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4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016 O FRIGORÍFICO ARMOUR DE SANT’ANNA DO LIVRAMENTO (1917) GUERRA, MILTON UFRGS. PROPAR Rua Sarmento Leite, 320. Porto Alegre/RS [email protected] RESUMO Com o país atravessando um período de instabilidade política, capitalistas uruguaios atravessam a fronteira e instalam-se na cidade de Sant’Anna do Livramento, no Rio Grande do Sul. Em 1903 vemos o aparecimento da Xarqueada Sant’Anna do Livramento de propriedade dos uruguaios naturais de Montevidéu, Francisco Anaya e Pedro Irigoyen, até o início da próxima década mais duas charqueadas são instaladas na cidade com capital uruguaio. Aproveitando a infraestrutura ferroviária uruguaia, trens carregados de charque partiam através da cidade de Rivera rumo ao porto de Montevideo. Então, no início do ano de 1917, a Xarqueada Sant'Anna do Livramento é vendida a Companhia Armour. Durante três anos de intensa atividade, é construída onde estava localizada a antiga charqueada, uma grande planta frigorífica, com capacidade de abate de até mil cabeças de gado. Parte do complexo industrial foi destinada a construção de uma fábrica de embalagens, com setores de esterilização, envase, e rotu- lagem para carnes em conserva. Da charqueada somente permaneceu intacta, à frente do novo com- plexo industrial, a antiga residência do proprietário Pedro Irigoyen, obra de Angel Demicheli. O projeto do complexo ficou a cargo do arquiteto inglês radicado no Uruguai John Adams e do engenheiro uru- guaio Adolfo Shaw. Urbanisticamente o complexo industrial-residencial revela uma forte influência da cidade jardim de Ebenezer Howard, onde esta ficava distanciada do núcleo urbano e cercada por uma densa vegetação. Aqui, porém não sendo totalmente independente da cidade, podemos caracterizá-lo como um subúrbio jardim. Além da fábrica e da Gerência, foi construída uma pequena vila para o administrador e os funcionários mais graduados, assim também como uma grande residência coletiva com 48 dormitórios, conhecida como Casa dos Solteiros. Ao todo foram erguidas 30 residências, distribuídas em três ruas situadas cada uma em cota diferente, em cada rua funcionários eram alo- cados em razão das diversas funções desempenhadas dentro da fábrica. Aos trabalhadores mais importantes foram então destinadas as casas mais requintadas localizadas na primeira rua. Rua esta que leva a única construção destinada ao lazer, O Clube, com duas quadras de tênis e um dos pri- meiros campos de Golfe do Brasil. Palavras-chave: Paisagem Industrial; Frigorifico Armour; Patrimônio Histórico; Santanna do Livramento.
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4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

O FRIGORÍFICO ARMOUR DE SANT’ANNA DO LIVRAMENTO (1917)

GUERRA, MILTON

UFRGS. PROPAR

Rua Sarmento Leite, 320. Porto Alegre/RS

[email protected]

RESUMO Com o país atravessando um período de instabilidade política, capitalistas uruguaios atravessam a fronteira e instalam-se na cidade de Sant’Anna do Livramento, no Rio Grande do Sul. Em 1903 vemos o aparecimento da Xarqueada Sant’Anna do Livramento de propriedade dos uruguaios naturais de Montevidéu, Francisco Anaya e Pedro Irigoyen, até o início da próxima década mais duas charqueadas são instaladas na cidade com capital uruguaio. Aproveitando a infraestrutura ferroviária uruguaia, trens carregados de charque partiam através da cidade de Rivera rumo ao porto de Montevideo. Então, no início do ano de 1917, a Xarqueada Sant'Anna do Livramento é vendida a Companhia Armour. Durante três anos de intensa atividade, é construída onde estava localizada a antiga charqueada, uma grande planta frigorífica, com capacidade de abate de até mil cabeças de gado. Parte do complexo industrial foi destinada a construção de uma fábrica de embalagens, com setores de esterilização, envase, e rotu-lagem para carnes em conserva. Da charqueada somente permaneceu intacta, à frente do novo com-plexo industrial, a antiga residência do proprietário Pedro Irigoyen, obra de Angel Demicheli. O projeto do complexo ficou a cargo do arquiteto inglês radicado no Uruguai John Adams e do engenheiro uru-guaio Adolfo Shaw. Urbanisticamente o complexo industrial-residencial revela uma forte influência da cidade jardim de Ebenezer Howard, onde esta ficava distanciada do núcleo urbano e cercada por uma densa vegetação. Aqui, porém não sendo totalmente independente da cidade, podemos caracterizá-lo como um subúrbio jardim. Além da fábrica e da Gerência, foi construída uma pequena vila para o administrador e os funcionários mais graduados, assim também como uma grande residência coletiva com 48 dormitórios, conhecida como Casa dos Solteiros. Ao todo foram erguidas 30 residências, distribuídas em três ruas situadas cada uma em cota diferente, em cada rua funcionários eram alo-cados em razão das diversas funções desempenhadas dentro da fábrica. Aos trabalhadores mais importantes foram então destinadas as casas mais requintadas localizadas na primeira rua. Rua esta que leva a única construção destinada ao lazer, O Clube, com duas quadras de tênis e um dos pri-meiros campos de Golfe do Brasil.

Palavras-chave: Paisagem Industrial; Frigorifico Armour; Patrimônio Histórico; Santanna do Livramento.

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No final do século XIX e início do século XX, com o país atravessando um período de insta-

bilidade política, capitalistas uruguaios atravessam a divisa entre Uruguai e Brasil e insta-

lam-se nas cidades da fronteira oeste do Rio Grande do Sul. Aproveitando a infraestrutura

ferroviária Uruguaia, trens carregados de charque partiam rumo ao porto de Montevideo.

As Charqueadas de Sant’Anna do Livramento nos anos de 1903 a 1911.

Segundo Marques (1987, p.244-251) até o início do século 20 Sant’Ana do Livramento não dispunha de Charqueadas. Até então o gado produzido no Município era conduzido para abate em outras áreas: Pelotas, no início da atividade saladeril no Estado, charquea-das do Uruguai na segunda metade do século 19, e, após a conclusão do ramal ferroviário Rio-Grande/Bagé, em 1884, para esta última ci-dade, onde começaram também a funcionar charqueadas. No final do século, segundo o mesmo autor “...as grandes charqueadas de origem anglo-uruguaia, construídas em Barra do Quaraí, em 1887, e em Quaraí, em 1894, abriram novos mercados para os rebanhos santa-nenses”. (Schaeffer, 1993, p.43).

Na cidade de Sant’Anna do Livramento vemos em 1903 o aparecimento da Xarqueada

Sant’Anna do Livramento de propriedade dos uruguaios naturais de Montevidéu, Francisco

Anaya e Pedro Irigoyen. Adquirem então uma área, localizada na margem direita do Arroio

Carolina, onde estava localizado um matadouro. Parte considerável foi destinada a plantação

de Eucaliptos, sendo estes utilizados para suprir as necessidades de energia das mais vari-

adas atividades realizadas na charqueada. Nas imediações estava a fábrica de línguas em

conserva da empresa inglesa McCall & Co., que processava as línguas bovinas de todas as

charqueadas da cidade.

No ano de 1907, outra moderna charqueada é criada na cidade. Através do Decreto n°6.662 é

concedida autorização de funcionamento à Sociedade Anonyma Industrial y Pastoril, locali-

zada no Passo da Carolina, que começa a realizar abates já no ano seguinte. Esta char-

queada será então vendida para a Companhia Wilson do Brasil em 1918 (Decreto n°12.979).

Segundo Susana Bleil (2002-2003); na época a empresa possuía pequenas instalações e

projeto de ampliação das mesmas, ou seja, instalar um frigorifico. O que não acabou ocor-

rendo.

Em 1910, começa a funcionar no Rincão do Coqueiro a Charqueada São Paulo, de proprie-

dade da Companhia Progresso Uruguay-Brasil. Mais tarde esta charqueada passará a per-

tencer à Cooperativa Santanense de Carnes, e na década de 1960 irá inaugurar suas insta-

lações frigoríficas.

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A Xarqueada Sant’Anna do Livramento (1903)

No início do século XX, Francisco Anaya e Pedro Irigoyen, adquirem seis quadras de ses-

marias, aproximadamente 520ha, na região conhecida como rincão da Carolina, a 5Km de

centro da cidade. Na época a imprensa local assim destacou:

Nova Charqueada

Segundo o nosso colega do El Patriota, de Rivera, brevemente será fundado no município de Livramento, a pouca distância daquela vila fronteiriça, uma importante charqueada com o capital de um e meio milhão de pesos ouro, ou seja, pelo câmbio atual 6:381:000$000. O edifício será um modelo de perfeição para os fins a que se destina, contando a sua instalação com os mais modernos aparelhos e será iluminado à luz elétrica. O engenheiro uruguaio Sr. Angel Demicheli foi encarregado de fazer a planta de todo o estabelecimento, no qual, segundo aquele colega, se poderá abater mil cabeças por dia. Serão encarregados exclusivamente das compras de gado os Srs. Coronel Abelardo Marques, ex-chefe político de Rivera e o nosso correligio-nário tenente-coronel Bernardino Pereira, cujas compras far-se-ão ao contado. É provável que a inauguração de tão importante empresa se verifique a 1° de dezembro do corrente ano. (A Fronteira, 1° de agosto de 1903 in Volkmer, 2007, p.95).

O Frigorífico Armour (1917)

Iniciado o século XX, as grandes empresas americanas do mercado de carne congelada

avançam no Prata, adquirindo frigoríficos e charqueadas. Em 1917, a Xarqueada Sant'Anna

do Livramento é vendida para uma das grandes companhias do cartel da carne de Chicago, a

norte-americana Companhia Armour.

Durante três anos de intensa atividade é construída uma grande planta frigorífica onde então

era localizada a antiga charqueada, somente permanecendo à frente do complexo industrial a

residência do antigo proprietário da charqueada, uma típica construção de influência hispa-

no-americana com forte horizontalidade e com planta em forma que lembra um “colchete” o

acaba por proporcionar a ocorrência de um pátio interno.

O projeto para o frigorífico e principais construções ficou a cargo do arquiteto inglês radicado

no Uruguai John Adams e do engenheiro uruguaio Rodolfo Shaw, o engenheiro Francisco

Serralta fica responsável pela construção das residências.

O Frigorífico Livramento, da Companhia Armour instalou-se na cidade em grande estilo. Como a fronteira já se havia modernizado, não

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precisou trazer nem engenheiro, nem mestres-de-obras de fora. Vie-ram os materiais de Montevidéu, por trem, como também as plantas dos edifícios. A firma uruguaia Adams y Shaw ficou responsável pelo planejamento e fiscalização das obras. O engenheiro Francisco Serralta, uruguaio, responsabilizou-se pela construção de todos os prédios, menos o frigorífico. A firma Sundstrom, de Buenos Aires, instalou-o. A maqui-naria foi importada, da firma inglesa British Structural Steel, sediada em Buenos Aires, e da americana General Eletric. Foram construídos, além da planta industrial, um edifício para a ge-rência, uma casa para os funcionários solteiros, trinta e duas casas para funcionários casados, e um clube esportivo, com quadras de tê-nis e campo de golf. No desenho de Wilkinson (figura 01), da firma de construção montevideana Adams y Shaw, pode-se ver o projeto completo. (Albornoz, 2000, p.98-99).

FIGURA 01: Desenho do Complexo Industrial, por Wilkinson (1917). Fonte: in Albornoz, 2000, p. 131.

No início da década 1920 com a unidade de refrigeração já concluída, passa-se a exportar por

um ramal ferroviário que interliga o Armour com a estação Ferroviária de Rivera, que via a

cidade uruguaia iria até o porto de Montevidéu, onde a carne era estocada em um depósito

refrigerado, o hangar de número dez no porto de Montevidéu (Marques, 1987, p.251), à es-

pera do navio que a levaria até o seu destino.

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O Complexo Industrial

O termo correto para descrever o empreendimento construído pela Companhia Armour em

Sant’Anna do Livramento é Packing-House (figura 02), Alvarino da Fontoura Marques explica:

As “packing-houses” correspondiam aos matadouros frigoríficos mo-

dernos, acrescidos da indústria de conservas. Resultavam da apli-

cação dos métodos de produção seriada na indústria de carnes. O boi

entrava vivo de um lado, e, na outra extremidade, saíam as carnes

frigorificadas, os enlatados e todos os demais produtos, prontos para o

consumo. Tudo centralizado, mecanizado, a alta velocidade, limpo,

sem cheiro e sem moscas. (Marques, 1992, p.119)

FIGURA 02: O Frigorífico Armour. Fonte: Arquivo do autor.

A fábrica, propriamente, possui instalações de graxaria, cozimento de sangue, latoaria, rotulagem, salga de couros, conserva, moinho dos ossos, matança, cozimento de carne, resfriador e salmoura. Na parte de fora ficavam a carpintaria, armazém, oficina mecânica, balança para vagões e para gado. (ALBORNOZ, V., 2000, p.119).

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Para atender essas necessidades, a planta foi pensada de maneira a separar certas ativi-

dades, como o recebimento e abate do gado, a picada da carne, câmaras de refrigeração, a

barraca de secagem dos couros e a usina de produção de vapor através de caldeiras ne-

cessária as diversas atividades à oeste. A leste do outro lado da rua ficaram então as ativi-

dades relacionadas com a fabricação, esterilização, preenchimento e rotulação das latas

utilizadas para armazenar carne em conserva, assim também como laboratórios, brigada de

incêndio e oficinas mecânicas.

Os Projetistas: Adams & Shaw

John Adams foi a personalidade britânica mais destacada na arquitetura uruguaia. Após ter

trabalhado na companhia Maple de Londres, em 1890 Adams veio para a América do Sul e

ficou responsável pela arquitetura de grandes instituições de origem anglo-saxônica, como o

Banco Inglês do Rio da Prata, em Buenos Aires e na cidade de Rosário na província de Santa

Fé, como também o Banco Britânico da América do Sul em Montevidéu. Natural da cidade de

Brighton, cidade localizada no litoral sul do Reino Unido, cursou em Bath e South Kensington

revalidando o título de arquiteto em montevidéu no ano de 1894. Esteve sempre preocupado

com a modernização do país que adotou. Foi sem dúvida um dos principais membros da

comunidade britânica residente no Uruguai.

Seus laços com o Uruguai não terminam com seu retorno para a sua terra natal, John Adams

passa a ocupar o cargo de agregado comercial do consulado uruguaio na capital inglesa até

1938, ano de sua morte. A obra que Adams deixou na paisagem Montevideana segue o estilo

neoclássico, até então em voga na Inglaterra. O Neoclassicismo como em tantos outros lu-

gares foi adotado em Montevidéu como símbolo de seriedade e identidade republicana do

novo país. Uma prova disso são seus edifícios símbolos, como o Banco da República, o

Palácio Legislativo, o Cabildo, ou a Catedral Metropolitana. John Adams não só projetava

como também construía segundo projetos de outros arquitetos, um notório exemplo é o Pa-

lácio Taranco.

Adolfo Shaw nasceu na cidade de Montevidéu em 27 de janeiro de 1876, após formar-se em

engenharia fundou uma das firmas de construção mais importantes do país entre as décadas

de 1910 a 1930, a Construtora Adolfo Shaw. Esta empresa realizou algumas das mais im-

portantes obras do país neste período, como o Hospital de Clinicas, o Palácio Municipal, o

Palácio Salvo e a Faculdade de Agronomia. Faleceu aos 81 anos.

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Análise da Vila dos Funcionários

No aspecto Urbanístico (figura 08) o complexo residencial revela influência da cidade jardim

de Ebenezer Howard, onde esta ficava distanciada do núcleo urbano e cercada por uma

densa vegetação. O modelo adotado foi de um subúrbio jardim, envolto por um grande bosque

de Eucaliptos e onde o eixo viário procedente da cidade de Sant’Anna do livramento exerce o

papel estruturador da composição, tanto separando como integrando os espaços, como

também conferindo hierarquia ao conjunto. Essa via imediatamente após passar o prédio da

gerência sofre uma bifurcação, tomando a forma da letra "Y".

A empresa teve e tem importante papel na produção do espaço ur-bano, seja pela própria presença física (instalações industriais, gal-pões, escritórios, residências dos empregados ligados à administra-ção), seja pelos empregos que gera e pelos impostos que paga. (Schaeffer, 1993, p.45).

À esquerda (Norte) onde encontrava-se a Xarqueada Sant’Anna, se desenvolveu todo o

complexo industrial da Companhia Armour, e à direita (Sul) foram criadas três vias (ruas A, B

e C) perpendiculares ao braço esquerdo; em oposição ao frigorífico que foi construído per-

pendicularmente ao braço direito. Tirando partido desse esquema em pente, as residências

dos principais funcionários (5), do gerente (1), a Casa dos Solteiros (1) e o Clube localizam-se

na cota mais elevada do terreno. As demais residências (24), ficam então localizadas nas

duas ruas seguintes (B e C).

Nota-se um confronto estilístico, mediado pelo eixo viário, entre as construções executadas

pela Companhia Armour; no frigorífico é adotada uma linguagem arquitetônica moderna

condizente com os processos inerentes a atividade desenvolvida e enquanto nas demais

construções é utilizada uma linguagem historicista, onde se destacam os prédios da Gerência

e o Clube.

Todas as residências apresentam a mesma tipologia, com a construção descolada das divisas

do lote, exceto as casas geminadas; sendo reflexo das preocupações higienistas da época,

proporcionando excelentes condições, tanto de insolação quanto de ventilação.

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Construções Especiais

A Gerência

FIGURA 03: Gerência do Frigorifico, fachada Norte. Fonte: Arquivo do autor.

Com uma planta regular, quase pura, o prédio da gerência se destaca mesmo frente a im-

ponência e escala do complexo industrial localizado no outro lado do largo onde ambos se

situam. A utilização de uma linguagem historicista reforça a imagem do poder econômico que

a Companhia representa na região. A gerência consiste num grande prédio de três plantas,

divididas de acordo com a função. No piso inferior estão localizados os serviços, no andar

intermediário um amplo salão para a administração do frigorifico e finalmente no superior a

gerência e sua sala de reuniões.

Ao contrário do Clube, como veremos a seguir, a o prédio da Gerência não convida os visi-

tantes a percorrer o seu entorno, pelo contrário ele se estende quase até a rua para acolher

quem necessitava adentra-lo. A progressão da transição de espaços se dá de maneira suave,

através do pórtico de entrada suportado por pilastras, na seção ortogonal; e colunas lisas, no

setor em semicírculo, intercalados por balaústres. Possui o embasamento com linhas forte-

mente marcadas na horizontal, sendo que em ambas extremidades grandes pilastras avan-

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çam até a altura da cobertura. Um duplo friso percorre toda a fachada, contornando todo o

entablamento da cobertura da entrada, demarcando a divisão entre os dois principais pavi-

mentos. A partir da terceira janela, a parte central da fachada inferior do prédio passa a

acompanhar a curvatura do pórtico, o que não ocorre no andar superior, onde nas cinco

aberturas centrais estão levemente a frente de ambos pares laterais.

O Clube

FIGURA 04: Sede do Clube, fachada Sudeste. Fonte: Arquivo do autor.

Em planta o Clube se apresenta como um conjunto de três retângulos, com o elemento central

levemente deslocado em relação aos demais.

Quando visto pela fachada sudeste, (figura 04) o clube apresenta uma volumetria que lembra

um pódio com uma grande base regular, destinada ao grande salão, sobreposta por um vo-

lume de menores dimensões que avança a linha da fachada do volume inferior, com um

pequeno volume acrescentado para demarcar o local de entrada. Este pequeno volume é o

ponto final, onde se dá a chegada dos automóveis para os grandes eventos que se realizam

neste prédio. Para obter tal intento, é criado um percurso em laço que envolve parte do terreno

em aclive desde a rua. Seguindo por este caminho, a partir do momento em que o Clube é

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visto, ele flexiona para a esquerda e passa em frente da entrada secundária, e após realiza

uma dupla curva à direita, entregando o visitante aos pés da escadaria de acesso que leva ao

grande salão. Esta fachada contém um ritmo de aberturas que segue a sequência

“3B-2C-D-2C-3B”, onde “3B” são as três janelas simples, e “2C”, corresponde ao par de

aberturas com arcos de meio ponto e “D” sendo a entrada.

Observando a fachada voltada ao noroeste, diferentemente da anterior, possui menor mo-

numentalidade, com o volume inferior e superior sofrendo uma subtração e ficando o plano da

fachada, tanto inferior quanto o superior levemente recuado. As demais fachadas possuem

um conjunto de oito janelas, sendo que estas estão organizadas em ritmo “A-B-A-B-A”. Onde,

“A” são as aberturas duplas e “B” as simples. Ocorre também uma segunda marcação nesta

fachada, em cada extremidade é acrescentada uma pilastra, e após as primeiras aberturas

duplas ocorre outra pilastra, reforçando o conjunto central.

Residências

Casa do Gerente

Localizada na primeira rua a partir do largo em frente à entrada do Frigorífico, a casa foi lo-

cada na parte mais alta desta rua. Todas as casas da vila estão situadas em relação ao ter-

reno em correspondência com os cargos de seus ocupantes. Cargos de maior relevância na

empresa estão localizados nas cotas mais elevadas.

A casa do gerente (figura 05) apresenta planta em forma de “L”, onde a área social e de

serviços está contida no maior volume, e os demais braços correspondem a área intima da

família com quatro dormitórios e a menor das três destinada a serviços e ao dormitório dos

empregados.

O terreno em desnível permitiu que embaixo do setor social e de serviços fosse criado um

porão para depósito, posteriormente foi acrescentada uma garagem.

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FIGURA 05: Casa do Gerente. Fonte: Arquivo do autor.

As fachadas Sul e Leste são todas percorridas por uma varanda com estrutura e guarda-corpo

de madeira; no projeto original existiam duas escadas que davam acesso a residência uma

em cada fachada, uma para fins sociais e a segunda para atender a área de serviços. Atu-

almente existe somente a escada localizada na frente da residência. Como a residência está

situada em um terreno em pendente é adotada a seguinte estratégia, quando alguma parte

dos volumes está em contato com o solo, utiliza-se um embasamento com maior volume e

textura distinta, proporcionando uma marcada diferenciação entre a base e o corpo da edifi-

cação. Nos setores localizados abaixo da varanda não é adotado nenhum elemento de

marcação nem de textura, somente uma repetição de cheios e vazios que correspondem às

aberturas existentes no andar principal; fato devido a tecnologia empregada na construção ser

de alvenaria portante. Nas aberturas é empregada uma moldura em alto e baixo relevo al-

ternadamente e nas extremidades das fachadas é aplicada uma rusticação como terminação

e articulação das faces.

Casa dos funcionários Graduados

Estas cinco casas apresentam uma variação na qualidade de seus ornamentos, indo da mais

sofisticada, a casa “A” até a casa “E”. Poderíamos dividir estas cinco casas em dois grupos o

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primeiro grupo com um volume puro com planta regular com uma pequena subtração, no caso

da varanda, e as duas demais por serem um volume formado com adição de três pequenos

sólidos. Com uma volumetria composta por duas barras paralelas afastadas, interceptadas

ortogonalmente por uma terceira de maior altura, onde se localizam as atividades sociais.

A casa “B” como alguma das casas unifamiliares da terceira rua, atualmente está descarac-

terizada pelo acréscimo à esquerda de um volume levemente recuado do corpo principal, e

pela possível supressão da varanda, deslocando a entrada da residência para o mesmo plano

da fachada. Até o momento não foram encontrados documentos demonstrando a condição

original da obra. Por este motivo não será analisada.

A casa “A” é a residência localizada em frente à casa do gerente, apresenta forte semelhança

na fachada com a casa “C” (figura 06), nesta existe um acréscimo de duas janelas e um

pequeno ajuste na proporção dos cheios e vazios. Na casa “A”, a semelhança da casa do

gerente, também apresenta um tratamento refinado no seu embasamento, e uma rusticação

no encontro de suas faces. Sua fachada é composta em três parte praticamente iguais, onde

a central é recuada criando assim uma varanda. A cobertura em telha francesa segue a

mesma linguagem adotada na principal casa do conjunto, com forte inclinação e neste caso

em quatro águas.

FIGURA 06: “Casa C”, funcionários graduados. Fonte: Arquivo do autor.

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As demais residências, casas “D” e “E”, apresentam a mesma volumetria e a mesma confi-

guração da cobertura. Nas extremidades a cumeeira corre perpendicularmente a fachada e no

volume central além dela ser no sentido longitudinal apresenta-se em uma cota mais elevada.

Ao contrário da casa “D” que possui um refinamento semelhante as primeiras residências, a

“E” não apresenta tratamento em nenhuma de suas aberturas, somente sobre as janelas é

visível um arco abatido. Atualmente a rusticação de terminação das fachadas na casa “E” não

está visível, assim também como muito provavelmente tenha sido suprimido o embasamento

presente nas demais residências desta rua.

Casa dos Técnicos

As quatro casas estão localizadas na rua “B”, neste grupo todas as construções apresentam a

mesma volumetria e tipologia. A planta é regular com a menor dimensão voltada para a pe-

quena via, possui cobertura em duas águas e são construídas sobre uma base elevada em

pedra, o que acabou gerando a necessidade de construir uma escada para permitir o ingresso

na residência. Uma das residências, ao contrário das demais, ainda possui uma varanda, o

que ocasiona a supressão da sala de estar tal qual existe nos outros três exemplares. Deta-

lhes construtivos nas residências que sofreram ampliação, demonstram que a nova parede

construída está assentada em recesso com relação ao plano adotado pela alvenaria original.

Estas características apontam que as demais casas também possuíam este espaço de tran-

sição entre o exterior e o interior da edificação. Imagens da década de 1980, mostram também

que outra residência ainda não havia sofrido acréscimo. A planta é dividida longitudinalmente

por um corredor, sendo que a esquerda deste se localizam as áreas de serviço e social e à

direita os cômodos destinados a família.

Casas Geminadas

Localizadas na terceira rua, as oito casas geminadas estão dispostas em dois grupos de

quatro casas, sendo cada grupo localizado próximo as extremidades da via, de forma inter-

calada com as residências unifamiliares. A disposição das construções desta tipologia está

paralela a rua e colada em um dos lados do lote ao qual pertence.

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Na empena voltada para o interior do lote apresenta uma característica que a distingue das

demais, que é a presença de um escalonamento na parte superior do frontão, e pela presença

de uma grande abertura onde no exemplar unifamiliar está presente um óculo.

Casas Unifamiliares

Também localizada na terceira rua, o conjunto de doze casas unifamiliares de planta

regular estão implantadas soltas dentro do lote sobre uma base elevada de alvenaria, com

sua menor dimensão paralela à rua. Na fachada somente são observadas duas janelas e o

óculo localizado no sótão, a cobertura em duas águas acompanha a maior proporção da

edificação. A porta de acesso ao interior da residência fica localizada na fachada lateral e

recuada do plano. A última casa desta tipologia localizada ao final da rua, onde está possui um

aclive, possui um porão, o acesso se dá pelo exterior da residência.

Chalé

Localizado no início da terceira rua, como as demais construções o Chalé se apresenta solto

no lote e sobre uma base elevada, é a única construção dos funcionários de menor cargo que

apresenta uma cobertura em quatro águas. Originalmente a varanda percorria todo o perí-

metro da edificação, atualmente sofreu acréscimos que alteraram sua autenticidade. Em

conferência, realizada na época da instalação do frigorífico, com o governador Borges de

Medeiros, Irigoyen destaca a construção para os funcionários.

Já começaram os trabalhos de construção e moradias para o pessoal empregado nos estabelecimentos e suas famílias, serviços que obe-dece á direção do engenheiro Francisco Serralta Gonçalves, genro do sr. Pedro d’Avila, capitalista desta praça.

Essas moradias abrangem, por hora; doze vastos e espaçosos cha-lets.

As casas para o operariado, a serem brevemente construídas, terão o maior conforto e toda a hygiene e serão sem exceção, dotadas de luz, agua encanada e exgottos. (A Federação, 1917, p. 01).

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Habitação Coletiva

Casa dos Solteiros

Construído no final da primeira rua, pouco antes da entrada para o Clube de Golfe, a Casa dos

Solteiros (figura 07) foi pensada para abrigar os funcionários especializados não residentes

em Sant’Anna do Livramento na ocasião do período de safra no Frigorífico. Como adotado na

maioria das construções da vila dos funcionários, a Casa dos Solteiros está totalmente solta

no terreno. O partido adotado para a planta é em forma de “T”, com um pequeno alargamento

na base, área está destinada aos chuveiros e sanitários, com as demais áreas destinadas aos

dormitórios. O acesso ao prédio ocorre pela fachada localizada a Oeste, a parte superior do

“T” onde está localizada a circulação vertical. A chegada se dá por uma pequena plataforma

de alvenaria com gradis de ferro, a porta de entrada está dividida em duas folhas e conta com

uma janela na parte superior, sobre ela existe uma pequena projeção marcando o local de

ingresso. Também existe uma outra entrada localizada na fachada Sul, destinada para ser-

viço.

FIGURA 07: Casa dos Solteiros, fachada Norte. Fonte: Arquivo do autor.

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A Casa dos Solteiros conta com porão compartimentado com três acessos exteriores indivi-

dualizados e sem ligação aos demais pavimentos, e mais dois andares, sendo que cada um

destes possui vinte e quatro dormitórios, totalizando, portanto, quarenta e oito unidades. A

fachada principal conta com oito janelas por andar agrupadas dois a dois por uma pequena

projeção da alvenaria que une também as aberturas dos diferentes pavimentos, resultando

então num arranjo simétrico a partir da entrada principal da Casa.

Conclusão

O projeto construído pela Companhia Armour foi único e original em sua concepção e escala,

quando da sua construção na região, o objetivo deste artigo foi demonstrar a importância

destas obras de configurarem não apenas edifícios marcantes tanto do ponto de vista do início

da arquitetura industrial no Sul do Brasil, como o modelo urbanístico empregado, que é a

“história viva” do ápice econômico da região.

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FIGURA 08: Frigorífico Armour, Vila dos Funcionários e Clube - Sant’Anna do Livramento.

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