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OS TECIDOS NOS CIRCUITOS COMERCIAIS E CULTURAIS … · Tecidos de algodão do sul asiático tiveram...

Date post: 21-Nov-2018
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Departamento de História OS TECIDOS NOS CIRCUITOS COMERCIAIS E CULTURAIS DO ÍNDICO Aluna: Deborah Santana Raposo de Rezende Orientador: Regiane Augusto de Mattos “The symbolic capital which cloth possessed was, therefore, integral to the processes by and through which Swahili world was constituted.” Pedro Machado Introdução A pesquisa pretende contribuir, de modo geral, para a compreensão das sociedades de Moçambique e as relações e interconexões estabelecidas com aquelas localizadas no Oceano Índico. Além das populações locais, existiam nessa região vários grupos sociais de diferentes origens, como goeses cristãos; mouros, que poderiam ser indianos ou omanitas e baneanes, que eram comerciantes hindus originários, sobretudo, de Guzarate, ambos muçulmanos. Os chefes locais dos estabelecimentos islâmicos do litoral, comumente chamados de sultões, estabeleceram ao longo do tempo relações muito próximas, inclusive de parentesco, com os chefes das sociedades localizadas em Zanzibar e nas ilhas Comores e Madagascar. Essas relações tinham um caráter econômico, mas também religioso, marcado pela presença do Islã. As sociedades africanas de Moçambique construíram redes sociais, culturais, políticas e econômicas, proporcionadas pelo contato constante com outras de fora do continente por meio das relações de comércio e da religião islâmica. [8] Dessa forma, no que se refere à dinâmica comercial, a presente pesquisa se deteve ao estudo da circulação dos tecidos na África Oriental, mais particularmente em Moçambique. Levando em conta as relações de comércio já existentes desde o século XII e a produção local, este trabalho pretende analisar a trajetória histórica da circulação desse produto nos circuitos comerciais do Índico e as influências e transformações que esta proporcionou nas culturas da região. Objetivos Específicos O objetivo do estudo é mostrar como se deu a comercialização dos tecidos na África Oriental, e mais particularmente entender o surgimento da “Capulana” – tecido tradicionalmente usado até hoje em vários países africanos. Metodologia O trabalho se desenvolveu a partir do levantamento, da leitura atenta e da análise da bibliografia e das fontes documentais nos arquivos e bibliotecas localizados no Rio de Janeiro, como a Biblioteca Nacional e o Real Gabinete Português. Bibliotecas digitais também foram usadas no levantamento bibliográfico. 1.) Detalhamento dos resultados parciais obtidos no período 1.1. Pesquisa e sistematização da bibliografia Biblioteca Nacional:
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Departamento de História

OS TECIDOS NOS CIRCUITOS COMERCIAIS E CULTURAIS DO ÍNDICO

Aluna: Deborah Santana Raposo de Rezende

Orientador: Regiane Augusto de Mattos

“The symbolic capital which cloth possessed was, therefore, integral to the processes by and

through which Swahili world was constituted.”

Pedro Machado

Introdução

A pesquisa pretende contribuir, de modo geral, para a compreensão das sociedades de

Moçambique e as relações e interconexões estabelecidas com aquelas localizadas no Oceano

Índico. Além das populações locais, existiam nessa região vários grupos sociais de diferentes

origens, como goeses cristãos; mouros, que poderiam ser indianos ou omanitas e baneanes, que

eram comerciantes hindus originários, sobretudo, de Guzarate, ambos muçulmanos. Os chefes

locais dos estabelecimentos islâmicos do litoral, comumente chamados de sultões, estabeleceram

ao longo do tempo relações muito próximas, inclusive de parentesco, com os chefes das sociedades

localizadas em Zanzibar e nas ilhas Comores e Madagascar. Essas relações tinham um caráter

econômico, mas também religioso, marcado pela presença do Islã. As sociedades africanas de

Moçambique construíram redes sociais, culturais, políticas e econômicas, proporcionadas pelo

contato constante com outras de fora do continente por meio das relações de comércio e da religião

islâmica. [8]

Dessa forma, no que se refere à dinâmica comercial, a presente pesquisa se deteve ao

estudo da circulação dos tecidos na África Oriental, mais particularmente em Moçambique.

Levando em conta as relações de comércio já existentes desde o século XII e a produção local, este

trabalho pretende analisar a trajetória histórica da circulação desse produto nos circuitos

comerciais do Índico e as influências e transformações que esta proporcionou nas culturas da

região.

Objetivos Específicos

O objetivo do estudo é mostrar como se deu a comercialização dos tecidos na África

Oriental, e mais particularmente entender o surgimento da “Capulana” – tecido tradicionalmente

usado até hoje em vários países africanos.

Metodologia O trabalho se desenvolveu a partir do levantamento, da leitura atenta e da análise da

bibliografia e das fontes documentais nos arquivos e bibliotecas localizados no Rio de Janeiro,

como a Biblioteca Nacional e o Real Gabinete Português. Bibliotecas digitais também foram

usadas no levantamento bibliográfico.

1.) Detalhamento dos resultados parciais obtidos no período

1.1. Pesquisa e sistematização da bibliografia

Biblioteca Nacional:

BRAVO, Nelson Saraiva. A cultura algodoeira na economia norte Moçambique / Bravo Nelson

Saraiva . - [S.l] : [s.n.], 1963.

MENESES, Maria Paula G. As Capulanas em Moçambique: decodificando mensagens,

procurando sentido nos tecidos. In: Garcia, Regina Leite (org.) Método. Métodos.

Contramétodos. SP: Cortez Editora, 2003.

Real Gabinete Português de Leitura:

MACHADO, A. J. De Mello. Entre os Macuas de Angoche: historiando Moçambique / A. J.

De Mello Machado. - ED. IL. . - Lisboa : Prelo editora, 1970.

PEIRONE, Frederico Jose. A tribo ajaua do alto Niassa (Moçambique) e alguns aspectos da

sua problemática neo-islâmica / Frederico Jose Peirone. - ED. IL. . - Lisboa : Junta de

investigações do ultramar, 1967.

Internet:

Machado, Pedro. Cloths of a new fashion: Indian Ocean networks of Exchange and cloth zones of

contact in Africa and India in the eighteenth and nineteenth centuries. In: Giorgio Riello and

Tirthankar Roy (eds.), How India Clothed the World: The World of South Asian Textiles, 1500-

1850 (Brill, 2009).

Disponível em:

https://www.academia.edu/634244/Cloths_of_a_New_Fashion_Indian_Ocean_Networks_of_Exch

ange_and_Cloth_Zones_of_Contact_in_Africa_and_India_in_the_Eighteenth_and_Nineteenth_Ce

nturies

MACHADO, Pedro. Awash in a sea of cloth: Gujarat, Africa, and the Western Indian Ocean,

1300-1800. In: Spinning World. Chapter 8. Jstor Digital Library.

Disponível em:

https://www.academia.edu/632618/Awash_in_a_Sea_of_Cloth_Gujarat_Africa_and_the_Western

_Indian_Ocean_1300-1800

SHERIFF, Abdul. A costa da África oriental e seu papel no comércio marítimo. In: História Geral

da África II: África Antiga. Cap.22. Por Editor Gamal Mokhtar. Unesco. 2010.

Disponível em:

http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000015105.pdf

ZIMBA, Benigna. O papel da mulher no consumo de tecido importado no norte e no sul de

Moçambique, entre os finais do século XVIII e os meados do século XX. Cadernos de História

de Moçambique, 1, 2011.

Disponível em:

http://www.flcs.uem.mz/images/chist/BZimbaCdeM20121.pdf

1.2.) Pesquisa e sistematização das fontes

Real Gabinete Português de Leitura:

ANDRADE, Freire De. Relatórios sobre Moçambique / Freire De Andrade. - ED. IL. . -

Lourenco marques : Imprensa nacional, 1910.

FERRAZ, Guilherme Ivens. Descrição da Costa de Moçambique de Lourenço Marques ao

Bazaruto / Guilherme Ivens Ferraz . - Lisboa : Tipografia Universal, 1902.

JUNOD, Henri A. Usos e costumes dos Bantu. Maputo: Arquivo Histórico de Moçambique,

1996. 2v.,il.,25cm. (Documentos 3). Tomo II (verde)

RODRIGUES JUNIOR. Caminhos de ferro de Moçambique. Lourenço 1939 / Rodrigues Junior

. - [S.l] : [s.n.]

2.) Resumo do que foi realizado no período a que se refere o relatório

Durante esse primeiro ano de bolsa dediquei-me ao levantamento e leitura da bibliografia, e

à consulta e sistematização das fontes documentais, sobretudo as coletadas nos arquivos e

bibliotecas tais como a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e o Real Gabinete Português de

Leitura. Bibliotecas digitais foram de grande ajuda neste primeiro levantamento, sendo mais útil

para livros e artigos mais recentes.

Também neste período participei de reuniões de grupos de estudos sobre o continente

africano nas quais discutimos textos relacionados à história, procurando sempre problematizar

generalizações e abordagens, muitas vezes, eurocêntricas sobre o tema e trocar informações com

pessoas de diferentes áreas, tentando abranger diferentes assuntos a fim de tornar as discussões

interdisciplinares. Os encontros com pesquisadores e de discussão de textos foram os seguintes:

Encontros com pesquisadores:

Palestra do Prof. Augusto Nascimento: São Tomé e Príncipe: do colonialismo às construções da

nação.

Palestra da Profa. Eugénia Rodrigues: Régulas e apotentadas. Gênero e poder em Moçambique no

século XVIII.

Palestra do Prof. Michel Cahen. Luta de emancipação anticolonial ou movimento de libertação

nacional? O caso das colônias portuguesas em África

Palestra de Cristina Raposo. O vírus do HIV em Moçambique e outras questões de saúde pública

em África.

Visita à Mesquita da Tijuca e conversa sobre história, memória, experiências com africanos de

diferentes países que frequentam a mesquita.

Leitura e discussão dos textos:

MATTOS, Regiane Augusto de. Projeto de pesquisa: A dinâmica das relações entre as

sociedades do norte de Moçambique e as do Índico no século XIX, da qual a presente pesquisa

faz parte. PUC-Rio, 2013.

AMSELLE, Jean-Loup. Introdução. Branchements. Anthropologie de l’universalité des

cultures. Paris: Flammarion, 2001. Tradução de Agnes Alencar.

FALOLA, Toyin et alli. Africa, Vol. 2: African Cultures and Societies Before 1885. Carolina

Academic Press, 2000.

HEINTZE, Beatrix. Angola nos séculos XVI e XVII. Estudos sobre Fontes, Métodos e

História. Luanda: Kilombelombe, 2007.

SANTOS, Joice de Souza. Projeto de Pesquisa de Doutorado em História Social da Cultura (PUC-

Rio): "Tudo isso é para causa admiração, tanto ao meu povo quanto aos de fora" Cultura e

poder no reino do Daomé (1795-1820), 2014.

SUBRAHMANYAM, Sanjay. Connected Histories: Notes towards a Reconfiguration of Early

Modern Eurasia. Modern Asian Studies, Vol. 31, No. 3, Special Issue: The Eurasian Context of

the Early Modern History of Mainland South East Asia, 1400-1800. (Jul., 1997), pp. 735-762.

Disponível em:

http://links.jstor.org/sici?sici=0026749X%28199707%2931%3A3%3C735%3ACHNTAR%3E2.0.

CO%3B2-S

Fiz parte da Comissão Organizadora da Semana da África, realizada entre os dias 26 e 29

de maio na PUC-Rio. O projeto realizado foi de um evento acadêmico interdisciplinar que

envolveu professores e pesquisadores das áreas de História, Antropologia, Cinema, Literatura e

Artes, com o objetivo de conhecer, discutir e divulgar os trabalhos e pesquisas desenvolvidos

atualmente a respeito da África. Para tanto, o evento contemplou três tipos de atividades: mesas

temáticas, exibição de filmes com debate e uma exposição fotográfica (Visões de África) com fotos

de diversos países africanos tiradas por diferentes fotógrafos.

Conclusões

A partir dos séculos XII e XIII há referências de trocas de tecidos de algodão na costa da

África Oriental. De acordo com algumas fontes isso se deu, inicialmente, devido à facilidade de

acesso a essa região, tanto através do interior como do mar. A acessibilidade do interior foi um

fator importante das migrações e ajuda a entender a complexidade étnica e cultural dessa região. A

história da costa oriental da África não é de isolamento, mas sim de interpenetração. O mar foi

sempre uma via de contato e interação com o exterior, pois as características geográficas do

oceano Índico facilitavam a viagem a partir da costa da Arábia [6].

“A característica geográfica mais importante deste oceano é a inversão sazonal

dos ventos de monção. Durante o inverno boreal, a monção do norte sopra de maneira

contínua e chega a atingir Zanzibar, mas sua intensidade decresce para o sul e

raramente é regular além do cabo Delgado. Tal sistema de circulação é reforçado

pela corrente equatorial que, após atingir a costa da Somália, dirige-se para o sul,

facilitando a viagem das embarcações a partir da costa da Arábia.”

(Sheriff, pg.570)

O comércio de tecidos na costa oriental se tornou mais acessível pela disseminação do Islã e o

estabelecimento de mercados muçulmanos. Houve, então, a interpenetração de duas correntes

culturais que constituíram as sociedades costeiras da África Oriental, denominadas suaílis, – as das

populações locais e a dos muçulmanos vindos, sobretudo, da Arábia e da Pérsia. O veículo deste

processo foi o comércio, que facilitou a integração da costa africana oriental no sistema econômico

internacional.

Fonte: Machado, Pedro. Awash in a sea of cloth: Gujarat, Africa, and the Western Indian Ocean, 1300-1800. In:

Spinning World. Chapter 8.

No século XV, a presença do tecido de algodão já era dominante no “Chifre da África” e ao

longo da costa Suaíli. Já no século seguinte é clara a importância e o papel social, cultural e

político da manufatura indiana na costa. Tecidos de algodão do sul asiático tiveram um papel

importante no intercâmbio comercial do Oceano Índico devido aos seus preços acessíveis e à

eficiência de produção e distribuição deste mercado [3]. Diversas fontes mostram o uso do tecido

como moeda. A crescente demanda de marfim pela Índia permitiu o crescimento dos laços

comerciais entre as duas regiões, mantendo esse mercado indiano até o século XIX. Em troca do

marfim, os africanos orientais recebiam uma variedade de artigos manufaturados. Tais trocas

sustentavam as cidades fundadas ao longo da costa.

“De volta a Moçambique a relatar sua missão, Lourenço Marques entregou ao

capitão general grande numero de pontas de marfim de grande valor, compradas aos

habitantes das margens do Maputo e da Lagôa, a troco de contas de vidro e pedaços

de cobre. Então o capitão general, entusiasmado com a riqueza daquelas paragens

exploradas por Lourenço Marques, deu o nome deste ao Rio da Lagôa e logo no

começo da monção favorável, para lá mandou um navio com algodões e contaria para

permute de marfim com os cafres. Bem sucedida foi esta viagem, e por isso se repetiu

nos anos seguintes, passando a ser um costume observado ate 1692, o mandar à baia

da Lagôa um navio ao resgate de marfim.”

(Ferraz, pg.3/4)

Durante uma segunda fase de sua história, porém, o comércio da costa da África oriental

passou por uma reorientação, sem que se alterassem seus aspectos fundamentais: diversificou-se o

mercado de marfim, mas a economia não se libertou da dependência da troca de algumas matérias-

primas por produtos manufaturados de luxo. Embora a exportação de escravos não constituísse

ainda um fluxo excessivamente grande, reduzia os recursos humanos, e pode ter tido influência na

produção econômica em certos lugares da África oriental antes do século XIX.

Quando da chegada dos portugueses no final do século XV, já existia um grande comércio na

região. Os portugueses já encontraram as populações locais fazendo uso de tecidos de algodão,

seda e linho. Também já existiam relatos do uso da “Capulana” pelas mulheres africanas. Mas, a

preferência e a demanda por tecidos importados aumentaram enormemente nos séculos XVII e

XVIII.

Fonte: Disponível em: http://www.girafamania.com.br/africano/materia_mocambique.html

Segundo Pedro Machado, até o século XVI existia uma forte “indústria” de tecelagem na

África Oriental. Tecidos eram fabricados em muitas cidades entre Mogadishu (Somália) no norte e

Sofala (Moçambique) no sul. Angoche, no norte de Moçambique, por exemplo, era conhecida por

tecer tecidos de algodão para a troca local e o comércio de longa distância. A partir de meados do

século XVII, a produção local começou a cair drasticamente e já no XVIII estava

consideravelmente reduzida [4]. No final deste século , a produção, o comércio e o uso de têxteis

em Moçambique já havia sofrido diversas mudanças, com a fixação de mercadores indianos e a

penetração e consumo de novos tecidos.

Com a intensificação da entrada de tecidos importados, sobretudo na segunda metade do

século XIX, a preferência por tecidos indianos aumentou ainda mais. A presença destes

comerciantes gerou uma dinâmica específica do comércio e do desenvolvimento do traje da mulher

moçambicana. Além disso, como parte da “missão civilizatória” portuguesa, a produção local de

tecidos foi desencorajada e se incentivou o uso de importados. Tecidos variados chegavam a

Angoche e eram levados para o Vale do Zambeze (Moçambique). Em Angoche, se têm relatos de

que o comércio entre o interior e o litoral ocorria em lojas de comércio geral, exploradas por

comerciantes asiáticos.

Como já foi mencionado, em Moçambique, onde a influência dos maometanos se fazia sentir

através dos sultanatos de Angoche e de Zanzibar (Tanzânia), as populações locais já

descaroçavam, fiavam, teciam e tingiam algodão [1]. Apesar da existência da produção local,

muitas vezes estes não correspondiam ao gosto feminino. De um modo geral, a mulher

moçambicana preferia usar tecidos importados. Estas escolhas tornaram-se parte integrante da

cultura moçambicana que, por sua vez, foi fortemente influenciada pelos modelos dos trajes

femininos e masculinos da Ásia no geral, e da Índia em particular. Como podemos notar, existe

uma complexa história de produção têxtil local no norte e sul do país sob impacto do novo

comércio.

Supõe-se que tenham sido os indianos os primeiros a cultivar o algodoeiro e a fazer o

descaroçamento mecanicamente, com aparelhos rudimentares, o que lhes permitiu tornar os tecidos

mais acessíveis. Documentos mostram que havia uma demanda para certos tipos de tecidos e cores

[1]. Tudo indica que os comerciantes da Índia adquiriam a tinta produzida localmente ou os

produtos moçambicanos que serviam para produzir a tinta. Os comerciantes levavam esta tinta

e/ou respectivos produtos e traziam de volta a Moçambique, tecidos coloridos com algumas das

cores que correspondiam exatamente às cores das tintas que se produziam localmente, isto é, preto

e vermelho. Isso mostra como os africanos da região tinham um papel ativo nessa produção e

comércio e não, simplesmente, aceitavam qualquer produto imposto pelos estrangeiros.

“A central argument is that demand was shaped by the local particularities of

African consumer tastes and, as such, dictated the varieties of textiles that entered the

East-Central and South-East African markets. Thus, far from being marginalized in

this commercial nexus, African consumers were able to negotiate the terms of trade

and their engagement in relations of exchange of which they formed an integral part.”

(Pedro Machado, Cloths of a New Fashion, pg.57)

Os estabelecimentos muçulmanos mantinham estreitas relações de comércio, culturais e

religiosas e estavam, muitas vezes, ligados por mútuos interesses e íntimas alianças. Os tecidos

eram usados como moeda de troca, mas, além do seu valor monetário, havia também um valor

simbólico, social e político. Até hoje tem grande importância simbólica nas relações sociais e de

gênero [7]. Podemos perceber a forte simbologia dos tecidos na sociedade moçambicana moderna

e como esses elementos materiais e culturais externos fazem hoje parte da cultura [7].

Para a sociedade moçambicana, o vestuário, em particular a roupa feminina, é mais do que

um simples processo de produção têxtil. O vestuário é uma maneira através da qual se manifesta o

nível de desenvolvimento sociocultural, a posição social e, por vezes, o estado de espírito do

indivíduo [5]. Paralelamente à penetração mercantil e à introdução de tecidos importados ao longo

dos séculos XVIII, XIX e XX, no norte e no sul, o casamento, por exemplo, sempre desempenhou

um papel preponderante no desenvolvimento do vestuário da mulher moçambicana. As mulheres

casadas desempenharam um papel fundamental na introdução do uso de tecido importado. Por

volta de 1930, nas províncias de Maputo, Gaza e Inhambane, um número significativo de mulheres

tinha acesso ao tecido importado. Diferentemente do norte, este fator deveu-se à influência do

trabalho migratório na África do Sul, que resultou na entrada massiva de vários tipos de tecidos no

sul de Moçambique [7].

Também como parte das influências dos hábitos indianos, surge a “capulana” que ao longo de

vários séculos, ganhou um lugar histórico e tradicional não só no vestuário feminino

moçambicano, mas sobretudo na cultura. A “capulana”, como é denominada em Moçambique, ou

“leso”, “pano” e “kanga”, em outros países mais ao norte do continente, é um têxtil de várias

dimensões, que pode ser de algodão, fibra sintética ou outro tipo de material. É um elemento do

vestuário característico das mulheres africanas, apesar de também usada pelos homens. As

mulheres sempre carregam com elas uma “capulana”, quer vestida, quer na bolsa ou no cesto. A

importância e o respeito por esses tecidos estão presentes em vários episódios da vida social. As

crianças de colo, são normalmente carregadas nas costas da mãe, presas numa “capulana”. É usada

como saia, lenço, xaile para proteger do frio, e até mesmo lençol. Em geral tem cores vivas e

símbolos da natureza, formas antropomórficas, zoomórficas e padrões geométricos variáveis.

Estampada com desenhos multicoloridos e trabalhada ao redor de toda a borda, a “capulana” pode

apresentar também mensagens escritas sob a forma de provérbio ou de metáfora [7]. Os tons

dominantes variam de região para região, assim como se diferenciam os temas que, muitas vezes,

contam histórias tradicionais e lembram datas comemorativas, assim como os padrões que veem se

modificando com os anos. Hoje, tal como no passado, é possível detectar toda uma imensidão de

mensagens codificadas nos padrões e dizeres destes tecidos.

Autoria: Raposo, Deborah. Moçambique, 2011.

“De acordo com Henri Junod, no início do século XX, os povos Ronga da região

da então Lourenço Marques, vestiam-se com pedaços de um tipo de tecido geralmente

liso, cujo material era espesso e conhecido pelo nome de kapulane (inglês) ou

capulana (português); segundo a descrição, “este tipo de tecido é amarrado ao redor

da cintura, de onde ele cai para formar uma espécie de saia.”

(Benigna Zimba, pg.34)

Apesar de existirem poucos relatos mais antigos, como este de Henri Junod, sobre a “capulana”

especificamente, é possível chegar à uma primeira conclusão de que os tecidos comercializados

nos circuitos do oceano Índico estudados nessa pesquisa eram o que hoje podemos entender como

“capulana”, guardadas as suas devidas transformações, como matéria-prima utilizada, forma de

produção e origem dos importados. É interessante notar que até hoje as “capulanas”, em sua

maioria, são importadas. Inicialmente impressas na Índia e depois na Europa, mais tarde chegaram

a ser produzidas na Tanzânia, em Moçambique e no Zimbabwe.

É importante chamar a atenção para o uso da “capulana” como um meio de comunicação

através de um complexo sistema de representações iconográficas. Estes tecidos contêm sentidos

escondidos, mensagens silenciosas sobre as identidades, as crenças e os valores da sociedade.

“Mais do que um simples retângulo de tecido estampado, a “capulana” é de fato um meio de

comunicação, usado em determinadas circunstancias para alcançar determinados objetivos” [5].

Uma análise mais atenta das diferentes culturas permite detectar que múltiplas são as formas a que

estas recorrem para construir a sua história. Para além da escrita, sociedades pintam, cantam,

dançam, esculpem a sua história, recorrendo a diferentes formas de comunicação, como no caso de

Moçambique, os tecidos.

Autoria: Raposo, Cristina. Moçambique, 2011.

Referências

1 – BRAVO, Nelson Saraiva. A cultura Algodoeira na economia do norte de Moçambique.

[S.l] : [s.n.], 1963.

2 – MACHADO, A. J. de Mello. Entre os Macuas de Angoche: historiando Moçambique. -

Lisboa : Prelo editora, 1970.

3 - MACHADO, Pedro. Cloths of a new fashion: Indian Ocean networks of Exchange and cloth

zones of contact in Africa and India in the eighteenth and nineteenth centuries. In: Giorgio Riello

and Tirthankar Roy (eds.). How India Clothed the World: The World of South Asian Textiles,

1500-1850 (Brill, 2009).

4 – MACHADO, Pedro. Awash in a sea of cloth: Gujarat, Africa, and the Western Indian Ocean,

1300-1800. In: Spinning World. Chapter 8.

5 – MENEZES, Maria Paula G. As Capulanas em Moçambique: decodificando mensagens,

procurando sentido nos tecidos. In: Garcia, Regina Leite (org.) Método. Métodos.

Contramétodos. SP: Cortez Editora, 2003.

6 – SHERIFF, Abdul. A costa da África oriental e seu papel no comércio marítimo. In: História

Geral da África II: África Antiga. Cap.22. Por Editor Gamal Mokhtar. Unesco, 2010.

7 – ZIMBA, Benigna. O papel da mulher no consumo de tecido importado no norte e no sul de

Moçambique, entre os finais do século XVIII e os meados do século XX. Cadernos de História

de Moçambique, 1, 2011.

8 – MATTOS, Regiane Augusto de. A dinâmica das relações entre as sociedades do norte de

Moçambique e as do Índico no século XIX. Projeto de pesquisa. PUC-Rio, 2013.

ANEXO 1

Exemplos de Fichamento da bibliografia

Fichamento 1

BRAVO, Nelson Saraiva. A evolução da cultura algodoeira 1940/1960. [S.l] : [s.n.], 1963.

Cap.I – O Algodoeiro

Cap. II – A importância do algodão no mundo

I - Resumo histórico

Pg.41

“Supõe-se que tenham sido os indianos os primeiros a cultivar o algodoeiro e a fazer o

descaroçamento mecânicamente, com aparelhos rudimentares denimonados ‘churka”, o que lhes

permitiu tornar os tecidos acessíveis a grande parte da população.”

Pg. 42

“Os arábes, quando tomaram o norte de África e invadiram a peninsula hispânica, já faziam largo

uso de tecidos de algodão. Cultivaram o algodoeiro no Egito, mais tarde na Argélia e, por fim, nas

regions de Sevilha e Granada, onde também fiaram e teceram. E assim pentrou na Europa a fibra

que havia de vestir o mundo e que os árabes designavam por al”kutum”ou “ketan”, donde derivam

as actuais palavras algodão, coton, cotone e cotton.”

“…, as cruzadas à Terra Santa proporcionaram contato entre os europeus de diversos países e os

muçulmanos, a quem aqueles começaram a comprar bons e bonitos tecidos de algodão conhecidos

por “indianas”.”

“o algodão era artigo de luxo.”

“Quando os Portugueses descobriram novos povos de África, verificaram que alguns destes,

sobretudo os da costa oriental, já cultivavam, fiavam e teciam o algodão, mas de modo incipiente,

sem tecidos de interesse para os comerciantes europeus, exceptuando um ou outro caso, como os

dos panos brancos de Sofala.”

Pg. 43

“Até 1580, senhores da navegação maritime para a Índia, os Portugueses tiveram em suas mãos

quase todo o comercio das ‘indianas’ e do algodão para a Europa.”

Importância do algodão no espaço econômico Português.

I – Antecedentes

Pg.59

“Na gloriosa época dos descobrimentos, os Portugueses verificaram a existência de algodoeiros

nalgumas regions costeiras da África e do Brasil. Os indigenas, sobretudo os de Moçambique,

onde influência dos maometanos se fazia sentir através dos sultanatos de Angoche e de Zamzibar,

já descaroçavam, fiavam, teciam e tingiam algodão, embora por processos rudimentares.”

“…algodão, que chegou a funcionar como moeda de troca por mantimentos e escravos,…”

Pg.60

“…levaram sementes de uma para outras regions. Em África os resultados obtidos foram fracos.”

“Em 1770 Baltazar Pereira do Lago tornou obrigatória aquela cultura em algumas regions da

actual provincial de Moçambique.”

“Mas o tratado celebrado com a Inglaterra em 1810, devido a proteção que conferiu os produtos

daquele país, não tornou possível o desenvolvimento da industria textile nacional.”

Pg.61

“1. O decreto número 11994, de 28 de Julho de 1926, promoveu, à semelhança do que se havia

feito noutros países coloniais, o fomento da cultura do algodão nas colônias portuguesas, mediante

o estabelecimento de zonas de ação de fábricas,…”

O algodão: produção e seu destino

Pg.63

“Angola e Moçambique são as unicas províncias portuguesas onde se cultiva o algodoeiro e se

produz algodão em rama à escala commercial.”

Pg.64

“Quase todo o algodão em rama produzido em territorio nacional, ou seja em Angola e

Moçambique, é consumido pela industria textile metropolitana.”

Cap.III – Importância do algodão no espaço economico português

Cap.IV – Importância do Algodão em Moçambique

III – Na industria

Pg.224

“O sensível aumento do poder de compra dos indigenas, proporcionado pela cultura algodoeira,

provocou um aumento de vendas pelo comercio. Alguns dos artigos vendidos foram fabricados por

industrias da provincia, como sal, sabão, oleo de amandoim e de algodão, açucar, cigarros, alguns

tecidos, etc.”

IV – No Comércio

Pg. 225

“Antes da expansão da cultura algodoeira, o comercio do Norte de Moçambique era muito fraco.

Fornecia os artigos necessarios à vida do pequeno numero de habitantes civilizados, comprava

produtos aos indigenas e vendia-lhes alguns panos…”

Pg.233

“Os indigenas do litoral, principalmente as mulheres de Chinde, Quelimane, Angoche, Mossuril,

Ibo e Mocímboa da Praia, já tinham o hábito de se vestir.”

“Mas o do interior, na sua quase totalidade, andavam seminus. Apenas uma tanga, geralmente feita

de uma casca de árvore, lhes tapavam as partes sexuais, por pudor.”

Pg.237

“O dinheiro da produção algodoeira elevou sensívelmente o nível de vida dos indigenas,

proporcionando-lhes o integral pagamento do imposto. A compra de mais vestuario, utensilios

domesticos e outros…”

Pg.238

“Criação de novas necessidades economicas. Hoje não se vê ninguem com tanga de casca de

árvore e todos têm algum vestuario de tecidos de algodão.”

Conclusão

Conclusões relativas à economia

Pg.246

“A produção algodoeira do norte de Moçambique contriubui altamente para a solidez da economia

nacional, não só pela garantia do fornecimento de grande parte da materia-prima indispensavel à

normal laboração da industria textile, como também por ter evitado a saida de diversos

extrangeiros correspondents a um montante de milhões de contos, desde 1940 até agora.”

“A metropole foi especialmente beneficiada, por estar aqui quase toda a industria textile e a esta ter

sido concedida uma notavel proteção estatal com vista à sua modernização, de modo a poder vir a

competir com a industria similar extrangeira.”

Pg.248

“A cultura algodoeira foi, de todas as actividades produtoras, industriais ou agricolas, a que mais

impulsionou o progresso economico do norte de Moçambique.

Fichamento 2 MACHADO, A. J. De Mello. Entre os Macuas de Angoche: historiando Moçambique / A. J.

De Mello Machado. - ED. IL. . - Lisboa : Prelo editora, 1970

I – As Terras

II – As Gentes

III – As Línguas

IV – Os Costumes

Actividades Habituais

“O vestuário é rudimentar entre as populações pagãs mais primitivas. Mas no litoral, sobretudo nas

áreas de António Enes e Moma, as mulheres vestem com imenso gosto e colorido, enfeitando-se

com lenços berrantes e adornos delicados e de bom gosto, Surpreende o visitante a beleza dos

trajos, a garridice e colorido das “capulanas”, o aspecto airoso e agradável da apresentação

feminina. Muito alegres e joviais, buliçosas e expeditas, as gentes do litoral emprestam um ar

cativante e festivo a qualquer povoado.”

(Pg.220 – 5 paragrafo)

V – As Religiões

VI – A História

2 Período – Domínio Muçulmano

(Desde o estabelecimento dos muçulmanos até a ocupação portuguesa)

“Os estabelecimentos muçulmanos mantinham entre si estreitas relações de comércio, cultura e

religião e estavam, não poucas vezes, ligados por mútuos interesses e íntimas alianças.”

(Pg.367 – 4 paragrafo)

“...’encontrou Vasco da Gama os nativos vestindo tecidos de algodão, sedas e linho, produtos do

comércio mouro.”

(Pg.368 – 1 paragrafo)

VII – Demorafia/Povoamento/Povoações/Comunicações

Efectivos demográficos

“A populacão de Angoche – considerando Angoche a região definida no início desta monografia,

ou seja, o território formado pelos concelhos de António Enes e Moma e suas dependências

administrativas, e pelos postos de Quinga e Liúpo da circunscrição de Mogincual – é constituída

por autóctones africanos, por europeus, asiáticos e mistos.

A população europeia é quase exclusivamente formada por Portugueses brancos, sendo muito

reduzido o número de estrangeiros (alemães e suíços).

A população asiática é constituída por indivíduos de origem Indiana ou paquistanesa e por indo-

portugueses. Não há chineses. Os indo-asiáticos dedicam-se quase exclusivamente ao comercio e

negócios de transacção, e professam as religiões hindu (baneanes), ismaelita (codjás) ou

maometana (memanes). Os indo-portugueses são católicos na sua generalidade, repartindo as suas

actividades pelo comercio, funcionalismo e profissões liberais.

Os mistos são quase todos mulatos, havendo caboverdianos e não poucos hindo-africanos.”

(Pg. 545/546)

VIII – Aspectos Económicos

Silvicultura

“A prospecção florestal do território está ainda por fazer; mas as matas oferecem numerosos

produtos de interesse industrial, tornando necessário o seu estudo em termos de rentabilidade

económica. Como já sabemos existem excelentes madeiras, algumas de grande valor. Os nativos

extraem, fibras têxteis de diversas árvores, sobretudo acácias; também das acácias se colhem

diversas gomas e do Trachylobium, o Copal; são numerosas as espécies de casca taninosa, com

aproveitamento no fabrica de medicamentos e nos costumes; o Pterocarpus produz o quino; de

Albizias e Acácias pode extrair-se saponina.”

(Pg.600/601 – ultimo e primeiro paragrafo respectivamente)

Industrias

“As actividades industriais existentes em Angoche, território de economia agraria, estão ligadas à

produção agrícola. Além destas, e somente nos dois núcleos populacionais de maior projecção (

António Enes e Moma), se podem considerar actividades de carácter industrial, com finalidades de

manutenção (pesca, panificação, etc.). É pois muito baixo o desenvolvimento industrial.

No sector agrícola, as matérias-primas produzidas, são suporte das industrias montadas nas

grandes plantações, que dispõem de maquinaria e equipamentos destinados a preparação e

aproveitamento do produto bruto. Podemos classificar essas matérias-primas em:

Têxteis – copra, sisal, algodão e sumaúma.

…”

(pg.602 – 3 paragrafo)

“Entre as populações nativas, nenhuma das suas actividades se constituiu em indústria, pois, para

tanto, lhe faltavam valores de produção, em quantidade e continuidade, que lhe confiram

importância significativa. Não obstante, o artesanato é notável e merece referência: esteiras e

cerâmica para uso pessoal; cordoaria de fibras vegetais; carpintaria; produzem por encomenda,

como sejam os ferreiros que forjam pontas de zagaias, enxadas e cutelos; os esteireiros lomués

produzindo esteiras de caniço (mucois) e alguns entalhadores que se dedicam à confecção de

arcas.”

(pg.603 – 2 paragrafo)

Comercio

“O comercio praticado pelos nativos caracteriza-se fundamentalmente pela permute de géneros

alimentares, embora se intensifiquem e generalizem, hoje em dia, as transações a dinheiro.

O pescador do litoral, seca e salga o peixe que vai trocar por produtos agrícolas do interior. Nas

lojas do mato, os nativos entregam, à permute por panos e artigos de uso domestico, os produtos

das suas lavras ou da recolha Silvestre, como sejam peles, cera e mel, mas em muitas localidades

já se habituaram a regateá-los por moedas.”

“Excluída a vila de António Enes com numerosos estabelecimentos comerciais, todo o comércio

efectuado no mato e áreas rurais é feito através de lojas e cantinas, que se dedicam ao comércio

geral, transaccionando produtos necessários à manutenção dos nativos, sendo os mais procurados

os panos, lanternas, chapéus, géneros alimentícios preparados (farinha conservas, bebidas), tabaco,

bicicletas, contas, colares, artigos de higiene (sabonetes, pastas, loções). Grandes números dessas

lojas são exploradas por comerciantes asiáticos; as plantações dispõem igualmente de cantinas,

destinadas a prover às necessidades das massas de trabalhadores nelas empregados.”

(Pg.606 – 7 paragrafo.)

IX – Aspectos Sociais

X – Apêndices

ANEXO 2

Exemplo de fichamento de fontes

Fichamento 3

FERRAZ, Guilherme Ivens. Descrição da Costa de Moçambique de Lourenço Marques ao

Bazaruto / Guilherme Ivens Ferraz . - Lisboa : Tipografia Universal, 1902.

LOURENÇO MARQUES

“De volta a Moçambique a relatar sua missão, Lourenço Marques entregou ao capitão general

grande numero de pontas de marfim de grande valor, compradas aos habitantes das margens do

Maputo e do Lagôa, a troco de contas de vidro e pedaços de cobre. Então o capitão general,

entusiasmado com a riqueza daquelas paragens exploradas por Lourenço Marques, deu o nome

deste ao Rio da Lagôa e logo no começo da monção favorável, para lá mandou um navio com

algodoes e contaria para permute de marfim com os cafres.

Bem sucedida foi esta viagem, e por isso se repetiu nos anos seguintes, passando a ser um costume

observado ate 1692, o mandar à baia da Lagôa um navio ao resgate de marfim.” (pg.3/4)

“A vila ou presidio (como os pretos antigos chamam a Lourenço Marques) contava, em 1868, para

cima de cem edifícios de pedra e cal, dispostos em três ruas, com cerca de seiscentos metros de

comprido, e, além de muitos negociantes asiáticos ali estabelecidos, havia algumas casas

portuguesas, duas feitorias francesas e uma alemã, contribuindo utilmente para o desenvolvimento

da colônia.

As principais vias de comunicação com o sertão eram os rios que desaguam na baia, percorridos

pelas embarcações dos negociantes asiáticos, que iam a grande distancia, comprar, a troco de

artigos da Europa e da Índia, mendobi, urzella, cêra, couros e marfim, que depois vendiam às

feitorias do presidio, os quais exportavam esses produtos em navios de vela, pangaios e nos vapor

da Union Line da carreira do Natal a Zanzibar, que tocavam em Lourenço Marques quando lhes

convinha.

As comunicações com o Transvaal eram feitas pelos caminhos do vale do Umbeluzi, pelo rio

Tembe até o seu primeiro vau ( Porto Henrique), e dai, pela Estrada de Swazilandia, e

principalmente por uma Estrada que, partindo do presidio, atravessava o rio da Matolla, seguindo

na planície entre os Pequenos e Grandes Libombos, que atravessava na portela de Imbomputo,

continuando depois em território da já florescente da Republica Sul Africana até Lydenburgo.”

(pg. 5)

“Do desenvolvimento comercial resultou evidentemente o desenvolvimento da cidade que, em

1895, com o empedramento das ruas e distribuição d’agua nos pontos elevados, se afastou da parte

baixa e insalubre para os altos de Machaquene e da Ponta Vermelha, onde se edificaram muitas

casas elegantes e confortáveis.” (pg.7)

Paginas de 8 à 30 sem informação relevante para a pesquisa, descrição cartográfica.

“Meios de descarga. Sendo Lourenço Marques um entreposto comercial em concorrência

com os portos das colônias inglesas na África do Sul, parece que de ha muito se deveria ter

atendido à necessidade de facilitar o mais possível os meios de descarga, condição essencial para

atrair a navegação ao porto.” (pg.31)

“Pelo Caminho de Ferro ha comunicações com Pretoria, Johanesburgo e Barbertonn, e dai

com os portos das colônias inglesas.”(pg.35)

COSTA DA CALANGA

“O comercio é exercido por europeus e mais ainda por asiáticos, que, recendo as suas

mercadorias pelo rio Limpopo no Chai-Chai, as espalham por todo o distrito e parte do de

Inhambane, quer em embarcações que sobem os rios e seus afluentes, quer, pelas estradas, às

costas dos pretos ou em carretas.”(pg.39)

Paginas 40 à 56 sem informação relevante para a pesquisa, descrição cartográfica.

ARQUIPELAGO DO BAZARUTO

“Comunicações e comercio. As ilhas de Bazaruto, especialmente a de Santa Carolina, tiveram por

meio de lanchas à vela, comunicações frequentes com o continente fronteiro, com o porto de

Mafomene (hoje Bartolomeu dias) até com Chiloane, Sofala e Beira.

Perto do Cabo de S. Sebastião ha um desembarcadouro, d’onde seguia antigamente um correio por

terra para Inhambane, e a W. de Santa Carolina, nas terras de chicacha, ha também um

desembarcadouro, d’onde ainda hoje parte por terra um correio para Chiloane, quando ha

necessidade.

Desde que este arquipélago pertence à companhia, são poucos os negociantes ali estabelecidos.

Antigamente, principalmente na época da pesca das perolas, havia em Bazaruto muitos

negociantes asiáticos, sendo o principal comercio a permute de pólvoras, armas e enxadas por

perolas e aljofares.

Também iam os negociantes comprar no continente fronteiro, a troco de fazendas da Europa e da

Índia, gergelim, mendobi, urzella, cêra e marfim, e etc.

No rôlo da praia, na costa de for a de Bazaruto, apanhavam as vezes, os pretos âmbar pardo, de

ótima qualidade, mas essa indústria também desapareceu por ser exclusive da Companhia.” (pg.57)


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