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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES
CÂMPUS DE FREDERICO WESTPHALEN PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS
MESTRADO EM LETRAS ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM LITERATURA COMPARADA
PRÊMIO JABUTI E OS ROMANCES PREMIADOS NO SÉCULO XXI:
DIÁLOGOS E INTERSECÇÕES
Mestranda: Emanoeli Ballin Picolotto
Orientadora: Profa. Dr. Ana Paula Teixeira Porto
Frederico Westphalen, julho de 2017.
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EMANOELI BALLIN PICOLOTTO
PRÊMIO JABUTI E OS ROMANCES PREMIADOS NO SÉCULO XXI:
DIÁLOGOS E INTERSECÇÕES
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Letras – Mestrado em Letras, área de concentração em Literatura Comparada, sob a orientação da Profa. Dra. Ana Paula Teixeira Porto, como requisito parcial para conclusão do curso de Mestrado em Letras.
Frederico Westphalen, julho de 2017.
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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS
MISSÕES PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, EXTENSÃO E PÓS-
GRADUAÇÃO DEPARTAMENTO DE LINGUÍSTICA, LETRAS E ARTES
CAMPUS DE FREDERICO WESTPHALEN MESTRADO EM LETRAS –
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: LITERATURA COMPARADA
A Comissão Examinadora, abaixo assinada,
aprova a dissertação de mestrado
PRÊMIO JABUTI E OS ROMANCES PREMIADOS NO SÉCULO XXI:
DIÁLOGOS E INTERSECÇÕES
Elaborada por
Emanoeli Ballin Picolotto
COMISSÃO EXAMINADORA:
____________________________________________
Profa. Dra. Ana Paula Teixeira Porto – URI
(Orientadora)
_____________________________________________
Prof. Dr. Rafael Eisinger Guimarães – UNISC
(1º arguidor)
____________________________________________
Profa. Dra. Tania Mariza Kuchenbecker Rösing– URI
(2ᵃ arguidora)
Frederico Westphalen, agosto de 2017.
3
DEDICATÓRIA
À professora Ana Paula Teixeira Porto, pelo carinho e amizade que me
proporcionou desde o segundo semestre da graduação em Letras. Além de
orientadora, também foi conselheira, ouvindo-me e sempre pronta para ajudar-
me. Pelos ensinamentos, incentivo diário e orientação segura, é a maior
responsável por hoje estar concluindo o Mestrado em Letras.
4
AGRADECIMENTOS
À Deus, por nunca me abandonar nos momentos de incertezas e dúvidas,
ser meu refúgio quando mais precisava.
A meus pais, Sandra Ballin Picolotto e Volmir da Conceição Picolotto, que,
desde muito cedo, sofreram com a distância entre nós, mas sempre me
incentivaram e acreditaram em meu potencial.
A meu irmão, Miguel Ballin Picolotto, por entender que em certas ocasiões,
mesmo longe, eu precisava, mais do que ele, do apoio emocional e também
financeiro de meus pais.
Ao meu esposo, Diego Scolari Danelli, pelo incentivo diário, por me ajudar
nos momentos de dúvida e principalmente por me entender quando, ao invés de
ficarmos juntos, precisava estudar. Certamente com você ao meu lado tudo ficou
mais fácil e tranquilo.
À CAPES, por ter fomentado esses dois anos de Mestrado, sem ela não
poderia tê-lo feito.
À minha sempre orientadora, Professora Dra. Ana Paula Teixeira Porto
que, desde a graduação em Letras, depois na Pós-Graduação em Metodologia
do Ensino de Língua Portuguesa e agora no Mestrado em Letras, acompanhou-
me e vibrou comigo em todas as conquistas.
À estimada professora Dra. Luana Teixeira Porto pelo aprendizado,
incentivo e por sempre proporcionar um ombro amigo nos momentos de dúvidas
e incertezas.
Às colegas, amigas e irmãs Claudia Maira Silva de Oliveira e Daniela Tur,
pela conversa diária, troca de conhecimento e amizade sincera.
Aos demais amigos, que entenderam a minha ausência nesses quase dois
anos de Mestrado.
Aos familiares que torcem e vibram diariamente com minhas conquistas.
À banca examinadora, Professora Dra. Tania Rösing e Professor Dr. Rafael
Guimarães, pelas críticas construtivas que ajudaram a engrandecer meu
trabalho.
A todos os colegas e amigos do PPGL pela constante troca de experiências
e conhecimento durante nossas maravilhosas aulas.
A todos os professores da Graduação em Letras e do PPGL, ambos da
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URI, que me proporcionaram aprendizado e incentivo a pesquisa.
Aos professores da escola Doutor Cleu Bernado, situada no Pará, lugar em
que aprendi a ler e escrever e fui incentivada ao ato da leitura.
Aos professores da escola Castro Alves, situada no Rio Grande do Sul,
local onde cursei o Ensino Médio, pela ajuda e carinho de sempre.
Ao PPGL em Letras por proporcionar palestras, eventos e oficinas que
buscam nos qualificar enquanto profissionais e ainda por estimularem a pesquisa
e a busca por um conhecimento constante.
Enfim, um agradecimento especial para todos aqueles que vibraram e
torceram para que esse sonho se tornasse realidade.
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RESUMO
Com seu surgimento em 1958 o Prêmio Jabuti consiste na principal premiação de literatura no Brasil e busca contemplar autores brasileiros em diferentes áreas do conhecimento. Ganhar um prêmio como o Jabuti é sinônimo de reconhecimento da obra e de seu autor. Devido à importância do Prêmio e sua visibilidade no campo de estudos de literatura, este trabalho apresenta reflexões sobre o Prêmio e as obras que ele consagra na categoria romance, nas edições de 2000 a 2016. Nesse sentido, o trabalho possui como objetivo geral fazer uma revisão bibliográfica acerca de possibilidades de crítica literária que o Jabuti promove e como objetivos específicos: apresentar uma descrição pormenorizada do Prêmio Jabuti; identificar tendências formais e temáticas dos romances premiados no período 2000-2016; e por fim estabelecer uma análise do perfil romanesco valorizado pelo Prêmio Jabuti. A investigação desenvolve-se através de pesquisa bibliográfica acerca da crítica literária e das premiações literárias, assim como de análise e interpretação das obras literárias romanescas consagradas pelo Prêmio no século XXI. Autores como Regina Zilberman, Regina Dalcastagnè e Tania Rösing contemplam o referencial teórico-crítico sobre as premiações literárias. Já, em relação ao termo crítica, retratado no primeiro capítulo, Roberto Acízelo de Souza e Antoine Compagnon são utilizados como aporte principal dessa investigação e ainda pode-se destacar Eliana de Fátima Rodrigues e Cândida Vilares Gancho, que auxiliam o aporte teórico sobre a análise dos romances. Para alcançar os objetivos do estudo, o trabalho em três capítulos: o primeiro salienta o desenvolvimento da crítica literária no Brasil; no segundo traz uma abordagem detalhada do Prêmio Jabuti, buscando apontar sua história e concepção e identificar seus critérios de escolha dos romances vencedores; e por último, é dado enfoque ao perfil dos autores e romances contemplados em primeira colocação pelo Prêmio Jabuti, na categoria romance, chegando então as considerações finais. Ao se realizar esta investigação, contata-se que, o Prêmio Jabuti possui um cunho conservador, no momento em que dá vazão a narradores e personagens brancos, do sexo masculino, e não abre espaço para autores e também personagens que representem as minorias, como é o caso de negros, indígenas e homossexuais. Desse modo, é possível observar que o Jabuti ainda segue um modelo tradicional de julgamento literário já visto no século XX.
Palavras-chave: Prêmio Jabuti. Crítica Literária. Romance brasileiro. Século XXI.
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ABSTRACT
The Jabuti Award was created in 1958 and it is the most important literary award in Brazil. It aims to contemplate Brazilian authors in different fields of knowledge. When an author wins an award such as Jabuti, it represents recognition both of the work of art and of the author. Due to the importance of this Award and its visibility on the Literature field of study, this work reflects on the Award and the works of art it crowns on the Novel category, from 2000 to 2016. As our main goal, we aim to perform a bibliographic review on the possibilities of the literary criticism that is promoted by Jabuti; also, we want to present a careful description of the Jabuti Award; to identify formal and thematic tendencies on the novels which were awarded from 2000 to 2016; finally, to perform an analysis on the novel’s profile valued by Jabuti’s Award. We developed our bibliographic investigation on the literary criticism and on the literary awards, as well as analysis and interpretation of those literary works which were awarded on the 21st Century. Authors such as Regina Zilberman, Regina Dalcastagnè and Tania Rösing are present on our theoretical-critical background. Regarding to the term criticism, which is present in our first chapter, we used Roberto Acízelo de Souza and Antoine Compagnon thoughts as a welcoming theory on this investigation, yet we can highlight Eliana de Fátima Rodrigues and Cândida Vilares Gancho, who also contribute with theory for the novel’s analysis.In order to achieve our objectives, the work is divided in three chapters: the first brings comments on the development of the literary criticism in Brazil; the second presents a detailed approach of the Jabuti Award, aiming to point out its story and conception, and to identify its criteria of choice of the winner novels; finally, we focus on the authors and on the novels contemplated with Jabuti Award, on the novel category, and then we go to our conclusion remarks. We noted that Jabuti Award has a conservative nature, since it prefers narrators and characters which has white profile, are males, and it does not open space to authors and to characters that represent minorities, such as black people, indigenous people, and neither homosexual people. Concluding, it is possible to observe that Jabuti still has a traditional model of judging literature, which was already seen during the 20th Century. Keywords: Jabuti Award. Literary criticism. Brazilian novel. 21st Century.
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Rol de obras romanescas premiadas de 2000 a 2016...................13
Quadro 2 - Roteiro de análise para os romances premiados em primeira
colocação do Prêmio Jabuti...............................................................................14
Quadro 3 - Número de Obras...........................................................................60
Quadro 4- Pesquisa no Portal da CAPES.........................................................62
Quadro 5 – Idade dos autores..........................................................................65
Quadro 6 - Estrutura dos romances..................................................................76
Quadro 7-Linearidade dos romances................................................................77
Quadro 8 -Linguagem.......................................................................................79
Quadro 9 –Tempo das narrativas.....................................................................81
Quadro 10 -Espaço das narrativas...................................................................82
Quadro 11-Sexo dos personagens principais das dezessete obras.................84
Quadro 12-Classificação dos tipos de narradores............................................92
Quadro 13 -Vozes que os narradores representam..........................................97
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LISTA DOS GRÁFICOS
Gráfico 1 -Naturalidade dos Autores.................................................................63
Gráfico 2- Formação.........................................................................................64
Gráfico 3-Número de premiações adquiridas por cada autor...........................69
Gráfico 4-Concursos Literários mais frequentes...............................................70
Gráfico 5 - Gêneros Literários mais explorados...............................................71
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................................11
1 CRÍTICA LITERÁRIA.....................................................................................17
1.1 Definição, metas e métodos...............................................................19
1.2 Tendências da crítica literária ...........................................................26
1.3 Crítica literária a partir de prêmios....................................................34
2 PRÊMIO JABUTI............................................................................................39
2.1 Proposta e concepção........................................................................42
2.2 Prêmio Jabuti: um instrumento de crítica literária...........................48
3 ROMANCES DO SÉCULO XXI E PRÊMIO JABUTI: DIÁLOGOS E
INTERSECÇÕES...............................................................................................54
3.1 Perfil do Autor.......................................................................................54
3.2 Receptividade das obras do autor perante a crítica literária............68
3.3 Apresentação dos romances...............................................................71
3.4 Estrutura e linguagem dos romances.................................................76
3.5 Cenários: tempo e espaço...................................................................80
3.6 Personagem..........................................................................................84
3.7 Narrador.................................................................................................91
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................99
REFERÊNCIAS...............................................................................................105
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INTRODUÇÃO
Com seu surgimento em 1958, o Prêmio Jabuti consiste no principal prêmio
da literatura brasileira no Brasil com o objetivo de valorizar escritores e obras,
conforme aponta a página principal do site oficial, disponibilizada para acesso
livre em http://premiojabuti.com.br/. É reconhecido por sua grande abrangência,
pois a cada nova edição há mais números de inscritos e sua premiação abarca
diversas áreas do conhecimento (atualmente são 27 categorias analisadas).
Além disso, o autor que tiver sua obra premiada em alguma modalidade e
edição do prêmio é reconhecido tanto dentro como fora do Brasil, assinalando a
importância dessa avaliação enquanto instrumento de valorização literária, como
indica a apresentação do site oficial do Prêmio:
É uma distinção que dá ao seu ganhador muito mais do que uma recompensa financeira. Ganhar o Jabuti representa dar à obra vencedora o lastro da comunidade intelectual brasileira, significa ser admitido em uma seleção de notáveis da literatura nacional. (Fonte: http://premiojabuti.com.br/. Acesso em: 5 abr. 2017)
Os principais fundadores do Prêmio Jabuti foram Edgar Cavalheiro e Mário
da Silva Brito, estudiosos da literatura brasileira que tinham como principal
objetivo premiar escritores, editores, ilustradores, gráficos e livreiros que se
destacassem no decorrer do ano, buscando assim valorizar determinada obra.
A origem do seu nome deu-se por uma homenagem ao escritor Monteiro
Lobato que, assim como Sílvio Romero, Mário de Andrade e Luís Câmara
Cascudo, na época, representavam em suas obras a cultura popular brasileira.
Dentre esses autores foi Monteiro Lobato que recebeu um destaque maior sendo
contemplado ao se colocar o nome de um de seus personagens mais famosos
na identificação no prêmio. O personagem a que se alude é o jabuti, presente na
obra Reinações de Narizinho. Ele possui como características ser vagaroso, mas
ao mesmo tempo esperto e pronto para vencer obstáculos.
Com o passar dos anos, o prêmio sofreu várias alterações. De acordo com
o site do evento, o objetivo principal da CBL (Câmara Brasileira do Livro), que
atualmente promove essa premiação, é o de abranger um número maior de
pessoas, aperfeiçoar o espaço onde essa premiação acontece e ainda agregar
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mais categorias na concorrência, que no início possuía somente sete opções
para que os autores se inscrevessem, sendo elas: literatura, capa e ilustração,
editor, gráfico, livreiro e personalidade literária.
O número de autores interessados em ganhar o Jabuti cresceu
gradativamente nos últimos anos. Isso pode ser explicado por várias razões,
como a importância do prêmio no cenário nacional, a ampliação das categorias
de análise, divididas em obras de ficção e não-ficção, e a premiação que, no
caso da categoria romance, é de trinta e cinco mil reais para o vencedor de
acordo como regulamento da edição de 2016.
Além disso, é preciso considerar a visibilidade que o prêmio dá ao autor e
à obra. Em caso desse reconhecimento, seja como finalista do prêmio ou como
ganhador, é possível se estimular ou se obter uma mudança na carreira de
escritor. Convites para eventos e feiras é uma das consequências que esse
sistema avaliativo pode trazer. Essa notoriedade também não fica restrita ao
contexto brasileiro, pois se estende a projeções de autor e obra no exterior.
Partindo desses pressupostos iniciais que contextualizam a proposta do
Prêmio Jabuti, apresentamos o enfoque desta pesquisa, que consiste em
realizar um estudo de caráter cientifico sobre o Prêmio Jabuti (edições 2000-
2016) no que tange à categoria romance, analisando tendências das obras
premiadas no século XXI.
Para realização do estudo, temos como objetivos: realizar uma revisão
bibliográfica acerca de possibilidades de crítica literária, entre as quais a que o
Prêmio Jabuti promove; apresentar uma descrição pormenorizada do Prêmio
Jabuti, desde sua criação até a atualidade, considerando seus propósitos e
regulamentos, especialmente no que tange à análise das obras inseridas na
categoria romance; identificar tendências formais e temáticas dos romances
premiados no período 2000-2016; a partir da reflexão sobre esses romances,
estabelecer uma análise do perfil romanesco valorizado pelo Prêmio Jabuti.
Para alcance desses objetivos, a pesquisa desenvolve-se através de
pesquisa bibliográfica acerca da crítica literária e das premiações literárias,
assim como de análise e interpretação das obras literárias romanescas
consagradas em primeira colocação pelo Prêmio Jabuti, assim como busca se
identificar quais são as tendências adotadas pelo principal prêmio de literatura
no Brasil.
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O recorte de análise de romances compreende apenas aqueles
contemplados nas edições de 2000 a 2016 do Prêmio, pois nos interessamos
em refletir sobre as relações entre essa literatura recente e sua apreciação
promovida através do Prêmio. Nesse sentido, na tabela a seguir é possível
identificar quais são as obras que obtiveram primeira colocação na categoria
romance, seus autores e editora, bem como o ano em que foram contempladas
com o Prêmio Jabuti.
QUADRO 1 – Rol de obras romanescas premiadas de 2000 a 2016
ANO DA
PREMIAÇÃO
OBRA
AUTOR
EDITORA
2000 A Mulher que escreveu a Bíblia Moacyr Scliar Cia. das Letras
2001 Dois Irmãos Milton Hatoum Cia das Letras
2002 Barco a Seco Rubens Figueiredo Cia das Letras
2003 Dias e Dias Ana Miranda Cia das Letras
2004 Mongólia Bernardo Carvalho Cia das letras
2005 Vozes do Deserto Nélida Piñon Record
2006 Cinzas do Norte Milton Hatoum Cia. Das Letras
2007 Desengano Carlos Nascimento
Silva
Agir
2008 O Filho Eterno CristovãoTezza Editora Record
Ltda
2009 Manual da Paixão Solitária Moacyr Scliar Cia das Letras
2010 Se Eu Fechar Os Olhos Agora Edney Silvestre Record
2011 Ribamar José Castello Bertrand Brasil
2012 Nihonjin Oscar Nakasato FGV Direito
2013 O Mendigo que Sabia de Cor os
Adágios de Erasmo de Rotterdam
Evandro Affonso
Ferreira
Editora Record
2014 Reprodução Bernardo Carvalho Companhia das
Letras
2015 Quarenta Dias Maria Valéria
Rezende
Editora Objetiva
2016 A Resistência Julián Fuks Companhia das
Letras
Para análise das obras, visando a atingir os objetivos propostos, a
pesquisa apresenta cunho quantitativo e qualitativo. A primeira diz respeito ao
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levantamento de dados, ou seja, a partir dos livros analisados consagrados coma
premiação, será possível delinear tendências dos romances premiados, inclusive
com projeções numéricas dos dados. Já a segunda é de cunho bibliográfico, já
que serão discutidos os resultados encontrados no levantamento de dados a
partir da pesquisa quantitativa. A fim de realizar esses dois tipos de pesquisa, o
quadro a seguir mostra o roteiro que deve ser seguido na análise dos romances,
que são objetos de estudo dessa investigação.
QUADRO 2 – Roteiro de análise para os romances premiados em
primeira colocação do Prêmio Jabuti
PERFIL DE AUTOR
1- Qual é o perfil de autores que o prêmio Jabuti contempla quanto a naturalidade, sexo, idade, etnia, formação e atuação profissional.
RECEPCTIVIDADE DAS OBRAS DO AUTOR PERANTE A CRÍTICA
LITERÁRIA
2- Qual é o número de obras publicadas por esse autor?
3- Quantas já obtiveram premiações ou foram classificadas para tal?
4- Se sim, em quais concursos/prêmios?
COMPOSIÇÃO DO ROMANCE
5- Como o romance contempla os elementos da narrativa, levando-se em conta enredo, narrador, personagens, tempo, espaço?
6- É uma composição que respeita a estética tradicional ou propõe alguma inovação?
7- Quais as tendências de estrutura romanesca contempladas nas premiações?
Partindo desses contextos narrativos, o trabalho mostra-se importante pela
necessidade de ampliação de estudos acerca dessas narrativas
contemporâneas, pois um enfoque acerca do conjunto delas ainda não é
encontrado. Assim, é importante a realização desse estudo que abarca um
panorama referente a esses romances, buscando identificar o porquê de cada
uma dessas obras estar em uma posição de destaque, quando pensamos em
um prêmio com um grau elevado de reconhecimento, como é o caso do Jabuti,
Assim, esse trabalho servirá como fonte para posteriores pesquisas.
Além disso, há de se destacar que não existem pesquisas científicas como
a que propomos aqui, contemplando o Prêmio Jabuti, apesar de ele ser
considerado o maior e mais consagrado prêmio da literatura brasileira. Este fator
por si só já justificaria a relevância do estudo.
Ainda é pertinente salientar que, sobre o Prêmio Jabuti, poucas referências
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que podem ser encontradas, como a o site do prêmio, no qual é possível
encontrar apenas o histórico, normas, submissões e depoimentos desse evento,
não havendo comentários críticos sobre os critérios de escolha adotados para
seleção das obras. Dessa forma, o trabalho é necessário por trazer
apontamentos que demonstrem qual é o perfil de livro e de escritores que o
Jabuti tem valorizado no século XXI.
A pesquisa a ser realizada nesse trabalho faz parte da linha de pesquisa
“Literatura, História e Memória”, do Mestrado em Letras da Universidade
Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI, câmpus de Frederico
Westphalen, uma vez que se dedica, de forma geral, a investigar que história
literária está sendo construída pelo prêmio Jabuti no século XXI. Isso aponta
uma perspectiva de se pensar ainda na literatura canonizada sob o viés do
prêmio, que é um importante indicador de juízo de valor para obras literárias.
Para alcançar os objetivos do estudo, o trabalho será dividido em três
capítulos, distribuídos da seguinte forma: o primeiro abordará o desenvolvimento
da crítica literária, desde sua origem até a contemporaneidade, com suas
funções, metas, objetivos e tendências. Esse capítulo servirá como forma de
contextualização das várias vertentes de crítica a que as obras literárias são
submetidas e como forma de mostrar que o prêmio Jabuti também serve como
um instrumento de crítica no momento em que julga e avalia obras literárias.
Autores como Roberto Acízelo de Souza e Antoine Compagnon são utilizados
como aporte principal nessa investigação
No segundo capítulo, haverá uma descrição mais detalhada do prêmio
Jabuti, buscando apontar sua história e concepção e identificar seus critérios de
escolha, principais objetivos, e o seu funcionamento quanto principal prêmio da
literatura brasileira. Além disso, será possível identificar o porquê de essa
premiação ser classificada, durante o trabalho, como um instrumento de crítica
literária. Regina Zilberman, Regina Dalcastagnè e Tania Rösing contemplam o
referencial teórico-crítico sobre essas premiações literárias.
Por último, será dado enfoque ao perfil dos autores e obras contemplados
em primeira colocação pelo prêmio Jabuti, na categoria romance, no período
2000 a 2016. Buscamos identificar nos autores suas formações, níveis de
escolaridade, perfil social e idade e nas obras se possuem os elementos da
narrativa, se respeitam uma estética tradicional ou inovam, ou seja, que
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tendências formais e temáticas esses textos apresentam. Teóricos como Eliana
de Fátima Rodrigues e Cândida Vilares Gancho auxiliam o aporte teórico sobre
a análise desses romances.
Por fim, apresentaremos as considerações finais para salientar os
principais resultados e conclusões da pesquisa.
17
1 CRÍTICA LITERÁRIA
Com sua origem proveniente do grego “kritiketekhne”, o termo crítica,
conforme aponta o Dicionário Houaiss (2010), significa:
1- Arte ou técnica de julgar a obra de um autor, período etc. 2- Conjunto das pessoas que exercem tal atividade. 3-Gênero literário proveniente dessa atividade. 4- Análise; exame; julgamento. 5- Censura; depreciação. (HOUAISS, 2010 p.210).
Como é possível perceber, ambos os significados têm em comum o
julgamento das obras, e em cada área do conhecimento existirá profissionais
capacitados em avaliar e identificar o lado bom e o lado ruim de cada campo,
cometendo assim o ato de criticar. No jornalismo, por exemplo, o jornalista tem
a incumbência de escrever sobre determinado assunto, porém, sem perceber,
acaba se tornando crítico, por se posicionar em relação ao tema exposto.
E na literatura não é diferente. O termo “crítica” passou por várias
modificações com o passar dos anos até chegar na atual contemporaneidade.
Para explicar essas mudanças de significado da palavra crítica, Roberto Acízelo
de Souza (2011), em seu artigo intitulado “Crítica literária: seu percurso e seu
papel na atualidade”, traz um panorama do desenvolvimento de atribuições
dadas a essa palavra, desde seu significado grego até os dias atuais.
Conforme Souza (2011), após ser definida como um termo de origem
grega, a palavra crítica passa para o latim, possuindo como designação um
sujeito que possui habilitação para especular determinados textos. Seguindo
esse panorama, na Idade Média a palavra não aparece mais, e seu significado
passa a ser totalmente diferente do até agora mencionado. Aqui crítica é apenas
um derivado do substantivo crise. É no Renascimento então que a palavra
ressurge com seu significado literário e original, buscando comentar e mostrar o
julgamento de determinada obra.
Nessa época, a crítica era desempenhada por professores e alunos. Como
no exemplo levantado por Souza (2011), o primeiro passo feito pelo mestre e os
alunos era o de constatar que as diversas cópias de determinada obra eram
iguais, em seguida, a partir de uma leitura em voz alta, observavam as
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colocações gramaticais e as belezas que aquela obra apresentava, além de
verificar se ela estava de acordo com os modelos impostos como a tragédia, a
comédia ou a epopeia.
Assim como seu significado, o modo como uma obra é avaliada pela crítica
também se modificou. Essa mudança começou a ocorrer quando autores
resolveram escrever sobre esse assunto, ou seja, resolveram colocar em prática
a crítica. Foi na Europa, em meados do século XVI, XVII que Erasmo de
Rotterdam e Richard Simon utilizaram a crítica em estudos bíblicos. A partir de
suas obras houve mais uma modificação, agora além de avaliar textos escritos,
a crítica também abrangia outras ciências, como a história, o conhecimento, o
gosto, conforme aponta Souza (2011).
No Brasil, um crítico literário que se destacou nos séculos XIX e XX foi
Sílvio Romero, que instigou várias outras inquietações relacionadas à crítica
literária. Conforme aponta José Luís Jobim (2012), em seu artigo “Crítica literária:
questões e perspectivas”, o problema era o fato de o crítico conhecer ou não o
autor da obra que estava sendo avaliada. Esse questionamento se deu pelo fato
de Silvio Romero e Machado de Assis terem questões pessoais mal resolvidas,
assim Romero acabava por criticar a obra de Machado, não sabendo diferenciar
assuntos pessoais de profissionais.
O século XIX ainda foi muito importante para a crítica, pois foi nele que ela
foi instaurada como disciplina, tendo como seu objetivo o de “determinar o
conceito de literatura, a propor princípios e procedimentos visando à análise de
obras literárias e a fixar critérios destinados a aferir a qualidade das produções
literárias”. (SOUZA, 2011, p.06). Conforme afirma Souza (2011), era preciso
haver um conceito de literatura para então colocar em prática a crítica de
determinada obra e avaliar se essa poderia ser considerada boa ou não, de
acordo com os padrões clássicos da época.
A crítica como disciplina não durou muito tempo, pelo fato de precisar
utilizar de um conceito de literatura para julgar determinada obra. Assim a partir
da crítica constituiu-se a teoria da literatura. Conforme aponta Souza(2011) esta
ficou responsável em trazer conceitos de literatura e mostrar critérios para a
análise das obras, enquanto que a crítica utilizava dessas concepções criadas
pela teoria da literatura para julgar se determinada obra apresenta ou não essas
concepções, destacando então se essa obra poderia ser considerada adequada.
19
Em síntese, a crítica literária passou por várias etapas até chegar ao seu
conceito atual. Foi e continua sendo muito importante para a constituição de um
cânone literário.
Desse modo, a fim de discorrer mais detalhadamente sobre a crítica
literária no Brasil, no item a seguir serão apresentados as definições, as metas
e os métodos nos quais a crítica baseia-se para que uma obra seja reconhecida
quanto sua forma, estrutura e conteúdo.
1.1 Definição, metas e métodos
A crítica literária é responsável por avaliar um conjunto de obras que recebe
um valor quanto a sua forma, estrutura, temática e discurso. Essa crítica é
responsável por avaliar determinado texto/obra e dizer se este pertence ou não
ao cânone literário, lembrando que cânone é um princípio de seleção ou
exclusão, que não pode ser desvinculado ao poder. Antoine Compagnon, em
seu livro O demônio da teoria: literatura e senso comum, publicado em 2006,
conceitua o termo crítica literária:
Por crítica literária compreendo um discurso sobre as obras literárias que acentua a experiência da leitura, que descreve, interpreta, avalia o sentido e o efeito que as obras exercem sobre os (bons) leitores, mas sobre leitores não necessariamente cultos nem profissionais. A crítica aprecia, julga; procede por simpatia (ou antipatia), por identificação ou projeção; (COMPAGNON, 2008, p.21-22).
O autor afirma que na crítica literária existem vários critérios de escolha,
deve ser levado em conta quem escreve, o que escreve e para quem escreve,
mas o principal é a maneira como a obra irá chegar ao leitor, sendo ele um leitor
culto e instruído ou não. Assim a crítica literária é responsável em determinar o
valor de um determinado texto, afirmando o porquê uma obra ser considerada
melhor que outra.
Nesse sentido, a fim de discorrer sobre as metas e métodos da crítica
literária, Compagnon (2008) apresenta um capítulo intitulado “História Literária e
Crítica Literária”. Nesse tópico o autor discute sobre as diferenças e
semelhanças entre esses dois conceitos. Primeiro ele afirma que todas as obras
20
são lidas e, sendo, lidas são “julgadas, apreciadas, amadas” (COMPAGNON,
2008, p. 202). Conforme aponta o autor, independente do tipo, forma ou
conteúdo, todas as obras, de alguma forma serão contempladas por um leitor,
sendo ele inato ou não.
Em relação à crítica literária, o autor ainda completa que há uma pequena
confusão no uso dos termos história literária e crítica literária. A primeira diz
respeito ao todo de uma obra, já a segunda remete apenas ao julgamento de
determinado texto. No fragmento a seguir, é possível entender, de maneira clara
essa distinção feita por Compagnon:
Aliás, qual o valor do critério de presença ou de ausência de julgamento para separar crítica e história literária? O historiador, afirma muitas vezes, contata que A deriva de B, enquanto o crítico afirma que A é melhor que B. Na primeira proposição, o julgamento, a opinião, o valor estariam ausentes, ao passo que na segunda o observador estaria envolvido. (COMPAGNON, 2008, p.2002).
Como podemos observar, na história literária o foco está mais pautado em
esclarecer os fatos. O julgamento de valores não é levado em consideração. A
crítica literária precisa constatar a opinião, os valores, o modo como determinada
obra está sendo veiculada e vista pela sociedade que a lê, a fim de, a partir desse
levantamento, julgar essa obra como pertencente ou não a um cânone literário.
Leyla Perrone – Moisés, também traz apontamento sobre esse viés, em
seu livro Altas literaturas: escolha e valor na obra crítica, publicado e 1998, traz
apontamentos acerca da história literária vinculada ao julgamento de valor de
determinada obra. Nesse sentido, a autora afirma que a crítica literária, aqui
denominada julgamento de valor, vem sendo cada vez menos comentada e
questionada. Para ela a história e a crítica são sinônimas uma da outra e devem
andar juntas:
Todos concordam em que a história deve ser crítica, mas a concordância seria bem menor se discutíssemos os valores que devem presidir à crítica. Sendo ponto pacífico que o julgamento de valor é contingente e relativo, os historiadores da literatura julgam sem explicitar critérios, como se reportassem a um consenso acerca de obras maiores e menores. (PERRONE-MOISÉS, 1998, p. 21).
21
Conforme apontado pela autora, discutir a diferença entre história e crítica
não é importante, o que vale é entender quais são os valores e critérios que a
crítica desempenha para qualificar determinada obra. É necessário que haja
mais clareza nos critérios de avaliação das obras, sendo elas literárias ou não,
afim de que seja possível identificar o porquê de uma obra ser considerada com
maior ou menor valor, em relação a outra.
Com base nessas afirmações, é importante saber quais são os critérios
levados em conta quando um crítico analisa uma obra. De acordo com Botelho
e Ferreira (2010), não existe um único método para cada texto ser avaliado,
assim como o mesmo método não serve para todos os tipos de textos, e
acrescenta:
A obra é que determina o método a ser empregado e este deve ser ainda, se necessário, adaptado à obra, para não exigirmos que ela se acomode artificialmente um esquema predeterminado. Caberá ao crítico observar o que predomina ou o que é importante em cada caso, aplicando o método correspondente ou a adaptação desse método. (BOTELHO, FERREIRA, 2010, p.12).
No fragmento os autores deixam clara a importância de se avaliar cada
obra de acordo com as suas particularidades, ou seja, é inadequado generalizar,
assim como cada pessoa tem suas características, na obra literária, essas
características também aparecem, então não deve haver uma “receita pronta”,
mas adequar essa “receita” para cada situação. Assim, a análise ea avaliação
serão feitas de maneira satisfatória, levando em conta o contexto e o modo como
uma determinada obra é escrita.
Desse modo, é através da forma como um crítico analisa determinada obra
que irá interferir no seu reconhecimento, pois a partir da sua avaliação, será
criado um painel crítico literário sobre aquela escrita. Esse painel só é possível
pelo fato de existir uma obra anteriormente, conforme acentua Botelho e Ferreira
(2010). Ou seja, para haver a crítica, é fundamental que exista algo para ser
criticado, avaliado, então crítica e produção estão juntas, uma dependendo da
outra.
Nesse sentido, Jaime Ginzburg (2008) também traz ponderações sobre o
juízo de valor de uma obra. Em seu texto “O valor estético: entre universalidade
e exclusão”, afirma que o motivo que sustenta o valor estético de uma obra não
22
é o estranhamento ou o choque que ela causa, porque há uma procura na
literatura, assim como na música e no cinema, do alívio de um sofrimento. A
valorização, nessa perspectiva, não está atrelada à obra em si, mas o efeito que
ela traz ao leitor, deslocando o valor para a recepção e não para a produção.
Ainda nesse sentido, o valor varia de acordo com o entendimento e com o nível
de instrução de quem lê.
Desse modo, em uma primeira constatação, o pesquisador sugere que os
livros mais procurados são os best-sellers cujo “valor” literário nem sempre é
apreciado pela academia, mas seria uma espécie de valor dada pelo público que,
nesse tipo de obra, encontra a distração e o esperado “alívio” para cenas
dolorosas.
Mas quais são esses critérios ou métodos levantados pelo crítico literário
na avaliação de uma obra? Cada crítico irá desempenhar um tipo de análise.
Adriana da Costa Teles (s.d), em seu ensaio intitulado “Reflexões sobre o
percurso da crítica literária no Brasil do século XX”, utiliza da obra Memorial de
Aires, de Machado de Assis, para exemplificar aspectos que alguns críticos
utilizaram na análise dessa narrativa. Após apresentar uma análise da obra
machadiana, ela conclui que o principal critério de avaliação utilizada pelos
críticos literários é a relação entre vida e obra do autor, ou seja, para avaliar uma
obra, o crítico precisa procurar saber mais sobre a vida do autor, tentando
identificar se a obra não dialoga com o cotidiano de quem a escreveu.
Em outra perspectiva encontramos as ponderações de Botelho e Ferreira
(2010). Para elas, em uma crítica, deve haver uma preocupação com os
aspectos estruturais de cada obra, como esta chega até o público, seu autor, seu
contexto social e histórico. Nesse sentido, vários são os critérios que devem ser
levados em conta, pois a obra irá ser mais conhecida e receber seu prestígio
conforme o modo como o crítico a ver, por isso a importância de uma análise
séria e precisa.
Souza (2011) também discorre sobre os critérios de avaliação que um
crítico deve levar em conta na análise de uma obra. Para ele, a linguagem que
o autor utiliza em sua obra é fundamental para compor o enredo de sua narrativa
e acrescenta: “Uma obra literária se define não pelo que diz, mas pelo modo de
dizer; um poema não é expressão nem pensamento, mas um arranjo de
palavras”; (SOUZA, 2011, p.34). Como é possível perceber, o autor afirma ser a
23
linguagem o objeto central na análise de um texto, pois a partir dela será possível
perceber o que a obra quer passar para o leitor, e ainda o modo como o escritor
fez uso dessa linguagem para representar sua história.
Os critérios de avaliação elencados pelos autores acima precisam ser
levados em conta quando um crítico literário quer fazer a análise de uma obra.
Nesse julgamento, os critérios não devem aparecer isolados, pois todas as obras
possuem autores, aspectos estruturais, um público-alvo e uma linguagem.
Desse modo, o crítico precisa levar em conta todos esses itens para então
conseguir fazer uma análise coerente.
Mas quem são essas pessoas capacitadas em fazer a crítica de uma obra?
Como já fora mencionado anteriormente, a crítica pode acontecer em várias
outras áreas do conhecimento. Por exemplo, nas artes plásticas existem
pessoas capacitadas em julgar determinada obra, ou seja, em cada área do
conhecimento haverá pessoas/críticos que terão a incumbência de dizer se
determinada obra serve ou não como referência literária, assim como se está de
acordo com determinados critérios de qualidade estética.
Na literatura é esse um processo comum. As pessoas responsáveis por
fazer a crítica são, de acordo com Botelho e Ferreira (2010), estudiosos da área
de letras, que devem analisar, julgar e criticar todas as produções literárias desde
a antiguidade até os dias atuais. Então, trabalhos acadêmicos, artigos, resenhas,
análises são considerados objetos críticos, pois de alguma forma julgam
determinada obra literária, variando em aprofundamento e consistência.
A partir desses trabalhos vai se formando um cânone literário. Esse termo
tem origem do grego “kanon”, uma espécie de vara de medir, e possui sentido
de “norma” ou “lei”. É um princípio de seleção, que necessariamente é regida
pelo processo de exclusão e não pode ser desvinculada do poder; além disso,
aqueles que selecionam ou excluem são autoridades, que escolhem partindo de
seus interesses. Conforme pontua Roberto Reis (1992) em seu texto intitulado
“Cânone”:
Existe um processo de escolha e exclusão operando na canonização de escritores e obras. O cânon está a serviço dos mais poderosos, estabelecendo hierarquias rígidas no todo social e funcionando como uma ferramenta de dominação. (REIS, 1992, p. 73).
24
Esse processo de escolha salientado por Reis (1992) consiste em uma
seleção de livros considerados clássicos. A partir da noção de cânone, é possível
dizer se determinada obra pode ser considerada canônica ou não. Além disso,
será possível classificar uma obra como canônica a partir do contexto em que
ela está inserida e de critérios, nem sempre claros ao leitor, para definição do
que pode ser incluído no cânone.
Quando se forma um cânone, as obras que o integram são analisadas
positivamente com base em critérios nem sempre claros e acabam de alguma
forma abrangendo um número maior de leitores, já que são confirmadas por
autoridades como válidas para leitura, e tendo, assim, maior visibilidade.
Além dos convencionais trabalhos acadêmicos, que geralmente são
publicados em anais e actas eventos ou revistas especializadas, atualmente
muitos estudiosos utilizam-se de ferramentas online para exporem suas análises
críticas acerca de determinado assunto ou de uma determinada obra. Exemplo
disso são os blogs, que consistem em um site onde o seu administrador pode
postar comentários, vídeos, textos, imagens sobre uma ou várias obras literárias,
fazendo com que todas as pessoas possam acessar de forma gratuita e
conhecer sua análise.
Os chamados canais literários também vêm surgindo para facilitar a
pesquisa, embora não necessariamente de estudiosos de literatura. Essa
ferramenta é muito similar a um programa de TV, já que materiais são postados
em dias e horários indicados ao público e há uma preocupação com a sequência
da narrativa audiovisual. Essa alternativa traz benefícios no sentido de expor
comentários críticos, apesar de muitos canais não terem como propósito uma
leitura aprofundada das obras “resenhadas”, e de oportunizar abordagem
consistente sobre a literatura em geral e obras canônicas ou não. Em geral, são
postagem que exploram o humor para resumir conteúdos de obras literárias e/ou
de autores.
Por outro lado, também traz malefícios, pois nem sempre os conteúdos
depositados nesses canais são confiáveis. De acordo com Jeffman (2015) essa
categoria também recebe o nome de booktubere é produzida geralmente no
quarto dos vlogueiros, consistindo em uma apresentação divertida com o
objetivo de expor uma opinião sobre determinada obra e não uma análise mais
precisa.
25
Desse modo, é possível que as pessoas expõem o que pensam sobre
determinado assunto através de uma produção audiovisual que não necessita
de processos profissionais de edição, fazendo assim, que essa ferramenta
venha ganhando um grande espaço no meio acadêmico e já servindo como fonte
de pesquisa para estudiosos.
Em meio a esse vasto número e formas de se fazer e publicar crítica, ainda
existem autores que servem como base para esses estudos. Esses autores
constroem teorias e estas são alicerces para pesquisas. Dessa forma, são
considerados críticos, pois suas produções servem como fonte principal para
que o acadêmico, por exemplo, o leia para seguir suas afirmações como
referência de pesquisa e assim construa sua crítica sobre determinada obra. De
acordo com Botelho e Ferreira (2010) nesse meio de teóricos importantes
destacam-se Jean-Paul Sartre, Roland Barthes, Maurice Blanchot e Julie Graco.
Cada um desses críticos formula suas teorias de maneira diferente. Sartre
se preocupa com o modo como determinada obra irá se adentrar na consciência
do leitor, já Barthes vê a crítica como uma forma de literatura, Blanchot tem a
literatura como um drama antológico e por fim Graco acredita que um crítico deve
se desvincular das ciências humanas. Esses autores são denominados críticos
e quem os lê e usam-nos como referência em seus trabalhos estão utilizando de
uma crítica já feita para construir algo a partir dos conceitos já impostos por
esses sujeitos. Esses conceitos servem como uma base sólida para pesquisas
e escritas posteriores.
Nesse sentido, a crítica literária serve como uma maneira de
reconhecimento das obras, pois quanto mais o livro for estudado e apreciado
mais ele chamará a atenção dos leitores. O crítico é quem vai definir se uma
obra é boa ou ruim, desse modo é preciso que a análise seja feita de maneira
eficiente, levando em conta critérios claros de análise.
Enfim, a análise da obra dependerá também do conhecimento de quem a
julgar, se este profissional conhece as técnicas, tendências e métodos para fazer
um julgamento sério e preciso. Desse modo, a fim de entender um pouco mais
sobre a crítica literária no Brasil mais especificamente, a seção a seguir será
destinada para algumas tendências da crítica literária, ou seja, por qual viés cada
obra pode ser avaliada no momento de seu julgamento.
26
1.2 Tendências da crítica literária
No contexto da crítica literária brasileira, encontramos diversas tendências
que consistem em determinar como cada texto deve ser analisado e a partir de
qual viés a obra pode ser trabalhada. Sônia Ramalho Farias, em seu trabalho
“Tendências da Crítica Literária Contemporânea: Um Esboço”, aponta as
principais tendências da contemporaneidade, sendo elas: a crítica biográfica, a
crítica determinista e a evolucionista.
Em relação à crítica biográfica, criada originalmente por Sainte Beuve
(1804-1869), Farias (2009) afirma que nessa tendência busca-se explicar a obra
a partir da vida do seu autor, ou seja, obra, autor e vida precisam andar juntos
no momento de uma análise. O crítico que for julgar determinada obra, sob esse
viés, precisa levar em conta essas três facetas, o que significa fazer uso de
exemplos de vida pessoal dos autores para análise dos textos literários. Desse
modo, a partir dos conceitos dessa tendência será possível identificar se a obra
possui relação com a vida do seu autor.
Nesse contexto da crítica biográfica, Eneida Maria de Souza, em seu livro
Crítica Cult, propõe vários ensaios sobre a crítica e em um deles, intitulado
“Notas sobre a crítica biográfica”, afirma que se trata de uma tendência que alia
fato e ficção:
A crítica biográfica, por natureza compósita, englobando a relação complexa entre obra e autor, possibilita a interpretação da literatura além de seus limites intrínsecos e exclusivos, por meio da construção de pontes metafóricas entre o fato e a ficção. (SOUZA, 2007, p. 105).
Conforme aponta a autora, a principal função da crítica biográfica é o de
relacionar vida e obra do autor, além disso, é possível, nos estudos críticos que
fazem uso dessa tendência, encontrar um misto entre realidade e ficção, pois se
acredita que o autor, para composição literária, utiliza fatos reais da sua vida
pessoal e fatos ficcionais, criando, assim, uma terceira história, a que está na
obra.
Nesse mesmo viés, mas como um nome um pouco diferente, encontramos
a crítica Histórico-Biográfica, designada por Guerin, Labor e Morgan (1972)
como um reflexo da vida e época do autor. Nesse sentido, a exegese de uma
27
obra estaria pautada na representação da realidade da época, ou seja, o
poeta/escritor aqui tem a função de escrever em suas obras o retrato da
sociedade. Esses escritores, desse modo, tornam-se fontes para a história, pois
seus escritos no futuro servem de fonte para pesquisas sobre o passado. Essa
é a concepção que embasa a crítica dessa vertente.
Em relação à crítica determinista, Farias (2009) afirma que nela é possível
aplicar métodos das ciências naturais à literatura. Criada por Hipólito Taine
(1828-1893), trata-se de um conceito filosófico que acredita que tudo já está pré-
determinado, todos os acontecimentos acontecem devido a uma determinação
que vem de dentro da pessoa. Nessa corrente, acredita-se que o amanhã
dependerá do hoje, ou seja, aquilo que está previsto para acontecer certamente
acontecerá.
Carolina Laurenti, em seu trabalho “Determinismo, probabilidade e análise
do comportamento”, publicado em 2008, também traz apontamentos acerca da
crítica determinista, afirmando que nessa crítica o comportamento humano é
totalmente determinado. Para ela “criticar o determinismo seria o mesmo que
duvidar da possibilidade de tratamento científico do comportamento”
(LAURENTI, 2008, p. 01).
A terceira tendência, conforme aponta Farias (2009), é a evolucionista,
representada por Ferdinando Brunetière (1849-1907), diz respeito às
transformações dos gêneros literários. Ou seja, preocupa-se com o modo como
cada gênero literário foi adquirindo seu espaço. E pontua:
cabe ao evolucionismo justificar as transformações dos gêneros literários, tendo como modelo a teoria darwinista da evolução das espécies. Com base nela, o crítico ressalta o “fator individualidade”, acionado para justificar a ação do gênio autoral, cujas qualidades específicas o distinguiriam entre os de sua espécie, tornando-o, assim, responsável pela evolução literária (FARIAS, 2009, p. 236-237).
De acordo com o fragmento, nessa vertente utiliza-se o modelo darwinista
para analisar as obras. Esse modelo consiste em identificar uma evolução em
que as pessoas, com o passar dos tempos, adéquam-se a determinado ambiente
e tendem a evoluir. Nesse sentido, o crítico vai identificar o porquê de
determinada obra ser diferente, considerada melhor que outra, desse modo irá
despertar o “fator individualidade” do autor, o qual será levado em conta pela
28
grandeza da sua narrativa e possibilita torná-lo melhor entre os demais. Nessa
ótica, esse tipo de crítica acredita que o escritor seja motivado a continuar
produzindo e apresentar uma evolução em sua produção.
Muitas são as tendências importantes na análise de uma obra literária,
nesse sentido, Guerin, Labor e Morgan, além de conceituar a crítica histórico-
biográfica conforme fora mencionado acima, trazem ainda uma abordagem
sobre outras duas vertentes de análise: a Crítica Textual-Linguística e a Moral-
Filosófica.
Em relação à Textual-Linguística, esta centra-se na “autenticidade do texto
e no significado correto das palavras em seu contexto histórico” (GUERIN,
LABOR, MORGAN,1972, p.03). Nessa perspectiva analítica, seus principais
contribuintes foram W.W Greg e A, W. Pollard, havendo uma preocupação em
identificar o uso de figuras de linguagens, palavras mais rebuscadas que servem
para dar ênfase à ideia que o autor quer expor. Metáforas e onomatopeias são
exemplos de figuras de linguagem que aparecem com bastante frequência nesse
tipo de análise literária.
Essa crítica também é conceituada por César Nardelli Cambraia (2005)
que, para defini-la, utiliza-se da velha brincadeira do telefone sem fio. Para ele
assim como as palavras se distorcem até chegar no último participante, o mesmo
acontece com o texto. A cada nova cópia, o texto irá sendo mudado, e dessa
forma sua escrita de origem irá aos poucos sofrendo alterações no resultado
final, assim como na brincadeira, que, ao final, a palavra ou frase não possui o
mesmo sentido.
Assim, entende-se que a principal característica da crítica textual,
levantada por Cambraia, diz respeito à identificação das mudanças que ocorrem
nos significados que se atribuem aos textos. Desse modo, o crítico que for
analisar determinada obra terá que antes de tudo ver as publicações anteriores
para então identificar se a em análise possui o mesmo significado geral que o
autor buscou mostrar.
A próxima tendência crítica é a Moral-Filosófica, que possui como um dos
principais comentaristas Dr. Samuel Johnson, (1960-1800). Essa tendência diz
respeito à moralidade, conforme aponta Guerin, Labor e Morgan (1972). Essa
moralidade se dá, na maioria dos casos, através da religiosidade ou da filosofia.
Conforme aponta o autor,
29
O crítico que emprega a abordagem moral-filosófica insiste em determinar e declarar o que é ensinado. Se a obra for importante ou inteligível em qualquer grau, o seu significado estará ali contido. (GUERIN, LABOR, MORGAN, 1972, p. 07).
O escritor que for fazer uso dessa crítica não deve abandonar fatores
estruturais, linguísticos e até mesmo estéticos da obra, mas precisa tratá-los
como secundários e dar uma ênfase maior ao ensino moral e filosófico que ela
proporciona. A importância de uma obra está ligada, nessa perspectiva, ao
ensino que um texto pode trazer.
Essas distintas formas de análise crítica ainda são mais diversificadas.
Jean –Yves Tadié, em seu livro A Crítica Literária no Século XX, também traça
um panorama sobre as tendências da crítica consideradas por ele importantes.
Para o pesquisador, são relevantes estas abordagens: o Formalismo Russo, o
primeiro a ser nomeado, seguido pela Crítica Alemã, a Crítica da Consciência, a
Crítica do Imaginário, a Crítica Psicanalítica, a Sociologia da Literatura e
finalmente a Crítica Genética.
O Formalismo Russo surgiu durante a primeira Guerra Mundial e foi
interrompido pela ditadura em 1930, seu conhecimento deu-se através de
críticos como Viktor Chklovsku, Roman Jakobson, essa tendência consiste no
estudo da linguagem poética com foco na realidade do texto enquanto
linguagem, não dando ênfase para elementos exteriores (como fazem as críticas
pautadas na biográfica do autor, na filosofia, na psicologia, por exemplo).
Conforme aponta Tadié (1992):
Logo, os Formalistas rompem (sob a condição de se deparar com o problema mais tarde) com a História e orientam seus estudos no sentido da linguística, na medida em que ela é uma ciência que se estende até a poética, em que confronta a língua poética cotidiana. (TADIÉ, 1992, p. 19).
Conforme é possível visualizar no fragmento, há no Formalismo Russo
apenas a preocupação com a forma do texto, sua poética e não com o conteúdo
que uma determinada obra pode apresentar.
30
Terry Eagleton, em seu texto Teoria da literatura: uma introdução, logo no
primeiro capítulo do livro traz alguns apontamentos sobre o Formalismo Russo,
levantando pontos positivos e negativos acerca dessa tendência. Para ele, como
ponto negativo, os Formalistas apenas transferiram a atenção para a realidade
material do texto literário, afirmando que o conteúdo não apresentava valor,
somente forma. Já como pontos positivos, Eagleton (2006) aponta que os
Formalistas livraram a literatura de elementos exteriores como a filosofia e a
psicologia, além disso consideravam a literatura como uma forma “especial” de
linguagem.
Seguindo as correntes destacadas por Tadié (1992), encontramos a crítica
alemã, com sua origem em 1915, surgida após o Formalismo Russo. Ela é
caracterizada “por seu método e espírito de síntese” (TADIÉ, 1992, p. 47),
renovando o panorama dos estudos literários da época. Um grande nome no que
diz respeito a essa crítica é Frederic Gundolf, que acredita ser no pensamento,
na vida e na língua o material para a análise.
Eglê Pereira da Silva também destaca, em seu artigo “A crítica literária no
século XX – a filologia românica de Friedrich Gundolf”, alguns itens importantes
levantados por Gundolf que precisam ser levados em conta no momento de uma
análise sob o viés da crítica alemã. Conforme aponta Silva (2016), a biografia é
considerada insuficiente para análise de uma obra de arte; o artista surge quando
segue os seus princípios; a escrita literária consiste em um momento de
passagem, do real para o imaginário; e ainda a obra não pode ser confundida
como uma confissão do autor, o seja, o que está escrito ali pode apenas ser algo
fictício.
Essas teorias levantadas por Tadié (1992) são importantes por ajudarem o
leitor a identificar qual tendência pode servir de fonte inspiradora para construção
de uma crítica literária. Nessa perspectiva, há a possibilidade de se explorar a
Crítica da Consciência. Diferente das duas escolas anteriores que se
preocupavam com as formas das obras, estase interessa pelo assunto criador
da obra.
O primeiro idealizador dessa escola foi Marcel Raymond, cuja preocupação
era com o conteúdo do texto e não com a forma como esse foi escrito. Havia
uma preocupação com o autor, quais foram os métodos usados por ele no
momento da escrita, conforme aponta Tadié (1992).
31
Outro autor que também tece comentários sobre a Crítica da Consciência
é Joseph Jurt (2004), que afirma haver nessa tendência um novo tipo de
abordagem literária. A preocupação de todos os críticos idealizadores é a
temática trazida pelo texto:
Em Raymond, é o sentimento da existência como uma forma de consciência de si; em Starobinski, a relação de compreensão da consciência do outro; em Jean Rousset, a relação entre forma literária e vida do espírito; em Georges Poulet, as categorias da consciência: espaço, tempo, quantidade, causa. (JURT, 2004, p. 01).
Essa tendência foi caracterizada como diferente das demais, pois seu
foco não era os elementos técnicos do texto, mas, sim, o autor e o sentido que
aquela técnica ocasionaria no significado total do texto. Ou seja, assim como as
demais tendências, assume critérios de análise distintos e precisos.
Outra tendência importante é a Crítica do Imaginário. Seu principal nome é
o francês Gaston Bachelard, para quem a matéria do texto é o principal objeto
de estudo. Por volta de 1970, Bachelard criou uma “nova crítica”, pautada na
força psíquica da linguagem, ou seja, nas emoções que a utilização de
determinadas palavras podem passar para o leitor. Além disso, Bachelard
acreditava que a imagem que o texto quer passar não passava de algo irreal e
de um modelo padrão, não havia uma reprodução da realidade, conforme aponta
Tadié (1992).
Nesse contexto da Crítica do Imaginário, Aguiar et al. (s.d) trazem
afirmações sobre essa tendência criada por Gaston Bachelard. Para ele o
francês utilizou-se de quatro elementos para compor sua escola: água, ar, terra
e fogo. A água representa em alguns momentos como um elemento de misturas
e em outros como sinônimo de pureza. O ar tem relação com o movimento. A
terra diferente dos outros elementos quer dizer a resistência e o fogo é
estimulante, mas ao mesmo tempo é caracterizado como destruidor. Assim a
partir desses quatro elementos, Bachelard fundamentou sua perspectiva crítica.
A próxima tendência a ser apresentada é a Crítica Psicanalítica, textos de
Anne Clancier e Max Milner, por exemplo, fundam essa vertente crítica. De
acordo com Tadié (1992), ela provém da psicanálise para analisar as obras, ou
seja, é um modo de interpretação que traz as contribuições da psicanálise para
compreender como se constituem determinados elementos de um texto literário.
32
Para melhor entender essa tendência, Adalberto de Oliveira Souza escreve
um capítulo intitulado “Crítica Psicanalítica”, afirmando ser essa vertente não
uma prática literária, mas uma metodologia terapêutica. Além disso, “Tem,
contudo, um relacionamento complexo com as práticas de leitura e de escrita e
com os pressupostos que se faz sobre o porquê de as pessoas escreverem e
como os textos afetam os leitores (SOUZA, 2005, p. 205). Desse modo, assim
como na medicina, aqui na literatura o foco dessa crítica é a interpretação, porém
aqui das palavras.
Seguindo as tendências elencadas por Tadié (1992), encontramos a
Sociologia da literatura, estudiosos como Madame de Stael e Taine estabelecem
princípios para essa corrente, que, de acordo com o autor, busca estabelecer
relações entre a sociedade e a obra literária. Para ele a sociedade existe antes
da obra, pois o escritor baseia-se nela para produzir suas narrativas e poemas e
também existe depois da obra, pois de algum modo é representada nas
entrelinhas escritas.
Desde a década de 1930 que a crítica sociológica se faz presente na
literatura. Guerin, Labor e Morgan (1972) também caracterizam essa crítica,
afirmando ser uma projeção da história social, desse modo quem for analisar
uma obra, baseando-se no método sociológico, deverá verificar como a
sociedade ou a história social está ali representada.
Nesse sentido, podemos identificar na linha sociológica três tendências que
também são importantes no momento da análise: a crítica marxista, a crítica
feminista e a pós-colonial. A crítica Marxista surge a partir de um pensamento
comum entre Karl Marx e Friederich Engels que veem na literatura um produto
da história. Terry Eagleton (1976), em sua obra Marxismo e Crítica Literária,
afirma que o objetivo dessa corrente é analisar as formas, o estilo e o sentido da
obra literária a partir da história, ou seja, a história deve estar altamente marcada
em uma obra que segue o padrão marxista.
Outro autor que também conceitua essa corrente é Tiago Martins que, em
seu trabalho intitulado “Marxismo Ocidental e teorias dialéticas da literatura”,
pontua que a principal característica dessa corrente é a de levar em
consideração as questões históricas da obra. Nessa vertente, o crítico precisa
se basear nos contextos em que os autores estão inseridos para então avaliar
suas obras.
33
Outra tendência muito importante é a feminista. Com seu surgimento por
volta da metade do século XX, a crítica feminista surge a partir de um anseio
entre estudiosos para identificar qual é o papel da mulher na sociedade e
principalmente como essa mulher vem sendo representada nas obras literárias,
por exemplo. De acordo com Zinani (s.d) esse estudo busca desconstruir
processos ideológicos tradicionais, discutir a questão da identidade de gênero,
tendo em vista que o modo de leitura pode ser facultativo no momento da
interpretação.
A crítica feminista mesmo consolidada ainda encontra dificuldades em se
manter no meio acadêmico, conforme aponta Wiechmann (s.d) ao dizer que o
estudo dessa tendência não é somente o de estabelecer diálogos entre as
produções femininas, mas principalmente o de manter-se nesse campo em
busca de redescobertas literárias que antes não eram bem vistas pela crítica.
E, por último, a crítica pós-colonial, com seu nascimento por volta de 1970,
consiste em uma tendência que se consolida em países colonizados. Nas
narrativas pós-colonialistas os sujeitos vivem em contrapondo, suas identidades
são móveis, mal resolvidas, conforme aponta Stuart Hall (2005), em seu livro A
identidade cultural na pós-modernidade, as velhas identidades estão
desaparecendo e dando espaço para um indivíduo com uma identidade mais
moderna que de certa forma explicita a dualidade entre o que era o povo antes
do colonizar e o que se tem transformado depois do processo histórico de
colonização. Essas pessoas são denominadas sujeitos pós-modernos, por não
possuírem uma identidade fixa e permanente. “O sujeito assume identidades
diferentes em diferentes momentos” (HALL, 2005, p. 13).
Além disso, obras literárias ainda são lidas a partir de uma outra
possibilidade: a do jornalismo literário. Com seu surgimento no Brasil em meados
do século XX, tem como precursores estudiosos como Balzac, Victor Hugo,
Stendhal. Essa tendência busca a união entre o texto jornalístico e o literário. De
acordo com Pena (2006), no jornalismo literário há uma preocupação em
contextualizar as informações de uma forma abrangente, ou seja, diferente do
jornalismo que a escrita precisa ser “enxuta”. Há a necessidade de uma
linguagem mais rebuscada e o escritor precisa ultrapassar os conteúdos do
cotidiano, proporcionando uma reflexão fundamentada a ser partilhada com o
leitor.
34
Como podemos perceber, cada uma dessas vertentes críticas traz suas
contribuições sobre os aspectos considerados importantes no momento do
julgamento de uma obra. Através delas é possível identificar o perfil da obra e
os aspectos estruturais, temáticos, formais que a constituem. Servem, assim,
como ponto de referência para apreciação crítica de uma dada obra literária.
Além de conceituar muitas das críticas esboçadas anteriormente, Guerin,
Labor e Morgan (1972) ainda afirmam que essas abordagens nem sempre são
totalmente úteis, pois um determinado texto analítico pode conter mais de um
método, cabendo assim ao crítico identificar quais deles precisa fazer uso no
momento de sua análise.
No contexto de julgamentos críticos, podemos ainda pensar em uma outra
possibilidade: a das premiações literárias. Então, o próximo tópico irá tratar de
como os prêmios literários são vistos perante a crítica, nesse caso, a brasileira,
além de identificar as principais premiações literárias, considerando o contexto
do Brasil.
1.3 Crítica literária a partir de prêmios
Os prêmios literários no Brasil surgiram por volta de 1909, primeiro com
concursos voltados para o julgamento de peças teatrais, depois esses tipos de
eventos foram sendo moldados e aos poucos foram surgindo prêmios mais
específicos, voltados também para obras literárias. Tania Rösing (2016), em seu
capítulo de livro intitulado “Produção literária contemporânea: divulgação,
premiações, recepção entre leitores e leitores em formação”, afirma que vários
são os modos para se valorizar os escritores ganhadores dos prêmios, mas o
mais comum, nesse caso, é um valor financeiro ou até mesmo uma bolsa de
estudos no próprio país ou fora dele.
Desse modo, essas premiações têm como objetivo valorizar uma obra a
partir da forma com que esta foi escrita, sua estrutura, tema, personagens,
enredo e outros elementos que possibilitem todas as qualidades presentes num
determinado texto para então julgá-lo. Para Rösing (2016) ainda é importante
nessa análise verificar se a obra possui importância regional, nacional ou até
internacional.
Ganhar um prêmio literário é sinônimo de reconhecimento por parte do seu
35
autor, uma forma de divulgação da obra, pelo fato de esses prêmios possuírem
uma grande abrangência tanto dentro como fora do Brasil. Além disso, é
possível conseguir um bom lucro financeiro com uma obra premiada através da
premiação adquirida.
Atualmente, muitos são os prêmios literários no Brasil, conforme aponta a
página oficial da Academia Brasileira de Letras, uma das principais instituições
que organiza esse tipo de avaliação: Prêmio Machado de Assis, Prêmio ABL de
Poesia, o Prêmio ABL de Ficção, o Prêmio ABL de Ensaio, Prêmio ABL de
Literatura Infanto-juvenil. Além disso, podem ser destacados ainda: o Prêmio
Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura, Prêmio São Paulo de Literatura,
Prêmio Oceanos, Prêmio Camões, Prêmio Literário Biblioteca Nacional e o
Prêmio Jabuti.
O Prêmio Machado de Assis foi criado em 1941e consiste em uma
premiação da Academia Brasileira de Letras para autores brasileiros ainda em
vida. Conforme aponta o site G1, em junho de 2016, o prêmio sofreu algumas
alterações. Primeiro existiam mais de um ganhador, o principal que recebia uma
quantia de R$ 100 mil e os demais que recebiam premiações especificas, como:
o Prêmio ABL de Poesia, o Prêmio ABL de Ficção, o Prêmio ABL de Ensaio,
Prêmio ABL de Literatura Infanto-juvenil. Esses ganhavam o valor de R$ 50 mil
cada. Com as mudanças apenas o ganhador principal irá receber R$ 300 mil, e
um diploma correspondente com a premiação.
A partir dessas reformulações, haverá agora apenas o prêmio Machado de
Assis, com um único ganhador. Nesse novo molde, o primeiro a ser contemplado
foi Ignácio de Loyola Brandão pelo conjunto de sua obra, conforme aponta a ABL
em sua página principal. Além disso, sobre esse novo formato de prêmio,
Domício Proença Filho, atual presidente da ABL, acrescentou ao término da
votação que elegeu Brandão que “A reformulação que resultou na concessão de
um único prêmio, com o nome de Machado de Assis, objetiva conceder à láurea
maior representatividade e relevância”. (ABL, 2016). Dessa forma, com essas
mudanças, buscam-se um maior número de procura e ainda mostrar o quão
importante e significativo pode ser essa premiação.
Em outro molde totalmente diferente do prêmio Machado de Assis,
encontramos o prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon Literatura, sugerido pelos
escritores Ziraldo e Moacyr Scliar ao então prefeito de Passo Fundo, Júlio César
36
Teixeira no ano de 1997 quando se deu o início de todo processo. Essa
premiação partiu de uma parceria entre as Jornadas Literárias, realizadas
anualmente em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul desde 1981 pela
Universidade de Passo Fundo, com a prefeitura Municipal.
Assim como o Prêmio Machado de Assis, aqui também a premiação Passo
Fundo Zaffari & Bourbon Literatura passou por algumas alterações. Conforme
aponta Rösing (2016), foi em 2007 que o prêmio passou a abranger todos os
autores de países de língua portuguesa, ou seja, além do Brasil, Portugal e
Moçambique, por exemplo, também podem participar. Outra mudança é a
ampliação no valor que de R$ 100 mil para R$ 150 mil a ser entregue ao escritor
do melhor romance publicado em língua portuguesa.
Com um caráter mais especifico ainda, em relação aos prêmios
encontramos o Prêmio São Paulo de Literatura. Criado em 2008, trata-se de uma
premiação que possui como principal apoiador a Secretaria de Estado da Cultura
de São Paulo. De acordo com a página do evento, o objetivo do prêmio é
“estimular a produção e a divulgação literária brasileira, premiando anualmente
autores e obras que se destacam pela qualidade e contribuição à literatura de
nosso país”. (Prêmio São Paulo de Literatura, 2016).
Nesse prêmio, concorrem romances de ficção, distribuídos em três
categorias: melhor livro do ano; autores estreantes com até 40 anos; autores
estreantes com mais de 40 anos. Sua premiação, conforme aponta o site do
prêmio, é uma das melhores de todo o país, pois divide nas três categorias R$
400 mil, sendo destinados para o primeiro colocado R$ 200 mil e para os outros
dois R$ 100 mil cada um. Desse modo, é bastante procurado pelo fato de
oferecer, além de um bom prestígio, um bom retorno financeiro.
Em outra perspectiva, deparamo-nos com o Oceanos - Prêmio de Literatura
em Língua Portuguesa, cujo nome até 2014 era Prêmio Portugal Telecom de
Literatura, o qual fora criado em 2003 com o objetivo de divulgar obras brasileiras
e obras publicadas em países de língua portuguesa. Atualmente, a premiação
também conta com a parceria do Instituto Itaú Cultural. Em 2016, conforme
informações da página do prêmio, foram contemplados livros de criação literária
em língua portuguesa, cujos gêneros são: poesia, romance, conto, crônica e
dramaturgia.
Assim como os demais lauréis, a premiação é considerada de alto valor
37
financeiro e atinge quatro colocados. O primeiro lugar fatura R$ 100 mil; o
segundo R$ 60 mil; o terceiro R$ 40 mil; e o quarto R$ 30 mil. Comparando esse
valor com os já nomeados anteriormente, é possível perceber que em relação
aos outros concursos, nesse encontramos o menor valor financeiro concedido
aos vencedores.
Outro prêmio que merece destaque é o Prêmio Camões, que consiste em
uma premiação criada pelo governo brasileiro juntamente com o de Portugal em
1988. De acordo com o site da Biblioteca Nacional, o prêmio busca contemplar
autores que de alguma forma contribuíram para o fortalecimento da língua
portuguesa.
Por se tratar de um prêmio em parceria entre Brasil e Portugal, a equipe de
jurados que avaliam as obras a serem contempladas também é dividida entre
portugueses e brasileiros. A cada ano a solenidade de entrega do prêmio é feita
em um dos países, um ano em Portugal e outro no Brasil, assim
simultaneamente. Em relação a sua premiação ele não se difere dos demais
prêmios aqui já expostos, seu vencedor recebe uma quantidade em dinheiro,
porém aqui ela é de 100 mil euros, equivalente a mais ou menos R$ 360 mil
reais. Dos prêmios até agora mencionados, esse é o que possui o maior valor
financeiro no que diz respeito à premiação.
Várias são as diferenças entre os prêmios brasileiros, e, nesse contexto de
premiações, encontramos também o Prêmio Literário Biblioteca Nacional, que
acontece desde 1994, anualmente, nas categorias de romance, poesia, conto,
ensaio social e literário, tradução, projeto gráfico, literatura infantil e literatura
juvenil, conforme aponta a página da Biblioteca Nacional. A cada nova edição, é
divulgado um edital que contém as normas para que o autor possa concorrer ao
prêmio. Esses livros são avaliados por uma grande equipe julgadora que possui
um vasto conhecimento em sua área.
Nesse hall de importantes nomes no que diz respeito à valorização de
jovens autores encontramos a Revista Granta. Originalmente surgida na Britânia
em 1889, consiste em uma revista que tem como objetivo prestigiar jovens
autores, mas foi em 2012 que ela lançou uma edição intitulada “Os melhores
jovens escritores brasileiros”. Nessa edição foram incluídos 20 contos de autores
brasileiros, considerados os melhores. Dentre eles destacam-se Daniel Galera
com “Apneia” e Julián Fuks, ganhador do Jabuti em 2016, com “O Jantar”. Assim
38
como o Prêmio Jabuti no Brasil, a Revista Granta é também uma referência
britânica na avaliação de obras nacionais e internacionais, constituindo-se uma
referência distinta no campo literário.
Outra premiação importante para a área da literatura é o Prêmio Jabuti,
objeto de análise desse estudo. Dada a sua importância nesse trabalho, optamos
por fazer um capítulo especialmente voltado a ele, o que é contemplado na
próxima seção.
Ao expormos uma contextualização acerca de prêmios literários, podemos
fazer algumas observações. A primeira é que muitos delas são destinadas não
só para escritores brasileiros, mas também para escritores de países de língua
portuguesa que publicaram suas obras no Brasil. Há assim, nesse conjunto, uma
valorização das literaturas de língua portuguesa e não especificamente uma
valorização restrita à literatura nacional, o que pode ser visto como um estímulo
à ampliação dos horizontes de leitura numa perspectiva intercultural e
transnacional.
Outro dado a se relacionar é que nem sempre há, para o público leitor,
clareza quanto aos critérios que norteiam as seleções das obras premiadas, pois
nem sempre os regulamentos estão suficientemente especificando o que é
considerado em cada análise e como esta é realizada. Isso mostra certa
distinção em relação a tendências críticas, pois estas, de acordo com o que
apresentamos, têm uma proposição de elementos de análise contemplados na
construção de análises críticas das obras que aprecia.
Vistos de forma comparada as tendências críticas e os formatos das
premiações de uma forma geral, parece haver um maior lastro de subjetividade
analítica nos prêmios. Isso, no entanto, não os invalida como instrumento de
julgamento.
39
2 PRÊMIO JABUTI
Criado em 1958 por iniciativa da Câmara Brasileira do Livro (CBL), o Prêmio
Jabuti surgiu em uma época que havia pouca procura no campo da editoração.
Seus precursores foram dois estudiosos da literatura brasileira, Edgar Cavalheiro
e Mário da Silva Brito, o primeiro com a função de presidente e o segundo como
cargo de secretário da CBL. Por volta de 1959, sob a coordenação de Diaulas
Riedel, houve a primeira premiação, com uma cerimônia simples, na qual os
ganhadores garantiram apenas a estatueta, símbolo do prêmio, como
reconhecimento. Nessa época, o ganhador na categoria romance foi Jorge
Amado com sua obra Gabriela, Cravo e Canela.
Nos mais de 50 anos de edições do Prêmio, este passou por diversas
mudanças, que se referente ao formato, ao regulamento de obras inscritas para
premiações, à curadoria e a categorias abrangidas nos processos avaliativos.
Estes incluem tanto profissionais especializados nas áreas de premiação quanto
aqueles que atuam nos mercados editoriais e que consumem as produções. As
transformações também se devem ao número de obras participantes e de
autores interessados em obter o Prêmio Jabuti. Prova disso são os acréscimos
de obras inscritas para cada avaliação e também a seriedade segundo o site
oficial do Prêmio, que salienta que em toda histórica sempre “manteve sua
transparência, forte característica de seu regulamento, reconhecido por todos
que produzem informação, conhecimento e arte no Brasil”.
À frente do Jabuti esteve, no período de 2014 a 2016, Marisa Lajolo,
doutora em Literatura e uma das principais referências em pesquisa sobre leitura
no Brasil. Juntamente com ela estão Antônio Carlos de Moraes Sartini, Frederico
Barbosa, Luis Carlos de Menezes e Pedro Almeida que, em conjunto, organizam
o processo de inscrição e avaliação de obras.
Em entrevista realizada pelo canal do You Tube “Conexão Universitária”,
publicado no site do Prêmio, Marisa Lajolo afirma ter sido dela a ideia de incluir
na lista de categorias a de livro digital e livro infantil digital, afirmando que ainda
consistem em categorias que têm muito a crescer. Esta é, portanto, uma das
alterações que o Prêmio sofreu nos últimos anos.
Em sua 58ª edição, no ano de 2016, ocorreram muitas modificações,
conforme aponta o site do Prêmio. A primeira delas foi a mudança no local onde
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ocorreria a cerimônia de entrega aos contemplados, que desde o início era
realizada na sede da CBL, mas nos anos de 2004 e 2005 a premiação ocorreu
no Memorial da América Latina em São Paulo. Nos anos posteriores até 2014, a
Sala São Paulo foi palco do Prêmio Jabuti e, desde então, é no auditório
Ibirapuera, também em são Paulo, que as cerimônias vêm acontecendo.
Outra transformação significativa foi o aumento no número de categorias,
pois no seu primeiro regimento constam apenas as categorias: literatura, capa e
ilustração, editor do ano, gráfico do ano, livreiro do ano e personalidade literária.
Atualmente esse número triplicou, há 27 categorias, que são divididas de modo
mais claro a partir de temáticas e gêneros: Adaptação, Arquitetura e Urbanismo,
Biografia, Capa, Ciências da Natureza, Meio Ambiente e Matemática, Ciências
da Saúde, Ciências Humanas, Comunicação, Contos e Crônicas, Didático e
Paradidático, Direito, Economia, Administração, Negócios, Turismo, Hotelaria e
Lazer, Educação e Pedagogia, Engenharias, Tecnologias e Informática,
Gastronomia, Ilustração, Ilustração de Livro Infantil ou Juvenil, Infantil, Juvenil,
Poesia, Projeto Gráfico, Psicologia, Psicanálise e Comportamento, Reportagem
e Documentário, Romance, Teoria/Crítica Literária, Dicionários e Gramáticas,
Tradução. Em 2016, foi incluída a categoria Infantil Digital, que consiste na
premiação de livros digitais infantis destinados para o público infantil.
Cada uma dessas divisões concorre a primeiro, segundo e terceiro lugar,
sendo que a premiação para ambos é de um troféu e apenas o primeiro lugar
ganha um total equivalente a R$ 3 mil reais. Trata-se de um valor simbólico, pois
as pessoas que se inscrevem buscam mais precisamente o troféu, que
representa reconhecimento e valorização tanto dentro como fora do Brasil. Pelo
menos é nesse sentido que afirma Cristovão Tezza, que obteve o 1° lugar do
prêmio Jabuti em 2008 com o romance O Filho Eterno, publicado pela editora
Record, em depoimento no site do Prêmio Jabuti:
Fui finalista algumas vezes do prêmio Jabuti. Em 2004, fiquei em terceiro lugar com o romance “O fotógrafo”, e no ano passado levei o Jabuti de melhor romance com “O filho eterno”. É simplesmente impressionante a repercussão que esse prêmio tem, a partir do fato de que é o mais antigo e todo mundo conhece. O Jabuti é uma instituição bastante “popular”, o que é sempre surpreendente no mundo do livro brasileiro. Além do mais, ele repercute também na imprensa, o que multiplica a visibilidade da obra. Para mim, teve um efeito positivo, não só no Brasil mas também no exterior - o fato de ter ganho o Jabuti é um toque a mais a valorizar o livro e eventualmente abrir caminho para
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as traduções. (JABUTI, 2009, p.s.d)
Conforme aponta o autor, ganhar o prêmio Jabuti é uma forma de
valorização em relação a sua obra, além disso é uma maneira de abrir novas
portas, tendo em vista que e trata de uma das maiores premiações brasileiras
existentes no país. Além disso, é mostrar ao público que, dentre milhares de
obras, aquela chamou a atenção e foi considerada a melhor. Sem contar na
visibilidade do autor, que é reconhecido e agraciado pela imprensa tanto no
Brasil como no exterior.
Além dessas várias categorias que concorrem a premiações, também estão
em disputa o Livro do Ano de Ficção e o Livro do Ano de Não Ficção. Muitas
foram as críticas referentes a essa modalidade, vinculadas na mídia, conforme
aponta a página do prêmio, pois nem sempre o livro premiado em 1° lugar nas
categorias anteriores é o mesmo escolhido nessa disputa. A resposta dos
organizadores do Jabuti é que nas categorias maiores quem julga o livro
vencedor é uma equipe de jurados qualificada, já no livro do Ano de Ficção e
Não Ficção, a equipe editorial também pode opinar e votar para a eleição.
Conforme consta a explicação publicada no site principal do evento, na aba
“História”:
O Jabuti trouxe curiosidades sobre a premiação. Em 2004, por exemplo, o vencedor do Livro do Ano de Ficção foi Budapeste, de Chico Buarque. A obra, no entanto, ganhou Menção Honrosa (3º lugar) na categoria Romance. No dia seguinte, a mídia impressa abriu espaço nas suas páginas para questionar o episódio. Como um livro que ficou em terceiro lugar na sua categoria poderia levar o prêmio de Melhor Livro do Ano? “O que ocorreu, na verdade, foi que os vencedores das 20 categorias são escolhidos somente pelos jurados e os Livros do Ano recebem também os votos do mercado editorial, sendo que o grande vencedor não necessariamente é o 1º colocado de uma categoria”, explicou José Luiz Goldfarb, curador do Prêmio de 1991 a 2013.(JABUTI, p. s.d).
Conforme é possível observar, após comentários vinculados na mídia sobre
os critérios de avaliação da premiação, o responsável pelo prêmio na época
precisou esclarecer de que maneira eram feitos os critérios de avaliação.
Conforme consta nos comentários acima, o processo de seleção é composto por
profissionais altamente qualificados nas áreas de cada modalidade, que leem e
fazem análise das obras. Em seguida, há uma cerimônia aberta ao público para
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a escolha das dez melhores obras de cada modalidade. Depois, em um próximo
encontro são escolhidas as três colocações. Para finalizar é realizado uma
cerimônia de premiação, onde são contemplados os ganhadores dos três
primeiros lugares e ainda os livros escolhidos como Livros do Ano de Ficção e
Não Ficção, conforme aponta o site do Prêmio Jabuti.
Para a escolha dos jurados existe um comitê formado por curadores. Essas
pessoas são responsáveis juntamente com a CBL para escolher quem irá avaliar
cada obra. Desde 2012 o Conselho Curador é composto por profissionais de
Literatura, Ciências Humanas e Científica. Dentre os profissionais que compõem
essa equipe, destacam-se Luís Carlos de Menezes, professor do Instituto de
Física da USP, e Pedro Almeida, jornalista e professor de Literatura. O primeiro
faz parte da curadoria desde 2013, já o segundo ingressou em 2016. A função
desses membros curadores é a de acompanhar todas as fases da premiação,
assim como ajudar na escolha do corpo de jurados.
Outro fator importante que merece destaque é que ganhar o Prêmio Jabuti
é uma importante referência para saber quais obras são avaliadas positivamente
pela crítica, ou seja, há uma maior visibilidade para essas obras e autores que,
de certo modo, são consagrados com essa premiação importante no âmbito da
literatura brasileira.
Conforme aponta Zilberman (2017), em seu ensaio “O romance brasileiro
contemporâneo conforme os prêmios literários (2010-2014)”, existem três
benefícios importantes tanto para o autor da obra quando para o receptor de uma
obra premiada: primeiro, estímulo de desenvolvimento para uma literatura
nacional; segundo, divulgação das obras do escritor, seguido de um estimulo
financeiro; e terceiro, visibilidade nas editoras cujas obras foram publicadas.
Dada a importância do Prêmio para o cenário literário brasileiro, torna-se
relevante ampliar a compreensão do formato dessa premiação. Desse modo, a
fim de discorrer um pouco mais a fundo sobre o Prêmio Jabuti a próxima seção
irá tratar da proposta dessa premiação, assim como sua concepção e os critérios
de escolha adotados pela curadoria.
2.1 Proposta e Concepção
O Prêmio Jabuti possui 27 categorias, distribuídas desde a maneira como
43
o livro foi escrito, sua capa, imagens até o conteúdo e forma como o escritor
utilizou das palavras para desenvolver sua escrita. A seleção acontece através
de um corpo de jurados qualificados que analisa cada obra também de acordo
com a sua área do conhecimento. Depois essa equipe vota na obra que mais
gostou e esses votos são revelados publicamente para que não haja dúvidas,
buscando comprovar a transparência do processo.
Sob esse aspecto, é preciso fazer duas ponderações. A primeira
observação é a de que o site e o edital da premiação não explicitam com clareza
quem são os “jurados qualificados” nem como estes são selecionados, o que
numa leitura inicial já assinala que a transparência, embora relatada como algo
preservado, não é totalmente praticada. Além disso, não se sabe se essa
qualificação dos profissionais que julgam está totalmente voltada ao preparo
técnico e conhecimento específico para analisar a obra inscrita ou se nela
incluem outras questões, como as de interesses de editores, caso estes também
estejam inseridos no grupo de jurados qualificados.
Outro ponto a se considerar refere-se ao fato de que, mesmo que haja um
rol de avaliadores com knowhow e experiência na área, toda avaliação precede
um juízo de valor, que é também subjetivo e baseado em critérios individuais. O
que para um jurado pode ser uma grande obra, para outro pode não ser. Não há
como mensurar nem resolver essa questão. Nessa perspectiva, por mais que a
premiação seja singular, sempre vai exteriorizar um julgamento de um grupo
desconhecido, cujos critérios de avaliação o público desconhece.
Em relação à sua premiação, ela acontece da seguinte forma, conforme
aponta a página do Prêmio: cada categoria recebe o valor de R$ 3.500 e uma
estatueta representante do prêmio nas primeiras colocações, já os segundos e
terceiros lugares recebem apenas o troféu. Além desses prêmios o Jabuti
também contempla o Livro do Ano de Ficção e o Livro do Ano de Não Ficção.
Nessa concorrência os ganhadores recebem uma estatueta dourada,
representante do prêmio, e o valor de R$ 35 mil.
Além de premiar, o Prêmio Jabuti, em suas edições, também homenageia
professores e escritores. Com seu surgimento em 1993, a indicação “Amigo do
Livro” é destaque em casa nova edição e busca homenagear e reconhecer
profissionais que de algum modo âmbito ajudam propagar o livro e o hábito pela
leitura. Na edição de 2000 o crítico e teórico Antônio Candido foi o vencedor e
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em 2014 a professora e pesquisadora Tania Rösing.
Para concorrer ao Prêmio Jabuti, o candidato precisa ser editor, escritor,
tradutor, ilustrador, produtor gráfico ou designer, preencher uma ficha de
inscrição que fica disponível no site do evento e, em seguida, fazer o pagamento
do boleto, referente à taxa de inscrição e encaminhar cinco exemplares. Os
valores para a inscrição variam, e podem ser observados a seguir, conforme
consta no Guia de Orientação do Prêmio Jabuti1, disponível no site do evento:
No caso de obra individual, os valores por obra e categoria na qual a mesma for inscrita são: R$ 270,00 (duzentos e setenta reais) para Associados da CBL; R$ 350,00 (trezentos e cinquenta reais) para Associados de Entidades Congêneres; R$ 410,00 (quatrocentos e dez reais) para Não Associados. No caso de coleção, os valores por coleção e categoria na qual for inscrita são: R$ 420,00 (quatrocentos e vinte reais) para Associados da CBL; R$ 450,00 (quatrocentos e cinquenta reais) para Associados de Entidades Congêneres; R$ 490,00 (quatrocentos e noventa reais) para Não Associados. Desconto progressivo para grupo de inscrições: De 10 a 30 Inscrições – 5% de desconto sobre o valor total De 31 a 60 Inscrições – 10% de desconto sobre o valor total De 61 a 100 Inscrições – 15% de desconto sobre o valor total Acima de 100 Inscrições – 20% de desconto sobre o valor total (JABUTI, p. s.d).
Como é possível visualizar, embora o valor de inscrição seja acessível, é
preciso considerar que há um quantitativo elevado de inscrições, o que garante
uma receita para o ganhador. Porém, além do bônus financeiro, ele é
contemplado especialmente no sentido de obter maior visibilidade a sua
produção.
De acordo com Mariana Passos Ramalhete Guerra, em seu trabalho
intitulado “O leitor e a literatura juvenil: um diálogo entre os prêmios literários
Jabuti e FNLIJ e o Programa Nacional Biblioteca da Escola”, publicado em 2015,
os descontos progressivos são o aspecto que mais chama a atenção dos
autores, pois, se uma editora, por exemplo, submeter um grande número de
livros para análise, além de conseguir diminuir o valor da inscrição, ainda tem a
chance de pelo menos uma de suas obras ser contemplada, causando assim
1 Link para acesso ao guia de orientação: http://premiojabuti.com.br/wp-content/uploads/2016/09/58-
jabuti-guia-de-orientacao-jurados-v2_1.pdf. Acesso em: 30 fev. 2017.
45
reconhecimento também para a editora. Conforme aponta a autora esse pode
ser um caminho a ser seguido pelos autores e editoras, pois ambos podem
ganhar: o autor com o reconhecimento e a editora com a grande procura da obra
que é a consequência da premiação.
Outro fator que pode ser destacado é o fato de as mesmas editoras
adquirirem premiações consecutivas, como é o caso da Companhia das Letras,
que, das dezessete obras vencedoras em primeira colocação pelo Jabuti (2000-
2016), nove delas são publicadas por essa editora. Nesse sentido, constatamos
mais uma lacuna na premiação: Por que uma mesma editora pode se inscrever
em várias categorias e ao mesmo tempo vencer em anos subsequentes? Apenas
essas editoras publicam obras merecedoras do Prêmio? Haveria critérios
“comerciais” imbuídos no processo de seleção das obras? Por que obras de
editoras menores, de abrangência menos significativa no cenário brasileiro, não
aparecem na lista das premiadas?
O júri que irá avaliar essas obras nas 27 categorias é composto por três
jurados, especializadas na categoria que irão avaliar; cada jurado deve
desconhecer a identidade dos seus companheiros de avaliação; e após avaliar
cada obra devem classificá-la com uma nota entre 8 e 10, enviando em envelope
lacrado para a CBL. Neste local, os envelopes serão abertos em audiência
pública.
Só ocorre alteração no nome do vencedor se caso este seja falecido, então
ele é encaminhado para a seção in memoriam e recebe somente a estatueta. O
próximo candidato, então, é nomeado como vencedor e ganha a estatueta e o
valor financeiro conforme exposto no regulamento. Na categoria romance, não
houve nenhum caso de autores falecidos que foram contemplados.
Na sua proposta, o Jabuti apresenta um regulamento claro que explicita
que categorias e obras são analisadas, porém, quando se remete a quem as
analisa e quais fatores são relacionados, o que se sabe é apenas que quem as
analisa são profissionais da área de cada categoria, mas que profissionais são
esses? Só é sabido quem julgou no momento da divulgação dos vencedores.
Por um lado, essa omissão deixa dúvidas, pois o crítico que for julgar irá
conhecer o autor da obra e pode levar em consideração aspectos pessoais e
trajetórias de produção escrita, por exemplo, no momento do julgamento.
Há também uma certa falta de clareza sobre os critérios de avaliação
46
utilizados pelos jurados, pelo menos para quem busca compreender a
concepção do programa. Na categoria romance, que é o objeto de análise deste
trabalho, consta que o jurado precisa estipular uma nota de 8 a 10 nos quesitos:
1. Técnica narrativa, 2. Constituição das personagens e 3. Originalidade.
Parecem-nos critérios bastante amplos que não dão conta de todos
elementos de um romance e que possibilitam uma análise bastante subjetiva,
muito alicerçada nas leituras e concepções de quem avalia as obras. Logo,
podemos pensar que, se os critérios são assim amplos e subjetivos, parte
daquelas que são destaque são avaliadas por profissionais do mercado editorial,
que certamente estão muito mais preocupados com as vendas de determinado
produto e menos com a qualidade, originalidade e técnica que pode oferecer o
texto, e isso intervém no julgamento e na premiação final.
Mesmo assim, nesse contexto, o Prêmio Jabuti é considerado uma
referência, pois sua abrangência quanto ao número de categorias avaliadas é
muito maior do que os prêmios já referidos neste estudo. Enquanto a maioria
analisa e avalia apenas um ou dois gêneros, o Jabuti vai muito além e trabalha
ainda com diferentes áreas do conhecimento como é o caso da arquitetura,
matemática, ciências da natureza e da saúde, por exemplo. Então, além de
trazer vários gêneros literários, sua abrangência é muito maior, indo além do
texto escrito e se adentrando na própria confecção de um livro, ou seja, aspectos
importantes de uma obra que também precisam ser levados em conta no
momento da leitura.
Um quesito importante no Jabuti é que ele, com o passar dos anos vai se
atualizando. Em 2015, por exemplo, uma nova categoria foi lançada, a Infantil
Digital, tendo em vista que estamos cada vez mais inseridos em uma era digital,
o prêmio achou viável saber que tipos de textos estão sendo escritos de modo
digital. Dessa forma, será avaliado o conteúdo digital de cada livro, os elementos
multimídias dispostos na ferramenta, além de links interativos e hipertextuais.
Incluir essa categoria é uma forma de valorização para quem produz esse tipo
de narrativa digital, além disso é mostrar que existem textos bons e que merecem
destaque no âmbito da literatura, demonstrando assim que o Jabuti ajuda na
constituição de um novo “cânone”.
Como já mencionado no início desse trabalho, o Jabuti é considerado um
dos mais reconhecidos e comprometidos prêmios do Brasil, pois, além de se
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pautar e valorizar somente obras brasileiras, o seu foco está em diferentes áreas
do conhecimento. Ou seja, sua abrangência é bem maior do que os demais, o
que o faz ser mais procurado pelos escritores, sem contar que cada uma de suas
categorias possui primeiro, segundo e terceiro lugar, sendo assim mais um fator
pela grande procura.
Outro ponto negativo que decai em relação aos outros prêmios é a
premiação: enquanto que a grande maioria aposta em um grande valor em
dinheiro, ele traz o reconhecimento em primeiro lugar, pois os ganhadores das
categorias normais recebem apenas um valor simbólico, esse valor só aumenta
um pouco quando os Livros de Ficção e Não Ficção são contemplados. A
premiação em dinheiro serve como um incentivo a mais na carreira de um autor,
ainda mais se este está ainda iniciando sua vida editorial. No entanto, o que se
percebe no Jabuti é que o maior valor parece ser o reconhecimento por parte de
quem ganha, pois, além de ser conhecido no Brasil ainda corre o risco de
conseguir uma carreira internacional pelo prestígio e grande conceito que um
escritor premiado pode ter.
Em relação a essas importantes premiações e ao Jabuti em especial,
podemos concluir que todas se fazem muito importantes para quem trabalha
nessa área da escrita e editoração de obras, independente do espaço onde atua.
Para ser reconhecido e alcançar um bom público de leitores e dessa forma,
aumentar a renda financeira, é necessário reconhecimento e prestigio, e nesse
contexto as premiações cumprem uma função importante.
Conforme aponta Rösing (2016), obras premiadas podem atrair leitores
experientes, leitores em formação, o que confirma uma potencialidade dos
prêmios enquanto referência para leitura. A pesquisadora acrescenta ainda outra
potencialidade:
No âmbito dessas possibilidades, um concurso ou um prêmio literário pode revelar novos talentos de escritores cujas obras têm qualidade, mas não são conhecidas por um número significativo de leitores, contribuindo efetivamente para o aprimoramento de obras futuras desse escritor. (RÖSING, 2016, p. 34).
Desse modo, vemos a importância para um autor em ser prestigiado por
uma premiação, para o escritor experiente ou para aquele que começou
48
recentemente, pois para aquele escritor já aprimorado será uma maneira de
querer continuar a escrever cada vez mais e melhor, uma maneira de superar a
obra anterior, e para o escritor novo, uma forma de aprimoramento e motivação
para as escritas futuras.
Cabe destacar também o ingresso desses autores premiados em primeira
colocação pelo Jabuti na Academia Brasileira de Letras, como é o caso de
Moacyr Scliar e Nélida Piñon. Ocupante da cadeira número 31, Moacyr Scliar
tomou posse na Academia em 2003 e ganhou suas duas premiações pelo Jabuti
em 2000 e 2009. Já Nélida Piñon, ocupante da cadeira número 30, ingressou na
academia em 1990, posição a qual ainda ocupa e recebeu sua premiação no
Jabuti em 2005, já sendo conhecida pela academia.
Mas quem pode utilizar-se do resultado do Prêmio Jabuti? Supõe-se que
sejam os estudiosos de literatura contemporânea ou até mesmo os apreciadores
dessa premiação. Ambos exploram das obras contempladas para a partir delas
construírem trabalhos teórico-críticos e consequentemente terem textos
publicados em jornais e revistas, tendo em vista que, por se tratar de obras e
autores contemporâneas, há ainda poucos trabalhos sobre suas escritas, o que
pode facilitar a visibilidade desses estudos.
Além disso, editoras e organizadores de feiras e eventos também podem
se privilegiar. As editoras porque têm a possibilidade de lançar livros que podem
ser reconhecidos nacional e internacionalmente e, a partir disso, projetar maiores
vendas de determinados títulos ou investir em publicações novas desses autores
já reconhecidos. As feiras e eventos relacionados à leitura e ao livro podem se
valer dos resultados das premiações para ter um contato direto com esses
autores.
Assim, buscando refletir sobre o formato do Prêmio, a próxima seção
apresenta reflexões sobre como podemos compreendê-lo como um instrumento
de crítica literária no cenário brasileiro.
2.2 Prêmio Jabuti: um instrumento de crítica literária
O Prêmio Jabuti consolida-se como um instrumento de crítica literária a
partir do momento que julga uma obra, tendo em vista que entendemos por
crítica literária todo o processo de julgamento, avaliação de uma determinada
49
obra, seja ela literária ou não, com intuito de definir um determinado valor e dar-
lhe reconhecimento. Este pode estar atrelado à qualidade do texto, à
originalidade e à criatividade.
Assim, o Jabuti é considerado um instrumento de crítica, pois, através de
diferentes critérios e categorias, consagra obras e autores nas diferentes áreas
do conhecimento. Critérios esses que vão desde a estrutura da obra até a
constituição dos personagens, além dos elementos externos dos livros como sua
editoração e capa, por exemplo. Em relação a suas categorias abrangem
diversas áreas do conhecimento, contemplando diferentes gêneros literários e
editoração.
Conforme já fora apontado no início deste estudo, a crítica literária é muito
importante no momento de consolidar uma obra, pois, a partir do julgamento, é
possível instituir se essa obra pode ser considerada boa ou não e se pertence a
um determinado grupo, mesmo que os critérios para essas eleições sejam
ocultos ou questionáveis. De acordo com Oliveira (s.d)
A crítica literária divide, com a escola e com a universidade, a função de julgar a produção literária de seu tempo e, ao realizar esse julgamento, ela estabelece, simultaneamente, o que cada época julga importante em termos artísticos e culturais. (OLIVEIRA, s.d, p. 17).
Conforme apontou a autora, através do julgamento de uma obra é possível
reconhecer que tipo de escrita os autores vêm produzindo e o que é considerado
relevante nessas produções.
Desse modo, o Prêmio Jabuti acaba sendo reconhecido por uma referência
crítica que aponta, em cada época, o que é importante, relevante, em termos
artísticos e culturais. Além de ser abrangente, devido às várias categorias que
possui, reconhecido, pelo alto número de pessoas que o procuram, ainda busca
encontrar, a partir de seus critérios, novos autores que ainda, em muitos casos,
não possuem muitas obras literárias publicadas. Nesse sentido, configura-se
como uma crítica ocupada em avaliar obras recentes, buscando consagrar algo
novo e não de deter no passado, no que já foi reconhecido. Desse modo, o
prêmio Jabuti torna-se precursor, pois abre caminho para se pensar no que se
tem de mais recente na produção literária.
50
Para receber o rótulo de instrumento de crítica literária, algumas afirmações
devem ser levadas em conta, sobre o Prêmio Jabuti, dentre elas, destacam-se:
Primeiro apresenta juízo de valor; segundo define critérios de avaliação de
romances mesmo que eles não sejam tão claros; terceiro forma um “cânone”
literário; quarto sinaliza tendências literárias; quinto dá projeção a obras e
autores; e, por último, é um instrumento reconhecido pela crítica, por autores e
editoras. Esses tópicos serão explanados a seguir.
O Prêmio Jabuti apresenta juízo de valor no momento que impõem uma
classificação em primeiro, segundo e terceiro lugar, buscando demonstrar que a
obra em primeira colocação é considerada “ótima, excelente”, a em segundo
“muito boa” e a em terceiro, em relação as outras, merece menos prestígio,
porém é bom também. No momento em que rótula e utiliza essas três
classificações, o Prêmio Jabuti demonstra que somente as três obras
vencedoras se enquadram de forma plena nos critérios impostos.
Além disso, apresenta juízo de valor quando distingue gêneros literários
específicos que são analisados separadamente, demonstrando um tipo de
método avaliativo. Autores e editoras precisam inscrever suas produções em
uma seção especifica de acordo com cada tipo de composição, assim como
editoração. Caso não inscrevam no gênero correspondente, correm o risco de
serem desclassificadas da premiação.
Em relação ainda sobre o juízo de valor, este também acontece quando o
Prêmio forma um “time” de avaliadores. Estes, denominados no Guia de
Orientação do ano de 20162 como Curadores, não são identificados porque
inexistem os nomes dos selecionados, somente há registrado que são
profissionais capacitados em literatura e especificamente em cada categoria:
7.1 Uma Comissão do Prêmio Jabuti, integrada por representantes do setor. 7.2 Um Conselho Curador para o Prêmio Jabuti que será integrado por um Curador e um Conselho composto por especialistas em livros, literatura e em diferentes áreas da cultura e da ciência. (GUIA DE ORIENTAÇÃO, 2016, p. 26).
Como é possível visualizar, além dos profissionais capacitados escolhidos,
2 Guia de Orientação disponível em: http://premiojabuti.com.br/wp-content/uploads/2016/09/58-jabuti-guia-de-orientacao-jurados-v2_1.pdf. Acesso em: 24 jun. 2017
51
no grupo de avaliadores há a presença de um representante do Jabuti. Esses
profissionais são selecionados pelo próprio comitê organizador do Jabuti com
sugestões da CBL, não podendo ter vínculo com editora, autor ou obra inscritos
nas categorias do Prêmio. Esse cuidado com os jurados serve para que se
busque uma avaliação justa, sem interferências pessoais entre jurado e possível
premiado, o que, apesar das intenções, não elimina o tom subjetivo de qualquer
avaliação.
Ainda o Jabuti forma um juízo de valor, expondo os critérios de avaliação,
que, embora não sejam claros, servem como forma de embasamento para os
avaliadores, já que esses precisam partir de um ponto para avaliar. O fato de
haver poucos critérios elencados pelo Jabuti pode facilitar e dificultar a avalição
das bancas. Facilitar porque não precisa seguir necessariamente a linha de
avaliação e sim guiar-se pelo próprio extinto, como gostar ou não da obra e do
modo como foi escrita; dificultar porque, se o jurado pretende fazer uma
avaliação séria, segundo os critérios do Prêmio, não existe clareza absoluta e há
poucos caminhos a serem seguidos, pelo menos quanto ao que se expõe no site
oficial.
Na categoria romance, objeto de análise desta dissertação, na ficha de
avaliação somente o que consta para que os jurados sigam são: 1. Técnica
narrativa, 2. Constituição das personagens e 3. Originalidade. Como não há
explicações sobre as categorias supõe-se que, em relação a 1. Técnica
narrativa, analisam-se modo como a obra foi construída, linearidade, tipo de
narrador, características peculiares da obra. Sobre o item 2. Constituição dos
personagens, provavelmente são observados quais os artifícios o autor utilizou
para construir os seus personagens, as características físicas, mas
principalmente as psicológicas desses sujeitos. Já no item 3. Originalidade,
espera-se que se reflita sobre como foi construído o enredo da obra, se é algo
extraordinário, em relação a narrativas clássicas, anteriores, ou se apresenta
algo comum que não distingue a obra avaliada de outras já existentes.
Mesmo não havendo plena transparência, o Jabuti ainda é muito
procurado, pois o seu reconhecimento quanto principal premiação literária no
Brasil o faz se transformar em um instrumento de crítica. As obras e autores que
adquirem alguma colocação acabam se tornando referências para estudiosos,
tanto dentro como fora do país. E, devido essa grande abrangência e procura, o
52
prêmio acaba por passar uma imagem de seriedade quanto a forma de
julgamento.
O Prêmio também se instaura como um instrumento de crítica literária
quando forma um cânone literário, conforme já fora mencionado anteriormente,
o cânone consiste em um processo de seleção e exclusão, pois ao mesmo tempo
que seleciona uma exclui a outra. De acordo com Maria Eunice Moreira em seu
texto “Cânone e cânones: um plural singular” publicado em 2016, o cânone é
construído pelo modo como a obra é lida e não pela obra em si. Assim funciona
com o Jabuti, premia as três categorias e desfaz das outras tantas que também
estão inscritas, além de impor critérios de seleção, garantindo assim que obras
que não se enquadrem nos critérios precisam ser descartadas. Essa forma de
avaliação vem ao encontro do que afirma a autora, pois o avaliador, antes
mesmo de iniciar a leitura, tem um rol de regras que precisam ser seguidas.
De acordo com Zilberman (2017) essas premiações literárias sinalizam
quais são os livros que demonstraram uma qualidade a mais em relação aos
demais, e cita o exemplo dos best-sellers, que por mais que sejam os livros mais
procurados na atualidade, em alguns casos, não apresentam uma qualidade
estética que esses romances premiados podem ter. Assim, configura-se que o
Jabuti forma um “cânone”, pois entre milhares de livros escolhe apenas três por
ano, em cada categoria, como vencedores.
O Jabuti ainda sinaliza tendências literárias, assim como o fazem outras
linhas de crítica literária, pois, a partir da leitura dos diferentes romances que são
enviados para avaliação, encontram-se vários tipos de escritas e técnicas que
são melhor valorizados. Zilberman (2017) também pontua sobre essas
tendências, que surgem em meio a uma premiação literária. Para ela essas
premiações servem como um termômetro para medir o estado atual da literatura.
Por isso a importância de se manter e divulgar essas premiações, mas
principalmente o valor dessas instituições que promovem esses Prêmios, agirem
com seriedade e comprometimento, escalando jurados que queiram ver o
crescimento da literatura e não se deixem levar por conhecimentos ou interesses
pessoais.
Seguindo essas afirmações sobre o Prêmio Jabuti ele dá projeção a obras
e autores, tendo em vista que os autores são ingressantes na literatura e assim,
suas obras são recém publicadas. Ganhar uma premiação pode ser um modo
53
de impulsionar a carreira, conforme aponta Zilberman (2017):
Prêmios literários podem ser um excelente estímulo para o desenvolvimento de uma literatura nacional. Favorecem os escritores, ao divulgar sua obra entre o público não especializado, colaborando também para a conquista de autonomia financeira, em decorrência do valor do prêmio, se esse for pago em dinheiro, e do crescimento das vendas, das quais advêm direitos autorais.(ZILBERMAN, 2017, p.424).
Como podemos perceber, além do crescimento pessoal dos autores
consagrados, há um estímulo financeiro que fora proporcionado pela
premiação e pelo pós-premiação. Esse valor em dinheiro e o prestígio
acabam impulsionando o autor a continuar escrevendo e, em consequência,
buscar cada vez mais outras premiações literárias. Em síntese, tanto
ganhador quanto perdedor vão buscar esses concursos, pois, para quem
ganhou a premiação há desejo de seguir no posto de vencedor, e para aquele
que perdeu há o anseio de conseguir ser também alvo de destaque. Desse
modo, tanto o Jabuti como outros Prêmios literários tendem a não acabar,
pois servem como meio de impulsionar autores e obras, sempre haverá
público para essas premiações, tendo em vista o reconhecimento que eles
trazem na obra dos autores.
O Jabuti também consiste em um instrumento reconhecido pela crítica, por
autores e editoras. Ou seja, ganhar o Jabuti serve como um parâmetro de
referência, perante a crítica, que o vê como uma premiação importante, diante
dos autores, que buscam esses livros ganhadores para conhecimento da
literatura atual e ainda atribui visibilidade as editoras, pois estas ao publicaram
um livro vencedor ganham uma maior visibilidade no mercado editorial. Adquirir
o Jabuti significa ser avaliado positivamente perante um leque de jurados de
renome e garantir um destaque positivo no meio editorial e acadêmico.
54
3 ROMANCES DO SÉCULO XXI E PRÊMIO JABUTI: DIÁLOGOS E
INTERSECÇÕES
Para alcançar o objetivo desse capítulo, que é o de conhecer os autores e
obras contemplados em primeira colocação pelo Jabuti durante o século XXI, ele
será dividido da seguinte forma: primeiro será apresentado o perfil de cada autor.
Para essa apresentação será exposto um breve histórico da vida de cada autor,
destacando sua naturalidade, sexo, idade, etnia, formação e atuação
profissional, além de outras curiosidades pertinentes que permitam delinear com
clareza um perfil de quem são os escritores das obras contempladas com o
Jabuti.
Em seguida, o enfoque será pautado na receptividade das obras desses
autores, buscando identificar o número de obras que cada autor premiado
publicou, destacando as literárias, incluindo levantamento das publicações em
outras áreas; em seguida mostrar quantas de suas obras já foram contempladas
com premiações, tendo em vista que todos esses autores já possuem uma
premiação, o prêmio Jabuti, conforme destacado durante o trabalho.
Já no item “composição dos romances”, cada obra consagrada nas edições
2000-2016 do Prêmio será apresentada. Esse mapeamento objetiva indicar
algumas tendências que esses romances trazem consigo, tendo em vista que
uma mesma obra pode apresentar várias tendências perante a crítica.
3.1 Perfil do Autores
O Prêmio Jabuti durante o século XXI consagrou diversas obras tanto
literárias como não literárias. Muitos autores foram contemplados, reconhecidos
e, devido à premiação, obtiveram prestígio no meio social e acadêmico. Mas
quem são esses autores? O que fazem? De onde vêm? Que obras já
produziram?
Conforme já fora mencionado na introdução, este ensaio busca analisar
tendências formais e temáticas das primeiras colocações da categoria romance
ganhadoras do prêmio Jabuti dos anos 2000 a 2016. Para tanto, é necessário
conhecer primeiramente o criador das obras privilegiadas com o prêmio.
No total são treze autores, pois, nesses dezessete anos de premiação, três
55
deles se repetem - Moacyr Scliar, Milton Hatoum e Bernardo Carvalho o primeiro
premiado nos anos 2000 e 2009, o segundo 2001 e 2006 e o terceiro 2004 e
2014.São estes os autores: totalizam o número dezesseis, assim divididos:
Moacyr Scliar; Milton Hatoum; Rubens Figueiredo; Ana Miranda; Bernardo
Carvalho; Nélida Piñon; Carlos Nascimento Silva; Cristovão Tezza; Edney
Silvestre; José Castello; Oscar Nakasato; Evandro Affonso Ferreira; Maria
Valéria Rezende; Julián Fuks.
O primeiro autor a ser apresentado é Moacyr Scliar, natural de Porto
Alegre- RS, mais precisamente do bairro judaico Bom fim, nasceu em 23 de
março de 1937 e viveu até os 73 anos vindo a falecer em 2011. Formado em
medicina, dividiu sua vida na atuação como médico, professor universitário e
ainda como escritor, função esta que lhe rendeu reconhecimento por parte de
leitores e críticos, tanto que suas obras foram traduzidas para 12 idiomas.
Por seu prestigio, Scliar também foi eleito membro da Academia Brasileira
de Letras. Foi escritor de contos, romances, crônicas, ensaios e ainda obras
infanto-juvenis, nas quais impôs tons irônicos, temas judaicos, a medicina e a
vivência das famílias de classe média. No total, foram mais de 50 livros literários
publicados.
Lucimara da Silva de Souza em seu artigo “Moacyr Scliar: ficções
desencadeadas por notícias do cotidiano”, publicado em 2011, afirma que ele
representa a vida humana, expondo através de uma escrita crítica sua visão
sobre a realidade social e a condição humana.
O segundo autor é Milton Hatoum, nascido em Manaus- AM, de uma família
libanesa, em 19 de agosto de 1952. No auge dos seus 64 anos é um dos grandes
autores brasileiros ainda vivos. Escritor de contos e romances, Hatoum iniciou
os seus estudos, cursando Arquitetura e Urbanismo, profissão que nunca
exerceu. Concomitante com a função de estudante de faculdade, era expectador
do curso de Letras. Fez vários cursos e especializações em Literatura no exterior
e concluiu seu doutorado no Brasil em Teoria Literária pela USP (Universidade
de São Paulo) em 1998. Trabalhou em Manaus como professor acadêmico,
lecionando língua e literatura, mas com o passar dos anos, foi residir em São
Paulo, cidade onde está até hoje.
Nesse período em que atuou como professor também dedicava seu tempo
a escrever e começou a publicar suas obras em 1989. Maria Ria Berto de Oliveira
56
(2013), em sua dissertação “Uma análise do espaço romanesco em Dois Irmãos
de Milton Hatoum”, afirma que o autor busca mostrar em suas obras um pouco
de suas vivências, se penetram diferentes línguas e culturas. Conflitos familiares
servem como base para o desenrolar da trama.
Outro autor importante é Rubens Figueiredo, que nasceu no Rio de Janeiro,
no dia 09 de fevereiro de 1956. Formou-se em Português-Russo, o que lhe
permitiu atuar em editoras como revisor e, posteriormente, como professor
acadêmico de tradução literária. Iniciou como escritor em 1986, período em que
se dedicou à produção escrita, tradução e docência, alindo ambas as profissões.
De acordo com Elizabeth Fiori em “O tema da Imitação em contos de
Rubens Figueiredo” há, na construção das obras, uma preocupação com a
linguagem, porque ele realiza um trabalho intenso para encontrar as palavras ou
expressões exatas para compor de forma adequada o seu universo ficcional.
O quarto autor é Ana Miranda, de 66 anos. Ela nasceu em 1951 em
Fortaleza –CE e é formada em Artes plásticas. É desenhista, ilustrando assim
os seus próprios livros. Iniciou sua carreira de escritora em 1978, aliando a
escrita com as artes plásticas e ainda com a carreira de atriz, que aconteceu
durante o casamento com Arduino Colasanti, trabalhando em filmes e no cinema
brasileiro. Escritora de poesias, romances, ensaios, resenhas críticas e também
de roteiros cinematográficos, Ana Miranda ainda encontra um espaço para
dialogar e expor suas ideias em palestras e encontros em diferentes instituições.
Bernardo Carvalho, natural do Rio de Janeiro, nasceu em 1960, vivendo
grande parte da sua vida em São Paulo, onde iniciou sua carreira de jornalista
no jornal Folha de S. Paulo. Iniciou sua carreira como escritor por volta de 1990,
aliando-a com sua profissão de jornalista. Escreve contos e romances e é
considerado um dos principais ficcionistas da atualidade, conforme aponta Melo
(2013) em seu artigo “Duplicidades e contradições em Bernardo Carvalho: o
estético e o político; o universal e o particular”. Para o pesquisador, Carvalho é
considerado um autor que escreve com temáticas upto date, ou seja, suas
narrativas possuem sempre algo atualizado, inovador, ele se utiliza de
referências internacionais para produzir.
Nesse quadro de autores também encontramos Nélida Piñon, nascida em
03 de maio de 1935, no Rio de Janeiro. Formada em jornalismo, é membro da
Academia Brasileira de Letras, sendo a primeira mulher na Academia a ocupar
57
o cargo de presidente. Sua carreira de escritora iniciou por volta de 1960,
escrevendo contos, romances, ensaios, crônicas, e ainda literatura infanto-
juvenil. Com sua obra traduzida para diversos idiomas, Amorim (2015) afirma
que a obra de Piñon “se caracteriza pela originalidade, força de expressão e
fôlego” (AMORIM, 2015, p. 17).
Carlos Nascimento Silva também faz parte desse hall de autores
prestigiados pelo Jabuti. Natural do interior de Minas Gerais, Carlos nasceu em
1937, é mestre em literatura e atualmente é professor aposentado da Pontifica
Universidade Católica do Rio de Janeiro. Escreve desde seus catorze anos,
contos, poesias, crônicas e romances. Mesmo tendo vencido o Jabuti duas
vezes, em 1999 com o livro de ficção Cabra-cega e em 2007 com Desengano,
ainda é um autor pouco conhecido no meio editorial e acadêmico.
Cristovão Tezza, de 64 anos, é natural de Lages - SC, onde nasceu no dia
21 de agosto de 1952. Iniciou seu curso de Letras na Universidade de Coimbra,
mas a finalizou no Brasil. Durante sua juventude, trabalhou em teatros, mas,
depois de formado e com mestrado e doutorado na área da literatura, atuou
como professor universitário. Sua carreira como docente durou pouco tempo,
acabou se demitindo e dedicando-se apenas à literatura. Além de escritor de
contos, romances, contos e crônicas, Tezza também publicou, juntamente com
Carlos Alberto Faraco, livros didáticos.
De acordo com Almeida (2013), em seu artigo “A vida na obra: O filho
eterno”, Tezza pode ser considerado um autor autobiográfico, pois em suas
obras “parece pertencer à categoria dos romancistas que mais se confessam,
isto é, daqueles que menos se escondem e menos se dissimulam” (2013, p. 96).
Como é possível perceber, o autor se preocupa em demonstrar aspectos da sua
vida pessoal nas narrativas que produz, ocasionando certa facilidade no leitor
em decifrar aspectos pessoais em sua ficção.
Seguindo a lista de autores contemplados encontramos Edney Silvestre,
nascido em 27 de abril de 1950, estando com 66 anos. Edney, além de escritor,
é jornalista, documentarista e apresentador de TV. Natural de Valença, um
município localizado no sul do Rio de Janeiro, atuou como apresentador
internacional da emissora Rede Globo e na Globo News, escrevendo ainda para
a revista Pais e Filhos. Com sua primeira publicação em 2009, Edney se destaca
pelo conteúdo que deposita em seus textos. Em entrevista ao site Quem
58
Acontece em 2014, o autor afirma que só se adentrou no mundo da literatura por
causa da anemia que tinha, pois, devido estar sempre doente, acabava
ocupando o seu tempo com leituras de livros literários, o que de algum modo o
instigou à produção de obras.
José Castello também está presente nessa lista. Natural do Rio de Janeiro,
nasceu em 1951, sua formação profissional é em Teoria da Comunicação e
Jornalismo, o que lhe rendeu trabalhos em jornais como O Globo e Jornal do
Brasil. Além disso, participou na execução de revistas como a Veja e IstoÉ. Além
de jornalista, é escritor, produzindo romances, crônicas, e ainda se designa como
um crítico literário.
Mauro Souza Ventura, em seu trabalho “José Castello: o crítico enquanto
leitor comum”, publicado em 2015, caracteriza o estilo de escrita do autor como
uma conversa fiada que, aos poucos, convence o leitor a não para de ler: “como
a linguagem que instaura um clima de conversa com o leitor, a mistura de
digressões e lembranças pessoais no texto[..]. Tais elementos parecem fazer o
texto deslocar-se para uma conversa fiada”. (VENTURA, 2015, p.69-70). O autor
se utiliza de alguns artifícios para chamar a atenção do leitor, sendo a linguagem
e o modo como constrói o texto dois aspectos bem relevantes levados em conta
no momento da escrita.
Oscar Nakasato, de 53 anos, é natural de Maringá no Paraná, onde nasceu
em 1963 e residiu até os oito anos de idade. Formado em Letras e com mestrado
e doutorado na mesma área, Nakasato, além de escritor de contos e romances,
atualmente trabalha como professor na Universidade Tecnológica Federal do
Paraná.
Descendente de japonês, Oscar Nakasato ainda é considerado novato no
que diz respeito à produção e à publicação de livros. Aborda como temática
principal, em suas narrativas, a migração dos povos japoneses, conforme aponta
Teixeira (2014, que destaca ainda que esse tema vem se expandindo desde a
tese de doutorado do autor, a qual também foi escrita sobre esse viés. Com
pouquíssimas obras publicados no mercado editorial, é com o romance Nihonjin
(2012) que o autor passa a ser reconhecido.
Nesse grupo de autores brasileiros e contemporâneos também merece
destaque Evandro Affonso Ferreira, nascido em Araxá, Minas Gerais, em 1945.
Quando jovem, trabalhou em uma sapataria com seu pai, posteriormente em um
59
banco em São Paulo e, depois, como redator, mas foi na literatura que Evandro
se consagrou pessoalmente. Escritor de contos e romances, em 2000 o autor
iniciou sua vida literária com um livro chamado Grocotó!, que consiste contempla
várias narrativas consideradas pelo autor como minicontos, conforme aponta
Studart (2008).
Uma outra autora que se faz presente nessa lista de premiados é Maria
Valéria Rezende. Nascida em Santos, São Paulo, dia 08 de dezembro de 1942,
optou pela vida religiosa, tornando-se freira em 1965. Quanto à sua formação
profissional, é formada em Língua e Literatura Francesa e Pedagogia, áreas nas
quais trabalhou com educação popular. Pelo fato de seguir a carreira religiosa,
teve a oportunidade de conhecer e viajar por vários lugares, o que lhe rendeu
um bom conhecimento de mundo.
Sua estreia como escritora aconteceu em 2001 com o livro Vasto Mundo,
um romance. A autora também escreve contos, crônicas, livros infantis, juvenis
e poesia. Começou a escrever e publicar um pouco mais tarde, aos 59 anos,
pois ela primeiro quis se aposentar para então poder somente escrever.
Conforme aponta Resende e David (2016) é através de sua experiência com
viagens e o contato com diferentes pessoas que Valéria Rezende produz sua
literatura, pegando certas “influências” para então produzir, ou seja, o pano de
fundo de suas viagens serve como inspiração para a produção de suas
narrativas
Por último, e o mais recente ganhador do Prêmio Jabuti, temos o jovem
escritor Julián Fuks, nascido em 1981 em São Paulo, e, com apenas 36 anos
Fuks já possui um grande prestígio no meio à editoração pelo fato de, mesmo
tão jovem, ter alcançado uma premiação almejada por tanto autores já de
renome. Jornalista, ainda pouco conhecido pela crítica brasileira Fuks afirmou
em entrevista para o site O Globo que o romance A resistência, o qual lhe rendeu
a premiação no Jabuti, foi um pedido do irmão que assim como na narrativa fora
adotado pela família. O romance é enquadrado como ficção, mas há nele
também um misto de autobiográfico, o que de certo modo caracteriza e diferencia
a obra de Júlian das demais.
A partir desse breve esboço sobre os autores consagrados com o prêmio
Jabuti das edições do século XXI, na categoria romance, é possível salientar que
todos eles são escritores de obras contemporâneas, ou seja, começaram a
60
escrever nesse tempo. Há predomínio de autores vivos, o que de certa forma
assinala uma tendência interessante: a de valorizar as obras quando seus
autores ainda podem dialogar com os leitores sobre elas e a de não consagrar
apenas após a morte de autores.
Além disso, constatamos que dos 14 autores que obtiveram o primeiro lugar
na categoria romance do prêmio, cinco deles têm menos de dez obras literárias
publicadas, conforme aponta o quadro a seguir que mostra o número de obras
publicadas por cada autor, divididas em literárias e não literárias.
QUADRO 03 – Número de Obras3
AUTOR
TOTAL DE OBRAS
OBRAS LITERÁRIAS
OBRAS NÃO LITERÁRIAS
Moacyr Scliar 134 113 21
Milton Hatoum 05 05 0
Rubens Figueiredo 08 08 0
Ana Miranda 29 28 01
Bernardo Carvalho 12 12 0
Nélida Piñon 21 21 0
Carlos Nascimento Silva
05 05 0
CristovãoTezza 22 17 04
Edney Silvestre 11 07 04
José Castello 19 10 0
Oscar Nakasato 02 01 01
Evandro Affonso Ferreira
10 10 0
Bernardo Carvalho 12 12 0
Maria Valéria Rezende
17 17 0
Julián Fuks 04 04 0
O autor Moacyr Scliar é quem lidera o ranking com o maior número de obras
publicadas no meio impresso chegando a somar em torno de 100 obras, além
das traduzidas para outros idiomas como o inglês, o espanhol, francês e alemão.
Isso faz com que o autor seja reconhecido não só nacionalmente, mas também
em âmbito internacional. Sua grande produção pode ser vista como um reflexo
do reconhecimento que adquiriu perante os seus leitores e também pelo fato de
escrever não só obras literárias, mas ainda livros voltados para a Medicina, sua
área de formação.
3Tabela elaborada em janeiro de 2017, sendo que a principal fonte de pesquisa fora o site
Wikipédia.
61
Seguido de Scliar vem Ana Miranda, com cerca de 29 obras publicadas.
Vários fatores podem levar um autor a aumentar sua produção literária impressa,
mas para Ana Miranda supõe-se que o fato de ter tido seu romance Desmundo
publicado em 1996, adaptado para o cinema, fez com que não só leitores, mas
também expectadores conhecessem a autora e uma de suas obras, fator esse
que gera reconhecimento perante o público e que motiva os escritores a
produzirem mais obras para alcançar uma massa de leitores e fazer parte do hall
de obras e autores considerados canônicos. Suposições essas que podem ou
não responder a esses questionamentos.
Os demais autores têm poucas obras, apesar de nenhum deles ser
estreante na literatura e na produção impressa ou digital em geral. A experiência
em produção pode ser um dos fatores facilitadores para o sucesso deles no
concurso.
O fato de os romances premiados serem produzidos por escritores que não
têm significativa produção literária (em termos quantitativos) parece assinalar
que o prêmio está promovendo um movimento interessante: o de oportunizar
que novas vozes autorais tenham possibilidade de serem reconhecidas e
desfrutar do prestígio que o prêmio traz; o de incitar uma renovação de autores
no rol daqueles que são considerados de “qualidade literária” no cenário da
literatura brasileira recente.
Muitos desses autores e obras ainda são pouco estudados e conhecidos
pela crítica brasileira acadêmica, pois, em sua grande maioria, trata-se de
autores que há pouco tempo adentraram na produção literária e, desse modo,
ainda possuem poucas obras publicadas. Esse dado se comprova a partir de
uma pesquisa no Banco de Teses e Dissertações da CAPES que, utilizando
como palavra-chave o nome dos autores e analisando os 100 primeiros
resultados, percebemos que sobre as obras literárias de alguns deles não há
muitos trabalhos em teses e dissertações, como é o caso de Oscar Nakasato e
Julián Fuks que aparecem na pesquisa somente as suas próprias dissertações
de Mestrado e teses de Doutorado e ainda Edney Silvestre que não possui
nenhum trabalho sobre suas obras. É o que mostramos no quadro a seguir.
62
QUADRO 04 – Pesquisa no Portal da CAPES4
AUTOR NÚMERO DE TRABALHOS
Moacyr Scliar 38
Milton Hatoum 82
Rubens Figueiredo 03
Ana Miranda 24
Bernardo Carvalho 22
Nélida Piñon 32
Carlos Nascimento Silva 05
CristovãoTezza 14
Edney Silvestre 0
José Castello 0
Oscar Nakasato 06
Evandro Affonso Ferreira 01
Maria Valéria Rezende 01
Julián Fuks 07
Dos quatorze autores estudados, como mostra o gráfico a seguir,
constatamos que a maioria deles vem do Sudeste (cinco são do Rio de Janeiro,
dois de Minas Gerais e dois são de São Paulo). Autores nordestinos, do Norte e
de Centroeste são os menos contemplados pelo Prêmio. O Sul está
representado por três autores, sendo um de Santa Catarina, dois do Rio Grande
do Sul e um do Paraná.
4Os dados expostos no quadro foram preenchidos com base em pesquisa realizada no Banco
de Teses e Dissertações da CAPES em março de 2017. 5Não há nenhum trabalho sobre a obra desse autor. 6Os únicos trabalhos que constam desse autor são sua Dissertação do Mestrado e Tese do
Doutorado. 7Os únicos trabalhos que constam desse autor são sua Dissertação do Mestrado e Tese do
Doutorado.
63
Gráfico 01 – Naturalidade dos Autores
Tais dados indicam que, possivelmente, há uma projeção maior de autores
do Sudeste talvez em função de facilidade de acesso, de leitores nessas regiões,
de trabalhos de pesquisa na área. Enfim, hipóteses que podem tentar explicar
isso, mas não determinar. Não há como prová-las. Porém, poderíamos pensar
por quais outras razões obras de escritores do Centroeste não aparecem na
premiação. Seria apenas porque não se produz ou porque, havendo produção,
não são merecedoras do prêmio ou este estaria ignorando o que se faz fora do
eixo sul-sudeste?
Ainda há que se destacar que, apesar dessa origem, dos 14 autores, nove
residem no eixo Rio-São Paulo, enquanto que três vivem na região Sul e dois na
região Norte do país.
O maior número de escritores é do sexo masculino, com 11 autores
homens e três autoras mulheres. Uma primeira constatação é de que esse
prestígio dá continuidade à tradição literária brasileira na qual homens estão em
posição de destaque no âmbito literário e por consequência suas obras são mais
disseminadas em processo de formação de leitores de literatura, como os que
as escolas fomentam.
Poder de voz masculina, em contraste com o da feminina, também se
consolida um dado interessante: continua haver um apagamento de autoria
feminina no sentido de se constatar uma maior visibilidade da escrita de homens.
1 1
5
1 1 1
2 2
0
1
2
3
4
5
6
Naturalidade
Rio Grande do Sul Amazonas Rio de Janeiro Ceará
Santa Catarina Paraná Minas Gerais São Paulo
64
Isso ocorre apesar de a avaliação das obras não ser totalmente identificada, uma
vez que, no formulário de avaliação dos romances que concorrem ao prêmio, o
regulamento traz três questões em cada categoria para o avaliador se embasar,
sendo elas, na categoria romance: 1. Técnica narrativa; 2. Constituição dos
personagens; 3. Originalidade.
As formações acadêmicas de cada autor variam, pois são de diferentes
áreas, porém é possível visualizar que prevalecem as graduações e Letras e
Jornalismo, como mostra o gráfico 2.
Gráfico 02 – Formação
A variedade de formação dos escritores se dá, pelo menos em parte, pela
intimidade desses profissionais com as letras, o que de um modo geral pode
favorecer a qualidade literária dos romances.
Além disso, a formação na área das letras e jornalismo indica um novo perfil
de escritores prestigiados, recusando-se a ideia de dom, mas a de trabalho e
dedicação, técnica para escrever. Considerando esse contexto, parece que, para
se ter prestígio como escritor de romance, é preciso ter técnica de escrever e
não apenas uma boa história para contar. É então a valorização da
profissionalização do escritor de literatura.
E por se falar em profissionalização de escritores de literatura, Regina
Zilberman, em seu trabalho “Desafios da literatura brasileira na primeira década
1 1
4
1
6
10
1
2
3
4
5
6
7
Formação
Medicina Arquitetura e Urbanismo Letras
Artes Plásticas Jornalismo Não identificado
65
do séc. XXI”, publicado em 2010, traça um panorama sobre o desafio de o
escritor conseguir se manter financeiramente com sua produção literária.
Primeiro ela afirma que, desde 1897, a Academia Brasileira de Letras representa
a reivindicação de que a profissão de escritor deva ser tratada como a de um
sujeito qualquer e ainda que é preciso haver uma desconstrução da imagem do
escritor como boêmio e desocupado.
Porém, não é sempre que um autor consegue se manter somente com sua
produção, aspectos como a falta de reconhecimento, a condição financeira
desfavorável, o pouco público leitor, ou até a má aceitação da sua obra perante
a sociedade são alguns dos fatores que podem levar um escritor a não conseguir
permanecer somente no meio editorial. Zilberman (2010) ainda afirma ser
através da grande venda de sua obra e uma premiação literária um dos modos
de se adentrar definitivamente no meio editorial. Ela ainda cita o exemplo do
escritor Cristóvão Tezza, que após vencer o Jabuti em 2008 com seu romance
O filho eterno, pôde largar seu emprego de professor universitário e se dedicar
somente a sua escrita.
Além disso, ainda é possível constatar sob esse aspecto uma elitização da
produção literária na medida que quem alcança esse status não está escrevendo
a primeira obra romanesca nem está fora dos bancos de formação no ensino
superior. É, por outro lado, quem teve acesso à formação universitária (e
provavelmente leu muitos textos, incluindo os de literatura), e está localizado em
regiões brasileiras que facilitam a interação (eixo Rio-São Paulo) e estando,
ainda, familiarizado com as letras de uma forma geral.
Em relação à idade dos autores, considerando-se o ano de 2016,
constatamos que o grupo dos 13 romancistas premiados no século XXI é de
autores com maior experiência de vida, o que prevalece são os veteranos, com
idades a partir dos 50 anos, conforme é possível identificar no quadro a seguir:
Quadro 05 – Idade dos autores8
AUTOR IDADE Moacyr Scliar 74 Milton Hatoum 65
Rubens Figueiredo 61 Ana Miranda 66
8 Idade equivalente ao ano de 2017, exceto Moacyr Scliar que faleceu em 2011.
66
Bernardo Carvalho 57 Nélida Piñon 80
Carlos Nascimento Silva 80 CristovãoTezza 65 Edney Silvestre 67 José Castello 66
Oscar Nakasato 54 Evandro Affonso Ferreira 72 Maria Valéria Rezende 75
Julián Fuks 36
Com esses dados é possível visualizar que autores jovens não aparecem
nesse quadro, pois nenhum dos premiados possui idade abaixo de 30 anos. Uma
hipótese para essa constatação é a possível falta de experiência e uma possível
bagagem menor de conhecimentos e vivências podem influenciar na qualidade
dos textos e, por isso, um menor destaque no prêmio.
Em relação à etnia dos autores, a maioria dos escritores são brancos. Essa
afirmação vem ao encontro de uma pesquisa realizada por Regina Dalcastagnè
na Universidade de Brasília, conforme a autora aponta em seu artigo “Um
território contestado: literatura brasileira contemporânea e as novas vozes
sociais” no qual ela faz um levantamento em um período de 15 anos (1990 a
2004) em todos os romances publicados por editoras importantes como a
Companhia das Letras, Rocco e Record e constata que 93,9% dos autores são
brancos. Essa afirmação ainda continua prevalecendo no meio literário, pois não
há nenhum indígena ou negro nessa lista de premiados.
A pesquisa feita por Dalcastagnè também retrata que além desses autores
serem, em sua maioria, brancos, ainda possuem uma boa formação acadêmica
e 60% desses vivem no Rio de Janeiro e São Paulo, ou seja, prevalece o velho
estereótipo de que se a pessoa possui uma graduação, um bom emprego, é
branco e ainda vive em um grande centro urbano já basta para ser um bom autor
e até mesmo conquistar uma premiação literária.
Assim, ao se fazer um balanço dos autores contemplados nas edições do
século XXI do Prêmio, podemos fazer algumas inferências. Primeiro, o Prêmio
Jabuti traz inovações no sentido de reconhecer autores mais jovens e valorizar
alguns que são mais iniciantes na literatura como escritores, pois, de acordo com
Zilberman (2010), participar de uma premiação literária seja ela apenas de
âmbito regional é uma forma de alavancar a carreira, estimulando talentos
67
promissores. Acreditamos que autores mais novos têm o privilégio de mostrar
seus trabalhos e até adquirir um maior reconhecimento a partir da premiação, e
desse modo servem-se de exemplos para próxima geração ou até para aquele
escritor que ainda não adquiriu um público leitor de suas obras.
Segundo, dá vazão a escritores que, além de terem familiaridade com as
letras de uma forma geral, têm contato com mídias e associações, podendo
assim publicar textos no meio digital, participar de entrevistas, dialogar com
leitores e principalmente alavancar sua carreira através da divulgação da sua
obra. Sem contar que essa premiação pode impulsionar a participação em
palestras, como mediador, de qualquer lugar do país ou do mundo ocasionando
assim um contato maior com seus leitores.
Outro fator importante no que diz respeito a esse meio digital é o
barateamento das obras, conforme aponta Zilberman (2010) muitos autores
nesse meio editorial acabam optando por publicar suas obras primeiramente em
meios digitais, pois além de diminuir os custos existem softwares específicos que
facilitam a diagramação e a publicação ocorre de maneira mais rápida. Um bom
exemplo de como essa plataforma funciona é o autor Daniel Galera que em 2009
ganhou o prêmio Jabuti em terceiro lugar com o romance Cordilheira, esse está
disponível na internet gratuitamente e pode ser lido online ou até mesmo baixado
no próprio computador.
Terceiro, o Prêmio segue um padrão intelectual especifico, ocasionando
reconhecimento, em sua maioria, para escritores com condições financeiras
favoráveis, uma formação acadêmica, mestrado, doutorado e ainda com
oportunidade em estudar fora do país, justificando o que Dalcastagnè (2012)
afirma ao dizer que esses autores contemplados são privilegiados por possuírem
boas profissões e ainda dominarem o discurso, já que se encontram, em sua
grande maioria, no meio jornalístico e acadêmico, desse modo já possuem o
hábito e dom da escrita, pois estudaram para aperfeiçoá-la.
A partir dessas constatações é possível perceber quem são esses autores
consagrados pelo Jabuti, de onde vieram, o que produzem, enfim, foi possível
estabelecer um panorama de suas vidas. Agora, buscando se adentrar um pouco
mais nessas obras consagradas, a próxima seção buscará mostrar qual a
receptividade das obras de cada autor no meio acadêmico, ou seja, quantas
obras publicou, quantas já obtiveram premiações e quais premiações, para
68
assim chegarmos finalmente nos romances consagrados em primeira colocação.
3.2 Receptividade das obras dos autores em outras premiações
Reconhecer a receptividade de uma obra literária é muito importante para
saber como está vem sendo vista perante a crítica literária, pois é através desse
fator que muitos autores recebem um maior destaque diante do seu modo de
escrever, esse destaque pode ser bom ou não, pois tudo irá depender da
maneira como o crítico literário analisa determinada obra. É através dessa
receptividade também que muitos autores acabam abrangendo um maior público
e se tornando conhecidos no meio acadêmico.
Para facilitar o entendimento, as informações serão repassadas através de
gráficos, e seguirão a seguinte sequência: Número de premiações adquirida por
cada autor; concursos literários mais frequentes nas premiações; e por fim,
gêneros literários mais explorados.
Em relação ao número de prêmios já recebido pelos autores premiados no
século XXI com o Jabuti, mais uma vez é Scliar quem lidera o gráfico, dessa vez
com um vasto número de premiações literárias conquistadas a partir de suas
obras.
69
Gráfico 03 – Número de premiações adquiridas por cada autor
Scliar se destaca por sua vasta produção literária e não literária, mas
principalmente por seu perfil de autor. Scliar segue o parâmetro tradicional, é
branco, possui boas condições de vida, vem de um grande centro urbano e
principalmente possui uma formação acadêmica. É graduado em Medicina,
faculdade que para a década de 60, ano em que se formou, era destinada
somente para elite, pelo alto valor financeiro que possuía, desse modo, somente
quem obtinha ótimas condições financeira poderia cursar.
Em relação aos concursos literários mais frequentes, cabe destacar que é
o prêmio Jabuti o mais procurado pelos autores, conforme aponta o gráfico a
seguir:
20
7 4 8 3 5 3 10 2 4 4 3 4 20
10
20
30
Número de premiações adquiridas por cada autor
Moacyr Scliar Milton Hatoum Rubens Figueiredo
Ana Miranda Bernardo Carvalho Nélida Piñon
Carlos Nascimento Silva Cristovão Tezza Edney Silvestre
José Castello Oscar Nakasato Evandro Affonso Ferreira
Maria Valéria Rezende Julián Fuks
70
Gráfico 04 – Concursos Literários mais frequentes
Conforme é possível constatar no gráfico, o concurso mais procurado pelos
autores é o Jabuti, por sua grande abrangência e reconhecimento tanto dentro
como fora do Brasil. Sobre o Jabuti, Tania Rösing (2016) afirma que, além de
despertar uma grande curiosidade para saber quem serão os vencedores, ainda
é divulgado o conjunto de obras editadas pelo autor, fator quede certo modo
amplia suas vendas.
Dos demais prêmios elencados no gráfico, o Prêmio Casa de las Américas,
é o único que ainda não foi mencionado durante esse trabalho. Criado em 1960,
consiste em uma premiação internacional que acontece anualmente e busca
contemplar autores da América Latina. Suas principais categorias são: poesia,
conto, novela, teatro, ensaio, memórias, literatura infanto-juvenil, literatura
caribenha, literatura brasileira e literatura indígena. Sua representatividade
acabou chamando a atenção de autores brasileiros que buscam um
reconhecimento fora do país.
Dentre os gêneros literários mais explorados pelos autores premiados pelo
Jabuti em primeira colocação no século XXI, o romance é o que se sobressai:
25
10 10 10 11 108
0
5
10
15
20
25
30
Concursos Literários mais frequentes
Prêmio Jabuti Prêmio Portugal Telecom o agora Oceanos
Prêmio Casa de las Américas Prêmio São Paulo de Literatura
Prêmio ABL de poesia, ficção, tradução Prêmio APCA
Demais premiações
71
Gráfico 05 – Gêneros Literários mais explorados
O romance é o gênero literário mais explorado, pois se trata de uma obra
com uma estrutura mais completa comparando com o conto. Nela é possível a
introdução de mais personagens, cenários, enredos, conforme afirma
Dalcastagnè “[...] no romance, podemos vislumbrar personagens mais inteiras –
ou seja, com maior desenvolvimento” (DALCASTAGNÈ, 2012, p.150). Desse
modo, o romance talvez seja o mais usado por ele proporcionar ao autor um
maior “espaço” para criar sua narrativa. Além disso, os autores buscam uma
sustentação nesse gênero como forma de especialização, tendo em vista que se
foi possível conseguir um prêmio com uma obra romanesca por que não investir
e criar mais algumas?
Desse modo, buscando entender que tipo de romance o prêmio Jabuti
abrange, o próximo tópico irá tratar da composição do romance, enfatizando se
as obras consagradas pelo Jabuti em primeira colocação contemplam os
elementos da narrativa: enredo, narrador, personagens, tempo e espaço; se
encontramos nas obras uma composição tradicional ou inovadora, e por fim,
quais as tendências que as obras contempladas seguem.
3.3 Apresentação dos romances
De 2000 a 2016, foram 17 romances vencedores, e sua leitura pode ajudar-
30
20
15
10
5 20
5
10
15
20
25
30
35
Gêneros Literários mais explorados
Romance Contos Crônica Infanto-juvenil Ensaio Poesia
72
nos a compreender o perfil romanesco que o Prêmio tem privilegiado e, assim,
contribuir para melhor compreender a tendência romanesca valorizada pela
avaliação.
O primeiro romance a ser apresentado é A mulher que escreveu a Bíblia,
de Moacyr Scliar, publicado em 1999 pela editora Companhia das Letras e
ganhador do Jabuti em 2000. Nessa obra, vivenciamos através de um narrador
personagem feminino, cujo nome não é identificado, as vivências de uma jovem
moça que descobre, a partir de terapias espirituais, que fora casada, em outra
vida, com o rei Salomão. Durante toda a narrativa a própria personagem se
caracteriza como uma mulher muito feia, que sonha entre as diversas esposas
de Salomão ser chamada para uma noite de amor com o rei.
O segundo livro nesse hall de obras é Dois Irmãos de Milton Hatoum,
publicado em 2000 pela Companhia das Letras e ganhador do prêmio Jabuti em
2001. O romance narra a turbulenta relação entre os gêmeos Yaqub e Omar
(caçula). Yaqub trata-se de um garoto estudioso, que possui uma boa relação
com as pessoas e é considerado motivo de orgulho para a família, já Omar o
caçula é totalmente o oposto, briga na escola, não quer estudar, somente festas
e bebidas fazem parte da sua vida. Hatoum recria um ambiente familiar repleto
de intrigas, inveja e violência entre dois irmãos gêmeos idênticos que deveriam,
pela lógica, viver unidos, já que foram gerados na mesma placenta.
Seguindo a ordem das premiações do Jabuti, encontramos a obra Barco a
Seco, que foi contemplada em 2002. Escrita por Rubens Figueiredo, Barco a
Seco publicado em 2001 pela Companhia das Letras e traz a história de um
narrador personagem que após ser expulso de casa por sua família pobre acabo
por se adentrar nos estudos e se torna um estudioso no campo das artes,
especializando-se em um pintor chamado Emilio Vega. Durante a obra, ele busca
incessantemente descobrir sobre esse misterioso pintor, pois há poucos
resquícios sobre sua vida, até mesmo sobre o dia do seu nascimento. Com uma
narrativa de fácil entendimento Rubens Figueiredo leva o leitor a procurar, assim
como o narrador personagem, fatos sobre a vida e obra de Emilio Vega.
A próxima obra é Dias e Dias, de Ana Miranda, publicado em 2002 pela
Companhia das Letras e vencedora do Jabuti em 2003. Nela visualizamos, a
partir da personagem Feliciana, narradora, seu grande amor e encantamento
pelo autor Gonçalves Dias e por sua escrita carregada de sentimentos. Dias e
73
Dias trata-se de uma obra envolvente que demonstra todo o amor e admiração
de uma leitora por seu autor e ainda demonstra a capacidade e conhecimento
de Ana Miranda em escrever, pois durante toda a obra ela cita trechos de
poemas de Gonçalves Dias.
Mongólia, de Bernardo Carvalho, é a próxima obra a ser apresentada.
Publicada em 2003 pela Companhia das Letras, é vencedora do Jabuti em 2004.
Nessa narrativa conhecemos a história de dois personagens principais, um
diplomata brasileiro que é encarregado de ir até a Mangólia em busca de um
fotógrafo desaparecido. Para situar-se sobre a vida do fotógrafo, o diplomata
possui consigo o diário do procurado. Há na narrativa um diálogo entre o
diplomata e o diário do fotógrafo, como se o personagem humano fosse o diário.
Desse modo, juntos, diplomata e diário conhecem a cultura história e
principalmente a população de Mangólia que possui suas tradições, crenças e
modos de agir.
A sexta obra é Vozes no Deserto de Nélida Piñon, publicada pela editora
Record em 2004 e ganhadora do Jabuti em 2005. Nessa narrativa, vemos uma
recriação da história de Scherezade em Mil e Uma Noites, porém o foco não são
as histórias que a personagem conta para o califa, mas o seu eu interior, o modo
como ela pensa. É possível visualizar nessa personagem de Nélida Piñon uma
representante feminina que usa do seu poder de contar histórias, acabando
assim com a morte das mulheres que se casam com o líder.
A sétima obra a ser apresentada é Cinzas do Norte, de Milton Hatoum,
publicada em 2005 pela Companhia das Letras e ganhadora do Jabuti em 2006.
Nessa obra Milton Hatoum utiliza-se de dois personagens centrais, Olavo mais
conhecido como Lavo, e Raimundo, cujo apelido é Mundo. Trata-se de uma
história narrada sobre o ponto de vista de Olavo, um garoto pobre que é órfão
de seus pais e ele acompanha o tumultuado relacionamento de Raimundo com
sua família que pertence a uma classe mais alta na sociedade. A partir desses
dois personagens é possível identificar uma representação de uma Manaus pós-
guerra na década de 1970.
Desengano, de Carlos Nascimento Silva, compõe o quadro de obras e é a
oitava a ser apresentada. Esse romance fora publicado pela Editora Agir em
2006 e ganhador do Jabuti em 2007. O enredo gira em torno de dois
personagens principais, Júlia, viúva, e Beto, amigo de seus filhos. O romance
74
acontece na década de 1950, em um Brasil governado por Getúlio, JK e Jango.
Há, nessa obra, uma representação do Brasil nessa época, além do caso de
amor entre os personagens principais.
A nona obra é O Filho Eterno, de Cristovão Tezza, publicada pela Record
em 2007 e ganhadora do Jabuti em 2008. Sua trama gira em torno de uma família
que descobre que seu filho possui síndrome de Down. A família é composta por
mãe, pai, irmã e Felipe, o único integrante que é nomeado. Quando a família
descobre essa mudança genética, acaba ficando confusa, principalmente o pai
que sonha com um filho “perfeito”. Cristovão Tezza conseguiu mostrar nessa
obra as angústias, inseguranças, desafios e principalmente as vitórias
conquistadas por um garoto com síndrome de Down.
Moacyr Scliar mais uma vez aparece nesse quadro, agora com a obra
Manual da Paixão Solitária, publicada pela Cia das Letras em 2008 e vencedora
do Jabuti do ano seguinte. A história é baseada no livro bíblico Gênesis, e traz o
ponto de vista dos personagens que não puderam “falar” no trecho bíblico,
modificando o sentido da história. Com ironia e humor, ele mostra uma outra
versão da história bíblica com um tom mais leve e literário.
Outra obra importante nesse hall é Se Eu Fechar Os Olhos Agora, de Edney
Silvestre publicado em 2009 pela Record e ganhador do Jabuti em 2010. O
enredo gira em torno de dois personagens principais, Eduardo e Paulo, ambos
com 12 anos de idade que ao caminharem entorno de um lado encontram o
corpo de uma mulher morta. Os meninos acabam procurando a polícia e são
suspeitos do crime, que em seguida é confessado pelo marido. Nessa narrativa,
Edney Silvestre mostra cenas de brutalidade, indiferença por parte da polícia,
fato que deixa esses dois meninos intrigados em busca de uma resposta.
A décima segunda obra é Ribamar, de José Castello, publicado em 2010
pela editora Bertrand Brasil e ganhador do Jabuti em 2011. Nessa narrativa, que
aparentemente possui traços autobiográficos, evidenciamos uma tentativa de
reaproximação entre Ribamar e seu filho. Essa reaproximação se dá através de
cartas, de uma busca por conhecer mais a fundo seu pai Ribamar, tendo em
vista que esse já está morto. José Castello construiu um romance embasado em
viagens na vida de um pai chamado Ribamar, no qual o filho precisa percorrer
para então conseguir se reaproximar do pai, mesmo ele estando morto.
Oscar Nakasato também faz parte desses autores contemplados pelo
75
Jabuti, com sua obra Nihonjin, publicada pela editora FGV Direito em 2011 e
ganhador do Jabuti em 2012. Nesse romance nos deparamos com um japonês
nomeado Hideo Inabata que, no século XX, se muda para o Brasil em busca de
melhores condições de vida e sonha em voltar para sua terra, o Japão, rico.
Durante o período que passa no Brasil, acaba sofrendo ao tentar se adaptar a
essa terra e, de certo modo, representa os imigrantes japoneses que vieram para
Brasil buscando vencer obstáculos e garantir uma vida melhor para suas
famílias.
Outra obra que merece destaque é O Mendigo que Sabia de Cor os
Adágios de Erasmo de Rotterdam, de Evandro Affonso Ferreira, publicada em
2012 pela Record e ganhador do Jabuti em 2013. Nessa narrativa o autor dá voz
a um mendigo que possui um nível de instrução intelectual, gosta de ler e anda
sempre com um livro junto de si, esse livro é dos adágios de Erasmo de
Rotterdam. Durante o romance o mendigo relata suas vivências de rua, ora com
certa sensatez, ora com tom de delírio, fato que instiga o leitor a procurar
respostas perante essas indagações.
Reprodução, de Bernardo Carvalho, também foi vencedora do prêmio
Jabuti, essa em 2014. Publicada em 2013 pela Companhia das Letras, tem como
protagonista um estudante de chinês que está prestes a embarcar em um voo
para a China, porém é esbarrado por policiais junto com uma antiga professora
que, coincidentemente, também se encontra no aeroporto. Ambos são levados
para a delegacia e interrogados pela polícia, o estudante de chinês acaba por
transmitir ao delegado um discurso um tanto homofóbico, racista e
preconceituoso, dificultado assim sua saída da delegacia.
A próxima obra a ser apresentada é Quarenta Dias, de Maria Valéria
Rezende, publicado pela editora Objetiva em 2014 e ganhadora do Jabuti em
2015. Trata da história de Alice, narradora personagem, que relata os dias que
ficou em busca de Cícero Araújo, filho de uma amiga, que desapareceu e ela
nem mesmo sabe se ele existe de fato. Durante sua busca, ela vai fazendo
anotações em um caderno cuja capa traz a imagem na boneca Barbie, perdida
em uma periferia sem saber ao certo por onde recorrer.
Enfim, a última obra é A Resistência, de Julián Fuks publicada em 2015
pela Companhia das Letras e ganhadora do Jabuti em 2016. Nessa narrativa,
deparamo-nos com o narrador em primeira pessoa Sebastian que tenta retratar
76
como foi o exílio de sua família para o Brasil. Com o passar dos anos essa família
sofre entre si para relacionar-se e é tarefa desse irmão retratar ao leitor as
desavenças do seu próprio seio familiar.
Depois de expostos os enredos de cada obra, é preciso verificar como
estão presentes outros elementos da narrativa em cada romance literário. Desse
modo, para representar cada obra, o próximo tópico terá como objetivo mostrar
como se constitui a estrutura e a linguagem nas narrativas.
3.4 Estrutura e linguagem dos romances
Para reconhecer como são as tendências romanescas de personagens e
narradores das obras analisadas, é preciso refletir sobre a estrutura e a
linguagem das obras. Começamos esse diálogo com uma exposição sobre uma
visão geral da estrutura dos textos, como ilustra o quadro abaixo. Nele há dados
sobre o formato das narrativas, iniciando a discussão de sua estrutura.
QUADRO 06 – Estrutura dos romances
OBRA
NÚMERO DE
PÁGINAS
POSSUI DIVISÃO DE CAPÍTULOS?
CAPÍTULOS PODEM SER LIDOS
DE FORMA INDEPENDENTE?
A mulher que escreveu a Bíblia
162 Não NÃO
Dois irmãos 198 Sim Não
Barco a Seco 191 Sim Não
Dias e Dias 243 Sim Não
Mongólia 187 Sim Não
Vozes no Deserto 251 Sim Não
Cinzas do Norte 311 Sim Não
Desengano 212 Sim Não
O Filho Eterno 222 Sim Não
Manual da Paixão Solitária
215 Sim Não
Se Eu Fechar os Olhos Agora
301 Sim Não
Ribamar 278 Sim Não
Nihonjin 175 Sim Não
O Mendigo que Sabia de Cor os
Adágios de Erasmo de Rotterdam
127 Não Não
Reprodução 167 Sim Não
Quarenta Dias 248 Sim Não
A Resistência 144 Sim Não
77
Conforme é possível visualizar no quadro, quanto à estrutura dos
romances, cabe destacar que, em relação ao número de páginas, a quantidade
varia entre 144 a 311 páginas, sendo o romance com menor número A
Resistência, de Julian Fuks, e o com o maior Cinzas do Norte, de Milton Hatoum.
Nove obras têm mais de duzentas páginas e a média é de 250 páginas, o que
sinaliza que não há uma tendência em textos muito breves ou muito longos,
prioriza-se a narrativa média quanto à extensão.
Além disso, das dezessete obras analisadas, apenas duas não possuem
divisões de capítulos, uma delas é O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de
Erasmo Rotterdam, possuindo apenas um parágrafo, é como se a narrativa
consistisse em apenas um único fluxo da consciência do narrador personagem,
não dando tempo para que o leitor respire durante a prática da leitura. Em
relação às obras que possuem divisão de capítulos, há, na maioria dos casos,
apenas uma divisão numérica entre um capitulo do outro, sem haver um título
para as seções.
Outro ponto a ser destacado é que, em nenhuma das obras premiadas pelo
Jabuti, os capítulos podem ser lidos separadamente, há uma necessidade de um
acompanhamento desde o início da narrativa para haver o entendimento do
leitor, demonstrando, desse modo, que o Prêmio Jabuti até mesmo em relação
à estrutura das obras ainda segue um padrão conservador, que valoriza a
estrutura de início, meio e fim narrativos.
A linearidade dos romances consiste em um fator muito importante no
momento da leitura e entendimento da obra literária, desse modo o próximo
gráfico trará o resultado desse fator e ainda se a sequência da obra apresenta
certa clareza:
QUADRO 07 – Linearidade dos romances
OBRA
LINEAR/ NÃO LINEAR
POSSUI INÍCIO, MEIO E FIM DE FORMA CLARA?
A mulher que escreveu a Bíblia
LINEAR Sim
Dois irmãos Linear Sim
Barco a Seco Linear Sim
Dias e Dias Linear Sim
Mongólia Linear Sim
Vozes no Deserto Linear Sim
78
Cinzas do Norte Linear Sim
Desengano Linear Sim
O Filho Eterno Linear Sim
Manual da Paixão Solitária Linear Sim
Se Eu Fechar os Olhos Agora
Linear Sim
Ribamar Linear Sim
Nihonjin Linear Sim
O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam
Linear Sim
Reprodução Linear Sim
Quarenta Dias Linear Sim
A Resistência Linear Sim
Todas as obras possuem linearidade, ou seja, apresentam início, meio e
fim de forma clara, o que facilita o entendimento do leitor e não exige deste
grandes esforços de compreensão. Essa característica, surgida desde os
primórdios da criação literária romanesca, ainda continua a ser perpetuada.
Supõe-se que haja, nessa premiação, uma dificuldade em deixar de seguir um
padrão já imposto no meio editorial, tendo em vista que, como já citado
anteriormente, há certo conservadorismo nessa premiação literária, e mesmo
que o modo de escrita mude, o Jabuti não premia as inovações.
Quando ao gênero das obras, todas são classificadas como romances, não
havendo mescla com outros gêneros, fator este que facilita no momento da
leitura, pois tanto um leitor experiente como o inexperiente podem fazer a leitura
das obras e conseguirão entendê-la com facilidade. Isso pode se dar pelo fato
de as obras, por serem de fácil entendimento, conseguir abranger um número
maior de público leitor, pela facilidade e comodidade no momento da leitura.
Há também nesse hall de obras premiadas pelo Jabuti exemplos de
intertextualidade, e sobre essa teoria tão importante no âmbito dos estudos
literários Sandra Nitrini (1997), em seu capítulo intitulado “Conceitos
fundamentais”, traz um panorama acerca do conceito de intertextualidade
seguindo a linha da principal fundadora, Julia Kristeva. Com seu surgimento na
segunda metade do século XX, a intertextualidade para Kristeva trata-se de um
mosaico de citações, ou seja, a produção do autor será resultado daquilo que foi
lido e estudado por ele. É como se todos os textos fossem produtos de um
conjunto de vários outros textos e é função do leitor identificar essa
intertextualidade nas narrativas.
Dois exemplos claros de intertextualidade nos romances consagrados pelo
79
Jabuti são A mulher que escreveu a Bíblia, de Moacyr Scliar, e Vozes no Deserto,
de Nelida Piñon. Na obra de Scliar, vemos uma recriação da história bíblica sob
o viés de uma personagem feminina que além de narrar ainda participa dessa
nova escrita. Já na obra de Piñon há uma apropriação dos personagens do
romance Mil e uma noites, porém a escrita acontece sob o viés também da
personagem feminina Scherazade. Ambas as obras podem ser associadas ao
conceito de intertextualidade que Nitrini (1997) apresenta, tendo em vista que
fica claro que tanto Moacyr como Nélida partiram de uma escrita já feita para
então construir as suas próprias.
De uma forma geral, podemos constatar que o Prêmio Jabuti está
valorizando estas tendências quanto à estrutura romanesca: obras de média
extensão, com estrutura facilitadora da extensão, já que não exigem muito de
seus leitores, e limitação de estilo, uma vez que optam pela narrativa de estilo
mais tradicional sem hibridismos.
Assim como a estrutura da obra literária, a linguagem é determinante para
se entender em que contexto estão inseridos os personagens e como é
construído o enredo. Assim, o quadro a seguir trará como são classificados os
tipos de linguagem que prevalecem nas obras consagradas:
QUADRO 08 – Linguagem das obras
OBRA
LINGUAGEM
A mulher que escreveu a Bíblia Culta
Dois irmãos Coloquial
Barco a Seco Coloquial
Dias e Dias Culta/Coloquial/Poética
Mongólia Poética
Vozes no Deserto Culta
Cinzas do Norte Culta
Desengano Culta/Coloquial
O Filho Eterno Culta
Manual da Paixão Solitária Culta/Coloquial
Se Eu Fechar os Olhos Agora Culta
Ribamar Culta
Nihonjin Coloquial
O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam
Culta/coloquial
Reprodução Coloquial
Quarenta Dias Coloquial
A Resistência Coloquial
Sobre a linguagem que prevalece nos romances, elas variam entre culta,
coloquial e poética, havendo ainda casos onde há um misto entre esses três
80
tipos de linguagem. Este é o caso do romance Dias e Dias, de Ana Miranda, cuja
linguagem é culta no momento que em que Feliciana precisa conversar com um
professor, arranjado como pretendente pelo pai para um futuro casamento, é
coloquial no momento que troca palavras com a tia, que é empregada da casa,
e ainda é poética quando troca mensagens com uma prima sobre seu grande
amor Gonçalves Dias.
Em síntese, sobre a categoria estrutura e linguagem dos romances cabe
destacar que no conjunto os romances apresentam uma estética tradicional,
quando ao número de páginas variam entre 144 a 311; há uma linearidade entre
os capítulos, sendo que um precisa do outro para que haja o entendimento geral
da narrativa; há em dois casos a presença da intertextualidade que serve como
forma de valorização do texto, demonstrando ainda que o escritor possui
conhecimento sobre o que está falando, e por último há o predomínio de um
linguagem coloquial, representando sujeitos simples que fazem parte da nossa
sociedade.
Após a exposição sobre a estrutura e linguagem dos romances, o tópico a
seguir terá o objetivo de demonstrar como se constituem os cenários das
dezessete obras contempladas, dando enfoque para o tempo e o espaço, já que
estes também são elementos essenciais de composição romanesca.
3.5 Cenários: tempo e espaço
O tempo e o espaço são fatores relevantes no âmbito geral de um romance.
Rodrigues (1998) traz apontamentos acerca desses dois importantes elementos
da narrativa, afirmando que, no que diz respeito ao tempo, cabe ao romancista
dispor de como esse elemento irá aparecer em sua narrativa. Por exemplo, após
dar vida a um personagem, cabe a ele diagnosticar como será administrado o
tempo de vida da pessoa e ainda se esse pode ser caracterizado como um tempo
cronológico ou psicológico.
Em relação ao espaço Rodrigues (1998) também pontua afirmando que
assim como os outros elementos do texto, narrador, personagem, enredo, o
espaço também é algo fundamental, podendo aparecer como um elemento
secundário ou até prioritário e em muitos casos como algo de descoberta, onde
81
o leitor na medida que vai lendo o romance vai descobrindo o espaço onde a
obra de desenvolve.
Desse modo, afim de identificar como se constitui o tempo e o espaço nas
dezessete narrativas, premiadas em primeira colocação pelo Prêmio Jabuti entre
2000 e 2016, o primeiro quadro trará o tempo das narrativas, se são classificados
como cronológico ou psicológico:
QUADRO 09 – Tempo das narrativas
OBRA
CRONOLÓGICO OU
PSICOLÓGICO?
CENTRADO EM FATOS DO PRESENTE OU DO
PASSADO?
A mulher que escreveu a Bíblia
Psicológico Passado
Dois irmãos Cronológico Passado
Barco a Seco Psicológico Passado
Dias e Dias Cronológico Presente
Mongólia Cronológico Passado
Vozes no Deserto Psicológico Passado
Cinzas do Norte Cronológico Passado
Desengano Cronológico Passado
O Filho Eterno Cronológico Passado
Manual da Paixão Solitária Cronológico Passado
Se Eu Fechar os Olhos Agora
Cronológico Passado
Ribamar Cronológico Passado
Nihonjin Cronológico Passado/Presente
O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam
Cronológico Presente
Reprodução Cronológico Presente
Quarenta Dias Cronológico Passado
A Resistência Cronológico Passado
Sobre o tempo presente nas narrativas, como podemos perceber há o
predomínio do tempo cronológico. Sobre essa categoria temporal, Cândida
Vilares Gancho, em seu livro Como analisar narrativas, publicado em 2002,
afirma ser o tempo cronológico aquele que acontece na ordem natural dos fatos,
citando ainda como exemplo uma história que inicia na infância do personagem
e segue até a sua fase adulta. Essa afirmação feita pela autora pode ser
visualizada em quatorze das dezessete obras analisadas, mas em Dois irmãos,
de Hatoum, é possível acompanhar claramente a vida e desenvolvimento físico
e intelectual dos irmãos Omar e Yaqub, assim como a chegada da velhice de
seus pais. Há desse modo uma ordem cronológica dos fatos relatados pelo
narrador.
82
Em relação ao tempo psicológico, Gancho (2002) também traz
ponderações, observando que se trata de um enredo que transcorre conforme o
narrador e os personagens querem e não há uma linearidade fixa. Não há, assim
uma ordem natural dos fatos. Como exemplo disso temos o romance Barco a
Seco, de Rubens Figueiredo, no qual encontramos um narrador personagens
que busca incessantemente por um misterioso pintor chamado Emilio Vega.
Porém para encontrar e descobrir sobre a vida desse sujeito desconhecido, esse
narrador retoma ao passado e ao mesmo tempo se remete ao presente, exigindo
do leitor um pouco mais de atenção no momento da leitura.
A partir desses dois exemplos de romances que seguem o tempo
cronológico e/ou psicológico podemos concluir que o Prêmio Jabuti da vazão a
narrativas que seguem um relato cronológico, tendo em vista o grande número
de obras caracterizadas com esse tempo, o que pode ser associado ao fato de
as obras não serem tão exigentes ao leitor para compreensão. A partir dessa
descoberta, mais uma comprovação pode ser identificada: o Jabuti busca
premiar obras que não exijam muitas dificuldades para o público leitor, supondo-
se então que pelo fato de serem de fácil acesso haja uma maior procura das
pessoas.
Além disso, cabe destacar que das dezessete obras analisadas, treze delas
são narradas no presente, mas se remetendo ao passado. Ou seja, há uma
tendência em se contar o “hoje” e não construir memórias, refletir sobre o
passado, construir uma narrativa histórica. Interessa-se pelo presente, pelos
anseios, projetos do agora, do tempo presente, do contemporâneo.
Outro fator importante que precisa ser levado em conta nas narrativas em
análise é o espaço onde elas se desenvolvem. Desse modo, no quadro a seguir
é possível identificar se esses espaços são urbanos ou rurais e ainda se as
histórias contadas acontecem em ambientes públicos ou privados.
QUADRO 10 – Espaço das narrativas9
OBRA
URBANO OU RURAL
PÚBLICO OU PRIVADO
A mulher que escreveu a Bíblia
Rural/Urbano PÚBLICO
Dois irmãos Urbano Público/Privado
9Para fins de análise, são considerados apenas os espaços onde os personagens passam a
maior parte do tempo na narrativa.
83
Barco a Seco Urbano Público
Dias e Dias Urbano Público
Mongólia Urbano Público
Vozes no Deserto Urbano Público
Cinzas do Norte Urbano Público
Desengano Urbano Público
O Filho Eterno Urbano Público
Manual da Paixão Solitária Urbano Público
Se Eu Fechar os Olhos Agora
Urbano Público
Ribamar Rural/Urbano Público
Nihonjin Urbano Público
O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam
Urbano Público
Reprodução Urbano Público
Quarenta Dias Urbano Público
A Resistência Urbano Público
O espaço consiste no local onde a narrativa se desenvolve. De acordo com
Gancho (2002), sua principal função é situar as ações dos personagens, além
de influenciar nas suas atitudes e pensamentos. Como a própria palavra nos
remete, o espaço sugere o local físico onde a narrativa se desenvolve. É possível
o conhecimento do espaço onde a obra de desenvolve a partir dos próprios
fragmentos do texto, porém há casos em que o narrador não especifica
claramente o local onde a narrativa se desenvolve, cabendo assim ao leitor
identificar sozinho esse ambiente.
Conforme fora possível visualizar na tabela acima, de um modo geral, todas
as narrativas aconteceram no ambiente urbano e em espaços privados. Duas
obras que podem exemplificar essa afirmação são Mongólia de Berardo
Carvalho e Se Eu Fechar os Olhos Agora de Edney Silvestre. Em Mongólia
encontramos um diplomata brasileiro que precisa ir para Mongólia em busca de
um fotógrafo desaparecido, desse modo o espaço que ele frequenta é totalmente
urbano. No segundo caso, através de dois personagens crianças, Eduardo e
Paulo, visualizamos um assassinato onde ambos são considerados os culpados.
Essa narrativa também se passa em um ambiente urbano, na rua de uma certa
cidade e mais especificamente na delegacia de polícia para que os fatos sejam
esclarecidos.
Os dois casos podem ser associados as afirmações de Gancho (2002)
tendo em vista que em ambas as obras é possível identificar o espaço onde as
narrativas se desenvolvem, sendo esses importantes para o desenrolar das
84
tramas. Além disso, após essas afirmações é possível concluir mais uma
tendência sobre o Prêmio Jabuti: valoriza espaços urbanos e ambientes
públicos.
Em síntese, sobre as categorias tempo e espaço é possível concluir que há
predomínio do tempo cronológico, tendo em vista que esse facilita a leitura das
pessoas; e ainda existe uma valorização do espaço urbano, como se a cidade
tivesse, além de maior representatividade, mais “fôlego” para se contar histórias.
Desse modo, buscando adentrar ainda mais na constituição dos elementos da
narrativa, uma análise de personagens constitui a próxima seção, que objetiva
identificar como esses aparecer nas obras literárias.
3.6 Personagem
No processo de análise dos romances premiados em primeiro lugar no
Jabuti das edições do século XXI, apresentamos um enfoque nos personagens
principais dessas obras. Para tanto, algumas características deverão ser levadas
em conta, dentre elas destacam-se: o sexo dos personagens principais, a etnia,
lugar onde residem, suas profissões e condição social. Essas afirmações
servirão como pano de fundo para identificar qual é o perfil desses personagens
que o Prêmio Jabuti vem consagrando.
O primeiro item que será analisado é o sexo dos personagens. Conforme
aponta o quadro a seguir, há a prevalência de personagens masculinos se
comparado com a quantidade de mulheres.
QUADRO 1110 – Sexo dos personagens principais das dezessete obras:
OBRA SEXO
A mulher que escreveu a Bíblia Feminino
Dois irmãos Masculino
Barco a Seco Masculino
Dias e Dias Feminino
Mongólia Masculino
Vozes no Deserto Feminino
Cinzas do Norte Masculino
Desengano Masculino e Feminino (dois personagens principais)
10Para fins de análise, são considerados apenas os personagens centrais de cada romance,
excluindo-se os secundários, em função do número de obras pesquisadas.
85
O Filho Eterno Masculino
Manual da Paixão Solitária Masculino e Feminino (dois personagens principais)
Se Eu Fechar os Olhos Agora Masculino
Ribamar Masculino
Nihonjin Masculino
O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam
Masculino
Reprodução Masculino
Quarenta Dias Feminino
A Resistência Masculino
Em um âmbito geral, nas dezessete obras analisadas, em quatro delas, os
personagens principais são mulheres e 11 são homens, sendo que ainda há
duas obras onde há o predomínio de dois personagens principais: um do sexo
masculino e outro do feminino.
Conforme é possível perceber até mesmo na composição dos romances, o
sexo masculino permanece em destaque, dado que vem ao encontro de
pesquisa realizada em 2003 por Dalcastagnè (2012) em relação aos
personagens de narrativas produzidas entre os anos 1990-2004. Segundo ela,
dos 125 personagens analisados, 28% dos protagonistas dos romances são
mulheres e 71,1% são homens. Para a autora fatores como o próprio predomínio
do sexo masculino na literatura pode ser uma das hipóteses para essa
constatação.
Ao se comparar esses dados com os encontrados na leitura dos romances
do século XXI contemplados pelo Jabuti, percebemos que essa nova linha de
obras também dá continuidade ao mesmo perfil de personagens dos romances
das décadas anteriores. Ou seja, continuam aparecendo muito mais homens do
que mulheres também nas obras premiadas pelo Jabuti. Nessa perspectiva,
podemos assinalar que há no Prêmio Jabuti um cunho conservador que também
prestigia o masculino, pois a maioria dos sujeitos de destaque nos romances
analisados é do sexo masculino. Existe dessa forma uma supervalorização da
voz masculina e, por extensão, do universo que rodeia o homem, dando a este
uma posição de destaque nas tramas.
Sobre a etnia desses personagens cabe destacar que não são muito claras
nas narrativas, indicando uma perspectiva de que essa questão pode não ser
relevante na construção de um romance. Porém, pode-se dizer que existe uma
pluralidade no sentido de nem todos os personagens centrais serem brancos,
86
por exemplo. Um caso relacionado a essa condição étnica está na presença de
uma jovem moça em Israel, em A mulher que escreveu a Bíblia, até a ida de um
diplomata para Mongólia a fim de encontrar em fotógrafo desaparecido no
romance Mongólia. Exemplos como esses servem para o conhecimento da raça
dos povos, através dos personagens foi possível identificar suas culturas e
costumes, assim como o modo de viver de cada pessoa.
Ainda sobre a raça dos personagens cabe destacar que no geral parecem
ser brancos. Há ainda um dado interessante: personagens marginalizados, como
negros, indígenas, homossexuais, não aparecem nas narrativas, exceto no
romance O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam, de
Evandro Affonso Ferreira, no qual o personagem principal é um mendigo, porém
fora dos padrões tradicionais porque é um letrado. Desse modo, as narrativas
seguem um padrão tradicional no qual a voz do homem branco é a que
prevalece.
Ao observarmos a predominância de personagens brancos e homens, que
representam uma parcela menor da sociedade brasileira e quase a ausência de
pardos, negros e índios, por exemplo, nos romances prestigiados pelo Jabuti,
podemos tecer algumas considerações. Uma delas é a de que ele explicita uma
perspectiva conservadora, menos abrangente porque ignora produções
marginalizadas, como a de obras da chamada literatura afro-brasileira e indígena
nas quais as vozes dominantes são a de negros e índios respectivamente. É
como se o Jabuti estivesse informando aos leitores que não há espaço para
essas vozes e, se elas existem em nossa literatura, não são de qualidade e,
portanto, não merecedoras de atenção.
Há nesse sentido um apagamento de vozes minoritárias no rol de obras
consagradas pelo Jabuti na categoria romance. Nas 17 obras em estudo,
nenhuma delas contempla um negro ou índio como personagem, sequer
secundário. Essa perspectiva vai ao encontro do que já conhecemos em
manuais de história de nossa literatura nos quais somos levados, enquanto
leitores, a acreditar que vozes minoritárias não são presentes em nossa
literatura, ocultando essa produção e valorizando outras em que as vozes das
classes e grupos majoritários (como de homens, brancos e de boa situação
socioeconômica) aparecem.
Mesmo a população brasileira negra sendo considera maior do que a dos
87
brancos, conforme aponta o censo do IBGE de 2010, que afirma que as pessoas
pretas e pardas somam um total de 54% da população no Brasil, ainda assim o
Jabuti não valoriza esse grupo ou pelo menos não prestigia as obras da literatura
que colocam em cena vozes de não brancos. Fato similar também acontece com
os indígenas, que fazem parte do descobrimento e história inicial no país e não
aparecem em nenhuma obra contemplada por essa premiação.
Como é possível perceber, em ambos os casos (romances sem
personagens negros e indígenas), o que vemos nas obras valorizadas pelo
Prêmio são aquelas que não tratam de sujeitos também importantes no âmbito
da história e população do Brasil. O Prêmio Jabuti mais uma vez se mostra
conservador, no sentido de não representar essa população tão importante na
constituição do nosso país.
Eduardo de Assis Duarte em seu trabalho “O negro na literatura brasileira”,
publicado em (2013),afirma que nos manuais canônicos de literatura a figura do
negro ainda é pouco contemplada, mesmo o Brasil sendo uma nação multiétnica
com um grande número de afrodescendentes, essas figuras ainda são pouco
vistas no meio editorial. Ao selecionar para os manuais obras com brancos, há
um apagamento de uma literatura que existe sobre e com negros, a qual é
deslegitimada porque oculta e desconhecida para a maioria de leitores.
Essa afirmação do autor em relação aos manuais pode ser associada ao
que observamos nas narrativas do século XXI premiadas pelo Jabuti. Nas
dezessete obras em análise, tendo em vista que nenhuma delas traz
personagens principais, secundários ou até terciários negros, demonstrando
assim que o Jabuti segue um padrão especifico na constituição dos seus
personagens. Esse padrão, além de intensificar o sexo masculino, ainda
fortalece a supremacia do branco.
No rol dos 17 livros avaliados positivamente pelo Jabuti, há também a
ausência de personagens homoafetivos, tendo em vista que nenhuma das obras
apresenta personagens pertencentes a esse grupo. Não existe uma
preocupação em mostrar e valorizar autores e personagens que se enquadrem
nesse grupo, mesmo que, atualmente, a temática da homossexualidade venha
sendo disseminada cada vez mais no contexto escolar, literário, acadêmico e
social, buscando desmistificar a questão do gênero.
Santos e Wielewicki (2009) trazem reflexões sobre esse tipo de literatura
88
ao afirmar que a história dessa literatura ainda está em processo de construção,
suas temáticas são voltadas para o sentimentalismo, questões de amor, solidão
e afeto. Assim como na literatura indígena e na negra, aqui há ainda uma busca
da sua auto definição, ambas buscam encontrar seu espaço no cenário editorial
e porque não no cenário canônico?.
O Prêmio Jabuti, por sua vez, também não valoriza esse tipo de literatura
e reforça a perspectiva de um julgamento de valor centrado no conservadorismo
e na supremacia de homens brancos e heterossexuais. Em outros termos, há, a
partir de vários aspectos em análise do Jabuti, uma perspectiva excludente,
conservadora e avessa a representações de segmentos marginalizados de
nossa sociedade. Prestigia-se, com o Prêmio, o que é tradicionalmente aceito,
durante séculos de nossa história, como “modelar”, “exemplar” e “de valor”.
O local onde os personagens dos romances premiados residem também é
diversificado, mas o que prevalece são os ambientes urbanos, e todas as obras
possuem como pano de fundo uma cidade desenvolvida. Cidades como o Rio
de Janeiro e Manaus, além dos países Mongólia e Argentina e ainda estados
como o Piauí, são exemplos de locais em que as narrativas se passam,
consistem em ambiente diferentes, mas que possuem características em
comum: são grandes centros urbanos, cidades, estados e países desenvolvidos.
A utilização do ambiente urbano como cenário das narrativas, de acordo
com Pereira (2011), busca mostrar um reflexo das ações das pessoas, ou seja,
quando os autores se usam desse espaço é porque querem representar algum
dilema encontrado e vivenciado pela grande massa, a população brasileira que,
na maioria, vive nas cidades. A escolha dos espaços nas tramas seria, sob esse
viés, uma forma de a literatura desses autores estar correlacionada a um projeto
mimético de representar a vida social brasileira.
Essa afirmação condiz com os romances premiados pelo Jabuti, pois eles
usam esse ambiente urbano para mostrar diferentes modos de viver da
população. É o caso do romance O filho Eterno, cujo tema chama a atenção para
uma família que se depara com o filho, que acaba de nascer, com síndrome de
Down e precisa entender toda essa situação e Quarenta Dias, que através da
narradora Alice entendemos e acompanhamos sua incansável busca por um
conhecido que desapareceu. Esses dois exemplos têm pontos em comum:
representam nossa sociedade, fatos muitas vezes omissos pela grande maioria
89
da população, tendo em vista que ambos os casos estão presentes diariamente
em nosso meio.
A faixa etária dos personagens, de forma geral, não é totalmente clara, mas
pelo contexto das narrativas é possível compreender que se trata de adultos cuja
idade fica entre 30 e 50 anos. Em pesquisa realizada por Dalcastagnè em 2003,
a porcentagem de personagens masculinos presentes nos romances publicados
entre 1990 e 2004, foi de 48,4% e femininas 43,3%, afirmando que essa fase é
mais valorizada nas obras porque há uma maior maturidade nas pessoas.
O Prêmio Jabuti também vem valorizando essa faixa etária adulta, pois
seus personagens principais, além de serem, a maioria do sexo masculino, têm
um rastro de experiências, como é o caso de Nihonjin, que vem morar no Brasil
em busca de melhores condições de vida, e de A Resistência, que através do
narrador-personagem Sebastian conhecemos como foi o exílio de sua família
para o Brasil. A partir desses exemplos encontramos mais uma constatação: o
Jabuti também busca agraciar personagens cujo grau de maturidade é um pouco
maior.
Ao optar por protagonistas adultos, com significativa experiência de vida,
os romances premiados minimizam vozes tradicionalmente ocultadas em nossa
literatura: a de adolescentes e a de idosos. Isso novamente ratifica duas
tendências de nossa literatura: valorizar a voz do adulto, como se apenas a esse
houvesse o poder de fala, e a importância de contar suas histórias, cabendo a
uma literatura dita menor (a infantil e infanto juvenil) reportar-se a personagens
joviais; dar continuidade ao processo de exclusão de quem está na base da
pirâmide etária (jovens e velhos). É, assim, uma perspectiva também
conservadora, repetidora de tendências anteriores de nossos romances nos
quais poucos idosos e jovens são protagonistas.
As profissões desses personagens variam: temos escritor, perito em obras,
pintor, professor, diplomata, fotógrafo, estudante de chinês, assim como existem
personagens que não possuem nenhuma ocupação, ou ainda narrativas nas
quais não são apresentadas as tarefas profissionais dos personagens. Essas
profissões exigem um nível de instrução para que sejam exercidas,
demonstrando que esses personagens necessitaram de uma formação para
atuar em suas áreas. Desse modo, compreende-se mais uma tendência do
Prêmio Jabuti: além de valorizar autores que possuem uma formação acadêmica
90
ou até mesmo profissional, também valoriza romances cujos personagens
possuem um nível intelectual avançado, pois há a dominância de personagens
com formação mais apurada, não são “ignorantes” e suas atividades são
relacionadas às artes.
Por possuírem boas condições sociais nas profissões, as protagonistas são
favoráveis, exceto em O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de
Rotterdam, no qual o personagem central é um mendigo, porém sua condição
intelectual é excelente, pois mesmo vivendo na rua, sob más condições de vida,
utiliza da leitura para “se alimentar”, os livros trazem os adágios de Erasmo de
Rotterdam.
Além disso, analisando os personagens centrais dos romances, podemos
constatar que eles vivem experiências de homens e mulheres da nossa realidade
atual ao representarem histórias e sujeitos comuns que estão inseridos em nosso
meio diariamente. Antonio Candido, na obra A personagem da ficção publicada
em 1981, afirma que é muito comum nesse cenário fictício das obras literárias a
transfiguração de momentos selecionados da realidade, ou seja, como forma de
aproximar o fictício da nossa realidade os autores se utilizam de temáticas,
personagens e conflitos que se aproximem da atualidade e de alguma forma
representem casos e segmentos da sociedade atual contemporânea.
Essa busca de associação entre ficção e vida social, presente nos 17
romances premiados, associa-se ao fato de não encontrarmos nesse rol de
obras os traços de realismo fantástico, ficção científica, romance histórico, etc,
enfim outros recursos estéticos de composição literária. Em todas elas há esse
diálogo fecundo com o contexto contemporâneo que, aos olhos do leitor, pode
ser visto como uma representação social da atualidade.
Outro ponto importante é que esses personagens buscam se encontrar
durante a narrativa, pode se dizer que há uma busca por entender sua própria
identidade. Ou seja, os personagens centrais estão sempre à procura de alguma
coisa, como se houvesse uma falta a ser suprida para composição desse eu.
Sobre essa busca identitária Zygmunt Bauman, em seu livro O mal-estar da pós-
modernidade, afirma que “é característica muito difundida dos homens e
mulheres contemporâneos, no nosso tipo de sociedade, viverem
permanentemente com o problema da ‘identidade não-resolvido’” (BAUMAN,
1998, p.38). Bauman acrescenta que as pessoas sofrem com faltas de recursos
91
para construir uma identidade sólida e verdadeira. Essa afirmação feita pelo
autor pode ser associada aos romances em análise, pois os personagens
buscam esclarecer conflitos na sociedade, porém o principal conflito está em sim
próprio.
Exemplo disso são as obras Barco a Seco e Dias e Dias. Na primeira
visualizamos um narrador-personagem que é perito em obras de arte e procura
incansavelmente resquícios sobre Emílio Veja, que nem ele próprio sabe se
existe. Diante de cada descoberta o próprio narrador reflete sobre sua vida, e
sobre o fato de ter sido abandona quando criança e mesmo assim ter conseguido
uma profissão e uma condição de vida favorável. Nessa narrativa encontramos
um narrador um tanto reflexivo que precisa primeiro entender a si próprio para
então entender a pintura e o famoso Emílio Vega. Já em Dias e Dias,
encontramos através da narradora-personagem Feliciana seu amor platônico
pelo autor Gonçalves Dias, mas esse amor é tão grande que a faz se questionar
sobre sua própria identidade e esquecer as pessoas que estão ao seu redor.
De uma forma geral, podemos observar que, quanto à constituição dos
personagens centrais das 17 narrativas analisadas, o que prevalece são sujeitos
brancos do sexo masculino que vivem em grandes centros urbanos. Consistem
em personagens, na maioria dos casos, adultos, com experiência de vida, um
nível de conhecimento apurado, suas profissões estão relacionadas às artes e
estão e busca de se encontrar a si próprios, representando uma realidade atual
da nossa sociedade.
Após a explanação sobre o perfil dos personagens presentes nas
narrativas, o próximo subcapítulo contempla uma abordagem acerca do narrador
dos romances, buscando identificar como esse se constitui.
3.7 Narrador
O narrador consiste em uma figura muito importante na obra literária, é
através dele que descobrimos como se constituem os personagens, seus
conflitos e cenários nos quais estão inseridos, deste modo, afim de discorrer
sobre a configuração dos narradores nas dezessete obras premiadas em
primeira colocação pelo Jabuti, começamos por entender o que é o narrador e
qual é a sua função dentro de uma narrativa. Partimos então do pressuposto de
92
que “[...] narrador é uma personagem que se caracteriza pela função de, num
plano interno à própria narrativa, contar a história num texto narrativo” (FRANCO
JUNIOR, 2009, p. 40).
Desse modo, buscando identificar como se classificam os narradores das
dezessete obras em análise, vencedoras em primeira colocação pelo Jabuti, o
quadro a seguir busca mostrar a que categoria podem ser rotulados os
narradores de cada obra literária:
QUADRO 12– Classificação dos tipos de narradores
OBRA TIPO DE NARRADOR
A mulher que escreveu a Bíblia Narrador Personagem
Dois irmãos Narrador onisciente
Barco a Seco Narrador Personagem
Dias e Dias Narrador Personagem
Mongólia Narrador Personagem
Vozes no Deserto Narrador onisciente
Cinzas do Norte Narrador Personagem
Desengano Narrador onisciente
O Filho Eterno Narrador onisciente
Manual da Paixão Solitária Narrador onisciente
Se Eu Fechar os Olhos Agora Narrador Personagem
Ribamar Narrador Personagem
Nihonjin Narrador onisciente
O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam
Narrador Personagem
Reprodução Narrador onisciente
Quarenta Dias Narrador Personagem
A Resistência Narrador Personagem
Em um modo geral, como podemos perceber no quadro, há um predomínio
de narradores-personagens (com dez obras com esse ponto de vista). Sobre
esse tipo de narrador Dalcastagnè (2001) afirma que nas narrativas
contemporâneas o personagem principal é ao mesmo tempo o narrador. Esse
tem a função de conduzir o leitor, pode ser confuso, suspeito ou até mentiroso,
está totalmente envolvido na obra, já que também é um personagem, e seu
principal objetivo é nos envolver também a acreditarmos na sua versão dos fatos.
Essa afirmação feita pela autora pode ser evidenciada na obra Ribamar,
que através de um narrador personagem masculino sabemos um pouco mais
sob o relacionamento entre o um pai e o filho, porém este é sob o viés do filho,
pois o pai já veio a falecer. A partir dessas indagações sobre os narradores
personagens presentes nas obras contempladas em primeira colocação pelo
Jabuti, chegamos a mais uma constatação: há a valorização desse tipo de
93
narrador, tendo em vista que das dezessete obras, dez possuem narrador
personagem.
Mas esses narradores personagens, contam suas próprias histórias ou a
história de outros? De um modo geral, das dez obras que possuem um narrador-
personagem, quatro delas trazem narradores que contam suas próprias histórias
e oito consistem em narradores que relatam acontecimentos e fatos de outras
pessoas. Sobre esses narradores que narram a si próprios, Genette (apud
CARDOSO, 2003) classifica como narradores homodiagéticos, ou seja,
consistem em um narrador que ao mesmo tempo que narra sua história ainda
faz parte dela. Já o narrador que transmite a história de outros é caracterizado
como heterodiagético, por mais que participe da narrativa o seu foco é narrar a
vida de outros personagens.
O predomínio de narradores-personagens, sendo eles homodiagéticos ou
heterodiagéticos, indica que o no Prêmio Jabuti há a fuga do modelo tradicional
do romance do século XXI, tendo em vista que antes as obras eram, em sua
maioria, narradas sob o viés de um narrador em terceira pessoa, que observava
e apenas relatava os fatos com certo distanciamento. A recorrência em um ponto
de vista mais próximo dos fatos narrados é uma tendência que assinala talvez
uma necessidade de aproximação, inclusive do leitor com o texto que lê. O uso
do narrador personagem ainda aproxima o fato narrado com o leitor, tendo em
vista que esse tem a possibilidade de comparar e aproximar a sua história de
vida com a narrada no texto literário.
Além disso, na era da contemporaneidade, há a necessidade do “eu” relatar
os seus fatos vividos, sua história, como se houvesse um movimento de buscar
ser ouvido, de ter uma atenção (talvez a do leitor pelo menos), como se o “eu”
tivesse em busca de uma maior visibilidade se comparado a um “outro”. Seria
uma forma de representar, pela opção do ponto de vista, que a sociedade está
mais focada no caráter individual do que numa dimensão coletiva? Talvez essa
seja uma hipótese oportuna para compreender o porquê dessa tendência de o
narrador falar de si.
Theodor Adorno, em seu trabalho intitulado “Posição do narrador no
romance contemporâneo”, publicado em 2003, traz ponderações acerca da
diferença entre o narrador do romance tradicional e o narrador contemporâneo.
Para ele, o narrador tradicional pode ser comparado ao palco do teatro italiano
94
burguês, erguem-se as cortinas e o leitor deve acompanhar a narrativa como se
estivesse presente em “carne e osso”, visualizando somente o que está à sua
frente. Já o narrador contemporâneo é móvel, há uma mudança no movimento
da câmera, o leitor pode participar da “peça” como também ser deixado de lado.
Esse narrador traz inquietudes para o leitor o fazendo apreciar ainda mais as
narrativas.
A partir dessas afirmações, a segunda constatação a ser feita é que, nas
dezessete obras contempladas em primeira colocação pelo Jabuti, encontramos
um narrador contemporâneo, que busca narrar a história de todos os ângulos
possíveis, ou seja, a “câmera” gira a todo momento, deixando transparecer o
maior número de acontecimentos possíveis. Exemplos desse tipo de narrador
podem ser evidenciados nas obras Vozes no deserto e Reprodução. Na primeira
visualizamos um narrador onisciente que conta a história de Scherezade, através
desse narrador é possível conhecer, de fato, quem foi essa personagem feminina
e o seu anseio por contar histórias ao líder califa, e, consequentemente livrar-se
da morte. No segundo caso, a obra Reprodução apresenta um narrador
personagem, que se remete a si próprio, seus anseios, sentimentos e modo de
pensar e ainda narra a vida das pessoas ao seu redor, conflitos nos quais ele
próprio está incluso.
No que tange ao perfil do narrador contemporâneo apresentado por Adorno
(1980) é possível afirmar que o Prêmio Jabuti segue um padrão especifico de
narrador, nomeado como narrador contemporâneo, esse é empenhado em
contar e viver a narrativa de todos os ângulos, buscando sempre mostrar o maior
número de fatos, cenários, acontecimentos e sentimentos presentes na obra
literária. Dalcastagnè (2001) compara esse narrador contemporâneo com as
pessoas que estão ao nosso redor, dizendo que assim como esses sujeitos os
narradores das obras literárias também devem despertar certo receio ao leitor,
ou seja, precisamos também prestar atenção no que os narradores de uma obra
“falam” e não acreditar totalmente em suas palavras, buscando identificar se ele
é digno de nossa confiança ou não. Nas obras premiadas pelo Jabuti os
narradores buscam não se comprometer muito com o enredo da narrativa,
mesmo que esses sejam também personagens há apenas o anseio de narrar o
que está se passando.
Já as obras que apresentam narradores oniscientes são: Dois Irmãos,
95
Vozes no Deserto, Desengano, O Filho Eterno, Manual da Paixão Solitária,
Nihonjin e Reprodução. Sobre essa categoria de narrador, Norman Friedman
(apud LEITE, 2007) propõe explicar os tipos de narrador através de sua tipologia,
e classifica o narrador onisciente como intruso ou neutro. Na sua perspectiva o
narrador onisciente intruso narra à vontade, podendo expor seu ponto de vista a
qualquer momento, sabe de tudo e todos que estão ao seu redor, pois “seu traço
é a intrusão, ou seja, seus comentários sobre a vida, os costumes, os caracteres,
a moral, que podem ou não estar entrosados com a história narrada”
(FRIEDMAN apud LEITE, 2005, p.27). Já o narrador onisciente neutro não faz
comentário algum, fala em 3ª pessoa, e nele há “[...] ausência de instruções e
comentários gerais ou mesmo sobre o comportamento das personagens”.
(FRIEDMAN apud LEITE, 2007, 32).
Dois exemplos de obras literárias que seguem essa tipologia de Friedman
são Dois irmãos, que é caracterizada por um narrador intruso, pois esse interpõe
na vida dos personagens, fazendo comentários sobre as atitudes da família, mas
principalmente sobre Omar e Yaqub. Já o exemplo de narrador onisciente neutro
é possível visualizar na obra Nihonjin, onde o narrador apenas relata a saga do
japonês Hideo Inabata em busca de melhores condições de vida.
Também encontramos, nesse hall de obras, narradoras, que, além de
personagens, são mulheres imbuídas de contar suas histórias, como é o caso
dos romances A mulher que escreveu a Bíblia e Dias e Dias. Sobre essas
narradoras e personagens femininas Calegari (2013), em seu trabalho “O
cânone literário e as expressões de minorias: implicações e significações
históricas”, traz um panorama histórico sobre o ingresso da figura feminina no
meio literário. Desde muito antes da era cristã houve um esforço masculino em
tirar da mulher todos os seus direitos, como o de se imbuir na política, não
podiam ser proprietárias de um estabelecimento e muito menos de seus próprios
corpos. Essa representação da figura feminina somente começou a aparecer em
manifestos literários no século XVIII e atualmente os nomes de escritores
representativos nesse meio são do sexo feminino, dentre eles destacam-se
Nélida Piñon, ganhadora do Jabuti em 2005 com o romance Vozes no Deserto,
no qual através de um narrador onisciente relata a vida da jovem Scherazade,
que se utiliza da sua forma de narrar histórias para conquistar o rei Salomão
todos os dias e assim fazendo com esse não mate mais nenhuma mulher.
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A afirmação feita por Calegari (2013) pode ser associada aos romances já
citados, A mulher que escreveu a Bíblia e Dias e Dias. No primeiro caso, Moacyr
Scliar apresenta uma mulher, cujo nome não é especificado, mas ela é
denominada por si própria e pela sociedade como um sujeito muito feio, o que a
torna “bonita” é o fato de, diante de tantas outras mulheres, saber escrever de
uma forma poética, onde foi possível conquistar o rei Salomão através da
palavra. Nessa obra encontramos um exemplo de submissão, primeiro quando
morava com seu pai, tendo que cumprir todas as suas ordens, e, depois, pelo
marido Salomão para quem precisava se humilhar e implorar por uma noite de
amor, além de precisar escrever a história do templo em troca de atenção e
carinho do rei.
No segundo caso, Dias e Dias, a autora Ana Miranda representa, através
da narradora Feliciana, mais um caso de submissão, primeiro em casa, pelo fato
de o pai não querer que a filha se relacione com o autor Gonçalves Dias, quando
jovem, buscando encontrar pretendentes do seu interesse, além de exigir que
ela fique longe do seu grande amor. E ainda é submissa perante o próprio
Gonçalves Dias, no momento que comete loucuras em busca de uma mera
atenção, sendo que esse nem se quer busca saber sobre os sentimentos de
Feliciana.
Nas obras A mulher que escreveu a Bíblia e Dias e Dias, encontramos
narradoras personagens femininas que, durante toda a narrativa, por mais que
continuem submissas, desafiam e questionam suas realidades, buscando
sempre alcançar sua “alforria” diante dos acontecimentos diários. Além disso,
essas narradoras estão em constante julgamento sobre os personagens que
estão aos seus redores, pois mais que estejam inseridas em uma sociedade
machista, conservadora e submissa lutam para que suas condições mudem e
que alcancem de fato suas liberdades.
Além disso, nesse caso, cabe destacar que há diferenças entre essas
mulheres que contam suas próprias histórias em relação aos narradores
masculinos. A primeira diferença é a questão da linguagem, quando narrado por
uma personagem feminina, existe certa melancolia, trata-se de um texto mais
voltado para os seus sentimentos, modos de ver o mundo e de ver a si próprias,
o que de certa forma corrobora a perspectiva estereotipada de mulher como
sujeito sentimental, menos racional que um homem. Essas narradoras buscam
97
relatar para nós leitores um pouco das suas vivências, ou seja, do preconceito
diário que precisam enfrentar por terem nascido no sexo feminino.
Outro fator importante que também precisa ser levado em conta nesse hall
de obras vencedoras é o local de onde esses narradores narram esses romances
se da elite, da plebe ou das minorias. Desse modo, no quadro a seguir será
possível verificar essa distinção:
QUADRO 13– Vozes que os narradores representam11
OBRA VOZES
A mulher que escreveu a Bíblia Plebe– Interior de Jerusalém
Dois irmãos Plebe–Subúrbio carioca
Barco a Seco Plebe – Beira mar
Dias e Dias Plebe – Subúrbio do Maranhã
Mongólia Plebe – Subúrbio de Mongólia
Vozes no Deserto Plebe – Aposentos do casal
Cinzas do Norte Plebe – Subúrbio de Manaus e posteriormente de do Rio de Janeiro e Berlim
Desengano Plebe – Subúrbio do Rio de Janeiro
O Filho Eterno Plebe – Hospital e a casa da família
Manual da Paixão Solitária Plebe – Subúrbio de Israel
Se Eu Fechar os Olhos Agora Plebe – Em uma delegacia
Ribamar Plebe –Subúrbio de Piauí
Nihonjin Plebe – Fazenda de café no Brasil
O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam
Plebe – Nas ruas de uma cidade cujo nome não é identificado.
Reprodução Plebe – Em uma delegacia
Quarenta Dias Plebe – Periferia
A Resistência Plebe – Subúrbio da Argentina e depois do Brasil
Como é possível perceber, todos os narradores relatam histórias de
pessoas que não nasceram na nobreza, ou seja, não são procedentes das
camadas social e economicamente privilegiadas da sociedade. Esses
narradores, de modo geral, narram histórias e fatos da realidade atual, que
podem ser exemplificados com os enredos das narrativas, como é o caso de
Ribamar e Reprodução. No primeiro caso vemos uma tentativa de
reaproximação entre um filho e um pai que ficara tempos sem se falar e no
segundo um desentendimento entre um estudante, que está prestes a embarcar
para a China, com a polícia. Esses romances se classificam como uma
exemplificação de sujeitos simples que buscam resolver seus problemas, assim
11Para fins de análise, são considerados apenas os personagens centrais de cada romance,
excluindo-se os secundários, em função do número de obras pesquisadas.
98
é possível dizer que esses narradores, independente da sua tipologia quanto ao
ponto de vista narrativo, representam essas vozes que estão presentes
diariamente em nossa sociedade.
Em síntese, sobre a categoria narrador, das dezessete obras analisadas, o
que prevalece são os narradores-personagens, móveis, que buscam nos passar
um panorama completo da “cena” narrada, havendo, desse modo, uma fuga no
modelo tradicional que valoriza narradores em terceira pessoa. Além disso, o
Prêmio Jabuti não dá vazão a narradoras femininas, tendo em vista que das
dezessete obras, apenas duas apresentam esse perfil. Há ainda uma
representação, através dos narradores, de sujeitos que vivem na plebe, pessoas
simples que estão em busca de resolver seus conflitos pessoais, tentando não
se comprometer muito com os fatos narrados.
99
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa realizada no Mestrado em Letras, área de concentração
Literatura Comparada, na qual fez parte da linha de pesquisa “Literatura, História
e Memória”, procurou traçar um estudo de caráter cientifico sobre as primeiras
colocações do Prêmio Jabuti (edições 2000-2016) no que tange à categoria
romance, buscando analisar quais são as tendências que prevalecem nas obras
premiadas durante o século XXI.
Essa opção investigativa constituiu em um primeiro estudo, no Curso, com
essa abrangência temática e com corpus amplo, pois este conta com 17
romances pesquisados, algo também incomum para uma dissertação de
mestrado. No entanto, apresenta-se como uma possibilidade enriquecedora de
análise que viabiliza uma perspectiva “de conjunto” de um grupo de narrativas
que têm pelo menos um ponto em comum: a premiação em primeiro lugar do
Prêmio Jabuti.
Ao se propor uma pesquisa sobre o Prêmio, partimos de duas ideias
centrais: a de pensar no Jabuti enquanto um instrumento de crítica literária que
necessita ser (re)pensado no sentido de compreender melhor como funciona e
projeções ele indica; e o de traçar reflexões sobre os romances premiados,
identificando que tendências têm sido valorizadas, o que também se mostrou um
desafio não apenas pelo escopo da proposta, mas também pela insuficiência de
referenciais sobre o Prêmio Jabuti em particular.
A principal dificuldade encontrada na realização desse estudo foi a falta de
aporte teórico-crítico sobre as premiações literárias, tendo em vista que existem
poucos estudos relacionados a essa temática. Sobre o Prêmio Jabuti não há
trabalhos específicos que abarquem estudos que analisam essa premiação, o
que também tornou o desenvolvimento da proposta mais complexo.
Se por um lado esse contexto trouxe algumas dificuldades e desafios, por
outro, instigou-nos a encontrar caminhos que nos conduzissem a repostas a
nossos questionamentos. Então, primeiramente foi realizada uma revisão
bibliográfica acerca de possibilidades de crítica literária, entre as quais a que o
Prêmio Jabuti promove, depois apresentar uma descrição pormenorizada do
Prêmio Jabuti desde sua criação até a atualidade, para assim identificar as
tendências formais e temáticas dos romances premiados, estabelecendo uma
100
análise do perfil romanesco valorizado pelo Prêmio Jabuti.
A primeira reflexão estabelecida nesse estudo foi a importância do termo
crítica para a literatura, pois é através da crítica que saberemos se uma obra
pode ser considerada boa ou não. Diferentes métodos podem ser empregados
no momento da análise de uma obra, desde as relações que esta estabelece
com a vida do autor, por exemplo, como aspectos estruturais e temáticos, tudo
irá depender sob que viés o crítico irá seguir. Todo esse estudo serviu como
base para afirmar que, assim como as diferentes tendências utilizadas por
críticos de literatura, o Prêmio Jabuti também se tornou um instrumento crítico,
no momento em que julga e, posteriormente, premia uma obra, dando a ela certo
prestígio.
Vários são os fatores que tornam o Prêmio Jabuti um instrumento de crítica
literária, dentre eles destacam-se: a oportunidade de avaliar obras recentes,
consagrando narrativas novas. Isso se dá pelo fato de ser uma premiação anual,
então é possível que obras recém acabadas também se inscrevam. Por esse
viés, é uma crítica que também se ocupa em olhar o novo, dar oportunidade para
que uma outra história da literatura recente comece a ser desbravada apesar de
os critérios dessa seleção não serem totalmente claros.
Além disso, o Prêmio apresenta juízo de valor no momento em que rotula
as obras em três colocações, classificando-as, o que significa ainda que parece
haver uma comparação de textos da qual resulta essa distinção. Esse juízo de
valor também se consolida quando o Prêmio distingue diferentes categorias,
reunindo obras que estão organizadas com princípios semelhantes (os de
gênero textual). Ainda quando forma um “time” de avaliadores de cada obra,
definindo critérios de avaliação de romances, pois, para definir as obras que
merecem destaque, é necessário alguém que emita um juízo.
Nesse processo de compreensão do Prêmio Jabuti, cabe destacar ainda
que ele forma um “cânone” literário, pois as obras ali consagradas serão bem
vistas diante do meio editorial e acadêmico. No meio editorial, há uma entorno
interessante: autores premiados passam a circular melhor nas editoras, ter
“encomendas”, passam a ter maior notoriedade porque a indústria das editoras
investe nisso para tornar suas obras mais conhecidas e consequentemente
ampliar as possibilidades de ganho financeiro. O Prêmio, assim, alimenta o
mercado do que vai se publicar e do que terá maiores chances de ser lido.
101
Funciona com um papel importante, como uma espécie de vitrine não só da obra
vencedora e de seu criador, mas também da editora que a lançou.
No meio acadêmico, surgem as pesquisas sobre as obras consagradas,
como dissertações, monografias e teses num outro movimento que suscita uma
análise dos textos em si, de como eles se estruturam, de como dialogam com
outras obras e como se situam no contexto de cada autor, período histórico e
social ou até mesmo de “fases” da literatura nacional. Sob essa ótica, o Prêmio
traz à tona novos objetos aos pesquisadores, especialmente aqueles que
buscam estudar o que há de mais recente para se constituir em referências
iniciais sobre os textos pesquisados.
Para além desse papel desempenhado pelo Prêmio Jabuti, precisamos
reconhecer que ele também sinaliza tendências literárias, tendo em vista que a
partir dessas obras consagradas é possível identificar um panorama da atual
literatura através dos modos de escritas e técnicas encontrados nos livros; dá
ainda projeção a obras e autores, que, além do crescimento pessoal, têm
estimulo financeiro pós-premiação; e consiste ainda em um instrumento
reconhecido pela crítica, por autores e editoras, pois premia obras e autores
contemporâneos que representam a literatura atual.
Nesse sentido, considerado uma das principais premiações literárias do
Brasil, pelo grande número de categorias que possui, o Prêmio Jabuti segue um
padrão especifico em relação aos autores e também ao modo em que avalia as
obras literárias, demonstrando ser conservador e ainda ligado a fatores
tradicionais do século XX, como assinalamos a partir do terceiro capítulo voltado
à análise das obras. Após a análise das dezessete obras consagradas em
primeira colocação pelo Jabuti algumas tendências foram encontradas, as quais
serão apresentadas em seguida.
Em relação aos autores consagrados pelo Prêmio Jabuti, na avaliação de
romances, há uma valorização de autores do sexo masculino, que residem no
eixo Rio-São Paulo, com uma formação acadêmica, uma condição financeira
favorável, com idade entre 50 a 60 anos, demonstrando mais experiência, mas
que são “jovens” na literatura, possuem poucas obras publicadas. Desse modo,
o Jabuti acaba sendo um “boom” na carreira literária desses autores, pois, além
de impulsionar os seus prestígios próprios, ainda propaga o reconhecimento
dessa premiação, já que em cada livro contemplado o selo de vencedor aparece
102
na capa nas edições e impressões subsequentes, dando “valor” ao texto.
Alguns pontos ainda podem ser elencados, tendo em vista que, por se
tratarem de autores jovens no meio literário, ainda há poucos estudos sobre suas
obras. Ou seja, o Prêmio não privilegia autores já conhecidos no meio acadêmico
ou renomados no campo literário, e essa tendência mostra não haver
“preconceito” em relação a estreantes na literatura, embora tenhamos que
reconhecer que nenhum dos autores premiados de 2000 a 2016 seja
inexperiente com as letras e produções escritas.
Um dado interessante das premiações está ligado à formação dos autores.
A que prevalece são as das áreas do Jornalismo e das Letras, demonstrando
um novo perfil de autor: sujeitos familiarizados com as letras e que
consequentemente poderão produzir romances com destaque literário; esses
sujeitos ainda têm contanto com as mídias digitais, assim podem publicar,
dialogar e também alavancar sua carreira nesse meio digital, construindo novos
elos da tríade autor-obra-público.
Em relação ao perfil romanesco valorizado pelo Prêmio Jabuti, podemos
destacar que sobre a estrutura e linguagem dos romances existe uma linearidade
entre os capítulos, e a extensão das obras não segue um padrão específico, o
número de páginas varia entre 144 a 311. Sob esse enfoque, a tendência é não
privilegiar o “apego” a regras muito convencionais, como as que regiam os
romances do século XIX.
Há ainda o predomínio da linguagem coloquial, fato que aproxima o leitor
da obra, tendo em vista que a narrativa busca representar pessoas simples que
fazem parte da nossa sociedade e representam situações da atualidade.
Valoriza-se, assim, a tendência do mais informal, do menos rígido em termos de
uso de linguagem, do mais flexível. Seria possível supor que essa valorização
está associada talvez à falta de livros que sejam de linguagem formal ou à
necessidade de se destacar as obras que dialogam com os leitores de uma forma
mais direta e acessível.
Sobre as categorias tempo e espaço apresentados nos romances, é
possível concluir que há predomínio do tempo cronológico. Esse fator se dá pelo
fato de facilitar a leitura do texto. Desse modo, acredita-se que vá haver mais
procura desse tipo de narrativa justamente pela facilidade de compreensão das
narrativas. Já o espaço é possível identificar que há uma valorização do espaço
103
urbano, tendo em vista que em todas as narrativas há a cidade como pano de
fundo, como se esse ambiente, tivesse uma maior representatividade.
Quanto à constituição dos personagens centrais dos 17 romances
analisados, é possível identificar algumas constatações, dentre elas: predomínio
de sujeitos brancos do sexo masculino que vivem em grandes centros urbanos,
sendo que esses personagens são adultos, na maioria dos casos, demonstram
certa experiência de vida, um nível de conhecimento apurado, suas profissões
estão relacionadas às artes e ainda há uma busca em reconhecer suas próprias
identidades.
Nesse sentido, não há como negar a valorização de um perfil conservador
do Prêmio, tendo em vista que valoriza personagens que condizem com as
décadas anteriores, inclusive o que se avaliava como positivo nos séculos XVIII
e XIX. Em outros termos, vemos uma repetição de moldes da categoria
personagem: prestígio de sujeitos que, além de serem brancos, ainda são do
sexo masculino, demonstrando, desse modo, uma supervalorização dessa voz.
Há de se destacar também que nessas 17 narrativas não existe espaço para as
vozes marginalizadas, como a do negro e do indígena, por exemplo, o que
ratifica essa posição conservadora do Prêmio.
Já sobre a categoria narrador, o que prevalece são os narradores-
personagens, que, além de contarem suas próprias histórias, buscam ainda
relatar um panorama completo do enredo. Há ainda uma representação, através
dos narradores, de sujeitos que vivem na plebe, pessoas simples que estão em
busca de resolver seus conflitos pessoais, tentando não se comprometer muito
com os fatos narrados.
No que diz respeito ao narrador, é possível concluir que há uma fuga no
modelo tradicional que valorizava obras cujos narradores eram em terceira
pessoa, agora há uma necessidade do “eu” falar. Além disso, o narrador
personagem também aproxima o leitor do fato narrado. Cabe salientar ainda que
o tipo de narrador agraciado pelo Jabuti pode ser rotulado como narrador
contemporâneo, tendo em vista que narra os fatos de todos os ângulos
possíveis, havendo uma preocupação em mostrar tudo que se passa ao leitor.
Em síntese, é possível concluir que o Prêmio Jabuti possui um cunho
conservador, não valorizando obras que se caracterizam por significativas
inovações tanto no âmbito estrutural e temático. Ainda dá vazão a narradores e
104
personagens brancos, do sexo masculino e ignora produções de autores e
também obras com personagens que representem as minorias, como é o caso
de negros, indígenas e homossexuais. Desse modo, é possível observar que o
Jabuti ainda segue um modelo tradicional de julgamento literário já visto no
século XX e, dessa forma, institui uma linha de julgamento literário que pouco
amplia os horizontes de avaliação que conhecemos ao longo da história da
crítica literária no Brasil.
Se por um lado reconhecemos essas limitações que excluem parte
importante da literatura brasileira e de certa forma introjetam um olhar
conservador no julgamento, por outro é necessário reconhecer que o Prêmio
Jabuti, apesar das limitações, possibilita que um amplo rol de autores,
notadamente aqueles cujas obras são publicadas por grandes editoras, tenham
maior notoriedade ao olhar do público. Sob esse ponto de vista, a premiação é
um instrumento importante de divulgação de obras mesmo que esteja bastante
ligada a um processo questionável de apreciação dos textos inscritos, já que
desconhecemos como de fato acontecem as avaliações, e a possíveis
influências de um mercado editorial focado no comércio de livros e não
necessariamente de publicação de boa literatura.
105
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