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PRÁTICAS DE PROFESSORES: SUPERANDO AS … · aprendizagem relacionando-as com o sistema de ciclos....

Date post: 24-Jan-2019
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS I CURSO: PEDAGOGIA ANOS INICIAIS Déborah Virgínia Chaves Chung PRÁTICAS DE PROFESSORES: SUPERANDO AS DIFICULDADES DA BASE ALFABÉTICA Salvador 2010
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I

CURSO: PEDAGOGIA ANOS INICIAIS

Déborah Virgínia Chaves Chung

PRÁTICAS DE PROFESSORES: SUPERANDO AS DIFICULDADES DA BASE ALFABÉTICA

Salvador 2010

DÉBORAH VÍRGINIA CHAVES CHUNG

PRÁTICAS DE PROFESSORES: SUPERANDO AS DIFICULDADES DA BASE ALFABÉTICA

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção da Graduação em Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia, Campus I, sob a orientação da Profª. Drª. Tânia Regina Dantas.

Salvador 2010

DÉBORAH VÍRGINIA CHAVES CHUNG

PRÁTICAS DE PROFESSORES: SUPERANDO AS DIFICULDADES DA BASE ALFABÉTICA

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção da Graduação em Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia, Campus I, sob a orientação da Profª. Drª. Tânia Regina Dantas. Salvador, ______de_____________________de 20_____

Profª. Drª. Tânia Regina Dantas ______________________________________________

Profª. Ms. Claudia Sisan

______________________________________________ Profª. Ms. Marcéa Sales

FICHA CATALOGRÁFICA – Biblioteca Central da UNEB

Bibliotecária – Jacira Almeida Mendes, CRB:5/592

Chung, Déborah Virgínia Chaves

Práticas de professores : superando as dificuldades da base alfabética / Déborah

Virgínia Chaves Chung . – Salvador, 2010.

60f.

Orientadora: Tânia Regina Dantas.

Trabalho de Conclusão de Curso(Graduação) – Universidade do Estado da Bahia.

Departamento de Educação. Colegiado de Pedagogia. CampusI. 2010.

Inclui referências.

1. Alfabetização. 2. Letramento. 3. Fracasso escolar. 4. Prática de ensino. 5.Didática.

I. Dantas, Tânia Regina. II. Universidade do Estado da Bahia, Departamento de

Educação.

CDD: 372.414

Dedico este trabalho aos professores comprometidos

com o processo de alfabetização,

reflexivos, investigadores e ousados, que buscam

aprimorar suas práticas educativas

com a destreza de quem sabe o que quer

“[...] ler não é só decodificar, mas compreender o contexto

sócio-histórico, construído a partir daquilo que se mostra e se

faz evidente, em relação dialógica com o seu reverso – ou seja,

é preciso ler nas fissuras, nos interstícios da linguagem, pois é

por aí que o sentido escapa....”

(Maria Antônia Ramos Coutinho)

RESUMO

Este estudo analisa as práticas pedagógicas de duas professoras do último ano do Ciclo I da Educação Básica da Escola Municipal Epaminondas Berbert de Castro. Acreditando na necessidade de alfabetizar os estudantes do final de ciclo na superação do fracasso escolar, busca-se neste trabalho compreender quais as práticas utilizadas pelas professoras para superar as dificuldades na construção da base alfabética de seus educandos em uma perspectiva de letramento. A pesquisa está dividida em três capítulos, o primeiro apresenta o sistema de ciclo e as perspectivas sob as quais a alfabetização pode ser compreendida; o segundo descreve o contexto escolar no qual se inserem os sujeitos da pesquisa; o terceiro analisa as entrevistas relacionado-as com as observações fundamentadas nas teorias estudadas. Os resultados da análise das práticas e suas contribuições no processo de alfabetização e letramento constam da última parte deste trabalho. A análise das práticas pedagógicas permite a reflexão sobre as ações educativas de professores e professoras e contribui para a formação do professor reflexivo e pesquisador de sua própria prática. Palavras - chave: Alfabetização. Letramento. Ciclo. Fracasso escolar.

ABSTRACT

This study it analyzes practical the pedagogical ones of two teachers of the last year of Cycle I of the Basic Education of the Municipal School Epaminondas Berbert de Castro. Believing the necessity of alfabetizar the students of the end of cycle in the overcoming of the failure pertaining to school, one searchs in this work to understand which the practical ones used by the teachers to surpass the difficulties in the construction of the alphabetical base of its educandos in a letramento perspective. The research is divided in three chapters, the first one presents the system of cycle and the perspectives under which the alfabetização can be understood; as it describes the pertaining to school context in which if they insert the citizens of the research; third it analyzes the interviews related them with the comments based on the studied theories. Of the contribution and the results analysis practical its in the alfabetização process and letramento consist of the last part of this work. The analysis of practical the pedagogical ones allows to the reflection on the educative actions of professors and teachers and contributes for the formation of proper the reflective and searching professor of its practical one.

Words - key: Alfabetização. Letramento. Cycle. Failure pertaining to school.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...........................................................................................

09

2 AS CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS QUE FUNDAMENTAM A PESQUISA ................................................................................................

14

2.1 A EDUCAÇÃO EM CICLOS: UMA EXPERIÊNCIA MUNICIPAL .............. 26

3 CONTEXTUALIZANDO A ESCOLA MUNICIPAL EPAMINONDAS BERBERT DE CASTRO ..........................................................................

33

4 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: A CONSTRUÇÃO DE SABERES.............. 40 4.1 AS OBSERVAÇÕES EM SALA DE AULA ................................................ 40 4.1.1 Conhecendo os métodos utilizados pelas professora............................... 40 4.1.2 Explorando as mudanças .......................................................................... 42 4.1.3 Observando as avaliações do terceiro bimestre ........................................ 43 4.2 ANALISANDO AS ESTRATÉGIAS DE ENSINO ....................................... 44 4.2.1 Concepções docentes acerca da alfabetização e dos ciclos plurianuais .. 46 4.2.2. Dificuldades de ensino e aprendizagem .................................................... 49 4.2.3 Estratégias de ensino realizadas pelas professoras para promoverem a

aquisição da base alfabética ...................................................................... 50

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 55

REFERÊNCIAS .......................................................................................... 57

9

1 INTRODUÇÃO

Para sobreviver na “sociedade da informação”, na qual o texto escrito é base

para a obtenção de conhecimento no momento em que o cidadão necessita

comprar, locomover-se, trabalhar, comunicar-se, ter acesso às novas tecnologias e

informações, não basta ao indivíduo o exercício mecânico da alfabetização, é

necessário que este saiba utilizar a escrita e a leitura em suas práticas sociais.

Desta forma, a escola, tendo a responsabilidade pela educação formal do sujeito,

precisa atender às demandas desta sociedade grafocêtrica, alfabetizando na

perspectiva do letramento os educandos ao ingressarem no ensino fundamental.

Este objetivo inicial da escola é também requisito fundamental para que a

criança tenha um bom desempenho em seu percurso educacional, pois, os

conteúdos programáticos da instituição escolar, em geral, são comunicados, através

da leitura e da escrita.

Infelizmente, mesmo com os avanços das pesquisas sobre a alfabetização, o

tema ainda é foco de muitos estudos por ser, até os dias de hoje, o problema básico

do sistema educacional brasileiro. Em Salvador, o número de alunos que adquirem a

base alfabética até o final do primeiro ciclo educacional não é satisfatório, sendo o

terceiro ano do ensino fundamental o ano que tem o maior índice de retenção do

município de acordo com o Índice de Desempenho da Educação Básica (IDEB)

(BRASIL, 2009, p. 59).

Por considerar que as práticas pedagógicas alfabetizadoras são sustentadas

por concepções docentes a respeito da construção da linguagem escrita pela

criança, acredita-se na importância de estudar práticas de ensino de professoras que

promovam o desenvolvimento de seus educandos no processo de aquisição da

língua escrita.

Foi pensando na necessidade de conhecer práticas educativas que visam o

desenvolvimento da leitura e da escrita até o final do Ciclo de aprendizagem I, que

nasceu este estudo. Pretende-se, aqui, estudar as práticas utilizadas pelas

professoras do 3º ano do ensino fundamental da Escola Municipal Epaminondas

Berbert de Castro para tentar solucionar as dificuldades da construção da base

alfabética dos seus educandos. Sabendo que a base alfabética implica no

rendimento escolar das crianças que cursam este período letivo, busca-se

10

compreender como estas professoras contornaram os problemas de aquisição de

leitura e escrita, enfrentados por seus educandos.

Desta forma, foi proposto o seguinte problema:

Quais são as práticas pedagógicas utilizadas pelas professoras do último ano

do Ciclo de Aprendizagem I da Escola Municipal Epaminondas Berbert de Castro,

para superar as dificuldades na construção da base alfabética de seus educandos?

Segundo a problemática abordada, objetiva-se levantar a opinião de

professores sobre o sistema de ciclos de educação adotado pelo município de

Salvador; compreender a relação entre as estratégias utilizadas para alfabetizar e os

conteúdos programáticos referentes ao último ano do primeiro ciclo de escolaridade;

analisar as práticas utilizadas pelas professoras no processo de ensino e

aprendizagem relacionando-as com o sistema de ciclos.

Compreendendo que existe uma necessidade urgente em alfabetizarmos

nossas crianças, esta pesquisa é pertinente por proporcionar a professores e

professoras uma reflexão sobre as suas ações educativas, contribuindo para que

estes busquem alternativas de ensino pautadas em teorias que promovam a

construção da base alfabética pelo educando, possibilitando o seu desenvolvimento

cognitivo e emocional, contribuindo, assim, para uma educação de qualidade.

Este trabalho se justifica, principalmente, porque se acredita na importância

de conhecer as práticas pedagógicas de professores que atuam no último ano do

Ciclo I de Educação Básica para promover uma reflexão que possibilite a aplicação

de medidas educacionais que visem mudar o quadro de desempenho dos

educandos deste período escolar, visto que, corresponde ao ano que mais retém na

escolarização básica de Salvador, segundo dados fornecidos pela Coordenadoria

Regional de Educação (CRE) do Cabula.

Para a realização do estudo foram considerados os aspectos socioculturais,

além das implicações da alfabetização no desenvolvimento escolar dos educandos.

Optou-se pela abordagem qualitativa de pesquisa, a qual, segundo Bogdan e Biklen

(apud LUDKE; ANDRÉ, 1986, p 11-13) possui cinco características básicas: o

ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal

instrumento; os dados coletados são predominantemente descritivos; a análise dos

dados tende a seguir um processo indutivo; a representação individual é foco

principal de atenção do pesquisador. Desta forma, foram utilizados como

11

instrumentos, além da pesquisa bibliográfica, a observação de campo, a entrevista

semi-estruturada com as professoras e a análise documental.

A pesquisa bibliográfica consta de um marco histórico da alfabetização no

Brasil, a implantação do sistema de ciclos educacionais em Salvador, assim como

de um estudo das teorias de Freire, Soares, Colello, Perrenoud, Ferreiro, Teberosky,

dentre outros, que possibilitou um conhecimento teórico para fundamentar a análise

das entrevistas.

A observação foi escolhida como estratégia, por possibilitar um contato

pessoal e estreito entre o pesquisador e o fenômeno pesquisado (ANDRÉ; LUDKE,

1986, p. 26). Estas observações em confronto com as entrevistas confirmam ou não

dados cedidos pelos entrevistados. Foram alvo de observação a disposição dos

objetos em sala de aula, os planejamentos realizados pelas professoras (do período

observado), assim como as instalações da instituição. O intervalo de tempo

dispensado para a realização das observações foi de quinze dias distribuídos entre

os meses de agosto, setembro e outubro, estando as professoras cientes da

intenção do observador.

A entrevista foi escolhida como estratégia de trabalho pelo caráter de

interação que existe entre entrevistado e entrevistador, que segundo André e Ludke

(1986, 33-34) na entrevista é possível fazer com que os entrevistados revelem

informações autênticas sem a imposição do pesquisador.

Buscando esta autenticidade, foram entrevistadas as duas professoras das

turmas de terceiro ano do ensino fundamental da Escola Municipal Epaminondas

Berbert de Castro. Necessitou-se, para tanto, de trinta minutos para cada professora,

perfazendo o total de uma hora. As entrevistas foram realizadas no dia 05 de

dezembro de 2009, no turno vespertino, no prédio da própria instituição educativa.

A coordenadora pedagógica dos turnos matutino e vespertino possibilitou a

análise do Projeto Pedagógico da escola, da relação dos alunos das turmas do

terceiro ano e do desempenho escolar de final de ano.

O estudo está dividido em três capítulos:

O primeiro capítulo é sobre o marco teórico e apresenta a organização dos

anos iniciais da educação básica em ciclos de aprendizagem como uma proposta de

mudança do sistema educacional da Rede Municipal de Ensino. Nesse capítulo,

encontram-se também as perspectivas sob as quais a alfabetização pode ser

compreendida nos seus conceitos e metodologias. A visão de autores como

12

Libâneo, Demo, Antunes, Anastesiou, dentre outros, sobre o significado de aprender

e a relação do fracasso escolar com a alfabetização também foi contemplada nesse

capítulo.

O marco teórico referenciado no primeiro capítulo é essencial para a

realização da pesquisa, visto que representa a fundamentação da análise das

entrevistas, estratégia fundamental na realização de pesquisas qualitativas.

Por considerar que os sujeitos se constituem nas relações sociais que

permeiam suas vidas, o capítulo seguinte, “Contextualizando a Escola Municipal

Epaminondas Berbert de Castro”, como propõe o título, situa o mundo sócio-

histórico-cultural dos sujeitos implicados no processo ensino e aprendizagem.

Primeiramente, são descritos os aspectos estruturais, sociais e arquitetônicos do

bairro no qual a escola está situada, para, em seguida capturar a história da escola,

sua estrutura física e o quadro de pessoal pelo qual se compõe a instituição

educacional.

O terceiro capítulo trata da análise das entrevistas, relacionando-as com as

observações, tendo como fundamento as teorias estudadas no primeiro capítulo. O

Capítulo três consta das observações realizadas e da análise que se divide nas

seguintes categorias:

1. Concepções docentes acerca da alfabetização e dos

ciclos plurianuais;

2. Dificuldades de ensino e aprendizagem

3. Estratégias de ensino realizadas pelas professoras para

promover a aquisição da base alfabética.

Na primeira categoria se analisa as concepções de Ciclos e de alfabetização

na visão das professoras do último ano do Ciclo I da Escola Municipal Epaminondas

Berbert de Castro, e suas implicações nas práticas educativas destas professoras.

A segunda categoria descreve as dificuldades das professoras e educandos

no processo ensino e aprendizagem na visão das educadoras da referida escola.

A terceira categoria descreve as estratégias de ensino, relacionando-as ao

processo de escolarização dos educandos, demonstrando a necessidade de haver

um ambiente adequado para que ocorra a obtenção do conhecimento pelos sujeitos

aprendentes.

13

Nas considerações finais, encontram-se os resultados do trabalho realizado,

suas limitações, as contribuições da pesquisa para os educadores assim como,

novas propostas de estudo.

14

2 AS CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS QUE FUNDAMENTAM A

PESQUISA

A constatação de fracasso em alfabetização das escolas brasileiras é muito

antiga, porém, são recentes as suas consequências para grande parte das crianças

de classes populares, que, embora tenham três ou quatro anos de escolarização,

permanecem sem ao menos possuírem as habilidades básicas da leitura e da

escrita. Estas habilidades são necessárias para o desenvolvimento do educando em

processo de educação formal. Esta afirmação é sustentada por Correa e MacLean

(1999, p. 2):

A aquisição da língua escrita pela criança representa um momento crucial da iniciação da criança no processo de escolarização. É, também, requisito fundamental para que a criança seja bem-sucedida em toda sua trajetória escolar, uma vez que todo saber formal veiculado pela escola é realizado, primordialmente, através da leitura e da escrita.

A democratização do ensino, tão sonhada por Anísio Teixeira, concretiza-se

pelo crescente índice de crianças matriculadas na rede pública de educação no

Estado da Bahia (Brasil, 2009), no entanto não atende “plenamente todas as

crianças, enquanto sujeitos de anseios e direitos, na formação de uma cidadania

saudável” (SALVADOR, 2008, p.9).

Para Soares e Maciel (2000) o insucesso das escolas brasileiras se deve por

causa dessa:

[...] acelerada democratização do acesso à escola não se tem feito acompanhar da necessária transformação que a torne competente para servir” àqueles” [sic] que vêm conquistando seu direito a ela; por isso, o fracasso escolar, particularmente na alfabetização (é na primeira série, cujo objetivo principal é a aquisição da leitura e da escrita, que são, como se sabe, mais alta taxa de repetência e evasão), tornou-se tão evidente e ameaçador para as legítimas aspirações de uma democratização do saber e da cultura, que acompanhe a democratização do acesso à escola, que não há como não reconhecer, hoje, na alfabetização, o problema básico do sistema educacional brasileiro. (SOARES; MACIEL, 2000, p.7)

15

Este é um fato que ainda pode ser considerado para justificar o insucesso da

alfabetização no território brasileiro. A ausência de êxito na aquisição da leitura e

escrita das classes populares tem início quando o conceito de alfabetização se

materializa no Brasil, segundo Fernandes (2002, p. 37)

No Brasil, o conceito de alfabetização e analfabetismo passa a ter materialidade a partir da Proclamação da República do Brasil e de sua Primeira Constituição, com a queda do voto cessionário e a proibição do voto do analfabeto. Nesta perspectiva, o eleitor era o alfabetizado e por alfabetizado entendia-se a pessoa que sabia assinar o nome.

A discriminação em relação ao sujeito que não sabia escrever o próprio nome

e a necessidade em ampliar o número de eleitores promovem um crescente

aumento no número de „alfabetizados‟ no país. Este conceito de alfabetização

sofreu, por muitas décadas, grande influência das cartilhas que traziam fórmulas de

aprendizagem pautadas na decifração de códigos linguísticos e os métodos de

ensino tinham como fundamento a aprendizagem baseada em exercício de

memorização e repetição (FERNANDES, 2002).

Uma das principais mudanças no conceito de alfabetização ocorreu em 1945

quando a Comissão da População das Nações Unidas passou a reconhecer como

alfabetizado quem possuía a capacidade de ler e escrever um texto em alguma

língua. Esta mudança promove uma ação alfabetizadora que se desenvolve em um

período de vinte anos, com a implantação de projetos de alfabetização em massa

(FERNANDES, 2002).

As teorias de Freire (1981, 1990) ganham espaço na alfabetização de jovens

e adultos na década de 1960, e inicia-se um processo de transformação no estudo e

na prática de alfabetizadores focados no desenvolvimento político e transformador

da alfabetização. As tentativas de melhorar o ensino buscam em teorias psicológicas

novas alternativas e concepções diferenciadas de aprendizagem e do conceito de

alfabetização (FERNANDES, 2002).

Na perspectiva dos trabalhos desenvolvidos por Ferreiro e Teberosky (1999),

na década de 1980, os conceitos e metodologias do ensino de alfabetização

passaram por um processo de transformação, “a psicogênese da língua escrita

deslocou a questão central da alfabetização do ensino para a aprendizagem: partiu

não de como se deve ensinar e sim de como de fato se aprende” (FERREIRO;

16

TEBEROSKY, 1999, p.8). Ainda nesta década, as habilidades que antes eram

concebidas como pré-requisitos para iniciar o processo de aprendizagem de leitura e

escrita deixam de ter sentido isoladamente, como costumavam ser trabalhadas pelos

professores. Naquele momento, estimular aspectos motores, cognitivos e afetivos

era importante, porém, este estímulo deveria estar vinculado ao contexto sócio-

cultural dos estudantes (FERREIRO; TEBEROSKY, 1999).

Segundo as pesquisadoras, a concepção de aprendizagem da língua escrita,

por elas formulada, se fundamenta, mesmo não tendo sido intencional, nos estudos

de Piaget (FERREIRO; TEBEROSKY, 1999, p. 26), para as autoras, o processo de

alfabetização segue uma linha de evolução regular. Ferreiro e Teberosky (1999) ao

apresentarem a descrição da Psicogênese da Língua Escrita, evitam qualquer

sugestão metodológica, deixando essa tarefa ao cargo dos profissionais da área de

educação.

A Psicogênese da Língua Escrita caracteriza-se pela sucessão de etapas

cognitivas que são, de forma original, formuladas pelas crianças em processo de

conhecimento a partir da interação com o meio social e/ou escolar: Os níveis

estruturais da linguagem escrita explicam as diferenças individuais e os diferentes

ritmos dos alunos (FERREIRO;TEBESROSKY, 1999). As autoras definem,

provisoriamente, cinco níveis sucessivos que se classificam em:

No nível 1, conhecido como hipótese pré-silábica, a criança não estabelece

vínculo entre fala e escrita; demonstra intenção de escrever através de traçado linear

com formas diferentes; usa letras do próprio nome ou letras e números na mesma

palavra; caracteriza uma palavra como letra inicial; faz leitura global, individual e

instável do que escreve (só ela sabe o que quis escrever, geralmente não é capaz

de reproduzir o que foi „lido‟).

Nível 2 ou intermediário I, é o nível em que a criança começa a ter

consciência de que existe alguma relação entre a pronúncia e a escrita; procura

desvincular a escrita das imagens e os números das letras; conserva as hipóteses

da quantidade mínima e da variedade de caracteres (considera que as palavras

devam ter uma quantidade mínima de letras, geralmente três letras e uma variedade

de caracteres, em geral não repete os caracteres).

No nível 3, denominado hipótese silábica, a criança supõe que a escrita

representa a fala; começa a fonetizar a escrita e a dar valor sonoro às letras; supõe

17

que a menor unidade de língua seja a sílaba;quando escreve frases, pode grafar

uma letra para cada palavra.

O nível 4 é também conhecido como hipótese silábico-alfabética ou

intermediário II. Neste nível, a criança inicia a superação da hipótese silábica;

compreende que a escrita representa o som da fala; passa a fazer uma leitura termo

a termo (não global); consegue combinar vogais e consoantes numa mesma palavra,

numa tentativa de combinar sons, sem tornar, ainda, sua escrita socializável. Ex.:

BNC (para boneca)

O nível 5 ou hipótese alfabética é o nível desejável para o final do Ciclo de

Aprendizagem I. Quando chega a este nível, a criança compreende que a escrita

tem função social; compreende como se constrói a escrita e, apesar de ainda omitir

letras, tem consciência do uso da escrita e de suas funções (comunicar, recordar,

registrar, instruir, expressar).

A caracterização de cada nível não é determinante, podendo a criança estar

em um nível mais avançado, ainda que com características do nível anterior. Essas

situações são mais frequentes nos níveis Intermediários I e II, nos quais,

frequentemente, pode haver contradições na conduta da criança, ocorrendo a perda

de estabilidade do nível anterior e a não estabilidade do nível seguinte, evidenciando

o conflito cognitivo, ou seja, o confronto estabelecido entre o conhecimento da

criança e as informações que recebe através das suas relações com o mundo.

Além de mudanças significativas no processo de ensino e aprendizagem da

leitura e da escrita, na década de 1980, as pesquisas referentes à alfabetização

ganham um impulso e se multiplicam por muitas áreas do conhecimento (psicologia,

linguística, pedagogia, sociologia, sociolinguística), são as várias facetas da

alfabetização citadas por Magda Soares (1984, 2000, 2003) em seus estudos. Foi

neste contexto de transformações teórico-metodológicas, ante as exigências em

relação ao conhecimento da língua escrita, que surge um novo conceito no âmbito

educacional brasileiro: o de letramento.

Para Soares (1998), esta palavra surge pela primeira vez, no Brasil, com a

publicação do livro de Mary Kato (No Mundo da Leitura e da Escrita: uma

Perspectiva Psicolinguística em 1986) e traz um significado diferenciado do que

representa a alfabetização. Embora considere a importância das práticas sociais de

leitura e escrita valorizando o ato de alfabetizar sempre relacionado ao contexto

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social dos sujeitos, Soares (2003) diferencia os termos alfabetização e letramento

afirmando que:

[...] alfabetização é o processo pelo qual se adquire o domínio de um código e das habilidades de utilizá-lo para ler e escrever, ou seja: o domínio da tecnologia – do conjunto de técnicas– para exercer a arte e ciência da escrita. Ao exercício efetivo e competente da tecnologia da escrita denomina-se Letramento que implica habilidades várias, tais como: capacidade de ler ou escrever para atingir diferentes objetivos. (SOARES, 2003, p. 91)

A alfabetização, desta forma, é a decifração do código da escrita, enquanto o

letramento é a capacidade de utilização da leitura e da escrita em práticas sociais. A

autora chama a atenção para o fato destes dois termos estarem quase sempre

associados na produção acadêmica brasileira e para a importância de uma distinção

entre os mesmos, por considerar etimológica e pedagogicamente inapropriado que o

termo alfabetização defina tanto a aquisição das habilidades de escrita e leitura

como o desenvolvimento destas habilidades (SOARES; MACIEL, 2000). Concordo

com as autoras em relação a esta diferenciação, pois, desta forma, podemos

perceber mais claramente o nível qualitativo do sujeito que lê e escreve, não basta

apenas saber decifrar códigos para se tornar um leitor consciente.

Deste mesmo conceito, compartilha Colello (2009) ao estabelecer que o

letramento esteja em uma dimensão sócio-cultural da língua escrita e de seu

aprendizado; para a autora, indivíduos que estão apenas formalmente alfabetizados

“são incapazes de ler textos longos, localizar ou relacionar as suas informações”

(2009, p.3), sendo essencial a alfabetização na perspectiva do letramento.

Na tentativa de fazer com que os professores compreendam e apliquem o

conceito de aprendizagem ante uma perspectiva mais ampla, Antunes (2008, p.15)

afirma que:

[...] a aprendizagem humana somente se processa na medida em que o educando é capaz de construir um sentido ao conteúdo da aprendizagem; aceitamos dessa maneira que todo aluno é sempre o agente central na forma como constrói conhecimentos.

Neste sentido, a alfabetização não constitui em aprendizagem se o sujeito

aprendente não consegue utilizá-la em sua vida real. Partindo deste princípio,

podemos dizer que:

19

Para ser válida, toda educação, toda ação educativa deve estar precedida de uma reflexão sobre o homem e de uma análise do meio de vida concreta do homem concreto a quem queremos educar (ou

melhor, dito: a quem queremos ajudar a educar-se). (FREIRE, 1979, p. 33)

Avaliando os conceitos de letramento, alfabetização e educação como

processos de aprendizagem na ótica dos autores citados, a escola, para fazer valer

os objetivos de ensino, dentro de uma perspectiva qualitativa, precisa alfabetizar

letrando. A Política Municipal de Alfabetização, documento apresentado pela

Secretaria Municipal de Educação (SMEC), determina que:

Para a Rede Municipal de Ensino de Salvador alfabetizar na perspectiva do letramento é tornar o indivíduo capaz de ler e escrever, ou seja, é dar condições para o aluno fazer uso adequado da leitura e da escrita, para que possa responder de maneira satisfatória as demandas das práticas sociais. (SALVADOR, 2008, p.5)

Desta forma, é pertinente dizer que precisamos buscar o mundo dos nossos

educandos para que haja o verdadeiro conhecimento, o conhecimento que se

relaciona com o contexto sócio-histórico-cultural dos sujeitos, pois:

[...] só aprende verdadeiramente aquele que se apropria do aprendido, transformando-o em apreendido, com o que pode, por isto mesmo, reinventá-lo; aquele que é capaz de ampliar o aprendido-apreendido a situações existenciais concretas. (FREIRE, 1983, p. 16)

As práticas de leitura, desta forma, ampliam o mundo existencial dos

educandos, permitindo-lhes um pensamento crítico-reflexivo, possibilitando-lhes a

participação ativa na sociedade.

Pensando assim, pode-se afirmar que o letramento é responsável pela

participação política dos sujeitos no contexto social. Pensamento revalidado por

Tfouni (1995, p. 20) ao considerar que “enquanto a alfabetização se ocupa da

aquisição da escrita por um indivíduo, ou grupo de indivíduos, o letramento focaliza

os aspectos sócio-históricos da aquisição de uma sociedade”.

Para a autora, a alfabetização não instrumentaliza os sujeitos para uma

participação social ativa, a função de instrumentalizar pertence ao letramento,

porém, Tfouni (1995) discorda que alfabetização seja algo que possa chegar ao fim,

20

segundo a autora, trata-se de um processo, portanto, tem como característica sua

incompletude.

Esta caracteréstica da alfabetização é também defendida por Soares (2000;

1986), portanto, a autora defende o fato de não se estender o significado de

alfabetização ao conceito de letramento, pois:

[...] não parece apropriado, nem etimológica ou pedagogicamente, que o termo alfabetização designe, como querem alguns, tanto o processo de aquisição das habilidades de leitura e escrita quanto o processo de desenvolvimento dessas habilidades. Etimologicamente, o termo alfabetiza-ção não ultrapassa o significado deprocesso de aquisição do alfabeto, ou seja, de aprendizagem da língua escrita, das habilidades de ler e escrever; pedagogicamente, atribuir um significado mais amplo ao processo de alfabetização seria negar-lhe a especificidade, com reflexos negativos na caracterização de sua natureza, na configuração das habilidades básicas de leitura e escrita, na definição da competência em alfabetizar. (SOARES, 1986, p. 16)

Esta autora reafirma a necessidade de diferenciar o significado dos verbetes,

e considera que:

[...] ter-se apropriado da escrita é diferente de ter aprendido a ler e escrever: aprender a ler e escrever significa adquirir uma tecnologia, a de codificar em língua escrita e decodificar a língua escrita; apropriar-se da escrita é tornar a escrita „própria‟, ou seja, é assumí-la como sua „propriedade‟. (SOARES, 1986, p. 39)

Concordo que os conceitos devam ficar claramente definidos e obviamente

distintos e, assim como Soares (1998) defendo o fato de que a alfabetização deve

estar sempre de mão dadas com o letramento por compreender a amplitude do

letramento nas práticas sociais que envolvem a leitura e a escrita.

Sendo a escrita uma linguagem, e compreendendo que todo indivíduo

inserido em uma sociedade grafocêntrica possui níveis de conhecimento acerca da

língua escrita, acredito que possamos promover uma aprendizagem significativa de

alfabetização, articulando uma relação entre o educando e o mundo em que vive

desta forma, estamos realizando um ensino da língua escrita na perspectiva do

letramento. Para Freire (1996):

O ato de ler e escrever deve começar a partir de uma compreensão muito abrangente do ato de ler o mundo, coisa que os seres

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humanos fazem antes de ler a palavra. Até mesmo historicamente, os seres humanos primeiro mudaram o mundo, depois revelaram o mundo e a seguir escreveram as palavras. (FREIRE, 1996, p.15)

Para saber ler, é preciso, na visão do autor, compreender as palavras dentro

de um contexto social. Desta maneira, Freire ratifica a necessidade da escola se

aproximar do contexto sócio-cultural das crianças. Esta necessidade é também

defendida por Sawaya (2000) ao lembrar que devemos considerar a relação que os

sujeitos têm com a língua escrita; a autora alerta para o fato de que, em um mundo

letrado como o nosso, todos possuem contato com leitura e escrita, não há como

escapar, a escrita está em toda parte e mesmo aquele que é considerado não

alfabetizado participa, de alguma forma, das práticas sociais proporcionadas pela

linguagem escrita. Assim, para Sawaya (2000), as crianças de classes populares

não estão alheias aos conhecimentos referentes ao estágio de desenvolvimento

cognitivo necessários para a aprendizagem da escrita e leitura.

Estou de acordo com a autora em relação aos conhecimentos inevitáveis da

escrita e leitura, visto que estamos rodeados deste conhecimento, porém, muitos

são os fatores que limitam uma aprendizagem de melhor qualidade para as nossas

crianças. Segundo Perrenoud (2004, p. 65), existem muitas condições para aprender

das quais o autor cita três: a situação não-ameaçadora (o educando não deve estar

com medo, não deve estar sob tensão), a situação mobilizadora (o educador deve

proporcionar, através de suas ações, situações que motivem o estudante a

aprender) e a situação sob medida (o educador deve escolher o conteúdo adequado

ao educando). Todas as situações citadas exigem uma reflexão do educador em

relação aos seus educandos e suas necessidades, assim como sobre a sua prática

educativa que não deve representar uma ameaça para estes educandos.

Para Soares (2003), a alfabetização pode ser estudada sobre o olhar de

diferentes perspectivas, confirmando os diversos caminhos da aprendizagem.

Baseado na concepção das diferenças, acreditando que cada sujeito possui um

tempo para aprender, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), art.

32 § 1º deixa livre aos estados e municípios escolher a organização de ensino que

seja mais proveitosa para se alcançar uma educação de qualidade.

A leitura e a escrita são aprendizagens fundamentais para que os educandos

construam conhecimentos referentes às diversas disciplinas existentes no currículo

escolar. O que se espera dos estudantes que cursam a partir do 3º ano do ensino

22

fundamental é que já possuam estas habilidades podendo, assim, acompanhar o

curso com igualdade de direitos garantida constitucionalmente (BRASIL, 1986).

Infelizmente, este fato não ocorre na maioria das Escolas da Rede Pública em nosso

município. Nelas, o direito a uma educação de qualidade não se concretiza,

principalmente, por uma má interpretação da teoria dos ciclos (PERRENOUD, 2004).

Este equívoco se dá no instante em que a aprovação automática deixa de

contemplar a aprendizagem. A aprovação não pode ter um fim em si mesma, estas

crianças são promovidas automaticamente sem, ao menos, serem alfabetizadas,

resultando em uma auto-estima baixa e, consequentemente, o índice de repetência

e evasão escolar é muito grande nas classes populares, comprovando que o

fracasso da alfabetização não está relacionado apenas à complexidade que envolve

o seu processo. Neste caso, geram-se problemas que ultrapassam os muros das

instituições educacionais. Problemas socioeconômicos, como a miséria, a pobreza e

a violência, que ratificam a ineficácia da educação no Brasil. Para Demo (2007,

p.16):

O aluno pobre pode aprender bem, desde que tenha na escola condição adequada de aprendizagem. Esta alegação não ignora, claro, que pobreza, desleixo dos pais, marginalização social, fome, impactem negativamente e mesmo venham a impedir a aprendizagem. Mas é capitulação da escola pretender que o aluno pobre necessite de três anos para se alfabetizar, por mais que seja verdade ter ele chances menores de êxito quando comparados com o aluno rico.

Segundo Libâneo (1994, p.40-41), o fracasso escolar “compromete o

prosseguimento dos estudos” e, ainda para este autor, “a influência do meio,

principalmente de ensino, pode facilitar ou dificultar o desenvolvimento da

inteligência”. Para o autor, as situações enfrentadas pelos estudantes em sua vida

escolar influi no seu desenvolvimento cognitivo. Conclui-se que uma má relação

entre os sujeitos aprendentes e o espaço de aprendizagem pode causar danos ao

desenvolvimento de suas habilidades.

A falta de desenvolvimento de habilidades pelo estudante, em geral, é

associada a fatores referentes à sua própria existência, ou seja, o sujeito não

aprende porque não quer, porque não tem ajuda dos pais, dentre outras

associações. Concordo com Demo (2007, p.16) ao afirmar que, nas classes

populares, “problemas existem, mas nem por isso é correto colocar a culpa do

23

fracasso nas crianças ou nos pais”. Conclui dizendo que “a maioria das crianças são

intelectualmente capazes [...] o ensino pode proporcionar um ambiente necessário

de estimulação e é para isso que o professor se prepara profissionalmente”. Não

podemos colocar a culpa da educação em estudantes, mas também não se pode

culpabilizar os educadores, contudo, concordo que a formação do professor não se

encerra em sua formação inicial, deve ser continuada.

Quando se refere à formação do professor alfabetizador, Demo (2007)

denuncia que é preciso ter atenção redobrada, portanto:

Os alfabetizadores deviam merecer cuidado extremo, porque deles depende, em grande parte, a assim dita “progressão continuada”, se entendermos por ela aprendizagem continuada. Ocorre que grande parte dos alfabetizadores não possui habilidade satisfatória pedagógica, por conta de uma formação geralmente muito insuficiente, encurtada, caricatural. (2007, p. 16)

Percebe-se que, mesmo não concordando com a educação brasileira

baseada em um sistema de ciclos, Demo (2007) compreende que o conceito de ciclo

é mal interpretado e que a formação do professor é importante para que haja uma

educação de qualidade pautada em qualquer sistema educacional.

Ainda em relação ao educador, para Masetto (1997, p. 56) “o modo de agir do

professor, em sala de aula, estabelece um tipo de relação com os alunos, que

colabora (ou não) para o desenvolvimento buscado pela escola”.

A análise desta problemática é preponderante para que possamos vencer o

fracasso escolar, pois, é a partir da formação do professor, sua valorização, do

cumprimento das metas estabelecidas pela instituição de ensino e a forma como se

propõe romper as barreiras impostas pela condição social, que se pode transformar,

ou melhor, ressignificar o ensino público brasileiro. Segundo Libâneo (1994):

A alfabetização bem conduzida instrumentaliza os alunos a agirem socialmente, a lidarem com as situações e desafios concretos da vida prática: é meio indispensável para a expressão do pensamento, da assimilação consciente e ativa de conhecimentos e habilidades, meio de conquista da liberdade intelectual e política. (LIBÂNEO, 1994, p. 43).

Nesta perspectiva conscientizadora, alfabetização ganha uma dimensão

maior do que o processo de aquisição do código da língua escrita; a alfabetização

24

instrumentalizadora de que fala Libâneo (1994) tem uma perspectiva de letramento

conceituado por Magda Soares (2003, p.1) como a palavra que define as “[...]

práticas sociais de leitura e escrita mais avançadas e complexas que as práticas de

ler e escrever resultantes da aprendizagem do sistema de escrita [...]” O letramento,

desta forma, prepara os sujeitos para o exercício político e os conscientiza do seu

papel social.

Segundo Franco (2005, p.7), o letramento é “[...] capacidade que a pessoa

tem para se envolver nas práticas sociais de leitura e de escrita”. Percebe-se, então,

um imbricamento entre a alfabetização e o letramento corroborado por Soares

(2003, p. 5)

Embora a relação entre alfabetização e letramento seja inegável, além de necessária e mesmo imperiosa, ela, ainda que focalize diferenças, acaba por diluir a especificidade de cada um dos dois fenômenos [...].

A autora revela que, mesmo mantendo uma relação estreita, para que se

possa, efetivamente, alfabetizar e letrar, é necessário que não sejam perdidas as

especificidades de cada um dos fenômenos, defende-se, aqui, a importância de se

alfabetizar num contexto de letramento sem esquecer a importância da aquisição do

sistema de escrita e leitura. Desta forma, os sujeitos do processo se envolvem em

diversos tipos de textos utilizados socialmente enquanto apreendem o sistema

alfabético e ortográfico (SOARES, 2003, p 6).

O ser humano tem a capacidade biológica que permite o seu desenvolvimento

intelectual, porém, a aprendizagem depende de suas relações e experiências

sociais. A partir do contato com outros sujeitos, torna-se capaz de produzir e

reproduzir idéias, assim como administrar suas emoções. A aprendizagem se

constrói de forma processual no contexto das relações sociais.

A criança tem sua própria visão a respeito dos fatos, isto é, de acordo com

sua capacidade de abstrair e formular diferenciações entre ele e o outro. Assim, na

relação constante de troca de experiências, a linguagem é de fundamental

importância, é o elo entre a criança e o mundo, a partir dela os homens trocam suas

vivências, demonstram seus sentimentos, expressam sua satisfação (ou não) diante

dos fatos ocorridos. O letramento é uma forma de expressar o pensamento através

dos códigos da escrita, sendo, portanto um veículo de aprendizagem importante na

25

construção do conhecimento pelos sujeitos que convivem em uma sociedade

letrada. O professor alfabetizador deve proporcionar condições favoráveis para o

bom andamento do processo de aquisição da leitura e da escrita pelos estudantes,

realizando atividades que desenvolvam a alfabetização na perspectiva do

letramento. Contudo, deve estar atento, pois:

As aprendizagens não se dão todas da mesma forma, dependem tanto do sujeito que apreende quanto do objeto de apreensão. Não são, assim, iguais: podemos citar as aprendizagens por imitação de um modelo, por repetição, por ensaio ou erro e descoberta (insight). (ANASTASIOU; ALVES, 2004, p. 16).

Compreendendo que a aprendizagem não se dá em um mesmo tempo, da

mesma forma para sujeitos diferentes, considerando que esta aprendizagem sofre

influências do meio. A escola deve estar atenta às necessidades do sujeito que

educa, não esquecendo sua condição de aprendente, porém pertencente a uma

cultura específica. Entretanto, é preciso atentar para o fato de que:

[...] não é possível à escola, se na verdade engajada na formação de seus educandos educadores, alheiar-se das condições sociais culturais, econômicas de seus alunos, de suas famílias, de seus vizinhos (FREIRE, 1996, p.63).

É necessário, de acordo com Freire (1996), que a sala de aula seja um lugar

de respeito às diversidades nela existentes. Entendendo, desta forma, que a

aprendizagem não se realiza de maneira homogênea, somos diferentes no pensar e

no agir diante das situações do nosso cotidiano e nas relações de aprendizagem

formal.

As experiências vividas pelos educandos em desenvolvimento imprimem

significações determinantes em seu processo de construção pessoal. A

aprendizagem coloca em foco a reunião de todos os fatores que interferem no

desenvolvimento cognitivo do sujeito aprendente, o emocional, o cultural, enfim

todas as relações. Sendo assim, pode-se registrar que a aprendizagem interfere no

papel social exercido pelos homens no ambiente em que vive.

26

2.1 A EDUCAÇÃO EM CICLOS: UMA EXPERIÊNCIA MUNICIPAL

Compreendendo que existem diferentes processos de aprendizagem humana,

e, portanto, tempos diferentes para aprender, o sistema de ciclos de educação visa

promover o desenvolvimento dos estudantes, sem que estes sejam prejudicados na

construção dos seus conhecimentos.

Os ciclos de aprendizagem são formados por etapas anuais. Cada ciclo é

constituído por um bloco que integra dois ou mais anos. As etapas que formam os

ciclos possuem objetivos educacionais flexíveis, que visam o desenvolvimento de

habilidades necessárias para a aquisição de competências que favoreçam o objetivo

final deste ciclo. Ao longo da etapa anual os educandos são avaliados com a

finalidade de observar o seu desenvolvimento cognitivo e redefinir o percurso do

ensino, que deve garantir ao estudante a conquista deste objetivo final.

A ampliação do tempo para que os educandos alcancem um objetivo mais

específico, tem por finalidade favorecer as diferentes formas de aprender e, portanto,

contribui para o processo de inclusão. Isto não significa que os educandos devam

permanecer por tantos anos sem desenvolver habilidades, mas, que todos poderão

chegar ao final do ciclo sem o prejuízo de perder um ano de escolaridade. Neste

caso, deve-se:

[...] ordenar as etapas nessas progressões. Em um sistema educacional que funcione em ciclos, convêm por à disposição dos professores “balizas”, objetivos intermediários e outros pontos de referência que permitam planejar as aprendizagens e orientar as progressões de mês em mês, de ano em ano. Essas referências são instrumentos de orientação. É importante não reintroduzir por esse viés objetivos de final de ano ou passagens obrigatórias tão impositivas quanto em uma formação estruturada em anos de programa. (PERRENOUD, 2004, p. 23)

Como se percebe, o sistema de ciclo não impede a existência de um

programa curricular. Este programa deverá ser elaborado de acordo com as

necessidades de cada classe. Neste caso, o professor precisa considerar o caráter

flexível dos programas desenvolvidos nos ciclos, visto que as necessidades dos

educandos não podem ser percebidas no início do ano letivo. Esta flexibilidade

permite a possibilidade de aprendizagem a todos os estudantes. As habilidades que

27

devem ser conquistadas nos programas de aprendizagem de cada etapa são

chamadas de marcos de aprendizagem.

Sabemos que alguns educandos não alcançam todas as habilidades. Estes

terão a oportunidade de alcançá-las na próxima etapa do ciclo. Desta forma, o

sistema de ciclo permite que a aprendizagem se constitua em um contínuo processo

de ampliações e transformações que não podem ser mensuradas com a finalidade

de promoção ou retenção do educando em uma determinada etapa, o que

interromperia o seu processo cognitivo. Esta análise confirma as afirmações de

Barreto e Mitrulis (2001, p. 5) quando dizem que:

[...] os ciclos não prega promoção automática em massa, não desconsidera as etapas de escolaridade em serem vencidas, não extinguem a avaliação e nem os problemas de aprendizagem dos/as alunos/as são empurrados para anos seguintes.

Esta deve ser a compreensão sobre sistema de ciclos de aprendizagem para

haver uma verdadeira mudança no panorama educacional do país, porém, sabemos

que as tentativas de superação do fracasso escolar no Brasil não são recentes. O

sistema educacional brasileiro sofreu mudanças sistemáticas nas últimas décadas,

segundo Barreto e Mitrulis (2001, p. 2)

[...] no início da década de 50, o Brasil apresentava os índices de retenção mais elevados da América Latina: 57,4% dos/as alunos/as eram retidos na passagem da 1ª para 2ª série do Ensino Fundamental.

As autoras concluem, a partir destes dados, que os índices de retenção e de

evasão, que persistiam no cenário de educação institucional do país, tornaram-se

fatores determinantes para que alguns estados brasileiros adotassem alternativas

educacionais. A progressão continuada e o sistema de ciclos de aprendizagem

surgem como tentativas para solucionar tal problema (BARRETO; MITRULIS, 2001).

Ainda neste período, de acordo com estas autoras, os índices de aprovação

eram muito baixos e, a evasão escolar e as reprovações se constituíam em um

grande problema educacional. Diante destes fatos, no final desta década, o Estado

do Rio Grande do Sul instituiu a progressão continuada e criou classes de

recuperação para os educandos que apresentavam dificuldades de aprendizagem.

Estes estudantes, depois de recuperados, podiam voltar às suas classes de origem

28

sem sofrerem os prejuízos emocionais causados pela repetência (BARRETO;

MUTRILIS, 2001).

Com a persistência do fracasso escolar em instituições educacionais de todo

o Brasil, na década seguinte, Pernambuco e São Paulo modificaram a organização

do ensino em seis níveis de escolaridade e a escola primária foi dividida em dois

ciclos com progressão automática nas etapas correspondentes aos mesmos

(primeirio ciclo: 1ª. e 2ª. séries; segundo ciclo 3ª. e 4ª. séries) (BARRETO;

MUTRILIS, 2001).

O sistema de ciclo foi implantado, da década de 70 até início da década de

80, em Juiz de Fora (caráter experimental); em todo o Estado de Santa Catarina;

São Paulo, Minas Gerais e Paraná. No ano de 1987, “a Secretaria Municipal de

Educação do Salvador (SMEC) implanta o sistema de ciclo nas escolas municipais,

no qual foi denominado de Ciclo de Estudo Básico (CEB) [...]” (SALVADOR, 2005).

Em 1992, na cidade de São Paulo, sob a orientação de Paulo Freire, as séries

do Ensino Fundamental foram divididas em ciclos, ocorrendo o mesmo em Belém,

Belo Horizonte e Rio de Janeiro (BARRETO; MUTRILIS, 2001).

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96 (LDB), propõe a

escolarização em ciclos, deixando livre aos municípios a escolha do sistema

educacional:

Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar. § 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive quando se tratar de transferências entre estabelecimentos situados no País e no exterior, tendo como base as normas curriculares gerais. § 2º O calendário escolar deverá adequar-se às peculiaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a critério do respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir o número de horas letivas previsto nesta Lei. (BRASIL, 1996)

A liberdade de escolha do sistema educacional pelos estados foi um incentivo

para a adoção dos ciclos de aprendizagem. Desde então, várias instituições de

ensino, estaduais e municipais, de todo país vem se organizando em sistema de

ciclos, especialmente nas séries iniciais do Ensino Fundamental, onde a incidência

do fracasso na alfabetização é bastante significativa.

29

Não estabelecendo uma idade limite para o ingresso no Ensino Fundamental

a LDB (2006) determina que este “é um direito público subjetivo para qualquer

cidadão, em qualquer idade” (artigo 5º). O ingresso no Ensino Fundamental deve ser

a partir dos seis anos, e a duração da escolarização das séries iniciais passa de oito

para nove anos, no mínimo, a jornada escolar deve ter “pelo menos quatro horas de

trabalho efetivo em sala de aula, sendo progressivamente ampliado o período de

permanência na escola” conforme artigo 34 (BRASIL, 1996). Esta medida retoma a

idéia de Anísio Teixeira que queria uma escola de tempo integral, porém a proposta

real da escola de tempo integral não se limita aos estudantes permanecerem na

escola, mas de haver atividades diversificadas para o desenvolvimento pleno destes

estudantes

No ano de 1997, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), em

consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais, propõem a organização da

escolaridade em ciclos, cujo objetivo continuou sendo minimizar a problemática da

repetência e da evasão escolar que, até hoje, constitui um problema nacional. Esta

proposta, como já foi dito anteriormente, abriu a possibilidade do currículo ser

trabalhado ao longo de um período maior que um ano letivo, permitindo respeitar os

diferentes tempos, ritmos e formas de aprender dos estudantes.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), conforme art. 12 inciso I,

reforçam a importância da escola formular seu projeto educacional, compartilhado

por toda a equipe, para que a melhoria da qualidade da educação resulte da

responsabilidade de todos os educadores. A forma mais eficaz de elaboração e

desenvolvimento de projetos educacionais envolve o debate em grupo no local de

trabalho. Esta elaboração de trabalho articulado em grupo compactua com a

necessidade de cooperação entre os docentes defendida por Perrenoud (2004, p.

141); para este autor, a importância desta cooperação entre os profissionais de

educação influi de forma positiva para o sistema de ciclos plurais.

Seguindo a proposta de organização da escolaridade em ciclos, a Secretaria

Municipal de Salvador (SMEC) adota este sistema na Educação Básica. Os Ciclos

Básicos de Escolarização substituem, desde então o CEB. Esta mudança é uma

tentativa de minimizar os problemas acarretados pelo baixo desempenho escolar

dos estudantes, principalmente, na alfabetização.

30

A Resolução do Conselho Municipal de Educação CME 0004/2007 configurou

o sistema de ciclos na Rede Municipal de Ensino de Salvador, determinando que, a

partir daquele ano:

Art. 1º O Ensino Fundamental da Rede Pública Municipal terá a duração de nove anos letivos, destinado o 1º ano às crianças de seis anos de idade, sendo os anos iniciais organizados em dois ciclos de aprendizagem, com a institucionalização da progressão continuada, respeitando o ritmo e o tempo de aprendizagem dos alunos. §1º O Ciclo de Estudos Básicos, com duração de 3 (três) anos passará a denominar-se Ciclo de aprendizagem I. O Ciclo de Aprendizagem I compreende três anos de escolarização, no qual deverá ser garantida ao aluno a aquisição da base alfabética em qualquer um dos anos. (SALVADOR, 2007)

A partir desta data, foi instituído no município o ensino fundamental de nove

anos e o Ciclo de Aprendizagem I passa a ser integrado pelos três primeiros anos

das séries iniciais. O objetivo a ser alcançado ao final do terceiro ano do 1º ciclo de

escolarização é a construção da base alfabética por parte dos educandos. No

entanto, a realidade do terceiro ano do ensino fundamental é distinta, com altos

índices de retenção e defasagem idade/série (BRASIL, 2009). Assim, o 3º ano do 1º

ciclo se caracteriza como o fracasso escolar em diversas unidades de ensino e já se

transformou em motivo de preocupação dentro da Secretaria de Educação

(SALVADOR, 2005) .

Reafirmando a concepção de que a aprendizagem deve ser significativa, os

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), indicam como objetivos do ensino

fundamental, entre outros, que os alunos sejam capazes de:

Desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de confiança em suas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética de inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com perseverança na busca de conhecimentos e no exercício da cidadania (BRASIL, 1996)

Sendo assim, pode-se afirmar que existe uma proposta de desenvolvimento

integral da criança no processo de escolarização. O desenvolvimento cognitivo é,

nesse contexto, um dos objetivos e o que se percebe, na maioria das práticas, é que

este objetivo se estabelece como o único a ser alcançado. Não se alcançam, assim,

as habilidades necessárias ao desenvolvimento integral do sujeito.

31

Pensando na perspectiva de desenvolvimento comportamental e

procedimental, a intenção em se promover nos educandos uma auto-estima elevada

é um dos maiores benefícios dos ciclos, no entanto, esta alternativa vem-se

complicando ao final do 1º ciclo de educação básica, no qual a retenção é possível

e, por conta do baixo índice de alfabetização, muitas crianças ficam retidas por mais

de um ano.

Acreditando que o processo de alfabetização pode ser iniciado antes dos seis

anos, a Prefeitura de Salvador, através da Secretaria Municipal de Educação

(SMEC) adota o modelo de Educação Fundamental Inicial baseado em um currículo

organizado da seguinte forma:

O processo de Alfabetização na Rede Municipal de Ensino será iniciado a partir da Educação Infantil, que por sua vez, deverá estar articulados com os Ciclos do Ensino Fundamental. O Ciclo de Aprendizagem I compreende, de forma sequêncial, a três anos de escolarização, no qual deverá ser garantida ao aluno a aquisição da base alfabética no decorrer desse período. (SALVADOR, 2008, p.11)

O documento acima citado é a Política Municipal de Educação, e deixa claro

que o processo de Alfabetização deve ser iniciado na Educação Infantil e reafirma o

objetivo principal do Ciclo I. Isso não significa dizer que se deve esperar o final do

ciclo para isto acontecer, e nem que apenas um segmento educacional seja

responsável pelo objetivo final do ciclo. Contudo, o que está acontecendo em muitas

escolas da Rede é a preocupação dos professores em ministrar programas anuais,

tornando o sistema de ciclos um sistema pouco modificado: recebe o nome de ciclo,

mas adota o sistema seriado. Assim, temos crianças com três anos de escolarização

que ainda não reconhecem o alfabeto e o professor insiste em colocar como

conteúdo programático, “dificuldades ortográficas: s ou ss”, por exemplo. É preciso

pensar que:

[...] quando se tem três ou quatro anos pela frente, fica evidente que é preciso parar de empilháramos e tentar administrar a progressão das aprendizagens em referência aos objetivos de final de ciclo. Só essa orientação garantida pelo objetivo autoriza percursos de formação realmente individualizados. (PERRENOUD, 2004, p. 71)

32

Para o autor, o tempo dispensado ao processo de aprendizagem deve ser

organizado para a garantia de se alcançar o objetivo final do ciclo, contudo, é

necessário que o professor compreenda e participe do processo de aquisição de

conhecimento pelos seus educandos, respeitando suas diferenças culturais e

perceptuais. Estas diferenças se concretizam na leitura que o sujeito faz do mundo

em que está inserido.

Este capítulo procurou esclarecer os conceitos de alfabetização adotados, a

relação dos educandos com a aprendizagem, o sistema de ciclos, a definição e a

relação deste sistema com o fracasso escolar na visão de vários autores. Para que

se possa realizar uma análise fundamentada das entrevistas com as professoras do

terceiro ano da escola Municipal Epaminondas Berbert de Castro, buscando

compreender as suas práticas e as suas estratégias a partir de suas concepções

pedagógicas.

Sabendo que a influência do contexto para a aprendizagem e para o

desenvolvimento das práticas pedagógicas é de vital importância, o capítulo

seguinte nos ajudará a compreender e analisar as práticas contextualizadas

professoras. O capítulo traz a descrição do bairro, escola, professores e outros

funcionários, assim como, a situação organizacional e física da instituição de ensino

da qual se constituíu a amostra.

33

3 CONTEXTUALIZANDO A ESCOLA MUNICIPAL EPAMINONDAS

BERBERT DE CASTRO

Este capítulo, como já foi anunciado anteriormente, faz uma breve descrição

do bairro, da escola, dos sujeitos e suas ações.

Para a realização do trabalho, foi escolhida como campo de pesquisa a

Escola Municipal Epaminondas Berbert de Castro, situada no bairro de Pernambués,

mais especificamente na Avenida Hilda, n 05, Salvador.

A escolha desta instituição se deve ao fato de eu ter estagiado nela como

professora através de um vinculo contratual com a Secretaria Municipal da

Educação, Cultura, Esporte e Lazer (SECULT). Assim, me mantive em contato

permanente com a comunidade escolar e sua cultura. Como estagiária, participei de

todas as reuniões das Atividades Complementares (Acs), utilizadas para a

construção de planejamento semanal e resolução de problemas da unidade escolar;

desta forma, pude perceber o interesse e a preocupação das professoras do terceiro

ano em relação aos alunos que não tinham construído a sua base alfabética,

durante o ano letivo de 2009. Este interesse das professoras despertou o meu

interesse em investigar as ações dos sujeitos envolvidos no processo ensino-

aprendizagem. Neste momento, delimitei o tema desta pesquisa e pedi permissão

aos sujeitos da (transforma)ação para a realização do estudo, me tornando um

“observador participante”:

Nesta posição, o pesquisador pode ter acesso a uma gama variada de informações, até mesmo confidenciais, pedindo cooperação ao grupo. Contudo, terá em geral que aceitar o controle do grupo sobre o que será ou não tornado público pela pesquisa. (ANDRÉ e LUDKE, 1986, p. 29)

Considero como sujeitos da (transforma)ação, não apenas professoras, mas

todos os que estão imbricados nesta relação de trocas de experiências que se

concretizam em aprendizagens. Estes sujeitos não representam da mesma forma a

realidade em que vivem e, mesmo os que compartilham de um espaço geográfico e

comungam de uma mesma cultura, distinguem-se dos demais por construírem as

34

suas histórias individuais, é um conhecimento de mundo próprio, dentro de uma

coletividade.

Por considerar a importância do espaço histórico-cultural, pois, não existe

mundo sem homem e nem homem sem mundo, sendo este homem construtor

permanente de cultura e história (FREIRE, 1983), se faz necessário, para esta

pesquisa, situar os sujeitos no tempo e espaço. A situação dos homens no mundo

nos faz entender como se dá suas relações com os outros homens e suas diferentes

compreensões sobre o espaço em que vivem.

O bairro de Pernambués está localizado próximo à Estação Rodoviária, tem

ligação com a Avenida Paralela, a Avenida Luís Eduardo Magalhães e a Rótula do

Abacaxi. Possui como vizinhança os bairros do Cabula, Nova Brasília e

Saramandaia. É um dos bairros mais populosos da capital baiana, sendo a maior

parte de sua população de baixa renda, tem como composição arquitetônica,

basicamente, casas populares e pequenos pontos comerciais que se distribuem por

diversas ruas do bairro. Possui ruas estreitas, sendo que boa parte delas não está

pavimentada, vielas, escadarias e ladeiras também fazem parte desta paisagem e

estão ligadas à avenida principal, Avenida Thomás Gonzaga. Os seus moradores

enfrentam, além de problemas estruturais, problemas sociais com um alto índice de

violência.

Por ter acesso a três vias importantes da cidade torna-se próximo a muitos

bairros como Iguatemi, Brotas, Pituba, Caminho das Árvores e Costa Azul, que, em

sua maioria, contrastam com a arquitetura e cultura local, colocando os seus

habitantes em contato com a pobreza e a riqueza ao mesmo tempo, numa relação

de aproximação e distanciamento. Aproximação por questões geográficas e

distanciamento por questões sócio-culturais.

Tem como pontos principais de referência apontados por seus moradores: a

pracinha, o final de linha, a Madeireira Brotas, o Campinho, a Rua Thomas Gonzaga

e a Avenida Hilda.

Nesta avenida, além da Escola Epaminondas Berbert de Castro situa-se um

posto de Saúde, no qual a população tem atendimento médico e odontológico. O

posto de Saúde é parceiro da instituição de ensino na medida em que ministra

palestras educativas, promove ações preventivas e atende aos educandos em

companhia de funcionários da escola, sem que seja necessário esperar pela

presença dos pais ou responsáveis, em uma situação de emergência.

35

A Escola Epaminondas Berbert de Castro, que funciona há cinquenta e um

anos atendendo à população do bairro de Pernambués e seu entorno, teve seu

início como escola comunitária fundada pelo Senhor José Manuel Pinto, “Seu

Nezinho”. No começo, atendia a poucas crianças da rua em que Senhor Manuel

morava e funcionava na própria casa do seu fundador. Com a necessidade em gerar

mais vagas para atender à população, carente de escolas, Senhor Nezinho se

mudou, doando sua casa à Prefeitura de Salvador para a construção de uma

instituição de ensino que, nesta época, recebeu o nome de Escola Municipal

Epaminondas Berbert de Castro e atendia às crianças do bairro e seu entorno. Ainda

nesta época, era muito difícil atender plenamente às necessidades da população,

pois, o estabelecimento educacional funcionava em um galpão, com apenas três

salas, desde sua inauguração em 1967.

A escola que nasceu do sonho em alfabetizar as crianças residentes na Av.

Hilda e funcionava na própria casa do seu fundador, foi reformada e reinaugurada no

ano de 2005. Desde então, sua estrutura física compreende uma casa de um andar

que comporta cinco salas-de-aula amplas e iluminadas, todas com ventiladores; uma

pequena sala que abriga a direção, a secretaria e a coordenação; sala para os

professores; sala de informática com dez computadores novos para os alunos; um

sanitário para os professores; dois sanitários, feminino e masculino, para os

estudantes; uma cozinha com dispensa e uma pequena área, na qual os estudantes,

do diurno, fazem as filas antes de irem para as suas respectivas classes. Não possui

área de lazer, por este motivo, as crianças saem meia hora antes do horário regular

das aulas, permanecendo na escola por três horas e meia. Nesta instituição foram

matriculados, em 2009, quinhentos e dez alunos, sendo quatrocentos e oitenta e

sete frequentadores regulares, do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental,

distribuídos por três turnos: matutino, vespertino e noturno.

A Direção/Secretaria/Coordenação está equipada com dois computadores,

uma impressora, duas linhas telefônicas, fax e uma máquina de xérox,

disponibilizada para as cópias de avaliações e algumas atividades. Há também um

computador na sala dos professores, porém, em condições inadequadas de uso.

Considerando-se o número de salas de aula disponíveis na escola, os cursos

foram distribuídos da seguinte forma: pela manhã, funcionam duas classes de

segundo ano, uma de terceiro e duas de quinto; à tarde, funcionam duas classes de

primeiro ano, duas de terceiro e uma de quarto ano. Para este trabalho, estão

36

disponíveis três professoras para os dois turnos e quatro que trabalham apenas um

turno.

A sala de informática possui dez computadores, como já foi mencionado

anteriormente, e começou a funcionar no final do mês de setembro. Neste espaço,

as crianças realizam as atividades utilizando o computador como recurso para

aprender. As professoras possuem uma senha para acessar a página do programa

de educação digital, podendo fazer a suas próprias aulas, escolhendo os recursos

que consideram viáveis para a turma, mas a falta de tempo, muitas vezes, não

permite este planejamento. O que ocorre é que, geralmente, os monitores

selecionam um jogo relacionado à disciplina trabalhada durante aquela semana.

Com relação aos móveis e recursos didáticos, observou-se que as carteiras

são, em sua maioria, com mesas, o que facilita o manuseio dos materiais pelas

crianças, mas dificulta a arrumação das salas em círculo ou semicírculo. Todas as

salas possuem armários com materiais para a organização do trabalho didático

como papel, tesoura, lápis de cor e cola. Ainda como recurso didático os professores

contam com uma biblioteca itinerante, dois televisores, um aparelho de DVD,

aparelho de som, microfone, retroprojetor, quadro branco e de giz em todas as salas

e uma diversidade de jogos educativos disponíveis em um armário coletivo.

O quadro funcional da instituição é formado por pessoal terceirizado e

concursado. Dentre os terceirizados estão: quatro vigias, que se revezam em duplas,

duas ajudantes de cozinha, que trabalham nos turnos matutino e vespertino e um

auxiliar de limpeza. Os concursados são: a diretora, duas vice-diretoras, duas

coordenadoras, doze professores do ensino fundamental, uma professora de Artes,

uma professora de Inglês, uma cozinheira e uma Secretária. Além do quadro

funcional descrito, a escola ainda conta com o apoio da Guarda Municipal, que,

segundo relatos da comunidade escolar, juntamente com os vigilantes garantem a

segurança do estabelecimento.

O Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola, segundo a coordenadora, foi

construído e vivenciado por todos os envolvidos com o processo educativo da escola

com base nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (BRASIL, 1996). De

acordo com este projeto a escola tem como função social promover conhecimento

aos educandos para que estes sejam aplicados de forma consciente e participativa

na sociedade. Para que esta função se torne verdadeira a escola deve, segundo o

seu PPP:

37

trabalhar valores culturais, morais e físicos; Integrar elementos da vida social aos conteúdos trabalhados e compreender este aluno/a como um/a cidadão/a que deve ser um/a agente transformador/a da sociedade, além de crítico/a, responsável e participante. (Salvador, 2005)

Para a realização deste trabalho a escola propõe projetos pedagógicos

anuais aos seus professores, que são estruturados coletivamente. Estes projetos

podem ser articulados, pelos professores, de maneira que a sua aplicação favoreça

o desenvolvimento dos estudantes.

A permanência das crianças na escola, tanto pela manhã como pela tarde, é

de três horas e meia por dia, de forma contínua, sem intervalo; o lanche é distribuído

nas salas e tem uma hora determinada para que as professoras permitam que

meninos e meninas utilizem o sanitário. Entre as idas ao sanitário e a merenda, em

geral, as professoras disponibilizam os brinquedos das salas de aula para que

realizem brincadeiras com seus colegas.

As crianças têm aulas regulares com a professora regente e com duas

professoras de disciplinas específicas: Inglês e Dança (Artes). As aulas de Inglês

são ministradas uma vez por semana em cada classe; neste momento, a professora

regente tem um atendimento pedagógico com a coordenadora, quando esta está

disponível, pois acumula outras funções. Este atendimento compreende as

propostas e alternativas na intenção de aperfeiçoar o processo ensino-

aprendizagem e relações interpessoais na sala de aula.

As aulas de Dança ocorrem duas vezes por semana e a classe é dividida em

dois grupos: o primeiro grupo fica com a professora de dança no primeiro dia de aula

e o segundo grupo, no segundo dia de aula. Os estudantes que não permanecem na

sala com a professora desta disciplina tem aula informatizada com a professora

regente que conta com o apoio dos monitores.

As reuniões pedagógicas são realizadas às sextas-feiras e tratam de

assuntos administrativos e pedagógicos, as professoras possuem acompanhamento

pedagógico semanal, tendo a disponibilidade da coordenadora pedagógica para as

consultas que forem necessárias, caso haja necessidade. Os pais são convocados

ao final de cada unidade para participarem de reuniões com os professores, não

descartando a convocação dos mesmos para uma consulta particular.

38

Os momentos destinados a estas reuniões também se convergiam em

elaboração do planejamento semanal, que era realizado em conjunto pelas

professoras de cada segmento. Neste momento, podia-se perceber que todas as

ações educativas, das professoras do 3º ano, tinham como foco de interesse a

alfabetização dos meninos e meninas que ainda não possuíam base alfabética, pré-

requisito necessário para a realização das atividades planejadas. Portanto, cabia a

cada professora uma atuação diferenciada para cada turma.

A amostra desta pesquisa é composta pelas turmas de terceiro ano do

vespertino (3º. ano B, 3º. ano C). Foram matriculados no ano de 2009, vinte e oito

alunos em cada turma, porém, nem todos frequentam regularmente às aulas. Uma

das turmas possui vinte e sete alunos assíduos e a outra turma possui vinte e cinco

alunos frequentando regularmente às aulas. A partir deste momento, com o intuito

de preservar a identidade das professoras vamos chamar de G a professora da

turma B e J a professora da turma C.

As professoras G e J são as mais novas integrantes, dentre as regentes, do

quadro docente, ambas formadas em Pedagogia. A professora G com carga horária

de quarenta horas semanais, portanto regente de duas classes do mesmo segmento

e a professora J com carga horária de vinte horas semanais, regente de uma das

classes do turno vespertino.

A professora G ensinava em uma escola no subúrbio e pediu transferência

para aproximar seu local de trabalho de sua residência; a professora J passou a

fazer parte do quadro há dois anos para complementar sua carga horária na rede

pública, e atua em outra escola da região no turno da noite. Para compreender

melhor o processo de alfabetização, na busca de aperfeiçoar sua atuação em sala

de aula, faz um curso de extensão “Alfabetização e seus Processos” na

Universidade Católica de Salvador.

Este capítulo, como já foi dito, tratou da contextualização, pois, acredita-se

que o ambiente tem um papel importante no processo de aprendizagem, os sujeitos

aprendentes estão inseridos em um determinado contexto cultural que deve ser

considerado pelos sujeitos ensinantes. Para Freire (1986, p. 25), o homem “[...] é

homem porque está sendo no mundo e com o mundo. Este estar sendo, que

envolve sua relação permanente com o mundo, envolve também sua ação sobre

ele”, portanto, tão importante quanto os sujeitos da (transforma)ação é o lugar aonde

eles se encontram em suas diversas relações.

39

Trata-se, desta maneira, de mais um elemento que sustenta a análise das

entrevistas, tema do próximo capítulo.

40

4 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: A CONSTRUÇÃO DE SABERES

4.1 AS OBSERVAÇÕES EM SALA DE AULA

Em primeiro lugar, buscando-se o foco para o processo de construção do

sistema da escrita pela criança, da Escola Epaminondas Berbert de Castro, do

terceiro ano do ensino fundamental, serão descritas as impressões oriundas das

observações preliminares. Estas observações foram realizadas em três etapas de

cinco dias, perfazendo um total de quinze dias divididos entre os meses de agosto,

setembro e outubro do ano de 2009. É necessário salientar que, por ter um tempo

limitado para as observações, foram destinados dois dias de cada etapa para cada

sala de aula. O último dia de cada etapa foi destinado para uma observação de toda

a escola (as salas, o intervalo, o planejamento), neste dia eram realizadas as

reuniões pedagógicas.

4.1.1 Conhecendo os métodos utilizados pelas professoras

Esta foi a primeira etapa da observação. Nesta etapa, buscou-se conhecer os

métodos utilizados pelas professoras para promover o aprendizado dos seus

educandos.

Diante do que foi observado, percebeu-se duas realidades distintas, apesar

do evidente empenho de ambas as professoras, que elaboravam o planejamento de

suas aulas conjuntamente, a ação educativa se desdobrava de formas diferentes em

cada sala.

Na primeira sala, o terceiro ano sob a regência da professora J, o

aprendizado se dava de forma contextualizada (atividade que são relacionadas ao

contexto cultural dos educandos), as atividades eram realizadas em grupo e a classe

tinha prazer em realizar as tarefas. As crianças, deste grupo, orgulhavam-se por

serem os “alunos de J” (fato percebido pela maneira com que estas crianças falavam

41

com os outros colegas de escola sobre a sua professora). A professora, desta

classe, demonstrava um grande entusiasmo na realização das aulas. A estratégia de

ensino era modificada quando a educadora percebia que os educandos não

estavam compreendendo as tarefas propostas ou o assunto ensinado, favorecendo

o desenvolvimento de todas as crianças. Existia um intervalo entre as aulas para que

as crianças pudessem lanchar, porém não havia recreio e nem qualquer recreação

direcionada (brincadeiras, jogos, etc.). Neste intervalo, as crianças saíam em grupos

de duas ou três para beber água, o que causava muita confusão. Após o lanche, as

crianças voltavam à rotina das aulas, porém sem muito entusiasmo e ainda muito

agitadas. Chamou a atenção o fato da professora sempre modificar a posição das

carteiras na sala de aula. No primeiro dia de observação, percebi que a sala estava

disposta em semicírculo, os três dias seguintes as crianças sentaram em duplas e,

no último dia que observei a escola, a sala estava arrumada em duas filas uma de

frente para a outra deixando um espaço no meio que facilitava a locomoção dos

educandos.

A sala sob regência da professora G não tinha o mesmo entusiasmo para o

aprendizado, geralmente as crianças brigavam por qualquer motivo, e, pelo menos

três alunos procuravam confusões diariamente. As carteiras desta classe eram

maiores, portanto ocupavam mais espaço, desta forma, por falta de opção, a

professora mantinha as cadeiras dispostas em filas duplas. A professora tentava

fazer atividades contextualizadas, porém nem sempre conseguia. O primeiro dia foi o

mais tumultuado, alguns meninos entraram na sala brigando e a aula demorou muito

para ser iniciada As crianças não realizavam as atividades e, apesar de ter sido

programado o mesmo esquema de aula para as duas classes, este esquema não

funcionava para a classe da professora G. O momento do lanche era muito

tumultuado, e, alguns meninos, desta sala, obstruíam a passagem dos colegas no

momento em que deviam descer para beber água. Esta professora também não

realizava recreação com seus educandos. A rotina da aula não foi retomada nos

dois dias em que fiquei nesta sala, houve brigas entre dois dos alunos, sendo

necessário solicitar a vinda dos pais à escola.

42

4.1.2 Explorando as mudanças

Este tópico representa a segunda etapa de observação, na qual foram

evidenciadas mudanças ocorridas no contexto da sala de aula tais como, mudança

de estratégia de ensino, alterações das relações entre professoras/educandos e

educandos/educandos e as diferenças do espaço físico (paredes, carteiras, etc.).

O terceiro ano, que tem a professora J como regente, permanece

desenvolvendo suas atividades de forma regular. As atividades são realizadas

visando uma relação com o conhecimento de mundo dos estudantes. O avanço no

desenvolvimento do processo de letramento dos educandos é bastante claro. Este

fato foi percebido no desempenho das crianças ao realizarem uma atividade que

culminava em uma história. Algumas histórias foram lidas em sala de aula e todas

tinham coerência, embora não tivesse uma estrutura desejável. Apenas três

crianças, desta classe, não desenvolveram a base alfabética. A hora do lanche

sofreu uma mudança, embora tardia, que favorece a retomada da rotina e

tranquilidade das crianças. Foi estabelecido que o intervalo também fosse a hora da

leitura. Esta foi uma estratégia utilizada pelas professoras para tentar amenizar a

falta de recreação. As crianças pegam um livro após o lanche e sentam onde se

sentem mais confortáveis. Aparentemente, elas gostam do ato de ler e ficam

pedindo para que a professora “deixe um pouco mais”. No final da semana de aulas,

uma destas crianças fica encarregada por contar para a turma a história que mais

gostou de ler. As histórias também são ilustradas e coladas em um mural na sala de

aula. Pude perceber nesta sala que as paredes estavam cobertas de trabalhos

realizados pelas crianças.

A outra turma, a da professora G, estava menos agitada, pois, o aluno que

havia provocado o conflito no último dia da observação anterior foi transferido para o

turno oposto. A professora fez uma caixa e trouxe livros de casa para que os(as)

meninos(as) se sentissem motivados a ler durante o intervalo. A princípio, a

estratégia parecia que iria dar certo e a professora, enfim conseguiria realizar um

trabalho mais tranquilo. Ela estava visivelmente cansada e quase sem voz.

Procurava sempre modificar sua aula, utilizando jogos e brincadeiras. Uma atividade

utilizando o jogo como instrumento didático acabou em briga e ela ficou muito triste

porque os resultados alcançados não eram satisfatórios. No terceiro dia de

43

observação, aconteceu um fato inusitado, a professora foi até a sala dos professores

e chamou a coordenadora para ver o “grande acontecimento”: um dos alunos que

ainda não era leitor de palavras lera uma lista de palavras elaborada pela turma.

Esse fato era levado para toda a escola pela professora que estava emocionada. No

dia seguinte, a criança passou a recusar qualquer tipo de atividade, o que deixou a

professora muito triste. As paredes da sala da professora G também estão com

muitas atividades escolares coladas em mural, existem trabalhos sobre a dengue e a

gripe suína. O intervalo está mais tranquilo e as crianças mais calmas.

4.1.3 Observando as avaliações do terceiro bimestre

Este relato trata da terceira etapa de observação e teve como foco as

avaliações individuais referentes ao terceiro bimestre (as avaliações estavam

atrasadas por ter ocorrido uma greve no mês de junho que se estendeu até agosto

de 2009).

As atividades para avaliação foram elaboradas em conjunto, e o seu conteúdo

se compunha por assuntos ministrados em sala de aula durante o bimestre em

questão. As educadoras tiveram o cuidado em escolher atividades que se

aproximassem do contexto cultural dos educandos. Apesar do esforço em mesclar

conteúdos de algumas disciplinas, as atividades não possuíam interdisciplinaridade.

As crianças estavam apreensivas, durante este período, e queriam saber se a

“prova” estava fácil ou difícil. A maior parte delas estava com medo de “tirar uma

nota ruim”. Esta tensão se prolongou por todos os dias de avaliação, por mais que

as professoras tentassem deixá-las tranquilas. As atividades deveriam ser realizadas

individualmente e “não podiam pedir ajuda aos coleguinhas e deviam fazer a

atividade do jeito que sabiam”. O momento seguinte das aulas seria para realizar

revisão para a próxima avaliação.

Percebi que havia brinquedos novos na sala e as crianças tinham outras

opções, além dos livros, na hora do intervalo, era permitido que se organizassem em

grupos para brincar com os jogos que ficavam em uma prateleira ao alcance de

todos.

44

4.2 ANALISANDO AS ESTRATÉGIAS DE ENSINO

Neste tópico, são apresentadas e comentadas as entrevistas realizadas com

duas professoras do 3º. ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal

Epaminondas Berbert de Castro, através das quais se buscou compreender as

estratégias de ensino destas professoras, de final de ciclo, para contornar os

problemas com a aprendizagem da base alfabética por seus alunos. O contato direto

com estas professoras permitiu conhecer e comparar os pontos de vista de cada

uma, assim como fazer uma relação com o desempenho escolar alcançado pelas

turmas, com as observação de campo e com as teorias estudadas.

O roteiro das entrevistas com as professora foi baseado em sete questões,

sendo a primeira destinada a um breve relato, realizado por cada professora, sobre a

sua vida profissional e sobre a turma que está lecionando. As questões seguintes

foram divididas em dois grupos de perguntas e um relato formando três categorias

de análise.

O primeiro grupo está composto por três perguntas referentes à conceituação

que pretende identificar as concepções teóricas que permeiam as práticas

pedagógicas das professoras; o segundo grupo compõe-se por duas perguntas

referentes às dificuldades de ensino-aprendizagem no processo de alfabetização do

terceiro ano do Ensino Fundamental; o último grupo compõe-se por um relato das

profissionais sobre as estratégias que utilizam para contornar os problemas de

aquisição da base alfabética pelos educandos. Desta forma, as categorias de

análise são as seguintes:

1. Concepçõe docentes acerca da alfabetização e dos ciclos

plurianuais;

2. Dificuldades de ensino e aprendizagem

3. Estratégias de ensino realizadas pelas professoras para promoverem

a aquisição da base alfabética.

Antes de iniciar a análise das práticas educativas das professoras, precisa-se

conhecer melhor as educadoras e as turmas. Para isto, foi solicitado que as

professoras falassem um pouco sobre elas próprias e sobre suas classes.

A professora G tem 40 anos, formação em Pedagogia pela Universidade

Católica de Salvador, 15 anos na carreira, há 5 ingressou na rede Municipal, passou

45

a fazer parte do quadro funcional da Escola Epaminondas (como se referem à

escola) a partir do ano de 2009, quando foi transferida de uma escola situada no

subúrbio de Salvador, trabalha 40 horas semanais na mesma escola e com o

mesmo segmento, 3º. ano.

Esta professora leciona em duas classes de terceiro ano desta escola, por

este motivo, fez um relato para cada turma.

Segundo a professora G, a turma A, matutino, possui vinte e dois alunos que

frequentam regularmente às aulas, são alunos tranquilos, a maior parte deles já

possui base alfabética (dezoito) e apenas quatro estão em processo de aquisição

desta base, em nível silábico-alfabético. Este nível de aquisição da linguagem

escrita, de acordo com Ferreiro e Teberosky (1999) ocorre quando o alfabetizando já

possui uma noção de sílaba, ora escreve uma letra para representar a sílaba, ora

escreve sílaba completa.

Ex: caml (camelo). Desta forma, a professora diz que não encontrou

dificuldades para ensinar nesta turma. Para ela “a turma é boa, tranquila, não tenho

problemas em realizar as atividades. Geralmente eles prestam atenção às aulas e

conseguem aprender com facilidade.”

A professora G tem outra visão sobre a turma C para ela “a turma é inquieta

com uma grande defasagem idade/série, tenho vários alunos repetentes que ainda

não sabem ler e escrever direito e vivem perturbando as atividades durante a aula”.

A professora relata que dois destes alunos “não entram “em” (sic) sala, e, quando o

fazem, agridem verbalmente e fisicamente os colegas, não fazem as atividades e

ficam no fundo da sala cantando pagode e funk de letras duvidosas”.

A professora conclui dizendo que “por causa deles, às vezes, fica impossível

dar aula, tudo piora quando algumas alunas querem revidar. „Me‟ (sic) sinto muitas

vezes cansada e desmotivada em realizar o meu trabalho. O barulho desta sala é

tanto que incomoda as salas vizinhas. Às vezes tenho muita pena deles, o bairro

não oferece oportunidades de lazer e a escola não tem espaço nem recreio.”

A professora tem dificuldades em articular o conteúdo com o contexto na

turma C, ao contrário do que é realizado na turma A. Isto ocorre porque esta

professora não consegue se relacionar com as diferenças em sua sala de aula. O

fato da escola não possuir um espaço para recreação das crianças influi no

andamento das atividades.

46

A professora J tem 39 anos, formação em Pedagogia pela Faculdade Olga

Meting, faz curso de extensão intitulado “Alfabetização e seus Processos” na

Universidade Católica de Salvador, onze anos de carreira, há sete anos ingressou

na rede Municipal, passou a fazer parte do quadro funcional da Escola Epaminondas

a partir do ano de 2007, trabalha 20 horas semanais nesta escola lecionando no 3º

ano do Ensino Fundamental e atua na Escola Municipal Gersino Coelho com

Educação de Jovens e Adultos (EJA) com uma jornada de trabalho de 20 horas

semanais.

A professora relata o seu trabalho pedagógico no 3º ano da Escola

Epaminondas Berbert de Castro da seguinte forma:

“Minha turma está ótima! Tenho dois anos ensinando aqui e esta foi minha

melhor turma. Também, „tô‟ (sic) fazendo um curso, muito bom, de alfabetização!

Está me ajudando a entender melhor o que é preciso fazer. Por exemplo: antes, eu

não me preocupava com as relações dos meninos na sala. No curso, aprendi que

fica melhor pra aprender se estiverem em harmonia. Minha turma é muito boa! Estou

gostando do meu trabalho!”

Para esta profissional a mudança de conceito se constitui em mudança na

sua ação pedagógica e um melhor aproveitamento dos recursos disponíveis na

escola.

4.2.1 Concepções docentes acerca da alfabetização e dos ciclos plurianuais

A categoria das concepções é a primeira a ser analisada por se considerar

que as concepções docentes acerca do ensino/aprendizagem sustentam as suas

práticas educativas.

Ante as observações e respostas da professora J sobre o conceito de ciclo e

alfabetização, pode-se concluir que a professora mudou a sua concepção sobre

ciclos ao ingressar, em março de 2009, no curso de extensão por ela citado

anteriormente, sendo claro que reflete as suas ações educativas, o que fica claro

quando compara o seu trabalho atual com o que realizava anteriormente. Esta

mudança é, por muitas vezes, citada por ela no percurso da entrevista.

47

A professora J conceitua os ciclos como uma “oportunidade de aprendizado

para todos os alunos. Antes, eu achava um absurdo essa coisa de ciclo”, no entanto,

não acredita que estes ciclos se realizem de acordo com a proposta de educação

inclusiva. Para esta professora, os ciclos segregam e o sistema deveria ser revisto

porque “a criança deveria aprender a ler e escrever quando entra na escola, no

primeiro ano. Ainda acho que deve ser assim, no primeiro ano deve-se ensinar a ler

e escrever, a diferença é que hoje não me preocupo só com o conteúdo que, para

mim, é muito importante. Hoje, o conteúdo sempre está voltado para as práticas de

leitura e escrita”. Desta forma, a professora assume uma postura de educadora

consciente e comprometida com o processo educativo, visto que procura, a partir de

suas práticas, promover a aprendizagem dos seus educandos tendo como meta o

objetivo final do ciclo, porém compreende que este sistema educacional deve ser

revisto.

Esta mudança de concepção muda também a sua prática, isto a impulsiona a

buscar novas propostas pedagógicas e estratégias de ensino, que desenvolva, nos

educandos, habilidades necessárias para a aquisição da base alfabética. A

professora conclui dizendo que, apesar de buscar este objetivo, não pode “abrir mão

do conteúdo, só que agora faço aquilo que é possível dentro das limitações dos

meus alunos, [...] às vezes eu olho e percebo que eles estão aprendendo e fico

muito feliz, foi preciso fazer um curso „pra‟ (sic) entender como devia fazer isso”.

A professora G concorda que “os alunos deveriam chegar „no‟ (sic) terceiro

ano alfabetizados, como posso trabalhar assim? Se não fosse a ajuda de J eu não

sei como iria fazer, não „devia‟ (sic) existir os ciclos, talvez, assim melhorasse. os

meninos chegam ao terceiro ano sem saber ler e escrever, passam o ano sem

aprender e ficam retidos. Fiz o melhor que pude para alfabetizar esta turma, a outra

não precisei alfabetizar, só desenvolvi as habilidades de letramento eles fazem muita

coisa, muito mais que esta [, pois,] alfabetizar crianças que repetem o ano muitas

vezes é uma ação muito difícil, principalmente por elas serem os maiores e mais

agressivos da turma”.

Pode-se perceber, a partir das entrevistas e das ações pedagógicas

observadas que ambas as professoras concordam que a construção da base

alfabética não pode deixar para ser alcançada ao final do ciclo e que a aprovação

automática não pode ter um fim em si mesma (segundo Perrenoud, 2004; Barreto e

Mitrulis, 2001). Para estes autores, o objetivo de final de ciclo é sempre o ponto de

48

chegada do professor, que deve avaliar as necessidades da turma, definindo o

conteúdo a ser aplicado, porém não pode deixar para ser realizado apenas na última

etapa deste ciclo.

Estas professoras cumprem o seu papel dentro do sistema educacional

referendando as Diretrizes Curriculares Municipais (SALVADOR, 2008) embasadas

nos PCNs (BRASIL, 2003) e na Resolução Nº 012/2007 (SALVADOR, 2007).

As opiniões das professoras J e G são totalmente convergentes ao

pensamento de Demo (2007) que, apesar de não concordar com o sistema de ciclos,

compreende a sua concepção e propõe uma formação mais aprimorada para os

professores alfabetizadores, por serem estes professores os responsáveis pela

alfabetização dos educandos que serão aprovados automaticamente.

Quanto ao conceito de alfabetização, as duas professoras concordam com a

importância de se alfabetizar letrando, ambas diferenciam os conceitos de

alfabetização e letramento concordando com o pensamento de Soares (1984; 2000;

2003), Colello (2009) e Tfouni (1995). Aceitam a alfabetização como um processo de

construção do sujeito e reconhecem que para se alfabetizar o sujeito elabora

hipóteses em cinco níveis cognitivos (FERREIRO; TEBEROSKY, 1999).

A professora J confessa mais uma vez que “não pensava assim, quer dizer,

não fazia o que realmente precisava „pra‟(sic) conseguir o avanço da turma, queria

que eles lessem e escrevessem. Para mim, isso já fazia de um estudante, um leitor.

Procuro em minhas aulas sempre contextualizar para que eles aprendam realmente,

não quero que eles decorem nada!”. A professora G garante que “deve-se conhecer

o contexto destas crianças para poder aplicar este conhecimento em nossas aulas,

só fazer os alunos repetirem as letras e as silabas não vai fazer com que eles

apliquem os conhecimentos na vida diária.” A partir da fala da professora, pode-se

concluir que para ela a alfabetização deve-se relacionar com o cotidiano dos seus

educandos, porém, esta professora tem dificuldades em encontrar uma forma de

associar os conhecimentos de mundo das crianças de sua classe com os conteúdos

ensinados em sala de aula.

49

4.2.2. Dificuldades de ensino e aprendizagem

Quanto à categoria de dificuldades de ensino e aprendizagem, ambas as

professoras concordam que o maior obstáculo no desenvolvimento cognitivo das

crianças, que cursam o último ano do Ciclo de Aprendizagem I, está na falta de base

alfabética. Este problema reflete também nas dificuldades encontradas por elas no

processo de ensino e aprendizagem. Para as professoras, o problema não está em

ter um ou dois educandos com níveis de alfabetização inadequados (referindo-se à

distorção idade-série), mas “na quantidade grande de crianças que chegam a este

peródo do ciclo sem serem alfabetizadas” (J). Segundo a professora G, o problema

para que ela consiga contextualizar as ações educativas está na distorção

idade/série, afirmando que em sua “sala tem muitos alunos repetentes, alguns são

mais de uma vez repetentes [...] a idade deles não é a mesma do resto da turma...”,

a professora complementa o seu pensamento alegando que estes alunos são

causadores de tumulto em sala de aula” e aponta a violência como um empecilho

para a sua ação pedagógica. Este pensamento da professora corrobora suas

dificuldades com a articulação entre o conhecimento de mundo das crianças e o

conteúdo ensinado.

Neste caso, a hipótese inicial de que a base alfabética é responsável pelo

desenvolvimento escolar dos educandos é confirmada pelas professoras, que

contemplam teorias como as de Correa e MacLean (1999) e Libâneo (1994).

Reafirmando o pensamento de Maseto (1997), no que tange à colaboração da

ação didática na manutenção do equilíbrio emocional e desenvolvimento cognitivo

dos educandos, procede afirmar que a professora G, apesar de bem intencionada,

não aceita as diferenças existentes em sua classe. Esta professora não comunga de

conceitos que defendem uma sala heterogênea no sistema educacional em ciclos

(PERRENOUD, 1999).

O ambiente escolar só pode ser modificado se compreendermos as diferentes

relações no contexto sócio-histórico-cultural dos educandos. A ação educativa da

professora J promove um bom ambiente socioeducacional e compactua com as

sugestões apontadas pelos PCNs (BRASIL, 1996), na medida em que, estes

parâmetros sugerem o desenvolvimento da capacidade afetiva, física, cognitiva,

ética, estética de inter-relações. A afetividade, portanto, é um elemento essencial

50

para a motivação tanto na relação professor-aluno, como na relação aluno-aluno e,

consequentemente, imprescindível para o processo de ensino-aprendizagem. A

professora G mudou sua estratégia várias vezes e não conseguiu um ambiente

favorável ao aprendizado.

4.2.3 Estratégias de ensino realizadas pelas professoras para promover a

aquisição da base alfabética

Esta categoria abrange todo contexto educacional, pois se acredita que as

práticas pedagógicas devam estar sempre relacionadas às experiências sócio-

culturais dos estudantes (FREIRE, 1985; 1990; 1996; 1979; 1983). Estas

experiências, consequêntemente, passam a fazer parte das relações que permeiam

a escola, pois, os problemas sociais, gerados por uma sociedade, a pobreza, a

fome, a violência e as drogas, entram juntamente com as crianças nas instituições

educacionais, portanto, a análise das práticas se relaciona com as necessidades

sociais dos seus educandos.

Imersos no contexto social do bairro de Pernambués, no qual a desigualdade

é visivelmente marcada e a violência cresce com muita rapidez, os estudantes que

fazem parte do quadro discente da Escola Epaminondas (como é conhecida no

bairro), pertencem às famílias de classes populares. Filhos de pais e mães

trabalhadores, em geral, pais analfabetos, muitos inseridos no trabalho informal,

estas crianças possuem uma visão de alfabetização e da escola como uma forma de

torná-los „alguém‟, pois, acreditam que ainda não „são‟, eles não se reconhecem

como „gente‟, mas como povo.

A escola tem para estas pessoas a capacidade de transformação social, não

uma transformação imediata, mas, futura. Um futuro que só se alcança através da

alfabetização, do estudo, da razão. Desta forma, muitos esperam que a escola, a

partir de uma transposição de dados lhes conceda o direito de ser gente.

Percebe-se, através das entrevistas, que ambas as professoras compartilham

do conceito de ciclos e de alfabetização e defendem que o processo de aquisição de

leitura e escrita seja realizado na perspectiva do letramento. No que diz respeito às

51

dificuldades, as duas professoras apontam a base alfabética como fator que mais

influencia no desenvolvimento cognitivo dos estudantes. Além das dificuldades com

a alfabetização de seus educandos, a professora G alega ter dificuldades em

controlar a violência em sala de aula, fato comprovado a partir das observações.

Este fato é preponderante para diferenciar as duas práticas pedagógicas. Constata-

se, ainda, que ambas as profissionais buscam proporcionar a aprendizagem

significativa relacionando o conteúdo a ser ensinado aos conhecimentos e

experiências do estudante, sempre voltados para o desenvolvimento de habilidade

que promovam o letramento. A diferença destas práticas consiste em um melhor

desempenho da professora J ao realizar a relação entre o conteúdo aplicado e a

alfabetização das crianças, por ter uma boa relação com os seus educandos e

aceitar as diferenças existentes em sua sala.

As mudanças de estratégias utilizadas pela professora G demonstra o

comprometimento desta professora com a educação. Mesmo ao final do ano letivo, o

objetivo principal foi perseguido por esta professora. Em suas aulas, utilizou

atividades xerografadas, livros literários para o desenvolvimento do prazer em ler,

livro didático. Buscou dentro deste contexto, relacionar os conteúdos programáticos

ao processo de alfabetização (fizeram lista de livros, lista de aniversariantes, livro

sobre o folclore, cartazes sobre como combater a dengue e a gripe suína, dentre

outras atividades que foram relacionadas por ela), a utilização de jogos foi o recurso

mais bem aproveitado segundo a professora, mesmo que os resultados não fossem

tão favoráveis. A mudança de estratégia de ensino é para Perrenoud (1999) um ato

de coragem e ousadia que sempre deve ser realizado pelo professor. Na tentativa

de promover uma consciência social em seus educandos, realizou trabalhos em

dupla, solicitou aos mais velhos da turma que ajudassem no trabalho com os mais

novos, realizou uma festa para os aniversariantes do bimestre. Infelizmente, o seu

trabalho de socialização só começou a dar resultados ao final do ano letivo. A

professora, nem sempre conseguia relacionar os conteúdos ao contexto

sociocultural dos educandos.

A professora J tinha um trabalho mais dinâmico, embora as estratégias de

ensino, assim como o planejamento fossem compartilhados entre as professoras. A

classe era cooperativa, como já foi dito anteriormente, e os educandos realizavam

trabalhos em dupla. A leitura durante o intervalo desenvolveu o prazer em ler, e os

jogos eram sempre utilizados em sala de aula, a professora nunca deixava de

52

ensinar novos conteúdos, sempre procurando desenvolver a base alfabética dos

educandos, contextualizava as atividades.

A contextualização da professora J e a tentativa em contextualizar os

conteúdos pela professora G fizeram parte das aulas durante o período de

observação. Segundo Antunes (2008; 2009), Colello (2009), Ferreiro e Teberosky

(1999), Freire (1983, 1996, 1990), Libâneo (2002), Masetto (1997), Soares (2000;

1984; 2003); Tfouni (2004), Perrenoud (1999) esta relação do conteúdo a ser

ensinado com os conhecimentos e experiências dos sujeitos aprendentes, é de

fundamental importância para a promoção de uma aprendizagem significativa. Visto

que o letramento é a relação que o homem tem com o mundo através da linguagem

escrita e, necessariamente, se realiza de maneira significativa, pode-se concluir que

a professora J realizava as suas aulas a partir de uma perspectiva de letramento,

disponibilizando textos e livros, confeccionando cartazes e atividades de escrita e

leitura sempre relacionadas com o contexto das crianças. A professora G, embora

utilizasse os mesmos recursos nem sempre conseguia contextualizar, por isso seus

resultados não foram tão favoráveis ao desenvolvimento do letramento.

Tratando-se da realização das avaliações, ponto fraco das intervenções

pedagógicas de ambas as professoras, constatou-se uma preocupação em

quantificar o conhecimento dos educandos. Esta constatação deveu-se ao fato de

que, mesmo tentando tranquilizar as crianças, as educadoras mantinham uma

postura autoritária em sala de aula. As avaliações devem ser aplicadas para que o

professor tenha a possibilidade de observar os avanços de seus educandos. A

constatação dos avanços permite ao professor estabelecer novas metas de

aprendizagem para os estudantes com a intenção de promover novas

aprendizagens, portanto, a avaliação deve ser processual e qualitativa, conforme é

enfatizado nas diretrizaes municipais (SALVADOR, 2008).

Comparando os dados obtidos (através das entrevistas, das observações e

do contexto no qual se insere a escola), comprova-se que na prática, apesar do

planejamento ser realizado em dupla, a professora G não tem a habilidade de se

relacionar com os diferentes modos de agir e pensar de seus educandos, ela sabe

da necessidade de trabalhar na perspectiva do letramento, busca práticas que

contemplem a aprendizagem significativa, mas não estabeleceu “[...] uma relação

com os alunos marcada pelo trabalho em equipe, pela participação, maturidade,

criatividade e que favoreça a autonomia [...]” (MASSETTO, 1997, p. 56).

53

Esta relação proposta por Masetto (1997) é estabelecida na prática de

professora J, que permite que seus alunos expressem suas opiniões, respeitando as

diferenças, relaciona os temas estudados com as vivências dos educandos,

incentiva a participação e iniciativa dos estudantes. A professora J tem um olhar

diferenciado para cada educando e consegue articular o processo de alfabetização

aliado ao contexto. Ao estabelecer esta relação de respeito mútuo a professora

colabora para o desenvolvimento dos objetivos traçados no planejamento.

Se ambas concebem as diferenças existentes no processo de aprendizagem,

defendidas por Antunes (1998; 1999), Anastasiou (2004), Ferreiro (1999), Teberosky

(1999; 2003; 2004), Freire (1979; 1985; 1990; 1996), Perrenoud (2004); as aulas

deveriam ser adaptadas a cada turma, as necessidades não são as mesmas, talvez

por este motivo a professora G não tenha alcançado os objetivos da mesma forma

que a professora J. Se o sistema de ciclos tem como finalidade abarcar as diferentes

formas de aprender, para um professor adotar este sistema é necessário reconhecer

e aceitar as diferenças. Segundo Antunes (2009, p.21):

A diferença que realmente existe em se trabalhar inteligências e competências em sala de aula está na forma diferente com que as informações são trabalhadas, atribuindo-lhe um significado, impregnando-as de uma contextualização com a vida e com o espaço no qual o aluno se insere. (grifos do autor)

Este olhar, percebido nas práticas da professora J, ainda não se constitui

como prática da professora G, apesar de esta expor em sua fala a necessidade de

trabalhar as diferenças.

A classe de professora J obteve um desempenho além do esperado pela

escola, dos vinte e oito estudantes que compunham esta classe, uma criança

permaneceu no nível quatro do estágio de desenvolvimento da língua escrita. A

leitura era utilizada pelos estudantes como recurso para a obtenção do

conhecimento e dezessete crianças escreviam histórias com coerência, mas sem

estruturação textual.

Mesmo sem obter os mesmos resultados da professora J, a professora G

conseguiu alcançar os resultados desejados pela escola (a construção da base

alfabética), dos vinte e cinco estudantes que compunham a sua classe, apenas

quatro não chegaram ao nível alfabético, porém, nenhum destes estudantes utilizava

o texto escrito como recurso para a obtenção de conhecimento. Esta profissional

54

constrói o seu caminho como educadora, na perspectiva da mudança, a partir de

reflexões de sua prática e do diálogo permanente com a colega de trabalho, neste

contexto, a professora ousa arriscar novas possibilidades de ação, mesmo que

timidamente.

O capítulo seguinte apresenta as considerações finais, onde são descritos os

resultados obtidos através deste estudo exploratório, suas contribuições e

limitações, além dos resumos dos capítulos e sugestões para novas pesquisas.

55

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

.

A pesquisa realizada teve como objetivo estudar as práticas pedagógicas das

professoras do último ano do Ciclo I de educação básica da Escola Municipal

Epaminondas Berbert de Castro ante as dificuldades com o processo de

alfabetização de seus educandos. Partimos do pressuposto de que a alfabetização

na perspectiva do letramento é fundamental para a aquisição de conhecimentos em

diversas áreas da educação formal sendo necessário que as crianças que estão no

3º- ano da educação básica tenham um conhecimento de leitura e escrita como

prática social mesmo que o objetivo principal do ciclo seja a formação da base

alfabética.

Este estudo demonstra que a articulação de idéias entre as duas professoras,

favoreceu o desenvolvimento das turmas, mesmo em níveis diferenciados de

desempenho e que as mudanças de estratégias não representam regressão, mas a

ousadia de tentar acertar.

O primeiro capítulo abordou a implantação do sistema de ciclos prurianuais

como uma nova perspectiva de ensino e confrontou idéias de autores como Soares,

Freire, Tfouni, Colello, Perrenoud, Libâneo e Demo. O segundo capítulo explorou o

contexto no qual estavam inseridos os sujeitos da pesquisa. O terceiro capítulo

tratou da análise das práticas pedagógicas das professoras de 3º ano do ensino

fundamental da Escola Municipal Epaminondas Berbert de Castro e as estratégias

utilizadas para alfabetizar os seus educandos.

Como resultado geral, percebeu-se que a classe da professora J obteve um

índice de desempenho maior que o da professora G. No entanto, a classe da

professora G apesar de não ter alcançado um resultado otimizado, alcançou a meta

estipulada pela escola (80% alfabéticos). Os estudantes da classe da professora J

obtiveram um melhor desempenho nas diversas disciplinas como matemática,

história, ciências e geografia, compreendendo melhor a utilização dos conteúdos

referentes a estas disciplinas.

Este desempenho demonstra que, de acordo com a hipótese inicial, a

alfabetização desenvolvida na perspectiva do letramento instrumentaliza os

educandos para a construção de saberes das diversas disciplinas que constam na

organização curricular da educação formal.

56

Procurou-se, através do estudo exploratório, promover a reflexão de novas e

antigas práticas educativas que resulta na compreensão do que precisa ser ou não

conservado. Compreende-se, aqui, que, ao realizar a leitura de relatos de

experiências, o professor pode enxergar a própria prática refletindo sobre ela e

avaliando as suas aulas, facilitando ao educador a flexibilidade de suas ações,

tornando possível uma mudança de postura em sala de aula.

Deve-se acrescentar que a pesquisa se limita por não fazer comparações

com reflexões de outras práticas pedagógicas aplicadas em outras escolas da Rede

Municipal de Educação de Salvador, de preferência, sobre a regência da

Coordenadoria Regional do Cabula, mesma CRE da escola observada na pesquisa.

O tempo disponibilizado para a realização da pesquisa foi muito curto, portanto os

dados observados não permitem uma análise aprofundada. Deixando aqui uma

sugestão para esta realização.

Como a intenção inicial da pesquisa abrangia também aos estudantes

implicados nas práticas, sugere-se também a realização de uma avaliação mais

ampla, incluindo opiniões destes estudantes sobre a escola, as aulas e a relação da

escola com a realidade que os cerca. Desta forma, podemos contemplar a parte

mais interessada e, para mim, a mais importante da sociedade escolar, os

estudantes.

Como foi dito na introdução, esta pesquisa serve como base para repensar

práticas, avaliar sugestões e perceber os conflitos existentes na instituição escolar. A

partir deste ponto, acredito que, pode-se realizar um projeto de reestruturação da

escola, um projeto que possa reunir todo o contexto escolar focando o

desenvolvimento desejado por educadores conscientes e comprometidos, dispostos

a colocar em prática a proposta da LDB, a construção de uma escola cidadã,

formadora de pessoas conscientes de suas práticas sociais.

Chamo a atenção para a importância do professor conhecer o trabalho

realizado em ciclos plurianuais, para que possa traçar o seu planejamento voltado

para a obtenção de um resultado favorável ao seu grupo. O professor precisa

acompanhar as mudanças do sistema educacional, buscando uma formação

continuada adequada, conscientizadora e responsável.

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