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Parte III - Trabalhando com a diversidade...

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SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros GOLDENBERG, P., MARSIGLIA, RMG and GOMES, MHA., orgs. O Clássico e o Novo: tendências, objetos e abordagens em ciências sociais e saúde [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2003. 444 p. ISBN 85-7541-025-3. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org >. All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported. Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada. Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported. Parte III - Trabalhando com a diversidade metodológica Difíceis e possíveis relações entre métodos quantitativos e qualitativos nos estudos de problemas de saúde Maria Cecília de Souza Minayo Carlos Minayo-Gómez
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SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros GOLDENBERG, P., MARSIGLIA, RMG and GOMES, MHA., orgs. O Clássico e o Novo: tendências, objetos e abordagens em ciências sociais e saúde [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2003. 444 p. ISBN 85-7541-025-3. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>.

All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported.

Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada.

Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported.

Parte III - Trabalhando com a diversidade metodológica Difíceis e possíveis relações entre métodos quantitativos e qualitativos nos estudos de problemas de

saúde

Maria Cecília de Souza Minayo Carlos Minayo-Gómez

Trabalhando com a DiversidadeMetodológica

Parte III

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Difíceis e possíveis relações entre métodos...

Difíceis e Possíveis Relações entreMétodos Quantitativos e Qualitativosnos Estudos de Problemas de Saúde

Maria Cecília de Souza Minayo e Carlos Minayo-Gómez

Introdução

Pretendemos discutir especificamente questões metodológicas,entendendo que este foco de debate só tem sentido quando não sedissociam teoria e método. Por isso teremos como parâmetro, em pri-meiro lugar que, pelo menos teoricamente, já existe no campo acadê-mico da saúde coletiva a compreensão compartilhada de que, saúde edoença, por significarem processos complexos e apresentarem múlti-plas dimensões, devem ser abordadas por meio da contribuição deconceitos e categorias de várias disciplinas. Em conseqüência, tanto oato da pesquisa como as práticas sanitárias necessitam ter em conta,também, a busca de adequação de várias e diferenciadas abordagensmetodológicas. Para aprofundar esta reflexão, partiremos da críticainterna da prática de investigação em ciências sociais e como isso re-percute no debate teórico do campo da saúde. E por fim, trataremosespecificamente das relações entre quantitativo e qualitativo nas abor-dagens epidemiológicas e de ciências sociais e saúde.

Em 1993, Sanchez & Minayo escreveram um artigo nos Cadernosde Saúde Pública cujo interesse era a busca de respostas à seguinte pergun-ta: ‘Quantitativo versus Qualitativo: oposição ou complementaridade?’.De semelhança profissional entre os autores, muito pouca relação:resumia-se à mesma busca de ampliar e aplicar conhecimentos nocampo da saúde pública. Havia, sim, e permanece até hoje, umaamizade cultivada no trabalho e admiração intelectual entre ambos.Foram esses aspectos que os tornaram capazes de aprofundar um diálogo

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sobre pontos de vista tão diferentes, fazendo que o debate acadêmico,atravessado por um mútuo respeito, pudesse render frutos objetivos eintersubjetivos. Odécio Sanchez é um bioestatístico no sentido estrito,reconhecido nacional e internacionalmente. Maria Cecília Minayo, umaantropóloga, formada num dos centros mais ortodoxos da antropolo-gia social brasileira. Bem, no final do texto, os dois autores, não sóconcluíram que são possíveis a colaboração e a complementaridadeentre as metodologias quantitativas e qualitativas, como encontraramalguns pontos em comum entre elas, o que vai se tentar discutir a seguir.

Em primeiro lugar, mostraram em seu estudo que não há ummétodo melhor do que o outro, o método, ‘caminho do pensamento’,‘alma do conteúdo’ (Minayo, 1993), ou seja, o bom método será sem-pre aquele capaz de conduzir o investigador a alcançar respostas parasuas perguntas, ou, dizendo de outra forma, a desenvolver seu objeto,explicá-lo ou compreendê-lo, dependendo de sua proposta.

O segundo aspecto é que também os números (uma das formasexplicativas da realidade) são uma linguagem, assim como as catego-rias empíricas na abordagem qualitativa o são, tratando-se, portanto,de duas formas de comunicação diferenciadas, devendo ambas con-vergir para a mesma meta anunciada no primeiro item, ou seja aproxi-mar-se o mais possível da realidade a que se propõem a discutir.

Em terceiro lugar, refletiram que cada abordagem pode ter seuespaço específico e adequado. Entendendo que a questão central dacientificidade de cada uma delas é de outra ordem: da qualidade in-trínseca das pesquisas realizadas, incluindo-se, sua pertinência, rele-vância e o uso adequado de todos os instrumentos que devem ser uti-lizados. E ambos repudiam a visão simplista, muitas vezes evocada,de que existe um lugar mais nobre e elevado a ser ocupado por umadas modalidades (qualquer seja). Esse tipo de raciocínio, que opera sónum sentido, costuma ser típico de certos observadores, provavelmente,em razão de suas próprias escolhas metodológicas. A postura maiscomum é a que atribui status científico apenas ao que pode serquantificado, exercendo uma pequena tolerância para estudos qualita-tivos como ferramentas para exploração de variáveis a serem testadasestatisticamente. Ora, em suas conclusões Minayo e Sanchez consi-deram que o grande corte é o do próprio caráter de cientificidadedos trabalhos: há pesquisas primorosas tratando de questões de alta

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relevância, cujo desenho de método e desenvolvimento das diferentesetapas (seja de abordagem quantitativa ou qualitativa) seguem rigoro-samente os cânones universais das ciências. E há investigaçõessimplistas, pobres do ponto de vista conceitual, mal elaboradas e malrealizadas, nos dois casos.

O último ponto que retomamos representa a essência destedebate para a área da saúde. Na medida do possível, é muito bom eimportante realizar investigações cujos desenhos possam contemplartanto indagações que exigem explicações mais amplas, que dêem con-ta da amplitude dos problemas, mas que também os possamaprofundar, sobretudo sob o ponto de vista das pessoas neles envolvi-das. Essa parceria pode ser feita de muitas formas: desde a formula-ção do projeto em que os dois aspectos, explicativos e compreensivossejam tratados durante toda a execução da investigação. Ou mesmoem momentos separados, quando um problema tratado por métodosquantitativos levanta questões para os investigadores, que não pode-rão ser respondidas por meio de questionários. E vice-versa, quandoos estudos qualitativos despertam indagações sobre as quais os pes-quisadores gostariam de ter algumas aproximações em larga escala.

Oposição entre Métodos Quantitativo e Qualitativoem Ciências Sociais

O sociólogo canadense Pirès, na referência ao Étude de cas versusanalyse statistique: d’un monologue à l’autre (1982), rememora comoum evento simbólico de grande importância na história das pesquisasquantitativas e qualitativas em ciências sociais, um fato ocorrido nosEstados Unidos, de repercussão em todo o campo de conhecimento,extrapolando as fronteiras da comunidade acadêmica americana. Esseevento foi a tese de doutorado, intitulada An experimental comparisonof statistical and case history methods of attitude research, do eminenteempirista, Samuel Stouffer, em 1930. Seu estudo, a partir de grandebase documental, parece ter sido um marco simbólico dos rumos dapolêmica ou da falsa polêmica tratada neste artigo, qual seja a oposi-ção entre as duas referidas formas de abordagem.

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Aparentemente ‘neutro’ como convinha à visão positivista do-minante na época (e que, na verdade perdura até hoje), o trabalho deStouffer tinha como pressuposto básico o seguinte enunciado: qual-quer problema sobre questões sociais pode ser pesquisado indiferen-temente, por métodos quantitativos ou qualitativos, porém o métodoestatístico é mais rápido e mais facilmente aplicável. Sua proposiçãonorteadora e os resultados de seu trabalho investigativo realmente to-maram o partido dos quantitativistas. Demonstraram não só que asabordagens estatísticas eram mais ágeis e fáceis de serem manejadas,como poderiam também ser mais abrangentes e capazes de medirobjetivamente a magnitude dos fenômenos ou processos.

A idéia central dessa tese defendida exatamente na Universidadede Chicago, uma instituição científica historicamente conhecida, desdeas duas primeiras décadas do século XX, como o centro por excelênciada pesquisa social de cunho qualitativo, tomou corpo, espaço e temponos congressos e na comunidade científica da época e muito contri-buiu para o declínio progressivo do uso do método qualitativo, deca-dência que se estendeu até os anos 60 do século passado. Quandorevisamos a bibliografia da maior parte dos livros de metodologia doperíodo, Stouffer aparece sempre como citação obrigatória, individu-almente ou junto com outros autores. Segundo Pirès (1982: 17), elatambém foi decisiva “para o declínio do período de glória da Escola deChicago no cenário sociológico norte-americano”.

Situando a importância dessa história, é preciso lembrar algu-mas figuras clássicas e seminais das pesquisas qualitativas de então,respeitadas nas ciências sociais do mundo inteiro e consideradas comoformadoras do pensamento sociológico mais brilhante e avançado nosEstados Unidos. A crítica quantitativista atingiu, por exemplo, WilliamThomas (1970), autor do popularíssimo e mundialmente citadoTeorema de Thomas, segundo o qual “se alguém considera algumacoisa como real, ela é real em suas conseqüências”.

O criador desse aforisma (citado não só pelos que se propõem aconhecer a lógica própria, as interações e os estilos de vida de gruposespecíficos, mas em outras áreas de conhecimento, inclusive e até pormuitos economistas da atualidade quando fazem análise e projeçãode mercado), junto com Znaniecki (1958), havia produzido um dostrabalhos qualitativos mais citados internacionalmente pelos estudiosos

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da técnica de ‘história de vida’, The Polish Peasant in Europe and Amé-rica, (publicado inicialmente em cinco volumes entre 1918 e 1920.Outros que haviam realizado importantes pesquisas empíricas e escri-to textos importantes baseados em trabalho de campo, como é o casode Cooley (1928), em Case study of small institutions as a method ofresearch; de Cavan (1928), em Suicide, e de outros que inclusive bus-caram teorizar a partir de seus trabalhos, como fizeram Mead (1917),Park & Burgess (1921) e Park (1931).

Em síntese, a pesquisa qualitativa nas ciências sociais que flo-resceu com muito vigor do período da Primeira Guerra Mundial até osanos 30, nos Estados Unidos, passou, a partir de então, a ser conside-rada como o exercício de estudos heurísticos pré-científicos, perden-do seu status de uma forma de conhecimento válida e reconhecida,como queriam Thomas e Znaniecki. Esses autores consideravam a‘história de vida’ como o material sociológico mais perfeito. Ao intro-duzirem sua obra magna já citada, defendiam, como cientistas, que osentido dos estudos sobre a sociedade não estaria na sua apresentaçãosimplificada em quantidades. Mas, ao inverso, caberia aos estudiosos,evidenciar uma compreensão mais profunda da vida social e de seusignificado, como preconizaram autores clássicos anteriores a eles,dentre os quais, Max Weber (1949) em toda a sua obra e, antes dele,o historicista Dilthey em Introdução às Ciências do Espírito (1956).

Na verdade, a compreensão do que aconteceu, não ‘por causa’mas a partir do processo deslanchado pela tese de Stouffer, permite-nos refletir sobre uma série de questões epistemológicas ou que dizemrespeito à sociologia do conhecimento, como muito bem assinalaramFoucault, em L’Archéologie du Savoir (1969), e Kuhn, em The Structureof Scientific Revolutions (1962). Ou seja, é preciso compreender osbastidores dos avanços da ciência e os percalços dos cientistas, assimcomo o que acontece quando novos modelos se impõem, relegandoos anteriores a segundo plano. Analisando esse período de efervescênciada discussão metodológica nas ciências sociais, Pirès afirma (1982: 18):“Stouffer inaugurou uma oposição entre a sociologia antropológica ouculturalista, adepta dos estudos de casos, e uma sociologia positivista,partidária das estatísticas”.

É claro que não é possível pensar a decadência do uso da abor-dagem qualitativa americana, fato que repercutiu nos vários países

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ocidentais, apenas como uma sucessão de movimentos na história dasidéias. A crise do pensamento culturalista e a preferência metodológicaquantitativista, cuja paternidade na sociologia se pode atribuir à filo-sofia sociológica de Durkheim (1978), aconteceu, nos Estados Uni-dos, no mesmo período da Grande Depressão e acompanhou o movi-mento político de crescimento da hegemonia política e ideológicaamericana, que se tornou muito mais universal e se aprofundou a par-tir da Segunda Guerra Mundial.

Por terem desenvolvido a capacidade técnica de realizar análi-ses rápidas e padronizadas e de darem respostas operacionais aosgovernantes e ao mundo empresarial, os positivistas passaram a gozarde muito maior prestígio, de prioridade acadêmica e de melhores opor-tunidades de conseguir financiamentos para suas investigações. E tudoisso com a chancela do método científico. Seu papel se tornou maisproeminente no pós-guerra, na produção de dados e indicadores parao desenvolvimento industrial, tecnológico e militar, favorecendo ahegemonia internacional dos Estados Unidos. Sua hegemonia se tra-duziu não só no controle dos meios de produção e de divulgação aca-dêmica de representação nas universidades, mas também na capaci-dade de conhecimento das entranhas do poder e de deter informaçõesestratégicas para a formulação de políticas e de intervenção social. Atéas formas de conduta, as práticas e as aspirações dos indivíduos passa-ram a ser quantificadas.

A preocupação da política nacional da época foi focalizadana americanização dos estrangeiros e na construção de uma naçãocom uma única cultura dentro de um país ideologicamente pensa-do como oferecendo ‘igualdade de oportunidades para todos’. Épreciso reconhecer, em tais circunstâncias, que os estudos estatís-ticos se prestavam muito mais à construção dessa homogeneizaçãosocial do que os qualitativos, voltados para a compreensão e pre-servação de culturas específicas e de diferenciações. Foi, portanto,dentro desse embate acadêmico-político, que os temas geralmentetratados pelos investigadores culturalistas, como, por exemplo, ocaso dos imigrantes nos Estados Unidos, a questão dos estrangei-ros, os problemas dos grupos desviantes, entre outros, aos poucosforam se tornando irrelevantes e produtos sem interesse para o Es-tado nacional.

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Em conseqüência, do ponto de vista do ensino das ciências so-ciais, nas décadas de 40, 50 e 60 do século XX, a maioria dos textosbásicos de metodologia científica e os manuais sobre técnicas – mate-rial usado para ensinar aos alunos como fazer pesquisa – estavam im-pregnados de valores e critérios positivistas de classificação, de avalia-ção e de hierarquização de métodos e concentrados sobre a técnica daenquête quantitativa. É bem verdade que isso não se deu sem contro-vérsia, que pode ser observada também na revisão de alguns autoresimportantes desse período que escreveram sobre teoria e método, comoo caso de Becker (1954), Blumer (1955) e outros, mostrando um de-bate que continuava a ocorrer, ainda que com níveis de força desiguaisno debate entre qualitativistas e quantitativistas.

Fazendo uma retrospectiva histórica, Pirès (1983) assinala tam-bém, como pano de fundo desse debate intelectual, rivalidadesinstitucionais entre duas grandes universidades americanas, a deChicago (agora sob a pecha do atraso intelectual e incapacidade de seadequar aos novos tempos) e sua rival em Nova Iorque, a Universidadede Colúmbia, doravante o centro do pensamento sociológico positivistadominante. Com a adesão da maioria dos jovens, a sociologia deColúmbia, nesse intervalo de tempo, com poucas exceções, dedicou-se a produzir ‘dados’ e ‘indicadores quantitativos’, conforme afirmaráo sociólogo positivista Lundberg (1942), “quanto mais o sociólogotende para a estatística, mais se torna refinado e objetivo”.

Uma das características da produção dessa época foi, de umlado, a aversão dos pesquisadores a teorias, de outro, sua identificaçãocom o formalismo matemático. O pensamento dominante pontifica-va que as teorias são idéias a serem testadas por estudos estatísticos eque, ‘após uma exploração qualitativa’, é sempre necessária uma ‘pes-quisa quantitativa’. Todos os aspectos levantados sobre essa conjunturaque lhe foi totalmente adversa fizeram que a prática da abordagem qua-litativa ficasse reduzida à noção de ‘pesquisa exploratória’. Esse termopejorativo, que se tornou uma espécie de ‘maldição ontológica’, criouno imaginário científico da época o significado de um trabalho acadê-mico hierarquicamente inferior, com um desenho metodológico confu-so e, portanto, anunciando seu autor como um investigador atrasado ouincompetente. O máximo que Lundberg (1942) ou Stouffer (1930, 1931,1939, 1950), como dois líderes do pensamento metodológico da época,

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concediam às abordagens qualitativas era o status de insights ou deum jornalismo obscuro e aborrecido.

Infelizmente dando-lhes razões para tal, fora honrosas exce-ções, a primeira fase histórica da pesquisa qualitativa, que vai daPrimeira à Segunda Guerra Mundial, foi marcada pelo subdesenvol-vimento da sua metodologia e das técnicas operacionais. Os esfor-ços de tratamento compreensivo estavam espalhados pelos traba-lhos empíricos, que compensavam, pela sua riqueza, as fragilidadesdas argumentações sobre o método. Isso ocorria, na contramão doinvestimento em desenvolvimento e aprimoramento técnico nos quaisse distinguiam os quantitativistas. A vedete do momento era ooperacionalismo estatístico.

É bem verdade que, apesar do declínio evidente, os estudosqualitativos não desapareceram da prática acadêmica americana e in-ternacional. Pirès (1982) lembra, por exemplo, uma reunião daAmerican Sociological Society, em 1939, na qual se buscou apreciar acontribuição das duas abordagens, inclusive produzindo-se um discur-so sobre as contribuições e os limites de ambas. Mas o enfrentamentopesou a favor dos quantitativistas com tanta força que os própriosadeptos das abordagens qualitativas, enfraquecidos, passaram a ado-tar atitudes defensivas ou ambíguas. Alguns se fecharam em oposiçãoradical; outros passaram a aceitar, sem questionar, a qualificação deseus trabalhos como exploratórios; outros ainda, internalizando as crí-ticas, começaram a fazer um enquadramento quantitativo de seus es-tudos. Isso os fazia reduzir os sentidos e significados dados pelos ato-res sociais a suas realidades vividas a uma simplificação abusiva emforma de dados quantitativos.

Essa foi uma época em que os arautos do quantitativismo, comonorma para o reconhecimento do estatuto de ciência aos estudos so-bre o social em geral, tiveram tanta força no discurso e nas ações, queconseguiram internalizar, na fala e na prática dos investigadores deviés qualitativo, a insegurança quanto a seu status ‘acadêmico’ e a acei-tação, por eles próprios, do lugar subalterno a eles atribuído. Por isso,multiplicaram-se as propostas de tratamentos estatísticos do materialqualitativo (procedimento que sempre ocorreu na história das ciênciassociais, numa tentativa equivocada de legitimá-la como ciência), mascujo crescimento e justificativa pragmática datam dessa época.

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A década de 60 marca o início do retorno com a discussão doespaço específico, do sentido e da utilidade do método qualitativo napesquisa social. Por ter sido e ainda se constituir no foco preferencialdo positivismo sociológico, a história da decadência e doreflorescimento da abordagem qualitativa na América do Norte cha-ma mais atenção do que nos outros centros de pensamento do mundoocidental. Mas o revival se deu como um processo muito mais univer-sal. Nos Estados Unidos, um desbloqueio começou com impulso dasociologia retomando a discussão teórica e prática das potencialidadesda etnometodologia (Garkinkel, 1967) e do interacionismo simbólicona compreensão de micro-processos sociais (Blumer, 1969). Foram seconstruindo obras acadêmicas de grande fôlego, tratando questõesmetodológicas, como The Discovery of Grounded Theory, de Glaser &Strauss (1967); The Research Act, de Denzin (1970); vários estudos deBecker sobre trabalho de campo e inferência (1958; 1964); diversasreflexões metodológicas de Merton sobre grupos focais e teoria socio-lógica (1956, 1967); e apenas para citar um dos autores mais profícu-os em temas qualitativos, todos os principais trabalhos de trabalhosde Goffman que vão de 1959 a 1967.

Esse renascer da pesquisa qualitativa atuou exatamente nospontos fracos da primeira fase, ou seja, dando consistência a todas asetapas do processo de trabalho e justificando seu teor científico. Mastambém os novos autores investiram em questões substantivas, cha-mando a atenção dos sociólogos positivistas para aspectos polêmicose ‘oficialistas’ de sua prática acadêmica. Vários estudos trouxeram àbaila a relação entre ciência e poder, desvendando assuntos submersosna homegeneização positivista, como a questão do controle dos cida-dãos pelo Estado, o desvendamento da problemática racial no trato dacriminologia, o estudo das instituições totais, dentre outros.

É preciso ter clareza, no entanto, que o cerne do debate entrecorrentes que fez abrir cisões na prepotência da sociologia quantitativistaamericana e de outras paragens, não foi metodológica. Pois, comosabemos, o método serve ao conteúdo. Foi o questionamento do sen-tido de sua própria práxis, que deslanchou uma discussão interna mui-to mais profícua e contundente. O expoente desse pensamento críticonos Estados Unidos foi Wright Mills que, em 1956, lançou sua obraclássica Imaginação Sociológica (1971) na qual faz uma crítica radical

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à sociologia de seu tempo. Segundo esse autor, o papel do cientistasocial deveria ser evidenciar, para seus contemporâneos, a significaçãoda dinâmica da sociedade em que vive e o sentido de sua participaçãoespecífica. A utilidade da ciência estaria dada pela sua capacidade detransformar os grandes problemas sociais que o povo vive, em ques-tões públicas a favor de mudanças sociais, tornando os cidadãos capa-zes de saírem de seus limites individuais para se sentirem parte deuma história à qual sua biografia está estreitamente vinculada. Suacrítica se centrou, sobretudo, na falta de perspectiva epistemológicados que se empenhavam escrupulosamente na construção de modelosmatemáticos para seus dados e que se mostravam totalmente incapa-zes de fazer uma análise sociológica dos indicadores que geravam,deixando, aos demandantes das pesquisas, total liberdade para utilizá-las de acordo com interpretações que passavam por seus interessespolíticos ou econômicos. O escrúpulo profissional tão propalado pe-los positivistas, que consistia em não interpretar fato ou processo al-gum que não pudesse ser comprovado com dados matemáticos (leia-se, ‘matemáticos’ como sinônimo de ‘científicos’) na verdade se con-figurava, para Mills, como um serviço ao poder dos governos e dasempresas, visando a legitimar suas decisões (Mills, 1971).

Da mesma forma que Wright Mills, em trabalho denominadoSociológica (1979), Adorno & Horkheimer, dois expoentes da chama-da Sociologia Crítica na Alemanha, desenvolveram uma contundenteanálise sobre a proliferação, em proporção geométrica, dos estudosquantitativos nas ciências sociais em geral. Qualificando essa formade trabalho como ‘sociologia americana’, os autores questionaram a‘reificação’ ou a ‘fetichização’ do método em detrimento da teoria.No mesmo rumo de Mills, reafirmaram que a moda da sociologia,refém da quantificação e que media até o inquantificável, não a torna-va nem uma ciência, nem mais científica. Pois, de acordo com seuspontos de vista, muitos investigadores não estavam preocupados emfazer perguntas fundamentais e relevantes para a sociedade, em seusobjetos de estudo, e sim, viviam obcecados pelo rigor das técnicasusadas. Isso os levava freqüentemente, a efetuar grandes investi-mentos metodológicos, mas formulando questões medíocres. Apobreza das perguntas iniciais que os inquietavam, conduziam aresultados tecnicamente corretos, mas pífios. Em Vers une Contre Culture,

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Roszak ironiza a práxis quantitativista, a que denomina ‘tecnocrática’,radicalizando sua postura:

O grande segredo da tecnocracia reside na sua capacidade denos convencer do silogismo seguinte; (1) que os bens vitais dosseres humanos, ao contrário do que dizem todos os grandes pensa-dores, são de caráter puramente técnico, ou seja, que as exigênciasde nossa espécie são suscetíveis de ser plenamente determinadaspor uma análise formal, conduzida por especialistas qualificados;(2) que essas exigências podem ser traduzidas por eles em progra-mas sociais e econômicos e serem assim resolvidas; (3) que se umproblema não tem uma solução técnica, só pode ser um falso pro-blema, uma ilusão, uma ficção nascida de qualquer tendência cul-tural regressiva. (Roszak,1970: 24)

Mas, de acordo com nossa compreensão, já expressa anterior-mente, a história dos dois métodos aqui em questão, não pode servista apenas como um movimento interno de um mundo intelectual,como se esse universo girasse sobre si mesmo e tivesse suas própriasleis, desvinculadas dos movimentos da sociedade. A bem da verdade,ao contrário, a sociedade acadêmica e seu modo de produção configu-ram um campo de lutas e de interesses, na maioria das vezes, nadacientíficos – como bem mostram Bourdieu (1975), Latour (1979),Knorr-Cetina (1981) e Hochman (1998) – e é irrigado pelo sangueque corre nas veias do mundo de seu tempo.

A partir dos anos 60, a sociedade ocidental viveu um pontode inflexão fundamental. Os movimentos sociais de oposição à cres-cente de intervenção do Estado, a partir da Segunda Guerra Mundial,em toda os recantos da vida social e privada, assim como ao exces-sivo poder das instituições sobre os indivíduos começaram a se ex-pressar por toda parte. O clima de repúdio à Guerra Fria muitocontribuiu para isso. Também os movimentos de contracultura e asrevoltas estudantis no final dos anos 60, os movimentos feministase ambientalistas podem ser considerados formas de resistência so-cial desse momento histórico. Havia, na sociedade, no mundo po-lítico e no campo acadêmico, uma constatação de que as grandesteorias sociais ou haviam fracassado ou apenas explicavam emparte todo o dinamismo que a sociedade ocidental, no final doséculo XX, queria expressar.

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A década de 70 foi particularmente próspera, sobretudo a partirda sua segunda metade. Tratava-se de um tempo novo marcado pelacrise dos modelos ‘totalitários’ na ciência e na política. A revalorizaçãoda antropologia para o conhecimento não só das comunidades ditas‘primitivas’, mas também das sociedades complexas em seu pluralismoe multiculturalidades, a força da sociedade civil advogando o papelpositivo das diferenças, a relevância do conhecimento dos indivíduose grupos até para impulsionar o mercado, a propaganda e o marketingcontribuíram para a redescoberta do sentido dos estudos qualitativos.E assim, um movimento cultural, ao mesmo tempo interno ao campoacadêmico e externo a ele, furou o bloqueio da ‘maldição ontológica’relativa à inferioridade científica da metodologia qualitativa. Abriu-seuma perspectiva em larga escala no pensamento ocidental, para a apro-ximação de uma multiplicidade de assuntos teóricos e de temas deinteresse social e bem para o encontro entre abordagens metodológicas.A partir de então começaram a se multiplicar estudos qualitativos emtodas as disciplinas do social, incluindo-se, dentre outras, a economia,a administração e a ciência política.

O movimento intelectual que eclodiu na década de 60 teve arau-tos de várias correntes e disciplinas, por exemplo, Bourdieu, com seusdiversos trabalhos, dos quais citaremos pela importância em relaçãoao assunto aqui tratado, Travail et Travailleur en Algérie (1963); marxis-tas cognominados ‘humanistas’ como Sartre (1978) e Schaff (1967);culturalistas como Goldmann (1967); ‘historiadores’ como Thompson(1978, 1980); pensadores como Granger (1967); lingüistas comoBakhtin (1986); fenomenologistas como Schutz & Luckmann (1973)e Schutz (1971).

Schutz trouxe para a sociologia a aplicabilidade do pensamentode Husserl (1980), tornando-se um dos teóricos fundamentais norenascimento dos métodos qualitativos na própria Universidade deColúmbia, então dominada pelo pensamento quantitativista. Arevalorização do método, por sua vez, alavancou as discussões sobreconceitos de operacionalização da pesquisa, problemas de amostragem,de generalização de formas de análise, e outros, registrados no livroO Desafio do Conhecimento (Minayo, 1993). E como seria de se espe-rar, ao mesmo tempo em que reflorescia em todo o mundo ocidentalo interesse pela pesquisa qualitativa, a sociologia quantitativista também

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teve de realizar importantes movimentos internos e externos de críti-ca, e muitos autores, dos quais Cicourel (1969) é um exemplo,reassumiram o papel de repensar e produzir teorias substantivas e abrir-se à diversificação de abordagens.

Do ponto de vista acadêmico e dentro dos objetivos deste arti-go, é importante citar três críticas sintetizadoras.

A primeira está relacionada aos paradigmas sociológicostotalizantes, sobretudo do marxismo instrumental que passou a ex-plicar a vida e os processos das sociedades industriais pelodeterminismo histórico das leis gerais do modo de produção e dasrelações sociais nele fundadas. A crítica interna das reinterpretaçõesde Marx feitas pelas correntes mecanicistas foi brilhantemente reali-zada por Sartre (1978), que, além de ser um dos maiores intelectuaisdo século XX, conheceu por dentro o partido comunista francês, doqual participou e depois renegou. Na mesma linha, Anderson, emseus estudos, sintetiza as raízes profundas da crise do pensamentomarxista mecanicista e estruturalista.

A segunda corrente de pensamento, sob o fogo cruzado da revi-são teórica foi o próprio positivismo, também totalizante, em buscade leis gerais e cuja externalidade explicativa e homegeneizadora dosfenômenos sociais, ora os toma como fragmentos da realidade paraintervenção, ora oferece dados reducionistas sobre problemas com-plexos, como se esses dados fossem a síntese da realidade. Usandouma metáfora médica, os positivistas fizeram o abandono da anamnesee da clínica em favor dos exames laboratoriais e das informações da-das por equipamentos, como se esse conjunto de indicadores consti-tuísse o próprio doente.

O terceiro aspecto guarda relação com o crescimento do pen-samento social pluralista que brotou em fortes movimentos sociais,étnicos, de gênero, sobretudo do feminismo, do ambientalismo e daslutas dos grupos socialmente discriminados, ao lado do que havia demais tradicional na era industrial, o sindicalismo operário. Os paradigmastotalizantes não davam conta, pelo contrário, subjugavam em suasanálises e nas práticas delas derivadas, as diferenciações e as expres-sões de subjetidades e sociabilidades pessoais, sociais e coletivas quevieram dar uma nova cara ao final do século XX. Em momento ne-nhum da história houve tantas manifestações da sociedade civil como

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as que desde então se expressaram, atravessando as fronteiras destenovo século. Cada uma dessas novas identidades não se vê retratadaem indicadores quantitativos aglomerados, nem no recorte de classeapenas. Esse conjunto complexo de novas subjetividades e sociabili-dades pedem espaço para outras maneiras de se manifestar que asciências sociais quantitativistas ou macroanalíticas relegaram, seja porcausa de ideologias, seja pela fetichização do método.

As Relações entre Métodos Quantitativose Qualitativos na Saúde

O rumo da reflexão até agora elaborado nos restringiu ao pró-prio campo das ciências sociais, principalmente da sociologia. En-quanto a sociologia quantitativista se desenvolvia nos Estados Uni-dos, um outro grupo, o da própria antropologia, (cujo método espe-cífico não se reduz à análise de dados qualitativos, mas é ampliadopela observação e análise de todo o contexto socioeconômico e cul-tural dos grupos que estuda) fazia seu percurso próprio. Dentro dela,um ramo específico, o da antropologia médica, tem uma história debastante sucesso e pujança, reconhecendo-se sua maior formalizaçãoa partir dos anos 50. Um dos grandes expoentes da disciplina, mun-dialmente reconhecido é Kleinman (1978, 1980) cujas obras se tor-naram obrigatórias no campo de discussão e conhecimento da inter-cessão entre medicina e antropologia.

Nunes (1999) sabiamente adverte que, antes dessa época, hou-ve vários trabalhos que deveriam ser recuperados numa reconstruçãoarqueológica do saber. Canesqui (1997) lembra que, nas décadas de40 e 50, nos Estados Unidos, a antropologia foi incorporada nos pro-gramas internacionais de cooperação para a saúde pública nos paísessubdesenvolvidos, numa tarefa bastante instrumental de expansãoda biomedicina. Os antropólogos americanos criaram uma tradiçãode trabalho junto com os médicos, estabelecendo relações de inter-disciplinaridade, segundo alguns, ou de dependência disciplinar,segundo seus críticos, não só nas missões que empreendiam à África,à América Latina ou à Ásia, mas também quando procuravam enten-der sua própria sociedade.

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Suas contribuições foram desenvolvidas visando à compreen-são de sistemas específicos de saúde, relações médico-pacientes, uni-versos simbólicos que cercam os fenômenos da vida, da morte e doadoecer, num sentido muito dirigido e articulado com a clínica, aepidemiologia e o planejamento do setor, conforme revelam os traba-lhos de Raymon Firth (1978). Independente das tradições que seguis-sem, a antropologia médica dos anos 50 se desenvolveu sob a égide deuma categoria cujo nome dispensa comentários, ‘ciências da condu-ta’, elaboradas dentro das correntes funcionalistas de pensamento,sobretudo dos ‘estudos de comunidade’.

A antropologia britânica teve outra forma de inserção no cam-po da saúde. Os ingleses voltaram-se para estudar as especificidadesculturais dos povos sob seu controle colonial, elaborando interpreta-ções holísticas, quase sempre dentro de uma abordagem estrutural-funcionalista e dedicada a compreender os universos cosmológicosdos grupos específicos. Os temas saúde/doença, tabus, práticas ali-mentares e cosmologias aparecem então vinculados à religião e à ma-gia. Seus estudos não oferecem uma intenção intervencionista implí-cita da mesma forma que ocorreu com a contribuição americana. Issose pode ver em Evans-Pritchard (1978), Victor Turner, (1969) e narevisão de Fortes (1976).

A antropologia francesa faz um contraponto interessante com aamericana. Em primeiro lugar, ela não se vincula à medicina e a seumodelo. E do ponto de vista teórico-conceitual, a contribuição de pen-sadores como Lévy-Strauss, tanto na postura de relativização das cultu-ras (1970), quanto no desvendamento do pensamento lógico dos povosindígenas (1976), permitiu aos intelectuais se contraporem àdesqualificação dos sistemas médicos tradicionais. Em segundo lugar, aantropologia francesa problematizou o sentido do conceito de antropo-logia médica, mostrando sua concepção reduzida e sua submissão dis-ciplinar e instrumental (Herzlich, 1983). E vem dessa tradição a deno-minação ‘antropologia da saúde e da doença’, cuja idéia é ter uma am-plitude muito mais abrangente de temas e reflexões, em contraposiçãoà ‘antropologia médica’, que parece submeter a disciplina ao amplo ehegemônico campo que lhe é colocado no nome como um adjetivo.

O caso brasileiro tem suas especificidades. A área da sociologiateve sua influência fundamental, quando criada a Universidade de São

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Paulo, dos grandes pensadores franceses. Aí se iniciou tanto uma refle-xão teórica, primeiro dependente do pensamento europeu, para emseguida distinguir-se como uma rica produção própria, considerável eabrangente. Os outros centros de pensamento sociológico não se co-locaram, como um problema, a questão da oposição metodológica en-tre quantitativo e qualitativo. Mas as análises sociais ou seguiram a visãoquantitativista nos casos de estudos empíricos, ou deram ênfase a pro-duções sobre problemas macrossociais. No desenvolvimento da antro-pologia social e cultural brasileira, a matriz de pensamento também foia França, e é quase residual, nos centros mais avançados de pesquisa, aidéia de se ‘quantificarem’ os dados culturais. O uso de instrumentoscomo questionários e análises estatísticas para medir a magnitude defenômenos e construir indicadores foi sempre aceito sem maiores polê-micas em relação à sua legitimidade, uma vez que estivessem vincula-dos ao contexto dos estudos substantivos que deles necessitaram.

O segmento de antropologia da saúde, apenas nos últimos anoscomeçou a despertar interesse, ainda marginal, ou dizendo melhor, demuito poucos antropólogos. Isso não diminui a importância dos estu-dos por eles desenvolvidos, pois representam relevantes colaboraçõesteóricas e etnográficas, como é o caso dos trabalhos de alguns autoresde cuja vasta obra citarei apenas algumas: L. Fernando Duarte (1986),do Museu Nacional da UFRJ; Ondina F. Leal e de seu grupo na Univer-sidade do Rio Grande do Sul (1995); Miriam C. Rabelo & Paulo CesarAlves (1999), da Universidade da Bahia; José Carlos Rodrigues (1999),na Universidade Federal Fluminense. E no próprio campo da saúdecoletiva, Loyola (1884), Minayo (1993), Coimbra & Ventura (1994)e Carrara (1996). Essa quase ausência temática do tema saúde naantropologia social brasileira, que Minayo (1999) analisou com maisdetalhes no artigo “Construção da identidade da antropologia na áreada saúde: o caso brasileiro”, talvez reflita em parte a influência dopensamento francês na sua constituição.

Os sociólogos brasileiros que passaram a trabalhar no campoda saúde tenderam a seguir, em geral, a tradição sociológica nacional,distinguindo-se pela realização de análises macrossociais, ou de estu-dos a partir de dados secundários e documentais, ou apresentandoreflexões epistemológicas e sociológicas sobre o campo e suas práticas,com grande ênfase de abordagens das políticas sociais. Os movimentos

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sociais têm recebido menos consideração. São raros, verdadeiras exce-ções, os sociólogos da área que vão a campo, realizam trabalhosempíricos, e menos ainda os que fazem uso do método qualitativo.

No caso da saúde, o nicho da abordagem quantitativa tem sidoa epidemiologia. E muito freqüentemente, diríamos até, com poucasexceções muito honrosas, refletindo fortemente alguns dos muitosproblemas das ciências positivistas, denominadas por Adorno &Horkheimer ‘americanas’: empirismo, quantitativismo como sinôni-mo de ciência, tecnicismo e fetichismo do método. Somando-se a isso,há uma tendência freqüente que se pode observar ao analisar a maioriados artigos produzidos a partir dessa disciplina, de tratar os conceitose as categorias sociais com os quais a epidemiologia necessariamentetem de lidar, pois estuda populações como ‘dados’, o que significa,com os elementos do senso comum.

Trabalha-se o mais das vezes, desconhecendo-se as ciências so-ciais como um campo de saber com vasta tradição acadêmica, e cujasproposições e conceitos são construídos histórica e teoricamente. Es-ses problemas, que não foram resolvidos também na ciência america-na que continua com forte e assumido viés positivista (apenas passou-se a aceitar uma pluralidade de abordagens), podem ser observadosem grande parte dos estudos publicados em periódicos de nossa área.Entretanto, a tentativa diferenciadora da epidemiologia crítica está aindapor ser realizada, tendo em vista que esse termo ‘crítica’, em sua ma-triz, significou submissão a uma linha marxista de pensamento quasesempre de viés mecanicista ou estrutural, ao qual se agrega a análisedos dados quantitativos. Desta forma, de modo geral, o lugar do ‘su-jeito’ na epidemiologia e nas práticas de planejamento em saúde pú-blica é quase ‘um lugar vazio’, que preocupa a alguns poucos autores,entre os quais, merecidamente devem ser mencionados, Naomar deAlmeida Filho e David Castiel, no conjunto de sua obra.

O Possível Encontro entre Qualitativo e Qualitativona Área da Saúde

É inegável que existe uma necessidade visceral de que saúde/doença, vida/morte, quando tratados do ponto de vista de sua

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compreensão cultural, sejam abordados tanto pela epidemiologiacomo pelas ciências sociais em sua vertente qualitativa. Porque, nofundo o que está em jogo é a pergunta de como conseguir implementaruma atenção à saúde de grupos sociais específicos. No caso brasileiro,a diversidade, o pluralismo, as características de classe, os regionalis-mos, o multiculturalismo, as grandes desigualdades de uma sociedadeassediada ao mesmo tempo por informações contraditórias e massificantesda mídia não são apenas assuntos teóricos para diletantismo acadêmico.São problemas desafiantes para a saúde coletiva. Ou seja, existem per-guntas teóricas e existem perguntas da prática de um sistema de saúdeque quer acertar. Mas que, freqüentemente, encontra seus limites, nãoexatamente nos conhecimentos médicos sobre as doenças, mas nacultura e nas condições socioeconômicas que constituem o contextode emergência de epidemias, permanência de endemias, aparecimen-to de enfermidades próprias da modernidade e da pós-modernidade.Como muito bem já chamava atenção Boltanski, anos atrás (1979: 119):

Os determinismos sociais não informam jamais o corpo demaneira imediata, através de uma ação que se exerceria direta-mente sobre a ordem biológica sem a mediação do cultural que osretraduz e os transforma em regras, em obrigações, em proibições,em repulsas ou desejos, em gostos e aversões.

A dificuldade desse encontro de complementaridade entre aepidemiologia – que tende a trabalhar, dentro de seu discurso e deseus conceitos fundamentais, com a construção de dados e indica-dores quantitativos – e a antropologia e a sociologia – que pesquisama partir do mundo cultural dos grupos sociais – na verdade não é, emprimeiro lugar, epistemológica nem filosófica. O objeto, no caso dasaúde é sempre o sujeito (seja como paciente seja como terapeuta),pois não se estuda nenhuma enfermidade em si mesma, mas naspessoas que têm, tratam, sofrem, dignosticam, interpretam, negamou aceitam a situação que vivenciam em interação e interculturalmente.Não se pode pensar prevenção nem promoção da saúde sem levarem conta a participação dos indivíduos em sua dialética com a cole-tividade. A filosofia e a epistemologia, como Minayo & Cruz Neto(1999) citaram em trabalho anterior, ajudam e justificam a aproxi-mação da abordagem.

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Por exemplo, Kant, em seu texto sobre Matemática Transcendental(1980), dá várias contribuições a essa busca de interação, entenden-do-a como o caminho ideal para a compreensão dos fatos e processos.Ele vai mostrar que para o ‘sistema de entendimento’, a experiênciarepousa na unidade sintética dos fenômenos que se evidenciam emforma de objeto, ou seja, numa síntese de conceitos, sem a qual, nema experiência chegaria a ser conhecimento. Logo, à experiência subjazemprincípios, ou seja, regras universais da ‘unidade na síntese’ dos fenô-menos. O autor explica que a compreensão da realidade se fundamen-ta em quatro princípios: os axiomas da intuição, as antecipações dapercepção, as analogias com as experiências anteriores e os postuladosdo pensamento empírico em geral.

O primeiro princípio, que diz respeito aos axiomas da intuição,se fundamenta no fato de que os fenômenos se apresentam sob a formade quantidades extensivas no tempo e no espaço. Além disso, essasquantidades só podem ser apreendidas pela composição de homogê-neos múltiplos e pela consciência da unidade sintética desses múltiplos.Os fenômenos, diz Kant, são todos quantidades, mas quantidades ex-tensivas, que, apesar de possíveis diferenças, podem ser percebidascomo da mesma classe ou do mesmo gênero e assim enumeradas pelassuas semelhanças. A sua representação sucessiva e homogênea comopartes torna possível a representação do todo.

O segundo princípio, o da antecipação das percepções, se rela-ciona com a existência de uma quantidade intensiva, que se expressaem termos de grau na percepção dos fenômenos que podem ser ante-cipados por analogia, empiricamente, por causa das experiências ante-riores. Para Kant, essa percepção é a consciência empírica simultâneada intuição e da sensação. Isto é, os fenômenos de qualquer naturezanão são apenas externalidades, mas passam por uma representaçãosubjetiva. Contêm o ‘real’ da sensação. Ou seja, o sujeito que vivenciauma realidade se vê afetado por ela, experimenta existencialmente ofenômeno que vive, como uma unidade do sistema de seu entendi-mento. Essa unidade, a que o autor denomina ‘qualidade das sensa-ções’, trata da sua intensidade, cuja medida maior é ‘um’ grau, tornan-do-o único na forma como se apresenta empiricamente. Entre ele e asua negação, ocorre uma seqüência infinita de graus sempre menores,incomensuráveis. Kant (1980: 123) diz sobre a relação entre os dois

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princípios citados, o da extensividade (quantidade) e da intensividade(qualidade), “eu os chamei de princípios matemáticos, sendo ambosconstitutivos dos fenômenos”.

Poderíamos nos estender aqui, na citação de argumentos demuitos autores, como Samaja, Jick e Denzin, que têm refletido sobrea necessidade da complementaridade entre abordagens quantitativase qualitativas. Pela restrição de espaço, queremos apenas assinalar al-guns pontos que consideramos básicos.

Em primeiro lugar, nossa preferência, para tratar do tema, fa-lando em ‘triangulação de métodos’ e não em interdisciplinaridade.Essa preferência diz respeito ao fato de que, no caso, estamos falandoda contribuição e do uso específico de vários instrumentos, para me-lhor aproximação, compreensão e explicação dos processos e fenôme-nos sociais, no sentido tratado por Denzin (1970), Jick (1979), Samaja(1992) e Minayo (1993). Esses autores julgam que nenhum métodopode se arrogar a pretensão de responder sozinho às questões que arealidade social coloca. Por isso, exercitando-se um esforço de integraçãometodológica se pode iluminar a realidade a partir de vários ângulos, oque permite confluências, discordâncias, perguntas, dúvidas, falsea-mentos, numa discussão interativa e intersubjetiva na construção eanálise dos dados. Por isso mesmo, reservamos a noção de ‘interdisci-plinaridade’ para tratar a relação entre duas ou mais disciplinas, o queobviamente inclui questões metodológicas. Porém, muitos problemasde triangulação metodológica podem se dar no âmbito de uma mesmadisciplina, como pudemos considerar neste texto.

O segundo ponto, e o mais essencial de todos, é o que nos faráretomar os fios da crítica sobre a possibilidade de investigar os mes-mos problemas sociais, com os mesmos conteúdos, indiferentementepor métodos qualitativos ou quantitativos como queria Stouffer (1930).Ora, segundo nosso ponto de vista, estamos diante de dois tipos deabordagem de natureza diferente e que se propõem a obter conheci-mentos diferentes e complementares. Apoiados em Kant (1980), di-zemos que os métodos quantitativos, quando trabalham com dadosestatísticos ou com modelos matemáticos, estão na linha dedesvendamento da extensividade e magnitude dos problemas. Por isso,prestam-se a estudar grupos populacionais demograficamente maisabrangentes e, a partir daí, criar indicadores que sirvam como

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orientadores para a atuação em um nível de probabiblidade, por exem-plo, utilizando o conceito de risco.

A abordagem qualitativa, ao contrário, refere-se à intensividadedos fenômenos. Ela não se presta à realização de censos, a estudosepidemiológicos de grandes grupos, a pesquisas que queiram medirquantidade. Ela é própria para aprofundar a compreensão de grupos,de segmentos e de microrrealidades, visando ao desvendamento de sualógica interna e específica, de sua cosmologia, de sua visão de deter-minados problemas, que se expressam em opiniões, crenças, valores,relações, atitudes e práticas.

Esse duplo quantitativo-qualitativo que não se iguala, que nãodeve ser usado indistintamente, mas de forma adequada, pode se tor-nar ‘uno’ na explicação e compreensão de temas que ao mesmo tem-po devem ser analisados em sua magnitude e em sua significância.

(In)conclusões

Como chamaram atenção Minayo & Cruz Neto (1999), a bus-ca de triangulação de métodos deve ser sempre um diálogo e umadiscussão crítica de um grupo que coletiviza, cruza e interage cominformações e conhecimentos em seu labor intelectual. O resultado éum trabalho em que os problemas levantados são vistos com lentesampliadas e imersão na cultura do ‘outro’, seja esse outro o colegaprofissional de disciplinas diferentes ou o grupo populacional com oqual se trabalha. Porém, esse projeto interativo não pode ser apenasum arroubo de vontades individuais. Uma proposta de triangulação,assim como de interdisciplinaridade envolve questões de saber e depoder dos departamentos divididos por disciplinas.

Esse obstáculo, que não é banal, pela experiência institucionalfragmentada e departamentalizada comum a quase todos nós, paraser vencido, demanda uma meta programática de linhas de pesquisaque atuem a partir de temas que exigem essa interação, da iniciativade discussões teóricas sobre conceitos e categorias que podem ou nãose afinar em todo o processo de trabalho e de realização de revisõesperiódicas de erros ou em busca de aperfeiçoamento. Mas também, enão menos importante, é necessário dar valor ao sentido decompartilhamento, compreendendo-o como um gerador de riqueza

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humana e intelectual trazida pela comunicação (científica) com ou-tras pessoas e de outras áreas.

Talvez possa parecer banal, mas fazemos questão de ressaltarque, nas trilhas dessa senda, um aviso é fundamental aos caminhan-tes: antes que seja possível reunir disciplinas e integrar métodos, éfundamental fazer o encontro de pessoas: sem conversa, sem diálogo,sem inter-relação dos pesquisadores, não se constrói a complementaridadede saberes e de métodos por meio de grupos. Imaginar o contrárioseria cair naquele erro para o qual Marx, no Fetichismo da Mercadoria(1978), chamava atenção dos economistas de sua época: não há re-lação entre mercadorias e coisas, as relações são entre pessoas, porisso, são sociais.

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