+ All Categories
Home > Documents > planta medicinais

planta medicinais

Date post: 18-Aug-2015
Category:
Upload: jesse-cunha
View: 255 times
Download: 9 times
Share this document with a friend
Description:
planta medicinais
Popular Tags:
12
Revista Biotemas, 26 (3), setembro de 2013 Estudo etnobotânico de plantas medicinais na comunidade de Santa Rita, Ituiutaba – MG Glaucieli Siqueira Parreira Alves * Juliana Aparecida Povh Universidade Federal de Uberlândia, Faculdade de Ciências Integradas do Pontal, Rua 20, 1600, Bairro Tupã, CEP: 38304-402, Ituiutaba, Minas Gerais – Brasil *Autor para correspondência [email protected] Submetido em 13/11/2012 Aceito para publicação em 03/07/2013 Resumo O objetivo deste artigo foi inventariar as plantas utilizadas na medicina popular pelos membros da comunidade rural de Santa Rita, no município de Ituiutaba – MG. A avaliação foi realizada por meio de entrevistas, com um questionário semiestruturado, e posterior coleta das plantas indicadas pelos informantes. Foram realizadas 47 entrevistas e 127 espécies foram listadas, pertencentes a 55 famílias de Angiospermas. Para obtenção dos dados quantitativos foi calculada a porcentagem de Concordância de Usos Principais (CUP) de cada espécie; para identificar as indicações terapêuticas de maior importância, utilizou-se o Fator de Consenso dos Informantes (FCI). A CUP demonstrou que 5,5% das plantas citadas são amplamente utilizadas pela comunidade. As famílias botânicas predominantes foram Lamiaceae e Asteraceae, com 14 e 13 registros, respectivamente. A indicação de uso predominante envolveu, principalmente, afecções relacionadas a distúrbio emocional, conforme indicado pelo FCI. Salienta-se que 60,7% das plantas citadas neste artigo são espécies exóticas; desse modo, se faz necessário mais estudos para catalogar o conhecimento sobre as plantas medicinais nativas dessa região. Palavras-chave: Cerrado; Etnobotânica; Medicina popular Abstract Ethnobotanical study of medicinal plants in the community of Santa Rita, Ituiutaba – Minas Gerais, Brazil. This paper aimed to inventory the plants used in popular medicine by members of the rural community of Santa Rita, in the town of Ituiutaba, Minas Gerais, Brazil. The evaluation was carried out through interviews, with a semi-structured questionnaire and subsequent collection of the plants indicated by informants. One conducted 47 interviews and 127 species were listed, belonging to 55 Angiosperm families. For obtaining the quantitative data, one calculated the percentage of the Main Use Concordance (cMUC) of each species; for identifying the therapeutic indications with greater importance, one used the Informant Consensus Factor (ICF). The cMUC showed that 5.5% of the plants mentioned are widely used by the community. The predominant botanical families registered were Lamiaceae and Asteraceae, with 14 and 13 records, respectively. The indication of predominant use mainly involved illnesses related to an emotional disorder, as indicated by the ICF. One emphasizes that 60.7% of the plants mentioned in this paper are exotic species; thus, there’s a need for further studies in order to catalogue knowledge on the medicinal plants which are native to this region. Key words: Cerrado; Ethnobotany; Popular medicine Biotemas, 26 (3): 231-242, setembro de 2013 ISSNe 2175-7925 http://dx.doi.org/10.5007/2175-7925.2013v26n3p231
Transcript

Revista Biotemas, 26 (3),setembro de 2013231Estudo etnobotnico de plantas medicinais na comunidade de Santa Rita, Ituiutaba MGGlaucieli Siqueira Parreira Alves *Juliana Aparecida PovhUniversidade Federal de Uberlndia, Faculdade de Cincias Integradas do Pontal, Rua 20, 1600,Bairro Tup, CEP: 38304-402, Ituiutaba, Minas Gerais Brasil*Autor para [email protected] em 13/11/2012Aceito para publicao em 03/07/2013ResumoOobjetivodesteartigofoiinventariarasplantasutilizadasnamedicinapopularpelosmembrosda comunidaderuraldeSantaRita,nomunicpiodeItuiutabaMG. Aavaliaofoirealizadapormeiode entrevistas, com um questionrio semiestruturado, e posterior coleta das plantas indicadas pelos informantes. Foram realizadas 47 entrevistas e 127 espcies foram listadas, pertencentes a 55 famlias de Angiospermas. Para obteno dos dados quantitativos foi calculada a porcentagem de Concordncia de Usos Principais (CUP) de cada espcie; para identifcar as indicaes teraputicas de maior importncia, utilizou-se o Fator de Consenso dos Informantes (FCI). A CUP demonstrou que 5,5% das plantas citadas so amplamente utilizadas pela comunidade. As famlias botnicas predominantes foram Lamiaceae e Asteraceae, com 14 e 13 registros, respectivamente. A indicao de uso predominante envolveu, principalmente, afeces relacionadas a distrbio emocional, conforme indicado pelo FCI. Salienta-se que 60,7% das plantas citadas neste artigo so espcies exticas; desse modo, se faz necessrio mais estudos para catalogar o conhecimento sobre as plantas medicinais nativas dessa regio.Palavras-chave: Cerrado; Etnobotnica; Medicina popularAbstract Ethnobotanical study of medicinal plants in the community of Santa Rita, Ituiutaba Minas Gerais, Brazil. This paper aimed to inventory the plants used in popular medicine by members of the rural community of Santa Rita, in the town of Ituiutaba, Minas Gerais, Brazil. The evaluation was carried out through interviews, with a semi-structured questionnaire and subsequent collection of the plants indicated by informants. One conducted 47 interviews and 127 species were listed, belonging to 55 Angiosperm families. For obtaining the quantitative data, one calculated the percentage of the Main Use Concordance (cMUC) of each species; for identifying the therapeutic indications with greater importance, one used the Informant Consensus Factor (ICF). The cMUC showed that 5.5% of the plants mentioned are widely used by the community. The predominant botanical families registered were Lamiaceae and Asteraceae, with 14 and 13 records, respectively. The indication of predominant use mainly involved illnesses related to an emotional disorder, as indicated by the ICF. One emphasizes that 60.7% of the plants mentioned in this paper are exotic species; thus, theres a need for further studies in order to catalogue knowledge on the medicinal plants which are native to this region.Key words: Cerrado; Ethnobotany; Popular medicineBiotemas, 26 (3): 231-242, setembro de 2013ISSNe2175-7925 http://dx.doi.org/10.5007/2175-7925.2013v26n3p231Revista Biotemas, 26 (3),setembro de 2013232G. S. P. Alves e J. A. PovhIntroduoO uso das plantas como medicamento teraputico paradiversasdoenasrepresentou,durantesculos,a nica alternativa ao homem (HOSTETTMANN et al., 2003). No Brasil, a medicina popular apresenta aspectos peculiares, pois no est limitada apenas a comunidades tradicionais, como os grupos indgenas ou quilombolas, mas praticada tambm por moradores da zona rural e outras comunidades que habitam os biomas brasileiros (DI STASI, 2007a).Nesse sentido, o conhecimento emprico de muitas comunidadesruraissobreautilizaoderecursos naturaistemdespertadograndeinteresseacadmico porconservaremvaliososconhecimentoseespcies potenciais (CALIXTO; RIBEIRO, 2004).Estetipodesabedoriapopularvalidadapelos estudosenvolvendoreasmultidisciplinarescomoa ftoqumica e a farmacologia, que tem buscado evidncias nos estudos etnobotnicos sobre novas substncias vegetais quepossamseraplicadasnasreasmdicaeindustrial (ALBUQUERQUE, 2005; MACIEL et al., 2002).A abordagem etnobotnica, entre outros aspectos, permiteinvestigareanalisarousodasplantas comfnalidadesteraputicasdedeterminadogrupo populacional, bem como entender a histria e a relao dohomemcomessasplantas(ALBUQUERQUE, 2005;ALBUQUERQUE;HANAZAKI,2006).Do mesmo modo, importante ressaltar que a investigao etnobotnica tambm contribui para o desenvolvimento denovasformasdeexploraodosecossistemas, benefciandorecursosquepromovamousoemanejo sustentveissecontrapondosformasdedevastao atual (ALBUQUERQUE, 1999).Exemplo desta devastao a situao do bioma Cerrado, que se encontra entre os 17 ecossistemas mais degradadosdomundo,sendoporisso,listadocomo hotspotdebiodiversidade(MARONIetal.,2006). Cerca de 80% do cerrado j foi modifcado por aes antrpicas, restando apenas 19% de reas fragmentadas de vegetao original e somente 1% disso encontra-se em Unidades de Conservao (MARONI et al., 2006).O Cerrado brasileiro ocupa cerca de 2 milhes de km de rea, o que representa quase 20% do territrio nacional.osegundomaiorbiomabrasileiroese destaca por apresentar grande biodiversidade, com cerca de 22% das espcies biolgicas registradas (ALVES et al., 2008; MARONI et al., 2006).Nestecontexto,hnecessidadedeestudos etnobotnicosemcomunidadesruraisdestebioma visandocatalogarasespciesvegetaisutilizadasna medicina popular resgatando o conhecimento e a relao queestaspopulaespossuemcomasplantas,oque podecontribuirparaaconservaodocerradoeseu uso sustentvel (DI STASI, 2007b). Alm disso, estudos etnobotnicospodemcontribuirparaqueoutrasreas de estudo tenham subsdio para pesquisa, como a rea farmacutica(ALBUQUERQUE,2005),quepossui grande interesse pelos produtos de origem vegetal. Naregiodo TringuloMineirohoregistroda realizaodepoucostrabalhosetnobotnicos,sendo assim,importanteressaltaracarnciadepesquisas voltadas ao estudo das plantas medicinais, especialmente com foco na biodiversidade do Cerrado.Opresenteestudoobjetivoucatalogarasplantas utilizadas pelos membros da comunidade rural de Santa Rita, empregadas como medicinais, visando obter mais informaes sobre espcies do cerrado utilizadas para fns teraputicos.Material e Mtodos rea de estudoAcomunidadedeSantaRitalocaliza-seno municpio de Ituiutaba, situado no pontal do Tringulo Mineiro, planalto central do Brasil, entre as coordenadas 185808Se492754W.Possuireaterritorialde 2.694km2,apresentandoaltitudemximade769me mnima550m.Oclimaclassifcadocomoquente mido, AWnaclassifcaodeKppen,comestao chuvosabemdefnidanoperododeoutubroaabril, e um perodo seco de maio a setembro. A precipitao anualmdiade1.470mm. Astemperaturasmdias anuais encontram-se entre 14C a mnima (junho) e 31C mxima (dezembro). A umidade relativa do ar apresenta ndice mdio anual aproximado de 70% (PREFEITURA MUNICIPAL DE ITUIUTABA, 2012).Revista Biotemas, 26 (3), setembro de 2013233Estudo etnobotnico de plantas medicinaisApaisagemvegetacionalpredominanteo Cerrado,caractersticodogeo-sistemadosplanaltos aplainados do Brasil Central. A regio compreende vrios tipos fsionmicos de Cerrados como Mata de galeria ou ciliar,MatamesofticaouSubcaduciflicadeencosta, Mata de vrzea, Cerrado, Cerrado strico-sensu, Campo sujoouCerradinho,CampolimpoouHidromrfcoe Vereda (PREFEITURA MUNICIPAL DE ITUIUTABA, 2012).AComunidadedeSantaRitaumaassociao demoradoresdaregio,fundadaemagostode1986, sendoatualmentecompostapor63associados.Os associados so pequenos1 e grandes2 produtores rurais que desenvolvem diferentes atividades, desde criao de gado de corte e leiteiro, produo de queijo, rapadura, doces,hortaliasefrutas,almdealgunsprodutos artesanais. A referida associao regida por um estatuto que tem por fnalidade promover discusses que visam melhoriasparaaregio;paratanto,sorealizadas reunies mensais na sede da comunidade, que visam identifcao dos problemas e solues para os mesmos.MtodosInicialmente,paraobteroconsentimentoda comunidade,otrabalhofoiapresentadoaosassociados em uma reunio, onde foram esclarecidos seus objetivos e procedimentos. Posteriormente, o trabalho foi submetido (protocoloregistro:CEP/UFU254/11)eaprovado (anlise:CEP/UFU842/11)peloComitdeticaem Pesquisas com Seres Humanos CEP/UFU, de acordo com a Resoluo 196/96 do Conselho Nacional de Sade.Acoletadosdadosetnobotnicosfoirealizada dedezembro2011amarode2012,pormeiodeum questionriosemi-estruturado,adaptadodeBerlin eBerlin(2005).Asabordagensforamrealizadas diretamenteaosmembrosdacomunidadeemsuas respectivasresidncias.Paraconcretizaraentrevista, os moradores que aceitaram participar da pesquisa, um total de 47 participantes teve que preencher o Termo de 1Pequeno Produtor Rural aquele que, detm posse de gleba rural no superior a 50 (cinquenta) hectares, explorando-a mediante o trabalho pessoal e de sua famlia [...] (BRASIL, 2006).2Grande Produtor rural aquele que possui gleba rural superior a 50 (cinquenta) hectares.ConsentimentoLivreEsclarecidoTCLE,deacordo comomodeloelaboradopeloComitdeticaem Pesquisa com Seres Humanos CEP/UFU.Apsasentrevistas,asplantascitadasforam localizadasecoletadas.Posteriormenteestematerial foi herborizado e identifcado, com auxilio de literatura especializadasegundoAPGII(LORENZI,1998; LORENZI; MATOS, 2002; SOUZA; LORENZI, 2005; 2008) e acondicionado no Laboratrio de Botnica da Faculdade de Cincias Integradas do Pontal Universidade Federal de Uberlndia.Paracadaplantacitadaelaborou-seumregistro, contemplando:famlia,nomecientfco,nomevulgar, parte utilizada, indicao teraputica, forma de preparo ecategoriadaplanta,cultivadaounativa(Tabela1). Denominou-seplantacultivadaasencontradasnos quintais,hortasejardinsdasresidncias,enativa,as plantasnocultivadas(espontneas)oupertencentes vegetaodoCerrado.Ascategoriasteraputicas foram adaptadas de acordo com o CID-10, Classifcao EstatsticaInternacionaldeDoenaseProblemas Relacionados Sade (BRASIL, 2008).Apartirdosdadosobtidos,verificou-sea ImportnciaRelativadasespciescitadascomo medicinal, de acordo com a metodologia proposta por Amorozo e Gly (1988). Assim a Importncia Relativa foi obtida pela porcentagem de Concordncia quanto aos Usos Principais de cada espcie (CUP), usando o nmero deinformantesreferindoosusosprincipaisvezes 100,divididopelototaldeinformantesquecitarama espcie. O resultado encontrado foi multiplicado por um Fator de Correo (FC), correspondente ao nmero de informantes que citaram a espcie, dividido pelo nmero de informantes que citaram a espcie mais citada. A CUP corrigida ento dada pela frmula:CUPc = CUP x FC, onde:CUPc = Porcentagem de concordncia quanto aos usos principais de cada espcie corrigidaCUP=Porcentagemdeconcordnciaquantoaosusosprincipais de cada espcieFC=Fatordecorreo(nmerodeinformantesquecitarama espcie, dividido pelo nmero de informantes que citaram a espcie mais citada). Revista Biotemas, 26 (3),setembro de 2013234G. S. P. Alves e J. A. PovhOsvaloresdeConcordnciaquantoaosUsos PrincipaisCorrigidosparacadaespcie(CUPc)esto no intervalo de 0 a 100, assim quanto maior for o valor obtido,maioronmerodecitaesparaaespcie quanto a sua principal utilizao (AMOROZO; GLY, 1988).Paraidentifcarauniformidadedasindicaes teraputicasdemaiorimportncia,utilizou-seoFator de Consenso dos Informantes (FCI), tcnica elaborada por Trotter e Logan (1986, apud Ragupathy et al., 2008), atravs da frmula: FCI= nur-nt/nur-1, (nur = nmero de citaes de uso em cada categoria; nt = nmero de espcies utilizadas na categoria.Resultados e DiscussoForamrealizadas47entrevistas,sendo50,6% dosentrevistadosdosexofemininoe40,4%dosexo masculino, com intervalo de idades entre 24 e 88 anos. Afaixaetriamaisrepresentativacompreendeuentre 60e69anos,perfazendoumtotalde23,45%dos entrevistados.Emseguidaafaixaetriade4049 anos, totalizou 21,27% dos informantes. Entre a faixa etriade5059anos,houve19,15%entrevistados. Dentreosinformantesdafaixaetria3039houve 14,89%.Asidades70-79e2029tiveram8,52% dosentrevistadosrespectivamente.Afaixaetriade informantes mais velhos (80 89) teve menor nmero de informantes 4,25%. Quanto escolaridade, a maioria dos participantes (89%) no concluiu o Ensino Fundamental, apenas trs terminaram o ensino mdio e somente dois cursaram o Ensino Superior. De todos os informantes, apenas quatro moram na regio h oito anos e o restante h mais de 35 anos.Ascitaesetnobotnicascompreenderam127 espcies,distribudasem55famlias(Tabela1). Asfamliasbotnicasmaisrepresentativasforam Lamiaceae(14espcies),Asteraceae(13espcies), Fabaceae(noveespcies),Rutaceae(seteespcies), Euphorbiaceae (cinco espcies), Cucurbitaceae, Poaceae e Myrtaceae (quatro espcies cada). As outras 46 famlias tiveramcitaesigualouinferioratrsespcies. Lamiaceae e Asteraceae tambm foram as famlias mais representativas encontradas nos trabalhos de Christo et al. (2006), Teixeira e Melo (2006) e Costa e Mayworm (2011). As famlias Fabaceae, Rutaceae, Euphorbiaceae, Cucurbitaceae,PoaceaeeMyrtaceaetambmforam encontradas com maior representatividade nos estudos de Cunha e Bortolotto (2011) e Pasa (2011). A maior representatividade da famlia Lamiaceae encontrada neste trabalho (Tabela 1) pode ser explicada por sua distribuio cosmopolita e grande importncia teraputica,evidenciadaemestudosanteriores(DI STASIetal.,2002;PINTOetal.,2006).Ainda,de acordo com Judd et al. (2009), os membros desta famlia sedestacamporseremricosemleosessenciais,o que atribui a estas espcies propriedades aromticas e medicinais.SegundoSouzaeLorenzi(2005),grande partedasespciesdafamlia Asteraceaesonativas, com ocorrncia principalmente no cerrado, corroborando odadoencontradonesteestudo. Ainda,deacordoDi Stasi et al. (2002), esta famlia uma fonte de plantas com interesse teraputico, devido ao grande nmero de espcies usadas como medicamentos e incorporadas medicina tradicional.Neste estudo, assim como o mencionado em outros trabalhos,(AMOROZO;GLY,1988;SILVA,2002; CUNHA;BORTOLOTTO,2011)asfolhasforama parte da planta mais citada, totalizando 44% da forma de utilizao das espcies; em seguida a raiz, com 13% dasespcies;ofrutoeacascacom9%dasespcies. Os25%restantes,foramreferentessfolhasefores; folhasefrutos;sementes;seivaeoutros. Aformade preparo mais utilizada o ch por decoco (53%). H tambmochporinfuso(33%),omacerado(7%), vinho medicinal (6%), tintura, suco, p, banho, xarope e outros (1%). Estas formas de preparo tambm foram encontradaspordiversosautores(AMOROZO,2002; PINTO et al., 2006; OLIVEIRA et al., 2010; COSTA; MAYWORM, 2011), entretanto a maior predominncia verifcada foi o ch por decoco e infuso.A maioria das espcies citadas pelos entrevistados parausomedicinalcultivadanasreasmanejadas (60,7%).Asdemaisespciesusadassonativasdo Cerrado, de ocorrncia espontnea, sendo encontradas nosarredoresdascasasouemreasprximas.Este resultadodiferedoencontradoemtrabalhoscomoos de Amorozo(2002),Oliveiraetal.(2010)eCunhae Revista Biotemas, 26 (3), setembro de 2013235Estudo etnobotnico de plantas medicinaisBortolotto (2011), onde a maioria das espcies citadas foi descrita como nativa. Segundo Amorozo (2002), a menor frequncia de uso de espcies nativas, bem como detrimentodoconhecimentopodeestarassociados formasdeusodosambientesnaturaisque,devidos aes antrpicas, sofreram e vem sofrendo alteraes. Esta afrmao se concretiza na fala dos entrevistados, quandodeclararamquealgumasespciesesto desaparecendo devido s roadas nas pastagens e pelos frequentes desmatamentos.Outrosfatoresqueameaamorepasseea continuidadedesteconhecimentoso:aemigrao domeioruralparaaszonasurbanaseaascensoda medicinamodernaque,decertaforma,desvaloriza oconhecimentopopularquedeixadeserpassadode geraoagerao(AMOROZO,2002;PINTOatal., 2006; GIRALDI; HANAZAKI, 2010). De acordo com alguns entrevistados, seus flhos vo para a cidade em busca de trabalho e, com isso, diminuem a prtica do uso das plantas medicinais e as substituem por medicamentos alopticos. Desse modo, os mais jovens vo perdendo a prtica da medicina popular e os aspectos da cultura local (OLIVEIRA et al., 2010). Vale ressaltar que neste trabalho90%dosentrevistados,confrmaramobtero conhecimentosobreasplantasmedicinaiscomseus familiares.A maioria das plantas (42,5%) apresentou baixos valoresdeCUPc,estandoessesentre0e24.23,6% delasapresentouvaloresintermediriosdeCUPc, entre 25 e 49 e somente 5,5% das plantas apresentaram valoresdeCUPcentre50e100.OndiceCUPc referidofdelidadequantoaprincipalutilizaoda espcie citada pelos informantes, podendo sugerir que as espcies com um ndice de concordncia relativamente alto podem ser promissoras para realizao de estudos farmacolgicos que possam corroborar a efccia de suas propriedadesteraputicas(AMOROZO;GLY,1988; VENDRUSCOLO; MENTZ, 2006).Asespciesqueobtiveramomaiorvalorde CUPc foram: Cymbopogon citratus (DC) Stapf (capim-cidreira),utilizadaparagripe,expectoranteepresso alta;CrotonantisiphiliticusMart.(p-de-perdiz), utilizada para infeces uterinas; Mentha pulegium L. (poejo), utilizada para gripes, expectorante e calmante; MenthaxvillosaHuds(hortel),utilizadaparagripe; Plectranthus barbatus Andrews (boldo), utilizada para indigesto;SambucusnigraL.(sabugueiro),utilizada paragripe;Stryphnodendronadstringens(Mart.) Coville(barbatimo),utilizadacomocicatrizantee gastrite (Tabela 1). Valores alto de CUPc tambm foram observadosporPillaetal.(2006)paraasespcies C.citratus, P. barbatus e os gneros de Mentha sp.OusodeP.barbatusparaindigestopodeser comprovadopelovalormximodeconcordncia (CUPc=100),corroborandoarecomendaodo FormulriodeFitoterpicosFarmacopeiaBrasileira FFFB (BRASIL, 2011), e o tambm encontrado por Pilla et al (2006) Vendruscolo e Mentz (2006). As espcies Cymbopogon citratus, Sambucus nigra eStryphnodendronadstringenstambmsoespcies recomendadascomomedicamento(BRASIL,2011), porm a indicao teraputica de S. nigra citada pelos informantesdacomunidadediferedarecomendada noFFFB.PortantoS.nigrapodeserindicadapara estudos farmacolgicos que visem validar as indicaes teraputicas aqui encontradas. O mesmo acontece com Crotonantisiphiliticus,Menthapulegium,Mentha xvillosaespciesnoindicadasnoFFFBcomo medicamentonosProgramasdeFitoterapianoSUS. ComexceodeC.antisiphiliticuseS.nigratodas asoutrasespciescomvaloresaltodeCUPcpossui informaes ftoterpicas, ftoqumicas e farmacolgicas apresentadas por Lorenzi e Matos (2002). Apenas para a espcie C. antisiphiliticus, no foram encontrados na literaturaestudosfarmacolgicoscomprovandosuas indicaesteraputicas,masvaleressaltarqueesta espcie nativa do cerrado e segundo os moradores nos ltimostempos,apresentabaixaocorrnciadevidos frequentes roadas das pastagens. A Tabela2mostraascategoriasteraputicaseo resultado do Fator de Consenso dos Informantes (FCI). O FCI apresenta valor mximo de 1, quando ocorre total consenso entre os informantes (OLIVEIRA et al., 2010) quanto a utilizao das espcies. Quanto maior o valor obtido mais alto a representatividade do consenso dos informantes.Revista Biotemas, 26 (3),setembro de 2013236G. S. P. Alves e J. A. PovhTABELA 1:EspciesmedicinaiscitadaspelosentrevistadosdaComunidadedeSantaRita,Ituiutaba-MG.Parteutilizada (PU): Botes forais (bo-f); Casca (c); Caule (ca); Cabelo de milho (ca-mi); Flores (f); Folhas (fo); Frutos (fr); Raiz (r); Rizoma (ri); Seiva (sei); Semente (se); Concordncia quanto aos usos principais (CUPc) Nativa (N) ou Cultivada (C). Famlia/espcie Nome vulgar PU Indicao Preparo N/C CUPcAlismataceaeEchinodorus grandiforus Mitch.chapu-de-couro fo Afeces renais Decoco N 38,70AmaranthaceaeAlternanthera dentata (Moench) Stuchlikterramicina, novalginafoGripe, infeces, febrfugo, depurativoInfuso C 30,70AnacardiaceaeMyracrodruon urundeuva Allemoaroeira c Gastrite Decoco N 7,69Anacardium occidentale L. caju fo Diarreia Suco C 7,69Mangifera indica L. manga fo Gripe Decoco C 7,90AnnonaceaeAnnona muricata L.graviola fo, fr Diabetes, cncer Infuso C 7,60ApiaceaeDaucus carota L.cenoura r Antiemtico Suco C 7,69Foeniculum vulgare Millfuncho, erva-docefo Espasmo, gripe, depurativo Decoco C 11,50ApocynaceaeMandevilla velutina (Mart. ex Stadelm) Woodsonbatata infalive rDoena de chaga, depurativo, afeces renais, gastriteDecoco, vinho medicinalC 23,00Hancornia speciosa Gomes mangaba fr,fo Cncer Decoco C 7,69Himatanthus drasticus (Mar.) Plumel. tibornia fo Gripe, pneumonia, vermfugo Decoco C 7,60AraceaeAnthurium affne Schottsalsa-paredo r Infeces uterinasVinho medicinalC 7,69Philodendron bipinnatifdum Schott & Endlichersip-mbe fo Contuso Decoco C 7,69ArecaceaeCocos nucifera L.coco fr Vermfugo Doce C 7,69AristolochiaceaeAristolochia cymbifera Mart. & Zucc.jarrinha r Infeces uterinas Decoco C 7,69AsteraceaeAgeratum conysoides L.mentrasto, fo Indigesto, clicasDecoco, infusoN 39.00Artemisia absinthium L. losna fo Diarreia, analgsico Decoco C 12,30AsteraceaeArtemisia vulgaris L.artemige, artimigefo Infeces, indigesto Infuso C 15,30Baccharis trimera (Less.) DC. carqueja fo Fgado, analgsico Decoco C 23,00Bidens Alba (L.) DC. pico fo Ictercia, hepatite Decoco N 32,00Calendula offcinalis L.Chamomilla recutita (L.) Rauschertcravo fo Analgsica Tintura C 7,69camomilaalfacefo, rCalmante, clica Infuso C 15,30Lactuca sactuca L. Calmante, reumatismo Infuso, suco C 5,10Mikania glomerata Spreng. guaco foExpectorante, tosse, febrfugo, depurativoDecoco, macerao C 2,50Solidago chilensis Meyen arnica fo Contuso, gripe, analgsico Banho, infuso C 26,30Soliva pterosperma (Juss.) Less.marcelinha, macelafo Diarreia, indigestoDecoco, infuso, maceradoC 33,10Tanacetum parthenium (L.) Sch. Bip.artimige, margaridinhafo, f Indigesto, amenorreiaDecoco, infusoC 7,69Vernomia condensata Baker caferana fo Indigesto Macerado C 38,40Vernomia polyanthes Less. assa-peixe fo Tosse, bronquite Decoco N 15,30Revista Biotemas, 26 (3), setembro de 2013237Estudo etnobotnico de plantas medicinaisFamlia/espcie Nome vulgar PU Indicao Preparo N/C CUPcBignoniaceaeArrabidaea brachypoda (DC.) Bur.cervejinha r Infeces uterinasVinho medicinal, decocoN 38,40BrassicaceaeBrassica oleracea DC.couve fo Gota, laxante, viso Suco C 2,50BromeliaceaeAnanas comosus (L). Merr.abacaxi fr Erisipela Suco C 7,69Bromelia antiacantha Bertol gravat fr Bronquite Xarope N 7,69CaprifoliceaeSambucus nigra L. sabugueiro fo f GripesDecoco, infusoC 76,90CaricaceaeCarca papaya L.mamo fo Indigesto Decoco C 23,00CaryocaraceaeCaryocar brasiliense Camb.piqui c Infeco de garganta Decoco N 7,69CecropiaceaeCecropia pachystachya Trculimbaba, embabafo Afeces renais, bronquite Decoco N 15,30ChenopodiaceaeChenopodium ambrosioides L.erva-de-santa-mariafo Vermfugo, contuso, gripeInfuso, decoco, maceradoN 44,70CochlospermaceaeCochlospermum regium (Mart. Ex. Schrank.) Pilgeralgodozinho r Afeces uterinasVinho medicinalN 30,70CombretaceaeTerminalia argentea Mart. & Zucc.capito cBronquite, pneumonia, tosse, gripeDecoco N 17,30ConvolvulaceaeOperculina macrocarpa (Linn) Urbip r Vermfugo P N 30,70CrassulaceaeSedum dendroideum Moc. &Sess ex DC. blsamo, balsaminhofoDor de ouvido, queimao, gastrite, sinusite, riniteMacerado C 9,80Bryophyllim pinnatum (Lam.) Okenfolha-santa, erva-santafo lcera, gastrite Xarope C 3,80CucurbitaceaeCucurbita pepo L.abborasem, foVermfugo, indigesto Paoca, infuso C 7,60Melothria sp. canduro ca Afeces renais Infuso C 7,69Momordica charantia L.melo-de-so-caetano, so-caetanofo Bronquite, indigesto, fgado Decoco N 20,50Sechium edule (Jacq.) Sw chuchu fo Presso alta Infuso C 7,69DilleniaceaeCuratella americana L.lixeira fo Menopausa, vermfugo Decoco N 23,00EuphorbiaceaeCroton antisiphiliticus Mart.p-de-perdiz r Infeces uterinasVinho medicinal, decocoN 61,50Croton urucurana Baill. sangra-dagua sei Cicatrizante, erisipela Decoco N 15,30Manihot esculenta Crantz. mandioca fo Anemia P C 7,69Phyllanthus niruri L. quebra-pedra fo, r Afeces renais Decoco N 38,40Julocroton humilis Mll. Arg. velame branco sei, rCicatrizante, purgante, afeces renais, depurativoDecoco, aplicao diretaN 13,10FabaceaeAmburana cearensis (Allemo) A. C. Smamburana sem Indigesto Decoco C 7,69Caesalpinia ferrea Mart jucsem, cAnalgsico, afeces renaisDecoco, vinho medicinalC 30,7Copaifera langsdorffi Desf.copafera, copabasei Acidente ofdico Ingerir c/gua N 7,69Revista Biotemas, 26 (3),setembro de 2013238G. S. P. Alves e J. A. PovhFamlia/espcie Nome vulgar PU Indicao Preparo N/C CUPcFabaceaeDimorphandra gardneriana Tul.faveira sem Estimulante Decoco N 7,6Dipteryx alata Vogel baru sem AfrodisacoVinho medicinal, sementes torradasN 15,3Senna occidentalis ( L.) Link fedegoso r Gripe Decoco N 15,3Pterodon emarginatus Vogel sucupira sem Infeces de gargantaTintura, decocoN 46,1Hymenaea stigonocarpa Mart. jatob fr Afeces renais, prstataDecoco, vinho lN 13,2Tamarindus indica L. tamarino fr Diurtico, afeces renais Suco C 3,8IridaceaeSisyrinchium vaginatum Spreng.capim rei r Analgsico Decoco N 7,69LamiaceaeLavandula angustifolia Mill.alfazema fo, fLabirintite, indigesto, analgsico, sinusiteInfuso C 1,92Leonurus sibiricus L. rubim, marroio fo Gripe, antiemtico Infuso N 15,30Marsypianthes chamaedrys (Val) hortel foGripe, vermfugo, infeco de gargantaDecoco C 20,50Mentha arvensis L. vique, hortel fo Gripe Infuso C 15,30Mentha pulegium L. poejo foGripes, calmante, expectoranteInfuso, decocoC 64,00 Mentha x piperita L. hortel, alevante fo Gripe, diurtico Infuso C 41,10Mentha x villosa Huds hortel, menta fo Gripe Infuso C 53,80Ocimum basilicum L. manjerico fo Gripe Infuso C 7,69Ocimum gratissimum L.alfavaca, laavenhafo Gripes, micose, diurticoDecoco, infusoC 38,50Ocimum selloi Benth. atroveram fo Emenagoga, clica menstrual Infuso C 7,60Plectranthus barbatus Andrewsboldo, falso-boldofo IndigestoMacerado, infuso, decocoC 100,00Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng hotel pimenta fo Gripe, indigestoDecoco, xaropeC 46,10Plectranthus neochilus Schlechter anador fo AnalgsicoMacerao, tinturaC 15,30Rosmarinus offcinalis L. alecrim fo, f Gripe, depresso, analgsicoDecoco, infuso, tinturaC 26,30LauraceaePersea americana Mill.abacatesem,fo, fAfeces renais, reumatismo, emenagoga, calvcieDecoco, infusoC 30,70Cinnamomum zeylanicum Breyn. canela c, fo EstimulanteDecoco, infusoC 7,69LiliaceaeAloe vera (L.) Burm. F.babosa fo Cicatrizante Aplicao local C 30,70Smilax japecanga Griseb. japecanga r Diabetes Decoco C 7,69Herreria salsaparilha Mart. salsaparrilha r Depurativo Decoco N 23,00LoganiaceaeStrychnos pseudoquinaA.St.- Hil.quina c Diarreia Decoco N 23,00MalpighiaceaeMalphighia glabra L.acerola fr Gripe Suco C 7,69MalvaceaeAbelmoschus esculentus (L.) Moenchquiabo sem Depurativo, anti-infamatrio Decoco C 3,80MimosoideaeAnadenanthera colubrina (Vell.) Brenanangico c Gripe Decoco N 7,69Revista Biotemas, 26 (3), setembro de 2013239Estudo etnobotnico de plantas medicinaisFamlia/espcie Nome vulgar PU Indicao Preparo N/C CUPcStryphnodendron adstringens (Mart.) Coville barbatimo c Cicatrizante, gastriteDecoco, p, banhoN 56,60MoraceaeMorus nigra L.amora foMenopausa, afeces renais,febrfugoInfuso C 20,50Dorstenia asaroides Gardn. carapi r Sinusite P N 15,30Brosimum gaudichaudii Trcul maminha-cadela c Afeces renais Decoco N 7,69MyrtaceaeSyzygium aromaticum (L.) Merril. & Perrycravo da ndia bo-f Labirintite Infuso C 7,60Eucalyptus citriodora Hook. eucalipto fo Gripe Decoco C 15,30Psidium guajava L. goiaba fo Diarreia Infuso C 15,30Syzygium cumini (L.) Skeels jambolo c Diarreia Decoco C 7,69PassiforaceaePassifora edulis Simsmaracuj fo Calmante, presso alta Infuso C 7,60PhytolaccaceaePetiveria alliacea L.guin, gamb r Reumatismo, analgsico Decoco C 3,80PiperaceaePothomorphe umbellata (L.) Mig.panaceia fo Afeces Infuso C 7,69PlantaginaceaePlantago major L.tranchagem, transagemfo Gripe, tosse, indigesto Infuso N 24,60PoaceaeCymbopogon citratus (DC) Stapfcapim cidreira foGripe, expectorante, presso altaDecoco C 71,50Cynodon dactylon (L.) Pers p-de-galinha r Labirintite Decoco N 7,69Oryzasp. arroz sem Erisipela P C 7,69Zea mays L. milho cami Afeces renais Decoco C 7,69PolygalaceaeBredemeyera foribunda Willd.gargo-velho, sabo-gentil, pau-gemadar Depurativo Gemada N 23,00PortulacaceaeTalinum paniculatum (Jacq.) Gaertn.ora-pro-nbis-midofo Cicatrizante, emenagogaInfuso, cataplasmaN 3,84PunicaceaePunica granatum L.rom fr Infeco de gargantaDecoco, tinturaC 20,50RosaceaePirus sp. macieira fr Antiemtico Suco C 7,69RubiaceaeChiococca alba (L.) Hitchc.cancar Vermfugo P N 30,80Guettarda viburnoides Cham. & Schlecht veludo branco c Indigesto Decoco N 7,69Rudgea viburnoides (Cham.) Benth.congonha-de-bugrefo Afeces renais, depurativo Decoco N 7,60RutaceaeCitrus aurantium L.laranja f, fo Gripes Infuso C 38,40Citrus limetta R. laranja lima fr Sinusite Tintura C 7,69Citrus medica L. cidra f, fo Gripe Infuso C 7,69Citrus sp. 1 limo china fo, fr Gripe Infuso C 7,69Citrus sp. 2 limo galego fo, fr Gripe, infeco de gargantaGargarejo, infusoC 17,30Coffea arabica L. caf fr Analgsico, amenorreia Infuso C 5,10Ruta graveolens L. arruda fo Conjuntivite, piolhoDecoco, maceradoC 32,00SolanaceaeDatura stramonium L.trombeteira, beladonafo Analgsico Infuso C 7,69Solanum lycocarpum St. Hil. lobeira f Gripes, bronquiteDecoco, xaropeN 15,30Solanum paniculatum L. jurubeba fo Hepatite, fgado Decoco C 7,60Revista Biotemas, 26 (3),setembro de 2013240G. S. P. Alves e J. A. PovhFamlia/espcie Nome vulgar PU Indicao Preparo N/C CUPcSterculiaceaeGuazuma ulmifolia Lam. erva-lagarto fo Diarreia Decoco N 7,69VerbenaceaeLippia alba (Mill.) N. E. Br.erva-cidreira fo, fPresso alta, gripe, calmante, expectoranteInfuso, decoco, xaropeC 42,60Stachytarpheta cayennensis (Rich.) Vahl gervo fo, r Contuso, gripe, infecesMacerado, infusoN 44,00VitaceaeCissus verticillata (L.) Nicholson & C.E. Jarvisinsulina fo Diabetes Infuso C 7,69VochysiaceaeVochysia rufa Mart.pau-doce c Diarreia Decoco N 7,69ZingiberaceaeCostus spicatus (Jacq.) Sw.cana-de macacofo, caDepurativa, diurtico Decoco N 15,3Curcuma longa L. aafro riAnti-infamatrio, gripe, infeco de gargantaP C 7,60Zingiber offcinale Roscoegengibre, gingibreriGripe, reumatismo, colesterol, expectoranteInfuso C 34,20TABELA 2: FatordeConsensodosInformantessobreasplantascitadaspelosmembrosdacomunidadedeSantaRita, Ituiutaba-MG.FCI:FatordeConsensodosInformantes,DCC:DoenamaisCitadanaCategoria,NEC: Nmero de espcies citadas por categoria.CategoriasFCI DCC NECDistrbio emocional (depresso)1 Depresso 3Menopausa0,83 Menopausa 7Cicatrizantes (leses, feridas)0,82 Cicatrizante18Doenas do aparelho respiratrio (asma, bronquite, tosse, gripe, sinusite, pneumonia, expectorante) 0,69 Gripe 146Doenas hepticas (problemas do fgado, hepatite) 0,67 Problemas do fgado 10Doenas do aparelho digestivo (indigesto, gastrite, gases, vmitos, lcera, queimao) 0,66 Indigesto 61Doena parasitaria (vermifugo) 0,64 Vermifugo 23Doenas do aparelho geniturinrio (diurtico, pedra nos rins, clica mestrual, afeces uterinas e renais, prostata)0,60 Afeces renais 61Doenas do sistema osteomuscular (artrose, reumatismo, torso e contuso)0,58 Reumatismo 20Anti-diarrico (diarreia) 0,58 Diarreia20Infeces (garganta e outras)0,45 Garganta 23Doenas do sangue e rgos hematopoticos (depurativo do sangue) 0,44 Depurativo do sangue 17Doenas de pele e do sistema tegumentar (micose, erisiplia, queda de cabelo) 0,40 Micose 6Efeito sedativo (calmante)0,33 Calmante 7Sintomas (dores no defnidas, dor de cabea, dor de ouvido, febres)0,32 Dor de cabea 23Emenagoga0,17 Emenagoga 7Laxante0,5 Laxante 3Doenas do aparelho circulatrio (corao, hiperteno)0 Hiperteno 4Doenas do sistema endcrino (diabetes)0 Diabetes 3Revista Biotemas, 26 (3), setembro de 2013241Estudo etnobotnico de plantas medicinaisDeacordocomoconsensodosinformantes,a categoriacommaiorvalorfoidistrbioemocional chegandoaovalormximo(1).Emseguidafcaram: menopausa(0,83);cicatrizante(0,82);doenasdo aparelho respiratrio (0,69); doenas hepticas (0,67); doenas do aparelho digestivo (0,66) e doena parasitaria (0,64). As outras categorias tiveram valores inferiores a 0,60 (Tabela 2). Citaes anlogas para estas doenas tambmforamobservadasporAmorozoeGly (1988),Chistoetal.(2006)eOliveiraeMeniniNeto (2012).Entretanto,paraascategoriasdedoenasdo aparelho respiratrio e digestrio, foram mencionados porMacedoetal.(2007),CostaeMayworm(2011), Cunha e Bartolloto (2011) valores mais altos. Os valores obtidosindicamqueaspropriedadesmedicinaisdas espcies citadas para estas categorias merecem estudos mais aprofundados (MAIOLI-AZEVEDO; FONSECA-KRUEL, 2007). Ainda, segundo Oliveira et al. (2010), podeseafirmarqueasespciesagregadasnessas categorias so culturalmente as mais importantes para a comunidade uma vez que consisti em uma alternativa de cura (CUNHA; BARTOLLOTO, 2011).Considerando os resultados obtidos, constatou-se queautilizaodasplantasnativasfoi33,3%menor emrelaoascultivadas,oquepodedemonstrara perda dabiodiversidade doCerradonesta regio, fato reportadopelosentrevistadosondemuitasespcies nativasutilizadasporelesnosomaisencontradas devido,sroadasnaspastagenseosfrequentes desmatamentos oriundo das aes humanas. Entretanto, os resultados da CUPc mostram que 5,5% das plantas citadassoamplamenteutilizadaspelacomunidade, oqueressaltaaimportnciarelativadestasespcies para os entrevistados. Ainda, de acordo com o Fator de ConsensodosInformantes,ascategoriascomvalores altosconcentramespciesimportantesculturalmente para a comunidade.Dessemodo,sugeridaarealizaodemais estudos que cataloguem o conhecimento associado ao usodasplantasmedicinaisemcomunidadesrurais, especialmente em biomas ameaados como o Cerrado, visto que o resgate desse conhecimento pode propiciar elementosfundamentaisparaaconservaoda biodiversidade,alternativasdesubsistnciaemesmo para a manuteno da diversidade cultural. Alm disso, estudos qumicos e farmacolgicos devem ser realizados para a comprovao dos efeitos medicinais das espcies utilizadas como medicinal ocorrentes no Cerrado. Referncias ALBUQUERQUE, U. P. Manejo tradicional de plantas em regies neotropicais. Acta Botnica Brasilica, Feira de Santana, v. 13, n. 3, p. 307-315, 1999.ALBUQUERQUE, U. P. Introduo a etnobotnica. 2. ed. Rio de Janeiro: Intercincia, 2005. 93 p.ALBUQUERQUE,U.P.;HANAZAKI,N.Aspesquisas etnodirigidas na descoberta de novos frmacos de interesse mdico e farmacutico: fragilidades e perspectivas. Revista Brasileira de Farmacologia, So Paulo, v. 16, p. 678-689, 2006.ALVES,E.O.;MOTA,H.J.;SOARES,T.S.;VIEIRAM.C.; SILVA,C.B.Levantamentoetnobotnicoecaracterizaode plantasmedicinaisemfragmentosforestaisdeDourados-MS. Cincia Agrotcnica, Lavras, v. 32, n. 2, p. 651-658, 2008.AMOROZO, M. C. M. Uso e diversidade de plantas medicinais em Santo Antonio do Leverger, MT, Brasil. Acta Botnica Brasilica, Feira de Santana, v. 16, n. 2, p. 189-203, 2002.AMOROZO,M.C.M.;GLY, A.Usodeplantasmedicinaispor caboclosdobaixo Amazonas.Barbacena,PA,Brasil.Boletimdo Museu Paraense Emlio Goeldi, Srie Botnica, Belm, v. 4, n. 1, p. 47-131, 1988.BERLIN,A.B.;BERLIN,B.SomefeldmethodsinMedical Ethnobiology.FieldMethods,Gainesville,v.17,n.3,p.235-268, 2005.BRASIL. AGNCIA NACIONAL DE VIGILNCIA SANITRIA. Formulrio de ftoterpicos da farmacopia brasileira. Braslia: Anvisa, 2011. 126 p.BRASIL.MINISTRIODOMEIO AMBIENTE.MME.LEINo 11.428,de22dedezembrode2006.Regulamentaautilizaoe proteo da vegetao nativa do bioma Mata Atlntica. Decreto no 6.660, de 21 de novembro de 2008. Disponvel em: . Acesso em: 10 jun. 2011.BRASIL.MINISTRIODASADE.CIDClassifcao estatsticainternacionaldedoenaseproblemasrelacionados sade.2008.Disponvelem:. Acesso em: 10 mar. 2012.CALIXTO, J. S.; RIBEIRO, E. M. O cerrado como fonte de plantas medicinaisparausodosmoradoresdecomunidadestradicionais doaltoJequitinhonha,MG.In:ENCONTRONACIONALDE PSGRADUAOEM AMBIENTEESOCIEDADE,1,2004, Indaiatuba.Anaiseletrnicos.Indaiatuba:ANPPAS.Disponvel em:. Acesso em: 18 abr. 2011.COSTA, V. P.; MAYWORM, M. A. S. Plantas medicinais utilizadas pela comunidade do bairro dos Tenentes municpio de Extrema, MG, Brasil. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, Botucatu, v. 13, n. 3, p. 282-292, 2011.CHRISTO, A. G.; GUEDES-BRUNI, R. R.; FONSECA-KRUEL, V. S. Uso de recursos vegetais em comunidades rurais limtrofes Revista Biotemas, 26 (3),setembro de 2013242G. S. P. Alves e J. A. Povhreserva biolgica de Poo das Antas, Silva Jardim, Rio de Janeiro: Estudo de caso na gleba Aldeia Velha. Rodrigusia, Rio de Janeiro, v. 57, n. 3, p. 519-542, 2006.CUNHA,S.A.;BORTOLOTTO,I.M.Etnobotnicadeplantas medicinais no assentamento Monjolinho, municpio de Anastcio, MatoGrossodoSul,Brasil.ActaBotanicaBrasilica,Feirade Santana, v. 25, n. 3, p. 685-698, 2011.DISTASI,L.C.Oquefazumaplantamedicinalfuncionar.In: DI STASI, L. C. (Ed.). Plantas medicinais verdades e mentiras: oqueosusurioseosprofssionaisdesadeprecisamsaber.So Paulo: UNESP, 2007a. p. 37- 44.DI STASI, L. C. Plantas medicinais em seus distintos contextos de uso.In:DISTASI,L.C.(Ed.).Plantasmedicinaisverdadese mentiras:oqueosusurioseosprofssionaisdesadeprecisam saber. So Paulo: UNESP, 2007b. p. 45-70.DISTASI,L.C.;GUIMARES,E.M.;SANTOS,C.M.; HIRUMA-LIMA, C. A. Lamiales medicinais. In: DI STASI, L. C.; HIRUMA-LIMA,C. A.(Ed.).Plantasmedicinaisna Amaznia e na Mata Atlntica. 2. ed. So Paulo: UNESP, 2002. p. 406-448.GIRALDI, M.; HANAZAKI, N. Uso e conhecimento tradicional de plantas medicinais no Serto do Ribeiro, Florianpolis, SC, Brasil. Acta Botnica Brasilica, Feira de Santana, v. 24, n. 2, p. 395-406, 2010.HOSTETTMANN, K.; QUEIROZ, E. F.; VIEIRA, P. C. Principio ativo de superiores. So Carlos: EdUFscar, 2003. 152 p.JUDD, W. S.; CAMPBELL, C. S.; KELLOGG, E. A.; STEVENS, P. F.; DONOGHUE, M. J. Relaes flogenticas das Angiospermas. In:JUDD,W.S.;CAMPBELL,C.S.;KELLOGG,E.A.; STEVENS, P. F.; DONOGHUE, M. J. (Ed.). Sistemtica vegetal: um enfoque flogentico. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. p. 225-508.LORENZI,H.rvoresbrasileiras:manualdeidentifcaoe cultivo de plantas arbreas do Brasil. 2. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 1998. 452 p.LORENZI,H.;MATOS,F.J.A.PlantasmedicinaisnoBrasil: nativas e exticas. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002. 544 p.MACEDO,A.F.;OSHIIWA,M.;GUARIDO,C.F.Ocorrencia dousodeplanyasmedicinaispormoradoresdeumbairrodo municipiodeMarilia-SP.RevistadeCinciaeFarmacutica Bsica e Aplicada, So Paulo, v. 28, n. 1, p. 123-128, 2007. MACIEL, M. A.; PINTO, A. C.; VEIGA, V. F. J.; GRYNBERG, N. F.; ECHEVARRIA, A. Plantas medicinais: a necessidade de estudos multidisciplinares. Qumica Nova, So Paulo, v. 25, n. 3, p. 429-438, 2002.MAIOLI-AZEVEDO,V.;FONSECA-KRUEL,V.S.Plantas medicinaiseritualsticasvendidasemfeiraslivresnoMunicpio do Rio de Janeiro, RJ, Brasil: estudo de caso nas zonas Norte e Sul. Acta Botanica Brasilica, Feira de Santana, v. 21, n. 2, p. 263-275, 2007.MARONI,B.C.;DISTASI,L.C.;MACHADO,S.R.Plantas medicinais do cerrado de Botucatu. So Paulo: Unesp, 2006. 194 p.OLIVEIRA,F.C.S.;BARROS,R.F.M.;MOITANETO,J.M. PlantasmedicinaisutilizadasemcomunidadesruraisdeOeiras, semiridopiauiense.RevistaBrasileiradePlantasMedicinais, Botucatu, v. 13, n. 3, p. 282-292, 2010.OLIVEIRA,E.R.I.;MENININETO,L.Levantamento etnobotnicodeplantasmedicinaisutilizadaspelosmoradoresdo povoadodeManejo,LimaDuarteMG.RevistaBrasileirade PlantasMedicinais,Botucatu,v.14,n.2,2012.Disponvelem: .PASA,M.C.Saberlocalemedicinapopular:aetnobotnicaem Cuiab, Mato Grosso, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emlio Goeldi, Cincias Humanas, Belm, v. 6, n. 1, p. 179-196, 2011.PILLA,M.A.C.;AMOROZO,M.C.;FURLAN,A.2006. ObtenoeusodasplantasmedicinaisnodistritodeMartim Francisco,municpiodeMogi-Mirim,SP,Brasil.ActaBotanica Brasilica, Feira de Santana, v. 20, n. 4, p. 789-802, 2006.PINTO, E. P. P.; AMOROZO, M. C. M.; FURLAN, A. Conhecimento popularsobreplantasmedicinaisemcomunidadesruraisdeMata Atlntica Itacar, BA, Brasil. Acta Botanica Brasilica, Feira de Santana, v. 20, n. 4, p. 751-762, 2006.PREFEITURAMUNICIPALDEITUIUTABA.Dadosdobreo municpio. 2012. Disponvel em . Acesso em: 14 maro 2012. RAGUPATHY,S.;STEVEN,N.G.;MARUTHAKKUTTI, M.;VELUSAMY,B.;UL-HUDA,M.M.;Consensusofthe Malasarstraditionalaboriginalknowledgeofmedicinalplants inthe Velliangiriholyhills,India.JournalofEthnobiologyand Ethnomedicine, London, v. 4, n. 8, 2008. SILVA,R.B.L.Aetnobotnicadeplantasmedicinaisda comunidadequilomboladeCuria,Macap-AP,Brasil.2002. 172f.Dissertao(MestradoemAgronomia)Universidade Federal Rural da Amaznia, Belm. 2002.SOUZA, V. C.; LORENZI, H. Botnica sistemtica: guia ilustrado para identifcao das famlias de Angiospermas da fora brasileira, baseado em APG II. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2005. 640 p.SOUZA, V. C.; LORENZI, H. Botnica sistemtica: guia ilustrado para identifcao das famlias de Angiospermas da fora brasileira, baseado em APG II. 2. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2008. 640 p.TEIXEIRA, S. A.; MELO, J. I. M. Plantas medicinais utilizadas no municpiodeJupi,Pernambuco,PortoAlegre,Brasil.Iheringia, Srie Botnica, Porto Alegre, v. 61, n. 1-2, p. 5-11, 2006.VENDRUSCOLO, G. S.; MENTZ, L. A. Estudo da concordncia das citaes de uso e importncia das espcies e famlias utilizadas comomedicinaispelacomunidadedobairroPontaGrossa,Porto Alegre,RS,Brasil.ActaBotanicaBrasilica,FeiradeSantana, v. 20, n. 2, p. 367-382, 2006.


Recommended