+ All Categories

P146-13

Date post: 25-Feb-2018
Category:
Upload: humberto-ferreira
View: 216 times
Download: 0 times
Share this document with a friend

of 35

Transcript
  • 7/25/2019 P146-13

    1/35

    1

    Is the most Portuguese carnival a good bet?

    Analysis of economic impact of the carnival of Torres Vedras 2013

    Francisco Teixeira Pinto Dias

    Dulcineia Baslio Ramos

    Rui Alberto de Feitas Martins

    Polytechnic Institute of Leiria, Portugal

    E-mails: [email protected] / [email protected] / [email protected]

    ABSTRACT

    Nowadays, mainly in the countries suffering of chronic state budget deficit, the financing

    of cultural events is becoming a polemic issue. The municipalities that give financial support to

    annual events in the fields of culture or sport need to demonstrate that such subventions produce

    direct and indirect economic positive impacts for the community, attracting more visitors and

    increasing the consumption of products purchased in the local commerce. In this study, we

    present the methodology and the results of a study of the economic impact of the Carnival of

    Torres Vedras 2013, known in the country as the most Portuguese carnival among all Portuguese

    carnivals. The surveys were made: a street survey was addressed to the public of the event (with

    a sample of 1865 valid questionnaires); a specific survey addressed to the actors participating in

    the organized parade of Carnival (n = 484) and another specific survey to owners and

    administrators of shops and other commercial enterprises (n = 168). The data of these three

    surveys was interpreted on the basis of three different forecasting models, adopting for each one

    a set of basic assumptions. Interpreting the results according to these models, the global

    economic impact of the Carnival of Torres Vedras 2013 was in the interval ranging from 8 millions

    to 9.5 millions euros, which corresponds to a financial impact 2.5 times higher than was supposed

    by the Municipality.

    Keywords: economic impact, Carnival, Torres Vedras, forecasting models.

  • 7/25/2019 P146-13

    2/35

    2

    Ser o Carnaval mais portugus de Portugal uma boa aposta?

    Anlise do impacto econmico do Carnaval de Torres Vedras 2013

    Francisco Teixeira Pinto Dias

    Dulcineia Baslio Ramos

    Rui Alberto de Feitas Martins

    Instituto Politcnico de Leiria, Portugal

    E-mails: [email protected] / [email protected] / [email protected]

    RESUMO

    Atualmente, principalmente nos pases que apresentam de um dfice oramental

    crnico, o financiamento de eventos culturais tem-se tornado um assunto polmico. Os

    municpios que concedem financiamento a eventos anuais, tanto no domnio da cultura como do

    desporto, sentem-se na obrigao de demonstrar que tais subvenes produzem impactos

    econmicos positivos, diretos e indiretos, para as comunidades que representam, pela via da

    atrao de um maior nmero de visitantes e do aumento das vendas no comrcio local. No

    presente estudo, apresentamos a metodologia e os resultados de um estudo sobre o impacto

    econmico do Carnaval de Torres Vedras 2013, conhecido como o carnaval mais portugus de

    Portugal. O estudo incluiu trs inquritos: um inqurito de rua ao pblico do evento, baseado

    numa amostra de 1865 questionrios vlidos; um inqurito especificamente dirigido aos

    participantes/figurantes (n = 484) e um outro inqurito especfico a administradores e scios-

    gerentes das empresas comerciais do concelho (n = 168). Os dados desses trs inquritos foram

    interpretados com base em trs modelos de previso, baseados em pressupostos diferentes.

    Interpretando os resultados com base nesses modelos, foi possvel concluir que o impactoeconmico do Carnaval de Torres Vedras 2013 se situa dentro do intervalo de 8 a 9.5 milhes de

    euros, o que corresponde a um impacto financeiro 2.5 superior quele que era previamente

    suposto pelo representantes do municpio.

    Palavras-chave: Impacto econmico, Carnaval, Torres Vedras, modelos de previso.

  • 7/25/2019 P146-13

    3/35

    3

    INTRODUO

    O Carnaval de Torres Vedras o mais Portugus de Portugal, sem exagero, nem bairrista, dos

    maiores, seno o maior, que se realiza em Portugal. Tal como proferia a Gazeta de TorresVedras de 19 de Fevereiro de 1933 (Reis, 2001), data oficialmente dos anos 20, contudo j em

    1574, no reinado D. Sebastio, surgem referncias ao Entrudo torriense, num documento em

    que um habitante se queixaria dos excessos de uma brincadeira (Matos, 2007).

    Na verdade, o Carnaval de Torres Vedras confunde-se com a histria poltica e econmica de

    Portugal. Foram vrias as vicissitudes que colocaram entraves realizao do carnaval,

    especialmente dos designados corsos ou desfiles. Contudo, a perseverana do povo torriense

    nunca permitiu que as comemoraes fossem canceladas, especialmente os animados bailes decarnaval, realizados em vrios clubes ou sedes associativas locais. Estes chegaram muitas

    vezes a ser realizados sem qualquer tipo de promoo, quase que de forma secreta, de modo a

    fugir aos olhares ou censuras das autoridades, como por exemplo, durante a II Guerra Mundial

    ou em outros perodos da conturbada Histria nacional.

    A evoluo do evento e os seus principais impactos na populao fizeram-se sentir

    especialmente a partir da dcada de 80 do sculo XX, quando se tornaram num fator de

    alavancagem para a regio, suportada numa simbologia especial para a comunidade local e para

    a regio () uma alavanca de promoo da sua imagem, ou de atrao turstica ou, ainda,

    como fator de economia local.(Ralha, 2006).

    O presente estudo inclui duas partes: na primeira sero identificados os principais

    acontecimentos histricos que marcam a evoluo do carnaval torriense, com o objetivo de

    evidenciar as vrias fases evolutivas do evento, at atual fase de gesto municipal; na

    segunda parte sero evidenciados os resultados de um estudo realizado com o objetivo de

    determinar o impacto econmico do evento.

    Enquadramento

    Vrios autores analisam a temtica do Carnaval, adotando diferentes abordagens. o caso de

    Aspra de Matos, que em vrias publicaes disseca de forma meticulosa a evoluo deste

    evento local, em estreita articulao com os acontecimentos nacionais e europeus; Clia Reis e

    Paulo Raposo (ambos com artigos integrantes na publicao Turres Veteras III Actas de

    Histria Contempornea); Joo Antnio Salvado e Jorge Ralha com publicao de artigos

    reunidos no livro Histria das Festas, sob coordenao de Carlos Guardado da Silva e, por fim,

  • 7/25/2019 P146-13

    4/35

  • 7/25/2019 P146-13

    5/35

    5

    1) As origens

    Ao longo da evoluo humana os calendrios foram sofrendo alteraes conforme a civilizao a

    que pertenciam, deste modo ser possvel considerar que o tempo social no contnuo e igual

    em todas as sociedades. Contudo, de uma forma bastante homognea, os perodos de festa so

    intercalados com perodos rotineiros das ocupaes do dia-a-dia.

    Nas civilizaes ocidentais, o Carnaval provavelmente uma das festas mais espontneas e

    comuns. O Carnaval aglomera as suas origens em vrias festas realizadas antes da chegada da

    primavera, onde se comemora o rejuvenescimento da terra numa tica de ligao aos ritmos

    agrrios.

    Esta festividade surge provavelmente mais afincadamente no imprio romano associada a

    crenas de regresso temporrio dos mortos e de fecundidade, que seriam celebradas nos

    bacanais, bem regados de nctar, concedido pelo deus Baco. Na Roma antiga eram celebradas

    a dezasseis de janeiro e acabaria segundo o calendrio do imprio por durar sete dias, sendo

    concedidas licenas que encerravam por exemplo as escolas e os tribunais e sendo permitidos

    alguns distrbios pouco comuns. Autores referem mesmo a inverso das classes, entre senhores

    e escravos, de uma sociedade to estratificada como a romana (Chevalier & Gheerbrant, 1983).

    Ao longo de dcadas, estes acontecimentos, foram sendo cristianizados na tentativa de

    moralizar e controlar a festa da carne. Assim emergem os ciclos cerimoniais de ndole religiosa:

    o Carnaval-Quaresma no fim do Inverno, a Pscoa no incio da Primavera, o S. Joo no solstcio

    do Vero, o meio-Agosto com a aproximao do Outono e os Doze Dias, do Natal aos Reis, na

    entrada do Inverno.

    Etimologicamente, o Carnaval poder ter vrias origens. Uma das hipteses transfere-nos para

    os festejos de Isis. Esta personagem mtica encerrava em si os segredos da fecundidade, da

    morte e da ressurreio. Celebrava-se a deusa Isis lanando ao mar o carrus navalis (carro

    naval), uma barcaa que seria abenoada em cerimonial e que transportava diversas oferendasna esperana de atrair uma primavera proveitosa em termos agrcolas. Outra das abordagens,

    sobre a qual recai algum consenso apontando para a palavra Carnisvalerium: Carnis, de carne,

    valerium, de adeus, ou seja, apontaria o adeus carne em funo da quadra seguinte, a

    Quaresma, onde este ingrediente no permitido na alimentao dos cristos. J a palavra

    Entrudo possui a significncia de dar entrada, comeo, ou anunciar a aproximao da quadra

    quaresmal(Elade, 1957).

    Em Portugal, encontram-se as primeiras referncias ao Entrudo em 1252, no reinado de D.Afonso III onde as festividades surgem num documento de celebrao do calendrio religioso e

  • 7/25/2019 P146-13

    6/35

    6

    no civil. A primeira referncia ao Carnaval de Torres Vedras surge no reinado de D. Sebastio.

    No ano de 1862 na Igreja de S. Pedro realiza-se o jubileu de quarenta horas, no perodo dos trs

    dias de Carnaval, contudo assemelha-se mais a uma celebrao religiosa do que propriamente

    carnavalesca (Coelho, 1993). As primeiras notcias na imprensa local, surgem em Fevereiro de

    1885, em O Jornal de Torres Vedras, fazendo meno a uma comemorao pobre e sem

    grande comdia.

    Durante vrios anos o Carnaval de Torres limitou-se a celebraes realizadas em casas

    particulares e a bailes em coletividades, sem animao de rua, com a exceo de algumas

    pessoas que se faziam passear em carruagens ornamentadas (Matos, 2007).

    Efetivamente, at dcada de 20 do sculo passado, o carnaval manifestava-se apenas: ()

    em dispersas, variadas e espontneas atividades: enfarinhar o cabelo das raparigas; atirar

    saquinhos de grainha, tremoo seco e farinha; assaltos em grupo a casas particulares; alguns

    grupos de rapazes percorrendo as ruas em trens abertos, carroas e galeras (de trao animal);

    umas burricadas e as visitas a coletividades locais (J.D.F. citado por Matos, 2007).

    A Repblica primognita de 1910 foi crucial para o desenvolvimento do Carnaval de Torres

    Vedras, em 1912, as coletividades torrienses Grmio, Casino, Salo- Avenida Animatographo e

    a novata Tuna (Reis, 2001) desenvolveram exaustivos programas, dotando o evento de uma

    animao nunca antes presenciada. Emerge efetivamente neste mbito a primeira comisso

    que gere algumas das atividades, inclusivamente a solicitao nas ruas de donativos que seriam

    distribudos populao menos favorecida na tera-feira. Este peditrio ter sido acompanhado

    por uma banda filarmnica.

    atribuda dcada de 20, o verdadeiro despoletar do Carnaval Torriense, devido

    essencialmente ao facto de se ter formado a primeira Comisso Oficial para a organizao das

    animaes de rua, surgindo a corte real com o Rei e Rainha e mais algumas personagens que

    se confundiam no s com os Fidalgos, mas tambm com os Ministros e Matrafonas (grupos

    que ainda hoje acompanham o cortejo Real). Contudo, em 1920, devido aos efeitos do terminusda I Guerra Mundial, o Carnaval foi circunscrito aos sales de baile.

    Uma das figuras mais especiais do Carnaval Torriense, e que o faz divergir dos muitos outros

    existentes poca e na atualidade, surge em 1924: a primeira Rainha. Esta chega de comboio

    acompanhada do seu Rei (D. Carnaval II) e dos respetivos ministros e embaixadores (Reis,

    2001). Ainda hoje esta personagem encarnada por um Homem. Isto , o casal de reis acaba

    por ser formado por dois elementos do sexo masculino. Este um dos elementos mais

    caracterizadores da autenticidade e tipicidade destes festejos. Embora poca os afazeres reaisno fossem muitos, nos dias de hoje a agenda Real muito preenchida. So eles, os principais

  • 7/25/2019 P146-13

    7/35

    7

    representantes do Carnaval Torriense, tendo de responder a vrias solicitaes promocionais e

    sociais, estando no s presentes nos desfiles, mas durante o dia e noite em vrios locais de

    animao, visitando tambm, por exemplo diversos Lares e Creches, em dias anteriores.

    Retomando os anos 20, outras das figuras proeminentes do evento data de 1926: as famosas

    Matrafonas. Estas personagens sucedem do hbito de alguns homens das aldeias do concelho

    utilizarem roupas de mulheres para se mascararem, j que a disponibilidade monetria para

    comprar enfeites era reduzida (Matos, 2007). Contudo, com o aparecimento da personagem da

    Rainha, esta caracterizao desmistificou-se.

    O expoente atingido com o Carnaval dos anos 30 trouxe novas necessidades: a urgncia de uma

    organizao permanente, a carncia de uma animao cada vez mais completa e abrangente a

    vrios dias, o crescente nmero de viaturas nos desfiles e o aumento exponencial de forasteiros

    e figurantes. Reis (2001) destaca que em 1936 muitos dos torrienses lamentavam o facto de a

    animao em geral terminar por volta das 19 horas, fazendo com que a maioria dos visitantes

    que assistiam aos corsos partissem devido ao facto de as coletividades no suportarem mais do

    que os folies locais e concelhios. Desta forma surge a carncia de espaos alternativos de folia,

    dando-se primazia sala dos Bombeiros Voluntrios de Torres Vedras, que logo nesse ano

    angariariam fundos monetrios para material.

    No ano de 1933, d-se a projeo nacional do Carnaval atravs de uma campanha de

    propaganda em diversos rgos de imprensa nacional e da colaborao financeira da cmara

    municipal, possibilitando a realizao do desfile em dois dias consecutivos pela primeira vez,

    mais propriamente na segunda e tera-feira. A batalha das flores repetiu-se, pela primeira vez,

    na Tera-feira. (Reis, 2001). A bilheteira contabilizou um total de 8.500$00 e a presena de 20

    mil pessoas (Matos, 2001). As imagens da folia torriense eram disseminadas em filmes exibidos

    em Lisboa, mais propriamente no teatro S. Lus (Raposo, 2001).

    Os anos 40, alm da censura e da proibio de determinadas atividades carnavalescas na

    sequncia da formao do Estado Novo, abate-se sobre a Europa a II Guerra Mundial (1939 1945) impondo uma nova suspenso da folia e encerrando um dos perodos mais gloriosos do

    Carnaval.

    2) A afirmao do Carnaval torriense - temas e factos marcantes

    Nas dcadas de 40 e 50, existem vrias tentativas para ressuscitar o Carnaval, especialmente

    por parte das principais coletividades da poca, a saber: Tuna, Grmio, Operrio, Casino e

    Sporting Club de Torres. Em algumas destas existiam at festejos secretos, onde o acesso no

  • 7/25/2019 P146-13

    8/35

    8

    era fcil, especialmente at 1942, com a proibio imposta aos festejos Carnavalescos devido

    Grande Guerra.

    Destaca-se, em 1951, um acontecimento nico: a Festa da Primavera. As condies

    atmosfricas no permitiram a realizao do corso, a organizao props a realizao no

    Domingo Pascoal, de um evento como forma de minimizar os danos monetrios. Assim surgiram

    pela nica vez os Prncipes da Primavera (Matos, 2007) que substituam os reis do Carnaval.

    A dcada de 60 imprimiu um resplandecer ao Carnaval, aps uma famosa reunio realizada no

    Teatro-Cine em 1959 (Raposo, 2001), convocada por uma srie de Amigos do Carnaval, onde

    foram apresentadas vrias peas cinematogrficas, por forma a invocar o esprito da dcada

    dourada de 30.

    Segundo Matos (2007), chegaram estao os Zs Pereiras logo no sbado, que

    acompanharam musicalmente todas os desfiles (no invalidando a presena das bandas

    filarmnicas ou grupos musicais locais), habitualmente (e ainda hoje) junto dos famosos

    cabeudos e gigantones; no Domingo chegaram de manh em grande cortejo real os Reis.

    Fixou-se nesta dcada a repetio dos corsos de Domingo e tera- feira.

    Entre 1963-64 d-se a nica interrupo do Carnaval de rua at 1974. Apenas existiu uma

    interrupo no carnaval de rua imposta pelas autoridades devido ao despoletar da Guerra

    Colonial. Contudo, esta interrupo levou discusso pblica da questo da responsabilizao

    pela organizao do evento.

    O Carnaval cresce consideravelmente nos anos 60 e nos 4 primeiros anos de 70. Surge, por

    exemplo, o primeiro concurso pblico para desenhos de carros alegricos, de modo a enriquecer

    o desfile em termos artsticos. As preparaes para o evento eram publicadas em jornais e

    rdios e na emergente comunicao televisiva, despoletando assim a curiosidade e promovendo

    os futuros bailes e corsos.

    Em 1971, surgem formas de promoo peculiares com a realizao do primeiro passeio auto-

    trapalho (Raposo, 2001), no qual eram percorridos os concelhos limtrofes capital, em carrosenfeitados, transportando mascarados. E, em 1972, com a produo do primeiro concurso de

    fotografia do Carnaval.1

    Uma estrutura organizativa revela-se essencial para poder acolher em segurana e com a maior

    qualidade possvel os visitantes que tanto apreciavam o carnaval. Destaca-se tambm neste

    perodo uma certa politizao do carnaval; isto , a disputa entre quem deveria

    presidir/coordenar a comisso, existindo assim uma permeabilidade aos jogos de poder local

    1 Erradamente comemorando o 50 aniversrio do Carnaval (Matos, 2007 & Raposo, 2001)

  • 7/25/2019 P146-13

    9/35

    9

    entre este ou aquele grupo ou entre diversas personalidades. Apesar disso, a partir de 1965

    surge uma congregao de esforos de diversos grupos profissionais da poca, os industriais e

    comercias, sob a liderana da Associao Desportiva Fsica. A estratificao social na folia

    dissipa-se finalmente.

    O perodo revolucionrio do 25 de Abril haveria de interromper os festejos durante dois anos.

    Paradoxalmente, com a possibilidade de comemorao plenamente livre de um carnaval de rua

    sem condicionamentos de expresso, este no seria realizado.

    Em 1984, a maior cheia do Rio Sizandro provoca enormes danos em Torres Vedras, no se

    realizando o Carnaval em 1985. Tem assim incio uma fase mais recente do evento, que viria a

    assumir feies de evento com caratersticas bem definidas, organizado, permanecendo fiel a

    muitas das tradies anteriormente mencionadas nesta smula cronolgica, mas com uma nova

    roupagem.

    3) Transformao do Carnaval de Torres como fenmeno de massas

    O Carnaval de Torres constitui-se como um fenmeno de massas na perspetiva de Horkheimer

    & Adorno (1978) e Lima (2008), uma vez que possibilita no s a organizao em grupos (por

    exemplo, grupos de figurinos e coletividades), mas tambm pelo facto de a prpria comunidade

    torriense viver na sua maioria e com muita antecipao este evento, unindo-se em seu torno; e

    como anteriormente mencionado, pela dissipao que provocou dos estratos sociais, tendo

    evoludo de um carnaval burgus para um mais popular e unificador das vrias classes. Sobre

    outro ponto de vista, esta massificao um corolrio da evoluo crescente do evento, dos

    participantes e dos pblicos, mas tambm da visibilidade atingida nos media, como veremos em

    seguida.

    Nos finais da dcada de 80, o Carnaval passou a ser considerado no s na perspetiva de

    herana cultural, mas tambm como fator estratgico do desenvolvimento econmico, passando

    a integrar uma importante componente promocional de Torres Vedras e da regio Oeste.A gesto municipal do Carnaval passa a acontecer de forma definitiva em 1985, trazendo

    consigo um carter mais profissionalizado. Com base num modelo centralizado num s

    organismo, o pelouro do Turismo e da Cultura, o evento assume uma estratgia e um rumo.

    Na verdade, a alterao do modelo de gesto de uma srie de eventos tradicionais (inicialmente

    organizados por comisses, com membros pertencentes s associaes/coletividades locais ou

    at mesmo a ordens religiosas, para uma administrao municipal) no caso exclusivo em

    Torres Vedras. Existem diversos casos noutros contextos, descritos na literatura (Watt, 2004;Britto &Fontes, 2002; Matias, 2004; Pedro et al., 2005). Segundo estes autores, esta situao

  • 7/25/2019 P146-13

    10/35

    10

    emerge essencialmente do facto de os eventos atingirem grandes propores, impondo a

    necessidade de uma organizao empresarial. No fundo, o objetivo essencial ser tambm

    fazer com que o evento adote uma gesto financeira que garanta a sua sustentabilidade.

    Obviamente, isso nem sempre acontece; mas muitas vezes os impactos diretos do evento fazem

    com que o investimento valha a pena. No caso do Carnaval de Torres Vedras foi posteriormente

    criada, na dcada de 90, a Promotorres, empresa municipal que, entre outras funes, passou a

    ter a responsabilidade de gerir o evento.

    Neste processo empresarial de gesto de eventos, no devem ser colocadas margem todos

    os intervenientes at aqui implicados, j que so estes os conhecedores mais profundos das

    caractersticas tradicionalistas da atuao. Assim, a ao camarria recorre a uma srie de

    personalidades que integram a comisso central do carnaval.

    A profissionalizao do Carnaval poderia trazer uma reduo da carolice, do abandono das

    personagens tradicionais e da paixo que move os folies, transpondo-os para a posio de

    espetador em detrimento do ativo criador (Raposo, 2001). Felizmente, esta organizao

    profissionalizada, () porm sem colidir com a essncia participada e espontnea da festa

    (Ralha, 2006), leva a cabo diversos eventos que permitiro dar continuidade ao folio. Refira-se

    por exemplo o Corso Escolar (realizado nas sextas-feiras de carnaval de manh de forma

    constante desde 1997 (Ralha, 2006) ou o Corso Trapalho, em que se privilegiam as

    matrafonas e as personagens atpicas mais ou menos cmicas que habitualmente se fazem

    deslocar de veculos improvisados de todo o tipo.

    O impacto televisivo deste fenmeno massificado estrondoso. Desde o incio da dcada de 90

    que o Carnaval mais Portugus de Portugal tem presena assdua na televiso. Um dos factos

    inditos surge na emisso em direto de 1989 (Matos, 2007), tendo representado um facto

    original para a poca. O facto de se atriburem temas ao Carnaval que habitualmente se

    encontram em consonncia com acontecimentos mediticos nacionais e internacionais, permite

    mediatizar o ritual do corso para a esfera da poltica nacional e internacional (Raposo, 2001). Porexemplo, em 1992, sendo a temtica Os Jogos Olmpicos, a TVE antecipou o acontecimento

    em Barcelona, fazendo deslocar uma equipa a Torres Vedras.

    Os estudos de media realizados nos ltimos anos mostram que os resultados tm sido bastante

    positivos, representando milhes de euros em benefcios indiretos. Alm das diversas peas

    jornalsticas que na poca festiva integram os telejornais, nos ltimos anos a transmisso dos

    desfiles em direto so uma constante.

    Refira-se a importncia artstica de diversos criadores, artistas, escultores, pintores, serralheirosque colaboram na conceo e produo dos carros alegricos e dos monumentos ao carnaval

  • 7/25/2019 P146-13

    11/35

    11

    ( )o terreno esttico palmilhado bem distinto do modelo teatralizado, revisteiro e figurativo

    dos primeiros anos, e assume-se com fortes traos cartoonistas ou de caricatura humorstica

    (Raposo,2001). Surgem em Torres Vedras duas empresas: a Gulliver e a Vrtice, que

    encabeam estes processos fazendo atestar a importncia econmica atravs de um efeito

    multiplicador. Dever referir-se tambm as costureiras e todos os amadores que num instante

    aprendem a costurar ou a pintar para que possa reinar a folia.

    A evoluo da programao e uma organizao participada permitem tambm avaliar o

    crescimento do evento. A organizao participada assenta em trs pilares essenciais, segundo

    Jorge Ralha (2006):

    i. A Comisso do Carnaval, que perde um pouco a sua composio associativa dos

    primrdios, deu origem Real Confraria do Carnaval de Torres, surgida em 2006 e

    tendo como um dos primordiais objetivos a salvaguarda das tradies carnavalescas;

    ii. A Cmara Municipal, que desde a dcada de 80 assume um papel preponderante na

    organizao, participando no oramento disponvel e gerindo os contatos com a

    comunicao social;

    iii. A Promotorres, empresa municipal que tutela a produo e a gesto financeira.

    Desde a dcada de 60 que a programao do carnaval se caracterizava pela chagada dos Zs

    Pereiras na sexta-feira, prosseguiam-se os festejos com os desfiles de domingo e tera-feira e,

    na quarta de cinzas, o Entrudo. A massificao do fenmeno fez ponderar um alargamento do

    programa.

    Destacamos na programao a realizao, desde 1997, do Corso Escolar, elemento relevante

    para a continuidade dos festejos. Em 1995, a chegada dos reis passaria a ser realizada na

    sexta-feira noite, sendo entregue a estes as chaves da cidade, instalando-se a folia. Neste

    mesmo ano surgem tambm pela primeira vez o corso noturno de sbado e o Carnaval de Vero

    em Santa Cruz, onde num nico dia se associa carnaval praia e msica at de madrugada. De

    notar a importncia da introduo do Carnaval de Vero, no destino de praia do concelho, numalgica de promoo turstica.

    O Corso Tradio que teria como principais figurantes a populao snior do concelho realizou-

    se durante quatro anos, sendo substitudo, em 2006, pelo Baile Tradio.

    O Corso Noturno de sbado apresenta desde 2000 o Concurso de Mascarados. Ao longo dos

    anos esta atividade tem evoludo, no s ao nvel da quantidade de figurantes e pblico, como

    tambm na qualidade dos figurinos, das coreografias e at mesmo de acompanhamento musical

    individualizado. A introduo do TCandar (uma animao do gnero de trio-eltrico)proporcionou tambm esta melhoria.

  • 7/25/2019 P146-13

    12/35

    12

    Os dados do Quadro I revelam exatamente essa tendncia. Note-se que o nmero mais elevado

    de grupos de mascarados, leia-se, os oficiais, inscritos nos corsos, ocorreu em 2009, tendo-se

    notado nos ltimos dois anos uma decrescente participao, questo completamente justificvel

    com o fenmeno de crise. Os dados revelam tambm que o sbado o dia preferencial para a

    presena dos grupos, nmero que vai diminuindo nos corsos de Domingo e Tera. Os grupos

    fazem habitualmente representar-se em todos os desfiles, contudo o nmero efetivo de

    figurantes por cada grupo tem tendncia a diminuir durante os restantes dias. Para tal situao

    podem talvez apresentar-se dois motivos: a avaliao dos mascarados realizada apenas no

    sbado e alguns elementos do grupo podero no estar presentes devido a vrios motivos:

    profissionais, familiares ou exausto.

    Quadro I: Grupo de Mascarados

    Grupos de Mascarados

    2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 MDIA

    TOTAL 1258 1926 1784 2206 3150 3531 4700 3515 2410 2262 2.729

    SBADO 2618 1997 2049 2.221

    DOMINGO 1495 1448 1632 1.525

    TERA 859 1444 1412 1.238Fonte: Promotorres, EM. 2013

    Os corsos de domingo e tera-feira, j amplamente abordados, realizam-se durante a tarde,mobilizando para a figurao grande parte dos grupos que participam no desfile de sbado, contudo,

    como observvel no Quadro II, existe uma maior afluncia de pblico s teras-feiras.

    O corso noturno de sbado e o Corso Trapalho de segunda vieram reforar definitivamente a

    animao nas noites, sendo estas consideradas quase como outro carnaval onde um pblico com

    caractersticas diferentes enche todas as ruas da zona histrica da cidade. So milhares os folies,

    especialmente nas noites de sbado e segunda, que at de manh percorrem as ruas, num exerccio

    alucinante, e que no incio do sculo era realizado em escala bem menor nas coletividades. Os bares

    e cada uma das tascas improvisadas que surgem por todo lado com msica permanente e com

    horrio alargado, fazem as delcias dos folies.

  • 7/25/2019 P146-13

    13/35

    13

    Quadro II: Nmero de Ingressos Vendidos.

    Fonte: Promotorres, EM. 2013

    Nestas condies, o oramento do evento assume grandes dimenses (Quadro III). Apesar disso,

    quando comparado com outros carnavais portugueses, este oramento no assim to elevado. As

    rubricas mais dispendiosas so necessariamente os carros alegricos e o programa de animao. As

    receitas diretas consistem quase exclusivamente na bilheteira para entradas nos desfiles, no aluguer

    de espaos para venda de bebidas e comidas e ainda em algum merchandising. No entanto, como

    qualquer evento de sucesso, o Carnaval de Torres Vedras beneficia de diversos impactos

    econmicos indiretos, e cuja aferio exige estudos especficos, sendo a presente investigao a

    primeira abordagem aos benefcios econmicos, diretos e indiretos, decorrentes deste evento.Convm ainda realar que este evento apresenta um elevado ndice de suscetibilidade s condies

    climticas, podendo o seu impacto variar significativamente de ano para ano.

    Quadro III: Evoluo Anual da Receita/Despesa

    Fonte: Promotorres, EM. 2013

  • 7/25/2019 P146-13

    14/35

    14

    ESTUDO EMPRICO

    O impacto econmico do Carnaval de Torres Vedras

    MetodologiaNo presente estudo, utilizou-se uma metodologia emprica por questionrio, com base na recolha

    de dados, tendo em conta a especificidade dos grupos a inquirir.

    Foram realizados em paralelo trs estudos por inqurito, designadamente:

    1. Inqurito ao pblico do Carnaval o estudo foi realizado durante os dias do evento (de 8 a

    12 de Fevereiro), sob a forma de inqurito de rua, conduzido por 15 entrevistadores

    recrutados na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do mar, de Peniche. Os

    entrevistadores estavam estrategicamente distribudos penas reas urbanas com maiorafluncia e concentrao de pblicos, definidas de acordo com grelhas de observao de

    pblicos, obtidas em anos anteriores. No total foram obtidos 1865 questionrios vlidos.

    2. Inqurito aos figurantes do Carnaval em reunio preparatria com os lderes dos grupos

    de animao, a organizao entregou 800 questionrios, para serem preenchidos e

    devolvidos pelos figurantes, uma semana aps o evento. No total foram devolvidos 484

    questionrios preenchidos, dos quais 480 foram considerados vlidos.

    3. Inqurito s empresas de comrcio e servios de Torres Vedras um terceiro inqurito foi

    dirigido aos empresrios dos diversos subsetores comerciais e de servios considerados

    pertinentes do ponto de vista das receitas do evento. Com vista obteno do maior

    nmero possvel de respostas, foram utilizados 3 mtodos de recolha de dados:

    a) Inqurito por entrevista aos vendedores ambulantes, realizado na 3-feira, dia 12 de

    Fevereiro, isto no ltimo dia de forte afluncia do pblico. No total foram inquiridos

    empresrios de venda ambulante.

    b) Inqurito online, enviado pelo Gabinete de Apoio s Empresas de Torres Vedras

    aos empresrios das reas de negcio consideradas pertinentes para o efeito,

    designadamente: cafs e pastelarias; restaurantes; atividades tursticas;

    costureiras; esteticistas; retrosarias; lojas de moda; produtos alimentares;

    fotgrafos; unidades de alojamento; bares; publicidade e artes grficas. No total,

    responderam ao inqurito online 117 empresrios.

    c) Inqurito autoadministrado, com apoio presencial, nos estabelecimentos comerciais

    de Torres Vedras. Os tcnicos do Gabinete de Apoio s Empresas

    complementaram as respostas obtidas por meio online com visitas aos

  • 7/25/2019 P146-13

    15/35

    15

    estabelecimentos, convidando os empresrios a responderem ao mesmo

    questionrio em verso impressa. Por esta via, respondera 29 empresrios.

    Assim, juntando todos os questionrios preenchidos, a amostra obtida abrange um total de 168

    empresas.

    Estrutura dos questionrios dos inquritos aos participantes (pblico e figurantes)

    Os dois inquritos aos participantes incluam muitos itens comuns, designadamente:

    a) Perfil dos participantes (idade, gnero, local de residncia, atividade profissional e

    habilitaes);

    b) Avaliao do evento:

    o Avaliao do corso, atravs da atribuio de uma nota de 1 a 5 aos seguintes itens:

    criatividade/originalidade, variedade, segurana, organizao dos desfiles e satisfao

    global;

    o Avaliao das ruas, atribuindo uma nota de 1 a 5 aos seguintes itens: ambiente geral,

    segurana e satisfao global;

    o O que mais gostou, podendo o inquirido selecionar trs das seguintes opes: grupos

    de animao, cabeudos, dimenso do corso, matrafonas, carros alegricos, carros

    espontneos, cocotes e cubos, TCandar, stira aos polticos e celebridades,

    brincadeiras com os mascarados de rua, outros;

    c) Gastos durante o evento, tendo por base as diversas rubricas (bilheteira, alimentao,

    restaurantes, diverso noturna/bebidas, compras, transportes, mscaras/adereos e

    alojamento).

    d) Motivao principal para participar no evento;

    e) Motivo de escolha do Carnaval de Torres Vedras;

    f) Fontes de informao sobre o Carnaval de Torres Vedras;

    g) Em que dias e em que atividades participou;h) Fidelidade ao evento (em quantas edies participou);

    i) Conhecimento do tema do Carnaval 2013 (Reciclagem);

    j) Atitude face deciso governamental de no-tolerncia de ponto;

    k) Caracterizao do evento numa s palavra ou frase.

    O questionrio dos figurantes (tal como o questionrio dos empresrios) inclua tambm a

    avaliao, em escalas de Likert de 5 pontos, de alguns aspetos da organizao do evento,designadamente: (a) regulamento do concurso; (b) inscrio dos grupos; (c) atribuio dos

  • 7/25/2019 P146-13

    16/35

    16

    prmios; (d) valor pago aos grupos; (e) facilidade de acesso ao corso; (f) pagamento do corso

    2. feira; (g) promoo do Carnaval; (h) avaliao geral da organizao.

    Recolha de dados no inqurito aos participantes / figurantes

    Quanto metodologia empregue na recolha de dados aos participantes/figurantes, o inqurito ao

    pblico do Carnaval de Torres Vedras, foi realizado por 15 entrevistadores previamente

    selecionados, tendo decorrido durante o evento, ao longo de cinco dias consecutivos: desde

    6feira, dia 8 de Fevereiro, at 3 feira, dia 12 de Fevereiro.

    Em cada dia, cada entrevistador devia administrar 25 questionrios. Assim, de acordo com o

    previsto, deveriam ser administrados 1875 questionrios (375 por dia, durante 5 dias). Apenas

    no se recolheu dados na 4 feira, dia 13 de Fevereiro. Mas, independentemente do dia em

    que cada inquirido foi entrevistado, este fornecia informao sobre a sua participao no

    Carnaval ao longo dos seis dias da programao.

    Os 15 entrevistadores estavam distribudos nas vrias ruas onde havia afluncia de pblico,

    sendo essa distribuio baseada na identificao dos locais de maior concentrao de pessoas,

    de acordo com tabelas de observao de fluxos obtidas em anos anteriores.

    Estudo 1 Inqurito aos participantes/visitantes

    A amostra total de elementos do pblico foi de 1865 inquiridos, distribudos de modo quase

    uniforme ao longo dos cinco primeiros dias do evento, como se apresenta no Grfico 1.

    Atendendo dimenso da amostra (n = 1865), a margem de erro deste inqurito igual ou

    inferior a 2.27%, para um nvel de confiana de 95%; ou seja, um nvel de erro bastante baixo.

    Grfico 1: Percentagem de inquiridos por dia (pblico)

    16.9

    23.3

    20.1 20.1 19.6

    0.0

    5.0

    10.0

    15.0

    20.0

    25.0

    6 - feira Sbado Domingo 2 - feira 3 feira

  • 7/25/2019 P146-13

    17/35

    17

    Caracterizao sociodemogrfica dos inquiridos (pblico)

    De acordo com o Quadro 4, a amostra inclui uma ligeira predominncia de inquiridos do gnero

    feminino (54.9% versus 45.1%). Esta tendncia de predomnio de inquiridos do gnero feminino

    ainda mais acentuada na amostra dos figurantes, como veremos mais adiante. Corroborando a

    observao in loco, o pblico do Carnaval de Torres Vedras maioritariamente jovem,

    aproximadamente 71% dos inquiridos tm menos de 40 anos, sendo que os inquiridos at aos

    25 anos representam 40,3% da amostra.

    O nvel de habilitaes dos folies do Carnaval significativamente elevado, comparativamente

    ao perfil de habilitaes de portugueses em geral. Este facto decorre em grande medida da

    elevada concentrao de jovens no evento.

    No que diz respeito s atividades profissionais dos inquiridos, predominam as categorias de

    assalariado e de estudante (84%).

    Quadro 4: Perfil sociodemogrfico dos inquiridos (pblico)

    Atributos Descrio Estatsticas

    Gnero Feminino 55%Masculino 45%

    Idade At 25 anos 40,30%De 25 a 40 anos 30,90%De 41 a 55 anos 18,20%Mais de 55 anos 10,60%

    Nveis de habilitaes Bsico 19,8%Secundrio 47,6%Superior 32,6%

    Atividade Profissional Assalariado 41,7%Estudante 32,3%Empresrio / Pr. Liberal 9,5%Desempregado 9,0%Reformado 5,4%Outro 2,1%

    Local de Residncia Torres Vedras 54,5%Lisboa e Grande Lisboa 21,1%Outros concelhos do Oeste 9,6%Mafra 4,8%

    Margem Sul do Tejo 4,4%Regio de Leiria / Centro / Norte 4,1%

  • 7/25/2019 P146-13

    18/35

    18

    Outros pases 0,8%Alentejo / Algarve / Ilhas 0,7%

    Os dados apresentados no Grfico 6 revelam que cerca de 95% dos participantes no Carnaval

    de Torres residem no concelho de Torres Vedras ou nos concelhos em redor, num raio inferior a

    cem quilmetros.

    Envolvimento no Carnaval de Torres Vedras

    Quanto fidelizao do pblico, mais de metade dos inquiridos (55.1%) dizem ter participado

    desde sempre ou em pelo menos 7 das edies anteriores, estando por isso fortemente

    fidelizados ao Carnaval de Torres. Por outro lado, a percentagem de inquiridos que participa este

    ano pela primeira vez no evento tambm notvel (22.7%), o que indica uma forte capacidade

    de atrair novos participantes ao evento. A conjugao destas duas tendncias (elevado grau de

    fidelizao e elevada capacidade de atrao de novos pblicos), a manter-se, ter como

    consequncia uma duplicao do pblico ao fim de cinco anos.

    A informao obtida relativa participao do pblico, distribuda pelos dias da semana (Grfico

    2), a julgar pelas respostas dos inquiridos, o dia de maior afluncia no Carnaval 2013 o

    Sbado, que atrai 63,3% dos participantes. A noite de 2-feira surge em segundo lugar com

    57.3% de assiduidade. As tardes de Domingo e de 3-feira tambm apresentam nveis muitoelevados de participao (54.9% e 52.1%, respetivamente).

    No entanto, o corso infantil de 6-feira consegue tambm atrair um elevado ndice de

    participao (47.1%), por oposio ao Enterro do Entrudo que decorre 4-feira, com apenas

    24.5%.

    Grfico 2: Participao diria no Carnaval 2013 Grfico 3: Nmero de dias que participa no Carnaval 2013

    A maioria dos participantes no Carnaval 2013 teve que escolher na programao o(s) dia(s) em

    que decidiu participar. De facto, cerca de um tero dos inquiridos (33.5%) participou apenas um

    47.1

    63.654.9 57.3 52.1

    24.5

    0

    20

    4060

    80 33.5

    18.011.0

    5.611.4

    20.5

    0.0

    10.0

    20.030.0

    40.0

  • 7/25/2019 P146-13

    19/35

    19

    dia, e outro tero (34.6%) decidiu participar entre 2 a 4 dias. So tambm quase um tero os

    inquiridos com elevada assiduidade (20.5%, todos os dias; e 11.4% cinco dias), como podemos

    verificar no Grfico 3.

    Entrada no corso e atividades em que participou

    Nem todos os inquiridos participam nas atividades do corso. Um nmero significativo de

    inquiridos (28.3%) opta por no entrar no corso. Considerando os que optam por participar nas

    atividades do corso, cerca de metade adquire bilhete de ingresso dirio, e cerca de metade

    adquire bilhete de livre-trnsito.

    Os corsos noturnos so os que renem um maior nmero de participantes, em especial o corso

    de sbado noite, com uma participao de 33.5% do total de inquiridos. No entanto os corsos

    diurnos de domingo e de 3-feira atingem nveis de participao muito prximos dos que se

    registam noite (28%, tanto no domingo como na 3-feira). Provavelmente, o corso de 3feira

    teria sido mais concorrido se houvesse tolerncia de ponto, como no passado e se as condies

    climticas no tivessem sido to adversas (chovia muito).

    Por ltimo, o envolvimento no ambiente carnavalesco foi tambm aferido questionando os

    inquiridos se tiveram uma participao mais passiva (vir apenas ver o desfile de carros

    alegricos) ou mais ativa (ver os desfile de carros alegricos e tambm participar na animao

    de rua (e nos assaltos de Carnaval) . Dois teros dos inquiridos opta por uma participao ativa

    no carnaval de Torres Vedras, sendo que um tero opta por uma participao mais passiva.

    Motivos de escolha do Carnaval de Torres Vedras e grau de satisfao com o evento.

    Com vista a conhecer os motivos subjacentes escolha do Carnaval de Torres Vedras, foram

    apresentadas aos inquiridos as seguintes opes: a) o mais tradicional; b) tem melhor

    animao; c) fica mais prximo do local onde vivo; d) gostei das edies anteriores; e) foi-

    me recomendado; f) outro.Os dados apresentados no Grfico 16 mostram que a proximidade geogrfica constitui um fator

    fundamental na fidelizao dos participantes. A este propsito, vale a pena notar que nenhum

    dos 1865 inquiridos referiu residir nos concelhos da Nazar e de Alcobaa. Os naturais desses

    dois concelhos devero estar sob o manto de influncia do carnaval da Nazar.

    Alm da localizao geogrfica, h outros dois motivos que so identificados por um tero dos

    inquiridos: ser o mais tradicional, fazendo assim jus ao lema Carnaval mais portugus de

    Portugal e ter melhor animao.

  • 7/25/2019 P146-13

    20/35

    20

    Atendendo ao facto de os inquiridos poderem escolher tantos motivos quantos quisessem, vale a

    pena salientar e refletir sobre um dado intrigante: apenas 9.9% justificam a sua escolha pelo

    facto de terem gostado das edies anteriores. Ora, este dado contrasta com a explicao

    corrente de que a fidelizao est diretamente ligada com a satisfao do consumidor. Ser que

    nas edies anteriores, apenas 1 em 10 gostaram do evento? Ou ser que a escolha da opo

    gostei das edies anteriores utilizada poucas vezes apenas porque j est implcita nas

    opes o mais tradicional e tem melhor opo, isentando por isso os inquiridos de

    escolherem aquela opo especfica?

    Por ltimo, refira-se que os 13.8% de inquiridos veio edio 2013 do Carnaval de Torres

    Vedras graas ao fator recomendao correspondem a quase dois teros que em 2013 vieram

    a este Carnaval pela primeira vez.

    O fator recomendao o principal responsvel pela captao de novos pblicos.

    Grfico 4: Motivos de escolha do Carnaval de Torres Vedras Grfico 5: Principal motivo na escolha do Carnaval de Torres Vedras

    Os dados mostram (Grfico 17) que o principal fator de atrao a participao no programa

    noturno (29.2%), surgindo em segundo lugar o motivo conviver e conhecer pessoas (22.5%). A

    participao no programa diurno obtm um score mais modesto de 18.7%.

    Apesar de se tratar de uma quota residual de apenas 3.7%, no deixa de ser significativo o facto

    de haver quem decida vir a Torres Vedras durante o Carnaval tendo como motivo no oCarnaval em si, mas sim conhecer Torres Vedras.

    No comentrio ao Grfico 16, tnhamos referido a seguinte contradio: por um lado, apenas

    10% dos inquiridos identifica como motivo da sua escolha do Carnaval de Torres Vedras o facto

    de ter gostado das edies anteriores; por outro lado, a grande maioria dos inquiridos manifesta

    um elevado padro de fidelidade ao evento (Grfico 7). E consideramos esse valor deflacionado,

    por se encontrar j implcito em outras duas opes de resposta (ser o mais tradicional e ter a

    melhor animao).

    9.9

    10.4

    13.8

    32.4

    33.5

    48.2

    0 20 40 60

    Gostei das edies

    Outro motivo

    Foi-me

    Tem melhor

    o mais tradicional

    mais prximo do

  • 7/25/2019 P146-13

    21/35

    21

    Ora, como se pode observar nos Grficos 20 e 21, o grau de satisfao dos inquiridos com os

    diversos aspetos do evento, medidos numa escala de 1 a 5 (em que o score 5 a nota mxima),

    bastante elevado, variando entre 4.3 e 4.5, na avaliao dos cinco itens de avaliao do corso,

    e entre 4.1 e 4.4., na avaliao dos quatro itens relativos aos ambiente das ruas.

    Grfico 6: Avaliao do corso Grfico 7: Avaliao das ruas

    Os inquiridos foram ainda convidados a identificar, no mximo, trs dos itens de animao que

    mais gostaram. O pdio da atratividade ocupado por trs aspetos burlescos: as matrafonas

    (32.7% das preferncias), os carros alegricos (28.3%) e os cabeudos (19.5%).

    Os grupos de animao e brincadeiras com mascarados seguem em segundo lugar com um total

    de preferncias de 32% das preferncias. A stira a polticos e celebridades, embora sendo umelemento com grande fora de mediatizao, no se destaca muito na perceo do pblico:

    apenas 11.7% das preferncias.

    Local de pernoita durante os dias do evento

    luz dos critrios estatsticos geralmente utilizados para classificar um evento como turstico,

    podemos afirmar que o Carnaval de Torres Vedras, embora j seja um evento cultural com

    grande notoriedade no pas, ainda no um evento turstico, uma vez que apenas 3% dos

    participantes permanecem em alojamento comercial.

    Como tivemos ocasio de referir a propsito do local de residncia dos inquiridos, cerca de 95%

    dos participantes no evento residem no concelho de Torres Vedras (55% do total) ou em

    concelhos situados num raio de 100 km em redor (cerca de 40%). Sendo que 89.2% dos

    inquiridos revelaram que pernoitaram em casa, 7.9% em casa de amigos e familiares e os

    restantes 2,9% em hotel (1,2%), alojamento turstico (1.0%) e casa particular alugada 0,7%).

    Resta, pois, transformar este evento cultural num evento tambm turstico, captando pblicos de

    outros pases e de outras regies de Portugal.

  • 7/25/2019 P146-13

    22/35

    22

    Estudo 2 Inqurito aos participantes / figurantes

    De acordo com os organizadores do Carnaval de Torres Vedras 2013, os desfiles do corso

    inclua um total de 1872 figurantes. Trata-se de uma categoria especial de participantes que

    tambm conviria inquirir.

    Nesse sentido, a organizao do Carnaval distribuiu 800 questionrios entre os figurantes

    integrados em grupos organizados. Estes questionrios foram entregues aos lderes dos grupos,

    numa reunio preparatria que teve lugar trs dias antes do incio do Carnaval. A todos os

    lderes de grupo foi solicitado que distribussem os questionrios as membros dos seus grupos e

    que, aps o respetivo preenchimento, os devolverem organizao.

    No total, foram devolvidos 484 questionrios preenchidos, na semana imediatamente a seguir ao

    Carnaval. Destes, 480 foram considerados vlidos.

    Trata-se de um nmero bastante significativo de inquiridos, que permitir conhecer de forma

    muito aprofundada as percees e os comportamentos daqueles que so os atores mais

    importantes do Carnaval de Torres Vedras: os folies mascarados, aqui designados como

    figurantes.

    Caracterizao sociodemogrfica dos inquiridos (figurantes)

    Como se pode ver no Quadro 5 a amostra de figurantes maioritariamente constituda por

    elementos do gnero feminino, com elevado predomnio de jovens: cerca de 50% tm menos de40 anos. So maioritariamente residentes do concelho de Torres Vedras e cerca de metade

    (52.8%) tm formao escolar de nvel secundrio, embora haja uma parte significativa com

    formao superior.

    Estes dados, revelam que o perfil dos figurantes globalmente similar ao do pblico, embora um

    pouco mais extremado. Noutros termos: no perfil sociogrfico dos figurantes (por comparao

    com o perfil do pblico), so ainda mais acentuadas as seguintes categorias: gnero feminino,

    residncia em Torres Vedras, escalo etrio jovem, ensino secundrio e assalariado.

  • 7/25/2019 P146-13

    23/35

    23

    Quadro 5: Perfil sociodemogrfico dos inquiridos (figurantes)

    Atributos Descrio Estatsticas

    Gnero Feminino 60,8%Masculino 39,2%

    Idade At 25 anos 21,9%De 25 a 40 anos 48,9%De 41 a 55 anos 26,1%Mais de 55 anos 3,1%

    Nveis de habilitaes Bsico 18,5%Secundrio 52,8%Superior 28,7%

    Atividade Profissional Trabalhador por conta de outrem 64,9%Estudante 14,9%

    Empresrio/Pr. Liberal 9,2%

    Desempregado 9,0%Reformado 1,7%Outro 0,2%

    Local de Residncia Torres Vedras 88,0%Lisboa e Grande Lisboa 4,5%Outros concelhos contguos 5,6%Outras regies 1,9%

    Participao em anos anteriores e modo de participao

    Os figurantes do Carnaval constituem um segmento muito fidelizado ao evento, com nveis de

    assiduidade muito elevados. Quase 80% dos respondentes participou como figurantes em pelo

    menos 5 edies anteriores, e apenas 8.3% so participantes nefitos.

    Quanto ao modo de participao em anos anteriores, verifica-se que mais de dois teros dos

    respondentes participaram sempre em grupo. tambm bastante expressiva a quota de

    respondentes que no passado alternou entre a participao integrada em grupo e a participao

    a ttulo individual.

    Relativamente aos dias e s atividades em que os respondentes participaram na presente edio

    do Carnaval, apresenta uma diferena significativa apenas no caso da 6-feira, nesse dia a

    participao no corso reservada s crianas, sendo que muitos dos figurantes participaram

    nesse primeiro dia na qualidade de pblico.

    Os dados mostram que o corso de sbado noite o que envolve a quase totalidade dos

    figurantes: quase 98% do total de participantes. Tm tambm elevados ndices de participao

    os corsos diurnos de domingo e 3-feira, com ndices de afluncia ao corso que variam,

    respetivamente, entre 90% e 85%. O corso noturno de 2 feira entre todos os corsos para

  • 7/25/2019 P146-13

    24/35

    24

    adultos o que atrai menos figurantes, mesmo assim com uma taxa de participao bastante

    elevada, de cerca de 75%.

    Quanto inteno de participao do prximo ano, no resta a menor dvida de que o Carnaval

    de Torres Vedras tem figurantes/folies altamente fidelizados. Apenas 3 dos 480 respondentes

    (0.6%) afirmam que provavelmente no participaro no prximo ano. Todos os restantes afirmam

    a sua inteno de voltar a participar, sendo que a esmagadora maioria (82.4%) opta pela

    resposta mais categrica sim, sem dvida.

    Local de compra dos materiais para adereos e local de pernoita nos dias do Carnaval

    Outro aspeto relevante do Carnaval de Torres Vedras o facto da quase totalidade das compras

    de materiais para confeo de mascaras/adereos serem feitas localmente no Concelho de

    Torres Vedras. Apenas 2% dos inquiridos optam por comprar mascaras e adereos fora do

    concelho.

    Este dado muito importante, uma vez que, como veremos mais adiante, as compras de

    materiais para mscaras/adereos constitui a principal rubrica de gastos dos figurantes.

    Quanto ao local da pernoita, refira-se o dado bvio segundo o qual a quase totalidade dos

    folies/figurantes pernoitar em sua prpria casa ou em casa de familiares ou amigos. Do total de

    480 inquiridos, apenas 4 (isto , 0,8%) ficaram alojados em unidades de alojamento tursticas.

    Avaliao do evento

    Em todos os cinco parmetros considerados criatividade/originalidade, variedade, segurana,

    organizao dos desfiles e satisfao global - a avaliao do evento obtm nota positiva: valor 4

    numa escala em que 1 significa valor mnimo e 5, valor mximo.

    No entanto, a avaliao por parte dos figurantes no to positiva como a avaliao atribuda

    pelo pblico, a qual, como vimos no Grfico 6, se situa em torno de 4.5.

    Grfico 8: Avaliao do evento Grfico 9: Avaliao das ruas

    3.9 3.9 4.0 3.7 4.0

    1

    2

    3

    4

    54.1 3.9 3.9 4.1

    1

    2

    3

    4

    5

  • 7/25/2019 P146-13

    25/35

    25

    A mesma avaliao positiva atribuda ao ambiente festivo nas ruas. Os quatro parmetros

    avaliados (ambiente nas ruas e nos bares, segurana e satisfao global) obtm tambm notas

    em torno do valor 4, tambm ligeiramente abaixo dos valores que o pblico atribuiu a estes

    mesmos parmetros.

    Avaliao da animao no corso e da organizao

    O Grfico 10 permite conhecer comparativamente as preferncias do pblico e dos figurantes

    relativamente aos vrios aspetos da animao no corso.

    Cada inquirido podia indicar trs opes, o que significa que a soma das percentagens poderia

    atingir 300%, caso todos os inquiridos escolhessem sempre 3 itens. Ora, perante o facto de em

    muitos casos as preferncias dos figurantes serem muito superiores s do pblico (o

    comprimento das barras a vermelho geralmente maior), decidimos comparar as somas das

    percentagens, tendo-se verificado que os totais so de 152.8% nas avaliaes da amostra do

    pblico e de 314.5% nas avaliaes dos figurantes. Quer isto dizer que as diferenas observadas

    no Grfico 10 se devem mais s diferenas de opo de resposta entre os inquiridos dos dois

    grupos (e tal diferena poder dever-se ao recurso a dois mtodos distintos de recolha de dados

    (questionrios autoadministrado versus inqurito de rua com entrevistador), do que a uma

    eventual diferena de preferncias por parte dos dois grupos.

    Grfico 10: Avaliao dos aspetos da animao no corso (pblico e figurantes)

    0 10 20 30 40 50 60 70

    Outro

    Cocotes e cubos

    Cabeudos

    Dimenso do corso

    Carros espontneos

    MatrafonasBrincadeiras com mascarados

    Stira a polticos e celebridades

    Carros alegricos

    T'Candar

    Grupos de animao

    2.3

    13.2

    15.9

    17

    27.5

    29.531.8

    34.3

    37.2

    43.4

    62.3

    6.4

    1.7

    19.5

    5.7

    7.8

    32.7

    13.1

    11.7

    28.3

    7

    18.9

    Pblico Figurantes

  • 7/25/2019 P146-13

    26/35

    26

    No inqurito aos figurantes procedeu-se ainda avaliao de oito aspetos organizativos do

    Carnaval, cujos resultados so apresentados no Quadro 6.

    Quatro itens obtm nota Bom (em torno do valor 4), designadamente: promoo do Carnaval,

    Inscrio de grupos, avaliao geral da organizao e facilidade de aceso ao corso. O item

    regulamento do concurso obtm apesar de tudo uma nota positiva moderada (3.6). J os itens

    relacionados com dinheiro e com prmios tende a obter nveis de valorizao mais baixos. O

    valor pago aos grupos e a atribuio de prmios so aspetos que polarizam os inquiridos: cerca

    de metade a evidenciam insatisfao e a outra metade manifesta-se satisfeita.

    No entanto, como se pode verificar no Quadro 6 h um item que se destaca pela negativa: cerca

    de 60% dos inquiridos avaliam negativamente este parmetro, sendo que (46.8 %) escolheram a

    opo de muito insatisfeito e 12.6% afirmam estar insatisfeitos, o que corresponde uma mdia

    geral de apenas 2.2.

    Quadro 6: Avaliao de aspetos organizativos frequncias e percentagens

    Muito

    InsatisfeitoInsatisfeito

    Nem satisfeito

    nem

    insatisfeito

    SatisfeitoMuito

    Satisfeito

    N % N % N % N % N %

    Promoo do Carnaval 3 0.6 10 2.1 73 15.3 274 57.6 116 24.4

    Inscrio dos grupos 6 1.3 19 4.0 101 21.4 239 50.5 108 22.8

    Avaliao global da organizao 3 0.6 22 4.6 79 16.5 293 61.2 82 17.1Facilidade de acesso ao corso 11 2.3 40 8.5 81 17.2 236 50.2 102 21.7

    Regulamento do concurso 14 3.0 33 7.0 118 24.9 254 53.6 55 11.6

    Valor pago aos grupos 61 12.8 65 13.7 137 28.8 162 34.0 51 10.7

    Atribuio de prmios 60 12.6 69 14.4 145 30.3 150 31.4 54 11.3

    Pagamento do corso 2-feira 225 46.8 62 12.9 93 19.3 69 14.3 32 6.7

    Estudo 3 Inqurito aos empresrios de Torres Vedras

    Paralelamente aos dois inquritos aos participantes (pblico e figurantes), foi realizado um

    inqurito s empresas do concelho de Torres Vedras.

    Perante o paradoxo segundo o qual a grande maioria dos empresrios valoriza estudos de

    mercado, mas muito poucos so os empresrios que se mostram disponveis para responderem

    a inquritos, foi decidido recorrer a trs fontes complementares de recolha de dados: inqurito

    online, inqurito autoadministrado com assistncia presencial e inqurito por entrevista.

  • 7/25/2019 P146-13

    27/35

    27

    O inqurito online foi dirigido a cerca de 600 empresrios, tendo por base o ficheiro do Gabinete

    de Apoio s Empresas de Torres Vedras. Responderam por esta via ao inqurito 117

    empresrios. O inqurito por entrevista foi realizado no dia 12 de Fevereiro (3-feira de Carnaval)

    e pretendia garantir que os vendedores ambulantes licenciados pela autarquia pudessem

    tambm responder ao inqurito. Dos 44 vendedores ambulantes licenciado, responderam ao

    inqurito 22, embora apenas 14 se tenham identificado como vendedores ambulantes.

    Adicionalmente, o Gabinete de Apoio s Empresas visitou um conjunto de empresas, solicitando

    o preenchimento do respetivo questionrio. E, por esta via, presencialmente, foram

    acrescentados amostra 29 questionrios vlidos.

    No total, a amostra de empresrios inclui 168 empresas.

    Quadro 7: Perfil dos inquiridos (empresas)

    Atributos Descrio Estatsticas

    Gnero do respondente Feminino 51,5%Masculino 48,5%

    Nveis de habilitaes Bsico 26,9%Secundrio 49,7%Superior 23,4%

    Cargo do respondente Funcionrio (a) 18,8%

    Diretor (a) 2,5%Gerente 57,5%Empresrio 21,3%

    Localizao das empresas So Pedro de Santiago 31,5%Permetro do Corso 31,0%Santa Maria e So Miguel 8,3%Ramalhal 4,2%A dos Cunhados 3,6%Ponte do Rol 3,0%Silveira 3,0%Outras localidades 15,4%

    reas de negcio e dimenso

    Relativamente rea de negcios, as 168 empresas que constituem a amostra esto

    distribudas do seguinte modo negcio: produtos alimentares (15 empresas); venda ambulante

    (14); lojas de moda (13); restaurantes (13); cafs e pastelarias (13); publicidade e artes grficas

    (11); papelarias (8); bares (6); retrosarias (5); costureiras (5); empresas tursticas (4); fotgrafos

    (3); unidades de alojamento (2); esteticistas (2). Uma parte significativa da amostra (52

  • 7/25/2019 P146-13

    28/35

    28

    empresas) inclui-se na categoria outras atividades. A anlise a esta ltima opo, revela uma

    distribuio muito diversificada de opes especficas: no total 42 opes diferentes.

    Note-se que houve intencionalidade no momento em que se procedeu recolha de dados: os

    organizadores do evento sabem por experincia que so as empresas includas nas

    suprarreferidas reas de negcio so as que tm um maior pertinncia do ponto de vista dos

    negcios que ocorrem antes e durante o Carnaval.

    Quanto dimenso das empresas includas na amostra, a maioria dos empresrios incluiu as

    suas empresas nas categorias de microempresa (46%) ou pequena empresa (26.4%).

    Impacto econmico do Carnaval de Torres Vedras

    Antes de procedermos quantificao do impacto econmico do Carnaval de Torres Vedras,

    tendo por base o inqurito presente amostra de 168 representantes de empresas, convir

    determinar a relao entre as empresas includas na amostra e o universo total de empresas do

    concelho, tendo em conta as diversas reas de negcio consideradas pertinentes para o evento

    em apreo.

    O Quadro 8 coloca em comparao, para cada reas de negcio, o nmero de empresas

    referenciadas na amostra e o universo total de empresas (dados fornecidos pelo Gabinete de

    Apoio s Empresas de Torres Vedras).

    Com vista extrapolao para o universo de empresas do impacto econmico identificado na

    amostra, so apresentados dois coeficientes de proporcionalidade. O primeiro coeficiente uma

    proporo aritmtica; o segundo, limita o valor do coeficiente de proporcionalidade a um valor

    limite. Este valor limite o valor do coeficiente mximo obtido para as reas de negcio

    consideradas mais pertinentes do ponto de vista do evento. Neste caso, para efeitos de

    extrapolao do impacto econmico definiu-se como limite de proporcionalidade o valor de 7.5

    (correspondente ao coeficiente identificado para a restaurao).

    O Quadro 5 compara o total de funcionrios, referncias para o universo de empresas de TorresVedras com o total de funcionrios referidos na amostra, e tambm estabelece a respectiva

    proporcionalidade.

    Foi tambm definido como valor limite de proporcionalidade um valor identificado no valor da

    restaurao. Assim, em vez de coeficientes de proporcionalidade elevadssimos, como os que se

    observam nos casos da esttica (93.3), das unidades de alojamento (48.0) e outras atividades

    (390.6), ser considerado o coeficiente de 5.0.

  • 7/25/2019 P146-13

    29/35

    29

    Quadro 8: Relao entre universo total de empresas e nmero de empresas da amostra

    Deste modo, eventuais erros nas extrapolaes do impacto econmico sero sempre por defeito,

    e nunca por excesso.

    Com vista ao clculo do impacto econmico do carnaval de Torres Vedras, tendo por base os

    dados fornecidos pelas empresas, iremos utilizar os seguintes indicadores:

    Valor mdio de impacto do Carnaval no volume de negcios das empresas, reportado no

    inqurito pelos empresrios: 31%

    Valor de receita anual reportado no inqurito aos empresrios, corrigido nos casos em

    que o rcio faturao/funcionrios se mostrou inferior a um valor minimamente credvel;

    Perodo de incidncia do impacto do Carnaval: assumimos tratar-se de uma semana,

    isto 1/52 do valor da receita (embora em muitos casos o impacto econmico tenha sido

    mais prolongado e no tenha ocorrido necessariamente na semana do Carnaval);

    Aplicao do coeficiente de proporcionalidade corrigido com vista extrapolao dos dados da

    amostra para o universo.

    N deempresas(amostra)

    N deempresas(universo)

    Coeficiente deproporcionalidade

    1

    Coeficiente deproporcionalidade

    2

    Cafs / Pastelaria 13 80 6,2 6,2Restaurantes 13 98 7,5 7,5Atividades tursticas 4 11 2,8 2,8Costureiras 5 7 1,4 1,4Esttica 2 80 40,0 7,5Moda + Retrosaria 18 114 6,3 6,3Produtos alimentares 17 298 17,5 7,5Fotgrafos 3 7 2,3 2,3Unidades de alojamento 2 17 8,5 7,5Bares 6 21 3,5 3,5Papelarias 8 21 2,6 2,6Publicidade / Artes Grficas 11 51 4,6 4,6

    Venda ambulante 14 44 3,1 3,1Outras atividades 52 1599 30,8 7,5Total 168 2448 14,6 5,1

  • 7/25/2019 P146-13

    30/35

    30

    Quadro 9: Relao total de funcionrios das empresas de Torres Vedras e nmero

    de funcionrios das empresas representadas na amostra

    luz dos referidos pressupostos, adotaremos a seguinte frmula de clculo:

    O valor 1,31 corresponde ao valor de uma semana de faturao normal acrescido da

    percentagem de acrscimo referida pelas empresas. Os valores da receita gerada pelo Carnaval

    so apresentados para cada rea de negcio no Quadro 10.

    A segunda coluna apresenta os totais relativos s empresas constantes na amostra do presenteinqurito, e as colunas a amarelo correspondem aos valores do impacto global obtidos com base

    na aplicao dos coeficientes de proporcionalidade corrigidos.

    N defuncionrios

    da amostra

    Total defuncionrios

    (universo)

    Coeficiente deproporcionalidade

    1

    Coeficiente deproporcionalidade

    2Cafs / Pastelaria 113 437 3,9 3,9Restaurantes 130 649 5,0 5,0Atividades tursticas 10 37 3,7 3,7Costureiras 6 14 2,3 2,3Esttica 2 187 93,3 5,0Moda + Retrosaria 45 629 14,0 5,0Produtos alimentares 270 3.248 12,0 5,0Fotgrafos 12 14 1,2 1,2Unidades de alojamento 4 199 48,0 5,0Bares 29 42 1,4 1,4

    Papelarias 21 97 4,6 4,6Publicidade/Artes Grficas 61 303 5,0 5,0Venda ambulante 51 132 2,6 2,6Outras atividades 49 19.140 390,6 5,0Total 803 25.128 42,0 3,9

    Receita gerada pelo Carnaval

    em cada empresa 52 semanas

    Receita anual x 1,31

    =

  • 7/25/2019 P146-13

    31/35

  • 7/25/2019 P146-13

    32/35

    32

    CONCLUSO

    O sucesso de um evento popular radica necessariamente na sua profunda ligao ao passado,

    mas tambm na sua capacidade de adaptao s vicissitudes da histria e s exigncias da

    modernidade.O tradicional carnaval de Torres Vedras transformou-se. As razes de outrora permanecem com

    as figuras tpicas e manifestaes de criatividade que no se afastam da crtica poltica e que

    envolvem os torrienses e milhares de outros indivduos que tem contribudo para a criao de um

    pblico-alvo especial que no escolhe sexos, idades e classes sociais.

    Este novo Carnaval fez tambm com que algumas das tradies se tenham extinguido. Por

    exemplo, os famosos assaltos que proporcionaram estrias e peripcias memorveis existem

    hoje em dia com muito pouca frequncia. Os bailes realizados nas coletividades deixaramtambm de existir, embora permaneam ainda em funcionamento associativo: a Tuna, o Grmio

    e a Fsica.

    Alm disso, as necessidades que a organizao contempla na atualidade exigem especiais

    cuidados com questes de segurana, que nos ltimos anos tem sido reforada.

    As sucessivas transformaes do Carnaval de Torres Vedras, ao longo dos ltimos dois sculos

    constituem, um claro testemunho de que a tradio e a inovao tm interagido e conspirado

    (cada uma a seu modo, e por vezes em conjugao e cumplicidade), para conferirem a este

    evento um cunho singular e uma identidade coletiva que valoriza a autenticidade e, ao mesmo

    tempo, para o dotar dos instrumentos de gesto adequados para responder aos mltiplos

    desafios que necessariamente se colocam aos seus organizadores, medida que o evento vai

    crescendo, tanto em dimenso e como em repercusso social, econmica e poltica.

    De modo a conseguir oferecer animao a um pblico mais numeroso, a Promotorres

    descentralizou o carnaval pela cidade. Embora o centro histrico continue a ser o mais

    frequentado, existem novas zonas de animao como, por exemplo, o Mercado Municipal.

    O futuro do carnaval parece assegurado com o fulgor que o pblico mais jovem apresenta,

    nomeadamente aquando do Corso Escolar. Sero raros os homens de amanh torrienses que

    no se tornaro folies, ou mais propriamente matrafonas. Os grupos so permanentemente

    renovados, numa tradio que muitas vezes passa de pais para filhos.

    A Confraria do Carnaval apresenta-se como defensora das tradies e os nobres Fidalgos que

    no abandonam Suas Altezas Serenssimas durante o seu Reinado so instituies que

    zelaro para que no futuro todas as estrias sejam contadas (as que se podero contar). O

  • 7/25/2019 P146-13

    33/35

    33

    Enterro do Entrudo tem sido uma das tradies mantidas e com potencialidades para se tornar

    num evento de grande relevncia dentro do Carnaval.

    O presente estudo permitiu evidenciar que o Carnaval de Torres Vedras tem um impacto

    econmico direto (gastos efetuados durante o evento pelo pblico e pelos figurantes) na

    economia local de Torres Vedras muito superior ao que os seus organizadores conjeturavam. E

    se a esse impacto econmico direto, que o presente estudo revela rondar o 9 milhes de euros,

    associarmos o impacto meditico quantificado pela Cision em cerca de 5 milhes, concluiremos

    que o Carnaval de Torres Vedras claramente um bom investimento para o concelho.

    Todavia, um levantamento exaustivo dos impactos deste evento dever incluir no apenas os

    impactos econmicos directos, mas tambm outros impactos indiretos e os efeitos

    multiplicadores que eles engendram, mas que escapam ao presente estudo.

    Adicionalmente, convm ter em considerao o vasto acervo de impactos e benefcios sociais e

    culturais do carnaval de Torres, atendendo sua capacidade de fundir a comunidade torriense

    num projeto comum, secundarizando por momentos os mltiplos fatores de diferenciao social.

    Com efeito, dado o seu carcter de ritual cclico e regenerador das energias espirituais, e a sua

    fora de mobilizao social, o Carnaval de Torres Vedras assume-se muito provavelmente como

    o principal fator de coeso social de toda a comunidade torriense, suscitando a criatividade das

    novas geraes de figurantes e artistas.

    Embora a aferio destes benefcios sociais e culturais escapem naturalmente anlise

    emprica empreendida no presente estudo, tais fenmenos so imanentes e no so totalmente

    ignorados ao longo neste documento. Considere-se, a ttulo de exemplo, o carcter massivo da

    participao dos torrienses no evento, bem como o tempo que dedicam preparao dos seus

    adereos, e ento concluiremos que o Carnaval no se limita a tudo aquilo que acontece numa

    semana, entre 6-feira e 4-feira de cinzas, sendo na realidade um dos principais eixos de

    mobilizao da comunidade durante vrios meses.

    De resto, o presente estudo mostra ainda que o Carnaval de Torres Vedras tem muita margemde progresso do ponto de vista do Marketing de cidade, podendo futuramente atrair um maior

    nmero de visitantes de outras regies do pas, e inclusivamente constituir-se como um evento

    com repercusso internacional.

    O valor estratgico do carnaval transformou-se na imagem mais relevante do concelho, com um

    impacto proeminente na economia local. Deste ponto de vista, o planeamento estratgico

    assume um papel fundamental na observao do ciclo de vida do Produto Carnaval de Torres

    Vedras. E ser necessrio pensar qual o caminho a seguir: Poder-se- alargar muito mais o Carnaval de Torres Vedras sem o descaracterizar?

  • 7/25/2019 P146-13

    34/35

  • 7/25/2019 P146-13

    35/35

    Pedro, F.; Caetano, J.; Cristiani, K.; Rasqulha, L. (2005). Gesto de Eventos, Lisboa:

    Quimer.

    Ralha, J. (2006). Carnaval de Torres: um relatrio de processo. In Histria das Festas

    (pp.305-314). Camara Municipal de Torres Vedras, Universidade de lisboa: Edies Colibri

    Raposo, P. Imagens do Carnaval de Torres Vedras: Processos de Objectivao da

    Cultura. in Turres Veteras III Actas da Histria Contempornea (pp. 201-208). Torres Vedras:

    Cmara Municipal de Torres Vedras, Setor da Cultura, Instituto de Estudos Regionais e

    Municipalismo Alexandre Herculano.

    Reis, C. (2001). O Carnaval de Torres Vedras nos primeiros quarenta anos do sculo XX.

    in Turres Veteras III Actas da Histria Contempornea (pp. 185-197). Torres Vedras: Cmara

    Municipal de Torres Vedras, Setor da Cultura, Instituto de Estudos Regionais e Municipalismo

    Alexandre Herculano.

    Watt, D. C. (2004). Gesto de Eventos em Lazer e Turismo. Porto Alegre: Bookman.


Recommended