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PRÊMIO JABUTI E OS ROMANCES PREMIADOS NO SÉCULO … · criticism, which is present in our first...

Date post: 02-Dec-2018
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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES CÂMPUS DE FREDERICO WESTPHALEN PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS MESTRADO EM LETRAS ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM LITERATURA COMPARADA PRÊMIO JABUTI E OS ROMANCES PREMIADOS NO SÉCULO XXI: DIÁLOGOS E INTERSECÇÕES Mestranda: Emanoeli Ballin Picolotto Orientadora: Profa. Dr. Ana Paula Teixeira Porto Frederico Westphalen, julho de 2017.
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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES

CÂMPUS DE FREDERICO WESTPHALEN PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS

MESTRADO EM LETRAS ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM LITERATURA COMPARADA

PRÊMIO JABUTI E OS ROMANCES PREMIADOS NO SÉCULO XXI:

DIÁLOGOS E INTERSECÇÕES

Mestranda: Emanoeli Ballin Picolotto

Orientadora: Profa. Dr. Ana Paula Teixeira Porto

Frederico Westphalen, julho de 2017.

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EMANOELI BALLIN PICOLOTTO

PRÊMIO JABUTI E OS ROMANCES PREMIADOS NO SÉCULO XXI:

DIÁLOGOS E INTERSECÇÕES

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Letras – Mestrado em Letras, área de concentração em Literatura Comparada, sob a orientação da Profa. Dra. Ana Paula Teixeira Porto, como requisito parcial para conclusão do curso de Mestrado em Letras.

Frederico Westphalen, julho de 2017.

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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS

MISSÕES PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, EXTENSÃO E PÓS-

GRADUAÇÃO DEPARTAMENTO DE LINGUÍSTICA, LETRAS E ARTES

CAMPUS DE FREDERICO WESTPHALEN MESTRADO EM LETRAS –

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: LITERATURA COMPARADA

A Comissão Examinadora, abaixo assinada,

aprova a dissertação de mestrado

PRÊMIO JABUTI E OS ROMANCES PREMIADOS NO SÉCULO XXI:

DIÁLOGOS E INTERSECÇÕES

Elaborada por

Emanoeli Ballin Picolotto

COMISSÃO EXAMINADORA:

____________________________________________

Profa. Dra. Ana Paula Teixeira Porto – URI

(Orientadora)

_____________________________________________

Prof. Dr. Rafael Eisinger Guimarães – UNISC

(1º arguidor)

____________________________________________

Profa. Dra. Tania Mariza Kuchenbecker Rösing– URI

(2ᵃ arguidora)

Frederico Westphalen, agosto de 2017.

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DEDICATÓRIA

À professora Ana Paula Teixeira Porto, pelo carinho e amizade que me

proporcionou desde o segundo semestre da graduação em Letras. Além de

orientadora, também foi conselheira, ouvindo-me e sempre pronta para ajudar-

me. Pelos ensinamentos, incentivo diário e orientação segura, é a maior

responsável por hoje estar concluindo o Mestrado em Letras.

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AGRADECIMENTOS

À Deus, por nunca me abandonar nos momentos de incertezas e dúvidas,

ser meu refúgio quando mais precisava.

A meus pais, Sandra Ballin Picolotto e Volmir da Conceição Picolotto, que,

desde muito cedo, sofreram com a distância entre nós, mas sempre me

incentivaram e acreditaram em meu potencial.

A meu irmão, Miguel Ballin Picolotto, por entender que em certas ocasiões,

mesmo longe, eu precisava, mais do que ele, do apoio emocional e também

financeiro de meus pais.

Ao meu esposo, Diego Scolari Danelli, pelo incentivo diário, por me ajudar

nos momentos de dúvida e principalmente por me entender quando, ao invés de

ficarmos juntos, precisava estudar. Certamente com você ao meu lado tudo ficou

mais fácil e tranquilo.

À CAPES, por ter fomentado esses dois anos de Mestrado, sem ela não

poderia tê-lo feito.

À minha sempre orientadora, Professora Dra. Ana Paula Teixeira Porto

que, desde a graduação em Letras, depois na Pós-Graduação em Metodologia

do Ensino de Língua Portuguesa e agora no Mestrado em Letras, acompanhou-

me e vibrou comigo em todas as conquistas.

À estimada professora Dra. Luana Teixeira Porto pelo aprendizado,

incentivo e por sempre proporcionar um ombro amigo nos momentos de dúvidas

e incertezas.

Às colegas, amigas e irmãs Claudia Maira Silva de Oliveira e Daniela Tur,

pela conversa diária, troca de conhecimento e amizade sincera.

Aos demais amigos, que entenderam a minha ausência nesses quase dois

anos de Mestrado.

Aos familiares que torcem e vibram diariamente com minhas conquistas.

À banca examinadora, Professora Dra. Tania Rösing e Professor Dr. Rafael

Guimarães, pelas críticas construtivas que ajudaram a engrandecer meu

trabalho.

A todos os colegas e amigos do PPGL pela constante troca de experiências

e conhecimento durante nossas maravilhosas aulas.

A todos os professores da Graduação em Letras e do PPGL, ambos da

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URI, que me proporcionaram aprendizado e incentivo a pesquisa.

Aos professores da escola Doutor Cleu Bernado, situada no Pará, lugar em

que aprendi a ler e escrever e fui incentivada ao ato da leitura.

Aos professores da escola Castro Alves, situada no Rio Grande do Sul,

local onde cursei o Ensino Médio, pela ajuda e carinho de sempre.

Ao PPGL em Letras por proporcionar palestras, eventos e oficinas que

buscam nos qualificar enquanto profissionais e ainda por estimularem a pesquisa

e a busca por um conhecimento constante.

Enfim, um agradecimento especial para todos aqueles que vibraram e

torceram para que esse sonho se tornasse realidade.

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RESUMO

Com seu surgimento em 1958 o Prêmio Jabuti consiste na principal premiação de literatura no Brasil e busca contemplar autores brasileiros em diferentes áreas do conhecimento. Ganhar um prêmio como o Jabuti é sinônimo de reconhecimento da obra e de seu autor. Devido à importância do Prêmio e sua visibilidade no campo de estudos de literatura, este trabalho apresenta reflexões sobre o Prêmio e as obras que ele consagra na categoria romance, nas edições de 2000 a 2016. Nesse sentido, o trabalho possui como objetivo geral fazer uma revisão bibliográfica acerca de possibilidades de crítica literária que o Jabuti promove e como objetivos específicos: apresentar uma descrição pormenorizada do Prêmio Jabuti; identificar tendências formais e temáticas dos romances premiados no período 2000-2016; e por fim estabelecer uma análise do perfil romanesco valorizado pelo Prêmio Jabuti. A investigação desenvolve-se através de pesquisa bibliográfica acerca da crítica literária e das premiações literárias, assim como de análise e interpretação das obras literárias romanescas consagradas pelo Prêmio no século XXI. Autores como Regina Zilberman, Regina Dalcastagnè e Tania Rösing contemplam o referencial teórico-crítico sobre as premiações literárias. Já, em relação ao termo crítica, retratado no primeiro capítulo, Roberto Acízelo de Souza e Antoine Compagnon são utilizados como aporte principal dessa investigação e ainda pode-se destacar Eliana de Fátima Rodrigues e Cândida Vilares Gancho, que auxiliam o aporte teórico sobre a análise dos romances. Para alcançar os objetivos do estudo, o trabalho em três capítulos: o primeiro salienta o desenvolvimento da crítica literária no Brasil; no segundo traz uma abordagem detalhada do Prêmio Jabuti, buscando apontar sua história e concepção e identificar seus critérios de escolha dos romances vencedores; e por último, é dado enfoque ao perfil dos autores e romances contemplados em primeira colocação pelo Prêmio Jabuti, na categoria romance, chegando então as considerações finais. Ao se realizar esta investigação, contata-se que, o Prêmio Jabuti possui um cunho conservador, no momento em que dá vazão a narradores e personagens brancos, do sexo masculino, e não abre espaço para autores e também personagens que representem as minorias, como é o caso de negros, indígenas e homossexuais. Desse modo, é possível observar que o Jabuti ainda segue um modelo tradicional de julgamento literário já visto no século XX.

Palavras-chave: Prêmio Jabuti. Crítica Literária. Romance brasileiro. Século XXI.

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ABSTRACT

The Jabuti Award was created in 1958 and it is the most important literary award in Brazil. It aims to contemplate Brazilian authors in different fields of knowledge. When an author wins an award such as Jabuti, it represents recognition both of the work of art and of the author. Due to the importance of this Award and its visibility on the Literature field of study, this work reflects on the Award and the works of art it crowns on the Novel category, from 2000 to 2016. As our main goal, we aim to perform a bibliographic review on the possibilities of the literary criticism that is promoted by Jabuti; also, we want to present a careful description of the Jabuti Award; to identify formal and thematic tendencies on the novels which were awarded from 2000 to 2016; finally, to perform an analysis on the novel’s profile valued by Jabuti’s Award. We developed our bibliographic investigation on the literary criticism and on the literary awards, as well as analysis and interpretation of those literary works which were awarded on the 21st Century. Authors such as Regina Zilberman, Regina Dalcastagnè and Tania Rösing are present on our theoretical-critical background. Regarding to the term criticism, which is present in our first chapter, we used Roberto Acízelo de Souza and Antoine Compagnon thoughts as a welcoming theory on this investigation, yet we can highlight Eliana de Fátima Rodrigues and Cândida Vilares Gancho, who also contribute with theory for the novel’s analysis.In order to achieve our objectives, the work is divided in three chapters: the first brings comments on the development of the literary criticism in Brazil; the second presents a detailed approach of the Jabuti Award, aiming to point out its story and conception, and to identify its criteria of choice of the winner novels; finally, we focus on the authors and on the novels contemplated with Jabuti Award, on the novel category, and then we go to our conclusion remarks. We noted that Jabuti Award has a conservative nature, since it prefers narrators and characters which has white profile, are males, and it does not open space to authors and to characters that represent minorities, such as black people, indigenous people, and neither homosexual people. Concluding, it is possible to observe that Jabuti still has a traditional model of judging literature, which was already seen during the 20th Century. Keywords: Jabuti Award. Literary criticism. Brazilian novel. 21st Century.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Rol de obras romanescas premiadas de 2000 a 2016...................13

Quadro 2 - Roteiro de análise para os romances premiados em primeira

colocação do Prêmio Jabuti...............................................................................14

Quadro 3 - Número de Obras...........................................................................60

Quadro 4- Pesquisa no Portal da CAPES.........................................................62

Quadro 5 – Idade dos autores..........................................................................65

Quadro 6 - Estrutura dos romances..................................................................76

Quadro 7-Linearidade dos romances................................................................77

Quadro 8 -Linguagem.......................................................................................79

Quadro 9 –Tempo das narrativas.....................................................................81

Quadro 10 -Espaço das narrativas...................................................................82

Quadro 11-Sexo dos personagens principais das dezessete obras.................84

Quadro 12-Classificação dos tipos de narradores............................................92

Quadro 13 -Vozes que os narradores representam..........................................97

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LISTA DOS GRÁFICOS

Gráfico 1 -Naturalidade dos Autores.................................................................63

Gráfico 2- Formação.........................................................................................64

Gráfico 3-Número de premiações adquiridas por cada autor...........................69

Gráfico 4-Concursos Literários mais frequentes...............................................70

Gráfico 5 - Gêneros Literários mais explorados...............................................71

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................11

1 CRÍTICA LITERÁRIA.....................................................................................17

1.1 Definição, metas e métodos...............................................................19

1.2 Tendências da crítica literária ...........................................................26

1.3 Crítica literária a partir de prêmios....................................................34

2 PRÊMIO JABUTI............................................................................................39

2.1 Proposta e concepção........................................................................42

2.2 Prêmio Jabuti: um instrumento de crítica literária...........................48

3 ROMANCES DO SÉCULO XXI E PRÊMIO JABUTI: DIÁLOGOS E

INTERSECÇÕES...............................................................................................54

3.1 Perfil do Autor.......................................................................................54

3.2 Receptividade das obras do autor perante a crítica literária............68

3.3 Apresentação dos romances...............................................................71

3.4 Estrutura e linguagem dos romances.................................................76

3.5 Cenários: tempo e espaço...................................................................80

3.6 Personagem..........................................................................................84

3.7 Narrador.................................................................................................91

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................99

REFERÊNCIAS...............................................................................................105

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INTRODUÇÃO

Com seu surgimento em 1958, o Prêmio Jabuti consiste no principal prêmio

da literatura brasileira no Brasil com o objetivo de valorizar escritores e obras,

conforme aponta a página principal do site oficial, disponibilizada para acesso

livre em http://premiojabuti.com.br/. É reconhecido por sua grande abrangência,

pois a cada nova edição há mais números de inscritos e sua premiação abarca

diversas áreas do conhecimento (atualmente são 27 categorias analisadas).

Além disso, o autor que tiver sua obra premiada em alguma modalidade e

edição do prêmio é reconhecido tanto dentro como fora do Brasil, assinalando a

importância dessa avaliação enquanto instrumento de valorização literária, como

indica a apresentação do site oficial do Prêmio:

É uma distinção que dá ao seu ganhador muito mais do que uma recompensa financeira. Ganhar o Jabuti representa dar à obra vencedora o lastro da comunidade intelectual brasileira, significa ser admitido em uma seleção de notáveis da literatura nacional. (Fonte: http://premiojabuti.com.br/. Acesso em: 5 abr. 2017)

Os principais fundadores do Prêmio Jabuti foram Edgar Cavalheiro e Mário

da Silva Brito, estudiosos da literatura brasileira que tinham como principal

objetivo premiar escritores, editores, ilustradores, gráficos e livreiros que se

destacassem no decorrer do ano, buscando assim valorizar determinada obra.

A origem do seu nome deu-se por uma homenagem ao escritor Monteiro

Lobato que, assim como Sílvio Romero, Mário de Andrade e Luís Câmara

Cascudo, na época, representavam em suas obras a cultura popular brasileira.

Dentre esses autores foi Monteiro Lobato que recebeu um destaque maior sendo

contemplado ao se colocar o nome de um de seus personagens mais famosos

na identificação no prêmio. O personagem a que se alude é o jabuti, presente na

obra Reinações de Narizinho. Ele possui como características ser vagaroso, mas

ao mesmo tempo esperto e pronto para vencer obstáculos.

Com o passar dos anos, o prêmio sofreu várias alterações. De acordo com

o site do evento, o objetivo principal da CBL (Câmara Brasileira do Livro), que

atualmente promove essa premiação, é o de abranger um número maior de

pessoas, aperfeiçoar o espaço onde essa premiação acontece e ainda agregar

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mais categorias na concorrência, que no início possuía somente sete opções

para que os autores se inscrevessem, sendo elas: literatura, capa e ilustração,

editor, gráfico, livreiro e personalidade literária.

O número de autores interessados em ganhar o Jabuti cresceu

gradativamente nos últimos anos. Isso pode ser explicado por várias razões,

como a importância do prêmio no cenário nacional, a ampliação das categorias

de análise, divididas em obras de ficção e não-ficção, e a premiação que, no

caso da categoria romance, é de trinta e cinco mil reais para o vencedor de

acordo como regulamento da edição de 2016.

Além disso, é preciso considerar a visibilidade que o prêmio dá ao autor e

à obra. Em caso desse reconhecimento, seja como finalista do prêmio ou como

ganhador, é possível se estimular ou se obter uma mudança na carreira de

escritor. Convites para eventos e feiras é uma das consequências que esse

sistema avaliativo pode trazer. Essa notoriedade também não fica restrita ao

contexto brasileiro, pois se estende a projeções de autor e obra no exterior.

Partindo desses pressupostos iniciais que contextualizam a proposta do

Prêmio Jabuti, apresentamos o enfoque desta pesquisa, que consiste em

realizar um estudo de caráter cientifico sobre o Prêmio Jabuti (edições 2000-

2016) no que tange à categoria romance, analisando tendências das obras

premiadas no século XXI.

Para realização do estudo, temos como objetivos: realizar uma revisão

bibliográfica acerca de possibilidades de crítica literária, entre as quais a que o

Prêmio Jabuti promove; apresentar uma descrição pormenorizada do Prêmio

Jabuti, desde sua criação até a atualidade, considerando seus propósitos e

regulamentos, especialmente no que tange à análise das obras inseridas na

categoria romance; identificar tendências formais e temáticas dos romances

premiados no período 2000-2016; a partir da reflexão sobre esses romances,

estabelecer uma análise do perfil romanesco valorizado pelo Prêmio Jabuti.

Para alcance desses objetivos, a pesquisa desenvolve-se através de

pesquisa bibliográfica acerca da crítica literária e das premiações literárias,

assim como de análise e interpretação das obras literárias romanescas

consagradas em primeira colocação pelo Prêmio Jabuti, assim como busca se

identificar quais são as tendências adotadas pelo principal prêmio de literatura

no Brasil.

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O recorte de análise de romances compreende apenas aqueles

contemplados nas edições de 2000 a 2016 do Prêmio, pois nos interessamos

em refletir sobre as relações entre essa literatura recente e sua apreciação

promovida através do Prêmio. Nesse sentido, na tabela a seguir é possível

identificar quais são as obras que obtiveram primeira colocação na categoria

romance, seus autores e editora, bem como o ano em que foram contempladas

com o Prêmio Jabuti.

QUADRO 1 – Rol de obras romanescas premiadas de 2000 a 2016

ANO DA

PREMIAÇÃO

OBRA

AUTOR

EDITORA

2000 A Mulher que escreveu a Bíblia Moacyr Scliar Cia. das Letras

2001 Dois Irmãos Milton Hatoum Cia das Letras

2002 Barco a Seco Rubens Figueiredo Cia das Letras

2003 Dias e Dias Ana Miranda Cia das Letras

2004 Mongólia Bernardo Carvalho Cia das letras

2005 Vozes do Deserto Nélida Piñon Record

2006 Cinzas do Norte Milton Hatoum Cia. Das Letras

2007 Desengano Carlos Nascimento

Silva

Agir

2008 O Filho Eterno CristovãoTezza Editora Record

Ltda

2009 Manual da Paixão Solitária Moacyr Scliar Cia das Letras

2010 Se Eu Fechar Os Olhos Agora Edney Silvestre Record

2011 Ribamar José Castello Bertrand Brasil

2012 Nihonjin Oscar Nakasato FGV Direito

2013 O Mendigo que Sabia de Cor os

Adágios de Erasmo de Rotterdam

Evandro Affonso

Ferreira

Editora Record

2014 Reprodução Bernardo Carvalho Companhia das

Letras

2015 Quarenta Dias Maria Valéria

Rezende

Editora Objetiva

2016 A Resistência Julián Fuks Companhia das

Letras

Para análise das obras, visando a atingir os objetivos propostos, a

pesquisa apresenta cunho quantitativo e qualitativo. A primeira diz respeito ao

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levantamento de dados, ou seja, a partir dos livros analisados consagrados coma

premiação, será possível delinear tendências dos romances premiados, inclusive

com projeções numéricas dos dados. Já a segunda é de cunho bibliográfico, já

que serão discutidos os resultados encontrados no levantamento de dados a

partir da pesquisa quantitativa. A fim de realizar esses dois tipos de pesquisa, o

quadro a seguir mostra o roteiro que deve ser seguido na análise dos romances,

que são objetos de estudo dessa investigação.

QUADRO 2 – Roteiro de análise para os romances premiados em

primeira colocação do Prêmio Jabuti

PERFIL DE AUTOR

1- Qual é o perfil de autores que o prêmio Jabuti contempla quanto a naturalidade, sexo, idade, etnia, formação e atuação profissional.

RECEPCTIVIDADE DAS OBRAS DO AUTOR PERANTE A CRÍTICA

LITERÁRIA

2- Qual é o número de obras publicadas por esse autor?

3- Quantas já obtiveram premiações ou foram classificadas para tal?

4- Se sim, em quais concursos/prêmios?

COMPOSIÇÃO DO ROMANCE

5- Como o romance contempla os elementos da narrativa, levando-se em conta enredo, narrador, personagens, tempo, espaço?

6- É uma composição que respeita a estética tradicional ou propõe alguma inovação?

7- Quais as tendências de estrutura romanesca contempladas nas premiações?

Partindo desses contextos narrativos, o trabalho mostra-se importante pela

necessidade de ampliação de estudos acerca dessas narrativas

contemporâneas, pois um enfoque acerca do conjunto delas ainda não é

encontrado. Assim, é importante a realização desse estudo que abarca um

panorama referente a esses romances, buscando identificar o porquê de cada

uma dessas obras estar em uma posição de destaque, quando pensamos em

um prêmio com um grau elevado de reconhecimento, como é o caso do Jabuti,

Assim, esse trabalho servirá como fonte para posteriores pesquisas.

Além disso, há de se destacar que não existem pesquisas científicas como

a que propomos aqui, contemplando o Prêmio Jabuti, apesar de ele ser

considerado o maior e mais consagrado prêmio da literatura brasileira. Este fator

por si só já justificaria a relevância do estudo.

Ainda é pertinente salientar que, sobre o Prêmio Jabuti, poucas referências

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que podem ser encontradas, como a o site do prêmio, no qual é possível

encontrar apenas o histórico, normas, submissões e depoimentos desse evento,

não havendo comentários críticos sobre os critérios de escolha adotados para

seleção das obras. Dessa forma, o trabalho é necessário por trazer

apontamentos que demonstrem qual é o perfil de livro e de escritores que o

Jabuti tem valorizado no século XXI.

A pesquisa a ser realizada nesse trabalho faz parte da linha de pesquisa

“Literatura, História e Memória”, do Mestrado em Letras da Universidade

Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI, câmpus de Frederico

Westphalen, uma vez que se dedica, de forma geral, a investigar que história

literária está sendo construída pelo prêmio Jabuti no século XXI. Isso aponta

uma perspectiva de se pensar ainda na literatura canonizada sob o viés do

prêmio, que é um importante indicador de juízo de valor para obras literárias.

Para alcançar os objetivos do estudo, o trabalho será dividido em três

capítulos, distribuídos da seguinte forma: o primeiro abordará o desenvolvimento

da crítica literária, desde sua origem até a contemporaneidade, com suas

funções, metas, objetivos e tendências. Esse capítulo servirá como forma de

contextualização das várias vertentes de crítica a que as obras literárias são

submetidas e como forma de mostrar que o prêmio Jabuti também serve como

um instrumento de crítica no momento em que julga e avalia obras literárias.

Autores como Roberto Acízelo de Souza e Antoine Compagnon são utilizados

como aporte principal nessa investigação

No segundo capítulo, haverá uma descrição mais detalhada do prêmio

Jabuti, buscando apontar sua história e concepção e identificar seus critérios de

escolha, principais objetivos, e o seu funcionamento quanto principal prêmio da

literatura brasileira. Além disso, será possível identificar o porquê de essa

premiação ser classificada, durante o trabalho, como um instrumento de crítica

literária. Regina Zilberman, Regina Dalcastagnè e Tania Rösing contemplam o

referencial teórico-crítico sobre essas premiações literárias.

Por último, será dado enfoque ao perfil dos autores e obras contemplados

em primeira colocação pelo prêmio Jabuti, na categoria romance, no período

2000 a 2016. Buscamos identificar nos autores suas formações, níveis de

escolaridade, perfil social e idade e nas obras se possuem os elementos da

narrativa, se respeitam uma estética tradicional ou inovam, ou seja, que

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tendências formais e temáticas esses textos apresentam. Teóricos como Eliana

de Fátima Rodrigues e Cândida Vilares Gancho auxiliam o aporte teórico sobre

a análise desses romances.

Por fim, apresentaremos as considerações finais para salientar os

principais resultados e conclusões da pesquisa.

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1 CRÍTICA LITERÁRIA

Com sua origem proveniente do grego “kritiketekhne”, o termo crítica,

conforme aponta o Dicionário Houaiss (2010), significa:

1- Arte ou técnica de julgar a obra de um autor, período etc. 2- Conjunto das pessoas que exercem tal atividade. 3-Gênero literário proveniente dessa atividade. 4- Análise; exame; julgamento. 5- Censura; depreciação. (HOUAISS, 2010 p.210).

Como é possível perceber, ambos os significados têm em comum o

julgamento das obras, e em cada área do conhecimento existirá profissionais

capacitados em avaliar e identificar o lado bom e o lado ruim de cada campo,

cometendo assim o ato de criticar. No jornalismo, por exemplo, o jornalista tem

a incumbência de escrever sobre determinado assunto, porém, sem perceber,

acaba se tornando crítico, por se posicionar em relação ao tema exposto.

E na literatura não é diferente. O termo “crítica” passou por várias

modificações com o passar dos anos até chegar na atual contemporaneidade.

Para explicar essas mudanças de significado da palavra crítica, Roberto Acízelo

de Souza (2011), em seu artigo intitulado “Crítica literária: seu percurso e seu

papel na atualidade”, traz um panorama do desenvolvimento de atribuições

dadas a essa palavra, desde seu significado grego até os dias atuais.

Conforme Souza (2011), após ser definida como um termo de origem

grega, a palavra crítica passa para o latim, possuindo como designação um

sujeito que possui habilitação para especular determinados textos. Seguindo

esse panorama, na Idade Média a palavra não aparece mais, e seu significado

passa a ser totalmente diferente do até agora mencionado. Aqui crítica é apenas

um derivado do substantivo crise. É no Renascimento então que a palavra

ressurge com seu significado literário e original, buscando comentar e mostrar o

julgamento de determinada obra.

Nessa época, a crítica era desempenhada por professores e alunos. Como

no exemplo levantado por Souza (2011), o primeiro passo feito pelo mestre e os

alunos era o de constatar que as diversas cópias de determinada obra eram

iguais, em seguida, a partir de uma leitura em voz alta, observavam as

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colocações gramaticais e as belezas que aquela obra apresentava, além de

verificar se ela estava de acordo com os modelos impostos como a tragédia, a

comédia ou a epopeia.

Assim como seu significado, o modo como uma obra é avaliada pela crítica

também se modificou. Essa mudança começou a ocorrer quando autores

resolveram escrever sobre esse assunto, ou seja, resolveram colocar em prática

a crítica. Foi na Europa, em meados do século XVI, XVII que Erasmo de

Rotterdam e Richard Simon utilizaram a crítica em estudos bíblicos. A partir de

suas obras houve mais uma modificação, agora além de avaliar textos escritos,

a crítica também abrangia outras ciências, como a história, o conhecimento, o

gosto, conforme aponta Souza (2011).

No Brasil, um crítico literário que se destacou nos séculos XIX e XX foi

Sílvio Romero, que instigou várias outras inquietações relacionadas à crítica

literária. Conforme aponta José Luís Jobim (2012), em seu artigo “Crítica literária:

questões e perspectivas”, o problema era o fato de o crítico conhecer ou não o

autor da obra que estava sendo avaliada. Esse questionamento se deu pelo fato

de Silvio Romero e Machado de Assis terem questões pessoais mal resolvidas,

assim Romero acabava por criticar a obra de Machado, não sabendo diferenciar

assuntos pessoais de profissionais.

O século XIX ainda foi muito importante para a crítica, pois foi nele que ela

foi instaurada como disciplina, tendo como seu objetivo o de “determinar o

conceito de literatura, a propor princípios e procedimentos visando à análise de

obras literárias e a fixar critérios destinados a aferir a qualidade das produções

literárias”. (SOUZA, 2011, p.06). Conforme afirma Souza (2011), era preciso

haver um conceito de literatura para então colocar em prática a crítica de

determinada obra e avaliar se essa poderia ser considerada boa ou não, de

acordo com os padrões clássicos da época.

A crítica como disciplina não durou muito tempo, pelo fato de precisar

utilizar de um conceito de literatura para julgar determinada obra. Assim a partir

da crítica constituiu-se a teoria da literatura. Conforme aponta Souza(2011) esta

ficou responsável em trazer conceitos de literatura e mostrar critérios para a

análise das obras, enquanto que a crítica utilizava dessas concepções criadas

pela teoria da literatura para julgar se determinada obra apresenta ou não essas

concepções, destacando então se essa obra poderia ser considerada adequada.

19

Em síntese, a crítica literária passou por várias etapas até chegar ao seu

conceito atual. Foi e continua sendo muito importante para a constituição de um

cânone literário.

Desse modo, a fim de discorrer mais detalhadamente sobre a crítica

literária no Brasil, no item a seguir serão apresentados as definições, as metas

e os métodos nos quais a crítica baseia-se para que uma obra seja reconhecida

quanto sua forma, estrutura e conteúdo.

1.1 Definição, metas e métodos

A crítica literária é responsável por avaliar um conjunto de obras que recebe

um valor quanto a sua forma, estrutura, temática e discurso. Essa crítica é

responsável por avaliar determinado texto/obra e dizer se este pertence ou não

ao cânone literário, lembrando que cânone é um princípio de seleção ou

exclusão, que não pode ser desvinculado ao poder. Antoine Compagnon, em

seu livro O demônio da teoria: literatura e senso comum, publicado em 2006,

conceitua o termo crítica literária:

Por crítica literária compreendo um discurso sobre as obras literárias que acentua a experiência da leitura, que descreve, interpreta, avalia o sentido e o efeito que as obras exercem sobre os (bons) leitores, mas sobre leitores não necessariamente cultos nem profissionais. A crítica aprecia, julga; procede por simpatia (ou antipatia), por identificação ou projeção; (COMPAGNON, 2008, p.21-22).

O autor afirma que na crítica literária existem vários critérios de escolha,

deve ser levado em conta quem escreve, o que escreve e para quem escreve,

mas o principal é a maneira como a obra irá chegar ao leitor, sendo ele um leitor

culto e instruído ou não. Assim a crítica literária é responsável em determinar o

valor de um determinado texto, afirmando o porquê uma obra ser considerada

melhor que outra.

Nesse sentido, a fim de discorrer sobre as metas e métodos da crítica

literária, Compagnon (2008) apresenta um capítulo intitulado “História Literária e

Crítica Literária”. Nesse tópico o autor discute sobre as diferenças e

semelhanças entre esses dois conceitos. Primeiro ele afirma que todas as obras

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são lidas e, sendo, lidas são “julgadas, apreciadas, amadas” (COMPAGNON,

2008, p. 202). Conforme aponta o autor, independente do tipo, forma ou

conteúdo, todas as obras, de alguma forma serão contempladas por um leitor,

sendo ele inato ou não.

Em relação à crítica literária, o autor ainda completa que há uma pequena

confusão no uso dos termos história literária e crítica literária. A primeira diz

respeito ao todo de uma obra, já a segunda remete apenas ao julgamento de

determinado texto. No fragmento a seguir, é possível entender, de maneira clara

essa distinção feita por Compagnon:

Aliás, qual o valor do critério de presença ou de ausência de julgamento para separar crítica e história literária? O historiador, afirma muitas vezes, contata que A deriva de B, enquanto o crítico afirma que A é melhor que B. Na primeira proposição, o julgamento, a opinião, o valor estariam ausentes, ao passo que na segunda o observador estaria envolvido. (COMPAGNON, 2008, p.2002).

Como podemos observar, na história literária o foco está mais pautado em

esclarecer os fatos. O julgamento de valores não é levado em consideração. A

crítica literária precisa constatar a opinião, os valores, o modo como determinada

obra está sendo veiculada e vista pela sociedade que a lê, a fim de, a partir desse

levantamento, julgar essa obra como pertencente ou não a um cânone literário.

Leyla Perrone – Moisés, também traz apontamento sobre esse viés, em

seu livro Altas literaturas: escolha e valor na obra crítica, publicado e 1998, traz

apontamentos acerca da história literária vinculada ao julgamento de valor de

determinada obra. Nesse sentido, a autora afirma que a crítica literária, aqui

denominada julgamento de valor, vem sendo cada vez menos comentada e

questionada. Para ela a história e a crítica são sinônimas uma da outra e devem

andar juntas:

Todos concordam em que a história deve ser crítica, mas a concordância seria bem menor se discutíssemos os valores que devem presidir à crítica. Sendo ponto pacífico que o julgamento de valor é contingente e relativo, os historiadores da literatura julgam sem explicitar critérios, como se reportassem a um consenso acerca de obras maiores e menores. (PERRONE-MOISÉS, 1998, p. 21).

21

Conforme apontado pela autora, discutir a diferença entre história e crítica

não é importante, o que vale é entender quais são os valores e critérios que a

crítica desempenha para qualificar determinada obra. É necessário que haja

mais clareza nos critérios de avaliação das obras, sendo elas literárias ou não,

afim de que seja possível identificar o porquê de uma obra ser considerada com

maior ou menor valor, em relação a outra.

Com base nessas afirmações, é importante saber quais são os critérios

levados em conta quando um crítico analisa uma obra. De acordo com Botelho

e Ferreira (2010), não existe um único método para cada texto ser avaliado,

assim como o mesmo método não serve para todos os tipos de textos, e

acrescenta:

A obra é que determina o método a ser empregado e este deve ser ainda, se necessário, adaptado à obra, para não exigirmos que ela se acomode artificialmente um esquema predeterminado. Caberá ao crítico observar o que predomina ou o que é importante em cada caso, aplicando o método correspondente ou a adaptação desse método. (BOTELHO, FERREIRA, 2010, p.12).

No fragmento os autores deixam clara a importância de se avaliar cada

obra de acordo com as suas particularidades, ou seja, é inadequado generalizar,

assim como cada pessoa tem suas características, na obra literária, essas

características também aparecem, então não deve haver uma “receita pronta”,

mas adequar essa “receita” para cada situação. Assim, a análise ea avaliação

serão feitas de maneira satisfatória, levando em conta o contexto e o modo como

uma determinada obra é escrita.

Desse modo, é através da forma como um crítico analisa determinada obra

que irá interferir no seu reconhecimento, pois a partir da sua avaliação, será

criado um painel crítico literário sobre aquela escrita. Esse painel só é possível

pelo fato de existir uma obra anteriormente, conforme acentua Botelho e Ferreira

(2010). Ou seja, para haver a crítica, é fundamental que exista algo para ser

criticado, avaliado, então crítica e produção estão juntas, uma dependendo da

outra.

Nesse sentido, Jaime Ginzburg (2008) também traz ponderações sobre o

juízo de valor de uma obra. Em seu texto “O valor estético: entre universalidade

e exclusão”, afirma que o motivo que sustenta o valor estético de uma obra não

22

é o estranhamento ou o choque que ela causa, porque há uma procura na

literatura, assim como na música e no cinema, do alívio de um sofrimento. A

valorização, nessa perspectiva, não está atrelada à obra em si, mas o efeito que

ela traz ao leitor, deslocando o valor para a recepção e não para a produção.

Ainda nesse sentido, o valor varia de acordo com o entendimento e com o nível

de instrução de quem lê.

Desse modo, em uma primeira constatação, o pesquisador sugere que os

livros mais procurados são os best-sellers cujo “valor” literário nem sempre é

apreciado pela academia, mas seria uma espécie de valor dada pelo público que,

nesse tipo de obra, encontra a distração e o esperado “alívio” para cenas

dolorosas.

Mas quais são esses critérios ou métodos levantados pelo crítico literário

na avaliação de uma obra? Cada crítico irá desempenhar um tipo de análise.

Adriana da Costa Teles (s.d), em seu ensaio intitulado “Reflexões sobre o

percurso da crítica literária no Brasil do século XX”, utiliza da obra Memorial de

Aires, de Machado de Assis, para exemplificar aspectos que alguns críticos

utilizaram na análise dessa narrativa. Após apresentar uma análise da obra

machadiana, ela conclui que o principal critério de avaliação utilizada pelos

críticos literários é a relação entre vida e obra do autor, ou seja, para avaliar uma

obra, o crítico precisa procurar saber mais sobre a vida do autor, tentando

identificar se a obra não dialoga com o cotidiano de quem a escreveu.

Em outra perspectiva encontramos as ponderações de Botelho e Ferreira

(2010). Para elas, em uma crítica, deve haver uma preocupação com os

aspectos estruturais de cada obra, como esta chega até o público, seu autor, seu

contexto social e histórico. Nesse sentido, vários são os critérios que devem ser

levados em conta, pois a obra irá ser mais conhecida e receber seu prestígio

conforme o modo como o crítico a ver, por isso a importância de uma análise

séria e precisa.

Souza (2011) também discorre sobre os critérios de avaliação que um

crítico deve levar em conta na análise de uma obra. Para ele, a linguagem que

o autor utiliza em sua obra é fundamental para compor o enredo de sua narrativa

e acrescenta: “Uma obra literária se define não pelo que diz, mas pelo modo de

dizer; um poema não é expressão nem pensamento, mas um arranjo de

palavras”; (SOUZA, 2011, p.34). Como é possível perceber, o autor afirma ser a

23

linguagem o objeto central na análise de um texto, pois a partir dela será possível

perceber o que a obra quer passar para o leitor, e ainda o modo como o escritor

fez uso dessa linguagem para representar sua história.

Os critérios de avaliação elencados pelos autores acima precisam ser

levados em conta quando um crítico literário quer fazer a análise de uma obra.

Nesse julgamento, os critérios não devem aparecer isolados, pois todas as obras

possuem autores, aspectos estruturais, um público-alvo e uma linguagem.

Desse modo, o crítico precisa levar em conta todos esses itens para então

conseguir fazer uma análise coerente.

Mas quem são essas pessoas capacitadas em fazer a crítica de uma obra?

Como já fora mencionado anteriormente, a crítica pode acontecer em várias

outras áreas do conhecimento. Por exemplo, nas artes plásticas existem

pessoas capacitadas em julgar determinada obra, ou seja, em cada área do

conhecimento haverá pessoas/críticos que terão a incumbência de dizer se

determinada obra serve ou não como referência literária, assim como se está de

acordo com determinados critérios de qualidade estética.

Na literatura é esse um processo comum. As pessoas responsáveis por

fazer a crítica são, de acordo com Botelho e Ferreira (2010), estudiosos da área

de letras, que devem analisar, julgar e criticar todas as produções literárias desde

a antiguidade até os dias atuais. Então, trabalhos acadêmicos, artigos, resenhas,

análises são considerados objetos críticos, pois de alguma forma julgam

determinada obra literária, variando em aprofundamento e consistência.

A partir desses trabalhos vai se formando um cânone literário. Esse termo

tem origem do grego “kanon”, uma espécie de vara de medir, e possui sentido

de “norma” ou “lei”. É um princípio de seleção, que necessariamente é regida

pelo processo de exclusão e não pode ser desvinculada do poder; além disso,

aqueles que selecionam ou excluem são autoridades, que escolhem partindo de

seus interesses. Conforme pontua Roberto Reis (1992) em seu texto intitulado

“Cânone”:

Existe um processo de escolha e exclusão operando na canonização de escritores e obras. O cânon está a serviço dos mais poderosos, estabelecendo hierarquias rígidas no todo social e funcionando como uma ferramenta de dominação. (REIS, 1992, p. 73).

24

Esse processo de escolha salientado por Reis (1992) consiste em uma

seleção de livros considerados clássicos. A partir da noção de cânone, é possível

dizer se determinada obra pode ser considerada canônica ou não. Além disso,

será possível classificar uma obra como canônica a partir do contexto em que

ela está inserida e de critérios, nem sempre claros ao leitor, para definição do

que pode ser incluído no cânone.

Quando se forma um cânone, as obras que o integram são analisadas

positivamente com base em critérios nem sempre claros e acabam de alguma

forma abrangendo um número maior de leitores, já que são confirmadas por

autoridades como válidas para leitura, e tendo, assim, maior visibilidade.

Além dos convencionais trabalhos acadêmicos, que geralmente são

publicados em anais e actas eventos ou revistas especializadas, atualmente

muitos estudiosos utilizam-se de ferramentas online para exporem suas análises

críticas acerca de determinado assunto ou de uma determinada obra. Exemplo

disso são os blogs, que consistem em um site onde o seu administrador pode

postar comentários, vídeos, textos, imagens sobre uma ou várias obras literárias,

fazendo com que todas as pessoas possam acessar de forma gratuita e

conhecer sua análise.

Os chamados canais literários também vêm surgindo para facilitar a

pesquisa, embora não necessariamente de estudiosos de literatura. Essa

ferramenta é muito similar a um programa de TV, já que materiais são postados

em dias e horários indicados ao público e há uma preocupação com a sequência

da narrativa audiovisual. Essa alternativa traz benefícios no sentido de expor

comentários críticos, apesar de muitos canais não terem como propósito uma

leitura aprofundada das obras “resenhadas”, e de oportunizar abordagem

consistente sobre a literatura em geral e obras canônicas ou não. Em geral, são

postagem que exploram o humor para resumir conteúdos de obras literárias e/ou

de autores.

Por outro lado, também traz malefícios, pois nem sempre os conteúdos

depositados nesses canais são confiáveis. De acordo com Jeffman (2015) essa

categoria também recebe o nome de booktubere é produzida geralmente no

quarto dos vlogueiros, consistindo em uma apresentação divertida com o

objetivo de expor uma opinião sobre determinada obra e não uma análise mais

precisa.

25

Desse modo, é possível que as pessoas expõem o que pensam sobre

determinado assunto através de uma produção audiovisual que não necessita

de processos profissionais de edição, fazendo assim, que essa ferramenta

venha ganhando um grande espaço no meio acadêmico e já servindo como fonte

de pesquisa para estudiosos.

Em meio a esse vasto número e formas de se fazer e publicar crítica, ainda

existem autores que servem como base para esses estudos. Esses autores

constroem teorias e estas são alicerces para pesquisas. Dessa forma, são

considerados críticos, pois suas produções servem como fonte principal para

que o acadêmico, por exemplo, o leia para seguir suas afirmações como

referência de pesquisa e assim construa sua crítica sobre determinada obra. De

acordo com Botelho e Ferreira (2010) nesse meio de teóricos importantes

destacam-se Jean-Paul Sartre, Roland Barthes, Maurice Blanchot e Julie Graco.

Cada um desses críticos formula suas teorias de maneira diferente. Sartre

se preocupa com o modo como determinada obra irá se adentrar na consciência

do leitor, já Barthes vê a crítica como uma forma de literatura, Blanchot tem a

literatura como um drama antológico e por fim Graco acredita que um crítico deve

se desvincular das ciências humanas. Esses autores são denominados críticos

e quem os lê e usam-nos como referência em seus trabalhos estão utilizando de

uma crítica já feita para construir algo a partir dos conceitos já impostos por

esses sujeitos. Esses conceitos servem como uma base sólida para pesquisas

e escritas posteriores.

Nesse sentido, a crítica literária serve como uma maneira de

reconhecimento das obras, pois quanto mais o livro for estudado e apreciado

mais ele chamará a atenção dos leitores. O crítico é quem vai definir se uma

obra é boa ou ruim, desse modo é preciso que a análise seja feita de maneira

eficiente, levando em conta critérios claros de análise.

Enfim, a análise da obra dependerá também do conhecimento de quem a

julgar, se este profissional conhece as técnicas, tendências e métodos para fazer

um julgamento sério e preciso. Desse modo, a fim de entender um pouco mais

sobre a crítica literária no Brasil mais especificamente, a seção a seguir será

destinada para algumas tendências da crítica literária, ou seja, por qual viés cada

obra pode ser avaliada no momento de seu julgamento.

26

1.2 Tendências da crítica literária

No contexto da crítica literária brasileira, encontramos diversas tendências

que consistem em determinar como cada texto deve ser analisado e a partir de

qual viés a obra pode ser trabalhada. Sônia Ramalho Farias, em seu trabalho

“Tendências da Crítica Literária Contemporânea: Um Esboço”, aponta as

principais tendências da contemporaneidade, sendo elas: a crítica biográfica, a

crítica determinista e a evolucionista.

Em relação à crítica biográfica, criada originalmente por Sainte Beuve

(1804-1869), Farias (2009) afirma que nessa tendência busca-se explicar a obra

a partir da vida do seu autor, ou seja, obra, autor e vida precisam andar juntos

no momento de uma análise. O crítico que for julgar determinada obra, sob esse

viés, precisa levar em conta essas três facetas, o que significa fazer uso de

exemplos de vida pessoal dos autores para análise dos textos literários. Desse

modo, a partir dos conceitos dessa tendência será possível identificar se a obra

possui relação com a vida do seu autor.

Nesse contexto da crítica biográfica, Eneida Maria de Souza, em seu livro

Crítica Cult, propõe vários ensaios sobre a crítica e em um deles, intitulado

“Notas sobre a crítica biográfica”, afirma que se trata de uma tendência que alia

fato e ficção:

A crítica biográfica, por natureza compósita, englobando a relação complexa entre obra e autor, possibilita a interpretação da literatura além de seus limites intrínsecos e exclusivos, por meio da construção de pontes metafóricas entre o fato e a ficção. (SOUZA, 2007, p. 105).

Conforme aponta a autora, a principal função da crítica biográfica é o de

relacionar vida e obra do autor, além disso, é possível, nos estudos críticos que

fazem uso dessa tendência, encontrar um misto entre realidade e ficção, pois se

acredita que o autor, para composição literária, utiliza fatos reais da sua vida

pessoal e fatos ficcionais, criando, assim, uma terceira história, a que está na

obra.

Nesse mesmo viés, mas como um nome um pouco diferente, encontramos

a crítica Histórico-Biográfica, designada por Guerin, Labor e Morgan (1972)

como um reflexo da vida e época do autor. Nesse sentido, a exegese de uma

27

obra estaria pautada na representação da realidade da época, ou seja, o

poeta/escritor aqui tem a função de escrever em suas obras o retrato da

sociedade. Esses escritores, desse modo, tornam-se fontes para a história, pois

seus escritos no futuro servem de fonte para pesquisas sobre o passado. Essa

é a concepção que embasa a crítica dessa vertente.

Em relação à crítica determinista, Farias (2009) afirma que nela é possível

aplicar métodos das ciências naturais à literatura. Criada por Hipólito Taine

(1828-1893), trata-se de um conceito filosófico que acredita que tudo já está pré-

determinado, todos os acontecimentos acontecem devido a uma determinação

que vem de dentro da pessoa. Nessa corrente, acredita-se que o amanhã

dependerá do hoje, ou seja, aquilo que está previsto para acontecer certamente

acontecerá.

Carolina Laurenti, em seu trabalho “Determinismo, probabilidade e análise

do comportamento”, publicado em 2008, também traz apontamentos acerca da

crítica determinista, afirmando que nessa crítica o comportamento humano é

totalmente determinado. Para ela “criticar o determinismo seria o mesmo que

duvidar da possibilidade de tratamento científico do comportamento”

(LAURENTI, 2008, p. 01).

A terceira tendência, conforme aponta Farias (2009), é a evolucionista,

representada por Ferdinando Brunetière (1849-1907), diz respeito às

transformações dos gêneros literários. Ou seja, preocupa-se com o modo como

cada gênero literário foi adquirindo seu espaço. E pontua:

cabe ao evolucionismo justificar as transformações dos gêneros literários, tendo como modelo a teoria darwinista da evolução das espécies. Com base nela, o crítico ressalta o “fator individualidade”, acionado para justificar a ação do gênio autoral, cujas qualidades específicas o distinguiriam entre os de sua espécie, tornando-o, assim, responsável pela evolução literária (FARIAS, 2009, p. 236-237).

De acordo com o fragmento, nessa vertente utiliza-se o modelo darwinista

para analisar as obras. Esse modelo consiste em identificar uma evolução em

que as pessoas, com o passar dos tempos, adéquam-se a determinado ambiente

e tendem a evoluir. Nesse sentido, o crítico vai identificar o porquê de

determinada obra ser diferente, considerada melhor que outra, desse modo irá

despertar o “fator individualidade” do autor, o qual será levado em conta pela

28

grandeza da sua narrativa e possibilita torná-lo melhor entre os demais. Nessa

ótica, esse tipo de crítica acredita que o escritor seja motivado a continuar

produzindo e apresentar uma evolução em sua produção.

Muitas são as tendências importantes na análise de uma obra literária,

nesse sentido, Guerin, Labor e Morgan, além de conceituar a crítica histórico-

biográfica conforme fora mencionado acima, trazem ainda uma abordagem

sobre outras duas vertentes de análise: a Crítica Textual-Linguística e a Moral-

Filosófica.

Em relação à Textual-Linguística, esta centra-se na “autenticidade do texto

e no significado correto das palavras em seu contexto histórico” (GUERIN,

LABOR, MORGAN,1972, p.03). Nessa perspectiva analítica, seus principais

contribuintes foram W.W Greg e A, W. Pollard, havendo uma preocupação em

identificar o uso de figuras de linguagens, palavras mais rebuscadas que servem

para dar ênfase à ideia que o autor quer expor. Metáforas e onomatopeias são

exemplos de figuras de linguagem que aparecem com bastante frequência nesse

tipo de análise literária.

Essa crítica também é conceituada por César Nardelli Cambraia (2005)

que, para defini-la, utiliza-se da velha brincadeira do telefone sem fio. Para ele

assim como as palavras se distorcem até chegar no último participante, o mesmo

acontece com o texto. A cada nova cópia, o texto irá sendo mudado, e dessa

forma sua escrita de origem irá aos poucos sofrendo alterações no resultado

final, assim como na brincadeira, que, ao final, a palavra ou frase não possui o

mesmo sentido.

Assim, entende-se que a principal característica da crítica textual,

levantada por Cambraia, diz respeito à identificação das mudanças que ocorrem

nos significados que se atribuem aos textos. Desse modo, o crítico que for

analisar determinada obra terá que antes de tudo ver as publicações anteriores

para então identificar se a em análise possui o mesmo significado geral que o

autor buscou mostrar.

A próxima tendência crítica é a Moral-Filosófica, que possui como um dos

principais comentaristas Dr. Samuel Johnson, (1960-1800). Essa tendência diz

respeito à moralidade, conforme aponta Guerin, Labor e Morgan (1972). Essa

moralidade se dá, na maioria dos casos, através da religiosidade ou da filosofia.

Conforme aponta o autor,

29

O crítico que emprega a abordagem moral-filosófica insiste em determinar e declarar o que é ensinado. Se a obra for importante ou inteligível em qualquer grau, o seu significado estará ali contido. (GUERIN, LABOR, MORGAN, 1972, p. 07).

O escritor que for fazer uso dessa crítica não deve abandonar fatores

estruturais, linguísticos e até mesmo estéticos da obra, mas precisa tratá-los

como secundários e dar uma ênfase maior ao ensino moral e filosófico que ela

proporciona. A importância de uma obra está ligada, nessa perspectiva, ao

ensino que um texto pode trazer.

Essas distintas formas de análise crítica ainda são mais diversificadas.

Jean –Yves Tadié, em seu livro A Crítica Literária no Século XX, também traça

um panorama sobre as tendências da crítica consideradas por ele importantes.

Para o pesquisador, são relevantes estas abordagens: o Formalismo Russo, o

primeiro a ser nomeado, seguido pela Crítica Alemã, a Crítica da Consciência, a

Crítica do Imaginário, a Crítica Psicanalítica, a Sociologia da Literatura e

finalmente a Crítica Genética.

O Formalismo Russo surgiu durante a primeira Guerra Mundial e foi

interrompido pela ditadura em 1930, seu conhecimento deu-se através de

críticos como Viktor Chklovsku, Roman Jakobson, essa tendência consiste no

estudo da linguagem poética com foco na realidade do texto enquanto

linguagem, não dando ênfase para elementos exteriores (como fazem as críticas

pautadas na biográfica do autor, na filosofia, na psicologia, por exemplo).

Conforme aponta Tadié (1992):

Logo, os Formalistas rompem (sob a condição de se deparar com o problema mais tarde) com a História e orientam seus estudos no sentido da linguística, na medida em que ela é uma ciência que se estende até a poética, em que confronta a língua poética cotidiana. (TADIÉ, 1992, p. 19).

Conforme é possível visualizar no fragmento, há no Formalismo Russo

apenas a preocupação com a forma do texto, sua poética e não com o conteúdo

que uma determinada obra pode apresentar.

30

Terry Eagleton, em seu texto Teoria da literatura: uma introdução, logo no

primeiro capítulo do livro traz alguns apontamentos sobre o Formalismo Russo,

levantando pontos positivos e negativos acerca dessa tendência. Para ele, como

ponto negativo, os Formalistas apenas transferiram a atenção para a realidade

material do texto literário, afirmando que o conteúdo não apresentava valor,

somente forma. Já como pontos positivos, Eagleton (2006) aponta que os

Formalistas livraram a literatura de elementos exteriores como a filosofia e a

psicologia, além disso consideravam a literatura como uma forma “especial” de

linguagem.

Seguindo as correntes destacadas por Tadié (1992), encontramos a crítica

alemã, com sua origem em 1915, surgida após o Formalismo Russo. Ela é

caracterizada “por seu método e espírito de síntese” (TADIÉ, 1992, p. 47),

renovando o panorama dos estudos literários da época. Um grande nome no que

diz respeito a essa crítica é Frederic Gundolf, que acredita ser no pensamento,

na vida e na língua o material para a análise.

Eglê Pereira da Silva também destaca, em seu artigo “A crítica literária no

século XX – a filologia românica de Friedrich Gundolf”, alguns itens importantes

levantados por Gundolf que precisam ser levados em conta no momento de uma

análise sob o viés da crítica alemã. Conforme aponta Silva (2016), a biografia é

considerada insuficiente para análise de uma obra de arte; o artista surge quando

segue os seus princípios; a escrita literária consiste em um momento de

passagem, do real para o imaginário; e ainda a obra não pode ser confundida

como uma confissão do autor, o seja, o que está escrito ali pode apenas ser algo

fictício.

Essas teorias levantadas por Tadié (1992) são importantes por ajudarem o

leitor a identificar qual tendência pode servir de fonte inspiradora para construção

de uma crítica literária. Nessa perspectiva, há a possibilidade de se explorar a

Crítica da Consciência. Diferente das duas escolas anteriores que se

preocupavam com as formas das obras, estase interessa pelo assunto criador

da obra.

O primeiro idealizador dessa escola foi Marcel Raymond, cuja preocupação

era com o conteúdo do texto e não com a forma como esse foi escrito. Havia

uma preocupação com o autor, quais foram os métodos usados por ele no

momento da escrita, conforme aponta Tadié (1992).

31

Outro autor que também tece comentários sobre a Crítica da Consciência

é Joseph Jurt (2004), que afirma haver nessa tendência um novo tipo de

abordagem literária. A preocupação de todos os críticos idealizadores é a

temática trazida pelo texto:

Em Raymond, é o sentimento da existência como uma forma de consciência de si; em Starobinski, a relação de compreensão da consciência do outro; em Jean Rousset, a relação entre forma literária e vida do espírito; em Georges Poulet, as categorias da consciência: espaço, tempo, quantidade, causa. (JURT, 2004, p. 01).

Essa tendência foi caracterizada como diferente das demais, pois seu

foco não era os elementos técnicos do texto, mas, sim, o autor e o sentido que

aquela técnica ocasionaria no significado total do texto. Ou seja, assim como as

demais tendências, assume critérios de análise distintos e precisos.

Outra tendência importante é a Crítica do Imaginário. Seu principal nome é

o francês Gaston Bachelard, para quem a matéria do texto é o principal objeto

de estudo. Por volta de 1970, Bachelard criou uma “nova crítica”, pautada na

força psíquica da linguagem, ou seja, nas emoções que a utilização de

determinadas palavras podem passar para o leitor. Além disso, Bachelard

acreditava que a imagem que o texto quer passar não passava de algo irreal e

de um modelo padrão, não havia uma reprodução da realidade, conforme aponta

Tadié (1992).

Nesse contexto da Crítica do Imaginário, Aguiar et al. (s.d) trazem

afirmações sobre essa tendência criada por Gaston Bachelard. Para ele o

francês utilizou-se de quatro elementos para compor sua escola: água, ar, terra

e fogo. A água representa em alguns momentos como um elemento de misturas

e em outros como sinônimo de pureza. O ar tem relação com o movimento. A

terra diferente dos outros elementos quer dizer a resistência e o fogo é

estimulante, mas ao mesmo tempo é caracterizado como destruidor. Assim a

partir desses quatro elementos, Bachelard fundamentou sua perspectiva crítica.

A próxima tendência a ser apresentada é a Crítica Psicanalítica, textos de

Anne Clancier e Max Milner, por exemplo, fundam essa vertente crítica. De

acordo com Tadié (1992), ela provém da psicanálise para analisar as obras, ou

seja, é um modo de interpretação que traz as contribuições da psicanálise para

compreender como se constituem determinados elementos de um texto literário.

32

Para melhor entender essa tendência, Adalberto de Oliveira Souza escreve

um capítulo intitulado “Crítica Psicanalítica”, afirmando ser essa vertente não

uma prática literária, mas uma metodologia terapêutica. Além disso, “Tem,

contudo, um relacionamento complexo com as práticas de leitura e de escrita e

com os pressupostos que se faz sobre o porquê de as pessoas escreverem e

como os textos afetam os leitores (SOUZA, 2005, p. 205). Desse modo, assim

como na medicina, aqui na literatura o foco dessa crítica é a interpretação, porém

aqui das palavras.

Seguindo as tendências elencadas por Tadié (1992), encontramos a

Sociologia da literatura, estudiosos como Madame de Stael e Taine estabelecem

princípios para essa corrente, que, de acordo com o autor, busca estabelecer

relações entre a sociedade e a obra literária. Para ele a sociedade existe antes

da obra, pois o escritor baseia-se nela para produzir suas narrativas e poemas e

também existe depois da obra, pois de algum modo é representada nas

entrelinhas escritas.

Desde a década de 1930 que a crítica sociológica se faz presente na

literatura. Guerin, Labor e Morgan (1972) também caracterizam essa crítica,

afirmando ser uma projeção da história social, desse modo quem for analisar

uma obra, baseando-se no método sociológico, deverá verificar como a

sociedade ou a história social está ali representada.

Nesse sentido, podemos identificar na linha sociológica três tendências que

também são importantes no momento da análise: a crítica marxista, a crítica

feminista e a pós-colonial. A crítica Marxista surge a partir de um pensamento

comum entre Karl Marx e Friederich Engels que veem na literatura um produto

da história. Terry Eagleton (1976), em sua obra Marxismo e Crítica Literária,

afirma que o objetivo dessa corrente é analisar as formas, o estilo e o sentido da

obra literária a partir da história, ou seja, a história deve estar altamente marcada

em uma obra que segue o padrão marxista.

Outro autor que também conceitua essa corrente é Tiago Martins que, em

seu trabalho intitulado “Marxismo Ocidental e teorias dialéticas da literatura”,

pontua que a principal característica dessa corrente é a de levar em

consideração as questões históricas da obra. Nessa vertente, o crítico precisa

se basear nos contextos em que os autores estão inseridos para então avaliar

suas obras.

33

Outra tendência muito importante é a feminista. Com seu surgimento por

volta da metade do século XX, a crítica feminista surge a partir de um anseio

entre estudiosos para identificar qual é o papel da mulher na sociedade e

principalmente como essa mulher vem sendo representada nas obras literárias,

por exemplo. De acordo com Zinani (s.d) esse estudo busca desconstruir

processos ideológicos tradicionais, discutir a questão da identidade de gênero,

tendo em vista que o modo de leitura pode ser facultativo no momento da

interpretação.

A crítica feminista mesmo consolidada ainda encontra dificuldades em se

manter no meio acadêmico, conforme aponta Wiechmann (s.d) ao dizer que o

estudo dessa tendência não é somente o de estabelecer diálogos entre as

produções femininas, mas principalmente o de manter-se nesse campo em

busca de redescobertas literárias que antes não eram bem vistas pela crítica.

E, por último, a crítica pós-colonial, com seu nascimento por volta de 1970,

consiste em uma tendência que se consolida em países colonizados. Nas

narrativas pós-colonialistas os sujeitos vivem em contrapondo, suas identidades

são móveis, mal resolvidas, conforme aponta Stuart Hall (2005), em seu livro A

identidade cultural na pós-modernidade, as velhas identidades estão

desaparecendo e dando espaço para um indivíduo com uma identidade mais

moderna que de certa forma explicita a dualidade entre o que era o povo antes

do colonizar e o que se tem transformado depois do processo histórico de

colonização. Essas pessoas são denominadas sujeitos pós-modernos, por não

possuírem uma identidade fixa e permanente. “O sujeito assume identidades

diferentes em diferentes momentos” (HALL, 2005, p. 13).

Além disso, obras literárias ainda são lidas a partir de uma outra

possibilidade: a do jornalismo literário. Com seu surgimento no Brasil em meados

do século XX, tem como precursores estudiosos como Balzac, Victor Hugo,

Stendhal. Essa tendência busca a união entre o texto jornalístico e o literário. De

acordo com Pena (2006), no jornalismo literário há uma preocupação em

contextualizar as informações de uma forma abrangente, ou seja, diferente do

jornalismo que a escrita precisa ser “enxuta”. Há a necessidade de uma

linguagem mais rebuscada e o escritor precisa ultrapassar os conteúdos do

cotidiano, proporcionando uma reflexão fundamentada a ser partilhada com o

leitor.

34

Como podemos perceber, cada uma dessas vertentes críticas traz suas

contribuições sobre os aspectos considerados importantes no momento do

julgamento de uma obra. Através delas é possível identificar o perfil da obra e

os aspectos estruturais, temáticos, formais que a constituem. Servem, assim,

como ponto de referência para apreciação crítica de uma dada obra literária.

Além de conceituar muitas das críticas esboçadas anteriormente, Guerin,

Labor e Morgan (1972) ainda afirmam que essas abordagens nem sempre são

totalmente úteis, pois um determinado texto analítico pode conter mais de um

método, cabendo assim ao crítico identificar quais deles precisa fazer uso no

momento de sua análise.

No contexto de julgamentos críticos, podemos ainda pensar em uma outra

possibilidade: a das premiações literárias. Então, o próximo tópico irá tratar de

como os prêmios literários são vistos perante a crítica, nesse caso, a brasileira,

além de identificar as principais premiações literárias, considerando o contexto

do Brasil.

1.3 Crítica literária a partir de prêmios

Os prêmios literários no Brasil surgiram por volta de 1909, primeiro com

concursos voltados para o julgamento de peças teatrais, depois esses tipos de

eventos foram sendo moldados e aos poucos foram surgindo prêmios mais

específicos, voltados também para obras literárias. Tania Rösing (2016), em seu

capítulo de livro intitulado “Produção literária contemporânea: divulgação,

premiações, recepção entre leitores e leitores em formação”, afirma que vários

são os modos para se valorizar os escritores ganhadores dos prêmios, mas o

mais comum, nesse caso, é um valor financeiro ou até mesmo uma bolsa de

estudos no próprio país ou fora dele.

Desse modo, essas premiações têm como objetivo valorizar uma obra a

partir da forma com que esta foi escrita, sua estrutura, tema, personagens,

enredo e outros elementos que possibilitem todas as qualidades presentes num

determinado texto para então julgá-lo. Para Rösing (2016) ainda é importante

nessa análise verificar se a obra possui importância regional, nacional ou até

internacional.

Ganhar um prêmio literário é sinônimo de reconhecimento por parte do seu

35

autor, uma forma de divulgação da obra, pelo fato de esses prêmios possuírem

uma grande abrangência tanto dentro como fora do Brasil. Além disso, é

possível conseguir um bom lucro financeiro com uma obra premiada através da

premiação adquirida.

Atualmente, muitos são os prêmios literários no Brasil, conforme aponta a

página oficial da Academia Brasileira de Letras, uma das principais instituições

que organiza esse tipo de avaliação: Prêmio Machado de Assis, Prêmio ABL de

Poesia, o Prêmio ABL de Ficção, o Prêmio ABL de Ensaio, Prêmio ABL de

Literatura Infanto-juvenil. Além disso, podem ser destacados ainda: o Prêmio

Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura, Prêmio São Paulo de Literatura,

Prêmio Oceanos, Prêmio Camões, Prêmio Literário Biblioteca Nacional e o

Prêmio Jabuti.

O Prêmio Machado de Assis foi criado em 1941e consiste em uma

premiação da Academia Brasileira de Letras para autores brasileiros ainda em

vida. Conforme aponta o site G1, em junho de 2016, o prêmio sofreu algumas

alterações. Primeiro existiam mais de um ganhador, o principal que recebia uma

quantia de R$ 100 mil e os demais que recebiam premiações especificas, como:

o Prêmio ABL de Poesia, o Prêmio ABL de Ficção, o Prêmio ABL de Ensaio,

Prêmio ABL de Literatura Infanto-juvenil. Esses ganhavam o valor de R$ 50 mil

cada. Com as mudanças apenas o ganhador principal irá receber R$ 300 mil, e

um diploma correspondente com a premiação.

A partir dessas reformulações, haverá agora apenas o prêmio Machado de

Assis, com um único ganhador. Nesse novo molde, o primeiro a ser contemplado

foi Ignácio de Loyola Brandão pelo conjunto de sua obra, conforme aponta a ABL

em sua página principal. Além disso, sobre esse novo formato de prêmio,

Domício Proença Filho, atual presidente da ABL, acrescentou ao término da

votação que elegeu Brandão que “A reformulação que resultou na concessão de

um único prêmio, com o nome de Machado de Assis, objetiva conceder à láurea

maior representatividade e relevância”. (ABL, 2016). Dessa forma, com essas

mudanças, buscam-se um maior número de procura e ainda mostrar o quão

importante e significativo pode ser essa premiação.

Em outro molde totalmente diferente do prêmio Machado de Assis,

encontramos o prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon Literatura, sugerido pelos

escritores Ziraldo e Moacyr Scliar ao então prefeito de Passo Fundo, Júlio César

36

Teixeira no ano de 1997 quando se deu o início de todo processo. Essa

premiação partiu de uma parceria entre as Jornadas Literárias, realizadas

anualmente em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul desde 1981 pela

Universidade de Passo Fundo, com a prefeitura Municipal.

Assim como o Prêmio Machado de Assis, aqui também a premiação Passo

Fundo Zaffari & Bourbon Literatura passou por algumas alterações. Conforme

aponta Rösing (2016), foi em 2007 que o prêmio passou a abranger todos os

autores de países de língua portuguesa, ou seja, além do Brasil, Portugal e

Moçambique, por exemplo, também podem participar. Outra mudança é a

ampliação no valor que de R$ 100 mil para R$ 150 mil a ser entregue ao escritor

do melhor romance publicado em língua portuguesa.

Com um caráter mais especifico ainda, em relação aos prêmios

encontramos o Prêmio São Paulo de Literatura. Criado em 2008, trata-se de uma

premiação que possui como principal apoiador a Secretaria de Estado da Cultura

de São Paulo. De acordo com a página do evento, o objetivo do prêmio é

“estimular a produção e a divulgação literária brasileira, premiando anualmente

autores e obras que se destacam pela qualidade e contribuição à literatura de

nosso país”. (Prêmio São Paulo de Literatura, 2016).

Nesse prêmio, concorrem romances de ficção, distribuídos em três

categorias: melhor livro do ano; autores estreantes com até 40 anos; autores

estreantes com mais de 40 anos. Sua premiação, conforme aponta o site do

prêmio, é uma das melhores de todo o país, pois divide nas três categorias R$

400 mil, sendo destinados para o primeiro colocado R$ 200 mil e para os outros

dois R$ 100 mil cada um. Desse modo, é bastante procurado pelo fato de

oferecer, além de um bom prestígio, um bom retorno financeiro.

Em outra perspectiva, deparamo-nos com o Oceanos - Prêmio de Literatura

em Língua Portuguesa, cujo nome até 2014 era Prêmio Portugal Telecom de

Literatura, o qual fora criado em 2003 com o objetivo de divulgar obras brasileiras

e obras publicadas em países de língua portuguesa. Atualmente, a premiação

também conta com a parceria do Instituto Itaú Cultural. Em 2016, conforme

informações da página do prêmio, foram contemplados livros de criação literária

em língua portuguesa, cujos gêneros são: poesia, romance, conto, crônica e

dramaturgia.

Assim como os demais lauréis, a premiação é considerada de alto valor

37

financeiro e atinge quatro colocados. O primeiro lugar fatura R$ 100 mil; o

segundo R$ 60 mil; o terceiro R$ 40 mil; e o quarto R$ 30 mil. Comparando esse

valor com os já nomeados anteriormente, é possível perceber que em relação

aos outros concursos, nesse encontramos o menor valor financeiro concedido

aos vencedores.

Outro prêmio que merece destaque é o Prêmio Camões, que consiste em

uma premiação criada pelo governo brasileiro juntamente com o de Portugal em

1988. De acordo com o site da Biblioteca Nacional, o prêmio busca contemplar

autores que de alguma forma contribuíram para o fortalecimento da língua

portuguesa.

Por se tratar de um prêmio em parceria entre Brasil e Portugal, a equipe de

jurados que avaliam as obras a serem contempladas também é dividida entre

portugueses e brasileiros. A cada ano a solenidade de entrega do prêmio é feita

em um dos países, um ano em Portugal e outro no Brasil, assim

simultaneamente. Em relação a sua premiação ele não se difere dos demais

prêmios aqui já expostos, seu vencedor recebe uma quantidade em dinheiro,

porém aqui ela é de 100 mil euros, equivalente a mais ou menos R$ 360 mil

reais. Dos prêmios até agora mencionados, esse é o que possui o maior valor

financeiro no que diz respeito à premiação.

Várias são as diferenças entre os prêmios brasileiros, e, nesse contexto de

premiações, encontramos também o Prêmio Literário Biblioteca Nacional, que

acontece desde 1994, anualmente, nas categorias de romance, poesia, conto,

ensaio social e literário, tradução, projeto gráfico, literatura infantil e literatura

juvenil, conforme aponta a página da Biblioteca Nacional. A cada nova edição, é

divulgado um edital que contém as normas para que o autor possa concorrer ao

prêmio. Esses livros são avaliados por uma grande equipe julgadora que possui

um vasto conhecimento em sua área.

Nesse hall de importantes nomes no que diz respeito à valorização de

jovens autores encontramos a Revista Granta. Originalmente surgida na Britânia

em 1889, consiste em uma revista que tem como objetivo prestigiar jovens

autores, mas foi em 2012 que ela lançou uma edição intitulada “Os melhores

jovens escritores brasileiros”. Nessa edição foram incluídos 20 contos de autores

brasileiros, considerados os melhores. Dentre eles destacam-se Daniel Galera

com “Apneia” e Julián Fuks, ganhador do Jabuti em 2016, com “O Jantar”. Assim

38

como o Prêmio Jabuti no Brasil, a Revista Granta é também uma referência

britânica na avaliação de obras nacionais e internacionais, constituindo-se uma

referência distinta no campo literário.

Outra premiação importante para a área da literatura é o Prêmio Jabuti,

objeto de análise desse estudo. Dada a sua importância nesse trabalho, optamos

por fazer um capítulo especialmente voltado a ele, o que é contemplado na

próxima seção.

Ao expormos uma contextualização acerca de prêmios literários, podemos

fazer algumas observações. A primeira é que muitos delas são destinadas não

só para escritores brasileiros, mas também para escritores de países de língua

portuguesa que publicaram suas obras no Brasil. Há assim, nesse conjunto, uma

valorização das literaturas de língua portuguesa e não especificamente uma

valorização restrita à literatura nacional, o que pode ser visto como um estímulo

à ampliação dos horizontes de leitura numa perspectiva intercultural e

transnacional.

Outro dado a se relacionar é que nem sempre há, para o público leitor,

clareza quanto aos critérios que norteiam as seleções das obras premiadas, pois

nem sempre os regulamentos estão suficientemente especificando o que é

considerado em cada análise e como esta é realizada. Isso mostra certa

distinção em relação a tendências críticas, pois estas, de acordo com o que

apresentamos, têm uma proposição de elementos de análise contemplados na

construção de análises críticas das obras que aprecia.

Vistos de forma comparada as tendências críticas e os formatos das

premiações de uma forma geral, parece haver um maior lastro de subjetividade

analítica nos prêmios. Isso, no entanto, não os invalida como instrumento de

julgamento.

39

2 PRÊMIO JABUTI

Criado em 1958 por iniciativa da Câmara Brasileira do Livro (CBL), o Prêmio

Jabuti surgiu em uma época que havia pouca procura no campo da editoração.

Seus precursores foram dois estudiosos da literatura brasileira, Edgar Cavalheiro

e Mário da Silva Brito, o primeiro com a função de presidente e o segundo como

cargo de secretário da CBL. Por volta de 1959, sob a coordenação de Diaulas

Riedel, houve a primeira premiação, com uma cerimônia simples, na qual os

ganhadores garantiram apenas a estatueta, símbolo do prêmio, como

reconhecimento. Nessa época, o ganhador na categoria romance foi Jorge

Amado com sua obra Gabriela, Cravo e Canela.

Nos mais de 50 anos de edições do Prêmio, este passou por diversas

mudanças, que se referente ao formato, ao regulamento de obras inscritas para

premiações, à curadoria e a categorias abrangidas nos processos avaliativos.

Estes incluem tanto profissionais especializados nas áreas de premiação quanto

aqueles que atuam nos mercados editoriais e que consumem as produções. As

transformações também se devem ao número de obras participantes e de

autores interessados em obter o Prêmio Jabuti. Prova disso são os acréscimos

de obras inscritas para cada avaliação e também a seriedade segundo o site

oficial do Prêmio, que salienta que em toda histórica sempre “manteve sua

transparência, forte característica de seu regulamento, reconhecido por todos

que produzem informação, conhecimento e arte no Brasil”.

À frente do Jabuti esteve, no período de 2014 a 2016, Marisa Lajolo,

doutora em Literatura e uma das principais referências em pesquisa sobre leitura

no Brasil. Juntamente com ela estão Antônio Carlos de Moraes Sartini, Frederico

Barbosa, Luis Carlos de Menezes e Pedro Almeida que, em conjunto, organizam

o processo de inscrição e avaliação de obras.

Em entrevista realizada pelo canal do You Tube “Conexão Universitária”,

publicado no site do Prêmio, Marisa Lajolo afirma ter sido dela a ideia de incluir

na lista de categorias a de livro digital e livro infantil digital, afirmando que ainda

consistem em categorias que têm muito a crescer. Esta é, portanto, uma das

alterações que o Prêmio sofreu nos últimos anos.

Em sua 58ª edição, no ano de 2016, ocorreram muitas modificações,

conforme aponta o site do Prêmio. A primeira delas foi a mudança no local onde

40

ocorreria a cerimônia de entrega aos contemplados, que desde o início era

realizada na sede da CBL, mas nos anos de 2004 e 2005 a premiação ocorreu

no Memorial da América Latina em São Paulo. Nos anos posteriores até 2014, a

Sala São Paulo foi palco do Prêmio Jabuti e, desde então, é no auditório

Ibirapuera, também em são Paulo, que as cerimônias vêm acontecendo.

Outra transformação significativa foi o aumento no número de categorias,

pois no seu primeiro regimento constam apenas as categorias: literatura, capa e

ilustração, editor do ano, gráfico do ano, livreiro do ano e personalidade literária.

Atualmente esse número triplicou, há 27 categorias, que são divididas de modo

mais claro a partir de temáticas e gêneros: Adaptação, Arquitetura e Urbanismo,

Biografia, Capa, Ciências da Natureza, Meio Ambiente e Matemática, Ciências

da Saúde, Ciências Humanas, Comunicação, Contos e Crônicas, Didático e

Paradidático, Direito, Economia, Administração, Negócios, Turismo, Hotelaria e

Lazer, Educação e Pedagogia, Engenharias, Tecnologias e Informática,

Gastronomia, Ilustração, Ilustração de Livro Infantil ou Juvenil, Infantil, Juvenil,

Poesia, Projeto Gráfico, Psicologia, Psicanálise e Comportamento, Reportagem

e Documentário, Romance, Teoria/Crítica Literária, Dicionários e Gramáticas,

Tradução. Em 2016, foi incluída a categoria Infantil Digital, que consiste na

premiação de livros digitais infantis destinados para o público infantil.

Cada uma dessas divisões concorre a primeiro, segundo e terceiro lugar,

sendo que a premiação para ambos é de um troféu e apenas o primeiro lugar

ganha um total equivalente a R$ 3 mil reais. Trata-se de um valor simbólico, pois

as pessoas que se inscrevem buscam mais precisamente o troféu, que

representa reconhecimento e valorização tanto dentro como fora do Brasil. Pelo

menos é nesse sentido que afirma Cristovão Tezza, que obteve o 1° lugar do

prêmio Jabuti em 2008 com o romance O Filho Eterno, publicado pela editora

Record, em depoimento no site do Prêmio Jabuti:

Fui finalista algumas vezes do prêmio Jabuti. Em 2004, fiquei em terceiro lugar com o romance “O fotógrafo”, e no ano passado levei o Jabuti de melhor romance com “O filho eterno”. É simplesmente impressionante a repercussão que esse prêmio tem, a partir do fato de que é o mais antigo e todo mundo conhece. O Jabuti é uma instituição bastante “popular”, o que é sempre surpreendente no mundo do livro brasileiro. Além do mais, ele repercute também na imprensa, o que multiplica a visibilidade da obra. Para mim, teve um efeito positivo, não só no Brasil mas também no exterior - o fato de ter ganho o Jabuti é um toque a mais a valorizar o livro e eventualmente abrir caminho para

41

as traduções. (JABUTI, 2009, p.s.d)

Conforme aponta o autor, ganhar o prêmio Jabuti é uma forma de

valorização em relação a sua obra, além disso é uma maneira de abrir novas

portas, tendo em vista que e trata de uma das maiores premiações brasileiras

existentes no país. Além disso, é mostrar ao público que, dentre milhares de

obras, aquela chamou a atenção e foi considerada a melhor. Sem contar na

visibilidade do autor, que é reconhecido e agraciado pela imprensa tanto no

Brasil como no exterior.

Além dessas várias categorias que concorrem a premiações, também estão

em disputa o Livro do Ano de Ficção e o Livro do Ano de Não Ficção. Muitas

foram as críticas referentes a essa modalidade, vinculadas na mídia, conforme

aponta a página do prêmio, pois nem sempre o livro premiado em 1° lugar nas

categorias anteriores é o mesmo escolhido nessa disputa. A resposta dos

organizadores do Jabuti é que nas categorias maiores quem julga o livro

vencedor é uma equipe de jurados qualificada, já no livro do Ano de Ficção e

Não Ficção, a equipe editorial também pode opinar e votar para a eleição.

Conforme consta a explicação publicada no site principal do evento, na aba

“História”:

O Jabuti trouxe curiosidades sobre a premiação. Em 2004, por exemplo, o vencedor do Livro do Ano de Ficção foi Budapeste, de Chico Buarque. A obra, no entanto, ganhou Menção Honrosa (3º lugar) na categoria Romance. No dia seguinte, a mídia impressa abriu espaço nas suas páginas para questionar o episódio. Como um livro que ficou em terceiro lugar na sua categoria poderia levar o prêmio de Melhor Livro do Ano? “O que ocorreu, na verdade, foi que os vencedores das 20 categorias são escolhidos somente pelos jurados e os Livros do Ano recebem também os votos do mercado editorial, sendo que o grande vencedor não necessariamente é o 1º colocado de uma categoria”, explicou José Luiz Goldfarb, curador do Prêmio de 1991 a 2013.(JABUTI, p. s.d).

Conforme é possível observar, após comentários vinculados na mídia sobre

os critérios de avaliação da premiação, o responsável pelo prêmio na época

precisou esclarecer de que maneira eram feitos os critérios de avaliação.

Conforme consta nos comentários acima, o processo de seleção é composto por

profissionais altamente qualificados nas áreas de cada modalidade, que leem e

fazem análise das obras. Em seguida, há uma cerimônia aberta ao público para

42

a escolha das dez melhores obras de cada modalidade. Depois, em um próximo

encontro são escolhidas as três colocações. Para finalizar é realizado uma

cerimônia de premiação, onde são contemplados os ganhadores dos três

primeiros lugares e ainda os livros escolhidos como Livros do Ano de Ficção e

Não Ficção, conforme aponta o site do Prêmio Jabuti.

Para a escolha dos jurados existe um comitê formado por curadores. Essas

pessoas são responsáveis juntamente com a CBL para escolher quem irá avaliar

cada obra. Desde 2012 o Conselho Curador é composto por profissionais de

Literatura, Ciências Humanas e Científica. Dentre os profissionais que compõem

essa equipe, destacam-se Luís Carlos de Menezes, professor do Instituto de

Física da USP, e Pedro Almeida, jornalista e professor de Literatura. O primeiro

faz parte da curadoria desde 2013, já o segundo ingressou em 2016. A função

desses membros curadores é a de acompanhar todas as fases da premiação,

assim como ajudar na escolha do corpo de jurados.

Outro fator importante que merece destaque é que ganhar o Prêmio Jabuti

é uma importante referência para saber quais obras são avaliadas positivamente

pela crítica, ou seja, há uma maior visibilidade para essas obras e autores que,

de certo modo, são consagrados com essa premiação importante no âmbito da

literatura brasileira.

Conforme aponta Zilberman (2017), em seu ensaio “O romance brasileiro

contemporâneo conforme os prêmios literários (2010-2014)”, existem três

benefícios importantes tanto para o autor da obra quando para o receptor de uma

obra premiada: primeiro, estímulo de desenvolvimento para uma literatura

nacional; segundo, divulgação das obras do escritor, seguido de um estimulo

financeiro; e terceiro, visibilidade nas editoras cujas obras foram publicadas.

Dada a importância do Prêmio para o cenário literário brasileiro, torna-se

relevante ampliar a compreensão do formato dessa premiação. Desse modo, a

fim de discorrer um pouco mais a fundo sobre o Prêmio Jabuti a próxima seção

irá tratar da proposta dessa premiação, assim como sua concepção e os critérios

de escolha adotados pela curadoria.

2.1 Proposta e Concepção

O Prêmio Jabuti possui 27 categorias, distribuídas desde a maneira como

43

o livro foi escrito, sua capa, imagens até o conteúdo e forma como o escritor

utilizou das palavras para desenvolver sua escrita. A seleção acontece através

de um corpo de jurados qualificados que analisa cada obra também de acordo

com a sua área do conhecimento. Depois essa equipe vota na obra que mais

gostou e esses votos são revelados publicamente para que não haja dúvidas,

buscando comprovar a transparência do processo.

Sob esse aspecto, é preciso fazer duas ponderações. A primeira

observação é a de que o site e o edital da premiação não explicitam com clareza

quem são os “jurados qualificados” nem como estes são selecionados, o que

numa leitura inicial já assinala que a transparência, embora relatada como algo

preservado, não é totalmente praticada. Além disso, não se sabe se essa

qualificação dos profissionais que julgam está totalmente voltada ao preparo

técnico e conhecimento específico para analisar a obra inscrita ou se nela

incluem outras questões, como as de interesses de editores, caso estes também

estejam inseridos no grupo de jurados qualificados.

Outro ponto a se considerar refere-se ao fato de que, mesmo que haja um

rol de avaliadores com knowhow e experiência na área, toda avaliação precede

um juízo de valor, que é também subjetivo e baseado em critérios individuais. O

que para um jurado pode ser uma grande obra, para outro pode não ser. Não há

como mensurar nem resolver essa questão. Nessa perspectiva, por mais que a

premiação seja singular, sempre vai exteriorizar um julgamento de um grupo

desconhecido, cujos critérios de avaliação o público desconhece.

Em relação à sua premiação, ela acontece da seguinte forma, conforme

aponta a página do Prêmio: cada categoria recebe o valor de R$ 3.500 e uma

estatueta representante do prêmio nas primeiras colocações, já os segundos e

terceiros lugares recebem apenas o troféu. Além desses prêmios o Jabuti

também contempla o Livro do Ano de Ficção e o Livro do Ano de Não Ficção.

Nessa concorrência os ganhadores recebem uma estatueta dourada,

representante do prêmio, e o valor de R$ 35 mil.

Além de premiar, o Prêmio Jabuti, em suas edições, também homenageia

professores e escritores. Com seu surgimento em 1993, a indicação “Amigo do

Livro” é destaque em casa nova edição e busca homenagear e reconhecer

profissionais que de algum modo âmbito ajudam propagar o livro e o hábito pela

leitura. Na edição de 2000 o crítico e teórico Antônio Candido foi o vencedor e

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em 2014 a professora e pesquisadora Tania Rösing.

Para concorrer ao Prêmio Jabuti, o candidato precisa ser editor, escritor,

tradutor, ilustrador, produtor gráfico ou designer, preencher uma ficha de

inscrição que fica disponível no site do evento e, em seguida, fazer o pagamento

do boleto, referente à taxa de inscrição e encaminhar cinco exemplares. Os

valores para a inscrição variam, e podem ser observados a seguir, conforme

consta no Guia de Orientação do Prêmio Jabuti1, disponível no site do evento:

No caso de obra individual, os valores por obra e categoria na qual a mesma for inscrita são: R$ 270,00 (duzentos e setenta reais) para Associados da CBL; R$ 350,00 (trezentos e cinquenta reais) para Associados de Entidades Congêneres; R$ 410,00 (quatrocentos e dez reais) para Não Associados. No caso de coleção, os valores por coleção e categoria na qual for inscrita são: R$ 420,00 (quatrocentos e vinte reais) para Associados da CBL; R$ 450,00 (quatrocentos e cinquenta reais) para Associados de Entidades Congêneres; R$ 490,00 (quatrocentos e noventa reais) para Não Associados. Desconto progressivo para grupo de inscrições: De 10 a 30 Inscrições – 5% de desconto sobre o valor total De 31 a 60 Inscrições – 10% de desconto sobre o valor total De 61 a 100 Inscrições – 15% de desconto sobre o valor total Acima de 100 Inscrições – 20% de desconto sobre o valor total (JABUTI, p. s.d).

Como é possível visualizar, embora o valor de inscrição seja acessível, é

preciso considerar que há um quantitativo elevado de inscrições, o que garante

uma receita para o ganhador. Porém, além do bônus financeiro, ele é

contemplado especialmente no sentido de obter maior visibilidade a sua

produção.

De acordo com Mariana Passos Ramalhete Guerra, em seu trabalho

intitulado “O leitor e a literatura juvenil: um diálogo entre os prêmios literários

Jabuti e FNLIJ e o Programa Nacional Biblioteca da Escola”, publicado em 2015,

os descontos progressivos são o aspecto que mais chama a atenção dos

autores, pois, se uma editora, por exemplo, submeter um grande número de

livros para análise, além de conseguir diminuir o valor da inscrição, ainda tem a

chance de pelo menos uma de suas obras ser contemplada, causando assim

1 Link para acesso ao guia de orientação: http://premiojabuti.com.br/wp-content/uploads/2016/09/58-

jabuti-guia-de-orientacao-jurados-v2_1.pdf. Acesso em: 30 fev. 2017.

45

reconhecimento também para a editora. Conforme aponta a autora esse pode

ser um caminho a ser seguido pelos autores e editoras, pois ambos podem

ganhar: o autor com o reconhecimento e a editora com a grande procura da obra

que é a consequência da premiação.

Outro fator que pode ser destacado é o fato de as mesmas editoras

adquirirem premiações consecutivas, como é o caso da Companhia das Letras,

que, das dezessete obras vencedoras em primeira colocação pelo Jabuti (2000-

2016), nove delas são publicadas por essa editora. Nesse sentido, constatamos

mais uma lacuna na premiação: Por que uma mesma editora pode se inscrever

em várias categorias e ao mesmo tempo vencer em anos subsequentes? Apenas

essas editoras publicam obras merecedoras do Prêmio? Haveria critérios

“comerciais” imbuídos no processo de seleção das obras? Por que obras de

editoras menores, de abrangência menos significativa no cenário brasileiro, não

aparecem na lista das premiadas?

O júri que irá avaliar essas obras nas 27 categorias é composto por três

jurados, especializadas na categoria que irão avaliar; cada jurado deve

desconhecer a identidade dos seus companheiros de avaliação; e após avaliar

cada obra devem classificá-la com uma nota entre 8 e 10, enviando em envelope

lacrado para a CBL. Neste local, os envelopes serão abertos em audiência

pública.

Só ocorre alteração no nome do vencedor se caso este seja falecido, então

ele é encaminhado para a seção in memoriam e recebe somente a estatueta. O

próximo candidato, então, é nomeado como vencedor e ganha a estatueta e o

valor financeiro conforme exposto no regulamento. Na categoria romance, não

houve nenhum caso de autores falecidos que foram contemplados.

Na sua proposta, o Jabuti apresenta um regulamento claro que explicita

que categorias e obras são analisadas, porém, quando se remete a quem as

analisa e quais fatores são relacionados, o que se sabe é apenas que quem as

analisa são profissionais da área de cada categoria, mas que profissionais são

esses? Só é sabido quem julgou no momento da divulgação dos vencedores.

Por um lado, essa omissão deixa dúvidas, pois o crítico que for julgar irá

conhecer o autor da obra e pode levar em consideração aspectos pessoais e

trajetórias de produção escrita, por exemplo, no momento do julgamento.

Há também uma certa falta de clareza sobre os critérios de avaliação

46

utilizados pelos jurados, pelo menos para quem busca compreender a

concepção do programa. Na categoria romance, que é o objeto de análise deste

trabalho, consta que o jurado precisa estipular uma nota de 8 a 10 nos quesitos:

1. Técnica narrativa, 2. Constituição das personagens e 3. Originalidade.

Parecem-nos critérios bastante amplos que não dão conta de todos

elementos de um romance e que possibilitam uma análise bastante subjetiva,

muito alicerçada nas leituras e concepções de quem avalia as obras. Logo,

podemos pensar que, se os critérios são assim amplos e subjetivos, parte

daquelas que são destaque são avaliadas por profissionais do mercado editorial,

que certamente estão muito mais preocupados com as vendas de determinado

produto e menos com a qualidade, originalidade e técnica que pode oferecer o

texto, e isso intervém no julgamento e na premiação final.

Mesmo assim, nesse contexto, o Prêmio Jabuti é considerado uma

referência, pois sua abrangência quanto ao número de categorias avaliadas é

muito maior do que os prêmios já referidos neste estudo. Enquanto a maioria

analisa e avalia apenas um ou dois gêneros, o Jabuti vai muito além e trabalha

ainda com diferentes áreas do conhecimento como é o caso da arquitetura,

matemática, ciências da natureza e da saúde, por exemplo. Então, além de

trazer vários gêneros literários, sua abrangência é muito maior, indo além do

texto escrito e se adentrando na própria confecção de um livro, ou seja, aspectos

importantes de uma obra que também precisam ser levados em conta no

momento da leitura.

Um quesito importante no Jabuti é que ele, com o passar dos anos vai se

atualizando. Em 2015, por exemplo, uma nova categoria foi lançada, a Infantil

Digital, tendo em vista que estamos cada vez mais inseridos em uma era digital,

o prêmio achou viável saber que tipos de textos estão sendo escritos de modo

digital. Dessa forma, será avaliado o conteúdo digital de cada livro, os elementos

multimídias dispostos na ferramenta, além de links interativos e hipertextuais.

Incluir essa categoria é uma forma de valorização para quem produz esse tipo

de narrativa digital, além disso é mostrar que existem textos bons e que merecem

destaque no âmbito da literatura, demonstrando assim que o Jabuti ajuda na

constituição de um novo “cânone”.

Como já mencionado no início desse trabalho, o Jabuti é considerado um

dos mais reconhecidos e comprometidos prêmios do Brasil, pois, além de se

47

pautar e valorizar somente obras brasileiras, o seu foco está em diferentes áreas

do conhecimento. Ou seja, sua abrangência é bem maior do que os demais, o

que o faz ser mais procurado pelos escritores, sem contar que cada uma de suas

categorias possui primeiro, segundo e terceiro lugar, sendo assim mais um fator

pela grande procura.

Outro ponto negativo que decai em relação aos outros prêmios é a

premiação: enquanto que a grande maioria aposta em um grande valor em

dinheiro, ele traz o reconhecimento em primeiro lugar, pois os ganhadores das

categorias normais recebem apenas um valor simbólico, esse valor só aumenta

um pouco quando os Livros de Ficção e Não Ficção são contemplados. A

premiação em dinheiro serve como um incentivo a mais na carreira de um autor,

ainda mais se este está ainda iniciando sua vida editorial. No entanto, o que se

percebe no Jabuti é que o maior valor parece ser o reconhecimento por parte de

quem ganha, pois, além de ser conhecido no Brasil ainda corre o risco de

conseguir uma carreira internacional pelo prestígio e grande conceito que um

escritor premiado pode ter.

Em relação a essas importantes premiações e ao Jabuti em especial,

podemos concluir que todas se fazem muito importantes para quem trabalha

nessa área da escrita e editoração de obras, independente do espaço onde atua.

Para ser reconhecido e alcançar um bom público de leitores e dessa forma,

aumentar a renda financeira, é necessário reconhecimento e prestigio, e nesse

contexto as premiações cumprem uma função importante.

Conforme aponta Rösing (2016), obras premiadas podem atrair leitores

experientes, leitores em formação, o que confirma uma potencialidade dos

prêmios enquanto referência para leitura. A pesquisadora acrescenta ainda outra

potencialidade:

No âmbito dessas possibilidades, um concurso ou um prêmio literário pode revelar novos talentos de escritores cujas obras têm qualidade, mas não são conhecidas por um número significativo de leitores, contribuindo efetivamente para o aprimoramento de obras futuras desse escritor. (RÖSING, 2016, p. 34).

Desse modo, vemos a importância para um autor em ser prestigiado por

uma premiação, para o escritor experiente ou para aquele que começou

48

recentemente, pois para aquele escritor já aprimorado será uma maneira de

querer continuar a escrever cada vez mais e melhor, uma maneira de superar a

obra anterior, e para o escritor novo, uma forma de aprimoramento e motivação

para as escritas futuras.

Cabe destacar também o ingresso desses autores premiados em primeira

colocação pelo Jabuti na Academia Brasileira de Letras, como é o caso de

Moacyr Scliar e Nélida Piñon. Ocupante da cadeira número 31, Moacyr Scliar

tomou posse na Academia em 2003 e ganhou suas duas premiações pelo Jabuti

em 2000 e 2009. Já Nélida Piñon, ocupante da cadeira número 30, ingressou na

academia em 1990, posição a qual ainda ocupa e recebeu sua premiação no

Jabuti em 2005, já sendo conhecida pela academia.

Mas quem pode utilizar-se do resultado do Prêmio Jabuti? Supõe-se que

sejam os estudiosos de literatura contemporânea ou até mesmo os apreciadores

dessa premiação. Ambos exploram das obras contempladas para a partir delas

construírem trabalhos teórico-críticos e consequentemente terem textos

publicados em jornais e revistas, tendo em vista que, por se tratar de obras e

autores contemporâneas, há ainda poucos trabalhos sobre suas escritas, o que

pode facilitar a visibilidade desses estudos.

Além disso, editoras e organizadores de feiras e eventos também podem

se privilegiar. As editoras porque têm a possibilidade de lançar livros que podem

ser reconhecidos nacional e internacionalmente e, a partir disso, projetar maiores

vendas de determinados títulos ou investir em publicações novas desses autores

já reconhecidos. As feiras e eventos relacionados à leitura e ao livro podem se

valer dos resultados das premiações para ter um contato direto com esses

autores.

Assim, buscando refletir sobre o formato do Prêmio, a próxima seção

apresenta reflexões sobre como podemos compreendê-lo como um instrumento

de crítica literária no cenário brasileiro.

2.2 Prêmio Jabuti: um instrumento de crítica literária

O Prêmio Jabuti consolida-se como um instrumento de crítica literária a

partir do momento que julga uma obra, tendo em vista que entendemos por

crítica literária todo o processo de julgamento, avaliação de uma determinada

49

obra, seja ela literária ou não, com intuito de definir um determinado valor e dar-

lhe reconhecimento. Este pode estar atrelado à qualidade do texto, à

originalidade e à criatividade.

Assim, o Jabuti é considerado um instrumento de crítica, pois, através de

diferentes critérios e categorias, consagra obras e autores nas diferentes áreas

do conhecimento. Critérios esses que vão desde a estrutura da obra até a

constituição dos personagens, além dos elementos externos dos livros como sua

editoração e capa, por exemplo. Em relação a suas categorias abrangem

diversas áreas do conhecimento, contemplando diferentes gêneros literários e

editoração.

Conforme já fora apontado no início deste estudo, a crítica literária é muito

importante no momento de consolidar uma obra, pois, a partir do julgamento, é

possível instituir se essa obra pode ser considerada boa ou não e se pertence a

um determinado grupo, mesmo que os critérios para essas eleições sejam

ocultos ou questionáveis. De acordo com Oliveira (s.d)

A crítica literária divide, com a escola e com a universidade, a função de julgar a produção literária de seu tempo e, ao realizar esse julgamento, ela estabelece, simultaneamente, o que cada época julga importante em termos artísticos e culturais. (OLIVEIRA, s.d, p. 17).

Conforme apontou a autora, através do julgamento de uma obra é possível

reconhecer que tipo de escrita os autores vêm produzindo e o que é considerado

relevante nessas produções.

Desse modo, o Prêmio Jabuti acaba sendo reconhecido por uma referência

crítica que aponta, em cada época, o que é importante, relevante, em termos

artísticos e culturais. Além de ser abrangente, devido às várias categorias que

possui, reconhecido, pelo alto número de pessoas que o procuram, ainda busca

encontrar, a partir de seus critérios, novos autores que ainda, em muitos casos,

não possuem muitas obras literárias publicadas. Nesse sentido, configura-se

como uma crítica ocupada em avaliar obras recentes, buscando consagrar algo

novo e não de deter no passado, no que já foi reconhecido. Desse modo, o

prêmio Jabuti torna-se precursor, pois abre caminho para se pensar no que se

tem de mais recente na produção literária.

50

Para receber o rótulo de instrumento de crítica literária, algumas afirmações

devem ser levadas em conta, sobre o Prêmio Jabuti, dentre elas, destacam-se:

Primeiro apresenta juízo de valor; segundo define critérios de avaliação de

romances mesmo que eles não sejam tão claros; terceiro forma um “cânone”

literário; quarto sinaliza tendências literárias; quinto dá projeção a obras e

autores; e, por último, é um instrumento reconhecido pela crítica, por autores e

editoras. Esses tópicos serão explanados a seguir.

O Prêmio Jabuti apresenta juízo de valor no momento que impõem uma

classificação em primeiro, segundo e terceiro lugar, buscando demonstrar que a

obra em primeira colocação é considerada “ótima, excelente”, a em segundo

“muito boa” e a em terceiro, em relação as outras, merece menos prestígio,

porém é bom também. No momento em que rótula e utiliza essas três

classificações, o Prêmio Jabuti demonstra que somente as três obras

vencedoras se enquadram de forma plena nos critérios impostos.

Além disso, apresenta juízo de valor quando distingue gêneros literários

específicos que são analisados separadamente, demonstrando um tipo de

método avaliativo. Autores e editoras precisam inscrever suas produções em

uma seção especifica de acordo com cada tipo de composição, assim como

editoração. Caso não inscrevam no gênero correspondente, correm o risco de

serem desclassificadas da premiação.

Em relação ainda sobre o juízo de valor, este também acontece quando o

Prêmio forma um “time” de avaliadores. Estes, denominados no Guia de

Orientação do ano de 20162 como Curadores, não são identificados porque

inexistem os nomes dos selecionados, somente há registrado que são

profissionais capacitados em literatura e especificamente em cada categoria:

7.1 Uma Comissão do Prêmio Jabuti, integrada por representantes do setor. 7.2 Um Conselho Curador para o Prêmio Jabuti que será integrado por um Curador e um Conselho composto por especialistas em livros, literatura e em diferentes áreas da cultura e da ciência. (GUIA DE ORIENTAÇÃO, 2016, p. 26).

Como é possível visualizar, além dos profissionais capacitados escolhidos,

2 Guia de Orientação disponível em: http://premiojabuti.com.br/wp-content/uploads/2016/09/58-jabuti-guia-de-orientacao-jurados-v2_1.pdf. Acesso em: 24 jun. 2017

51

no grupo de avaliadores há a presença de um representante do Jabuti. Esses

profissionais são selecionados pelo próprio comitê organizador do Jabuti com

sugestões da CBL, não podendo ter vínculo com editora, autor ou obra inscritos

nas categorias do Prêmio. Esse cuidado com os jurados serve para que se

busque uma avaliação justa, sem interferências pessoais entre jurado e possível

premiado, o que, apesar das intenções, não elimina o tom subjetivo de qualquer

avaliação.

Ainda o Jabuti forma um juízo de valor, expondo os critérios de avaliação,

que, embora não sejam claros, servem como forma de embasamento para os

avaliadores, já que esses precisam partir de um ponto para avaliar. O fato de

haver poucos critérios elencados pelo Jabuti pode facilitar e dificultar a avalição

das bancas. Facilitar porque não precisa seguir necessariamente a linha de

avaliação e sim guiar-se pelo próprio extinto, como gostar ou não da obra e do

modo como foi escrita; dificultar porque, se o jurado pretende fazer uma

avaliação séria, segundo os critérios do Prêmio, não existe clareza absoluta e há

poucos caminhos a serem seguidos, pelo menos quanto ao que se expõe no site

oficial.

Na categoria romance, objeto de análise desta dissertação, na ficha de

avaliação somente o que consta para que os jurados sigam são: 1. Técnica

narrativa, 2. Constituição das personagens e 3. Originalidade. Como não há

explicações sobre as categorias supõe-se que, em relação a 1. Técnica

narrativa, analisam-se modo como a obra foi construída, linearidade, tipo de

narrador, características peculiares da obra. Sobre o item 2. Constituição dos

personagens, provavelmente são observados quais os artifícios o autor utilizou

para construir os seus personagens, as características físicas, mas

principalmente as psicológicas desses sujeitos. Já no item 3. Originalidade,

espera-se que se reflita sobre como foi construído o enredo da obra, se é algo

extraordinário, em relação a narrativas clássicas, anteriores, ou se apresenta

algo comum que não distingue a obra avaliada de outras já existentes.

Mesmo não havendo plena transparência, o Jabuti ainda é muito

procurado, pois o seu reconhecimento quanto principal premiação literária no

Brasil o faz se transformar em um instrumento de crítica. As obras e autores que

adquirem alguma colocação acabam se tornando referências para estudiosos,

tanto dentro como fora do país. E, devido essa grande abrangência e procura, o

52

prêmio acaba por passar uma imagem de seriedade quanto a forma de

julgamento.

O Prêmio também se instaura como um instrumento de crítica literária

quando forma um cânone literário, conforme já fora mencionado anteriormente,

o cânone consiste em um processo de seleção e exclusão, pois ao mesmo tempo

que seleciona uma exclui a outra. De acordo com Maria Eunice Moreira em seu

texto “Cânone e cânones: um plural singular” publicado em 2016, o cânone é

construído pelo modo como a obra é lida e não pela obra em si. Assim funciona

com o Jabuti, premia as três categorias e desfaz das outras tantas que também

estão inscritas, além de impor critérios de seleção, garantindo assim que obras

que não se enquadrem nos critérios precisam ser descartadas. Essa forma de

avaliação vem ao encontro do que afirma a autora, pois o avaliador, antes

mesmo de iniciar a leitura, tem um rol de regras que precisam ser seguidas.

De acordo com Zilberman (2017) essas premiações literárias sinalizam

quais são os livros que demonstraram uma qualidade a mais em relação aos

demais, e cita o exemplo dos best-sellers, que por mais que sejam os livros mais

procurados na atualidade, em alguns casos, não apresentam uma qualidade

estética que esses romances premiados podem ter. Assim, configura-se que o

Jabuti forma um “cânone”, pois entre milhares de livros escolhe apenas três por

ano, em cada categoria, como vencedores.

O Jabuti ainda sinaliza tendências literárias, assim como o fazem outras

linhas de crítica literária, pois, a partir da leitura dos diferentes romances que são

enviados para avaliação, encontram-se vários tipos de escritas e técnicas que

são melhor valorizados. Zilberman (2017) também pontua sobre essas

tendências, que surgem em meio a uma premiação literária. Para ela essas

premiações servem como um termômetro para medir o estado atual da literatura.

Por isso a importância de se manter e divulgar essas premiações, mas

principalmente o valor dessas instituições que promovem esses Prêmios, agirem

com seriedade e comprometimento, escalando jurados que queiram ver o

crescimento da literatura e não se deixem levar por conhecimentos ou interesses

pessoais.

Seguindo essas afirmações sobre o Prêmio Jabuti ele dá projeção a obras

e autores, tendo em vista que os autores são ingressantes na literatura e assim,

suas obras são recém publicadas. Ganhar uma premiação pode ser um modo

53

de impulsionar a carreira, conforme aponta Zilberman (2017):

Prêmios literários podem ser um excelente estímulo para o desenvolvimento de uma literatura nacional. Favorecem os escritores, ao divulgar sua obra entre o público não especializado, colaborando também para a conquista de autonomia financeira, em decorrência do valor do prêmio, se esse for pago em dinheiro, e do crescimento das vendas, das quais advêm direitos autorais.(ZILBERMAN, 2017, p.424).

Como podemos perceber, além do crescimento pessoal dos autores

consagrados, há um estímulo financeiro que fora proporcionado pela

premiação e pelo pós-premiação. Esse valor em dinheiro e o prestígio

acabam impulsionando o autor a continuar escrevendo e, em consequência,

buscar cada vez mais outras premiações literárias. Em síntese, tanto

ganhador quanto perdedor vão buscar esses concursos, pois, para quem

ganhou a premiação há desejo de seguir no posto de vencedor, e para aquele

que perdeu há o anseio de conseguir ser também alvo de destaque. Desse

modo, tanto o Jabuti como outros Prêmios literários tendem a não acabar,

pois servem como meio de impulsionar autores e obras, sempre haverá

público para essas premiações, tendo em vista o reconhecimento que eles

trazem na obra dos autores.

O Jabuti também consiste em um instrumento reconhecido pela crítica, por

autores e editoras. Ou seja, ganhar o Jabuti serve como um parâmetro de

referência, perante a crítica, que o vê como uma premiação importante, diante

dos autores, que buscam esses livros ganhadores para conhecimento da

literatura atual e ainda atribui visibilidade as editoras, pois estas ao publicaram

um livro vencedor ganham uma maior visibilidade no mercado editorial. Adquirir

o Jabuti significa ser avaliado positivamente perante um leque de jurados de

renome e garantir um destaque positivo no meio editorial e acadêmico.

54

3 ROMANCES DO SÉCULO XXI E PRÊMIO JABUTI: DIÁLOGOS E

INTERSECÇÕES

Para alcançar o objetivo desse capítulo, que é o de conhecer os autores e

obras contemplados em primeira colocação pelo Jabuti durante o século XXI, ele

será dividido da seguinte forma: primeiro será apresentado o perfil de cada autor.

Para essa apresentação será exposto um breve histórico da vida de cada autor,

destacando sua naturalidade, sexo, idade, etnia, formação e atuação

profissional, além de outras curiosidades pertinentes que permitam delinear com

clareza um perfil de quem são os escritores das obras contempladas com o

Jabuti.

Em seguida, o enfoque será pautado na receptividade das obras desses

autores, buscando identificar o número de obras que cada autor premiado

publicou, destacando as literárias, incluindo levantamento das publicações em

outras áreas; em seguida mostrar quantas de suas obras já foram contempladas

com premiações, tendo em vista que todos esses autores já possuem uma

premiação, o prêmio Jabuti, conforme destacado durante o trabalho.

Já no item “composição dos romances”, cada obra consagrada nas edições

2000-2016 do Prêmio será apresentada. Esse mapeamento objetiva indicar

algumas tendências que esses romances trazem consigo, tendo em vista que

uma mesma obra pode apresentar várias tendências perante a crítica.

3.1 Perfil do Autores

O Prêmio Jabuti durante o século XXI consagrou diversas obras tanto

literárias como não literárias. Muitos autores foram contemplados, reconhecidos

e, devido à premiação, obtiveram prestígio no meio social e acadêmico. Mas

quem são esses autores? O que fazem? De onde vêm? Que obras já

produziram?

Conforme já fora mencionado na introdução, este ensaio busca analisar

tendências formais e temáticas das primeiras colocações da categoria romance

ganhadoras do prêmio Jabuti dos anos 2000 a 2016. Para tanto, é necessário

conhecer primeiramente o criador das obras privilegiadas com o prêmio.

No total são treze autores, pois, nesses dezessete anos de premiação, três

55

deles se repetem - Moacyr Scliar, Milton Hatoum e Bernardo Carvalho o primeiro

premiado nos anos 2000 e 2009, o segundo 2001 e 2006 e o terceiro 2004 e

2014.São estes os autores: totalizam o número dezesseis, assim divididos:

Moacyr Scliar; Milton Hatoum; Rubens Figueiredo; Ana Miranda; Bernardo

Carvalho; Nélida Piñon; Carlos Nascimento Silva; Cristovão Tezza; Edney

Silvestre; José Castello; Oscar Nakasato; Evandro Affonso Ferreira; Maria

Valéria Rezende; Julián Fuks.

O primeiro autor a ser apresentado é Moacyr Scliar, natural de Porto

Alegre- RS, mais precisamente do bairro judaico Bom fim, nasceu em 23 de

março de 1937 e viveu até os 73 anos vindo a falecer em 2011. Formado em

medicina, dividiu sua vida na atuação como médico, professor universitário e

ainda como escritor, função esta que lhe rendeu reconhecimento por parte de

leitores e críticos, tanto que suas obras foram traduzidas para 12 idiomas.

Por seu prestigio, Scliar também foi eleito membro da Academia Brasileira

de Letras. Foi escritor de contos, romances, crônicas, ensaios e ainda obras

infanto-juvenis, nas quais impôs tons irônicos, temas judaicos, a medicina e a

vivência das famílias de classe média. No total, foram mais de 50 livros literários

publicados.

Lucimara da Silva de Souza em seu artigo “Moacyr Scliar: ficções

desencadeadas por notícias do cotidiano”, publicado em 2011, afirma que ele

representa a vida humana, expondo através de uma escrita crítica sua visão

sobre a realidade social e a condição humana.

O segundo autor é Milton Hatoum, nascido em Manaus- AM, de uma família

libanesa, em 19 de agosto de 1952. No auge dos seus 64 anos é um dos grandes

autores brasileiros ainda vivos. Escritor de contos e romances, Hatoum iniciou

os seus estudos, cursando Arquitetura e Urbanismo, profissão que nunca

exerceu. Concomitante com a função de estudante de faculdade, era expectador

do curso de Letras. Fez vários cursos e especializações em Literatura no exterior

e concluiu seu doutorado no Brasil em Teoria Literária pela USP (Universidade

de São Paulo) em 1998. Trabalhou em Manaus como professor acadêmico,

lecionando língua e literatura, mas com o passar dos anos, foi residir em São

Paulo, cidade onde está até hoje.

Nesse período em que atuou como professor também dedicava seu tempo

a escrever e começou a publicar suas obras em 1989. Maria Ria Berto de Oliveira

56

(2013), em sua dissertação “Uma análise do espaço romanesco em Dois Irmãos

de Milton Hatoum”, afirma que o autor busca mostrar em suas obras um pouco

de suas vivências, se penetram diferentes línguas e culturas. Conflitos familiares

servem como base para o desenrolar da trama.

Outro autor importante é Rubens Figueiredo, que nasceu no Rio de Janeiro,

no dia 09 de fevereiro de 1956. Formou-se em Português-Russo, o que lhe

permitiu atuar em editoras como revisor e, posteriormente, como professor

acadêmico de tradução literária. Iniciou como escritor em 1986, período em que

se dedicou à produção escrita, tradução e docência, alindo ambas as profissões.

De acordo com Elizabeth Fiori em “O tema da Imitação em contos de

Rubens Figueiredo” há, na construção das obras, uma preocupação com a

linguagem, porque ele realiza um trabalho intenso para encontrar as palavras ou

expressões exatas para compor de forma adequada o seu universo ficcional.

O quarto autor é Ana Miranda, de 66 anos. Ela nasceu em 1951 em

Fortaleza –CE e é formada em Artes plásticas. É desenhista, ilustrando assim

os seus próprios livros. Iniciou sua carreira de escritora em 1978, aliando a

escrita com as artes plásticas e ainda com a carreira de atriz, que aconteceu

durante o casamento com Arduino Colasanti, trabalhando em filmes e no cinema

brasileiro. Escritora de poesias, romances, ensaios, resenhas críticas e também

de roteiros cinematográficos, Ana Miranda ainda encontra um espaço para

dialogar e expor suas ideias em palestras e encontros em diferentes instituições.

Bernardo Carvalho, natural do Rio de Janeiro, nasceu em 1960, vivendo

grande parte da sua vida em São Paulo, onde iniciou sua carreira de jornalista

no jornal Folha de S. Paulo. Iniciou sua carreira como escritor por volta de 1990,

aliando-a com sua profissão de jornalista. Escreve contos e romances e é

considerado um dos principais ficcionistas da atualidade, conforme aponta Melo

(2013) em seu artigo “Duplicidades e contradições em Bernardo Carvalho: o

estético e o político; o universal e o particular”. Para o pesquisador, Carvalho é

considerado um autor que escreve com temáticas upto date, ou seja, suas

narrativas possuem sempre algo atualizado, inovador, ele se utiliza de

referências internacionais para produzir.

Nesse quadro de autores também encontramos Nélida Piñon, nascida em

03 de maio de 1935, no Rio de Janeiro. Formada em jornalismo, é membro da

Academia Brasileira de Letras, sendo a primeira mulher na Academia a ocupar

57

o cargo de presidente. Sua carreira de escritora iniciou por volta de 1960,

escrevendo contos, romances, ensaios, crônicas, e ainda literatura infanto-

juvenil. Com sua obra traduzida para diversos idiomas, Amorim (2015) afirma

que a obra de Piñon “se caracteriza pela originalidade, força de expressão e

fôlego” (AMORIM, 2015, p. 17).

Carlos Nascimento Silva também faz parte desse hall de autores

prestigiados pelo Jabuti. Natural do interior de Minas Gerais, Carlos nasceu em

1937, é mestre em literatura e atualmente é professor aposentado da Pontifica

Universidade Católica do Rio de Janeiro. Escreve desde seus catorze anos,

contos, poesias, crônicas e romances. Mesmo tendo vencido o Jabuti duas

vezes, em 1999 com o livro de ficção Cabra-cega e em 2007 com Desengano,

ainda é um autor pouco conhecido no meio editorial e acadêmico.

Cristovão Tezza, de 64 anos, é natural de Lages - SC, onde nasceu no dia

21 de agosto de 1952. Iniciou seu curso de Letras na Universidade de Coimbra,

mas a finalizou no Brasil. Durante sua juventude, trabalhou em teatros, mas,

depois de formado e com mestrado e doutorado na área da literatura, atuou

como professor universitário. Sua carreira como docente durou pouco tempo,

acabou se demitindo e dedicando-se apenas à literatura. Além de escritor de

contos, romances, contos e crônicas, Tezza também publicou, juntamente com

Carlos Alberto Faraco, livros didáticos.

De acordo com Almeida (2013), em seu artigo “A vida na obra: O filho

eterno”, Tezza pode ser considerado um autor autobiográfico, pois em suas

obras “parece pertencer à categoria dos romancistas que mais se confessam,

isto é, daqueles que menos se escondem e menos se dissimulam” (2013, p. 96).

Como é possível perceber, o autor se preocupa em demonstrar aspectos da sua

vida pessoal nas narrativas que produz, ocasionando certa facilidade no leitor

em decifrar aspectos pessoais em sua ficção.

Seguindo a lista de autores contemplados encontramos Edney Silvestre,

nascido em 27 de abril de 1950, estando com 66 anos. Edney, além de escritor,

é jornalista, documentarista e apresentador de TV. Natural de Valença, um

município localizado no sul do Rio de Janeiro, atuou como apresentador

internacional da emissora Rede Globo e na Globo News, escrevendo ainda para

a revista Pais e Filhos. Com sua primeira publicação em 2009, Edney se destaca

pelo conteúdo que deposita em seus textos. Em entrevista ao site Quem

58

Acontece em 2014, o autor afirma que só se adentrou no mundo da literatura por

causa da anemia que tinha, pois, devido estar sempre doente, acabava

ocupando o seu tempo com leituras de livros literários, o que de algum modo o

instigou à produção de obras.

José Castello também está presente nessa lista. Natural do Rio de Janeiro,

nasceu em 1951, sua formação profissional é em Teoria da Comunicação e

Jornalismo, o que lhe rendeu trabalhos em jornais como O Globo e Jornal do

Brasil. Além disso, participou na execução de revistas como a Veja e IstoÉ. Além

de jornalista, é escritor, produzindo romances, crônicas, e ainda se designa como

um crítico literário.

Mauro Souza Ventura, em seu trabalho “José Castello: o crítico enquanto

leitor comum”, publicado em 2015, caracteriza o estilo de escrita do autor como

uma conversa fiada que, aos poucos, convence o leitor a não para de ler: “como

a linguagem que instaura um clima de conversa com o leitor, a mistura de

digressões e lembranças pessoais no texto[..]. Tais elementos parecem fazer o

texto deslocar-se para uma conversa fiada”. (VENTURA, 2015, p.69-70). O autor

se utiliza de alguns artifícios para chamar a atenção do leitor, sendo a linguagem

e o modo como constrói o texto dois aspectos bem relevantes levados em conta

no momento da escrita.

Oscar Nakasato, de 53 anos, é natural de Maringá no Paraná, onde nasceu

em 1963 e residiu até os oito anos de idade. Formado em Letras e com mestrado

e doutorado na mesma área, Nakasato, além de escritor de contos e romances,

atualmente trabalha como professor na Universidade Tecnológica Federal do

Paraná.

Descendente de japonês, Oscar Nakasato ainda é considerado novato no

que diz respeito à produção e à publicação de livros. Aborda como temática

principal, em suas narrativas, a migração dos povos japoneses, conforme aponta

Teixeira (2014, que destaca ainda que esse tema vem se expandindo desde a

tese de doutorado do autor, a qual também foi escrita sobre esse viés. Com

pouquíssimas obras publicados no mercado editorial, é com o romance Nihonjin

(2012) que o autor passa a ser reconhecido.

Nesse grupo de autores brasileiros e contemporâneos também merece

destaque Evandro Affonso Ferreira, nascido em Araxá, Minas Gerais, em 1945.

Quando jovem, trabalhou em uma sapataria com seu pai, posteriormente em um

59

banco em São Paulo e, depois, como redator, mas foi na literatura que Evandro

se consagrou pessoalmente. Escritor de contos e romances, em 2000 o autor

iniciou sua vida literária com um livro chamado Grocotó!, que consiste contempla

várias narrativas consideradas pelo autor como minicontos, conforme aponta

Studart (2008).

Uma outra autora que se faz presente nessa lista de premiados é Maria

Valéria Rezende. Nascida em Santos, São Paulo, dia 08 de dezembro de 1942,

optou pela vida religiosa, tornando-se freira em 1965. Quanto à sua formação

profissional, é formada em Língua e Literatura Francesa e Pedagogia, áreas nas

quais trabalhou com educação popular. Pelo fato de seguir a carreira religiosa,

teve a oportunidade de conhecer e viajar por vários lugares, o que lhe rendeu

um bom conhecimento de mundo.

Sua estreia como escritora aconteceu em 2001 com o livro Vasto Mundo,

um romance. A autora também escreve contos, crônicas, livros infantis, juvenis

e poesia. Começou a escrever e publicar um pouco mais tarde, aos 59 anos,

pois ela primeiro quis se aposentar para então poder somente escrever.

Conforme aponta Resende e David (2016) é através de sua experiência com

viagens e o contato com diferentes pessoas que Valéria Rezende produz sua

literatura, pegando certas “influências” para então produzir, ou seja, o pano de

fundo de suas viagens serve como inspiração para a produção de suas

narrativas

Por último, e o mais recente ganhador do Prêmio Jabuti, temos o jovem

escritor Julián Fuks, nascido em 1981 em São Paulo, e, com apenas 36 anos

Fuks já possui um grande prestígio no meio à editoração pelo fato de, mesmo

tão jovem, ter alcançado uma premiação almejada por tanto autores já de

renome. Jornalista, ainda pouco conhecido pela crítica brasileira Fuks afirmou

em entrevista para o site O Globo que o romance A resistência, o qual lhe rendeu

a premiação no Jabuti, foi um pedido do irmão que assim como na narrativa fora

adotado pela família. O romance é enquadrado como ficção, mas há nele

também um misto de autobiográfico, o que de certo modo caracteriza e diferencia

a obra de Júlian das demais.

A partir desse breve esboço sobre os autores consagrados com o prêmio

Jabuti das edições do século XXI, na categoria romance, é possível salientar que

todos eles são escritores de obras contemporâneas, ou seja, começaram a

60

escrever nesse tempo. Há predomínio de autores vivos, o que de certa forma

assinala uma tendência interessante: a de valorizar as obras quando seus

autores ainda podem dialogar com os leitores sobre elas e a de não consagrar

apenas após a morte de autores.

Além disso, constatamos que dos 14 autores que obtiveram o primeiro lugar

na categoria romance do prêmio, cinco deles têm menos de dez obras literárias

publicadas, conforme aponta o quadro a seguir que mostra o número de obras

publicadas por cada autor, divididas em literárias e não literárias.

QUADRO 03 – Número de Obras3

AUTOR

TOTAL DE OBRAS

OBRAS LITERÁRIAS

OBRAS NÃO LITERÁRIAS

Moacyr Scliar 134 113 21

Milton Hatoum 05 05 0

Rubens Figueiredo 08 08 0

Ana Miranda 29 28 01

Bernardo Carvalho 12 12 0

Nélida Piñon 21 21 0

Carlos Nascimento Silva

05 05 0

CristovãoTezza 22 17 04

Edney Silvestre 11 07 04

José Castello 19 10 0

Oscar Nakasato 02 01 01

Evandro Affonso Ferreira

10 10 0

Bernardo Carvalho 12 12 0

Maria Valéria Rezende

17 17 0

Julián Fuks 04 04 0

O autor Moacyr Scliar é quem lidera o ranking com o maior número de obras

publicadas no meio impresso chegando a somar em torno de 100 obras, além

das traduzidas para outros idiomas como o inglês, o espanhol, francês e alemão.

Isso faz com que o autor seja reconhecido não só nacionalmente, mas também

em âmbito internacional. Sua grande produção pode ser vista como um reflexo

do reconhecimento que adquiriu perante os seus leitores e também pelo fato de

escrever não só obras literárias, mas ainda livros voltados para a Medicina, sua

área de formação.

3Tabela elaborada em janeiro de 2017, sendo que a principal fonte de pesquisa fora o site

Wikipédia.

61

Seguido de Scliar vem Ana Miranda, com cerca de 29 obras publicadas.

Vários fatores podem levar um autor a aumentar sua produção literária impressa,

mas para Ana Miranda supõe-se que o fato de ter tido seu romance Desmundo

publicado em 1996, adaptado para o cinema, fez com que não só leitores, mas

também expectadores conhecessem a autora e uma de suas obras, fator esse

que gera reconhecimento perante o público e que motiva os escritores a

produzirem mais obras para alcançar uma massa de leitores e fazer parte do hall

de obras e autores considerados canônicos. Suposições essas que podem ou

não responder a esses questionamentos.

Os demais autores têm poucas obras, apesar de nenhum deles ser

estreante na literatura e na produção impressa ou digital em geral. A experiência

em produção pode ser um dos fatores facilitadores para o sucesso deles no

concurso.

O fato de os romances premiados serem produzidos por escritores que não

têm significativa produção literária (em termos quantitativos) parece assinalar

que o prêmio está promovendo um movimento interessante: o de oportunizar

que novas vozes autorais tenham possibilidade de serem reconhecidas e

desfrutar do prestígio que o prêmio traz; o de incitar uma renovação de autores

no rol daqueles que são considerados de “qualidade literária” no cenário da

literatura brasileira recente.

Muitos desses autores e obras ainda são pouco estudados e conhecidos

pela crítica brasileira acadêmica, pois, em sua grande maioria, trata-se de

autores que há pouco tempo adentraram na produção literária e, desse modo,

ainda possuem poucas obras publicadas. Esse dado se comprova a partir de

uma pesquisa no Banco de Teses e Dissertações da CAPES que, utilizando

como palavra-chave o nome dos autores e analisando os 100 primeiros

resultados, percebemos que sobre as obras literárias de alguns deles não há

muitos trabalhos em teses e dissertações, como é o caso de Oscar Nakasato e

Julián Fuks que aparecem na pesquisa somente as suas próprias dissertações

de Mestrado e teses de Doutorado e ainda Edney Silvestre que não possui

nenhum trabalho sobre suas obras. É o que mostramos no quadro a seguir.

62

QUADRO 04 – Pesquisa no Portal da CAPES4

AUTOR NÚMERO DE TRABALHOS

Moacyr Scliar 38

Milton Hatoum 82

Rubens Figueiredo 03

Ana Miranda 24

Bernardo Carvalho 22

Nélida Piñon 32

Carlos Nascimento Silva 05

CristovãoTezza 14

Edney Silvestre 0

José Castello 0

Oscar Nakasato 06

Evandro Affonso Ferreira 01

Maria Valéria Rezende 01

Julián Fuks 07

Dos quatorze autores estudados, como mostra o gráfico a seguir,

constatamos que a maioria deles vem do Sudeste (cinco são do Rio de Janeiro,

dois de Minas Gerais e dois são de São Paulo). Autores nordestinos, do Norte e

de Centroeste são os menos contemplados pelo Prêmio. O Sul está

representado por três autores, sendo um de Santa Catarina, dois do Rio Grande

do Sul e um do Paraná.

4Os dados expostos no quadro foram preenchidos com base em pesquisa realizada no Banco

de Teses e Dissertações da CAPES em março de 2017. 5Não há nenhum trabalho sobre a obra desse autor. 6Os únicos trabalhos que constam desse autor são sua Dissertação do Mestrado e Tese do

Doutorado. 7Os únicos trabalhos que constam desse autor são sua Dissertação do Mestrado e Tese do

Doutorado.

63

Gráfico 01 – Naturalidade dos Autores

Tais dados indicam que, possivelmente, há uma projeção maior de autores

do Sudeste talvez em função de facilidade de acesso, de leitores nessas regiões,

de trabalhos de pesquisa na área. Enfim, hipóteses que podem tentar explicar

isso, mas não determinar. Não há como prová-las. Porém, poderíamos pensar

por quais outras razões obras de escritores do Centroeste não aparecem na

premiação. Seria apenas porque não se produz ou porque, havendo produção,

não são merecedoras do prêmio ou este estaria ignorando o que se faz fora do

eixo sul-sudeste?

Ainda há que se destacar que, apesar dessa origem, dos 14 autores, nove

residem no eixo Rio-São Paulo, enquanto que três vivem na região Sul e dois na

região Norte do país.

O maior número de escritores é do sexo masculino, com 11 autores

homens e três autoras mulheres. Uma primeira constatação é de que esse

prestígio dá continuidade à tradição literária brasileira na qual homens estão em

posição de destaque no âmbito literário e por consequência suas obras são mais

disseminadas em processo de formação de leitores de literatura, como os que

as escolas fomentam.

Poder de voz masculina, em contraste com o da feminina, também se

consolida um dado interessante: continua haver um apagamento de autoria

feminina no sentido de se constatar uma maior visibilidade da escrita de homens.

1 1

5

1 1 1

2 2

0

1

2

3

4

5

6

Naturalidade

Rio Grande do Sul Amazonas Rio de Janeiro Ceará

Santa Catarina Paraná Minas Gerais São Paulo

64

Isso ocorre apesar de a avaliação das obras não ser totalmente identificada, uma

vez que, no formulário de avaliação dos romances que concorrem ao prêmio, o

regulamento traz três questões em cada categoria para o avaliador se embasar,

sendo elas, na categoria romance: 1. Técnica narrativa; 2. Constituição dos

personagens; 3. Originalidade.

As formações acadêmicas de cada autor variam, pois são de diferentes

áreas, porém é possível visualizar que prevalecem as graduações e Letras e

Jornalismo, como mostra o gráfico 2.

Gráfico 02 – Formação

A variedade de formação dos escritores se dá, pelo menos em parte, pela

intimidade desses profissionais com as letras, o que de um modo geral pode

favorecer a qualidade literária dos romances.

Além disso, a formação na área das letras e jornalismo indica um novo perfil

de escritores prestigiados, recusando-se a ideia de dom, mas a de trabalho e

dedicação, técnica para escrever. Considerando esse contexto, parece que, para

se ter prestígio como escritor de romance, é preciso ter técnica de escrever e

não apenas uma boa história para contar. É então a valorização da

profissionalização do escritor de literatura.

E por se falar em profissionalização de escritores de literatura, Regina

Zilberman, em seu trabalho “Desafios da literatura brasileira na primeira década

1 1

4

1

6

10

1

2

3

4

5

6

7

Formação

Medicina Arquitetura e Urbanismo Letras

Artes Plásticas Jornalismo Não identificado

65

do séc. XXI”, publicado em 2010, traça um panorama sobre o desafio de o

escritor conseguir se manter financeiramente com sua produção literária.

Primeiro ela afirma que, desde 1897, a Academia Brasileira de Letras representa

a reivindicação de que a profissão de escritor deva ser tratada como a de um

sujeito qualquer e ainda que é preciso haver uma desconstrução da imagem do

escritor como boêmio e desocupado.

Porém, não é sempre que um autor consegue se manter somente com sua

produção, aspectos como a falta de reconhecimento, a condição financeira

desfavorável, o pouco público leitor, ou até a má aceitação da sua obra perante

a sociedade são alguns dos fatores que podem levar um escritor a não conseguir

permanecer somente no meio editorial. Zilberman (2010) ainda afirma ser

através da grande venda de sua obra e uma premiação literária um dos modos

de se adentrar definitivamente no meio editorial. Ela ainda cita o exemplo do

escritor Cristóvão Tezza, que após vencer o Jabuti em 2008 com seu romance

O filho eterno, pôde largar seu emprego de professor universitário e se dedicar

somente a sua escrita.

Além disso, ainda é possível constatar sob esse aspecto uma elitização da

produção literária na medida que quem alcança esse status não está escrevendo

a primeira obra romanesca nem está fora dos bancos de formação no ensino

superior. É, por outro lado, quem teve acesso à formação universitária (e

provavelmente leu muitos textos, incluindo os de literatura), e está localizado em

regiões brasileiras que facilitam a interação (eixo Rio-São Paulo) e estando,

ainda, familiarizado com as letras de uma forma geral.

Em relação à idade dos autores, considerando-se o ano de 2016,

constatamos que o grupo dos 13 romancistas premiados no século XXI é de

autores com maior experiência de vida, o que prevalece são os veteranos, com

idades a partir dos 50 anos, conforme é possível identificar no quadro a seguir:

Quadro 05 – Idade dos autores8

AUTOR IDADE Moacyr Scliar 74 Milton Hatoum 65

Rubens Figueiredo 61 Ana Miranda 66

8 Idade equivalente ao ano de 2017, exceto Moacyr Scliar que faleceu em 2011.

66

Bernardo Carvalho 57 Nélida Piñon 80

Carlos Nascimento Silva 80 CristovãoTezza 65 Edney Silvestre 67 José Castello 66

Oscar Nakasato 54 Evandro Affonso Ferreira 72 Maria Valéria Rezende 75

Julián Fuks 36

Com esses dados é possível visualizar que autores jovens não aparecem

nesse quadro, pois nenhum dos premiados possui idade abaixo de 30 anos. Uma

hipótese para essa constatação é a possível falta de experiência e uma possível

bagagem menor de conhecimentos e vivências podem influenciar na qualidade

dos textos e, por isso, um menor destaque no prêmio.

Em relação à etnia dos autores, a maioria dos escritores são brancos. Essa

afirmação vem ao encontro de uma pesquisa realizada por Regina Dalcastagnè

na Universidade de Brasília, conforme a autora aponta em seu artigo “Um

território contestado: literatura brasileira contemporânea e as novas vozes

sociais” no qual ela faz um levantamento em um período de 15 anos (1990 a

2004) em todos os romances publicados por editoras importantes como a

Companhia das Letras, Rocco e Record e constata que 93,9% dos autores são

brancos. Essa afirmação ainda continua prevalecendo no meio literário, pois não

há nenhum indígena ou negro nessa lista de premiados.

A pesquisa feita por Dalcastagnè também retrata que além desses autores

serem, em sua maioria, brancos, ainda possuem uma boa formação acadêmica

e 60% desses vivem no Rio de Janeiro e São Paulo, ou seja, prevalece o velho

estereótipo de que se a pessoa possui uma graduação, um bom emprego, é

branco e ainda vive em um grande centro urbano já basta para ser um bom autor

e até mesmo conquistar uma premiação literária.

Assim, ao se fazer um balanço dos autores contemplados nas edições do

século XXI do Prêmio, podemos fazer algumas inferências. Primeiro, o Prêmio

Jabuti traz inovações no sentido de reconhecer autores mais jovens e valorizar

alguns que são mais iniciantes na literatura como escritores, pois, de acordo com

Zilberman (2010), participar de uma premiação literária seja ela apenas de

âmbito regional é uma forma de alavancar a carreira, estimulando talentos

67

promissores. Acreditamos que autores mais novos têm o privilégio de mostrar

seus trabalhos e até adquirir um maior reconhecimento a partir da premiação, e

desse modo servem-se de exemplos para próxima geração ou até para aquele

escritor que ainda não adquiriu um público leitor de suas obras.

Segundo, dá vazão a escritores que, além de terem familiaridade com as

letras de uma forma geral, têm contato com mídias e associações, podendo

assim publicar textos no meio digital, participar de entrevistas, dialogar com

leitores e principalmente alavancar sua carreira através da divulgação da sua

obra. Sem contar que essa premiação pode impulsionar a participação em

palestras, como mediador, de qualquer lugar do país ou do mundo ocasionando

assim um contato maior com seus leitores.

Outro fator importante no que diz respeito a esse meio digital é o

barateamento das obras, conforme aponta Zilberman (2010) muitos autores

nesse meio editorial acabam optando por publicar suas obras primeiramente em

meios digitais, pois além de diminuir os custos existem softwares específicos que

facilitam a diagramação e a publicação ocorre de maneira mais rápida. Um bom

exemplo de como essa plataforma funciona é o autor Daniel Galera que em 2009

ganhou o prêmio Jabuti em terceiro lugar com o romance Cordilheira, esse está

disponível na internet gratuitamente e pode ser lido online ou até mesmo baixado

no próprio computador.

Terceiro, o Prêmio segue um padrão intelectual especifico, ocasionando

reconhecimento, em sua maioria, para escritores com condições financeiras

favoráveis, uma formação acadêmica, mestrado, doutorado e ainda com

oportunidade em estudar fora do país, justificando o que Dalcastagnè (2012)

afirma ao dizer que esses autores contemplados são privilegiados por possuírem

boas profissões e ainda dominarem o discurso, já que se encontram, em sua

grande maioria, no meio jornalístico e acadêmico, desse modo já possuem o

hábito e dom da escrita, pois estudaram para aperfeiçoá-la.

A partir dessas constatações é possível perceber quem são esses autores

consagrados pelo Jabuti, de onde vieram, o que produzem, enfim, foi possível

estabelecer um panorama de suas vidas. Agora, buscando se adentrar um pouco

mais nessas obras consagradas, a próxima seção buscará mostrar qual a

receptividade das obras de cada autor no meio acadêmico, ou seja, quantas

obras publicou, quantas já obtiveram premiações e quais premiações, para

68

assim chegarmos finalmente nos romances consagrados em primeira colocação.

3.2 Receptividade das obras dos autores em outras premiações

Reconhecer a receptividade de uma obra literária é muito importante para

saber como está vem sendo vista perante a crítica literária, pois é através desse

fator que muitos autores recebem um maior destaque diante do seu modo de

escrever, esse destaque pode ser bom ou não, pois tudo irá depender da

maneira como o crítico literário analisa determinada obra. É através dessa

receptividade também que muitos autores acabam abrangendo um maior público

e se tornando conhecidos no meio acadêmico.

Para facilitar o entendimento, as informações serão repassadas através de

gráficos, e seguirão a seguinte sequência: Número de premiações adquirida por

cada autor; concursos literários mais frequentes nas premiações; e por fim,

gêneros literários mais explorados.

Em relação ao número de prêmios já recebido pelos autores premiados no

século XXI com o Jabuti, mais uma vez é Scliar quem lidera o gráfico, dessa vez

com um vasto número de premiações literárias conquistadas a partir de suas

obras.

69

Gráfico 03 – Número de premiações adquiridas por cada autor

Scliar se destaca por sua vasta produção literária e não literária, mas

principalmente por seu perfil de autor. Scliar segue o parâmetro tradicional, é

branco, possui boas condições de vida, vem de um grande centro urbano e

principalmente possui uma formação acadêmica. É graduado em Medicina,

faculdade que para a década de 60, ano em que se formou, era destinada

somente para elite, pelo alto valor financeiro que possuía, desse modo, somente

quem obtinha ótimas condições financeira poderia cursar.

Em relação aos concursos literários mais frequentes, cabe destacar que é

o prêmio Jabuti o mais procurado pelos autores, conforme aponta o gráfico a

seguir:

20

7 4 8 3 5 3 10 2 4 4 3 4 20

10

20

30

Número de premiações adquiridas por cada autor

Moacyr Scliar Milton Hatoum Rubens Figueiredo

Ana Miranda Bernardo Carvalho Nélida Piñon

Carlos Nascimento Silva Cristovão Tezza Edney Silvestre

José Castello Oscar Nakasato Evandro Affonso Ferreira

Maria Valéria Rezende Julián Fuks

70

Gráfico 04 – Concursos Literários mais frequentes

Conforme é possível constatar no gráfico, o concurso mais procurado pelos

autores é o Jabuti, por sua grande abrangência e reconhecimento tanto dentro

como fora do Brasil. Sobre o Jabuti, Tania Rösing (2016) afirma que, além de

despertar uma grande curiosidade para saber quem serão os vencedores, ainda

é divulgado o conjunto de obras editadas pelo autor, fator quede certo modo

amplia suas vendas.

Dos demais prêmios elencados no gráfico, o Prêmio Casa de las Américas,

é o único que ainda não foi mencionado durante esse trabalho. Criado em 1960,

consiste em uma premiação internacional que acontece anualmente e busca

contemplar autores da América Latina. Suas principais categorias são: poesia,

conto, novela, teatro, ensaio, memórias, literatura infanto-juvenil, literatura

caribenha, literatura brasileira e literatura indígena. Sua representatividade

acabou chamando a atenção de autores brasileiros que buscam um

reconhecimento fora do país.

Dentre os gêneros literários mais explorados pelos autores premiados pelo

Jabuti em primeira colocação no século XXI, o romance é o que se sobressai:

25

10 10 10 11 108

0

5

10

15

20

25

30

Concursos Literários mais frequentes

Prêmio Jabuti Prêmio Portugal Telecom o agora Oceanos

Prêmio Casa de las Américas Prêmio São Paulo de Literatura

Prêmio ABL de poesia, ficção, tradução Prêmio APCA

Demais premiações

71

Gráfico 05 – Gêneros Literários mais explorados

O romance é o gênero literário mais explorado, pois se trata de uma obra

com uma estrutura mais completa comparando com o conto. Nela é possível a

introdução de mais personagens, cenários, enredos, conforme afirma

Dalcastagnè “[...] no romance, podemos vislumbrar personagens mais inteiras –

ou seja, com maior desenvolvimento” (DALCASTAGNÈ, 2012, p.150). Desse

modo, o romance talvez seja o mais usado por ele proporcionar ao autor um

maior “espaço” para criar sua narrativa. Além disso, os autores buscam uma

sustentação nesse gênero como forma de especialização, tendo em vista que se

foi possível conseguir um prêmio com uma obra romanesca por que não investir

e criar mais algumas?

Desse modo, buscando entender que tipo de romance o prêmio Jabuti

abrange, o próximo tópico irá tratar da composição do romance, enfatizando se

as obras consagradas pelo Jabuti em primeira colocação contemplam os

elementos da narrativa: enredo, narrador, personagens, tempo e espaço; se

encontramos nas obras uma composição tradicional ou inovadora, e por fim,

quais as tendências que as obras contempladas seguem.

3.3 Apresentação dos romances

De 2000 a 2016, foram 17 romances vencedores, e sua leitura pode ajudar-

30

20

15

10

5 20

5

10

15

20

25

30

35

Gêneros Literários mais explorados

Romance Contos Crônica Infanto-juvenil Ensaio Poesia

72

nos a compreender o perfil romanesco que o Prêmio tem privilegiado e, assim,

contribuir para melhor compreender a tendência romanesca valorizada pela

avaliação.

O primeiro romance a ser apresentado é A mulher que escreveu a Bíblia,

de Moacyr Scliar, publicado em 1999 pela editora Companhia das Letras e

ganhador do Jabuti em 2000. Nessa obra, vivenciamos através de um narrador

personagem feminino, cujo nome não é identificado, as vivências de uma jovem

moça que descobre, a partir de terapias espirituais, que fora casada, em outra

vida, com o rei Salomão. Durante toda a narrativa a própria personagem se

caracteriza como uma mulher muito feia, que sonha entre as diversas esposas

de Salomão ser chamada para uma noite de amor com o rei.

O segundo livro nesse hall de obras é Dois Irmãos de Milton Hatoum,

publicado em 2000 pela Companhia das Letras e ganhador do prêmio Jabuti em

2001. O romance narra a turbulenta relação entre os gêmeos Yaqub e Omar

(caçula). Yaqub trata-se de um garoto estudioso, que possui uma boa relação

com as pessoas e é considerado motivo de orgulho para a família, já Omar o

caçula é totalmente o oposto, briga na escola, não quer estudar, somente festas

e bebidas fazem parte da sua vida. Hatoum recria um ambiente familiar repleto

de intrigas, inveja e violência entre dois irmãos gêmeos idênticos que deveriam,

pela lógica, viver unidos, já que foram gerados na mesma placenta.

Seguindo a ordem das premiações do Jabuti, encontramos a obra Barco a

Seco, que foi contemplada em 2002. Escrita por Rubens Figueiredo, Barco a

Seco publicado em 2001 pela Companhia das Letras e traz a história de um

narrador personagem que após ser expulso de casa por sua família pobre acabo

por se adentrar nos estudos e se torna um estudioso no campo das artes,

especializando-se em um pintor chamado Emilio Vega. Durante a obra, ele busca

incessantemente descobrir sobre esse misterioso pintor, pois há poucos

resquícios sobre sua vida, até mesmo sobre o dia do seu nascimento. Com uma

narrativa de fácil entendimento Rubens Figueiredo leva o leitor a procurar, assim

como o narrador personagem, fatos sobre a vida e obra de Emilio Vega.

A próxima obra é Dias e Dias, de Ana Miranda, publicado em 2002 pela

Companhia das Letras e vencedora do Jabuti em 2003. Nela visualizamos, a

partir da personagem Feliciana, narradora, seu grande amor e encantamento

pelo autor Gonçalves Dias e por sua escrita carregada de sentimentos. Dias e

73

Dias trata-se de uma obra envolvente que demonstra todo o amor e admiração

de uma leitora por seu autor e ainda demonstra a capacidade e conhecimento

de Ana Miranda em escrever, pois durante toda a obra ela cita trechos de

poemas de Gonçalves Dias.

Mongólia, de Bernardo Carvalho, é a próxima obra a ser apresentada.

Publicada em 2003 pela Companhia das Letras, é vencedora do Jabuti em 2004.

Nessa narrativa conhecemos a história de dois personagens principais, um

diplomata brasileiro que é encarregado de ir até a Mangólia em busca de um

fotógrafo desaparecido. Para situar-se sobre a vida do fotógrafo, o diplomata

possui consigo o diário do procurado. Há na narrativa um diálogo entre o

diplomata e o diário do fotógrafo, como se o personagem humano fosse o diário.

Desse modo, juntos, diplomata e diário conhecem a cultura história e

principalmente a população de Mangólia que possui suas tradições, crenças e

modos de agir.

A sexta obra é Vozes no Deserto de Nélida Piñon, publicada pela editora

Record em 2004 e ganhadora do Jabuti em 2005. Nessa narrativa, vemos uma

recriação da história de Scherezade em Mil e Uma Noites, porém o foco não são

as histórias que a personagem conta para o califa, mas o seu eu interior, o modo

como ela pensa. É possível visualizar nessa personagem de Nélida Piñon uma

representante feminina que usa do seu poder de contar histórias, acabando

assim com a morte das mulheres que se casam com o líder.

A sétima obra a ser apresentada é Cinzas do Norte, de Milton Hatoum,

publicada em 2005 pela Companhia das Letras e ganhadora do Jabuti em 2006.

Nessa obra Milton Hatoum utiliza-se de dois personagens centrais, Olavo mais

conhecido como Lavo, e Raimundo, cujo apelido é Mundo. Trata-se de uma

história narrada sobre o ponto de vista de Olavo, um garoto pobre que é órfão

de seus pais e ele acompanha o tumultuado relacionamento de Raimundo com

sua família que pertence a uma classe mais alta na sociedade. A partir desses

dois personagens é possível identificar uma representação de uma Manaus pós-

guerra na década de 1970.

Desengano, de Carlos Nascimento Silva, compõe o quadro de obras e é a

oitava a ser apresentada. Esse romance fora publicado pela Editora Agir em

2006 e ganhador do Jabuti em 2007. O enredo gira em torno de dois

personagens principais, Júlia, viúva, e Beto, amigo de seus filhos. O romance

74

acontece na década de 1950, em um Brasil governado por Getúlio, JK e Jango.

Há, nessa obra, uma representação do Brasil nessa época, além do caso de

amor entre os personagens principais.

A nona obra é O Filho Eterno, de Cristovão Tezza, publicada pela Record

em 2007 e ganhadora do Jabuti em 2008. Sua trama gira em torno de uma família

que descobre que seu filho possui síndrome de Down. A família é composta por

mãe, pai, irmã e Felipe, o único integrante que é nomeado. Quando a família

descobre essa mudança genética, acaba ficando confusa, principalmente o pai

que sonha com um filho “perfeito”. Cristovão Tezza conseguiu mostrar nessa

obra as angústias, inseguranças, desafios e principalmente as vitórias

conquistadas por um garoto com síndrome de Down.

Moacyr Scliar mais uma vez aparece nesse quadro, agora com a obra

Manual da Paixão Solitária, publicada pela Cia das Letras em 2008 e vencedora

do Jabuti do ano seguinte. A história é baseada no livro bíblico Gênesis, e traz o

ponto de vista dos personagens que não puderam “falar” no trecho bíblico,

modificando o sentido da história. Com ironia e humor, ele mostra uma outra

versão da história bíblica com um tom mais leve e literário.

Outra obra importante nesse hall é Se Eu Fechar Os Olhos Agora, de Edney

Silvestre publicado em 2009 pela Record e ganhador do Jabuti em 2010. O

enredo gira em torno de dois personagens principais, Eduardo e Paulo, ambos

com 12 anos de idade que ao caminharem entorno de um lado encontram o

corpo de uma mulher morta. Os meninos acabam procurando a polícia e são

suspeitos do crime, que em seguida é confessado pelo marido. Nessa narrativa,

Edney Silvestre mostra cenas de brutalidade, indiferença por parte da polícia,

fato que deixa esses dois meninos intrigados em busca de uma resposta.

A décima segunda obra é Ribamar, de José Castello, publicado em 2010

pela editora Bertrand Brasil e ganhador do Jabuti em 2011. Nessa narrativa, que

aparentemente possui traços autobiográficos, evidenciamos uma tentativa de

reaproximação entre Ribamar e seu filho. Essa reaproximação se dá através de

cartas, de uma busca por conhecer mais a fundo seu pai Ribamar, tendo em

vista que esse já está morto. José Castello construiu um romance embasado em

viagens na vida de um pai chamado Ribamar, no qual o filho precisa percorrer

para então conseguir se reaproximar do pai, mesmo ele estando morto.

Oscar Nakasato também faz parte desses autores contemplados pelo

75

Jabuti, com sua obra Nihonjin, publicada pela editora FGV Direito em 2011 e

ganhador do Jabuti em 2012. Nesse romance nos deparamos com um japonês

nomeado Hideo Inabata que, no século XX, se muda para o Brasil em busca de

melhores condições de vida e sonha em voltar para sua terra, o Japão, rico.

Durante o período que passa no Brasil, acaba sofrendo ao tentar se adaptar a

essa terra e, de certo modo, representa os imigrantes japoneses que vieram para

Brasil buscando vencer obstáculos e garantir uma vida melhor para suas

famílias.

Outra obra que merece destaque é O Mendigo que Sabia de Cor os

Adágios de Erasmo de Rotterdam, de Evandro Affonso Ferreira, publicada em

2012 pela Record e ganhador do Jabuti em 2013. Nessa narrativa o autor dá voz

a um mendigo que possui um nível de instrução intelectual, gosta de ler e anda

sempre com um livro junto de si, esse livro é dos adágios de Erasmo de

Rotterdam. Durante o romance o mendigo relata suas vivências de rua, ora com

certa sensatez, ora com tom de delírio, fato que instiga o leitor a procurar

respostas perante essas indagações.

Reprodução, de Bernardo Carvalho, também foi vencedora do prêmio

Jabuti, essa em 2014. Publicada em 2013 pela Companhia das Letras, tem como

protagonista um estudante de chinês que está prestes a embarcar em um voo

para a China, porém é esbarrado por policiais junto com uma antiga professora

que, coincidentemente, também se encontra no aeroporto. Ambos são levados

para a delegacia e interrogados pela polícia, o estudante de chinês acaba por

transmitir ao delegado um discurso um tanto homofóbico, racista e

preconceituoso, dificultado assim sua saída da delegacia.

A próxima obra a ser apresentada é Quarenta Dias, de Maria Valéria

Rezende, publicado pela editora Objetiva em 2014 e ganhadora do Jabuti em

2015. Trata da história de Alice, narradora personagem, que relata os dias que

ficou em busca de Cícero Araújo, filho de uma amiga, que desapareceu e ela

nem mesmo sabe se ele existe de fato. Durante sua busca, ela vai fazendo

anotações em um caderno cuja capa traz a imagem na boneca Barbie, perdida

em uma periferia sem saber ao certo por onde recorrer.

Enfim, a última obra é A Resistência, de Julián Fuks publicada em 2015

pela Companhia das Letras e ganhadora do Jabuti em 2016. Nessa narrativa,

deparamo-nos com o narrador em primeira pessoa Sebastian que tenta retratar

76

como foi o exílio de sua família para o Brasil. Com o passar dos anos essa família

sofre entre si para relacionar-se e é tarefa desse irmão retratar ao leitor as

desavenças do seu próprio seio familiar.

Depois de expostos os enredos de cada obra, é preciso verificar como

estão presentes outros elementos da narrativa em cada romance literário. Desse

modo, para representar cada obra, o próximo tópico terá como objetivo mostrar

como se constitui a estrutura e a linguagem nas narrativas.

3.4 Estrutura e linguagem dos romances

Para reconhecer como são as tendências romanescas de personagens e

narradores das obras analisadas, é preciso refletir sobre a estrutura e a

linguagem das obras. Começamos esse diálogo com uma exposição sobre uma

visão geral da estrutura dos textos, como ilustra o quadro abaixo. Nele há dados

sobre o formato das narrativas, iniciando a discussão de sua estrutura.

QUADRO 06 – Estrutura dos romances

OBRA

NÚMERO DE

PÁGINAS

POSSUI DIVISÃO DE CAPÍTULOS?

CAPÍTULOS PODEM SER LIDOS

DE FORMA INDEPENDENTE?

A mulher que escreveu a Bíblia

162 Não NÃO

Dois irmãos 198 Sim Não

Barco a Seco 191 Sim Não

Dias e Dias 243 Sim Não

Mongólia 187 Sim Não

Vozes no Deserto 251 Sim Não

Cinzas do Norte 311 Sim Não

Desengano 212 Sim Não

O Filho Eterno 222 Sim Não

Manual da Paixão Solitária

215 Sim Não

Se Eu Fechar os Olhos Agora

301 Sim Não

Ribamar 278 Sim Não

Nihonjin 175 Sim Não

O Mendigo que Sabia de Cor os

Adágios de Erasmo de Rotterdam

127 Não Não

Reprodução 167 Sim Não

Quarenta Dias 248 Sim Não

A Resistência 144 Sim Não

77

Conforme é possível visualizar no quadro, quanto à estrutura dos

romances, cabe destacar que, em relação ao número de páginas, a quantidade

varia entre 144 a 311 páginas, sendo o romance com menor número A

Resistência, de Julian Fuks, e o com o maior Cinzas do Norte, de Milton Hatoum.

Nove obras têm mais de duzentas páginas e a média é de 250 páginas, o que

sinaliza que não há uma tendência em textos muito breves ou muito longos,

prioriza-se a narrativa média quanto à extensão.

Além disso, das dezessete obras analisadas, apenas duas não possuem

divisões de capítulos, uma delas é O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de

Erasmo Rotterdam, possuindo apenas um parágrafo, é como se a narrativa

consistisse em apenas um único fluxo da consciência do narrador personagem,

não dando tempo para que o leitor respire durante a prática da leitura. Em

relação às obras que possuem divisão de capítulos, há, na maioria dos casos,

apenas uma divisão numérica entre um capitulo do outro, sem haver um título

para as seções.

Outro ponto a ser destacado é que, em nenhuma das obras premiadas pelo

Jabuti, os capítulos podem ser lidos separadamente, há uma necessidade de um

acompanhamento desde o início da narrativa para haver o entendimento do

leitor, demonstrando, desse modo, que o Prêmio Jabuti até mesmo em relação

à estrutura das obras ainda segue um padrão conservador, que valoriza a

estrutura de início, meio e fim narrativos.

A linearidade dos romances consiste em um fator muito importante no

momento da leitura e entendimento da obra literária, desse modo o próximo

gráfico trará o resultado desse fator e ainda se a sequência da obra apresenta

certa clareza:

QUADRO 07 – Linearidade dos romances

OBRA

LINEAR/ NÃO LINEAR

POSSUI INÍCIO, MEIO E FIM DE FORMA CLARA?

A mulher que escreveu a Bíblia

LINEAR Sim

Dois irmãos Linear Sim

Barco a Seco Linear Sim

Dias e Dias Linear Sim

Mongólia Linear Sim

Vozes no Deserto Linear Sim

78

Cinzas do Norte Linear Sim

Desengano Linear Sim

O Filho Eterno Linear Sim

Manual da Paixão Solitária Linear Sim

Se Eu Fechar os Olhos Agora

Linear Sim

Ribamar Linear Sim

Nihonjin Linear Sim

O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam

Linear Sim

Reprodução Linear Sim

Quarenta Dias Linear Sim

A Resistência Linear Sim

Todas as obras possuem linearidade, ou seja, apresentam início, meio e

fim de forma clara, o que facilita o entendimento do leitor e não exige deste

grandes esforços de compreensão. Essa característica, surgida desde os

primórdios da criação literária romanesca, ainda continua a ser perpetuada.

Supõe-se que haja, nessa premiação, uma dificuldade em deixar de seguir um

padrão já imposto no meio editorial, tendo em vista que, como já citado

anteriormente, há certo conservadorismo nessa premiação literária, e mesmo

que o modo de escrita mude, o Jabuti não premia as inovações.

Quando ao gênero das obras, todas são classificadas como romances, não

havendo mescla com outros gêneros, fator este que facilita no momento da

leitura, pois tanto um leitor experiente como o inexperiente podem fazer a leitura

das obras e conseguirão entendê-la com facilidade. Isso pode se dar pelo fato

de as obras, por serem de fácil entendimento, conseguir abranger um número

maior de público leitor, pela facilidade e comodidade no momento da leitura.

Há também nesse hall de obras premiadas pelo Jabuti exemplos de

intertextualidade, e sobre essa teoria tão importante no âmbito dos estudos

literários Sandra Nitrini (1997), em seu capítulo intitulado “Conceitos

fundamentais”, traz um panorama acerca do conceito de intertextualidade

seguindo a linha da principal fundadora, Julia Kristeva. Com seu surgimento na

segunda metade do século XX, a intertextualidade para Kristeva trata-se de um

mosaico de citações, ou seja, a produção do autor será resultado daquilo que foi

lido e estudado por ele. É como se todos os textos fossem produtos de um

conjunto de vários outros textos e é função do leitor identificar essa

intertextualidade nas narrativas.

Dois exemplos claros de intertextualidade nos romances consagrados pelo

79

Jabuti são A mulher que escreveu a Bíblia, de Moacyr Scliar, e Vozes no Deserto,

de Nelida Piñon. Na obra de Scliar, vemos uma recriação da história bíblica sob

o viés de uma personagem feminina que além de narrar ainda participa dessa

nova escrita. Já na obra de Piñon há uma apropriação dos personagens do

romance Mil e uma noites, porém a escrita acontece sob o viés também da

personagem feminina Scherazade. Ambas as obras podem ser associadas ao

conceito de intertextualidade que Nitrini (1997) apresenta, tendo em vista que

fica claro que tanto Moacyr como Nélida partiram de uma escrita já feita para

então construir as suas próprias.

De uma forma geral, podemos constatar que o Prêmio Jabuti está

valorizando estas tendências quanto à estrutura romanesca: obras de média

extensão, com estrutura facilitadora da extensão, já que não exigem muito de

seus leitores, e limitação de estilo, uma vez que optam pela narrativa de estilo

mais tradicional sem hibridismos.

Assim como a estrutura da obra literária, a linguagem é determinante para

se entender em que contexto estão inseridos os personagens e como é

construído o enredo. Assim, o quadro a seguir trará como são classificados os

tipos de linguagem que prevalecem nas obras consagradas:

QUADRO 08 – Linguagem das obras

OBRA

LINGUAGEM

A mulher que escreveu a Bíblia Culta

Dois irmãos Coloquial

Barco a Seco Coloquial

Dias e Dias Culta/Coloquial/Poética

Mongólia Poética

Vozes no Deserto Culta

Cinzas do Norte Culta

Desengano Culta/Coloquial

O Filho Eterno Culta

Manual da Paixão Solitária Culta/Coloquial

Se Eu Fechar os Olhos Agora Culta

Ribamar Culta

Nihonjin Coloquial

O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam

Culta/coloquial

Reprodução Coloquial

Quarenta Dias Coloquial

A Resistência Coloquial

Sobre a linguagem que prevalece nos romances, elas variam entre culta,

coloquial e poética, havendo ainda casos onde há um misto entre esses três

80

tipos de linguagem. Este é o caso do romance Dias e Dias, de Ana Miranda, cuja

linguagem é culta no momento que em que Feliciana precisa conversar com um

professor, arranjado como pretendente pelo pai para um futuro casamento, é

coloquial no momento que troca palavras com a tia, que é empregada da casa,

e ainda é poética quando troca mensagens com uma prima sobre seu grande

amor Gonçalves Dias.

Em síntese, sobre a categoria estrutura e linguagem dos romances cabe

destacar que no conjunto os romances apresentam uma estética tradicional,

quando ao número de páginas variam entre 144 a 311; há uma linearidade entre

os capítulos, sendo que um precisa do outro para que haja o entendimento geral

da narrativa; há em dois casos a presença da intertextualidade que serve como

forma de valorização do texto, demonstrando ainda que o escritor possui

conhecimento sobre o que está falando, e por último há o predomínio de um

linguagem coloquial, representando sujeitos simples que fazem parte da nossa

sociedade.

Após a exposição sobre a estrutura e linguagem dos romances, o tópico a

seguir terá o objetivo de demonstrar como se constituem os cenários das

dezessete obras contempladas, dando enfoque para o tempo e o espaço, já que

estes também são elementos essenciais de composição romanesca.

3.5 Cenários: tempo e espaço

O tempo e o espaço são fatores relevantes no âmbito geral de um romance.

Rodrigues (1998) traz apontamentos acerca desses dois importantes elementos

da narrativa, afirmando que, no que diz respeito ao tempo, cabe ao romancista

dispor de como esse elemento irá aparecer em sua narrativa. Por exemplo, após

dar vida a um personagem, cabe a ele diagnosticar como será administrado o

tempo de vida da pessoa e ainda se esse pode ser caracterizado como um tempo

cronológico ou psicológico.

Em relação ao espaço Rodrigues (1998) também pontua afirmando que

assim como os outros elementos do texto, narrador, personagem, enredo, o

espaço também é algo fundamental, podendo aparecer como um elemento

secundário ou até prioritário e em muitos casos como algo de descoberta, onde

81

o leitor na medida que vai lendo o romance vai descobrindo o espaço onde a

obra de desenvolve.

Desse modo, afim de identificar como se constitui o tempo e o espaço nas

dezessete narrativas, premiadas em primeira colocação pelo Prêmio Jabuti entre

2000 e 2016, o primeiro quadro trará o tempo das narrativas, se são classificados

como cronológico ou psicológico:

QUADRO 09 – Tempo das narrativas

OBRA

CRONOLÓGICO OU

PSICOLÓGICO?

CENTRADO EM FATOS DO PRESENTE OU DO

PASSADO?

A mulher que escreveu a Bíblia

Psicológico Passado

Dois irmãos Cronológico Passado

Barco a Seco Psicológico Passado

Dias e Dias Cronológico Presente

Mongólia Cronológico Passado

Vozes no Deserto Psicológico Passado

Cinzas do Norte Cronológico Passado

Desengano Cronológico Passado

O Filho Eterno Cronológico Passado

Manual da Paixão Solitária Cronológico Passado

Se Eu Fechar os Olhos Agora

Cronológico Passado

Ribamar Cronológico Passado

Nihonjin Cronológico Passado/Presente

O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam

Cronológico Presente

Reprodução Cronológico Presente

Quarenta Dias Cronológico Passado

A Resistência Cronológico Passado

Sobre o tempo presente nas narrativas, como podemos perceber há o

predomínio do tempo cronológico. Sobre essa categoria temporal, Cândida

Vilares Gancho, em seu livro Como analisar narrativas, publicado em 2002,

afirma ser o tempo cronológico aquele que acontece na ordem natural dos fatos,

citando ainda como exemplo uma história que inicia na infância do personagem

e segue até a sua fase adulta. Essa afirmação feita pela autora pode ser

visualizada em quatorze das dezessete obras analisadas, mas em Dois irmãos,

de Hatoum, é possível acompanhar claramente a vida e desenvolvimento físico

e intelectual dos irmãos Omar e Yaqub, assim como a chegada da velhice de

seus pais. Há desse modo uma ordem cronológica dos fatos relatados pelo

narrador.

82

Em relação ao tempo psicológico, Gancho (2002) também traz

ponderações, observando que se trata de um enredo que transcorre conforme o

narrador e os personagens querem e não há uma linearidade fixa. Não há, assim

uma ordem natural dos fatos. Como exemplo disso temos o romance Barco a

Seco, de Rubens Figueiredo, no qual encontramos um narrador personagens

que busca incessantemente por um misterioso pintor chamado Emilio Vega.

Porém para encontrar e descobrir sobre a vida desse sujeito desconhecido, esse

narrador retoma ao passado e ao mesmo tempo se remete ao presente, exigindo

do leitor um pouco mais de atenção no momento da leitura.

A partir desses dois exemplos de romances que seguem o tempo

cronológico e/ou psicológico podemos concluir que o Prêmio Jabuti da vazão a

narrativas que seguem um relato cronológico, tendo em vista o grande número

de obras caracterizadas com esse tempo, o que pode ser associado ao fato de

as obras não serem tão exigentes ao leitor para compreensão. A partir dessa

descoberta, mais uma comprovação pode ser identificada: o Jabuti busca

premiar obras que não exijam muitas dificuldades para o público leitor, supondo-

se então que pelo fato de serem de fácil acesso haja uma maior procura das

pessoas.

Além disso, cabe destacar que das dezessete obras analisadas, treze delas

são narradas no presente, mas se remetendo ao passado. Ou seja, há uma

tendência em se contar o “hoje” e não construir memórias, refletir sobre o

passado, construir uma narrativa histórica. Interessa-se pelo presente, pelos

anseios, projetos do agora, do tempo presente, do contemporâneo.

Outro fator importante que precisa ser levado em conta nas narrativas em

análise é o espaço onde elas se desenvolvem. Desse modo, no quadro a seguir

é possível identificar se esses espaços são urbanos ou rurais e ainda se as

histórias contadas acontecem em ambientes públicos ou privados.

QUADRO 10 – Espaço das narrativas9

OBRA

URBANO OU RURAL

PÚBLICO OU PRIVADO

A mulher que escreveu a Bíblia

Rural/Urbano PÚBLICO

Dois irmãos Urbano Público/Privado

9Para fins de análise, são considerados apenas os espaços onde os personagens passam a

maior parte do tempo na narrativa.

83

Barco a Seco Urbano Público

Dias e Dias Urbano Público

Mongólia Urbano Público

Vozes no Deserto Urbano Público

Cinzas do Norte Urbano Público

Desengano Urbano Público

O Filho Eterno Urbano Público

Manual da Paixão Solitária Urbano Público

Se Eu Fechar os Olhos Agora

Urbano Público

Ribamar Rural/Urbano Público

Nihonjin Urbano Público

O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam

Urbano Público

Reprodução Urbano Público

Quarenta Dias Urbano Público

A Resistência Urbano Público

O espaço consiste no local onde a narrativa se desenvolve. De acordo com

Gancho (2002), sua principal função é situar as ações dos personagens, além

de influenciar nas suas atitudes e pensamentos. Como a própria palavra nos

remete, o espaço sugere o local físico onde a narrativa se desenvolve. É possível

o conhecimento do espaço onde a obra de desenvolve a partir dos próprios

fragmentos do texto, porém há casos em que o narrador não especifica

claramente o local onde a narrativa se desenvolve, cabendo assim ao leitor

identificar sozinho esse ambiente.

Conforme fora possível visualizar na tabela acima, de um modo geral, todas

as narrativas aconteceram no ambiente urbano e em espaços privados. Duas

obras que podem exemplificar essa afirmação são Mongólia de Berardo

Carvalho e Se Eu Fechar os Olhos Agora de Edney Silvestre. Em Mongólia

encontramos um diplomata brasileiro que precisa ir para Mongólia em busca de

um fotógrafo desaparecido, desse modo o espaço que ele frequenta é totalmente

urbano. No segundo caso, através de dois personagens crianças, Eduardo e

Paulo, visualizamos um assassinato onde ambos são considerados os culpados.

Essa narrativa também se passa em um ambiente urbano, na rua de uma certa

cidade e mais especificamente na delegacia de polícia para que os fatos sejam

esclarecidos.

Os dois casos podem ser associados as afirmações de Gancho (2002)

tendo em vista que em ambas as obras é possível identificar o espaço onde as

narrativas se desenvolvem, sendo esses importantes para o desenrolar das

84

tramas. Além disso, após essas afirmações é possível concluir mais uma

tendência sobre o Prêmio Jabuti: valoriza espaços urbanos e ambientes

públicos.

Em síntese, sobre as categorias tempo e espaço é possível concluir que há

predomínio do tempo cronológico, tendo em vista que esse facilita a leitura das

pessoas; e ainda existe uma valorização do espaço urbano, como se a cidade

tivesse, além de maior representatividade, mais “fôlego” para se contar histórias.

Desse modo, buscando adentrar ainda mais na constituição dos elementos da

narrativa, uma análise de personagens constitui a próxima seção, que objetiva

identificar como esses aparecer nas obras literárias.

3.6 Personagem

No processo de análise dos romances premiados em primeiro lugar no

Jabuti das edições do século XXI, apresentamos um enfoque nos personagens

principais dessas obras. Para tanto, algumas características deverão ser levadas

em conta, dentre elas destacam-se: o sexo dos personagens principais, a etnia,

lugar onde residem, suas profissões e condição social. Essas afirmações

servirão como pano de fundo para identificar qual é o perfil desses personagens

que o Prêmio Jabuti vem consagrando.

O primeiro item que será analisado é o sexo dos personagens. Conforme

aponta o quadro a seguir, há a prevalência de personagens masculinos se

comparado com a quantidade de mulheres.

QUADRO 1110 – Sexo dos personagens principais das dezessete obras:

OBRA SEXO

A mulher que escreveu a Bíblia Feminino

Dois irmãos Masculino

Barco a Seco Masculino

Dias e Dias Feminino

Mongólia Masculino

Vozes no Deserto Feminino

Cinzas do Norte Masculino

Desengano Masculino e Feminino (dois personagens principais)

10Para fins de análise, são considerados apenas os personagens centrais de cada romance,

excluindo-se os secundários, em função do número de obras pesquisadas.

85

O Filho Eterno Masculino

Manual da Paixão Solitária Masculino e Feminino (dois personagens principais)

Se Eu Fechar os Olhos Agora Masculino

Ribamar Masculino

Nihonjin Masculino

O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam

Masculino

Reprodução Masculino

Quarenta Dias Feminino

A Resistência Masculino

Em um âmbito geral, nas dezessete obras analisadas, em quatro delas, os

personagens principais são mulheres e 11 são homens, sendo que ainda há

duas obras onde há o predomínio de dois personagens principais: um do sexo

masculino e outro do feminino.

Conforme é possível perceber até mesmo na composição dos romances, o

sexo masculino permanece em destaque, dado que vem ao encontro de

pesquisa realizada em 2003 por Dalcastagnè (2012) em relação aos

personagens de narrativas produzidas entre os anos 1990-2004. Segundo ela,

dos 125 personagens analisados, 28% dos protagonistas dos romances são

mulheres e 71,1% são homens. Para a autora fatores como o próprio predomínio

do sexo masculino na literatura pode ser uma das hipóteses para essa

constatação.

Ao se comparar esses dados com os encontrados na leitura dos romances

do século XXI contemplados pelo Jabuti, percebemos que essa nova linha de

obras também dá continuidade ao mesmo perfil de personagens dos romances

das décadas anteriores. Ou seja, continuam aparecendo muito mais homens do

que mulheres também nas obras premiadas pelo Jabuti. Nessa perspectiva,

podemos assinalar que há no Prêmio Jabuti um cunho conservador que também

prestigia o masculino, pois a maioria dos sujeitos de destaque nos romances

analisados é do sexo masculino. Existe dessa forma uma supervalorização da

voz masculina e, por extensão, do universo que rodeia o homem, dando a este

uma posição de destaque nas tramas.

Sobre a etnia desses personagens cabe destacar que não são muito claras

nas narrativas, indicando uma perspectiva de que essa questão pode não ser

relevante na construção de um romance. Porém, pode-se dizer que existe uma

pluralidade no sentido de nem todos os personagens centrais serem brancos,

86

por exemplo. Um caso relacionado a essa condição étnica está na presença de

uma jovem moça em Israel, em A mulher que escreveu a Bíblia, até a ida de um

diplomata para Mongólia a fim de encontrar em fotógrafo desaparecido no

romance Mongólia. Exemplos como esses servem para o conhecimento da raça

dos povos, através dos personagens foi possível identificar suas culturas e

costumes, assim como o modo de viver de cada pessoa.

Ainda sobre a raça dos personagens cabe destacar que no geral parecem

ser brancos. Há ainda um dado interessante: personagens marginalizados, como

negros, indígenas, homossexuais, não aparecem nas narrativas, exceto no

romance O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam, de

Evandro Affonso Ferreira, no qual o personagem principal é um mendigo, porém

fora dos padrões tradicionais porque é um letrado. Desse modo, as narrativas

seguem um padrão tradicional no qual a voz do homem branco é a que

prevalece.

Ao observarmos a predominância de personagens brancos e homens, que

representam uma parcela menor da sociedade brasileira e quase a ausência de

pardos, negros e índios, por exemplo, nos romances prestigiados pelo Jabuti,

podemos tecer algumas considerações. Uma delas é a de que ele explicita uma

perspectiva conservadora, menos abrangente porque ignora produções

marginalizadas, como a de obras da chamada literatura afro-brasileira e indígena

nas quais as vozes dominantes são a de negros e índios respectivamente. É

como se o Jabuti estivesse informando aos leitores que não há espaço para

essas vozes e, se elas existem em nossa literatura, não são de qualidade e,

portanto, não merecedoras de atenção.

Há nesse sentido um apagamento de vozes minoritárias no rol de obras

consagradas pelo Jabuti na categoria romance. Nas 17 obras em estudo,

nenhuma delas contempla um negro ou índio como personagem, sequer

secundário. Essa perspectiva vai ao encontro do que já conhecemos em

manuais de história de nossa literatura nos quais somos levados, enquanto

leitores, a acreditar que vozes minoritárias não são presentes em nossa

literatura, ocultando essa produção e valorizando outras em que as vozes das

classes e grupos majoritários (como de homens, brancos e de boa situação

socioeconômica) aparecem.

Mesmo a população brasileira negra sendo considera maior do que a dos

87

brancos, conforme aponta o censo do IBGE de 2010, que afirma que as pessoas

pretas e pardas somam um total de 54% da população no Brasil, ainda assim o

Jabuti não valoriza esse grupo ou pelo menos não prestigia as obras da literatura

que colocam em cena vozes de não brancos. Fato similar também acontece com

os indígenas, que fazem parte do descobrimento e história inicial no país e não

aparecem em nenhuma obra contemplada por essa premiação.

Como é possível perceber, em ambos os casos (romances sem

personagens negros e indígenas), o que vemos nas obras valorizadas pelo

Prêmio são aquelas que não tratam de sujeitos também importantes no âmbito

da história e população do Brasil. O Prêmio Jabuti mais uma vez se mostra

conservador, no sentido de não representar essa população tão importante na

constituição do nosso país.

Eduardo de Assis Duarte em seu trabalho “O negro na literatura brasileira”,

publicado em (2013),afirma que nos manuais canônicos de literatura a figura do

negro ainda é pouco contemplada, mesmo o Brasil sendo uma nação multiétnica

com um grande número de afrodescendentes, essas figuras ainda são pouco

vistas no meio editorial. Ao selecionar para os manuais obras com brancos, há

um apagamento de uma literatura que existe sobre e com negros, a qual é

deslegitimada porque oculta e desconhecida para a maioria de leitores.

Essa afirmação do autor em relação aos manuais pode ser associada ao

que observamos nas narrativas do século XXI premiadas pelo Jabuti. Nas

dezessete obras em análise, tendo em vista que nenhuma delas traz

personagens principais, secundários ou até terciários negros, demonstrando

assim que o Jabuti segue um padrão especifico na constituição dos seus

personagens. Esse padrão, além de intensificar o sexo masculino, ainda

fortalece a supremacia do branco.

No rol dos 17 livros avaliados positivamente pelo Jabuti, há também a

ausência de personagens homoafetivos, tendo em vista que nenhuma das obras

apresenta personagens pertencentes a esse grupo. Não existe uma

preocupação em mostrar e valorizar autores e personagens que se enquadrem

nesse grupo, mesmo que, atualmente, a temática da homossexualidade venha

sendo disseminada cada vez mais no contexto escolar, literário, acadêmico e

social, buscando desmistificar a questão do gênero.

Santos e Wielewicki (2009) trazem reflexões sobre esse tipo de literatura

88

ao afirmar que a história dessa literatura ainda está em processo de construção,

suas temáticas são voltadas para o sentimentalismo, questões de amor, solidão

e afeto. Assim como na literatura indígena e na negra, aqui há ainda uma busca

da sua auto definição, ambas buscam encontrar seu espaço no cenário editorial

e porque não no cenário canônico?.

O Prêmio Jabuti, por sua vez, também não valoriza esse tipo de literatura

e reforça a perspectiva de um julgamento de valor centrado no conservadorismo

e na supremacia de homens brancos e heterossexuais. Em outros termos, há, a

partir de vários aspectos em análise do Jabuti, uma perspectiva excludente,

conservadora e avessa a representações de segmentos marginalizados de

nossa sociedade. Prestigia-se, com o Prêmio, o que é tradicionalmente aceito,

durante séculos de nossa história, como “modelar”, “exemplar” e “de valor”.

O local onde os personagens dos romances premiados residem também é

diversificado, mas o que prevalece são os ambientes urbanos, e todas as obras

possuem como pano de fundo uma cidade desenvolvida. Cidades como o Rio

de Janeiro e Manaus, além dos países Mongólia e Argentina e ainda estados

como o Piauí, são exemplos de locais em que as narrativas se passam,

consistem em ambiente diferentes, mas que possuem características em

comum: são grandes centros urbanos, cidades, estados e países desenvolvidos.

A utilização do ambiente urbano como cenário das narrativas, de acordo

com Pereira (2011), busca mostrar um reflexo das ações das pessoas, ou seja,

quando os autores se usam desse espaço é porque querem representar algum

dilema encontrado e vivenciado pela grande massa, a população brasileira que,

na maioria, vive nas cidades. A escolha dos espaços nas tramas seria, sob esse

viés, uma forma de a literatura desses autores estar correlacionada a um projeto

mimético de representar a vida social brasileira.

Essa afirmação condiz com os romances premiados pelo Jabuti, pois eles

usam esse ambiente urbano para mostrar diferentes modos de viver da

população. É o caso do romance O filho Eterno, cujo tema chama a atenção para

uma família que se depara com o filho, que acaba de nascer, com síndrome de

Down e precisa entender toda essa situação e Quarenta Dias, que através da

narradora Alice entendemos e acompanhamos sua incansável busca por um

conhecido que desapareceu. Esses dois exemplos têm pontos em comum:

representam nossa sociedade, fatos muitas vezes omissos pela grande maioria

89

da população, tendo em vista que ambos os casos estão presentes diariamente

em nosso meio.

A faixa etária dos personagens, de forma geral, não é totalmente clara, mas

pelo contexto das narrativas é possível compreender que se trata de adultos cuja

idade fica entre 30 e 50 anos. Em pesquisa realizada por Dalcastagnè em 2003,

a porcentagem de personagens masculinos presentes nos romances publicados

entre 1990 e 2004, foi de 48,4% e femininas 43,3%, afirmando que essa fase é

mais valorizada nas obras porque há uma maior maturidade nas pessoas.

O Prêmio Jabuti também vem valorizando essa faixa etária adulta, pois

seus personagens principais, além de serem, a maioria do sexo masculino, têm

um rastro de experiências, como é o caso de Nihonjin, que vem morar no Brasil

em busca de melhores condições de vida, e de A Resistência, que através do

narrador-personagem Sebastian conhecemos como foi o exílio de sua família

para o Brasil. A partir desses exemplos encontramos mais uma constatação: o

Jabuti também busca agraciar personagens cujo grau de maturidade é um pouco

maior.

Ao optar por protagonistas adultos, com significativa experiência de vida,

os romances premiados minimizam vozes tradicionalmente ocultadas em nossa

literatura: a de adolescentes e a de idosos. Isso novamente ratifica duas

tendências de nossa literatura: valorizar a voz do adulto, como se apenas a esse

houvesse o poder de fala, e a importância de contar suas histórias, cabendo a

uma literatura dita menor (a infantil e infanto juvenil) reportar-se a personagens

joviais; dar continuidade ao processo de exclusão de quem está na base da

pirâmide etária (jovens e velhos). É, assim, uma perspectiva também

conservadora, repetidora de tendências anteriores de nossos romances nos

quais poucos idosos e jovens são protagonistas.

As profissões desses personagens variam: temos escritor, perito em obras,

pintor, professor, diplomata, fotógrafo, estudante de chinês, assim como existem

personagens que não possuem nenhuma ocupação, ou ainda narrativas nas

quais não são apresentadas as tarefas profissionais dos personagens. Essas

profissões exigem um nível de instrução para que sejam exercidas,

demonstrando que esses personagens necessitaram de uma formação para

atuar em suas áreas. Desse modo, compreende-se mais uma tendência do

Prêmio Jabuti: além de valorizar autores que possuem uma formação acadêmica

90

ou até mesmo profissional, também valoriza romances cujos personagens

possuem um nível intelectual avançado, pois há a dominância de personagens

com formação mais apurada, não são “ignorantes” e suas atividades são

relacionadas às artes.

Por possuírem boas condições sociais nas profissões, as protagonistas são

favoráveis, exceto em O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de

Rotterdam, no qual o personagem central é um mendigo, porém sua condição

intelectual é excelente, pois mesmo vivendo na rua, sob más condições de vida,

utiliza da leitura para “se alimentar”, os livros trazem os adágios de Erasmo de

Rotterdam.

Além disso, analisando os personagens centrais dos romances, podemos

constatar que eles vivem experiências de homens e mulheres da nossa realidade

atual ao representarem histórias e sujeitos comuns que estão inseridos em nosso

meio diariamente. Antonio Candido, na obra A personagem da ficção publicada

em 1981, afirma que é muito comum nesse cenário fictício das obras literárias a

transfiguração de momentos selecionados da realidade, ou seja, como forma de

aproximar o fictício da nossa realidade os autores se utilizam de temáticas,

personagens e conflitos que se aproximem da atualidade e de alguma forma

representem casos e segmentos da sociedade atual contemporânea.

Essa busca de associação entre ficção e vida social, presente nos 17

romances premiados, associa-se ao fato de não encontrarmos nesse rol de

obras os traços de realismo fantástico, ficção científica, romance histórico, etc,

enfim outros recursos estéticos de composição literária. Em todas elas há esse

diálogo fecundo com o contexto contemporâneo que, aos olhos do leitor, pode

ser visto como uma representação social da atualidade.

Outro ponto importante é que esses personagens buscam se encontrar

durante a narrativa, pode se dizer que há uma busca por entender sua própria

identidade. Ou seja, os personagens centrais estão sempre à procura de alguma

coisa, como se houvesse uma falta a ser suprida para composição desse eu.

Sobre essa busca identitária Zygmunt Bauman, em seu livro O mal-estar da pós-

modernidade, afirma que “é característica muito difundida dos homens e

mulheres contemporâneos, no nosso tipo de sociedade, viverem

permanentemente com o problema da ‘identidade não-resolvido’” (BAUMAN,

1998, p.38). Bauman acrescenta que as pessoas sofrem com faltas de recursos

91

para construir uma identidade sólida e verdadeira. Essa afirmação feita pelo

autor pode ser associada aos romances em análise, pois os personagens

buscam esclarecer conflitos na sociedade, porém o principal conflito está em sim

próprio.

Exemplo disso são as obras Barco a Seco e Dias e Dias. Na primeira

visualizamos um narrador-personagem que é perito em obras de arte e procura

incansavelmente resquícios sobre Emílio Veja, que nem ele próprio sabe se

existe. Diante de cada descoberta o próprio narrador reflete sobre sua vida, e

sobre o fato de ter sido abandona quando criança e mesmo assim ter conseguido

uma profissão e uma condição de vida favorável. Nessa narrativa encontramos

um narrador um tanto reflexivo que precisa primeiro entender a si próprio para

então entender a pintura e o famoso Emílio Vega. Já em Dias e Dias,

encontramos através da narradora-personagem Feliciana seu amor platônico

pelo autor Gonçalves Dias, mas esse amor é tão grande que a faz se questionar

sobre sua própria identidade e esquecer as pessoas que estão ao seu redor.

De uma forma geral, podemos observar que, quanto à constituição dos

personagens centrais das 17 narrativas analisadas, o que prevalece são sujeitos

brancos do sexo masculino que vivem em grandes centros urbanos. Consistem

em personagens, na maioria dos casos, adultos, com experiência de vida, um

nível de conhecimento apurado, suas profissões estão relacionadas às artes e

estão e busca de se encontrar a si próprios, representando uma realidade atual

da nossa sociedade.

Após a explanação sobre o perfil dos personagens presentes nas

narrativas, o próximo subcapítulo contempla uma abordagem acerca do narrador

dos romances, buscando identificar como esse se constitui.

3.7 Narrador

O narrador consiste em uma figura muito importante na obra literária, é

através dele que descobrimos como se constituem os personagens, seus

conflitos e cenários nos quais estão inseridos, deste modo, afim de discorrer

sobre a configuração dos narradores nas dezessete obras premiadas em

primeira colocação pelo Jabuti, começamos por entender o que é o narrador e

qual é a sua função dentro de uma narrativa. Partimos então do pressuposto de

92

que “[...] narrador é uma personagem que se caracteriza pela função de, num

plano interno à própria narrativa, contar a história num texto narrativo” (FRANCO

JUNIOR, 2009, p. 40).

Desse modo, buscando identificar como se classificam os narradores das

dezessete obras em análise, vencedoras em primeira colocação pelo Jabuti, o

quadro a seguir busca mostrar a que categoria podem ser rotulados os

narradores de cada obra literária:

QUADRO 12– Classificação dos tipos de narradores

OBRA TIPO DE NARRADOR

A mulher que escreveu a Bíblia Narrador Personagem

Dois irmãos Narrador onisciente

Barco a Seco Narrador Personagem

Dias e Dias Narrador Personagem

Mongólia Narrador Personagem

Vozes no Deserto Narrador onisciente

Cinzas do Norte Narrador Personagem

Desengano Narrador onisciente

O Filho Eterno Narrador onisciente

Manual da Paixão Solitária Narrador onisciente

Se Eu Fechar os Olhos Agora Narrador Personagem

Ribamar Narrador Personagem

Nihonjin Narrador onisciente

O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam

Narrador Personagem

Reprodução Narrador onisciente

Quarenta Dias Narrador Personagem

A Resistência Narrador Personagem

Em um modo geral, como podemos perceber no quadro, há um predomínio

de narradores-personagens (com dez obras com esse ponto de vista). Sobre

esse tipo de narrador Dalcastagnè (2001) afirma que nas narrativas

contemporâneas o personagem principal é ao mesmo tempo o narrador. Esse

tem a função de conduzir o leitor, pode ser confuso, suspeito ou até mentiroso,

está totalmente envolvido na obra, já que também é um personagem, e seu

principal objetivo é nos envolver também a acreditarmos na sua versão dos fatos.

Essa afirmação feita pela autora pode ser evidenciada na obra Ribamar,

que através de um narrador personagem masculino sabemos um pouco mais

sob o relacionamento entre o um pai e o filho, porém este é sob o viés do filho,

pois o pai já veio a falecer. A partir dessas indagações sobre os narradores

personagens presentes nas obras contempladas em primeira colocação pelo

Jabuti, chegamos a mais uma constatação: há a valorização desse tipo de

93

narrador, tendo em vista que das dezessete obras, dez possuem narrador

personagem.

Mas esses narradores personagens, contam suas próprias histórias ou a

história de outros? De um modo geral, das dez obras que possuem um narrador-

personagem, quatro delas trazem narradores que contam suas próprias histórias

e oito consistem em narradores que relatam acontecimentos e fatos de outras

pessoas. Sobre esses narradores que narram a si próprios, Genette (apud

CARDOSO, 2003) classifica como narradores homodiagéticos, ou seja,

consistem em um narrador que ao mesmo tempo que narra sua história ainda

faz parte dela. Já o narrador que transmite a história de outros é caracterizado

como heterodiagético, por mais que participe da narrativa o seu foco é narrar a

vida de outros personagens.

O predomínio de narradores-personagens, sendo eles homodiagéticos ou

heterodiagéticos, indica que o no Prêmio Jabuti há a fuga do modelo tradicional

do romance do século XXI, tendo em vista que antes as obras eram, em sua

maioria, narradas sob o viés de um narrador em terceira pessoa, que observava

e apenas relatava os fatos com certo distanciamento. A recorrência em um ponto

de vista mais próximo dos fatos narrados é uma tendência que assinala talvez

uma necessidade de aproximação, inclusive do leitor com o texto que lê. O uso

do narrador personagem ainda aproxima o fato narrado com o leitor, tendo em

vista que esse tem a possibilidade de comparar e aproximar a sua história de

vida com a narrada no texto literário.

Além disso, na era da contemporaneidade, há a necessidade do “eu” relatar

os seus fatos vividos, sua história, como se houvesse um movimento de buscar

ser ouvido, de ter uma atenção (talvez a do leitor pelo menos), como se o “eu”

tivesse em busca de uma maior visibilidade se comparado a um “outro”. Seria

uma forma de representar, pela opção do ponto de vista, que a sociedade está

mais focada no caráter individual do que numa dimensão coletiva? Talvez essa

seja uma hipótese oportuna para compreender o porquê dessa tendência de o

narrador falar de si.

Theodor Adorno, em seu trabalho intitulado “Posição do narrador no

romance contemporâneo”, publicado em 2003, traz ponderações acerca da

diferença entre o narrador do romance tradicional e o narrador contemporâneo.

Para ele, o narrador tradicional pode ser comparado ao palco do teatro italiano

94

burguês, erguem-se as cortinas e o leitor deve acompanhar a narrativa como se

estivesse presente em “carne e osso”, visualizando somente o que está à sua

frente. Já o narrador contemporâneo é móvel, há uma mudança no movimento

da câmera, o leitor pode participar da “peça” como também ser deixado de lado.

Esse narrador traz inquietudes para o leitor o fazendo apreciar ainda mais as

narrativas.

A partir dessas afirmações, a segunda constatação a ser feita é que, nas

dezessete obras contempladas em primeira colocação pelo Jabuti, encontramos

um narrador contemporâneo, que busca narrar a história de todos os ângulos

possíveis, ou seja, a “câmera” gira a todo momento, deixando transparecer o

maior número de acontecimentos possíveis. Exemplos desse tipo de narrador

podem ser evidenciados nas obras Vozes no deserto e Reprodução. Na primeira

visualizamos um narrador onisciente que conta a história de Scherezade, através

desse narrador é possível conhecer, de fato, quem foi essa personagem feminina

e o seu anseio por contar histórias ao líder califa, e, consequentemente livrar-se

da morte. No segundo caso, a obra Reprodução apresenta um narrador

personagem, que se remete a si próprio, seus anseios, sentimentos e modo de

pensar e ainda narra a vida das pessoas ao seu redor, conflitos nos quais ele

próprio está incluso.

No que tange ao perfil do narrador contemporâneo apresentado por Adorno

(1980) é possível afirmar que o Prêmio Jabuti segue um padrão especifico de

narrador, nomeado como narrador contemporâneo, esse é empenhado em

contar e viver a narrativa de todos os ângulos, buscando sempre mostrar o maior

número de fatos, cenários, acontecimentos e sentimentos presentes na obra

literária. Dalcastagnè (2001) compara esse narrador contemporâneo com as

pessoas que estão ao nosso redor, dizendo que assim como esses sujeitos os

narradores das obras literárias também devem despertar certo receio ao leitor,

ou seja, precisamos também prestar atenção no que os narradores de uma obra

“falam” e não acreditar totalmente em suas palavras, buscando identificar se ele

é digno de nossa confiança ou não. Nas obras premiadas pelo Jabuti os

narradores buscam não se comprometer muito com o enredo da narrativa,

mesmo que esses sejam também personagens há apenas o anseio de narrar o

que está se passando.

Já as obras que apresentam narradores oniscientes são: Dois Irmãos,

95

Vozes no Deserto, Desengano, O Filho Eterno, Manual da Paixão Solitária,

Nihonjin e Reprodução. Sobre essa categoria de narrador, Norman Friedman

(apud LEITE, 2007) propõe explicar os tipos de narrador através de sua tipologia,

e classifica o narrador onisciente como intruso ou neutro. Na sua perspectiva o

narrador onisciente intruso narra à vontade, podendo expor seu ponto de vista a

qualquer momento, sabe de tudo e todos que estão ao seu redor, pois “seu traço

é a intrusão, ou seja, seus comentários sobre a vida, os costumes, os caracteres,

a moral, que podem ou não estar entrosados com a história narrada”

(FRIEDMAN apud LEITE, 2005, p.27). Já o narrador onisciente neutro não faz

comentário algum, fala em 3ª pessoa, e nele há “[...] ausência de instruções e

comentários gerais ou mesmo sobre o comportamento das personagens”.

(FRIEDMAN apud LEITE, 2007, 32).

Dois exemplos de obras literárias que seguem essa tipologia de Friedman

são Dois irmãos, que é caracterizada por um narrador intruso, pois esse interpõe

na vida dos personagens, fazendo comentários sobre as atitudes da família, mas

principalmente sobre Omar e Yaqub. Já o exemplo de narrador onisciente neutro

é possível visualizar na obra Nihonjin, onde o narrador apenas relata a saga do

japonês Hideo Inabata em busca de melhores condições de vida.

Também encontramos, nesse hall de obras, narradoras, que, além de

personagens, são mulheres imbuídas de contar suas histórias, como é o caso

dos romances A mulher que escreveu a Bíblia e Dias e Dias. Sobre essas

narradoras e personagens femininas Calegari (2013), em seu trabalho “O

cânone literário e as expressões de minorias: implicações e significações

históricas”, traz um panorama histórico sobre o ingresso da figura feminina no

meio literário. Desde muito antes da era cristã houve um esforço masculino em

tirar da mulher todos os seus direitos, como o de se imbuir na política, não

podiam ser proprietárias de um estabelecimento e muito menos de seus próprios

corpos. Essa representação da figura feminina somente começou a aparecer em

manifestos literários no século XVIII e atualmente os nomes de escritores

representativos nesse meio são do sexo feminino, dentre eles destacam-se

Nélida Piñon, ganhadora do Jabuti em 2005 com o romance Vozes no Deserto,

no qual através de um narrador onisciente relata a vida da jovem Scherazade,

que se utiliza da sua forma de narrar histórias para conquistar o rei Salomão

todos os dias e assim fazendo com esse não mate mais nenhuma mulher.

96

A afirmação feita por Calegari (2013) pode ser associada aos romances já

citados, A mulher que escreveu a Bíblia e Dias e Dias. No primeiro caso, Moacyr

Scliar apresenta uma mulher, cujo nome não é especificado, mas ela é

denominada por si própria e pela sociedade como um sujeito muito feio, o que a

torna “bonita” é o fato de, diante de tantas outras mulheres, saber escrever de

uma forma poética, onde foi possível conquistar o rei Salomão através da

palavra. Nessa obra encontramos um exemplo de submissão, primeiro quando

morava com seu pai, tendo que cumprir todas as suas ordens, e, depois, pelo

marido Salomão para quem precisava se humilhar e implorar por uma noite de

amor, além de precisar escrever a história do templo em troca de atenção e

carinho do rei.

No segundo caso, Dias e Dias, a autora Ana Miranda representa, através

da narradora Feliciana, mais um caso de submissão, primeiro em casa, pelo fato

de o pai não querer que a filha se relacione com o autor Gonçalves Dias, quando

jovem, buscando encontrar pretendentes do seu interesse, além de exigir que

ela fique longe do seu grande amor. E ainda é submissa perante o próprio

Gonçalves Dias, no momento que comete loucuras em busca de uma mera

atenção, sendo que esse nem se quer busca saber sobre os sentimentos de

Feliciana.

Nas obras A mulher que escreveu a Bíblia e Dias e Dias, encontramos

narradoras personagens femininas que, durante toda a narrativa, por mais que

continuem submissas, desafiam e questionam suas realidades, buscando

sempre alcançar sua “alforria” diante dos acontecimentos diários. Além disso,

essas narradoras estão em constante julgamento sobre os personagens que

estão aos seus redores, pois mais que estejam inseridas em uma sociedade

machista, conservadora e submissa lutam para que suas condições mudem e

que alcancem de fato suas liberdades.

Além disso, nesse caso, cabe destacar que há diferenças entre essas

mulheres que contam suas próprias histórias em relação aos narradores

masculinos. A primeira diferença é a questão da linguagem, quando narrado por

uma personagem feminina, existe certa melancolia, trata-se de um texto mais

voltado para os seus sentimentos, modos de ver o mundo e de ver a si próprias,

o que de certa forma corrobora a perspectiva estereotipada de mulher como

sujeito sentimental, menos racional que um homem. Essas narradoras buscam

97

relatar para nós leitores um pouco das suas vivências, ou seja, do preconceito

diário que precisam enfrentar por terem nascido no sexo feminino.

Outro fator importante que também precisa ser levado em conta nesse hall

de obras vencedoras é o local de onde esses narradores narram esses romances

se da elite, da plebe ou das minorias. Desse modo, no quadro a seguir será

possível verificar essa distinção:

QUADRO 13– Vozes que os narradores representam11

OBRA VOZES

A mulher que escreveu a Bíblia Plebe– Interior de Jerusalém

Dois irmãos Plebe–Subúrbio carioca

Barco a Seco Plebe – Beira mar

Dias e Dias Plebe – Subúrbio do Maranhã

Mongólia Plebe – Subúrbio de Mongólia

Vozes no Deserto Plebe – Aposentos do casal

Cinzas do Norte Plebe – Subúrbio de Manaus e posteriormente de do Rio de Janeiro e Berlim

Desengano Plebe – Subúrbio do Rio de Janeiro

O Filho Eterno Plebe – Hospital e a casa da família

Manual da Paixão Solitária Plebe – Subúrbio de Israel

Se Eu Fechar os Olhos Agora Plebe – Em uma delegacia

Ribamar Plebe –Subúrbio de Piauí

Nihonjin Plebe – Fazenda de café no Brasil

O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam

Plebe – Nas ruas de uma cidade cujo nome não é identificado.

Reprodução Plebe – Em uma delegacia

Quarenta Dias Plebe – Periferia

A Resistência Plebe – Subúrbio da Argentina e depois do Brasil

Como é possível perceber, todos os narradores relatam histórias de

pessoas que não nasceram na nobreza, ou seja, não são procedentes das

camadas social e economicamente privilegiadas da sociedade. Esses

narradores, de modo geral, narram histórias e fatos da realidade atual, que

podem ser exemplificados com os enredos das narrativas, como é o caso de

Ribamar e Reprodução. No primeiro caso vemos uma tentativa de

reaproximação entre um filho e um pai que ficara tempos sem se falar e no

segundo um desentendimento entre um estudante, que está prestes a embarcar

para a China, com a polícia. Esses romances se classificam como uma

exemplificação de sujeitos simples que buscam resolver seus problemas, assim

11Para fins de análise, são considerados apenas os personagens centrais de cada romance,

excluindo-se os secundários, em função do número de obras pesquisadas.

98

é possível dizer que esses narradores, independente da sua tipologia quanto ao

ponto de vista narrativo, representam essas vozes que estão presentes

diariamente em nossa sociedade.

Em síntese, sobre a categoria narrador, das dezessete obras analisadas, o

que prevalece são os narradores-personagens, móveis, que buscam nos passar

um panorama completo da “cena” narrada, havendo, desse modo, uma fuga no

modelo tradicional que valoriza narradores em terceira pessoa. Além disso, o

Prêmio Jabuti não dá vazão a narradoras femininas, tendo em vista que das

dezessete obras, apenas duas apresentam esse perfil. Há ainda uma

representação, através dos narradores, de sujeitos que vivem na plebe, pessoas

simples que estão em busca de resolver seus conflitos pessoais, tentando não

se comprometer muito com os fatos narrados.

99

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa realizada no Mestrado em Letras, área de concentração

Literatura Comparada, na qual fez parte da linha de pesquisa “Literatura, História

e Memória”, procurou traçar um estudo de caráter cientifico sobre as primeiras

colocações do Prêmio Jabuti (edições 2000-2016) no que tange à categoria

romance, buscando analisar quais são as tendências que prevalecem nas obras

premiadas durante o século XXI.

Essa opção investigativa constituiu em um primeiro estudo, no Curso, com

essa abrangência temática e com corpus amplo, pois este conta com 17

romances pesquisados, algo também incomum para uma dissertação de

mestrado. No entanto, apresenta-se como uma possibilidade enriquecedora de

análise que viabiliza uma perspectiva “de conjunto” de um grupo de narrativas

que têm pelo menos um ponto em comum: a premiação em primeiro lugar do

Prêmio Jabuti.

Ao se propor uma pesquisa sobre o Prêmio, partimos de duas ideias

centrais: a de pensar no Jabuti enquanto um instrumento de crítica literária que

necessita ser (re)pensado no sentido de compreender melhor como funciona e

projeções ele indica; e o de traçar reflexões sobre os romances premiados,

identificando que tendências têm sido valorizadas, o que também se mostrou um

desafio não apenas pelo escopo da proposta, mas também pela insuficiência de

referenciais sobre o Prêmio Jabuti em particular.

A principal dificuldade encontrada na realização desse estudo foi a falta de

aporte teórico-crítico sobre as premiações literárias, tendo em vista que existem

poucos estudos relacionados a essa temática. Sobre o Prêmio Jabuti não há

trabalhos específicos que abarquem estudos que analisam essa premiação, o

que também tornou o desenvolvimento da proposta mais complexo.

Se por um lado esse contexto trouxe algumas dificuldades e desafios, por

outro, instigou-nos a encontrar caminhos que nos conduzissem a repostas a

nossos questionamentos. Então, primeiramente foi realizada uma revisão

bibliográfica acerca de possibilidades de crítica literária, entre as quais a que o

Prêmio Jabuti promove, depois apresentar uma descrição pormenorizada do

Prêmio Jabuti desde sua criação até a atualidade, para assim identificar as

tendências formais e temáticas dos romances premiados, estabelecendo uma

100

análise do perfil romanesco valorizado pelo Prêmio Jabuti.

A primeira reflexão estabelecida nesse estudo foi a importância do termo

crítica para a literatura, pois é através da crítica que saberemos se uma obra

pode ser considerada boa ou não. Diferentes métodos podem ser empregados

no momento da análise de uma obra, desde as relações que esta estabelece

com a vida do autor, por exemplo, como aspectos estruturais e temáticos, tudo

irá depender sob que viés o crítico irá seguir. Todo esse estudo serviu como

base para afirmar que, assim como as diferentes tendências utilizadas por

críticos de literatura, o Prêmio Jabuti também se tornou um instrumento crítico,

no momento em que julga e, posteriormente, premia uma obra, dando a ela certo

prestígio.

Vários são os fatores que tornam o Prêmio Jabuti um instrumento de crítica

literária, dentre eles destacam-se: a oportunidade de avaliar obras recentes,

consagrando narrativas novas. Isso se dá pelo fato de ser uma premiação anual,

então é possível que obras recém acabadas também se inscrevam. Por esse

viés, é uma crítica que também se ocupa em olhar o novo, dar oportunidade para

que uma outra história da literatura recente comece a ser desbravada apesar de

os critérios dessa seleção não serem totalmente claros.

Além disso, o Prêmio apresenta juízo de valor no momento em que rotula

as obras em três colocações, classificando-as, o que significa ainda que parece

haver uma comparação de textos da qual resulta essa distinção. Esse juízo de

valor também se consolida quando o Prêmio distingue diferentes categorias,

reunindo obras que estão organizadas com princípios semelhantes (os de

gênero textual). Ainda quando forma um “time” de avaliadores de cada obra,

definindo critérios de avaliação de romances, pois, para definir as obras que

merecem destaque, é necessário alguém que emita um juízo.

Nesse processo de compreensão do Prêmio Jabuti, cabe destacar ainda

que ele forma um “cânone” literário, pois as obras ali consagradas serão bem

vistas diante do meio editorial e acadêmico. No meio editorial, há uma entorno

interessante: autores premiados passam a circular melhor nas editoras, ter

“encomendas”, passam a ter maior notoriedade porque a indústria das editoras

investe nisso para tornar suas obras mais conhecidas e consequentemente

ampliar as possibilidades de ganho financeiro. O Prêmio, assim, alimenta o

mercado do que vai se publicar e do que terá maiores chances de ser lido.

101

Funciona com um papel importante, como uma espécie de vitrine não só da obra

vencedora e de seu criador, mas também da editora que a lançou.

No meio acadêmico, surgem as pesquisas sobre as obras consagradas,

como dissertações, monografias e teses num outro movimento que suscita uma

análise dos textos em si, de como eles se estruturam, de como dialogam com

outras obras e como se situam no contexto de cada autor, período histórico e

social ou até mesmo de “fases” da literatura nacional. Sob essa ótica, o Prêmio

traz à tona novos objetos aos pesquisadores, especialmente aqueles que

buscam estudar o que há de mais recente para se constituir em referências

iniciais sobre os textos pesquisados.

Para além desse papel desempenhado pelo Prêmio Jabuti, precisamos

reconhecer que ele também sinaliza tendências literárias, tendo em vista que a

partir dessas obras consagradas é possível identificar um panorama da atual

literatura através dos modos de escritas e técnicas encontrados nos livros; dá

ainda projeção a obras e autores, que, além do crescimento pessoal, têm

estimulo financeiro pós-premiação; e consiste ainda em um instrumento

reconhecido pela crítica, por autores e editoras, pois premia obras e autores

contemporâneos que representam a literatura atual.

Nesse sentido, considerado uma das principais premiações literárias do

Brasil, pelo grande número de categorias que possui, o Prêmio Jabuti segue um

padrão especifico em relação aos autores e também ao modo em que avalia as

obras literárias, demonstrando ser conservador e ainda ligado a fatores

tradicionais do século XX, como assinalamos a partir do terceiro capítulo voltado

à análise das obras. Após a análise das dezessete obras consagradas em

primeira colocação pelo Jabuti algumas tendências foram encontradas, as quais

serão apresentadas em seguida.

Em relação aos autores consagrados pelo Prêmio Jabuti, na avaliação de

romances, há uma valorização de autores do sexo masculino, que residem no

eixo Rio-São Paulo, com uma formação acadêmica, uma condição financeira

favorável, com idade entre 50 a 60 anos, demonstrando mais experiência, mas

que são “jovens” na literatura, possuem poucas obras publicadas. Desse modo,

o Jabuti acaba sendo um “boom” na carreira literária desses autores, pois, além

de impulsionar os seus prestígios próprios, ainda propaga o reconhecimento

dessa premiação, já que em cada livro contemplado o selo de vencedor aparece

102

na capa nas edições e impressões subsequentes, dando “valor” ao texto.

Alguns pontos ainda podem ser elencados, tendo em vista que, por se

tratarem de autores jovens no meio literário, ainda há poucos estudos sobre suas

obras. Ou seja, o Prêmio não privilegia autores já conhecidos no meio acadêmico

ou renomados no campo literário, e essa tendência mostra não haver

“preconceito” em relação a estreantes na literatura, embora tenhamos que

reconhecer que nenhum dos autores premiados de 2000 a 2016 seja

inexperiente com as letras e produções escritas.

Um dado interessante das premiações está ligado à formação dos autores.

A que prevalece são as das áreas do Jornalismo e das Letras, demonstrando

um novo perfil de autor: sujeitos familiarizados com as letras e que

consequentemente poderão produzir romances com destaque literário; esses

sujeitos ainda têm contanto com as mídias digitais, assim podem publicar,

dialogar e também alavancar sua carreira nesse meio digital, construindo novos

elos da tríade autor-obra-público.

Em relação ao perfil romanesco valorizado pelo Prêmio Jabuti, podemos

destacar que sobre a estrutura e linguagem dos romances existe uma linearidade

entre os capítulos, e a extensão das obras não segue um padrão específico, o

número de páginas varia entre 144 a 311. Sob esse enfoque, a tendência é não

privilegiar o “apego” a regras muito convencionais, como as que regiam os

romances do século XIX.

Há ainda o predomínio da linguagem coloquial, fato que aproxima o leitor

da obra, tendo em vista que a narrativa busca representar pessoas simples que

fazem parte da nossa sociedade e representam situações da atualidade.

Valoriza-se, assim, a tendência do mais informal, do menos rígido em termos de

uso de linguagem, do mais flexível. Seria possível supor que essa valorização

está associada talvez à falta de livros que sejam de linguagem formal ou à

necessidade de se destacar as obras que dialogam com os leitores de uma forma

mais direta e acessível.

Sobre as categorias tempo e espaço apresentados nos romances, é

possível concluir que há predomínio do tempo cronológico. Esse fator se dá pelo

fato de facilitar a leitura do texto. Desse modo, acredita-se que vá haver mais

procura desse tipo de narrativa justamente pela facilidade de compreensão das

narrativas. Já o espaço é possível identificar que há uma valorização do espaço

103

urbano, tendo em vista que em todas as narrativas há a cidade como pano de

fundo, como se esse ambiente, tivesse uma maior representatividade.

Quanto à constituição dos personagens centrais dos 17 romances

analisados, é possível identificar algumas constatações, dentre elas: predomínio

de sujeitos brancos do sexo masculino que vivem em grandes centros urbanos,

sendo que esses personagens são adultos, na maioria dos casos, demonstram

certa experiência de vida, um nível de conhecimento apurado, suas profissões

estão relacionadas às artes e ainda há uma busca em reconhecer suas próprias

identidades.

Nesse sentido, não há como negar a valorização de um perfil conservador

do Prêmio, tendo em vista que valoriza personagens que condizem com as

décadas anteriores, inclusive o que se avaliava como positivo nos séculos XVIII

e XIX. Em outros termos, vemos uma repetição de moldes da categoria

personagem: prestígio de sujeitos que, além de serem brancos, ainda são do

sexo masculino, demonstrando, desse modo, uma supervalorização dessa voz.

Há de se destacar também que nessas 17 narrativas não existe espaço para as

vozes marginalizadas, como a do negro e do indígena, por exemplo, o que

ratifica essa posição conservadora do Prêmio.

Já sobre a categoria narrador, o que prevalece são os narradores-

personagens, que, além de contarem suas próprias histórias, buscam ainda

relatar um panorama completo do enredo. Há ainda uma representação, através

dos narradores, de sujeitos que vivem na plebe, pessoas simples que estão em

busca de resolver seus conflitos pessoais, tentando não se comprometer muito

com os fatos narrados.

No que diz respeito ao narrador, é possível concluir que há uma fuga no

modelo tradicional que valorizava obras cujos narradores eram em terceira

pessoa, agora há uma necessidade do “eu” falar. Além disso, o narrador

personagem também aproxima o leitor do fato narrado. Cabe salientar ainda que

o tipo de narrador agraciado pelo Jabuti pode ser rotulado como narrador

contemporâneo, tendo em vista que narra os fatos de todos os ângulos

possíveis, havendo uma preocupação em mostrar tudo que se passa ao leitor.

Em síntese, é possível concluir que o Prêmio Jabuti possui um cunho

conservador, não valorizando obras que se caracterizam por significativas

inovações tanto no âmbito estrutural e temático. Ainda dá vazão a narradores e

104

personagens brancos, do sexo masculino e ignora produções de autores e

também obras com personagens que representem as minorias, como é o caso

de negros, indígenas e homossexuais. Desse modo, é possível observar que o

Jabuti ainda segue um modelo tradicional de julgamento literário já visto no

século XX e, dessa forma, institui uma linha de julgamento literário que pouco

amplia os horizontes de avaliação que conhecemos ao longo da história da

crítica literária no Brasil.

Se por um lado reconhecemos essas limitações que excluem parte

importante da literatura brasileira e de certa forma introjetam um olhar

conservador no julgamento, por outro é necessário reconhecer que o Prêmio

Jabuti, apesar das limitações, possibilita que um amplo rol de autores,

notadamente aqueles cujas obras são publicadas por grandes editoras, tenham

maior notoriedade ao olhar do público. Sob esse ponto de vista, a premiação é

um instrumento importante de divulgação de obras mesmo que esteja bastante

ligada a um processo questionável de apreciação dos textos inscritos, já que

desconhecemos como de fato acontecem as avaliações, e a possíveis

influências de um mercado editorial focado no comércio de livros e não

necessariamente de publicação de boa literatura.

105

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