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60 revista incluir • março/abril 2011
especial
60 revista incluir • março/abril 2011
ONGS QUE SE DEDICAM AO CUIDADO DE ANIMAIS ABANDONADOS
PROMOVEM A DOAÇÃO DE CÃES E GATOS COM DEFICIÊNCIA
Por: Hevlyn Celso / Colaboração: Julliana ReisFotos: Reinaldo Borges
Roberto Russo com o cão Alêe Ila Franco com Pitoco
Adoção de
PETS ESPECIAIS
É difícil não se apaixonar por um bi-chinho de estimação que, com seu olhar terno, pede para ser adota-
do. Às vezes, a conquista é imediata, mas nem todos têm a mesma sorte. Animais idosos ou com deficiências são os que mais
têm dificuldade de serem aceitos. Entre-tanto, algumas associações lutam para mudar essa realidade.
Fundada em 1999 por Ila FrancoBick, a Aliança Internacional do
Animal (Aila) surgiu quando a empresária viu um cão aban-donado levar um chute que o fez perder um dente. Choca-da, ela adotou o animal, que
se tornou mascote da associa-ção, instalada na comunidade
de Paraisópolis, bairro de São Paulo (SP).
Além de idoso, Fluffy – o cão em questão – perdeu a visão, a audição e so-fre de insuficiência renal, mas vive feliz,
ONGS QUE SE DEDICAM AO CUIDADO DE ANIMAIS ABANDONADOS
PETS ESPECIAISPETS ESPECIAISPETS ESPECIAIS
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Luciana Felício com Pina e Miriam Miranda com Zoinho. No destaque, Sarampo, Zoinho,Lulu e Caverna
sempre acompanhado de sua protetora, que não mede esforços para garantir o bem-estar do animal.
A Aila, que iniciou as atividades com apenas dois funcionários, atualmente conta com 37 colaboradores e abriga mais de mil animais – sendo que sete deles têm alguma deficiência –, que são mantidos com a ajuda de alguns patro-cinadores, entre eles, fabricantes de ração e medica-mentos veterinários.
Mas os desafios são muitos, e novos patrocina-dores e sócios mantenedores são necessários, assim como um novo ponto de adoção de animais (recen-temente, a ONG perdeu o ponto que mantinha há dez anos). Agora a adoção é feita diretamente na sede, pelo site ou em eventos.
De acordo com a fundadora da Aila, os animais são tratados, vermifugados e esterilizados antes de serem disponibilizados para adoção, que é monito-rada por meio de visitas ao novo lar do animal para acompanhamento da adaptação.
Entre os animais com deficiência para adoção estão os vira-latas Alê, que usa cadeirinha de rodas para se locomover, e Pitoco, que tem deficiência nas patas traseiras.
À espera de adoçãoInstalada em uma chácara em Piracicaba (SP), a
ONG Vira-Lata Vira-Vida foi criada em 2009, pela designer Miriam Miranda, que tomou conhecimen-to de um local onde viviam 540 cães abandonados. Devido às dificuldades da dona do imóvel em manter os animais, Miriam não pensou duas vezes e fundou a ONG, com a realização de uma campanha que arre-cadou 23 toneladas de ração.
Com a alimentação garantida, o segundo passo foi equipar um ambulatório e contratar uma vete-rinária para cuidar da saúde dos animais, que es-tava muito debilitada.
Atualmente, no local vivem 420 cães, sendo que cerca de 200 deles são idosos e outros 30 possuem alguma deficiência. “A gente sempre fala que o animal é que adota o dono e não o contrário. Uma coisa, que já está sendo quebrada, é a adoção do animal de rua. Outra coisa é a pessoa vir, adotar o animal abandonado, maltratado, com se-quelas e deficiências... É um passo a mais nessa conscientização”, constata Miriam.
Com tantos animais idosos, a ONG con-tou com a ajuda de duas construtoras que doaram mão de obra e material para a cons-trução de um asilo. “Estamos muito empol-gados com a ideia do asilo, que vai garantir mais conforto e segurança aos cães idosos.”
Entre os cães que esperam por um lar estão Sarampo, que tem uma deficiência na pata devido à cinomose (uma infecção viral comum em cães), e Caverna, que teve a pata amputada em um acidente com um cortador de grama. >
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Ainda de acordo com Miriam, a ONG precisa de 5 toneladas de ração por mês e é mantida com a ajuda de doações espontâneas, eventos e venda de produ-tos como bolsas e camisetas, disponíveis no site. Há também um programa de adoção a distância, no qual a pessoa contribui mensalmente e o animal fica no abrigo, podendo visitá-lo quando quiser.
Sensibilizada com a falta de interesse das pessoas pelos animais com deficiência, Miriam lançou, no final de 2010, a campanha Cães especiais – Pessoas legais.
Os interessados em adotar podem agendar uma visita para conhecer os animais, ou ainda, escolher o cão pelo site. Após a escolha, o cão é submetido a um exame para avaliar sua condição. Também é necessário que seja assinado um termo de adoção, que permite as visitas de integrantes da ONG para conhecer as condições de adaptação do animal. Caso o adotante tenha outros bichos em casa, é oferecido o apoio de uma psicóloga para orientar a integração entre os animais.
Amor sem limitesA balconista Fabiana Barbosa, 40 anos, conheceu
Laís em um evento da Aila, e não se importou com o fato da cadela ter uma pata amputada. “Quando a vi, me apaixonei. Ela é uma cadela muito bonita, espe-
cial, é bem levada também. Tenho outras duas cadelas em casa e todas elas convivem muito bem e adoram brincar. Nas corridas, a Laís sempre ganha das outras”, conta.
Fabiana garante ainda que, por ser saudá-vel, Laís não precisa de cuidados especiais.
Moradora de Paraisópolis, a auxiliar de serviços gerais Mayara Esperança Rodri-gues, 28 anos, conhece a ONG desde crian-ça. Em 2007, descobriu que seu filho tinha dificuldade para andar e, por sugestão de um amigo, decidiu adotar um animal que pudesse incentivá-lo a se locomover. Aca-bou sendo escolhida por Teka, que tem uma das patas dianteiras amputadas. “Ela veio fazer festa, é bem elétrica e espontâ-nea. Eu pensei... mas ela tem deficiência, será que vai conseguir? Em pouco tempo meu filho começou a andar e hoje eles se divertem juntos”, constata Mayara.
Foi por meio da Internet que a secre-tária Sirlândia Pires de Oliveira, 47 anos, conheceu a Aila, e decidiu fazer uma visita. Lá conheceu Many, que tem visão limita-da e uma deficiência nas patas traseiras, e decidiu ficar com ele porque achou que ninguém iria adotá-lo. “Ele tem persona-
Sirlândia Pires com Many Fabiana Barbosa com Laís Mayara Rodrigues com Teka
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lidade própria, se vira para comer, beber e fazer as necessidades, não precisa de ajuda para nada. Só vai ao veterinário para receber as vacinas”, diz Sirlândia.
Para ela, todos têm o dever de proteger esses ani-mais: “Eles precisam de nós assim como o ser humano. O que eu aprendi é que se você está deprimido com al-guma coisa, é só olhar e brincar com ele que tudo passa”.
Cuidados para uma vida melhorCães saudáveis, com ou sem deficiências, vivem 15
anos, em média. Para o veterinário Roberto de Lacer-da Russo, da Aila, cada animal precisa de atenção es-pecífica. “Um animal que sofreu lesões na coluna, por exemplo, poderá ter dificuldades para se locomover com os membros posteriores e começará a rastejar; por isso, um local plano, com piso de pouco atrito, pode contribuir para evitar a formação de escaras, bem como o uso de cadeirinha de rodas, que deve ser usada com restrições, para evitar cansar o animal.”
Em caso de deficiência visual, se o animal viver sempre no mesmo ambiente, irá se familiarizar com os obstáculos e utilizará a audição para detectá-los, mas precauções simples, como a instalação de barrei-ras, podem ajudar.
Os passeios são recomendados de acordo com as limitações, assim como a separação na hora da ali-mentação, para evitar competições e brigas se houver outros animais na casa.
Luciana Felício, veterinária da ONG Vira-Lata Vira-Vida, afirma que o envelhecimento pesa mais do que a deficiência na questão da manutenção. “A maior parte das deficiências não vai resultar em grandes problemas. O que leva a problemas é o fator idade, não a deficiência em si.”
Animais idosos estão mais propensos a ter falên-cias de órgãos, principalmente problemas renais, car-díacos e hepáticos (no fígado). Recomenda-se então
check-up anual a partir dos 8 anos, vacina-ção em dia e alimentação adequada.
Roberto diz que uma mudança na dieta pode fazer a diferença: “Hoje há no mercado rações específicas para animais idosos, com problemas cardíacos, renais. Com isso você pode poupá-lo de uma futura lesão”.
Segundo ele, novos estudos indicam que a castração de fêmeas antes do primeiro cio pode impedir a futura formação de tumo-res, uma vez que a venda de anticoncepcio-nais sem orientação é perigosa, pois estes são aplicados em doses e idades erradas, hormônios que podem gerar infecções ute-rinas e uma série de problemas.
Os veterinários são unânimes quando falam sobre a maior satisfação que têm em seu trabalho: a cura de animais que chega-ram até eles, muitas vezes em péssima situ-ação, e que hoje estão recuperados.
“Eu tenho uma cumplicidade muito grande com os animais. O carinho que eles nos dão, independente das circuns-tâncias, é incondicional, e isso é o que faz com que lutemos a cada dia mais por eles”, afirma o médico.
Serviços:Aliança Internacional do Animal (Aila)Tel: (11) 3749-9996 / 3749-0800www.aila.org.br
ONG Vira-Lata Vira-VidaTel: (19) 9831-1929www.viralataviravida.org.br