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O Método Fácil de Parar de Fumar - · PDF fileallen carr o mÉtodo...

Date post: 05-Feb-2018
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ALLEN CARRO MÉTODO FÁCIL

DE PARAR DEFUMAR

O PROGRAMA MAIS BEM-SUCEDIDO DOMUNDO

PARA QUEM DESEJA ABANDONAR OCIGARRO

Título original: Allen Carr’s Easy Way to StopSmoking

Copyright © 1985, 1991, 1998, 2004 por AllenCarr’s Easyway (International) Limited.

Copyright da tradução © 2012 por ArcturusPublishing Ltd.

Todos os direitos reservados. Nenhuma partedeste livro pode ser reproduzida sob quaisquer

meios existentes sem autorização por escrito doseditores.

C299m Carr, Allen, 1934-2006O método fácil de parar de

fumar / Allen Carr; tradução deSimone Lemberg Reisner.

CDD 613.85CDU 613.84

Tradução de: Allen Carr’s easyway to stop smoking

ISBN 978-1-78212-016-2

1. Fumo – Vício – Tratamento.2. Programa contra o fumo. I.Título.

06-0769

Todos os direitos reservados,

Arcturus Publishing Limited

26/27 Bickels Yard, 151–153 BermondseyStreet,

London SE1 3HA, www.arcturuspublishing.com

Aos fumantes que não consegui curar,espero que este livro os ajude a se

libertarem.E para Sid Sutton.

Mas, acima de tudo, para Joyce.

Sumário

PrefácioAdvertênciaIntrodução

1 O pior viciado em nicotina quejá conheci

2 O método fácil3 Por que é difícil parar?4 A armadilha sinistra5 Por que continuamos a fumar?6 O vício em nicotina7 A lavagem cerebral e o sócio

oculto

8 Aliviando os sintomas dasíndrome de abstinência

9 Estresse10 Tédio11 Concentração12 Relaxamento13 Cigarros combinados14 Do que estou abrindo mão?15 Escravidão auto-imposta16 Economizarei X por semana17 Saúde18 Energia19 Ele me relaxa e me traz

confiança20 Aquelas sinistras sombras

negras

21 As vantagens de ser fumante22 O Método da Força de Vontade23 Cuidado com a diminuição24 Só um cigarro25 Fumantes ocasionais,

adolescentes, não-fumantes26 O fumante secreto27 Um hábito social?28 O momento certo29 Eu vou sentir falta do cigarro?30 Eu vou engordar?31 Evite falsos estímulos32 O método fácil de parar de

fumar33 A síndrome de abstinência34 Só uma baforada

35 Será mais difícil para mim?36 Os motivos mais fortes de

fracasso37 Substitutos38 Devo evitar situações

tentadoras?39 O momento da revelação40 O último cigarro41 Um último aviso42 Respostas43 Ajude o fumante que está

afundando junto com o navio44 Conselhos aos não-fumantes

Epílogo Ajude a acabar com essainfâmia

Prefácio

Suponha que exista um método mágicode parar de fumar que capacite qualquerfumante, inclusive você, a abandonar ocigarro:

IMEDIATAMENTE

PERMANENTEMENTE

SEM PRECISAR TER FORÇA DEVONTADE

SEM SOFRER OS SINTOMAS DACRISE DE ABSTINÊNCIA

SEM ENGORDAR

SEM USAR IMAGENS CHOCANTES,PÍLULAS, ADESIVOS OU OUTRAS

FÓRMULAS MILAGROSAS

Suponha também que:

NÃO HAJA UM PERÍODO INICIALCOM SENTIMENTOS DE PRIVAÇÃO EDE INFELICIDADE

VOCÊ PASSE A USUFRUIR MAIS DOSENCONTROS SOCIAIS

VOCÊ SE SINTA MAIS CONFIANTE EMAIS PREPARADO PARA LIDARCOM O ESTRESSE

VOCÊ TENHA MAIOR CAPACIDADEDE CONCENTRAÇÃO

NÃO PASSE O RESTO DA VIDATENDO DE RESISTIR À TENTAÇÃOOCASIONAL DE ACENDER UMCIGARRO

VOCÊ POSSA NÃO APENAS ACHARFÁCIL PARAR DE FUMAR, MASTAMBÉM DESFRUTAR O PROCESSOA PARTIR DO INSTANTE EM QUEAPAGAR O ÚLTIMO CIGARRO

Se esse método mágico realmenteexistisse, você o usaria? Provavelmente,sim. Mas é claro que você não acreditaem mágica. Eu também não. Porém, ométodo que acabei de descreverrealmente existe. Eu o chamo de MÉTODOEASYWAY, que significa método simples,fácil. Na verdade, ele não tem nada a vercom mágica. Também tive essa impressãoquando o descobri e sei que muitos dosmilhões de exfumantes que conseguiramparar com sua ajuda também o viram sobessa mesma ótica. Não tenho dúvida que

você ainda acha difícil acreditar no queestou dizendo. Não se preocupe, eu oconsideraria ingênuo caso você aceitasseminhas palavras sem nenhuma prova. Poroutro lado, não cometa o erro desimplesmente ignorá-las por acreditar quenão passam de um enorme exagero.Provavelmente você só está com estelivro nas mãos por indicação de algumexfumante que o leu ou que experimentouo MÉTODO EASYWAY numa de nossasclínicas ao redor do mundo. Ou talvezeste livro tenha sido recomendado poruma pessoa que o ama e que se preocupacom a possibilidade de você nãoconseguir ficar muito tempo por aqui paraser amado, se não parar de fumar.

Como funciona o MÉTODO EASYWAY?Não é muito simples explicar isso em

poucas palavras. Os fumantes chegam àsnossas clínicas em diferentes graus depânico, convencidos de que não serãobem-sucedidos e achando que, se por ummilagre conseguirem abandonar o cigarro,terão de suportar um períodoindeterminado de sofrimento. Elesacreditam que as reuniões sociais nuncamais serão tão agradáveis, que terãomenor capacidade de se concentrar e delidar com o estresse e que, mesmo quenunca mais voltem a colocar um cigarrona boca, jamais serão totalmente livres,pois terão anseios ocasionais de fumar,sendo obrigados a resistir à tentação peloresto de suas vidas.

A maioria deles sai das clínicas,poucas horas depois, já como exfumantesfelizes. Como conseguimos esse milagre?

Você precisa experimentar nosso métodopara descobrir. No entanto, posso afirmarque grande parte dos fumantes acreditaque tentaremos fazê-los parar falandosobre os terríveis riscos que sua saúdeestá cor rendo, que fumar é um hábitonojento, que eles gastam muito dinheiroalimentando o vício e que são uns idiotaspor não pararem de fumar. Nada disso.Nós não procuramos ajudar essas pessoascontando a elas o que já sabem. Esses sãoos problemas de quem fuma. Não de quemquer se livrar do cigarro. As pessoas nãofumam pelos motivos que deviam fazê-lasnão querer fumar. Para largar o cigarro,elas precisam eliminar as verdadeirasrazões que as levam ao vício. O MÉTODOEASYWAY é voltado para essa questão. Eleacaba com o desejo de fumar. E quando

esse desejo desaparece, o ex-fumante nãoprecisa mais usar sua força de vontade.

O MÉTODO EASYWAY se disseminoupelo mundo afora sob a forma de clínicas,livros, vídeos e cursos pela internet. NoBrasil, por enquanto, ele só estádisponível no formato de livro, mas háplanos para o estabelecimento defranquias de clínicas EASYWAY no país.Nos mais de trinta países onde já foramimplantadas, as clínicas obtêm uma taxade sucesso tão alta que permitem oferecerao cliente a garantia de receber seudinheiro de volta. Se você estiver entre os20% que precisam de mais de uma visitapara conseguir parar, pode participar dequantas reuniões quiser, sem nenhumpagamento extra. Nós nunca desistimos deum fumante. E se você decidir que não

deseja mais parar de fumar, seu dinheiroserá integralmente reembolsado. Combase nessa garantia, a taxa de sucesso queconseguimos alcançar em nossas clínicasespalhadas por todo o mundo ultrapassa90%.

Este livro é um curso completo emilhões de fumantes já abandonaram ocigarro com facilidade a partir de sualeitura.

Advertência

Talvez você esteja um poucoapreensivo quanto à leitura deste livro.Como a maioria dos fumantes, você podemorrer de medo da simples idéia de pararde fumar e, embora tenha toda a intençãode largar o cigarro algum dia, esse dianão é hoje.

Se você espera que eu enumere osterríveis riscos que o fumo traz à saúde,se espera que eu lhe diga que você gastauma pequena fortuna para manter essehábito, que cigarros são asquerosos enojentos e que você é um tolo, um fraco,um ser humano sem nenhuma força devontade, creio que irei decepcioná-lo.

Essas táticas nunca me ajudaram aabandonar o vício e, se elas fossemcapazes de fazê-lo parar, você já o teriafeito.

O meu método, que chamo deEASYWAY, não funciona dessa maneira.Você pode achar difícil aceitar algumasdas afirmações que vou fazer. Entretanto,quando tiver concluído a leitura destelivro, não apenas acreditará nelas comotambém se perguntará como podem terfeito sua cabeça para crer em algodiferente.

Existe uma idéia errada, comumenteaceita, de que nós escolhemos fumar. Osfumantes não optam por fumar, assimcomo os alcoólicos ou drogados nãooptam por adquirir tais vícios. É verdadeque escolhemos acender aqueles

primeiros cigarros experimentais. De vezem quando eu resolvo ir ao cinema, mascertamente não escolhi passar a minhavida inteira ali dentro.

Por favor, reflita sobre a sua vida.Você alguma vez decidiu que não poderiamais saborear uma refeição ou se divertircom os amigos sem fumar, ou que nãopoderia se concentrar ou lidar com oestresse sem um cigarro? Em quemomento você resolveu que precisaria decigarros a todo instante e não apenas nosencontros sociais e que se sentiriainseguro, até mesmo em pânico, se não ostivesse?

Como qualquer outro fumante, você foiatraído para a armadilha mais sinistra esutil que o homem e a natureza criaram emconjunto. Não existem pais ou mães neste

planeta, sejam eles fumantes ou não, quegostem de pensar na hipótese de seusfilhos fumarem. Isso quer dizer que todosos fumantes preferiam não ter começado.O interessante é que, antes de cair naarmadilha, ninguém precisa de cigarrospara aproveitar uma refeição ou para lidarcom o estresse.

Por outro lado, todos os fumantesdesejam continuar fumando. Afinal,ninguém nos obriga a acender um cigarro.Conscientes ou não dos motivos, são ospróprios fumantes que decidem fumar.

Se existisse um botão mágico que aspessoas pudessem apertar para acordar nodia seguinte como se jamais tivessemacendido aquele primeiro cigarro, osúnicos fumantes que sobrariam seriam osjovens que ainda estão no estágio

experimental. A única coisa que nosimpede de parar de fumar é o MEDO!

Medo de enfrentar um períodoindeterminado de infelicidade, abstinênciae desejos insatisfeitos para poderalcançar a liberdade. Me do de que umarefeição ou um evento social não possamser agradáveis sem um cigarro. Medo denunca mais ser capaz de manter um bomnível de concentração, lidar com oestresse ou ter a mesma confiança semessa pequena muleta. Medo de que aprópria personalidade e o caráter semodifiquem. Mas, acima de tudo, medo deque “uma vez fumante, sempre fumante”,ou seja, medo de nunca ser completamentelivre e ter de passar o resto da vi daansiando por um cigarro nos momentosdifíceis. Se, como eu, você já tentou todos

os programas convencionais para parar defumar e experimentou o sofrimentodaquele que eu chamo de Método daForça de Vontade, não apenas seráinfluenciado por esse medo como tambémestará convencido de que jamaisconseguirá abandonar o cigarro.

Se você está receoso ou sente que estenão é o momento para parar de fumar,posso lhe garantir que tudo isso éprovocado pelo medo. Esse medo não éamenizado pelo cigarro, mas causado porele. Você não decidiu cair na armadilhada nicotina. Mas, como todas asarmadilhas, ela foi criada para garantirque você permaneça nela. Pergunte a simesmo se, quando acendeu aquelesprimeiros cigarros, você decidiu quecontinuaria a fumar por tantos anos. Então,

quando vai parar? Amanhã? No ano quevem? Pare de enganar a si mesmo! Aarmadilha foi preparada para prendê-lopelo resto da vida. O que você acha queleva todos os fumantes que estão por aí anão pararem antes que o cigarro os mate?

Este livro foi publicado pela primeiravez há mais de vinte anos e tem sido umgrande sucesso desde então. Hoje, tenhomuitos anos de feedback dos leitores.Como você logo verá, esses resultadosexcederam as minhas mais ousadasexpectativas quanto à eficácia do meumétodo. Eles também revelaram doisaspectos do MÉTODO EASYWAY que mecausaram alguma preocupação. Falareisobre o segundo deles mais tarde. Oprimeiro surgiu das cartas que recebi. Voudar três exemplos:

“Eu não acreditei nas suasafirmações e peço desculpas porduvidar do seu método. Foi tão fácile agradável quanto você disse queseria. Dei o seu livro de presente atodos os meus amigos e parentesfumantes, mas não entendo por queeles não o lêem.”

“Ganhei o seu livro há oito anos deum ex-fumante amigo meu. Mas sófui me dedicar à sua leitura há poucotempo. Meu único arrependimentofoi ter perdido oito anos.”

“Acabei de ler o MÉTODO EASYWAY .Só se passaram quatro dias, massinto-me tão bem que sei que nuncamais vou precisar fumar novamente.

Comecei a ler o seu livro pelaprimeira vez há cinco anos, cheguei àmetade e entrei em pânico. Eu sabiaque, se continuasse a ler, teria deparar de fumar. Não fui uma grandetola?”

Não, aquela mulher em particular nãofoi tola. Eu me referi a um botão mágico.O método que estou propondo funcionaexatamente como o tal botão. Deixe-meesclarecer melhor: o MÉTODO EASYWAYnão é mágica, mas, para mim e para osmilhões de ex-fumantes que acharam tãofácil e agradável parar de fumar, parecemesmo um passe de mágica!

É esta a minha advertência. Temos umasituação semelhante à do ovo e da galinha.Todo fumante deseja parar e todo fumante

pode encontrar uma maneira fácil eagradável de fazer isso. O grandeobstáculo é o medo. O maior benefício élivrar-se desse medo. Mas você não selibertará dele enquanto não chegar aofinal deste livro. Por outro lado, comoaconteceu à mulher do terceiro exemplo,esse medo pode aumentar à medida quevocê for virando as páginas, e isso podeimpedi-lo de continuar.

Você não escolheu cair na armadilha,mas pode ter certeza de que não vaiescapar dela enquanto não tomar essadecisão. Você já pode até estar roendo acorda, a ponto de desistir. Ou pode estarapreensivo. De uma maneira ou de outra,tenha isso em mente: VOCÊ NÃO TEMABSOLUTAMENTE NADA A PERDER!

Se, ao terminar esta leitura, você

decidir que deseja continuar fumando,nada poderá impedi-lo. Você não precisasequer diminuir o número de cigarros oulargá-los enquanto estiver lendo. Elembre-se: não haverá nenhum tratamentode choque. Ao contrário, só tenho boasnotícias a lhe dar. Você consegueimaginar como o Conde de Monte Cristose sentiu quando finalmente fugiu daprisão? Foi assim que eu me senti quandoescapei da nicotina. É assim que milhõesde ex-fumantes que usaram o método sesentem. No final do livro, É ASSIM QUEVOCÊ VAI SE SENTIR! SIGA EM FRENTE!

Introdução

“EU VOU CURAR O MUNDO DOVÍCIO DO CIGARRO.”

Fiz essa afirmação durante umaconversa com a minha mulher, e ela achouque eu havia enlouquecido. E com razão,se considerarmos que ela já me vira tentarparar de fumar e fracassar inúmerasvezes. A mais recente tentativa tinha sidodois anos antes de dizer essa frase. Euhavia sobrevivido a seis meses decompleto purgatório até que finalmentesucumbi e acendi um cigarro. Não tenhovergonha de confessar que chorei comoum bebê. Eu estava chorando porquesabia que estava condenado a fumar pelo

resto da vida. Eu havia me esforçado esofrido tanto que sabia que nunca maisteria coragem suficiente para passar denovo por tudo aquilo. Não sou um homemviolento, mas, se naquele momento algumnão-fumante condescendente tivesse sidoingênuo o bastante para me dizer como éfácil parar, eu não responderia por meusatos. E tenho certeza de que qualquer júrino mundo formado apenas por fumantesteria me absolvido, considerando minhaatitude um caso de homicídio justificável.

Talvez você duvide que possa ser fácilpara um fumante largar o cigarro. Se foresse o caso, peço-lhe que não jogue estelivro na lixeira. Por favor, acredite emmim. Garanto que até mesmo você podeachar fácil parar de fumar.

Bem, de qualquer forma, lá estava eu,

dois anos depois, acabando de apagaraquele que eu sabia que seria o meuúltimo cigarro e contando à minha mulherque eu não só já era um ex-fumante comotambém iria curar o resto do mundo. Devoadmitir que, na época, o ceticismo delame deixou irritado. Porém, não diminuium i n h a euforia. Acredito que meucontentamento em saber que eu já era umex-fumante distorceu a minha maneira deencarar a situação. Hoje compreendo porque Joyce e meus parentes mais próximosacharam que eu era um forte candidato àcamisa-de-força.

Quando penso na minha trajetória,parece que toda a minha existência foiuma preparação para solucionar oproblema do vício do cigarro. Até aquelesdetestáveis anos de treinamento e prática

como contador tiveram um valorinestimável ao me ajudar a descobrir osmistérios da armadilha do fumo. Dizemque não se pode enganar todo mundo otempo todo, mas posso afirmar que osfabricantes de cigarro têm feito isso hámuitos anos. Acredito também que sou oprimeiro a realmente compreender aarmadilha do cigarro. Se pareçoarrogante, gostaria de acrescentar que ocrédito não deve ser dado a mim, mas àscircunstâncias da minha vida.

O dia decisivo foi 15 de julho de 1983.Ao apagar aquele último cigarro, acreditoque experimentei a mesma sensação dealívio e júbilo daqueles que conseguiramfugir da terrível prisão alemã de Colditz.Percebi que havia descoberto algo quetodos os fumantes estavam rezando para

conseguir: uma maneira fácil de parar defumar.

Após testar o método em amigos eparentes que fumavam, desisti de sercontador e me tornei consultor, com oobjetivo de ajudar outros fumantes a selibertarem.

Dois anos mais tarde, escrevi aprimeira edição deste livro. Um dos casossem sucesso, o homem que descrevo nocapítulo 25, foi minha inspiração. Eleveio me ver duas vezes e em ambas asocasiões nós não conseguimos conter aslágrimas. Ele estava tão agitado que eunão consegui fazê-lo relaxar o suficientepara absorver minhas palavras. Imagineique, se eu escrevesse, ele poderia lerminha mensagem num momento maispropício, quantas vezes achasse

necessário, o que o ajudaria a assimilar oque eu queria lhe dizer.

Eu não tinha a menor dúvida que oMÉTODO EASYWAY seria tão eficaz paraoutros fumantes como fora para mim.Contudo, fiquei preocupado diante daidéia de colocá-lo num livro e resolvifazer a minha própria pesquisa demercado. Os comentários que ouvi nãoforam muito encorajadores:

“Como um livro pode me ajudar aparar de fumar? O que eu preciso éde força de vontade!”

“Como um livro pode evitar aterrível síndrome de abstinência?”

Eu também tinha as minhas dúvidas.

Nas nossas clínicas, eu observava comfreqüência que um ou outro cliente haviainterpretado erroneamente um dos pontosimportantes que estavam sendoexplicados. Mas eu estava ali paraconsertar a situação. Como um livro fariaisso? Lembrei-me dos tempos em queestudava para as provas de contabilidade.Quando não entendia um determinadoponto do livro ou discordava dele, eu mesentia frustrado por não ter como pedirexplicações.

Além disso, uma dúvida superava todasas outras. Eu não era escritor e estavaconsciente de minhas limitações a esserespeito. Sabia que era capaz de me sentarfrente a frente com um fumante edemonstrar que sem o cigarro as reuniõessociais se tornariam mais prazerosas e ele

conseguiria melhorar sua capacidade deconcentração e sua maneira de lidar como estresse. Também acreditava queconseguiria convencê-lo de que esseprocesso poderia ser fácil e agradável.Mas será que eu seria capaz de transportudo isso para um livro?

Felizmente os deuses estavam a meufavor. Recebi milhares de cartaselogiosas, contendo comentários do tipo:

“É o melhor livro que já foi escrito.”

“Você é o meu guru.”

“Você é um gênio.”

“Você devia ser primeiro-ministro.”

“Você é um santo.”

Espero que eu não tenha deixado essaspalavras me subirem à cabeça. Tenhoplena consciência de que essescomentários não foram feitos por causa demeus dotes literários, mas apesar da faltadeles. O motivo desses elogios era um só:

O MÉTODO EASYWAYFUNCIONA!

Este livro tem sido um best-sellerdesde a sua primeira edição. As vendasmundiais já ultrapassaram a marca de 7milhões de exemplares e ele já foitraduzido para mais de 25 idiomas.

Depois de aproximadamente um anogerenciando clínicas para fumantes, acheique já havia aprendido tudo o que erapossível sobre como ajudar as pessoas aabandonar o cigarro. Para minha surpresa,mais de vinte anos após ter descoberto ométodo, aprendo algo novo quase todos osdias. Por isso, fiquei apavorado quandome pediram que fizesse uma revisão daprimeira edição, seis anos depois. Acheique teria de modificar ou retirarpraticamente tudo o que escrevera.

Foi uma preocupação sem sentido. Osprincípios básicos do MÉTODO EASYWAYsão tão sólidos hoje como na época emque os descobri. A maravilhosa verdadeé:

PARAR DE FUMAR ÉFÁCIL!

Isso é um fato. Minha única dificuldadeé convencer cada fumante dessa verdade.O conhecimento que acumulei por mais devinte anos é utilizado para fazer com quetodo fumante consiga enxergar a luz no fimdo túnel. Nas clínicas, tentamos alcançara perfeição. Cada fracasso nos causa umador profunda porque sabemos que todospodem descobrir que é fácil parar.Quando um fumante não obtém êxito,consideramos que a falha é nossa – nósnão conseguimos convencê- lo de como éfácil e agradável abandonar o cigarro.

Dediquei a primeira edição deste livroaos 16% a 20% de fumantes que não

consegui curar. Essa taxa de fracasso foicalculada com base na garantia doreembolso, oferecida em nossas clínicas.A média atual de insucessos em nossasclínicas por todo o mundo é inferior a10%. Isso significa uma taxa de sucessosuperior a 90%.

Embora eu tivesse consciência de quehavia descoberto algo maravilhoso,jamais imaginei, nem nos meus sonhosmais ousados, que conseguiria alcançartais números. Você poderia argumentarque, se eu acreditava verdadeiramente quepoderia curar o mundo do vício docigarro, deveria esperar atingir 100%.

Não, eu nunca esperei alcançar 100%.Antigamente, cheirar rapé era a formamais popular de dependência de nicotina,até que se tornou anti-social e

desapareceu. Entretanto, ainda existemalguns excêntricos que continuam acheirar rapé e provavelmente sempreexistirão. Parece incrível, mas oParlamento inglês é um dos últimosbaluartes do hábito de cheirar rapé.Pensando bem, isso não deveria nossurpreender, pois os políticos em geralestão cem anos atrasados no tempo. Assimsendo, haverá sempre aqueles quecontinuarão a fumar.

É óbvio que nunca me propus a curarcada fumante pessoalmente. Mas fuiingênuo ao acreditar que, tão logo euexplicasse os mistérios da armadilha docigarro, o resto do mundo enxergaria aluz. Achei que isso aconteceria no instanteem que eu acabasse com o mito de que:

Os fumantes gostam de fumar

Os fumantes escolhem fumar

Fumar alivia o tédio e o estresse

Fumar favorece a concentração eo relaxamento

Fumar é um hábito

É preciso ter força de vontadepara parar

Uma vez fumante, semprefumante

Dizer que o cigarro mata ajudaos fumantes a se libertarem dovício

Os substitutos, principalmente a

reposição da nicotina, ajudam aparar de fumar

Pensei que todos adotariam o meumétodo especialmente quando eu tivessedissipado a ilusão de que é difícil parar ede que é preciso enfrentar um período degrande sofrimento para fazê-lo.

Eu acreditava que meu maiorantagonista seria a indústria do tabaco.Para minha surpresa, os maioresobstáculos foram colocados pelas mesmasinstituições que eu esperava ter comoimportantes aliados: a mídia, o governo eorganizações de prevenção e controle dotabaco como a ASH (Action on Smokingand Health) ou a QUIT, além dos médicosem geral.

Não sei se você já ouviu falar de um

filme chamado Sacrifício de uma vida, de1946. Ele retrata uma época em que aparalisia infantil, ou poliomielite, era oflagelo das crianças. O efeito dapoliomielite não era apenas a paralisiadas pernas e dos braços, mas adeformação dos membros. O tratamentomédico prescrito era amarrar os membrosem barras de ferro para impedir taldeformação. O resultado era paralisiapara o resto da vida.

A irmã Kenny, personagem central dofilme, acreditava que os ferrosprejudicavam a recuperação e provou queos músculos pode riam ser reeducados demaneira que as crianças voltassem aandar. Mas ela não era médica, apenasenfermeira. Como ousava interferir em umassunto que só dizia respeito a médicos

qualificados? O fato de ter descobertouma solução eficaz para o problema nãoparecia ter nenhuma importância. Ascrianças tratadas pela irmã Kenny, assimcomo os pais delas, sabiam que ela estavacerta, mas os médicos não só serecusavam a adotar seu método comotambém impediam que ela o aplicasse. Aenfermeira levou vinte anos paraconvencer os médicos a aceitarem oóbvio.

Assisti a esse filme pela primeira vezmuitos anos antes de descobrir o MÉTODOEASYWAY. É muito interessante e baseadonu ma história real, mas, sem dúvida,Hollywood tinha usado uma boa dose delicença poética. A irmã Kenny nãopoderia ter descoberto algo que oconhecimento combinado da ciência

médica não conseguira encontrar. Seráque os especialistas eram aquelesverdadeiros dinossauros que apareciamna tela? Como era possível que tivessemlevado vinte anos para aceitar fatos queestavam diante de seus olhos?

Dizem que os fatos são mais estranhosdo que a ficção. Peço desculpas poracusar os responsáveis pelo filme deterem abusado da licença poética. Apesarde viver na iluminada era dacomunicação, depois de vinte anos,mesmo tendo acesso a todos os modernosrecursos multimídia, não consegui sertotalmente entendido. Não possuo oenorme poder financeiro de instituiçõescomo a Associação Médica Britânica, porexemplo. Como a irmã Kenny, sou apenasum indivíduo. Como ela, só sou conhecido

porque o meu sistema funciona, tendo metornado o guru número um da libertaçãodo vício do cigarro. Como a irmã Kenny,provei a minha verdade. Mas ela tambémprovou a própria verdade. Mas de queisso adiantou, se o resto do mundo aindaadotava procedimentos que eram o opostodo que deveria ser feito?

As últimas palavras desta edição sãoidênticas às do manuscrito original:“Existem sinais de mudanças nasociedade. Uma bola de neve já começoua se formar e espero que este livro ajude atransformá-la numa avalanche.”

Pelas observações que acabo de fazer,você deve ter chegado à conclusão de quenão sou uma pessoa que respeita oprofissional de medicina. Isso é a maispura inverdade. Um de meus filhos é

médico e não conheço profissão maisadmirável. Na verdade, os médicos são osque mais encaminham pacientes às nossasclínicas e o número de nossos clientesmédicos é maior do que os de qualqueroutra profissão.

No início, os médicos meconsideravam algo entre um charlatão eum curandeiro. Em agosto de 1997, tive agrande honra de ser convidado para fazeruma palestra na 10.a Conferência Mundialsobre Tabaco ou Saúde, em Pequim.Acredito que fui o primeiro indivíduo semformação em medicina a receber essadeferência. O convite foi uma medida doprogresso que eu conseguira alcançar.

Porém, eu poderia muito bem estarfalando para uma parede de tijolos. Comoo adesivo e a goma de mascar de nicotina

não resolveram o problema, os fumantesparecem ter chegado à conclusão de quenão se cura a dependência de uma drogacom a mesma droga. Seria o equivalente adizer a um viciado em heroína: “Não fumeheroína, fumar é perigoso. Experimenteinjetá-la na veia.” (Não tente isso comnicotina; provocaria sua morteinstantânea.) Como os médi cos, a mídia eas organizações de controle do tabaco nãotêm a mínima idéia de como ajudar aspessoas a largarem o ci garro, eles selimitam a dizer o que os fumantes já estãocansados de saber: fumar não é saudável,é asqueroso, é anti-social e caro. Essasinstituições parecem não compreender quenão são essas as razões que levam osfumantes a acender um cigarro. Oproblema está em remover as verdadeiras

razões por que eles fumam.No Dia Nacional de Combate ao Fumo,

os médicos costumam dizer algo como:“Este é o dia em que todo fumante devetentar parar!” Mas todo fumante sabe queesse é precisamente o dia em que amaioria deles vai fumar duas vezes maisdo que o usual, com um espalhafato duasvezes maior, pois os fumantes não gostamque lhes digam o que fazer,principalmente quando são advertidos porpessoas que os consideram meros idiotase não compreendem por que eles fumam.

Como não entendem os fumantes e nãosabem como tornar mais fácil a decisãodeles de parar, a proposta dessas pessoasé: “Experimente esse método. Se nãofuncionar, tente outro.” Vamos imaginarque existissem dez métodos diferentes

para curar apendicite. Nove deles sócurariam 10% dos pacientes (o quesignifica que 90% dos doentes morreriam)e o décimo método curaria 95%. Imagineque conhecimentos sobre esse décimométodo estivessem ao dispor da grandemaioria dos profissionais de medicina pormais de vinte anos e eles continuassem arecomendar os outros nove.

Os governantes gastam muito dinheiroem campanhas antitabagistas com imagense dizeres chocantes, tentando convenceros jovens a não se tornarem viciados.Eles poderiam desperdiçar essa mesmafortuna tentando convencê-los de quemotocicletas podem matar. Será que nãopercebem que os jovens sabem que umúnico cigarro não irá matá-los e quenenhum jovem espera tornar-se um

viciado? A ligação entre o tabagismo e ocâncer de pulmão já foi estabelecida hámais de quarenta anos. Entretanto, osjovens estão se viciando hoje mais do quenunca. Eles não precisam assistir aoshorrores do cigarro na televisão. Osfumantes, aliás, tendem a evitar essesprogramas. Muitos adolescentes játestemunharam a devastação que o fumocausa em suas próprias famílias. Eumesmo vi meu pai e minha irmã seremdestruídos pelo cigarro, mas isso não meimpediu de cair na mesma armadilha.

Acredito piamente que a bola de nevejá está do tamanho de uma bola de futebol.Após vinte anos, isso é apenas uma gotano oceano. Sou muito grato aos milhõesde ex-fumantes que leram meu livro e recomendaram o MÉTODO EASYWAY aos seus

amigos, parentes e a qualquer um quequisesse ouvi-los, e rogo que continuem afazê-lo. Contudo, a bola de neve não setornará uma avalanche enquanto osmédicos, a mídia e as organizações decontrole do tabaco não pararem derecomendar métodos que tornam maisdifícil largar o cigarro. É preciso que elesaceitem que o EASYWAY não é apenasmais um método:

É O ÚNICO MÉTODOPLAUSÍVEL A SER USADO!

Não espero que você acredite em mimneste estágio, mas quando tiver terminadode ler o livro você vai entender. Até os

poucos fracassos que tivemos nos enviama seguinte mensagem:

“Eu não consegui ainda, mas o seumétodo é o melhor que conheço.”

Se, ao terminar de ler este livro, vocêsentir que tem uma dívida de gratidãocomigo, será muito fácil pagá-la. Nãoapenas recomende o MÉTODO EASYWAYaos seus amigos, mas sempre que assistira um programa de rádio ou televisão, ouler um artigo no jornal indicando algumoutro método, escreva ou telefone para osresponsáveis e pergunte por que não estãorecomendando o MÉTODO EASYWAY . Essaatitude dará início à tal avalanche e, se euviver para testemunhar tudo isso, morrereifeliz.

Quando apaguei o meu último cigarro,no dia 15 de julho de 1983, tive a certeza

de que havia descoberto algo que todofumante procura: um método fácil eimediato de fugir da escravidão danicotina. O que eu não sabia era seconseguiria convencer um único fumante,quanto mais o resto do mundo, mas oMÉTODO EASYWAY superou minhasexpectativas.

Ele começou apenas com Joyce e eu,em nossa casa, em Raynes Park. Hoje,temos uma rede com mais de cinqüentaclínicas em cerca de trinta paísesespalhados pelo mundo. Meus trinta anosde fumo contínuo foram um pesadelo e soumuito grato aos meus colegas, aos meuseditores e aos milhões de ex-fumantes quepararam com a ajuda do MÉTODOEASYWAY por fazerem com que os últimosanos fossem um paraíso.

Você se sente pessimista? Esqueça. Euconsegui coisas maravilhosas em minhavida. A melhor delas, sem dúvida, foilivrar-me da escravidão do vício docigarro. Fugi dele há mais de vinte anos eainda sinto a mesma alegria por estarlivre. Não fique deprimido, nada de ruimestá acontecendo – ao contrário, você estáprestes a alcançar algo que todo fumanteno planeta adoraria conseguir: SER LIVRE!

Capítulo 1O pior viciado em nicotina que

já conheci

Talvez eu devesse começar falandosobre o que me autoriza a escrever estelivro. Não, eu não sou médico nempsiquiatra. Minhas qualificações sãomuito mais apropriadas. Passei 33 anosde minha vida como um fumanteinveterado. Nos últimos anos de vício,quando me sentia muito nervoso, euacendia até cem cigarros por dia, e nuncamenos de sessenta.

Ao longo da vida, fiz inúmerastentativas de parar. Uma vez, consegui por

seis meses, mas continuava a subir pelasparedes, procurava ficar perto defumantes para obter um sopro de tabaco eainda viajava no compartimento destinadoa fumantes nos trens.

Como acontece à maioria das pessoasque fumam, parar torna-se uma questão desaúde: “Vou parar antes que aconteçacomigo.” Eu havia atingido o estágio emque sabia que o cigarro estava mematando. Tinha dores de cabeçaconstantes, agravadas por uma tossepermanente. Podia sentir o pulsar da veiaque corre verticalmente no centro da testae acreditava honestamente que a qualquermomento minha cabeça explodiria e eumorreria de hemorragia cerebral. Tudoisso me incomodava, mas não me impediade fumar.

Eu já havia chegado a um ponto em quedesistira até de tentar parar. Não é que eugostasse tanto de fumar. Em algummomento da vida, a maioria dos fumantestem a ilusão de que gosta do cigarro, masesse nunca foi o meu caso. Sempredetestei o gosto e o cheiro, mas achavaque o cigarro me ajudava a relaxar. Fumarme dava coragem e confiança e eu mesentia profundamente infeliz quandotentava parar. Não conseguia visualizaruma vida alegre e divertida sem umcigarro à mão.

Com o passar do tempo, minha mulherinsistiu para que eu consultasse umhipnoterapeuta. Devo confessar queestava completamente descrente, poisnaquela época não sabia nada sobrehipnose e ficava imaginando um sujeito de

olhar penetrante balançando um pêndulodiante de mim. Eu tinha todas as ilusõesnormais que os fumantes têm sobre o seuvício, menos uma – sabia que eu não erauma pessoa sem força de vontade. Euexercia controle sobre todos os outrosaspectos da minha vida, mas os cigarrosme controlavam. Achava que a hipnoseenvolvia uma coação de desejos e,embora não me opusesse a ela (comomuitos fumantes, eu desejava muitoparar), não acreditava que alguémpudesse me convencer de que eu nãoprecisava fumar.

A sessão inteira me pareceu umaenorme perda de tempo. O hipnoterapeutatentou fazer com que eu levantasse osbraços e muitas outras coisas. Nadaparecia estar funcionando como deveria:

eu não perdi a consciência nem entrei emtranse – pelo menos não achei que tivesseentrado. Mas, após aquela sessão, eu nãosó parei de fumar como tive prazer noprocesso, até mesmo durante o período deabstinência.

Bem, antes que você vá correndo fazerhipnose, quero esclarecer um ponto. Ahipnoterapia é um meio de comunicação.Se a mensagem errada for passada, vocênão vai abrir mão do cigarro. Não possocriticar o profissional que consultei, poissei que estaria morto hoje se não o tivessevisitado. Mas tudo aconteceu apesar delee não por causa dele. Não quero quepensem que estou desmerecendo ahipnoterapia, muito pelo contrário, eu auso como parte do tratamento nas clínicas.Ela nos mostra o poder da sugestão, é uma

arma valiosa que pode ser usada para obem ou para o mal. Porém, nãorecomendo que você consulte umhipnoterapeuta, a não ser que ele, ou ela,tenha sido indicado por alguém digno deseu respeito e sua confiança.

Durante aqueles terríveis anos comofumante, eu pensava que a minha vidadependia do cigarro e preferiria morrer aviver sem ele. Hoje, as pessoas meperguntam se experimentei os sintomas dac r i s e de abstinência. A resposta é:“Nunca, nunca, nunca!” – deu-seexatamente o contrário. Minha vida temsido fantástica. Se eu tivesse morrido porcausa do cigarro, não poderia reclamar.Tive muita sorte, mas o que de maismaravilhoso aconteceu comigo foi o fatode estar livre daquele pesadelo, da

escravidão de ter de passar a vidadestruindo sistematicamente o meupróprio corpo e pagando um preço muitoalto por tal privilégio.

Gostaria de deixar bem claro que nãosou uma pessoa mística. Não acredito embruxas ou fadas. Meu pensamento écientífico e eu não podia simplesmenteaceitar algo que me parecia mágico.Comecei, então, a ler sobre a hipnose esobre o tabagismo. Nada do que li pareciaexplicar o milagre que me acontecera. Porque fora ridiculamente fácil parar daquelavez enquanto, em outras ocasiões,enfrentei várias semanas de profundadepressão?

Levei um longo tempo até entender oque se passara, basicamente porque euestava andando de trás para a frente. Eu

tentava compreender por que fora tão fácilparar, quando a verdadeira questão eraexplicar por que os fumantes acham difícilparar. Eles mencionam a síndrome deabstinência, mas quando eu tentava melembrar dela percebia que, no meu caso,esses sintomas simplesmente nãoexistiram. Não houve nenhum sofrimentofísico. Estava tudo na minha mente.

Minha profissão hoje é ajudar outraspessoas a abandonar o cigarro. Sou muito,muito bem-sucedido. Já ajudei a curarmilhões de fumantes e acho importanteenfatizar que não existe algo como umfumante incorrigível. Até hoje nãoencontrei ninguém que estivesse tãoviciado (ou melhor, que pensasse estartão viciado) quanto eu. Qualquer pessoapode não apenas parar, mas achar fácil

fazê-lo. É basicamente o medo que nosmantém fumando: medo de que a vidanunca mais seja tão prazerosa e medo desentir-se privado. Na verdade, nenhumaoutra idéia poderia estar mais errada. Semo cigarro, a vida não só continua a ser boacomo se torna infinitamente mais agradável, sendo que mais saúde e energia emenos gastos estão entre as menoresvantagens da lista.

Todos os fumantes podem achar fácilparar de fumar – até você! Tudo o que épreciso fazer é ler o resto deste livro coma mente aberta. Quanto melhor você oentender, mais fácil vai achar. E mesmoque não entenda tudo, se seguir asinstruções, você não terá dificuldades. Omais importante é que você não vai passara vida inteira correndo atrás de um

cigarro ou enfrentando privações. O únicomistério será por que você fumou portanto tempo.

Neste ponto, gostaria de fazer umaadvertência. Só existem dois fatores quelevam ao fracasso com este método:

1. Não seguir as instruções.Algumas pessoas ficamperturbadas pelo fato de eu ser tãodogmático em relação a certasrecomendações. Por exemplo, voulhe dizer para não tentar diminuiro número de cigarros nem usarsubstitutos como doces, gomas demascar, etc. (principalmentecontendo nicotina). O motivo peloqual sou tão dogmático é porquesei do que estou falando. Não

nego que muitas pessoasconseguiram parar usando essesartifícios, mas isso não aconteceupor causa deles, e sim apesardeles. Existem pessoas queconseguem realizar as posiçõesacrobáticas do Kama Sutra, masisso não quer dizer que essa seja amaneira mais fácil de fazer amor.Tudo o que eu disser terá umobjetivo: fazer com que seja fácilparar e, conseqüentemente,assegurar seu sucesso.

2. Não entender. Não aceite nadasem examinar. Questione nãoapenas o que eu lhe disser, mastambém a sua visão do cigarro e oque a sociedade lhe ensinou sobre

ele. Por exemplo, aqueles quepensam que fumar é apenas umhábito devem perguntar a simesmos por que é tão fácilabandonar outros hábitos (algunsdeles muito agradáveis), enquantoé tão difícil se livrar de um quetem um gosto horrível, custa umafortuna e nos mata. E aqueles quepensam que gostam de fumardevem perguntar a si mesmos porque não se sentem presos a outrascoisas da vida que sãoinfinitamente melhores. Por quevocê precisa ter um cigarro e porque entra em pânico se não otiver?

Capítulo 2O método fácil

Ao contrário do que acontece com osmétodos tradicionais para parar, estelivro tem como objetivo fazer com quevocê – em vez de começar com asensação de que está escalando o monteEverest e de que vai passar as próximassemanas louco por um cigarro e morrendode inveja dos outros fumantes – já dê oprimeiro passo com um sentimento deeuforia, como se tivesse sido curado deuma terrível doença. Daí em diante, àmedida que você avançar pela vida afora,vai olhar para os cigarros e ficarimaginando por que fumava. Você vai

olhar para os fumantes com pena e nãocom inveja.

Se você não é um não-fumante ou umex-fumante, é essencial que continue afumar até ter completado a leitura destelivro. Isso pode parecer uma contradição.Mais tarde vou lhe mostrar que o cigarronão faz absolutamente nada por você. Naverdade, um dos muitos enigmas sobre otabagismo é que, quando estamosfumando, nós olhamos para o cigarro eficamos pensando por que estamosfazendo aquilo. Somente quando somosimpedidos de fumar é que ele se torna tãoprecioso. Entretanto, vamos considerarque, gostando ou não do cigarro, vocêacredita que está viciado. E quando vocêtem essa convicção, nunca se sentecompletamente relaxado, ou nunca

consegue concentrar-se direito, a não serque esteja fumando. Por isso, não tenteparar de fumar antes de terminar o livro.À medida que for lendo, o seu desejo defumar irá diminuir gradativamente. Nãotente avançar sem estar totalmente pronto.Isso pode ser fatal. Lembre-se: tudo o quevocê precisa fazer é seguir as instruções.

Desde que lancei o livro, essa instruçãopara continuar fumando até terminar aleitura foi a que mais frustrações mecausou. Logo que parei de fumar, muitosde meus parentes e amigos tambémpararam, simplesmente porque eu tinhaconseguido. Eles devem ter pensado: “Seele conseguiu, qualquer um consegue.”Com o passar dos anos, fazendo umcomentário aqui e outro ali, consegui fazercom que os que não haviam parado

percebessem como era bom ser livre!Quando o livro foi publicado pelaprimeira vez, ofereci exemplares aoscabeças-duras que ainda insistiam emfumar. Eu achava que, ainda que fosse olivro mais chato do mundo, eles o leriamporque fora escrito por um amigo. Fiqueisurpreso e magoado ao saber que, mesesdepois, eles não tinham se dado aotrabalho de chegar ao final. Descobri atémesmo que um exemplar que eu haviaautografado e oferecido ao meu melhoramigo não apenas tinha sido ignorado,mas fora dado a outra pessoa. Fiqueichateado na época porque não levei emconsideração o terrível medo que aescravidão do tabaco gera no fumante. Elepode transcender a amizade. E até levarao divórcio. Minha mãe disse um dia à

minha mulher: “Por que você não ameaçaabandoná-lo se ele não parar de fumar?”Minha mulher respondeu: “Porque ele melargaria se eu fizesse isso.” Tenhovergonha de admitir, mas ela estava com arazão, tal era o medo provocado pelofumo.

Hoje compreendo que os fumantes nãoterminam o livro porque sentem que terãode parar de fumar quando chegarem àúltima página. Alguns lêem num ritmobem lento de propósito, para adiar otemido dia D. Sei que muitos fumantesestão sendo importunados por aqueles queos amam para que leiam este livro. Pensenisso da seguinte maneira: o que você tema perder? Se não parar de fumar ao chegarà última página, não estará numa situaçãopior do que agora. VOCÊ NÃO TEM

ABSOLUTAMENTE NADA A PERDER E TEMMUITO A GANHAR! Aliás, se você já nãoacende um cigarro há alguns dias ousemanas e não tem certeza se é umfumante, um ex-fumante ou um não-fumante, não fume enquanto estiver lendo.Na verdade, você já é um ex-fumante.Tudo o que precisamos fazer agora épermitir que o seu cérebro acompanhe oseu corpo. Até terminar o livro você seráum não-fumante feliz.

Basicamente, meu método é o extremooposto do método convencional de pararde fumar. O método normal é fazer umalista das consi deráveis desvantagens docigarro e dizer: “Se eu puder ficar otempo suficiente sem um cigarro, com ocorrer dos dias o desejo de fumar irádesaparecer. Poderei desfrutar a vida

outra vez, livre da escravidão do vício.”Essa é a maneira lógica de lidar com a

questão, e milhares de fumantes estãoparando todos os dias utilizandovariações desse método. Entretanto, não éfácil obter sucesso com ele pelasseguintes razões:

1. Parar de fumar não é o verdadeiroproblema. Todas as vezes queapagamos um cigarro, paramos defumar. Você pode ter boas razõespara dizer no primeiro dia: “Nãoquero mais fumar” – todo fumanteas tem todos os dias de sua vida, eessas razões são muito maispoderosas do que você imagina. Amaior dificuldade é enfrentar osegundo dia, o décimo dia, o

milésimo dia, quando, num momento de fraqueza, de euforia oude uma emoção forte, você fumaum cigarro. E como o problema é,em parte, um vício numa droga,você deseja mais um cigarro e, derepente, volta a ser um fumante.

2. Os medos em relação à saúdedeveriam nos impedir de fumar. Olado racional da nossa mente diz:“Pare de fumar. Você é um tolo.”Mas, na verdade, esses medosfazem com que seja mais difícilparar. Nós fuma mos, porexemplo, quando estamosnervosos. Diga a um indivíduoque fumar o está matando e aprimeira coisa que ele fará é

acender um cigarro. Há muitomais guimbas de cigarro do ladode fora de um centro de tratamentode câncer do que em qualqueroutro hospital.

3. Todos os motivos para parar defumar acabam tornando maisdifícil abandonar o cigarro porduas razões. Em primeiro lugar,eles criam uma sensação desacrifício. Estamos sempre sendoforçados a abrir mão do nossoamigo, suporte, vício ou prazer,seja lá como for que o fumanteveja o cigarro. Em segundo lugar,eles criam um “véu” que deturpaos fatos. Nós não fumamos pelosmotivos que de viam nos levar a

parar. A verdadeira questão é:“Por que desejamos ouprecisamos fumar?”

O método fácil resume-se basicamenteem esquecer os motivos pelos quaisgostaríamos de parar de fumar, enfrentar oproblema do cigarro e perguntar a nósmesmos o seguinte:

1. O que o cigarro está fazendo pormim?

2. Eu realmente tenho prazer emfumar?

3. Eu preciso passar o resto da vidapagando caro para colocar essacoisa na minha boca e sufocar amim mesmo?

A verdade é que o cigarro não faz nadapor você. Vamos esclarecer bem: eu nãoestou afirmando que as desvantagens deser fumante são maiores que as vantagens.Todo fumante passa a vida ouvindo isso.O que eu quero dizer é que não existenenhuma vantagem em fumar. A únicavantagem que o cigarro porventura jáofereceu foi aquele “algo mais” diante daspessoas; mas, hoje em dia, até mesmo osfumantes sabem que fumar é um hábitoanti-social.

Muitos fumantes acham necessárioracionalizar os motivos que os levam afumar, mas não passam de falácias eilusões. E a primeira coisa que vamosfazer é desmascarar essas mentiras. Defato, você vai perceber que não há nadado que abrir mão. E, por outro lado, há

ganhos notáveis em ser um não-fumante,sendo que saúde e dinheiro são apenasdois deles. Tão logo você se dê conta deque a vida é infinitamente mais agradávelsem o cigarro, tão logo se livre dasensação de estar sendo privado ou deestar perdendo alguma coisa,retomaremos a questão da saúde e dodinheiro – e as dúzias de outras razõespara parar de fumar. Essas descobertasserão pontos positivos para ajudar você aalcançar o que realmente deseja: poderaproveitar a vida livre da escravidão dotabagismo.

Capítulo 3Por Que é difícil parar?

Como já expliquei, eu me interessei poresse assunto por causa do meu própriovício. Quando finalmente parei, foi comoum passe de mágica. Nas outras vezes emque tentei parar, passei por semanas deprofunda depressão. Havia dias em que eume sentia um pouco mais alegre, mas logodepois a tristeza voltava. Era como seestivesse me esforçando para sair de umpoço escorregadio, mas, ao chegar pertodo topo e vislumbrar a luz do sol,começasse a deslizar para o fundo outravez. Um dia, eu acabava acendendo umcigarro, sentia um gosto horrível e

questionava por que tinha de fumar.Uma das perguntas que sempre faço a

qualquer fumante antes de uma consulta é:“Você quer mesmo parar?” De certamaneira, é uma pergunta idiota. Todos osfumantes (inclusive os que pertencem aorganizações que defendem a liberdade defumar) adorariam largar o cigarro.Pergunte ao mais inveterado dos fumanteso seguinte: “Se pudesse voltar no tempo,com os conhecimentos de que dispõeagora sobre o cigarro, você teriacomeçado a fumar?” A resposta, comcerteza, seria: “DE JEITO NENHUM!”

Nem mesmo um fumante convicto – ouseja, aquele que não acredita que ocigarro é prejudicial à saúde, que não estápreocupado com o estigma social e paraquem o dinheiro empregado no vício não

faz falta (não há muitos deles por aí hojeem dia) – resiste à seguinte provocação:“Você estimula seus filhos a fumar?”Resposta: “DE JEITO NENHUM!”

Os fumantes acreditam que estãopossuídos por algo ruim. No início, elesdizem: “Eu vou parar, não hoje, masamanhã.” Com o passar do tempo, chegama um estágio em que acreditam que nãotêm força de vontade, ou que o cigarropossui algo que eles precisam obter paradesfrutar a vida.

Como eu disse anteriormente, a questãonão é explicar por que é fácil parar, e simjustificar por que é difícil. O verdadeiroproblema é entender, em primeiro lugar,por que uma pessoa fuma e por que, numcerto momento, mais de 60% dapopulação fumava.

A indústria do cigarro é um enigma dosmais extraordinários. O único motivo quenos leva a fumar é o fato de milhares depessoas estarem fumando. Entretanto, agrande maioria delas desejaria não tercomeçado e vive dizendo que fumar éperda de tempo e de dinheiro. No fundo,principalmente quando somos jovens, nãoacreditamos que os fumantes não estãotendo prazer. Associamos o ci garro aofato de ser adulto e nos esforçamos paranos viciar também. Depois, passamos oresto da vida dizendo aos nossos filhospara não fumarem e tentando nos livrar dopróprio vício.

Também pagamos caro por isso. Umapessoa que consuma uma média de vintecigarros por dia gasta cerca de 60 milreais durante toda a vida. E o que fazemos

com esse dinheiro? (Não seria tão ruim seo jogássemos no lixo.) Intoxicamossistematicamente os nossos pulmões comsubstâncias cancerígenas que vão, aospoucos, entupindo e envenenando nossosvasos sangüíneos. Com isso, a cada diadiminui o oxigênio que é levado aosnossos músculos e órgãos, o que nosdeixa cada vez mais letárgicos. E assimnos condenamos a uma vida inteira desujeira, mau hálito, dentes amarelos,roupas queimadas, cinzeiros imundos, semfalar no odor asqueroso do tabaco. É todauma existência de escravidão. Passamosmetade do nosso tempo em lugares onde asociedade nos proíbe de fumar (igrejas,hospitais, escolas, ônibus, metrô, teatros,etc.) ou nos sentindo privados porqueestamos tentando diminuir ou parar. E a

outra metade em situações nas quaispodemos fumar, mas desejaríamos não terde acender um cigarro. Que tipo depassatempo é esse que quando você fazgostaria de não fazer e quando não fazanseia por fazer? O pior é que um serhumano inteligente e racional acaba secondenando a ser tratado por boa parte dasociedade como um pária. O fumantedespreza a si mesmo todas as vezes emque, inadvertidamente, ele lê os alertas desaúde do governo, quando vê algumacampanha contra o câncer, quando sesente congestionado ou tem alguma dor nopeito, ou quando é o único fumante numgrupo de não-fumantes. O que ele ganhaao passar a vida enfrentando essasterríveis e sombrias ameaças?ABSOLUTAMENTE NADA! Prazer? Diversão?

Relaxamento? Apoio? Estímulo? Tudoisso é ilusão, a menos que você considereque usar sapatos apertados só para ter aalegria de tirá-los possa ser uma forma deprazer!

Você provavelmente está dizendo:“Está tudo certo, eu sei disso. Porém, umavez que você fica viciado nessas coisas, émuito difícil parar.” Mas por que é tãodifícil e por que temos de fazê-lo? Osfumantes passam a vida inteiraprocurando respostas para essasperguntas.

Alguns dizem que é por causa dapoderosa crise de abstinência. A verdadeé que os sintomas da retirada da nicotinasão tão suaves que a maioria dos fumantesvive e morre sem jamais perceber que éviciado numa droga.

Outros dizem que os cigarros sãoagradáveis. Pois não são. Cigarros sãosujos e asquerosos. Pergunte a qualquerindivíduo que diz que fuma só porquegosta de um determinado cigarro o que elefaz quando não encontra sua marcapreferida. Ele compra um cigarro de outramarca, mesmo que a deteste, ou desiste defumar? Os fumantes acendem qualquercoisa, desde que possam fumá-la. Prazernão tem nada a ver com isso. Eu gosto delagosta, mas nunca cheguei ao ponto deprecisar ter vinte delas amarradas ao meupescoço. Há outras coisas na vida quetemos prazer em fazer, mas não ficamosnum canto sofrendo quando não asfazemos.

Alguns fumantes procuram razõespsicológicas profundas para explicar por

que fumam, como a síndrome freudiana ouo desejo de mamar no seio da mãe. O queacontece é exatamente o oposto. Em geral,a razão que nos leva a começar a fumar éa necessidade de mostrar que somosadultos e maduros. Se precisássemos usaruma imitação de chupeta em público,morreríamos de vergonha.

Há ainda os que pensam que é ocontrário. O cigarro seria a afirmação do“macho” soltando fumaça ou fogo narinasabaixo. Mais um argumento semsubstância. Jogar alcatrão cancerígenopara dentro dos pulmões é simplesmenteridículo.

Alguns dizem: “É algo para manterminhas mãos ocupadas!” Então, para queacendê-lo?

“É satisfação oral.” Então, por que

acendê-lo?“É a sensação da fumaça descendo para

os pulmões.” Uma sensação horrorosa – aque chamamos asfixia.

Muitos acreditam que fumar alivia otédio, o que é falso. Tédio é um estado deespírito. Não há nada interessante numcigarro.

Por 33 anos, a minha razão era que ocigarro me relaxava, me deixava confiantee me dava coragem. Eu sabia que eletambém estava me matando e custandouma fortuna. Por que não fui ao médicopara que ele me apresentasse umaalternativa que me relaxasse, que medesse coragem e confiança? Não fuiporque sabia que ele iria me ofereceralguma opção. Aquela não era a razão porque eu fumava. Era a minha desculpa.

Há pessoas que afirmam que só fumamporque os amigos também o fazem. Você étão tolo assim? Se for, reze para que seusamigos não comecem a cortar as própriascabeças para curar a enxaqueca!

A maioria dos fumantes que refletemsobre tudo isso acaba concluindo que éapenas um hábito. Essa não é realmenteuma explicação, mas, descontando todosos esclarecimentos racionais, parece queé a única desculpa que resta. Infelizmente,essa justificativa também é ilógica. Todosos dias de nossas vidas nós mudamos osnossos hábitos, e alguns deles são muitoagradáveis. Nós sofremos uma verdadeiralavagem cerebral para acreditar que fumaré um hábito e que os hábitos são difíceisde mudar. Os hábitos são difíceis demudar? No Reino Unido, estamos

acostumados a dirigir do lado esquerdoda rua. Entretanto, quando dirigimos emoutros países, nós nos adequamos à novarealidade sem grandes problemas. Averdade é que nós criamos e mudamoshábitos todos os dias de nossas vidas.

Então, por que achamos tão difícilmudar um hábito que tem um gostohorrível, que nos mata, que custa umafortuna, que é sujo e asqueroso e queadoraríamos não ter, quando tudo o queprecisamos fazer é parar? A resposta éque fumar não é um hábito: É VÍCIO EMNICOTINA! É por isso que parece tãodifícil largar o cigarro. Talvez você acheque isso explica por que é difícil parar defumar. E realmente explica por que amaioria dos fumantes acha difícil. Sabepor quê? Porque eles não entendem o real

significado do vício em uma droga. Aprincipal razão é que os fumantes estãoconvencidos de que o cigarro lhesproporciona algum prazer verdadeiro e/ouuma muleta, e acreditam que farão umenorme sacrifício se pararem.

A grande verdade é que, quandoentender o vício em nico tina e asverdadeiras razões que o levam a acenderum cigarro, você vai parar de fumar –simples assim –, e três semanas depois oúnico mistério será por que você achounecessário fumar por tanto tempo e porque não convence outros fumantes deCOMO É BOM SER UM NÃO-FUMANTE!

Capítulo 4A armadilha sinistra

Fumar é a armadilha mais sutil esinistra que o homem e a natureza jácriaram em conjunto. Mas o que nos fazcair nela? Pense nos milhões de adultosque fumam. Eles até nos avisam que é umpéssimo hábito, que acabará nosdestruindo e nos custando uma fortuna,mas não conseguimos acreditar que nãoapreciem realmente o cigarro. Um entre osmuitos aspectos patéticos de fumar é ofato de precisarmos nos esforçar tantopara nos tornarmos viciados.

Essa é a única armadilha que não temuma isca, nenhum pedaço de queijo. O que

a faz funcionar não é o fato de o cigarroter um sabor maravilhoso, mas sim umgosto horroroso. Se fumar aquele primeirocigarro fosse agradável, ouviríamos umsinal de alerta e, como seres inteligentesque somos, poderíamos entender por quemetade da população adulta paga tão caropelo privilégio de envenenar a si mesma.Mas como ele tem um gosto terrível,nossas mentes ainda jovens têm a certezade que jamais nos tornaremos viciados.Achamos que, como não estamos gostandode fumar, poderemos parar no instante emque desejarmos.

O cigarro é a única droga na naturezaque nos impede de alcançar o nossoobjetivo. Os meninos em geral começam afumar porque querem parecer “durões” –como Humphrey Bogart ou Clint

Eastwood. Mas se há um sentimento que oprimeiro cigarro não provoca é o desentir-se “durão”. Você não ousa tragar e,se fumar demais, começa a se sentir tontoe enjoado. Tudo o que você quer é fugirdos outros meninos e jogar fora aquelacoisa nojenta.

Já as mulheres buscam transmitir umaimagem sofisticada e moderna. Todos nósjá vimos meninas dando pequenasbaforadas num cigarro, parecendocompletamente ridículas. Quando osmeninos finalmente aprenderem a parecer“durões” e as meninas, sofisticadas, todoseles já estarão desejando que nuncativessem começado. Fico me perguntandose as mulheres chegam mesmo a parecersofisticadas quando fumam ou se é apenasuma ilusão criada pela propaganda de

cigarros.Depois, passamos o resto da vida

tentando explicar a nós mesmos por quefumamos, dizendo aos nossos filhos quenão caiam na armadilha e, nos momentosdifíceis, tentando escapar dela.

A armadilha é planejada de forma a noslevar a tentar parar somente quandoenfrentamos situações estressantes, sejaem relação à saúde, à falta de dinheiro ousimplesmente ao fato de nos sentirmosmarginalizados por fumar.

Assim que paramos, enfrentamos umestresse maior (o sofrimento da crise deabstinência da nicotina) e não podemosmais usar aquilo em que confiávamos(nossa velha muleta, o cigarro) para noslivrar dessa tensão.

Após alguns dias de tortura, decidimos

que escolhemos a hora errada de parar. Émelhor aguardar um período sem estresse.É claro que esse dia nunca vai chegarporque, em primeiro lugar, achamos quenossas vidas tendem a se tornar cada vezmais difíceis. À medida que vamosabrindo mão da proteção de nossos pais,o caminho mais natural é montar umacasa, lidar com financiamentos ehipotecas, filhos, trabalhos que exigemmais responsabilidade, etc. Mas issotambém é uma ilusão. A verdade é que osperíodos mais estressantes para qualquercriatura são a infância e o início daadolescência. Costumamos confundirresponsabilidade com estresse. A vidados fumantes se torna automaticamentemais estressante porque o tabaco nãorelaxa nem alivia as tensões, ao contrário

do que a sociedade tenta nos fazer crer. Éexatamente o oposto: ele nos deixa maisnervosos e estressados.

Até os fumantes que se livraram dohábito (muitos conseguem, uma ou maisvezes durante a vida) podem viverperfeitamente felizes e, de repente, voltara ser viciados.

Fumar é como vagar por um gigantescolabirinto. Assim que entramos nele,nossas mentes tornam-se nubladas eobscurecidas, e passamos o resto da vidatentando escapar. Muitos acabamconseguindo, somente para descobrir quevão cair novamente na armadilha nofuturo.

Passei 33 anos tentando fugir desselabirinto. Como todos os fumantes, eu nãoconseguia entendê-lo. No entanto, por uma

combinação de circunstâncias incomuns –nenhuma delas revelando qualquer ponto ameu favor –, eu desejava saber por quehavia sido tão desesperador abrir mão docigarro anteriormente e por que, quandoconsegui parar, não só foi fácil comotambém agradável.

Desde que larguei o cigarro, o meuhobby e, mais tarde, a minha profissãotêm sido resolver os muitos enigmasassociados ao tabagismo. É um quebra-cabeça fascinante e complexo e, como oCubo Mágico, praticamente impossível deresolver. Entretanto, como todos osquebra-cabeças complicados, se vocêsouber a solução, ele se torna fácil! Eutenho a solução para parar de fumar. Vouconduzi-lo através do labirinto e garantirque nunca mais vagará por ele. Tudo o

que você precisa fazer é seguir asinstruções. Se virar para o lado errado, orestante dos ensinamentos perderá osentido.

Gostaria de enfatizar que qualquerpessoa pode achar fácil abrir mão docigarro, mas primeiro precisamosestabelecer os fatos. Não, eu não estoufalando de fatos ameaçadores. Sei quevocê já tem consciência deles. O mundoestá cheio de informações sobre osmalefícios do fumo. Se isso pudesse fazê-lo parar, você já estaria livre do cigarro.A questão é: por que achamos difícilparar? Para descobrir a resposta,precisamos saber a verdadeira razão pelaqual ainda estamos fumando.

Capítulo 5Por que continuamos a fumar?

Todos nós começamos a fumar pormotivos tolos, geralmente por pressões ousituações sociais. Mas, quando sentimosque estamos ficando viciados, por quecontinuamos?

Nenhuma pessoa que fuma regularmentesabe por que fuma. Se soubesse averdadeira razão, ela pararia de imediato.Fiz essa pergunta a milhares de fumantesnas minhas consultas. A ver da de é amesma para todos, mas a variedade derespostas é infinita. Considero essa parteda consulta a mais divertida e, ao mesmotempo, a mais patética.

Todos os fumantes sabem, no fundo docoração, que são uns tolos. Eles têmconsciência de que não sentiamnecessidade de fumar antes de se tornaremviciados. Quase todos conseguem lembrarque o primeiro cigarro tinha um gostohorrível e que precisaram se esforçar paraadquirir o vício. O mais perturbador é queeles percebem que os não-fumantes nãoestão perdendo absolutamente nada eainda por cima estão rindo da desgraçadeles.

Os fumantes, no entanto, são sereshumanos inteligentes e racionais. Elessabem que estão assumindo enormesriscos para a saúde e que gastam umafortuna em cigarros. Assim sendo,precisam de uma explicação racional parajustificar o seu hábito.

A verdadeira razão pela qual aspessoas continuam a fumar é a sutilcombinação dos fatores que vou discutirnos dois capítulos seguintes:

1. O VÍCIO EM NICOTINA2. A LAVAGEM CEREBRAL

Capítulo 6O vício em nicotina

A nicotina, um composto incolor eoleoso, é a droga contida no tabaco quevicia o fumante. Ela é a droga que maisrapidamente provoca dependência. Umúnico cigarro pode ser suficiente para nostornar viciados.

Cada baforada num cigarro libera parao cérebro, através dos pulmões, umapequena dose de nicotina que age maisrapidamente do que a dose de heroína queum viciado injeta na veia.

Se o seu cigarro lhe proporcionar vintebaforadas, você receberá vinte doses dadroga num único cigarro.

A nicotina é uma droga de ação rápidae seus níveis na corrente sangüínea caempara a metade cerca de trinta minutosdepois do término de um cigarro e paraum quarto depois de uma hora. Issoexplica por que a maioria das pessoasconsome em média vinte ci garros por dia.

Tão logo o fumante apague o cigarro, anicotina começa a sair do corporapidamente e ele passa a sofrer ossintomas da abstinência. Mas os fumantesalimentam uma ilusão de que a síndromede abstinência é o terrível trauma que elessofrem quando tentam parar ou quandosão forçados a abrir mão do cigarro. Narealidade, os sintomas estão muito maisna mente do fumante, que se sente privadode seu prazer ou suporte.

Os verdadeiros sintomas da abstinência

de nicotina são tão sutis que os fumantes,em sua maioria, vivem e morrem semjamais perceber que são viciados numadroga. Quando falamos em “vício emnicotina”, muitos acreditam que estamosnos referindo simplesmente a um “hábitoadquirido”. A maior parte dos que fumamtem horror a drogas, mas isso é o que elessão – viciados numa droga. Felizmente,não é difícil livrar-se dela, mas vocêprecisa primeiro aceitar que é um viciado.

Não há dor física na retirada danicotina, mas apenas uma sensação devazio e desassossego, a impressão de queestá faltando alguma coisa, motivo peloqual muitos fumantes pensam que fumarlhes dá algo para fazer com as mãos. Seesse sentimento for prolongado, o fumantefica nervoso, inseguro, agitado, irritado e

sem confiança. É como a fome de umveneno: a NICOTINA.

Poucos segundos após se acender umcigarro, nicotina fresca é inalada e odesejo é saciado, dando ao fumante umasensação de rela xamento e confiança.

No início, quando começamos a fumar,os sintomas da abstinência são tão leves eo seu alívio é tão fácil que quase nãopercebemos sua existência. Quandopassamos a fumar com regularidade,achamos que foi porque aprendemos agostar do cigarro e que fazemos isso pelaforça do “hábito”. A verdade é que já nosviciamos. Não nos damos conta, mas umpequeno monstro sugador de nicotina jáestá dentro de nós e, de vez em quando,precisamos alimentá-lo.

Todos os fumantes acendem os

primeiros cigarros por motivos fúteis.Ninguém precisa deles. A única razãopela qual as pessoas continuam a fumar,não importa se muito ou pouco, é paraalimentar esse monstro.

Fumar é uma atitude repleta deenigmas. Todo fumante sabe que caiunuma armadilha maligna. Entretanto, achoque o aspecto mais patético do cigarro é ofato de que o deleite que o fumante extraidele é exatamente o prazer de tentar voltarao estado de paz, tranqüilidade econfiança que seu corpo possuía antes deele se tornar um viciado.

É como a sensação que temos quandopassamos um dia inteiro irritados com osom altíssimo da casa do vizinho e, derepente, o barulho pára e um climamaravilhoso de paz e tranqüilidade nos

envolve. Não é uma verdadeira paz, mas ofim de algo que nos importunava.

Antes do início da corrente de nicotina,nosso corpo está completo. Então nósforçamos a nicotina para dentro dele e,quando apagamos o cigarro e a nicotinacomeça a sair, sofremos a síndrome deabstinência – não são sintomas físicos,apenas uma sensação de vazio. Nós nemtemos consciência desses sintomas, maseles são como uma torneira pingandodentro do nosso corpo. O lado racional damente não os compreende. Nem precisacompreender. Tudo o que sabemos é quequeremos um cigarro e, quando oacendemos, o anseio desaparece. Poralguns instantes ficamos satisfeitos econfiantes outra vez, exatamente comoéramos antes de nos viciarmos.

Entretanto, a satisfação é apenastemporária, pois para aliviar o desejoprecisamos colocar mais nicotina noorganismo. Assim que você apaga ocigarro, o anseio retorna e, então,recomeça o ciclo. É uma corrente queprosseguirá por toda a vida – A MENOSQUE VOCÊ A QUEBRE.

Há três fatores básicos que impedem ofumante de enxergar a situação dessaforma:

1. Desde o nascimento, nós somossubmetidos a uma maciça lavagemcerebral que nos diz que osfumantes sentem um imenso prazere/ou obtêm uma muleta por meiodo cigarro. Por que nãodeveríamos acreditar? Por que

outra razão as pessoas gastariamtanto dinheiro e correriam riscostão terríveis?

2. Como a abstinência física danicotina não envolve dor, masapenas uma sensação de vazio einsegurança, inseparável da fomeou do estresse normal, e como sãoexatamente esses os momentos emque acendemos um cigarro,tendemos a considerar essasensação como normal.

3. Os fumantes não enxergam ocigarro como ele realmente éporque o vício funciona de tráspara a frente: sofremos aquelasensação de vazio quando nãoestamos fumando e, como o

processo de se viciar é muito sutile gradual no início, achamos queessa sensação é normal e nãocolocamos a culpa no cigarroanterior. No instante em quefumamos outro cigarro,conseguimos imediatamente nossentir estimulados, menosnervosos ou mais relaxados – e ocigarro fica com o crédito.

É esse processo inverso que faz comque seja difícil nos livrarmos de todas asdrogas. Imagine o estado de pânico de umviciado em heroína que não tem a droga.Agora, imagine a alegria desse viciadoquando consegue, finalmente, enfiar umaagulha hipodérmica na veia. Vocêconsegue imaginar alguém tendo prazer

em dar uma injeção em si mesmo, ou sóde pensar nisso você se enche de horror?As pessoas que não são viciadas emheroína não se desesperam por causa dadroga. A heroína não alivia o pânico. Aocontrário, ela causa esse sentimento. Aspessoas que não fumam não experimentama sensação de vazio provocada pelanecessidade de um cigarro nem entram empânico ao perceber que seu suprimentoacabou. Por isso elas não conseguementender como os fumantes têm prazer emcolocar na boca uns cilindros asquerosos,acendê-los e inalar toda aquela sujeira,intoxicando seus pulmões. E quer sabermais? Os fumantes também não entendempor que fazem uma coisa dessas.

Nós falamos do cigarro como fonte derelaxamento ou satisfação. Entretanto,

você só pode sentir que satisfez umanecessidade se, antes, sentia-seinsatisfeito. Por que as pessoas que nãofumam não têm essa ânsia? Por que, apósuma refeição, quando os não-fumantesestão completamente relaxados, osfumantes só se descontraem depois desaciar o pequeno monstro da nicotina?

Perdoe-me por insistir nesse assuntomais um pouco. O principal motivo peloqual os fumantes acham difícil parar é ofato de acreditarem que estão abrindo mãode um prazer ou de um apoio verdadeiros.É absolutamente essencial compreenderque você não está abrindo mão de nada.

A melhor maneira de compreender assutilezas da armadilha da nicotina écompará-la à comida. Se temos o hábitode nos alimentarmos regularmente, não

chegamos a sentir fome entre as refeições.Somente quando atrasamos uma delas éque tomamos consciência da fome e,mesmo assim, não sentimos dor física,apenas um vazio que nos diz: “Precisocomer.” E o processo de satisfazer a fomeé bastante prazeroso.

A situação do tabagismo parece quaseidêntica. O sentimento de vazio einstabilidade que conhecemos como“querer ou precisar de um cigarro” ésemelhante ao desejo de comida, emboraum não satisfaça o outro. Assim comoacontece quando sentimos fome, não hádor física e a sensação é tãoimperceptível que nem nos damos contadela entre um cigarro e outro. Somentequando não podemos fumar é quetomamos consciência de algum

desconforto. Mas, quando acendemos umcigarro, nos sentimos satisfeitos.

É essa similaridade com a comida queleva os fumantes a acreditarem que obtêmum prazer genuíno com o cigarro. Algunsdeles acham muito difícil entender quenão existe nenhum prazer ou suporte nocigarro. Alguns perguntam: “Como vocêpode afirmar que não é uma muleta? Vocêmesmo disse que quando eu acender umcigarro vou me sentir menos nervoso doque antes.”

Embora comer e fumar pareçam sermuito semelhantes, na verdade sãoopostos.

1. Você come para sobreviver e paraprolongar sua vida, ao passo quefumar a encurta.

2. A comida realmente tem um saboragradável e comer é umaexperiência de verdadeiro prazer,que você pode desfrutar por todaa vida, enquanto fumar implicarespirar uma fumaça suja evenenosa.

3. Comer não dá fome e provocauma genuína sensação desaciedade. Por outro lado, ocigarro gera, desde o início, umanseio por nicotina. E cadacigarro que você fuma depois,além de não aliviar esse desejo, orealimenta pelo resto da vida.

Este é um momento oportuno paradesfazer outro mito muito comum a

respeito do cigarro – o de que fumar é umhábito. Comer é um hábito? Se você achaque sim, tente deixá-lo para sempre. Nadadisso. Se comer fosse um hábito, teríamosde considerar que respirar também é.Ambos são essenciais para asobrevivência. É verdade que pessoasdiferentes têm o costume de satisfazer afome em horários diferentes e com tiposdiferentes de comida. Mas o ato de comernão é um hábito. Nem o de fumar. A únicarazão que leva um fumante a acender umcigarro é tentar acabar com o sentimentode vazio e instabilidade que o cigarroanterior criou. É verdade que diferentesfumantes têm hábitos diferentes para tentaraliviar a síndrome de abstinência, masfumar não é um hábito.

A sociedade costuma fazer referência

ao hábito de fumar. Neste livro, porconveniência, eu também me refiro ao“hábito”, mas é importante não perder devista que fumar é, na verdade, um VÍCIO!

Quando começamos a fumar, temos denos forçar a aprender a lidar com ocigarro. Em pouco tempo, não apenasestamos comprando cigarros comregularidade, como precisamos tê-los àmão de qualquer jeito, senão entramos empânico. E, com o passar do tempo, nossatendência é fumar cada vez mais.

Isso acontece porque, num processoidêntico ao que ocorre quando usamosqualquer outra droga, o organismo tende ase tornar imune aos efeitos da nicotina e aquantidade que inalamos tende a crescer.Em pouco tempo, o cigarro pára de aliviarcompletamente os sintomas da síndrome

que ele mesmo cria. Então, quando vocêfuma, sente-se melhor do que se sentiamomentos antes, mas estará mais nervosoe menos relaxado do que estaria se fosseum nãofumante. Essa prática é ainda maisridícula do que usar sapatos apertados,pois, à medida que o tempo vai passando,uma dose crescente de desconfortopermanece, mesmo depois de tirar ocalçado que nos machucava.

A situação é até pior, pois, uma vez queo cigarro é apagado, a nicotina começa adeixar o organismo com rapidez, o queexplica por que o fumante tende a fumarum cigarro atrás do outro em momentos deestresse.

Como eu já disse, o “hábito” nãoexiste. O que faz com que um indivíduocontinue a fumar é aquele pequeno

monstro dentro de seu corpo que precisaser alimentado. O próprio fumante é quemvai decidir quando acender um cigarro, eisso tende a acontecer em quatro tipos desituação, de maneira isolada oucombinada:

TÉDIO / CONCENTRAÇÃO – doisextremos opostos!

ESTRESSE / RELAXAMENTO – doisextremos opostos!

Que droga mágica pode, de repente,reverter o efeito que ela mesmaproporcionou vinte minutos antes? Averdade é que fumar não alivia o tédio ouo estresse nem promove a concentraçãoou o relaxamento. É tudo mera ilusão.

Além de ser uma droga, a nicotina é um

poderoso veneno que é usado até eminseticidas (pesquise no dicionário). Se anicotina contida num único cigarro fosseinjetada diretamente na veia, vocêmorreria. Na verdade, o tabaco contémuma série de venenos, inclusive omonóxido de carbono, e a planta dotabaco é da mesma família da beladona –considerada uma erva de bruxaria durantea Idade Média –, que pode provocaralterações de percepção e sensações demal-estar e pânico.

Se você estiver pensando em trocar ocigarro por um cachimbo ou um charuto,quero deixar claro que o conteúdo destelivro aplica-se ao tabaco de modo geral ea qualquer substância que contenhanicotina, inclusive gomas de mascar,adesivos, aerossóis nasais e inaladores.

O corpo humano é o organismo maissofisticado do planeta. Nenhuma espécie,nem mesmo a mais simples ameba ouverme, pode sobreviver se não souber adiferença entre comida e veneno.

Por milhares de anos, por um processode seleção natural, nossos corpos ementes desenvolveram técnicas paradiferenciar comi da de veneno, além deum método perfeito para expelir osegundo.

Todos os seres humanos rejeitam ocheiro e o gosto do tabaco até se tornaremviciados. Se você soprar tabaco diluídono rosto de qualquer animal ou criançaantes que se viciem, eles irão tossir ecuspir.

Quando fumamos aquele primeirocigarro, inalá-lo resultou numa crise de

tosse. Se fumamos muito na primeira vez,ficamos tontos ou nos sentimosfisicamente doentes. É o nosso corpoavisando: “VOCÊ ESTÁ ME ALIMENTANDOCOM VENENO. PARE DE FAZER ISSO!” Esse éo estágio que costuma definir se seremosou não fumantes. É uma falácia dizer queas pessoas física e mentalmente frágeis setornam fumantes. Afortunados são os queacham aquele primeiro cigarro repulsivoe sentem que, fisicamente, seus pulmõesnão conseguem lidar com tal situação.Esses estão curados para o resto da vida.Ou então são indivíduos que não estãomentalmente preparados para enfrentar odifícil processo de aprendizado de tentarinalar sem tossir.

Para mim, essa é a parte mais trágicade tudo isso: o quanto nos esforçamos

para adquirir um vício. Isso explicatambém por que é tão difícil fazer comque os adolescentes parem. Como elesainda acham o gosto de cigarro horrível,acreditam que podem parar quandoquiserem. Por que eles não aprendem como nosso exemplo? E por que nãoaprendemos com o exemplo de nossospais?

Muitos fumantes acreditam queapreciam o gosto e o cheiro do tabaco.Pura ilusão. Quando aprendemos a fumar,estamos apenas ensinando nosso corpo aficar imune ao cheiro e ao gostodetestáveis do tabaco, para, assim,obtermos a nossa droga, como aquelesviciados em heroína que acreditam quegostam de furar a si mesmos com umaagulha. Os sintomas da síndrome de

abstinência da heroína são relativamentefortes, então o que esses indivíduos estãodesfrutando de fato é o ritual de aliviartais sintomas.

O fumante ensina a si mesmo a fechar amente para o gosto e o cheiro ruins e,dessa maneira, obter sua droga. Pergunte aum fumante que acredite que fuma apenasporque aprecia o sabor e o cheiro dotabaco: “Se não puder obter a marca decigarro que costuma fumar, mas apenasuma que acha horrorosa, você deixa defumar?” De jeito nenhum. Um fumanteprefere fumar qualquer coisa a não fumarnada. Não importa que mude para cigarrosde enrolar, mentolados, charutos oucachimbos: todos têm um sabor horrível,mas, se ele insistir, aprenderá a gostar. Osfumantes tentarão fumar mesmo quando

estiverem gripados, com dor de garganta,bronquite ou enfisema.

Prazer não tem a nada a ver com isso.Se tivesse, ninguém fumaria mais do queum cigarro. Há até mesmo milhares deviciados naquela asquerosa goma demascar de nicotina prescrita pelosmédicos, e muitos deles continuam afumar.

Nas minhas consultas, alguns fumantesassustam-se ao descobrir que sãoviciados em uma droga e acham que issovai fazer com que seja ainda mais difícilparar. Mas, na verdade, isso é uma boanotícia por dois importantes motivos:

1. A razão pela qual muitosindivíduos continuam fumando éque, embora saibam que as

desvantagens são muito maioresque as vantagens, acreditam queexiste algo que eles realmenteapreciam no cigarro, ou que elerepresenta algum tipo de apoio.Eles acham que haverá um vazioapós pararem de fumar, que certassituações na vida jamais serão asmesmas. Isso é ilusão. O fato éque o ci garro não oferece nada.Ele apenas retira algo e depois odevolve, criando uma ilusão.

2. Embora seja a droga maispoderosa do mundo em razão davelocidade com que vicia, oindivíduo nunca fica dependenteao extremo. Como é uma droga deação rápida, em apenas três

semanas 99% da nicotinadesaparece do organismo, e ossintomas da síndrome deabstinência são tão leves que amaioria dos fumantes vive e morresem sequer perceber que os teve.

Você deve estar se perguntando por quetantas pessoas acham tão difícil parar,enfrentam meses de tortura e passam oresto da vida ansiando por um cigarro nosmomentos difíceis. A resposta é a segundarazão pela qual fumamos: a lavagemcerebral.

É fácil lidar com a dependênciaquímica. Quase todos os fumantes passama noite inteira sem um cigarro. Asíndrome de abstinência não faz com queacordem. Muitos saem do quarto de

manhã antes de acender o primeirocigarro. Outros tomam o café da manhãprimeiro. E outros esperam até chegar aotrabalho. Eles podem agüentar dez horasde abstinência sem se importar, mas, sepassarem dez horas durante o dia sem umcigarro, começam a arrancar os cabelos.

Muitos fumantes compram um carronovo e não fumam dentro dele. Muitos vãoa teatros, supermercados, igrejas, etc., e ofato de não poderem fumar ali não osperturba. Nos trens do metrô também nãohá protestos. Os fumantes ficam atésatisfeitos pelo fato de alguém ou algo osforçar a parar de fumar.

Hoje em dia, muitas pessoas evitam,automaticamente, fumar em casa ouquando estão na companhia de não-fumantes e não sentem um grande

desconforto por causa disso. Na verdade,inúmeros fumantes passam grandesperíodos do dia evitando fumar, sem fazernenhum esforço. Eu mesmo, quandofumava, costumava relaxar passando anoite toda sem um cigarro sequer. Nosmeus últimos anos como fumante, chegavaa ansiar pela noite, quando poderia pararde sufocar a mim mesmo. (Que “hábito”ridículo!)

É fácil lidar com a dependênciaquímica, mesmo enquanto você ainda estáviciado, e existem milhares de pessoasque continuam sendo fumantes ocasionaisa vida inteira. Elas são tão viciadasquanto um fumante inveterado. Existem atéfumantes inveterados que abandonaram o“hábito”, mas ainda fumam um charuto devez em quando e isso os mantém viciados.

Como sempre digo, o vício em nicotinanão é a principal questão. Ele apenas agecomo um catalisador para manter nossasmentes confusas em relação ao verdadeiroproblema: a lavagem cerebral.

Pode servir de consolo aos fumantes delonga data e aos fumantes inveteradossaber que parar é tão fácil para elesquanto para os fumantes ocasionais. Decerta maneira, é até mais fácil. Quantomais fundo você mergulha no “hábito”,mais ele o puxa para baixo e maior oganho quando você pára.

Um outro consolo para os fumantes ésaber que os boatos que circulam de vezem quando (por exemplo, “a nicotina levasete anos para sair do seu organismo”, ou“cada cigarro fumado representa cincominutos a menos em sua vida”) não são

verdadeiros.Não pense, porém, que os efeitos

maléficos do cigarro são exagerados.Infelizmente, os fatos costumam serbastante atenuados, mas a verdade é que aregra dos “cinco minutos” é apenas umaestimativa e só se aplica se você contrairuma doença fatal ou fumar até cair duro.

Na verdade, a droga nunca saicompletamente do organismo. Se háfumantes por perto, ela está na atmosfera eaté os que não fumam absorvem umapequena porcentagem dela. Entretanto, onosso organismo é uma máquinaespetacular e tem um enorme poder derecuperação, desde que você não tenhaprovocado uma doença irreversível. Separar agora, seu corpo irá recuperar-seem poucas semanas, quase como se você

nunca tivesse fumado.Como já disse, nunca é tarde demais

para parar. Eu ajudei a curar muitosfumantes de cinqüenta ou sessenta epoucos anos de idade, e mesmo algunscom mais de setenta ou oitenta. Umasenhora de 91 anos tratou-se numa dasnossas clínicas, junto com o filho de 66.Quando perguntei a ela por que haviadecidido abrir mão do cigarro, elarespondeu: “Para dar o exemplo a meufilho.” Seis meses depois, ela meprocurou para dizer que se sentia jovemoutra vez.

Quanto mais fundo o cigarro o arrasta,maior é o alívio ao parar de fumar.Quando eu finalmente parei, fui de cemcigarros por dia a ZERO e não tive umúnico sintoma forte. Foi, na verdade, um

processo agradável, até no período deabstinência.

Mas precisamos nos livrar da lavagemcerebral.

Capítulo 7A lavagem cerebral e o sócio

oculto

Como ou por que começamos a fumar?Para realmente entender isso, precisamosexaminar o expressivo poder dosubconsciente ou, como o chamamos, o“sócio oculto”.

Todos nós temos tendência a pensarque somos seres humanos inteligentes edeterminados que escolhem os próprioscaminhos na vida. A verdade é que 99%do que somos é moldado. Somos oproduto da sociedade na qual crescemos –o tipo de roupa que usamos, as casas em

que vivemos, nossos padrões básicos devida, até aqueles pontos nos quais somosdiferentes, como, por exemplo, o partidopolítico que apoiamos. O subconscientetem uma influência extremamentepoderosa em nossas vidas, e muitaspessoas podem ser iludidas até emassuntos relacionados a fatos e não aopiniões. Antes que Colombo velejasseao redor do mundo, a maioria das pessoasachava que a Terra era plana. Hoje,sabemos que é redonda. Se eu escrevessedúzias de livros tentando convencê-lo docontrário, não teria sucesso. Entretanto,quantos de nós já estivemos no espaçopara ver que nosso planeta é mesmoredondo? Ainda que você já tenha voadoou velejado ao redor do mundo, comopode saber se não esteve viajando em

círculos sobre uma superfície plana?Desde nossos primeiros anos de vida,

nossos subconscientes são bombardeadostodos os dias por informações que nosdizem que o cigarro relaxa, nos dáconfiança e coragem e é uma das coisasmais preciosas sobre a face da Terra.Você acha que estou exagerando? Quandonum filme ou numa peça de teatro umapessoa está para ser executada, qual é oseu último pedido? Isso mesmo, um cigarro. O impacto disso não fica registradono lado consciente da mente, mas o sóciooculto tem tempo de absorver amensagem. E o que ela está realmentedizendo é: “A coisa mais preciosa naTerra, meu último pensamento, meuúltimo desejo, é fumar um cigarro.” Nosfilmes de guerra, o homem ferido recebe

sempre um cigarro.É verdade que existem campanhas

publicitárias mostrando o oposto –câncer, pernas amputadas, mau hálito –,mas elas não fazem as pessoas pararem defumar. É claro que, pela lógica, deveriam,mas o fato é que não conseguem. Elassequer impedem os jovens de começarema fumar. Durante todos os anos em quefumei, acreditava honestamente que, se eusoubesse da ligação entre câncer depulmão e cigarros, jamais teria metornado um fumante. Mas a verdade é quenão faz a menor diferença. Hoje, aarmadilha é a mesma que, no século XVI,atraiu Sir Walter Raleigh, o homem queintroduziu o tabaco na Inglaterra. Ascampanhas antitabagistas só ajudam aconfundir mais as pessoas. Os próprios

maços, com suas adoráveis embalagensreluzentes que nos seduzem para queexperimentemos o seu conteúdo, trazemuma advertência contra os perigos docigarro. Mas o fumante nunca se dá aotrabalho de ler tal advertência, quantomais refletir sobre suas implicações.

Ironicamente, a força mais poderosadessa lavagem cerebral é o própriofumante. Dizer que essas pessoas sãofracas fisicamente é mentira. É preciso serforte para lidar com o veneno.

Essa é uma das razões pelas quais osfumantes se recusam a aceitar asesmagadoras estatísticas que provam queo tabagismo prejudica a saúde. Todosconhecem um tio que fumava quarentacigarros por dia, nunca ficou doente eviveu oitenta anos. Eles se recusam a

considerar os milhares de indivíduos quemorrem ainda jovens ou o fato de que otal tio poderia ainda estar vivo se nãotivesse fumado.

Se você fizer uma pequena pesquisaentre amigos e colegas, descobrirá que amaioria dos fumantes é, na verdade,composta de pessoas que têm muita forçade vontade. Em geral, são empresários,executivos ou pessoas que levam umavida estressante, como médicos,advogados, policiais, professores,vendedores, enfermeiras, secretárias,donas de casa com filhos, etc. A maiorilusão dos fumantes é achar que o cigarroalivia o estresse. O fumo costuma serassociado ao tipo dominador, que assumeresponsabilidades e sabe lidar com oestresse. E esse é o tipo de pessoa que

admiramos e, portanto, tendemos a imitar.Um outro grupo com tendência a se viciaré formado por indivíduos que exercematividades monótonas, pois outroimportante fator que leva ao tabagismo é otédio. Entretanto, a idéia de que fumaralivia o tédio também é uma ilusão.

O alcance da lavagem cerebral éinacreditável. A sociedade condena osque cheiram cola, fazem uso de heroína,etc. No Reino Unido, o número de mortescausadas pelo vício de cheirar cola nãochega a dez por ano e por heroína, a cempor ano.

Existe uma outra droga, a nicotina, naqual mais de 60% das pessoas se viciamem algum momento e a maioria delaspassa o resto da vida pagando caro poresse vício. Quase todo o dinheiro extra

que ganham é gasto em cigarros e centenasde milhares de pessoas têm suas vidasarruinadas todos os anos porque seviciam. O tabagismo é o assassino númeroum da sociedade, se incluirmos nasestatísticas os acidentes nas estradas eincêndios provocados pelo cigarro.

Por que achamos que cheirar cola efazer uso de heroína são grandes males se,até bem pouco tempo, considerávamos adroga na qual gastamos boa parte donosso dinheiro – e que está nos matando –um hábito social perfeitamente aceitável?Ultimamente, fumar passou a ser umhábito ligeiramente inoportuno que podeprejudicar a nossa saúde, mas o cigarro élegal e está à venda em embalagenslustrosas em bancas de jornais, bares,padarias, clubes e postos de gasolina. O

maior interessado é o governo. NaInglaterra, ele ganha 8 bilhões de libras (oequivalente a cerca de 32 bilhões dereais) por ano graças aos fumantes, e asindústrias do tabaco gastam mais de 100milhões de libras (cerca de 400 milhõesde reais) por ano só em propaganda.

Você precisa começar a criarresistência a essa lavagem cerebral e agircomo se estivesse comprando umautomóvel de segunda mão. Ou seja, vocêdeve ser gentil, mas não acreditar em nadaque o vendedor lhe disser.

Comece a enxergar o que há por trásdesses maços brilhantes e veja toda asujeira e todo o veneno que se escondemali. Não se deixe enganar pelos beloscinzeiros ou pelo isqueiro de ouro dosmilhões de indivíduos que foram iludidos.

Pergunte a si mesmo:Por que estou fumando?Eu realmente preciso fumar?NÃO, É CLARO QUE VOCÊ NÃO

PRECISA.Eu considero este aspecto da lavagem

cerebral o mais difícil de ser explicado:por que um ser humano que em outrassituações da vida mostra-se racional einteligente torna-se um perfeito idiotaquando se trata do seu próprio vício? Ficotriste ao confessar que, entre os milharesde fumantes que ajudei, eu fui o maisidiota de todos.

Não apenas cheguei a fumar cemcigarros por dia como também meu paiera um fumante inveterado. Ele era umsujeito forte, que morreu ainda jovem porcausa desse vício. Ainda me lembro de

observá-lo quando eu era criança. Todasas manhãs ele tossia e cuspia o tempotodo. Eu podia perceber que ele nãoestava gostando nada daquilo e, para mim,estava claro que ele havia sido possuídopor algo maligno. Lembro-me de dizer àminha mãe: “Nunca me deixe ser umfumante.”

Aos 15 anos, eu era um fanático pelaboa forma física. O esporte era a minhavida e eu era um rapaz cheio de coragem econfiança. Se alguém me dissesse,naquele tempo, que eu acabaria fumandocem cigarros por dia, eu teria apostadotudo o que conseguisse ganhar na vidapara provar que isso jamais aconteceria.

Aos quarenta anos, eu era umdependente da nicotina. Já estava noestágio em que não conseguia executar a

mais comum das atividades físicas oumentais sem primeiro acender um cigarro.Para a maioria dos fumantes, os estímulospara fumar vêm das situações normais deestresse, como falar ao telefone ouconviver com os outros. Eu não era capazsequer de mudar o canal da televisão outrocar uma lâmpada sem um cigarro naboca.

Eu sabia que aquilo estava me matando.Não havia como enganar a mim mesmo.Mas não consigo entender por que eu nãoconseguia enxergar o que o cigarro estavafazendo comigo mentalmente. A verdadeestava quase pulando no meu colo emordendo o meu nariz. O mais ridículo éque os fumantes costumam ter, em algummomento da vida, a ilusão de que gostamdo cigarro. Eu nunca tive essa ilusão.

Fumava porque achava que o cigarrofacilitava a minha concentração e meacalmava. Agora que sou um não-fumante,o mais difícil é acreditar que aqueles diasrealmente existiram. É como acordar deum pesadelo, não há outra comparação. Anicotina é uma droga e nossos sentidosficam drogados – o paladar, o olfato. Opior aspecto do cigarro não é o dano àsaúde e ao bolso, mas a distorção damente. Nós buscamos qualquer desculpaplausível para continuar a fumar.

Eu me lembro de uma fase em que,depois de uma tentativa fracassada deparar de fumar, troquei o cigarro pelocachimbo, acreditando que seria menosprejudicial à saúde e diminuiria aquantidade de nicotina inalada.

Alguns cachimbos são totalmente

detestáveis. O aroma pode até seragradável, mas são horríveis de fumar.Por cerca de três meses, a ponta da minhalíngua ficou ferida. Quando fumamoscachimbo, uma substância pegajosa emarrom fica armazenada no fornilho. Devez em quando, sem perceber, levantamoso fornilho e, sem querer, engolimos umbocado daquela coisa imunda. Em geral, oresultado é uma vontade imediata eincontrolável de vomitar, seja na frente dequem for.

Levei três meses para aprender a lidarcom o cachimbo, mas o que não consigoentender é por que, em algum momentodaqueles três meses, não parei paraperguntar a mim mesmo por que estava mesubmetendo àquela tortura.

É claro que, quando aprendem as

artimanhas do cachimbo, seus fumantesparecem sempre muito satisfeitos. Muitosdeles estão convencidos de que ocachimbo lhes dá prazer. Mas por queprecisaram se esforçar tanto paraaprender a gostar do cachimbo, quandoviviam perfeitamente felizes sem ele?

A resposta é que, uma vez que vocêfica viciado em nicotina, a lavagemcerebral aumenta. O seu subconscientesabe que o pequeno monstro precisa seralimentado. O resto fica bloqueado namente. Co mo eu já disse, é o medo quemantém as pessoas fu man do, o medodaquela sensação de vazio e instabilidadeque sentimos quando interrompemos ofornecimento de nicotina. O fato de vocênão ter consciência dele não quer dizerque ele não esteja lá.

A lavagem cerebral é o que maisdificulta abrir mão do cigarro. A lavagemcerebral da educação que recebemos nasociedade, reforçada pela lavagemcerebral de nosso vício e – a maispoderosa de todas – a lavagem cerebralde nossos amigos, parentes e colegas.

Você percebeu que eu me referi a“abrir mão do cigarro”? Este é umexemplo clássico da lavagem cerebral. Aexpressão implica um verdadeirosacrifício. A grande verdade é que não háabsolutamente nada do que abrir mão. Aocontrário, você vai se libertar de umaterrível doença e vai obter resultadosaltamente positivos. Vamos começar aacabar com essa lavagem cerebral nestemomento. A partir de agora, não vou maisusar a expressão “abrir mão”. Direi

apenas parar, desistir, abandonar, ou apalavra que melhor exprime o que vaiacontecer: ESCAPAR!

Em primeiro lugar, a única coisa quenos convence a fumar é o fato de as outraspessoas estarem fumando. Sentimos queestamos perdendo alguma coisa. Entãofazemos um grande esforço para nosviciar e nunca descobrimos o que, afinal,estávamos perdendo. Mas, todas as vezesque vemos um fumante, ele nos dá acerteza de que precisa existir algo mais nocigarro, senão ele não estaria fu mando.

Mesmo depois de ter parado, o ex-fumante sente que está sendo privado dealguma coisa quando vê alguém acenderum cigarro numa festa ou num eventosocial qualquer. Ele se sente seguro eacredita que pode fumar apenas um. E,

antes que perceba, a dependência está devolta.

Essa lavagem cerebral é muitopoderosa e você precisa estar conscientede seus efeitos. Depois da guerra, umasérie protagonizada pelo detetive PaulTemple se tornou muito popular na rádioBBC. Eu tinha sete anos quando ouvi umprograma que abordava o vício emmaconha. Sem que ninguém soubesse, osvilões da história estavam vendendocigarros que continham essa erva. Nãohavia efeitos nocivos. As pessoassimplesmente ficavam viciadas e tinhamde continuar comprando os cigarros. (Emminhas consultas, centenas de fumantes,literalmente, admitiram que haviamexperimentado fumar maconha. Nenhumdeles disse que se tornou dependente.)

Aquela foi a primeira vez em que ouvifalar do vício em drogas.

O conceito de vício, de ser compelidoa usar a droga, deixou-me horrorizado eaté hoje, apesar de eu estar convencido deque a Cannabis sativa não vicia, não teriacoragem de dar uma única baforada numcigarro de maconha. É mesmo uma ironiaque eu tenha acabado por me tornarviciado na droga que mais vicia nomundo. Pena que Paul Temple não tenhame alertado sobre o cigarro propriamentedito. É irônico também que, quarenta anosmais tarde, a humanidade esteja gastandouma fortuna incalculável em pesquisassobre o câncer, enquanto outros milhõessão gastos para persuadir jovens a seviciarem em nicotina, gerando enormeslucros para o governo.

Estamos prestes a pôr um fim àlavagem cerebral. Não é o nãofumante queestá sendo privado de algo, mas o infelizfumante, que passa toda a sua vidadesperdiçando:

SAÚDEENERGIADINHEIROPAZ DE ESPÍRITOCONFIANÇACORAGEMRESPEITO POR SI MESMOFELICIDADELIBERDADE

E o que ele ganha com esse enormesacrifício?

ABSOLUTAMENTE NADA, exceto a ilusãode voltar ao estado de paz, tranqüilidadee confiança que o não-fumante usufrui o

tempo todo.

Capítulo 8Aliviando os sintomas dasíndrome de abstinência

Como expliquei anteriormente, osfumantes acham que acendem seu cigarroporque isso lhes dá prazer, relaxamentoou algum tipo de estímulo. A verdadeirarazão por que fumam, porém, é a busca doalívio dos sintomas da síndrome deabstinência.

Nos primeiros tempos, nós usamos ocigarro como um apoio social. Podemospegá-lo ou largá-lo. Entretanto, a sutilcorrente já começa a se formar. Nossosubconsciente vai aprendendo, aos

poucos, que fumar um cigarro emdeterminados momentos costuma serprazeroso.

Quanto mais nos viciamos na droga,maior a necessidade de aliviar a síndromede abstinência, e quanto mais para o fundoo cigarro nos leva, maior a nossa ilusãode que ele está fazendo exatamente ooposto. Tudo acontece tão devagar, tãogradualmente, que nem percebemos. Osdias passam e nós não nos sentimosdiferentes. Grande parte dos fumantes sópercebe a própria dependência quandotenta parar e, mesmo assim, muitos nãoaceitam esse fato. Alguns passam a vidacom a cabeça enterrada na areia, fingindonão enxergar a verdade e tentandoconvencer a si mesmos de que têm prazerem fumar.

Eu tive o seguinte diálogo com centenasde adolescentes:

EU: – Você tem consciência de que anicotina é uma droga e que o únicomotivo pelo qual você está fumandoé o fato de não conseguir parar?A: – Que bobagem! Eu gosto defumar. Se não gostasse, pararia.EU: – Então pare por uma semana, sópara me provar que, se quiser, vocêconsegue.A: – Não preciso fazer isso. Eu gostode fumar. Se quisesse parar, eupararia.EU: – Então pare por uma semana,para provar a si mesmo que você nãoestá viciado.A: – Por que eu faria isso? Eu gosto

de fumar.

Como já afirmei, os fumantes tendem aaliviar os sintomas da síndrome deabstinência nos momentos de estresse,tédio, concentração, relaxamento, ouquando há uma combinação dessesfatores.

Capítulo 9Estresse

Estou me referindo não apenas àsgrandes tragédias da vida, mas também àssituações de estresse secundário, como oscontatos sociais, os telefonemas, asansiedades da dona de casa que lida coma agitação das crianças pequenas, etc.

Vamos examinar o caso dostelefonemas. Para a maioria das pessoas,o telefone traz um pouco de estresse, maspara quem trabalha ele pode ser uma fonteainda maior de ansiedade. Em geral, aschamadas não são de clientes satisfeitosnem do chefe desejando dar os parabénspor um trabalho bem-feito. É comum

algum tipo de agressividade – algo quenão está dando certo ou alguém fazendoexigências. Nesses momentos, o fumanteacende um cigarro, se é que já não estavafumando antes. Ele não sabe por que o faz,mas sabe que, de alguma forma, issoparece ajudá-lo.

O que realmente acontece é o seguinte:sem ter consciência do fato, o fumante jávinha sofrendo um incômodo (ou seja, asíndrome de abstinência). Ao aliviarparcialmente esse desconforto ao mesmotempo em que atenua o estresse normal, ofumante sente-se melhor, pois há umaredução do estresse total. Nesse aspecto,essa melhora não é uma ilusão. O fumanterealmente se sente melhor do que antes deacender o cigarro. Porém, mesmoenquanto fuma o tal cigarro, ele está mais

tenso do que estaria se fosse um não-fumante, porque quanto mais ele seaprofunda no uso da droga, mais ela oderruba e menos o ajuda a se recuperar.

Eu prometi que não haveria “tratamentode choque” neste livro. E o exemplo quevou dar agora não tem a intenção dechocá-lo, e sim de enfatizar que o cigarrodestrói seus nervos, em vez de relaxá-los.

Imagine chegar a um ponto em que ummédico lhe diga que, se você não parar defumar, ele terá de amputar suas pernas.Somente por um instante, tente visualizar avida sem pernas. Tente pensar no estadode espírito de um homem que, apesardesse aviso, continua a fumar e tem suaspernas amputadas.

Eu costumava ouvir histórias comoessa, mas achava que eram mirabolantes

demais. Na verdade, eu desejava quealgum médico me dis sesse algo assim,porque aí eu teria parado de vez.Entretanto, eu já estava esperando umahemorragia cerebral a qualquer momento,o que me faria perder não só as pernascomo também a vida. E não via a mimmesmo como um sujeito excêntrico,apenas como um fumante inveterado.

Essas histórias não têm nada deextraordinário. É exatamente isso que essaterrível droga faz com você. À medidaque o tempo passa, ela vai aniquilando asua ousadia, a sua coragem. Quanto maisela destrói a sua coragem, mais você éenganado e levado a pensar que o cigarroestá fazendo o contrário. Todos nós jáouvimos falar do pânico que toma contados fumantes quando, no meio da noite,

temem ficar sem cigarros. Os não-fumantes não passam por isso. É o cigarroque causa essa sensação. O cigarro nãoapenas destrói os seus nervos comotambém é um poderoso veneno quedevasta progressivamente a sua saúdefísica. Quando atinge o estágio em que ofumo o está matando, o indivíduo acreditaque é no cigarro que está a sua coragem eque não pode enfrentar a vida sem ele.

Tenha bem claro em sua mente que ocigarro não está acalmando seus nervos.Ele está, vagarosa e incessantemente,destruindo-os. Um dos grandes benefíciosde se quebrar esse “hábito” é o retorno dasegurança e da autoconfiança.

Capítulo 10Tédio

Se você está fumando neste momento,provavelmente já tinha se esquecido dissoaté que eu o lembrasse.

Um outro mito sobre fumar é que oscigarros aliviam o tédio. Tédio é umestado de espírito. Quando você fuma umcigarro, a sua mente não fica dizendo:“Estou fumando um cigarro. Estoufumando um cigarro.” O único momentoem que isso acontece é quando você estásem fumar há muito tempo ou estátentando diminuir. Isso também pode teracontecido com os primeiros cigarros quevocê fumou logo depois de uma tentativa

fracassada de parar.O que ocorre é o seguinte: se você é

viciado em nicotina e não está fumando,sente que alguma coisa está faltando. Setiver algo com que se ocupar que não sejaestressante, você pode passar longosperíodos sem ser incomodado pelaausência da droga. No entanto, quandovocê está entediado, não há nada paradesviar sua mente, então você alimenta omonstro.

Quando você está se permitindo fumarà vontade (ou seja, não está tentandodiminuir ou parar), até o fato de acenderum cigarro torna-se subconsciente.Mesmo os que fumam cachimbo oucigarro de enrolar executam o ritualautomaticamente. Quando tenta se lembrardos cigarros que acendeu durante o dia, o

fumante só se recorda de um pequenonúmero deles – por exemplo, o pri meirodo dia ou o que fumou após uma refeição.

A verdade é que os cigarros tendem,indiretamente, a aumentar o tédio porquefazem com que o indivíduo se sintaletárgico. Então, em vez de se dedicar aalguma atividade energética, ele passa otempo ente diado, aliviando os sintomasda síndrome de abstinência.

É por isso que reagir à lavagemcerebral é tão importante. Como sabemosque os fumantes têm propensão a fumarquando estão entediados e como desde onascimento ouvimos falar que o cigarroalivia o tédio, não nos passa pela cabeçaquestionar o fato. Nós também fomosconvencidos de que goma de mascarrelaxa. Realmente, quando estão

estressadas, as pessoas tendem a rangeros dentes, e qualquer chiclete lhes dá umarazão lógica para fazer isso. Na próximavez em que você observar alguém comuma goma de mascar na boca, presteatenção e pergunte a si mesmo se essapessoa lhe parece relaxada ou tensa.Observe os fumantes que acendem umcigarro por causa do té dio. Eles aindaparecem entediados. O cigarro não atenuao problema.

Como ex-fumante crônico, possogarantir que não há atividade maisdesinteressante na vida do que acender umcigarro imundo, um após o outro, dia apósdia, ano após ano.

Capítulo 11Concentração

O cigarro não ajuda na concentração.Essa é apenas mais uma das muitasilusões.

Quando você está tentando seconcentrar, automaticamente evita tudo oque possa distraí-lo. O fumante já começasofrendo: o pequeno monstro deseja a suadose de nicotina. Então, quando precisa seconcentrar, o indivíduo nem pensa:acende um cigarro automaticamente paracolocar um fim no desejo daquelemomento, continua o trabalho que estáfazendo e já nem se lembra mais de queestá fumando.

Cigarros não favorecem aconcentração. Eles ajudam a atrapalhálaporque, em pouco tempo, a síndrome deabstinência deixa de ser totalmentealiviada. O fumante aumenta a quantidadede cigarros e o problema fica cada vezmaior.

A concentração também é afetada demaneira negativa por outro motivo. Oprogressivo entupimento das artérias eveias pelo veneno acumulado limita aoxigenação do cérebro. Na verdade, suaconcentração e inspiração serão muitomaiores quando esse processo forrevertido.

Foi o aspecto da concentração que meimpediu de obter sucesso com o métodobaseado na força de vontade. Podiatolerar a irritabilidade e o mau humor,

mas, quando tinha de me concentrar emalgo difícil, eu precisava de um cigarro.Por isso, fiquei em pânico quandodescobri que não era permitido fumardurante as provas de contabilidade. Eu jáera um fumante inveterado e estavaconvencido de que não conseguiria meconcentrar por três horas sem um cigarro.Mas acabei passando e não me lembro deter pensado em fumar enquanto fazia osexames, ou seja, na hora do aperto aausência do cigarro não me perturbou.

A perda de concentração sofrida pelosfumantes quando tentam largar o cigarronão é, de fato, causada pela abstinênciafísica da nicotina. São os bloqueiosmentais que atrapalham o fumante. Comovocê reage a um bloqueio? Se já nãoestiver fumando, acende imediatamente

um cigarro. Mas isso não desfaz obloqueio mental. Então, qual é a suaatitude? Continua a fazer o que precisa serfeito, tal e qual os não-fumantes. Umfumante não culpa o cigarro por nada. Elenunca tem tosse porque fuma – temresfriados freqüentes. No instante em quepára de fumar, tudo o que não dá certo navida passa a ser culpa da ausência docigarro. Quando tem um bloqueio mental,em vez de lidar com o problema, ele diz:“Se eu pudesse acender um cigarro agora,resolveria a situação.” Então ele começaa questionar a própria decisão de parar defumar.

Se você acredita que fumar realmenteajuda na concentração, preocupar-se comisso é uma garantia de que não será capazde manter a atenção no que está fazendo.

A causa do problema está na insegurançae não nos sintomas físicos da falta denicotina. Lembre-se sempre: são osfumantes que passam pela síndrome deabstinência e não os não-fumantes.

Quando apaguei o meu último cigarro,passei de um dia para o outro de cemcigarros a zero sem nenhuma perda deconcentração aparente.

Capítulo 12Relaxamento

A maioria dos fumantes acha que ocigarro ajuda a relaxar. A verdade é que anicotina é um estimulante químico. Sevocê medir seus batimentos antes e depoisde fumar dois cigarros consecutivos, vaiperceber um aumento marcante no númerode pulsações.

O cigarro após a refeição costuma ser ofavorito dos fumantes. Normalmente, esseé um momento do dia em que as pessoasparam de trabalhar, relaxam, saciam afome e a sede e ficam completamentesatisfeitas. Entretanto, o pobre fumantenão consegue relaxar, pois ainda tem de

satisfazer uma outra fome. Ele acreditaque o cigarro é aquele algo mais que lhefalta, mas trata-se do pequeno monstroque precisa ser alimentado.

A verdade é que o viciado em nicotinanunca consegue ficar completamenterelaxado. E, à medida que o tempo passa,ele vai ficando pior.

Com certeza, as pessoas menosrelaxadas na face da Terra são osexecutivos de cerca de cinqüenta anos quefumam um cigarro atrás do outro, estãosempre tossindo e cuspindo, têm pressãoalta e irritam-se com facilidade. Nesseestágio, o cigarro já não alivia mais ossintomas que ele mesmo criou.

Lembro-me muito bem de quando euera um jovem contador e pai de família.Quando um de meus filhos fazia qualquer

coisa errada, eu perdia a paciência numamedida desproporcional ao erro cometido. Acreditava que havia um demôniodentro de mim. Hoje sei que havia mesmo,mas não era uma falha de caráter ou algoinerente à minha personalidade, e sim opequeno monstro da nicotina. Naquelaépoca, eu achava que tinha todos osproblemas do mundo, mas hoje, ao olharpara trás, fico me perguntando de ondevinha todo aquele estresse. Em todos osoutros aspectos, eu tinha as rédeas daminha vida. A única coisa que mecontrolava era o cigarro. O mais triste éque até hoje não consegui convencer meusfilhos de que o cigarro era a causa de todaa minha irritabilidade. Afinal, sempre queeles ouvem um fumante tentando justificaro próprio vício, a mensagem que recebem

é: “O cigarro me acalma. Ele me ajuda arelaxar.”

Há cerca de dois anos, as autoridadesque lidam com adoção em meu paísameaçaram impedir que fumantesadotassem crianças. Um homem telefonou,irritado, e disse: “Vocês estão totalmenteerrados. Lembro-me muito bem de minhainfância: sempre que eu tinha algumassunto delicado para tratar com minhamãe, era só esperar que ela acendesse umcigarro e ela logo ficava mais relaxada.”Por que ele não podia conversar com amãe quando ela não estava fumando? Porque os fumantes ficam tão tensos quandonão estão fumando, mes mo depois de umaboa refeição? Por que os não-fumantesestão completamente descontraídos nessamesma situação? Por que os fumantes não

conseguem relaxar sem um cigarro? Napróxima vez em que for a umsupermercado e vir uma jovem mãegritando com os filhos, observe-a quandosair. A primeira coisa que ela vai fazer éacender um cigarro. Comece a observaros fumantes, especialmente quando nãopodem fumar. Você verá que eles levamas mãos à boca, ou estão sempre movendoos polegares, batendo os pés, mexendonos cabelos, trincando os dentes. Osfumantes nunca estão tranqüilos. Eles nemsabem mais o que é um ser humanocompletamente relaxado. Essa é uma dasmuitas alegrias que eles não têm.

Fumar pode ser comparado a umamosca presa numa planta carnívora. Noinício, a mosca está sugando o néctar. Emalgum momento imperceptível, porém, a

planta começa a sugar a mosca.Não está na hora de você sair dessa

planta?

Capítulo 13Cigarros combinados

Não, a expressão cigarro combinadonão significa fumar dois cigarros aomesmo tempo. Embora pareça loucura,uma vez queimei a mão tentando colocarum cigarro na boca quando já havia outroali. Mas esse comportamento não é tãoidiota quanto parece. Como eu já disse,com o passar do tempo o cigarro deixa dealiviar os sintomas da abstinência e,mesmo quando está fumando, você senteque ainda falta alguma coisa. Essa é aterrível frustração de quem acende umcigarro atrás do outro. A pessoa precisade um estímulo, mas já está fumando. Por

isso, muitas vezes, os fumantes recorrem àbebida ou a outras drogas. Mas estou medesviando do assunto.

Um cigarro combinado é aquele que seacende por duas ou mais das razões quenos levam a fumar. Eventos sociais,festas, casamentos e encontros emrestaurantes são exemplos de ocasiões aomesmo tempo estressantes e relaxantes. Aprincípio, parece contraditório, mas nãoé. Qualquer forma de socialização podeser estressante, mes mo com amigos. E,por outro lado, você deseja se divertir eficar completamente descontraído.

Em algumas situações, as quatro razõesestão presentes. Dirigir pode ser umadelas. Se você estiver saindo de umasituação tensa, como uma visita aodentista ou ao médico, já pode relaxar. Ao

mes mo tempo, dirigir sempre envolvealguma dose de estresse. Sua vida está emjogo. Você precisa se concentrar. Mesmoque não tenha consciência desses doisúltimos fatores, o fato de seremsubconscientes não significa que nãoestejam ali. E se você ficar preso numengarrafamento, ou se tiver um longocaminho a percorrer, pode sentir-seentediado.

Outro exemplo clássico é o jogo decartas. Se for algo como bridge oupôquer, é preciso concentrar-se. Se vocêestiver perdendo mais do que pode, ojogo se torna estressante. Longos períodossem receber uma carta decente podem sertediosos. E enquanto tudo isso acontece,você está, teoricamente, relaxando.Durante um jogo de cartas, por mais leves

que sejam os sintomas da síndrome deabstinência, todos os fumantes fumam umcigarro atrás do outro, até mesmo os quecostumam fumar eventualmente. Oscinzeiros transbordam. Há uma nuvemconstante acima de todas as cabeças. Sevocê perguntasse a qualquer dosjogadores se ele estava se divertindo, aresposta seria: “E precisa perguntar?”Com freqüência, depois de noites comoessas, chegamos à conclusão de que já éhora de parar de uma vez por todas.

Esses cigarros combinados costumamser especiais. Quando pensamos napossibilidade de parar, imaginamos queeles nos farão mais falta do que os outros.Acreditamos que, sem eles, a vida nuncamais será tão agradável. Mas, no fundo,estamos falando do mesmo princípio:

esses cigarros simplesmente nos fornecemalívio aos sintomas da síndrome deabstinência, e há momentos em que temosuma necessidade maior de aliviá-los.

Vamos deixar bem claro: o especialnão é o cigarro, mas a ocasião. Quandotivermos eliminado a necessidade defumar, essas ocasiões se tornarão maisagradáveis e as situações de estresseserão menos desgastantes.

Capítulo 14Do que estou abrindo mão?

DE ABSOLUTAMENTE NADA! O que tornadifícil parar é o medo. Medo de quesejamos privados de nosso prazer ou denosso apoio. Medo de que certassituações agradáveis nunca mais sejam asmesmas. Medo de nos tornarmosincapazes de lidar com situaçõesestressantes.

Em outras palavras, o efeito dalavagem cerebral é levar-nos a acreditarque existe uma fraqueza dentro de nós, ouque existe algo inerente ao cigarro de queprecisamos, e que sentiremos um vazioquando pararmos de fumar.

Entenda bem: OS CIGARROS NÃOPREENCHEM UM VAZIO. ELES O CRIAM!

Os nossos corpos são a criação maissofisticada sobre a face do planeta. Nãoimporta se você acredita num criador,num processo de seleção natural ou numacombinação de ambos, seja qual for osistema ou o ser que inventou o corpohumano, ele é mil vezes mais eficiente doque o homem! O homem não conseguecriar nem uma microscópica célula viva,quanto mais os milagres da visão, dareprodução, do sistema circulatório, docérebro. Se o criador ou o processopretendesse que fôssemos fumantes, terianos dotado de um filtro ou dispositivopara manter o veneno fora do organismo,além de algum tipo de chaminé.

A verdade é que nossos corpos

possuem um dispositivo infalível deadvertência que se revela sob a forma detosse, tontura, mal-estar, etc., e nósignoramos esse aviso e nos arriscamos.

A grande verdade é que não há nada doque abrir mão. Assim que livrar o seuorganismo daquele pequeno monstro e asua mente da lavagem cerebral, você nãovai mais querer cigarros ou precisardeles.

Os cigarros não melhoram as refeições.Eles as estragam. Eles destroem ossentidos do paladar e do olfato. Observeos fumantes num restaurante, acendendoum cigarro entre um prato e outro. Elesnão estão apreciando a comida. Malpodem esperar que ela acabe, pois estáatrapalhando o cigarro. Muitos fumamapesar de saber que isso prejudica os

não-fumantes. Não é que não tenhamconsideração, eles apenas se sentem malsem o cigarro. Os fumantes vivem umdilema: ou deixam de fumar e sentem-seinfelizes por não poderem alimentar seuvício, ou fumam e sentem-se infelizesporque estão incomodando os outros, oque os faz se sentirem culpados edesprezarem a si mesmos.

Observe os fumantes durante um eventoem que se deve esperar pelo brindeoficial. De repente, muitos delesdescobrem que precisam ir urgentementeao banheiro, mas o objetivo é dar umabaforada rápida. É nessa situação quevocê pode ver claramente como fumar éum vício. As pessoas não fumam porqueapreciam o ci garro, e sim porque sesentem profundamente infelizes sem ele.

Como muitos indivíduos começam afumar em ocasiões sociais, quando aindasão jovens e tímidos, passam a acreditarque não serão capazes de desfrutar essesmomentos sem o cigarro. Isso é umatremenda bobagem. O tabaco destrói aconfiança. A maior prova do medo que ocigarro instila nos fumantes é o efeito queele tem sobre as mulheres. Praticamentetodas elas são exigentes com a própriaaparência e não ousariam aparecer numafesta se não estivessem bem-vestidas eperfumadas. Entretanto, o fato de saberemque seu hálito cheira a um cinzeirofedorento não parece detê-las. Eu sei queisso as incomoda bastante – muitasmulheres odeiam o cheiro dos próprioscabelos e das próprias roupas –, mas nãoas impede de fumar. É realmente imenso o

medo que essa droga horrível provoca nofumante.

Os cigarros não nos ajudam nasreuniões sociais. Eles as destroem. Quemfuma tem de segurar uma bebida numa dasmãos e um cigarro na outra, tentar livrar-se da cinza e da contínua corrente deguimbas, tentar não jogar fumaça na carada pessoa com quem está conversando,perguntar a si mesmo se essa pessoaconsegue sentir o seu mau hálito ouperceber manchas em seus dentes.

Não apenas não há nada do que abrirmão como também há ganhos incríveis emlargar o cigarro. Quando os fumantespensam na possibilidade de parar defumar, tendem a concentrar-se na saúde,no dinheiro e no estigma social. Estes sãoaspectos válidos e importantes, mas eu,

pessoalmente, acredito que os maioresbenefícios que temos quando paramos defumar são psicológicos e, por uma sériede razões, eles incluem:

1. A volta da confiança e dacoragem.

2. A liberdade de uma escravidão.3. Não ter de passar a vida inteira

sofrendo com as terríveis nuvensnegras que rondam a nossacabeça, sabendo que somosdesprezados por metade dapopulação e, pior ainda, por nósmesmos.

A vida não é apenas melhor para quemnão fuma, mas infinitamente maisagradável. Não estou querendo dizer que

você será mais saudável e rico. Refiro-meao fato de que você será mais feliz epoderá desfrutar a vida com muito maisalegria.

Alguns fumantes acham difícil entendero conceito de “vazio”. Acredito que aanalogia que faço a seguir poderá ajudá-los.

Imagine que você tenha herpes labial.Eu possuo uma pomada excelente e lhedigo: “Experimente isso.” Você passa apomada e o problema desaparece deimediato. Uma semana depois, elereaparece. Você me pergunta: “Vocêainda tem um pouco daquela pomada?” Eeu respondo: “Pode ficar com ela. Vocêpode precisar de novo.” Você aplica oremédio e, num passe de mágica, oproblema desaparece outra vez. Mas o

herpes volta, maior e mais dolorido, e ointervalo entre as crises diminui cada vezmais. Com o passar do tempo, ele tomaconta do seu rosto inteiro e a dor torna-seinsuportável. As pequenas vesículasvoltam a cada meia hora. Você sabe que apomada vai removê-las temporariamente,mas fica bastante preocupado. Será que oproblema vai se espalhar pelo corpointeiro? Será que o intervalo entre ascrises vai desaparecer por completo?Você vai ao médico. Ele não conseguecurá-lo. Você tenta outras substâncias,mas nada o ajuda, a não ser a milagrosapomada.

Agora, você está completamentedependente da pomada. Nunca sai de casasem carregar um tubo. Quando viaja parao exterior, leva um estoque do remédio. E

agora, além das preocupações com suasaúde, você tem outro problema: euresolvo cobrar 300 reais pelo tubo. Vocênão tem escolha a não ser pagar.

Então, você lê na sessão de saúde dojornal que isso não está acontecendosomente com você. Muitas outras pessoasestão sofrendo do mesmo problema. Naverdade, os cientistas descobriram que apomada não cura a doença. O que ela fazé esconder as vesículas sob a pele. É apomada que faz o problema aumentar.Tudo o que você precisa fazer para livrar-se das vesículas é parar de usar apomada. O problema acabarádesaparecendo com o tempo.

Você continuaria a usar a pomada?Seria preciso ter força de vontade paranão usá-la?

Se você não acreditasse no artigo,ficaria apreensivo por uns dias, mas,quando percebesse que o herpes estavacomeçando a melhorar, o desejo ou anecessidade de usar a pomadadesapareceriam.

Você se sentiria infeliz? É claro quenão. Você sofria de um problema terrível,que imaginava ser insolúvel. De repente,encontra a solução. Mesmo que leve umano até que todas as vesículasdesapareçam, a cada dia, à medida quefor percebendo a melhora, você vaipensar: “Não é maravilhoso? Eu não voumorrer.”

Foi essa a mágica que aconteceucomigo quando apaguei aquele últimocigarro. Deixe-me esclarecer um ponto arespeito da analogia entre a pomada e o

herpes. Nessa história, o herpes não é ocâncer de pulmão, a esclerose arterial, oenfisema, a bronquite ou a doençacoronariana. Tudo isso vem junto com oherpes. Não é toda a fortuna que éliteralmente queimada, não é uma vidainteira de mau hálito e dentes manchados,não é a letargia nem a tosse ou adificuldade de respirar. Também não setrata dos anos passados sufocando a nósmesmos e desejando não ter feito isso, oudas vezes em que penamos porque nãotínhamos permissão para fumar. Não étoda uma existência sendo desprezadospor outras pessoas e, pior ainda, por nósmesmos. Tudo isso vem junto com oherpes. A doença é o que nos faz fechar osolhos para todas essas conseqüências. Éaquele sentimento de pânico que diz: “Eu

quero um cigarro.” Os não-fumantes nãosofrem com isso. Nosso pior sofrimento éo medo, e o maior benefício querecebemos ao parar de fumar é noslivrarmos desse medo.

Foi o que aconteceu comigo. Pareciaque uma névoa tinha desaparecido daminha mente. Eu podia enxergar com todaa clareza que aquele sentimento de pânicoao desejar um cigarro não era umafraqueza pessoal nem uma qualidademágica do cigarro. Ele fora originadopelo primeiro cigarro. A partir daí, cadaum que fumei alimentou esse pânico, aoinvés de aliviá-lo. Ou seja, o ci garro eraa causa do medo e não sua solução. Aomesmo tempo, eu podia perceber quetodos aqueles fumantes “felizes” estavampassando pelo mesmo pesadelo que eu

vivera. Talvez não tão forte quanto o meu,mas todos eles apresentavam os mesmosargumentos pífios para justificar suaestupidez.

COMO É BOM SER LIVRE!

Capítulo 15Escravidão auto-imposta

Em geral, quando os fumantes param, asrazões principais são saúde, dinheiro eestigma social. Parte da lavagem cerebraldessa terrível droga é a absolutaescravidão.

Sabemos que o homem lutouarduamente nos últimos séculos paraabolir a escravidão. Entretanto, o fumantepassa a vida sofrendo uma escravidãoauto-imposta. Ele parece não terconsciência de que, quando lhe épermitido fumar, desejaria ser um não-fumante. A maioria dos cigarros queacendemos na vida não nos traz nenhum

prazer e nós nem percebemos que osestamos fumando. Somente depois de umperíodo de abstinência é que temos ailusão de que gostamos do cigarro.

O cigarro só se torna algo preciosoquando estamos tentando diminuir suaquantidade ou evitá-lo ao máximo, ouquando a sociedade tenta nos forçar a nãofumar (por exemplo, em igrejas, hospitais,supermercados, teatros, etc.).

O fumante inveterado deve ter emmente que essa tendência vai crescer cadavez mais. Hoje são os trens do metrô.Amanhã serão todos os lugares públicos.

Já se foram os dias em que o fumante,ao chegar à casa de um amigo ou de umestranho, podia perguntar: “Você seincomoda se eu fumar?” Hoje em dia, aovisitar alguém pela primeira vez, ele

procura desesperadamente um cinzeiro naesperança de encontrar guimbas. Se nãohouver cinzeiros, ele tentará se controlar.Mas, se não conseguir, pedirá permissãopara fumar e terá uma grande chance deouvir: “Fume, se precisar”, ou “Eupreferia que você não fumasse. É que ocheiro fica impregnado no ambiente”.

O infeliz do fumante, que já estava sesentindo um pobre coitado, fica desejandoque o chão se abra e o engula.

No tempo em que eu fumava, ir à igrejaera um sufoco. No casamento da minhafilha, quando eu deveria estar me sentindoum pai orgulhoso, de pé, na frente detodos, o que eu estava fazendo? Estavapensando: “Tomara que acabe logo paraeu poder ir lá fora acender um cigarro.”

É interessante observar os fumantes

nessas ocasiões. Eles se agrupam. Nuncahá apenas um maço de cigarros, mas vintesendo passados de mão em mão, e aconversa é sempre a mesma:

– Você fuma?– Fumo. Pegue um dos meus.– Agora, não. Eu experimento mais

tarde.Eles acendem os cigarros, dão uma

baforada profunda e pensam: “Comosomos sortudos. Temos a nossa pequenarecompensa. O coitado do não-fumantenão tem nada disso.”

O “coitado” do não-fumante nãoprecisa de recompensa. Nós não fomosprojetados para passar a vidaenvenenando nosso organismo. O maispatético é que nem quando está com umcigarro na boca o fumante alcança o

sentimento de paz, confiança etranqüilidade que o não-fumanteexperimenta a vida inteira. O não-fumantenão fica na igreja agitado e rezando paraque seu problema simplesmentedesapareça. Ele pode usufruir a vida porinteiro.

Lembro-me também de estar jogandobocha com meus amigos e fingir queestava apertado para ir ao banheiro parapoder desaparecer por alguns instantes efumar. Não, não estou falando de umestudante de 14 anos, mas de um contadorformado de quarenta anos. Que patético! Emesmo quando eu voltava e continuava ajogar, não conseguia me divertir. Ficavalouco para que a partida acabasse logo eeu pudesse fumar outra vez, embora,teoricamente, aquele passatempo fosse

uma boa oportunidade para relaxar.Para mim, uma das maiores alegrias de

ser um não-fumante é estar livre dessaescravidão, ser capaz de desfrutar minhavida por inteiro e não passar metade delaansiando por um cigarro para, logo apósacendê-lo, desejar não tê-lo feito.

Quando estiver na casa ou nacompanhia de pessoas que não fumam, ofumante deve ter sempre em mente que osentimento de privação que estáexperimentando não é causado pelosfanáticos não-fumantes, mas pelo“pequeno monstro”.

Capítulo 16Economizarei X por semana

Repito mais uma vez: é a lavagemcerebral que torna difícil parar de fumare, quanto antes pudermos nos livrar dela,mais fácil será alcançar nosso objetivo.

De vez em quando, discuto compessoas a quem chamo de fumantesinveterados. Ou seja, aqueles indivíduosque podem pagar pelo vício, que nãoacreditam que isso prejudique a saúdedeles e que não estão preocupados com oestigma social. (Como já disse, eles sãouma raridade hoje em dia.)

Se for um homem jovem, eu costumolhe dizer: “Não posso acreditar que você

não esteja preocupado com o dinheiro queestá gastando.”

Em geral, os olhos dele se iluminam. Seeu tivesse mencionado a saúde ou oestigma social, ele se sentiria emdesvantagem, mas, quando se trata dedinheiro, já tem a resposta na ponta dalíngua: “Ora, isso não é problema paramim. É apenas X por semana e acho quevale a pena. É o meu único vício.”

Se for um indivíduo que fume vintecigarros por dia, eu lhe digo: “Nãoacredito que você não esteja preocupadocom o dinheiro. Durante a sua existência,você vai gastar mais de 50 mil reais comesse vício. Você sabe o que está fazendocom esse dinheiro? Você não o está sóqueimando ou jogando fora. Na verdade,você está arruinando a sua saúde física,

destruindo seus nervos e sua confiança,sujeitando-se a uma vida inteira deescravidão, mau hálito e dentesmanchados. Não é possível que isso não opreocupe.”

É evidente que os fumantes,principalmente os jovens, jamais calculamquanto gastarão com cigarros se fumarema vida inteira. A maior parte deles sópensa no preço de um maço. De vez emquando, eles fazem as contas para saberquanto gastam por semana, o que já éalarmante. Muito raramente (somentequando pensam em parar) fazem umaestimativa de quanto gastam por ano, oque é assustador. Mas a vida inteira – éinimaginável.

Entretanto, como esse é um bomargumento, o fumante crônico responde:

“Eu posso pagar por isso. É só X porsemana.” Ou seja, ele engana a si mesmo.

Então, eu digo: “Vou lhe fazer umaoferta que você não poderá recusar. Vocême paga 1.500 reais agora e eu lheforneço cigarros de graça para o resto davida.”

Se eu dissesse que aceitaria 1.500 reaispor um gasto futuro de mais de 50 milreais, qualquer pessoa faria o negócioantes que eu tivesse tempo de piscar osolhos, mas nenhum fumante, por maisinveterado que fosse, jamais aceitou aminha oferta. (Por favor, lembre-se de quenão estou me referindo a alguém comovocê, que tem planos de parar, mas a umapessoa que pretende fumar a vida inteira.)Por que será?

Em geral, nesse ponto da consulta, o

fumante diz: “Olhe, não estou realmentepreocupado com a questão do dinheiro.”Se você também pensa assim, pergunte asi mesmo por que não está preocupado.Por que em outros aspectos da vida vocêfaz o maior sacrifício para economizaralguns trocados, mas, quando se trata docigarro, gasta uma fortuna para seenvenenar e ainda “pendura” a conta?

A resposta a essas perguntas é aseguinte: todas as decisões que você tomana vida são resultado de um processoanalítico no qual os prós e os contras sãopesados até que você chegue a umaconclusão racional. Pode ser a respostaerrada, mas pelo menos é resultado de umprocesso de dedução racional. Sempreque um fumante analisa os prós e oscontras do cigarro, a resposta é: “PARE DE

FUMAR! VOCÊ É UM IDIOTA!” Portanto, todos– absolutamente todos – os fumantesseguem fumando não porque assim odesejam, não porque foi isso que decidiram, mas porque acham que nãoconseguem parar. Eles fazem umalavagem cerebral em si mesmos. Precisammanter suas cabeças enfiadas na areia.

Tire a areia dos olhos só por uminstante. Fumar é uma reação em cadeiaque forma uma corrente interminável. Sevocê não quebrar essa corrente, será umfumante pelo resto da vida. Agora, calculequanto você vai gastar com esse vício atéo último de seus dias. É claro que o totalvaria de indivíduo para indivíduo, masvamos imaginar que seja algo em torno de20 mil reais.

Em breve, você vai tomar a decisão de

fumar o seu último cigarro (mas aindanão, por favor – lembre-se das instruçõesiniciais). Tudo o que você tem de fazerpara continuar a ser um não-fumante é nãocair de novo na armadilha. Ou seja, nãofumar aquele primeiro cigarro. Se você ofizer, aquele único cigarro vai lhe custar20 mil reais.

Se você acha que essa é uma maneiraardilosa de encarar a situação, continuaenganando a si mesmo. Faça a conta eveja quanto você teria economizado senão tivesse fumado o seu primeirocigarro.

Se você considera esse argumentofactual, pergunte a si mes mo como sesentiria se ganhasse 20 mil reais naloteria. Você começaria a dançar dealegria. Então, comece a dançar! Você

está prestes a receber tal prêmio, e esse éapenas um dos magníficos benefícios quevocê vai ter.

Durante o período de abstinência, vocêpode se sentir tentado a fumar apenas umúltimo cigarro, mas saber que ele vai lhecustar 20 mil reais – ou quanto vocêcalcular – pode ajudá-lo a resistir àtentação!

Eu tenho feito essa oferta em programasde rádio e televisão há vários anos. Aindaacho incrível que nenhum fumante a tenhaaceitado. Costumo provocar váriosmembros do meu clube de golfe todas asvezes que reclamam do aumento do preçodo cigarro. Tenho até medo de que, se euinsistir demais, um deles acabe aceitandoa oferta. Eu perderia uma fortuna.

Se você estiver na presença de

fumantes alegres e animados que lhedigam o quanto gostam de fumar, avise aeles que você conhece um homem tolo osuficiente para lhes fornecer cigarrosgratuitos pelo resto de suas vidas se eleslhe pagarem um ano de cigarrosadiantado. Acha que alguém aceitaria aoferta?

Capítulo 17Saúde

Essa é a área na qual a lavagemcerebral é maior. Os fumantes acreditamque estão conscientes dos riscos que ocigarro traz à saúde. Pois não estão.

Mesmo no meu caso, quando esperavaque minha cabeça explodisse a qualquermomento e acreditava honestamente queestava preparado para aceitar asconseqüências, eu continuava enganando amim mesmo.

Se naqueles dias eu tivesse tirado umcigarro do maço e um alarme vermelhocomeçasse a tocar, seguido de uma vozdizendo “Muito bem, Allen, é este!

Felizmente, você recebeu um últimoaviso. Até agora você se safou, mas, sefumar mais um cigarro, sua cabeça vaiexplodir”, você acha que eu teriaacendido aquele cigarro?

Se está em dúvida quanto à resposta, váaté uma avenida de grande movimento,fique na beira da calçada, de olhosfechados, e tente imaginar que, antes deacender o próximo cigarro, você pode escolher entre parar de fumar ou atravessara avenida de olhos vendados.

Não há dúvida sobre qual seria a suaescolha. Eu vinha fazendo o que todofumante faz durante toda a vida: fechar amente e manter a cabeça enterrada naareia, esperando acordar de manhã e,simplesmente, não ter mais vontade defumar. Os fumantes não podem se permitir

pensar nos riscos à saúde. Senão, até ailusão de desfrutarem esse “hábito”desaparecerá.

Isso explica por que o tratamento dechoque usado pela mídia é tão ineficaz.Os programas e campanhas contra ocigarro feitos com o intuito de chocar osfumantes só são assistidos por quem nãofuma. Isso também explica por que osfumantes, lembrando aquele tio queconsumia quarenta cigarros por dia eviveu até os oitenta anos, ignoram osmilhares de indivíduos que morrem aindajovens por causa dessa droga venenosa.

Cerca de seis vezes por semana eutenho o seguinte diálogo com fumantes(em geral, os mais jovens):

EU: – Por que você deseja parar?

FUMANTE: – Não tenho dinheiro paramanter o hábito.EU: – Você não está preocupado com osriscos que o cigarro traz à saúde?FUMANTE: – Não. Eu poderia seratropelado por um ônibus amanhã.EU: – Mas você se jogaria debaixo deum ônibus propositalmente?FUMANTE: – É claro que não.EU: – Você não olha para a direita epara a esquerda antes de atravessar arua?FUMANTE: – É claro que olho.

Exatamente. O fumante faz de tudo paranão ser atropelado por um ônibus, masassume o grande risco de ficarincapacitado pelo uso do tabaco e pareceestar completamente alheio às

conseqüências desse fato. Como époderosa a lavagem cerebral!

Havia um jogador de golfe muitofamoso na Inglaterra que não participavado circuito norte-americano porque tinhamedo de viajar de avião. No entanto, elefumava um cigarro atrás do outro dentrodo campo. Não é estranho o fato de quejamais subiríamos num avião sesuspeitássemos que ele estivesse com ummínimo defeito, porém assumimos umrisco muito mais provável com o cigarro eparecemos ignorá-lo? E o que ganhamoscom isso?

ABSOLUTAMENTE NADA!Um outro mito comum sobre o cigarro é

a tosse do fumante. Muitos jovens quevêm me ver não estão preocupados com aprópria saúde porque não tossem. Mas a

verdade é que a tosse é um dos métodosinfalíveis da natureza para desfazer-se dematerial estranho depositado nos pulmões.Não é uma doença, apenas um sintoma. Osfumantes tossem porque seus pulmõesestão tentando livrar-se de substânciascancerígenas e tóxicas. Quando eles nãotossem, esses venenos permanecem nospulmões e, dessa maneira, podemprovocar o câncer. Os fumantes tendem anão se exercitar e têm o hábito de nãorespirar profundamente, procurando evitara tosse. Eu costumava acreditar que aminha tosse permanente acabaria mematando. O fato de eu ter expelido tantasujeira dos pulmões pode ter salvado aminha vida.

Pense da seguinte maneira: se vocêtivesse um excelente automóvel e o

deixasse enferrujar sem fazer nada arespeito, essa seria uma atitude bastanteinsensata, pois ele logo se transformarianuma montanha de ferrugem e não poderiamais levá-lo de um lugar para outro. Isso,porém, não seria o fim do mundo, apenasuma questão de dinheiro. Sempre haveriaa possibilidade de você comprar outrocarro. O seu corpo é o veículo que otransporta pela vida. Todos concordamque a saúde é nosso bem mais precioso.Esta é uma grande verdade que osmilionários doentes podem confirmar.Quase todas as pessoas já viveramsituações nas quais sofreram algumacidente ou ficaram doentes e rezarammuito para se curar. (COM QUE FACILIDADENOS ESQUECEMOS!) Quando nos tornamosfumantes, estamos não apenas permitindo

que a ferrugem tome conta de nossocorpo, mas também destruindosistematicamente o veículo do qualdependemos para seguir pela vida afora.E só temos um.

Pense bem. Você não precisa fazerisso. E lembre-se: fumar não está fazendoABSOLUTAMENTE NADA por você.

Abra os olhos por um minuto e perguntea si mesmo: se tivesse certeza de que opróximo cigarro seria aquele quecomeçaria a formar um câncer no seucorpo, você o fumaria? Esqueça a doença(é difícil imaginá-la), mas suponha quevocê tenha de ir ao hospital submeter-seàqueles terríveis exames e tratamentos –radioterapia, etc. Ora, você não estáplanejando o resto de sua vida. Você estáplanejando a sua morte. O que vai

acontecer à sua família, aos seus entesqueridos, aos seus planos e sonhos?

Com freqüência, vejo pessoas quepassam por isso. Elas não imaginavamque teriam de enfrentar algo assim. O piorde tudo não é a doença, mas terconsciência de que elas mesmas aprovocaram. Durante toda a nossa vidacomo fumantes, nós dizemos: “Vou pararamanhã.” Tente imaginar como se sente apessoa que “acionou o botão”. Para ela, alavagem cerebral acabou. Ela agoraenxerga o “hábito” como ele realmente é epassa o resto da vida pensando: “Por queenganei a mim mesmo dizendo queprecisava fumar? Se eu tivesse a chancede voltar no tempo…”

Pare de enganar a si mesmo. Você temessa oportunidade. É uma reação em

cadeia. Se você fumar o próximo cigarro,ele levará ao seguinte e assim por diante.Isso já está acontecendo!

Nas primeiras páginas deste livro,prometi que não haveria tratamento dechoque. Se você já decidiu que vai pararde fumar, isso não será chocante paravocê. Mas, se ainda está em dúvida, puleo resto deste capítulo e volte a ele quandotiver lido todo o livro.

Inúmeras estatísticas já foramelaboradas sobre os danos que o cigarrocausa à saúde. O problema é que, até ofumante decidir parar de fumar, elesimplesmente não quer saber delas. Asadvertências do Ministério da Saúdetambém são perda de tempo, pois ofumante coloca uma venda nos olhos. Se,inadvertidamente, ele lê alguma delas, a

primeira coisa que faz é acender umcigarro.

Os fumantes tendem a achar que osdanos à saúde são acontecimentoscasuais, como pisar numa mina. Coloqueisso na sua cabeça: já está acontecendo. Acada baforada, você está inalandosubstâncias cancerígenas, e o câncer não éa pior das doenças fatais ativadas pelocigarro. O tabaco também é um poderosofator que contribui para o aparecimento dedoenças cardíacas, arteriosclerose,enfisema, angina, trombose, bronquitecrônica e asma.

Quando eu ainda fumava, nunca tinhaouvido falar em arteriosclerose ouenfisema. Eu sabia que a tosse e o chiadoconstantes e os ataques de asma ebronquite cada vez mais freqüentes eram

o resultado direto do meu vício. Porém,embora me causassem desconforto, nãohavia nenhuma dor real e eu conseguialidar com esses problemas.

Confesso que a idéia de contrair câncerde pulmão me apavorava, motivo peloqual eu bloqueei esse pensamento. Éimpressionante observar como o temordos terríveis riscos à saúde ligados aocigarro é encoberto pelo medo de parar.Não é que este último seja maior. Oproblema é que, se pararmos hoje, opânico é imediato, ao passo que o pavorde contrair câncer de pulmão é um medofuturo. Por que enxergar a situação compessimismo? Talvez nada aconteça. Podeser que até lá eu já tenha até parado.

Nós temos a tendência de pensar nocigarro como um cabo-deguerra. De um

lado, o medo – faz mal à saúde, é caro,imundo e nos torna escravos. Do outrolado, as vantagens – é meu prazer, meuamigo, meu apoio. Nunca pensamos quenesse outro lado também está o medo.Não é que tenhamos tanto prazer assimcom o ci garro. O problema é que nossentimos infelizes sem ele.

Pense nos viciados em heroína queestejam sendo privados da droga – quesofrimento indigno eles enfrentam. Agora,imagine a enorme alegria que sentemquando lhes permitem enfiar uma agulhana veia e pôr fim àquele terrível anseio.Tente imaginar como alguém poderealmente acreditar que tem prazer emenfiar uma agulha hipodérmica na própriaveia.

Os que não são viciados em heroína

não sentem esse pânico. A heroína nãoalivia a sensação; ela a causa. Os não-fumantes não se sentem infelizes quandonão podem fumar após uma refeição.Somente os fumantes passam por isso. Anicotina não alivia essa sensação; aocontrário, ela a provoca.

O medo de contrair câncer de pulmãonão me fez parar porque eu acreditava quefumar era como caminhar sobre um campominado. Quem conseguisse escapar –ótimo. Quem não tivesse sorte pisarianuma das minas. O sujeito sabia do riscoque estava correndo e, se estavapreparado para assumi-lo, o que os outrostinham a ver com isso?

Se um não-fumante tentavaconscientizar-me desses riscos, eu usavaas típicas táticas evasivas que todos os

viciados invariavelmente adotam.

“A gente tem de morrer de algumacoisa.”É claro que sim, mas essa seria umarazão lógica para encurtar aprópria vida deliberadamente?

“Qualidade de vida é maisimportante do que longevidade.”É verdade, mas você não podeachar que a qualidade de vida deum alcoólico ou de um viciado emheroína é melhor do que a de umindivíduo livre de dependência.Você realmente acredita que aqualidade de vida de um fumante émelhor do que a de um nãofumante?O fumante perde em ambas as

opções – sua vida é, ao mesmotempo, mais curta e mais infeliz.

“Meus pulmões provavelmentesofrem mais danos por causa dosgases poluentes que são emitidospelo escapamento dos automóveis doque por causa do cigarro.”Mesmo que isso fosse verdade, seriaum motivo para castigar ainda maisos seus pulmões? Você poderiaconceber alguém idiota o bastantepara colocar a boca num cano dedescarga e inalar todo aqueleveneno?

POIS É ISSO QUE OS FUMANTESFAZEM!

Pense nessa comparação na próxima

vez em que observar um pobre fumantetragando um de seus “preciosos” cigarros!

Posso compreender por que acongestão do pulmão e os riscos decontrair câncer não me ajudaram a parar.Eu conseguia lidar com o primeiroproblema e bloquear minha mente para osegundo. Como você já sabe, meu métodonão visa assustar as pessoas para levá-lasa parar de fumar, muito pelo contrário –ele consiste em fazê-las perceber comosua vida será muito mais agradávelquando elas se libertarem.

Entretanto, acredito que, se tivessevisto o que estava acontecendo dentro domeu corpo, isso teria me ajudado a parar.Não estou me referindo à técnica demostrar a um fumante a verdadeira cor deseus pulmões. Pelas manchas que eu

observava em meus dentes e dedos, eraóbvio que meus pulmões não deviam seruma visão muito bonita (mas, pelo menos,ninguém podia enxergar os meuspulmões).

Estou me referindo ao progressivoentupimento das artérias e veias e à faltagradual de oxigênio e de nutrientes à qualmúsculos e órgãos do corpo sãosubmetidos, substituindo-os por venenos emonóxido de carbono (não apenas dosescapamentos dos carros, mas também docigarro).

Como a maioria dos motoristas, eutambém não gosto de pensar em deixaróleo e filtros sujos no motor do meucarro. Você pode imaginar um indivíduoque compra um Rolls-Royce novinho emfolha e nunca troca o óleo ou os filtros de

óleo? Pois é isso o que fazemos ao nossocorpo quando nos tornamos fumantes.

Muitos médicos hoje em dia relacionamtoda sorte de doenças ao cigarro,inclusive diabetes, câncer cervical ecâncer de mama. Isso não é surpresa paramim. A indústria do tabaco tem seesforçado em afirmar que a medicinajamais provou cientificamente que ocigarro é a causa direta do câncer depulmão.

As evidências estatísticas, porém, sãotão devastadoras que não há necessidadede provas. Ninguém jamais provoucientificamente que bater um martelo nodedo provoca dor. Mas compreendi amensagem no mesmo instante em queaconteceu comigo.

Preciso enfatizar que não sou médico,

mas, como na história do martelo no dedo,logo ficou claro para mim que a tossepermanente, a asma e os freqüentesataques de bronquite estavam diretamenterelacionados ao cigarro. Entretanto, euacreditava piamente que o pior dos malescausados pelo tabaco era a gradual eprogressiva deterioração do sistemaimunológico, causada pelo processo deentupimento.

Todos os animais e plantas desteplaneta estão sujeitos a uma existênciarepleta de ataques de germes, vírus,parasitas, etc. A mais poderosa defesaque temos contra as doenças é o nossosistema imunológico. Todos nós sofremosinfecções e doenças ao longo da vida. Eu,porém, não acredito que o corpo humanotenha sido planejado para ficar doente e,

quando estamos fortes e saudáveis, nossosistema imunológico luta para nosdefender de quaisquer ataques. Mas comoele pode trabalhar com eficiência quandoprivamos cada músculo e órgão dooxigênio e dos nutrientes de que tantoprecisam e os substituímos por monóxidode carbono e veneno? Não é que fumarcause outras doenças. Porém, como aAIDS, o tabaco destrói aos poucos nossaimunidade.

Vários dos efeitos colaterais que ocigarro causou à minha saúde, alguns dosquais enfrentei durante vários anos, só setornaram aparentes muito tempo depois deeu já ter parado de fumar.

Enquanto eu estava ocupadodesprezando os idiotas e malucos quepreferiam perder as pernas a parar de

fumar, jamais me ocorreu que eu mesmojá estava sofrendo de arteriosclerose. Euachava que a cor quase sempreacinzentada de minha pele era natural ou,talvez, resultado da falta de exercício.Nunca imaginei que fosse conseqüênciado entupimento dos meus vasos capilares.Eu sofria de varizes aos trinta anos,problema que desapareceu como ummilagre logo que parei de fumar. Cerca decinco anos antes de parar, cheguei a umponto em que tinha sensações estranhasnas pernas todas as noites. Não era umador aguda, como se uma agulha estivesseme espetando, apenas uma sensação deinquietude. Para aliviar o desconforto,Joyce tinha de massagear minhas pernas.Só me dei conta de que não precisavamais da massagem um ano depois de ter

parado de fumar.Mais ou menos dois anos antes de

parar, eu costumava ter dores violentas nopeito, que me faziam temer um câncer nopulmão, mas hoje acredito que era angina.Desde que abandonei o cigarro, nuncamais tive essas dores.

Quando eu era criança, qualquer corteprovocava um enorme sangramento. Issome assustava. Ninguém me haviaexplicado que sangrar era um fato naturale essencial, fazia parte do processo derestabelecimento, e que o sanguecoagularia quando o objetivo de curarfosse cumprido. Eu achava que erahemofílico e tinha medo de sangrar atémorrer. Anos depois, sofria cortesprofundos e quase não sangrava. O quesaía do corte era uma substância marrom-

avermelhada.A cor me preocupava. Eu sabia que o

sangue deveria ser vermelho bem vivo econcluía que tinha algum tipo de doença.Entretanto, estava satisfeito com aconsistência, o que significava que eu nãosangrava mais em profusão. Somente apósabandonar o cigarro é que me informaramque fumar coagulava o sangue e que a coramarronzada era resultado da falta deoxigênio. Eu não sabia disso naquelaépoca, mas hoje percebo que esse é oefeito do cigarro sobre a minha saúde quemais me enche de horror. Quando pensono meu pobre coração tentando bombearaquela substância grossa por veiasentupidas, dia após dia, sem perder umaúnica batida, acho que foi um milagre queeu não tenha tido um derrame ou um

infarto. Isso me fez perceber não o quantonosso corpo é frágil, mas sim a máquinaengenhosa e incrível que ele é!

Aos quarenta anos, eu tinha manchasmarrons e brancas nas mãos, como as queaparecem no rosto e nas mãos de pessoasidosas. Tentei ignorá-las, pressupondoque fossem sinais de senilidade precocecausados pelo estilo de vida frenético queeu levara. Cinco anos depois deabandonar o cigarro, um fumante de umadas clínicas comentou que, quando elehavia parado numa outra ocasião, suasmanchas desapareceram. Eu tinha meesquecido das minhas e foi com grandesurpresa que percebi que elas também nãoestavam mais ali.

Eu sempre via pontos brilhando diantede meus olhos quando me levantava

depressa demais. Ficava tonto, prestes adesmaiar. Jamais relacionei esse fato aocigarro. Na verdade, estava convencidode que era algo normal, que acontece comtodo mundo. Somente cinco anos atrás,quando um ex-fumante comentou comigoque já não tinha mais essa sensação, eume dei conta de que também estava livredela.

Você poderia concluir que souhipocondríaco. Quando era fumante, eutambém acreditava nisso. Um dos grandesmales do cigarro é que ele nos engana enos faz pensar que a nicotina nos dácoragem, quando, na verdade, ela vai,gradual e imperceptivelmente,dilapidando-a. Eu ficava chocado quandoouvia meu pai dizer que não desejavaviver até os cinqüenta anos. Jamais

poderia imaginar que, vinte anos depois,eu sentiria a mesma falta de alegria deviver. Você pode concluir que estecapítulo está repleto de tristezas e mauagouro, necessários ou não. Pois saibaque é exatamente o contrário. Eucostumava ter medo da morte quando eracriança. Acre ditava que fumar acabariacom esse medo. Talvez tenha acabadomesmo. Mas, nesse caso, o medo demorrer foi substituído por algoinfinitamente pior: O MEDO DE VIVER!

Agora, o medo de morrer voltou. Elenão me incomoda. Sei que ele existesomente porque gosto muito de viver. Masnão fico remoendo isso. Estou ocupadodemais vivendo a vida por inteiro. Nãosão muitas as chances de que eu viva atéos cem anos, mas vou tentar. Tentarei

também usufruir cada precioso momento!Há outras duas vantagens relacionadas

à saúde que nunca me haviam ocorrido atéo dia em que parei de fumar. Uma delas éque eu costumava ter os mesmospesadelos todas as noites. Sonhava queestava sendo caçado. Só posso concluirque isso era o resultado da falta denicotina que o corpo sentia durante a noitee do sentimento de insegurança provocadopor tal privação. Hoje, o único pesadeloque tenho ocasionalmente é que voltei afumar. Esse é um sonho bastante comumentre os ex-fumantes. Alguns temem queisso signifique que estão,subconscientemente, ansiando por umcigarro. Não se preocupe. O fato de tersido algo aflitivo significa que você estámuito satisfeito por não ser mais um

fumante. Existe aquela zona nebulosa apóstodo pesadelo, quando acordamos e nãotemos certeza se era uma catástrofe real,mas não é maravilhoso quandopercebemos que era apenas um sonho?

Quando descrevi o pesadelo no qual euera “caçado” a noite inteira, escrevi porengano a palavra “capado”. Pode ter sidoum lapso influenciado pelo subconsciente,mas ofereceu-me uma excelenteoportunidade de discorrer sobre asegunda vantagem. Nas clínicas, ao falarno efeito do cigarro sobre a concentração,algumas vezes eu perguntava: “Qual é oórgão do corpo que mais precisa de umbom suprimento de sangue?” Os sorrisosamarelos, geralmente nos rostos doshomens, indicavam que eles haviampensado em algo diferente do que eu

estava falando. Entretanto, estavam maisdo que certos. Sendo um inglês tímido,acho esse assunto um pouco embaraçoso enão tenho a intenção de fazer um relatóriodetalhado sobre os efeitos colaterais quefumar trouxe para a minha própria vidasexual nem sobre o que aconteceu a outrosex-fumantes com quem discuti esseassunto. Mais uma vez, eu não sabia desseefeito até parar de fumar e atribuía meusproblemas de desempenho e freqüência aoenvelhecimento.

Entretanto, se você assistir a filmessobre a vida animal, poderá observar quea primeira regra da natureza é asobrevivência, e a segunda é asobrevivência das espécies, ou seja, areprodução. Só que a natureza não permiteque a reprodução aconteça a menos que os

parceiros se sintam fisicamente saudáveise saibam que possuem um territórioseguro, um bom suprimento de comida eum parceiro adequado. A engenhosidadedo homem capacitou-o a quebrar essasregras de alguma maneira, mas posso lhegarantir que fumar provoca impotência.Também posso garantir que, quando sesentir saudável e em boa forma física,você vai aproveitar muito mais o sexo,com uma freqüência muito maior.

Os fumantes também têm a ilusão deque os efeitos malignos da nicotina sãodescritos com exagero. Mas é exatamenteo contrário. Não há dúvida que o cigarroé a causa número um de morte em nossasociedade. O problema é que em muitosdos casos em que o cigarro provoca amorte ou contribui para que ela ocorra ele

não é apontado nas estatísticas como oculpado.

Calcula-se que 44% dos incêndios emresidências sejam causados por cigarros.Também fico imaginando quantosacidentes de automóvel já ocorreramnaquela fração de segundo em que ofumante tira os olhos da estrada paraacender seu cigarro.

Em geral, sou um motorista bastantecuidadoso, mas o mais próximo quecheguei da morte (sem contar o vício emnicotina) foi quando estava tentandoenrolar um cigarro enquanto dirigia. Alémdisso, odeio lembrar-me das vezes em quetossi com um cigarro na boca e o deixeicair enquanto estava ao volante – e elesempre caía no espaço entre os assentos.Tenho certeza de que muitos outros

motoristas fumantes já passaram pelaexperiência de procurar o cigarro acesocom uma das mãos enquanto tentavamdirigir com a outra.

A lavagem cerebral leva os fumantes aagir como o homem que, tendo caído dajanela de um edifício de cem andares, dizao passar pelo qüinquagésimo andar: “Atéagora, tudo bem!” Nós achamos que,como nos safamos até agora, mais umcigarro não fará diferença.

Tente enxergar de outra maneira: o“hábito” é uma corrente contínua, por todaa vida, em que cada cigarro cria anecessidade do próximo. No momento emque você dá início ao hábito, acende umpavio. O problema é que VOCÊ NÃO SABEQUANTO TEMPO ELE VAI DURAR ATÉ ABOMBA EXPLODIR. Cada vez que acende

um cigarro você dá mais um passo nadireção da bomba que está prestes aexplodir. COMO VOCÊ VAI SABER SE OPRÓXIMO PASSO É OU NÃO O DERRADEIRO?

Capítulo 18Energia

A maioria dos fumantes temconsciência do efeito que esse processoprogressivo de envenenamento e privaçãode oxigênio e nutrientes provoca em seuspulmões. Entretanto, essas pessoas nãotêm tanta consciência do efeito que tudoisso produz em seu nível de energia.

Uma das sutilezas da armadilha docigarro é que os efeitos físicos e mentaisque ele produz nas pessoas acontecem demaneira tão gradual e imperceptível queelas não se dão conta deles e osconsideram normais.

Eles são muito similares às

conseqüências de maus hábitosalimentares. A barriga vai crescendolentamente, sem chamar atenção. Olhamospara pessoas muito acima do peso e nosperguntamos como elas se permitiramchegar àquele estado.

Mas, e se acontecesse de um dia para ooutro? Ao dormir, pesaríamos 63 quilos,estaríamos em boa forma física, cheios demúsculos, sem um grama de gordura nocorpo. Ao acordar, pesaríamos 83 quilos,estaríamos gordos, inchados e barrigudos.Em vez de despertar de manhã nossentindo completamente descansados echeios de energia, estaríamos infelizes,letárgicos, mal podendo abrir os olhos.Então, entraríamos em pânico, imaginandoque terrível doença teríamos contraído nomeio da noite. Entretanto, a doença é

exatamente a mesma. O fato de ela terlevado vinte anos para chegar a tal pontoé irrelevante.

É isso que acontece quando fumamos.Se eu pudesse fazer com que vocêenxergasse e sentisse o seu corpo e a suamente apenas três semanas depois de terparado de fumar, para que fizesse umacomparação imediata com o presente, nãoprecisaria de mais nada para convencê-loa parar. Você poderia pensar: “Será quevou me sentir tão bem assim?” Ou poderiafazer uma pergunta mais realista: “Eudesci mesmo a esse nível?” Queroenfatizar que não estou apenas mereferindo a como você se sentiria maissaudável e teria mais energia, mas a comovocê ficaria mais confiante, relaxado ecom maior capacidade de concentração.

Lembro-me de que na adolescência eucorria de um lado para outro só peloprazer que isso me dava. Depois, durantetrinta anos, sentia-me constantementecansado e letárgico. Costumava lutar paraacordar às nove horas da manhã. Após ojantar, eu me deitava no sofá para assistirà televisão e adormecia cinco minutosdepois. Como meu pai também era assim,eu achava que esse comportamento eranormal. Acreditava que energia era umaprerrogativa exclusiva de crianças eadolescentes e que a velhice começavaaos vinte e poucos anos.

Pouco tempo depois de ter apagado omeu último cigarro, eu me sentia aliviadoporque a congestão do pulmão e a tossehaviam desaparecido. Além disso, eu nãosofri um único ataque de asma e bronquite

desde então. Mas algo maravilhoso einesperado também havia acontecido.Passei a caminhar às sete horas da manhã,sentindo-me completamente descansado echeio de energia, desejando exercitarme,correr, nadar. Aos 48 anos, eu nãoconseguia correr nem um passo, nãoconseguia nadar uma única braçada.Minhas atividades esportivas eramrestritas a ocupações “dinâmicas” taiscomo a bocha, carinhosamente chamadade esporte dos velhos, e o golfe, que mepermitia usar um pequeno veículomotorizado para fazer os deslocamentos.Aos 64 anos, corro de três a cincoquilômetros todos os dias, exercito-mepor meia hora e atravesso a piscina anado vinte vezes. É maravilhoso terenergia. Quando você se sente física e

mentalmente forte, é maravilhoso viver.O problema é que, ao parar de fumar, a

recuperação da saúde física e mentaltambém é gradual, embora não tão lentaquanto a descida do poço. Mas, se vocêestá passando pelo trauma do Método daForça de Vontade, qualquer benefício emrelação à saúde ou ao dinheiroeconomizado acabará sendo obscurecidopela depressão que toma conta de você.

Infelizmente, não posso colocá-lo deimediato no corpo e na mente que vocêpoderá obter três se manas depois deparar de fumar. Mas você pode! Porquesabe instintivamente que o que estoudizendo é verdade. Tudo o que precisafazer é USAR A IMAGINAÇÃO!

Capítulo 19Ele me relaxa e me traz

confiança

Essa é a pior das falácias sobre ocigarro. Para mim, junto com o fim daescravidão, acabar com essa mentira é omaior benefício que podemos obterquando paramos de fumar – não ter depassar a vida toda com a constantesensação de insegurança que ronda os quefumam.

Os fumantes têm grande dificuldade emacreditar que o tabagismo é que gera todaa insegurança que eles enfrentam quandodescobrem, no meio da noite, que não têm

mais cigarros em casa. Os nãofumantesnão conhecem esse sentimento. É o tabacoque o causa.

Eu só tomei consciência das inúmerasvantagens de parar de fumar meses depoisque havia largado o cigarro, comoresultado de minhas consultas com outrosfumantes.

Por 25 anos, recusei-me a fazer examesde rotina. Quando que ria fazer um segurode saúde, insistia em não me submeter aum check-up e, como resultado, pagavamais caro. Eu também detestava visitarhospitais, médicos ou dentistas. Nãoconseguia nem pensar em envelhecimento,pensões, etc.

Eu não relacionava nada disso ao meu“hábito” de fumar, mas abandoná-lo foicomo acordar de um pesadelo. Hoje,

tenho prazer em viver cada dia. É claroque coisas ruins acontecem em minha vidae que eu também estou sujeito ao estressee às tensões normais, mas é maravilhosoter segurança para lidar com osproblemas. Além disso, saúde, energia econfiança extras fazem com que as épocasfelizes sejam ainda mais aprazíveis.

Capítulo 20Aquelas sinistras sombras

negras

Uma outra grande alegria de parar defumar é ficarmos livres daquelas sinistrassombras negras que habitam o fundo denossas mentes.

Todos os fumantes sabem que são tolose evitam pensar nos efeitos malignos docigarro. Durante quase toda a vida, fumaré uma atitude automática, mas as sombrasnegras estão sempre ali, ocultando-se emnosso subconsciente, logo abaixo dasuperfície.

São várias e admiráveis as vantagens a

se alcançar quando paramos de fumar.Nos meus tempos de fumante, eu tinhaconsciência de alguns dos problemas dosquais me livraria, como os danos à saúde,o desperdício de dinheiro e a puraidiotice do ato de acender um cigarro.Contudo, o meu medo de parar eratamanho, a minha obsessão em resistir àstentativas bem-intencionadas dos queprocuravam me convencer a parar era tãogrande, que toda a minha ima ginação e aminha energia eram direcionadas paraencontrar qualquer desculpa esfarrapadaque me permitisse continuar fumando.

Surpreendentemente, as idéias maisengenhosas surgiam quando eu estavarealmente tentando largar o cigarro. Elaseram, é claro, inspiradas pelo medo epela dor que me afligiam quando eu usava

a força de vontade. Não havia jeito debloquear totalmente meus pensamentosvoltados para a saúde e as finanças. Mas,agora que estou livre, fico impressionadoao constatar como consegui fechar osolhos e não enxergar as maiores vantagensque obteria quando abandonasse o vício.Já mencionei a escravidão – passarmetade da vida sendo autorizado a fumar,fazendo-o automaticamente e desejandonunca ter começado, e a outra metadesentindo-se privado e infeliz porque asociedade não permite que você fume. Nocapítulo anterior escrevi sobre ainacreditável felicidade de recuperar aenergia. Para mim, entretanto, a maiorsatisfação em ser livre não teve nada aver com saúde, dinheiro ou energia. Foi aremoção daquelas sinistras sombras

negras, o fim da sensação de serdesprezado pelas pessoas e da obrigaçãode me desculpar com os não-fumantes e,acima de tudo, a recuperação do respeitopor mim mesmo.

Os fumantes em geral não são aquelesseres débeis e fracos pintados pelasociedade e por si mesmos. Eu tinha ocontrole de todos os outros aspectos daminha vida. Odiava a mim mesmo por serdependente de uma erva maldita que eusabia que estava arruinando a minha vida.Não consigo expressar como me sentiplenamente feliz ao me libertar dassinistras nuvens negras, da dependência edo desprezo por mim mesmo. Como ébom poder olhar para os fumantes – sejameles velhos ou jovens, fumantes casuais ouinveterados – sem sentir inveja, mas com

pena deles e orgulho de mim por não sermais escravo dessa droga traiçoeira.

Nos dois capítulos anteriores tratamosdas extraordinárias vantagens de ser umnão-fumante. Para fazer uma análiseequilibrada, dedicarei o próximo capítuloàs vantagens de ser fumante.

Capítulo 21As vantagens de ser fumante

Capítulo 22O Método da Força de Vontade

É um fato aceito em nossa sociedadeque parar de fumar é difícil. Até os livrosque orientam como fazê-lo, em geral,começam dizendo como esse processoserá árduo. A verdade é que parar defumar é ridiculamente fácil. Já sei, vocêestá questionando o que acabei deafirmar, mas pense no que vou lhe dizer.

Se o seu objetivo é correr 1.600 metrosem menos de quatro minutos, saiba queisso não é fácil. Talvez você precise demuitos anos de treinamento pesado eainda assim seja fisicamente incapaz defazê-lo. (Muito daquilo que realizamos

está na nossa mente. Não é estranho quecorrer uma distância dessas em menos dequatro minutos tenha sido consideradodifícil até o dia em que Roger Bannisterconseguiu fazê-lo, e desde então issopareça uma coisa comum?)

Entretanto, se quiser parar de fumar,tudo o que você precisa fazer é não fumarmais. Ninguém o força a fumar (além devocê mesmo) e, diferentemente do queacontece com a comida e a bebida, vocênão precisa do cigarro para viver. Então,se você deseja parar, por que tem de sertão complicado? Na verdade, não tem. Osfumantes é que dificultam o processo,utilizando o Método da Força de Vontade.Ou seja, adotando estratégias que oslevam a pensar que estão fazendo algumtipo de sacrifício. Vamos analisar esse

método.Nós não decidimos nos tornar fumantes.

Simplesmente experimentamos osprimeiros cigarros e, como eles têm umgosto horrível, ficamos convencidos deque poderemos parar no momento em quequisermos. Em geral, acendemos osprimeiros cigarros apenas quando temosvontade, o que costuma acontecer quandoestamos na companhia de outros fumantesem eventos sociais.

Antes que possamos nos dar conta,passamos não apenas a comprar cigarrosregularmente e a consumi-los quando nosdá vontade, mas a fumar todos os dias. Ocigarro se torna parte de nossas vidas.Tomamos providências para termossempre um maço ao nosso alcance.Acreditamos que as ocasiões sociais e as

refeições são melhores quando fumamos eque o cigarro nos ajuda a aliviar oestresse. Parece que não percebemos queo mesmo cigarro, saindo do mes momaço,terá exatamente o mesmo gosto, seja apósuma refeição ou ao acordar. Fumar não dámais prazer às refeições nem às ocasiõessociais, muito menos diminui o estresse.Os fumantes é que acham que não podemsaborear uma boa refeição ou lidar comas tensões sem sua muleta.

Costumamos levar um bom tempo paraperceber que estamos viciados porquecriamos a fantasia de que as pessoasfumam porque gostam do cigarro e nãoporque precisam dele. Além de nãogostarmos do cigarro, temos a ilusão deque podemos parar de fumar quandoquisermos.

Em geral, só quando tentamos parar éque percebemos que o problema existe.As primeiras tentativas são mais comunsno início e, normalmente, são estimuladaspela falta de dinheiro (o rapaz encontrauma moça e eles começam a poupar paramontar uma casa, então não queremdesperdiçar suas economias comprandocigarros) ou pela saúde (o adolescentepratica esportes e percebe que suarespiração está curta). Seja qual for arazão, o fumante sempre espera por umasituação estressante para resolver parar.E, assim que ele pára, o pequeno monstrocomeça a exigir o alimento. O fumantedeseja um cigarro e, como não pode tê-lo,sente-se mais nervoso. Aquilo que elecostumava usar para relaxar não está maisà mão, então ele sofre. Comumente,

depois de um período de tortura, eleassume um compromisso: “Vou diminuir.”Ou conclui que escolheu o momentoerrado: “Vou esperar até que o estressedesapareça da minha vida.” Porém,quando o estresse desaparece, não hámais a necessidade de parar de fumar, e oindivíduo só decide abandonar o cigarroquando enfrenta uma nova dificuldade. Éóbvio que o momento certo nunca chegaporque a vida, para a maior parte daspessoas, não se torna menos estressante.Ocorre exatamente o contrário. Deixamosa proteção de nossos pais e entramos nomundo dos problemas: casas, dívidas,filhos, empregos com maioresresponsabilidades, etc. Naturalmente, avida de quem fuma nunca pode se tornarmenos estressante porque é o cigarro que

causa o estresse. À medida que a taxa deinalação de nicotina aumenta, mais aflitoo fumante se torna e maior é a ilusão desua dependência.

Na verdade, é uma ilusão acreditar quea vida se torna mais estressante. É opróprio cigarro, ou qualquer muletasemelhante, que cria essa fantasia. Issoserá discutido com mais detalhes nocapítulo 28.

Após os fracassos iniciais, o fumanteem geral confia na possibilidade de umdia acordar e, de repente, não ter mais odesejo de fumar. Essa esperança costumaser alimentada pelas histórias que eleouve de outros ex-fumantes (por exemplo,“Eu tive uma gripe muito forte e depoisnão quis mais fumar”).

Não se engane. Eu já investiguei todos

esses rumores e eles nunca são tãosimples quanto parecem. Em geral, ofumante já estava se preparando paraabandonar o cigarro e simplesmente usoua gripe como trampolim. Passei mais detrinta anos esperando o dia em queacordaria de manhã desejando nunca maisfumar. Sempre que meu peito ficavacongestionado, ansiava por me livrar doproblema porque ele interferia no meuconsumo de cigarro.

Nos casos em que as pessoas param defumar “do nada”, é comum que tenhamsofrido algum choque. Talvez um parentetenha morrido de alguma doença ligada aocigarro, talvez tenham ficado com medode que isso lhes aconteça. Só que elaspreferem dizer: “Um dia, eu simplesmentedecidi parar. Este é o tipo de pessoa que

eu sou.” Pare de enganar a si mesmo! Nãovai acontecer, a não ser que você façacom que aconteça.

Vamos analisar mais a fundo por que oMétodo da Força de Vontade é tão difícil.Durante a maior parte de nossas vidas,nó s lidamos com a situação enfiando acabeça na areia e dizendo “Vou pararamanhã”.

De repente, num período estressante,algum acontecimento acaba levando a umatentativa de parar. Pode ser umapreocupação com saúde, dinheiro, estigmasocial, ou talvez a pessoa estejaenfrentando crises particularmentedifíceis de falta de ar e perceba que, naverdade, não gosta do cigarro.

Seja qual for o motivo, nós tiramos acabeça da areia e começamos a pesar os

prós e os contras do tabagismo. Então,descobrimos o que já sabíamos o tempotodo – se raciocinarmos com clareza, aconclusão só pode ser: PARE DE FUMAR.

Se algum dia você parasse para pensare atribuísse de zero a dez a todas asvantagens de parar de fumar e depoisfizesse o mesmo com as vantagens docigarro, a soma de pontos mostraria atotal supremacia da primeira opção.

Entretanto, embora o fumante saiba quesua vida seria melhor como não-fumante,ele acredita que estaria fazendo umsacrifício. Isso é apenas uma ilusão, umapoderosíssima ilusão. Sem saber por que,o fumante tem a sensação de que nos bonse maus momentos da vida o cigarroparece ajudá-lo.

Antes de tentar parar, ele tem de lidar

com toda a lavagem cerebral dasociedade, reforçada pela lavagemcerebral de seu próprio vício. E a essasduas deve ser acrescentada uma terceira,ainda mais poderosa, sobre “como édifícil parar”.

O indivíduo já ouviu histórias defumantes que pararam há muitos meses eainda sentem um forte desejo de dar umasbaforadas. E também de ex-fumantesdesgostosos, que deixaram de fumar evivem se lamentando e dizendo quedariam tudo por um cigarro. Maisdesanimadores são os casos de ex-fumantes que levavam vidasaparentemente felizes, mas queresolveram fumar só um cigarro etornaram-se viciados outra vez.Provavelmente o fumante também conhece

outros fumantes que, num visível processode auto destruição, estão enfrentandoestágios avançados de doenças e nãoestão mais suportando o cigarro – e,mesmo assim, continuam a fumar. Alémdisso tudo, ele próprio já deve terpassado por uma ou mais dessasexperiências.

Então, em vez de dar início ao processocom uma atitude do tipo “É maravilhoso!Você já sabe? Eu não preciso maisfumar”, ele começa de maneirapessimista, como se estivesse tentandoescalar o monte Everest. Ele acreditapiamente que, quando o pequeno monstrofinca suas garras, o vício é eterno. Muitosfumantes até começam desculpando-secom a família e os amigos: “Olha, euestou tentando parar de fumar.

Provavelmente vou ficar irritado nospróximos dias. Tente me agüentar.” Essastentativas estão, em geral, fadadas aofracasso antes mesmo de iniciadas.

Suponhamos que o fumante sobrevivaalguns dias sem o cigarro. A congestão deseus pulmões já está desaparecendo comrapidez. Ele não comprou cigarros e porisso tem mais dinheiro no bolso. Então, asrazões pelas quais ele decidiu parar jáestão sumindo de seus pensamentos. Écomo ver um acidente horroroso naestrada quando estamos dirigindo. Ele nosfaz desacelerar por alguns instantes, mas,pouco depois, nós o esquecemos eenfiamos o pé no acelerador.

Do outro lado do cabo-de-guerra,aquele pequeno monstro dentro de seucorpo ainda não recebeu a sua dose. Não

há dor física. Se você tivesse a mesmasensação por causa de um resfriado, nãodeixaria de sair para trabalhar nem ficariadeprimido. Não daria importância. Tudo oque o fumante sabe é que ele deseja umcigarro. Ele não sabe por que isso é tãoimportante. O pequeno monstro no corpocomeça a despertar o grande monstro namente e, agora, o indivíduo que poucashoras ou alguns dias atrás estava fazendouma lista de todos os motivos pelos quaisdeveria parar está procurandodesesperadamente uma desculpa paracomeçar de novo. Ele passa a dizer coisascomo:

1. A vida é curta demais. Deixe abomba explodir. Eu posso seratropelado por um ônibus amanhã.

Eu parei tarde demais. Hoje emdia dizem que qualquer coisapode causar câncer.

2. Escolhi a hora errada de parar.Devia ter esperado até depois doNatal/ antes das férias/ depoisdessa situação estressante queapareceu em minha vida.

3. Não consigo me concentrar. Estouficando irritadiço e malhumorado.Não consigo trabalhar direito.Minha família e meus amigos nãovão mais gostar de mim. Pelo bemde todos, é melhor eu começar afumar outra vez. Sou um fumanteinveterado e nunca maisconseguirei ser feliz sem ocigarro. (Esta última me manteve

fumando por 33 anos.)

Ao atingir esse estágio, o fumante, emgeral, desiste de parar. Ele acende umcigarro e a esquizofrenia aumenta. Por umlado, sente um alívio imenso por acabarcom o anseio pelo cigarro. Por outro lado,se tiver parado por bastante tempo, ocigarro terá um gosto horrível e o fumantenão vai nem entender por que estáfumando aquilo. É por isso que o fumanteacha que não tem força de vontade. Naverdade, não é falta de força de vontade.Tudo o que ele fez foi mudar a própriamente e tomar uma decisão perfeitamenteracional à luz das últimas informações.De que adianta ser saudável se você sesente infeliz? De que adianta ter dinheiroe ficar deprimido? Não adianta nada. É

melhor ter uma vida curta e feliz que umavida longa e melancólica.

Felizmente, isso não é verdade – éexatamente o contrário. A vida como não-fumante é infinitamente mais agradável,mas foi essa ilusão que me fez passar 33anos fumando e devo confessar que, sefosse verdade, eu não teria parado(correção – eu não estaria mais aqui).

A infelicidade que o fumante sente nãotem nada a ver com crise de abstinência.Não se pode negar que essa infelicidadedeflagra tal crise, mas a verdadeiraagonia está na mente e é causada peladúvida e pela incerteza. Como o fumantejá começa achando que está fazendo umsacrifício, ele passa a se sentir privado –e isso é uma forma de estresse. E éexatamente nos momentos estressantes que

o cérebro diz ao fumante: “Acenda umcigarro.” Portanto, assim que pára, eledeseja um cigarro. Mas agora não podemais recorrer à sua muleta porque paroude fumar. Isso o torna mais deprimido, oque desperta a vontade de fumar outravez.

Um outro aspecto que dificulta muito asituação é quando você espera que algoaconteça. Se o seu objetivo for passarnum teste de direção, assim que foraprovado terá a certeza de tê-loalcançado. Quando utiliza o Método daForça de Vontade, você diz: “Se euconseguir ficar tempo suficiente semfumar, o anseio por um cigarro vai acabardesaparecendo.”

Como você pode ter certeza de queatingiu o seu objetivo? A resposta é que

você nunca terá, porque está esperandoque algo aconteça e não vai acontecermais nada. Você parou quando fumouaquele último cigarro e o que você estáfazendo agora é esperar para ver quantotempo vai resistir sem recomeçar.

Como eu já disse, a angústia por quepassa o fumante é mental, causada pelaincerteza. Embora não haja dor física, seuefeito ainda é poderoso. O fumante sente-se infeliz e inseguro. Em vez de esquecero cigarro, sua mente fica obcecada porele.

Pode haver dias ou até semanas deprofunda depressão. Sua mente estáobcecada por dúvidas e medos.

“Quanto tempo esse anseio por umcigarro durará?”

“Como poderei ser feliz outra vez?”

“Algum dia terei vontade de levantar dacama de manhã?”

“Será que voltarei a desfrutar umarefeição?”

“Como lidarei com o estresse nofuturo?”

“Algum dia voltarei a gostar de eventossociais?”

O fumante está esperando que as coisasmelhorem, mas é claro que, quanto maisatordoado ele se sente, mais precioso ocigarro se torna.

Na verdade, algo acontece, mas ofumante não tem consciência disso.Quando ele consegue passar três semanassem inalar nenhuma nicotina, o desejofísico por esse veneno desaparece.Entretanto, como já vimos, a crise deabstinência da nicotina é tão leve que o

fumante não se dá conta dela. Depois detrês semanas, no entanto, muitos sentemque já estão livres da escravidão e, paraprovar, acendem um cigarro. Eles achamo gosto realmente horrível, mas isso nãoimporta porque acabaram de fornecernicotina ao organismo e, assim queapagarem o cigarro, o nível dessa drogano corpo começará a cair. Então, vãoouvir uma voz no fundo da mente dizendo:“Você quer mais um.” Eles haviamconseguido de fato, mas agora viciaram-se outra vez.

Mas esses fumantes não acendem outrocigarro de imediato. Dizem: “Não querome viciar de novo.” Então, deixam passarum tempo para se sentirem seguros.Podem ser horas, dias, semanas. Até quepensam: “Bem, não me viciei, então posso

fumar mais um.” Eles caíram na mesmaarmadilha que os pegou na primeira vez ejá estão à beira do poço.

Os fumantes que conseguem pararutilizando o Método da Força de Vontadetendem a achá-lo longo e difícil porque oproblema básico é a lavagem cerebral e,muito depois de a dependência física terdesaparecido, eles continuam ansiandopor cigarros. Com o passar do tempo, seresistirem o suficiente, começam aperceber que não vão ceder em seuspropósitos. Eles não se sentem maisatordoados e aceitam que a vida segue emfrente e é agradável sem o cigarro.

Muitos fumantes estão conseguindoparar usando esse método, mas ele édifícil e árduo e gera muito mais fracassosque sucessos. Mesmo os que conseguem

parar ficam vulneráveis pelo resto davida. Eles guardam restos da lavagemcerebral e acreditam que, nos bons e mausmomentos, o cigarro pode lhes dar umestímulo. (Muitos não-fumantes tambémtêm essa ilusão. Eles também estãosujeitos à lavagem cerebral, mas achamque não conseguem “aprender” a gostar defumar, ou preferem não dar chance aosefeitos negativos.) Isso explica por quemuitos fumantes que pararam por longosperíodos voltaram a fumar.

Muitos ex-fumantes acabam acendendoum cigarro ocasionalmente, seja como um“prêmio especial” ou para convencer a simesmos de quão horríveis são oscigarros. No entanto, assim que apagam ocigarro, a nicotina começa a ser liberadado organismo e a voz no fundo da mente

diz: “Você quer mais um.” Se acendemoutro cigarro, o gosto ainda será ruim, eeles pensam: “Excelente! Como não estougostando de fumar, não há como ficarviciado outra vez. Depois do Natal/ dasférias/ desse trauma, eu vou parar.”

Tarde demais. O vício está de volta. Aarmadilha na qual caíram na primeira vezconseguiu pegá-los de novo.

Como estou sempre afirmando, prazernão tem nada a ver com isso. Nunca teve!Se fumássemos para apreciar o sabor,ninguém acenderia mais de um cigarro.Nós acreditamos que o cigarro nos dáprazer somente porque não podemos crerque seríamos tão tolos a ponto de fumá-losem gostar. É por isso que grande partedesse nosso “hábito” é subconsciente. Seao fumar cada cigarro estivéssemos

conscientes da fumaça asquerosa indopara os nossos pulmões e tivéssemos dedizer a nós mesmos “Isso vai lhe custarmais de 60 mil reais durante a vida e essecigarro pode ser aquele que vai lhe causarcâncer nos pulmões”, até a ilusão deprazer acabaria. Quando tentamosbloquear nossas mentes para nãoenxergarmos o lado ruim, nos sentimostolos. Se tivéssemos de enfrentar averdade, fumar seria intolerável! Seobservarmos fumantes, principalmente emeventos sociais, veremos que eles sóestão felizes quando não se dão conta deque estão fumando. No momento em quetomam consciência de que têm um cigarronas mãos, tendem a sentir-se pouco àvontade e a desculpar-se. Nós fumamospara alimentar aquele pequeno monstro…

Por isso, quando você tiver tirado opequeno monstro de seu corpo e o grandemonstro de sua mente, não terá nem anecessidade nem o desejo de fumar.

Capítulo 23Cuidado com a diminuição

Muitos fumantes recorrem à estratégiade diminuir o número de cigarros comoum primeiro passo para parar ou comouma tentativa de controlar o pequenomonstro, e muitos médicos recomendamessa diminuição como uma forma deminorar os efeitos negativos dotabagismo.

É claro que quanto menos você fumar,melhor, mas, como primeiro passo paraabandonar o cigarro, essa estratégia éfatal. São as nossas tentativas de diminuirque nos mantêm aprisionados por toda avida.

Em geral, a redução do número decigarros segue-se a tentativas fracassadasde parar. Depois de alguns dias ou horasde abstinência, o fumante diz a si mesmoalgo como “Não posso lidar com a idéiade ficar sem um cigarro, por isso, deagora em diante, vou fumar apenas osmais especiais, ou vou fumar no máximodez por dia. Se eu conseguir me acostumara fumar somente dez, talvez possa manteresse número ou diminuí-lo ainda maiscom o passar do tempo”.

Agora, coisas terríveis certamente irãoacontecer.

1. O fumante experimenta o pior dedois mundos. Ele continua viciadoem nicotina e está mantendo omonstro vivo não apenas em seu

corpo, mas em sua mente.

2. Agora, ele está desejando que avida corra depressa para poderfumar o próximo cigarro.

3. Antes de diminuir a quantidade,sempre que desejava fumar, eleacendia um cigarro e aliviava,pelo menos em parte, os sintomasda abstinência. Agora, além doestresse e das aflições normais davida, ele está impondo a si mesmoa síndrome de abstinência danicotina durante grande parte desua vida. Portanto, está trazendopara si mesmo um sentimento deinfelicidade e um mau humorconstantes.

4. Quando fumava à vontade, ele nãodesfrutava muito dos cigarrosporque nem percebia que osestava fumando. Era automático.Os únicos cigarros que elesupunha gostar eram aquelesfumados após um período deabstinência (por exemplo, oprimeiro cigarro da manhã, ocigarro após as refeições, etc.).

Agora que dá um intervalo maior entreum cigarro e outro, ele “curte” cada umdeles. Quanto mais tempo espera, maisagradável o ci garro lhe parece. Esse“prazer” não vem do cigarro em si, masdo fim de uma agitação causada pela leveânsia física por nicotina ou peloatordoamento mental. Quanto mais longo o

sofrimento, mais “gostoso” o cigarro fica.A maior dificuldade enfrentada pelos

que desejam parar de fumar não é adependência química. Isso é fácil. Osfumantes passam a noite inteira sem umcigarro, e o anseio nem chega a acordá-los. Muitos fumantes saem do quarto antesde acender o primeiro cigarro. Outrosesperam para fumar depois do café damanhã. Alguns esperam até chegarem aotrabalho.

Eles passam dez horas sem um cigarroe isso não os perturba. Mas, se passassemdez horas sem fumar durante o dia,estariam arrancando os cabelos.

Muitos fumantes compram umautomóvel novo e não fumam dentro dele.Eles vão a supermercados, teatros,médicos, hospitais, dentistas, sem grandes

problemas. Há os que se abstêm napresença de nãofumantes. Os fumanteschegam a ficar satisfeitos quando lhesdizem que não podem fumar. Na verdade,eles têm um prazer secreto em ficarlongos períodos sem cigarro. Isso lhes dáa esperança de que um dia talvez nãoqueiram mais fumar.

O verdadeiro problema quandoresolvemos parar de fumar é a lavagemcerebral, a ilusão de que o cigarro éalgum tipo de muleta ou recompensa e deque a vida jamais será a mesma sem ele.Em vez de ajudá-lo a parar de fumar, adiminuição do número de cigarros fazvocê se sentir inseguro e infeliz, além deconvencê-lo de que o bem mais preciosodo mundo é o próximo cigarro e que nãohá jeito de ser feliz sem ele.

Não há nada mais patético que umfumante tentando diminuir. Ele se enganaacreditando que quanto menos fumar, menos irá desejar fumar. Entretanto, ocorreexatamente o contrário. Quanto menos elefuma, mais sofre os sintomas daabstinência. Quanto mais ele “curte” ocigarro, mais desagradável ele se torna.Mas isso não o impede de fumar. O gostonunca teve nada a ver com isso. Se aspessoas fumassem para apreciar o sabor,ninguém fumaria mais que um únicocigarro. Você duvida? Então vamosanalisar a situação. Qual é o cigarro quetem o pior de todos os sabores? Issomesmo, o primeiro que fumamos demanhã, aquele que, no inverno, nos faztossir e cuspir. E qual é o cigarro maisprecioso para a maioria dos fumantes?

Exatamente aquele primeiro cigarro damanhã! Você ainda acredita que estáfumando para desfrutar o gosto e o cheiro,ou acha mais racional a explicação de queestá aliviando nove horas de abstinência?

É essencial derrubar todos os mitossobre o cigarro antes de apagar o últimodeles. Se você não se livrar da ilusão deque aprecia o gosto de certos cigarrosantes de apagar o derradeiro, não haverácomo provar isso, mais tarde, sem quevocê se vicie novamente. Portanto, se nãoestiver fumando agora, acenda um cigarro.Dê seis tragadas bem profundas doglorioso tabaco e pergunte a si mesmo oque há de tão maravilhoso no sabor.Talvez você acredite que apenas certoscigarros têm um sabor especial, comoaquele após as refeições. Nesse caso, por

que então fuma os outros? Seria porqueadquiriu o hábito de acendê-los? Por quealguém alimentaria o hábito de fumarcigarros que acha detestáveis? E por queo mesmo cigarro, saído do mesmo maço,teria, após uma refeição, um sabordiferente do que tem de manhã? A comidanão tem um paladar diferente após umcigarro. Então, por que o cigarro teria umsabor diferente após a comida?

Não acredite em mim, simplesmente.Faça um teste de forma consciente. Fumeum cigarro após uma refeição paracomprovar que o gosto é o mesmo detodos os outros. Os fumantes acreditamque os cigarros têm um sabor maisagradável depois de comer ou emreuniões sociais, junto com o álcool,porque esses são os momentos em que

todos – fumantes ou não – estão maisfelizes. Só que um viciado em nicotinajamais pode ser realmente feliz enquantoo pequeno monstro interior não estiversatisfeito. Não é que os fumantesapreciem o sabor do tabaco após asrefeições – afinal, se não comemos otabaco, o que é que o gosto tem a ver comisso? O problema é que o fumante se senteprofundamente infeliz se não puder aliviaros sintomas da abstinência em momentoscomo esses. Então, a diferença entrefumar e não fumar passa a ser a mesmaque há entre estar feliz ou infeliz. É porisso que o cigarro parece ter um sabormelhor nessas ocasiões.

Diminuir o número de cigarros nãoapenas é ineficaz como o coloca sob apior das torturas. É uma atitude que não

funciona porque, inicialmente, o fumantetem a esperança de que, adquirindo ohábito de fumar cada vez menos, acabereduzindo o seu desejo de acender umcigarro. Mas fumar não é um hábito, é umvício – e a natureza de qualquer vício équerer mais e mais e não cada vez menos.Portanto, para diminuir o número decigarros, o fumante precisa exercitar aforça de vontade e a disciplina pelo restoda vida.

O maior problema de parar de fumarnão é a dependência química da nicotina.Lidar com ela é fácil. O problema é afalsa crença de que o cigarro dá algumprazer. Essa ilusão é criada pela lavagemcerebral que recebemos antes decomeçarmos a fumar e é depois reforçadapela própria dependência. Tudo o que se

consegue reduzindo o número de cigarrosé alimentar ainda mais a falácia a pontode fazer com que fumar dominecompletamente sua vida e o convença deque não há nada mais precioso no mundodo que o próximo cigarro.

Como já expliquei, diminuir nuncafunciona porque é preciso exercitar aforça de vontade e a disciplina pelo restoda vida. Se você não tiver força devontade suficiente para parar, certamentetambém não terá para reduzir. Parar émuito mais fácil e menos doloroso.

Já ouvi falar de milhares de casos emque cortar o número de cigarros nãofuncionou. Os poucos sucessos queconheci foram alcançados após umperíodo relativamente curto de redução,seguido da retirada total do cigarro. Os

fumantes param apesar de terem reduzidoa quantidade e não por causa disso.Diminuir só prolonga a agonia. Umatentativa fracassada de redução deixa ofumante com os nervos em frangalhos eainda mais convencido de que estáviciado para sempre. Isso, em geral, é osuficiente para mantê-lo dando suasbaforadas por mais vinte anos antes detentar parar novamente.

A única vantagem de diminuir é queajuda a ilustrar a total inutilidade dotabagismo, porque mostra com clareza queum cigarro só é agradável após umperíodo de abstinência. É preciso ficarbatendo a cabeça numa parede de tijolos(ou seja, sentir os sintomas daabstinência) para sentir o prazer de parar.

Portanto, você tem as seguintes opções:

1. Diminua para sempre. Isso seráuma tortura auto-imposta e, dequalquer maneira, você não serácapaz de fazê-lo.

2. Continue a sufocar-se cada vezmais, pelo resto da vida. E daí?

3. Seja gentil consigo mesmo. Parede fumar.

Um outro ponto importante que adiminuição demonstra é que não existe ochamado cigarro ocasional. Fumar é umareação em cadeia que vai se estender peloresto da vida, a não ser que você faça umesforço positivo para quebrá-la.

LEMBRE-SE: DIMINUIR O NÚMERO DECIGARROS VAI PUXÁ-LO AINDA MAIS PARA OFUNDO DO POÇO.

Capítulo 24Só um cigarro

“Só um cigarro” é um mito do qualvocê precisa escapar.

Em primeiro lugar, é só um cigarro quenos faz começar todo o processo.

Depois, é só um cigarro numa situaçãodifícil ou numa ocasião especial quedestrói a maioria de nossas tentativas deparar.

Quando os fumantes conseguem vencera dependência, também é só um cigarroque os joga de volta na armadilha.Algumas vezes, eles o acendem somentepara confirmar que não precisam maisdessa muleta. Esse cigarro tem um gosto

horrível e convence o fumante de quenunca mais irá se viciar, mas ele já estáviciado outra vez.

É a idéia daquele único cigarro quecostuma impedir que os fumantes parem.O primeiro da manhã ou o que é acesoapós as refeições.

Coloque na sua cabeça que não existeessa história de só um cigarro. Fumar éuma reação em cadeia que vai durar parasempre, a não ser que você quebre acorrente.

É o mito sobre o cigarro especial quedeixa os fumantes atordoados e infelizesquando param. Crie o hábito de nuncapensar em um único cigarro ou maço –isso não passa de fantasia. Sempre quepensar em fumar, enxergue uma vidainteira de imundície, de mau hálito e de

escravidão. Uma existência de dinheirojogado fora, só pelo privilégio de destruira si mesmo física e mentalmente.

É uma pena que não haja algo parecidocom o cigarro que pudéssemos usar, nosbons e maus momentos, como um prazerou incentivo eventuais. Mas coloque istona cabeça: não existe ci garro ocasional.É preciso escolher – ou uma vida inteirade sofrimento ou nenhum cigarro. Vocênem pensaria em ingerir cianeto só porquegosta do sabor de amêndoas, por isso parede punir a si mesmo com a idéia de fumarum cigarro ou um charuto uma vez ououtra.

Pergunte a quem fuma: “Se tivesse aoportunidade de voltar no tempo antes dese viciar, você teria se tornado umfumante?” A resposta, com certeza, será:

“É claro que não!” Entretanto, todofumante pode fazer essa escolha todos osdias de sua vida. Por que ele opta porfumar? Por medo. Medo de não conseguirparar ou medo de que a vida não seja amesma sem o cigarro.

Pare de enganar a si mesmo. Vocêconsegue. Qualquer um consegue. Éridiculamente fácil.

Para que seja fácil parar de fumar,existem alguns fundamentos que precisamestar claros em sua mente. Até agora nósjá lidamos com três deles:

1. Não há nada do que abrir mão. Sóhá ganhos incríveis a alcançar.

2. Nunca pense em cigarroocasional. Isso não existe. O que

existe é uma vida inteira desujeira e doenças.

3. Você não é diferente de ninguém.Qualquer pessoa pode achar fácilparar.

Muitos indivíduos acreditam que sãofumantes inveterados ou que têm umapersonalidade com tendência ao vício.Garanto a você que isso não é verdade.Antes de se tornar dependente de nicotina,ninguém precisa fumar. É a droga que ovicia e não a natureza do seu caráter. Esseé o efeito das drogas: elas levam você aacreditar que possui uma personalidadepropensa ao vício. No entanto, é essencialque você se livre dessa crença, porque, seacreditar que é dependente de nicotina,

você o será, mesmo depois que o pequenomonstro no interior de seu corpo estivermorto. Para se libertar do ci garro, éimprescindível que você ponha um fimnessa lavagem cerebral.

Capítulo 25Fumantes ocasionais,

adolescentes, não-fumantes

Os fumantes inveterados tendem ainvejar os fumantes ocasionais. Todos nósconhecemos esses personagens: “Euposso passar a semana inteira sem fumar eisso não me incomoda nem um pouco.” Aípensamos: “Como eu gostaria de serassim.” Sei que é difícil acreditar, masninguém gosta de ser fumante. Nunca seesqueça de que:

Nenhum fumante decidiu tornar-se fumante, ocasional ou não;

portanto:Todos os fumantes se sentemtolos; portanto:Todos os fumantes precisammentir para si mesmos e para osoutros, numa vã tentativa dejustificar sua estupidez.

Eu costumava ser fanático por golfe.Estava sempre me vangloriando dafreqüência com que jogava e queria jogarainda mais. Por que os fumantes se gabamdo pouco que fumam? Se esse é overdadeiro critério, então o maior doslouvores é não fumar nada.

Se eu lhe dissesse: “Sabe de umacoisa? Eu poderia passar a semana inteirasem comer cenouras e isso não meincomodaria nem um pouco”, você

pensaria que sou louco. Se eu gosto decenouras, por que ficaria uma semanainteira sem comê-las? Se não gosto, porque faria tal afirmação? Então, quando umfumante garante que pode passar umasemana sem fumar porque isso não operturba, ele está tentando convencer a simesmo e você de que ele não tem nenhumproblema. Mas não haveria necessidadede fazer tal declaração se realmenteestivesse tudo bem. Na verdade, o que eleestá dizendo é: “Consegui sobreviver umasemana inteira sem cigarro.”Provavelmente, tinha a esperança depoder passar o resto da vida sem tabaco.Mas só conseguiu ficar alguns dias, e dápara imaginar o quanto aquele cigarro lhepareceu valioso após uma semana deprivação.

É por isso que os fumantes ocasionaissão mais viciados que os que fumam semparar. Não só a ilusão de prazer é maiorcomo eles têm menos incentivo paraparar, porque gastam menos dinheiro esão menos vulneráveis aos riscos à saúde.

Lembre-se: o único prazer que osfumantes têm é aliviar os sintomas daabstinência e, como já expliquei, até esseprazer é uma ilusão. Imagine o pequenomonstro devorador de nicotina dentro doseu corpo como uma coceira permanentetão leve que, na maior parte do tempo,você nem a percebe.

Ora, quando se tem uma coceira, atendência natural é coçá-la. À medida queseu corpo se torna imune à nicotina, vocêfica mais propenso a consumir um cigarroatrás do outro.

Existem três fatores principais queimpedem os fumantes de acenderem umcigarro no outro:

1. Dinheiro: A maioria não podearcar com essa despesa.

2. Saúde: Para aliviar os sintomasda crise de abstinência, temos deingerir um veneno. A capacidadede lidar com esse veneno variaindividualmente, podendo sofreralterações em diferentesmomentos e situações da vida decada pessoa. Isso atua como umaforma automática de moderação.

3. Disciplina: Ela é imposta pelasociedade, pela empresa onde ofumante trabalha, pelos amigos,

pelos familiares, ou por elemesmo, como resultado de umcabo-de-guerra que se desenvolveem sua mente.

Eu costumava considerar uma fraquezafumar um cigarro atrás do outro, como eufazia. Não conseguia entender por quemeus amigos eram capazes de limitar seuconsumo a dez ou vinte por dia, e eu não.Sei que sou uma pessoa com grande forçade vontade. Nunca me ocorreu que grandeparte dos fumantes não tem capacidadepara fumar sem intervalo, pois é precisoter pulmões extremamente fortes paraisso. Alguns desses indivíduos queacendem cinco cigarros por dia – tãoinvejados pelos fumantes crônicos – nãoultrapassam esse limite porque sua

constituição física não suporta mais, ouporque não podem assumir uma despesatão grande, ou porque seu emprego, asociedade ou o ódio que sentem dopróprio vício não permitem que fumemmais.

Acredito que, neste momento, sejainteressante apresentar algumasdefinições:

O NÃO-FUMANTE. É um indivíduo quenunca caiu na armadilha, mas que nãodeve se envaidecer por isso. Ele só estánesta categoria pela misericórdia divina.Todos os fumantes achavam que jamaisiriam viciar-se e alguns não-fumantesinsistem em experimentar um cigarroocasional.

O FUMANTE OCASIONAL. Existem duasclasses básicas de fumantes ocasionais:

1. O fumante que caiu na armadilha,mas não percebe. Não tenhainveja desse indivíduo. Ele estáexperimentando o néctar daplanta carnívora e logo deverátransformar-se num fumanteinveterado. Lembre-se: assimcomo os alcoólicos começambebendo eventualmente, osfumantes também começamacendendo um cigarro ocasional.

2. O indivíduo que já foi umfumante inveterado e acha quenão consegue parar. Essaspessoas são as mais patéticas de

todas. Elas se ajustam a váriascategorias, cada qualmerecedora de um comentárioespecial.

O FUMANTE DOS CINCO POR DIA. Se elegosta de cigarro, por que só consomecinco por dia? Se tem a opção decontinuar ou parar, por que insiste emfumar? Lembre-se: o “hábito” estárealmente batendo a sua cabeça contra aparede para que você tenha uma sensaçãode relaxamento quando acender o próximocigarro. O fumante dos cinco por dia estáaliviando os sintomas da abstinência pormenos de uma hora, todos os dias. O restodo tempo, embora não perceba, ele estábatendo a cabeça contra a parede e ageassim durante a maior parte da vida. Ele

se limita a cinco por dia ou porque nãotem dinheiro para fumar mais ou porqueestá preocupado com os riscos à saúde. Éfácil convencer um fumante inveterado deque ele não tem prazer com o tabaco, mastente persuadir um fumante ocasional.Qualquer um que tenha tentado diminuir oconsumo de cigarros sabe que essa é apior das torturas, além de ser uma garantiaquase absoluta de que você vai se manterviciado pelo resto da vida.

O FUMANTE DIURNO OU NOTURNO. Elepune a si mesmo sofrendo os sintomas dasíndrome de abstinência durante metadedo dia para poder aliviá-los na outrametade. Pergunte a ele por que, se gostatanto de cigarro, não fuma o dia inteiro, oupor que, se não gosta, dáse ao trabalho de

fumar.

O FUMANTE SEIS MESES SIM, SEIS MESESNÃO. (Ou “Posso parar quando quiser. Jáparei milhares de vezes”.) Se ele gostatanto de fumar, por que pára por seismeses? Se não gosta, por que recomeça?A verdade é que ele ainda está viciado.Embora consiga driblar a dependênciafísica, continua com o principal problema– a lavagem cerebral. Cada vez que pára,ele espera que seja para sempre, mas logocai na armadilha outra vez. Muitosfumantes invejam este tipo, pensando:“Como ele tem sorte de poder pararquando deseja.” O que ninguém percebe éque essas pessoas que param erecomeçam não têm o controle dasituação. Quando estão fumando,

desejariam não fazê-lo. Então, enfrentamtodas as complicações para parar, depoiscomeçam a se sentir privadas, caem naarmadilha outra vez e lamentamnovamente ter caído. Elas conseguemobter o pior dos dois mundos. Quando sãofumantes, desejariam não sê-lo; quandosão não-fumantes, desejariam poderfumar. Se pensarmos bem, isso se aplica atoda a nossa vida de fumantes. Quandotemos permissão para dar nossasbaforadas, fumamos sem prestar atençãoou desejamos não estar fumando. Somentequando não podemos fumar é que oscigarros nos parecem tão valiosos. Este éo terrível dilema dos fumantes: eles nuncaconseguem sair vitoriosos, pois estãosofrendo por um mito, uma ilusão. Só háuma maneira de vencer: parar de fumar e

parar de sofrer!

O FUMANTE QUE SÓ ACENDE UM CIGARROEM OCASIÕES ESPECIAIS. Isso mesmo. Noinício é assim para todos. Mas não éincrível observar como o número deocasiões especiais parece aumentar comrapidez e, antes que possamos perceber,estamos fumando em todas as ocasiões?

O FUMANTE QUE JÁ PAROU, MAS AINDAACENDE UM CIGARRO/CHARUTO DE VEZ EMQUANDO. De certa maneira, esses são osfumantes mais patéticos. Ou passam avida inteira acreditando que estãosofrendo uma privação ou, maisfreqüentemente, o cigarro/charutoocasional se torna dois. Eles permanecemna ladeira escorregadia que só leva a umlugar – PARA BAIXO . Mais cedo ou mais

tarde, voltam a ser fumantes inveterados.Caem de novo na mesma armadilha que osvitimou na primeira vez.

Existem outros dois tipos de fumantesocasionais. O primeiro é aquele que fumaapenas um cigarro ou charuto de vez emquando, em encontros sociais. Essaspessoas são, na verdade, não-fumantes.Elas não gostam de fumar. Mas sentemque estão perdendo alguma coisa.Desejam participar dos acontecimentos.Todos nós começamos assim. Da próximavez que distribuírem charutos numa festa,observe como, após algum tempo, osfumantes param de acendê-los. Até mesmoos fumantes inveterados ficam ansiosospara acabar de fumar os tais charutos.Eles prefeririam mil vezes estar fumando

suas marcas prediletas de cigarros.Quanto mais caro e maior o charuto, maisfrustrante é a situação – aquele rolomaldito parece durar a noite inteira.

O segundo tipo é muito raro. Naverdade, de todos os milhares deindivíduos que buscaram a minha ajuda,só me lembro de uma dúzia de exemplos.Este tipo pode ser bem descrito através deum dos casos mais recentes de que tratei.

Uma mulher me telefonou pedindo umasessão particular. Era uma advogada quefumava há 12 anos e nunca acendia nemmais nem menos que dois cigarros pordia, em toda a sua vida de fumante. Erauma pessoa de grande força de vontade.Expliquei a ela que o índice de sucessoem sessões de grupo era tão alto quantoem sessões privadas e que eu só fazia

terapia individual quando lidava comalguém tão conhecido a ponto deatrapalhar o andamento do grupo. Elacomeçou a chorar e eu não tive coragemde dizer não.

As sessões particulares eram caras. Naverdade, muitos fumantes questionariampor que ela desejava parar. Qualquer umdeles pagaria com prazer o que eu estavacobrando daquela mulher só para sercapaz de fumar apenas dois cigarros pordia. Eles achavam, equivocadamente, quefumantes ocasionais são mais felizes e têmmaior controle. Ora, os fumantesocasionais podem até ter controle, masnão são felizes. Veja o exemplo daadvogada. Seu pai e sua mãe haviammorrido de câncer de pulmão antes de elase viciar. Como eu, até acender o

primeiro cigarro, ela tinha muito medo defumar. Como eu, essa mulher se deixoulevar por fortes pressões e experimentouaquele primeiro cigarro. Como eu, elatambém se lembrava do gosto ruim.Diferentemente de mim, que me rendi eme tornei um fumante inveterado commuita rapidez, ela continuava resistindopara não cair de vez na armadilha.

Tudo o que você usufrui de um cigarroé o fim do anseio por fumá-lo, seja ele omais imperceptível desejo físico denicotina ou a tortura mental de sentir umacoceira e estar com as mãos amarradas.Cigarro, por si só, nada mais é que sujeirae veneno. É por isso que você só tem ailusão de obter prazer com ele após umperíodo de abstinência. Assim comoacontece quando você está com fome ou

com sede, quanto maior o tempo deprivação, maior será o prazer dasaciedade. Os fumantes caem no erro deacreditar que fumar é apenas um hábito.Eles pensam: “Se eu conseguirestabelecer um limite, se fumar apenas emcertas ocasiões, meu corpo e meu cérebroirão aceitar. Então, poderei manter essenível ou diminuir, quando desejar.”Entenda bem: o “hábito” não existe.Fumar é estar viciado numa droga. Atendência natural é aliviar os sintomas daabstinência, e não suportá-los. Até para seconservar no patamar em que você seencontra é necessário exercitar a força devontade e a disciplina pelo resto da vida,porque, à medida que seu organismo vaificando imune à nicotina, ele deseja obtercada vez mais, e não cada vez menos.

Enquanto a droga vai destruindo vocêfísica e mentalmente, enquanto ela vaianiquilando seu sistema nervoso, suacoragem e sua confiança, você começa aficar cada vez mais incapaz de reduzir ointervalo entre um cigarro e outro. É porisso que, nos primeiros tempos, podemospegar ou largar. Um simples resfriado,por exemplo, pode nos fazer parar. Issotambém explica por que uma pessoa comoeu, que nunca teve a ilusão de gostar dotabaco, se tornou um fumante inveteradomesmo que cada cigarro tenha setransformando em uma tortura física.

Não tenha inveja da mulher quedescrevi. Quando você fuma um únicocigarro a cada 12 horas, ele parece ser oque há de mais precioso sobre a face daTerra. Por 12 anos, aquela pobre mulher

esteve no centro de uma batalha. Ela nãoera capaz de parar de fumar, e tinha medode aumentar a quantidade de cigarros eacabar desenvolvendo câncer de pulmãocomo seus pais. Entretanto, por 23 horas e10 minutos de cada um daqueles dias, elateve de vencer a tentação. Só mesmo comuma gigantesca força de vontade elaconseguiu fazer o que fez, e, como jádisse, esses casos são raros. Foi umsofrimento indescritível. Analisemos asituação racionalmente: ou existe umamuleta ou um prazer reais no cigarro, ounão existe nada disso. Se existe, quemesperaria uma hora, um dia ou umasemana para obtê-lo? Se não existe, porque acender um cigarro?

Lembro-me de outro caso, um homemque fumava cinco vezes ao dia. Ele

começou a conversa ao telefone com umavoz gutural: “Sr. Carr, quero parar defumar antes que eu morra.” Veja como eledescreveu a própria vida:

“Estou com 61 anos. Tenho câncer nagarganta, conseqüência do cigarro.Hoje, só consigo suportar, fisicamente,cinco cigarros de enrolar por dia. Eucostumava dormir profundamente anoite toda. Agora, acordo de hora emhora e só consigo pensar em fumar. Atéquando estou dormindo, sonho comcigarros. Só posso acender o meuprimeiro cigarro às 10 horas. Levanto-me às 5 da manhã e bebo incontáveisxícaras de chá. Minha mulher levantamais ou menos às 8 horas e, como meuhumor a essa hora está péssimo, ela

pede que eu saia de casa. Vou entãopara o jardim, onde temos uma estufade plantas, e tento me ocupar, masminha mente está obcecada pelocigarro. Às 9 horas, começo a enrolarmeu primeiro cigarro e só dou porterminada a tarefa quando ele ficaperfeito. Não é que eu precise dessapefeição, mas isso me dá algo parafazer. Então, espero até as 10 horas.Quando chega a hora, minhas mãosestão tremendo incontrolavelmente. Euainda não acendo o cigarro nesse momento. Se o fizer, terei de esperar trêshoras pelo próximo. Espero mais umpouco, acendo o cigarro, dou umabaforada e o apago imediatamente.Com esse processo, consigo fazer comque o cigarro dure uma hora. Eu fumo

até o cigarro ficar com uns seismilímetros e espero pelo próximo.”

Além dos outros problemas queenfrenta, esse pobre homem temqueimaduras nos lábios causadas pelofato de fumar o cigarro até ele ficarpequeno demais. É provável que você oimagine como um idiota patético. Nadadisso. Estou falando de um homem demais de 1,80m, ex-sargento do Corpo deFuzileiros Navais. Ele foi atleta e nuncadesejou se tornar fumante. Entretanto,acabou se viciando ao ser enviado para aguerra, pois os homens nas frentes debatalha recebiam cigarros gratuitamenteporque a sociedade acreditava que eleslhes davam coragem. Esse indivíduopraticamente recebeu ordens de se tornar

um fumante. Ele passou o resto da vidapagando caro pelo vício, inclusive osaltos impostos sobre o cigarro cobradospelo governo, além de arruinar a própriasaúde física e mental. Se fosse um animal,nossa sociedade já o teria livrado de tantosofrimento. Entretanto, nós aindapermitimos que adolescentes física ementalmente saudáveis transformem-se emviciados.

Você pode achar que esse caso é umexagero. Ele é extremo, mas não é único.Há milhares de histórias similares por aí.Aquele homem abriu o coração para mim,mas você pode ter certeza de que muitosdos amigos e conhecidos dele oinvejavam por fumar apenas cinco pordia. Se você acha que isso jamais iriaacontecer em sua vida, PARE DE ENGANAR

A SI MESMO.

JÁ ESTÁ ACONTECENDO.

Por outro lado, os fumantes sãonotoriamente mentirosos, até para simesmos. Eles precisam ser. Váriosfumantes ocasionais consomem muitomais cigarros do que admitem e em muitomais ocasiões. Já conversei com inúmerosfumantes do tipo “cinco por dia” e os viacenderem mais de cinco cigarros naminha frente. Observe os fumantesocasionais em eventos sociais, comocasamentos e festas em geral. Eles fumamum cigarro atrás do outro.

Você não precisa ter inveja dosfumantes ocasionais. Você não precisa

fumar. A vida é infinitamente maisagradável sem o cigarro.

Os adolescentes são, em geral, maisdifíceis de curar, não porque achamdifícil parar, mas porque não acreditamque estão viciados ou porque estão noestágio inicial da doença e têm a ilusão deque terão parado antes do segundoestágio.

Gostaria de fazer uma advertênciaespecial aos pais que têm filhos queodeiam cigarro. Eles devem tomarcuidado para não desenvolver um falsosentimento de segurança. Todas ascrianças detestam o cheiro e o gosto dotabaco, até o dia em que se viciam. Vocêtambém já detestou. E que esses pais nãose deixem enganar pelas campanhasamedrontadoras lançadas pelo governo. A

armadilha é a mesma de sempre. Ascrianças e os jovens já sabem quecigarros matam, mas sabem também queum único cigarro não vai matá-los. Emdeterminado estágio, eles podem se deixarinfluenciar por namorados ou namoradas,colegas da escola ou do trabalho. Vocêpode achar que eles só precisamexperimentar um cigarro, que terá umgosto horrível e os fará parar. Mas essa éa armadilha que irá convencê-los de quenunca ficarão viciados.

Acredito que a mais perturbadora dasmuitas facetas terríveis do vício é o fatode a sociedade não conseguir evitar quenossos filhos se tornem dependentes danicotina e de outras drogas. Já penseimuito sobre isso e escrevi um livro quetrata especialmente de como evitar que

nossos filhos se viciem e como ajudá-losa sair dessa situação, caso já estejamviciados. É fato que a grande maioria dosjovens que se tornam dependentes dedrogas pesadas é apresentada ao conceitode dependência química ao cair naarmadilha da nicotina. Se você puderajudar esses jovens a fugir dessaarmadilha, reduzirá drasticamente o riscode virem a se tornar viciados em drogasmais pesadas. Eu lhe peço: não sejacomplacente com esse tema. É precisoproteger os jovens o mais cedo possível.

Capítulo 26O fumante secreto

O fumante secreto deveria estaragrupado com os fumantes ocasionais,mas os efeitos de fumar escondido são tãoterríveis que este tipo merece um capítuloà parte. Fumar em segredo pode abalarrelacionamentos pessoais. No meu caso,quase levou ao divórcio.

Havia três semanas que eu estava, maisuma vez, tentando parar. Esse esforçotinha sido estimulado pela angústia deminha esposa com minha tosse constante eminha dificuldade de respirar. Eu disse aela que não estava preocupado com minhasaúde. Ela retrucou: “Sei que você não

está, mas como se sentiria se tivesse quever uma pessoa que você ama sedestruindo sistematicamente?” Semdúvida, um argumento irrefutável e daí aminha decisão de parar. Mas essatentativa frustrou-se em três semanas,após uma acalorada discussão com umvelho amigo. Somente muitos anos depoisé que me dei conta de que minha menteperturbada havia provocado a tal briga.Fiquei muito ofendido na ocasião, mas seique não foi coincidência, pois nunca haviame desentendido com aquele amigo antese nunca mais discutimos desde então. Era,sem dúvida, o pequeno monstro atuando.De qualquer maneira, arranjei minhadesculpa. Eu precisava desesperadamentede um cigarro e recomecei a fumar.

Mas não conseguia nem pensar na

decepção que traria à minha mulher, porisso não contei a ela. Eu só fumavaquando estava sozinho. Então,gradualmente, comecei a fumar nacompanhia de amigos até chegar a umponto em que todos sabiam que eu estavafumando, menos a minha mulher. Eu melembro de estar bastante satisfeito naépoca, pensando: “Pelo menos estoudiminuindo o consumo.” Algum tempodepois, ela me acusou de ter voltado afumar. Eu não havia percebido, mas eladescreveu as ocasiões em que euprovocava brigas e saía de casa. Outrasvezes, eu levava duas horas para compraralgum item insignificante ou inventavadesculpas esfarrapadas para ir sozinho aalgum lugar aonde minha mulher sempreme acompanhara.

À medida que a fenda social entrefumantes e não-fumantes aumenta, háliteralmente milhares de casos em que acompanhia de amigos e parentes começa aser restringida ou evitada por causa doamaldiçoado tabaco. O pior aspecto defumar escondido é que essa atitudecorrobora na mente do fumante a faláciade que ele está sendo privado de algumacoisa. Ao mesmo tempo, ela causa umagrande perda de respeito por si mesmo:uma pessoa que sempre agiu comhonestidade acaba se forçando a enganar afamília e os amigos.

É provável que isso já tenha acontecidoou esteja acontecendo com você, dealguma maneira.

Comigo, aconteceu várias vezes. Vocêalguma vez viu ou ouviu falar de uma

série de detetives chamada Columboexibida na TV nos anos 1970? Osepisódios sempre começavam mostrandoo assassino, em geral um homem denegócios rico e respeitável, cometendoum crime que ele considerava perfeito.Ao descobrir que o responsável pelainvestigação seria o inexpressivo e mal-ajambrado tenente Columbo, o vilãoficava ainda mais confiante.

O detetive tinha um hábito irritante.Assim que terminava seus interrogatórios,ele saía da sala garantindo ao suspeitoque não havia provas contra ele. Mas,antes que o olhar de satisfaçãodesaparecesse do rosto do assassino, otenente reaparecia e dizia: “Apenas umpequeno detalhe, meu amigo, que osenhor, sem dúvida, saberá explicar…” O

suspeito começava a gaguejar e sabíamosque ele tinha certeza de que Columbo iriavencê-lo pelo cansaço.

Por pior que fosse o crime, daqueleponto em diante toda a minha simpatiadirecionava-se ao assassino. Era quasecomo se eu fosse o criminoso, pois eraassim que aquelas sessões de tabagismosecreto me faziam sentir. As horas sempoder fumar, a fuga para a garagem parauma tragada secreta, os dez minutos detremor no frio, perguntando a mim mesmoonde estava o prazer. O medo de sersurpreendido em flagrante delito. Será queela iria descobrir onde eu haviaescondido os cigarros, o isqueiro e asguimbas? O alívio de voltar para casasem ter sido descoberto, seguido pelomedo de que ela sentisse o cheiro da

nicotina no meu hálito ou nas minhasroupas. Quanto maiores os riscos, maior acerteza de que, cedo ou tarde, seriadesmascarado. A humilhação e a vergonhaquando a certeza se tornou um fato,seguido do imediato retorno ao tabagismoconstante.

AH, AS ALEGRIAS DE SER FUMANTE!

Capítulo 27Um hábito social?

A principal razão para a existência demais de 15 milhões de exfumantes naInglaterra desde os anos 1960 é arevolução social que está acontecendo.

Sim, já sei: a saúde e logo depois odinheiro são as principais razões pelasquais devemos parar de fumar, mas foisempre assim. Nós não precisamos nossentir ameaçados pelo câncer para saberque o cigarro destrói a nossa vida. Nossoscorpos são as criações mais sofisticadasdo planeta e qualquer fumante sabe deimediato, desde a primeira baforada, queo cigarro é um veneno.

O único motivo pelo qual nosenvolvemos com o cigarro é a pressãosocial de nossos amigos. A únicavantagem que o cigarro já teve algum diafoi o fato de, em determinada época, tersido considerado um hábito socialaceitável.

Hoje ele é considerado, até pelos quefumam, um hábito anti-social.

Nos velhos tempos, o homem fortefumava. Se você não fumasse, eraconsiderado um maricas. Todos nós nosesforçávamos muito para desenvolver ovício. Em todos os bares ou clubes, amaioria dos homens estava tragando comorgulho o seu tabaco. Havia uma nuvempermanente sobre a cabeça das pessoas eos tetos que não eram pintadosregularmente logo assumiam uma

tonalidade amarela ou marrom.Hoje a situação está completamente

mudada. Os homens fortes não precisamfumar. O homem forte atual não dependede nenhuma droga.

Com a revolução social, os fumantesestão pensando seriamente em parar e sãoconsiderados seres humanos fracos.

A tendência mais significativa que jáobservei desde que escrevi a primeiraedição deste livro, em 1985, é a ênfasecrescente no aspecto anti-social dotabagismo. O tempo em que o cigarro eraum símbolo da mulher sofisticada e dohomem “machão” se foi para sempre.Todos agora sabem que o único motivopelo qual as pessoas continuam fumando éo fato de não conseguirem parar ou deterem medo de tentar. Todos os dias, o

fumante é exposto ao ridículo porproibições no escritório e em lugarespúblicos, ou por ataques de ex-fumantesque se consideram mais virtuosos que oresto da população. Isso mostra que osmaneirismos dos fumantes estão mudando.Tenho presenciado situações que eramcomuns nos meus tempos de menino, masque eu não via há muitos anos – comofumantes jogando a cinza nas mãos oubolsos por terem vergonha de pedir umcinzeiro.

Há alguns anos, eu estava numrestaurante, era meia-noite e todos jáhaviam parado de comer. Num momentoem que cigarros e charutos costumam serabundantes, ninguém estava fumando.Presunçosamente, imaginei: “Estoucomeçando a causar algum impacto nas

pessoas.” Então perguntei ao garçom: “Éproibido fumar neste restaurante?” Eledisse que não. Pensei: “Que coisaestranha. Sei que muitas pessoas estãoparando de fumar, mas deve haver pelomenos um fumante aqui.” Alguém acabouacendendo um cigarro num canto do salãoe o resultado foi uma série de luzespiscando por todo o restaurante. Todosaqueles fumantes estavam ali sentados,imaginando: “Não é possível que eu sejao único fumante aqui dentro.”

Atualmente, muitos indivíduos não sesentem à vontade para fumar. Muitos nãoapenas pedem desculpas, mas tambémolham ao redor para ver se há outraspessoas que possam reclamar. Como, acada dia, mais e mais fumantesabandonam o navio que está afundando, os

que nele permanecem têm muito medo deserem os últimos.

NÃO PERMITA QUE O ÚLTIMO SEJA VOCÊ!

Capítulo 28O momento certo

Além de ser óbvio que, uma vez que ocigarro não traz nada de bom para você,agora é a hora de parar, creio que éimportante encontrar o momento certo.Nossa sociedade trata o tabagismo comuma certa leviandade, como se fosse umhábito ligeiramente desagradável quepode prejudicar a sua saúde. Não é nadadisso. É um vício em uma droga, umadoença, o assassino número um nasociedade. A pior coisa que acontece navida da maioria dos fumantes é adependência dessa terrível erva. Secontinuarem viciados, poderão sofrer

conseqüências terríveis. Descobrir omomento de parar é crucial para que vocêtenha direito a uma cura adequada.

Em primeiro lugar, identifique as horasou ocasiões em que fumar parece serfundamental. Se você é um homem denegócios e fuma pela ilusão de que issoalivia o estresse, escolha um período demenos agitação para parar. Uma boa idéiaseria parar nas férias. Se você fuma maisem momentos relaxantes ou monótonos,faça o oposto. De qualquer maneira, leveo assunto a sério, fazendo dessa tentativaa coisa mais importante de sua vida.

Pense num período futuro de cerca detrês semanas e tente imaginar qualqueracontecimento que possa levá-lo aofracasso. Uma festa de casamento ou oNatal não são motivos para detê-lo, desde

que você consiga antevê-los sem acharque vai se sentir privado de alguma coisa.Não tente reduzir o número de cigarrosnesse meiotempo, pois isso só vai criar ailusão de que o cigarro é agradável eestimular seu consumo. Enquanto estiverfumando aquele último cigarro, tomeconsciência do cheiro e do gosto horríveise pense como será maravilhoso quandovocê se permitir parar de fumar.

FAÇA O QUE FOR, NÃO CAIA NAARMADILHA DE APENAS DIZER “AGORA NÃO,MAIS TARDE”, TIRANDO O ASSUNTO DACABEÇA. FAÇA SUA PROGRAMAÇÃOIMEDIATAMENTE E AGUARDE COM ALEGRIAO MOMENTO ESCOLHIDO. Lembre-se: vocênão está abrindo mão de nada. Muito pelocontrário – está prestes a obter vantagensmaravilhosas.

Há muitos anos venho afirmando que

conheço profundamente os mistérios dotabagismo. O problema é o seguinte:embora o fumante acenda um cigarrosimplesmente para aliviar a dependênciaquímica da nicotina, não é o vício emnicotina que o aprisiona, mas a lavagemcerebral que resulta desse vício. Umindivíduo inteligente também cai noconto-do-vigário, mas somente um tolocontinua caindo na mesma trapaça depoisde se dar conta de que é uma trapaça.Felizmente, os fumantes, em sua maioria,não são tolos; eles apenas pensam quesão. Cada fumante, individualmente, tem asua própria lavagem cerebral. É por issoque parece haver uma variedade tãogrande de tipos de fumantes, o que sóserve para aumentar o mistério.

Depois de anos aprendendo todos os

dias algo novo sobre o tabagismo erecebendo feedback dos leitores, tive agrata surpresa de perceber que a filosofiaque propus na primeira edição deste livrocontinua válida. O conhecimentoacumulado ao longo do tempo me ensinoua comunicar o que aprendi a cada fumanteem particular. Saber que todo fumantepode não apenas achar fácil parar, mastambém ter prazer nesse processo seriainútil e extremamente frustrante se eu nãoconseguisse fazer com que ele própriopercebesse isso.

Muitas pessoas já me disseram: “Vocênos recomenda continuar a fumar atéacabar de ler o livro. Isso faz com que ofumante leve séculos para terminar aleitura ou não a termine nunca. Por isso,acho que você deveria mudar essa

instrução.” Esse argumento parece lógico,mas sei que, se a instrução fosse “Pareimediatamente”, alguns fumantes nemcomeçariam a ler o livro.

Até hoje me lembro do desabafo de umfumante que veio me procurar nosprimeiros tempos: “Eu realmente me sintomal por ter de buscar sua ajuda. Sei quesou uma pessoa de grande força devontade. Tenho controle sobre todas asoutras áreas de minha vida. Por que outrosfumantes conseguem parar usando suaforça de vontade e eu tenho de vir atéaqui?” E prosseguiu: “Acho queconseguiria parar sozinho, se pudessecontinuar a fumar enquanto estivesseparando.”

Isso pode parecer uma contradição,mas entendi o que ele queria dizer. Nós

achamos que parar de fumar é algo muitodifícil. E do que precisamos quandotemos de enfrentar uma dificuldade? Donosso amigo de todas as horas. Então,parar de fumar parece ser um golpe duplo.Não apenas temos uma tarefa difícil arealizar, mas nossa muleta, com a qualcontamos para atravessar essas ocasiões,não está mais ao nosso dispor.

Muito tempo depois de aquele homemir embora é que percebi que a grandebeleza do meu método está nessainstrução para não parar antes de terminara leitura do livro. Você pode continuar afumar enquanto enfrenta o processo deparar. Primeiro, livre-se de todas asdúvidas e medos e, ao apagar aqueleúltimo cigarro, já será um não-fumante eterá prazer em saber disso.

O único ponto que me fez questionarseriamente o meu conselho inicial foi este,sobre o momento certo. Eu disse algumaslinhas acima que, se o seu cigarroespecial é fumado em situações deestresse no es critório, você deveria optarpelas férias para tentar parar e vice-versa.Na verdade, essa não seria a maneiramais indicada de parar, e sim escolheraquela hora que você considera a maisdifícil, seja ela ligada a estresse, eventossociais, concentração ou tédio. Uma vezque você possa provar que consegue lidarcom a vida e apreciála nas pioressituações sem o cigarro, todas as outras setornarão fáceis. Mas, se eu lhe desseexplicitamente essa instrução, você aomenos tentaria parar?

Para que você entenda melhor, farei

uma analogia. Minha mulher e eu fazemosnatação. Nós chegamos à piscina namesma hora, mas raramente nadamosjuntos. Por quê? Porque ela, primeiro,mergulha um dedo do pé e só meia horadepois começa a nadar de verdade. Eunão agüento essa lenta tortura. Já sei que,em algum momento, por mais gelada que aágua esteja, terei de enfrentá-la. Assimsendo, aprendi a fazer isso da forma maisfácil: mergulho na piscina de uma só vez.Se eu dissesse à minha mulher que, se elanão mergulhasse de uma só vez, nãopoderia nadar, tenho certeza absoluta deque ela acabaria abrindo mão da natação.Entendeu a situação?

Pelas respostas que tenho obtido, seique muitos fumantes usaram o conselhoque dei sobre o momento certo só para

adiar aquele que, segundo imaginam, seráo dia fatal. Minha idéia então foi usar omes mo recurso do capítulo sobre asvantagens de fumar. Pensei em escreveralgo como: “A hora certa é importante evou orientá-lo sobre o melhor momentopara a sua tentativa.” O leitor viraria apágina e veria um imenso AGORA. Este é,de fato, o melhor conselho. Mas você oseguiria?

Pois esse é o aspecto mais sutil daarmadilha do cigarro. Quandoenfrentamos um estresse verdadeiro emnossas vidas, não é o momento de parar. Ese não há nenhum estresse, não temos odesejo de parar.

Faça a si mesmo as seguintes perguntas:Quando fumou seu primeiro cigarro,

você realmente decidiu, naquele instante,

que continuaria a fumar pelo resto davida, o dia inteiro, todos os dias, semjamais ser capaz de parar?

É CLARO QUE NÃO!Você pretende continuar a fumar pelo

resto da vida, o dia inteiro, todos os dias,sem jamais ser capaz de parar?

É CLARO QUE NÃO!Então, quando você vai parar?

Amanhã? No ano que vem? No anoseguinte?

Não é isso mesmo o que você vem seperguntando desde que percebeu queestava viciado? Você está esperando queum dia, ao acordar, simplesmente nãotenha mais vontade de fumar? Pare deenganar a si mesmo. Passei 33 anosesperando que isso acontecesse comigo.O vício numa droga o deixa cada vez mais

– e não menos – dependente. Você achaque vai ser mais fácil amanhã? Pois aindaestá enganando a si mesmo. Se não écapaz de parar hoje, o que o faz pensarque amanhã será mais fácil? Você vaiesperar até contrair uma daquelas doençasfatais? Isso não faria o menor sentido.

A verdadeira armadilha é a crença deque agora não é a hora certa – amanhãserá sempre mais fácil.

Nós acreditamos que levamos vidasestressantes. Não levamos, não. Járetiramos de nossas vidas a maior partedo verdadeiro estresse. Quando você saide casa, não tem medo de ser atacado poranimais selvagens. Mas pense na vida deum coelho. Toda vez que sai da toca, portoda a vida, ele enfrenta uma guerra. Maso coelho sabe lidar com essa guerra. Ele

possui adrenalina e outros hormônios –assim como nós. A verdade é que osperíodos mais estressantes da existênciade qualquer criatura são a primeirainfância e a adolescência. Mas trêsbilhões de anos de seleção natural nosequiparam para lidar com o estresse. Eutinha cinco anos de idade quando a guerracomeçou. Fomos bombardeados e fiqueiseparado de meus pais por dois anos,alojado com pessoas que não me tratavambem. Foi um período infeliz em minhavida, mas consegui lidar com ele. Nãoacredito que essa situação tenha medeixado cicatrizes permanentes; aocontrário, penso que fez de mim um serhumano mais forte. Quando faço umretrospecto da minha vida, vejo que sóhouve um ponto com o qual não consegui

lidar: minha escravidão à amaldiçoadaerva.

Alguns anos atrás, eu achava que tinhatodas as preocupações do mundo. Eu meconsiderava um suicida – não porquequisesse pular da janela, mas porquesabia que o cigarro não demoraria a mematar. Costumava argumentar que, seaquilo era a vida com uma muleta, sem elanão valeria a pena viver. O que eu nãopercebia era que, quando estamos física ementalmente deprimidos, tudo nosempurra para baixo. Hoje sinto-me jovemoutra vez. Só uma coisa me fez mudarminha vida: pulei fora do poço do cigarro.

Sei que é um clichê afirmar que “sevocê não tem boa saúde, não tem nada”,mas é absolutamente verdade. Eucostumava pensar que os fanáticos pela

boa forma eram uns chatos. Dizia quehavia coisas mais importantes do queestar em forma – a bebida e o tabaco, porexemplo. Isso é uma grande besteira.Quando você se sente física ementalmente forte, consegue aproveitar osaltos e lidar com os baixos da vida.Costumamos confundir responsabilidadecom estresse. A responsabilidade se tornaestressante somente quando não nossentimos fortes o bastante para lidar comela. Homens como Richard Burton sãofísica e mentalmente fortes. O que osdestrói não é o estresse da vida, não é otrabalho, não é a velhice, mas as muletas aque recorrem, que não passam de merasilusões. Infelizmente, no caso dele, assimcomo em milhões de outros, as muletasmatam.

Veja a questão sob o seguinte aspecto:você já decidiu que não vai passar o restoda vida na armadilha. Portanto, em algummomento, achando fácil ou difícil, terá depassar pelo processo para libertar-se.Fumar não é um hábito nem um prazer. Éum vício numa droga, uma doença. Nós jáestabelecemos que parar amanhã não serámais fácil, e sim, progressivamente, maisdifícil. Quando se tem uma doença que vaipiorar a cada dia, o momento de se livrardela é AGORA – ou o mais próximo doagora possível. Pense na rapidez com quecada semana de nossas vidas vem e vai. Ésó isso que você precisa fazer. Pense emcomo será agradável passar o resto davida sem uma sombra cada vez maisobscura pairando sobre sua cabeça. E, sevocê seguir minhas instruções, não terá de

esperar nem cinco dias. Depois queapagar o derradeiro cigarro, você não vaisimplesmente achar fácil parar, VOCÊ VAIGOSTAR DE FAZÊ-LO!

Capítulo 29Eu vou sentir falta do cigarro?

Não! Quando aquele pequeno monstroestiver morto e seu corpo parar de ansiarpor nicotina, qualquer lavagem cerebralrestante irá desaparecer e você descobriráque estará muito mais bem equipado físicae mentalmente não só para lidar com oestresse e as tensões da vida, mas tambémpara desfrutar ao máximo os bonsmomentos.

Só existe um perigo: a influência daspessoas que fumam. “A grama do vizinhoé sempre mais verde do que a nossa” é umlugarcomum que se aplica a muitosaspectos de nossas vidas e, de modo

geral, conseguimos compreenderfacilmente por quê. Mas, no caso dotabagismo – em que as desvantagens sãotão grandes quando comparadas àsilusórias “vantagens” –, por que os ex-fumantes tendem a invejar os fumantes?

Com toda a lavagem cerebral querecebemos desde a infância, écompreensível que as pessoas caiam naarmadilha do cigarro. Entretanto, quandonos conscientizamos de que esse jogo épara os tolos e finalmente conseguimosnos livrar do hábito, por que caminhamosde volta à mesma armadilha? Pelainfluência dos fumantes.

Em geral, isso acontece nas ocasiõessociais, especialmente após uma refeição.O fumante acende um cigarro e o ex-fumante sente uma angústia. Isso é uma

anomalia muito curiosa, principalmente seconsiderarmos as seguintes conclusões deuma pesquisa de mercado: todo não-fumante do mundo sente-se feliz por serum não-fumante e todo fumante do mundogostaria de nunca ter se viciado, apesar dailusão de prazer que obtém de sua mentedistorcida, viciada e que sofreu lavagemcerebral. Então por que alguns ex-fumantes invejam o fumante nessasocasiões?

Por duas razões.

1. “Só um cigarro.” Lembre-se: issonão existe. Pare de pensar naquelaocasião especial e comece aenxergá-la do ponto de vista dofumante. Você pode estar sentindoinveja dele, mas ele não aprova a

si mesmo – ele inveja você.Comece a observar outrosfumantes. Eles podem ser o maiorestímulo para fazê-lo livrar-se daarmadilha. Observe a rapidez comque o cigarro queima, a rapidezcom que o fumante precisaacender mais um. Observeespecialmente que ele não temconsciência de que está fumando eque até o ato de acender o cigarroparece automático. Lembre-se, elenão está desfrutando nada disso;simplesmente não consegue sedivertir sem fumar. Lembre-seprincipalmente de que, quando elesair de perto de você, terá decontinuar a fumar. Na manhãseguinte, quando acordar com um

gosto de cinzeiro na boca, terá decontinuar a sufocar-se. Napróxima vez que tiver uma dor nopeito, que não puder evitar ler asadvertências do Ministério daSaúde, que tiver medo de contraircâncer, que estiver na igreja, nometrô, na biblioteca, no dentista,no médico, no supermercado,fazendo uma visita num hospital,na próxima vez que estiver nacompanhia de não-fumantes, eleterá de continuar sua existência defumante inveterado, gastando umafortuna pelo “privilégio” dedestruir a si mesmo física ementalmente. Ele enfrenta umavida inteira de escravidão, umavida inteira de autodestruição,

uma vida inteira de nuvens negraspairando sobre a cabeça. E tudoisso para alcançar que objetivo?A ilusão de tentar voltar ao estadoem que se encontrava antes de setornar um viciado.

2. A segunda razão pela qual algunsex-fumantes sentem uma agonianessas ocasiões é o fato de ofumante estar fazendo algo –fumando um cigarro – e ele nãoestar fazendo nada, o que lhe dá asensação de estar sendo privadode alguma coisa. Mas é o pobrefumante quem está sendo privadode:

SAÚDE

ENERGIADINHEIROCONFIANÇAPAZ DE ESPÍRITOCORAGEMTRANQÜILIDADELIBERDADERESPEITO POR SI MESMO

Livre-se do hábito de sentir inveja dosfumantes e comece a enxergá-los como ascriaturas infelizes e patéticas querealmente são. Sei disso muito bem: euera o pior de todos. É por isso que vocêestá lendo este livro, e aqueles que nãosão capazes de enfrentar o problema, queprecisam enganar a si mesmos, continuamsendo os mais patéticos de todos.

Você não teria inveja de um viciado em

heroína. Na Inglaterra, a heroína matacerca de cem pessoas por ano enquanto anicotina mata mais de 120 mil. No Brasil,o tabagismo mata 200 mil pessoas por anoe, no mundo todo, o número de mortescausadas pelo cigarro chega a 4 milhões.Ele já matou mais pessoas neste planetado que todas as guerras juntas. Como todadependência de drogas, a sua também nãovai melhorar. A cada ano, ela vai piorarmais e mais. Se você não gosta de serfumante hoje, vai gostar ainda menosamanhã. Não tenha inveja dos fumantes.Tenha pena deles. Acredite: ELESPRECISAM DA SUA COMPAIXÃO.

Capítulo 30Eu vou engordar?

Esse é outro mito sobre fumar.Provavelmente foi difundido por fumantesque, ao tentar parar usando o Método daForça de Vontade, substituíram a nicotinapor doces para ajudar a aliviar ossintomas da síndrome de abstinência. Ossintomas da abstinência da nicotina sãomuito semelhantes aos da fome e sãofacilmente confundidos. Entre tanto, oincômodo provocado pela fome pode sersatisfeito com a comida, enquanto ossintomas da abstinência da nicotina nuncasão completamente satisfeitos.

Como acontece com qualquer droga,

após algum tempo o corpo vai ficandoimune aos seus efeitos. Ou seja, a droganão consegue mais aliviar os sintomas daabstinência. Tão logo apagamos umcigarro, a nicotina começa a deixar oorganismo e, dessa maneira, o viciadosente uma fome permanente desta droga. Atendência é acabar fumando um cigarroatrás do outro. Entretanto, a maioria dosfumantes é impedida de fazer isso por umadas razões abaixo ou pela combinação dasduas:

1. Dinheiro. O fumante não temcondições de gastar mais comcigarro.

2. Saúde. Para aliviar os sintomasda abstinência, temos de ingerir

um veneno, o que age como umaforma automática de controle donúmero de cigarros queconseguimos fumar.

Portanto, os fumantes sentem uma fomeconstante, que nunca conseguemsatisfazer. É por isso que muitos passam acomer ou beber em excesso, ou até mesmoa utilizar drogas mais pesadas paraSATISFAZER ESSE VAZIO. (A MAIORIA DOSALCOÓLICOS TAMBÉM FUMADESBRAGADAMENTE. SERÁ QUE ÉREALMENTE UM PROBLEMA DE TABAGISMO?)

Para o fumante, a tendência natural écomeçar a substituir nicotina por comida.Nos meus anos de pesadelo, cheguei a umestágio em que deixava de comer no caféda manhã e no almoço. Eu fumava umcigarro atrás do outro durante o dia. Nos

últimos anos, chegava a ansiar pela noitesó por saber que conseguiria parar defumar naquele período. Porém, eu passavaa noite inteira beliscando. Achava queestava com fome, mas eram os sintomasda abstinência da nicotina. Em outraspalavras: durante o dia eu substituía acomida por nicotina e, à noite, substituía anicotina por comida.

Naquela época, eu tinha 12 quilos amais do que hoje e não havia nada que eupudesse fazer a respeito.

Assim que o pequeno monstro sai doseu organismo, o terrível sentimento deinsegurança desaparece. Sua confiançaretorna, junto com uma deliciosa sensaçãode respeito por si mesmo. Você obtém agarantia de poder controlar a própria vida– não apenas em relação aos hábitos

alimentares, mas também em outrosaspectos. Esta é uma das muitas vantagensde se livrar do tabaco.

Como já disse, o mito do peso deve-seao uso de substitutos durante a síndromede abstinência. Na verdade, isso nãofacilita em nada a situação. Só dificulta.Esse processo será explicadodetalhadamente adiante, no capítulo quetrata dos substitutos.

Desde que você siga todas asinstruções, o ganho de peso não seráproblema. Mas, se você já está acima dopeso, ou se acha que essa questão podegerar estresse adicional quando vocêparar de fumar, recomendo a leitura dol ivro Allen Carr’s Easyweigh to LoseWeight (O método fácil de perder peso),que é baseado exatamente nos mesmos

princípios do MÉTODO EASYWAY e que fazcom que o controle do peso sejaagradável.

Capítulo 31Evite falsos estímulos

Enquanto tentam parar de fumar usandoo Método da Força de Von tade, muitosfumantes procuram se motivar criandofalsos estímulos. Há muitos exemplosdesse fato. Um dos mais típicos é: “Poderei relaxar alguns dias num hotelaconchegante com o dinheiro que voueconomizar.” Essa parece ser umaabordagem lógica e sensata, mas, naverdade, é falsa, pois qualquer fumanteque se preze prefere fumar 52 semanaspor ano e não ter férias. Nesse caso, ofumante tem uma dúvida em mente, pois,além de abster-se por 52 semanas, ele não

tem certeza se vai aproveitar a viagemsem poder fumar. Tudo isso leva ofumante a pensar que está fazendo umsacrifício ainda maior e a ver o cigarrocomo algo ainda mais precioso. Em vezdisso, concentre-se no outro lado daquestão: “Do que estou me livrando? Porque preciso fumar?”

Outro exemplo de falso estímulo:“Terei dinheiro para comprar umcomputador mais moderno.” Pode serverdade e isso pode motivá-lo a parar atéconseguir comprar o tal computador. Mas,assim que a novidade tiver passado, vocêvai se sentir privado do cigarro e, maiscedo ou mais tarde, acabará caindo denovo na armadilha.

Há ainda os acordos feitos no trabalhoou em família. Esses pactos têm a

vantagem de eliminar a tentação em certosperíodos do dia. Entretanto, elescostumam fracassar pelas seguintesrazões:

1. O estímulo é falso. Por que vocêiria querer parar de fumar sóporque outras pessoas estãofazendo o mesmo? Tudo isso criauma pressão adicional, o queaumenta a sensação de sacrifício.Seria ótimo se todos os fumantesrealmente quisessem parar emdeterminado momento. Contudo,não se pode forçar ninguém alargar o vício. Embora a maioriados fumantes deseje,secretamente, abandonar ocigarro, enquanto eles não

estiverem prontos para tomar essadecisão, esse tipo de pacto só vaicausar mais estresse e ânsia defumar.

2. A teoria da “Maçã Podre” ou dainterdependência. Quando utilizao Método da Força de Vontade, ofumante enfrenta um período depenitência durante o qual esperaque o desejo de fumar desapareça.Se ele desistir, terá uma sensaçãode fracasso. Com o Método daForça de Vontade, um dosparticipantes, cedo ou tarde, tendea desistir. Os outros agora têm adesculpa pela qual esperavam.Eles não têm culpa. Teriamagüentado. O problema é que Fred

os deixou na mão. A verdade éque a maioria deles já estavafumando secretamente há algumtempo.

3. A teoria de “Dividir o Crédito” éo contrário da “Maçã Podre”.Nesse caso, a sensação defracasso não é tão ruim quandodividida. Há um maravilhososentimento de sucesso quandoparamos de fumar. Quando vocêtenta parar sozinho, o aplauso querecebe dos amigos, parentes ecolegas pode ser um enormeincentivo nos primeiro dias.Quando todo mundo está parandoao mesmo tempo, o créditoprecisa ser dividido, e o estímulo,

conseqüentemente, é reduzido.

Outro exemplo clássico desses falsosestímulos é o suborno (por exemplo, umpai que oferece dinheiro para umadolescente parar de fumar, ou uma apostado tipo “Eu lhe darei 400 reais se nãofraquejar”). Uma vez, vi um casointeressante num programa de televisão.Um policial que tentava parar de fumarcolocou uma nota de 20 libras (cerca de80 reais) em seu maço de cigarros. Elehavia feito um pacto consigo mesmo:poderia fumar outra vez, mas antes teriade colocar fogo na nota guardada nomaço. Isso o fez parar durante alguns dias,mas ele acabou queimando o dinheiro.

Pare de enganar a si mesmo. Se os 60mil reais que um fumante gasta em média

durante a vida, o enorme risco de adquirirterríveis doenças, a tortura mental efísica, o fato de ser desprezado porgrande parte da população e por si mesmo– se nada disso o faz parar, não serãoalguns falsos incentivos que farãodiferença. Ao contrário, o sacrifício vaiparecer ainda maior. Continue olhandopara o outro lado do cabo-de-guerra.

O que o cigarro faz por mim?ABSOLUTAMENTE NADA.

Por que preciso fumar? VOCÊ NÃOPRECISA! ESTÁ APENAS PUNINDO A SIMESMO.

Capítulo 32O método fácil de parar de

fumar

Este capítulo contém instruções sobre ométodo fácil de abandonar o cigarro. Sevocê as seguir, descobrirá que o ato deparar pode variar de relativamente fácil aagradável! Tudo o que você tem a fazer é:

1. Tomar a decisão de nunca maisfumar.

2. Não ficar abatido por causa disso,e sim alegrar-se.

Você deve estar se perguntando: “Por

que você não disse isso logo no início?Qual a necessidade de ler o resto dolivro?” A resposta é que você, em algummomento, poderia ter ficado triste edesanimado e, conseqüentemente,acabaria mudando de idéia. Você já deveter feito isso inúmeras vezes.

Como já expliquei, o tabagismo é umaarmadilha sutil e sinistra. O maiorproblema não é a dependência química,mas a lavagem cerebral. Por isso oprimeiro passo é derrubar mitos e ilusões.É preciso que você entenda seu inimigo,conheça suas táticas. Assim, poderávencê-lo com facilidade.

Eu passei a maior parte da minha vidatentando me livrar do vício e sofri, porinúmeras semanas, de profundadepressão. Quando finalmente parei,

passei de cem cigarros por dia a zero.Sem nenhum momento ruim. Foi agradávelaté mesmo durante o período da síndromede abstinência e não tive o menorsofrimento físico desde aquele dia. Aocontrário, foi o acontecimento maisextraordinário da minha vida.

Não podia entender como havia sidotão fácil e levei muito tempo paradescobrir o motivo. Era o seguinte: eutinha certeza absoluta de que nunca maisiria fumar. Nas tentativas anteriores, pormais determinado que estivesse, eu estavabasicamente tentando parar, na esperançade que, se sobrevivesse tempo suficientesem o cigarro, o anseio por eledesapareceria. É claro que o desejo nãoia embora porque eu estava esperando quealgo acontecesse e, quanto mais abatido

ficava, mais ansiava por um cigarro e,assim, essa sensação nunca meabandonava.

Minha última tentativa foi diferente.Como todos os fumantes hoje em dia, euvinha pensando seriamente no assunto.Até então, sempre que fracassava, eu meconsolava com a idéia de que seria maisfácil na próxima vez. Nunca me ocorreuque eu continua ria a fumar para sempre.Esse último pensamento me assustava efoi o que me levou a refletir com maisseriedade sobre o meu “hábito”.

Em vez de acender cigarrossubconscientemente, comecei a analisaros meus sentimentos quando fumava. Issoconfirmou o que eu já sabia. Eu nãoestava desfrutando os cigarros; eles sãosujos e asquerosos.

Comecei a observar os não-fumantes.Até aquele momento, sempre achei aspessoas que não fumavam sem graça,pouco sociáveis e cheias de frescuras.Entretanto, ao observá-las maisatentamente, elas me pareceram nomínimo mais fortes e mais relaxadas.Mostravamse mais capazes de lidar com oestresse e os problemas da vida epareciam se divertir mais em eventossociais do que os fumantes. Seu brilho eseu entusiasmo eram, claramente, muitomaiores.

Passei a conversar com ex-fumantes.Até aquele momento, eu os via comopessoas que haviam sido forçadas a pararpor problemas de dinheiro ou de saúde eque estavam sempre ansiando por umcigarro. Alguns poucos confessaram:

“Você sente os antigos sintomas daabstinência, mas são tão poucos e tãoesparsos que não vale a pena incomodar-se com eles.” A maioria, porém, afirmou:“Sentir falta? Você deve estar brincando.Nunca me senti tão bem em toda a minhavida.”

Essas conversas derrubaram outro mitoem que sempre acreditei. Eu achava quefumava por causa de uma fraquezainerente ao meu caráter e, de repente,percebi que todos os fumantes enfrentam omesmo pesadelo. Então, pensei: “Milhõesde pessoas estão parando neste momento eirão levar vidas perfeitamente felizes. Eunão sentia necessidade de fumar antes deter começado e lembro que tive de meesforçar muito para me acostumar a essesobjetos repugnantes. Por que preciso

fumar agora?” De qualquer maneira, eujamais gostei realmente de fumar.Detestava todo o abominável ritual e nãoqueria viver o resto dos meus dias comoescravo de uma erva asquerosa.

Então eu disse a mim mesmo: “Allen,GOSTANDO OU NÃO, VOCÊ FUMOU O SEUÚLTIMO CIGARRO.”

Soube, naquele exato momento, quenunca mais fumaria. Não esperava quefosse fácil. Sinceramente, achava queseria muito difícil. Eu já estava preparadopara enfrentar meses e meses de profundadepressão e imaginava que passaria oresto da vida lutando ocasionalmentecontra o mal-estar provocado pelaabstinência. Em vez disso, tem sido umafelicidade absoluta desde o começo.

Levei um longo tempo para descobrir

por que havia sido tão fácil e por que,dessa vez, eu não estava sentindo aquelesterríveis sintomas da abstinência. Omotivo é que eles não existem. São adúvida e a incerteza que geram a crise. Averdade é esta: É FÁCIL PARAR DE FUMAR.As dificuldades são provocadas pelaindecisão e pelo abatimento. Mesmoquando ainda são dependentes da nicotina,os fumantes conseguem, em determinadosmomentos da vida, passar um bom temposem se incomodar com a abstinência dotabaco. Você só sofre quando deseja umcigarro e não pode tê-lo.

Portanto, a chave para que seja fácil éfazer com que parar seja algo certo edefinitivo. É não ter a esperança, mas acerteza de que abandonou o cigarro, umavez que tenha tomado esta resolução.

Nunca questione a sua decisão. Faça ooposto – alegre-se sempre por ter parado.

Se você tiver certeza desde o início,será fácil. Mas, como você pode tercerteza, a não ser que saiba que seráfácil? É por isso que o restante deste livroé necessário. Há alguns pontos essenciaisque precisam estar claros antes de vocêcomeçar seu processo de parar:

1. Conscientize-se de que vocêconsegue alcançar o seu objetivo.Você não é diferente de ninguém ea única pessoa que pode fazêlofumar o próximo cigarro é vocêmesmo.

2. Não há absolutamente nada do queabrir mão. Ao contrário, só

existem grandes benefícios aserem alcançados. Não estou mereferindo simplesmente a maissaúde e dinheiro, mas ao fato deque você aproveitará muito maisos bons momentos e se sentirámenos infeliz nos períodosdifíceis.

3. Tenha bem claro em sua menteque não existe algo como “só umcigarro”. O tabagismo é um vícionuma droga e uma reação emcadeia. Lamentar-se sobre aquelescigarros especiais (o primeiro damanhã ou aquele depois dasrefeições) é punir a si mesmo.

4. Enxergue o tabagismo não comoum hábito social que pode

prejudicar sua saúde, mas comoum vício numa droga. Aceite ofato de que, gostando ou não,VOCÊ TEM UMA DOENÇA. Ela nãovai desaparecer só porque vocêenfiou a cabeça na areia. Lembre-se: essa doença não apenas dura avida inteira, mas pioragradativamente. O melhormomento para livrar-se dela éagora.

5. Separe a doença (ou seja, adependência química) do estadode espírito de ser um fumante ouum não-fumante. Se tivesse aoportunidade de voltar aopassado, antes de se tornarviciado, todo fumante pularia de

alegria. Você tem essaoportunidade hoje! Não pensenisso como “abrir mão” de nada.Quando você, finalmente, decidirque fumou o derradeiro cigarro, jáserá um ex-fumante. Um fumante éum daqueles pobres coitados quetêm de passar a vida inteiradestruindo a si mesmos através docigarro. Um nãofumante é alguémque não se destrói. Uma veztomada a decisão, você já teráatingido o seu objetivo.Comemore esse fato. Não fiquesentado sofrendo, esperando que adependência química vá embora.Saia e aproveite a vidaimediatamente. A vida émaravilhosa mesmo quando somos

viciados em nicotina e fica cadadia melhor quando não somos.

A chave para conseguir parar de fumarcom facilidade é ter certeza de que vocêterá sucesso em conter-se totalmentedurante a síndrome de abstinência (quedura no máximo três semanas). Se estivernum bom estado de espírito, você vaiachar ridiculamente fácil.

Nesse estágio, se você tiver aberto asua mente, como instruí no início, já terádecidido que vai parar. E deve estareufórico, mal podendo esperar paralivrar-se do veneno depositado no seuorganismo.

Se você sentir tristeza e melancolia,será por uma das seguintes razões:

1. A sua mente ainda não assimiloualguma questão fundamental.Releia os cinco pontos acima epergunte a si mesmo se acreditaque são verdadeiros. Se tiveralguma dúvida sobre qualquer umdeles, leia novamente os capítulosque tratam desses temas.

2. Você tem medo de fracassar. Nãose preocupe. Simplesmentecontinue lendo. Você vaiconseguir. Todo esse negócio queenvolve o cigarro é como umaarapuca em escala gigantesca. Aspessoas inteligentes também caemnesse tipo de armadilha, massomente os tolos, apósdescobrirem que se trata de uma

arapuca, continuam enganando a simesmos.

3. Você concorda com tudo, masainda está profundamente infeliz.Não fique assim! Abra os olhos.Há algo maravilhoso acontecendo.Você está prestes a escapar daprisão.

É essencial começar com entusiasmo:“Não é maravilhoso que eu seja um ex-fumante?”

Tudo o que você precisa fazer agora émanter esse estado de espírito durante asíndrome de abstinência. Os próximoscapítulos tratarão de pontos específicosque irão capacitá-lo para isso. Após acrise de abstinência, você não terá de se

esforçar para pensar dessa maneira. Issoacontecerá automaticamente. O únicomistério será: “É tão óbvio, como nãoenxerguei antes?” Entretanto, quero fazerduas importantes advertências:

1. Adie seu plano de apagar oderradeiro cigarro até terminar aleitura deste livro.

2. Eu mencionei várias vezes umasíndrome de abstinência de cercade três semanas. Isso pode causarmal-entendidos. Em primeirolugar, você pode,subconscientemente, achar queprecisa sofrer por três semanas.Não é verdade. Em segundo lugar,evite a armadilha de pensar:

“Terei de encontrar uma forma deme abster por três semanas e,então, estarei livre.” Nada vaiacontecer de fato após trêssemanas. Você não vai, derepente, sentir-se como umnãofumante. Os não-fumantes nãose sentem nem um poucodiferentes. Se você ficar selastimando durante três semanas, équase certo que ainda estaráinconformado depois desse tempo.O que estou dizendo é que, sevocê começar agora afirmando“Nunca mais vou fumar. Isso émaravilhoso!”, após três semanastoda a tentação terá desaparecido.Mas, se ficar dizendo coisas como“Se ao menos eu conseguir

sobreviver a essas três semanassem um cigarro…”, você estarálouco para fumar depois desseperíodo.

Capítulo 33A síndrome de abstinência

Até três semanas após apagar seuúltimo cigarro, você estará sujeito aossintomas da crise de abstinência. Essacrise envolve dois fatores distintos:

1. Os sintomas da abstinência danicotina, aquele sentimento devazio e de insegurança – comouma fome – que os fumantesidentificam como um anseio ou odesejo de ter algo com que ocuparas mãos.

2. O estímulo psicológico de certos

eventos, como uma conversa aotelefone.

É a incapacidade de compreender ediferenciar esses dois fatores que faz comque os fumantes tenham dificuldade emobter sucesso com o Método da Força deVontade. É por isso também que osfumantes que usam esse método acabamcaindo de novo na armadilha.

Ainda que a síndrome de abstinência danicotina não cause dor física, você nãodeve subestimar o seu poder. Todos nósdizemos que estamos “morrendo de fome”quando passamos um dia inteiro semcomer. Nosso estômago chega até a“roncar”, mas não há dor física. Mesmoassim, a fome é uma força poderosa etendemos a nos tornar irritáveis quando

privados de alimento. Quando seu corpoanseia por nicotina, ocorre um processosemelhante. A diferença é que o corpohumano precisa de comida, mas não deveneno. Se você estiver num bom estadode espírito, os sintomas da crise deabstinência serão facilmente superados edesaparecerão com muita rapidez.

Quando os fumantes conseguem seabster por alguns dias usando o Métododa Força de Vontade, o anseio pelanicotina logo se dissipa. O que causadificuldade é o segundo fator. O fumanteadquiriu o hábito de aliviar os sintomasda abstinência em determinadas horas eocasiões, o que deflagra uma associaçãode idéias (por exemplo, “Não consigoapreciar uma bebida sem um cigarro”). Écomo se você tivesse dirigido a vida

inteira automóveis de câmbio manual e,de repente, resolvesse comprar umhidramático. Você sabe que o novo carronão tem embreagem nem caixa demarchas, mas durante algumas semanasvocê pisa em falso e tenta passar marchasinexistentes.

Parar de fumar é uma situaçãosemelhante. Nos primeiros dias dasíndrome de abstinência, o mecanismoque aciona o hábito age em determinadosmomentos, fazendo você pensar: “Querofumar.” É essencial reagir à lavagemcerebral desde o início, fazendo com queesses estímulos automáticos desapareçamcom rapidez. Com o Método da Força deVontade, em vez de remover essesmecanismos, o fumante acabaalimentando-os porque fica se lamentando

e esperando que o desejo de fumardesapareça.

Um estímulo dos mais comuns é umarefeição, principalmente num restaurantecom amigos. Nessas ocasiões, o ex-fumante já está se sentindo infeliz por nãopoder acender seu cigarro. Os amigoscomeçam a dar suas baforadas e ele sesente ainda mais privado. Então, nãoconsegue mais desfrutar a refeição nem oencontro que deveriam ser motivos deprazer. Por associar o cigarro com arefeição e com o evento social, ele sofreum golpe triplo, e a lavagem cerebralganha força. Se ele estiver determinado aparar e conseguir agüentar o temposuficiente, acabará aceitando a sua sina eseguirá em frente. Entretanto, parte dalavagem cerebral pode continuar lá no

fundo da sua mente. Considero patético ofumante que largou o cigarro porproblemas de saúde ou de dinheiro e,mesmo depois de vários anos, aindaanseia por fumar em determinadasocasiões. Ele está se consumindo por umailusão que só existe na sua mente. Está setorturando sem nenhum motivo.

Até com o meu método, a maior causade insucesso é a resposta aos estímulos dohábito. O ex-fumante tende a encarar ocigarro como um tipo de placebo ou umapílula de açúcar. Ele pensa: “Sei que ocigarro não faz nada por mim, mas, se euachar que ele faz, será de grande ajuda emdeterminadas ocasiões.”

Um placebo, embora não traga nenhumaajuda física, pode ser um poderoso apoiopsicológico para aliviar os verdadeiros

sintomas e é, portanto, um benefício. Ocigarro, por sua vez, não é um placebonem uma pílula de açúcar. Ele cria ossintomas que alivia e, depois de algumtempo, deixa até de aliviá-los porcompleto. A “pílula” está causando adoença e, o que é pior, essa doença é oveneno assassino número um de nossasociedade.

Você talvez ache mais fácil entender oefeito se ele estiver relacionado a não-fumantes ou a um fumante que tenhaparado há muitos anos. Tomemos o casode uma mulher que perdeu o marido. Émuito comum que, numa situação dessas, ofumante diga, com a melhor das intenções:“Fume um cigarro. Vai ajudá-la a seacalmar.”

Se o cigarro for aceito, não terá um

efeito calmante, pois a mulher não éviciada em nicotina e não há crise deabstinência a ser aliviada. Na melhor dashipóteses, tudo o que o cigarro fará é dara ela um estímulo psicológicomomentâneo. Quando for apagado, atragédia ainda estará lá. Na realidade,terá se tornado maior, porque agora amulher estará sofrendo os sintomas daabstinência e sua escolha será suportá-losou aliviá-los fumando mais um cigarro edando início a uma corrente deinfelicidade. Tudo o que o cigarro fez foioferecer um estímulo psicológicomomentâneo. O mesmo efeito poderia tersido alcançado com uma palavra deconforto ou com uma bebida. Muitos não-fumantes e ex-fumantes viciaram-se nocigarro em conseqüência de situações

como essa.É essencial reagir à lavagem cerebral

desde o começo. Você não precisa docigarro e está apenas torturando a simesmo quando continua a considerá-loalgum tipo de muleta ou estímulo. Não épreciso sentir-se infeliz. O cigarro nãomelhora as refeições nem os encontrossociais; ele os arruína. Lembre-se tambémde que os fumantes que saíram para jantarcom você não estão fumando porquegostam do cigarro. Eles estão fumandoporque têm de fumar: são viciados emnicotina. Não conseguem ter prazer narefeição ou na vida sem essa droga.

Esqueça a idéia de que o hábito defumar é agradável em si mesmo. Entendabem que a única razão pela qual você vemfumando durante todo esse tempo é a

vontade de inalar nicotina. No momentoem que se livrar da ânsia por nicotina,você terá tanta necessidade de colocar umcigarro na boca quanto de enfiá-lo naorelha.

Se o anseio for resultado de umaverdadeira crise de abstinência (asensação de vazio) ou se for deflagradopor algum mecanismo relacionado aohábito, aceite-o. A dor física não existe e,com uma boa disposição, os cigarros nãoserão problema. Não se preocupe com aabstinência. A sensação por si só não éruim. O problema é a associação com odesejo de fumar e o fato de se sentirprivado.

Em vez de ficar abatido por não fumar,diga a si mesmo: “Sei o que é isso. É acrise de abstinência da nicotina. É isso

que os fumantes sofrem a vida inteira e éisso que os mantém fumando. Osnãofumantes não sofrem esses sintomas.Este é um dos muitos males dessa droga.Não é maravilhoso que eu esteja livrandoo meu corpo desse veneno?”

Em outras palavras, nas próximas trêssemanas seu corpo sofrerá um ligeirotrauma, mas algo maravilhoso estaráacontecendo. Você estará se livrando deuma terrível doença. Esse bônus serámuito maior do que o pequeno trauma porque você passará. Ou seja, você poderealmente desfrutar os sintomas dasíndrome de abstinência. Eles vão setransformar em momentos de prazer.

Pense nessa história de parar como umemocionante jogo. Imagine o monstro danicotina como um tipo de parasita em seu

estômago. Você precisa deixá-lo morrerde fome em três semanas, mas ele vaifazer de tudo para que você acenda umcigarro a fim de mantê-lo vivo.

Ele vai tentar deixá-lo infeliz e podepegá-lo desprevenido. Alguém vai lheoferecer um cigarro e você poderáesquecer que parou. Haverá um ligeirosentimento de privação quando você selembrar que não fuma mais. Estejapreparado para essas armadilhas. Sejaqual for a tentação, tenha sempre emmente que ela só está ali por causa domonstro da nicotina que habita o seuorganismo e, cada vez que você resistir àtentação, terá desferido mais um golpemortal para vencer essa batalha.

O que quer que você faça, não tenteesquecer que o cigarro existe. Isso causa

uma enorme depressão nos fumantes queusam o Método da Força de Vontade. Elestentam atravessar cada dia esperando que,com o passar do tempo, acabemesquecendo da existência do cigarro.

É como a insônia. Quanto mais nospreocupamos com o fato de nãoconseguirmos dormir, mais difícil éadormecer.

De qualquer maneira, você nãoconseguirá se esquecer. Nos primeirosdias, o “pequeno monstro” fará com quevocê se lembre o tempo todo do cigarro –não há como evitar. Além disso, os outrosfumantes e a propaganda serão constanteslembretes.

O ponto principal é que você nãoprecisa se esquecer. Não há nada ruim emandamento. Algo incrível está

acontecendo. Mesmo que pense no cigarromil vezes por dia, SABOREIE CADAMOMENTO. LEMBRE-SE DE COMO ÉMARAVILHOSO SER LIVRE NOVAMENTE.APROVEITE A PURA ALEGRIA DE NÃO TER DEASFIXIAR-SE OUTRA VEZ.

Como eu já disse, você vai descobrirque a crise de abstinência se transformaráem momentos de prazer e ficará surpresoao perceber com que rapidez deixará,naturalmente, de pensar no cigarro.

Faça o que fizer, NÃO DUVIDE DE SUADECISÃO. Se começar a duvidar dela, vocêse sentirá desanimado e tudo irá piorar.Em vez disso, use esse momento como umestímulo. Se ficar deprimido, lembre a simes mo o que o tabaco estava fazendocom você. Se um amigo lhe oferecer umcigarro, orgulhe-se de dizer: “Estou felizporque não preciso mais disso.” Essa

resposta poderá magoá-lo, mas, quandoele vir que você não está perturbado pornão fumar, estará a meio caminho dejuntar-se a você.

Não se esqueça de que você tevemotivos poderosos para parar. Lembre-seda fortuna que um único cigarro pode lhecustar e pergunte a si mesmo se realmentedeseja se arriscar a contrair aquelasterríveis doenças. Acima de tudo, tenhasempre em mente que o anseio étemporário e que cada momento oaproxima mais de seu objetivo.

Alguns fumantes temem ter de passar oresto da vida revertendo os “estímulosautomáticos”. Em outras palavras, elesacreditam que terão de atravessar a vidaenganando a si mesmos ou recorrendo àpsicologia para se convencerem de que

não precisam de cigarros. Isso não éverdade. Lembre-se de que o otimistaenxerga o copo meio cheio e o pessimistao vê meio vazio. No caso do cigarro, ocopo está vazio e o fumante o vê cheio. Ofumante sofreu lavagem cerebral. Quandovocê começar a afirmar para si mesmoque não precisa fumar, em pouco temponão vai precisar nem fazer tal afirmaçãoporque a verdade é que… você nãoprecisa fumar. É a última coisa que vocêprecisa fazer. Tome cuidado para que nãoseja a última coisa que você faça.

Capítulo 34Só uma baforada

Essa é a ruína de muitos fumantes quetentam parar usando o Método da Forçade Vontade. Eles passam três ou quatrodias sem fumar e, então, acendem umcigarro num momento especial, ou dãouma baforada ou duas, buscando algumtipo de ajuda. Eles não se dão conta doefeito devastador que isso tem em seuestado de espírito.

Para a maioria dos fumantes, essaprimeira baforada tem um gosto ruim, oque os estimula a pensar: “Ótimo. Nãogostei. Estou me livrando do anseio pelocigarro.” Na verdade, acontece o oposto.

Gostaria de esclarecer isso de uma vezpor todas: CIGARROS NÃO SÃO AGRADÁVEIS. O prazer não foi o motivo que olevou a fumar. Se as pessoas fumassempor acharem que é agradável, jamaisacenderiam mais que um cigarro.

O único motivo pelo qual você fumavaera para alimentar aquele pequenomonstro. Pense bem: você o deixoufaminto por quatro dias. Como deve tersido valioso aquele único cigarro, ouaquela baforada. Você não está cientedisso no nível consciente, mas a dose queseu organismo recebeu será comunicadaao seu subconsciente e toda a sua sólidapreparação será minada. Haverá umapequena voz no fundo da sua mente lhedizendo: “Apesar de toda a lógica, elessão preciosos. Quero mais um.”

Aquela baforada tem dois efeitosdramáticos:

1. Ela mantém vivo o pequenomonstro em seu corpo.

2. O que é pior, ela mantém vivo ogrande monstro em sua mente. Sevocê deu aquela última baforada,será mais fácil dar a próxima.

Lembre-se: as pessoas começam afumar com um único cigarro.

Capítulo 35Será mais difícil para mim?

As combinações de fatores que irãodeterminar o grau de facilidade que cadafumante terá para abandonar o cigarro sãoinfinitas. Para começar, cada um de nóstem o seu próprio caráter, tipo detrabalho, vivências, momento certo, etc.

Algumas profissões podem fazer comque seja mais complicado parar, mas,desde que a lavagem cerebral sejaremovida, não deverá haver grandesdificuldades. Alguns exemplosindividuais poderão nos ajudar.

Nós imaginamos que parar de fumarseja mais fácil para um médico porque ele

tem maior conhecimento sobre os efeitosmaléficos desse vício e testemunha todosos dias as evidências desses efeitos.Embora isso lhe dê razões mais poderosaspara parar, não torna o processo nem umpouco mais fácil, pelos seguintes motivos:

1. A constante comprovação dosriscos à saúde gera medo – umdos fatores que levam o fumante abuscar alívio para os sintomas dasíndrome de abstinência.

2. O dia-a-dia de um médico éexcessivamente estressante e, emgeral, ele não consegue aliviar oestresse adicional da crise deabstinência enquanto estátrabalhando.

3. Ele sofre o estresse adicional daculpa. Sente que deveria dar oexemplo para as outras pessoas.Isso aumenta a pressão sobre ele eintensifica a sensação de estarsendo privado de algo.

Durante os poucos intervalos de que ummédico dispõe, quando o estresse normalse abranda momentaneamente, o cigarrose torna muito valioso para que ele possaaliviar os efeitos da crise de abstinência.Essa é uma forma de tabagismo casual eaplica-se a qualquer situação em que ofumante é obrigado a abster-se por longosperíodos. Com o uso do Método da Forçade Vontade, o fumante sente-se infelizporque está sendo privado. Ele nãousufrui os intervalos nem a xícara de café

que acompanha esses momentos. A suasensação de perda é, portanto, bastanteintensificada e, por associação de idéias,a falta do cigarro parece responsável portodo o seu desconforto. Entretanto, sevocê puder, primeiramente, acabar com alavagem cerebral e parar de se lamentarpor não fumar, os intervalos e a xícara decafé poderão ser desfrutados mesmo que ocorpo anseie pela nicotina.

Outra situação difícil é o tédio,especialmente quando combinado comperíodos de estresse. Os motoristas e asdonas de casa com filhos pequenos sofremparticularmente com esse problema. Suarotina é estressante e, ao mesmo tempo,monótona. Enquanto tenta parar usando oMétodo da Força de Vontade, a dona decasa tem longos períodos nos quais pode

sentir-se abatida por sua “perda”, o queaumenta a depressão.

Mais uma vez, isso pode ser facilmenteresolvido se seu estado de espírito forbom. Não se preocupe por sercontinuamente lembrado de que parou defumar. Use esses momentos para sealegrar com o fato de estar se livrando doterrível monstro. Se você tiver umadisposição mental positiva, essessintomas podem se transformar emmomentos de prazer.

Qualquer fumante – sejam quais forema idade, o sexo, o nível sociocultural ou aprofissão – pode achar fácil e agradávelparar de fumar, desde que SIGA TODAS ASINSTRUÇÕES.

Capítulo 36Os motivos mais fortes de

fracasso

Existem duas razões principais defracasso. A primeira é a influência deoutros fumantes. Num momento defraqueza ou durante um evento social,alguém acende um cigarro. Já lidei comesse tópico em profundidade. Use essemomento para se lembrar de que nãoexiste isso de só um cigarro. Comemore ofato de você ter quebrado a corrente. Nãose esqueça de que os fumantes o invejam.Sinta pena deles – afinal, eles são dignosde compaixão.

A segunda é ter um dia ruim. Antes decomeçar, é importante que vocêcompreenda que, sendo ou não fumante,todo mundo tem dias bons e ruins. É sóuma questão de relatividade: nãopodemos ter altos sem ter baixos também.

O problema com o Método da Força deVontade é que, assim que passa poralguma dificuldade, o fumante começa ase lamentar e a desejar um cigarro, e tudoo que consegue é tornar um dia ruim aindapior. O não-fumante está mais bempreparado, física e mentalmente, paralidar com o estresse e as tensões da vida.

Se você tiver um dia ruim durante acrise de abstinência, enfrente-o de peitoaberto. Lembre-se de que você tambémviveu momentos difíceis quando fumava(caso contrário, não teria decidido parar).

Em vez de ficar se lamentando, diga a simesmo algo como “Tudo bem, hoje o dianão está tão bom, mas fumar não vairesolver o problema. Amanhã será melhore, pelo menos, eu tenho um maravilhosobônus neste momento. Consegui me livrardo terrível hábito de fumar”.

Se somos fumantes, nós bloqueamos amente e não enxergamos o lado ruim docigarro. Nunca temos tosse de fumante,apenas resfriados constantes. Quando oseu carro pára de funcionar no meio donada, você se sente feliz e satisfeito sóporque acendeu um cigarro? É claro quenão. Quando paramos de fumar,acreditamos que a abstinência do cigarroé a causa de tudo o que dá errado emnossas vidas. Se o carro enguiça, vocêpensa: “Em momentos como este eu teria

acendido um cigarro.” É verdade, masvocê se esquece de que o cigarro nãoresolveria o problema. Ou seja, estáapenas punindo a si mesmo ao ficardeprimido por causa de uma muletailusória. Está se sentindo profundamenteinfeliz porque não pode fumar e ficaráainda mais infeliz se o fizer. Você sabeque tomou a decisão certa ao parar defumar, por isso não se atormenteduvidando da escolha que fez.

Lembre-se: uma abordagem mentalpositiva é essencial – sempre.

Capítulo 37Substitutos

Os substitutos incluem gomas demascar, doces, balas de hortelã, cigarrossem nicotina. NÃO USE NENHUM DELES.Tudo isso dificulta o processo de parar,em vez de facilitá-lo. Se você tiver algumsintoma de abstinência e usar umsubstituto, ele prolongará e piorará seudesconforto, pois você estará dizendo a simesmo que precisa fumar ou preencher ovazio deixado pelo cigarro. Será como serender a um seqüestro ou aos ataques deraiva de uma criança. Essa atitude só farácom que os sintomas retornem a todoinstante, aumentando a tortura. De

qualquer maneira, os substitutos nãopoderiam aliviar esses sintomas. O seuanseio é por nicotina, não por comida.Tudo o que chicletes, balas, etc.conseguem fazer é manter o seupensamento no cigarro. Reflita sobre osseguintes pontos:

1. Não existe substituto para anicotina.

2. Você não precisa de nicotina. Elanão é um alimento, é um veneno.Quando os sintomas aparecerem,lembre-se de que só os fumantessofrem com a crise de abstinência;os não-fumantes nem sabem o queé isso. Encare esses sintomascomo mais um dos males da

droga. Na verdade, elessignificam a morte de um monstro.

3. Não se deixe enganar. Os cigarroscriam o vazio; eles não opreenchem. Quanto mais rápidovocê ensinar ao seu cérebro quenão precisa fumar, ou fazerqualquer outra coisa em seu lugar,mais rapidamente você selibertará.

Evite principalmente produtos quecontenham nicotina, sejam eles gomas demascar, adesivos, aerossóis nasais ou aúltima invenção – um inalador semelhantea um cigarro de plástico. É verdade queum pequeno número de fumantes quetentam parar usando substitutos da

nicotina obtém sucesso. Essas pessoasatribuem sua vitória a esses produtos, maselas param de fumar apesar deles e nãopor causa deles. Infelizmente, muitosmédicos ainda recomendam a Terapia deReposição de Nicotina (TRN).

Isso não causa nenhuma surpresa. Sevocê não entender bem a armadilha danicotina, a TRN vai parecer bastantelógica. Ela é baseada na crença de que,quando tentamos parar de fumar, temosque derrotar dois poderosos inimigos:

1. A força do hábito.2. Os terríveis sintomas físicos da

crise de abstinência da nicotina.

Se você tem dois inimigos poderosos avencer, é mais sensato não enfrentá-los

simultaneamente, mas lutar contra um decada vez. Assim sendo, a teoria da TRN éque primeiro você pára de fumar, mascontinua a repor a nicotina. Depois,quando tiver quebrado o hábito, vocêcomeça a reduzir, gradualmente, ofornecimento de nicotina, lidando assimcom cada inimigo separadamente.

Parece lógico, mas os fundamentosdesse tratamento não são verdadeiros.Fumar não é um hábito, mas um vício emnicotina, e os sintomas físicos resultantesda retirada da nicotina são quaseimperceptíveis. Ao abandonar o cigarro,seu objetivo é matar, o mais depressapossível, tanto o pequeno monstro danicotina no seu corpo quanto o grandemonstro no seu cérebro. Tudo o que a TRNconsegue fazer é prolongar a vida do

pequeno monstro, o que, por sua vez,prolonga a vida do grande monstro.

O MÉTODO EASYWAY faz com que sejafácil parar imediatamente. Você podematar o grande monstro (lavagemcerebral) antes de apagar o derradeirocigarro. O pequeno monstro logo estarámorto e, enquanto estiver agonizando, nãoserá um problema maior do que eraquando você ainda fumava.

Pare um instante e reflita sobre estaquestão: como é possível curar umviciado recomendando exatamente amesma droga que o viciou? Um médicofamoso e altamente respeitado no meupaís chegou a afirmar, em cadeia nacionalde televisão, que alguns fumantes são tãodependentes da nicotina que, se parassemde fumar, teriam de usar um substituto

durante o resto de suas vidas. Como ummédico pode confundir-se tanto a ponto deacreditar que o corpo humano édependente não apenas de comida, água eoxigênio, mas também de um poderosoveneno?

Em nossas clínicas, costumamosreceber fumantes que largaram o cigarro,mas ficaram viciados em goma de mascarde nicotina. Outros são viciados na gomae continuam fumando. Não se deixeenganar pelo fato de que o gosto da gomaé horroroso – o do primeiro cigarrotambém era.

Todos os substitutos têm exatamente omesmo efeito da goma de mascar denicotina. Estou me referindo, agora, a umaatitude do tipo “Não posso fumar, por issovou mascar um chiclete comum, comer um

doce ou chupar uma bala de hortelã parame ajudar a preencher o vazio”. Emboranão seja possível distinguir o sentimentode vazio provocado pelo anseio porcigarro da fome, uma coisa não satisfaz aoutra. Na verdade, entupir-se de gomas demascar e balas só aumentará sua vontadede fumar.

Mas o efeito mais nocivo dossubstitutos é que eles prolongam overdadeiro problema, que é a lavagemcerebral. Você precisa de um substitutopara a gripe depois de ficar curado dela?É claro que não. Ao buscar um substitutopara o cigarro, o que você está realmentedizendo é: “Estou fazendo um sacrifício.”A depressão associada ao Método daForça de Vontade é causada pelo fato de ofumante acreditar que está se privando de

alguma coisa valiosa. Usando substitutos,você estará apenas trocando um problemapor outro. Não há nenhum prazer em seentupir de balas. Você só vai conseguirengordar e se sentir infeliz e logo estaráretomando o vício.

Os fumantes eventuais acham difícildeixar de acreditar que estão se privandode sua pequena recompensa: o cigarro nointervalo do trabalho no escritório, nafábrica, na escola ou no consultóriomédico, entre um paciente e outro. Algunsdizem: “Eu nem faria uma pausa, se nãofumasse.” Isso comprova o que eu jádisse. Muitas vezes, o fumante interrompeseu trabalho não porque precisa descansarou deseja fazer uma pausa, mas porqueestá desesperado para alimentar omonstro. Esses cigarros nunca foram

prêmios verdadeiros – ofereciam umafalsa compensação, o equivalente a usarsapatos apertados para ter o prazer detirá-los. Por isso, se você sente queprecisa de uma pequena recompensa, vátrabalhar com sapatos um número abaixodo seu e só se permita tirá-los na hora dointervalo para poder experimentar aquelemomento maravilhoso de alívio esatisfação ao livrar-se deles. Você deveestar achando que essa seria uma atitudeum tanto ou quanto idiota. E estáabsolutamente certo. Enquanto você estápreso na armadilha, é difícil ver as coisasclaramente, mas é isso que os fumantesfazem. Também é difícil perceber quelogo você não irá mais precisar daquelapequena “recompensa” e terá pena dosamigos que ainda não escaparam dessa

arapuca, imaginando por que eles nãoconseguem enxergar tudo isso.

Entretanto, se você continuar a enganara si mesmo afirmando que o cigarro eraum benefício genuíno, ou que é precisocolocar um substituto em seu lugar, vai sesentir privado e entristecido e terágrandes chances de voltar a fumar. Serealmente sentir necessidade de fazeralgumas pausas durante o dia, comoacontece a donas de casa, professores,médicos e outros profissionais, você serácapaz de usufruir muito mais dessesmomentos, porque não terá de sufocar a simesmo.

Lembre-se: você não precisa de umsubstituto. Os sintomas da síndrome deabstinência são um desejo por veneno elogo irão desaparecer. Deixe que isso

seja o seu sustentáculo nos próximos dias.Desfrute o prazer de livrar o seu corpo doveneno e a sua mente da escravidão e dadependência.

O seu apetite vai melhorar e, se vocêcomeçar a comer mais nas refeições eengordar um pouco, não se preocupe.Quando vivenciar o “momento darevelação” que descreverei adiante, vocêterá confiança e descobrirá que, se pensarde forma positiva, será capaz de resolverboa parte dos problemas, inclusiveaqueles relacionados aos hábitosalimentares. O que você não pode fazer écomeçar a beliscar entre as refeições. Sefizer isso, ganhará peso, ficará infeliz enunca saberá quando conseguiu livrar-sede vez do vício – ou seja, estará apenasmudando de problema, em vez de acabar

com ele.

Capítulo 38Devo evitar situações

tentadoras?

Até agora, tenho sido categórico egostaria que meus conselhos fossemconsiderados instruções a serem seguidas,e não sugestões. Em primeiro lugar,porque existem razões práticas para essesensinamentos e, em segundo lugar, porqueessas razões têm sido comprovadas pormilhares de casos estudados.

Lamento, porém, não poder afirmarcom muita convicção se devemos ou nãoevitar situações tentadoras durante operíodo de abstinência. Cada fumante terá

de decidir por si mesmo. Mas posso fazeralgumas sugestões úteis.

Como já disse, é o medo que nosmantém fumando durante toda a vida, eesse medo tem duas fases distintas:

1. “Como irei sobreviver sem umcigarro?”

Os fumantes entram em pânicoquando descobrem, tarde da noite,que seus cigarros estão quaseacabando. Esse sentimento não écausado pela crise de abstinência.É o medo psicológico dadependência – você não podeviver sem um cigarro. Esse medochega ao ápice quando você estáfumando seu último cigarro.

Porém, como está inalandonicotina, a crise de abstinênciaestá no seu nível mais baixo.

É o medo do desconhecido, o tipode medo que as pessoas têmquando estão aprendendo amergulhar. O trampolim só tem 30centímetros de altura, mas pareceter 2 metros. A água tem 2 metrosde profundidade, mas parece terapenas 30 centímetros. É precisocoragem para pular. Você estáconvencido de que vai quebrar opescoço. Lançar-se de cabeça é aparte mais difícil: se você tivercoragem para se jogar, o restoserá fácil.

Isso explica por que muitosfumantes que, em outras situações,demonstram ter grande força devontade jamais tentam parar ou,quando tentam, só conseguem ficaralgumas horas sem cigarro. Háfumantes que consomem em médiavinte cigarros por dia, porém, aotomar a decisão de parar,diminuem o intervalo entre oscigarros. Nem parece queresolveram abandonar o tabaco. Adecisão de parar causa pânico, oque é muito estressante. Esse é umdos momentos em que o cérebrodispara a ordem “Fume umcigarro”. Mas agora você nãopode fazer isso. Você está sendoprivado da sua muleta, o que gera

mais estresse. O gatilho disparaoutra vez e você acaba acendendoum cigarro.

Não se preocupe. O pânico éapenas psicológico. É o medo deser dependente. A verdade é quevocê não é dependente, nemmesmo enquanto ainda estáviciado em nicotina. Não entre empânico. Apenas confie em mim emergulhe de cabeça.

2. A segunda fase acontece mais alongo prazo e está relacionada aomedo de que, no futuro, você nãoconsiga aproveitar determinadassituações sem o cigarro, ou nãoseja capaz de lidar com um trauma

sem ele. Não se preocupe. Sevocê mergulhar de cabeça,descobrirá que aconteceráexatamente o oposto.

Os fumantes podem ser divididos emduas categorias, dependendo do modocomo evitam as tentações:

1. “Vou manter meus cigarros à mão,embora não vá fumá-los, pois mesinto mais confiante sabendo queeles estão ali.”

A taxa de insucesso entre aspessoas que agem assim é muitomaior do que entre aquelas que sedesfazem de seus maços. Issoocorre principalmente porque, se

o fumante passar por um maumomento durante a crise deabstinência, ele terá o cigarro aoseu alcance e será muito fácilacendê-lo. Se precisar sair paracomprar um maço, terá uma boachance de vencer a tentação. Dequalquer maneira, até que elechegue ao bar da esquina, ossintomas da síndrome deabstinência já terão desaparecido.

Entretanto, acredito que oprincipal motivo de fracassonesses casos seja o fato de ofumante não estar totalmentecomprometido com a decisão deparar. Lembre-se de que os doisfatores essenciais para o sucesso

são:

• Ter certeza do que você estáfazendo.

• Pensar positivo: “Não émaravilhoso que eu nãoprecise mais fumar?”

Em qualquer desses casos, porque cargas-d’água você carregariacigarros com você? Se ainda sentenecessidade de ter um maço porperto, sugiro que releia este livro.Parece que alguma coisa não foibem assimilada.

2. “Devo evitar situaçõesestressantes ou eventos sociais

durante o período da crise deabstinência?”

No que se refere às situações deestresse, sim, o melhor é evitá-las.Não faz sentido colocar-se sobuma pressão desnecessária.

No caso dos eventos sociais, sótenho um conselho a dar: saia edivirta-se. Você não precisa docigarro, mesmo enquanto estáviciado em nicotina. Vá a festas ealegre-se com o fato de que paroude fumar. Você logo vai perceberque a vida é muito melhor sem ocigarro e será ainda melhorquando o pequeno monstro tiversaído de seu corpo, levando com

ele todo aquele veneno.

Capítulo 39O momento da revelação

O momento da revelação acontece, emgeral, cerca de três semanas após ofumante apagar o último cigarro. O céuparece mais azul e a lavagem cerebralcessa completamente. Em vez de dizer a simes mo que não precisa do cigarro, vocêpercebe, de repente, que o último elo sequebrou e que você pode desfrutar o restode sua vida sem fumar outra vez.Normalmente, a partir desse momentovocê começa a encarar os outros fumantescomo pessoas dignas de pena.

Os fumantes que utilizam o Método daForça de Vontade não costumam vivenciar

esse momento porque, embora estejamfelizes por serem ex-fumantes, passam oresto da vida acreditando que estãofazendo um sacrifício.

Quanto mais você fumava antes deparar, mais maravilhoso será essemomento. E ele irá durar a vida inteira.

Eu me considero uma pessoa de sorte ejá tive momentos de grande felicidade,mas o mais fantástico de todos foi omomento da revelação. Embora eu melembre dos tempos felizes que vivi, nãosou capaz de reconstituir o que senti naépoca. Mas nunca me esqueço dafelicidade que experimentei ao descobrirque não precisava mais fumar. Hoje,quando me sinto triste por algum motivo,penso em como é extraordinário não estarviciado naquela erva terrível. Meta de das

pessoas que me procuram depois de teremse livrado do tabaco diz a mesma coisa:largar o cigarro foi o acontecimento maismaravilhoso de suas vidas. Ah! Queenorme prazer o espera!

Com o feedback tanto dos leitoresquanto das pessoas que procuraram asminhas clínicas, aprendi que na maioriados casos o momento da revelação nãoocorre após três semanas, como afirmeino início deste capítulo, mas em poucosdias.

No meu próprio caso, aconteceu antesque eu tivesse apagado meu últimocigarro. Logo no início, quando eu davaconsultas individuais, fui interrompidoalgumas vezes por fumantes antes dechegar ao fim da sessão. Eles afirmavam,categóricos: “Você não precisa dizer mais

nada, Allen. Já consigo enxergar tudo demaneira tão clara que sei que nunca maisvou fumar.” Nas sessões em grupo, passeia perceber quando isso ocorria mesmoque os fumantes não dissessem nada.Pelas cartas que recebo, sei que também écomum acontecer isso com a leitura destelivro.

Em condições ideais, se você seguirtodas as instruções e entenderperfeitamente a psicologia do meumétodo, a revelação deverá ser imediata.

Hoje em dia, nas minhas clínicas, digoaos fumantes que os sintomas físicosperceptíveis da abstinência levarão emmédia cinco dias para desaparecer, masserão necessárias cerca de três semanaspara o ex-fumante libertar-se porcompleto. De modo geral, não gosto de

fornecer esses parâmetros. Eles podemcausar dois problemas. O primeiro é quecoloco na mente das pessoas a sugestãode que elas terão de sofrer de cinco dias atrês semanas. O segundo é que o ex-fumante tende a pensar: “Se puderagüentar cinco dias ou, no máximo, trêssemanas, terei uma grande recompensa nofinal desse período.” Entretanto, essapessoa pode ter cinco dias agradáveis, outrês semanas agradáveis, seguidos de umdaqueles dias desastrosos que acontecemna vida de fumantes e não-fumantes e quenão têm nada a ver com o cigarro, masque se devem a outros fatores. E lá está onosso exfumante, esperando pelo momentoda revelação, e o que ele vivencia é umaenorme depressão. Isso pode destruir suaconfiança.

Porém, se eu não oferecer nenhumparâmetro, o ex-fumante pode passar oresto da vida esperando por algo que nãovai acontecer. Suspeito que seja isso oque acontece à maioria dos fumantes queparam usando o Método da Força deVontade.

Houve um tempo em que me sentitentado a dizer que a revelação de veriaocorrer de imediato. Mas, se eu afirmasseisso e a revela ção não se desseprontamente, o ex-fumante perderia aconfiança e pensaria que jamais iriaacontecer.

As pessoas costumam questionar arelevância dos cinco dias e das trêssemanas. Seriam apenas períodos que eudeterminei sem nenhum critério? Não.Eles não são, é claro, prazos definitivos,

mas baseiam-se nas respostas que recebide leitores e de fumantes que estiveramem minhas clínicas ao longo dos anos. Otempo necessário para que o cigarro deixede ser a primeira preocupação do ex-fumante é, em média, de cinco dias.Grande parte dos ex-fumantes experimentao mo mento da revelação nesse período. Émuito comum que o fumante perceba, derepente, em situações de estresse ou emeventos sociais com os quais nãoconseguia lidar antes sem um cigarro, quenão apenas está desfrutando o momento,mas também que a idéia de fumar nem lhepassou pela cabeça. Começa então umafase de calmaria. É aí que você percebeque está livre.

Analisando minhas tentativas anterioresde parar utilizando o Método da Força de

Vontade, assim como as informações quecolhi junto a outros fumantes, observeique as mais sérias tentativas de pararcostumam fracassar num período de maisou menos três sema nas. Acredito que issoaconteça porque nesse meio-tempo vocêsente que perdeu o desejo de fumar eresolve provar isso acendendo umcigarro. Ele tem um gosto estranho.Pronto: você provou que está livre dovício. Mas também colocou nicotina noorganismo e era por ela que o seu corpoestava ansiando há três semanas. Assimque você apaga o cigarro, o nível denicotina começa a cair e aquela vozressurge para atormentá-lo: “Você nãoestá livre. Você quer mais um.” Você nãoacende um cigarro de imediato, porquenão quer ficar viciado outra vez. Deixa

passar um tempo, por via das dúvidas.Quando sente novamente a tentação, vocêdiz a si mesmo: “Mas eu não me viciei denovo, por isso não há nenhum mal emacender mais um.” Você já está descendoa ladeira outra vez.

A chave para o problema é não esperarpelo momento da revelação, mas perceberque aquele último cigarro é o ponto final.Você já terá feito tudo o que precisavafazer. Você cortou o fornecimento denicotina. Nenhuma força no mundo poderáimpedi-lo de libertar-se, a não ser quevocê se deixe abater ou fique esperandopela revelação. Siga em frente e aproveitea vida. Enfrente o processo desde oinício. Dessa maneira, você logo vaivivenciar esse grande momento.

Capítulo 40O último cigarro

Depois de ter refletido sobre omomento certo, você está pronto parafumar aquele último cigarro. Antes deacendê-lo, verifique dois pontosessenciais:

1. Você tem certeza de que terásucesso?

2. Você se sente triste e desanimado,ou está entusiasmado com aperspectiva de alcançar algomaravilhoso?

Se tiver alguma dúvida, releia o livro.

Lembre-se de que você nunca decidiu cairna armadilha do cigarro. Mas ela foiprojetada para escravizá-lo pelo resto davida. Para escapar dela, é preciso tomar adecisão de fumar o seu derradeirocigarro.

Não se esqueça de que você só leu estelivro até aqui por uma única razão:porque gostaria muito de libertar-se dessaarmadilha. Por isso tome uma decisãofirme agora. Faça um voto solene de que,ao apagar o último cigarro – seja difícilou seja fácil –, você nunca mais vai fumaroutra vez.

Talvez você esteja preocupado porquejá fez essa mesma promessa inúmerasvezes no passado, mas continuou fumando.Pode ser que tenha receio de passar poralgum terrível trauma. Não se deixe levar

pelo medo. O pior que pode acontecer évocê fracassar – não há absolutamentenada a perder e muito a ganhar.

Mas nem pense em fracasso. Éridiculamente fácil abandonar o cigarro, evocê pode até desfrutar o processo deparar de fumar. Desta vez, você vai usar oMÉTODO EASYWAY! Tudo o que precisafazer é seguir estas simples instruções:

1. Faça o voto solene agora, com overdadeiro propósito de cumpri-lo.

2. Fume o último cigarroconscientemente, inale toda aquelasujeira e pergunte a si mesmoonde está o prazer.

3. Quando apagar o último cigarro,

não dê vazão a sentimentos dotipo “Estou proibido de fumar” ou“Não posso fumar outro”.Mantenha uma atitude positiva:“Não é maravilhoso? Estou livre!Não sou mais escravo da nicotina!Nunca mais terei de colocar essascoisas imundas na minha boca.”

4. Esteja consciente de que, poralguns dias, haverá um pequenosabotador dentro do seu corpodesejando nicotina. Vocêsimplesmente terá aquelasensação de “Quero um cigarro”.Às vezes, eu me refiro ao pequenomonstro como um leve anseiofísico por nicotina, mas isso não éestritamente correto e é importante

que você compreenda por quê.Como o pequeno monstro levacerca de três semanas paramorrer, os ex-fumantes acreditamque ele continuará ansiando porcigarros depois que o último tiversido apagado e que precisarão demuita força de vontade pararesistir à tentação durante esseperíodo. Não é verdade. O corponão anseia por nicotina. Somenteo cérebro anseia pela droga. Sevocê sentir que deseja um cigarronesses primeiros dias, seu cérebroterá de fazer uma escolha simples.Primeira opção: ele pode enxergaro que está por trás desse desejo –uma sensação de vazio einsegurança iniciada pelo

primeiro cigarro e perpetuada porcada um dos subseqüentes – edizer a si mesmo: VIVA, SOU UMNÃO-FUMANTE! Se gunda opção:ele pode começar a ansiar por umcigarro, o que o fará sofrer peloresto da vida. Pense por uminstante. Isso não seria uma atitudeincrivelmente idiota? Dizer“Nunca mais quero fumar” epassar o resto da vida repetindo“Adoraria um cigarro”? Éexatamente isso que os fumantesque usam o Método da Força deVontade fazem. Não é de admirarque se sintam tão infelizes. Elespassam o resto da vida cobiçandodesesperadamente uma coisa que,no fundo, desejam nunca mais ter.

Não é surpresa que tão poucosobtenham sucesso dessa maneira eque mesmo esses poucos nunca sesintam completamente livres.

5. A dúvida e a espera é que tornamdifícil parar. Por isso nuncaquestione sua decisão, você sabeque ela é correta. Se começar aduvidar dela, vai se colocar numasituação em que seria impossívelvencer. Você vai se sentir infelizse quiser um cigarro e não puderfumá-lo. Ou ainda mais infeliz seacender esse cigarro. Independentemente do método queestiver utilizando, o que vocêpretende alcançar quando parar defumar? Nunca mais fumar? Não!

Muitos ex-fumantes abandonam ocigarro, mas passam o resto davida sentindo-se privados de suasbaforadas. Qual é a real diferençaentre fumantes e nãofumantes? Osnão-fumantes não precisam nemdesejam fumar, eles não anseiampor um cigarro nem têmnecessidade de usar a força devontade para se livrar do tabaco.Essa é a sua meta – e alcançá-laestá totalmente dentro de suaspossibilidades. Você não precisaesperar para se tornar um não-fumante ou para deixar de ansiarpor um cigarro. No instante emque apaga o derradeiro ci garro ecorta o forne cimento de nicotina,VOCÊ JÁ É UM FELIZ NÃO-FUMANTE!

E vai permanecer assim desde que:

1. Nunca duvide de sua decisão.

2. Não espere se tornar um não-fumante. Se esperar, estarámeramente aguardando que algoque não existe aconteça, o que vaicriar uma fobia.

3. Não tente se esquecer do cigarronem espere que o “momento darevelação” aconteça. Em qualqueruma das duas hipóteses, você vaicriar uma fobia.

4. Não use substitutos.

5. Enxergue os outros fumantes comorealmente são e não sinta inveja

deles, e sim pena.

6. Não mude sua vida só porqueparou de fumar, nem nos bons nemnos maus momentos. Se mudar,estará fazendo um sacrifício, eisso não é necessário. Lembre-se:você não abriu mão de viver.Você não abriu mão de nada. Aocontrário, você curou a si mesmodaquela terrível doença e escapoude uma prisão traiçoeira. Àmedida que o tempo passar e suasaúde física e mental melhorar, osaltos parecerão mais altos e osbaixos menos baixos do quequando você fumava.

7. Sempre que pensar no cigarro,seja nos próximos dias ou no resto

de sua vida, comemore: VIVA! EUSOU UM NÃO-FUMANTE!

Capítulo 41Um último aviso

Com o conhecimento que tem hoje,nenhum fumante que tivesse a chance devoltar no tempo optaria por viciar-se.Muitos dos fumantes que me procuramestão convencidos de que, se eu pudesseajudá-los a parar agora, sequer sonhariamem voltar a fumar. Entretanto, milhares defumantes livram-se do hábito durantemuitos anos e levam vidas perfeitamentenormais até caírem de novo na mesmaarmadilha.

Tenho certeza de que este livro vaiajudá-lo a achar relativamente fácil pararde fumar. Mas, cuidado: fumantes que

acham fácil parar também acham fácilcomeçar outra vez.

NÃO CAIA NESTA ARMADILHA.

Independentemente de por quanto tempovocê tenha parado ou do quanto se sintaconfiante de que nunca mais vai se viciar,adote como uma norma de vida nuncafumar, por nenhum motivo. Resista àenorme fortuna que os fabricantes decigarros gastam em propaganda e lembre-se de que eles estão promovendo umadroga, o veneno que mais mata no mundo.Você não ficaria tentado a experimentarheroína. E os ci garros matam milhões depessoas, muito mais que a heroína.

Não se esqueça de que aquele primeirocigarro não fará nada por você. Você não

terá mais sintomas da crise de abstinênciapara aliviar, e o gosto será horrível. Masele vai colocar nicotina em seu organismoe uma pequena voz, no fundo da suamente, voltará a dizer: “Você quer mais.”Você terá, então, a opção de sentir-seinfeliz por algum tempo ou começar aasquerosa corrente outra vez.

Capítulo 42Respostas

Desde a primeira publicação destelivro até hoje já se passaram mais devinte anos. Durante todo esse tempo, tiveum excelente retorno tanto dos leitoresquanto das pessoas que se consultaram emuma das nossas clínicas. No início foiuma grande batalha. O método eradesprezado pelos chamados especialistas.Hoje, recebo fumantes de diversos países,sendo que a maioria deles é formada porprofissionais da área médica. No ReinoUnido, o livro já é considerado o maiseficaz apoio para parar de fumar e suareputação tem se espalhado rapidamente

pelo resto do mundo.Não faço milagres. Eu travo a minha

guerra – que não é contra os fumantes,mas contra a armadilha da nicotina – pelasimples razão de que gosto dela. Cada vezque ouço falar de alguém que escapou daprisão, sinto um enorme prazer, mesmoque isso não tenha nada a ver comigo.Você nem imagina a satisfação que tenhotido ao longo desses anos ao recebermilhares de cartas de agradecimento.

Já sofri grandes frustrações causadas,principalmente, por duas categorias defumantes. Apesar dos avisos contidos noscapítulos iniciais, fico impressionado coma quantidade de fumantes que consideramfácil parar, mas acabam se viciandonovamente e acham que não serão bem-sucedidos na próxima vez. Isso se aplica

não apenas a leitores deste livro, mas aosfumantes que vêm às minhas consultas.

Há alguns anos, recebi um telefonemade um homem. Ele estava muitoperturbado e me disse, aos prantos:

– Eu lhe pagarei mil libras (cerca de 4mil reais) se você me ajudar a abandonaro cigarro por uma semana. Sei que, sesobreviver a uma semana sem fumar, sereicapaz de parar.

Expliquei a ele que cobrava um preçofixo e que não havia necessidade deacréscimo. Ele participou de uma sessãoem grupo e, para sua própria surpresa,achou fácil parar. Pouco tempo depoisenvioume uma bela carta deagradecimento.

A última coisa que costumo dizer a umex-fumante no fim de uma sessão é:

“Lembre-se: você nunca mais deve fumarnenhum cigarro.” A resposta que recebidesse homem foi:

– Não tenha medo, Allen. Se euconseguir parar, jamais fumarei outra vez.

Eu achei que ele não havia entendidobem o meu aviso e insisti:

– Sei que você está entusiasmadoagora, mas como estará se sentindo daquia seis meses?

– Nunca mais vou fumar, Allen.Cerca de um ano depois, recebi outro

telefonema.– Allen, fumei um pequeno charuto no

Natal e voltei a consumir quarentacigarros por dia.

– Você se lembra da primeira vez queme telefonou? – perguntei.

– Você odiava tanto fumar que me

ofereceu mil libras para que eu o ajudassea parar por uma semana.

– Eu me lembro. Como fui burro.– Você lembra que me prometeu jamais

fumar outra vez?– Eu sei, sou um idiota.É como encontrar uma pessoa atolada

até o pescoço num lamaçal, prestes aafundar. Você a ajuda a sair. Ela ficaagradecida e, seis meses depois, mergulhade novo no lamaçal.

Ironicamente, aquele mesmo homem,quando participou de uma sessão logodepois, disse:

– Você acredita que eu prometi daressa mesma quantia ao meu filho caso elenão fumasse até completar 21 anos? Elecumpriu o acordo e eu lhe paguei. Hojeele tem 22 anos e fuma mais que uma

chaminé. Não posso acreditar que seja tãotolo.

– Não entendo como você pode chamá-lo de tolo – respondi. – Pelo menos, eleevitou a armadilha por 22 anos e não temnoç ã o das dificuldades que enfrentarámais à frente. Você conhecia essesproblemas muito bem e só agüentou umano.

Os fumantes que acham fácil parar masvoltam a fumar constituem um problemaespecial. Por isso, quando você selibertar, POR FAVOR, NÃO COMETA O MESMOERRO. Os fumantes acreditam que aspessoas retomam o velho hábito porqueainda estão viciadas e sentem falta docigarro. Na verdade, elas acham que pararé tão fácil que perdem o medo de fumar,pensando: “Posso acender um cigarro de

vez em quando. Mesmo que eu me viciede novo, será fácil parar outra vez.”

Receio que não funcione dessa maneira.É fácil parar de fumar, mas é impossíveltentar controlar o vício. A única coisaessencial para se tornar um não-fumante énão fumar.

A outra categoria de fumantes que metraz frustrações é composta por aquelesque estão assustados demais para tentarparar ou que, quando finalmente tomam adecisão, encaram o processo como umaenorme batalha. As maiores dificuldadesparecem ser as seguintes:

1. Medo do fracasso. Não hánenhuma vergonha em fracassar,mas não tentar é pura estupidez.Não há nada do que se esconder.

O pior que pode acontecer é vocênão obter sucesso, o que não odeixará numa situação pior do queaquela em que se encontra hoje.Pense em como seria maravilhosose você conseguisse. Se nãotentar, o fracasso já estarágarantido.

2. Medo de entrar em pânico ou desentir-se profundamente infeliz.Não se preocupe com isso. Reflitapor um momento: “O que poderialhe acontecer de tão grave se vocênão fumasse um cigarro?Absolutamente nada.” Por outrolado, se você fumar, com certezasofrerá conseqüências terríveis.De qualquer maneira, o pânico é

causado pelos cigarros e logo vaidesaparecer. O maior ganho élivrar-se do medo. Você acreditamesmo que os fumantes estãopreparados para ter braços epernas amputados só pelo prazerde acender um cigarro? Se vocêse sentir em pânico, respire fundo.S e estiver com outras pessoas eelas o colocarem para baixo,afaste-se. Vá para a garagem, parauma sala vazia, para qualqueroutro lugar.

Se sentir vontade de chorar, nãose envergonhe. O choro é uma boamaneira de aliviar a tensão.Depois de chorar as pessoas sesentem melhor. Um dos piores

erros que cometemos na educaçãodos meninos é ensinar-lhes quenão devem chorar. Bastaobserválos tentando impedir queas lágrimas escorram, com osdentes rangendo. Na Inglaterra,nós nos esforçamos para manter ocontrole e não demonstraremoções. Mas o ser humano foifeito para demonstrar seussentimentos e não para tentarsufocá-los dentro do peito. Grite,chore ou tenha uma explosão deraiva. Chute uma caixa de papelãoou um móvel. Considere a suabatalha uma luta de boxe que vocênão pode perder.

Ninguém pode parar o tempo. A

cada segundo aquele monstrodentro de você está morrendo.Desfrute sua inevitável vitória.

3. Não seguir as instruções. Porincrível que pareça, algunsfumantes me dizem: “O seumétodo simplesmente nãofuncionou comigo.” Então, elesdescrevem como ignoraram nãoapenas uma, mas quase todas asinstruções. (Para deixar bemclaro, vou resumi-las numchecklist no final deste capítulo.)

4. Não entender as instruções. Osprincipais problemas parecemser:

(a) “Não consigo parar de pensar em

fumar.” É claro que você nãoconsegue e, se tentar, criará umafobia e se sentirá abatido. É comose revirar na cama à noite lutandopara pegar no sono: quanto maisvocê tenta, mais difícil fica. Eupenso no cigarro em 90% do meutempo. O importante é o que vocêestá pensando. Se o seu pensamentofor “Ai, como eu gostaria de umcigarro” ou “Quando vou melibertar?”, você vai ficardeprimido. Se pensar “VIVA! ESTOULIVRE!”, você será feliz.

(b) “Quando o pequeno monstro vaimorrer?” A nicotina sai doorganismo com muita rapidez. Masé impossível afirmar quando o seu

corpo vai parar de sofrer o leveanseio físico de corrente daabstinência. A sensação deinsegurança e de vazio é idêntica àfome normal, à depressão ou aoestresse. Tudo o que o cigarro faz éaumentar o nível dessa sensação. Épor isso que os fumantes que paramusando o Método da Força deVontade nunca têm absoluta certezade que se livraram do vício. Mesmodepois que o corpo deixa de ter ossintomas da crise de abstinência, sea pessoa sentir fome ou passar porum estresse qualquer, seu cérebroainda estará dizendo: “Issosignifica que você quer umcigarro.” O ponto é que você nãoprecisa esperar que o anseio pela

nicotina se vá: ele é tão leve quenem sabemos que está ali. Nós oconhecemos apenas como umasensação que diz: “Quero umcigarro.” Quando você sai dodentista no último dia de um longotratamento, você fica esperando quesua boca pare de doer? É claro quenão. Você segue em frente com avida. Mesmo que ainda sinta umpouco de dor, você se senteexultante.

(c) Esperar pelo momento darevelação. Se você esperar por ele,estará causando uma outra fobia.Uma vez, parei de fumar por trêssemanas usando o Método da Forçade Vontade. Encontrei um velho

amigo de escola e ex-fumante. Eleme perguntou:

– Como você está se saindo?– Sobrevivi às últimas três semanas– respondi.– O que quer dizer com isso?– Que passei três semanas sem umúnico cigarro.– O que você pretende fazer?Sobreviver pelo resto da vida? Oque você está esperando? Você jáconseguiu. Já é um não-fumante.

E eu pensei: “Ele estáabsolutamente certo. O que estouesperando?” Infelizmente, comonaquela época eu não compreendiatotalmente a natureza da armadilha,

voltei a cair nela, mas a questãoficou assinalada em minha mente.Você se torna um não-fumantequando apaga o derradeiro cigarro.O importante é ser um ex-fumantefeliz desde o começo.

(d) “Ainda estou ansiando por umcigarro.” Então, você está sendomuito tolo. Como pode afirmar“Quero ser um não-fumante” edepois dizer “Quero um cigarro”?Isso é uma contradição. Se você diz“Quero um cigarro”, estáafirmando: “Quero ser um fumante.”Os não-fumantes não desejamfumar. Você já sabe o querealmente quer ser, por isso pare depunir a si mesmo.

(e) “Optei por não viver.” Por quê?Tudo o que você precisa fazer éparar de sufocar a si mesmo e nãodeixar de viver. Preste atenção, émuito simples. Nos próximos dias,você terá um leve trauma. Seucorpo vai sofrer alguns sintomasquase imperceptíveis da abstinênciada nicotina. Mas não se esqueça:você não estará pior do que estáagora. Você já vem sentindo essessintomas ao longo de toda a suavida de fumante, durante todo otempo em que está acordado,quando entra numa igreja, numsupermercado, numa biblioteca.Isso não parecia incomodá-loquando você fumava e, se não selivrar do cigarro, vai continuar a

sofrer esse mal-estar pelo resto davida. O cigarro não torna refeições,bebidas ou eventos sociais maisagra dáveis; ele os arruína. Mesmoque o corpo ainda anseie pornicotina, as refeições e os encontroscom amigos são maravilhosos. Avida é maravilhosa. Participe defestas e eventos mes mo que hajavinte fumantes lá. Lembre-se de quenão é você quem está sendoprivado, eles é que estão. Cada umdeles adoraria estar no seu lugar.Desfrute o prazer de ser o centrodas atenções. Parar de fumar é ummagnífico tema de conversa,principalmente quando os fumantespercebem que você está feliz esatisfeito. Eles vão achá-lo o

máximo. O mais importante é quevocê aproveitará a vida desde oinício do processo. Não é precisoinvejar os fumantes. Eles é queterão inveja de você.

(f) “Sinto-me infeliz e irritadiço.” Issoé porque você não seguiu minhasinstruções. Descubra qual delas foiesquecida. Algumas pessoasentendem tudo o que eu digo eacreditam em minhas palavras, masainda assim, no início, sentem-seprofundamente deprimidas, como sealgo terrível estivesse acontecendo.Você está fazendo não apenas o quedeseja, mas também o que todofumante sobre a face da Terragostaria de fazer. Não importa o

método usado para parar, o que oex-fumante está tentando alcançar éum estado de espírito que lhepermita, sempre que pensar emfumar, dizer a si mesmo: “VIVA!ESTOU LIVRE!” Se esse é o seuobjetivo, por que esperar? Comececom esse estado de espírito e nuncao abandone. O objetivo das últimaspáginas deste livro é fazê-locompreender por que não háalternativa.

Faça seu checklist

Se você seguir essas simples instruções,não terá como fracassar.

1. Faça um voto solene de que

jamais, em nenhum momento,você vai fumar, mastigar ouingerir algo que contenhanicotina e mantenha-se fiel aoseu voto.

2. Entenda bem: não háabsolutamente nada do que abrirmão. Não estou afirmandosimplesmente que você viverámelhor como não-fumante (vocêjá sabe disso e sempre soube).Também não estou dizendo que,embora não haja motivosracionais para fumar, o cigarroprovavelmente lhe proporcionaalgum tipo de apoio ou prazer,caso contrário você não fumaria.O que quero dizer é que não há

prazer ou apoio verdadeiros notabagismo. Isso é apenas umailusão, como bater a cabeçacontra a parede só para sentiralívio.

3. Não existe fumante inveterado.Você é apenas um entre osmilhões que caíram nessaarmadilha sutil. Como milhõesde outros ex-fumantes que umavez pensaram que nuncapoderiam se libertar, você selibertou.

4. Se, a qualquer momento de suavida, você pesasse os prós e oscontras do cigarro, a conclusãoseria sempre a mesma: “Pare defumar. Você é um tolo.” Nada

vai mudar isso. Tem sido sempreassim e sempre será. Depois deter tomado a decisão que vocêsabe ser a correta, nunca mais setorture duvidando dela.

5. Não tente não pensar em fumarnem se preocupe com o fato depensar no cigarro a todo instante.Mas, sempre que pensar nele –seja hoje, amanhã ou pelo restoda vida –, comemore: “VIVA! SOUUM NÃO-FUMANTE!”

6. NÃO use nenhum tipo desubstituto.NÃO guarde cigarros.NÃO evite o contato comfumantes.

NÃO mude seu estilo de vidasomente porque parou de fumar.

Se você seguir as instruçõesacima, logo irá experimentar omomento da revelação. Mas:

7. Não espere a chegada dessemomento. Apenas siga em frentecom sua vida. Desfrute os altos eadministre os baixos. Você vaidescobrir que o momento darevelação não tardará.

Capítulo 43Ajude o fumante que está

afundando junto com o navio

Hoje em dia, os fumantes estãoentrando em pânico. Eles sentem que háuma mudança na sociedade. Fumar éconsiderado um hábito anti-social atémesmo pelos próprios fumantes. Elespercebem que essa história está chegandoao fim. Milhões de fumantes estãoparando e todos os que ainda fumam têmconsciência desse fato.

Toda vez que um fumante abandona onavio, os que permanecem nele se sentemainda mais abatidos. Instintivamente, todo

fumante sabe que é ridículo gastardinheiro para comprar folhas secasenroladas em papel, acendê-las e aspirarsubstâncias que podem originar um câncerem seus pulmões. Se você ainda nãoconsidera essa atitude uma tolice,experimente enfiar um cigarro aceso noouvido e pergunte a si mesmo qual é adiferença. Há somente uma. Você não temcomo inalar nicotina dessa maneira. Sevocê conseguir parar de enfiar cigarros naboca, não vai mais precisar da nicotina.

Os fumantes não conseguem encontrarum motivo racional para explicar por queacendem um cigarro. Mas, se estão nacompanhia de outro fumante, eles não sesentem tão tolos. Geralmente mentem demodo grosseiro sobre os motivos que oslevam a fumar, não apenas para os outros,

mas para si mesmos. Eles precisammentir. A lavagem cerebral éimprescindível para que mantenham algumrespeito por si mesmos. Eles sentem anecessidade de justificar seu hábito nãoapenas para si mesmos, mas também paraos nãofumantes. Assim sendo, estãosempre propagando as ilusórias vantagensdo tabagismo.

Se um fumante pára utilizando oMétodo da Força de Vontade, ele tende aficar se lamentando porque ainda se senteprivado de alguma coisa. Tudo o queconsegue com isso é reforçar a convicçãodos outros fumantes de que o melhor quetêm a fazer é continuar fumando.

Se o ex-fumante consegue livrar-se dohábito, ele fica agradecido por não termais de passar a vida sufocando a si

mesmo ou jogando dinheiro fora. Mas elenão precisa se justificar ou tentarconvencer os outros de como émaravilhoso largar o cigarro. Só fará issose alguém perguntar, e os fumantes jamaisfarão essa pergunta. Eles não queremouvir a resposta, pois é o medo que osmantém fumando e eles preferemcontinuar com suas cabeças enfiadas naareia.

O único momento em que o fumante fazessa pergunta é quando chega a hora deparar.

Ajude-o a eliminar esses medos. Diga-lhe como é fantástico não ter de atravessara vida sufocando a si mesmo, como éagradável acordar de manhã sentindo-sesaudável e em boa forma física, em vez dedespertar ofegante e tossindo. E,

principalmente, como é maravilhoso estarlivre da escravidão e ser capaz deusufruir a vida por inteiro, sem aquelasterríveis nuvens negras por perto. Ou,melhor ainda, convença-o a ler este livro.

É essencial não ofender o fumanteafirmando que ele está poluindo aatmosfera ou que é, de alguma maneira,um indivíduo pouco limpo. Existe umconsenso comum de que o ex-fumante équem mais age dessa maneira. Acreditoque isso tenha algum fundamento e estejarelacionado ao uso do Método da Forçade Vontade. Como, apesar de terabandonado o hábito, o ex-fumante não selivrou totalmente da lavagem cerebral,uma parte dele ainda acredita que estáfazendo um sacrifício. Ele se sentevulnerável e seu mecanismo natural de

defesa é atacar o fumante. Essa atitudepode ajudá-lo, mas não traz nenhumbenefício àqueles que fumam. Apenasaborrece o fumante e o faz se sentir aindamais desprezível, aumentando seu desejode fumar.

Embora a mudança de atitude dasociedade em relação ao tabagismo seja omotivo principal que leva milhões defumantes a abandonar o cigarro, ela nãocolabora efetivamente para que issoaconteça. Na verdade, só dificulta oprocesso. Muitos fumantes hoje em diaacreditam que estão parando por motivosligados à saúde. Isso não é uma verdadeabsoluta. Embora os enormes riscos àsaúde sejam, é claro, uma questãofundamental, os fumantes vêm se matandohá muito tempo e isso nunca fez a menor

diferença. Na verdade, os indivíduosestão deixando de fumar porque asociedade passou a enxergar o querealmente é o tabagismo: um asquerosovício numa droga. O prazer sempre foiuma ilusão, e essa atitude acaba de vezcom a ilusão, de maneira que não resta aofumante nada a que se apegar.

A proibição de fumar no metrô é umexemplo clássico do dilema que o fumanteenfrenta. Ou ele toma uma atitude do tipo“Tudo bem, se não posso fumar no metrô,vou encontrar outra maneira de circularpela cidade” – o que não lhe traz nenhumbenefício, só faz com que a empresa detransportes urbanos perca uma parte deseus lucros. Ou ele diz: “Tudo bem, issovai me ajudar a diminuir o número decigarros.” Então, em vez de acender um

ou dois cigarros no metrô – o que não lhetraria nenhum prazer –, ele fica sem fumarpor uma hora. Durante esse período deabstinência forçada, porém, o fumante nãoapenas vai se sentir mentalmente privadoe ficará à espera da recompensa como seucorpo também estará ansiando pornicotina – e, ah!, como aquele cigarro serávalioso quando ele, finalmente, puder seraceso.

Períodos de abstinência forçada nãoreduzem o consumo de cigarros, porque oindivíduo acaba se permitindo fumar maisquando não há nenhuma proibição. Aúnica conseqüência é que esses intervalosimprimem na mente do fumante a idéia deque os cigarros são preciosos e de que eledepende deles.

As mulheres grávidas também sofrem o

efeito traiçoeiro da abstinência forçada. Asociedade permite que as adolescentessejam bombardeadas por uma intensapropaganda massiva que as vicia. Então,no período que é, provavelmente, o maisestressante de suas vidas, quando suasmentes iludidas as levam a acreditar quedesejam fumar, os profissionais da áreamédica as chantageiam para que deixemd e fumar em razão dos prejuízos quepodem causar ao bebê. Muitas nãoconseguem abandonar o vício e sãoforçadas a carregar esse sentimento deculpa pelo resto da vida. Outras param ecome moram: “Ótimo, farei essesacrifício pelo bebê e depois de novemeses estarei curada.” Então vêm o medoe as dores do parto, seguidos pelomomento de maior emoção de suas vidas.

O bebê chega – e o velho mecanismo degatilho volta a operar. Parte da lavagemcerebral ainda está ali e, antes mesmo deo cordão umbilical ser cortado, a mãe jáestá com um cigarro na boca. Oarrebatamento bloqueia o gosto estranho.Ela não tem a intenção de viciar-se outravez. “Só um cigarro”, pensa. Tardedemais! Já está viciada. A nicotina entroude novo em seu organismo. O antigoanseio vai recomeçar e, mesmo que não sevicie imediatamente, a depressão pós-parto terá todas as chances de arrebatá-la.

Embora os viciados em heroína sejamcriminosos de acordo com a legislaçãobritânica, a atitude da sociedade emrelação a eles é de compaixão: “O quepodemos fazer para ajudar esses patéticosindivíduos?” Deveríamos adotar a mesma

postura em relação ao pobre fumante. Elenão fuma porque deseja, mas porqueacredita que precisa e, ao contrário doviciado em heroína, costuma sofrer anos eanos de tortura mental e física. Dizemossempre que uma morte rápida é melhorque uma morte lenta, por isso não inveje oinfeliz fumante. Ele merece a suacompaixão.

Capítulo 44Conselhos aos não-fumantes

Estimule seus amigos e familiaresfumantes a ler este livro.

Em primeiro lugar, leia este livro comatenção e tente colocar-se no lugar dofumante.

Não o force a ler nem tente fazê-loparar de fumar dizendo que estáarruinando a própria saúde ou que estájogando dinheiro no lixo. Ele já sabedisso melhor que você. As pessoas nãofumam porque gostam ou porque querem.Elas dizem isso a si mesmas e aos outrosapenas para manter o respeito por sipróprias. Elas fumam porque são de

pendentes do cigarro, porque acreditamque ele as relaxa e lhes dá coragem econfiança. E também porque têm a ilusãode que, sem o cigarro, a vida nunca maisseria tão agradável. Se você tentar obrigarum fumante a parar, ele se sentirá comoum animal enjaulado e seu desejo defumar só aumentará. Isso pode transformá-lo num fumante secreto, valorizando aindamais o cigarro em sua mente (ver capítulo26).

Em vez disso, concentre-se no outrolado da moeda. Coloque o fumante napresença de ex-fumantes (há 15 milhõesdeles somente na Grã-Bretanha). Peça querelatem suas experiências e contem comotambém pensavam que estavam viciadospara sempre e como a vida deles ficoumuito melhor sem o cigarro.

Quando conseguir convencer o fumantede que ele é capaz de parar, sua mente vaicomeçar a se abrir. Então, fale sobre ailusão criada pela crise de abstinência. Ocigarro não oferece nenhum estímulo; aocontrário, ele destrói a confiança e torna oindivíduo irritadiço e tenso.

O fumante agora estará pronto para lereste livro. Sua expectativa será a de lerpáginas e mais páginas sobre câncer depulmão, doenças cardíacas, etc. Expliquea ele que a abordagem é completamentediferente e que referências a doenças sãouma fração mínima do materialapresentado.

Ajude-o durante a crise deabstinência.

Independentemente de o ex-fumante

estar ou não enfrentando dificuldades coma crise de abstinência, parta dopressuposto de que ele está sofrendo. Nãotente minimizar seu desconforto dizendo aele que é fácil parar. Em vez disso, diga-lhe a todo instante como você estáorgulhoso, como a aparência delemelhorou, como seu cheiro se tornou maisdoce, como a respiração dele parece maisfácil. É essencial fazer isso sempre.Quando um fumante decide se livrar docigarro, a euforia por estar finalmentetentando e a atenção dos amigos e colegaspodem ajudá-lo no processo. Entretanto,ele tende a se esquecer com rapidez dosbenefícios de parar, por isso não deixe deelogiá-lo.

Se o ex-fumante deixa de falar decigarros, você pode achar que ele já se

esqueceu do velho hábito e que é melhornão lembrá-lo. Em geral, com o uso doMétodo da Força de Vontade, aconteceexatamente o contrário: o ex-fumantetende a ficar obcecado pelo cigarro. Nãotenha medo de trazer o assunto à baila econtinue a elogiálo. Se ele não quiser quevocê o lembre disso, só precisa pedir quenão toque mais nesse ponto.

Faça tudo o que estiver ao seu alcancepara aliviá-lo das pressões durante a crisede abstinência. Pense em maneiras detornar a vida dele interessante eagradável.

Esse também pode ser um períododifícil para os não-fumantes. Se um amigoou familiar está mal-humorado, podegerar um sentimento de desânimo geral.Por isso, previna-se: se o ex-fumante

começar a se sentir irritado e quiserdescontar em você, não revide. Éexatamente nesse momento que ele maisprecisa de seus elogios e de suacompreensão. Se você também estivertenso, procure não demonstrar.

Uma das estratégias que eu usavaquando tentava parar com a ajuda doMétodo da Força de Vontade era ter umacrise de nervos, na esperança de queminha mulher ou meus amigos dissessem:“Não suporto vê-lo sofrendo destamaneira. Pelo amor de Deus, fume umcigarro.” Agindo assim, o fumante nãoperde a pose. Ele não está se entregando,está apenas seguindo ordens. Se um ex-fumante usar essa tática, jamais o encorajea fumar. Em vez disso, diga: “Se é isso oque o cigarro faz com você, agradeço a

Deus pelo fato de que logo você estarálivre. Que maravilha você ter tido acoragem e o bom senso de parar.”

EpílogoAjude a acabar com essa

infâmia

O tabagismo é a maior infâmia dasociedade. Na minha opinião, maior atéque as armas nucleares.

Seguramente, a própria essência dacivilização, a razão por que a espéciehumana desenvolveu-se tanto, é o fato desermos capazes de transmitir nossoconhecimento e nossas experiências nãoapenas uns aos outros, mas também àsfuturas gerações. Mesmo as espéciesmenos desenvolvidas têm necessidade dealertar seus descendentes sobre as

armadilhas da vida.Se os armamentos nucleares não

explodirem, não haverá nenhum problema.As pessoas que defendem as armasnucleares podem continuar a dizer comorgulho: “Elas estão mantendo a paz.” Seexplodirem, resolverão o problema dotabagismo e todos os outros males domundo, e a grande vantagem dos políticosé que não vai sobrar ninguém para dizer:“Vocês estavam errados.” (Deve ser porisso que eles apóiam as armas nucleares.)

Entretanto, por mais que eu discorde daexistência de armas nucleares, vejo quepelo menos essas decisões são tomadasde boa-fé. Seus defensores estãoconvencidos de que estão ajudando ahumanidade. Já na questão do tabagismonão há como alegar isso diante das

evidências dos malefícios do cigarro.Talvez por ocasião da última guerra aspessoas acreditassem piamente que ocigarro era fonte de coragem e confiança.Hoje, as autoridades sabem que isso éuma falácia.

A hipocrisia é inacreditável. Asociedade se angustia com o fato deexistirem pessoas viciadas em cheirarcola ou em heroína. Comparado aotabagismo, esse problema é irrelevante.Sessenta por cento da população já seviciou em nicotina e essas pessoas gastamuma boa parte do que ganham em cigarros.Milhares de indivíduos destroem suasvidas todos os anos porque se viciam. Ofumo é, de longe, o maior assassino emnossa sociedade e, ao mesmo tempo, umaimportante fonte de renda para os

governos. Na Inglaterra, o governo lucra 8bilhões de libras (cerca de 32 bilhões dereais) por ano com a desgraça dosviciados em nicotina, e os impérios dotabaco têm autorização para gastar 100milhões de libras (cerca de 400 milhõesde reais) por ano para apregoar o usodessa imundície.

As fábricas de cigarros imprimem emseus maços aquelas advertências doMinistério da Saúde sobre os malefíciosdo cigarro e os governos gastam fortunasem campanhas mostrando pessoas quesofrem de câncer, mau hálito ou que têmas pernas amputadas, para, depois, sejustificarem moralmente dizendo: “Nósavisamos do perigo. A es colha é sua.”Um fumante tem tanta escolha quanto umvi ciado em heroína. Ele não decide

viciar-se, mas é levado a cair numaarmadilha muito sutil. Se houvessepossibilidade de escolha, os únicosfumantes amanhã de manhã seriam osjovens que estão começando e queacreditam que serão capazes de pararquando quiserem.

Qual a razão de tanta falsidade? Porque os viciados em heroína são vistoscomo criminosos e, assim mesmo, podemregistrar-se como dependentes da droga econseguir heroína de graça, além dotratamento para livrar-se do vício? Tente,porém, registrar-se como viciado emnicotina. Você não vai conseguir cigarrosa preço de custo.

Se você for ao médico em busca deajuda, ele lhe dirá: “Pare de fumar, isso oestá matando.” Disso você já sabe há

muito tempo. Ou, então, vai lhe prescrevergomas de mascar ou adesivos de nicotina,ou seja, outra forma de vício em nicotina,um tratamento que contém exatamente adroga da qual você deseja se livrar. Evocê ainda terá que pagar pela consulta!

Campanhas amedrontadoras não ajudamninguém a abandonar o cigarro. Elas sódificultam o processo. Tudo o queconseguem é assustar os fumantes, o quefaz com que queiram fumar ainda mais.Elas sequer evitam que os adolescentes seviciem. Os jovens sabem que o cigarromata, mas sabem também que um únicocigarro não os matará. Como é um hábitotão comum, mais cedo ou mais tarde, porpressões ou por curiosidade, elesacabarão experimentando o primeirocigarro. E, pelo fato de o gosto ser tão

ruim, irão, provavelmente, ficar viciados.Por que permitimos que essa infâmia

continue? Por que os governos não fazemuma campanha eficiente? Por que nãodizem que a nicotina é uma droga e umveneno assassino, que não relaxa nemaumenta a confiança, mas destrói osistema nervoso? Por que ninguém nosavisa que basta um único cigarro para nostornarmos viciados?

Isso me faz lembrar de uma cena de Amáquina do tempo, de H. G. Wells. Oautor descreve um incidente num futurodistante, em que um homem cai num rio ecomeça a gritar pedindo ajuda, mas seuscompanheiros continuam sentados namargem, como se fossem um bando deanimais, indiferentes ao desespero doafogado. Esse acontecimento, para mim, é

desumano e profundamente perturbador.Considero que a apatia geral da sociedadeem relação ao problema do tabagismo éuma atitude bastante semelhante.

Por que a sociedade permite queadolescentes saudáveis sofram umalavagem cerebral que os levará a passar oresto da vida pagando uma fortuna peloprivilégio de destruírem a si mesmosfísica e mentalmente, numa existência deescravidão, imundície e doenças?

Você pode achar que estou exagerandoe dramatizando os fatos. Não é verdade. Avida de meu pai foi interrompida aoscinqüenta e poucos anos por causa docigarro. Ele era um homem forte e poderiaestar vivo até hoje.

Acredito que estive bem perto da morteaos quarenta e poucos anos de idade.

Tenho certeza de que, se tivesse morrido,não atribuiriam o meu óbito ao cigarro, esim à hemorragia cerebral. Hoje passo avida sendo procurado por pessoas com asaúde debilitada ou que estão nos últimosestágios de doenças terminais causadaspelo tabagismo. E, se você olhar para oslados, verá que também conhece muitaspessoas assim.

Existem sinais de mudanças nasociedade. Uma bola de neve já começoua se formar e espero que este livro ajude atransformá-la numa avalanche.

Você também pode ajudar espalhando amensagem.

ADVERTÊNCIAFINAL

Você agora pode aproveitar oresto de sua vida como um não-fumante feliz. Para que issoaconteça, só precisa seguir estassimples instruções:

1. Mantenha este livro numlugar onde possa consultá-losem nenhuma dificuldade.

Não o perca, não o emprestenem o dê de presente.

2. Se, alguma vez, vocêcomeçar a sentir inveja deoutros fumantes, tenhaconsciência de que eles éque estarão invejando você.Você não está sendo privadode nada. Eles é que estão.

3. Lembre-se de que você nãogostava de ser fumante. Foiisso que o fez parar. Vocêtem prazer em ser um não-fumante.

4. Lembre-se: não existe nadaparecido com “só umcigarro”.

5. Nunca duvide de sua decisãode jamais fumar outra vez.Você sabe que é a decisãocerta.

6. Se tiver alguma dificuldade,entre em contato com uma denossas clínicas. Você vaiencontrar uma lista delas naspáginas seguintes.

Clínicas Allen Carr

As páginas seguintes contêminformações detalhadas sobre todas asclínicas EASYWAY espalhadas pelo mundo.Algumas delas também oferecem sessõespara recuperação de dependentes deálcool e tratamentos para emagrecer.

Allen Carr garante que você vai acharfácil parar de fumar em uma das clínicas;caso contrário, receberá seu dinheiro devolta. A taxa de sucesso, baseada nagarantia de devolução do dinheiro, ésuperior a 90%.

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Birmingham B32 2ADTel./fax: 0121 423 1227Terapeutas: John Dicey, Colleen Dwyer eCrispin HayE-mail: [email protected]

Bournemouth e SouthamptonTel./fax: 01425 272757Terapeutas: John Dicey e Colleen Dwyer

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Sobre o autor

ALLEN CARR era um bem-sucedidocontador que fumava cem cigarros pordia. Em 1983, após incontáveis tentativasfracassadas de parar, ele finalmentedescobriu algo que todo fumante procura:um método fácil para parar de fumar.

Desde então, ele se dedica a ajudaroutras pessoas a abandonar o vício docigarro. O inglês começou a dar consultaspara fumantes, transpôs seu método paraum livro e montou uma rede de clínicas,hoje espalhadas por cerca de 30 países.Lançado originalmente em 1985, Ométodo fácil de parar de fumar jáultrapassou a marca de 7 milhões de

exemplares vendidos e foi traduzido paramais de 25 idiomas.

O ponto comum em todo o trabalho deAllen Carr é a remoção do medo. Seutalento está na eliminação das fobias eansiedades que impedem as pessoas deusufruir plenamente a vida.


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