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Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontoloia Geriatrics...

Date post: 07-Feb-2019
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G eriatrics & G erontology OFFICIAL JOURNAL OF THE BRAZILIAN SOCIETY OF GERIATRICS AND GERONTOLOGY ISSN 1981-8289 Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia BRAZILIAN VOLUME 5 • NUMBER 4 • OCT/NOV/DEC 2011 EDITORIAL Brazilian Geriatrics & Gerontology completed its first editorial cycle . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .181 João Macêdo Coelho Filho ORIGINAL ARTICLES Somatotype in the elderly: prevalence and association with lipids and glucose levels ..........................182 Adilson Domingos dos Reis Filho, Waléria Christiane Rezende Fett, Fabrício Azevedo Voltarelli, Jarbas Ferrari Junior, Fabrício Cesar de Paula Ravagnani, Christianne de Faria Coelho-Ravagnani, Carlos Alexandre Fett Analysis of perception of health status of elderly from the metropolitan area of Belo Horizonte city ..............189 Fabrício Franco Carvalho, Juliana Nunes Santos, Luiza de Marilac de Souza, Nícia Raies Moreira de Souza Analysis of the postural balance of healthy elderly subjects practitioner and non-practitioners of long-distance run .......................................................................................196 Sergio Claudemir Zancheta, Angélica Castilho Alonso, Maria Elisabete Bovino Pedalini, Júlia Maria D’Andréa Greve Perception of aging and finitude at the end of late adult life ..................................................201 Carolina Santin Cótica Prevalence of anemia in nursing home for the aged in Brasilia/DF ............................................214 Victor Falcão Macêdo, Luana Oliveira Correia, Francisca Magalhães Scoralick, Luciana Paganini Piazzolla, Débora Lins Soares Macêdo Analysis of the sociodemographic profile of elderly victims of violence in the city of Porto Alegre/RS/Brazil ......220 Rarianne Carvalho Peruhype, Lisiane Hauser Scientific evidence for octogenarians and nonagenarians ...................................................226 Andre Kioshi Priante Kayano, Renato Laks, Lara M. Quirino Araujo, André Castanho A. Pernambuco, Maysa S. Cendoroglo Knowledge on the benefits associated with bodybuilding practice for physically active elderlies ................233 Tatiane Gomes Teixeira, Beltrina Côrte Comparison and analysis of agreement between different methods of measuring blood pressure in elderly .......242 Gislene Cristine Franco de Oliveira, José Claudio Jambassi Filho, André Luiz Demantova Gurjão, Marilia Ceccato, Denise Cristina Zuzzi, Sebastião Gobbi RELATO DE EXPERIÊNCIA Square Stepping Exercise: a new kind of activity for elderly .................................................248 Camila Vieira Ligo Teixeira, Sebastião Gobbi, Ana Paula Canonici, Jessica Pereira Rodrigues, Deisy Terumi Ueno, José Luiz Riani Costa, Lilian Teresa Bucken Gobbi REVIEWS Major risk factors for the development of pressure ulcer in the elderly and the importance of nutrition in the treatment handling ......................................................................................253 Vanessa Motta Moreira Sakashita, Maria de Lourdes do Nascimento Life involvement: an old age challenge ....................................................................261 Priscilla Melo Ribeiro de Lima, Vera Lúcia Decnop Coelho, Isolda de Araújo Günther LETTER TO THE EDITOR Critical appraisal of guidelines of SBGG for Residency Program in Geriatrics ..................................269 Marco Túlio Gualberto Cintra, Flávia Lanna Moraes, Aparecida Camargos Bicalho, Edgar Nunes de Moraes MEETINGS INSTRUCTIONS FOR AUTHORS
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Geriatrics &Gerontology

Official JOurnal Of the Brazilian SOciety Of GeriatricS and GerOntOlOGy

ISSN 1981-8289

Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia

Brazilian

VOLUME 5 • NUMBER 4 • OCT/NOV/DEC 2011

EditorialBrazilian Geriatrics & Gerontology completed its first editorial cycle . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .181João Macêdo Coelho Filho

oriGinal artiClESSomatotype in the elderly: prevalence and association with lipids and glucose levels . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .182Adilson Domingos dos Reis Filho, Waléria Christiane Rezende Fett, Fabrício Azevedo Voltarelli, Jarbas Ferrari Junior, Fabrício Cesar de Paula Ravagnani, Christianne de Faria Coelho-Ravagnani, Carlos Alexandre FettAnalysis of perception of health status of elderly from the metropolitan area of Belo Horizonte city . . . . . . . . . . . . . .189Fabrício Franco Carvalho, Juliana Nunes Santos, Luiza de Marilac de Souza, Nícia Raies Moreira de SouzaAnalysis of the postural balance of healthy elderly subjects practitioner and non-practitioners of long-distance run . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .196Sergio Claudemir Zancheta, Angélica Castilho Alonso, Maria Elisabete Bovino Pedalini, Júlia Maria D’Andréa GrevePerception of aging and finitude at the end of late adult life . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .201Carolina Santin CóticaPrevalence of anemia in nursing home for the aged in Brasilia/DF . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .214Victor Falcão Macêdo, Luana Oliveira Correia, Francisca Magalhães Scoralick, Luciana Paganini Piazzolla, Débora Lins Soares MacêdoAnalysis of the sociodemographic profile of elderly victims of violence in the city of Porto Alegre/RS/Brazil . . . . . .220 Rarianne Carvalho Peruhype, Lisiane HauserScientific evidence for octogenarians and nonagenarians . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .226Andre Kioshi Priante Kayano, Renato Laks, Lara M. Quirino Araujo, André Castanho A. Pernambuco, Maysa S. CendorogloKnowledge on the benefits associated with bodybuilding practice for physically active elderlies . . . . . . . . . . . . . . . .233Tatiane Gomes Teixeira, Beltrina CôrteComparison and analysis of agreement between different methods of measuring blood pressure in elderly . . . . . . .242Gislene Cristine Franco de Oliveira, José Claudio Jambassi Filho, André Luiz Demantova Gurjão, Marilia Ceccato, Denise Cristina Zuzzi, Sebastião Gobbi

rElato dE ExpEriênCiaSquare Stepping Exercise: a new kind of activity for elderly . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .248Camila Vieira Ligo Teixeira, Sebastião Gobbi, Ana Paula Canonici, Jessica Pereira Rodrigues, Deisy Terumi Ueno, José Luiz Riani Costa, Lilian Teresa Bucken Gobbi

rEviEwSMajor risk factors for the development of pressure ulcer in the elderly and the importance of nutrition in the treatment handling . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .253Vanessa Motta Moreira Sakashita, Maria de Lourdes do Nascimento Life involvement: an old age challenge . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .261Priscilla Melo Ribeiro de Lima, Vera Lúcia Decnop Coelho, Isolda de Araújo Günther

lEttEr to tHE EditorCritical appraisal of guidelines of SBGG for Residency Program in Geriatrics . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .269Marco Túlio Gualberto Cintra, Flávia Lanna Moraes, Aparecida Camargos Bicalho, Edgar Nunes de Moraes

meetings

instructions for authors

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GERiAtRiA & GERontoLoGiA

Conselho Editorial nacional

João Carlos Barbosa MachadoBelo Horizonte, Brasil (AURUS)

João Marcos Domingues DiasBelo Horizonte, Brasil (UFMG)

João Toniolo NetoSão Paulo, Brasil (Unifesp)

Johannes DollPorto Alegre, Brasil (UFRGS)

José Elias Soares Pinheiro Rio de Janeiro, Brasil (UFRJ)

Júlio César MorigutiRibeirão Preto, Brasil (USP-RP)

Karla Cristina GiacominRio de Janeiro, Brasil (UERJ)

Kátia Magdala Lima BarretoRecife, Brasil (UFPE)

Laura Mello MachadoRio de Janeiro, Brasil

Leani Souza Máximo PereiraBelo Horizonte, Brasil (UFMG)

Ligia PyRio de Janeiro, Brasil (UFRJ)

Luiz Roberto RamosSão Paulo, Brasil (UFSP)

Maira Tonidandel BarbosaBelo Horizonte, Brasil (UFMG)

Marcella Guimarães Assis TiradoBelo Horizonte, Brasil (UFMG)

Maria Fernanda Furtado de Lima e CostaBelo Horizonte, Brasil (Fiocruz-MG)

Maurício Gomes PereiraBrasília, Brasil (UnB)

Maurício WajngartenSão Paulo, Brasil (USP)

Milton Luiz GorzoniSão Paulo, Brasil (FCMSC-SP)

Mônica Rodrigues PerraciniSão Paulo, Brasil (Unifesp)

Newton Luiz TerraPorto Alegre, Brasil (PUC-RS)

Paulo Rogério Wasserstein HekmanPorto Alegre, Brasil

Renato Maia GuimarãesBrasília, Brasil (UnB)

Renato Moraes FabbriSão Paulo, Brasil (Santa Casa/SP)

Ricardo KomatsuMarília, Brasil (Famema)

Roberto Dischinger MirandaSão Paulo, Brasil (Unifesp)

Rômulo Luiz de Castro MeiraSalvador, Brasil (UFBA)

Sérgio Márcio Pacheco PaschoalSão Paulo, Brasil (USP)

Silvia Maria Azevedo dos SantosFlorianópolis, Brasil (UFSC)

Sônia Lima MedeirosSão Paulo, Brasil (Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia-SP)

Tereza Loffredo BiltonSão Paulo, Brasil (PUC-SP)

Toshio ChibaSão Paulo, Brasil (USP)

Túlia Fernanda Meira GarciaFortaleza, Brasil (Escola de Saúde Pública/CE)

Ulisses Gabriel Vasconcelos Cunha Belo Horizonte, Brasil (IPSENG)

Vânia Beatriz Merlotti HerédiaPorto Alegre, Brasil (UCS)

Wilson Jacob FilhoSão Paulo, Brasil (USP)

Adriana de Melo GomesRecife, Brasil (Instituto de Geriatria e Gerontologia de Pernambuco)

Adriano Cézar Balthazar da Silveira GordilhoSalvador, Brasil

Ana Amélia CamaranoRio de Janeiro, Brasil (IPEA)

Anita Liberalesso NériCampinas, Brasil (Unicamp)

Carlos Montes Paixão JúniorRio de Janeiro, Brasil (UFRJ)

Cláudia BurláRio de Janeiro, Brasil (CFM)

Clineu Mello Almada São Paulo, Brasil (Unifesp)

Edgar Nunes de Moraes Belo Horizonte, Brasil (UFMG)

Eduardo FerriolliRibeirão Preto, Brasil (USP-RP)

Eliane Jost BlessmannPorto Alegre, Brasil (UFRGS)

Elisa Franco de Assis CostaGoiânia, Brasil (HUGO)

Elizabete Viana de FreitasRio de Janeiro, Brasil (UERJ)

Emílio Hideyuki MoriguchiPorto Alegre, Brasil (UFRGS)

Emílio Jeckel NetoPorto Alegre, Brasil (PUC-RS)

Flávio ChaimowiczBelo Horizonte, Brasil (UFMG)

Guita Grib DebertCampinas, Brasil (Unicamp)

Ivete BerkenbrockCuritiba, Brasil

Rua Cap. Francisco Pedro, 1255 – Bairro Rodolfo Teófilo – 60430-370 – Fortaleza – CE e-mails: [email protected]/[email protected]

Base Editorial

Indexada no LATINDEx (Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, Espa~na y Portugal).

Conselho Editorial internacional

Andrea Caprara Roma, Itália

Ângelo Boss Baltimore, Estados Unidos

Antony Bayer Cardiff, Reino Unido

Bruno VellasToulouse, França

David V. EspinoSan Antonio, Estados Unidos

Jay Luxenberg San Francisco, Estados Unidos

Jeanne Wei Little Rock, Estados Unidos

Masatoshi TakedaOsaka, Japão

Paulo Henrique M. ChavesBaltimore, Estados Unidos

Roberto Kaplan Buenos Aires, Argentina

Sergio Ariño Blasco Barcelona, Espanha

Editor-ChefeJoão Macêdo Coelho Filho – Fortaleza, Brasil (UFC)

Editores AssociadosLuiz Eugênio Garcez Leme – São Paulo, Brasil (USP)

Marcos Aparecido Sarria Cabrera – Londrina, Brasil (UEL)Maysa Seabra Cendoroglo – São Paulo, Brasil (Unifesp)

Myrian Spínola Najas – São Paulo, Brasil (Unifesp)Rosângela Correa Dias – Belo Horizonte, Brasil (UFMG)

Editores Executivos João Senger – Novo Hamburgo, Brasil

Jussara Rauth da Costa – Porto Alegre, Brasil Marianela Flores de Hekman – Porto Alegre, Brasil

Noêmia Lima Silva – Aracaju, Brasil Salo Buksman – Rio de Janeiro, Brasil

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DiREtoRiA nACionAL DA SBGG

dirEtoriaS rEGionaiS da SBGG

BAHIA (2010/2012)Presidente: Christiane Machado2a Vice-Presidente: Íris Soeiro Diretora Científica: Alini Ponte

CEARÁ (2010/2012)Presidente: João Bastos Freire Neto 2a Vice-Presidente: Túlia Fernanda Meira GarciaDiretor Científico: Jarbas de Sá Roriz Filho

DISTRITO FEDERAL (2010/2012)Presidente: Marcelo de Faveri2o Vice-Presidente: Vicente de Paula FaleirosDiretor Científico: Rodrigo Nery Macedo Cruz

ESPÍRITO SANTO (2009/2011)Presidente: Regina Ângela V. Mesquita 2a Vice-Presidente: Elaine R. da Mata BaptistaDiretora Científica: Daniela Souza G. Barbieri

GOIÁS (2010/2012)Presidente: Juliana Junqueira Marques Teixeira 2a Vice-Presidente: Viviane Lemos Silva FernandesDiretora Científica: Isadora C. Alves Teixeira

MATO GROSSO (2010/2012)Presidente: Luis Gustavo Castro Marques2a Vice-Presidente: Leila Auxiliadora Sant’AnnaDiretora Científica: Rosangela A. P. Carapeba

MATO GROSSO DO SUL (2011/2012)Presidente: José Roberto Pelegrino Diretora Científica: Marta Dreimeier

MINAS GERAIS (2009/2011)Presidente: Claudia Pacheco C. Vieira2a Vice-Presidente: Rita de Cássia GuedesDiretora Científica: Ana Cristina N. B. Faria

PARÁ (2010/2012)Presidente: João Sérgio F. do Nascimento 2o Vice-Presidente: João Sérgio S. OliveiraDiretor Científico: Nezilour Lobato Rodrigues

PARAÍBA (2010/2012)Presidente: Arnaldo Henriques Gomes Viegas2a Vice-Presidente: Mirian Lucia TrindadeDiretor Científico: João Borges Virgolino

PARANÁ (2010/2012)Presidente: Rodolfo Augusto Alves Pedrão2a Vice-Presidente: Benedito Guilherme F. FariasDiretora Científica: Débora Christina de A. Lopes

PERNAMBUCO (2010/2012)Presidente: Daniel Kitner2a Vice-Presidente: Marcia CarreraDiretora Científica: Clarice Correia

RIO DE JANEIRO (2010/2012)Presidente: José Elias Soares Pinheiro2a Vice-Presidente: Maria Angélica SanchesDiretor Científico: Rodrigo Bernardo Serafim

RIO GRANDE DO SUL (2010/2012)Presidente: Marianela Flores de Hekman2a Vice-Presidente: Jussara Rauth da CostaDiretor Científico: João Senger

SANTA CATARINA (2010/2012)Presidente: Paulo Borges2a Vice-Presidente: Jordelina SchierDiretora Científica: Angela Becker

SÃO PAULO (2009/2011)Presidente: Omar Jaluul 2a Vice-Presidente: Claudia Marina FlóDiretor Científico: Renato Moraes Alves Fabbri

Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia

PresidenteSilvia Regina Mendes Pereira (RJ)

1o Vice-PresidenteNezilour Lobato Rodrigues (PA)

2a Vice-Presidente (Presidente do Departamento de Gerontologia)Eliane Jost Blessmann (RS)

Secretária GeralMárcia Helena Pereira Morgado (RJ)

Secretária AdjuntoLeonor Campos Mauad (SP)

TesoureiraDébora Ávila Carvalho (MG)

Diretor CientíficoSabri Lakhdari (DF)

Diretor de Defesa ProfissionalAdriano da Silveira Gordilho (BA)

Conselho ConsultivoAndré Junqueira Xavier (SC)Ligia Auxiliadora Oliveira Py (RJ)Paulo Renato Canineu (SP)

Membros Natos do Conselho Consultivo Adriano César Gordilho (BA) Antônio Jordão Neto (SP) Elisa Franco de Assis Costa (GO)Elizabete Viana de Freitas (RJ) Flávio Aluízio Xavier Cançado (MG)João Carlos Barbosa Machado (MG) Jussara Rauth da Costa (RS)Laura Mello Machado (RJ) Margarida Santos (PE) Maria Aulixiadora Cursino Ferrari (SP)Marianela Flores de Hekman (RS)Myrian Spínola Najas (SP)

Paulo César Affonso Ferreira (RJ) Renato Maia Guimarães (DF) Sônia Maria Rocha (RJ) Tereza Bilton (SP)Zally Pinto Vasconcelos Queiroz (SP)

Representantes no Conselho da Associação Internacional de Geriatria e Gerontologia (IAGG)Silvia Regina Mendes Pereira (RJ)Eliane Jost Blessmann (RS)Marianela Flores de Hekman (RS)

Comissão CientíficaSabri Lakhdari (DF)Leonor Mauad (SP)

Comissão de Normas Presidente: Marianela Hekman (RS)Jussara Rauth (RS)Elisa Franco (GO)Silvia Pereira (RJ)Adriano Gordilho (BA) Elizabete Viana de Freitas (RJ)

Comissão de Defesa ProfissionalAdriano Gordilho (BA)Tássio da Silva (SP)

Comissão para Assuntos InternacionaisEliane Blessmann (RS)Silvia Pereira (RJ)Marianela Hekman (RS)

Comissão de Título de GeriatriaPresidente: Siulmara Galera (CE)Elisa Franco (GO)Elizabete Viana de Freitas (RJ)Karlo Edson Moreira Santana (PA)Lívia Devéns (ES)Maira Tonidandel (MG) Maria do Carmo Lencastre (PE)

Paulo José Villas Boas (SP)Rodolfo Pedrão (PR)

Comissão de Título de GerontologiaPresidente: Marisa Accioly Domingues (SP)Adriana Keller (MG) Etiene Fittipald (PE)Maria Celi Lyrio Crispim (RJ) Marlene Teda (RS)

Comissão de Cuidados PaliativosPresidente: Ligia Py (RJ) Claudia Burlá (RJ)Dulcinea Monteiro (RJ)Johannes Doll (RS)José Francisco Oliveira (RJ)Leo Pessini (SP)Lucia Takase (SC)Margarida Santos (PE)Toshio Chiba (SP) Viviane Lemos (GO)

Comissão de Formação Profissional e CadastroGeriatria – Verônica Hagemeyer (RJ)Gerontologia – Célia Pereira Caldas (RJ)

Comissão de PublicaçõesEditor-Chefe da Revista G&G: João Macedo (CE)Luiz Eugenio Garcez Leme (SP)Marcos Aparecido Sarria Cabrera (PR)Maysa Seabra Cendoroglo (SP)Myrian Spínola Najas (SP)Rosangela Corrêa Dias (MG)

Comissão de InformáticaDaniel Azevedo (RJ)Rubens de Fraga Júnior (PR)Comissão de ComunicaçãoSalo Buksman (RJ)

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É a revista de maior circulação na área de

Geriatria e Gerontologia, com distribuição

para cerca de 2.000 associados da SBGG

Circula nas principais bibliotecas de ciências

da saúde do País

Segue os padrões internacionais para

indexação

Caráter interdisciplinar, o que caracteriza o campo

de Geriatria e Gerontologia

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&geriatria gerontologiaPor que publicar em

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editorial

Geriatria & Gerontologia: primeiro ciclo editorial concluído

Geriatria & Gerontologia completa com esta edição o seu primeiro ciclo editorial, com duração de quatro anos (2008-2011), durante o qual tive a satisfação de atuar como editor-chefe. Destaque-se aqui a atuação importante dos editores associados e demais membros do corpo editorial, que empres-taram generosamente seus conhecimentos e habilidades na avaliação e seleção criteriosa dos artigos, assegurando, assim, a qualidade e a regularidade das edições. A participação como editor-chefe nesse processo foi-nos particularmente gratificante, por ter sido essa a etapa de implantação e consolidação da revista, que já se impõe como uma publicação de referência para a geriatria e gerontologia nacionais.

Durante o quadriênio, foram publicadas 18 edições, em formato impresso e eletrônico, com ar-tigos oriundos de diferentes instituições, centros de pesquisa e serviços do país. O número de artigos submetidos mensalmente cresceu em mais de 50% nos últimos seis meses, resultando em edições mais ampliadas. A revista deverá conquistar proximamente avanços no que diz respeito à indexação em sistemas importantes, essencial para aquecer ainda mais o interesse em publicação na revista e viabilizar novas fontes de financiamento.

Geriatria & Gerontologia tem sido importante também na divulgação da produção científica apre-sentada durante os congressos brasileiros da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). Foram publicados no período dois suplementos, o último deles representando uma edição com mais de 700 páginas (ressalte-se que o congresso de 2010, em Belo Horizonte, contou com mais de 1.500 trabalhos científicos). Outro aspecto positivo dos suplementos é a publicação dos resumos das prin-cipais conferências do congresso, a qual se pretende ampliar na edição de 2012, pela importância que tem na educação continuada dos profissionais na área de envelhecimento humano.

Em 2012, várias inovações são aguardadas para Geriatria & Gerontologia, baseadas em necessida-des identificadas para o aprimoramento do periódico e visando ao seu enquadramento definitivo nos padrões de uma revista de grande porte. A experiência e a reconhecida competência da Dra. Maysa Sea bra Cendoroglo, que deverá suceder-me na posição de editora-chefe, serão fundamentais para o pleno atingimento das metas de crescimento da revista no quadriênio que se inicia. Finalmente, cabe agradecer pelo pleno apoio recebido das diretorias da SBGG nesse período, nas pessoas da Dra. Ma-rianela Flores de Hekman, Dr. João Carlos Barbosa Machado e Dra. Silvia Regina Mendes Pereira. Esperamos que a trajetória vitoriosa de nossa revista conte cada vez mais com o envolvimento ativo de todos aqueles comprometidos com o desenvolvimento da geriatria e gerontologia no Brasil.

João Macêdo Coelho FilhoEditor-chefe (quadriênio 2008-2011)

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artiGo oriGiNal

Somatótipo em idosas: prevalência e associação com

perfil lipídico e glicêmicoSomatotype in the elderly: prevalence and association with lipids and glucose levels

Adilson Domingos dos Reis Filho1,2,3, Waléria Christiane Rezende Fett1, Fabrício Azevedo Voltarelli1, Jarbas Ferrari Junior1,4, Fabrício Cesar de Paula Ravagnani1,3,

Christianne de Faria Coelho-Ravagnani1, Carlos Alexandre Fett1

1 Núcleo de Aptidão Física, Metabolismo e Saúde (NAFiMeS) da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Cuiabá/MT. 2 Faculdade de Educação Física da Universidade de Cuiabá (UNIC). 3 Centro Universitário de Várzea Grande (Univag). 4 Faculdade de Ciências Médicas UFMT.

Endereço para correspondência: Adilson Domingos dos Reis Filho • Rua República da Argentina, 559, ap. 104, bloco 5, Residencial San Martin, Jardim Tropical – 78065-198 – Cuiabá, MT • E-mail: [email protected]

Recebido em 21/6/2011Aceito em 29/12/2011

RESUMOobjetivo: Identificar a prevalência de somatótipos e analisar a associação com o perfil lipídico e glicêmico em idosas. Métodos: O estudo contou com 102 idosas de três centros de convivência do município de Cuiabá/MT, com idade entre 60 e 84 anos. Foram realizados avaliações antropométricas e cálculo dos somatótipos endomorfo (ENDO), mesomorfo (MESO) e ectomorfo (ECTO). As análises da glicemia em jejum (GJ) e glicemia pós-prandial (GPP) foram feitas com o método enzimático colorimétrico da glicose oxidase; a hemoglobina glicada (HbA1C) foi determinada segundo o método Trivelli modificado; triglicérides (Tg), colesterol total (CT) e HDL-colesterol foram analisados com o método colorimétrico enzimático e o LDL-colesterol foi calculado segundo o método de Friede-wald. resultados: Houve associação entre ECTO x GPP (rs = -0,25; p = 0,05) e ECTO x Tg (rs = -0,27; p = 0,03) na faixa etária de 60-69 anos e entre ENDO x GPP (rs = 0,33; p = 0,03), ENDO x Tg (rs = 0,41; p = 0,006) e ENDO x CT (r = 0,41; p = 0,007) no grupo acima de 70 anos. Os resultados da análise de regressão múltipla foram significantes entre ECTO x GPP (p = 0,04) no grupo de 60-69 anos e entre ENDO x Tg (p = 0,02) e ENDO x CT (p = 0,006) para as idosas com mais de 70 anos. Conclusão: Os lípides plasmáticos apresentaram associações positivas apenas com o componente ENDO no grupo de idosas acima de 70 anos, podendo ter papel diferenciado em relação à idade, talvez pelo fato de a gordura corporal exercer fator de proteção em idosos.

Palavras-chave: Idoso, antropometria, glicemia, lipoproteínas.

ABSTRACTobjective: Identify the prevalence of somatotype and analyze the association with lipids and glucose levels in elderly women. Methods: Anthropometric data were collected and calculated the endomorph somatotype (ENDO), mesomorph (MESO) and ectomorph (ECTO). The analysis of fasting plasma glucose (FPG) and postprandial glucose (PPG) were made with an enzymatic colorimetric glucose oxidase, glycated hemoglobin (HbA1C) was determined using the method modified Trivelli, triglycerides (Tg), total cholesterol (TC) and HDL-cholesterol were analyzed with the enzymatic colorimetric method and LDL-cholesterol calculated by the method of Friedewald. results: Associa-tion between ECTO x PPG (rs = -0.25; p = 0.05) and ECTO x Tg (rs = -0.27; p = 0.03) in the age group 60-69 years and between ENDO x PPG (rs = 0.33; p = 0.03), ENDO x Tg (rs = 0.41; p = 0.006) and ENDO x TC (r = 0.41; p = 0.007) in the group above 70 years. The results of multiple regression analysis were significant between ECTO x PPG (p = 0.04) in the group aged 60-69 years and between ENDO x Tg (p = 0.02) and ENDO x CT (p = 0.006) for the elderly over 70 years old. Conclusion: Plasma lipids showed positive associations only with the component in the ENDO group of elderly aged over 70 years and may have different role in relation to age, perhaps because body fat exert a protective factor in the elderly.

Keywords: Elderly, anthropometry, blood glucose, lipoproteins.

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183Somatótipo em idosas

iNtrodUÇÃo

A análise do somatótipo foi inicialmente proposta por Sheldon et al.1 e Parnell2 e posteriormente revisa-da e modificada por Heath e Carter3. O somatótipo é definido como a quantificação da forma atual e da composição corporal, em que a endomorfia (ENDO) representa a gordura relativa, a mesomorfia (MESO), a relativa robustez musculoesquelética e a ectomorfia (ECTO) é relacionada à linearidade relativa ou ma-greza física4. A avaliação do somatótipo pode auxiliar na quantificação e classificação da forma corporal, sendo frequentemente utilizada em esportes de alto rendimento e/ou acompanhamento maturacional como o encontrado em alguns estudos5-7. Contudo, poucos são os estudos que o relacionam aos aspectos de saúde em geral, principalmente quando compara-do ao perfil glicêmico e lipídico em indivíduos idosos.

A classificação da forma, bem como da composi-ção corporal em idosos, pode auxiliar no entendimen-to de como as alterações ocorridas com o processo de envelhecimento, tal como a redução de massa muscu-lar e o aumento de tecido adiposo, podem estar rela-cionadas ao diabetes mellitus tipo 2, à dislipidemia, à hipertensão arterial, ao infarto agudo do miocárdio, à síndrome metabólica, entre outras doenças crôni-cas não transmissíveis. Um dos estudos pioneiros na comparação de marcadores bioquímicos sanguíneos foi o de Gertler et al.8, que correlacionaram o soma-tótipo proposto por Sheldon em níveis de lípides plasmáticos em homens adultos. Entretanto, poucos estudos9-13 abordaram a relação entre os componentes do somatótipo e as doenças crônicas não transmissí-veis (DNCTs), especialmente em indivíduos idosos e do sexo feminino.

Com isso, o objetivo do presente estudo foi anali-sar a prevalência dos somatótipos em idosas e poste-riormente associá-los ao perfil lipídico e glicêmico, procurando, assim, identificar a existência de um com-ponente do somatótipo com maior predisposição para níveis alterados de marcadores bioquímicos sanguíneos.

MÉtodoS

Sujeitos

Trata-se de um estudo transversal, descritivo e de natureza quantitativa, qualitativa e clínica, inte-grante do protocolo para coleta do Projeto Temático “Longevidade saudável”, desenvolvido por docentes dos Cursos de Graduação em Educação Física e em Medicina da Universidade Federal de Mato Grosso

(UFMT). Para a seleção da amostra, foram afixados cartazes no mural informativo e realizadas palestras informativas a respeito do estudo, no período matuti-no e vespertino. Em seguida, foram agendados os dias para as análises, os quais consistiram de avaliações an-tropométricas e exames de sangue para identificação do perfil lipídico e glicêmico.

Como critérios de inclusão, foram observados os seguintes requisitos: ser do sexo feminino; ter idade superior a 60 anos; não ser diabética e/ou hipertensa; não fazer uso de fármacos que alterassem a glicemia e/ou o perfil lipídico; ser cadastrada e frequentar um dos três centros de convivência para idosos (CCIs) do município de Cuiabá/MT, Brasil. Foram excluídas as voluntárias que apresentaram impedimentos para rea lização das avaliações antropométricas ou que não realizassem o exame sanguíneo.

A seleção da amostra ocorreu de forma não proba-bilística, sendo incluídas no estudo 102 idosas, com idade entre 60 e 84 anos, divididas em dois grupos: 60-69 anos (64,4 ± 2,5 anos) e > 70 anos (73,6 ± 3,4 anos). Todas as voluntárias, após terem sido informa-das sobre a proposta do estudo, assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido que foi proto-colado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Júlio Müller (Protocolo nº 330/CEP-HUJM/07).

Marcadores bioquímicos

As coletas e avaliações foram de responsabilidade do Laboratório de Patologia Clínica do Hospital do Câncer de Cuiabá/MT, Brasil. Para a obtenção da amostra sanguínea, foram observados 12 horas de jejum, abstinência de bebidas alcoólicas no período de 72 horas e repouso de 30 minutos antes da coleta no período matutino para os seguintes marcadores bioquímicos: glicemia de jejum (GJ), hemoglobina glicada (HbA1C), triglicérides (Tg), colesterol total (CT) e frações deste, HDL-colesterol e LDL-coles-terol. A amostra de sangue para análise da glicemia pós-prandial (GPP) foi coletada após duas horas do almoço. Todas as coletas foram realizadas em triplica-ta, considerando a média entre elas. As classificações atribuídas aos valores de concentrações obtidas estão de acordo com a IV Diretriz Brasileira sobre Dislipi-demias14 e a American Diabetes Association15.

Glicemia de jejum (GJ) e glicemia pós-prandial (GPP)

As dosagens da GJ e GPP foram realizadas por mé-todo automatizado, no aparelho Ciba Corning 550

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184 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(4):182-8

Express Analyzer® (GMI, Inc. Ramsey: Minnesota, USA). Para análise da GJ e GPP, foram utilizados 5 ml de soro, após ter sido centrifugado a 3.000 rpm durante 5 minutos. O método de determinação da glicose adotado foi o enzimático colorimétrico da gli-cose oxidase16.

Hemoglobina glicada (HbA1C)

Para análise da HbA1C, foi utilizado o sangue total colhido com anticoagulante contendo ácido etile-nodiamino tetra-acético (EDTA). Foi utilizado para determinação da HbA1C o método Trivelli modifi-cado17.

Triglicérides (Tg), colesterol total (CT) e frações (HDL-c e LDL-c)

Para CT, Tg e HDL-c, foi aplicado o método co-lorimétrico enzimático utilizando-se 5 ml de soro após ter sido centrifugado a 3.000 rpm durante 5 minutos18,16. A fração de colesterol LDL-c foi obti-da utilizando a fórmula preconizada por Friedewald et al.19. As dosagens foram realizadas com o método automatizado no aparelho Ciba Corning 550 Express Analyzer® (GMI, Inc. Ramsey: Minnesota, USA).

Antropometria

Para determinação da massa corporal, as voluntárias foram posicionadas em pé, no centro da plataforma da balança, com os pés unidos e braços ao longo do corpo, conforme técnica preconizada por Fett et al.20, utilizando-se balança digital Soehnle® Professional 7755 (Brasil), com capacidade para 200 kg e precisão de 100 g. A estatura foi mensurada com as voluntárias descalças, em posição ereta, com os pés unidos e pró-ximos à escala, medidas pelo estadiômetro disponível na mesma balança, com precisão de 0,5 cm segundo o procedimento previamente descrito por Fett et al.20.

Foram mensuradas, com fita antropométrica modelo SN-4010 da marca Sanny® (Brasil), as cir-cunferências de braço, cintura, abdominal, quadril, todas de acordo com o protocolo proposto por Pollo-ck e Wilmore21. As dobras cutâneas foram aferidas utilizando-se adipômetro Lange® (Beta Technology Inc. Santa Cruz: CA, USA), com pressão constante de 10 g/mm2 na superfície de contato e precisão de 1 mm. As dobras cutâneas mensuradas foram: tricep-tal, subescapular, supraespinhal e coxa média, todas de acordo com o disposto em Pollock e Wilmore21. As medidas foram realizadas em triplicata, utilizando a média delas como resultado final.

Para determinação do somatótipo, foram medi-dos os diâmetros ósseos biepicondilar do úmero e do fêmur, utilizando o paquímetro antropométrico da marca Sanny® (Brasil) com precisão de ± 0,1 mm, se-gundo os procedimentos de Heath e Carter3.

Somatótipo

Para análise do somatótipo, observaram-se as orien-tações dispostas no Somatotype Instruction Manual de Heath e Carter3, o qual apresenta a classificação do somatótipo em três componentes básicos: endomorfo (gordura relativa), mesomorfo (relativa robustez mus-culoesquelética) e ectomorfo (linearidade relativa ou magreza física).

Análise estatística

A normalidade da amostra foi calculada com o tes-te Kolmogorov-Smirnov22. Para a determinação das correlações entre as variáveis, foram utilizados o teste de correlação linear de Pearson para os dados paramé-tricos e a correlação de Spearman para dados não pa-ramétricos22. Posteriormente, foi aplicado o teste de regressão linear múltipla para análise da importância relativa das diferentes variáveis22. O nível de signifi-cância foi preestabelecido em 5% (p < 0,05).

O tamanho amostral foi calculado segundo a equação:

n = Z2P (1 – P)N Z2P (1 – P)N + E2P (N – 1)

Em que: Z é o valor de uma distribuição normal e apresenta confiabilidade de 90% (1,644854); P é a probabilidade da escolha de uma idosa do centro de convivência = 0,5; E é nível de erro aceitável para obtenção da amostra, neste caso 0,05; N é o total de idosas do centro de convivência = 1.680.

reSUltadoS

De um total de 234 idosas inicialmente selecionadas nos três centros de convivências, apenas 110 voluntá-rias compareceram para a realização dos exames bio-químicos e antropométricos, e dessas, somente 102 (6,1% do total de idosas dos CCIs) foram considera-das elegíveis para integrarem a pesquisa, as demais (n = 8) foram excluídas por serem diabéticas e/ou faze-rem uso de algum medicamento.

Embora com o avançar da idade exista tendência a alterações significativas na composição corporal, isso

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185Somatótipo em idosas

não foi observado entre os grupos de idosas analisados (Tabela 1). Observaram-se padrões de normalidade para GJ e GPP, índices ótimos para Tg e CT, limites desejáveis para o LDL-c e baixo risco para HDL-c e HbA1C (Tabela 1).

A prevalência para o grupo de 60-69 anos das ca-tegorias do somatótipo foram: meso-endomorfo (n = 28; 45,9%); endo-mesomorfo (n = 14; 22,9%); endomorfo-mesomorfo (n = 7; 11,5%); mesomorfo--endomorfo (n = 11; 18,1%) e central (n = 1; 1,6%). O grupo de idosas acima de 70 anos de idade obteve as seguintes classificações: meso-endomorfo (n = 18; 43,9%); endo-mesomorfo (n = 9; 21,9%); ecto-me-somorfo (n = 1; 2,5%); endomorfo-mesomorfo (n = 5; 12,2%) e mesomorfo-endomorfo (n = 8; 19,5%). Predominaram a massa corporal acima do considera-do normal para a faixa etária e a distribuição somato-típica tendendo para a obesidade.

A associação entre o somatótipo e a bioquímica sanguínea para as idosas entre 60-69 anos foi: ECTO x GPP (rs = -0,25; p = 0,05) e ECTO x Tg (rs = -0,27; p = 0,03); e para o grupo de idosas acima de 70 anos houve correlações significativas entre ENDO x GPP (rs = 0,33; p = 0,03), ENDO x Tg (rs = 0,41; p = 0,006) e ENDO x CT (r = 0,41; p = 0,007) (Tabela 2).

Para análise da relevância de cada componente do somatótipo sobre as variáveis dependentes do perfil lipídico e glicêmico, foi aplicado teste de regressão

tabela 1. Características gerais de idosas frequentadoras de Centros de Convivência de Cuiabá/MT, Brasil – 2009

Variáveis60-69 anos (n = 61) > 70 anos (n = 41)

p-valorMédia dP Média dP

Idade (anos) 64,4 2,5 73,6 3,4 < 0,0001*

Estatura (m) 1,54 0,05 1,51 0,05 0,004†

Peso (kg) 67,1 12,4 64,2 10,8 ns

Índice de massa corporal (kg/m2) 28,2 5,2 28,1 4,9 ns

Glicemia de jejum (mg/dl) 81,8 15,0 85,1 22,3 ns

Glicemia pós-prandial (mg/dl) 99,2 20,5 106,5 39,8 ns

Triglicérides (mg/dl) 129,1 61,5 126,6 59,8 ns

Colesterol total (mg/dl) 192,1 30,3 184,6 37,8 ns

HDL-c (mg/dl) 61,4 2,9 61,7 16,0 0,002*

LDL-c (mg/dl) 105,1 31,3 98,6 36,9 ns

Hemoglobina glicada (%) 6,0 0,8 6,2 1,2 ns

Endomorfo 7,5 1,5 7,3 1,5 ns

Mesomorfo 7,1 2,0 7,3 2,0 ns

Ectomorfo 0,7 0,6 0,7 0,4 ns

HDL-c: lipoproteína de alta densidade-colesterol; LDL-c: lipoproteína de baixa densidade-colesterol. * Teste Mann-Whitney; † Teste t de Student. Nível de significância p < 0.05.

linear múltipla, com significância estatística apenas entre a GPP e o componente ECTO (p = 0,04) no grupo de idosas com idade entre 60-69 anos. Para as idosas com mais de 70 anos de idade, foram obser-vadas significâncias entre ENDO x Tg (p = 0,02) e ENDO x CT (p = 0,006) (Tabela 3).

diSCUSSÃo

Foram encontrados valores elevados de IMC para a idade, além de maior prevalência nos subcomponen-tes meso-endomorfo e endo-mesomorfo, caracteri-zando, dessa forma, a maioria das voluntárias como pré-obesas e/ou obesas para ambos os grupos. Assim, era esperado encontrar concentrações alteradas na glicemia e perfil lipídico. Contudo, esse comporta-mento foi observado parcialmente somente nas ido-sas com idade > 70 anos sem associação para o outro grupo. Embora o IMC acima de 25 kg/m2 e o soma-tótipo endomorfo possam ser associados como fatores de proteção principalmente nos idosos acima de 70 anos de idade, devido à proteção quanto à perda ex-cessiva de massa corporal pela redução de hormônios anabólicos e aumento dos catabólicos23, isso não foi observado no presente estudo. É possível que outros fatores confundidores tenham sido responsáveis por essas alterações, como o estilo de vida com maior in-dependência e ativo.

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186

tabela 2. Correlação entre somatótipos e marcadores bioquímicos em idosas frequentadoras de centros de convivência de Cuiabá/MT, Brasil – 2009

60-69 anos (n = 61) endomorfia Mesomorfia ectomorfia

Glicemia jejum rs = 0,13 ns rs = 0,22 ns rs = -0,08 ns

Glicemia pós-prandial rs = 0,22 ns rs = 0,19 ns rs = -0,25 p = 0,05

Triglicérides rs = 0,23 ns rs = 0,06 ns rs = -0,27 p = 0,03

Colesterol total r = 0,11 ns rs = 0,05 ns rs = -0,06 ns

HDL-c r = -0,17 ns rs = -0,05 ns rs = 0,02 ns

LDL-c r = 0,06 ns rs = 0,01 ns rs = 0,13 ns

HbA1C r = 0,01 ns rs = 0,02 ns rs = 0,01 ns

> 70 anos (n = 41) endomorfia Mesomorfia ectomorfia

Glicemia jejum rs = 0,24 ns rs = 0,05 ns rs = 0,06 ns

Glicemia pós-prandial rs = 0,33 p = 0,03 rs = 0,10 ns rs = -0,07 ns

Triglicérides rs = 0,41 p = 0,006 rs = 0,16 ns rs = -0,06 ns

Colesterol total r = 0,41 p = 0,007 rs = 0,05 ns rs = -0,02 ns

HDL-c rs = 0,01 ns rs = 0,03 ns rs = -0,08 ns

LDL-c r = 0,23 ns rs = 0,06 ns rs = -0,01 ns

HbA1C rs = 0,16 ns rs = 0,06 ns rs = -0,13 ns

HDL-c: lipoproteína de alta densidade-colesterol; LDL-c: lipoproteína de baixa densidade-colesterol; HbA1C: hemoglobina glicada. Correlação de Spearman (rs); Correlação linear de Pearson (r); Não significante (ns). Nível de significância p < 0,05.

tabela 3. Coeficiente de regressão linear múltipla (β) das categorias somatotípicas, perfil lipídico e glicêmico em idosas frequentadoras de centros de convivência de Cuiabá/MT, Brasil – 2009

idosas 60-69 anos

GJ GPP tg Ct Hdl-c ldl-c Hba1C

Endomorfo β = 0,05 β = 0,1 β = 3,7 β = 2,2 β = -0,4 β = 1,2 β = 0,002

ns ns ns ns ns ns ns

Mesomorfo β = 0,9 β = -1,1 β = -4,5 β = 0,8 β = -0,007 β = 1,6 β = -0,03

ns ns ns ns ns ns ns

Ectomorfo β = -2,0 β = -10,7 β = -27,2 β = 3,0 β = -0,14 β = 8,9 β = -0,1

ns p = 0,04 ns ns ns ns ns

idosas > 70 anos

GJ GPP tg Ct Hdl-c ldl-c Hba1C

Endomorfo β = 3,0 β = 5,5 β = 17,5 β = 13,2 β = 1,4 β = 7,8 β = 0,1

ns ns p = 0,02 p = 0,006 ns ns ns

Mesomorfo β = -1,0 β = -2,2 β = -2,4 β = 1,2 β = -0,1 β = -0,9 β = 0,01

ns ns ns ns ns ns ns

Ectomorfo β = 2,2 β = -3,9 β = 8,0 β = 14,3 β = -0,3 β = 10,0 β = -0,03

ns ns ns ns ns ns ns

GJ: glicemia de jejum; GPP: glicemia pós-prandial; Tg: triglicérides; CT: colesterol total; HDL-c: lipoproteína de alta densidade-colesterol; LDL-c: lipoproteína de baixa densidade-colesterol; HbA1C: hemoglobina glicada. Coeficiente de Regressão Linear Múltipla (β); Não significante (ns). Nível de significância p < 0,05.

Geriatria & Gerontologia. 2011;5(4):182-8

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187

Quando correlacionados aos marcadores bioquí-micos, os resultados divergiram em relação à faixa etária. Para o grupo de idosas com idade entre 60-69 anos, apenas o componente ECTO apresentou as-sociação significativa com GPP e Tg (Tabela 2). Em relação ao grupo de idosas com idade > 70 anos, os re-sultados foram significativos apenas para o ENDO x GPP, ENDO x Tg e ENDO x CT, dessa forma apre-sentando comportamento condizente com o aumento da obesidade verificada no referente grupo (Tabela 2).

Não foram observadas diferenças para os compo-nentes ENDO, MESO e ECTO, quando comparadas as idosas de 60-69 anos com as > 70 anos (Tabela 1). Por outro lado, Kaur24 observou modificações impor-tantes no somatótipo entre mulheres de 40 a 70 anos de idade. Por esses resultados, parece que as alterações na composição corporal são mais pronunciadas entre indivíduos de meia-idade e idosos do que entre ido-sos e muito idosos. Tal conclusão fica prejudicada por causa da escassez de publicações acerca do somatótipo entre idosos e muito idosos.

Mesmo com a gordura corporal elevada, tais ido-sas não apresentaram padrões alterados para a GJ e GPP, divergindo, assim, do encontrado por Vazquez et al.25, que detectaram diminuição da tolerância à insulina e na utilização de glicose estimulada pela insulina em indivíduos idosos com sobrepeso e/ou obesidade. Dessa forma, parece que o excesso de peso em idosas exerce um papel diferenciado em relação aos marcadores bioquímicos e à sua proteção, isso possivelmente devido a fatores neuro-hormonais, como níveis aumentados de adiponectina26, que sa-bidamente exerce um papel importante de cardio-proteção. Grabowski e Ellis27 sugerem também que a obesidade em indivíduos idosos exerce fator de pro-teção, com comportamento diferente de quando se analisam indivíduos mais novos28.

A predominância da expressão endomórfica é as-sociada ao aumento da gordura corporal e com altera-ções plasmáticas de lípides, níveis alterados de glicose sanguínea, diabetes tipo 211,29, hipertensão arterial12, entre outras doenças crônicas não transmissíveis28. Porém, no presente estudo, somente o componente ENDO do grupo de idosas com mais de 70 anos de idade apresentou associação significativa com GPP, Tg e CT. Dessa forma, o somatótipo parece não ser tão sensível quando associado aos marcadores bioquí-micos sanguíneos, talvez pelo fato de que a gordura corporal exerça, pelo menos em parte, um fator de proteção em indivíduos idosos26,27 e que ainda não está muito bem esclarecido.

Quando aplicada a análise de regressão linear múl-tipla entre os três componentes do somatótipo para verificar qual deles teria maior importância no desfe-cho dos resultados de associação com as variáveis bio-químicas, apenas o componente ENDO no grupo de idosas com mais de 70 anos apresentou significância para a alteração do Tg e CT, corroborando o disposto nos estudos de Yadav et al. 29 e Singh28.

Foi observada associação entre o tipo corporal e a bioquímica sanguínea no presente estudo. O com-portamento do grupo de 60-69 anos foi o inverso ao observado no acima de 70 anos, sendo no primeiro as-sociado negativamente a ectomorfia à GGP e Tg e no segundo, associação positiva entre o componente gor-duroso com GPP, Tg e CT, sugerindo que alterações no estilo de vida associadas ao processo de envelhecimen-to influenciaram o comportamento do somatótipo em relação à bioquímica sanguínea entre esses grupos. Estudos futuros, com maior número de participantes, selecionados preferencialmente da comunidade de for-ma randômica, e com controle dos fatores confundi-dores, poderão esclarecer as hipóteses aqui suscitadas.

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Somatótipo em idosas

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artiGo oriGiNal

análise da percepção do estado de saúde dos idosos da região metropolitana de Belo HorizonteAnalysis of perception of health status of elderly from the metropolitan area of Belo Horizonte city

Fabrício Franco Carvalho1, Juliana Nunes Santos2, Luiza de Marilac de Souza3, Nícia Raies Moreira de Souza4

1 Fonoaudiologia pela Universidade Federal de

Minas Gerais (UFMG).2 Ciências da Saúde

pela UFMG.3 Sociologia pela UFMG;

Fundação João Pinheiro, Brasil.

4 Demografia pela UFMG;

Fundação João Pinheiro, Brasil.

Endereço para correspondência: Juliana Nunes Santos • Rua Coronel Pedro Jorge, 170, ap. 201, Prado – 30410-350 – Belo Horizonte, Minas Gerais • E-mail: [email protected]

RESUMOobjetivo: Analisar a percepção do estado de saúde dos idosos da região metropolitana de Belo Horizonte. Méto-do: Trata-se de um estudo descritivo e transversal que consta da análise do banco de dados da PAD/MG (Pesquisa por Amostra de Domicílio) da Fundação João Pinheiro, realizado em 2009 em 17 mil domicílios distribuídos pelo es-tado mineiro. Neste estudo foram analisados as variáveis autopercepção do estado de saúde, presença de doenças que exigem acompanhamento constante, tabagismo, prática regular de atividade física, trabalho, recebimento de aposentadoria e escolaridade de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, residentes na região metropolita-na de Belo Horizonte. resultados: O estudo entrevistou 963 pessoas com idade igual ou maior que 60 anos. Dos entrevistados, 58,2% são do sexo feminino, com idade média de 69,4 anos, e 44% relataram o estado de saúde como sendo “muito bom e bom” e 10,7%, “ruim ou muito ruim”. Dos idosos que relataram ter problemas de saúde que exigem acompanhamento constante (n = 960), cerca de 42% possuem hipertensão arterial. Da população pesquisada, 78,5% sabem ler e escrever um bilhete simples, 67,9% receberam aposentadoria ou pensão no mês de referência da pesquisa e 25% relataram praticar atividade física regularmente. Conclusão: A autopercepção do estado de saúde se apresenta pior nos idosos que relataram presença de doenças crônicas, baixa escolaridade, menor ocupação laboral e redução das práticas de atividade física (p < 0,05). Os resultados podem ser considerados como uma ajuda na busca do desenvolvimento de ações e programas de atendimento à população mineira idosa.

Palavras-chave: Envelhecimento, percepção, saúde pública, saúde do idoso.

ABSTRACTobjective: To analyze how the elderly population in the metropolitan area of Belo Horizonte perceive their own health situation. Method: This is a transversal descriptive study that was made after an analysis of the database of PAD (Household Sample Survey) conducted by Fundação João Pinheiro in 2009 surveyed 17.000 households distributed by the Minas Gerais State. In such research were analyzed the variables self-perceived health sta-tus; presen ce of illnesses that require constant care; smoking; regular physical activities; working; education and pension benefits for people aged 60 years and over from Belo Horizonte city. results: The study interviewed 963 people aged 60 years and over. Fifty eight point two percent of the sample are women, mean age of 69.4 years and 44% reported health status as “very good or good” and 10.7% “bad or very bad”. From the subjects who reported having health problems that require constant monitoring (n = 960), 42% suffer of arterial hypertension. Seventy eight point five percent can be considered illiterate; 67.9% received retirement or pension in the reference month of the survey; 25% reported performing regular physical activity; 10.7% declared their health state as being “bad or very bad”. Conclusion: The self-perception of health status is worse among the elderly has reported chronic diseases, poor education, lack of working habits and reducing physical activity (p < 0,05). These results can be considered as crucial information to help in the search for implementing better government funded programs to assist the elderly population of Minas Gerais.

Keywords: Ageing, perception, public health, health of the elderly.

Recebido em 1/10/2011Aceito em 28/12/2011

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iNtrodUÇÃo

O Brasil vive uma transição demográfica e epidemio-lógica desde as últimas décadas1. A mudança demo-gráfica brasileira vem acontecendo de modo abrupto, com reduções na taxa de fecundidade da população e aumento de pessoas idosas e da população em idade ativa1. Na América Latina, entre 1980 e 2025, deverá ocorrer um aumento da população acima de 60 anos de 412%. Também é previsto um aumento de idosos para 2025 em torno de 30 milhões; no ano 2000, o Brasil tinha 14 milhões de idosos2.

Estudos epidemiológicos com abordagem geron-tológica auxiliam não só na compreensão do enve-lhecer, como também fornecem parâmetros para organizar e praticar políticas de saúde voltadas à população de idosos em geral3. Um dos fatores mais usados em pesquisas gerontológicas é a autopercepção de saúde, pois essa antecede o declínio funcional e a mortalidade4. A autopercepção do estado de saúde é um indicador global para o qual a pessoa considera, além de possíveis doenças de que seja portador, o im-pacto que gera no bem-estar físico, social e mental, sendo o aspecto físico o mais relevante5.

A autopercepção de saúde vem sendo utilizada em vários estudos6,7, sendo considerada um método confiável, capaz de expressar vários aspectos da saúde física, cognitiva e emocional dos indivíduos. Pessoas com percepção ruim do estado de saúde têm maior risco de morte em comparação com as que relatam saúde boa ou excelente8. A percepção, portanto, mos-trou ser um forte indicador de mortalidade. Além de preditor de mortalidade9, a percepção da saúde, ou autoavaliação da saúde, também está relacionada ao declínio funcional, sendo utilizada em pesquisas ge-rontológicas9-11.

O envelhecimento da população brasileira é um dos grandes desafios a serem enfrentados. A popula-ção do país, em 2008, era composta por cerca de 92,4 milhões de homens e 97,5 milhões de mulheres. Já a população de 60 anos ou mais de idade representava 12,1% do total de mulheres e 10,0% de homens12. Estima-se que no ano de 2025 o Brasil tenha em tor-no de 30 milhões de pessoas com mais de 60 anos (aproximadamente 15% da população) e será o sexto país em número de idosos13. Essa nova configuração etária denota o aumento da esperança de vida ao nas-cer da população brasileira, a qual, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística14, foi es-timada em 67,9 anos para homens e 75,5 anos para as mulheres.

Sendo a parcela da população idosa a que mais cresce atualmente no Brasil, é de extrema importância que se conheçam as condições de saúde desses indiví-duos e que se façam estudos epidemiológicos especí-ficos para cada região, a fim de contribuir para uma gestão de saúde de acordo com as demandas locais de saúde da população pesquisada.

No Brasil, estudos de base populacional têm sido desenvolvidos, com destaque para a PNAD (Pesqui-sa Nacional por Amostra de Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE), cuja abrangência é nacional desde 200415. Na PNAD, investiga-se a autopercepção da saúde, por meio de uma simples pergunta: “De maneira geral, como você considera a sua saúde?”. Outras pesquisas avaliam a percepção de saúde de forma idêntica ou equivalente, já que esse é um dos indicadores mais usados em pes-quisas gerontológicas, porque prediz de forma robus-ta e consistente a mortalidade e o declínio funcional4.

O presente trabalho buscou avaliar, por intermé-dio de análise da Pesquisa de Amostra de Domicí-lios (PAD) realizada no estado de Minas Gerais em 2009, a percepção do estado de saúde dos idosos da região metropolitana de Belo Horizonte e analisar as características de gênero, escolaridade, trabalho e re-cebimento de aposentadoria, assim como relacionar a percepção do estado de saúde com a presença de doenças crônicas e hábitos de vida na população com idade igual ou superior a 60 anos de idade.

MÉtodoS

A análise da situação de saúde da população de Minas Gerais foi investigada por meio de estudo observa-cional, descritivo e transversal de dados secundários, o banco de dados da PAD-MG da Fundação João Pinheiro. A PAD/MG é realizada nos mesmos mol-des da PNAD. A PAD/MG, realizada no ano 2009, foi um levantamento socioeconômico baseado em amostra de 17 mil domicílios distribuídos por todo o estado, em 1.200 setores censitários de áreas urba-nas e rurais de 308 municípios. A pesquisa PAD/MG coletou informações sobre saúde, educação, trabalho, assistência social, renda e benefícios, gastos (coletivos, de alimentos e individuais) e juventude, além das ca-racterísticas dos domicílios e dos indivíduos1.

O questionário da PAD/MG foi dividido em nove seções, a saber: características do domicílio, caracte-rísticas dos moradores, educação, saúde, trabalho e trabalho infantil, rendimentos, gastos individuais e de domicílios e juventude. Neste estudo, será dada

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191Percepção do estado de saúde

ênfase na análise de questões da seção saúde, além da análise das variáveis de identificação contidas na seção de características dos moradores.

A PAD/MG abrangeu a população residente nas unidades domiciliares – domicílios particulares e uni-dades de habitação em domicílios coletivos. A coleta de dados aconteceu no período de junho a novembro de 2009, utilizando o coletor eletrônico (Ultra Mobi-le Personal Computer – UMPC) para realização das operações de coleta. Os entrevistados foram pessoas contratadas pela Fundação João Pinheiro, as quais re-ceberam treinamento teórico e prático para a realiza-ção das entrevistas domiciliares16.

Na Pesquisa por Amostra de Domicílios da Fun-dação João Pinheiro, o termo de consentimento livre e esclarecido foi substituído pelo consentimento ver-bal do entrevistado, obtido no momento da entre-vista pelos pesquisadores da Fundação João Pinheiro. Os entrevistadores esclareceram os moradores sobre os aspectos da pesquisa, seus benefícios, repercussões e importância na avaliação das políticas estaduais e solicitaram o consentimento deles para a participa-ção na pesquisa. Os moradores tinham a liberdade de não aceitar e não participar da pesquisa. O índice de recusa observado foi em torno de 10% a 15% das entrevistas. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (ETIC 0347.0.203.000-10).

Com base nas respostas dos entrevistados, foi gera-do um banco de dados no programa SPSS 14.0 (Sta-tistical Package for the Social Sciences) para a PAD/MG. Nesse estudo específico, foram analisadas as seguintes variáveis: autopercepção do estado de saúde, presença de doenças que exigem acompanhamento constante, tabagismo, prática regular de atividade física, traba-lho, recebimento de aposentadoria e escolaridade de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos.

As respostas às questões da PAD/MG sobre acesso e utilização de serviços de saúde consideraram as se-guintes referências: data – dia 1º de junho de 2009; período – não existe um único período de referência para a pesquisa; semana – 24 a 30 de maio de 2009; mês – maio de 2009; período de referência de 12 meses – maio de 2008 a maio de 2009; período de referência de últimos sete dias – contados sete dias a partir do dia anterior à entrevista.

Um banco de dados específico para este estudo foi montado a partir das informações obtidas na PAD/MG. Para fins de análise descritiva, realizaram-se a distribuição de frequência das variáveis, categorias em estudo e medidas de tendência central e de dispersão

das variáveis contínuas. Os dados foram previamente conferidos. Os dados inconsistentes e as informações ignoradas trataram-se adequadamente. Utilizaram-se os testes qui-quadrado e Student para análise infe-rencial com valores de p ≤ 0,05. O processamento e a análise dos dados foram realizados pelo programa SPSS 14.0.

reSUltadoS

Em Minas Gerais, a PAD/MG realizada pela Funda-ção João Pinheiro entrevistou 7.526 pessoas com ida-de igual ou maior que 60 anos. Dessas, 963 (12,7%) residem na região metropolitana de Belo Horizonte e serão foco do presente estudo.

Os aspectos gerais da população de idosos da re-gião metropolitana de Belo Horizonte estudada na seção saúde da PAD/MG serão apresentados em três grupos: condições físicas (gênero, doenças crônicas e percepção do estado de saúde), condições socioe-conômicas (escolaridade, trabalho e recebimento de aposentadoria) e hábitos de vida (prática de atividade física e tabagismo). Todos esses aspectos serão relacio-nados com a percepção do estado de saúde.

Dos entrevistados, 403 indivíduos são do sexo masculino (41,8%) e 560 indivíduos são do sexo feminino (58,2%). Em relação às condições físicas, destaca-se que a população idosa é predominante-mente feminina (58,2%). A idade média dos idosos foi de 69,4 anos, variando entre 60 e 99 anos (± 7,6). Dos idosos que relataram ter problema de saúde que exigem acompanhamento constante (n = 960), cerca de 42% possuíam hipertensão arterial. Da população com idade maior ou igual a 60 anos entrevistada pela PAD/MG na região metropolitana de Belo Horizon-te, apenas 10,7% relataram o estado de saúde como “ruim ou muito ruim”. A autopercepção do estado de saúde dos idosos pode ser visualizada no gráfico 1.

Sobre as condições socioeconômicas, 756 entrevis-tados (78,5%) sabiam ler e escrever um bilhete simples. Dos entrevistados, 653 indivíduos (67,9%) receberam aposentadoria ou pensão previdenciária pública no mês de referência da pesquisa. Em relação aos hábi-tos de vida saudável, apenas 25% dos idosos relataram praticar atividade física regular e 41,7% são tabagistas.

A relação entre a autopercepção do estado de saú-de dos idosos residentes na região metropolitana de Belo Horizonte e as condições físicas, socioeconômi-cas e hábitos de vida pode ser visualizada nas tabelas 1 e 2.

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Gráfico 1. Percepção do estado de saúde de 963 idosos residentes na região metropolitana de Belo Horizonte – PAD/MG. Fonte: Pesquisa de Amostra de Domicílios, 2009. Região Metropolitana de Belo Horizonte. Fundação João Pinheiro.

tabela 1. Relação entre a autopercepção do estado de saúde dos idosos residentes na região metropolitana de Belo Horizonte e as condições físicas, socioeconômicas e hábitos de vida

Características dos idosos

autopercepção do estado de saúde

teste Valor de pMuito bom e bom regular ruim e muito ruim

n % n % n %

Gênero Masculino 198 49,5 168 42,0 34 8,5 8,83 0,03*

Feminino 232 41,5 258 46,1 69 12,4

Prática de atividade física

Sim 131 54,4 98 40,6 12 5,0 18,8 0,005*

Não 297 41,7 326 45,7 90 12,6

Doença crônica Sim 229 31,9 386 53,9 102 14,2 198,6 0,000*

Não 201 83,4 39 16,2 01 0,4

Fuma cigarros Sim 59 54,1 36 33,0 14 12,9 10,1 0,11

Não 62 40,7 77 50,7 13 8,6

Sabe ler e escrever

Sim 365 48,5 332 44,0 56 7,5 49,5 0,000*

Não 65 31,6 94 45,7 47 22,9

Trabalhou na última semana

Sim 108 63,5 59 34,7 03 1,8 36,8 0,000*

Não 321 40,9 364 46,4 100 12,7

Recebe aposentadoria

Sim 290 44,4 294 45,0 69 10,6 9,1 0,16

Não 140 46,1 131 43,0 33 10,9

tabela 2. Relação entre a autopercepção do estado de saúde e idade de 959 idosos residentes na Região Metropolitana de Belo Horizonte

autopercepção do estado de saúdeteSte

aNoVa

Valor de p

Muito bom e bom regular ruim e muito ruim

Média desvio-padrão Média desvio-padrão Média desvio-padrão

Idade 68,7 7,5 69,6 7,4 70,8 8,7 2,27 0,07

Muito bom e bom Regular

Ruim e muito ruimHomem

Mulher

0,0

5

10,0

15,0

20,0

25,0

30,035,0

%

40,0

45,0

50,0

Homem

Mulher

8,5%

42,0%

12,3%

46,2%49,5%

41,5%

Geriatria & Gerontologia. 2011;5(4):189-95

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Observou-se relação estatisticamente significante entre as variáveis gênero masculino, atividade física regular, ausência de doença crônica e a melhor per-cepção do estado de saúde (p < 0,05). Além disso, as variáveis socioeconômicas (leitura de um bilhete simples e recebimento de aposentadoria) também se relacionaram estatisticamente à melhor percepção de saúde muito boa ou boa (Tabela 1).

A média de idade dos indivíduos que declararam sua saúde como sendo muito boa ou boa foi de 68,7 anos. Com a piora da percepção de saúde do indiví-duo, observou-se um aumento da idade, que passou para 69,6 anos nos indivíduos com percepção de es-tado de saúde regular e 70,8 anos nos indivíduos com percepção do estado de saúde ruim ou muito ruim (Tabela 2).

diSCUSSÃo

A autopercepção do estado de saúde é um importante instrumento conhecedor da situação global do indi-víduo e do impacto que ele gera no bem-estar físico, social e mental. Vários estudos4,11,17-20 têm analisado a autopercepção e fatores associados à saúde e à situa-ção econômica e social como causas na mudança da percepção do estado de saúde.

A PAD/MG teve como objetivo auxiliar o mo-nitoramento das políticas públicas no estado por intermédio da realização de um estudo epidemioló-gico representativo para toda a população mineira16. As informações referentes às condições de saúde e os fatores associados investigados pela PAD/MG são o foco do presente estudo, o qual pretende discutir a autopercepção do estado de saúde dos idosos da re-gião metropolitana de Belo Horizonte como um im-portante avaliador da saúde da população.

Dos entrevistados, 8,5% dos homens e 12,4% das mulheres relataram estado de saúde ruim ou muito ruim. Estudo realizado na cidade de Florianópolis/SC mostrou que 12,8% dos homens e 13,9% das mulhe-res tinham percepção do estado de saúde ruim18, sen-do pior que os achados do presente estudo. Na cidade de Goiânia/GO, mostrou-se que 6,9% dos homens e 15,2% das mulheres apresentavam percepção do esta-do de saúde ruim21. Em Porto Alegre, mostrou-se ín-dice menor comparado aos mineiros, sendo 7,0% dos homens e 10,4% das mulheres com percepção ruim ou muito ruim do estado de saúde20. Estudo de preva-lência realizada no Brasil obteve valores semelhantes aos da cidade de Porto Alegre, com pobre percepção do estado de saúde em aproximadamente 6,5% dos

homens e 8,7% das mulheres acima de 60 anos17. O estudo de Gallegos-Carrillo et al. aponta que a per-cepção do estado de saúde do México é pior do que a média brasileira, e 19,8% da população idosa referiu estado de saúde ruim ou muito ruim19. Percebem-se, portanto, diferenças regionais quanto à percepção do estado de saúde.

No presente estudo, a autopercepção do estado de saúde foi pior nas idosas da região metropolitana de Belo Horizonte, concordando com outras pesqui-sas4,9,11,17,19,21 que também verificaram pior percepção feminina do seu estado de saúde. Tal fato pode ser atribuído à maior prevalência de enfermidades como hipertensão, diabetes e depressão no sexo feminino em relação ao sexo masculino, o que lhes confere pior autoavaliação do estado de saúde quando comparado aos homens1,22. No entanto, há autores que encontra-ram percepções semelhantes entre os sexos estudando populações de outras localidades20,23, o que pode ser explicado pela existência de diferenças regionais, as-sim como pelo tamanho e representatividade amos-tral, quando comparada à PAD/MG.

Com relação à idade, foi observado que o aumento da faixa etária contribuiu para piora na autopercepção do estado de saúde, embora não tenha sido encontra-da uma diferença estatisticamente significante entre os idosos com diferentes percepções do estado de saú-de, o que concorda com outros autores11,20. No en-tanto, há estudos que verificaram a relação estatística entre aumento da idade e pior percepção da saúde19,23. Com o avanço da idade, os indivíduos tendem a apre-sentar mais problemas de saúde como incapacidade funcional e aumento de doenças crônicas1.

A associação entre presença de doença crônica e autopercepção do estado de saúde ruim verificada na vida dos idosos da região metropolitana de Belo Horizonte também foi encontrada por outros auto-res4,9,17,19,20,23. Atualmente, as doenças crônicas não transmissíveis têm sido o principal fator causal de morte na população idosa brasileira24 e podem interfe-rir diretamente na qualidade de vida do indivíduo, li-mitando a atividade de vida diária, no trabalho e lazer.

No presente estudo, verificou-se relação entre a es-colaridade e a autopercepção do estado de saúde dos idosos e os indivíduos que não sabiam ler ou escrever um bilhete simples, ou seja, não eram alfabetizados, apresentaram pior percepção do estado de saúde. Outros estudos apontam o mesmo achado4,9,11,17,19,20, mostrando que pessoas com maior acesso à informa-ção, provavelmente, têm melhores práticas de au-tocuidado e assistência à saúde, o que lhes confere

Percepção do estado de saúde

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melhor percepção do estado de saúde. Essa é tam-bém a concepção da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Sistema Único de Saúde (SUS) brasi-leiro, que tem na Política Nacional de Promoção de Saúde o foco na educação da população, preparando--a para o autocuidado em saúde25.

Os indivíduos que trabalharam na última semana do mês da pesquisa relataram apresentar melhor per-cepção de sua saúde do que aqueles que não possuem tal ocupação laboral. Outras pesquisas apontam o mesmo achado17,19. A falta de atividade pós-aposenta-doria acarreta piora na saúde mental dos indivíduos, influenciando a qualidade de vida negativamente26. A inatividade no mercado de trabalho acarreta o com-prometimento na capacidade funcional dos idosos, o que influencia na pior percepção do estado de saúde27.

A prática de atividade física relacionou-se à me-lhor percepção do estado de saúde. Outros estudos mostram que indivíduos que praticam exercícios físicos como prática de lazer possuem melhor auto-percepção de saúde do que aqueles que não praticam ou realizam menos atividade física4,11,17,20. A ativida-de física está ligada ao bom funcionamento físico e à prevenção de doenças como hipertensão e doença arterial coronária25 e consequentemente leva à maior longevidade, o que confere melhor percepção de saú-de aos que praticam regularmente alguma modalida-de que exija esforço físico28.

Entre os entrevistados, pode-se verificar que o re-cebimento de aposentadoria não influenciou de ma-neira estatisticamente significante na percepção do estado de saúde, o que concorda com outros auto-res23. Outros estudos apontam a importância da renda como fator influenciador na autopercepção do estado de saúde, sendo o aumento desta diretamente ligado à melhora da percepção de saúde4,9,11,17,20. Idosos com renda baixa tendem a possuir piores condições básicas de saúde10. A renda é um importante auxiliador na procura de tratamentos e planos de saúde privados29. Contudo, a renda de aposentadoria muitas vezes não supre as necessidades básicas dos idosos para compra de remédios, alimentos, utensílios, vestuário e lazer, fazendo com que não se torne um efeito para o au-mento da percepção do estado de saúde em geral, tan-to física quanto psíquica.

A associação entre tabagismo e autopercepção do estado de saúde não obteve associação estatística no presente estudo. O mesmo achado foi observado en-tre os idosos residentes em Guaramiranga, Ceará23, porém outros estudos apontam uma relação direta entre tabagismo e a autopercepção negativa do estado

de saúde17,19,30. A interferência do cigarro na quali-dade de vida é expressa pela perda da capacidade vi-tal e doenças pulmonares, cardiovasculares, renais e cerebrais25. Todavia, muitos tabagistas persistem no hábito de fumar por apresentarem dependência da nicotina, a qual se encontra presente juntamente com outras substâncias no tabaco.

Torna-se necessário ressaltar que este estudo é de caráter transversal, o que impossibilita estabelecer uma relação causal entre as variáveis analisadas. Exis-tem fatores que influenciam na percepção de saúde, e a presença de doenças crônicas, baixa escolaridade e ser do sexo feminino relacionam-se com uma pior percepção. Entretanto, a prática de atividade física e ocupação laboral podem ser consideradas fatores con-tribuintes para uma melhora da percepção de saúde. O estudo demonstra a necessidade de investimento governamental na atenção à saúde dos idosos para que se promova um envelhecimento saudável e de qualidade para os idosos mineiros.

A análise do banco de dados da PAD/MG permi-tiu identificar fatores que contribuem para o estado precário de saúde dos idosos. Os resultados podem ser considerados como uma ajuda na busca do de-senvolvimento de ações e programas de atendimento a essa população. Os resultados demonstraram que a saúde envolve vários aspectos, tanto orgânicos como sociais, e que desse modo se deve entender a saúde de forma ampliada. Para tal êxito, são necessários novos estudos que contemplem a saúde do idoso de modo global, para que ações sejam tomadas não apenas no campo físico, mas no social e cultural, para que se possa envelhecer de forma ativa e saudável.

Em conclusão, o presente estudo mostrou nítida re-lação da percepção do estado de saúde com condições físicas (gênero, doenças crônicas), socioeconômicas (escolaridade, e trabalho) e hábitos de vida (prática de atividade física). A autopercepção do estado de saúde se apresentou pior nos idosos que relataram presença de doenças crônicas, baixa escolaridade, menor ocupa-ção laboral e redução das práticas de atividade física.

reFerÊNCiaS

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Percepção do estado de saúde

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artiGo oriGiNal

análise do equilíbrio postural em idosos saudáveis praticantes e não praticantes

de corrida de longa distânciaAnalysis of the postural balance of healthy elderly subjects

practitioner and non-practitioners of long-distance run

Sergio Claudemir Zancheta1, Angélica Castilho Alonso1, Maria Elisabete Bovino Pedalini2, Júlia Maria D’Andréa Greve1

1 Laboratório do Estudo do Movimento do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). 2 Serviço de Otoneurologia do Departamento de Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da FMUSP.

Endereço para correspondência: Angélica Castilho Alonso • Rua Aquiráz, 156, Vila Granada – 03654-040 – São Paulo, SP • Telefones: (11) 9998-7682/(11) 3938-4889 • E-mail: [email protected]

RESUMOintrodução: A presença de idosos em corridas de fundo desperta cada vez mais o interesse em saber quais são os benefícios obtidos por meio dessa modalidade esportiva, e um desses interesses é saber o efeito da corrida no equilíbrio postural desses indivíduos. objetivo: O objetivo deste estudo foi avaliar a influência da corrida de fundo no equilíbrio postural de idosos ativos e saudáveis. Métodos: Foi realizado um estudo com 35 idosos, de ambos os sexos, com idade média de 67 ± 5 (60-79) anos, sem queixa de desequilíbrio, divididos em grupo de corredores e grupo controle. A avaliação do equilíbrio foi realizada pelo Teste de Organização Sensorial da Posturografia Dinâmica Computadorizada. resultados: Quanto aos sistemas sensoriais (somatossensorial, visual e vestibular) e à avaliação do índice geral de equilíbrio, os resultados foram semelhantes entre os dois grupos estudados. Con-clusão: A corrida de fundo não influencia na melhora do equilíbrio postural quando comparados idosos saudáveis corredores a idosos saudáveis não corredores. O teste de organização sensorial é um meio de avaliação que não se mostrou sensível para identificar alterações no equilíbrio de idosos saudáveis.

Palavras-chave: Equilíbrio postural, corrida, idoso, saúde do idoso.

ABSTRACT introduction: The presence of elderly in racing background are increasingly attracting more interest in knowing what are the benefits obtained through this sport, and one of these interests is to know the effect of race on postural balance of these individuals. objective: The objective of this study was to evaluate the influence of long-distance race on postural balance of older people active and healthy. Methods: We conducted a study of 35 elderly men and women, mean age 67 ± 5 years (60-79) years, without complaints of imbalance, divided into groups of runners and a control group. Balance assessment was conducted by the Sensory Organization Test of compu-terized dynamic posturography. results: Referring to sensory systems (somatosensory, visual and vestibular) and the evaluation of the overall index of balance the results were similar between the two groups. Conclusion: The race background does not influence the improvement of postural balance when compared to healthy elderly non--runners. The sensory organization test is a means of evaluation that was not sensitive to identify changes in the balance of healthy elderly.

Keyword: Postural balance, running, aged, health of the elderly.

Recebido em 8/7/2011Aceito em 29/12/2011

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iNtrodUÇÃo

O número de idosos praticantes de algum tipo de es-porte vem crescendo de forma exponencial nos últi-mos anos, pois a prática regular de atividade física é uma das principais recomendações para o envelheci-mento saudável1. A corrida é um esporte com milhões de adeptos em todo o planeta, inclusive muitos ido-sos, principalmente pela facilidade de acesso, custos baixos e pelo autodesafio constante. A presença de idosos em corridas de fundo desperta cada vez mais o interesse em saber quais são os benefícios obtidos por meio dessa modalidade esportiva, e um desses interes-ses é saber o efeito da corrida no equilíbrio postural desses indivíduos.

A posturografia dinâmica computadorizada (PDC) é recurso muito utilizado, pois avalia o equilí-brio pelos parâmetros cinéticos obtidos em uma pla-taforma de força durante os movimentos de oscilação do corpo2-4. A PDC é muito utilizada na avaliação de alterações vestibulares e síndromes vertiginosas e tem se mostrado um instrumento adequado para avalia-ção e reabilitação das alterações do equilíbrio dessa origem. Porém, a PDC foi pouco usada como instru-mento de avaliação do equilíbrio de indivíduos ido-sos ativos e saudáveis. Desse modo, o objetivo deste estudo foi avaliar a influência da corrida de fundo no equilíbrio postural de idosos ativos e saudáveis.

MÉtodoS

Trata-se de estudo transversal e observacional sem intervenção terapêutica, aprovado pela Comissão de Ética para Análise de Projetos de Pesquisa – (CA-Ppesq), da diretoria Clínica do Hospital das Clínicas e da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – protocolo número 668/04. O estudo foi de-senvolvido no Laboratório de Estudos do Movimento do Instituto de Ortopedia e Traumatologia e no Setor de Otoneurologia do Ambulatório de Otorrinolarin-gologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Me-dicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).

Participaram 35 indivíduos idosos, físicamente ativos e independentes, com idade média de 67,5 anos (variando entre 60 e 79 anos), com níveis varia-dos de prática de atividade física e ou esportiva, pelo período mínimo de 12 meses consecutivos. Os par-ticipantes foram divididos em dois grupos: a) grupo de corredores (n = 18), 13 homens e cinco mulheres provenientes de um grupo de corredores da terceira idade, e b) grupo controle (n = 17), 13 mulheres e

quatro homens oriundos de programas de atividade física para terceira idade de uma universidade e de uma instituição privada não praticantes de corrida.

Os critérios de inclusão foram: idade entre 60 e 79 anos, ausência de doenças sistêmicas descompen-sadas, não fazer uso de medicamentos com ação em sistema nervoso central e/ou vestibular periférico, ausência de deformidades articulares, sem alteração da sensibilidade, amplitudes de movimento das arti-culações dos membros inferiores preservadas e com independência clínico-funcional para atividades da vida diária e locomoção.

Após assinarem o Termo de Consentimento Li-vre e Esclarecido, foi realizada uma anamnese: para avaliação do estado de saúde, da condição cognitiva (Miniexame do Estado Mental – MEEN)5 e da in-dependência funcional (Atividades Instrumentais da Vida Diária – AIVD)6.

O equilíbrio foi avaliado pela PDC, por meio do Teste de Organização Sensorial (TOS), que é com-posto por seis condições de avaliação. Foi utilizado o aparelho SMART EquiTest® versão 4.1, NeuroCom International® – USA.

Durante a realização do exame, o indivíduo per-maneceu na posição ortostática, protegido por um colete de segurança suspenso por cabos para evitar quedas, sobre uma plataforma de força com os braços soltos ao lado do corpo, com os pés paralelos e olhan-do para frente.

As condições avaliadas foram: 1. plataforma fixa, cabine fixa e olhos abertos; 2. plataforma fixa e olhos fechados; 3. plataforma fixa, cabine móvel e olhos abertos; 4. plataforma móvel, cabine fixa e olhos aber-tos; 5. plataforma móvel e olhos fechados e 6. pla-taforma móvel, cabine móvel e olhos abertos. Cada condição de avaliação no TOS dura 20 segundos. Fo-ram realizadas três medidas de cada condição.

As variáveis avaliadas neste estudo foram: condi-ções sensoriais, condições dos sistemas somatossen-sorial, visual e vestibular envolvidos no equilíbrio postural e índice geral do equilíbrio (composite).

Análise estatística

Utilizou-se o teste de Kolmogorov-Smirnov para clas-sificar as variáveis contínuas em paramétricas e não paramétricas. Para comparação entre os grupos caso e controle, foi utilizado o teste t de Student (dados numéricos) e o Teste Exato de Fisher (dados categó-ricos). O nível de significância adotado para os testes estatísticos deste estudo foi de 5% (p < 0,05).

Equilíbrio postural de corredores idosos

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reSUltadoS

Não houve diferença na faixa etária entre os grupos (p = 0,99) avaliados pelo teste de Fisher. O grupo de corredores tinha maior estatura (p = 0,03) e menor IMC (p = 0,001) que o grupo controle, mas sem dife-rença na massa corporal (p = 0,25). O MEEM e AIVD não foram diferentes nos dois grupos (p = 0,11).

Nas condições de avaliação do TOS, não houve diferença entre os dois grupos nas condições 1, 2 e 3 (plataforma fixa) e 4, 5 e 6 (plataforma móvel) (Ta-bela 1).

buição para a manutenção da saúde e independên-cia funcional. O equilíbrio é uma das aptidões físicas mais importantes para os idosos, principalmente pe-las quedas e suas consequências5,6.

A PDC é um método que permite identificar os tipos de disfunções dos sistemas sensoriais envolvi-dos no controle do equilíbrio postural, quais sejam o sistema somatossensorial, visual e vestibular7-9. A disfunção do sistema somatossensorial é diagnosti-cada pelo aumento da oscilação corporal com os olhos fechados em plataforma fixa (condição 2 do TOS) em comparação com o que ocorre com os olhos abertos em plataforma fixa e cabine estável (condição 1 do TOS). Tanto o grupo de corredores como o grupo controle tiveram bom desempenho nesses testes e fo-ram considerados normais para a idade. Bittar et al.10

relatam diferenças na comparação entre populações de jovens e idosos.

As disfunções do sistema visual são identificadas pelo aumento da oscilação corporal com os olhos abertos em plataforma móvel e cabine estável (condi-ção 4 do TOS) em comparação com a avaliação com os olhos abertos em plataforma fixa e cabine estável (condição 1 do TOS). Pessoas com deficiência vi sual não conseguem mover-se em superfícies instáveis por causa da inconsistência de informações visuais7-9. Ape-sar da referência de alterações visuais em 50% dos in-divíduos do grupo de corredores e 31,8% do grupo controle, não se observou nenhuma alteração na ava-liação desse sistema, mostrando que as perdas referidas não foram significativas para o desempenho no teste

O TOS é mais efetivo na comparação entre indi-víduos com e sem queixa de desequilíbrio nas dife-rentes faixas etárias, de acordo com Pedalini11. Esse autor mostrou que adultos normais apresentam con-dições visuais superiores às de idosos sintomáticos (com queixa de desequilíbrio), mas não foi capaz de detectar possíveis diferenças entre idosos saudáveis e independentes que se diferenciavam pelo tipo e in-tensidade de prática de atividade física.

As disfunções do sistema vestibular são caracteriza-das pelo aumento da oscilação corporal com os olhos fe-chados em plataforma móvel (condição 5 do TOS) em comparação com o que ocorre com os olhos abertos em plataforma fixa e cabine estável (condição 1 do TOS). Geralmente, os indivíduos com distúrbios vestibulares apresentam alteração do equilíbrio corporal pela dimi-nuição das referências visuais e pela instabilidade da superfície de apoio7-9. Na avaliação desse sistema, não foram encontradas alterações em nossa população. Esse fato, assim como no caso do sistema visual, também

tabela 1. Comparação do grupo de corredores versus grupo controle nas seis condições de avaliação do TOS

G. corredores G. controlep

Média dp Média dp

Condição 1 93,7 7,4 95,35 0,92 0,369

Condição 2 93,5 1,73 90,09 9,81 0,157

Condição 3 93,26 2,79 93,78 2,44 0,558

Condição 4 81,3 6,89 83,96 3,74 0,167

Condição 5 55,46 17,59 59,23 13,19 0,480

Condição 6 64,94 14,57 69,96 7,05 0,208

T de Student; p ≤ 0,05.

tabela 2. Comparação do grupo de corredores versus grupo controle nas condições: sistemas sensoriais e composite (índice geral de equilíbrio)

G. corredores G. controleP

Média dp Média dp

Somatossensorial 98,05 1,87 98,19 1,72 0,814

Visual 85,58 7,27 87,46 3,75 0,347

Vestibular 58,20 18,64 60,33 14,18 0,707

Composite 77,33 6,72 79,24 4,37 0,331

T de Student; p ≤ 0,05.

Não houve diferença entre os grupos para os siste-mas sensoriais e índice de equilíbrio (composite) (Ta-bela 2).

diSCUSSÃo

Cunha et al.6 mostram o aumento da prática de ati-vidades físicas pelos idosos em busca de qualidade de vida e independência funcional. Ainda faltam dados confiáveis sobre os efeitos das atividades físicas nos idosos: benefícios, riscos, tipo, intensidade e contri-

Geriatria & Gerontologia. 2011;5(4):196-200

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pode ser justificado pela falta de sensibilidade do teste para a comparação de idosos saudáveis.

O índice geral de equilíbrio composite encontrado nessa população também não apresentou alterações entre os grupos, fato já esperado, pois todos os siste-mas sensoriais avaliados foram considerados normais para a população estudada, sem diferença de desem-penho entre os grupos estudados.

O aspecto multifatorial do equilíbrio torna ainda mais difícil saber quais os melhores exercícios para sua manutenção e melhora12. A corrida, ainda que não seja um treinamento específico, é uma atividade dinâmica e poderia contribuir para melhorar o equi-líbrio dos seus praticantes. O controle neuromuscu-lar, visual e vestibular é utilizado durante a corrida para manter o equilíbrio dinâmico do corpo e, assim, poder-se-ia esperar que os corredores tivessem melhor equilíbrio que os não corredores, porém, na compara-ção dos idosos ativos não corredores com corredores, por meio do teste estático (TOS), não houve diferen-ças entre os dois grupos. Esse achado pode apontar para o fato de que a prática da corrida não melhora o equilíbrio dos idosos, pois se trata de uma ativida-de cíclica, não exigindo de seus participantes grandes mudanças de direção, saltos, giros e outros movimen-tos que aumentem a demanda principalmente do sis-tema proprioceptivo e vestibular, portanto não é um estímulo específico para o treinamento do equilíbrio.

O tipo de piso utilizado para a corrida poderia ser um fator de estímulo proprioceptivo, mas seria insu-ficiente para estimular todas as aferências dos siste-mas controladores do equilíbrio. Além disso, Fukuchi e Duarte13, em seu estudo sobre a análise cinemática fase de apoio da corrida comparando adultos e idosos, demonstraram que idosos adotam padrões de movi-mentos diferentes dos adultos, apresentando menor excursão de movimentos de flexão do joelho e de rota-ção medial da tíbia e maior assincronia entre os movi-mentos do retropé e do joelho em relação aos adultos.

A atividade motora utiliza três grandes sistemas de vias nervosas – vias reflexas espinais, vias reflexas do tronco encefálico e vias motoras corticais – para melhorar o desempenho (tempo e qualidade) e pro-mover o controle da atividade agonista-antagonista14. Se o equilíbrio fosse uma aptidão que dependesse pre-dominantemente da ação neuromuscular, os corredo-res mais treinados e com melhor condição muscular e cardiorrespiratória teriam se desempenhado melhor, mas a corrida não é capaz de estimular de forma con-sistente todo o sistema complexo de manutenção do equilíbrio, não se observando, assim, diferença no TOS dos corredores e não corredores.

Outro aspecto que se deve abordar está relacio-nado ao teste utilizado: o TOS, nas seis posições uti-lizadas, não foi efetivo na avaliação comparativa de indivíduos idosos considerados normais e sem queixas específicas de desequilíbrio. As tarefas desempenha-das em cada posição do TOS requerem habilidades que a corrida não desenvolve. Sendo assim, Elia et al.14 afirmam que a avaliação do equilíbrio na posição estática não fornece informações sobre o equilíbrio global do indivíduo.

Esse achado reproduz prévios achados da literatu-ra que relatam sobre a especificidade do treinamento, principalmente no idoso, que é um fator determi-nante no desempenho do equilíbrio12,15-17. Atividades com diferentes apoios e solos e mudanças rápidas de direção e velocidade com saltos, giros e paradas são mais específicas para o treinamento do equilíbrio18.

Uma das limitações deste estudo foi o fato de não ter avaliado outros parâmetros como força muscular, flexibilidade e amplitude de movimento, que pode-riam ser distintos entre os dois grupos, pela diferença do tipo e intensidade da atividade física executada. Esses parâmetros poderiam contribuir para a me-lhor caracterização da amostra, principalmente com relação ao grupo de corredores, ficando como reco-mendação para futuros estudos com delineamento experimental e maior tamanho de amostra.

CoNClUSÃo

Ambos os grupos apresentam condições de equilíbrio dentro dos padrões normais para a faixa etária avalia-da. A corrida de fundo não influencia na melhora do equilíbrio postural quando comparados idosos saudá-veis corredores a idosos saudáveis não corredores. O teste de organização sensorial é um meio de avaliação que não se mostrou sensível para identificar alterações no equilíbrio de idosos saudáveis.

reFerÊNCiaS

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Equilíbrio postural de corredores idosos

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artiGo oriGiNal

Percepção de envelhecimento e finitude no final da vida adulta tardiaPerception of aging and finitude at the end of late adult life

Carolina Santin Cótica1

1 Pontifícia Universidade Católica

de Goiás, Universidade de Brasília (UnB).

Recebido em 15/10/2010Aceito em 28/8/2011

RESUMOobjetivos: Avaliar a percepção de envelhecimento e finitude no final da vida adulta tardia no grupo de idosos do Projeto Melhor Idade, do município de Paraíso do Tocantins. Métodos: Processo investigativo desenvolvido no gru-po voltado à terceira idade da secretaria municipal da cidade de Paraíso do Tocantins/TO, conhecido como Projeto Melhor Idade, por meio de estudo exploratório de campo, com abordagem qualitativa. Para isso, foram utilizados três instrumentos: entrevista semiestruturada (Celich e Frumi, 2006), Escala de Ansiedade Perante a Morte (Tem-pler, 1970) e Questionário de Ansiedade Perante a Morte – DAQ (Conte, Weiner e Plutchik, 1982). resultados: Os resultados apontaram, quanto ao medo da ideia de morrer, que a maioria dos entrevistados afirmou não se amedrontar com essa possibilidade, mesmo tendo o conhecimento que nessa fase de suas vidas o risco de morte é cada vez maior. O medo da morte não está pura e simplesmente na finalização da existência da matéria humana em seu aspecto físico, mas também em diversas outras questões, principalmente o risco de ser acometido por alguma doença grave que gere grande dependência física e psíquica. A idade dos idosos variou entre 75 e 89 anos, e 67% dos entrevistados eram do sexo feminino e 33%, do sexo masculino. Observou-se que boa parte deles tem religião definida e é casada ou viúva. Conclusão: Os resultados demonstraram, com base nas análises desenvolvidas e na discussão teórica, que a velhice gera incerteza e medo aos idosos, mas não pela morte propriamente dita, e sim pelo medo de ficar sozinhos e prostrados, dependendo de outras pessoas para se locomover ou realizar suas atividades cotidianas. Espera-se, assim, que este estudo possa contribuir para a ampliação do conhecimento da percepção sobre o envelhecimento e a finitude na vida adulta tardia para os idosos participantes do Projeto Melhor Idade do Município de Paraíso (Tocantins – TO), na medida em que possa prover subsídios para novas investiga-ções e práticas profissionais relacionadas ao envelhecimento, bem como possa induzir a necessidade de reflexão sobre essa etapa do ciclo de vida.

Palavras-chave: Velhice, idosos, morte, medo.

ABSTRACTobjectives: To assess the perception of aging and finitude in the late adulthood in the elderly group Project Golden Age of the municipality of Paraíso do Tocantins. Methods: Investigative process developed in the group for senior citizens of the City Office of the city of Paraíso do Tocantins/TO, known as Project Golden Age, through exploratory field study with a qualitative approach, with the completion of semi-structured interviews. Also been developed and applied a questionnaire as part of a scale measuring symptoms of anxiety and hopelessness of them, regarding their perception of death, where the result of 1 means: I fully agree, and 3 means completely disagree. results: The results showed that the idea of the fear of dying, most respondents said they are unnerved by the possibility, even with the knowledge that this phase of their lives, the risk of death is increasing. Fear of death is not simply the completion of the human existence of matter in its physical aspect, but also on several other issues, particu-

Endereço para correspondência: Carolina Santin Cótica. • 305 Sul al 1a Qi 1A lt11 Palmas, TO • [email protected].

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larly the risk of being affected by serious illness that generates large physical and psychic dependence. The age of the elderly ranged from 75 to 89 years, and 67% of respondents were female and 33% male. It was observed that most of these have specific religion and are married or widowed. Conclusion: The results showed, based on tests developed and the theoretical discussion, that old age generates uncertainty and fear for the elderly, but not by death itself, but for fear of being alone and prostrate, depending on other people to get around or carry out their daily activities.

Keywords: Aging, elderly, death, fear.

iNtrodUÇÃo

De uma forma ou de outra, a morte está sempre pre-sente no cotidiano dos seres humanos, seja quando um ente querido falece ou quando um conhecido sofre um acidente de automóvel e não resiste aos traumas, ou mesmo quando algum indivíduo é aco-metido de uma doença incurável, bem como, e de forma mais precisa, quando os indivíduos alcançam a maioridade – momento em que seu organismo está mais suscetível e vulnerável em relação à sua saúde física e psíquica.

De acordo com Heidegger1, existem pessoas que lidam de maneira natural com tal evento, que acredi-tam que o sujeito é um ser lançado ao mundo. Assim, existir é transcender à sua existência e estar vulnerável às intempéries da vida, estando entre elas a morte. No entanto, existem pessoas que cultuam certo pavor em relação ao acontecimento “morte”, talvez pela forma como esta é tratada pela sociedade ao longo da his-tória da humanidade. Dados do IBGE2 apontam o Brasil como um país em envelhecimento; o número de idosos representa 8,6% da população total, o que corresponde a 15 milhões de pessoas envelhecidas.

Ainda segundo informações do IBGE, o Brasil se encontra entre os países mais populosos do mundo. Porém, desde a década de setenta, o crescimento da população vem sofrendo um declínio, se comparado a outros países em desenvolvimento. Tal declínio se deve às baixas taxas de natalidade e fecundidade, pro-piciadas pelos aspectos sociais e econômicos. Com essas taxas, encontra-se o crescimento da expectativa de vida no país, proporcionado pela melhoria na rede de saneamento básico e também pelo acesso à tec-nologia na área da saúde. Apesar dessa realidade, o envelhecimento ainda é pouco aceito ou trabalhado pelas pessoas, já que a maioria cultua a juventude, o que facilita o crescimento de um enraizamento pro-fundo do horror à terceira idade, bem como à possível proximidade com a morte. Dessa forma, entende-se que a velhice possui um componente preconceituoso e estereotipado de uma fase do desenvolvimento hu-mano marcado por acontecimentos negativos3.

Na visão de Kovacs4, o que se busca não é a vida eterna, e sim a juventude eterna, com seus prazeres, força, beleza, ao contrário do que representa a velhi-ce, que é traduzida por meio das perdas biológicas e sociais. Entende-se, pois, que a velhice é a fase do desenvolvimento humano permeada por estigmas e atributos negativos, justificando-se por meio das per-das corporais, financeiras, de produtividade e, muitas vezes, pela separação inevitável da família. No entan-to, a maneira de viver ou representar cada uma das perdas se vincula ao processo de desenvolvimento e à consciência de cada um. A esse respeito, a literatu-ra dispõe que: “Desde todos os tempos em busca da imortalidade, o homem desafia e tenta vencer a mor-te”. Ademais, devem-se ressaltar outros dizeres que enfatizam que “o homem é um ser mortal, cuja prin-cipal característica é a consciência. Portanto, obnubi-lar, apagar essa consciência não seria um retrocesso?”4.

Ao se analisarem fatores relativos ao envelheci-mento, bem como à morte, identifica-se a necessidade de medidas de auxílio que otimizem o enfrentamento e a preparação para a morte. Assim, com base nos en-sinamentos de Neugarten5, pretende-se comparar as diferentes reações e apresentar os resultados, a fim de um melhor trabalho psicológico e social para o idoso nessa fase da vida. O ser humano, diante do inevi-tável – considerando-se aqui a morte –, sofre a dor incalculável do fim da existência. Com o passar dos anos, o inevitável pode estar próximo, podendo o ser humano ser acometido de sentimentos de angústia, medo, tristeza, solidão, que surgem com força, po-dendo levá-lo ao desespero. Sendo assim, este projeto tem como justificativa a compreensão da percepção de morte dos idosos que se encontram no final da vida adulta tardia.

Assim, o grande desafio é demonstrar a importân-cia de refletir sobre o final da existência, isto é, fa-zer com que o idoso possa pensar sobre a sua própria morte, revendo seus anseios, medos, expectativas, a fim de expor a percepção total que cada um apresenta em relação a esse assunto. Kübler-Ross6 afirma que “deveríamos criar o hábito de pensar na morte e no morrer, de vez em quando, antes que tenhamos de

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203Percepção de envelhecimento e finitude

nos defrontar com ela na vida”. Nesse contexto, a relevância deste estudo torna-se nítida, refletindo a preo cupação com a boa qualidade e aproveitamento da vida dos idosos, a par de uma contribuição em nível de pesquisa, sob a forma de descobertas, prepa-rando um maior oferecimento de vida digna e inclu-siva a essa parte da população que está em crescente aumento, ou seja, aos idosos.

Abordar o referido tema é convidar o leitor a uma reflexão da contextualização entre o processo de en-velhecimento e a morte, em suas várias dimensões, considerando os múltiplos aspectos da vida humana, principalmente no que tange ao envolvimento em re-lação a sentimentos variados, como forma de enfren-tar e refletir sobre a própria vida. Segundo Camacho7, o número de idosos no Brasil e no mundo mostra-se cada vez mais significativo, como descrevem várias pesquisas corroborando o fato. Dessa forma, a área de saúde vem se preocupando progressivamente com essa faixa etária, em busca de um caminho para pro-mover a saúde da forma mais adequada possível.

Entende-se, pois, que a compreensão acerca da finitude na perspectiva do idoso está intimamente relacionada com a saúde. De acordo com a OMS8, a saúde é um estado de completo bem-estar físico, psí-quico e social do indivíduo, ou seja, falar da percep-ção de finitude e de seus sentimentos acerca do fato contribui para a aquisição de saúde. “A Organização Mundial de Saúde (OMS)8 define saúde não apenas como a ausência de doença, mas como a situação de perfeito bem-estar físico, mental e social”9.

Nesse contexto, cumpre destacar o Projeto Me-lhor Idade, que é de criação e sustentação do municí-pio de Paraíso do Tocantins e no qual são atendidos cerca de 42 idosos com uma faixa etária considerada de idosos velhos, que escolhem dois dias da semana para desenvolverem atividades como oficinas terapêu-ticas, atividades físicas, dança e jogos, contando com uma equipe multidisciplinar de profissionais como psicóloga, técnica em enfermagem, educador físico e assistente social.

O objetivo foi avaliar a percepção de envelheci-mento e finitude no final da vida adulta tardia, tendo como participantes idosos do Projeto Melhor Idade do município de Paraíso do Tocantins.

MÉtodoS

O trabalho foi desenvolvido no grupo voltado à terceira idade da secretaria municipal da cidade de

Paraíso do Tocantins/TO, conhecido como Projeto Melhor Idade, em que o processo investigativo se deu por meio de estudo exploratório de campo, com abor-dagem qualitativa, com a realização de entrevistas se-miestruturadas. Ademais, destaca-se que, na visão de Lakatos e Marconi10, a pesquisa qualitativa envolve a obtenção de dados descritivos, por meio do contato direto com a situação estudada, preocupando-se em retratar a perspectiva sobre envelhecimento e finitude da vida que os participantes apresentam.

Foi aplicado um questionário, a fim de coletar e caracterizar os dados dos idosos investigados, por meio de uma escala de mensuração dos sintomas de ansiedade e desesperança deles em relação à sua per-cepção da morte, momento em que foram aplicadas 15 questões relacionadas ao tema morte. O resultado 1 significa “concordo plenamente”, o 2 é neutro, o 3 significa “discordo totalmente”, o 4 significa indeciso.

Assim, para se desenvolver a presente pesquisa, foram coletadas informações sobre a percepção de en-velhecimento e finitude no final da vida adulta tardia do grupo melhor idade, realizado no município de Paraíso, no Tocantins. Para tanto, tornou-se necessá-rio abordar alguns aspectos relativos ao tema de estu-do, identificando o tipo de pesquisa, a população e a amostra, o método de coleta de dados, procedimen-tos para coleta de dados, tabulação e procedimentos para análise das informações coletadas. Nesse contex-to, buscou-se coletar informações acerca do assunto de investigação, para identificar as variáveis relacio-nadas ao tema.

ProCediMeNtoS

Os questionários foram aplicados individualmen-te aos idosos, indivíduos da amostra, em uma sala do Projeto Melhor Idade, onde eles frequentam o referido Projeto. Cada entrevista durou cerca 15 a 20 minutos para ser aplicada, momento em que se questionou sobre aspectos relacionados à percepção dos idosos acerca da finitude no final da vida adulta tardia. Os sujeitos foram devidamente identificados, tendo suas respostas gravadas. Tais gravações servirão exclusivamente para a análise dos dados e discussão desta pesquisa.

PartiCiPaNteS

Fizeram parte do grupo de amostra 16 idosos com idade superior a 75 anos, que participam do Projeto

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Melhor Idade. Participam como sujeitos desta pes-quisa somente os idosos que se encontram na faixa etária mínima de 75 anos – idoso/velho, como des-taca Neugarten apud Bee11 – e que não apresentam problemas neurológicos, haja vista que tal fator seria prejudicial à interpretação dos resultados, em relação às questões abordadas na entrevista. Os idosos foram cadastrados e convidados a participar das atividades durante o período de dois dias da semana, em con-formidade com a disponibilidade de entrevistados e entrevistador.

iNStrUMeNtoS

Para investigar a percepção do envelhecimento e da finitude no grupo do Projeto Melhor Idade, foram utilizados três instrumentos: a) uma entrevista se-miestruturada, elaborada por Celich e Frumi12, b) a Escala Templer de Ansiedade Perante a Morte13 e c) o Questionário de Ansiedade Perante a Morte14.

A entrevista semiestruturada de Celich e Frumi12 contém cinco questões, abaixo apresentadas, que bus-cam caracterizar a percepção do idoso diante do enve-lhecimento e da morte:

• Qual o sentido da velhice para o(a) senhor(a)?

• Como o(a) senhor(a) se percebe na sociedade?

• Qual o seu maior medo de envelhecer?

• No seu ponto de vista, o que é morte?

• Qual o significado da morte para o(a) senhor(a)?

Foram adicionadas à entrevista outras três ques-tões referentes à situação familiar do idoso, à moradia e ao tempo de participação no grupo Projeto Melhor Idade.

A Escala de Ansiedade Perante a Morte13, com tradução e validação para a realidade brasileira por Donovan15, é composta de 15 itens que se referem à ansiedade perante a finitude. As questões são dis-postas em escala tipo Likert em variação de intensi-dade das respostas (1 = Discordo Completamente, 2 = Neutro, 3 = Discordo Totalmente e 4 = Inde-ciso).

O Questionário de Ansiedade Perante a Morte (Death Anxiety Questionnaire – DAQ)14, cuja ver-são foi adaptada pelos autores portugueses Simões e Neto16, é composto igualmente por 15 itens, apre-sentados em formato de escala tipo Likert segundo a intensidade das respostas que variam de 0 a 2 (0 = Nunca, 1 = Um pouco, 2 = Muito).

aNÁliSe doS dadoS

A pesquisadora abordou os idosos com o perfil a ser pesquisado, esclarecendo sobre os objetivos do estu-do, a voluntariedade de participação e a garantia do anonimato, verbalmente e por meio de documentos, sendo apresentado a eles o termo de livre esclareci-mento para que houvesse concordância na participa-ção do estudo (com a coleta de suas assinaturas – por extenso), no qual foi estipulado tempo livre para res-ponder às questões aplicadas.

O processamento da base de dados foi feito uti-lizando o software Excel® para Windows®. Todas as análises estatísticas foram feitas com o software SPSS® (Statistic Package for Social Sciences, Chicago, IL, USA) versão 13.0 para Windows®.

A descrição de resultados foi feita utilizando a mé-dia e o erro-padrão, e o teste de Kolmogorov-Smirnov foi utilizado para avaliar a normalidade das curvas de distribuição dos resultados. As comparações entre grupos foram realizadas mediante o teste t de Student para as distribuições normais e mediante o teste de Mann-Whitney para as distribuições não normais.

Possíveis correlações entre os resultados dos itens e dos totais das escalas foram avaliadas utilizando o tes-te de Pearson, e o cálculo da confiabilidade das escalas foi feito utilizando o alfa de Cronbach.

Em todos os testes, o nível de significância estatís-tica foi estabelecido em p < 0,05 (bicaudal).

reSUltadoS

Serão expostos a seguir os resultados relativos às entre-vistas com alguns idosos. Para preservar a identidade deles, primou-se por identificá-los apenas por nomes fictícios no decorrer da apresentação dos resultados.

Verificou-se que a idade que mais prevaleceu foi a que corresponde ao grupo entre 75 e 80 anos, re-presentada por 60% dos idosos entrevistados; os ou-tros 33% referem-se a idosos com idade entre 81 e 85 anos; e os 7% restantes têm entre 86 e 90 anos. Quanto ao gênero, houve variação entre os sexos masculino e feminino, estando ambos presentes nas entrevistas.

Observou-se que as mulheres compunham a maioria dos entrevistados, com 67% de represen-tação, e que os homens foram representados com apenas 33% de idosos. E, a fim de compreender a percepção dos idosos em relação ao episódio morte,

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foram coletados dados relativos às questões nortea-doras desta pesquisa. Nesse contexto, apresentam-se, a seguir, os resultados totais, que demonstraram que os idosos, em sua maioria, mostram-se positivos com relação à percepção da morte.

Quanto às posições emocionais dos idosos em re-lação à morte, observou-se que os resultados, em 48% dos casos, estão mais voltados para uma concordância plena das variáveis apresentadas. Em contrapartida, 44% dos resultados indicam desacordo total com as vertentes disponibilizadas para os idosos. Outros 6% indicaram uma posição neutra a respeito da percep-ção da morte e os 2% restantes indicaram indecisão acerca dos fatores investigados.

Contudo, foram aplicadas entrevistas ao mesmo grupo de amostra, em que foi possível coletar infor-mações mais precisas acerca do tema. Desse modo, os resultados das entrevistas foram fundamentais para uma análise mais aprofundada sobre o tema proposto.

traNSCriÇÃo daS eNtreViStaS

A partir dos questionamentos efetuados para os en-trevistados, buscou-se identificar, inicialmente, a percepção do idoso a respeito do sentido da velhice. Em seguida, questionou-se todos eles sobre “como se percebem na sociedade”; o terceiro questionamento buscou identificar “qual o seu maior medo de envelhe-cer”; também foi perguntado sobre o que é a morte, do ponto de vista do idoso; e, por fim, questionou-se so-bre qual o significado da morte para eles. Seguem ago-ra os resultados apresentados a partir das entrevistas.

A primeira a ser entrevistada foi a dona Mel, que tem 75 anos de idade, é casada e sua religião é a cató-lica. Os resultados de dona Mel são os seguintes:

1. Qual o sentido da velhice?

É bom, porque quando a gente está velho, não traba-lha demais. As pessoas respeitam mais a gente.

2. Como o(a) senhor(a) se percebe na sociedade?

As pessoas me respeitam.

3. Qual o seu maior medo de envelhecer?

Tenho medo de ficar prostrada, sem ninguém para cuidar de mim e dependendo dos outros.

4. No seu ponto de vista, o que é morte?

A morte não é vista. Acho que a morte não existe.

5. Qual o significado da morte para o(a) senhor(a)?

Não sei responder, pois ninguém sabe que jeito é a morte. Não sei o que significa.

Em seguida, entrevistou-se o Sr. Jota, que é esposo da dona Mel, também tem 75 anos de idade e é da mesma religião, ou seja, católico.

1. Qual o sentido da velhice?

A gente ainda tem vontade de trabalhar e não pode mais, de modo que fica sem conforto. Tive problemas de coluna. Mas ainda vou para a festa, danço.

2. Como o(a) senhor(a) se percebe na sociedade?

Sou respeitado, pois todos me tratam com a maior satisfação e me dão atenção.

3. Qual o seu maior medo de envelhecer?

Não tenho medo de envelhecer. Na hora que Deus quiser eu vou, já estou velho.

4. No seu ponto de vista, o que é morte?

A morte é uma “descombinação”. A morte é o fiscal de Deus. A morte é um anjo, é santa. A gente tem o Céu e tem o paraíso, onde está Deus e o Divino Espírito San-to. O resto é a gente.

5. Qual o significado da morte para o(a) senhor(a)?

A morte significa uma preparação para Deus.

A próxima a ser entrevistada foi Flor, com 84 anos de idade, viúva e da religião católica.

1. Qual o sentido da velhice?

A velhice ensina a gente, pois temos mais paciência, sabedoria.

2. Como o(a) senhor(a) se percebe na sociedade?

É muito bom a gente estar em sociedade, participan-do dos problemas e das coisas boas juntos uns dos outros. Aqui no Projeto mesmo, é muito bom. Eu fui a primeira a entrar aqui.

3. Qual o(a) seu maior medo de envelhecer?

Meu medo de envelhecer é de ficar triste e de perder a visão e ficar com problemas mentais, não podendo lem-brar direito das coisas.

4. No seu ponto de vista, o que é morte?

A morte é um descanso que todos vamos ter um dia. Ninguém escolhe a morte e nem o jeito de morrer. Eu tenho muita paciência e não tenho medo de morrer.

5. Qual o significado da morte para o(a) senhor(a)?

O significado da morte é ter sempre luz, paciência. Peço a Deus para me ajudar a viver o restinho da minha

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vida, para me ensinar, porque nesta idade eu não deses-pero com nada. Eu quero ser tranquila até no último momento, para cuidar dos meus 33 (trinta e três) netos e meus 23 (vinte e três) bisnetos. Oro sempre por eles. Eu me sinto feliz. Eu moro em Paraíso há 36 anos e sinto fal-ta dos amigos que já morreram. Agradeço muito a Deus por esses jovens que compreendem a palavra dos idosos.

Dona Esmeralda tem 80 anos de idade, é evangé-lica e separada.

1. Qual o sentido da velhice?

Eu não sei explicar o sentido da velhice. Na velhice a gente pode morrer de repente.

2. Como o(a) senhor(a) se percebe na sociedade?

Para mim, estando bom para meus colegas, tá tudo bom pra mim também. “Tem que estar todo mundo bem, para eu estar bem”. Tem que ter paz, alegria e amizade.

3. Qual o seu maior medo de envelhecer?

Tenho medo de ter um problema de saúde e ficar so-zinha, sem ninguém para cuidar de mim. Tenho 8 fi-lhos, mas fico muito sozinha e não gosto.

4. No seu ponto de vista, o que é morte?

A morte é ficar sozinha e não conseguir fazer nada.

5. Qual o significado da morte para o(a) senhor(a)?

Morrer é algo rápido, de repente.

Sr. Forte tem 80 anos e é católico. O entrevistado apresentou os seguintes resultados:

1. Qual o sentido da velhice?

A velhice é uma maravilha, porque eu já vivi muito. Fui pai de 20 filhos e sou muito contente com a vida. Sou muito novo e ainda quero arrumar uma namorada para casar e quietar.

2. Como o(a) senhor(a) se percebe na sociedade?

Não tenho problemas com ninguém e faço parte de tudo.

3. Qual o seu maior medo de envelhecer?

Tenho medo de ficar prostrado, dependendo de al-guém para cuidar de mim.

4. No seu ponto de vista, o que é morte?

A morte é uma sequência. Quem morre tá com Deus. Não tenho medo nem da vida nem da morte.

5. Qual o significado da morte para o(a) senhor(a)?

A morte é uma coisa que eu não queria. Mas a pessoa tem que estar contente, pois não pode fugir dela, então

tem que recebê-la com prazer, tem que estar preparado. Só não quero estar prostrado para morrer. Eu só soube da morte do meu pai depois de um mês e dois dias. Eu senti que ele ia morrer. Eu não tenho medo de morrer.

Para o Sr. Luar, de 84 anos, evangélico e viúvo, foram destacados os seguintes resultados:

1. Qual o sentido da velhice?

Não consigo responder.

2. Como o(a) senhor(a) se percebe na sociedade?

Não sei. Tive derrame e fiquei triste.

3. Qual o seu maior medo de envelhecer?

Eu não me lembro.

4. No seu ponto de vista, o que é morte?

Não respondeu.

5. Qual o significado da morte para o(a) senhor(a)?

Não respondeu.

Dona Rosa tem 75 anos, é católica e casada com o Sr. Forte. Seus resultados foram:

1. Qual o sentido da velhice?

Eu espero ter muitos anos de vida para mim e meus filhos, ter saúde. Espero que Jesus Cristo nos ajude.

2. Como o(a) senhor(a) se percebe na sociedade?

Tenho algumas amigas na vizinhança, vou na Igreja Assembleia de Deus, Deus é Amor e outras. Pra mim Deus é um só.

3. Qual o seu maior medo de envelhecer?

Não tenho medo de envelhecer, porque a gente sem-pre caminha para onde vai embora. Não temos que ter medo.

4. No seu ponto de vista, o que é morte?

A morte não tem explicação. Está na mão de Deus.

5. Qual o significado da morte para o(a) senhor(a)?

A morte, para mim, significa o fim, a gente não per-cebe mais nada. É uma transferência, uma perda.

Para o seu José, obtiveram-se os resultados que de-monstraram que:

1. Qual o sentido da velhice?

A gente perde coragem para tudo, não pode fazer uma coisa que tinha costume de fazer antes.

2. Como o(a) senhor(a) se percebe na sociedade?

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Quando eu era novo, todo mundo respeitava o mais velho e dava atenção para a gente. Mas agora, ninguém respeita o idoso. Não tem educação e o tratamento que deveria ser dado, não é. Os jovens se acham mais impor-tantes que os velhos. Eu entendo que todo mundo vai ser velho um dia.

3. Qual o seu maior medo de envelhecer?

Na idade que eu tô, eu acho que a velhice é o final da vida. Temos que esperar o chamado de Deus.

4. No seu ponto de vista, o que é morte?

A morte é uma coisa que faz acabar tudo. Não tem saída.

5. Qual o significado da morte para o(a) senhor(a)?

A gente deixa muita saudade. É a paixão. Uma filha minha morreu e deixou netos para mim. Essa foi a mi-nha maior paixão.

Os dados coletados na entrevista realizada com dona Vitória, de 81 anos de idade, católica, foram os seguintes:

1. Qual o sentido da velhice?

A velhice é quando a gente fica sem força para fazer as atividades da gente. Eu passei 7 anos com um irmão doente. Isso me ensinou a viver e a sobreviver. A velhice nos ensina. A gente fica meio desligada, sozinha.

2. Como o(a) senhor(a) se percebe na sociedade?

As pessoas idosas não têm muitas oportunidades de se apresentar na sociedade. A gente não participa, só obser-va, mas conhece muita gente e vê coisas novas.

3. Qual o seu maior medo de envelhecer?

Tenho medo de ficar doente e depender de outras pes-soas. Não me preocupo com a morte.

4. No seu ponto de vista, o que é morte?

A morte é o fim da vida. A vida é passageira e a gente tem o descanso com a morte.

5. Qual o significado da morte para o(a) senhor(a)?

Pra mim, a morte é uma tristeza, representa uma perda. Eu sinto muito a morte das pessoas que amo.

De acordo com dona Glória, que tem 76 anos de idade e é católica, a percepção sobre a morte apresen-ta as seguintes características:

1. Qual o sentido da velhice?

A velhice é boa e ruim. A gente tem muita experiên-cia, mas sente muita dor e se preocupa mais com tudo. Tem o lado bom e o lado ruim.

2. Como o(a) senhor(a) se percebe na sociedade?

Quando a gente fica velho, as pessoas não olham da mesma forma para nós, principalmente para quem não tem estudo. Me sinto um pouco acuada.

3. Qual o seu maior medo de envelhecer?

Não tenho muito medo de envelhecer. Eu sou con-formada.

4. No seu ponto de vista, o que é morte?

A morte é a passagem desta vida para outra, que eu acho que vai ser boa. Essa vida nossa é do espírito contra a matéria.

5. Qual o significado da morte para o(a) senhor(a)?

A morte é um alívio para quem morre na velhice. É como quem nasce, porque quando você fica velho, só tem amargura, dor, sofrimento. Então, se morre, vive novamente.

Por fim, realizou-se a entrevista com dona Mar-garida, que tem 79 anos de idade, é católica e viúva. Seus resultados demonstraram as seguintes percep-ções a respeito da morte:

1. Qual o sentido da velhice?

A velhice é um ganho de conhecimento da vida. A gente aprende muito com a velhice.

2. Como o(a) senhor(a) se percebe na sociedade?

Eu sou uma pessoa muito boa. Me percebo bem na sociedade e na vida social. Sempre fui muito querida. Tive tanta coisa boa que nem me lembro das ruins. Te-mos que deixar as coisas desagradáveis de lado. Então, acho que o melhor é aceitar a velhice como ela é. A pessoa tem que se preparar para a velhice. A gente perde a vida social e a saúde na velhice.

3. Qual o seu maior medo de envelhecer?

Não tenho medo, a não ser em relação às deficiên-cias físicas. Já sou deficiente visual, tenho problemas de estômago, depressão. As pessoas têm que se preparar para tudo, até para a morte. Eu não tenho saúde, mas sou fe-liz. Eu gosto de conhecer as coisas para aprender a viver. Eu agradeço a Deus todos os dias pela minha família, pela vida que Ele me deu, por tudo que eu tenho.

4. No seu ponto de vista, o que é morte?

Morte só existe para aquele que não acredita na vida eterna. Quem acredita na ressurreição tem que acreditar na vida eterna. A morte é algo desconhecido.

5. Qual o significado da morte para o(a) senhor(a)?

A morte é um alívio ao sofrimento das pessoas.

Percepção de envelhecimento e finitude

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Ao final das entrevistas, foi possível observar que o que mais incomoda e preocupa os idosos é a defi-ciência da saúde, bem como o risco iminente de de-pendência de outras pessoas, tanto para se locomover quanto para praticar suas atividades cotidianas.

diSCUSSÃo

De modo geral, os resultados obtidos no presente estudo demonstraram que o envelhecimento é visto como um processo de ordem natural na vida do ser humano e que a velhice refere-se ao tempo de vida, à mutação biológica e a um conceito individual, assim como encontrado por outros autores7,17,18.

Em relação ao sentido da velhice, os idosos demons-traram aceitação pessoal, mas destacaram as dificuldades que encontram em decorrência das doenças que surgem com a idade como já relatado por outros autores4,7,17,19. Os entrevistados também observaram a proximidade da morte por causa da idade avançada em que se encon-tram, como é esperado nessa fase do desenvolvimento.

Esse processo é acompanhado por déficit fun-cional progressivo de vários sistemas orgânicos. Para Monteiro20, inúmeras debilidades corporais são aco-metidas, decorrentes do próprio envelhecimento biológico e resultantes, em grande parte, como já comprovado recentemente por alguns autores, do de-suso e do sedentarismo dos indivíduos.

Trata-se, pois, de uma questão que envolve di-versos fatores relacionados direta ou indiretamente ao envelhecimento da população de um modo geral. Segundo Camarano e Abramovay21, na zona urbana, a esperança de vida é diferenciada por sexo. Atual-mente, a sociedade vem apresentando uma nova face, em que a população de velhos ocupa um lugar cada vez mais significativo. Isso se deve à existência de um crescente percentual de idosos, antes situados nos paí ses desenvolvidos e que, atualmente, se encontram mais efetivamente nos países em desenvolvimento.

A literatura destaca, ainda, que, por volta do ano 2025, haverá cerca de 1,1 bilhão de idosos, conside-rando que a população mundial será de, aproxima-damente, 8,2 bilhões. Nesse mesmo ano, conforme estudos desenvolvidos por Ruschel22, verifica-se que 72% da população idosa concentrar-se-á nos países em desenvolvimento.

Assim, poder-se-ia dizer que, atualmente, o Brasil é visto como um país de muitos idosos, em decor-rência de diversos fatores que contribuem conti-

nuamente para o envelhecimento populacional. O envelhecimento da população brasileira, além de representar um dado numérico, também gera proble-mas e necessidades relacionadas à seguridade social, pois os idosos, consequentemente, passam a manter uma relação direta com tal Instituto18.

Para Kauffman e Jackson17, tais mudanças vão ocorrendo sucessivamente nos diversos sistemas: neurológicos, respiratórios, circulatórios, digestivos, geniturinário e, principalmente, no sistema muscu-loesquelético.

Entende-se que esse processo leva ao aparecimento de doenças como osteoartrose, osteoporose, contra-tura muscular, ocasionando deformidades posturais, déficit de marcha, diminuição da força muscular, diminuição da mobilidade corporal, diminuição da capacidade de expansão do gradil costal e outros que limitam o movimento corporal, geralmente acompa-nhado de quadro álgico. Como bem dispõe Cande-loro e Caromano23, muito do decréscimo na função fisiológica pode estar relacionado com o descondicio-namento ou desuso dos órgãos ou da musculatura, e algumas alterações se devem a fatores como:

• Diminuição da velocidade do sistema nervoso central, por perda de mielina das fibras nervosas;

• Diminuição da massa muscular e óssea; os li-gamentos vão fibrosando; há perda de 30% de água corporal;

• Diminuição da amplitude de movimento, o que aumenta o risco de lesões em movimentos de flexibilidade;

• Redução do equilíbrio, aumentando o risco de quedas;

• Aumento da resistência vascular periférica, o que aumenta a pressão arterial;

• Diminuição da expansibilidade torácica e au-mento da complacência pulmonar;

• Diminuição das mitocôndrias, o que diminui a capacidade do sistema aeróbico; e

• Redução do consumo de oxigênio.

Além disso, com o avanço da idade, também ocor-re o declínio na capacidade aeróbica, isto é, de realizar exercícios físicos utilizando o oxigênio como substra-to energético24.

A Organização Mundial da Saúde (OMS)25 define velhice como sendo o “prolongamento e término de um processo representado por um conjunto de mo-dificações fisiomórficas e psicológicas ininterruptas à ação do tempo sobre as pessoas”. O Estatuto do Idoso

Geriatria & Gerontologia. 2011;5(4):201-13

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considera como pessoa idosa aquela de idade igual ou superior a 60 anos (Brasil, Lei nº 10741, publicada em 1º de outubro de 2003).

A velhice é um processo dinâmico progressivo, onde há modificações tanto morfológicas como funcionais, bio-químicas e psicológicas que determinam a progressiva perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos que culminam por levá-los à morte25. (p. 57)

Segundo Erik Erikson26, dos 45 aos 65 anos, o ho-mem vive a idade da produtividade versus estagnação, ou seja, nesse período pode-se evidenciar tanto um lado positivo quanto um negativo. O lado positivo se caracteriza pelo sentimento de realização pessoal e pelo desejo de realizar algo pela comunidade e pela fu-tura geração. Do outro lado, pode-se desenvolver a es-tagnação, pois a pessoa se sente velha, inválida e inútil.

De acordo com Goldfarb27, é muito frequente a utilização de eufemismos para nomear a velhice, pois a sociedade cria uma série de tabus e preconceitos sobre esse período e deixa de lado a riqueza interior que pode representar a velhice, suscitando um medo generalizado de vivenciar esse processo.

Autores como Erikson26 e Goldfarb27 acreditam que a falta de perspectivas prolongadas de vida leva o indi-víduo a repensar sobre suas vivências passadas, o que pode trazer para ele sentimento de realização ou de de-sespero caso considere não ter alcançado seus objetivos. De acordo com Telford e Sawrey28 (p. 622), “na nos-sa cultura, é considerado velho aquele indivíduo com mais de 60 a 65 anos”. Para esse autor, as mudanças fí-sicas oriundas da idade são marcantes e são o principal referencial pelo qual se classifica um indivíduo como velho caso não se disponha do referencial cronológico. Esse autor considera também que as mudanças físicas são de grande significação na vida das pessoas idosas.

Nas sociedades atuais, a valorização excessiva da força de produção do homem colocou fatalmente o idoso com posição inferior. As sociedades contemporâneas, em especial as urbanas industriais, designam o valor de ser humano na proporção direta do que sejam eles ca-pazes de produzir18. (p. 46)

De acordo com Perestelho29, o idoso tende a di-minuir seu interesse pelas outras pessoas aumentando o interesse por si (egocentrismo), visto que percebe a finitude de sua vida. Porém, ele não fica pensando constantemente em sua morte, pois isso tornaria sua vida insuportável. Para Viana30, quando o homem se

aproxima da morte, passa a pensar cada vez mais nela, deixando-se envolver progressivamente por uma an-siedade suscetível de assumir os mais diversos aspec-tos ou graduações, conforme seu temperamento e as circunstâncias de sua vida.

Na visão de Salgado18 (p. 25), “a velhice é uma etapa da vida na qual em decorrência de alta idade cronológica ocorrem modificações de ordem biopsi-cossociais que afetam a relação do indivíduo com o meio”. Para o autor, a definição de velhice deve levar em consideração três critérios: tempo de vida, muta-ção biológica e conceito individual. Ainda a respeito dessa dialética entre a vida e a morte, a literatura im-põe o seguinte fundamento:

(...) a vida e morte, para mim, não são duas coisas separa-das; elas fazem parte do mesmo processo. A gente come-ça a morrer no instante em que nasce. Falando algumas coisas que vocês já devem ter ouvido. As células envelhe-cem e morrem o tempo todo, e o processo de pequenas mortes também acontece o tempo todo, na medida em que a gente vai perdendo coisas através da vida. Então, por que a gente fala com tanta angústia do fenômeno da morte? Por que a gente pinta a morte como aquela caveira, de modo a assustar mesmo as criancinhas? Por que as criancinhas se assustam com aquela visão que as-sociamos à morte? Eu acho que uma das colocações que a gente poderia fazer e que faz parte do próprio conceito de vida é refutar a morte. Quer dizer, é inevitável que se você está vivo você vai enfrentar a morte, embora sejam partes do mesmo processo. A morte sempre existiu em nossas vidas, mas nem sempre teve representações níti-das em nossas mentes e a consciência de morte aumenta marcantemente nessa etapa da vida, por essa razão será buscado estudar e conhecer sobre as relações da vida com a significação da morte, como os idosos do grupo pes-quisado elaboram a percepção de finitude da vida, suas reações e sentimentos quanto ao enfrentamento4. (p. 70)

A velhice é uma realidade heterogênea e individu-al, e cada espécie de ser vivo apresenta uma velocidade própria para envelhecer. Essa rapidez de declínio fun-cional varia de pessoa para pessoa, sendo mais danosa para uns do que para outros, pois leva a uma perda progressiva das funções. Trata-se de um mecanismo intrínseco e único.

Até pouco tempo atrás, a resposta de aceitação geral era de que os sistemas e órgãos corporais se deterioram, tornam-se mais suscetíveis a problemas: os tecidos e as estruturas tendem a tornar-se menos elásticos e menos eficientes, às vezes levando a disfunções ou distúrbios mais sérios. Contudo, novas pesquisas mostram que as mudanças fisiológicas na idade avançada são muito

Percepção de envelhecimento e finitude

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variáveis. Muitos dos declínios comumente associados com o envelhecimento podem na verdade ser mais efei-tos do que causas de doença31. (p. 502)

Ressalta-se, assim, que o envelhecimento não sig-nifica debilidade física ou mental inevitável. A crença de que as capacidades mentais declinam com a ida-de também tem sido desafiada por vários achados de pesquisa, não existindo evidências de que a capacida-de geral de aprender diminui com a idade.

Deve-se pensar em trabalhar o processo de envelheci-mento, com a valorização da identidade pessoal, oti-mizando o potencial de experiência de vida que essas pessoas possuem, já que a “pragmática cognitiva consti-tuída no bojo do conhecimento cultural e da experiên-cia vivida, tende a intensificar-se com o passar dos anos, apesar do declínio de mecânica cognitiva”32. (p. 48)

Segundo Birren, Schaie e Schroots33 (p. 34), tem--se que o “envelhecimento terciário ou terminal, por estar relacionado a um grande aumento nas perdas físicas e cognitivas num período de tempo relativa-mente curto, é reconhecido como o ponto final das doenças terminais, em qualquer idade”. Trata-se, de fato, de uma visão de finitude da vida humana, em que todos que se encontram na fase de envelhecimen-to são considerados em estágio “terminal”, com pou-cas expectativas de futuro, quer seja em curto ou em longo prazo.

O provérbio “papagaio velho não aprende a falar” não se aplica aos seres humanos. As pessoas mais velhas po-dem e efetivamente continuam a adquirir novas infor-mações e habilidades, e são capazes de lembrar e usar bem aquelas que já conhecem. A idade muitas vezes traz mudanças no funcionamento cognitivo, mas nem todas são prejudiciais31 (p. 511).

Uma das funções mais destacadas da memória é a de favorecer o conhecimento do passado, a organização ordenada do tempo, localizando os eventos numa su-cessão cronológica. Os velhos tornam presente as pes-soas ao longo do tempo, uma vez que não só lembram suas emoções, como revivem aqueles que já morreram, por meio das semelhanças físicas, dos tiques familiares, do mesmo sorriso ou de um andar e gestos parecidos31.

Portanto, a memória nessa idade exerce não só pa-pel importante na construção da identidade do idoso, como também representa o espaço de alegria e nos-talgia, mas, sobretudo, de afirmação pessoal e social. Sobretudo, deve-se enfatizar, de acordo com Kovacs4,

que a velhice não é uma doença, embora haja doen-ças características na velhice, como em todas as outras etapas da vida humana. Porém, na velhice, as doenças são encaradas de forma diferente, visto que durante a velhice elas se apresentam como deterioração física, psíquica e social, devendo ser objeto de tratamento médico psiquiátrico. Quando um idoso vai ao mé-dico, ele não está procurando simplesmente sua cura física, mas apoio psíquico, alguém que o escute.

Ao tratarem sobre as doenças no idoso, os médicos devem estar atentos ao fato de que doenças podem ser ou não de natureza física, pois muitas vezes as doen-ças se apresentam como uma forma de expressão de preocupações, dos conflitos mal resolvidos e das in-quietações sobre o futuro. Quando o idoso se pergun-ta de que forma pode ser útil, ou o que pode ainda esperar da vida, ou como pode viver, ele já se sente perdendo sua própria identidade.

Sua saúde pode não ser mais a mesma, elas perderam velhos amigos e membros da família, muitas vezes o cônjuge, e provavelmente não ganham mais o que cos-tumavam ganhar. Suas vidas continuam mudando de inúmeras maneiras estressantes31. (p. 528)

Portanto, essas questões compreendem um as-pecto mais profundo, pois existem os problemas de saúde, psicológicos e econômicos, que influenciam em sua forma de envelhecer. De acordo com Durkin, os idosos têm relação constante com amigos vivos e principalmente familiares, na qual a família é o centro da existência deles, na qual ele tem relação com filhos e netos34. Segundo Bee11 (p. 550), “(...) a maior parte dos adultos mais idosos continuam a ocupar o papel de pai ou mãe, ainda que, nesses anos de velhice tar-dia, tal papel costume ser menos complicado, menos exigente”. Com base nos ensinamentos12, tem-se que o idoso mantém em seu mundo interior memórias passadas e recordações de momentos que viveu, as-sim, ele necessita relacionar-se com grupos que lhe proporcionem um sentimento de bem.

(...) A vida só tem sentido quando no ser desperta a sen-sação de plenitude. A realização de que o idoso adqui-riu durante seu desenvolvimento foi resultante de uma postura que ele seguiu em determinados momentos de sua vida12. (p. 96)

Nesse contexto, entende-se que o envelhecimento possibilita ao indivíduo maiores conhecimentos, mais sobriedade e ponderação, ou seja, o envelhecimento também gera o amadurecimento do ser, e de acordo

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com Neri33 (p. 18) “um adulto é considerado adulto quando atinge certo grau de excelência, tido como valioso pelos semelhantes e por ele próprio”. A matu-ridade traz consigo não só a excelência em termos de conhecimento, mas também a capacidade de se tor-nar sábio, ao passo que é notório o aspecto vivencial exigido para determinar a sabedoria do ser humano. Assim, a literatura dispõe que:

Sabedoria é virtude que emerge como resultado da reso-lução do conflito entre geratividade e estagnação, impli-cando a realização de tarefas evolutivas que significam adaptação individual e contribuições aos semelhantes: formação sobre um ponto de vista sobre o próprio ciclo vital, aceitação do passado, memórias interativas, for-mação sobre um ponto de vista sobre a morte e deriva-ção de um conceito de transcendência33. (p. 19)

A personalidade de adultos em idade avançada não muda muito, embora outras pesquisas tenham encon-trado mudanças em certas dimensões da personalida-de, como aumento de agradabilidade e diminuição da extroversão, há evidências de que a persistência de certos traços pode até contribuir para a longevidade de acordo com o trabalho de Costa e McCrae31.

Segundo Baltes e Silverberg33 (p. 102), “a segu-rança propiciada por um ambiente acolhedor, assim como a autonomia permitida por um ambiente esti-mulador são ambas, necessárias ao bem-estar do ido-so”. Conforme vai atingindo certos patamares etários e contribuindo de forma diferenciada no processo de produção econômica, ou de representação de papéis sociais, o homem vai sendo mais ou menos presti-giado pelo sistema de gratificações existente, como aponta Neto35 em seus estudos. Meister36 relata os diferentes tipos de vínculos: vínculos sociais, psicoló-gicos, econômicos, de saúde, mentais ou intelectuais, humanos, de valor, religiosos e de sentidos. Acredita--se que alguns desses vínculos fazem com que os ido-sos procurem os grupos de convivência.

Para compreender a influência das relações do idoso com o meio em que vive, é fundamental com-preender a história da velhice. De acordo com Azeve-do37, a questão do envelhecimento e da longevidade humana é algo que já se fazia presente na mais re-mota história, seja na busca pela fórmula da eterna juventude, que está associada à felicidade plena, ou como preocupação constante do homem em todos os tempos. É difícil caracterizar uma pessoa como idosa utilizando como único critério a idade. Com base no resultado das crises do ciclo de vida, busca-se o sen-so de coerência e integridade para o envelhecimento,

em vez de entregarem-se à vida de maneira diferente como observam Papalia e Olds31.

Viver a idade avançada de maneira positiva, com qualidade de vida e bem-estar social, permite envelhe-cer bem e com satisfação pessoal. Na visão de Oliveira e Cótica38, é importante que a sociedade identifique condições que tragam envelhecimento com qualidade de vida e bem-estar. Portanto, enfatizam que a quali-dade de vida na velhice implica vários aspectos como indicadores e determinantes de bem-estar na velhice como: saúde mental, status social, controle cognitivo, longevidade, produtividade, saúde biológica e conti-nuidade de papéis familiares e ocupacionais e de rela-ções informais em grupos primários31.

Acerca da morte, destaca-se o dizer de Kübler--Ross6, que enfatiza que “o homem não tende a encarar abertamente o seu fim de vida na terra; só ocasional-mente e com certo temor é que lançará um olhar sobre a possibilidade de sua própria morte”. Segundo Py, es-tudiosa da temática da Tanatologia, a morte relaciona--se com a finitude, trazendo uma ideia de ruptura, de rompimento, na tragicidade do destino humano. Ain-da a respeito da morte, bem como de sua percepção para o ser humano, tem-se a seguinte passagem32:

Descobri que posso morrer; nunca havia pensado nisso antes. Descoberta um pouco estranha, já que a morte corresponde a única certeza que temos! Que a vida en-contra seu termo com a chegada da morte parece uma evidência incontestável, um saber um tanto óbvio. To-davia, quando o foco dessa evidência é a morte de si próprio, ela deixa o campo da universalidade, e fisga o sujeito ali onde ele se acreditava protegido, vazio de dor, obrigando-o a encará-lo como uma imposição que desafia sua potência elaborativa. Enfim, cai o pano e o anseio pela vida ressurge intensificando39. (p. 46)

Grande estudiosa da morte e do morrer, Elizabeth Kübler-Ross pesquisou, sob o aspecto psicológico, que os enfermos experimentam reações de ajustamento que no princípio de seus estudos eram chamadas de estágios do processo de morrer, porém em seus tra-balhos mais recentes não mais defende que o ato de morrer passa por estágios definidos ou sequenciais, ela refere-se agora a tarefas emocionais, sabendo que essas tarefas não necessariamente acontecem nessa se-quência e que essas emoções nem sempre são sentidas por todas as pessoas11.

Morrer sempre parece algo que só acontece com os outros, mas, quando se está idoso, essa realidade torna--se diferente, os amigos, os contemporâneos se vão e então: “Não há nada como a morte de alguém mais

Percepção de envelhecimento e finitude

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próximo para nos deixar extremamente conscientes de nossa própria mortalidade”4 (p. 19). No entanto, mes-mo essa sendo uma realidade, não se pode viver o medo dela, mas sim a consciência, a percepção de melhor aceitá-la e vivenciar a vida da melhor forma possível, pois “o homem é um ser mortal, cuja principal caracte-rística é a consciência de sua finitude – isso o diferencia dos animais, que não têm essa consciência”4 (p. 2).

Para Papalia e Olds31, na contemporaneidade, o homem também tenta vencer os monstros e dragões que são representados pelo enfrentamento das doen-ças, evolução tecnológica da medicina e maior per-manência em vida. Segundo Oddone e Fukumitsu40, a morte talvez seja o maior de todos os tabus da so-ciedade ocidental e, enquanto ela for encarada como inimiga a ser vencida a qualquer preço, como um as-sunto de mau gosto, um assunto proibido, mais difí-cil será sua compreensão. E, sendo o entendimento sobre a morte percebido segundo a experiência viven-cial de cada um, Heidegger41 desdobra a morte como a própria estrutura essencial da existência – a morte para o autor não vem de fora, não se constitui mero acidente, representa um ser-para-a-morte. Corrobo-rando essa ideia, a morte considerada como um as-pecto da existência humana é caracterizada como o final do ser-no-mundo, e “na morte o homem deixa de ser-no-mundo e de ter-no-mundo, de ser-com-o--outro para ser objeto-para-o-outro”42 (p. 11).

Os idosos adaptam-se melhor à viuvez do que os adultos mais jovens, talvez por causa da maior disponi-bilidade de companhia, especialmente de amigos que são viúvos e passaram por uma dor semelhante à sua31.

CoNClUSÃo

Perante certos preconceitos, estabeleceram-se con-ceitos sobre os termos “velho”, “idoso” e “terceira idade”. “Velho” ou “idoso” refere-se a pessoas idosas, na média de 60 anos; “velhice” seria a última fase da existência humana e “envelhecimento”, atrelado às mudanças físicas, psicológicas e sociais. O envelheci-mento possui uma dimensão existencial e se modifica com a relação do homem e o tempo com o mundo e sua própria história; o fim faz-se sentir durante toda a existência, e a linha da vida se inclina até parar um dia e tudo o que acontece orienta-se em direção ao desfe-cho, a que damos o nome de morte. Esse ponto final se exprime, contudo, de formas diferentes ao longo do caminho, conforme a fase da vida em que se con-sidera; na fase do homem maduro, o sentimento do fim faz-se presente por meio da percepção dos limites.

Nesse contexto, entende-se que a maneira de pen-sar e agir é decisiva no processo de envelhecimento,

que pode se dar ou não com alegria, tranquilidade, amor; esse amor, respeito e autoestima que um in-divíduo sente por si mesmo espelham como foram suas primeiras relações estruturadoras e prognósticas e, em última instância, como serão suas relações com o mundo. E ao longo do seu ciclo de vida, as mudan-ças vão se expressando como crescimento, transfor-mações, aperfeiçoamento, declínio.

Desse modo, verifica-se que o princípio e o fim da vida são contextos misteriosos, e, na idade adulta tardia, a certeza do fim passa a ser um fato elementar, de modo que a possibilidade e o modo de superação dessa crise dependem de como cada indivíduo aceita o fim de sua vida e observa as indicações que lhe vêm da transitoriedade e da perda de consciência das coi-sas. Ademais, a morte, como única certeza que se tem na vida, desperta temor ao ser humano. Esse temor está expresso na dificuldade e negação das pessoas em lidar com a finitude da vida e tem sua origem no acervo cultural de crenças, valores e enfrentamento do mundo que cada indivíduo traz consigo. Morte como limite ajuda a experimentar e a crescer, mas também representa dor, tristeza, perda do sonho, fim das conquistas.

Assim, o caminho positivo para a superação da crise consiste na aceitação do envelhecimento, aceitar o fim, sem esmorecer, e tomar um grupo de atitudes e valores muito nobres e importantes para a vida como um todo – compreensão, coragem, dignidade – para que haja sentido na existência vivida. Desde o iní-cio dos tempos, o ser humano está sujeito a morrer. Eis o dilema: de um lado a única certeza, do outro a utópica busca pela imortalidade. Conclui-se, pois, que todos os seres vivos estão sujeitos ao envelheci-mento e à morte. Isso significa que a cada dia que se passa a velhice vem chegando para todos, e a morte é o destino final de cada um. O conceito de morte no ser humano é obtido desde a sua infância, ganhando formas e compreensões diferenciadas segundo nossa cultura, nossos pensamentos e enfrentamentos sobre a questão da finitude. Nesse prisma, cumpre observar que a compreensão do processo de finitude pode estar diretamente relacionada à construção do sentido que o tema adquiriu ao longo da existência.

Dessa forma, a finitude nos leva à conscientização do fechamento do ciclo vital, das missões que devem ser cumpridas a tempo. Assim, acredita-se que, com o decorrer do tempo, o idoso passa a aceitar o enve-lhecimento como um processo natural do ciclo vital, em que contrai entendimento sobre a finitude. Nota--se, ainda, que o idoso relaciona a morte como uma passagem para continuação espiritual, e a preparação

Geriatria & Gerontologia. 2011;5(4):201-13

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para a morte pode ocorrer bem antes da finitude da vida. Essa preparação torna-se mais comum com o decorrer dos anos na vida adulta.

Portanto, o conceito de morte, apesar de sua ine-vitabilidade e universalidade, tem um grande signifi-cado social, pois a morte muda os papéis e as relações de todos na família acometida. Pode ocorrer uma mo-vimentação no sistema de gerações quando ocorre a perda de um patriarca, deixando lugar para adultos jovens assumirem os papéis.

aGradeCiMeNtoS

Agradeço aos meus familiares e amigos, em especial aos meus pais, bem como e principalmente a todos os idosos que se dispuseram a fazer parte desta pesquisa, contribuindo significativamente para o meu aprimo-ramento profissional e pessoal.

reFerÊNCiaS

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artiGo oriGiNal

Prevalência de anemia em idosos de instituição de longa

permanência em Brasília/dFPrevalence of anemia in nursing home for the aged in Brasilia/DF

Victor Falcão Macêdo1,2, Luana Oliveira Correia1,2, Francisca Magalhães Scoralick1, Luciana Paganini Piazzolla1, Débora Lins Soares Macêdo3

1 Hospital Universitário de Brasília, Centro de Medicina do Idoso, Universidade de Brasília (UnB), DF, Brasil. 2 Programa de Residência Médica em Geriatria da UnB. 3 Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Ceará (UFC), Sobral, CE, Brasil.

Recebido em 11/4/2011 Aceito em 9/10/2011

Endereço para correspondência: Victor Falcão Macêdo • QRSW 8, Bloco A3, ap. 306 – 70675-803 – Brasília, DF, Brasil • Telefone: (+55 61) 3522-4166 • E-mail: [email protected]

RESUMOobjetivo: Determinar a prevalência de anemia em uma população de idosos institucionalizados. Métodos: Estudo seccional e descritivo realizado em idosos com 60 anos ou mais residentes em uma instituição de longa perma-nência (ILP). O critério de anemia utilizado seguiu a definição preconizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), considerada presente quando os níveis de hemoglobina foram abaixo de 13 g/dl nos homens e de 12 g/dl nas mulheres. Os dados demográficos, clínicos e laboratoriais obtidos a partir da revisão de prontuários foram ana-lisados pelo programa SPSS para Windows, versão 17.0. resultados: Dos 75 residentes da ILP, 64 preencheram os critérios de inclusão. A prevalência de anemia foi de 29,7%, sendo de 26,1% para o sexo feminino e de 38,9% para o sexo masculino. A anemia caracterizou-se como normocrômica e normocítica em 64,7% dos casos. A idade média foi de 80,2 ± 8,9 anos, com predomínio do sexo feminino (71,9%) e grande prevalência de síndromes demen-ciais (62,5%). O tempo médio de institucionalização foi de aproximadamente 37,5 meses. Quase metade dos idosos apresentava baixo peso e 74,2% estavam desnutridos ou em risco de desnutrição. Conclusão: A anemia constitui condição comum em idosos institucionalizados e, embora geralmente de leve intensidade, pode estar associada a desfechos clínicos desfavoráveis. Estudos futuros devem avaliar a etiologia das anemias e os benefícios potenciais do tratamento na qualidade de vida, na redução da morbidade e na economia da saúde.

Palavras-chave: Prevalência, anemia, idoso, instituição de longa permanência.

ABSTRACTobjective: To estimate the prevalence of anemia in an institutionalized geriatric population. Methods: Cross--sectional descriptive study among older adults nursing home residents, aged 60 years or older. Anemia was defi-ned using World Health Organization criteria (hemoglobin < 13 g/dl for men and hemoglobin < 12 g/dl for women). Demographic, clinical and laboratory data obtained from medical records were analyzed by SPSS for Windows, version 17.0. results: Of the 75 nursing home residents, 64 meet all inclusion criteria. Anemia prevalence was 29.7%: 26.1% in the women and 38.9% in the man. The major characteristics of anemia were normochromia with normocytosis, which occurred in 64.7% of cases. The mean age was 80.2 ± 8.9 years, 71.9% were women and 62.5% had dementia. The average time of living in the institution was around 37.5 months. Almost half of the subjects were underweight and 74.2% were malnourished or at risk of malnutrition. Conclusion: Anemia is a common condition in institutionalized elderly patients, and although generally mild, can be associated with adverse clinical outcomes. Future studies should evaluate the causes and the potential benefits of treatment in terms of quality of life, reduced morbidity and health economics.

Keywords: Prevalence, anemia, aged, nursing homes, long-term care.

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215Anemia em idosos institucionalizados

iNtrodUÇÃo

O aumento da população de idosos traz consigo no-vos desafios, entre eles a necessidade de maior enten-dimento sobre as condições de saúde comumente encontradas nessa faixa etária. A anemia constitui um problema cuja incidência e prevalência aumentam com a idade e, além de geralmente significar a presença de doença subjacente1, é também causa independente de declínio funcional2, deterioração da qualidade de vida3, disfunção orgânica e maior mortalidade4,5.

A prevalência de anemia em idosos varia conside-ravelmente na literatura, tanto pela falta de definição uniforme como pela influência de fatores genéticos e ambientais regionalizados, com taxas entre 2,9% e 61% nos homens e entre 3,3% e 41% nas mulheres6, sendo maior em idosos hospitalizados e em morado-res de instituições de longa permanência (ILP)7,8.

A falsa concepção da anemia como consequên-cia do envelhecer e a sobreposição dos sintomas da síndrome anêmica com os encontrados em outras comorbidades, sobretudo em idosos institucionali-zados, retardam a detecção precoce dos indivíduos anêmicos e podem justificar o fato de a anemia ser subdiagnosticada e frequentemente pouco investiga-da nessa população1.

Apesar de ser um distúrbio hematológico frequen-temente encontrado na população idosa, são poucos os estudos sobre essa condição no Brasil9,10, e não há publicações sobre a sua prevalência na população bra-sileira residente em ILPs. Este artigo busca determi-nar a prevalência de anemia em uma população de idosos institucionalizados.

MÉtodoS

O delineamento do estudo foi seccional e descritivo, realizado no segundo semestre de 2010, em popula-ção de indivíduos com 60 anos ou mais, de ambos os sexos, residentes de uma ILP.

O critério de anemia utilizado seguiu a definição preconizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), considerada presente quando os níveis de hemoglobina foram abaixo de 13 g/dl nos homens e de 12 g/dl nas mulheres11. Os parâmetros hematimé-tricos VCM, CHCM e RDW também foram analisa-dos12 (Quadro 1). A coleta de alíquota de sangue para realização de hemograma completo foi solicitada para todos que não haviam realizado o exame nos últimos três meses.

Informações clínicas objetivas quanto ao desempe-nho cognitivo e funcional dos idosos foram coletadas para verificar a existência de síndrome demencial com base nos critérios já bem estabelecidos pelo DSM-IV. Exames laboratoriais adicionais e avaliação nutricio-nal, por meio do índice de massa corporal (IMC)13 e da Miniavaliação Nutricional (MAN)14, foram realiza-dos para melhor caracterização da população estudada.

Os idosos que se recusaram a assinar o termo de consentimento livre e esclarecido e os que foram a óbito antes da realização do hemograma foram excluídos do estudo. Os dados demográficos, clínicos e laboratoriais obtidos a partir da revisão de prontuários foram anali-sados pelo programa SPSS para Windows, versão 17.0.

Foi realizada pesquisa no banco de dados do Pub-Med e da Biblioteca Regional de Medicina (BIRE-ME), utilizando as bases Medline, IBECS, SciELO e Lilacs, com as seguintes palavras-chave: “anemia”, “idosos” (elderly, aged) e “instituição de longa per-manência” (nursing homes, homes for aged, institu-tionalized). Não foi identificado nenhum artigo que abordasse o tema prevalência de anemia em idosos institucionalizados na população brasileira.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universida-de de Brasília, sob o registro de número CEP-FM 006/2010.

reSUltadoS

Dos 75 residentes da ILPI, 11 foram excluídos por apresentarem idade inferior a 60 anos, por recusa de consentimento livre e esclarecido ou por óbito antes da realização de exames atualizados.

A idade média foi de 80,2 ± 8,9 anos, com predo-mínio do sexo feminino (71,9%) e grande prevalência de síndromes demenciais (62,5%), a maioria em fases moderadas a graves da doença, classificadas segundo o CDR15. O tempo médio de institucionalização foi de aproximadamente 37,5 meses, porém com grande

Quadro 1. Valores de referência dos parâmetros hema-tológicos e hematimétricos, segundo o sexo

Parâmetros Mulheres Homens

Hb (g/dl) < 12,0 < 13,0

VCM (fL) 81,0)*99,0 80,0)*98,0

CHCM (%) 32,0)*35,8 32,0)*37,0

RDW (%)# 10,0)*15,0 10,0)*15,0

Fonte: WHO, 200111. #Macedo, 200612.

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variação, existindo idosos que residiam na instituição há mais de 10 anos.

Segundo o IMC, 43,5% dos idosos apresentavam baixo peso e 21%, sobrepeso, a maioria dos idosos encontrando-se desnutrida (27,4%) ou em risco de desnutrição (46,8%) quando avaliados pela MAN.

A média de comorbidades registradas em prontuário foi de 3, com consumo médio de 5,34 medicamentos por paciente. A partir do cálculo do clearance de creati-nina, estimado pela fórmula de Cockcroft-Gault, veri-ficou-se a presença de insuficiência renal crônica (IRC), estágios 3 e 4 (clearance entre 15-60 ml/min/1,73 m²), em 69% dos idosos institucionalizados. Foi identificada história de anemia prévia e de sangramento em 25% e 7,8% dos pacientes, respectivamente (Tabela 1).

A prevalência de anemia foi de 29,7%, sendo de 26,1% para o sexo feminino e de 38,9% para o sexo masculino (Tabela 2). Se considerado o valor de 12 g/dl como ponto de corte, a despeito do sexo do indiví-duo, teríamos uma prevalência de 23,4%; e caso esse valor fosse de 13 g/dl, a taxa de prevalência subiria para 46,9%.

A avaliação da morfologia eritrocitária, segundo os índices hematimétricos VCM e RDW (Tabela 3), revelou que 47,1% dos idosos anêmicos apresentaram concomitantemente isocitose e normocitose. Quanto aos idosos anêmicos com anisocitose, 35,3% das ane-mias foram normocíticas e 11,8%, microcíticas.

tabela 1. Características clínicas e demográficas da população estudada

Características amostra do estudo(N = 64)

idade (anos) %

60-74 25,0

75-84 37,5

≥ 85 37,5

Média ± DP 80,2 ± 8,9

Sexo Mulheres

%71,9

demência, Cdr %

Leve 3,1

Moderada 7,8

Grave 15,6

Indeterminada# 35,9

Índice de massa corporal %

< 22 43,5

22-27 35,5

≥ 27 21,0

Miniavaliação nutricional %

Eutrófico 25,0

Desnutrido 27,4

Risco de desnutrição 46,8

Nº comorbidades por paciente, média ± dP

3,1 ± 1,7

Hemoglobina, g/dl, média ± dP 12,8 ± 1,6

taxa de filtração glomerular estimada, ml/min/1,73 m², média ± dP

53,0 ± 17,8

DP: desvio-padrão. CDR: Clinical Dementia Rating13.# Demência sem registro da classificação no prontuário.

tabela 2. Distribuição das concentrações de hemoglobi-na segundo o sexo

Hb (g/dl)Masculino Feminino

N % FA N % FA

< 11 2 11,1 11,1 5 10,9 10,9

11-12 2 11,1 22,2 7 15,2 26,1

12-13 3 16,7 38,9 11 23,9 50,0

≥ 13 11 61,1 100,0 23 50,0 100,0

Total 18 46

FA: frequência acumulada. p = 0,85.

tabela 3. Classificação da anemia, segundo a concen-tração de hemoglobina, a morfologia (VCM, RDW) e a coloração (CHCM) eritrocitárias

CHCMVCM

+rdW

Hemoglobina

anêmicos Normais

N % N %

Hipocrômica

Microcítica# 2,0 11,8 0,0 0,0

Normocítica* 3,0 17,6 3,0 8,1

Macrocítica 0,0 0,0 1,0 2,7

Normocrômica

Microcítica 1,0 5,9 0,0 0,0

Normocítica§ 11,0 64,7 33,0 89,2

Macrocítica 0,0 0,0 0,0 0,0

Total 17,0 37,0

Anisocitose em 11,8%#; 5,9%* e 29,4%§.

Concernente à caracterização das anemias, con-forme a concentração de Hb, a morfologia (VCM e RDW) e a coloração eritrocitária (CHCM), obser-vou-se que 11,8% dos anêmicos apresentaram anemia do tipo hipocrômica e microcítica, 17,6%, anemia do tipo hipocrômica e normocítica e apenas 5,9%, anemia microcítica isolada. A anemia caracterizou-se

Geriatria & Gerontologia. 2011;5(4):214-9

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como normocrômica e normocítica em 64,7% dos casos, com a presença de anisocitose nesse grupo ve-rificada em 29,4% do total de indivíduos anêmicos.

diSCUSSÃo

A prevalência de 29,7% de idosos anêmicos, levanta-da no estudo, encontra-se dentro da variação relatada em publicações anteriores, envolvendo idosos croni-camente enfermos e institucionalizados7,8,16-19, que relataram taxas entre 25,4% e 59,6%. Como os crité-rios de anemia nesses estudos foram os estabelecidos pela OMS, as diferenças nas taxas de prevalência de-vem estar relacionadas ao perfil sociodemográfico da população estudada, ao tamanho e características da amostra e à metodologia de coleta dos dados.

Segundo critérios estabelecidos pela OMS, a ane-mia é definida pelo nível de hemoglobina inferior a 13 g/dl em homens e inferior a 12 g/dl em mulheres11. Essa definição baseia-se na média dos níveis de he-moglobina em indivíduos saudáveis e tem uma base fisiológica razoável20,21. Entretanto, alguns estudos de-monstram associação consistente entre níveis limítro-fes de hemoglobina ou anemia leve e pior desempenho físico, perda funcional e maior mortalidade2,22, quan-do comparados a indivíduos com níveis de hemoglo-bina mais elevados, sugerindo que a atual definição de anemia pode compreender valores subótimos23,24.

Assim como em outros trabalhos25, os quadros anêmicos podem ser caracterizados como leves em sua maioria, tendo em vista que 94,7% dos idosos anêmicos apresentaram níveis de hemoglobina acima de 10 g/dl, e com tendência à normocitose, verifica-da em 82,3% dos casos. A caracterização da anemia, conforme os índices hematimétricos VCM, CHCM e RDW, auxilia no raciocínio diagnóstico quanto às prováveis etiologias dos quadros anêmicos.

O predomínio de normocromia e normocitose aponta a possibilidade de a anemia por doença crôni-ca ser a etiologia dominante nesse grupo populacio-nal. Nesse contexto, é importante ressaltar o papel da insuficiência renal crônica como causa potencial de anemia em idosos institucionalizados. Estudo retros-pectivo realizado em instituições de longa permanên-cia no Canadá relatou prevalência de IRC em 27% dos homens e em 39% das mulheres26. Em outro es-tudo, anemia foi mais frequente em idosos institucio-nalizados com IRC do que nos indivíduos sem IRC, sugerindo que a insuficiência renal pode contribuir para o surgimento dos quadros anêmicos de idosos residentes em instituições8.

Anemia também pode estar associada a deficiên-cias nutricionais25 como carência de ferro, vitamina B12 e ácido fólico, entretanto tais condições parecem não contribuir significativamente com os quadros de anemia em instituições de longa permanência, devi-do ao seu reconhecimento e tratamento7. Apesar de a apresentação clássica das anemias ferropênicas ser microcítica e hipocrômica, quadros iniciais podem cursar com normocromia e normocitose. Nesses casos, a presença de anisocitose pode auxiliar, visto que a carência incipiente de ferro gera uma coorte de eritrócitos com variação volumétrica, ou seja, o RDW aumenta antes de haver alteração significativa do VCM27.

Resultados do estudo populacional norte-ameri-cano, NHANES III, apontaram prevalência de ane-mia em 11% dos homens e em 10,2% das mulheres da comunidade com mais de 65 anos, havendo au-mento da prevalência com a idade, alcançando taxas de 26% em homens e 20% em mulheres maiores de 85 anos25. No Brasil, os poucos estudos na população idosa relataram prevalências de 10,9% no sexo mas-culino e entre 9,8% e 12,6% no sexo feminino9,10. No presente estudo, anemia foi detectada em 38,9% dos homens e em 26,1% das mulheres com idade su-perior a 60 anos. Quando comparados aos idosos da comunidade, esse aumento na prevalência de anemia é esperado por se tratar de população residente em ILP, com múltiplas comorbidades e maior grau de dependência.

A detecção de baixo peso, de risco aumentado de desnutrição, de múltiplas comorbidades e de taxas de filtração glomerular inferiores a 30 ml/min/1,73 m², numa grande parcela dos idosos avaliados, associada à alta prevalência de síndromes demenciais em fases mais avançadas, pode apontar na população desse estudo, apesar de heterogênea, múltiplos fatores de risco para o surgimento de quadros anêmicos, tanto por carências nutricionais como associados a doenças crônicas, em particular à insuficiência renal crônica.

Estudos epidemiológicos demonstram forte as-sociação entre idade e anemia, principalmente após 60-65 anos1. Entretanto, a anemia não deve ser con-siderada consequência normal do envelhecimento, o que é corroborado por estudos que não encontra-ram variação significativa nos níveis de hemoglobi-na em idosos hígidos entre 60 e 98 anos28. Com a idade, ocorre uma diminuição progressiva da reser-va hematopoiética e, portanto, maior suscetibilida-de ao surgimento de anemia na presença de estresse hematopoiético secundário a doença subjacente21.

Anemia em idosos institucionalizados

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Alterações na hematopoiese incluem redução na con-centração de células pluripotentes, na produção de fatores de crescimento hematopoiético e na sensibili-dade das células precursoras a esses fatores20.

Repercussões sistêmicas e impactos negativos da anemia sobre o estado funcional dos idosos confun-dem-se com as consequências das comorbidades pró-prias desse grupo, tornando difícil a determinação do real efeito exercido pela queda da hemoglobina sobre morbidade, funcionalidade e sobrevida. Entretanto, evidências indicam a anemia como um fator de ris-co independente para complicações clínicas e maior mortalidade, tanto em indivíduos da comunidade como nos institucionalizados1,4. E embora haja dis-cussão sobre os riscos e benefícios de uma investigação dispendiosa e invasiva em idosos com anemia leve29,30, esses achados sugerem que o tratamento da anemia precisa ser considerado, mas com ressalvas quanto aos custos individuais, institucionais e sociais envolvidos.

Em conclusão, a anemia constitui uma condição comum em idosos institucionalizados, com prevalên-cia de 29,7% no presente estudo e, embora geralmen-te de leve intensidade, pode estar associada a desfechos clínicos desfavoráveis na população geriátrica.

A necessidade de tratar pacientes anêmicos resi-dentes de uma ILP ainda precisa ser determinada por estudos sobre a etiologia das anemias e o impacto do tratamento na qualidade de vida, morbidade e mor-talidade nessa população.

reFerÊNCiaS

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artiGo oriGiNal

análise do perfil sociodemográfico de idosos vítimas de violência no

município de Porto alegre/rS/Brasil Analysis of the sociodemographic profile of elderly victims

of violence in the city of Porto Alegre/RS/Brazil

Rarianne Carvalho Peruhype1, Lisiane Hauser2

1 Enfermagem Avançada (Foco Saúde Pública) – University of Nottingham/UK.2 Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Recebido em 8/9/2011Aceito em 29/12/2011

Endereço para correspondência: Rarianne Carvalho Peruhype • Rua Luzitana, 1201, ap. 601, Higienópolis – 90520-080 – Porto Alegre, RS • Telefone: (51) 8148-3724 • E-mail: [email protected]

RESUMOintrodução: A violência contra o idoso é um problema de saúde pública evidente na sociedade que necessita de investigação e intervenção. objetivo: Este estudo visa analisar o perfil sociodemográfico dos idosos vítimas de violências notificadas no ano de 2009 na Delegacia do Idoso do município de Porto Alegre, RS. Métodos: Utili-zaram-se frequência simples, percentual e taxa padronizada por faixa etária. resultados: Foram verificadas 904 notificações, das quais 836 foram consideradas válidas. Observou-se maior incidência de vítimas de violência em idosos de etnia branca (85,1% das 778 vítimas), pertencentes à faixa etária de 70 a 79 anos (≅ 486 casos/100.000 pessoas), casados (46%), com ensino fundamental (54,4%) e do sexo feminino (69,3%). A violência psicológica foi a mais praticada, seguida da financeira e da física. Houve predomínio de “não familiares” como autores da agressão (57,4%). Conclusão: Os dados evidenciam a importância da reestruturação de políticas e estratégias de prevenção da violência, além do necessário fortalecimento da rede de apoio aos idosos.

Palavras-chave: Idoso, violência, maus-tratos ao idoso.

ABSTRACTintroduction: The violence against the elderly is an ongoing public health problem in the society that needs to be investigated. objective: This study aims to analyse the sociodemographic profile of the elderly victims of violence reported in 2009 at the Elderly Police Station, in Porto Alegre city, RS. Methods: It was used the simple frequency, percentage and standardized rate per age. results: In the overall 904 reports were checked, from which 836 were considered valid. It was found a higher incidence of violence victims in white elderly (85.1% based on 778 victims), who were 70 to 79 years old (≅ 486 cases per 100.000 people ), married (46%), with primary school (54.4%) and female (69.3%). Psychological violence was the most practiced, followed by financial and physical assault. There was predominance of “unfamiliar” as authors of aggressions (57.4%). Conclusion: The found data confirm the importance of restructuring policies and strategies for preventing violence and strengthening the network support for older people.

Keywords: Elderly, violence, elder abuse.

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221Perfil de idosos vítimas de violência

iNtrodUÇÃo

A violência, associada às suas variadas formas de manifestações, apresenta-se notadamente como um problema de saúde pública1, sendo conceitua-da como: “Uma noção referente aos processos e às relações sociais interpessoais, de grupos, de classes, de gênero, ou objetivadas em instituições, quando empregam diferentes formas, métodos e meios de aniquilamento de outrem ou de sua coação direta ou indireta, causando-lhes danos físicos, mentais e morais”2.

Constituindo um fenômeno universal, a violên-cia afeta tanto os países desenvolvidos como aqueles em desenvolvimento, diferentes sociedades, cul-turas, estratos socioeconômicos, etnias, religiões e grupos3, dentre esses os idosos, passíveis de vitimi-zação por diversos tipos e formas de violência, tais como a física, a psicológica, a social, a financeira e a negligência4.

Estudos sobre a violência contra o idoso nos Es-tados Unidos apontaram 450 mil idosos submetidos a situações de abuso ou negligência em ambiente do-méstico durante o ano de 1996, e em quase 90% dos casos o agressor era um parente próximo e os princi-pais agredidos eram mulheres com 80 anos ou mais5.

No Brasil, Gaioli e Rodrigues6, em seus estudos na cidade de Ribeirão Preto/SP, encontraram 87% de ví-timas de violência ou maus-tratos domiciliares, numa amostra de 100 idosos. Os agressores variavam de fa-miliares (47,1%), amigos ou conhecidos (22,9%) até cônjuges (12,6%) e ladrões (17,2%).

Minayo e Souza7 afirmaram: “Até há bem pou-co tempo, o setor saúde olhou para o fenômeno da violência, como um espectador, um contador de evento”. Estudos, pesquisas e debates sobre o tema violência no campo da saúde começaram a ganhar notoriedade no Brasil apenas a partir dos anos 1980.

Também a violência contra o idoso foi tida como ne-gligenciada por muitos anos (Paim et al., 1999, apud OMS, 1994)8 .

Assim, considerando a complexidade e a multi-plicidade de fatores envolvidos na problemática da violência contra idosos e sabendo da importância de estudos investigativos nessa temática, objetivou--se, no presente trabalho, analisar as características e o perfil sociodemográfico dos idosos vítimas de vio-lência no município de Porto Alegre, estado do Rio Grande do Sul (RS), que registraram suas queixas na Delegacia do Idoso do referido município, no ano de 2009.

MÉtodoS

O presente trabalho é parte integrante de uma série de estudos realizados a partir do levantamento e da análise de informações contidas em 904 fichas de no-tificação da violência contra o idoso no ano de 2009, pertencentes à Delegacia do Idoso de Porto Alegre/RS, que consentiu na realização da pesquisa mediante observação e aplicação dos princípios éticos e buro-cráticos exigidos pela instituição.

Contexto da pesquisa

Na região Sul do Brasil, o Rio Grande do Sul é um dos estados com grande população de idosos (211.896 pessoas com 60 anos e mais)9, distribuídos, segundo o Censo de 201010 do IBGE, da seguinte forma: ho-mens idosos: 60 a 69 anos (45.905 hab); 70 a 79 anos (24.030 hab); 80 a 89 anos (8.983 hab); 90 a 100 anos e mais (1.067 hab). Já com relação às mulheres, os números são: 60 a 69 anos (65.719 hab); 70 a 79 anos (41.547 hab); 80 a 89 anos (20.880 hab); 90 a100 anos e mais (3.765 hab).

A Delegacia de Polícia de Proteção ao Idoso foi instituída em Porto Alegre por meio do Decreto nº 35.54811, de 21 de setembro de 1994, segundo o qual compete à Delegacia do Idoso: “Prevenir e reprimir, concorrentemente com as demais Delegacias de Po-lícia da Capital, crimes em que o sujeito passivo do delito seja pessoa idosa, promovendo-lhe, ainda, au-xílio, orientação e encaminhamento, quando necessá-rio, aos demais órgãos competentes”.

A coleta de dados presentes nas notificações da Delegacia do Idoso iniciou-se no mês de outubro de 2010 e concluiu-se no princípio de fevereiro de 2011.

Princípios e métodos utilizados na coleta e análise dos dados

Utilizou-se o método descritivo, considerando fre-quência simples e percentual, assim como a análise de indicadores. Para observar a incidência de idosos vítimas de violência, foi utilizada a taxa padroniza-da específica por faixa etária. Essa taxa foi obtida por meio da divisão entre a frequência de idosos vítimas de violência por faixa etária e a população desses ido-sos nas respectivas faixas divulgadas pelo Censo 2010, sendo o resultado dessa divisão multiplicado por 100 mil12,13.

O acervo documental estava organizado em cai-xas e ordenado bimestralmente. Dessa forma, o ano de 2009 continha seis caixas, sendo a primeira de-

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222

las referente aos meses de janeiro e fevereiro, e assim sucessivamente. As notificações foram selecionadas aleatoriamente, num volume correspondente à apro-ximadamente metade das fichas contidas em cada caixa. As notificações e denúncias referiram-se não somente ao município de Porto Alegre, mas eventual-mente também a municípios pertencentes à região metropolitana ou outros (2,1% das notificações efe-tivamente consideradas) e, por não explicitarem as razões para as ocorrências terem sido registradas na Capital, também tiveram sua análise contemplada neste estudo.

Foram estabelecidos critérios imediatos de exclu-são de fichas, por exemplo, casos de notificações com vítimas menores de 60 anos (não idosas), situações de pedidos de assistência social ou jurídica não realizados pelo próprio idoso ou outra pessoa idosa ou, ainda, casos em que os idosos figuraram não como vítima, mas como acusados, denunciados por pessoas não idosas (0,99% do total de notificações levantadas).

Levaram-se também em consideração, para fins de análise, os registros das notificações referentes às situa ções caracterizadas pela presença de mais de uma vítima idosa no momento da denúncia, além do fato de muitas vezes o denunciante (participante 1) ter sido um parente ou outro representante da vítima idosa e que, por razões desconhecidas, na ausência da vítima, omitiram as informações pessoais dela.

reSUltadoS

Das 904 notificações analisadas, 59 (6,5%) foram ex-cluídas segundo os critérios preestabelecidos e outras 9 (0,99%) foram desconsideradas, por se tratarem de casos em que idosos eram os acusados. Dessa forma, obtiveram-se 836 notificações válidas: 73 (8,7%) não detalhavam as características pessoais das vítimas, en-quanto outras descreviam até mais de uma vítima. Assim, considerou-se para análise do perfil dos ido-sos um total de 778 vítimas efetivamente descritas, envolvidas em 911 casos de violência (classificados e categorizados pelos pesquisadores) relatados nas no-tificações válidas (uma notificação poderia abordar mais de um caso de violência).

Observou-se que 85,1% dos casos se referiam a idosos brancos e 9%, a idosos não brancos (excluídos os indígenas). Com relação às faixas etárias, foram obtidos os percentuais respectivos de notificação: 60 a 69 anos (41,7%), 70 a 79 anos (41%), 80 a 89 anos (16,3%), 90 a 99 anos (1%). Não houve ocorrências

envolvendo idosos acima de 100 anos ou mais. Em-bora tenha havido um maior número de notificações referentes à faixa etária de 60 a 69 anos, pode-se dizer que a incidência foi mais representativa nas faixas etá-rias de 70 a 79 anos e 80 a 89 anos, respectivamente. Esse fato pode ser justificado pela menor população de idosos existente nessas faixas etárias, o que faz dos números obtidos de notificações mais representati-vos nesses grupos-alvo. A tabela 1 permite analisar a padronização da taxa de incidência da violência por faixa etária, com base numa população de 100 mil ha-bitantes de idade igual ou superior a 60 anos. Assim, na faixa etária de 70 a 79 anos, haveria a estimativa de aproximadamente 486 vítimas de violência para uma população de 100 mil idosos e de aproximadamente 425 vítimas na população de 80 a 89 anos.

Quanto ao gênero, observou-se que, do total de casos, 69,3% referiram-se a vítimas pertencentes ao sexo feminino e 30,7%, ao sexo masculino. Com re-lação ao estado civil, houve predomínio dos idosos ví-timas casados (46%), seguidos dos solteiros (21,3%), viúvos (18,9%) e divorciados (13,8%) (Gráfico 1).

Gráfico 1. Estado civil dos idosos vítimas de violência notificada na Delegacia do Idoso de Porto Alegre, em 2009.

Divorciados

Viúvos

Solteiros

Casados

0 20 40 60

(%)

80 100

46%

21,30%

18,90%

13,80%

tabela 1. Estimativa da incidência da violência contra o idoso por faixa etária e por 100 mil pessoas

Faixa etária Valor absoluto de idosos vítimas de violência

População por faixa etária –

Censo 2010

incidência da violência

por faixa etária/100.000

pessoas

60 a 69 anos 324 111.624 290.260

70 a 79 anos 319 65.577 486.451

80 a 89 anos 127 29.863 425.275

90 a 99 anos 8 4.682 170.867

Geriatria & Gerontologia. 2011;5(4):220-5

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223

Verificou-se o seguinte perfil de escolaridade nas notificações: ensino fundamental (54,4%), ensino médio (21,2%), grau superior (11,2%), não infor-mada (9%) e analfabetos (4,2%). Observou-se que a maioria das 836 notificações apresentava “não fami-liares” (57,4%) como autores da agressão, seguidos por “familiares” (42,6%), sendo o domicílio o local mais comum na prática da violência contra os idosos (61,4% contra 38,6% praticadas em ambiente extra-domiciliar).

As formas de violência mais praticadas contra os idosos que notificaram em 2009 e seus respectivos va-lores podem ser visualizados no gráfico 2.

A violência financeira, um dos tipos mais comuns de violência contra o idoso14, obteve a segunda posi-ção (16,02% dos 911 casos de violência relatados nas 836 notificações consideradas), sendo precedida pela violência psicológica (37,21%) e sucedida pela vio-lência física (11,96%). Em muitos casos, houve a prá-tica simultânea desses três tipos de violência. Grossi e Souza15 – com referência a Silva (2000) e Silva cita-do por Mateus (2000) – afirmaram existir: “Muitas denúncias de parentes que vão morar com o idoso e acabam apropriando-se de seus bens e ameaçando-o de expulsão de sua própria casa, utilizando de violên-cia física e psíquica para tentar forçá-lo a transferir ou inventariar seus bens ainda em vida”.

Diante de todas as agressões sofridas e mediante a notificação da violência na Delegacia do Idoso em Porto Alegre, apenas 31,8% dos denunciantes opta-ram por abrir um processo judicial sobre a ocorrên-cia, situação que muitas vezes pode ser entendida pelo medo de represálias, ameaças, ou ainda pela morosi-dade na resolução de alguns processos judiciais16.

diSCUSSÃo

De forma geral, observou-se em Porto Alegre, até o ano de 2010, aumento no número de idosos em aproximadamente 32,2% da população existente em 2000, saltando de 160.28117 para 211.896 pessoas com 60 anos e mais10, situação que contribui para o entendimento das alterações que a pirâmide demo-gráfica vem sofrendo ao longo dos anos, caracteriza-das pelo estreitamento de sua base e alargamento do meio e topo18. É incontestável que o aumento consi-derável na longevidade populacional exige da socie-dade, dia após dia, mudanças adaptativas, estruturais, políticas, comportamentais e culturais que garantam o respeito e um envelhecimento ativo e saudável.

O fato de a violência ter sido predominante em idosos de etnia branca e do sexo feminino também vai ao encontro dos dados preliminares divulgados pelo Censo 2010/IBGE10, que apontam a popula-ção do município de Porto Alegre como majorita-riamente branca (1.116.659 pessoas da etnia branca, num total de 1.409.351 habitantes), com uma pro-porção de aproximadamente 65% a mais de idosos do sexo feminino com idade entre 60 e 100 anos e mais (total de 131.911), em relação ao número to-tal de idosos do sexo masculino (79.985). A maior mortalidade por causas externas/acidentes e agravos de violência contra homens adultos jovens pode, em geral, influenciar e contribuir para o entendimento da feminização do topo da pirâmide demográfica e, por conseguinte, da maior prevalência de idosos do sexo feminino19.

Além do presente estudo, outros também aponta-ram idosos casados e com ensino fundamental como sendo o perfil principal das vítimas de violência. Gaioli 2004, citada por Sanches et al.5, por exemplo, encontraram, em sua pesquisa na cidade de Ribeirão Preto, um percentual maior de idosos casados vítimas de violência e maus-tratos no domicílio, num total de 45,2% de uma população amostral de 87 idosos de 60 anos e mais. Já Souza et al.20, em estudo inves-tigativo das denúncias registradas contra mulheres na Delegacia da Mulher em Santa Maria/RS, verificaram

Gráfico 2. Classificação do tipo de violência praticada contra o idoso, notificada em 2009 no município de Porto Alegre.

Violência psicológica (VP)Abandono de idoso (AI)Negligência (N)Violência física (VF)Violência �nanceira (VFN)Violência urbana (VU)Maus-tratos (MT)Violência sexual (VS)Perda de documento (PD)

Pedido de assistência jurídica, social e resguardo de direitos por pessoas idosas (PA)Acidentes em transportes urbanos (AT)Denúncias sem contexto de violência (DC)Outras (O)

37,21% (VP)

2,96% (AI)16,02% (VFN)

5,50% (VU)

0,43% (VS)

7,13% (PD)

5,50% (PA)

0,98% (AT)

0,80% (DC)0,98% (O)

8,12% (MT)

2,41% (N)11,96% (VF)

Perfil de idosos vítimas de violência

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224

a predominância de vítimas com ensino fundamental (56,98%) e chegaram à conclusão de que as classes menos favorecidas que vivem num contexto mais hostil tendem a denunciar mais a violência.

O fato de, no presente trabalho, o domicílio ter sido constatado como um dos lugares de maior ocor-rência da violência contra idosos não implica neces-sariamente agressão deferida por familiares, de forma que vizinhos, cuidadores informais sem grau de pa-rentesco, ladrões e outros podem ter alguma partici-pação nas ocorrências.

Os números confirmam ser a violência uma prá-tica cada vez mais presente na vida dos idosos, que precisam lidar ainda com outros tipos de vulnerabi-lidade. Necessário se faz, portanto, buscar medidas protetivas e de fortalecimento da rede de apoio.

Nessa linha, Gawryszewski et al.21 chamam a aten-ção para a importância de programas de prevenção voltados para a população idosa, que integrem as práticas de saúde coletiva e do cuidado individual, visando minimizar os riscos específicos a que essa po-pulação está exposta (especialmente agravos de causas externas como acidentes e violência).

Outro aspecto fundamental para a construção de uma rede de proteção aos idosos seria a promoção de medidas educativas e de mobilização/sensibilização social com o intuito de esclarecê-los sobre os seus di-reitos e orientá-los quanto à adequada reação diante da agressão, facilitando a denúncia e a obtenção de ajuda, conforme sugerido por Melo et al.22.

CoNClUSÃo

A violência contra o idoso e suas consequências para a sociedade exigem que políticas de proteção e preven-ção sejam reestruturadas. É necessário unir esforços para a elaboração de medidas de fortalecimento da rede de apoio e conscientização dos idosos acerca dos seus direitos.

Considerando o macrocontexto de geração da vio-lência, não se pode deixar de enfatizar a necessidade premente de investimentos em educação e infraes-trutura, para que novos hábitos e conceitos possam embasar com propriedade a disseminação de uma cultura de paz.

A longevidade traz uma série de desafios à huma-nidade e, para que seja de fato saudável, torna-se in-dispensável repensar estruturas, padrões, conjecturas e afirmações de um contexto social que se recria frente

às necessidades e que precisa se recriar urgentemente diante da violência manifestada contra o idoso.

reFerÊNCiaS

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225

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Perfil de idosos vítimas de violência

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artiGo oriGiNal

evidência científica para octogenários e nonagenários

Scientific evidence for octogenarians and nonagenarians

Andre Kioshi Priante Kayano1, Renato Laks1, Lara M. Quirino Araujo1, André Castanho A. Pernambuco1, Maysa S. Cendoroglo1

1 Disciplina de Geriatria e Gerontologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), São Paulo, Brasil.Endereço para correspondência: Andre Kioshi Priante Kayano • Rua São Benedito, 725, ap. 23, Santo Amaro – 04735-001 – São Paulo, SP

RESUMOobjetivo: Analisar as características dos estudos científicos que incluíram pacientes com idade superior a 80 anos no período de janeiro 2000 a outubro de 2009. Métodos: Realizada busca eletrônica por artigos na base de dados Medline e nas bases de dados regionais, SciELO e Lilacs. Utilizados na busca os termos “octogenarians” ou “nona-genarians” no título, com filtros para identificar artigos em inglês, com resumos e que incluíram pacientes com 80 anos ou mais. Os artigos encontrados foram revisados e coletados dados sobre características dos estudos; depois eles foram classificados conforme o nível de evidência científica, baseados na classificação do Oxford Center for Evidence-Based Medicine. resultados: Trezentos e noventa e cinco estudos foram encontrados na base de dados Medline e houve aumento de estudos em quatro vezes de 2000 a 2008, com 18 estudos em 2000 e 63 estudos em 2008. A maioria dos estudos foi de pesquisa clínica (291 estudos, 73,7%), observacionais (339 estudos, 85,8%) e retrospectivos (260 estudos, 65,8%), e apenas seis (1,5%) estudos avaliaram intervenções. A especialidade médica que mais produziu artigos desta amostra foi cirurgia cardíaca (106 estudos, 26,8%), seguida de cardiologia (62 es-tudos, 15,7%). Estudos produzidos nos Estados Unidos foram os mais comuns (128 estudos, 32,4%). Apenas 6,7% dos estudos foram produzidos por serviços de Geriatria. Conclusão: O número de evidências científicas em longe-vos apresenta aumento progressivo nos últimos anos. Pesquisas clínicas e estudos observacionais e retrospectivos são as principais características dos estudos selecionados com população acima de 80 anos, sendo os melhores níveis de evidência 1B. Estudos foram realizados em departamentos de várias especialidades, principalmente ci-rurgia cardíaca e cardiologia. No banco de dados regional foi encontrada maior quantidade de artigos nacionais.

Palavras-chave: Idoso, evidência, pesquisa clínica.

ABSTRACTobjective: Evaluate the characteristics of scientific medical studies including patients over 80 years old, from january 2000 to october 2009. Methods: We searched the eletronic database MEDLINE, and two regional databa-ses (Scielo and Lilacs). We used search terms “octogenarians” or “nonagenarians” at the title, and filter to identify articles in english language, with abstracts and articles with patients over 80 years old. Data were extracted from articles and studies were classified according to level of evidence based on Oxford Center for Evidence-Based Medicine classification. results: Three hundred ninety-five studies were found at MEDLINE database, the number of studies increased fourfold from 2000 to 2008, 18 studies in 2000 and 63 studies in 2008. The majority of studies were classified as clinical research (291 studies, 73,7%), observational (339 studies, 85,8%) and retrospective (260 studies, 65,8%). Only 6 studies (1,5%) evaluate interventions. Cardiac surgery departments published more among the articles found (106 studies, 26,8%), followed by cardiology (62 studies, 15,7%). American studies wer the most common (128 studies, 32,4%). Only 6,7% were produced by Geriatric departments. Conclusion: The number of scientific evidence with very old patients increased in the last years. Clinical research, obsertational studies and

Recebido em 12/9/2011Aceito em 28/12/2011

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227Evidência científica em Geriatria

retrospectives were the main characteristics found. The best level of evidence found was 1B. Cardiac surgery and cardiology produced more studies. In regional database we found more national studies.

Keywords: Elderly, evidence, clinical research.

iNtrodUÇÃo

A assistência dos pacientes geriátricos é complexa por causa das peculiaridades dessa população, principal-mente entre os pacientes longevos (idade acima de 80 anos). O diagnóstico e o tratamento dos pacientes são realizados utilizando-se a experiência clínica do médico associada às evidências obtidas nos estudos clínicos, e por outro lado o processo de criação das evidências inicia na identificação das dúvidas clínicas à beira do leito. As pesquisas devem ser elaboradas com metodologia adequada para responder às ques-tões dessa prática. O médico deve avaliar e integrar a informação sobre a evidência ao seu julgamento clínico, considerando as percepções do paciente1. A incipiente produção científica relacionada aos mais idosos faz com que os pacientes sejam tratados na maioria das vezes com base em dados extrapolados de estudo com pacientes mais jovens, com melhor fun-cionalidade e mais saudáveis.

A medicina baseada em evidências tem como ob-jetivo facilitar o uso cotidiano dessas evidências. Dos diferentes tipos de estudo, a revisão sistemática é classi-ficada como o melhor nível de evidência, seguida pelos estudos clínicos randomizados, estudos caso-controle, série de casos e descrição de casos. A revisão sistemática é resultado da análise dos resultados de um conjunto de estudos sobre um assunto, mediante metodologia específica, podendo ou não ser utilizada a metanálise2. A revisão bibliográfica é a primeira etapa desse proces-so e depende da busca de artigos científicos em base de dados por meio de palavras-chave que permitam loca-lizar a produção científica de um determinado tema.

Os geriatras necessitam de evidências científicas fortes para cuidar dessa parcela da população com qua-lidade, com base em informações clinicamente relevan-tes. O objetivo desta revisão foi avaliar as características dos estudos que incluíram idosos com 80 anos ou mais no período de janeiro de 2000 a outubro de 2009.

MÉtodoS

Foi realizada uma busca eletrônica por artigos na base de dados Medline e nas bases de dados regio-

nais SciELO e Lilacs, de janeiro de 2000 a outubro de 2009. Os termos em inglês utilizados na procura foram “octogenarians” ou “nonagenarians” no título, com filtros para identificar artigos em inglês, com resumos e que incluíram pacientes com 80 anos ou mais.

Os resumos de todos os artigos encontrados fo-ram revisados e os dados coletados incluíram: ano de publicação, país onde o estudo foi produzido, tipo de pesquisa (pesquisa clínica, pesquisa epidemiológica ou pesquisa básica), desenho do estudo (observacio-nal ou de intervenção e retrospectivo ou prospectivo), principal disciplina médica envolvida na produção do artigo e se o estudo foi realizado num departamento de geriatria. A diferenciação do tipo de pesquisa e do desenho do estudo foi baseada no artigo de Röhrig et al.3. Nesta revisão sobre tipos de pesquisa médica, os trabalhos científicos são classificados conforme a figura 1. Os dados dos estudos foram coletados por um único autor, reduzindo o viés de classificação dos estudos.

Em seguida, os mesmos estudos foram classifica-dos conforme o nível de evidência científica baseados na classificação do Oxford Center for Evidence-Based Medicine (Tabela 1). E, a seguir, foi realizada descri-ção detalhada dos estudos encontrados com maior nível de evidência.

Figura 1. Tipos mais frequentes de estudos clínicos com população de octogenários.

Pesquisa clínica74%

Pesquisa epidemiológica

15%

Pesquisa secundária 3%

Pesquisa básica8%

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228

reSUltadoS

Foram encontrados 395 estudos na base de dados Medline. O número total de estudos por ano aumen-tou aproximadamente quatro vezes de 2000 a 2008, com 18 estudos em 2000 e 63 estudos em 2008. O principal tipo de estudo foi de pesquisa clínica (291 estudos, 73,7%), seguido por estudos epidemio-lógicos (58 estudos, 14,7%) (Figura 2). A maioria dos estudos é observacional (339 estudos, 85,8%) e re-trospectiva (260 estudos, 65,8%), e apenas 6 (1,5%) avaliaram intervenções. A especialidade médica que mais produziu artigos desta amostra foi cirurgia car-díaca (106 estudos, 26,8%), seguida de cardiologia

(62 estudos, 15,7%). Estudos produzidos nos Es-tados Unidos foram os mais comuns (128 estudos, 32,4%), seguidos por estudos italianos (10,4%) e ja-poneses (6,6%) (Figura 2). Apenas 6,7% dos estudos foram produzidos por serviços de Geriatria.

Na busca realizada no SciELO e Lilacs, foram encontrados 24 artigos. A maioria dos estudos foi realizada no ano de 2007 (8 estudos, 33%), com dis-tribuição homogênea nos outros anos. O principal tipo foi pesquisa clínica (22 estudos, 91,6%) e estu-dos epidemiológicos (2 estudos, 8,4%). A maioria dos estudos é observacional (22 estudos, 91,6%) e de revisão (2 estudos, 8,4%); não foram encontra-dos estudos de intervenção. A especialidade médica

tabela 1. Nível de Evidência Científica por Tipo de Estudo – Oxford Centre for Evidence-Based Medicine, maio de 200112

Grau de recomendação

Nível de evidência

tratamento/prevenção – etiologia diagnóstico

A 1A Revisão sistemática (com homogeneidade) de ensaios clínicos controlados e

randomizados

Revisão sistemática (com homogeneidade) de estudos diagnósticos nível 1, critério

diagnóstico de estudos nível 1B, em diferentes centros clínicos

1B Ensaio clínico controlado e randomizado com intervalo de confiança estreito

Coorte validada, com bom padrão de referência, critério diagnóstico testado em um

único centro clínico

1C Resultados terapêuticos do tipo “tudo ou nada”

Sensibilidade e especificidade próximas de 100%

B 2A Revisão sistemática (com homogeneidade) de estudos de coorte

Revisão sistemática (com homogeneidade) de estudos diagnósticos

de nível > 2

2B Estudo de coorte (incluindo ensaio clínico randomizado de menor qualidade)

Coorte exploratória com bom padrão de referência, critério diagnóstico derivado ou

validado em amostras fragmentadas ou banco de dados

2C Observação de resultados terapêuticos (outcomes research),

estudo ecológico

3A Revisão sistemática (com homogeneidade) de estudos caso-controle

Revisão sistemática (com homogeneidade) de estudos diagnósticos

de nível > 3B

3B Estudo caso-controle Seleção não consecutiva de casos, ou padrão de referência aplicado de forma

pouco consistente

C 4 Relato de casos (incluindo coorte ou caso-controle de menor qualidade)

Estudo caso-controle, ou padrão de referência pobre ou não independente

D 5 Opinião desprovida de avaliação crítica ou baseada em matérias básicas (estudo fisiológico ou estudo com animais)

Geriatria & Gerontologia. 2011;5(4):226-32

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Figura 2. Tipos de estudos em pesquisa médica. (Extraído do artigo de: Röhrig B, Du Prel JB, Wachtlin D, Blettner M. Type of study in medical research. Dtsch Arztebl Int. 2009;106(15):262-8.)

Teórica

Pesquisa básica

AplicadaPesquisa primária

Experimental

Pesquisa clínica

Pesquisa médicaObservacional

Experimental

Pesquisa epidemiológica

Observacional

Metanálise

SistemáticaPesquisa secundária

Revisão Simples (narrativa)

- Desenvolvimento de método- Procedimento de medida analítica- Procedimento de imagem

- Procedimento biométrico- Desenvolvimento de teste- Procedimento de avaliação

- Estudo animal- Estudo celular- Engenharia genética- Sequenciamento genético

- Bioquímica- Desenvolvimento de materiais- Estudos genéticos

- Ensaio clínico- Estudo fase 1- Estudo fase 2

- Estudo fase 3- Estudo fase 4

- Série de casos- Relato de caso- Estudo de terapia (sem intervenção)- Estudo prognóstico

- Estudo diagnóstico- Estudo observacional com drogas- Análise de dados secundária

- Estudo ecológico- Monitoramento- Descrição com dados de registros

- Estudo de intervenção- Estudo de campo- Estudo de grupo

- Estudo de Cohort- Prospectivo- Histórico- Estudo caso controle- Estudo transversal

tabela 2. Distribuição dos estudos conforme o nível de evidência

Nível de evidência Medline Porcentagem (n = 395) Scielo/lilacs Porcentagem (n = 24)

1B 5 1,27 0 0

2A 4 1,01 0 0

2B 29 7,34 0 0

2C 300 75,95 22 91,6

3B 13 3,29 0 0

4 2 0,51 0 0

5 9 2,28 0 0

NA 33 8,35 2 8,4

Evidência científica em Geriatria

que mais produziu artigos desta amostra foi cardio-logia (7 estudos, 29%), seguida de enfermagem (6 estudos, 25%). Estudos produzidos no Brasil foram os mais comuns (18 estudos, 75%), seguidos por estudos espanhóis (2 estudos, 8,3%). Os estudos

foram classificados em relação ao nível de evidên-cia (Tabela 2); cinco estudos apresentavam nível de evidência mais elevado (estudos clínicos randomi-zados) e foram descritos com maiores detalhes na tabela 3.

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230

tabela 3. Descrição dos estudos randomizados (1B)

ano do estudo título autores/país objetivo/método Principais achados

2009 “Sedation with propofol for interventional endoscopy by trained nurses in high-risk octogenarians: a prospective, randomized, controlled study”

Schilling D, Rosenbaum A, Schweizer S, Richter H, Rumstadt B – Alemanha

Comparar o tipo de sedação utilizado antes do procedimento endoscópico. Foi comparado o propofol administrado por enfermeiras treinadas com sedação usual com midazolan associado a meperidina

Ambos os esquemas de sedação são seguros. O esquema de propofol administrado por enfermeira treinada é uma opção para pacientes idosos de alto risco

2007 “A randomised controlled trial of warfarin versus aspirin for stroke prevention in octogenarians with atrial fibrillation (WASPO)”

Rash A, Downes T, Portner R, Yeo WW, Morgan N, Channer KS – Reino Unido

Foi comparado o uso de warfarina ajustado pelo RNI e AAS 300 mg por dia em pacientes acima de 80 anos quanto ao risco de desenvolver acidente vascular isquêmico e quanto aos efeitos colaterais

Foram avaliados 75 pacientes, com média de idade de 83,9 anos e 47% do sexo masculino. Houve significantemente mais eventos adversos com aspirina (13/39; 33%) que com warfarina (2/36; 6%), P = 0.002

2005 “Are we giving too much iron? Low-dose iron therapy is effective in octogenarians”

Rimon E, Kagansky N, Kagansky M, Mechnick L, Mashiah T, Namir M, Levy S – Israel

Determinar se dose baixa de ferro é suficiente para tratamento de anemia ferropriva em idosos acima 80 anos. Os pacientes idosos são mais vulneráveis aos efeitos colaterais dose-dependentes da reposição de ferro. Duas doses de ferro elementar foram utilizadas, 15 mg e 150 mg. Além dos grupos randomizados, havia um grupo controle sem anemia

Ferro sérico apresentou elevação apenas nos grupos com anemia. Em todos os grupos houve elevação da ferritina sérica e dos níveis de hemoglobina. No entanto, os efeitos colaterais são mais frequentes com a dose mais elevada.Portanto, em octogenários, dose baixa de reposição de ferro é suficiente para tratar anemia ferropriva com menos efeitos colaterais

2004 “Absence of left ventricular and arterial adaptations to exercise in octogenarians”

Spina RJ, Meyer TE, Peterson LR, Villareal DT, Rinder MR, Ehsani AA – EUA

Estudo foi desenhado para determinar se o menor aumento do VO2 máximo e débito cardíaco em pacientes octogenários são associados com ausência de adaptação arterial e de ventrículo esquerdo após treinamento de exercícios. Os pacientes foram randomizados em um grupo com tratamento de exercícios intensivo e grupo controle

Treinamento não levou à alteração no ventrículo esquerdo ou na função arterial. Isso leva à menor ganho na capacidade aeróbica desses pacientes em resposta ao treinamento em octagenários

2003 “Attenuation of cardiovascular adaptations to exercise in frail octogenarians”

Ehsani AA, Spina RJ, Peterson LR, Rinder MR, Glover KL, Villareal DT, Binder EF, Holloszy JO – EUA

Estudo para determinar os mecanismos relacionados à elevação da capacidade aeróbica em resposta ao exercício em octagenárias. Pacientes foram randomizados em 2 grupos, 1 grupo que realizou programa de fisioterapia, caminhada e programa de treinamento por 6 meses, seguido de 3 meses de treinamento resistido mais intenso, e outro grupo controle

VO2 máximo aumentou 14% no grupo de exercícios e o treinamento elevou em 14% também o débito cardíaco. O aumento do débito está relacionado a aumento da frequência cardíaca e volume de ejeção

Geriatria & Gerontologia. 2011;5(4):226-32

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diSCUSSÃo

Pacientes com idade acima de 80 anos são cada vez mais comuns nos serviços de saúde. São escassos os estudos clínicos com bom nível de evidência que apontam para tratamentos seguros e eficazes para esse grupo de pacientes. Há necessidade de evidên-cias científicas para melhora da assistência geriátrica e gerontológica. Em uma revisão sobre terapia ocupa-cional em idosos realizada em 2010, foi demonstrada a necessidade de evidências científicas que suportem a realização de intervenções na área4.

Neste estudo, realizou-se a busca tanto na base de dados de artigos científicos PubMed, como em outras bases de dados regionais, como a base de dados Lilacs e SciELO, que incorporam principalmente artigos la-tino-americanos. Uma quantidade maior de estudos foi encontrada na base de dados PubMed, e os artigos produzidos no Brasil foram encontrados principal-mente na base regional.

Uma limitação do estudo poderia ser na seleção dos estudos. Caso os autores não tivessem colocado no título do artigo os termos “octagenários” e “nona-genários”, eles não seriam encontrados. No entanto, julgamos que essa informação geralmente é apresen-tada no título do artigo para evidenciar a população estudada e, assim, não acreditamos que poderia ter substancialmente prejudicado a localização de artigos relevantes.

Observamos que o número de estudos que incluem pacientes longevos está crescendo e várias especialida-des médicas publicam artigos sobre essa população. No entanto, apenas 6,7% dos estudos encontrados foram produzidos em serviços de geriatria. A maioria dos estudos realizados com pacientes dessa faixa etária foi observacional retrospectiva, geralmente utilizando banco de dados de serviços relacionados com a assis-tência aos pacientes. O nível de evidência na maioria dos estudos selecionados foi 2C, que representa os es-tudos observacionais que avaliam resultados de tera-pias e intervenções. Apenas cinco estudos são ensaios clínicos randomizados classificados como 1B.

A escassez de evidências de qualidade talvez ocor-ra pela dificuldade no recrutamento e adesão dos pacientes octogenários e nonagenários em protoco-los de pesquisa, em virtude da presença de múlti-plas doenças e barreiras sociais e culturais5. Estudos multicêntricos apresentam maiores dificuldades de recrutamento quando comparados com estudos de um único centro. Nesses casos, as dificuldades estão mais relacionados a fatores de organização da pes-

quisa do que a fatores relacionados aos pacientes. Os desafios para inclusão são ainda maiores na pesqui-sa de pacientes em cuidados paliativos6. Witham e McMurdo9 descrevem que pacientes idosos querem participar de estudos clínicos por razões como al-truísmo e interesse próprio. No entanto, frequente-mente são excluídos por causa da idade, presença de comorbidades e fragilidade. Outras barreiras incluem dificuldades de comunicação, déficit cognitivo, difi-culdades de transporte e baixa renda. Hutchins et al. demonstram que há uma representação menor que a necessária de pacientes com idade acima de 65 anos em estudos clínicos para tratamento de câncer7. Para contornar as dificuldades de captação de pacientes, os pesquisadores ampliam os critérios de inclusão para todos pacientes acima de 65 anos, não utilizando ex-clusivamente acima de 80 anos de idade.

Mody et al. descrevem estratégias para melhorar a eficiência do recrutamento e retenção de idosos em pesquisa clínica8. Sobre o desenho do estudo, é pro-posto manter os critérios de inclusão o mais liberais possível, minimizando as exclusões baseadas numa relação de risco-benefício aceitável. Para promover a participação, é proposto gratificar de alguma forma os participantes em países em que a legislação per-mite realizar coleta de exames domiciliares, desenhar atividades em grupo que contemplem as alterações de saúde e funcional dos idosos e incorporar planos para pacientes de diferentes etnias. Para avaliar se o pacien-te pode ser incluído, é proposto desenvolver processo de rastreamento eficiente e considerar a acessibilidade ao centro de pesquisa. Para manter os pacientes no estudo, são propostos planos de retenção, mantendo atenção e a supervisão contínua com os centros de estudo. A realização do estudo em múltiplos centros facilita a inclusão de pacientes longevos, de diferentes etnias e níveis socioeconômicos e com características mais próximas das que são avaliadas na prática clínica cotidiana, melhorando, assim, a qualidade da evidên-cia científica produzida. Outras estratégias possíveis são a exclusão de limite de idade, redução dos crité-rios de exclusão, envolver pacientes idosos e profis-sionais de saúde na produção do desenho do estudo, prover transporte aos centros de pesquisa e utilizar métodos personalizados de recrutamento. Deve-se também planejar um tempo de estudo mais prolon-gado para recrutamento e avaliação dos pacientes e maior disponibilidade de recursos9. Outro desafio no atendimento aos pacientes idosos é incorporar à prática clínica as intervenções que nas pesquisas mos-traram benefícios aos idosos. Estratégias como o pro-grama HELP desenvolvido na Universidade de Yale

Evidência científica em Geriatria

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232

auxiliam a padronização de avaliações e intervenções a serem realizadas em pacientes idosos que se mostra-ram efetivas em ensaios clínicos10.

O conhecimento das melhores evidências científicas disponíveis, a criteriosa avaliação clínica e o bom senso à beira do leito são ferramentas para a melhor condu-ção do caso. Nesse cenário, na ausência de outras evi-dências melhores, a opinião de especialistas experientes pode ser a melhor evidência científica disponível e será mais valorizada. Em estudos sobre uso inapropriado de drogas em idosos, foram propostas listas de drogas ina-propriadas baseadas em opinião de especialistas, utili-zando para isso metodologia científica específica11.

reFerÊNCiaS

1. Nordenstrom J. Medicina baseada em evidências: seguindo os passos de Sherlock Holmes. Porto Alegre: Artmed.

2. Material retirado do site Unifesp: http://www.virtual.epm.br/cur-sos/metanalise/conteudo/valida.php. Acesso em: 29 set. 2010.

3. Röhrig B, Du Prel JB, Wachtlin D, Blettner M. Type of study in medical research. Dtsch Arztebl Int. 2009;106(15):262-8.

4. Murphy SL. Geriatric research. Am J Occup Ther. 2010;64(1):172-81. 

5. Puffer S, Torgerson D. Recruitment difficulties in randomized con-trolled trials. Control Clin Trials. 2003;24:S214-5.

6. Jordh MS, Kaasa S, Fayers P, Underland G, Ahlner-Elmqvist M. Challenges in palliative care research; recruitment, attrition and compliance: experience from a randomized controlled trial. Palliative Med. 1999;13:299-310.

7. Hutchins LF, Unger J, Crowley JJ, Coltman CA Jr, Albain KS. Un-derrepresentation of patients 65 years of age or older in cancer--treatment trials. N Engl J Med. 1999;341:2061-6.

8. Mody L,  Miller DK,  McGloin JM,  Freeman M,  Marcantonio ER, Magaziner J,  et al. Recruitment and retention of older adults in aging research. J Am Geriatr Soc. 2008;56:2340-8.

9. Witham MD, McMurdo ME. How to get older people included in clinical studies. Drugs Aging. 2007;24:187-96.

10. Inouye SK, Bogardus ST Jr, Baker DI, Leo-Summers L, Cooney LM Jr. The Hospital Elder Life Program: a model of care to prevent cognitive and functional decline in ol-der hospitalized patients. Hospital Elder Life Program.  J Am Geriatr Soc. 2000;48:1697-706. 

11. Fick DM, Cooper JW, Wade WE, Waller JL, Maclean JR, Beers MH. Updating the Beers criteria for potentially inappropriate me-dication use in older adults. Arch Intern Med. 2003;163:2716-24.

12. Phillips B, Ball C, Sackett D, Badenoch D, Straus S, Haynes B, et al. Oxford Centre for Evidence-Based Medicine. Disponível em: http://www.cebm.net/index.aspx?o=1025. Acesso em: 29 set. 2010.

Geriatria & Gerontologia. 2011;5(4):226-32

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artiGo oriGiNal

Conhecimento sobre benefícios associados à prática de musculação por idosos físicamente ativos Knowledge on the benefits associated with bodybuilding practice for physically active elderlies

Tatiane Gomes Teixeira1, Beltrina Côrte2

1 Gerontologia pela Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo (PUC-SP) e

Educação Física pelo Instituto Luterano

de Ensino Superior de Porto Velho.

2 Programa de Estudos Pós-Graduados em

Gerontologia da PUC-SP e Ciências

da Comunicação pela Universidade de

São Paulo (USP).Endereço para correspondência: Tatiane Gomes Teixeira • Av. Tenreiro Aranha, 2713, Centro – 76801-114 – Porto Velho, RO • Telefone: (61) 8150-5711 • E-mail: tatiane_edfí[email protected]

RESUMOintrodução: Os benefícios da prática de treinamento de força ou musculação para idosos estão bem documenta-dos na literatura, entretanto pouco se sabe sobre o conhecimento da população acerca deles. objetivo: Investigar e discutir o conhecimento de pessoas idosas praticantes e não praticantes de musculação sobre os benefícios associados à prática desta. Métodos: A pesquisa teve abordagem qualitativa, e foi utilizada uma entrevista episó-dica, elaborada pelas pesquisadoras, como instrumento de coleta de dados. resultados: Participaram da pesquisa 39 idosos, sendo 25 praticantes de musculação em academias, 10 praticantes de caminhada, dois praticantes de ambos e dois frequentadores de academias não praticantes de musculação. A maioria dos idosos demonstrou conhecer pouco sobre as particularidades da musculação, e aqueles que nunca tiveram acesso a tal modalidade desconheciam quaisquer de seus benefícios potenciais. Melhora da mobilidade, resultados estéticos, redução de dores, fortalecimento muscular e condicionamento físico foram as principais consequências positivas associadas à atividade física estudada. Conclusão. O conhecimento dos idosos sobre os benefícios da musculação está dire-cionado à esfera fisiobiológica. Esse resultado sofre influência tanto de questões individuais (interesse do indivíduo pela modalidade, objetivos almejados com a prática, e o fato de receber ou não informações do profissional de Educação Física) quanto do contexto sociocultural, especialmente no que se refere ao conceito social de saúde, ao papel da atividade física e ao lugar do discurso midiático na sociedade.

Palavras-chave: Musculação, atividade física, idosos, gerontologia.

ABSTRACTintroduction: The benefits of practicing strength training (bodybuilding) at an old age are well described in litera-ture. However, little is known about the elderlies understanding of how important practicing strength training re-gularly is. objective: To investigate and discuss the knowledge of physically active elderlies, about the benefits of bodybuilding's practice. Methods: The research was qualitative. An episodic interview, constructed by the resear-chers, was used to collect data. results: Thirty-nine elderlies have participated, 25 were bodybuilders in gyms, 10 were walkers, two practiced both bodybuilding and walking, and two although were not bodybuilders, frequented a gym. Most of the elderlies have shown a few knowledge about bodybuilding and its benefits. This knowledge was less significant among those who never had access to that kind of physical activity. The main benefits associated to strength training were better mobility, aesthetic results, reduction of pain, muscular strengthening and physical conditioning. Conclusion: The Knowledge of the elderly about benefits of strength training is related to physio-logical and biological dimension. This result is influenced both by individual questions and socio cultural context.

Keywords: Bodybuilding, physical activity, elderlies, gerontology.

Recebido em 4/7/2011Aceito em 27/12/2011

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iNtrodUÇÃo

A manutenção da independência é considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) meta fundamental no processo de envelhecimento indi-vidual e populacional. Definida como a habilidade de executar funções relacionadas à vida diária1, ela é afetada de forma importante pela força muscular detida pelo indivíduo à medida que envelhece2. Esta declina cerca de 12% a 15% por década a partir dos 50 anos, com alterações mais pronunciadas a partir dos 65 anos3 e de forma mais significativa nos mem-bros inferiores4. Outros parâmetros da aptidão física também se relacionam à independência na velhice. Singh5 cita como exemplos flexibilidade, equilíbrio e resistência muscular.

Diante das reduções nas variáveis físicas, a prática de atividades físicas é uma das medidas consideradas importantes para a manutenção da funcionalidade entre idosos; e visando especificamente à força mus-cular, o treinamento de força, também denominado musculação, é considerado a atividade de preferência para manutenção da capacidade funcional e indepen-dência na velhice6. Para a variável força, está bem es-tabelecido que esse é o tipo de treinamento físico que a otimiza de maneira mais significativa. A melhoria da estrutura articular e óssea7,8, bem como do equilí-brio e da agilidade9, é outro benefício potencialmen-te resultante dessa prática. Portanto, na comunidade científica os benefícios do treinamento de força para a população idosa estão bem documentados.

Ao considerar o conhecimento dos benefícios como algo que interfere no processo de adesão às atividades físicas e que, na opinião de Resnick10, é o primeiro passo para ajudar idosos a iniciarem progra-mas de atividade física, na presente pesquisa tivemos como objetivo investigar e discutir o conhecimento de pessoas idosas praticantes e não praticantes de musculação sobre os benefícios associados à prática desta.

MÉtodoS

Natureza da pesquisa

A abordagem utilizada foi qualitativa. Esta, “(...) além de permitir desvelar processos sociais ainda pouco co-nhecidos referentes a grupos particulares, propicia a construção de novas abordagens, revisão e criação de novos conceitos e categorias durante a investigação. Caracteriza-se pela empiria e pela sistematização pro-

gressiva de conhecimento até a compreensão lógica interna do grupo ou do processo estudado”11 (p. 57). Trata-se de um método cujos dados utilizam a lingua-gem natural dos sujeitos e busca entender o contexto e/ou ponto de vista do ator social12, que não exclui a análise quantitativa13.

Participantes e locais

As coletas de dados foram realizadas em sete acade-mias e em um local público destinado à prática de exercícios físicos ao ar livre da cidade de Porto Velho, Rondônia. Foram entrevistados 39 idosos: 25 prati-cantes de musculação, 10 praticantes de caminhada em local público, dois praticantes de ambos e dois frequentadores de academias não praticantes de mus-culação. Em nosso estudo original, do qual os dados aqui apresentados são resultantes, tivemos como ob-jetivo investigar as questões envolvidas na adesão de idosos à musculação. Escolhemos entrevistar prati-cantes de caminhada por julgarmos que: 1) por ser uma atividade de fácil execução e acesso – pois pode ser praticada em locais públicos –, entrevistá-los nos permitiria compreender a importância da questão fi-nanceira na adesão à musculação, a qual é geralmente praticada em locais privados; 2) praticantes de mus-culação potencialmente conhecem mais sobre tal ati-vidade do que os não praticantes. Já a inclusão de dois indivíduos frequentadores de academia não pratican-tes de musculação, bem como de dois frequentadores de academia e também praticantes de caminhada em local público, não foi inicialmente prevista. Durante a etapa de coleta de dados, ao serem identificadas es-sas realidades entendemos que a inclusão desses sujei-tos enriqueceria nossa compreensão sobre o processo de adesão.

Para facilitar a apresentação dos dados, organiza-mos os entrevistados em grupos: GM, GC, GA e GX.

• Praticantes de musculação (GM): 25 idosos;

• Praticantes de caminhada (GC): 10 idosos;

• Praticantes de musculação e de caminhada (GA): 2 idosos;

• Frequentadores de academia, não praticantes de musculação (GX: 2 idosos).

Procedimentos éticos

O projeto de pesquisa que deu origem ao presente estudo foi aprovado no Comitê de Ética em pesquisa com seres humanos da PUC-SP, sob o nº 018/2009. Todos os participantes da pesquisa foram informados

Geriatria & Gerontologia. 2011;5(4):233-41

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235Benefícios associados à musculação por idosos

sobre os procedimentos do estudo e deram seus con-sentimentos por escrito.

Instrumentos

Como instrumento de coleta de dados, utilizamos entrevista episódica, a qual “se baseia em um guia de entrevista a fim de orientar o entrevistador para os campos específicos a respeito dos quais se buscam narrativas e respostas”14 (p. 118). A entrevista foi ela-borada a partir das dimensões teóricas existentes na literatura e de nossas experiências prévias na área de estudo. Os roteiros de entrevistas tinham uma parte comum aos grupos e uma parte específica aos grupos GC e GX.

Os questionamentos comuns aos grupos foram: Qual a razão principal o levou a procurar a prática de musculação (ou caminhada)? Houve algum fator complementar que o influenciou a buscar a prática de musculação (ou caminhada)? Você já parou de pra-ticar musculação (ou caminhada)? Por quê? Você já sentiu vontade de parar de praticar musculação (ou caminhada)? O que o/a motiva a continuar pratican-do musculação (ou caminhada)? Há algum fator que dificulta a sua prática de musculação (ou caminhada)? Você conhece algum benefício que a prática de mus-culação pode promover? Você acha que ela pode cau-sar algum malefício? O que você espera obter como resultado da prática de musculação (ou de caminha-da, ou de ambos para GA)?

Os grupos GC e GX responderam também aos questionamentos: Você conhece a atividade denomi-nada musculação? Você acha que eventual prática de musculação poderia lhe trazer algum benefício adi-cional à caminhada?

O “nascimento” do estudo

O conhecimento sobre os benefícios é um dos as-pectos já conhecidos que interferem no processo de adesão e continuidade da prática de atividades físi-cas15 e que, especialmente sobre as particularidades do processo de envelhecimento, permite ao idoso perceber-se como participante no processo de con-trole das doenças e alcance de condição satisfatória de saúde16. Encontramos em nossa pesquisa original, explicada no tópico participantes e locais, dificulda-de dos entrevistados em diferenciar os distintos tipos de atividades físicas quanto aos benefícios potenciais. Diante da pergunta “Você conhece algum benefício que a musculação pode promover?”, 7 dos 25 sujeitos praticantes da modalidade não relataram benefícios específicos, permanecendo em silêncio, pensativos,

ou responderam que tudo melhorava, sem relacionar exemplos. Ao longo da entrevista, os idosos demons-traram interpretar que as atividades físicas, indepen-dentemente da modalidade, promovem benefícios idênticos. Diante de tal resultado, decidimos inves-tigar com profundidade a fala dos entrevistados, bus-cando compreender melhor seu conhecimento sobre benefícios diferenciais da musculação em relação a outros tipos de atividades físicas.

Para tornar mais clara a explicação desses achados, apresentamos um exemplo. À questão “Você conhece algum benefício que a prática de musculação pode promover”, H respondeu:

Não conheço. Os reflexos disso eu não conheço não, de jeito nenhum! Eu estava até pensando em pesqui-sar, sabe?! Eu vou pesquisar mesmo. (GM, homem, 70 anos)

À leitura completa da entrevista desse sujeito a resposta obtida chama atenção. Em vários momen-tos, o entrevistado apontou distintos benefícios que as atividades físicas em geral promovem, muitos deles obtidos principalmente por meio da musculação e apresentados a seguir:

É o relaxamento dos músculos. O relaxamento? Não: é fraqueza das pernas. Não que esteja fraco, mas preve-nindo, não é!?. Porque eu tenho visto gente de bengala por aí (sobre os motivos para iniciar a prática de mus-culação).

A partir da fala anterior, interpretamos que o en-trevistado, apesar de relatar importantes benefícios da prática de musculação – o fortalecimento muscular e a manutenção da independência no processo de enve-lhecimento – como razão para a busca pela atividade, identifica esse como resultado da prática de exercícios físicos, e não especificamente da musculação, que ele julga não conhecer. Os benefícios particulares de cada tipo de exercício não estão claros para esse entrevis-tado.

Em estudos qualitativos, especialmente aqueles que envolvem entrevistas abertas, é comum encon-trar contradições nas falas, e é mediante o trabalho de análise dos dados que o pesquisador identifica as determinações do problema investigado e estabelece relações entre a totalidade e as partes17. Diante das incoerências nessa entrevista, nos questionamos: caso o entrevistado soubesse que o principal resultado por ele buscado é obtido a partir da musculação, have-ria mais empenho na prática? As chances de evasão seriam menores? Por acreditarmos que as respostas

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seriam “sim” para ambos os questionamentos e diante de fatos semelhantes em outras entrevistas, decidimos analisar com maior profundidade a diferenciação fei-ta pelos sujeitos entre praticar musculação e praticar atividades físicas em geral.

Análise de dados

Foi realizada análise de conteúdo, que tem como objetivo “compreender criticamente o sentido das comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as significações explícitas ou ocultas”18 (p. 98). É im-portante ressaltar que todas as entrevistas foram inte-gralmente transcritas. Na construção do trabalho nos norteamos em três questionamentos: 1) O entrevista-do conhece algum benefício que a prática de ativida-des físicas pode promover? 2) O entrevistado acredita que a musculação tem algum benefício diferencial em relação a outros tipos de atividades físicas? Quais? 3) Quais são os benefícios atribuídos pelos entrevistados – independentemente de conhecerem ou não benefí-cios diferenciais da musculação – como resultantes da prática de atividades físicas em geral?

Para responder a tais questionamentos, utilizamos as análises lexical e de enunciação – descritas breve-mente por Chizzoti18. As etapas cumpridas foram: A) Destaque de todos os trechos da entrevista em que o sujeito remete-se a algum benefício, seja da atividade física em geral ou à musculação. Nessa etapa, atenta-mos à contextualização da fala, descrevendo diante de qual questionamento ela surgiu; B) Análise, em cada um dos trechos, sobre se os benefícios relatados eram atribuídos às atividades físicas em geral ou especifica-mente à musculação. Nos trechos a seguir, por exem-plo, quando questionados sobre algum benefício da musculação, os entrevistados igualam a musculação a todos os tipos de atividades físicas ou remetem-se a benefícios das atividades físicas em geral:

Pra todas as idades, a musculação, todo exercício é bom. Eu acho que a musculação é um esporte excelente. (GM, homem, 63 anos)Melhor qualidade de vida, assim, para corpo assim, como é que se diz, é pra melhor qualidade de vida! Pra se definir isso... você praticar um esporte é bom pra você estar se movimentando não é! Você não fica as-sim, ocioso, como se diz? Sedentário! Você tem uma atividade... Então eu acho que é isso aí. (GM, mulher, 60 anos)

A resposta à pergunta 3 foi respondida a partir da análise de todas as falas de cada entrevistado. Todos os benefícios relatados ao longo da entrevista – ex-

cluindo aqueles específicos à musculação por parte daqueles que os diferenciavam – eram considerados. Após a finalização das análises, os dados quantitativos originários foram apresentados, e estes, juntamente com os dados textuais propriamente ditos, possibili-taram a construção teórica do trabalho.

reSUltadoS

Perfil sociodemográfico e clínico-funcional

Os entrevistados não apresentaram um perfil típico. Na tabela 1 são apresentados os dados sociodemográ-ficos, por grupos. A quantidade de doenças variou entre nenhuma e seis entre praticantes de musculação e nenhuma e três entre os não praticantes. A doença mais presente entre os entrevistados foi hipertensão, da qual 15 sujeitos eram acometidos. Apenas três pra-

tabela 1. Perfil sociodemográfico e funcional dos idosos entrevistados, segundo grupos GM, GC, GA e GX

Variáveis GM* (25)

GC* (10)

Ga* (2) GX* (2)

IdadeAté 69 anos70 ou mais

223

91

20

11

Sexo HomensMulheres

916

64

20

11

Escolaridade (em anos)Nenhuma

1-4 anos5-7 anos8 anos9-11 anos12 anos ou mais

0300715

110224

000002

100100

Renda (salários- -mínimos)

Até 23-67-1011-2021 ou maisNão relatou

586231

160201

000110

101000

Capacidade funcionalSem limitações em AVDsCom limitações em AIVDs

223

91

20

11

Os números apresentados representam os valores absolutos obtidos.* GM: praticantes de musculação; GC: praticantes de caminhada; GX: frequentadores de academia e não praticantes de musculação; GA: praticantes de musculação e caminhada.

Geriatria & Gerontologia. 2011;5(4):233-41

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ticantes e duas não praticantes de musculação relata-ram dificuldades na realização de atividades da vida diária (AVDs), todas em atividades instrumentais da vida diária (AIVDs), que incluem tarefas como fazer compras, cozinhar e limpar a casa, por exemplo19.

Benefícios associados à prática de musculação

Na tabela 2, constam as respostas para os questiona-mentos norteadores da pesquisa.

diSCUSSÃo

O principal objetivo do nosso trabalho foi levantar o conhecimento dos benefícios diferenciais resultantes da prática de musculação por parte dos idosos. Verifi-camos, a partir da tabela 2, que menos da metade dos entrevistados identificou benefícios diferenciais resul-tantes da musculação. Dentre aqueles que apontaram benefícios diferenciais, todos praticam (14 do GM e 2 do GA) ou já praticaram musculação (2 do GC).

tabela 2. Benefícios resultantes da prática de atividades físicas e musculação, segundo grupos GM, GC, GA e GX

GM* (25) GC* (10) Ga* (2) GX* (2)

Conhece algum benefício da prática de atividades físicas em geral?SimNão 25

0100

20

20

Diferencia benefícios resultantes da musculação dos benefícios resultantes das atividades físicas em geral?

SimNão

1411

28

20

02

Benefícios específicos da musculação Melhora mobilidade ou da capacidade de executar AVDsEnrijece músculos ou aumenta massa muscular (estética)Previne e/ou reduz doresAumenta força muscularMelhora resistência ou condicionamento físicoMelhora a saúde ósseaMelhora autoestima Aumenta ânimo/disposição

76653210

01021000

02011011

00000000

Benefícios das atividades físicas em geral Melhora a saúdePromove bem-estarPromove melhor qualidade de vidaMantém ou reduz o peso corporal (estética)Mantém ou reduz o peso corporal (saúde)Melhora mobilidade/capacidade de executar AVDsPrevine e/ou reduz doresAumenta disposiçãoPrevine doençasPromove boa velhiceMelhora condicionamento/resistência físicaMelhora sintoma de doençasMelhora o fortalecimento muscularPrevine atrofias na velhiceAmplia o contato socialPromove melhoras cognitivasFavorece o lazer e a descontração ou preenche o tempo livreAumenta longevidadeMelhora sonoReduz uso de medicamentosAumenta flexibilidadeMelhora saúde óssea

20 171110899888666665542221

9321232142233310341001

2102010110110120210101

0200121000210100100001

Os números apresentados representam os valores absolutos obtidos.* GM: praticantes de musculação; GC: praticantes de caminhada; GX: frequentadores de academia e não praticantes de musculação; GA: praticantes de musculação e caminhada.

Benefícios associados à musculação por idosos

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Dos oito idosos que nunca haviam praticado muscu-lação (todos do GC), os seis que sabiam o que era a atividade em questão foram questionados: “Você acha que a prática de musculação poderia proporcionar al-gum benefício adicional à caminhada?” Todos acre-ditavam que não. A fala de dois deles consta a seguir:

Bom, é a mesma coisa da caminhada, não é!? Mesma coisa! (GC: homem, 79 anos)Não, eu acho que a caminhada seria ótimo pra nós. (GC: homem, 65 anos)

Portanto, somente indivíduos que já tiveram aces-so direto à musculação conhecem algum de seus be-nefícios diferenciais. Tais resultados convergem com aqueles obtidos por Okimura16, em seu estudo sobre o processo de aprendizagem de idosos a respeito dos benefícios da prática de exercícios físicos, no qual as experiências pessoais foram reportadas como fonte importante de aquisição de conhecimento efetivo so-bre os benefícios.

A compreensão dos resultados por meio apenas da própria experiência implica impossibilidade em dife-renciar o que é resultante da prática de musculação ou de exercícios aeróbios, por exemplo. O resultado encontrado nos permite fazer suposições. Primeiro, é possível que os entrevistados praticantes de muscu-lação não tenham recebido informações consistentes sobre modalidade. Sendo o profissional de Educação Física atuante nas academias fonte importante de conscientização dos frequentadores sobre os bene-fícios da prática de atividades físicas, é possível que as informações cedidas aos idosos aqui entrevistados tenham sido insuficientes. Consideramos necessário, como Gobbi et al.20, que os profissionais atuantes nas academias compreendam as particularidades do pro-cesso de envelhecimento – como o fato de o apren-dizado acontecer de forma mais lenta, por exemplo21 – e adquiram competências específicas para esse fim. Uma das entrevistadas, praticante de musculação há cerca de 30 anos, revela que nunca foi instruída sobre os benefícios particulares da musculação:

Por causa da saúde. Até porque a gente ouve falar muito que terceira idade tem que fazer musculação, essa coi-sa toda. E eu? nunca foi me dito assim... Os benefícios a gente vê, de forma geral, mas assim, especificamente: (fulana), você faz isso por causa disso, disso e disso...Isso não! Eu me incluo no todo! (GM, mulher, 61 anos, sobre as questões motivadoras para a continuidade da prática)

A fala de outro entrevistado indica, ao contrário, que a informação recebida por parte de um profissio-

nal de Educação Física sobre os benefícios da muscu-lação foi importante para sua compreensão a respeito das particularidades desta, ressaltando a importância desse profissional na conscientização dos idosos sobre os benefícios da atividade em questão:

Ah, eu acho que a musculação ela é muito interessan-te porque ela preserva os ossos da gente. Dá estrutura, não é?!. Evita questão de facilidade de quebrar os os-sos. Pessoas de uma certa idade que qualquer tombo-zinho, qualquer queda... Ela fortalece, evita a flacidez, ela dá resistência, e evita também engordar... Eu até conversava muito com o Fulano* [nome do professor de Educação Física com quem treinou anteriormente]. Fulano, a musculação é importante? Ele dizia pra mim que a musculação é mais importante que a aeróbica! Eu disse: Ah não brinca! Então você está me dizendo algo que ainda não tinham me dito! Eu sempre entendi que a aeróbica é fundamental. Não. A musculação é mais importante do que a aeróbica! Eu acho que entendi, porque a musculação, na medida que você está levan-tando peso você também está fazendo uma aeróbica, não é!? Forçando a respiração! (GM, homem, 60 anos)

A dificuldade em diferenciar os benefícios re-sultantes da musculação pode também encontrar explicação no interesse dos entrevistados. Todos os entrevistados reportaram em algum momento saúde, bem-estar ou qualidade de vida como resultado espe-rado/buscado com a prática de exercícios. Além disso, a maioria dos idosos se insere em programas de ativi-dade física para melhorar a saúde22,23. É possível que, por terem como objetivo tais resultados, lhes basta saber que a prática de exercícios lhes proporcionará obtê-los. Havendo desinteresse em saber os benefícios diferenciais, o conhecimento não se concretiza. A res-posta de uma das entrevistadas elucida essa realidade:

Olha, eu leio de vez em quando algumas coisas, e mi-nhas filhas também praticam muito exercício (...) Elas são mais informadas, compram um monte de revistas, leem muito na internet. Então elas falam assim, mas eu não presto muito atenção. “Ah, faz muito bem você fa-zer isso: Faz bem pro coração, é bom pra pele...” Enfim, eu meio que faço porque faço. Não sou muito fuçadei-ra, curiosa dos efeitos não. Me dá bem-estar e eu venho fazer! E eu sei que faz bem, senão o mundo inteiro não estaria fazendo, não é?! (GM, mulher, 68 anos)

A hipótese de que nem todos os idosos se interes-sam em aprender mais sobre a prática de exercícios vai ao encontro dos resultados de Baccan24. Em seu estudo, 20,4% dos entrevistados julgavam já saber o suficiente sobre os benefícios da prática de exercícios

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e 76,1% gostariam de saber mais. Analisados quanti-tativamente, nossos dados indicam que 56% dos ido-sos do GM conheciam benefícios diferenciais, e a fala de “H”, apresentada no tópico nascimento do estudo, ilustra que o interesse em conhecer melhor os resulta-dos da musculação existe entre nossos entrevistados. Insistimos na questão dos conhecimentos diferenciais porque julgamos que no caso da musculação é impor-tante que o idoso a conheça, visto que os resultados dela oriundos são preciosos para esse público e di-fíceis de serem alcançados com atividades de outros tipos, como caminhada, por exemplo. Entendemos que, ao conhecer os diferenciais da musculação, há maior esforço ou empenho para a prática. A fala a seguir é um bom exemplo:

Não gosto! Eu faço pra acompanhar, pra não ficar frágil! Mas pra mim, ficar levantando aqueles pesos: não sou muito fã não. Dos outros eu gosto: fazer bicicleta, fazer alongamento! É bom! (GM, homem, 62 anos, quando questionado se gostava de praticar musculação)

Entenda-se que, se o idoso desconhece os bene-fícios diferenciais da musculação – especialmente melhora de força e da massa óssea, os quais tornam possível manutenção da capacidade funcional e pre-venção de fraturas –, é possível que, se ele não gostar da atividade, sequer se esforce em praticá-la. Essa si-tuação foi percebida na fala de entrevistada do GX:

Comecei, mas não gostei muito! Eu vejo muita gente dizer que é bom! Mas eu tentei e não gostei (GX: mu-lher, 74 anos, sobre a musculação)

A idosa entrevistada, apesar de frequentar a aca-demia, onde tinha acesso à musculação, não pratica a atividade somente por não ter gostado dela. É im-portante relatar que essa entrevistada não conhecia os benefícios diferenciais da atividade estudada e acredi-tava que a eventual prática adicional de musculação não lhe proporcionaria benefícios adicionais. Assim como ela, o entrevistado cuja fala está a seguir, apesar de frequentar a academia, não pratica musculação em razão de pouco tempo disponível para a prática.

Musculação não! Eu venho mais é pra bicicleta e esteira. É o tempo que é curto. Agora mesmo eu já estou cor-rendo (GX: homem, 66 anos)

O entrevistado acreditava que a eventual práti-ca de musculação promoveria benefícios adicionais às demais atividades – embora não soubesse explicar quais. Há, portanto, por parte desse entrevistado, prioridade pela prática de atividades aeróbias, a qual

pode ocorrer por questões individuais ou mesmo por recomendações recebidas. Matsudo et al.25 afirmam que as atividades físicas recomendadas pelos médicos são em geral as aeróbias e de baixo impacto. Franchi et al.26, por exemplo, comparando grupos de idosos diabéticos e não diabéticos, encontraram que 11,4% dos não diabéticos receberam alguma recomendação para praticar exercícios de força, enquanto 62,9% receberam orientação para praticar caminhada. No referido estudo, grande parte das recomendações foi dada por um profissional médico. Dado o valor social atribuído aos conhecimentos detidos por essa catego-ria profissional, é possível que a prática de atividades aeróbias tenha, no imaginário popular, valor superior aos exercícios de força. A fala de uma das entrevista-das ilustra essa questão:

(...) Os médicos sempre me falavam: Faça! Mas sempre os médicos aconselham mais a gente a caminhar, não é?! Mas eu sou um pouco preguiçosa de caminhar. Eu caminho assim, algumas vezes. Eu gosto mais é de fazer academia. (GM, mulher, 67 anos)

Considerando a Medicina como um saber-poder que age sobre a população e tem efeitos disciplina-res e regulamentadores27, o assunto nos conduz a refletir que o conhecimento sobre os benefícios das atividades físicas não é questão restrita à dimensão individual. Certamente o contexto histórico-cultural influencia as percepções do sujeito sobre o significado e a importância da atividade física nas distintas fases da vida. Importante frisar que o local onde a muscu-lação “acontece” – as academias – está historicamente associado à ideia reducionista de culto ao corpo, no-tável no estudo de Santos e Salles28. Com isso, a mus-culação foi construída socialmente como recurso para finalidade única de modelar a silhueta, o que influen-cia a percepção das pessoas sobre as possibilidades e objetivos da referida modalidade de exercícios.

O conhecimento dos benefícios diferenciais: questões midiáticas e culturais

Nossos resultados indicam que, segundo a visão dos entrevistados, os principais benefícios associados à musculação são fisiobiológicos, como melhora da mobilidade e de dores e fortalecimento muscular, ou estéticos, enquanto as atividades físicas em geral estão associadas principalmente a saúde e bem-estar. Em nossa visão, esse resultado se dá em razão da associa-ção entre atividade física e saúde, fortemente presente na sociedade, e reproduzida cotidianamente pela mí-dia. Tal associação, referida na literatura como discur-

Benefícios associados à musculação por idosos

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so da atividade física e saúde, faz parte de um conceito de saúde que tem como foco o estilo de vida.

O interesse pela atividade física no campo da saú-de começou principalmente a partir do século XX, tendo como foco a aptidão cardiovascular29. Para Agricola30, a razão da inclusão da atividade física como ferramenta para promover saúde está no redu-cionismo da saúde à dimensão física.

Passados cerca de 50 anos desde que a prática de atividades físicas começou a ser efetivamente difun-dida como meio de promover saúde cardiovascular, vivemos num cenário em que a atividade física é con-siderada pilar fundamental para o alcance de um cor-po saudável31. Essencial destacar que o corpo saudável engloba no contexto atual também o conceito de be-leza estética32,33. O entrelaçar das dimensões estética e saúde também apareceu em nossas entrevistas:

Eu acho que a musculação ela continua a dar ao ido-so uma certa mobilidade. Você não fica aquela coisa, aquela massa de músculos e que é feita mais de gordura do que os músculos. Você trabalha essa parte: adiposa, muscular. E isso vai te dar uma certa mobilidade, vai te dar pernas torneadas. No fundo, no fundo, é estética (GM: mulher, 61 anos, sobre os benefícios potenciais da musculação)A juventude, não é... As meninas gostam de ver os “veio” assim: sadio! A verdade é essa! (GA, homem, 60 anos, sobre os motivos para a continuidade da prática de caminhada)

O uso dos termos “as meninas gostam de ver” e “sadio” no contexto apresentado explica o realce dado à dimensão estética na atualidade, caracterizada pela busca incessante do alcance dos padrões corpo-rais impostos socialmente, e sinaliza o convergir dos conceitos de beleza e saúde para um ponto em co-mum, que tem a atividade física como instrumento em favor. Aqui não se fala da estética da existência de Foucault, mas sim de um conceito de beleza me-ramente exterior. Dado o valor da dimensão estética na contemporaneidade, quando o afastamento da ve-lhice, da imperfeição e da doença são uma constante, é compreensível o uso do termo “demonização do se-dentarismo”34, sintetizando o lugar social da atividade física na cultura contemporânea ocidental.

A mídia tem forte influência na construção atual do significado da atividade física e como agente de in-formação, também tem papel importante no sentido de situar os membros da sociedade em questões refe-rentes ao envelhecimento e à longevidade35. Portanto, assuntos veiculados na mídia adquirem relevância nas

opiniões e representações sociais. Ao ser questionado sobre as razões para iniciar a prática de caminhada, um dos nossos entrevistados afirmou ter sofrido tal influência da mídia:

Porque eu via aquelas programações na televisão. É aí eu comecei. Eu vi que a gente tem mais saúde, a pessoa desenvolve, a pessoa parece que atura mais! Então eu já estou atrás dessas coisas (GC, homem, 79 anos)

Notável que o entrevistado decide se exercitar a partir do momento que se identifica com a realidade observada em reportagem televisiva, percebendo que poderia se beneficiar de uma vida físicamente ativa. Indiscutível o poder exercido pelo discurso midiático sobre o entrevistado. Por meio deste, a atividade físi-ca é concebida pela população como meio eficaz de prevenir doenças e postergar a velhice. Ao reforçar a importância dada ao estilo de vida para o alcance de condições ótimas de saúde, a mídia impõe à velhice as normas do lazer ativo29, caracterizando o chama-do processo de reprivatização do envelhecimento36, o qual incumbe ao idoso a responsabilidade pelo seu envelhecimento e sua saúde.

Na afirmativa impositiva de que saúde deve ser o foco principal para o abandono do sedentarismo, é possível que a mídia esteja direcionando o pensamen-to popular de que o tipo de atividade física pratica-do não faz diferença, pois o que realmente importa é o resultado final: saúde. Perante tal realidade, cabe aos profissionais especializados informar adequada-mente a população idosa sobre as potencialidades e limitações dos distintos tipos de atividade física. Com maior conhecimento sobre a atividade física pratica-da, o idoso conhecerá as reais possibilidades da ativi-dade física, tornando sua prática menos mecânica e mais repleta de significado.

Visando conhecer melhor a temática estudada, sugerimos que estudos posteriores investiguem a opi-nião e o conhecimento de profissionais de Educação Física sobre as particularidades tanto da prática de atividades físicas na velhice quanto dos benefícios associados aos diferentes tipos de atividades físicas. A participação de número maior de sujeitos, assim como a inclusão de instrumentos que permitam iden-tificar idosos com dificuldades de aprendizado, tam-bém é sugerida.

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artiGo oriGiNal

Comparação e análise de concordância entre diferentes métodos de aferição

da pressão arterial em idosasComparison and analysis of agreement between different

methods of measuring blood pressure in elderly

Gislene Cristine Franco de Oliveira1, José Claudio Jambassi Filho2, André Luiz De-mantova Gurjão2, Marilia Ceccato2, Denise Cristina Zuzzi1, Sebastião Gobbi2

1 Faculdade Anhanguera de Rio Claro, SP, Brasil.2 Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista (Unesp), DEF, Laboratório de Atividade Física e Envelhecimento (Lafe), Rio Claro, SP, Brasil.

Endereço para correspondência: José Claudio Jambassi Filho. Laboratório de Atividade Física e Envelhecimento • Av. 24 A, 1515, Bela Vista – 13506-900 – Rio Claro, SP • Telefone: (55 19) 3526-4349/Telefax: (55 19) 3526-4321 • E-mail: [email protected]

Recebido em 20/9/2011Aceito em 12/9/2011

RESUMOobjetivo: Comparar e verificar a concordância das medidas de pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD) obtidas por meio dos métodos auscultatório (coluna de mercúrio) e oscilométrico (Omron – 412C), em idosas. Métodos: Três medidas de pressão arterial (PA) intervaladas por dois minutos foram aferidas de 47 idosas (66,8 ± 5,3 anos). O aparelho oscilométrico foi conectado em “Y” com o esfigmomanômetro de coluna de mercúrio, e os valores da PAS e PAD foram registrados por dois avaliadores “cegos”. resultados: Para cada aparelho, diferenças significativas não foram observadas (P < 0,01) entre as medidas (1, 2 e 3) da PAS e PAD. Com exceção da segunda medida da PAD, diferenças estatisticamente significativas (P > 0,01) foram identificadas entre as médias da PAS e PAD, estimadas pelos diferentes métodos. Embora correlações positivas significantes (P < 0,01) e de grande magnitude tenham sido identificadas entre os dois métodos investigados para PAS (r = 0,891) e PAD (r = 0,813), as análises de concordância indicaram limites relativamente amplos. A PAS foi subestimada em até 23,1 mmHg ou superestimada em até 12,8 mmHg e a PAD foi subestimada em até 13,4 mmHg ou superestima da em até 9,0 mmHg pela método oscilométrico em face do auscultatório. Conclusão: Os resultados deste estudo sugerem que os valores de PAS e PAD parecem ser influenciados pelo uso de diferentes métodos de avaliação de PA.

Palavras-chave: Aparelho oscilométrico, esfigmomanômetro, envelhecimento, monitor de pressão arterial.

ABSTRACTobjective: Compare and verify the agreement of measurements of blood pressure systolic (SBP) and diastolic (DBP) obtained by auscultatory methods (mercury column) and oscillometric (Omron – 412C), in elderly women. Methods: Three blood pressure (BP) measurements by two minutes intervals were measured from 47 elderly (66.8 ± 5.3 years). The oscillometric device was connected in “Y” with the mercury sphygmomanometer and the SBP and DBP values were recorded by two evaluators “blinded”. results: For each device, significant differences were not observed (P < 0.01) between measurements (1, 2 and 3) SBP and DBP. Except for the second measure of PAD, statistically significant differences (P > 0.01) were identified from the mean SBP and DBP, estimated by different methods. Although significant positive correlations (P < 0.01) e high magni tude were identified between the two methods investigated for SBD (r = 0.891) and DBP (r = 0.813), concordance analysis indicated relatively large limits. The SBP was underestimated by up to 23.1 mmHg or overestimated of up to 12.8 mmHg and in DBP was underestimated by up to 13.4 mmHg or overestimates of up to 9.0 mmHg for oscillometric method in the face of auscultation. Conclusion: The results of this study suggest that SBP and DBP appear to be influenced by using different methods of evaluating BP.

Keywords: Oscillometric device, sphygmomanometer, aging, blood pressure monitor.

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243Métodos de aferição da pressão arterial

iNtrodUÇÃo

A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma con-dição clínica multifatorial caracterizada por níveis elevados e sustentados de pressão arterial (PA), consi-derada um dos principais fatores de risco modificáveis e um dos mais importantes problemas de saúde pú-blica1. Alguns estudos têm indicado que a prevalência de HAS é superior a 50% na população idosa brasilei-ra2,3, sugerindo a importância da detecção e controle dessa condição clínica. Assim, a disponibilidade de diferentes métodos de aferição da PA pode auxiliar os profissionais da área da saúde na identificação da HAS, bem como facilitar o acompanhamento da PA em ações não medicamentosas. Em adição, métodos de fácil manuseio para aferição da PA podem contri-buir para inúmeros programas com grande quantida-de de participantes idosos4-6.

Uma das maneiras mais utilizadas para a aferição da PA é o método auscultatório por meio de esfig-momanômetro de coluna de mercúrio ou aneroide. Entretanto, diferentes fatores podem inviabilizar a utilização desse método, tais como: falta de profissio-nais treinados para realizar a aferição, disponibilidade de locais, dificuldades de locomoção dos idosos até centros de saúde ou consultórios médicos, entre ou-tros. Uma estratégia para a aferição da PA que tem recebido bastante atenção de pesquisadores em dife-rentes países é o método oscilométrico por meio de aparelhos eletrônicos7-11. Esses aparelhos apresentam facilidade em sua utilização, o que pode ser uma es-tratégia para automonitoração da PA em ambiente domiciliar e em programas de atividades físicas com grande número de participantes.

Considerando que as técnicas de medida da PA são diferentes, mas que as variáveis a serem medidas da PA (sistólica e diastólica) são semelhantes, espera--se que as informações produzidas por ambos os mé-todos apresentem boa concordância e que resultem em estimativas relativamente similares. Todavia, as informações disponíveis a esse respeito até o presen-te momento são inconclusivas7-11. Provavelmente, as respostas desses estudos podem ter sido moduladas conforme a idade, sexo, modelo dos aparelhos, tor-nando-os extremamente específicos.

Nesse sentido, o objetivo do presente estudo foi comparar e verificar a concordância das medidas de PA sistólica (PAS) e diastólica (PAD) obtidas por meio dos métodos auscultatório (coluna de mercú-rio) e oscilométrico (Omron – 412C), em mulheres idosas.

MÉtodoS

Sujeitos

Participaram do estudo 47 idosas (66,8 ± 5,3 anos; 69,2 ± 12,3 kg; 158,2 ± 6,7 cm; 27,5 ± 4,7 kg/m²) integrantes de um programa de atividade física regu-lar. Como critério de inclusão, as participantes deve-riam ter idade igual ou superior a 60 anos e praticar atividade física regularmente por no mínimo seis me-ses precedentes às coletas do atual estudo. Foram ex-cluídas das análises as participantes que: a) possuíam arritmias ou fibrilação atrial; b) fizeram ingestão de cafeína 30 minutos antes da avaliação; c) realizaram atividades físicas no dia da aferição da PA.

Todas as participantes, após receberem informa-ções sobre as finalidades do estudo e os procedimen-tos aos quais seriam submetidas, assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O estudo foi aprovado pelo do Comitê de Ética das Faculdades Anhanguera Educacional, de acordo com as normas da Resolução nº 196/96, do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisa envolvendo seres humanos.

Antropometria

Medidas antropométricas da massa corporal e esta-tura foram utilizadas para caracterização da amostra. A massa corporal foi mensurada em uma balança mecânica, da marca Welmy, modelo R-111, com precisão de 0,1 kg, ao passo que a estatura foi deter-minada em um estadiômetro de madeira com pre-cisão de 0,1 cm, de acordo com os procedimentos descritos por Gordon et al.12. A partir dessas medi-das foi calculado o índice de massa corporal (IMC), por meio da relação entre a massa corporal e o qua-drado da estatura, sendo a massa corporal expressa em quilogramas (kg) e a estatura, em metros (m).

Medidas de pressão arterial

Anteriormente ao início das aferições, as participan-tes permaneceram em repouso por 5 minutos. Para a avaliação da PA, as participantes deveriam: a) estar confortavelmente sentadas, sem cruzar as pernas e as costas; b) estar com braços apoiados, de forma que o meio do manguito ficasse no nível do átrio direito (ponto médio do esterno); c) relaxar o máximo possí-vel e não falar durante a medição.

O aparelho oscilométrico foi conectado em “Y” com o esfigmomanômetro de coluna de mercúrio e devidamente calibrado antes de serem executadas as aferições. Três medidas intervaladas por 2 minu-

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244

tos foram realizadas. Todas as aferições da PA fo-ram realizadas no braço direito das participantes. O equipamento eletrônico teve inflação e deflação automática do ar, com variação da pressão de 0-280 mmHg. Os valores da PAS e PAD foram registrados por dois avaliadores “cegos”, ou seja, cada avaliador registrava a medida de um método, sem ter conhe-cimento dos valores registrados pelo outro método. Os valores de PA foram registrados por dois ava-liadores com reprodutibilidade testada [PAS (ICC = 0,97) e PAD (ICC = 0,94)]. As medidas de PA foram registradas pelo método “cego” (cada avalia-dor tinha o conhecimento somente da medida de um aparelho).

Tratamento estatístico

Considerando que o teste de Shapiro-Wilk não rejei-tou a hipótese de distribuição normal dos dados, foi utilizada a estatística descritiva paramétrica (média e desvio-padrão). O teste t de Student para amos-tras dependentes foi empregado nas comparações entre os dois métodos de PA investigados. A ANO-VA one-way para medidas repetidas foi utilizada para comparar as medidas (1, 2 e 3) da PAS e PAD. O coeficiente de correlação de Pearson (r) foi uti-lizado para a análise das possíveis associações entre as medidas da PA obtidas pelos diferentes métodos. A análise dos limites de concordância para as me-didas da PA, estimadas por meio dos métodos aus-cultatório e oscilométrico, foi realizada a partir da plotagem de Bland e Altman13. O nível de signifi-cância estabelecido para todas as análises foi de P < 0,05. Os dados foram processados no pacote estatís-tico SPSS, versão 16.0.

reSUltadoS

Para cada aparelho, diferenças significativas não fo-ram observadas (P < 0,01) entre as medidas (1, 2 e 3) da PAS e PAD (Tabela 1). Com exceção da segunda medida da PAD, diferenças estatisticamente signifi-cativas (P > 0,01) foram identificadas entre as médias da PAS e PAD, estimadas pelos diferentes métodos (Tabela 1).

Correlações positivas significantes (P < 0,01) e de grande magni tude foram identificadas entre os dois métodos investigados para PAS (r = 0,891) e PAD (r = 0,813) (Figura 1).

Na figura 2, encontra-se a análise de concordância entre os diferentes métodos de aferição da PA. Para os valores de PAS e PAD, somente 4,9% e 2,8%, res-

tabela 1. Comparação entre as medidas de pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD) obtidas por meio dos métodos auscultatório (coluna de mercúrio) e oscilométrico (Omron – 412C), em idosas (n = 47)

aferições auscultatório oscilométrico P

PAS 1 129,6 ± 21,1 135,2 ± 18,1* 0,01

PAS 2 126,6 ± 19,6 132,5 ± 19,5* 0,01

PAS 3 126,4 ± 19,9 130,5 ± 19,2* 0,01

F = 0,73; P = 0,48 F = 0,37; P = 0,68

PAD 1 75,8 ± 9,3 77,9 ± 8,4* 0,01

PAD 2 75,8 ± 9,6 77,4 ± 8,5 0,08

PAD 3 74,7 ± 10,1 77,4 ± 10,2* 0,01

F = 0,05; P = 0,94 F = 0,21; P = 0,80

Os resultados estão apresentados em valores de média (± DP). * Diferenças estatisticamente significativas em comparação ao método auscultatório (P < 0,05).

Figura 1. Correlação entre os valores estimados por meio dos métodos auscultatório (coluna de mercúrio) e oscilométrico (Omron – 412C) para a pressão arterial sistólica (PAS) e pressão arterial diastólica (PAD), em idosas (n = 47).

pectivamente, encontram-se fora do intervalo de con-fiança de 95% (+/- 1,96 DP).

PAS (mmHg)

y = 0,9477x + 1,7632r = 0,891

EPE = 9,14P < 0,01

210

190

170

150

130

110

90

7080 100 120 140 160 180 200

Oscilométrico

Ausc

ulta

tório

PAD (mmHg)

y = 0,8614x + 8,5742r = 0,813

EPE = 5,59P < 0,01

120

110

100

90

80

70

60

5050 60 70 80 90 100 110 120

Oscilométrico

Ausc

ulta

tório

Geriatria & Gerontologia. 2011;5(4):242-7

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245

diSCUSSÃo

Conquanto as medidas (1, 2 e 3) dos aparelhos apresentaram respostas similares, diferenças estatis-ticamente significativas foram identificadas entre as médias da PAS e PAD estimadas pelos diferentes mé-todos (auscultatório e oscilométrico). Embora corre-lações positivas e de grande magni tude tenham sido identificadas para as medidas de PAS e PAD entre os dois métodos investigados, as análises de concordân-cia indicaram limites relativamente amplos. A PAS foi subestimada em até 12,8 mmHg ou superestima-da em até 23,1 mmHg e a PAD foi subestimada em até 9,0 mmHg ou superestima da em até 13,4 mmHg pelo método oscilométrico em relação ao auscultató-rio. É importante destacar que, das 142 medidas, o aparelho digital superestimou 81,7% e 74,6% a PAS e PAD, respectivamente.

Recentemente, alguns estudos têm comparado e analisado a concordância entre as medidas de PA obtidas por meio dos métodos oscilométricos e aus-cultatórios em crianças14, adolescentes8,15-17, adultos jovens18-21 e obesos22. Embora os resultados desses estudos tragam importantes informações, eles não podem ser extrapolados para adultos idosos, princi-palmente por essa população apresentar maior pre-valência de HAS comparado a crianças, adolescentes e adultos jovens23. Além disso, o envelhecimento é caracterizado por alterações estruturais (calcificação e fibrose, processos que conduzem ao endurecimento da parede arterial) e funcionais (diminuição da com-placência dos vassos) da árvore arterial, podendo in-fluenciar nas aferições da PA24.

Especificamente em adultos idosos, alguns estudos compararam diferentes aparelhos oscilométricos com o método ascultatório9,25,26. Altunkan e Altunkan25 testaram o aparelho Omron 637IT em 33 idosos (> 65 anos). As médias das diferenças (± DP) para a PAS e PAD foram 0,3 ± 6,5 mmHg e 2,8 ± 4,8 mmHg, respectivamente. No atual estudo, embora a média das diferenças (± DP) da PAD tenha sido menor (2,2 ± 4,8 mmHg) do que neste estudo, a PAS foi muito maior (5,2 ± 9,2 mmHg).

Bortolotto et al.26 testaram dois aparelhos (Omron HEM-722C e HEM-735C) em 30 idosos (> 65 anos). A média das diferenças (± DP) para a PAS e PAD do aparelho HEM-722C foi de 0,8 ± 5 e 0,4 ± 8 mmHg, respectivamente, e do HEM-735C foi de 0,2 ± 8 e 0,9 ± 8 mmHg, respectivamente. A média das diferenças da PAS e PAD desse estudo foi menor do que a da presente investigação. Contudo, a varia-ção do ± DP deste estudo foi bem maior (8 vs. 4,8 mmHg) do que a do atual estudo, indicando maior variabilidade da PAD por esses aparelhos.

Omboni et al.9 compararam a acurácia de três aparelhos oscilométricos (Omron M5-I, R5-I e HEM-907) com o esfigmomanômetro de coluna de mercúrio, em 33 idosos (≥ 75 anos). Conquanto as médias das diferenças (± DP) para a PAS e a PAD dos aparelhos Omron M5-I (0,2 ± 3,6 e 0,2 ± 3,9 mmHg, respectivamente), Omron R5-I (–1,5 ± 6,2 e – 0,7 ± 3,7 mmHg, respectivamente) e Omron HEM-907 (0,1 ± 5,1 e – 1.9 ± 4,2 mmHg, respectivamente) te-nham sido menores comparadas com o atual estudo, os três aparelhos apresentaram diferenças estatistica-mente significativas (P < 0,05) para PAS e PAD.

Nesses estudos prévios realizados com adultos ido-sos, foram realizados os procedimentos de validação dos aparelhos por meio dos protocolos da Association

PAS (mmHg)

+1,96 DP12,8

Média

-5,2

-1,96 DP-23,1

5040

2030

10

-100

-20-30-40-50

90 110 130 150 170 190

(Auscultatório + Oscilométrico)/2

PAD (mmHg)

+1,96 DP9,0

Média

-2,2

-1,96 DP-13,4

30

20

10

-10

-20

-30

0

55 65 75 85 95 105 115

(Auscultatório + Oscilométrico)/2

Ausc

ulta

tório

- O

scilo

mét

rico

Ausc

ulta

tório

- O

scilo

mét

rico

Figura 2. Concordância entre os valores estimados da pressão arterial sistólica (PAS) e a pressão arterial diastólica (PAD) por meio dos métodos auscultatório (coluna de mercúrio) e oscilométrico (Omron – 412C), em idosas (n = 47). As linhas sólidas representam as diferenças médias entre os métodos e as linhas pontilhadas representam os intervalos de confiança a 95%.

Métodos de aferição da pressão arterial

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246

for Advancement of Medical Instrumentation27, British Hypertension Society Protocol28 e European Society of Hypertension International Protocol29. Diferentemen-te, em nosso estudo nos limitamos apenas a comparar e analisar a concordância entre os aparelhos, tendo em vista que, em uma recente revisão sistemática realiza-da por Wan et al.30, verificou-se que os resultados de um mesmo aparelho podem variar substancialmente quando validado por diferentes protocolos.

Embora a European Society of Hypertension Inter-national Protocol29 recomende realizar três avaliações no mínimo em 33 participantes para validar apare-lhos oscilométricos, outras entidades, como a British Hypertension Society Protocol28, sugerem uma amostra de 85 participantes. Nesse sentido, os resultados en-contrados no atual estudo devem ser analisados com cautela, uma vez que a ausência de um número maior de participantes pode ter impossibilitado uma análi-se mais consistente das estimativas da PA produzidas pelos diferentes métodos.

Os resultados deste estudo indicam que os valores de PAS e PAD parecem ser influenciados pelo uso de diferentes métodos de avaliação de PA. Sugere-se a realização de futuros estudos com maior quantidade de participantes, bem como a realização dos proce-dimentos de validação dos aparelhos por meio dos diferentes protocolos.

aGradeCiMeNtoS

Os autores deste trabalho agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnoló-gico (CNPq), à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ao Programa de Atividade Física para Terceira Idade (Profit) e ao Labo-ratório de Atividade Física e Envelhecimento (Lafe).

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Métodos de aferição da pressão arterial

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relato de eXPeriÊNCia

Square Stepping Exercise: uma nova atividade física para os idosos

Square Stepping Exercise: a new kind of activity for elderly

Camila Vieira Ligo Teixeira1, Sebastião Gobbi2, Ana Paula Canonici3, Jessica Pereira Rodrigues1, Deisy Terumi Ueno1,

José Luiz Riani Costa2, Lilian Teresa Bucken Gobbi2

1 Programa de Pós-Graduação em Ciências da Motricidade Humana do Departamento de Educação Física (DEF)/IB da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) – Rio Claro, Laboratório de Atividade Física e Envelhecimento (Lafe)/DEF/IB da Unesp – Rio Claro.2 DEF/IB da Unesp – Rio Claro, Lafe/DEF/IB da Unesp – Rio Claro.3 Ciências da Motricidade Humana do DEF/IB da Unesp – Rio Claro, Lafe DEF/IB da Unesp – Rio Claro.

Endereço para correspondência: Camila Vieira Ligo Teixeira • Av. 24A, 1515, Bela Vista – 13506-900 – Rio Claro, SP • Telefone: (19) 3526-4312 • E-mail: [email protected]

iNtrodUÇÃo

Recentes pesquisas sobre o envelheci-mento estão mostrando os benefícios da prática do exercício físico nas funções cognitivas1-5, levando à hipótese que a

prática do exercício físico pode contri-buir para a prevenção de declínio cogni-tivo3,6,7. Essas pesquisas acabam por abrir um novo leque de possibilidades que per-mitem às pessoas manterem a vitalidade cognitiva enquanto elas envelhecem, pois

Recebido em 24/2/2011Aceito em 30/12/2011

RESUMOA literatura tem mostrado a importância de envelhecer preservando as funções cognitivas e componentes da capacidade funcional, e programas que oferecem atividade física para a população são alternativas de baixo custo e têm impacto positivo nesses aspectos. O Programa de Atividade Física para Terceira Idade é um projeto de extensão oferecido pela Unesp e tem como objetivo oferecer um programa de atividade física para idosos da co-munidade, além de proporcionar aos alunos da graduação a oportunidade de aplicar os conhecimentos acadêmicos na comunidade. Dentre as modalidades oferecidas que propiciam aos participantes melhora e/ou manutenção da autonomia, do estado de saúde e da interação social, está o Square Stepping Exercise, modalidade criada no Japão para melhorar o equilíbrio dos idosos, mas que também exige grande desempenho cognitivo de seus praticantes. Estudos têm comprovado que a participação de idosos em práticas de exercício físico e cognitivo colaboram para um envelhecimento saudável, por isso são necessários programas que promovam a saúde da população.

Palavras-chave: Idoso, atividade física.

ABSTRACTThe literature has shown the importance of preserving cognitive functions and components of functional capacity with aging, and programs that offer physical activity for the population are low-cost alternatives, and have positive impact on these aspects. The Physical Activity Program for Seniors is a program offered by Unesp, and aims to offer a physical activity program for older adults, in addition to providing undergraduate students the opportunity to apply academic knowledge in the community. Among the activities offered, which give the participants an improvement and / or maintenance of autonomy, health and social interaction, is the Square Stepping Exercise, an activity crea-ted in Japan to improve the balance of the elderly, but also requires great cognitive performance of its practitioners. Studies have shown that older people participation in physical and cognitive exercise collaborates for a healthy aging, so programs that promote the healthiness of the population are necessary.

Keywords: Elderly, physical activity.

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249Atividade física para idosos

está claro que engajamento social, estimulação intelec-tual e atividades físicas têm papel poderoso na saúde cognitiva8-10. Estudos de delineamento transversal e correlacionais têm indicado que maior estimulação, como prática de atividades intelectuais, está associada com o menor risco de declínio cognitivo10,11 e também de desenvolver as síndromes demenciais10,12. Esses re-sultados são consistentes com estudos de intervenções de estimulação cognitiva semanal, tal como tarefas de resolver problemas e jogos de memória, aumentando o bem-estar psicológico daqueles que os praticam13,14. Portanto, para a eficácia cognitiva continuar com o avanço da idade, mais suporte cognitivo e treinamen-tos são necessários11,15.

Além da preservação das funções cognitivas no envelhecimento, a literatura tem mostrado o quão necessário é para os idosos que mantenham um nível adequado da capacidade funcional para que possam viver com autonomia e independência16. Tem sido mostrado que diversos tipos de treinamento físico têm melhorado os componentes da capacidade fun-cional em idosos17-19. A prática da atividade física é uma das principais formas de minimizar os declínios físicos, psicológicos e sociais que geralmente acompa-nham o envelhecimento20,21.

Idosos que se exercitam regularmente são mais automotivados, possuem maior sentimento de auto-eficácia22, diminuem a probabilidade de desenvolver doenças crônicas e melhoram os níveis de aptidão fí-sica e disposição geral23,24.

Fica claro que intervenções que visam à prevenção de doenças e promoção da saúde são alternativas de baixo custo e de grande benefício para a população, principalmente a idosa25. A prática regular de ativida-de física tem se mostrado uma importante intervenção e tem sido evidenciado que a inatividade representa um alto custo para a sociedade26,27, aumentando ain-da mais quando associada ao envelhecimento28,29.

O Programa de Atividade Física para Terceira Idade (Profit) é um projeto de extensão criado há 20 anos na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita (Unesp), o qual tem o intuito de oferecer um programa de atividade física para idosos da comunidade, objeti-vando propiciar aos participantes melhora e/ou manu-tenção da autonomia, do estado de saúde e da interação social. Inicialmente, o programa começou apenas com atividade física geral, mas, ao passar do tempo, foi diag-nosticado que era necessário oferecer outros programas de exercícios, como dança e musculação.

O programa conta com a colaboração de volun-tários da graduação para o bom desenvolvimento das

atividades e atendimento dos idosos. E com o apoio financeiro da Pró-Reitoria de Extensão Universitária, que custeia os gastos materiais e humanos (bolsistas voluntários) (Figura 1).

Extensão universitária é conceituada como “um processo educativo, cultural e científico, que se ar-ticula ao ensino e à pesquisa de forma indissociá-vel, e que viabiliza a relação transformadora entre a universidade e a sociedade”31. A extensão possibilita que a universidade se utilize da comunidade para enriquecer sua formação, ao mesmo tempo em que beneficia essa população divulgando e aplicando os conhecimentos acadêmicos adquiridos durante esse processo de aprendizagem por meio dos programas de extensão32.

Atendendo a conceituação mencionada, os pro-gramas de extensão devem estar em constante avalia-ção e mudança, para melhor adaptação às descobertas recentes e à realidade da comunidade focada. Com essa preocupação, o Profit trouxe do Japão uma nova ferramenta para a prática da atividade física, o Square Stepping Exercise (SSE). O SSE é um programa cria-do33 com o intuito de trabalhar vários dos compo-nentes da capacidade funcional, com destaque para o equilíbrio postural de seus praticantes, contribuindo para a redução do risco de quedas.

Figura 1. Modelo lógico de funcionamento do Profit (Adaptado de Paiva30).

Pró-reitoria de extensãouniversitária – PROEX

Núcleo central Unesp-Unati

Núcleo local Unesp-Unati/RC

Pro�tPrograma de Atividade

Física para Terceira Idade

Atividadefísica geral

Ensino

MusculaçãoDança

Square Stepping Exercise

Pesquisa e extensão

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250

O SSE pode ser considerado uma nova forma sistematizada de atividade física, sendo um progra-ma de treinamento que, além de exigir esforço físico, demanda, também, alto nível de funções cognitivas (atenção concentrada, memória, funções executivas), fundamentando a hipótese de que sua prática regular possa também beneficiar tais funções, o que seria par-ticularmente importante em idosos.

Protocolo de intervenção do SSE

Como foi mencionado anteriormente, é necessário diagnosticar a situação de acordo com as pesquisas apresentadas e com a comunidade local. Então, foi observada a necessidade de oferecer mais atividades para os idosos, e entre elas uma atividade cognitiva. Assim, surgiu o interesse no SSE.

Estudos comprovam a eficácia do SSE sobre com-ponentes de capacidade funcional de equilíbrio, força de membros inferiores, flexibilidade e agilidade, di-minuindo, consequentemente, o risco de quedas33,34. Contudo, nos estudos apresentados, o SSE não foi usado isoladamente no protocolo de treinamento, pois foram acrescentados exercícios de alongamento e de resistência muscular localizada, existindo, por-

tanto, uma lacuna no conhecimento científico sobre possíveis efeitos isolados do SSE.

Para o implemento da prática de intervenção do protocolo do SSE33, primeiramente foi realizado um projeto piloto para melhor compreensão da atividade e como seria desenvolvida, e quais instrumentos de avaliação das capacidades funcionais e funções cogni-tivas seriam mais adequados para tal prática.

SSe

Para a execução da sequência do SSE, é utilizado um tapete, dividido em 40 quadrados, para cada oito participantes, e um orientador por tapete monitora o desempenho dos participantes. O programa de trei-namento do SSE é composto por sequências de passos para frente, para trás, para a lateral e para a diagonal e, a cada sequência, a complexidade da combinação dos passos aumenta. As sequências do programa estão organizadas em nível de dificuldade, divididas em seis categorias: Básico 1, Básico 2, Intermediário 1, Inter-mediário 2, Avançado 1, Avançado 2. O orientador demonstra três vezes cada sequência antes de os parti-cipantes tentarem executá-la (Figura 2).

Figura 2. Esquema ilustrativo de sequências de andar sobre o tapete do programa de treinamento Square Stepping Exercise33.

Geriatria & Gerontologia. 2011;5(4):248-52

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251

Os participantes são instruídos a andar sobre o tapete de acordo com a sequência que o orientador mostrar. Para mudar a sequência, é necessário que os participantes tenham aprendido a anterior, tendo-a executado corretamente por três vezes. Os voluntários são encorajados a concentrar-se na sequência, para que tenham sucesso no desempenho dela e das outras mais complexas. Não é utilizada qualquer outra dica visual (que não a demonstração pelo orientador) ou auditiva.

Testes

Para avaliar o desempenho dos idosos que praticam SSE, foi escolhida como avaliação dos componentes da capacidade funcional a bateria de testes da Ameri-can Alliance for Health, Physical Education, Recreation and Dance – AAHPERD35,23, pois essa bateria apre-senta testes, especificamente delineados para idosos, que aferem os seguintes componentes de capacidade funcional: agilidade e equilíbrio dinâmico, flexibili-dade, resistência aeróbia geral, coordenação óculo--manual e força de membros superiores.

E para observar a influência nas funções cogniti-vas, foram escolhidos: Miniexame do Estado Mental (MMSE)36, o qual avalia funções cognitivas globais. O índice de sensibilidade apontado é de 80% e de especificidade de 91,3% para esse instrumento37. O Teste Modificado de Classificação das Cartas38 – versão reduzida do Wisconsin Card Sorting Test39, o qual avalia funções executivas40,41. Dígitos (subteste da Wechsler Adult Intelligence Scale – III)42, para ava-liar memória de curto prazo e memória de trabalho e Atenção Concentrada de Toulouse-Pieron – Fator P43 para avaliar atenção. Esses testes foram escolhidos por avaliar as funções cognitivas, aparentemente mais estimuladas com o desempenho do SSE.

CoNClUSÃo

O SSE, enquanto uma nova proposta de exercício físi-co, apresenta dois aspectos relevantes: os benefícios e a aceitação pela população idosa. Foi observada gran-de aderência entre os idosos com a nova atividade, além de sua prática estimular as funções cognitivas.

Parece estar fundamentado na literatura que o en-gajamento em práticas de exercício físico e cognitivo pode colaborar para um envelhecimento saudável, por isso a importância de estimular programas com proposta de promoção à saúde.

Apoio financeiro: Conselho Nacional de Desen-volvimento Científico e Tecnológico (CNPq) (bolsa).

Núcleo Universidade Aberta à Terceira Idade, Univer-sidade Estadual Paulista (Unesp-Unati). Pró-Reitoria de Extensão Universitária (Proex). Fundação para o Desenvolvimento da Unesp (Fundunesp).

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Geriatria & Gerontologia. 2011;5(4):248-52

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artiGo de reViSÃo

Úlcera por pressão em idosos: a importância do manejo nutricional no tratamentoMajor risk factors for the development of pressure ulcer in the elderly and the importance of nutrition in the treatment handling

Vanessa Motta Moreira Sakashita1, Maria de Lourdes do Nascimento1

1 Hospital do Servidor Público Estadual

(HSPE) – Francisco Morato de Oliveira.

Endereço para correspondência: Vanessa Motta Moreira Sakashita • Av. José Gomes de Camargo, 300, Condomínio Ouroville, casa 114 – 18213-640 – Itapetininga, SP • E-mail: [email protected]

RESUMOAs úlceras por pressão (UP) são definidas como “Uma área de lesão localizada da pele e dos tecidos subjacentes, causados por pressão, tensão tangencial, fricção e/ou uma combinação destes fatores”. As UPs constituem impor-tante problema de saúde, em particular nos hospitais, gerando aumento de custos e comprometimento à saúde e prolongamento do tempo de internação, sendo o indivíduo idoso o grupo mais suscetível ao aparecimento da UP. Este trabalho de revisão teve como objetivo analisar os fatores que levam ao aparecimento das UPs nos idosos e identificar as estratégias nutricionais adequadas para o tratamento. Diversos trabalhos originais e de revisão, publicados a partir de 2004, foram pesquisados nas bases de dados Medline, Lilacs e PubMed, sendo utilizados os seguintes termos: úlcera por pressão, tratamento, idosos, desnutrição e estado nutricional. A maioria dos tra-balhos publicados evidencia que a grande prevalência dos idosos que apresenta essa lesão é em sua grande parte desnutrida, estando hospitalizada ou em instituições geriátricas. A desnutrição influencia tanto na formação da lesão em que se tem redução da massa tecidual quanto no processo de cicatrização. A desnutrição pode predizer o desenvolvimento da UP, devendo-se ressaltar algumas causas como a persistente falta de apetite, as restrições alimentares, a dependência de ajuda para comer, o comprometimento cognitivo, o uso de medicações que interfe-rem no apetite e estado nutricional.

Palavras-chave: Úlceras por pressão, tratamento, desnutrição, idosos, estado nutricional.

ABSTRACTThe pressure ulcers (PU) are defined as “An area of localized lesion of the skin and underlying tissues caused by pressure, shear stress, friction and / or a combination of factors”. The UP is a major health problem, particularly in hospitals, resulting in increased costs, commitment to health and prolongation of hospitalization, with the indi-vidual elder group most susceptible to the onset of PU. This review aimed to analyze the factors that lead to the onset of UP in the elderly and identify strategies appropriate to the nutritional treatment. Several original papers and review articles, published since 2004, were searched in the databases Medline, PubMed and Lilacs, and used the following terms: pressure ulcer, treatment, elderly, malnutrition and nutritional status. Most published studies shows that the high prevalence of older people presenting this injury is in his most malnourished, or being hospitali-zed in geriatric institutions. Malnutrition affects both the formation of the lesion where there is a reduction of body tissue and the healing process. Malnutrition can predict the development of UP, one should note some causes such as persistent lack of appetite, dietary restrictions, dependence on assistance for eating, cognitive impairment, use of medications that interfere with appetite and psychosocial factors. Therefore, it is necessary to adopt strategies for prevention of pressure ulcers, including those related to recovery and maintenance of nutritional status.

Keywords: Pressure ulcers, treatment, elderly, malnutrition, nutritional status.

Recebido em 1/8/2011Aceito em 27/12/2011

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iNtrodUÇÃo

As úlceras por pressão (UP) são definidas como: “Uma área de lesão localizada da pele e dos tecidos subjacentes, causados por pressão, tensão tangencial, fricção e/ou uma combinação destes fatores”1.

As UPs são causadas por fatores intrínsecos e ex-trínsecos ao paciente. Os fatores extrínsecos que po-dem levar ao aparecimento dessas lesões são: pressão, cisalhamento, fricção, imobilização e umidade. Os fatores intrínsecos relacionados ao aparecimento das UPs são: alterações cutâneas relacionadas à idade, processos patológicos, diminuição da perfusão teci-dual, edema, fator nutricional, idade avançada, hipo-tensão arterial, tonicidade muscular, estado mental e motricidade involuntária exagerada2.

Em função dos fatores de risco associados à faixa etária avançada, os indivíduos idosos são mais sus-cetíveis ao acometimento dessas entidades clínicas. Estudos demonstram que a incidência de UP em in-divíduos internados em hospitais, em casas de repou-so ou ainda sob cuidados nas próprias residências é maior em indivíduos idosos3. Estudos sobre incidên-cia e prevalência de úlceras por pressão são escassos no Brasil. Rogenski e Santos3, em estudo prospec-tivo com 211 pacientes considerados de risco para desenvolver úlceras de decúbito, internados em um hospital universitário de São Paulo, observaram uma incidência de 39,8% de úlceras, sendo que, desses, 78,6% apresentavam idade maior que 60 anos. No âmbito hospitalar, indivíduos idosos podem desen-volver essas lesões precocemente, até nos primeiros dias de internação4. No processo de envelhecimento, alguns fatores podem estar alterados, e a pele apresen-ta diminuição no processo de formação das células epiteliais, causando desgaste de 20% a 30% na espes-sura da epiderme, diminuição do número, tamanho e secreção das glândulas sudoríparas, além do escasso tecido de sustentação. A derme se desidrata perdendo sua rigidez e elasticidade, assim como ocorre redução da vascularização2. Esses fatores contribuem para o desencadeamento de fatores físicos locais, facilitando a ruptura da pele como a maceração, que é a redução da resistência da pele causada pela umidade2.

A combinação desses fatores torna a pele menos elástica e mais friável, aumentando as chances de le-sões dermatológicas do paciente que se encontra aca-mado. Estudos realizados demonstraram incidência de 10% a 20% de UP em idosos acamados e taxa de mortalidade de 70% ao ano. Cerca de 3% desses ido-sos apresentam úlceras por pressão de grau III e IV2-5.

Para classificar as UPs quanto ao seu grau de pro-fundidade, foi adotada a classificação publicada pela European Pressure Ulcer Advisory Panel (EPUAP) e Grupo Nacional para o Estudo e Assessoria em Úlce-ra por Pressão – Espanha (GNEAUUP)1, que define: grau I – eritema não branqueável em pele intacta, a lesão precursora da pele. Em pacientes de pele escura, o calor, o edema, o endurecimento ou a dureza tam-bém podem ser indicadores; grau II – perda parcial da pele, que envolve a epiderme, a derme ou ambas (abrasão/flictena); grau III – perda de espessura total da pele, podendo incluir lesões ou mesmo necrose do tecido subcutâneo, com extensão até a fáscia subja-cente, mas não através dessa; grau IV – destruição extensa, necrose dos tecidos ou lesão muscular e/ou exposição óssea ou das estruturas de apoio (neste grau como no III, podem apresentar lesões com caverna, túneis ou trajetos sinuosos)1.

Na população idosa, o processo da doença pode contribuir com a piora do estado nutricional e sub-meter o organismo a diversas alterações anatômicas e funcionais, com repercussões nas condições de saúde e nutrição dessa população6.

Diversos fatores estão envolvidos na desnutrição do idoso, incluindo aqueles relacionados à diminui-ção do apetite e prejuízo na função cognitiva e motora que leva à dependência de auxílio para alimentar-se, presença de doenças agudas com perdas gastrointesti-nais, polifarmácia, redução da sensação de sede, disfa-gia, depressão, monotonia da dieta, doenças crônicas, entre outros7. Portanto, é importante ressaltar que, sendo os idosos um dos grupos de risco para desen-volvimento das UPs, é necessário conhecer as causas que afetam essa população para prevenir e tratar de maneira eficiente as UPs, evitando, assim, o aumento no tempo de internação e os altos custos hospitalares. A nutrição desempenha papel fundamental na cica-trização da ferida, melhora do sistema imune e recu-peração do estado nutricional do paciente.

Fatores de riscos para úlcera por pressão em idosos

Muito se tem discutido sobre sua causalidade, fisiopa-togenia e estratégias de prevenção e tratamento vol-tadas, principalmente, para as populações de maior risco7.

O grupo da população geriátrica concentra 70% de todas as UPs. Devido ao alto grau de morbida-de associado ao envelhecimento geral da população, espera-se que aumente a incidência de pacientes com UPs8.

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255Formação das úlceras por pressão em idosos e estratégias nutricionais no tratamento

Um estudo transversal envolvendo mais de 3.000 pacientes em home care mostrou 9,12% de ocorrência de UPs. Dentre esses pacientes citados, 37,4% apresen-tavam mais de uma lesão e 14%, três ou mais úlceras. A avaliação desses pacientes revelou também que 30% estavam sob risco de desenvolver novas ulcerações8.

Os fatores extrínsecos são aqueles relacionados à tolerância tissular ou ao mecanismo de formação de úlceras. Há fatores externos que podem causar as UPs isoladamente ou combinados; são a fricção, cisalha-mento, atrito, tensão e umidade9.

Em se tratando de umidade, esta é considera-da como sendo um fator de risco significante para ocorrência de UP, pois a umidade em excesso na pele torna-se mais fragilizada e mais suscetível ao atrito e à maceração9. A umidade como um fator de risco ex-trínseco para as UPs pode estar associada às alterações do nível de consciência, além de outras condições neurológicas periféricas. Na maioria das vezes, ocorre em consequência das incontinências urinárias e anal, drenagem de feridas, transpiração e restos alimenta-res. A exposição da pele à excessiva umidade pode en-fraquecer as camadas externas da pele e torná-las mais vulneráveis às lesões8.

A diminuição da sensação cutânea interfere na percepção da dor. Essas alterações normalmente estão associadas à diminuição do nível de consciência ou a alterações neurológicas, tais como acidente vascular cerebral (AVC) e as para, hemi ou tretaplegias8,9.

A população idosa, em geral, apresenta multiplici-dade de doenças e, portanto, consome maior número de medicamentos. O uso de diferentes medicamen-tos, nessa época da vida, tem deixado de ser espo-rádico para converter-se em habitual. A polifarmácia em idosos aumenta a incidência de efeitos colaterais e interações medicamentosas, e o seu uso inadequado, frequentemente, provoca complicações graves. Nesse sentido, a utilização, em longo prazo, de drogas tera-pêuticas que interferem na digestão, na absorção e no metabolismo de nutrientes pode, também, ocasionar desnutrição nos idosos, além de desenvolver anore-xia9-11. A polifarmácia aumentou com a progressão da idade, fenômeno esse que pode ser explicado por uma série de fatores, incluindo aumento da morbidade9. A interação entre fármacos e alimentos ocorre devi-do à reciprocidade das características físicas, químicas e fisiológicas de ambos no organismo, e o alimento pode causar alterações farmacológicas e o fármaco, implicações na manutenção do estado nutricional10,12. A polifarmácia pode comprometer o estado nutricio-nal dos indivíduos com 60 anos ou mais13.

Vale ressaltar que a idade é apontada, pela maio-ria dos autores, como um dos mais relevantes fatores envolvidos na fisiopatogênese das UPs, quando asso-ciada a outros fatores como desnutrição, mobilidade e umidade. Em estudo multicêntrico, realizado na Fin-lândia, em hospitais gerais e de reabilitação, além de centros de saúde, os autores verificaram idade média de 75 anos para os pacientes com UP, similarmente aos resultados aqui encontrados14.

As alterações morfofisiológicas diretamente rela-cionadas com a determinação do estado nutricional e que surgem naturalmente com a idade avançada in-cluem aquelas relacionadas ao processo de mastigação (dentição, salivação e sensibilidade gustativa), deglu-tição, motilidade do trato gastrointestinal, sensação de sede e digestão (saciedade precoce)11-13.

Outras alterações também contribuem para o comprometimento da ingestão alimentar e aprovei-tamento dos nutrientes pelo organismo do idoso. A acuidade visual, bem como a sensibilidade olfativa diminuída, pode dificultar ou até impedir o acesso ao alimento e, ainda, constituir-se em fator de desestí-mulo à iniciativa para a alimentação11. Essas alterações são parciais e afetam o comportamento alimentar do idoso. Dentre todas as mudanças sensoriais, o olfato e a gustação interferem mais diretamente na ingestão de alimentos, e a visão prejudicada também a influen-cia negativamente. Não há dúvida de que o apetite no idoso é influenciado, principalmente, pela palata-bilidade dos alimentos15. Com o envelhecimento, os hábitos de mastigação mudam, acentuadamente, tan-to nos homens como nas mulheres. Essas alterações na capacidade mastigatória do idoso são devidas ao aparecimento frequente de cáries e doenças periodon-tais, às próteses totais ou parciais inadaptadas ou em péssimo estado de conservação e à ausência de dentes. Esses fatores interferem no comportamento inicial do processo digestivo, favorecendo sua inadequação tanto no processo mecânico como no enzimático15. A perda de apetite em idosos tem sido geralmente relacionada com ausência de elementos dentários e com o uso de próteses. As pessoas que usam dentadu-ras mastigam 75% a 85% menos eficientemente que aquelas com dentes naturais, o que leva à diminuição do consumo de carnes, frutas e vegetais frescos, razão por que idosos com próteses totais tendem a consumir alimentos macios, facilmente mastigáveis, pobres em fibras, vitaminas e minerais, fato que pode ocasionar consumo inadequado de energia, ferro e vitaminas15.

Outro fator relacionado é a redução da secreção salivar e a sensação de secura na boca, queixa dada pelos idosos, levando a um efeito negativo na alimen-

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tação, apetite e conforto oral. Em decorrência dessa redução, podem ocorrer dificuldade de mastigação e deglutição, diminuição e alteração do paladar, difi-culdade para falar, lábios secos e fissurados e, ainda, intolerância a certos alimentos11.

Desnutrição e úlcera por pressão em idosos

Estudos demonstram que indivíduos idosos que de-senvolvem UP ou são classificados como de risco para seu desenvolvimento apresentam estado nutricional comprometido, que, associado ao maior tempo de hospitalização, pode constituir-se em elemento sina-lizador da severidade dessas feridas11-17.

Nos últimos anos, os estudos têm mostrado preva-lências altas de idosos desnutridos. Os valores oscilam de 15% a 60% dependendo do local, de onde o idoso se encontra (hospitalizado, em casa ou asilos) e da téc-nica utilizada para diagnóstico18.

A prevalência de desnutrição e a incidência de mortalidade são muito altas nos indivíduos idosos hospitalizados. Em estudo realizado em 2004, uma coorte com 105 pacientes idosos, houve incidência de 57,1% de desnutrição e 14,3% de mortalidade. Essa taxa esteve relacionada com o alto nível de de-pendência funcional dos indivíduos, com a diminui-ção dos níveis séricos de transferrina e de contagem de linfócitos16.

A avaliação nutricional pode detectar precocemen-te a desnutrição em pacientes idosos, o que atualmen-te representa crescente preocupação nutricional. Caso não diagnosticada, ela pode resultar em deterioração da saúde, levando até mesmo à morte prematura18.

A elevada prevalência de desvio nutricional na po-pulação idosa vem sendo demonstrada por meio de diferentes estudos, em vários países, em que a desnu-trição, o sobrepeso e a obesidade predominam sobre os indivíduos eutróficos. Esses resultados são decor-rentes das condições peculiares em que os idosos se encontram, seja no ambiente familiar, vivendo sozi-nhos, ou em residência de terceira idade, agravadas pelas condições socioeconômicas, pelas alterações fi-siológicas inerentes à idade e pela progressiva incapaci-dade para realizar sozinhos suas atividades cotidianas. Nesse contexto, os efeitos da alimentação inadequada, tanto por excesso como por déficit de nutrientes, têm expressiva representação, o que reflete num quadro latente de má nutrição em maior ou menor grau15.

Em um estudo com 175 idosos (79 ± 6 anos), estes foram avaliados quanto ao estado nutricional,

ao desenvolvimento e à cicatrização de UP. O grupo controle correspondia aos idosos que não apresen-tavam úlceras (n = 100) e os outros (n = 75) apre-sentavam UP. A identificação da ingestão alimentar foi realizada por meio do recordatório 24 horas e de um questionário sobre nutrição. A proporção signi-ficativamente alta de indivíduos com baixa ingestão alimentar apresentava UP. Os idosos com feridas tam-bém foram identificados como os que necessitavam de auxílio para a alimentação, bem como alterações mais significativas no paladar19.

A principal causa da desnutrição em idosos é a diminuição do consumo alimentar, que pode ser causada por várias condições, tais como: redução do apetite, imobilização, depressão, uso de medicamen-tos, dentição prejudicada e ingestão de dietas monó-tonas20.

Diferentes estudos têm sugerido que a desnutrição é um importante precedente de morbidades e mor-tes em idosos. Atualmente, admite-se que ela influi negativamente sobre o tratamento médico-cirúrgico, aumentando o risco de os pacientes desenvolverem complicações graves enquanto hospitalizados e após a alta. Idosos desnutridos são mais propícios a apresen-tar alta incidência de infecções, osteoporose, fraturas, problemas respiratórios e cardíacos, assim como altas taxas de mortalidade relacionada com a gravidade das deficiências nutricionais20.

Existe uma complexa inter-relação entre estado nutricional, severidade da doença e resultados clíni-cos entre idosos hospitalizados. Perda de peso, baixo índice de massa corporal (IMC) e outros indicadores de depleção de massa corporal gorda e magra indicam aumento do risco de resultados clínicos adversos in-dependentemente da severidade da doença21.

Por outro lado, a severidade da doença como nos casos de câncer avançado, infecções, UP, demência, cirurgias ortopédicas e acidente vascular encefálico, que são mais frequentes no idoso mais velho, corres-pondem a fatores de risco significantes para o surgi-mento da desnutrição22.

Estudo realizado em hospitais e unidades geriá-tricas em Israel nas primeiras 72 horas de internação de pacientes idosos coletou dados da Miniavaliação Nutricional (MAN) e exames laboratoriais (função renal e tireoidiana, vitamina B12, transferrina, co-lesterol, triglicerídeos, eletrólitos, albumina, conta-gem total de linfócitos e proteína C reativa) para a avaliação do estado nutricional. A idade dos indiví-duos era de 75 a 103 anos, aproximadamente metade deles vivia acamada ou em cadeiras e ¼ apresenta-

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va declínio cognitivo moderado a severo. Havia alta prevalência de doenças crônicas não degenerativas (diabetes mellitus, insuficiência cardíaca congestiva e outras doenças cardiovasculares). Com relação ao estado nutricional, somente 17,6% estavam nutri-dos, 33,2% estavam em risco nutricional e 49,4% eram desnutridos. Análises estatísticas indicaram que os indivíduos em risco ou desnutridos eram signi-ficativamente mais velhos que os bem nutridos. Os exames laboratoriais mostraram boa correlação com a MAN. Baixa concentração de albumina e fósforo, demência e AVC foram significantes fatores de risco para desnutrição23.

A utilização de triagem nutricional ou de instru-mentos de avaliação deve prevalecer no tratamento de pacientes em risco ou com UP. Esses instrumentos necessitam ser válidos e fidedignos e não devem subs-tituir, por outro lado, a avaliação clínica22.

Técnicas convencionais de avaliação de desnutri-ção incluem antropometria, recordatório alimentar e investigação laboratorial, entretanto constituem fer-ramentas lentas e caras para serem usadas para uma extensa quantidade de idosos frágeis, os quais consti-tuem risco de desnutrição. Diversas ferramentas sim-ples e rápidas têm sido criadas para triagem de idosos em risco, como a MAN19.

A MAN é um método validado em diversos paí-ses com variados tipos de estado nutricional como desnutrição, saudáveis, fragilizados ou hospitalizados. Esse método de avaliação mostrou boa correlação com parâmetros laboratoriais (albumina plasmática e pré-albumina) e outros parâmetros nutricionais, sendo de fácil administração, sem custos, apresentan-do alta sensibilidade e especificidade. A classificação do estado nutricional é estabelecida de acordo com o escore obtido com a aplicação do questionário. Os indivíduos que alcançam 12 pontos ou mais, na etapa de triagem, são classificados como nutridos. Os que alcançam pontuação inferior a 12 seguem em avalia-ção até completar o questionário, com classificação de risco de desnutrição quando a pontuação estiver na faixa de 17 a 23,5 ou é classificado como desnutrido com pontuação menor que 1719.

A desnutrição em pacientes idosos é muito co-mum nos hospitais e, dependendo dos grupos de pa-cientes considerados, a prevalência dela pode chegar a até 60% deles. Um trabalho realizado recentemente com uma população japonesa apontou, de acordo com a aplicação da MAN, 39,9%, 51,2% e 8,9% de pacientes com eutrofia, risco de desnutrição e desnu-trição, respectivamente24.

Estratégias nutricionais para o tratamento das úlceras por pressão em idosos

O estado nutricional tem sido citado como influen-te na incidência, progressão e gravidade da UP e um dos mais importantes fatores de contribuição para a reparação tecidual e o seu bom estado. Muitos estu-dos relatam ser a hipoalbuminemia, a anemia, a lin-fopenia, a redução do zinco sérico e do peso corporal, coadjuvantes nos indivíduos com UP8. Vários estudos sugerem que a ingestão de nutrientes, especialmen-te de proteínas, é importante na cicatrização de UP. A hipoalbuminemia tem sido descrita como fator de risco para UP. Em pessoas idosas, o catabolismo das doenças é capaz de induzir uma queda na albumi-na sérica, entretanto, é provável que estes dois fato-res estejam associados8. O aporte calórico-proteico reduzido pode predizer o desenvolvimento de UP, devendo-se ressaltar algumas causas dessa diminui-ção como a persistente falta de apetite e as restrições alimentares impostas pelo tratamento da doença de base13. A desnutrição proteico-calórica grave altera a regeneração tissular, a reação inflamatória e a função imune, tornando os indivíduos mais vulneráveis ao desenvolvimento de UP8-25. Um estudo com pacien-tes em terapia de nutrição enteral evidenciou que 65% deles apresentavam UP e que, apesar de as fór-mulas serem aparentemente adequadas, deficiências de micronutrientes e desnutrição marasmática foram evidenciadas, destacando a necessidade de terapia nu-tricional focada nas características dessa população. Confirmando esses dados, o estudo de Rojas e Phillips apresentou pacientes idosos com úlceras crônicas em membros inferiores e baixos níveis de vitamina A e E, caroteno e zinco, mostrando que as deficiências des-ses elementos podem influenciar a cicatrização8.

A deficiência de vitaminas interfere no processo de cicatrização, além de haver diminuição na síntese de colágeno e elastina, ocasionando maior prejuízo aos portadores de doenças crônicas6. Muitos minerais também são importantes no processo de cicatrização da UP. Alguns minerais como o zinco são necessários para síntese proteica, reaplicação celular e síntese de colágeno. O cobre, juntamente com o ferro, é essen-cial para a formação dos eritrócitos e é importante na polimerização do colágeno e no fortalecimento da cicatriz8. O processo de cicatrização é um dos muitos processos metabólicos que consomem energia. A gli-cose é o principal carboidrato do organismo e supre a maior parte da energia necessária para a cicatrização. Os carboidratos são fontes de energia para leucóci-tos, proliferação celular, atividade fagocitária e fun-ção fibroblástica. O fornecimento inadequado desse

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nutriente leva à degradação muscular, à diminuição do tecido adiposo e à falha na cicatrização13. Um ma-cronutriente de grande importância são os lipídeos componentes das membranas celulares; além de fon-tes de energia celular, são necessários para a síntese de prostaglandinas que regulam o metabolismo celular, processo inflamatório e vascular. A deficiência de áci-dos graxos essenciais prejudica a cicatrização13.

As proteínas são componentes básicos das células e os aminoácidos são constituintes básicos da pro-teína corpórea. Os aminoácidos são essenciais para neovascularização, síntese de colágeno, proliferação fibroblástica e produção de linfócitos. A depleção proteica, por sua vez, inibe a proliferação fibroblásti-ca e prolonga o tempo da fase inflamatória, diminui a síntese de colágeno, reduz a força tênsil da ferida, li-mita a capacidade fagocitária dos leucócitos e aumen-ta a taxa de infecção da ferida8. Sendo as proteínas nutrientes relacionados com o sistema imunológico e integrantes dos tecidos corporais, a presença de des-nutrição proteica por deficiência nutricional acarreta lesão de pele e músculo, além de dificultar o processo de reparação de tecidos lesados6.

Em indivíduos idosos, que apresentam frequen-temente deficiências nutricionais, a suplementação nutricional promove melhora na função imunológica desses indivíduos. Por outro lado, não há benefícios bem estabelecidos nos casos de suplementação em in-divíduos idosos saudáveis22. Pacientes que receberam maior aporte proteico e energético na dieta, assim como nutrientes específicos, desenvolveram menos úlcera por pressão e apresentaram melhor cicatrização. Estudos mais recentes ressaltaram a importância de al-guns nutrientes em cada etapa do processo de cicatri-zação: inflamatória, proliferativa e de remodelação14.

Em uma revisão sistemática e metanálise, consta-tou-se que a terapia nutricional, particularmente a su-plementação nutricional oral com alto teor proteico, pode diminuir significativamente o risco de desenvol-vimento das UPs26.

Houwing et al. verificaram que os pacientes que receberam suplemento dietético enriquecido com proteína, arginina, zinco e antioxidantes apresen-taram menor índice de UP em estágio II, compa-rativamente ao grupo controle. Em outro estudo, a suplementação nutricional oral específica resultou em diminuição significativa na área da ferida e em me-lhoria das condições das UPs em estágio III e IV13. Desse modo, o suplemento nutricional parece ser uma maneira eficiente de repor deficiências de macro e micronutrientes no organismo e de fornecer outros

nutrientes para preservar o tecido cutâneo, fortalecer a resistência tecidual e promover a reparação dos te-cidos. Neste estudo, os pacientes do grupo contro-le receberam dieta-padrão com 1.800 kcal em três refeições diárias, enquanto o grupo de intervenção recebeu, além dessas refeições, dois suplementos nu-tricionais de 200 ml e 200 kcal cada. Esses suplemen-tos continham 30% de proteína e eram enriquecidos com vitaminas e minerais, como zinco e vitamina C. A intervenção ocorreu pelo período de 15 dias ou até a alta. Além da intervenção nutricional, os pa-cientes de ambos os grupos foram submetidos a um programa de prevenção de UP que incluía mudança de decúbito, colchão especial e cuidados de higiene. O risco para o desenvolvimento de úlceras era alto para os dois grupos avaliados. A incidência cumulati-va dessas feridas no quinto dia foi de 16% no grupo de intervenção nutricional e 25% no grupo controle. No décimo dia, a incidência foi de 27% versus 37%, respectivamente. No final do estudo, 40% dos indi-víduos do grupo de intervenção nutricional e 48% dos indivíduos do grupo controle apresentaram UP. As análises estatísticas desse estudo indicaram que, entre outros fatores, os indivíduos que pertenciam ao grupo controle apresentavam maior risco de desen-volver essas lesões, por outro lado, pertencer ao grupo de intervenção indicou ser um fator de proteção21,23.

A intervenção nutricional tem como objetivo pri-mário corrigir a desnutrição proteica energética pre-ferencialmente por via oral e, caso não seja suficiente, os suplementos nutricionais ricos em proteína e ener-gia devem ser introduzidos. Nos casos de persistência da insuficiência da ingestão alimentar oral, outras vias de alimentação devem ser utilizadas15.

Indivíduos idosos requerem cuidado especial, sen-do necessário observar que a baixa ingestão alimen-tar muitas vezes se deve à inadequação das refeições servidas a esses indivíduos quando estão internados. A quantidade de alimentos servidos em uma refeição é considerada grande para os idosos que não con-seguem realmente ingerir todo o alimento servido. Assim, a redução da porção servida e a utilização de alimentos com maior densidade de energia podem minimizar significativamente a perda em termos de ingestão. Além disso, a identificação das deficiências nutricionais dos idosos pode requerer a introdução de estratégias não somente da redução da porção servida, mas também a introdução de pequenos lanches entre as refeições em que podem ser introduzidos os suple-mentos nutricionais15-20.

Conforme as recomendações de diretrizes inter-nacionais quanto ao manuseio nutricional para pre-

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venção e tratamento de úlceras por pressão, é preciso assegurar a ingestão de uma dieta adequada que pre-vina a desnutrição, desde que seja compatível com as expectativas ou condições individuais. Dessa forma, são imprescindíveis o rastreamento e a avaliação do estado nutricional por meio de instrumentos válidos e fidedignos, bem como a realização de avaliação clí-nica para a identificação dos pacientes em risco ou com desnutrição já instalada22.

CoNClUSÃo

Os idosos são um grupo de risco de grande impor-tância para o desenvolvimento da UP, visto que as comorbidades que os atingem acabam limitando-os, fazendo que permaneçam na maior parte do dia aca-mados ou impossibilitados de se mover. As doenças predominantes do envelhecimento, como demência, acidente vascular cerebral, derrames ou para, hemi ou tetraplegias, contribuem para imobilização, tornan-do-se o principal fator para o desenvolvimento da UP.

As alterações morfofisiológicas próprias do en-velhecimento (mastigação, deglutição, absorção, xerostomia, acuidade visual, olfato, paladar), a poli-farmácia e as doenças frequentes na idade avançada, além do isolamento social, são as principais causas de desnutrição no idoso, aumentando o risco do desen-volvimento da lesão, tornando o processo de cicatri-zação prejudicado. É preciso assegurar a ingestão de uma dieta adequada que previna a desnutrição, desde que seja compatível com as expectativas ou condições individuais. O uso de suplemento nutricional parece ser uma forma eficiente de diminuir o desenvolvi-mento da UP e contribuir para melhor cicatrização.

Portanto, lançar mão de estratégias nutricionais como o uso de suplemento nutricional para preven-ção e/ou tratamento das UPs e recuperação do estado nutricional parece ser uma estratégia eficaz e eficiente. Por outro lado, sem a abordagem terapêutica, como a intervenção da enfermagem que inclui a mudança de decúbito, o uso do colchão piramidal, de loções hidratantes e o tratamento local (conservador e cirúr-gico), o resultado não é eficaz, visto que a atuação da equipe multidisciplinar é imprescindível na preven-ção e/ou no tratamento.

No entanto, as publicações nacionais enfocam predominantemente pacientes hospitalizados e a vi-são da enfermagem. A ausência de publicações que focalizam a atuação da equipe multidisciplinar e a assistência preventiva, prestadas nos ambulatórios ou nas unidades de saúde ou domicílios, fazem com que

a visão de prevenção e tratamento das úlceras fique limitada, tornando a atuação de determinados profis-sionais secundária.

reFerÊNCiaS

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artiGo de reViSÃo

envolvimento vital: um desafio da velhice Life involvement: an old age challenge

Priscilla Melo Ribeiro de Lima1, Vera Lúcia Decnop Coelho2, Isolda de Araújo Günther3

1 Psicologia Clínica e Cultura pela Universidade de Brasília (UnB) e Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás (UFG).2 Psicologia pela Case Western Reserve University (EUA); UnB; Instituto de Psicologia, Departamento de Psicologia Clínica.3 Psicologia do Desenvolvimento pela Michigan State University (EUA); UnB, Instituto de Psicologia, Departamento de Psicologia Social e do Trabalho.

Recebido em 21/7/2011Aceito em 30/12/2011

Endereço para correspondência: Priscilla Melo Ribeiro de Lima • Rua 235, s/n, St. Universitário – 74605-050 – Goiânia, GO • Telefones: (62) 8169-1174/(62) 3317-2106/(62) 8460-6595 • E-mail: [email protected]

RESUMOO presente artigo pretende examinar o envelhecimento humano à luz da teoria do desenvolvimento psicossocial de Erik Erikson. Postula-se que a consolidação da identidade é um processo que envolve tanto o indivíduo quanto a cultura. Enfrentar as perdas decorrentes da velhice com possibilidade de encarar a morte com serenidade exigirá do idoso, de acordo com essa teoria, revisão de sua vida e aceitação de falhas do passado. Assim, durante esse processo, conflitos anteriores poderão ressurgir e o desespero diante da finitude da vida possivelmente aparecerá. Entretanto, se o idoso conquistar a sabedoria e o envolvimento vital por meio do amadurecimento de forças psicos-sociais, a integridade do ego poderá ser consolidada. Para tanto, o ambiente psicossocial é de suma importância. O artigo faz uma releitura dos textos de Erik Erikson acerca do envelhecimento, destacando seus principais con-ceitos. Além disso, as autoras trazem contrapontos com teorias sobre o envelhecimento, além de propostas para atuação com idosos.

Palavras-chave: Envolvimento vital, Erik Erikson, sabedoria, envelhecimento.

ABSTRACTThe present essay intends to examine the human aging through Erik Erikson’s psychosocial development theory. It is postulated that the consolidation of identity includes the individual and the culture as well. Coping with old age losses and facing death with serenity demand life revision and acceptance of past mistakes. In this way, previous conflicts may reappear, overcome or not, and the despair with finitude may emerge. However, if the aged person achieves wisdom and life involvement, ego integrity will be consolidated and despair will vanish. In this sense, the psychosocial environment is essential. The article brings a new comprehension on Erik Erikson’s essays about old age and enhance some of his main concepts. Moreover, the authors present counterpoints to theories on aging, as well as proposals for actions towards the elderly.

Keywords: Vital involvement, Erik Erikson, wisdom, aging.

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iNtrodUÇÃo

Durante muito tempo, estudos psicológicos sobre a in-fância e a adolescência centralizaram as preocupações dos pesquisadores da área do desenvolvimento huma-no. O interesse pelo envelhecimento surgiu a partir de uma maior visibilidade dos idosos como consequên cia de mudanças demográficas advindas de avanços cien-tíficos, que, por sua vez, possibilitaram melhoria na qualidade de vida e aumento da longevidade. As teo-rias e pesquisas focalizavam quase exclusivamente na infância e na adolescência, pois se acreditava que esta última era seguida por um período de estabilidade, restando muito pouco a ser adquirido no que tange ao desenvolvimento. Entretanto, nos meados do século XX, o interesse pela velhice tornou-se mais visível e estudos e pesquisas passaram a ser desenvolvidos de maneira mais consistente. O envelhecimento, que era constantemente associado com decrepitude e doen-ça, passou a ser considerado como uma etapa do de-senvolvimento humano com características próprias, marcada por perdas e ganhos1-3. O presente artigo objetiva discorrer e discutir sobre o envelhecimento dentro de uma perspectiva voltada para o desenvol-vimento humano ao longo de toda a vida. Essa visão sobre a última etapa envolve uma compreensão da ve-lhice como um período da vida humana marcado por ganhos e perdas físicas, cognitivas e existenciais.

No decorrer do presente ensaio, enfocar-se-ão as características inerentes ao envelhecimento humano e que necessitam ser repensadas na atualidade. Para tanto, a velhice é, aqui, destacada como o fechamento do ciclo vital com tarefas desenvolvimentais e desafios próprios. Um dos primeiros modelos teóricos da Psi-cologia do Desenvolvimento a englobar todo o curso da vida, e que constitui o foco desse estudo, é o Mo-delo Epigenético do Ciclo de Vida de Erik Erikson. Esse autor elaborou um diagrama com oito e, poste-riormente, nove etapas do ciclo de vida, abrangendo desde o nascimento até a velhice avançada. Cada fase seria caracterizada por uma crise, ou, como Erikson postulou anos depois, por um balanço dinâmico entre um componente sintônico e um distônico. Tal como formulado pelo autor, o elemento sintônico implica uma tendência à harmonia e à busca pelo equilíbrio interno. Contrariamente, o distônico tenderá à desar-monia e ao desarranjo4,5.

Desse modo, cada etapa do desenvolvimento seria marcada por uma dinâmica entre dois opostos e seu equilíbrio levaria à aquisição de uma virtude ou força psicossocial. A resolução da crise não significa que o elemento sintônico prevaleceu sobre o distônico, mas

que ambos foram experimentados de tal forma que ocorreu predomínio das qualidades positivas e a for-ça psicossocial correspondente foi alcançada6. Além disso, para Erikson4,5,7, o desenvolvimento humano se dá em função do contexto social, e cada fase se resolve de forma idiossincrática, apesar da universali-dade das etapas. Nessa perspectiva, o indivíduo sem-pre tem a possibilidade de retomar posteriormente uma crise não resolvida satisfatoriamente e alcançar a virtude dela resultante5. É uma perspectiva que, dife-rentemente de outras perspectivas desenvolvimentais, concebe que o ego continua a se desenvolver por toda a vida. Além disso, percebe o sujeito como mutável e capaz de retomar futuramente crises que não foram resolvidas no momento da vida em que surgiram.

As fases do desenvolvimento propostas por Erik-son4,7,8, seguidas pelas virtudes ou forças psicossociais a serem adquiridas, são apresentadas a seguir:

1ª) Confiança básica versus desconfiança básica: espe-rança;

2ª) Autonomia versus vergonha e dúvida: força de vontade;

3ª) Iniciativa versus culpa: propósito;

4ª) Diligência, realização versus inferioridade: compe-tência;

5ª) Identidade versus confusão de identidade: fideli-dade;

6ª) Intimidade versus isolamento: amor;

7ª) Geratividade (generativity) versus estagnação: cui-dado;

8ª) Integridade do ego versus desespero, desgosto: sa-bedoria.

Um nono estágio foi acrescentado em 1998, quando Joan Erikson adicionou alguns capítulos à revisão da edição de 19827,9. Ao dar prosseguimen-to aos estudos sobre a personalidade na velhice, Joan Erikson descreve a possibilidade de conquista da “ge-rotranscendência” como força psicossocial de uma etapa posterior aos 85 anos de idade. A crise da nona etapa, da forma como descrita por J. Erikson9, não recebeu distinção clara entre a distonia e a sintonia. No presente artigo, propomos os termos “autoabsor-ção” – necessidade de voltar-se para si e refletir sobre a vida – e “comunidade” – necessidade do apoio e auxílio do ambiente social do idoso – para definir a crise desenvolvimental da última etapa de vida.

Erikson desenvolveu sua teoria sob a premissa de que cada estágio ou etapa contribui para a consolida-

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263Envolvimento vital na velhice

ção da “integridade do ego”. Dessa forma, o elemento sintônico “integridade do ego”, que surge de forma mais evidente na oitava etapa, envolve os esforços em equilibrar o sentido de coerência e plenitude pessoal com o “desespero” perante a finitude e a proximidade da morte, além da aceitação e adaptação aos triun-fos e falhas do passado10. Entretanto, esse elemento é construído a partir do processo dinâmico do de-senvolvimento da personalidade que ocorreu durante toda a vida e se consolida na velhice. Portanto, a for-mação do ego se dá por meio de sucessivas reatualiza-ções após cada crise, quando o sujeito necessita gerar novas formas de estabilidade emocional e de relações interpessoais6. Cada estágio traz consigo tarefas de-senvolvimentais a serem cumpridas, novos desafios a serem enfrentados e a necessidade de reavaliar rela-ções e comportamentos estabelecidos.

Desafios do envelhecimento e a conquista da sabedoria

O Modelo Epigenético do Ciclo de Vida postula que os desafios enfrentados durante o processo de enve-lhecimento são resolver os conflitos do passado e in-vestir no presente. O desenvolvimento parece gerar a necessidade de uma consideração retrospectiva da vida e um novo equilíbrio perante as mudanças re-lacionadas à velhice. A percepção do idoso acerca do quanto se engajou e conquistou em sua trajetória exis-tencial e acerca dos arrependimentos de oportunida-des perdidas contribuirá para o quanto experimentará o “desespero”. Esse “desespero” expressa o sentimento de que o tempo agora é curto demais para recomeçar e tentar outros caminhos5,7. Sendo assim, a força psi-cossocial da “sabedoria”, decorrente da resolução da crise da oitava etapa, corresponde à capacidade em equilibrar a coerência e a plenitude pessoais com o desespero perante a finitude e a proximidade da mor-te, além de aceitar falhas e omissões do passado10.

A velhice, na visão eriksoniana, engloba a expec-tativa do fim da vida e uma busca pela integração das virtudes conquistadas durante o desenvolvimen-to – “esperança”, “força de vontade”, “propósito”, “competência”, “fidelidade”, “amor” e “cuidado” – de forma a cultivar um senso abrangente de “sabedoria”. O idoso é, então, desafiado a “se inspirar em seu pró-prio ciclo vital e consolidar o senso de “sabedoria” a fim de viver o restante da vida, além de se colocar em perspectiva entre as gerações presentes e aceitar seu lugar na progressão histórica infinita”10 (p. 56). Dessa forma, há necessidade de reelaboração de aquisições anteriores e maior investimento emocional nas rela-ções com pessoas e com o mundo no presente para

que a “integridade do ego” seja experimentada e a “sa-bedoria”, alcançada.

Outro aspecto destacado por Erikson5 e Erikson et al.10 foi o elemento sintônico “geratividade”, que, no oitavo estágio, tem a função de auxiliar o idoso a sentir-se vivo e encontrar satisfação na velhice. A falta ou carência desse envolvimento vital gera sintomas psicopatológicos no indivíduo que envelhece, aumen-tando a força do elemento distônico do “desespero” e a contínua sensação de “estagnação”5. A participa-ção na vida dos filhos e dos netos, juntamente com a oportunidade de poder ensinar algo para as próximas gerações, tem o potencial de produzir e aumentar o engajamento vital do idoso. Adicionalmente, ativida-des cotidianas como cuidar da casa, do jardim ou da horta, participar de atividades da comunidade, fazer pequenos reparos na casa, além da manutenção de atividades laborativas podem contribuir para o au-mento desse envolvimento vital necessário para en-frentar o fim da vida10. A essa geratividade da velhice, Erikson et al.10 chamam de “grand-generativity”. Esse termo traz a ideia de um cuidado e preocupação que vão além dos dedicados aos filhos e netos. Engloba uma preocupação maior (grand) com o futuro da hu-manidade, do mundo e com a vida, de modo geral.

Cabe ressaltar que Erikson et al.10 entrevistaram idosos que viveram a maior parte de suas vidas no início e meados do século XX. Pesquisas recentes evi-denciam que os idosos da atualidade não se conten-tam com pequenas atividades cotidianas. Kamkhagi11 afirma que, antes de chegar a uma velhice acentuada-mente impeditiva, muitas vezes o idoso vivencia um envelhecimento sem grandes obstáculos. É uma fase de plena atividade em que o indivíduo se mantém física e mentalmente ativo, dentro de suas possibilida-des. Em alguns casos o sujeito continua trabalhando, apesar da aposentadoria, e “investindo em atividades que lhe permitam usufruir da vida”11 (p. 16). Assim, além de buscar novas atividades laborativas, o idoso pode investir em atividades físicas e de lazer que con-tribuem para o fortalecimento das relações sociais e melhoria da saúde física e mental10.

Após extensa e contínua pesquisa e teorização acerca das oito etapas do desenvolvimento huma-no, no final de sua vida, Erik Erikson e sua esposa Joan Erikson acrescentaram uma última fase à teoria. A nona etapa tem início aos 85 anos. Nesse período, apesar de todos os esforços do indivíduo em manter a força vital e o controle sobre a própria vida, o corpo continua a perder, gradativamente, sua autonomia. O elemento distônico “Desespero”, que é constituin-te da etapa anterior, está ainda mais presente na nona

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etapa por causa da imprevisibilidade e das perdas nas habilidades físicas. Por conseguinte, pelo fato de que a independência e o controle são contestados pelo tempo, a autoestima e a segurança adquiridas duran-te toda a vida podem se enfraquecer. Muitas vezes as forças psicossociais adquiridas ao longo do desenvol-vimento, como a “esperança” e a “confiança”, não são mais suportes fortes como eram anteriormente9.

É interessante sinalizar que, durante as oito etapas do desenvolvimento da teoria eriksoniana, o elemen-to sintônico é apresentado em primeiro plano, pois é o que dá suporte para o desenvolvimento e expansão. De igual forma, é a sintonia que sustenta o indivíduo quando desafiado pela distonia. Em contraposição, na nona etapa, J. Erikson9 trouxe o elemento distô-nico para primeiro plano, na tentativa de ressaltar sua proeminência e força nessa fase. A autora descreveu, então, essa etapa tendo em mente o reaparecimento dos potenciais distônicos e sintônicos dos períodos anteriores.

O aparecimento de fragilidades corporais e per-da crescente da autonomia após os 85 anos tornam a vida um terreno fértil para o ressurgimento dos ele-mentos distônicos das etapas precedentes. Entretan-to, o indivíduo que tiver superado as crises anteriores e estiver inserido em um contexto psicossocial que o ajude a fazer frente às dificuldades atuais não permiti-rá que o “desespero” tome conta de sua existência. Se o idoso conseguir superar os elementos distônicos das experiências da nona etapa, provavelmente trilhará o caminho que leva à “gerotranscendência”.

Na perspectiva de J. Erikson12, a “gerotranscen-dência” envolve uma nova compreensão das questões existenciais fundamentais, que são separadas em três níveis. O primeiro é o da dimensão cósmica da vida, em que ocorrem mudanças nas definições de tempo e espaço, aumento na sensação de conexão com as gerações anteriores, nova compreensão sobre a vida e a morte, aceitação da dimensão misteriosa da vida e regozijo com uma gama de eventos e experiências. O segundo nível é o da mudança em alguns aspec-tos do self. Na “gerotranscendência”, há a busca pelo autoconhecimento e autenticidade, diminuição do egocentrismo, diminuição da obsessão pelo corpo, aumento do altruísmo, redescoberta da criança inte-rior e “integridade do ego” com a totalidade da vida. Já o terceiro nível envolve mudanças nos relaciona-mentos sociais e individuais do idoso. Nessa etapa, a pessoa tende a se tornar mais seletiva e menos interes-sada em relacionamentos superficiais, demonstrando aumento na necessidade de ficar só. Conjuntamente, surge uma nova concepção do próprio self, que gera

uma compreensão reconfortante do que foi e é a vida e da dificuldade em definir, de forma absoluta, o que é certo e errado. Consequentemente, o idoso passa a evitar julgamentos e o oferecimento de conselhos13,14.

Assim sendo, a resolução da crise da nona etapa está relacionada à capacidade do idoso em transcender as limitações corporais próprias da velhice. Com isso, tem oportunidade de experimentar uma compreen-são mais universal da vida e focalizar nos aspectos iminentes da própria morte12,13,15, ou seja, conquistar a força psicossocial da nona etapa – “gerotranscen-dência”. Isso acarreta uma mudança na perspectiva do que é a vida e a morte. O idoso que tenha con-quistado essa virtude passa de uma visão de mundo materialista e racional para uma visão mais cósmica e transcendente. Essa nova forma de encarar a vida traz satisfação e uma perspectiva mais contemplativa de si e das pessoas que fizeram parte de sua vida13,14,16.

A Teoria da Gerotranscendência ressalta os aspec-tos positivos presentes em idosos muitos velhos, ou como Baltes e Smith17 denominaram, idosos da quar-ta idade. Entretanto, os pesquisadores dessa teoria não negam a presença da dependência, dificuldades físicas resultantes do envelhecer e mudanças nos pa-drões relacionais. Assim, Tornstam14 faz uma releitura e uma reinterpretação da Teoria do Desapego/Des-comprometimento (Disengagement theory) desenvol-vida por Cumming et al.18.

Uma pessoa totalmente comprometida com a vida, segundo Cumming19, possui uma variedade de papéis sociais e sente-se compelida a suprir as expectativas das pessoas à sua volta. Na velhice, esse comprome-timento tende a diminuir por causa do arrefecimen-to das relações sociais e do isolamento. Além disso, ocorre um descomprometimento psicológico que se mostra por meio de envolvimento maior consigo, diminuição na intensidade do afeto demonstrado e tendência à passividade perante a vida20. O desapego na velhice é visto como um “desvio permitido” e in-terpretado como um “egoísmo despreocupado” resul-tante da diminuição na interação social e mudança na percepção do self18,19.

A Teoria do Descomprometimento teve grande repercussão na sua época e vários gerontologistas in-terpretaram esse aspecto da velhice como negativo. Tornstam13,14, entretanto, afirma que o desapego característico da terceira (e quarta) idade é, muitas vezes, um desenvolvimento positivo rumo à “gero-transcendência”. Isso quer dizer que o isolamento durante curtos períodos de tempo e a diminuição de atividades sociais podem ser compreendidos como

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necessidades do indivíduo em estar mais em contato consigo mesmo e de elaboração da vida e da própria morte. Assim, poderíamos caracterizar a crise da nona etapa como sendo a “autoabsorção” versus “comuni-dade”, o que pode levar à aquisição da força psicosso-cial da “gerotranscendência”.

Em síntese, o modelo desenvolvimental de Erik Erikson procura trazer uma visão globalizante do que é o ciclo de vida, pois cada crise surge em resposta a uma demanda psíquica e a uma demanda social. A teoria oferece um entrelaçamento dos mundos in-terior e exterior do indivíduo e de suas influências em cada etapa do desenvolvimento. Nas duas últimas, que correspondem à velhice, o ambiente social se faz ainda mais preponderante no auxílio à superação dos elementos distônicos. Erikson5 afirmou, há quase três décadas, que “a falta de um ideal culturalmente viável da velhice faz com que nossa civilização não tenha realmente onde ancorar um conceito de totalidade da vida”16 (p. 114). À medida que a sociedade não consegue valorizar o idoso proporcionando-lhe um ambiente saudável e motivador, a velhice se torna em tempo ainda mais difícil para ele e para os demais membros da comunidade. A memória é o elo com o passado e com as histórias das gerações passadas. Entretanto, é necessário encontrar ouvidos atentos ao que o velho tem para contar, a fim de que sua vida te-nha sentido21. Esse senso só é possível quando se valo-riza a vida como um todo, do início ao fim. Alcançar um envolvimento vital para usufruir os anos finais da vida com satisfação envolverá, portanto, a presença de alguns fatores, pessoais e sociais.

Envolvimento vital na velhice

Desfrutar de uma velhice saudável, com envolvimen-to vital, dependerá de elementos intrínsecos à histó-ria pessoal e do suporte social do idoso, além de suas condições físicas. Erikson et al.10 ressaltaram a impor-tância de, ao longo da vida, o indivíduo antecipar e planejar seu futuro como uma forma de preparação para os anos que virão. Assim, fatores preponderantes e resultantes de cada etapa do ciclo vital contribuirão para que o processo de envelhecimento aconteça da melhor forma possível.

Conforme já sinalizado, a oitava e a nona eta-pas envolvem a retomada dos elementos sintônicos e distônicos de períodos anteriores, com o objetivo de integrar as formas maduras das forças psicossociais resultantes das crises resolvidas com um abrangente senso de “sabedoria”. Assim, o idoso é desafiado a se inspirar em sua trajetória existencial e extrair dali os componentes que precisa para enfrentar a morte.

É necessário e vital aceitar a inalterabilidade do passa-do e o enigma do futuro, reconhecer falhas e omissões passadas e equilibrar o consequente “desespero” com o senso de “integridade”. Essa não é uma tarefa fácil, principalmente quando o indivíduo não teve um am-biente psicossocial adequado e saudável. Para Erik-son, porém, nunca é tarde demais, pois sempre existe a possibilidade de se retomarem crises não resolvidas e adquirir a força psicossocial perdida6,9,10.

A conciliação entre “geratividade” e “estagnação”, na velhice, exigirá da pessoa a revisão dos próprios anos de trabalho e de responsabilidade ativa na cria-ção de seus filhos, além da retomada de experiências de cuidado em relação à geração de seus pais. Assim, a possível frustração e o arrependimento pelo aban-dono de projetos de estudos e carreira por causa do casamento e dos filhos muitas vezes são substituídos pelo orgulho em ver as conquistas dos próprios filhos e netos.

Alguns idosos conseguem, após a saída dos filhos de casa e a entrada na velhice, voltar a investir em seus talentos e projetos não concluídos, devidamen-te adaptados ao momento atual da vida. É essencial reforçar os sensos de “geratividade”, “realização” e “competência” desenvolvidos durante as fases ante-riores do desenvolvimento. Para tanto, é necessário que o velho se envolva com novos aprendizados e ati-vidades que o ajudem na transformação de interesses latentes em capacidades manifestas. A participação em novos desafios e projetos contribui para o envol-vimento vital, assim como reascende a força psicosso-cial da “competência” na velhice.

O relacionamento com os netos também pode oferecer ao idoso uma segunda oportunidade de “ge-ratividade” e “cuidado” e a possibilidade de ser lem-brado após a morte. Tornstam14 e Erikson5 afirmaram que o vislumbre de poder deixar sua marca na histó-ria auxilia no esforço para enfrentar o desespero da última etapa e a se sentir como parte integrante da dimensão histórica da vida. Assim, passado, presente e futuro começam a ser percebidos e experienciados como um fluxo contínuo da vida, e a morte como o ato que encerra um ciclo, mas que não apaga a exis-tência e as marcas deixadas.

A perda do cônjuge ou de amigos de longa data e a possibilidade iminente da morte retomam o confli-to entre “intimidade” e “isolamento”. Conquistar um novo senso de mutualidade e companheirismo com outras pessoas após a perda de companheiros com os quais se compartilhou a vida torna-se algo doloroso e difícil. Jerusalinsky22 afirmou que, em muitos ca-

Envolvimento vital na velhice

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sos, perder o parceiro é como ter perdido parte de si mesmo, e a morte de amigos significativos implica a perda daqueles que foram testemunhas da sua exis-tência, que construíram e mudaram, em conjunto, a realidade circundante, tornando-se cúmplices de um existir. A viuvez na velhice pode propiciar dimi-nuição da participação social. O idoso viúvo perde a maior fonte de socialização quando o cônjuge morre e encontrar um suporte emocional e social é de fun-damental importância para que o “isolamento” e a “autoabsorção” não prevaleçam23.

Todavia, a viuvez pode possibilitar ao idoso o in-vestimento em si mesmo, principalmente se o casa-mento foi sinônimo de renúncia e sofrimento mais do que motivo de felicidade e realização. Assim, al-guns indivíduos encontram o senso de “intimidade” e mutualidade que não experimentaram no casamento ao se dedicarem ao bem-estar de outras pessoas, ou ao se envolverem em atividades da comunidade. A par-ticipação e o envolvimento social que organizações religiosas ou não possibilitam geralmente contribuem para que o idoso viúvo experimente maior autoesti-ma, satisfação com a vida e diminuição de sintomas depressivos23,24. O interesse pela forma como mulhe-res idosas enfrentam a viuvez tem sido alvo frequen-te de estudos e pesquisas23-27,. Em pesquisa realizada com mulheres idosas viúvas, Motta26 constatou que algumas das participantes conseguiram se reinven-tar e, atualmente, levam uma vida socialmente mais ativa e saudável do que antes. Esses relatos estiveram presentes igualmente em viúvas que vivenciaram um casamento feliz e entre as que haviam sido infelizes.

Além da perda de pessoas queridas, outro fator que colabora para a “autoabsorção” na nona etapa é o arrefecimento natural da energia vital e consequen-te redução ou abandono de atividades e do senso de determinação presentes anteriormente. No entanto, se as forças psicossociais de “propósito” e “iniciativa” tiverem sido desenvolvidas e estimuladas durante a vida, o idoso provavelmente buscará novos desafios e aprendizados. É necessário encontrar um acordo entre a necessidade de produção, realização e deter-minação e as exigências da velhice de diminuição das atividades e de revisão da própria vida. Desse modo, a necessidade de selecionar as atividades que almeja realizar e os relacionamentos íntimos de amizade que deseja manter ou iniciar torna-se mais presente na vida do idoso, o que pode ser uma contribuição gran-diosa na conquista da “gerotranscendência”10,12,15. Distinguir entre o que é preciso deixar e abandonar e o que é necessário manter faz parte do envolvimento vital desejável na oitava e nona etapas.

Igualmente importante para o envolvimento vital na velhice é o equilíbrio entre a “identidade” e a “con-fusão da identidade”, crise que ressurge nessa fase. É necessário reavaliar o próprio senso de “identidade” e, consequentemente, rever e reconhecer erros e omis-sões cometidos, encarar chances perdidas e oportu-nidades desperdiçadas. Sentir-se confortável com a própria identidade e ter convicção de que se fez o que deveria ser feito conduzem ao prazer da autoconfir-mação. Mesmo aquelas pessoas que se desapontaram consigo mesmas podem se projetar no sucesso dos filhos e netos nas áreas em que julgam ter falhado e reafirmar sua identidade a partir dessa identificação. Além disso, o questionamento sobre os próprios valo-res e princípios concorre para gerar um fortalecimen-to da identidade do idoso, principalmente quando este identifica nas gerações posteriores princípios que transmitiu. A reformulação de valores antigos à luz de novos valores é igualmente importante para a integra-ção do senso de “identidade”10.

O envelhecimento pode acarretar perdas grada-tivas na autonomia do velho em realizar atividades rotineiras e, consequentemente, vergonha por não mais se ter pleno domínio sobre o próprio corpo. Durante toda a vida, capacidades comportamentais e sentimentos de autodeterminação e de desamparo permanecem conectados ao corpo e reaparecem em situações de danos devidos a doenças ou ferimentos, às mudanças corporais na puberdade e às perdas físi-cas e psíquicas do envelhecimento. Assim, o idoso se depara com limitações provenientes de fontes inter-nas – capacidades físicas – e externas – expectativas e estereótipos sociais. Ele luta para manter sua indepen-dência, a autonomia e a virtude da “força de vontade” perante as transformações que a idade avançada im-põe. Depender de um cuidador pode ser vivenciado como a perda da capacidade de cuidar de si e suscitar um forte sentimento de desamparo e menos-valia28,29.

Por isso, mesmo dependendo de outras pesso-as para a realização de atividades diárias, conservar e respeitar a liberdade e a autoconfiança do idoso é de fundamental importância para a sua qualidade de vida. Para tanto, o ambiente psicossocial deve ajudá--lo a desenvolver níveis de independência possíveis, mesmo diante de situações de dependência. Baltes28 afirmou que a dependência que inevitavelmente sur-ge na velhice precisa ser mesclada com o incitamento de independência, sempre que possível. É de extrema importância que o velho não seja privado totalmente de sua autonomia, mas que aprenda a lidar com as perdas corporais e cognitivas que possam surgir e as limitações impostas por elas.

Geriatria & Gerontologia. 2011;5(4):261-8

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A última crise que é revivida após os 80 anos é a que ocorre entre “confiança” e “desconfiança”. A força psicossocial que dela emerge, a “esperança”, amadure-ce na proporção em que o indivíduo se esforça para integrar o senso de “confiança” e fé na vida à “descon-fiança” e precaução em relação às imprevisibilidades que podem acontecer. Assim sendo, a “esperança” pode se manifestar por meio de domínios da expe-riência que são menos acessíveis ao conhecimento racional, como o otimismo e a crença em um futuro melhor. Na velhice, essa força psicossocial pode res-surgir como forma de preocupação com o mundo e o universo, com o futuro das próximas gerações, com o significado da existência humana, assim como a rea-firmação ou reformulação de princípios religiosos que estiveram presentes na vida do indivíduo10.

Se o indivíduo consegue superar o desespero diante da vida que se finda e integrar as forças psi-cossociais do seu ego, adquirindo assim a “sabedoria”, possivelmente terá alcançado o envolvimento vital. Este o ajudará a experimentar o final da vida com consciência de si e dos outros, da vida e da morte. Deixar físicamente o mundo não será desesperador, pois o velho terá consciência do que viveu e de quem é perante seu mundo psicossocial. Comenta-se que o biólogo Konrad Lorenz estava em uma cama de hospital ligado a várias máquinas, quando uma en-fermeira, ao perceber que os sinais vitais estavam de-saparecendo, começou a mexer nervosamente com os fios. Ao ver esse gesto, Lorenz afirmou: “Deixe-me morrer em paz”.

CoNSideraÇÕeS FiNaiS

O modelo de desenvolvimento da personalidade proposto por Erik Erikson traz uma visão holísti-ca e dinâmica da vida. A necessidade de constantes reela borações e ressignificações durante todo o ciclo vital permite ao indivíduo rever comportamentos e resolver antigas crises na velhice. Dessa forma, as fases desenvolvimentais são compreendidas como um pro-cesso ativo em que há constantes retomadas de crises passadas. Nessa perspectiva, a consolidação da identi-dade é fruto de todo o percurso existencial do sujeito e estará concluída somente com a morte.

Experiências compartilhadas, virtudes alcançadas, otimizações e compensações adquiridas e tudo o que foi experimentado na vida afetam a atualidade do in-divíduo. É necessário ter em mente que os indivíduos constroem seu próprio curso de vida a partir de suas escolhas e ações e do que foi oferecido por seu am-

biente psicossocial30,31. Oferecer condições para um bom desenvolvimento psicossocial é indispensável não apenas na infância e adolescência, mas também na idade adulta e na velhice. Um ambiente acolhedor que auxilie o idoso no processo de revisão de vida, na elaboração de projetos, no envolvimento com ativida-des da comunidade, no enfrentamento de debilidades do corpo e dificuldades cognitivas e que compreenda sua necessidade de estar sozinho em alguns momen-tos e o auxilie a compensar perdas e otimizar ganhos é essencial para a construção de uma velhice bem--sucedida com envolvimento vital.

A relevância de intervenções psicossociais na ma-turidade e na velhice é aqui mencionada tendo em vista que a Psicologia deve ampliar seu investimen-to e ações nesses segmentos da sociedade. Borges32 e Campos e Coelho33 apontam que os grupos de convi-vência podem melhorar a qualidade de vida do idoso, pois, além de permitirem a aquisição de novos conhe-cimentos, oferecem a promoção e o fortalecimento de redes sociais. O relacionamento com iguais tem efeito terapêutico e promove bem-estar no idoso de forma a atender às suas necessidades afetivas. Trabalhos gru-pais vêm sendo realizados em centros de assistência ao idoso, promovendo estimulação cognitiva, suporte afetivo, socialização e convivência entre idosos e com profissionais de outras gerações, o que é fundamen-tal. Da mesma forma, acompanhamento psicotera-pêutico na maturidade pode resultar na superação de sintomas depressivos e na aceitação da passagem do tempo sobre o corpo e o psiquismo34.

Propõe-se, ainda, a formação de grupos de indiví-duos que estejam entrando na velhice. Auxiliar esses “idosos-jovens” a manterem o senso de “geratividade” e “comunidade”, por meio de atividades que possam lhes proporcionar satisfação, pode contribuir para que o envelhecimento seja construído de forma satis-fatória. Adicionalmente, grupos psicoterapêuticos ou programas de atendimento individual têm contribui-ções a dar na superação de crises não resolvidas ante-riormente e no enfrentamento das perdas decorrentes do processo de envelhecimento.

reFerÊNCiaS

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2. Hillman J. A força do caráter. (Trabalho original publicado em 1999) Tradução de E. Sabino. Rio de Janeiro: Objetiva; 2001. p. 252.

Envolvimento vital na velhice

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3. Guimarães R. Prefácio. In: Falcão D, Dias C (Orgs.). Maturidade e velhice: pesquisas e intervenções psicológicas. v. 1. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2006. p. 5-8.

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10. Erikson E, Erikson J, Kivnick H. Vital involvement in old age. New York, EUA: W. W. Norton & Company Inc.; 1986. p. 352.

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12. Erikson J. The gerotranscendence. In: Erikson E. The life cycle completed: a review. Extended version with new chapters from Joan M. Erikson. New York, NY: W. W. Norton & Company, Inc.; 1998. p. 123-9.

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22. Jerusalinsky A. Psicologia do envelhecimento. Associação Psica-nalítica de Curitiba em Revista. 2001;V(5):11-26.

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29. Birman J. Estilo e modernidade em psicanálise. São Paulo: Edi-tora 34; 1997. p. 233.

30. Guimarães R. O envelhecimento: um processo pessoal? In: Frei-tas E, Py L, Cançado F, Doll J, Gorzoni M (Orgs.). Tratado de ge-riatria e gerontologia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006. p. 84-7.

31. Guimarães R. Decida você, como e quanto viver. Brasília: Renato Maia Saúde e Letras Ltda.; 2007. p. 247.

32. Borges L. Os grupos de convivência na terceira idade: suporte so-cial e afetivo. In: Falcão D, Dias C (Orgs.). Maturidade e velhice: pesquisas e intervenções psicológicas. v. 1. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2006. p. 151-65.

33. Campos A, Coelho V. Compartilhando histórias: fatores terapêu-ticos e mudanças percebidas por idosas participantes de uma intervenção psicológica grupal. In: Falcão D, Araújo L (Orgs.). Idosos e saúde mental. v. 1. Campinas, SP: Papirus; 2010. p. 165-82.

34. Da Silva S. Intervenções neuropsicológicas, promoção de saú-de e melhoria da qualidade de vida de idosos. In: Falcão D, Dias C (orgs.). Maturidade e velhice: pesquisas e intervenções psi-cológicas. v. 2. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2006. p. 381-406.

Geriatria & Gerontologia. 2011;5(4):261-8

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Carta ao editor

avaliação crítica das diretrizes da SBGG para o Programa de residência Médica em Geriatria Critical appraisal of guidelines of SBGG for Residency Program in Geriatrics

Marco Túlio Gualberto Cintra1, Flávia Lanna Moraes2, Aparecida Camargos Bicalho3, Edgar Nunes de Moraes4

1 Hospital das Clínicas da Universidade

Federal de Minas Gerais (UFMG).

2 UFMG e prefeitura de Belo Horizonte/MG.

3 Departamento de Clínica Médica

da Faculdade de Medicina da UFMG.

4 Departamento de Clínica Médica da

Faculdade de Medicina da UFMG e Hospital

das Clínicas da UFMG.

Recebido em 13/10/2011Aceito em 31/10/2011

Endereço para correspondência: Marco Túlio Gualberto Cintra • Rua Kátia Teodoro Aguiar, 90, ap. 404, Padre Eustáquio – 30730-250 – Belo Horizonte, MG • Telefones: (31) 3409-9038/(31) 3373-4519

Recentemente, foram divulgadas as novas diretrizes da SBGG para a Residência Médica em Geriatria. Destaca-se a importante preocupação em demonstrar a espe-cialidade como única capaz de gerir uma assistência global à saúde do idoso, contem-plando desde a prevenção primária até aos cuidados paliativos1. Todavia, permanece o desafio de ensinar ao residente como prestar esse atendimento global diante da frag-mentação do cuidado, que se manifesta inclusive nas diretrizes.

Fragmenta-se a formação em vários níveis de assistência, desde unidades de in-ternação até unidades de terapia intensiva, habilita-se o futuro geriatra a assistir o paciente desde a fase que apresenta doenças crônicas não agudizadas até quando este manifesta enfermidades ameaçadoras à vida. No entanto, o quesito fundamental em todos os níveis de assistência, que diferencia radicalmente a clínica médica da geria-tria, encontra-se citado apenas no item 10 das habilidades esperadas do residente do primeiro ano: a Avaliação Geriátrica Ampla (AGA).

A AGA é a ferramenta necessária para diferenciar um idoso com envelhecimento robusto de outro com síndrome de fragilidade e daqueles que apresentam indicação de cuidados paliativos. Quando bem aplicada, define os pacientes que necessitam de prevenção primária, secundária e terciária, qualifica os critérios de admissão no setor de terapia intensiva e seleciona aqueles que se beneficiarão dos guidelines e protocolos clínicos tradicionais2,3.

A maior contribuição da geriatria é determinar corretamente o nível de assistência que o idoso necessita, e esse é o maior desafio na formação do médico geriatra. Um paciente, por exemplo, pode ser admitido numa enfermaria ou num setor de terapia intensiva e receber todos os recursos disponíveis para tratar a enfermidade que apresenta, no entanto isso representa uma iatrogenia caso o idoso apresente critérios de cuidados paliativos2.

Resgatar a essência da geriatria e conseguir transmiti-la aos aprendizes talvez seja o único caminho para reverter o desinteresse dos residentes de clínica médica. Tendemos a atribuir o desinteresse a questões mercadológicas, como inserção, salários e condições de trabalho. No entanto, a questão é mais profunda, filosófica, envolve como entende-mos e como enxergamos a profissão. Somos clínicos de idosos ou geriatras?

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Ao fragmentar o cuidado, somos cada vez menos geriatras e mais clínicos de idosos. Enfrentamos um período crucial e de grande magnitude. Necessitamos rediscutir o papel da geriatria na sociedade, nas fa-mílias e no cuidado ao paciente. Retornar às origens, resgatar a avaliação geriátrica ampla como a principal ferramenta da especialidade e prestar assistência glo-bal talvez seja a resposta mais adequada à crise que se instaura. Por isso, torna-se indispensável reavaliar a fragmentação na formação do médico residente de-monstrada na diretriz relacionada à residência médica.

Outra questão fundamental é o papel da interdis-ciplinaridade. Não há dúvida da importância da ques-tão, principalmente na assistência ao idoso. A decisão de se encaminhar para uma especialidade não médica é, também, uma decisão clínica de extrema importân-cia na formação do geriatra, dentro da perspectiva da priorização do cuidado e da linha do cuidado (plano de cuidados)2,3.

Daí questionarmos o conceito de equipe interdis-ciplinar mínima. Quais áreas de atuação são indis-pensáveis e quantos profissionais representam uma equipe mínima? Além disso, representa a equipe mí-nima que o paciente necessita para reabilitação ou a equipe disponível e possível na unidade de assis-tência? Também, não fica especificado se essa equipe deverá apresentar formação específica mínima para atendimento ao paciente geriátrico, considerando-se que em todos os locais de estágio será obrigatória a presença dessa equipe.

Outro ponto extremamente importante é o reco-nhecimento das instituições de longa permanência (ILPI) como vital na formação do médico geriatra, com a obrigatoriedade de 20% da carga horária to-tal1. Esse campo de atuação permite ao aprendiz observar o dia a dia do idoso frágil, estudar a funcio-nalidade do idoso no domicílio, reconhecer e abordar questões relacionadas à insuficiência do cuidado e da assistência familiar e detectar precocemente as virtu-des e malefícios das condutas adotadas, incluindo as recomendações de reabilitação.

A atual diretriz representa um inegável avanço, como no caso da importância atribuída às ILPIs na formação do residente. Mas há vários desafios a se-rem enfrentados relacionados com a fragmentação do cuidado e maior definição da constituição da equipe interdisciplinar. Solucionar essas questões é de fun-damental importância para o crescimento e fortale-cimento da especialidade, assim como para a redução de interesse dos jovens médicos em tornar-se geriatras.

reFerÊNCiaS

1. Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Residên-cia médica em Geriatria – Diretrizes da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). Geriatria e Gerontologia. 2011;5(2):119-25.

2. Moraes EN. Princípios básicos de geriatria e gerontologia. 1ª ed. Belo Horizonte: Coopmed; 2008.

3. Freitas EV, Py L. Tratado de geriatria e gerontologia. 3ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2011.

Geriatria & Gerontologia. 2011;5(4):269-70

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aGeNda de eVeNtoS

Esta seção da revista está aberta para a divulgação de eventos nacionais e internacionais. O material pode ser enviado à coordenadora Sandra Santana, na Segmento Farma Editores, Rua Anseriz, 27, Campo Belo – 04618-050 – São Paulo, SP, ou por e-mail: [email protected]

XVi Simpósio internacional de atualização em Psiquiatria Geriátrica

Data: 23 e 24 de março de 2012Cidade: São Paulo, SPLocal: Centro de Convenções APASInformações: http://www.blcongressoseventos.com.br

XViii Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia

Realização: SBGGData: 22 a 25 de maio de 2012Cidade: Rio de Janeiro, RJLocal: Centro de Convenções Sul AméricaSeccional: Nacional

iaGG's 20th World Congress – "digital aging: New Horizon for all age"

Realização: IAGGData: 23 a 28 de junho de 2013Cidade: SeoulLocal: Coreia

XXiX Congresso Brasileiro de reumatologia

Data: 19 a 22 setembro de 2012Cidade: Vitória, ESLocal: Centro de Convenções de VitóriaInformações: http://www.reumato2012.com.br

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mestral da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – SBGG,

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InsTRuçõEs AOs AuTOREs

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de um dos autores para correspondência, incluindo o nome, endereço, telefone(s), fax e e-mail. Resumo: todos os artigos submetidos deverão ter resumo em português e em inglês (abstract), entre 150 e 250 palavras. Para os artigos originais e comunicações breves, os resumos de-vem ser estruturados incluindo objetivos, métodos, resultados e conclusões. Para as demais categorias, o formato dos resumos pode ser o narrativo, mas preferencialmente com as mesmas in-formações. Não devem conter citações e abreviaturas. Destacar no mínimo três e no máximo seis termos de indexação, extraí-dos do vocabulário “Descritores em Ciências da Saúde” (DeCS – www.bireme.br), quando acompanharem os resumos em português, e do Medical Subject Headings – MeSH (http://www.nlm.nih.gov/mesh/), quando acompanharem os “Abstracts”. Se não forem encon-trados descritores disponíveis para cobrirem a temática do manus-crito, poderão ser indicados termos ou expressões de uso conhecido.Texto: com exceção dos manuscritos apresentados como Artigos de Revisão os trabalhos deverão seguir a estrutura formal para trabalhos científicos: Introdução. Deve conter revisão da literatura atualizada e pertinente ao tema, adequada à apresentação do problema, e que destaque sua relevância. Não deve ser extensa, definindo o problema estudado, sintetizando sua importância e destacando as lacunas do conhecimento (estado da arte) que serão abordadas no artigo. Mé-todos. Devem conter descrição clara e sucinta dos procedimentos adotados; universo e amostra; fonte de dados e critérios de seleção; instrumentos de medida, tratamento estatístico, dentre outros. Resul-tados. Devem se limitar a des crever os resultados encontrados sem incluir interpretações e comparações. Sempre que possível, os resul-tados devem ser apresentados em tabelas ou figuras, elaboradas de forma a serem autoexplicativas e com análise estatística. Discussão. Deve explorar, adequada e objetivamente, os resultados, discutidos à luz de outras observações já registradas na literatura. É importante assinalar limitações do estudo. Deve culminar com as Conclusões, indicando caminhos para novas pesquisas ou implicações para a prá-tica profissional.Agradecimentos: podem ser registrados agradecimentos, em pará-grafo não superior a três linhas, dirigidos a instituições ou indivíduos que prestaram efetiva colaboração para o trabalho.

Conflito de interessesDeve incluir relações com: a) conflitos financeiros, como empregos, vínculos profissionais, financiamentos, consultoria, propriedade, par-ticipação em lucros ou patentes relacionados a empresas, produtos co-merciais ou tecnologias envolvidas no manuscrito; b) conflitos pessoais: relação de parentesco próximo com proprietários e empregadores de empresas relacionadas a produtos comerciais ou tecnologias envol-vidas no manuscrito; c) potenciais conflitos: situações ou circunstân-cias que poderiam ser consideradas como capazes de influenciar a interpretação dos resultados.

Referências bibliográficas As referências devem ser listadas ao final do artigo, numeradas consecutivamente, seguindo a ordem em que foram mencionadas a primeira vez no texto, baseadas no estilo Vancouver (consultar: “Uniform Require ments for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals: Writing and Editing for Medical Publication” [http://www.icmje.org]). Nas referências com até seis autores, citam-se todos os autores; acima de seis autores, citam-se os seis primeiros autores, seguido de et al. As abreviaturas dos títulos dos periódicos citados deverão estar de acordo com o MedLine. A exatidão e a adequação das referências a trabalhos que tenham sido consultados e mencio-nados no texto do artigo são de responsabili dade do autor.

LivrosKane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics. 5th

ed. New York: McGraw Hill; 2004.

Capítulos de livrosSayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do

idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de Janeiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8.

Artigos de periódicosOuslander JG. Urinary incontinence in the elderly. West J Med.

1981;135 (2):482-91.

Dissertações e tesesMarutinho AF. Alterações clínicas e eletrocardiográficas em pacien-

tes idosos portadores de Doença de Chagas [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal da SBGG; 2003.

Trabalhos apresentados em congressos, simpósios, encon-tros, seminários e outros Petersen R, Grundman M, Thomas R, Thal L. Donepezil and vitamin E

as treatments for mild cognitive impairment. In: Annals of the 9th International Conference on Alzheimer´s Disease and Related Disorders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract O1-05-05.

Artigos em periódicos eletrônicosBoog MCF. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para cur-

so de enfermagem. Rev Nutr [periódico eletrônico] 2002 [citado em 2002 Jun 10];15(1). Disponível em: http://www.scielo.br/rn

Textos em formato eletrônicoInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas da saúde:

assistência médico-sanitária. http://www.ibge.gov.br (acessado em 05/Fev/2004).

Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Available from URL: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Acesso em: Jun 5 1996.

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BackgroundGeriatria & Gerontologia (Brazilian Geriatrics & Gerontology) – G&G is a quarterly scientific publication by Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) (Brazilian Geriatrics and Gerontology Society) aim ing the publication of articles on Geriatrics and Gerontology, including their several subareas and interfaces. G&G accepts article submissions in Portuguese, English, and Spanish. The print content is available for SBGG members, and the online content can be accessed at: www.sbgg.org.br.

Instructions for Manuscript sendingPapers should be sent either by e-mail to: [email protected]; [email protected] or by mail in CD or DVD to: Segmento Farma / Geriatria & Gerontologia – Rua Anseriz, 27, Campo Belo – 04618-050 – São Paulo, SP. The corresponding author will re-ceive message acknowledging the paper receipt; should this do not occur up to seven working days from the sending, the author should get in touch with the journal. Concurrently, the author should send by mail a declaration stat ing that the manuscript is being submitted only to Geriatria & Gerontologia and that he(she) agrees with the cession of copyright.

Manuscript Evaluation by Peer Review Manuscripts that regard the editorial policy and the instructions for authors will be referred to editors who will evaluate the their scien-tific merit. Manuscripts will be submitted to at least two reviewers with expertise in the addressed theme. Accepted manuscripts might return for authors’ approval of in case of changes made for editorial and standardization purposes, according to the journal style. Manu-scripts not accepted will not be returned, unless they are requested by the respective authors within three months.Published manuscripts are journal ownership, so either reproduction, even partial, in other journals or translation into another language is unauthorized.

Research Involving Human subjectsArticles related to research involving human subjects should indicate whether the procedures followed were in accordance with the ethical standards of the responsible committee on human experimentation (in stitutional or regional) accredited by the Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde (Health Ministry National Research Ethics Committee). In addition, a clear statement of compli-ance with ethical principles outlined in Helsinki Declaration (2000) shall appear in the last paragraph of Methods section, as well as fulfillment of specific law requirements of the nation the research was performed in. The subjects included in the research should have signed a Free and Informed Consent Term.

Categories of ManuscriptsG&G accepts the following submissions:Original Articles. Contributions aiming at release of unpublished research results considering the theme relevance, its range and the

knowl edge generated for research purposes. Original articles should contain 2,000 to 4,000 words, excluding illustrations (tables, figures [not exceed ing 5]) and references [not exceeding 30].Review Articles. Critical and systematic evaluation of literature on a certain subject containing a comparative review of papers in that area, discussing methodological limitations and ranges, indicating further study needs for that research area, and containing conclu-sions. The proceedings adopted for the review, as well as search, selection, and article evaluation strategies should be described, in-forming the limits of the theme. They should not exceed 5,000 words and 50 references.Brief Communications. These manuscripts are short articles aiming at release of preliminary results of research; study results involving low complexity methodology; relevant unpublished hypotheses in Geriatrics and Gerontology. They should not exceed 800 to 1,600 words (tables, figures and references [not exceeding 10] excluded). The structure should follow what is requested in an original article.Case Reports. These manuscripts report unpublished and interesting clinical cases. They should follow an abstract structure with Introduc-tion, Case Report (describing the patient, clinical examination results, follow-up, diagnosis), Discussion (showing similar data in literature), and Conclusion. They should contain the bibliography consulted and should not exceed 1,500 words and 15 references.Letters to the Editor. Section designed for publication of comments, discussion or any article reviews. They should not exceed 1,000 words and 5 references.

Instructions for Manuscript PreparationManuscripts should be typed in Word for Windows [(including tables); fig ures should be supplied as JPG file and a minimum of 300 dpi resolution].Manuscripts should be prepared according to the sequence below:a) paper full title in Portuguese and English not exceeding 90 charac-ters; b) paper short title not exceeding 40 characters (spaces included) in Portuguese and English; c) authors’ and coauthors’ complete name, indicating institutional affiliations for each one of them; d) corre-sponding author data, including name, address, telephone and fax numbers, and e-mail.Abstract: all manuscripts should be submitted with an abstract in Portuguese and in English having no more than 150 to 250 words. For original articles and brief communications, abstracts should be structured to include objective, methods, results, and conclusions. For other man uscript categories, abstract models could be narrative, but rather carrying the same information. Abstracts should not con-tain quotations and abbreviations. At least three and at most six key words should accompany the Abstracts, being extracted from the vo-cabulary Descritores em Ciências da Saúde (DeCS – www.bireme.br) when accompanying abstracts in Portuguese and from Medical Subject Headings – MeSH (http://www.nlm.nih.gov/mesh/) when accompany-ing abstracts in English. If no descriptor is available to cover the manu script theme, words or expressions of known use might be indicated.

InsTRuCTIOns fOR AuTHORs

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Text: except for Review Articles, papers should assume formal structure of a scientific text: Introduction. The introduction should contain updated literature review, being appropriate to the theme, suitable to the problem introduced, and enhancing the theme relevance. The introduction should not be extensive, but define the problem studied, synthesizing its importance and stressing the knowledge gaps addressed in the article. Methods. This section should have clear and brief description of proceedings adopted; sampling; data source and selection criteria; measurement instruments; statistical analysis, among other features. Results. This section should be limited to describing the results found without including interpretation and comparison. Whenever possible, results should be displayed in tables or figures designed to be self-explanatory and having statistical analysis. Discussion. The discussion should properly and objectively explore the results, discussed in the light of further observation already registered in literature. It is important to point out the study limitations. The discussion should culminate by conclusions indicating avenues for new research or implications for professional practice.Acknowledgements: Acknowledgments may be written in a no more than 3-line paragraph towards institutes or individuals that ef-fectively contributed to the paper.

Conflict of InterestConflict of interest includes: a) financial conflict, such as employment, professional liaisons, funding, consulting, ownership, profit or patent shar ing related to marketed products or technology involved in the manu-script; b) personal conflict: close relatedness to owners and employers in companies connected to marketed products or technology involved in the manuscript; c) potential conflict: situations or circumstances that could be considered capable of influencing the result interpretation.

References Should be listed at the end of the manuscript and numbered in the order they are first mentioned in the text, following Vancouver style (v. Uni-form Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedic al Journals. Writing and Editing for Medical Publication [http://www.icmje.org]). List all authors up to 6; if more than six, list the first 6 followed by et al. The titles of journals should be abbreviated according to style used in MedLine. Authors are responsible for the accuracy and completeness of references consulted and cited in the text.

Examples of reference style:

BooksKane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics. 5th

ed. New York: McGraw Hill; 2004.

Book chaptersSayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do

idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de Janeiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8.

Journal articlesOuslander JG. Urinary incontinence in the elderly. West J Med.

1981;135 (2):482-91.

Essays and thesesMarutinho AF. Alterações clínicas e eletrocardiográficas em pacientes

idosos portadores de doença de Chagas [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal da SBGG; 2003.

Papers introduced in congresses, symposiums, meetings, seminars etc.Petersen R, Grundman M, Thomas R, Thal L. Donepezil and vitamin

E as treatments for mild cognitive impairment. In: Annals of the 9th International Conference on Alzheimer´s Disease and Related Disorders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract O1-05-05.

Articles from electronic journalsBoog MCF. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para

curso de enfermagem. Rev Nutr [periódico eletrônico] 2002 [citado em 2002 Jun 10];15(1). Disponível em: http://www.scielo.br/rn

Texts in electronic formatInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas da saúde:

assistência médico-sanitária. http://www.ibge.gov.br (acessado em 05/Fev/2004).

Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Available from URL: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Acesso em: Jun 5 1996.

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Todos os anúncios devem respeitar rigorosamente o disposto na RDC nº 96/08.

Rua Anseriz, 27, Campo Belo – 04618-050 – São Paulo, SP. Fone: 11 3093-3300 www.segmentofarma.com.br • [email protected]

Diretor-geral: Idelcio D. Patricio Diretor executivo: Jorge Rangel Gerente financeira: Andréa Rangel Gerente comercial: Rodrigo Mourão Editora-chefe: Daniela Barros MTb 39.311 Comunicações médicas: Cristiana Bravo Gerentes de negócios: Claudia Serrano, Marcela Crespi, Philipp Santos e Valeria Freitas Coordenadora comercial: Andrea Figueiro Gerente editorial: Cristiane Mezzari Coordenadora editorial: Sandra Regina Santana Assistente editorial: Camila Sáfadi Diagramação: Flávio Santana Revisoras: Glair Picolo Coimbra e Sandra Gasques Produtor gráfico: Fabio Rangel • Cód. da publicação: 12105.3.12


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