Date post: | 24-Mar-2016 |
Category: |
Documents |
Upload: | karina-francis-gouveia |
View: | 222 times |
Download: | 3 times |
Ano 01 – Número 03
Jornalista ResponsávelKarina [email protected]@karinafrancisMTB 62.032/SP
ColunistasFabio Gomos@somdonorte
Mary Camata@marycamata
Maurício Angelo@mgangelo
Patrícia Toni@pattyfirmino
Rafaela Cappai@rafacappai
Textos Karina Francis
DiagramaçãoArtur Guimarães
CapaKarina Francis eArtur Guimarães
ColaboraçãoAndré Campos
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores. É proibida a reprodução total ou parcial das reportagens, entrevistas, artigos e ilustrações sem a prévia autorização dos titulares dos direitos autorais.
[email protected]: (11) 6427-5812
Siga-nos no
@rockazine_
Acesse tambémwww.rockazine.com.br
Karina Francis Gouveia, editora do Rockazine
Ano passado, nessa mesma época, eu estava enlouquecendo para con-
cluir as matérias da primeira edição do Rockazine. E hoje, vendo o resulta-
do final desta terceira edição, eu penso: “Nossa, todo esforço valeu a pena!”,
isso porque, só quem faz um produto independente sabe que não é nada
fácil. Além disso, quem me conhece sabe o quanto sou neurótica com meus
projetos pessoais, tentando sempre dar o melhor de mim.
O meu vínculo com o Rockazine é igual ao de uma mãe com seu filho.
Eu planejo, carrego dentro de mim, cuido, e tenho uma relação muito forte
com ele. E, cada vez que vejo ele crescer um pouquinho, fico muito feliz.
Adoraria fazer um por mês, mas não sobra tempo suficiente. O Rockazi-
ne é um projeto que coloco em prática nas horas vagas, infelizmente elas têm
sido poucas ultimamente. Cada edição é feita com muito carinho e com pes-
soas que assim como eu, acreditam muito na música independente. Pessoas
que sempre querem saber o porquê das coisas e adoram novos desafios.
O foco nas bandas continua forte. Para esta edição, entrevistamos Mó-
veis Coloniais de Acaju, Aeromoças e Tenistas Russas, Diego de Moraes e o
Sindicado, entre outras. O legal é que elas não têm quase nada em comum,
cada uma com estilo bem diferente da outra, mas que juntas, agregam mui-
tas experiências interessantes.
Inspirada na pergunta: Qual foi o último disco que você comprou? A
terceira edição do Rockazine discutiu o futuro dos discos. Atualmente, a
fabricação de discos de vinil e fitas K7 estão aumentando em grande es-
cala. Os álbuns virtuais ainda são a opção mais utilizada por bandas inde-
pendentes, apesar disso, as plataformas antigas já não são mais coadjuvantes
no século XXI. Por isso, a matéria principal tentou mostrar esse panorama
através do olhar de pessoas que atuam ativamente nesse cenário.
É isso! Enquanto a humanidade caminha, a gente corre para tentar pen-
sar na próxima edição!
Ano 01 – Número 03
EQUIPE DESTA EDIÇÃO(01) Karina Fracis • Jornalista responsável;
(02) Artur Guimarães • Diagramação;
(03) Fabio Gomes • Colaborador;
(04) Mary Camata • Colaboradora;
(05) Maurício Angelo • Colaborador;
(06) Patrícia Toni • Colaboradora;
(07) Rafaela Cappai• Colaboradora e
(08) André Campos • Colaborador.
01
04
07
02
05
08
03
06
0302
14Diego de Moraes e
o Sindicato
22Móveis Coloniais
de Acaju
28Aeromoças e
Tenistas Russas
34W-rox
38Hierofante Púrpura
bandastecnologia
retrato
discussão
06do vinil à fitinha
A pergunta é:Será tudo uma questão de
moda, ideologia, qualidade sonora ou estratégia?!
44Manifesto do artista
independente do tipo faça você mesmo
46Vamos falar de
domínio público?
festivais48
Mais um festival nasce no norte
quadrinhos51
a vida de um PandeMonio
coxinhização50
Independente BR:é preciso ir além
Por um Brasil independente
Ano 01 – Número 03
Do vinil à fitinha
A pergunta é:Será tudo uma questão de
moda, ideologia, qualidade sonora ou estratégia?!
||| Texto Karina Francis
0706
Fitas K7 lançadas pelo selo
Pug Records
O vinil é uma experiência tátil, visual e auditiva.
Colocá-lo no toca discos, ler o encarte e ainda
ouvir um som que tem vantagens cientificamente
comprovadas sobre qualquer
som digital, tudo isso faz com que o vinil seja encarado
como um fetiche, um objeto de
desejo.
||| João AugustoSócio-proprietário da
DeckDisck/Polysom
1312
Mp3 é como fast food – você está no rolê ou fazendo
alguma coisa e deixa o player rolando suas milhares de
pastas. Agora o vinil é como um jantar bacana
com um bom vinho!
||| Marcelo FuscoProprietário da Trezeta Musik
Karina Francis
Paulistana, jornalista,editora do Rockazine.
Diego de Moraes e
o Sindicato||| Texto Karina Francis
1514
Para mim, o espírito
independente é ter uma
autonomia para com a sua
obra. Fazer o que quer
fazer, sem se preocupar com o que esperam de você. É usar
o ‘foda-se!’ como filosofia
de vida
||| Diego de Moraes
1716
Se eu vou a um show, pago pra ver os músicos,
não ‘para ver o evento’. Se o
artista fica sem remuneração, o
principal elemento de toda essa
‘cadeia produtiva’ fica desestimulado.
||| Eduardo Kolody
1918
O artista independente
é o mais dependente,
pois existe uma rede de
relações sociais em torno dele.
Uma rede em que um depende
do outro
||| Diego de Moraes 2120
Móveis Coloniais de Acaju
||| Texto Karina Francis
2322
Rockazine: Qual foi o último disco que cada um comprou?
Roy HargroveThe RH Factor
Marcelo JeneciFeito pra Acabar
Devendra BanhartWhat Will We Be
Adele21
Miss LiLate NightHearthbroken Blues
O Choro e sua HistóriaIzaías e Israel Bueno de Almeida, entre amigo
Hoje a obrigação do
músico que quer construir uma carreira vai bem além de ensaiar e fazer shows,
ele precisa se envolver com
a gestão do negócio.
||| Esdras
2524
A gente precisa do
trabalho do outro
pra fazer o som do Móveis, o resultado
final com a mão dos 10 é o que dá a cara da
banda
||| Esdras
2726
||| Texto Karina Francis
Aeromoças e Tenistas Russas
2928
Se não temos muito acesso aos grandes
meios de comunicação de massa como a TV,
garantimos nosso espaço nas mídias sociais,
que representam o futuro da informação
compartilhada
||| Aeromoças e Tenistas Russas
O mais massa de tudo é quando alguém chega
depois do show e diz ‘cara, vocês tem influência da banda
X da Finlândia?’, sendo que a gente nunca ouviu falar
dela na vida... Isso é ser inclassificável
||| Aeromoças e Tenistas Russas
3130
3332
Em relação ao cenário
independente atual, acho
que estamos realmente
consolidando uma plataforma
sólida, que atende as
demandas das bandas que
querem circular para mostrar
seu trabalho. E é sustentável sim
||| Aeromoças e Tenistas Russas
||| Texto Patrícia Toni
W-ROX: Surge um novo rock!
3534
Patrícia Toni
Paulista de Poá, jornalista em formação e mesmo com sua queda, ainda prefere o diploma. Tem 22 anos e é apaixonada por música, em todas as suas formas. Já trabalhou com revista, TV e internet e atualmente, é assessora de imprensa.
3736
Deixa o mundo ser torto...||| Texto Karina Francis
3938
4140
||| DaniloHierofante Púrpora
Essa é nossa iniciativa,
simplesmente se mexer.
A (boa) tecnologia,
tanto de áudio quanto de
vídeo, nunca esteve tão
ao nosso alcance.
4342
Olá, muito prazer. Meu nome é artista-independen-te. Eu sou do tipo Faça Você Mesmo. Eu me viro nos trinta, jogo nas onze, frito o peixe e olho o gato ao mes-mo tempo. Eu uso minhas habilidades de malabarista pra manter todas as bolas no ar ao mesmo tempo, sem deixar a peteca cair.
Eu trabalho pelo menos 10 horas por dia pra dar conta de pagar as contas. Eu não tenho plano de saúde, não te-nho conta de celular fixo, não tenho carro e não tenho co-ragem de assumir uma prestação de 6 pagamentos futuros.
Eu não tenho horas fixas de trabalho, não tenho equi-pe fixa de trabalho e não tenho salário fixo pelo meu tra-balho. Tem mês que entra, tem mês que não.
Eu me envolvo em pelo menos quatro projetos ao mes-mo tempo, recebendo pequenos cachês de cada um. No montante a coisa fica mais fácil.
Eu não sou bom com dinheiro e não sei cobrar direito pelo que faço. Eu trabalho de graça.
Não tenho rotina, não tenho férias, não tenho ócio criativo.
Muitas vezes trabalho naquilo que não gosto pra poder fazer aquilo que gosto.
Você pode incluir meu trabalho na lista dos sazonais. De Novembro à Março é particularmente difícil. Não que eu não trabalhe. Eu trabalho muito, a questão é que eu não ganho dinheiro.
Eu não tenho ecritório, nem estúdio, nem sala de en-saio onde possa trabalhar. A sala lá de casa é ao mesmo tem-po meu escritório, meu estúdio e também sala de reunião.
Meu parceiro também é artista. Somos os dois no mes-
mo barco, sem ninguém pra segurar a onda quando a maré baixa. Nós dese-jamos ter filhos, mas não sei quando teremos segurança suficiente pra ter coragem de encomendar um.
Eu sou multi-tafera, o que ao meu ver já não é tão bom assim. No currículo soa bonito, mas na vida real significa que eu não consigo focar em uma só coisa de cada vez.
Sobre meu currículo, ele pare-ce um Frankstein, com experiências diversas, em projetos diversos, com gente diversa. Pode até parecer que sou instável, mas se você olhar bem, faz até bastante sentido. Eu não sou instável, sou apenas uma pessoa que tem múltiplos interesses e múltiplas qualidades. E uma enorme capacida-de de adaptação também.
Tá bom, eu confesso que às vezes tenho dificuldade de focar em um só projeto, uma só ideia. Eu tenho ideias a todo momento, mas não sei exata-mente como realizá-las.
Tá certo, não sou eu que sou ins-tável, mas minha vida sim. Ando na corda bamba diariamente, esperando a ligação que vai garantir o cachê do mês seguinte.
Manifesto do Artista Independente do Tipo
Faça Você Mesmo
||| Texto Rafaela Cappai
Sim, minha vida é precária. A linha que divide prazer e traba-
lho é bem fininha, e as coisas pulam de um lado para o outro sem nem pe-dir permissão. Começo trabalhando e quando já vi estou me divertindo. Ou começo me divertindo e quando vi, já virou trabalho. E mesmo se eu estiver me divertindo, saiba que pos-so estar trabalhando. Uma coisa não exclui a outra.
Muitas vezes as pessoas não respei-tam meu horário de trabalho. Muitas vezes eu mesmo não respeito meu ho-rário de trabalho, trabalhando quando deveria estar descansando e descansan-do quando deveria estar trabalhando.
Muitas vezes não estou no clima de ir a lançamentos e estréias, mas fico pensando que são esses momentos que podem me abrir oportunidades. Então eu vou, mas eu acho meio es-tranho quando alguém me diz que tenho que fazer network. Sair pra trocar cartões que eu nem tenho, com pessoas que não conheço. Esse tal de network já faz parte do que eu sou, descobrindo novas pessoas e fazendo amigos. Sem forçar a barra.
De vez em quando eu consigo emplacar um projeto através de Lei de Incentivo, o que me dá um certo respi-ro por um curto espaço de tempo, mas eu vejo com suspeitas esse boom des-sas tais indústria e economia criativas, uma vez que não entendo muito bem como isso vai ajudar na prática a desen-volver a minha vida, a forma como eu trabalho e a maneira com que ganho meu dinheiro, sem necessariamente atingir a integridade do que faço.
Apesar de estar crescendo e evo-luindo na minha carreira, muitas ve-
Rafaela Cappai
Atriz, bailarina, jornalista e empreendedora cultural. Vive à procura de alternativas, ferramentas e soluções que possam ajudar artistas a encontrar sustentabilidade naquilo que amam fazer.
>> w
ww
.esp
aco
na
ve.o
rg <
<
zes tenho a sensação de que estou dando voltas no mesmo lugar, correndo atrás do meu próprio rabo. Não consigo ter a regularidade que gostaria, gerando oportunidades em um fluxo estável.
Às vezes tenho vontade de ter emprego fixo, carteira assinada, plano de saúde, ferias pagas, 13º salário… em um escritório fechado, com gente chata e careta, fazendo tra-balho sem graça… daí a vontade passa.
Eu até já tentei trabalhar em um ambiente um pouco menos criativo e mais comercial, mas tinha a sensação de que estava vendendo minha alma ao diabo, por um preço bem camarada, já que o salário e as condições também não eram lá grandes coisas.
Já pensei em desistir mais vezes do que você possa ima-ginar, mas quando penso na minha felicidade, sei que mi-nha motivação é intrsínseca, não necessariamente vem só de dinheiro ou reconhecimento. Eu amo fazer o que faço e não me vejo sendo feliz fazendo outra coisa. Muitas vezes até não sei se consigo fazer outra coisa. Já pensei em abrir uma loja de empadas, mas a ideia passa rapidinho quando penso que não dá pra ficar sem cantar, dançar, atuar, tocar, escrever, pintar, criar, fazer arte.
Aos poucos tenho aprendido palavras como marke-ting, redes sociais, network, cadeia produtiva, empreende-dorismo, já que dizem por aí que isso pode me ajudar a melhor professar a minha arte, mas sinto que o artista que vive em mim fica meio escondido por trás de planilhas de custo, contas à pagar, orçamentos, objetivos e justificativas.
Minha meta de vida é trabalhar 100% com arte, sem precisar me envolver em projetos com os quais não me identifico conceitualmente e esteticamente.
No fundo eu sou feliz por exercer minha liberdade ar-tística e criativa, mas a perrenga financeira vez ou outra diminui minha confiança no futuro e minha paixão pelo que faço. Já o amor, esse continua intacto.
E pra você que olha de fora, minha vida pode até pa-recer mais fácil que a sua. Saiba que sou artista e trabalho com arte. Eu não mexo com arte. Com arte não se mexe, é coisa muita séria pra se mexer.
Texto inspirado nas entrevistas realizadas para o artigo “Precarity in the music sector of the city of Belo Horizonte: characteristics and strategies”, durante Mestrado em Empreendedorismo Cultural e Criativo, na Goldsmiths University of London. 45
44
No Brasil, o tema do domínio público é escassamente debatido. A única vez, de fato, que vi o tema ser bastante comentado foi no começo de 2008, quando, passados 70 anos da morte de Noel Rosa, sua obra passou ao domínio público – que nada mais é que o fim do período de exclusi-vidade de utilização econômica de uma obra intelectual (li-terária, artística ou científica). Até ali, a maioria das pessoas associava a expressão a um e-mail enviado como spam em que alguém, alarmado, dizia que estava para sair do ar o site www.dominiopublico.gov.br, por falta de acessos (jamais ameaçado, o site completará 7 anos em novembro).
A passagem de uma obra ao domínio público abre uma série de possibilidades interessantes. Permitiu-me, por exemplo, compilar e lançar no blog http://noelrosa100.blogspot.com/ o CD virtual Noel Rosa Cantor – Vol. 1, apenas com fonogramas liberados, para download gratuito (o único pagamento exigido do interessado é o envio de uma mensagem sobre o CD para sua rede social). Também propicia o surgimento de uma editora como a Legatus, de Alexandre Pires Vieira, que só lança e-books de textos que ele busca no já citado site Domínio Público. Vieira chega a faturar 6 mil dólares por mês com suas vendas na livraria virtual Amazon. Machado de Assis está entre os autores que Vieira publica. Assim como ele, diversos outros edito-res hoje podem lançar Machado, de modo que há concor-rência e o leitor pode optar pela edição que achar melhor. Outros benefícios são a redução de custos para produção de CDs, shows e livros que utilizem obras liberadas.
O medo de enfrentar concorrência, num setor da eco-nomia onde ela não é habitual, acaba gerando distorções, que se ligam ao silêncio em relação ao domínio público. Eu soube, por exemplo, de uma cantora que pagou a uma editora musical em 2009 pela gravação de uma música de Cândido das Neves. Tendo este autor falecido em 1934,
desde 2005 sua obra se acha em do-mínio público – ou seja, cessou, por força de lei, o mandato que a edito-ra tinha para representar os herdeiros do autor. O correto seria a editora comunicar à cantora que a obra esta-va liberada e que ela poderia gravá-la sem ônus. Na mesma época, um can-tor me procurou porque queria lançar uma compilação, semelhante à que fiz de Noel, de obras de Sinhô, mor-to em 1930 e cuja obra está liberada desde 2001. Ao buscar os fonogramas originais nas gravadoras, era informa-do, erroneamente, que a cada mudan-ça de suporte (ou seja, do 78 rpm para o LP, deste para o CD, MP3 etc), a contagem de 70 anos de proteção se reiniciava (não há nada parecido com isso escrito na Lei do Direito Autoral em vigor no país, a 9610/98 - http://www.cultura.gov.br/site/?cat=1346).
É bom não esquecer que o papel do direito autoral é assegurar um pe-ríodo de exclusividade ao autor e seus herdeiros, para a exploração comer-cial de sua obra. Findo esse período, a obra passa ao domínio público, se tornando então patrimônio de todos; fica, porém, assegurado, eternamente, o direito moral do reconhecimento da autoria. Esse é o mesmo princípio das patentes de invenções – por exemplo, Alexander Graham Bell inventou
||| Texto Fabio Gomes
o telefone e durante alguns anos sua empresa, a Bell, teve o monopólio le-gal assegurado; acabado esse período, qualquer outra empresa poderia fa-bricar telefones, com o que o consu-midor ganhou, por meio da concor-rência, melhorias técnicas e redução de custos. Enfim, por não encarar o domínio público com a mesma visão que o dono da Legatus, Alexandre Pires Vieira, algumas gravadoras e editoras adotam as atitudes citadas no parágrafo anterior. Ao lado da desin-formação, pode acontecer também a pressão sobre os legisladores para estender indefinidamente o prazo de proteção. Nos Estados Unidos, o pra-zo, que era de 70 anos, passou a ser de 90, em 1998; a emenda ganhou o ape-lido de “Mickey Mouse Protection Act”, pois se comentava que a Disney é que teria exigido a prorrogação, para evitar a liberação dos filmes mais anti-gos do camundongo.
Observem que Brasil e Estados Unidos adotam prazos de proteção diferentes. Pois é, cada país é livre para fixar o período que lhe parecer melhor, desde que não seja inferior ao estabelecido pela Convenção de Berna - 50 anos. Essa autonomia aca-ba gerando um efeito colateral preo-cupante: a falta de parâmetros claros sobre qual legislação deve ser con-siderada em cada caso. A ponto de, no site Domínio Público, o próprio Ministério da Educação admitir que “as diferentes legislações que regem os direitos autorais de outros países trazem algumas dificuldades na veri-ficação do prazo preciso para que uma determinada obra seja considerada em domínio público.”
Fabio Gomes
Gaúcho de Porto Alegre, formou-se em Jornalismo pela UFRGS em 2001. Edita o blog www.somdonorte.com.br e os sites www.brasileirinho.mus.br e www.jornalismocultural.com.br. Atualmente mora em Belém do Pará, de onde colabora com o Rockazine e a revista Intera, de Manaus.
>> w
ww
.som
don
orte
.com
.br
<<
Pode não parecer, mas 70 anos post mortem é muito tempo. No caso de obra em parceria (muito comum no campo da música), a contagem do prazo só começa após a morte do “último dos co-autores sobreviventes”, como diz o artigo 42 da Lei 9610. Peguemos um exemplo, o caso de “Carinhoso”, choro que Pixinguinha compôs no co-meço dos anos 1920 e que foi letrado por João de Barro em 1937. Como Pixinguinha morreu em 1973, e João de Barro em 2006, “Carinhoso” só passará ao domínio pú-blico em 2077, mais de 150 anos depois de ter sido escrita!
É possível alterar isto? Não muito. O direito auto-ral é regulado desde 1886 pela Convenção de Berna. O Brasil, sendo seu signatário, deve seguir vários princí-pios ali fixados, como esse do prazo mínimo de 50 anos. O país que ousar fixar um período menor arrisca-se a ser excluído do acordo e ver seus criadores intelectuais perderem o direito à proteção no exterior. Sou favorável a que, na revisão que o Congresso Nacional deve fazer em breve na Lei do Direito Autoral, o prazo de proteção seja reduzido para 50 anos.
Seria importante que mais gente no Brasil entendesse os benefícios econômicos e culturais do domínio público. São raras as iniciativas como a minha, criando um hotsite com toda a obra já liberada de Noel Rosa - http://www.brasileirinho.mus.br/noelrosa.html . Ou projetos como o Noel Inédito, da cantora e compositora baiana Laura Dan-tas, que musicou letras de Noel cuja melodia se perdeu. Vários outros compositores importantes já estão com as obras em domínio público - cito apenas três: Carlos Go-mes, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth. Acima de tudo, entendo que falta, principalmente, um referencial. Algo que dê visibilidade às obras em domínio público. Penso que artistas que estivessem pesquisando repertório para um CD ou roteirizando um novo show poderiam consultar uma base de dados para ter opções de obras pe-las quais, legalmente, não precisariam pagar direitos auto-rais, reduzindo consideravelmente seus custos de produ-ção. Óbvio que sabemos que este não é o único critério a considerar (a qualidade da obra e sua identificação com o intérprete certamente pesarão mais), mas não deixa de ser relevante – além de ajudar a colocar novamente em circu-lação na sociedade obras criadas há pelo menos 70 anos, e que fazem parte do rico patrimônio cultural de nosso país. 47
46
Quem diria que em um estado tão longe das grandes capitais do rock no Brasil, pudessem existir bons festivais? Em uma cidade com pouco mais de 115 mil habitantes chamada Ji-Paraná, conhecida como “coração de Ron-dônia”, nasceu em pleno mês de agosto de 2011 um novo festival de rock chamado Festival Poraquê.
Com este nome exótico de uma enguia que paralisa sua presa com uma descarga elétrica que chega a matar um cavalo, o “Poraquê”, que também quer dizer “o que entorpece”, surgiu na idéia dos organizadores do festi-val que fazem parte do Coletivo Interior Alternativo, de usarem o nome do animal que é personagem de historias que se ouvem na beira dos rios que cortam a cidade - Rio Machado e Rio Urupá. “A busca por algo que remetesse a nossa região. Foi assim que surgiu Festival Poraquê”, disse um dos organizadores do festival, Raphael Amorim.
Realizado durante dois dias com um total de 12 ban-das de quatro estados, o Festival tinha acesso livre ao pú-blico de todas as idades. Através de parcerias idealizadas pela Fundação Cultural e a Prefeitura do município jun-tamente com o Coletivo Interior Alternativo e o Circuito Fora do Eixo, a primeira edição do Festival começou bem tímida, porém com bandas atuantes na cena independen-te. Com o objetivo de criar uma vitrine dos artistas locais, fazendo um intercâmbio com bandas da cena indepen-dente de outros estados, o Festival Poraquê contou não só com atrações musicais, mas também com oficinas, workshop e um debate sócio ambiental com participação de membros de outros coletivos, bandas e público em ge-ral, sem o menor custo.
Enquanto as bandas se apresenta-vam, tatuadores realizavam a 1ª Expo Tattoo. Entre uma cervejinha e um bom rock, vários roqueiros decidiam riscar a pele. Foi em meio a figuras exóticas sempre presentes em festi-vais de rock que o vocalista da ban-da Subpop Derek Ito, da cidade de Vilhena, comemorava o nascimento de mais um festival no Estado. “As bandas de rock rondoniense só tem a ganhar com o surgimento do Festival Poraquê. É mais uma oportunidade de mostrarmos nosso trabalho onde a cena, mesmo pequena, existe e mui-tas vezes é esquecida”, disse o jovem.
A banda mato-grossense Maca-co Bong, foi à escolhida para fechar a primeira noite do Festival Poraquê. O baixista Ney Hugo falou sobre a força das bandas independente no Brasil e a importância de uma circu-lação nos festivais a fora: “Acredito que a cena independente já superou todas as outras cenas. Há dois anos, a gente diria que a cena estava come-çando a se fortalecer. Hoje em dia já conquistamos espaço. Em qualquer lugar do Brasil, a banda já não quer mais gravar um CD com uma gran-
Festival Poraquê: mais um festival
nasce no norte
||| Texto Mary Camata
de gravadora. O objetivo das bandas agora é rodar o Brasil em festivais, divulgando seu som nas redes e pro-pagando de graça seu trabalho pra que seja conhecido. A Macaco Bong gosta muito de Rondônia e apoiamos essa circulação das bandas indepen-dentes nos festivais. É fundamental pra gente intensificar essa circula-ção”, disse Ney.
O rapper cuiabano Linha Dura que também foi uma das atrações do Festival, falou sobre a experiência de ser o único rapper no meio do rock. “Gostei muito de conhecer Ji-Para-ná. Eu cresci ouvindo hardcore, mas o rap foi a minha maneira de entrar nas favelas e passar o meu recado. No Brasil ainda tem essa divisão de rock
Mary Camara
Graduada em Comunicação Social e pós-graduada no Centro Universitário Luterano de Ji-Paraná (RO). Atualmente é editora-chefe do Jornal Correio Popular, foi coordenadora do Curso de Comunicação Social do Ceulji/Ulbra e assessora de imprensa de alguns festivais de rock em Rondônia. É fotoógrafa e também donado Blog A La Maryjanne.
pra cá e rap pra lá. Sei que sempre vai ter uma galera que não vai gostar, mas outra galera vai parar, ouvir e refletir a nossa mensagem”, disse Linha Dura.
Encantado com a estrutura do festival na segun-da maior cidade de Rondônia – depois da capital Porto Velho – o vocalista da banda de rock mineira Vandaluz, Vane Pimentel, era só elogios ao “recém-nascido” Pora-quê: “Que energia boa e que festival maravilhoso. É mui-to bom estar pela primeira vez no calor de Rondônia. É uma coisa fora da nossa realidade. Nunca sonhamos que viajaríamos para tão longe só para mostrar nossa música. Quantos conceitos vamos levar daqui. É muito bom par-ticipar deste festival com a nossa espontaneidade de dei-xar nossa musica fluir”, falou Vane enquanto se preparava para subir ao palco com a Vandaluz, última banda a se apresentar na primeira edição do Festival Poraquê que ainda contou com a banda paraense Strobo. “É muito bom trazer nosso som de tão longe pra uma galera tão bacana”, finalizou Léo Chermont, vocalista da Strobo.
>> a
lam
ary
jan
ne
.blo
gsp
ot.
com
<<
4948
Dentro do vasto processo de “coxinhização” da nossa música, parece que o politicamente correto tomou conta e não deve mais sair. Vejo gente assustada com “fenôme-nos” como A Banda Mais Bonita da Cidade, que durou o incrível tempo de 1 mês. Em breve o grupo dará origem a uns três “projetos solo” de voz-violão-ukelelê-tecladinho yamaha e os que sobrarem irão abrir uma sorveteria hips-ter. O mal nunca acaba.
E o que isso representa de fato na música brasileira? Nada. Assim como “virais” que explodem na internet não costumam ultrapassar seu microcosmo de burburinho efê-mero. Me dê três exemplos de coisas relevantes que “bom-baram” na web ano passado e continuam a movimentar alguma coisa sem precisar pesquisar muito ou forçar a me-mória. Pois é, impossível.
O que realmente me preocupa é a ausência de um mé-dio escalão sólido na música nacional. No topo temos os artistas mainstream de todos os gêneros, na base os inde-pendentes com maior – ou nenhuma – estrutura, vivendo de shows esporádicos patrocinados por grandes empresas, projetos de lei, os SESC’s da vida, um ou outro festival e por aí afora. Há poucos artistas com verniz “independen-te” - que não arraste grandes massas mas que consegue um público razoável – capazes de se manter.
A música “independente” brasileira tem quase nada de “independente”, se considerarmos o termo ao pé da letra. Incluindo todo o Fora do Eixo e as dezenas de cole-tivos espalhados pelo país. Verdade: é muito melhor que o nada que tínhamos. Outra verdade: é preciso sair do momento inicial de oba-oba e empolgação pura e sim-ples, o que já começou a acontecer na torrente de críticas e discussões dos últimos 2 anos, para uma efetiva “nova fase” dessa cadeia produtiva.
Ótimo que conseguimos construir algo. Melhor ain-
da se alcançarmos o aperfeiçoamento do que já existe, tapando os gargalos, assumindo os erros e buscando algo mais justo para todos. Ao invés de se refugiar num patrulhamento acéfalo e num discursinho pseudo-marxista chulé da pior espécie. Orwell manda lembranças.
Em outra ponta, bandas precisam apelar para o crowdfunding, com pin-ta de “iniciativa bacana” e “antena-da”, mas com um prazo de validade curtíssimo, com dezenas de proble-mas na sua essência e possível apenas para grupos com uma base de fãs mí-nima, a exemplo do Autoramas.
Parece que a música “indepen-dente” cada vez mais é passatempo para jovens endinheirados, playboys com dinheiro de sobra para não te-rem que se preocupar em viver do seu trabalho. Não é difícil observar isso: basta conhecer boa parte dos grupos por aí. Ao mesmo tempo em que, não por acaso, bandas decentes acabam ou ficam no eterno “termina e volta”.
Ao contrário do que alguns gos-tam de acreditar, precisamos de – ain-da – comer muito sal para solidificar o que já existe. E não é sem uma dose de coragem e a capacidade de lidar com críticas de maneira sadia, algo aparentemente impossível pra tanta gente, que isso será possível.
Independente BR:é preciso ir além
||| Texto Rafaela Cappai
Maurício Angelo
é jornalista e edita a www.revistamovinup.com
>> w
ww
.rev
ista
mov
inu
p.co
m <
<
COLORIDOS
Eu sou o último exemplar da minhaespécie...
Todos da minha geração foram morrendo ou esquecidos com otempo!
Passo minha vida bebendo whisky e ouvindo meus velhos discos.
Uma vez por mês eu tento voltara sociedade...
Vamos por um poucode cor nesta cidade
cinza gente!!!Mas vejo que ainda não estoupreparado para isso.
FIM
Do vinil á fitinha, Diego de Moraes e o Sindicato, Móveis Coloniais de Acaju, Aeromoças e Tenistas Russas, PandeMonio, e muito mais...
Nesta Edição