÃO

Anualmente vastas extensões da superfície terrestre são submetidas a processos de

degradação ambiental, ocasionando, desta forma, alterações significativas no uso e cobertura da

terra. No Brasil, as modificações das fisionomias naturais em áreas antrópicas estão relacionadas

com a constante expansão agrícola e pecuária. Consequentemente, o Pantanal, localizado em

uma faixa de contato e de grande interação entre ecossistemas terrestres e aquáticos, é

considerado um espaço de tensão ecológica e de grande importância socioeconômica.

O Pantanal é uma das maiores planícies sujeitas a inundações periódicas do globo.

Localizado na região central da América do Sul, está localizado principalmente nas áreas dos

Estados brasileiros do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, na Bolívia e no Paraguai. Este bioma

possui fronteira com a Floresta Amazônica, ao norte, e com o platô do Brasil central, a leste, e

ocupa aproximadamente 160.000 km² do território brasileiro. As principais feições fitoecológicas

presentes são compostas pela Savana Arborizada, Savana Florestada, Savana Gramíneo-lenhosa,

Pastagem e Floresta Estacional Semi-decidual Aluvial (Brasil, 2010).

Localizado na bacia hidrográfica do Alto Paraguai, o bioma Pantanal é caracterizado por

apresentar baixos valores hipsométricos com pequenas variações no gradiente topográfico,

(Figura 1), e por uma ampla área de planícies que alagam durante a estação chuvosa, porém,

sendo comum encontrar cordões arenosos que não são afetados pelas grandes inundações

(Assine, 2005). Nestas planícies alagáveis, é comum a ocorrência de feições geomorfológicas de

erosão e deposição que constituem a paisagem pantaneira. Entre os principais processos

geomorfológicos, podem-se citar as deposições aluviais e lacustres atuais, assim como

deposições aluviais antigas e paisagens formadas por processos eólicos (Assine e Soares, 2004).

O regime pluviométrico no pantanal apresenta duas estações bem definidas: uma chuvosa

que ocorre entre os meses de outubro e março e outra seca, entre abril e setembro. Segundo a

classificação de Köppen, o Bioma Pantanal está inserido no grupo de Clima tropical com estação

seca ou clima de savana (Aw) e exibe temperaturas médias mensais superiores a 18ºC com um

dos meses com precipitação média inferior a 60 mm. Entre os principais mecanismos de

precipitação destacam-se as chuvas convectivas, ocasionadas pelo aquecimento da superfície

durante o dia.

No Pantanal Brasileiro, o ciclo de alagamento anual abrange, segundo Cardozo et al. (2010),

26 ± 7% da área total do bioma (42.700 ± 11.719 km²). O efeito da mudança de cobertura atua

significativamente nessa dinâmica alterando o balanço de energia, a temperatura da superfície e

do ar e, consequentemente, o ciclo hidrológico regional (Pereira et al., 2010b). Tradicionalmente,

os recursos naturais (bióticos e abióticos) podem ser classificados em renováveis e não

renováveis, dependendo de sua taxa de regeneração no tempo e de sua utilização. Desta forma, a

exploração destes recursos devem ser embasados em inventários ambientais e em zoneamentos

econômico-ecológicos, onde o principal objetivo é permitir um melhor aproveitamento e

gerenciamento do meio ambiente. Para atingir tal objetivo, a cartografia digital e o

sensoriamento remoto apresentam-se como uma alternativa eficaz, pois essas técnicas permitem

detectar, localizar e representar de maneira eficiente os recursos naturais existentes em

determinada região e promover a organização do espaço (Priego et al., 2008).

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A visão geoecológica da paisagem permite estudar desde a fragmentação dos objetos em

pequenas áreas até a análise sistêmica de um dado ambiente ou bioma. Esta abordagem permite

alcançar um nível superior de integração dos elementos que compõe o meio-ambiente, incluindo

a análise da interação e interdependência dos elementos sociais e ambientais. O estudo da

paisagem ainda pode originar ordenamentos territoriais para determinadas regiões ou áreas com

base nos seus atributos físicos e sociais.

Figura 1. Localização da área de estudo.

Todavia, segundo Salinas e Middleton (1998), para propor um ordenamento territorial e

analisar a sustentabilidade de diferentes regiões, torna-se necessário o conhecimento prévio dos

diferentes elementos que formam a paisagem como, por exemplo, as condições climáticas, as

características do relevo, as potencialidades dos solos para os diferentes usos, os distintos

processos geomorfológicos que atuaram na superfície terrestre e determinaram as relações

ecogeográficas, além das estruturas fitoecológicas presentes na área de estudo. Portanto, o

auxílio da ecologia da paisagem, que possui um caráter holístico, apresenta-se como uma

ferramenta poderosa para integrar os elementos físicos, bióticos e antrópicos que atuam no meio-

ambiente de maneira integrada (Salinas e Quintela, 2000).

Neste contexto, o presente trabalho tem como objetivo principal analisar os principais

elementos que formam a paisagem do Bioma Pantanal. Desta forma, devem-se analisar as

diferentes componentes que atuam na área de estudo, integrando mapas de hipsometria,

declividade, geologia, aptidão ao uso agrícola, unidades morfométricas e informações de uso e

cobertura da terra para obter o mapa de Paisagem e propor um uso sustentável para a área em

questão.

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2. MATERIAIS E MÉTODO

2.1. Valores altimétricos e declividade

Para a obtenção dos valores altimétricos da área de estudo utilizou-se o modelo digital de

terreno (MDT) derivado de imagens interferométricas do Shuttle Radar Topography Mission

(SRTM). Este dado possui como características principais a resolução espacial de 90 metros e

cobertura global. Ressalta-se que os valores altimétricos foram adquiridos durante a campanha

de 11 dias do ano de 2000 a partir de um sistema-radar de abertura sintética que operava nas

bandas C e X na região do espectro eletromagnético referente às micro-ondas. Os dados globais

de MDT derivados pelo SRTM possuem a acurácia de aproximadamente 16 metros, porém,

podem-se obter erros de aproximadamente 6 metros para escalas locais, que variam de 50 a 100

km (Rabus et al., 2003).

A partir dos dados de MDT, estimou-se a declividade de cada ponto de grade do modelo.

Esta etapa foi realizada no SPRING, um programa de gerenciamento e processamento de dados

geográficos, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). A declividade

pode ser definida como a medida de inclinação de determinado ponto do MDT em relação ao

plano horizontal. De uma maneira geral, a declividade pode ser estimada a partir da equação

(SPRING, 2005):

2 2

2 2arctan

z zDeclividade

x y

[1]

em que: z representa o valor altimétricos, x e y as coordenadas do ponto.

2.2. Informações Ambientais

Para delimitar as unidades morfológicas do Pantanal, utilizaram-se dados vetoriais

provenientes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2011) correspondentes às

informações de: a) unidades morfométricas de relevo, que apresenta as características

geomorfológicas e sua relação com o domínio morfoestrutural do bioma Pantanal; b) geologia; c)

solos; e d) potencial agrícola, que relaciona as componentes físicas como características

morfológicas, topografia e fertilidade.

O mapa de uso e cobertura da terra utilizado neste trabalho foi originado pela EMBRAPA

(2004). Este mapa foi confeccionado a partir da aplicação de segmentação (critério de

crescimento de região) em imagens do sensor Thematic Mapper (TM) do satélite Landsat 5 e

interpretação visual dos segmentos gerados pelo processamento da imagem. Embora o mapa

tenha sido confeccionado em diversas classes de fisionomias vegetais e usos, optou-se por

agrupá-lo nas classes Ecótono, Formações Pioneiras, Formações Florestais, Áreas Urbanas,

Hidrografia, Agricultura/Pecuária e Savana. Ressalta-se que o mapa das áreas alagadas do bioma

Pantanal, para os anos de 2000 a junho de 2010, foram extraídos de Cardozo et al. (2010), e o

mapa da variabilidade espacial das inundações, obtidos a partir da realização por componentes

principais, foi extraído de Pereira et al. (2010a).

2.3. Metodologia

Os dados vetoriais e matriciais dos produtos acima mencionados foram inseridos no

SPRING. Desta forma, alguns procedimentos (transformação e compatibilização de diferentes

dados, extração de atributos, entre outros) foram realizados na Linguagem Espacial para

Geoprocessamento Algébrico (LEGAL). A Figura 2 mostra o fluxograma da metodologia

adotada para se obter o mapa de Paisagem do Bioma Pantanal, assim como, o modelo de

ocupação e uso para o Bioma Pantanal estimado a partir das unidades morfométricas, geologia,

uso e cobertura da terra, potencial agrícola e solos.

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A primeira etapa da metodologia consistiu em agrupar todos os dados necessários para o

estudo (I) e posterior extração de atributos e conversões para o formato matricial (II) e (III). A

quarta etapa (IV) consistiu no cruzamento de diversos planos de informação para originar os

mapas de unidades morfométricas e, decorrente deste, o mapa de unidades de paisagem. Esta

etapa consistiu no cruzamento de diversas informações, como, por exemplo, os dados de

variabilidade espacial das áreas alagadas, altimetria, declividade, unidades de relevo, geologia,

solos e uso/cobertura vegetal (Ramon et al., 2009).

A Etapa V constitui na atribuição do grau de fragilidade para cada componente do Bioma

Pantanal, relacionados com o tipo de vegetação, relevo, declividade e solo predominantes em

cada unidade de paisagem. Desta forma, o mapa final originou-se da ponderação das fragilidades

de cada componente (Muito Alta, Alta, Média, Baixa e Muito Baixa). A última etapa (VI) refere-

se ao cruzamento de todos os elementos que constituem o Bioma Pantanal. Nesta etapa, os

mapas de unidades morfométricas, unidades de paisagem, fragilidade, uso e cobertura do solo e

potencial agrícola foram ponderados de acordo com a aptidão para a conservação, urbanização,

agricultura/pecuária, indicando ao final o potencial primário e secundário, originando o modelo

de ocupação e uso (Salinas, 2008).

Figura 2. Fluxograma da metodologia.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com Cardozo et al. (2010), o ciclo de alagamento anual no Bioma Pantanal

abrange 42.700 ± 11.719 km². Segundo estes autores, as maiores áreas alagadas ocorreram no

ano de 2000, seguidas do ano de 2007, 2006 e 2008, possuindo 58.490 km², 55.250 km², 54.490

km² e 54.320 km², correspondendo a 36,55%, 34,53%, 34,05% e 33,95% da área total,

respectivamente. Pode-se dizer que o Bioma Pantanal apresenta grande dinâmica intra e

interanual, fato observado pela variação das inundações que ocorreram por todo o bioma entre os

anos de menor e maior alagamento, com diferenças superiores a 57%.

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No Pantanal, o regime das inundações determina os principais processos bióticos e

abióticos, bem como as composições específicas das unidades da paisagem (Adamoli, 1995).

Todo o bioma é influenciado pelas alterações no regime de inundações, causando mudanças na

cobertura vegetal.

A Figura 3 mostra as segundas componentes principais (PC2) geradas a partir dos dados de

NDVI (índice de vegetação por diferença normalizada) e reflectância NIR/SWIR,

respectivamente, provenientes da série temporal disponibilizada pelos dados do sensor MODIS

(Justice et al., 2002) a bordo do satélite Terra. Nestas componentes podemos visualizar a

dinâmica interanual da vegetação (Figura 3a) e a variação das áreas alagadas no decorrer dos

anos (Figura 3b). Percebe-se uma diversificada dinâmica ocasionada pela época chuvosa e pela

resposta da vegetação ao stress hídrico que ocorre na vegetação do pantanal. Na Figura 3b as

regiões com tons de vermelho são cobertas por lâminas d'água na estação chuvosa, resultando em

lagos temporários extensos, que inundam a vegetação existente. Após a inundação a vegetação

volta a ficar exposta, ocupando a área.

Figura 3. Mapa da variabilidade obtida a partir da componente principal CP2 das

imagens NDVI (à esquerda) e de reflectância (ρ) NIR/SWIR (à direita). Fonte. Adaptado de Pereira et al. (2010a).

A Figura 4 mostra o mapa hipsométrico, o mapa de declividade e as unidades morfométricas

de relevo para a área de estudo. Para o Bioma Pantanal, aproximadamente 83% da área possui

plana a baixa declividade (0-2.5%) e altitude entre 50-150 metros. Além disto, 14% da área de

estudo apresentam baixa a média declividade (2.5-12%) e altitude predominante entre 50-150

metros, sendo que apenas 3% da área apresentam um relevo com média a alta declividade (12-

50%) ou declividade muito alta (>50%). Desta forma, optou-se por separar as unidades

morfométricas em quatro grandes regiões, adotando-se a nomenclatura oficial do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A Figura 4c mostra a distribuição destas unidades:

em (1) a classe correspondente à Depressão dos Altos Rios Paraguai/Guaporé; em (2) os

Pantanais Mato-grossenses, referentes à planície de inundação; em (3) o Planalto dos Guimarães,

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com topos suaves e moderados; e (4) referentes aos Planaltos e Serras dos Altos Rios

Paraguai/Guaporé.

Figura 4. (a) Mapa hipsométrico extraído do SRTM; (b) Mapa da declividade; e (c) Mapa de unidades morfométricas provenientes do IBGE (2011).

A Figura 5a mostra o mapa das unidades morfométricas, com o acréscimo das áreas de alta

variabilidade para o Bioma Pantanal, obtido a partir da análise por componentes principais da

região do espectro eletromagnético referente ao NIR/SWIR (como visualizado na Figura 3b).

Desta forma, as cinco classes referentes às unidades morfométricas representam: (1) Planícies

aluviais não inundáveis (50-100 m) de plana a média declividade (0-12%); (2) Planícies Aluviais

inundáveis (50-100 m) de plana a baixa declividade (0-2,5%); (3) Depressão dos Altos Rios

Paraguai/Guaporé (150-250 m) com baixa a média declividade (2,5-12%); (4) Planalto dos

Guimarães (250-600 m) com declividade muito alta (>50%); e (5) Planaltos e Serras dos Altos

Rios Paraguai/Guaporé (>400 m) com declividade muito alta (>50%). A Tabela 1 mostra as

unidades geológicas para da área de estudo.

(a) (b) (c)

Figura 5. (a) Mapa de unidades morfométricas com a área de alta variabilidade; (b) Mapa da geologia para o Bioma Pantanal extraído de IBGE (2011); e (c) Mapa das unidades de

Paisagem para o Bioma Pantanal.

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A partir do mapa de unidades morfométricas com áreas de alta variabilidade e o mapa de

geologia obtido a partir do IGBE, originou-se o mapa de unidades de Paisagem. A Figura 5b

representa as classes geológicas para a área de estudo, em que cada código na legenda

representa:

Tabela 1. Unidades geológicas para a área de estudo.

C1 Sedimentos arenosos e argilosos, podendo incluir níveis carbonosos do

Terciário.

C2 Sedimento arenoso do Pleistoceno.

C3 Sedimentos relativos à aluviões atuais e terraços mais antigos do Holoceno.

PN1 Sedimentos arenosos e argilo-carbonáticos de grau metamórfico fraco a médio.

PM1 Rochas gnáissicas de origem magmática e/ou sedimentar de médio grau

metamórfico.

PM2 Sequências sedimentares e vulcanossedimentares de grau metamórfico baixo a

médio.

PM3 Associações de rochas de origem vulcânica e plutônica e composição félsica até

máfica.

PM4 Sequências sedimentares, principalmente psamíticas, podendo incluir

piroclásticas.

M1 Sedimentos argilosos, arenosos e cascalhos.

PP1 Rochas gnáissicas de origem magmática e/ou sedimentar de médio grau

metamórfico e rochas graníticas desenvolvidas durante o tectonismo.

Fonte: IBGE (2011).

A Figura 5c mostra o mapa das unidades de Paisagem obtidas a partir do cruzamento entre

as variáveis altimetria, declividade, mapa de variabilidade espacial e geologia. Para a área de

estudo, foram identificadas 16 unidades de paisagem (Tabela 2).

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Tabela 2. Unidades de Paisagem para o Bioma Pantanal.

P1

Planície aluvial sujeita a inundações periódicas (50-150 m) com predominância de declividade plana a

baixa (0-2,5%) com sedimentos arenosos e argilosos, podendo incluir sedimentos argilo-carbonáticos e

cascalhos, com solo predominantemente do tipo Espodossolo Ferrocárbico, com Savana/Pastagem.

P2

Planície aluvial sujeita a inundações periódicas (50-150 m) com predominância de declividade plana a baixa (0-2,5%) com sedimentos arenosos do Pleistoceno, com solo predominantemente do tipo

Plintossolo Háplico, com Savana/Savana Lenhosa.

P3

Planície aluvial sujeita a inundações periódicas (50-150 m) com predominância de declividade plana a

baixa (0-2.5%) com sedimentos relativo à aluviões atuais e terraços mais antigos do Holoceno, com

solo predominantemente do tipo Planossolo Hidromórfico, com Savana/Savana Lenhosa.

P4

Planície aluvial sujeita a inundações periódicas (50-150 m) com predominância de baixa a média

declividade (2,5-12%) com sequências sedimentares, principalmente psamíticas, podendo incluir

piroclásticas, com solo predominantemente do tipo Plintossolo Háplico, com Savana/ Floresta

Estacional.

P5

Planície aluvial não inundável (50-150 m) com predominância de declividade plana a baixa (0-2,5%)

com sedimentos arenosos e argilosos, podendo incluir sedimentos argilo-carbonáticos e cascalhos, com

solo predominantemente do tipo Espodossolo Ferrocárbico, com Savana/Floresta Estacional.

P6

Planície aluvial não inundável (50-150 m) com predominância de declividade plana a baixa (0-2,5%)

com sedimentos arenosos do Pleistoceno, com solo predominantemente do tipo Plintossolo Háplico,

com Savana/ Floresta Estacional.

P7

Planície aluvial não inundável (50-150 m) com predominância de declividade plana a baixa (0-2,5%) com sedimentos relativo à aluviões atuais e terraços mais antigos do Holoceno, podendo incluir

sequências sedimentares e vulcanossedimentares de grau metamórfico baixo a médio, com solo

predominantemente do tipo Gleissolo Háplico, com Floresta Estacional /Savana Lenhosa.

P8

Planície aluvial não inundável (50-150 m) com predominância de baixa a média declividade (2,5-12%)

com sequências sedimentares, principalmente psamíticas, podendo incluir piroclásticas, com solo

predominantemente do tipo Argissolo Vermelho-Amarelo, com Savana/Savana Lenhosa.

P9

Depressão dos Altos Rios Paraguai/Guaporé (150-250 m) com predominância de baixa a média

declividade (2,5-12%) com sedimentos arenosos e argilosos, podendo incluir sedimentos argilo-

carbonáticos e cascalhos, com solo predominantemente do tipo Argissolo Vermelho-Amarelo, com

Savana/Savana Lenhosa.

P10

Depressão dos Altos Rios Paraguai/Guaporé (150-250 m) com predominância de baixa a média

declividade (2,5-12%) com sedimentos arenosos do Pleistoceno, com solo predominantemente do tipo

Argissolo Vermelho-Amarelo, com Savana/Agricultura e Pecuária.

P11

Depressão dos Altos Rios Paraguai/Guaporé (150-250 m) com predominância de baixa a média

declividade (2,5-12%) com rochas gnáissicas de origem magmática e/ou sedimentar de médio grau metamórfico e rochas graníticas desenvolvidas durante o tectonismo, com solo predominantemente do

tipo Planossolo Háplico, com Savana/Savana Lenhosa.

P12

Depressão dos Altos Rios Paraguai/Guaporé (150-250 m) com predominância de baixa a média

declividade (2,5-12%) com sequências sedimentares/vulcanossedimentares e associações de rochas de

origem vulcânica e plutônica, com solo predominantemente do tipo Argissolo Vermelho-Amarelo,

com Savana/Savana Lenhosa.

P13

Depressão dos Altos Rios Paraguai/Guaporé (150-250 m) com predominância de baixa a média

declividade (2,5-12%) com sedimentos relativos à aluviões atuais e terraços mais antigos do Holoceno,

com solo predominantemente do tipo Argissolo Vermelho-Amarelo, com Savana Lenhosa/Pastagem.

P14

Planalto dos Guimarães (250-600 m) com predominância de muito alta declividade (>50%) com

sedimentos relativos à aluviões atuais e terraços mais antigos do Holoceno, com solo

predominantemente do tipo Argissolo Vermelho-Amarelo, com Savana/Agricultura e Pecuária.

P15

Planalto dos Guimarães (250-600 m) com predominância de muito alta declividade (>50%) com

sequências sedimentares, podendo incluir sedimentos arenosos e argilosos, com solo

predominantemente do tipo Argissolo Vermelho-Amarelo, com Savana Lenhosa/Savana.

P16

Planaltos e Serras dos Altos Rios Paraguai/Guaporé (>400 m) com muito alta declividade (>50%) com sedimentos arenosos e argilo-carbonáticos de grau metamórfico fraco a médio, com solo

predominantemente do tipo Argissolo Vermelho-Amarelo, com Savana/Savana Lenhosa.

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A Figura 6a mostra o mapa de fragilidade ambiental para o Bioma Pantanal. Este mapa

representa a vulnerabilidade ambiental das unidades de paisagem do Bioma Pantanal aos

diferentes tipos de fitofisionomias, unidades morfométricas e solos. Percebe-se que grande parte

do Pantanal apresenta uma média fragilidade ambiental, localizada principalmente na região de

deposição aluvial do leque do Rio Taquari e em planícies não inundáveis com altitude entre 50 e

250 metros. As áreas de baixa fragilidade ambiental estão localizadas em planícies de deposição

aluvial com predominância de plana a baixa declividade (0-2,5%) com sedimentos relativos a

aluviões atuais e terraços mais antigos do Holoceno, com predomínio de Savana/Savana

Lenhosa. Além disto, áreas de alta e muito alta fragilidade são compostas por regiões de

planícies aluviais e regiões montanhosas com média e alta declividade, compostas

principalmente por solos do tipo Planossolo Háplico, Gleissolo Háplico e Argissolo Vermelho-

Amarelo. A Tabela 3 mostra os valores adotados para estimativa do mapa de fragilidade para o

Pantanal.

Tabela 3. Valores adotados para estimativa do mapa de fragilidade para o Pantanal.

Muito Alta Alta Média Baixa Muito

Baixa

Vegetação Floresta

Estacional

Savana Lenhosa

Savana

Arborizada

Savana Gramíneas Agricultura

Pecuária

Relevo >400 m 350-400 m 250-350 m 150-250 m 50-150 m

Declividade >50% 12-50% 6-12% 2,5-6% 0-2,5%

Solos

Planossolo

Háplico e

Planossolo

Hidromórfico

Argissolo

Vermelho-

Amarelo,

Gleissolo Háplico

e Plintossolo

Háplico

Espodossolo

Férrico ---------- -----------

A Figura 6b mostra o mapa do potencial agrícola estimado pelo IBGE. Este mapa

caracteriza o Bioma Pantanal de acordo com as potencialidades para o uso agrícola, utilizando

fatores ambientais como fertilidade, topografia, principais limitações e características físicas e

morfológicas de cada região. Em geral, o Bioma Pantanal apresenta uma aptidão agrícola

desfavorável com aproximadamente 76% da área total (121.170 km²). Entre as principais

limitações ao uso agrícola podem-se citar a alta salinidade, a reduzida profundidade do horizonte

A e B, presença de pedregosidade ou rochosidade e a textura arenosa. Estes solos ocorrem

basicamente nas planícies e regiões sujeitas a inundações periódicas.

No Pantanal, aproximadamente 12% da área apresenta um potencial agrícola caracterizado

como Restrito a Desfavorável devido principalmente ao excesso de sódio e corresponderem a

áreas de inundações periódicas e com restrição de drenagem.

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Figura 6.(a) Mapa de fragilidade para o Bioma Pantanal; (b) Mapa de potencial

agrícola estimado pelo IBGE (2011).

Ainda, aproximadamente 8% apresentam uma caracterização considerada Regular a

Restrita, estas regiões são caracterizadas por apresentar declives acentuados, pouca profundidade

dos horizontes A e B, textura grosseira, baixa disponibilidade de nutrientes e excesso de

alumínio. Apenas 4% de todo o bioma pantaneiro apresenta condições favoráveis para a

agricultura com alta fertilidade, características físicas e morfológicas boas e praticamente sem

limitações.

A Tabela 4 mostra os cruzamentos entre a altimetria, declividade, solos, vegetação e seus

respectivos valores de suscetibilidade adotados para originar o mapa de fragilidade ambiental

(Figura 6a). Ainda, pode-se observar a aptidão à conservação ambiental, urbanização e

agricultura/pecuária. Estes valores foram adotados para originar a tabela de aptidão primária e

secundária, determinando, desta forma, o modelo de ocupação e uso (Figura 7b).

Tabela 4. Valores de suscetibilidade adotados para o mapa de fragilidade, aptidão à conservação, urbanização e

agricultura/pecuária e proposta de uso.

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A Figura 7a mostra o mapa de uso e cobertura da terra originado pela EMBRAPA (2004).

Pode-se observar que na região do Pantanal, a classe de maior ocorrência é a Savana com

81.773 km², seguida da classe Ecótono, com 26.000 km². Na terceira posição encontra-se a

classe Pecuária que corresponde a 16.922 km², seguida pela Savana Estépica com 12.762 km².

As classes de menor ocorrência na região são compostas por Floresta Estacional Semi-Decidual

(6.453 km²), Formações Pioneiras (6.230 km²), Hidrografia (2.620 km²), Floresta Estacional

Decidual (1.518 km²) e Encrave (1.310 km²). As classes restantes foram pouco representativas na

área de estudo, possuindo menos de 1000 km² de extensão.

A Figura 7b mostra o modelo de ocupação e uso sugerido para o Bioma Pantanal. A área de

estudo, localizada na porção centro-oeste do Brasil, apresenta quatro patamares bem definidos

para o uso e cobertura da terra. O Bioma pantanal possui uma grande área de vegetação nativa,

encontrando-se pequenos núcleos habitacionais pela região. Desta forma, com base nas políticas

sustentáveis, optou-se por um modelo de desenvolvimento econômico que se baseia nas

potencialidades naturais da região, como o ecoturismo e o turismo de aventura.

Consequentemente foram deliberadas, com base nas informações descritas e nas aptidões de cada

domínio paisagístico, as áreas potenciais para os seguintes usos: a) as áreas correspondentes à

planície aluvial inundável devem ser alvo de uma política ambiental voltada ao turismo

ecológico e promovendo a conservação da área em questão; b) as áreas da planície aluvial sem a

presença de inundações periódicas e com baixa declividade devem ser voltadas principalmente à

conservação, porém, uma política de uso agrícola/pecuária em pequenas unidades pode ser

admitida desde que haja uma compensação ambiental; c) as áreas correspondentes à planície

aluvial não inundável (50-150 m) com predominância de declividade plana a baixa (0-2,5%) com

sedimentos arenosos do Pleistoceno, com solo predominantemente do tipo Plintossolo Háplico

devem ser alvo de uma política de planejamento urbano; d) as demais regiões que correspondem

a áreas de planalto com solos férteis devem proporcionar a agricultura e pecuária para suprir a

demanda regional.

(a) (b)

Figura 7. (a) Mapa de uso e cobertura da terra para o Bioma Pantanal (EMBRAPA, 2004); (b) Modelo de ocupação e uso para o Bioma Pantanal estimado a partir das unidades morfométricas,

geologia e solos.

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Comparando o mapa de uso e cobertura da terra representado na Figura 7a com o modelo de

ocupação e uso para o Bioma Pantanal (Figura 7b) percebe-se uma boa coerência entre o atual e

o sugerido uso e cobertura da terra. Aproximadamente 45% da área total do bioma pantanal

foram destinadas à conservação ambiental e para o desenvolvimento de um turismo sustentável.

Estas áreas correspondem a áreas de Ecótono, savanas inundáveis e áreas de savana florestada,

savana arborizada, savana estépica, entre outras. Aproximadamente 8% da área total foram

destinadas unicamente à agricultura/pecuária, localizadas principalmente na região norte do

bioma e em suas extremidades. Para este uso, percebe-se uma grande coerência com o modelo de

ocupação e uso proposto, principalmente nas extremidades do bioma e na região norte. Porém,

percebe-se uma tendência de crescimento de áreas agrícolas na planície aluvial com e sem

inundações periódicas. Consequentemente, o avanço da agricultura requer medidas mitigadoras

para prevenir o impacto deste uso na conservação e na biodiversidade.

De acordo com o mapa da EMBRAPA (2004), as áreas urbanas correspondem a 115 km²,

ou seja, aproximadamente 0,07% da área total do bioma. No modelo proposto, destinaram-se

aproximadamente 1% para a ocupação urbana, estas estão localizadas principalmente em áreas

próximas ao núcleo agrícola na região norte. A área restante, 44%, foi destinada à conservação e

a agricultura/pecuária e correspondem praticamente a regiões de planície aluvial não inundável

(50-150 m) com predominância de baixa declividade (0-2,5%) com sedimentos arenosos e

argilosos, podendo incluir sedimentos argilo-carbonáticos e cascalhos, com solo

predominantemente do tipo Espodossolo Ferrocárbico. Para o uso agrícola, medidas de correção

de solo e rotatividade de culturas devem ser adotadas. Ainda, a pecuária bovina, principalmente,

é responsável pela maior incidência de desmatamentos na área de estudo, uma vez que acabam

suprimindo áreas de Savana Estépica Florestada, Savana Estépica Arborizada, áreas de Ecótono

entre Savana/Floresta Estacional Decidual, entre outras.

4. CONCLUSÃO

O estudo geoecológico da paisagem permite o diagnóstico da fragmentação dos

geossistemas de um determinado ambiente ou bioma. Esta abordagem permite a integração dos

elementos que compõe o meio, compreendendo a análise da interação e interdependência dos

elementos ambientais e sociais. Desta forma, os dados de sensoriamento remoto provenientes de

plataformas orbitais possibilitam a obtenção de informações multiespectrais com variadas

resoluções espaciais e temporais. Estas informações podem ser empregadas para o estudo da

variabilidade intra e interanual das áreas alagadas, propiciando a inclusão desta variável no

estudo das unidades de paisagem do Bioma Pantanal.

A análise multitemporal dos dados de NDVI e reflectância da superfície, proporcionaram a

integração de mapas altimétricos com informações da variabilidade do uso e cobertura da terra

para o Bioma Pantanal, originando fragmentações para a área de estudo a partir da separação das

planícies aluviais não inundáveis e inundáveis. Consequentemente, a partir do cruzamento de

produtos orbitais e cartográficos foram identificadas 16 unidades de paisagem. Destas, as mais

importantes destacam-se áreas de planície aluvial sujeita a inundações periódicas com

predominância de declividade plana a baixa, compostas por sedimentos arenosos e argilosos e

por planícies aluviais não inundáveis com sedimentos arenosos e argilosos, podendo incluir

sedimentos argilo-carbonáticos e cascalhos.

Ainda, pode-se concluir que o desenvolvimento socioeconômico da região do Pantanal e em

áreas adjacentes permitiu a expansão da fronteira agrícola, introduzindo ao bioma extensas áreas

de pecuária e agricultura. Desta forma, o modelo de ocupação e uso pode inferir políticas

públicas voltadas à otimização dos recursos naturais e ao desenvolvimento sustentável da região.

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5. AGRADECIMENTOS

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo apoio

(2010/07083-0).

6. REFERÊNCIAS

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