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O teatro épico de Brecht

Date post: 16-Dec-2015
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Uma análise do teatro épico de Brecht a partir de sua obra Círculo de Giz Caucasiano.
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Brecht e sua obra O círculo de giz caucasiano Por: Amanda Kristensen de Camargo; Ana Caroline Moço Tura; Ariane C. de A. Parada; Eliana Vassallo Costa e Ettore Ângelo Caneppelle
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O teatro pico de Brecht

Brecht e sua obra O crculo de giz caucasianoPor: Amanda Kristensen de Camargo; Ana Caroline Moo Tura; Ariane C. de A. Parada; Eliana Vassallo Costa e Ettore ngelo Caneppelle

O teatro pico de Brecht

https://www.youtube.com/watch?v=PhsAF1dOFso

Em sua vida adulta, aproximadamente com 40, 41 anos, Brecht presenciou a ascenso do Nazismo que transformou a Alemanha destruda no Grande Reich alemo ou tambm chamada deTerceiroReich, Estado Totalitrio governado por Adolf Hitler, nessa poca devido ao seu posicionamento marxista e suas publicaes, Brecht precisou exilar-se em vrios pases, como Sua, Dinamarca, Sucia, Rssia e finalmente nos Estados Unidos [EUA] ao qual escreveu dentre outras obras O Circulo de Giz Caucasiano.Por fim, com a queda do Nazismo pela vitria dos Aliados, foi institudo a nova Deutsche Demokratische Republikou Repblica Democrtica Alem, e com a proveniente Guerra Fria instaurada logo aps o final da Segunda Guerra, a ento Alemanha recm formada foi dividida entre o lado Ocidental [capitalista] e o lado Oriental [comunista] no qual Brecht preferiu por ser adepto da corrente marxista, se mudou para Berlim Oriental aliada a Unio Sovitica Socialista.E morreu por l.

2. Sntese da obra O Circulo de Giz Caucasiano.

3. A teoriaRosenfeld, Anatol. (p. 145)Rosenfeld, Anatol. (p. 145)8

3.1. O gnero pico(p.24)(p.24)9

3.2. O gnero dramtico[O mundo]

(p.27)10Resumidamente, pode-se considerar o teatro pico uma realizao anti-burguesa e de base marxista, a partir da qual, e somente por meio da insero da pica, torna-se possvel construir uma concepo ampla de mundo.

Diferentemente do drama burgus, tal produo buscava tornar o espectador mais ativo, considerando-o um modificador pito a julgar seus semelhantes, visto que o homem torna-se objeto de anlise.

Teatro pico: ttulo que concretiza a teoria dialtica de Brecht.

Para Brecht, a forma pica de teatro, deveria despertar o prazer, entretanto, se comprometeria a renunciar a tudo que [representasse] uma tentativa de hipnose, que [provocasse] xtases condenveis, [ou que produzisse efeito[s] de obnubilao. (Brecht, Estudos sobre teatro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005 p.32)

O contedo deveria apresentar um carter didtico e apesar de, muitas vezes, reproduzir costumes, esta reproduo teria como finalidade dispor de um carter subjetivo, o qual se promoveria, por exemplo, atravs de duplos, de questes dialticas.

3.3. A base terica

(p.149)(p.149)13

Brecht e AristtelesA prpria pea uma farsa Perante uma discusso acerca de com que parte ficar um vale de cucaso, devastado pela guerra, instaura-se uma encenao. Com a participao de um cantor, um recitante e os prprios envolvidos na primeira discusso, comea-se uma segunda narrativa, e a que de fato, se dar maior ateno.

Os narradores em BrechtO recitante.

(p.51)(p.51)16

p. 58p. 5817

p. 61

p. 109,110

p. 74p. 7418Os msicos

Personagens que cantam19Personagens que cantam

p. 78p. 7820O juz Azdak a apresentado em uma terceira narrativa dentro da fundamental.

Azdak um personagem muito complexo. Para Brecht:

As dificuldades com a caracterizao de Azdak me detiveram por duas semanas, at que encontrasse o fundamento social da sua conduta. No comeo, tinha apenas sua legislao miservel, com a qual os pobres se davam bem. (...) Azdak tinha que ter traos egostas, amorais e parasitrios, tinha que ser o mais baixo e mais degenerado dos juzes. Mas ainda me faltava uma causa elementar de ordem social. Encontrei-o em sua decepo ao perceber que a queda dos velhos senhores no anuncia um novo tempo, mas um tempo de novos senhores. Assim, ele continua a praticar o direito burgus, s que esfarrapado, sabotado, no exclusivo interesse do prprio juiz, (...) essa explicao no muda nada das minhas intenes e no justifica Azdak (Cf. BRECHT, Bertolt. Dirio de Trabalho. Vol.1 Rio de Janeiro: Rocco, 2002. )O juz AzdakAzdak para os demais personagens:

Schalva: Eu sei que tens bom corao (...) s um homem superior, tu mesmo o dizes (...) Azdak, nosso escrivo (...) Meus senhores, acredito que no fundo ele no m pessoa. Uns furtozinhos de galinha e de vez em quando uma lebre, talvez (MB: 138, 140, 145)

Cozinheira: No um juiz como os outros, o Azdak. um odre de vinho e no entende nada de ofcio. Os maiores ladres foram absolvidos por ele. Como troca tudo e os ricos nunca lhe do dinheiro bastante, os pobres como ns muitas vezes se saem bem com ele. (...) A madama te arrancaria os cabelos ser no soubesse que o velho Azdak pelos humildes. Ele julga pela cara. (MB: 170,174)

No tenho bom corao coisa nenhuma. Quantas vezes j te disse que sou um intelectual? (p.138).Sou eu, o abjeto, o traidor, o marcado. Eu hospedei inadvertidamente o Gro-duque, ou melhor, o Gro- sacripanta (p. 140).

Eu costumava fazer vista grossa aos que nada tinham, isto vai me custar caro. (...) meti o nariz nos bolsos dos ricos, o que considerado uma obscenidade (p. 167)

Uma pessoa dcil, Excelncia, que est disposta a servi-la (p. 167)Azdak mais que toda a pea de Brecht, a concretizao de uma dialtica, que objetiva a reflexo do espectador.

Ao pensar e agir de maneira diferente, ou at mesmo se comportar de maneira diversificada, em dependncia do pblico alvo, Azdak pode ser considerado a realizao da contrariedade.

Sou um homem sem instruo, visto cala furada debaixo da toga, olha s tu mesma. Comigo tudo se vai em comida e bebida, fui educado numa escola de convento (p. 183).

4. Os recursos artsticos a dialtica como distanciamentoNuma representao em que no se pretenda uma metamorfose integral, podem utilizar-se trs espcies de recursos para distanciar a expresso e a ao da personagem apresentada: 1. recorrncia terceira pessoa; 2. recorrncia ao passado; 3. intromisso de indicaes sobre a encenao e de comentrios. (BRECHT, 1978, p.82)

Em Aristteles, enquanto lio pedaggica, o importante na tragdia o impulso herico de superao da culpa, para evidenciar a virtude, esta sim herona suprema. Em Brecht, a finalidade diversa. O aparente ato individual, em uma encenao brechtiana, deve ser enfatizado como gesto social. neste jogo duplo e contraditrio dos atos individuais,s vezes hericos, que o teatro de Brecht incide, para enfatizar, sempre, a opresso, a dominao e a luta de classes.

A criao do dramaturgo e, por extenso, a da totalidade do espetculo situam-se num espao bem determinado: naquela distncia que h entre os dois nveis do acontecer, um desvelando a verdade do outro; (...) resta a mostrao da verdade habitar essa distncia entre o indivduo e o mundo. (...) E para isso, alm do essencial, que a generalidade do prprio Brecht, h recursos tcnicos que devem ser elaborados; eles dizem respeito cenografia e a tudo o que enche um palco; mas tambm, e mesmo principalmente, ao trabalho do ator, centrado na linguagem e no gesto. Todo esse complexo deixa-se organizar sob um nico comando: o do efeito de distanciamento. (...) Portanto, se as tcnicas que estabelecem o efeito de distanciamento perpassam o teatro pico por inteiro, sua finalidade consiste em promover a educao do espectador pela sua incluso no prprio distanciamento (BORNHEIM, 1992, p. 234-255)

Uso da ironia e pardia, tratamento diferente da linguagem, da estrutura das peas e personagens; recursos cnico-literrios, como cartazes e projees de textos, mediante os quais o prprio autor comenta epicamente as ocorrncias e esboa, de forma narrativa, o pano de fundo social; o mtodo de se dirigir ao pblico, atravs de cantores, coros e comentaristas; o uso da mscara; recursos piscatorianos como a interpenetrao de palco e platia, atravs de vrios meios, por exemplo jornaleiros a percorrerem a sala, cantando ttulos que caracterizam o clima social; recursos musicais aplicados com fito estritamente anti-hipntico (ROSENFELD, 1977, p. 152)

exemplosUma das caractersticas importantes do texto, por remeter ao Gestus brechtiano, a incluso de aforismos, um dos smbolos da tradio, da sabedoria do povo, do que se passou de gerao em gerao. Eles aparecem como quebra na ao, apontando para o hibridismo pico dramtico.

Essa questo relevante quando se estuda a dialtica na pea. Enquanto Simon expe os argumentos dos explorados nas relaes sociais, os provrbios de Azdak defendem o pensamento dos dominantes, apesar das atitudes do juiz deixarem claro que ele no compactua com tal classe; as contradies entre os pensamentos dos dois, e a contradio entre a palavra e as aes de Azdak, com o objetivo de criar, no pblico, uma atitude revolucionria, so exemplos dos elementos contrapostos, que permeiam todo o texto, de personagens a enredo, e ilustram a afirmao de Brecht que, para ele, dialtica se revela a partir da pea, e no ao contrrio.

Na obra brechtiana, o distanciamento se d atravs da narrao desenvolvida por menestrel, cartazes com textos antecedendo os atos ou mesmo atores que assumem a postura narrativa no decorrer da pea; atravs de cenas no seqenciais, sem seguir uma linha comeo meio-fim e todas as caractersticas at aqui apontadas, que tornaram Brecht um cone no hibridismo drama pico.No decorrer do texto, o narrador, menestrel ou personagem, situa o espectador, introduz cenas e canes, explica o que se passa, descreve, resume, organiza o texto, opina, lana suposies e conclui o trabalho. Tambm nesse hibridismo, observa-se o tratamento dialtico do autor buscando criar o distanciamento no pblicoAs rubricas perdem a sua funcionalidade ilusria realidade e se tornam parte da reflexo.

O narrador introduz a cena, descreve o cenrio, que no ser pintado, mas narrado, e comenta o contedo da pea, que, como se pode ver, no um mistrio a ser construdo diante da platia envolvida num absoluto, que o drama (SZONDI, 2001, p. 30.) Assim, no h o efeito surpresa na plateia.No s ao menestrel, porm, dada a funo de narrador. Quando estoura a revolta, uma fala de Criados explica ao pblico o porqu do movimento: Parece que ontem na capital se soube que a guerra da Prsia estava definitivamente perdida. Os prncipes organizaram uma grande revolta. Dizem que o Gro-Duque j fugiu. Vo executar todos os Governadores. arraia-mida no faro nada. Tenho um irmo que couraceiro. (MB: 63).

Em outros momentos do texto, Grucha, Azdak, a Cozinheira ou mesmo Laurenti dividem com o menestrel a funo narrativa.Em vrias passagens, o narrador de Brecht ainda responsvel por falas descritivas, em que o menestrel fala o que o pblico v acontecer em cena. Uma dessas passagens a que mostra Grucha com o menino, quando no consegue fugir e abandon-lo.

Seguido da rubrica ela executa o que o Recitante diz, com os gestos que ele descreve. O narrador tem a funo de quebrar a empatia que uma cena dessas geraria no pblico, e lev-lo a perceber o conflito que envolve fazer o bem em tempos difceis. O autor fez com que Gruncha passasse a noite toda ao lado da criana, que apesar de inocente, estava condenada pela maldade dos que detinham o poder.

O narrador brechtiano tambm opina, deixando claro ao receptor a posio do autor, que no teatro pico pode estar presente em cena. Em certo momento, o menestrel e os msicos interrompem a narrativa sobre as andanas de Azdak, e comeam a aconselhar o pblico, quebrando a noo naturalista de quarta parede.

O ato da amamentao, comum ao cotidiano de uma mulher, apresentado de forma distanciada, ao ser transferido a uma pessoa sem leite, que precisa alimentar sua criana. Somente assim possvel que se avalie o peso social que essa atitude, at ento vista como conhecida, pode ter numa sociedade em que nem todos tm acesso comida.

Garcia, Silvana.As Trombetas de Jeric. Tese de doutorado. Eca/USP. 1997.Peixoto, Fernando.Brecht Vida e Obra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1974. 2. Edio.SZONDI, P. Teoria do drama moderno (1880-1950) Trad. L. S. Repa. So Paulo: Cosac & Naifi, 2001.ROSENFELD, A. O teatro pico. So Paulo: Perspectiva, 1990. _____. Teatro Moderno. So Paulo: Perspectiva, 1977.BORNHEIM, G. Brecht, a esttica no teatro. Rio de Janeiro: Graal, 1992.Bibliografia


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