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PANORAMA DO DESIGN DE SERVIÇOS PARA O SETOR PÚBLICO...

Date post: 19-Apr-2020
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1 Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation. Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015. PANORAMA DO DESIGN DE SERVIÇOS PARA O SETOR PÚBLICO AN OVERVIEW OF SERVICE DESIGN FOR THE PUBLIC SECTOR Camila B.G. Neto PPGDESIGN/CEART/UDESC Florianópolis, SC, Brasil [email protected] Flávio A. Santos PPGDESIGN/CEART/UDESC Florianópolis, SC, Brasil [email protected] Susana C. Domenech PPGDESIGN/CEART/UDESC Florianópolis, SC, Brasil [email protected] RESUMO Este trabalho apresenta um panorama sobre o design de serviços para o setor público, a partir da atuação do designer em projetos de serviços, demonstrando a consolidação do design de serviços como área de conhecimento científico, analisando referências bibliográficas clássicas, contemporâneas e entidades que divulgam o tema. Apresenta intersecções do design com o setor público, comparando indicativos de possibilidade de atuação e exemplos práticos, nacionais e internacionais, que incentivam a discussão sobre o papel do design no desenvolvimento de serviços para o setor público. Por fim, apresenta um experimento em andamento de design de serviços para o setor público, desenvolvido em um centro de saúde da Prefeitura Municipal de Florianópolis/SC. ABSTRACT This study presents an overview of service design for the public sector, from the designer performance in service projects, demonstrating the consolidation of service design as a scientific field of knowledge, analyzing classical references, contemporary and entities that disclose the theme. It presents design intersections with the public sector, compared indicative of possibility of action and practical, national and international examples, which encourage discussion about the role of design in the development of services for the public sector. Finally, it presents an experiment in progress about service design for the public sector, developed in a health center of the City of Florianópolis / SC. PALAVRAS CHAVES: design de serviços, setor público; saúde pública; service design, public sector, public health. DESIGN DE SERVIÇOS Como início do traçado de um panorama do design de serviços para o setor público buscou-se resgatar momentos em que autores do design industrial, como Löbach, Burdek e Heskett, trataram a atuação do designer em projetos fora do âmbito do projeto de produto clássico, com resultado em um artefato físico industrial[1-2-3]. Em seu livro, Design Industrial: Bases para a configuração de produtos industriais, Bernd Löbach fala sobre formação e principais áreas de atuação dos designers, onde a distinção de campos de atividade dependentes de empresários industriais e independentes. Sobre tais áreas independentes, grifa que só mais tarde a demanda por designers nestes campos foi reconhecida, tendo sido pouco levada em conta. Ele cita atividades como crítico em design; o designer industrial como expert em planejamento
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1 Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.

Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.

PANORAMA DO DESIGN DE SERVIÇOS PARA O SETOR PÚBLICO AN OVERVIEW OF SERVICE DESIGN FOR THE PUBLIC SECTOR

Camila B.G. Neto PPGDESIGN/CEART/UDESC

Florianópolis, SC, Brasil

[email protected]

Flávio A. Santos PPGDESIGN/CEART/UDESC

Florianópolis, SC, Brasil

[email protected]

Susana C. Domenech PPGDESIGN/CEART/UDESC

Florianópolis, SC, Brasil

[email protected]

RESUMO

Este trabalho apresenta um panorama sobre o

design de serviços para o setor público, a partir

da atuação do designer em projetos de serviços,

demonstrando a consolidação do design de

serviços como área de conhecimento científico,

analisando referências bibliográficas clássicas,

contemporâneas e entidades que divulgam o

tema. Apresenta intersecções do design com o

setor público, comparando indicativos de

possibilidade de atuação e exemplos práticos,

nacionais e internacionais, que incentivam a

discussão sobre o papel do design no

desenvolvimento de serviços para o setor público.

Por fim, apresenta um experimento em

andamento de design de serviços para o setor

público, desenvolvido em um centro de saúde da

Prefeitura Municipal de Florianópolis/SC.

ABSTRACT

This study presents an overview of service

design for the public sector, from the designer

performance in service projects, demonstrating

the consolidation of service design as a scientific

field of knowledge, analyzing classical references,

contemporary and entities that disclose the

theme. It presents design intersections with the

public sector, compared indicative of possibility of

action and practical, national and international

examples, which encourage discussion about the

role of design in the development of services for

the public sector. Finally, it presents an

experiment in progress about service design for

the public sector, developed in a health center of

the City of Florianópolis / SC.

PALAVRAS CHAVES: design de serviços, setor

público; saúde pública; service design, public

sector, public health.

DESIGN DE SERVIÇOS

Como início do traçado de um panorama do

design de serviços para o setor público buscou-se

resgatar momentos em que autores do design

industrial, como Löbach, Burdek e Heskett,

trataram a atuação do designer em projetos fora

do âmbito do projeto de produto clássico, com

resultado em um artefato físico industrial[1-2-3].

Em seu livro, Design Industrial: Bases para a

configuração de produtos industriais, Bernd

Löbach fala sobre formação e principais áreas de

atuação dos designers, onde a distinção de

campos de atividade dependentes de empresários

industriais e independentes. Sobre tais áreas

independentes, grifa que só mais tarde a

demanda por designers nestes campos foi

reconhecida, tendo sido pouco levada em conta.

Ele cita atividades como crítico em design; o

designer industrial como expert em planejamento

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Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.

e configuração do entorno; teórico do design e

pedagogo do design.

O téorico do design, se ocuparia da posição e

importância do design na sociedade. Sem

interesse no aperfeiçoamento técnico ferramental

do design mais sim na “reflexão sobre as

possíveis variações no design, a este profissional

interessam as condições existentes, a partir das

quais se podem explicar as atividades do design.

Em primeiro lugar lhe interessam os objetivos do

design, na criação de valores desejados.” [1].

Traz o exemplo de empresas que contratam

consultores em design mesmo tendo profissionais

próprios ou departamentos de design internos. O

consultor pode dar suporte aos designers locais

assim como “cumprir uma atividade pedagógica

ante a direção superior” [1]. Observa-se uma

tendência corriqueira na atuação do designer, de

certa atividade pedagógica, ou seja, um esforço

para explicar e educar, em esclarecer sua própria

prática profissional, alguma necessidade de

justificar sua competência e relevância para o

trabalho em questão.

Bürdek cita que o reconhecimento da

atividade do designer dentro de empresas e

organizações ganha importância quando vai além

do entendimento “apenas do projeto de produtos

isolados, e sim como sistemas de produtos,

hardware, software e design de serviços” [2].

Löbach reafirma a tendência em fugir do

produto como objeto principal de interesse do

design, trazendo a ideia do problema social como

ponto de partida, afirmando que o designer

“coloca o problema dos usuários no centro das

atenções do projeto.” [1]. Abre-se oportunidade

para projetos que não resultem em artefatos

industriais.

Apesar de algumas bibliografias clássicas

citarem a possibilidade de atuação profissional do

designer em serviços e sistemas de

planejamento, poucas são as demonstrações de

exemplos, análises metodológicas ou estruturais

do projeto de serviços ou sistemas. Encontram-se

exemplos pontuais sobre o projeto de sistemas

no livro El diseño em la vida cotidiana, de John

Heskett. Ele cita a necessidade de uma interação

harmoniosa e ordenada entre as partes para

garantir a eficiência de um sistema. “Isto

significa dispor de qualidades de pensamento

sistemático, que dependem de procedimentos

metódicos, lógicos e determinados” [3]. O uso de

procedimentos metodológicos para a solução de

problemas é o preceito defendido por Baxter [4]

em seu manual de projeto de produto.

Há registro do termo design de serviços desde

1990, quando Zeithaml et al. o define como “todo

o processo entre a ideia e a especificação do

serviço”. Mager coloca como diferencial do

designer ao desenvolver serviços a abordagem da

forma e funcionalidade a partir da perspectiva

dos clientes. Manhães [5], que compilou as

referências anteriores, resume que “Design de

Serviço é a aplicação sistemática das

metodologias e princípios do Design ao processo

de desenvolvimento de novos serviços.”

Hinnig [6], relaciona gestão do design e

design de serviços ao apresentar estudo de caso

sobre projeto de design de serviços para setor

público em uma cidade inglesa, e esclarece que

houve certa alienação da comunidade científica

do design, que não valorizou a pesquisa e

atuação de designers em projetos de serviços,

enquanto áreas como administração e marketing

consolidavam internacionalmente o assunto como

campo científico. Hoje, justamente esta raiz é

utilizada como argumento contrário ao design de

serviços, onde o restringem a subproduto da

cultura gerencial propagada por segmentos da

administração e marketing. [7]

Observa-se forte tendência internacional de

discussão sobre projetos de serviços. Em

levantamento quantitativo realizado através da

base de dados de periódicos da CAPES1, a

pesquisa sem filtros pelo termo “design de

serviços” encontra 1.708 itens. O termo “service

design”, 163.163. Com os termos “service

design” AND “public sector”, 1.193.

1 Disponível em http://www.periodicos.capes.gov.br/, com acesso permitido por vínculo institucional café/UDESC em 04/05/2015.

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3 Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.

Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.

Em 2008, a Universidade de Cambridge, no

Reino Unido, publicou um informativo de

recomendações sobre inovação em serviços,

“uma perspectiva de serviço para educação,

pesquisa, negócios e governo.” [8], onde referem

a importância de que as discussões sobre

inovação em serviços estejam presentes tanto no

campo de negócios e governo quanto em

pesquisas acadêmicas, visando um melhor

entendimento sobre sistemas de serviço.

Uma vez que os campos de conhecimento

relacionados permanecem afastados, sem refletir

a realidade das atividades atuais, é proposto,

com a publicação, divulgação de uma área

própria, SSME, Service Science, Management and

Engineering, ou apenas Service Science, que

buscaria “estabelecer uma linguagem

comum e compartilhar modelos para inovação em serviços, e para este fim, um apoio interdisciplinar seria adotado para pesquisa e ensino em sistemas de

serviços. [8].

O programa lembra que a pesquisa em

serviços não é novidade, porém observa que a

convergência, principalmente de tecnologias, mas

também de diferentes atores e requisitos,

demandam abordagens voltadas a características

específicas de sistemas de serviços, e podem ser

beneficiadas com o uso de uma linguagem

comum de referência para atuação. Ou seja,

defende a necessidade de consolidação do design

de serviços como área de conhecimento com

relevância científica.

Um parâmetro para avaliar a pregnância do

termo design de serviços como área de

conhecimento acadêmico pode ser observado no

levantamento realizado em 2008, na Austrália

[9], sobre universidades que exploram,

pesquisam ou ensinam sobre Design de Serviços,

elencando 18 instituições de 8 países: 5 no Reino

Unido (Northumbria University; Birmingham City

University; Imagination Lancaster; Kingston

University; Saïd Business School, Oxford

University), 4 dos Estados Unidos (Carnegie

Mellon University; Rhode Island School of Design;

Illinois Institute of Design; IIT Institute of Design

in Chicago), na Alemanha, Koln International

School of Design, Koln University; na Itália,

Polytechnico di Milano e Domus Academy;

Finlândia, Laurea University of Applied Sciences e

Kuopio Academy of Design, Savonia University of

Applied Sciences; Suécia, Linköping University;

Dinamarca, Copenhagen Institute of Interaction

Design & The Danish Design School e Aalborg

University, School of Architecture and Design e

University of Technology, Sydney, Australia.

Outras organizações divulgam o design de

serviços, como o Service Design Network, SDN,

um portal de informações que visa aprofundar e

divulgar pesquisas, práticas e profissionais. [10]

Com representantes em diversos países, possui

associados, uma revista para publicações

especializadas, chamada Touchpoint – The

Journal of Service Design, e promove eventos

como o Service Design Global Conference, o

último realizado em outubro de 2014 em

Estocolmo. No Brasil, é representado pela Rede

de Design de Serviços do Brasil, SDN Brazil, com

sede em São Paulo.

No Brasil, o grupo de pesquisa DESIS -

Design de Serviços e Inovação Social, ligado ao

Programa de Engenharia de Produção,

COPPE/UFRJ [11], pesquisa exemplos de

inovações sociais baseadas em serviços

colaborativos e ligada ao DESIS Network, Design

for Social Innovation na Sustainability[12].

Ligado ao mesmo projeto, em Florianópolis/SC, o

NAS DESIGN – Núcleo de Abordagem Sistêmica

do Design, laboratório de pesquisa da UFSC,

desde 2006 trabalha com projetos comunitário,

inclusive em design de serviços. A cidade de

Curitiba/PR sediou em novembro de 2014 o

Festival de Design SEMANA O DESIGN

TRANSFORMA, onde Clarissa Biolchini falou sobre

Design de Serviços[13].

Na Conferência Internacional de Torino, em

2008, Ezio Manzini fala sobre design orientado

para serviço, ressaltando a necessidade de que

atores da sociedade se interessem pelas

propostas do design para que essas sejam

efetivas:

“o design tem se tornado amplamente

conhecido como ferramenta estratégica de suporte ao desenvolvimento de melhores

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Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.

serviços para as comunidades e indivíduos, incluindo melhores sistemas de saúde e melhores cidades. (...) mas, como o setor público e o privado podem ser persuadidos a se engajarem com o design? [14]

DESIGN PARA O SETOR PÚBLICO

Ao citar o designer como expert em

planejamento e configuração do entorno, Löbach

apresenta a possibilidade de atuação do

profissional de design na área de planejamento

municipal, campo definido por Meurer e Selle [1]

para “estruturar o entorno com um processo de

planejamento integrado com o poder público”

Uma das tarefas seria influenciar a prática de

projetos de interesse público, para a qual o

designer industrial estaria em colaboração com o

público e com outros interessados no

planejamento, “projetando produtos que

atendam às necessidades da comunidade.”

Como, por exemplo, atuando integrado a equipes

maiores para projetos complexos, como

planejamento de sistemas de transportes.

O autor, porém, adverte que “dependerá da

organização do ensino e do interesse dos

estudantes, se os designers industriais no futuro

serão mais ativos nesta área de atuação.” De

fato, 14 anos depois da publicação deste livro,

pouco se mostra sobre a atuação de designers na

gestão pública, o que pode decorrer do não

reconhecimento da relevância da atividade do

designer para áreas de planejamento

governamental.

Schneider comenta sobre o conceito inglês

de governamental design (design governamental)

e, nos países de língua alemã, staatsdesign

(design estatal). Refere, citando Pellin e Ryter,

que a diferença do estado como prestador de

serviços está na capacidade de suas ações

“participarem de forma decisiva do processo de

identidade coletiva.” [15]

Algumas ações de design observadas na

esfera pública estão relacionadas à identidade

visual governamental, desenvolvimento de

sistemas e plataformas virtuais, websites. São

áreas em que o papel do designer mostra-se

consolidado, suas atribuições são reconhecidas.

Alexandre Wollner, em entrevista, comenta os

grandes projetos estatais desenvolvidos por

Aloízio Magalhães, como Furnas e Petrobrás,

pelos quais era contratado diretamente pelo

governo por notório saber. [16]

No Brasil, alguns órgãos públicos mantêm em

seu quadro funcional designers contratados

através de concurso público, por exemplo, a

Fundação CEPERJ, no Rio de Janeiro, em 2013

abriu vagas públicas para Designer Instrucional,

Web Designer, Ilustrador e Designer Gráfico[17];

a PROCEMPA, Companhia de Processamento de

Dados do Município de Porto Alegre, em 2012,

abriu vaga para designer gráfico. Em 2011, o

Ministério Público do Estado de Santa Catarina

ofereceu 2 vagas para designer, sem exigir

habilitação específica. A Casa da Moeda também

possui vagas de designer, entre outros,

basicamente ligados à programação visual.

Em pesquisa realizada através da ferramenta

de busca do Portal Brasil, site do Governo

Federal, www.brasil.gov.br, com o termo “design”,

em 18/11/2014, oferece 394 itens. Os três

primeiros itens são: “Inscrições para iF

Concept Design Award 2012 foram prorrogadas

até o dia 13 de dezembro”; “Ministério e Apex

lançam diagnóstico do design brasileiro publicado

em 16/06/2014” e “Empresários do design vão

aos EUA conhecer tendências do setor, publicado

em 08/09/2011.” Todos os itens encontrados são

notícias relacionadas ao design, nenhum link

indicando alguma ação ou núcleo de design do

próprio governo.

Os resultados não obedecem ordem

cronológica, observa-se o primeiro e o terceiro

item de 2011, e o segundo publicado em junho

de 2014, sobre o lançamento do diagnóstico do

design brasileiro, iniciativa do MDIC, Ministério do

Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e

da APEX, Agência de Promoção de Exportações e

Investimentos, com objetivo de “criar uma

referência em design para o desenvolvimento da

indústria e fornecer subsídios para a elaboração

de uma política pública de design no país.”[18] O

documento foi apresentado para setores da

indústria brasileira. Burdëk já havia citado o

Programa Brasileiro de Design, “estabelecido em

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5 Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.

Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.

1995, para incentivar a conscientização da

economia quanto ao design.”[2], em esforço do

CNPQ, que contratou o designer Gui Bonsiepe

para o projeto.

O uso do design com ferramenta para o

fomento da indústria a fim de aumentar sua

competitividade é um campo de incentivo

governamental. Heskett cita a relação entre

governo e design como forma de impulsionar a

economia, e alerta para o distanciamento dessas

ações da formação profissional:

“Na maioria dos países há oferta educativa

em design sob a responsabilidade do governo, mas não há indícios de propostas que modelem a formação em design em formas significativamente novas para forjar vantagens futuras.” [3]

Sobre a perspectiva governamental, o

documento sobre Inovação em Serviços de IfM

and IBM expõe a necessidade de que políticas

públicas promovam e invistam educacionalmente

em inovação de serviços, demostrem valorizar a

aplicação interna destes conceitos, através de

monitoramentos e, principalmente, “façam

sistemas públicos de serviços mais

compreensivos e responsáveis.” [8]. O

informativo sugere algumas recomendações para

governos: Table 1 - Recomendações para o Governo. (elaboração própria -

traduzido de IfM and IBM, 2008,p.14)

5.4 – RECOMENDAÇÕES PARA O GOVERNO (Cambridge Service Science, Management and Engineering – SSME)

1) Promover inovação em serviço para todas as partes da economia e prover fundos para educação e pesquisa em SSME.

2) Demonstrar o valor da Ciência do Serviço para agências governamentais, e assim criar métodos, dados e ferramentas para informar e alterar políticas de ensino e pesquisa.

3) Desenvolver medidas relevantes e dados confiáveis de conhecimentos em atividades de serviço para os diversos setores.

4) Tornar os serviços governamentais mais compreensíveis e focados no cidadão.

5) Encorajar audiências públicas, oficinas e encontros para desenvolver roadmaps de inovação em serviço.

A necessidade de melhorias em serviços

públicos aparece em discussões no campo do

design. Na coluna Opinion, de 29 de outubro de

2014, o London Design Council publica o artigo

“Projetando serviços públicos que funcionam para

todos nós”, de Barry Quirky [19], onde conta a

experiência de uma reunião com 160

representantes governamentais sobre a

importância estratégia que o design tem a

oferecer na reavaliação e projeto de serviços

públicos focados no usuário. O encontro foi

promovido pelo Design Commission, comissão do

Reino Unido que conduz as políticas relacionadas

ou que podem ser beneficiadas pelo design. Foi

publicado, pelo mesmo grupo, em julho de 2014,

um termo intitulado Pesquisa em design e

políticas públicas [20], onde afirmam a

importância da pesquisa em design para a

construção de políticas públicas e incentivam as

instituições de ensino a trabalhar com questões

governamentais, além de trazer artigos com

estudos de caso.

Ainda no London Design Council, em 24 de

fevereiro de 2014, Melani Oliver publica o

anúncio de um programa educacional para ajudar

profissionais do serviço público através de

workshops sobre design, a “encontrar práticas,

efetivas e rápidas soluções para seus desafios do

dia a dia.”[21]

O Danish Design Centre, Centro dinamarquês

de design, contribui para esta discussão com o

documento Design for Public Good, pesquisa em

boas práticas e inovação em design para o setor

público, desenvolvido em parceria com o Design

Council (UK), Design Wales (UK) and Aalto

University (FI).[22] É apresentada uma

ferramenta de análise em 3 passos, onde o

primeiro abordaria as pequenas ações, o segundo

as capacidades do design e o terceiro passo com

o desenvolvimento de políticas públicas. O

documento mostra cases para cada um, com

exemplos de design de serviços.

O atual diretor do Danish Design Centre,

Christian Bason, considera um dos dilemas atuais

do design o interesse em ações ligadas aos

serviços sociais e governamentais, mesmo que

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6 Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.

Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.

isso implique em menor retorno financeiro, além

das possibilidades de atuação do designer além

do projeto gráfico e de produto.2 [23]

Christian Bason integra, ainda, o The GovLab

[24], iniciativa criada em 2012 na New York

University, EUA, como centro de pesquisa e ação

para propor soluções inovadoras para problemas

públicos utilizando avanços em tecnologia e

ciência.

O SEE – Sharing Experience Europe – Policy

Innovation Design, publica em 2013, documento

divulgando o design de serviços para setores

privados e públicos, [25] com comparativos entre

os benefícios do design de serviços em

comparação às outras estratégias de

planejamento de serviços e indicando

ferramentas especificas para cada abordagem

possível.

Condensando os diversos esforços em

divulgar o valor do design como ferramenta de

desenvolvimento para cidades e governos, o

ICSID, International Council of Societies of

Industrial Design, promove o WORLD DESIGN

CAPITAL 2018 [26], que pretende premiar

cidades que mostrem o impacto do design em

seu desenvolvimento3. Cabe ressaltar a

antecedência de pelo menos 4 anos em que a

premiação é divulgada, funcionando como

incentivadora de planejamento dos municípios.

Hinnig levanta questões sobre modos de

desenvolver serviços públicos de qualidade. Uma

das iniciativas indica o designer como mediador

em atividades colaborativas entre diversos atores

envolvidos no serviço, onde “passa a atuar

estimulando, facilitando e direcionando o

desenvolvimento de ideias” [6].

A PRÁTICA DO DESIGN DE SERVIÇOS

As rotinas do design de serviços são

elencadas por Manhães [5], que reitera a

flexibilidade e a possibilidade não-linear do

processo. As etapas, apresentada por ele através

2 3.

de autores diversos, possuem similaridades que

podem ser resumidas como: observação do

cenário, de artefatos e experiência dos usuários;

levantamento de requisitos de projeto;

levantamento e escolha de estratégias, definição

de ações e suporte, comunicação e projeções de

cenários futuros, implementação e concretização.

Outros critérios importantes ao projeto de

design de serviços são a formação de equipes de

trabalho multidisciplinares, de preferência com

atores inseridos diretamente no serviço em

questão. A conferência sobre design de serviços

realizada na Suécia em 2012, ServDes2012 [29],

teve como tema a co-criação em design de

serviços e inovação. A conferência reafirma a

importância da co-criação em diversas

configurações de projeto de serviços: o designer

pode ser integrante da empresa/ organização e

fazer parte da equipe, uma consultoria externa

em design pode trazer pessoas do serviço para

fazer parte do desenvolvimento, o usuário final

pode ser solicitado a opinar ou intervir

diretamente no projeto. O fundamental é a

compreensão de que o design de serviços deve

ser um processo aberto, tanto no

desenvolvimento, como na capacidade de

permitir que alterações futuras possam ser

realizadas após a implementação inicial.

Um arsenal de ferramentas são comumente

utilizadas em projetos de design de serviços.

Moritz [30] apresenta em sua dissertação 90

delas. O site SERVICEDESIGNTOOLS [31]

apresenta dezenas de ferramentas, dividas em

acordo com o tipo de atividade de design (co-

design, ideação, teste e prototipagem,

implementação); o tipo de representação

necessária (textos, gráficos, narrativas, games,

modelos); relacionadas as pessoas envolvidas no

serviço (stakeholders, profissionais funcionários,

usuários) e relacionadas ao conteúdo do projeto

(contexto, sistema, oferta, interação). No

workshop Design de Serviços e Fatores Humanos,

realizado em Florianópolis/SC em março de 2015,

Birgit Mager enfatizou que a escolha de

ferramentas depende da intenção e experiência

do designer, podendo elas serem adaptadas a

partir das necessidades do projeto.

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7 Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.

Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.

UM EXPERIMENTO EM ANDAMENTO:

DESIGN DE SERVIÇOS PÚBLICOS NA SAÚDE

PÚBLICA EM FLORIANÓPOLIS

Em 2009 foi iniciado um projeto experimental

em design de serviços para o setor público no

Centro de Saúde Rio Vermelho, uma unidade

básica de saúde, de atenção primária, da

Prefeitura Municipal de Florianópolis, Santa

Catarina. No Brasil, o serviço de saúde pública é

oferecido pelo SUS, o Sistema Único de Saúde

brasileiro, que foi consolidado com a constituição

de 1988. O Governo Federal, através do

Ministério da Saúde, o define da seguinte forma:

“O Sistema Único de Saúde, o SUS, é

formado pelo conjunto de todas as ações e serviços de saúde prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e

municipais, da administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público.” [27]

A principal mudança trazida por esse

modelo foi unificar no Ministério da Saúde as

ações preventivas e as ações curativas. Essas

eram realizadas pelo Ministério da Previdência

Social, ou seja, os serviços médicos curativos só

estavam disponíveis aos contribuintes da

previdência social. A responsabilidade pela saúde

pública brasileira passou a ser responsabilidade

do Ministério da Saúde, com o respaldo dos

estados e dos municípios. E o “princípio da

universalidade, inscrito no artigo 196 da

Constituição, representou a inclusão de todos no

amparo prestado pelo SUS” [27]. Qualquer

pessoa, independente de contribuição

previdenciária, tem o direito de ser atendida nas

unidades públicas de saúde.

O trabalho do SUS está pautado em seus

princípios doutrinários (universalidade, equidade

e integralidade nos serviços e ações de saúde) e

nos princípios operacionais (descentralização dos

serviços, regionalização e hierarquização da rede

e participação social).

“O SUS é o único sistema público gratuito

universal para uma população superior a 100 milhões de pessoas, e além de enormes desafios de logística e financiamento, conta com graves entraves burocráticos e de gestão.” [28]

No editorial da primeira edição da Revista de

Saúde Pública de Florianópolis, o atual Secretário

de Saúde, Carlos Daniel Moutinho Júnior [28]

informa” que “Florianópolis aplica hoje cerca de

20% de seu orçamento em saúde. A rede pública

municipal realiza diariamente mais de 6 mil

atendimentos, nas 62 unidades de saúde. Fazem

parte desses atendimentos diversos tipos de

ações em saúde: vacinação, curativos,

internações, ações com toda a gama de

profissionais da saúde, educadores físicos,

farmacêuticos, consultas médicas, de

enfermagem, odontológicas realizadas através da

iniciativa preventiva da estratégia de saúde da

família, e exames e consultas médicas

especializadas.

Um dos fundamentos da regionalização

entende que o município, por sua proximidade

com a realidade da população, ganha a atribuição

de responsabilizar-se pela gestão do serviço

oferecido. Em Florianópolis, a hierarquia de

gestão dos Centros de Saúde passa pela Gerência

de Atenção Primária e Gerência Regional de

Unidades básicas. Os Distritos Sanitários

Continente, Centro, Leste, Sul e Norte (onde está

localizado o Centro de Saúde Rio Vermelho)

gerenciam as unidades básicas de saúde de sua

região. Alguns processos de trabalho são pré-

definidos, como os sistemas informatizados

utilizados, os equipamentos, o fornecimento de

materiais, as notificações à vigilância

epidemiológica, o cadastramento realizado por

Agentes Comunitários de Saúde. Os processos

internos de gerência das unidades básicas, para

respeitar as especificidades de cada unidade, são

organizados pela coordenação local, onde se

encontra o campo do experimento proposto.

O experimento em design de serviços de

saúde no CSRV (Centro de Saúde Rio Vermelho)

tem a característica de processo interno, ou seja,

o designer é integrante da equipe administrativa

fixa da unidade, diferenciando o projeto dos

realizados por consultorias externas. A principal

questão observada nessa diferença é que as

implementações não foram iniciadas a partir de

um diagnóstico geral, mas começaram com foco

na solução de problemas pontuais do serviço.

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8 Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.

Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.

Com o tempo as pesquisas expandiram as

soluções pontuais e gerou-se o desenvolvimento

de diagnóstico para os sistemas que compõe o

serviço como um todo, trabalho que continua em

andamento. O designer estabelece, neste ponto

o papel sugerido por Moritz [30] de mediador

entre as necessidades da organização e as dos

clientes.

As primeiras intervenções foram focadas no

Setor de Regulação, que gerencia as solicitações

de exames e consultas externos, solicitadas

majoritariamente por médicos da unidade básica

e que serão realizados em outros locais. Pode-se

definir o procedimento básico como: receber a

requisição médica do paciente, marcar através do

SISREG (sistema informatizado disponibilizado

pelo Ministério da Saúde), devolver para que o

paciente realize o procedimento. O produto final

desde fluxo é uma folha impressa, anexada a

requisição médica original, que traz as

informações do prestador e autoriza a execução

do procedimento, informando local, hora e

preparo.

Os entraves observados estavam em aspectos

de organização física e comunicacional dos

materiais utilizados, que foram trabalhados a

partir de sistemas gráficos de catalogação e

organização, identificação e armazenamento.

Algumas ações realizadas:

a) Forma da guia de autorização SISREG:

Necessidade Definição de forma física para entrega

de autorização SISREG

Ano 2009

Requisitos - anexar folha de requisição médica e folha de autorização; - melhorar armazenamento e manuseio

em arquivos manuais -destacar informações principais

AÇÃO Estabelecido forma de envelopamento das folhas mantendo dados principais visíveis;

-treinamento funcionários envolvidos na montagem.

b) Sistema de identificação para arquivo de

requisições: Necessidade Melhorar a identificação do sistema de

arquivo de requisições

Ano 2009

Requisitos -identificar o tipo de requisição de cada pasta;

- facilitar o encontro das requisições; -melhorar o aspecto de organização

AÇÃO - desenvolvimento de sistema de identificação para as pastas, numerando e nomeando a especialidade da requisição, diferenciando retornos;

- identificação dos nichos na estante com o nome e número das pastas por ordem alfabética; - escolha das cores das pastas em

grupos, para favorecer a sensação de organização e facilitar a localização.

c) Manuseio das autorizações que aguardam

contato com paciente:

Necessidade Melhorar a forma de armazenar e

manusear as autorizações que aguardam o contato com o paciente

Ano 2010

Requisitos -armazenar as autorizações prontas antes de -permitir fácil localização; - manter ordenação por data

AÇÃO - definido local identificado para manter as autorizações em forma de arquivo manual, com divisórias por intervalo de tempo.

d) Facilidade para informar o paciente sobre

agendamento:

Necessidade Informar de maneira rápida ao paciente

se o procedimento dele foi autorizado

Ano 2009

Requisitos -sistema de busca facilitado para verificar autorizados; - independência de internet; - Possibilidade de uso em diversos

computadores; - independência de programadores externos.

AÇÃO Baseado na experiência do Centro de Saúde Jurerê, desenvolvido planilha de registro de autorizados no Excell, que permite registro simplificado da autorização e posterior consulta através de compartilhamento em rede do

arquivo. Localiza paciente pelo nome, informando data, tipo e código do procedimento.

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9 Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.

Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.

e) Definição de fluxo para coleta domiciliar de

exames laboratoriais:

Necessidade Estabelecer fluxo para agendamento de

coleta domiciliar de exames

Ano 2012

Requisitos Facilitar agendamento, registro e contado de autorizações de coleta domiciliar

AÇÃO Estabelecida parceria com laboratório

prestador.

Definição de pessoa responsável por função; -Definição de fluxo: equipe entre requisição, é gerada autorização SISREG, é solicitada por email data

coleta, definido ACS para acompanhar, paciente é avisado. Registro em livro. -Disponibilização pelo laboratório de senha para visualizar resultados online.

f) Alerta para informações essenciais na

autorização:

Necessidade Destacar informações essenciais na guia

de autorização de exames laboratoriais

Ano 2011

Requisitos Informar dados essenciais que não constam ou estão mal localizados na autorização

AÇÃO Desenvolvimento de peça gráfica impressa, com informações como local,

data, hora e preparo, para ser anexada à autorização, destacando e alertando para a informação tanto o paciente, quanto o funcionário que entrega o exame, lembrando-o de reforçar tais orientações.

g) Campanha de sensibilização quanto às faltas

em procedimentos:

Necessidade Desenvolver ações de sensibilização

quanto às faltas em procedimentos (índices de 40%)

Ano 2014

Requisitos Comunicar usuários e funcionários sobre números de autorizações e de faltas, explicar consequências (morosidade fila

de espera)

AÇÃO -levantamento dados números de

autorizações e de absenteísmo; - criação cartazes informando os dados levantados; - definição estratégia para minimizar

remarcações e informar sobre falta: data específica.

Com o resultado favorável por parte de

usuários e funcionários, foi solicitado intervenção

em outros pontos do Centro de Saúde

considerados problemáticos:

h) Organização murais da recepção:

Necessidade Organizar murais da recepção

Ano 2014

Requisitos - diminuir poluição visual dos murais; -atender à visualização de funcionários da recepção, e também profissionais e usuários que estão do outro lado do

balcão

AÇÃO Planejamento visual dos murais, mantendo ambos com as mesmas informações, com setores definidos para cada tipo de informação, permitindo

fácil manejo de novas informações sem descaracterizar os setores.

i) Informativos para usuários no hall externo:

Necessidade Informar usuários no espaço externo do

centro de saúde

Ano 2014

Requisitos - Disponibilizar listagem ruas de cada área de forma legível; - informar sobre organização fila e serviços que não necessitam da recepção;

AÇÃO -Desenvolvimento cartazes com listagem das ruas de cada área e outras informações necessárias;

Outras ações relacionadas a

planejamento, treinamento e desenvolvimento de

novos serviços fazem parte da rotina deste

experimento, que permanece em andamento. Foi

firmada parceria com o Distrito Sanitário Norte

para encontros com outros centros de saúde para

tratar sobre o desenvolvimento local de

estratégias para melhoria da qualidade do serviço

tanto para usuários quanto para funcionários. Em

2015 foi ministrado, em conjunto com a psicóloga

Adriana Satie Funaki o encontro “Relações

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10 Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.

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Humanas no trabalho”, a pedido da coordenação

da Policlinica Norte/DSN/PMF, onde foram

apresentadas estratégias para a melhoria da

relação profissional-paciente. Estão programados

testes de usabilidade/UX em pontos do sistema

como parte da pesquisa realizada no programa

de mestrado em design da UDESC, iniciado em

2014.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa de referências clássicas do

design aponta para o entendimento de que os

atributos profissionais do designer podem ser

úteis em projetos que não resultam em artefatos

industriais. Apesar de pouco ilustrada, é

consenso o foco na metodologia projetual como

de maior importância do que a natureza do

resultado do projeto, abrindo as possibilidades de

atuação. Faz-se necessário, portanto, que os

projetos de design não convencionais sejam

divulgados e reconhecidos, para consolidá-los e

gerar base de referências.

Observa-se ainda, que, apesar da difundida

característica generalista do designer, impôs-se

uma necessidade de mercado de classificá-los a

partir de sua área de atuação predominante,

criando sub-especializações, derivadas ou não

das clássicas design gráfico / design de produto.

Von Stam, (citado por SILVA,2013), lista pelo

menos 7: design de exposição; design de

produto; design de embalagem; design gráfico;

design de interface; design têxtil, design de

serviços.

É uma discussão que divide opiniões, os

contrários defendem que a atividade do designer

é uma só, e tais rótulos tem caráter efêmero,

vinculados às questões de moda e mercado. Em

interessante crítica à teoria do design, Matias [7]

levanta aspectos do que chama “virada gestorial

do design”, que inclui “a querela dos serviços” e

“a panaceia do design de serviços”. Há de se ler o

conjunto da obra para compreender o contexto

de seus argumentos. O próprio autor alerta:

“Lembrando que o ponto de partida

teórico aqui tomado (...) não significa a

impossibilidade de reconhecer que certas mercadorias-serviços, assim como

determinadas mercadorias-produto podem minimizar o sofrimento humano. (...), a luta por serviços básicos para a

massa de trabalhadores como saúde, educação, transporte, etc. que almeje

transformações estruturais neste âmbito

(...)” [7]

Gui Bonsiepe, fora deste contexto específico,

fala que “(...) sempre deve-se indicar o campo, o

objeto da atividade projetual” [33]. Neste

trabalho, justifica-se a utilização do termo design

de serviços pensando não como um tipo diferente

de design, mas indicando o campo de atividade,

para facilitar o encontro de informações

similares, e contribuindo para a construção

teórica de uma área de conhecimento.

Espera-se que o preconceito observado para

com o termo dê lugar ao entendimento de uma

área de atuação que pode se beneficiar de

competências do design. Que sua visibilidade se

apresente mais do que para o próprio campo do

design, para a sociedade em geral, que poderia

aumentar a compreensão sobre a atividade do

designer para além do senso comum, muitas

vezes restrito ao design de interiores e web

design4.

Sobre o design ligado à ação governamental,

novamente esbarra-se na questão sobre o

desconhecimento geral sobre as atribuições e

competências do design. Sugere-se, para

trabalhos futuros, a pesquisa sobre como são

desenvolvidas ferramentas e elementos do

serviço público. Se as equipes de

desenvolvimento de sites, softwares, materiais

gráficos, produtos, etc, são terceirizadas ou

próprias. Se existem designers dentro das

equipes que planejam tais desenvolvimentos,

mesmo que a execução seja terceirizada. Se há

compreensão sobre design nos núcleos gestores.

4 A informação sobre a percepção da sociedade sobre design não foi pautada em dados científicos, constando aqui como uma “licença poética” da autora, baseada em impressões pessoais colhidas nos últimos 13 anos como estudante e profissional de design.

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11 Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.

Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.

É fundamental o apoio de políticas públicas

que valorizem o ensino e pesquisa na área de

design ligado ao setor público, mas a diferença só

será construída a medida que o próprio governo

entenda o caráter estratégico do design para

seus processos internos, e mantenha de fato

projetos inovadores, com designers em seu

quadro funcional. Foi observado o esforço

internacional no campo do design em fomentar a

pesquisa e divulgação da possibilidade de

atuação do design na solução de problemas de

caráter público, construção que poderá ser

medida com o passar do tempo.

Sobre a prática do design de serviços, pode-

se traçar um paralelo entre a utilização de

ferramentas determinadas pela área e a prática

de utilização de métodos validados em pesquisa

científica. A utilização das mesmas ferramentas

por projetos similares torna possível a

comparação entre eles pode fortalecer o design

de serviços como disciplina acadêmica, enquanto

os resultados de suas pesquisas estejam

pautados em critérios científicos de adequação

metodológica e possibilidade de verificação.

Ainda sobre ferramentas, é interessante a

discussão apresentada como comunicação curta

na revista Design Studies em 2015 por Snelders

e Vervloed[32]. Os autores refletem sobre a

necessidade de que os projetos de design de

serviços tenham melhor qualidade de

apresentação, para que sejam compreendidos

como mais do que um exemplo de uso criativo de

ferramentas de pesquisa. Os autores especulam

se a imaterialidade das relações em serviços

dificulta a apresentação do projeto e tende-se a

apresentar as etapas do processo e negligenciar

os resultados. Ressaltam ser imprescindível que o

espectador entenda o que é o serviço, como ele

funciona e quais implementações levaram ao

resultado apresentado.

A prática do design de serviços como

processo interno, sendo o design parte fixa da

organização, como o que tem sido experimentado

no Centro de Saúde Rio Vermelho, traz prós e

contras. A favor está a imersão na realidade do

sistema, permitindo observação continua dos

diversos usuários e contato com suas demandas.

Também existe facilidade em testar

implementações e menor resistência da equipe

na proposição de ideias. Como ponto

desfavorável está o hábito, que pode dificultar

novas visões sobre como fazer as coisas, onde

uma equipe externa pode perceber com maior

eficiência vícios na realização de tarefas que a

organização não percebe que são prejudiciais.

O experimento apresentado continua em

andamento, expandindo seu embasamento

teórico através das pesquisas realizadas no

programa de mestrado em design da

Universidade do Estado de Santa Catarina.

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